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Brasil, 2000 Subsídio de Formação nº 3 Associação Nacional dos Leigos Amigos de Murialdo - ANALAM LEIGOS AMIGOS DE MURIALDO EM AÇÃO Chamados a agir no mundo

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Brasil, 2000

Subsídio de Formação nº 3

Associação Nacional dos Leigos Amigosde Murialdo - ANALAM

LEIGOS AMIGOS DE MURIALDO EM AÇÃOChamados a agir no mundo

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SUMÁRIO

Apresentação .........................................................................................45

A EXCLUÇÃO E O COMPROMISSO1 A Realidade da Exclusão..............................................................................472 Buscando as Raízes ...........................................................................483 A Prática de Jesus....................................................................................494 A Vivência de Murialdo...........................................................................505 Seguindo Exemplo................................................................................51

. . .O ECA E A CONQUISTA DE DIREITOS

1 O que havia antes.......................................................................532 Como surgiu o Estatuto da Criança e do Adolescente?.................543 A Nova Lei.........................................................................................55

3.1 A Mutação Social....................................................................554 O ECA e o Leigo Amigo de Murialdo..............................................57

MODO DE EDUCAR DE MURIALDO1 Visão Sobrenatural do Jovem – Sujeito da Educação .......................592 Os Meios a Serviço da Personalidade do Jovem............................59

O QUE É METODOLOGIA1 Um Método Recomendável...........................................................622 Metodologia Autoritária e Dominadora............................................633 Método Paternalista ............................................................................634 Método Liberal..............................................................................635 Metodologia Democrática................................................................64

METODOLOGIA DA AÇÃO DO LEIGO AMIGO DE MURIALDOAção Assistencial...........................................................................64Ação Solidária...........................................................................65Ação Transformadora...........................................................................65

AÇÕES ESPECÍFICAS DOS LEIGOS AMIGOS DE MURIALDO1 Organizações de um Núcleo da ANALAM.....................................662 Apoio e Promoções....................................................................673 Formação dos Leigos Amigos de Murialdo......................................684 Programas de Atendimento Direito a Crianças e Adolescentes..........695 Lazer.......................................................................................706 Presença dos Religiosos nos Núcleos dos Leigos.............................71

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Leigos Amigos de Murialdo em ação - chamados a agir no mundo

APRESENTAÇÃO

A Associação Nacional dos Leigos Amigos deMurialdo – ANALAM, no final de abril de 1995, realizouo III Congresso Nacional com o tema: “Metodologia da

Ação do Leigo Amigo de Murialdo”.

Toda uma riqueza feita de encontros de leigos provenientes dediferentes núcleos, feita de aprofundamento de temas, de reflexão edebates, de celebração, de apelo a um compromisso com a formação eação mais eficazes... tudo isso, ao final, deveria se enquadrar em formade subsídio, esse que agora apresentamos.

Competia ao Conselho Formativo recolher esse conteúdo. Tarefaagradável e ao mesmo tempo exigente, pois que restava apenas o recursoda palavra, quanto muito ilustrada por um desenho para torná-la maisexpressiva. Tentou-se fazer o melhor para passar com fidelidade a riquezavivida no conjunto do Congresso.

Apresentamos o Subsídio número 3, que traz o título “Leigos Amigosde Murialdo em Ação”. Este é fruto, antes de tudo, da contribuição doscongressistas, sobretudo, das conclusões do trabalho das oficinas e dassessões plenárias que buscaram respostas possíveis e viáveis para asperguntas: O que fazer? Como fazer? Por que, com quem e para quemfazer?

O presente subsídio é decorrência natural do primeiro desta sériede materiais de formação: Quem é o Leigo Amigo de Murialdo, suaidentidade, mística e espiritualidade e, do segundo: Educação do Coração.

Ao Leigo Amigo de Murialdo cabe percorrer com interesse e atençãoessa seqüência de temas:

1. Após dar-nos conta da realidade da exclusão das crianças eadolescentes empobrecidos;

2. Deixemos que o Estatuto da Criança e do Adolescente (LeiFederal 8069/90) incomode nossas consciências e nos conclame para

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ações audazes de resgate dessas vidas marginalizadas;

3. Inspirando nossa ação num insuperável santo e educador:Murialdo.

4. Não será demais parar para entender o que vem a ser“Metodologia”, pois é o tema desse subsídio e do Congresso;

5. Para finalmente dar-se conta de tantas ações possíveis queum Leigo pode e deve fazer.

O Conselho Formativo tem a convicção de estar colocando a seualcance mais um subsídio de bom nível, exatamente porque elaboradocom a contribuição de tantos leigos. É sempre assim: o que sai com jeitode mutirão acaba tendo um gosto irresistivelmente bom.

Só resta agora dizer: bom proveito para sua formação, para aformação e ação do seu núcleo.

Conselho Formativo da ANALAMCaxias do Sul, junho de 2000

Ano do Centenário da Morte de Murialdo

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A EXCLUSÃO E O COMPROMISSO

O que segue quer recordar o compromisso exigente de nossa fé edo verdadeiro amor às crianças como Murialdo nos inspira, tendo emvista as situações complexas em que estamos inseridos.

1. A REALIDADE DAEXCLUSÃO

“Irmãos, voltem a olharem torno de vocês. Vejamquantas crianças pobres esem rumo vagueiam pelasruas e praças. Quantosmeninos órfãos eabandonados não têm quemlhes ensine o nobre ealtíssimo destino de homem e que lhes enamore da virtude.” (Murialdo)

• Alguns dados abaixo ilustram a realidade ampla da exclusão nopaís:

• mais de 1 milhão de crianças estão nas ruas;

• 18 milhões de crianças moram com famílias com renda per capitade no máximo1/4 do salário mínimo. Com isso não se compra 1 litrode leite por dia;

• há 5 milhões de crianças desnutridas no Brasil;

• 45 milhões de crianças e adolescentes vivem, no Brasil, emcondições subumanas;

• 25 milhões de crianças vivem em condições de alto risco;

• 5 milhões de crianças sofrem desnutrição crônica;

• 7 milhões de crianças são portadoras de doenças físicas e mentais;

• 32 milhões de brasileiros defrontam-se diariamente com a fome;

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• 2,4 milhões de pessoas vivem em estado de miséria absoluta emSão Paulo;

• 500 mil meninas são prostituídas no Brasil;

• morrem diariamente 850 crianças no Brasil;

• 10 milhões de crianças brasileiras são obrigadas ao trabalhoprecoce.

2. BUSCANDO AS RAÍZES

“É maldito o trabalho que esmaga a vida em botão e despedaça ajuventude em flor. É maldito o trabalho que produz riqueza criando a miséria,que dá alma à máquina e a tira do homem.” (Murialdo)

Claro está que a situação de exclusão, da não consideração dadignidade das crianças, adolescentes, jovens e adultos, tem uma origem,ou seja, é uma situação gerada pelo próprio homem e pelas estruturasinconseqüentes que a forjam. Não é, portanto, algo natural. Mas é algoracionalmente orquestrado.

Há um mecanismo de exclusão que se sustenta a partir de umacultura de morte, ou seja, a promoção do materialismo, do consumismo,do individualismo, da competição... em detrimento da solidariedade, daética, do bem comum...

Essa maneira de pensar, fortemente propagada, vai minando asrelações humanas e criando uma estrutura social que passa a organizaras relações humanas desta forma. Produz-se um sistema organizado detal forma que dificulta as relações sociais fraternas exigindo a exclusãode muitos, enriquecendo poucos e reduzindo países à miséria. Aí aeconomia e a política não são tomadas como meios e instrumentos parao bem comum, mas direcionadas a manter a estrutura.

Ainda acrescenta-se um modelo de desenvolvimento que exclui: ocapitalismo liberal e suas versões, como o neo-liberalismo, onde o lucroé o valor absoluto a ser obtido acima de tudo. Aqui desenvolvimento nãoimplica em aumento das condições dignas de viver, um desenvolvimento

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social. Antes, é a expansão do mercado.

Assim, a hierarquia dos valores é fortemente abalada: o relativo, otransitório é absolutizado; o secundário (os meios) tornam-se essenciais;o “outro” torna-se meu inimigo, concorrente; a criança, o pobre, o velho...um peso. Há uma clara oposição à caridade (amor), uma conspiraçãocontra a vida.

Em linguagem cristã denominamos esta situação de “pecado social”altamente condenável. Mas o pecado social, estrutural, remete-nos aoquestionamento pessoal dado que as estruturas não brotam por geraçãoespontânea. Há que se considerar nossas opções pessoais, nossaaprovação de situação, nossa omissão, o nosso comprometimento namudança, nossa organização (dado que isoladamente somos fracos),nossa noção de solidariedade, caridade...

São Leonardo Murialdo, historicamente, deu sua contribuição paraa formação de uma sociedade mais fraterna. Lembrou-se que foi dosexcluídos e, entre eles os pequenos, que Jesus fez o projeto para seuReino.

3. A PRÁTICA DE JESUS

“Eu vim para que todos tenhamvida e a tenham em abundância.” (Jo10,10)

Comprometendo-se com afraternidade e opondo-se a todaforma de exclusão, realizamos oprojeto de Jesus Cristo que propõe vida.

Jesus Cristo tomou o partido dos desclassificados, excluídos do seutempo; defendeu a viúva, o órfão, as crianças, os doentes... enfim, ospobres. Viveu com toda intensidade o amor de Deus pelos fracos e, dianteda vida dos mesmos, condenou leis e estruturas injustas e a tirania dopoder.

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Convocou todos a optarem pelo Reino de Deus, a mudarem asrelações. Propôs o amor às crianças, convidou todos a acolhê-las: “Aqueleque receber uma destas crianças por causa do meu nome, a mim recebe.”(Mt 9,37) Mais: “aquele que não receber o reino de Deus como uma criançanão entrará no Reino.” (Mt 18,3). Ele quer nossa abertura para o amor.Só assim poderemos fazer parte do Reino que já é das crianças: “Deixaivir a mim as criancinhas, pois delas é o Reino dos Céus.” (Mt 19,14)

Precisamos nos imbuir da prática de Jesus e de sua presença. Eleexperimentou a rejeição dos poderosos, foi considerado infrator econdenado à morte quando defendia a justiça e o amor aos pequenos.

A história está à procura de novos e verdadeiros educadores cristãos,e cheios de amor pela vida.

4. A VIVÊNCIA DE MURIALDO

“Se Deus está do ladodos pequenos e nós nãoestamos, então o problemasomos nós.” (Murialdo)

Murialdo viveu nocomeço da era industrial, naEuropa. Iniciou seuapostolado sacerdotal naperiferia de Turim, sua cidadenatal na Itália. Os marginalizados e os abandonados foram os seus“formadores” e “mestres”.

Vivendo, falando com eles e amando-os, amadureceu as suas idéiase permitiu que se formasse nele uma clara e corajosa consciência social.É a partir da certeza existencial do amor infinito, pessoal, terno, atual emisericordioso de Deus que Murialdo fez uma opção pelos pequenosmarginalizados. Nesta descoberta de fé, priorizou aqueles que eramdesamados, excluídos. Sua fé exigiu um posicionamento social: “É precisoamá-los, acolhê-los em ações concretas.” E dizia ainda: “Se Deus estádo lado dos pequenos e nós não estamos, o problema somos nós”.

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Partiu da ação globalizante, tendo uma visão educativapersonalizada, de “muitas faces”, integral, nos limites do possível. Acolheua possibilidade de renascer e recuperar a situação. O problema social,para ele, era também um problema educacional necessitando de um agirimediato.

Com dinamismo e dificuldades, passou a operar ativamente nacomplexa realidade: socorre os feridos de uma sociedade desigual, devolvea consciência de classe, capta forças, soma energias, dinamiza as outrasobras, vai além do institucional, compromete autoridades, envolve leigos,preocupa-se em acolher, orientar e integrar gradativamente as criançase adolescentes na família, no trabalho e na sociedade.

Constantemente, buscou o novo, oferecendo alternativas e meioseficazes. Denunciou as forças geradoras das injustiças. Buscou ser vida,partilhar, escutar e entender sem prejuízos e preconceitos o mundo, ascoisas dos pequenos sem voz e sem vez. Interessou-se pelos seusproblemas e foi ao encontro de suas famílias. Proporcionou um lugar aeles possibilitando reescrever a identidade pessoal e coletiva, asolidariedade e a qualidade de vida.

Seu trabalho foi sustentado e continuado graças a uma preciosacolaboração de muitos leigos responsáveis na causa da promoção sociale da fé.

5. SEGUINDO O EXEMPLO

“Muitos dizem que amam os pobres, os operários, o povo. Mas oque fazem, o que sofrem por eles?... Sem a caridade de Cristo não podeexistir verdadeiro amor aos pobres, aos humildes, ao povo e à sociedade.”(Murialdo)

A realidade que aí está pode terdois caminhos: a da continuidade (per-manece excludente) e o da trans-formação (concretiza o sonho de Deus,de Murialdo) mesmo que lentamente.

O compromisso do cristão e do

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Leigo Amigo de Murialdo é justamente contribuir para a realização doReino de Deus (partilha, justiça, novas relações, vida...)

A exemplo de Jesus e de Murialdo nós também somos chamados adar nossa contribuição histórica e significativa, sintonizantes com nossotempo: “...capta as vozes vivas do universo, da tua gente, da tua cidade,da tua pátria, as vozes dos que sofrem, dos pobres, dos oprimidos”(Murialdo), transformando a realidade.

Claro está que o impacto e a indignação perante a realidade sãonecessários, mas não bastam. O envolvimento sincero e audaz é oimperativo que brota do carisma da família de Murialdo, de nossaconversão ao Evangelho do qual a justiça é constitutiva.

Existem organismos e movimentos em âmbito local que já estão sepreocupando com a realidade dos excluídos. Por que não conhecê-los,participarmos deles e aprender? A nossa ação, se não for organizada,não será nem eficiente e, muito menos, eficaz. O nosso tempo é preciosoe muitas vezes escasso. Deve ser gasto em algo significativo: a vida dospequenos.

No grupo dos Leigos Amigos de Murialdo, cada leigo deve sefortalecer no mesmo ideal, encontrar sempre mais razões para se envolverexistencialmente com a espiritualidade murialdina e sua intrínsecaexigência transformadora. Não é demais recordar que nossa ação deveconsiderar a criança como prioridade absoluta, sujeito de direitos e que é

dever da família, dacomunidade, dasociedade em geral e dopoder púbico asseguraros seus direitos.

Certamente nãofaltarão graça de Deus eas bênçãos de Murialdopara nos encorajar.

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O ECA E A CONQUISTA DE DIREITOS

Neste capítulo buscar-se-ácompreender a nova formulaçãoda política de direitos introduzidapela Lei Federal 8069/90, oEstatuto da Criança e doAdolescente – ECA.

Acreditamos também, queao se tratar do tema: “LeigosAmigos de Murialdo em Ação”,esse assunto não pode seromitido. O ECA está para essa ação, assim como esses leigos estão paraas crianças empobrecidas. Conhecer o ECA é preciso; aplicá-lo, éimperativo, urgente.

1 O QUE HAVIA ANTES

1830 – No Código Penal do Império e depois no Código Penal daRepública (1890) havia já referências sobre o “menor”, quando se falavade responsabilidades. Adotavam regulamentos às pessoas de até 17 anosque praticavam “ações criminosas”. Obedecia-se à mesma lógica dos“infratores” adultos – penalização do delito e reclusões.

Vale lembrar que o final do século XIX é um período conturbado,marcado pelo crescimento das metrópoles, abolição da escravatura ecriação da força de trabalho livre. Aparecia a “delinqüência” e “vadiagem”com o trabalho infantil.

• 1891 – Decreto-Lei 1313 – Regulamenta as relações trabalhistas(limite de idade e carga horária) de crianças e adolescentes nas fábricas.A preocupação era de cortar a “delinqüência” e a “vadiagem” com otrabalho infantil.

• 1921 – Lei 4242 – inicia-se a organização do serviço de “assistênciae proteção à infância abandonada e delinqüente”.

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• 1927 – Surge o primeiro “Código de Menores”. Os “menores” sãodefinidos como delinqüentes (efeito) e “abandonados” (causa). EsteCódigo estabelece a figura do Juiz de Menores. Os “menores” deveriamser alvo de uma ação mais decisiva do Estado.

• 1940 – O novo Código Penal amplia o limite da irresponsabilidadepenal para 18 anos.

• 1941 – Nasce o “Serviço de Assistência a Menores” (SAM), quesegue a lógica do sistema penitenciário adulto. A idéia é de que o menordelinqüente ou abandonado precisa de um processo de ressocializaçãoatravés da coerção para sua reintegração na sociedade. Faz-se com o“pão e a palmatória”, isto é, a assistência e a punição.

• 1964 – O governo militar cria a Política Nacional do Bem-Estar doMenor (PNBEM). Esse sistema cria a FUNABEM e as FEBEMs. Buscandomudar a política do SAM, a nova medida acaba adotando a mesma lógicacarcerária anterior.

• 1967 – Lei 5258 – Faz retrocesso, voltando a equipar critérios depenalidades para “menores” e adultos.

• 1979 – Lei 6697 – Traz o novo Código de Menores. Em suapolítica resguarda a sociedade e a prioridade, omitindo a culpa do Estadoe incriminando pais ou responsáveis. Fortalece a figura do Juiz de Menorescom plenos poderes e a medida da internação como a grande solução daressocialização.

2. COMO SURGIU O ESTATUTO DA CRIANÇA E DOADOLESCENTE - ECA?

O ECA surgiu de uma intensa mobilização nacional, por ocasião daAssembléia Nacional Constituinte. Em julho de 1987, entidades dasociedade civil elaboraram a Emenda Popular “Criança PrioridadeNacional”, que numa mobilização nacional foi apresentada ao Congressocom mais de 250 mil assinaturas.

Com tais pressões, inclui-se na Constituição Federal de 1988 osartigos 204, 227 e 228:

Art. 204 – Assistência social com ações descentralizadas em diretrizes

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político-administrativas e a participação da população na formulação depolíticas e controle das ações.

Art. 227 – Assegura-se, com absoluta prioridade, os direitos básicosda infância, como dever da família, da sociedade e do Estado.

Art. 228 – Inimputáveis os menores de 18 anos de idade.

3. A NOVA LEI

O ECA faz uma verdadeirarevolução brasileira na concepçãode “menoridade”. Funda-se nacompreensão da criança e doadolescente (não “menor”) comocidadãos. Até então “menor” eramos “irregulares e trombadinhas”,“infratores”, “pivetes”, os “anor-mais”, “crianças e adolescentes”são agora, como tais, meni-nos(as), jovens. Antes eram vistoscomo pessoas em “situaçãoirregular”, agora como “pessoasem condição peculiar de desen-volvimento”. Em “situação irregu-lar” é vista a sociedade, o Estado,onde quase 50% de sua popu-lação infanto-juvenil está vivendoem situação de miséria.

3.1 A MUTAÇÃO SOCIAL

Assim, o ECA cria condições legais para que se desencadeie umaverdadeira revolução, tanto na formulação de políticas públicas como naestrutura de funcionamento dos organismos que atuam na área.

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a) Mudanças de Conteúdo

• O ECA passa do enfoque da “situação irregular” para a “proteçãointegral”. Isto abrange:

• as políticas sociais básicas como saúde, educação, habitação,trabalho, lazer, profissionalização...;

• as políticas de cunho compensatório para os que dela necessitampelas privações das anteriores;

• as ações na área da assistência médica, psico-social e jurídica acrianças e adolescentes vitimizados;

• defesa jurídico-social de criança e adolescentes envolvidos emquestões legais.

Os destinatários da nova lei não são apenas os “menores emsituação irregular”, mas todas as crianças e adolescentes do Brasil.

b) Mudanças de Método

Considera-se, a partir do ECA, as crianças e adolescentes como:

• “sujeitos de direito”;

• “pessoas em condição peculiar de desenvolvimento”;

• “prioridade absoluta da ação”.

Este tipo de mudança implica numa revisão dos métodos dosprogramas de atendimento:

• criança não é objeto de intervenção disciplinar, técnica ou jurídicapor parte da família, sociedade ou Estado;

• devem ser promovidos a consideração e o respeito pelas suaspotencialidades e limitações em cada fase de seu desenvolvimento;

• são a prioridade no recebimento de socorro, precedência noatendimento por órgãos ou serviços de qualquer poder e qualquerpreferência na formulação e execução das políticas públicas,privilegiadas nos orçamentos.

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c) Mudanças de Gestão

As políticas e programas se sustentam em dois princípios básicos:a descentralização político-administrativa e a participação dascomunidades através de organização representativas na formulação depolíticas e no controle das ações.

As ações da União e dos Estados são restringidas para aumentaras competências e responsabilidades dos municípios e comunidades.

Criam-se, em âmbito nacional, estadual e municipal, com cunhoparitário, os Conselhos de Direitos, órgãos deliberativos e controladoresda Política de Atendimento. Para garantia dos direitos cria-se o ConselhoTutelar em cada município.

4. O ECA E O LEIGO AMIGO DE MURIALDO

Durante sua época, Murialdo conviveu e se sensibilizou com odesrespeito à infância. Envolveu-se com a legislação italiana e com açõesatravés de programas que garantissem os direitos das crianças eadolescentes. Havia necessidades de políticas básicas. A esfera social eassistencial passava, necessariamente, pela política.

Parece crescer a consciência de que a maior riqueza de uma naçãoé o seu povo. E que o maior patrimônio deste povo são suas crianças.Para Murialdo “o que existe de mais precioso numa sociedade são suascrianças”.

Junto ao cultivo da própria fé, na experiência cotidiana daespiritualidade, o Leigo Amigo de Murialdo, na realidade conflitiva da vidainfanto-juvenil empobrecida do Brasil, é chamado também a dartestemunho. O ECA compromete a todos: crianças, adolescentes eadultos. Chama a uma mobilização social para a conquista de direitos.

O que o Leigo Amigo de Murialdo pode fazer:

• conhecer o ECA;

• ser militante do mesmo;

• participar das ações da comunidade na política de direitos dainfância e adolescência, tais como: encontros, mobilizações, estudos,etc...

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• envolver-se nas mobilizações para as eleições do Conselho Tutelar;

• sensibilizar as autoridades para a garantia dos direitos das criançase adolescentes empobrecidos, fazendo pressões quando forpreciso;

• como projeto de vida, adotar uma postura de defesa da vida e dosdireitos das crianças e adolescentes;

• realizar ações – promoções concretas, para garantir os direitosbásicos das crianças e adolescentes;

• participar dos Conselhos de Direitos e Fóruns.

MODO DE EDUCAR DE MURIALDO

A prática educativa de Murialdo eraanimada pelo zelo da salvação da alma dojovem, sobretudo do pobre, abandonado eoperário, e orientada claramente pela visãohumana e sobrenatural da realidade.

Essa prática apoiava-se essencialmentena convicção de que o jovem é o centro e ointeresse da obra educativa, onde oseducadores formem um grupo homogêneo, queatravés da reciprocidade da ação e da amizadeformem uma eficiente família educativa, onde entre o jovem e o educadorse estabeleça um clima de mútuo respeito, estima e autêntica afeição.

A maneira de educar de Murialdo resulta da experiência e seriedadecomo características de seriedade e estímulo ao empenho pessoal:instrução religiosa freqüente e acurada, exercício da piedade, sobretudoeucarística e mariana, adaptadas à psicologia juvenil, freqüência voluntáriaaos sacramentos.

Deter-nos-emos a examinar as premissas das idéias, o clima devida habitual que envolvia Murialdo e no qual se engajaram seuscolaboradores jovens.

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a) ele era e agia, sobretudo, como sacerdote, com mentalidadee entendimento sacerdotal, percebia no jovem uma alma redimida pelosangue de Jesus Cristo, com um destino eterno e sobrenatural;

b) como educador, Murialdo sabia que, sendo a educação umaobra pessoal de cada um, ele ocorria:

• conhecendo-se o jovem que vai ajudar a educar-se, o ambientefamiliar e social do qual ele provém e também no qual ele deveráinserir-se na vida adulta;

• auxiliando-se o jovem a formar uma mentalidade cristã, a ter umavisão cristã da realidade e uma cristã hierarquia de valores;

• ajudando-se e tentando introduzi-lo no contato com Deus, mediantea prática religiosa e o exercício da virtude.

1. VISÃO SOBRENATURAL DO JOVEM – SUJEITO DAEDUCAÇÃO

Murialdo compreendia e valorizava claramente a função educativacomo o serviço inteligente e ativo, prestado ao jovem, com espírito dehumildade, dedicação, fé e amor sobrenatural. O fim último da obraeducativa eterna do jovem, ele não se cansava de repetir com força ecalor.

Relacionando esta visão de educação ao andamento moral doColégio, Murialdo afirmava claramente a necessidade de uma estável eenergética disciplina. A disciplina, cuja ordem constante e contínuaobservância, previne o mal e sua programação. Ele repetia continuamenteaos jovens: “Vocês estão neste instituto: primeiro, para serem educadoscristãmente e, segundo, para aprenderem um ofício com o qual ganharãoo pão por toda a vida”.

2. OS MEIOS A SERVIÇO DA PERSONALIDADE DO JOVEM

Graças à sua profunda e acurada preparação intelectual, filosóficae, sobretudo, teológica, Murialdo tinha consciência de que a salvação daalma é obra exclusiva da graça de Deus, mas deve ser almejada atravésda livre correspondência e cooperação do indivíduo.

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a) Deste princípio fundamental Murialdo fazia ver aoseducadores a necessidade de conhecer o jovem nos vários componentesda sua realidade: o ambiente familiar, a educação anterior, os hábitosadquiridos, o temperamento...

b) Para Murialdo, no Colégio, devia-se reservar um lugar dehonra para o ensino do catecismo, que era considerado como umprograma, uma bandeira, pois é o catecismo que ensina a moral e leva àfé. O ensino do catecismo buscava unir a teoria à prática. Murialdodesejava que os ensinamentos do catecismo não envolvessem só amemória e, sim, a inteligência e a vontade, por isso a ênfase em unir ateoria com a prática da vida diária.

c) Um dos meios de formação espiritual utilizado por Murialdo,com grande maestria, foi o Retiro Anual, chamado “Exercícios Espirituais”.As preocupações de Murialdo, como educador religioso, constituíam-seno zelo sobrenatural pela salvação da alma, na visão concreta darealidade presente e futura, na busca inteligente dos meios de suscitar ainiciativa pessoal do jovem.

d) No Colégio Artigianelli a assistência cotidiana da Missa pelosjovens fazia parte do Regulamento. Murialdo ensinava que na Missa serecebem graças segundo nossa disposição.

e) Murialdo tinha convicção de que os jovens não são passivos,devem cooperar. Ele sabia bem que a cooperação pessoal é necessáriano plano da graça, por isso sublinhava a importância da freqüência aosSacramentos, especialmente a confissão, mas insistia, sobretudo, nadisposição interior.

f) Inculcando a prática da virtude, Murialdo insistia, sobretudo,na castidade e na pureza. O princípio era vigia para prevenir, e reprimir,enérgica e prontamente, difusão dos vícios.

g) Murialdo ressaltava e falava com coragem das próprias idéiase da importância da coerência da vida com as idéias. Essa é uma virtudesempre difícil, sobretudo no período da adolescência, caracterizada comoa idade da revolta contra os pais, contra os ensinamentos dos educadoresem geral, contra o mundo dos adultos. A adolescência é, ao mesmo tempo,a idade da servidão ao grupo, da imitação quanto ao falar, ao tratar, aoagir.

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Murialdo preocupou-se profundamente com esse drama juvenil,tratou de auxiliar os seus “artigianelli” a superá-lo, valorizando o respeitopela franqueza e pela fidelidade do comportamento.

Profundamente convencido de que a educação é essencialmenteum ato pessoal e interior, e que complete ao educador o fato de revitalizar,individualizar de maneira ativa e responsável a colaboração do jovem,levando em conta a sua ação externa em relação ao ambiente em quevive, Murialdo conservou, aprofundou e divulgou os meios pedagógicosjá em uso no Colégio Artigianelli e em outros institutos educativos de seutempo, a fim de transferir aos jovens a corresponsabilidade do andamentode sua vida cotidiana.

O QUE ÉMETODOLOGIA?

O III Congresso-AssembléiaNacional dos Leigos Amigos deMurialdo escolheu o tema“Metodologia da Ação do LeigoAmigo de Murialdo”.

É preciso, pois, começar por entender o que seja “método”. Na visãodos Congressos:

Método é: um jeito, um modo, uma maneira.

Organizado(a) para atingir o fim que se quer.

Assim se pode falar numa infinidade de métodos: de escrever, dedar aula, de rezar, de trabalhar...

Entendendo “método” fica mais fácil entender “metodologia” quepode ser “um conjunto de técnicas e processos utilizados objetivamentepara atingir o fim que se deseja” ou, então: metodologia é a ciência quese ocupa do método.

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Subsídio nº 3

1. UM MÉTODORECOMENDÁVEL

O método VER-JULGAR-AGIRé um método prático de formação naação que nos tira do comodismo,desperta o olhar crítico e leva aassumir compromissos com osirmãos na transformação da sociedade e na construção do Reino de Deus.

Esse método é amplamente aceito pela Igreja e pelo MovimentoPopular e parece trazer bons resultados. Vamos ver agora esses passose seus significados:

VER

• é dar-se conta da realidade: os fatos, as situações, osproblemas, os valores:

• é estar por dentro do que acontece, porque acontece e queconseqüência isso traz;

• é dar-se conta em que terra pisamos.

JULGAR

• é iluminar, criticar, controlar a realidade à luz da visão cristã nomundo;

• é lançar sobre essa realidade uma luz nova;

• é ver essa mesma realidade com um olhar novo.

AGIR

• é responder à pergunta: Diante disto, o que fazer?

• é o momento da prática, do engajamento, do compromisso;

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• é pôr as mãos à obra para transformar, para “transfigurar” a realidade.

A eficácia de uma ação dependerá da escolha do método. Talvezseja útil conhecer alguns tipos de método, ou seja, jeitos de fazer, e vercom qual destes nos identificamos no nosso trabalho.

2. METODOLOGIA AUTORITÁRIA E DOMINADORA

É quando o poder é exercitado de forma autoritária, e torna aspessoas objeto de vontade e decisão da pessoa autoritária. A participaçãonão é livre nesses casos. O planejamento é imposto de cima para baixo.É a atitude de alguém que diz “eu sei, eu posso, eu mando, eu determino,...”.As conseqüências de uma metodologia assim são desastrosas para ogrupo: cansaço, revolta, frustração, individualismo, competição, medo,dependência, distanciamento do grupo e não surgimento de novaslideranças.

Dificilmente esse método gera transformação da realidade, mesmoque o método seja VER-JULGAR-AGIR. Aqueles que têm atitude assimimpedem a caminhada do povo ou do grupo.

3. MÉTODO PATERNALISTA

O líder pensa pelo grupo, determina, faz tudo, como um pai ou umamãe faz para uma criança. Esse líder é quem providencia tudo para ogrupo. Essa metodologia gera uma satisfação aparente, passividade,comodismo, egoísmo, resignação e participação submissa, nãoquestionadora.

4. METODOLOGIA LIBERAL

É aquela que permite tudo. Não há questionamento, reflexão e nemcritérios para a tomada de decisões. Como conseqüência, serão poucosos avanços e o grupo faz um caminho superficial e será tentado acaminhar por onde é mais fácil.

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Subsídio nº 3

5. METODOLOGIA DEMOCRÁTICA

É aquela que envolve a todos; forma novos líderes e realiza umaação libertadora. São características desse jeito de trabalhar: o diálogo,a busca em comum da verdade que surge como fruto da participação, apartilha, o poder assumido em conjunto, o respeito, a sinceridade naavaliação, a confiança mútua, a união em torno de objetivos comuns paraconstruir juntos à sociedade que queremos.

Cabe também uma palavra quanto ao exercício de uma boa liderança:seu lugar não é na retaguarda, protegida das balas, nem à frente expostafacilmente ao ataque, mas no meio para animar a luta.

METODOLOGIA DA AÇÃODO LEIGO AMIGO DE MURIALDO

O agir é a resposta que damos àpergunta: O que fazer?

É o momento que deve decorrer do VERe do JULGAR; momento de uma açãotransformadora da realidade que foiconstatada e analisada. É o momento de uma

prática nova engajada, comprometida.

Com a ação se responde aos desafios levantados pelo VER arealidade e se responde aos apelos de Deus para construir a sociedadecom os critérios do seu Evangelho – JULGAR.

Há diferentes jeitos de se fazer uma ação:

Ação Assistencial

É aquela que surge da necessidade de socorrer situações deemergência: enchentes, epidemias, incêndios, fome, guerras... São

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exemplos de ação assistencial as campanhas de arrecadação de roupas,de remédios, de alimentos... Esta ação pode ser ilustrada com a expressão:“dar o peixe”.

Essas ações têm valor enquanto convidam as pessoas a saírem deseu egoísmo e servirem o próximo socorrendo-o numa necessidadeimediata. Não é recomendável, no entanto, ficar simplesmente nesseestágio da ação, pois é um trabalho que não faz referência às causassociopolíticas-econômicas do problema e não faz questionamento àsestruturas.

Ação Solidária

É a ação que se parece com aquela de assistência, só que nessetipo há um passo além: o senso crítico. A ação é refletida e avaliadacriticamente. É quando, antes de agir, nos perguntamos:

• O que fazer?

• Por que fazer o que se faz?

• Por que a situação chegou a este ponto?

• Com quem fazer? Para quem fazer?

• Qual a contribuição e envolvimento da própria pessoa ougrupo que é beneficiário?

• Como fazer?

Ação Transformadora

A ação transformadora supõe antes uma ação libertadora. É precisolibertar da fome, do sub-emprego, das condições desumanas e indignasde vida.

Ação transformadora é aquela onde o povo (crianças, adolescentes,jovens e pobres...) são sujeitos de direitos. É feita com o povo, ondetodos têm vez e voz. Parte das necessidades do povo e desce às raízesdos problemas.

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Subsídio nº 3

Além de “ensinar a pescar” o peixe de que necessita para viver,ajuda na luta pelo direito de acesso ao rio.

É uma ação que não acontece de repente, mas respeita umprocesso: planejar, refletir e avaliar. Por isso requer paciência. A açãotransformadora se parece ao fermento na massa. E é também importantedar os passos possíveis e não acima das condições reais que se tem.

AÇÕES ESPECÍFICAS DOS LEIGOSAMIGOS DE MURIALDO

O III Congresso da ANALAM,em grupos que denominamos“oficinas”, ficou em torno de seisagrupamentos de ações járealizadas pelos núcleos ou emvias de realização: são jeitosconcretos e possíveis de ação:

I Organização de um núcleode ANALAM

II Apoio a promoções

III Formação

IV Programas de Atendimento Direto a Crianças e Adolescentes

V Lazer com crianças e adolescentes

VI Presença religiosa

1. ORGANIZAÇÃO DE UM NÚCLEO DE ANALAM

Supõe:

• sensibilização das pessoas que se quer envolver;

• motivação e pré-disposição para reunir outros leigos que queiram

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aderir à causa;

• formação de uma diretoria, tesouraria e secretária para registros ecomunicação;

• elaboração de um estatuto próprio;

• planejamento das ações e avaliação constante;

• compromisso dos integrantes: pontualidade, responsabilidade eseriedade;

• sintonia com os religiosos e as religiosas que acompanham o núcleo;

• atenção para a formação e oração.

2. APOIO E PROMOÇÕES

Ao definir suas promoções, o núcleo traça com clareza o objetivo ea finalidade das mesmas. Discute em conjunto “o que fazer” e “comofazer”, distribuindo funções e serviços de acordo com cada diferentepromoção. É importante que todos tenham bem clara qual a destinaçãodos recursos a serem arrecadados.

De fundamental importância é o fato de envolver todos os associadosdesde o planejamento da ação até a avaliação da mesma. Na execuçãode uma promoção, sugere-se que os próprios associados atuem, porexemplo, no preparar o ambiente, em servir mesas, em ajudar na cozinha...Com transparência, após as promoções, deve acontecer a prestação decontas.

Alguns tipos de promoções que estão acontecendo nos núcleos:

• almoços, jantas (risoto, galeto, churrasco, sardinha na brasa,macarronada, tripada...);

• rifas, bingos, gincanas (ex. do bolo);

• bailes de casais, festas...;

• colocação de carnês de contribuição;

• apadrinhamento de crianças e adolescentes.

Durante a execução de uma promoção sugere-se o sorteio debrindes.

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Subsídio nº 3

3. FORMAÇÃO DOS LEIGOS AMIGOS DE MURIALDO

Num núcleo de Leigos Amigos de Murialdo, a formação tem porobjetivo capacitar seus integrantes na mística, na identidade, naespiritualidade e no jeito de fazer inspirados em Murialdo. Toda a açãoformativa deverá estar marcada pela convicção de que Deus nos amacom “amor infinito, pessoal, terno, atual e misericordioso”.

Aspectos e temas a serem priorizados:

• identidade, espiritualidade, mística, carisma e ação do Leigo Amigode Murialdo;

• a realidade social, política e econômica e suas conseqüências;

• as causas geradoras da marginalização da criança e doadolescente;

• a família de Murialdo: Josefinos, Murialdinas, Leigos Amigos deMurialdo, Instituto Secular, Mães Apostólicas, colaboradores...

Motivações para a formação do Leigo Amigo de Murialdo:

• para firmar a identidade do mesmo;

• para evangelizar-se e evangelizar;

• para educar o próprio coração;

• para conhecer a experiência de outros núcleos e intercâmbiocom estes.

Espaços e meios para a formação:

• Subsídios elaborados pelo Conselho Formativo e outros;

• boletim “Sementeira”;

• Reuniões próprias de cada núcleo;

• congressos regionais;

• assembléia e congresso nacional;

• retiros;

• celebrações;

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• pastorais sociais;

• participação em cursos e encontros;

• vivência do amor na família;

• periódicos “Agir e Calar” e “Unir para Crescer”.

Sujeitos responsáveis pela Formação:

• próprio Leigo Amigo de Murialdo;

• Conselho Formativo da ANALAM;

• Os Josefinos e as Murialdinas.

4. PROGRAMAS DE ATENDIMENTO DIRETO A CRIANÇAS EADOLESCENTES

Partindo da constatação de que amaior parte dos núcleos dos LeigosAmigos de Murialdo existe para apoiarprogramas que atendem diretamentecrianças e adolescentes em obras dosJosefinos e Murialdinas, a sugestão é deque cada obra:

• esteja devidamente inscrita noConselho Municipal dos Direitosda Criança e do Adolescente;

• participe da vida política e do conjunto social onde está inserida;

• busque parceria com organizações que lutam pela defesa dosdireitos das crianças e adolescentes;

• não substitua as obrigações que o Poder Público tem com asquestões sociais;

• conheça a realidade familiar das crianças e adolescentes;

• tenha uma proposta pedagógica clara e, assim:

- assuma a educação libertadora e transformadora;

- busque o desenvolvimento das crianças e adolescentes emtodas áreas (formação integral);

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Subsídio nº 3

- ofereça um ambiente saudável, atraente, com recursoshumanos e físicos suficientes;

- destaque-se pela educação do coração e educação pela fé;

- destaque-se, ainda, pela capacidade de acolher com amor,pelo diálogo e valorização, assim como, pelo envolvimento eorientação da família;

- que a alimentação seja suficiente e haja cuidados com ahigiene e a saúde;

- aproveite para desenvolver dons e talentos artísticos eculturais;

- invista tempo e recursos na recreação, no esporte e lazer;

- procure, com criatividade de iniciação profissional, despertaro gosto pelo trabalho;

- ofereça cursos profissionalizantes ou encaminhe para escolasde preparação profissional;

- encaminhamento para o trabalho (emprego);

- e, por fim, a obra zele pela formação continuada doseducadores.

5. LAZER

O lazer não é um prêmio; é um direito da criança. Sugere-se comopossíveis ações:

• influir nas políticas de atendimento às crianças e adolescentesquanto ao lazer;

- oportunizar, dentro do possível:

- colônias de férias

- ruas de lazer

- passeios

- prática de esportes (vôlei, futebol, espiribol, basquete...)

- dança

- oficinas de lazer

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- teatros, vídeos, bibliotecas

- atividades específicas na Semana Murialdina e Semana daCriança

6. PRESENÇA DOS RELIGIOSOS NOS NÚCLEOS DOSLEIGOS

A perspectiva é a da condivisão do carisma.

• Os Religiosos podem oferecer ao Leigo:

- momentos de espirituali-dade e formação;

- uma família;

- a partilha da experiência do carisma;

- um campo de apostolado e ação concreta;

- espaços para análise e atuação na realidade.

• O Religioso é chamado:

- a ser agente de estímulo da ação do leigo;

- crescer em qualidade no relacionamento humano:escuta e diálogo;

- apresentar, desde a formação inicial, a importância doleigo como membro da família de Murialdo;

- a ser presença religiosa nos eventos e nas famílias;

- a lembrar que o leigo também retribui;

- a colocar os espaços físicos à disposição das açõesdos Leigos Amigos de Murialdo.

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