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    A QUESTÃO DA IMPUNIDADE PARLAMENTARPROTEGIDA PELA IMUNIDADE NO EXERCÍCIO

    DE SUAS FUNÇÕES

    Autora: Líbia Fabíola de Oliveira Chagas

    Orientador: Márcio José de Magalhães Almeida

     Direito 

    PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃOTRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 

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    LÍBIA FABÍOLA DE OLIVEIRA CHAGAS

    A QUESTÃO DA IMPUNIDADE PARLAMENTAR PROTEGIDA PELA IMUNIDADENO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES 

    Monografia apresentada à Bancaexaminadora da UCB (UniversidadeCatólica de Brasília) como exigênciaparcial para obtenção do grau debacharel em Direito.

    Orientador: Professor Márcio José deMagalhães Almeida.

    Brasília2009

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    Trabalho de autoria de Líbia Fabíola de Oliveira Chagas, intitulado ― AQUESTÃO DA IMPUNIDADE PARLAMENTAR PROTEGIDA PELA IMUNIDADE NOEXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES‖, requisito parcial para obtenção do grau deBacharel em Direito, defendida e aprovada, em ___/___/2009, pela bancaexaminadora constituída por:

     ________________________________________

    Prof. Márcio José de Magalhães Almeida

    Orientador

     ________________________________________

    Nome do componente da banca com titulação

     ________________________________________

    Nome do componente da banca com titulação

    Brasília2009

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    Dedico o presente trabalho ao meu esposo,EDVALDO, à minha filha, KAROLLINE e aosmeus pais, fontes de motivação e apoio .

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    AGRADECIMENTOS

     Agradeço a Deus pela inspiração e ao meu orientador, Márcio José deMagalhães Almeida, pela preciosa colaboração.

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    "Quando os homens são puros as leis sãodesnecessárias; quando os homens sãocorruptos, as leis são inúteis."

    Disraeli

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    RESUMO

    CHAGAS, Líbia Fabíola de Oliveira. A questão da impunidade parlamentarprotegida pela imunidade no exercício de suas funções. 2009. 65 f. Trabalho deConclusão de Curso (Curso de Direito)-Universidade Católica de Brasília,Taguatinga, 2009.

    Este trabalho é fruto de pesquisa sobre a questão da impunidade parlamentarprotegida pelo instituto da imunidade. A imunidade parlamentar é um instrumento deproteção do Poder Legislativo. Porém, com a incidência ―gritante‖ de crimesenvolvendo parlamentares, o Congresso se viu pressionado pelos diversos

    organismos da sociedade, que clamava por justiça, resultando nas alterações doinstituto, por meio da Emenda Constitucional n.º 35 de 2001. No presente trabalhoverificou-se, em seu breve apanhado histórico, que o instituto da imunidadeparlamentar teve seu primeiro marco com a revolução inglesa, que sob a égide deuma monarquia, fazia-se urgente conceder independência ao parlamento, para quecom liberdade expressassem suas opiniões, sem que fossem punidos. Naseqüência, procedeu-se a análise do instituto, a partir da Constituição Federal de1988, destacando que as alterações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 35de 2001 foram insuficientes para sanar o problema da impunidade, pois em algunsaspectos, mesmo praticando delitos o parlamentar permanece inatingível, já quecom a possibilidade de intervenção das Casas a qualquer momento das fases doprocesso, suspende-se o seu andamento, e com isso, permanece a possibilidade doparlamentar ficar impune até o término do seu mandato. Com relação à prisão, asregras permaneceram praticamente inalteradas, apenas deixando de ser secreto ovoto para decidir sobre a manutenção da prisão. Ao final, expõem-se os aspectospositivos e negativos do instituto, concluindo-se que o mesmo carece,fundamentalmente, da presença de conduta ética e moral por parte dosrepresentantes do Poder Legislativo. Assim, almejando o aprimoramento do instituto,e para que a justiça seja praticada, sugere-se a introdução de EmendaConstitucional, para corrigir as falhas, quanto à imunidade formal, suprimindo apossibilidade das Casas intervirem no curso de um processo instaurado, e que o

    parlamentar deixe de ter foro privilegiado, sendo julgados junto à justiça comum,criando-se para tanto, um rito especial, mais célere; além disso, a exclusão dequalquer exceção com relação à prisão do parlamentar, e ainda, buscando tornarimparcial a investigação e o julgamento das denúncias de envolvimento deparlamentares em crimes contra o patrimônio público, entre outros que ferem odecoro parlamentar, propomos a criação de um órgão julgador autônomo eindependente, composto por membros do Ministério Público Federal, do ConselhoFederal da Ordem dos Advogados e dos representantes do Tribunal de Constas daUnião, para conduzir, analisar e decidir pela cassação ou não do parlamentar, já queseus pares não vêm demonstrando a imparcialidade necessária que o processodemanda.

    Palavras-chave: Direito constitucional. Imunidade Parlamentar. Prisão. Processual.Impunidade. Poder Legislativo. Parlamentar. Emenda Constitucional.

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    INTRODUÇÃO

    Dentro do ramo do Direito Constitucional, um tema que vem despertandopolêmica é o instituto da imunidade parlamentar.

    Com a forte atuação da mídia, trazendo a público diversos casos de crimes

    envolvendo parlamentares, colocaram-se em xeque as exceções garantidas pelo

    instituto, previstas no texto da Carta Magna de 1988, notadamente, no que se refere

    à imunidade processual, que diante de tais fatos, demonstrou ser um instrumento de

    impunidade, agindo em sentido contrário ao que propõe o Estado Democrático de

    Direito.O presente trabalho tem a intenção de procurar demonstrar que mesmo com

    a introdução da Emenda Constitucional n.º 35 de 2001, permaneceram brechas que

    permitem a utilização do instituto para fins pessoais e não em razão da função

    parlamentar, resultando com isso, na continuidade da impunidade acobertada pelo

    instituto.

     A pesquisa do presente tema envolve a questão da falta de ética e conduta

    dos representantes do Poder Legislativo, tanto dos que incorrem na prática de

    condutas criminosas, quanto daqueles que acobertam tais condutas, provocando a

    desmoralização e a conseqüente fragilização do Poder Legislativo.

    Para alcançar o objetivo do presente trabalho, dividiu-se a análise do tema em

    três capítulos.

    O primeiro capítulo traz breve abordagem histórica do instituto, focando-se,

    principalmente, na questão da imunidade processual no Brasil, desde a sua

    concepção, bem como a sua disposição legal nos textos das Constituições

    brasileiras.

    O segundo capítulo aborda o instituto conforme disposto na Constituição

    Federal de 1988, abordando sobre os motivos que implicaram na Introdução da

    Emenda Constitucional n° 35 de 2001, bem como as brechas que ainda

    permaneceram após a sua vigência.

    No terceiro e último capítulo, estão expostos os aspectos jurídicos positivos e

    negativos do instituto, ressaltando o cenário, mais uma vez, de total desmoralização,

    que assola o Poder Legislativo, colocando a incompatibilidade da imunidade formal,

    dentro do atual Estado Democrático de Direito, e sugerindo, ao final, nova proposta

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    de alteração, com o intuito de colaborar com o aperfeiçoamento do instituto, a fim

    vinculá-lo, exclusivamente, às funções que correspondam ao exercício do cargo do

    parlamentar.

    Foi utilizado o método de abordagem dedutivo, com a realização de pesquisa

    documental, através da leitura de livros, imprensa escrita, consultas à Internet,

    consulta à legislação específica, excetuando-se que no terceiro capítulo, o método

    de abordagem utilizado foi o dialético, balisando aspectos positivos e negativos do

    instituto e demonstrando as conseqüências que se apresentam diante de desses

    aspectos, buscando, por meio de uma análise técnica e crítica, demonstrar que a

    norma que disciplina o instituto da imunidade parlamentar, possui falhas, que

    contribuem para o desvirtuamento da sua finalidade, que é proteger o exercício dafunção parlamentar, e não acobertar atos ilícitos, que pela sua natureza devem ser

    submetidos ao rito processual definido em lei.

    É importante instar, que o presente trabalho não tem a pretensão de esgotar o

    assunto, e sim colaborar com o aperfeiçoamento do instituto, apresentando

    considerações para o enriquecimento do tema.

    Finalmente, este trabalho tem ainda por objetivo, cumprir um dos requisitos

    para a conclusão da graduação no curso de Direito da Universidade Católica deBrasília.

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    CAPÍTULO 1 - ASPECTOS HISTÓRICOS DA IMUNIDADE PARLAMENTAR

    1.1 CONCEITO

    Nas palavras de Carlos Maximiliano, a imunidade parlamentar, nada mais é

    do que ―Prerrogativa que assegura aos membros do Congresso a mais ampla

    liberdade de palavra, no exercício de suas funções, e os protege contra abusos e

    violações por parte de outros Poderes Constitucionais.‖1 

    É entendimento doutrinário, de que o instituto da imunidade parlamentar tem

    por finalidade imunizar o Poder Legislativo, isto é, ao contrário de proteger a pessoa

    do parlamentar, tem por objetivo resguardar a Casa Legislativa, permitindo aos

    parlamentares atuarem com autonomia e independência perante os outros poderes

    do Estado.

    Segundo De Plácido e Silva, por imunidade ―[...] entende-se o privilégio

    outorgado a alguém, para que se livre ou se isente de certas imposições legais, em

    virtude do que não é obrigado a fazer ou a cumprir certos encargos ou certa

    obrigação, determinada em car áter geral.‖2 

    Por este conceito, a imunidade é um privilégio, que segundo De Plácido e

    Silva corresponde a: ―[...] um benefício legal (benefício  juris) atribuído às pessoas ou

    às coisas, em certas circunstâncias.‖3 

    Portanto, o significado do termo imunidade designa uma exceção concedida

    legalmente.

     A doutrina conceitua duas espécies de imunidades:

    a) Imunidade processual, formal ou adjetiva  –  trata das regras sobreprisão e processo criminal dos parlamentares, sendo que em relação à

    prisão, inclui-se tanto as de natureza penal quanto civil.

    b) Imunidade material, real ou substantiva  –  (também chamada de

    inviolabilidade), em que os parlamentares são invioláveis, civil e

     ______________  

    1  apud SANTOS, Miguel Angelo Ciavareli Nogueira dos. Imunidades jurídicas: penais,processuais, diplomáticas, parlamentares. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003. p. 149.2 SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 418.3 SILVA, 2002, p. 641.

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    penalmente, por quaisquer opiniões, palavras e votos, desde que

    proferidas em razão das funções parlamentares.

    O instituto da imunidade formal garante que o congressista não poderá sofrer

    qualquer tipo de prisão de natureza penal ou processual, seja ela provisória (prisão

    temporária, prisão em flagrante por crime inafiançável, prisão preventiva, prisão por

    pronúncia, prisão por sentença condenatória recorrível), ou definitiva, que é a prisão

    decorrente de sentença condenatória transitada em julgado, ou ainda, prisão de

    natureza civil

    O instituto da imunidade material torna inviolável o congressista, tanto civil

    como penalmente, por quaisquer opiniões, palavras e votos proferidos no exercícioda função parlamentar.

    1.2 ORIGEM

    Quanto às origens do instituto da imunidade parlamentar, destacamos alguns

    ensinamentos, que nos permite conhecer, os primeiros momentos em que se deu a

    presença do instituto da imunidade.

    O Autor Jorge Kunaraka4  nos ensina que a origem do instituto pode ser

    encontrada já nas civilizações de Roma e da Grécia Antiga, tendo em vista que na

    Grécia Antiga já existiam reivindicações de prerrogativas por parte dos que

    defendiam os cidadãos.

    Ensina-nos que em Atenas, no momento das reuniões para discutirem e

    votarem as leis em Assembléia, os cidadãos, ao tomarem a palavra, utilizavam na

    cabeça a ―coroa de mirto‖, que os tornava, naquele momento, invioláveis por

    quaisquer opiniões proferidas, pois este rito tornava a pessoa, naquele momento,

    como ―sagrada‖.5 

    Em Roma, o autor, nos cita a questão da criação do ―Tribuno da Plebe‖, que

    tinha a missão de representar a plebe junto ao Senado Romano. Esses Tribunos

    eram tidos como sacrossantos, o que significava serem intocáveis pelo homem.

     ______________  4 KUNARAKA, Jorge. Imunidades parlamentares. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 92.5 KUNARAKA, 2002, p. 92-93.

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     Assim, é possível observar que o instituto da imunidade parlamentar fez-se

    presente na história do povo grego e romano.

    Nesse mesmo sentido, sobre a Grécia antiga, interessante a abordagem do

    professor Cleómenes Mário Dias Baptista, que menciona, in verbis:

    Reconhecem os filósofos da Antigüidade que não se reconheciam na Gréciavestígios de imunidade pessoal pelo forte sentimento democrático do povogrego, porém, mesmo aí, verifica-se, em várias passagens que os gregos jádenotavam a idéia, segundo a qual alguns deveriam ter um tratamentoespecial em virtude das funções que exerciam, e não do nascimento.Platão, nos Diálogos Socráticos, desvincula os ―melhores‖ do cumprimentodas leis, já que, sendo filósofos que tinham o poder e tinham o profundoconhecimento da vida, tinham eles um parecer melhor, muitas vezes, doque as próprias leis, e, portanto, deveriam ser imunes. Para Platão, adesigualdade social é também necessária na República, que deve

    estruturar-se em três grupos: Os dirigentes, cuja virtude há de ser asabedoria, porque são filósofos, desligados das leis: os guardiães ouguerreiros, auxiliares daqueles na defesa da comunidade e cuja virtude háde ser o valor, e a quem lhes são vedados alguns direitos, como apropriedade, a fim de conservar sua integridade: e, finalmente, os artesãose lavradores, tanto patrões como operários, que provêem o apoio material ecuja virtude há de ser a temperança e a resistência aos apetites.6 

    E ainda, sobre o povo romano, são os ensinamentos do professor Alexandre

    de Moraes, que menciona:

    [...] eram intangíveis, invioláveis (sacrosancta), as pessoas dos tribunos e

    os edis, seus auxiliares; tendo o povo romano outorgado-lhes por lei essainviolabilidade e, para torná-la irrevogável, santificou-a com um juramento(les sacrata), punindo com a pena de morte os atentados contra aregulamentação. Esta inviolabilidade do tribuno garantia-lhe no exercíciodas suas funções ou fora delas e obstava a que ele pudesse ser acusado,preso ou punido7.

    O doutrinador, Alexandre de Moraes, entende que a origem efetiva do instituto

    ocorreu no sistema constitucional inglês, quando da criação, segundo ele:

    [...] do duplo princípio da freedom of speeach  (liberdade de palavra) e dafreedom from arrest   (imunidade à prisão arbitrária), no Bill of Rights, de

    1689, os quais proclamaram que a liberdade de expressão e de debate oude troca de opiniões no Parlamento não pode ser impedida ou posta emquestão em qualquer corte ou lugar fora do Parlamento.8 

    Nesse mesmo sentido, acrescentamos a abordagem histórica, constante da

    obra de Miguel Ângelo Ciavereli Nogueira dos Santos:

    No diploma Bill of Rights, de 1689, ―Os Lords espirituais e temporais e osmembros da Câmara dos Comuns pela primeira vez, procurou dar foros dedignidade à Casa de representação legislativa, coibindo, expressamente, no

     ______________  

    6 apud SANTOS, 2003, p. 154.7MORAES, Alexandre de. Imunidades parlamentares. Disponível em:. Acesso em: 28 abr. 2008.8 MORAES, 2008.

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    Segundo o professor Luís Roberto Barroso12, foi com a Revolução Francesa,

    em 1789, que a imunidade ampliou-se, abrangendo também as prisões de natureza

    criminal.

     Acrescente-se, o que dispôs o estudioso Carlos Maximiliano, in verbis:

    CARLOS MAXIMILIANO reporta-se ao episódio no qual Mirabeau, nadefesa do Parlamento contra golpistas, que lidavam pela dissolução doEstado, ao vociferar que os deputados eram mandatários legítimos emnome do povo e somente seriam corridos de suas funções à força,anatemando de ―traidor, infame e digno de morte quem pusesse a mãosobre eles.‖13 

    E assim, em 1795, percebendo que o poder estava fortemente reunido nas

    mãos do Governo, a França, ampliou as garantias do instituto da imunidade

    parlamentar em seu texto constitucional, no sentido de conceder aos membros do

    Parlamento a prerrogativa de permitir ou não a licença para que um político viesse a

    ser processado.

    No direito norte-americano, conforme nos ensina Alcino Pinto Falcão, seguiu-

    se a mesma tendência do direito inglês, no sentido de permitir a liberdade de

    palavras e impedir a prisão do parlamentar nos casos de natureza cível. Entretanto,

    a liberdade de expressão era limitada, podendo ser proferida apenas dentro do

    recinto das sessões, in verbis:

    [...] que a jurisprudência e a doutrina norte-americano, historicamente, sepacificaram no sentido da freedom from arrest  ser impeditiva de prisão tão-somente em procedimentos cíveis. Por sua vez, à freedom of spech,considera que o privilégio pertence á própria Casa Legislativa, a qual seencarrega de defendê-lo, geralmente através da constituição de comissãoparlamentar de inquérito. Em relação à abrangência, também a origemhistórica do instituto aponta que, somente as palavras e os votosproferidos dentro do recinto das sessões ou das comissões é que sãocobertos pela imunidade material, inclusive se o pronunciamento forconsiderado perigoso á segurança do Estado.14 (grifo nosso).

    Sendo que, em 17 de setembro de 1787, as imunidades parlamentares foram

    inseridas na constituição norte-americana, compondo o art. 1º, seção 6, in verbis: 

    Em nenhum caso, exceto traição, felonia e violação da paz, eles (senadorese representantes) poderão ser presos durante sua freqüência às sessões desuas respectivas Câmaras, nem quando a elas se dirigirem, ou delasretornarem; e não poderão ser incomodados ou interrogados, em qualquer

     ______________  

    12 BARROSO, 2003, t. 2, p. 333-334.13 apud SANTOS, 2003, p. 156.14 apud MORAES, 2008.

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    outro lugar, por discursos ou opiniões emitidos em uma ou outra Câmara.(art. 1º, seção 6).15 

    Por todo exposto, podemos concluir que o instituto da imunidade parlamentar

     já se fazia presente nas civilizações greco-romanas, vindo a consagrar-se no séculoXVII, com a revolução inglesa, que resultou no Bill of Rights, e posteriormente,

    disseminou-se às outras nações, vindo a constar, em 1787, da Constituição dos

    Estados Unidos da América , e posteriormente na França, que em 1789, fez constar

    a imunidade parlamentar do seu ordenamento jurídico, ampliando as garantias

    desse instituto.

     Assim, o surgimento do instituto decorre da necessidade de garantir o livre

    exercício da função do parlamentar.

    1.3 NOS PAÍSES OCIDENTAIS

     Atualmente, o instituto da imunidade parlamentar se faz presente na

    democracia de diversos países, com a finalidade de garantir a liberdade de ação do

    Poder Legislativo no exercício da suas funções, variando a extensão protetiva,

    conforme as influências que direcionaram o direito de cada um deles, bem como os

    interesses políticos atuantes.

    Nesse sentido, como exemplo, descrevemos abaixo como se apresenta os

    instituto da imunidade em alguns países, conforme resumo do autor L.Belmonte 16:

    1) Inglaterra

     A imunidade material é ampla e não sofre nenhum tipo de limitação, no

    entanto, com relação à prisão (imunidade formal), os parlamentares são tratados

    sem que haja a intervenção do Parlamento, por entenderem que o parlamentar deve

    ser submetido à justiça penal sem nenhuma exceção de tratamento, sendo

    exigência, tão somente a comunicação do ocorrido à Câmara. Portanto, o

     ______________  

    15 MORAES, 2008.16  BELMONTE, L. Imunidade parlamentar : resumo de Seewbaka. 30 jan. 2008. Disponível em:. Acesso em: 28 maio 2008.

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    Parlamento não tem o poder de impedir o processo, tampouco de intervir contra as

    prisões.

    2) Estados Unidos da América - EUA

     A imunidade material possui limitação espacial, pois aplica-se somente às

    manifestações que forem efetuadas nas sessões da câmara, e no que tange à

    imunidade formal, os membros do parlamento não podem ser presos durante as

    sessões e nem no trajeto de ida e regresso destas, excetuando-se tal garantia, ao

    parlamentar que cometer crime de traição, conspirando contra a paz ou que tiver

    participado de um crime de alta relevância. E, quanto ao processo criminal, esteocorre sem a intervenção da Câmara.

    3) França

     A imunidade material ocorre sem restrições, e a formal, só admite a prisão do

    parlamentar em caso de flagrante delito, de procedimento autorizado pela Câmara

    ou no caso de condenação crimininal definitiva. Sendo que, quanto ao processocriminal, desenvolve-se sem que haja a necessidade de autorização do Congresso.

    4) Itália

     A imunidade material também ocorre de forma ampla, ou seja, com liberdade

    de opiniões, palavras e votos. Quanto a imunidade formal, a prisão só poderá

    ocorrer com a liberação do Parlamento, sendo que, o processo criminal, assim comona França, também desenvolve-se sem que seja necessária a licença prévia.

    Logo, podemos perceber que da sua origem aos nossos dias, o instituto da

    imunidade parlamentar vem sofrendo modificações, em que verifica-se uma

    tendência no sentido de manter a proteção do parlamentar, mais especificamente,

    com relação a imunidade material, ou seja, quanto as opiniões, palavras e votos

    proferidos pelo parlamentar no exercício de suas funções dentro do Parlamento, .e

    tornando cada vez mais rígida a imunidade formal, limitando as garantias que

    interferem de forma maléfica na apuração dos fatos de natureza criminal.

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    Registre-se que, o instituto da imunidade parlamentar na Constituição

    Brasileira foi fortemente influenciado pelo modelo francês, por isso, existe grande

    similitude entre os mesmos, ou seja, tanto aqui como lá, existem falhas que

    permitem a impunidade dos políticos para fatos que são alheios ao exercício da

    função parlamentar.

    1.4 A IMUNIDADE PARLAMENTAR EM OUTROS PAÍSES

    Na extinta União Soviética, a imunidade parlamentar era admitida pelo artigo52 da sua Constituição vigente à época. O dispositivo em comento, impedia que um

    deputado do Soviet Supremo (espécie de parlamento) fosse processado e julgado

    sem o consentimento do Soviet Supremo , isto é, tinha que haver o consentimento

    do Soviet Supremo para o deputado ser processado e julgado.

     A Constituição Japonesa, trata o tema da imunidade parlamentar de maneira

    bem diferente da adotada pela Constituição Brasileira, pois garante imunidade ao

    parlamentar somente ao longo da sessão legislativa.17 

    1.5 NO BRASIL ATÉ A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1967

    No Brasil, a primeira Constituição Brasileira, outorgada em 25 de março de

    1824, a do Brasil Império, já contemplava o instituto da imunidade parlamentar, em

    seus arts. 26, 27 e 28, assegurando tanto a inviolabilidade pelas opiniões quefossem proferidas quanto a improcessabilidade dos parlamentares, que só poderia

    ocorrer com a anuência da respectiva câmara.

     A primeira Constituição Republicana, de 1891, também previa o instituto da

    imunidade parlamentar, em seus artigos 19 e 20, sendo que os parlamentares

    continuavam tendo resguardado os direitos da inviolabilidade por suas opiniões, e da

    improcessabilidade, sem prévia anuência dos seus pares.

     ______________  

    17  Wikipédia  –  Enciclopédia Livre, Constituições, Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Especial%3ABusca&search=constitui%C3%A7%C3%B5es >, Acesso em 25 abr. 2009

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     A referida Constituição, em seu art. 20, trouxe uma inovação, no sentido de

    facultar ao parlamentar acusado, a possibilidade de renunciar à sua imunidade

    processual, desde que o mesmo fosse submetido a julgamento imediato.

     A Constituição de 1934 em seus arts. 31 e 32 previam as mesmas

    imunidades parlamentares citadas anteriormente para os Deputados, estendidas aos

    Senadores, por força do disposto no §2° do art. 89. No entanto, exagerou sua

    abrangência, incluindo a proteção também ao suplemente imediato do Deputado em

    exercício. Sendo que tais garantias eram asseguradas aos Senadores por força.

     A Constituição de 1937, na qual se instaurou a ditadura do Estado Novo, foi

    alterado o tratamento conferido às imunidades parlamentares, e diferentemente das

    Constituições anteriores, esta, disciplinava em seu art. 43, a possibilidade deresponsabilização civil e criminal do parlamentar, e corrigiu a abrangência do

    instituto, retirando a garantia com relação ao suplente.

     A Constituição de 1946, que estabeleceu o Estado Democrático, volta a

    prever o instituto da imunidade parlamentar, disciplinando-a em seus arts. 44, 45 e

    46, nos mesmos termos assegurados nos textos das Constituições anteriores à de

    1934.

    Destaca-se que em 1964, com a Emenda Constitucional n° 9 foi inserido umnovo parágrafo ao artigo 45 da Constituição de 1946, que determinava um prazo de

    120 dias, quando se tratasse de crime comum, para o congresso posicionar-se em

    relação ao pedido de licença para o processo. Decorrido este prazo, o pedido

    entraria em ―Ordem do Dia‖, para ser discutido e votado, independentemente de

    parecer.

     A Constituição de 1967, também outorgada, manteve as garantias da

    imunidade parlamentar consagrando as imunidades materiais e formais em seu art.34. Inovando ao prever que decorridos o prazo de 90 dias para discutir e votar a

    Licença para o processo, o mesmo seria incluído, na ―Ordem do Dia‖, por 15

    sessões ordinárias e consecutivas, e se ainda assim não decidissem, ter-se-ia com

    tácita a concessão.

    Em 1968, o Ato Institucional n.° 5, de 13.12.1968, limitou abruptamente a

    atuação do Poder Legislativo, inclusive com decretação de recesso do Congresso

    Nacional.

    Sendo que em 1969, já com o Governo Militar instalado, foi editada a Emenda

    Constitucional n° 1, datada de 17.10.69, que promoveu alterações no instituto da

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    imunidade parlamentar, no sentido de que embora fossem invioláveis por suas

    opiniões, palavras e votos, em se tratando de casos de crime contra a honra e

    contra a segurança nacional, os membros do Congresso Nacional não estavam

    protegidos (art. 32).

    Portanto, da imunidade originada na Inglaterra, com fins de garantir a

    liberdade de expressão dos membros do parlamento, no Brasil, resultou na

    inviolabilidade e na impossibilidade de prisão, salvo em flagrante de crime

    inafiançável.

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    CAPÍTULO 2 - A IMUNIDADE PARLAMENTAR SEGUNDO A CONSTITUIÇÃOFEDERAL BRASILEIRA DE 1988

    2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

    Pode-se perceber, do breve apanhado histórico apresentado no capítulo

    anterior, que o instituto da imunidade parlamentar, ressalvados os momentos de

    ditadura, tiveram seus direitos de liberdade amplamente assegurados, e mesmo na

    vigência da Constituição de 1969 (Governo Militar), os membros do Congresso,

    eram invioláveis por suas opiniões, palavras e votos, excetuando-se os casos decrime contra a honra e contra a segurança nacional.

    Portanto, as mudanças ocorridas com o Instituto da imunidade parlamentar,

    mais especificamente, com relação à imunidade material, se deram na conformidade

    do regime político adotado, demonstrando que nos períodos autoritários da história

    política do nosso país, o referido instituto sofreu restrições e até mesmo supressões,

    pelo fato de que, nos regimes autoritários, a tendência é centralizar o poder político

    nas mãos do Poder Executivo, enquanto que nos outros períodos o instituto foiamplamente recepcionado.

    Neste capítulo, pretendemos proceder ao exame do instituto da imunidade

    parlamentar a partir da Constituição Federal de 1988, procurando demonstrar os

    motivos que levaram à alteração do mesmo por meio da Emenda Constitucional nº

    35 de 2001, bem como os aspectos que ainda merecem ser melhorados.

    Entende-se que o instituto da imunidade parlamentar é essencial para o

    Estado Democrático de Direito. Contudo, verificaremos, conforme os fatos queiremos abordar que foram necessárias as modificações introduzidas pela Emenda

    Constitucional nº 35 de 2001, mas que estas ainda não foram suficientes para sanar

    o problema da impunidade.

    Na verdade, as restrições são resultantes da falta de conduta ética e moral

    dos Membros do Congresso, que vêm dando causa à estas modificações e

    comprometendo a finalidade do próprio instituto, que ao invés de garantir a

    independência do Poder Legislativo, protegendo a pessoa do parlamentar contra

    perseguições políticas e ingerências de um Poder da República sobre o outro, vem

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    sendo utilizado como escudo de proteção a atos que não estão de acordo com o

    direito, tampouco com os interesses da sociedade que estes representam.

    O instituto da imunidade parlamentar, tanto no tipo material como formal, hão

    de estarem intrínsecos ao exercício da suas funções do parlamentar como

    representantes do povo, pois esta não pode de forma alguma desvincular-se da sua

    finalidade. Assim, não pode o instituto garantir uma proteção processual e prisional a

    fatos que decorrem de situações estranhas à função do parlamentar no exercício do

    seu cargo.

    Tanto que, a imunidade parlamentar objetiva proteger os Deputados e

    Senadores somente durante o exercício de suas funções, enquanto membros do

    Congresso, fazendo-se presente somente a partir da diplomação do congressista,não mais existindo quando do término do mandato.

    Nesse sentido, são as palavras do ilustre Ruy Barbosa, in verbis:

    [...] tanto não são do Senador ou do Deputado, as immunidades, que dellasnão é lícito abrir mão. Da representação poderá despir-se, demittindo-se dologar no Congresso. Mas, emquanto o occupar, a garantia da sua liberdadeadherirá, inseparavelmente ao representante, como a sombra ao corpo,como a epiderme ao tecido cellular.18 

     Assim, o instituto da imunidade não representa uma proteção pessoal do

    parlamentar durante o mandato, mas sim uma proteção à atividade parlamentar,

    para o bom exercício da função parlamentar.

    Registre-se que o presente estudo objetiva ater-se, mais especificamente, às

    questões pontuais no âmbito da imunidade formal (processual), já que as falhas que

    vêm permitindo os abusos políticos estão justamente nas garantias que tratam das

    regras sobre prisão e processo criminal dos parlamentares, nas quais vêm

    ocorrendo as maiores injustiças, já que representam uma redoma de proteção que

    dificulta, sobremaneira, a aplicação da justiça nos casos em que se faz necessário.

     ______________  

    18  apud SILVA, Sandra Reis da. A delimitação constitucional à imunidade parlamentar. Boletim Jurídico, ago. 2006. Disponível em: . Acesso em: 25 abr. 2009.

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    2.2 ANTES DA EMENDA CONSTITUCIONAL N° 35/2001

    Com a retomada do poder pelos civis, foi promulgada a Constituição Federalde 1988, momento em que o instituto da imunidade parlamentar retornou em sua

    plenitude, tendo originalmente a seguinte redação, in verbis:

    Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis por suas opiniões,palavras e votos.

    § 1º - Desde a expedição do diploma, os membros do CongressoNacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crimeinafiançável, nem processados criminalmente, sem prévia licença desua Casa.

    § 2º - O indeferimento do pedido de licença ou a ausência dedeliberação suspende a prescrição enquanto durar o mandato.

    § 3º - No caso de flagrante de crime inafiançável, os autos serãoremetidos, dentro de vinte e quatro horas, à Casa respectiva, para que,pelo voto secreto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisãoe autorize, ou não, a formação de culpa.

    § 4º - Os Deputados e Senadores serão submetidos a julgamentoperante o Supremo Tribunal Federal.

    § 5º - Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobreinformações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato,nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações.

    § 6º - A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores,embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévialicença da Casa respectiva.

    § 7º - As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante oestado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terçosdos membros da Casa respectiva, nos casos de atos, praticados fora dorecinto do Congresso, que sejam incompatíveis com a execução damedida.19 (grifo nosso). 

    O instituto da imunidade parlamentar, no texto original da Constituição de

    1988, conforme redação acima transcrita, foi motivo de muitas críticas pela

    sociedade.

    Conforme o §1º, o processamento criminal de um Deputado ou Senador só

    poderia ocorrer mediante a prévia autorização da Casa respectiva; excetuando-se os

    casos de flagrante em crime inafiançável, caso em que, conforme o §3º, os autos

    seriam remetidos, no prazo de vinte e quatro horas à Casa respectiva, a fim de que

    pelo voto secreto da maioria de seus membros, fosse deliberado sobre a prisão e

    autorizada, ou não, a formação de culpa.

     ______________  

    19 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2007. 

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    E, se não fornecida ou negada a autorização solicitada pelo Supremo, esta

    implicaria, conforme os termos do §2º, na suspensão do prazo prescricional

    enquanto durasse o mandato. O que prejudicaria a apuração da justiça, pois a

    suspensão da prescrição acaba por gerar um distanciamento no tempo, que poderá

    comprometer ou até eliminar as provas que seriam fundamentais ao esclarecimento

    dos fatos que envolvem o crime, bem como, em determinados casos, afastaria a

    reação social, que sem dúvida alguma, exerce um poder de pressão muito

    importante para que seja efetuada a devida justiça.20 

    Portanto, o parlamentar não podia sofrer qualquer tipo de prisão, fosse

    provisória, definitiva, ou mesmo de natureza civil, e ainda teria a oportunidade

    continuar no exercício do mandato, sem responder a processo criminal, enquantonão fosse permitido pela Casa do Congresso Nacional.

    Para fins de exemplo, imaginemos hipoteticamente, que se no caso do

    assassinato da menina Isabela, referente ao casal Nardoni, que o pai da menina

    fosse um parlamentar, quantas evidências (provas) não teriam sido perdidas, já que

    a pessoa do parlamentar não poderia sofrer a prisão temporária. No referido caso

    nos foi possível acompanhar o quanto o afastamento dos principais suspeitos tanto

    um do outro, como do local do crime, foi medida fundamental para a capitulação dasprovas.

    Convém ainda ressaltar, que a garantia abrangida pela imunidade formal não

    especifica um ou outro crime, abrange a todos sem distinção.

    Ocorre que, a indignação diante das notícias de determinados fatos

    criminosos envolvendo parlamentares tornou-se cada vez mais freqüente, dentre os

    quais, podemos citar o caso bárbaro do ex-deputado Hidelbrando Pascoal, acusado

    de vários crimes, tais como narcotráfico, ser mandante de crime de esquartejamento,fazer parte do grupo de extermínio que provocou a morte de pelo menos trinta

    pessoas em Rio Branco.

     Apresenta-se, sobre o esse caso, o breve apanhado dos fatos, constante da

    enciclopédia livre, Wikipédia, in verbis:

    Hildebrando Pascoal Nogueira Neto (Rio Branco, 17 de janeiro de 1952) éum político brasileiro e coronel da Polícia Militar do Estado do Acre.  Foieleito  deputado federal pelo PFL,  atual DEM e, ao mesmo tempo em quecomandava a corporação, chefiava o crime organizado no Estado,

    praticando crimes com requintes de extrema crueldade. Já foi condenado a

     ______________  

    20 BARROSO, 2003, t. 2, p. 338.

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Rio_Branco_(Acre)http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/17_de_janeirohttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1952http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Pol%C3%ADticohttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Brasilhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Pol%C3%ADcia_Militar_do_Estado_do_Acrehttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Deputado_federalhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/PFLhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/DEMhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Crime_organizadohttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Crime_organizadohttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/DEMhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/PFLhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Deputado_federalhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Pol%C3%ADcia_Militar_do_Estado_do_Acrehttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Brasilhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Pol%C3%ADticohttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1952http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/17_de_janeirohttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Rio_Branco_(Acre)

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    65 anos de reclusão, pena que pode ser aumentada em razão de processospendentes.

    Os fatos

    Fez carreira na Polícia Militar acreana, da qual chegou a ser comandante, ereformou-se com a patente de coronel para se candidatar a deputadoestadual. Foi eleito em  1994,  e integrava a base de apoio do governadorOrleir Cameli e do deputado federal Ronivon Santiago, ambos investigadospor corrupção. Em 1998, elegeu-se deputado federal.

    Em 1995, o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH)do Ministério da Justiça brasileiro teve seu primeiro contato com osproblemas no estado do Acre, causados pelo coronel Hildebrando. Deacordo com as denúncias que chegaram ao Conselho, ele esquartejavasuas vítimas com motosserra antes de matá-las. No âmbito do CDDPH, asinvestigações avançaram, ganhando força nos anos seguintes, e chamarama atenção do Brasil para a ação do crime organizado, grupos de extermínioe a situação do narcotráfico no Estado do Acre .

    O CDDPH criou uma Comissão Especial para investigar as denúncias, e,em seguida, uma subcomissão que deveria atuar no próprio Estado. Algumas testemunhas que prestaram ou iam prestar depoimento aoConselho, foram assassinadas e as investigações passaram para aresponsabilidade da Polícia Federal,  o que possibilitou que os crimessaíssem da alçada das comprometidas autoridades acreanas e fossemassim elucidados.

    Entre as pessoas previstas para depor na Comissão e que foram mortasencontrava-se um antigo cúmplice de Hildebrando, Sebastião Crispim. Elepassaria informações acerca dos crimes cometidos pelo Esquadrão da

    Morte, em específico sobre o assassinato de Agilson Firmino dos Santos, oBaiano, que foi retalhado por serra elétrica, e de Wilder Firmino, seu filhoadolescente, barbaramente torturado e assassinado por HildebrandoPascoal. Este último teve seu corpo dissolvido com uso de ácido. Ainda em1997, outra testemunha de acusação - o policial civil Valter José Ayala - foiassassinada por ordem do coronel, em Rio Branco.

     As investigações revelaram ainda o envolvimento de policiais acreanos nosassassinatos, formando um grupo de extermínio comandado porHildebrando. O próprio governo estadual teria cedido policiais à campanhadele para a Câmara dos Deputados - os mesmos acusados pela Justiça deformar o "esquadrão da morte".

     Além dos assassinatos, apurou-se que Hildebrando envolveu-se em

    narcotráfico, crimes contra a ordem financeira, sonegação fiscal, porte ilegalde arma, compra de votos e aliciamento de eleitores através de drogaacondicionadas em embalagens de comida, caso que ficou conhecido como―Operação Marmitex‖. 

    Quando Hildebrando tomou posse como deputado federal, em 1998,  oCDDPH enviou para a Câmara e para o Senado um dossiê sobre oparlamentar e o crime organizado. A investigação do CDDPH gerou umaCPI na Câmara, que levou à cassação de Hildebrando, em 22 de setembrode 1999, e à prisão dele e de mais 46 envolvidos.

    Preso logo após a cassação, o ex-deputado foi levado para Rio Branco emantido no presídio da Papudinha até dezembro de 2003,  quando foitransferido para o presídio Antônio Amaro, junto com outros acusados de

    formar o grupo de extermínio no Acre. O presídio Antônio Amaro, desegurança máxima, fica nos arredores de Rio Branco e teve a construçãoapressada para abrigar Hildebrando e seu grupo.

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1994http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Orleir_Camelihttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Ronivon_Santiagohttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1998http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1995http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/w/index.php?title=Conselho_de_Defesa_dos_Direitos_da_Pessoa_Humana&action=edit&redlink=1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Minist%C3%A9rio_da_Justi%C3%A7ahttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Pol%C3%ADcia_Federalhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1997http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Narcotr%C3%A1ficohttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Sonega%C3%A7%C3%A3o_fiscalhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1998http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/22_de_setembrohttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1999http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/2003http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/2003http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1999http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/22_de_setembrohttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1998http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Sonega%C3%A7%C3%A3o_fiscalhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Narcotr%C3%A1ficohttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1997http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Pol%C3%ADcia_Federalhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Minist%C3%A9rio_da_Justi%C3%A7ahttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/w/index.php?title=Conselho_de_Defesa_dos_Direitos_da_Pessoa_Humana&action=edit&redlink=1http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1995http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1998http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Ronivon_Santiagohttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Orleir_Camelihttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/1994

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     A mais recente condenação do ex-deputado aconteceu em novembro de2006: a Justiça Federal, em Brasília, sentenciou-o a 18 anos de prisão, peloassassinato de Sebastião Crispim, em 1997. Somadas, suas penas somam65 anos de prisão e ainda existem em 2007 processos pendentes de julgamento.21 

    E ainda, o caso ocorrido com o ex-senador Luiz Estevão, que foi apontado em

    escândalo que envolvia o desvio de verba pela CPI do Judiciário, que resultou em

    sua cassação.

     Acrescenta-se outro caso, relatado por Flávia Piovesan, in verbis:

    O corpo da estudante M.B.S., de vinte anos, foi encontrado em um terrenobaldio nas proximidades de João Pessoa, em 18 de junho de 1998.Concluído o inquérito policial, há provas de que o principal suspeito dohomicídio é um deputado estadual. Em observância à imunidadeparlamentar, por duas vezes, foi solicitada à Assembléia Legislativa daquele

    Estado autorização para a instauração de processo criminal em face doaludido deputado. Contudo, as duas solicitações foram indeferidas pela Assembléia legislativa. Note-se que o deputado estadual exerce seu quintomandato consecutivo.22 

     Aliás, pior do que o envolvimento do parlamentar em crimes, era a posição

    antiética adotada pelos membros da Casa, que devido ao corporativismo para com

    seus pares ou até por acertos políticos, na maior parte das vezes, negavam a

    licença para instauração do processo criminal e promoviam a cassação do Deputado

    ou Senador, por motivo de decorro parlamentar. Quando na verdade, tinham a

    ―OBRIGAÇÃO‖ ética e moral de autorizar ao Supremo Tribunal Federal que

    procedesse a devida instauração do processo, a fim de submetê-los ao crivo da

     justiça.

    Tanto é verdade, que restou apurado, em um levantamento feito pelo

    presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, que no

    período de 1995 a 1999, dos 137 pedidos de autorização para instauração de

    processos criminais contra parlamentares, 109 foram rejeitados.23 

    Pergunta que não quer calar: Será que todos estes processos eram possíveis

    armadilhas políticas? Não acredito que sejam. E, se eram, sequer iremos saber.

     Afinal, os nossos representantes não deram à sociedade a oportunidade verem a

     justiça proceder a investigação dos fatos. E, pelo visto não tiveram a curiosidade

    com relação ao ocorrido. O que demonstra a falta de respeito para com a justiça,

     ______________  

    21 HILDEBRANDO Pascoal. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia Livre. Disponível em:

    . Acesso em: 10 abr. 2009.22 PIOVESAN, Flávia. Imunidade parlamentar: prerrogativa ou privilégio. Folha de São Paulo, SãoPaulo, 4 jul. 2001.23 PIOVESAN, 2001.

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/2006http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Justi%C3%A7a_Federalhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Bras%C3%ADliahttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/2007http://pt.wikipedia.org/wiki/Hildebrando_Pascoalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hildebrando_Pascoalhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/2007http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Bras%C3%ADliahttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/Justi%C3%A7a_Federalhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_7/wiki/2006

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    conseqüentemente, com a sociedade, e o que é pior, maculando a própria Casa a

    qual compõem, pois com esse comportamento acabaram por desvirtuar o instituto

    da imunidade parlamentar, prejudicando o seu propósito e forçando alterações, que

    podem até estar fragilizando a independência do Poder Legislativo, mas que se

    tornaram imprescindíveis diante de tantas barbáries.

    Nesse mesmo sentido, transcreve-se os comentários do professor Airton

    Nóbrega, in verbis:

    É bom que se registre, todavia, que tudo isto veio a ocorrer não apenas emrazão do conteúdo abrangente da norma protetiva inscrita no texto em vigor,mas decorreu em grande parte da inércia e conivência das próprias CasasLegislativas que, excessivamente pacientes em face de atitudesindesejadas, ou optavam por não adotar as providências que lhes

    incumbiam em face de determinadas condutas exarcebadas, ou orientadaspor atitudes meramente corporativas, negavam licenças para odesenvolvimento do processo contra infratores contumazes eindefensáveis.24 

     Assim, a má utilização do instituto implicou em uma série de manifestações

    por parte de diversos seguimentos da sociedade, que já não suportavam as tantas

    injustiças que vinham ocorrendo, o que resultou nas alterações introduzidas com a

    Emenda Constitucional nº 35/2001.

    Nesse mesmo sentido, pertinentes se fazem os comentários acerca da crisedo instituto, pelo autor Jorge Kunaraka, in verbis:

     Após a promulgação do Diploma Político, em 1988, fatos sucessivospassaram a apontar com clareza irrefutável que ao menos uma de suasmodalidades  –  a formal -, viera se degenerando para a impunidade,existindo manifestações respeitáveis para que mudanças fossem feitas aoinstituto. Inclusive, durante anos tramitou pelo Congresso Nacional projetode Emenda à Constituição a respeito.25 

    Estas manifestações serviram de pressão para quebrar a resistência do

    Congresso com relação às mudanças que se faziam urgente, já que muitas foram astentativas de alteração que não lograram êxito, devido a falta de interesse dos

    parlamentares em alterar as garantias propiciadas pelo instituto.

    Dentre essas manifestações, convém registrar que foi a iniciativa do Conselho

    de Defesa dos Direitos Humanos, que devido a dezenas de denúncias de casos de

    impunidade que recebiam, motivou a discussão e o exame da matéria no

     ______________  

    24  NÓBREGA, Airton Rocha. Imunidade parlamentar: exame crítico ao conteúdo da EmendaConstitucional nº 35, de 2001. Fórum Administrativo: Direito Público, v. 2, n. 19, p. 1166, set. 2002.25 KUNARAKA, 2002, p. 157.

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    Congresso, trazendo à tona as diversas propostas de modificação do instituto que se

    encontravam sem tramitação pela Casa.26 

    Importante destacar-se que a proposta do Conselho era no sentido de que a

    imunidade formal fosse suprimida, o que não ocorreu. Não obstante, a Emenda

    Constitucional foi introduzida e suas alterações já representam um avanço no

    sentido de evitar o desvirtuamento que vinha ocorrendo em relação ao instituto em

    comento, conforme iremos analisar no tópico seguinte.

    2.3 APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 35/2001

     A partir de 20 de dezembro de 2001, o instituto da imunidade parlamentar

    sofreu alterações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 35/2001, ficando com

    a seguinte redação:

     Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, porquaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

    § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão

    submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacionalnão poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nessecaso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casarespectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobrea prisão.

    § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorridoapós a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casarespectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelovoto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar oandamento da ação.§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo

    improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela MesaDiretora.

    § 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar omandato.

    § 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobreinformações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato,nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações.

    § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores,embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévialicença da Casa respectiva.

     ______________  26 BARROSO, Luís Roberto. Imunidade parlamentar: entrevista. SaraivaJur, 11 jan. 2002. Disponívelem: . Acesso em: 7 abr. 2008.

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%E7%A1%AF67.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%E7%A1%AF67.htm

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    § 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante oestado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terçosdos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora dorecinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execuçãoda medida.27 (negrito nosso).

    Da nova redação, podemos constatar que a imunidade formal sofreu avanços

    que resultaram na diminuição da impunidade, embora permaneçam brechas

    relevantes que ainda mereçam ser melhoradas. Observa-se as seguintes

    modificações:

    Conforme o §5º da nova redação, cessado o mandato, independemente do

    motivo, o parlamentar deixa de possuir o direito à imunidade formal, no sentido de

    que, a partir de então, o processo transcorrerá normalmente, pois a suspensão doprocesso que suspende a prescrição restringe-se ao mandato do deputado ou

    senador, não sendo cabível qualquer intenção de realizar-se nova sustação da ação.

    Logo, o fato do parlamentar que tinha suspensão de processo referente ao mandato

    anterior, ao ser reeleito não poderá, sobre este mesmo processo demandar nova

    sustação, a pretexto de estar sendo novamente diplomado.

    Isto por que, o crime cometido pelo deputado ou Senador, antes da nova

    diplomação, decorrente de reeleição, não estará amparado pelo instituto, já que, notempo, representa crime anterior à nova diplomação, o que ficou abolido pela nova

    redação.

    Pelos termos do §3º, na nova redação, o parlamentar pode ser processado

    sem a antiga necessidade de autorização do Congresso Nacional. No entanto,

    convém observar que tal exigência não foi de todo suprimida. Pois o que ocorreu, foi

    a mudança quanto ao momento em que a Casa poderá intervir no processo.

    Com relação à possibilidade de sustação do processo, prevista no §3º,

    pertinentes são as colocações do professor Airton Nóbrega, in verbis:

    Não se apresenta positiva e adequada à intenção moralizadora proclamada,maxima data venia, a orientação que ora se adota, pois preserva-se, emrealidade, com modificação meramente procedimental, a situaçãoanteriormente existente. Há de se ter em vista, demais disso, que adisposição desacredita, com essa orientação, a mais alta e qualificada Cortede Justiça do País, onde indiscutivelmente atuam juizes gabaritados eexperientes, plenamente cientes dos nobres encargos que lhe sãoconfiados e altamente capazes de identificar formulações irresponsáveis,

     ______________  

    27 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2007. 

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    eivadas por eventuais intenções de turbar o exercício do mandatoparlamentar.28 

    Nesse mesmo sentido, são as colocações do professor José Afonso da Silva,

    que assim expôs:

    [...] Conforme Postura que as Casas do Congresso assumirem, pode-sedizer que a imunidade perdura tal qual antes da Emenda 35/2001, apenascom a inversão do momento de sua interferência. Se elas passarem asustar sempre as ações criminais contra o respectivo parlamentar, aexistência daquela Emenda Constitucional não tem sentido, porque tudocontinuará na mesma  –  ou seja, a imunidade continuará não sendoprerrogativa de defesa de uma função digna, mas um instituto perverso dedefesa de criminosos, que buscam o Congresso para evitar processos porseus atos delituosos, não raro contumazes.29 

    Portanto, das colocações acima, é possível constatar-se que se mudou o

    momento, mas não se alterou a possibilidade de intervenção das respectivas Casas.

    Isso realmente foi uma modificação tão somente procedimental em que os

    Membros do Congresso legislaram no sentido de continuarem a manter para si o

    controle sobre o processo.

     Assim, ao contrário do que muitos entenderam, ―a sociedade‖, o Congresso

    não deixou de poder intervir no processo, só que agora, a ausência de manifestação

    em relação ao processo instaurado implica no seu andamento.

    No regime anterior, a licença para processar o parlamentar, ocorria

    previamente ao processo. A partir da nova redação existe a possibilidade de

    suspensão do processo, o que na obsta a ação judicial em andamento.

    De acordo com a nova redação a suspensão do processo criminal contra

    Deputado ou Senador, depende da observância em relação ao preenchimento dos

    requisitos abaixo elencados:

    1- de que o crime tenha sido praticado após a diplomação;

    2- do recebimento da denúncia pelo Supremo que dará ciência à respectiva

    Casa; que terá, a partir de então a possibilidade de manifestar-se em relação a

    mesma;

    3- que a manifestação depende de requerimento iniciado por partido político

    com representação na respectiva Casa a fim de que se pronuncie ou não pela

    suspensão;

     ______________  

    28 NÓBREGA, p. 1167, 2002.29  SILVA, José Afonso da Silva. Comentário contextual à Constituição. 3. ed. rev. São Paulo:Malheiros, 2007. p. 420.

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    4- a manifestação da Casa a que pertença o parlamentar denunciado junto ao

    Supremo Tribunal Federal, depende da aprovação, pela maioria de seus membros,

    antes que ocorra a decisão final do processo judicial que já encontra-se em

    andamento.

    Importante instar que tal suspensão finda com o término do mandato.

    O prazo, improrrogável, para apreciação do pedido de sustação, pela Casa

    respectiva, é de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora,

    conforme § 4º do artigo alterado. Eventual ausência em exame do pedido de

    suspensão no prazo mencionado não inviabiliza exame de outro pedido, posterior. O

    decurso do mencionado prazo improrrogável não extingue o direito de apreciação de

    requerimento posterior, sob pena de criação de outro requisito pelo intérprete, queestará substituindo o Poder Constituinte Reformador, o que lhe é vedado.30 

     Assim, conseqüentemente, uma vez suspensa o processo, está suspensa a

    prescrição, por todo o período do mandato, nos termos do § 5º.

    Quanto ao § 8º, também não houve modificação relevante, haja vista que na

    redação anterior não se fazia presente a expressão ―nacional‖, que passou a contar

    na nova redação acima transcrita

    Contudo, é fato, que estarão os parlamentares mais expostos, aopretenderem levantar a bandeira de defesa para um de seus pares, que na verdade,

    necessita ser judicialmente investigado, até porque, diferentemente do que ocorria

    antes, agora ao invés de não permitir a instauração do processo, estar-se-á

    suspendendo um processo que já teve o seu início, e como tal possui a sua força

    existencial.

    Uma coisa é a permissão para instaurar-se a ação outra é a suspensão de

    uma ação já instaurada. Esta última gera maior impacto social do que a primeira,pois comparativamente, no primeiro caso, se não for concedida a permissão, é como

    uma planta cuja semente sequer pôde ser germinada, enquanto que na suspensão,

    é cortar uma planta cujas raízes já foram estabelecidas, ou quiça uma árvore que já

    esteja começando a dar frutos. Quem ousará cortá-la? Já que muitos poderão

    percebê-la, por ter se tornado mais visível, ao contrário da semente, que por não ter

    se tornado planta, poucos sentirão a sua falta.

     ______________  

    30 FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. A imunidade parlamentar na Emenda Constitucional nº35, de 20 de dezembro de 2001. Disponível em: acesso em: 5 jun2008

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    Convém observar que, pelos termos do §4º, poderá a Casa a que pertencer o

    parlamentar, após o recebimento da ciência pelo Supremo, decidir, por iniciativa de

    partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, pela

    sustação do andamento da ação penal, que se ocorrer, implicará, nos termos do §5º,

    na suspensão do prazo prescricional, enquanto durar o mandato do parlamentar.

    Registra-se, a crítica efetuada pelo autor Damásio de Jesus, que ressalta

    serem aparentemente contraditórios o conteúdo dos parágrafos 3º e 4º do instituto,

    na medida em que, o §3º dispõe que a sustação do processo pela Casa a que

    pertence o parlamentar poderá ocorrer até a decisão final da ação penal, enquanto

    que o §4º dispõe que a decisão sobre a sustação do processo deverá ocorrer no

    prazo improrrogável de 45 dias do recebimento pela Mesa Diretora. Assim, o autorentende que os dois parágrafos, se forem interpretados harmonicamente, podem

    conduzir à compreensão de que o pedido de sustação, partindo da Mesa Diretora,

    pode ser submetido a uma das Casas do Congresso durante a ação penal e até a

    decisão final, obedecido o prazo de quarenta e cinco dias para a sua apreciação.31 

    Logo, pode-se concluir que o conflito aparente da redação dos referidos

    parágrafos, está no fato de que no §3º, o momento da ciência pela Casa da

    instauração do processo, não implica em ser este o marco para considerar o prazode 45 dias para apreciação do pedido de sustação pela Mesa Diretora, já que o

    pedido de sustação poderá ser efetuado a qualquer momento, até o trânsito em

     julgado da ação penal. Assim, este prazo será utilizado para especificar o início e o

    término em que deverá ocorrer a apreciação do pedido pela Mesa Diretora de uma

    das Casas.

    O autor observa também, que não foi explicitado no texto da norma, nenhum

    tipo de sanção, caso o prazo de 45 dias, constante do §4º, venha a serdescumprido.32 

     Aliás, pelo cenário que vem se emoldurando, não tarda que novas mudanças

    tenham que ocorrer, pois os casos de suspeita de prática de crimes envolvendo

    deputados e senadores, somatizados à falta de conduta ética e moral dos que

    tentam proteger seus pares, acabarão por servir de munição ao grupo da sociedade

     ______________  

    31 JESUS, Damásio E. de. Sustação de processo criminal contra parlamentar. Emenda Constitucionalnº 35. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 55, mar. 2002. Disponível em:. Acesso em: 3 jun. 2008.32 JESUS, 2002.

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    que desde a tramitação da Proposta de Emenda Constitucional – PEC, que resultou

    na EC nº 35, manifestaram-se pela supressão das garantias processuais do instituto.

     Afinal, nada impede que novos clamores sociais ocorram e venham a suscitar

    nova Proposta de Emenda com vistas à supressão definitiva da imunidade

    processual.

    Pode-se mais uma vez destacar, o quanto se torna imprescindível a

    necessidade de que exista conexão entre o fato ocorrido e as atividades que

    compõem a função do parlamentar, para que condutas criminosas não venham a ser

    acobertadas pela imunidade parlamentar provocando a impunidade, conforme

    ocorria antes da EC nº 35/2001, e que ainda hoje, persiste, devido a abrangência

    protetiva do instituto.Com relação à prisão, infelizmente, pelos termos da nova redação, conforme

    §2º do dispositivo acima, as regras mantiveram-se praticamente intactas, alterando-

    se, contudo, que no caso de prisão por flagrante em crime inafiançável, deixou de

    ser secreto o voto da Casa a qual pertença o parlamentar, para decidir sobre a

    manutenção da prisão. Certamente, esta modificação representa maior

    transparência ao processo de decisão, já que coaduna diretamente com o princípio

    da publicidade no que tange aos interesses públicos.Mesmo assim, digo infelizmente, no que diz respeito à proteção contra a

    prisão do parlamentar, já que por força do dispositivo acima, desde a diplomação o

    parlamentar não poderá sofrer qualquer tipo de prisão penal ou processual, nem

    mesmo as de natureza civil, ou seja, prisão temporária, prisão em flagrante por crime

    afiançável, prisão preventiva, prisão por pronúncia, ou prisão por sentença

    condenatória recorrível, nem mesmo as hipóteses de prisão civil por dívida, previstas

    no art. 5º, inciso LXVII da Constituição Federal, que referem-se aos casos deinadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e depositário infiel.

     A previsão de garantia para não prisão do parlamentar sem autorização da

    Casa respectiva, torna-se abusiva, quando se vincula a atos desconexos a função.

    Registre-se, que mesmo quando ocorrer flagrante em crimes inafiançáveis,

    haverá a incidência da imunidade formal, pois, embora possa vir a ocorrer a prisão,

    a sua manutenção poderá ser interrompida por decisão da Casa a que pertencer o

    parlamentar.

    Logo, por entender-se que tamanha abrangência representa um leque muito

    amplo de garantias, que ao final resultarão em mais impunidade, não se pode, sob o

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    pretexto de estar garantindo a democracia e a independência do Poder Legislativo,

    garantir para si próprios uma proteção abusiva, utilizando o instituto como alvará de

    soltura.

    Nesse mesmo sentido, acrescente-se a indignação do autor Décio Luiz José

    Rodrigues, com relação à prisão, in verbis:

    Suponhamos que um Deputado ou um Senador, após a expedição do seudiploma, mate alguém em praça pública com inúmeros disparos de arma defogo e que seja preso em flagrante e com várias testemunhas presenciaisdo ―delitum‖ 

     Após lavrado o indigitado auto de prisão em flagrante, este será enviado àCasa respectiva e os Senadores ou Deputados Federais resolverão sobre aprisão, ―id est‖, ―in thesis‖, qualquer parlamentar, mesmo que  não tenhaformação e nem mesmo informação jurídica, poderá resolver sobre a prisão

    em flagrante e relaxar esta, o que nos parece não condizer com a lógica jurídica e nem legal, sendo irrazoável.33 

    Isto porque, a única situação em que se admite a prisão do parlamentar é no

    caso de flagrante em crime inafiançável, regulamentados respectivamente nos

    incisos XLII, XLIII e XLIV do art. 5º. da Constituição Federal, sejam eles: o crime de

    racismo, a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o

    terrorismo e os definidos em Lei como hediondos, bem como a ação de grupos

    armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

     Assim, reforça-se o entendimento de que esta generalização é abusiva e que

    atenderá aos mais diversos interesses, que não somente àqueles ao qual se destina

    o instituto.

    Questiona-se, porque somente crimes inafiançáveis, e somente se em

    flagrante, afinal, se existirem provas irrefutáveis de que um parlamentar cometeu um

    crime, seja ele qual for, inclusive, não existindo qualquer vínculo que demonstre

    tenha sido este decorrente do pleno exercício de sua função, por que a exceção da

    prisão? ou, a possibilidade de intervirem no processo instaurado? Afinal, qual o

    vínculo existente entre a função do parlamentar e o fato dele não vir a cumprir suas

    obrigações quanto à prestação de alimentos, por exemplo. A resposta é nenhuma.

    Logo, injustificável se torna esta abrangência.

    É de bom alvitre trazer a baila o caso do Deputado Distrital CRISTIANO

     ARAÚJO, pego em flagrante dirigindo embriagado, que acabou ileso de qualquer

     ______________  

    33 RODRIGUES, Décio Luiz José. Imunidade parlamentar: a impunidade continua? Boletim Jurídico,n. 157, 20 dez. 2005. Disponível em: . Acesso em: 3 mar. 2008.

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    punição, fazendo parecer com que o episódio não passasse de um completo

    equívoco da Polícia, e mais uma vez, percebe-se a proteção corporativista dos pares

    que deixaram o fato sem nenhum tipo de providência, conforme noticiado no Correio

    Brasiliense, in verbis:

    Deputados lavam as mãos no caso Cristiano

    Por Correio Braziliense 03/05/2008 às 12:34

    Se depender da Câmara Legislativa, o flagrante do petebista dirigindona contramão e aparentando embriaguez será esquecido

    deputado diz que se sentiu mal e pediu ajuda de uma patrulha da PolíciaMilitar

     ANA MARIA CAMPOS

    DA EQUIPE DO CORREIO

    José Varella/CB/D.A Press - 24/8/07

    Deputados distritais evitam comentar publicamente o episódio relacionadoao colega Cristiano Araújo (PTB), supostamente flagrado por policiaismilitares numa via pública dirigindo na contramão e com aparência deembriaguez. Se depender da Câmara Legislativa, o assunto será esquecido,a não ser que investigações do Ministério Público e da Corregedoria daPolícia Militar (PM) do Distrito Federal confirmem suspeita de que Cristianousou a prerrogativa de parlamentar para não responder a processo porcrime previsto no Código de Trânsito Brasileiro.

    O presidente da Câmara, Alírio Neto (PPS), afirma que a Casa só poderátomar providências se for provocada por alguma representação, ou seja, sealgum cidadão pedir a abertura de processo por quebra de decoro. O líderdo governo, Leonardo Prudente (DEM), afirma que só tomou conhecimentode que Cristiano Araújo se envolveu num problema no trânsito pelos jornais.?Nem sei se nesse caso há alguma relação com decoro. Apenas nessahipótese haveria alguma discussão na Câmara Legislativa, mesmo assim sealguém tomar a iniciativa, explica o distrital.

    Nem mesmo os distritais da oposição têm se empenhado em apurar oepisódio relacionado ao deputado da base do governo. O líder do PT, CaboPatrício, considera a denúncia grave, mas avalia que o melhor caminho édeixar a investigação na esfera do Ministério Público. Sua maiorpreocupação é prejudicar os policiais militares que participaram daabordagem ao parlamentar, na madrugada de 22 de novembro. ?Elessofrem uma pressão para cumprir uma ordem de um oficial. Não podem serresponsabilizados agora?, diz Patrício, referindo-se aos PMs que liberaramCristiano sem uma ocorrência policial.

    Polícia Militar

    Registro do computador da Polícia Militar mostra que Cristiano dirigia suaToyota Hilux numa via próxima ao Conjunto Nacional Brasília (CNB), nacontramão, e aparentemente embriagado, sem condições de conduzirveículo na rua. Cristiano teria telefonado para o então chefe da Casa Militar,coronel Edson Soares de Lima. O parlamentar passou o telefone para ospoliciais que conversaram diretamente com o oficial. Este pediu que odistrital fosse levado para casa, no Lago Sul. Num processo de rotina, ospoliciais militares teriam levado Cristiano para uma delegacia de polícia para

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    registrar ocorrência. Ele seria submetido a exame, para comprovar seestava ou não alcoolizado. A abordagem poderia resultar numa denúnciapor crime previsto no artigo 306 do Código de Trânsito.Cristiano tem outra versão para o ocorrido. Ele diz que estava a caminho decasa depois de um jantar com amigos, quando se sentiu mal e pediu a

    ajuda de uma patrulha da Polícia Militar. O deputado, então, teria pedidopara ser levado para casa porque estava sem condições de dirigir, mas nãoestava na contramão. Como os policiais se negaram a transportá-lo,Cristiano telefonou para o coronel Edson para pedir uma intervenção. Ospoliciais atenderam ao pedido do oficial e levaram Cristiano para aresidência dele.

    O deputado sustenta que existe uma armação política para prejudicá-lo, jáque o episódio teria sido distorcido no registro da Polícia Militar. O caso veioà tona, depois de cinco meses, porque um policial militar acessou o registrono computador da corporação, emitiu o documento e o entregou ao ex-deputado Silvio Linhares, que denunciou o caso em seu programa de rádiona última quarta-feira. 34 (grifo nosso).

    Portanto, caso como o acima citado, em nada corresponde com a função

    parlamentar, até porque, direção perigosa é dever de qualquer condutor evitá-la,

    sendo que esta conduta ilícita, independente de ser ou não parlamentar deve sofrer

    as sanções da lei.

     Assim, não se considera fragilizar o Poder Legislativo o fato de a prisão

    abranger também os crimes comuns, afinal, crime é crime, seja ele inafiançável ou

    não, até porque, se o Congresso tem a oportunidade de intervir no processo, nos

    casos em que haja alguma suspeita que mereça tal procedimento, porque a

    diferenciação.

    Como justificar a possibilidade do Congresso poder relaxar uma prisão no

    caso de um flagrante em crime de homicídio, conforme no exemplo acima. É

    certamente descabível, e embora hipotético o exemplo, a sociedade brasileira, ao

    longo dos últimos anos, vem sendo açodada com notícias de crimes com

    envolvimento de parlamentares, que não tornam distante da realidade o referido

    exemplo.

    Os membros do congresso já não demonstram estarem tão preocupados com

    a imagem que estão passando para a sociedade, haja vista o cenário político dos

    últimos tempos refletirem uma total falta de ética moral, social e política.

     A quantidade de CPI’s que se abrem para apurar denúncias que envolvem os

    membros da Casa em crimes contra o patrimônio público tornaram-se excessivas,

     ______________  

    34  DEPUTADOS lavam as mãos no caso Cristiano.  Correio Braziliense, Brasília, 3 maio 2008.Disponível em: . Acesso em: 2abr.2009

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    demonstrando que honestidade e moralidade são virtudes que estão se perdendo,

    virando casos de exceção à regra geral.

    Nesse mesmo sentido, são as palavras do autor Jorge Roberto Krieger, in

    verbis:

     A imunidade processual, ampla e genérica, constitui uma afronta maior aoprincípio da igualdade de todos perante a lei. É este princípio que requerseja a lei aplicada de forma geral e nas suas especificações a todos. Afrontatambém a exigência de responsabilização de todos os agentes públicospelas ações que cometerem.

    O fato de exercer uma função pública não pode servir como escudo para oparlamentar, pelo contrário, deve aumentar a atribuição deresponsabilidades e asseverara punição dos eventuais delitos, estranhos àsfunções legislativas, que este venha a cometer.35 

    Há que existir coerência lógica quanto às reais necessidades a serem

    protegidas pelo instituto, a fim de se evitar que este ao invés de representar uma

    prerrogativa da função, represente um privilégio que desvirtue as finalidades do

    mesmo.

    Conforme cita o autor Jorge Kunaraka: ―[...] Direitos em porção maior que as

    obrigações redundarão em privilégios, assim como obrigações em maior peso

    acarretam discriminações‖.36 

    Logo, merecem proteção os fatos cometidos em decorrência do exercício dafunção, não se englobando qualquer outro de natureza diversa. Pois ao

    estabelecermos esse elo estaremos diante de um instrumento justo e harmônico aos

    princípios que norteiam o Estado Democrático de Direito, ao quais todos devem se

    submeter.

    Sobre o tema, importantes são as considerações do autor acima citado, in

    verbis:

    [...] defendemos entendimento de que a garantia de não-prisão, que tem porfinalidade proteger o parlamentar contra possíveis irregularidades policiais,não mais se justifica. Prejuízo algum teria o Parlamento e o parlamentar,caso se sujeitasse à regra comum, limitando-se a autoridade a comunicarimediatamente a Casa respectiva acerca da prisão. Ademais, o TextoConstitucional assegura a todos, inclusive aos cidadãos exercentes demandatos parlamentares, a liberdade de locomoção (art. 5º, XV); regra queninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita efundamentada de autoridade judiciária competente (art. 5º, LXI),determinado-se, em caso de prisão, que a autoridade policial comuniqueimediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por eleindicada (art. 5º, LXII). Além de encontrar-se atribuído ao Ministério Público

     ______________  

    35  KRIEGER, Jorge Roberto. Imunidade parlamentar : histórico e evolução do instituto no Brasil.Florianópolis: Obra Jurídica. 2004. p. 112. (Coleção Alicerce Jurídico; 1).36 KUNARAKA, 2002, p. 191.

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    o exercício do controle externo da atividade policial (art. 129, VII), eventualtolhimento ilegal à liberdade de locomoção poderá sempre ser corrigidaatravés do emprego do remédio do Hábeas Corpus (art. 5º, LXVIII).37 

     A justificativa de que podem estar sendo vítimas de armadilhas políticas não é

    suficiente, tampouco cabível, quando fundamentos fortes e provas irrefutáveis,

    demonstram outra verdade. É subestimar a inteligência da sociedade e ao contrário

    do que deveriam estar preservando, ou seja, o Congresso Nacional, estão tornando-

    o cada vez mais frágil.

    Os parlamentares deveriam ser exemplos de honestidade e lisura, todavia, o

    cenário que se apresenta é totalmente diverso. Temos políticos sonegando até

    imposto de renda.

    Reportagem publicada no Correio Braziliense, de 8 de junho de 2008, trazia a

    seguinte manchete: ―Levantamento do Correio mostra que 14 deputados e quatro

    senadores são acusados de crimes fiscais, mas não negociam seus débitos com o

    fisco. Foro privilegiado atrasa julgamentos.‖38 

    Nessa reportagem, afirmou o Ministro do Supremo Tribunal, Celso de Mello:

    ―[...] que o curto prazo de prescrição tem sido um agravante para a impunidade de

    crimes fiscais e tributários. No entanto, ressaltou que as providências para isso

    cabem exclusivamente aos próprios legisladores.‖39 

     A incidência de tal fato só é possível porque ainda existem falhas no instituto

    que necessitam ser corrigidas.

    Ocorre que após a diplomação, o parlamentar que já vinha respondendo

    processo por crime tributário na justiça comum, obtém o direito ao foro privilegiado, e

    assim, essa mudança implica em atraso no andamento do processo, favorecendo o

    parlamentar, que se beneficia da prescrição, que em média ocorre com cinco anos,

    sendo que, ao final, raramente são obrigados a devolverem o dinheiro aos cofrespúblicos.

    Portanto, diante de tais casos, está demonstrado que o instituto ainda carece

    de maiores restrições para que seja uma bandeira em favor do Legislativo, e não um

    manto de proteção que acoberta a incidência de crimes.

     ______________  

    37 KUNARAKA, 2002, p. 184.38  TORRES, Izabelle. Dinheiro público: políticos em dívida com a Receita. Correio Braziliense,Brasília, 8 jun. 2008. Seção – Política, p. 3.39 TORRES, 2008, p. 3.

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     39

    Por todo exposto, convém considerar que a ocorrência negativa e significativa

    de determinados fatos provocam o direito, afinal é o velho ditado, de que os fatos

    podem fazer surgir direitos, ou alterar, ou ampliar, e até suprimir. No caso do instituto

    da imunidade parlamentar, os fatos, ou seja, o comportamento negativo imperante

    no parlamento demanda uma norma mais rígida, e menos abrangente. Assim, faz-se

     justa a posição de muitos doutrinadores, no sentido de que a imunidade formal seja

    totalmente suprimida, o que deveria, aliás, ter ocorrido quando da instituição da

    Emenda Constitucional nº 35/2001.

    E também, deveria ter sido mais rígida, restringindo a possibilidade de

    intervenção das Casas no trâmite do processo instaurado a qualquer momento, isto

    é, essa possibilidade deveria estar, pelo menos, restrita aos 45 (quarenta e cinco)imediatos à notificação de instauração do processo junto ao Supremo Tribunal

    Federal.

    Convém destacar que a experiência vem demonstrando que o corporativismo

    é outro fator que impede a imparcialidade no julgamento dos parlamentares em

    relação aos seus pares.

    Vejamos o caso noticiado no Jornal Agora  – O Jornal do Sul, datado de 2 de

     junho de 2008, referente ao caso do Deputado Estadual Álvaro Lins, ex-chefe depolícia do Rio de Janeiro, in verbis:

    Decisão que mandou soltar Álvaro Lins é criticada Juristas e a Ordem dos Advogados do Brasil criticaram, no final de semana,a decisão da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que mandousoltar o deputado peemedebista Álvaro Lins, ex-chefe da Polícia Civil do Riode Janeiro, preso na sexta-feira durante a Operação Segurança PúblicaS.A., que apontou a formação de uma organização criminosa chefiada peloex-governador Anthony Garotinho.Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o ex-chefe de polícia, comapoio político de Garotinho, usava a estrutura da corporação para

    cometer crimes, como corrupção, lavagem de dinheiro e facilitaçãopara o contrabando. Gravações telefônicas autorizadas pela Justiçamostravam como o peemedebista conseguia vantagens. Numa dasligações, Lins conversa com o advogado Sergio Mazzillo, combinandocomo passar para o nome de um morto (o avô da atual mulher doparlamentar) o apartamento onde ele mora atualmente, avaliado em maisde R$ 1 milhão.Para Claudio Pereira Neto, conselheiro federal da OAB, a decisão doscolegas do parlamentar preso foi "açodada, sem o exame cuidadoso dosfatos que levaram o juiz a decretar a prisão". Segundo ele, a decisão teriasido para "garantir privilégios e corporativismo". A Alerj justifica a decisão dizendo ter considerados "frágeis" os elementosque levaram à prisão do deputado. Os parlamentares votaram, por 40 a 15,

    pela ilegalidade da prisão, alegando que a medida visou a "garantir oprincípio constitucional da imunidade parlamentar". A situação política de Álvaro Lins será avaliada pela Alerj. As acusaçõesserão analisadas pela corregedoria interna da Casa, que promete um

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    parecer em até 15 dias. Constatada a quebra do decoro parlamentar, omandato do deputado do PMDB pode ser cassado. O advogado UbiratanGuedes, que faz a defesa do deputado, disse que ele responderá a todas asacusações. Álvaro Lins deve conceder entrevista coletiva ainda hoje.Sob suspeita - A Assembléia Legislativa do Rio enfrenta uma crise de

    credibilidade sem precedentes. Dos 70 deputados, 33 estão na mira doMinistério Público Estadual, do Tribunal de Justiça, do Tribunal deContas do Estado (TCE) e até do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), quequer barrar candidaturas de políticos com antecedentes criminais. Quasemetade dos integrantes eleitos em 2006 são denunciados por diversasacusações: estelionato, improbidade e até formação de quadrilha ehomicídio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.Na votação de sexta-feira, até mesmo o presidente do Conselho de Ética daCasa, o deputado Paulo Melo (do mesmo partido de Lins) votou pelarevogação da prisão do parlamentar acusado pelo MPF.40 (grifo nosso).

    Como se pode verificar, as provas não demonstram fragilidade, tampouco a

     justiça vinha agindo de forma precipitada, já que havia todo um processoinvestigatório sendo desenvolvido perante os suspeitos.

    No caso do Deputado Álvaro Lins apesar das fortes suspeitas quanto ao seu

    envolvimento nos crimes acima citados, para prendê-lo fazia-se necessário que

    fosse a flagrante de crime inafiançável. E, mesmo conseguindo enquadrá-lo, foi o

    clamor social somatizado à divulgação