81
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO PARANÁ LINHA GUIA DE ATENÇÃO À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA PARA ÁREA DA SAÚDE-PARANÁ Versão preliminar PARANÁ SETEMBRO 2011

LINHA GUIA DE ATENÇÃO À MULHER EM SITUAÇÃO DE … · A Linha Guia de Atenção à Mulher em Situação de Violência significa mais do que a apresentação de um conjunto de

Embed Size (px)

Citation preview

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO PARANÁ

LINHA GUIA DE ATENÇÃO À MULHER EM SITUAÇÃO

DE VIOLÊNCIA PARA ÁREA DA SAÚDE-PARANÁ

Versão preliminar

PARANÁ SETEMBRO

2011

2

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ

GOVERNADOR Beto Richa

SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO

PARANÁ

SECRETÁRIO Michelle Caputo Neto

Superintendência de Políticas de Atenção Primária

em Saúde - SPP

SUPERINTENDENTE Antônio Dercy Silveira Filho

CHEFE DO DEPTO DE ATENÇÃO AO RISCO

Isa Hermann

COORDENADORA DO PROGRAMA Maria Celi de Albuquerque

3

Superintendência de Vigilância em Saúde - SVS

SUPERINTENDENTE Sezifredo Paz

CHEFE DO DEPTO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Ivana Kaminski

CHEFE DA DIVISÃO DA VIGILÂNCIA DAS DOENÇAS NÂO

TRANSMISSÍVEIS-DVDNT

Alice Tisserant

4

Sumário Apresentação....................................................................................................06 I - Introdução.....................................................................................................07 II - Histórico da Atenção à Mulher em Situação de Violência no Paraná..........09 III - Base Conceitua...........................................................................................13 PARTE I Organização da Rede Estadual de Atenção à Mulher em Situação de Violência...........................................................................................................18 1. Estruturação da Rede Interinstitucional Regional de Atenção as Mulheres em Situação de Violência -RIAMulher Regional...............................................19 1.1. Funções......................................................................................................19 1.2. Proposta de composição da Rede Regional...............................................20 2. Implantação dos Serviços de Referência Regional para a violência Sexual ocorrida a menos de 72 horas...............................................................21 2.1. Atribuições dos Serviços de Referência Hospitalar para a Violência.Sexual...............................................................................................22 2.2. Fluxo de Atendimento nas Unidades de Referência Regional para o Atendimento às Vítimas de Violência Sexual....................................................25 3. Estruturação da Atenção à Mulher em Situação de Violência no Âmbito Municipal..........................................................................................................26 3.1. Organização e Composição da Rede Municipal de Atenção às Mulheres em Situação de Violência.................................................................................26 3.2 Atribuições e Responsabilidades dos Serviços Municipais de Saúde de acordo com seu âmbito de ação.................................................................27 3.2.1. Atribuições Gerais para Todos os Serviços de Saúde............................27 3.2.2. Unidades Básicas/E.S.F..........................................................................28 3.2.3. Hospitais, Pronto Socorros, Unidades de Pronto Atendimento (24HS) e Ambulatórios Gerais ou de Especialidades........................................30 3.3. Fluxogramas Municipais de Atendimento...................................................31 3.3.1. Fluxograma Municipal para Atendimento às várias formas de Violência......................................................................................................31 3.3.2 Fluxograma Municipal para Atendimento à Violência Sexual..................32 4. Sinais de Alerta para a Violência não Declarada..........................................33 5. Notificação da Violência Doméstica, Sexual e/ou outras Violências nos....... Serviços de Saúde.............................................................................................36 PARTE II Procedimentos Técnicos e Fluxos para o Atendimento às Vítimas de Violência Sexual...............................................................................................42 1. Contextualização........................................................................................... 43 2. Atribuições e Procedimentos dos Principais Profissionais de Saúde envolvidos no Atendimento....................................................................44 2.1. Atendimento de Enfermagem............................................................ .......44 2.2. Atendimento Psicológico................................................................... .......45 2.3. Atendimento Odontológico................................................................. .......48

5

2.4. Atendimento Médico................................................................................48 3. Manejo Clínico Sindrômico das Doenças Sexualmente Transmissíveis....50 3.1. Fluxograma - Úlcera Genital....................................................................51 3.2. Fluxograma - Corrimento Uretral.............................................................52 3.3. Fluxograma - Corrimento Vaginal, Desconforto ou Dor Pélvica...............53 4. Prevenção de DST, HIV/AIDS e Hepatite B................................................54 4.1. Prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis - DST.................54 4.2. Prevenção do HIV/AIDS...........................................................................54 4.3. Prevenção da Hepatite B..........................................................................56 4.4. Acompanhamento e Alta para os Procedimentos de Profilaxia................56 5. Anticoncepção de Emergência....................................................................57 6. Tratamento Medicamentoso das Doenças Sexualmente Transmissíveis -DST........................................................................................59 7. Acompanhamento e Alta..............................................................................63 8 Gravidez Decorrente da Violência Sexual.....................................................65 8.1. Avaliação do Desejo da Mulher.................................................................65 8.2. Interrupção da Gravidez............................................................................66 8.2.1. Documentos e Procedimentos Obrigatórios para a Realização do Abortamento................................................................................................66 8.3 Procedimentos para a Interrupção da Gravidez de acordo com Norma Técnica do Ministério da Saúde............................................................67 8.3.1. Determinação da Idade Gestacional.......................................................68 8.3.2. Condições Pré-existentes........................................................................68 8.3.3. Métodos de Interrupção até 12 semanas de Idade Gestacional.............68 8.3.4. Métodos de Interrupção após 12 semanas de Idade Gestacional..........71 8.3.5. Gestação com mais de 20 semanas de Idade Gestacional....................72 8.3.6. Preparação do Colo do Útero..................................................................73 8.3.7. Alivio da Dor.............................................................................................73 8.3.8. Profilaxia de Infecção...............................................................................74 8.3.9. Cuidados de Coleta e Guarda de Material..............................................75 8.3.10. Alta Hospitalar e Seguimentos...............................................................75 9. Exame Pericial e Coleta de Materiais ............................................................... Bibliografia Consultada......................................................................................78 Anexos..............................................................................................................81 Anexo1. Modelo de Termo de Promessa Legal Anexo 2. Ficha de Notificação da Violência Doméstica, Sexual e/ou outras Violências nos Serviços de Saúde

6

APRESENTAÇÃO A violência não atinge a população de forma homogênea. Variações quantitativas

e qualitativas acontecem dependendo da idade, do sexo, da cor, do local de

moradia, do tipo de ocupação, das condições sociais e econômicas, entre outros

fatores. As mulheres e meninas por sua vez, sofrem com maior intensidade a

violência que acontece no seio das famílias, dentro dos domicílios.

O presente documento especifica para a área da saúde o Plano Estratégico de

Enfrentamento à Violência contra a Mulher, construído ao longo dos últimos anos,

como resultado da interlocução do movimento de mulheres com os serviços

públicos, assumido, como tal, pela Comissão de Saúde da Mulher do Conselho

Estadual de Saúde.

Nesta perspectiva, propõe-se estabelecer uma Linha Guia de Atendimento às

Mulheres e meninas que sofrem violência no Estado do Paraná. Procurou-se

classificar as responsabilidades de cada uma das áreas envolvidas, homogeneizar

conceitos, definir posturas de acolhimento e processos de atendimento, sempre

tendo como base à legislação vigente, os preceitos éticos e as normas técnicas

estabelecidas.

A Linha Guia de Atenção à Mulher em Situação de Violência significa mais do

que a apresentação de um conjunto de serviços de saúde voltados para a atenção

aos agravos à saúde física, sexual e emocional das mulheres, ocasionados pela

violência. Trata-se da implementação de uma abordagem eminentemente

intersetorial e multidisciplinar e de uma metodologia que privilegia o trabalho em

Rede. A SESA reconhece a importância da atuação intersetorial tanto na esfera da

prevenção, como na intervenção sobre uma questão tão complexa como o

enfrentamento da violência de gênero em suas variadas manifestações,

especialmente na esfera privada - doméstica/familiar e no componente sexual.

Agradecemos a ousadia e os esforços da nossa equipe, incluindo as equipes dos

hospitais de referência, e de todos os setores envolvidos na construção e

consolidação deste trabalho, que se configura como ação fundamental na atenção

às mulheres Paranaenses numa situação em que as mesmas se encontram em

extrema vulnerabilidade.

Michele Caputo Neto Secretario de Estado da Saúde do Paraná

7

1 – Introdução

A área da saúde tem um papel de relevância na atenção à mulher em

situação de violência, tanto no que diz respeito ao atendimento aos agravos

resultantes destas situações, como também na promoção da saúde, na

intervenção precoce em situações geradoras de violência, especialmente

doméstica. Exerce também, um importante papel articulador junto às demais

instituições que atuam com a violência doméstica e sexual contra a mulher. A violência contra a mulher vem sendo remetida à área da Saúde Pública tanto pelo movimento feminista como por associações profissionais, serviços de saúde e organismos internacionais, como a organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Segundo D’Oliveira e Schraiber (1999), essa tendência está embasada na constatação crescente de que a violência de gênero está associada a um maior risco para diversos agravos à saúde física e mental, além de trauma físico direto e, também, a um uso mais freqüente dos serviços de saúde.(BRASIL, 2009)1

Os serviços de saúde têm uma condição privilegiada, especialmente as

unidades básicas que atuam com a Estratégia de Saúde da Família e com o

Programa de Agentes Comunitários de Saúde, dada pela sua capilaridade e

pela proximidade com os territórios onde as pessoas e famílias vivem e se

relacionam, incluindo-se o território doméstico.

As ações da saúde englobam um conjunto de serviços e equipamentos

exigindo um planejamento integrado tanto entre a área da saúde e as demais

áreas (rede interinstitucional) como dentro do próprio setor saúde (rede de

serviços de saúde).

A maioria dos serviços de saúde é operada pelos municípios, como as

unidades básicas, os ambulatórios, as unidades de pronto atendimento, os

Centros de Atenção Psicossocial - CAPS. No entanto, os equipamentos de

maior agregação tecnológica, maior grau de especialização, não estão

disseminados em todos os municípios dado seu custo e a pequena demanda

em função do tamanho da população. Esta condição, em linhas gerais, justifica

a necessidade da regionalização dos serviços na área da saúde e, igualmente

na área da atenção à violência contra as mulheres.

1 Atenção Integral para Mulheres e Adolescentes em Situação de Violência Doméstica e Sexual. Matriz Pedagógica para Formação de Redes. Ministério da Saúde. Brasília. 2009

8

A violência sexual, em especial, exige a mobilização e disponibilização

de recursos especializados em período integral, o que implica na organização

de uma rede integrada, interligando cada serviço localizado em cada município.

Exige a interligação com outros serviços operados por outras áreas que, por

sua vez também, são operadas em parte pelos municípios e em parte pela

instância estadual, como é o caso dos serviços da Segurança Pública, da

Justiça, Promotoria, Poder Judiciário. É imprescindível para que uma rede com

esta configuração complexa possa atuar e cumprir o seu papel, que a instância

estadual atue em rede, ou seja, organize seus serviços de forma a dar suporte

às redes municipais especialmente em relação aos serviços especializados.

Seguindo a mesma organização e os pressupostos da regionalização dos

serviços de saúde, deverá se estruturar a rede de atenção à mulher em

situação de violência.

9

2 – Histórico da Atenção à Mulher em Situação de Violência no Estado do Paraná

A atenção às mulheres em situação de violência de gênero no Estado do

Paraná como uma política pública é relativamente recente e vem sendo

implantada paulatinamente.

Os avanços tiveram início com a publicação da Resolução n.º 10/99 do Conselho Estadual de Saúde – CES-PR que estabeleceu a necessidade de

assegurar serviços que atendam ao aborto legal no Estado. Londrina foi

pioneira no Paraná, com a criação de uma Secretaria Especial da Mulher e

implantação de um serviço nesta área mantendo-se atuante ao longo dos

últimos anos. Em 2001, a resolução nº 14/2001, do CES-PR, estabeleceu a

política para o atendimento a mulher que sofre violência no Estado do Paraná,

definindo que os serviços de assistência seriam estruturados na forma de

Redes Integradas com envolvimento da área de Saúde, Bem-Estar Social,

Justiça, Segurança Pública e demais poderes constituídos. Esta resolução foi

seguida da resolução nº 15/01-CES-PR que criou o Comitê Gestor

Interinstitucional para acompanhamento das Redes Integradas e elaboração de

estudos e propostas de intervenção sobre as causas da violência.

Registra-se também a aprovação no CES em 2001 do Plano Estratégico para Organização de Redes de Serviços para Atendimento a Mulher que Sofre Violência no Estado do Paraná, estabelecendo

competência de cada instituição para implantação e ou implementação das

políticas de atenção a violência contra a mulher. Em junho de 2002 foi assinado convênio entre a Secretaria de Estado da Saúde e a Secretaria

de Estado da Segurança Pública/IML através da Resolução conjunta número 02/2002 com o objetivo de assegurar que o atendimento pericial e o

de saúde ocorram de forma simultânea e humanizada. Coube à Secretaria de

Estado da Saúde disponibilizar médicos/as para realizar o atendimento em

estabelecimentos hospitalares previamente definidos em Curitiba em até no

máximo uma hora após a chegada das mulheres, crianças e adolescentes

vítimas de violência sexual, ao mesmo tempo em que a equipe de saúde presta

o atendimento hospitalar e realiza os exames de saúde. Este convênio permitiu

uma maior agilidade dos laudos e procedimentos, evitou perdas de provas

10

periciais, acabou com o constrangimento e “peregrinação” das mulheres nas

Delegacias. Melhorou a qualidade e humanizou o atendimento a mulheres em

situação de violência sexual em Curitiba e Região Metropolitana, além de ter

sido alavanca para a realização do aborto previsto em lei nos hospitais, como

no Hospital de Clinicas/UFPR e Hospital Evangélico de Curitiba.

Em 2002 a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba implantou o Programa Mulher de Verdade, voltado para a atenção à mulher em situação

de violência. Elaborou o Protocolo de Atendimento viabilizando a parceria com

os três Hospitais de Referência e desenvolvendo o processo de capacitação

dos profissionais que atuam nas unidades de saúde e nos respectivos

hospitais. Assumiu também a proposta de articulação de entidades e serviços,

na perspectiva de construção da Rede de Atenção à Mulher em Situação de

Violência de Gênero na capital, que se mantém até os dias atuais.

Em 2006 foi instalado o Centro de Referência e Atendimento à Mulher

em Situação de Violência de Curitiba e Região Metropolitana, constituindo-

se como um espaço estratégico da política de enfrentamento à violência contra

a mulher, exercendo o papel de articulador da Rede Interinstitucional da Região

Metropolitana. Neste sentido, vem se concretizando a Rede Metropolitana de

Atendimento a Mulher em Situação de Violência com reuniões mensais e

trocas de experiência com a finalidade de alicerçar os serviços dos municípios

do entorno da capital, melhorando a sensibilização para a assistência e

aumentando as notificações de casos.

Em 2007 foi instalado o Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher em Curitiba e em 2010 em Londrina, que entre as suas

muitas atribuições encontra-se a de conceder medidas protetivas de urgência

afastando o agressor do lar, distanciamento da vítima, suspensão do porte de

arma e prisão do agressor, entre outros.

Em 2008, a Rede Feminista de Saúde em conjunto com outros

movimentos de Mulheres, entregou uma carta ao Sr. Secretário Estadual de

Saúde onde consta a necessidade de retomada da implantação da Rede

Estadual e do enfrentamento dos principais agravos à saúde da mulher,

incluindo-se a violência de gênero, a partir de um conceito de intersetorialidade,

cabendo ao setor saúde a articulação com os demais parceiros, além do

11

atendimento propriamente dito aos casos já acontecidos, conforme preconizam

a Organização Mundial da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde.

Vários momentos se seguiram no processo de construção dessa

proposta, quando ela foi absorvida pela Comissão de Saúde da Mulher do Conselho Estadual de Saúde e criada em 2010 a Rede Interinstitucional de Atenção à Mulher em Situação de Violência do Estado do Paraná – RIAMULHER – Paraná. A Rede é composta por Instituições Públicas de nível

estadual (Secretarias de Estado), Ministério Público, Poder Judiciário, por

ONGs e Movimento de Mulheres, Secretarias Municipais da Mulher e

Comissão de Saúde da Mulher, reunindo-se mensalmente para discutir e

encaminhar as medidas necessárias para a organização da atenção á mulher

no Estado.

A atual gestão da SESA implantou a Coordenação de Atenção à Mulher

em Situação de Violência que tem como objetivo construir a Linha Guia da

Violência contra a Mulher, implantar a rede de atenção à saúde e articular a

Rede Interinstitucional de Atenção à Mulher em Situação de Violência.

A avaliação epidemiológica da violência contra a mulher é ainda uma

tarefa difícil, dada a incipiência dos sistemas de registros de dados, bem como

sua dispersão entre os vários organismos que prestam atendimento às

mulheres. O Ministério da Saúde ensaiou várias propostas de Notificação

Obrigatória da Violência contra a mulher, tornando-a compulsória através da

Portaria nº 2.406/2004 atendendo à Lei nº 10.778/2003. A forma de notificação

atualmente proposta pelo Ministério da Saúde é através da Ficha de

Notificação/Investigação da Violência Doméstica, Sexual e/ou Outras

Violências englobando a violência praticada contra a mulher, a criança, o

adolescente e a pessoa idosa.

Mesmo considerando que uma análise da situação das violências atendidas no

setor saúde com base nesse sistema ainda é prematura, por estar ainda em

processo de implantação no Estado do Paraná, pode-se refletir sobre a

violência contra a mulher e o setor saúde a partir desses dados. No Estado do

Paraná, foram notificados até maio de 2011 um total de 6.802 casos (66 casos

em 2008, 2.098 em 2009 e 3.212 em 2010, 1.432 casos ate o mês maio de

2011). Destas, cerca de 70% são situações de violências ocorridas com o sexo

feminino, sendo que o principal município notificador é Curitiba. Neste

12

Município, em 2009 ocorreu o maior número de casos notificados (2.094),

destes 1.494 são do sexo feminino (71.4%) e 587 (28%) do sexo masculino.

Em relação à faixa etária, o maior número de casos notificados ocorreram na

faixa etária entre 20 a 34 anos. Quanto ao tipo e natureza da violência,

observou-se que a maior ocorrência notificada é a violência física, seguida de

violência psico-moral e violência sexual.

Em Curitiba, com o Programa Mulher de Verdade implantado em 2002 foram

notificados, no período de 2003 a 2006 um total de 2687 casos de violência

pelos serviços notificadores (Unidades de Saúde, Hospital do Trabalhador,

Centro de Referência e Atendimento à Mulher, Hospital de Clínicas, Hospital

Evangélico e Hospital Pequeno Príncipe), segundo Boletim Epidemiológico de

Curitiba, publicado em 2008. Deste total, 2.467 são do sexo feminino (91,8%) e

220 do sexo masculino (8,2%). Nas 2.467 notificações de violência contra a

mulher, 1.872 foram de violência sexual, 548 de violência física, 295 de

violência verbal/moral e 256 de violência psicológica, sendo que, em muitos

casos mais de um tipo de violência foram registradas na mesma notificação.

No Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Município de

Curitiba, criado em 2007, até 01/12/2010 tramitaram 17.171 processos.

O Ministério Público do Paraná, por meio do Centro de Apoio Operacional das

Promotorias de Justiça dos Direitos Constitucionais realizou levantamento

dos registros relativas ao Paraná em 2010 na Central de Atendimento à

Mulher - Ligue 180. Produzido com base em dados enviados

mensalmente pela Central de Atendimento, o estudo sistematiza as

informações por município, comarca e tipo de denúncia. A pesquisa teve como

objetivo mapear e divulgar as demandas estaduais, e servir de subsídio às

Promotorias de Justiça para medidas de melhorias à rede de enfrentamento à

violência contra a mulher. As reclamações registradas no ano passado

chegaram ao número de 279, oriundas de 86 municípios do Paraná. Quase

metade das reclamações, 44%, foi com relação ao atendimento prestado por

delegacias comuns, 26% relativas ao Serviço de Atendimento ao Cidadão –

190, e 17% sobre as Delegacias da Mulher. Comparado aos demais municípios

onde houve reclamação, Curitiba concentra mais de um quarto das denúncias

com 65 reclamações de mau atendimento. Foz do Iguaçu em segundo lugar

com 13, seguida de Ponta Grossa com 12, Maringá com 11, Colombo com 10 e

13

Londrina e São José dos Pinhais com 9 reclamações cada. Cerca de 40% das

reclamações partiram da Região Metropolitana de Curitiba. Alerta-se que estes

dados devem ser analisados considerando o tamanho da população de cada

um desses municípios, sendo, portanto, esperado que os municípios mais

populosos registrem o maior número de ocorrências.

.

3 - Base Conceitual

Para o enfrentamento da violência contra a mulher, é necessária uma base

conceitual clara que possibilite a compreensão homogênea entre a

multiplicidade de parceiros que se pretende mobilizar, de diferentes áreas

envolvidas.

Serão utilizados conceitos legais, partindo-se da premissa de que a omissão,

tal qual o silêncio e a impunidade, são cúmplice da violência, e de que a

violência contra as mulheres constitui-se em violação aos direitos humanos,

porque assim declarou a ONU na Conferência das Nações Unidas sobre os

Direitos Humanos.

Sexo e Gênero:

Para tornar-se homem ou mulher é preciso submeter-se a um processo que

chamamos de socialização de gênero, baseado nas expectativas que a cultura

tem em relação a cada sexo. Dessa forma, a identidade sexual é algo

construído que transcende o biológico.

O sistema de gênero ordena a vida nas sociedades contemporâneas a partir da

linguagem, dos símbolos, das instituições e hierarquias da organização social,

da representação política e do poder. Com base na interação desses

elementos e de suas formas de expressão, distinguem-se os papéis do homem

e da mulher na família, na divisão do trabalho, na oferta de bens e serviços e

até na instituição e aplicação das normas legais.

A estrutura de gênero delimita também o poder entre os sexos. Mesmo quando

a norma legal é de igualdade, na vida cotidiana encontra-se a desigualdade e a

iniqüidade na distribuição do poder e da riqueza entre homens e mulheres.

14

O conceito de gênero, portanto, dá conta de explicar a dificuldade que homens

e mulheres sentem em assumir as relações desiguais e as agressões nas

relações entre os sexos como manifestações de violência.

Violência contra as Mulheres - conceito e formas.

A segunda metade do Século XX é marcada pela realização de diversas

Conferências Internacionais, as quais enunciaram e definiram direitos humanos

mínimos. Podem ser destacadas, por marcos legais no enfrentamento da

violência contra a mulher, as seguintes convenções, aprovadas pela ONU e

ratificadas pelo Brasil: Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de

Discriminação Racial, Convenção para a Eliminação de todas as Formas de

Discriminação contra a Mulher, Convenção sobre os Direitos da Criança,

Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a

Mulher (Convenção de Belém do Pará).

Esta última, a Convenção de Belém do Pará, tem especial importância por

definir a Violência contra a mulher como: “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado”.

O conceito de violência de gênero que se manifesta contra a mulher, é amplo,

pois pode ou não ocorrer no espaço doméstico e/ou familiar e ser praticada ou

não por familiares, incluindo violência física, sexual, psicológica, patrimonial e

moral:

A violência doméstica e familiar é a forma mais freqüente de violência contra as

mulheres, de elevado custo econômico e social e passível de prevenção, se

abordada como sério problema social, complexo e dinâmico. Para coibi-la

necessário o seu enfrentamento multidisciplinar, intersetorial e interinstitucional.

A família, convencional ou não, é a instituição primeira e fundamental na

formação do Cidadão e requer, sob pena de todos os demais investimentos e

medidas punitivas do Estado serem ineficazes, ações efetivas de prevenção na

15

área da saúde, educação, justiça, segurança pública, trabalho e ação social,

enfocando a integralidade do ser humano.

A Constituição Federal de 1988, ao tratar da especial proteção à família,

estabeleceu no art. 226, §8º, que: "O Estado assegurará a assistência à família

na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a

violência no âmbito de suas relações."

Em agosto de 2006, fruto do árduo trabalho dos movimentos feministas e de

mulheres, foi sancionada a LEI MARIA DA PENHA (nº 11.340/2006). Esta Lei

cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a

mulher,; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e

Familiar contra a Mulher e estabelece medidas de assistência e proteção às

mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Segundo a Lei Maria da Penha, violência doméstica e familiar contra a mulher

é qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause a morte, lesão,

sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio

permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as

esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por

indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais,

por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha

convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Formas de Violência:

Violência Física: Qualquer conduta que ofenda a integridade ou a

saúde corporal da mulher (empurrão, rasteira, mordida, tapa, soco,

torção, corte, queimadura, golpes com objetos).

Violência Psicológica: Qualquer conduta que cause dano emocional e

16

diminuição da auto-estima ou que prejudique e perturbe o pleno

desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar as ações,

comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,

constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância

constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,

exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que

cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

Violência Sexual: Qualquer conduta que a constranja a presenciar, a

manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante

intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a

comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a

impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao

matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,

chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício

de seus direitos sexuais e reprodutivos;

Violência Patrimonial: Qualquer conduta que configure retenção,

subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de

trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos

econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

(quebrar móveis e eletrodomésticos, atirar objetos pela janela, rasgar

roupas e documentos, ferir e matar animais de estimação);

Violência Moral: Qualquer conduta que configure calúnia (imputar

falsamente fato definido como crime), difamação (imputar fato ofensivo

à sua reputação) ou injúria (ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro).

Auto agressão: que se caracteriza por situações de suicídio ou

tentativa de suicídio, ou seja, a agressão praticada pela vítima contra si

mesma.

Violência Institucional: Trata-se da violência exercida pelo próprio

serviço público, ou por seus concessionários, quando dificultam o

acesso aos serviços, quando prestam estes serviços com baixa

qualidade, quando abusam da autoridade em virtude das relações

desiguais de poder entre profissionais e usuários(as). Esse tipo de

violência pode se manifestar por diversas formas, como: peregrinação

17

por diversos serviços até receber o atendimento, frieza, rispidez e falta

de escuta; discriminação, preconceito; desqualificação do saber prático;

violência física, como negar acesso à anestesia como forma de punição,

uso de medicamentos para adequar o paciente às necessidades do

serviço, diagnósticos imprecisos e subestimação das manifestações

emocionais/psíquicas como sintomas de estados patológicos, entre

outros.

Estas várias formas se manifestam tanto no ambiente doméstico/familiar

quanto fora das suas relações familiares e da sua unidade doméstica,

provocada por pessoas conhecidas ou desconhecidas da vítima, mas que

estão baseadas na violência de gênero.

18

PARTE I

ORGANIZAÇÃO DA REDE ESTADUAL DA ATENÇÃO À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA

19

1 – Estruturação da Rede Interinstitucional Regional de Atenção às Mulheres em Situação de Violência – RIAMulher Regional

A garantia do caráter interinstitucional da atenção às mulheres em situação de

violência resulta da priorização de uma metodologia de trabalho e de

organização que dê conta dessa perspectiva. Dessa forma, entende-se como

fundamental a organização no nível regional, de uma articulação permanente

entre os diversos organismos institucionais do poder público e dos movimentos

organizados de mulheres. Assim, propõe-se, na sequência, procedimentos

organizacionais que dão formatação a essa metodologia e concepção

interinstitucional de trabalho.

1.1 - Funções:

Propõe-se que as regionais de saúde da SESA, bem como a estrutura

regional das demais Secretarias de Estado, adotem como forma organizacional

o trabalho em Rede, tendo como referência a organização de âmbito estadual

da Rede Intersetorial RIAMulher Paraná, com o objetivo de:

garantir a necessária integração entre os serviços de âmbito regional que

estarão diretamente envolvidos com a atenção às mulheres em situação de

violência. Dentre estes serviços destacam-se os hospitais de referência, os

ambulatórios especializados ou de especialidades que atendem a vários

municípios de uma região, os Consórcios Intermunicipais de Saúde, as

unidades do IML, que igualmente atendem a mais de um município, outros

organismos de Segurança Pública, serviços de Assistência Social, entre

outros de caráter regional.

articulação com os parceiros e municípios componentes da região, para a

definição de fluxos intermunicipais, para a implantação da referência e

contrarreferência no atendimento às vítimas de violência entre os serviços

municipais e os serviços regionais ou intermunicipais,

implantação da Notificação Obrigatória da Violência de acordo com as

diretrizes do MS e legislação específica (ver item 5)

capacitação de pessoal dos serviços de abrangência regional e das equipes

20

técnicas regionais, de forma a instrumentalizá-las a trabalhar em rede e

para atuarem junto às equipes municipais

tomar ciência, discutir e dar encaminhamento às questões, dúvidas e

dificuldades que ocorrerão no processo de implantação da presente linha

guia para a Atenção às Mulheres em Situação de Violência, tanto nos

aspectos operacionais, quanto conceituais, como éticos, informando à

instância estadual e propondo soluções consonantes com as exigências

legais, técnicas, éticas, com o compromisso da humanização do

atendimento e com as características e potencialidades regionais.

1.2 - Proposta de Composição da Rede Regional:

A composição da rede regional ou comissão regional não

obrigatoriamente será igual em todas as regiões, pois deverá se adequar aos

recortes e recursos regionais. A título de sugestão, elenca-se a seguinte

composição:

representante da SESA – área assistencial e de vigilância

epidemiológica

representante da SEDS - área de gestão de CREAS e CRAS

representante da SESP – IML, Del.da Mulher, ou outra Del da Polícia

Civil e Comando da Polícia Militar

representante da SEJU

representante da SEED – Núcleos regionais

representante do Poder Judiciário e Promotoria Pública

representante dos Hospitais de Referência para Violência Sexual

representantes de ONGs e Movimentos de defesa dos direitos da Mulher

representante da Secretaria Municipal de Saúde do Município sede da

regional

representantes da Secretarias Municipais de Saúde que já tenham

organizado suas redes e implantado a atenção à mulher em situação de

violência.

representantes das Universidades, preferencialmente, Públicas

representantes do Conselho Municipal da Mulher do município sede da

Regional

21

representantes da Secretaria Municipal da Mulher do município sede da

Regional

2 – Implantação dos Serviços de Referência Regional para a Violência

Sexual, ocorrida a menos de 72 horas

A especificidade do atendimento à violência sexual tem demonstrado

que a estrutura hospitalar é a mais adequada para prestar o atendimento às

vítimas de violência sexual ocorrida em até 72 horas. Isto porque, neste

período um conjunto de procedimentos deve ser realizado com vistas a

prevenir a ocorrência de doenças sexualmente transmissíveis, incluindo-se a

prevenção à AIDS, a prevenção da gravidez, bem como, deve ocorrer o exame

pericial solicitado por autoridade policial ou judiciária, antes que se realizem os

procedimentos próprios ao atendimento à saúde. Isso significa que tais

procedimentos devem ser feitos, o mais rápido possível para garantir a

proteção da vítima, e em conjunto, para evitar que os procedimentos médicos

inviabilizem o exame de corpo de delito, fundamental para instrumentalizar a

ação policial e judicial. Igualmente, o atendimento conjunto se justifica para

evitar que a vítima tenha que repetir o relato dos fatos que lhe trazem dor e

sofrimento emocional o que equivale a submetê-la uma nova violência.

A conjugação dessas ações exige planejamento conjunto e o

estabelecimento de pactos interinstitucionais. Não é possível propor-se uma

única forma de organização e de fluxos, pois a realidade da distribuição dos

serviços e recursos no Estado não é homogênea. Portanto, é fundamental

acordar em relação à concepção de estruturação e operação dos serviços, que

pode assumir contornos diferentes conforme as condições regionais de

disponibilidade e organização dos serviços. Considerando aspectos regionais

pode-se prever, pelo menos, duas possibilidades de organização e de fluxos

para os serviços regionais de atenção às vítimas de violência sexual:

Nas regiões onde existem serviços hospitalares de referência e

Unidades do Instituto Médico Legal com disponibilidade de médicos peritos para atendimento nos hospitais de referência, o trabalho se

dará em conjunto, necessitando apenas acionar médico de plantão no

IML, para que esse profissional se desloque até o hospital, em um

tempo não superior a 1 hora após acionado. Se a vítima chegar ao

22

hospital sem a requisição de uma Delegacia da Polícia Civil para a

realização do Exame de Corpo de Delito, cabe ao hospital solicitar à

Delegacia previamente acordada, a respectiva requisição, a ser enviada

por fax.

Nas regiões onde não existem unidades do IML, ou não haja

disponibilidade de deslocamento dos médicos peritos para atendimento

diretamente no hospital de referência, os médicos do hospital deverão

realizar os exames periciais, encaminhando ao IML os laudos

descritivos e os materiais coletados para exames, de acordo com as

orientações e protocolos definidos pelo IML. Para tal, duas condições

são essenciais: Capacitação dos médicos dos hospitais responsáveis

pelo atendimento às vítimas de violência sexual para atuação como

peritos ad hoc e determinação legal emitida por autoridade policial ou

judicial, nomeando o médico do hospital de referência como perito,

através do Termo de Promessa Legal (modelo anexo). 2.1 – Atribuições dos Serviços de Referência Hospitalar para a violência

Sexual

Atender as vítimas de violências sexuais encaminhadas pelos

demais serviços, pelos municípios de sua Região de abrangência,

pelas delegacias e por procura direta;

solicitar a emissão da requisição dos exames periciais junto à

Delegacia da Polícia Civil previamente designada, através de contato

telefônico, nos casos em que a vítima não portar esse documento;

solicitar a presença do médico legista através de contato telefônico,

nas regiões onde o IML assumir a responsabilidade por realizar o

Exame de Corpo de Delito, deslocando-se ao Hospital de Referência;

aguardar a presença do médico legista para que a realização dos

exames clínicos e laboratoriais seja feita em conjunto, evitando desta

maneira a dupla abordagem da mulher;

não higienizar nem remover roupas ou secreções antes do exame

do perito, a não ser que haja ameaça de vida;

23

realizar os exames periciais e a coleta de material para esse fim,

de acordo com os procedimentos definidos pelo IML, nas regiões onde

não existe unidade do IML, ou que não houver peritos disponíveis para

deslocamento aos Hospitais de Referência;

solicitar os exames laboratoriais preconizados;

realizar a contracepção de emergência nas usuárias em idade

fértil, que não estejam usando um contraceptivo eficaz ou na

impossibilidade de avaliar o método contraceptivo em uso, sempre que

este procedimento não tenha sido realizado pelo serviço que primeiro

atendeu à vítima;

realizar profilaxia das DST/AIDS e Hepatite B, com medidas específicas

nas primeiras 72 horas;

preencher o formulário de dispensação de anti-retrovirais;

realizar ou encaminhar para acompanhamento psicológico;

preencher obrigatoriamente os dados contidos na Ficha de Notificação

Compulsória de Violência Contra a Mulher, de modo a possibilitar a

análise das informações;

realizar os registros necessários, não só para o acompanhamento da

mulher como também para fins legais. Todas as informações devem

ser cuidadosamente registradas no prontuário médico, com letra legível

e sem espaços em branco, tendo em vista que este registro poderá ser

fonte oficial de informações, especialmente quando o exame pericial

não for realizado;

constar, em prontuário clínico, data e hora dos atendimentos, história

clínica e exame físico completo, incluindo o exame ginecológico,

descrição minuciosa das lesões, relatando se são recentes ou não e

sua localização específica, descrição do relato da usuária, bem como

das orientações fornecidas pelo profissional e a identificação, no

prontuário, de todos os profissionais que atenderam a mulher;

no caso de gravidez decorrente de estupro, com a impossibilidade de

realizar o aborto ou quando a opção da mulher for pela manutenção da

24

gravidez, esta deve ser encaminhada à Unidade de Saúde mais

próxima de sua residência, para a realização do pré-natal e/ou

encaminhamento para adoção;

realizar a interrupção da gravidez, conforme Norma Técnica: Prevenção

e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual Contra

Mulheres e Adolescentes, MS, transcritas no item 8 de presente

documento;

garantir o acompanhamento através de consultas pré-agendadas.

25

2.2 – Fluxo de Atendimento nas Unidades de Referência Regional para o

Atendimento às vítimas de Violência Sexual

Atendimento às vítimas de Violência Sexual

Contata o médico legista de plantão do IML, nos casos onde esse procedimento for previamente pactuado e aguarda a sua chegada para

proceder os exames

acompanhamento clínico e psicológico

verificar interesse em adoção/encaminha para

encaminha para pré-natal e acompanhamento psicológico

realiza aborto legal

agenda consulta de retorno para acompanhamento na unidade de referência ou nas unidades municipais

Em caso de gravidez resultante de estupro: avaliar o desejo da mulher

deseja manter a gravidez não deseja manter gravidez

Realiza anticoncepção de emergência (quando for o caso) e os procedimentos preconizados de profilaxia e/ou tratamento

Encaminha para atendimento em saúde mental - quando necessário e/ou outros atendimentos em serviços regionais ou municipais

registra informações precisas no prontuário e preenche a Ficha de Notificação da Violência

Unidades de Referência para Atendimento às vítimas de violência sexual ocorrida a até 72 horas

acolhimento

registro das informações iniciais

Contata a Delegacia de Polícia Civil - quando a vítima não portar solicitação para exames de Corpo de delito

escuta a vítima, realiza exame clínico, colhe material para exames laboratoriais e periciais

26

3 – Estruturação da Atenção à Mulher em Situação de Violência no Âmbito Municipal

A mesma concepção de trabalho em rede deve orientar a organização

da atenção à mulher em situação de violência na instância municipal. Isto

significa que as SMS devem ter como missão a sensibilização e a articulação

com os demais organismos municipais para a composição da Rede Municipal

de Atenção à Mulher em Situação de Violência.

3.1 – Organização e composição da Rede Municipal de Atenção às Mulheres em Situação de Violência.

O objetivo da Rede Municipal é a viabilização da atenção à mulher,

através da sensibilização de todos os organismos imbricados com a situação

da violência contra a mulher, especialmente a violência doméstica e sexual,

possibilitando que tais organismos atuem de forma integrada e complementar

uns aos outros. A atuação destes organismos deve englobar tanto os aspectos

de promoção da saúde e da cultura da paz, da prevenção, como também do

atendimento propriamente dito abarcando os aspectos da saúde, jurídicos,

sociais, econômicos, conforme previsto no Plano Estratégico para a

Organização de Redes Intersetoriais de Atenção à Mulher em Situação de Violência de Gênero2

A exemplo da organização da rede em sua abrangência regional,

também as redes municipais terão composições diferenciadas, de acordo com

as formas de organização da administração pública, com o grau de

organização da sociedade civil, em especial dos movimentos sociais e de

mulheres e com a presença ou não de determinados serviços. Dessa forma,

pode-se considerar como a composição desejada da rede Municipal:

Secretaria Municipal de Saúde;

Secretaria Municipal de Ação Social ou organismo equivalente;

Secretaria Municipal da Educação;

Secretaria Municipal da Mulher (quando houver) 2 Plano Estratégico para a Organização de Redes Intersetoriais de Atenção à Mulher em

Situação de Violência de Gênero. Maio de 2009. Em processo de atualização pela

RIAMULHER-Paraná. 2011

27

Delegacia da Mulher ou na ausência desta, da Delegacia não

especializada da Polícia Civil

Comando local da Polícia Militar

Unidade de Saúde de Referência para o atendimento de urgência

(Hospitais e/ou UPA)

Unidade Municipal de Atendimento à Mulher (quando houver)

Juízado

Promotoria Pública

Conselhos Municipais (Saúde, Assistência Social, Mulher,...)

Ongs com atuação na área

Além desses organismos, outros existentes no município poderão se

agregar, como a representação local da OAB, de outros Conselhos de

Categoria Profissional, Universidades, Sociedades Científicas, entre outros.

3.2 – Atribuições e responsabilidades dos Serviços Municipais de Saúde de acordo com seu âmbito de ação.

3.2.1 – Atribuições Gerais para todos os Serviços de Saúde3

reconhecer os sinais de violência não declarada, especialmente da

violência doméstica, mantendo seus profissionais sensibilizados e capacitados

para tal;

acolher as mulheres em situação de violência de forma humanizada,

sem preconceitos e juízos de valor;

garantir a necessária privacidade durante o atendimento, estabelecendo

um ambiente de confiança e respeito;

manter sigilo sobre as informações prestadas pela vítima ou pelo seu

responsável, repassando a outro profissional ou outro serviço, apenas as

informações necessárias para garantir o atendimento adequado;

ouvir atentamente o relato da situação, de forma a poder avaliar a

possibilidade de risco de morte ou de repetição da violência sofrida, bem como, 3 As atribuições dos demais serviços componentes da Rede Interinstitucional encontram-se especificados no documento Plano Estratégico para a Organização de Redes Interinstitucionais de Atenção às Mulheres em Situação de Risco para a Violência de Gênero. Comissão de Saúde da Mulher do Conselho Estadual de Saúde do Paraná. RiaMulher. Paraná. 2011

28

as necessidades de atendimento que o caso requer, prestar o atendimento

necessário de acordo com a especificidade de atuação do serviço e

encaminhar a outros serviços quando a situação requerer outro tipo de

intervenção ou ajuda;

nos casos de violência sexual ocorridas a até 72 horas, encaminhar

imediatamente para o Hospital de Referência para atendimento à violência

sexual;

informar sobre o que será realizado em cada etapa do atendimento e a

importância das condutas e procedimentos da equipe de saúde, respeitando a

opinião e/ou possível recusa em relação a algum procedimento;

notificar os casos de violência, conforme determinação do Ministério da

Saúde, e de acordo com o protocolo anexo,

registrar as informações no prontuário médico, dando ênfase ao relato

do fato (quando, onde e como aconteceu a violência, quem foi o provável

agressor, tipo e características do dano apresentado, etc)4;

garantir que os casos de violência contra crianças e adolescentes (0 a

18 anos) sejam devidamente notificados ao Conselho Tutelar da localidade,

nos termos do art. 13 do Estatuto da Criança e do Adolescente5

Informar e orientar sobre a importância do registro policial do fato e da

realização do exame de corpo de delito, nos casos de violência física e/ou

sexual.

3.2.2 - Unidades Básicas/E.S.F.

incluir a violência, especialmente a violência doméstica e de gênero

como um dos critérios para a identificação de população de risco para

atendimento priorizado na Unidade de Saúde;

notificar os casos de violência, conforme determinação do Ministério da

Saúde, e de acordo com o protocolo anexo, 4 Tais registros poderão ser solicitados posteriormente pela autoridade policial ou judicial, especialmente na ausência de exames periciais, uma vez que a vítima poderá registrar queixa até seis meses após o ocorrido.

5 Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei no 8.069/1990, que tornou obrigatória a comunicação de todos os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra crianças e adolescentes, sem prejuízo de outras providências legais, sob pena de ser-lhe aplicada medida prevista no art. 245, da referida Lei

29

registrar as informações no prontuário médico, dando ênfase ao relato

do fato (quando, onde e como aconteceu a violência, quem foi o provável

agressor, tipo e características do dano apresentado, etc)6;

nos casos de violência sexual acontecidas a até 72 horas, realizar a

contracepção de emergência nas usuárias em idade fértil que não estejam

usando um contraceptivo eficaz ou na impossibilidade de avaliar o método

contraceptivo em uso. Encaminhar imediatamente ao Hospital de Referência

responsável por este atendimento;

nos casos de violência sexual acontecidas a até 72 horas a mulher

deve ser orientada a não realizar a higienização e não trocar de roupa, até o

atendimento médico pericial.

a mulher não deve ser obrigada a repetir o relato da agressão mais de

uma vez e o entrevistador não deve ser inquisitivo e curioso, deixando que a

mulher relate o que ela julgar importante.

Nos casos de violência sexual crônica (que vem ocorrendo de forma

repetitiva), ou após 72 horas da ocorrência, as vítimas devem ser atendidas e

acompanhadas pelas unidades de saúde para investigação de possíveis

infecções por DST/AIDS ou gravidez em função da violência sofrida;

lesões mais graves que exijam atendimento especializado, como:

queimaduras de maior gravidade; traumas cranianos ou fraturas; suspeita de

lesão de órgãos internos; trauma facial, traumatismo dentário, estado de

choque emocional, encaminhar para serviços especializados do SUS de

acordo com fluxo determinado pela SMS

agendar retorno para atendimento e/ou visita domiciliar com o objetivo

de acompanhamento do caso, com a participação das equipes de Saúde da

Família, PACS, entre outros;

prestar atendimento em saúde mental às mulheres em situação de

violência e aos agressores, ou encaminhá-los a serviços especializados;

estabelecer um plano de atenção à mulher em situação de violência

sob responsabilidade da Unidade de Saúde, incluindo os encaminhamentos

6 Tais registros poderão ser solicitados posteriormente pela autoridade policial ou judicial, especialmente na ausência de exames periciais, uma vez que a vítima poderá registrar queixa até seis meses após o ocorrido.

30

necessários, porém, de forma a manter sob controle da Unidade os

desdobramentos do caso e o necessário acompanhamento;

incentivar a criação de grupos de apoio às mulheres em situação de

violência, aos agressores e às famílias, com foco principal nos aspectos

psicossociais ;

receber os casos encaminhados por outros serviços e prestar o

atendimento e acompanhamento necessários.

3.2.3 - Hospitais, Pronto Socorros, Unidades de Pronto Atendimento (24 HS) e Ambulatórios Gerais ou de Especialidades

identificar as situações de violência e acolher as vítimas, quando se

tratar de procura direta, ou quando não percebidas pela unidade básica (ver

item 5)

atender aos casos de violência de acordo com a característica e

complexidade do serviço, agendar os retornos necessários e encaminhar para

acompanhamento na unidade básica;

identificar os casos de violência sexual e encaminhar imediatamente

para o Hospital de Referência para violência sexual aqueles ocorridos a até 72

horas. Os casos de violência sexual crônica ou ocorrida a mais de 72 horas

devem ser encaminhados à unidade básica ou outra unidade de saúde definida

pelo município;

notificar os casos atendidos, conforme determina o Ministério da Saúde,

de acordo com o protocolo anexo,

registrar as informações com ênfase ao relato do fato (quando, onde e

como aconteceu a violência, quem foi o provável agressor, tipo e

características do dano apresentado7, etc).

quando se tratar de criança ou adolescente, proceder ao internamento

hospitalar até a chegada do Conselho Tutelar ou de outra autoridade

competente, em casos de suspeita de violência familiar, quando é detectado a

dificuldade em garantir a segurança da vítima.

7 Tais registros poderão ser solicitados posteriormente pela autoridade policial ou judicial, especialmente na ausência de exames periciais, uma vez que a vítima poderá registrar queixa até seis meses após o ocorrido.

31

3.3 – Fluxogramas Municipais de Atendimento

3.3.1 – Fluxograma Municipal para atendimento às várias formas de

violência doméstica

SERVIÇO DE SAÚDE*

QUEIXA

RELATA VIOLÊNCIA?

NÃO

NÃO

SINAIS DE ALERTA

ATENDIMENTO DA

QUEIXA QUE

A LEVOU AO

SERVIÇO

SIM

SIM

VIOLÊNCIA SEXUAL

TIPO DE VIOLÊNCIA

VIOLÊNCIA FÍSICA

ACOMPANHAMENTO NA US BÁSICA

GRAVIDADE DO CASO

DELEGACIA DA MULHER OU CENTRO DE

REFERÊNCIA OU JUIZADO ESPECIALIZADO

HOSPITAL

SIM

FLUXOGRAMA 3.3.2

VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA

AVALIAÇÃO DA NECESS IDADE DE SERVIÇO ESPECI ALIZADO

PATRIMONIAL E MORAL

NÃO

* Prestadores de serviços de saúde em geral: unidades de saúde, hospitais, clínicas, consultórios, etc. Em todas as formas de violência – física, sexual, psicológica, patrimonial e moral - o profissional de saúde deverá preencher a Ficha de Notificação/Investigação de

Violência Doméstica, Sexual e a outras Violências (anexo)

32

3.3.2 - Fluxograma Municipal para atendimento à violência sexual

ACOLHIMENTO↓

MAIS DE 72 HORAS ← →↓

1.   Exames laboratoriais:                              ßhCG                               VDRL                              Anti HIV                              HbsAg e anti HbsAg                              Anti HCV → → → → RETORNO                              Imunofluorescência Direta ↓                              Bacterioscopia GRAVIDEZ ← → DST/AIDS                              Cultura ↓ ↓                              Exame a fresco SIM ← → NÃO ← → SIM2.   Notificação ↓ ↓ ↓3.   Registro em prontuário

B.    Consulta Médica: ↓↓ ↓

ENCAMINHAR CONF. PROTOCOLO

ACOMPANHAMENTO: CONSULTASE EXAMES LABORATORIAIS SEGUNDO PERIODICIDADE INDICADA NO PROTOCOLO

ALTA: CONSULTA MÉDICA SEIS MESES APÓS A OCORRÊNCIA QUANDO EXAMES LABORATORIAIS NEGATIVOS

DELEGACIA, OU CENTRO DE REFERÊNCIA, OU JUIZADO

4.   Agendar retorno p/ result.exames.

1. Manejo Clínico Sindrômico das DST

A.    Cons.médica e/ou Cons.de Enfermagem

ENCAMINHAR CONF.

PROTOCOLO

REALIZAR ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA

ATÉ 72 HORAS

ENCAMINHAR HOSPITAL DE REFERÊNCIA

Fluxograma 1 e 2

Primeiro Atendimento

FLUXOGRAMA REGIONAL A DEFINIR

33

4 – Sinais de Alerta para a Violência não Declarada

Muitas mulheres que vivem situações de violência, especialmente

doméstica/familiar não relatam tal realidade e não buscam ajuda de

forma direta. Muitos fatores explicam este comportamento, mas talvez o

principal deles seja o medo. Medo da reação do agressor que poderá lhe

trazer mais agressões, medo de causar problemas para o agressor que

possam levá-lo à prisão, ou à perda do emprego, ou mesmo, de

prejudicar sua imagem na comunidade. Medo da reação da família,

medo de perder o sustento financeiro de si e dos filhos. Algumas vezes,

a mulher agredida, principalmente, quando se trata de violência crônica,

tem sua auto estima destruída a ponto de se achar merecedora da

violência ou de se achar incapaz de reagir, se conformando, numa

posição fatalista. A vergonha, normalmente acompanha o medo, inibindo

qualquer forma de reação consciente à situação de agressão tanto

física, como psicológica, como sexual. Mas, de uma forma ou outra,

essas mulheres pedem socorro e é preciso que os profissionais estejam

atentos para perceber os sinais que podem indicar o sofrimento a que

elas estão expostas.

As mulheres em situação de violência, comumente, são usuárias

assíduas dos serviços de saúde e são tidas como hipocondríacas,

poliqueixosas, apresentando queixas vagas e crônicas, com resultados

normais em investigações e exames realizados.

Os profissionais devem estar aptos a identificar as possíveis

vítimas de violência, procurando conhecer a história de vida, pois o

tratamento meramente sintomático manterá oculto o problema. Deve-se

estar atento para relatos de acidentes freqüentes, como também para a

compatibilidade deste relato e a lesão observada. .

Observa-se que ao serem questionadas sobre violência em casa,

as mulheres dizem não, mas respondem afirmativamente a perguntas do

tipo: você já sofreu algum tipo de agressão por alguém da família? Já

sentiu ou sente medo de alguém? Isso mostra que a escolha das

34

palavras é um fator importante para reconhecer o problema da violência

e falar dele abertamente.

Mesmo que num primeiro momento a mulher negue, o profissional

diante das evidências deve agir de maneira cuidadosa, tentando

estabelecer um diálogo e possibilitando assim um canal de ajuda, sem

forçar revelações, mas criando um clima de confiança.

A visita domiciliar permite a observação mais adequada para

identificar, com mais segurança, a situação de violência.

A equipe deve estar preparada para a identificação de qualquer

tipo de lesão em cabeça ou pescoço, considerando que esta região do

corpo costuma ser atingida, preferencialmente, na violência praticada

contra a mulher, especialmente, a face ou a boca.

As manifestações clínicas da violência podem ser agudas ou

crônicas, físicas, mentais ou sociais, destacando-se:

Manifestações clínicas

Lesões físicas agudas - inflamações, queimaduras, contusões,

hematomas e fraturas, incluindo face, boca e dentes, provocadas

por uso de armas, socos, pontapés, tentativas de estrangulamento e

sacudidas.

Agressões sexuais - lesões das mucosas oral, anal e vaginal,

manifestando-se com inflamação, irritação, arranhões, edema,

perfuração ou ruptura. Doenças sexualmente transmissíveis

(DST/AIDS), infecções urinárias e/ou vaginais e gravidez.

Manifestações tardias - dor no baixo ventre ou infecções,

transtornos digestivos, como falta de apetite, náuseas, vômitos,

cólicas e dores de estômago, perda de peso, dores de cabeça e

dores musculares generalizadas, lesões ou manifestações por DST

em região de boca.

Manifestações Psicossomáticas

35

Stress pós-traumático - insônia, pesadelos, falta de concentração e

irritabilidade.

Alterações psicológicas - choque, crise de pânico, ansiedade,

medo, confusão, fobias, auto-reprovação, sentimento de

inferioridade, de fracasso e insegurança, sentimento de culpa, baixa

auto-estima, comportamento auto-destrutivo, uso de álcool e drogas,

depressão, desordens alimentares/obesidade, tentativas de suicídio

e disfunções sexuais (vaginismo). Manifestações Sociais

Isolamento, mudanças freqüentes de emprego ou moradia.

Impossibilidade de comparecer à Unidade de Saúde em

determinados horários (possibilidade de proibição do marido ou

companheiro, ou pai/mãe)

Comportamento fugidio

Manutenção da moradia fechada, medo de receber o Agente

Comunitário de Saúde, pouco relacionamento na comunidade.

36

5 - Notificação da Violência Doméstica, Sexual e/ou outras Violências nos Serviços de Saúde

A violência contra a mulher, principalmente a violência doméstica e

sexual, constitui-se ainda numa expressão “oculta” da violência em nossa

sociedade, presente na esfera do privado, sem que tenhamos a real dimensão

do problema. A vigilância epidemiológica constitui-se em estratégia

imprescindível para dar visibilidade a esse problema, principalmente no que diz

respeito ao estabelecimento de um diagnóstico da magnitude e do impacto da

violência em determinada população, em certo local e tempo – tão necessário

para o planejamento de ações de enfrentamento dessa situação. A notificação

de violências pelos serviços de saúde, então, tem um papel fundamental nesse

processo e deve ser a base para esse diagnóstico.

Em 2006 o Ministério da Saúde iniciou a implantação da Vigilância de

Violências e Acidentes (VIVA)8 em Serviços Sentinelas no âmbito do Sistema

Único de Saúde (SUS), buscando conhecer melhor a magnitude das violências

e dos acidentes no país, por representar grave problema de saúde pública.

Assim, no final de 2008, foi inserida como um Módulo no Sistema de

Informação de Agravos de Notificação (SINAN Net), a Ficha de

Notificação/Investigação de Violência Doméstica, Sexual e a outras Violências

(cujo modelo encontra-se em anexo e o manual instrutivo de preenchimento

pode ser acessado em site do SINAN Net)9.

Essa ficha de notificação se constitui em instrumento de coleta de

informações que deve ser utilizado para a notificação de qualquer caso

suspeito ou confirmado de violência doméstica, sexual e/ou outras violências

contra homens e mulheres, independente de faixa etária. Ou seja, não se trata

de ficha exclusiva para notificação de situações de violências contra mulheres

8 Maiores informações podem ser levantadas no site: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1612 9 Pode ser feito download do modelo da ficha de notificação e manual instrutivo de preenchimento no site: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=32642

37

mas é o instrumento definido para esse fim. Para tanto, vale-se de vários

documentos normativos, a saber:

- Portaria MS/GM nº 737, de 16/05/2001 - institui a Política Nacional de

Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências;

- Portaria MS nº 1.968, de 25/10/2001 - trata da Notificação de Maus-tratos

contra Crianças e Adolescentes;

- Portaria MS/GM nº 936, de 19/05/2004 - institui a Rede Nacional de

Prevenção de Violências e Promoção da Saúde (PVPS) e criação dos

Núcleos de PVPS;

- Portaria MS/GM nº 2.406, de 05/11/2004 - contempla a Notificação

Compulsória de Violência contra a Mulher;

- Portaria MS nº 777, de 28/04/2004 - trata da Notificação Compulsória de

Agravos à Saúde do Trabalhador;

- Portaria MS/GM nº 687, de 30/06/ 2006 - institui a Política Nacional de

Promoção da Saúde;

- Portaria MS/GM nº 1.876, de 14/08/2006 - institui Diretrizes Nacionais para

a Prevenção do Suicídio;

- Portaria MS/G, nº 104, DE 25/01/2011 - republica e define a relação de

doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória

em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades

e atribuições aos profissionais e serviços de saúde.

Esta última portaria inclui a notificação da Violência Doméstica, Sexual

e/ou outras Violências em seu Anexo I, ou seja, na Lista de Notificação

Compulsória, como agravo de notificação compulsória a todos os serviços de

saúde (deixando de fazer parte da lista de agravos de notificações

compulsórias apenas em unidades sentinelas).

Assim, nesse instrumento é objeto de notificação os casos suspeitos

(provável) ou confirmados de:

­ violência contra mulher (seja intra ou extrafamiliar, todos os tipos

e natureza: física, sexual, psicológica, moral, patrimonial,

tortura,etc.)

38

­ violência contra criança e adolescente (ambos os sexos, seja intra

ou extra familiar, todos os tipos e natureza: física, sexual,

psicológica, tortura, negligência, maus-tratos, etc.)

­ violência contra pessoa idosa (ambos os sexos, seja intra ou extra

familiar, todos os tipos e natureza)

­ violência auto-provocada (ambos os sexos e todas as idades)

­ violência sexual (ambos os sexos e todas as idades)

­ violência doméstica (ambos os sexos e todas as idades)

­ tráfico de seres humanos (ambos os sexos e todas as idades)

­ violência financeira/econômica (ambos os sexos, todas as idades)

­ negligência/abandono (ambos os sexos, todas as idades)

­ trabalho infantil (menores de 14 anos de ambos os sexos)

­ Intervenção legal (ambos os sexos, todas as idades)

A notificação é obrigatória nos casos suspeitos ou confirmados de

violência contra:

Crianças e Adolescentes: de acordo com o Art. 13 da Lei n◦

8.069/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente – uma cópia da

ficha de notificação deve ser encaminhada aos Conselhos Tutelares

e/ou autoridades competentes (Juizado da Infância e Juventude e/ou

Ministério Público da localidade).

Mulher: de acordo com o Decreto-Lei n◦ 5.099 de 03/06/2004 e Lei

n◦ 10.778/2003.

Pessoa Idosa: de acordo com o Art. 19 da Lei n◦ 10.741/2003

(Estatuto do Idoso) e Lei Federal nº12.461/26/07/2011

Não é objeto de notificação, por meio desse formulário, as violências

extra familiares que têm nos adultos do sexo masculino, as suas principais

vítimas. (ex.: brigas entre gangues, brigas nos estádios de futebol e outras).

Essa modalidade de violência será retratada por meio da vigilância de

acidentes e violências pelo VIVA Inquérito.

A notificação de violências nos serviços de saúde e a implantação de um

sistema de informações sobre violências, especialmente a violência doméstica,

39

pode promover um melhor conhecimento dessa realidade de forma a ajudar o

profissional de saúde e o gestor a:

1. Dimensionar a demanda por violências em serviços de urgência e

emergência

2. Identificar lesões de menor gravidade

3. Conhecer a magnitude das violências, especialmente a doméstica e a sexual

4. Tipificar as várias formas de violências contra a mulher, a criança e a pessoa

idosa

5. Conhecer características dessa violência silenciada e apoiar o rompimento

do pacto do silêncio que cerca esse fenômeno

6. Caracterizar o perfil das pessoas em situação de violência

7. Caracterizar o perfil dos/as agressores/as

8. Elaborar políticas públicas de enfrentamento das violências e reduzir a

morbimortalidade por causas externas

Fluxo do Registro da Notificação de Violências:

O fluxo da Ficha de Notificação/Investigação de Violência Doméstica,

Sexual e/ou outras Violências deve seguir a rotina já definida e padronizada em

relação ao SINAN, conforme normas operacionais utilizadas pela SESA-PR e

SMS's.

O preenchimento da Ficha deve se dar em duas vias:

a ficha original deve ser encaminhada ao serviço de Vigilância

Epidemiológica da SMS, para o registro no SINAN-Net (caso a unidade

notificadora não tenha acesso ao sistema in loco);

a segunda via deve ficar na Unidade de Notificação

Nos casos de violência contra crianças e adolescentes, a notificação

deverá ser feita em três vias. Nessa situação, a terceira via deverá ser

encaminhada obrigatoriamente para o Conselho Tutelar da Criança e do

Adolescente da localidade e/ou autoridades competentes, conforme

preconizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

40

Notificação da Violência contra a Mulher

Por meio da Lei n° 10.778, de 24/11/2003, o Governo Federal

“estabelece a notificação compulsória, no território nacional, do caso de

violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou

privados”. O § 1° do seu artigo 1 assim dispõe: “Para os efeitos desta Lei,

deve-se entender por violência contra a mulher qualquer ação ou conduta,

baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou

psicológico à mulher”.

Conforme seu art. 3°,

“a notificação compulsória dos casos de violência de que trata esta Lei tem caráter sigiloso, obrigando nesse sentido as autoridades sanitárias que a tenham recebido. Parágrafo único. A identificação da vítima de violência referida nesta Lei, fora do âmbito dos serviços de saúde, somente poderá efetivar-se, em caráter excepcional, em caso de risco à comunidade ou à vítima, a juízo da autoridade sanitária e com o conhecimento prévio da vítima ou do seu responsável”.

O Ministério da Saúde lançou a Portaria nº 2.406, de 05/11/2004,

especificamente para instituir o serviço de notificação compulsória de violência

contra a mulher; e, no final de 2008, iniciou a implantação da notificação no

SINAN-Net através de instrumento para todos as situações de violência

doméstica, sexual e outras violências interpessoais contra mulheres, crianças e

pessoas idosas, já mencionado anteriormente.

É considerada violência doméstica e familiar contra a mulher “qualquer

ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento

físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. Desta maneira, a

violência não é apenas a prática de um ato violento, mas, também, é não evitar

que essa ação aconteça” (CFMEA, 2009), podendo se apresentar, segundo o

art. 7º da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), sob as variadas formas de

violência interpessoal (física, sexual, psicológica e patrimonial) que ocorrem no

âmbito da unidade doméstica, no âmbito da família, ou em qualquer relação

íntima de afeto (art. 5º), constituindo-se, portanto, como violação dos direitos

humanos e não mais como um crime de menor potencial ofensivo (art. 6º).

41

Neste contexto, o profissional do serviço de saúde que atendeu a mulher

em situação de violência deverá preencher a Ficha de Notificação/Investigação

de Violência Doméstica, Sexual e a outras Violências, com o maior número de

informações possíveis, e encaminhar uma via para a área de epidemiologia do

Serviço de Saúde ou da Secretaria de Saúde ao qual o serviço está vinculado,

para que sejam digitadas as informações no SINAN-Net; a outra via deve ser

anexada ao prontuário da usuária ou arquivada na própria unidade, com

acesso restrito.

Notificação não significa denúncia. Trata-se do registro da ocorrência de

um agravo de interesse para a saúde pública em formulário próprio, sendo um

dever do(a) profissional da saúde. No entanto, não cabe a ele(a) investigar a

situação da violência para além do atendimento à saúde; seu objetivo não é de

denúncia ou punição. Ressalte-se, ainda, no caso da mulher (pessoa adulta),

sua capacidade de decisão em não abrir boletim de ocorrência em órgãos de

segurança pública e/ou processo em instituição de justiça; no entanto, o

acolhimento, a orientação e o apoio à pessoa em situação de violência nesse

momento crítico é papel do profissional de saúde, assim como fazer a

notificação pelo serviço de saúde. Compete ao profissional de saúde,

compreendendo o processo histórico de violência, proporcionar espaço de

reflexão e de possibilidade de escolhas que permitam a mulher sair desta

dinâmica abusiva, se necessário, com ajuda de programas e políticas públicas.

Assim, diferentemente da criança, a mulher não precisa, salvo exceções, de

proteção, mas de orientação e acesso a uma rede de atenção com serviços de

atendimento, de prevenção e de promoção da saúde interligados com as

diversas áreas (como Educação, Assistência Social, Segurança Pública,

Justiça, entre outras).

A mulher e sua família tem o direito de viver em ambiente de bem-estar

físico, emocional e social, livre de qualquer forma de violência e opressão. É

isso que a notificação de violências nos serviços de saúde pode proporcionar: o

surgimento de uma cultura de prevenção das violências e de promoção da

saúde.

42

PARTE II

PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E FLUXOS PARA O ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

43

PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E FLUXOS PARA O ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

1 – Contextualização

Os procedimentos técnicos e fluxos descritos a seguir visam

normatizar o atendimento às vítimas de violência sexual, independente de

sexo e idade e das circunstâncias em que a violência tenha sido perpetrada.

Sabe-se que a grande maioria das vítimas de violência sexual são mulheres,

no entanto, há homens adultos e meninos que também sofrem esse tipo de

abuso e que estão sujeitos às mesmas conseqüências, com exceção da

gravidez, requerendo, dessa forma, a aplicação dos procedimentos técnicos

adequados.

A Parte II do presente documento tomou como base o protocolo

“Atenção à Mulher em Situação de Violência”10, da Secretaria Municipal

de Saúde de Curitiba, atualizado de acordo com a Norma Técnica do

Ministério da Saúde relativa a “Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes”11,

publicada em 2010. Igualmente, incorpora a experiência dos serviços e seus

profissionais que ao longo dos últimos anos têm sido responsáveis pelo

atendimento às vítimas de violência, com destaque ao corpo clínico dos

Hospitais de Referência para a violência sexual no âmbito da Região

Metropolitana de Curitiba (Hospital de Clinicas, Hospital Evangélico de

Curitiba, Hospital Pequeno Príncipe) e aos profissionais que atuam junto ao

Instituto Médico Legal de Curitiba, responsáveis pela realização da perícia

médica legal diretamente nos Hospitais de Referência. A esse conjunto de

profissionais cabem os créditos do presente documento.

10 Documento disponível para dowload no site: http://sitesms.curitiba.pr.gov.br/saude/sms/protocolos/protocolo.htm 11 Documento disponível para dowload no site: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/prevencao_agravo_violencia_sexual_mulheres_3ed.pdf

44

2 – Atribuições e Procedimentos dos principais Profissionais de Saúde

envolvidos no atendimento 2.1 - Atendimento de Enfermagem

Acolher, estabelecer vínculo e relação de confiança com a usuária;

Registrar no prontuário os diagnósticos e as intervenções de

enfermagem, de acordo com a Classificação Internacional das Práticas de

Enfermagem em Saúde Coletiva (CIPESC®);

Registrar a data da ocorrência e todos os achados clínicos e emocionais

da usuária, o mais detalhadamente possível, com destaque para o(s)

tipo(s) de violência sofrido(s).Lembrar que este registro será de

fundamental importância caso a mulher venha a formalizar a denúncia,

podendo fazer parte de processo judicial, e/ou venha a engravidar em

decorrência da violência sofrida e optar pelo aborto;

Avaliar atraso menstrual e registrar a data da última menstruação;

Discutir a possibilidade de gravidez ou de infecção por DST/AIDS como

conseqüência da violência sofrida. Orientar para que retorne em caso de

atraso menstrual e de outros sinais e sintomas;

Explicar sobre os procedimentos e os exames, em caso de violência

sexual, que serão realizados durante o acompanhamento até a alta,

ressaltando a importância da sua adesão ao tratamento proposto;

Esclarecer a posologia das medicações prescritas e suas possíveis

reações adversas, bem como a importância do tratamento;

Orientar o uso de preservativo em todas as suas relações sexuais.

Enfatizar que mesmo que faça uso de outro método anticoncepcional, o

uso do preservativo é imprescindível para a prevenção de possível infecção

do seu parceiro;

Oferecer preservativos;

45

Incluir em programas de atendimento específicos, conforme

necessidade;

Orientar e disponibilizar acompanhamento psicológico;

Programar monitoramento domiciliar, se necessário;

Encaminhar para consulta médica, se necessário;

Encorajar a realização da denúncia policial, caso ainda não tenho feito,

explicando a importância deste passo principalmente se engravidar e

optar pelo aborto. Oferecer o endereço da Delegacia da Mulher do

Município, ou caso não exista, da Delegacia da Polícia Civil previamente

pactuada para atendimento às mulheres em Situação de violência;

Em caso de urgência, encaminhar para o hospital de referência;

Em caso de violência doméstica ou familiar, em que a mulher precise de

medidas protetivas de urgência, encaminhar diretamente para o Juizado;

Disponibilizar número do telefone da Unidade de Saúde e o nome do(a)

Enfermeiro(a) que prestou o atendimento, para sanar eventuais dúvidas;

Agendar retorno.

2.2 - Atendimento psicológico

Garantir o acolhimento das pessoas envolvidas, o que significa

compreender e acreditar no depoimento da pessoa em situação de violência

(que depois será confirmado ou não), contextualizando os aspectos

socioculturais, históricos e econômicos;

Realizar o atendimento em um lugar reservado, o mais adequado possível

para a preservação do respeito e individualidade da paciente;

Não culpabilizar a pessoa e não acelerar ou influenciar nas suas decisões,

mantendo atitude isenta de julgamentos e respeitando suas crenças e sistemas

de valores morais;

No primeiro momento, o acolhimento refere-se à pessoa que chega ao

serviço. Num segundo momento, se possível, deve ser estendido a toda a rede

familiar;

46

É fundamental respeitar a autonomia, a individualidade e os direitos das

pessoas em situação de violência sexual;

No caso de violência cometida por parceiro íntimo, a mulher pode estar

assustada, traumatizada e emocionalmente ferida. Seus limites precisam

ser respeitados. É preciso reconhecer que cada pessoa tem seu tempo

próprio de amadurecimento para romper a situação de violência e que esse

tempo precisa ser respeitado;

O compromisso da confidência é fundamental para conquistar a

confiança necessária não só à revelação da situação, como à continuidade

do atendimento. O sigilo no atendimento é garantido, principalmente, pela

postura ética dos profissionais envolvidos e isso inclui o cuidado com a

utilização de prontuários, as anotações e a adequação da comunicação

entre a equipe;

Quando solicitado, o profissional de saúde mental deve dar suporte a

equipe para que a mesma esteja sensibilizada e capacitada para assistir a

pessoa em situação de violência;

Não existe a maneira ideal para o atendimento psicológico, é possível

utilizar diferentes referenciais teóricos para o atendimento da mulher em

situação de violência, o que se torna imprescindível é que o psicólogo não

desconsidere as dimensões de gênero presentes no fenômeno da violência e

que compreenda e atenda as necessidades de cada paciente;

Os passos a seguir dão uma noção geral de momentos que poderão

ocorrer num processo psicológico de atendimento a vítimas de violência sexual,

para facilitar a estratégia de atendimento do profissional. Isto não significa que

vão ocorrer para todas as pessoas nesta ordem ou com este conteúdo,

portando, segundo a formação do profissional e principalmente a dinâmica

emocional de quem está sendo atendido, é importante que exista o bom senso

para que estes passos sigam a ordem das demandas do paciente.

Temas a serem abordados no Primeiro momento:

Avaliação dos sentimentos predominantes (medo, revolta, raiva, culpa,

ansiedade, angústia, calma);

Avaliação do grau de desorganização da vida pessoal;

47

Avaliação da organização psíquica e mecanismos de defesa;

Reações psicossomáticas;

Reações do grupo social em que está inserida (acolhimento, apoio,

críticas, discriminação, revolta, expulsão);

Aconselhamento sobre DST / AIDS;

Importância do paciente respeitar o estado emocional em que se

encontra e suas limitações;

Apoio emocional;

Entrevista psicológica com acompanhante ou familiar.

Momentos subseqüentes:

Reorganização da vida após a violência sofrida (retorno ao trabalho, à

escola, às atividades desenvolvidas);

Prevenção de futuras conseqüências na vida pessoal (estado

depressivo, escolhas de relacionamentos, perpetuação da violência);

Recuperação da auto-estima;

Encaminhamento para avaliação psiquiátrica, caso seja necessário;

Repercussões no sentimento frente à figura masculina;

Apoio emocional e atendimento familiar;

Sentimentos persecutórios provenientes da violência sofrida.

Em casos de gravidez decorrente da violência:

Sentimentos relacionados à constatação da gravidez, fruto da violência

sexual (ambivalência, culpa, rejeição, aprovação);

Levantamento dos princípios morais e religiosos que podem interferir

na decisão ou não pelo abortamento legal;

Fantasias relacionadas à gravidez e ao abortamento, desejo frente à

maternidade;

Acompanhamento psicológico no decorrer da internação para a

interrupção legal da gestação, havendo a possibilidade de dar continuidade

a este no ambulatório;

Apoio psicológico frente às opções outras que não o abortamento legal.

Atendimento familiar

48

2.3 - Atendimento Odontológico

Realizar, no primeiro atendimento, o exame clínico minucioso que

contemple a identificação de manifestações bucais de violência, que

podem se dar de forma aguda, com lacerações e hemorragias ocorridas na

boca e dentes, com traumatismos dentários, com lesões de articulação

têmporo mandibular – ATM e com hematomas e fraturas na face;

Identificar e diagnosticar doenças sexualmente transmissíveis que, em

geral, se manifestam tardiamente na boca e que podem estar relacionadas com

episódios anteriores de violência relatados ou não;

Investigar infecções oportunistas fúngicas (candidíases de várias formas),

infecções bacterianas (eritemas e gengivites ou periodontites ulcerativas

necrotisantes), infecções virais (herpes simples, HPV, leucoplasias, etc.) e até

neoplasias que são comuns em pacientes portadores do HIV;

Realizar atendimento de emergência com os procedimentos necessários;

Garantir o acompanhamento por meio de consultas pré-agendadas e/ou o

retorno para seguimento do tratamento na Unidade de Saúde;

Encaminhar para os serviços de referência conforme necessidade.

2.4 - Atendimento Médico

Realizar, no primeiro atendimento, o exame clínico e ginecológico

minucioso que contemple a verificação de lesões, corrimentos e quadros

clínicos sugestivos de DST e amenorréia compatível com gravidez;

Garantir acesso à usuária a todos os exames por ocasião do primeiro

atendimento, independente da época de procura ao serviço;

Solicitar os exames laboratoriais listados na tabela 01, determinando as

condições da usuária neste momento, uma vez que 15% das mulheres que

sofrem violência sexual contraem algum tipo de DST e 1 (uma) em cada

1.000 é infectada pelo HIV;

Solicitar sempre o ßhCG no primeiro atendimento, mesmo nas usuárias

com ciclo menstrual regular;

49

Analisar a necessidade da convocação do parceiro sexual;

Orientar o uso de preservativo em todas as suas relações até que tenha

alta. Enfatizar que mesmo que faça uso de outro método anticoncepcional,

o uso do preservativo é imprescindível para a prevenção de possível

infecção do seu parceiro. Oferecer preservativos;

Estimular à adesão ao acompanhamento previsto;

Agendar a consulta de retorno e as consulta de acompanhamento com

os resultados dos exames indicados para cada época;

A coleta dos exames laboratoriais deve acontecer com a antecedência

necessária para acesso aos resultados dos mesmos na consulta médica de

acompanhamento;

Tabela 01 -Exames Laboratoriais no Primeiro Atendimento

Pesquisa Exame

Gravidez ßhCG

Sífilis VDRL

HIV Anti HIV

Hepatite B * HbsAg e anti HbsAg

Hepatite C AntiHCV

Gonococo,

Tricomonas, Clamídia

Imunofluorescência direta,

bacterioscopia, cultura e exame a fresco.

* Interpretação da pesquisa de hepatite B e conduta

HbsaAg Anti HbsAg Conduta

- - Oferecer vacina contra Hepatite B

- + Imunidade. Nada a ser feito.

+ - Solicitar Anti HbsIgM Se + →doença recente

Se - →portador crônico

50

Para os casos com sintomatologia, o Ministério da Saúde preconiza a

abordagem das DST através do manejo clinico sintomatológico das

seguintes síndromes e suas possibilidades etiológicas, propondo

intervenção imediata na primeira consulta após a coleta dos exames

laboratoriais.

3 - Manejo Clínico Sindrômico das Doenças Sexualmente Transmissíveis – DST

SÍNDROME DOENÇA Úlcera Genital Sífilis primária, Cancro mole, Herpes

genital, Linfogranuloma venéreo, Donovanose

Corrimento Uretral

Uretrite gonocócica, Uretrite não gonocócica

Corrimento Vaginal Gardnerella vaginalis (vaginose), Vulvovaginite, Trichomoníase e Candidíase

Dor Pélvica Cervicite gonocócica, Cervicite não gonocócica Doenças inflamatórias pélvicas

Fonte: Adaptado do Manual de Controle de DST, Ministério da Saúde, Brasil, 2007.

51

3.1 Fluxograma – ÚLCERA GENITAL

Fonte: Adaptado do Manual de Controle de DST, Ministério da Saúde, Brasil, 2007.

ÚLCERA GENITAL

EXAME CLÍNICO E GINECOLÓGICO

APRESENTA LESÃO

VESICULAR?

SIM

NÃO

CONSIDERAR DIAGNÓSTICO DE HERPES GENITAL

APRESENTA LESÃO POR

MAIS DE QUATRO

SEMANAS?

SIM

NÃO

TRATAMENTO PARA SÍFILIS E CANCRO

MOLE

TRATAR SÍFILIS E CANCRO MOLE, FAZER BIÓPSIA,

INICIAR TRATAMENTO PARA DONOVANOSE

ACONSELHAMENTO ORIENTAÇÃO PARA A ADOÇÃO DA PRÁTICA DE SEXO SEGURO AVALIAR CLÍNICA DO PARCEIRO FIXO AGENDAR RETORNO

Exame Laboratoriais: ßhCG VDRL Anti HIV HbsAg e anti HbsAg Anti HCV Imunofluorescência

Direta para Clamidia Bacterioscopia Cultura para Micoplasma Exame a fresco de

secreção uretral e vaginal

52

3.2 FLUXOGRAMA– CORRIMENTO URETRAL

Fonte: Adaptado do Manual de Controle de DST, Ministério da Saúde, Brasil, 2007.

CORRIMENTO URETRAL

REALIZAR EXAME LABORATORIAL

REALIZAR EXAME CLÍNICO

TRATAR GONORRÉIA E CLAMÍDIA

ACONSELHAMENTO ORIENTAÇÃO PARA A ADOÇÃO DA PRÁTICA DE SEXO SEGURO AVALIAÇÃO CLÍNICA DO PARCEIRO AGENDAR RETORNO

Exame Laboratoriais: ßhCG VDRL Anti HIV HbsAg e anti HbsAg Anti HCV Imunofluorescência

Direta para Clamidia Bacterioscopia Cultura para Micoplasma Exame a fresco de

secreção uretral e vaginal

53

3.3 Fluxograma– CORRIMENTO VAGINAL, DESCONFORTO OU DOR PÉLVICA

Fonte: Adaptado do Manual de Controle de DST, Ministério da Saúde, Brasil, 2007.

CCOORRRRIIMMEENNTTOO VVAAGGIINNAALL DDEESSCCOONNFFOORRTTOO DDOORR PPÉÉLLVVIICCAA

EXAME CLÍNICO E

GINECOLÓGICO

Exame Laboratoriais: ßhCG VDRL Anti HIV HbsAg e anti HbsAg Anti HCV Imunofluorescência

Direta para Clamidia Bacterioscopia Cultura para Micoplasma Exame a fresco de

secreção uretral e vaginal

DESCONFORTO OU

DOR PÉLVICA

CORRIMENTO CERVICAL

CORRIMENTO VAGINAL

DOR À DESCOMPRESSÃO OU DEFESA MUSCULAR AUSÊNCIA OU ATRASO DA MENSTRUAÇÃO PERDA DE SANGUE PELA VAGINA PARTO OU ABORTO RECENTE

NÃO

TRATAR GONORRÉIA E CLAMÍDIA

SIM

ENCAMINHAR ACONSELHAMENTO ORIENTAÇÃO PARA A ADOÇÃO DA PRÁTICA DE

SEXO SEGURO AVALIAÇÃO CLÍNICA DO PARCEIRO FIXO AGENDAR RETORNO

TRATAR TRICHOMONAS, CÂNDIDA E VAGINOSE

BACTERIANA

54

4 - Prevenção de DST, HIV/AIDS e Hepatite B

O tratamento preventivo deve ser iniciado imediatamente, mesmo

que, por algum motivo, não se possa realizar os exames descritos na

tabela 01.

4.1 – Prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis - DST Adultos e Adolescentes com 45 kG ou mais

Ofloxacina 400 mg, VO, dose única Em gestantes, nutrizes e menores de 18 anos: Ceftriaxona 250 mg, IM, dose única

Azitromicina 1 g, VO, dose única Em gestantes e nutrizes: Amoxicilina 500 mg, VO, de 8/8 hs, por 7 dias

Penicilina G Benzatina 2.400.000 UI, IM, dose única

Metronidazol 2 g, VO, dose única Em gestantes tratar apenas após completar o primeiro trimestre e em nutrizes suspender o aleitamento por 24 horas

Crianças e Adolescentes com menos de 45 kg

Gonorréia Ceftriaxona 125mg, IM, dose única

Chlamídia trachomatis Azitromicina 20mg/kg (máximo 1g), VO, dose única

ou Eritromicina 50mg/kg, por dia, de 6/6 hs, por 10 a 14 dias

Tricomoníase e Vaginose bacteriana

Metronidazol 15mg/kg por dia, de 8/8 hs, por 7 dias

Sífilis Penicilina Benzatina 50.000 UI/kg , IM, máximo de 2400.000 UI

4.2 – Prevenção do HIV/AIDS

A mulher deve ser informada sobre os efeitos colaterais associados com a terapia e a necessidade de adesão estrita ao esquema. Sugere-se que sejam oferecidos aconselhamento adequado e o emprego de estratégias destinadas a melhorar a adesão à profilaxia, como o tratamento supervisionado, com acompanhamento clínico-psicológico e a dispensação do tratamento em caráter semanal. Deve-se esclarecer que a proteção conferida pela profilaxia contra a infecção pelo HIV não é absoluta, mesmo com início precoce e adesão ao tratamento.

55

Em situações em que o agressor é sabidamente HIV positivo Prescrever quimioprofilaxia na presença de qualquer contato sexual

não consentido, envolvendo contato direto do agressor com as mucosas da vítima, por meio de penetração vaginal, anal e/ou oral.

Em situações em que o estado sorológico do agressor é desconhecido Para a tomada de decisão terapêutica, sempre que possível, realizar

avaliação sorológica do agressor, dentro do prazo elegível para início da profilaxia (<72 horas), fazendo uso do teste rápido;

Quando o estado sorológico do agressor não puder ser conhecido em tempo elegível, é indicado o uso da profilaxia em situações de exposição envolvendo penetração vaginal, anal ou sexo oral com ejaculação.

Esquemas Anti-retrovirais A . Pacientes expostos a agressores com sorologia desconhecida ou HIV positivo virgem de tratamento anti-retroviral ADULTOS ACIMA DE 35 KG AZT 300mg + 3TC 150 mg 1 comprimido 12/12 horas 28 dias Lopinavir/Ritonavir (KALETRA) 2 comprimidos 12/12 horas 28 dias TENOFOVIR 300 mg 1 comprimido 24/24 horas 28 dias CRIANÇAS ABAIXO DE 35 KG AZT 100mg (Zidovudina) 120 mg/m² 8/8 horas 28 dias Solução oral: 10 mg/ml Dose máxima de 600mg/dia 3TC (Lamivudina) 4 mg/ Kg 12/12 horas 28 dias Comprimidos de 150 mg ou solução oral 10mg/ml em frasco de 240ml

Dose máxima de 150mg/dia

Kaletra Pediátrico Dose

15 – 23 Kg 1 comprimido pediátrico

12/12 horas 28 dias

24 – 35 Kg 2 comprimidos pediátrico

12/12 horas 28 dias

Cálculo do m² m² = peso X 4 + 7 / 90 + peso Exemplo: Criança de 10 kg

m² = 10 x 4 + 7 / 90 + 10 m² = 0,47 dose = 120 mg x 0,47 = 56,4 Mg

56

B . Pacientes expostos a agressores HIV positivo em tratamento com anti-retroviral

Esquema individualizado conforme esquema ANTI-RETROVIRAL (ARV) do agressor;

Deve ser avaliado por especialista.

4.3 – Prevenção da Hepatite B

Vacinação (Engerix B): 1,0 ml, IM em adultos e 0,5ml , IM, em menores

de 12 anos, em 3 doses

Indicado nos casos em que a mulher não realizou o esquema de vacinação ou realizou de forma incompleta;

a segunda e a terceira dose devem ser administradas, respectivamente, em 1 e 6 meses após a primeira;

a gravidez e a lactação não contra-indicam a vacinação anti-hepatite B.

Gamaglobulina hiperimune (HIBG): 0,06ml/Kg de peso corporal, IM, dose única

Indicado nos casos em que a mulher não realizou o esquema de vacinação ou realizou de forma incompleta;

se a dose a ser utilizada ultrapassar 5ml, dividir a aplicação em duas áreas diferentes;

aplicar em membro diferente do usado para o esquema de vacinação;

maior eficácia na profilaxia é obtida com uso precoce da HIBG, até 48 horas após o ocorrido.

4.4 - Acompanhamento e Alta para os Procedimentos de Profilaxia

Durante o primeiro mês após a agressão, a mulher deve ser

acompanhada com uma freqüência maior: uma consulta por semana,

buscando fortalecer a adesão ao uso dos anti-retrovirais, bem como

garantir a avaliação constante de possíveis efeitos colaterais

provenientes do uso destes medicamentos;

Nos meses subseqüentes, as consultas de acompanhamento devem ser

focadas no exame clínico–ginecológico minucioso, que contemple a

verificação de lesões, corrimentos e quadros clínicos sugestivos de DST

e amenorréia compatível com gravidez. Estas consultas devem coincidir

57

com as avaliações laboratoriais preconizadas: 6 semanas, 3 meses e 6

meses após a agressão;

Para todos os casos, mesmo para os assintomáticos e/ou com exames

laboratoriais negativos no primeiro atendimento, devem ser solicitados

os exames laboratoriais relativos a gravidez, sífilis, HIV, Hepatite B e

Hepatite C, nas consultas de acompanhamento previamente agendadas,

conforme tabela 01, (página 49);

Considerar sempre a data da agressão para o cálculo das datas dos

exames laboratoriais previstos no acompanhamento;

Os casos com diagnóstico de patologias ou gravidez devem ser

acompanhados de acordo com as especificidades de cada situação;

A alta clínica será adotada após a negativa dos exames laboratoriais

preconizados para serem realizados 6 meses após a data da agressão -

pesquisa do HIV e Hepatite B.

5 – Anticoncepção de Emergência

A contracepção pós-coital ou de emergência é uma medida

essencial no atendimento às mulheres que sofreram estupro, que já

tenham atingido a menarca e que não estejam em uso de contraceptivo

eficaz ou na impossibilidade de avaliar a eficácia do método.

A probabilidade média de ocorrer gravidez em um único coito sem

proteção, na segunda ou terceira semana do ciclo menstrual, é de 8%.

Com a anticoncepção oral de emergência, esta taxa cai para 2%. Por

isso, a anticoncepção de emergência (pílula do dia seguinte ou pós-

coital) é medida essencial para a prevenção de gravidez pós-estupro e,

conseqüentemente, do aborto.

Este método atua inibindo ou adiando a ovulação, interferindo na

capacitação espermática, possivelmente na maturação do oócito, na

produção hormonal normal pós-ovulação. A anticoncepção oral de

emergência não tem nenhum efeito após a implantação ter se

completado.

58

É indicado como primeira opção o uso de progestagênio puro,

pela sua maior tolerância e eficácia.

Caso o progestagênio puro não esteja disponível, é recomendado

o método de Yuzpe, que consiste na administração oral de pílulas

combinadas (estrogênio e progestagênio).

Para garantir a eficácia do método, a primeira dose da AE deve ser iniciada até 72 horas após o coito desprotegido, existindo

estudos que mostram que existe algum efeito, ainda que menor, até 5

dias após a agressão. No entanto, quanto mais cedo utilizar o método, melhor é sua eficácia.

Em caso da paciente apresentar vômitos, utilizar antieméticos.

Repetir a dose do hormônio se o vômito ocorrer dentro das primeiras 2

horas após a ingestão.

PRIMEIRA OPÇÃO:

Progestagênio puro Modo de Usar

Levonorgestrel 1,5 mg Levonorgestrel 0,75 mg

Dose única

1 comprimido de 12/12 hs Total de 2 comprimidos

Levonorgestrel 0,75 mg 2 comprimidos dose única

OU Anticoncepcional combinado Modo de Usar

Levonorgestrel 0,25mg+ etinil-estradiol 0.05mg

2 comprimidos de 12/12 hs Total de 4 comprimidos

OU

Anticoncepcional combinado Modo de Usar Levonorgestrel 0,15mg + etinil-estradiol 0.03mg

4 comprimidos de 12/12 hs Total de 8 comprimidos

59

6 - Tratamento Medicamentoso das Doenças Sexualmente Tansmissíveis - DST Herpes Simples

Primo-infecção: tratamento local - Solução Fisiológica 0,9% ou Água Boricada a 3%, em compressas úmidas – 2 a 3 vezes ao dia por 20 minutos.

Uso tópico de antibióticos (Neomicina) quando houver infecção secundária.

Tratamento sistêmico: Aciclovir - 400mg, VO, de 8/8 hs, por 7 a 10

dias. Nas recorrências tratar por 5 dias. Crianças > de um ano usar 10 a 20 mg/kg/dia, no máximo 400 mg/dia, VO, de 8/8 hs, por 7 a 10 dias.

Nas lesões extensas fazer tratamento sistêmico: Aciclovir - 5 a 10

mg/kg de peso, EV, de 8/8 hs, por 5 a 7 dias, ou até a regressão das lesões.

Sífilis

Sífilis primária: Penicilina Benzatina - 2,4 milhões UI, IM, dose única.

Sífilis recente, secundária e latente: Penicilina Benzatina - 2,4

milhões UI, IM. Repetir após uma semana (total de 4,8 milhões de UI).

Sífilis tardia (recente e terciária): Penicilina Benzatina - 2,4 milhões

UI, IM, semanal, por 3 semanas (total de 7,2 milhões de UI) . Se peso < 30 kg - 50.000UI/kg, IM, com dose máxima de 2.400.000 UI.

Segunda opção de tratamento: Doxiciclina - 100mg, VO, de 12 /12

hs , durante 14 dias.

Observar Reação Febril de Jarisch-Herxheimer – exacerbação das

lesões cutâneas, exigindo apenas cuidados sintomáticos, com evolução

espontânea em 12 a 48 horas, não se justificando a interrupção do esquema

terapêutico.

Controle de tratamento – Fazer seguimento sorológico com VDRL

quantitativo de 3/3 meses no primeiro ano e de 6/6 meses no segundo ano.

Não ocorrendo a redução de 2 títulos – repetir o tratamento.

60

Alérgicos a Penicilina – Estearato de Eritromicina 500 mg, VO, de 6/6

hs, por 15 dias na sífilis recente e por 30 dias na sífilis tardia. Se peso < 45 kg

usar eritromicina - 50 mg/kg/dia, em 4 doses/dia, por 15 dias na sífilis recente e

por 30 dias na sífilis tardia.

Cancro Mole

Primeira opção de tratamento: Azitromicina 1 g, VO, dose única ou se

peso < 45 kg Azitromicina - 20 mg/kg, VO, dose única, máximo de 1 g

ou

Segunda opção de tratamento: Ceftriaxona 250 mg , IM , dose única.

Estearato de Eritromicina 500 mg, VO, de 12/12 hs, por 10 dias em

gestantes, nutrizes e HIV positivos e por 7 dias nos demais pacientes. Se

peso < 45 kg usar Estearato de Eritromicina - 50 mg/kg/dia, em 4

doses/dia, por 10 a 14 dias ou

Sulfametoxazol / Trimetoprim 160 / 800 mg, VO, de 12/12 hs, por 10 dias

ou até a cura clínica. Contra-indicado no primeiro e terceiro trimestres de

gravidez e em nutrizes.

Associar medidas de higiene local.

Linfogranuloma Venéreo

Estearato de Eritromicina 500 mg, VO, de 6/6 hs, por 21 dias

(pode-se usar em gestantes e em nutrizes). Se peso < 45 kg,

Estearato de Eritromicina 50 mg/kg/dia, em 4 doses/dia, por 10 a 14

dias ou

Sulfametoxazol / Trimetoprim 160 / 800 mg, VO, de 12/12 hs,

por 21 dias.

Donovanose

Sulfametoxazol / Trimetoprim 160 / 800 mg, VO, de 12/12 hs,

até a cura clínica (no mínimo por três semanas) ou

Estearato de Eritromicina 500 mg, VO, de 6/6 hs, até a cura

clínica (indicado para gestantes e nutrizes), no mínimo por 3

61

semanas. Se peso < 45 kg usar Estearato de Eritromicina 50

mg/kg/dia, em 4 doses, por 10 a 14 dias.

Não havendo resposta clínica ao tratamento com a Eritromicina,

adicionar Gentamicina 1 mg/kg/dia, EV, de 8/8 hs.

No tratamento da gestante, a adição da Gentamicina deve ser

considerada desde o início. Padronizar de 12/ 12 hs.

Tricomoníase

Primeira opção de tratamento: Metronidazol 2g, VO, em dose

única. Em gestantes, usar após o 1º trimestre e em nutrizes,

suspender o aleitamento materno por 24 horas, ou

Metronidazol 500 mg, VO, de 12/12 hs, por 7 dias. Em

gestantes, usar após o 1º trimestre e em nutrizes, suspender o

aleitamento materno por 24 horas. Se peso < 45 kg Metronidazol

15 mg/kg/dia, em três tomadas, por 7 dias.

Segunda opção de tratamento: Secnidazol 2g, VO, dose única

ou Tinidazol 2g, VO, dose única.

Além do tratamento oral, os sintomas locais podem ser aliviados

com tratamento tópico de Metronidazol gel a 0,75%, com aplicações

vaginais de 5 g, duas vezes ao dia, por 5 dias (pode-se usar em

gestantes e nutrizes).

Observação – evitar a ingestão de álcool durante e até três dias

após o tratamento com derivados imidazólicos, para evitar o efeito

antabuse: mal estar, náuseas, tonturas, gosto metálico na boca.

Vaginose Bacteriana

Primeira opção de tratamento: Metronidazol 500 mg, VO, de

12/12 hs, por 7 dias. Pode-se usar em gestantes após o 1º trimestre e

em nutrizes suspender o aleitamento materno por 24 horas, ou, se

peso < 45 kg Metronidazol 15 mg/kg/dia, em três tomadas, por 7 dias.

Metronidazol 2 g, VO, em dose única. Pode-se usar em gestantes

após o 1º trimestre e em nutrizes, suspender o aleitamento materno por

24 horas.

62

Segunda opção de tratamento: Clindamicina 300mg, VO, de 12/12 hs,

durante 7 dias.

Os sintomas locais podem ser aliviados com tratamento tópico de

Metronidazol gel a 0,75%, com aplicações vaginais de 5 g, duas vezes ao

dia, por 5 dias (pode-se usar em gestantes e nutrizes).

Observação – evitar ingestão de álcool durante e até três dias após o

tratamento com derivados imidazólicos, para evitar efeito antabuse: mal estar,

náuseas, tonturas, gosto metálico na boca.

Candidíase

Cremes locais com Miconazol / Tinidazol, em aplicações diárias por 3 a 14 dias.

Tratamento sistêmico: deve ser feito somente nos casos recorrentes ou

de difícil controle. Nesses casos, investigar causas sistêmicas

predisponentes. Fluconazol dose única de 150 mg, VO. Se peso < 30 kg,

3 a 12 mg/kg/dia, VO, dose única.

Em gestante, prescrever só tratamento local.

Tratar somente os parceiros sintomáticos. Clamídia

Azitromicina 2 g, VO, dose única.

Doxiciclina 100 mg, VO, de 12/12 hs, por 7 dias.

Amoxacilina 500 mg, VO, de 8/8 h , por 7 dias (pode-se usar em nutrizes e gestantes) ou

Estearato de Eritromicina 500 mg, VO, de 6/6 hs, por 7 dias ou 250 mg,

VO, de 6/6 hs, por 14 dias em casos de sensibilidade gástrica (pode-

se usar em nutrizes e em gestantes).

Se peso < 45 kg – Eritromicina 50 mg/kg/dia, em 4 doses, por 10 a 14

dias ou Azitromicina 1 g, VO, dose única (pode-se usar em nutrizes e

gestantes) . Se peso < 45 kg – Azitromicina 20 mg/kg, VO, em dose

única, máximo de 1g.

Parceiros: Azitromicina 1 g, VO, dose única.

63

Gonorréia

Ciprofloxacina 500 mg, VO, dose única.

Ceftriaxona 250 mg, IM, dose única (Rocefin®). Se peso < 45 kg -

Ceftriaxona -125 mg, IM, dose única.

Parceiro: Ofloxacina 400 mg, VO, dose única.(contra-indicado em

nutrizes, gestantes e menores de 18 anos)

Condiloma Acuminado O objetivo do tratamento é a remoção das verrugas sintomáticas.

Fatores como tamanho, localização e morfologia das lesões devem ser levados

em conta.

Ácido Tricloroacético (ATA) a 80%, uma ou duas vezes por semana, no

colo, vagina, vulva, períneo e área perianal; proteger a pele sã com

vaselina líquida (pode-se usar em gestantes e nutrizes, quando lesão não

muito extensa) ou

Podofilina a 25% em solução alcoólica, duas a três vezes por semana na

vulva, períneo e região perianal (não usar em gestantes e nutrizes);

proteger a pele sã com vaselina líquida ou

Criocauterização - Lesões muito grandes devem ser encaminhadas para

retirada cirúrgica em local de referência.

Paciente com condiloma deve ser seguido, pelo risco de desenvolverem

alterações pré neoplásicas de pênis, colo, vagina e vulva, principalmente se for

acometido por vírus de alto risco.

7 – Acompanhamento e Alta

Como no primeiro atendimento, as consultas de acompanhamento

devem ser focadas no exame clínico–ginecológico minucioso, que

contemple a verificação de lesões, corrimentos e quadros clínicos

sugestivos de DST e amenorréia compatível com gravidez.

64

Os casos com diagnóstico de patologias ou gravidez no 1º

atendimento devem ser acompanhados de acordo com as

especificidades de cada situação.

Para todos os casos, mesmo para os assintomáticos e/ou com

exames laboratoriais negativos no primeiro atendimento, devem ser

solicitados os exames laboratoriais relativos a gravidez, sífilis, HIV,

Hepatite B e Hepatite C, nas consultas de acompanhamento

previamente agendadas, conforme tabela 01

Considerar sempre a data da agressão para o cálculo das datas dos

exames laboratoriais previstos no acompanhamento. Para os casos

crônicos, considerar a data da última agressão.

Exemplos:

Mulher procurou o serviço 6 semanas após a agressão. Devem ser

solicitados todos os exames no 1º atendimento e acompanhamento

da sorologia para sífilis e HIV depois de 3 meses contados da data

da agressão, como também HIV, Hepatite B e Hepatite C depois de

6 meses da agressão.

Mulher procurou o serviço 3 meses após a agressão. Devem ser

solicitados todos os exames no 1º atendimento e acompanhamento

da sorologia para HIV, Hepatite B e Hepatite C depois de 6 meses

da agressão.

A alta clínica deverá ser adotada após a negativa dos exames

laboratoriais preconizados para serem realizados 6 meses após a data

da agressão - pesquisa do HIV e Hepatite B.

65

Exames que devem ser solicitados no acompanhamento e alta 30 dias após a data da agressão: Pesquisa Exame Gravidez ßhCG seis semanas após a data da agressão: Pesquisa Exame

SÍFILIS VDRL HIV AntiHIV três meses após a data da agressão: Pesquisa Exame

SÍFILIS VDRL HIV AntiHIV Hepatite B HbsAg seis meses após a data da agressão: Pesquisa Exame HIV AntiHIV Hepatite C AntiHCV

8- Gravidez Decorrente da Violência Sexual

Em caso de gravidez confirmada, a mulher deve ser esclarecida

sobre as possibilidades existentes:

8.1 - Avaliação do desejo da mulher

Desejo de continuar a gravidez e permanecer com o filho: pré-natal

na Unidade de Saúde

Desejo de continuar a gravidez e dar a criança para adoção: pré-

natal na Unidade de Saúde e encaminhamento ao Juizado, para

desenvolvimento do processo de adoção.

Desejo de realizar a interrupção da gravidez (aborto): Nesta situação,

a mulher deve ser imediatamente encaminhada para o(s)

66

Hospital(is) de Referência para Violência Sexual conforme

pactuação regional. No Hospital, a solicitação de aborto será

avaliada do ponto de vista técnico.

Importante:

A Unidade de Saúde não deve garantir a interrupção da gravidez. A

mulher deve ser informada de que a equipe do Hospital estará avaliando

a sua solicitação.

Para facilitar a avaliação por parte do hospital é de fundamental

importância o registro em prontuário do relato da agressão, da data da

ocorrência, de todos os achados clínicos e do estado emocional da usuária,

o mais detalhadamente possível e encaminhar cópia do prontuário ao

Hospital de Referência

Notificar ao gestor municipal sobre o encaminhamento efetuado.

8. 2 - Interrupção da Gravidez

O número de mulheres que engravidam em decorrência do estupro e

demandam a interrupção da gravidez é pequeno. Nesta condição, se a

mulher não deseja manter a gestação, a interrupção pode ser realizada

pela prática do abortamento. Esta situação está prevista no artigo 128 do Código Penal, que diz:

“Não se pune o aborto praticado por médico:

Se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Se a gravidez é resultante de estupro e o aborto é precedido de

consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante

legal.”

8.2.1 - Documentos e Procedimentos Obrigatórios para a Realização do Abortamento

Autorização da grávida ou, em caso de incapacidade, de seu

representante legal, formatado em documento do seu próprio punho, na

67

presença de duas testemunhas, exceto pessoas integrantes da equipe de

saúde;

A mulher, ou seu representante legal, deverá ser informada sobre a

responsabilidade criminal, caso as declarações sejam falsas;

Registro no prontuário médico e de forma separada das consultas e

da decisão por ela adotada, assim como do resultado dos exames clínicos

e laboratoriais.

Recomendados:

Cópia do Boletim de Ocorrência Policial (BO);

Cópia do Registro de Atendimento Médico à época da violência

sofrida, caso a mulher tenha consultado;

Cópia do laudo do Instituto Médico Legal, quando se dispuser.

8. 3 - Procedimentos para a Interrupção da Gravidez, de acordo com

Norma Técnica do Ministério da Saúde12

Sob a perspectiva da saúde, abortamento é a interrupção da gravidez

até a 20a ou 22a semana de gestação, e com produto da concepção pesando

menos que 500g. Aborto é o produto da concepção, eliminado pelo

abortamento.

Para garantir o abortamento seguro para as mulheres em situação de

gravidez decorrente de violência sexual, que assim o solicitem, é necessário

que existam suprimentos e equipamentos adequados, aplicação de técnicas

corretas e capacitação dos(as) profissionais de saúde. Além disso, o

cumprimento de algumas medidas e cuidados simples é fundamental para que

o abortamento seja oferecido de forma segura e acessível para a mulher nos

serviços de saúde.

12 Prevenção e Tratamento dos agravos resultantes da Violência sexual contra

Mulheres e adolescentes. Série A. Manuais e Normas técnicas. Série Direitos

Sexuais e Direitos Reprodutivos – Caderno nº 6. Brasília. 2010.

68

8.3.1 - Determinação da idade gestacional

A estimativa da idade gestacional deve ser feita em semanas, calculadas

a partir da data da última menstruação (DUM) conhecida e de certeza. O

cuidadoso exame bimanual da pelve pode determinar o volume uterino, e os

sinais de gravidez a partir da 6ª a 8ª semana de gestação. O exame de

ultrassonografia é o método mais preciso e adequado para confirmar a idade

gestacional.

Determinar a idade gestacional é importante para a escolha do método

do abortamento e para estabelecer a concordância entre a idade gestacional e

o período da violência sexual. Além disso, o exame clínico e a ultrassonografia

são necessários para afastar a ocorrência de gravidez ectópica ou de gestação

molar. Sempre que possível, o exame de ultrassonografia deve ser realizado

em local ou horário diferente daquele utilizado para o atendimento pré-natal,

evitando constrangimento e sofrimento para a mulher. Mesmo cuidado deve ser

tomado durante o exame, evitando-se comentários desnecessários sobre as

condições fetais.

8.3.2 - Condições pré-existentes

A história clínica, o exame físico geral e o exame tocoginecológico são

fundamentais para estabelecer as condições de saúde da mulhere identificar

doenças pré-existentes que possam interferir na realização da interrupção da

gravidez. Antecedentes de transtornos da coagulação ou de reações alérgicas

a medicamentos devem ser investigados. Medicamentos em uso também

devem ser considerados. A determinação do tipo sanguíneo, do fator Rh e o

hemograma devem ser procedimentos de rotina.

Outros exames complementares pré-operatórios devem ser solicitados,

sempre que necessário, em função das condições clínicas da mulher e do

procedimento de interrupção a ser adotado.

8.3.3 - Métodos de interrupção até 12 semanas de idade gestacional

Para a interrupção da gravidez de até 12 semanas de idade gestacional

o método de escolha é a aspiração a vácuo intrauterina, recomendado pela

Organização Mundial de Saúde (OMS), pela Federação Internacional de

Ginecologia e Obstetrícia (Figo) e pela Federação Brasileira das Associações

69

de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). A aspiração a vácuo é procedimento

muito seguro, rápido e eficiente. As complicações são excepcionais e,

raramente, de gravidade relevante. A Aspiração Elétrica a Vácuo (AEV) utiliza

bomba de vácuo de fonte elétrica, o que exige equipamento nem sempre

disponível. A Aspiração Manual Intrauterina (Amiu) utiliza cânulas flexíveis

de Karman com diâmetros entre quatro e 12 mm acopladas a seringa com

vácuo de 60cc, promovendo a raspagem e a aspiração simultânea da cavidade

uterina. A técnica pode ser realizada, grande parte das vezes, sem

necessidade de dilatação cervical em gestações iniciais. Pode ser necessária a

dilatação do colo de útero com dilatadores de Deniston ou Velas de Hegar.

A curetagem uterina utiliza curetas de diferentes formas e dimensões

após a dilatação do colo de útero, com dilatadores de Deniston ou Velas de

Hegar, resultando na raspagem da cavidade uterina. O procedimento pode

também utilizar outros instrumentos específicos, como a pinça de Winter,

auxiliar na extração do conteúdo uterino. Por ter diâmetro variável e ser de

material rígido, curetas e pinças oferecem maior risco de acidentes,

principalmente o de perfuração do útero e de sangramento excessivo durante o

procedimento. A curetagem uterina deve ser usada apenas quando a aspiração

a vácuo não estiver disponível. Recomenda- se que os gestores de saúde

capacitem os(as) profissionais de saúde para substituir a curetagem uterina

pela aspiração a vácuo.

O abortamento medicamentoso com misoprostol é opção válida e

segura para interrupção da gravidez, particularmente no primeiro trimestre de

gravidez. A escolha do esquema de misoprostol varia em diferentes estudos,

não sendo possível identificar vantagens evidentes entre eles. Cabe, portanto,

considerar a experiência de cada serviço de saúde no manejo do abortamento

medicamentoso. As evidências mais recentes permitem recomendar a dose de

800 microgramas, aplicada nos fundos de saco laterais da vagina, a cada seis

ou 12 horas, até completar três doses. Os comprimidos preparados

especificamente para uso vaginal não necessitam ser umedecidos com água

ou com soro fisiológico. A maioria dos abortamentos ocorre nas primeiras 24

horas e, em alguns casos, pode ser necessário aguardar até 72 horas pela

expulsão fetal. Após esse prazo, não ocorrendo o abortamento, o misoprostol

pode ser repetido, nas mesmas doses, por até uma semana do início do

70

tratamento. Pode-se, também, optar pela aspiração a vácuo ou pela curetagem

uterina, considerando-se o desejo da mulher.

A via vaginal deve ser preferentemente escolhida para o uso do

misoprostol, por ser mais efetiva que a via oral e por provocar menos efeitos

secundários do que a via sublingual. No entanto, deve-se considerar a via

sublingual como alternativa para mulheres que apresentem grande dificuldade

ou intolerância ao manejo próprio da via vaginal, situação não rara entre

adolescentes e mulheres jovens que sofreram violência sexual antes da

primeira relação sexual consentida. O mesmo pode ser aplicado para gestantes

portadoras de deficiência mental que não permitam ou que não colaborem com

o emprego da via vaginal. Nesses casos, se houver aceitabilidade, o

misoprostol pode ser utilizado na dose de 800 microgramas, via sublingual, a

cada quatro horas, até completar três doses.

Não ocorrendo o abortamento em até 72 horas o procedimento pode ser

repetido, nas mesmas doses, por até uma semana do início do tratamento. No

entanto, a aspiração a vácuo ou a curetagem uterina, nesses casos de

insucesso, são métodos mais aceitáveis de tratamento. A eficácia do

abortamento medicamentoso com misoprostol é de cerca de 90%, com

expulsão completa da gravidez e sem necessidade de procedimentos

complementares para o esvaziamento uterino, tanto no primeiro como no

segundo trimestre. Embora reserve controvérsia, alguns estudos referem

menores taxas de sucesso para o misoprostol na presença de infecções

vaginais e cervicais. De toda forma, recomenda-se o tratamento específico

dessas condições sempre que identificadas, sem que com isso se postergue o

início do misoprostol.

A mulher que eventualmente decida pelo abortamento medicamentoso

deve ser informada das limitações e efeitos do método. O procedimento é mais

demorado e, geralmente, mais desconfortável. Dor em cólica e sangramento

vaginal são presentes na maioria dos casos, assim como ocorre no

abortamento espontâneo. Esses efeitos devem ser esclarecidos para a mulher

que escolhe o abortamento com misoprostol e não devem ser confundidos com

complicações do tratamento. A dor deve ser minimizada com uso de

analgésicos. Os anti-inflamatórios não hormonais podem ser usados na dor de

menor intensidade e não interferem no efeito do misoprostol. Analgésicos

71

opiáceos ficam indicados para situações de dor intensa que não responda

satisfatoriamente aos analgésicos de rotina.

O sangramento no abortamento induzido com misoprostol costuma ser

mais intenso do que aquele que ocorre na menstruação regular e, na maior

parte dos casos, não excede o sangramento produzido pelo abortamento

espontâneo. Contudo, o risco de sangramento excessivo, ainda que pequeno,

deve ser discutido e ponderado com a mulher. Náuseas, vômitos e diarréia são

outros efeitos possíveis com o uso de misoprostol, mais frequentes na via

sublingual. A febre, com ou sem calafrios, é efeito característico do misoprostol

e não deve ser interpretada ou confundida com infecção. A rotura uterina,

embora grave, é complicação excepcional e, geralmente, relacionada com

antecedente de cesárea. A falha do misoprostol no primeiro trimestre de

gravidez pode ser admitida como complicação, pois é possível que se relacione

com aumento de risco de malformações fetais.

O misoprostol é contraindicado em mulheres ou adolescentes com

disfunção hepática severa, com coagulopatias ou em uso de anticoagulante, e

com antecedente de alergia às prostaglandinas. Em portadoras de doenças

cerebrovasculares, cardíacas ou vasculares; neuropatias, diabetes mellitus ou

hipertensão arterial descompensada, o misoprostol deve ser acompanhado de

rigorosa vigilância. Nas lactantes é prudente desprezar o leite materno durante

as primeiras seis horas após cada dose do misoprostol.

O mifepristone (RU 486), método alternativo para o abortamento

medicamentoso, não é disponível para uso no Brasil. A associação do

misoprostol com metotrexate não apresenta evidências de maior eficácia ou de

outros benefícios, não sendo recomendada sua utilização.

8.3.4 - Métodos de interrupção após 12 semanas de idade gestacional No segundo trimestre, o abortamento medicamentoso constitui

método de eleição. Para as gestações com mais de 12 e menos de 22

semanas de idade gestacional recomenda-se a utilização do misoprostol para a

dilatação cervical e a expulsão ovular. A mulher deve permanecer,

obrigatoriamente, internada até a conclusão da interrupção, completando-se o

esvaziamento uterino com curetagem nos casos de abortamento incompleto.

Assim como nas gestações iniciais, as doses utilizadas de misoprostol variam

72

em diferentes investigações. Entre os esquemas disponíveis, recomenda-se

administrar 200 mg via vaginal a cada 12 horas, durante 48 horas. O

tratamento pode ser repetido após intervalo de três a cinco dias, em caso de

insucesso. A aspiração intrauterina e a curetagem não são recomendadas

como métodos de interrupção de gestações com mais de 12 semanas.

Métodos cirúrgicos maiores devem ser reservados para situações excepcionais

e a histerectomia deve ser abolida como método de abortamento em qualquer

circunstância.

Assim como nas gestações iniciais, as doses utilizadas de misoprostol

variam em diferentes investigações e deve-se considerar a experiência

adquirida de cada serviço de saúde. Para gestações entre 13 e 15 semanas

recomenda-se administrar 400 microgramas, via vaginal. Não ocorrendo o

abortamento, repetir a mesma dose em 6 ou 12 horas. Se não ocorrer resposta

em 24 horas, administrar 800 microgramas, via vaginal, repetindo a mesma

dose em 12 horas, até o máximo de quatro doses. Para gestações entre 16 e

20/22 semanas recomenda-se administrar 200 microgramas, via vaginal. Não

ocorrendo o abortamento, repetir a mesma dose em 6 ou 12 horas. Se não

houver resposta em 24 horas, administrar 400 microgramas, via vaginal,

repetindo a dose em 12 horas, até o máximo de quatro doses. Nos casos de

insucesso, períodos maiores de tempo de uso de misoprostol podem ser

empregados, considerando-se a experiência de cada serviço de saúde e a

concordância da mulher em manter o método.

Embora o conceito de abortamento preconizado pela Organização Mundial

da Saúde estabeleça limite de 22 semanas de idade gestacional, casos que

ingressem para atendimento entre 20 e 22 semanas devem ser rigorosamente

avaliados, considerando-se a possibilidade de erro de estimativa da idade

gestacional. Portanto, recomenda-se limitar o ingresso para atendimento ao

aborto previsto em lei com 20 semanas de idade gestacional ou, quando

disponível, com predição de peso fetal menor que 500 gramas.

8.3.5 - Gestação com mais de 20 semanas de idade gestacional

Não há indicação para interrupção da gravidez após 22 semanas de idade

gestacional. A mulher deve ser informada da impossibilidade de atender a

solicitação do abortamento e aconselhada ao acompanhamento pré-natal

73

especializado, facilitando-se o acesso aos procedimentos de adoção, se assim

o desejar.

8.3.6 - Preparação do colo de útero

Em gestações de primeiro trimestre, principalmente entre nove e 12

semanas, a preparação ou maturação do colo de útero com misoprostol torna o

procedimento de esvaziamento uterino (aspiração a vácuo ou curetagem) mais

rápido e com menor risco de complicações imediatas. O método é

particularmente indicado para nulíparas e adolescentes, ou para aquelas que

apresentam anomalia ou cirurgia cervical prévia.

Recomenda-se utilizar dose única de 400 microgramas de misoprostol, via

vaginal, de três a quatro horas antes do procedimento.

8.3.7 - Alívio da dor

É fundamental que a equipe de saúde garanta alívio apropriado para a dor

em cada tipo de procedimento de interrupção de gravidez. A inadequação do

controle da dor provoca sofrimento desnecessário e injustificado, e aumenta o

dano emocional e o risco de complicações. Em todos os tipos de abortamento,

seja na indução medicamentosa ou no esvaziamento uterino, deve-se proceder

com escolha criteriosa do método de alívio da dor. A decisão deve considerar

as condições clínicas de cada mulher, que deve ser apoiada e estimulada a

participar da escolha. O nível de dor durante o abortamento depende de muitos

fatores.

A fragilidade emocional da mulher em situação de violência sexual limita o

uso de alternativas de alívio da dor utilizadas, com sucesso, em outras

situações de abortamento. Geralmente são necessárias medidas de maior

intervenção, que utilizem procedimentos específicos de anestesia ou analgesia.

Nesses casos, além de respeitar a escolha da mulher, devem ser consideradas

as características e experiências de cada serviço. A escolha de anestesia geral

deve ser reservada a provedores de saúde capacitados e equipados.

Em condições favoráveis, mulheres que apresentem gestações iniciais,

abaixo de 8/9 semanas, e com satisfatória interação com a equipe de saúde

podem ser tratadas com apoio verbal e anestesia paracervical, especialmente

nos casos de indicação e disponibilidade da técnica de Amiu. A anestesia local

74

ou bloqueio paracervical é realizada utilizando. se lidocaína a 1%, sem

vasoconstritor, injetando-se lentamente o anestésico na transição do colo com

a mucosa vaginal, às cinco e sete horas, com agulha calibre 23 ou de insulina,

a uma profundidade de 3-5 mm, na quantidade de 3-8 ml em cada ponto, com

o cuidado de evitar a injeção intravenosa do anestésico. A associação de

drogas tranquilizantes, como o diazepan ou midazolan, é desejável quando há

elevada ansiedade.

Nas situações em que a idade gestacional é superior a 12 semanas o uso

de analgésicos narcóticos, petidina ou morfina, pode ser necessário durante o

período de indução do esvaziamento uterino, para alívio da dor provocada pela

contração uterina e dilatação cervical. A equipe de saúde deve estar atenta

para possíveis efeitos adversos, principalmente a depressão respiratória. Caso

o esvaziamento ocorra de forma incompleta, os mesmos cuidados rotineiros

devem ser tomados para o alívio da dor durante a curetagem ou aspiração

complementar.

8.3.8.- Profilaxia de infecção

A existência de infecção do trato genital inferior prévia ao abortamento

previsto em lei deve ser cuidadosamente investigada, por representar

importante fator de risco para infecções mais severas após o procedimento.

Essa condição é particularmente preocupante nas situações de violência

sexual, onde há considerável risco de transmissão de doenças sexualmente

transmissíveis, por vezes assintomáticas no momento da interrupção da

gravidez. Na presença de sinais clínicos sugestivos ou indicativos de infecção,

ou nas situações diagnosticadas em exames complementares, recomenda-se

iniciar o tratamento sem retardar o abortamento.

Há evidências de que o uso profilático de antibióticos, nas situações onde

não existam indicadores de infecção, reduz as taxas de complicações

infecciosas pós-operatórias. Os serviços de saúde devem adotar as normas

estabelecidas pelas Comissões de Controle de Infecção Hospitalar.

Na ausência de protocolo específico, recomenda-se o uso de cefalotina 1

a 2 g, endovenoso, em dose única, ou a cada seis horas, com máximo de três

doses, antes do início do procedimento. A utilização de antibióticos por período

de tempo ou número de doses maior não configura profilaxia antibiótica,

75

justificando-se somente em casos que exista necessidade de tratamento.

Mulheres e adolescentes com antecedente de hipersensibilidade a penicilina e

derivados devem usar outra alternativa de profilaxia, a critério do serviço de

saúde.

8.3.9 - Cuidados de coleta e guarda de material

Recomenda-se que amostras do material embrionário do abortamento

induzido sejam guardadas para eventual investigação de DNA, mediante

solicitação do Poder Judiciário. Recomenda-se que, sempre que possível e

disponível, uma parte do material seja encaminhada para exame de anatomia

patológica para afastar a possibilidade de gestação molar.

8.3.10 - Alta hospitalar e seguimento

A mulher pode receber alta hospitalar assim que capaz, com sinais vitais

estáveis e ao término da recuperação anestésica, se houver. Na ocasião da

alta hospitalar devem ser informadas sobre sinais e sintomas comuns ao

período de recuperação. Sangramento vaginal de menor ou igual volume ao

menstrual pode ocorrer por poucos ou vários dias. Cólicas abdominais,

geralmente de intensidade tolerável, podem estar presentes nos primeiros dias.

A mulher poderá retornar às atividades cotidianas em poucos dias e o

período de afastamento necessário deverá ser avaliado em cada caso. A

primeira consulta médica deve ser realizada entre sete e dez dias do

procedimento. Devem ser orientadas a retornar ao serviço de saúde a qualquer

momento se ocorrer febre, corrimento vaginal relevante, dor abdominal ou

sangramento vaginal de maior volume. A equipe de saúde deve enfatizar a

necessidade de retorno da mulher para receber as demais medidas de

atenção, principalmente para completar a investigação de DST/HIV/Hepatites.

9 - Exame pericial e coleta de materiais.

A identificação de achados que constituam provas médico-legais é de

grande importância nas situações de violência sexual, tanto para a

comprovação material do crime alegado, como para a identificação e

responsabilização do autor.

76

No Brasil, a coleta de evidências materiais dos crimes sexuais é

procedimento formalmente atribuído aos peritos do Instituto Médico Legal ou,

em casos específicos, a outros profissionais legalmente investidos para esse

fim. No entanto, em diversas situações é desejável que o serviço de saúde

proceda com o recolhimento de elementos que, eventualmente, colaborem com

necessidades das autoridades ou que auxiliem na confecção de laudo indireto

de Exame de Corpo de Delito e Conjunção Carnal.

No Estado do Paraná o Termo de Cooperação, que se encontra em

anexo, estabelece os procedimentos para que o exame pericial e a coleta de

material aconteça em ambiente hospitalar, mediante capacitação dos médicos

dos Hospitais de Referência para a violência Sexual ocorrida a até 72 horas. A

descrição das lesões e o material colhido deverá ser encaminhado à Unidade

do IML

O material do conteúdo vaginal, oral ou anal deve ser obtido por meio de

swab estéril, acondicionado em papel filtro, mantido em envelope lacrado e

identificado, se possível em ambiente climatizado.

O material não deve ser colocado em sacos plásticos que mantenham a

umidade, facilitando a proliferação bacteriana e consequente destruição do

DNA. Deve-se abolir o uso de fixadores, incluindo-se álcool e formol, por

resultar na desnaturação do DNA. Deve-se, ainda, realizar esfregaço desse

material biológico em duas lâminas de vidro, sem fixadores, devidamente

identificadas.

Nas situações de abortamento, o material embrionário deve ser

acondicionado diretamente em frasco de pequeno volume, abolindo-se

qualquer tipo de fixador. Nas gestações com menos de 12 semanas

recomenda-se preservar parte dos restos embrionários obtidos pelo

esvaziamento uterino cirúrgico ou pelo abortamento medicamentoso, secos o

quanto possível com compressa ou similar. Nas gestações com 13 semanas ou

mais, recomenda-se preservar parte do cordão umbilical ou parte de material

fetal. Essas amostras devem ser devidamente identificadas e encaminhadas

para congelamento o mais breve possível, mantendo-as, dessa forma,

preservadas por prazo indeterminado.

Além dessas coletas específicas, outros cuidados podem oferecer

possibilidade adicional de recuperar elementos de materialidade do crime

77

sexual. Dessa forma, recomenda-se preservar as roupas que a mulher utilizava

no momento da violência sexual. Pelos do autor da violência, identificados em

vagina ou em outras regiões, também devem ser preservados.

Fragmentos da pele do autor podem ser encontrados abaixo das unhas da

mulher, particularmente nos casos em que a mesma ofereceu resistência física.

A análise comparativa de DNA permite estabelecer, com absoluta

segurança, a relação de paternidade com a gestação interrompida com o

suposto autor da violência sexual. Da mesma forma, identifica o DNA do autor

no material biológico recuperado imediatamente após a violência sexual.

Recomenda-se que retirada do material biológico seja precedida de ofício da

autoridade requerente, formalizando a transferência da guarda.

78

- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA: - BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes: norma técnica. – 3ª ed. atual. e ampl. – Brasília : Editora do MS, 2010. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos ; Caderno n. 6) - BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção integral para mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica e sexual. Matriz pedagógica para formação de redes. Brasília-DF: Editora do MS, 2009. (Série B. Textos Básicos de Saúde) - BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Coordenação Geral de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis. Nota técnica nº22 - CGDANT/DASIS/SVS/MS, de 22/08/2008. Brasília-DF, 2008. - BRASIL. Lei no 10.741, de 01 de outubro de 2003. Dispõe sobre o estatuto do idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília:DF, 3 out. 2003. Disponível em: < www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm>. - BRASIL. Lei nº 10.778, de 24 de novembro de 2003. Estabelece a notificação compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 nov. 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.778.htm>. - BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. - BRASIL. Lei no 11.349, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a Mulher. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 08 ago. 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm> - CFMEA-Centro Feminista de Estudos e Assessoria. Lei Maria da Penha: do papel para a vida – Comentários à Lei 11.340/2006 e sua inclusão no ciclo orçamentário. 2ª ed. ampliada e atualizada. Brasília: CFEMEA/CECIP, 2009 - CURITIBA. Secretaria Municipal de Saúde. Relatório do Programa Mulher de Verdade 2007. Curitiba, 2008. - CURITIBA. Secretaria Municipal de Saúde. Atenção à mulher em situação de violência – Curitiba: Saúde levada a sério - 2008. Curitiba: Ajir Gráfica, 2008.

79

MAFIOLETTI. Terezinha. M. Violência Doméstica contra a Mulher: um Problema de Saúde Publica situação do Paraná. In.: Anais Eletrônicos [recursos eletrônicos] / Seminário Internacional Fazendo Gênero 9: diásporas, diversidades, deslocamentos. – Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2010. Disponível em <htpp://www.fazendogenero.ufsc.br/9> - MARTINS, Alaerte L.; ANGOTTI, Bruna; MAFIOLETTI, Terezinha M.. Violência contra a mulher: um problema de saúde pública. In.: PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Diversidade. Núcleo de Gênero e Diversidade Sexual. Sexualidade. Curitiba: SEED-PR, 2009. - PARANÁ. Conselho Estadual de Saúde. Comissão de Saúde da Mulher. Plano estratégico para organização de redes de serviços para atendimento a mulheres que sofrem violência no Estado do Paraná. Curitiba, 2001. - PARANÁ. Secretaria de Estado da Saúde. Protocolo de atendimento da rede de atenção às mulheres, às crianças e aos adolescentes vítimas de violência. Curitiba: SESA-PR, 2002. (mimeo ?!) - PARANÁ. Conselho Estadual de Saúde. Resolução nº 10/1999, de 09/04/1999. Indica a necessidade de assegurar serviços que atendam o aborto legal no Estado do Paraná. - PARANÁ. Conselho Estadual de Saúde. Resolução nº 14/2001, de 03/12/2001. Estabelece a política para o atendimento à mulher que sofre violência - PARANÁ. Conselho Estadual de Saúde. Resolução nº 15/2001, de 03/12/2001 Aprova a proposta de criação do Comitê Gestor Estadual Interinstitucional para o acompanhamento das redes integradas de serviços para o atendimento à mulher que sofre violência - PARANÁ. Secretaria de Estado da Justiça. Centro de Referência e Atendimento a Mulher de Curitiba e Região Metropolitana. Relatório 2008. Curitiba, 2009. - PARANÁ. Secretaria de Estado da Saúde. Plano Estratégico para a Organização de Redes Intersetoriais de Atenção às Mulheres em Situação de Risco para a Violência de Gênero. Curitiba, 2009. - PARANÁ. Secretaria de Estado da Saúde. Superintendência de Vigilância em Saúde / DEVE / DVDNT. Plano Estadual de Vigilância de Violências e Acidentes do Estado do Paraná. Curitiba-PR, 2009. Disponível em: <http://www.sesa.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1095>

80

EQUIPE RESPONSÁVEL PELA ELABORAÇÃO DA LINHA GUIA:

ORGANIZADORES (AS)

Enfermeira Terezinha Maria Mafioletti

Socióloga Carmen Regina Ribeiro

AUTORES (AS)

Enfermeira Alice Eugênia Tisserant

Médica Cléa Elisa Lopes Ribeiro

Socióloga Carmen Regina Ribeiro

Psicólogo Emerson Luiz Peres

Enfermeira Isa Hermann

Enfermeira Maria Celi Albuquerque

Médica Maria Alice Panichi

Enfermeira Maria Goretti David Lopes

Assistente Social Nadia Cristina Tadra

Enfermeira Terezinha Maria Mafioletti

Médico Rosires Pereira Almeida

Médica Silvia Helena Stein Soares

COLABORADORES (AS)

Odontológa Gabriela Pereira Afonso

Enfermeira Idalina Marly da Luz

Odontológa Lise Mara Souza Villani

Médica Marcia Krajden

Médica Raquel Ferreira Scholz Uhlig

Médica Rose Fischer

81

ANEXOS

Anexo 1: Modelo se termo de Promessa Legal

Anexo 2: Ficha de Notificação da Violência Doméstica, Sexual e/ou outras Violências nos Serviços de Saúde