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De olho na notícia Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | Ano V | Nº 37 | Setembro de 2009 DAYSE AGUIAR “Vozes do Morro” dá oportunidade a músicos de áreas carentes | PÁGINA 8 Conheça as novidades do carro elétrico produzido pela Fiat | PÁGINA 15 Taxas para usar banheiro em locais públicos são ilegais? | PÁGINA 14 Voluntários “doam” seus olhos para que cegos voltem a ler | PÁGINA 11 Polêmica da lei anti fumo chega a BH | PÁGINA 4 LINCE

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D e o l h o n a n o t í c i aJo rna l L abora tó r io do Curso de Jo rna l i smo do Cent ro Univer s i t á r i o Newton Pa i va | Ano V | Nº 37 | Se tembro de 2009

Dayse aguiar

“Vozes do Morro” dá oportunidade a músicos de áreas carentes| PÁGINA 8

Conheça as novidades do carro elétrico produzido pela Fiat| PÁGINA 15

Taxas para usar banheiro em locais públicos são ilegais?| PÁGINA 14

Voluntários “doam” seus olhos para que cegos voltem a ler| PÁGINA 11

Polêmica da lei anti fumo chega a bH| PÁGINA 4

Jorna l L abora tó r io do Curso de Jo rna l i smo do Cent ro Univer s i t á r i o Newton Pa i va | Ano V | Nº 37 | Se tembro de 2009LINCE

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Setembro/20092

eXPediente

JoHnatan castro

Em tempos de crise, o acesso à educação tem se tornado ainda mais difícil. Para muitas camadas da sociedade, o ensino superior ainda é uma realidade distante. Por isso, em um país onde apenas 13% dos jovens têm acesso ao ensino superior, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), que é realizada pelo Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística (IBGE), algumas poucas medidas funcionam como uma válvula de escape para o deficiente sistema de ensino.

No último mês de julho, o governo federal reduziu os juros do Financia-mento Estudantil (Fies) para 3,5%, que na prática, acaba com os juros reais para o Fies. Também foram fei-tas alterações no sistema de creden-ciamento do programa, que agora passa a estar disponível no site do MEC, o que torna o beneficio mais simples e acessível. Os juros de 3,5% já eram aplicados desde o ano passado para os cursos de licenciatura e tecno-lógicos. Para os demais, a cobrança era de 6,5%. A nova taxa valerá para todos os contratos daqui para frente, tanto novos quanto os que serão renovados.

Medidas como o Fies e o ProUni, que atende cerca de 450 mil alunos em todo o Brasil, funcionam como um res-piro para os muitos entraves no acesso ao ensino superior. O que não se pode permitir é que estes sejam tomados como soluções finais para a educação. É necessária uma ampla reforma, que atenda desde a educação de base até a formação superior. Mais um passo foi dado, mas ainda a um longo caminho a percorrer.

Kléber ferreira

Dentro de dois anos, vou ter direito a cela especial. Nunca pensei ser preso, mas se isso algum dia acontecer, meu diploma de jornalista terá mais valor do que algumas pessoas dão a ele agora. Muitas pessoas discutem a não obri-gatoriedade do diploma em tom de revolta; no entanto é raríssimo encontrar uma opinião diferente e que apresente idéias realmente novas. Se não pode vencê-los, junte-se a eles. Como não saí gritando pelas ruas implorando pela obrigatoriedade do diploma, só me resta uma opção.Tenho que buscar uma coisa boa nessa história.

Com a não obrigatoriedade, creio que mui-tas pessoas não farão faculdade, e assim, deixa-rão de ocupar celas especiais, ou seja, caso um

“diplomado” vá para a cadeia, ele terá mais espaço. As pessoas reclamam demais. Olha só como uma “pequena” mudança já resolve uma parte do problema carcerário do país.

Uma coisa boa puxa a outra. É só enxer-gar uma vantagem que quase de imediato eu já vejo outra. Todas as pessoas com seus dis-cursos moralistas dizem que são a favor da não exclusão da população carente e um mercado trabalhista que aceite mais as pes-soas. Felizmente isso agora acontece. Hoje uma pessoa que paga faculdade por quatro anos, faz estagio, lê milhões de jornais, revis-tas e sites de caráter jornalístico, e está no mesmo nível de empregabilidade que uma pessoa que viu todos os filmes exibidos na sessão da tarde, e não perdeu nem um peda-cinho do vide-show. A queda da obrigatorie-

dade do diploma, trouxe o nivelamento social para o nosso país.VIVA.

Brasileiros e brasileiras, isso é só o começo. Não se assuntem. Não temam pelo o pior, pois ele pode ser o melhor. Já consigo ver as cenas dos próximos capítulos da con-sideração que é dada aos profissionais brasi-leiros. Em um futuro próximo, vejo a não obrigatoriedade do exame da OAB, vejo a não obrigatoriedade da carteira de moto-rista, da não obrigatoriedade da residência aos formandos de medicina. As pessoas em geral reclamam tanto da falta de tempo... Agora, graças à não obrigatoriedade de um tanto de coisa, vamos ter tempo útil para fazer coisas que são de extrema importân-cia. Por exemplo, pensar em como era boa a obrigatoriedade em nossas vidas.

Mais um passo

editorial

reGiStroDayse aguiar

REITORLuis Carlos de Souza Vieira

PRÓ-REITOR ACADÊMICOSudário Papa Filho

CO OR DE NA DORA DO CURSO DE JOR NA LISMOPro fes sora Ma ri a lice Em bo ava

RES PON SÁ VEL PELA EDI ÇÃOPro fes sor Eus tá quio Trin dade Netto (DRT/MG 02146)

PRO JETO GRÁ FICO E EDITORA DE ARTEHelô Costa (00127/MG)

DIAGRAMAÇÃO: Adrielle Lopes, Érica Caetano, Rodrigo Honório

MONITORES: Frederico Alves, Daniela Moura, Daniel Souza,

Gabriel Moura, Josias Pereira e Lucas Horta (textos); Alden Starling e Dayse Aguiar (fotos);

REPORTAGENS:Alu nos do 4º Pe rí odo do Curso de Co mu ni ca ção do Centro Universitário New ton Paiva

este é um Jor nal-la bo ra tÓ rio da dis ci plina la bo ra tó rio de Jorna lismo ii. Dis tri bu i ção gra tu ita. edi ção men sal. o jor nal não se res pon sa bi liza pela emis são de con cei tos emi ti dos em ar ti gos as si na dos e per mite a re pro du ção to tal ou par cial das ma té rias, desde que ci ta das a fonte e o au tor.

COR RES PON DÊN CIANP4 - Rua Ca tumbi, 546 – Bairro Cai çara - Belo Horizonte MG - CEP 31230-600 Te le fone: (31) [email protected] jornallince.blogspot.com

Leitura obrigatória

Dayse aguiar

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roberta anDraDe

Você certamente já ouviu falar do ENADE, mas saberia explicar os motivos pelos quais ele foi criado e quais são seus objetivos? O ENADE - Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – é uma prova com 40 questões que avaliam a qualidade dos cursos de graduação. O objetivo desse exame é medir o desempenho do estudante em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares dos cur-sos superiores.

O conhecimento, as competências e habilidades dos alunos e a qualidade da gra-duação são avaliadas por meio de perguntas de conhecimento específico e geral. Além disso, há questões sobre atualidades, para medir o nível de atualização dos alunos com relação à realidade brasileira e mundial.

Se você está no primeiro ano, ou no último, dos cursos de Administração, Ciên-cias Econômicas, Ciências Contábeis, Comunicação Social, Direito, Psicologia, Gestão Financeira, Marketing, e mais 14

cursos que foram selecionados pelo Minis-tério da Educação (MEC), comece a se pre-parar. Este ano, as provas serão aplicadas no dia 8 de novembro às 13 horas.

Para alguns dos alunos iniciantes, a prova parece uma incógnita. Segundo Pâmela Sobrinho, aluna do 2º período, da Newton Paiva, no curso de Ciências Econô-micas, há um pouco de insegurança, pois, “não conhecemos como é a prova e quais os critérios de avaliação”. A aluna não acha que o método de avaliação do Enade é efi-caz. “A prova de conhecimentos gerais não mede a qualidade do ensino do curso, e sim, o conhecimento já adquirido antes da facul-dade”, critica Pâmela.

Já para o coordenador dos cursos de Marketing e Secretariado Executivo, da Newton Paiva, Jehú Aguilar, o exame é uma ferramenta positiva. “O Enade é uma avalia-ção bem elaborada, bem estruturada e obje-tiva”, analisa. Segundo ele, é uma prova que mexe com a Instituição e que é de responsa-bilidade tanto dos alunos, quanto para a universidade.

O Enade é componente curricular obri-gatório dos cursos de graduação, e o registro de participação é indispensável para emis-são do histórico escolar e do diploma. O MEC escolhe anualmente as áreas propos-tas pela Comissão de Avaliação de Educação Superior. Cada área é avaliada novamente a cada três anos.

A prova do Enade é avaliada por amos-tragem e surgiu em 2004, substituindo o antigamente chamado Provão. Esse modo de avaliação foi criado pelo Sistema Nacio-nal de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), que tem como objetivo a melho-ria da qualidade da Educação. Assim, o Sinaes avalia, por meio do Enade, três ins-trumentos: as instituições, os cursos e os estudantes. O Instituto Nacional de Estu-dos e Pesquisas Educacionais Anísio Tei-xeira (Inep) é responsável pela elaboração da prova.

Calcula-se o conceito do curso pela média ponderada das notas, sendo que o peso das questões de conhecimento geral é de 25%, e das questões de conhecimento espe-

cífico, 75%. O conceito final vai de 1 a 5.Segundo a Secretaria de Estado de

Ensino Superior, analisar a qualidade dos cursos através do Enade é um processo com-plexo, pois engloba vários componentes de avaliação, que incluem a auto-avaliação institucional e as visitas dos consultores do MEC. Essa visita tem como objetivo analisar o Plano de Desenvolvimento Institucional e verificar sua relação com as reais condições da universidade.

O Subsecretário de Ensino Superior, Octávio Elísio Alves, acredita que “a estru-tura da avaliação proposta pelo Ministério da Educação busca compreender — e efeti-vamente o faz — todas as instâncias que interferem na qualidade da formação ofer-tada aos cidadãos”.

O coordenador do curso de Ciências Contábeis da Newton Paiva, José Rodrigues acredita que não se deve ter medo do Enade, pois o bom resultado é consequência do estudo do aluno. “Não adianta preparar o aluno só para o Enade, e sim, ao longo do curso”, ressalta.

Exame é realizado para avaliar, através dos alunos, a qualidade dos cursos de graduação das universidades públicas e privadas

Quem tem medo doenade?

Desempenho dos alunos nas provas é uma forma da secretaria de estado de ensino superior

analisar o nível das instituições

edUcaÇÃo

resultaDos

Em 2007, foram convocados 560 mil estudantes em todo Bra-sil. Desses, 13,2% não compare-ceram — o menor índice de abs-tenção desde 2004. Minas Gerias liderou o ranking das maiores notas.

Oito cursos obtiveram nota máxima na avaliação das gradua-ções: Educação Física, Zootec-nia e Nutrição, Universidade Federam de Viçosa; Enferma-gem, Farmácia e Nutrição, da Federal de Alfenas; Medicina Veterinária, da Federal de Lavras e Enfermagem da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Dos 40 cursos que tiraram nota máxima, 23 ficam no Sudeste, sendo 13 em Minas.

O Centro Universitário Newton Paiva, na avaliação de 2007, obteve a nota 3 para os cursos de Farmácia, Nutrição e Odontologia e 4 para o curso de Fisioterapia.

alDen starling

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Setembro/20094

Proibição do fumoPolêmica

em bares causa polêmica Belo Horizonte é conhecida como a capital nacional dos botecos,

é preciso permitir a existência de locais para quem fumaJéssica bissuli e welington sales

Você, que é fumante e mora em alguma cidade de Minas Gerais, não tem com o que se preocupar quando o assunto for fumar em locais fechados. Aprovado em primeiro turno pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais – ALMG, o Projeto de Lei 3.035/09, que pro-íbe o fumo em ambientes fechados de uso coletivo, não tem a mesma restrição que a legislação em São Paulo e a que está prestes a vigorar no Rio de Janeiro.

Apesar de aprovado pelos legisladores, a nova lei permitirá a construção de fumódromos – área isolada por barreira física, com areja-mento suficiente ou equipadas com aparelhos que garantam a exaustão do ar para o ambiente externo – nos estabelecimentos.

O autor do projeto, deputado Alencar da Silveira Júnior, do PDT, preferiu respeitar os 30% dos fumantes da capital, sugerindo a edificação de uma área reservada. “A lei pau-lista é arbitrária e desrespeita o direito de quem quer consumir cigarros. Belo Hori-zonte é conhecida como capital nacional dos botecos, é preciso permitir a existência de locais para fumistas”, afirma.

conceito popular

As opiniões na capital mineira divergem. Enquanto uns estão a favor da proposta da nova lei, outros não aprovam a decisão da Assem-bleia de Minas Gerias. Enfermeira do Hospital Mater Dei e não fumante, Maristela da Concei-ção, 43, não está satisfeita. “Seria melhor se a lei daqui fosse igual a de São Paulo; é proibido fumar no hospital e muita gente não respeita. Com a construção desses locais, continuará do mesmo jeito, não irá resolver”, contesta.

Já para o recente ex-fumante Tarcísio da Luz, 55, a lei em São Paulo não é adequada, contradiz com o direito do cidadão. “Acho uma baboseira! Se querem fazer alguma coisa, fechem a fábrica, ora! Estão tirando o direito das pessoas. Ainda bem que aqui deram alguma opção, estão pensando nos dois lados”, reclama.

Apesar de algumas diferenças, a lei em Minas Gerais terá o mesmo propósito que em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os estabeleci-mentos serão vigiados e quem desobedecer

terá que pagar uma multa no valor entre R$ 400 e R$ 800 podendo, ainda, perder o alvará de funcionamento.

Gerente da livraria Leitura no Shopping Del Rey, onde já existia antes do projeto uma área reservada para os fumantes, Silvana Maria afirma que na loja nunca houve impertinência dos clientes tabagistas e que a existência de fumódromos em locais fechados será benéfico tanto para o estabelecimento quanto para os frequentadores. “ Até hoje não tivemos proble-mas com os fumantes, o espaço para eles é pouco usado, no entanto, não perdermos a clientela por causa disso. É tão conveniente para eles quanto para nós a livraria ter um fumódromo”. Silvana Maria explica que a loja será ampliada, mas ainda não houve reunião quanto à possibilidade de o projeto entrar em vigor. “A Leitura será reformada e com ela haverá a reestruturação do fumódromo, não por causa da lei, não fomos informados quanto ao procedimento da loja sobre esse assunto”, conclui.

A lei segue para a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerias, que deverá emitir parecer de segundo turno, antes de retornar ao plenário. Caso seja aprovada, a proposta precisará da sanção do governador Aécio Neves para entrar em vigor.

lei que não pegou

Devido ao descumprimento da lei federal nº 9.294 de 15 de julho de 1996, que proíbe o fumo em locais fechados, tornou-se comum a criação de leis mais enérgicas que combatam o tabagismo. Sabendo-se que o fumo passivo é a terceira maior causa de morte no mundo, a Organização Mundial de Saúde – OMS – reco-menda, desde 2007, a restrição do cigarro.

Uma pesquisa feita pelo instituto Datafo-lha, em 2008, revelou que 88% da população reprova o cigarro em locais fechados, mas a proibição em lei levantou a polêmica sobre a liberdade de expressão. Ninguém discute que os malefícios do cigarro já estão mais que prova-dos e comprovados. No mundo todo, leis como a de São Paulo, já existem há anos e a própria lei federal de Julho de 1996 está em discussão na Casa Civil e no Congresso para aumentar as restrições, já que não impõe multas e libera áreas exclusivas para fumantes.Depois de são paulo, lei anti-fumo chega a belo Horizonte

Dayse aguiar

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ÁGuaSÁGuaSÁGuaS

ÁGuaSÁGuaS

ÁGuaS

O ciclo das

Julia anDraDe e raíssa Dablegan

Apesar de parecer abundante e inacabável, a água potável é um bem com risco de extinção. Enquanto muitos países do mundo enfrentam problemas com a escassez da água, o Brasil possui uma das maiores reservas hídricas do mundo. A faci-lidade do acesso à água em nosso país pode ser um fator determinante para a falta de conscientização dos brasileiros quanto às maneiras de reaproveitamento e racionalização da água.

Além de auxiliar na diminuição do desperdício, o reaproveitamento da água pode ser proveitoso por diminuir enchentes no caso da implantação de sistemas de coletas de água. Outro benefício é a redução de gastos financeiros, já que os reservatórios de água da chuva aju-dariam a reduzir os níveis de utiliza-ção da água nos setores residenciais, comerciais e industriais.

A agricultura é o setor que mais consome água no país (cerca de 59%), o uso doméstico e setor comer-cial consomem em torno de 22% enquanto o setor industrial fica por último com 19% do consumo. Neste caso, a implantação do sistema de escoamento e reaproveitamento da água é importante em todos os seto-res, mas possui grande relevância quando aderido pelos agricultores.

A falta de informação é um dos principais motivos para o baixo índice de implantação do sistema de reaproveitamento hidráulico. A população, de um modo em geral, desconhece a existência da captação da água da chuva. O método é sim-ples: primeiro é criada uma cisterna de armazenamento de água, em seguida é instalado o equipamento

que levará a água do telhado até a cisterna.

Apesar dos inúmeros benefícios da reutilização da água, é preciso avaliar a existência de resíduos e sujeiras existentes nos telhados. Mesmo o sistema sendo equipado com filtros de purificação, a água reaproveitada não pode ser ingerida nem utilizada como método de higienização, e deve ser usada ape-nas na utilização doméstica.

essencial

Boa para a saúde, higiene e até para beleza. A água potável vai além do inúmeros benefícios concedidos à população mundial: sua existência garante a sobrevivência de todo o planeta. A água é essencial para o ser humano, é nossa fonte de sobre-vivência.

O corpo humano é constituído por 80% de água, sendo responsável pelo transporte de substâncias para dentro e fora das células, além de controlar a temperatura corporal. Segundo especialistas, o ideal é que se consuma pelo menos 2 litros de água por dia.

A falta de água no organismo pode causar problemas de saúde como infecção urinária, desidrata-ção e problemas renais. É importante lembrar que a água deve ser ingerida em maior quantidade nas práticas de exercícios físicos, nos casos de febre e resfriados. Da mesma forma, mulhe-res grávidas ou que estejam ama-mentando também devem consumir maior quantidade de água.

Do térMino Da água

O desperdício da água e a falta de consciência por parte da maioria

da população mundial têm sido constantes atualmente. Pessoas se desfazem de água potável com tanta naturalidade que parecem não se preocupar com a possibilidade de sua extinção.

Projeções feitas por cientistas calculam que em 2025 cerca de 2,43 bilhões de pessoas estarão sem acesso à água. No Brasil, 40% da água tratada é desperdiçada. A água doce e potável está distribuída de forma desigual no mundo. Assim, alguns países procuram meios de racioná-la quando outros se exce-dem no desperdício.

Segundo divulgação feita pela Agência Nacional das Águas (ANA), a região hidrográfica Amazônica abriga sozinha 74% da disponibili-dade de água e é habitada por menos de 5% dos brasileiros. Ainda assim, as demais regiões brasileiras não possuem um planejamento especí-fico que minimize o gasto excessivo da água. Já nas regiões norte e nor-deste, muitas famílias sofrem com a seca constantemente. Algumas famílias chegam a ficar quatro dias consecutivos sem água.

reaProveitamento

Errado:Escovar os dentes com torneira aberta. Consumo de 80 litros/dia; barbear-se com a torneira aberta. Consumo de 80 litros/dia; banho de ducha durante 15 minutos. Consumo de 243 litros/dia. Banho de chuveiro elétrico, consumo de 144 litros/dia e lavar o carro com a mangueira, consumo de 216 litros/dia.Certo:Molhar a escovar e manter a torneira fechada. Utilizar um copo de água para o enxágüe. Consumo de 0,2/0,35 litro/dia; encher a pia d´água o suficiente para se barbear ou barbear-se com a torneira fechada. Consumo de 2 litros/dia; banho com ducha durante 5 minutos, tendo o cuidado de fechar a torneira enquanto se ensaboa. Consumo de 80 litros/dia; banho com chuveiro elétrico durante 5 minutos, tendo o cuidado de fechar a torneira ao se ensaboar. Consumo de 48 litros/dia e lavar o veículo uma vez por mês, utilizando balde. Consumo de 40 litros/dia.

Days

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Saco é um

Saco?Não adianta proibir as sacolas plásticas se não forem apresentadas ao comércio e aos consumidores, medidas eficazes que beneficiem a todos, principalmente à natureza

se não forem recicladas, sacolas de plástico se

tornarão um problema cada vez mais para o meio ambiente

inDHiara souza

Depois da lei que proíbe os supermer-cados de fornecerem as sacolas plásticas convencionais, muitos estabelecimentos fazem o que podem para se adequar, apro-veitando o prazo de três anos que a própria lei concedeu para que o comércio adotasse medidas mais ecológicas. Só que parte dos comerciantes ainda não se desfez do mate-rial que prejudica o meio ambiente e mui-tos consumidores ainda não abriram mão das sacolinhas que, em casa, têm a utili-dade de armazenar o lixo.

Três anos pode ser um tempo bom para que toda loja em BH trate de educar o pen-samento e colaborar para a natureza, mas se um trabalho de conscientização não for feito junto à população, o consumidor vai achar que a lei é mais uma chatice ambien-tal sem fundamento para complicar a vida de quem vai às compras.

Roberto Machado de Castro, gerente do

BH Supermercados, revela que estoque das antigas sacolas ainda é grande, mas a mudança está sendo feita aos poucos. Para Roberto, pouco adianta ter sacolas biodegradáveis dis-poníveis no comércio, se grande parte das mercadorias é fornecida em caixas de isopor, papelão, além de as embalagens dos produtos nem sempre serem recicláveis. Fora isso, ainda há o problema de comportamento de quem faz as compras. Não é incomum ver os compradores pegarem nos caixas mais sacolas do que o necessário, e pouquíssimas pessoas utilizarem as sacolas de pano. “Muitos clien-tes acham um transtorno ter que mudar de hábito, já outros recusam as sacolas plásticas e abrem as retornáveis, feitas de algodão, com o maior orgulho”, aponta.

Dona Sebastiana Souza faz parte da turma de clientes que adotaram as sacolas retornáveis. Mas no caso dela, essa adoção foi há muito tempo. “Desde nova eu uso a minha sacola, já acostumei”, entretanto, dona Sebastiana confessa que quando a

compra é grande, precisa das sacolas de plástico. “São bem mais práticas, não posso negar. Fazem mal ao meio ambiente, mas facilitam na hora de carregar uma compra maior e também são muito úteis dentro de casa”, resume bem a situação.

oxibioDegraDáveis

Segundo a Flecha Industrial, de mate-riais plásticos, as sacolas oxibiodegradáveis são feitas de materiais pesados e que poluem o meio ambiente. Lúcia Barbosa, da assesso-ria de imprensa da indústria, afirma que as sacolas plásticas são cem por cento retorná-veis e que podem ser recicladas de forma a aproveitar totalmente o material. Para ela, a sociedade brasileira não entende que a melhor coisa a fazer é reciclar. Lúcia ainda arrisca em dizer que “o governo não tem inte-resse em mostrar o lado verdadeiro do mate-rial oxibiodegradável, que não tem uma estrutura química que favorece a natureza”.

Essa estrutura química tem um componente que acelera a decomposição da sacola, mas ao final da decomposição, são liberadas subs-tâncias nocivas ao meio ambiente.

Josias Nogueira, funcionário de uma distribuidora de embalagens, concorda que a natureza deve ser preservada, mas com outras medidas. Ele não acha que as sacolas feitas de pano são uma alternativa boa para o consumidor já que “elas não separam ali-mentos frios de quentes, não dividem comida de material de limpeza, está tudo junto ali e isso é ruim”. Outra coisa que incomoda o consumidor é que depois da onda ecológica, ele vai precisar comprar sacolas para armaze-nar o lixo em vez de reaproveitar as do super-mercado. Sobram discussões e desconforto entre ambientalistas, consumidores e comer-ciantes. Faltam medidas eficazes que solu-cionem os problemas do meio ambiente. Enquanto isso, o cenário das grandes cidades volta e meia é enfeitado por sacolinhas voando no asfalto.

meio ambiente

Dayse aguiar

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tecnoloGiaaDrielle lopes e Kleber ferreira

A necessidade de preser-vação do meio ambiente, asso-ciada aos avanços tecnológi-cos, oferece à população mun-dial a chance de impulsionar o mercado de energias não poluentes. Uma das fontes renováveis que atraem mais o consumidor é a energia solar, que além de ser ecologica-mente correta, exige manu-tenção mínima para continuar funcionando. Porém, a produ-ção desse tipo de recurso de acordo com o clima, não pro-duz energia a noite e o preço não só do consumo, mas do sistema em si é muito elevado em relação aos outros tipos de alternativa. Para adquirir o material de energia solar, a população deve ficar atenta para não ser enganada. Há muita picaretagem por aí, tem gente que chega a vender material de plástico, o que pode fazer uma tragédia – diz José Paulo, vendedor deloja especifica em matérias liga-dos a energia solar.

A energia solar tem, em paí-ses tropicais, uma utilização totalmente viável, já que o sol se faz presente em todas as esta-ções do ano. No Brasil, além do clima ser tropical, o país é privi-legiado por possuir reservas de minerais usados na produção dos painéis de capitação. Sendo assim, para que tenha uma ascensão no mercado de ener-gias alternativas, o Brasil pre-cisa somente identificar oportu-nidades e desafios, aprovei-tando então as características favoráveis.

O investimento nesse tipo de energia gera uma moderniza-ção de laboratórios, investimen-tos em desenvolvimento de tec-nologias, e programas de distri-buição de energia com sistemas que conectem casas, empresas, indústrias e prédios públicos, dando a população maior con-forto e economia. E ao contrário da especulação, o uso da energia solar não é um risco à energia hidráulica, já que a solar é produ-zida dependendo do clima e é produzida a luz do sol.

cultura e inovaÇão

A energia solar já é vista por muitas pessoas como uma solução para problemas energéticos, incluindo os econômicos. Até na musica este fato começa a ganhar força. Um exemplo é a banda inglesa Klaxons que esco-lheu um estúdio movido a energia solar para gravar o novo álbum.

Em Florianópolis foi feito um show de rock movido 100% a energia solar. A ini-c i a t i v a f o i d a e n t i d a d e ambientalista Greenpeace juntamente com o Labsolar (Laboratório de Energia Solar da Universidade Fede-ral de Santa Catarina). A idéia foi baseada nas experi-ências feitas na Austrália e na Europa. Batizado como Brasil Solar, o evento aconte-ceu em 98, no campus da Uni-versidade Federal de Santa Catarina. A experiência foi, além de tudo, para divulgar o potencial da energia solar para gerar eletricidade as mais diferentes aplicações. A idéia também é popularizar a energia limpa e renovável que vem do sol.

soluÇÕes viáveis

Um aquecedor solar de baixo custo pode oferecer uma economia considerável no gasto de energia de uma residência que usufrui de um chuveiro elétrico. Mas o preço do aparelho é alto, o que pode interferir significa-tivamente na renda de mui-tas famílias. No entanto pequenas soluções já foram sugeridas.

Já é possível fazer arte-sanalmente um aquecedor solar, de modo que não inter-fira muito economicamente. Os sistemas podem ser feitos até em um dia e oferecer uma redução de 30% no gasto da energia de uma residência. A maneira como é feita é divul-gada em sites.

Energias renováveis e o

futuro

Equipamento custa em média R$ 350. O

artesanal, um valor baixo se comparado com o

valor cobrado em lojas especializadas que che-

gam a cobrar R$ 1200 pelo equipamento com

capacidade de aquecer 200 litros de água.

De acordo com José Aleino Alano, inventor

de um dos equipamentos artesanais, esse tipo

de sistema feito em casa custa em média R$

350. Se comparado a um sistema vendido em

lojas especializadas, o valor é muito baixo, já

que um aquecedor solar industrializado tem

uma mão de obra mais cara e peças mais sofis-

ticadas, o que eleva o preço do produto.

eXemPlo

DAYSE AGUIAR

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Setembro/20098 talentoS

O som que propaga o “HiGHerGround”

Músicos de aglomerados e regiões pobres de Minas Gerais, têm chance de divulgar suas composições no concurso “Vozes do Morro”

gabriel Moura

A dupla sertaneja Victor & Leo vendeu 260 mil copias do CD “Borboletas”; Ivete Sangalo, com seu show gravado no Mara-canã, vendeu 420 mil, segundo a ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Disco). Enquanto isso, longe do grande mer-cado fonográfico, 323 inscritos participaram do programa “Vozes do Morro” — uma ini-ciativa do Governo de Minas. Foram premia-dos 10 grupos e artistas para gravar CDs e DVDs de suas músicas. Além disso, os artis-tas tiveram spots (anúncios publicitários para rádio) e clipes divulgados pelo Sindi-cato das Empresas de Rádio e Televisão de Minas Gerais (Sert-MG).

O programa foi criado em 2008 e reve-lou um total de 23 artistas. Ao contrário do que muitos acreditam, o programa revela músicos de vários estilos musicais como a

banda, Cajaba. Sempre procurando expres-sar a inconformidade dos acontecimentos atuais de descaso social e os vários conflitos internos e espirituais, a banda foi criada em 2000. Com o single “Cidadão Urbano”, faz um som voltado para o new metal, como Link Park e Korn, com letras em português.

o resgate Do saMba

Nas duas últimas edições houve um resgate do samba com grupos como Ciran-deiros, Samba de Quintal, Geraldo Magnata, Ivo do Pandeiro, Domingos do Cavaco. Evandro Mello, cavaquinista e vocalista do Samba de Quintal, analisa que “grandes artistas com certeza irão despontar no cená-rio musical”. E fala orgulhoso que foi “uma dádiva de Deus sem dúvida ser escolhido pelo programa, pois sempre lutamos pra ter o nosso trabalho reconhecido”.

O Samba de Quintal surgiu no Morro das Pedras em 2007. “Foi quando começa-mos a tocar nos quintais das casas de amigos ligados ao samba, e mantínhamos um pro-jeto, que consistia em mostrar o nosso lado autoral”, explicou o músico. A música ins-crita foi “Favela onde eu nasci”, que fala de mudanças ocorridas no Morro das Pedras. “O programa ‘Vozes do Morro’ incentiva os jovens a saírem da criminalidade e das dro-gas, pois o ser humano é movido pelo com-bustível que são seus sonhos e, ele facil-mente se frustra ao ver que oportunidades não lhes são dadas”, comenta Evandro.

expanDinDo Mentes

Na edição de 2009, além da premiação com a gravação de CD, DVD e divulgação, os selecionados ganharam um curso de produ-ção e gestão cultural para suas as carreiras.

Chamado “O nosso negócio é música”, pro-movido pelo Sebrae, o programa é inédito, desenvolvido especialmente para o “Vozes do Morro”, e é obrigatório para os seleciona-dos. “O curso foi de grande valia e importân-cia pois, abriu as nossas mentes que ainda estavam um pouco voltadas para projetos menores e também é um jeito de se formar pessoas de bem com objetivos a serem alcan-çados”, elogia Evandro Mello.

As aulas foram montadas pelo produtor e gestor cultural Rômulo Avelar, que é pro-fessor de planejamento dos grupos de teatro Galpão e Beco. O curso receberá convida-dos que falarão sobre marketing pessoal e direitos autorais, entre outros tópicos. Ele terá duração de 36 horas/aula, em dois módulos com teoria e prática. No final das aulas, os alunos terão que apresentar um projeto de busca de recurso junto à inicia-tiva privada.

re

nat

o C

oB

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Ci

a banda cajaba, formada por Danilo fernandes, andré luiz, alexssandro Junio e raphael silveira, inova com um som influenciado pelo Heavy Metal com letras e rimas do rap

samba de quintal, formado por Hamilton ferreira, Humberto Dias, adelton rodrigues, evandro luiz silva , luiz claudio alves, ivan bergman , Júlio césar Dias, bruno goes e rodrigo alves, descreve em suas letras as

mudanças que o Morro das pedras sofreu com o passar do tempo

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Setembro/2009 9

lucas Horta

Setembro é o mês em que se lembra o início da Segunda Guerra Mundial. Lá se vão 70 anos desde o dia 01/09 de 1939, quando a Alemanha Nazista invadiu a Polô-nia e deflagrou o maior conflito bélico da História. Fato que influenciou e influencia até hoje a sociedade em inúmeros aspectos — seja na política, na tecnologia, nas rela-ções humanas e especialmente na cultura. O LINCE preparou uma lista de filmes, clás-sicos ou não, que podem ajudar na compre-ensão do fenômeno.

Stalingrado – A batalha Final (Joseph Wils-maier - 1992) — A maioria dos filmes sobre a 2º Guerra são produções norte-americanas, o que levanta suspeitas sobre a visão que os america-nos têm do conflito. “Stalingrado – A Batalha Final” é uma co-produção alemã e sueca e que mostra o front leste da guerra. O filme exibe com maestria a soberba e a autoconfiança alemã até chegar à cidade soviética que dava o nome do ditador da URSS. Os nazistas, que cercaram e quase dominaram por completo a cidade ás margens do Volga, caíram perante o inverno russo e a resistência vermelha. Tudo se conge-lou. Até mesmo a máquina de guerra alemã, que, depois da queda em Stalingrado, sofreu uma sucessão de derrotas.

O Pianista (Roman Polanski - 2002) — Baseado em fatos reais, o filme mostra a rea-lidade do Gueto de Varsóvia. A repressão alemã sobre os judeus poloneses, através do olhar de um jovem pianista que se refugia nas ruínas da cidade.

A Lista de Schindler (Steven Spielberg - 1993) — História do empresário alemão Oskar Schindler, que criou uma empresa onde empre-gava judeus e evitava que eles fossem enviados aos campos de extermínio.

O Mais Longo dos Dias (Ken Annakin, Dar-ryl Zanuck – 1962) – O “Dia D”, a invasão dos aliados na Normandia pelos aliados — dos pre-parativos até a reconquista de Paris. Um filme irregular, romantizado em excesso, mas que conta com elenco multiestelar.

Tora!Tora!Tora! (Richard Fleischer, Kinji Fukasaku – 1970) – Ataque japonês a base naval de Pearl Harbor, desta vez enfatizando mais a visão nipônica do conflito.

A Um Passo da Eternidade (Fred Zinner-mann – 1953) – O ataque japonês à base naval de

Pearl Harbor se tornou um dos maiores clássicos de todos os tempos. Um filme indispensável.

O Barco – Inferno no Mar (Wolfgang Peter-sen – 1981) – Dia-a-dia de um submar ino ale-mão bombardeado e perseguido pelos aliados no Mediterrâneo.

Afundem o Bismarck (Lewis Gilbert – 1960) – Batalha envolvendo as marinhas alemã e britânica na perseguição ao maior navio de guerra da frota alemã.

Ratos do Deserto (Robert Wise – 1952) – Batalhas na região do Canal de Suez – Mostra a

guerra deslocada para o front africano, com ação passada no norte da África.

Cartas de Iwo Jima (Clint Eastwood - 2006) – Relatos mais intimistas, mas sob o ponto de vista americano, envolvendo japo-neses em guerra na ilha de Iwo Jima, no Pacífico.

A ponte do rio Kwai (David Lean - 1957) – Americano escapa de campo concentração japonês, mas retorna ao local para explodir uma ponte e evitar o avanço das tropas japone-sas no sudeste asiático.

o LonGo dramaque continua gerando dramas

exército vermelho em berlim: 2ª guerra Mundial é tema de inúmeros filmes que detalham o conflito

Foi na casa de trás...

carla oliveira

“Espero poder confiar inteiramente em você, como jamais confiei em ninguém até hoje”. É com esta frase que a jovem Anneliese Maria Frank, ou simplesmente Anne Frank, inicia uma cativante narrativa em um pequeno diário. O que ela não esperava é que hoje seus relatos virassem uma famosa obra em mais de 50 países.

O diário de Anne Frank não é para os mais fracos, que espe-ram encontrar conflitos açucarados de uma menina recém che-

gada à adolescência. O livro, na verdade, mostra a dura realidade dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Anne, apesar de contar com apenas 14 anos e estar escondida em uma casa dos fundos, na Holanda, compreendia e analisava as atrocidades dos combates com maturidade e uma pequena dose de lirismo. Isso faz com que o leitor pare e reflita muito mais do que se estivesse diante de um frígido e comum livro de história.

As 350 páginas que resumem os dois anos de atividade do diário parecem poucas, mas são suficientes para nos transportar até onde tudo aconteceu... Em uma simples casa de trás.

Dayse aguiar

dicaS

cinema

arquivo Pessoal

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Setembro/200910 Gente

raquel DoMingues

Você teria coragem de abandonar uma pessoa que cuidou de você a vida inteira, sacrificou os próprios sonhos para realizar os seus, trabalhou até o limite da exaustão para garantir que não lhe faltasse nada e que te amou tão incondicionalmente que seria capaz de fazer qualquer coisa para te ver feliz? Pois é. Infelizmente é muito comum vermos idosos em asilos. O problema não é colocá-los no asilo. È abandoná-los lá. Não se podem generalizar os casos, pois as situa-ções são diferentes. Por exemplo, se você trabalha o dia inteiro, estuda, é filho único e não tem como fazer companhia para seu pai ou sua mãe, é melhor deixá-los em um lugar onde eles terão todo o cuidado e atenção necessária para que eles não se sintam sozi-nhos e também para que não ocorra nenhum acidente. No entanto, tem aqueles casos em que os filhos - pois muitas vezes são os pró-prios filhos que internam os idosos em casas de repouso -, não querem ter “esse peso sobre as costas” e preferem se “livrar” desse “estorvo”.

O presidente do Lar dos Idosos Santo Antônio de Pádua, Milton Dias de Sena, é responsável pela instituição que abriga 38 internos. Milton é aposentado e voluntário na coordenação do Lar. Ele dispõe de boa parte do seu tempo para cuidar dos assuntos

relacionados ao asilo e não tem nenhum tipo de retorno financeiro pelo trabalho desen-volvido.

Apesar de ser um trabalho gratificante, Milton fala como é difícil manter a institui-ção funcionando. “Precisamos de muitas coisas e não temos como conseguir tudo. Recebemos doações, mas ainda assim, não é suficiente para atender a todos os internos da forma como gostaríamos”, lamenta.

Além das necessidades materiais como, comida, produtos de higiene e limpeza, rou-pas e fraldas geriátricas – são 99 por dia – o que mais preocupa é a falta de carinho por parte dos familiares dos idosos. Milton afirma que o convívio social é uma forma de manter a sobrevivência dos velhinhos, pois assim eles se sentem mais próximos do “mundo lá fora”. “O abandono é uma reali-dade muito presente aqui. Os filhos trazem os pais e se esquecem deles. Parece que eles não se lembram que os idosos também pre-cisam de amor e atenção”, desabafa Milton.

Bernardo da Conceição, 64, está no asilo há 12 anos. Tem nove filhos, é divor-ciado e tem uma triste história para contar. De acordo com o aposentado, um dia ele saiu para passear e se perdeu. Ficou alguns dias numa obra até que um amigo o encon-trou e levou-o para o asilo. Só depois de quatro anos a família descobriu onde Ber-nardo estava. O curioso, ou desumano, é

que, apesar dos filhos morarem perto do Lar, eles quase não visitam o pai. “Eles não gos-tam de mim. Eles acreditam que eu fui res-ponsável pelo fim do meu casamento”, conta. Em função de um derrame, Bernardo ficou praticamente cego.

A aposentada Maria Eleonice, 56, tam-bém tem uma velhice complicada – tem três filhos, nove netos, um bisneto e, de compa-nhia, a solidão. Eleonice diz que está no asilo por vontade própria. Mas o que pode levar uma pessoa a querer ficar longe da família? Conversa vai, conversa vem e ela confessa: teve um aneurisma, perdeu o movimento de parte do corpo e precisava receber comida na boca. Mas parece que os filhos não lembravam disso. Então ela ficava sem comer,

O sonho de Bernardo é sair do asilo, conseguir uma casinha para morar e arru-mar outra companheira. Já Maria Eleonice sonha em conhecer a Bahia e voltar a andar. Dois casos que ilustram o quão cruéis e per-versas podem ser as pessoas.

Depressão é um problema cada vez mais recorrente entre a terceira idade. O fato é que não é uma situação difícil de resolver. O que falta é boa vontade por parte dos fami-liares. Humanidade consiste em sair de dentro do seu egocêntrico mundo e dispôr mais do seu tempo para as pessoas que pre-cisam do seu carinho!

Sim! Abandonados pelos familiares, idosos têm realidade difícil em asilos

mata?triSteZa

ninguém é jovem a vida inteira,

por isso é preciso olhar também

para os idosos que, nos asilos têm por

companhia apenas a solidão

bernardo: "eles não gostam de mim"

Mílton: "os filhos não querem vê- los"

eleonice: "ainda sonho com a bahia"

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Setembro/2009 11

Marnês costa

Você já imaginou a possibilidade de doar seus olhos para alguém sem se prejudicar? Isso é possível! Esse é um tipo de doação realizado por 60 voluntários no Setor Braille da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, na capital mineira, desde 1971. Os voluntários trabalham com leitura viva voz, transcrição de textos em tinta para o braille e gravações, beneficiando 340 usuários com deficiência visual.

A professora aposentada Ana Maria Alves, psicóloga que é voluntária da biblio-teca, fala sobre a sua alegria em poder aju-dar. “É um trabalho gratificante, poder doar meus olhos para ajudar a quem necessita; eu me sinto honrada em poder realizar este trabalho”, afirma. Para Ana Maria, “o mais bacana é poder contribuir para além leitu-ras, ajudando no relacionamento entre defi-cientes visuais e pessoas que enxergam

dessa forma eu me sinto fazendo um papel humanizado, não como uma máquina que sabe ler”.

referência

O Setor Braille é referência, pois busca oferecer um acervo de qualidade, equipa-mentos, equipe de voluntários, cursos de braille, cursos de literatura e ações de incentivo à leitura. Todo serviço oferecido por esse Setor visa proporcionar maior acesso à informação e à leitura das pessoas com deficiência visual.

A Divisão Braille atende os deficientes visuais visando orientar em pesquisa e estu-dos, estimula o prazer pela leitura por meio do hábito e contribui para a inserção cultu-ral e social dos deficientes. O acervo é com-posto por literaturas infanto-juvenil, litera-tura brasileira, estrangeira, livros didáticos, periódicos e dicionários. Sendo 1.700 títu-

los impressos em braille, 1.200 títulos grava-dos em 1.023 exemplares de fica cassete e 200 títulos em CD (digitalizados).

Os usuários ainda podem contar com acesso a internet em computadores com sintetizador de voz (JAWS), ampliador de tela (MAGIC) e lupa eletrônica para as pes-soas cegas e com baixa visão. São desenvol-vidas atividades de incentivo à leitura como “A Hora do Conto e da Leitura”, Cursos e Palestras destinados às pessoas com defici-ência visual e baixa visão.

Gildete Barros Veloso, bibliotecária e coordenadora do Setor Braille, retrata as dificuldades de trabalhar em um setor tão especial. “Coordenar um Setor que atende pessoas com deficiência visual é um desafio constante no sentido da especificidade do acervo como também dos equipamentos utilizados”, explica. A coordenadora encara o trabalho como um desafio. Já o funcioná-rio da biblioteca Glicélio Ramos, 31, que é

deficiente visual, fala sobre como se sente em trabalhar neste Setor “Eu me sinto de certa forma tranqüilo por ter acesso a cul-tura em braille e de poder oferecer a mesma cultura para as outras pessoas”.

Minas Gerais se destaca em relação a outros estados que não oferecem o serviço de leitura em braille, apesar de estar pre-visto em lei. Pércio Martins, 20, usuário da biblioteca e canditado a uma vaga no TRT - Tribunal Regional do Trabalho, considera muito válida a iniciativa do Estado de suprir a educação e a cultura para os deficientes visuais, investido em acervos em braille, mas não deixa de ressaltar que nada mais é que um dever adquirido por lei.

A biblioteca em Braille veio para auxiliar os deficientes, e ser um voluntário é impor-tante porque assim você também pode colabo-rar para a democratização do conhecimento e a igualdade de acesso à informação. Portanto faça a sua parte e seja um voluntário.

Solidariedade

Voluntários doam “seus olhos” em benefico dos deficientes visuais

ponto de vistaum novoFotos Marnês Costa

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Setembro/200912

aline Maia e Daniela Moura

Na área hospitalar da capital mineira — no entorno do cruzamento das avenidas Brasil, Francisco Sales e Alfredo Balena — é fácil identificar quem trabalha na área da saúde. A maioria deixa a área de trabalho com o jaleco utilizado para aten-der pacientes e até mesmo com os trajes especializados das áreas restritas dos cen-tros médicos. Pacientes, comerciantes e parte desses profissionais concordam que lugar de jaleco é no hospital. Mas ainda há quem insista em dizer que, por esqueci-mento ou hábito, o traje é utilizado para transitar fora do ambiente de trabalho. Até em lanchonetes.

Quem trabalha perto dos hospitais sabe muito bem desse mau hábito dos pro-fissionais da saúde, comenta a comerciante Carla Dias, proprietária de um carrinho de sanduíches localizado em frente ao Ambu-

latório Bias Fortes. Ela conta que a maioria desses profissionais circula com o jaleco até mesmo na hora de comer. Mesmo assim, Carla acredita que não deveria haver punição. “Se a contaminação está no jaleco, não pode estar também na roupa dos médicos?” — questiona.

bactérias resistentes

Apesar de ser comum o uso de jalecos fora dos hospitais, muitos profissionais não têm conhecimento de que esse ato pode colocar em risco a própria saúde e até mesmo das pessoas ao redor. Segundo uma portaria do Ministério do Trabalho, os pro-fissionais da área da saúde só devem usar o uniforme em locais apropriados. E pior: quem usa os jalecos fora desses ambientes pode transmitir as bactérias que ficam nes-ses tecidos. Foi o que mostrou um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro: 90% das bactérias encontradas nos jalecos

resistem por até 12 horas nas roupas.No país, existe um Projeto de Lei – já

encaminhado para votação – que obriga empresas de setores de risco (como hospi-talar e químico) a lavar profissionalmente os uniformes. Só assim as bactérias que ficam nos tecidos são completamente eli-minadas.

bons exeMplos

Caio Souza, virologista do Hospital das Clínicas, conta que utiliza dois jale-cos: um para atender pacientes e outro para sair do hospital. Até mesmo os sapa-tos, o médico faz questão de trocar e não os leva para casa. “Tenho filhos pequenos e isso é um risco para eles”, diz. Souza até concorda que é perigoso sair do hospital com o mesmo jaleco usado para atender pacientes, mas diz que “tem outras coisas mais importantes para se preocupar, e que deveria haver punição para aqueles profis-

sionais que não atendem direitos seus pacientes”.

Alguns médicos e enfermeiros que não tem esse mau hábito afirmam que o preo-cupante, na maioria das vezes, nem é mesmo o jaleco. Segundo a enfermeira do Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hos-pital das Clínicas, Márcia Abreu Couto, o perigo está nos profissionais que trabalham em áreas restritas – como UTI, bloco cirúr-gico – utilizarem as roupas dessas áreas fora dos hospitais. E acrescenta: “como trabalho na CTI, eu deixo o hospital com uma roupa e chegando lá eu coloco outra, especializada”.

A melhor opção seria se todos os pro-fissionais da saúde se conscientizassem que o jaleco é um instrumento de traba-lho. Ou seja, ele serve para protegê-los de possíveis contaminações — como respin-gos de secreções — e não para desfilarem pela cidade.

Dayse aguiar

é no HoSPitaLLugar de jaleco

Mesmo representando um risco à saúde, médicos e enfermeiros de Belo Horizonte insistem em usar o jaleco nas ruas e até nas lanchonetes

SaÚde

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Setembro/2009 13cidade

Bairro da região Noroeste é um dos mais populosos e diversificados de BH, só pelo fato de agregar vários outros

a cerca do Caiçara?até onde vai

Marília corraDi e patrícia rigHi

"Kai'sara", palavra originada do Tupi-guarani, que significa Limite, cerca de galhos ou varas. E que também deu nome ao bairros mais populoso da regional Noroeste, o Caiçara. A região é uma das maiores da capital, e abrange 21 bairros. Alguns — Monsenhor Messias, Santo André, Jardim Montanhês — são considerados parte do Caiçara devido à sua proximidade. Mas afi-nal, até onde vai a cerca do Caiçara?

Seus pontos mais marcantes são o Sho-pping Del Rey, o Espigão , o prédio mais alto da região, e a Avenida Carlos Luz (Catalão). O bairro engloba tantas partes que, classes sociais diferentes formam uma das caracte-rísticas mais peculiares do local. A cada rua, pode-se perceber com clareza, a diversidade nas casas e até nos diferentes carros.

Divisão

Os contrastes, em alguns casos, signifi-cam problemas. A estudante de enferma-

gem Lívia Miranda, 21, por exemplo, faz estágio em um posto de saúde no bairro Jardim Montanhês, e reclama que o Cai-çara não possui posto de saúde. Com isso, os moradores têm que utilizar os postos mais próximos, que são dos bairros Jardim Montanhês e Santo André. Como em todo posto de saúde, as ruas são divididas em baixo, médio e alto risco. Acontece que este critério prejudica o bairro, pois em uma rua, geralmente existem casas de diferen-tes níveis sociais. E dependendo da divisão feita (em baixo, médio ou alto risco) pes-soas que mais necessitam do serviço saem prejudicadas.

O bairro possui um parque, local muito freqüentado por moradores de diferentes idades. A natureza é bem conservada e jardi-neiros da prefeitura trabalham na manuten-ção das plantas. Antônio dos Santos, 58, jardineiro do parque, elogia o local. “É um lugar bom, eu gosto muito daqui”, conta. “O pessoal vem jogar bola e as crianças ficam assistindo”. Mas, a água que corre para a cachoeira do parque é poluída — junto com as nascentes que desaguam na cachoeira,

vem o esgoto do bairro. Obras têm sido reali-zadas para o tratamento desse esgoto nas ruas próximas ao local. As outras formas de lazer mais conhecidas da região são os bares e o Shopping Del Rey. Mesmo assim, o estu-dante Antônio Eduardo Viana, 23, acredita que a região precisa de mais espaço para os jovens. “Falta um ponto de encontro para as pessoas se conhecerem”, diz.

O ponto forte do Caiçara é o comércio. Moradores afirmam que não é necessário ir muito longe para fazer compras. A dona de casa Ivany Rocha, 53, afirma que “o que o bairro tem de melhor é o comércio”. Além disso, ela conta que “a segurança do bairro melhorou muito, mas deveriam melhorar a sinalização e consertar os buracos das ruas”.

A líder da Associação do bairro Novo Santo André ,Vera San-tana, 62, que também recebe correspondências endereçadas aos bairros Nova Esperança e Caiçara, fala que seu trabalho é uma liga-ção entre os moradores e os órgãos públicos. ” Um morador sozinho não consegue nada, precisa de um líder para representá-lo”. Segundo ela, em 36 anos como líder, os principais problemas sempre foram segurança, transporte e saúde.

Vera não trabalha com a ajuda de um tesoureiro, porque apesar de não entrar dinheiro nesse trabalho, eles precisam prestar contas à Receita Federal. Através disso, a líder recebe correspondências dos órgãos públicos. A prefeitura remete à associação alguns alertas. O

mais recente foi sobre a Gripe Suína. “Saí pelo bairro panfletando e alertando os moradores sobre o perigo da doença”, conta.

Através da Associação, a líder de bairro trabalhou em um quartel com moradores das favelas Pedreira Prado Lopes e Sumaré. E chegou a ser ameaçada de morte. Ela participa de todas as reuniões da Regional Noroeste e conta que são sempre os mesmos problemas referentes a transporte e segurança. Mas que nos últimos cinco anos obtiveram muitas melhorias, prin-cipalmente com relação à segurança. As reuniões com a regio-nal ocorrem de dois em dois meses, dependendo da gravidade dos problemas.

Fotos arquivo newton Paiva

Associação de bairro colabora com a região

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Setembro/200914 diScUSSÃo

Cobrar ou não cobrar:

eiS a QueStãobárbara calDeira

Provavelmente boa parte dos belo-horizontinos tem em comum uma expe-riência: a de estar no centro da cidade, sentir vontade de ir ao banheiro, mas não encontrar nenhum. A ausência de banheiros efetivamente públicos na capital faz com que as pessoas tenham apenas uma alternativa: pagar para usar o sanitário de algum estabelecimento, seja ele público, como no caso da Rodo-viária, ou da iniciativa privada – como o Mercado Central e o Shopping Cidade.

Apesar de alguns concordarem com a cobrança, alegando ser uma forma de selecionar melhor os usuários dos banheiros, a maioria considera a taxa abusiva. O técnico em administração Vinícius Gontijo Gonçalves acredita que, no caso dos estabelecimentos comerciais, como a Galeria do Ouvidor, a cobrança da taxa não se justifica. “O lojista paga o aluguel, que é repassado no preço do produto, e o aluguel já inclui a despesa com os banheiros”, argu-menta. No caso de estabelecimentos públicos, como a Rodoviária, Vinícius acredita que a despesa com a manuten-ção e conservação dos sanitários deve ser dividida entre o Governo e as empre-sas de ônibus, que usufruem do local, e não repassada para o usuário da estação rodoviária. “As empresas privadas tiram proveito do local, têm que oferecer con-forto aos seus clientes”, conclui.

banHo nas pias

Já o universitário André Rezende Meneses acredita que a taxa deve ser cobrada, pois essa é uma forma de coibir o mau uso dos sanitários. “No caso do cen-tro, várias pessoas vão ao Shopping Cidade só para usar o banheiro e não con-somem nada”, diz. É esse o argumento que faz com que o Mercado Central conti-nue cobrando pela utilização dos sanitá-rios. Segundo Macoud Patrocínio, presi-dente do estabelecimento, até bem pouco tempo os banheiros eram gratuitos, porém a falta de respeito e educação fez com que aderissem à cobrança. “Tivemos todos os tipos de depredação, até as des-cargas eram roubadas. E como os banhei-

ros no centro são pagos, saía gente de todos os níveis e se dirigia ao mercado para fazer as suas necessidades”, relata. Inicialmente, a cobrança se deu por forma de tickets, que eram entregues aos comerciantes para que distribuíssem a seus clientes como bônus. Porém, logo um esquema de venda de tickets pelos comer-ciantes foi descoberto, fazendo com que a administração decidisse pela cobrança dos sanitários, o que, segundo diretoria do centro comercial, melhorou consideravel-mente a qualidade e condições de uso. De acordo com Macoud, mesmo com a taxa ainda é difícil a manutenção da higiene e conservação dos banheiros. “Aos domingos uma moradora de rua vai ao Mercado Cen-tral, paga e se despe, tomando banho nas pias do banheiro. Imagine se fosse de graça?” — questiona.

Em abril deste ano, durante uma audiência pública na Assembléia, o assunto foi debatido e causou polêmica. Os deputados da Comissão de Defesa do Consumidor consideram a cobrança ile-gal. Em entrevista ao Jornal da Alterosa,

da TV Alterosa, no dia 3 de abril, o depu-tado e presidente da Comissão, Adalcle-ver Lopes (PMDB-MG), disse que a taxa é abusiva. “No caso da Rodoviária, Ao pagar a taxa de embarque já tem direito ao uso do banheiro e, em estabelecimentos comerciais, a cobrança é dupla e ilegal, uma vez que já pagamos pela manutenção dos banheiros no imposto embutido no produto consumido e ainda pagamos pela utilização dos sanitários”, afirmou.

DenÚncias e reclaMaÇÕes

No mês de agosto, em Sergipe, a Defensoria Pública do Estado conseguiu deferimento da Justiça Estadual para a suspensão da cobrança pelo uso dos banheiros nos terminais rodoviários Governador José Rollemberg Leite e Luiz Garcia. Para o descumprimento da deci-são, a juíza responsável estipulou multa diária no valor de R$ 10 mil, baseada na Lei 6091/06, que determina no artigo 1° a proibição da prática de cobrança de taxas ou similares pelo uso de sanitários e

banheiros públicos em estações Rodoviá-rias no estado de Sergipe.

A discussão sobre o assunto em Minas Gerais e a mobilização da Comis-são de Defesa do Consumidor se inten-sificou depois que o diretor da Rádio Favela, Mizael Avelino, recebeu várias denúncias de que prédios públicos, como o Terminal Rodoviário, os shop-pings populares e as estações de metrô estariam discriminando os usuários de menor poder aquisitivo ao cobrar pelo uso dos sanitários. A advogada do PRO-CON de Belo Horizonte, Beatriz Oli-veira Portela Gouvêa, afirmou que, mesmo não concordando com as cobranças, a população não registrou nenhuma reclamação sobre o assunto no órgão. A doméstica Dirce Prata diz que já reclamou, sim, e que nem a rodo-viária nem os shoppings resolvem o problema. “Outro dia, eu tive vontade de ir ao banheiro e estava longe, lá na Andradas; então, peguei e fui lá no Par-que Municipal, porque não dava tempo de correr até a rodoviária”. E agora?

cobrança de taxa em banheiros públicos

divide opiniões

Dayse aguiar

Taxa pelo uso de banheiros públicos causa polêmica e aponta para uma questão preocupante: a

falta de educação da população

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Setembro/2009 15

Carro elétrico oferece uma opção mais econômica para quem circula nas cidades

Dos postos para aS tomadaSpaulo Duarte

De manhã, pense em sair de sua casa em direção ao trabalho. Entrar em um veí-culo sem poluição sonora e ambiental, em que não é preciso se preocupar com trocas de câmbio a todo o momento. No final do dia, chegar em casa e abastecê-lo na tomada 220V em sua garagem. Pois é, este é o carro elétrico criado pela Fiat Automó-veis em parceria com a Cemig, Itaipu Bina-c ional e a suíça KWO – Kraf twerke Oberhasli AG.

Desenvolvido em caráter experimental em 2006 o objetivo deste veículo é para o uso urbano. Ele ainda não está preparado para longas viagens. O Palio chega a per-correr até 120 quilômetros a uma veloci-dade máxima de 100 km/h sem precisar-mos abastecer. Para recarregar completa-mente é preciso cerca de oito horas ligados a tomada. Atualmente, apenas a monta-dora e os parceiros possuem o veículo – ao todo já foram distribuídos 21 veículos. Segundo a montadora a meta é alcançar 50 unidades até o primeiro semestre de 2010.

Para o engenheiro mecânico da Fiat Automóveis, Celso Maurício Júnior, o motor elétrico é ideal, pois exige menor manutenção, é mais econômico e possui maior rendimento em relação ao motor a combustão. Porém, as peças do Palio Elé-trico ainda são importadas o que gera um alto custo de produção – em torno de US$ 25 mil dólares - para uma construção uni-tária. Se fosse produzido em escala, o valor

cairia para US$ 15 mil dólares (a intenção da empresa é começar a produção em escala em 2011). “Com uns 35 a 40 mil quilômetros rodados, a economia de com-bustível paga o investimento de aquisição do carro”, conclui Celso.

O preço para o abastecimento com-pleto do veículo é realmente interessante: R$ 6,14 centavos, levando-se em conside-ração o preço médio da energia elétrica de R$ 0,32 centavos o kw/h. Outro ponto rele-vante é a autonomia, distância que pode ser percorrida pelo veículo sem a necessi-dade de abastecimento. Para a Cemig, o veículo elétrico chega para impulsionar algumas inovações tecnológicas como: novas baterias, células a combustível, além de ser um desenvolvimento sustentável para a sociedade.

O engenheiro de tecnologia e normali-zação da Cemig, Acaz Martins, acredita que essa nova tecnologia possibilita aos usuários possuir um veículo com custo acessível e, quando houver sobreoferta de energia no sistema, repassá-la para a Cemig. “Podemos ter um veículo com uma bateria recarregável onde as pessoas irão vender energia para a Cemig”, diz Acaz. A ideia surge como uma possibilidade de economia de custos para a empresa. Ao invés de construir redes de ener-gias, a empresa colocaria postos de venda. “Você para seu carro, pluga em um poste que contém uma espécie de conversor de ener-gia. Ele calcula o quanto você tem e con-verte em reais podendo até abater no valor de sua conta de luz”, completa.

Apesar das vantagens que o carro elétrico pode trazer, ainda assim conviveremos, diaria-mente, com o trânsito caótico das grandes cida-des. A falta de paciência, o imediatismo e, princi-palmente, o individualismo é a causa de lutas incessantes entre motos, carros, transportes públicos e pedestres por um espaço. O impor-tante é termos em mente que todo processo de consumo tem impacto e gera uma reação em

cadeia que acaba afetando a todos. Vale lembrar que, muitas vezes, respostas para soluções de trânsito que o futuro persegue podem estar no passado. Avôs dos atuais carros elétricos já fize-ram parte da paisagem de Belo Horizonte e ainda estão presente no dia-a-dia de muitas metrópoles. A precoce aposentadoria dos trolleybus mostra que o tempo não pára, mas às vezes dá voltas e retorna sem que ninguém perceba.

Divulgação

o carro elétrico possui algumas diferenças do modelo popular, entre elas, a falta da embreagem e o indicador de energia

novidade

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Setembro/200916 reivindicaÇÃo

skatistas se reúnem no centro de belo Horizonte, mas ainda não têm um local

adequado para a prática do esporte

Espaço mais propício para a prática do esporte ainda não é adequado para receber os skatistas

no centro

Dayse aguiar

DaYse aguiar e lucas siMÕes

6h da tarde. O barulhinho das rodas dos carrinhos correndo pelo concreto, os estrondos das tábuas de madeira no chão e os tombos e acertos das manobras tomam contam da Praça 7 — quarteirão fechado da rua Rio de Janeiro. É um ritual diário: a noite cai na Praça e recebe as dezenas de skatistas que dividem espaço com hippies, punks, emos e gente comum que passa por ali. Mas, nem tudo são ollies, backflips, ou seja lá qual for a manobra da vez. Andar de skate no centro de Belo Horizonte tem conotação marginal e até clandestina.

Desde a intensa reforma que a Praça 7 passou em 2003, os skatistas aproveitam o chão liso e os degraus do espaço para praticarem o esporte. Mas, o que poderia ser um local ideal para o treino de manobras, não passa de mais um refúgio para quem anda de skate. Além do chão e da composição do lugar não serem completamente ideais para o skate, a Praça 7 é patrimônio da cidade e, o vaivém de skatistas diariamente só prejudica a Praça. “A gente vem pra cá porque tem uma certa condição para andar (de skate). Mas, aqui não é lugar ideal, é patrimônio da cidade. Reconhe-cemos que andar de skate aqui depreda,

sim”, pondera Leonardo Lucas Cezário, 29 anos, membro da Família de Rua (F.D.R) — grupo que luta e organiza causas relacionadas ao skate.

O gerente do tradicional bar Pop e Kid, localizado na Praça, também defende o patrimônio da cidade, mas, entende o lado dos skatistas. “Aqui não é local apropriado, eles estragam o patrimônio, mas, é o lugar que têm para praticar o esporte. Temos que entender”, analisa.

reivinDicaÇão

A necessidade de um espaço apro-priado para a prática do esporte é uma reivindicação antiga dos skatistas junto à prefeitura de Belo Horizonte. Um pro-jeto de restauração e adaptação na parte baixa do Viaduto Santa Tereza — local de concentração dos skatistas — já foi apresentado à Prefeitura. A idéia é revi-talizar o espaço, que hoje é ocupado principalmente por usuários de drogas e mendigos, para o pessoal do skate. Porém, Leonardo alega que a falta de diálogo com os praticantes na hora de definir as políticas públicas da capital é um dos empecilhos para que a obra saia do papel. "Quando vão fazer uma pista, não entra em discussão quais as regiões

seriam ideais, como vai ser o projeto, se a pista será para street ou vertical, que tipo de obstáculo vai ter. Enfim, pedem apoio dos skatistas só quando o projeto já está pronto”, protesta. Além disso, a pre-feitura de Belo Horizonte ainda não deu retorno sobre o projeto apresentado pelos skatistas para a construção de um espaço próprio para a prática do sktate.

Além da dificuldade de um espaço para praticar skate no centro de Belo Hori-zonte, os skatistas ainda enfrentam cons-tante repressão policial. Embaixo do Via-duto Santa Teresa, onde há um posto da Polícia Militar, eles têm uma rixa com os policiais, que fazem a segurança do local. “A policia militar tem um preconceito generalizado com os skatistas”, alfineta Leonardo. Por outro lado, o policial militar Arcanjo, que trabalha no posto do Viaduto de Santa Teresa, reclama de confusões e barulho excessivo dos skatistas. “Eles fazem muito barulho, o som é muito alto também. Isso prejudica as ocorrências, porque não conseguimos ouvir o rádio-escuta”, argumenta.

espaÇo

Lutando por mais espaço na cidade, o skate conquistou uma recente vitória

com a inauguração da pista do Bairro Mangabeiras, na zona sul de Belo Hori-zonte. Apesar de ter ótima estrutura, ainda não é o que os skatistas espera-vam. O skatista João Vítor Rocha Santos, conhecido como “Pinguim”, avalia a pista como pouco democrática. “É um local de difícil acesso, longe. O ideal seria uma pista no centro da cidade, porque é uma área mais acessível. Além disso, o que queremos é um espaço que imite a rua — street — para andarmos. Não precisamos de mais pistas enor-mes”, diz.

MercaDo

Mais do que um espaço para prati-car o esporte, os skatistas lutam pela construção de um mercado em Belo Horizonte. Quem anda de skate na capi-tal dificilmente encontra patrocínios, lojas de roupas e acessórios ou qualquer outro tipo de suporte. “É complicado um atleta se formar aqui. Em nossa cidade, ele fica estagnado, diferente da região sul do país, por exemplo, onde o skate tem mais peso e incentivo”, avalia Leo-nardo. “Skate é muito mais que mer-cado, é estilo de vida. Mas, sem mercado, nada existe”, enfatiza.

o SKate eStÁ