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Letramento com gêneros textuais e sua complexidade teórico-prática para o ensino da leitura e da escrita Rosimeire Aparecida Moreira Peraro Ferreira

Letramento com gêneros textuais e sua complexidade ... · teórico-prática para o ensino da leitura e da ... através das atividades pedagógicas de leitura e ... As práticas de

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Reflexão teórica da noção de gêneros

Os estudos sobre os gêneros discursivos/textuais

favorecem diferentes reflexões provenientes de

epistemologias diversas como os estudos

cognitivistas, enunciativos, interacionista

sóciodiscursivos, pragmático-textuais, semióticos,

sócio-retóricos

Para Bakhtin (1997) cada esfera de utilização da

língua elabora seus tipos relativamente estáveis de

enunciados, sendo isso que chamamos gêneros do

discurso”

Os gêneros discursivos são unidades de sentido com

propósitos comunicativos.

Manifestam diferentes intenções do autor como

informar, convencer, seduzir, entreter, sugerir entre

outras.

Em função dessas intenções pode-se categorizar os

gêneros discursivos considerando a função

comunicativa que neles predomina.

O texto jornalístico, por exemplo, caracterizado como

opinativo, informativo, interpretativo e diversional,

obedece às funções comunicativas da atividade

jornalística de persuadir, informar, orientar e divertir.

As funções comunicativas não são os únicos

elementos que configuram um gênero discursivo,

seus propósitos enunciativos dependem das

condições de sua produção e circulação.

Bakhtin (1997) enfatiza que quando fala/escreve ou

lê/ouve, o sujeito ativa seu conhecimento prévio do

paradigma dos gêneros a que ele teve acesso nas

suas relações com a linguagem.

Podemos encontrar outras formulações para o

conceito de gêneros em Marcuschi (2002),

Charaudeau (2004), Bronckart (2003/2008),

Schneuwly (2004)

Diferentes concepções de gênero e de letramento

resultam em diferentes práticas pedagógicas.

A noção de Letramento(s)

Para Magda Soares (2004) Letramento é palavra e

conceito recentes, introduzidos na linguagem da

educação e das ciências linguísticas há pouco mais de

duas décadas, seu surgimento pode ser interpretado

como decorrência da necessidade de configurar e

nomear comportamentos e práticas sociais na área da

leitura e da escrita que ultrapassem o domínio do

sistema alfabético e ortográfico, nível de

aprendizagem da língua escrita perseguido,

tradicionalmente, pelo processo de alfabetização.

“Alfabetizar significa orientar a criança para o

domínio da tecnologia da escrita, letrar significa levá-

la ao exercício das práticas sociais de leitura e de

escrita. O letramento é um processo que se estende

por toda a vida. E em todas as áreas de

conhecimento e em todas as disciplinas aprendemos

através de práticas de leitura e de escrita. Letrar é

função de todos os professores, mesmo porque cada

área do conhecimento tem uma linguagem

específica tanto no campo da informação, dos

conceitos e dos princípios”.

No campo dos estudos linguísticos o termo para

alguns estudiosos adquire a forma plural

“letramentos”. Rojo (2009) utiliza o conceito no

plural, ao afirmar que as abordagens mais recentes

(...) tem apontado para a heterogeneidade das

práticas sociais de (...) uso da língua/linguagem em

geral em sociedades letradas e tem insistido no

caráter sócio cultural e situado das práticas de

letramento.

Caráter multissemiótico da linguagem.

Letramento cultural X Letramento crítico

No letramento cultural há um acordo no sentido de

que o aluno domine o maior número de gêneros, a

fim de que circule, de forma legítima, em variadas

esferas discursivas.

No letramento crítico, a intenção é que o aluno se

aproprie de gêneros específicos ( e não de muitos )

que lhes sejam úteis para agir no mundo ou para

fazer uso em determinadas práticas sociais.

Escola lugar da complexidade e do conflito

Uma abordagem dos gêneros centrada no ensino

de textos das práticas culturais dominantes pode

assegurar a formação leitora e de escrita dos

alunos inseridos em diferentes contextos sociais?

O aluno escreve para quê e para quem?

Quem é este sujeito que diz?

De que lugar os textos anunciam?

É necessário planejar e hoje há uma tendência do

planejamento por sequências didáticas que

explicitam os objetivos e os direitos de

aprendizagem do aluno que se deseja oportunizar

através das atividades pedagógicas de leitura e

escrita.

Nessa perspectiva, ler e escrever promovem a

aprendizagem do aluno sobre a língua em diversas

práticas sociais e culturais.

Os letramentos são portanto,

múltiplos – ligados à vida cultural hoje fortemente afetada pela

globalização e envolvem diferentes sistemas simbólicos como o

cinematográfico e o virtual

dêiticos – ( o agora, hoje, aqui, lá) evoluem e se transformam

segundo condições sócio- históricas, um texto permite possíveis

leituras em certas épocas e não em outras

ideológicos – as crenças a respeito do modo como as

comunidades elegem seus bens sociais apontam

necessariamente para um tipo de ideologia (GEE, 1994) não há

nesse sentido, nenhuma orientação de letramento que não seja

ideológica

críticos – diz respeito ao modo como as pessoas usam textos e

discursos para construir e negociar identidade, poder e capital (LUKE, 2004)

No campo pedagógico há por assim dizer um “campo

de batalha” de letramentos que:

- necessitam ser entendidos a partir de seus contextos sociais e

históricos

- são vistos como frutos das relações de poder

- formatam e são formatados pela cultura

- sofrem interferência de posições ideológicas

- são dinâmicos e determinados pela natureza

econômica (globalização)

histórica

tecnológica (recursos da mídia e internet)

política ( políticas públicas de educação)

Desafio da Escola

Incluir numa sociedade multicultural e grafocêntrica

alunos pertencentes a comunidades de tradição oral

Com a globalização e a progressiva democratização

de acesso aos novos meios de comunicação chegam

à escola sujeitos atravessados pelo processo de

modernização

Que sujeitos se quer formar?

Vídeo on/off

O lugar da escrita nas práticas pedagógicas em tempos

de Internet

Pimentel (2011) postula que a Internet promoveu três tipos de

revolução

A Social – levou as pessoas a se adaptarem aos novos usos do

computador como bancos on-line e compras pela internet

A Linguística – a forma linear do leitura foi desmontada pelo

hipertexto que promove uma ruptura na ideia de completude

aproximando-se do pensamento humano. E a escrita digital

Da comunicação- caracterizada pela velocidade da transmissão

de informações. A necessidade de escrever mais rápido usando

recursos que simulam uma conversa em tempo real fez com que

os internautas desenvolvessem uma variante da língua repleta de

reduções, abreviações e símbolos sempre com o intuito de agilizar

a digitação de palavras, frases e textos.

Em decorrência da revolução linguística e do uso cada vez

mais intenso de computadores e da Internet, surgem novos

gêneros de escrita pertinentes ao meio digital. Alguns

gêneros já convencionados pela sociedade são transportados

para a Internet sofrendo adaptações relativas ao espaço

virtual. Do diário ao blog por exemplo.

A questão da sequência didática

Na Linguística

O trabalho com sequências didáticas permite a elaboração de

contextos de produção de forma precisa, por meio de atividades

e exercícios múltiplos e variados com a finalidade de oferecer

aos alunos noções, técnicas e instrumentos que desenvolvam

suas capacidades de expressão oral e escrita em diversas

situações de comunicação. (Dolz, 2004)

Na Educação

As sequências didáticas são formas de organização do trabalho

pedagógico. Não há uma definição única do que é sequência

didática, mas, como o nome já anuncia, tem como

característica principal a sequencialidade, pois uma atividade

está articulada à outra e deve perseguir os direitos de

aprendizagem dos alunos.

Dos direitos de aprendizagem da leitura e da escrita

☻ ler e compreender textos lidos autonomamente ou por outras pessoas,

☻ antecipar sentidos e conhecimentos,

☻ localizar informações explícitas,

☻ realizar inferências,

☻ estabelecer relações lógicas entre diferentes textos,

☻ ler e interpretar frases, orações, períodos e textos

☻ relacionar textos verbais e não verbais construindo sentidos para os

textos lidos,

☻ planejar a escrita considerando o contexto de produção,

☻ ler e produzir textos escritos em diferentes gêneros,

☻ compreender e fazer uso de elementos de coesão e coerência textuais,

☻ conhecer e produzir diferentes suportes textuais como revistas, jornais,

livros, HQs, fanzines entre outros

☻ conhecer e produzir gêneros textuais diversos reconhecendo seus

contextos de produção e circulação

Ao elaborar uma sequência didática que tem como objeto de

ensino a produção textual é preciso levar em conta

- a contextualização

- a escolha do gênero

- o provável leitor

- o planejamento da escrita

- a escrita

- a leitura e intervenção do professor

- a reescrita do texto

- a revisão final

- o compartilhamento do texto

As práticas de leitura e escrita permitem ao aluno falar de si,

falar sobre e com o outro, falar sobre os fatos e acontecimentos

enfim, tomar a palavra que não é só sua mas atravessada por

diferentes vozes que o constitui.

Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo

que vira no campo dois dragões da independência cuspindo

fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na

semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola

um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele

provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou

sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante

quinze dias.

Quando o menino voltou falando que todas as

borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e

queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo

céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr.

Epaminondas abanou a cabeça:

- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um

caso de poesia.

Carlos Drummond de Andrade

E você professor curte, comenta ou compartilha?

É na escola que a maioria dos alunos terá acesso ao

conhecimento sobre a leitura e a escrita. Cabe a nós

professores, na perspectiva do letramento com gêneros criar

oportunidades de aprendizagens sobre os conhecimentos do

currículo escolar com vistas a participação legítima das

crianças e jovens nas práticas sócio culturais do tempo

presente.