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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens Marta Aparecida Pereira da Rocha Costa LEIA AS INSTRUÇÕES: uma análise de textos multimodais em rótulos de alimentos Belo Horizonte 2012

LEIA AS INSTRUÇÕES: uma análise de textos multimodais ... · QUADRO 13 - Perfis dos alunos participantes do simulado de preparo de mistura para bolo 56 QUADRO 14 - Opiniões

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens

Marta Aparecida Pereira da Rocha Costa

LEIA AS INSTRUÇÕES: uma análise de textos multimodais em rótulos de alimentos

Belo Horizonte 2012

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Marta Aparecica Pereira da

Rocha Costa

Leia as Instruções: uma análise de textos

multim

odais em rótulos de alim

entos

CEFET/MG 2012

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Marta Aparecida Pereira da Rocha Costa

LEIA AS INSTRUÇÕES: uma análise de textos multimodais em

rótulos de alimentos.

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Estudos de Linguagens do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Estudos de Linguagens. Área de concentração: Processos Discursivos e Tecnologia Orientadora: Dra. Ana Elisa F. Ribeiro

Belo Horizonte CEFET-MG

2012

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens

Dissertação intitulada: “Leia as Instruções: uma análise de textos multimodais em rótulos de alimentos” de autoria da mestranda: Marta Aparecida Pereira da Rocha Costa, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores. ___________________________________ Profa Dra. Ana Elisa F. Ribeiro - Orientadora Departamento de Letras/CEFET-MG ___________________________________ Profa Dra. Carla Viana Coscarelli Departamento de Letras/UFMG

___________________________________ Prof. Dr. Cláudio Gottschalg Duque

Departamento de Ciências da Informação e Documentação/UnB

____________________________________

Prof. Dr. Renato Caixeta da Silva Departamento de Letras/CEFET-MG

___________________________________ Prof. Dr. Rogério Barbosa da Silva

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens/CEFET-MG

Belo Horizonte, 10 de Setembro de 2012

Av. Amazonas, 7.675 – Belo Horizonte, MG – 30.510.000 – Brasil – tel.: (31) 3319-7002

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - Modo de preparo em receita culinária 15 FIGURA 2 - Modo de preparo em rótulo de mistura para bolo 15 FIGURA 3 - Sistematização do modo de preparo 26 FIGURA 4 - Representação do modelo de leitura reestruturado 43 FIGURA 5 - Leiaute do cenário do simulado 53 FIGURA 6 - Leiaute da bancada do simulado 54 FIGURA 7 - Representação de duas trajetórias de leitura propostas para o

rótulo 2 66 FIGURA 8 - Ranking dos rótulos mais bem recebidos 86

FIGURA 9 - Item 2 do modo de preparo do bolo – rótulo 1 90 FIGURA 10 - Item dos ingredientes complementares – rótulo 2 90 FIGURA 11 - Item 4 do modo de preparo – rótulo 3 91 GRÁFICO 1 - Porcentagem de escolhas dos rótulos considerados como mais práticos 82 QUADRO 1 - Rótulos selecionados para o corpus do trabalho 04 QUADRO 2 - Elementos multimodais presentes na organização dos elementos nos rótulos 18 QUADRO 3 - Instruções e prescrições na proposta de agrupamento de gêneros de Schneuwly e Dolz 27 QUADRO 4 - Nomenclaturas utilizadas em rótulos de alimentos para as instruções de preparação 28 QUADRO 5 - Nomenclaturas utilizadas para o texto instrucional em rótulos de produtos de limpeza 29 QUADRO 6 - Nomenclaturas utilizadas para o texto instrucional em bulas de medicamentos 31 QUADRO 7 - Expressões utilizadas no texto instrucional dos rótulos analisados 32

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QUADRO 8 - Funções apresentadas conjuntamente em uma mesma instrução do rótulo 3 33

QUADRO 9 - Funções encontradas nos rótulos de alimentos 35 QUADRO 10 - Esquematização da forma linguística no modelo de leitura reestruturado 41 QUADRO 11 - Esquematização do significado no modelo de leitura reestruturado 42 QUADRO 12 - Medidas caseiras definidas pela Anvisa para fins de rotulagem nutricional 52 QUADRO 13 - Perfis dos alunos participantes do simulado de preparo de mistura para bolo 56 QUADRO 14 - Opiniões manifestadas pelos participantes sobre as instruções do rótulo 1 62 QUADRO 15 - Opiniões manifestadas pelos participantes sobre as instruções do rótulo 2 68 QUADRO 16 - Opiniões manifestadas pelos participantes sobre as instruções do rótulo 3 73 QUADRO 17 - Critérios indicados pelos participantes na eliminação do rótulo 4 78 QUADRO 18 - Critérios verbais e não-verbais na escolha do rótulo mais prático 81 QUADRO 19 - Percepção das categorias multimodais pelos participantes 84 QUADRO 20 - Recursos semióticos utilizados no projeto dos rótulos 85 QUADRO 21 - Considerações gerais dos participantes sobre as instruções

dos rótulos 87 TABELA 1 - Manifestações dos leitores diante das instruções recebidas 88 TABELA 2 - Rótulos da pesquisa na ordem de preferência dos leitores 89

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SUMÁRIO

1   CONSIDERAÇÕES  INICIAIS  .....................................................................................................................................  1  1.1   Uma  questão  multidisciplinar  ......................................................................................................................  2  1.2   Objetivos  ................................................................................................................................................................  3  1.3   A  organização  do  trabalho  .............................................................................................................................  4  

2   OS  RÓTULOS  COMO  OBJETO  DE  ESTUDO  ........................................................................................................  7  2.1   Estudos  sobre  rótulos  de  alimentos  ..........................................................................................................  8  

3   MULTIMODALIDADE  .............................................................................................................................................  10  3.1   Gramáticas  Multimodais  ..............................................................................................................................  11  3.2   Recursos  Semióticos  ......................................................................................................................................  12  3.3   Práticas  Comunicativas  ................................................................................................................................  13  3.4   Uma  nova  forma  de  comunicação  para  uma  nova  forma  de  preparação  ...............................  15  3.5   Categorias  de  análise  ....................................................................................................................................  17  

4   RÓTULOS  .....................................................................................................................................................................  19  4.1   Recorte  para  análise  dos  rótulos  .............................................................................................................  19  4.2   O  modo  de  preparo  e  seu  suporte  ...........................................................................................................  21  4.3   A  regulamentação  de  instruções  em  rótulos  de  alimentos  ..........................................................  22  4.4   O  texto  instrucional  .......................................................................................................................................  24  4.5   O  texto  instrucional  em  rótulos  de  produtos  de  limpeza  ..............................................................  29  4.6   O  texto  instrucional  em  bulas  de  medicamentos  ..............................................................................  30  4.7   O  texto  instrucional  nos  rótulos  analisados  ........................................................................................  33  4.8   O  rótulo  e  o  letramento  ................................................................................................................................  34  4.9   Uma  experiência  pessoal  de  letramento  ..............................................................................................  37  

5   LEITURA  E  LETRAMENTO  ...................................................................................................................................  38  5.1   O  que  é  a  Leitura  .............................................................................................................................................  39  5.2   Um  modelo  de  leitura  ...................................................................................................................................  41  5.3   Leitura  multimodal  ........................................................................................................................................  45  5.4   Sobre  o  letramento  ........................................................................................................................................  46  5.5   Letramento  Visual  ..........................................................................................................................................  47  

6   METODOLOGIA  .........................................................................................................................................................  50  6.1   O  corpus  ..............................................................................................................................................................  50  6.2   O  simulado  .........................................................................................................................................................  51  6.3   Os  participantes  ..............................................................................................................................................  56  

7   RESULTADOS  E  DISCUSSÃO  ...............................................................................................................................  59  7.1   A  proposta  instrucional  do  rótulo  1  e  sua  compreensão  ..............................................................  59  7.2   A  proposta  instrucional  do  rótulo  2  e  sua  compreensão  ..............................................................  65  7.3   A  proposta  instrucional  do  rótulo  3  e  sua  compreensão  ..............................................................  72  7.4   A  proposta  instrucional  do  rótulo  4  e  sua  compreensão  ..............................................................  78  7.5   A  compreensão  do  rótulo  4  pelos  demais  participantes  ...............................................................  81  7.6   Critérios  que  definiram  as  escolhas  .......................................................................................................  83  7.7   As  propostas  mais  bem  recebidas  ...........................................................................................................  87  7.8   Detalhes  da  saliência  nos  rótulos  ............................................................................................................  94  7.9   Erros  e  dificuldades  na  leitura  dos  rótulos  .........................................................................................  96  7.10   Duas  leituras  de  um  mesmo  discurso  .................................................................................................  99  

8   CONSIDERAÇÕES  FINAIS  ...................................................................................................................................  100  

9   REFERÊNCIAS  .........................................................................................................................................................  103  

10   APÊNDICES  ............................................................................................................................................................  109  

11   ANEXOS  ...................................................................................................................................................................  140  

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Dedico este trabalho, com todo o meu amor, aos meus pais João Silvério Pereira (in memoriam) e Guilhermina Maria Pereira, os quais não tiveram a oportunidade de frequentar por muito tempo a escola, mas sempre reconheceram a importância do conhecimento, incentivando-nos a busca-lo sempre.

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AGRADECIMENTOS

• Agradeço a Deus Pai em primeiro lugar por Sua bênção generosa e renovadora

neste percurso. É meu desejo que este trabalho honre o Seu nome antes de

qualquer outro.

• Ao meu amado esposo Denio Costa pela compreensão e paciência, sempre

com uma atitude positiva nos momentos difíceis. Sem o seu amor esta

trajetória não teria sido possível.

• Aos meus filhos Matheus e Lucas pela ajuda na operação dos equipamentos de

áudio e vídeo e também pelo respeito aos meus momentos de silêncio e

reclusão.

• Aos meus irmãos queridos pela torcida, orações, palavras de ânimo e

demonstrações de carinho. Como a primogênita da minha família é uma honra

ser o exemplo que eles enxergam em mim.

• À minha querida orientadora, Professora Doutora Ana Elisa Ribeiro, que

enxergou em mim um potencial que eu não acreditava possuir. Conhecer a sua

lucidez, talento e generosidade fez nascer em mim o desejo de, ao menos, me

parecer com ela.

• Aos alunos dos Cursos de Letras e Engenharia de Materiais do CEFET-MG,

pela participação voluntária nos simulados, fundamentais para a realização

deste trabalho.

• À Professora Maria de Nazaré Branco dos Santos, que aplicou o questionário

realizado para este trabalho. Que Deus abençoe a sua trajetória também.

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• Ao CEFET-MG, comunidade acadêmica da qual sempre desejei fazer parte,

por me acolher ao longo desta trajetória e me conceder uma bolsa de estudos, a

qual financiou grande parte deste trabalho.

• Aos professores dos cursos de Letras e Engenharia de Materiais do CEFET-

MG, em especial a Ana Maria Nápoles e Ana Elisa Ribeiro que cederam seus

gabinetes para a realização dos simulados e incentivaram seus alunos a

participar.

• Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens

pelas disciplinas ministradas com propriedade e eventos realizados com êxito.

Em especial a Marta Passos Pinheiro pela leitura atenciosa do pré-projeto e

conselhos da maior pertinência.

• Aos colegas do mestrado, em especial ao Marden Oliveira pela preciosa ajuda

na tradução dos textos mais difíceis e Camila Gonzaga por ouvir-me nos

momentos de angústia e oferecer sua palavra de incentivo.

• Às grandes mestras que me ensinaram as primeiras e mais importantes lições:

Maria Antônia Rodrigues, Perciliana Marques da Rocha, Guilhermina Maria

Pereira, Elza Antônia Rodrigues, Maria das Graças Lopes, Maria Tereza Carli

e Maria José Costa Novaes, a Marita, que me levou pelas mãos para o meu

primeiro dia na escola e colocou nas minhas mãos o primeiro livro que li.

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RESUMO

Com base em discussões sobre letramento e letramento visual, este estudo traz uma análise da leitura de quatro rótulos de mistura para bolo, focalizando a leitura dos “modos de preparo”, considerados aqui textos instrucionais. Observou-se como a multimodalidade contribui para a produção de sentido na leitura desses textos. A hipótese do estudo aqui apresentado era de que, nos rótulos, a multimodalidade está além de uma representação semiótica convencional de caráter meramente ilustrativo. Os fundamentos para esta pesquisa foram dados por diversos autores, mas especialmente por Kress e van Leeuwen (1996, 2001 e 2006), que possuem uma teoria sobre a utilização simultânea de diferentes modos semióticos na comunicação. A coleta dos dados analisados deu-se por meio da simulação de fazer bolos, das quais participaram 26 alunos, graduandos de uma escola pública federal. Eles leram as instruções em rótulos de mistura para bolo e simularam o seu preparo, enquanto narravam as suas ações (como num protocolo verbal ou em um think aloud). Inspirado em testes de usabilidade, montou-se um cenário para a realização dos procedimentos com uma bancada sobre a qual foram disponibilizados utensílios e ingredientes necessários à simulação do preparo. Os testes foram gravados e transcritos, o que permitiu a análise da interação do leitor com o texto, da interação entre recursos verbais e não-verbais, além das dificuldades encontradas pelos estudantes na leitura. Os participantes revelaram, ainda, os critérios que os levaram à escolha dos rótulos mais práticos de executar. Observou-se que os recursos semióticos da multimodalidade foram percebidos e utilizados pelos leitores participantes, o que permitiu concluir que elementos não-verbais representados nos rótulos podem se aliar à mensagem verbal na construção de uma compreensão do texto instrucional. Verificou-se ainda que a leitura de rótulos de alimentos não é algo tão simples e que requer, além de habilidades de leitura, também conhecimentos específicos não disponibilizados nas propostas instrucionais. PALAVRAS-CHAVE: Rótulo; Instrução; Multimodalidade; Letramento Visual;

Documentação Técnica; Leitura

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ABSTRACT Based on discussions about literacy and visual literacy, this study provides an analysis of four cake-mixing labels, where the focus is on the interpretation of "Preparation modes" issued from instructional texts. Multimodality was observed to see how it contributes to the production and sense when reading texts. The hypothesis of the study presented here was that when it concerns labels, multimodality goes beyond a conventional semiotic representation of mere illustrative purposes. The foundation for this research was based on several authors, but more specifically on Kress and van Leeuwen’s theory of the simultaneous use of different semiotic modes in communication (1996, 2001 and 2006). The gathering of data was achieved through an experiment, whereby 26 undergraduate students from a federal public school were asked to simulate baking cakes. They all had to read the instructions on cake-mixing labels simulating the preparation of the cakes as they described their actions (as in a verbal protocol or `think aloud’ process). Inspired on usability testing set ups, a scenario for the experiments was arranged providing the candidates with a bench on which could be found all the necessary ingredients and utensils for the simulation. The tests were recorded and transcribed so as to enable the analysis of the interaction between the reader and the text, verbal and nonverbal, in addition to the difficulties in reading encountered by the students. Participants also revealed the criteria that lead them to choosing the most practical labels for the execution of the task. It was observed that the multimodal semiotic resources were perceived and used by the participating readers, which allowed us to conclude that nonverbal elements represented on the labels can be allied with the verbal message in building an understanding of instructional text. It was also found that reading food labels is not as simple as it may seem and that it also requires, in addition to reading skills, expertise which is not available in the instructional proposals. KEYWORDS: Label; Instruction; Multimodality; Visual Literacy; Technical Documentation; Reading.

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O alfabeto é desenhado. Lemos desenhos todo o tempo, ainda que estes representem

palavras, e não objetos do mundo. Há quatro décadas, textos ilustrados eram encontrados nos

livros de Geografia, História e Ciências do antigo ginásio e imagens de mapas coloridos,

mártires fardados e de crânios ajudavam a construir a compreensão de saberes mais

complexos, como noções de território, democracia e sobrevivência. Mas, o mesmo nem

sempre se observava nos livros de Português e Matemática, restritos, em sua maioria, à

tipografia de letras e números no registro de textos e equações. No entanto, ainda sem

alfabetização suficiente para ler ou contar, não nos parecia complexo diferenciar um texto

verbal escrito de uma fórmula matemática. A força visual de um gênero textual escrito nos

permite reconhecê-lo, ainda que não saibamos decodificar a língua na qual ele tenha sido

elaborado (DIONISIO, 2007, p.188).

Buscamos verificar, neste estudo, como se dá a leitura de textos multimodais em rótulos

de alimentos e se a sua composição colabora para a construção da desejada compreensão dos

conteúdos propostos. Para isso, selecionamos em um total de nove diferentes marcas de

mistura para bolo, disponíveis em um mesmo hipermercado, quatro marcas sendo essas as

duas mais caras e as duas mais baratas. Esses produtos, que chamamos ao longo deste

trabalho de Rótulo 1, primeira marca mais cara; Rótulo 2, segunda marca mais cara; Rótulo 3,

segunda marca mais barata e Rótulo 4, primeira marca mais barata custaram, respectivamente,

R$7,29; R$6,29; R$1,75 e R$1,29. Verificou-se, portanto, uma diferença de seis reais ou

600%, entre o produto mais caro e o mais barato.

A inspiração para este estudo ocorreu durante a leitura do rótulo de determinada marca

de cereal, na qual foi possível constatar algumas contradições. Pudemos observar, na leitura

do rótulo em questão, contrastes entre os conteúdos expressos nas modalidades verbal e não-

verbal. Uma linguagem deveria interagir com a outra1, mas não foi o que se observou na

leitura realizada. O texto informava que o rendimento era de 15 porções, mas a imagem

representava um tabuleiro com seis unidades. O texto também informava que o tempo de

preparo era de 25 minutos, mas a imagem de um relógio representava 15 minutos. Na

realidade, detalhes como esses podem não comprometer a qualidade do produto, mas são

1 A complementaridade entre texto e imagem foi demonstrada por Moles (1978). Segundo a Tríade de Moles, existe uma interação entre os elementos: texto impresso, imagem ilustrativa e legenda. Segundo essa teoria, a legenda comenta a imagem e a imagem comenta o texto.

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suficientes para despertar questões sobre a leitura de textos multimodais. Além da linguagem

verbal e da linguagem visual, aqui também chamada de não-verbal, uma terceira linguagem

fez parte da composição desse primeiro objeto observado: a linguagem tátil, presente nos

sinais de Braille, prensados sobre as instruções no papel cartão da embalagem.

Como observamos, algumas linguagens foram utilizadas no projeto desse primeiro objeto

analisado e, no decorrer deste trabalho, foi possível pensar algumas proposições. Ainda que

esse primeiro rótulo observado fosse elaborado apenas com a linguagem verbal,

desconsiderando toda a gama de recursos semióticos utilizados, ainda assim ele poderia ser

inserido em diferentes práticas comunicativas, como no caso dos rótulos aqui analisados, os

quais podem ser lidos tanto por leitores/consumidores comuns, em um contexto domiciliar,

quanto o foram pelos leitores participantes dos simulados de preparo que realizamos. Isso não

deve ser ignorado se considerarmos que as pessoas podem escolher o que elas veem como

mais adequado para os seus próprios interesses, em dado contexto (KRESS; VAN

LEEUWEN, 2001, p.114 ).

1.1 Uma questão multidisciplinar

Desde o início, esta pesquisa nos pareceu relevante tanto para os

leitores/consumidores quanto para os produtores de alimentos industrializados. Aos

leitores/consumidores interessa uma adequada compreensão dos rótulos para que possam

usufruir satisfatoriamente dos benefícios de um produto pelo qual pagaram e que lhes

despertou expectativas de consumo. Aos produtores interessa uma adequada compreensão dos

rótulos de seus produtos para evitar que o consumidor vivencie experiências negativas com o

produto.

Acreditamos que o estudo sobre como se dá a leitura e a compreensão de textos

verbais e não-verbais é importante não apenas na elaboração de rótulos como também da

documentação técnica2 dos demais produtos da engenharia. Dessa forma, acreditamos que

este estudo poderá despertar, no caso da engenharia de alimentos, o interesse de produtores,

nutricionistas, redatores, publicitários, fotógrafos e ilustradores em trabalhar de forma

interativa na construção de conteúdos mais compreensíveis para rótulos de alimentos.

2 Segundo a Tekom (2012), documentação técnica é o conjunto dos diferentes documentos de um produto como projeto, responsabilidade do produto, garantia de qualidade, descrição das características, uso correto etc. Disponível em: <http://www.transcom.de/transcom/en/technische-dokumentation.htm>. Acesso em: 04 jul. 2012.

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Trabalhando juntos, de forma multidisciplinar, esses profissionais poderão considerar, além

dos elementos verbais, os recursos semióticos propostos por Kress e van Leeuwen (2001) e

também elementos da sintaxe visual, tratada por Dondis (2003), como forma, equilíbrio,

simplicidade, transparência, simetria e unidade, na elaboração de textos para rótulos. Este

trabalho poderá, ainda, despertar o interesse de outros pesquisadores para o estudo de

diferentes gêneros multimodais do nosso cotidiano. Os estudos de multimodalidade têm

ganhado espaço entre pesquisadores da área da Linguística Aplicada. Já foi demonstrado, por

exemplo, que o processamento de textos, sejam eles orais ou escritos, envolve, na construção

de sentidos, a combinação de recursos verbais e não-verbais (DIONISIO, 2007, p.196).

1.2 Objetivos

O texto instrucional é reconhecido aqui, no modo de preparo, como texto escrito e

nem sempre ilustrado, impresso nas embalagens de produtos alimentícios. Partindo da

premissa de que qualquer discurso pode ser percebido de diferentes maneiras (KRESS; VAN

LEEUWEN, 2001), as questões analisadas no contexto desta pesquisa são: diferentes modos

semióticos interferem na leitura dos rótulos de produtos alimentícios? Existe uma hierarquia

das linguagens na leitura dos conteúdos instrucionais em rótulos? Como o leitor lida com

esses textos? São questões oportunas, se considerarmos que uma apropriação incorreta dos

recursos semióticos utilizados pode conduzir o leitor/consumidor a uma compreensão

indesejada do conteúdo proposto, o que poderia levá-lo a vivenciar experiências negativas

com o produto, além de conduzi-lo a um apressado julgamento da sua qualidade.

A hipótese com a qual caminhamos foi ancorada na teoria da multimodalidade de

Kress e van Leeuwen (2001) e partiu do pressuposto de que a multimodalidade, nesse tipo de

texto, pode estar além de uma simples representação semiótica convencional de caráter

meramente ilustrativo. Nosso objetivo geral foi o de verificar como se dá a leitura de textos

multimodais em rótulos de alimentos e se a multimodalidade pode contribuir para a produção

de sentido na leitura de instruções em rótulos. Como objetivos específicos consideramos uma

possível ampliação da noção de texto instrucional, considerando, além da decodificação das

instruções verbais, também a leitura do texto não-verbal, e compreender como a utilização de

diferentes modos semióticos pode contribuir para a leitura de instruções em rótulos. A seguir,

apresentamos no QUADRO 1 os rótulos que selecionamos para o corpus deste trabalho.

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QUADRO 1

Rótulos selecionados para o corpus do trabalho

Rótulo 1 1a marca mais cara

Rótulo 2 2a marca mais cara

Rótulo 3 2a marca mais barata

Rótulo 4 1a marca mais barata

Descrição: instruções distribuídas em seis conjuntos, cinco deles com os itens ilustrados. Utilização de 90% do verso da embalagem.

Descrição: instruções distribuídas em quatro conjuntos, dois deles com os itens ilustrados. Utilização de 60% do verso da embalagem.

Descrição: instruções distribuídas em dois conjuntos com os itens ilustrados. Utilização de 40% do verso da embalagem

Descrição: instruções apresentadas em um parágrafo com versões em português e inglês. Utilização de 35% do verso da embalagem

Fonte: Elaboração própria com dados do corpus da pesquisa, 2011.

1.3 A organização do trabalho

Este trabalho está estruturado em oito capítulos, sendo o primeiro deles esta

introdução, na qual indicamos nosso interesse na análise da leitura do texto instrucional

encontrado nos rótulos de alimentos, além de apresentar a nossa hipótese e objetivos. No

segundo capítulo apresentamos os estudos mais significativos que encontramos sobre rótulos.

No terceiro capítulo abordamos a multimodalidade, teoria sobre a qual fundamentamos este

trabalho. Dos estudos de Kress e van Leeuwen (2001) sobre a multimodalidade focamos os

recursos semióticos e as práticas comunicativas que foram apresentadas em seções distintas.

Tanto os recursos semióticos quanto as práticas comunicativas fazem parte da Teoria

Multimodal de Comunicação a qual tem merecido a atenção desses teóricos em estudos mais

recentes sobre a multimodalidade. A Gramática do Design Visual (KRESS; VAN

LEEUWEN, 1996), ainda que de forma limitada, contribuiu para a nossa análise com

elementos que nos permitiram compreender as relações entre os objetos nas imagens, bem

como as relações entre os participantes e as propostas instrucionais apresentadas. Encerrando

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esse capítulo, mostramos o que vimos como uma nova forma de comunicação para uma nova

forma de preparação.

No quarto capítulo foram abordados os rótulos. Apresentamos o seu conceito, o

recorte que fizemos para a nossa análise, no caso o texto instrucional no modo de preparo, e o

suporte desse tipo de texto, as embalagens, compreendidas por Perez (2004) como “espaços

privilegiados de significação”. Relatamos também, nesse capítulo, as exigências feitas pela

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2002) para a apresentação das instruções

de preparação em rótulos de alimentos. A noção de texto instrucional é apresentada em seção

específica e chegamos a uma definição que nos pareceu satisfatória depois de rever os

conceitos de Bakhtin (1979), Marcuschi (2002), Bazerman (2005) e Schneuwly e Dolz (2010)

sobre gêneros, bem como os de Travaglia (1991) sobre textos injuntivos. Fizemos uma rápida

leitura da apresentação do texto instrucional também em produtos de limpeza e bulas de

medicamento. Encerrando esse capítulo, apresentamos a discussão proposta em Rojo (2006)

sobre o rótulo como objeto de letramento e relatamos, de forma breve, uma experiência

pessoal de letramento.

No quinto capítulo abordamos a leitura e o letramento. Sobre a leitura, reunimos as

definições que encontramos para esse processo considerado como de produção e

apresentamos o modelo de leitura proposto por Coscarelli (1999) para explicar como ele se

daria. Considerações preliminares sobre as possibilidades de uma leitura multimodal a partir

do discurso, possibilidades essas fundamentadas em Kress e van Leeuwen (2001) quando

afirmam que projeto e discurso desempenham um papel também na interpretação, encerram

esse capítulo. Sobre o letramento e o letramento visual, apresentamos as noções sobre o tema

encontradas em Soares (2010), Ribeiro (2010) e Dondis (2003), fundamentais no contexto da

nossa discussão.

No sexto capítulo abordamos a metodologia deste trabalho. Apresentamos o corpus da

pesquisa, o simulado de preparo das misturas para bolo e seus participantes. Sobre o corpus

justificamos por que preferimos trabalhar com rótulos de misturas para bolo, entre tantos

outros alimentos disponíveis, e informamos o critério para a seleção desses produtos entre as

marcas encontradas no mercado. Sobre o simulado, informamos em que foram inspirados,

descrevemos como foi preparado o seu cenário e que instruções foram dadas aos alunos antes

da sua participação. Sobre os participantes, alunos graduandos dos cursos de Letras e

Engenharia de Materiais de uma escola pública federal, apresentamos um breve perfil de cada

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6

um deles, tomando o cuidado de preservar suas identidades. Todos os simulados foram

gravados e a transcrição dos dados está aqui disponibilizada (APÊNDICE A – Transcrições

dos simulados com os alunos).

No sétimo capítulo apresentamos os resultados obtidos e a nossa discussão.

Abordamos, em seções separadas, a proposta instrucional dos quatro rótulos analisados e a

percepção dos alunos na leitura desses rótulos. Apontamos os critérios que definiram as

escolhas dos participantes pelo rótulo mais prático, os erros de leitura e as dúvidas

manifestadas pelos participantes. Também observamos e resumimos em um quadro tudo

aquilo que mais agradou e desagradou aos participantes em suas leituras dos rótulos

pesquisados. No oitavo e último capítulo apresentamos as nossas considerações finais.

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7

2 OS RÓTULOS COMO OBJETO DE ESTUDO

Alguns estudos, ainda que sobre outras modalidades de texto instrucional, mereceram

a nossa atenção neste trabalho, como, por exemplo, a bula de medicamento, os avisos de

advertência e os rótulos ou bulas de agrotóxicos. No artigo “A apresentação gráfica

informacional da bula de medicamento: considerações sobre a composição gráfica relacionada

à sua classificação textual”, Fujita (2007) utiliza o modelo de Van der Waarde (1999) para

observar a estrutura gráfica de bulas de medicamento. O modelo utilizado é composto por

três níveis de análise apresentados como: nível 1- componentes gráficos, nível 2 - relações

entre componentes gráficos, e nível 3 - apresentação gráfica global. Mesmo não se atendo à

presença de imagens no conteúdo informativo, a autora se refere à apresentação gráfica do

conteúdo informacional na bula de medicamento, apresentação essa que entendemos como

multimodal, e conclui que tal apresentação perde legibilidade no uso frequente de textos em

negrito e caixa alta, assim como o reduzido espaçamento entre linhas e palavras.

Em publicação sobre “Design de Advertência para Embalagens” Mont’Alvão, (2002)

discorre brevemente sobre como o leitor interpreta uma advertência a partir da percepção do

risco. Informa que há grande volume de pesquisas na área de advertências e percepção do

risco e, citando Gill et al. (1994), afirma que as pesquisas que se concentraram inicialmente

no projeto de advertência demonstraram que, além do conteúdo semântico, a efetividade de

uma advertência depende também de seu formato e do leiaute.

Dois outros artigos sobre rótulos e bulas de agrotóxicos também apresentaram

resultados interessantes. Em Santos, C. e Santos, J. (2009), são apresentados estudos que

alertam para a contaminação de trabalhadores rurais devido ao incorreto manuseio de

agrotóxicos e à exposição constante aos agentes contaminantes. Os autores mencionam a

norma regulamentadora de número 31 da Lei Federal de número 7802, que dispõe sobre a

rotulagem de agrotóxicos. Segundo consta na Lei, o rótulo deve conter descrição técnica,

instruções de utilização e informações relativas aos perigos potenciais dos produtos. Essas

informações podem ser disponibilizadas também em bulas, e, tanto nos rótulos quanto nas

bulas, devem constar, obrigatoriamente, os símbolos de perigo. Segundo os autores, não

existem muitas restrições quanto a leiautes. Determina a Lei apenas que “os textos e símbolos

devem ser claramente visíveis, facilmente legíveis e compreensíveis”. Sobre isso, os autores

questionam se seriam cuidados suficientes para advertir ao aplicador de agrotóxicos sobre os

possíveis riscos. A hipótese trabalhada e confirmada pelos autores é a de que os rótulos de

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herbicidas podem ser mais eficientes se a eles for aplicada uma metodologia do projeto

ergonômico para o planejamento visual gráfico, considerando recursos de cor, desenho e

tipografia.

Em outro artigo, Yamashita e Santos (2009) identificam problemas de leitura e

compreensão dos rótulos e bulas de agrotóxicos. Foi realizada uma pesquisa de campo com

agricultores, cultivadores de soja, em Londrina-PR, na qual os pesquisadores aplicaram um

questionário visando a identificar problemas de leitura e concluíram que a compreensão

desses textos ainda é muito problemática devido à ineficiência do uso de cores na

classificação toxicológica, ao mau dimensionamento de pictogramas, às fontes de difícil

visualização e ao uso excessivo de caixa-alta. Os pesquisadores verificaram ainda que os

textos foram melhor compreendidos por trabalhadores com maior nível de escolaridade e

concluíram que as informações de rótulos e bulas de agrotóxicos são ineficazes para o seu

público.

Vimos primeiro, no estudo de Santos, C. e Santos, J. (2009), que uma proposta de

metodologia de projeto visual gráfico ergonômico na qual a modificação de alguns itens nos

rótulos e bulas pode, segundo esses autores, proporcionar a melhor leitura e compreensão

desses textos. Em seguida vimos, no estudo de Yamashita e Santos (2009), que esses autores

encontraram maiores índices de compreensão em agricultores com maiores níveis de

escolaridade. Esses autores observaram que o nível de escolaridade interfere diretamente na

compreensão da informação escrita e visual.

2.1 Estudos sobre rótulos de alimentos

Listamos, entre dezenas de trabalhos publicados sobre rótulos de alimentos, estudos

sobre a veracidade das informações declaradas; sobre informações nutricionais de produtos

específicos, como carnes, leites e queijos; propaganda nutricional inserida em rótulos de

alimentos; propaganda na rotulagem de produtos diet e light; e considerações sobre a

legislação brasileira referente à rotulagem de alimentos. A maioria dos artigos considerou,

como objeto específico de estudo, o quadro com valores nutricionais, informação esta exigida

pela Anvisa. Não foram encontrados estudos que se fundamentassem na teoria da

multimodalidade.

Entre os 100 primeiros artigos listados em nossa busca preliminar, dois artigos

mereceram nossa atenção, no contexto deste trabalho, por se referirem diretamente à leitura e

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à compreensão de rótulos pelos leitores. No primeiro artigo, Marins; Jacob e Peres (2008)

foram destacadas as seguintes observações, vistas como dificuldades por parte dos leitores

pesquisados: a baixa confiabilidade das informações dos rótulos, o uso de linguagem técnica,

o excesso de propaganda veiculada e a falta de informações sobre componentes

potencialmente alergênicos. Os autores realizaram uma abordagem quanti-qualitativa,

utilizando, para isso, um questionário com conteúdo restrito à informação nutricional de

alimentos e bebidas embalados, sem, contudo, fazer alguma análise da apresentação gráfica

dessas informações. Concluíram o artigo apontando para uma necessidade de

desenvolvimento de políticas públicas de comunicação para orientar os consumidores na

escolha de alimentos por meio da rotulagem. Refletindo sobre essa conclusão, questionamos

se não seria possível e mais eficaz, para a leitura e compreensão dos rótulos, o

desenvolvimento de políticas públicas de letramento, considerando que as competências

desenvolvidas nesse processo, identificadas por Soares (2004) como habilidades,

conhecimentos e atitudes, poderiam favorecer a comunicação que está além da codificação e

decodificação de mensagens.

No segundo artigo, Machado et al. (2006) entrevistaram 300 consumidores, em três

supermercados diferentes, e foi constatado que o prazo de validade é a principal informação

observada pelo leitor nos rótulos de produtos alimentícios. Outra constatação foi a de que a

percepção da qualidade de um produto ocorre também após a compra, o preparo e o

consumo. Ao longo do artigo, os autores se referiram à leitura de rótulos, sem contudo

descrever esses objetos e a forma de apresentação dos conteúdos, o que não nos permitiu

identificar os modos semióticos utilizados na sua estrutura textual.

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10

MULTIMODALIDADE

Um sentido comum de que o significado reside em um só modo ou meio não é mais defensável.

Kress & van Leeuwen

Multimodal Discourse

A expressão multimodalidade surgiu de uma busca de Kress e van Leeuwen por uma

terminologia comum a todos os modos semióticos que são distintos e podem ser usados

simultaneamente na comunicação de um significado. A linguística tradicional concebeu a

linguagem como uma articulação de forma e significado, mas Kress e van Leeuwen (2001)

assumiram que não era suficiente estudar um só modo de expressão, mas todos os modos

possíveis por meio dos nossos sentidos. Assim, dedicaram-se ao estudo dos modos semióticos

das diferentes linguagens e seus usos variados, inaugurando os debates sobre a

multimodalidade. Desde que inaugurados, os estudos de Kress e van Leeuwen sobre a

multimodalidade têm avançado de forma significativa. Em 1996, por exemplo, esses teóricos

discutiram o enquadramento3 como um recurso específico da comunicação visual e já em

1998 reconheceram-no como um princípio multimodal ao constatarem que ele pode ser

utilizado também em leiautes de textos. Em nossa análise, observamos, em três dos quatro

rótulos que compõem o nosso corpus, a presença desse recurso, utilizado tanto em

informações verbais quanto em não-verbais.

É possível enxergar a multimodalidade em toda forma de expressão humana. Houve

um tempo em que o homem apenas contemplava uma obra de arte. Nos anos de 1920, o

cinema mudo reuniu imagens, movimentos e efeitos sonoros, intercalados com trechos de

música, e encantou plateias de diferentes idades, no mundo todo. Pouco mais adiante, a

tecnologia permitiu sincronizar as imagens com discursos gravados em áudio e o cinema

ganhou voz. Mais tarde, a tecnologia criou efeitos espaciais tridimensionais para o som que já

não seria mais percebido de modo estéreo mas em surround4, um efeito que nos permite

3 O enquadramento é compreendido pelos autores como um recurso que permite uma maior proximidade do leitor para com o conteúdo representado. 4 Tecnologia de áudio que permite a expansão do som a três dimensões, proporcionando a sua percepção de forma mais realista, em ambientes como salas de cinema e teatro.

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perceber o som ao nosso redor. O mesmo foi conseguido em relação à imagem o que nos tirou

da estabilidade espacial de uma sala de cinema e nos permitiu a sensação de estar entre os

personagens na tela. Tudo isso é apenas um exemplo da multimodalidade presente em nossa

comunicação contemporânea. Nesse caso, um discurso que pode utilizar-se do modo auditivo

para se apresentar, do modo visual para se fazer representar por meio da imagem e do modo

espacial que não nos chega diretamente por meio de recursos próprios dos nossos sentidos,

mas que pode ser produzido como artefato tecnológico. Em todas as nossas práticas os signos

existem em todos os modos, contribuindo assim para o significado (KRESS, 2010, p. 54).

2.2 Gramáticas Multimodais

Observamos, no decorrer dos estudos de Kress e van Leeuwen, a expansão do conceito de

multimodalidade para além daquilo que é discursivo ou visual. Os primeiros trabalhos desses

teóricos, nos quais buscavam aprofundar a análise de textos, foram fundamentados na

Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday (1984), que contemplou as metafunções

ideacional, na qual o usuário da língua constrói a realidade à sua volta; interpessoal, na qual

interage com os outros usuários; e textual, na qual a linguagem é organizada como mensagem.

Kress e van Leeuwen (1996) utilizaram-se do conceito da metafunção interpessoal, na qual o

usuário5 da língua interage com o outro, para propor a existência de uma relação entre

participantes na leitura de imagens. Na Gramática do Design Visual de Kress e van Leeuwen

(1996), esses participantes foram classificados como, de um lado, as pessoas, os objetos ou os

lugares representados e, de outro, o produtor e o espectador. No contexto deste trabalho,

temos, de um lado, o discurso instrucional compondo com as imagens e, de outro, o

participante produtor, aquele que projetou e produziu6 a proposta instrucional, bem como o

participante espectador, leitores/consumidores.

Em 2003 Kress observa que a semiose7 fundamenta-se em fatos biológicos. O mundo

pode ser percebido não apenas pela visão, mas também por meio da audição, olfato, tato e

paladar e cada um desses sentidos possui formas distintas de sentir as coisas, o que nos

fornece recursos para expressá-las de formas diferenciadas. Assim, os esforços dos autores no

5 Essa expressão é substituida no texto de Kress e van Leeuwen (1996) pela expressão “participante”. 6 Kress e van Leeuwen alertam para o fato de que projeto e produção são processos distintos, ainda que difíceis de separar a médio prazo. Projeto é o lado conceitual da expressão e produção é a sua organização material. 7 Processo mencionado por Hodge e Kress (1991) no qual os sentidos são construídos e trocados.

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sentido de construírem uma gramática do design visual voltaram-se para a construção de uma

possível gramática de recursos semióticos. Veremos um pouco mais sobre esses recursos na

próxima seção. Em reflexão sobre os estudos que empreenderam, Kress e van Leeuwen

(2001) assumem que fizeram tentativas de elaborar gramáticas dos diferentes modos de

linguagem, mas após reconhecerem que “os fenômenos que poderiam ter pensado como

inquestionavelmente constituindo um modo começaram a parecer conjuntos multimodais”

pensaram então que a construção de gramáticas talvez não fosse o melhor caminho a seguir

(KRESS, VAN LEEUWEN, 2001. p.125). No dizer desses autores, os limites que lhes

pareciam claros estão se tornando turvos e isso sugere que estamos vivendo um momento

ímpar na nossa história.

2.3 Recursos Semióticos

Na concepção de Kress e van Leeuwen (1996), todo texto é multimodal e nele

diferentes modos semióticos contribuem para o seu significado. Envolvidos tanto na produção

quanto na leitura dos textos, esses diferentes modos são recursos semióticos que podem ser

inseridos em nossas práticas comunicativas adicionando aos discursos camadas de

significado, o que Kress e van Leeuwen (2001) chamaram de discursos subjacentes. Segundo

esses autores, em qualquer modo semiótico existem elementos de compreensão disponíveis

para o processo de criação de signos.

Buscando uma forma de exemplificar isso neste trabalho, observamos, na proposta

instrucional de um dos rótulos analisados, a presença dessas camadas de significados em uma

de suas representações. Em nossa cultura ocidental, por exemplo, é comum o uso de metais

como o aço na confecção de talheres e representá-los dessa forma em rótulos de alimentos,

como feito no rótulo 2, é, portanto, algo possível. Mas entendemos que, no projeto específico

desse rótulo, ao optarem pela imagem de uma colher de aço para indicar uma unidade de

medida, os idealizadores do discurso multimodal ofereceram ao leitor mais de uma

possibilidade de percepção do conteúdo representacional. Ofereceram também a possibilidade

de leitura desse conteúdo em termos de prática social. No rótulo 1, por exemplo, esse recurso

não foi utilizado e a imagem da colher, com a mesma função de indicar uma unidade de

medida, é representada de forma transparente, como uma colher de plástico. Ainda que a

representação desses utensílios tenha a mesma função comunicativa nas instruções dos

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rótulos, esses seus conteúdos representacionais podem ser compreendidos como distintos uma

vez que uma colher de plástico pode ser percebida como um objeto descartável, associado a

conceitos de praticidade e simplicidade, e uma colher de aço pode ser percebida como um

objeto durável, associado a conceitos de nobreza e poder.

Na teoria da comunicação e representação multimodal, a ideia de que o sentido

definitivo se encerra na forma está superada. Há recursos semióticos de formas diferentes e

para diferentes pessoas e grupos, ainda que tenha se estabelecido alguma distância entre

produtores e consumidores, entre os quais podem-se enquadrar os leitores de rótulos de

alimentos.

Muitos recursos semióticos são reservados para especialistas, ou conhecidos de formas diferentes por aqueles que os usam de modo ativo para a produção semiótica, e aqueles que são seus ‘receptores’. Em muitas áreas da produção semiótica, a distância entre produtores e consumidores continua a aumentar, por exemplo, na produção de alimentos e vestuário (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001, p.112, minha tradução).

Ao levarem os princípios da teoria multimodal para os domínios da comunicação,

Kress e van Leeuwen (2001) apresentam os estratos nos quais são construídos os significados:

o Discurso, no qual os saberes são construídos socialmente; o Projeto, no qual se concebe o

lado conceitual da expressão; a Produção, na qual se efetiva a materialidade da expressão; e a

Distribuição, na qual se estabelecem funções de preservação e distribuição.

2.4 Práticas Comunicativas

A teoria multimodal da comunicação proposta por Kress e van Leeuwen (2001) tem como

foco os recursos semióticos e as práticas comunicativas que, como vimos, podem ser

discursivas, de produção, de projeto e de distribuição. Todas elas são apresentadas como

camadas que contribuem para o significado e são práticas que podem provocar agregações e

desagregações, de maneiras distintas, resultantes das mudanças em nosso “fazer semiótico”.

Se por um lado algumas profissões podem se tornar depreciadas, por outro lado novas práticas

surgem reunindo habilidades até então pouco percebidas (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001,

p. 123). Essas mudanças não ocorrem aleatoriamente. Esses teóricos afirmam que, ao longo

da nossa história sócio-político-cultural, a cada nova necessidade, novas formas de

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comunicação e novas tecnologias de comunicação foram sendo desenvolvidas. (KRESS;

VAN LEEUWEN, 2001, p. 123)”, e apontam, como tarefa de todos nós, olhar para os

ambientes nos quais as práticas ocorrem. No dizer desses autores, essa é uma tarefa que não

deve se restringir à tecnologia.

No projeto dos rótulos que compõem o nosso corpus de pesquisa, percebemos uma

mudança na prática comunicativa8 do modo de preparo, na forma como o conhecíamos em

receitas culinárias e como o encontramos hoje no rótulos. Acreditamos que essa mudança seja

consequência de uma demanda dos consumidores por produtos alimentícios supostamente de

rápido e fácil preparo. Antes disso, o modo de preparo era parte do gênero receita culinária e

constituía um conjunto de instruções sobre como preparar um alimento, instruções essas

precedidas de uma lista de ingredientes a serem utilizados na preparação, como pode ser

observado na FIG. 1. Com a oferta de misturas para bolo industrializadas o modo de preparo

passou a ser um conjunto de instruções projetado e produzido por profissionais do texto como

redatores, ilustradores e designers, os quais, no seu “fazer semiótico”, utilizam-se de modos

gramaticais e representacionais, organizados de forma espacial e com o auxílio de recursos

cromáticos e tipológicos, como observamos aqui no modo de preparo do rótulo 1 (FIG. 2).

8 A mudança na comunicação do modo de preparo, como apresentado na Fig.1 e na Fig. 2, não implicaria em uma mudança de gênero. Nesse caso, defendemos uma reorganização do modo de preparo dentro do gênero receita culinária frente a uma nova forma de preparação.

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Depois da década de 1960, investiu-se em pesquisas para a melhoria da qualidade

nutricional de farinhas mistas para suprir a demanda por produtos diversificados, fenômeno

esse observado por Tibúrcio (2000), em estudo sobre o enriquecimento proteico de farinhas.

Acreditamos que a demanda por produtos industrializados como misturas para pães e bolos

tenha levado ao modo de preparo como o conhecemos hoje em rótulos de alimentos.

2.5 Uma nova forma de comunicação para uma nova forma de preparação

Como vimos, a cada nova necessidade novas formas e tecnologias de comunicação

são desenvolvidas (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001). Com a industrialização de misturas

para bolo chegou ao consumidor uma nova forma de fazer bolos, e o que era conhecido como

ingredientes, lista de todos os elementos necessários para a massa e que faz parte do conjunto

de instruções de preparação de bolos, foi reduzido a ingredientes complementares, geralmente

Bolo da Vovó

Ingredientes 6 espigas de milho grande 2 colheres (sopa) de margarina light 3 ovos grandes 1 e 1/2 xícara (chá) de leite desnatado 2 xícaras (chá) de açúcar refinado Modo de Preparo Retire os grãos de milho da espiga com auxilio de uma faca. Coloque o milho no liquidificador juntamente com os outros ingredientes e bata por 5 minutos. Unte uma forma retangular. Despeje a massa e asse em forno pré-aquecido por 30 minutos. Deixe esfriar e sirva a seguir. Tempo de Preparo: 50 minutos

Figura 2: Modo de preparo em rótulo de mistura para bolo. Fonte: Corpus da pesquisa, 2011.

Figura 1: Modo de preparo em receita culinária. Fonte: Mancuso et al. S/d.

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constituídos por leite, ovos e, em alguns casos, manteiga ou margarina. Esses ingredientes

complementares devem ser adicionados à mistura, que já reúne ingredientes básicos9, como

farinha de trigo, açúcar, amido, fermento, bicarbonato de sódio e sal. A presença desses

ingredientes básicos foi constatada na composição dos quatro tipos de mistura para bolo que

compõem o nosso corpus de pesquisa, aos quais foram adicionados outros ingredientes,

conforme o sabor de cada um deles. Contudo, o que nos pareceu relevante nessas observações

foi o fato de as informações sobre os ingredientes básicos terem migrado do espaço destinado

às instruções de preparação, como ainda se observa na receita culinária, para outro espaço no

rótulo, com menos destaque, apenas com o objetivo de cumprir o que determina a Anvisa para

a rotulagem de alimentos.

Entendemos a mudança na apresentação, de ingredientes para ingredientes

complementares, como consequência do surgimento de uma nova forma de se preparar bolos.

No nosso entender, não há, em rótulos de misturas para bolo, a necessidade de se informar

sobre ingredientes básicos juntamente com as instruções de preparação, uma vez que esses já

fazem parte da mistura e não precisam ser providenciados para o preparo de bolos. Os

ingredientes complementares, nas instruções dos quatro rótulos que compõem o nosso corpus

de pesquisa, foram indicados em espaço próximo ao modo de preparo, porém fora dele. É

importante registrarmos aqui que os ingredientes complementares foram apresentados com

essa nomenclatura apenas no rótulo 3. No rótulo 1 eles foram precedidos da expressão antes

do preparo, no rótulo 2, você irá utilizar, e no rótulo 4, você vai utilizar. Isso indica, no

nosso entender, uma mudança dessa expressão ao migrar dos cadernos de receitas para os

rótulos de alimentos. Retomando o dizer de Kress e van Leeuwen (2001) sobre práticas

comunicativas, acreditamos que a forma como se comunicou o modo de preparo nos rótulos

de mistura para bolo analisados é consequência de uma nova forma de se fazer bolos,

proporcionada por uma tecnologia desenvolvida para esse tipo de alimento.

O nosso propósito neste trabalho não foi a realização de uma análise multimodal das

instruções disponibilizadas nos rótulos e por isso não nos aprofundamos nas categorias de

análise da Gramática do Design Visual de Kress e van Leeuwen (1996). Contudo, separamos,

e apresentaremos a seguir, três categorias da multimodalidade que nos ajudaram a observar a

percepção dos leitores sobre os conteúdos instrucionais propostos nos rótulos de forma verbal

9 Pesquisa da Embrapa determina a formulação padrão de mistura para bolo que apresenta os seguintes ingredientes: farinha de trigo (46,0 %), açúcar (48,0 %), gordura hidrogenada (3,0 %), fermento químico (2,0 %), essência de baunilha (0,6 %) e sal (0,4 %). Cf. nas referências Bassinello et al. (2010).

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e não-verbal. Alguns exemplos dessa percepção foram organizados e apresentados mais

adiante na discussão.

2.6 Categorias de análise

Kress e van Leeuwen (2006) afirmam que uma estrutura de representação pode ser

narrativa ou conceitual. Segundo esses autores, as representações narrativas apresentam uma

relação entre os seus participantes que, no caso, se apresentam envolvidos em algum evento,

conectados por vetores10. As representações conceituais são aquelas que apresentam imagens

sem vetores que indiquem alguma dinâmica entre elas. Ou seja, sem conexão entre os

elementos participantes. Enxergamos o rótulo, neste trabalho, como uma estrutura de

representação que se apresenta ora narrativa, ora conceitual. Nas propostas instrucionais que

analisamos, os elementos de composição se apresentaram, em alguns casos, conectados e em

outros não.

Utilizaremos, para a observação dos arranjos composicionais apresentados nas instruções

dos rótulos, algumas categorias multimodais apresentadas por Kress e van Leeuwen (2006),

na organização de significados textuais. São elas, a saliência, que proporciona maior destaque

a alguns elementos no interior da representação; a moldura, que desconecta os elementos e

constitui o limite formado pela borda de uma representação; e o enquadramento que aproxima

ou distancia os elementos de uma composição visual e que será considerado aqui também na

análise dos elementos verbais. Na moldura, os contornos seriam demarcados por linhas, ou

espaços vazios, às margens da representação (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006). A categoria

moldura, neste trabalho, foi reconhecida pelos participantes como critério de diagramação na

escolha pelo rótulo mais prático. O participante A-12, por exemplo, preferiu o rótulo 1 como

mais prático porque o considerou “mais espaçado”.

O enquadramento, como tratado por Kress e van Leeuwen (2006) e van Leeuwen e Jewitt

(2001), despertou o nosso interesse por considerar a possibilidade de administrar as

“identidades” dos elementos, de forma isolada. Ou seja, os elementos, na concepção desses

autores, podem ser enquadrados como parte de um mesmo conjunto, ou não. De uma certa

10 O conceito de vetores foi apresentado por Kress e van Leeuwen (1996) na Gramática do Design Visual, ao tratarem de narrativas por meio de imagens, como linhas expressas ou sugeridas que poderiam conduzir o olhar para ações, eventos ou processos que interligam diferentes elementos na imagem. Van Leeuwen e Jewitt (2001) assumem que os vetores são linhas que expressam uma dinâmica e visualmente definem, analisam ou classificam pessoas, lugares e coisas.

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forma, o enquadramento “liga ou desliga os elementos” (VAN LEEUWEN; JEWITT, 2001,

p. 149). Isso pôde ser verificado nos quatro rótulos analisados nos quais em determinado

espaço foram enquadradas instruções sobre untar e enfarinhar a fôrma e em outro foram

enquadradas instruções sobre os tipos de fôrma. Apesar de as instruções se reportarem a um

mesmo tema, no caso a utilização da fôrma, as instruções sobre que tipo usar e como pepara-

la para o uso foram enquadradas separadamente.

Em uma tentativa de compreender um pouco mais sobre o arranjo composicional dos

rótulos, observamos, além das categorias de enquadramento, saliência e moldura, outros

elementos estabelecidos por Kress e van Leeuwen (2006) para verificar o grau de articulação

dos elementos nas imagens, o que apresentamos no QUADRO 2, a seguir.

QUADRO 2

Elementos multimodais presentes na organização dos elementos nos rótulos

Elementos Rótulo 1 Rótulo 2 Rótulo 3 Rótulo 4

Representação linhas de contorno nas formas formas preenchidas formas preenchidas N/T

Saturação de cor azul escuro verde escuro cinza médio Bege claro

Modulação de cor cor primária: azul primária: amarelo terciária: verde

primárias: amarelo e vermelho N/T

Profundidade imagens com perspectiva

imagens com perspectiva

imagens com perspectiva N/T

Iluminação fundo com alguma variação de tom

contraste entre luz e sombra ao fundo

só no entorno das imagens N/T

Brilho fundo fosco fundo brilhante fundo brilhante N/T

Fonte: Elaboração própria inspirada em critérios de Kress e van Leeuwen (2006).

Não consideramos, para efeito da nossa análise, a categoria referente ao valor da

informação, na qual Kress e van Leeuwen (2001) propõem a distribuição do conteúdo

representado dentro das dimensões do espaço visual. Nessa categoria, à esquerda, apresenta-

se o ideal-real dado e, à direita, apresenta-se o dado novo. Nossa decisão se deu devido ao

fato de suspeitarmos de que essa distribuição possa não se configurar sempre dessa mesma

forma. No capítulo seguinte, veremos o que são rótulos, como se dá a regulamentação de seus

conteúdos, como se apresenta o texto instrucional em rótulos de alimentos, produtos de

limpeza e bulas de medicamento, e a sua utilização, demanda e ensejo para o letramento.

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19

3 RÓTULOS

A expressão “rótulo” apareceu na língua portuguesa no século XVI derivada do latim

rotulus, que significava forma circular, roda. Etimologistas e estudiosos das ciências humanas

dizem que a expressão se firmou devido ao grande uso de formatos circulares na identificação

das marcas de produtos. Renato Janine Ribeiro11 (2011) explica que, na França do século

XVI, alguns dicionários traziam para o verbete étiquette a definição de rótulo que se colocava

nos sacos que guardavam processos judiciais, indicando os documentos ali contidos. A

etiqueta-rótulo seria assim algo aparente, afixado no lado de fora, e que indicaria alguma

essência guardada no lado de dentro. Saltando das origens dessa expressão para a sua

definição nos dias de hoje, encontramos o seguinte: rótulo é um impresso, afixado em

recipientes e embalagens, que apresenta informações sobre o produto ali contido (sua marca,

principais características, apelos mercadológicos, nome e endereço do fabricante, peso,

composição, teor alcoólico etc.), definição essa do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Encontramos também a definição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa,

2002), para o que é definido como rotulagem, ou seja, toda matéria descritiva ou gráfica que

esteja escrita, impressa, estampada, gravada ou colada sobre a embalagem de um produto

alimentício. A matéria descritiva, nesse último caso, refere-se a denominação de venda do

alimento, lista de ingredientes, peso líquido, identificação de origem, identificação de lote,

prazo de validade, informações nutricionais e instruções sobre o preparo. Essas instruções de

preparo constituem uma tipologia específica sobre a qual falaremos na seção 4.4, sobre o

texto instrucional.

3.1 Recorte para análise dos rótulos

Sobre as duas definições de rótulo apresentadas na seção anterior, podemos observar

que ambas reconhecem na sua composição a presença de informações de áreas distintas

(Saúde, Economia, Marketing, Legislação, Design, entre outras), e, nesse momento, faz-se

necessário indicar o recorte que fizemos ao delimitar nosso contexto de pesquisa.

Constituiram objetos de análise deste trabalho os textos instrucionais impressos nos rótulos de

11 Portal “Ciência & Vida”. Publicação do núcleo Ciência e Vida da Editora Escala, 2011. Disponível em: <http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/edicoes/42/artigo160039-1.asp> Acesso em: 06 Mai. 2011.

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quatro diferentes misturas para bolo caseiro. Consideramos conteúdo instrucional toda a

matéria sobre como preparar o produto, conteúdo esse impresso na embalagem12 dos

produtos. Na busca por uma compreensão mais ampla da expressão “texto instrucional”

encontramos no site Transcom uma definição para o termo “instrução”, inspirada na

Associação Profissional Alemã para o Desenvolvimento da Comunicação e da Informação

Técnica (Tekom). A nossa opção por esta definição se deu pelo fato de ser a Tekom uma

instituição reconhecida pelo Ministério das Finanças da Alemanha como uma associação

profissional. Fundada em Stuttgart, em 1978, a Tekom possui seis mil membros de todos os

setores econômicos da Europa e 441 empresas associadas como membros corporativos. Em

seus trabalhos para a promoção da informação e documentação técnica realiza conferências

anuais, organiza feiras de produtos e serviços, mantém um jornal técnico, uma revista com

versão em inglês e publica estudos regulares relacionados à documentação técnica. Em sua

definição de instrução, a Tekom afirma que essa é o documento que comunica como

empregar e usar um produto e se dá a partir do momento que alguém, capaz de realizar algo,

instrui um outro alguém, interessado em aprender algo, independentemente do meio de

publicação; ou seja, as instruções podem ser apresentadas tanto nas embalagens dos produtos,

quanto nos sites dos fabricantes, por exemplo. Nessa definição de instrução a descrição não

está presente. Ela é considerada parte do “Manual do Usuário” que por sua vez é definido

como um livro no qual se descreve o uso de um produto. Na definição encontrada nos parece

clara a distinção entre manual do usuário e instruções de preparo, compreendidas neste

trabalho como modo de preparo. O primeiro trata-se de um tipo de documento técnico que

acompanha um produto acabado, pronto para o uso. O segundo, trata-se de um documento

técnico que acompanha um produto que depende da nossa ação para que seja finalizado e só

então consumido.

A expressão “texto instrucional” não apareceu em nenhum dos rótulos analisados. As

instruções foram introduzidas por meio das expressões verbais relacionadas, mais adiante, no

QUADRO 7.

12 Adotamos neste trabalho o conceito de embalagem determinado pela Anvisa (2002): “Embalagem é o recipiente destinado a garantir a conservação e facilitar o transporte e o manuseio dos alimentos”.

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3.2 O modo de preparo e seu suporte

Nos estudos pesquisados para este trabalho, foi possível constatar que embalagem não

é só recipiente, mas também estratégia, tecnologia de armazenagem e conservação, interface

de exposição e apresentação de produtos, instrumento de venda funcional, instrumento do

marketing de marcas e também suporte de rótulos. Neste trabalho, buscamos conhecer um

pouco sobre as formas e funções das embalagens para compreendê-las como suporte dos

rótulos impressos em suas superfícies físicas.

Nos estudos de Marcuschi (2003) sobre a relação gênero-suporte, compreendemos que

os gêneros se dão materializados em linguagem e são visíveis em seus habitats. O autor

expressa a sua ideia de suporte observando três aspectos: primeiro, o suporte é um lugar físico

ou virtual; segundo, o suporte tem formato específico; terceiro, o suporte serve para fixar e

mostrar o texto. Considerando o primeiro aspecto, as embalagens de produtos alimentícios são

reais e de fato oferecem um espaço físico para a manifestação do texto instrucional.

Considerando o terceiro aspecto, as embalagens de fato servem para fixar textos. Quanto ao

segundo aspecto, observamos, ao longo dos simulados realizados, se o formato13 das

embalagens iria interferir, ou não, na leitura do texto instrucional e nossas observações foram

registradas nos resultados.

Independentemente dos resultados verificados na leitura dos alunos participantes,

acreditamos na importância de um bom projeto também para as embalagens e não apenas para

os conteúdos impressos nos rótulos. No nosso entender, não é suficiente projetar e produzir

embalagens modernas, estilosas e resistentes, desconsiderando a sua função comunicativa

que, acreditamos, deve estar aliada às de conservação, armazenagem e distribuição. Nosso

posicionamento se fundamenta na fala de Perez (2004) que define as embalagens como mais

do que objetos acondicionadores. Essa autora afirma que embalagens são: Objetos semióticos, portadores de informação, e, portanto, mídias, veículos de mensagens carregadas de significação. Nas embalagens, os planos, os espaçamentos e os materiais constituem-se como espaços privilegiados de significação e devem ser planejados e executados com essa perspectiva sígnica (PEREZ, 2004, p.66).

13 Observamos se embalagem e rótulo se confundiriam, em algum momento, na percepção do leitor. Nesse caso, os leitores participantes perceberam como embalagem a materialidade física do invólucro que acondicionava o alimento e como rótulo a materialidade linguística da proposta instrucional não incorrendo, portanto, em tal equívoco.

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De um modo geral, as embalagens de produtos alimentícios têm formatos diversos e

isto não apenas para atingir objetivos estéticos ou logísticos, mas principalmente para cumprir

sua função primeira de acondicionar e apresentar produtos. Nesse ponto, observamos a

pertinência da fala de Perez (2004) que enxerga, na materialidade das embalagens, “espaços

privilegiados de significação”. Aqui, atentamos para a necessidade de estudos mais pontuais

sobre a especificidade de cada modo semiótico e de que forma eles podem ser explorados

para expressar conteúdos de forma multimodal nesses espaços. Acreditamos que o

conhecimento sobre recursos semióticos pode ajudar os designers de embalagens a construir

arranjos linguísticos mais expressivos. Além de elementos visuais como dimensão,

angularidade, simetria, proporção, aspectos cromáticos e tipográficos, existe ainda um

parâmetro ergonômico e de atributos de ação psicológica que indica ser fundamental a

escolha de determinada família tipográfica na diagramação de textos (PEREZ, 2004). A

compreensão de Perez (2004) acerca das embalagens, com a qual concordamos, trouxe uma

nova dimensão para o conceito com o qual estávamos trabalhando. Mais que “recipiente

destinado a garantir a conservação e facilitar o transporte e o manuseio dos alimentos

(ANVISA, 2002)”, embalagens são também mídias portadoras de informação e como tal

acreditamos que possam ser não somente resistentes, recicláveis e de baixo custo, mas

também inteligíveis e atraentes.

3.3 A regulamentação de instruções em rótulos de alimentos

Como vimos aqui, a Anvisa define o rótulo como toda matéria descritiva ou gráfica

que esteja escrita, impressa, estampada, gravada ou colada sobre a embalagem de um produto

alimentício, mas que critérios estão estabelecidos para a rotulagem desses produtos? Quem

redige as instruções impressas em rótulos de alimentos? Como não encontramos registros

disponíveis sobre a documentação técnica desses produtos no portal da Anvisa, solicitamos

esclarecimentos via procedimento14 eletrônico. A seguir, a transcrição da resposta que nos foi

fornecida pela ouvidoria da Anvisa com o suporte de suas equipes técnicas internas.

14 Formulário eletrônico número 393896 encaminhado à Anvisa em 05/05/2011.

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Informações presentes na rotulagem de alimentos como o modo de preparo não são denominadas no ordenamento sanitário jurídico vigente como informações nutricionais. O fornecimento desse tipo de informação é regulamentado pela Resolução RDC n0 259/02, que estabelece em seu item 5 que as instruções sobre o preparo e uso do alimento são obrigatórias de constar na rotulagem de alimentos, quando necessário e, em seu item 6, a forma de veiculação dessas informações. Destacamos que o fornecimento dessas informações é de responsabilidade da empresa. Desta forma, a Anvisa não normatiza sobre a obrigatoriedade de figuras para ilustrá-las ou questões semelhantes. Por fim, informamos que a Anvisa não realizou pesquisas relacionadas a esse assunto (ANVISA, 2011).

Ao destacar que o fornecimento das informações instrucionais é de responsabilidade

das empresas, nos questionamos sobre quem redige essas instruções e que critérios usariam

para isso. Se as instruções seriam tratadas genericamente como informações ou se, nesse caso,

seria observado o seu caráter instrucional, considerando, nesse caso, a noção de instrução aqui

apresentada. Diante do que nos foi colocado pela Anvisa (2011), verificamos o que diz a RDC

(Resolução de Diretoria Colegiada) de número 259/02, em seu Regulamento Técnico para

Rotulagem de Alimentos Embalados. No que diz respeito às informações instrucionais em

rótulos, o item 3.1 da resolução dispõe sobre os princípios gerais, determina que os alimentos

embalados não devem ser descritos ou apresentar rótulo que “utilize vocábulos, sinais,

denominações, símbolos, emblemas, ilustrações ou outras representações gráficas que possam

tornar a informação falsa, incorreta, insuficiente ou que induza o consumidor a equívoco,

erro, confusão, em relação à verdadeira natureza, composição, procedência, tipo, qualidade,

quantidade, validade, rendimento ou forma de uso do alimento”. O item 5 dispõe sobre as

informações obrigatórias e determina que a rotulagem de alimentos embalados deve

apresentar, obrigatoriamente, as seguintes informações: denominação de venda do alimento,

lista de ingredientes, conteúdos, líquidos, identificação da origem, nome ou razão social e

endereço do importador, no caso de alimentos importados, identificação do lote, prazo de

validade, instruções sobre o preparo e uso do alimento, quando necessário. Por último, os

itens 6.7.1 e 6.7.2 que dispõem sobre a apresentação das informações obrigatórias. O

primeiro, determina que, quanto ao preparo e instruções de uso do produto, “quando

necessário, o rótulo deve conter as instruções sobre o modo apropriado de uso, incluídos a

reconstituição, o descongelamento ou o tratamento que deve ser dado pelo consumidor para o

uso correto do produto”. O segundo, determina que essas “instruções não devem ser

ambíguas, nem dar margem a falsas interpretações, a fim de garantir a utilização correta do

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alimento”. Observamos que as determinações da Anvisa (2002) quanto ao preparo e instrução

de uso dos produtos, matéria relevante no contexto deste trabalho, são de ordem diretiva e não

normativa. A RDC 259/02 diz que as instruções não devem ser ambíguas, mas não determina

um tutorial que ajude a alcançar esse objetivo.

Consultamos ainda os fabricantes das misturas para bolo com as quais trabalhamos,

sobre como são elaboradas as instruções apresentadas em seus rótulos. Os fabricantes dos

rótulos 2, 3 e 4 responderam15 ao nosso questionamento. O primeiro informou que a indústria

possui um departamento de artes gráficas no qual são desenvolvidos os projetos de suas

embalagens sendo que, em alguns projetos, contratam os serviços de uma agência.

Informaram ainda que a indústria possui em sua equipe uma profissional para “assuntos

regulatórios” a qual é responsável pelos “dizeres legais” impressos nas embalagens. O

segundo informou que a indústria possui um setor de design que desenvolve as artes gráficas

sendo que os “dizeres técnicos” são elaborados por um engenheiro de P&D com formação em

engenharia de alimentos. Informou também que o modo de preparo é baseado em testes

práticos realizados no desenvolvimento do produto. O terceiro informou que todas as

informações das embalagens são elaboradas dentro da própria indústria por uma profissional

de P&D com formação em farmácia bioquímica e conferidas por assistentes com formação

em farmácia e engenharia de alimentos. Nenhum dos fabricantes mencionou ter, entre os

profissionais que elaboram as propostas instrucionais dos seus rótulos, a colaboração de

algum especialista em documentação técnica.

3.4 O texto instrucional

Os estudos de Bakhtin (1979) sobre os gêneros discursivos e suas formas de

enunciados relativamente estáveis são amplamente conhecidos e têm inspirado o trabalho de

muitos pesquisadores e linguistas. Um deles, o brasileiro Luiz Antônio Marcuschi (2002),

dedicou grande parte de sua obra ao estudo dos gêneros textuais, definidos por ele como

fenômenos ou entidades sociocomunicativas ou ainda eventos linguísticos que levam em

conta a natureza funcional e interativa, a qual consideramos especialmente relevante no

15 O fabricante do rótulo 1 nos retornou, porém sem responder ao nosso questionamento. Segundo esse fabricante eles não podem divulgar informações para elaboração de trabalhos acadêmicos e pesquisas. Explicaram-nos se tratar de uma norma determinada pela matriz da empresa, na Alemanha.

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contexto deste trabalho. Interagimos uns com os outros e fazemos as coisas funcionarem ao

nosso redor por meio de gêneros discursivos, desde um tratado internacional a uma receita de

bolo caseiro. Sem o aparato dos gêneros discursivos, se fosse necessário construir livremente

um novo modelo de discurso a cada situação de comunicação na qual nos envolvêssemos,

essa se tornaria praticamente impossível (BAKHTIN, 2003, p.283). Dessa forma, podemos

dizer que organizamos os gêneros discursivos não só para facilitar a nossa comunicação, para

fazê-la fluir, mas principalmente para torná-la viável. Sobre como são organizados os gêneros

discursivos, encontramos em Bazerman (2005) a noção de um sistema de gêneros que é

levado em conta juntamente com um sistema de atividades.

Levar em consideração o sistema de atividades junto com o sistema de gêneros é focalizar o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas a fazê-lo, em vez de focalizar os textos como fins em si mesmo (BAZERMAN, 2005, p. 34).

Por conjunto de gêneros Bazerman (2005) compreende uma coleção de tipos de textos

que uma pessoa tende a produzir individualmente em determinada situação. Um sistema de

gêneros seria a reunião de diversos conjuntos de gêneros utilizados por pessoas que trabalham

juntas, de forma organizada, e o sistema de atividades seria aquele no qual estaria inserido o

sistema de gêneros e no qual se encontraria a organização do trabalho e as suas realizações.

Essa noção de sistemas de gêneros de Bazerman (2005) chamou-nos a atenção por que

enxergamos os rótulos neste trabalho não apenas como objetos de leitura e aprendizado, com

função comunicativa, interacional e discursiva, mas também como ordenadores16 das nossas

ações na conquista de determinadas finalidades. Apoiados no dizer desse autor, propomos a

visão de que os textos instrucionais presentes em rótulos não possuem apenas uma função

comunicativa, mas também uma função “social” ao cooperar com o leitor na execução de

tarefas que ele deve cumprir para executar com êxito determinada atividade. Inspirados na

sistematização proposta por Bazerman (2005), elaboramos a representação que pode ser

observada na FIG. 3, na qual propomos o modo de preparo como um tipo específico de texto

injuntivo, presente em rótulos de alimentos. Nessa proposição, o modo de preparo faz parte

de um conjunto individual de gêneros utilizado por um determinado leitor. Esse conjunto de 16 Esse termo é utilizado aqui no sentido empregado por Travaglia (1991) para a ordenação, ou seja, não apenas uma sequência ordenada no tempo, mas também ordenada de forma a se conquistar um objetivo, com a maior praticidade possível.

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gêneros, por sua vez, encontra-se inserido em um sistema de gêneros que reúne os conjuntos

individuais de outros leitores que os utilizam de forma individual e distinta. Se um aluno, por

exemplo, utiliza o modo de preparo para comunicar aos colegas como preparar um alimento,

o seu professor poderá utilizá-lo em uma atividade pedagógica. Esse sistema de gêneros, no

qual se encontra o conjunto de gêneros do aluno e também do seu professor estaria, por sua

vez, inserido em um sistema de atividades que corresponde à organização do trabalho em todo

o sistema de ensino, por exemplo, no qual estão presentes além do aluno e do professor,

também o nutricionista responsável pela alimentação escolar, os profissionais que lidam com

a manipulação dos alimentos e finalmente aqueles que trabalham diretamente na preparação

da merenda escolar.

Figura 1: Sistematização do modo de preparo.

Fonte: Elaboração própria inspirada em Bazerman (2005).

Como vimos, Bazerman (2005) se refere a um conjunto de gêneros presentes nos

domínios da comunicação humana e também a um sistema de gêneros e outro de atividades.

Encontramos também, nos estudos de Schneuwly e Dolz (2010), uma proposta provisória,

sistema de atividades

sistema de gêneros

conjunto de gêneros

texto instrucional

modo de preparo

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como assim chamaram os autores, de cinco agrupamentos de gêneros e verificamos entre eles

a presença das instruções e prescrições, aqui reproduzidas no QUADRO 3. Entre os

agrupamentos propostos por Schneuwly e Dolz (2010) estão: a narração, na cultura literária

ficcional; o relato, na documentação e memorização das ações humanas; a argumentação, na

discussão de problemas sociais controversos; a exposição, na transmissão e na construção dos

saberes; e a instrução/prescrição, na descrição das ações, o que, na concepção desses autores,

permite uma regulação mútua de comportamentos.

QUADRO 3

Instruções e prescrições na proposta de agrupamento de gêneros de Schneuwly e Dolz

Domínios sociais de comunicação Aspectos tipológicos

Capacidades de linguagem dominantes

Exemplos de gêneros orais e escritos

Instruções e prescrições Descrever ações

Regulação mútua de comportamentos

instruções de montagem

receita regulamento

regras de jogo instruções de uso

comandos diversos textos prescritivos

Fonte: Schneuwly e Dolz, (2010, p. 51-52). Grifos dos autores.

Como podemos observar, Schneuwly e Dolz (2010), em sua proposta provisória de

agrupamento de gêneros, não citam diretamente a expressão texto instrucional, mas citam a

receita como exemplo de texto instrutivo/prescritivo na qual observamos, em nossas amostras

de rótulos, a presença do modo de preparo. Acumulamos, ao longo de 2010 e 2011, 320

rótulos de alimentos para a realização deste trabalho. A maioria deles é de produtos prontos

para o consumo, mas foi possível encontrar 82 rótulos com texto de tipo instrucional. Desse

montante, 58 rótulos apresentaram o texto instrucional como modo de preparo. Poucos

produtos inseriram as instruções no rótulo sem nomeá-las ou utilizaram nomenclaturas

diferentes para o conjunto de instruções, o que pode ser verificado no QUADRO 4.

Em nossa busca por uma definição de texto instrucional como um gênero específico,

não encontramos tal definição nos estudos sobre gêneros propriamente, mas o reconhecemos

nos estudos de Travaglia (1991) sobre o verbo no português do Brasil. Em sua fala sobre a

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ordenação que caracteriza a dimensão temporal do discurso, Travaglia (1991) discorre sobre

os textos injuntivos, nos quais aponta uma ordenação referencial pelo tempo. No dizer desse

autor, alguns textos injuntivos são planos17 que estabelecem uma sequência ordenada de

situações que conduzem a uma meta pretendida. Entre os exemplos de textos injuntivos

citados por esse autor estão as receitas culinárias, as instruções de uso e os manuais de

instrução que ordenam a execução das ações em uma sequência considerada como a mais

prática para se atingir determinada finalidade. Especificamente no caso das receitas culinárias,

a ordenação dada pelo plano aparece “mesmo quando elas não são formuladas

injuntivamente, mas o falante explica como fazer algo ou descreve suas ações ao executar

uma receita” (TRAVAGLIA, 1991, p. 149). A seguir, organizamos no QUADRO 4 as

nomenclaturas que encontramos nas embalagens de alimentos para introdução das instruções

de preparação.

17 Travaglia explica que o Plano é um modelo cognitivo no qual as situações aparecem em ordem já estabelecida pelo nosso conhecimento de mundo e cita ao lado dele também os Esquemas e os Scripts. Segundo o autor, no plano, a ordenação é necessária, e inversões sempre causam problemas.

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QUADRO 4

Nomenclaturas utilizadas em rótulos de alimentos para as instruções de preparação

Tipos de Produtos

Tipos de Nomenclaturas utilizadas

café, cappuccino, temperos, lasanhas, batatas

congeladas, massas, aveia, achocolatados, macarrão instantâneo, coco ralado, farinha de trigo, sanduiches congelados, pão de queijo, amido de milho, mistura para bolos, mistura

para pão, pó para chantilly, gelatina em pó, leite em pó, mingaus, cereais, caldos, creme de leite,

chás, proteína de soja.

modo de preparo

Granolas sugestão de uso sugestão de consumo

farofas, cereais matinais Dicas

óleo de soja Preparo

pizza congelada forno convencional

café solúvel instantâneo

fácil de preparar

lasanha congelada

para aquecer faça assim

gelatina

veja como é fácil preparar

proteína texturizada de soja como hidratar

tempero alho e sal

modo de uso

pipoca para microondas, caldo em tablete, pó para refresco.

sem nomenclatura

Fonte: Elaboração própria, com dados dos rótulos de alimentos acumulados em 2010 e 2011.

3.5 O texto instrucional em rótulos de produtos de limpeza

Observamos a presença de instruções de uso em uma amostra de 34 produtos de

limpeza, considerando que são instruções que também se apresentam em rótulos. Verificamos

que esses produtos utilizaram com maior frequência a nomenclatura modo de usar em vez de

instruções de uso, como se pode observar no QUADRO 5. Da amostra de 34 produtos de

limpeza observados, 22 deles utilizaram a nomenclatura modo de usar, 5 utilizaram instruções

de uso, 4 utilizaram modo de uso, 1 introduziu as instruções sem nomeá-las, 1 utilizou a

expressão instruções para ótimos resultados e 1 não apresentou instruções.

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QUADRO 5

Nomenclaturas utilizadas para o texto instrucional em rótulos de produtos de limpeza

Tipos de Produtos

Nomenclaturas utilizadas

álcool, detergente líquido, saponáceo, eliminador de

odores, limpador para piso, limpa vidros, cloro ativo, cera incolor, cera

perfumada, desinfetante, desinfetante com perfume, pasta multi-uso, tira-limo, amaciante, anil líquido, gel para limpar plásticos, graxa líquida para sapatos, tira-

ferrugem, anti-mofo, gel para calçados, desengordurante, líquido para passar roupas

modo de usar

removedor de cera, cera antiderrapante, lustra-

móveis, anti-manchas, água sanitária, tira-manchas para roupas

instruções de uso

lustra-móveis com perfume, sabão de coco, graxa para sapatos, branqueador de roupas

modo de uso

esponja multiuso, sabão em barra

sem nomenclatura

lava roupas em pó

instruções para ótimos resultados

esponja de aço

sem instruções

Fonte: Elaboração própria com dados encontrados em rótulos de produtos de limpeza, verificados em março de 2012.

3.6 O texto instrucional em bulas de medicamentos

Observamos ainda a presença de texto instrucional em uma pequena amostra de 13

medicamentos. Muitas são as informações disponibilizadas nas bulas de medicamentos, a

maior parte delas apresentadas como informações técnicas. Encontramos também

informações ao paciente dirigidas ao leitor/consumidor e que não se apresentam como

instruções, ainda que as forneçam. São informações de alerta como contra-indicações e

reações adversas, e aconselhamentos como precauções e advertências. As instruções que

encontramos nas bulas observadas foram apresentadas ao leitor/consumidor da forma como

foram aqui organizadas, no QUADRO 6.

Verificamos que o tipo posologia, o qual apresenta instruções sobre as dosagens a

serem administradas, foi encontrado em todas as bulas, exceto na do antialérgico. Em três

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bulas essa expressão apareceu ao lado da expressão modo de usar, que, lembramos aqui,

também foi encontrada nos rótulos de produtos de limpeza. Verificamos ainda, em todas as

bulas, a presença de instruções sobre a correta conduta em casos de superdosagem, mas a

maioria delas dirigidas aos profissionais da saúde. Três exceções podem ser observadas na

coluna “outros” do QUADRO 6. Nesses medicamentos, um laxativo, um antialérgico e um

anti-histamínico, além das instruções dirigidas aos profissionais da saúde, observamos

também instruções dirigidas ao leitor/consumidor. Na bula do laxativo encontramos: “No caso

de superdosagem acidental, procure orientação médica”; na bula do antialérgico encontramos:

“Os sintomas principais de uma superdose podem ser: náuseas, obnubilação, excitação,

tremores, convulsões e instabilidade circulatória” e na bula do anti-histamínico: “não deverão

ser induzidos ao vômito pacientes com diminuição do nível de consciência” e ainda, “Deverão

ser tomadas precauções contra a aspiração, principalmente em crianças”.

Comparando as instruções que encontramos para alimentos, saneantes e fármacos

industrializados observamos que essas se apresentam, em sua maioria, como instruções de

preparo nos rótulos de alimentos e como instruções de uso nos rótulos de produtos de limpeza

e bulas de medicamento.

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QUADRO 6

Nomenclaturas utilizadas para o texto instrucional em bulas de medicamentos

Medicamentos Cuidados de armazenamento

Cuidados de administração Posologia Modo de usar Outros

Cianocobalamina (antiinflamatório)

X X X - -

Complexo Senna

(laxativo) X X X - Tratamento da

superdosagem

Carbamazepina (antiepilético)

X X X X -

Cloreto de

cetilpiridínio (anestésico)

X X X X Procedimento de limpeza

Amoxilina

(antibiótico) - - X - Método de

administração

Cloridrato de terbinafina (fungicida)

- - X - -

Dipirona sódica

(analgésico) - X X X Cuidados de

conservação

Clobazan

(ansiolítico) X X X - -

Cloridrato de

clobutinol (antialérgico)

X X X - Superdosagem

Cloridrato de terbinafina

(antimicótico) - - X -

Como devo usar este medicamento?

Como usar Onde e como devo

guardar este medicamento? Armazenagem

Loratadina

(anti-histamínico) X X X - Superdosagem

Maleato de

dexclorfeniramina (antialérgico)

- - - -

Como devo usar este medicamento?

Como usar Onde e como devo

guardar este medicamento?

Dicloridrato de flunarizina

(vasodilatador) - - X - -

Fonte: Elaboração própria com dados de bulas de medicamentos, verificadas em março, 2012.

Finalizando nossas observações sobre o texto instrucional, considerando o postulado

por Bakhtin (1979), Marcuschi (2002), Bazerman (2005) e Travaglia (1991), propomos aqui

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33

que esse tipo de texto se apresenta, dentro do rótulo, com formas de enunciados relativamente

estáveis, de natureza funcional e interativa, que ordena, descreve ou explica ações a serem

executadas e, dessa forma, busca ajudar o leitor a atingir determinada finalidade. Essa

definição corresponde ao que observamos nos impressos em rótulos de mistura para bolo e

nos quais aparecem geralmente como modo de preparo. De forma geral, observamos a

expressão manual do usuário utilizada para indicar o texto instrucional nos manuais de

equipamentos eletroeletrônicos, como montar aparece em instruções para utensílios

domésticos e alguns brinquedos, modo de usar, assim como instruções de uso, aparece em

rótulos de produtos para limpeza, e bula para instruções e informações sobre o uso de

medicamentos.

3.7 O texto instrucional nos rótulos analisados

Nos rótulos selecionados para o corpus deste trabalho, observamos que o modo de

preparo não foi o único texto com instruções apresentado. Instruções sobre os tipos de fôrma

que poderiam ser utilizadas e sobre os ingredientes complementares foram apresentadas em

espaço separado daquele no qual se instruía sobre o modo de preparo e introduzidas por meio

das expressões verbais relacionadas no QUADRO 7, a seguir.

QUADRO 7

Expressões utilizadas no texto instrucional dos rótulos analisados

Rótulo 1

1a marca mais cara

Rótulo 2

2a marca mais cara

Rótulo 3

2a marca mais barata

Rótulo 4

1a marca mais barata antes do preparo você irá utilizar ingredientes

complementares você vai utilizar

você vai precisar antes de preparar modo de preparo modo de preparo

modo de preparo modo de preparo dicas de preparo X

indicação de fôrma escolha sua fôrma X X

Fonte: Elaboração própria com dados do corpus deste trabalho, 2010

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Observamos, nos quatro rótulos analisados, a presença de uma sequência ordenada de

situações, sobre a qual falou Travaglia (1991), compreendidas aqui como uma sequência de

funções (F) a executar. São elas: untar a fôrma (F1), preaquecer o forno (F2), juntar os

ingredientes (F3), bater os ingredientes (F4), enformar a massa (F5), assar a massa (F6),

verificar o cozimento (F7) e desenformar/servir (F8). Todos os rótulos apresentaram as

funções F1 a F6, as quais consideramos essenciais para que se cumpra com êxito o objetivo

do modo de preparo nos rótulos. A Função 7 (verificar o cozimento) foi apresentada nos

rótulos 1 e 3, e a Função 8 (desenformar/servir), nos rótulos 2 e 3. Nem sempre as funções

foram apresentadas individualmente. No rótulo 3, por exemplo, em um único enunciado são

indicadas as funções F1 e F5 na instrução 4. O mesmo pode ser observado em relação a F2 e

F6 indicadas na instrução 5 desse mesmo rótulo, como organizado aqui, no QUADRO 8.

QUADRO 8

Funções apresentadas conjuntamente em uma mesma instrução do rótulo 3

Instruções Funções presentes

4 – Despeje a massa em fôrma untada e enfarinhada e leve ao

forno.

F1 – untar a fôrma

F5 – enformar a massa

5 – Leve ao forno pré-aquecido e asse por 30 a 45 minutos conforme

a fôrma escolhida.

F2 – preaquecer o forno

F6 – assar a massa

Fonte: Elaboração própria com dados observados em rótulo do corpus deste trabalho, 2010.

3.8 O rótulo e o letramento

No artigo “Alfabetização e Letramento: sedimentação de práticas e (des)articulação de

objetos de ensino”, Rojo (2006) considera o rótulo como um gênero complexo, materializado

de forma multimodal e que pode ser enfocado a partir de diferentes funções.

Ainda no estudo de Rojo (2006), encontramos algo que nos chamou a atenção. Em

uma das aulas que acompanhou para o seu estudo, a autora registrou uma atividade de

exploração de rótulos de alimentos e material de limpeza, na qual observou, com base em

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Schneuwly18, uma decomposição do objeto de ler. Nessa atividade, Rojo observou que a

professora levou para a sala de aula uma amostra de rótulo, mas não trabalhou com esse

objeto na sua totalidade como rótulo. Nesse caso, constatou-se uma menor preocupação com

as propriedades do gênero rótulo e maior com a exploração de letras e sílabas do logotipo. Se

no artigo citado Rojo (2006) se refere ao gênero rótulo como objeto de alfabetização e

letramento, em outro (ROJO, 2006, p.1761-1775) considera a importância de se investigar, na

Linguística Aplicada, os usos da linguagem e do discurso na busca de conhecimento útil a

participantes sociais. Em estudo sobre gêneros do discurso no Círculo de Bakhtin, Rojo

(2006) afirma, ao comentar os temas relevantes para a Linguística Aplicada no ensino de

línguas:

A questão é: não se trata de qualquer problema – definido teoricamente – mas de problemas com relevância social suficiente para exigirem respostas teóricas que tragam ganhos a práticas sociais e a seus participantes, no sentido de uma melhor qualidade de vida, num sentido ecológico (ROJO, 2006, p. 1762).

Refletindo sobre o que nos diz a autora em relação a um possível ganho às práticas

sociais, na pesquisa em Linguística Aplicada, acreditamos no estudo dos gêneros do cotidiano

em sala de aula como objetos de alfabetização e letramento. Acreditamos que o que Rojo

(2006) ambiciona, uma melhor qualidade de vida, pode tornar-se possível se a escola for

capaz de colocar em sua agenda a “busca de um estado ou condição de quem sabe ler e

escrever”, proposta por Soares (2010, p. 36). Enxergamos esse estado ou condição de quem

sabe ler e escrever em um nível mais avançado em relação ao domínio das tecnologias de

codificar e decodificar palavras. Como observamos nas análises realizadas ao longo deste

trabalho, as propostas instrucionais dos rótulos com os quais trabalhamos partiram do

pressuposto de que o consumidor alfabetizado é capaz de ler as instruções dos rótulos e dessa

forma executá-las. Mesmo dominando a tecnologia de ler, os leitores podem encontrar

dificuldades ao fazer uso dessa tecnologia em suas práticas sociais. Acreditamos que essas

dificuldades talvez pudessem ser minimizadas se os leitores em formação desenvolvessem em

sala de aula atividades que contemplassem a diversidade de textos do nosso cotidiano,

diversidade essa já proposta nos Parâmetros Curriculares Nacionais:

18 Segundo Schneuwly (2005), na prática de ensino o objeto de ensino é decomposto. Em um primeiro momento apenas parte dele é trabalhado. Isso se deve a uma maior complexidade do objeto na sua totalidade.

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É mínima a possibilidade de que o aluno venha a compreender as especificidades que a modalidade escrita assume nos diversos gêneros, a partir de textos banalizados, que falseiem sua complexidade. A seleção de textos deve privilegiar textos de gêneros que aparecem com maior frequência na realidade social e no universo escolar. (MEC/SEF, 1998. P. 25-26)

Como já dissemos aqui, fundamentadas em ROJO (2006), reconhecemos o rótulo de

alimento como um gênero presente no nosso cotidiano e com um grau de complexidade que

pode ser explorado em sala de aula como as funções que foram identificadas nos rótulos por

ROJO (2006), organizadas no QUADRO 9, a seguir.

QUADRO 9

Funções encontradas nos rótulos de alimentos

Funções Informações

Informativa

qualidades nutricionais, peso líquido, informações sobre o

fabricante, classificação como alimento, endereço do fabricante, preço em código de barras, selos etc.

Apelativa

slogans, imagens, diagramação, logomarcas, cor de fundo.

Injuntiva

modo de preparo

Fonte: Elaboração própria com dados de Rojo (2006).

Encerrando a nossa fala sobre o rótulo e o letramento, destacamos que o que foi

proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para os dias de hoje, no que diz respeito à

seleção de textos mais frequentes em nossa realidade social, tivemos a oportunidade de

vivenciar já nos anos de 1970, o que relatamos a seguir. Naquela época, em uma escola

estadual, uma professora do ensino reconhecido como primário, fez diferença ao levar para

estudo em sala de aula um gênero textual presente na realidade social daquela época. Hoje, o

estudo desse mesmo gênero em sala de aula ainda seria possível, mas não com os mesmos

resultados práticos considerando-se que atualmente a comunicação por meio de telegramas

encontra-se ultrapassada frente às novas tecnologias.

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3.9 Uma experiência pessoal de letramento

No ano de 1972, em uma sala de aula de uma escola pública, no interior de Minas

Gerais, a professora da segunda série do ensino primário iniciou a aula apresentando a lição

daquele dia. Não levou para a sala as cartilhas da escola como de costume, naquela época o

livro didático não fazia parte da nossa rotina de estudos, mas um bloco de formulários

solicitados por ela a um funcionário da Agência de Correios e Telégrafos. Um a um, a

professora foi destacando os formulários e colocando-os sobre as carteiras para depois

explicar o que faríamos. Fomos orientados a escrever na primeira linha o nosso nome

completo. Na linha de baixo o endereço, também completo, e no meio uma mensagem.

Vamos escrever o quê? Para quem? Perguntamos. A professora respondeu: Vamos fazer um

passeio no céu. Assim, precisamos mandar um telegrama para o Anjinho19 e a mensagem é a

seguinte, anotem aí: “chegaremos nuvem 11 vg portão principal pt”. Depois, vocês vão

inventar aí um endereço para o céu, também completo, senão a mensagem não vai ser

entregue pelos Correios. Avisou.

Ao chegarmos em casa naquele dia perguntamos à mãe o que era um telegrama. Ela

não sabia e esperamos o pai chegar do trabalho para explicar: “É um papel que a gente manda

pra avisar que alguém morreu”. Essa explicação não fez muito sentido naquele momento. Seis

meses depois, em março de 1973, eu e minha irmã fomos à Agência de Correios e Telégrafos

da cidade para enviarmos um telegrama a um parente distante informando sobre a situação de

calamidade pública na qual se encontrava a nossa cidade, devido a um intenso período de

chuvas. Naquela ocasião, não encontramos dificuldades em preencher o formulário com

mensagem breve, dados completos e uso das consoantes “VG”, no lugar da vírgula e “PT” ao

final da frase. Hoje percebemos que, naquela época, não havíamos aprendido sobre o que era

o gênero telegrama, em sala de aula, mas havíamos sido letradas ao escrevê-lo fora dela, o

que, naquele momento das nossas vidas, foi de grande utilidade.

19 Personagem infantil do escritor e cartunista Mauricio de Sousa, inspirado em um anjo que do céu vigiava e protegia as crianças da Turma da Mônica.

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4 LEITURA E LETRAMENTO

Falar sobre leitura não é algo fácil de se fazer. Pesquisadores menos experientes e

ainda construindo o início de uma trajetória (entre os quais me incluo) encontram dificuldades

em se distanciar de conceitos simplistas, como o de que a leitura é tão somente um processo

de decodificação da linguagem escrita. Verificamos que diferentes estudos, como os de

Orlandi (1982), Marcuschi (1999) e Coscarelli (2002), tratam a leitura como um processo de

produção. Estariam entre os produtos disso a interação verbal, a significação, a polissemia e

as inferências, entendidas aqui como “operações cognitivas que permitem ao leitor construir

novas proposições a partir de outras já fornecidas” (MARCUSCHI, 1999, p. 101). Em uma

primeira análise dos conceitos encontrados, nos questionamos sobre qual seria o lugar do

leitor nesse processo. Avançando um pouco mais, encontramos Certeau (1998), em um

esforço de compreensão da “arte do fazer” de cidadãos comuns, no qual pergunta-se qual

seria o lugar da leitura nas práticas culturais. Conclui ele que a leitura não tem um lugar

definido: “Barthes lê Proust no texto de Stendhal, o telespectador lê a paisagem de sua

infância na reportagem da atualidade” (CERTEAU, 1998, p. 270).

Se a leitura não possui um lugar definido, entendemos que uma “paisagem” definida

para ela possivelmente também não. Por mais modesto que seja, o texto terá sempre um

propósito, mas a sua compreensão será resultado de uma apropriação, por parte do leitor, das

marcas intencionais deixadas pelo autor. O leitor terá sempre a liberdade de construir uma

“paisagem”, passível de modificação a cada nova leitura de um mesmo texto. Não temos

como comprovar essa proposição no espaço deste trabalho, mas estudos sobre o tema

(MARCUSCHI, 1999; ORLANDI, 1999; BELO, 2008) sinalizam para o fato de que a leitura

é, de certa forma, um processo de idas e vindas ao longo de um mesmo percurso. Uma

trajetória com “avanços e recuos para correções, progredindo assim sem produzir

compreensões definitivas” (MARCUSCHI, 1999, p. 96). Essa possibilidade de o leitor

reconfigurar o que foi construído em uma leitura não quer dizer que os textos sejam um

reduto de metamorfoses. Uma vez escrito ou impresso, assim permanecerá na sua integridade

textual, mas a sua leitura, essa, sim, depende de inferências e rearranjos.

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4.1 O que é a Leitura

Muitas foram as definições encontradas para a leitura e repassamos aqui aquelas que

consideramos as mais significativas no contexto deste trabalho. A ordem na qual essas

definições são apresentadas aqui não sugere qualquer intenção de prioridade entre elas.

Começamos com uma definição de Marcuschi (1999, p. 96), além do já citado na seção

anterior, que diz ser a leitura um ato de interação comunicativa entre o leitor e o autor, com

base em um texto, sem que se possa prever os resultados provenientes dessa interação.

Orlandi (1999, p. 47) define a leitura como sendo o momento crítico da constituição de um

texto. Um momento singular na interação verbal, no qual “interlocutores, ao se identificarem

como interlocutores, desencadeiam o processo de significação”.

A definição de Coscarelli (1999) é para nós muito esclarecedora, uma vez que

menciona diferentes domínios envolvidos na leitura, os quais consideramos relevantes para a

nossa discussão.

A leitura é um processo complexo que envolve desde a percepção de sinais gráficos e sua tradução em som ou imagem mental até a transformação dessa percepção em ideias, provocando a geração de inferências, de reflexões, de analogias, de questionamentos, de generalizações etc. (COSCARELLI, 1999, p. 31).

Observamos aqui que Coscarelli (1999) não se refere a uma decodificação de sinais

gráficos, mas à sua tradução. O que diriam os verbetes de um dicionário de língua portuguesa

sobre estes dois termos no campo da linguagem?

Houaiss (2001, p. 921) define o termo decodificação como o “processo de interpretar

uma mensagem formulada numa língua, considerada como código.”

Vejamos agora como esse mesmo dicionário define o termo tradução.

Operação que consiste em fazer passar um enunciado emitido numa determinada língua (língua-fonte) para o equivalente em outra língua (língua-alvo), ambas conhecidas pelo tradutor, assim o termo ou discurso original torna-se compreensível para alguém que desconhece a língua de origem (HOUAISS, 2001, p. 2745).

Considerando essas duas definições, podemos pensar o leitor, no dizer de Coscarelli

(1999), como um mediador na busca da compreensão do que lhe deseja dizer o autor e do que

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lhe é possível compreender. Mas, o que seria a compreensão do leitor? A compreensão do

leitor, no entender de Marcuschi (2008), é uma atividade de produção de sentido colaborativa

e isso nos parece bem marcado por Coscarelli (1999) ao mencionar diferentes domínios

empreendidos pelo leitor na sua tradução. De um lado, enxergamos o autor, que trabalha na

construção das marcas que coloca no texto e, de outro, enxergamos o leitor, que trabalha a

tradução dessas marcas por meio de suas reflexões, analogias e inferências. Esse papel

colaborativo do leitor, e também do autor, fica claro no dizer de Perini (2001), em um ensaio

sobre a comunicação humana.

O leitor precisa trabalhar para entender o texto. Não basta deixar passar o texto pelo sistema linguístico português, que o espremeria para retirar o suco (que é o significado). O receptor tem de colocar em jogo seu conhecimento do mundo, localizar a parte desse conhecimento que é relevante para a compreensão do texto em questão e construir as “pontes” de sentido que amarram o texto, fazendo dele uma unidade. Por isso se diz, corretamente, que o receptor produz o sentido (não apenas o recebe); a própria palavra receptor, consagrada pelo uso, é enganosa: o receptor faz tanto quanto o emissor para dar sentido ao texto (PERINI, 2001, p. 64, grifos do autor).

Toda essa atividade do leitor nos leva a suspeitar de que a compreensão nos processos

de leitura talvez esteja mais próxima de uma suposta oficina de sentidos do que de um

laboratório de significados. Parece-nos mais coerente a ideia de que a compreensão seja

cavada, esculpida e polida por um leitor-artesão, que teria como principal ferramenta o seu

conhecimento de mundo, do que a ideia de que ela seja decodificada, medida e rotulada por

um leitor-alquimista, o qual teria como principal ferramenta o domínio do código linguístico.

Outras três expressões chamaram a nossa atenção na definição de Coscarelli (1999)

para a leitura. São elas: sinais gráficos, som e imagem mental. A utilização dessas expressões

nos permitiu pensar na multimodalidade em processos de leitura, ainda que o objeto de leitura

seja apenas um monomodal conjunto de sinais gráficos. Afinal, o que seria uma leitura

multimodal? Esta é uma questão sobre a qual falaremos um pouco mais adiante.

Encontramos ainda definições mais filosóficas, também relevantes, sobre a leitura,

como a de Zilbermam (1999, p. 42), para quem “a leitura é um modelo de desvelamento do

mundo”, e também a de Melo (1999, p. 74), que entende a leitura como um “ato de liberdade,

de escolha individual, que pressupõe uma finalidade, um objetivo, um propósito”.

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4.2 Um modelo de leitura

Depois de conhecer as definições encontradas sobre o que é a leitura, uma nova

questão se apresentou: Como se daria a leitura? Em outras palavras, como seria o seu

processamento? Encontramos um primeiro modelo de leitura elaborado por Coscarelli (1993),

no qual a leitura se dividia em dois grandes domínios de processamento: o do módulo

linguístico e o do processo cognitivo. Nesse primeiro modelo, chamado de modelo de leitura

seriado, os domínios de processamento eram considerados qualitativamente diferentes,

independentes e ordenados no tempo, ou seja, as operações de um domínio só eram iniciadas

após o término das operações do domínio anterior. Uma revisão desse modelo resultou no

modelo de leitura reestruturado (COSCARELLI, 1999), o qual trouxe avanços na

compreensão dos domínios de processamento da leitura. Um desses avanços foi postular que

tais domínios operam simultaneamente, construindo vários níveis de representação do input20,

o que no nosso entender é relevante para a compreensão do que seria a leitura multimodal.

Dessa forma, o apresentamos aqui de forma mais detalhada.

Como dissemos, o modelo reestruturado postula que diferentes domínios de leitura

operam simultaneamente, mas o que seriam esses domínios? Segundo Coscarelli (1999),

domínios são operações mentais envolvidas na leitura e que cumprem funções específicas

como, por exemplo, os processamentos lexical e sintático presentes no modelo seriado e

também em uma das partes do modelo reestruturado, como pode ser observado no QUADRO

10, no qual são demonstrados os domínios dos processamentos lexical e sintático,

apresentando os fatores que interferem em suas operações de modo a facilitá-las ou dificultá-

las.

20 Coscarelli (1993) se refere, no modelo de leitura seriado, a sistemas de input que teriam como função receber os diferentes estímulos externos, transformá-los em representações mentais e, dessa forma, alimentar o processador cognitivo central.

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QUADRO 10

Esquematização da forma linguística no modelo de leitura reestruturado Leitura – Forma linguística

Domínios que fornecem informações sobre as palavras e suas relações sintáticas

Processamento lexical

Processamento sintático

Ativamento de informações das palavras: Estruturação sintática

fonológicas -

fonéticas -

morfológicas -

sintáticas -

semânticas -

Fatores facilitadores fatores dificultadores Fator facilitador Fatores dificultadores

familiaridade com a palavra complexidade silábica familiaridade com a estrutura canonicidade alta probabilidade da palavra tamanho da palavra - complexidade sintática

- frequência alta - frases labirinto - ambiguidade lexical - ambiguidade sintática

Fonte: Adaptado de Coscarelli (1999).

Além dos processamentos lexical e sintático, três novos domínios foram acrescentados

ao modelo reestruturado. São eles a construção da coerência local, a construção da coerência

temática e a construção da coerência externa, que Coscarelli (1999) chamou também de

processamento integrativo. Uma esquematização desses novos domínios pode ser observada

no QUADRO 11, no qual eles são demonstrados, apresentando também os fatores que

interferem em suas operações.

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QUADRO 11

Esquematização do significado no modelo de leitura reestruturado Leitura – Significado

Domínios que utilizam as informações já processadas para construir o significado

Coerência local

Coerência temática Coerência externa

significado das frases representação semântica interpretação das informações proposições status tópico/não-tópico avaliação da pertinência Inferências macroestrutura proposicional integração das informações

- - mudança no conhecimento do leitor

Fatores facilitadores

Fatores dificultadores

Fatores facilitadores

Fatores dificultadores

Fatores facilitadores Fator dificultador

conhecimento do assunto

falta de clareza do tópico

familiaridade com o assunto

dificuldade de identificação de sinais do texto

familiaridade com o assunto

desativação de informações relevantes

metáforas comuns

canonicidade semântica

canonicidade semântica

desorganização de argumentos

canonicidade semântica

-

coesão figuras de linguagem inusitadas

conhecimento do leitor

ausência de hierarquia nas informações

conhecimento do leitor -

- ambiguidade semântica

previsibilidade do texto - previsibilidade

do texto

-

- ausência de conectivos

familiaridade com o gênero

textual -

familiaridade com o gênero

textual

-

- contradição organização textual - organização

textual

-

- - identificação das

ideias mais importantes

- identificação das

ideias mais importantes

-

- - - - capacidade do leitor de fazer julgamentos

-

- - - - memorização de

informações relevantes

-

Fonte: Elaborado com base em Coscarelli (1999).

No modelo reestruturado, os processamentos lexical e sintático operam com elementos

do texto e a construção das coerências local, temática e externa lida com estímulos internos

que, no dizer de Coscarelli (1999), são informações advindas dos dois primeiros domínios de

processamento. Dessa forma, caracteriza-se uma relação de interdependência entre os

domínios que foi representada pela autora como reproduzido aqui (FIG. 4).

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FIGURA 4: Representação do modelo de leitura reestruturado

Fonte: Coscarelli, 1999, p. 65.

Os domínios do modelo reestruturado são qualitativamente diferentes e também

interdependentes. As alterações sofridas pela informação em determinado domínio

desencadeiam um processo de readaptação de todos os outros diante da informação

modificada. Esses domínios estão em constante comunicação durante a construção da

coerência da informação processada ou mesmo na manutenção da coerência já construída.

Durante todo esse trabalho, o leitor conta com informações culturais e situacionais, além das

informações linguísticas, o que nos leva a considerar aqui o postulado por Kress e van

Leeuwen (2001), ao se referirem ao trabalho dos intérpretes do discurso, afirmando que esses

o fazem a partir do seu lugar no mundo social e cultural. O modelo reestruturado, ainda que

não contemple as imagens, nos chama a atenção para diferentes modos de ler uma mesma

informação ao considerar informações culturais e situacionais, além das informações

Processamento Sintático

Processamento

Lexical

Construção da Coerência Local

Construção da Coerência Externa

Construção da Coerência Temática

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linguísticas. Nesses casos, não se trataria apenas de leituras diferentes, mas também dos

diferentes modos de ler praticados em diferentes situações e com diferentes propósitos.

4.3 Leitura multimodal

Vimos, na definição de Coscarelli (1999), que a leitura é a percepção de sinais e a

transformação desses sinais em ideias ou significados. Pensando aqui especificamente na

leitura multimodal, Kress e van Leeuwen (2001) afirmam que projeto e discurso também

desempenham um papel na interpretação e que um discurso pode ser interpretado de forma

diferente daquela como foi concebido. O que chamou mais a nossa atenção no âmbito desta

pesquisa é que Kress e van Leeuwen (2001) falam de possibilidades de interpretação nos

discursos não só devido à utilização de diferentes modos semióticos, mas também devido à

apropriação que os usuários fazem desses recursos:

Um produto pode ser projetado para ser usado facilmente, porém, certos usuários talvez não se agradem de produtos que pensem por eles. Tais usuários trabalham a partir de um discurso diferente, de uma concepção diferente daquilo que está envolvido na tarefa e de um conjunto de ideias e valores associados. Naqueles eventos ou produtos semióticos que os intérpretes do discurso, ou usuários, possam se concentrar mais tem tudo a ver com o seu lugar no mundo social e cultural e também com o conteúdo, um de cada vez (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001, p. 8, minha tradução).

Quando os autores falam em produto, entendemos como um produto semiótico, o qual

corresponde, neste trabalho, ao rótulo de mistura para bolo. No dizer dos autores, não apenas

o discurso pode ser construído de forma multimodal, envolvendo diferentes modos de

expressão, mas também a sua interpretação, a qual envolve diferentes ideias e valores dos

intérpretes do discurso.

Estamos cientes de que a afirmação de Kress e van Leeuwen (2001) vai além do que

enfocamos nesta seção. O nosso recorte da fala desses autores se deve ao fato de que

acreditamos ser relevante o que afirmam sobre os intérpretes do discurso que não se

concentram apenas no conteúdo. Leitores tradutores, no dizer de Coscarelli (1999), ou

intérpretes usuários, no dizer de Kress e van Leeuwen (2001), não apenas recebem as

mensagens, mas também atuam sobre elas. Acreditamos que a transformação das percepções

do leitor em ideias que provocam a geração de inferências, reflexões, analogias,

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questionamentos e generalizações, proposta por Coscarelli (1999) se dá também, no nosso

entender, levando-se em conta as percepções desse mesmo leitor do seu lugar no mundo

social, como proposto por Kress e van Leeuwen (2001), favorecendo diferentes percepções de

um produto semiótico.

Levando-se em conta que textos multimodais estão cada vez mais presentes em nosso

cotidiano acreditamos que exercitar habilidades de leitura multimodal deve entrar o quanto

antes para a nossa agenda de formação de leitores maduros. Acreditamos ainda que,

independentemente de um leitor/consumidor pertencer à classe A, B ou C, é possível a ele

construir significados mais complexos, se dispuser dos recursos necessários e for preparado

para isso. Um leitor/consumidor, ainda que não adquira produtos mais caros, os quais

geralmente apresentam rótulos mais elaborados tanto na sua produção quanto na sua

materialidade, pode desenvolver habilidades que o levem a compreender melhor não apenas

esses rótulos como também outros diferentes gêneros do nosso cotidiano contemporâneo.

Reconhecemos aqui que a tarefa de formar leitores multimodais proficientes não é de

quem projeta ou executa produtos semióticos, mas de quem tem como função a formação de

leitores. Acreditamos que seja, ao longo dessa formação, possível aprender a construir uma

leitura multimodal de diferentes textos, com os quais interagimos em nosso cotidiano,

disponibilizados em diferentes suportes e com finalidades específicas como a que se pode

observar em rótulos de mistura para bolo. Entendemos que, da mesma forma que os recursos

semióticos são aprendidos e utilizados por especialistas na comunicação da mensagem

multimodal, também nós, leitores, podemos aprender a utilizá-los em nossos processos de

leitura. Nos rótulos analisados encontramos a presença de recursos verbais e não-verbais,

organizados mais adiante no QUADRO 20, os quais serviram, por um lado, àqueles que

buscaram comunicar a instrução e, por outro lado, aos que buscaram compreendê-la e assim

executá-la adequadamente.

4.4 Sobre o letramento

Não foi preciso buscar em um dicionário um significado preliminar para o termo

“letramento”, uma vez que Soares (2010) nos apresenta essa noção ainda como “verbete” em

seu livro sobre o tema. Segundo a autora, letramento é “o estado ou a condição que adquire

um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita” (Soares,

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2010, p. 11). A autora, que explica ser o termo letramento um conceito relativamente novo no

campo da educação, das ciências sociais e linguísticas e também da história, não encontrou o

termo nas páginas do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa e informa que ele aparece em

um dicionário da língua portuguesa editado há mais de um século. Trata-se do Dicionário

Contemporâneo da Língua Portuguesa, de Caldas Aulete, no qual o termo é caracterizado

como “ant.”, ou seja, antigo, e a ele é dado o significado de “escrita”. Por curiosidade,

buscamos pelo termo no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001) e o encontramos

como transcrito aqui:

letramento: s.m. 1 ant. representação da linguagem falada por meio de sinais; escrita 2 PED m.q. alfabetização (processo) 3 PED conjunto de práticas que denotam a capacidade de uso de diferentes tipos de material escrito. PED por influência do inglês literacy (HOUAISS, 2001, p.1747).

Observa-se que também este dicionário apresenta o termo como “antigo” (ant.), mas

avança, no nosso entender, ao considerar a relação do termo com práticas pedagógicas que

denotam a capacidade de uso de diferentes tipos de material escrito, entre os quais

acreditamos que poderiam ser encaixados os rótulos. Ao se referir ao uso de diferentes tipos

de material escrito em práticas pedagógicas, o verbete, anteriormente apresentado, reforça a

noção da escola como agência de letramento, o que tivemos a oportunidade de testemunhar, já

ha alguns anos, como relatamos na sessão 4.9.

4.5 Letramento Visual

Ler o rótulo de produto alimentício é bem diferente de ler o rótulo de um cosmético ou

mesmo de um herbicida. O espectro da cor vermelha pode ser usado no quadro instrucional de

um rótulo de alimento e também na escala de percepção de risco, no caso de um rótulo de

herbicida, por exemplo. Soares (2010), que já afirmou não ser suficiente apenas deter a

tecnologia de ler e escrever, em outro texto acrescenta que o termo “letramento” deve ser

pensado no plural, uma vez que há diferentes letramentos, assim como há diferentes espaços

de escrita, diferentes mecanismos de produção, reprodução e difusão da escrita (p.156).

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Quando Soares (2010) afirma que é preciso também assumir a condição de quem sabe ler e

escrever, sua postura encontra eco nos estudos sobre o alfabetismo21 visual, de Dondis (2003):

Uma pessoa letrada pode ser definida como aquela capaz de ler e escrever, mas essa definição pode ampliar-se, passando a indicar uma pessoa instruída. No caso do alfabetismo visual também se pode fazer a mesma ampliação de significado. Além de oferecer um corpo de informações e experiências compartilhadas, o alfabetismo visual traz em si a promessa de uma compreensão culta dessas informações e experiências (DONDIS, 2003, p. 227).

Tendo por base o que foi aqui colocado pelas autoras, acreditamos que é possível tanto

quanto necessário o letramento visual para que se possa conquistar a condição de leitor

proficiente de textos multimodais, como rótulos de produtos alimentícios. Em estudo sobre

expectativas de adultos analfabetos sobre a leitura de jornais, Ribeiro (2010) observa que “ler

é uma atividade composta por camadas de letramentos, sendo uma delas o visual, que

interfere e influencia outras camadas” (RIBEIRO, 2010, p.12). Dessa forma, os letramentos já

não se limitam ao desenvolvimento das competências verbais, mas também visuais, entre

outras. A autora observou que, mesmo na condição de analfabetos, os participantes da

pesquisa conseguiram “ler” o discurso visual proposto no leiaute22 de uma página de jornal e

perceberam a sua proposta hierárquica. Assim como Dondis (2003), Ribeiro (2010) acredita

que o letramento visual pode ser aprendido e isso é de fundamental importância para a leitura,

uma vez que “a disposição dos elementos e seu peso visual podem trazer implicações para a

compreensão do texto verbal” (RIBEIRO, 2009, p. 271).

O letramento visual tem se mostrado uma questão importante e despertado a atenção

de pesquisadores. Em artigo sobre texto visual e leitura crítica, Oliveira (2006) propõe

demonstrar, partindo do texto visual, que é possível ativar e fortalecer o posicionamento

crítico de alunos incrementando o nível de motivação em sala de aula. A autora cita uma

“tendência multimodal” ao ensino-aprendizagem e relata uma experiência realizada com

alunos universitários de uma disciplina de Inglês Instrumental da Universidade de Brasília.

21 O termo alfabetismo é utilizado por Dondis (2003) para designar o que a autora chama de capacidade, ou inteligência visual, que pode ser aprendida e treinada, como nos processos de ler e escrever. Da mesma forma que os elementos verbais podem ser decodificados, os visuais podem ser percebidos. 22 Em texto sobre como crianças percebem uma página antes de aprenderem a ler, fundamentada em Kress e van Leeuwen (2001), Ribeiro (2010) se refere ao leiaute como uma “ordem espacial” na qual os elementos são colocados e que indica como esses foram dispostos ou ligados.

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Aos alunos foi dado o tema “tendenciosidade em fotos”, sobre o qual eles deveriam preparar

uma apresentação oral de 10 minutos. A autora relata que as discussões foram intensas e nem

sempre houve consenso quanto à interpretação das imagens, o que a pesquisadora viu como

positivo em seu contexto. Conclui reconhecendo a utilização do texto visual em sala de aula

como elemento altamente motivador, associando escola e mundo real, aprendizagem e

engajamento social. Também recomendou a urgente inserção de práticas pedagógicas que

contemplem a utilização de imagens.

Inseridos em um contexto contemporâneo cada vez mais imagético, no qual as

imagens se impõem quando são usadas para informar e seduzem quando são manipuladas

com fins mercadológicos e políticos, poderia ser considerado um importante avanço o

investimento em multiletramentos em salas de aula do ensino básico. No nosso entender, cabe

aqui uma reflexão que remete à milenar sabedoria chinesa, em seu mais conhecido tratado de

estratégia militar23: “Pode-se saber como conquistar e não ser capaz de fazê-lo”.

23 SUN-TZU. A arte da Guerra, 2010, p.63.

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50

5 METODOLOGIA

5.1 O corpus

Nosso objetivo geral foi o de verificar como elementos multimodais poderiam

contribuir para a produção de sentido na leitura de rótulos de alimentos. Como não seria

possível a análise de todos os conteúdos disponibilizados nos rótulos, fizemos um recorte com

foco nas instruções de preparo pelo fato de que esse conteúdo utiliza tanto a linguagem verbal

quanto a não-verbal para comunicar as suas instruções. Antes de nos decidirmos sobre a

escolha de misturas para bolo, observamos os rótulos de outros alimentos, como macarrão

instantâneo, gelatinas e cereais. Buscamos um tipo de alimento que, além de apresentar

instruções de preparo no rótulo, também fosse um alimento presente no nosso cotidiano.

Alguns rótulos encontrados antes de iniciarmos este trabalho, como os de cereais matinais,

por exemplo, apresentavam possibilidades de análise interessantes, mas entendemos, na

época, que esse tipo de alimento tinha um consumo restrito a determinada classe de pessoas e

decidimos optar por rótulos de mistura para bolo, que nos ofereceram boas possibilidades de

análise, além de ser um tipo de alimento facilmente encontrado24 no varejo, com boa

aceitação e custo acessível a diferentes classes de consumidores.

O critério que utilizamos para a escolha dos rótulos foi o preço dos produtos. Na

época, consideramos a possibilidade de encontrarmos algum dado específico, trabalhando

com rótulos destinados tanto aos públicos A e B, quanto C e D. Decidimos não optar por

misturas de um mesmo sabor, para favorecer a diversidade nos projetos visuais, e optamos

pelos sabores chocolate e coco por se encontrarem entre os mais comuns. Os rótulos 1 e 3,

primeira marca mais cara e segunda mais barata são de misturas sabor coco, e os rótulos 2 e 4,

segunda marca mais cara e primeira mais barata são de misturas sabor chocolate.

Compramos, em um mesmo hipermercado da região metropolitana de Belo Horizonte,

os quatro produtos cujos rótulos deram origem ao corpus desta pesquisa. Uma cópia do

cupom fiscal referente à compra das misturas para bolo pode ser observada no ANEXO F –

Cópia do cupom fiscal da Companhia Brasileira de Distribuição.

24 A Embrapa Trigo tem pesquisado cultivares com maior rendimento de grãos, indepentemente do clima, para garantir o fornecimento interno à indústria de biscoitos, massas e produtos de confeitaria. Estudos comprovaram a eficácia de ingredientes como a quirera de arroz e a bandinha de feijão na substituição do trigo, em misturas para bolo, com considerável valor nutricional e custo mais baixo. Bassinello et al. (2010).

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51

5.2 O simulado

Antes de pensarmos na realização de um simulado de preparo de mistura para bolo,

pensamos na aplicação de um questionário, inspirado em questões do SAEB, o qual seria

aplicado a um grupo de alunos do Ensino Médio de uma escola pública federal. Escolhemos o

Ensino Médio por presumir que alunos nesse nível de ensino já trabalharam as habilidades e

competências de leitura, propostas na Educação Básica. Antes de elaborarmos o questionário,

verificamos as matrizes de referência para língua portuguesa e matemática, propostas no

Plano de Desenvolvimento para a Educação (PDE) – 2011, e utilizadas pelo Sistema Nacional

de Avaliação da Educação Básica (SAEB), composto por duas avaliações complementares e

realizadas a cada dois anos nas redes pública e privada. As Matrizes de Referência do SAEB

foram criadas em 1987, após uma consulta nacional de conteúdos desenvolvidos em escolas

de ensino fundamental e médio, para a avaliação de alunos e constituem um conjunto de

descritores utilizados para medir competências e habilidades que devem ser dominadas pelos

alunos ao final de cada série avaliada. Na concepção do SAEB, as matrizes permitem uma

maior precisão técnica na elaboração de testes avaliativos.

Ao decidirmos pela aplicação de um questionário, selecionamos quatro descritores da

matriz de referência em língua portuguesa, e quatro da matriz de referência em matemática

para nos auxiliar na elaboração das questões. Os descritores selecionados da matriz de

referência em língua portuguesa contemplam a localização de informações explícitas em um

texto (descritor 1), a interpretação de texto com o auxílio de material gráfico diverso

(descritor 5), a identificação da finalidade de textos de diferentes gêneros (descritor 12), e o

reconhecimento de diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que

tratam do mesmo tema, em função das condições em que foram produzidos e daquelas em que

foram recebidos (descritor 20). Os descritores da matriz de referência em matemática

contemplam a identificação de figuras semelhantes mediante o reconhecimento de relações de

proporcionalidade (descritor 1), a identificação de gráficos que representam uma situação

descrita em um texto (descritor 21), a resolução de problemas envolvendo informações

apresentadas em tabelas e/ou gráficos (descritor 34), e a associação de informações

apresentadas em listas e/ou gráficos que os representem e vice-versa (descritor 35). Baseadas

nesses descritores, elaboramos o questionário que foi aplicado por uma professora do Ensino

Médio a um pequeno grupo de alunos.

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Porém, os resultados obtidos com a aplicação do questionário nos forneceram números

de erros e acertos dos alunos, mas não nos permitiu identificar o ponto crítico na leitura de

cada um deles, como interagiram com o texto instrucional, com os recursos semióticos e

como resolveram, ou pelo menos tentaram resolver, as suas dúvidas para com ele. Dessa

forma, percebemos que precisávamos proporcionar um encontro mais que visual entre texto e

leitor. Inspiradas nos testes de usabilidade25, os quais são realizados ao longo dos processos

de desenvolvimento de interfaces, decidimos por criar um cenário para a leitura dos rótulos no

qual pudéssemos observar os leitores, não apenas lendo como também fazendo uso das

instruções lidas, em uma situação pretensamente real de preparo de bolo caseiro.

Etapas presentes em testes de usabilidade como definição de instrumentos de coleta,

script de orientação, identificação do perfil dos participantes, ambiente do teste e questionário

do observador, indicadas em Ferreira (2002), orientaram a organização e realização dos

simulados. Como instrumentos de coleta utilizamos uma câmera de vídeo, posicionada em um

pedestal, fora do ambiente do simulado e um notebook com software para captação e

gravação de áudio. Elaboramos um script de orientação que foi lido para os participantes

antes de dar início a cada simulado, que durou em média oito minutos, apresentando a

bancada, com os instrumentos e ingredientes, e o rótulo com o qual iriam trabalhar. Todos

foram incitados a ler as instruções no rótulo, em voz alta, e simular sua execução na bancada,

enquanto fossem narrando as suas ações. Nesse momento, foi feito uso de protocolo verbal,

no qual os participantes foram nos sinalizando as dúvidas que emergiam, as dificuldades

encontradas, suas preferências por um ou outro utensílio ou mesmo por determinado

ingrediente. Também foram questionados sobre suas experiências com o texto instrucional e

suas impressões sobre o rótulo com o qual trabalharam. A observação da performance dos

participantes possibilitou traçar um rápido perfil de cada um deles.

O cenário para a realização dos simulados, FIG. 5, foi montado em um dos gabinetes

do Mestrado em Estudos de Linguagens do CEFET-MG. Uma das mesas do gabinete foi

forrada com tecido opaco, reposicionada e montada de forma a simular uma bancada de

cozinha. Sobre ela disponibilizamos uma batedeira de bolo, uma tigela com uma colher

grande, caso o participante preferisse preparar a mistura à mão, um pote de vidro transparente

com conteúdo branco para simular a farinha, um recipiente pequeno de porcelana para simular

25 Carvalho (2002) explica que os estudos da usabilidade surgiram em investigações sobre a interação homem-computador e que o utilizador, nos testes de usabilidade, deve compreender a interface, seus diferentes percursos e o que ele pode fazer com ela.

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a manteiga, outro idêntico para a margarina, uma jarra como recipiente para o leite, três

xícaras de modelos e capacidades diferentes, todas disponíveis no mercado como xícaras de

chá. Dos três modelos disponibilizados na bancada do simulado, apenas um deles apresentava

capacidade para 200ml, medida considerada pela Anvisa (2003) como correta para uma xícara

de chá, como demonstrado no QUADRO 12. Os outros dois modelos, um de vidro refratário

transparente e outro de porcelana branca, apresentavam capacidades para 248ml e 258ml.

QUADRO 12

Medidas caseiras definidas pela Anvisa para fins de rotulagem nutricional

Medida caseira

Capacidade ou dimensão

xícara de chá

200cm3 ou ml

Copo

200 cm3 ou ml

colher de sopa

10 cm3 ou ml

colher de chá

5 cm3 ou ml

prato raso

22 cm de diâmetro

prato fundo

250 cm3 ou ml

Fonte: Anvisa, (2003).

Completavam a bancada montada para os simulados, FIG. 6, três colheres de modelos

e materiais diferentes, todas com capacidade para 10ml, também disponíveis no mercado

como colheres de sopa; dois pratos de vidro refratário, sendo um raso para refeição e outro

menor para sobremesa; uma embalagem de papelão utilizada no acondicionamento de ovos,

contendo seis falsos ovos de papel; um paliteiro; uma faca; guardanapo de papel; um forno

pequeno, improvisado com uma caixa de papelão; e três tipos de fôrma para assar bolos,

sendo uma redonda e com diâmetro de 30cm, uma redonda com furo no meio e diâmetro de

25cm, e uma retangular 20 por 30cm. Os utensílios e os ingredientes que consideramos de

fácil reconhecimento como a batedeira de bolo, a tigela e os ovos não foram identificados

com etiquetas. Os demais foram identificados, frente e verso. Nas xícaras, colheres, pratos e

fôrmas não marcamos as respectivas capacidades de medida para que pudéssemos avaliar a

noção dos participantes sobre a equivalência desses utensílios para com as medidas instruídas

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nos rótulos. Tomamos o cuidado de não posicionar a câmera dentro do campo de visão frontal

dos participantes. Como dissemos, o equipamento de gravação foi posicionado em um

pedestal, no corredor de acesso ao gabinete, e gravou os simulados em ângulo lateral.

Ao final de cada dia de coleta de dados o cenário dos simulados era desmontado, os

equipamentos guardados no gabinete e remontados no dia seguinte. No primeiro dia, após a

montagem do cenário, providenciamos um registro fotográfico para que pudéssemos manter o

mesmo leiaute em todos os demais dias da coleta.

FIGURA 5: Leiaute do cenário do simulado. Fonte: elaboração própria com dados do registro fotográfico do simulado, 2012.

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FIGURA 6: Leiaute da bancada do simulado Fonte: elaboração própria com dados do registro fotográfico do simulado, 2012.

Reconhecemos aqui, antes de encerrarmos esta seção, que a presença do equipamento

de gravação próximo ao cenário de realização dos simulados pode ter influenciado o

desempenho dos alunos de alguma forma. Não podemos generalizar os resultados obtidos

nesses procedimentos considerando que não se tratam de testes de usabilidade propriamente,

mas simulados inspirados neles. Diante da impossibilidade de instalar uma câmera oculta,

optamos por realizar as gravações com os equipamentos que tínhamos disponíveis.

Posteriormente, observando os vídeos gravados, verificamos que alguns alunos, em algum

momento, olharam para a câmera, mas em seguida se voltaram para frente, dirigindo-se ao

pesquisador e sem interromper o procedimento em curso. É preciso reconhecer ainda que um

simulado de preparo não é o preparo propriamente dito e, como afirmam os teóricos que

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fundamentam este trabalho, “o que vai ser deixado de fora ou adicionado irá variar de acordo

com os interesses da prática comunicativa” (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001, p. 115).

Contudo, acreditamos na possibilidade de conhecermos um pouco sobre a interação de

leitores com o texto instrucional em rótulos, ainda que por meio de simulados, e decidimos

assim investir na realização desses procedimentos, os quais foram gravados, transcritos e

disponibilizados aqui no APÊNDICE A – Transcrição dos simulados com os alunos.

5.3 Os participantes

Convidamos para participar dos simulados de preparo de mistura para bolo um grupo

de 20 alunos do curso de graduação em Letras e outros 6 alunos do curso de graduação em

Engenharia de Materiais, todos de uma instituição pública federal. A nossa escolha pelos

alunos da graduação se deu devido ao fato de que, nesse nível de ensino, provavelmente já se

tornaram leitores maduros. A escolha da instituição de ensino se deu devido à praticidade para

reunir os alunos para o procedimento do simulado, o qual foi realizado no espaço da escola.

Dos 20 alunos do curso de Letras, quatro grupos de cinco alunos executaram respectivamente

o modo de preparo dos rótulos 1, 2, 3 e 4. Dos seis alunos do curso de Engenharia de

Materiais, dois trabalharam com o rótulo 1, dois com o rótulo 2 e dois com o rótulo 3. Todos

eles participaram voluntariamente.

Antes de definirmos quais seriam os participantes, pensamos em convidar um grupo

de donas de casa, considerando que fazem parte do público alvo para o qual são direcionadas

as instruções do nosso objeto de pesquisa. Mas, levando em conta que essas participantes

poderiam estar familiarizadas com esse tipo de texto, o que influenciaria no desempenho de

suas leituras, decidimos optar por um grupo de alunos universitários por acreditar que

poderiam apresentar resultados com um maior grau de isenção.

Todos os participantes informaram conhecer o texto instrucional em rótulos de

alimentos, mas nem todos fazem uso dele no dia a dia. No QUADRO 13 apresentamos um

breve perfil dos participantes, organizado a partir das anotações do pesquisador e também das

informações fornecidas pelos participantes sobre suas experiências com o texto instrucional

em rótulos de alimentos. A identidade dos alunos participantes foi preservada e nos referimos

a eles neste texto como A-1, A-2, A-3, e assim sucessivamente. Os simulados foram

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realizados entre os dias 24 de abril e 03 de maio de 2012 com os alunos do curso de Letras e

no dia 10 de maio de 2012 com os alunos do curso de Engenharia de Materiais.

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QUADRO 13

Perfis dos alunos participantes do simulado de preparo de mistura para bolo

Alunos Perfis Aluno 1 Estudante de Letras. Não considera práticos os rótulos por levarem mais tempo,

além do informado, para o preparo . Aluno 2 Estudante de Letras. Conhece o texto instrucional em rótulos, mas não o usa

frequentemente. Aluno 3 Estudante de Letras. Experiente no preparo do tipo de mistura com a qual

trabalhou. Aluno 4 Estudante de Letras. Prepara semanalmente misturas para bolo ou gelatina.

Afirmou já ter decorado o procedimento. Aluno 5 Estudante de Letras. Não prepara alimentos em casa. Já tentou preparar uma

mistura para bolo, mas não obteve sucesso. Aluno 6 Estudante de Letras. Usa muito pouco o texto instrucional no preparo de

alimentos. Aluno 7 Estudante de Letras. Dificuldade na comunicação, e alguma experiência no

preparo de bolos. Aluno 8 Estudante de Letras. Experiência no preparo de bolos e outros tipos de

alimentos. Aluno 9 Estudante de Letras. Experiente no preparo de bolos, mas não com instruções

em rótulos. Apenas em receitas encontradas na internet. Aluno 10 Estudante de Letras. Experiente no preparo de alimentos com o uso de

instruções em rótulo. Aluno 11 Estudante de Letras. Pouca experiência no preparo de alimentos com instruções

em rótulos. Aluno 12 Estudante de Letras. Experiente na leitura de outros textos instrucionais como

bulas. Modo de preparo, especificamente, não lê. Aluno 13 Estudante de Letras. Dona de casa, experiente no preparo de alimentos com

instruções em rótulos. Aluno 14 Estudante de Letras. Nacionalidade alemã. Utiliza instruções de preparo para

alimentos, possui conhecimentos em documentação técnica. Aluno 15 Estudante de Letras. Nacionalidade alemã. Limitação vocabular. Utiliza

instruções de preparo para alimentos, estuda documentação técnica. Aluno 16 Estudante de Letras. Pouca experiência no preparo de alimentos com instruções

em rótulos. Aluno 17 Estudante de Letras. Aprendeu sobre o preparo de bolos observando a mãe e a

avó. Não lê as instruções no rótulo, somente as medidas. Aluno 18 Estudante de Letras. já preparou misturas para bolo em casa, mas sempre com a

ajuda de outra pessoa. Aluno 19 Estudante de Letras. Tem pouca experiência no preparo de misturas para bolo.

Recebe ajuda da mãe no preparo de misturas para bolo. Aluno 20 Estudante de Letras. Têm experiência no preparo de alimentos com instruções

em rótulo, mas utiliza mais frequentemente receitas caseiras. Aluno 21 Estudante de Engenharia de Materiais. Tem experiência no preparo de

alimentos com instruções em rótulo. Aluno 22 Estudante de Engenharia de Materiais. Conhece instruções de preparo em

rótulos, mas não gosta de preparar alimentos dessa forma. Aluno 23 Estudante de Engenharia de Materiais. Tem experiência profissional no preparo

de alimentos como ex-auxiliar de confeiteiro. Aluno 24 Estudante de Engenharia de Materiais. Pouca experiência no preparo de

alimentos com instruções em rótulos. Aluno 25 Estudante de Engenharia de Materiais. Sem experiência no preparo de bolos.

Aluno 26 Estudante de Engenharia de Materiais. Prepara bolos frequentemente utilizando misturas industrializadas.

Fonte: Elaboração própria com dados coletados durante a realização dos simulados, 2012.

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6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 A proposta instrucional do rótulo 1 e sua compreensão

A proposta instrucional do rótulo 1 proporcionou uma composição de sentidos entre os

conteúdos verbal e não-verbal. O discurso instrucional interage com imagens que ora

reforçam a mensagem escrita, ora acrescentam algo que não foi informado por meio dela, o

que se pode observar no item 4. O item 1 do modo de preparo do bolo instrui verbalmente

sobre como misturar e bater o bolo, tendo ao lado a representação dos ingredientes sobre a

batedeira com vetores que indicam o deslocamento desses ingredientes para dentro da tigela

da batedeira. A ilustração representa, portanto, uma ação em execução. Já o item 4 do modo

de preparo da calda instrui verbalmente a cortar o bolo em pedaços e servi-lo gelado, tendo ao

lado a ilustração de um tabuleiro retangular com uma faca inclinada, o que também

entendemos como vetor de indicação do movimento desse utensílio, cortando o bolo em

pedaços quadrados. A instrução de que o bolo deve ser cortado em pedaços quadrados é

comunicada, dessa forma, pela ilustração e não pela mensagem verbal. Acreditamos que essa

composição texto-imagem na comunicação da instrução contida no item 4 não se deu de

forma aleatória. Os conteúdos verbal e não-verbal, no nosso entender, foram projetados para

interagirem na comunicação da instrução fornecida, o que tentaremos justificar a seguir.

É aceitável que a mistura em questão possa ser assada em uma fôrma redonda, ou

mesmo com furo no meio, sem risco de comprometimento do processo de cozimento, mas

acreditamos que a instrução para assar em tabuleiro retangular e cortar em pedaços quadrados

tenha se dado devido ao fato de a mistura ser de um tipo específico de bolo, o qual está

associado a hábitos de consumo também específicos. Em outras palavras, um bolo que se

serve gelado, geralmente cortado e embalado individualmente, para possibilitar a sua

manipulação e distribuição, como na comercialização dos pedaços ou para a substituição dos

tradicionais bolos de aniversário infantil. Nesse último caso, os pedaços embalados em papel

alumínio preenchem uma estrutura, geralmente de madeira ou isopor, a qual é confeccionada

na forma de um bolo de aniversário e são, dessa forma, distribuídos aos convidados.

Fechando o nosso raciocínio, não acreditamos que a mistura do rótulo 1 e seu conjunto de

instruções tenham como alvo os consumidores ou convidados aqui mencionados, mesmo por

que trata-se de um produto caro. Acreditamos que a boa aceitação desse tipo de bolo em

eventos, aliada à praticidade do seu acondicionamento e distribuição, possa ter inspirado a

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disponibilização no mercado de uma mistura para esse tipo de bolo, com o conjunto das

instruções disponibilizadas como no rótulo1.

O conjunto das instruções de preparação no rótulo 1 foi dividido em seis blocos

intitulados “antes do preparo”, instruindo a untar a fôrma e preaquecer o forno, seguido de

“você vai precisar” indicando os ingredientes complementares para a massa, o “modo de

preparo” instruindo a preparar e assar a massa, “Indicação de fôrma”, “você vai precisar”,

indicando os ingredientes complementares para a calda e “modo de preparo” instruindo a

preparar a calda. As instruções foram impressas no verso da embalagem do produto e

preencheram 90% do espaço disponível para impressão.

Sete participantes trabalharam com o rótulo 1 na realização dos simulados sendo que os

participantes A-1, A-2, A-3, A-4 e A-5 são alunos do curso de Letras, e A-21 e A-22 são

alunos do curso de Engenharia de Materiais. Os demais participantes tiveram a oportunidade

de observar o rótulo 1 antes de optarem pela escolha do rótulo que consideraram como o mais

prático de executar. Antes da realização dos simulados, os participantes que trabalharam com

o rótulo 1 foram instruídos a observar as instruções do rótulo e simular somente o modo de

preparo para o bolo, já que esse rótulo apresenta também modo de preparo para uma calda de

coco ralado. A seguir veremos aqui, um a um, como se deu a compreensão da proposta

instrucional do rótulo 1 pelos participantes nos simulados de preparo, bem como suas

opiniões manifestadas sobre as instruções dos demais rótulos.

O participante A-1 iniciou a leitura das instruções pelo bloco intitulado “Antes do

preparo”. Não percebeu o conjunto das instruções do rótulo 1 como fáceis de preparar, apesar

dos recursos semióticos utilizados no seu projeto como ilustração, enquadramento, ordenação

numérica e títulos em negrito. O motivo apontado para isso foi a presença de instruções para o

preparo de uma calda que, no caso, não precisava ser considerada na realização do simulado.

Mesmo instruída em 4 etapas ordenadas numericamente e ilustradas, a presença das

instruções de preparo da calda não foi compreendida pela participante como um fator de

vantagem, mas complicador. A-1 informou já ter preparado os rótulos 3 e 4 várias vezes e os

considerou com o mesmo grau de facilidade, apesar de eles apresentarem propostas

instrucionais bem distintas, o que nos sugere que a sua percepção desses rótulos como mais

práticos pode ter-se dado devido à familiaridade da participante para com eles e não

propriamente ao projeto das suas instruções. Entre os três modelos de xícara de chá

disponibilizados na bancada, A-1 escolheu como medida o modelo com capacidade para

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200ml, capacidade essa considerada correta para uma xícara de chá, conforme determinação

da Anvisa (2003) para medidas caseiras, apresentadas no QUADRO 12.

O participante A-2 iniciou a leitura das instruções pelo bloco “você vai precisar”, saltando

assim o primeiro bloco “antes do preparo”. O participante não compreendeu as instruções

sobre colocar a massa em fôrma untada e enfarinhada. Esse tipo de instrução, nos rótulos

analisados, partiu do pressuposto de que o leitor sabe como fazer isso. O participante, diante

dessa dúvida, resolveu a questão seguindo a ordem das expressões “untar” e “enfarinhar”

disponibilizadas no texto. Assim, primeiro espalhou a margarina na fôrma e em seguida jogou

a farinha. A-2 também não conhecia o procedimento de verificar, com o auxílio de um palito,

o cozimento do bolo. O participante compreendeu esse procedimento ao final do simulado,

quando verificou, ao observar o rótulo 3, a instrução colocada de forma mais completa. A-2

descartou a possibilidade de executar o rótulo 4 devido à falta de imagens e escolheu o rótulo

3 como melhor para executar por considerá-lo mais explicativo no passo a passo que também

possui imagens. Antes de definir a sua escolha, se referiu às imagens do rótulo 2 como

“indicativas”, no caso, dos ingredientes complementares e dos tipos de fôrmas. Entendemos

essa sua percepção como se referindo a imagens conceituais que, no caso, indicam objetos e

não ações em curso. Entre os três modelos de xícara de chá disponibilizados na bancada, A-2

escolheu como medida o modelo com capacidade para 258ml.

A participante A-3 iniciou a leitura das instruções pelo bloco “antes do preparo”. Não

percebeu rapidamente a indicação de fôrma na coluna ao lado e quando viu ainda assim teve

dúvidas: “acho que é essa aqui mesmo”. Essa participante não compreendeu a instrução sobre

untar a forma. Espalhou manteiga na forma com as mãos e em seguida espalhou a farinha

também com as mãos. Leu todas as instruções e cumpriu satisfatoriamente todas as

instruções, exceto untar a forma. Ao comparar os rótulos para escolher o mais prático, A-3

eliminou o rótulo 3 porque indicava 45 minutos para o cozimento e achou esse procedimento

muito demorado. Escolheu o rótulo 2 por não utilizar leite em seu preparo e por isso

considerou-o como fácil de preparar. A participante assumiu gostar desse tipo de bolo e

percebeu o conjunto das instruções como de rápido preparo, o que não se confirma na

proposta instrucional que apresenta oito instruções e tempo de cozimento entre 35 a 40

minutos para fôrmas retangulares e 35 a 45 minutos para fôrmas redondas sem furo. Após a

leitura dos rótulos, A-3 considerou que todos eles apresentaram as instruções “direitinho”,

com exceção do rótulo 4, que não fez uso de “desenhos”. Entre os três modelos de xícaras de

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chá disponibilizados na bancada, A-3 escolheu como medida o modelo com capacidade para

258ml.

A participante A-4 iniciou a leitura das instruções pelo bloco “antes do preparo” e não

percebeu a indicação de forma na coluna ao lado. Considerou a ilustração do tabuleiro

retangular no modo de preparo para a calda para se decidir sobre a escolha da fôrma: “tá

mostrando aqui uma fôrma quadrada”. A participante percebe a forma retangular como

quadrada e teve dúvida na escolha do modelo de colher de sopa. Percebeu a colher de aço

inox como maior e optou por ela como medida, ainda que os três modelos disponibilizados

sobre a bancada apresentassem a mesma capacidade, ou seja, 10ml. Mesmo se identificando

como dona de casa, a participante teve dúvidas na escolha das unidades de medida. Ao final

do simulado, percebeu no rótulo a indicação de fôrma e disse que havia escolhido a fôrma

com base na ilustração do item 4 do modo de preparo da calda. A-4 ressaltou que a indicação

de fôrma deveria ser inserida junto com as instruções do bloco “antes do preparo”. Nesse

caso, a proposta do rótulo 1 para a instrução de indicação de fôrma, composta de texto com

título em negrito, medidas da fôrma e ilustração, não alcançou o objetivo de destaque

pretendido pela proposta instrucional na leitura da participante A-4, que primeiro leu as

instruções da coluna da esquerda, sobre o preparo do bolo para, depois, ler as instruções da

coluna da direita, sobre o preparo da calda, encontrando ali a indicação de fôrma.

Primeiramente, A-4 escolheu o rótulo 3 como melhor para preparar porque já tinha o costume

de fazê-lo, mas, ao comparar os rótulos uns com os outros, mudou a sua escolha para o rótulo

2 porque este apresentava as instruções separadas e indicadas pelos títulos: Misturar, Bater,

Assar e Servir. Entre os três modelos de xícaras de chá disponibilizados na bancada, A-4

escolheu como medida o modelo com capacidade para 258ml.

A participante A-5 iniciou a leitura das instruções pelo bloco “antes do preparo” e

demonstrou não conhecer o procedimento de preaquecer o forno. Depois de untar a fôrma,

colocou-a dentro do forno para preaquecer também. Depois de bater a massa, retirou a fôrma

do forno, após os 10 minutos de preaquecimento, para despejar nela a massa e levá-la de volta

ao forno. O rótulo instrui a preaquecer o forno a uma temperatura de 180 graus, mas a

participante não percebeu essa instrução como referente a todo o processo de preparo e sim

como referente apenas à temperatura de preaquecimento. A-5 demonstrou essa sua percepção

ao afirmar que a instrução sobre o tempo de cozimento da massa, 30 a 40 minutos, deveria vir

junto com uma indicação de temperatura do forno durante o cozimento. A-5 preferiu o rótulo

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1 porque apresentou as instruções em apenas três etapas, sugerindo assim ter percebido as

poucas etapas como um possível sinal de maior rapidez ou praticidade no preparo. Entre os

três modelos de xícaras de chá disponibilizados na bancada, A-5 escolheu como unidade de

medida o modelo com capacidade para 248ml.

A participante A-21 iniciou a leitura pelo título com o nome do bolo para então iniciar a

leitura dos blocos de instruções, na sequência vertical apresentada. A medida em que lia

simulou as ações instruídas até levar o bolo ao forno. A participante verifica no rótulo a

instrução para não abrir o forno antes de 30 minutos e simula esperar esse tempo para

verificar o seu cozimento com um palito. Em seguida decide deixar o bolo no forno por mais

10 minutos, completando assim o tempo máximo de 40 minutos indicado no rótulo para o

cozimento. Simulando a passagem desse tempo, A-21 solicita uma luva para tirar o bolo do

forno (“É porque senão queima a minha mão”) demonstrando assim estar consciente da sua

percepção sensorial naquele momento da ação simulada. Nesse ponto, A-21 foi instruída a

simular o uso de uma luva, o que fez antes de abrir o forno e pegar a fôrma. Quando

perguntada sobre como melhoraria o texto instrucional do rótulo A-21, sugeriu imagens de

relógios para representar o tempo. No seu entender, o elemento visual facilita a leitura. A

participante afirmou que não executaria o rótulo 4 e escolheu o rótulo 3 como o mais prático

por apresentar as instruções de forma ordenada por números. Entre os três modelos de xícaras

de chá disponibilizados na bancada, A-21 escolheu como medida o modelo com capacidade

para 248ml.

A participante A-22 iniciou a leitura pelo bloco “você vai precisar”, saltando assim o

primeiro bloco de instruções “antes do preparo”. A-22 Logo admite que sempre teve

problemas na utilização de colheres como unidades de medida. Optou pela colher de aço inox

demonstrando incerteza na sua escolha – “acho que é essa daqui”. Como não leu as instruções

do bloco “antes do preparo” não percebeu que era preciso untar a forma e preaquecer o forno

antes de proceder às demais ações. Assim, unta a fôrma depois de já ter preparado a massa.

Entre todos os participantes, A-22 foi quem simulou o preparo em menor tempo: 1,52

minutos e durante o simulado informou que “detesta bolo assim”. A participante não percebeu

no rótulo a presença das instruções sobre como preaquecer o forno e criticou a falta delas. Por

outro lado, gostou da ideia de equivalência apresentada na proposta do rótulo que indicou

duas colheres de sopa como equivalente a 40 gramas de margarina. Ao final do simulado, A-

22 afirmou que o rótulo 1 é “basicamente muito simples”, mas preferiu o rótulo 2 como mais

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prático porque esse não utilizava leite na sua mistura além de informar o tipo de fôrma a ser

utilizada, informação que também foi disponibilizada no rótulo com o qual trabalhou, mas

que não foi percebida pela participante. Após verificar os rótulos uma segunda vez, mudou de

opinião e escolheu o rótulo 3 como o mais prático porque considerou que ele dizia tudo o que

era preciso fazer e ainda indicava os tipos de fôrmas que poderiam ser utilizadas. Entre os três

modelos de xícaras de chá disponibilizados na bancada, A-22 escolheu como medida o

modelo com capacidade para 248ml. Do total de 26 participantes nos simulados, 10

consideraram a proposta instrucional do rótulo 1 como a mais fácil de executar (TAB. 2).

Organizamos, no QUADRO 14, as opiniões manifestadas pelos participantes sobre

algumas das instruções do rótulo 1. Entre elas, observamos 2 comentários, 6 críticas, 12

elogios e 6 omissões.

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QUADRO 14

Opiniões manifestadas pelos participantes sobre as instruções do rótulo 1

Participantes

Opiniões Falas dos alunos A-1

crítica “Não é o mesmo grau de facilidade porque tem uma calda.” A-2

comentário “Isso é uma coisa do senso comum que eu desconheço.”

A-3 -

- A-4

crítica “Eu não vi aqui, eu vi pelo desenho aqui embaixo.” A-5

crítica “Não fala qual a temperatura que é pra deixar.” A-6

- - A-7

elogio “Tá explicando direitinho assim do lado, né?” A-8

comentário “A diagramação é bem diferente. Tem os desenhos.” A-9

crítica “Esse trem aqui, olha só! Cheio de imagens.”

A-10 -

- A-11

elogio “Visualmente, esse ficou mais simples de entender.” A-12

elogio “Tá bem distribuído, todo certinho, passo a passo.” A-13

elogio “Ele já tem o passo a passo, né? Eu achei muito bom.” A-14

elogio “Eu gosto que aqui tem imagens.” A-15

elogio “É melhor pra ler porque tá branco no fundo azul.” A-16

- - A-17

crítica “Ele tem calda e é mais complicado.” A-18

elogio “Além de parecer bem simples, tá em três passos, vem com desenho.” A-19

elogio “A figura tá maior e ele tem a numeração também maior.” A-20

elogio “Esse tem os desenhos, eu acho que ajuda também.” A-21

elogio “Acho que ficou claro. Tem até um desenhozinho.” A-22

elogio “Ele usa a parte mais básica da explicação que é o desenho.” A-23

elogio “Esse aqui tá certinho.” A-24

- -

A-25 -

- A-26

crítica “Ele especifica uma só fôrma.”

Fonte: Elaboração própria com dados coletados durante os simulados, 2012.

6.2 A proposta instrucional do rótulo 2 e sua compreensão

A proposta instrucional do rótulo 2 utilizou imagens de ingredientes e utensílios para

reforçar o que foi instruído pelo texto verbal, diferentemente da proposta do rótulo 1, na qual

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o não-verbal acrescenta informações ao verbal apresentando algumas imagens com vetores; e

da proposta do rótulo 3, na qual o não-verbal é apresentado, em algumas imagens, também

acrescido de vetores indicando uma interação entre elementos da imagem. As instruções

foram apresentadas em 4 blocos. O primeiro, “você irá utilizar”, indicando os ingredientes

complementares, o “modo de preparo”, com o passo a passo da preparação, “antes de

preparar”, instruindo sobre os procedimentos de preaquecer o forno e untar a fôrma e “escolha

sua fôrma”, indicando os tipos de fôrma. As instruções foram impressas no verso da

embalagem do produto e preencheram 60% do espaço disponível para impressão.

Sete participantes trabalharam com o rótulo 2 na realização de simulados sendo que os

participantes A-6, A-7, A-8, A-9 e A-10 são alunos do curso de Letras, e A-23 e A-24 são

alunos do curso de Engenharia de Materiais. Assim como nos simulados com o rótulo 1 todos

os participantes tiveram a oportunidade de observar os demais rótulos antes de optarem pela

escolha daquele que consideraram como o mais prático de executar. Veremos agora como se

deu a compreensão da proposta instrucional do rótulo 2, pelos participantes nos simulados de

preparo, bem como suas opiniões manifestadas sobre as instruções dos demais rótulos.

A participante A-6 iniciou a sua leitura pelo bloco “antes preparar” e demonstrou não

conhecer o procedimento de preaquecimento do forno. Ao ler as instruções sobre o

preaquecimento a participante compreendeu que deveria fazer isso com a fôrma, já untada,

dentro do forno. Em determinado momento do simulado, A-6 demonstrou não confiar

totalmente nas instruções do rótulo. Instruída a bater a massa durante 1 minuto, em velocidade

baixa, na batedeira, ela decide bater 3 ou 4 minutos, até considerar a massa bem homogênea e

lisa. As indicações de fôrma foram inicialmente percebidas pela participante como uma

ordem – “Mandaram eu usar aqui dois tipos de fôrma”. Ao final do simulado A-6 reconhece

essas indicações como opções de fôrma e afirma que o rótulo deveria informar também sobre

fôrmas com furo no meio. Nesse caso, a participante não atentou para o tipo específico de

bolo da mistura, o qual é, geralmente, cortado em pedaços finos e não em fatias mais altas,

como no caso de um bolo caseiro tradicional assado em fôrma com furo no meio. A-6 indicou

o uso de expressões como “aproximadamente” como um fator dificultador na sua leitura do

rótulo. Também assumiu ter dificuldades com instruções sobre a velocidade da batedeira.

Perguntada sobre a disposição das instruções no rótulo, se facilitaram a sua compreensão, A-6

afirmou que não. No seu entender, as instruções sobre “antes de preparar” deveriam vir

primeiro e as instruções sobre o “modo de preparo” na sequência, seguidas dos ingredientes

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complementares. Essa ordem, sugerida pela participante, demonstra que ela prefere conhecer

o modo de preparo primeiro para depois saber sobre os ingredientes complementares, o que,

para outros leitores, pode parecer menos lógico se considerarmos que, geralmente, separamos

os ingredientes complementares antes de proceder ao preparo da mistura. Considerando a

disposição de conteúdos proposta pelo rótulo, de cima para baixo e da esquerda para a direita,

as instruções apresentadas na sequência 1, 2, 3 e 4 seriam melhor percebidas, na opinião de

A-6 se estivessem na sequência 3, 2, 1 e 4, como demonstramos mais adiante na FIG. 7. A

participante A-6 escolheu como mais prático o rótulo 3 por considerar que tudo bem

explicado, como percebeu nesse rótulo, para uma pessoa com pouca experiência, como ela, é

muito melhor, ainda que essas explicações ocupem maior espaço no rótulo.

A participante A-7 iniciou a sua leitura pelo bloco “você irá utilizar”. Leu rapidamente e

não se deteve nos procedimentos de simulação como lhe foi orientado, encerrando o

procedimento rapidamente. Demonstrou acreditar nas informações e instruções dos rótulos.

Ao admitir erro em outros procedimentos de preparo com rótulos, A-7 assumiu que isso

provavelmente aconteceu porque ela deve ter feito algo errado. A participante já conhecia o

tipo de mistura para bolo com o qual trabalhou, porém ainda não havia lido com atenção o

modo de preparo. A-7 escolheu o rótulo 1 como o mais prático por considerar as instruções

bem ilustradas. Destacou também no rótulo 1 a numeração das etapas e percebeu o negrito em

uma instrução que, na sua opinião, é muito importante. No caso, a instrução de que o forno

não deve ser aberto antes de 30 minutos de cozimento. A ênfase dada por A-7 a essa instrução

pode ser, no nosso entender, indício de alguma possível experiência negativa da participante

em decorrência da inobservância desse cuidado, em preparos anteriores.

A-8 iniciou a sua leitura em “você irá utilizar”, o qual indica os ingredientes

complementares. Essa participante fez um percurso de leitura diferente dos demais: iniciou

com a leitura dos ingredientes complementares, depois leu as instruções sobre o

preaquecimento do forno em “antes de preparar”, depois leu as indicações de fôrma em

“escolha sua fôrma”, na sequência voltou em “antes de preparar” e leu sobre o procedimento

de untar a fôrma e só então foi para o modo de preparo. A participante teve dificuldade em

perceber o tempo de cozimento, informação essa indicada ao lado da instrução sobre os tipos

de fôrma. Achou os caracteres muito pequenos e apontou isso como uma dificuldade na sua

leitura. A-8 sentiu falta de “desenhos” no passo a passo do modo de preparo. No projeto

instrucional do rótulo 2 há imagens apenas no texto que informa sobre os ingredientes

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complementares e sobre os tipos de fôrma. A participante escolheu o rótulo 1 como o mais

prático devido à sua diagramação e desenhos. No entanto, também achou os caracteres muito

pequenos nesse rótulo e acredita que isso possa ser uma característica padrão nos textos em

rótulos.

A participante A-9 também iniciou a sua leitura pelo bloco “você irá utilizar”. A

participante interferiu nas instruções do rótulo e decidiu utilizar apenas 1 colher de manteiga,

quando o rótulo instruía a utilizar 5. Na percepção de A-9 a alteração feita não comprometeria

o resultado do preparo. A-9 considerou o uso da batedeira como menos prático do que bater a

massa à mão, ainda que na batedeira esse procedimento fosse mais rápido. Nesse caso, na

percepção de A-9, o que é mais rápido não é necessariamente o mais prático como foi

percebido por outros participantes do simulado como A-5, A-23 e A-25. Ao levar a massa ao

forno a participante percebeu que não havia preaquecido o mesmo. A instrução sobre o

preaquecimento do forno foi colocada no bloco “antes de preparar”, junto com a instrução

sobre untar e enfarinhar a fôrma, a qual também não foi percebida por A-9. A participante

afirmou que suas experiências anteriores de preparo nunca resultaram em erro, apesar de

“sempre ignorar os rótulos”. A-9 escolheu o rótulo 3 como o mais prático de executar devido

às imagens ao lado das instruções, todas devidamente ordenadas. Também gostou das cores

utilizadas na proposta instrucional desse rótulo.

O participante A-10 iniciou a sua leitura pela indicação das fôrmas e demonstrou dúvida

na escolha do modelo de colher que utilizaria como medida. Também sentiu a falta de um

medidor na bancada do simulado para auxiliá-lo na dosagem da manteiga ou margarina,

mesmo com a informação do rótulo de que 5 colheres de sopa corresponderiam a 100g. A-10

ponderou que o uso da colher de sopa não garantiria uma dosagem correta, considerando a

possibilidade de medir uma colher mais ou menos cheia. O participante percebeu a disposição

do texto no rótulo como confusa. Na sua opinião os blocos com instruções sobre “antes de

preparar” e “você irá utilizar” deveriam ser um seguido do outro. Depois de observar um

pouco mais a diagramação, A-10 disse que a ordem que consideraria ideal seria: primeiro,

“escolha sua fôrma”, segundo, “você irá utilizar”, terceiro, “antes de preparar” e, por último o

modo de preparo. Nesse caso, considerando a disposição espacial da proposta instrucional do

rótulo, de cima para baixo e da esquerda para a direita, a ordem ideal dos blocos de instruções

para esse participante seria 4, 1, 3, 2, como apresentado aqui na FIG.7. A-10 afirmou ter

ficado “confuso” com os blocos de instruções da forma como foram apresentados e achou que

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eles deveriam ser numerados. Nesse caso, o recurso semiótico do enquadramento, utilizado

para destacar os conjuntos de instruções, a titulação em negrito de cada um deles, a disposição

das ilustrações e a diagramação não foram suficientes para sugerir ao leitor um percurso de

leitura que lhe parecesse fácil. A-10 sentiu falta de um elemento ordenador na sua trajetória

de leitura do rótulo.

FIGURA 7: Representação de duas trajetórias de leitura propostas para o rótulo 2.

Fonte: Elaboração própria com os dados da pesquisa, 2012.

A-23 iniciou a sua leitura pelos ingredientes complementares “você irá utilizar”. O rótulo

pedia o uso de manteiga ou margarina e o participante, que é aluno de Engenharia de

Materiais, decidiu usar manteiga por que esse ingrediente iria “dar uma melhor consistência”

ou “dar mais liga”. O participante achou o uso da batedeira mais prático porque o processo de

bater o bolo seria, dessa forma, mais rápido. A-23 usou a expressão “travessa” para se referir

à fôrma e acrescentou que o melhor seria uma “travessa de metal”. Ao pegar a fôrma

retangular, o participante calculou a sua profundidade em 5cm, informação essa que não

consta no rótulo. Após simular o preparo da massa, A-23 levou-a ao forno e simulou colocá-la

sobre uma suposta grade superior, “para não queimar”. Após 10 minutos, retirou o bolo do

forno e verificou o seu cozimento com o auxílio de uma faca, enquanto o rótulo instruía a

utilizar um palito para esse procedimento. A-23 percebeu o tempo de preaquecimento do

Você irá utilizar Modo de preparo Antes de preparar Escolha sua forma

BLOCO 1 BLOCO 2 BLOCO 3 BLOCO 4

A-10

A-6

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forno, 10 minutos, como tempo total de cozimento do bolo. O rótulo 2 informa que a altura do

bolo é de aproximadamente 1,5cm e essa informação provocou um estranhamento na leitura

do participante que manuseou o rótulo sem perceber que tratava-se da mistura de um tipo

diferenciado de bolo, ou seja, tipo brownie, bem fino, se comparado a um bolo tradicional. Ao

ler a informação sobre a espessura do bolo, A-23 relacionou-a com o processo de verificação

de cozimento e afirmou que “geralmente a gente, pra ver se o bolo tá pronto, não vê a altura

dele”. O participante achou as letras muito pequenas e reclamou das ilustrações. Disse que

poderiam ser como as ilustrações de rótulos de macarrão instantâneo. Nesse tipo de alimento,

geralmente, as ilustrações possuem vetores indicando o movimento das ações, o que não se

observa nas ilustrações do rótulo 2. A-23 escolheu o rótulo 3 como o mais prático porque é

ilustrado no passo a passo que, por sua vez, traz também mais informações. Nesse caso, o

participante percebeu a maior quantidade de informação como algo facilitador.

A-24 iniciou a leitura do rótulo 2 pelos ingredientes complementares, “você vai utilizar”.

Em seguida, pulou para o preaquecimento do forno em “antes de preparar” e depois para o

modo de preparo. Somente depois de simular o preparo é que untou a fôrma, instrução essa

que foi apresentada junto com a instrução sobre o preaquecimento do forno. O participante

demonstrou não conhecer o procedimento de untar a fôrma. Utilizou 4 colheres de sopa de

manteiga para untar e não enfarinhou a fôrma. A-24 criticou a disposição do texto que

colocou os ingredientes complementares antes do modo de preparo, o que pode parecer lógico

para boa parte dos leitores, mas A-24 preferiria ter primeiro as instruções do modo de preparo

que, na sua opinião, deveriam ser apresentadas com letras maiores. O participante escolheu o

rótulo 3 como o mais prático por seguir uma ordem na exposição das instruções. Do total de

26 participantes nos simulados, 6 consideraram a proposta instrucional do rótulo 2 como a

mais fácil de executar (TAB. 2).

Organizamos, no QUADRO 15, as opiniões manifestadas pelos participantes sobre

algumas das instruções do rótulo 2. Entre elas, observamos 5 comentários, 8 críticas, 9 elogios

e 4 omissões.

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QUADRO 15

Opiniões manifestadas pelos participantes sobre as instruções do rótulo 2

Participantes

Opiniões Falas dos alunos

A-1

crítica “Não é o mesmo grau de facilidade do 3 e do 4.”

A-2

crítica “Não tem imagem no passo a passo. Só indicativas.”

A-3

comentário “não leva leite, a receita é um pouco mais fácil de fazer.”

A-4

elogio “Parece que tá bem melhor, separadinho.”

A-5

- -

A-6

crítica “Eu acho que foram mal distribuídas.”

A-7

comentário “Conhecia o produto, mas nunca tinha lido a forma de preparo”

A-8

crítica “Não tá chamando muito a atenção do tempo pra assar.”

A-9

comentário “Eu sempre ignorei os rótulos”.

A-10

crítica “Achei ele um pouco confuso.”

A-11

elogio “Ele já apresenta, desde o princípio, o que vai ser utilizado.”

A-12

comentário “É menos pior do que o 4, mas fica atrás do 1 e do 3.”

A-13

elogio “Também é legal.”

A-14

crítica “Eles colocam imagens dos ovos, mas todo mundo sabe que são ovos.”

A-15

elogio “Estas palavras, acho bom: misturar/bater/assar/servir.”

A-16

elogio “Ficou mais detalhado, a diagramação tá mais legal.”

A-17

elogio “Eu achei esse mais bem dividido, os tópicos.”

A-18

- -

A-19

- -

A-20

- -

A-21

comentário “Esse parece que tá bom.”

A-22

elogio “Muito bom! Ele explica até o tipo de fôrma.”

A-23

crítica “Acho que a letra deveria ser um pouco maior.”

A-24

crítica “Eu tive dúvida em relação à disposição do texto.”

A-25

elogio “tem poucas etapas e tá claro pra mim.”

A-26

elogio “Tem figuras que facilitam a escolha dos ingredientes”

Fonte: Elaboração própria com dados coletados durante os simulados, 2012.

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6.3 A proposta instrucional do rótulo 3 e sua compreensão

A proposta instrucional do rótulo 3 utilizou imagens para reforçar o conteúdo instruído, as

quais foram enquadradas ao lado do texto, em sua margem esquerda. As instruções foram

apresentadas em sete itens dispostos em uma coluna, ordenados numericamente sendo que, as

ilustrações das instruções 2, 4 e 6 utilizaram vetores para comunicar uma ação em curso. A

proposta apresentou as instruções do modo de preparo entre as informações sobre os

ingredientes complementares e as dicas de preparo que indicavam os tipos de fôrma e suas

medidas e não propriamente dicas como foi proposto no título. Foram instruídos os tipos de

fôrma de modo verbal e não-verbal, porém sem informar o tempo de cozimento em cada um

deles, como feito nos rótulos 2 e 4. Os conteúdos sobre os ingredientes complementares e o

modo de preparo, os quais consideramos mais importantes no preparo da mistura, foram

impressos na cor preta sobre fundo cinza. Conteúdos como ingredientes básicos e dicas, os

quais consideramos menos relevantes para o preparo, foram apresentados com maior

contraste, impressos na cor preta sobre fundo amarelo. Os tipos utilizados na composição do

texto verbal são menores que os utilizados nos rótulos 1 e 2 e pouco maiores que os utilizados

no rótulo 4. A proposta instrucional do rótulo 3 apresentou as instruções sobre os

procedimentos de untar a fôrma e preaquecer o forno juntamente com as instruções do modo

de preparo, nos itens 4 e 5, respectivamente. As instruções foram impressas no verso da

embalagem do produto e preencheram 40% do espaço disponível para impressão.

O participante A-11 iniciou a sua leitura pelo modo de preparo. Admitiu a possibilidade

de erro no procedimento de medir o leite e disse que, sem um medidor, dá para se “ter uma

ideia, mais ou menos”, da medida desse ingrediente. A-11 demonstrou não confiar totalmente

nas instruções do rótulo. Ao simular o procedimento de bater a massa afirma que tem a

“esperança” de que a massa vá ficar lisa como diz as instruções do rótulo. Ao afirmar: “por

acaso eu sei o que é untar”, o participante demonstra acreditar que o procedimento de untar a

fôrma não seja algo comum. Também não compreende bem a instrução sobre assar a massa

conforme a fôrma escolhida e questiona-se sobre o que uma coisa poderia ter a ver com a

outra. Como o tipo da fôrma escolhida poderia afetar o tempo de cozimento? Perguntou-se. O

participante ressaltou a importância de informações que considera simples como, por

exemplo, esperar o bolo esfriar para desenformar, instrução essa inserida no rótulo 3. Na

percepção de A-11 o rótulo 3 é “visualmente bem fácil de entender”. A-11 descartou a

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possibilidade de executar o rótulo 4, antes de verificar os demais. Escolheu o rótulo 1 como

mais prático por considerá-lo “visualmente mais simples de entender”. Explicou, no final do

procedimento, que as imagens facilitaram a sua localização das etapas durante o preparo.

Fazer isso por meio do texto escrito, na opinião desse participante, é algo difícil. Entre os três

modelos de xícaras de chá disponibilizados na bancada, A-11 escolheu como medida o

modelo com capacidade para 248ml.

O participante A-12 iniciou a leitura pelo modo de preparo. Leu o procedimento de juntar

os ingredientes complementares à massa, mas não simulou a dosagem do leite. Nesse

momento, disse que esse ingrediente já estava adicionado e deu inicio ao procedimento

seguinte, o de bater a massa com o auxílio da batedeira. O participante conhecia os

procedimentos de untar a fôrma, verificar o cozimento com um palito e esperar esfriar para

desenformar, mas assume que não tem sucesso no preparo de bolos, mesmo utilizando

misturas prontas. Questionado sobre a razão disso, A-12 assume o fracasso de suas

experiências de preparo de bolos afirmando: “É a minha mão que é meio ruim pra fazer bolos

mesmo”. A-12 considerou clara a proposta instrucional do rótulo 3, mas escolheu o rótulo 1

como o mais prático porque as instruções são mais espaçadas, além de claras.

A participante A-13 iniciou a leitura pelo modo de preparo. Utilizou a expressão “tigela

da bandeja” para se referir à tigela da batedeira. Teve dúvida na escolha da xícara e, ao medir

¾ de xícara de chá de leite, simulou o preenchimento da xícara escolhida até um pouco antes

da borda, ou seja, um pouco antes de esgotar a capacidade do modelo de xícara escolhido que,

no caso, foi o de 248ml. Sendo assim, A-13 não mediu corretamente a quantidade instruída no

rótulo, 150 ml, para o preparo da mistura, mas, aproximadamente, 200ml. A participante

considerou fáceis as instruções do rótulo 3, mas escolheu o rótulo 1 como o mais prático

porque esse último não solicitou ¾ de xícara de leite para o preparo da mistura. Ao definir sua

escolha, A-13 afirmou: “Uma xícara de chá! Ponto final. Nada de ¾”.

A participante A-14 iniciou a sua leitura pelos “ingredientes complementares”. Ao dosar o

leite marcou com o dedo o que seria ¾ de xícara para simular a dosagem do leite, mas assim

como a participante A-13, A-14 também escolheu o modelo de xícara de vidro transparente. O

rótulo instruía sobre a possibilidade da utilização de três diferentes tipos de fôrma, mas a

participante percebeu como ideal utilizar o tipo de fôrma representada nas ilustrações do

rótulo. Mesmo tendo o alemão como língua materna, a participante disse não ter encontrado

dificuldades na leitura do rótulo indicando o que gostou e o que não gostou. A-14 gostou da

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fonte sem serifa, das ilustrações, da numeração das etapas. Não gostou da cor de fundo e da

diagramação do texto, devido ao que entendemos como espaços maiores entre as palavras,

uma característica de textos com margens justificadas. A-14, que declarou possuir algum

conhecimento sobre design, foi a única participante que percebeu essa característica na

diagramação do rótulo 3. Escolheu o rótulo 1 como o mais prático e justificou sua escolha

afirmando já conhecer a estrutura da proposta instrucional que é a mesma do produto

comercializado na Alemanha e já conhecido por ela. Entre os três modelos de xícaras de chá

disponibilizados na bancada, A-14 escolheu como medida o modelo com capacidade para

258ml.

A participante A-15 iniciou a sua leitura pelos “ingredientes complementares” e, na

sequência, o modo de preparo. Ao ler as instruções sobre bater a massa à mão, A-15

literalmente pôs a mão a massa. Ao levar a massa ao forno fez isso utilizando a tigela da

batedeira e não uma das fôrmas disponibilizadas sobre a bancada. A-15, que é estudante de

documentação técnica e já possui experiência no preparo de alimentos com a ajuda de texto

instrucional, considerou claras as instruções do rótulo 3, gostou das imagens, mas achou as

instruções verbais muito longas. Disse que o ideal, numa lista de instruções, seria uma linha

de texto para cada uma delas. A-15 escolheu o rótulo 1 como o mais prático porque as

informações em letras brancas sobre fundo azul são mais fáceis de ler. Também porque

disponibilizou primeiro as instruções do bloco “antes do preparo” para depois disponibilizar

as instruções do modo de preparo. Considerou isso muito importante para quem não sabe

como preparar um bolo. Finalmente, também porque organizou as instruções em apenas três

etapas, pois, como afirmou, “um bolo não é uma construção muito complexa”. Entre os três

modelos de xícaras de chá disponibilizados na bancada, A-15 escolheu como medida o

modelo com capacidade para 200ml.

O participante A-25 iniciou a sua leitura pelo modo de preparo com o preaquecimento do

forno. Teve dúvida na escolha da xícara e optou pelo modelo de vidro transparente, tendo o

cuidado de não enchê-la até a borda. O participante demonstrou mais atenção em alguns

procedimentos e menos em outros. Simulou, por exemplo, ligar a tomada da batedeira na

energia elétrica e verificou o fundo das xícaras para ver se encontrara alguma indicação de

capacidade das mesmas. Por outro lado, não viu o paliteiro sobre a bancada, verificou o

cozimento do bolo com uma faca, e chamou a fôrma para assar o bolo de bandeja. Escolheu a

fôrma de furo no meio, mesmo modelo indicado nas ilustrações do rótulo. A-25 achou muito

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extenso o tempo de 5 minutos para bater o bolo com o auxílio da batedeira. O participante

assumiu que faz alterações em instruções de preparo – “Vou mudando o modo de preparo pro

meu jeito”. Na percepção de A-25, as instruções do rótulo 3 foram claras. Perguntado se faria

alguma alteração no texto, disse que não. Após observar os quatro rótulos, A-25 escolheu o

rótulo 2 como o mais prático porque apresentou as instruções de forma clara e em poucas

etapas, mas fez uma ressalva. Criticou o rótulo por não apresentar instrução sobre o

preaquecimento do forno, instrução essa presente no rótulo e não percebida pelo participante.

Nesse caso, a instrução apresentada em item isolado, com título em negrito e enquadrada no

conjunto denominado “antes de preparar” não foi saliente o suficiente para ser percebida pelo

participante. Entre os três modelos de xícaras de chá disponibilizados na bancada, A-25

escolheu como medida o modelo com capacidade para 248ml.

O participante A-26 iniciou a sua leitura pelos ingredientes complementares. Escolheu a

xícara de vidro transparente e marcou com o dedo, pelo lado de fora, até onde deveria encher

a xícara. Perguntou sobre a existência de uma lixeira na qual pudesse descartar as cascas dos

ovos. Depois de quebrar os ovos na tigela comum e não na da batedeira decidiu bater o bolo à

mão e percebeu isso como um erro no seu preparo. Isolou na bancada os utensílios já usados

considerando-os como “sujos”. Percebeu a fôrma retangular como quadrada e ao simular o

término do tempo de cozimento, solicitou um pano (de prato), item não disponibilizado na

bancada, para retirar a fôrma do forno sem queimar a mão. Perguntado sobre erros em

experiências de preparo anteriores, A-26 destacou a diferença de temperatura que pode

ocorrer nos fornos e apontou essa variação como um fator desencadeador de erros em

preparos, mesmo com a instrução nos rótulos sobre a correta temperatura dos fornos. A-26

percebeu as instruções do rótulo 3 como claras e fez apenas uma observação. No seu

entender, o rótulo 3 deveria instruir sobre como untar a fôrma antes de fornecer as demais

instruções sobre o modo de preparo. A-26 escolheu o rótulo 2 como o mais prático porque

forneceu instruções sobre o momento que antecede o preparo propriamente, além de

apresentar imagens que facilitam a separação dos ingredientes. Entre os três modelos de

xícaras de chá disponibilizados na bancada, A-26 escolheu como medida o modelo com

capacidade para 248ml. Do total de 26 participantes nos simulados, 10 consideraram a

proposta instrucional do rótulo 3 como a mais fácil de executar (TAB. 2).

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Organizamos, no QUADRO 16, as opiniões manifestadas pelos participantes sobre

algumas das instruções do rótulo 3. Entre elas, observamos 5 comentários, 4 críticas, 12

elogios e 5 omissões.

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QUADRO 16

Opiniões manifestadas pelos participantes sobre as instruções do rótulo 3

Participantes

Opiniões Falas dos alunos

A-1

comentário “Percebo que é o mesmo grau de facilidade do 4. É a mesma coisa”

A-2

elogio “É mais explicativo. O passo a passo tá aqui.”

A-3

crítica “Esse aqui não vai ser porque é 45 minutos.”

A-4

comentário “Escolheria esse porque já tenho costume de fazer.”

A-5

- -

A-6

elogio “Tem mais etapas que todos… está bem mais explicado.”

A-7

- -

A-8

crítica “As letras… tudo pequenininhas.”

A-9

Elogio “A cor tá me chamando pra olhar”.

A-10

elogio “Ele é dinâmico! É o que eu falei, seguido por números.”

A-11

elogio “Ele é bem, visualmente, fácil de entender.”

A-12

elogio “Estão claras. Pra mim tá.”

A-13

elogio “Fácil! No primeiro desenho já tem a instrução na frente.”

A-14

elogio “Eu gosto da numeração. Ajuda, também, as imagens.”

A-15

crítica “As frases estão muito longas.”

A-16

- -

A-17

crítica “Esse aqui já não dá o tempo certo. Tá muito achatado.”

A-18

- -

A-19

- -

A-20

elogio “Ele tá mais passo a passo. Tem etapas específicas.”

A-21

comentário “Parece que está bem passo a passo, bem definido.”

A-22

elogio “Esse também está bem explicativo.”

A-23

elogio “A instrução desse rótulo já tá bem melhor.”

A-24

comentário “Eu acredito que esse seria melhor. Ele segue uma única ordem.”

A-25

elogio “Tá tudo claro. Dá pra entender.”

A-26

comentário “Acho que ele tenta explicar da maneira mais fácil possível.”

Fonte: Elaboração própria com dados coletados durante os simulados, 2012.

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6.4 A proposta instrucional do rótulo 4 e sua compreensão

A proposta instrucional do rótulo 4 foi apresentada em um único bloco de texto verbal no

qual foram indicados os ingredientes complementares precedidos da expressão “você vai

utilizar” e, na sequência, as instruções sobre como fazer o bolo precedidas da expressão

“modo de preparo”. Esse conjunto de instruções, apresentado sem ilustrações, foi impresso na

cor azul marinho sobre fundo bege, o que pode ter favorecido o contraste entre as cores. As

mesmas instruções foram apresentadas, sem espaçamento, na língua inglesa, sendo esse bloco

impresso na cor vermelha. O texto apresentou um erro de ortografia na expressão

“enfarinhada”, a qual foi grafada como “esfarinhada”. O erro não foi comentado pelos

participantes e alguns deles leram essa palavra da forma como foi impressa no rótulo. As

instruções foram apresentadas no verso da embalagem do produto e ocuparam 38% do espaço

disponível para impressão.

A participante A-16 leu o tempo de preaquecimento corretamente, 10 minutos, mas

marcou esse tempo como se 7 minutos fossem suficientes. Leu o modo de preparo e simulou

rapidamente a sua execução. Escolheu a fôrma retangular e conferiu no rótulo o tempo de

forno para esse tipo de fôrma. Enquanto procurava essa informação, afirmou: “tá confuso”.

Não encontrando mais instruções, informou que o bolo estava pronto. Questionada sobre erro

em preparos anteriores, a participante respondeu sem convicção: “Acredito que não”. Sobre a

diagramação do rótulo, A-16 criticou o tamanho das letras que achou muito pequeno. Sentiu

falta de espaçamento entre as linhas e, enquanto falava, gesticulou indicando a formação de

uma coluna vertical para a apresentação das instruções. Não “tudo numa mesma direção”

como foi feito no bloco de texto que reuniu as instruções. A-16 se referiu ao rótulo 4 e ao

rótulo 3 como sendo de uma mesma marca, quando, na verdade, são de marcas diferentes,

com propostas instrucionais também diferentes. A participante escolheu o rótulo 2 como o

mais prático destacando a sua numeração no passo a passo do modo de preparo, a

diagramação, que considerou “bonita de acompanhar”, a ilustração e a cor. “Tudo isso

convida”, afirmou a participante. Entre os três modelos de xícaras de chá disponibilizados na

bancada, A-16 escolheu como medida o modelo com capacidade para 248ml.

A participante A-17 leu as instruções e simulou as primeiras ações naturalmente. A

primeira dificuldade surgiu na leitura da instrução sobre o tempo de cozimento. O rótulo

instruía a verificar o tipo de fôrma utilizada e informava sobre eles, um pouco abaixo do

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bloco das instruções, mas A-17 não localizou isso facilmente. Concluiu: “Então eu vou ter

que ficar olhando o bolo, toda hora, pra ver se tá pronto”. Em outro momento da leitura,

enquanto observava os tipos de fôrma, chegou a dizer “tá complicado”. Questionada sobre a

dificuldade em encontrar o tempo de cozimento, a participante disse que “sempre procura por

um número”. Nessa observação, A-17 sugere que esperava instruções mais diretas como, por

exemplo, “tempo de forno: X minutos” e não “atente para a fôrma utilizada” como instruiu o

rótulo 4. A-17 chamou a fôrma retangular de quadrada e checou o cozimento da massa com

um garfo. A participante achou complicado a execução do modo de preparo, seguindo as

instruções do rótulo. Disse que já havia aprendido a preparar misturas com a mãe e só

consultava os rótulos para verificar a dosagem dos ingredientes. A-17 achou o tamanho das

letras muito pequeno, sentiu falta de informações adicionais, como dicas, e não gostou das

instruções em inglês, sobre as quais disse estarem “coladas” no texto em português. A-17

escolheu o rótulo 2 como o mais prático por que considerou-o bem dividido e fácil de

visualizar. Entre os três modelos de xícaras de chá disponibilizados na bancada, A-17

escolheu como medida o modelo com capacidade para 248ml.

O participante A-18 achou redundante a expressão “leite pasteurizado” no texto do

modo de preparo, considerando que isso já havia sido instruído no texto sobre os ingredientes

complementares. Demonstrou insegurança na escolha do modelo de xícara e assumiu estar

“supondo” que seria aquele, o qual escolheu. A-18 demonstrou dúvida também na escolha da

fôrma retangular, a qual chamou de quadrada, mesmo com as dimensões de 20 x 30 indicadas

no rótulo. Chegou a afirmar que “não fazia ideia” de qual seria e compreendeu esta instrução

apenas depois de ler mais de uma vez o texto. Ao verificar os outros rótulos para escolher um

deles como mais prático afirmou ser o rótulo 4 o menos claro entre todos os outros. A-18

escolheu o rótulo 1 como mais prático porque o modo de preparo lhe pareceu bem simples

com apenas três etapas, todas ilustradas, além de apresentar uma indicação de fôrma e uma

sugestão de calda. No caso específico desse participante, as instruções sobre o preparo de uma

calda foram percebidas como uma vantagem e não um fator complicador, como no caso da

participante A-1. Entre os três modelos de xícaras de chá disponibilizados na bancada, A-18

escolheu como medida o modelo com capacidade para 248ml.

A participante A-19 iniciou o simulado separando os ingredientes complementares e

ao ler ¾ de xícara mediu 3 xícaras e ½ de leite para adicionar à mistura. Simulou colocar os

demais ingredientes e no procedimento de bater a massa, na batedeira, como preferiu bater,

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teve dúvida na instrução sobre a velocidade, questionando-se sobre o que seria velocidade

média. Frente à essa dúvida, decidiu bater no nível 2 ou 3 indicados na batedeira. Sobre o

procedimento de bater a massa, o rótulo instruía a fazê-lo até obter uma massa lisa e

homogênea, mas A-19 compreendeu que deveria bater a massa até que ficasse consistente.

Como escolheu a fôrma retangular para assar a massa, a participante, depois de verificar o

rótulo, decide assar a massa por 45 minutos, sem perceber que o tempo de cozimento indicado

no rótulo, para o tipo de fôrma escolhida, era de 35 minutos. Questionada sobre erro em

outros preparos a participante admitiu sempre ter encontrado dificuldades, mesmo com

alimentos prontos, que dependem apenas de adição de água e aquecimento. A participante

reclamou da instrução do rótulo que pede para misturar os ingredientes sem informar onde:

“ele manda pegar 150ml de leite, os 2 ovos, mas ele não fala onde é que põe”. No caso

específico dessa participante, foi sentida a falta de uma informação suprimida pela proposta

instrucional que provavelmente a considerou desnecessária. A instrução, da forma como foi

oferecida, foi percebida como insuficiente pela participante A-19 que, possivelmente,

esperava ler: “junte 2 ovos e 150ml de leite pasteurizado e em temperatura ambiente na tigela

da batedeira” A-19 não gostou da apresentação das instruções no rótulo 4 e disse que se elas

fossem numeradas seriam mais fáceis de serem executadas. Também achou as letras muito

pequenas no rótulo 4 e escolheu o rótulo 1 como o mais prático porque ele tem ilustrações e

numerações maiores que nos demais. Entre os três modelos de xícaras de chá disponibilizados

na bancada, A-19 escolheu como medida o modelo com capacidade para 248ml.

A Participante A-20, após ler as primeiras instruções sobre os ingredientes

complementares afirmou: “3/4 de xícara, eu não sei até onde seria”. Simulou o preparo muito

rapidamente e narrou com voz baixa a execução das etapas. Solicitada a falar um pouco mais

alto durante o procedimento, declarou que o bolo já estava pronto. Questionada sobre as

dificuldades encontradas, A-20 afirmou sempre ficar em dúvida sobre o que é uma xícara de

chá. Mesmo com a xícara definida, admitiu que ela precisaria ter as medidas marcadas nesse

utensílio para que essa tarefa fosse possível. “É difícil saber o que são ¾”, admitiu. A-20

também achou as letras muito pequenas, sentiu falta de ilustrações e disse ter dificuldade em

escolher tipos de fôrma nos rótulos que instruem sobre isso informando medidas como 30 ou

40cm. Questionada sobre como resolveria esse tipo de dúvida, na escolha das fôrmas, A-20

disse que “vai na sorte. Se der certo, deu”. A participante escolheu o rótulo 3 como mais

prático porque é mais detalhado no passo a passo. Entre os três modelos de xícaras de chá

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disponibilizados na bancada, A-20 escolheu como medida o modelo com capacidade para

200ml.

6.5 A compreensão do rótulo 4 pelos demais participantes

Os resultados nos mostraram que em um grupo de 26 participantes que leram os

quatro rótulos apresentados, nenhum deles escolheu o rótulo 4 como o mais prático de

executar, TAB. 2, sendo que 15 participantes comentaram as suas instruções, comentários

esses que apresentamos no QUADRO 17. As opiniões manifestadas sobre o rótulo 4

indicaram que 10 participantes eliminaram esse rótulo com base em critérios não-verbais

como imagem, diagramação e tipografia, e 5 participantes o eliminaram com base em

critérios verbais como texto e ordenação. O participante A-11, ao final do simulado,

informou-nos que caso precisasse executar o rótulo 4 faria primeiro um esquema escrito,

depois da leitura das instruções, para então executar as instruções sem cometer erros. Essa

estratégia, proposta para a execução do preparo, nos sugere que esse participante prefere as

instruções fornecidas passo a passo, e não reunidas em um único bloco, de uma só vez, como

apresentadas no rótulo 4. Esclarecemos que, ao excluírem o rótulo 4, alguns participantes

apresentaram mais de um critério para isso. Nesse caso, tomamos como principal aquele que

foi citado primeiro pelo participante.

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QUADRO 17

Critérios indicados pelos participantes na eliminação do rótulo 4

Participantes

Critério de eliminação Falas dos alunos

A-1

- -

A-2

imagem “este aqui já ficaria de fora porque não tem imagens”

A-3

imagem “achei que ficou tudo claro, menos esse aqui que não tem os desenhos”

A-4

tipografia “eu não gostei muito do tipo de letra. São as menores, se for observar”

A-5

- -

A-6

- -

A-7

- -

A-8 tipografia “as letras… tudo pequenininhas”

A-9

imagem “esse aqui não tem imagens. Achei super sem graça. Aqui não tem nenhum tutorial,

nenhum passo a passo. Terrível, isso não foi feito para o usuário”

A-10

tipografia “a letra é pequena aí eu já acho que isso confunde. Antes da gente começar eu já vi que

é confuso. Antes de ler eu já acho confuso”

A-11

diagramação “eu não escolheria esse, de cara. Ele é o mais com aparência de texto”

A-12 texto “já vou descartar esse aqui, tá péssimo, tudo carregado, tudo misturado”

A-13

imagem “como ele não tem desenhos, não tem espaço entre uma instrução e outra, então esse

fica mais confuso… esse eu não escolheria”

A-14

ordenação “acho que aqui falta a numeração, é também um texto não estruturado”

A-15 texto “essa descrição é muito mal. Não poderia comprar este bolo”

A-16 - -

A-17

- -

A-18 - -

A-19

- -

A-20

imagem “esse não tinha desenhos”

A-21

tipografia “eu não faria esse aqui porque as palavras estão muito juntas”

A-22 - - A-23 - - A-24 - -

A-25

texto “pra fazer bolo fala leite pasteurizado, temperatura ambiente, não precisa”

A-26

ordenação “não dividiu em etapas, coloca as instruções em um texto só, sem itens… não tem

figura nenhuma, então é o mais difícil, e a letra a menor entre todas”

Fonte: Elaboração própria com dados coletados durante os simulados, 2012.

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6.6 Critérios que definiram as escolhas

Em 26 simulados realizados, 20 participantes falaram em imagens em algum momento

do procedimento. Quando questionados sobre qual rótulo prefeririam executar, sete

participantes indicaram a presença de imagens como razão principal da sua escolha, o que

pode ser observado no QUADRO 18, e seis participantes indicaram a ausência delas como

uma das razões pela qual não executariam o rótulo 4, o que observamos no QUADRO 17.

Após a transcrição dos dados gravados em áudio e vídeo foi possível verificar, na fala dos

participantes, os critérios que eles levaram em conta na escolha do rótulo que consideraram

como o mais prático, dentre os quatro que lhes foram apresentados. Voltando às escolhas dos

participantes pelo rótulo que prefeririam executar, identificamos nove critérios que definiram

essas escolhas. Quatro deles classificamos como verbais: texto, ordenação, medida, e

familiaridade26, este último considerado também como não-verbal, e seis critérios que

classificamos como não-verbais: imagem, diagramação, tipografia, ingrediente, tempo e

familiaridade.

Alguns esclarecimentos são importantes antes de avançarmos aqui. Classificamos

“ingrediente” como critério não-verbal porque a informação sobre ele, considerada por um

único leitor em sua escolha, não apareceu no rótulo de forma expressamente verbal. Nesse

caso, o leitor inferiu que a mistura não levava leite devido à falta da representação desse

ingrediente ao lado das ilustrações dos ovos e da manteiga, apresentados como ingredientes

complementares. Ainda que inferida, foi a falta do ingrediente leite que definiu a escolha do

participante A-3. Quanto ao critério tempo, também classificado como não-verbal e que

definiu a escolha dos participantes A-5 e A-25, verificamos nos dados coletados que esses

participantes não receberam as informações sobre o tempo de preparo de forma verbal, no

rótulo. Ambos fizeram suas escolhas considerando que o modo de preparo apresentava poucas

etapas a cumprir e isso foi percebido pelos leitores por meio da diagramação do texto. Quanto

ao critério familiaridade, esse definiu a escolha das participantes A-1 e A-14 e foi por nós

classificado como verbal e não-verbal devido ao fato de que os rótulos escolhidos por esses

participantes como o mais prático apresentaram as suas informações nessas duas modalidades

de linguagem, as quais foram prontamente reconhecidas por elas.

26 A familiaridade com o objeto de ler foi vista em Ribeiro (2010) como uma questão de letramento das competências verbais e também visuais.

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84

Surpreendeu-nos encontrar também a medida como critério de escolha. Esse critério

definiu a opção do participante A-13 que escolheu o rótulo 1 como mais prático de executar

porque não solicita ¾ de xícara de leite. Assim como A-13, o participante A-3 também

indicou dificuldade na dosagem do ingrediente leite e escolheu o rótulo 2, que não utiliza leite

no seu preparo, considerando-o como o mais fácil de fazer. Essas escolhas ratificam o que foi

possível observar ao longo dos simulados, ou seja, parte significativa dos alunos incorreu em

erro ao medir o ingrediente leite. Entre os 19 participantes que trabalharam com rótulos que

solicitavam leite para a mistura, 15 escolheram um modelo de xícara com capacidade superior

à de uma xícara de chá, unidade de medida caseira indicada nos rótulos para medir esse

ingrediente, e um participante pulou esse procedimento de medida. Questionados sobre erros

em preparos anteriores, 8 participantes afirmaram ter encontrado dificuldade na medida do

leite apontando essa como possível causa do erro no preparo. Observamos que as dificuldades

dos participantes que trabalharam com rótulos que solicitavam o ingrediente leite se deram

devido à falta de algum conhecimento matemático sobre valores percentuais e fracionários

como, por exemplo, o que seria ¾ de xícara de chá ou mesmo 150ml e 200ml de leite, além

de conhecimentos específicos de outras áreas como física, nas instruções sobre tempo,

temperatura e velocidade; e química, nas instruções sobre a massa, antes e depois do

cozimento.

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QUADRO 18

Critérios verbais e não-verbais na escolha do rótulo mais prático

Participante

Rótulo escolhido Critério de escolha Fala dos alunos

A-1 3 Familiaridade verbal e não-verbal Já preparei várias vezes

A-2 3 Texto verbal É mais explicativo no passo a passo

A-3 2 Ingrediente Não-verbal O bolo não leva leite

A-4 2 Diagramação não-verbal Texto separado por títulos

A-5 1 Tempo não-verbal Tem apenas 3 etapas

A-6 3 Ordenação verbal Já vem dizendo o que deve fazer

A-7 1 Imagem não-verbal Mais prático devido às ilustrações

A-8 1 Diagramação não-verbal Pela diagramação e desenhos

A-9 3 Imagem não-verbal Tem imagens uma debaixo da outra

A-10 3 Ordenação verbal Já vem dizendo o que vai usar

A-11 1 Diagramação não-verbal Visualmente ficou mais fácil de entender

A-12 1 Tipografia não-verbal Porque é mais espaçado

A-13 1 Medida verbal Porque não fala em ¾ de xícara

A-14 1 Familiaridade verbal e não-verbal Já conhecia a estrutura do rótulo

A-15 1 Tipografia não-verbal O texto é branco no fundo azul

A-16 2 Ordenação verbal É mais detalhado e já vem numerado

A-17 2 Texto verbal Informa sobre a fôrma e traz os passos certinhos

A-18 1 Imagem não-verbal Por causa das imagens

A-19 1 Imagem não-verbal Porque tem figuras maiores e numeração maior

A-20 3 Texto verbal É mais detalhado no passo a passo

A-21 3 Ordenação verbal Cada ação a executar estava ordenada por números

A-22 3 Texto verbal Diz tudo o que tem de fazer

A-23 3 Imagem não-verbal Por causa das figuras e do passo a passo

A-24 3 Ordenação verbal Porque segue uma ordem

A-25 2 Tempo não-verbal Tem poucas etapas

A-26 2 Imagem não-verbal

Está especificado o que fazer e tem figuras

Fonte: Elaboração própria com dados coletados durante os simulados, 2012.

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86

Todos os 26 participantes informaram conhecer o texto instrucional em rótulos de

alimentos ou receitas e 21 deles declararam utilizar esse tipo de texto para preparar alimentos.

Questionados sobre que tipo de alimento mais preparam com a ajuda de texto instrucional, 11

participantes indicaram o bolo caseiro como alimento mais preparado, 6 indicaram macarrão,

3 indicaram gelatina e 1 indicou lasanha. O bolo caseiro foi apontado assim como o alimento

mais preparado, entre os participantes do simulado, confirmando as nossas expectativas de ter

escolhido, para o corpus da pesquisa, rótulos de alimentos comuns em nosso cotidiano.

Ao final do nosso simulado de preparo para bolo constatamos que 10 alunos indicaram

o rótulo 1 como o mais prático, 10 alunos indicaram o rótulo 3, 6 indicaram o rótulo 2 e

nenhum indicou o rótulo 4, resultados esses representados a seguir (GRÁF. 1).

GRÁFICO 1 - Porcentagem de escolhas dos rótulos considerados como mais práticos.

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Porcentagem de Escolhas

38,5%

23,0%

38,5%

Rótulo 1

Rótulo 2

Rótulo 3

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6.7 As propostas mais bem recebidas

Ao lado da proposta instrucional do rótulo1, primeira marca mais cara, apareceu a

proposta instrucional do rótulo 3, segunda marca mais barata, como as mais práticas de

executar, na opinião dos leitores participantes. Nos questionamos sobre que fatores teriam

contribuído para esse resultado e encontramos pontos em comum entre as propostas dos

rótulos 1 e 3 como, por exemplo, as ilustrações, com a presença de vetores em algumas delas,

posicionadas ao lado de cada instrução do modo de preparo. Nessa disposição, identificamos

a presença das categorias Enquadramento27 e Moldura, propostas por Kress e van Leeuwen

(2006). Segundo esses autores, no enquadramento, quanto menor o distanciamento entre os

participantes representados e o leitor, maior a proximidade criada pelo leitor para com o

conteúdo representado. Quanto à moldura, essa pode ser demarcada por meio de linhas

divisórias ou espaços vazios, às margens da representação, informando-nos que o conteúdo

isolado pertence a uma unidade de informação. No caso do modo de preparo nos rótulos 1 e 3,

o espaço vazio entre um passo e outro indica-nos a apresentação de instruções distintas. Ainda

que os leitores/participantes não conhecessem as categorias multimodais do enquadramento e

da moldura, ainda assim elas foram percebidas por eles e isso, de certa forma, influenciou as

suas escolhas. Organizamos, no QUADRO 19, algumas falas dos leitores/participantes, nas

quais demonstram, em determinados momentos, terem percebido ora a presença, ora a falta

dessas categorias, assim como também da saliência como veremos mais adiante.

27 No caso específico dessa categoria, observamos uma exceção no rótulo 1 o qual enquadrou a ilustração da fôrma indicada distante da instrução verbal sobre o procedimento de untar a fôrma. Observamos ainda, que a participante A-3 leu a instrução sobre esse procedimento na primeira coluna, mas não percebeu a indicação de fôrma ilustrada e apresentada na coluna ao lado.

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QUADRO 19

Percepção das categorias multimodais pelos participantes

Categorias multimodais Rótulo 1 Rótulo 2 Rótulo 3 Rótulo 4

Enquadramento

A-4: ”eu acho que deveria ter a

indicação aqui (apontando outro

espaço no rótulo)”

A-12: ”tá bem distribuído, todo

certinho”

A-6: “antes de preparar veio num canto, eu acho que deveria ter sido a

primeira instrução”

A-10: “antes de preparar viria

primeiro, né? Por último o modo de preparo, aqui no

canto”

A-24: “se ele tivesse colocado em outro ponto, talvez teria sido mais fácil”

A-13: Fácil! Você percebe a etapa passo a passo”

A-14: “aqui eles

colocaram imagens que me ajudaram a

preparar”

A15: “o primeiro ponto é preaquecer o forno, mas isso não é importante

para fazer a massa”

A-16: “poderia vir não seguindo tudo

numa mesma direção”

A-19: “aí, depois

ele já pula pro negócio da fôrma, depois é que fala

onde é que tem que por o ovo, aí ele

pula pra fôrma de novo…”

Saliência

A-4: ”eu não vi aqui e agora é que eu tô

vendo a indicação de fôrma”

A-7: “bem aqui,

marcado mesmo, que isso é

importantíssimo (texto em negrito)”

A-8: “tô achando

meio ruim assim é o tamanho da letra”

A-2: “só tem as imagens indicativas”

A-8: “as letras

pequenas demais”

A-17: “primeiro porque ele tem a

questão da fôrma, tem o desenho dela”

A-9: “a cor tá me chamando pra

olhar”

A-13: “no primeiro desenho já tem a

instrução na frente”

A-17: “tá muito achatado”

A-10: “eu não gosto por questão

da letra ser pequena”

A-11: “eu não

escolheria esse. Tá todo estruturado

num parágrafo só”

Moldura

A-12: “ele é melhor porque é mais bem

espaçado”

A-11: “a separação por imagens deixa

mais fácil, enquanto tá preparando”

A-4: “esse aqui parece que tá bem

melhor, separadinho”

A-17: “eu achei esse mais bem dividido, os

tópicos”

A-11: “achei bem claro sim, separado

por tópicos”

A-21: “bem separadas as etapas,

bem definido”

A-12: “tudo carregado, tudo

misturado”

A-13: “não tem espaço entre uma instrução e outra”

A-15: “não poderia comprar esse bolo,

porque não dá espaço nas descrições”

Fonte: Elaboração inspirada em categorias multimodais de Kress e van Leeuwen (2006).

Acreditamos, ainda, que outro fator contribuiu para tornar a proposta do rótulo 3 mais

bem sucedida do que a do rótulo 2. Trata-se da importância dada pelos participantes ao

critério “ordenação”, critério esse que estabelecemos ao organizar as razões apresentadas

pelos participantes na escolha do rótulo mais prático. Observamos, como demonstramos no

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QUADRO 20, que as propostas dos rótulos 1 e 2 priorizaram, entre os critérios verbais,

primeiro o texto, segundo o título e depois a ordenação. No rótulo 3 essa ordem é diferente.

Primeiro valorizou-se a ordenação, depois o texto e depois o título. Esse resultado nos sugere

que parte dos leitores, participantes dos simulados, possivelmente estaria consciente da

função do texto instrucional, ou seja, a de ajudá-los a executar uma tarefa passo a passo, e,

diante disso, não se deixaram seduzir por um percurso supostamente mais “arejado”, com os

recursos semióticos da imagem, cor, saliência, diagramação e contraste mais explorados;

preferindo assim um percurso ordenado numericamente, em uma só coluna, um passo após o

outro e todos ilustrados, como o que foi proposto no rótulo 3.

QUADRO 20

Recursos semióticos utilizados no projeto dos rótulos

Rótulo 1

Rótulo 2

Rótulo 3

Rótulo 4

Verbal

Não-verbal

Verbal

Não-verbal

Verbal

Não-verbal

Verbal

Não-verbal

Texto imagem texto imagem ordenação imagem texto contraste

Título diagramação título diagramação texto diagramação - tipografia

Ordenação tipografia ordenação tipografia título tipografia - cor

- Cor - Cor - cor - -

- contraste - contraste - contraste - -

Fonte: Elaboração própria com dados do corpus da pesquisa, 2011.

Uma rápida observação dos recursos semióticos apresentados no QUADRO 20 pode

nos dar a impressão de que os rótulos 1 e 2 tenham sido percebidos como aqueles que

apresentaram uma proposta instrucional mais “rica”, já que exploraram mais os recursos

semióticos em seus projetos. Porém, isso não se confirmou nos resultados.

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De certa forma, os leitores, durante a realização dos simulados, parecem ter percebido

que um percurso mais “arejado” poderia distraí-los ou afastá-los da possibilidade de cumprir a

tarefa de preparo da mistura em menor tempo e com menos esforço28. Verificando os critérios

que incidiram sobre as escolhas das duas propostas instrucionais mais bem recebidas,

constatamos que, no caso do rótulo 1, 10% dos leitores o escolheram devido ao critério

tempo, 10% pela familiaridade, 10% pela medida, 20% pela tipografia, 20% pela diagramação

e 30% pela imagem. No caso do rótulo 3, os critérios incidiram na proporção de 10% pela

familiaridade, 20% pela imagem, 30% pelo texto e 40% pela ordenação. A ordenação foi, no

caso do rótulo 3, o critério preponderante para a sua escolha como um dos rótulos mais

práticos de executar, assim como a imagem o foi, no caso do rótulo 1. Uma visualização do

ranking dos rótulos considerados como mais práticos, FIG. 8, nos permite verificar que as

propostas mais bem recebidas foram também aquelas que mais utilizaram os recursos

multimodais, ainda que de forma discreta, como no caso do modo gestual verificado nos itens

4 e 6 das instruções do rótulo 3. Mais adiante, o item 4 poderá ser observado na seção sobre

detalhes da saliência nos rótulos.

28 Aqui identificamos a fala de Kress e van Leeuwen (2001) ao afirmarem que “o que vai ser deixado de fora ou adicionado irá variar de acordo com os interesses da prática comunicativa”. Neste caso, os participantes teriam deixado de fora o foco nos recursos semióticos, mais explorados nos rótulos 1 e 2, para focarem no texto que indicava as ações na ordem em que deveriam ser executadas para que se cumprisse a tarefa de preparo do bolo, como representado no rótulo 3.

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FIGURA: 8 – Ranking dos rótulos mais bem recebidos

Como já dissemos aqui, os leitores participantes tiveram a oportunidade de ler tanto as

instruções dos rótulos com os quais trabalharam, quanto as instruções dos demais rótulos,

manifestando-se, durante a realização dos simulados, sobre essas instruções, o que resumimos

nos QUADROS 14, 15 e 16. Também buscamos identificar na fala e na performance dos

participantes o que mais lhes agradou e desagradou na experiência simulada. Essas

observações foram organizadas no QUADRO 21, a seguir.

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QUADRO 21

Considerações gerais dos participantes sobre as instruções dos rótulos

O QUE MAIS AGRADOU

O QUE MAIS DESAGRADOU

Imagem enquadrada ao lado do texto

Ausência de imagem

Presença de imagens narrativas

Medidas fracionadas (3/4 de xícara)

Ordenação com números no passo a passo

Texto compactado

Números exatos (1 xícara; 30 minutos)

Letra muito pequena

Ausência do ingrediente leite

Cálculo de equivalência das medidas

Saliência do modo de preparo

Decidir a escolha da fôrma

Instruções diagramadas

Expressões inexatas (“aproximadamente”)

Bater a massa e servir o bolo

Untar a fôrma e marcar o tempo de forno

Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa, 2012.

Antes de encerrarmos esta seção, retomamos aqui a questão apresentada na seção 4.2

sobre uma possível interferência do formato do suporte na leitura dos rótulos. observamos, ao

longo dos simulados realizados, que o formato específico das embalagens não interferiu na

leitura do texto instrucional. Não registramos observações dos leitores que indicassem alguma

dificuldade de leitura decorrente desse aspecto. As embalagens das marcas mais caras foram

produzidas em papel cartão duplex29 e apresentaram formato retangular. As embalagens das

marcas mais baratas foram produzidas em polietileno/polipropileno30 e apresentaram formato

também retangular. Os participantes interagiram bem com esses suportes e as dificuldades na

leitura desses participantes ficaram restritas à materialidade do conteúdo instrucional,

proposto e impresso nos rótulos analisados. Ainda sobre as manifestações dos leitores

participantes frente às propostas mais bem recebidas, verificamos a natureza dessas opiniões e

as apresentamos a seguir (TABELA 1).

29 Tipo de papel com superfície branca, sobre a qual pode-se imprimir textos e imagens, com miolo e verso escuro. Possui gramatura de aproximadamente 200g/m2 e é utilizado na embalagem de alimentos secos. 30 Plásticos recicláveis que apresentam boa estabilidade térmica, fácil modelagem, fácil coloração e baixo custo.

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TABELA 1

Manifestações dos leitores diante das instruções recebidas

Opiniões Rótulo 1 Rótulo 2 Rótulo 3 Rótulo 4

Elogio 12 9 12 0

Crítica 6 8 4 15

Comentário 2 5 5 0

Sem manifestação 6 4 5 11

Total 26 26 26 26

Fonte: Elaboração própria com dados coletados na pesquisa, 2012.

Observando as opiniões manifestadas pelos leitores participantes podemos constatar

que os rótulos 1 e 3 receberam o mesmo número de elogios, porém, o rótulo 1 recebeu um

número maior de críticas, em relação ao rótulo 3. Levando-se em conta que essas opiniões

foram emitidas em uma situação pretensamente real de preparo de bolo e considerando ainda

as condições de leitura, ou seja, em voz alta e na presença de um observador, podemos propor

com base nesses resultados que as instruções do rótulo 3 foram as mais bem recebidas,

seguidas das instruções do rótulo 1, do rótulo 2 e, por último, do rótulo 4 como se observa na

TABELA 2, na qual apresentamos os rótulos na ordem de preferência definida pelos leitores,

quantificando os elementos verbais e não-verbais em cada um deles, assim como as opiniões

que receberam por parte dos leitores participantes dos simulados.

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TABELA 2

Rótulos da pesquisa na ordem de preferência dos leitores

Elementos verbais e não-

verbais nos rótulos e

resultados da percepção das

propostas instrucionais pelos leitores

Rótulo 3

2a marca mais barata

Rótulo 1

1a marca mais cara

Rótulo 2

2a marca mais cara

Rótulo 4

1a marca mais barata

Instrução 9 6 8 6

Imagem 10 7 4 0

Cor 3 2 3 3

Negrito 3 6 4 0

Elogio 12 12 9 0

Crítica 4 6 8 15

Preferência 10 10 6 0 Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa, 2012.

6.8 Detalhes da saliência nos rótulos

Ao analisarmos os pontos em comum entre as propostas instrucionais dos rótulos 1 e 3,

consideradas pelos leitores participantes como as mais práticas, observamos a presença das

categorias multimodais do enquadramento e da moldura, abordadas na seção anterior. Agora,

abrimos um espaço aqui para abordar também a saliência nos rótulos 1, 2 e 3, a qual foi

também percebida pelos leitores participantes, como demonstrado no QUADRO 19. Segundo

Kress e van Leeuwen (2006), alguns elementos podem ser mais atraentes do que outros, ou

seja, podem chamar mais a nossa atenção, e isso se dá por meio de recursos que conferem

maior saliência aos elementos como as cores, os tamanhos e os contrastes. Apresentamos, a

seguir, três recortes feitos nos rótulos 1, 2 e 3, os quais apresentaram imagens, e nos quais

podemos observar o destaque recebido por alguns dos elementos representados. Na FIG.9

destacamos o tamanho da ilustração que, mesmo acompanhando a instrução dada em duas

linhas, manteve, aproximadamente, a proporção das demais ilustrações do modo de preparo.

Acreditamos que, nesse caso, o tamanho da ilustração seja mais que uma questão de equilíbrio

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entre os elementos visuais. Acreditamos que possa ser, também, uma questão de saliência

levando-se em conta que a imagem representa o tipo de fôrma mais indicada para o tipo de

bolo da mistura, justificando assim o destaque dado. Se por um lado a imagem ganha

saliência ao ser representada em tamanho maior que o do texto, por outro lado o texto também

ganha saliência com um maior espaçamento ao seu redor, ou seja, uma moldura demarcada

pelo espaço vazio no seu entorno.

FIGURA: 9 - Item 2 do modo de preparo do bolo – Rótulo 1

O recorte que fizemos nas instruções do rótulo 2 mostra a saliência na ilustração do

ingrediente ovo, não somente no tamanho da sua representação em relação ao espaço ocupado

pelo texto, como observado na FIG. 9, mas também nas tonalidades apresentadas pelas

gradações da cor cinza que proporcionaram a visualização de efeitos de luminosidade,

possíveis no contraste entre luz e sombra, o que se observa na FIG. 10, a seguir.

FIGURA: 10 - Item dos ingredientes complementares – Rótulo 2

O recorte que fizemos no modo de preparo do rótulo 3 e apresentado na FIG. 11

também possibilita observar a saliência na ilustração da ação instruída. O fundo amarelo

destaca a imagem que foi impressa sobre um fundo escuro. Tanto nesta ilustração do rótulo 3,

quanto na do rótulo 1 pode-se observar a presença dos vetores que indicam o movimento de

queda da mistura, já batida, da tigela para a fôrma. Destacamos nesta instrução a

complementaridade entre texto e imagem. O texto isolado diz: “despeje a massa em fôrma

untada e enfarinhada e leve ao forno”. Ilustrado ele pode nos dizer: “despeje a massa já

misturada e batida em fôrma untada e enfarinhada e leve ao forno”. Ao ilustrar o texto

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indicando a massa caindo de uma tigela suspensa por uma mão e sendo despejada em uma

fôrma de bolo a ilustração acrescenta ao texto a ideia de que a mistura precisa sofrer alguma

ação antes de ser levada ao forno.

FIGURA: 11 - Item 4 do modo de preparo – Rótulo 3

6.9 Erros e dificuldades na leitura dos rótulos

Após observarmos os erros de leitura nas propostas instrucionais dos rótulos foi possível

identificar as dificuldades mais frequentes. Reunimos essas dificuldades em quatro pequenos

grupos que identificamos como referentes a conhecimentos específicos, conhecimentos

prévios, apresentação do conteúdo e credibilidade do objeto. Faz-se necessário dizer que o

nosso foco esteve sempre nas dificuldades encontradas na leitura e por isso não nos detemos

em uma análise multimodal das propostas instrucionais. Os rótulos 1, 2 e 3 apresentaram

elementos verbais e não-verbais interagindo de forma suficiente a possibilitar abordagens

mais amplas e mais profundas que as apresentadas neste trabalho.

Nas dificuldades relativas a conhecimentos específicos, como matemática, física e

química, observamos que as propostas instrucionais dos rótulos partiram do pressuposto de

que os leitores/consumidores sabem identificar unidades de medida como uma xícara de chá,

e quantificar porções fracionadas como ¾ de xícara, o que não se observou nos simulados

realizados. Com exceção da participante A-15, que é estrangeira e possui limitações no

vocabulário da língua portuguesa, todos os demais participantes leram corretamente ¾ de

xícara, mas entre ler essa instrução e executá-la percebemos uma lacuna. Nesse caso, ler o

texto verbal e não-verbal sobre o que precisava ser feito e ter os utensílios e ingredientes à

mão não foi suficiente para que alguns leitores pudessem executar a instrução de forma

satisfatória. Entre os participantes que precisavam dosar o ingrediente leite, apenas três

escolheram a xícara de chá com a capacidade considerada correta, de 200ml. Além da

dificuldade na identificação da xícara de chá, os participantes apresentaram também

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dificuldade em dosar ¾ de xícara de chá de leite sendo que, um dos participantes adicionou 3

xícaras e ½ de leite à mistura. As propostas instrucionais também consideraram o

leitor/consumidor como conhecedor da relação entre tipo de fôrma e tempo de forno, e com

noções sobre tempo de cozimento e textura dos ingredientes após o processo de mistura, o que

também não se confirmou. A-23, por exemplo, entendeu que o bolo estaria pronto após 10

minutos no forno e que a massa deveria ficar “bem firme” depois de batida, enquanto o rótulo

instruía que deveria ficar “lisa e homogênea”.

Nas dificuldades relativas a conhecimentos prévios, as propostas instrucionais partiram do

pressuposto de que os leitores/consumidores conheciam procedimentos como untar a fôrma e

preaquecer o forno, o que se mostrou desconhecido para 12 participantes. Também

consideraram como conhecimento prévio dos leitores os procedimentos de verificar o

cozimento do bolo com um palito e o de proceder ao cozimento do bolo na mesma

temperatura de preaquecimento do forno, o que gerou dúvida para dois participantes. Alguns

desconheciam tipos diferenciados de bolo como o brownie, rótulo 2, e o coco gelado, rótulo 1.

Esses dois tipos de bolo apresentavam fotos “salientes” do produto na parte frontal das

embalagens, no caso do rótulo 2 também no verso, as quais foram manuseadas pelos

participantes que, ainda assim, não atentaram para o tipo de bolo que simulavam preparar.

Esse fato gerou erro na escolha da fôrma indicada, no caso do rótulo 1, e dúvida na altura do

bolo, no caso do rótulo 2. Consideramos aqui a possibilidade de o conhecimento prévio desses

leitores, sobre o que seja um bolo caseiro, ter influenciado a sua percepção do tipo de bolo

que simulavam preparar e, nesse caso, os recursos verbais e não-verbais disponíveis não

foram suficientes para evitar a dúvida na leitura da instrução.

Quanto às dificuldades encontradas pelos participantes na disposição do conteúdo

instrucional, observamos que as quatro propostas instrucionais distribuíram o conteúdo de

cima para baixo e da esquerda para a direita, orientação essa nem sempre seguida pelos

participantes do simulado, os quais fizeram percursos diferentes em suas trajetórias de leitura.

Os participantes sentiram falta de uma ordenação do conteúdo, inclusive com numeração, não

só no passo a passo do modo de preparo, como também nos diferentes conjuntos de instruções

como os que se observam nos rótulos 1 e 2. Enquadrados e intitulados, ainda assim esses

conjuntos causaram dúvida no percurso de alguns leitores no momento em que precisaram

decidir sobre o que deveriam ler primeiro. O participante A-10, por exemplo, se disse confuso

diante das instruções do rótulo 2. Esse participante iniciou sua leitura pela indicação de fôrma

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no quadrante inferior direito, depois leu sobre o preaquecimento do forno e o procedimento de

untar a fôrma, instrução apresentada no quadrante superior direto, na sequência separou os

ingredientes complementares, apresentados no quadrante superior esquerdo e por último leu

as instruções do modo de preparo. Se pensarmos a sequência dos quadrantes de cima para

baixo e da esquerda para a direita, o percurso de leitura feito por A-10 foi 4, 3, 1, 2 diferente

portanto daquele que indicou como sendo ideal (FIG. 7).

Ainda sobre a disposição dos conteúdos, observamos que as propostas instrucionais dos

rótulos também consideraram que o leitor leria todos as instruções disponibilizadas no espaço

do rótulo, o que também não se confirmou. A-4, que trabalhou com o rótulo 1, por exemplo,

focou na leitura das instruções sobre o modo de preparo e não percebeu a instrução sobre a

indicação de fôrma na coluna ao lado. Nesse caso, o rótulo enquadrou a instrução no alto da

coluna, com elementos de saliência como ilustração com perspectiva, título em negrito e

também moldura, com espaços vazios nas laterais e barras acima e abaixo da ilustração e,

ainda assim, o leitor participante não percebeu a instrução. A-22, trabalhando com esse

mesmo rótulo, não percebeu a instrução sobre o preaquecimento do forno, apresentada na

mesma coluna do modo de preparo do bolo, no topo da coluna.

Destacamos também as dificuldades decorrentes da baixa credibilidade, por parte de

alguns leitores, para com as instruções apresentadas nos rótulos. Alguns questionaram a

necessidade de determinadas dosagens de ingredientes, ou mesmo de certos cuidados no

preparo. Assim, fizeram “ajustes” nas instruções que, possivelmente, comprometeriam o

resultado em uma situação real de preparo. A participante A-9, por exemplo, reduziu a

quantidade de manteiga indicada no rótulo 2, de 5 para 1 colher, por acreditar que essa

quantidade seria suficiente; e o participante A-2 escolheu a fôrma sem verificar o seu formato

sendo que o rótulo indicava a utilização de uma fôrma retangular. Como a baixa credibilidade,

por parte de alguns leitores para com as instruções dos rótulos, pode incorrer no

comprometimento do resultado do preparo estamos considerando-a aqui como um tipo

específico de erro na leitura das instruções. Observamos que as propostas analisadas trataram

a instrução sem considerar a possibilidade de ela ser colocada em dúvida pelo

leitor/consumidor. As instruções foram objetivas e não apresentaram expressões de caráter

explicativo ou justificativo como, por exemplo, “não abra o forno antes de 30 minutos, pois

isso pode interromper o crescimento da massa” ou ainda “não reduza a quantidade de

manteiga indicada, pois isso pode prejudicar a cremosidade do bolo”.

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6.10 Duas leituras de um mesmo discurso

Kress e van Leeuwen (2001) afirmam que os intérpretes do discurso lançam um olhar

sobre o conteúdo a partir do seu lugar no mundo social. Tivemos a oportunidade de verificar

isso em nossos procedimentos. Em determinado momento do simulado, como já dissemos na

metodologia, os participantes tiveram em mãos os quatro rótulos para compará-los e escolher

aquele que consideravam o mais prático de executar. O rótulo 3 apresentou uma proposta

instrucional que foi compreendida de forma oposta por dois dos participantes. Como vimos,

esse rótulo apresentou as instruções do modo de preparo em sete tópicos, espaçados e

ordenados numericamente. Por um lado, A-2, estudante brasileiro, classificou-o como o

melhor por oferecer as instruções de forma mais detalhada, passo a passo. Por outro lado, A-

15, estudante alemã residindo no Brasil, criticou a proposta por considerar as frases muito

longas. A participante, que também é estudante de documentação técnica, acrescentou que em

alguns tópicos havia mais de uma frase, o que não considerava como ideal para aquele projeto

textual. Uma percepção interessante que observamos na fala da participante A-15 é a de que

“um bolo não é uma construção muito complexa”. Após constatar isso, a participante decidiu-

se pelo rótulo 1 como o mais prático de executar, o qual apresentou três etapas no seu modo

de preparo. Na avaliação de A-15, sobre a proposta instrucional do rótulo 3, enxergamos

como o seu posicionamento no mundo social e cultural incidiu sobre a sua leitura do conteúdo

proposto e definiu a sua escolha.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nosso objetivo geral foi verificar como se dá a leitura de textos multimodais em

rótulos de alimentos. Queríamos saber de que forma os leitores lidam com os recursos verbais

e não-verbais e se a utilização desses recursos favorece a produção de sentido na leitura de

instruções em rótulos de alimentos. Verificamos que elementos multimodais podem reforçar,

destacar ou mesmo completar os textos instrucionais adicionando a eles elementos não

específicos da modalidade verbal. Os recursos semióticos da multimodalidade foram

percebidos e valorizados pelos leitores participantes dos procedimentos que realizamos,

apesar de não garantirem a compreensão das instruções, as quais se mostraram dependentes

de conhecimentos não apresentados na proposta instrucional. Na leitura das instruções

verificamos que o leitor articula os conhecimentos que tem com os elementos verbais e não-

verbais na construção de uma compreensão. Quanto à possibilidade de ampliação da noção de

texto instrucional considerando também a leitura do texto não-verbal, nosso primeiro objetivo

específico, verificamos que as instruções em rótulos de alimentos são organizadas em espaço

reduzido e a utilização de recursos não-verbais como a imagem, a cor, o contraste, a saliência,

o enquadramento e a moldura podem ajudar na comunicação do conteúdo verbal mostrando-

se possível, portanto, a sua compreensão como um tipo de texto verbo-visual. A limitação das

instruções a um conjunto de frases injuntivas e lineares foi percebida pelos leitores como um

fator dificultador na leitura desse tipo de texto. Quanto à compreensão de como diferentes

modos semióticos podem contribuir para a leitura de rótulos, nosso segundo objetivo

específico, verificamos que isso é possível devido às especificidades de cada um deles, as

quais somam-se ao verbal de forma independente tanto na representação das instruções

quanto na construção de uma compreensão sobre elas.

Faltou neste trabalho uma passagem pela Semiótica Social que, por sua profundidade

e relevância, acreditamos exigir leituras e reflexões que não foram possíveis no tempo

determinado para a conclusão deste trabalho. Quanto às demais questões levantadas,

observamos que o leitor lidou com o conjunto das instruções como um todo sem distinções

hierárquicas entre a modalidade verbal e a não-verbal sendo que, todos eles, manifestaram-se

favoráveis à presença de imagens no passo a passo do modo de preparo, ou seja, enquadradas

ao lado da instrução verbal. Observamos ainda que os recursos semióticos podem interferir na

leitura de rótulos. Dois participantes, os quais receberam instruções verbais sobre três

diferentes tipos de fôrma, decidiram utilizar o tipo ilustrado no rótulo e não fizeram isto de

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forma aleatória. Afirmaram, durante o simulado, que escolheram aquele tipo porque a

ilustração no rótulo indicava-o como fôrma utilizada.

Não acreditamos que uma ampla utilização de recursos semióticos pudesse ter evitado as

dificuldades enfrentadas na leitura dos rótulos. Além das informações linguísticas,

situacionais e culturais, também conhecimentos prévios e específicos se mostraram

necessários e isso nos leva a concluir que a leitura de instruções em rótulos de alimentos não é

algo tão simples como possa parecer. Kress e van Leeuwen (2001), ao falarem sobre o nosso

compromisso sensorial com o mundo, chamam a nossa atenção para uma necessária mudança

no modo de representá-lo e, diante disso, ressaltamos a importância da articulação entre o

verbal e o não-verbal, não só no projeto e na produção de textos como também na construção

de uma desejável compreensão sobre eles, especialmente das instruções, as quais nos ajudam

a executar tarefas. Na leitura dos rótulos, em nossos contextos de preparação simulados, foi

possível identificar elementos concretos como quem instruía: o fabricante, o que instruía:

como preparar a massa, a quem instruía: ao leitor/consumidor, como instruía: articulando

elementos verbais e não-verbais, em que meio instruía: no rótulo dos produtos e quando o

fazia, nesse caso, em nosso contexto de comunicação. Frente a definição desses elementos e

considerando o postulado por Kress e van Leeuwen (2001) de que todos os modos semióticos

empregados em um texto contribuem para o significado, restou-nos uma dúvida: Se esses

teóricos já não veem como um caminho a seguir a criação de gramáticas multimodais seria

possível, ou mesmo viável, uma retórica multimodal para a comunicação de instruções,

considerando que são de grande utilidade em nossas práticas sociais? Se sim, de que forma

isso poderia ser feito e de que modo poderia, ou não, ser ensinado? São questões para as quais

ainda não temos respostas e que acreditamos merecer a atenção de estudos mais extensos e

mais profundos, especialmente na área da documentação técnica para a qual acreditamos ser

relevante a representação multimodal de conteúdos.

Esperamos que este trabalho possa inspirar estudos sobre a multimodalidade em nossas

práticas comunicativas e contribuir para uma reflexão sobre os nossos papéis nessas práticas.

Se por um lado consideramos importante a utilização dos recursos semióticos na

representação de instruções, por outro reconhecemos o necessário exercício do nosso olhar

sobre esses textos. Nesse exercício, acreditamos poder contar com a multimodalidade e suas

especificidades na compreensão das instruções que nos são apresentadas e que, algumas

vezes, apenas decodificamos. Se o leitor não puder empreender esse exercício sozinho,

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acreditamos que ele possa ser ajudado nessa tarefa e os futuros leitores preparados para isso

por meio de multiletramentos.

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9 APÊNDICES

APÊNDICE A – Transcrições dos simulados com os alunos. SIMULADO 01 Participante A-1 – Rótulo 1 _ Unte a fôrma com margarina ou manteiga… e polvilhe com farinha de trigo. Preaqueça o forno em temperatura médio baixa… por 10 minutos. Bolo… você vai precisar 200 ml de leite, uma xícara de chá. 2 ovos. 40 gramas de margarina, 2 colheres de sopa, à temperatura ambiente. Modo de preparo, misture o conteúdo do pacote maior com o leite. Misture o conteúdo do pacote maior com o leite, os ovos e a margarina. Bata na batedeira em velocidade alta por 4 minutos… até obter uma massa lisa e homogênea. Dois, coloque a massa na fôrma untada e enfarinhada. Leve ao forno e deixe assar por 30 a 40 minutos. Para saber se o bolo está pronto, perfure a massa com um palito e retire… se sair seco… com o palito. Se sair seco o bolo estará pronto. Não abra o forno antes de 30 minutos de cozimento. _ Ok? – Ok! Espero que eu tenha servido pra alguma coisa… risos. _ Aqui, Jaqueline nós temos os 4 rótulos que estamos trabalhando. Você executou esse aqui. Eu estou colocando três outros. Se você tivesse que preparar um bolo aqui, agora, qual dos 4 rótulos você prepararia? Qual você acha mais fácil preparar? – Ok… _ pode olhar na mão, pode segurar… – Uhum… Ah tá, eu tô vendo que estes dois aqui (rótulos 3 e 4) não têm muita diferença um do outro não. É… Assim… Se eu fosse fazer eu faria um dos dois porque eu não vejo diferença. Assim… o ingrediente é o mesmo o tempo de preparo também para… É a mesma coisa, não têm diferença não. Pelo menos eu não estou vendo nitidamente uma diferença e eu já fiz várias, várias vezes, eh… esses bolos aqui dessa marca (não aponta algum entre os rótulos 3 e 4). – Entre os dois você não escolheria um que fosse mais simples pra você não… São todos com o mesmo grau de facilidade? – Esses dois aqui (3 e 4) eu percebo que é o mesmo grau de facilidade, já esses dois aqui (1 e 2) eu percebo que não é o mesmo grau de facilidade, principalmente porque esse aqui ó (aponta rótulo 1) tem uma calda. _ Ah tá, ok. Muito obrigada Jaqueline pela sua participação. Bolo pronto em: 03:40min. Tempo total do simulado: 05:00min. SIMULADO 02 Participante A-2 – Rótulo 1 _ Vamos precisar de 200ml de leite. Uma xícara de chá… 1 xícara de chá, 200ml de leite, até encher. 2 ovos, bate, 2 ovos. 2 colheres de margarina, 2 colheres de sopa à temperatura ambiente. Margarina, duas colheres. E pronto. Modo de preparo, misture o conteúdo do pacote maior com o leite, os ovos e a margarina. Os ovos já tão aqui, a margarina, o leite e o preparo que está… _ Tá dentro da embalagem, é so virar… _ Ok. Bata na batedeira até obter massa lisa, homogênea… fica batendo, bate 4 minutos. Vou colocar a massa na fôrma untada e enfarinhada… Tá. Untada primeiramente, agora não sei se é a farinha primeiro ou a margarina primeiro. Vou seguir a ordem do que está falando: untada e enfarinhada. Primeiro pegar tipo um papel, alguma coisa, pegar com papel a margarina, unto. Pego a farinha, jogo, passa polvilho né? Tudo bem, e vou colocar a massa por cima. Levo ao forno e vou deixar assar por 30 a 40 minutos. Pra saber se tá pronto perfure a massa com um palito e retire. Se sair seco o bolo estará pronto, ou seja, daqui a 30 ou 40 minutos pego um palito coloco nele e verifico se o bolo tá pronto, não sei como! _ Não sabe como? _ Não, no indicativo do palito. O que tem a ver o palito com enfiar no bolo com a questão dele estar assado ou não. _ Esse tipo de instrução é uma instrução que no caso você desconhece? _ Desconheço. Isso é uma coisa do senso comum que eu desconheço, não tenho. Retire…Ah! Não, não! Se sair seco o bolo estará pronto. Aqui tem um indicativo, ok. Eu passo o palito, depois de 30, 40 minutos, coloco e tiro.

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Se sair seco o bolo estará pronto, ok. Não abra o forno antes de 30 minutos do cozimento. O tempo mínimo é 30 minutos, ok. Terminado. A única dúvida que eu tive… o bolo já está assando… a única dúvida que eu tenho é essa questão da ordem da forma untada e enfarinhada. _ Agora só um minutinho antes da gente terminar. Você executou este preparo (1). Eu vou te mostrar outros três tipos de texto instrucional, de rótulos diferentes, e vou te fazer a seguinte pergunta: se você tivesse de preparar um desses quatro bolos agora, considerando o texto instrucional, sem considerar o produto, qual rótulo você escolheria? _ Posso ver esses três aqui também? _ Pode! _ É complicado viu! Este aqui (4) já ficaria de fora porque não tem as imagens. _ Esse você eliminaria? _ Exato. Por falta de imagem. Este aqui (2) tem imagens também só que não tem as imagens do passo a passo, só tem as imagens indicativas. Ficaria em segundo plano também…. descartado… (pegou o rótulo 3) Ôpa… ingredientes complementares… espero que fale depois porquê né? Preaqueça o forno em temperatura média… é mais explicativo… o passo a passo tá aqui … tá explicativo, isso nenhum outro explica… (lendo baixinho as instruções) se o palito sair seco SEM MASSA ADERIDA (ênfase dada pelo leitor) é porque o bolo está assado, tá mais explicativo… retire do forno e deixa esfriar pra desenformar… e esse é o preferido (afirmou, segurando o rótulo 3). Bolo pronto em: 02:50min. Tempo total do simulado: 05:12. SIMULADO 03 Participante A-3 – Rótulo 1 _ Antes do preparo unte a fôrma com margarina ou manteiga e polvilhe com farinha de trigo. Preaqueça o forno em temperatura média baixa, 180 graus Celsius por 10 minutos. _ O forno é esta caixa de papelão que está aí. _ Vou preaquecer o forno. A fôrma tem que ser… não fala… _ Não fala? _ Ah! A indicação de fôrma, acho que é essa aqui mesmo. A manteiga… (simula passar a manteiga e depois passa a farinha também com as mãos). Você vai precisar de 200ml de leite, uma xícara de chá. 2 ovos, 40 gramas de margarina, 2 colheres de sopa. Modo de preparo. Misture o conteúdo do pacote maior com o leite, os ovos e a margarina. Bata na batedeira em velocidade alta por 4 minutos até obter uma massa lisa e homogênea. O conteúdo está aqui dentro? (perguntou mostrando a embalagem). _ Tá. _ Ah… e bata… _ O rótulo diz quanto tempo? _ 4 minutos. Tem que ficar aqui 4 minutos batendo? _ Não, precisa não. _ Coloque a massa na forma untada e enfarinhada. Leve ao forno e deixe assar por 30, 40 minutos. Para saber se o bolo está pronto perfure a massa com um palito e retire. Se sair seco o bolo estará pronto. Não abra o forno antes de 30 minutos de cozimento. Já tá assando (risos). _ Finalizado? _ Não! (afirma pegando o paliteiro). Vamos ver se está bom. … Pronto. _ Pronto? Finalizado? Ok. Agora deixa eu te fazer uma última pergunta. Última pergunta não né? Quase última. Esse foi o bolo que você preparou. Eu vou te mostrar aqui outros três rótulos também com mistura para bolo. Se você tivesse que preparar uma dessas misturas agora, no laboratório, qual desses rótulos aí você escolheria para preparar? Pode pegar, pode olhar, pode ler… Pode verificar, aí você me fala qual você achou mais fácil. _ Questão de facilidade né? E não qual que eu gosto mais? _ É importante você dizer tudo. _ Esse aqui não vai ser (3) por que é 45 minutos e eu fico com vontade de comer o bolo rápido. Esse aqui (1) já é 30 minutos, eu não faria. Eu acho que eu escolheria este (2). _ Por que você escolheria esse aí? _ Por que? Porque eu amo brownie e por que também não usa leite, a receita, eu vi aqui, parece que ela é um pouco mais fácil de ser feita, é… menos tempo também pra assar, pra preaquecer tá falando direitinho o tempo que você deixa preaquecendo, aqui não fala (indicando com o dedo o rótulo), Ah não! Por dez minutos, fala sim.

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Mas eu acho que mais por causa da receita mesmo e também porque não leva leite, a receita é um pouco mais fácil de fazer. _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes? _ Já, eu sempre faço bolo assim. _ Com que frequência você faz bolo na sua casa? _ Ah, muito pouco, uma vez por mês. – Que tipo de alimento você mais preparou com a ajuda desse tipo de texto? _ Ah, bolo mesmo. _ Bolo mesmo? _ Bolo. _ Alguma experiência com esse tipo de texto já resultou em erro? Você já tentou fazer alguma mistura de bolo que deu errado? _ Já! Uma vez eu fiquei sem a medida do leite e aí eu coloquei muito leite … e ficou muito molengo, assim. _ Você lembra porque você colocou muito leite? _ Acho que foi a medida mesmo… eu coloquei foi de cabeça assim ... _ Você colocou sem a medida? – É. _ Você gostou da diagramação dos rótulos que você viu aí, você acha que eles estão… _ Tão, tá tudo direitinho. Os rótulos? – Os rótulos, é, dos rótulos. – Gostei, achei que ficou tudo muito claro, certinho passo por passo. Menos esse aqui (4) não tem os desenhos, os passos… eu gosto mais com desenhos. Ficou um texto muito… (encerrou fazendo um gesto de bloco vertical com a mão direita). _ Agora, além da falta de desenhos, você sentiu falta de mais alguma coisa nesses rótulos sem imagem? _ Não. _ Ok. Obrigada pela participação. Bolo pronto em: 04:00min. Tempo total do simulado: 08:02. SIMULADO 04 Participante A-4 – Rótulo 1 _ Leia em voz alta e vá narrando pra mim o que você vai fazer. _ Ah! Entendi. Bem (lê primeiro baixinho conferindo os ingredientes) Antes do preparo aqui, unte a fôrma com a margarina e polvilhe farinha de trigo. Não tem falando qual tipo de fôrma, tá mostrando aqui uma forma quadrada (pegando fôrma retangular). Eu vou untar ela com margarina, né? Aí, preaquecer o forno em temperatura média de 180 graus, 10 minutos, ligo o forno. Eu vou precisar de 200ml de leite. Bom a xícara… (dúvida na xícara) eu acredito que seja a maior a de 200ml. O leite tá aqui, coloco. 2 ovos, aqui e são 2 colheres de sopa temperatura ambiente. (dúvida na colher) Colher de sopa? Eu acho que é a maior. Duas colheres de sopa de margarina que eu vou pegar, agora eu vou ver aqui… misture o conteúdo do pacote maior com o leite… _ O conteúdo está dentro do pacote. _ Ah! Tá. Junte os ovos e a margarina. Vou virar o conteúdo do pacote e vou misturar o leite, os 200ml que já tá aqui. Bata em velocidade média durante 4 minutos… e os ovos, vamos colocar os ovos e eu vou bater por 4 minutos. A mistura já está homogênea. Eu vou colocar ela na fôrma que já tá untada e eu levo pro forno que já tá preaquecido, por 30, 40, minutos. Terminado? _ Deixa eu te perguntar uma coisa. Você já teve contato com esse tipo de texto antes? Texto instrucional? _ Tenho. Eu sou dona de casa, né? _ Com que frequência você lida com textos como esse aí? _ Ah! Direto. Semanalmente, assim eu faço um bolo, faço alguma coisa assim. _ Que tipo de produto você mais prepara em casa com o texto instrucional? Você lembra? _ Não é bolo. Eu faço muito é gelatina, mousse… _ Já teve dificuldade com algum desses rótulos? _ De gelatina não que a gente já até decorou né, não tive dificuldade não … deixa eu pensar aqui… _ Alguma coisa que você tentou fazer deu errado? _ Não, só tive com receita, não com rótulo. Com rótulo não. _ Você encontrou alguma dúvida, por menor que seja, em alguma instrução que você leu aí nesse rótulo? Alguma coisa te gerou dúvida aí?

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_ Ah! Tá. Eu só não vi aqui e agora é que eu tô vendo a indicação da fôrma… _Sei. _ Eu não vi aqui (indicando no rótulo), eu vi pelo desenho aqui embaixo, depois é que eu vi aqui, agora é que tô vendo. Aqui (indicando no rótulo), eu acho que devia ter a indicação da fôrma aqui (indicando o texto com instruções sobre o que fazer antes do preparo), entendeu? Junto com ele “unte a fôrma”, né? _ Você gostou da diagramação desse rótulo? Achou agradável de ler, tranquilo. Sentiu falta de alguma coisa? _ Não, não senti falta de nada aqui não. _ Agora eu vou te mostrar outros três rótulos. Esse aí é o rótulo com o qual você trabalhou. Eu vou te mostrar outros três rótulos também de preparo para bolo. Se você tivesse que preparar um desses bolos agora num laboratório, sem considerar o produto, considerando apenas as instruções de preparo, qual dos 4 você preferiria fazer? Pode olhar, pode pegar, ler… _ Humm, olha eu acho que eu ia preferir qualquer um. Tem que escolher um? _ É, um que seria mais fácil, que lhe desse menos trabalho… que fosse mais fácil de fazer. _ Eu escolheria esse (3) porque eu já tenho costume de fazer. _ Você já conhece os resultados? _Já conheço, eu já sei até de cor, entendeu? Por isso, eu acho que é por isso. Agora você tá querendo saber sobre? _ A diagramação, se tá fácil de ler. _ Esse aqui ó (2) parece que tá bem melhor, separadinho. Misturar, bater, assar, servir. Tá mais separadinho. Eu escolheria esse por causa disso, só por causa desses titulozinhos aqui que eu acho que é mais fácil, agora… _ Por causa desse tipo de instrução? _ É _ Alguma referência à diagramação, tipo de letra? _ Essa letra é bem pequenininha (indicando rótulos 3 e 4). _ É desconfortável? Alguma coisa ficou desconfortável na hora de ler? _ É ficou muito pequenininha (segurando o rótulo 3) e esse aqui também (4) eu não gostei muito do tipo de letra não. São as menores, se a gente for reparar né? Agora essas aqui (1 e 2) já estão mais ou menos no mesmo padrão. _ Ok, Renata. Muito obrigada pela sua participação. _ Nada! Bolo pronto em: 02:57min. Tempo total do simulado: 07:18min. SIMULADO 05 Participante A-5 – Rótulo 1 _ Tá certo, primeiro tem que pegar a fôrma e untar, vou untar com margarina que é mais fácil, e polvilhar com farinha de trigo. E preaquecer por 10 minutos. Vou deixar aqui preaquecendo (simula colocar a fôrma no forno) a 180 graus. Enquanto isso a gente vai preparando a massa… é, precisa do conteúdo do pacote, mais leite que é uma xicara de chá de leite (248ml), e é 2 ovos e 2 colheres de sopa (inox/plástico) de margarina. Posso bater aqui direto? _ Pode escolher onde você prefere bater a massa. _ Bater por 4 minutos em velocidade alta. Já tem os 4 minutos. A gente espera completar os 10 minutos (retira a fôrma do forno) e coloca a massa na fôrma e aí leva para o forno e deixa 30, 40 minutos. Aí a gente perfura com um palito, meia hora depois, a gente fura para ver se a massa tá pronta. E aí, se o palito sair seco, o bolo tá pronto. _ Tá pronto? _ Pronto. _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes, em rótulos? _ Já. Anham. _ Com que frequência você tem acesso a esses textos? _ Não, eu já tentei, mas só que eu cozinho muito mal e eu parei de mexer com isso. _ Que tipo de alimento você mais preparou com a ajuda desse tipo de texto? No seu dia a dia que tipo de alimento é mais frequente você ter esse texto pra te orientar? _ Bolo. Bolo foi o que eu tentei por que é mais fácil, mas não deu certo. _ E não deu certo? Por que não deu certo? _ Ficou muito ruim. Acho que eu coloquei muito leite. _ Que mais você Lembra? Lembra-se da experiência?

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_ Eu lembro, que ele ficou bom e eu tive que jogar fora (risos). – A massa ficou mole? Porque você acha que errou no leite? Como ela ficou? _ Ela não tava endurecendo e aí ela queimou por baixo e… não rolou não. _ Você encontrou algum tipo de dúvida, por menor que seja, em alguma instrução desse rótulo aí que você preparou? Fala aí pra mim bem detalhado quais foram as dúvidas que você encontrou. _ É por que aqui em cima fala preaqueça o forno à temperatura média-baixa que é 180 graus, por 10 minutos, só que aí, depois, na hora que fala pra levar ao forno fala pra deixar assar durante 30 a 40 minutos, mas não fala qual a temperatura que é pra deixar, fala só do preaquecimento e eu por exemplo, que não sei cozinhar não saberia. _ Qual outra dúvida você teve aí com relação a esse rótulo? _ Foi só isso… _ Você gostou da diagramação do rótulo? Achou ele fácil, simples de entender? Sentiu falta de alguma coisa no rótulo? _ ... _ Você preparou aqui o rótulo 1, eu vou te mostrar outros três rótulos e você vai dizer pra mim, se tivesse de ir para um laboratório agora fazer um bolo de verdade, olhando apenas o modo de preparo, sem considerar o produto, que tipo de rótulo de bolo você preferiria executar? _ Esse aqui (indicando o rótulo 1). _ Por quê? _ Porque ele só tem 3 etapas no modo de preparo e aí é mais rápido. _ É mais simples? _ É. _ Ok, muito obrigada pela sua participação. Bolo pronto em: 03:04min . Tempo total do simulado: 05:45min. SIMULADO 06 Aluna: Isabela Soares Guimarães - Rótulo 2 _ Nós vamos fazer um bolo e, antes de começar a fazer o bolo, nós vamos trabalhar com os … Como untar uma fôrma. É… Nós vamos preaquecer por 10 minutos com a fôrma lá dentro e antes a gente vai untar. Eu vou untar com margarina, tá? Manteiga, desculpa. Manteiga ou margarina, mas eu vou usar manteiga. Eu vou usar manteiga e vou preaquecer durante 10 minutos (colocando a fôrma no forno). Enquanto isso, os ingredientes que eu vou usar são 3 ovos e 3 colheres de sopa, aproximadamente 100g de manteiga ou margarina. Então tá, vamos lá. Eu já vou fazer direto na… onde eu vou bater pra sujar menos vasilha porque eu sou uma pessoa bem prática. Então tá. Eu já vou quebrar o ovo aqui direto, são 3 ovos inteiros, eu não preciso separar a clara porque eu já vou bater tudo junto. Agora 5 colheres de manteiga, manteiga ou margarina, eu prefiro manteiga. Então vamos colocar 5 colheres, uma, duas, três, quatro, cinco. Colocar aqui… Agora eu vou bater agora. Antes, eu vou colocar o conteúdo deste pacote (embalagem do rótulo) que é a nossa mistura pra bolo. Nós vamos bater em velocidade baixa pra que não escorra durante 1 minuto. A gente precisa obter uma massa bem homogênea e lisa, então a gente vai bater enquanto precisar durante 3 ou 4 minutos. Pronto, batemos. Já tem 5 minutos, eu vou tirar um pouquinho antes a minha fôrma, pronto, tirei a fôrma, agora eu vou colocar o conteúdo aqui. Ah! Tá. Mandaram eu usar aqui 2 tipos de fôrma, ou a retangular ou a redonda. Eu usei essa aqui que não é redonda nem retangular, tem um furo no meio, então tá mandando usar de 35 a 40 minutos, eu vou usar 40 minutos tá? Então tá. 40 minutos depois terminamos o bolo, uma delícia, tá aqui! _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes em outros procedimentos na sua casa, qual a frequência com a qual você lida com esse tipo de texto instrucional? _ Pouca. Eu não uso muito, uso pouquíssimo, eu uso pra fazer macarrão instantâneo, miojo, suco. Eu não cozinho muito, mas é… quando faço também procuro seguir as instruções que às vezes são bem ambíguas. _ Que tipo de ambiguidade você costuma ver nas instruções? _ Olha, tá aqui, e principalmente esse rótulo usa muito “aproximadamente”. Aqui tá 5 colheres aproximadamente de manteiga ou aproximadamente 100g. Me deixa uma dúvida… então quer dizer se eu tivesse usado um pouco menos teria ficado de um jeito, se tivesse usado um pouco mais teria ficado de outro jeito. É… bater em velocidade média durante 1 minuto ou à mão durante aproximadamente 3 ou 4 minutos, tá? Me deixa em dúvida também aí… a velocidade. É… e aqui, especificamente nesse rótulo me dá só duas opções de fôrma que é a redonda e eu não vou chamar isso aqui de redonda não (pegando a fôrma de furo no meio) vou chamar isso aqui de outro tipo de fôrma… me dá a redonda ou a retangular. Eu, consequentemente usei outra fôrma e não tive o tempo para essa fôrma. Me deixou na dúvida nesse caso, tá?

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_ Você gostou da diagramação desse rótulo? Você acha que as instruções foram colocadas de forma adequada para facilitar o seu entendimento? _ Não. Não, eu não acho. Não acho, eu acho que foram mal distribuídas. Antes de preparar veio num canto, eu acho que ele deveria ter sido a primeira instrução que eu tenho; eu que sou uma pessoa que não sei fazer nada “antes de preparar” na frente e não “você utilizará”. Pode ser primeiro o modo de preparo e depois os ingredientes. _ Agora eu vou mostrar pra você, além desse rótulo que você preparou, três outros modelos de rótulos. Eu vou fazer uma pergunta pra você. Esse foi o que você preparou agora, nós temos aqui também estes; se você tivesse que ir ao laboratório agora para preparar um bolo, sem considerar o produto, considerando apenas as instruções que você tem disponíveis aqui, qual deles você preferiria preparar? _ Olha, apesar de ser uma pessoa prática, é então querendo terminar mais rápido, mas eu acho que tudo bem explicado é melhor, mesmo que ocupe um pouquinho mais de espaço talvez, eu faria esse (3). O modo de preparo tem um, dois, três, vai até a sete. Vem, como eu disse antes, primeiro preaqueça o forno, depois já vem despejando, já é mais prático, já vai me dizendo como vou despejar, como devo fazer… esse (3) já manda bater cinco minutos, é diferente. Então eu ficaria com esse (3), apesar de mais longo, tem mais etapas do que todos, mais etapas do que todos, eu ficaria com esse. Eu acho que ele está mais bem explicado. _ Ok. Obrigada pela sua participação. Bolo pronto em: 03:29min. Tempo total do simulado: 06:48min. SIMULADO 07 Participante A-7 – Rótulo 2 _ Vou pegar 3 ovos, né? (iniciou lendo baixinho e executando) … risos… _ Pode ler… _ Eu vou bater por 1 minuto. Agora… tem que pegar a fôrma, né? – Do jeito que tá aí no rótulo, que você achar que é mais correto. – Já deve ter preaquecido, né? Já tava ligado (o forno)… risos. Pronto. _ Tá terminado? – Esse foi prático! – Você já teve contato com esse tipo de texto antes? _ Já. _ textos assim em rótulos? _ (sinal afirmativo com a cabeça). _ Que tipo de rótulo você já tinha visto, de que tipo de alimento? _ De bolo mesmo, ah! De bolo, né? _ É o produto que você mais prepara? Tem outro tipo de produto que você prepara com o texto instrucional assim? _ Seguindo rótulo é só o bolo mesmo. _ Alguma experiência com esse tipo de texto assim em rótulo, que você já fez, já chegou a dar errado? – Já. _ Conta pra nós porque que deu errado, você lembra? – Lembro, mas eu acho que eu é que devo ter feito errado, não? (risos). _ O que você acha que você entendeu errado? – Várias vezes, igual fala aqui, você pode misturar tudo junto, né? – Sei… – Aí então eu fazia assim, eu misturava tudo junto, mas aí alguma outra pessoa falava, não, você deve bater ovos separadamente, né? pra depois misturar a massa que aí dá certo. E às vezes até dava certo mesmo, e do jeito que eu … feito, misturado tudo junto não deu certo. _ Algum produto deu errado com as instruções assim de rótulo, sem ser instruções de receita, essas que a gente recebe em casa da mãe, dos amigos? – Não, isso mesmo. _ Qual produto que deu errado? Era uma receita de família ou era uma receita que você estava seguindo no rótulo? _ Seguindo no rótulo. _ Não funcionou? _ É. – Você gostou da diagramação do rótulo? Você achou simples de preparar essa receita?

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_ Uhum (sinal positivo com a cabeça). – Já conhecia esse produto antes? _ Conhecia o produto, mas assim eu nunca tinha lido a forma de preparo, né? _ Pra gente finalizar eu vou te mostrar outros três rótulos além desse que você trabalhou. Se eu pedisse pra você preparar um bolo agora, no laboratório, qual desses rótulos você escolheria para poder preparar? Pode pegar, pode olhar, pode se familiarizar com eles… pra escolher o qual você preferiria preparar agora. _ Eu achei esse (1) mais prático. _ É? Por que você achou esse rótulo mais prático de executar? – Pela ilustração aqui em cima né, tá explicando direitinho assim do lado, né? Que aqui é o bolo, aqui é a calda (apontando as colunas de instruções)… Tá ensinando até como faz a calda. _ Sei… _ Eu achei mais prático, né? Pela numeração aqui, a informação de que não pode ser aberto com 30 minutos de antecedência… é… depois que você colocou não pode ser aberto antes de 30 minutos, né? Bem aqui marcado mesmo (essa informação está em negrito), que isso é importantíssimo, se você abrir murcha o bolo todo. Então eu achei bem bacana este. _ As ilustrações… _ As ilustrações ajudaram bastante também. _ Obrigada pela sua participação. Bolo pronto em: 02:30min. Tempo total do simulado: 06:24min. SIMULADO 08 Participante A-8 – Rótulo 2 _ Aqui tá pedindo 3 ovos inteiros e o modo de preparo é preaquecer o forno… Vou pegar a fôrma aqui, vê se fala o tamanho. Vou usar essa aqui (retangular), aí eu vou untar com margarina ou manteiga (usou margarina), aí preaquecer o forno. Pegar os 3 ovos e vou colocar na tigela, eu prefiro fazer na tigela. Os ovos, 5 colheres de margarina ou manteiga. Eu vou usar manteiga, uma duas, três, quatro, cinco. Agora bater durante 1 minuto. Aí, tipo assim… passou o tempo, né? É… agora vou despejar na fôrma. Aí, depois que despejei, vou colocar no forno. Aí tá falando aqui o tempo que é mais ou menos… _ Qual a dúvida que você tem aí? _ É na… que não… tá muito pequeno aqui falando, o tempo, assim pra assar. _ O texto tá pequeno ou você não achou a informação? _ No texto a letra tá menor, porque não tá chamando muito a atenção do tempo pra assar. _ Aí como é que você resolve essa dúvida que você tá tendo agora aí? _ volta no rótulo pra vê se acha direito. _ Tá terminado o seu bolo? Tá pronto? Tem mais alguma instrução no rótulo? _ Aí pede pra depois que tirar, é… depois que assar colocar num lugar para esfriar. Aí depois, é… se precisar ir soltando… a massa do bolo pra colocar num outro recipiente. _ Ok. Você já teve contato com esse tipo de texto instrucional assim, em rótulo de alimento? _ … _Você já conhece esse tipo de texto? _ Já! _ Já teve contato com esse tipo de texto? _ Já! _ Que tipo de alimento você mais utilizou? _ Assim, massa de bolo, mas de outra marca, biscoito, torta, até em outros tipos de rótulo como… é… aquelas vitaminas de dieta, assim pra bater no liquidificador, esses negócios. _ Você já teve alguma experiência com esse tipo de texto, assim em rótulo, que deu errado? _ Já. _ Conta pra nós. Qual foi? _ Foi uma torta que eu fiz… que a massa já vem pronta, então você só faz o recheio, aí, não sei o que aconteceu que a massa não cresceu. Ficou… aquela coisa … a massa não cresceu. _ Você lembra de ter seguido o rótulo? _ Segui tudo direitinho, segui o rótulo direitinho e mesmo assim não deu certo. _ Você encontrou alguma dúvida, além dessa do tempo, por menor que seja, nas informações que foram colocadas aí? Tá tudo claro pra você? Você entendeu tudo direitinho?

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_ Entendi, eu entendi, eu só achava assim que, igual, por exemplo, nas letras, muita dificuldade assim é as letras pequenas demais. _ Na diagramação desse rótulo o que você faria aí diferente? _ Ah, eu colocaria as letras maiores, colocaria assim passo a passo no desenho por que talvez a pessoa talvez eu não saiba lê, mas tendo o desenho, talvez, ajudaria mais. _ Agora a última pergunta pra encerrar o nosso simulado aqui. Eu vou te apresentar, além desse rótulo que você preparou hoje, outros três. Se fosse preciso preparar algum desses bolos agora, num laboratório, desconsiderando o produto, levando em conta só as instruções colocadas no rótulo, qual você escolheria para preparar? _ Esse aqui (1). _ Por que? Conta pra nós. _ Ah, porque assim, dá pra ver que tem… a diagramação é bem diferente. Tem os desenhos, só de olhar assim. A única coisa que eu tô achando meio ruim assim é o tamanho da letra que eu acho pequena. _ Nos outros produtos também … _ É, na verdade parece que tem um padrão, né? As letras… tudo pequenininhas. Bolo pronto em: 03:20min. Tempo total do simulado: 06:06min. SIMULADO 09 Participante A-9 – Rótulo 2 _ 3 ovos… bom, eu pegaria uma xícara só pra quebrar os ovos. Eu não tacaria ali dentro né (na tigela da batedeira) porque se tivesse algum podre, né? Isso (cascas de ovos) joga no lixo. É, 5 colheres de sopa, 100 g de manteiga ou margarina. Sei lá, acho essa aqui. Nossa! Mais é muita coisa, 5 colheres, não vou colocar isso tudo não (risos). Eu vou colocar só uma. Vou ignorar as 5 colheres, vou pegar uma e colocar aqui (tigela). É, misture o conteúdo deste pacote com ovos, manteiga ou margarina. É, eu abriria a embalagem agora e vou jogar tudo aqui dentro. Coloco o ovo aqui, tal… bater em velocidade baixa durante 1 minuto ou à mão durante 3 a 4 minutos, eu morro de preguiça de batedeira. Eu gosto de fazer tudo na mão mesmo, 4 minutos. Aí, tá. É… até obter uma massa lisa e homogênea. Despeje a massa numa fôrma untada e leve ao forno. Então eu vou pegar… sei lá, eu gosto dessa (fôrma retangular). Ah! Se pegar retangular vai ser… Ah, tá. Eu ia pegar essa aqui e pegar um guardanapo que eu não tenho. Eu só posso ter esses materiais? (objetos da bancada) _ Que tipo de material você sentiu falta aí? _ Um guardanapo. Eu sempre unto com um guardanapo. _ Faça de conta que tem um guardanapo ai. _ Ah, tá. Eu vou pegar o guardanapo, passar a margarina aqui, pegar um pouquinho de farinha e fazer assim, tal… Tá tudo bonitinho, aí eu ia colocar tudo aqui, tá homogêneo, separar bonitinho… Hã… Aí colocaria no forno por 35 a 40 minutos, mas com mais de 30 minutos já vai dar pra ver. Ih! Eu tinha que preaquecer o forno. Eu preaqueço o forno, aí deixar o bolo ir pro forno preaquecido… deixar o forno preaquecendo por 10 minutos e depois colocar. _ Durante quanto tempo de cozimento você esperaria com ele lá dentro do forno? _ Lá dentro? Com 35. 35 ou 40. _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes? Com informações sobre como fazer alguma coisa, em rótulos? _ Sim. _ Qual é mais comum pra você? _ é o de bolo mesmo. _ Algum outro tipo de alimento você já preparou com instruções em rótulos? _ Não com rótulos, mas com receitas da internet. _ Você tem acesso a esse tipo de texto, mas não nos rótulos… _ Eu sempre ignorei os rótulos. _ Você já fez alguma coisa utilizando uma instrução de rótulo que tenha dado errado? Você se lembra? _ Não, sempre deu certo. – Sempre deu certo com os rótulos de alimento? _ Sempre deu. _ Você sentiu falta de alguma coisa nesse rótulo que você trabalhou com ele aí, alguma dificuldade? _ Não. _Tá tudo claro? _ Tá.

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_ Eu vou te mostrar agora outros três… você pode dar uma olhadinha e vai me dizer, se você fosse preparar um bolo agora no laboratório, qual desses rótulos você escolheria fazer. _ Esse daqui (3) com certeza! _ Qual? Pega aí pra mim ver. _ (levantou rótulo 3). _ Por que você escolheria esse… _ Tem as imagenzinhas, tudo bonitinhas, um debaixo do outro, eu não tem que ficar tendo trabalho, já tá tudo perfeito, a cor tá me chamando pra olhar… então o amarelo aqui, me chama, os meus olhos… _ Isso, eu preciso das suas impressões sobre o rótulo. _ Não, tipo esse trem do vermelho realmente, assim, prestar atenção, você olha para o vermelho assim, chama na hora. E assim, a imagem ficou bonitinha. Esse trem aqui (1), olha só! Branco no azul e tal não quer ficar calma… e cheio de imagens… esse aqui (3) é lindo! Esse aqui (4) não tem imagem nenhuma. _ O que você achou desse último que você pegou aí? _ Achei super sem graça porque eu morro de preguiça dessas tabelinhas aqui e não tem nenhum tutorial, nenhum passo a passo pra eu seguir. _ Ok. Você deu uma olhada no texto instrucional aí? Como ele está disposto? _ Ah! (risos) agora achei. _ Já viu que ele está disposto aí… O que você acha dessa disposição dele? _ Terrível! Isso aqui não foi feito para o usuário. Bolo pronto em: 02:50min. Tempo total do simulado: 05:40min. SIMULADO 10 Participante A-10 – Rótulo 2 _ Pra começar… pede para eu escolher uma fôrma quadrada (é retangular) ou redonda, eu vou escolher a quadrada. Eu vou preaquecer o forno à temperatura de 180 graus por 10 minutos, pronto tá aquecido. É, vou untar a fôrma, com manteiga, a margarina e vou polvilhar farinha. Então tá… vou utilizar 3 ovos inteiros, 5 colheres de sopa aproximadamente. A colher de sopa é essa (inox-plástico)? _ Utilize a que você acha mais correta de acordo com as instruções do rótulo aí, da imagem, do texto. Qual seria a mais correta aí, no seu entendimento? _ Tá bom. 5 colheres de margarina, eu acredito que seja essa (inox-plástico), 100 gramas de margarina, de manteiga ou margarina. _ Qual que você escolheria? _ É… no caso, a manteiga. Então, eu pegaria a manteiga, eu colocaria 100 gramas, e… 5 colheres de sopa, 100 gramas, mas no caso teria que ter um medidor né, para 100 gramas de margarina porque eu não sei quanto que é 100 gramas de margarina… _ Qual é a instrução que está dando o rótulo? Quando fala em quantidade de margarina qual é a instrução dada? Como você a entende? _ Não! Não! É isso mesmo, aproximadamente 100 gramas de margarina e 5 colheres dá 100 gramas, né. Mas, no caso eu não vou precisar medir, porque… já dá? Entendeu? Porque eu posso dar uma colherada pequena e uma colherada grande… _ Nesse caso você teria dúvida na hora de medir a manteiga ou não? _ Sim. _ Ok, pode prosseguir. _ Então, beleza. Modo de preparo, misturar o conteúdo deste pacote os 3 ovos, então, 3 ovos, joguei o pacote, a manteiga ou a margarina, 5 colheres e vou misturar. Aí, beleza, misturei só pra dar uma homogeinização aqui, aí vou bater em velocidade baixa durante 1 minuto ou à mão, mas já que tem a máquina então eu vou bater em velocidade baixa, aí beleza. Bati e é só isso mesmo. Já tá untado, o forno já tá aquecido, aí vou despejar a massa na fôrma untada e vou levar ao forno. Assar de acordo com o tempo previsto para cada tipo de fôrma, então, Já que eu escolhi a fôrma retangular, vou assar de 35 a 40 minutos. É, é isso aí. Vou deixar assando, e não abrir o forno antes de terminar o tempo indicado. Aí, beleza, de 35 a 40 minutos, aí acabou, abri o forno, retirei, vou deixar esfriar. Assim que esfriar eu já posso virar pra desenformar, bater nas laterais, se necessário… Caso eu não consiga, caso o bolo… a vasilha não tenha ficado untada direito, o bolo não sai, aí eu passo uma faca pra tirar. Foi o que eu entendi. _ Ok? _Unhum. _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes? Texto instrucional em rótulos de alimentos?

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_ Sim, já. _ Que tipo de alimento você mais preparou com a ajuda desse tipo de texto? _ Gelatina sempre né? _ Que mais? _ Bolo também. Bolo, bastante. Pastel… _ Alguma experiência sua com esse tipo de texto já resultou em erro? _ Já. Já. Muitas vezes. _ Conta pra nós por quê? _ Às vezes por eu querer preparar o negócio rápido demais eu vou e faço a leitura dinâmica e aí acaba que eu errava mesmo… ou, às vezes, igual ao que eu falei, tem 5 colheres de manteiga, aí eu vou e coloco 5 colheres, mais eu posso colocar a mais ou a menos né. _ Você encontrou alguma dúvida em alguma instrução que você leu aí nesse rótulo? _ Deixa eu ver… só a questão da manteiga mesmo. Porque 5 colheres de sopa, eu posso dar uma colheradona ou posso pegar um pouquinho só pra cobrir (apontando a parte oval da colher). _ Você gostou da diagramação desse rótulo? Sentiu falta de alguma coisa nele? _ Achei ele um pouco confuso. _ Por quê? _ Antes de preparar e o que você vai utilizar eu acho que deveria ser seguido, sabe? _ Qual seria a ordem que você acharia mais correta, aí no caso? _ “Antes de preparar” viria primeiro, né? Não! É… você iria utilizar… É, eu acho que o “antes de preparar” seria melhor… deixa eu ver. Eu acho que eu colocaria primeiro a escolha da fôrma, para eu saber qual fôrma iria usar, depois “você utilizar”, depois “antes de preparar” e por último o “modo de preparo” mesmo, aqui no canto, no caso. _ Seria a disponibilização das informações ou seria o conteúdo das informações? _ Eu acho que na hora que eu peguei… Acho que se fosse também seguido por números, sabe? Eu pegar e saber o passo a passo seria melhor, porque na hora que eu peguei eu li tudo de uma vez só. Ficava confuso. Não sabia o que eu escolhia, se escolho a fôrma, se escolho “antes de preparar”. _ Este foi o rótulo com o qual você trabalhou. Eu vou te mostrar aqui três outros rótulos, também de mistura para bolo, mas de outras marcas. Primeiro você vai dar uma olhadinha, pode pegar, pode olhar. Depois você vai me dizer o seguinte, se tivesse que preparar agora uma dessas misturas, qual rótulo você escolheria para preparar e por que você o escolheria? _ O que eu mais gostei mesmo, assim, em questão de facilidade é o rótulo (3) mesmo porque ele é muito… ele é dinâmico! Você já sabe que ingredientes vai usar e o modo de preparo. É o que eu falei, seguido por números. – Como assim dinâmico, explica pra mim, eu não entendi. – É porque os ingredientes já vêm, já vem dizendo o que que eu vou ter de usar. Então, eu peguei o saquinho, eu já separei 2 ovos, já separei a xícara e separei o leite, porque isso eu vou usar na receita. Então tem, a farinha (mistura) e o que que eu vou usar na receita. Eu só vou procurar os objetos que eu vou usar… os utensílios. Eu vou preaquecer o forno, vou preparar a massa e, esse negócio, a leitura dinâmica que eu acho que seja, assim, dos ingredientes complementares aqui tá bem à frente, sabe? eu já vou separar eles, não vou perder tempo procurando coisa por coisa. _ Entendi. Te dá uma ordem pra… _ A ordem é que eu acho que ajuda demais. E esse aqui (4) eu não gosto por questão da letra ser pequena. _ Me fala aí, o que você não gostou? – Esse de bolo de chocolate (4) a letra é pequena aí eu já acho que isso já confunde naturalmente. Antes da gente começar eu já vi que é confuso. Não! Antes de ler eu já acho confuso. _ Que mais? _ O que eu acho que falta mesmo é a ordem que veio nesse (3). _ Ok. Muito obrigada. Bolo pronto em: 03:47min. Tempo total do simulado: 09:25min. SIMULADO 11 Participante A-11 – Rótulo 3 _ Primeiro preaqueça o forno em temperatura média por 10 minutos, 180 graus, já vou fazer de uma vez . Então eu vou ligar o forno aqui e vou deixar por 10 minutos a 180 graus. Despeja o conteúdo na tigela da batedeira e acrescente 2 ovos e ¾ de xícara de chá de leite. Então pego a tigela da batedeira, despejo o conteúdo inteiro, pelo visto, né? Imagino. Mais 2 ovos, quebrar um, quebrar outro, e ¾ de xícara de chá de leite. Não sei, não dá pra

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medir exatamente, mas… não tem o medidor, mas dá pra ter uma ideia mais ou menos, né? Ligue a batedeira na velocidade alta até obter uma massa lisa, cerca de 5 minutos. Se for bater à mão aumente o tempo para 7 minutos. Vou colocar na velocidade alta da batedeira, por 5 minutos aqui com a esperança de que a massa vai ficar lisa igual aqui diz que vai ficar. Depois disso, despeje a massa em fôrma untada e enfarinhada e leve ao forno. Então, eu tenho que pegar esta fôrma aqui e tenho que untar a fôrma. Por acaso eu sei o que é untar, né? Por que eu não sou muito de cozinha, não. E, passar farinha, e aí eu despejo a massa aqui, depois levar ao forno por 30 a 45 minutos conforme a fôrma escolhida. Tá! Eu não sei qual diferença tem de uma fôrma para a outra. Porque aqui diz: leve ao forno e asse por 30 a 45 minutos conforme a fôrma escolhida. Imagino eu que tenha a ver com a forma, mas eu não tenho certeza. _ O rótulo diz alguma coisa? Dá alguma informação? – Não! A única coisa que ele fala é conforme a fôrma escolhida, mas não diz como que a escolha da fôrma pode afetar o tempo de forno não. Não abra a porta do forno antes de 30 minutos de assamento. Ele tem que ficar 30 minutos lá parado. Para certificar-se de que o bolo está assado introduza um palito em seu interior. Se ele sair seco sem massa aderida é porque o bolo está assado. Vamos verificar aqui, depois de 30 minutos, pelo menos, aí eu abro, introduzo, ele saiu seco, então de acordo com essa fôrma aqui o bolo ficou lindo. _Tá pronto o seu bolo? _ Tá pronto. É isso mesmo, retire do forno e deixe esfriar para desenformar. _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes? _ Sim. Já. _ Com que frequência? – Texto de receita assim, muito pequena. _ Assim em rótulos, instruções e preparo em rótulos? _ Ah! Com frequência baixa, menos de uma vez por semana. _ Que tipo de alimento você mais prepara com ajuda desse texto instrucional? _ Macarrão. _ Alguma experiência sua com esse tipo de texto já resultou em erro? _ Já. _ Por quê? Conta pra nós. _ Porque faltava informação, e quando eu fiz um bolo mesmo. Eu tentei desenformar ele quente, né? _ Você lembra que informações que faltavam? _ Não, ele era um tipo de bolo simples, era só misturar tudo e levar ao forno por um tempo e depois desenformar. Só faltava mesmo “espere esfriar pra depois desenformar”. Como eu não tinha experiência, eu desenformei ele quente e virou um desastre, ele desmanchou todo. _ Você encontrou alguma dúvida, por menor que seja, em alguma das instruções aí nesse rótulo? _ A única informação que me deixou em dúvida foi a de número 5, quando ele diz que é para levar a massa ao forno preaquecido por 30 ou 45 minutos, né? Num intervalo de 30 a 45 minutos, conforme a fôrma escolhida e eu não sei como que a fôrma vai afetar, se tem que ser a mais funda ou a mais rasa, qual que… a diferença desses 15 minutos. _ Você gostou da diagramação do rótulo? Achou claro? _ Achei. Achei bem claro sim. Separado por tópicos. Achei que não houve tópicos desnecessários, que às vezes eles são repetitivos, mas eu achei que não. Ele é bem, visualmente bem fácil de entender. _ Eu vou te mostrar três outros rótulos também de preparo para bolo. Você vai me dizer, se tivesse que preparar um bolo agora no laboratório, qual destes rótulos você escolheria para preparar e por quê. Pode dar uma olhadinha neles pra você escolher. _ Eu já posso lhe falar o que eu não escolheria? _ Me fala. _ Eu não escolheria esse (4) de cara, se tivesse que escolher entre os quatro por que ele é o menos… Ele é o mais com aparência de texto mesmo. Menos com aparência de esquema, sabe? Menos esquematizado. Exigiria uma leitura mais cuidadosa. Os outros são mais claros com o passo a passo. Esse aqui (4) tá todo estruturado num parágrafo. Os outros têm tópicos e são separados por itens, eu acho que fica mais fácil pra entender, pra quem não tem experiência, inclusive, e esse é só um parágrafo mesmo, começa e só para quando já está com o bolo pronto. É… esses dois aqui (1 e 2) deixa eu ver se tem alguma diferença… O que eu achei mais interessante foi esse aqui (2) por que ele já apresenta no texto, desde o princípio, o que vai ser utilizado e separa o que eu vou utilizar, antes de preparar e depois o modo de preparo. Esse aqui (1) é muito parecido, mas ele não tem o lance do preparar, se bem que tem sim, então estes dois (1 e 2) estão meio que empatados na verdade. Eles têm as mesmas informações. _ Se você tivesse que escolher um, entre esses dois, qual seria o seu critério de escolha aí?

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_ Eu escolheria esse aqui, tem as mesmas informações e eu achei que visualmente esse aqui (1) ficou mais simples de entender, mesmo. _ Simples o rótulo todo ou a representação, o texto? _ A representação mesmo. Eu acho que a separação por imagens deixa mais fácil você, enquanto tá preparando, dá uma olhada e ver em que ponto você tá. Você não se preocupa necessariamente com o ler. Você pode ler uma vez a receita e quando tá preparando, talvez pelas imagens lembrar. Por que fica meio difícil, às vezes, você batendo alguma coisa e ler outra coisa, tá? Com a leitura com imagens elas te ajudam a lembrar fácil o passo em que você tá e esse aqui (2) não tem isso. Ele só tem as palavras mesmo. Bolo pronto em: 03:23min. Tempo total do simulado: 08:37min. SIMULADO 12 Participante A-12 – Rótulo 3 _ Preaqueça o forno à temperatura média de 180 graus por 10 minutos. Despeje o conteúdo do pacote na tigela da batedeira e acrescente 2 ovos, ¾ de xícara de chá de leite, 150 ml, depois eu faço, né? Ligue a batedeira na velocidade alta até obter uma massa lisa, cerca de 5 minutos. Se for bater à mão aumente o tempo para 7 minutos. Despeje a massa em fôrma untada e enfarinhada e leve ao forno. Leve ao forno preaquecido e asse por 30 a 45 minutos, conforme a fôrma escolhida. Não abre a porta do forno antes de 30 minutos de assamento. Para certificar-se de que o bolo está assado, introduza um palito em seu interior. Se ele sair seco, sem massa aderida, é porque o bolo está assado. Retire do forno e deixe esfriar para desenformar. Vamos lá! Preaqueça o forno em temperatura média, vamos ligar o forno, é… despeje o conteúdo do pacote… Tá fechado? Não é pra abrir não? _ Só simular. _ Ah! Tá. Achei que era pra abrir… (risos) _ Ligar a batedeira, né? Velocidade alta, tá ligada. Ligar a batedeira em velocidade alta, aí no caso aqui até obter uma massa lisa, né? Massa lisa. Terminei de bater vou pegar o material que eu assei, né? Vou colocar aqui (passa a mistura de uma tigela para outra), é aqui mesmo? _ O que diz o rótulo pra você? O que você entende aí na instrução? _ Ah! Tá. Desculpa. Voltei tudo. Voltei, tá tudo aqui, esquece o que eu fiz. Agora no caso eu vou pegar aqui ó, despeje a massa em forma untada e enfarinhada e leve ao forno. Vou pegar uma forma aqui. Pegar a farinha. Untar primeiro pega a manteiga, né? _ Como é que você entendeu no rótulo aí? _ Untada e enfarinhada e pra untar você unta com a manteiga, né? Com a mão mesmo ou com uma colher? _ Do jeito que você entendeu aí no rótulo. _ Aqui não fala se é com a mão ou com colher. _ Quando você se depara com uma dúvida dessa como que você resolve a situação? _ Uai! Eu vou untar do jeito que eu sei untar, uai. Pego uma colher aqui, mete na mão aqui, aí espalha assim, vou pegar a farinha aqui, a mão tá suja de gordura, né? Então limpa a mão primeiro, com um paninho, pego a colher aqui, coloco a farinha, tá aqui a farinha. Você espalha a farinha na forma, assim… Legal. Aqui já tem o negócio batido já, a massa tá pronta já, aí eu vou despejar a massa pronta na fôrma untada. Aí, vou deixar bonitinho aqui, aí eu vou levar ao forno preaquecido por 30, 45 minutos. Ok, beleza! Vou pegar o palito depois, deu aqui… deu a hora de tirar, deu 30 minutos, vou pegar um pano aqui pra não queimar a mão, vou furar o bolo pra ver se tá… o palito saiu seco, então tá seco já, tá pronto o bolo. _ Tá pronto o seu bolo? _ Tá pronto, agora tem que esperar esfriar, né? Pra desenformar, né? _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes? _ Já! Por que eu leio receita às vezes, né? _ Com que frequência você usa o texto instrucional assim, em rótulos? _ De receita ou qualquer coisa? _ De receitas em rótulos de produtos, de alimentos? _ Eu sou meio viciado é em ler bulas, aquele negócio de informação nutricional, tudo que eu pego eu leio, mas receita mesmo eu não leio por que minha mãe faz tudo pra mim. _ Alguma experiência que você teve com o texto instrucional, assim pra preparar algum alimento já resultou em erro? _ Já! Ih! Eu sou péssimo pra fazer bolo. Posso pegar essa massa aqui (3) que isso não cresce o meu bolo nem à pau. _ Por que você acha que não dá certo o seu bolo? _ Eu acho é a minha mão que é meio ruim pra fazer bolo mesmo.

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_ Mas você costuma seguir as instruções… _ Tudo certinho. Tudo mesmo. Tudo. _ O quê que acontece com o seu bolo? _ Ele fica aquele bolo fininho, assim. _ Que mais? _ Eu sou bom pra fazer comida normal, mas bolo eu não sou não. _ Você encontrou alguma dúvida, por menor que seja, em alguma das instruções que você viu aí nesse rótulo? _ Não, tá bem claro! Só a parte da questão de untar com a mão, com a colher… tanto faz, você vai untar do mesmo jeito. _ Você gostou da diagramação desse rótulo aí? Você acha que as informações estão claras? _ Estão, estão claras. Pra mim tá. _ Eu vou te mostrar outros três rótulos também de mistura para bolo, mas de outras marcas. Você pode pegar, olhar e dizer pra mim, se eu tivesse que levar você agora para um laboratório para fazer um bolo de verdade qual desses bolos você escolheria para fazer? _ Já vou descartar esse aqui (4), tá péssimo. _ Péssimo? O que que tá errado com esse rótulo? _ Tudo carregado, tudo misturado, os signos… estão todos carregados. Eu não, né? Mas uma pessoa que é pouco instruída se for pegar pra fazer … primeiro ela vai ter preguiça de ler porque o texto tá todo carregado, sem ícone, sem ícone, sem entretenimento pra quem vai fazer, até pra que a atividade culinária seja uma coisa divertida pra se fazer. _ E os outros? _ Esse aqui eu já falei que gostei (3). Esse (1) também tá bem distribuído, né? Tá bem distribuído, né? Bem distribuído, todo certinho, passo a passo. Deixa eu ler… Ele fala tudo que esse aqui fala (3) e ainda dá uma coisa a mais ainda, ele fala o que você vai precisar de algumas coisas a mais. _ Você achou mais completo? _ É, mas também o bolo é diferente, né? É ser por isso também. _ Que mais? E o outro, o verde (2)? _ Ele é menos pior do que esse aqui (4). Mas ele fica atrás desses dois aqui (1 e 3). No caso desse aqui (1) ele é melhor por que é mais bem espaçado e a informação é mais clara do que nesse aqui (3) ainda. _ Esse (1) seria a sua escolha, então? _ Seria. Bolo pronto em: 04:22min. Tempo total do simulado: 07:55min. SIMULADO 13 Participante A-13 – Rótulo 3 _ Primeiro, preaqueça o forno a temperatura média, 180 graus, por 10 minutos. Então a gente tem que ligar o forno, né? É… Despeje o conteúdo do pacote na tigela da bandeja e acrescente 2 ovos e ¾ de xícara de leite. (fala bandeja em vez de batedeira). No caso, vou bater na batedeira, despeja o produto, acrescenta 2 ovos… e ¾ de leite. A xícara nunca é legal. 150ml, eu acho que ¾ de xícara… vou botar um pouquinho antes de terminar. Aí, ligar a batedeira em velocidade máxima, beleza, bate ah! 5 minutos, né? Beleza. Depois de 5 minutos a gente desliga. Desliga, normalmente você coloca numa parte (o batedor da batedeira)… pra não lambuzar a vasilha toda, e aí a gente vai despejar num recipiente. Levar ao forno preaquecido e asse por cerca de 30 a 45 minutos… conforme a escolha. Deixa eu ver mais o quê… Para certificar de que o bolo está assado, introduza um palito em seu interior, se ele sair seco, sem massa aderida é porque o bolo está assado. Passou-se meia hora, como se diz… peguei com um paninho, (risos) aí a gente introduz, se tiver seco tá bom. Passam mais alguns minutos, a gente desenforma, né? E tudo certo. _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes? _ Bastante! _ Com que frequência você tem acesso a esses textos? _ Ah! Eu sou casada então eu tenho que fazer comida em casa, né? E, normalmente a gente pega uma receita com alguma pessoa… receitas caseiras e dependendo, se for comprar um alimento pronto, né? … igual lasanha, é só seguir as instruções do rótulo mesmo… _ Você é dona de casa? _ Sou. Posso dizer que sim (risos). _ Alguma experiência com esse tipo de texto instrucional em rótulo já resultou em erro, com você? _ Já. Pão de queijo nunca dá certo. Pão de queijo fica bom não.

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_ O que aconteceu com o pão de queijo? _ Sei lá! Ele não assa direito não. Tem hora que ele assa, quase queima, tem hora que ele não assa. Fica meio cru por dentro. Ainda não acertei como se faz não. Ainda não foi completamente clara a instrução pra mim não. _ Você lembra das dificuldades que você encontrou no rótulo de pão de queijo? _ Ah! É igual é… Lá manda a gente colocar separado e com relação ao tempo, que determina um tempo médio, igual aqui, 30 a 45 minutos, só que às vezes, eu não sei se é problema do forno, né? Esse tempo não se adequa. Se você deixa o tempo mínimo, ele não assa. Se deixa o tempo máximo ele fica assado demais. _ Nesse rótulo que você trabalhou com ele você encontrou alguma dúvida, por mais simples que seja, em alguma instrução? _ É só a quantidade de leite, sempre a quantidade de leite. _ Por que a dúvida na quantidade de leite? _ 3/4! Eu vou lá saber quanto é ¾ de xícara! Eu acho que quando… igual ele colocou aqui 150 ml, eu acho que é melhor por que, normalmente em casa a gente tem aquele copo de dosagem que é 100, 150, aí você pode medir por aquilo, mas falar que é ¾ de xícara não te ajuda não. Eu nunca vou saber quanto que é ¾ exatamente. _ Você gostou da diagramação desse rótulo? Você achou fácil de compreender, de ler? _ Fácil! Fácil, você percebe a etapa né, passo a passo. No primeiro desenho já tem a instrução na frente e o desenho te mostrando o que você tem de colocar, todos os ingredientes, né? E no segundo mostra batendo, depois virando na fôrma, o forno. Dá pra você acompanhar, pelo desenho, o que você tá lendo. _ Eu vou te mostrar outros três rótulos. Você vai dar uma olhadinha neles, pode pegar, ler, e vai dizer pra mim, se tivesse que preparar um bolo agora, qual desses rótulos você preferiria preparar. _ Esse aqui (4) tem as mesmas instruções, só que como ele não tem desenho, não tem espaço entre uma instrução e outra, então esse fica mais confuso, e se você quiser voltar pra confirmar aquela instrução fica… Você tem que ler desde o início, então, esse eu não escolheria. Esse daqui também (1)… Ele já tem o passo a passo, né? O preparo aqui. Como o outro (3) tem os desenhos, a quantidade que tem no leite, no ovo, eu achei bom, igual esse aqui (3). Deixa eu ver esse aqui (2), esse aqui também é legal. Entre esses três aqui (1, 2, e 3), eu escolheria … Esse aqui (1) só por que tem esse negocinho em cima… _ Desconsidera o produto, vê só o passo a passo. _ O passo a passo? Esses dois aqui (1 e 3) é … _ Você precisa escolher um pra mim, o que seja mais simples. _ Anham, Esse aqui (1)! Uma xícara de chá. Ponto final. Nada de ¾! Esse aqui! _ Ok. _ Por causa dos ¾ que eu falei. ¾ de xícara não é uma medida exata, então, dificulta. _ Muito obrigada. Bolo pronto em: 02:15min. Tempo total do simulado: 07:12min. SIMULADO 14 Participante A-14 – Rótulo 3 _ Ingredientes complementares… 2 ovos… Xícara chá de leite. Modo de preparo, preaqueça o forno a temperatura média… 10 minutos. Despeje o conteúdo do pacote na tigela da batedeira, acrescente 2 ovos, xícara chá de leite. Ah… Ligue batedeira velocidade alta até obter… uma massa lisa, cerca de 5 minutos. Se for bater à mão aumente o tempo para 7 minutos. Despeje a massa em fôrma untada e enfarinhada e leve ao forno. Aí, eu pego isso (batedeira) … até aqui (apontando ¾ de xícara). Velocidade… 5 minutos. Vai colocar nada aqui, vai deixar depois, não? _ O quê que o rótulo tá dizendo aí pra você sobre a fôrma? _ É, aqui tem a fôrma (indicando o desenho no rótulo) com instrução assim, por isso, quando eu posso escolher, eu vou pegar a fôrma que tem na imagem. _ Ok. _ Agora, esperar um pouquinho, 10 minutos. Dez minutos passaram. Leve ao forno 30 minutos. 30 minutos se passaram, ver… não sei (risos) se pronto, não? E agora, Ah! Tá bom. Retire do forno, deixe esfriar para desenformar. Pronto… (risos). _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes? _ Sim. Eu uso também, às vezes. _ Com que frequência você utiliza esse tipo de texto? _ Ah! Uma vez por mês, talvez. Sim por que eu não tenho forno em casa. Se teria, talvez eu poderia usar mais. _ Que tipo de alimento você mais preparou com a ajuda do texto instrucional em rótulo?

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_ Bolos sim. Eu acho que bolos, mas também outras coisas, por exemplo, sopas. Mas, normalmente não uso as coisas que já estão preparadas. Eu compro normalmente os ingredientes e leio o livro com as receitas. _ Ok. Alguma experiência que você já teve com esse tipo de texto resultou em erro? Você tentou fazer alguma coisa seguindo o rótulo assim e deu errado? _ … _ Você se lembra de alguma experiência assim? _ Não (risos). Na Alemanha eu uso normalmente e… Não! _ Você encontrou alguma dúvida no texto, nas instruções do rótulo com o qual você trabalhou? Esse texto tá claro pra você compreender da forma como ele foi colocado? _ Eu acho que sim. Eu não fala português muito bem, mas para mim foi, foi normal a estrutura boa e eu acho que não tem problema nada com esse texto. _ Você gostou da diagramação do rótulo? _ Do que? _ Da diagramação, da disposição de textos e imagens? _ Ah! É difícil pra mim para dizer porque eu sei umas coisas sobre design, como eles colocaram as coisas… _ Pode dizer, pode falar! _ O texto é assim (gesto indicando coluna vertical) e por isso tem “capas” entre palavras e para redação é uma coisa ruim, normalmente. _ Por que? _ Porque não tem a linha e tem “capas” grandes, enche palavras e normalmente as pessoas acham que… não bonito para os olhos. Mas, eu gosto de fonte, sem serifas, sem… o cor também, talvez um pouquinho mais pequeno, por que eu não preciso óculos, mas pra pessoas que precisam óculos poderiam ser um pouquinho pequeno. É… Mas eu gosto de numeração, ajuda, também as imagens. As imagens ajudam bem, sim. _ Eu vou te mostrar outros três rótulos. Todos de mistura para bolo e vou te perguntar: se você tivesse que preparar um bolo agora, no laboratório, qual destes rótulos aqui você preferiria preparar porque é mais simples, mais fácil pra você compreender? Pode pegar, pode ler e comparar um com o outro. _ Tá bom, mas eu acho que o meu decisão vai ter influência do conhecimento já, por causa de (pega rótulo1), no Brasil eu sei que a estrutura é alemã e para mim é mais conhecida. _ Qual delas? _ (levanta o rótulo 1) _ É uma estrutura mais conhecida, no caso? _ É porque é alemão. _ Além do fato da estrutura ser conhecida, você acha alguma outra característica nele que o torna mais fácil de ser compreendido que os outros? _ Ainda não sei. Tenho que ver. Se tiver um pouquinho de tempo para mim analisar… _ Ok, muito obrigada. _ Acho que aqui (2) eles usam o texto branco com o verde e normalmente quando usa texto branco na cor mais, Brilho? É, mais difícil pra ler. É normal quando você usa em apresentações, algumas coisas, é difícil pra ler. E assim (distanciando o rótulo dos olhos) você não vê nada. Mas eu gosto que tem numeração aqui também, e… eu acho que fácil também pra entender. E aqui, algumas coisas mais pequenas, quase não pode ler. _ Certo. Algum outro comentário? _ Sim! Eu vou comentar tudo (risos). _ E aqui (4), eu acho que aqui falta a numeração, e também um texto não estruturado. Apenas frases sem estrutura, mas pode ler mais fácil por que a cor é azul, é… aqui é mais brilho e por isso é mais fácil para ler. E aqui (1), aqui eles usam o princípio cursivo que também é mais difícil para ler, e também azul, quase preto, e texto branco, mas eles colocam o texto quadrado e por isso não tem “capas” aqui, e… eu gosto que aqui tem imagens também. E aqui (2) imagens, mas eu acho que, por exemplo, eles colocam imagens dos ovos, mas todo mundo sabe que são ovos. Mas aqui (3) eles colocam outras imagens que me ajudaram de preparar, e aqui (2) apenas imagens de colher, de manteiga. Eles não ajudam. Essas coisas não ajudam por que quando você não sabe o que é ovos, você não se pode ler isso. E aqui (3) pra mim… fôrma untada? Eu não sei o que é um fôrma untada, mas tem imagens aqui e por isso ajuda. _ Ok. Muito obrigada. _ De nada. Bolo pronto em: 03:46min. Tempo total do simulado: 14:00min.

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SIMULADO 15 Participante A-15 – Rótulo 3 _ Ingredientes complementares. 2 ovos e 34 de xícara de leite. Modo de preparo, preaqueça o forno à temperatura média 180 por… Dois, despeje o conteúdo do pacote na tigela de batedeira e acrescente 2 ovos e 34 xícara de chá? Xícara chá de leite. Não conhece essa palavra, tigela da batedeira? _ Essa é a batedeira, e a tigela. A tigela é manual e a batedeira é elétrica. _ Ah! 2 ovos, 1 xícara de chá de leite. É, três, ligue a batedeira na velocidade alta até obter uma massa lisa. Cerca de 5 minutos. Se for bater à mão, aumente o tempo para 7 minutos. (põe a mão na massa). Bata, despeje a massa em fôrma untada e enfarinhada e leve ao forno. Cinco, leve ao forno preaquecido e asse por 30 a 45 conforme a fôrma escolhida (leva a tigela da batedeira ao forno). Não abra a porta de forno antes de 30 minutos de assamento. Seis, para certificar-se de que o bolo está assado, introduza um palito no seu interior. Se ele sair seco, sem massa aderida é porque o bolo está assado. Acho que o bolo é pronto. Sete, retire do forno e deixe esfriar para desenformar. (risos)… _ Ok. Você já teve contato com esse tipo de texto antes? O texto instrucional ensinando a fazer um alimento? _ Sim, conhece textos não só este daqui, mas porque estou estudando redação técnica. _ Com que frequência você lida com esse tipo de texto? Em rótulo de alimento? _ Acho que… uma vez no mês. _ Alguma experiência com esse tipo de texto que você seguiu assim, em rótulo, deu errado? _ Que esse texto é bom ou mau? _ Algum rótulo que você tenha preparado não teve um resultado bom? _ Espero, não sei! (risos). _ Você encontrou alguma dúvida nesse rótulo que você preparou? Com o texto ou com qualquer instrução? _ Que tal ponto eu acho que mal, não necessário? _ (Refiz a pergunta) As instruções que você encontrou aí, alguma delas te deixou em dúvida, você não conseguiu compreender? _ Para mim ler todas as “recepções” é não difícil por causa meu… meu, beleza para fazer os bolos. Acho que quando eu não entender uma frase eu memorizar e como fazer um bolo normalmente. _ Certo. Você gostou da diagramação do rótulo? Sentiu falta de alguma coisa nele? Acha que ele está claro? _ Sim. Foto é muito importante. _ Como? _ Acho que foto é importante para entender as puras linhas. _ Que mais? _ E acho que as frases estão muito longo. Um ponto tem mais que uma frase e normalmente quando dá uma lista, uma lista é… tem que, é… ter só um ponto da descrição. _ Eu vou te mostrar agora outros três rótulos… _Ah! Não gosto desses ‘marcos’ (apontando no rótulo 3) _ Ah! Serifas? _ Sim. Você lê xícara de chá? De chá, mas não dá! Leu outra vez e Ah! De chá e leite. _ Precisa ler duas vezes para compreender? _ Sim. _ Se você tivesse que fazer um bolo no laboratório qual desses rótulos você preferiria executar? Qual você acharia mais fácil de seguir? Mais fácil de fazer? _ Eu prefiro as imagens e este texto (1) é melhor para ler porque tá branca no fundo azul e aí (aponta o rótulo 3) é preto fundo cinza. Este (1) colocou ‘antes de preparo’ que quando não sei como preparar um bolo este informação é importante. Aí, esse (3) o primeiro ponto é preaquecer o forno, mas esse ponto ele não importante para fazer a massa. Ah! E essas palavras (indicando rótulo 2) acho que são bom: misturar/bater/assar/servir. É, o cliente sabe o fim da descrição. Essa descrição é muito mal (4). Não poderia comprar este bolo. É porque não dá espaço as descrições, e (risos) por causa… com cor vermelha por que quando dá as descrições no vermelho é muito atenção para fazer. Uhm… Não sei qual bolo eu vou preparar, mas as palavras desse descrição (2) estão boas. Aqui dá (1) menos pontos para fazer, por que um bolo é não um construção muito complexa. Talvez para uma pessoa não sabe como fazer, talvez sete pontos (indica rótulo 3) estão mais. _ Qual você escolheria então? _ (pega o rótulo 1) _ Seria esse rótulo azul? _ (sinal afirmativo com a cabeça) Bolo pronto em: 05:32min. Tempo total do simulado: 14:23min.

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SIMULADO 16 Participante A-16 – Rótulo 4 _ Bolo de chocolate. Você vai utilizar, 150ml de leite pasteurizado, ¾ de xícara de chá, 2 ovos inteiros, 2 ovos. É, modo de preparo, preaqueça o forno a temperatura de 180 graus máxima por 10 minutos. Misture o conteúdo deste pacote na tigela junto com os 2 ovos e 150ml, ¾ de xícara de chá de leite pasteurizado temperatura ambiente. Então, acrescentar… na batedeira usar velocidade média durante 5 minutos ou bata a mão durante 7 minutos até obter uma massa lisa e homogênea. Despeje a massa em forma untada e enfarinhada e leve ao forno. Tempo de forno, atente para a fôrma utilizada. Mexer, eh… já deu os 7 minutos? _ Não precisa esperar o tempo não, faz de conta que ele já passou. _ Tá, então é o tempo do forno preaquecer também. Pode passar margarina (pega forma retangular) ou manteiga e farinha, despeje a massa, forno, forno já tá preaquecido. Agora tem que esperar o bolo assar? _ Quanto tempo você vai esperar para o bolo assar? _ Deixa eu ver aqui. Ah… 35 minutos. A fôrma é a de 20 por 30 centímetros, deve ser esta (aponta para a fôrma colocada no forno). A redonda de 4cm deve ser esta (pega a de furo no meio), a de… tá confuso… É… São! 35 minutos. É isso. Só que pode levar muito tempo. _Qual? _ A fôrma de 20 por 30. _ E aí? _ É isso. Agora posso tirar do forno? _ Como é que tá no rótulo falando pra tirar? _ Como é pra tirar? Só tem tempo de fôrma. Atente para a fôrma utilizada. _ Ok. Tá pronto o seu bolo então, né? _ Tá pronto. _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes? Esse texto instrucional? _ Sim! _ Com que frequência você utiliza esse texto para preparar alimentos? _ Quase nunca. (risos) _ Que tipo de alimento você mais preparou com a ajuda assim do texto instrucional? _ Macarrão instantâneo. Assim… é. _ Alguma experiência sua com o texto instrucional, assim em rótulos, já resultou em erro? Já deu errado algum resultado? _ Ah não. Acredito que não. _ Você encontrou alguma dúvida, por menor que seja, em alguma instrução aí nesse rótulo com o qual você trabalhou? _ Encontrei a dúvida quando você me perguntou como deve tirar, assim só tem falando de tempo de fôrma. Atente para o fôrma utilizada. Mas o modo de como você deve tirar, abaixar o fogo, olhar e ver. Mas, quanto a dúvida mesmo, não. _ Você gostou da diagramação do rótulo? Sentiu falta de alguma coisa nele? _ Eu sempre acho as letras bem pequenas assim, poderia ser um pouco maior. _ Que mais você acha que poderia ter pra ser melhor? _ E, mais aí já é questão de… poderia vir em linhas separadas assim, mas até ia tomar muito espaço aqui, é… mas, mais separadinha (gesto de linha vertical), cada ingrediente, não seguido tudo numa mesma direção assim (gesto de linha horizontal). _ Eu vou te mostrar três outros rótulos de mistura para bolo. Você vai dar uma olhadinha nos outros que você ainda não conhece e vou te perguntar, se você tivesse que fazer um bolo agora, lá no laboratório, qual desses rótulos você acha mais simples de preparar, qual você escolheria preparar? E por quê? Pode olhar, pode pegar eles… _ Tá. Pode falar? Eu faria esse (4) por utilizar… ou esse (4) ou esse (3) né? Que são da mesma marca. (obs.: são marcas diferentes). _ Não precisa considerar o produto não, só as instruções. Qual deles você acharia mais fácil de executar? _ Com certeza esse (2) (mudou de opinião). Por que, você vê já tem todo o modo de preparo. Já vem todo numerado, misturar/bater/assar/servir, ficou mais detalhado, a diagramação também tá mais legal. A ilustração e tal, tudo isso convida, a fonte é até mais bonita assim de acompanhar. Tudo isso eu acho que influencia. A cor. _ Muito obrigada. _ Ok. Bolo pronto em: 04:14min. Tempo total do simulado: 08:20min.

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SIMULADO 17 Participante A-17 – Rótulo 4 _ Então… Você vai utilizar 150ml de leite, ¾ de xícara de chá, xícara de chá… 2 ovos inteiros, ok, modo de preparo, preaqueça o forno a uma temperatura de 180 graus por 10 minutos, misture o conteúdo do pacote na tigela junto com os 2 ovos, 150ml de leite, já coloquei o leite, já coloquei os ovos, na batedeira use a velocidade média durante 5 minutos ou bata à mão durante 7 minutos. Até obter uma massa lisa e homogênea, despeje a massa em uma fôrma untada e esfarinhada e leve ao forno. Bater… Untar a fôrma, põe farinha, forno já tá quente, agora eu vou deixar no forno por… Uhum… Aqueça o forno a uma temperatura de 180 graus por 10 minutos, misture o conteúdo da massa… Tempo de forno! Atente para a fôrma utilizada. Então eu vou ter que ficar olhando o bolo, toda hora, pra ver se tá pronto (risos). _ Você compreendeu essa instrução, atente para a fôrma utilizada? _ É a questão do tamanho da fôrma, por exemplo, se a fôrma for redonda vai ser um tempo menor ou maior, aí eu não sei porque eu olho no garfo. Mas, tá complicado, é a mesma coisa, igual massa de… macarrão que tá o tempo certinho independente da fôrma. Eu acho que tem até alguns rótulos de bolo que fala a respeito do tamanho. Só, né? Só fazer o bolo, tem que tirar a massa também? Tirar… _ Qual que é o próximo passo aí no rótulo? _ Despeje a massa em uma fôrma untada e esfarinhada e leve ao forno. Tempo de forno, atente para a fôrma, a fôrma utilizada. Vamos ver aqui, essa fôrma é quadrada, (a fôrma é retangular) então deve demorar um pouquinho mais. Pra ver o tempo, vamos supor que passou, sei lá, uns 30 minutos, vou abrir o forno, vou ver se ele cresceu, vou olhar com um garfo, ou no caso com a faca, pra ver se o meu bolo tá pronto. Deu, o bolo tá pronto. (risos) _ Tá pronto o seu bolo? _ Ta pronto o meu bolo. _ Você achou complicado fazer esse bolo? _ Eu achei porque eu aprendi com a minha mãe, não aprendi no rótulo. Eu só olho na verdade o rótulo pra olhar só dosagem mesmo e a quantidade do leite, mas é questão… _ Você já teve contato com outros tipos de rótulos? _ Já! Tive com o da boa e velha marca (3), né? _ Que tipo de alimento você mais preparou com a ajuda desse texto instrucional? _ Macarrão, por incrível que pareça, é pra olhar essa questão do tempo de cozimento, e… é, eu acho que só macarrão. Bolo assim, só pra olhar mesmo a quantidade que tem de colocar. Agora, o rótulo, a questão de olhar como que faz no rótulo, sempre foi que eu vi minha mãe fazendo, depois a minha vó fazendo, nunca foi com o rótulo mesmo, mas até porque eu fique meio assim… Tá de acordo com a fôrma? _ Certo. Alguma experiência com esse tipo de texto instrucional assim em rótulo, que você executou, já resultou em erro? Deu errado? _ Já! Inclusive de bolo. _ Conta pra nós. _ Por causa disso, do tempo (risos). Porque ele não me falou um tempo exato. Aí tem essa coisa de que tem tá lá e olhar o garfo. Tem que tá abrindo o forno a toda hora… _ Você não achou essa informação aí no rótulo não né? _ Pois é, eu estava esperando uma coisa… a gente sempre procura por um número, né? Estava esperando um número, sei lá! 30 minutos. _ Certo. _ Aí eu me emperrei e meu bolo solou (risos). _ Você gostou da diagramação do rótulo? Sentiu falta de alguma coisa nele? _ Muito pequenininhas as instruções. _ Que mais? _ É, não fala nada depois que você tirar o bolo. Tá, o bolo tá assado, e aí? Geralmente coloca corte ou dá alguma dica de alguma receita, de alguma coisa assim. É… Tá difícil. Eu achei difícil assim pra achar, pra organizar, por exemplo… _ o quê que você achou difícil aí? _ … A minha vó se pega isso aqui ela vai ficar um tempaço olhando como é que faz o bolo. _ Por que que você achou difícil localizar as informações aí? Você sabe identificar por que? _ Esse aqui, acho que tá complicado por que esse inglês aqui acho que avacalhou muito, ele tá muito colado… é… _ Só nas instruções. (estava olhando a frente do rótulo).

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_ Acho que só a questão da letra mesmo, e desse português e desse inglês, tá tão colado, não tá no espaço, tá difícil de visualizar. _ Eu vou te mostrar outros três rótulos diferentes e vou te fazer uma pergunta. Se você tivesse que ir agora ao laboratório pra preparar um bolo, qual desses quatro rótulos você preferiria executar? Qual é mais fácil? _ Mais fácil? _ Isso. Você pode olhar, pode pegar, comparar um com o outro, ver qual você acha mais fácil de fazer? _ Hum… não sei… Não vale o (3) porque eu tô mais acostumada, né? (risos) Esse aqui (2), porque… _ Por que você preferiria executar esse? _ Porque ele tá mais … primeiro porque ele tem a questão da fôrma (risos), e… ele tá, os passos certinhos. Todos estão, mas esse aqui tem um código ó… a questão da… ele não tem o tempo, mas se você for escolher a fôrma retangular ele tá dando aqui o tempo. Esse aqui (3) já não dá o tempo certo. É… Conforme a fôrma escolhida, não abra a porta do forno, mas esse aqui (2) tem o desenho dela. Tá mais simplificado, esse aqui (3) tá muito achatado, e esse (1) eu não iria querer fazer porque ele tem calda e é mais complicado. Esse aqui (2), eu acho que até esses desenhos aqui, coloridos e tal, tá mais fácil de visualizar, eu achei esse (2) mais bem dividido, os tópicos. Até mesmo no Servir, que ele… deixe esfriar, desenforme soltando as laterais, falou a altura dele certinho, como é que o meu bolo vai ficar. Os outros dois (1 e 3) estão meio que uma caixinha de surpresas. _ Esse (2) é o bolo que você faria? _ É o bolo que eu faria. _ Ok. Muito obrigada. Bolo pronto em: 04:31min . Tempo total do simulado: 09:32 SIMULADO 18 Participante A-18 – Rótulo 4 _ Você vai usar 150ml de leite pasteurizado, 150ml seria uma xícara… essa (vidro), supondo, né? Tô supondo. Primeiro colocaria na vasilha aqui. Acho melhor que na batedeira. 2 ovos inteiros. 2 ovos, é… Preaqueça o forno com temperatura de 180 graus máxima por 10 minutos, acendo o forno. Se não tivesse no forno 180 graus eu não saberia como usar. Misture o conteúdo deste pacote com 2 ovos e 150ml de leite pasteurizado, isso é redundante porque já falou, em temperatura ambiente, ok. Na batedeira use a velocidade média por 5 minutos ou bata à mão durante 7 minutos até obter uma massa lisa e homogênea. Despeje a massa em fôrma untada e esfarinhada e leve ao forno. Atente para o forma utilizada. Ok, aí queria bater 7 minutos e depois… despeje a massa em fôrma untada. Despeje a massa em fôrma untada e esfarinhada ? Imagino que na fôrma untada, pegar a manteiga, untar, farinha, né? Acho que taca um pouco e mistura. Aí, colocar a massa na fôrma e levar ao forno… Fôrma? Imagino que essa (retangular) deve ser a 20 por 30cm. Tá escrito aqui em inglês loaf pan, eu imagino… Eu já ví referência disso relacionado a pão, imagino que seja por causa do formato da fôrma. Então, colocaria em forno preaquecido depois dos 10 minutos, e deixaria até os 35 minutos indicados aqui. _ 35 minutos para assar? _ Isso. _ E essa é a última instrução que tem aí no rótulo? _ Isso. _ Depois dessa instrução, como é que seria o seu procedimento? _ Esperaria 35 minutos. Eu acho que deixaria exatamente assim porque teria medo de abrir e estragar porque eu não entendo nada de cozinha, mas eu sei que tem algumas coisas assim… faria como já vi meus avós fazerem, assim você abre a fôrma em tempo aproximado e usa um talher pra furar o bolo e ver se ele tá macio. Depois desse tempo, se ele já tivesse macio, achasse que ele já tivesse grande o suficiente, sem tá queimado ainda, aí eu desligaria o forno e tiraria a fôrma, esperaria esfriar por algum tempo e… terminei. _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes? Você já preparou algum alimento seguindo instruções de rótulo? _ Sim, mas eu obtive ajuda. Preparando bolo mesmo. _ Com que frequência você faz, com instruções assim? _ Não frequente, mas se tivesse que dar um número… talvez umas cinco vezes por ano. _ Alguma experiência com esse tipo de texto, assim instrucional, já resultou em erro? Você tentou fazer alguma coisa e deu errado? _ Ainda não porque eu obtive ajuda. _ Quem te ajuda? _ Normalmente o meu avô. _ Vocês fazem juntos ou …

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_ É eu preparo mais e ele fica responsável, depois que tá dentro do forno, pra dar uma olhada assim. _ Você encontrou alguma dúvida, por mais simples que seja, nas instruções desse rótulo? Tá tudo claro pra você? _ Ficou sim, a questão da fôrma, né? Porque não ficou muito claro aqui. Eu não saberia… 20 por 30cm? Eu não faria ideia. Se não fosse a referência mesmo aqui, depois em inglês, né? Com certeza não seria a de furo, mas aqui embaixo tá falando… Ah! Não. Agora é que eu vi, eu li mal, tá falando que são duas redondas e uma quadrada (é retangular), como eu escolhi a quadrada só poderia ter sido ela. Foi um erro de leitura. _ Eu vou te mostrar três outros rótulos e vou te perguntar se você tivesse que preparar agora um bolo no laboratório, qual desses rótulos você acharia mais simples, mais fácil de fazer? Qual está mais claro pra você? _ Num primeiro momento esse (1) por causa das imagens, mas… É, acho que o que eu utilizei é menos claro. Todos os outros utilizam algum tipo de imagem, uma referência assim. Mas eu utilizaria, utilizaria esse (1) daqui. _ Por que você escolheria esse aí? _ Acho que… Além de parecer bem simples porque tá em três passos, vem com desenho aqui e ainda vem com uma indicação de fôrma e ensina a fazer a calda. Assim, nem todo mundo vai fazer, mas eu acho que seria mais útil se um dia eu quisesse que fazer. Eu escolheria esse (1). _ Quanto às informações, o que você acha que esse tem de melhor em relação aos outros? _ Não sei, acho que de modo mais enfático, modo de preparo um, misture, dois, coloque a massa no forno, três, faça isso. Eu acho que facilita. _ Ok. Gostou de fazer o bolo? _ Gostei (risos). Bolo pronto em: 03:44min. Tempo total do simulado: 07:27min. SIMULADO 19 Participante A-19 – Rótulo 4 _ É… 150ml de leite pasteurizado, ¾ de xícara de chá. Bom então… E onde que eu vou por isso? (risos) É… Ah! Tá. Então é na batedeira. Tem que por 3 xícaras, ¾ tal, então uma, tem que voltar lá, não né ? _ Do jeito que tá no rótulo? Do jeito que você entendeu aí. _ Ah! Entendi. Uma, duas, três, até a metade, mais ou menos, quatro. (colocou 3 xícaras e meia). ¾ de xícara de leite, 2 ovos inteiros, um, dois. Preaqueça o forno a uma temperatura de 180 graus por 10 minutos. Então, liga o forno a 180 graus e ele fica aqui por 10 minutos. Misture o conteúdo deste pacote na tigela junto com os 2 ovos e 150ml de xícara de chá de leite pasteurizado em temperatura ambiente. Tá mandando bota tudo aqui e liga a batedeira. Na batedeira use a velocidade média de 5 a 10 minutos ou bata à mão durante 7 minutos até obter uma massa lisa e homogênea. Então, tem que bater na batedeira por 5 minutos na velocidade tipo 2 ou 3. Velocidade média? É, bater 2 ou 3 até a massa ficar consistente. Tá. Aí despeja a massa na fôrma untada e esfarinhada e leve ao forno. Então, a gente pega a massa, manteiga pra untar e farinha. É, despeja a massa aqui (fôrma retangular) toda e rapa… E o forno tem que esperar mais porque ele estava com 10 minutos, aí espera dar 10 minutos e põe. É leva… tempo de forno, atente para a fôrma utilizada. Tá! Como eu usei uma fôrma assim (indica a fôrma retangular dentro do forno), 45 minutos. Espera 45 minutos e o bolo está pronto. _ Tá pronto o seu bolo? _ Tá pronto o meu bolo. Posso guardar as coisas no seu lugar? _ Pode! _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes? _ Já, mas sempre com a minha mãe. _ Com que frequência você tem acesso a esse tipo de texto pra fazer alguma coisa? _ Ah! Muito raramente. Não chega a ser nem tipo uma vez por mês. É menos que isso. _ Que tipo de alimento vocês preparam juntas? _ Ah… Bolo, mas assim, mais essas coisas assim tipo pastel que aí a massa já tá mais pronta, você não tem que fazer muita bagunça. Gelatina, mas assim bolo, bolo mesmo, não. _ Você nunca executou uma receita dessa sozinha não? _ Não. _ Alguma outra receita, sem ser massa de bolo, mas algum outro alimento você já tentou executar com esse tipo de texto em rótulo, e resultou em erro? Você tentou fazer e não deu certo? _ Já, mas assim… _ Você lembra o que foi?

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_ Foi, é… essas coisas de tipo você comprar a massa de lasanha e aí você tem que colocar… não sei fazer. Não sei cozinhar (risos), pra mim tudo é difícil! Desde massa pronta é difícil. Mas, essas coisas assim, eh… ah… não sei se conta aquelas coisas tipo cup nut aquelas de comida pronta, eu nunca sei quando é que tá pronto, quando deixou de tá, quanta quantidade de água, às vezes fica aguado. Essas sopas também, que elas são em pó, eles falam uma quantidade de água, mas a quantidade de água que eles falam fica aguado, você põe um pouco menos e aí fica muito consistente, Nunca dá certo. Aí é sempre mãe mesmo. _ Você encontrou nesse texto, nesse rótulo que você trabalhou com ele, alguma dúvida? Alguma coisa você não conseguiu compreender? _ Ah, é porque eu encontrei, mas tipo assim é porque tava mais embaixo, porque ele manda pegar os 150ml de leite, os 2 ovos, mas ele não fala onde é que põe. Aí depois ele já pula pro negócio da fôrma, aí ele fala, depois é que ele fala onde é que você tem que por o ovo, aí ele pula pra fôrma de novo que a fôrma já tinha que tá untada e com farinha. Ele tinha que fazer essas coisas primeiro, entendeu? Porque eu peguei o ovo e a farinha, mas, não! O ovo e o leite, mas e aí? Onde eu vou por o ovo e o leite? Ele fala isso depois que ele já falou do forno, depois que ele já falou da fôrma e na prática ele fala onde eu tenho que colocar. Entendeu? _ Você gostou da diagramação desse rótulo? Sentiu falta de alguma coisa nele? _ Não… eu acho que se fosse numerado ia ficar mais fácil. _ Que mais? _ Ah, uma letra um pouco maior também, não custa nada. Quando você tá fazendo fica embolado, você tá com a mão toda ocupada, tudo isso fica complicado. _ Eu vou te mostrar três outros rótulos, também de preparo de mistura para bolo, Você pode pegar pra comparar, vai dar uma olhada e vai me dizer se você tivesse que preparar um bolo qual desses rótulos você escolheria para preparar? Qual parece mais simples pra você? _ Entre os quatro eu ficaria com o 3 e o 1. Aí, entre os dois, eu escolheria o 1 porque ele tá maior e apesar dos dois terem figura, a figura do 1 tá maior e ele tem a numeração também maior, fica mais claro, você bate o olho já fala: se eu já fiz o 1, eu vou pro 2. _ Em qual? _ Nesse aqui ó (levanta o rótulo 1) _ Você disse que gostou de dois (1 e 3), qual dos dois você escolheria? Você precisa escolher um pra mim. _ Esse aqui. (levanta o rótulo 1) _ Porque você acha mais fácil? _ Porque os desenhos são maiores, a numeração é maior e ele parece ser mais exemplificado também. Bolo pronto em: 03:07min. Tempo total do simulado: 07:47min. SIMULADO 20 Participante A-20 – Rótulo 4 _ Eu não sei se a xícara tem 150ml de leite… (pega a xícara menor, 200ml). _ Tá falando 150ml no rótulo? _ Tem. 150ml de leite. _ Ok. _ ¾ de xícara… eu não sei até onde seria nessa medida, nessa xícara. O forno tá aqui, manda preaquecer antes, 2 ovos, mistura 7 minutos até a massa ficar lisinha e homogênea. Unta, faz assim (balança a fôrma de furo no meio)… _ Pode falar um pouquinho mais alto pra mim. _ Aí despeja a massa e leva ao forno. Isso! _ Tá pronto o seu bolo? _ Tá pronto. _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes? _ Sim. _ Com que frequência você usa o texto instrucional assim em rótulo de alimento? _ Talvez… Uma ou duas vezes por mês. Mas, receitas especificamente, muitas vezes. _ E que tipo de alimento você mais preparou com a ajuda do texto instrucional? _ Bolo mesmo. _ Alguma experiência sua com esse tipo de texto já resultou errado? Alguma coisa você tentou fazer e não deu certo? _ Já! _ Você lembra o que foi? Conta pra nós.

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_ Lasanha que eu peguei na internet e ficou ruim, ficou muito seca, ficou com macarrão demais, tipo o recheio foi pouco, não deu certo (risos). _ Assim com alimento pra preparar, com rótulo pra se informar, você se lembra ter preparado alguma coisa que não deu certo? _ Não. Eles ficaram bons. _ Você encontrou alguma dúvida no texto que você leu aí? As instruções colocadas nesse rótulo estão claras pra você, todas elas? _ Ah! Tipo, ¾ de xícara de chá, né? Eu fico com dúvida. Qual que é a xícara de chá? Aí se fosse pra eu colocar na xícara, se ela não tiver aquelas medições é difícil saber o que são ¾. _ Mais alguma dúvida nesse rótulo? _ Não, acho que não. _ Você gostou da diagramação desse rótulo? Sentiu falta de alguma coisa nele? _ Talvez se tivesse os desenhos, né? Passo a passo. _ Mais alguma coisa? _ Ah! Aqui eu tô vendo, aqui pra baixo e que não vi aqui em cima, pra mim nesses tipos de receitas que geram muita dúvida são esses tamanhos de fôrma. Quando fala 30cm, 40, a gente nunca fica medindo pra saber… (risos). _ Quando você tem uma dúvida assim, como você resolve a dúvida? _ Ah! Vai na sorte. Se der certo, deu. _ Você escolhe aleatoriamente qualquer uma? _ Igual fala, né, tantos minutos para diâmetro tal… Assim, tantos centímetros, tantos minutos. E isso eu nunca sei, se a fôrma tá certa. _ Além deste rótulo com o qual você trabalhou eu vou te mostrar outros três. Todos eles de produto semelhante, preparo para bolo. Você pode pegar, olhar, pode comparar um com o outro, aí você vai me dizer qual destes rótulos você achou mais simples de preparar e se você tivesse que preparar um bolo agora, no laboratório, qual destes rótulos você escolheria para preparar e por quê? _ Ah, talvez este (3). _ Por que você preferiria fazer esse rótulo? Preparar essa massa? O quê que ele tem de diferente dos outros que chamou a sua atenção e você acha ele mais fácil de preparar? _ Ah! Acho que ele tá mais detalhado, tá mais passo a passo, tem etapas assim… específicas. _ Tá em etapas? _ Sim. _ Você tem algum comentário a acrescentar sobre os outros? Você gostou da diagramação deles? _ Esse aqui (1) no início eu fiquei é meio confusa, se estava na verdade era em dois idiomas, e depois que eu falei não, é bolo e calda. Mas no princípio eu fiquei assim, não, o idioma é igual, por que que tem dois lados? Mas, tirando isso, assim, tá bom também. Igual eu falei que esse (4) não tinha desenhos, esse (1) tem os desenhos eu acho que ajuda também. Bolo pronto em: 02:23min. Tempo total do simulado: 07:30min. Transcrições dos simulados com os alunos de Engenharia de Materiais SIMULADO 21 Participante A-21 – Rótulo 1 _ Bolo de coco gelado com calda de coco ralado. Antes do preparo eu vou untar a fôrma com margarina ou manteiga … Vou aquecer o forno… Bolo. Você vai precisar de leite ovos e margarina. 200ml de leite, uma xícara de chá (pega xícara de vidro). Aí… 200ml de leite, 2 ovos e 2 colheres de sopa de margarina. E agora, como preparar, misture o conteúdo do pacote com o leite, os ovos e a margarina. Bata na batedeira em velocidade alta por 4 minutos até obter uma massa lisa e homogênea. A massa? _ Tá aí dentro do pacote. _ Ah! 4 minutos? Agora, eu obtive a massa lisa e homogênea… leve ao forno e deixe assar por 30, 40 minutos. Para saber se o bolo tá pronto, perfure a massa com um palito, se ele sair seco o bolo estará pronto. Não abra o forno antes de 30 minutos. Então eu esperei 10 minutos o forno, coloco aqui e vou esperar 30 minutos. Enquanto isso eu vou preparar a calda. _ Não precisa preparar a calda não, só o bolo.

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_ Não? Só o bolo? Ah! Então pronto. Agora, esperar os 40 minutos, isso é pra lavar… É… Ah! Vou esperar trinta minutos e fazer o teste aqui, com isso aqui (pega a faca), vou esperar mais 10 minutos e já tá pronto. E agora… Ah… tem luva? _ Pode simular. Faz de conta que tem uma luva. _ É, porque senão queima a minha mão. (risos). Tá pronto o meu bolo. (04:09) _ Tá pronto o seu bolo? _ Uhum. _ Você já teve contato com esse texto antes, esse tipo de texto? _ Com esse tipo de texto, sim. _ Com que frequência? _ Ah… duas vezes por semana. _ Que tipo de alimento você mais preparou com a ajuda desse tipo de texto instrucional? Assim em rótulo? _ Quando a gente não prepara a gente tem contato com esse tipo de texto. – Alguma experiência sua com esse tipo de texto já resultou em erro? Você tentou fazer e deu errado? _ Sim. _ O quê? Conta pra nós. _ Mais assim… Pode ser por falta de atenção minha… Por exemplo, é… _ Você lembra como foi? _ Deixa eu ver. É mais por desatenção, por exemplo, deixar passar o tempo de assar ou então não aquecer o forno com o tempo necessário, já aconteceu isso comigo, por exemplo. E aí ficou um pouco duro. _ Você encontrou alguma dúvida, por menor que seja, nas instruções desse rótulo? _ Uhm… _ Ou ficou tudo claro? _ Não, acho que ficou claro. Tem até um desenhozinho, acho que ficou. _ Você gostou da diagramação dele? _ Gostei. Achei bonito os desenhos. _ Se você tivesse que melhorar esse texto, como você melhoraria? _ Se colocasse o tempo mais exposto… Tipo assim, eu já vi em alguns lugares um reloginho assim marcando quanto tempo… Eu acho que o negócio visual facilita muito, sabe? Esses ovos desenhados, esse leite, as colheres. Você bate o olho e tal. Facilita a diagramação sim. _ Agora eu vou te mostrar três outros rótulos. Você vai pegar, comparar, dar uma olhadinha e falar pra mim o seguinte: se a gente tivesse que ir pro laboratório fazer um bolo agora, qual bolo você faria? _ Eu não faria esse aqui (4) porque as palavras tão muito juntas e aí a gente começa a confundir… esse é difícil. Esse aqui (3) parece que está bem passo a passo, bem separado as etapas, bem definido. Esse (2) parece que tá bom. Tem que escolher um? _ Tem, você tem que escolher um pra mim. Qual desses você escolheria? (estava com o 2 e o 3 na mão). _ Uhmm… Eu escolheria esse aqui (3) porque ele tá bem… parece que cada, cada ação que eu vou fazer tá separada em um número. Um: preaqueça, dois: despeje, três: ligue a batedeira. O outro (1) tem muita coisa. Eu acho que é mais fácil quando é bem definido as etapas. _ Você já participou de alguma experiência como essa? Um simulado? _ Não, não. É a primeira vez. _ O que você achou? _ Gostei, gostei de fazer. Achei divertido (risos). Principalmente porque as coisas não são de verdade e eu não faço bagunça. _ Ok, muito obrigada. _ Obrigada a você. Boa Sorte. Bolo pronto em: 04:09min. Tempo total do simulado: 09:05min. SIMULADO 22 Participante A-22 – Rótulo 1 _ Para preparar o bolo a gente vai precisar de 200ml de leite, é… uma xícara de chá, 2 ovos e 40g de margarina, equivale a duas colheres de sopa… Eu sempre tive problemas com colher. Acho que é essa daqui (inox). Aqui tá os 2 ovos, as 2 colheres de sopa, e mais 200ml de leite. Feito isso, joguei todos os negócios sem ler o procedimento… Vai jogar isso aqui e bater com leite. Eu não sabia não. Sem estragar a batedeira alheia… por 4 minutos, eu preciso… tenho que que fingir? _ Faz de conta que já passou 4 minutos.

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_ Passaram os 4 minutos eu vou untar a massa. Untar, untei. Tem que preaquecer o forno, deixei aqui e esperei 40 minutos e o bolo tá pronto. _ Tá pronto o seu bolo? _ Tem é que testar… _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes, assim em rótulos? _ Já. _ Com que frequência? _ Muito pouca. Eu detesto bolo assim. Muito pouca mesmo, quase nenhuma. Mas, de vez em quando eu faço… _ Que tipo de alimento você mais preparou com a ajuda de rótulos assim? _ Bolo, que minha mãe não é nem um pouco habilidosa… É, acho que bolo mesmo, bolo, lasanha, isso aí. _ Alguma experiência sua com o texto instrucional, assim em rótulo, já resultou em erro? Você tentou fazer e deu errado? _ Não. Pode não ter ficado muito gostoso, mas eu acho que é porque a ideia desse tipo de alimento não é de uma coisa soborosíssima. É normal, né? _ Você encontrou alguma dificuldade, alguma dúvida, por menor que seja, nas instruções desse rótulo com o qual você trabalhou? _ Não, mais ou menos né, por exemplo, faltam coisas óbvias. Preaquecer o forno é meio óbvio, assim. Deixa eu ver que mais… Não, o resto é tranquilo. Assim, é tranquilo porque a gente já tem um conhecimento prévio, né? Mas, por exemplo, coloca a massa em fôrma untada e enfarinhada, se coloca uma criança de 12 anos que tá aprendendo a cozinhar pra fazer isso ela tem que perguntar para uma terceira pessoa. Só que se sair de todas as premissas explicativas pra fazer isso também ficaria um texto muito longo e difícil compreensão. _ Você gostou da diagramação desse rótulo? _ Gostei uê, prático, assim…visível. E ela dá, ainda tem uma coisa boa nela, ela pede ml e gramas só não necessariamente você consegue fazer isso igualmente falando, então ela dá uma ideia assim do quê você vai conseguir obter quanto a quantidade. _ Como você melhoraria esse texto aí? Pra ele ficar mais claro. _ Ele já é basicamente muito simples, ele usa a parte mais básica da explicação que é o desenho, né? Talvez, eu dividisse essa primeira parte. Primeira parte colocaria uma outra coisa, vai ilustrar tudo, depois que você fizer isso… E aqui no final também, você vai levar 40 minutos. Depois de 30 minutos, que às vezes, dependendo do forno, 40 já queimou, 30 minutos você taca o garfo lá. Se não der, você vai pra mais 40, porque é feito pra todo tipo de público, o que sabe cozinhar e o que não sabe cozinhar. _ Eu vou te mostrar outros três rótulos diferentes. Se eu te falar que a gente precisa ir pro laboratório fazer um bolo agora, qual desses rótulos você escolheria para executar? Qual lhe parece mais simples de fazer? _ Esse aqui ó (2). Muito bom! Ele explica até o tipo de fôrma que você vai utilizar e ele não pede leite né? Não, ele não pede leite. E uma coisa que sempre incomodou o pessoal foi leite, né? Como é que você vai fazer um bolo pronto se só tem só ovo e farinha? _ Você tem alguma dificuldade com esse tipo de informação no rótulo? Sobre leite? _ A minha mãe nos rótulos todos sempre teve. Sempre que eu ia pra comprar pensava se ela ia reclamar ou não. Esse (3) também está bem explicativo. Esse aqui é mais texto… _ Esse (3) seria a sua escolha? Ou o outro (2)? _ Eu só vou fazer de acordo com isso (rótulo) aqui? _ É, sem considerar o produto, só o texto. _ Ele (3) fala tudo que tem que fazer… Isso mesmo. E ainda tem as fôrmas. _ Você já participou de uma experiência como essa antes, um simulado? _ Não. _ O que você achou dessa experiência? _ Eu gosto de tudo objetivo, né? Como sempre, mas é interessante (risos). _ Ok. Muito obrigada. Bolo pronto em: 01:52min. Tempo total do simulado: 06:56min. SIMULADO 23 Participante A-23 – Rótulo 2 _ Bom, agora nós vamos fazer o bolo chocolatíssimo, né? Seguindo as instruções aqui eu vou precisar de 3 ovos inteiros. Pegar aqui o vasilhame destinado a tal, vai precisar de 3 ovos inteiros, 5 colheres de sopa aproximadamente de… 5 colheres de sopa aproximadamente 100g né de manteiga ou margarina. Então 100g de manteiga ou margarina vão dar 5 colheres de sopa. Manteiga é melhor porque vai dar uma consistência melhor.

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Uma, duas, três, quatro, cinco. É… Tá aqui uma orientação, né? Pra garantir que o produto tenha 0% gordura trans use margarina né ou manteiga natural, mas eu prefiro manteiga porque eu acho que vai ter uma consistência maior que a margarina, vai dar mais liga, né? É… modo de preparo, misture o conteúdo deste pacote com ovos e a manteiga ou margarina, eu já fiz a mistura dos ovos com a manteiga, certo? Agora eu vou pegar aqui o pacote… então só dá uma misturada básica aqui nos ingredientes pra quebrar a gema, ah… agora eu tenho que colocar, bater, o segundo passo, bater em velocidade baixa durante 1 minuto, à mão durante aproximadamente 3 a 4 minutos, mas como eu não vou ficar batendo à mão que vai cansar eu vou usar a batedeira mesmo (transfere a massa para a tigela da batedeira) que é 1 minuto. Se fosse à mão ia gastar uns 4 minutos pra bater. Ligar na tomada, né? Bater por 1 minuto, beleza, a massa já tá bem firme já, aí o terceiro passo aqui é o assar, despejar a massa na fôrma untada e leve ao forno. Asse de acordo com o tempo previsto para cada tipo de fôrma. Não abra o forno antes de terminar o tempo indicado. Obviamente a melhor travessa (fôrma) seria uma travessa de metal. Primeiro tem que untar também antes. Pode deixar aqui, dar uma ajeitada na massa aqui pra ficar mais certinho, né? Aqui tá indicando uma fôrma retangular de 20cm por 30, né? E… que é mais ou menos do tamanho disso aqui mesmo, né? (segurando a fôrma retangular) Com uns 5cm de profundidade, mais ou menos o tamanho que tá pedindo, né? Ligar aqui o forno. Só que aqui não tá mencionando a temperatura do forno… Ah não! Tá aqui ó, aquecer o forno a uma temperatura de 180 graus. Teoricamente o forno já tá ligado aqui ha um certo tempo e tá nessa temperatura de 180 graus. Então eu vou deixar aqui (dentro do forno), deixar mais em cima pra evitar queimar, beleza. Vamos esperar mais um tempo, durante 10 minutos, transcorridos… Bom, agora deu 10 minutos, né? Vamos tirar aqui, só testar se a massa tá firme (com faca), parece que tá, aí vem o quarto passo né, que é o melhor, que é servir. Deixar esfriar, não comer o bolo quente porque vai dar dor de barriga, né? Pra poder colocar agora, nas laterais eu vou ter que… Se tivesse uma travessa maior, mas pode servir aqui na fôrma mesmo, pode esfriar, jogar numa travessa maior, né? Vai ter a fôrma e depois você pode colocar a calda, caso você queira ter uma calda, né? A altura do bolo, no caso, aqui tá falando que vai ser 1,5cm. Bom! Uma informação a qual eu não sei muito bem te falar não. Mas, enfim, tá meio solta essa informação aqui. Altura do bolo aproximada 1,5cm acho muito pouco, enfim, não ficou muito bem explicado essa parte aqui não. Mas, tudo bem, tá pronto aqui o nosso bolo chocolatíssimo. _ Você já teve contato com esse tipo de texto assim em rótulos? _ Já, já, já. _ Com que frequência? _ Olha, antigamente eu tinha bem mais porque eu já fui auxiliar de confeitaria, eu já trabalhei… isso a uns 8 anos atrás, né? Agora, tipo, a gente costuma fazer umas experiências em casa, assim de vez em quando, em finais de semana, mas bem esporádico mesmo. _ Que tipo de alimento você mais preparou com ajuda de texto instrucional, assim em rótulos? _ Ah, aquilo que é mais básico mesmo, gelatina, aqueles pudins mais simples de fazer, né? _ Alguma experiência sua com esse tipo de texto já resultou em erro? Você fez e deu errado? _ Olha, teve uma vez, de uma informação que vinha tipo sal à gosto, né? Coisa que eles deviam colocar, sal à gosto, né… porque tem gente que é ou 8 ou 80, né? No caso, eu sou 80 né, e colocar demais, isso altera a receita, se colocar muito sal né. E fica muito, a liga da massa, não fica muito coesa né, não fica bem certo e pode ficar salgado demais, o que é pior ainda. _ Aí deu errado? Ficou salgado? _ Ficou (risos), ficou muito. _ Você encontrou alguma dúvida, por menor que seja, em alguma instrução do rótulo aí que você leu? _ Ah, dúvida não, mas essa última informação aqui me ficou meio vaga, né? Que é a quarta aqui ó, quarto passo, servir. Deixe esfriar, desenforme soltando as laterais, se necessário e sirva. A altura do bolo, aproximada é de 1cm e meio. Bom, achei meio estranho porque, falar que o bolo vai ficar com 1 cm e meio na travessa… É muito relativo você falar isso, você tem que ver o tamanho certo da travessa, né? E geralmente a gente, pra ver se o bolo tá pronto, não vê a altura dele, a gente enfia a faca pra ver se solta. Então essa informação última aqui, a altura do bolo aproximada de 1cm e meio acho que ficou muito vago assim, sabe? Ficou muito relativo. Depende de muita coisa. _ Você gostou da diagramação do rótulo? Sentiu falta de alguma coisa nele? _ Gostei, contraste de… Acho que só a letra devia ser um pouco maior, dependendo se a pessoa tiver algum problema de visão, mas, enfim, nos passos aqui não tem muito erro não. _ Como você melhoraria esse texto aí? _ Olha… aqui não tem muita coisa a colocar não. Colocaria a letra um pouco maior mesmo, ah… contraste, não sei se isso realmente faz algum sentido, mas a diferença de cor entre a letra e o fundo é uma coisa que faz diferença, né? É… fazer igual no miojo mesmo, nas instruções do miojo, por exemplo, tem as figuras mais certas assim, caso a pessoa tenha dificuldade de ler, por algum motivo, se é por deficiência visual ou porque realmente

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ele não foi muito bem alfabetizado, pelo menos se seguir as instruções por figuras facilitaria, né? É mais isso mesmo. _ Eu vou te mostrar outros três rótulos e você vai falar pra mim, se tivesse de fazer um bolo lá no laboratório agora, qual desses rótulos você escolheria fazer. Pode pegar, comparar um com o outro… _ Esse aqui (1) é o que eu achei melhor, ó. Esse aqui tá certinho. (respondeu antes que eu concluísse a pergunta, apenas vendo os rótulos sobre a bancada). _ Você gostou mais desse (1)? Você viu os outros? _ Eu olhei esse (1) aqui agora por causa das figuras. Aí ó… aqui as instruções desse rótulo aqui (3) já tá bem melhor do que esse (2 – rótulo com o qual trabalhou). _ Qual dos 4 aí você escolheria fazer? _ Olha eu escolheria esse aqui (3). Primeiro porque tá com as figuras né, isso ajuda muito, esses ícones aqui. Os passos, são mais passos né, o que indica que tem mais detalhes no modo de preparo, em cada item deste de preparo tá com um texto maior e tem muita coisa quantificada mesmo falando em usos, em quantidades de gramas, enfim tá mais quantificado cada passo desse aqui (3), traz mais informações cada passo e mais passos a seguir, né? E aqui tem dicas de preparo também, o que ajuda muito também. Tá bem resumido. _ Você já participou de alguma experiência como essa? Um simulado? _ Não (risos). _ O que você achou? _ Ah, é legal! Bacana porque na verdade a gente vê como que algumas coisas são meio subjetivas, alguns modos de preparar, digamos assim, alguns caminhos a serem seguidos, dependendo do jeito que for abordado, né? Pode gerar dúvida ou não. Nesse caso aqui (apontando o rótulo 2), no final dele ficou um pouco mais complicado mesmo. Bolo pronto em: 05:07min. Tempo total do simulado: 10:49min SIMULADO 24 Participante A-24 – Rótulo 2 _ É, você irá utilizar 3 ovos inteiros, 5 colheres de sopa, aproximadamente, de manteiga ou margarina. No caso eu vou utilizar manteiga. Tá falando pra preaquecer o forno a uma temperatura de 180 graus por 10 minutos, eu vou ligar pra peaquecer, agora tem que misturar o conteúdo do pacote aos ovos e manteiga, tá falando pra bater à mão aproximadamente por 3 a 4 minutos até obter uma massa lisa e homogênea. Depois de passado os 3 a 4 minutos ele pede pra que eu unte a fôrma. Eu vou escolher essa daqui (redonda). Depois de untar a fôrma com margarina ou com manteiga, se for o caso, despejar a massa que… lisa já tá pronta pra assar. Fala pra eu assar de acordo com a fôrma indicada, tempo indicado de acordo com a forma da fôrma, é… 35 a 45 minutos. Aí, passado esse tempo, eu retiro, deixo esfriar. Então desenformo o bolo… e vou soltar as laterais, se necessário, e sirvo. _ Ok. Você já teve contato com esse tipo de texto antes? Texto instrucional em rótulos? _ Já. _ Com que frequência? _ Muito baixa, uma vez por ano. _ Que tipo de alimento você mais preparou com a ajuda desse tipo de texto? _ Basicamente, macarrão semi-pronto. _ Alguma experiência que você teve com o texto instrucional, assim em rótulos, já resultou em erro? _ Não. _ Todas que você executou foram satisfatórias? _ Sim. _ Você encontrou alguma dúvida em alguma instrução que foi colocada aí nesse rótulo? _ Eu tive dúvida em relação à disposição do texto. Ele colocou você irá utilizar antes do modo de preparo e eu já vim com o intuito de começar a preparar, como se já soubesse os ingredientes. Talvez se ele tivesse colocado em outro ponto, talvez teria sido mais fácil, teria deixado mais claro, modo de preparo em letra maior. _ Você gostou da diagramação do rótulo? Sentiu falta de alguma coisa aí além disso? _ Não. Só nesse ponto mesmo. _ Como você melhoraria esse texto? Pra ele ficar mais fácil de ler? _ Eu manteria ele exatamente da mesma forma só mudaria os tipos. Deixaria os títulos maiores e manteria a estrutura do texto. Só a distribuição espacial eu mudaria.

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_ Eu vou te apresentar três outros rótulos, você vai dar uma olhadinha e comparar com esse com o qual você trabalhou. Diz pra mim o seguinte, se a gente tivesse que preparar um bolo agora, no laboratório, qual desses rótulos você escolheria para executar? Qual deles você acha mais simples? _ Eu acredito que esse (3) seria melhor. _ Você escolheria esse? _ Isso. _ por que você escolheria esse? _ Ele segue uma ordem mais… Ele segue, aparentemente ele segue um única ordem. Aqui (1) a exposição dele no sentido assim (sinaliza vertical) de duas receitas iguais, enquanto aqui (3) seria apenas uma. Eu preferiria utilizar esse tipo de instrução. _ Ok. Você já participou de alguma experiência como essa antes? Um simulado? _ Não. _ O que você achou da experiência? _ Interessante (risos). _ Teve alguma dificuldade? _ Não. _ Obrigada. Bolo pronto em: 04:10min. Tempo total do simulado: 08:44min. SIMULADO 25 Participante A-25 – Rótulo 3 _ O forno é microondas (risos)… _ Vá narrando pra mim as suas ações. _ Tá certo. Enquanto eu vou preparar o bolo, deixar o forno em aquecimento por 10 minutos, pronto… aí, eu vou preparar, vou pegar 2 ovos, xícara de chá… essa aqui? (vidro) _ Fale um pouquinho mais alto pra eu te ouvir. _ Tá. 1 xícara de chá, mais ou menos, quase na borda, jogar o pó do bolo primeiro (na batedeira), não tá falando, mas é aqui que vai misturar, vou ligar a batedeira, na tomada, vai batendo, 5 minutos no relógio. É muito tempo. _ Não precisa ficar esperando o tempo não. _ (risos) Depois que der, depois dos 5 minutos, então passar a manteiga aqui, na bandeja pra poder estar untando a bandeja, né? Depois pega a massa que eu preparei, vira aqui dentro (forma de furo), e levo pro forno… o bolo já tem um tempo que tá lá, mais meia hora pego um palitinho (pegou faca) e vejo se o bolo tá bom mesmo, não tá, deixar ali mais um tempinho e pronto. Cancelo aqui. _ Tá pronto o seu bolo? _ Tá pronto o bolo. Sem por farinha (risos). _ Ok. Agora me responde uma coisa, você já teve contato com esse tipo de texto antes? _ Só miojo. _ Com que frequência você utiliza esse tipo de texto? _ Muito pouco. Raro. _ Uma vez por mês? _ Muito menos do que isso. _ Alguma experiência sua com esse tipo de texto já resultou em erro? _ Não, é só miojo mesmo, né? Então, não deu errado não. Eu é que vou mudando o modo de preparo pro meu jeito, mas errado, errado assim, não. _ Você encontrou alguma dúvida, por menor que seja, em alguma das instrução desse rótulo? _ Não. Tá tudo claro. _ Você gostou da diagramação dele? _ Dá pra entender. _ Como você melhoraria esse texto? _ Aí pegou pesado (risos). Ah, eu ia deixar do jeito que tá mesmo. _ Você ia deixar desse jeito? _ É. _ Agora eu vou te mostrar outros 3 rótulos e você vai comparar com esse que você viu aí e vai me dizer se você tivesse que fazer um bolo agora, lá no laboratório, qual deles você escolheria pra preparar? Não considere o produto não, só o modo de preparo. _ Ah, esse aqui tá melhor (2), mas esse aqui falta aquecer o forno antes de fazer.

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_ Não fala? _ É, mas esse aqui tá melhor. _ Você escolheria esse pra preparar? _ É. _ Por que você acha que esse tá melhor do que os outros? _ Ah… Tem poucas etapas e tá claro pra mim, mais específico. Por exemplo, o outro aqui ficou falando assim é… achei ele muito técnico. _Você achou os termos muito técnicos? _ É, esse aqui (4), por exemplo, pra fazer bolo fala leite pasteurizado, temperatura ambiente, não precisa. Ai, achei esse aqui (2) melhor, só faltou uma informação, mas… _Que informação faltou aí? _ Seria deixar o forno preaquecido. _ Sei. Ainda assim essa seria a sua escolha? _ É, seria minha escolha. _ Você já participou de uma experiência como essa antes? Um simulado? _ Não (risos). Eu já participei de uma atividade, mas era educação física. _ Você achou complexo. _ Não! Gostei. Bolo pronto em: 04:07min. Tempo total do simulado: 09:00min. SIMULADO 26 Participante A-26 – Rótulo 3 _ Ingredientes complementares, 2 ovos e ¾ de xícara de chá de leite. _ Tem alguma coisa aqui dentro (jarra)? Não, né? _ Não. É só simular. Qual é a quantidade? _ ¾ , mais ou menos até aqui (marca com o dedo na xícara de vidro transparente). É, modo de preparo, preaqueça o forno à temperatura média de 180 graus Celsius por 10 minutos, ligar o forno, 180 graus Celsius. Despeje o conteúdo na tigela da batedeira e acrescente 2 ovos e ¾ de xícara da chá de leite, 150ml. Quebro o ovo, lixo tem? _ pode deixar aí. _ Ligue a batedeira na velocidade alta até obter uma massa lisa, cerca de 5 minutos. Se for bater à mão aumente o tempo para 7 minutos. Eu coloquei na tigela… Não coloquei na tigela da batedeira. Fiz uma coisa errada né? _ Você prefere bater na batedeira? _ Como eu já pus aqui (outra tigela) eu vou bater à mão por 7 minutos. Considerando que passou 7 minutos, despeje a massa em fôrma untada e enfarinhada e leve ao forno. Manteiga, pode ser com um guardanapo mesmo, né? Farinha, vou colocar isso (xícara usada) aqui que tá sujo. Considerando que passaram os 10 minutos do forno preaquecido, leve ao forno preaquecido durante 30 a 45 minutos conforme a fôrma escolhida. Não abra a porta do forno antes de 30 minutos de assamento. Então, como a fôrma escolhida foi a quadrada (fôrma retangular), o tempo deve ser maior, então, considerando 45 minutos. Considerando que passaram 45 minutos, pra certificar-se de que o bolo está assado introduza um palito no seu interior, se ele sair seco, sem massa aderida, é porque o bolo está assado. Então, passaram 30 minutos eu já posso abrir o forno, saiu seco, um pano pra não queimar a mão (risos)… _ Pode simular o pano. _ Tá, pegar um pano, retire do forno e espere esfriar para desenformar. Então, considerando que esfriou, desenformo e põe em uma tigela, vou deixar aqui mesmo pra servir. _ Tá pronto o seu bolo? _ Sim. _ Você já teve contato com esse tipo de texto antes? O texto instrucional em rótulos de alimento. _ Sim. _ Com que frequência você lida com esse texto? _ Ah, mensalmente, ou com uma frequência maior que isso. De três em três semanas. _ Que tipo de alimento você mais prepara com esse tipo de texto? _ Bolo. _ Alguma experiência sua com esse tipo de texto em rótulos já resultou em erro? _ Sim. _ O quê, você lembra? Conta pra nós.

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_ É, a receita que não tinha falando dos 30 minutos pra abrir o forno. Eu abri antes, não sabia e ele acabou encroando. É… pra descobrir a diferença das fôrmas no tempo que deixa no forno e não especifica… cada forno tem a sua potência. Então, acaba que 180 graus têm um erro que pode ser significativo. Dependendo da potência do forno, não, pode não ser exatamente aquela temperatura que tá informando devida a perda de calor e tudo mais. _ Você encontrou alguma dúvida, por menor que seja, em alguma instrução desse rótulo que você trabalhou com ele? _ Não. Dúvida, não. _ As coisas ficaram claras aí? _ Uhum. _ Você gostou da diagramação desse rótulo? _ Sim, tem texto e figuras, né? Acho que ele tenta explicar da maneira mais fácil possível. _ Como você melhoraria esse texto aí? _ Apesar que é pra untar a fôrma antes de começar por que, de repente deixar a massa aqui, descansando aqui e untar pode prejudicar. Então, o primeiro passo seria untar a fôrma, e preaquecer já tá falando antes… Acho que é só isso que eu mudaria. _ Ok. Eu vou te mostrar outros três rótulos. Você vai dar uma olhadinha pra mim, vai comparar um com o outro e vai dizer pra mim, se você tivesse que preparar um bolo agora, qual dos 4 rótulos você escolheria e por quê? _ Esse (2). _ Por que você escolheria esse aí? _ Porque está especificado o antes de preparar, que foi a correção que eu fiz, tem figuras que facilita o… a escolha dos ingredientes, tem as duas o opções de fôrma o que permite que se você tem uma fôrma só em casa você não vai deixar de fazer o bolo por causa disso. E o modo de preparo é subdividido em 4 etapas, de uma maneira que você sabe em qual etapa você está e quais passos você tem que tomar em cada uma delas e não em uma lista pra se decidir, onde você se perde e não sabe onde você está. Este (2) pra mim é o melhor. _ Quer que compare com os outros? _ Se você puder comentar. _ Tá, eu coloquei numa ordem, esse (1) seria o segundo pelos mesmos motivos desse (2), mas ele especifica só uma fôrma, ele indica uma fôrma. Na verdade a fôrma tem algumas variáveis que influi na preparação do bolo, mas não significa que eu tenha que ter exatamente essa fôrma (retangular) em casa. Essa foi a única diferença. Em terceiro lugar esse (3) porque ele não divide em etapas igual esse aqui (2) e porque não mostra aquela observação antes de fazer o bolo, que eu falei, pra untar a fôrma. E esse aqui (4) por último porque não dividiu em etapas, coloca as instruções em um texto só, sem itens, na verdade é um parágrafo para o preparo inteiro, não fala antes de usar, não tem figura nenhuma, então, pra mim é o mais difícil, e a letra a menor entre todas. É isso. _ Você já havia participado de um procedimento assim, simulado? _ Na verdade, com a Ana Elisa, no primeiro período a gente fez uma coisa mais ou menos parecida. _ O que você achou da experiência? _ Achei legal. Acho muito inusitado. A gente não imagina que é isso e acho que mostra muita coisa, por exemplo, eu coloquei na tigela daqui (não da batedeira) por costume, como eu não tenho batedeira eu misturo na mão, mas… falta de atenção na hora de ler, né? Porque aqui tinha batedeira, eu não percebi, e é legal porque mostra que a gente pode escolher, tem algumas opções, igual tem diferentes tipos de fôrma, eu escolhi retangular depois percebi que ela seria o maior tempo, então, eu podia ter pensado antes. Manteiga ou margarina, eu preferi manteiga porque a concentração de gordura é maior e aí eu preciso usar menos no tabuleiro, então é legal porque permite à gente decidir entre algumas situações que a gente não imagina que poderia passar. É isso. _ Ok. Muito obrigada. Bolo pronto em: 04:50min.Tempo total do simulado: 11: 22min.

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APÊNDICE B – Script de orientação para a realização do simulado Coleta de Dados – CEFET-MG Campus 1 ____/____/______ Procedimento 1 – Preenchimento e assinatura do Termo de Consentimento Procedimento 2 – Apresentação aos participantes da bancada do simulado, com seus utensílios e ingredientes, e do rótulo com o qual trabalharão durante o simulado. Procedimento 3 – Orientação aos participantes sobre como realizar o simulado. As instruções do rótulo deverão ser lidas em voz alta e cada ação deverá ser narrada durante a simulação. Informar que o procedimento será filmado e gravado para posterior transcrição. Procedimento 4 – Aplicação do questionário oral que deverá ser respondido pelos leitores participantes após a simulação do preparo. Tempo máximo estimado para a simulação do preparo e respostas ao questionário: 15 minutos. Questionário: 1 – Você já teve contato com este tipo de texto antes? Com que frequência? 2 – Que tipo de alimento você mais preparou com a ajuda deste tipo de texto? 3 – Alguma experiência sua com este tipo de texto já resultou em erro? 4 – Você encontrou alguma dúvida, por menor que seja, em alguma instrução do rótulo com o qual trabalhou? 5 – Você gostou da diagramação do rótulo? Sentiu falta de alguma coisa? 6 – Além do rótulo com o qual você trabalhou, temos aqui outros três. Se tivesse que preparar um bolo agora, qual deles você preferiria preparar e por quê? Lista de materiais para a bancada do simulado 1 toalha de tecido fosco 1 batedeira de bolo 1 recipiente com colher grande para bater a massa à mão 1 recipiente de vidro transparente para farinha 1 jarra de porcelana branca para leite 1 xícara 258 ml porcelana branca 1 xícara 248 ml vidro refratário transparente 1 xícara 200 ml porcelana branca

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1 paliteiro 1 guardanapo de papel 1 colher de sopa inox 1 colher de sopa inox com cabo de plástico 1 colher de sopa de plástico descartável 1 prato de vidro refratário para refeição 1 prato de vidro refratário para sobremesa 1 faca 1 fôrma redonda com furo no meio 1 fôrma redonda sem furo 1 fôrma retangular 1 caixa de papelão forrada com tecido (forno) 1 embalagem com 6 falsos ovos de papel Equipamentos para a coleta de dados: Computador Ibook G4 Software Amadeus II para gravação do áudio Filmadora semiprofissional Pedestal modulável Máquina fotográfica Régua de energia Etiquetas de identificação Papel e caneta para anotações

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10 ANEXOS

ANEXO A – Imagem do rótulo 1 ANEXO B – Imagem do rótulo 2 ANEXO C – Imagem do rótulo 3 ANEXO D – Imagem do rótulo 4 ANEXO E – Procedimento número: 393896 da Anvisa ANEXO F – Cópia do cupom fiscal da Cia Brasileira de Distribuição ANEXO G – Transcrição do texto dos rótulos ANEXO H – Email recebido do fabricante do Rótulo 1 ANEXO I – Email recebido do fabricante do Rótulo 2 ANEXO J – Email recebido do fabricante do Rótulo 3 ANEXO K – Email recebido do fabricante do Rotulo 4

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ANEXO A – Imagem do Rótulo 1.

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Frente da embalagem

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ANEXO B – Imagem do Rótulo 2.

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Frente da embalagem

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ANEXO C – Imagem do Rótulo 3.

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2

Frente da embalagem.

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ANEXO D – Imagem do Rótulo 4.

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Frente da embalagem.

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ANEXO E – Procedimento número: 393896 da Anvisa

Dados Completos do Procedimento número: 393896. DADOS DO PROCEDIMENTO Data de cadastro 05/05/2011 DADOS DO REMETENTE Nome: Marta Aparecida Pereira da Rocha Costa CPF/CGC: 48527491672 Email: [email protected] PARECER DO PROCEDIMENTO Parecer Final: Senhora Marta Aparecida Pereira da Rocha Costa, Informações presentes na rotulagem de alimentos como o modo de preparo não são denominadas no ordenamento sanitário jurídico vigente como informações nutricionais . O fornecimento desse tipo de informação é regulamentado pela Resolução RDC n. 259/02, que estabelece em seu item 5 que as instruções sobre o preparo e uso do alimento são obrigatórias de constar na rotulagem de alimentos, quando necessário e em seu item 6 a forma de veiculação dessas informações. Destacamos que o fornecimento dessas informações é de responsabilidade da empresa, desta forma, a Anvisa não normatiza sobre a obrigatoriedade de figuras para ilustrá-las ou questões semelhantes. Por fim, informamos que a Anvisa não realizou pesquisas relacionadas a esse assunto. Atenciosamente, Equipe técnica GPESP/GGALI. DESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO Solicitação de normas para instruções em rótulos Senhores: Sou mestranda do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-MG e no momento estamos conduzindo um projeto de pesquisa sobre informações instrucionais em rótulos de produtos alimentícios. No site da Anvisa encontramos informações sobre rotulagem nutricional dos alimentos, mas este não é o foco do nosso projeto. Precisamos saber como a Anvisa regulamenta as informações instrucionais (modo de preparo, como fazer etc.). Precisamos saber se existe alguma regulamentação para a inserção destes textos em rótulos de alimentos. É importante para o nosso trabalho compreender questões como, por exemplo, se há a necessidade de ilustração destes textos ou se podem ser inseridos apenas de forma verbal (sem imagens/desenhos). Caso exista alguma estatística/estudo da Anvisa que avalie a compreensão destes textos, isto seria de grande ajuda na condução dos nossos trabalhos. Neste caso, todos os créditos serão respeitados. Um dos objetivos da pesquisa é contribuir, em sua análise ética e responsável, para a construção de rótulos claros e inteligíveis para os consumidores desses produtos, uma vez que esses consumidores possuem níveis de letramentos distintos. Certos de que podemos contar com a colaboração da Anvisa neste trabalho, antecipamos nosso agradecimento a toda atenção que nos for dispensada. Atc, Marta Rocha Costa Mestranda em Estudos de Linguagens Especialista em Revisão de Textos Bacharel em Comunicação Social Data de Conclusão: : 16/05/2011 00:00:00

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ANEXO F – Cópia do cupom fiscal da Companhia Brasileira de Distribuição

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ANEXO G – Transcrição dos textos dos rótulos Rótulo 1 Antes do preparo Unte a fôrma com margarina ou manteiga e polvilhe com farinha de trigo. Preaqueça o forno em temperatura média-baixa (180oC) por 10 minutos. Você vai precisar: 200 ml de leite (1 xícara de chá) 2 ovos 40 g de margarina (2 colheres de sopa à temperatura ambiente) Modo de preparo 1 – Misture o conteúdo do pacote maior com o leite, os ovos e a margarina. Bata na batedeira em velocidade alta por 4 minutos, até obter uma massa lisa e homogênea. 2 – Coloque a massa na fôrma untada e enfarinhada. 3 – Leve ao forno e deixe assar por 30 a 40 minutos. Para saber se o bolo está pronto, perfure a massa com um palito e retire. Se sair seco, o bolo estará pronto. Não abra o forno antes de 30 minutos de cozimento. Indicação de fôrma: Retangular 20cm x 30cm Rótulo 2 Você irá utilizar: 3 ovos inteiros 5 colheres (sopa), aproximadamente 100 g de manteiga ou margarina Para garantir que o produto pronto tenha 0% gordura trans, utilize margarina 0% trans ou manteiga (naturalmente 0% trans). Modo de preparo: 1 – MISTURAR Misture o conteúdo deste pacote com os ovos e a manteiga ou margarina. 2 – BATER Bater em velocidade baixa durante 1 minuto ou à mão durante aproximadamente 3 a 4 minutos, até obter uma massa lisa e homogênea. 3 – ASSAR Despeje a massa em fôrma untada e leve ao forno. Asse de acordo com o tempo previsto para cada tipo de fôrma. Não abra o forno antes de terminar o tempo indicado. 4 – SERVIR Deixe esfriar, desenforme soltando as laterais, se necessário, e sirva. Altura do bolo aproximada: 1,5 cm. Antes de preparar: - Preaqueça o forno à temperatura de 1800C por 10 minutos. - Unte uma fôrma com manteiga ou margarina e depois polvilhe com farinha de trigo.

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Escolha sua fôrma: - Retangular média 20 x 30 ou 22 x 33cm: 35 a 40 minutos. - Redonda 24 cm de diâmetro: 35 a 45 minutos. Rótulo 3 Ingredientes complementares: 2 ovos e ¾ de xícara (chá) de leite (150 ml). Modo de preparo: 1 – Preaqueça o forno à temperatura média (1800C) por 10 minutos; 2 – Despeje o conteúdo do pacote na tigela da batedeira e acrescente 2 ovos e ¾ de xícara (chá) de leite (150 ml); 3 – Ligue a batedeira na velocidade alta até obter uma massa lisa (cerca de 5 minutos). Se for bater à mão, aumente o tempo para 7 minutos; 4 – Despeje a massa em fôrma untada e enfarinhada e leve ao forno; 5 – Leve ao forno pré-aquecido e asse por 30 a 45 minutos conforme a fôrma escolhida. Não abra a porta do forno antes de 30 minutos de assamento; 6 – Para certificar-se de que o bolo está assado, introduza um palito no seu interior; se ele sair seco, sem massa aderida, é porque o bolo está assado; 7 – Retire do forno e deixe esfriar para desenformar. Dicas de preparo: Escolha fôrmas em que a massa crua ocupe cerca de 2/3 de seu volume: Redonda com furo: 18 a 20 cm de diâmetro; Redonda sem furo: 20 cm de diâmetro; Retangular pequena: 18 x 27 cm. Para fôrmas maiores aumente a quantidade de massa utilizando mais de 1 pacote. Rótulo 4 VOCÊ VAI UTILIZAR: 150 ml de leite pasteurizado (3/4 de xícara – chá), 2 ovos inteiros. MODO DE PREPARO: preaqueça o forno à uma temperatura de 1800C (máxima) por 10 minutos. Misture o conteúdo deste pacote na tigela junto com 2 ovos e 150 ml de leite (3/4 de xícara – chá) de leite pasteurizado em temperatura ambiente. Na batedeira use a velocidade média durante 5 minutos ou bata à mão durante 7 minutos, até obter uma massa lisa e homogênea. Despeje a massa em fôrma untada e esfarinhada e leve ao forno. Tempo de forno (Atente para a fôrma utilizada). REDONDA COM FURO 20 cm Aproximadamente 40 minutos REDONDA 24 cm Aproximadamente 35 minutos FORMA 20 x 30 cm Aproximadamente 35 minutos

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ANEXO H – Email recebido do fabricante do Rótulo 1 De: [email protected] Data: August 6, 2012 3:18:30 PM GMT-03:00 Assunto: RES: [Fale Conosco] - Dr. Oetker Brasil Para: [email protected] Olá, Marta! Em auditoria, verificamos que o seu e-mail não foi respondido, desta forma pedimos desculpas pelo atraso na resposta. Informamos que não podemos divulgar dados como planejamentos estratégicos, briefing, buget, faturamento, entre outras informações para elaboração de trabalhos acadêmicos e pesquisas, trata-se de uma norma determinada por nossa matriz na Alemanha. As informações disponíveis sobre a nossa empresa encontram-se em nosso site: www.oetker.com.br Atenciosamente. De: Marta Aparecida Pereira da Rocha Costa [mailto:[email protected]] Enviada em: sexta-feira, 6 de julho de 2012 09:34 Para: BR-0707_MID_Canal_Aberto Assunto: [Fale Conosco] - Dr. Oetker Brasil

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ANEXO I – Email recebido do fabricante do Rótulo 2 De: [email protected] Data: July 5, 2012 9:42:53 AM GMT-03:00 Assunto: RES: Pesquisa com rótulos Para: [email protected] Olá Marta, Agradecemos o seu contato. A estrutura da Dona Benta possui um departamento de artes gráficas onde são desenvolvidas e definidas as artes de todas as nossas embalagens. Em alguns momentos, para desenvolvimento de alguns projetos, contratamos o serviço de uma agência. Em nossa empresa também temos uma profissional de "Assuntos Regulatórios", que é responsável pelos dizeres legais constantes nas embalagens. Esperamos tê-la ajudado. Atenciosamente, Relacionamento com o consumidor Dona Benta. Receita de Carinho. 0800 726 2020 www.donabenta.com.br

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ANEXO J – Email recebido do fabricante do Rótulo 3 De: [email protected] Data: July 17, 2012 10:09:37 AM GMT-03:00 Assunto: RETORNO Para: [email protected] MARTA, bom dia! Conforme solicitado, explico como fazemos as embalagens da VILMA ALIMENTOS. Tanto o produto quanto os dizeres técnicos das embalagens da VILMA são realizados por um engenheiro de P&D – formado em engenharia de alimentos. As chamadas e/ou dizeres de marketing são realizados pelo diretor de marketing. As artes são feitas pelo setor de designer da VILMA ALIMENTOS. O modo de preparo é baseado nos testes práticos realizados para o desenvolvimento do produto. O objetivo é facilitar ao máximo e aproximar de todo tipo de público. Caso tenha ficado algo sem resposta, por favor, comunicar-me. Att.; Fernanda Andrade de Oliveira Groppo Engenheira de Desenvolvimento Telefone: (31) 3507-3426/ 3551 e 9249-4649 [email protected] Domingos Costa Indústrias Alimentícias S.A

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ANEXO K – Email recebido do fabricante do Rótulo 4 De: [email protected] Data: July 17, 2012 10:43:13 AM GMT-03:00 Assunto: Re: pesquisa sobre rótulos Para: [email protected] Marta, bom dia. Todas as informações contidas nas nossas embalagens são elaboradas aqui mesmo na Santa Amália mas especificamente por mim que sou gerente P & D (formada em farmácia bioquímica) e conferidas por assistentes (farmacêuticos e engenheiros de alimentos). Se precisar de mais informações estou a disposição. Att. ----- Original Message ----- From: "Marta Rocha Costa" <[email protected]> To: <[email protected]> Sent: Monday, July 16, 2012 2:38 PM Subject: pesquisa sobre rótulo.