Livro 5 - Arraia Miuda

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    ARRAIA-MIDAUM ESTUDO SOBRE OS NO-PROPRIETRIOS DE ESCRAVOS NO BRASIL

    IRACI DEL NERO DA COSTASo Paulo,1992

    SUMRIO

    Introduo.Captulo 1 - Objetivos e Limites deste Estudo.Captulo 2 - Localidades Selecionadas para Estudo.Captulo 3 - Quantos Eram os No-Proprietrios de Escravos.Captulo 4 - Quem Eram os No-Proprietrios de Escravos.Captulo 5 - O que Faziam os No-Proprietrios de Escravos.Captulo 6 - Participao dos No-Proprietrios no Produto Gerado.Captulo 7 - Consideraes Finais.

    Referncias Bibliogrficas.Apndice Estatstico (A.E.).

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    INTRODUO.

    Existe aprecivel volume de fontes documentais a evidenciar, tanto para fins do sculoXVIII como para todo o correr do XIX, a predominncia do elemento livre na populaobrasileira. Grosso modo, pode-se afirmar que a participao dos escravos ao longo doperodo 1775-1872, considerada a populao total do Brasil, caiu de pouco mais de 30%

    para cerca de 15%.(1) Caso contemplssemos os trs primeiros quartis do sculo XVIII,no parece descabido supor que o peso relativo dos cativos oscilou em torno de 50%.Evidentemente, os porcentuais aqui referidos devem ser vistos, to-somente, comoindicadores da ordem de grandeza da proporo entre livres e cativos, nunca comoexpresso absolutamente fidedigna do peso relativo destes dois segmentos sociais.Como o peso relativo dos escravos na populao total no interessa essencialmente aopresente estudo, basta-nos reter a verificao de que os homens livres representavam,em termos quantitativos, parcela das mais significativas da populao brasileira. (2)

    Por outro lado e este o ponto central deste trabalho , a populao livre no secompunha exclusivamente, como sabido, dos proprietrios de escravos e seusdependentes; (3)havia avultado nmero de pessoas livres ou forras sem escravo algum.

    Para fins do sculo XVIII e incio do XIX os dados existentes para a rea paulista emineira indicam a preponderncia de fogos nos quais no se contavam cativos. (4) Ouseja, pode-se supor que os proprietrios de escravos e seus familiares constituamparcela minoritria da populao das referidas reas. Embora esta assertiva deva serentendida como aproximao grosseira, parece-nos bastante para firmar o ponto quenos interessa realar, ou seja: a entremear as camadas correspondentes aos senhores eseus cativos encontrava-se expressiva massa de pessoas livres aparentemente semrecursos suficientes para possuir escravos. Neste trabalho ocupar-nos-emos,

    justamente, deste estrato socioeconmico; nosso esforo votar-se- ao estabelecimentode um painel no qual possamos distinguir, no tempo e no espao, as caractersticasbsicas da parcela da populao brasileira composta por indivduos livres (5) no-proprietrios de escravos.

    Em termos simples, procuraremos saber com respeito a tais pessoas: quantas eram,quem eram e o que faziam. (6) Para tanto utilizaremos, essencialmente, duas fontes deinformaes: as primrias, consubstanciadas em levantamentos censitrios efetuadosnos sculos XVIII e XIX, e as fontes secundrias pertinentes, vale dizer, obras nas quaisquantificou-se e/ou qualificou-se para o perodo colonial e o do Imprio a massapopulacional brasileira.

    Cabe lembrar, ademais, que, alm da restrio cronolgica determinada pela ausncia deinformaes para momentos mais recuados no tempo, este trabalho tambm padece delimitao quanto ao espao geogrfico abrangido, pois consideramos, to-somente,subconjuntos das populaes de algumas de nossas unidades poltico-administrativas.

    Vergamo-nos, neste ltimo caso, a imposies de variada ordem; entre elas colocam-sea disponibilidade limitada de recursos humanos e tcnicos para levantamento etratamento de dados e a impossibilidade de ser explorada pelo pesquisador individual,num s estudo e em lapso de tempo razovel a volumosa massa documental queaguarda a ateno dos estudiosos.

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    Captulo 1

    OBJETIVOS E LIMITES DESTE ESTUDO.

    Na historiografia brasileira no existe unanimidade quanto caracterizao dos no-proprietrios de escravos. Segundo alguns autores, tal segmento seria numericamente

    modesto e sua presena pouco considervel, tanto do ponto de vista social como doeconmico. Para outros, embora numerosa, tal parcela populacional compor-se-ia dedesclassificados, aos quais restariam mnimas possibilidades de mobilidade social,poltica ou econmica. Por fim, para reduzido grupo de estudiosos, os no-proprietriosde escravos representariam parcela significativa da populao e parte de seusintegrantes dedicar-se-ia produo de bens comercializveis, inclusive de gneros deexportao. Consideremos, a ttulo ilustrativo, trabalhos nos quais se expressam aslinhas de pensamento aqui referidas.

    Gilberto Freyre, no prefcio primeira edio de Casa Grande & Senzala, afirma: "O quea monocultura latifundiria e escravocrata realizou no sentido de aristocratizao,extremando a sociedade brasileira em senhores e escravos, com uma rala e

    insignificante lambugem de gente livre sanduichada entre os extremos antagnicos, foiem grande parte contrariado pelos efeitos sociais da miscigenao (...) entre os filhosmestios, legtimos e mesmo ilegtimos, havidos pelos senhores brancos, subdividiu-separte considervel das grandes propriedades...". (1) Tal estrutura, tpica do nordesteaucareiro, ter-se-ia reproduzido no sul cafeeiro, (2) neste caso, no entanto, "notam-se, certo, variaes devidas umas a diferena de clima, outras a contrastes psicolgicos eao fato da monocultura latifundiria ter sido, em So Paulo, pelo menos, um regimesobreposto, no fim do sculo XVIII, ao da pequena propriedade". (3) No obstante,mesmo nas propriedades de rea reduzida, far-se-iam presentes os protagonistascentrais da sociedade brasileira: senhores e escravos. (4) Estes dois elementosdominariam, absolutamente, os primeiros sculos da nossa histria; e justamente istoque vem explicitado em Sobrados e Mucambos: "Foi ento o Brasil uma sociedade

    quase sem outras formas ou expresses de status de homem ou famlia seno asextremas: senhor e escravo. O desenvolvimento de 'classes mdias', ou intermedirias,de 'pequena burguesia', de 'pequena' e de 'mdia agricultura', de 'pequena' e de 'mdiaindstria', to recente, entre ns, sob formas notveis ou, sequer, considerveis, quedurante todo aquele perodo {do sculo XVI aos fins do sculo XIX} seu estudo pode serquase desprezado; e quase ignorada sua presena na histria social da famliabrasileira". (5)

    Evidentemente, no nos escapam as linhas mestras dos trabalhos de Gilberto Freyre,segundo as quais o autor no se via comprometido a considerar os no-proprietrios deescravos. O que importa realar que para ele, como para outros estudiosos, estesegmento populacional no teria representado, em termos quantitativos e qualitativos,

    papel significativo em nossa formao socioeconmica. Esta posio marginal, firmadaem Casa Grande & Senzala, reafirmada em Sobrados e Mucambos, seria repisada emOrdem e Progresso: "Sucedera, porm, que at o meado do sculo XIX pouco se fizerasentir, entre brasileiros livres, quer brancos, quer mestios ou pardos, que fossempobres, a necessidade de trabalho. Durval Vieira de Aguiar nos fala em sua Descrio daBahia, de cidades do Imprio, que at o fim do regime monrquico se conservaramcentros de populaes to ociosas que nelas o nico passatempo era, para muitos, 'aentrada e sada de vapores, a armadilha de passarinhos ou a prosa'". (6)

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    Como avanado, outros autores esposaram opinies semelhantes s de Gilberto Freyre, este o caso de Caio Prado Jnior. Para este ltimo estudioso, o elemento livre no-possuidor de escravos, embora numeroso, apresentava-se como um conjunto no qualpredominavam elementos "desclassificados", "inteis" etc.

    "Entre estas duas categorias {senhores e escravos} nitidamente definidas e entrosadas

    na obra da colonizao, comprime-se o nmero, que vai avultando com o tempo, dosdesclassificados, dos inteis e inadaptados; indivduos de ocupaes mais ou menosincertas e aleatrias ou sem ocupao alguma { ...} O nmero deste elemento indefinidosocialmente, avantajado; e cresce continua e ininterruptamente porque suas causasso permanentes. No tempo de Couty, ele o calcula, numa populao total de 12 milhes,em nada menos que a metade, 6 milhes. Seria menor talvez a proporo nos trsmilhes, de princpios do sculo; mas ainda assim, compreenderia com certeza agrande, a imensa maioria da populao livre da colnia. Compe-se, sobretudo, depretos e mulatos forros ou fugidos da escravido; ndios (...); mestios de todos osmatizes e categorias, que no sendo escravos e no podendo ser senhores, se vemrepelidos de qualquer situao estvel, ou pelo preconceito ou pela falta de posiesdisponveis; at brancos, brancos puros, e entre eles, como j referi, anteriormente, at

    rebentos de troncos portugueses ilustres (...); os nossos poor white, detrito humanosegregado pela colonizao escravocrata e rgida que os vitimou.

    "Uma parte desta subcategoria colonial composta daqueles que vegetammiseravelmente nalgum canto mais ou menos remoto e apartado da civilizao,mantendo-se ao Deus dar, embrutecidos e moralmente degradados (...).

    "Uma segunda parte da populao vegetativa da colnia a daqueles que, nas cidades,mas sobretudo no campo, se encostam a algum senhor poderoso (...) So ento oschamados agregados, os moradores dos engenhos (...).

    "Finalmente, a ltima parte, a mais degradada, incmoda e nociva a dos desocupados

    permanentes, vagando de lu em lu cata do que se manter, e que, apresentando-se aocasio, enveredam francamente pelo crime". (7)

    Para Maria Sylvia de Carvalho Franco que neste particular mantm opinio prxima de Caio Prado Jnior a propriedade de grandes extenses ocupadas parcialmente pelaagricultura mercantil realizada por escravos "possibilitou e consolidou a existncia dehomens destitudos de propriedade dos meios de produo, mas no de sua posse, noforam plenamente submetidos s presses econmicas decorrentes dessa condio,dado que o peso da produo significativa para o sistema como um todo no recaiusobre seus ombros. Assim, numa sociedade em que h concentrao dos meios deproduo, onde vagarosa, mas progressivamente, aumentam os mercados,paralelamente forma-se um conjunto de homens livres e expropriados que no

    conheceram os rigores do trabalho forado e no se proletarizaram. Formou-se, antes,uma 'ral' que cresceu e vagou ao longo de quatro sculos: homens a rigordispensveis, desvinculados dos processos essenciais sociedade. A agriculturamercantil baseada na escravido, simultaneamente, abria espao para a existncia e osdeixava sem razo de ser". (8) Este papel econmico secundrio e subordinadodesempenhado pelos livres no-proprietrios levou Jacob Gorender que reconhece aexpressividade numrica deles a enquadr-los em um especfico modo de produo:"... poderemos dizer que a economia dos agregados e posseiros constituiu um modo deproduo especifico, de natureza marginal, componente secundrio da formao social

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    dominada pelo escravismo colonial. Este ltimo determinou o carter bsico daformao social porm, ao lado dele, com o correr do tempo, criou-se outro modo deproduo, no qual se incluram grandes massas da populao, a metade destaprovavelmente alm dos meados do sculo XIX". (9)

    Para Jacob Gorender, a populao livre despossuda, "formada de agregados e

    posseiros constitua, junto com os sitiantes minifundirios, a classe camponesa dapoca, a classe camponesa possvel numa formao social escravista". (10) Estasafirmaes aliceram-se, em parte, em dois trabalhos exemplares de Alice PifferCanabrava intitulados "A repartio da terra na Capitania de So Paulo, 1818" e "Umaeconomia de decadncia: os nveis de riqueza na Capitania de So Paulo, 1765-1767".Neste ltimo estudo no qual foram consideradas vinte localidades paulistas cujoshabitantes correspondiam a 72% da populao estimada da capitania e a 74% de suasfamlias afirma a autora:

    "Nesta populao inventariada, impressionante o nmero de pessoas que 'nadapossuem'. Compreende 5.352 famlias (54,07%), que representam 21.758, ou seja, 49,93%da populao {...} Para compreendermos o fenmeno, precisamos conhecer a tcnica

    peculiar do cultivo do solo praticado pela grande maioria da populao paulista. Alavoura a atividade na qual se ocupa a maioria dos que habitam a Capitania de SoPaulo. Em parte a lavoura de subsistncia, cuja funo abastecer os ncleosurbanos. Contudo, esta uma funo exercida pelos lavradores estabelecidos nos stiose fazendas de gado, e nela se distinguia o povoado de Atibaia; com o seu grandenmero de pequenos lavradores, apontavam-na como celeiro da populao paulistana.

    "Outra parcela da populao, muito mais numerosa, vivia dispersa de modo irregular,em reas imensas, deslocando-se continuamente pelas florestas virgens, sem bens deraiz e, de modo geral, 'sem mvel que perder'. Junto ao morro os homens constroem suacasa de barro, coberta de palha ou de folhas, e ai vivem com suas famlias. Como bens,dispem de um cachimbo, uma espingarda para caar e duas redes, uma na qual

    dormem, outra com a qual praticam a pesca. H os que s possuem as redes. Na clareiraque abrem na mata, plantam algumas bananeiras, semeiam um pouco de milho,lanando os gros a mo, na superfcie da terra, sobre as cinzas de queimada, que seateia logo aps o abate das rvores. De ordinrio permanecem no local apenas cerca deum ano, o quanto duram as operaes de desflorestar, semear e colher (...). Tais so oschamados 'stios volantes' (...). Em sua grande maioria, os paulistas dos 'stios volantes'

    provavelmente integravam os contingentes de populao sem riqueza, as famlias sobreas quais os recenseamentos consignaram que 'nada possuem', ou as de mais baixonvel de valor quanto a seus haveres". (11)

    Nestes dois conjuntos "economia de auto-subsistncia familiar" e "de subsistnciapropriamente dita", como caracterizados pela autora , encontrar-se-iam, certamente, as

    pessoas livres no-proprietrias de escravos; o primeiro compreenderia sua maioriaesmagadora, restando no segundo os pequenos proprietrios de terra que no podiamdispor do concurso da mo-de-obra cativa. Alis, esta inferncia corroborada por MariaLuza Marclio que, ao desenvolver seus trabalhos pioneiros em demografia histricabrasileira, tambm deparou-se com a categoria dos no-proprietrios de escravos. Suasobservaes sobre as condies econmicas imperantes em So Paulo na passagem dosculo XVIII parecem-nos to sugestivas que justificam uma longa citao:

    "No se deve supor a constituio na camada livre da populao de uma dicotomia

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    social simplista: grandes proprietrios de escravos e de terras e pequenos roceiros semterras, os primeiros voltados para o setor exportador e os ltimos apenas para asubsistncia familiar. A falta de mo-de-obra, mesmo considerando-se a crescenteimportao de escravos, no permitia o sucesso do setor de exportao da lavoura

    paulista; os poucos grandes senhores de engenhos e de fazendas de caf emimplantao no podiam atender crescente demanda do comrcio externo. Os

    lavradores pequenos e antigos roceiros comearam, ento, a constituir suas pequenasplantaes de cana: a categoria dos chamados "partidistas' ou 'plantadores de cana departido' se formou ao lado do grande engenho, onde sua produo vinha ser moda.Esses 'partidistas', em sua grande maioria, eram proprietrios de escravos, cujo nmerovariava de 1 at mais de 40; eles no possuam a mquina de engenho de canas. Nalavoura do caf em formao encontramos situao similar; grandes fazendas comenorme concentrao de escravos e produo de caf e grande nmero de pequenoslavradores com poucos escravos ou com nenhum escravo e alguns ps de caf.

    "Para tomarmos apenas um exemplo concreto e significativo, na Vila de Areias, por ondea grande fazenda de caf iniciou sua marcha pelo Vale do Paraba paulista,encontramos, em 1818, grande nmero de fogos sem escravos produzindo 4, 16, 25 ou

    mais arrobas de caf, que eram vendidas a 4$000 cada. {e acrescenta em nota derodap} Ficaria muito extenso enumerar casos ilustrativos: deles h centenas, s nessavila. Citamos apenas alguns: no Bairro do Barreiro, o fogo 254, constitudo pelo casal,um filho de meses e uma agregada de 56 anos, solteira, colheu, alm de 18 alq. de milho,5 de feijo e 4 de arroz para o gasto, 16 arrobas de caf, que vendeu para o Rio deJaneiro a 4$000 cada; na Parquia de Santana ('Mundeo'), o fogo 41 era de uma viva de70 anos com um filho solteiro (33 anos) e uma filha solteira (45 anos) que, alm dosmantimentos para os gastos, colheu 4 arrobas de caf, que vendeu ao mesmo preo; ofogo 102, por sua vez, de uma viva de 32 anos com 6 filhos, sendo o mais velho de 14anos, colheu 15 arrobas de caf, vendidas ao Rio de Janeiro a 4$000 a arroba. Casossemelhantes se multiplicam e demonstram que a produo cafeeira se iniciou com asoma de pequeninos produtores que contavam com a mo-de-obra familiar livre. Ao lado

    deles floresciam alguns poucos grandes fogos com forte concentrao de escravos elarga produo de cana e caf, alm de cereais e pequena criao para a alimentao dogrupo domstico interno."(12)

    Nesse trabalho, colhemos, ainda, as informaes abaixo reproduzidas; como se verifica,na maior parte dos domiclios ou fogos pesquisados no se dispunha de escravos. Talfato alm de estar circunscrito no tempo e no espao , evidentemente, no implica opredomnio do elemento livre no-possuidor de escravos, sem embargo, podemos tom-lo como indicador seguro de que parcela substantiva da populao paulista no seenquadrava entre os possuidores de escravos e seus dependentes. (13) Situao similarobservava-se, ademais, em Minas Gerais, mesma poca; justamente isto, infere-se dascifras abaixo transcritas e correspondentes a dez ncleos mineiros.

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    PORCENTAGEM DE DOMICLIOS SEM ESCRAVOS(So Paulo vrios anos)

    --------------------------------------------------------------------------------Ano total de domiclios domiclios sem escravos--------------------------------------------------------------------------------

    1768 22.751 75,4%1808 27.633 76,1%1818 33.196 77,1%1828 41.139 74,8%--------------------------------------------------------------------------------

    Fonte: MARCLIO, Maria Luza (1974b).

    PORCENTAGEM DE DOMICLIOS SEM ESCRAVOS(Localidades mineiras 1790 e 1804)

    --------------------------------------------------------------------------------------------------------Localidade total de domiclios domiclios sem escravos

    --------------------------------------------------------------------------------------------------------Vila Rica 1.753 59,1%Passagem de Mariana 236 62,3%Mariana* 223 71,3%Serto do Abre Campo 3 0,0%Capela do Barreto 6 0,0%Gama 32 46,9%Furquim 318 57,9%So Caetano 227 53,4%N. Sa. dos Remdios 161 59,6%Santa Luzia de Sabar** 1.757 55,6%

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------- Obs.: * Dados de apenas um dos distritos da cidade de Mariana.** Os dados referem-se a 1790.

    Fonte: COSTA, Iraci (1981).

    As evidncias e opinies acima reportadas, conquanto no exaustivas, (14) bastam aonosso objetivo, qual seja: delinear o espectro de posies concernentes caracterizao dos livres no-proprietrios de cativos. Como patenteado, tal leque revelalarga amplitude; diversidade esta devida, certamente, a variada gama de razes: deidiossincrasias ou eventuais preconceitos dos autores prpria complexidade dosegmento populacional em questo. No nos importa identificar e analisar tais causas,pois se o fizssemos, alm de incorrermos em atitude palingentica, ficaramos presoss perspectivas dos supracitados autores; as consideraes aqui expendidas sugerem-

    nos outro caminho: o da busca de elementos empricos que possibilitem quantificar equalificar, no tempo e no espao geogrfico, o conjunto populacional do qual nosocupamos. este, como avanado, o escopo deste estudo; objetivo imposto, no spela curiosidade do pesquisador ou relevncia do tema, mas, tambm, pelas prpriasdivergncias acima apontadas.

    Isto posto, passemos explicitao dos problemas a enfrentar. Antes do mais, faz-senecessrio definir claramente o conjunto populacional a ser analisado. A partir das listascensitrias (15) selecionadas, estabelecemos para cada localidade e excludos os

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    cativos dois grandes grupos: o primeiro concernente aos proprietrios de escravos erespectivos dependentes, o outro relativo aos no-proprietrios de cativos. Determinado,pois, o primeiro conjunto, resta definido este segundo.

    Como os proprietrios de escravos vm indicados de modo inequvoco, basta, paracompor tal grupo, considerar, alm dos prprios, os seus dependentes. Sob este ltimo

    conceito englobamos, em nvel de domicilio, todos os parentes do proprietrio deescravos que residissem juntamente com ele, bem como as crianas expostas (16) a eleou a algum dos parentes acima referidos. Todas as pessoas no includas nesteconjunto, o foram no rol dos no-proprietrios de escravos. (17) Assim constitumos,pois, os dois segmentos populacionais bsicos acima discriminados.

    Com respeito a tal critrio de bipartio, cabem algumas qualificaes adicionais. Deve-se ter presente, desde logo, a limitao devida ao fato de sermos obrigados a adotar,como referncia, o fogo ou domiclio. Tal obrigatoriedade decorre das caractersticasdos documentos disponveis e no se nos apresenta, no momento, maneira de obvi-la.Disto advm, como conseqncia imediata, o carter restrito do conceito "dependentes"com o qual estamos a operar. Assim, eventuais dependentes dos proprietrios de

    escravos (ou dos no-proprietrios de cativos) que no residissem no domiclio em queestes habitavam no foram computados, neste trabalho, conforme sua efetiva situaode dependncia. Por outro lado, em face da definio antes colocada, corremos o riscode considerar, como dependentes, parentes ou expostos que efetivamente noguardavam, alm da coabitao, qualquer lao de dependncia com respeito aosproprietrios de escravos (ou no-proprietrios de escravos) aos quais se achavamvinculados. Como o mero coabitar j envolve irretorquvel liame de dependncia,evidencia-se a primeira possibilidade acima discriminada como o pecado maior no qualpodemos estar incorrendo.

    Outro ponto passvel de reparos em nosso modo de operar refere-se maneira comotratamos os agregados ou camaradas. (18)O corte que entendemos ser o mais relevante

    proprietrios e no-proprietrios de escravos e a complexidade do segmentopopulacional correspondente aos agregados, levou-nos a no consider-los como"dependentes" e a dispensar-lhes tratamento similar ao empregado para o restante dapopulao, vale dizer, agrupamo-los nos conjuntos relativos a proprietrios e no-proprietrios de cativos. (19) A crtica a este nosso modo de agir prende-se aoirrecusvel argumento de que o agregado mantinha efetivo vnculo de dependncia comrespeito ao chefe do domiclio no qual residia. Nossa objeo a esta proposio decorreda total impossibilidade de se identificar claramente para a massa de agregados e emface do corte acima aludido o carter de tal dependncia. Assim, encontramosagregados nas mais variadas situaes: parcela expressiva deles no possua escravose residia em domiclios cujos chefes eram ou no proprietrios de cativos, por outrolado, nmero significativo de agregados possua escravos e distribua-se entre

    domiclios cujos chefes possuam ou no cativos. Se, para aqueles primeiros, pareceestar definida, indubitavelmente, a relao de dependncia, o que dizer destes ltimos?Seria correto admitir que um agregado possuidor de cativos, a morar em domiciliochefiado por um no-proprietrio de escravos, se apresentava como dependente desteltimo? No poderia estar aqui invertida a prpria relao de dependncia? Por outrolado, mesmo aceitando-se a "efetiva" dependncia deste agregado, seria ela comparvel de um parente do chefe de domiclio ou de um agregado pobre a residir com umchefe de domiclio proprietrio de escravos? Ainda mais, no incidiramos em casusmoespecioso caso arbitrssemos graus ou nveis de "dependncia ? Estas ponderaes e

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    dvidas conduziram-nos, pois, a soluo radical: exclumos de nossa definio de"dependncia" a figura dos agregados e, embora os tenhamos computado parte,aplicamos a eles o mesmo critrio classificatrio vlido para as demais pessoas livres.Destarte, embora estejamos a empobrecer nossa anlise, evitamos o grave errorepresentado pela introduo de vieses incontrolveis.

    Cabe notar, ainda, que, para os empregados dos domiclios administradores e/oufeitores , empregamos a mesma prtica utilizada com respeito aos agregados, ou seja,foram eles integrados, juntamente com seus dependentes, em um dos dois grandesgrupos correspondentes aos proprietrios e no-proprietrios de escravos.

    Estabelecido, pois, sem ambigidades, o grupo populacional aqui entendido como dosno-proprietrios de escravos, vejamos, pormenorizadamente, as questes para asquais procuramos resposta.

    Tomando como fonte os levantamentos censitrios selecionados, interessar-nos-o,com respeito s pessoas integrantes do grupo supracitado, as informaes relacionadasabaixo.

    Quando, onde, em que condies viviam.Impe-se, assim, alm da situao geogrfica e temporal das comunidades estudadas, aqualificao das condies socioeconmicas nelas prevalecentes no marco cronolgicono qual se efetuaram os levantamentos.

    Quantas eram.Para cada localidade computaremos o nmero absoluto dos no-proprietrios deescravos, seu peso relativo sobre a populao total e sua participao relativa no grupodos livres. A simples meno do peso relativo reala um aspecto metodolgico dos maisimportantes para nosso estudo: a anlise comparativa entre proprietrios e no-proprietrios de escravos, a qual, sempre que possvel, far-se- presente neste trabalho.

    De outra parte, embora singelo, o simples dimensionamento da parcela populacional novinculada imediatamente posse de escravos parece-nos altamente relevante.

    Quem eram.Pensamos aqui na caracterizao das pessoas em termos de sexo ou gnero, estadoconjugal, cor, faixa etria, situao social (livres ou forros) e, para os menores dequatorze anos, condio de filiao (entendida como legtima ou natural).

    Tambm neste caso teremos presente a necessria comparao entre proprietrios eno-proprietrios de escravos, considerados, obviamente, os seus respectivosdependentes.

    Este elenco de variveis, alm de lanar luz sobre a composio do grupo dos no-proprietrios de escravos, permitir-nos-, com base no referido confronto, estabeleceras semelhanas e discrepncias entre os dois grandes segmentos em que bipartimos apopulao.

    O que faziam.Interessar-nos-, pois, saber a quais profisses e/ou ocupaes econmicas dedicavam-se tanto os proprietrios como os no-detentores de cativos. Quando possvel,

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    consideraremos, alm destas atividades, outros indicadores referentes vidaeconmica: produo efetuada, parcela consumida e/ou comercializada do produto total,condio de pobreza etc.

    Os pontos acima explicitados, embora cubram apenas alguns aspectos da vidaeconmica e social, parecem-nos suficientes para atender ao escopo deste trabalho:

    lanar luz sobre a parcela da populao brasileira no-possuidora de escravos.

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    Captulo 2

    LOCALIDADES SELECIONADAS PARA ESTUDO.

    Neste tpico, alm de apresentarmos as localidades e respectivos marcos cronolgicos

    selecionados para embasar empiricamente este trabalho, procuraremos, ainda queindicativamente, (1) esboar os quadros econmicos nelas vigorantes poca em quese efetivaram os levantamentos censitrios aqui utilizados.

    Contemplaremos, para fins do sculo XVIII e incios do XIX, ncleos localizados nasreas de So Paulo, Paran, Santa Catarina, Minas Gerais e Bahia; o Piau estarrepresentado para os anos 1697 e 1762.

    Para So Paulo, servindo-nos dos Maos de Populao depositados no Arquivo Pblicodo Estado, selecionamos quatorze localidades distribudas pelas distintas reaseconmicas ento caracterizadoras da economia paulista; para cada ncleo foramescolhidos dois pontos no tempo: um mais recuado, colocado no ltimo quartel do

    sculo XVIII, o segundo situado na terceira ou na quarta dcada do sculo XIX. Assimoperando visamos a garantir representatividade s evidncias analisadasproporcionando, ademais, a captao das eventuais mudanas havidas no desfiar dosanos para os quais contamos com informaes estatsticas de boa qualidade e bemconservadas (Cf.Quadro 1).

    No perodo, como sabido, a capitania vivenciava profundas transformaes econmicase demogrficas decorrentes, por um lado, da recuperao econmica devida cana-de-acar e, de outro, do impacto representado pela introduo e difuso do cultivo darubicea. Trata-se, pois, de uma quadra de relativa euforia econmica qual aliava-se acontinuada entrada de novos contingentes de mo-de-obra escrava, a ereo de novosengenhos e o estabelecimento das primeiras grandes fazendas produtoras de caf. (2)

    As regies em que dominavam o acar e o caf viam seus efetivos populacionaisdramaticamente acrescidos. J nas demais, o ritmo de crescimento era mais modesto;conhecendo alguns ncleos quebras populacionais. De toda sorte, o panorama geral erailuminado pelo impulso econmico e pelo expressivo incremento do nmero dehabitantes livres e escravos.

    J as localidades do Paran Antonina (1798 e 1830) e Castro (1798 e 1835) e de SantaCatarina (Lajes, 1798 e 1818) no conheciam transformaes de tamanha monta. (3) Noobstante, nas trs observava-se incremento populacional. Antonina, prxima deParanagu, coloca-se no litoral e via sua vida econmica dominada pela agricultura desubsistncia na qual tambm se faziam presentes engenhocas de acar e uns poucos

    engenhos de pilar arroz, como se dizia poca. Castro situa-se no planalto e a, atividade da pecuria, aliava-se a policultura de subsistncia. A erva-mate, emborapresente, s adquiriria expressividade econmica em momento posterior ao nossomarco cronolgico superior. Lajes, tambm colocada no interior, caracterizava-se comolocal de passagem de tropas e pela atividade criatria.

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    QUADRO 1LOCALIDADES PAULISTAS CONTEMPLADAS NESTE ESTUDO-------------------------------------------------------------------------------------------Regies e Localidades Sculo XVIII Sculo XIX

    -------------------------------------------------------------------------------------------Regio AucareiraItu 1775 1836Campinas 1779 1829

    Vale do ParabaBananal 1797 1829Areias 1797 1829Lorena 1797 1829Guaratinguet 1798 1829Taubat 1798 1830

    Regio da PecuriaSorocaba 1798 1824

    Sub-regio (Minerao)Apia 1798 1824

    Litoral Centro NorteSantos 1775 1830So Sebastio 1798 1830

    Litoral SulCanania 1798 1830

    Iguape 1799 1828Xiririca* 1799 1828

    ------------------------------------------------------------------------------------------ Obs.: Para descrio pormenorizada destas fontes vide as Referncias

    Bibliogrficas colocadas ao fim deste trabalho.* Embora situada no interior, Xiririca era tributria da marinha.

    Com respeito a Minas Gerais, servimo-nos de listas nominativas concernentes a seisncleos populacionais e levantadas em 1804. (4) Vila Rica, Passagem, Mariana, Furquime Gama pertenciam Comarca de Vila Rica; Nossa Senhora dos Remdios situava-se naComarca do Rio das Mortes. Os cinco primeiros localizavam-se ao longo do Ribeiro doCarmo, concentrando-se, portanto, em espao geogrfico de pequenas propores.Nossa Senhora dos Remdios, por seu turno, situada ao norte de Barbacena, surgiu"nas cabeceiras do Brejaba da Serra da Mantiqueira para dentro do serto que se vaipovoando", (5) conforme anotou o Cnego Raimundo Trindade.

    Em Vila Rica, centralizava-se a vida poltico-administrativa da capitania. Seus habitantescompunham-se, na maior parte, de mineradores e negociantes; artesos dos maisvariados ofcios ali residiam; as atividades agrcolas eram de pequena monta.

    Mariana foi a primeira vila a se criar em Minas Gerais; nela instalou-se a primeira capital

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    de Minas e foi ela promovida a cidade aos 23 de abril de 1745, no mesmo ano foi criado oBispado de Mariana, o qual foi instalado em 1748. Saint-Hilaire assim a descreveu: "ACidade Mariana rasgada por ruas longitudinais, que cortam outras ruas oblquasrelativamente s primeiras e, aproximadamente paralelas entre si... Todas soregularmente pavimentadas e, em geral, direitas e bastantes largas {...} As casas dessacidade, cujo nmero se eleva a cerca de 500, parecem, em geral, mais bem conservadas

    que as de Vila Rica; so muito menos tristes, e os tetos no avanam alm das paredes{...} os morros dos arredores de Mariana so estreis e incultos, e os gneros que seconsomem na Cidade vm de grande distncia. Como as florestas que outrora cercavama cidade foram destrudas, os negros vo buscar bastante longe a lenha de que oshabitantes tm necessidade..." (6)Ainda de Saint-Hilaire so as palavras: "A cerca de meia lgua de Mariana, atravessa-sePassagem, povoado de pouca importncia situado sobre a encosta dos morros, e quetem uma capela dependente da Parquia de Mariana". (7) Passagem localiza-se, pois,entre Ouro Preto e Mariana.

    Furquim, um dos mais antigos centros mineratrios, veio a perder sua condio de

    parquia em decorrncia da decadncia da atividade exploratria. Hoje, como a Vila dePassagem de Mariana, a Vila do Furquim enquadra-se, jurisdicionalmente, no Municpiode Mariana.

    Em 1814, Eschwege contou cinco mineiros a trabalhar no Gama, distrito da Freguesia deSo Sebastio, no termo de Mariana. Quatro deles ocupavam-se na extrao do ouro decascalho no Rio Gama, explorado desde os primrdios dos descobrimentos aurferos.

    O Arraial dos Remdios, como era conhecido, surgiu na segunda metade do sculo XVIIIem torno da Capela de Nossa Senhora dos Remdios, nas terras da antiga Fazenda doCapote, cujo proprietrio era um fidalgo casado com uma baronesa espanhola. Alocalidade permaneceu como distrito de Barbacena at sua instituio como municpio,

    o que somente se deu em 1943.

    Eis indicadas as localidades mineiras. O quadro da rea mineratria da capitania, aoabrir-se o sculo XIX, revelava-se desolador. Superada a "febre" do ouro, a economiaestagnou-se e apresentava-se, nos ncleos urbanos, franca recesso populacional.Centremos nossa ateno no eixo Vila Rica-Mariana que espelhava, na poca, ascondies dos demais ncleos em que predominara a minerao, outrora cheios devigor e plenos de febricitante atividade. Nos seus arredores descortinavam-se camposdesertos, sem lavouras ou rebanhos. Dos morros, esgaravatados at a rocha, eliminara-se a vida vegetal; restavam montes de cascalho e casas, na maioria, em runas.

    A pobreza dos habitantes remanescentes e a existncia de ruas inteiras quase

    abandonadas provocavam imediata admirao nos visitantes a passar por Vila Rica. Dasduas mil casas, quantidade considervel no estava ocupada, o aluguel mostrava-secadente e nas transaes imobilirias observava-se grande quebra de preos. Apopulao que, segundo Saint-Hilaire, alcanara vinte mil pessoas, reduzira-se a oitomilhares; tal quebra no nmero de habitantes teria sido ainda maior, no fosse Vila Ricaa capital da capitania, centro administrativo e residncia de um regimento. Aacompanhar a decadncia geral, deteriorava-se a assistncia educacional e hospitalar. OSeminrio de Mariana, fundado por mineiros ricos para educar seus filhos sem que fossenecessrio envi-los Europa, no conseguia sobreviver crise, as terras que a

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    entidade possua esgotaram-se, os escravos morreram; os mineradores, cuja riquezaminguara, no mais podiam sustentar o educandrio. O nico hospital existente eramantido pela Irmandade de Misericrdia.

    Nosso propsito, como avanado, no apresentar o balano minucioso das causas dadecadncia econmica da rea mineratria. No obstante, permitimo-nos, como mera

    conjectura, arrolar os principais condicionantes do aludido recesso. A nosso ver, oempobrecimento da regio em apreo deveu-se a um conjunto de fatores: exaustodos depsitos aurferos somaram-se o meio fsico relativamente adverso, inexistncia demercados significativos e boas vias de transportes, despreparo no referente a tcnicasmais sofisticadas para amanhar as terras, bem como a mentalidade do colonizador aliestabelecido que desprezava o trabalho manual e rotineiro. Neste quadro, movimenta-vam-se, ao fim do sculo XVIII e incio da dcima nona centria, os habitantes dosncleos mineiros contemplados neste trabalho.

    Com respeito ao Piau, utilizamos duas fontes documentais que equivalem s listasnominativas de outras regies. Para 1697, servimo-nos da "Dezcripo do Certo doPeauhy", assinada pelo Pe. Miguel d. Cout.. Segundo este missionrio que estava a

    escrever vinte e trs anos aps a conquista da regio: "Tem o Certo do Peauhypertencente nova Matriz de N. S. da Victoria quatro Rios correntes; vinte Riachos,sinco Riachinhos, dous olhos de agoa e duas alagoas, a beira das quaiz, esto 129fazendas de gados {...} distantes has das outraz ordinariam.te mais de duas legoas: emcada hua vive h homem com hum negro e em algas se acho mais negros, e tambmmais br.cos mas no comum se acha h homem br.co s; vivem estes moradores dearendam.to destas fazendas de gados de 4 cabeas que crio lhe toca hua ao depois depagos os dzimos, so obrigados q.do fazem partilhas a entregarem ao sr. da fazendatantas cabeas como acharo nella q.do entraro e o mais se parte ao quarto comemestes homens s carne de vaca latecinios e algum mel que tiro pellos paus, a carneordinariam.te se come asada, porque no ha panellas em que se coza, bebem agoa depoos, e lagoas, sempre turba, e m.to asalitrada os ares so m.to groos e pouco sadios,

    desta sorte vivem estes mizeraveis homens vestindo couros e parecendo tapuyas". (8)Para este caso, consideramos como proprietrios e seus dependentes as pessoas queestavam anotadas em fazendas nas quais compareciam cativos, mesmo se no fossem,os presentes, proprietrios de escravos; os no-proprietrios e seus dependentesencontravam-se, portanto, em fazendas para as quais no se anotou escravo algum, aestas pessoas acrescentamos os ndios, estivessem eles em fazendas com ou semcativos. Assim operando subestimamos, pois, o contingente de no-proprietrios e seusdependentes. Ao analisar os dados demogrficos desta populao assim expressou-seLuiz R. B. Mott: "Estes quadros evidenciam uma populao excepcional em vriosaspectos estruturais: frente pioneira de homens-vaqueiros, num meio ainda muito hostile austero onde s havia lugar para o trabalho masculino, inexistindo um mnimo desegurana e conforto para se oferecer a eventuais dependentes (mulheres e crianas).

    uma 'sociedade' com reduzidssima vida social: predomnio quase exclusivo de homens,existindo apenas 5 casais constitudos e unicamente 10 crianas". (9)

    Outro o quadro demogrfico vigente em 1762, embora permanecesse a atividadecriatria como fundamental. Para este ano, consideramos o documento assinado peloPe. Dionsio Jos de Aguiar e intitulado: "Rol de desobriga do Distrito da Freguesia deNossa Senhora da Vitria da Cidade de Oeiras", pertencente ao Arquivo HistricoUltramarino e ao qual tivemos acesso graas gentileza de Luiz R. B. Mott, que noscedeu cpia do aludido documento. Conforme assevera o Pe. Dionsio: "certifico que

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    nesta Relao mandei fielmente trasladar pelos ris das desobrigas do ano prximopassado todos os nomes das Fazendas, e roas, que se compreendem no Distrito destaFreguesia fora da distncia de uma lgua, ao redor desta cidade". (10) Estamos em face,portanto, do arrolamento de parte da populao rural do Piau, compreendendo, segundoLuiz R. B. Mott, 30% das propriedades rurais da Capitania, cobrindo quase 20% dosdomiclios da zona rural e 18,8% da populao total. (11) Conforme o autor citado: "Trata-

    se, portanto, de uma amostra quantitativamente assaz significativa e que cobre a rea decolonizao mais antiga {...} Uma das vantagens desta amostra que de certa formarecorta de Norte a Sul o territrio piauiense, cobrindo suas diversas reas ecolgicas".(12)

    Se, para o Piau, conseguimos utilizar fontes primrias representativas de sua populaoem dois pontos afastados no tempo, o mesmo no se deu com respeito Bahia. Paraesta ltima, tivemos de nos restringir considerao de apenas duas localidades poucoexpressivas: Ourianga e Brejes (1785) e Pindoba (1790). (13) Sobre esta ltima nodeparamos com informao alguma; talvez no estivesse muito distante de Ourianga,colocada na rea sertaneja na qual dominava a atividade criatria e a agricultura desubsistncia. Nos dias correntes, Ourianga distrito do Municpio de Irar que se

    localiza na zona fisiogrfica de Feira de Santana e est parcialmente includo nopolgono das secas. Apenas a falta de documentao mais abundante para o Nordesteest a justificar a incluso destas duas localidades em nosso estudo o qual, repisamos,viu-se limitado no tempo e no espao.

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    Captulo 3

    QUANTOS ERAM OS NO-PROPRIETRIOS DE ESCRAVOS.

    Iniciemos com a rea paulista, para a qual os dados so mais abundantes e permitem o

    acompanhamento de transformaes econmicas e demogrficas de monta. Aconsiderao da Tabela 3.1 na qual vo inscritos valores concernentes ao ltimo quarteldo sculo XVIII no deixa dvidas quanto predominncia numrica do segmentoreferente aos no-proprietrios de escravos. Os porcentuais mais baixos correspondems localidades situadas no Litoral Centro-Norte, mesmo assim, o segmento populacionalem foco mostrava-se majoritrio, embora no excedesse em muito a metade dapopulao livre: 52,2% em Santos (1775) e 58,5% para So Sebastio (1798). Para aRegio Aucareira, os pesos relativos correlatos mostravam-se superiores, colocando-se prximos dos dois teros dos efetivos populacionais de livres: 64,3% paraCampinas (1779) e 69,2% em Itu (1775). Obedecida a ordem crescente de participaorelativa, aparece a localidade de Apia (1798) com 70,3%, correspondente Sub-RegioMineradora. Agrupam-se, a seguir, os ncleos situados no Litoral Sul Canania (1798),

    Iguape (1799) e Xiririca (1799) , ao lado dos quais podem ser colocadas as localidadesdo Vale do Paraba. Neste ltimo, as discrepncias so mais marcadas, assim, aparticipao vai do mnimo de 62,8% Bananal (1797) ao mximo de 81,3% Taubat(1798) , passando pela marca intermediria pouco discrepante de 73,0% Areias (1797),Lorena (1797) e Guaratinguet (1798). Por fim, com peso relativo situado acima dosquatro quintos, aparece Sorocaba (1798) na Regio da Pecuria. Em termos genricos,como seria de esperar, pode-se afirmar que a menor participao dos escravos napopulao total esteve aliada maior participao dos no-proprietrios no conjunto dapopulao livre.

    Este quadro, no qual se define como majoritria a presena dos no-proprietrios deescravos, no se veria substancialmente alterado na terceira dcada do sculo seguinte.

    No obstante, conforme se infere do confronto das Tabelas 3.1 e 3.2, deram-se notriasalteraes em termos regionais no correr do tempo. Assim, os dados parecem indicarque a participao dos no-proprietrios de escravos tendeu a decrescer nas regiesque vivenciavam crescimento econmico mais intenso ao qual esteve associado umincremento populacional mais vigoroso. Este o caso das localidades situadas naRegio Aucareira e no Vale do Paraba.

    Na rea da pecuria no se registrou mudana; a qual foi mais sentida em Apia e nolitoral. Nestas regies, com exceo de Xiririca, a tendncia foi a de aumentar aparticipao relativa dos no-proprietrios de escravos.

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    Tabela 3.1LOCALIDADES PAULISTAS: DISTRIBUIO DA POPULAO

    (Vrios Anos em %)-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Populao Total Populao Livre .

    Local-Ano Escravos Propriet. No-propriet. Propriet. No-propriet.e depen. e dependent. e depen. e dependentes

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Regio AucareiraItu-1775 30,0 21,6 48,4 30,8 69,2Campinas-1779 24,0 27,1 48,9 35,7 64,3

    Vale do ParabaBananal-1797 42,5 21,4 36,1 37,2 62,8Areias-1797 19,1 21,7 59,2 26,8 73,2Lorena-1797 23,1 20,8 56,1 27,1 72,9

    Guaratinguet- 1798 22,9 20,2 56,9 26,2 73,8Taubat-1798 16,6 15,6 67,8 18,7 81,3

    Regio da PecuriaSorocaba-1798 20,5 14,7 64,8 18,5 81,5

    Sub-regio (Minerao)Apia-1798 46,5 15,9 37,6 29,7 70,3

    Litoral Centro-NorteSantos-1775 42,3 27,6 30,1 47,8 52,2So Sebastio-1798 40,4 24,7 34,9 41,5 58,5

    Litoral SulCanania-1798 34,2 19,0 46,8 28,9 71,1Iguape-1799 20,4 18,6 61,0 23,4 76,6Xiririca-1799 27,2 22,8 50,0 31,3 68,7

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada um dos dois grandes conjuntos (populao total e populaolivre), somam 100,0 no sentido das linhas. Os nmeros absolutos constam da Tabela 1 do A. E.

    De toda sorte, como avanado, o quadro geral no sofreu alteraes dramticas, istonos leva a concluir que a eventual estagnao ou o maior florescimento econmico noforam suficientes para deslocar os no-proprietrios de cativos de sua posio

    majoritria na populao livre paulista. Verdadeira esta assertiva, fica visto que ocrescimento econmico tambm parece vir acompanhado de maiores oportunidadespara as pessoas sem recursos para ascenderem condio de escravistas. Estamoscientes de que esta afirmao ousada e deve esperar por estudos futuros que aqualifiquem em face de evidncias empricas concernentes a momento do tempo eespao geogrfico nos quais tenha dominado amplamente a grande lavoura votada exportao.

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    Tabela 3.2LOCALIDADES PAULISTAS: DISTRIBUIO DA POPULAO

    (Vrios Anos em %)-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Populao Total Populao Livre .Local-Ano Escravos Propriet. No-propriet. Propriet. No-propriet.

    e depen. e dependent. e depen. e dependentes-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Regio AucareiraItu-1836 52,0 18,7 29,3 39,0 61,0Campinas-1829 57,2 15,5 27,3 36,1 63,9

    Vale do ParabaBananal-1829 57,0 20,7 22,3 48,0 52,0Areias-1829 45,8 20,2 34,0 37,2 62,8

    Lorena-1829 29,7 18,7 51,6 26,5 73,5Guaratinguet-1829 32,1 18,6 49,3 27,4 72,6Taubat-1830 21,8 15,8 62,4 20,3 79,7

    Regio da PecuriaSorocaba-1824 21,0 14,8 64,2 18,7 81,3

    Sub-regio (Minerao)Apia-1824 28,7 13,5 57,8 18,9 81,1

    Litoral Centro-NorteSantos-1830 44,6 21,4 34,0 38,7 61,3

    So Sebastio-1830 32,9 22,8 44,3 33,9 66,1

    Litoral SulCanania-1830 28,6 15,1 56,3 21,2 78,8Iguape-1828 29,4 15,9 54,7 22,5 77,5Xiririca-1828 29,2 25,6 45,2 36,2 63,8

    ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada um dos dois grandes conjuntos (populao total e populaolivre), somam 100,0 no sentido das linhas. Os nmeros absolutos constam da Tabela 2 do A. E.

    As localidades do Paran e de Santa Catarina revelaram situao muito prxima verificada na rea paulista. Destarte, para o sculo XVIII, a participao dos no-

    proprietrios colocou-se acima dos dois teros: 67,5% em Lajes (1798), 79,2% paraAntonina (1798) e 77,8% em Castro (1798). O comportamento no tempo marcou-se pelatendncia participao crescente do grupo em apreo, assim, nos trs ncleos elasituou-se acima dos quatro quintos (Cf. Tabela 3.3). Pode-se concluir, ainda, que no seobservaram discrepncias de monta entre a marinha e o interior, zona da pecuria, dasreas paranaense e catarinense. Note-se, ademais, a proximidade dos valores vigentesnestas localidades e aqueles vigorantes em Sorocaba.

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    A considerao dos dados referentes a localidades mineiras indica que tambm ali, paraincios do sculo XIX, dominavam numericamente os no-proprietrios de cativos.Ademais, para aquela capitania, os valores revelam menor varincia do que a verificadana rea paulista. Destarte, o peso relativo de no-proprietrios sobre a populao livreoscilou entre o mnimo de 52,9% N. Sa. dos Remdios (1804) e o mximo de 67,0% Mariana (1804). Em termos gerais, pode-se afirmar que o indicador em tela colocou-se

    entre a metade e dois teros, pouco oscilando em tomo de 61,5% (Cf. Tabela 3.4). Sobeste ponto de vista a rea de Minas Gerais revelou-se mais homognea do que apaulista, embora existissem diferenas significativas nas estruturas populacionais doscentros mineiros. (1) Assim, em Mariana, Passagem e Vila Rica, definiu-se a estruturademo-econmica urbana, a qual se distinguia das outras por apresentar, em termosgerais, grande porcentual de livres e os menores valores para o nmero mdio deescravos, agregados e pessoas livres por domiclio. Ademais, a mdia de escravosrevelava-se maior do que a de agregados; a de livres, por seu turno, colocava-se entreos valores referentes a cativos e agregados. O nmero mdio de escravos porproprietrio situava-se entre os menores observados nas quatro estruturas por nsidentificadas em Minas. Quanto aos setores classicamente definidos pelos economistas,dava-se modesta participao do primrio, domnio do secundrio e presena marcante

    do setor servios.

    Gama, enquadrava-se na categoria rural-mineradora. Embora residissem ali algunsmineradores com avultado nmero de escravos, havia grande quantidade de faiscadorese desenvolvia-se a agricultura de subsistncia; observa-se portanto, a decadncia dafaina aurfera e o processo de diversificao de atividades produtivas do qual teriadecorrido a estrutura que denominamos "intermdia". A estrutura rural-mineradora,marcada pela especializao, fundava-se no predomnio quantitativo dos cativos; emface das demais estruturas caracterizava-se por apresentar a menor taxa de pessoaslivres e os maiores valores mdios de escravos, agregados e livres por domiclio;ademais, nela observou-se o maior valor para o nmero mdio de escravos porproprietrio. Referentemente aos setores produtivos, patenteava-se, em Gama, a

    inexpressividade do tercirio e do primrio e a preponderncia absoluta do secundrio,evento este decorrente do primado da minerao.

    Os ncleos nos quais se definia a estrutura intermdia, e este o caso de Furquim,caracterizavam-se pela notria decadncia da atividade aurfera. Neles, os faiscadorespredominavam decisiva e claramente sobre os mineradores; ocorria, ainda, odesenvolvimento da agricultura de subsistncia voltada para a comercializao e para oautoconsumo. Neles imperava a posio intermediria do peso relativo dos livres e dasmdias de agregados e cativos por domiclio. O nmero mdio de pessoas livrescolocava-se pouco abaixo do vigorante na categoria urbana; o nmero mdio deescravos por proprietrio colocava-se, por seu turno, em posio claramenteintermediria vis--vis as demais estruturas. Os trs setores econmicos viam-se

    expressivamente representados na categoria em foco; o peso relativo do primrioalava-se a pouco mais de um quinto, o do secundrio colocava-se prximo da metade eo do tercirio pouco diferia de um tero.

    Resta-nos caracterizar a estrutura rural de autoconsumo, a qual se definia no Distrito deN. Sa. dos Remdios. Nele encontramos grande participao relativa do elemento livre, omenor nmero mdio de escravos por domicilio e valores intermedirios para as mdiasde agregados e livres por domicilio, superiores aos vigentes nas estruturas urbana eintermdia e inferiores aos imperantes na categoria rural-mineradora. Ademais, o

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    nmero mdio de livres por domicilio superava o de agregados, o qual, por sua vez,sobrepujava a mdia de escravos por unidade domiciliar. Ali verificou-se, ainda, o menornmero mdio de escravos por proprietrio. Em N. Sa. dos Remdios praticava-se,dominantemente, a agricultura de subsistncia voltada, a nosso juzo, ao autoconsumo;tal fato assinalava-se claramente nos pesos relativos concernentes aos setoreseconmicos. Destarte, ao primrio correspondia 63%, ao secundrio 20% e aos servios

    to-somente 17%.

    Esta longa digresso estatstica referente s distintas estruturas demo-econmicasencontradas em Minas parece-nos bastante para vincar as discrepncias quedistinguiam os ncleos aqui considerados. No obstante tais divergncias, e esta aconcluso que nos interessa ressaltar, a presena dos no-proprietrios era majoritriaem todos eles; ademais, como avanado, a participao relativa dos no-proprietriosno se mostrava muito discrepante de um para outro ncleo, isto significa que osdiferentes substratos demogrficos e econmicos observveis em Minas Gerais noincio do sculo XIX no eram bastantes para gerar divergncias de monta no que tangeaos segmentos populacionais privilegiados no estudo vertente. No nos escapa, aqui, abvia constatao de que estamos a tratar de uma quadra histrica marcada pela

    decadncia da atividade mineradora; neste caso, estudos sobre momentos maisrecuados ou mais avanados no tempo impem-se para efeitos de generalizao denossas concluses.

    Referentemente rea baiana, confessamo-nos mais cticos ainda, pois, como tivemosoportunidade de notar, s nos foi possvel integrar a este trabalho duas localidades alicolocadas e que se mostram absolutamente perifricas e de pouca expresso. Nelas, jdissemos, devia ser praticar a policultura de subsistncia com presena, tambm, daatividade criatria.

    Presentes tais ressalvas, vemo-nos, uma vez mais, obrigados a concluir que o elementolivre no-possuidor de cativos era numericamente majoritrio. Em Ourianga e Brejes,

    onde os cativos chegavam a compor quase metade dos habitantes, o peso relativo dosno-proprietrios e seus dependentes, tomado sobre a populao livre, alcanava 57,5%.J em Pindoba, local no qual era mais modesta a presena de cativos, o mesmoindicador alava-se a pouco menos de quatro quintos, exatamente 76,4% (Cf. Tabela 3.5).

    Tabela 3.5LOCALIDADES BAIANAS: DISTRIBUIO DA POPULAO

    (Em %)-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Populao Total Populao Livre .Local Ano Escravos Propriet. No-propriet. Propriet. No-propriet.

    e depen. e dependent. e depen. e dependentes-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Ourianga eBrejes 1785 48,7 21,8 29,5 42,5 57,5

    Pindoba 1790 28,7 16,8 54,5 23,6 76,4-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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    Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada um dos dois grandes conjuntos (populao total e populaolivre), somam 100,0 no sentido das linhas. Os nmeros absolutos constam da Tabela 5 do A. E.Para o Piau nossos dados parecem ser mais representativos e tambm indicam a fortepresena de cativos a qual, em termos relativos, manteve-se praticamente inalteradaentre 1697 e 1762 e de no-proprietrios de escravos: 49,3% para o marco cronolgicoinferior e 61,9% para o ponto colocado no sculo XVIII. Tenha-se presente que a partio

    entre proprietrios e no-proprietrios adotada para 1697 obedeceu a critrio diferentedaquele utilizado para o prprio Piau em 1762 e para as demais localidadescontempladas neste estudo. (2)Como visto, o critrio usado para 1697 muito lasso ecertamente tendeu a subestimar a parcela de no-proprietrios, fato este que justificariao porcentual relativamente "baixo" a que chegamos para aquele ano; assim, presente asubestimativa apontada, pode-se concluir que tambm para a rea piauiense mostrava-se majoritria a parcela correspondente a no-proprietrios e seus dependentes,tomados, sempre, sobre os efetivos totais da populao livre (Cf. Tabela 3.6).

    Tabela 3.6PIAU: DISTRIBUIO DA POPULAO

    (Em %)-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Populao Total Populao Livre .

    Ano Escravos Propriet. No-propriet. Propriet. No-propriet.e depen. e dependent. e depen. e dependentes

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1697 47,7 26,5 25,8 50,7 49,3

    1762 46,2 20,5 33,3 38,1 61,9-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada um dos dois grandes conjuntos (populao total e populaolivre), somam 100,0 no sentido das linhas. Os nmeros absolutos constam da Tabela 6 do A. E.

    Eis-nos, pois, chegados ao fim deste tpico, no qual nos preocupou, to-somente, aquantificao, em termos relativos, dos segmentos socioeconmicos correspondentes aproprietrios e no-proprietrios de cativos.

    Como ficou documentado, e tendo-se presente a modstia das evidncias empricas quepudemos compulsar, os no-proprietrios de escravos revelaram-se parcela majoritriada populao livre.

    Ademais, lembrando os distintos momentos no tempo considerados para So Paulo,Paran, Santa Catarina e Piau, pode-se concluir que aquele predomnio numrico no seviu abalado por transformaes demo-econmicas ocorridas entre os marcoscronolgicos anotados.

    Embora limitadas no tempo e no espao, tais concluses parecem-nos altamenteexpressivas e revelam, nitidamente, um quadro demogrfico ao qual pouca ateno sevotou.

    A pergunta que se coloca imediatamente refere-se qualificao mais detida dos doissegmentos populacionais em tela. Em outros termos, perguntamo-nos: quem eram doponto de vista demogrfico os no-proprietrios de escravos? Diferia a sua

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    composio demogrfica da prevalecente para os proprietrios de cativos? Enfim, possvel estabelecer uma clara diferena, em termos de variveis demogrficas, entre osdois conjuntos?

    A estas questes dedicamos o captulo subsecutivo deste estudo. Enfrentemo-las, pois.

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    Captulo 4

    QUEM ERAM OS NO-PROPRIETRIOS DE ESCRAVOS.

    Para identificar quem eram os no-proprietrios de escravos selecionamos algumasvariveis demogrficas e econmicas que lanam luz sobre a composio destesegmento socioeconmico. Naturalmente, efetuaremos, a cada passo, o confronto dosintegrantes deste grupo com o correspondente ao dos proprietrios de escravos e seusrespectivos dependentes. Procura-se, pois, alm da caracterizao daquele primeiroconjunto, indagar se ele se mostrava discrepante, luz das variveis selecionadas,daquele composto por proprietrios de cativos.

    A anlise da Tabela 4.1, concernente s localidades paulistas consideradas no sculoXVIII, impe duas concluses imediatas. Por um lado, verifica-se que a distribuiosegundo o gnero, tanto para proprietrios como para no-proprietrios de escravos,mostrava-se relativamente harmoniosa; vale dizer, no havia grandes disparidades na

    composio sexual dos dois segmentos, o que decorre do fato de os valores para cadagnero no se distanciarem muito de 50%. Correlatamente, observa-se que no possvel identificar, para cada grupo, o predomnio de um dos sexos; assim, para ambosos segmentos populacionais, ora se d ligeira predominncia de mulheres, ora severifica modesto domnio do gnero oposto. Em face destas concluses pode-se afirmarque os dois conjuntos definem-se como amostras de u'a mesma populao, a qual, porseu turno, no conhecia a dominncia expressiva deste ou daquele gnero. Trata-se, emsuma, de dois conjuntos indistinguveis.

    O passar dos anos, por sua vez, no trouxe qualquer alterao notvel deste quadro, oqual se repete para o sculo XIX; implica dizer que as mudanas econmicas havidasno se fizeram acompanhar de alteraes significativas na taxa de masculinidade, nem

    permitem concluir-se que teria ocorrido diferenciao entre os dois segmentossocioeconmicos sob anlise (Cf. Tabela 4.2).

    Com a nica exceo de Lajes (1818) onde se observou uma taxa de masculinidaderelativamente elevada para o conjunto de proprietrios de escravos , pode-se aplicar aoParan e Santa Catarina as concluses vlidas para So Paulo (Cf. Tabela 4.3).

    Tambm para as localidades situadas em territrio mineiro nota-se a homogeneidadeentre os dois segmentos socioeconmicos em tela. Ali, as mulheres predominavamligeiramente sobre o elemento masculino; fato este que se repetiu, sem qualquerexceo, para proprietrios e no-proprietrios (Cf. Tabela 4.4).

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    Tabela 4.1LOCALIDADES PAULISTAS: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,

    SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E SEXO(Vrios Anos em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local-Ano Propriet. e dependentes No-propriet. e depend...................................................Hom. Mul. No determ. Hom. Mul. No determ.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Regio AucareiraItu-1775 49,2 50,8 0,0 45,3 54,7 0,0Campinas-1779 47,5 52,5 0,0 53,2 46,8 0,0

    Vale do ParabaBananal-1797 52,2 47,8 0,0 52,9 47,1 0,0Areias-1797 47,3 52,7 0,0 54,0 46,0 0,0Lorena-1797 46,4 53,6 0,0 43,7 56,3 0,0Guaratinguet-1798 43,5 56,5 0,0 43,7 56,2 0,1Taubat-1798 48,1 51,9 0,0 46,1 53,9 0,0

    Regio da. PecuriaSorocaba-1798 47,8 52,2 0,0 46,8 53,2 0,0

    Sub-regio (Minerao)Apia-1798 50,8 49,2 0,0 52,0 48,0 0,0

    Litoral Centro-NorteSantos-1775 46,2 53,8 0,0 43,5 56,5 0,0

    So Sebastio-1798 48,6 51,4 0,0 47,4 52,6 0,0

    Litoral SulCanania-1798 44,0 56,0 0,0 43,4 56,6 0,0Iguape-1799 49,8 49,9 0,3 49,7 50,2 0,1Xiririca-1799 44,0 56,0 0,0 52,8 47,0 0,2-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 7 do A.E.

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    Tabela 4.2LOCALIDADES PAULISTAS: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,

    SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E SEXO(Vrios Anos em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local-Ano Propriet. e dependentes No-propriet. e depend.

    Hom. Mul. No determ. Hom. Mul. No determ.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Regio AucareiraItu-1836 46,4 53,6 0,0 42,2 57,8 0,0Campinas-1829 50,7 49,3 0,0 47,5 52,1 0,4

    Vale do ParabaBananal-1829 52,7 47,3 0,0 52,1 47,9 0,0Areias-1829 51,4 48,6 0,0 51,2 48,8 0,0

    Lorena-1829 51,9 48,1 0,0 49,0 51,0 0,0Guaratinguet-1829 44,7 55,3 0,0 43,6 56,4 0,0Taubat-1830 45,6 54,4 0,0 43,7 56,3 0,0

    Regio PecuriaSorocaba-1824 45,1 54,9 0,0 43,1 56,9 0,0

    Sub-regio (Minerao)Apia-1824 55,6 44,4 0,0 48,7 51,3 0,0

    Litoral Centro-NorteSantos-1830 51,4 48,6 0,0 42,0 58,0 0,0

    So Sebastio-1830 48,2 51,8 0,0 47,0 53,0 0,0

    Litoral SulCanania-1830 52,9 47,1 0,0 42,1 57,9 0,0Iguape-1828 49,6 50,3 0,1 48,6 51,4 0,0Xiririca-1828 52,1 47,9 0,0 47,5 52,5 0,0-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 8 do A.E.

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    Tabela 4.3LOCALIDADES DO PARAN E SANTA CATARINA: DISTRIBUIO DA POPULAO

    LIVRE, SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E SEXO(Vrios Anos em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local-Ano Propriet. e dependentes No-propriet. e depend.

    Hom. Mul. No determ. Hom. Mul. No determ.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ParanAntonina-1798 49,1 50,9 0,0 48,4 51,6 0,0Castro-1798 53,2 46,8 0,0 48,5 51,5 0,0

    Antonina-1830 52,7 47,3 0,0 47,6 52,4 0,0Castro-1835 47,6 52,4 0,0 49,2 50,8 0,0

    Santa CatarinaLajes-1798 55,0 45,0 0,0 54,6 45,4 0,0Lajes-1818 61,9 38,1 0,0 51,3 48,7 0,0-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 9 do A. E.

    Tabela 4.4LOCALIDADES MINEIRAS: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,

    SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E SEXO(1804 em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local Proprietrios e dependentes No-proprietrios e depend.

    Hom. Mul. No determ. Hom. Mul. No determ.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Distritos de Vila Rica1. Antnio Dias 49,7 50,3 0,0 41,7 58,2 0,12. Ouro Preto 45,4 54,6 0,0 46,1 53,8 0,13. Alto da Cruz 38,8 61,2 0,0 41,2 58,3 0,54. Padre Faria 41,2 58,8 0,0 40,2 59,8 0,05. Morro 44,8 54,8 0,4 45,4 54,6 0,06. Cabeas 47,0 52,7 0,3 45,5 54,5 0,0

    Vila Rica (Total) 45,6 54,3 0,1 43,9 55,9 0,2

    Outros Distritos de MG1. Mariana 44,9 55,1 0,0 35,4 64,6 0,02. Passagem 49,8 50,2 0,0 48,4 51,6 0,03. Furquim 48,2 51,6 0,2 47,7 52,3 0,04. N. Sra. Remdios 49,9 50,1 0,0 48,9 51,1 0,05. Gama 45,3 54,7 0,0 47,0 53,0 0,0-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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    Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 10 do A. E.

    Situao igualmente harmoniosa verificava-se nos centros baianos aqui estudados (Cf.Tabela 4.5).

    Tabela 4.5LOCALIDADES BAIANAS: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,

    SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E SEXO(Em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local Ano Proprietrios e dependentes No-propriet. e dependentes

    Homens Mulheres Homens Mulheres-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ourianga eBrejes 1785 51,1 48,9 46,6 53,4

    Pindoba 1790 48,6 51,4 49,7 50,3-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 11 do A. E.

    J para o Piau, a forte dominncia de homens, caracterstica dos primrdios daocupao daquela rea, v-se drasticamente amenizada em 1762. Destarte, tambm paraeste caso pode-se afirmar que os grupos dos proprietrios e dos no-proprietrios nose distinguiam por sua composio sexual (Cf. Tabela 4.6). Concluso esta vlida, comovisto, para todas as reas aqui estudadas.

    Tabela 4.6

    PIAU: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E SEXO

    (Em %)-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Ano Proprietrios e dependentes No-propriet. e dependentesHomens Mulheres Homens Mulheres

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1697 99,1 0,9 71,7 28,3

    1762 53,5 46,5 57,7 42,3-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Os

    nmeros absolutos constam da Tabela 12 do A. E.

    A distribuio dos efetivos populacionais dos segmentos de proprietrios e no-proprietrios de cativos, segundo grandes faixas etrias correspondentes a crianas (0-14 anos), idade ativa (15 a 64 anos de idade) e ancios (65 e mais anos), leva-nos aconcluir que tambm sob esta tica estamos em face de estratos populacionais nodistinguveis. Ou seja, proprietrios e no-proprietrios de cativos apresentavamestruturas etrias muito semelhantes, no sendo possvel estabelecer maioresdistines entre os dois agrupamentos, pois a nica permanncia sistemtica de

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    diferena entre os dados refere-se a uma ligeira maior presena relativa de ancios nogrupo dos proprietrios de escravos. Tal fato poderia estar associado a uma esperanade vida superior para este segmento.

    H, verdade, algumas ligeiras distines regionais, mas elas permanecem tanto em umcomo no outro segmento populacional em foco. Destarte, somos obrigados a inferir das

    evidncias disponveis que no havia concentrao especial dos no-proprietrios deescravos nesta ou naquela faixa etria, fato da maior relevncia se tivermos em menteque tal conjunto representava a parcela relativamente mais pobre da populao livrebrasileira.

    Na rea paulista, paranaense e catarinense (1) os dados indicam uma presena decrianas da ordem de 42%, enquanto a participao das pessoas em idade ativa giravaem tomo de 54% (Cf. Tabelas 4.7, 4.8 e 4.9). J para Minas Gerais, a populao revelava-se ligeiramente mais "envelhecida"; assim, as crianas apareciam com peso relativoinferior cerca de 33% , enquanto os indivduos da faixa etria intermediria alavam-se a cerca de 60% dos efetivos populacionais totais. A participao dos ancios, por seuturno, era superior observada nas regies precedentemente arroladas (Cf. Tabela 4.10).

    Para o Piau, faltam-nos informaes sobre as idades das pessoas, mas para a reabaiana, com exceo dos proprietrios de Pindoba (1790), (2) reencontramos aidentidade entre os dois segmentos socioeconmicos em anlise. Deve-se ter presente,ademais, que, excludo aquele distrito no que diz respeito aos proprietrios de cativos,os valores imperantes nas localidades baianas no discrepam significativamentedaqueles encontrados para a Regio Sul (Cf. Tabela 4.11).

    Nossa ateno volta-se agora para outro corte demogrfico, qual seja o concernente aoestado conjugal. Interessa-nos, pois, verificar as disparidades e semelhanas entreproprietrios e no-proprietrios em face da participao, em cada grupamento, dossolteiros, casados e vivos.

    Para a rea paulista, como se depreende da Tabela 4.12, observou-se distribuiosemelhante entre proprietrios e no-proprietrios de cativos. Grosso modo, observa-seque, para os dados do sculo XVIII, cerca de 30 a 35% das pessoas definiam-se comocasadas; o peso relativo dos solteiros, por seu turno, colocou-se entre 61 e 68%, istopara ambos os segmentos socioeconmicos. Referentemente aos pontos colocados nosculo XIX (Cf. Tabela 4.13) nota-se ligeira tendncia ao acrscimo da participao doscasados e vivos, mas tal fato deu-se tanto para um como para o outro grupo sobconsiderao, prevalecendo, portanto, a similitude das distribuies. A ilao a se impor imediata: no havia disparidade expressiva nas duas massas populacionais em tela;ademais, a tendncia, no correr do tempo, de maior participao de casados e vivos, foicomum aos dois grupos. Vale dizer, tambm sob a tica do estado conjugal, eles nodiscrepavam.

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    Tabela 4.7LOCALIDADES PAULISTAS: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,

    SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E FAIXAS ETRIAS(Vrios Anos em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local-Ano Proprietrios e dependentes No- proprietrios e dependentes

    0-14 15-64 65 e + No Esp. 0-14 15-64 65 e + No Espec.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Regio AucareiraItu-1775 37,4 58,2 4,3 0,1 37,6 58,6 3,8 0,0Campinas-1779 36,7 53,3 4,2 5,8 42,1 52,8 1,9 3,2

    Vale do ParabaBananal-1797 50,6 46,7 2,7 0,0 41,6 56,5 1,9 0,0Areias-1797 48,9 47,7 3,4 0,0 46,2 51,5 2,2 0,1

    Lorena-1797 42,8 52,6 4,6 0,0 42,3 54,4 3,3 0,0Guaratinguet-1798 42,9 52,7 4,4 0,0 43,2 52,8 3,9 0,1Taubat-1798 44,8 51,6 3,3 0,3 44,6 52,5 2,8 0,1

    Regio da PecuriaSorocaba-1798 39,3 56,5 4,2 0,0 42,8 53,5 3,7 0,0

    Sub-regio (Minerao)Apia-1798 47,5 48,6 3,9 0,0 45,4 49,2 5,4 0,0

    Litoral Centro-NorteSantos-1775 35,2 58,7 6,0 0,1 36,4 60,5 3,0 0,1

    So Sebastio-1798 44,1 52,2 3,7 0,0 46,5 50,6 2,9 0,0

    Litoral SulCanania-1798 32,1 64,2 3,7 0,0 41,9 54,9 3,2 0,0Iguape-1799 36,5 56,4 6,5 0,6 44,6 50,9 4,0 0,5Xiririca-1799 41,5 53,2 4,8 0,5 42,2 52,7 2,9 2,2-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 13 do A. E.

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    Tabela 4.8LOCALIDADES PAULISTAS: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,

    SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E FAIXAS ETRIAS(Vrios Anos em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local-Ano Proprietrios e dependentes No- proprietrios e dependentes

    0-14 15-64 65 e + No Esp. 0-14 15-64 65 e + No Espec.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Regio AucareiraItu-1836 40,3 56,8 2,8 0,1 34,5 62,6 2,8 0,1Campinas-1829 43,2 54,2 2,6 0,0 37,7 60,6 1,7 0,0

    Vale do ParabaBananal-1829 49,6 49,1 1,3 0,0 46,0 52,9 1,1 0,0Areias-1829 42,8 55,2 2,0 0,0 43,8 54,3 2,0 0,0

    Lorena-1829 42,1 54,5 3,4 0,0 45,4 52,8 1,7 0,1Guaratinguet-1829 38,4 57,9 3,7 0,0 41,9 56,0 2,0 0,0Taubat-1830 37,1 59,3 3,5 0,1 42,7 55,4 1,9 0,0

    Regio da PecuriaSorocaba-1824 40,4 54,9 4,7 0,0 42,4 55,0 2,6 0,0

    Sub-regio (Minerao)Apia-1824 52,2 47,4 0,4 0,0 51,1 47,5 1,4 0,0

    Litoral Centro-NorteSantos-1830 30,3 64,9 4,8 0,0 28,3 68,2 3,5 0,0

    So Sebastio-1830 38,3 56,3 5,3 0,1 44,4 53,3 2,2 0,1

    Litoral SulCanania-1830 29,2 64,1 6,7 0,0 42,4 53,4 4,2 0,0Iguape-1828 36,7 59,4 3,4 0,5 46,1 50,6 2,9 0,4Xiririca-1828 47,0 49,6 3,4 0,0 49,7 48,8 1,5 0,0-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 14 do A. E.

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    Tabela 4.9LOCALIDADES DO PARAN E SANTA CATARINA: DISTRIBUIO DA POPULAO

    LIVRE, SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E FAIXAS ETRIAS(Vrios Anos em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local-Ano Proprietrios e dependentes No- proprietrios e dependentes

    0-14 15-64 65 e + No Esp. 0-14 15-64 65 e + No Espec.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ParanAntonina-1798 37,1 56,6 6,3 0,0 45,1 51,2 3,6 0,1Castro-1798 44,2 52,7 3,1 0,0 46,0 51,3 2,8 0,0

    Antonina-1830 37,9 58,6 3,3 0,2 44,4 52,6 2,9 0,1Castro-1835 40,1 55,5 4,1 0,3 49,3 48,6 2,0 0,1

    SantaCatarinaLajes-1798 55,0 40,4 4,6 0,0 42,2 56,9 0,9 0,0Lajes-1818 41,3 58,7 0,0 0,0 45,7 52,3 2,0 0,0-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 15 do A. E.

    Tabela 4.10LOCALIDADES MINEIRAS: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E FAIXAS ETRIAS

    (1804 em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local Proprietrios e dependentes No- proprietrios e dependentes

    0-14 15-64 65 e + No Esp. 0-14 15-64 65 e + No Espec.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Distritos de Vila Rica1. Antnio Dias 38,5 57,9 3,6 0,0 29,2 64,9 5,9 0,02. Ouro Preto 30,8 56,2 5,2 7,8 29,9 61,1 5,0 4,03. Alto da Cruz 31,4 63,5 5,1 0,0 31,2 64,0 4,6 0,24. Padre Faria 27,7 63,0 8,4 0,8 32,7 62,8 4,5 0,05. Morro 28,0 57,8 13,8 0,4 35,2 54,4 10,1 0,36. Cabeas 32,0 60,7 7,0 0,3 33,0 63,3 3,4 0,3

    Vila Rica (Total) 32,3 58,5 6,2 3,0 31,7 61,4 5,7 1,2

    Outros Distritos de MG1. Mariana 35,0 57,3 7,7 0,0 29,3 66,1 4,6 0,02. Passagem 35,2 59,4 4,4 1,0 28,6 65,8 5,6 0,03. Furquim 25,4 64,4 7,7 2,5 34,5 57,5 6,0 2,04. N. Sa. Remdios 45,7 51,3 2,9 0,0 38,9 58,9 2,1 0,0-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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    Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 16 do A. E. Dados no disponveis para o Distrito denominado Gama.

    Tabela 4.11LOCALIDADES BAIANAS: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,

    SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E FAIXAS ETRIAS(Em %)-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local Proprietrios e dependentes No- proprietrios e dependentes

    Ano 0-14 15-64 65 e + No Esp. 0-14 15-64 65 e + No Espec.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ourianga eBrejes 1785 39,2 56,2 3,5 1,1 41,4 53,6 3,6 1,4

    Pindoba 1790 26,1 72,1 1,8 0,0 42,5 56,9 0,3 0,3-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagem e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 17 do A. E.

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    Tabela 4.12LOCALIDADES PAULISTAS: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,

    SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E ESTADO CONJUGAL(Vrios Anos em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local-Ano Proprietrios e dependentes No-proprietrios e dependentes

    Solt. Casad. Viv. N.C. Solt. Casad. Vivos N. C.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Regio AucareiraItu-1775 63,8 30,3 5,9 0,0 65,2 31,2 3,6 0,0Campinas-1779 62,5 35,0 2,5 0,0 69,0 29,6 1,4 0,0

    Vale do ParabaBananal-1797 65,8 30,4 3,8 0,0 57,7 38,7 3,6 0,0Areias-1797 66,4 30,9 2,7 0,0 61,4 35,0 1,7 1,9Lorena-1797 60,3 37,0 2,7 0,0 63,1 34,2 2,7 0,0Guaratinguet-1798 65,1 29,6 4,8 0,5 64,3 30,1 4,1 1,5Taubat-1798 63,7 30,6 4,8 0,9 65,0 30,5 3,4 1,1

    Regio da PecuriaSorocaba-1798 62,8 31,7 5,5 0,0 60,8 35,3 3,9 0,0

    Sub-regio (Minerao)Apia-1798 72,4 23,7 3,9 0,0 68,8 27,0 4,2 0,0

    Litoral Centro-NorteSantos-1775 66,8 29,0 4,2 0,0 73,6 24,0 2,4 0,0So Sebastio-1798 62,3 32,2 5,4 0,1 65,0 29,3 5,5 0,2

    Litoral SulCanania-1798 61,8 33,3 4,9 0,0 68,1 24,0 7,8 0,1Iguape-1799 62,2 30,5 7,1 0,2 68,2 25,8 4,6 1,4Xiririca-1799 64,7 28,0 6,8 0,5 65,5 29,5 4,4 0,6-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 18 do A. E.

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    Tabela 4.13LOCALIDADES PAULISTAS: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,

    SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E ESTADO CONJUGAL(Vrios Anos em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local-Ano Proprietrios e dependentes No-proprietrios e dependentes

    Solt. Casad. Viv. N.C. Solt. Casad. Viv. N. C.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Regio AucareiraItu-1836 64,0 29,2 6,8 0,0 59,9 32,9 7,1 0,1Campinas-1829 58,6 35,4 6,0 0,0 54,8 39,1 6,1 0,0

    Vale do ParabaBananal-1829 62,3 34,2 3,5 0,0 54,0 42,8 3,2 0,0Areias-1829 61,0 35,2 3,8 0,0 59,4 36,7 3,9 0,0Lorena-1829 59,1 35,7 5,2 0,0 58,7 38,1 3,2 0,0Guaratinguet-1829 62,2 32,8 5,0 0,0 61,6 33,0 5,4 0,0Taubat-1830 59,3 35,2 5,5 0,0 58,3 37,8 3,9 0,0

    Regio da. PecuriaSorocaba-1824 56,8 37,8 5,4 0,0 56,2 38,9 4,9 0,0

    Sub-regio (Minerao)Apia-1824 66,0 32,3 1,7 0.0 65,2 32,2 2,6 0,0

    Litoral Centro-NorteSantos-1830 61,6 30,9 7.5 0,0 71,1 22,6 6,3 0,0So Sebastio-1830 61,0 32,6 6,4 0,0 61,0 34,4 4,6 0,0

    Litoral SulCanania-1828 49,8 43,0 7,2 0,0 64,2 28,9 6,9 0,0Iguape-1828 60,0 33,6 6,4 0,0 63,3 31,6 5,1 0,0Xiririca-1828 61,9 34,7 3,4 0,0 60,4 35,3 4,3 0,0-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 19 do A. E.

    Esta ltima concluso estende-se sem necessidade de qualquer qualificao s reas doParan e de Santa Catarina. Cumpre dizer: deparamo-nos, recorrentemente, com grupospopulacionais muito semelhantes (Cf. Tabela 4.14).

    Para a rea mineira, impe-se diferena a ser notada. Ali, sistematicamente, aparticipao de casados mostrou-se maior entre os proprietrios de cativos em face dooutro segmento, o qual, correlatamente, conhece uma participao mais elevada dossolteiros (Cf. Tabela 4.15). Os bices que se impunham ao casamento de pessoas demenores posses parece ter atuado mais fortemente em Minas Gerais do que na rea

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    colocada mais ao sul. Frise-se, no obstante, que a maior presena de solteiros, vis--vis a rea sulina, comum aos dois segmentos socioeconmicos em tela. Estamos emface, pois, de uma coletividade na qual a tendncia ao celibato revelava-se maisacentuada, muito embora se tratasse de uma populao relativamente mais"envelhecida" do que a colocada mais ao sul.

    J para as localidades baianas observa-se uma reaproximao dos padres verificadosna rea sulina. No obstante, ali o peso relativo de casados e vivos sistematicamentesuperior no segmento dos proprietrios de cativos em face do grupo de no-proprietrios (Cf. Tabela 4.16).

    No Piau, para 1762, no se nota um grande afastamento com respeito situaoimperante na Bahia. O ano de 1697, como tivemos oportunidade de anotar, excepcional, pois representa momento no tempo no qual mal se iniciara o processo desedimentao da sociedade (Cf. Tabela 4.17).

    A concluso maior que se impe a de que, embora tenhamos podido identificar u'amaior tendncia ao casamento no grupo de proprietrios, ela no se revelou absoluta e

    no foi bastante para distinguir, essencialmente, os dois segmentos populacionais sobanlise.

    Atenhamo-nos, em seqncia, condio de legitimidade das crianas com quatorze oumenos anos de idade.

    Em termos gerais, para So Paulo, mais de quatro quintos das crianas enquadradascomo dependentes dos no-proprietrios de escravos revelavam-se como filhoslegtimos nos pontos colocados no sculo XVIII. Para o sculo XIX, notou-se ligeiratendncia diminuio na participao dos filhos naturais, assim, cerca de 85a 90% dascrianas arrolaram-se na condio de legitimidade. O mesmo movimento notou-se paraos dependentes dos proprietrios de escravos, para os quais, no entanto, apresentavam-

    se porcentuais de legitimidade superiores aos vigentes para os filhos de no-proprietrios. Assim, de 90 a 95% de crianas dependentes de proprietrios foramanotadas como legitimas nos anos situados na dcima oitava centria, porcentuaisestes que se alaram a cerca de 98% nos anos do sculo seguinte. Embora no muitovincada, verifica-se, aqui, uma distino entre os grupos em anlise (Cf. Tabelas 4.18 e4.19).

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    Tabela 4.14LOCALIDADES DO PARAN E SANTA CATARINA: DISTRIBUIO DA POPULAO

    LIVRE, SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E ESTADO CONJUGAL(Vidos Anos em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local-Ano Proprietrios e dependentes No-proprietrios e dependentes

    Solt. Casad. Viv. N.C. Solt. Casad. Vivos N. C.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ParanAntonina-1798 62,3 30,3 7,5 0,0 66,3 28,5 5,2 0,0Castro-1798 63,3 32,7 4,0 0,0 66,8 30,0 3,2 0,0

    Antonina-1830 60,5 34,0 5,5 0,0 65,7 29,3 5,0 0,0Castro-1835 62,6 30,9 6,5 0,0 62,1 34,5 3,4 0,0

    Santa CatarinaLajes-1798 65,6 33,1 1,3 0,0 68,4 29,1 2,5 0,0Lajes-1818 69,0 28,6 2,4 0,0 61,5 35,7 2,8 0,0-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 20 do A. E.

    Tabela 4.15LOCALIDADES MINEIRAS: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,

    SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E ESTADO CONJUGAL

    (1804 em %)-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local Proprietrios e dependentes No-proprietrios e dependentes

    Solteiros Casados Vivos Solteiros Casados Vivos-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Distritos de Vila Rica1. Antnio Dias 70,2 25,0 4,8 80,9 14,1 5,02. Ouro Preto 80,4 16,2 3,4 91,7 6,7 1,63. Alto da Cruz 78,8 20,4 0,8 83,3 16,3 0,44. Padre Faria 73,1 23,5 3,4 84,8 12,5 2,75. Morro 83,9 15,3 0,8 82,8 17,0 0,2

    6. Cabeas 72,3 21,7 6,0 83,6 14,5 1,9Vila Rica (Total) 76,9 19,6 3,5 85,2 13,0 1,8

    Outros Distritos de MG1. Mariana 73,1 20,9 6,0 78,3 17,9 3,82. Passagem 69,2 25,1 5,7 76,5 19,8 3,73. Furquim 74,8 20,5 4,7 74,3 22,0 3,74. N. Sa. Remdios 66,7 31,0 2,4 72,9 25,0 2,15. Gama 70,7 26,7 2,6 82,0 17,0 1,0

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    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 21 do A. E.

    Tabela 4.16

    LOCALIDADES BAIANAS: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E ESTADO CONJUGAL(Em %)

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Local Ano Proprietrios e dependentes No-proprietrios e dependentes

    Solteiros Casados Vivos Solteiros Casados Vivos-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ourianga eBrejes 1785 63,4 34,2 2,4 73,3 26,0 0,7

    Pindoba 1790 51,4 41,4 7,2 59,2 38,3 2,5-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores so porcentagens e, para cada segmento populacional, somam 100,0 no sentido das linhas. Osnmeros absolutos constam da Tabela 22 do A. E.

    Tabela 4.17PIAU: DISTRIBUIO DA POPULAO LIVRE,

    SEGUNDO SEGMENTOS SOCIOECONMICOS E ESTADO CONJUGAL(Em %)

    ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------