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LEITURA, LITERATURA E CIDADANIA Professora Jussara Fátima Quadri

1

Orientadora Renata Adriana de Souza2

Resumo Este artigo pretende considerar a prática da leitura, interpretação e letramento literário, uma vez que aprender a ler e estimular o gosto pela leitura é fundamental para que o indivíduo construa seu conhecimento e exerça a cidadania. A leitura amplia o entendimento do mundo o acesso a informação, o exercício da fantasia e estimula a reflexão crítica, o debate e a troca de ideias elevando a autoestima. Na produção didático-pedagógica trabalhou-se uma unidade didática para incentivar a leitura na sala de aula. A obra Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, serviu de apoio para implementação do projeto que sustenta este trabalho, viabilizando aos educandos percepções críticas e reflexivas. Foram atividades de leitura, embasadas na teoria do letramento literário de Rildo Cosson. Com esse trabalho, pretende-se contribuir para a melhoria da qualidade de ensino, sendo o professor o principal mediador e incentivador. Palavras chave: Leitura. Literatura. Cidadania. Experiência. Motivação.

1 Introdução

Este artigo tem por objetivo expor o processo de produção e aplicação de

uma proposta didática que utilizou como objeto de estudo a obra literária “Meu pé de

Laranja Lima” de José Mauro de Vasconcelos, considerando as características do

gênero para desenvolver atividades de leitura com o intuito de aprimorar o

vocabulário, valorizar o conhecimento e a cultura, motivar e incentivar os alunos

para a leitura oportunizando a criticidade e a reflexão. Buscou-se desenvolver uma

experiência de leitura e interpretação que levasse o aluno a se expressar de maneira

clara e concisa valorizando o conhecimento individual e coletivo, a partir da leitura

da obra em questão.

Considerando que a leitura deve ser discutida constantemente nas

instituições de ensino, uma vez que passamos por grandes mudanças na educação,

é necessário repensar algumas metodologias de ensino-aprendizagem para

compreensão das necessidades do ser humano para o enfrentamento de situações

de ensino-aprendizagem. Aprender a ler e também estimular o gosto pela leitura é

fundamental para o ser humano, pois são diversos os tipos de leitura e os textos que

circulam nas instituições e no cotidiano das pessoas, por isso, a leitura precisa ser

1Especialista em Metodologia do Ensino De Língua Portuguesa pelo Ibepex-FACINTER, professora

efetiva de Língua Portuguesa da Rede Pública Estadual, lotada no Colégio Estadual São Vicente de Paulo EFM de Pato Branco – Paraná.

2 Mestre em Letras, na área de Estudos da Linguagem, pela Universidade Estadual de Maringá –

UEM. Atualmente, cursa doutorado na área de Estudos da Linguagem na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

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uma atividade muito valorizada e atrativa aos educandos, dando-lhes alegria, prazer

e conhecimento.

Muitos leem para ampliar o conhecimento, adquirir informações ou por

descontração. A leitura dá sentido quando se estabelecem relações entre a obra e o

leitor valorizando suas experiências. Por isso, a escolha da obra literária, que serviu

de material de apoio “Meu Pé de Laranja Lima”, veio ao encontro com a realidade

vivenciada por muitas crianças e adolescentes na sociedade, os quais estão em

condições semelhantes ao protagonista, que vivem em situação de abandono e

desestímulo e ao mesmo tempo são criativos, sonhadores e buscam

constantemente uma vida melhor. Nesse sentido, selecionamos o livro em questão e

buscamos desenvolver uma sequência de atividades para despertar o interesse dos

alunos para a leitura.

Segundo Charbonneau (1980), “qualquer que seja o resultado da busca do

adolescente, a interrogação surge em todas as curvas de seu caminho”. No mesmo

momento em que se coloca na vida e percebe sua identidade, começa a questioná-

la, se sente mais humano, se põe a prova, mas não sabe bem quais são as suas

medidas exatas, seus limites. Ao mesmo tempo que afirma com segurança: eu sou

assim e sou eu mesmo, ele se pergunta com insistência quem sou eu? Sentindo-

se em um julgamento e sendo o principal objeto do seu olhar crítico. Ausculta-se

impiedosamente: sonda a si próprio, não sem certa angústia, tenta revelar-se a si

mesmo.

Percebemos na escola que, para a maioria dos educandos, a adolescência é

um tempo de tornar-se independente, de aproximar-se dos colegas, mostrar e

demostrar o seu poder, também distanciando dos pais. Neste período é importante

ressaltar as mudanças físicas e emocionais: sentem-se diferentes dos outros o que

lhes traz angústias e insegurança. Em virtude disso, identifica-se na obra fatos que

assemelham-se a vida de muitos adolescentes, os quais não possuem

acompanhamento familiar, passam por dificuldades financeiras e emocionais e não

possuem incentivo e estímulo para a leitura.

Para estimular e tornar a atividade de leitura prazerosa, repleta de saber e

de sabor, utilizamos atividades de leitura, interpretação e contextualização

embasadas na teoria do letramento literário de Rildo Cosson, mais especificamente,

em sua proposta de Sequência Expandida. A turma escolhida para o

desenvolvimento desta atividade de intervenção foi um sétimo ano do Colégio

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Estadual São Vicente de Paulo onde buscamos trabalhar questões de motivação,

metodologias e disciplina. Acreditamos que a leitura terá objetividade quando se

conhece “na pessoa” de cada aluno sua área de interesse, para que ela possa

tornar-se uma prática que vá além de gostar, procurando uma elevação de

percepção do mundo e para que a motivação ocorra, não devem acontecer

situações forçadas e impostas.

O educador deve fazer do momento de construção do leitor um momento de

tranquilidade, de expectativas e de motivação, pois só assim terá sucesso. Cabe ao

professor criar condições para que o encontro da literatura com o educando seja

repleto de sentido para o aluno e para a sociedade.

2 LEITURA E INTERAÇÃO

2.1 Fundamentação Teórica

Um dos instrumentos essenciais e fundamentais para que o indivíduo

construa seu conhecimento e exerça a cidadania é a leitura. Ela amplia o

entendimento do mundo, propicia o acesso à informação com autonomia, permite o

exercício da fantasia e estimula a reflexão crítica, o debate e a troca de ideias e um

bom leitor é aquele que lê o que está registrado graficamente e produz gestos de

interpretação, que sabe relacionar o que lê com o seu cotidiano para questionar a

obra, analisar, interpretar os vários sentidos possíveis para o texto literário.

Conforme Barboza (1991), durante muito tempo, o livro foi o único suporte

material impresso e seu preço era elevado; como havia poucos livros era comum o

leitor ler uma obra desde a primeira linha da página até a última linha da última

página. O leitor realizava uma leitura integral. Até o final do século XVIII, os livros

eram muito diferentes do que são hoje, e o prazer do leitor não se limitava apenas

ao texto; havia um prazer estético ligado ao aspecto gráfico, onde cada “artesão”

exprimia sua arte.

Sendo a leitura uma prática social, o papel da escola é ensiná-la ao aluno,

pois ao chegar à instituição a criança já é um bom leitor do mundo, atribuindo

significado aos seres, objetos e situações que a rodeiam. A leitura se fundamenta na

escolha de textos diversificados, os quais são lidos em diversas situações. Todo

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leitor para gostar de ler necessita de um tempo de leitura para conhecer e descobrir

o que lhe atrai, assim poderá assimilar e desvendar conhecimentos e culturas.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação Básica –

Língua Portuguesa (DCE, 2008, p.8), "[...] a leitura é um ato dialógico, interlocutivo.

O leitor busca suas experiências, seus conhecimentos prévios e participa da

elaboração dos significados, confrontando com o próprio saber".

Formar leitores na escola é também fazer com que o educando adquira o

gosto de ler textos e obras, e também tenha a capacidade de analisar e

compreender os efeitos de sentido expressos nos mais variados materiais de leitura

e identificar no que lê os elementos básicos que o compõem. Então terá condições

de aproveitar a grande cultura que a humanidade vem acumulando e seus esforços

para vencer dificuldades quando tem acesso a leitura. Esta concepção supera a

noção de que leitura é prazer, porque leitura é prazer, mas não só.

Para Silva3 (2005, apud DCE, 2008, p.57): "[...] a prática de leitura é um

princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura,

pode ficar sabendo quais são as suas obrigações e também pode defender os seus

direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros direitos necessários para uma

sociedade justa, democrática e feliz".

Se ler é uma questão de prática esta pode ser adquirida desde uma

exploração detalhada no processo criativo de uma obra, revelando seus elementos

constitutivos até a mais ampla contextualização, através dos quais o aluno

estabelecerá as relações necessárias para uma leitura produtiva e enriquecedora.

Lendo para despertar a curiosidade, para provocar novas leituras, para

incentivar a crítica acerca dos gêneros que são apresentados permitindo a

construção de um mundo imaginário individual. A leitura deve ser natural,

espontânea para que possa se solidificar aos poucos e ganhar espaço na vida do

aluno e a escola precisa assumir o seu papel de formadora de leitores, para abrir as

portas do mundo através da leitura: “O leitor, na medida em que lê, se constitui, se

representa, se identifica.”(ZILBERMAN. 2005, p.27).

3 DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA- Secretaria de Estado da Educação do

Paraná, Língua Portuguesa. Curitiba: SEED,2008.

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Nessa conjuntura, a leitura do texto literário possui importância primordial na

formação de um indivíduo. Para Candido4 (1972, apud DCE, p.57) “a literatura é

vista como arte que transforma/humaniza o homem e a sociedade. A ela são

atribuídas três funções: a psicológica, a formadora e a social”.

O leitor poderá refletir sobre a realidade que o cerca, identificar-se com a

obra. Ela faz parte da formação do sujeito ao descrever realidades, as quais não são

reveladas pela ideologia que domina. Ela também poderá descrever os diversos

segmentos da sociedade socialmente e humanamente. Quem lê amplia seu

conhecimento a partir da sua experiência cultural.

A literatura não apenas tem a palavra em sua constituição material, como

também a escrita é o seu veículo predominante. A prática da literatura seja pela

leitura, seja pela escrita, consiste exatamente em uma exploração das

potencialidades da linguagem, da palavra e da escrita, as quais têm paralelo nas

atividades humanas. Por essa exploração, o dizer do mundo (re) construído pela

força da palavra, que é a literatura, revela-se como uma prática fundamental para a

constituição de um sujeito da escrita dos textos literários que se desvela a

arbitrariedade das regras impostas pelos discursos padronizados da sociedade

letrada e se constrói de um modo próprio de se fazer dono da linguagem que, sendo

minha, é também de todos (COSSON. 2007, p.16).

A literatura é repleta de saberes do homem e do mundo é através dela que

construímos e reconstruímos o mundo. O leitor deve compreender o texto para

opinar, criticar ou modificar o que leu. É tarefa da escola, na sala de aula, garantir e

promover atividades de leitura de maneira que os alunos possam passar das

situações coloquiais, as quais dominam, para outras áreas de conhecimento

principalmente a apropriação da escrita padrão. É fundamental que o professor

mostre ao aluno o lado informativo e também o lado prazeroso da leitura e que na

escola, sejam criadas expectativas em relações a futuras leituras. Para isso, faz-se

necessário que sejam desenvolvidas atividades que despertem o interesse dos

alunos.

A leitura ajuda a desenvolver a personalidade das crianças, contribui para

estabelecer um conceito global de mundo e auxilia para a apropriação do

4 DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA- Secretaria de Estado da Educação do

Paraná, Língua Portuguesa. Curitiba: SEED,2008.

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conhecimento, por isso não basta somente aprender a ler; ela deve ser permanente

e hoje é indispensável. Nessa perspectiva de construção de conhecimentos a

literatura faz parte do cotidiano da escola e do aluno para auxiliar no crescimento

cultural e social, encorajando o aluno a desenvolver e aceitar novos desafios.

De acordo com Zilberman (1985, p.22) a literatura sintetiza por meio dos recursos da ficção, uma realidade, que tem amplos pontos de contato com o que o leitor vive cotidianamente. Assim, por mais exacerbada que seja a fantasia do escritor, ou mais distanciadas e diferentes as circunstâncias de espaço e tempo dentro das quais uma obra é concebida, o sintoma de sua sobrevivência é o fato de que ela continua a se comunicar com o destinatário atual porque ainda fala de seu mundo, com suas dificuldades e soluções, ajudando-o a conhecê-lo melhor.

A complexidade de um texto depende do leitor a que se dirige, dos seus

conhecimentos prévios e principalmente da realidade que o cerca. Identificar-se com

a narrativa ou torná-la um assunto motivador faz parte de uma maneira pré-

estabelecida em sala de aula, com técnicas organizadas contextualizando os temas

e ligando a experiência do professor a experiência do aluno; estabelecendo assim

uma comunicação com o mundo. Ao escrever uma narrativa o fato dela tornar-se

interessante deve-se à maneira com que ela relaciona-se com o cotidiano e com a

realidade de cada um, independentemente da época em que foi escrita. Baseando-

se nisso percebe-se que as obras sobrevivem quando retratam ou descrevem o

cotidiano do leitor. Tal descrição ou correlação servem de motivação para a leitura.

São muitas as dificuldades acerca da leitura em sala de aula e, para motivar e

incentivar os alunos para a sua prática, a teoria de Rildo Cosson, a Sequência

Expandida, é uma forma metodológica para desenvolver um trabalho mais objetivo.

Para Cosson (2009), a literatura deve ser ensinada na escola. Cabe a escola

ser a principal mediadora e incentivadora para despertar no educando o gosto pela

leitura tornando-a parte integrante de sua formação, pois é através dela que o

educando assimila todos os conteúdos, os quais são fundamentais para a sua

formação e é no ambiente escolar que o aluno tem a possibilidade de ter acesso aos

diferentes textos para a sua formação.

[...] Devemos compreender que o letramento literário é uma prática social e, como tal, é responsabilidade da escola. A questão a ser enfrentada não é se a escola deve ou não escolarizar a literatura, como bem nos alerta Magda Soares, mas sim como fazer essa escolarização sem descaracterizá-la, sem transformá-la em um simulacro de si mesma que mais nega do que confirma seu poder de humanização (COSSON, 2009, p. 23).

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Por isso, a leitura deve ser realizada a partir dos mecanismos que a escola

desenvolve para a proficiência da leitura literária para que o aluno tenha prazer,

sinta-se estimulado, incentivado e tenha compreensão para interpretar sentidos,

criticar e refletir.

Para desenvolver uma leitura mais autônoma fazendo que o aluno sinta-se

mais motivado foi realizado as etapas da Sequência Expandida, sobretudo porque

toda leitura exige uma preparação, onde o autor denomina de “Motivação”. É o

momento em que ocorre a introdução dos alunos no universo do obra a ser lida,

para o educando conhecer o universo da obra, sentindo-se mais motivado à leitura

e capaz de perceber os diversos assuntos que serão abordados.

Na introdução do tema, ocorre a apresentação do autor e da obra com

dados biográficos e bibliográficos, através de pesquisa de campo, foi realizada a

leitura integral da obra como atividade extraclasse e, também, em classe.

A Sequência Expandida apresenta dois momentos de interpretação. Um é a

compreensão global dos textos, incluindo alguns aspectos formais e o segundo

momento da interpretação é o aprofundamento de um dos aspectos do texto que

seja mais pertinente para os propósitos do que deve ser aprendido. A primeira

interpretação foi realizada com introdução da obra na história do aluno leitor,

impressão geral do título e a partir da leitura de cada capítulo onde os alunos foram

estimulados a reflexão e interpretação dos temas apresentados no decorrer da

obra, estudando os elementos da narrativa.

Na segunda interpretação, ocorre o compartilhamento da leitura com outros

alunos da escola através da exposição de cartazes e textos. O leitor traz as suas

experiências de vida e de leituras passadas no momento da interpretação, porque a

leitura é individual, mesmo que duas pessoas leiam o mesmo texto sua interpretação

será diferente e pessoal. É necessário que a escola possibilite expectativas em

relação às futuras leituras decorrentes de textos que serão escritos pelos alunos. Ler

implica motivação, metodologias e disciplina.

Para a contextualização temática é realizada a pesquisa sobre os temas mais

relevantes de acordo com o interesse da turma e palestra sobre Trabalho Infantil e

Diferença Social, ministrada pelo Conselho Tutelar.

Na fase de expansão da Sequência, Cosson (2009) enfatiza a importância de

se destacar os processos de intertextualidade, explorando os diálogos possíveis

com outras obras, tanto as que a precedem quanto as que lhe são posteriores.

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Chegando ao final do tópico voltado para a prática do letramento literário, o autor

aborda formas apropriadas e atuais para a avaliação do processo de leitura do texto

literário.

No processo de interação entre a obra e o leitor é que o texto se constitui, e

partindo da constituição do texto muitos leitores representados pela situação vivida

pelos personagens se identificam com a obra. Assim compreendemos a literatura

como visão de mundo, prática social e invenção a partir da realidade ou da ficção.

As situações vividas podem ser enriquecidas, melhoradas ou até mesmo

modificadas quando houver uma leitura interativa em que o leitor sinta-se estimulado

pela história interagindo com os personagens, pois através do processo da leitura é

possível melhorar sua capacidade de trabalhar o texto literário apropriando-se do

saber. O professor deve oportunizar sempre aos educandos leituras significativas

que contribuam para que ele se torne mais reflexivo e que possa atuar de maneira

crítica na sociedade contribuindo assim para a formação de uma sociedade melhor.

2.2 Metodologia A metodologia desta pesquisa pautou-se no pressuposto de que o professor

é o principal incentivador da leitura, ele deve buscar estratégias com o intuito de

levar o educando a adquirir o gosto pela leitura, sentir-se motivado e valorizado no

ambiente escolar. A implementação em sala de aula visou proporcionar uma

aprendizagem mais significativa, criativa e prazerosa, para isso foi utilizado como

encaminhamento metodológico as etapas da Sequência Expandida de Cosson

(2009), para que o educando identifique as diversas relações entre a leitura e a

realidade que o cerca promovendo a contextualização.

A leitura da obra escolhida, Meu Pé de Laranja Lima, foi realizada em sala de

aula e também extraclasse durante um mês, de maneira que todos os alunos

participassem, sendo que cada aluno tinha um exemplar da obra. Os materiais

preparados foram músicas, atividades de interpretação, cruzadinhas, produções e

reproduções de textos, vídeos, debates e palestras relacionados aos temas

identificados no decorrer da obra “Meu Pé de Laranja Lima” de José Mauro de

Vasconcelos.

2.3 Estratégias de Ação

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O Projeto de Intervenção Pedagógica foi desenvolvido com alunos do 7º ano

do Colégio Estadual São Vicente de Paulo no decorrer do primeiro semestre do ano

de 2012.

A obra literária Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos,

serviu como material de apoio para aplicabilidade do projeto, resultando na

elaboração de uma Unidade Didática, conforme determina a instrução para a

produção a ser elaborada pelo professor PDE-2012.

A etapa de motivação teve início com a apresentação do vídeo “Problema

Social” de Seu Jorge para os alunos assistirem acompanhado do texto escrito

ocorrendo a leitura das imagens e da letra da música, fazendo uma reflexão sobre a

exploração do trabalho infantil, problema, o qual é descrito no decorrer da obra. Ao

assistirem o vídeo ocorreram muitos questionamentos e dúvidas sobre as

atividades realizadas pelos alunos no cotidiano se podem ser consideradas trabalho

infantil. Ocorreu a degustação da fruta “laranja lima” e questionamentos sobre as

lembranças sugeridas pelo gosto. Os alunos falaram sobre seus desejos e seus

anseios.

Na introdução ao tema, para conhecer sobre a vida do autor, José de

Vasconcelos, e sua obra foi trabalhado com os alunos os conceitos de biografia,

biodata e autobiografia, e após, realizaram a pesquisa da biografia do autor e

escreveram a sua autobiografia.

A leitura da obra literária na escola, “Meu Pé de Laranja Lima” foi realizada

inicialmente através do multimídia, porém a pedido dos alunos foi adquirido

exemplares do livro para que todos pudessem realizar a leitura individualmente

durante quinze dias. Foi combinado quais capítulos os alunos deveriam ler, e

também durante as aulas foi feita a leitura em conjunto. Nestes momentos de leitura

na sala de aula, eram realizadas conversações sobre os acontecimentos mais

marcantes, onde pode-se perceber que os educandos vivenciavam a obra, às vezes

riam e em outras até se emocionavam.

É importante ressaltar que durante o tempo que foi realizada a leitura da obra

os alunos estudaram sobre a estrutura da narrativa, foco narrativo, personagens,

narrador, tempo e espaço identificando-os no decorrer da leitura. Para

compreender a relação do texto com outros textos o professor apresentou aos

alunos o vídeo animado da canção “Relampiano” do Lenine.

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O professor fez a correção das atividades com os alunos e verificou as

possíveis dúvidas de interpretação. Em seguida, questionava os educando acerca

das personagens principais da história, e como eles chegaram a essa conclusão. O

professor então mostrou aos alunos que a história apresenta personagens principais

e outras secundárias. Com a ajuda dos alunos, escreveu no quadro o conceito para

personagem principal e para personagem secundária.

Em seguida, solicitou aos alunos que em dupla, descrevessem as

personagens principais identificando as características físicas e psicológicas dos

personagens onde também foi utilizado novamente a música “Relampiano” do

Lenine, para estabelecer uma relação sobre as principais características presentes

no cotidiano dos personagens.

Para a contextualização temática foi necessário ressaltar que, no decorrer

da obra, por diversas vezes, o protagonista, Zezé, sofre agressões físicas devido as

suas travessuras, percebemos que ele não é compreendido como as crianças

devem ser compreendidas. Hoje existe o Estatuto da Criança e do Adolescente. O

ECA é um conjunto de leis que visa à proteção, à defesa dos direitos da criança e do

adolescente. E para conhecê-lo melhor reuniram-se e elaboraram cartazes para

divulgar os direitos das crianças e dos adolescentes.

Os alunos reescreveram as leis com suas próprias palavras, ilustraram e

também tiveram uma palestra com o Conselheiro Tutelar (ex aluno do colégio -

mostrando com isso o valor que a educação tem na vida de cada um) sobre

“Trabalho Infantil e Violência Infantil e Bullying”, a atividade foi estendida as alunos

de outras turmas. Fizeram e organizaram produções de textos sobre o assunto

onde puderam diagnosticar as dificuldades de relacionamento no ambiente escolar

e também os seus anseios e seus desejos de melhoria no convívio com os colegas

na Escola.

Na realização da segunda interpretação os educandos fizeram a

interpretação da obra Meu Pé de Laranja Lima em sua íntegra e, logo após foi

abordado de forma sistemática um capítulo para estudar de forma mais detalhada

os aspectos relevantes, os quais abordam a bondade do menino, pois por diversas

vezes suas ações são sempre julgadas pelas suas travessuras.

Para a expansão foi fundamental destacar as possibilidades de diálogo que

toda obra articula com textos que a precederam ou que lhe são contemporâneos

ou posteriores. Foi um trabalho totalmente comparativo, onde os educandos

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tiveram a possibilidade de pesquisar na internet obras que retratassem problemas

sociais semelhantes aos que foram citados no decorrer da leitura e a partir disso

fizeram uma pesquisa de outras obras que abordam temas sugeridos e produção de

textos narrativos.

Para finalização do trabalho assistiram ao filme: Meu Pé de Laranja Lima e

os alunos reproduziram partes da obra através de textos e desenhos para expor

para a escola.

3 Considerações Finais

As metodologias desenvolvidas no ensino fundamental influenciam na

formação do leitor, uma vez que muitos educandos só encontram no ambiente

escolar espaço propício para realizar o ato de ler podendo questionar, dialogar e

interagir com o texto escrito. Em virtude disso há a necessidade de que a escola

transforme a leitura em uma atividade prazerosa, que motive o aluno a ter um

maior contato com a prática da leitura na escola e também fora do ambiente

escolar.

A Teoria do Letramento Literário de Cosson teve grande importância para a

leitura em sala de aula, pois foi uma maneira organizada de trabalhar a obra na sua

íntegra mostrando ao aluno as suas particularidades e contextualizando-a, o que

tornou a leitura mais interessante e agradável. A metodologia adotada veio para

incentivar os alunos para a leitura, fazendo com que a literatura se tornasse no

ambiente escolar uma atividade corriqueira.

Ler a obra Meu Pé de Laranja Lima reviveu a literatura na escola. Todos se

envolveram, alunos, professores e funcionários se integralizaram na própria obra na

medida em que houve o envolvimento de situações vivenciadas durante a infância,

tal fato decorreu da impessoalidade e espontaneidade da história. No término da

leitura, percebeu-se que os alunos sentiam-se mais motivados e incentivados para

ler a obra em questão demonstrando apreciação à leitura. Os educandos

assemelharam a história a muitas situações do cotidiano. Leitura é uma forma de se

manter informado e de cultura e quem lê constroi sua cidadania.

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA- Secretaria de Estado da

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