Marco Antonio de Freitas mata e as primeiras listas de aves começaram a ser feitas daquele ano até 1991. Na llha Bimbarras foi iniciado o levantamento em 1992 e finalizado

Introdução: em 2001. Na Ilha de Itaparica foram utilizadas as metodologias de obser-A Baía de Todos os Santos está localizada no Estado da Bahia na sua vação direta auxiliada com um binóculo de aumento 8X40 Zeiss e a colo-

porção litorânea ao norte, delimitada ao sul pela foz do Rio Jaguaripe e ao cação de duas redes de neblina de 12 metros da marca AVINET. Na Ilha norte pelo extremo da Península de Salvador, a qual é localizada no Farol Bimbarras, foram utilizadas apenas as metodologias de observação direta da Barra. Esta é a maior baía que existe no Brasil, sendo de grande impor- com o binóculo 12X50 Bushnell. Estas investidas de campo foram realiza-tância histórica e econômica por ter sido utilizada como primeira capital das em diversas oportunidades e estações do ano, sendo uma média de qua-do Brasil e, até hoje abriga, em parte, a terceira maior cidade do Brasil, tro saídas de campo para cada ano e Ilha. com 3,5 milhões de habitantes na grande Salvador. Esta Baía abriga inú- Resultados e Discussão: meras fozes de rios que deságuam dentro dela, formando muitos estuários Nestes dois inventários foram identificadas 62 Famílias e 210 espécies com manguezais, bancos de areias e lamaçais de vital importância para a (Tabela 1), sendo 207 espécies na Ilha de Itaparica e 191 espécies na Ilha vida fluvio-marinha. Nesta Baía também são encontradas aproximada- Bimbarras. Destas, destacam-se 47 espécies que são dependentes de ambi-mente 55 ilhas e ilhotas de tamanhos variáveis. Entre elas, a maior é co- entes relacionados com a água como rios, lagoas, brejos, manguezais, la-nhecida como Ilha de Itaparica, com cerca de 35 quilômetros de compri- maçais, bancos de areia, praias e o mar da Baía de Todos os Santos, ressal-mento por cerca de 10 quilômetros de largura e ilhotas de apenas 500 me- tando a importância desta região para aves costeiras, limícolas e oceânicas tros quadrados. A grande maioria destas ilhas ainda está coberta pela mata que passam próximo das Ilhas nos períodos de fortes ressacas no mar. atlântica em estágios médios de regeneração, restingas litorâneas de por- Entre as aves marinhas e costeiras destaca-se o registro efetuado por Tei-tes variados, grandes barreiras de arenito de praia com colônias de corais xeira et al, (1993) com um indivíduo do pelicano Pelecanus occidentalis, pétreos, bancos de areia, lamaçais e manguezais que podem ser encontra- observado em 1982 na localidade de Mar Grande na Ilha de Itaparica, sen-dos nas porções oeste e norte de quase todas as ilhas. Pinto (1943) fez uma do até hoje um dos únicos registros desta espécie para a costa Nordestina listagem da avifauna em diversas ilhas da Baía de Todos os Santos, como: do Brasil. Madre de Deus, Curupeba, Frades, Santo Estevão, Vacas, Caípe e Bim- As aves migratórias e oceânicas das Famílias Diomedeidae, Hydroba-barras, todas elas localizadas ao fundo na Baía em sua porção norte. Em tidae, Laridae e Procellariidae, utilizam as ilhas da Baía de Todos os San-1994, Araújo e Sampaio publicaram um resumo com uma listagem das tos como rota de migração e repouso ou mesmo de curtos períodos para a aves encontradas nas mesmas Ilhas visitadas pelo ilustre Olivério Pinto e alimentação como ocorre com Sterna hirundo. constaram que houve uma significativa perda de diversidade deste grupo As aves de hábitos limícolas das Famílias Scolopacidae e Charadriidae nas Ilhas de Madre de Deus, Curupeba, Santo Estevão e Caípe por causa são migratórias em nível regional ou de grandes migrações, como o maça-de ações humanas. Além disso, constataram que as ilhas das Vacas, Frades ricão Numenius phaeopus que depende dos bancos de areia, lamaçais e e Bimbarras apresentavam ainda uma diversidade bem próxima da diver- manguezais da região para repouso e alimentação. O gavião-pescador Pan-sidade encontrada por Olivério Pinto, 52 anos antes; Acrescentaram mais dion haliaetus, migrande da América do Norte, utilizava as lagoas costei-quatro espécies na nova lista e perceberam que, devido aos freqüentes va- ras da região entre Conceição e Barra Grande na Ilha de Itaparica para re-zamentos de óleos e petróleo provenientes de oleodutos da pouso e alimentação, além das espécies de aves endêmicas das regiões cos-PETROBRÁS, houve a diminuição da abundância e riqueza de aves limí- teiras e manguezais da América do Sul e Central como as garças Egretta ca-colas. Para organizar este artigo, foi consultado um dos autores do traba- erulea, Nyctanasa violacea, a saracura-de-mangue Aramides mangle, a fi-lho de 1994, pelo qual soube-se que não existia mais a lista impressa (Da- guinha-do-mangue Conirostrun bicolor e as aves dependentes dos ambi-niela Sampaio, comentário pessoal). entes florestais da mata atlântica que ainda cobrem boa parte das ilhas da

A Ilha de Itaparica é a maior Ilha da Baía de Todos os Santos, e a Ilha Baía de Todos os Santos. Bimbarras se enquadra como a nona em tamanho, com 174 hectares de Lima et al, 2007 registrou a presença do guará Eudocimus ruber numa área e ambas possuem grandes extensões de mata atlântica em estágio mé- porção mais abrigada e estuarina da Baía de Todos os Santos, chamada de dio de regeneração, restingas litorâneas degradadas por empreendimen- “baia de Iguape”, dentro do Estuário do maior rio da Região, sendo este re-tos imobiliários na primeira e uma pequena porção de restinga localizada gistro de suma importância para uma população desta espécie que parece na porção oeste da segunda. Ambas as Ilhas possuem, em sua porção nor- estar se estabelecendo. te e oeste, grandes faixas de manguezais em franco estado de regeneração Além dos registros anteriores, este ano está ocorrendo um fenômeno pelo controle atual mais efetivo da PETROBRÁS contra os vazamentos curioso com a chegada, neste último inverno nas praias de Salvador e de óleo e petróleos que eram comuns até a metade da década de 90 do sécu- Ilhas da Baia de todos os Santos, de mais de 600 indivíduos de pingüim-lo passado. de-Magalhães Spheniscus magellanicus, (Cláudio Sampaio, comentário Objetivos: Pessoal) fenômeno já observado em anos anteriores, mas nunca com um

Apresentar a listagem das aves de duas grandes ilhas da Baía de Todos número tão elevado de indivíduos, sendo registrados, em anos anterio-os Santos, Ilha de Itaparica e Ilha Bimbarras, Bahia. res, sempre a chegada de menos de 10 indivíduos. Nota-se nessa popula-Metodologia: ção de pingüim-de-magalhães, que há um número elevado de indivíduos

Os estudos com aves foram iniciados em 1987 na Ilha de Itaparica, com que chegam às praias com baixo peso corporal, mas muitos foram obser-a orientação do ornitólogo Antônio Cláudio Conceição de Almeida, entre vados e fotografados perseguindo e ingerindo cardumes de sardinhas em as Vilas de Barra Grande e Baiacu, numa trilha de, aproximadamente, 10 praias abrigadas da Baia de Todos os Santos (Cláudio Sampaio, comen-quilômetros em sentido leste/oeste que ligava as duas vilas por dentro da tário Pessoal).

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9 771981 887003 54100

ISSN 1981-8874

Levantamento da avifauna

Todos os Santos: Ilha de Itaparicade duas ilhas da Baía de

e Ilha Bimbarras/Bahia/Brasil

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Tabela 1. Lista das aves encontradas nas Ilhas de Itaparica e Bimbarras, Baia de Todos os Santos, Bahia. Legenda de tipos de ambientes: Mar = praias, manguezais e porção marítima da Baía de Todos os Santos, C=campo, R/L=Rio e lagos; M= mata; L= lago; To = todos. Tipo de registro: F = foto; Obs = observação; Voc = vocalização; Bib = Bibliografias.

Esta listagem segue o padrão do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO) versão 10/06/2008.

Conclusões:Percebe-se, na análise da listagem da (tabela

1), que a diversidade de aves encontradas em al-gumas das ilhas da Baía de Todos os Santos é rela-tivamente alta, principalmente as Famílias e espé-cies dependentes de ambientes costeiros e as ex-clusivas da mata atlântica baiana.

A preocupação com o uso desordenado do so-lo, principalmente na Ilha de Itaparica, deveria ser acentuada por não existirem controles efeti-vos para a faixa de restinga litorânea extensiva-mente ocupada por loteamentos e vilas de pesca-dores. Além disso, ocorre a destruição dos man-guezais para implantação de casas de luxo, ater-ros, condomínios e, o mais absurdo, que é a reti-rada da vegetação de manguezal em algumas ilhas para que haja a formação de praias arenosas onde antes existiam lamaçais. Aliados a esses problemas, existem outros, de grande impacto ambiental, como a pesca com explosivos, a reti-rada de madeira dos remanescentes de Mata Atlântica e a poluição das águas por dejetos sóli-dos e orgânicos das cidades do entorno da baía de Todos os Santos, principalmente Salvador, polu-ição por esgotamento sanitário de dezenas de ci-dades do entorno da Baía ou mesmo dos rios que deságuam nela como o Rio Paraguaçu, Subaé e São Paulo, e a poluição química propiciada pelas indústrias do Centro Industrial de Aratu e da Refi-naria Landulfo Alves.

É de suma importância que os órgãos ambien-tais façam fiscalizações mais eficientes nesta re-gião de elevada diversidade biológica para ga-rantir a função dos ecossistemas envolvidos na área da Baía de Todos os Santos.

Agradecimentos:Agradeço, especialmente, ao biólogo Antô-

nio Cláudio Conceição de Almeida pelo incenti-vo e orientação na minha iniciação como obser-vador de aves já no ano de 1987, onde possuía apenas 16 anos, à Daniella França pela revisão do manuscrito e ao amigo biólogo marinho Cláu-dio Sampaio por informações pessoais sobre os recentes registros de ocorrência e as fotografias do grande número de pingüins-de-magalhães na nossa região.

Bibliografias:ARAUJO, J.C.C.; SAMPAIO, D.F. Contribuições aos

estudos ornitológicos de Olivério Pinto em Ilhas da Baía de Todos os Santos-BA. Anais do IV Con-gresso Brasileiro de Ornitologia, UFRP, SBO. Re-cife, 1994. p.114.

LIMA, P.C.; LIMA, T.N.C.; LIMA,R.C.F.R. Ocorrên-cia de reprodução do guará Eudocimus ruber (Lin-naeus,1758) na Bahia, em colônia mista com gar-ça-vaqueira Bubulcus ibis (Linaeus, 1758) e gar-ça-azul Egretta caerulea (Linnaeus,1758), no Re-côncavo da Bahia. Atualidades Ornitológicas n 136-março/abril. Londrina, 2007. p-12.

PINTO, O.M.O. Nova Contribuição à ornitologia do Recôncavo (Baía). Papéis Avulsos. Dep. Zool. São Paulo 3:265-284. 1943.

TEIXEIRA, D.M.; OTOCH, R.; LUIGI, G.; RAPOSO, M.A.; ALMEIDA, A.C.C. Notes on some birds of northeastern Brazil (5). Bull. B.O.C. 113 (1). 1993. p 48-52.

Programa de pós-graduação em zoologia aplicada (UESC) Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus-Bahia-cep 46-500-000.

E-mail: philodryas@hotmail.com

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