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Literatura 1 Doctor On Escobar LIVRO 1 SUMÁRIO A comunicação.............................................................................................................................................02 As funções da linguagem............................................................................................................................. 03 Figuras de linguagem...................................................................................................................................07 Gêneros Literários........................................................................................................................................11 Estrutura da narrativa...................................................................................................................................11 Versificação..................................................................................................................................................14 Texto e Discurso.......................................................................................................................................... 17 Quinhentismo............................................................................................................................................... 54

Literatura 1 · as suas falhas e, neste momento, passei a te amar verdadeiramente, pelo que você é, repleto de qualidades e defeitos. Com mais um ano juntos, só tenho a agradecer

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Literatura

1

Doctor On Escobar

LIVRO 1

SUMÁRIO

A comunicação.............................................................................................................................................02 As funções da linguagem............................................................................................................................. 03 Figuras de linguagem...................................................................................................................................07 Gêneros Literários........................................................................................................................................11 Estrutura da narrativa...................................................................................................................................11 Versificação..................................................................................................................................................14 Texto e Discurso.......................................................................................................................................... 17 Quinhentismo............................................................................................................................................... 54 Barroco.........................................................................................................................................................61 Arcadismo.................................................................................................................................................... 81

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A Comunicação

Todos nós, todos os dias, como seres sociais, necessariamente nos comunicamos. Agora, por

exemplo, estamos envolvidos num ato de comunicação, no qual eu sou o EMISSOR, você é o RECEPTOR e está recebendo minha MENSAGEM, expressa num CÓDIGO, através de um CANAL (meio físico), que você entende por que estou me referindo a uma situação, a um CONTEXTO. Veja o que disse o lingüista Roman Jakobson sobre a comunicação e conheça o modelo que ele criou:

A linguagem deve ser estudada em toda a variedade de suas funções. Para se ter uma ideia geral dessas funções, é mister uma perspectiva sumária dos fatores constitutivos de todo processo lingüístico, de todo ato de comunicação verbal.

O remetente envia uma mensagem ao destinatário. Para ser eficaz, a mensagem requer um contexto a que se refere, apreensível pelo destinatário, e que seja verbal ou suscetível de verbalização, um código total ou parcialmente comum ao remetente e ao destinatário (ou, em outras palavras, ao codificador e ao decodificador da mensagem); e, finalmente, um contato, um canal físico e uma conexão psicológica entre o remetente e o destinatário, que os capacita a ambos a entrarem e permanecerem em comunicação.

O esquema abaixo procura representar todos os fatores que, segundo Jakobson, de forma conjunta

constituem a comunicação verbal.

Num ato de comunicação, a intenção do emissor, a ênfase dada por ele a um dos elementos

constituintes do sistema comunicativo, determina a função da linguagem. Roman Jakobson esquematizou assim as funções que a linguagem pode assumir.

Tenha agora uma visão geral dos fatores fundamentais da comunicação e de suas relações com as

funções da linguagem, sem esquecer que o linguista russo disse que:

contexto

mensagem remetente destinatário

contato

código

referencial

poética emotiva conativa

fática metalinguística

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“embora distingamos seis aspectos básicos da linguagem, dificilmente lograríamos encontrar mensagens verbais que preenchessem uma única função. A diversidade reside não no monopólio de alguma dessas diversas funções, mas numa diferente ordem hierárquica de funções. A estrutura verbal de uma mensagem depende basicamente da função predominante.”

As Funções da Linguagem

FUNÇÃO REFERENCIAL (DENOTATIVA)

Normalmente escrito em 3ª pessoa, o texto objetivo está centrado no referente, isto é, naquilo que se fala, pois o emissor quer transmitir/informar de forma direta, sem ambigüidade, dados de uma realidade. Esta função é a mais utilizada por nós no dia-a-dia.

Vejamos o exemplo:

contexto função referencial

mensagem

função poética remetente

função emotiva destinatário

função conativa contato função fática

código

metalinguística

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FUNÇÃO CONATIVA (APELATIVA)

Muito usada pelos publicitários, a função apelativa tem a intenção de influenciar, de persuadir o destinatário e, por isso, usa exemplos e argumentos que tenham relação com os sonhos e desejos deste. É comum, neste tipo de texto, o emprego de verbos no imperativo e no vocativo. Observe o exemplo abaixo:

FUNÇÃO EMOTIVA (EXPRESSIVA)

Marcado pela subjetividade, pela presença da 1ª pessoa, os textos com função emotiva estão centrados no EU, logo têm a intenção de expressar emoções, opiniões do indivíduo.

Carta para Aniversário de Namoro Meu amor, falar de sentimentos nem sempre é fácil, especialmente quando se trata do amor da minha

vida. Pensei muito antes de começar a escrever essa carta e parece que é sempre mais difícil começar. Resolvi começar, então, por onde tudo começou, quando nos conhecemos e passamos a viver esse grande amor. No início você parecia uma pessoa perfeita e não conseguia enxergar os seus defeitos, com um certo tempo passei a conhecer as suas falhas e, neste momento, passei a te amar verdadeiramente, pelo que você é, repleto de qualidades e defeitos. Com mais um ano juntos, só tenho a agradecer por você estar comigo o tempo todo, sou muito feliz em ter você ao meu lado. Que venham muitos anos pela frente e o que o nosso amor perdure até a eternidade".

"Eu sei que o verdadeiro amor deve ser revelado em atitudes e não em palavras, mas preciso te falar o quanto te amo, para que você nunca duvide de meus sentimentos. Você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida, o meu melhor presente e é o meu bem mais precioso. Obrigada por estar comigo e por dividir a sua vida comigo. A minha já valeu a pena, só pelo fato de ter te conhecido. Que o nosso amor seja eterno enquanto dure e que dure para sempre!"

FUNÇÃO METALINGUÍSTICA

Ocorre quando a preocupação do emissor está voltada para o próprio código que está utilizando para se comunicar, isto é, quando o emissor procura explicar, analisar, refletir, escrever sobre a própria linguagem.

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FUNÇÃO FÁTICA

Ocorre quando preocupado em manter contato com o destinatário, o emissor testa o canal de comunicação, ou tenta prolongar a comunicação.

FUNÇÃO POÉTICA

Ocorre quando a preocupação do produtor do texto está centrada na própria mensagem, com a combinação, com a escolha das palavras. Nesse caso, o autor procura explorar o ritmo, a sonoridade, a linguagem figurada, dando ao texto um caráter artístico.

O que é LITERATURA? Na condição de emissores, quando produzimos um texto e nos centramos na mensagem,

procurando explorar os recursos da linguagem para tornar nossa expressão mais bela, estamos fazendo arte, no caso, literária. Parece simples responder à questão, porém, as respostas são muitas e nenhuma encerrou o assunto, pois estudiosos, escritores e poetas continuam dando, de forma objetiva ou não, a sua opinião. Ezra Pound, por exemplo, disse que “literatura é linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível.” O poeta chileno Pablo Neruda, em seu livro Confesso que vivi, dá-nos uma das mais belas declarações sobre a paixão dos homens pelas palavras e seu prazer em lidar com elas.

A PALAVRA

...SIM SENHOR, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derroto-as... Amo tanto as palavras... As inesperadas... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem... Vocábulos amados... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho... Persigo algumas palavras... São tão belas, que quero colocá-las todas em meu poema... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as... Deixo-as como

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estalactites em meu poema, como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda... Tudo está na palavra... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que obedeceu a ela... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que se lhes foi agregado de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca mais se viu no mundo... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam, a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.

Pablo Neruda, Confesso que Vivi, p.64-65.

*Butifarra: espécie de chouriço ou lingüiça feita principalmente na Catalunha, Valência e Baleares. (N. da T.)

FUNÇÕES DA LITERATURA

"Lembro-me de que certa noite — eu teria uns quatorze anos, quando muito — encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam “carneado”. (...) Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode agüentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida?" (...) Desde que, adulto, comecei a escrever romances, temme animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia dos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.”

Solo de Clarineta – Érico Veríssimo (VERÍSSIMO, Érico. Solo de clarineta. Porto Alegre: G lobo, 1978.V.1.p.44-5.)

A literatura faz sonhar

A literatura diverte

A literatura ensina a viver

A literatura faz a gente pensar

A literatura nos ajuda a construir nossa identidade

A literatura denuncia a realidade

A PLURISSIGNIFICAÇÃO DA LINGUAGEM

Numa conversa, usamos as palavras com o sentido comum, isto é, DENOTATIVO (como está no dicionário), mas também empregamos com o sentido figurado, ou seja, CONOTATIVO.

Veja que a linguagem usada poeticamente não é exclusividade dos literatos que, por sua vez, nos seus textos, também se valem da linguagem denotativa.

Observe o quadro abaixo:

DENOTAÇÃO

Significado restrito

Objetivo; Preciso; Exato

Sentido do dicionário

CONOTAÇÃO

Significado amplo

Expressivo; Criativo; Artístico

Sentido figurado

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Figuras de Linguagem Agora que você sabe que a linguagem pode apresentar o sentido figurado, é hora de conhecer

algumas das figuras de linguagem usadas pelos poetas e escritores em seus textos, ou por nós mesmos num bate-papo informal.

COMPARAÇÃO

Consiste em aproximar dois seres pela semelhança que há entre eles, por meio de expressões explícitas: como, tal qual, que nem, etc. Ex.: Meu namorado é forte quem nem cavalo.

METÁFORA

Consiste em aplicar um sentido incomum no emprego de uma palavra sendo o novo sentido resultado de uma relação de semelhança entre dois termos. Ex.: Meu marido é um cachorro.

METONÍMIA

Substituição de uma palavra por outra, havendo entre elas uma relação de interdependência, inclusão ou implicação.

O efeito pela causa. Ex. Ele tem de ganhar a vida.

O nome do autor pela obra. Ex. Ele está lendo Castro Alves.

O continente pelo conteúdo. Ex. Tomei um copo de canha.

A marca pelo produto. Ex. Vamos tomar uma Skol.

A causa pelo efeito. Ex. Ele sua a camisa para viver.

O concreto pelo abstrato. Ex. O meu coração é dela.

A parte pelo todo. Ex. Pedi sua mão em casamento.

O singular pelo plural . Ex. O santa-mariense é simpático.

SINESTESIA

Comparações desencadeadas pelos cinco sentidos. Há um cruzamento de sensações. Ex.: Luz perfumada das manhãs.

PROSOPOPEIA

Atribuição de sentimentos e ações próprias dos humanos a seres inanimados ou irracionais. Ex.: Os pneus cantarão no asfalto.

EUFEMISMO

Palavra ou expressão que substitua outra desagradável ou chocante. Ex.: Ela partiu desta para a melhor.

ANTÍTESE

Consiste no emprego de palavras com sentidos opostos. Ex.: “Nasce o sol, e não dura mais que um dia,

depois da luz, se segue a noite escura, (...)”

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PARADOXO

Fusão, num mesmo enunciado, de elementos que se excluem e contradizem. Ex.: “É um contentamento descontente”.

HIPÉRBOLE

Expressa uma idéia com exagero, a fim de enfatizar um aspecto/algo. Ex.: Quebrei a cabeça de tanto pensar.

IRONIA

Consiste em dizer alguma coisa, querendo expressar o contrário. Ex.: - Você pagou R$ 90,00 por estes chinelos de borracha? Como você é econômico!

ONOMATOPEIA

Representação ou reprodução de sons, sugeridos através de expressões.

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ANÁFORA

Repetição de palavras ou expressões, geralmente no início da frase. Ex.: Aí está a rosa, aí está o vaso, aí está a água, aí está o caule, aí está a folhagem, aí está o espinho, aí está a cor. (Guilherme de Almeida)

ALITERAÇÃO

Repetição de um mesmo fonema. Ex.:

Solidão À memória de meu pai Chove chuva choverando Que a cidade de meu bem Está-se toda se lavando Oswald de Andrade

ASSONÂNCIA

Repetição de uma mesma vogal. Ex.: “Raia sanguínea e fresca a madrugada”

PERÍFRASE/ANTONOMÁSIA

Palavra ou expressão designativa da qualidade do ser em lugar do nome do ser. A perífrase e antonomásia apenas desempenham seu papel na frase se as expressões substitutas forem conhecidas pelos falantes e permitirem a fácil identificação do ser, objeto ou lugar substituído. Assim, essas expressões transmitem características ou fatos conhecidos sobre esse ser, objeto ou lugar, apresentando também uma natureza metonímica. A antonomásia é uma forma de perífrase aplicada aos nomes próprios, ou seja, na substituição dos mesmos por expressões formadas por substantivos comuns. Ex: Moro no país do futebol. (Brasil) Vou ao show do Rei. (Roberto Carlos) Fomos ao jardim zoológico ver o rei da selva. (leão)

PARONOMÁSIA

Utilização de palavras parônimas, ou seja, palavras com significados diferentes que se escrevem e se pronunciam de forma parecida. Ex: Fragrante e flagrante Tráfego e tráfico

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DIÁCOPE

Repetição de palavra com intercalação de outra. Ex: Triste vida, triste sorte.

EPIZEUXE

Repetição seguida da mesma palavra Ex: Belo, belo, belo, minha bela.

ELIPSE

Omissão de termos que são facilmente subentendidos Ex: Vivíamos (nós) sob o mesmo teto.

ZEUGMA

Omissão de termos anteriormente mencionados Ex: Eu quero casar, ela não.

ANACOLUTO

Quebra da estrutura sintática de uma frase em termos ficam isolados Ex: A velha hipocrisia, recordo dela com vergonha.

ANÁSTROFE

Inversão leve da ordem normal das palavras numa frase, ocorrendo essa inversão predominantemente por antecipação de uma palavra que complementa outra palavra, ou seja, em palavras correlativas. Ex: Ao filho, a mãe deu um sorvete.

SILEPSE

Conhecida como concordância ideológica. Ela acontece toda vez que uma palavra deixa de concordar gramaticalmente com outras palavras ou expressões presentes na frase e passa a concordar com o sentido ideológico delas. A silepse pode ser de três tipos: de gênero, de número ou de pessoa. DE GÊNERO Ex: São Paulo é cheia de surpresas DE NÚMERO Ex: A população chegou agitada ao comício, levavam cartazes e apitos. DE PESSOA Ex: O problema é que os três queremos comemorar aniversário no mesmo dia.

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Gêneros Literários Os gregos observaram que os textos apresentavam variações formais e diversidade temática.

Estabeleceram, então, a primeira classificação dos gêneros literários que, no decorrer do tempo, sofreu modificações. Tomada como fórmula, como conjunto de regras que orientavam a produção, a poética também foi alvo de ataques daqueles que, em determinadas épocas, tiveram a liberdade como guia de sua expressão.

Atualmente, os gêneros, embora não sejam encarados como normas que ainda orientem as manifestações literárias, ajudam na análise e compreensão dos textos que, apesar do seu hibridismo, podem ser classificados como líricos, épicos ou dramáticos.

GÊNERO LÍRICO

Sabe-se que na Grécia Antiga, a palavra, a dança e a música andavam juntas. Os versos, portanto, eram declamados com movimentos corporais embalados pelo som de uma lira.

A tradição oral cedeu lugar à escrita, o texto se apartou do instrumento, mas a poesia não perdeu uma de suas características essenciais, a musicalidade, alcançada através de rimas, aliterações, assonâncias, repetições, etc.

Tendendo para a brevidade, os textos líricos, geralmente, expressam emoções individuais, sentimentos íntimos de um eu-lírico. Este não deve ser confundido com a pessoa física do poeta, mas como um elemento estrutural do texto. Alguns modelos de textos líricos são o soneto, a canção, a elegia, o madrigal, a écloga, o epigrama, o rondó, a balada, etc.

GÊNERO ÉPICO (NARRATIVO)

Classificam-se como épicos os textos que apresentam o desenrolar de uma ação num tempo e num espaço através da movimentação de personagens. O relato é feito por um narrador (componente estrutural que não deve ser entendido como o autor do texto) que, adotando um ponto de vista (foco narrativo), pode mostrar o mundo interior das personagens, caso conheça totalmente o que apresenta, ou simplesmente relatar o universo exterior destas. Os textos épicos são geralmente, longos e podem ser compostos em prosa ou em verso. No caso dos textos em prosa, alguns modelos são o romance, a novela, o conto e, às vezes, a crônica. Em versos, a narrativa mais tradicional é a epopéia, porém existem poemas narrativos que não seguem a estrutura padrão das epopeias.

GÊNERO DRAMÁTICO

Sem a intermediação de um “narrador” ou “sujeito-lírico” o mundo representado mostra-se através da ação de personagens que falam na presença do público. Embora parta de um texto, a manifestação só se completa com a atuação dos atores, ultrapassando, portanto, a literatura propriamente dita. Algumas formas dramáticas são a tragédia, a comédia, o drama, os autos, a farsa, etc.

Estrutura da Narrativa

ENREDO

É a narrativa propriamente dita, sequência de fatos que constituem a ação que se desenrola para o leitor.

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PERSONAGENS

São seres fictícios que figuram em uma narrativa. Podem ser descritos física e psicologicamente, com muitos ou poucos detalhes, e podem ter grande ou pequena importância no desenvolvimento das ações. Conforme a caracterização, podemos classificá-los em:

A) PERSONAGEM PLANA Estereotipada, caracterizada por um pequeno número de atributos, sem profundidade ou

complexidade psicológica. Suas ações são previsíveis.

B) PERSONAGEM ESFÉRICA Marcada pela complexidade, apresenta um comportamento pouco previsível em decorrência de sua

mobilidade psicológica. Conforme sua função, podemos classificar as personagens, sejam planas ou esféricas, nas

seguintes categorias: Protagonista: Personagem central de uma narrativa. Antagonista: Principal opositora da protagonista. Secundários: São os que rodeiam a protagonista ou antagonista e são coadjuvantes da ação

principal.

ESPAÇO

É o lugar onde ocorrem os fatos narrados – uma cidade, rua, sala, etc. O espaço nem sempre está determinado ou mencionado na narrativa, às vezes é apenas sugerido, algo que ocorre com frequência nas narrativas intimistas.

TEMPO

É o momento, ou a época em que acontecem os fatos da narrativa. O tempo pode ser exterior (tempo de ação) ou interior (tempo da experiência).

TEMPO CRONOLÓGICO Tempo seqüencial, linear (passado, presente, futuro), marcado por horas, datas ou por outros

índices exteriores. Ex.: “O ano era de 1840. Naquele dia – uma segunda-feira, do mês de maio – deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar a manhã.”

Conto de escola, Machado de Assis

TEMPO PSICOLÓGICO O tempo que se passa no consciente ou subconsciente das personagens: recordações, sonhos,

delírios. Ex.: “O que estou velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros.”

São Bernardo, Graciliano Ramos

NARRADOR

É um dos principais elementos da narrativa, pois por meio dele não só temos conhecimento da história, mas também adotamos determinado ponto de vista – denominado foco narrativo, a maneira como o narrador se situa em relação ao que está relatando.

Não se deve confundir narrador com autor: o autor existe, é um ser de carne e osso, que escreve; o narrador, em geral, é um ser imaginário a quem o autor transfere a tarefa de contar determinada história. Às vezes, ambos se referem à mesma pessoa, no caso, por exemplo, de a narrativa ser uma história real.

Há dois tipos de narrador:

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1ª PESSOA: - Quando o narrador é uma personagem que participa da narrativa. Esse narrador não precisa ser

necessariamente a personagem principal. Ex.: “Quem me deu o primeiro cálice de licor foi a morena vistosa, mas não sei quem deu o segundo. Bebi vários, bebi o resto da garrafa. Comportei-me indecentemente, perdi a vergonha, achei-me à vontade, falando muito, desvariando e exigindo licor.”

Infância, Graciliano Ramos

3ª PESSOA: - O narrador em 3ª pessoa é um observador dos fatos, não participa da história. Chamamos de

ONISCIENTE o narrador que conhece o mundo interior das personagens (sabe tudo). Ex.: “A vida na fazenda se tornara difícil. Sinhá Vitória benzia-se tremendo, manejava o rosário, mexia os beiços rezando rezas desesperadas. Encolhido no banco do copiar, Fabiano espiava a caatinga amarela, onde as folhas secas se pulverizavam trituradas pelos redemoinhos, e os garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul as últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre.”

Vidas Secas, Graciliano Ramos

DISCURSO

O discurso pode ser classificado em:

A) DISCURSO INDIRETO É a fala do narrador nos contando os fatos e recontando as falas das personagens quando elas

existem. Ex.: “No dia seguinte, logo após a sesta, por obra e graça do Pe. Lara, Rodrigo se viu frente a frente com o senhor de Santa Fé. Era numa das salas do casarão de pedra, onde os poucos móveis que havia eram escuros e rústicos. A um canto da peça Rodrigo viu três espadas e uma espingarda encostadas na parede. O Cel. Ricardo estava sentado atrás duma mesa de pau preto. Não se ergueu quando o padre fez as apresentações. Não estendeu a mão para o visitante, nem o convidou a sentar-se. Quando o vigário se retirou, Rodrigo, de pé a uns quatro passos da mesa, olhou bem nos olhos o dono da casa e seu instinto lhe gritou que tinha macho pela frente.”

O Continente, Érico Veríssimo

B) DISCURSO DIRETO São as falas das personagens apresentadas sem a interferência do narrador. Pode ser diálogo ou

monólogo. Ex.: “Rodrigo deu alguns passos e encostou a espada na parede. Voltou-se para o senhor de Santa Fé:

- Vosmecê veja a minha situação... – disse ele, quase jovial, ajeitando o lenço vermelho. – Se eu matasse o Cel. Amaral, não saía vivo desta casa. Se vosmecê me matasse... eu estava liquidado. De qualquer modo estou perdido. Já vê que minha posição é meio difícil...

- Mas vosmecê me ofendeu! – exclamou Ricardo, pondo a espada em cima da mesa. - Foi vosmecê que me ofendeu primeiro – retrucou Rodrigo. - Eu podia mandar le prender. - Podia, coronel. Podia também mandar me enforcar. mas não manda nem uma coisa nem outra. - Quem foi que lhe disse? - Vosmecê não manda me prender porque não tem motivos pra isso. Não se prende um homem de

bem por um dá cá aquela palha. E vosmecê não manda me enforcar por uma razão muito forte. É porque é um homem justo e bom.”

O Continente, Érico Veríssimo

C) DISCURSO INDIRETO LIVRE É uma mistura dos dois anteriores. Nesta hibridização, não ficando muito claro onde começa a voz

da personagem e onde termina a do narrador, os discursos se fundem. Ex.: “Ah! – lembrou-se Júlia Mariana. É tão bom cantar! Nunca mais cantei... Uma aragem fresca soprou em seu rosto e agitou de leve algumas flores raquíticas, risos-de-maria e margaridas, murchos, cercados de mato, que sufocavam ao pé do muro ferido. Nunca mais pude aguar meus canteiros. Nunca mais. E começou a acionar lentamente a alavanca.”

Cadeira de balanço, Osman Lins

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Versificação

METRO

Denominação dada à medida do número de sílabas fonéticas que compõe um verso. O ato de medir é chamado de escansão, através do qual, podemos denominar o verso conforme a quantidade de sílabas que tiver.

1 sílaba – Monossílabo 2 sílabas – Dissílabo 3 sílabas – Trissílabo 4 sílabas – Tetrassílabo 5 sílabas – Redontilha menor 6 sílabas – Heróico Quebrado 7 sílabas – Redontilha maior 8 sílabas – Octossílabo 9 sílabas – Eneassílabo 10 sílabas – Decassílabo 11 sílabas – Hendecassílabo 12 sílabas – Alexandrino

Os versos com mais de 12 sílabas, antes da modernidade, eram chamados “Bárbaros”. Agora,

estão incluídos nos chamados versos livres. VEJA UM EXEMPLO DE ESCANSÃO:

Ma / ri / lia / teus / o / lhos são / réus / e / cul / pa / dos, que / so / fra, e / que / bei / je os / Fe / rros / pe / sa / dos de in / jus / to / se / nhor. Ma / ri / lia, / es / cu / ta um / tris / te / pas / tor

CONTAGEM GRAMATICAL Conta todas as sílabas e todos os sons distintos.

Ex.: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Des/ta/vai/da/de/ a/ quem/ cha/ma/mos/ fa/ma! (Camões)

CONTAGEM POÉTICA Conta até a última sílaba tônica.

Ex.: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Des/ta/ vai/da/de a/ quem/ cha/ma/mos/ fa/ma (Camões)

Como vimos no exemplo, no caso da contagem poética, podem acontecer casos como o encontro

das vogais formando uma sílaba só entre as palavras. Vejamos esse e outros casos: 1) SINALEFA (ELISÃO): União de duas ou mais vogais numa única sílaba.

Ex.: U/ma al/ma/ ter/na um/ pei/to/ sem/ du/re/za

DIALEFA (HIATO): Quando não acontece a união das vogais. Ex.: O/ ber/ço em/ que/ nas/ci/: oh!/ quem/ cui/da/ra

2) DIÉRESE: Prolongamento de uma sílaba em duas no interior da palavra. Ex.: Que entre penhas tão duras se cri /a/ Ra

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SINÉRESE: Fusão de duas vogais num único som dentro da palavra. Ex.: Mas o seu olhar ma /goa/ do

RIMA

Semelhança sonora a partir da última sílaba tônica. As rimas podem ser:

1) EXTERNA E/OU INTERNAS: Ex.: Lembranças, que lembrais meu bem passado, Para que sinta mais o mal presente Deixai-me se quereis, viver contente Não me deixeis morrer em tal estado Camões

2) a) CONSOANTE:

Ex.: Discreta e formosíssima Maria. Enquanto estamos vendo a qualquer hora, em tuas faces a rosada Aurora, Em teus olhos e boca, o sol e o dia: Gregório de Matos Guerra

b) TOANTES: Ex.: Ó guerreiros da Taba Sagrada, Ó guerreiros da Tribo Tupi, falam deuses no canto do Piaga, ó guerreiros, meus cantos ouvi. Gonçalves Dias

3) a) RICAS: Terminações raras e/ou categorias Morfológicas diferentes.

A cada canto um grande conselheiro, (substantivo) Que nos quer governar cabana e vinha Não sabem governar sua cozinha, e podem governar o mundo inteiro. (adjetivo) Gregório de Matos Guerra

b) POBRES: Terminações comuns (ão/ente) e/ou categorias morfológicas iguais.

Ex.: Ó caos confuso, labirinto horrendo Onde não topo luz, nem fio amando, (verbo) Lugar de glória, aonde estou penando, (verbo) Casa da morte, aonde estou vivendo. Gregório de Matos Guerra

ESQUEMA DE RIMA

a) RIMA EMPARELHADA Ex.: Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste (A) Criança.! Não verás país nenhum como este! (A) Olha que céu! Que mar.! Que rios! Que floresta (B) A natureza aqui, perpetuamente em festa, (B) Olavo Bilac

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b) RIMA INTERCALADA Ex.: Asa de corvos carniceiros, asa (A) De mau agouro que, nos doze meses, (B) Cobre às vezes o espaço e cobre às vezes (B) O telhado de nossa própria casa... (A)

c) RIMA CRUZADA Ex.: Ó guerreiros da Taba Sagrada, (A) Ó guerreiros da Tribo Tupi, (B) falam deuses no canto do Piaga, (A) ó guerreiros, meus cantos ouvi. (B) Gonçalves Dias

d) RIMA MISTURADA

Ex.: Olha que coisa mais linda Mais cheia de graça É ela, a menina Que vem e que passa Num doce balanço Caminho do mar Moça do corpo dourado Do sol de Ipanema seu balanço É mais que um poema É a coisa mais linda Que eu já vi passar. Vinícius de Moraes

e) RIMA ENCADEADA

Ex.: Ouve ó Glaura, o som da lira que suspira lagrimosa amorosa em noite escura sem aventura, nem prazer Silva Alvarenga

f) VERSO BRANCO Verso que não possui rima:

Ex.: Eras na vida a pomba predileta Que sobre um mar de angústia conduzia O ramo da esperança. – Eras a estrela Que entre as névoas do inverno cintilava Apontando o caminho ao pegureiro. Eras a messe de um dourado estio. Eras o idílio de um amor sublime. Eras a glória, - a inspiração, - a pátria, O porvir de teu pai! – Ah! no entanto, Pomba, - varou-te a flecha do destino! Astro, - engoliu-te o temporal do norte! Teto, caíste! – Crença, já não vives! Fagundes Varela

ESTROFE

É a estrutura formal de um bloco de versos, que conforme o número de linhas poéticas, recebe um nome.

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2 versos – dístico 3 versos – terceto 4 versos – quadra ou quarteto 5 versos – quintilha 6 versos – sextilha 7 versos – septilha 8 versos – oitava 9 versos – novena 10 versos – décima

Estrofe Isométrica = uma só medida métrica. Estrofe Heterométrica = mistura metros e/ou versos livres.

RITMO

É a cadência resultante da combinação e alternância de sons tônicos e átonos. Antes de surgir o “verso livre”, era mais fácil encontrar os “apoios rítmicos” (ictos) pois, como veremos no exemplo, versos decassílabos, originalmente, apresentavam esse apoio nas sexta e décima (decassílabos heróicos) ou na quarta, oitava e décima sílabas (decassílabos sáficos). Observe os versos de Renata Pallotini:

Por ti deixei do meu rebanho lento (4.8.10) A alva timidez da minha casa (6.10) O fogo acolhedor tornado brasa (6.10) E a brasa morta transformada em pranto (4.8.10)

Texto e Discurso

TEXTO VERBAL

Unidade linguística concreta percebida pela visão ou pela audição, que tem unidade de sentido e intencionalidade comunicativa.

DISCURSO

É a atividade comunicativa – constituída de texto e contexto discursivo (quem fala, com quem fala, com que finalidade, ect...) – capaz de gerar sentido desenvolvida entre interlocutores.

INTERTEXTO E INTERDISCURSO

Narciso, a partir de Caravaggio (2005) – Vik MunizNarciso (1596) - Caravaggio

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INTERTEXTUALIDADE

É a relação estabelecida por um autor quando retoma e reescreve a obra de outro. Ao fazê-lo ele pode estar concordando (paráfrase) ou discordando (paródia) do autor do texto (verbal ou não verbal) original. Vejamos o caso mais conhecido na literatura brasileira. Canção do exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite– Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Gonçalves Dias

PARÓDIA

Na paródia o autor se apropria de outro texto com a intenção de subverter, alterar, discordar.

Canção do exílio Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações. A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! Murilo Mendes

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PARÁFRASE

Na paráfrase o autor reafirma com palavras diferentes o sentido de uma obra escrita. Nova Canção do Exílio Um sabiá na palmeira, longe. Estas aves cantam um outro canto. O céu cintila sobre flores úmidas. Vozes na mata, e o maior amor. Só, na noite, seria feliz: um sabiá, na palmeira, longe. Onde é tudo belo e fantástico, só, na noite, seria feliz. (Um sabiá, na palmeira, longe.) Ainda um grito de vida e voltar para onde é tudo belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe. Carlos Drummond de Andrade

INTRATEXTUALIDADE

Quando um autor retoma e reescreve sua própria obra. “Mundo mundo vasto mundo se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.” Poema de sete faces – Carlos Drummond de Andrade

Não, meu coração não pe maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo, Por isso me grito, Por isso frequento os jornais, me exponho Cruamente nas livrarias: preciso de todos. Mundo grande– Carlos Drummond de Andrade

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INTERDISCURSIVIDADE

Relação entre dois discursos caracterizada por um citar o outro.

A primeira missa no Brasil (1858/60) – Victor Meirelles A primeira missa no Brasil (1948) – Cândido Portinari

01. A função poética não é exclusividade da poesia. A propaganda há bastante tempo, tem se utilizado de recursos poéticos. Observe o exemplo a seguir.

A ATMA É ÓTIMA Nesse slogan publicitário, verifica-se o uso de recursos que também se encontram na poesia, tais como:

a) catacrese e hipérbole b) metonímia e eufemismo c) assonância e aliteração d) aliteração e ironia e) prosopopéia e sinestesia 02. “Antigamente as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos, completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E, se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outras freguesias”.

DRUMMOND DE ANDRADE, C. Seleta em Prosa e Verso. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1971. p.3

Assinale a alternativa que NÃO está de acordo com o fragmento: a) As expressões “pé-de-alferes” e “arrastando a asa” têm sentido conotativo. b) O trecho caracteriza uma época através do uso do próprio linguajar dessa época. c) O segmento “tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia” significa desistir da tentativa e ir tentar em outro lugar. d) O autor sugere que os tempos antigos eram melhores que os tempos atuais. e) O segmento “completavam primaveras” é um modo eufemístico de dizer que faziam aniversário. 03. (UFSM) A religião foi tema de Gregório de Matos Guerra, poeta barroco, que escreveu, ainda, poemas satíricos e líricos. Observe e leia, com atenção, as seguintes estrofes: A vós correndo vou, Braços sagrados, nessa cruz sacrossanta descobertos; que para receber-me estais abertos e por não castigar-me estais cravados. A vós, Divinos olhos eclipsados de tanto sangue e lágrimas cobertos: pois para perdoar-me estais despertos e por não condenar-me estais fechados. De acordo com as características do período, identificam-se, nessas estrofes, I – invocação em “A vós”. II – metonímia em “Braços sagrados” e “Divinos olhos”. III – hipérbole em “cruz sacrossanta”.

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Está (ão) correta (s) a) apenas I b) apenas I e II c) apenas I e III d) apenas II e)apenas II e III 04. (UFSM) Em 2014, o jesuíta José de Anchieta foi canonizado pelo Papa Francisco I, tornando-se o terceiro santo brasileiro. Muito embora tenha nascido nas Ilhas Canárias, Anchieta ficou conhecido como o “Apóstolo do Brasil”, legando-nos importantes textos, os quais dão a tônica da função da literatura no início do período colonial brasileiro. Entre seus poemas, destaca-se “A Santa Inês”. No poema, nota-se o emprego figurativo e religioso do mais básico dos alimentos da época: o pão. A Santa Inês Na Vinda de sua Imagem Cordeirinha linda, Como folga o povo Porque vossa vinda Lhe dá lume novo! […] Também padeirinha Sois de nosso povo, Pois, com vossa vinda, Lhe dais trigo novo. Não é de Alentejo Este vosso trigo, Mas Jesus amigo É vosso desejo. [….] O pão que amassastes Dentro em vosso peito, É o amor perfeito Com que a Deus amastes. Deste vos fartastes, Deste dais ao povo, Porque deixe o velho Pelo trigo novo. […] Composto de versos de ________ sílabas métricas, “A Santa Inês” celebra a chegada da imagem da santa a um povoado. Para homenageá-la, o eu-lírico chama-lhe de “padeirinha”, pois traria um “trigo novo” para “alimentar” o povo: o exemplo do amor a Cristo. Esse uso figurativo da linguagem caracteriza uma _______________. Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas. a) seis – metonímia b) cinco – metáfora c) seis – antonomásia d) cinco – prosopopeia e) seis – analogia 05. (UFSM) Gregório de Matos desenha assim Caterina: Pintura admirável de humabelleza Vês esse Sol de luzes coroado? Em pérolas a Aurora convertida? Vês a Lua de estrelas guarnecida? Vês o Céu de Planetas adorado? O Céu deixemos; vês naquele prado A Rosa com razão desvanecida? A Açucena por alva presumida? O Cravo por galã lisonjeado? Deixa o prado; vem cá, minha adorada, Vês desse mar a esfera cristalina Em sucessivo aljôfar desatada? Parece aos olhos ser de prata fina? Vês tudo isto muito bem? pois tudo é nada À vista do teu rosto, Caterina. MATOS, Gregório de. Obra poética. 2. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1990. v.2 p. 880.

De acordo com o eu lírico, a beleza de Caterina é superior às belezas naturais. Nesse soneto, I – o eu lírico se dirige a Caterina. II – a esfera cristalina do mar parece ser de prata fina. III – o 1º quarteto refere-se ao céu; o 2º quarteto, ao mar.

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Está (ão) correta (s) a) apenas I b)apenas I e II c)apenas II d)apenas II e III e)apenas III Leia o fragmento a seguir, para responder à questão de número 06.

Sendo a mente mortal, tornara ao nada,Ao apagar-se a luz no extremo dia, E antes de ser punida ou premiada, Uma alma justa ou ré pereceria, Sempre em desejos nunca saciada, Mas sem castigo e sem fortuna pia, Sem chegar ao seu fim perder a essência... Como é crível que Deus tem providência? 06. (UFSM) “Ao apagar-se a luz no extremo dia” é um (a) _________ que está sendo utilizado (a) no lugar de _________ como recurso de estilo adotado por Santa Rita Durão, em Caramuru. As palavras que completam as lacunas são, respectivamente, a) ironia – noite b) antítese – tarde c) eufemismo – morte d) ironia – morte e) eufemismo - noite 07. (ESPM-SP) Ensinavam a ler e escrever apenas o estritamente necessário. O resto da educação visava acostumá-los à obediência, torná-los duros à adversidade e fazê-los vencer no combate. Do mesmo modo, quando cresciam, eles recebiam um treinamento mais severo: raspavam a cabeça, andavam descalços, brincavam nus a maior parte do tempo. Tais eram seus hábitos. Quando completavam doze anos, não usavam mais camisa. Só recebiam um agasalho pó ano. (...) Dormiam juntos, agrupados em patrulhas e tropas, sobre catres que eles próprios fabricavam (...)

(PLUTARCO. A vida de Licurgo apud PINSKY, Jaime. 100 textos de história antiga. 4 ed. São Paulo, Contexto, 1988. p. 109.)

Neste texto, Plutarco, um grande historiador da Antiguidade, descreve a educação na cidade de Esparta. Predominam nele: a) função metalingüística porque interpreta a educação espartana. b) a função poética, porque é um texto opinativo. c) a função referencial, porque é um texto denotativo. d) a função fática, porque se dirige ao leitor. e) n.d.a. 08. (FESP) Observe a estrofe abaixo e assinale a alternativa com a figura correta: Vi uma estrela tão alta, Vi uma estrela tão fria! Vi uma estrela luzindo, Na minha vida vazia. (Manuel Bandeira)

a) Assíndeto b)Pleonasmo c)Anacoluto d)Anáfora e)Silepse 09. (USF-SP) Assinale a alternativa em que a palavra destacada NÃO está empregada em seu sentido metafórico. a) Meu coração é um louco cavalo solto. b) Meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada. c) Do mar de meus afetos, ofereci-lhe os mais belos frutos. d) o uivo rouco dava-nos a idéia do enorme porte do animal selvagem. e) Sua indiferença por mim era a maior pedra em meu caminho. 10. (VUNESP-SP) Assinale a alternativa que contenha a figura de linguagem presente nas frases abaixo: I – O caos nos espreita no horizonte. II – O Brasil custa a morrer. III – O Brasil pode estar levando até o fim radical sua alma conciliadora. a) Hipérbole b) Eufemismo c) Prosopopéia d) Anacoluto e) Pleonasmo 11. (UFSM)

Em “Comida”, a letra da canção trata da fome e da sede do homem. Se forem analisadas as estrofes, algumas considerações podem ser feitas, por exemplo: I – é estabelecida uma relação antitética entre alimento e corpo / alimento e espírito.

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II – dinheiro é fundamental para o prazer, o que constitui um eufemismo. III – “Bebida é água / Comida é pasto” remete ao mundo do animal irracional. Está (ão) correta (s). a) apenas I b) apenas I e III c) apenas II d) apenas II e III e) apenas III 12. (Enem) Para o Mano Caetano

O que fazer do ouro de tolo Quando um doce bardo brada a toda brida, Em velas pandas, suas esquisitas rimas? Geografia de verdades, Guanabaraspostiças Saudades banguelas, tropicais preguiças? A boca cheia de dentes De um implacável sorriso Morre a cada instante Que devora a voz do morto, e com isso, Ressuscita vampira, sem o menor aviso [...] E eu soy lobo-bolo? lobo-bolo Tipo pra rimar com ouro de tolo? Oh, Narciso Peixe Ornamental! Tease me, tease me outra vez 1 Ou em banto baiano Ou em português de Portugal De Natal [...] 1Tease me (caçoe de mim, importune-me). LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br. Acesso em: 14 ago. 2009 (adaptado).

Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Nessa letra, o autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de termos coloquiais na seguinte passagem: a) “Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2) b) “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3) c) “Que devora a voz do morto” (v. 9) d) “lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro de tolo? (v. 11-12) e) “Tease me, tease me outra vez” (v. 14) Texto para as questões 13 e 14.

Canção do vento e da minha vida O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas. [...] O vento varria os sonhos E varria as amizades... O vento varria as mulheres... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De afetos e de mulheres. O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... O vento varria tudo! E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De tudo. BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.

13. (Enem) Predomina no texto a função da linguagem a) fática, porque o autor procura testar o canal de comunicação. b) metalinguística, porque há explicação do significado das expressões. c) conativa, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma ação. d) referencial, já que são apresentadas informações sobre acontecimentos e fatos reais. e) poética, pois chama-se a atenção para a elaboração especial e artística da estrutura do texto.

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14. (Enem) Na estruturação do texto, destaca-se a) a construção de oposições semânticas. b) a apresentação de idéias de forma objetiva. c) o emprego recorrente de figuras de linguagem, como o eufemismo. d) a repetição de sons e de construções sintáticas semelhantes. e) a inversão da ordem sintática das palavras. 15. (Enem) Oximoro, ou paradoxismo, é uma figura de retórica em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão.

Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.

Considerando a definição apresentada, o fragmento poético da obra Cantares, de Hilda Hilst, publicada em 2004, em que pode ser encontrada a referida figura de retórica é: a) “Dos dois contemplo rigor e fixidez. Passado e sentimento me contemplam” (p. 91). b)“De sol e lua De fogo e vento Te enlaço” (p. 101). c) “Areia, vou sorvendo A água do teu rio” (p. 93). d)“Ritualiza a matança de quem só te deu vida. E me deixa viver nessa que morre” (p. 62). e)“O bisturi e o verso. Dois instrumentos entre as minhas mãos” (p. 95). 16. (UCS) O texto literário caracteriza-se por uma multiplicidade de sentidos, originada do trabalho artístico realizado com a linguagem. Entre os recursos que a literatura utiliza, na produção dos textos, estão as figuras de linguagem. Leia os fragmentos de poemas, apresentados na COLUNA A, e relacione-os às figuras de linguagem neles predominantes, elencadas na COLUNA B. COLUNA A COLUNA B 1- Eu deixo a vida como deixa o tédio/Do deserto, [...] (Álvares de Azevedo) ( ) Antítese 2 - Mundo, mundo, vasto mundo/Se eu me chamasse Raimundo. ( ) Aliteração (Carlos Drummond de Andrade) ( ) Comparação 3- Queria subir ao céu/Queria descer ao mar. (Alphonsus de Guimaraens) ( ) Metáfora 4 - Só cabe no poema/o homem sem estômago/a mulher de nuvens/a fruta sem preço. (Ferreira Gullar) Assinale a alternativa que preenche corretamente os parênteses, de cima para baixo. a) 3, 4, 2, 1 b) 1, 2, 3, 4 c) 3, 2, 1, 4 d) 2, 3, 4, 1 e) 3, 1, 4, 2 17 - (ENEM) Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguíam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras, tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.

ASSIS, M. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.

Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memórias Póstumas de Brás Cubas condensa uma expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao a) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da herança paterna. b) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade com que Cotrim prendia e torturava os escravos. c) considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha Sara. d) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades. e) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.

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18. (IMED) Leia o texto abaixo, de Cecília Meireles, e analise as afirmações feitas sobre ele: Motivo

Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias; não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se fico ou se passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: - mais nada. I. No poema, é possível identificar antíteses, a musicalidade dos versos e a presença de rimas. II. O poema revela uma constância rítmica, com rimas alternadas, próprias de textos clássicos. III. Percebe-se a atenção da poetisa sobre o tema da passagem do tempo. Quais estão corretas? A) Apenas I. B) Apenas III. C) Apenas I e II. D) Apenas II e III. E) I, II e III. 19. Leia o seguinte poema de Gregório de Matos: Pecador contrito aos pés de Cristo crucificado

1 Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade 2 verdade é, meu Senhor, que hei delinquido, 3 delinqüido vos tenho, e ofendido, 4 ofendido vos tem minha maldade. 5 Maldade, que encaminha a vaidade, 6 vaidade, que todo me há vencido, 7 vencido quero ver-me e arrependido 8 arrependido a tanta enormidade. 9 Arrependido estou de coração, 10 de coração vos busco, dai-me abraços, 11 abraços, que me rendem vossa luz. 12 Luz, que claro me mostra a salvação, 13 a salvação pretendo em tais abraços, 14 misericórdia, amor, Jesus, Jesus! Trata-se de _____________ de caráter religioso. De acordo com texto, o sujeito se encontra arrependido de ter ofendido _________. Pedindo perdão, ele busca a sua ____________ . Assinale a alternativa que completa adequada-mente as lacunas. a) um soneto – o coração – vaidade b) uma epopéia – o leitor – salvação c) um soneto – Deus – vaidade d) uma epopéia – o leitor – vaidade e) um soneto – Deus – salvação 20. Leia o texto: Que dirá o Tapuia bárbaro sem conhecimento de Deus? Que dirá inconstante. a quem falta a pia afeição da nossa Fé? Que dirá o Etíope boçal, que apenas foi molhado com a água do Batismo sem mais doutrina? Não há dúvida, que todos estes, como não têm capacidade para sondar o profundo de vossos juízos, beberão o erro pelos olhos. Dirão pelos efeitos que vêem, que a nossa Fé é falsa, e a dos Holandeses verdadeira, e crerão que são mais Cristãos, sendo como eles.

A partir do texto, selecione a alternativa que completa corretamente as lacunas a seguir. Esse fragmento do Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, da autoria de _________________, defende que os indígenas são incapazes de ___________ adequadamente concepções de fé religiosa. Quanto à composição do texto, destaca-se a sucessão de ___________, que serve como recurso de ênfase.

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a) Pe. José de Anchieta – justificar – frases interrogativas b) Pe. Antônio Vieira – difundir – antítese c) Pe. Antônio Vieira – inventar – antítese d) Pe. José de Anchieta – valorizar – locuções adverbiais e) Pe. Antônio Vieira – diferenciar – frases interrogativas 21. (UFSM) Leia o seguinte soneto de Gregório de Matos: Descreve com galharda propriedade o labirinto confuso de suas desconfianças 1 Ó confuso, labirinto horrendo 2 Onde não topo luz, nem fio achando; 3 Lugar de glória, aonde estou penando; 4 Casa da morte, aonde estou vivendo 5 Ó voz sem distinção, Babel tremendo; 6 Pesada fantasia, sono brando; 7 Onde o mesmo que toco, estou sonhando; 8 Onde o próprio que escuto, não o entendo. 9 Sempre és certeza, nunca desengano; 10 E a ambas pretensões com igualdade; 11 No bem te não penetro, nem no dano. 12 És ciúme martírio da vontade; 13 Verdadeiro tormento para engano; 14 E cega presunção para verdade. I – O esquema de rimas do poeta e ABBA ABBA CDC DCD. II – O metro do verso 11 é de doze sílabas sonoras. III – O poema é caracterizado pela presença de antítese e pelo emprego de linguagem conotativa. a) apenas I b) apenas II c) apenas I e III d) apenas II e III e) I, II e III Leia o seguinte fragmento do “Sermão pelo bom sucesso das armasde Portugal contra as de Holanda” do Padre Antônio Vieira,para responder às questões 22 e 23: “Enfim Senhor, despojados os templos e derrubados os altares, acabar-se-á no Brasil a cristandade católica; acabar-se-á o culto divino; nascerá erva nas igrejas como nos campos; não haverá quem entre nelas. Passará um dia de Natal, e não haverá memória de vosso nascimento; passará a Quaresma e a Semana Santa, e não se celebrarão os mistérios de vossa Paixão. Chorarão as pedras das ruas como diz Jeremias que chorava as de Jerusalém destruída: chorarão as ruas de Sião, porquenãohá quem venha à solenidade. Ver-se-ão ermas e solitárias, e que as não pisa a devoção dos fiéis, como costumava em semelhantes dias.” 22 - (UFSM) O texto, relacionava-se à invasão holandesa no Brasil, em 1640; nele, o orador a) considera os holandeses hereges e violentos com aqueles que não fossem seus compatriotas. b) dirige-se Deus e prevê o esvaziamento da religião católica, caso Brasil fosse entregue aos holandeses. c) pode a Deus que evite a invasão de ervas nos templos, afim de preservar o patrimônio da Igreja. d) é um poeta e previu o que realmente aconteceria com a religião católica no Brasil, quase três séculos depois. e) dirige-se ao rei de Portugal, a fim de salvar o país da invasão holandesa, que já começava a destruir as igrejas da cidade. 23 .UFSM) Padre Antônio Vieira, ao firmar que “Chorarão as pedras das ruas”, utiliza uma a) ironia b) antítese c) gradação d)onomatopéia e) prosopopéia 24. (UFSM) “E será bem, Supremo e Governador do Universo, que às sagradas quinas de Portugal e às armas e chagas de Cristo, sucedem as heréticas listas de Holanda, rebeldes a seu rei e a Deus? Será bem que estas se vejam a tremular ao vento vitoriosas, e aquelas abatidas, arrastadas e ignominiosamente rendidas? E que fareis ou que será feito de vossa glorioso nome em casos de tanta afronta?” De acordo com o trecho citado do “Sermão pelo sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”, do Padre Antônio Vieira, pode-se afirmar que o autor. I – Invoca razões divinas para argumentar contra a invasão holandesa. II – Coloca-se à vontade diante de Deus, reforçando a situação difícil vivida pelo Brasil naquele momento. III – Volta-se para as questões religiosas, deixando transparecer sua formação católica, mas mostra-se desatento ao

contexto histórico. Está (ão) correta (s) a) apenas I b) apenas II c) apenas I e II d) apenas II e III e) I, II e III

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25. (UFSM) “Os dolorosos são os que vos pertencem a vós, como os gozozos aos que devendo-vos tratar como irmãos, se chamam vossos senhores. Eles mandam, e vós trabalhais; eles gozam o fruto de vossos trabalhos, e o que vós colheis deles é um trabalho sobre outro.” VIEIRA, Pe. A. Sermões. Porto: Lello, 1959, p.315.

No trecho do sermão de Vieira, a ___________ entre os mistérios dolorosos e gozozos serve como ponto de partida para a construção em __________, recurso básico da estruturação do texto, por meio do qual o autor destaca a perversidade do sistema ___________. Assinale a alternativa que completa, correta-mente, as lacunas. a) metonímia – metonímias – escravagista b) comparação – comparações – indianista c) comparação – antíteses – escravagista d) assonância – assonâncias – judaico e) gradação – gradações – indianista 26. (UFSM) se de uma parte está branco, de outra há de estar negro; se de uma parte está dia, de outra há de estar noite; se de uma parte dizem luz, de outra hã ode dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hã ode dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário? (...) No texto transcrito, Vieira se utiliza de recursos de retórica comum em seus sermões. Assinale a alternativa que identifica esse recurso. a) Prosopopéia b) Metonímia c) Onomatopéia d) Antítese e) Eufemismo 27. (UFSM) A respeito dos gêneros literários, assinale a única alternativa correta. a) Os gêneros literários são apenas dois: romance e poesia. b) Os gêneros literários são imutáveis desde a antiguidade até os dias atuais. c) Não há possibilidade de classificação em gêneros literários porque as obras artísticas não se enquadram em cânones estreitos. d) A crônica, a sátira e o poema em prosa não pertencem a nenhum gênero literário. e) A tradição literária considera a literatura a partir de uma teoria da tripartição dos gêneros literários: lírico, dramático, épico. 28. (UFSM) Assinale, entre as alternativas abaixo, aquela que é INCORRETA em relação aos gêneros literários. a) A relação entre poema e poesia é melhor expressa por textos líricos. b) Os textos dramáticos, representados no palco, não fazem parte da literatura, enquanto conjunto de textos escritos. c) Lírico, épico e dramático são gêneros aceitos pela literatura atual. d) Um poema épico apresenta um narrador, responsável pelo desenvolvimento do tema proposto. e) O lirismo pode ser expresso tanto nos versos de um poema quanto nos parágrafos de um romance. 29. (FURG) O gênero dramático, entre outros aspectos, apresenta como característica essencial: a) a presença de um narrador b) a estrutura dialógica c) o extravasamento lírico d) a musicalidade e) o descritivismo 30. (UFSM) Assinale a alternativa INCORRETA. a) O texto de teatro pertence ao gênero dramático, porque não apresenta subjetivismo, em função dos fatos que narra. b) Gêneros literários são conjuntos de processos técnicos consagrados pela tradição, aos quais o escritor recorre para expressar-se. c) Romance é uma narrativa que apresenta uma visão de mundo através de enredo, cenários e várias possibilidades de sequência temporal. d) O conto, na visão tradicional, é narrativa que apresenta um número pequeno de personagens, ação limitada e solução de conflito próximo ao desfecho. e) A poesia é a criação artística que transforma em linguagem as emoções e os sentimentos do poeta diante da realidade. 31. (UFSM) CIDADEZINHA QUALQUER

Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus. Trata-se de um poema modernista de Carlos Drummond de Andrade, em que aparecem versos brancos e ________. Esse poema tematiza um impressão _________ do “EU” poético que remete ao passado do poeta, o que, por sua vez, não transforma o poema num texto autobiográfico. Carlos Drummond de Andrade trabalha, nesse poema, com a idéia da ____________ da vida interiorana de Minas Gerais.

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Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas. a) rimas – dramática – superficialidade b) rimas – lírica – simplicidade c) regulares – lírica – artificialidade d) regulares – dramática – simplicidade e) rimas – lírica – artificialidade 32. (UFSM) Numere a segunda coluna de acordo com a primeira. (1) GÊNERO LÍRICO (2) GÊNERO ÉPICO (3) GÊNERO DRAMÁTICO ( ) O narrador relata acontecimentos passados, situando-se como observador um tanto distanciado dos fatos que

narra. ( ) Reúne textos em que predomina a expressão do “EU”, através de temas comuns como amor, saudade, solidão e

morte. ( ) As formas narrativas apresentam-se em versos em que se lê a exaltação das personagens heróicas e dos

sentimentos da coletividade. ( ) Forma de expressão de um sujeito em que se ressaltam a musicalidade e a exploração dos recursos da

linguagem. A sequência correta é: a) 1 – 2 – 2 – 3 b) 2 – 1 – 2 – 1 c) 1 – 3 – 3 – 1 d) 2 – 2 – 1 – 2 e) 3 – 1 – 1 – 3 33. (UFSM) Em Portugal, no século XVI, Camões elaborava seus poemas líricos, em forma de soneto, como o que se apresenta a seguir. Alma gentil, que te partiste

1 Alma gentil, que te partiste 2 Tão cedo desta vida, descontente, 3 Repousa lá no céu eternamente 4 E viva eu cá na terra sempre triste 5 Se lá no assento etéreo, onde subiste, 6 Memória desta vida se consente, 7 Não te esqueças daquele amor ardente 8 Que já nos olhos meus tão puro viste 9 E se vires que pode merecer-te 10 Alguãcousa a dor que me ficou 11 Da mágoa, sem remédio, de perder-te, 12 Roga a Deus, que teus anos encurtou, 13 Que tão cedo de cá me leve a ver-te, 14 Quão cedo de meus olhos te levou CAMÕES, Luis de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963.

É correto afirmar que, no soneto, I – há uma condição para que a amada se lembre do amor: que a memória da vida terrena seja consentida. II – o amor é um sentimento contraditório, o que pode ser identificado pelo sentido “ardente” (v.7) e “puro” (v.8). III – o eu-lírico pede a Deus que o leve logo para perto da amada, tão cedo quanto Deus a levou. Está (ão) correta (s) a) apenas I b) apenas I e II c) apenas I e III d) apenas II e) apenas II e III 34. (UFSM) 1 Amiga Helena Sangirardi Conforme um dia eu prometi Onde, confesso que esqueci E embora – perdoe – tão tarde 5 (Melhor do que nunca!) este poeta Segundo manda a boa ética Envia-lhe a receita (poética) De sua feijoada completa. 10 Em atenção ao adiantado Da hora em que abrimos o olho O feijão deve, já catado Nos esperar, feliz, de molho. (...) Só na última cozedura

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15 Para levar à mesa, deixa-se Cair um pouco da gordura Da linguiça na iguaria – e mexa-se. Que prazer mais um corpo pedeApós comido um tal feijão? 20 Evidentemente uma rede E um gato pra passar a mão... Dever cumprido. Nunca é vãA palavra de um poeta... – jamais! Abraça-a, em Brillat-Savarin O seu Vinícius de Moraes. (Feijoada à minha moda. de Vinicius de Moraes.)

De acordo com o poema, I – “este poeta” (v.5) é o eu-lírico; “Evidentemente uma rede / E um gato pra passar a mão” (v.19 e 20) marcam a

emergência de outra voz, que não é a do eu-lírico. II – “receita (poética)” (v.7) indica que receita não pode ser tema do gênero lírico; “Que prazer mais um corpo pede”

(v.17) refere-se ao prazer do contato com os animais. III – “(Melhor do que nunca!)” (v.5) completa a primeira estrofe; “tal feijão” (v.18) é a feijoada completa cuja receita o

poeta envia à amiga Helena Sangirardi. Está (ão) correta (s) a) apenas I b) apenas I e II c) apenas I e III d) apenas II e III e) apenas III 35. (UFSM) 1 É uma índia com um colar A tarde linda que não quer se pôr Dançam as ilhas sobre o mar Sua cartilha tem o ar de que cor? 5 O que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou O que está acontecendo? Eu estava em paz quando você chegou. Gonçalves Dias? Casemiro de Abreu? Castro Alves? Não! Estes versos são de Nando Reis, ex-Titãs. É possível identificar nesse fragmento: I – Uma metáfora nos versos 1 e 2, entre índia / tarde. II – As assonâncias, que estão marcadas em /a/, /o/ e /e/. III – Comparação no verso 6. IV – Rimas cruzadas e versos isométricos. Está (ão) correta (s) a) apenas I e II b) apenas I e III c) apenas III d) apenas II e IV e) apenas IV 36.(UFSM) Leia com atenção as seguintes estrofes de A cruz da estrada, de Castro Alves: Caminheiro que passas pela estrada, Seguindo pelo rumo do sertão, Quando vires a cruz abandonada, Deixa-a em paz dormir na solidão. Caminheiro! do escravo desgraçado O sono agora mesmo começou! Não lhe toques no leito de noivado, Há pouco a liberdade o desposou. As duas estrofes apresentam vocábulos do mesmo campo semântico, com cruz, paz, solidão, sono, leito. Pode-se, através dessas estrofes, inferir que I – o escravo dorme depois de um dia estafante de trabalho. II – “sono” e “liberdade o desposou” são eufemismos para a morte. III – o eu lírico, que é o próprio escravo, dirige-se ao leitor, em 2ª pessoa. IV – o eu lírico se dirige ao caminheiro. Está (ão) correta (s) a) apenas I b) apenas I e III c) apenas I e IV d) apenas II e III e) apenas II e IV 37. (Enem) Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada à apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O texto dramático é complementado pela atuação

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dos atores no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: I - pela presença de personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à ação; II - pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir das

personagens encadeadas à unidade do efeito e segundo uma ordem composta de exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho;

III - pela situação ou ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; IV - pelo tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da

representação. COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973 (adaptado).

Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral, conclui-se que a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua concepção de forma coletiva. b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e independente do tema da peça e do trabalho interpretativo dos atores. c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos, lendas, romances, poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros. d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais importante é a expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais. e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de produção/recepção do espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral. 38. (UFSM) Música é uma das artes mais antigas da humanindade. O J. Quest cantou: “ Quero uma canção fácil, ex-tremamente fácil, pra você, eu e todo mundo cantar junto”. A Fresno “Só queria uma música, pra falar daquele tempo que ficou para nós dois”. A música está na origem do gênero lírico, pois o termo lírico vem de “lira”, instrumento musical. Leia, com atenção, o poema de Casimiro de Abreu: DEUS Eu me lembro! Eu me lembro! Era pequeno E brincava na praia;o mar bramia E, erguendo o dorso altivo, sacudia A branca escuma para o céu sereno. E eu disse a minha mãe nesse momento: “Que dura orquestra! Que furor insano! Que pode haver maior que o oceano, Ou que seja mais forte do que o vento?”- Minha mãe a sorrir olhou p’ros céus E respondeu: - “Um ser que nós não vemos É maior do que o mar que nós tememos, Mais forte que o tufão! Meu filho, é – Deus!”-

O poema, por pertencer ao gênero lírico, tem como característica essencial a musicalidade, que é conferida pelos seguintes elementos: a) aliteração e metáfora. b) assonância e onomatopéia. c) métrica e rima. d) métrica e metáfora. e) assonância e evocação. 39. (UFSM) Leia, com atenção, o poema de Vinicius de Moraes: TRECHO Quem foi, perguntou o Celo Que me desobedeceu? Quem foi que entrou no meu reino E em meu ouro remexeu? Quem foi que pulou meu muro E as minhas rosas colheu? Quem foi, perguntou o Celo E a Flauta falou: fui eu.

Mas quem, a Flauta disse Que no meu quarto surgiu? Quem foi que meu deu um beijo E em minha cama dormiu? Quem foi que fez perdida E que me desiludiu? Quem foi, perguntou a Flauta E o velho Celo sorriu.

O poema, um diálogo entre dois instrumentos musicais, é composto por duas estrofes com versos isométricos

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a) em redondilha menor e somente rima rica. b) em redondilha maior e somente rima pobre. c) octossílabos e somente rima rica. d) em redondilha menor com rima rica e pobre. e) em redondilha maior com rima rica e pobre 40. (UCS) Leia o poema “Soneto de fidelidade”, de Vinicius de Moraes. De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Hei de vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure, Quem sabe a morte, angústia de quem vive, Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama, Mas que seja infinito enquanto dure. Fonte: MORAES, Vinicius de. Antologia poética. 2. ed., Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960. p. 113.

Embora se distinga da perspectiva romântica, o poema tematiza o arrebatamento amoroso. Sobre os versos, é correto afirmar que eles a) trazem um olhar otimista e alvissareiro sobre o sentimentalismo. b) enfatizam o zelo e o devotamento do sujeito lírico ao seu amor, inclusive na morte. c) descuidam da métrica e do emprego de recursos que dão sonoridade ao texto. d) enfocam a efemeridade do amor, a despeito da sua intensidade, por meio da aproximação entre o sentimento amoroso e a chama. e) ressaltam a imortalidade do amor verdadeiro, ideia reforçada pelo título. 41. (ENEM) FABIANA, arrepelando-se de raiva — Hum! Ora, eis aí está para que se casou meu filho, e trouxe a mulher para minha casa. É isto constantemente. Não sabe o senhor meu filho que quem casa quer casa ... Já não posso, não posso, não posso! (Batendo com o pé). Um dia arrebento, e então veremos!

PENA, M. Quem casa quer casa. www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 dez. 2012.

As rubricas em itálico, como as trazidas no trecho de Martins Pena, em uma atuação teatral, constituem a) necessidade, porque as encenações precisam ser fiéis às diretrizes do autor. b) possibilidade, porque o texto pode ser mudado, assim como outros elementos. c) preciosismo, porque são irrelevantes para o texto ou para a encenação. d) exigência, porque elas determinam as características do texto teatral. e) imposição, porque elas anulam a autonomia do diretor. 42. (UPF) No conto “Amor”, de Laços de família, a personagem Ana volta para casa, de bonde, trazendo no colo uma sacola de tricô com as compras do mercado, quando vê um cego na rua mascando chicletes. Tal acontecimento desestabiliza Ana. Ela deixa cair a sacola de tricô e solta um grito, o condutor manda parar o bonde, um moleque junta a sacola e devolve-a para a dona, e Ana constata que os ovos embrulhados no jornal se partiram. O embrulho de jornal é lançado fora, e o bonde dá nova arrancada de partida. Nesse momento do texto, lê-se: A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil e perecível... O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão – e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. No trecho transcrito, é possível perceber algumas das conquistas formais que se tornaram constantes na ficção de Clarice Lispector e que ajudaram a definir o seu estilo singular. Entre essas conquistas, encontram-se: a) a narração em primeira pessoa, o monólogo interior e o encadeamento lógico entre motivos e situações. b) a motivação causal entre as ações, o tempo cronológico e a caracterização física das personagens com contornos firmes e claros. c) o uso da metáfora insólita, a ruptura com o enredo factual e a entrega ao fluxo da consciência. d) o registro cronológico das ações, a linguagem clara e direta e a narração em primeira pessoa. e) o distanciamento do narrador em relação aos fatos narrados, a linguagem clara e direta e o monólogo interior.

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43. (UNIFRA) O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas. Sobre os versos do poema “Canção do vento e da minha vida”, de Manuel Bandeira, é possível afirmar que: I – A reiteração dos fonemas |v| e |f|, nos versos transcritos, remeta à ação do vento varrendo as coisas num ímpeto

destruidor. II – O significado denotativo do vento, na imagem da devastação desencadeada pelo tempo, amplia-se por meio de

aliterações fonéticas. III – A tonalidade emotiva, característica da poesia, está presente na atitude do sujeito lírico. Está (ão) correta (s) a) apenas I b) apenas I e II c) apenas II d) apenas I e III e) apenas II e III 44. (UNIFRA)

FORMIGAS

Quando minha prima e eu descemos do táxi já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima. — É sinistro. Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço melhor a duas pobres estudantes, com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando a creolina. — Pelo menos não vi sinal de barata — disse minha prima. A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro descascado nas pontas encardidas.(...)

Lygia Fagundes Telles

Sobre o fragmento do conto, assinale V ou F. ( ) O narrador, em primeira pessoa, revela o universo feminino a partir de características opressoras. ( ) A descrição do espaço ocupa um importante lugar na trama narrativa. ( ) A intertextualidade está presente no enunciado “mais negra que a asa da graúna”. A sequência correta é: a) V – F – F. b) F – V – F. c) F – V – V. d) V – V– F. e) F – F – V. 45. (ENEM) A História, mais ou menos

Negócio é o seguinte. Três reis magrinhos ouviram um plá de que tinha nascido um Guri. Viram o cometa no Oriente e tal e se flagraram que o Guri tinha pintado por lá. Os profetas, que não eram de dar cascata, já tinham dicado o troço: em Belém da Judéia vai nascer o Salvador, e tá falado. Os três magrinhos se mandaram. Mas deram o maior fora. Em vez de irem direto para Belém, como mandava o catálogo, resolveram dar uma incerta no velho Herodes, em Jerusalém. Pra quê! Chegaram lá de boca aberta e entregaram toda a trama. Perguntaram: Onde está o rei que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo. Quer dizer, pegou mal. Muito mal. O velho Herodes, que era um oligão, ficou grilado. Que rei era aquele? Ele é que era o dono da praça. Mas comeu em boca e disse: Jóia. Onde é que esse guri vai se apresentar? Em que canal? Quem é o empresário? Tem baixo elétrico? Quero saber tudo. Os magrinhos disseram que iam flagrar o Guri e na volta dicavam tudo para o coroa.

VERISSIMO, L. F. O nariz e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1994.

Na crônica de Veríssimo, a estratégia para gerar o efeito de humor decorre do(a) a) linguagem rebuscada utilizada pelo narrador no tratamento do assunto. b) inserção de perguntas diretas acerca do acontecimento narrado. c) caracterização dos lugares onde se passa a história. d) emprego de termos bíblicos de forma descontextualizada. e) contraste entre o tema abordado e a linguagem utilizada. 46. (ENEM) O exercício da crônica

Escrever crônica é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de uma máquina, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um assunto qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, restar-

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lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado.

(MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia das Letras, 1991).

Predomina nesse texto a função da linguagem que se constitui a) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista. b) nos elementos que servem de inspiração ao cronista. c) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica. d) no papel da vida do cronista no processo de escrita da crônica. e) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de uma crônica. 47. (ENEM) À garrafa

Contigo adquiro a astúcia de conter e de conter-me. Teu estreito gargalo e uma lição de angústia. Por translúcida pões o dentro fora e o fora dentro para que a forma se cumpra e o espaço ressoe.

Até que, farta da constante prisão da forma, saltes da mão para o chão e te estilhaces, suicida.

numa explosão de diamantes. PAES. J. P. Prosas seguidas do odes minimos. Sao Pauto: Cia. das Letras, 1992.

A reflexão acerca do fazer poético e um dos mais marcantes atributos da produção literária contemporânea, que, no poema de Jose Paulo Paes, se expressa por um(a) a) reconhecimento, pelo eu lírico, de suas limitações no processo criativo, manifesto na expressão “Por translúcida pões”. b) subserviência aos princípios do rigor formal e dos cuidados com a precisão metafórica, como se observa em “prisão da forma”. c) visão progressivamente pessimista, em face da impossibilidade da criação poética, conforme expressa o verso “e te estilhaces, suicida”. d) processo de contenção, amadurecimento e transformação da palavra, representado pelos versos “numa explosão / de diamantes”. e) necessidade premente de libertação da prisão representa da pela poesia, simbolicamente comparada a “garrafa” a ser “estilhaçada”. 48. (ENEM) Poesia quentinha

Projeto literário publica poemas em sacos de pão na capital mineira Se a literatura e mesmo o alimento da alma, então os mineiros estão diante de um verdadeiro banquete. Mais do que um pãozinho com manteiga, os moradores do bairro de Barreiro, em Belo Horizonte (MG), estão consumindo poesia brasileira no café da manha. Graças ao projeto “Pão e Poesia”, que faz do saquinho de pão um espaço para veiculação de poemas, escritores como Affonso Romano de Sant’Anna e Fernando Brant dividem espaço com estudantes que passaram por oficinas de escrita poética. São ao todo 250 mil embalagens, distribuídas em padarias da região de Belo Horizonte, que trazem a boa literatura para o cotidiano de pessoas, alem de dar uma chance a escritores novatos de verem seus textos impressos. Criado em 2008 por um analista de sistemas apaixonado por literatura, o “Pão e Poesia” já recebeu dois prêmios do Ministério da Cultura.

Língua Portuguesa, n. 71, set. 2011.

A proposta de um projeto como o “Pão e Poesia” objetiva inovar em sua área de atuação, pois a) privilegia novos escritores em detrimento daqueles já consagrados. b) resgata poetas que haviam perdido espaços de publicação impressa. c) prescinde de critérios de seleção em prol da popularização da literatura. d) propõe acesso a literatura a públicos diversos. e) alavanca projetos de premiações antes esquecidos.

49. (ENEM) Essa pequena

Meu tempo é curto, o tempo dela sobra Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abobora

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Temo que não dure muito a nossa novela, mas Eu sou tão feliz com ela Meu dia voa e ela não acorda Vou até a esquina, ela quer ir para a Flórida Acho que nem sei direito o que é que ela fala, mas Não canso de contemplá-la Feito avarento, conto os meus minutos Cada segundo que se esvai Cuidando dela, que anda noutro mundo Ela que esbanja suas horas ao vento, ai Às vezes ela pinta a boca e sai Fique a vontade, eu digo, take your time Sinto que ainda vou penar com essa pequena, mas O blues já valeu a pena CHICO BUARQUE. Disponível em: www.chicobuarque.com.br.Acesso em: 31 jun. 2012.

O texto Essa pequena registra a expressão subjetiva do enunciador, trabalhada em uma linguagem informal, comum na musica popular. Observa-se, como marca da variedade coloquial da linguagem presente no texto, o uso de a) palavras emprestadas de língua estrangeira, de uso inusitado no português. b) expressões populares, que reforçam a proximidade entre o autor e o leitor. c) palavras polissêmicas, que geram ambiguidade. d) formas pronominais em primeira pessoa. e) repetições sonoras no final dos versos.

GABARITO

01.C 02.D 03.E 04.B 05.B 06.C 07.C 08.D 09.D 10.C

11.B 12.D 13.E 14.D 15.D 16.C 17.B 18.E 19.E 20.E

21.C 22.B 23.E 24.C 25.C 26.D 27.E 28.B 29.B 30.A

31.E 32.B 33.B 34.C 35.A 36.E 37.C 38.C 39.E 40.D

41.B 42.C 43.D 44.C 45.E 46.E 47.D 48.D 49.B

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01. (UFSM) Música é uma das artes mais antigas da humanidade. O J. Quest cantou: “Quero uma canção fácil, extremamente fácil, pra você, eu e todo mundo cantar junto”. A Fresno “só queria uma música, pra falar daquele tempo que ficou para nós dois”. A música está na origem do gênero lírico, pois o termo lírico vem de ‘lira’, instrumento musical. Leia, com atenção, o poema de Casimiro de Abreu: DEUS

Eu me lembro! eu me lembro! – Era pequeno E brincava na praia; o mar bramia E, erguendo o dorso altivo, sacudia A branca escuma para o céu sereno. E eu disse a minha mãe nesse momento: “Que dura orquestra! Que furor insano! Que pode haver maior que o oceano, Ou que seja mais forte que o vento?!” - Minha mãe a sorrir olhou p´ros céus E respondeu: - “Um Ser que nós não vemos É maior do que o mar que nós tememos, Mais forte que o tufão! meu filho, é -Deus”! – O poema, por pertencer ao gênero lírico, tem como característica essencial a musicalidade, que é conferida pelos seguintes elementos: a) aliteração e metáfora. b) assonância e onomatopeia. c) métrica e rima. d) métrica e metáfora. e) assonância e evocação. 02. (UFSM) Leia, com atenção, o poema de Vinícius de Moraes: TRECHO

Quem foi perguntou o Celo Que me desobedeceu? Quem foi que entrou no meu reino E em meu ouro remexeu? Quem foi que pulou meu muro E as minhas rosas colheu? Quem foi, perguntou o Celo E a flauta falou: fui eu. Mas quem foi, a Flauta disse Que no meu quarto surgiu? Quem foi que me deu um beijo E em minha cama dormiu? Quem foi que me fez perdida E que me desiludiu? Quem foi, perguntou a Flauta E o velho Celo sorriu. O poema, um diálogo entre dois instrumentos musicais, é composto por duas estrofes com versos isométricos a) em redondilha menor e somente rima rica. b) em redondilha maior e somente rima pobre. c) octossílabos e somente rima rica. d) em redondilha menor com rima rica e pobre. e) em redondilha maior com rima rica e pobre. 03. (UFSM) Além do aumento do piso salarial dos professores, há um plano de educação continuada, para que eles se reciclem e tomem conhecimento de novas teorias e metodologias. Um dos métodos de ensino muito usado por professores no século XIX, o uso da palmatória, pode ser identificado no seguinte fragmento: Tinha amarguras esse tempo; tinha os ralhos, os castigos, as lições árduas e longas, e ainda assim ... Ó palmatória, terror dos meus dias pueris, tu que foste compelle intrare com que um velho mestre, ossudo e calvo, me incutiu no cérebro o alfabeto, a prosódia, a sintaxe, e o mais que ele sabia, benta palmatória, tão praguejada dos modernos (...)

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Vejo-te ainda agora entrar na sala, com as tuas chinelas de couro branco, capote, lenço na mão, calva à mostra, barba rapada; vejo-te sentar, bufar, grunhir, absorver uma pitada inicial, e chamar-nos depois à lição. E fizeste isso durante vinte e três anos, calado, obscuro, pontual, metido numa casinha da Rua do Piolho, sem enfadar o mundo com a tua mediocridade, até que um dia deste o grande mergulho nas trevas, e ninguém te chorou, salvo um preto velho - ninguém, nem eu, que te devo os rudimentos da escrita. Chamava-se Ludgero o mestre; quero escrever-lhe o nome todo nesta página: Ludgero Barata, - um nome funesto, que servia aos menino de eterno mote e chufas. Um de nós, o Quincas Borba, esse então era tão cruel com o pobre homem. Duas, três vezes por semana, havia de lhe deixar na algibeira das calças - umas largas calças de enfiar - , ou na gaveta da mesa, ou ao pé do tinteiro, uma barata morta. Se ele a encontrava ainda nas horas de aula, dava um pulo, circulava os olhos chamejantes, dizia-nos os últimos nomes: éramos sevandijas, capadócios, malcriados, moleques. - Uns tremiam, outros rosnavam; o Quincas Borba, porém, deixava-se estar quieto, com os olhos espetados no ar. Pode-se constatar que, nesse excerto de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o narrador, a) em terceira pessoa, relata os fatos de maneira objetiva. b) em primeira pessoa, mostra que o professor Ludgero é tanto algoz quanto vítima. c) em primeira pessoa, afirma que só Quincas Borba debochava do professor Ludgero. d) em primeira pessoa, sente mais falta do professor Ludgero do que da palmatória. e) em terceira pessoa, descreve seu professor de português. 04. (UNIFRA) Leia, com atenção, o poema de Cassiano Ricardo: POÉTICA

Que é a Poesia? uma ilha cercada de palavras por todos os lados. Que é o Poeta? um homem que trabalha o poema com o suor do seu rosto. Um homem que tem fome como qualquer outro homem. A partir da leitura, é possível articular algumas reflexões sobre o que é literatura. Assinale V para verdadeiro ou F para falso e, depois, escolha a alternativa correta. ( ) A matéria-prima do texto literário é a palavra. ( ) A literatura é uma manifestação artística. ( ) O poeta é um criador que trabalha as palavras. ( ) A linguagem literária é, apenas, denotativa. a) V – V – V- V b) V – V – F – F c) V – F – V – F d) F – V – V – F e) V – V – V – F 05. (UFSM) Amiga Helena Sangirardi Conforme um dia eu prometi Onde, confesso que esqueci E embora - perdoe - tão tarde (Melhor do que nunca!) este poeta Segundo manda a boa ética Envia-lhe a receita (poética) De sua feijoada completa. Em atenção ao adiantado Da hora em que abrimos o olho O feijão deve, já catado Nos esperar, feliz, de molho. (...)

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Só na última cozedura Para levar à mesa, deixa-se Cair um pouco de gordura Da linguiça na iguaria - e mexa-se. Que prazer mais um corpo pede Após comido um tal feijão? - Evidentemente uma rede E um gato pra passar a mão ... Dever cumprido. Nunca é vã A palavra de um poeta ... – jamais! Abraça-a, em Brillat-Savarin O seu Vinícius de Moraes. (Feijoada à minha moda, de Vinícius de Moraes.)

De acordo com o poema I. "este poeta" (v. 5) é o eu-lírico; "Evidentemente uma rede / E um gato pra passar a mão" (v. 19 e 20) marcam a

emergência de outra voz, que não é a do eu-lírico. II. "receita (poética)" (v. 7) indica que receita não pode ser tema do gênero lírico; "Que prazer mais um corpo pede"

(v. 17) refere-se ao prazer do contato com os animais. III. "(Melhor do que nunca!)" (v. 5) completa a primeira estrofe; "tal feijão" (v. 18) é a feijoada completa cuja receita o

poeta envia à amiga Helena Sangirardi. Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas II e III. e) apenas III. 06. (UFSM) 1 Na arquiepiscopal cidade de Mariana, 2 Onde mais triste ainda é a triste vida humana, 3 A contemplar eu passo o dia inteiro, absorto, 4 Tudo que na minh’alma está de há muito morto. Sobre os versos, é correto afirmar: I. As rimas apresentam-se emparelhadas. II. O misticismo está presente, confirmando a estética parnasiana de Alphonsus de Guimaraens. III. A tendência à autocontemplação fica evidente nos versos 3 e 4. Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas II. e) apenas II e III. 07. (ufsm) MURILOGRAMA A CAMÕES Sim: lavrador da palavra = Teto e pão da nossa língua = Desde meninos mamamos Nos rudes peitos da Lírica = Livro central semovente Que parte do particular Até investir o alto cume De onde o Todo se contempla. Na tua página o movimento = Rotação do substantivo Sustentado pelo verbo. Provocas a transformação Da antiga cítara em órgão, Mudando-se o eco em grito. Levantam-se os versos = nervos Ligando a estrutura sólida.

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Em "Murilograma a Camões", Murilo Mendes lança mão de um símbolo matemático. Se fosse possível substituir adequadamente o "=" por palavras, seria escolhido, para o verso 9, com o verbo na terceira pessoa do singular: a) 'embora' + 'ser' no imperfeito do subjuntivo. b) 'se' + 'poder' no pretérito imperfeito do indicativo. c) 'ainda que' + 'poder' no presente do subjuntivo. d) 'que' + 'ser' no presente do indicativo. e) 'porque' + 'poder' no futuro do pretérito. 08. (UFSM) Leia o fragmento do poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade: Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse, a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse ... Mas você não morre, você é duro José! Nesse trecho do poema, I. a conjunção subordinativa condicional “se” repete-se sempre na mesma posição, anáfora, e tem seu efeito sonoro

intensificado pelo eco que ocorre no interior de outras palavras como voCÊ, gritaSSE, gemeSSE, tocaSSE, valSA, vienenSE, etc.

II. a conjunção coordenativa “Mas” opõe a realidade à série de alternativas hipotéticas, produzindo ruptura do sentido.

III. a desinência modo-temporal dos verbos no imperfeito do subjuntivo “-sse” marca a sílaba tônica dos versos em redondilha menor (cinco sílabas).

Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas II. c) apenas I e II. d) apenas I e III. e) apenas II e III. 09. (peies/UFSM) Com as ondas do mar, o pescador dialoga neste soneto de Camões: O céu, a terra, o vento sossegado; as ondas, que se estendem pela areia: os peixes, que no mar o sono enfreia: o noturno silêncio repousado ... o pescador Aônio, que, deitado onde co vento a água se meneia. chorando, o nome amado em vão nomeia, que não pode ser mais que nomeado. «Ondas», dizia, «antes que Amor me mate, tornai-me a minha Ninfa, que tão cedo me fizestes à morte estar sujeita.» Ninguém lhe fala. O mar, de longe, bate: move-se brandamente o arvoredo ... Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita. Sobre esse soneto, é correto afirmar que I. o 1º terceto é uma referência à amada morta nas águas. II. a voz da amada é levada pelo vento e ninguém fala ao pescador. III. o pescador Aônio não pode mais ter a amada de volta; portanto, o nome dela "não pode ser mais que nomeado". Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas II e III. e) apenas III. 10. (peies/UFSM) O soneto da questão anterior tem versos a) decassílabos e rimas intercaladas nos dois quartetos. b) decassílabos e rimas cruzadas nos dois quartetos. c) decassílabos e rimas emparelhadas nos dois quartetos. d) em redondilha maior e rimas cruzadas nos dois quartetos. e) em redondilha maior e rimas emparelhadas nos dois quartetos.

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11. (peies/UFSM) Assim anda o homem solitário na longa praia. Mas aqui a praia não é deserta. Atrás de nós estão os edifícios fechados, e a cidade que desperta penosamente. Parados entre a solidão do oceano e a solidão urbana, estamos entre o mundo puro e infinito de sempre e o mundo precário e quadriculado de todo dia. Este é o mundo que nos prende: estamos amarrados a ele pelos fios de mil telefones. E ainda somos abençoados, porque vivemos nesta cidade perante o amplo mar. Quando nós, homens, erguemos uma cidade, quantas vezes somos desatentos e pueris! Há cidades entre montanhas, e são tristes; mais tristes são aquelas em que vegetamos no mesquinho plano sem fé, limitados a norte, sul, leste, oeste pelo mesmo frio cimento que erguemos. Se todas as esquinas são em ângulo reto, que esperança pode haver de clemência e doçura? Apenas o céu nos dá a curva maternal de que temos sede. Mas o homem, por natureza, pouco olha o céu: é um animal prisioneiro da grosseira força da gravidade: ela puxa nossos olhos para o plano, para o chão. Plantai a vossa povoação junto a um rio, e estareis perdoados: tendes o fluir melancólico das águas para levar as vossas canoas nas monções do sonho. Mas deixemos o mar: entremos por esta rua. Estrondam bondes. A lenta maré humana começa a subir. Os açougues mostram a carne vermelha a uma luz cruel: as filas se mexem inquietas, sem avançar, velhas cobras de barriga vazia. Voltemos para casa. e sejamos humildes. O mundo é seco. Não mais sonhar em remover as povoações para a beira do mar oceano, nem abrir caminhos para a fuga da tristeza humana. Estamos outra vez quadriculados em nosso tédio municipal: a torneira não tem água. Ajoelhemos perante a torneira seca: e, embora sem lágrimas, choremos. É numa cidade “perante o amplo mar” (l. 5) que Rubem Braga, aqui nesse fragmento de “A praia”, estabelece: I. uma antítese entre "a solidão do oceano" (l. 2), "mundo puro" (l. 3), "infinito" (l. 3) e "a solidão urbana" (l. 2-3),

"mundo precário e quadriculado" (l. 3). II. em "A lenta maré humana começa a subir" (l. 13-14), uma referência a "a cidade que desperta penosamente" (l. 2). III. uma relação entre o mundo seco e o mundo das águas, onde só o rio merece uma bênção divina. Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas II. d) apenas II e III. e) apenas III. A Igreja sempre foi uma instituição importante no Brasil, desde o início de sua colonização, no século XVI. De um lado, Portugal e o homem europeu; de outro, o Brasil e o indígena. 12. (PEIES/UFSM) Em Portugal, no século XVI, Camões elaborava seus poemas líricos, em forma de soneto, como o que se apresenta a seguir. Alma minha gentil, que te partiste Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida, descontente, Repousa lá no Céu eternamente E viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente Que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te Aigua cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te. Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou. CAMÕES, Luís de. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguillar, 1963.

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ESPECIAL – PAPA BENTO XVI

Só mesmo uma instituição com um bilhão de seguidores e mais de dois mil anos de trajetória poderia, em pleno século XXI, deixar o mundo em suspense tentando decifrar um sinal de fumaça. Por longuíssimos dez minutos, a partir das 17h50 (horário local, 12h50 em Brasília) da terça-feira 19, a multidão apinhada na Praça São Pedro não conseguiu distinguir o branco do negro. Quando começou a sair da chaminé instalada na Capela Sistina pela terceira vez desde a abertura do conclave, a fumaça parecia escura. Chegou a confundir-se com o céu nublado de Roma. Depois, clareou um pouco e, em seguida, deu uma ligeira escurecida. Nesse momento, o repicar distante de sinos provocou uma espécie de euforia contida no rosto dos fiéis. Eram apenas as badaladas das seis da tarde. Mais alguns instantes e rolos brancos, seguidos pelo badalar vigoroso dos sinos da Basílica de São Pedro, confirmam que o 265º papa da história estava escolhido. “Habemus papam”, anunciou o cardeal chileni Roger Medina Esteves.

Revista IstoÉ, 27 de abril de 2005. p. 36.

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É correto afirmar que, no soneto, I. há uma condição para que a amada se lembre do amor: que a memória da vida terrena seja consentida. II. o amor é um sentimento contraditório, o que pode ser identificado pelo sentido de “ardente” (v.7) e “puro” (v.8) III. o eu-lírico pede a Deus que o leve logo para perto da amada, tão cedo quanto Deus a levou. Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas II. e) apenas II e III. Leia o fragmento a seguir, para responder às questões de números 13 e 14. Sendo a mente mortal, tornara ao nada, Ao apagar-se a luz no extremo dia, E antes de ser punida ou premiada, Uma alma justa ou ré perecia. Sempre em desejos nunca saciada, Mas sem castigo e sem fortuna pia, Sem chegar ao seu fim perder a essência... Como é crível que Deus tem providência? 13. (PEIES/UFSM) “Ao apagar-se a luz no extremo dia” é um(a) ______ que está sendo utilizado(a) no lugar de ________ como recurso de estilo adotado por Santa Rita Durão, em Caramuru. As palavras que completam as lacunas são, respectivamente, a) ironia – noite. b) antítese – tarde. c) eufemismo – morte. d) ironia – morte. e) eufemismo – noite. 14. (PEIES/UFSM) De acordo com o fragmento, a Divina providência, ao conceder prêmio ou castigo, a) mostra que a alma realmente é imortal. b) prova que a alma é mortal, pois “pereceria”. c) dá um sono tranquilo aos justos e insônia aos injustos. d) castiga os injustos à noite tirando-lhes a fortuna. e) não castiga os injustos, mas tira-lhes a fortuna. 15. (UNIFRA) Leia com atenção as afirmativas abaixo. I. A principal característica do gênero dramático é a ação cujo desenvolvimento fica a cargo diretamente das personagens, geralmente sem nenhuma instância narrativa intermediária. II. O narrador é um dos principais elementos da prosa ficcional e não pode ser confundido com o autor, do mesmo modo como o eu-lírico do texto poético distingue-se da pessoa do poeta. III. Durante o Trovadorismo, o gênero épico-narrativo foi o mais popular e original da Península Ibérica, influenciando as produções artísticas do Quinhentismo, primeiro período literário brasileiro. Está(ão) correta(s): a) apenas a I e II. b) apenas a II e III. c) apenas a I e III. d) apenas a III. e) I, II e III. 16. (PEIES/UFSM) O filme Tróia é a versão do diretor de cinema Wolfgang Petersen para a Ilíada, de Homero. Considerando-se que a Ilíada, originalmente, é uma epopeia (forma de narrativa), ela apresenta I. um mundo objetivo, onde as ações dos heróis são fundamentais. II. espaço, tempo e foco narrativo. III. ações contadas por um narrador, como em Caramuru. IV. ações contadas pelas próprias personagens, como em O Uraguai. Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I, II e III. c) apenas I e IV. d) apenas II, III e IV. e) apenas III e IV. 17. (UFSM) Numere a segunda coluna de acordo com a primeira. (1) Gênero Lírico (2) Gênero Épico (3) Gênero Dramático ( ) O narrador relata acontecimentos passados, situando-se como observador um tanto distanciados dos fatos que narra. ( ) Reúne textos em que predomina a expressão do “eu”, através de temas comuns como amor, saudade, solidão e morte. ( ) O teto não apresenta um narrador que conduz a história que é contada pela palavra das personagens. ( ) As formas narrativas apresentam-se em versos em: que se lê exaltação das personagens heróicas e dos sentimentos da coletividade. ( ) Forma de expressão de um sujeito em que se ressaltam a musicalidade e a expressão dos recursos da linguagem. A sequência correta é a) 1-2-3-2-3. b) 2-1-3-2-1. c) 1-3-2-3-1. d) 2-2-1-1-2. e) 3-1-2-1-3.

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18. (PEIES/UFSM) Um texto literário pode-se apresentar não só no gênero épico-narrativo mas também em outros gêneros, como o lírico. Nesse último caso, a) deve, obrigatoriamente, ter forma fixa. b) não valoriza o aspecto formal. c) traz o enredo como parte essencial. d) não tem, obrigatoriamente, narrador, mas eu-lírico. e) precisa possuir, necessariamente, rima. 19. (PEIES/UFSM) Os gregos eram politeístas, acreditavam em muitos deuses. Aquiles, herói guerreiro, semidivino, encarnava o poder dos deuses que, assim, interferiam diretamente nos assuntos humanos. O cristianismo, religião monoteísta, delega aos sacerdotes o poder de falar em nome de Deus. Os jesuítas consideravam-se “soldados da fé”, cujo combate era a catequese. José de Anchieta, apóstolo jesuíta, no seu trabalho de conversão dos indígenas brasileiros, escreveu I. apenas poesia didática com exemplos moralizantes. II. o poema “A Santa Inês”. III. peças de teatro, entre elas, o Auto da Barca do Inferno. IV. uma gramática da língua tupi, Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil. Está(ão) correta(s): a) apenas I e III. b) apenas I, II e III. c) apenas III. d) apenas IV. e) apenas II e IV. 20. (PEIES/UFSM) Se, no final do artigo da revista Veja Isabela Boscov afirma que ingleses, escoceses, irlandeses e australianos conhecem os textos clássicos desde a escola e treinaram-se no teatro, eles têm conhecimento de que o gênero dramático I. dá grande ênfase ao diálogo. II. precisa de um narrador a fim de apresentar literariedade. III. era, no período clássico, dividido em tragédia e comédia. IV. não apresenta enredo, ao contrário do gênero narrativo. Está(ao) correta(s) a) apenas II. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas III e IV. e) apenas IV. 21. (UNISC-2017) Leia atentamente o trecho de Conto de verão n° 2: Bandeira Branca, de Luis Fernando Veríssimo. Ele: tirolês. Ela: odalisca. Eram de culturas muito diferentes, não podia dar certo. Mas tínham s6 quatro anos e se entenderam. No mundo dos quatro anos todos se entendem, de um jeito ou de outro. Em vez de dançarem, pularem e entrarem no cordão, resistiram a todos os apelos desesperados das mães e ficaram sentados no chão, fazendo um montioho de confete, serpentina e poeira, até serem arrastados para casa, sob ameaças de jamais serem levados a outro baile de Carnaval. Encontraram-se de novo no baile infantil do clube, no ano seguinte. Ele com o mesmo tirolês, agora apertado nos fundilhos, ela de egipcia. Tentaram recomeçar o montinho, mas dessa vez as mães reagiram e os dois foram obrigados a dançar, pular e entrar no cordão, sob ameaça de levarem uns tapas. Passaram O tempo todo de mãos dadas. Só no terceiro Carnaval se falaram. - Como é teu nome? - Janice.E o teu?-Píndaro. - O quê?! - Píndaro. - Quenome! Ele de legionário romano, ela de índia americana.

(VERISSIMO. Luis Fernando. Histórias brasileiras de verão. Rio de Janeiro: Objetiva,l999.)

A partir da interpretação do trecho acima, assinale a alternativa incorreta. a) O conto apresenta um narrador em terceira pessoa. b) Embora não descreva o ambiente de forma detalhada, o narrador apresenta algumas informações que permitem ao leitor identificar o espaço onde se passa a estória narrada. c) O narrador deixa claro, desde o início, que há uma perfeita harmonia entre as duas personagens, uma vez que elas combinam em absolutamente todos os aspectos. d) A narrativa utiliza-se do discurso direto para apresentar os diálogos das personagens. e) O narrador indica claramente a passagem do tempo, que é apresentado em uma ordem cronológica direta. 22. (UNISC-2016/2) “Um dia Isabel cruzou a rua, e ao fazê-lo, transferia a cruz de seus passinhos para meu peito não maior, onde mal e mal caberia um desengano. Naquele dia ela estava sozinha na calçada, a catar pulgas do cachorro, e deu com os olhos na janela em que me debruçava para espiá-la. Atravessou de mansinho, sorrateira, cintilava o seu olhar oblíquo.” FARACO, Sérgio. “Verdes canas de agosto”. In: Doce paraíso. Porto Alegre: L&PM, 1987. A partir de uma leitura atenta do fragmento do conto, percebe-se a voz de a) um narrador em terceira pessoa que conta o momento em que Isabel percebe que alguém a espia da janela, como se vê em “deu com os olhos na janela em que me debruçava para espiá-la”. b) um narrador típico dos contos de fadas, que coloca o acontecimento da história em um tempo indeterminado através da expressão “Um dia”. c) um narrador em terceira pessoa situado em um passado recente, proposto em “Naquele dia”. d) um narrador em primeira pessoa que narra um acontecimento de que foi apenas observador, como se vê em “deu com os olhos na janela em que me debruçava para espiá-la”.

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e) um narrador em primeira pessoa que conta um acontecimento de que participou, como se vê em “transferia a cruz de seus passinhos para meu peito não maior”. INSTRUÇÃO: Para responder à questão 23, leia um trecho do poema “Um novo Jó”, de Manoel de Barros, e preencha os parênteses com V para verdadeiro e F para falso. Desfrutado entre bichos raízes, barro e água o homem habitava sobre um montão de pedras. (...) Convivência de murta e rãs... A boca de raiz e água escorria barro... Bom era sobre um pedregal frio e limoso dormir! Ao gume de uma adaga tudo dar. Bom era ser bicho que rasteja nas pedras; ser raiz de vegetal ser água. Bom era caminhar sem dono na tarde com pássaros em torno e os ventos nas vestes amarelas. Não ter nunca chegada nunca optar por nada Ir andando pequeno sob a chuva torto como um pé de maçãs (...) ( ) Ainda que valorize a simplicidade do meio rural, o poema manifesta a superioridade do homem frente à natureza. ( ) O poeta brinca com as palavras, dando-lhes novos sentidos e causando estranhezas no leitor. ( ) No poema, bichos, plantas e minerais convivem em harmonia e simbiose. ( ) O eu lírico destaca a necessidade de um destino, de um objetivo a ser traçado pelo homem. 23. (PUC-RS-2016/2) A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: a) V – F – V – V b) V – F – F – V c) V – V – V – F d) F – V – F – F e) F – V – V – F INSTRUÇÃO: Para responder à questão 24, tenha como base a tirinha As cobras, de Luis Fernando Verissimo.

24. (PUC-RS-2016/2) Com base na tirinha e no contexto de seu autor, assinale a única alternativa INCORRETA: a) Através do humor e com linguagem simples, marcas próprias das tirinhas, Verissimo traz para debate uma grande questão filosófica: quem somos e para onde vamos. b) A repetição de sentenças negativas reforça o caráter angustiante que a segunda cobra procura comprovar. c) Nesta obra curta, o autor também explora o silêncio. d) A primeira fala da primeira cobra, com o desenrolar da tirinha, revela-se irônica. e) Conhecido pela construção dos diálogos, alguns dos textos narrativos do autor prescindem do narrador, característica também presente na tirinha. 25. (PUC-RS-2017) Leia os excertos do conto Uma vela para Dario, de Dalton Trevisan, e analise as afirmativas sobre o texto. Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo. (...)

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Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca. Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado. (....) A última boca repetiu – Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto. Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos. Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva. Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair. I. O conto retrata a perversa fascinação diante da morte de um passante. II. Dario, ao longo do texto, é privado não só de seus bens materiais, como também de seu nome próprio, sendo referido, ao final, apenas como um morto. III. O personagem, embora enfrente o completo desamparo, recebe uma espécie de cumplicidade e apiedamento de um habitante urbano em situação de fragilidade social. A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e II, apenas. d) I e III, apenas. e) I, II e III. 26. (PUC-RS-2017) Leia o trecho da crônica A morte da Velhinha de Taubaté, de Luís Fernando Veríssimo, e analise as considerações que seguem, preenchendo os parênteses com V (verdadeiro) ou F (falso). “Morreu no último dia 19, aos 90 anos de idade, de causa ignorada, a paulista conhecida como “a Velhinha de Taubaté”, que se tornou uma celebridade nacional há alguns anos por ser a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo. (...) As circunstâncias da morte da Velhinha de Taubaté ainda não estão esclarecidas. Sua sobrinha Suzette, que tem uma agência de acompanhantes de congressistas em Brasília embora a Velhinha acreditasse que ela fazia trabalho social com religiosas, informou que a Velhinha já tivera um pequeno acidente vascular ao saber da compra de votos para a reeleição do Fernando Henrique Cardoso, em quem ela acreditava muito, mas ficara satisfeita com as explicações e se recuperara. Segundo Suzette, ela estava acompanhando as CPIs, comentara a sinceridade e o espírito público de todos os componentes das comissões, nenhum dos quais estava fazendo política, e de todos os depoentes, e acreditava que, como todos estavam dizendo a verdade, a crise acabaria logo, mas ultimamente começara a dar sinais de desânimo e, para grande surpresa da sobrinha, descrença. A Velhinha acreditara em Lula desde o começo e até rebatizara o seu gato, que agora se chamava Zé. Acreditava principalmente no Palocci. Ela morreu na frente da televisão, talvez com o choque de alguma notícia. Mas a polícia mandou os restos do chá que a Velhinha estava tomando com bolinhos de polvilho para exame de laboratório. Pode ter sido suicídio. ( ) A crônica constrói-se por meio da crítica bemhumorada do autor à corrupção generalizada da classe política. ( ) O autor explora, nesse texto, a linguagem típica da notícia de jornal para apresentar a realidade brasileira de forma caricaturesca. ( ) A profissão de Suzette na crônica é apresentada de modo direto, sem eufemismos. ( ) FHC, Lula e Palocci são personagens reais a partir dos quais a fé da Velhinha na política se consolida. ( ) Luís Fernando Veríssimo é um autor que, em seus textos, explora outros gêneros textuais, como a notícia, o conto, o diálogo, a poesia. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V – V – F – F – V b) V – F – V – F – F c) V – V – V – V – F d) F – V – F – V – V e) F – F – V – F – V GABARITO

1.C 2.E 3.B 4.E 5.C

6.C 7.D 8.C 9.C 10.A

11.B 12.B 13.C 14.A 15.A

16.B 17.B 18.D 19.E 20.C

21.C 22.E 23.E 24.D 25.D

26.A

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SÓ ENEM!!!

FOCO DE ESTUDO: GÊNEROS LITERÁRIOS COMPETÊNCIA: 5 HABILIDADE: 16

De acordo com o ENEM, saber ler com desenvoltura é ser capaz de interpretar textos pertencentes a diferentes gêneros que circulam no dia a dia. No campo literário existe uma concepção de tripartição que define em três grandes gêneros literários fundamentais: ÉPICO/NARRATIVO, LÍRICO, DRAMÁTICO. O primeiro tem uma dimensão narrativa. O segundo exprime as impressões de alguém sobre o mundo. O terceiro tem estrutura teatral.

01. (ENEM-2002) Érico Veríssimo relata, em suas memórias, um episódio da adolescência que teve influência significativa em sua carreira de escritor. “Lembro-me de que certa noite - eu teria uns quatorze anos, quando muito – encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam “carneado”. (...) Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? (...) Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto”.

VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I. Porto Alegre: Editora Globo, 1978.

Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Érico Veríssimo define como uma das funções do escritor e, por extensão, da literatura, a) criar a fantasia. b) permitir o sonho. c) denunciar o real. d) criar o belo. e) fugir da náusea. 02. (ENEM-2003) Do pedacinho de papel ao livro impresso vai uma longa distância. Mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma. A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o vinho. Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda. O período de maturação na gaveta é necessário, mas não deve se prolongar muito. ‘Textos guardados acabam cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que, com esta frase, deu testemunho das dúvidas que atormentam o escritor: publicar ou não publicar? guardar ou jogar fora?

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa imagens para refletir sobre uma etapa da criação literária. A ideia de que o processo de maturação do texto nem sempre é o que garante bons resultados está sugerida na seguinte frase: a) “A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa.” b) “Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda.” c) “O período de maturação na gaveta é necessário, (...).” d) “Mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma.” e) “ela (a gaveta) faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o vinho.” 03. (ENEM-2010) A biosfera, que reúne todos os ambientes onde se desenvolvem os seres vivos, se divide em unidades menores chamadas ecossistemas, que podem ser uma floresta, um deserto e até um lago. Um ecossistema tem múltiplos mecanismos que regulam o número de organismos dentro dele, controlando sua reprodução, crescimento e migrações.

DUARTE, M. O guia dos curiosos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Predomina no texto a função da linguagem a) emotiva, porque o autor expressa seu sentimento em relação à ecologia. b) fática, porque o texto testa o funcionamento do canal de comunicação. c) poética, porque o texto chama a atenção para os recursos de linguagem. d) conativa, porque o texto procura orientar comportamentos do leitor. e) referencial, porque o texto trata de noções e informações conceituais. 04. (ENEM-2011) TEXTO 1

Onde está a Honestidade Você tem palacete reluzente Tem joias e criados à vontade Sem ter nenhuma herança ou parente

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E o povo pergunta com maldade: Onde está a honestidade? Onde está a honestidade? O seu dinheiro nasce de repente E embora não se saiba se é verdade Você acha nas ruas diariamente Anéis, dinheiro e felicidade... Vassoura dos salões da sociedade Que varre o que encontrar em sua frente Promove festivais de caridade Em nome de qualquer defunto ausente...

ROSA, N. Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010.

TEXTO II

Um vulto da história da música popular brasileira, reconhecido nacionalmente, é Noel Rosa. Ele nasceu em 1910, no Rio de Janeiro; portanto, se estivesse vivo, estaria completando 100 anos. Mas faleceu aos 26 anos de idade, vítima de tuberculose, deixando um acervo de grande valor para o patrimônio cultural brasileiro. Muitas de suas letras representam a sociedade contemporânea, como se tivessem sido escritas no século XXI.

Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010.

Um texto pertencente ao patrimônio literário-cultural brasileiro é atualizável, na medida em que ele se refere a valores e situações de um povo. A atualidade da canção Onde está a honestidade?, de Noel Rosa, evidencia-se por meio a) da ironia, ao se referir ao enriquecimento de origem duvidosa de alguns. b) da crítica aos ricos que possuem joias, mas não têm herança. c) da maldade do povo a perguntar sobre a honestidade. d) do privilégio de alguns em clamar pela honestidade. e) da insistência em promover eventos beneficentes. 05. (ENEM-2011) PEQUENO CONCERTO QUE VIROU CANÇÃO

Não, não há por que mentir ou esconder A dor que foi maior do que é capaz meu coração Não, nem há por que seguir cantando só para explicar Não vai nunca entender de amor quem nunca soube amar Ah, eu vou voltar pra mim Seguir sozinho assim Até me consumir ou consumir toda essa dor Até sentir de novo o coração capaz de amor

VANDRÉ, G. Disponível em: http://www.letras.terra.com.br. Acesso em: 29 jun. 2011.

Na canção de Geraldo Vandré, tem-se a manifestação da função poética da linguagem, que é percebida na elaboração artística e criativa da mensagem, por meio de combinações sonoras e rítmicas. Pela análise do texto, entretanto, percebe-se, também, a presença marcante da função emotiva ou expressiva, por meio da qual o emissor a) imprime à canção as marcas de sua atitude pessoal, seus sentimentos. b) transmite informações objetivas sobre o tema de que trata a canção. c) busca persuadir o receptor da canção a adotar um certo comportamento. d) procura explicar a própria linguagem que utiliza para construir a canção. e) objetiva verificar ou fortalecer a eficiência da mensagem veiculada. 06. (ENEM-2011) GUARDAR

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro Do que um pássaro sem voos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:

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Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance do poema: Por guardar-se o que se quer guardar.

MACHADO, G. In: MORICONI, I (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

A memória é um importante recurso do patrimônio cultural de uma nação. Ela está presente nas lembranças do passado e no acervo cultural de um povo. Ao tratar o fazer poético como uma das maneiras de se guardar o que se quer, o texto a) ressalta a importância dos estudos históricos para a construção da memória social de um povo. b) valoriza as lembranças individuais em detrimento das narrativas populares ou coletivas. c) reforça a capacidade da literatura em promover a subjetividade e os valores humanos. d) destaca a importância de reservar o texto literário àqueles que possuem maior repertório cultural. e) revela a superioridade da escrita poética como forma ideal de preservação da memória cultural. 07. (ENEM-2012) LABAREDAS NAS TREVAS FRAGMENTOS DO DIARIO SECRETO DE TEODOR KONRAD NALECZ KORZENIOWSKI

20 DE JULHO [1912]

Peter Sumerville pede-me que escreva um artigo sobre Crane. Envio-lhe uma carta: “Acredite-me, prezado senhor, nenhum jornal ou revista se interessaria por qualquer coisa que eu, ou outra pessoa, escrevesse sobre Stephen Crane. Ririam da sugestão. […] Dificilmente encontro alguém, agora, que saiba que e Stephen Crane ou lembre-se de algo dele. Para os jovens escritores que estão surgindo ele simplesmente não existe.” 20 DE DEZEMBRO [1919]

Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal. Sou reconhecido como o maior escritor vivo da língua inglesa. Já se passaram dezenove anos desde que Crane morreu, mas eu não o esqueço. E parece que outros também não. The London Mercury resolveu celebrar os vinte e cinco anos de publicação de um livro que, segundo eles, foi “um fenômeno hoje esquecido” e me pediram um artigo.

FONSECA, R. Romance negro e outras histórias. São Paulo: Companhia das Letras, 1992 (fragmento).

Na construção de textos literários, os autores recorrem com frequência a expressões metafóricas. Ao empregar o enunciado metafórico “Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal”, pretendeu-se estabelecer, entre os dois fragmentos do texto em questão, uma relação semântica de a) causalidade, segundo a qual se relacionam as partes de um texto, em que uma contém a causa e a outra, a consequência b) temporalidade, segundo a qual se articulam as partes de um texto, situando no tempo o que e relatado nas partes em questão. c) condicionalidade, segundo a qual se combinam duas partes de um texto, em que uma resulta ou depende de circustâncias apresentadas na outra. d) adversidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta uma orientação argumentativa distinta e oposta a outra. e) finalidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta o meio, por exemplo, para uma ação e a outra, o desfecho da mesma. 08. (ENEM-2013) A DIVA

Vamos ao teatro, Maria José? Quem me dera, desmanchei em rosca quinze kilos de farinha, tou podre. Outro dia a gente vamos. Falou meio triste, culpada, e um pouco alegre por recusar com orgulho. TEATRO! Disse no espelho. TEATRO! Mais alto, desgrenhada. TEATRO! E os cacos voaram sem nenhum aplauso. Perfeita.

PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.

Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas, reconhecidas pelo leitor com base em suas características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é produzido. Assim, o texto A diva a) narra um fato real vivido por Maria José. b) surpreende o leitor pelo seu efeito poético. c) relata uma experiência teatral profissional. d) descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora. e) defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral.

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09. (ENEM-2013) Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou. [...] Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes. Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual — há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo — como a morte parece dizer sobre a vida — porque preciso registrar os fatos antecedentes.

LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).

A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador a) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens. b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem. c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso. d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas. e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção. 10. (ENEM-2013) O objetivo que motivam os seres humanos a estabelecer comunicação determinam, em uma situação de interlocução, o predomínio de uma ou de outra função de linguagem. Nesse texto, predomina a função que se caracteriza por a) tentar persuadir o leitor acerca da necessidade de se tomarem certas medidas para a elaboração de um livro. b) enfatizar a percepção subjetiva do autor, que projeta para sua obra seus sonhos e histórias. c) apontar para o estabelecimento de interlocução de modo superficial e automático, entre o leitor e o livro. d) fazer um exercício de reflexão a respeito dos princípios que estruturam a forma e o conteúdo de um livro. e) retratar etapas do processo de produção de um livro, as quais antecedem o contato entre leitor e obra. 11. (ENEM-2013) LUSOFONIA

rapariga: s.f., fem. de rapaz: mulher nova; moça; menina; (Brasil), meretriz. Escrevo um poema sobre a rapariga que está sentada no café, em frente da chávena de café, enquanto alisa os cabelos com a mão. Mas não posso escrever este poema sobre essa rapariga porque, no brasil, a palavra rapariga não quer dizer o que ela diz em portugal. Então, terei de escrever a mulher nova do café, a jovem do café, a menina do café, para que a reputação da pobre rapariga que alisa os cabelos com a mão, num café de lisboa, não fique estragada para sempre quando este poema atravessar o atlântico para desembarcar no rio de janeiro. E isto tudo sem pensar em áfrica, porque aí lá terei de escrever sobre a moça do café, para evitar o tom demasiado continental da rapariga, que é uma palavra que já me está a pôr com dores de cabeça até porque, no fundo, a única coisa que eu queria era escrever um poema sobre a rapariga do café. A solução, então, é mudar de café, e limitar-me a escrever um poema sobre aquele café onde nenhuma rapariga se pode sentar à mesa porque só servem café ao balcão.

JÚDICE, N. Matéria de Poema. Lisboa: D. Quixote, 2008

O texto traz em relevo as funções metalinguística e poética. Seu caráter metalinguístico justifica-se pela a) discussão da dificuldade de se fazer arte inovadora no mundo contemporâneo. b) defesa do movimento artístico da pós-modernidade, típico do século XX. c) abordagem de temas do cotidiano, em que a arte se volta para assuntos rotineiros. d) tematização do fazer artístico, pela discussão do ato de construção da própria obra. e) valorização do efeito de estranhamento causado no público, o que faz a obra ser reconhecida.

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12. (ENEM-2014) A História, mais ou menos

Negócio seguinte. Três reis magrinhos ouviram um plá de que tinha nascido um Guri. Viram o cometa no Oriente e tal e se flagraram que o guri tinha pintado por lá. Os profetas, que não eram de dar cascata, já tinham dicado o troço: em Belém, da Judeia, vai nascer o Salvador, e tá falado. Os três magrinhos se mandaram. Mas deram o maior fora. Em vez de irem direto para Belém, como mandava o catálogo, resolveram dar uma incerta no velho Herodes, em Jerusalém. Pra quê! Chegaram lá de boca aberta e entregaram toda a trama. Perguntaram: Onde está o rei que acaba de nascer? Vimos sua estrela no Oriente dizer e viemos adorá-lo. Quer dizer, pegou mal. Muito mal. O velho Herodes, que era um oligão, ficou grilado. Que rei era aquele? Ele que era o dono da praça. Mas comeu em boca e disse: Joia. Onde é que esse guri vai se apresentar? Em que canal? Quem é o empresário? Tem baixo elétrico? Quero saber tudo. Os magrinhos disseram que iam flagrar o Guri e na volta dicavam tudo para o coroa.

VERISSIMO, L. F. O nariz e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1994.

Na crônica de Verissimo, a estratégia para gerar o efeito de humor decorre do(a) a) linguagem rebuscada utilizada pelo narrador no tratamento do assunto. b) inserção de perguntas diretas acerca do acontecimento narrado. c) caracterização dos lugares onde se passa a história. d) emprego de termos bíblicos de forma descontextualizada. e) contraste entre o tema abordado e a linguagem utilizada. 13. (ENEM-2014) FABIANA, arrepelando-se de raiva — Hum! Ora, eis aí está para que se casou meu filho, e trouxe a mulher para minha casa. É isto constantemente. Não sabe o senhor meu filho que quem casa quer casar... Já não posso, não posso, não posso! (Batendo com o pé). Um dia arrebento, e então veremos!

PENA, M. Quem casa quer casa. www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 dez. 2012.

As rubricas em itálico, como as trazidas no trecho de Martins Pena, em uma atuação teatral, constituem a) necessidade, porque as encenações precisam ser fieis às diretrizes do autor. b) possibilidade, porque o texto pode ser mudado, assim como outros elementos. c) preciosismo, porque são irrelevantes para o texto ou para a encenação. d) exigência, porque elas determinam as características do texto teatral. e) imposição, porque elas anulam a autonomia do diretor. 14. (ENEM-2014) O NEGÓCIO

Grande sorriso do canino de ouro, o velho Abílio propõe às donas que se abastecem de pão e banana: — Como é o negócio? De cada três dá certo com uma. Ela sorri, não responde ou é uma promessa a recusa: — Deus me livre, não! Hoje não... Abílio interpelou a velha: — Como é o negócio? Ela concordou e, o que foi melhor, a filha também aceitou o trato. Com a dona Julietinha foi assim. Ele se chegou: — Como é o negócio? Ela sorriu, olhinho baixo. Abílio espreitou o cometa partir. Manhã cedinho saltou a cerca. Sinal combinado, duas

batidas na porta da cozinha. A dona saiu para o quintal, cuidadosa de não acordar os filhos. Ela trazia a capa de viagem, estendida na grama orvalhada.

O vizinho espionou os dois, aprendeu o sinal. Decidiu imitar a proeza. No crepúsculo, pum-pum, duas pancadas fortes na porta. O marido em viagem, mas não era dia do Abílio. Desconfiada, a moça surgiu à janela e o vizinho repetiu:

— Como é o negócio? Diante da recusa, ele ameaçou: — Então você quer o velho e não quer o moço? Olhe que eu conto!

TREVISAN, D. Mistérios de Curitiba. Rio de Janeiro: Record, 1979 (fragmento).

Quanto à abordagem do tema e aos recursos expressivos, essa crônica tem um caráter a) filosófico, pois reflete sobre as mazelas sofridas pelos vizinhos. b) lírico, pois relata com nostalgia o relacionamento da vizinhança. c) irônico, pois apresenta com malícia a convivência entre vizinhos. d) crítico, pois deprecia o que acontece nas relações de vizinhança. e) didático, pois expõe uma conduta a ser evitada na relação entre vizinhos. 15. (ENEM-2014) O EXERCÍCIO DA CRÔNICA

Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista: não a prosa de um ficcionista na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de sua máquina, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado.

MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia. das Letras, 1991.

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Predomina nesse texto a função da linguagem que se constitui a) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista. b) nos elementos que servem de inspiração ao cronista. c) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica. d) no papel da vida do cronista no processo de escrita da crônica. e) nas dificuldades de se descrever uma crônica por meio de uma crônica. 16. (ENEM-2014) Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguíam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras, inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.

Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memórias Póstumas de Brás Cubas, condensa uma expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a precepção irônica ao a) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da herança paterna. b) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade com que Cotrim prendia e torturava os escravos. c) considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha Sara. d) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades. e) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo. 17. (ENEM-2015) 14 COISAS QUE VOCÊ NÃO DEVE JOGAR NA PRIVADA

Nem no ralo. Elas poluem rios, lagos e mares, o que contamina o ambiente e os animais. Também deixa mais difícil obter a água que nós mesmos usaremos. Alguns produtos podem causar entupimentos:

Cotonete e fio dental

medicamento e preservativo;

óleo de cozinha;

ponta de cigarro;

poeira de varrição de casa;

fio de cabelo e pelo de animais;

tinta que não seja à base de água;

querosene, gasolina, solvente, tíner. Jogue esses produtos no lixo comum. Alguns deles, como óleo de cozinha, medicamento e tinta, podem ser levados a pontos de coleta especiais, que darão a destinação final adequada.

MORGADO, M.; EMASA. Manual de etiqueta. Planeta Sustentável, jul.-ago. 2013 (adaptado).

O texto tem objetivo educativo. Nesse sentido, além do foco no interlocutor, que caracteriza a função conativa da linguagem, predomina também nele a função referencial, que busca a) despertar no leitor sentimentos de amor pela natureza, induzindo-o a ter atitudes responsáveis que beneficiarão a sustentabilidade do planeta. b) informar o leitor sobre as consequências da destinação inadequada do lixo, orientando-o sobre como fazer o correto descarte de alguns dejetos. c) transmitir uma mensagem de caráter subjetivo, mostrando exemplos de atitudes sustentáveis do autor do texto em relação ao planeta. d) estabelecer uma comunicação com o leitor, procurando certificar-se de que a mensagem sobre ações de sustentabilidade está sendo compreendida. e) explorar o uso da linguagem, conceituando detalhadamente os termos utilizados de forma a proporcionar melhor compreensão do texto. 18. (ENEM-2015) João Antônio de Barros (Jota Barros) nasceu aos 24 de junho de 1935, em Glória de Goitá (PE). Marceneiro, entalhador, xilógrafo, poeta repentista e escritor de literatura de cordel, já publicou 33 folhetos e ainda tem vários inéditos. Reside em São Paulo desde 1973, vivendo exclusivamente da venda de livretos de cordel e das cantigas de improviso, ao som da viola. Grande divulgador da poesia popular nordestina no Sul, tem dado frequentemente entrevistas à imprensa paulista sobre o assunto.

EVARISTO, M. C. O cordel em sala de aula. In: BRANDÃO, H. N. (Coord.). Gêneros do discurso na escola: mito, conto, cordel, discurso político, divulgação científica. SP: Cortez, 2000.

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A biografia é um gênero textual que descreve a trajetória de determinado indivíduo, evidenciando sua singularidade. No caso específico de uma biografia como a de João Antônio de Barros, um dos principais elementos que a constitui é a) a estilização dos eventos reais de sua vida, para que o relato biográfico surta os efeitos desejados. b) o relato de eventos de sua vida em perspectiva histórica, que valorize seu percurso artístico. c) a narração de eventos de sua vida que demonstrem a qualidade de sua obra. d) uma retórica que enfatize alguns eventos da vida exemplar da pessoa biografada. e) uma exposição de eventos de sua vida que mescle objetividade e construção ficcional. 19. (ENEM-2015) À GARRAFA

Contigo adquiro a astúcia de conter e de conter-me. Teu estreito gargalo é uma lição de angústia. Por translúcida pões o dentro fora e o fora dentro para que a forma se cumpra e o espaço ressoe. Até que, farta da constante prisão da forma, saltes da mão para o chão e te estilhaces, suicida, numa explosão de diamantes.

PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.

A reflexão acerca ao fazer poético é um dos mais marcantes atributos da produção literária contemporânea, que, no poema de José Paulo Paes, se expressa por um(a) a) reconhecimento, pelo eu lírico, de suas limitações no processo criativo, manifesto na expressão “Por translúcida pões.” b) subserviência aos princípios do rigor formal e dos cuidados com a precisão metafórica, como se observa em “prisão da forma”. c) visão progressivamente pessimista, em face da impossibilidade da criação poética, conforme expressa o verso “e te estilhaces, suicida”. d) processo de contenção, amadurecimento e transformação da palavra, representado pelos versos “numa explosão / de diamantes”. e) necessidade premente de libertação da prisão representada pela poesia, simbolicamente comparada à “garrafa” a ser “estilhaçada”. 20. (ENEM-2016/1ª Aplicação) Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que o seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo uma outra não prevista.

LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.

Nesse texto, a autora apresenta reflexões sobre o processo de produção de sentidos, valendo-se da metalinguagem. Essa função da linguagem torna-se evidente pelo fato de o texto a) ressaltar a importância da intertextualidade. b) propor leituras diferentes das previsíveis. c) apresentar o ponto de vista da autora. d) discorrer sobre o ato de leitura. e) focar a participação do leitor. 21. (ENEM-2016/1ª Aplicação) Primeira lição

Os gêneros de poesia são: lírico, satírico, didático, épico, ligeiro. O gênero lírico compreende o lirismo. Lirismo é a tradução de um sentimento subjetivo, sincero e pessoal. É a linguagem do coração, do amor. O lirismo é assim denominado porque em outros tempos os versos sentimentais eram declamados ao som da lira. O lirismo pode ser: a) Elegíaco, quando trata de assuntos tristes, quase sempre a morte. b) Bucólico, quando versa sobre assuntos campestres. c) Erótico, quando versa sobre o amor.

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O lirismo elegíaco compreende a elegia, a nênia, a endecha, o epitáfio e o epicédio. Elegia é uma poesia que trata de assuntos tristes. Nênia é uma poesia em homenagem a uma pessoa morta. Era declamada junto à fogueira onde o cadáver era incinerado. Endecha é uma poesia que revela as dores do coração. Epitáfio é um pequeno verso gravado em pedras tumulares. Epicédio é uma poesia onde o poeta relata a vida de uma pessoa morta.

CESAR, A. C. Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

No poema de Ana Cristina Cesar, a relação entre as definições apresentadas e o processo de construção do texto indica que o(a) a) caráter descritivo dos versos assinala uma concepção irônica de lirismo. b) tom explicativo e contido constitui uma forma peculiar de expressão poética. c) seleção e o recorte do tema revelam uma visão pessimista da criação artística. d) enumeração de distintas manifestações líricas produz um efeito de impessoalidade. e) referência a gêneros poéticos clássicos expressa a adesão do eu lírico às tradições literárias. 22. (ENEM-2016/1ª Aplicação) Lições de motim

DONA COTINHA – É claro! Só gosta de solidão quem nasceu pra ser solitário. Só o solitário gosta de solidão. Quem vive só e não gosta da solidão não é um solitário, é só um desacompanhado. (A reflexão escorrega lá pro fundo da alma.) Solidão é vocação, besta de quem pensa que é sina. Por isso, tem de ser valorizada. E não é qualquer um que pode ser solitário, não. Ah, mas não é mesmo! É preciso ter competência pra isso. (De súbito, pedagógica, volta-se para o homem.) É como poesia, sabe, moço? Tem de ser recitada em voz alta, que é pra gente sentir o gosto. (FAZ UMA PAUSA.) Você gosta de poesia? (O HOMEM TORNA A SE DEBATER. A VELHA INTERROMPE O DISCURSO E VOLTA A LHE DAR AS COSTAS, COMO SEMPRE, IMPASSÍVEL. O HOMEM, MAIS UMA VEZ, CANSADO, DESISTE.) Bem, como eu ia dizendo, pra viver bem com a solidão temos de ser proprietários dela e não inquilinos, me entende? Quem é inquilino da solidão não passa de um abandonado. É isso aí.

ZORZETTI, H. Lições de motim. Goiânia: Kelps, 2010 (adaptado).

Nesse trecho, o que caracteriza Lições de motim como texto teatral? a) O tom melancólico presente na cena. b) As perguntas retóricas da personagem. c) A interferência do narrador no desfecho da cena. d) O uso de rubricas para construir a ação dramática. e) As analogias sobre a solidão feitas pela personagem. 23. (ENEM-2016/1ª Aplicação) Querido diário

Hoje topei com alguns conhecidos meus Me dão bom-dia, cheios de carinho Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus Eles têm pena de eu viver sozinho [...] Hoje o inimigo veio me espreitar Armou tocaia lá na curva do rio Trouxe um porrete a mó de me quebrar Mas eu não quebro porque sou macio, viu

HOLANDA, C. B. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2013 (fragmento).

Uma característica do gênero diário que aparece na letra da canção de Chico Buarque é o(a) a) diálogo com interlocutores próximos. b) recorrência de verbos no infinitivo. c) predominância de tom poético. d) uso de rimas na composição. e) narrativa autorreflexiva. 24. (ENEM-2016/1ª Aplicação) A principal razão pela qual se infere que o espetáculo retratado na fotografia é uma manifestação do teatro de rua é o fato de a) dispensar o edifício teatral para a sua realização. b) utilizar figurinos com adereços cômicos. c) empregar elementos circenses na atuação. d) excluir o uso de cenário na ambientação. e) negar o uso de iluminação artificial.

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25. (ENEM-2016/1ª Aplicação) Sem acessórios nem som

Escrever só para me livrar de escrever. Escrever sem ver, com riscos sentindo falta dos acompanhamentos com as mesmas lesmas e figuras sem força de expressão Mas tudo desafina: o pensamento pesa tanto quanto o corpo enquanto corto os conectivos corto as palavras rentes com tesoura de jardim cega e bruta com facão de mato. Mas a marca deste corte Tem que ficar nas palavras que sobraram. Qualquer coisa do que desapareceu continuou nas margens, nos talos no atalho aberto a talhe de foice no caminho de rato. FREITAS FILHO, A. Máquina de escrever: poesia reunida e revista. Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, 2003.

Nesse texto, a reflexão sobre o processo criativo aponta para uma concepção de atividade poética que põe em evidência o(a) a) angustiante necessidade de produção, presente em “Escrever só para me livrar/ de escrever”. b) imprevisível percurso da composição, presente em “no atalho aberto a talhe de foice / no caminho de rato”. c) agressivo trabalho de supressão, presente em “corto as palavras rentes/ com tesoura de jardim/ cega e bruta”. d) inevitável frustração diante do poema, presente em “Mas tudo desafina:/ o pensamento pesa/ tanto quanto ao corpo”. e) conflituosa relação com a inspiração, presente em “sentindo falta dos acompanhamentos/ e figuras sem força de expressão”. 26. (ENEM-2016/2ª Aplicação) Esaú e Jacó

Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu lhe quisesse pôr alguma, e não me ocorresse outra. Não é somente um meio de completar as pessoas da narração com as ideias que deixarem, mas ainda um par de lunetas para que o leitor do livro penetre o que for menos claro ou totalmente escuro. Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha história colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei de solidariedade, espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e os seus trebelhos. Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a dama, o bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa fazer de torre, nem a torre de peão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não tira o poder da marcha de cada peça, é afinal umas e outras podem ganhar a partida, e assim vai o mundo.

ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1964 (fragmento).

O fragmento do romance Esaú e Jacó mostra como o narrador concebe a leitura de um texto literário. Com base nesse trecho, tal leitura deve levar em conta a) o leitor como peça fundamental na construção dos sentidos. b) a luneta como objeto que permite ler melhor. c) o autor como único criador de significados. d) o caráter de entretenimento da literatura. e) a solidariedade de outros autores. 27. (ENEM-2016/2ª Aplicação) Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.

No poema de Manuel Bandeira, há uma ressignificação de elementos da função referencial da linguagem pela a) atribuição de título ao texto com base em uma notícia veiculada em jornal.

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b) utilização de frases curtas, características de textos do gênero jornalístico. c) indicação de nomes de lugares como garantia da veracidade da cena narrada. d) enumeração de ações, com foco nos eventos acontecidos à personagem do texto. e) apresentação de elementos próprios da notícia, tais como quem, onde, quando e o quê. 28. (ENEM-2016/2ª Aplicação) Brinquedos Cantados

Os brinquedos cantados são atividades diretamente relacionadas com o ato de cantar e ao conjunto dessas canções, a que chamamos de cancioneiro folclórico infantil. É difícil determinar sua origem. Parece que essas canções sempre existiram, sempre encantaram o povo e embalaram as criancinhas. A maioria parece ter chegado com os colonizadores portugueses, sofrendo influência ameríndia e africana, devido à colonização e posteriormente ao tráfico de escravos para o Brasil. Analisando as letras de alguns brinquedos cantados, podemos observar que elas desenvolvem várias habilidades motoras, como: motricidade ampla, ritmo, equilíbrio, direcionalidade, lateralidade, percepção espaço-temporal, tônus muscular, entre outras. E no cognitivo, as letras e coreografias ajudam a criança a desenvolver a atenção, a imaginação e a criatividade.

ZOBOLI, F.; FURTUOSO, M. S.; TELLES, C. O brinquedo cantado na escola: uma ferramenta no processo de aprendizagem. Disponível em: www.efdeportes.com. Acesso em: 14 dez. 2012 (adaptado).

O brinquedo cantado é um importante componente da cultura corporal brasileira, sendo vivenciado com frequência por muitas crianças. Identifica-se o seu valor para a tradição cultural no(a) a) ampliação dada à força motora das crianças devido ao uso da música e das danças. b) condição educativa fundamentada no uso de jogos sem regras previamente estabelecidas. c) histórico indeterminado dessa forma de brincadeira representativa do cancioneiro folclórico. d) uso de técnicas, facilmente adotadas por qualquer criança, que intensificam a motricidade esportiva. e) possibilidade de contribuição para o desenvolvimento integral do indivíduo. GABARITO

1.C 2.B 3.E 4.A 5.A

6.C 7.B 8.B 9.C 10.D

11.D 12.E 13.B 14.C 15.E

16.B 17.B 18.B 19.D 20.D

21.B 22.D 23.E 24.A 25.C

26.A 27.E 28. E

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Quinhentismo (1500-1601)

A Primeira Missa no Brasil, uma das principais obras de Victor Meireles, pintado em 1860.

O expansionismo mercantilista abriu novas rotas marítimas e ocasionou a descoberta de novas terras que passaram a ser exploradas e colonizadas por seus conquistadores. Foram viajantes e missioná-rios, desembarcados aqui, no século XVI, que escreveram os primeiros textos sobre o Brasil. Esses textos, predominantemente descritivos, catalogam elementos da fauna e da flora, retratam os índios e anotam seus costumes, de forma que se pode observar, nesses escritos, a visão eurocêntrica e católica da maioria de seus autores, revelando o interesse pelas riquezas da terra conquistada e a preocupação em expandir o cristianismo.

Composta, basicamente, por cartas, tratados e diários, a literatura produzida pelos viajantes não apresenta valor artístico, mas ganha importância histórica e documental quando registra os primeiros contatos entre colonizadores e colonizados. Já a Literatura Jesuítica, conjunto de textos (cartas, poemas e teatro) utilizados na conversão do gentio e que anotam experiências com a catequização, são mais valiosos literariamente.

A literatura da época, no entanto, foi fundamental para movimentos posteriores como o Romantismo e o Modernismo, conhecidos por suas intenções nacionalistas. Conheçamos, agora, trechos representativos da carta de Pero Vaz de Caminha que ilustram as características da Literatura Quinhentista.

1. LINGUAGEM SIMPLES E OBJETIVA

“Senhor: posto que o Capitão-Mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escreveram a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação agora se achou, não deixarei também de dar minha conta disso a Vossa Alteza, o melhor que eu puder, ainda que – para o bem contar e falar -, saiba pior que todos fazer. Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por certo que, para nem alindar nem afear, não porei aqui mais do aquilo que vi e me pareceu.”

2. DESCRITIVISMO

A) ÍNDIO

“Ali, alguns andavam daquelas tinturas quartejados; outros de metades; outros de tanta feição, como em panos de armar, e todos com os beiços furados, e muitos com os ossos neles, e outros sem ossos.

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Alguns traziam uns ouriços verdes, de árvores, que, na cor, queriam parecer de castanheiros, embora mais pequenos. E eram cheios duns grãos vermelhos pequenos, que, esmagados entre os dedos, faziam tintura muito vermelha, de que eles andavam tintos. E quanto mais se molhavam, tanto mais vermelhos ficavam.

Todos andam rapados até acima das orelhas; e assim as sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta, da

largura de dois dedos.”

B) TERRA

“Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos visto, será tamanha que haverá nela em vinte ou vinte cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos.”

3. VISÃO CATÓLICA

“Entre todos estes que hoje vieram, não veio mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa e a quem deram um pano com que se cobrisse. Puseram-lho a redor de si. Porém, ao assentar, não fazia grande memória de o estender bem, para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal, que a de Adão não seria maior, quanto a vergonha. Ora veja Vossa Alteza se quem em tal inocência vive se converterá ou não, ensinando-lhes o que pertence à sua salvação.”

PADRE JOSÉ DE ANCHIETA O APÓSTOLO DO BRASIL (1534-1597)

O irmão José de Anchieta chegou ao Brasil com a esquadra de Duarte da Costa em 1553. Com apenas dezenove anos se tornou uma das figuras mais atuantes destas terras, participando da fundação de colégios que acabariam se tornando núcleos habitacionais. São Paulo, por exemplo, nasceu em 1554, no campo de Piratininga, onde Anchieta viveu até 1562, ajudando na instrução de seus companheiros e nas atividades relacionadas à catequese. Outra de suas contribuições, foi o estudo que fez da língua tupy, elaborando, em 1555, uma gramática que só seria publicada em 1595 com o título de “Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil”. Também foi Anchieta que compôs o “Diálogo da Fé”, conjunto de textos e orações retiradas da Bíblia, traduzidos para o tupy, espécie de catecismo para os missionários usarem com os indígenas. O Pai Nosso, por exemplo, ficou assim:

“Oré rub ybakype tekoar I moetépyramo nde rera toikó T’our nde Reino T’onhemonhang nde remimotara ybype Ybackype i nhemonhag îabé Oré remi‘u ara îabiõnduara Eime ’eng kori orebe Nde nhyrõ orebe ore angaipaba resé Oré rerekómemuãsara supé ore nhyrô îabé Oré móar-ukar ume îepé tentação pupé Oré pysyrõte îepé mba’ea’íba suí Pai nosso, no céu o estador, Como o que será honrado teu nome esteja. Venha teu reino, Faça-se tua vontade na terra, Assim como o fazer-te dela no céu. Nossa comida, a que é de cada dia Dá hoje para nós Perdoa tu as nossas maldades, Amém.

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Anchieta foi ordenado padre em 1566. De 1567 a 1587 foi designado para ser o chefe dos jesuítas no Brasil, o que o levou a viajar por toda a costa, fundando aldeias e resolvendo seus problemas. Em 1588, por razões de saúde, deixa o cargo e se fixa no Espírito Santo até o ano de sua morte em 1597. Esses últimos anos foram os mais férteis da sua produção literária.

Os autos, peças teatrais de origem medieval, produzidos com o propósito catético, assim como sua poesia que, geralmente, era musicada e cantada, procuravam adaptar a mensagem cristã à cultura indígena, criando uma simbologia híbrida. Desse modo, os índios passaram a identificar a terra sem males com o paraíso, Deus com o trovão. Tanto em sua lírica como em seu teatro, Anchieta ataca os costumes indígenas (antropofagia, curandeirismo, etc.) representando quase sempre, alegoricamente, o confronto do bem com o mal. Observe o trecho da fala do diabo no fragmento do auto “Na aldeia de Guaraparim”:

Moraseîa é i katu îeguaka, îemopirangua Samongy, tetymanguanga, îemoúna, petymbu, Karaí monhamonhaga... îemoyrõ, morapiti, îo’u, tapuia rara, aguasá, moropotara, manhana, syguaraîy: naipotari aba seîara.

A dança é que é boa, adornar-se, tingir-se de vermelho, untar as penas, tingir-se de urucum as penas, tingir-se de preto, fumar, ficar fazendo feitiçaria, enfurecer-se, matar gente, comer um ao outro, apanhar tapuias, mancebia, desejo sensual, espiar, prostituir-se. Não quero que o homem deixe (tais coisas).

Os textos são escritos em tupy, português, espanhol, latim e, às vezes, uma mistura de todas essas

línguas. Nas obras com finalidade catética, Anchieta valorizou a simplici-dade, o tom popular e o verso redondilho do cancioneiro ibérico medieval.

– Que fazeis menino Deus, Nestas palhas encostado? - Jazo aqui por teu pecado.

– Ó menino mui formoso, pois que sois suma riqueza, como estais em tal pobreza?

– Por fazer-te glorioso e de graça mui colmado, jazo aqui por teu pecado.

– Pois que não cabeis no céu, dizei-me, santo menino, que vos fez tão pequenino? – O Amor me deu este véu, em que jazo embrulhado, por despir-te do pecado.

– Ó menino de Belém, p ois sois Deus de eternidade, quem voz fez de tal idade?...

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– (Por querer-te todo o bem e te dar eterno estado, tal me fez o teu pecado.)

Em parte de sua lírica, anotada em português, fica mais evidente sua espiritualidade e seu amor

para com Jesus, Maria e santos de sua devoção.

À SANTA INÊS Cordeirinha linda, como folga o povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo!

Cordeirinha santa, de Jesus querida, vossa santa vida o diabo espanta.

Por isso vos canta, com prazer, o povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo.

Nossa culpa escura fugirá depressa, pois vossa cabeça vem com luz tão pura.

Vossa formosura honra é do povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo.

Virginal cabeça pela fé cortada, com vossa chegada, já ninguém pereça.

Vinde mui depressa ajudar o povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo.

Vós sois cordeirinha de Jesus formoso, mas o vosso esposo já vos fez rainha.

Também padeirinha sois de nosso povo porque vossa vinda lhe dá lume novo.

OUTRAS OBRAS E AUTORES DO PERÍODO - Diário de Navegação (1530) – Pero Lopes de Souza - Tratado da terra do Brasil e História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamam de Brasil (1576) – Pero de Magalhães Gândavo - Narrativa Epistolar (1583) e os Tratados da Terra e da Gente do Brasil (1587) – Fernão Cardim - Tratado Descritivo do Brasil (1587) – Gabriel Soares de Sousa

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01. (UCS-2011/1) Com base na Carta do Achamento, de Pero Vaz de Caminha, considere as seguintes afirmações.

I. Na Carta, o escrivão Caminha descreve o descobrimento de uma nova terra, chamando a atenção para a beleza natural, a fertilidade, a cordialidade dos índios e as riquezas.

II. No texto, é possível perceber um dos objetivos da expansão marítima de Portugal: catequização dos gentios para a ampliação do mundo cristão.

III. A Carta, um dos relatos que fazem parte da literatura informativa sobre o Brasil, é considerada mais um documento histórico do que uma obra literária.

Das afirmativas acima, pode-se dizer que a) apenas I está correta. b) apenas III está correta. c) apenas I e II estão corretas. d) apenas II e III estão corretas. e) I, II e III estão corretas. 02. (UNIFRA-2010/1)

“Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma cousa de metal, nem ferro; [...] A terra, porém, em si, é de muito bons ares. [...]. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer me parece será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”. Com base no fragmento, assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas. O trecho, retirado ________________, que pertence ao período literário denominado _______________, é considerado uma das principais fontes de informação sobre o Brasil do século XVI. a) da literatura informativa; Barroco b) da literatura jesuítica; Arcadismo c) do “Poema à Virgem”; Quinhentismo d) da Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil; Quinhentismo e) do poema Caramuru; Arcadismo

03. (UPF-2017) Considere as afirmações a seguir em relação ao período de formação da literatura brasileira.

I. Ao longo do século XVI, a literatura brasileira é formada, predominantemente, por textos informativos sobre a natureza e o homem brasileiro, escritos por viajantes e missionários europeus.

II. Nos séculos XVII e XVIII, verificam-se influências do Barroco europeu na incipiente literatura brasileira e, também, nas artes plásticas e na música nacionais, sendo que as produções relativamente originais dessas últimas artes permitem que se fale de um “Barroco brasileiro”.

III. De meados do século XVIII até a eclosão do Romantismo, na primeira metade do século XIX, o estilo literário dominante nas letras nacionais é o Arcadismo, caracterizado por uma oposição sistemática ao avanço do racionalismo iluminista, cuja influência busca neutralizar através da celebração da natureza e da vida no campo.

Está correto apenas o que se afirma em: a) I e III. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III. 04. (UFSM) Os hábitos alimentares estão entre os principais traços culturais de um povo. Era de se esperar, portanto,

que houvesse alguma menção sobre o assunto no primeiro contato entre os portugueses e os nativos, conforme relatado na Carta de Pero Vaz de Caminha. De fato, Caminha escreve a respeito da reação de dois jovens nativos que foram até a caravela de Cabral e que experimentaram alimentos oferecidos pelos portugueses:

A partir da leitura do fragmento, são feitas as seguintes afirmativas: I. No fragmento, ao dar destaque às reações dos nativos frente à comida e à bebida oferecidas, Caminha registra

o comportamento diferenciado deles quanto aos itens básicos da alimentação de um europeu.

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II. No fragmento, percebe-se a antipatia de Caminha pelos nativos, o que se confirma na leitura do restante da carta quanto a outros aspectos dos indígenas, como sua aparência física.

III. O predomínio de verbos de ação, numa sequência de eventos interligados cronologicamente, confere um teor narrativo ao texto.

Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas II. c) apenas II e III. d) apenas I e III. e) I, II e III.

05. (UFSM) Considere as seguintes alternativas:

I. A literatura de viagens registra o primeiro olhar estrangeiro sobre as terras brasileiras. Esse olhar, no entanto, revela-se diferente do olhar de um simples turista curioso por terras estranhas, pois responde, em grande medida, a interesses colonialistas. II. É bastente reconhecido o valor artístico das primeiras manifestações literárias ocorridas no Brasil, pelo registro de imagens da terra e de sua gente que marcaram definitivamente a identidade brasileira. III. A Carta do Achamento do Brasil, escrita por Pero Vaz de Caminha no século XVI, e O Uraguai, escrito por Basílio da Gama no século XVIII, transfiguram diferentes fases da relação do colonizador com o índio brasileiro. Na Carta, os nativos são vistos como passíveis de serem catequizados e de se tomarem cristãos; n’O Uraguai, eles apresentam-se já convertidos à fé católica, por meio da catequização jesuíta. Está (ão) correta (s) a) apenas I. b) apenas II. c) apenas I e III. d) apenas II e III. e) I, II e III.

06. (UFRGS) Leia os seguintes fragmentos.

1. Viu, um deles, umas contas de rosário, brancas, e acenou que lhas dessem; folgou muito com elas e lançou-as ao pescoço; depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e então para as contas e para o colar do Capitão, como [a dizer] que dariam ouro por aquilo. Isso entendíamos nós, por assim desejarmos; mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender porque não havíamos de dar.

Extraído de: Pero Vaz de Caminha, Carta ao Rei D. Manuel, do século XVI.

2. Velas baixaram. E desembarcaram. - Terra, como é teu nome? Cortaram pau. Saiu sangue. - Isso é Brasil!

No outro dia O sol do lado de fora assistiu missa. Terra em que Deus anda de pé no chão! Outros chegaram depois. Outros. Mais outros. - Queremos ouro! A floresta não respondeu. Então Eles marcharam por urna geografia-do-sem-Ihe-achar-fim.

Rios enigmáticos apontavam o Oeste. A água obediente conduziu o homem. Começou daí um Brasil sem-história-certa. A terra acordou-se com o alarido de caça De animais e de homens. Mato-grande foi cúmplice de novas plantações de sangue.

Extraído de: Raul Bopp, História, parte de Poemas brasileiros, de 1946.

( ) O eu-lírico do poema de Bopp denuncia a forma violenta como se deu a colonização do Brasil, o que pode ser

evidenciado nas duas ocorrências da palavra "sangue", ( ) O fragmento da carta de Caminha expõe a intenção dos portugueses de trocar colares por metais preciosos

existentes na nova terra. ( ) O texto de Bopp, ao referir que começou "um Brasil sem-história-certa", exemplifica a perspectiva modernista

de releitura crítica do passado nacional. ( ) Ambos os fragmentos, embora pertencentes a épocas distintas, reafirmam a supremacia do interesse religioso

da conquista ao referirem, respectivamente, "contas do rosário" e "missa", A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V - V - V - F. b) F - F - V - V. c) V - F - V - F. d) F - V - F - V. e) V - F - F - F.

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07. (UFRGS) Leia os fragmentos abaixo, de Pero de Magalhães Gandavo e de Jean de Léry, respectivamente, escritos no século

XVI. 1. Estes índios são de cor baça e cabelo corredio; têm o rosto amassado e algumas feições dele à maneira de

chins. Pela maior parte são bem dispostos, rijos e de boa estatura; gente mui esforçada e que estima pouco morrer, temerária na guerra e de muito pouca consideração. São desagradecidos em grande maneira e muito desumanos e cruéis, inclinados a pelejar, e vingativos por extremo. [...] São muito desonestos e dados à sensualidade, e assim se entregam aos vícios como se neles não houvera razão de homens.

2. De tal modo que, tendo eu vivido com eles, confiaria mais neles e de fato estava mais seguro em meio àquele povo que chamamos selvagem do que me sinto hoje em alguns lugares de nossa França, com franceses desleais e degenerados.

Considere as seguintes afirmações sobre esses fragmentos. I. Gandavo enfatiza os aspectos físicos agradáveis dos indígenas, por ele comparados a elementos da natureza

americana. II. Tanto Gandavo quanto Jean de Léry contestam a humanidade dos indígenas, ao destacarem sua selvageria e

degeneração moral. III. Ao atribuir aos indígenas brasileiros valores que não reconhecia em conterrâneos seus, o francês Jean de Léry

desmente a perspectiva etnocêntrica que fundamentou a maior parte dos textos de viajantes. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas lI. c) Apenas IlI. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

08. (UFRGS) Assinale com 'V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo sobre a Literatura de Informação no Brasil.

( ) A carta de Pero Vaz.de caminha, enviada ao rei D. Manuel I, circulou amplamente entre a nobreza e o povo português da época.

( ) Os textos informativos apresentavam, em geral, uma estrutura narrativa, pois esta se adaptava melhor aos objetivos dos autores de falar das coisas que viam.

( ) Os textos que informavam sobre o Novo Mundo despertavam grande curiosidade entre o público europeu, estando os de Américo Vespúcio entre os mais'divulgados no início do século XVI.

( ) Pero de .Magalhães Gandavo é o autor dos textos Tratado da Terra do Brasil e História da Província Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V – F – V – V. b) V – F – F – F. c) F – V – V – V. d) F – F – V – V. e) V – V – F – F.

GABARITO

1.E 2.D 3.D 4.D 5.C

6.C 7.C 8.D

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Barroco (1601-1768)

A Crucificação – Caravaggio

As manifestações artísticas deste momento refletem a crise dos valores renascentistas (Antropocentrismo / Racionalismo / Paganismo) diante da retomada dos valores medievais (Teocentrismo / Fé / Cristianismo). Há, nesse contexto, um embate entre a burguesia liberal e a monarquia absolutista, entre o universo laico e o clerical, entre a reforma e a contra-reforma. A convivência de visões opostas, nesse conturbado período, explica o espírito conflituoso, a dualidade expressa nas obras que reproduziram, temática e formalmente, o desequilíbrio desta época.

Na temática, se de um lado a angústia com a passagem do tempo, com a brevidade da vida, leva o homem a valorizar o terreno e o mundano, de outro, a consciência de que tudo é passageiro e finito leva o mesmo homem a buscar uma religação com o divino, com o eterno. Em síntese, temos aí a antítese, o choque do sensual com o místico, do carnal com o espiritual.

Moraliza o poeta, nos ocidentes do Sol a inconstância dos bens do mundo Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da luz, se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, Pois tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Matos

Essa confusão espiritual, resultado numa arte que se caracterizou pelo rebuscamento formal, pelo

exagero na utilização dos artifícios da linguagem figurada (antítese, paradoxo, etc.), tornando os textos complexos e obscuros, o que, para os padrões estéticos renascentistas era de extremo mau gosto.

Aos afetos e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem

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Ardor em coração firme nascido; Pranto por belos olhos derramado; Incêndio em mares de água derramado; Rio de neve em fogo convertido. Tu, que em um peito abrasas escondido; Tu, que em um rosto corres desatado; Quando fogo em cristais aprisionado; Quando cristal em chamas derretido.

Se és fogo como passa brandamente? Se és neve, como queimas com porfia? Mas ai! que Amor andou em ti prudente.

Pois para temperar a tirania, Como quis que aqui fosse a neve ardente, Permitiu, parecesse a chama fria.

Gregório de Matos

Na produção textual podemos observar duas tendências: o cultismo e o conceptismo, ou gongorismo e quevedismo, numa referência aos nomes de Gôngora e Quevedo, poetas espanhóis que desenvolveram estes dois estilos que o quadro abaixo procura resumir.

CULTISMO CONCEPTISMO *forma *sensorial *jogo de palavras, de imagens e construções

*raciocínio *ideia *jogo intelectual, de conceitos e pensamento

Luís de Gôngora y Argote Francisco de Quevedo

No Brasil o Barroco se desenrolou no período colonial, principalmente durante o ciclo da cana de

açúcar. As igrejas construídas na Bahia, Rio de Janeiro e em Minas Gerais, as esculturas de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, são exemplares da riqueza e exuberância barroca.

Na literatura, a prosopopéia de Bento Teixeira, publicada em 1601, assinala o início da estética que teve como maiores representantes, Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira.

GREGÓRIO DE MATOS GUERRA (1636-1696) Nascido na Bahia, depois de realizar seus estudos no Brasil, foi para Portugal de onde voltou viúvo

e formado com quase 50 anos. Com sua viola, nas vilas e engenhos da terrinha, fez-se o poeta mais popular daqueles tempos, embora não tivesse publicado nenhuma obra. Sua poesia teve a primeira publicação, segundo alguns estudos, pois mesmo neles há certa imprecisão, numa coletânea de 1829, mas só no século XX sua produção foi publicada integralmente. Seus textos foram preservados e chegaram até nosso tempo, através de cópias manuscritas (códices) pelos seus contemporâneos, o que torna a autenticidade de tudo que é atribuído ao poeta, no mínimo, duvidosa. De qualquer forma, pode ser organizada em poesia satírica, lírico-amorosa e religiosa.

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POESIA SATÍRICA São versos nos quais faz pesadas críticas aos governantes, ao clero, atacando principalmente

àqueles que eram desgostos pessoais. Sal, cal, e alho caiam no teu maldito caralho. Amém. O fogo de Sodoma e de Gomorra em cinza te reduzam esta porra. Amém Tudo em fogo arda, Tu, e teus filhos, e o Capitão da Guarda.

Entende-se, agora, por que foi chamado de “Boca do inferno”, e por que foi obrigado a viver exilado em Angola por certo tempo. A poesia satírica de Gregório pinta um quadro da sociedade baiana do século XVII e deixa ver o descontentamento do poeta com o estado de sua Terra.

À CIDADE DA BAHIA Triste Bahia! Oh quão dessemelhante Estás, e estou de nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Rica te vi eu já, tu a mi abundante. A ti trocou-te a máquina mercante Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando, e tem trocado Tanto negócio, e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sargaz Brichote.

Oh se quisera Deus, que de repente Um dia amanheceras tão sisuda Que fora de algodão o teu capote!

Este sentimento de insatisfação que, pode ser entendido como nativista, consideradas as

proporções, pode também ser interpretado como um saudosismo do antigo estado colonial, já que Gregório também é conhecido pelo seu conservadorismo e por sua visão preconceituosa em relação aos mestiços.

Há cousa como ver um Paiaiá

Mui prezado de ser Caramuru,

Descendente de sangue de Tatu,

Cujo torpe idioma é cobé pá

A linha feminina é carimá

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Moqueca, pititinga, caruru

Mingau de puba, e vinho de caju

Pisado num pilão de Piraguá

A masculina é um Aricobé

Cuja filha Cobé um branco Paí

Dormiu no promontório de Passé.

O Branco era um marau, que veio aqui,

ela era uma índia de Maré

Cobé pá, Aricobé, Cobé Paí.

Cabe apontar, nos poemas citados, a linguagem, às vezes, de tom popular e, o que é mais importante, o abrasileiramento do português com a inserção de expressões, tupys e africanas, tornando nossa língua, como nossa cultura e raça, mestiça.

POESIA LÍRICO-AMOROSA

Marcada pelo dualismo (carnal x espiritual) típico do momento, esta poesia mostra o contraste do idealismo amoroso renascentista com o ideal religioso. Assim, a mulher é anjo e demônio, isto é, sua beleza é a perdição, o pecado, o que explica o sentimento de culpa que acompanha o erotismo de seus versos de amor.

A D. ÂNGELA Anjo no nome, angélica na cara, Isso é ser flor, e anjo juntamente, Ser angélica flor, e anjo florente, Em quem, senão em vós se uniformara?

Quem veria uma flor, que a não cortara Do verde pé, de rama florescente? E quem um Anjo vira tão luzente, Que por seu Deus, o não idolatrara?

Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu custódio, e a minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares.

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

POESIA LÍRICO-RELIGIOSA

Na poesia sacra é flagrante a louvação a Deus e, face à constatação da fragilidade humana, é também claro o sentimento de culpa e arrependimento.

A N. Senhor Jesus Cristo Com atos de arrependimento E suspiros de amor

Ofendi-vos, Meu Deus, é bem verdade, É verdade, meu Deus, que hei delinquido, Delinquido vos tenho, e ofendido, Ofendido vos tem minha maldade.

VOCABULÁRIO: 1. Paiaiá: pajé. 2. Caramuru: branco, não mestiço. 3. Cobé: indígena ou descendente de indígena. 4. Carimá: bolo de mandioca. 5. Pititinga: peixe pequeno. 6. Aricobé: o mesmo que “cobé”. 7. Paí: pajé, termo depois utilizado pelos índios para designar os padres.

8. Marau: malandro, finório, valhaco, patife.

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Maldade, que encaminha à vaidade, Vaidade, que todo me há vencido; Vencido quero ver-me, e arrependido, Arrependido a tanta enormidade

Arrependido estou de coração,

De coração vos busco, dai-me abraços,

Abraços, que me rendam vossa luz.

Luz, que claro me mostra a salvação, A salvação pretendo em tais abraços, Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus!

PE. ANTONIO VIEIRA (1608-1697) Figura mais representativa da parenética jesuítica (oratória sacra), Vieira

encontrou no púlpito da igreja o espaço para difundir suas posições políticas, econômicas e morais, sempre amparadas na ideologia contra-reformista. Seus sermões, pronunciados entre 1630 e 1680, chegando a um total de 200, foram instrumentos de ações sociais que o levaram a complicações com a inquisição e com os colonos portugueses no Brasil. Com a inquisição por que defendeu os cristãos-novos e com os colonos por que lutou contra a escravidão dos indígenas e chegou a tratar da escravidão dos negros que era legitimada pelas leis civis e religiosas.

Foi na elaboração destes sermões que Vieira se mostrou talentoso artista da palavra. Embora fosse defensor do estilo claro (conceitista), vê-se que, em sua prosa, empregou construções sintáticas complexas, usou figuras de palavra e de pensamento (antítese/paradoxo/ironia), recorreu à alegoria, enfim, recursos que acentuaram o valor estético de seus discursos. Além desses expedientes, Vieira procurou fundamentar sua argumentação nas escrituras sagradas, estabelecendo constantemente, um paralelo entre seu tempo (presente) e a história do cristianismo (passado). Vejamos, agora, fragmentos de alguns de seus mais importantes sermões.

Profeta Ezequiel - Obra de Aleijadinho 1. SERMÃO PELO BOM SUCESSO DAS ARMAS DE PORTUGAL CONTRA AS DA HOLANDA

(Pregado na Igreja de N.S. da Ajuda da cidade da Bahia-1640)

“Muita razão tenho eu logo, Deus meu, de esperar que haveis de sair deste Sermão arrependido;

pois sois o mesmo que éreis, e não menos amigo agora, que nos tempos passados, de vosso nome: Propter nomen tuum. Moisés disse-vos: Ne quaeso dicant: Olhai, Senhor, que dirão: E eu digo, e devo dizer: Olhai, Senhor, que já dizem. Já dizem os Hereges insolentes com os sucessos prósperos, que vós lhes dais, ou permitis; já dizem que porque a sua, que eles chamam Religião é a verdadeira, por isso Deus os ajuda, e vencem; e porque a nossa é errada, e falsa, por isso nos desfavorece, e somos vencidos. Assim o dizem, assim o pregam, e ainda mal porque não faltará quem os creia. Pois é possível, Senhor, que hão de ser vossas permissões argumentos contra a vossa Fé? É possível que se hão de ocasionar de nossos castigos blasfêmias contra vosso nome? Que diga o Herege o que treme de o pronunciar a língua que diga o Herege, que Deus está holandês? Oh não permitais tal, Deus meu, não permitais tal, por quem sois. Não o digo por nós, que pouco iam em que nos castigásseis: não o digo pelo Brasil, que pouco ia em que o destruísseis; por vós o digo, e pela honra de vosso Santíssimo Nome, que tão imprudentemente se vê blas-femando: Propter nomen tuum. Já que o pérfido Calvinista dos sucessos, que só lhe merecem nossos peca-dos, faz argumentos da Religião, e se jacta insolente, o blasfemo de ser a sua a verdadeira; veja ele na roda dessa mesma Fortuna, que o desvanece, de que parte está a verdade. Os ventos, e tempestades, que descompõem, e derrotam as nossas Armadas, derrotem, e desbaratem, as suas: as doenças, e pestes, que diminuem, e enfraquecem os nossos exércitos, escalem as suas muralhas, e despovoem os seus presídios: os conselhos, que, quando vós quereis castigar, se corrompem, em nós sejam alumiados, e neles enfatuados, e confusos. Mude a vitória as Insígnias, desafrontem-se as Cruzes Católicas, triunfem as vossas Chagas nas nossas bandeiras: e conheça humilhada, e desenganada a perfídia, que só a Fé Romana, que professamos, é Fé, e só ela é verdadeira, e a vossa.”

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2. SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO AOS PEIXES (Proferido no Maranhão – 1654)

“Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também as vossas

repreensões. Servir-vos-ão de confusão, já que não seja de emenda. A primeira que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é

este, mas circunstâncias o faz ainda maior. Não só comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo Agostinho. Homnies pravis, praeversisque cupiditatibus facti sunt, sicut pisces invicen se devorantes. “Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros”. Tão alheia coisa é, não só da razão, mas da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer. Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que sejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens.

Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais dos olhos para o mato e para o sertão? Para cá, para cá: para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aqueles concorrer as praças e cruzar as rua; vedes aqueles subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer e como se hão de comer.

Morreu alguns deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e comê-lo. Comem-no os herdeiros, comem-no os testamenteiros, comem-no os legatários, comem-no os acredores; comem-no os oficiais dos órfãos, e os dos defuntos ausentes; come-o o médico que o curou ou ajudou a morrer, come-o sangrador que lhe tirou o sangue; come-o a mesma mulher que de má vontade lhe dá mortalha o lençol mais velho da casa; come-o o que lhe abre a cova, o que lhe tange os sinos e os que, cantando, o levam a enterrar: enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda terra.”

3. SERMÃO DA SEXAGÉSIMA

(Pregado na Capela Real de Lisboa – 1655)

“Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para

que se distingua, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar; há de responder às dúvidas, há de satisfazer as dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força de eloqüência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar e acabar nela.

Quereis ver tudo isto com os olhos? Ora vede: uma árvore tem raízes, tem troncos, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco, porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria.

Deste tronco hão de nascer diversos ramos, que são diversos recursos, mas nascidos da mesma matéria, e continuados nela. Estes ramos não hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras. Há de ter esta árvore varas, que são a repreensão dos vícios; há de ter flores, que são as sentenças; a por remate de tudo isso há de ter frutos, que é o fruto e o fim a quem se há de ordenar o sermão. De maneira que há de haver frutos, há de haver varas, há de haver folhas, há de haver ramos, mas tudo nascido e fundado em um só tronco, que é uma só matéria. Se tudo são troncos, não é sermão, é madeira. Se tudo são ramos, não é sermão, são maravalhas. Se tudo são folhas, não é sermão, são verças. Se tudo são varas, não é sermão, é feixe. Se tudo são flores, não é sermão, e ramalhete. Serem tudo frutos, não pode ser; porque não há frutos sem árvore. Assim que nesta árvore, a que podemos chamar árvore da vida, há de haver o proveitoso do fruto, o formoso das flores, o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos ramos, mas tudo isso nascido e formado em um só tronco, e esse não levantado no ar, senão fundado nas raízes do Evangelho: Seminare sêmen. Eis aqui como hão de ser os sermões, eis aqui como não são. E assim não é muito que se não faça fruto com eles.”

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4. SERMÃO DO BOM LADRÃO (Proferido na Igreja de Misericórdia em Lisboa – 1655)

Não são só os ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que vão se banhar, para

lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título, são aqueles a que os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, este sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros levaram a enforcar uns ladrões, e co-meçou a bradar: “Lá vão os ladrões grandes enforcar os pequenos.” Ditosa Grécia, que tinha tal pregador! E mais ditosas as outras nações, se nelas não padecera a justiça as mesmas afrontas.”

01. (UCS-2011/1) Leia o fragmento do poema de Gregório de Matos.

(...) No Brasil a fidalguia no bom sangue nunca está, nem no bom procedimento, pois logo em que pode estar? Consiste em muito dinheiro, e consiste em o guardar, cada um o guarde bem, para ter que gastar mal.

(In: TUFANO, Douglas. Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p. 69.)

A partir do fragmento, assinale a alternativa correta em relação ao Barroco. a) Essa estrofe pode ser considerada um exemplo da poesia satírica de Gregório de Matos. b) Nesse trecho, o eu-lírico preocupa-se em moralizar as ações da sociedade baiana. c) A visão de mundo barroca está posta nas hipérboles que constroem o poema. d) A transitoriedade da vida, característica importante do período, está presente no fragmento. e) No fragmento, o uso de uma linguagem rebuscada expressa o conflito interior do eu-lírico.

02. (UCS-2012/2) Leia o fragmento do “Sermão do bom ladrão”, de Padre Antônio Vieira.

(...) Quantas vezes se viu em Roma ir a enforcar um ladrão por ter roubado um carneiro; e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul, ou ditador, por ter roubado uma província. E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes?

(TUFANO, D. Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p. 71.)

As afirmações seguintes referem-se ao fragmento acima. I. Nesse sermão, padre Antônio Vieira denuncia a hipocrisia da sociedade e o valor conferido ao poder. II. Pelo viés da crítica à impunidade, é possível fazer uma aproximação das palavras do padre, no século XVII, com a realidade brasileira de hoje. III. A metonímia, utilizada para construir o raciocínio nesse fragmento, é uma das características da linguagem rebuscada do Barroco. Das afirmações acima, a) apenas I está correta. b) apenas II está correta. c) apenas III está correta. d) apenas I e II estão corretas. e) I, II e III estão corretas.

03. (UCS-2014/1) Leia o poema.

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa piedade me despido, Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto um pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido, Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado.

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Doctor On Escobar

Se uma ovelha perdida, e já cobrada Glória tal, e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história: Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória.

Fonte: MATOS, Gregório de. Poesias selecionadas. 3. ed. São Paulo: FTD, 1998. p. 18.

Assinale a alternativa correta. a) O sujeito lírico, nesse poema, arrependido de seus pecados, pede perdão a Deus com amplo sentimentalismo,

sem a intervenção da razão. b) A presença frequente de antíteses na lírica amorosa de Gregório de Matos faz desse poema um exemplo de representação do homem barroco, dividido entre a vida mundana e a religiosidade cristã. c) O sujeito lírico do poema constrói, com base em um episódio bíblico, um discurso racional na tentativa de convencer Deus de que ele deve ser perdoado de seus pecados. d) A ovelha desgarrada, mencionada no poema, diz respeito ao sujeito lírico, de maneira que, assim, ele se

compara ao próprio Cristo. e) Apesar do pedido de perdão por seus pecados, o sujeito lírico reconhece, ao final do poema, que Deus deve

cobrar seu arrependimento para que a glória divina não se perca em vão.

04. (UCS-2014/2) O Barroco caracteriza-se pelo dualismo ideológico e estilístico, representado pelo conflito entre razão

e fé. O maior expoente desse movimento no Brasil é Gregório de Matos, autor dos excertos abaixo, pertencentes ao poema “Aos vícios”.

Eu sou aquele que os passados anos Cantei na minha lira maldizente Torpezas do Brasil, vícios e enganos. Quantos há, que os telhados têm vidrosos, E deixam de atirar sua pedrada De sua mesma telha receosos. (...)

Fonte: Seleção de obras poéticas de Gregório de Matos. Belém: UNAMA. p. 8-9. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 28 mar. 14.

Considere as seguintes afirmativas sobre o excerto de Gregório de Matos. I. O eu-poético nos versos transcritos elogia o caráter daqueles que evitam apontar as falhas alheias. II. O eu-lírico afasta-se da temática centralmente abordada pela poesia barroca, o conflito entre matéria e espírito,

com uma preocupação em satirizar os vícios sociais. III. Os versos acima assumem um viés lírico, uma das facetas assumidas pelo poeta, ao preocupar-se com o

futuro do Brasil. Das afirmativas acima, pode-se dizer que a) apenas II está correta. b) apenas III está correta. c) apenas I e II estão corretas. d) apenas I e III estão corretas. e) apenas II e III estão corretas.

05. (UCS-2014/2) Leia o poema de Vinicius de Moraes.

Soneto do maior amor Maior amor nem mais estranho existe Que o meu, que não sossega a coisa amada E quando a sente alegre, fica triste E se a vê descontente, dá risada. E que só fica em paz se lhe resiste O amado coração, e que se agrada Mais da eterna aventura em que persiste Que de uma vida mal-aventurada. Louco amor meu, que quando toca, fere E quando fere vibra, mas prefere Ferir a fenecer – e vive a esmo Fiel à sua lei de cada instante Desassombrado, doido, delirante Numa paixão de tudo e de si mesmo.

Fonte: MORAES, Vinicius de. Antologia poética. 25. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1984. p. 98. O poema transcrito tematiza o amor, seus dramas e contradições.

O autor do texto é considerado modernista, mas, nesses versos, pela presença de antíteses, recupera traços de outro período literário, que é o

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a) Arcadismo. b) Romantismo. c) Simbolismo. d) Realismo. e) Barroco.

06. (UCS-2015/2) Gregório de Matos é o autor do poema “Pondera agora com mais atenção a formosura de D. Ângela”.

Leia o excerto abaixo. Pondera agora com mais atenção a formosura de D. Ângela

Não vi em minha vida a formosura, Ouvia falar nela cada dia,

E ouvida me incitava, e me movia A querer ver tão bela arquitetura.

Ontem a vi por minha desventura Na cara, no bom ar, na galhardia De uma Mulher que em Anjo se mentia, De um Sol, que se trajava criatura.

Me matem (disse então vendo abrasar-me) Se esta a cousa não é, que encarecer-me. Sabia o mundo, e tanto exagerar-me.

Olhos meus (disse então por defender-me) Se a beleza hei de ver matar-me, Antes, olhos, ergueis, do que eu perder-me.

Fonte: Pondera agora com mais atenção a formosura de D. Ângela. In: MATOS, Gregório de. Obra Poética. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1992. Disponível em: Acesso em: 13 fev. 15.

Nos versos acima, manifesta-se o conflito ________ entre o humano e o ______, de modo coerente com a estética _____. No entendimento do sujeito lírico, a formosura feminina, nítida na aparência angelical de D. Ângela, traz a _____ do homem, remetendo ao ensinamento bíblico que aconselha: __________. Assinale a alternativa que preenche correta e respectivamente as lacunas. a) intimista – pecaminoso – romântica – aniquilação –“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o

reino dos céus”. b) existencial – natural – árcade – liberdade – “O senhor é meu pastor, nada me faltará”. c) ideológico – real – realista – salvação – “Vigiai, porque não sabeis nem o dia e nem a hora”. d) dualista – divino – barroca – perdição – “Se o teu olho direito te leva a pecar, arranca-o e lança-o fora de ti”. e) formal – exterior objetivo – parnasiano – alienação – “Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos

sejam retos”.

07. (UCS-2015/1) O Barroco constituiu uma escola literária que enfocou a dualidade humana, empregando

abundantemente a antítese. Assinale a alternativa que contém a expressão da visão de mundo, caracteristicamente, Barroca. a) Se basta a vos irar tanto um pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido, Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado.

b) Assim era aquele casal: ele como o jerivá velho, ela como um cacho de flor. c) Tudo é deserto... somente

À praça em meio se agita Dúbia forma que palpita, Se esforce em rouco estertor.

d) Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco.

e) Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco.

08. (UPF-2010/1) Leia este poema de Gregório de Matos.

Discreta e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo a qualquer hora, Em tuas faces a rosada Aurora, Em teus olhos e boca, o Sol e o dia:

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Enquanto com gentil descortesia, O Ar, que fresco Adônis te namora, Te espalha a rica trança brilhadora Quando vem passear-te pela fria. Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo trata, a toda a ligeireza E imprime em toda flor sua pisada. Oh não aguardes que a madura idade te converta essa flor, essa beleza, em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

Leia as afirmações relativas ao poema acima. I. Trata-se de um exemplo de poema amoroso de Gregório de Matos. II. O poema sugere que o tempo converte a beleza e a juventude em morte, em fim, em nada. Portanto, é preciso

aproveitar todo o tempo em que é possível gozar a vida. Assim, por meio destes versos, Gregório de Matos desenvolve um dos temas caros ao barroco, a passagem do tempo.

III. O poema possibilita refletir sobre a angústia do homem barroco ao tomar consciência de que, embora lhe seja possível contar o tempo, não tem a capacidade de controlar a sua passagem.

Qual(s) está(ão) correta(s)? a) I, II e III b) Apenas I e II c) Apenas I e III d) Apenas II e III e) Apenas I

09. (UPF-2010/2) Analise este poema de Gregório de Matos:

A vós correndo vou, braços sagrados, Nessa cruz sacrossanta descobertos, Que, para receber-me, estais abertos, E, por não castigar-me, estais cravados. A vós, divinos olhos, eclipsados De tanto sangue e lágrimas cobertos, Pois, para perdoar-me, estais despertos, E, por não condenar-me, estais fechados. A vós, pregados pés, por não deixar-me, A vós, sangue vertido, para ungir-me, A vós, cabeça baixa, pra chamar-me. A vós, lado patente, quero unir-me, A vós, cravos preciosos, quero atar-me, Para ficar unido, atado e firme.

Assinale com V as afirmativas verdadeiras e com F as falsas, referentes ao poema acima: ( ) Integra o conjunto de poesias religiosas e demonstra que o temperamento combativo característico de tantos

outros textos seus perde a rudeza, ganhando espaço uma ternura que sugere confiança e sinceridade. ( ) O eu lírico procura criar uma identificação com Cristo, assumindo uma posição humilde diante da grandeza

divina, reconhecendo-se como pecador. ( ) Embora não fique evidente no poema o senso do pecado, o eu lírico expressa com veemência o seu desejo de

ser perdoado. ( ) A contradição própria do homem barroco, que vivia com o espírito dilacerado devido ao significado da religião

em sua existência e à vivência dos apelos mundanos, que o faziam pecar, fica clara pelo jogo de antíteses presente na estrutura do soneto. A presença dessa figura revela o refinamento da ideia predominante no poema.

(_) O eu lírico sente-se merecedor de estar intimamente unido a Cristo. Esse sentimento faz com que ele não expresse angústia e outros conflitos interiores ao se dirigir à divindade.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: a) V-V-F-V-F b) V-F-F-F-V c) F-V-V-F-V d) V-F-F-V-V e) F-F-V-F-F

10. (UPF-2011/2) Dos elementos abaixo mencionados, aquele que não está presente na literatura de Gregório de Matos

é: a) a crítica a autoridades do Brasil Colônia b) o tema da fugacidade do tempo c) a poesia religiosa d) a crítica aos portugueses que continuam explorando o Brasil após a proclamação da independência do país e) o tema do amor

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Doctor On Escobar

11. (UPF-2015/1) Leia as seguintes afirmações sobre o Padre Antônio Vieira e a sua obra.

I. O autor é considerado, por vários escritores e críticos literários posteriores a ele, como um dos maiores mestres da língua portuguesa.

II. Seu espírito contemplativo e sua vocação religiosa impediram-no de abordar, em seus escritos, as questões políticas e sociais de sua época.

III. O Sermão da sexagésima expõe a sua arte de pregar. Está correto apenas o que se afirma em: a) I. b) I e II. c) I e III. d) II e III. e) III.

12. (UPF-2015/2) Faça a leitura do poema de Gregório de Matos e das afirmações relacionadas a esse texto.

Horas contando, numerando instantes, Os sentidos à dor, e à glória atentos, Cuidados cobro, acuso pensamentos, Ligeiros à esperança, ao mal constantes. Quem partes concordou tão dissonantes1? Quem sustentou tão vários sentimentos? Pois para glória excedem de tormentos, Para martírio ao bem são semelhantes. O prazer com a pena se embaraça; Porém quando um com outro mais porfia2 O gosto corre, a dor apenas passa. Vai ao tempo alterando à fantasia, Mas sempre com vantagem na desgraça, Horas de inferno, instantes de alegria.

Gregório de Matos 1. Dissonante: destoante, discordante.

2. Porfiar: competir, rivalizar.

I. A partir de uma linguagem carregada de antíteses e paradoxos, o soneto exprime uma visão dualista do

mundo. II. O verso inicial, “Horas contando, numerando instantes”, destaca a preocupação do homem barroco com a

transitoriedade da existência humana. III. O eu-lírico sustenta que o prazer e a dor, o bem e o mal têm presença equivalente na vida do ser humano. IV. O caráter charadístico do poema, decorrente do jogo de palavras que o sustenta, desafia a compreensão do

leitor. Está correto apenas o que se afirma em: a) I, II e III. b) I, II e IV. c) II e III. d) II, III e IV. e) III e IV.

13. (UPF-2016/2) Que falta nesta cidade?... Verdade. Que mais por sua desonra?... Honra. Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha. O demo a viver se exponha, Por mais que a fama a exalta, Numa cidade onde falta Verdade, honra, vergonha.

Os versos transcritos expõem a faceta _______________ da obra de Gregório de Matos, que é considerado o

maior poeta barroco brasileiro. Outras facetas importantes, na produção do mesmo autor,são as da poesia ___________ e da poesia ____________.

Assinale a alternativa cujas informações preenchem corretamente as lacunas do enunciado.

a) satírica / nacionalista / indianista. b) moralista / bucólica / pastoril. c) social / abolicionista / anticlerical. d) satírica / religiosa / amorosa. e) moralista / egotista / sentimental. 14. (UPF- 2017) Considere as afirmações a seguir em relação a Gregório de Matos.

I. Em sua produção literária, estão presentes tanto a sátira irreverente como o sentimento religioso. II. Na poesia do autor, o sujeito lírico não manifesta seu desejo pela mulher, que é sempre idealizada. III. A efemeridade das coisas é uma das temáticas abordadas em sua poesia. Está correto o que se afirma em a) I e III, apenas. b) I, II e III. c) I, apenas. d) III, apenas. e) I e II, apenas.

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15. (UNIFRA-2010/1) Um dos representantes do ________________ no Brasil, _______________, utilizou,

principalmente, a linguagem ___________ para desenvolver suas ideias em sermões cujos temas versavam, por exemplo, sobre a defesa dos índios. A alternativa que preenche corretamente as lacunas é a) Quinhentismo; José de Anchieta; objetiva b) Barroco; Antônio Vieira; conceptista c) Arcadismo; Cláudio Manuel da Costa; bucólica d) Barroco; Pero Vaz de Caminha; cultista e) Romantismo; Olavo Bilac; racionalista

16. (UNIFRA-2010/2) Leia, com atenção, o poema que segue:

Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade, É verdade, Meu Deus, que hei delinquido, Delinquido vos tenho, e ofendido, Ofendido vos tem minha maldade. Maldade, que encaminha à vaidade, Vaidade, que todo me há vencido; Vencido quero ver-me, e arrependido, Arrependido a tanta enormidade. Arrependido estou de coração, De coração vos busco, dai-me os braços, Abraços, que me rendem vossa luz. Luz que claro me mostra a salvação, A salvação pretendo em tais abraços, Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.

Analise as afirmativas: I. Trata-se de ______, de Gregório de Matos, que revela traços da escola barroca. II. Os dois primeiros quartetos apresentam a ideia de pecado e as duas últimas estrofes, a ideia de ____. Assinale a alternativa cujos termos completam corretamente as afirmativas I e II. a) I – um soneto II – arrependimento b) I – uma trova II – repulsa c) I – uma elegia II – revelação d) I – uma ode II – iluminação e) I – uma canção II – dispersão

17. (UNIFRA-2011/2) “No Brasil a Fidalguia no bom sangue nunca está; nem no bom procedimento; Pois logo em que pode estar? Consiste em muito dinheiro, e consiste em o guardar: Cada um o guarde bem, para ter que gastar mal.”

Irreverente ao criticar, na sua obra satírica, a sociedade da época, esse advogado baiano do século XVII foi também poeta, em cuja poesia se destacam, ainda, temas sacros e amorosos. Trata-se de _____cuja obra é considerada a de maior importância ______________. A alternativa que preenche corretamente os espaços vazios é a) Tomás Antônio Gonzaga - arcádica. b) Basílio da Gama - realista. c) Cláudio Manuel da Costa - neoclássica. d) Alberto de Oliveira - modernista. e) Gregório de Matos - barroca.

18. (UNIFRA-2016/1) SERMÃO DA SEXAGÉSIMA

Fazer pouco fruto a palavra de Deus no mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de sermão, há de haver três concursos: há de concorrer o pregador com a Doutrina, persuadindo; há de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos e é de noite, não pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho, e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentre em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessário luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. [...]

(VIEIRA, Pe. Sermões. 2.ed. Rio de Janeiro:Agir, 1996).

Considerando a leitura, é possível verificar características específicas de um período literário em que a arte é impregnada de conflitos. A partir disso, a alternativa correta, tendo em vista a estética deste período, é: a) culto ao contraste, supervalorização da forma, jogo de palavras

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b) idealismo amoroso e a religiosidade, metáforas c) morte como tema favorito, bucolismo, dualidade d) equilíbrio, introspeção, culto ao contraste e) religiosidade, antíteses, idealismo amoroso

19. (UNISC-2010/2) Leia atentamente o poema a seguir: Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância.

Assinale a alternativa correta. a) O poema, de Tomás Antônio Gonzaga, valoriza o equilíbrio formal e a idealização da vida pastoril, temas

comuns ao Arcadismo. b) O poema, de Cruz e Sousa, apresenta a musicalidade e a sinestesia presentes no Simbolismo. c) O poema, de Álvares de Azevedo, apresenta o pessimismo e a melancolia do Mal do Século romântico. d) O poema, de Gregório de Matos Guerra, aborda um tema barroco recorrente: a transitoriedade da vida e a inconstância das coisas. e) O poema, de Castro Alves, aponta para as questões abordadas pela terceira geração romântica e se volta para

a crítica social.

20. (UNISC-2016/2) “As palavras são as estrelas, os sermões são a composição, a ordem, a harmonia e o curso delas. Vede como diz o estilo de pregar do céu, com o estilo que Cristo ensinou na terra. Um e outro é semear; a terra semeada de trigo, o céu semeado de estrelas. O pregar há-de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja.”

“Sermão da sexagésima”. Padre Antônio Vieira.

A partir do trecho do sermão de Padre Antônio Vieira, podemos afirmar que a) o texto pode ser considerado como pertencente ao gênero lírico, porque usa o recurso da rima para a

memorização. b) uma de suas características é o uso de alegorias. c) suas metáforas dizem respeito à comparação entre o astrofísico e o pedreiro. d) o seu principal recurso estilístico é contar uma história. e) as figuras de linguagem ali presentes qualificam-no como narrativo.

21. (ULBRA-2011/1) Leia atentamente o fragmento do poema de Gregório de Matos e marque a alternativa correta.

Ontem a vi por minha desventura De uma mulher, que em anjo se mentia De um sol, que se trajava em criatura Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me Se a beleza heis de ver para matar-me Antes olhos cegueis, do que eu perder-me.

I. Os versos acima mostram o conflito do homem barroco centrado entre o amor divino e o amor carnal. II. O fragmento acima é repleto de antíteses, uma das figuras mais empregadas no Arcadismo. Podemos

destacar, como exemplo, que a antítese de mulher, no poema, é beleza. III. Uma das características do Barroco é o cultismo, que se constitui no jogo de palavras e construção de

imagens. O fragmento destacado confirma essa ideia com a presença de metáforas, paradoxos e antíteses nos seus versos.

Estão corretas: a) I, II e III. b) Apenas a II. c) I e III. d) I e II e) Somente a III.

22. (ULBRA-2014/1) Chamado também de Seiscentismo, o Barroco é um estilo marcado pela linguagem rebuscada,

pelo uso de antíteses e de paradoxos que expressam a visão de mundo numa época de transição entre o teocentrismo e o antropocentrismo. Tendo em vista o estilo literário barroco vinculado ao estilo escultórico, no Brasil, especialmente, com as obras do renomado Aleijadinho, observe a imagem abaixo e marque a resposta correta.

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I. O Cultismo ou Gongorismo constitui-se na valorização da forma e da imagem. No jogo de palavras, no emprego de metáforas, hipérboles e antíteses na poesia.

II. No Brasil, na segunda metade do século XVIII, sentem-se ecos do Barroco, com o ciclo do ouro, que propicia o desenvolvimento das artes em geral, notadamente em Minas Gerais, onde se destacam as obras de Aleijadinho.

III. A obra de Aleijadinho possui forte caráter religioso e prima pelos detalhes, como podemos perceber nas dobras dos panos e nos traços fisionômicos.

IV. Entre os versos de Gregório de Matos, a seguir, e a imagem de Nossa Senhora das Dores, podemos destacar a antítese como figura no soneto e o jogo de claro-escuro na escultura.

Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na Sacra História, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada Cobrai-a e não queirais, Pastor Divino, Perder na Vossa ovelha a Vossa glória.

(Soneto A Jesus Cristo Nosso Senhor, disponível em http://www.litteratu.com/gregorio.pdf)

Está (ão) correta (s): a) I e III. b) II e IV. c) III e IV. d) Somente a I. e) I, II, III e IV.

23. (ULBRA-2015/2) Marque “V” para verdadeiro e “F” para falso as afirmações sobre o Barroco brasileiro.

( ) Chamado também de Seiscentismo, o Barroco é um estilo literário caracterizado pela linguagem rebuscada, pelo uso de antíteses e de paradoxos que expressam a visão de mundo barroca numa época de transição entre o teocentrismo e o antropocentrismo.

( ) O Cultismo constitui-se na valorização da forma e da imagem; no jogo de palavras; no emprego de metáforas, hipérboles, antíteses, perífrases, analogias e comparações.

( ) No Brasil, segunda metade do século XVIII, sentem-se os "ecos" do Barroco, com o ciclo do ouro, que propicia o desenvolvimento das artes em geral, notadamente em São Paulo, onde se destacam as obras de Aleijadinho.

( ) Gregório de Matos Guerra foi um escritor popular. Junto a expressões de amor carnal, manifestou aspirações religiosas, ao lado de poesias reflexivas sobre a condição humana; debochou e satirizou a sociedade baiana da época.

( ) Bento Teixeira inaugura o Barroco, no Brasil, em 1601, com a publicação do poema Prosopopéia, que tem 94 estrofes.

a) V; V; V; V; F. b) F; V; F; V; V. c) F; F; V; F; F. d) V; V; F; V; V. e) V; F; V; F; V.

24. (IMED-2015) Leia o texto abaixo, de Gregório de Matos Guerra:

A INSTABILIDADE DAS COUSAS DO MUNDO Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza.

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Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância.

Considere as seguintes assertivas a partir do texto: I. Tal soneto é característico do período barroco brasileiro, momento em que o homem do século XVII está divido

entre os valores antropocêntricos do Renascimento e as amarras do pensamento medieval restituído pela Contrarreforma.

II. O soneto revela o dualismo que envolve o homem barroco, marcado por incertezas e inconstâncias. III. O soneto apresenta a preocupação do poeta com a efemeridade da vida e das coisas. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

25. (IMED-2015/2) Considere o texto abaixo, de Gregório de Matos, e analise as afirmações feitas sobre ele:

Pondera agora com mais atenção a formosura de D. Ângela Não vira em minha vida a formosura, Ouvia falar nela cada dia, E ouvida me incitava e me movia A querer ver tão bela arquitetura: Ontem a vi por minha desventura Na cara, no bom ar, na galhardia De uma mulher, que em Anjo se mentia; De um Sol, que se trajava em criatura:

Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me, Se esta a coisa não é, que encarecer-me Sabia o mundo e tanto exagerar-me: Olhos meus, disse então por defender-me, Se a beleza heis de ver para matar-me, Antes olhos cegueis, do que eu perder-me.

I. Trata-se de um poema lírico-amoroso, do período barroco, marcado pelo contraste – identificação entre os

opostos, aspecto característico desse período. II. O poema integra a segunda geração do romantismo, período marcado pela solidão e pelos conflitos de amor. III. Há um conflito apresentado pelo eu lírico, na medida em que ele vê a imagem da mulher como objeto de amor

e de pecado. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III e) I, II e III.

26. (IMED-2015/2) Leia o excerto de o Sermão da Sexagésima, enunciado em 1655, na Capela

Real de Lisboa, pelo padre Antônio Vieira: Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos um estilo tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda parte e a toda a natureza? O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Compara Cristo o pregar e o semear, porque o semear é uma parte que tem mais de natureza que de arte. Nas outras artes tudo é arte; na música tudo se faz por compasso, na arquitetura tudo se faz por regra, na aritmética tudo se faz por conta, na geometria tudo se faz por medida. O semear não é assim. É uma arte sem arte; caia onde cair… Ia o trigo caindo e ia nascendo. Em relação ao texto, considere as assertivas abaixo, assinalando V, se verdadeiras, ou F, se falsas. ( ) O autor defende que pregar a palavra de Deus é semelhante ao semear; indica ser a pregação uma “arte

natural”. ( ) Tal trecho apresenta uma crítica veemente a um estilo de linguagem com construções obscuras e preciosistas. ( ) Percebe-se que no discurso de Vieira predomina o conceptismo, ou seja, o desenvolvimento da ideia no intuito

de persuadir. ( ) Para Vieira, a pregação da palavra de Deus deve ser compreendida por todos. A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: a) V – V – V – V. b) V – V – F – V. c) V – F – V – F. d) F – V – F – V. e) F – F – F – F.

27. (UFSM) A desarmonia e a contradição são características predominantes no Barroco. Observe os fragmentos

poéticos de Gregório de Matos a seguir transcritos e verifique qual(quais) confirma(m) essas características. I - "Amanheceu o dia prometido,/famoso, alegre, claro e prazenteiro;/bom dia, disse eu, para viagem. II - "O ódio e da alma infame companhia/a paz deixou-a Deus a cristandade;/mas arrastar por força uma

vontade,/em vez de caridade e tirania.

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Literatura 76

Doctor On Escobar

III - "De que pode servir falar quem cala?/Nunca se há de falar o que se sente,/Sempre se há de sentir o que se fala."

Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas III. d) apenas I e III. e) apenas II e III.

28. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre o padre Antônio Vieira.

I. Possui um estilo antigongórico, conceptista, caracterizado pela clareza e pelo rigor sintático, dialético e lógico. II. Recusa, como cultista, o elemento imagístico, transformando-o em mero instrumento de convencimento dos fiéis. III. Recontextualiza passagens do Evangelho, uma vez que as vincula às ideias que quer expressar, explorando a

analogia. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

29. (UFSM) Considere aspectos da literatura brasileira do período colonial e assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em

cada uma das afirmações seguintes: ( ) O desenvolvimento da produção literária acompanhou, nos primeiros séculos, os ciclos regionais de

ocupação e exploração da terra. ( ) Os estilos barroco e maneirista impulsionaram uma fértil produção da dramaturgia brasileira no século XVII. ( ) Os textos dos primeiros missionários demonstram que havia uma tendência para as descrições e completa

ausência de integração pedagógica. A sequência correta é

a) V – V – F. b) V – F – F. c) F – V – V. d) F – V – F. e) V – F – V. 30. (UFSM) A respeito da poesia de Gregório de Matos, assinale a alternativa incorreta.

a) Tematiza motivos de Minas gerais, onde o poeta viveu. b) A lírica religiosa apresenta culpa pelo pecado cometido. c) As composições satíricas atacam governantes da colônia. d) O lirismo amoroso é marcado por sensível carga erótica. e) Apresenta uma divisão entre prazeres terrenos e salvação eterna.

31. (UFSM) Leia um trecho de um sermão, do Padre Antônio Vieira:

Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos um estilo tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda parte e a toda natureza? O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Compara Cristo o pregar e o semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte. O objetivo do autor é

a) destacar que a naturalidade – propriedade da natureza – pode tornar mais claro o estilo das pregações religiosas.

b) salientar que o estilo usado na igreja, naquela época, não era afetado nem dificultoso. c) argumentar que a lição de Cristo é desnecessária para os objetivos da pregação religiosa. d) lamentar o fato de os sermões serem dirigidos dos púlpitos, excluindo da audiência as pessoas que ficavam

fora da Igreja. e) mostrar que, segundo o exemplo de Cristo, pregar e semear, afetam o estilo, porque são práticas inconciliáveis.

32. (PEIES/UFSM) A carta de Marco Bonfim afirma que estamos vivendo uma crise ética na sociedade brasileira.

Gregório de Matos já notava uma crise ética no século XVII, como se comprova nos seguintes versos:

Que falta nesta cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra Falta mais que se lhe ponha? Vergonha. O demo a viver se exponha, Por mais que a fama a exalta Numa cidade onde falta Verdade, honra, vergonha.

É possível identificar, nos versos apresentados, I. o caráter de jogo verbal, próprio do estilo barroco. II. uma crítica, em tom de sátira, do perfil moral da cidade da Bahia. III. um aspecto lírico e pedagógico que sustenta a crítica do poeta

Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas I e III.

d) apenas II. e) apenas II e III.

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Literatura

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33. (PEIES/UFSM) Com relação a Gregório de Matos, é correto afirmar:

a) Em pleno século XVII, movimentou a vida cultural do Rio de janeiro com a repercussão de seus poemas. b) Escreveu poemas líricos, satíricos e religiosos, mas não teve nenhum livro publicado em vida. c) Nos poemas satíricos, crítica duramente o governo português, mas nada fala da sociedade local de seu tempo. d) Mesmo sendo padre, falou mal da Igreja, o que lhe rendeu o apelido de “Boca do Inferno”. e) Embora situada no Barroco, sua poesia evita as antíteses e os paradoxos próprios do período.

34. (PEIES/UFSM) “Os dolorosos são os que vos pertencem a vós, como os gozozos aos que devendo-vos tratar como

irmãos, se chamam vossos senhores. Eles mandam, e vós servis; eles dormem, e vós velais; eles descansam, e vós trabalhais; eles gozam o fruto de vossos trabalhos, e o que vós colheis deles é um trabalho sobre outro.”

VIEIRA, Pe. A. Sermões. Porto: Lello, 1959. p.315.

No trecho do sermão de Vieira, a _______________ entre os mistérios dolorosos, e gozozos, serve como ponto de partida para a construção em _________, recurso básico da estruturação do texto, por meio do qual o autor destaca a perversidade do sistema ____________. Assinale a alternativa que completa, corretamente, as lacunas. a) metonímia – metonímias – escravagista b) comparação – comparações – indianista c) comparação – antíteses – escravagista d) assonância – assonâncias – judaico e) gradação – gradações – indianista

35. (UFRGS-2015) Leia abaixo o soneto de Gregório de Matos Guerra, e Poesia , de Carlos Drummond de Andrade.

A certa personagem desvanecida Um soneto começo em vosso gabo: Contemos esta regra por primeira; Já lá vão duas, e esta é a terceira, Já este quartetinho está no cabo, Na quinta torce agora a porca o rabo; A sexta vá também d'esta maneira: Na sétima entro já com grã canseira, E saio dos quartetos muito brabo. Agora nos tercetos que direi: Direi que vós, Senhor, a mim me honrais Gabando-vos a vós, e eu fico um rei. N'esta vida um soneto já ditei; Se d'esta agora escapo, nunca mais: Louvado seja Deus, que o acabei.

Poesia Gastei uma hora pensando em um verso que a pena não quer escrever. No entanto ele está cá dentro inquieto, vivo. Ele está cá dentro e não quer sair. Mas a poesia deste momento inunda minha vida inteira.

Considere as seguintes afirmações sobre os dois textos. I. Os dois poemas, embora reflitam sobre o fazer poético, encaram-no de modo diverso. II. A criação poética, para Gregório de Matos Guerra, é árdua, mesmo com a ajuda do rei e com a inspiração

divina. III. A criação poética, para Drummond, é árdua, por ser um ato interno que requer persistência, pois nem sempre

a inspiração gera um poema. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

36. (UFRGS-2014) Leia o trecho do Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, do Padre

Antônio Vieira, e o soneto de Gregório de Matos Guerra a seguir.

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Considere as seguintes afirmações sobre os dois textos. I. Tanto Padre Vieira quanto Gregório de Matos dirigem-se a Deus mediante a segunda pessoa do plural (vós,

vos): Gregório argumenta que o Senhor está empenhado em perdoá-lo, enquanto Vieira dirige-se a Deus (E que fizestes vós ... ) para impedir que Jó seja perdoado.

II. Padre Vieira vale-se das palavras e do exemplo de Jó, figura do Velho Testamento, para argumentar que o homem abusa da misericórdia divina ao pecar, e que Deus, de acordo com a ocasião e os argumentos fornecidos por Jó, inclina-se para o castigo no lugar do perdão.

III. Tanto Padre Vieira como Gregório de Matos argumentam sobre a misericórdia e a glória divinas: assim como Jó, citado por Vieira, declara que Deus lhe deverá a glória por tê-lo perdoado; Gregório compara-se à ovelha desgarrada que, se não for recuperada, pode pôr a perder a glória de Deus.

Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

37. (UFRGS) Assinale a alternativa correta a respeito dos textos.

a) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, elogiam a autoridade divina capaz de perdoar os pecados, mesmo que à custa de sua glória e de seu discernimento.

b) Jó, de acordo com Vieira, argumenta que há tanta glória em perdoar como em não perdoar, enquanto, para Gregório, o perdão concedido ao pecador renitente é a prova da glória de Deus.

c) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, inibem a autoridade divina que se vê constrangida a aceitar os argumentos de dois pecadores.

d) Jó, de acordo com Vieira, considera que a ocasião e a sorte impediram que a graça divina se manifestasse, enquanto para Gregório a graça divina não sofre restrições.

e) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, reforçam seus argumentos a favor do perdão como garantia da glória divina.

38. (UFRGS) Leia o poema abaixo, de Gregório de Matos Guerra.

Retrato / Dona Ângela Anjo no nome, Angélica na cara Isso é ser flor, e Anjo juntamente: Ser Angélica flor e Anjo florente Em quem, senão em vós se uniformara? Quem veria uma flor, que a não cortara De verde pé, de rama florescente? E quem um Anjo vira tão luzente, Que por seu Deus o não idolatrara? Se como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu custódio, e minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares.

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Mas vejo, que tão bela, e tão galharda Posto que os anjos nunca dão pesares Sais Anjo, que me tenta, e não me guarda.

Disponível em: <http://www.vestlbular.ufrgs.br/cv2013/gregoriomatosguerra_seleta.doc>. Acesso em: 10 set. 2012.

Considere as seguintes afirmações sobre o poema. I. O poeta explora o paralelo entre Anjo e Angélica e revela a condição perecível e doméstica da flor, permitindo

que se perceba a uniformização pretendida pelo barroco, a qual estabelece regras poéticas rígidas. II. A mulher Anjo Luzente, no poema, encarna tanto o anjo protetor que livra "de diabólicos azares", quanto a

criatura feminina tentadora que provoca a imaginação e a sensualidade. III. A associação e o contraste da flor, que seria cortada do verde pé, com o Anjo luzente a ser idolatrado, indica o

diálogo do poeta (vós) com o anjo enviado dos céus para proteger os altares de sua esposa. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas lI. c) Apenas I e lI. d) Apenas I e III. e) I, II e III.

INSTRUÇÃO: As questões 39 e 40 estão relacionadas ao trecho abaixo, extraído do Sermão de Santo Antônio, de

padre Antônio Vieira. É verdade que Portugal era um cantinho ou um canteirinho da Europa: mas nesse cantinho de terra pura e mimosa de Deus: Fide purum, et pietate dilectum: e nesse cantinho quis o Céu depositar a Fé, que dali se havia de derivar a todas estas vastíssimas terras, introduzida com tanto valor, regada com tanto sangue, recolhida com tantos suores, e metida, finalmente, nos celeiros da Igreja, debaixo das chaves de Pedro, com tanta glória. Medindo-se Portugal consigo mesmo, e reconhecendo-se tão pequeno à vista de uma empresa tão imensa, pudera dizer o que disse Jeremias, quando Deus o escolheu para Profeta das gentes: Et Prophetam in gentibus dedi te: E que disse Jeremias: Et dixit: A, A, A, Domine Deus; quia puer ego sum. A, A, A, Deus meu, onde me mandais que sou muito pequeno para tamanha empresa? O mesmo pudera dizer Portugal. Mas tirando-lhe Deus da boca estes três AAA, ao primeiro A escreveu África; ao segundo A, escreveu Ásia; ao terceiro A, escreveu América; sujeitando todas três ao seu Império, como Senhor, e sua doutrina, como luz: Vos estis lux mundi.

39. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações, sobre o trecho.

I - Vieira transforma os três AAA que manifestaram a dúvida de Jeremias nas iniciais dos três continentes (África, Ásia e América), onde se desenvolvia a missão civilizadora e catequética dos portugueses.

II - É possível identificar a índole militante e nacionalista do padre e uma enfática defesa da ação violenta de Portugal e de seus aliados.

III - O sermonista justifica eventos históricos, como a grandeza do Império português no período da expansão ultramarina, a partir de casos exemplares extraídos da Bíblia, como a escolha que Deus fez de Jeremias para a difícil missão de profetizar.

Quais estão corretas: a) Apenas I. b) Apenas lI. c) Apenas III. d) Apenas I e III. e) I, II e III.

40. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações, sobre o mesmo trecho.

I - Ao referir-se a elementos como "cantinho de terra pura e mimosa de Deus" e “celeiros da Igreja", Vieira celebra a capacidade de Portugal de suprir a carência europeia de alimentos.

II - Jeremias, por sentir-se frágil, questiona sua capacidade de empreender com sucesso a ação profética. lII - A intenção do sermão é exaltar a conquista de três continentes por um reino tão pequeno como o português. Quais estão corretas: a) Apenas I. b) Apenas lI. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

41. (UFRGS) Leia o seguinte soneto de Gregório de Matos Guerra.

Neste mundo é mais rico o que mais rapa; quem mais limpo se faz, tem mais carepa; com sua língua, ao nobre o vil decepa; o velhaco maior sempre tem capa. Mostra o patife da nobreza o mapa; quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; quem menos falar pode, mais increpa; quem dinheiro tiver, pode ser Papa. A flor baixa se inculca por tulipa; bengala hoje na mão, ontem garlopa; mais isento se mostra o que mais chupa;

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para a tropa do trapo vão a tripa, e mais não digo; porque a Musa topa em apa, em epa, em ipa, em opa, em upa.

Vocabulário: 1. Carepa: caspa, sama, pereba. 2. Increpa: censura, acusa. 3. Garlopa: instrumento de carpinteiro.

Considere as seguintes afirmações sobre o soneto lido. I. De acordo com o primeiro quarteto, quem se pretende mais limpo tem maior sujeira, mas quem é nobre trata

de decepar as pretensões de quem é vil. II. No segundo quarteto, há uma receita de ascensão social, em que, por exemplo, quem tem menos autoridade

mais acusa e quem tem riqueza obtém importância e prestígio. III. No último terceto, o poeta refere as rimas usadas ao longo do soneto e, do ponto de vista formal, abandona o

decassílabo para lançar mão de versos de oito sílabas. Quais estão corretas? a) apenas I. b) apenas II. c) apenas III. d) apenas I e III. e) I, II e III.

42. (UFRGS) Leia o seguinte soneto de Gregório de Matos.

Largo em sentir, em respirar sucinto, Peno, e calo, tão fino, e tão lento, Que fazendo disfarce do tormento, Mostro que o não padeço, e sei que o sinto. O mal, que fora encubro, ou me desminto, Dentro no coração é que o sustento: Com que, para penar é: sentimento, Para não se entender, é labirinto, Ninguém sufoca a voz nos seus retiros; Da tempestade é o estrondo efeito: Lá tem ecos a terra, o mar suspiros. Mas oh do meu segredo alto conceito! Pois não chegam a vir à boca os tiros Dos combates que vão dentro no peito.

Considere as seguintes afirmações. I. O poema é um exemplo da poesia satírica de Gregório de Matos, a qual lhe valeu a alcunha de "Boca do

Inferno”, por escarnecer de pessoas, situações e costumes de seu tempo. II. Na segunda estrofe, o poema expressa a oposição entre essência e aparência, sustentando que o sofrimento é

ocultado aos olhos do mundo. III. Segundo as duas últimas estrofes do poema, a opção pelo silêncio com relação à dor e às angústias internas

contrapõe-se aos ruídos da natureza. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

GABARITO

01.A 06.D 11.C 16.A 21.C 26.A 31.A 36.B 41.B

02.D 07.A 12.B 17.E 22.E 27.E 32.B 37.E 42.D

03.C 08.A 13.D 18.A 23.D 28.C 33.B 38.B

04.A 09.A 14.A 19.D 24.E 29.B 34.C 39.D

05.E 10.D 15.B 20.B 25.C 30.A 35.C 40.D

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Arcadismo (1768-1836)

A literatura árcade vai se caracterizar pelo equilíbrio na composição, simplicidade da linguagem e clareza no assunto, numa evidente oposição ao exagero, a complexidade e obscuridade da literatura barroca que passa a ser sinônimo de mau gosto.

Reformadores, as árcades vão buscar em Horácio, Teócrito, Virgílio, poetas da antiguidade clássica, e em poetas do classicismo renascentista como Camões e Petrarca, modelos a serem imitados. Por essa razão, a produção da época costuma, também, ser chamada de Neoclássica, embora o termo não dê conta de uma completa definição, pois há um componente ideológico que é fundamental para a compreensão das manifestações literárias do século XVIII. Trata-se do laço com o pensamento liberal e com a filosofia iluminista, o que deu à literatura árcade, às vezes, caráter didático, abordando temas como educação, caso de O Desertor das Letras de Silva Alvarenga, político, caso de Cartas Chilenas de Tomás A. Gonzaga, até poemas com finalidade laudatória, hoje com assuntos considerados anti-poéticos. Esse vínculo também ajuda a entender a idealização da vida simples e amena (locus amoenus), tão comum nos poemas árcade, como manifestação de uma sociedade que se urbanizou e que se ressente do que perdeu ao se afastar da natureza. Logo, os pastores nos textos do período, são apenas projeções de um burguês que vive na cidade mas anseia pela tranquila vida do campo.

No caso do Brasil, os poetas, embora associados às Arcádias Romana e Lusitana, fundamentadas nos preceitos, respectivamente, de Verney e Cândido Lusitano, souberam fazer seu aquilo que imitaram e deram um toque particular ao nosso arcadismo.

São exemplos disso, a natureza brasileira presente nos poemas de Alvarenga Peixoto, o índio, nas epopéias de Basílio da Gama e Santa Rita Durão, a atividade mineradora citada nas liras de Tomás Antônio Gonzaga e a paisagem mineira nos sonetos de Cláudio Manuel da Costa.

Conheçamos, agora, o grupo de poetas conhecido como a plêiade mineira, como os poetas inconfidentes, já que, praticamente todos nasceram ou viveram na região aurífera de Minas Gerais e aca-baram enleados no processo da inconfidência mineira.

- Aurea Mediocritas: Mediania, dourada, consiste na exaltação da simplicidade. - Fugere Urbem e Locus Amoenus: fugir da cidade e buscar um refúgio junto à natureza. - Inutilia Truncat: retirar o inútil, preocupação em tornar o poema simples.

CLÁUDIO MANUEL DA COSTA (1729-1789) *OBRAS POÉTICAS (1768)

*VILA RICA (1773)

O Glauceste Satúrnio, pseudônimo adotado por Cláudio, nasceu em Minas Gerais, mas sua formação intelectual se deu em Portugal. Ao regressar da metrópole civilizada, reencontrou a rusticidade de seu país, razão pela qual sua poesia expressa, não raro, o sentimento de uma alma sensível que desejava exprimir sua terra em contradição com o mundo em que vivia.

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Destes penhascos fez a natureza O berço em que nasci: oh! quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor que vence os tigres, por empresa Tomou logo render-me; ele declara Contra o meu coração guerra tão rara, Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano, A que dava ocasião minha brandura, Nunca pude fugir ao cego engano:

Vós, que ostentais a condição mais dura, Temei, penhas, temei, que Amor tirano, Onde há mais resistência, mais se apura.

No soneto anterior, pode-se observar como a imagem da pedra, da penha, enfim, elementos da

paisagem mineira, são frequentes nas construções de Cláudio, esboço de um nativismo pré-romântico. A natureza é interlocutora do pastor, que amante infeliz, amargurado com as contradições da vida, encontra nela sua confidente e seu refúgio. As comparações do campo com a cidade também são recorrentes, testemunho do empenho em valorizar o ideal árcade de uma vida simples e pacífica, junto à natureza.

Quem deixa o trato pastoril, amado, Pela ingrata, civil correspondência, Ou desconhece o rosto da violência, Ou do retiro a paz não tem provado.

Que bom é ver nos campos, transladado No gênio do Pastor, o da inocência! E que mal é no trato, e na aparência Ver sempre o cortesão dissimulado! respira Amor sinceridade; Aqui sempre a traição seu rosto encobre; Um só trata a mentira, outro a verdade.

Ali não há fortuna que soçobre; Aqui quanto se observa é variedade: Oh! ventura do rico! oh! bem do pobre!

Cláudio Manuel da Costa foi um poeta de transição, isto é, sua produção guardava um pouco de

cultismo (antíteses, hipérbatos, paradoxos...) e se esforçava, influenciada por Petrarca e Camões, em se tornar mais simples e equilibrada. Ainda assim, a despeito do fraco Vila Rica, suas Obras reúnem alguns dos mais belos poemas da literatura brasileira. Cláudio, acusado de inconfidente, foi preso e, especulam, suicidou-se na prisão.

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TOMÁS ANTONIO GONZAGA (1744-1810) MARÍLIA DE DIRCEU

- 1ª Parte: 1792 - 2ª Parte: 1799 - 3ª Parte: 1812

Poema lírico-amoroso constituído, segundo alguns, de 3 partes, segundo outros, que suspeitam da

terceira parte, de duas, é a obra mais conhecida do arcadismo brasileiro. A existência de duas pessoas foram fundamentais na vida do autor para a construção do poema: uma foi Cláudio Manuel da Costa, amigo e mestre que lhe transmitiu a técnica, no que foi superado pelo discípulo, pois Gonzaga soube dar à expressão mais naturalidade; outra, foi Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, namorada e noiva, tema do poema ou, como afirma a maioria dos estudiosos, apenas pretexto para que o poeta e ouvidor ge-ral de Vila Rica falasse de si mesmo, ficando-lhe melhor o título de Dirceu de Marília.

Pelo visto, o poema apresenta fortes marcas autobiográficas, constituindo-se uma espécie de roteiro da vida de Tomás Antônio Gonzaga que, travestido de pastor Dirceu, acaba revelando traços de sua indivi-dualidade, principalmente na segunda parte da obra que foi produzida na prisão. Vejamos trechos, então, que nos apresentem um pouco mais da Marília e do Dirceu.

Na primeira parte do poema é dominante o trovadoresco galanteio amoroso, onde Marília é insistentemente retratada, ora loira, ora morena, numa clara tentativa de desindividualização da mesma:

Nesta cruel masmorra tenebrosa Ainda vendo estou teus olhos belos A testa formosa Os dentes nevados Os negros cabelos

(Lira I – 2ª parte)

A minha Marília quanto À natureza não deve! Tem divino rosto, E tem mãos de neve. Se mostro na face o gosto, Ri-se Marília contente: Se canto, canta comigo, E apenas triste me sente, Limpa os olhos com as tranças Do fino cabelo louro. A minha Marília vale, Valeu um imenso tesouro.

(Lira XVII – 1ª parte)

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Marília é constante alvo das lições de Dirceu que assume ares de professor, o que deixa vislumbrar o árcade ilustrado procurando, através da poesia, transmitir conhecimentos e valores morais:

O ser herói, Marília, não consiste Em queimar impérios; move a guerra, Espalha o sangue humano, E despovoa a terra Também o mau tirano Consiste o ser herói em viver justo: E tanto pode ser herói o pobre, como o maior Augusto Eu é que sou herói, Marília bela, Seguindo da virtude a honrosa estrada: Ganhei, ganhei um trono Ah! não manchei a espada, Ergui-o no teu peito, e nos teus braços E valem muito mais que o mundo inteiro uns tão ditosos laços

(Lira XXVII – 1ª parte)

Dirceu preocupa-se com a passagem do tempo. Quando se vê na prisão, principalmente, teme pelo futuro ao constatar seu envelhecimento:

Já, já me vai, Marília, branquejando Louro cabelo, que circula a testa; Este mesmo, que alveja, vai caindo E pouco já me resta. As faces vão perdendo as vivas cores, E vão-se sobre os ossos enrugados, Vai fugindo a viveza dos meus olhos; Tudo se vai mudando.

(Lira IV – 2ª parte)

Dirceu faz planos onde antevê cenas do cotidiano familiar. (Vale lembrar que tudo não passou de um ideal, já que Gonzaga foi preso e desterrado, ficando apartado para sempre de sua amada). Fala com naturalidade de sua inteligência, posição social, aparência, e há momentos em que o juiz assume o lugar do pastor, numa confusão de papéis provocada pela preocupação de Gonzaga, sem a riqueza da noiva e com 40 anos, em se mostrar para a jovem rica de 17 anos:

Verás em cima da espaçosa mesa Altos volumes de enredados feitos; Ver-me-ás folhear os grandes livros, E decidir os pleitos. Enquanto revolver os meus consultos, Tu me farás gostosa companhia, Lendo os fatos da sábia mestra história, E os cantos da poesia. Lerás em alta voz a imagem bela, eu vendo que lhe dás o justo apreço, gostoso tornarei a ler de novo O cansado processo.

(Lira III – 3ª parte)

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro. Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d’expressões grosseiros, Dos frios gelos, e dos sóis queimados. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite,

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E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela! Graças, à minha Estrela!

(Lira I – 1ª parte)

Importante destacar, nos trechos acima, o cenário e o cotidiano mineiro, alusão ao ambiente e ao contexto em que as liras foram escritas.

CARTAS CHILENAS

Escritas entre 1787 e 1788, são poemas satíricos que criticam Luis da Cunha Meneses, o Fanfarrão Minésio, homem que governou a capitania de Minas Gerais de 1783 a 1788. As cartas que circularam em Vila Rica antes da inconfidência, vinham assinadas com o pseudônimo Critilo e eram endereçadas a Doroteu. Hoje, sabemos que Gonzaga era o autor/reme-tente das cartas e que Cláudio M. da Costa era, possivelmente, o seu interlocutor/destinatário. Os poemas têm estrofação livre e os versos são decassílabos brancos.

BASÍLIO DA GAMA (1741-1795) URUGUAI (1769)

O tratado de Madri (1750) determinou que os jesuítas e indígenas dos sete povos das missões deviam desocupar o território que passaria a Portugal, enquanto, em contrapartida, a colônia de Sacramento seria entregue aos espanhóis. Em decorrência desse acordo, eclode a guerra guaranítica (1756), tendo o exército luso-espanhol, liderado pelo general Gomes Freire de Andrade, de um lado e, de outro, os índios, instigados pelos jesuítas, liderados por Sepé Tiarajú e Cacambo. Essa história narrada no poema que, como se vê, procura culpar os jesuítas pela insurreição indígena, deixando clara a intenção do poeta em criticar os missionários e, num mesmo tempo, louvar a política pombalina. Este objetivo se esclarece quando, conhecendo um pouco da biografia de Basílio da Gama, descobrimos que ele, depois da expulsão dos jesuítas, foi acusado e preso por jesuitismo, só se livrando da cadeia depois de ter escrito um poema dedicado à filha de Pombal que o fez, em seguida, seu secretário. Não é de se estranhar que o poeta de empenhasse, portanto, em exaltar a política de seu protetor.

Formalmente, o poema, em parte, rompe com a estrutura tradicional, pois muito embora a epopéia apresente proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo, o começo se dá pela narração. Além disso, as estrofes que compõem os V cantos são livres e os versos (decassílabos e brancos), no trecho em que Lindóia morre, perpassados de lirismo.

...Mais de perto Descobrem que se enrola no seu corpo Verde serpente, e lhe passeia, e cinge Pescoço e braços, e lhe lambe o seio. Fogem de a ver assim, sobressaltados, E param cheios de temor ao longe; E nem se atrevem a chamá-la, e temem Que desperte assustada, e irrite o monstro,

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E fuja, o apresse no fugir a morte. Porém o destro Caitutu, que treme Do perigo da irmã, sem mais demora Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes Soltar o tiro, e vacilou três vezes Entre a ira e o temor. Enfim sacode O arco e faz voar a aguda seta, Que toca o peito de Lindóia, e fere A serpente na testa, e a boca e os dentes Deixou cravados no vizinho tronco. Açouta o campo côa ligeira cauda O irado monstro, e em tortuosos giros Se enrosca no cipreste, e verte envolto Em negro sangue o lívido veneno. Leva nos braços a infeliz Lindóia O desgraçado irmão, que ao despertá-la Conhece, com que dor! no frio rosto Os sinais do veneno, e vê ferido Pelo dente sutil o brando peito Os olhos, em que Amor reinava, um dia, Cheios de morte; e muda aquela língua Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes contou a larga história de seus males. Nos olhos de Caitutu não sofre o pranto, E rompe em profundíssimos suspiros, Lendo na testa da fronteira gruta De sua mão já trêmula gravado O alheio crime e a voluntária morte. E por todas as partes repetido O suspirado nome da Cacambo. Inda conserva o pálido semblante Um não sei quê de magoado e triste, Que os corações mais duros enternece. tanto era belo no seu rosto a morte!

SANTA RITA DURÃO (1722-1784)

CARAMURU (1781) O poema narra o naufrágio, o salvamento e as aventuras do português Diogo Álvares Correa entre

os tupinambás, por ocasião do episódio, histórico e lendário, sobre o descobrimento da Bahia. Retomando aspectos da literatura quinhentista, o poeta descreve a flora, a fauna, as riquezas da terra, prenúncio de nativismo, e anota informações sobre os costumes dos índios, sem esquecer, católico que era, de justificar a catequização dos mesmos.

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Fiel imitador de Os Lusíadas de Camões, Durão empregou a oitava rima (ABABABCC) nos versos

decassílabos que compõem os X cantos de sua epopéia que seguiu o roteiro tradicional: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo.

Merece destaque a passagem do canto VI, momento em que Moema morre tragada pelas águas, nadando atrás de Diogo que partia com Paraguaçu.

Copiosa multidão da nau francesa Corre a ver o espetáculo assombrada; E, ignorando a ocasião de estranha empresa, Pasma da turba feminil que nada. Uma, que às mais precede em gentileza, Não vinha menos bela do que irada; Era Moema, que de inveja geme, E já vizinha à nau se apega ao leme (...) “- Bárbaro (a bela diz), tigre e não homem... Porém o tigre, por cruel que brame, Acha forças amor que enfim o domem; Só a ti não domou, por mais que eu te ame. Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem. Como não consumis aquele infame? Mas apagar tanto amor com tédio e asco... Ah que o corisco és tu... raio... penhasco? (...) Enfim, tens coração de ver-me aflita, Flutuar moribunda entre estas ondas; Nem o passado amor teu peito incita A um ai somente com que aos meus respondas! Bárbaro, se esta fé teu peito irrita, (Disse, vendo-o fugir), ah não te escondas! Dispara sobre mim teu cruel raio...” E indo a dizer o mais, cai num desmaio. (...) Perde o lume dos olhos, pasma e treme, Pálida a cor, o aspecto moribundo; Com mão já sem vigor, soltando o leme, Entre as salsas escumas desce ao fundo. Mas na onda do mar, que irado freme, Tornando a aparecer desde o profundo, - Ah! Diogo cruel! – disse com mágoa, E sem mais vista ser, sorveu-se na água.

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01. (UCS-2011/2) Leia os fragmentos dos poemas de Gregório de Matos e de Tomás Antônio Gonzaga.

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras, morre a formosura, Em contínuas tristezas, a alegria.

(MATOS, Gregório. Moraliza o poeta nos ocidentes do sol a inconstância dos bens do mundo. In: OLIVEIRA, Clenir Bellezi. Arte Literária: Portugal – Brasil.

São Paulo: Moderna, 1999. p.106.)

Eu, Marília, não fui algum Vaqueiro, Fui honrado Pastor da tua Aldeia; Vestia finas lãs e tinha sempre A minha choça do preciso cheia. Tiraram-me o casal e o manso gado, Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.

(GONZAGA, Tomás António. Lira XV. In: OLIVEIRA, Clenir Bellezi. Arte Literária: Portugal – Brasil. São Paulo: Moderna, 1999. p.124.)

As afirmações seguintes referem-se aos poemas acima. I. A estrofe de Gregório de Matos serve como exemplo do período Barroco, apresentando como característica

principal a antítese. II. No fragmento da Lira XV, o sujeito lírico inicialmente descreve a vida bucólica do campo, recurso muito

utilizado pelos poetas árcades. III. Tanto Gregório de Matos como Tomás Antônio Gonzaga preocupam-se em manifestar, por meio dessas

estrofes, uma visão crítica da sociedade do século XIX. Das afirmativas acima, pode-se dizer que a) apenas I está correta. b) apenas III está correta. c) apenas I e II estão corretas. d) apenas II e III estão corretas. e) I, II e III estão corretas.

02. (UCS-2012/1) As obras literárias marcam diferentes visões de mundo, não apenas dos autores, mas também de

épocas históricas distintas. Reflita sobre isso e leia os fragmentos dos poemas de Gregório de Matos e de Tomás Antônio Gonzaga.

Arrependido estou de coração, de coração vos busco, dai-me abraços, abraços, que me rendem vossa luz. Luz, que claro me mostra a salvação, a salvação pretendo em tais abraços, misericórdia, amor, Jesus, Jesus!

(MATOS, Gregório. Pecador contrito aos pés do Cristo crucificado. In: TUFANO, Douglas. Estudos

de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p. 66.)

Minha bela Marília, tudo passa; a sorte deste mundo é mal segura; se vem depois dos males a ventura, vem depois dos prazeres a desgraça. Estão os mesmos deuses sujeitos ao poder do ímpio fado: Apolo já fugiu do céu brilhante, já foi pastor de gado.

(GONZAGA, Tomás António. Lira XIV. In: TUFANO, Douglas. Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo:

Moderna, 1988. p. 77.)

Em relação aos poemas, analise a veracidade (V) ou a falsidade (F) das proposições abaixo. ( ) O poema de Gregório de Matos apresenta um sujeito lírico torturado pelo peso de seus pecados e desejoso de

aproximar-se do Divino. ( ) Tomás Antônio Gonzaga, embora pertença ao mesmo período literário de Gregório de Matos, revela neste

poema um sujeito lírico consciente da brevidade da vida. ( ) Em relação às marcas de religiosidade, a visão antagônica que se coloca entre os dois poemas reflete, no

Barroco, a influência do cristianismo e, no Arcadismo, a da mitologia grega.

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Assinale a alternativa que preenche corretamente os parênteses, de cima para baixo. a) V – V – V b) V – F – F c) V – F – V d) F – F – F e) F – V – F

03. (UCS-2012/2) O movimento árcade no Brasil procurou refletir as influências europeias aliadas aos interesses dos

poetas pelas coisas da nossa terra. O mais popular poeta mineiro do período foi Tomás Antônio Gonzaga, que, em sua poesia lírica, Marília de Dirceu, tematiza os amores entre Dirceu e Marília. Leia o fragmento de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga.

Lira II Na sua face mimosa, Marília, estão misturadas Purpúreas folhas de rosa, Brancas folhas de jasmim. Dos rubins mais preciosos Os seus beiços são formados; Os seus dentes delicados São pedaços de marfim.

(GONZAGA, T. A. Marília de Dirceu. s/l. Editora Tecnoprint. s/d. p.28.)

A partir do fragmento acima, assinale a alternativa correta em relação ao Arcadismo. a) Nessa Lira, o eu-lírico preocupa-se em buscar a razão de seus sentimentos amorosos. b) A descrição de Marília denota sensualidade e paixão, evidenciadas pelos adjetivos empregados. c) O culto à natureza é uma característica que representa o mundo pastoril dos poetas do século XVIII. d) Nesse fragmento, a confusão de sentimentos demonstra uma característica marcante do Arcadismo: o

bucolismo. e) A fuga da realidade para uma vida campestre e harmoniosa é descrita por meio do uso de uma linguagem

antitética. 04. (UCS-2013/2) O século XVIII, na Europa, foi o berço do movimento árcade. O nome Arcadismo vem da “Arcádia”,

que era uma região campestre do Peloponeso, na Grécia Antiga. Sobre o período Árcade é correto afirmar que a) o escritor árcade busca a inspiração nos clássicos, por isso a linguagem usada nos seus textos é baseada no

conceptismo barroco. b) uma das características do Arcadismo é seu espírito realista, acentuado pela busca de uma vida simples, na

cidade. c) as ideias de liberdade, igualdade social e justiça constituem a temática da obra Marília de Dirceu, de Tomás

Antônio Gonzaga. d) Cláudio Manuel da Costa, poeta lírico árcade, escreveu as obras Vila Rica e Cartas Chilenas. e) o poema épico árcade O Uraguai foi escrito por Basílio da Gama e apresenta como temática a luta de

portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas. 05. (UCS-2014/1) Sabendo que o gênero lírico se caracteriza pela expressão subjetiva, representando a interioridade do

sujeito poético, enquanto o gênero épico é objetivo, expressando predominantemente, sob forma narrativa, um episódio heroico, pode-se dizer que são épicas as seguintes obras do Arcadismo no Brasil: a) Vila Rica, de Claudio Manuel da Costa, Cartas chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, e Glaura, de Silva

Alvarenga. b) Marília de Dirceu e Cartas chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, e Caramuru, de Santa Rita Durão. c) O Uraguai, de Basílio da Gama, Prosopopeia, de Bento Teixeira, e Caramuru, de Santa Rita Durão. d) Obras poéticas e Vila Rica, de Cláudio Manuel da Costa, e Cartas chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga. e) O Uraguai, de Basílio da Gama, Caramuru, de Santa Rita Durão, e Vila Rica, de Cláudio Manuel da Costa.

06. (UCS-2014/2) Em relação ao Arcadismo, é correto afirmar que

a) o movimento estético caracteriza-se, principalmente, pela retomada da cultura greco-latina, pela subjetividade e pela idealização do amor e da beleza.

b) a estética simples presente no Movimento permite até a inserção da linguagem popular em textos épicos. c) o exagero transparece principalmente em relação a qualidades e defeitos dos personagens. d) a presença marcante do bucolismo implica exaltação da vida campesina em poemas do Período. e) a tendência ao sentimentalismo, assumida pelo Arcadismo em oposição ao Barroco, implica tematizar o

sofrimento amoroso.

07. (UCS-2015/1) Os trechos a seguir fazem parte da canção “Casa no campo”, cantada por Elis Regina.

Eu quero uma casa no campo Onde eu possa compor muitos rocks rurais E tenha somente a certeza Dos amigos do peito e nada mais [...] Eu quero carneiros e cabras pastando solenes No meu jardim [...]

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Eu quero plantar e colher com a mão A pimenta e o sal [...]

Fonte: REGINA, Elis. Casa no campo. Letra de Zé Rodrix e Tavito. Ábum: Fascinação. 1990. Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/elis-regina/casa-no-campo.html#ixzz396La2jjM>. Acesso em: 20 set. 14.

Na presença marcante do bucolismo e na exaltação da vida campesina, a composição acima retoma traços característicos do a) Romantismo. b) Arcadismo. c) Realismo. d) Barroco. e) Modernismo.

08. (UCS-2017/2) No filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, a mensagem de carpe diem é transmitida a jovens

estudantes para lembrar a brevidade da vida e a urgência de vivê-la de forma extraordinária. Carpe diem é viver o hoje sem preocupações com o amanhã. É desfrutar a vida e os prazeres do momento em que se vive. Essa expressão tem o objetivo de lembrar que a vida é breve e efêmera, razão pela qual cada instante deve ser aproveitado. Disponível em: . Acesso em: 19 set. 17. (Parcial e adaptado.)

Carpe diem é uma convenção do período literário denominado a) Parnasianismo. b) Romantismo. c) Realismo. d) Modernismo. e) Arcadismo.

09. (UPF-2010/1) Assinale com V as afirmativas verdadeiras e com F as falsas, referentes à obra O Uraguai, de Basílio

da Gama, (_) No primeiro canto é apresentado o tema central da narrativa: a luta das tropas comandadas por Gomes Freire

de Andrada na Guerra das Missões. Depois de apresentar a cena do campo de batalha cheio de corpos, é narrada a cena inicial do conflito, sendo apresentadas as tropas luso-espanholas e seu líder.

(_) O poema apresenta questões relevantes quanto à identidade regional, a exemplo da construção da imagem de Sepé Tiaraju como herói guerreiro que comanda a reação indígena contra a destruição dos Sete Povos das Missões.

(_) O poema evidencia o reconhecimento que Basílio da Gama tem para com os índios e os padres da Companhia de Jesus. Apresenta-os como os heróis da guerra e da luta pelo direito de permanecer naquela terra. Condena, no entanto, os feitos do general Gomes Freire de Andrade, representante dos portugueses, atribuindo-lhes o papel de vilões da narrativa.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: a) F-V-V b) V-V-F c) V-F-F d) V-F-V e) F-F-V

10. (UPF-2010/2) Analise as afirmativas abaixo, sobre a obra O Uraguai, de Basílio da Gama.

I. Nas cenas iniciais de guerra descritas pelo poeta Basílio da Gama, os indígenas aparecem como heróis gloriosos, lembrando os protagonistas de guerras de épicos antigos. Cacambo, por exemplo, ao incendiar o acampamento do inimigo europeu, lembra Ulisses, que incendiou Troia. Entretanto, no decorrer do texto esse mesmo indígena é ridicularizado, passando a ser apresentado como um derrotado ou covarde.

II. Nos versos "Tem por despojos cabeludas peles/ De ensanguentados e famintos lobos/ e fingidas raposas.", o poeta, fazendo referência ao que cabe aos heróis depois da luta, deixa clara a sua condenação à ação dos jesuítas nas Missões. Assim, afirma a ideia de que a guerra guaranítica prestou-se à libertação dos índios do poder dos jesuítas.

III. A heroína indígena Lindoia, diante da dor pelo amor que se tornou impossível, procura a morte na floresta. Na cena em que se deixa picar por uma serpente, realizando, assim, o desejo de morrer, observa-se uma relação harmônica entre a natureza e a personagem, visto que aquela age sobre esta com suas plantas e seus animais.

Está correto o que se afirma em: a) I, II e III b) I e II c) II e III d) I e III e) II

11. (UPF-2011/1) Leia as seguintes afirmações sobre Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga:

I. Embora seja uma das principais características do período árcade, o bucolismo está ausente do poema. II. A busca da objetividade conduziu à neutralização da individualidade do poeta, que passa a recorrer a situações

e emoções genéricas nas quais sua emoção se dilua. III. Está presente na obra de Tomás Antônio Gonzaga a concepção burguesa do amor e da vida. Qual(is) está(ão) correta(s)? a) I, II e III b) Apenas II e III c) Apenas I, II d) Apenas I, III e) Apenas III

12. (UPF-2011/2) Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, é um exemplo de poesia _______________ e uma de

suas características é o _____________. A alternativa que completa corretamente as lacunas do texto anterior é:

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a) árcade – bucolismo b) árcade – sentimentalismo exagerado c) romântica – sentimentalismo exagerado d) realista – universalismo e) simbolista – universalismo

13. (UPF-2012/2) Neste álamo sombrio, aonde a escura

Noite produz a imagem do segredo; Em que apenas distingue o próprio medo Do feio assombro a hórrida figura; Aqui, onde não geme, nem murmura Zéfiro brando em fúnebre arvoredo, Sentado sobre o tosco de um penedo Chorava Fido a sua desventura. Às lágrimas a penha enternecida Um rio fecundou, donde manava D'ânsia mortal a cópia derretida: A natureza em ambos se mudava; Abalava-se a penha comovida; Fido, estátua da dor, se congelava.

Leia as seguintes afirmações sobre o soneto XXII, de Cláudio Manuel da Costa, transcrito acima: I. O pastor lamenta a sua desventura amorosa e, na sua dor, transforma-se em uma estátua. II. A referência a elementos da natureza mostra que esse soneto é um exemplo da poesia épica produzida pelo

autor. III. A natureza amena presente no poema corresponde integralmente às normas da poesia arcádica. Está correto apenas o que se afirma em: a) I b) II c) III d) I e II e) II e III

14. (UPF-2012/1) Na poesia de Cláudio Manuel da Costa verifica-se um conflito entre as solicitações da poética

neoclássica ou árcade, que o levam a conceber artificialmente uma paisagem _______________, e o sentimento nativista do escritor, que o impele a aproveitar artisticamente a paisagem ____________ de sua pátria.

A alternativa que completa corretamente as lacunas do texto anterior é: a) amena - bucólica b) rústica - bucólica c) bucólica - rústica d) rústica - amena e) bucólica - amena

15. (UPF-2013/2)

Já rompe, Nise, a matutina aurora O negro manto, com que a noite escura, Sufocando do Sol a face pura, Tinha escondido a chama brilhadora. Que alegre, que suave, que sonora, Aquela fontezinha aqui murmura! E nestes campos cheios de verdura Que avultado prazer tanto melhora! Só minha alma em fatal melancolia, Por te não poder ver, Nise adorada, Não sabe inda que coisa é alegria; E a suavidade do prazer trocada Tanto mais aborrece a luz do dia, Quanto a sombra da noite mais lhe agrada.

CLÁUDIO MANUEL DA COSTA

Assinale a única afirmação que não se refere ao poema acima. a) A natureza é caracterizada pelos seus traços tipicamente brasileiros, em oposição aos traços idealizados da

natureza típica do arcadismo europeu. b) A natureza é caracterizada, de acordo com as normas do estilo arcádico, como lugar ameno, em que à noite se

segue o dia, com o sol claro, a fonte murmurante e os campos verdejantes.

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c) Este poema é um soneto, forma fixa composta por catorze versos, agrupados em dois quartetos e dois tercetos.

d) O eu lírico exprime a tristeza de estar separado de Nise, a sua amada, em contraste com a alegria que a natureza diurna manifesta.

e) O eu lírico intensifica a expressão da sua tristeza por não ver a mulher amada, ao afirmar a sua preferência pela noite em oposição ao dia.

16. (UPF-2013/1) São autores representativos do arcadismo:

a) Antônio Vieira, Cláudio Manuel da Costa e Gregório de Matos. b) Basílio da Gama, Cláudio Manuel da Costa e Gregório de Matos. c) Basílio da Gama, Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. d) Cláudio Manuel da Costa, Gonçalves Dias e Tomás Antônio Gonzaga. e) Cláudio Manuel da Costa, Gregório de Matos e Tomás Antônio Gonzaga.

17. (UPF-2016) Basílio da Gama, em O Uraguai, de 1769, narra os sucessos da expedição militar empreendida por

portugueses e espanhóis contra os Sete Povos das Missões. Sobre esse poema, de pretensões épicas, apenas é incorreto afirmar que: a) se divide em cinco cantos compostos por decassílabos brancos. b) tenta conciliar a louvação de Pombal e o heroísmo do indígena. c) glorifica a ação catequizadora desenvolvida pelo jesuíta junto ao índio. d) aborda fatos quase contemporâneos à composição da obra. e) apresenta passagens líricas que cativaram os leitores ao longo do tempo.

18.(UPF-2017) São traços constantes do Arcadismo, o gosto da clareza e da simplicidade, que se contrapõe à

____________; os mitos do homem natural e do __________________; e a _______________, que expressa a consciência libertária dos intelectuais ligados ao movimento. Assinale a alternativa cujas informações preenchem corretamente as lacunas do enunciado. a) tradição clássica / indianismo / religiosidade. b) tradição clássica / indianismo / mordacidade satírica. c) estética cultista / indianismo / poesia condoreira. d) estética cultista / bom selvagem / poesia condoreira. e) estética cultista / bom selvagem / mordacidade satírica. 19. (UNIFRA-2010/1)

“Que havemos de esperar, Marília bela? que vão passando os florescentes dias? As glórias que vêm tarde, já vêm frias, e podem, enfim, mudar-se a nossa estrela. Ah! não minha Marília, aproveite-se o tempo, antes que faças, o estrago de roubar ao corpo as forças, e ao semblante a graça!”

(Tomás Antônio Gonzaga)

Com relação às características do Arcadismo presentes no fragmento, assinale a alternativa que as apresenta corretamente: a) carpe diem; postura hedonista. b) locus amoenus; bucolismo. c) pastoralismo; ornamentação leve. d) fugacidade do tempo; rebuscamento estilístico. e) imitação da natureza; antítese.

20. (UNIFRA-2013/2)

Aqui se cria o peixe regalado Com tal sustância e gosto preparado, Que sem tempero algum para apetite Faz gostoso convite E se pode dizer em graça rara Que a mesma natureza os temperara.

Manoel Botelho de Oliveira

Ao sublimar as potencialidades da nova terra, o poeta louva a abundância e a natureza. Com base nessa afirmação assinale a alternativa correta. a) O status do novo sonho do espaço físico privilegiado não simboliza o Brasil colônia. b) A abundância descrita nos versos acima indica que o novo mundo apresenta natureza e riquezas raras. c) A partir dos versos acima, é impossível identificar a defesa de um ideário atraente e desejável em relação ao

Brasil colônia. d) Aos europeus restam apenas as vantagens e o mérito dos pescados, que louvam sua cultura, de longa

tradição.

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e) As riquezas descobertas na América, entre os séculos XVI e XVIII, consistem no primeiro ato dos grandes navegadores.

21. (UNIFRA-2015/1)

Para cantar de amor tenros cuidados, Tomo entre vós, ó montes, o instrumento; Ouvi pois o meu fúnebre lamento; Se é, que de compaixão sois animados: Já vós vistes, que aos ecos magoados Do trácio Orfeu parava o mesmo vento; Da lira de Anfião ao doce acento Se viram os rochedos abalados. Bem sei, que de outros gênios o Destino, Para cingir de Apolo a verde rama, Lhes influiu na lira estro divino: O canto, pois, que a minha voz derrama, Porque ao menos o entoa um peregrino, Se faz digno entre vós também de fama.

Assinale a alternativa que apresenta corretamente o nome do autor e o respectivo período literário. a) Gonçalves Dias – Romantismo b) Castro Alves – Romantismo c) Cláudio Manuel da Costa – Arcadismo d) Álvares de Azevedo – Romantismo e) Gonçalves Dias – Arcadismo

22. (UNIFRA-2017)

Não sei, Marília, que tenho, depois que vi o teu rosto, pois quanto não é Marília, Já não posso ver com gosto. Noutra idade me alegrava, até quando conversava com o mais rude vaqueiro: hoje, ó bela, me aborrece inda o trato lisonjeiro do mais discreto pastor Que efeitos são os que sinto? Serão efeitos de Amor?

(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu & Cartas Chilenas. São Paulo: Ática, 1999).

Considerando a leitura do excerto e os seus conhecimen-tos sobre o Arcadismo brasileiro, é correto afirmar que a) a estética árcade pressupunha uma atitude de evi-dente intenção sexual. b) o Arcadismo brasileiro propôs uma poesia palaciana, marcada por um aristocrático trato da linguagem. c) os aspectos biográficos que circundam Marília de Dirceu são dispensáveis para sua compreensão na

história da literatura brasileira. d) as liras de Dirceu mantêm um preceito de decoro ao retratar a beleza da amada, privilegiando, especial-

mente, o seu rosto. e) a poesia regionalista do Arcadismo é matriz de poe-tas como Murilo Mendes e Mário de Andrade. 23. (IMED-2015/1) Expressão do poeta romano Horácio, Carpe diem é popularmente traduzida do latim para “aproveite

o dia”. O professor John Keating, personagem de Robin Williams no filme estadunidense Dead Poets Society, no Brasil “Sociedade dos poetas mortos”, buscou motivar seus alunos entusiasmado por tal lema. Ideia presente na poesia inglesa dos séculos XVI e XVII, também inspirou poetas brasileiros, sendo uma das principais características do: a) Barroco. b) Arcadismo. c) Romantismo. d) Simbolismo. e) Modernismo.

24. (UNISC-2017) Leia atentamente as afrnnativas a seguir e assinale (V) para a verdadeira e (F) para a falsa.

( ) Claudio Manuel da Costa é um dos poetas mais importantes do Barroco brasileiro. ( ) Basílio da Gama e Santa Rita Durão são dois grandes nomes da poesia épica produzida durante o

Arcadismo no Brasil. ( ) A ausência de rigor na métrica e o uso de versos brancos fazem de Mario Quintana um dos mais

representativos poetas do nosso Parnasianismo. ( ) Usando uma linguagem bastante singela e corriqueira, a poesia de Augusto dos Anjos apresenta

alguns dos mais belos versos sobre o amor escritos durante o Pré-Modernismo.

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( ) Vidas secas, de Graciliano Ramos, e O Quinze, de Rachel de Queiroz, são duas obras significativas do chamado "Romance de 30".

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo. a) F-F-V-F-V b) V-F-V-F-V c) V-V-V-F-V d) F-V-F-F-V e) V-F-V-F-F 25.(UFSM) Na literatura, os alimentos são empregados com frequência de forma figurada. É o que se vê no poema de

Cláudio Manuel da Costa:

Sobre o poema, assinale a alternativa INCORRETA. a) Tendo como cenário o campo e, como personagens, vaqueiros, o poema pode ser caracterizado como

bucólico, o que vai ao encontro de uma tendência da poesia do período em que foi composto. b) O poema apresenta uma situação de conflito entre dois vaqueiros que, segundo o eu-lírico, apresentam

condições econômicas idênticas, mas sentimentais opostas. c) O último verso do poema apresenta uma antítese como forma de representação de que a disputa retratada não

poderá apresentar o mesmo final feliz para todas as partes envolvidas. d) O uso anafórico de “bem”, no primeiro terceto do poema, reforça a ideia de que o adversário do eu-lírico pelo

amor da “bela serrana” também possui virtudes, ainda que não sejam tão intensas. e) O poema apresenta rimas externas, interpoladas nos quartetos e alternadas nos tercetos, mas também

apresenta rima interna, o que assinala uma das características da lírica: a musicalidade. 26.(UFSM) O poeta árcade Cláudio Manuel da Costa valeu-se, em alguns momentos, da natureza brasileira para

compor sua poesia, fugindo, assim, pelo menos em parte, do convencionalismo neoclássico. A partir dessa ideia, leia o poema a seguir.

Acerca do poema, assinale a alternativa INCORRETA. a) O poema é um soneto composto de versos decassílabos

heroicos, com rima intercalada nos quartetos e cruzada nos tercetos.

b) O eu lírico tem como interlocutor de seu poema as “Altas serras” (ref. 1), às quais se dirige diretamente também ao final, em “ó penhas” (ref. 2), caracterizando assim o uso de apóstrofes.

c) O eu lírico emprega algumas inversões sintáticas no poema, como em “[...] que ao Céu estais servindo! De muralhas” (ref. 3), a que se chama de hipérbatos e que remetem mais ao estilo barroco que ao árcade.

d) O eu lírico compara o Sol, a que chama de “Monarca da luz” (ref. 4), ao rosto de sua amada, o que caracteriza uma personificação.

e) Ao olhar o Sol sobre as serras, o eu lírico enxerga uma imagem de sua amada, cujo peito seria composto então pelas penhas, visão essa que enche sua alma de alegria.

LVIII 1Altas serras, 3que ao Céu estais servindo De muralhas, que o tempo não profana, Se Gigantes não sois, que a forma humana Em duras penhas foram confundindo; Já sobre o vosso cume se está rindo O 4Monarca da luz, que esta alma engana; Pois na face, que ostenta, soberana, O rosto de meu bem me vai fingindo. Que alegre, que mimoso, que brilhante Ele se me afigura! Ah qual efeito Em minha alma se sente neste instante! Mas ai! a que delírios me sujeito! Se quando no Sol vejo o seu semblante, Em vós descubro 2ó penhas o seu peito?

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27. (UFSM) A beleza da forma física feminina constituiu assunto predileto da poesia arcádica brasileira. Leia as

seguintes estrofes da Lira 27 de Marília de Dirceu, de Tomas Antonio Gonzaga:

Com respeito ao texto referido, todas as afirmativas estão corretas, EXCETO: a) Na lira 27, Dirceu exalta a beleza de Marília e, para fazer isso, recorre a personagens da Antiguidade Clássica. b) Os versos dessa lira são regulares, formados por sete silabas métricas. c) Com a alusão a tentativa de trazer as "tintas do céu" para pintar o retrato de Marília, o eu lírico sugere que a

beleza dela atinge a esfera do divino, do sublime, transcendendo a beleza encontrada no mundo terreno. d) Há uma equivalência de sentido entre os quatro últimos versos da primeira estrofe e os quatro últimos versos

da segunda estrofe. e) O eu lírico tem como interlocutor o Amor, isto e, a divindade da mitologia clássica que rege o sentimento

amoroso. 28. (UFSM) O Arcadismo volta aos princípios clássicos greco-romanos e renascentistas. Nesse sentido, a estética

árcade cria e segue um grupo de preceitos herdados do Classicismo. Assinale o trecho poético de Marília de Dirceu que corresponde ao preceito sublinhado. a) “Verás em cima da espaçosa mesa/altos volumes de enredados feitos;/ver-me-ás folhear os grandes livros,/e

decidir os pleitos.” – Fugere urbem.

b) “Enquanto pasta alegre o manso gado,/minha bela Marília, nos sentemos/a sombra deste cedro levantado./Um pouco meditemos/na regular beleza,/que em tudo quanto vive nos descobre/a sabia Natureza.” – Locus amoenus.

c) “Se não tivermos lãs e peles finas,/podem mui bem cobrir as carnes nossas/as peles dos cordeiros curtidas,/e os panos feitos com as lãs mais grossas./Mas ao menos será o teu vestido/por mãos de amor, minhas mãos cosido.” – Inutilia truncat.

d) “Pela Ninfa, que jaz vertida em Louro,/o grande Deus Apolo não delira?/Jove, mudado em Touro/e já mudado em velha não suspira?/Seguir aos Deuses nunca foi desdouro./Graças, ó Nise bela,/graças a minha Estrela!” – Carpe diem.

e) “Quando apareces/Na madrugada,/Mal-embrulhada/Na larga roupa,/E desgrenhada/Sem fita, ou flor;/Ah! que então brilha/A natureza!/Então se mostra/Tua beleza/Inda maior.” – Aurea mediocritas.

29. (UFSM) Relacione as colunas e, na sequência, assinale a alternativa correspondente.

A sequência correta e a) 1 – 1 – 2 – 2. b) 2 – 1 – 1 – 2. c) 1 – 2 – 2 – 1. d) 2 – 1 – 2 – 2. e) 1 – 2 – 1 – 2.

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30. (UFSM) A luta e um dos assuntos preferidos da literatura épica. Leia o seguinte trecho do poema épico O Uraguai,

de Basílio da Gama, que trata desse assunto:

Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada uma das afirmações relacionadas com O Uraguai.

( ) O assunto d' O Uraguai e a expedição mista de portugueses e espanhóis contra as missões jesuíticas do Rio Grande do Sul, para executar as clausulas do tratado de Madrid, em1756.

( ) Mesmo se posicionando favoravelmente aos vencedores europeus, o narrador de O Uraguai deixa perceber, em passagens como a citada, sua simpatia e admiração pelo povo indígena.

( ) No fragmento referido, Tatu-Guaçu, Sepé e Caitutu têm exaltadas suas forcas físicas e morais, lembrando os heróis épicos da antiguidade.

( ) A análise formal dos versos confirma que Basílio da Gama imita fielmente a epopeia clássica, representada pelo modelo vernáculo da época: Os Lusíadas, de Camões.

( ) A valorização do índio e da natureza brasileira corresponde aos ideais iluministas e árcades da vida primitiva e natural e prenuncia uma tendência da literatura romântica: o nativismo.

A sequência correta é a) F – V – F – V – V. b) F – F – V – V – V. c) V – V – V – F – V. d) V – F – V – F – F. e) V – F – F – F – V.

31. (UFSM) O século XVIII primou pela fé na razão, pelo pensamento filosófico, por ideais revolucionários. Daí decorrem

os termos "Iluminismo", "Ilustração", "Século das Luzes", que se referem a esse século. Ainda sobre a literatura colonial no Brasil, numere a 1ª coluna de acordo com a 2ª.

1ª coluna

( ) O desejo setecentista de retorno ao "estado natural" manifesta-se, neste texto, pela figura do índio. ( ) O chamado "déspota esclarecido", movido por ideias progressistas, surge aí na figura do ministro português

Marquês de Pombal. ( ) Trata-se de uma sátira (de cunho político), um dos gêneros cultivados na época, conforme uma tradição que

vinha do Renascimento e do Barroco. 2ª coluna

( 1 ) Cartas chilenas ( 2 ) Caramuru ( 3 ) O Uraguai ( 4 ) Vila Rica A sequência correta é a) 2 - 3 - 1. b) 1 - 4 - 3. c) 3 - 2 - 1. d) 2 - 1 - 4. e) 3 - 4 - 2.

32. (UFSM) Leia os versos:

Marília formosa Que ao Deus conhecia, Oculta espreitava Quanto ele fazia. Mal julga que dorme Se chega contente, As armas lhe furta, E o Deus a não sente.

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A partir dos versos citados, pode-se afirmar que, em _____________, o autor, ___________, mescla projeções circunstanciais com um inventário de figuras _____________, tomando por pretexto o _____________. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. a) Marília de Dirceu – Tomás A. Gonzaga – clássicas – amor b) Maria Doroteia – Cláudio M. da Costa – clássicas – amor c) Marília – Tomás A. Gonzaga – históricas – desgosto d) Caramuru – Cláudio M. da Costa – mitológicas – malogro e) O Uraguai – Basílio da Gama – mitológicas – descobrimento

33. (UFSM) O poema tem como personagens o aventureiro português Diogo Álvares Correia e a nativa Paraguaçu. É

considerado um dos primeiros poemas a tomar como motivo uma lenda local, focalizando o índio brasileiro e descrevendo seus costumes.

Assinale a alternativa que identifica o autor, obra e período em questão. a) Santa Rita Durão – O Caramuru - Arcadismo b) Basílio da Gama – O Uraguai – Romantismo c) Basílio da Gama – O Uraguai – Arcadismo d) Santa Rita Durão – O Caramuru – Romantismo e) Silva Alvarenga – Glaura – Arcadismo

34. (UFSM) Leia o seguinte fragmento de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga: Verás em cima da espaçosa mesa altos volumes de enredos feitos; ver-me-ás folhear os grandes livros, e decidir os pleitos. Enquanto revolver os meus consultos, tu me farás gostosa companhia lendo os fastos da sábia, mestre História, e os cantos da poesia. Lerás em voz alta, a imagem bela; eu, vendo que lhe dás o justo apreço, gostoso tornarei a ler de novo o cansado processo.

Nesse fragmento, a leitura I. praticada pela mulher é amena e praticada pelo homem é pesada. II. dos processos é feita por obrigação pelo homem e a dos cantos da poesia é feita por prazer pela mulher, o que

mostra a supremacia do feminino. III. faz parte da vida a dois que o eu lírico sonha ter com a amada. Está(ao) correta(s)

a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas II e III. e) apenas III.

35. (UFSM) “Tu não verás, Marília, cem cativos tirarem o cascalho e a rica terra, ou dos cercos dos rios caudalosos, ou da minha serra.

Não verás separar ao hábil negro do pesado esmeril a grossa areia, e já brilharem os granetes de oiro no fundo da bateia.”

No trecho de Marília de Dirceu, expressões como “cem cativos”, “rios caudalosas” e “granetes de oiro” remetem para a) a profissão de minerador exercida por Dirceu. b) uma atividade econômica exercida na época. c) o desagrado de Dirceu em relação à atividade do pai de Marília. d) preocupações de Dirceu relativas à poluição dos rios. e) a prosperidade em que vivia o povo brasileiro.

36. (UFSM) Enquanto Padre Antônio Vieira é um jesuíta que prega a honestidade e o desapego aos bens materiais, há

outros jesuítas que acumulam riquezas. Observe:

Será; mas não o creio. E depois disto As campinas que vês e a nossa terra Sem o nosso suor e os nossos braços, De que serve ao teu rei? Aqui não temos Nem altas minas nem caudalosos

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Rios de areias de ouro. Essa riqueza Que cobre os templos dos benditos padres, Fruto da sua indústria e do comércio Da folha e peles, é riqueza sua.

Sobre esse fragmento de O Uraguai, de Basílio da Gama, é correto afirmar que I. a riqueza que cobre os templos dos padres é fruto da indústria e do comércio que os próprios padres exploram. II. a riqueza dos templos provém da comercialização do cobre pelos padres. III. "o nosso suor e os nossos braços" remetem aos espanhóis que trabalham para a coroa espanhola. Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas II. d) apenas II e III. e) apenas III.

37. (UFSM)

Obrei quanto o discurso me guiava: ouvia aos sábios, quando errar temia; aos bons no gabinete o peito abria, na rua a todos como igual tratava. Julgando os crimes, nunca voto dava mais duro ou pio do que a lei pedia; mas devendo salvar ao justo, ria, e devendo punir ao réu, chorava. Não foram, Vila Rica, os meus projetos meter em férreo cofre cópia d'oiro, que farte aos filhos e que chegue aos netos; Outras são as fortunas que me agoiro: ganhei saudades, adquiri afetos, vou fazer destes bens melhor tesoiro.

É possível afirmar que o eu-lírico, nesse soneto de Tomás Antônio Gonzaga, I. demonstra humildade e obedece ao cumprimento de princípios legais. II. privilegia os valores humanos em detrimento dos valores materiais. III. fala diretamente à Marília, a fim de mostrar seu senso de justiça e seu desapego ao dinheiro. Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas II e III. e) apenas III.

38.(UFSM) Leia o texto abaixo. [...] 1 Quando levares, Marília,

Teu ledo rebanho ao prado, Tu dirás: - Aqui trazia A, Dirceu também o seu gado.

5 Verás os sítios ditosos. Onde, Marília, te dava Doces beijos amorosos Nos dedos da branca mão.

Mandarás aos surdos Deuses Novos suspiros em vão.

11 Quando à janela saíres,

Sem quereres, descuidada, Tu verás, Man1ia, a minha E minha pobre morada.

15 Tu dirás então contigo: - Ali Dirceu esperava Para me levar consigo; E ali sofreu a prisão.

Mandarás aos surdos Deuses Novos suspiros em vão.

21 Quando vires igualmente

Do caro Glauceste a choça, Onde alegres se juntavam Os poucos da escolha nossa,

25 Pondo os olhos na varanda

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Tu dirás de mágoa cheia: - Todo o congresso ali anda, Só o meu Amado não.

Mandarás aos surdos Deuses Novos suspiros em vão.

[...]

31 Numa masmorra metido, Eu não vejo imagens destas, Imagens, que são por certo A quem adora funestas.

35 Mas se existem separadas Dos inchados, roxos olhos, Estão, que é mais, retratadas No fundo do coração.

Também mando aos surdos Deuses Tristes suspiros em vão.

Sobre essa lira, é possível afirmar que I. se insere na primeira parte da obra Marília de Dirceu, que retrata o poeta na prisão, onde ele rememora a

conquista da amada, a fase do namoro, o projeto de casamento e a convivência com os amigos. II. o poeta continua a evocar a natureza como um "refúgio ameno", inspirado na frase de Horácio Fugere urbem

("fugir da cidade"). III. também manifesta a filosofia do carpe diem ("aproveita o dia") horaciano e certo sensualismo na lembrança da

relação amorosa. IV. se compõe de décimas terminadas por refrão, as estrofes são constituídas por redondilhas e a rima cruzada é

reconhecível. Está(ão) correta(s) a) apenas I e II. b) apenas I e III. c) apenas II e IV. d) apenas III e IV. e) I, II, III e IV.

39. (UFSM) Nas obras do Arcadismo, o fingimento poético transparece no uso de pseudônimos inspirados no bucolismo

greco-Iatino. Glauceste, mencionado no poema anterior, é o nome arcádico de ____________. Famoso por seus sonetos perfeitos, em que se percebe a influência de ______________, deixou composições pastoris, além do poema épico _____________________, em que narra a história da atual Ouro Preto e exalta os bandeirantes, fundadores de várias cidades mineiras. a) Alvarenga Peixoto - Homero e Petrarca - "Ao assunto heróico" (Sonetos). b) Gonçalves de Magalhães - Homero e Virgílio - Canto épico. c) Silva Avarenga - Dante e Camões - A gruta americana. d) Cláudio Manuel da Costa - Camões e Petrarca - Vila Rica. e) Tomás Antônio Gonzaga - Horácio e Camões - Fábula do Ribeirão do Carmo.

40. (UFSM) De origem mineira e formação jesuítica, eles são os autores dos mais conhecidos poemas épicos de nossa

produção literária colonial. Reconheça as características e a autoria de cada obra, numerando a segunda coluna de acordo com a primeira. (1) Caramuru (2) O Uraguai ( ) reflete a mentalidade iluminista, louvando a política do Marquês de Pombal, que expulsou os jesuítas do Brasil. ( ) exalta o trabalho civilizatório da cristandade e da catequese. ( ) seus heróis são: Gomes Freire de Andrade, Sepé, Cacambo, Lindóia, Tanajura e Padre Baldetta. ( ) foi escrito por José Basílio da Gama. ( ) foi escrito por José de Santa Rita Durão. A sequência correta é a) 2-1-1-2-1. b) 2-1-2-2-1. c) 1-2-1-2-1. d) 2-1-2-1-2. e) 1-2-2-1-2.

41. (UFSM)

1 Pertende, Doroteu, o nosso chefe erguer uma cadeia majestosa, que possa escurecer a velha fama da torre de Babel e mais dos grandes, 5 custosos edifícios que fizeram, para sepulcros seus, os reis do Egito. Talvez, prezado amigo, que imagine que neste monumento se conserve, eterna, a sua glória, bem que os povos,

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10 Ingratos, não consagrem ricos bustos nem montadas estátuas ao seu nome. Desiste, louco chefe, dessa empresa: um soberbo edifício, levantado sobre ossos de inocentes, construído 15 com lágrimas dos pobres, nunca serve de glória ao seu autor, mas sim de opróbrio.

[...]

Esse fragmento pertence a Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, poema satírico que critica o capitão general Luis da Cunha Menezes que, autoritário, usava a força militar para cobrar a taxa dos dízimos. Nesse texto, é possível identificar que

I. "nosso chefe" (v 1) e "louco chefe" (v. 12) remetem a Luís da Cunha Menezes. II. todo o comentário é feito em versos brancos, em redondilha maior. III. a mania de grandeza do capitão-general é ironizada nos versos 1 a 6.

Está(ão) correta(s)

a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas II e III. e) apenas III.

42. (UFSM) No Arcadismo, a natureza é vista como um local onde a vida é mais livre e justa, onde as diferenças sociais

são ignoradas, ou seja, onde existe uma sociedade igualitária É correto afirmar também que, no Arcadismo, identifica(m)-se I. o desenvolvimento do gênero lírico, no qual os poetas assumem posturas de pastores e idealizam a realidade. II. a preocupação em buscar a origem do homem através do misticismo e da religiosidade. III. a utilização das formas clássicas convencionais, através de uma linguagem rebuscada e artificial. Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas II. e) apenas III.

43. (UFSM)

O país da Arcádia, súbito, escurece, em nuvem de lágrimas. Acabou-se a alegre pastoral dourada: pelas nuvens baixas, a tormenta cresce.

(Cecília Meireles) Os versos de Cecília Meireles se referem a um período da literatura brasileira e aos reveses históricos sofridos por seus autores. Assinale a alternativa que identifica esse período com a referência histórica correspondente. a) Arcadismo – Inconfidência Mineira. b) Barroco – Companhia das Índias Ocidentais. c) Quinhentismo – Capitanias Hereditárias. d) Barroco – Ilustração Pombalina. e) Arcadismo – Expulsão dos Jesuítas.

44. (UFSM) Poema que tematiza o descobrimento e a conquista da Bahia por um navegador que é vítima de um naufrágio.

Assinale a alternativa que identifica, corretamente, o poema e o autor em questão. a) Vila Rica – Cláudio Manuel da Costa.

b) “Do santíssimo sacramento” – José de Anchieta. c) Caramuru – Basílio da Gama.

d) “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda” – Pe. Antônio Vieira. e) Caramuru – Santa Rita Durão.

45. (UFSM) No poema épico O Uraguai, o autor compõe uma história na qual apresenta sua adesão às ideias do

Marquês de Pombal. Em vista disso elege, como vilões de sua narrativa, os a) índios guaranis. b) padres jesuítas. c) espanhóis. d) portugueses. e) militares combatentes.

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46. (UFSM) No poema épico O Uraguai, Basílio da gama trata do(a)

a) história da instalação das Missões. b) conquista do território do Uraguai pelos portugueses. c) episódio da época do descobrimento do Brasil. d) retomada de terras do Brasil que estavam sob domínio holandês e) luta de portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas.

47. (UFSM) Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas no período a seguir.

Sob o pseudônimo do árcade _________________, Gonzaga dirigiu suas liras à bela __________, nome adotado por ele para se referir à jovem _________ no conturbado século _______, em _____________. a) Critilo – Marília – Maria Doroteia – XVIII – Vila Rica b) Dirceu – Maria – Marília – XVII – Salvador c) Alceste – Glaura – Marília Seixas – XVI –Recife d) Dirceu – Marília – Maria Doroteia – XVIII – Vila Rica e) Critilo – Marília – Glaura – XVII – Vila Rica

48. (UFRGS-2012) Considere as seguintes afirmações sobre O Uraguai de Basílio da Gama.

I. Sepé, de modo desafiador, Cacambo, mais diplomático, encontram-se, antes da batalha, com o general Andrade que os aconselha a respeitar a autoridade da Coroa.

II. Eufórico, o general Andrade, líder das tropas luso-espanholas, extravasa sua emoção celebrando, depois da batalha, a morte de Sepé.

III. Cacambo, tendo tido uma visão na qual Sepé aparecia transtornado ao lado de Lindóia desfalecida, incendeia o acampamento das tropas inimigas durante a batalha.

Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

49. (UFRGS-2010) Leia o trecho abaixo, retirado do Canto lII de O Uraguai, de Basílio da Gama.

No perturbado interrompido sono (Talvez fosse Ilusão) se lhe apresenta A triste imagem de Sepé despido, Pintado o rosto do temor da morte, Banhado em negro sangue, que corria Do peito aberto, e nos pisados braços Inda os sinais da mísera caída. Quanto diverso do Sepé valente,

Que no meio dos nossos espalhava, De pó, de sangue e de suor coberto, O espanto, a morte! E diz-lhe em tristes vozes: Foge, foge! Cacambo. E tu descansas! Tendo tão perto os inimigos? Torna, Torna aos teus bosques, e nas pátrias grutas Tua fraqueza e desventura encobre. Ou, se acaso inda vivem no teu peito Os desejos de glória! ao duro passo Resiste valeroso; ah tu, que podes! E tu, que podes, põe a mão nos peitos À fortuna de Europa; agora é tempo, Que, descuidados, da outra parte dormem. Envolve em fogo e fumo o campo e paguem O teu sangue e o meu sangue.

Considere as seguintes afirmações sobre esse trecho o conjunto do poema. I. As palavras de Sepé a Cacambo são ditas depois da batalha principal narrada no Canto Il e antecedem os

episódios que envolvem os planos matrimoniais do Padre Balda e a morte de Lindoia. II. O apelo de Sepé pretende interromper o descanso de Cacambo e provocar sua fuga em direção às Missões,

advertindo que é preciso evitar o caminho destruído pelo fogo e pela fumaça. III. A imagem de Sepé que aparece a Cacamo está abatida e marcada por ferimentos, mas o espírito do índio

demonstra em seus conselhos que finalmente compreendeu a necessidade de negociar a com os portugueses. a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III. 50. (UFRGS-2010) Considere as seguintes afirmações sobre O Uraguai, de Basílio da Gama.

I. Cacambo recusa as ofertas de Gomes Freire e acusa os padres jesuítas de não cumprirem seus deveres de guardiães da fé e de terem celebrado um acordo secreto com as autoridades lusitanas.

II. Gomes Freire comanda as tropas luso-castelhanas que atacam as missões defendidas pelas tropas guaranis e, antes do combate, mantém um diálogo tenso com Cacambo e Sepé.

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lII. Sepé acusa Gomes Freire de haver traído os acordos estabelecidos entre índios e exército, embora reconheça que as autoridades portuguesas tenham procurado preservar a paz.

a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. e) I, II e III. 51. (UFRGS) Marque a alternativa que completa corretamente as lacunas do texto abaixo, na ordem em que aparecem. Em O

Uraguai, de __________, ___________ apresenta-se como líder combativo e ameaçador, __________ tenta negociar com a liderança das tropas luso-espanholas, e o general Andrade exige a rendição das tropas indígenas. a) Santa Rita Durão – Sepé Tiraju – Cacambo b) Tomás Antônio Gonzaga – Cacambo – Sepé Tiraju c) Tomás Antônio Gonzaga – Sepé Tiraju – Cacambo d) Basílio da Gama – Sepé Tiraju – Cacambo. e) Basílio da Gama – Cacambo – Sepé Tiraju.

52. (UFRGS) Leia o seguinte soneto de Cláudio Manuel da Costa

Destes penhascos fez a natureza O berço em que nasci: oh! Quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor, que vence os tigres, por empresa Tomou logo render-me; ele declara Contra o meu coração guerra tão rara, Que não me foi bastante a fortaleza. Por mais que eu mesmo conhecesse o dano, A que dava ocasião minha brandura, Nunca pude fugir ao cego engano: Vós, que ostentais a condição mais dura, Temei, penhas, temei; que Amor tirano, Onde há mais resistência, mais se apura.

No soneto acima, o eu-lírico

a) deixa-se levar pela admiração dos poderosos, embora conheça o dano causado pelas penhas. b) adverte as próprias penhas de que, apesar de serem muito resistentes, elas devem temer o poder do Amor. c) jamais poderia fugir ao cego engano, por saber do perigo representado pelo ciúme e pela inveja. d) avisa às penhas que, apesar de ostentarem beleza e simplicidade, elas devem temer a investida do Amor. e) não admite que o Amor vença as penhas, embora reconheça que ele vence os tigres e ataca os reis.

GABARITO

01.C 06.D 11.B 16.C 21.C 26.E 31.A 36.B 41.C 46.E 51.D

02.C 07.B 12.A 17.C 22.D 27.D 32.A 37.B 42.A 47.D 52.B

03.C 08.E 13.A 18.E 23.B 28.B 33.A 38.C 43.E 48.A

04.E 09.B 14.C 19.A 24.D 29.B 34.C 39.D 44.E 49.A

05.E 10.C 15.A 20.B 25.B 30.C 35.B 40.B 45.B 50.B