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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM URBANISMO, HISTÓRIA E ARQUITETURA DA CIDADE LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO APLICADO AO ESPAÇO URBANO COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: O CASO DO SAPIENS PARQUE BEATRIZ FRANCALACCI DA SILVA Nelson Popini Vaz Florianópolis, 10 de março de 2008.

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM URBANISMO, HISTRIA E ARQUITETURA DA CIDADE

    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO

    APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO DE

    DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL: O CASO DO SAPIENS PARQUE

    BEATRIZ FRANCALACCI DA SILVA

    Nelson Popini Vaz

    Florianpolis, 10 de maro de 2008.

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM URBANISMO, HISTRIA E ARQUITETURA DA CIDADE

    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO

    APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO DE

    DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL: O CASO DO SAPIENS PARQUE

    BEATRIZ FRANCALACCI DA SILVA

    Dissertao submetida ao programa de Ps-

    Graduao em Urbanismo, Histria e Arquitetura da

    Cidade PGAU-Cidade, da Universidade Federal de

    Santa Catarina, como requisito parcial para a obteno

    do grau de Mestre em Urbanismo, Histria e

    Arquitetura da Cidade. rea de pesquisa:

    Configuraes Regionais, Planejamento Urbano e Meio

    Ambiente

    Nelson Popini Vaz Orientador

    Florianpolis, 10 de maro de 2008.

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    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO

    APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO DE

    DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL: O CASO DO SAPIENS PARQUE

    BEATRIZ FRANCALACCI DA SILVA

    Esta dissertao foi julgada adequada para a obteno do Grau de Mestre em Urbanismo,

    Histria e Arquitetura da Cidade, na rea de concentrao em Configuraes Regionais,

    Planejamento Urbano e Meio Ambiente do programa de Ps-Graduao em Urbanismo,

    Histria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade, da Universidade Federal de Santa Catarina

    e aprovada, em sua forma final, em 10 de maro de 2008.

    ______________________________________ Prof. Dra. Gilcia Pesce do Amaral e Silva

    Coordenador do PGAU - cidade

    _______________________________________ Prof. Dr.Nelson Popini Vaz

    Orientador

    BANCA EXAMINADORA

    __________________________________ Prof. Dr. Almir Francisco Reis

    __________________________________ Prof. Dr. Eduardo Jorge Flix Castells

    __________________________________ Prof. Dr. Gilberto Montibeller Filho

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    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO

    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

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    AGRADECIMENTOS

    Uma dissertao de mestrado nunca pode ser vista como definitivamente finalizada,

    porque em um trabalho como este sempre haver o que possa ser corrigido e acrescentado.

    Esta dissertao constitui apenas um pequeno trecho de um longo caminho a ser percorrido.

    Sendo assim, neste momento, devem-se os agradecimentos queles que, de alguma forma,

    colaboraram para o desempenho deste trabalho:

    Coordenao e Secretaria do PGAU Cidade, em particular professora Gilcia

    Pesce do Amaral e Silva, pelo incentivo constante e pela disponibilidade da realizao do

    curso de Mestrado.

    Ao meu orientador, Nelson Popini Vaz, pela orientao que me permitiu descobrir

    limites e possibilidades e pelo respeito s posies tomadas pela autora no decorrer do

    trabalho, agradeo convivncia.

    Ao amigo e professor Eduardo Jorge Flix Castells, pelo material do Instituto de

    Arquitetos do Brasil cedido para anlise e que servem de embasamento para a avaliao

    final da pesquisa, alm das discusses que permitiram seu direcionamento.

    Ao professor Gilberto Montibeller Filho, pelas valiosas contribuies em minha banca

    de qualificao e pela presena na banca de defesa e ao professor Almir Francisco Reis,

    pelas colocaes finais que possibilitaram o aprimoramento do trabalho.

    Fundao CERTI e ao Gerente Executivo do Sapiens Parque Leandro Carioni, pela

    ateno e disposio de todo o material referente ao empreendimento, indispensveis

    finalizao do trabalho.

    Aos colegas do mestrado PGAU Cidade, em especial Fernanda e Joana, pela

    amizade e discusses em sala, que em muito contriburam nesta dissertao.

    Ao Fernando, pelo apoio incondicional e pelas fotos especialmente encomendadas e

    que ilustram o terceiro captulo.

    minha querida amiga Bianca, pela ajuda na reviso e traduo do Ingls, e minha

    tia Vera, licenciada em Letras, pela reviso ortogrfica do Portugus.

    Por fim, mas no menos importante, aos meus pais e aos meus irmos Luciano,

    Marcos e Guilherme, pela segurana e certeza de que sempre estaro presentes.

    A todos, o meu muito obrigada!

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Localizao do Sapiens Parque .......................................................................... 29

    Figura 2 Terreno de implantao do Sapiens Parque........................................................ 30

    Figura 3 Marco Zero do Sapiens Parque ........................................................................... 35

    Figura 4 Reservas da Biosfera no Brasil............................................................................ 60

    Figura 5 Proposta de Reserva da Biosfera Urbana para Florianpolis.............................. 69

    Figura 6 Processo Metodolgico da Estratgia Empresarial ............................................. 95

    Figura 7 Barcelona - Estdio da Vila Olmpica................................................................. 101

    Figura 8 Barcelona - Estdio da Vila Olmpica................................................................. 101

    Figura 9 Barcelona - Arena de Esportes.......................................................................... 101

    Figura 10 Barcelona - Torre Telefnica de....................................................................... 101

    Figura 11 Curitiba pera de Arame .............................................................................. 106

    Figura 12 Curitiba Sistema Integrado de Transportes .................................................. 106

    Figura 13 Curitiba Museu Oscar Niemeyer ................................................................... 106

    Figura 14 Curitiba Jardim Botnico............................................................................... 106

    Figura 15 Rio de Janeiro/ Jacarepagu Autdromo de Jacarepagua........................... 108

    Figura 16 Rio de Janeiro/ Tijuca Maracan .................................................................. 108

    Figura 17 Rio de Janeiro/ Zona Sul Cristo Redentor .................................................... 109

    Figura 18 Rio de Janeiro/ Centro Catedral Metropolitana............................................. 109

    Figura 19 Master Plan Original do Sapiens Parque 2003................................................ 119

    Figura 20 Gradientes de ocupao do terreno de implantao do Sapiens Parque........ 137

    Figura 21 Implantao Master Plan Sapiens Parque 2005.............................................. 138

    Figura 22 Perspectiva Master Plan Sapiens Parque 2005 .............................................. 139

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Padres de desenvolvimento econmico............................................................ 44

    Tabela 2 Unidades de Conservao de Florianpolis ........................................................ 58

    Tabela 3 Dimenses, objetivos e critrios de desenvolvimento sustentvel...................... 65

    Tabela 4 Transformaes nas polticas, intervenes e imagens de Curitiba ................. 105

    Tabela 5 A diversidade do Rio de Janeiro e suas potencialidades. ................................. 108

    Tabela 6 Principais Impactos identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque .............. 123

    Tabela 7 Impostos gerados pelo empreendimento Sapiens Parque................................ 129

    Tabela 8 Limites do Projeto Sapiens Parque rumo ao desenvolvimento sustentvel ...... 141

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    LISTA DE ANEXOS

    Anexo 1 Avaliao do Sapiens Parque segundo o IAB-SC ............................................ 158

    Anexo 2 Tabela de Impactos e Medidas Compensatrias do Sapiens Parque ............... 164

    Anexo 3 Master Plan Sapiens Parque 2005 .................................................................... 165

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    LISTA DE SIGLAS

    ARENA - Aliana Renovadora Nacional

    CASAN - Companhia Catarinense de guas e Saneamento

    CELESC - Centrais Eltricas de Santa Catarina SA

    CERTI - Fundao Centros de Referncia em Tecnologias Inovadoras

    CIC - Cidade Industrial de Curitiba

    CODESC - Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina

    CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

    CSD - Comisso para o Desenvolvimento Sustentvel

    EIA - Estudo de Impacto Ambiental

    EIV - Estudo de Impacto de Vizinhana

    ESI - Environmental Sustenaibility Index

    FAPESC - Fundao de Apoio Pesquisa Cientfica e Tecnolgica do Estado de Santa Catarina

    FATMA Fundao do Meio Ambiente

    FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos

    FMI - Fundo Monetrio Internacional

    IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil

    IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatsticas

    IDH - ndice de Desenvolvimento Humano

    IDS - Indicadores de Desenvolvimento Sustentvel

    IPPUC - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba

    IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano

    LAP - Licena Ambiental Prvia

    MERCOSUL - Mercado Comum do Sul

    ONU - Organizao das Naes Unidas

    PFL - Partido da Frente Liberal

    PIB - Produto Interno Bruto

    PMDB - Partido do Movimento Democrtico Brasileiro

    PMF - Prefeitura Municipal de Florianpolis

    PNB - Produto Nacional Bruto

    PNUD - Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    RBAC Reserva da Biosfera da Amaznia Central

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    RBMA - Reserva da Biosfera Mata Atlntica

    RBC Reserva da Biosfera do Cerrado

    RBCA Reserva da Biosfera da Caatinga

    RBCVSP Reserva da Biosfera do Cinturo Verde de So Paulo

    RBP Reserva da Biosfera do Pantanal

    RBU Reserva da Biosfera Urbana

    RIMA - Relatrio de Impacto Ambiental

    SINDUSCON - Sindicato da Indstria da Construo Civil

    SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente

    SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservao

    SPE - Sociedade de Propsitos Especficos

    SUDAM - Superintendncia do Desenvolvimento da Amaznia

    SUDENE - Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste

    UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

    UNCED - Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

    UNCTAD - Conferncia das Naes Unidas sobre Comrcio-Desenvolvimento

    UNEP - Programa de Meio Ambiente das Naes Unidas

    UNESCO - Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura

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    RESUMO

    SILVA, Beatriz Francalacci da. Limites do planejamento estratgico aplicado ao espao urbano como instrumento de desenvolvimento sustentvel: o caso do Sapiens Parque. 2008. Dissertao (Mestrado em Urbanismo, Histria e Arquitetura da Cidade, PGAU-Cidade). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 168 f.

    Orientador: Nelson Popini Vaz Linha de Pesquisa: Configuraes Regionais, Planejamento Urbano e Meio Ambiente Defesa: 10/03/2008

    O conjunto de processos e agentes externos de uma cidade sempre resulta em influenciar a sua evoluo urbana. A globalizao fortifica a velocidade com que ocorrem essas mudanas externas, cujas inovaes tecnolgicas e alteraes econmicas, polticas e socioculturais trazem implicaes no processo construtivo das cidades. O espao urbano transformado em um capital comum para toda a humanidade e ganha novas funes, dando origem ao ambiente competitivo entre as cidades e refletindo suas modificaes no planejamento. As cidades passam a constituir centros de articulao e controle de economias regionais, nacionais e internacionais, a partir de vocaes e especializaes urbanas. As aes estratgicas em mbito urbano, definidas dentro da lgica do mercado, caracterizam o novo modelo de planejamento a ser adotado frente aos desafios impostos pela globalizao. Por outro lado, a problemtica ambiental global surgida no sculo XX determinou um novo paradigma de desenvolvimento, que apresenta como diretriz a integrao das relaes humanas com o ambiente natural. O conceito de desenvolvimento sustentvel compreende uma alternativa s teorias e modelos tradicionais de desenvolvimento, e marca uma nova filosofia que combina eficincia econmica com justia social e prudncia ecolgica. Este trabalho estabelece uma relao entre o paradigma do desenvolvimento sustentvel e o atual modelo de planejamento urbano estratgico. Para tanto, faz uma avaliao da eficincia do modelo de planejamento urbano como instrumento de desenvolvimento sustentvel, segundo os conceitos e critrios de sustentabilidade. A anlise baseia-se no estudo de caso do empreendimento Sapiens Parque, para Florianpolis. Tal empreendimento caracteriza-se como um programa de desenvolvimento regional, baseado na produo cientfica e tecnolgica, e que visa a sustentabilidade social, econmica e ambiental. A pesquisa aponta os limites deste projeto no alcance do desenvolvimento sustentvel regional, atravs do levantamento dos seus impactos em meio fsico, bitico e scio-econmico, permitindo identificar em quais aspectos o modelo de planejamento urbano adotado contraria os conceitos de sustentabilidade estudados.

    Palavras-chave: desenvolvimento sustentvel, planejamento estratgico, projeto urbano, globalizao.

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    ABSTRACT

    SILVA, Beatriz Francalacci da. Limites do planejamento estratgico aplicado ao espao urbano como instrumento de desenvolvimento sustentvel: o caso do Sapiens Parque. 2008. Dissertao (Mestrado em Urbanismo, Histria e Arquitetura da Cidade, PGAU-Cidade). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 168 f.

    Adviser: Nelson Popini Vaz Line of Research: Regional Configurations, Urban Planning and Environment Date of Presentation: March 10th of 2008

    The set of processes and external agents of a city always results in influencing its urban evolution. The globalization increases the velocity in which these external changes take place and changes the space into a common capital to the humanity, bringing its implications to the cities constructive process. The urban space has new functions, creating a competitive environment between cities and reflecting in modifications in the urban planning. Through urban vocations and specializations, the cities start to constitute articulation and control centers of regional, national and international economy. The strategic actions in the urban field, defined according to the market logic, characterize the new planning model to be adopted facing the challenges imposed by the globalization. On the other hand, the global environmental problem that appeared in 20th century determined a new development paradigm, that presents as a direction line the integration between human relations and natural environment. The concept of sustainable development comes as an alternative to the theories and traditional models of development, and marks a new philosophy that combines economic efficiency with social justice and ecological prudence. This thesis establishes an interaction between the paradigm of the sustainable development and the current model of strategic urban planning. In order to achieve that, an efficiency evaluation of the urban planning model as a tool of sustainable development is made, according to the concepts and the criteria of sustainability. The analysis is based an enterprise Sapiens Park study of case, in Florianpolis. Such enterprise is characterized as a regional development program, based on the scientific and technological production, and it aims at the social, economic and environmental sustainability. The research points the limits of this project while trying to reach the regional sustainable development, through the survey of its impacts in the physic, biotic and socio-economic environment, allowing the identification of which aspects the urban planning model current adopted opposes the concepts of sustainability studied.

    Keywords: sustainable development, strategic planning, urban project, globalization.

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    SUMRIO

    AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ 04

    LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................. 05

    LISTA DE TABELAS............................................................................................................. 06

    LISTA DE ANEXOS .............................................................................................................. 07

    LISTA DE SIGLAS ................................................................................................................ 08

    RESUMO ............................................................................................................................... 10

    ABSTRACT ........................................................................................................................... 11

    INTRODUO....................................................................................................................... 14

    Justificativa ............................................................................................................................ 14

    Objetivos da pesquisa............................................................................................................ 17

    Metodologia de pesquisa e estrutura do trabalho.................................................................. 18

    1. INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE................................ 22

    1.1 Caracterizao de Florianpolis ................................................................................... 22

    1.2 O empreendimento Sapiens Parque ............................................................................ 26

    1.2.1 Apresentao do projeto .................................................................................... 26

    1.2.2 Localizao urbana do empreendimento ........................................................... 29

    1.2.3 Mdulos e Setores ............................................................................................. 33

    1.2.4 Agentes envolvidos ............................................................................................ 35

    2. DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE ................................................................ 40

    2.1 Conceito de desenvolvimento....................................................................................... 40

    2.1.1 Brasil e desenvolvimento ................................................................................... 46

    2.2 A insero ambiental no desenvolvimento ................................................................... 51

    2.2.1 Ecodesenvolvimento .......................................................................................... 54

    2.2.2 Desenvolvimento Sustentvel ............................................................................ 61

    2.3 Sustentabilidade urbana ............................................................................................... 66

    2.3.1 Diretrizes para a sustentabilidade urbana.......................................................... 71

    2.4 Turismo, Desenvolvimento e Meio Ambiente ............................................................... 75

    2.5 Impactos Ambientais Urbanos...................................................................................... 79

    2.5.1 Impactos de Projetos Desenvolvimentistas........................................................ 81

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    3. PLANEJAMENTO URBANO ESTRATGICO ............................................................ 86

    3.1 Globalizao e a nova funo das cidades .................................................................. 86

    3.2 Estratgias das cidades para as novas funes urbanas ............................................ 88

    3.3 O modelo estratgico de planejamento das cidades.................................................... 93

    3.4 Variaes em torno de um mesmo modelo .................................................................. 99

    3.4.1 Barcelona e o caso da Vila Olmpica ................................................................. 99

    3.4.2 Curitiba e suas intervenes urbanas ............................................................. 102

    3.4.3 Rio de Janeiro e os Planos Estratgicos Regionais......................................... 106

    3.5 Concluses parciais: Limites do planejamento estratgico ........................................ 110

    4. AVALIAES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE ................................. 117

    4.1 Avaliaes do Instituto de Arquitetos do Brasil........................................................... 117

    4.2 Avaliaes do EIA-RIMA 2003 ................................................................................... 120

    4.2.1 Impactos e medidas compensatrias em meio fsico e bitico ........................ 124

    4.2.2 Impactos e medidas compensatrias em meio scio-econmico .................... 126

    4.2.3 Atribuies dadas ao poder pblico ................................................................. 131

    4.2.4 Aspectos legais ................................................................................................ 132

    4.3 Avaliaes da comunidade local ................................................................................ 135

    4.4 Avaliaes do Master Plan 2005 ................................................................................ 136

    4.5 Diagnstico final: avaliao dos limites ...................................................................... 140

    5. CONCLUSES .......................................................................................................... 145

    REFERNCIAS ................................................................................................................... 151

  • INTRODUO

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    INTRODUO

    JUSTIFICATIVA, OBJETIVO E METODOLOGIA E ESTRUTURA DO TRABALHO

    As mudanas tecnolgicas, econmicas, geo-polticas e scio-culturais ocorridas no

    mundo como decorrncia do aparecimento da globalizao apresentam suas influncias na

    configurao do espao urbano. As cidades passaram de espaos locais a centros

    articuladores de economias regionais, nacionais e internacionais, tendo como instrumento

    de planejamento aes estratgicas definidas dentro da lgica do mercado. Esta nova

    realidade gera o espao das cidades mundiais, onde as cidades buscam seu

    reconhecimento em nvel global atravs de vocaes e especializaes urbanas.

    Tal situao, no Brasil, teve seu maior exemplo refletido na cidade de Curitiba na

    dcada de 1990. Curitiba foi classificada como uma das melhores cidades brasileiras para

    se viver e tornou-se referncia nacional e internacional atravs de um plano de urbanizao

    especfico que visava atrativos culturais e de lazer. A exemplo do que aconteceu na capital

    paranaense, nos ltimos anos o espao metropolitano de Florianpolis vem sendo apontado

    como uma das regies de maior qualidade de vida do Brasil e com o menor ndice de

    violncia do pas.

    A pretenso de transformar Florianpolis em uma referncia mundial iniciou a partir

    da virada dos anos oitenta para os anos noventa. Ao final da dcada de 1980, defendia-se

    que a vocao de Florianpolis estaria na indstria do turismo e de alta tecnologia,

    entendidas como indstrias no poluentes e adequadas ao rico ambiente natural da cidade.

    Aps o lanamento do Mercosul, em 1991, Florianpolis foi nomeada com o ttulo de Capital

    Turstica do Mercosul. Em 2002, a revista nacional Exame colocou a capital de Santa

    Catarina como a quinta colocada dentre as melhores cidades do pas para a aplicao de

    investimentos.

    No ms de junho de 2007, Florianpolis esteve presente no evento Frum

    Internacional que aconteceu em Goyang, na Coria do Sul. O objetivo do evento era

    debater o tema do desenvolvimento urbano e cultural com convidados especiais,

    representantes oficiais e especialistas de renome internacional de um grupo de dez cidades

    especficas. O grupo reunia as 10 cidades mais dinmicas do mundo, que consistem as

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    regies econmicas mais promissoras do mundo, pesquisa realizada e publicada pela

    revista internacional Newsweek em julho de 2006. Florianpolis foi a nica cidade da

    Amrica Latina a ser classificada no ranking, juntamente a outros centros urbanos

    americanos, europeus e asiticos.

    A revista Newsweek justificou a incluso de Florianpolis na lista das dez cidades

    mais dinmicas do mundo devido a uma srie de fatores, entre eles o potencial turstico

    derivado da quantidade de praias, o alto nvel de escolaridade e a presena de uma nova

    indstria limpa do conhecimento, baseada em empresas de tecnologia de ponta. A notcia

    chega a referir-se capital como o futuro Vale do Silcio no Brasil, em uma comparao ao

    maior centro tecnolgico americano, na Califrnia.

    Florianpolis vem buscado tornar-se uma referncia internacional atravs de projetos

    e intervenes urbanas, seguindo processo semelhante ao qual se submeteu Curitiba. No

    evento de Goyang, a cidade foi representada pelo engenheiro mecnico e administrador

    Marcelo Ferreira Guimares, diretor de Cincia, Tecnologia e Inovao do Sapiens Parque,

    projeto urbano que constitui o estudo de caso deste trabalho.

    O Sapiens Parque consiste em um empreendimento com futura implantao no

    balnerio de Canasvieiras, no norte de Florianpolis, e que visa a atrao de investimentos

    privados e turistas. O projeto vem sendo apresentado pelos responsveis como um

    programa de desenvolvimento regional sustentvel para o norte da Ilha:

    O Sapiens Parque pode ser caracterizado como um programa de desenvolvimento regional envolvendo a criao de um novo centro urbano para Florianpolis, inteligente, baseado na sustentabilidade social, econmica e ambiental, voltado para produo cientfica, tecnolgica e educativa e a disseminao do conhecimento, e exigindo em sua implementao profundo trabalho de planejamento urbano, arquitetnico, ambiental, econmico, financeiro e jurdico. Sua finalidade extrapola a curiosidade cientfica e alcana a capacitao das futuras geraes para enfrentar o desenvolvimento equilibrado, a produo de riquezas e a agregao de valor para fazer frente competitividade do sculo XXI. (RIMA 1, 2003:01)

    Durante o decorrer do ano 2007, o Sapiens Parque e outros projetos urbanos foram

    apresentados em eventos mensais locais ocorridos em Florianpolis, denominados como

    Pensando a Cidade e patrocinados por empresas privadas e pelo Sindicato da Indstria da

    Construo Civil (SINDUSCON). O primeiro dos eventos apresentou um vdeo ilustrativo

    com um resumo desses projetos, intitulado A cidade que queremos, e contou com a

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    participao do governador em exerccio, Luiz Henrique da Silveira, que se mostrou

    visivelmente favorvel implantao dos projetos.

    Tais intervenes, segundo os patrocinadores do evento, promoveriam o

    desenvolvimento sustentvel de Florianpolis e regio, buscando equilibrar

    simultaneamente o crescimento econmico com o desenvolvimento social e cultural,

    mantendo a preservao ambiental. Alm do Sapiens Parque, os eventos ainda

    apresentaram o projeto de um hotel seis estrelas com localizao na Ponta do Coral (um

    local estratgico na principal avenida beira-mar da cidade) e o projeto de um campo de golfe

    para a praia do Costo do Santinho (prximo ao principal resort de Florianpolis), entre outros.

    Este trabalho faz uma anlise do projeto urbano do Sapiens Parque como ferramenta

    de desenvolvimento sustentvel para a regio metropolitana de Florianpolis, a partir do

    estudo de seus possveis impactos sociais, econmicos e ambientais positivos e negativos

    em mbito regional. O projeto Sapiens Parque incorpora os conceitos do modelo de

    planejamento urbano estratgico, que compreende a realizao de intervenes urbanas e

    investimentos estratgicos com o objetivo de atrao do capital privado e insero das

    cidades em nvel mundial. Em geral, tais intervenes constituem iniciativas dos governos

    locais formadas a partir da parceria dos rgos pblicos com as empresas privadas. As

    polticas locais tentam absorver e levar para a gesto e o planejamento local os novos

    paradigmas que buscam a criao das cidades mundiais. O modelo que sustenta tal

    pensamento baseia-se no conceito da competitividade urbana como escopo para o

    desenvolvimento local e melhoria das condies de vida da populao.

    Para a avaliao do projeto urbano Sapiens Parque, esta pesquisa parte de dois

    eixos estruturadores. O primeiro eixo estruturador consiste em mostrar os conceitos e

    critrios de desenvolvimento sustentvel em suas dimenses social, ambiental e econmica

    e suas aplicaes ao espao urbano.

    O termo desenvolvimento sustentvel surgiu na dcada de 1980 como um

    paradigma a ser seguido dentro das diretrizes de desenvolvimento, de forma a reunir

    questes sociais e ambientais ao crescimento econmico. Apesar de muitos autores

    discursarem a respeito da insustentabilidade do desenvolvimento sustentvel ao

    questionarem sua efetiva possibilidade de aplicao, o termo ainda vem sendo utilizado no

    discurso de muitos projetos urbanos como um importante objetivo a ser alcanado.

  • INTRODUO

    ______________________________________________________________________________

    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO

    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

    17

    O segundo eixo estruturador deste trabalho analisa a caracterizao e os limites do

    modelo de planejamento urbano estratgico, utilizado no conceito do Sapiens Parque,

    atravs de referenciais nacionais e internacionais existentes e das avaliaes j feitas em

    relao ao prprio empreendimento. O resultado final da pesquisa consiste na avaliao dos

    limites do projeto urbano Sapiens Parque como instrumento de desenvolvimento

    sustentvel.

    Esta pesquisa tambm pretende discutir o atual modelo de planejamento urbano

    adotado, atravs do estudo do Sapiens Parque: se os investimentos estatais dirigem-se aos

    reais problemas da sociedade, ou se esto eles direcionados promoo do capital no

    mundo globalizado. Trata-se de avaliar os impactos ambientais e scio-econmicos de tal

    empreendimento a nvel local e regional e discutir as reais possibilidades do alcance do

    desenvolvimento sustentvel atravs desse modelo. Assim, torna-se possvel prever e

    apontar os limites do planejamento urbano e procurar mudanas que possam melhor-lo.

    Vale lembrar aqui de que o projeto Sapiens Parque ainda no foi totalmente

    executado, tendo uma previso de quinze anos para a sua concluso. Trata-se, portanto, de

    trabalhar com indicativos de uma possvel e provvel situao, ainda no real.

    OBJETIVOS DA PESQUISA

    OBJETIVO GERAL

    Analisar o projeto do empreendimento Sapiens Parque como instrumento de

    desenvolvimento urbano sustentvel para a regio metropolitana de Florianpolis,

    identificando seus limites.

    OBJETIVOS ESPECFICOS

    Como forma de alcanar o objetivo geral acima especificado, os seguintes objetivos

    especficos so pr-estabelecidos:

  • INTRODUO

    ______________________________________________________________________________

    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO

    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

    18

    Verificar referenciais tericos e conceituais acerca do desenvolvimento

    sustentvel, definindo dimenses e critrios de sustentabilidade.

    Verificar referenciais tericos e conceituais acerca de intervenes e projetos

    urbanos existentes no mundo e no Brasil, utilizados como meio de

    desenvolvimento e insero da cidade em nvel global, e identificar suas

    limitaes como modelo de planejamento urbano.

    Avaliar o projeto Sapiens Parque, considerando seus impactos scio-econmicos

    e ambientais positivos e negativos, tomando como base bibliografia disponvel.

    Definir os limites do projeto Sapiens Parque como instrumento de

    desenvolvimento urbano sustentvel para a regio metropolitana de Florianpolis.

    METODOLOGIA DE PESQUISA E ESTRUTURA DO TRABALHO

    Para realizar uma avaliao do empreendimento Sapiens Parque como instrumento

    de desenvolvimento urbano sustentvel para Florianpolis e identificar seus limites, esta

    pesquisa foi estruturada atravs de quatro captulos.

    No primeiro captulo introduzido o estudo de caso, a partir da caracterizao geral

    do desenvolvimento urbano na regio metropolitana de Florianpolis e da apresentao do

    empreendimento Sapiens Parque, seus conceitos e atores envolvidos. Optou-se em expor

    de imediato o projeto que ser utilizado na avaliao final do trabalho para inteirar o leitor

    acerca do empreendimento, antes mesmo das exposies e anlises tericas que envolvem

    seus aspectos principais.

    O segundo e terceiro captulos desta pesquisa constituem, basicamente, a

    fundamentao terica que servir de base para a avaliao final do empreendimento

    Sapiens Parque, demonstrada no ltimo captulo. Como o objetivo geral do trabalho consiste

    em apontar os limites do projeto urbano Sapiens Parque como instrumento de

    desenvolvimento sustentvel, a fundamentao terica abordou essas duas temticas

    principais: os conceitos e critrios relacionados ao desenvolvimento sustentvel e os

  • INTRODUO

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    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO

    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

    19

    conceitos e avaliaes do modelo de planejamento urbano que caracteriza o

    empreendimento.

    O segundo captulo, intitulado Desenvolvimento e Meio Ambiente, analisa a

    conceituao terica referente ao desenvolvimento sustentvel e suas aplicaes ao espao

    urbano. Por tratar-se da avaliao de um projeto urbano que ainda no foi executado, optou-

    se em realizar uma pesquisa qualitativa, baseada em critrios de sustentabilidade. Frente

    abrangente bibliografia acerca do tema, este estudo transcorreu em torno de obras

    produzidas por determinados autores, reconhecidos pelas pesquisas realizadas em pases

    em desenvolvimento, como o Brasil. Foram destacadas, entre outras, as duas importantes

    obras de Ignacy Sachs1 Caminhos para o desenvolvimento sustentvel (2002) e

    Desenvolvimento: includente, sustentvel, sustentado (2004). A legislao pertinente ao

    tema tambm serviu como fonte de pesquisa bibliogrfica para anlise.

    Como o desenvolvimento urbano de Florianpolis tem forte influncia da atividade

    turstica e o empreendimento Sapiens Parque tem o turismo sustentvel como um dos

    conceitos do projeto, este segundo captulo aborda ainda questes relevantes acerca do

    turismo e de seus impactos no ambiente natural. Conceitos acerca de impactos ambientais

    de projetos urbanos voltados ao desenvolvimento de uma regio, como caracterizado o

    Sapiens Parque, tambm foram estudados ao final do captulo.

    Alm de toda a conceituao terica acerca das relaes entre o desenvolvimento

    urbano e o meio ambiente, o segundo captulo desta dissertao ainda enfatiza as

    aplicaes prticas de tais conceitos para a regio metropolitana de Florianpolis. Tais

    aplicaes so demonstradas no decorrer da fundamentao terica, atravs do

    levantamento das principais reas e projetos de preservao ambiental para a regio.

    O terceiro captulo deste trabalho levantou os conceitos e avaliaes do modelo de

    planejamento urbano adotado no projeto do Sapiens Parque, denominado planejamento

    estratgico, que apresenta como um dos elementos precursores do desenvolvimento a

    atrao de investimentos e de visitantes para determinada regio. O planejamento urbano

    1 Professor da cole des Hautes tudes en Sciences Sociales (EHESS), em Paris; e criador do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporneo (CRDC).

  • INTRODUO

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    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

    20

    estratgico caracteriza-se por estratgias das cidades na busca de ambientes competitivos

    capazes de transform-las em cidades mundiais no mundo globalizado.

    O terceiro captulo consiste em uma fundamentao terica baseada em pesquisa

    bibliogrfica. Foram analisadas de um lado as obras bibliogrficas de ARANTES (2000),

    VAINER (2000), MARICATO (2000) e SNCHEZ (2003), que criticam a utilizao do

    planejamento urbano estratgico como um modelo a ser aplicado a todas as realidades

    urbanas. De outro lado, temos a viso de BORJA e CASTELLS (2000), LOPES (1998) e

    GELL (1997), que analisam as origens e metodologias do planejamento estratgico e

    defendem que sua correta aplicao pode trazer benefcios para as cidades. Neste captulo

    so mostrados ainda referenciais de determinadas cidades onde tal modelo j foi aplicado,

    como Barcelona, Rio de Janeiro e Curitiba. As anlises dos estudos de caso buscam

    demonstrar as variaes que existem em torno deste mesmo modelo e tirar concluses

    parciais acerca dos seus resultados.

    O quarto captulo consiste na anlise final do projeto do empreendimento Sapiens

    Parque, tendo como base a fundamentao terica dos dois captulos anteriores. Para a

    etapa de avaliao do projeto foram utilizados os seguintes documentos:

    Material de divulgao do empreendimento Sapiens Parque

    Legislao ambiental e urbana incidente na rea de implantao do

    empreendimento

    Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatrio de Impacto Ambiental (RIMA) do

    Sapiens Parque

    Dossi de Insero Socioambiental do Sapiens Parque

    Memria de audincias pblicas relacionadas ao empreendimento

    Crtica do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SC) a respeito do projeto Sapiens

    Parque

    Entrevistas com atores locais concedidas rede de televiso local

    Notcias do empreendimento

    Os documentos acima apresentam as avaliaes feitas ao empreendimento Sapiens

    Parque pelos atores envolvidos. O quarto captulo levanta os principais impactos positivos e

    negativos do empreendimento em meios fsico, bitico e scio-econmico em nvel local,

    regional, municipal e metropolitano. A anlise de tais impactos associada fundamentao

  • INTRODUO

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    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO

    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

    21

    terica estudada permite a avaliao conclusiva dos limites do projeto Sapiens Parque como

    instrumento de desenvolvimento urbano sustentvel para Florianpolis.

    Por fim, a lista de obras citadas como Referncias ao trmino do trabalho constitui

    todas as obras bibliogrficas, material cartogrfico, documentos de acesso eletrnico,

    publicaes peridicas, legislao e material audiovisual que foram consultados para a

    elaborao desta pesquisa, independente de terem sido ou no referenciados nos textos ao

    longo do trabalho.

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO

    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

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    1. INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

    1.1 CARACTERIZAO DE FLORIANPOLIS

    O desenvolvimento urbano de Florianpolis deu-se principalmente no sculo XX,

    aps a cidade firmar-se como capital de Santa Catarina. VAZ (1991) atribui trs fatores

    principais para a transformao de Florianpolis neste sculo: a centralizao dos servios

    pblicos e administrativos da capital, que consolidou o ncleo do centro urbano; a integrao

    rodoviria, que substituiu o transporte martimo pelo rodovirio; e o turismo, que mesmo ainda

    sendo uma atividade sazonal trouxe modificaes relevantes no desenvolvimento urbano.

    As primeiras dcadas do sculo XX marcaram a crise da atividade porturia e a

    estagnao da agricultura local. A construo da Ponte Herclio Luz em 1926, que

    estabeleceu a conexo Ilha-continente, incrementou o transporte rodovirio e consistiu um

    importante impulsionador do desenvolvimento local. A urbanizao acarretou melhorias em

    infra-estrutura, atravs da implantao da rede de energia eltrica e dos sistemas de

    abastecimento de gua e captao de esgotos.

    Na dcada de 1930, o municpio enfrentou um perodo de estagnao devido

    Revoluo de Trinta, quando o governo local fez oposio candidatura de Getlio Vargas.

    A vida urbana da capital, antes marcada pela presena do ativo porto exportador, manteve-

    se nessa poca basicamente atravs do crescimento do setor pblico e dos servios

    oferecidos pelo governo estadual, alm da manuteno de pequena produo agrcola e

    industrial, fazendo com que o comrcio local se transformasse na principal atividade

    econmica. (VAZ, 1991)

    Nas dcadas de 1940 e 1950 a situao econmica da capital continuou estagnada,

    com queda no movimento porturio e sofrendo deficincias de infra-estrutura. O comrcio

    continuou sendo a atividade econmica principal, com pouca atividade industrial e a cidade

    manteve a sua caracterstica poltico-administrativa.

    A execuo de obras virias na metade do sculo XX possibilitou a expanso urbana

    para o interior da Ilha e forneceu o acesso s praias. Segundo VAZ (1991), Florianpolis

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

    23

    manteve sua imagem quase intacta at a dcada de 1960, quando se acelerou o processo

    de transformao, destacando o sistema de circulao e transportes rodovirios. Com a

    implantao da Universidade Federal de Santa Catarina em 1961 e de empresas estatais,

    federais e estaduais, Florianpolis passou a receber estudantes, professores e profissionais

    liberais de outras cidades e estados, contribuindo significativamente para o crescimento e o

    desenvolvimento da cidade. Nesta poca a indstria da construo civil comeou a se

    destacar na cidade, alm do setor de comrcio e servios:

    A crescente classe mdia multiplicou as grandes reas loteadas dos novos bairros residenciais e os edifcios de apartamento que margearam novas avenidas. Ela foi assistida por numerosa e perifrica camada social de baixa renda que sustentou o setor de comrcio e servios com mo de obra barata e a construo civil. (VAZ, 1991:33)

    A economia local passou a utilizar ainda mais as redes terrestres como transporte

    aps a construo da BR-101 na dcada de 1970, que fez a conexo Norte-Sul do Estado,

    como tambm com a construo da BR-470 (Rodovia Jorge Lacerda), que ligou a capital ao

    planalto catarinense. Somente nesta dcada, com o crescimento da mquina estatal,

    Florianpolis reativou seu dinamismo, compensando a decadncia da atividade porturia.

    De acordo com CECCA (1997), as dcadas de 1960 e 1970 foram marcadas por

    acentuado desenvolvimento urbano e conseqente busca de ocupao das praias pela

    populao local e, principalmente, por turistas estaduais, interestaduais e estrangeiros. A

    pavimentao de muitas vias que forneciam o acesso s praias foi realizada nesta poca,

    frente nova demanda de vero: a SC-401, que oferece acesso s praias do Norte da Ilha;

    a SC-404, que leva Lagoa da Conceio e desta, a SC-406 que segue ao Rio Tavares e a

    SC-405 que passa pelo Campeche, em direo Armao e ao Pntano do Sul.

    Para atender as novas demandas de trfego urbano, as autoridades governamentais

    construram o Aterro da Baa Sul na dcada de 1970. O aterro serviu como escoamento

    para as duas novas pontes de ligao com o continente, a Ponte Colombo Machado Sales e

    a Pedro Ivo Campos. Alm disso, o aterro se interligou Via Expressa da Beira-Mar Norte.

    Aos poucos, Florianpolis perdeu ainda mais sua antiga relao com o mar, frente aos

    pedidos de empresrios e polticos ligados ao setor turstico por novos aterros, estradas,

    duplicaes, viadutos e tneis.

    Na dcada de 1980, Florianpolis j se caracterizava como uma cidade voltada para

    o setor tercirio de servios, que hoje concentra parte de sua economia, e sua posio de

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO

    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

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    capital do Estado no se restringe apenas a gerar empregos pblicos, mas indiretamente

    estimula outros setores intermedirios da economia local. A atividade turstica comeou a se

    destacar ainda mais nesta poca, tornando-se um dos pilares da economia na Ilha e

    concretizando a cidade como um dos principais plos tursticos de Santa Catarina.

    O turismo passou a servir de promotor de significativas modificaes culturais e

    paisagsticas. As atividades de turismo e lazer geraram a expanso urbana desvinculada do

    centro, alterando a fisionomia urbana, a partir da implementao de condicionantes

    favorveis valorizao do turismo: hotis, restaurantes, loteamentos, casas de segunda

    residncia ou aluguel, principalmente nas reas prximas da orla. A cidade se desenvolveu

    formando plos urbanos, com bairros auto-suficientes destinados s classes mdia e alta na

    sua parte central e s favelas nas reas mais afastadas. As transformaes urbanas

    decorrentes dessa poca trouxeram conseqncias imediatas e devastadoras ao patrimnio

    natural e cultural:

    Os recantos mais ermos da Ilha comearam a serem cortados por estradas e loteamentos, e as tradicionais e decadentes comunidades agrcola-pesqueiras transformaram-se em balnerios. Na cidade, as verticais edificaes modernas substituram a maior parte das construes seculares de estilos e pocas diversas. As encostas e as periferias urbanas foram sendo intensamente ocupadas por populaes mais pobres. (CECCA, 1997:59-60)

    Segundo CECCA (1997), a maior ameaa qualidade de vida de Florianpolis

    deriva do desrespeito ao meio ambiente e aos ecossistemas da Ilha... (CECCA, 1997:233).

    O meio ambiente natural da Ilha diversificado e frgil, marcado pela Floresta Ombrfila

    Densa (Mata Atlntica), Floresta das Plancies Quaternrias, manguezais, restingas e

    dunas. Essa variedade de ecossistemas torna ainda mais difcil a identificao dos impactos

    ambientais derivados da urbanizao. A condio geogrfica e insular da cidade aliada ao

    seu particular sistema ecolgico impem limites para sua expanso urbana, ainda mais que

    cerca de 42% do municpio de Florianpolis atualmente constitudo por unidades de

    preservao ou conservao. O crescimento populacional local e o processo de migrao

    tende a elevar os problemas de ordenamento urbano-ambiental do municpio.

    Em mbito econmico, a pesca artesanal e a pesca industrial, que sempre estiveram

    presentes na economia local, continuam dando modestas contribuies ao produto interno

    bruto municipal, assim como as atividades do setor primrio da economia, como a

    agricultura e a pecuria. A indstria da construo civil aparece como forte atividade

    econmica, mas a principal fonte da economia municipal deve-se atividade turstica (que

    atrai brasileiros e, principalmente, a populao estrangeira do Mercosul) aliada ao comrcio

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO

    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

    25

    e ao setor de servios derivado da estrutura administrativa municipal, estadual e federal.

    Tambm com aparente potencial tem surgido a indstria do vesturio e da informtica e

    tecnologia. Nos ltimos anos a aqicultura tambm tem se tornado uma atividade mais

    expressiva para a populao ligada ao setor marinho.

    O patrimnio cultural da Ilha resulta, de acordo com CECCA (1997), do conjunto de

    trs elementos formadores da sociedade brasileira: o branco europeu, o nego africano e o

    nativo indgena. Entretanto, verifica-se maior influncia cultural do povoador portugus, em

    particular o imigrante aoriano. Essa influncia reflete-se no traado original das cidades, na

    tipologia arquitetnica, nas tcnicas agrcolas e nas festas tradicionais. A construo dos

    aterros (principalmente na dcada de 1970), a valorizao do sistema rodovirio e a

    desativao do porto, o desenvolvimento turstico, a expanso imobiliria e as dificuldades

    para manter a pesca artesanal so alguns dos fatores que levaram ao distanciamento das

    atividades tradicionais, derivadas da cultura aoriana, em Florianpolis.

    Hoje a cidade passa por um processo de conurbao, criando a rea metropolitana

    da Grande Florianpolis, juntamente com as cidades de So Jos, Biguau, Palhoa,

    Antnio Carlos, Governador Celso Ramos, Santo Amaro da Imperatriz, So Pedro de

    Alcntara e guas Mornas, totalizando uma populao de mais de 820 mil habitantes,

    segundo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) de 2007.

    Florianpolis apresenta ainda o principal aeroporto do Estado, o Aeroporto Herclio Luz, que

    desde 1989 opera com vos internacionais. Apesar de suas deficincias no campo social,

    considerada uma das capitais de maior qualidade de vida do Brasil, tendo levado o ttulo de

    melhor capital do pas em qualidade de vida pela Organizao das Naes Unidas (ONU)

    em 1998.

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    1.2 O EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE2

    1.2.1 APRESENTAO DO PROJETO

    O Sapiens Parque vem sendo apresentado atravs de um novo conceito

    denominado parque de inovao. Um parque de inovao um ambiente que possui infra-

    estrutura e espao para abrigar empreendimentos, projetos e outras iniciativas inovadoras e

    estratgicas para o desenvolvimento de uma regio, e que se distingue por possuir um

    modelo inovador para atrair, desenvolver, implementar e integrar estas iniciativas, visando

    um posicionamento diferenciado, sustentvel e competitivo.

    A oportunidade inicial para o Sapiens Parque surgiu a partir da parceria do poder

    pblico e da iniciativa privada, atravs da integrao entre o Governo do Estado de Santa

    Catarina, por meio da CODESC, e a Fundao Centros de Referncia em Tecnologia

    Inovadoras (CERTI).

    Como destacamos na Introduo deste trabalho, o empreendimento vem sendo

    caracterizado como um programa de desenvolvimento regional, baseado na

    sustentabilidade social, econmica e ambiental. Voltado para produo cientfica,

    tecnolgica e educativa, e a disseminao do conhecimento, o projeto incorpora o seguinte

    conjunto de conceitos e diretrizes:

    Desenvolvimento Sustentvel: busca o equilbrio entre as vertentes econmica,

    social e ambiental;

    Sociedade do Conhecimento: caracterizada pela crescente valorizao dos

    produtos, servios e relaes baseadas no conhecimento e na informao;

    2 Todas as informaes contidas neste item foram fornecidas atravs de documentos oficiais do Sapiens Parque.

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO

    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

    27

    Economia da Experincia: tendncia de gerao de produtos e servios

    diferenciados por proporcionarem memorabilidade & fidelizao ao integrar:

    Educao Entretenimento Esttica e Imerso;

    Convergncia das Cincias e Tecnologias: tambm chamada de

    transdisciplinaridade, o conceito que visa integrar os vrios campos da cincia e

    da tecnologia (humanas, exatas, biolgicas, sociais, etc);

    Globalizao Econmica: tendncia que induz ao desenvolvimento de Plataformas

    Mundiais, considerando as peculiaridades e diferenas locais;

    Adoo de um Ciclo contnuo de Inovao: busca integrar de forma eficaz a

    Pesquisa Livre, Pesquisa Pr-competitiva, Desenvolvimento Tecnolgico e

    Criao de Negcios;

    Convergncia Digital: tendncia de crescimento e desenvolvimento de produtos e

    servios que integram Tecnologia da Informao, Comunicao e Contedo; e

    Turismo sustentvel: atravs dos centros culturais e de eventos, centro de

    esportes e lazer, centro de compras e gastronomia e do turismo ecolgico.

    Para o projeto est planejado um conjunto de empreendimentos pblicos e privados

    como arena multiuso, parque florestal, centro de servios para comunidade, centro de

    eventos e de convivncia, hotis, museus, centros gastronmicos e de compras, centros de

    pesquisa e desenvolvimento cientfico e tecnolgico, alm de empresas e organizaes no

    governamentais que, em conjunto, iro atuar no desenvolvimento local e regional.

    Segundo os empreendedores, os resultados esperados com sua implantao so

    (RIMA 1, 2003): gerao de quase 30.000 empregos diretos nas reas de turismo, cincia e

    tecnologia e servios; gerao, na fase de implantao, de aproximadamente R$ 1,1 bilho

    em impostos que podero ser aplicados no melhoramento da infra-estrutura, sade,

    educao e segurana; reduo da sazonalidade turstica na regio, auxiliando na

    profissionalizao da atividade; definio de um novo padro de ocupao urbana para a

    regio e valorizao da sociedade catarinense.

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO

    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

    28

    Os idealizadores do projeto defendem que o parque dever consagrar-se como

    indutor do progresso social e material da regio, harmonizando o desenvolvimento regional

    e a sustentabilidade ambiental, cumprindo seu papel de gerar renda e criar empregos.

    (RIMA 1, 2003:03). Os principais aspectos econmicos positivos apontados consistem o

    aumento significativo da arrecadao de impostos, a criao de novos empregos, o aumento

    da renda global e per capita, a captao e atrao de novos negcios para o estado, e o

    potencial mercado de consumidores construdo, em parte, pelos pases do Mercosul.

    J os aspectos sociais positivos apontados pelos empreendedores do parque so os

    seguintes: ampliao planejada da cidade, otimizao dos servios, modernizao da Ilha

    na rea de turismo e lazer, cincia e tecnologia, transportes e comunicaes, aumento da

    rede hoteleira, estabilizao do mercado de turismo e melhoria da qualidade de vida da

    populao com a implantao de infra-estrutura e criao de novos empregos.

    O primeiro projeto para o Sapiens Parque foi elaborado em 2002 pela empresa

    Ecoplan, selecionada atravs da Fundao CERTI para a execuo do trabalho. O projeto

    finalizado pela Ecoplan foi avaliado atravs de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) no

    ano seguinte, realizado pelas empresas Socioambiental Consultores Associados e E.labore

    Assessoria Estratgica em Meio Ambiente, e sofreu alteraes decorrentes das avaliaes

    feitas. A partir de ento, o projeto passou a ser de responsabilidade do instituto argentino

    Fundacin Cepa e orientado pelo arquiteto, tambm argentino, Ruben Pesci. Em 2005, o

    Sapiens Parque apresentou um novo projeto elaborado pela Fundacin Cepa, mantendo os

    aspectos conceituais do empreendimento. Os motivos pelos quais o projeto deixou de ser de

    responsabilidade da empresa Ecoplan para ser desenvolvido pela Fundacin Cepa no so

    esclarecidos pela Fundao CERTI. Entretanto, conclumos que o fato de o grupo argentino

    estar envolvido na concepo do projeto da Reserva da Biosfera Urbana para Florianpolis3,

    alm do reconhecimento de que a busca pela integrao entre o ambiente construdo e a

    natureza constituem um dos principais focos dos projetos do instituto Cepa, influenciou na

    deciso de mudana da equipe responsvel.

    3 Sobre o projeto da Reserva da Biosfera Urbana para Florianpolis, ver Captulo 2.

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

    ______________________________________________________________________________

    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO

    DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL : O CASO DO SAPIENS PARQUE......Beatriz Francalacci da Silva

    29

    1.2.2 LOCALIZAO URBANA DO EMPREENDIMENTO

    Segundo os idealizadores do projeto Sapiens Parque, a escolha da cidade de

    Florianpolis como local para o empreendimento deve-se sua localizao geogrfica

    estratgica em relao aos pases comprometidos com o Mercosul, e por ser praticamente

    eqidistante em relao s principais metrpoles e aos grandes centros de negcios da

    regio. A capital ainda possui a vantagem expressiva de ser conhecida em todo o mercado

    do Cone Sul por sua beleza natural, pelos seus ndices superiores de qualidade de vida e

    pela constituio de um dos maiores plos de tecnologia do Pas, apresentando assim reais

    condies de conjugar atividades de Centro de Negcios e Centro de Lazer.

    Devido as suas caractersticas tercirias e de prestao de servios, Florianpolis

    ainda considerado um mercado consolidado para o desenvolvimento de empresas de

    base tecnolgica. A Figura 1 mostra a localizao do empreendimento no contexto urbano

    de Florianpolis.

    Figura 1 Localizao do Sapiens Parque Fonte: Master Plan Sapiens Parque 2005

    Como vemos na Figura 1, o terreno de implantao do Sapiens Parque localiza-se

    na regio Norte da Ilha, no balnerio de Canasvieiras. O projeto Sapiens Parque est

    proposto para ser implantado em Florianpolis em uma rea superior a 400 ha

    (4.000.000m) pertencente Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina

    (CODESC) e ao Governo do Estado de Santa Catarina, e onde se situava a extinta Colnia

    CENTRO

    SAPIENS

    PARQUE

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    30

    Penal de Florianpolis. Estende-se do entroncamento da rodovia estadual SC 401 com o

    trevo de Canasvieiras at os limites da Cachoeira do Bom Jesus, do Morro dos Freitas e

    terras da Vargem do Bom Jesus, no Distrito de Canasvieiras, na costa norte da Ilha de

    Santa Catarina, a 25 km de distncia do centro da capital. O terreno de implantao do

    projeto pode ser conferido na Figura 2:

    Figura 2 Terreno de implantao do Sapiens Parque Fonte: MasterPlan 2005 Sapiens Parque. Elaborao da autora.

    A opo pela implantao do empreendimento nesta regio atribuda aos seguintes

    fatores:

    A regio tem experimentado um dos maiores crescimentos imobilirios de todo o

    pas, sendo procurada tanto para abrigar projetos na rea residencial como

    empresarial e educacional.

    A expanso da cidade de Florianpolis para esta regio assegura ao Sapiens

    CANASVIEIRAS

    CACHOEIRA DO

    BOM JESUS

    OCEANO ATLNTICO

    SAPIENS PARQUE

    RIO PAPAQUARA

    RIO DO

    BRS

    INGLESES

    CENTRO

    SC

    -401

    MORRO

    DE

    JURER

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    31

    Parque uma infra-estrutura urbana essencial para o desenvolvimento de um

    empreendimento deste porte.

    A regio norte de Florianpolis abriga algumas das mais belas praias da Ilha, que

    oferecem opes diversificadas de lazer, desde os esportes nuticos at o surf e o

    entretenimento familiar. Aliada s belezas naturais das praias, h toda uma

    diversidade ambiental que engloba lagoas naturais, reservas ambientais, dunas e

    reservas de mata atlntica.

    A regio conta com uma extensa rede hoteleira e uma infra-estrutura diversificada

    de comrcio e servios.

    Os idealizadores do projeto alegam que foram estudadas outras possibilidades de

    localizao para a implantao do empreendimento. A regio sul de Florianpolis, que

    engloba os bairros Campeche, Ribeiro da Ilha e Pntano do Sul, foi considerada

    inapropriada por apresentar vocaes, desenvolvimento econmico e infra-estrutura

    bastante diferentes da regio norte, o que no curto e mdio prazo desfavoreceria a

    implantao de projetos como o Sapiens Parque, pois exigiria altssimos investimentos,

    principalmente em infra-estrutura e no desenvolvimento econmico da regio. A nica rea

    ao sul disponvel para tamanho empreendimento estaria nas proximidades do Aeroporto

    Internacional Herclio Luz, fato que implica na impossibilidade de implantao do parque

    devido, principalmente, influncia das atividades do parque nos equipamentos dos avies

    e do aeroporto, e vice-versa.

    Uma terceira alternativa avaliada para a localizao do parque seria na parte

    continental de Florianpolis que, apesar de possuir viabilidade econmica, no apresentaria

    opes de terrenos de grande porte para a implantao de um projeto desta magnitude

    (RIMA 1, 2003:08).

    Caracterizao do Norte da Ilha e do Balnerio de Canasvieiras

    O processo de expanso territorial para o Norte da Ilha desenvolveu-se

    paralelamente aos investimentos estatais e ocorreu de forma mais evidente durante a

    dcada de 1970, principalmente no Balnerio de Canasvieiras e no seu entorno. As

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    32

    intervenes virias solidificaram e incrementaram esse processo. Segundo SUGAI (1994),

    at as primeiras dcadas do sculo XX, a regio norte da Ilha era utilizada, principalmente,

    para o desenvolvimento das atividades agrcola e pesqueira. A partir da dcada de 1950 a

    regio comeou a atrair a ateno para sua utilizao balneria.

    A regio do balnerio de Canasvieiras era extremamente visada, pois apresentava

    excelentes praias com guas limpas e de temperatura amena, protegidas dos ventos

    constantes, alm de belssimas paisagens e de conformao fsica bastante rica. SANTOS

    (1993) destaca que Canasvieiras, assim como outras praias do Norte da Ilha, devem sua

    ocupao urbana principalmente pelas construes das residncias de veraneio da alta

    classe. Durante as dcadas de 1950 e 1960, o Norte da Ilha passou a ser definido como

    uma das principais localizaes com essa finalidade e para onde o Estado efetuava os

    maiores investimentos. O fato deu incio aos interesses tursticos e imobilirios na regio,

    impulsionando e estruturando o processo de expanso da rea urbana.

    Segundo SANTOS (1993), o processo de ocupao de Canasvieiras ocorreu sem a

    presena de um plano diretor especfico para os distritos. A urbanizao se desenvolvia

    pelas vias principais, e a tendncia foi a formao de faixas contnuas ao longo da praia. A

    inexistncia de infra-estrutura para o abastecimento de gua, esgoto e drenagem pluvial,

    aliada a um deficiente controle do uso e da ocupao do solo, sem uma legislao mais

    especfica e fiscalizao atuante, desenvolveu uma urbanizao precria que tende a

    comprometer os seus atrativos naturais.

    A incidncia direta do turismo a partir da dcada de 1970, atravs da construo de

    hotis, pousadas, casas para aluguel, bares e restaurantes, acarretaram ainda maiores

    impactos no ambiente natural. A antiga vila de pescadores deu lugar a um espao disputado

    pelos interesses capitalistas e imobilirios, transformando-a em centro de turismo de

    veraneio.

    Dessa forma, a orla da regio foi ocupada quase em totalidade, de maneira irregular

    e com a apropriao de reas de preservao, devido ausncia de uma fiscalizao por

    parte dos rgos pblicos. O tipo de ocupao originou a paisagem que caracteriza hoje o

    balnerio, destitudo de vegetao natural, com conseqente eroso e abraso marinhas,

    assoreamento de rios e crregos.

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    33

    1.2.3 MDULOS E SETORES

    O empreendimento Sapiens Parque compreende-se a partir de uma estrutura

    organizacional fundamentada em dois mdulos principais: o primeiro denominado

    Experintia, e o segundo caracterizado como Scientia, ambos baseados no Ser humano e no

    Conhecimento. Alm dos dois mdulos principais, o parque ainda apresenta quatro setores:

    o de turismo, esporte e consrcio; o de servios especializados; o de empresas de base

    tecnolgica; e o de iniciativas e projetos scio-ambientais.

    O mdulo Experientia congrega elementos como o Museu de Cincia, Parque

    Temtico, Laboratrios para novas tecnologias e solues. O Experientia objetiva a criao

    de novos projetos, conceitos, idias e solues nas reas da educao, meio ambiente,

    lazer, cultura, vida urbana, empreendedorismo, esporte, educao, cidadania, ao de governo,

    sade, atravs de experincias intensivas no uso de tecnologias centradas no ser humano.

    O segundo mdulo, Scientia, consolida-se atravs de ncleos avanados de

    universidades, empresas, laboratrios de ONGs e demais organizaes interessadas na

    pesquisa, desenvolvimento e experimentao de novas tecnologias e solues. Caracteriza-

    se pela busca da diversidade e interdisciplinaridade, e visa atrair talentos e competncias de

    referncias para o empreendimento.

    Dentre os demais mbitos que compem o parque, destaca-se o setor de turismo,

    esporte e consrcio, que se direciona, principalmente, em propagar a vocao turstica

    bastante forte na regio. O projeto pretende reduzir a sazonalidade do turismo,

    caracterstica em Florianpolis, cuja atividade acaba sempre por depender da temporada de

    vero. Para isso, pretende-se desenvolver uma rede de hotis, reconhecida

    internacionalmente pela excelncia na prestao de servios. O setor visa novas formas

    atraentes, como Arena Multiuso, Centro Gastronmico, Shopping, Museu e Centros de

    Saber, Parque Ecolgico, Aqurio e Complexo Esportivo.

    O setor de servios especializados estimula o desenvolvimento de determinados

    tipos de servios altamente especializados, em reas como educao, sade e negcios.

    Na questo educacional, o objetivo atrair instituies de nvel superior com atuao em

    assuntos particulares, como tambm escolas individualizadas e empresas com servios e

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    34

    solues, tornando-se uma referncia de qualidade nas entidades de ensino da regio. J

    na rea da sade, so previstas clnicas e centros mdicos especializados. Reserva-se,

    ainda, espao e infra-estrutura para o desenvolvimento de estratgias empreendedoras,

    como marketing e publicidade.

    O terceiro setor do empreendimento, denominado Empresas de Base Tecnolgica

    constitui fundamental segmento da chamada Economia do Conhecimento, caracterizada por

    gerar produtos e servios de alto valor agregado, e exige pessoal qualificado e uma cultura

    de permanente inovao. O parque visa atrair e oferece toda a infra-estrutura necessria s

    empresas interessadas no desenvolvimento de novos negcios. As empresas de carter

    tecnolgico estaro integradas ao mdulo principal Scientia, de forma a acessar os

    conhecimentos e tecnologias ali geradas.

    O ltimo setor organizacional do parque baseia-se em iniciativas e projetos scio-

    ambientais, devido ao empreendimento estar voltado para a promoo do desenvolvimento

    regional. No aspecto social, pretende-se estimular a implantao de projetos e iniciativas

    voltadas para a criao de emprego e renda, e, principalmente, para a promoo da

    qualificao e educao, atravs de iniciativas como Incubadoras Sociais, Centros de

    Qualificao, Centros Comunitrios e outros. O projeto tem por pretenso, atravs de

    equipamentos especficos, promover a interao com a comunidade, e assegurar o

    desenvolvimento da regio, agregado qualidade de vida das pessoas.

    O Sapiens Circus caracteriza-se por ser um ambiente educacional de aprendizado e

    diverso, constitudo de dispositivos tecnolgicos e de interao com filmes e jogos. O

    sistema de ensino tem por fundamento a estimulao dos educandos na cooperao mtua

    para a construo do conhecimento e da tomada de decises. Informaes sobre a

    diversidade amaznica so apresentadas atravs dos dispositivos de ensino, e os

    educandos vivenciam uma experincia por meio de histria fictcia ou simulao, em que a

    biodiversidade amaznica os ajuda a resolver um problema. Dessa forma, os educandos

    percebem o valor da biodiversidade, aprendem seus conceitos e so motivados a seguir

    com estudos posteriores dentro de sala de aula.

    O projeto est sendo desenvolvido para ser executado em cinco fases, previstas para

    ocorrer em um total de 20 anos. O Marco Zero (Primeira Fase) do Sapiens Parque j est

    em funcionamento, contendo a sede administrativa do parque e o Sapiens Circus, conforme

    podemos verificar na Figura 3:

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    35

    Figura 3 Marco Zero do Sapiens Parque Fonte: MasterPlan 2005 Sapiens Parque

    1.2.4 AGENTES ENVOLVIDOS

    Sapiens Parque S.A.

    A Sapiens Parque S.A. nasceu como uma Sociedade de Propsitos Especficos

    (SPE) entre a CODESC, proprietria do terreno; a Fundao CERTI, detentora do capital

    intelectual e autora do Programa de Desenvolvimento Tecnolgico Regional; e o Instituto

    Sapientia, mentor do conceito de Edutainment - Educao com Entretenimento - e parceiro

    de inovao em cincia e tecnologia do Sapiens.

    Criada na forma de Sociedade Annima de Capital Fechado responsvel pela

    gesto e implementao do empreendimento. O grupo tem propsito especfico de

    estruturar, viabilizar, implementar e operar o empreendimento dentro de altos padres de

    qualidade, eficincia e estabilidade.

    O projeto ainda apresenta apoio do Governo do Estado de Santa Catarina, da

    Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Prefeitura Municipal de Florianpolis

    Escola Sapiens

    Sapiens

    Circus

    Incubadora Sapiens

    Casaro Sede e

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    36

    (PMF), da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)4, da Fundao de Apoio Pesquisa

    Cientfica e Tecnolgica do Estado de Santa Catarina (FAPESC)5, e da Paradigma

    Tecnologia, que viabiliza o Portal do Sapiens Parque na Internet.

    Codesc

    A Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (CODESC) uma

    empresa de economia mista que integra a administrao indireta do Estado, subordinada ao

    Regime de Direito Privado, e rene condies tcnicas e jurdicas para a formulao e

    gesto de programas que visam o desenvolvimento econmico do estado.

    Foi criada pela lei estadual n 5.089 de 30/04/75 como holding6. A empresa

    coordenou o Sistema Financeiro Estadual e, no decorrer dos anos, vrias atividades lhe

    foram delegadas pelo Poder Pblico Estadual, tendo em vista sua qualificao jurdica, que

    lhe confere maior agilidade na tomada de decises.

    De acordo com seu Estatuto, a CODESC tem por objetivos principais adquirir e

    administrar, sob qualquer forma e nos limites permitidos em lei, participaes e controles

    societrios. E, ainda, promover, sob a orientao do Governo do Estado, o desenvolvimento

    econmico e a integrao da ao do Estado com a dos municpios e da Unio.

    Com essas qualificaes, a CODESC pode oferecer garantias e contragarantias para

    o Estado, autarquias, fundaes e sociedades de economia mista, suas subsidirias e

    controladas, em operaes financeiras, sem a necessidade de autorizao do Banco

    Central. Pode, ainda, negociar aes e cotas de outras sociedades, inclusive o controle do

    capital votante, tanto de economia mista como privadas. Atualmente, a CODESC vinculada

    Secretaria de Estado da Fazenda, por deciso do Decreto n 923, de 31 de maio de 1996.

    4 A FINEP tem por misso promover e financiar a inovao e a pesquisa cientfica e tecnolgica em empresas, universidades, institutos tecnolgicos, centros de pesquisa e outras instituies pblicas ou privadas, mobilizando recursos financeiros e integrando instrumentos para o desenvolvimento econmico e social do Pas. (http://www.finep.gov.br/, acesso em 20/11/2006) 5 A FAPESC tem por misso promover o Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico no Estado de Santa Catarina atravs do fomento pesquisa e da interao, em todos os nveis, das instituies cientficas, dos complexos produtivos, do governo e da sociedade. (http://www.fapesc.rct-sc.br/, acesso em 20/11/2006)

    http://www.finep.gov.br/http://www.fapesc.rct-sc.br/
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    37

    Fundao Certi

    A Fundao Centro de Referncia em Tecnologias Inovadoras (CERTI) uma

    instituio independente e sem fins lucrativos, de pesquisa e desenvolvimento tecnolgico,

    com foco na inovao em negcios, produtos e servios no segmento de tecnologia da

    informao.

    Criada em 1984, por iniciativa de algumas empresas brasileiras, da Universidade

    Federal de Santa Catarina e dos Governos Estadual e Federal, a fundao hoje referncia

    no campo nacional e internacional pelo desenvolvimento de projetos inovadores que

    envolvem solues de convergncia digital. Exemplos dessa linha de projetos constituem as

    urnas eletrnicas, os terminais de automao bancria e terminais pblicos de acesso

    Internet.

    A partir de 1990, a fundao passou a atuar significativamente na gesto da

    qualidade e produtividade, em conseqncia das mudanas nas polticas econmicas e

    industriais do Brasil. A CERTI trabalha para a ampliao de novas solues, de forma

    cooperativa e integrada, atravs do uso de ferramentas do processo de pesquisa e

    desenvolvimento de inovao tecnolgica. A CERTI atua na anlise do negcio, na

    concepo do produto e na implementao dos processos produtivos adequados para

    acelerar e assegurar maior xito na colocao dos novos produtos no mercado.

    A fundao conta, hoje com uma srie de entidade e parceiros atuantes. Tem sua

    matriz em Florianpolis, no campus da Universidade Federal de Santa Catarina e, em 1999,

    inaugurou uma filial na cidade de Manaus para dar apoio s empresas de base tecnolgica

    estabelecidas naquela regio.

    6 Holding uma empresa que detm a quantidade suficiente de aes de uma outra companhia, que lhe permita determinar e controlar a gesto desta ltima.

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    38

    Instituto Sapientia

    Fundado em 05 de dezembro de 2002, o Instituto Sapientia uma pessoa jurdica de

    direito privado, administrativamente autnomo e independente, e criado como conseqncia

    da iniciativa de alguns colaboradores da Fundao CERTI. A oportunidade de concepo de

    uma nova organizao com competncias necessrias para a prtica de novos produtos e

    desafios partiu da necessidade de direcionamento das atividades da Fundao CERTI para

    o foco da Economia da Experincia.

    Constitudo na forma de associao e sem fins lucrativos, o instituto operado

    segundo conceitos e prticas da Fundao CERTI. Tem por objeto social a pesquisa e o

    desenvolvimento cientfico e tecnolgico, sustentados em projetos de grande relevncia

    scio-ambiental e econmica para a sociedade brasileira, tais como:

    Projetos de pesquisa cientfica e tecnolgica aplicada;

    Projetos e programas de experimentao e demonstrao de solues

    tecnolgicas;

    Projetos de desenvolvimento de tecnologias, negcios e empreendimentos

    inovadores;

    Projeto de ambientes interativos;

    Promoo da cultura e da arte;

    Desenvolvimento de tecnologias de interatividade centradas no ser humano;

    Desenvolvimento das infra-estruturas de softwares distribudos para integrao de

    ambientes interativos;

    Desenvolvimento de jogos, mdias e contedos para a construo de experincias

    memorveis.

    O Sapientia um dos mentores e parceiros do Sapiens Parque, e projetista das

    reas do Experientia e Scientia. Atua com o desenvolvimento de Contedos Interativos,

    softwares interativos aplicados em jogos educacionais, implantao de experincias e

    pesquisas em convergncia das cincias e transdisciplinaridade.

  • CAPTULO 1 INTRODUO AO ESTUDO DE CASO: O SAPIENS PARQUE

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    39

    Comunidade Local

    As comunidades e associaes de moradores de Florianpolis diretamente

    envolvidas com o projeto Sapiens Parque concentram-se, basicamente, no Norte da Ilha.

    Tais associaes estiveram representadas nas audincias pblicas promovidas pelo

    Sapiens Parque no decorrer do ano de 2003, levantando como principais questes a serem

    discutidas a degradao ambiental decorrente da excessiva urbanizao e a necessidade de

    integrao do projeto com a comunidade. As principais comunidades locais envolvidas so:

    Associao dos Moradores de Canasvieiras

    Associao dos Moradores da Vargem Grande

    Associao dos Moradores da Vargem do Bom Jesus

    Associao Amigos de Carijs

    Estao Ecolgica de Carijs

    Unio Metropolitana de Entidades Comunitrias

    Centro de Estudos, Cultura e Cidadania

  • CAPTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

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    LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATGICO APLICADO AO ESPAO URBANO COMO INSTRUMENTO

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    40

    2. DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

    O presente captulo analisar os principais conceitos que abrangem a relao do

    desenvolvimento com o meio ambiente. Para tanto, inicia-se com uma viso geral do

    significado da palavra desenvolvimento, para posteriormente inserir a dimenso ambiental

    em seu conceito. O estudo resulta na anlise das dimenses e dos critrios de

    desenvolvimento sustentvel como paradigma. Tais critrios sero utilizados na avaliao

    final do empreendimento Sapiens Parque, estudo de caso deste trabalho. Este captulo

    ainda analisa as aplicaes do desenvolvimento sustentvel ao espao urbano, enfocando

    os grandes projetos urbanos e tursticos, como se caracteriza o estudo de caso em questo.

    2.1 CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO

    A maneira mais simplria de caracterizar o sentido da palavra desenvolvimento

    consiste em associ-lo ao crescimento econmico. Desde a Revoluo Industrial, em

    meados do sculo XVIII, a histria da humanidade passou a ser quase inteiramente

    determinada pelo crescimento econmico. A vida cotidiana foi totalmente transformada e o

    padro de vida das pessoas aumentou, enquanto a mortalidade humana diminuiu. Atravs

    do avano da cincia e tecnologia foram possveis inovaes nas reas da sade pblica e

    da medicina, resultantes principalmente da iniciativa governamental e do