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Livro Agenda Bahia 2014

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Cidades Sustentáveis foi o tema principal do fórum de 2014, apresentando vários cases, tanto de cidades, de empresas, quanto de cidadãos que servem de exemplo por suas práticas sustentáveis.

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AgendaBAHIACompromisso com o futuro

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Apoio Institucional:

Apoio:

Realização:

Patrocínio Global:

Patrocínio Trade:

O QUANTO A INDÚSTRIA É IMPORTANTE PARA O BRASIL?

Sem a indústria da moda, o ícone de beleza brasileira lá fora seria só a natureza.

Sem a indústria aeronáutica, uma parte da nossa história poderia não ter decolado.

Sem a indústria automobilística, não teríamos tantos ídolos.

Sem a indústria médica, muitas vidas não teriam sido salvas.

Sem a indústria da música, jamais teríamos levado o charme de Ipanema para o resto do planeta.

A indústria química é a base de todas essas indústrias. É a indústria das indústrias. Por isso, a Braskem tem orgulho de ajudar a produzir um país tão forte quanto o seu povo.

braskem.com

Estratégica para o Brasil. Inovadora para o mundo.

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O QUANTO A INDÚSTRIA É IMPORTANTE PARA O BRASIL?

Sem a indústria da moda, o ícone de beleza brasileira lá fora seria só a natureza.

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Geração de energia a partir de Estação de Tratamento de Esgoto. Mais uma inovação da Coelba.Mais do que distribuidora de energia, a Coelba trabalha e investe para se tornar uma referência em soluções sustentáveis.

Um exemplo disso é o projeto que irá gerar energia a partir do biogás captado em estações de tratamento de esgoto. Uma parceria entre a Coelba, a Embasa e a Universidade de Feira de Santana, que conta com o apoio e a cooperação da Alemã GIZ – Deustsche Geselischaft fur Internationale Zusammenarbeit. Ou seja, onde tem soluções inovadoras e sustentáveis, tem o trabalho da Coelba.

A CADA ANO, A COELBA AUMENTA

SEUS INVESTIMENTOS EM PESQUISA E

DESENVOLVIMENTO DE NOVAS FONTES DE ENERGIA RENOVÁVEL.

PORQUE PARA A COELBA O FUTURO É AGORA.

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A SETE MIL METROS DE PROFUNDIDADE, ENCONTRAMOS PETRÓLEO, INSPIRAÇÃO E RESPEITO.

Somos líderes mundiais na exploração e produção de petróleo em águas profundas e ultraprofundas, sendo responsáveis pela operação do pré-sal, que nos posicionou estrategicamente frente à grande demanda mundial

de matérias-primas renováveis. Além disso, seguimos os princípios doPacto Global da ONU e integramos o índice Dow Jones de Sustentabilidade pelo nono ano consecutivo. Tão importante quanto crescer é ter responsabilidade social e ambiental.

Petrobras. A gente é mais Brasil.

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Salvador é uma festa para os sentidos. Sinta e...http://youtu.be/1uHqkddf6EY

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Sumário

Cidades sustentáveis .....................................................19

Desenvolvimento regional .......................................... 24

Propostas apresentadas no seminário ........................................ 25

A cidade mais sustentável do mundo ............................................ 30

Mobilidade leva goleada na cidade .................................................. 34

De áreas degradadas a ecobairros ................................................. 38

Para enfrentar a crise da água ...........................................................41

Energia, só se for renovável ............................................................... 44

Cidades para pessoas ............................................................................ 45

Cidade para pedestres ............................................................................51

Qualidade de vida ..................................................................................... 57

Novos desafios .......................................................................................... 59

Bike mania .....................................................................................................61

Equilíbrio da cidade garante mais qualidade ............................... 66

Vaga para a cidadania ..............................................................................71

Cidades onde o futuro está no presente ................................... 72

Criatividade é valor ................................................................................. 78

Lixo vira dinheiro ........................................................................................81

Engajamento dos cidadãos ................................................................. 85

Com a mão na massa, morador muda região ........................... 87

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Economia de até 50% na conta de energia ................................ 92

Cidades inteligentes, mais que tendência, uma imposição 96

Construção aliada ..................................................................................... 98

Solução também pelas águas ............................................................101

Hidrovias à baiana .................................................................................. 106

Bahia sustentável .................................................................................... 109

Desenvolvimento sustentável ...................................114

Propostas apresentadas no seminário ........................................115

Tiro no futuro ..............................................................................................118

Déficit gigante ........................................................................................... 120

Saneamento integrado ........................................................................ 125

O esgoto onde corre a saúde ............................................................ 129

Dinheiro pelo esgoto .............................................................................. 133

Faltam planos ............................................................................................ 138

Empacou ...................................................................................................... 143

Sem planos, dinheiro vai pelo ralo ................................................... 149

3.500 piscinas de esgoto ................................................................... 154

Muita obra por fazer ............................................................................... 158

Emissão controlada ................................................................................ 162

Inspiração alemã ...................................................................................... 165

Energia que sai do esgoto ................................................................... 167

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Riqueza de onde menos se espera ................................................ 169

Multiplicação da água ............................................................................ 172

O xixi que vale ouro ................................................................................ 175

Déficit de saneamento na Bahia supera média nacional .... 178

Otimismo de sobra ................................................................................. 180

Saída pela educação............................................................................... 183

Desenvolvimento produtivo ...................................... 186

Propostas apresentadas no seminário ....................................... 187

Presente sem futuro ............................................................................ 190

Família Brasil ............................................................................................... 195

Reformas urgentes ............................................................................... 197

Ações para a indústria ...........................................................................202

Entraves tiram espaço da indústria no PIB ................................204

Metas para educação ............................................................................205

Tecnologia como aliada ........................................................................207

A conta é alta .............................................................................................208

Os obstáculos da lei ................................................................................211

O peso do Custo Brasil no bolso do brasileiro ........................... 215

Futuro no presente ................................................................................220

Inovar para crescer ................................................................................. 221

Gestão sustentável ................................................................................224

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Tecnologia de ponta ...............................................................................226

Manufatura avançada já é uma realidade ...................................228

Jovens brasileiros entre os mais inovadores ............................229

Qualificação para atrair mais negócios .......................................233

Até seis meses para preencher uma vaga .................................238

Infraestrutura, um tiro na competitividade ...............................244

Mão de obra produtiva ..........................................................................246

‘Minha vida mudou’ ................................................................................250

Pequenas e micro podem exportar ...............................................255

Oportunidades ..........................................................................................257

Capacitados ................................................................................................260

Desenvolvimento turístico ........................................264

Propostas apresentadas no seminário .......................................265

Novos negócios ......................................................................................268

Mais que uma foto ...................................................................................273

Os Brasis do turismo.............................................................................. 277

Destinos que fazem a diferença .....................................................282

Sorria, você está em um destino sustentável .........................286

Bonito de se ver ......................................................................................292

Outros valores ..........................................................................................295

Criatividade no detalhe ........................................................................298

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Sustentabilidade: um dever de todos ........................................... 301

Para surpreender ....................................................................................306

Polêmica ancorada.................................................................................. 310

O poder do turismo ................................................................................. 314

Mais emprego ............................................................................................ 317

A vez do turismo comunitário .......................................................... 321

Profissionalização ...................................................................................324

Equilíbrio das cidades ............................................................................326

Viagem sem barreiras ...........................................................................327

Toda a cidade ganha ..............................................................................332

Esses são certificados .........................................................................337

Passeio ambiental ...................................................................................342

Realizadores ...................................................................346

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Cidades sustentáveis

O Fórum Agenda Bahia comemora cinco anos nesta edição. Desde 2010, o jornal Correio e a rádio CBN, com apoio da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), reuniram 180 palestrantes e debatedores para apresentar o que tem feito a diferença no Brasil e no mundo para, através de uma troca de ideias, oferecer exemplos para a promoção do de-senvolvimento mais sustentável das cidades baianas.

Cidades Sustentáveis, aliás, foi o tema principal do Fórum de 2014. A partir dessa temática, foram definidos os quatro seminários promovidos esse ano: O Futuro das Cidades, em Desenvolvimento Regional; Saneamento Básico, em Desenvolvimento Sustentável; Competitividade e Capital Humano, em Desenvolvimento Produtivo; e Turismo Sustentável, em Desenvolvimento Turístico.

Nossos parceiros, a cada ano, têm renovado o investimento no projeto - e novos se incorporam a cada edição - por acre-ditarem que o debate por boas soluções e a busca por inova-ções, entre todos os agentes da sociedade, serão o combus-tível necessário para aumentar a participação do estado na economia global.

O debate colabora no impulso por novas ideias que tragam mais qualidade de vida para os baianos. É com esse compro-misso, pensando e planejando hoje, no presente, o futuro do estado, que o Correio e a CBN oferecem, a cada ano, discus-sões tão importantes para a Bahia.

Até 2050, o Brasil terá 91% das pessoas morando nos centros urbanos - ou seja, 210 milhões no total, prevê o relatório Perspectivas Globais de Urbanização das Nações Unidas. Um mundo de gente concentrado nas cidades grandes e de médio porte, em sua maioria. Os problemas já existentes, como engarrafamentos e falta de recursos naturais e só irão se agravar, caso as cidades não estejam preparadas para essa nova demanda.

Na edição de 2014, o Fórum Agenda Bahia apresentou vários cases, tanto de cidades, de empresas, quanto de cidadãos que servem de exemplo por suas práticas sustentáveis. A proposta do Fórum, desde o começo, não é a cópia desse ou daquele modelo apresentado. Mas adiantar tendências, alertar

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para debates relevantes e trazer os melhores especialistas em suas áreas para que, junto com autoridades baianas e a academia, possam encontrar o melhor para a Bahia.

Dois países têm se destacado quando o assunto é sustenta-bilidade: Alemanha e Suécia. O alemão Steffen Ries, gerente da Innovation Academy in Freiburg, mostrou por que Freiburg é considerada atualmente como a cidade mais sustentável do mundo. Uma política de incentivo ao transporte público permite que os moradores possam percorrer quase 3 mil qui-lômetros em trens, bondes e ônibus. O desestímulo ao carro, como a cobrança de até R$ 70 mil por uma vaga de estaciona-mento, impulsionou ainda mais o uso de bicicletas, atualmente em maior número que os veículos de passeio. Além disso, as casas são construídas com projetos que buscam a redução no consumo de água e energia.

A sueca Jessica Magnusson, diretora de Mercados Emergentes da SP Technical Institute of Sweden, também mostrou o modelo Symbiocity, implantado em cidades da Suécia, que busca a melhoria na qualidade de seus morado-res. É surpreendente conhecer a transformação de áreas totalmente degradadas - como zonas industriais - em eco-bairros. O projeto prevê ainda eficiência hídrica e energética, com redução de consumo através de práticas inovadoras e da consciência da população. Tudo o que o Brasil mais precisa em tempos de falta de água e luz.

Como Jessica Magnusson fez questão de frisar em sua palestra, nada disso começou da noite para o dia. O planeja-mento se iniciou há cerca de 40 anos e resistiu às mudanças de governos, pois toda a sociedade - inclusive os moradores

- participou do projeto de tornar a região economicamente viável, mas também com proteção ao meio ambiente e pre-servação da cultura da cidade.

Steffen Ries percorreu com uma equipe do jornal Correio vários bairros da cidade e ficou surpreso com avenidas tão largas para carros e a dificuldade do acesso ao transporte público. Além do metrô, o alemão destacou o BRT (Bus Rapid Transit) e também o transporte hidroviário, entre bairros de Salvador, pela Baía de Todos os Santos como alternativas pela mobilidade urbana.

O mesmo projeto, das hidrovias, foi defendido por Alexandre Delijaicov, coordenador do Grupo Metrópole Fluvial da

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Universidade de São Paulo (USP) e um dos responsáveis pelo HidroAnel, projeto de despoluição de rios paulistanos, como Tietê, para, entre várias ações, permitir o transpor-te de cargas e de passageiros. Delijaicov também defendeu o melhor aproveitamento da navegabilidade do Rio São Francisco. Isso reduziria custos logísticos de empresas e também do governo, essencial para aumentar a competitivi-dade do estado baiano.

Competitividade e capital humano também foram debati-dos por especialistas no auditório da Fieb. O Brasil avançou em muitas questões, mas deixou de fazer o dever de casa, segundo palestrantes e debatedores, em assuntos consi-derados estratégicos para o crescimento mais sustentá-vel. Tanto que vem perdendo espaço na disputa com outros países nos mercados globais.

O responsável no Brasil pelo Ranking de Competição Global do IMD (Institute for Management Development), Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral, mostrou que atualmente o Brasil ocupa a 54ª posição. Há dez anos, como lembrou em sua palestra, estava 16 lugares acima.

Entre os pontos considerados relevantes para mudar esse cenário apresentados pelos palestrantes do Fórum estão as reformas de marcos regulatórios, como tributária e traba-lhista, além de uma política nacional industrial que contemple energia com custo menor para produção brasileira e ainda oferta de matéria-prima a preços competitivos.

Também foi destacada uma ampla mobilização pelo capital humano brasileiro, com investimentos na qualidade da educação em todos os níveis, valorização do professor e da qualificação dos diretores. Definição de metas e resultados, com mais recursos em inovação, para que o Brasil possa se destacar novamente na economia global em um futuro recente.

Outro tema de debate foi Saneamento Básico. Indicador es-sencial para medir a qualidade de vida de uma população, a universalização desse serviço e seus impactos e desdobra-mentos ganharam destaque no Agenda Bahia.

No Brasil, apenas 51% dos brasileiros têm coleta de esgoto - sendo que somente 38% é tratado. No total, 3.500 piscinas olímpicas de esgoto são jogadas por dia na natureza, sem tratamento. A Bahia avançou nos últimos anos nesse setor e

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tem o melhor desempenho entre os estados nordestinos, mas ainda há muito a ser feito. Praticamente metade da população do estado não possui esse serviço.

Vários prazos para o cumprimento do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) se encerram em 2015. Mas a maioria das cidades está com cronograma atrasado. Com os recursos atuais, o tempo para a universalização do sane-amento básico no Brasil não aconteceria em 20 anos, como prevê o Plansab, mas em 50 anos, segundo estudo apresen-tado no seminário.

Isso se reflete diretamente na saúde da população, também no capital humano brasileiro e até na economia das cidades. Como lembrou, em sua palestra, José Eli da Veiga, professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, a falta de saneamento básico é um tiro no futuro.

Só no ano de 2011, no Brasil, foram registradas 400 mil inter-nações por diarreia. Desse total, 53% atingiram crianças de 0 a 5 anos. José Eli destacou que o contato direto de crianças de até 5 anos com esgoto pode afetar o desenvolvimento cerebral pelas seguidas diarreias nesse período. E o desempe-nho dessas crianças na escola é comprovadamente menor na comparação com crianças que não têm contato com esgoto.

Verba para essas obras existem, mas o processo de aprova-ção dos projetos e liberação dos recursos pode demorar mais de dois anos. Depois de começadas, as obras também seguem muitas vezes em passos lentos, como mostrou reportagem especial produzida pelo jornal CORREIO.

Na Bahia, dos 417 municípios, só Camacã, no Sul do estado, elaborou e aprovou o plano na Câmara Municipal, e Firmino Alves já elaborou e depende só da aprovação do legislativo municipal.

A falta de saneamento básico afeta diretamente outro tema de seminário do Fórum 2014, Turismo Sustentável. Turismo é um dos setores vitais para a economia de muitas cidades baianas e o investimento no tripé da sustentabilidade foi apontado como essencial para o futuro da atividade no estado. Além de visar o aspecto econômico, o planejamento, tanto de empreendimentos quanto dos destinos, destacam palestrantes e debatedores, deve contemplar também o aspecto social e ambiental.

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Muito ainda é preciso ser feito no Brasil nessa área. O País recebe por ano 6 milhões de turistas de todo mundo, conside-rado muito baixo perto do potencial de visitantes que circulam nos quatro cantos do planeta.

O Fórum apresentou cases brasileiros e também internacio-nais de destinos e hotéis que estão se destacando por revolu-cionar a gestão e o jeito de fazer turismo. E atraído e fideliza-do novos turistas pela sustentabilidade.

O livro do Fórum Agenda Bahia é dividido em quatro capítulos, cada um com o conteúdo das palestras de cada seminário e também com as reportagens especiais produzidas especial-mente sobre os temas de 2014. As propostas apresentadas no evento serão entregues às autoridades públicas. Ano que vem tem mais debate.

Infraestrutura

*Desenvolvimentoregional

O Futuro das Cidades

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Propostas apresentadas no seminário

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Transparência no processo de planejamento de políticas públicas, que incentivem a sustentabilidade, colabore para o engajamento dos moradores na mudança dos valores e de um novo jeito de pensar os territórios

Interface entre poder público, empresários, academia e cidadãos a fim de criar pactos de médio e longo prazos para soluções sustentáveis

Uma boa infraestrutura urbana é fundamental para a implantação de práticas sustentáveis

Criar políticas de Estado que possam resistir às mudanças dos governos

Governos das diferentes esferas mais alinhados para promover e facilitar soluções integradas para os diversos setores da sociedade

Adotar uma política de compras públicas sustentáveis

Geração de novos empregos com as novas práticas adotadas pela cidade. Estimular e apoiar também o emprego local

Promover a responsabilidade social empresarial e a sustentabilidade das cadeias produtivas

Promover o mercado de produções locais

Valorizar as tradições populares e promover a criação e a produção cultural nas comunidades

Promover o equilíbrio do desenvolvimento urbano e a conservação de áreas verdes

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Proteger e regenerar áreas naturais, aumentar a biodiversidade e ampliar os espaços naturais e os espaços verdes urbanos. Melhorar a qualidade do solo, preservar terrenos produtivos e garantir a agricultura e o reflorestamento sustentáveis. Melhorar a qualidade do ar, seguindo os padrões da Organização Mundial da Saúde

Superar e prevenir a pobreza e assegurar acesso a serviços públicos, educação, saúde, oportunidades de emprego, formação profissional, informação, inclusão digital e atividades culturais e esportivas de qualidade

Promover a segurança e a cultura da paz e garantir o direito a habitação de qualidade

Planejamento para avaliar o crescimento da população e a situação de cada região para se antecipar e evitar problemas que possam surgir no futuro, como a crise hídrica, que afeta cidades brasileiras atualmente

Novos projetos não precisam atingir toda a cidade de uma só vez. Iniciativas podem começar por bairros, como acontece na Suécia

Cidades menores, de até 80 mil habitantes, como existem na maior parte do território baiano, precisam ser planejadas de forma sustentável, em que o foco nas pessoas é mais importante do que apenas na mobilidade urbana

Financiamento para inovação, pesquisa e tecnologia para estimular o desenvolvimento urbano sustentável das cidades

Cidades inteligentes com infraestrutura tecnológica para garantir a funcionalidade e a aplicação de diversos sistemas informatizados para resolver problemas e aumentar a qualidade de vida da população

Incluir o tema sustentabilidade nos currículos escolares já na educação básica

Campanhas públicas e privadas que incentivem a população a incluir práticas sustentáveis em seus hábitos do dia a dia. Especialistas sugerem apresentar bons exemplos para provocar o debate sobre como essa mudança pode impactar na saúde, no meio ambiente, na economia das cidades e na qualidade de vida dos moradores

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Redução da emissão de carbono no meio ambiente

Apostar nos espaços urbanos que possam ser usados e projetados para o morador frequentar e criar novas conexões

Cidades criativas inovam processos, criam novos produtos e serviços, inspiram novos olhares e vivência de seus habitantes, estimulando cidadãos a serem mais criativos

Desenvolver e manter uma boa infraestrutura para locomoção de pedestres e pessoas com deficiências, com calçadas e travessias adequadas

Investir no conceito de urbanização que privilegie os pontos caminháveis nas cidades

Acelerar a transição para veículos menos poluentes. Estímulo ao uso no transporte público de carros, ônibus e barcos movidos a eletricidade, mais sustentáveis

Buscar alternativas para a integração do transporte público de Salvador

Bilhete único para os diferentes modais. Em Freiburg, bilhete único permite usar transporte público por cerca de 3 mil quilômetros na cidade

Corredores exclusivos para os ônibus. Isso permitirá reduzir o tempo das viagens e estimulará o uso desse transporte pela população.

Promover a locomoção a pé ou de bicicleta.

Sistema de comunicação direta com usuário de ônibus: mapas com informações sobre os trajetos e relógios nos pontos para indicar o tempo de espera

Para especialistas presentes no Fórum Agenda Bahia, alargar ruas e criar grandes avenidas não é a melhor solução para as cidades. A proposta é reduzir a presença dos carros nas vias e estimular o uso do transporte público e de bicicletas

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Ruas com limite de velocidade de até 40 km/h para carros, a fim de estimular o uso de bikes

Ciclovias, ciclofaixas, pontes e túneis exclusivos para bicicletas

Ciclovias mais largas para atender às novas demandas por esse meio de transporte na cidade.

Estacionamentos para bikes nas principais estações de transporte público para permitir a integração dos meios de transporte e estimular o uso das bicicletas

Lixeiras de coleta seletiva do lixo nas ruas da cidade para melhorar o descarte dos resíduos sólidos e incentivar o novo hábito na população

Reduzir a produção do lixo nas casas e nas empresas

Políticas públicas de incentivo à reciclagem e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos em energia e combustível, reduzindo ao máximo o envio do lixo para aterros sanitários. Na Suécia, apenas 1% do resíduo sólido é direcionado para aterros

Investimento em energia renovável. Em Estocolmo, a meta é que 50% da energia utilizada seja limpa

Conscientização da população para o uso racional da água, redução do consumo e uso de pesquisa, inovação e tecnologia para buscar a eficiência hídrica

Eficiência energética. Inclusive com definição de metas para a redução do consumo de energia não renovável e o aumento do uso de energias renováveis

Políticas de incentivo do reúso da água nas residências, nas empresas e nas repartições públicas

Construções sustentáveis mais eficientes que reduzam, por exemplo, o consumo de água e energia, como as casas passivas na Alemanha e na Suécia

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Políticas públicas que incentivem o uso de painéis solares para a geração de energia nas construções das cidades

Bairros históricos também podem ser mais sustentáveis. Em Barcelona, por exemplo, um sistema de recolhimento de lixo por canais de ar foi a solução para manter as ruas estreitas, que impediam a entrada de caminhões de lixo

Incentivar logística eficiente para reduzir impacto no meio ambiente e custos das empresas, tornando-as mais competitivas

Estimular o uso de hidrovias para transporte de carga e de passageiro. No Brasil, apenas 52% dos 22 mil km de rios navegáveis podem atender à demanda. A hidrovia tem custo 20% menor no valor do frete, além de reduzir drasticamente a emissão de CO2 na atmosfera

Ampliar o transporte de passageiro na Baía de Todos os Santos, com rotas que liguem bairros de Salvador e ajudem na mobilidade da cidade através da integração com os demais modais

Ampliar o transporte de carga e passageiro pelo Rio São Franscisco

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Uma cidade onde o uso do carro é desestimulado, o sistema de transporte integrado prioriza inclusive as bicicletas (há o dobro de bikes em relação aos automóveis), o estacionamento pode chegar a R$ 5 mil por mês, as construções primam pela eficiência energética e o planejamento a longo prazo sempre valoriza o pedestre.

O investimento começou há 40 anos e o resultado não poderia ser outro: com 240 mil habitantes, Freiburg, no sudoeste da Alemanha, é considerada por especialistas como a cidade mais sustentável do mundo. Steffen Ries, diretor do Innovation Academy in Freiburg, um dos palestrantes do seminário Futuro das Cidades, concedeu entrevista ao jornal CORREIO, ainda da Alemanha, antes de sua apresentação na Bahia. O alemão, que leva cinco minutos de bicicleta até o seu trabalho, adianta como Freiburg conseguiu implantar novas práticas sustentáveis.

A cidade mais sustentável do mundoEntrevista com Steffen Ries

“Freiburg foi na contramão do mundo, que privilegiou o carro, e investiu em transporte público e ciclovia”

Foto: Divulgação

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“Foram criados 12 mil empregos na economia verde, além de atrair mão de obra qualificada”

Freiburg é apontada por especialistas como a cidade mais sustentável do mundo. A partir de que momento começou-se a implantar práticas sustentáveis? Por trás do desenvolvimento de Freiburg existe uma longa história que começa com a revolta dos moradores contra a construção de uma usina de energia nuclear perto da cidade. Bem antes de Chernobil e Fukushima, o povo da nossa região demonstrava receio de contaminação radioativa decorrente do risco de acidentes. O resultado foi um movimento de protesto que contou com apoio de quase todo mundo. Foi um sucesso e evitou a construção da usina. Esse movimento ficou conhecido como o início do movimento ambiental na Alemanha, com vários impactos significativos, como a criação do Partido Verde alemão, entre outros.

Freiburg é uma cidade de 240 mil habitantes. Quais as principais ações para que esse modelo desse certo? Antes mesmo do início do movimento antinuclear, Freiburg tomou importantes decisões para seu desenvolvimento sustentável, como, por exemplo, no setor de mobilidade urbana, exibindo, já em 1969, preocupação com as necessidades de ciclistas, criação de zona de pedestres e transporte público, a preservação das ferrovias, na contramão do mundo no século passado, que privilegiou o carro.

Como funciona o sistema de integração do transporte de Freiburg? A cidade trabalha há 40 anos no conceito de tráfego integrado. Quanto mais perto do centro, mais caro estacionar. Estacionamento grátis nas periferias ou pontos de carona incentiva as pessoas a trocar o carro pelo trem ou pelo ônibus. Existe um bilhete único e inteligente para todo o tipo de transporte público na região que custa 53,50 euros (R$ 170) por mês, válido para 19 empresas diferentes (trem, trens urbanos, ônibus e ônibus regionais), que atuam em aproximadamente 3 mil km de vias de transporte público. Na estação de trem, há garagem para mil bicicletas. Usuários podem vir das vilas vizinhas para a cidade de ônibus ou trem com o ‘Regiokarte’ e, se o tempo estiver bom, pegar sua bicicleta para seguir ao trabalho. Freiburg tem uma extensa rede de ciclovias. A velocidade máxima para carros na maioria das áreas é de 30 km por hora.

Quanto tempo se leva para ir ao trabalho em Freiburg? Claro que Freiburg é uma cidade pequena e compacta e isso depende onde as pessoas vivem, mas posso dizer que a média é de 10 a 20 minutos. Meu caminho para o trabalho é de 5 minutos de bicicleta.

O que o senhor diria a uma cidade como Salvador em que quase 61% das pessoas ocupadas gastam entre 30 minutos e duas horas para chegar ao trabalho (só na ida)? O tempo que as pessoas gastam de casa para o trabalho é importante para a qualidade de vida, mas é também um fator econômico. Ainda mais que o deslocamento individual motorizado tem impacto negativo na qualidade

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do ar e na saúde. Um transporte público seguro, rápido e econômico, integrado a uma boa infraestrutura para ciclistas, dá a medida de quanto uma cidade pode ser mais limpa e atrativa.

Como funciona o programa de eficiência energética de Freiburg? Na nossa área climática, 70% do consumo de energia de uma casa é usado para aquecimento durante o período de Inverno. Portanto, este é um fator principal. Novas casas têm que ser construídas de acordo com o rigoroso padrão de Freiburg. A cidade está implementando programas para incentivar os donos de imóveis a usarem usinas de cogeração de energia eficiente e melhorar seu isolamento térmico. A cidade trabalha também em eficiência energética na área industrial, com energia solar, remodelação energética de edifícios públicos, como escolas, e investimento em energias renováveis.

Qual o impacto dessas medidas para a economia? Mais de 30% de novos empregos criados desde 1987 e 12 mil empregos no setor da economia verde, além da atração de mão de obra altamente qualificada.

Cidades antigas e grandes, como Salvador, podem se tornar sustentáveis? Quais os primeiros passos? Educação desde cedo para as crianças, facilitada por creches e escolas. Implementar conceito de cidade caminhável, criar bilhete mensal para transporte público, investir em transporte público e infraestrutura ciclística e incrementar a segurança.

“Estacionamento grátis nas periferias incentiva a troca do carro pelo trem ou pelo ônibus ”

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Imagine se tudo o que você precisasse em sua vida - o local de trabalho, a escola das crianças, o mercado, a farmácia, o banco... - ficasse tão perto de sua casa que você não precisasse ter carro. Parece muito distante da realidade?

Mas isso não é impossível. Na verdade, já acontece em outros lugares do mundo, como Freiburg, na Alemanha, apontada por estudiosos como a cidade mais sustentável do planeta. Foi esse o exemplo apresentado pelo especialista alemão Steffen Ries, gerente da Academia de Inovação de Freiburg, no Fórum Agenda Bahia 2014.

“Se as pessoas vivem sem um carro, temos o conceito de ‘walkable city’ (em inglês, ‘cidade caminhável’). A ideia é que as pessoas possam andar curtas distâncias e que tudo que é necessário para sua rotina diária esteja perto delas”, explicou Ries.

Apesar de isso ser uma tendência em toda Freiburg, é no bairro de Vauban que o uso do carro é ainda mais raro. No local, que já foi uma área militar na Segunda Guerra Mundial, hoje moram cerca de cinco mil pessoas. Os carros podem trafegar em Vauban, no entanto, quem tiver seu próprio automóvel não pode estacionar em frente a sua casa, por exemplo. Uma vaga de estacionamento pode custar R$ 70 mil.

“Isso acaba desestimulando as pessoas, porque o preço da vaga é prati-camente o preço de um carro”. O resultado é uma comunidade que ocupa as ruas da cidade. “Lá, as ruas não pertencem aos carros. Elas pertencem às crianças, que podem brincar em segurança, porque sabem que não vai passar um carro daqui a um minuto. O próximo carro só vai passar daqui a uma hora. Por conta disso, as pessoas têm mais qualidade de vida, as ruas também são menos barulhentas e o ar é menos poluído”. E se alguém quiser ir ao centro de Freiburg é só pegar o trem: também dá para chegar a pé na estação, já que todo o bairro tem uma área aproximada de 2,5 km².

Mas nada disso começou de uma hora para outra. Freiburg tem uma história de desenvolvimento sustentável que se iniciou há cerca de 40 anos, quando sua população impediu a instalação de uma usina nuclear. “E ainda há muito a ser feito”, garantiu Ries.

Hoje, a maior parte da população usa bicicleta ou transporte público. Em 2013, segundo Steffen Ries, foram cerca de 75 mil viagens no sistema de transporte público em Freiburg - que tem 240 mil habitantes. Em Salvador, com pouco mais de 2,8 milhões de habitantes, foram 45 mil viagens. “É preciso tornar o transporte público em Salvador mais seguro, mais fácil e especialmente mais rápido, para que as pessoas cogitem usá-lo”.

Segredo está em encurtar as distâncias nas cidades

*Realidade diferente

75 mil viagens foram realizadas no transporte público de Freiburg

240 mil habitantes moram na cidade alemã

45 mil viagens foram realizadas no transporte público de Salvador

2,8 milhões de pessoas moram em Salvador

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Mobilidade leva goleada na cidade

Tente responder: o que Salvador precisa fazer para se tornar uma cidade sustentável? Vamos lá, a resposta é muito mais complexa do que plantar umas árvores aqui e ali ou do que colocar lixeiras coloridas para reciclagem no seu condomínio.

Para responder isso, o CORREIO chamou um gringo que entende do assunto para dar um passeio e ajudar a pensar soluções para a cidade. O especialista alemão Steffen Ries, gerente da Innovation Academy in Freiburg, na Alemanha, um dos palestrantes da 5ª edição do Fórum Agenda Bahia, topou o convite e percorreu alguns pontos da capital baiana para dizer o que Salvador ainda precisa fazer se quiser trilhar o mesmo caminho da cidade onde ele mora, que é considerada a mais sustentável do mundo.

Depois de passar quase sete horas circulando em diferentes bairros, a primeira coisa que Steffen apontou foi: não existe fórmula mágica. Ou seja, o que funciona lá em Freiburg pode não funcionar aqui. O que deu certo em Curitiba, no Sul, também pode não dar certo. E o que foi implantado em Bogotá, na Colômbia, talvez seja exatamente o contrário do que Salvador precisa. Ou talvez não... Talvez todos os exemplos possam ser aproveitados aqui também.

“É sempre bom tirar lições de outros lugares, mas cada cidade deve adaptar os exemplos para sua realidade, porque o tamanho é diferente, assim como o clima, a cultura e o estilo de vida das pessoas. Temos

Para o alemão Steffen Ries, talvez a ampliação do metrô nem sirva mais às necessidades de Salvador. “Ele é moderno e confor-tável, mas precisa ser mais acessível. O metrô é ideal para grandes distâncias e para transportar muitas pessoas, mas é um inves-timento muito grande”. Por isso, outras alternativas, como a implantação do BRT (do inglês Bus Rapid Transit) poderiam ser mais viáveis.

Metrô/BRT

Foto: Evandro Veiga

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que tentar envolver a população para descobrir o que ela quer e o que precisa”, sugere Steffen.

E, claro, também não é de uma hora para a outra que uma cidade se torna sustentável. Mesmo na terra dele, as coisas ainda não são perfeitas. “Isso é algo que dura em torno de uns 30, 40 anos. Freiburg estava começando uma cultura de automóveis, mas, a partir da década de 1970, as coisas foram mudando. Mas ainda há muito a fazer”, garantiu o alemão.

Primeiro, é importante lembrar que sustentabilidade não é só usar energia verde ou reciclar o lixo - o negócio vai muito além disso. “Sustentabilidade fala de ecologia, economia e desenvolvimento social. Não podemos fazer as coisas boas apenas para as pessoas ricas. Conseguir fazer isso pode ser mais difícil do que falar, mas é preciso tornar a sociedade mais igualitária a longo prazo”.

Quando a reportagem pediu que o alemão elegesse o que ele achou que foi o maior problema da cidade, Steffen não teve dúvida: a mobilidade urbana. “As pessoas não querem usar o transporte público e, pelo visto, trabalham para comprar um carro. É preciso perguntar aos moradores quais são os problemas do transporte. Por que elas tentam evitar os ônibus? Aqui, há questões de segurança e de conforto, além do fato de que elas esperam muito pelos ônibus, que ficam presos nos congestionamentos”.

Uma boa saída seria investir na criação de mais vias exclusivas de ônibus, como as que existem na Avenida ACM e na Avenida Vasco da Gama. “Na via exclusiva, os ônibus não precisam ficar

Freiburg, a cidade de Steffen Ries, é a prova de que uma cidade pode ser histórica e, ao mesmo tempo, adotar práticas susten-táveis. Mesmo assim, no Pelourinho, ele diz que a identidade do local deve ser mantida. “Poderiam colocar mais árvores aqui e seria um bom local para transformar em área exclusiva para pedestres, mas não acho que deveriam mexer muito na paisagem. É preciso preservar o caráter histórico e cultural do lugar”, pontuou.

“As ruas aqui são muito largas!”, exclamou Steffen Ries assim que conheceu a Avenida Paralela. “Quanto mais espaço para carros, mais vai ter carros. Em Freiburg, deixamos as ruas mais estreitas. Assim, as pessoas usam o transporte público”, diz. Os ônibus, no entanto, precisam ser mais rápidos. Da mesma forma, deveria disponibilizar mapas das linhas na cidade e relógios que indiquem quanto tempo falta para que os coletivos cheguem nos pontos.

Pelô histórico e sustentável

Paralela e transporte público

Foto: Evandro Veiga

Foto: Evandro Veiga

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parados no trânsito como o resto dos carros, e as viagens são mais rápidas. Se as pessoas começarem a gastar 20 minutos no ônibus fazendo o mesmo percurso que fariam se estivessem de carro, vai ser um atrativo para elas”.

Além disso, Steffen diz que os governos federais, estaduais e municipais deveriam investir em políticas de infraestrutura para o transporte público. Na Alemanha, de acordo com o especialista, o governo federal é responsável por subsidiar 85% do valor do transporte público.

Para Steffen, Salvador ainda precisa pensar em uma nova solução para o descarte de lixo. Quando viu que na orla da Barra só tinha lixeira de uma cor só - azuis - além das subterrâneas, o alemão ficou surpreso. Só nos contêineires que ficam abaixo da terra o lixo é separado (entre seco e úmido).

“O lixo não deve ir apenas para os aterros sanitários, mas ele pode ser uma fonte tanto para reciclagem quanto para produção de energia”. Mesmo assim, ele acredita que os moradores da cidade devem encarar como uma prioridade a redução do seu próprio lixo.

E se dá para chegar a uma nova fonte de energia reaproveitando o lixo - transformado em biogás e, posteriormente, em eletricidade - também é recomendável investir na produção de outros tipos de energia limpa. “Painéis solares são um bom exemplo disso, mas como a costa de vocês recebe muito vento, dá para usar isso para produzir energia”.

Apesar dos problemas que encontrou na cidade, o gringo não desgostou do que viu... Pelo contrário. Steffen

Criar ciclovias, ciclofaixas e até reduzir a velocidade de algumas ruas aos domingos são maneiras de incentivar o uso de bici-cletas. “Entendo que, no primeiro momento, incentivar a venda de carros ajude a economia, mas diminui a qualidade de vida da população. Com bicicletas, diminuímos a poluição sonora, do ar e congestionamentos”. O ideal é que as ciclovias sejam na altura da rua, como na Ribeira, e não na calçada. “E deviam ser mais largas, mas já é um começo”.

Apesar de ser a segunda maior baía do Brasil, a Baía de Todos os Santos não tem nenhuma hidrovia. Além do sistema ferry-boat, que liga Salvador a Itaparica, e dos terminais marítimos da Ribeira e de Plataforma, os moradores da região só têm os ônibus como alternativa de transporte. “Eles poderiam ser beneficiados pela hidrovia, porque não precisa de muito investi-mento e a implantação é simples e rápida”.

Trocando o carro pela bike

Transporte na Baía de Todos os Santos

Foto: Evandro Veiga

Foto: Evandro Veiga

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experimentou as estações de compartilhamento de bicicletas do programa Salvador Vai de Bike na Pituba e ainda conheceu a ciclovia da Ribeira e o piso compartilhado da Barra.

“Ainda há muito a se fazer por aqui, com certeza, mas há uma melhoria na infraestrutura para os ciclistas. O simples fato de reduzir a velocidade de algumas ruas aos domingos para fazer ciclofaixas já ajuda. As estações de bicicletas também estimulam o uso desse modal, porque pode fazer com que as pessoas que nunca pensaram em usá-lo comecem a deixar o carro em casa e ir para o trabalho pedalando”, disse.

Daí, quem sabe, em um futuro próximo, Salvador chegue perto da realidade de Freiburg? Mas não é tarefa fácil: lá, o número de bicicletas é praticamente o dobro do número de carros. E, só para dar uma ideia, eles nem precisam de estações de compartilhamento de bicicletas, porque todo mundo tem a sua... Na verdade, acontece o contrário: tem empresa especializada em compartilhamento de carros.

Para Steffen Ries, o piso compartilhado por pedestres, carros e bicicletas da Barra foi uma das mudanças positivas para a cidade. “O fato de que está tudo no mesmo nível, além da própria pavimentação, que não é só de concreto, torna o local mais atraente. Isso lembra as áreas exclusivas para pedestres que temos nas grandes cidades da Alemanha”, disse o gerente da Academia de Inovação de Freiburg. Ainda assim, é preciso tomar cuidado: investimentos assim não podem ser feitos apenas nas áreas mais nobres . “É importante levar o mesmo tipo de desenvolvimento para a periferia, porque isso não deve ser exclusividade das pessoas mais ricas”.

A orla da Barra

Foto: Evandro Veiga

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Para quem pensa que lugares degradados jamais poderão se tornar regiões sustentáveis deve conhecer melhor os programas implantados pela Suécia. Em entrevista ao CORREIO, a diretora de Mercados Emergentes da SP Technical Institute of Sweden, Jessica Magnusson, revela como tem sido o planejamento das cidades suecas para priorizar práticas que valorizem o meio ambiente, o social, a economia e a cultura das regiões. O modelo SymbioCity sueco leva em consideração a abordagem holística em que todas as esferas de poder e da sociedade trabalham em conjunto. O resultado vem em números: cerca de metade de toda a coleta domiciliar do lixo é incinerada para gerar mais de 20% da energia de aquecimento no país e o uso do biogás reduziu as emissões de dióxido de carbono em até 90%. Confira outros dados nesta entrevista ao jornal CORREIO de Jessica Magnusson, que acredita que os projetos devem começar por pequenas regiões até se espalhar pelas cidades.

Na Suécia, foi implantado o conceito SymbioCity. Como foi possível fazer essas conexões de ações de forma holística, como propõe o modelo sueco? Na Suécia, todos os níveis de governo exercem um papel importante na promoção do desenvolvimento sustentável e suas responsabilidades são definidas na legislação, seja no gerenciamento do lixo, no tratamento de esgoto, no abastecimento de água. Os municípios precisam também ter planos de fornecimento, distribuição e uso de energia. Uma emenda de 1999 exige que o plano inclua análises de como as operações de energia municipais impactam no meio ambiente, na saúde pública, na gestão da terra, da água e de outros recursos. Municípios devem ser responsáveis também pelo transporte público. Quando se conectam essas diferentes áreas você cria condições para, por exemplo, reciclar lixo e reaproveitar o esgoto em biogás como combustível para veículos. Para gerenciar, as municipalidades suecas trabalham muito perto com os políticos, comércio, indústria, academia e pesquisa, além dos cidadãos, para criar pactos de longo prazo para soluções sustentáveis e investimentos que também criem novos empregos.

De áreas degradadas a ecobairrosEntrevista com Jessica Magnusson

“Para obter bons resultados é preciso envolver cidadãos. Um bom exemplo pode servir de case exemplar para outras partes da cidade”

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Por que adotar um modelo holístico? A experiência sueca mostra que o desenvolvimento urbano sustentável exige abordagem holística e integrada que contemple os aspectos ambientais, sociais e econômicos de forma a obter também resultados sustentáveis a longo prazo. É preciso um planejamento claro. E trabalho conjunto e de cooperação de autoridades e stakeholders na implementação e administração. Há vários bons exemplos na Suécia: em Estocolmo, Växjö, Gotemburgo, Malmo e Boras.

O modelo sueco também é implantado em bairros. A senhora acredita que é mais eficaz concentrar as transformações por regiões específicas ou adotar o modelo para toda uma cidade? Acredito que é melhor começar em menor escala, de forma a dar um bom exemplo. Para obter bons resultados é preciso envolver cidadãos. Um bom exemplo pode servir de case exemplar para outras partes da cidade.

A senhora acredita que grandes centros urbanos, ou seja, cidades grandes, podem ser sustentáveis? Sim, a gente precisa acreditar nisso (sorriso). Mas isso exige um caminhão de esforços e contribuição por parte de toda a sociedade

Em termos de resultado para os moradores, governo e meio ambiente, quais pontos a senhora destacaria como maiores ganhos e conquistas após a implantação desse modelo? Para os moradores, talvez o engajamento e a transparência no processo de planejamento. Também a mudança nos valores para o povo e um novo jeito de pensar. O desenvolvimento sustentável depende da população. O parlamento sueco acertou 16 metas ambientais para serem implementadas nas municipalidades. Também a forma com que as prefeituras se organizaram com os negócios e a universidade. Se você não incluir o ambiente nessa conta desde o início, pode facilmente tomar decisões erradas ou investir em tecnologias que não se sustentem na linha do tempo. Assim, os danos ao meio ambiente vão acabar custando bem mais caros a longo prazo. Isto que é uma abordagem holística.

Uma das regiões que contaram com o modelo de SymbioCity foi um distrito industrial de Estocolmo, que passou por uma transformação radical... Você deve estar falando de Hammarby Sjostad (um dos bons exemplos da Suécia). Uma região de Estocolmo em que o objetivo alcançado de impacto nas emissões chega a ser 50% menor do que o nível correspondente para novas áreas habitacionais erguidas no início dos anos 90 em Estocolmo.Transporte público: 80% da meta já foi atingida. Água: redução de 200 para 150 litros por habitante. Lixo: seleção em nove frações para reciclagem. Energia : de 150/160 KW/h por metro quadrado ao ano para 118. O distrito também serve como laboratório vivo.

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A inovação é essencial nesses processos. Como o governo da Suécia estimula a pesquisa e a inovação em seu país? Claro que sim. Recentemente, a conclusão foi a seguinte: o financiamento para investigação, desenvolvimento, inovação e showcases no campo das necessidades de desenvolvimento urbano precisa aumentar. Atividades experimentais e inovação são necessárias para criar avanços e progressos. A Suécia precisa desenvolver uma abordagem mais ampla, sistemática e dinâmica do conhecimento e da inovação em matéria de desenvolvimento urbano.

*Avanços20% da energia para aqueci-mento da Suécia é obtida através da incineração do lixo domiciliar

90% da emissão do dióxido de carbono foi reduzida com o uso de biogás

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Para enfrentar a crise da água

Um planejamento a longo prazo, com uso de inovação, tecnologia e conscientização da população. Para a chefe de Mercados Emergentes da SP Technical Institute of Sweden, Jessica Magnusson, que veio a Salvador para participar do Fórum Agenda Bahia, a combinação desses fatores permitiu à Suécia garantir o uso racional da água. Apenas em Hammarby Sjostad, referência como ecobairro no mundo, a redução do consumo passou de 200 litros para 150 litros por habitante, ao contrário de cidades brasileiras que só aumentaram o consumo nos últimos anos.

Diversas regiões no Brasil têm enfrentado problemas com a seca. Depois do Nordeste, os maiores centros urbanos do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, sofreram com a estiagem e a falta d’água. A crise tem afetado outro setor, o de energia: com o baixo nível das hidrelétricas, as termelétricas passaram a ser usadas. São usinas que utilizam energia suja, como carvão mineral.

- Criação de um plano de longo prazo espe-cífico para as necessi-dades de cada cidade: é preciso entender o crescimento da popu-lação e a situação de cada local para tentar prever os problemas que podem surgir no futuro, como a crise hídrica que afeta cidades brasileiras atualmente

- Uso de pesquisa, inovação e tecnologia para buscar a eficiên-cia hídrica

- Conscientização da população e das empresas pelo uso racional do consumo de água

Solução

Foto: Arisson Marinho

Jessica Magnusson defendeu uma abordagem holística para solucionar

problemas como a falta de água

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Jessica Magnusson destaca que, para começar seu planejamento hídrico, as cidades precisam identificar os desafios e o que realmente precisam fazer nos próximos anos, contando, inclusive, com o crescimento de sua população, para planejar seus projetos e obras.

Outro fator importante é identificar o curso das águas, de onde vem e para onde vai, e sua qualidade, relevante, inclusive, para definir o conceito de reúso. “Se você não sabe como as coisas estão hoje, é muito difícil prever os problemas do futuro”, disse.

Assim, cada cidade deveria estudar sua própria realidade e chegar a uma solução, explica Jessica. Na Suécia, por exemplo, não há problemas de fornecimento de água. Desde a década de 90, o país criou alternativas sustentáveis para uso racional e reúso da água. Entre os projetos, um sistema de tratamento de esgoto que permite que a água de superfície seja sempre potável, segundo a pesquisadora. “Usamos os lençóis subterrâneos e a água de superfície para o fornecimento. Para mim, não há diferença entre água potável e água tratada do esgoto. A água que bebemos é a mesma que a água que é jogada fora, por isso tudo está conectado. É a mesma coisa, porque acredito em uma visão holística da água”, esclareceu Jessica.

Para Jessica, a crise hídrica enfrentada hoje por cidades brasileiras poderia ser resolvida com essa visão mais ampla. “Mas é importante lembrar que boa parte da água que abastece o Brasil vem da região Amazônica. Dessa forma, é preciso lidar com o assunto com uma estratégia global, porque é um problema global. Eles devem tentar resolver o problema desde a base”, opinou a sueca. Jessica se referiu aos desmatamentos crescentes na Floresta Amazônica que têm interferido no volume de chuvas de regiões brasileiras, como o Sudeste.

Para o secretário municipal da Cidade Sustentável, André Fraga, o principal desafio do Brasil é combater a imagem de que o país tem uma fonte inesgotável de água. “Essa ideia de que a água não vai acabar só atrapalha. Não é só em São Paulo que está havendo problemas. Três anos atrás foi em Santa Catarina, a Amazônia passou por secas, o Nordeste passa por isso historicamente”, ressalta.

Lembrando do apagão que ocorreu em 2001, que afetou a distribuição de energia elétrica no país, André argumentou que o único resultado positivo da crise foi que as pessoas passaram a racionar o consumo. “Passamos a entender melhor e a economizar mais, mesmo que na marra”, brincou.

Para o secretário, o saneamento básico é o grande problema do Brasil. “Não conheço uma cidade com um rio urbano limpo. Temos a lei, mas precisamos de investimento para deixar de mandar esgoto para os rios”, afirmou o secretário.

“Usamos os lençóis subterrâneos e a água de superfície para o fornecimento. Para mim, não há diferença entre água potável e a água tratada do esgoto. É tudo igual”

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“Ah, sustentabilidade só dá certo na Europa! Nunca funcionaria aqui em Salvador”. Pois, o primeiro passo para criar uma cidade sustentável é justamente eliminar essa ideia. Ou melhor: promover uma mudança de pensamento, de acordo com a chefe de mercados emergentes do SP Technical Institute of Sweden, Jessica Magnusson.

“As pessoas precisam saber o motivo pelo qual elas devem se importar com o ambiente em que vivem e com a sustentabilidade desse lugar. E nós devemos fazer com que as pessoas fiquem interessadas por esses assuntos”, disse Jessica durante o seminário Desenvolvimento Regional: O Futuro das Cidades, na 5ª edição do Fórum Agenda Bahia.

Para a pesquisadora, é necessário começar com uma educação ambiental desde cedo, nas escolas. “Essa mentalidade sustentável deve ser incluída nos currículos escolares, para que as crianças aprendam desde cedo o que isso significa”. Mas, além disso, uma boa alternativa é investir em áreas como a divulgação através dos meios de comunicação e até da criação de aplicativos para smartphones. “Se a mídia mostrar os bons exemplos de atitudes sustentáveis pode provocar discussões sobre como isso afeta as pessoas, o ambiente e a saúde”, explicou Jessica.

A Suécia implantou o conceito de SymbioCity em suas cidades, que usam o planejamento para chegar a um ambiente sustentável. O município de Borás, no sul do país, inclusive, chegou à marca de que apenas 1% do lixo produzi-do é descartado em aterros sanitários. Ainda assim, Jessica reforça que foi necessário percorrer um caminho longo, que remonta à decada de 1960.

Um aspecto que levou a transformação de pensamento no país europeu foi a mudança na legislação sobre o descarte de lixo. “Criamos um plano de tratamento do lixo que faz com que as empresas assumam a responsabi-lidade pelo que produzem”. Além disso, os moradores são incentivados a reduzir sua própria produção de lixo.

Também é necessário que as autoridades que governam o país e as cidades tenham um consenso sobre a política ambiental a longo prazo. “Não importa se o partido é verde, vermelho, azul, preto ou branco. É preciso pensar em experiências que não sejam abandonadas quando houver a troca de governo”. Jessica afirmou também que uma cidade como Salvador deve encontrar o modelo mais adequado para sua popula-ção e seu estilo de vida. “As pessoas na Suécia não são mais ou menos in-teligentes do que as pessoas em Salvador. Mas não existe ‘copiar e colar’. Não adianta trazer exatamente o que é feito em outros países porque pode não ser adequado para a cidade”.

Mudar a mentalidade é o início da transformação

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Energia, só se for renovável

A redução do consumo de energia é um dos objetivos do governo da Suécia, que implantou o conceito de SymbioCity em suas cidades. De acordo com a chefe de mercados emergentes do SP Technical Institute of Sweden, Jessica Magnusson, o consumo já passou de 150 kWh por ano para 118 kWh por ano. “Começamos com isso há 25 anos. Agora, queremos reduzir para menos do que 90 kWh”, disse a pesquisadora, durante sua palestra no 5º Fórum Agenda Bahia.

De acordo com Jessica, o país incentiva o uso de energias renováveis - como energia solar e eólica. Em Estocolmo, a meta é que 50% da energia utilizada seja limpa. E mesmo sem ter tanto sol disponível quanto no Brasil, os painéis solares são comuns na Suécia. “Nós utilizamos esse tipo de tecnologia nas casas passivas (que produzem sua própria energia), por exemplo”.

Já em Freiburg, na Alemanha, o envolvimento da população é tão grande que um grupo de torcedores de futebol chegou a pagar pelos painéis solares de um estádio local, em 1995, segundo o gerente da Innovation Academy in Freiburg, Steffen Ries. “Antes disso, a energia do estádio vinha da Rússia, com um gás. Mas, nesse caso, o futebol ajudou a criar consciência ambiental nas pessoas”.

Na cidade de Borás, que fica no oeste da Suécia, inclusive, os moradores tentam eliminar todos os resíduos fósseis. “Nós conseguimos reduzir a emissão de carbono em até 20%. Mas ainda é um grande desafio. Foram necessários muitos anos para mudar o pensamento das pessoas, para que elas entendessem a importância de cuidar do meio ambiente”, afirmou Jessica Magnusson. Em Borás, apenas 1% do lixo produzido vai parar em aterros sanitários - a cidade conseguiu dar um destino diferente para o restante. “O resto é reciclado ou vira biocombustível”.

Foto: Divulgação Foto: DivulgaçãoFoto: Divulgação

Mesmo no Inverno, os suecos usam o espaço público

Hammarby Sjöstad: de região industrial a ecobairro

Bonde elétrico atende os passageiros na Suécia

Além da ampla rede de transporte público, o país investe ultimamente na produção de carros, ônibus e barcos movidos a eletricidade, mais sustentáveis. Segundo Jessica, ajuda a criar sistema mais eficaz. “A cidade se torna também mais silenciosa”, disse.

A mídia deve ser uma aliada na divulgação de experiências sustentáveis, para a especialista sueca Jessica Magnusson. “Isso provoca discussões sobre como a sustentabilidade afeta as pessoas, o ambiente e a saúde das pessoas”, afirma.

Com as novas tecnologias e a facilidade para comprar smartphones, os suecos usam aplicativos que facilitam sua vida. “Nós podemos ver desde o nível do reservatório de água até o local onde os ônibus estão. Tudo para a vida diária”, explicou Jessica.

* Novas tecnologias

Eletromobilidade

Comunicação local

Sistemas móveis inovadores

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A arquiteta Helle Søholt anda de bicicleta todos os dias quando está em sua cidade natal, Copenhague, na Dinamarca: “Me acostumei a viver assim e sinto falta da sensação de liberdade, escolha, flexibilidade e conveniência quando não estou aqui”, revela. As ruas por onde pedala começaram a ser transformadas na década de 70 quando o também arquiteto dinamarquês Jan Gehl, do escritório Gehl Architects , decidiu fechar a principal rua comercial da cidade para o transporte de bicicletas.

Depois de quebrar a resistência com os próprios moradores, o estilo de vida da capital dinamarquesa - onde há mais bicicletas que habitantes percorrendo os mais de 400 quilômetros de ciclovias - virou referência para o mundo. Tanto que Helle Søholt, CEO do Gehl Architects, que deu origem a tudo, desenvolve projetos em todo o planeta com o desafio de transformar regiões em espaços para as pessoas, inclusive no Brasil, baseado em Copenhague.

“A maioria das cidades não tem um sistema para bicicletas como Copenhague. Se não existem ciclovias, o percurso passa a ser somente de sobrevivência, enquanto poderia ser sobre prazer e seu modo de vida”, defende, em entrevista exclusiva para o CORREIO, para a série de reportagens do Fórum Agenda Bahia 2014, que abordou o tema Cidades Sustentáveis em seus quatro seminários, realizados em novembro e dezembro, promovido pelo jornal e pela rádio CBN, com apoio da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb).

Para Helle, municípios de até 80 mil habitantes, como na maior parte do território baiano, precisam ser planejados de forma sustentável, em que o foco nas pessoas é mais importante do que apenas na mobilidade urbana.

O que torna uma cidade verdadeiramente sustentável? Em primeiro lugar, uma cidade sustentável deve atender ao seu povo e às suas comunidades. Qualidade de vida não é simplesmente uma meta, mas um indicador de que a cidade tem um foco em tolerância, oportunidades, flexibilidade, liberdade de escolha, um sistema de mobilidade urbana integrado, diversidade na oferta de moradias e riqueza na criação de postos de trabalho em diferentes níveis de desenvolvimento. Sustentabilidade não é mais algo que deve ser entendido apenas como um termo ambiental. Deveríamos compreendê-la também pelo ponto de vista cultural e social.

O que é preciso mudar no planejamento das cidades para torná-las sustentávies? É possível restaurar o equilíbrio quando a forma física da cidade apoia as necessidades e o cotidiano das pessoas. Uma mudança de paradigma no planejamento é necessário: o foco deve deixar de ser no sistema e passar

Cidades para pessoas

Entrevista com Helle Søholt“As cidades têm muito foco em adotar medidas imediatas, em vez de focar, ao longo prazo, na qualidade de vida dos seus habitantes”

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a ser nas pessoas. Afinal de contas, cidades são feitas para e por pessoas. O futuro delas depende da capacidade da cidade de atrair mais pessoas, investimentos feitos por pessoas e por organizações, além de urbanistas e líderes que saibam tomar decisões em sistemas complexos.

Na sua opinião, as cidades, atualmente, são projetadas para melhorar a qualidade de vida das pessoas? De uma maneira geral, as cidades dão muita atenção às soluções para os engarrafamentos e outros problemas no trânsito e negligenciam os vários motivos pelos quais as pessoas precisam de um carro. As cidades têm muito foco em adotar medidas imediatas, como se estivessem ‘apagando incêndios’, em vez de focar em ações de longo prazo que proporcionem mais qualidade de vida aos seus habitantes. Existe uma necessidade de abordagem voltada para planejar, projetar e criar soluções que vão desde o nível regional até o desenho das ruas e dos pontos de encontro da cidade.

Foto: Divulgação/ Gehl Architects

Helle Søholt defende um sistema integrado de transporte,

diversidade de oferta de moradia e de emprego

“As pessoas escolhem bicicletas em vez de carros porque é uma forma mais fácil e rápida de se locomover”

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O estilo de vida das cidades atuais favorece a integração? Cada vez mais as pessoas vivem em condomínios fechados que não são integrados com áreas para caminhadas, ciclovias e transporte público, ou vivem em áreas da cidade ou do município onde precisam percorrer grandes distâncias para chegar ao trabalho ou para fazer compras. A necessidade de segurança da sociedade e a falta de vizinhanças com um alto grau de abertura e confiança entre os vizinhos resulta na criação de condomínios fechados. Essa tendência reforça a falta de integração nas atividades e restringe o desenvolvimento de paisagens urbanas vivas que as cidades precisam.

O que aconteceu na Dinamarca foi pioneiro na transformação de uma rua em área para bicicletas. Foi um exemplo que se reproduziu no mundo. As bicicletas ainda são a melhor solução para a questão de mobilidade? Copenhague começou a introduzir bicicletas em meados dos anos 1970, devido a duas grandes crises de energia que enfrentamos na época, quando as pessoas não tinham permissão de usar seus carros aos domingos e em alguns dias da semana. Desde então, as maiores cidades da Dinarmarca, além da capital, Copenhague, têm investido muito na implementação de infraestrutura para bicicletas. Hoje, nós temos mais de 35% da população da Grande Copenhague indo e voltando do trabalho de bicicleta todos os dias. Esse número chega a 55% no centro da cidade.

Há uma razão para a escolha das bicicletas? As pessoas escolhem bicicletas em vez de carros porque é uma forma mais fácil e rápida de se locomover. Não é porque somos ambientalistas, fanáticos por esportes ou vikings. É importante perceber que a infraestrutura auxilia a construção de uma cultura forte. Este é um bom exemplo de como cidades sustentáveis constroem ferramentas que ajudam a proporcionar elevada qualidade de vida e capacidade de se adaptar às mudanças no tempo.

Foto: Divulgação/ Gehl Architects

Nova York foi uma das cidades a contar com

projeto Gehl Architects: investiu em praças públicas

e ciclovias, diz Helle, desencadeando nova

cultura e modo de vida

*Mobilidade

55% da população usa bike no centro de Copenhague para trabalhar

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O Nordeste brasileiro tem pequenas e médias cidades que já sofrem com problemas de mobilidade. É mais fácil mudá-las em comparação com cidades maiores? Quais são as melhores soluções para essas cidades? Nenhuma solução vai ser adequada para todas. Cada cidade é diferente em sua topografia, forma urbana, morfologia, história e cultura. Uma vez dito isso, acredito que, enquanto planejadores, é o momento de assegurar mais soluções integradas com um cuidado especial e atenção ao cotidiano das cidades, como infraestrutura para pedestres e bicicletas, que permitiriam às pessoas andar em suas vizinhanças e chegar a estações de ônibus e trens seguras.

Como preparar as cidades para o crescimento da sua população focando na mobilidade? O elemento mais importante para que as cidades sejam preparadas para o crescimento é estabelecer uma boa estrutura de espaço público, que permite uma boa rede de vias, ruas, avenidas e estradas, mas também valoriza áreas como parques públicos, praças e espaços de encontro nas vizinhanças. Cidades com uma boa estrutura de espaços públicos se adaptam mais facilmente às mudanças ao longo do tempo e podem acolher melhor o adensamento dos terrenos individuais.

A realidade brasileira é diferente de outras cidades do mundo no aspecto de tornar as cidades sustentáveis? As cidades brasileiras estão enfrentando os mesmos problemas que as cidades do México, da Índia e de outros países parecidos. Em parte, isso tem a ver com os desafios globais que a maioria das cidades compartilha, a exemplo de uma falta de recursos – energia, espaço, tempo, financiamentos e a urbanização rápida que vemos globalmente. No entanto, acredito que existiu um período na história do Brasil no qual o planejamento foi negligenciado, o que resultou em uma gestão pobre do crescimento urbano e da conectividade. Além disso, é possível encontrar arquitetos muito talentosos, mas acho que existe uma carência de habilidades para concepção urbana, de uma forma geral, no Brasil.

Foto: Divulgação/

Gehl Architects

Em São Paulo, o escritório onde Helle trabalha desenvolveu projeto para requalificar a popular rua 25 de Março

“No Brasil, o planejamento foi negligenciado, o que resultou em uma gestão pobre do crescimento urbano e da conectividade”

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Existe um lado positivo? O lado bom é que, toda vez que eu visito o Brasil, fico muito impressionada pelo entusiasmo e pela vontade das gerações mais jovens – eles acreditam fortemente no futuro do país e das cidades, o que faz parte de uma democracia recente e um país com uma grande diversidade. Esse tipo de poder e força pode transformar o mundo e as cidades para melhor.

Cidades antigas, como o caso de São Paulo, ainda podem ser transformadas em ambientes sustentáveis? As cidades grandes como São Paulo só podem mudar se existir uma política para isso, com uma visão de longo prazo. Vai demorar pelo menos 10 ou 20 anos para enxergar os efeitos das decisões que tomamos hoje. Contudo, existe muita vontade de encontrar inspiração e colaboração em outras grandes cidades do mundo, como Nova York, ou locais menores, mas inovadores, como Copenhague. As cidades têm que buscar novas formas de trabalhar em parceria com instituições privadas, fundações, ONGs, etc, porque é uma grande tarefa. Enquanto planejadores, não podemos nunca forçar as pessoas a fazer o que nós planejamos. Nós apenas podemos convidá-los a fazer as escolhas certas, tornando as escolhas sustentáveis e que privilegiam as necessidades das pessoas mais atraentes.

No Brasil, há uma política de redução de impostos para compra de carros novos. O que acha dessa medida? Acho que essa é uma estratégia potencialmente perigosa, além de ter uma visão imediata, de curto prazo. Resolver problemas de crescimento nacional com o consumismo individual, especialmente com a compra de carros, não vai resolver questões urgentes que tanto as grandes quanto as médias cidades do Brasil estão encarando. Por outro lado, o governo deveria incentivar outros meios de consumo sustentáveis e de produção de longo prazo. Muito frequentemente, percebo que falta integração entre as políticas nacionais e regionais e o planejamento municipal. Os governos deveriam ser mais alinhados, deixando de lado as maneiras antigas de trabalhar, e encontrar uma maneira de promover e facilitar soluções integradas que irão compartilhar valores integrados entre os setores.

O escritório Gehl Architects já realizou projetos em diversas cidades do mundo. Quais projetos você considera os mais bem-sucedidos na ligação da cidade com as pessoas? É sempre difícil listar alguns projetos entre tantos. No entanto, acredito que a longa consultoria que temos prestado a Copenhague, ao longo de tantos anos, tem tido boas consequências, não somente enquanto soluções, mas na mente das pessoas, o que é mais importante. Outra cidade que pode ser citada é Nova York, por sua vontade política e vontade de se envolver em um projeto piloto intenso de implementação de praças públicas e centenas de quilômetros de ciclovias em um curto período de tempo. Isso tem desencadeado uma nova cultura e um modo de vida que até agora tem sobrevivido às mudanças. E, por último, aplaudiria cidades, como Cidade do Cabo (África do Sul), que estão

“Os governos deveriam ser mais alinhados e facilitar soluções integradas que irão compartilhar valores entre os setores”

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O escritório Gehl Architects desenvolve atualmente projeto de requalifica-ção do Centro de São Paulo, em quatro pontos estratégicos. Em Melbourn, segunda maior cidade da Austrália, os impostos foram reduzidos para baratear moradias do Centro e aproximar as casas do trabalho, reduzindo deslocamen-tos. Na Cidade do México, foi incentivado o uso de bicicletas.

Transformações pelo mundo

Jan Gehl, dono do escritório que leva o seu nome, já desenvolveu projetos no Rio e em São Paulo e costuma usar a capital brasileira como um exemplo do que deve ser evitado: “É a síndrome de Brasília. O que se vê de cima é uma águia incrível. Mas, ao se aproximar, do ponto de vista das pessoas, é péssimo: não há como caminhar”. Tudo começou na década de 70 quando Gehl planejou o fechamento da principal rua comercial de Copenhague. Os comerciantes reclamaram e disseram que ali não era a Itália, onde as pessoas transitavam pelas ruas. Um ano depois comemora-ram a revitalização da região e do aumento no lucro das lojas pela acesso quatro vezes maior de pessoas. Gehl defende a integração dos trans-portes públicos, com a inclusão de ciclovias. A proposta não é percorrer grandes distâncias de bikes, mas projetar bicletários em pontos de ônibus e estações de metrô e trem.

‘Síndrome de Brasília’ a ser evitada

lidando com grandes desafios, como sua cultura e seu passado histórico de apartheid. Os espaços públicos nessa cidade são a memória física da falta de integração e de um sofrimento cultural, mas, ao mesmo tempo, o espaço público tem a chave para resolver alguns desses problemas.

“É possível restaurar o equilíbrio quando a forma física da cidade apoia as necessidades e o cotidiano”

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Cidade para pedestres

Ruas sem carros, destinadas às pessoas. As bicicletas que se multiplicam em prol do desenvolvimento sustentável. O transporte público que permite o deslocamento a pé para pequenas distâncias. Da pequena Afuá, no Pará, a Freiburg, na Alemanha, os exemplos de cidades que dão prioridade à qualidade de vida dos moradores através de políticas de sustentabilidade se multiplicam pelo mundo.

“Uma cidade melhor requer melhores pessoas. Precisamos ser melhores todos os dias em relação à cidadania para que as cidades sejam melhores”, defende Lincoln Paiva, presidente da Green Mobility, consultoria de projetos internacionais de mobilidade urbana e de desenvolvimento sustentável. Lincoln foi um dos palestrantes do Fórum Agenda Bahia 2014.

Quando a sustentabilidade já faz parte da cultura, como em Freiburg, na Alemanha, os moradores participam mais ativamente das decisões sobre o planejamento da cidade. “As pessoas aprendem a cooperar, criam uma comunidade mais forte e tornam a área mais atraente. Criamos uma cidade viva”, diz Steffen Ries, diretor da Innovation Academy in Freiburg, considerada a cidade mais sustentável do mundo.

Na cidade alemã, que tem pouco mais de 220 mil habitantes, quase 70% da população vive perto de ferrovias - lá, os trens são mais utilizados do que os ônibus. Além disso, as bicicletas são o meio de transporte mais comum. “Todos já têm suas bicicletas, mas, em 2020, as bikes devem ser o principal meio de transporte”. Mesmo hoje, o número de bikes já é duas vezes maior que o de carros, que é cerca de 80 mil. “Investimos na infraestrutura para bicicletas, com a criação de túneis e pontes só para ciclistas”, afirma Ries.

No bairro de Vauban, que tem cinco mil habitantes, há ruas em que somente bikes são permitidas. Em outras, os veículos só podem circular a menos de 40 km/h. A cidade foi dividida por zonas verdes e vermelhas. As verdes só aceitam bikes. As vermelhas permitem carros. Nessas áreas verdes, nenhum morador tem permissão para estacionar na rua, mesmo se for na frente de casa. “Se tiver um carro, você tem que comprar uma vaga no estacionamento. Só que uma vaga pode chegar a R$ 60 mil, que é o preço de um carro”, explicou Steffen. De acordo com ele, a quantia faz com que as pessoas questionem se realmente precisam de um carro. “O benefício que temos não é o dinheiro, mas o fato que temos menos carros nas ruas”, argumenta.

Logo que essa divisão começou, ainda na década de 1990, até a prefeitura achava que não fosse funcionar. “Achávamos que ninguém fosse querer comprar as casas da área verde. Por isso, dividimos em três

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etapas. Quando percebemos que a primeira foi bem aceita, decidimos expandir”, revela.

Para Steffen, o sucesso veio porque as pessoas abraçaram a ideia. “Se você tem um carro em frente de casa, faz tudo de carro. Mas, se você tem que andar três quilômetros para ir até onde está o carro, no estacionamento, você pensa duas vezes. As pessoas mudaram os hábitos e começaram a ir andando ou ir de bicicleta”, explica. Além disso, os moradores da região estão a, no máximo, 2,5 km de distância do trem, o que permite a ida de casa até o outro modal de bike.

- Estimular o uso de bicicletas com investimentos na infraestrutura, como a implementação de ciclo-vias, ciclofaixas, túneis e pontes para bikes

- Incentivar as pessoas a desistir do carro: trocar o automóvel pelo transporte público, bikes ou por caminhadas para distâncias mais curtas

- Investir no conceito de urbanização que privilegie os pontos caminháveis nas cidades

- Criar ruas com limite de velocidade de até 40 km/h para carros, a fim de estimular o uso de bikes

- Apostar nos espaços urbanos que possam ser usados e projetados para a pessoa frequentar e criar novas conexões

Solução

SoluçãoFoto: Evandro Veiga

Steffen Ries: infraestrutura para bicicletas

Foto: Evandro Veiga

Lincoln Paiva: pessoas melhores fazem cidades melhores

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Já na Suécia, 80% dos moradores usam o transporte público, segundo a chefe de Mercados Emergentes da SP Technical Institute of Sweden, Jessica Magnusson. “Desenvolver a mobilidade faz parte das áreas estratégicas que trabalhamos, que incluem energia, descarte de lixo, segurança e tecnologia da informação”, revela Jessica.

Produzir áreas caminháveis dentro das cidades, segundo Lincoln Paiva, significa desenvolvimento, ao reduzir pontos de acesso. “Ciclovia não é só para ciclistas, mas para todos os pedestres. As ciclovias reduzem a velocidade dos carros para, no máximo, 40 km/h. Isso ajuda a reduzir o ruído, a poluição e atrai pessoas para as ruas. A cidade fica mais humana e mais segura com gente nas ruas”, destaca Paiva.

Na cidade de Afuá , no noroeste da ilha do Marajó, no estado do Pará, foi proibido por lei ter carro e moto. Os 34 mil habitantes, por sua vez, priorizam seu deslocamento pelo uso do espaço público. “Numa cidade com menos carros, há mais interação entre as pessoas”, acredita. Lincoln Paiva lembra que a percepção que temos da cidade é de como nos locomovemos por suas ruas. “E se fazemos só isso de carro tudo vira privado e não coletivo”, argumenta.

* Bike será o principal transporte de Freiburg em 2020

1999

2020(previsão)

1982

“Numa cidade com menos carros, há mais interação entre as pessoas”LINCOLN PAIVA, presidente da Green Mobility

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Seguir o caminho de casa para o trabalho – ou qualquer outro ponto de diversão ou desenvolvimento de atividade - sem precisar usar carro ou qualquer outro veículo de transporte público. Esse conceito de urbanismo chamado “caminhável” foi apresentado no Fórum Agenda Bahia 2014 pelo presidente da Green Mobility, consultoria de projetos internacionais de mobilidade urbana e de desenvolvimento sustentável, Lincoln Paiva.

Pesquisa realizada pela George Washington University, apresentada por Paiva, revela que as melhores cidades para viver nos EUA são aquelas que têm maior índice de WalkUp.

Eles identificaram e estudaram 558 pontos caminháveis nos EUA – sendo 66 em Nova York. Essas áreas geralmente correspondem a 1% da área metropolitana, mas geram 48% da riqueza produzida. “Produzir áreas caminháveis e dentro das cidades significa desenvolvimento. O urbanismo caminhável trabalha em sinergia com o desenvolvimento”, ressalta.

Para Paiva, municípios como Salvador podem seguir os exemplos de outras cidades ao instituir esse tipo de urbanismo. Ele apresentou ainda o exemplo do município de Afuá , no noroeste da Ilha de Marajó, no estado do Pará, onde é proibido por lei ter carro e moto. A cidade tem 34 mil habitantes, sendo que sete mil vivem na zona urbana. “Na cidade, o ae-roporto, além de aviões, é usado para o futebol dos moradores. Ou seja, é possível ter numa cidade menos carros e mais interação com as pessoas. Isso tem uma relação direta”, destacou Paiva que também é professor da Universidade Federal do Paraná.

Pontos caminháveis estimulam a competitividade

“Produzir áreas caminháveis e dentro das cidades significa desenvolvimento”LINCOLN PAIVA, presidente da Green Mobility

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Em Freiburg, na Alemanha, 70% da população vive perto de estações de trem, que são o meio de transporte público mais usado para longas distâncias. Lá, não tem metrô. Mas bondes e ônibus com faixas exclusivas. Bilhete único permite utilizar trens e bondes por cerca de 3 mil quilômetros da cidade. “É muito comum que as pessoas sigam de bicicleta até uma estação e peguem o trem para ir trabalhar no centro da cidade”, afirma Steffen Ries.

As ciclovias de Freiburg foram até alargadas para as bicicletas, ocupando o espaço dos veículos. “Isso torna o trânsito mais lento para carros e faz com que as pessoas pensem em outras alternativas, como ir de bicicleta ou a pé. Outras ruas são exclusivas para bicicletas”, diz o alemão. A meta de Freiburg é aumentar ainda mais o espaço das bikes pelas ruas e diminuir o dos carros. O bairro de Vauban, com cinco mil habitantes, é uma referência nesse transporte.

Na cidade em que há mais bicicletas do que carros, foi preciso investir na infraestrutura para esse modal, de acordo com o especialista alemão Steffen Ries. Para que a bike se torne o principal meio de transporte da região, novos investimentos estão sendo feitos. Novos túneis e pontes exclusivas para bicicletas serão construídos. “Em algumas pontes, passam 10 mil bicicletas todos os dias”, revela Steffen Ries, da Innovation Academy in Freiburg.

* Práticas que mudam a cara das cidades

Três mil km de transporte público

Bicicletas por todos os lados

Túneis e pontes exclusivas para ciclistas

Fotos: Divulgação

Em Afuá , na ilha do Marajó, no Pará, foi proibido por lei ter carro e moto. Os moradores circulam a pé ou de bicicleta e ocupam todos os espaços: brincam até no aeroporto da cidade. Apesar de viverem em uma ilha, a seis horas de barco de Macapá, têm uma visão mais ampla de cidade, na avaliação de Lincoln Paiva. “Eles consideram como seu espaço o mundo. Nas grandes cidades, elegemos como nosso espaço apenas a nossa casa. Quem vive isolado?”, questiona.

Mais conectados com sua cidade

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O bairro de Hammarby Sjöstad, em Estocolmo, era considerado uma área industrial degradada. A prefeitura decidiu recuperar a região e construiu, às margens do lago Hammarby Sjö, modelo referência em sustentabilidade para o mundo. O ecobairro conta com uma rede de transporte público e gestão sustentável dos resíduos sólidos. Houve redução no consumo de água e energia. As águas do lago são próprias para banho e perfeitas para um mergulho.

Ecobairro no lugar de região industrial

Fotos: Divulgação

Pesquisa realizada pela George Washington University revela que as melhores cidades para viver nos EUA são aquelas que têm maior índice de WalkUp. Especialistas identificaram e estudaram 558 chamados pontos caminháveis nos EUA – sendo 66 em Nova York. Esses pontos marcam as distâncias que são possíveis de serem percorridas sem o uso de transporte. As áreas caminháveis, segundo a pesquisa, são mais produtivas.

Áreas mais produtivas

Além de Hammarby Sjöstad, em Estocolmo, outra região industrial da Suécia virou ecobairro: Western Harbour, em Malmö. No Distrito Sustentável do Porto Oeste ou Bo01 foi projetado modelo de desenvolvimento urbano-ambiental para a transformação do lugar. O primeiro passo foi recuperar o solo contaminado. Cerca de 600 moradias foram construídas, além da instalação de geradores eólicos e painéis para energia solar.

Recuperação do solo e energia sustentável

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Qualidade de vida

Salvador precisa pensar no futuro de forma sustentável. Essa foi a meta apresentada pelo prefeito ACM Neto na abertura do Fórum Agenda Bahia 2014, que começou a debater, dia 11 de novembro, o tema Cidades Sustentáveis. “Se eu pudesse resumir a sustentabilidade em uma única expressão eu diria que ela é igual a qualidade de vida. Quando a gente encara os problemas do dia a dia das cidades brasileiras, especialmente as metrópoles, como é o caso de Salvador, percebemos que esses problemas tiram qualidade de vida de seus moradores”, avaliou o prefeito.

Para desenhar esse futuro, segundo ACM Neto, é preciso agir já no presente. “É fundamental que haja um compromisso coletivo para planejar o futuro, mesmo sabendo que essas ações só vão se refletir daqui a algumas décadas”, explicou. “Por isso, Salvador hoje está tocando o projeto Salvador 500, pensando a cidade para os próximos anos, inte-grando nos aspectos social, econômico e ambiental, incluindo o novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e a nova lei de Ordenamento e Uso do Solo”, garantiu.

O prefeito destacou algumas medidas relevantes. “No plantio de árvores, nossa meta até 2016 é plantar 100 mil árvores na cidade. Em 2015 vamos entregar o Parque da Cidade todo reformado e também estamos realizan-do a recuperação de passeios, todos eles com piso tátil”, afirmou. Outra

Foto: Evandro Veiga

Prefeito ACM Neto anunciou algumas medidas durante o

Fórum Agenda Bahia

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“É fundamental que haja um compromisso coletivo para planejar o futuro, mesmo sabendo que essas ações só vão se refletir daqui a algumas décadas ”ACM NETO, prefeito de Salvador

ação indicada pelo prefeito foi a instalação da iluminação de LED e também a adoção de energia solar nos prédios públicos. “Na mobilidade urbana, recentemente, assinamos um novo contrato de concessão do serviço de transporte, exigindo renovação completa da frota para ter níveis menores de poluição na nossa cidade, além de conforto para o usuário”, afirmou.

O prefeito adiantou “meta ambiciosa”: o projeto Salvador Vai de Bike contará com 350 quilômetros de ciclofaixas, ciclovias e ciclorrotas para que a bicicleta passe a ser vista como um meio de transporte adequado às praticas de sustentabilidade. Além disso, o prefeito anunciou que vai lançar uma campanha em toda a cidade em defesa da limpeza urbana: quem jogar lixo na rua será multado. “Vamos iniciar com uma fase educativa e depois vamos distribuir os agentes de fiscalização de limpeza na cidade”, revelou.

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Novos desafios

O presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior, destacou que o tema Cidades Sustentáveis afeta diversos setores e é essencial pelo aspecto econômico, social e ambiental. “O Agenda Bahia 2014 tem como tema Cidades Sustentáveis, um grande desafio para governos, empresas e sociedade. Esta edição, o fórum inova ao escolher um tema único que será transversal nos quatro seminários”, disse o presidente da Rede Bahia.

O Fórum Agenda Bahia é realizado pelo jornal CORREIO e rádio CBN, com apoio da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). Também na abertura do evento, o atual presidente da Federação, Ricardo Alban, afirmou que é desejo do setor industrial da Bahia aumentar sua com-petitividade sem esquecer a sustentabilidade. “Não existe crescimento econômico sustentável sem o crescimento da indústria. Qualquer setor da economia precisa ter uma estrutura de cidade agradável, sustentável e em

Fotos: Evandro Veiga

O presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior, e o presidente da Fieb, Ricardo Alban, defenderam o crescimento mais sustentável da economia baiana

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condições de circulação e ambientação. Isso está relacionado com a capa-cidade produtiva. É difícil manter o nível de produtividade do colaborador quando, por exemplo, ele tem angústia e dificuldade em se locomover na cidade”, lembrou.

Ricardo Alban prometeu seguir as metas do seu antecessor, Carlos Gilberto Farias (que morreu dia 5 de novembro de 2014), de interiorização da indústria e apoio à pequena e média empresa sem tirar a atenção dos grandes investimentos.

“O Fórum (Agenda Bahia) inova ao escolher um tema único (Cidades Sustentáveis) que será transversal nos quatro seminários”

“Não existe crescimento econômico sustentável sem

o crescimento da indústria”

ANTONIO CARLOS JÚNIOR, presidente da Rede Bahia

RICARDO ALBAN, presidente da Fieb

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Bike mania

Alguns dos maiores desafios a serem enfrentados em todo o mundo: mobilidade urbana, aquecimento global, escassez de combustíveis fósseis e problemas de saúde associados às epidemias de obesidade e do sedentarismo. Uma única solução que ataca todos esses males: bicicleta. Isso mesmo, o uso da ‘magrela’ é cada vez mais estimulado pelo mundo afora.

Fina e elegante, a bicicleta ocupa menos espaços nas ruas que os automóveis. Quanto maior o número de carros maior a queima de combustíveis e, consequentemente, da geração de gases que causam o aquecimento global. Já o movimento das rodas das bikes é fruto do gasto calórico de seus usuários, que, com a atividade aeróbica, perdem peso e melhoram os sistemas respiratório e cardíaco.

Em Salvador, o uso do “camelo”, embora cada vez maior, ainda é visto como uma moda exótica. Mas a tendência é que, à medida que avance, o Movimento Salvador Vai de Bike, iniciado em 2013, sob a liderança da prefeitura da cidade, mude a cultura local, fazendo da bicicleta um modal de transporte cada vez mais forte.

Esse avanço, contudo, depende de um passo crucial ao qual o movimento já se dedica: a integração com outros modais do transporte público. É essa integração que garante a adesão à bicicleta nas cidades já avançadas na troca do carro pela ‘magrela’. Em Amsterdã, Holanda, há centenas de estacionamentos públicos para bicicletas. Muitos deles têm espaços com sinalização de quantas vagas existem em cada corredor, como acontece hoje no Salvador Shopping. E são milhares de vagas em cada um deles, o que retira uma preocupação do trabalhador: localizar um ponto seguro

Foto: Divulgação

Utrecht, na Holanda, ganhou destaque como a cidade de pequeno porte mais amigável ao uso de bicicleta. Os estacionamentos ficam lotados de ‘magrelas’ por todos os lados

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para deixar sua bike. Tóquio, capital do Japão, seguiu esse exemplo e já tem estacionamentos em diversas partes da cidade.

Em grandes cidades europeias - Paris (França), Londres (Inglaterra), Berlim (Alemanha), Barcelona (Espanha) e outras - é permitido carregar a bicicleta em viagens de metrô ou bonde, menos nos horários de pico. Com isso, aquele trecho do percurso com ladeiras pode ser vencido com uma carona em outro modal.

Além disso, quando a opção é por uma bicicleta pública - a exemplo das ‘laranjinhas’ de Salvador - há pontos de compartilhamento nas entradas da estações de metrô ou bonde.

Alguns desses exemplos já são repetidos em Salvador. O Elevador Lacerda e os Planos Inclinados Liberdade e Gonçalves começaram a aceitar carregar usuários com bicicletas em suas viagens. Essa autorização vale para todos os dias da semana em que o equipamento funcione. Para o secretário do Escritório Municipal de Projetos Especiais (Empe) e coordenador do Movimento Salvador Vai de Bike, Isaac Edington, essa

Foto: Divulgação

Fotos: Divulgação

Amsterdã ganha em todos os quesitos em uma pesquisa sobre bikes: segurança, conforto e fluidez no tráfego

Foto 1: A bicicleta é usada como transporte pela família

Foto 2: Bike no sinal de Copenhague

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integração proporcionada pelos ascensores de Salvador vai derrubar o mito de que o uso de bicicletas na cidade é limitado por causa da topografia acidentada do município, dividida entre Cidade Alta e Cidade Baixa.

“É uma iniciativa que facilita muito a vida das pessoas que já usam a bicicleta cotidianamente. Ou seja, o fato de termos essa topografia incrível e belíssima, Cidade Alta e Cidade Baixa, não é mais motivo para não andar de bicicleta em Salvador”, acredita Isaac.

Paralelamente, o movimento vai continuar com as ações de incentivo sobre o uso da bicicleta. Segundo Edington, uma das iniciativas nessa área é a construção de uma parceria com o Sindicato das Empresas de Transporte Público de Salvador (Seteps) e com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) para um curso de capacitação de motoristas de ônibus para harmonizar a relação entre eles - motoristas - e ciclistas no compartilhamento das vias da cidade. Parcerias também vão ser estabelecidas com empresas, para que elas incentivem seus colaboradores a se deslocarem de bicicleta.

Outra novidade, seguindo a linha colaborativa, é a realização de pesquisas para basear decisões de melhorias da infraestrutura cicloviária de Salvador, incluindo a instalação de paraciclos e bicicletários e de novas ciclofaixas.

A ideia do Empe é a de abrir mil novas vagas de estacionamento de bicicletas até março do ano que vem. Também está no radar do órgão um projeto para estimular cada vez mais o uso da bicicleta nas comunidades. Um deles é apontado como pioneiro no Brasil, cujo objetivo é o de incentivar o uso de bikes dentro das próprias comunidades, seja para deslocamento, seja para trabalho.

*Salvador Vai de Bike

1 ano em 22 de setembro: é o tempo de lançado o Salvador vai de Bike

400 bicicletas são usadas no sistema atualmente

107 mil usuários estão cadastrados nos sistemas

40 estações de compartilha-mento de bicicletas foram instaladas em Salvador

380 mil viagens foram realizadas pelo sistema

“O fato de termos essa topografia incrível (...) não é mais motivo para não andar de bicicleta”ISAAC EDINGTON, coordenador do Salvador Vai de Bike

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* Cidades mais amigáveis para uso da bicicleta

Amsterdã (Holanda) Segundo a consultoria, a cidade até carece de um melhor projeto

de infraestrutura contra a saturação do tráfego de bicicletas, mas compensa pela

vontade política das autoridades para incentivar o uso das magrelas. Todas as necessi-

dades para dar fluidez, conforto e segurança aos ciclistas estão presentes. As ciclovias

com limite de velocidade de até 30 km/h para veículos estão em toda parte, dando

segurança a ciclistas e pedestres.

Copenhague (Dinamarca) De uma perspectiva de design urbano, a capital da Dinamarca

deixa a desejar, pois há muitos projetos não realizados. Segundo a consultoria, nenhum

morador acredita mais nos políticos quando eles dizem que vão ampliar o uso da bici-

cleta para atingir 50% do modal de transporte urbano. Apesar disso, o que já foi feito -

pontes sobre o porto, rede de autoestradas para bicicletas - contribui para a pontuação

alcançada.

Utrecht (Holanda) Líder mundial entre cidades pequenas por mostrar o que é possível

a respeito do tráfego de bicicletas. As 640 mil pessoas na área metropolitana podem

desfrutar de uma “fantástica” infraestrutura para bicicletas. Vídeos na internet têm

colocado a cidade no mapa da cultura da bicicleta para um público mais amplo e visitar a

cidade passou a ser uma obrigação para todos os planejadores urbanos.

Sevilha (Espanha) É a atual garota-propaganda do movimento que coloca a bicicleta no

centro do planejamento urbano. De 0,5% em 2006, a cidade possui agora 7% de parti-

cipação do modal no transporte público. O rápido aumento do tráfego de bicicletas foi

devido à vontade política visionária e a 80 km de infraestrutura para bikes concluídos

em apenas um ano. O sistema de compartilhamento é apontado como exemplar.

Bordeaux (França) Segundo a consultoria, a cidade tem investido de “forma brilhante”

em ciclovias e ciclofaixas. Há 200 km na cidade e 400 km se incluir toda a comunidade

urbana de Bordeaux (cidades vizinhas). Na região, a quota do modal é de 5%, mas que

sobe para 10% na cidade propriamente dita. Bordeaux leva o transporte por bicicletas a

sério, e o faz andar de mãos dadas com novos investimentos em uma rede de bondes.

Nantes (França) Logo atrás de Bordeaux aparece outra cidade francesa, Nantes. Para a

consultoria, a vontade política tem sido a chave para a mudança de paradigma no trans-

porte público na cidade e na área metropolitana. A municipalidade vai gastar 40 milhões

de euros no ciclismo entre 2009 e 2014 para totalizar 400 km de faixas e vias exclusi-

vas. Também foi implantado um sistema de subsídios para a compra de bicicleta.

A empresa de consultoria Copenhagenize, especializada em projetos para o transporte para veículos de duas rodas, publica anualmente um ranking com as 150 cidades do mundo mais amigáveis ao uso de bicicleta. A última listagem é de 2013. Confira as dez cidades melhores posicionadas na lista:

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Antuérpia (Bélgica) Ao lado de Nantes é outra estreante no ranking anual. Influenciada

pelo uso de bicicleta do lado holandês da fronteira, a cidade tem mantido um nível cons-

tante de tráfego de bicicletas ao longo dos anos e hoje a bicicleta é o principal meio de

transporte da cidade. Chama a atenção também as instalações dos estacionamentos

de bicicletas na estação central de trem.

Eindhoven (Holanda) É a terceira cidade holandesa entre as dez melhores do ranking.

Segundo a consultoria, merece a posição por projetos que estão anunciados e que vão

inovar no uso urbano da bicicleta, a exemplo de passagens flutuantes pelos rios, lagos e

lagoas da cidade.

Malmo (Suécia) A terceira maior cidade da Suécia se inspirou em Copenhague e ganhou

musculatura própria. A previsão é a de um investimento de 47 milhões de euros para

modernizar a cidade a partir do incentivo ao uso de bicicletas. Uma das inovações foi

batizar nomes às ciclovias, de modo a facilitar sua localização em sistemas de GPS.

Outra, as campanhas para uso de capacete.

Berlim (Alemanha) O uso da bicicleta por 13% da rede de transporte surpreende para

uma cidade do tamanho de Berlim. Em alguns bairros, esse número chega a 25%, sinal

de que a população está engajada na mudança de paradigma que representa o uso de

bicicleta no lugar de carros. A consultoria afirma que a infraestrutura contribui positiva-

mente para incentivar os cidadãos a pedalarem.

10º

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Equilíbrio da cidade garante mais qualidade

O relatório Perspectivas Globais de Urbanização das Nações Unidas, lançado no dia 10 de julho, mostra que 2,5 bilhões de pessoas passarão a viver em áreas urbanas até o ano de 2050. Com o processo de contínua urbanização, as cidades vão inchar, com o salto de 54%, em 2014, para 66% de pessoas residentes nessas regiões nos próximos 36 anos.

Em números reais, isso significa que o espaço urbano global, que em 2014 era ocupado por 3.880.128 bilhões de pessoas, vai abrigar 6.338.611 bilhões de pessoas no ano de 2050.

Os números assustam se imaginarmos o impacto que isso vai causar nos problemas comuns a todas as cidades. Se com 85,43% da população brasileira vivendo em áreas urbanas em 2014 - de acordo com dados do IBGE - já enfrentamos diversos problemas sociais, de mobilidade, segurança, escassez de água e energia, como será quando, segundo estimativa da ONU, o Brasil tiver 91% da sua população vivendo nos grandes centros?

A solução para amenizar o impacto desse crescimento e atender melhor as necessidades da população é uma só: elaborar e implementar projetos de cidades mais sustentáveis. Esse foi o tema central da quinta edição do Fórum Agenda Bahia 2014, cujo tema principal foi Cidades Sustentáveis. Para uma cidade ser sustentável precisa levar em conta em seu planejamento um conceito com três pontos essenciais: o econômico, o social e também o meio ambiente.

“Objetivo é garantir as necessidades do presente, sem comprometer as gerações futuras”JUSSARA CARVALHO, secretária executiva regional do Iclei

Foto: Maurilio Cheli/SMCS

Foto: Breno Pataro/Divulgação

Foto 1: Curitiba é destaque em práticas sustentáveis de mobilidade

Foto 2: Belo Horizonte criou uma central de gerenciamento de construção civil

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“Isso significa que precisa ser produtiva, no sentido de ter atividade econômica que sustente os seus cidadãos. De outra forma, haverá uma exclusão econômica que pode gerar outro problema, que é o social. E, finalmente, do ponto de vista ambiental, o uso dos recursos naturais em um ritmo de utilização que não os comprometa definitivamente”, explicou Ricardo Toledo Silva, arquiteto, urbanista e professor titular de Infraestrutura Urbana da FAU-USP (Universidade de São Paulo).

Parece uma equação simples, mas a prática é muito mais complexa, como resumiu a secretária executiva regional do Iclei (Governos Locais pela Sustentabilidade), Jussara Carvalho: “É preciso garantir as necessidades do presente, sem comprometer as necessidades das gerações futuras”.

Segundo a especialista, não existe uma cidade 100% sustentável. Ricardo Toledo Silva concorda. “A cidade, como aglomeração, ela já é em si mesma uma degradação do meio ambiente, por melhor que seja, já é degradação ambiental”, disparou Ricardo.

Mas o conceito não deve ser visto como uma utopia, e sim como norte para o desenvolvimento dos municípios. Para a diretora da Faculdade de Arquitetura da Ufba, Naia Alban, a consciência coletiva deve ser criada para promover a mudança nas regiões.

“A postura sustentável deve aparecer como uma intenção comunitária, com uma forte determinação de seus responsáveis políticos e administradores municipais, uma participação intensa dos agentes sociais locais. Ter o envolvimento ativo de seus cidadãos é muito importante, bem como responder com simplicidade e inventividade às questões colocadas por todos aqueles que imprimem diretamente no ambiente construído urbano”, afirmou.

Dessa forma, acreditam os especialistas, os municípios devem basear o seu desenvolvimento em práticas sustentáveis. Hoje, existem várias cidades, inclusive brasileiras, que são referências em ações que respeitem o tripé da sustentabilidade.

No mundo, ecovilas como Findhorn, na Escócia, e Aldea 506, na Costa Rica, estão à frente em termos de sustentabilidade. Mas é Freiburg, na Alemanha, a cidade que mais se aproxima ao ideal de sustentabilidade. “Observando as ações e os programas, é compreensível o fato dela ser eleita a cidade mais sustentável do mundo”, disse Jussara.

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Fortalecimento da cultura

Valorizar as tradições populares e promover a criação e a produção cultural nas

comunidades. Garantir o amplo acesso aos espaços culturais, estabelecendo o

acesso gratuito ou a preços populares a espaços públicos.

EconomiaEstimular e apoiar o emprego

local e promover a responsa-

bilidade social empresarial.

Promover o mercado de

produções locais. Desenvolver

e implementar princípios de

sustentabilidade para as

empresas, desde a localização

mais apropriada, a processos

e produtos, e a sustentabilida-

de das cadeias produtivas.

Implementar, também, o

turismo local sustentável.

MobilidadeReduzir a utilização do

transporte individual motori-

zado e promover meios de

transportes coletivos de

qualidade, acessíveis e a

preços baixos. Desenvolver e

manter uma boa infraestru-

tura para locomoção de

pedestres e pessoas com

deficiências, com calçadas e

travessias adequadas.

Promover a locomoção a pé

ou de bicicleta. Acelerar a

transição para veículos

menos poluentes.

AdministraçãoDesenvolver uma administra-

ção municipal democrática e

transparente que promova o

desenvolvimento sustentável

com a participação da comuni-

dade, de municípios vizinhos

e outros níveis de

administração.

Equidade social

Superar e prevenir a pobreza e

assegurar acesso a serviços

públicos, educação, saúde,

oportunidades de emprego,

formação profissional, informa-

ção, inclusão digital e atividades

culturais e esportivas de quali-

dade. Promover a diversidade

social nos bairros, a inclusão

social e igualdade entre os

gêneros, raças e etnias. Promo-

ver a segurança e a cultura da

paz e garantir o direito a habita-

ção de qualidade.

Desenho urbano

Promover o equilíbrio do desen-

volvimento urbano e a conserva-

ção de áreas verdes, reutilizando

áreas abandonadas, evitando a

expansão desordenada do

território urbano, assegurando o

equilíbrio entre emprego, trans-

porte, habitação e equipamentos

socioculturais e esportivos,

dando prioridade ao adensamen-

to residencial nos centros das

cidades e preservando o patri-

mônio cultural urbano.

Meio ambiente

Estabelecer metas para a redução do consumo de energia não renovável, aumen-

tar o uso de energias renováveis e incentivar a autossuficiência. Melhorar a

qualidade da água, economizá-la e usar o recurso de forma eficiente. Proteger e

regenerar áreas naturais, aumentar a biodiversidade e ampliar os espaços naturais

e os espaços verdes urbanos. Melhorar a qualidade do solo, preservar terrenos

produtivos e garantir a agricultura e o reflorestamento sustentáveis. Melhorar a

qualidade do ar, seguindo os padrões da Organização Mundial da Saúde.

Consumo responsável

Reduzir os resíduos, aumentar a

reciclagem com a inclusão social

das cooperativas de catadores

e recicladores. Gerir e tratar os

resíduos de acordo com técni-

cas sustentáveis. Adotar uma

política de compras públicas

sustentáveis. Promover a

produção e o consumo susten-

táveis, incentivando e regula-

mentando cadeias produtivas

com certificações, rótulos

ambientais, produtos

orgânicos, etc.

OS OITO MANDAMENTOS

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Fortalecimento da cultura

Valorizar as tradições populares e promover a criação e a produção cultural nas

comunidades. Garantir o amplo acesso aos espaços culturais, estabelecendo o

acesso gratuito ou a preços populares a espaços públicos.

EconomiaEstimular e apoiar o emprego

local e promover a responsa-

bilidade social empresarial.

Promover o mercado de

produções locais. Desenvolver

e implementar princípios de

sustentabilidade para as

empresas, desde a localização

mais apropriada, a processos

e produtos, e a sustentabilida-

de das cadeias produtivas.

Implementar, também, o

turismo local sustentável.

MobilidadeReduzir a utilização do

transporte individual motori-

zado e promover meios de

transportes coletivos de

qualidade, acessíveis e a

preços baixos. Desenvolver e

manter uma boa infraestru-

tura para locomoção de

pedestres e pessoas com

deficiências, com calçadas e

travessias adequadas.

Promover a locomoção a pé

ou de bicicleta. Acelerar a

transição para veículos

menos poluentes.

AdministraçãoDesenvolver uma administra-

ção municipal democrática e

transparente que promova o

desenvolvimento sustentável

com a participação da comuni-

dade, de municípios vizinhos

e outros níveis de

administração.

Equidade social

Superar e prevenir a pobreza e

assegurar acesso a serviços

públicos, educação, saúde,

oportunidades de emprego,

formação profissional, informa-

ção, inclusão digital e atividades

culturais e esportivas de quali-

dade. Promover a diversidade

social nos bairros, a inclusão

social e igualdade entre os

gêneros, raças e etnias. Promo-

ver a segurança e a cultura da

paz e garantir o direito a habita-

ção de qualidade.

Desenho urbano

Promover o equilíbrio do desen-

volvimento urbano e a conserva-

ção de áreas verdes, reutilizando

áreas abandonadas, evitando a

expansão desordenada do

território urbano, assegurando o

equilíbrio entre emprego, trans-

porte, habitação e equipamentos

socioculturais e esportivos,

dando prioridade ao adensamen-

to residencial nos centros das

cidades e preservando o patri-

mônio cultural urbano.

Meio ambiente

Estabelecer metas para a redução do consumo de energia não renovável, aumen-

tar o uso de energias renováveis e incentivar a autossuficiência. Melhorar a

qualidade da água, economizá-la e usar o recurso de forma eficiente. Proteger e

regenerar áreas naturais, aumentar a biodiversidade e ampliar os espaços naturais

e os espaços verdes urbanos. Melhorar a qualidade do solo, preservar terrenos

produtivos e garantir a agricultura e o reflorestamento sustentáveis. Melhorar a

qualidade do ar, seguindo os padrões da Organização Mundial da Saúde.

Consumo responsável

Reduzir os resíduos, aumentar a

reciclagem com a inclusão social

das cooperativas de catadores

e recicladores. Gerir e tratar os

resíduos de acordo com técni-

cas sustentáveis. Adotar uma

política de compras públicas

sustentáveis. Promover a

produção e o consumo susten-

táveis, incentivando e regula-

mentando cadeias produtivas

com certificações, rótulos

ambientais, produtos

orgânicos, etc.

OS OITO MANDAMENTOS

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Os especialistas apontam algumas cidades brasileiras que se destacam com práticas sustentáveis. Na mobilidade, por exemplo, Curitiba, no estado do Paraná, é referência. “Já há muito tempo se estabeleceu lá uma política de equilíbrio entre a demanda e a oferta de transporte coletivo”, afirma o urba-nista Ricardo Toledo Silva. Na Bahia, a ecovila Aldeia Coletiva de Famílias, em Itacaré, na Bahia, é um exemplo de geração de energia renovável, reciclagem e compostagem de resíduos. A secretária executiva regional do Iclei, Jussara Carvalho, também lembrou de Sorocaba, em São Paulo.

“A cidade tem como inovação não só as bicicletas públicas e um plano ciclovi-ário, mas a integração desses modais ao transporte urbano”, contou. Quanto ao meio ambiente, Belo Horizonte, em Minas Gerais, criou uma central de gerenciamento de construção civil, uma das atividades com maior impacto no meio ambiente pela produção e destinação inadequada dos resíduos gerados durante a obra. “Belo Horizonte coleta esse entulho, faz a separação, a britagem desse material e depois recicla e reutiliza na própria cidade”, explicou.

O Rio de Janeiro, segundo Jussara, se sobressai com uma política climática bem ambiciosa e abrangente. Na questão energética, a capital paulista ganha destaque, segundo a secretária do Iclei. “Uma lei incentiva instalação de painéis para aquecimento solar, captação de biogás e criação de aterros sanitários”, apontou Jussara. Para tanto, é preciso conciliar os interesses do estado, das empresas e da sociedade civil. “Sempre existem interesses divergentes, mas devem ser claramente definidos e identificados. Negociados os custos. E criada uma instância que priorize o investimento, seja de uma empresa, seja de um município, com uma visão mais ampla”, enfatiza o professor da FAU-USP.

Da mobilidade à destinação correta dos resíduos

A educação precisa contemplar os conceitos de sustentabilidade, associando essas questões e o resultado dessas práticas a melhores condições e quali-dade de vida da população. Só assim, avaliam os especialistas, será possível reinventar as cidades para as próximas décadas. “É com educação que irá se formar uma mentalidade na criança até ser um cidadão consciente”, explica Ricardo Toledo Silva, professor de Infraestrutura Urbana da USP. O processo pode ser acelerado com a combinação de outras ações.

“Quando há escassez imediata de um recurso natural, por exemplo, uma campanha educativa na TV tem efeito muito rápido. Mas, quando acaba a crise, todo mundo volta a gastar água, a gastar energia do mesmo jeito. Para criar uma mentalidade poupadora de recurso, tem que vir da educação primária. Desde o início, a criança precisa ser educada para olhar os recursos naturais, econômicos e a própria convivência social com zelo”, concluiu Ricardo Toledo Silva.

Aulas e campanhas educativas para formar o cidadão

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Vaga para a cidadania

No lugar de 40 carros estacionados entram 400 pessoas curtindo o clima urbano em áreas de convivência no asfalto. A maior metrópole do Brasil, São Paulo, está passando por um movimento de transformação através de projeto chamado Parklets. Foi a primeira cidade da América Latina a instalar o projeto, que teve início em São Francisco, com objetivo de criar minipraças, de 10 x 2,2 metros, no lugar de duas vagas de estacionamento.

“Hoje já são 10 e até o final do ano teremos mais 20 parklets em São Paulo. A receptividade tem sido muito boa. As pessoas estão usando esse espaço que era restrito para os carros”, disse Lincoln Paiva, consultor internacional de mobilidade urbana e desenvolvimento sustentável.

“Os carros tiraram os espaços das pessoas. Quando se compra um carro não significa que você ganhou uma vaga de estacionamento na rua”, argumenta Lincon.

Pesquisa realizada pela George Washington University, apresentada por Lincoln Paiva em sua palestra, indica que as melhores cidades para viver nos EUA são aquelas que têm maior índice de WalkUp – os chamados pontos caminháveis.

Foto: Divulgação

O projeto dos parklets começou nos Estados Unidos e hoje já ocupa 10 pontos da cidade paulista

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Cidades onde o futuro está no presente

O futuro de qualquer cidade é sustentável e o presente é uma smart city (cidade inteligente, em inglês). Isto porque só haverá futuro possível para qualquer aglomeração humana se ela for sustentável e gerar comportamentos que preservem em pé de igualdade tanto a produção econômica quanto a interação social e a preservação ambiental. E é em uma smart city que são criadas e testadas soluções urbanísticas que podem ser ampliadas e aplicadas em metrópoles.

Maurício West Pedrão, assessor da Superintendência de Desenvolvimento Industrial da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), é um estudioso do tema. Segundo ele, não há um conceito estabelecido para definir o que é uma smart city. Mas há algumas características que unificam as experiências adotadas por cidades em todo o mundo que as fazem ser classificadas como inteligentes.

A principal é que elas adotam aplicações de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) articuladas entre si para promover a identificação e a solução de problemas urbanos automaticamente. Ou seja, uma solução para um ou dois problemas isolados – que não se comunicam ou se articulam - não torna uma cidade inteligente.

E é aqui que entra o uso massificado da chamada “internet das coisas”. Então, outra característica de uma smart city é uma infraestrutura tecnológica que garanta a funcionalidade e a aplicação de diversos sistemas informatizados, principalmente os baseados em telefonia móvel.

A ideia é que os celulares dos cidadãos enviem para uma central coletora - por meio de aplicativos instalados no aparelho - informações sobre os problemas enfrentados no cotidiano do dono do celular. Essas informações são enviadas automaticamente, sem que o dono do aparelho autorize ou faça qualquer ação nesse sentido. De posse das informações de milhares de celulares, a central desenvolve e cria as soluções para os problemas.

Funciona assim: o cidadão vai se deslocar para o trabalho e usa a rota habitual. Preso em um engarrafamento, seu telefone celular – ou outro dispositvo inteligente - envia a informação de que, naquele dia e horário, a velocidade média do deslocamento por aquela via está bem menor que a de costume. A central recolhe essa informação, identifica o congestionamento e envia um sinal para placas luminosas espalhadas pela cidade para desviar o trânsito da via engarrafada. As mesmas placas, inclusive, podem informar sobre vias alternativas.

Parece ficção científica. Mas não é. Esse tipo de solução, porém, segundo Pedrão, já é uma realidade, por exemplo, em cidades dos

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Estados Unidos a partir do aplicativo Waze, esse mesmo que já está no Brasil, mas que aqui só é usado com uma plataforma colaborativa para que os motoristas informem uns aos outros onde estão os engarrafamentos.

Colaboração é uma ação que também aponta que estamos em uma cidade inteligente. No Brasil, o Waze ainda exige que o motorista entre na plataforma e digite o local do engarrafamento. Nos EUA não, essa informação é enviada automaticamente.

Há outras formas e meios para recolher a colaboração dos cidadãos, automaticamente ou não. Mas, independente da forma, colaborar exige envolvimento com a comunidade e seus problemas e comprometimento com as soluções. O pesquisador acredita que, pelo menos neste momento, a distância entre Salvador e uma smart city é grande. Nada, contudo, que não possa ser revertido com investimentos e boa vontade. “Nós aqui não temos o básico do básico, que é um serviço de telefonia móvel que funcione adequadamente”, observa ele. Mas Maurício Pedrão não é tão fatalista quanto parece, pois admite também que uma smart city, que consome muito dinheiro, geralmente é financiada por parcerias com conglomerados empresariais e centros de pesquisas de universidades.

“Geralmente, uma cidade inteligente é de porte pequeno ou médio. Ou, ainda, um bairro específico de uma grande cidade”, esclarece. “E grandes empresas investem pesado para criar e manter a infraestrutura necessária e os especialistas das universidades trabalham nas aplicações que vão desenvolver as soluções urbanas. Uma experiência como essa não deixa de ser um laboratório de pesquisas que pode gerar um produto de alto valor comercial”, completa.

Entre alguns exemplos de smart cities, Pedrão cita duas cidades europeias: Barcelona e Copenhague. Na primeira, as ruas apertadas de um bairro histórico impediam a entrada de caminhões para a coleta de lixo. A solução foi adotar um sistema de recolhimento por canais de ar. Os moradores levam seu lixo – devidamente separado entre metal, plástico, papel e orgânico – para os tubos e lá despejam o material, que é sugado diretamente para a central de recolhimento.

A capital da Dinamarca foi a primeira a adotar a bicicleta como principal meio de transporte dos cidadãos. Todo o sistema de transporte foi revisto, para privilegiar tanto a bicicleta quanto o transporte público de massa integrados entre si.

O futuro é sustentável. E ele está perto. Uma das maiores preocupações da indústria automobilística dos Estados Unidos é que pesquisas de opinião feitas com jovens consumidores – que são

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clientes potenciais em poucos anos – indicam que esse público já não sonha mais em ter um carro para si ou para a família. Dado que indica um encolhimento do mercado consumidor para automóveis e maior pressão para o poder público investir em novas soluções de transporte de massa, o que, por sua vez, exige investimentos em pesquisa e inovação para achar essas novas soluções. O presente é uma smart city.

“Uma cidade inteligente é de porte pequeno ou médio. Ou o bairro de uma grande cidade”

MAURÍCIO PEDRÃO, assessor da Fieb

Barcelona A cidade implantou em um bairro histórico, onde as ruas apertadas impediam a entrada de cami-nhões, um sistema de recolhimento de lixo por canais de ar. Os moradores depositam nesses canais os resíduos já separados entre plástico, metal, papel e orgânicos. Em outro bairro, que foi o centro industrial da cidade e estava em decadência, foi implantado o projeto bcn@22, onde funciona um centro de tecnologia, com as mais modernas soluções de planejamento urbano extraídas de municípios de todo o mundo.

Skolkovo É uma cidade laboratório por excelência. Foi erguida pelo governo russo, nas proximidades de Moscou, para se criar e testar possibilidades de aplicações para solucionar diversos problemas, o principal deles é o da mobilidade. O objetivo estratégico do Centro de Inovação Skolkovo é concentrar o capital intelectual internacional para estimular o desenvolvimento de novas soluções nas áreas de informática, energia nuclear, inovação biomédica e telecomunicações.

Copenhague A capital da Dinamarca é conhecida como uma das cidades mais ecológicas do mundo, e tem como meta zerar a emissão de gás carbônico - respon-sável pelo aquecimento global - até 2025. Pioneira no uso e na adequação das vias públicas para bicicleta, tem usado energia eólica de centrais instaladas no litoral da cidade.

Fotos: Divulgação

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Amsterdã Amsterdã Smart City (ASC) é um dos maiores projetos de smart cities no mundo e é fruto de uma parceria sem precedentes entre a população, as empresas, as instituições de conhecimento e as autori-dades locais. Foi criada com o objetivo de mostrar como é possível promover o desenvolvimento local baseado em padrões sustentáveis e inteligentes de consumo de energia, agora e no futuro.

Búzios Possui convênio com a IBM (uma das maiores empresas de tecnologia do mundo) para ser a primeira cidade 100% inteligente da América Latina. Outro convênio foi feito com empresa de engenharia para instalar rede elétrica que integre tecnologias tradicionais e novas soluções digitais para melhorar a flexibilidade da rede, permitindo a cobrança de tarifas diferenciadas pelo horário de consumo, como já ocorre em cidades europeias.

Curitiba A capital paranaense adotou, há mais de 30 anos, soluções urbanísticas que ainda hoje estão na vanguarda da mobilidade urbana, a exemplo de corredores exclusi-vos para BRT (Bus Rapid Transport, ou, em português, ônibus para transporte rápido), que devem fazer parte da paisagem de Salvador em breve.

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O que é uma smart city? Não há consenso sobre a definição de uma cidade inteligente, mas ainda assim existem características comuns a elas: são de médio porte, providas de infraestrutura tecnológica de ponta e que adotam soluções urbanas automatizadas e articuladas entre si.

Onde elas estão? Podem estar em qualquer continente.

Por que elas existem? Elas passaram a existir para criar e testar soluções urbanas, principalmente aquelas ligadas à mobilidade. Isso porque a rápida urbanização de países em desenvolvimento gerou pressões sobre a infraestrutura física e a oferta de serviços dos centros urbanos.

Existe alguma cidade baiana que seja inteligente ou que possa vir a ser? Infelizmente, ainda não. Segundo Maurício Pedrão, para cidades como Salvador se tornarem smart city, é necessário investimento em tecnologia. Atualmente, não há o mínimo necessário, que é um bom sinal de telefonia móvel. No entanto, a capital baiana pode adotar algumas soluções testadas por smart cities. Um exemplo já implantado pela prefeitura é o programa Salvador Vai de Bike.

Laboratório de testes para soluções urbanísticas

Apesar de Salvador, neste momento, ainda estar longe das smart cities europeias e americanas, o pesquisador do tema Maurício Pedrão acredita que há cidades baianas que podem se tornar inteligentes. Entre elas, cita Vitória da Conquista, Luis Eduardo Magalhães e Barreiras. “É possível fazer os investimentos necessários em cidades de médio porte e que são centros urbanos naturais”, falou.

A vantagem para Conquista é que ela já é um centro de atendimento à saúde reconhecido. Barreiras e Luis Eduardo Magalhães contam com recursos financeiros oriundos da produção agrícola e devem receber campi da Universidade do Oeste da Bahia (Ufoba).

Pesa contra Salvador o fato de ser uma cidade grande, sem recursos e in-fraestrutura adequados, mas as ações podem começar por bairros, como aconteceu em outras partes do mundo.

“Imagine que nos EUA tem um aplicativo que pela trepidação do carro avisa à prefeitura as vias que têm buracos ou problemas de pavimentação.

Cidades baianas com perfil inteligente

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De posse da informação, uma equipe vai lá e conserta. Com a qualidade das nossa vias, isso não seria possível”, explica.

Outra ausência destacada pelo pesquisador na Bahia é a de uma socie-dade civil forte, capaz de dialogar em alto nível com empresas e com a prefeitura. “Uma iniciativa interessante para mudar esse cenário foi o Movimenta, uma organização liderada pela Fieb, que reuniu outras institui-ções da sociedade para pensar soluções para a mobilidade de Salvador”, lembra.

Ainda assim, Pedrão observa que algumas soluções nascidas em smart cities podem ser adotadas por aqui. Um exemplo são sinaleiras alimenta-das por energia solar. O poste que as abriga é mais alto, com uma placa fotovoltaica no topo. Além de sinaleiras, esses postes também sustentam câmeras de segurança eletrônica e um ponto de acesso público à internet (WiFi), alimentados pela energia solar captada pelo próprio poste. Esse tipo de equipamento já é usado em Amsterdã, na Holanda.

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Criatividade é valor

Como é a cidade em que você quer viver? O que você faz individualmente para fazer da sua cidade aquela na qual quer viver? Essas são as duas perguntas que os cidadãos devem se fazer para construir uma cidade criativa, segundo Ana Carla Fonseca, consultora da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o tema Economia Criativa. Ana Carla participou do Fórum Agenda Bahia 2014 com a palestra Cidades Criativas e Inteligência Urbana.

A criatividade, segundo especialistas em Recursos Humanos, é um valor cada vez mais exigido dos trabalhadores, seja para inovar processos, seja para criar produtos e serviços que façam as empresas conquistarem novos mercados.

Só que uma cidade também pode ser criativa. Quando se transforma em um ambiente propício à criatividade, ou seja, inspire novos olhares e vivências de seus habitantes, levando-os a ser individualmente criativos.

Em sua palestra, Ana Carla destacou que municipalidades de todo o mundo trabalhavam de forma diferente o conceito de cidade criativa. Foi quando, em 2008, por uma iniciativa dela, especialistas de 18 países se reuniram para estabelecer padrões para caracterizar uma cidade como criativa.

Foram identificados três traços. O primeiro deles é a inovação. Não importa se grandes ou pequenas, a adoção de soluções inovadoras contribui para melhorar a vida das pessoas. Para este fundamento, a consultora da ONU citou três exemplos.

Em Pequim, na China, havia dificuldade em engajar as pessoas em uma política para a reciclagem de garrafas Pet. Logo, instalaram máquinas nas estações de

Foto: Arisson Marinho

Ana Carla é consultora da ONU para Economia Criativa

“Muitas cidades são feitas de ilhas que precisam se relacionar. Só existe criatividade com diversidade”

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metrô onde os cidadãos entregavam as garrafas usadas em troca de descontos nas passagens do transporte. Quanto maior o peso total das garrafas plásticas entregues, maior o desconto. “Essa experiência é legal pois permite às pessoas enxergarem um valor para um ato de sustentabilidade”, avalia.

Outros exemplos citados foram o aluguel de carros elétricos em Paris (França) e de uma bicicleta desenvolvida na Dinamarca que acumula a energia gerada pelo usuário em uma bateria, automaticamente acionada em momentos em que o ciclista demonstra cansaço ou necessidade de esforço adicional.

O segundo pilar da cidade criativa são as conexões que permitem a integração entre vários setores do município e entre habitantes de diferentes níveis sociais e culturais. “As conexões têm de se dar em 360°. Muitas cidades são feitas de ilhas que precisam se relacionar. Só existe criatividade com diversidade”, pontuou.

O terceiro ponto em comum é a cultura local. Elemento que, segundo ela, transforma a cidade em um espaço de inteligência coletiva e colaborativa.

No caso das conexões, ela citou como exemplo projeto de Londres (Inglaterra) que transformou moradores de rua em guias turísticos, diminuindo a tensão entre os sem-teto e as famílias que habitam aqueles endereços.

Já no caso da cultura, citou projetos de Dublin (Irlanda) e Lima (Peru), em que o poder público se dispõe a ouvir as sugestões dos moradores para implementar intervenções urbanas e políticas públicas.

A consultora da Organização das Nações Unidas (ONU) Ana Carla Fonseca afirmou que Salvador tem grande potencial criativo e que, como outros municípios, tem o desafio de transformar criatividade em ativo econômico. Ela defendeu o desenvolvimento de três pilares para que a capital baiana alcance o objetivo.

O primeiro é o investimento em inovação; o segundo, maior conexão entre as diversas áreas da cidade e entre as diversas “tribos” que a habitam; e, por fim, a valorização da cultura local, tanto no aspecto de formação da identidade do soteropolitano quanto como elemento que propicia um ambiente inspirador da criatividade dos habitantes. “No fundo, falamos de pessoas. Não é uma cidade que é criativa, mas as pessoas que moram nela é que são criativas”, argumentou.

Ativo econômico para Salvador

Criatividade é valor

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Desenvolveu o projeto Beta Macro. Trata-se de uma área onde a municipalidade investe em soluções baseadas nas sugestões de seus moradores. Uma das propostas adotadas foi a abertura dos espaços reservados para estacionamento para intervenções artísticas, colorindo área que seria sempre cinza.

Um problema que exigiu solução inovadora foi como engajar os cidadãos à política de reciclagem de garrafas plásticas (Pet). Para alcançar o objetivo, foram instaladas máquinas coletoras em estações do metrô. Essas máquinas pesam as garrafas entregues. Quanto maior o peso somado das garrafas recolhidas maior o desconto obtido na passagem do metrô.

Sampa Criativa, uma parceria do Garimpo de Soluções e da Fecomércio, ouviu, durante seis meses, sugestões de moradores para melhorar a cidade. Uma das propostas que estão sendo desenvolvidas é a disponilização de equipamento de GPS para que corredores de rua identifiquem à compainha responsável a localização de bueiros entupidos ou com vazamento de gás.

* Conexões

Dublin (Irlanda)

Pequim (China)

São Paulo (Brasil)

Segundo Ana Carla, economia criativa é a denominação dada a todo em-preendimento que gera riqueza baseada na criatividade - criação de música, filmes, software, roupas, etc. Para ela, o Carnaval é uma força poderosa para desenvolver diferentes indústrias criativas locais. Por isso, recomenda que a festa seja uma ponta de lança para divulgar outras artes e artistas baianos.

Ana Carla sugeriu a criação de circuitos musicais, para levar turistas e habi-tantes da cidade para comunidades fora do trajeto carnavalesco para ouvir a produção musical feita nesses espaços, não necessariamente ligada aos ritmos momescos. Também destacou que os abadás dos blocos sejam criados por estilistas locais com o uso de materiais tipicamente usados no artesanato baiano. Uma terceira sugestão foi a de que a decoração dos trios elétricos seja feita por grafiteiros que se manifestam nos muros de Salvador.

“Toda essa exposição do Carnaval vai sim carrear outros movimentos”, garantiu. Em entrevista após a apresentação, ela disse que o Carnaval é um exemplo de como a cultura pode produzir o contato entre pessoas de diferentes níveis sociais da cidade, fator essencial para produzir uma cidade criativa.

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Lixo vira dinheiro

Com uma população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2.902.927 pessoas, Salvador produz, em média, 70 toneladas de resíduos sólido por mês. Mas apenas 10% desse total é reciclado. Em palestra no Fórum Agenda Bahia, o secretário municipal de Cidades Sustentáveis, André Fraga, anunciou que a prefeitura pretende aumentar esse alcance para 46,37% e reciclar 34.635,24 toneladas de lixo por mês. Com a nova estimativa, Salvador teria R$ 2.464.875,85 por mês injetados em sua economia a partir do lixo.

Para alcançar a meta, André Fraga explicou que a prefeitura vai realizar um programa de coleta seletiva com o objetivo de transformar resíduos sólidos em dinheiro. “Não temos políticas públicas de coleta de lixo. Com a nova proposta de coleta seletiva vamos fazer com que o resíduo vire dinheiro”, explicou Fraga.

O novo programa se baseia em três pilares: a demanda reprimida, os catadores avulsos e as 18 cooperativas que existem atualmente na cidade. “Identificamos que muita gente já faz a separação em casa, mas

- Prefeitura começa a implantar sua política de reciclagem do lixo: 200 pontos na cidade irão oferecer coleta seletiva dos resíduos sólidos

- Grandes gerado-res terão que arcar com a destinação dos resíduos sólidos

- Até 2016, haverá coleta seletiva porta a porta em Salvador

- Quem jogar lixo na rua será multado em cerca de R$ 1 mil

Solução

Foto: Arisson Marinho

Secretário André Fraga garantiu o aumento da reciclagem em

Salvador, que irá injetar R$ 2,4 bilhões na economia da cidade

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não tem um espaço para deixar. E também tem as ações pontuais com os catadores e as cooperativas”, apontou.

As estratégias do programa também estão divididas em três etapas. A primeira delas compreende a criação de 200 pontos de entrega de resíduos na cidade. O material recolhido vai ser direcionado para cooperativas para que elas possam ampliar sua renda e ter uma participação mais ativa.

“Essa etapa começa a trabalhar a mobilização social. Já temos até parcerias com empresas, como a Coelba, por exemplo, que vai colocar alguns desses pontos para que as pessoas possam ter descontos na sua conta de energia”, revelou.

A segunda estratégia vai responsabilizar os grandes geradores de resíduos para que viabilizem a coleta, transporte e destinação do próprio lixo.

A alternativa oferecida pela prefeitura é que as empresas implementem programas internos de coleta seletiva e reduzam a produção de lixo para até 300 litros por dia. Assim, podem voltar a contar com a coleta pública. “Os grandes geradores vão ter duas opções: ou fazem toda a logística do recolhimento do seu lixo ou implementam programas de coleta seletiva”, argumentou.

A terceira etapa é o grande desafio do programa: a coleta seletiva porta a porta. O objetivo dessa estratégia é transformar o recolhimento de lixo em uma política de coleta seletiva semanal. “Vai ser como já é feito com o lixo comum, as pessoas terão o dia específico para colocar o material reciclável para o caminhão passar e pegar”, explicou o secretário. Essa etapa do programa é a que está menos adiantada, com previsão para o início da implementação em 2016. “Estamos finalizando o orçamento e buscando financiamento, porque é um projeto complexo de logística”, disse Fraga.

Segundo o secretário, a prefeitura optou por gastar mais tempo no planejamento para poder identificar as demandas da cidade e as melhores formas de solucioná-las. “O contexto da coleta seletiva de Salvador é outro, mas a nossa meta é chegar ao nível das cidades europeias. Lá, se o cidadão não separa o lixo, ele pode ser multado em € 200”, contou. E o exemplo vai ser seguido por aqui. O secretário confirmou o anúncio feito pelo prefeito ACM Neto, durante o Agenda Bahia, de que, a partir de 2015, quem for flagrado jogando lixo na rua será multado. “A Semop [Secretaria Municipal de Ordem Pública] é que está operando isso com a Limpurb. Vão ter agentes nas ruas que vão multar as pessoas”, adiantou.

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A chefe de Mercados Emergentes da SP Technical Institute of Sweden, Jessica Magnusson, apresentou o modelo sueco de gestão sustentável dos resíduos sólidos. Na cidade de Boras, 99% do lixo é reaproveitado, e apenas 1% vai para os depósitos de resíduos. Esse resultado só é possível atualmente porque houve investimento há mais de 30 anos e um planeja-mento na direção certa. “Não pensem que para vocês isso será impossível. Para a gente também não foi fácil. É preciso começar”, adianta Magnusson.

Do material reaproveitado em Boras, quase 50% é utilizado na produção de energia, cerca de 20% para reciclagem biológica (que se transforma em biogás) e 30% para a reciclagem de materiais. “Uma parte vai para os combustíveis, mas é combustível de uma forma boa, que contribui muito pouco para a poluição do ar”, disse Jessica.

A cidade sueca está acima da média europeia que, em 2010, reciclou apro-ximadamente 60% do lixo produzido. A cidade de Freiburg, na Alemanha, por exemplo, consegue reaproveitar 69% dos resíduos, como informou o gerente da Innovation Academy in Freiburg, Steffen Ries. Se Boras for comparada aos Estados Unidos, a diferença é ainda maior, já que a potência global jogou, em 2010, mais de 50% dos seus resíduos sólidos em aterros.

Para o secretário municipal de Cidades Sustentáveis, André Fraga, os exemplos são inspiradores, mas precisam ser vistos com cautela. “Eles começaram na década de 60 e em 90 já estavam multando as pessoas, responsabilizando o cidadão pelo lixo. Estamos começando. Precisamos beber dessas fontes. Mas Salvador está em outro contexto e passou por um momento difícil”, disparou. Para o alemão Steffen Ries, o mais impor-tante é dar o primeiro passo. “Tudo leva tempo, mas é necessário paciên-cia”, concluiu.

Cidade sueca envia apenas 1% do lixo para aterro

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Recém-chegado de uma visita à Itália, onde foi conhecer o modelo de coleta seletiva do país europeu, o secretário André Fraga disse que viu nas práticas italianas um modelo inspirador e desafiador. “Mas temos que ver o contexto de Salvador, que é diferente. Não temos política pública de coleta seletiva aqui. Se iniciou um projeto há 10 anos, mas ele foi desconti-nuado”, observou.

Fraga revelou que a prefeitura tem a proposta de trazer um programa de coleta seletiva para a cidade com o objetivo de transformar lixo em dinheiro. “Salvador produz, em média, 70 toneladas de resíduos por mês, e 46,37% desse material poderia ser reciclado. Poderíamos ter R$ 2.464.875,85 por mês com reciclagem”, mensurou.

No planejamento para a execução do programa, André conta que foram identificados três pilares: a demanda reprimida, os catadores avulsos e as 18 cooperativas de coleta seletiva existentes na cidade. “Muita gente já faz a separação em casa, mas não tem um espaço para deixar. Então, uma das nossas metas é a coleta porta a porta”, contou.

O secretário também confirmou a informação, divulgada pelo prefeito ACM Neto, de que, a partir de 2015, quem for flagrado jogando lixo na rua será multado.

Mais de R$ 2 milhões vão para o lixo em Salvador

*Meta70 toneladas de lixo são produzidas por mês em Salvador

46% desse total poderia ser reciclado

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Engajamento dos cidadãos

O engajamento dos cidadãos é crucial para garantir a sustentabilidade das cidades. Esse foi o ponto de convergência entre os palestrantes do primeiro dia do Agenda Bahia 2014.

Um exemplo dado pelo alemão Steffen Ries - que relatou o exemplo da cidade de Freiburg - foi o uso do carro, que polui o ar pela queima de combustível fóssil. “É preciso mudar a mentalidade. Deixar de ver o carro como prova de status. As pessoas têm que ser sustentáveis para mostrar que é legal adotar práticas sustentáveis”. “É preciso ter um trabalho para mostrar as vantagens de ser sustentável”, afirmou a sueca Jessica Magnusson.

“O comprometimento de empresas com a sustentabilidade só se dá se esse compromisso for pensado como estratégia de negócio. Cabe ao consumidor valorizar empresas que produzam de maneira ecologicamente correta”, disse a consultora da ONU Ana Carla Fonseca.

“O poder público tem de fomentar a participação da sociedade, até por obrigação legal”, falou o secretário de Cidade Sustentável de Salvador, André Fraga, tocando no desafio para que esse engajamento se dê: o alcance da participação popular. “A população tem que se envolver desde o planejamento. E é preciso investir em comunicação, o poder público e as empresas têm de querer ouvir e dar retorno [sobre as opiniões, sugestões, críticas, etc]”, afirmou Ana Carla.

Outro caminho foi dado pela sueca, citando exemplo de seu país. “Um novo playground seria construído na cidade e três modelos foram apresentados. Decidiu-se que venceria o escolhido pelas crianças com votação nas escolas”, contou, afirmando que a mudança para uma cultura de sustentabilidade começa sempre com um trabalho de educação e pelas

Foto: Arisson Marinho

Donaldson Gomes, editor-assistente de Economia do jornal CORREIO, moderou o debate com André Fraga, Ana Carla Fonseca, Jessica Magnusson e Steffen Ries

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crianças que, naquela ocasião, também tiveram uma aula de participação popular e planejamento urbano.

Ao contrário do senso comum, as pessoas estão, sim, com vontade de serem ouvidas e de participar ativamente das decisões sobre suas cidades. Exemplo disso é o projeto Garimpando Soluções, apresentado por Ana Carla. Em seis meses, o projeto reuniu 850 propostas de moradores de São Paulo para melhorar a vida delas e de toda a cidade.

“É preciso mudar a mentalidade. Deixar de ver o carro como prova de status”

“A população tem que se envolver desde o planejamento”

STEFFEN RIES, gerente do Innovation Academy in Freiburg

ANA CARLA FONSECA, consultora da ONU

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Com a mão na massa, morador muda região

Quem nunca se irritou quando passou em uma rua abarrotada de lixo? Ou quando leu alguma notícia sobre a escassez de água no país? Quem consegue ficar indiferente ao ver pessoas em condições sub-humanas? Ou ao encarar o caótico trânsito de Salvador? A culpa, dirá a maioria, é do poder público. Mas o que você faz para contribuir com a sustentabilidade da cidade?

“Ghandi tinha uma frase que deveríamos praticar: antes de sair por aí querendo mudar o mundo, dê três voltas na sua casa”, disse Asher Kiperstok, coordenador da Rede de Tecnologias Limpas da Universidade Federal da Bahia (Teclim). Para ele, não adianta só reclamar se você nada faz ao seu alcance para mudar esse cenário. “Pensar o dia a dia, nas pequenas coisas, que multiplicadas fazem grandes eventos, é fundamental”, emendou.

Fundamental e simples. Separar o lixo produzido em casa, por exemplo, além de proteger o meio ambiente, pode gerar emprego e renda. Foi pensando assim que Cláudia Barbosa, subsíndica do Condomínio Residencial Varandas Alto do Itaigara, decidiu criar um sistema de coleta seletiva no prédio.

“O prédio era novo, e eu pensei: nada melhor do que já começarmos a morar aqui fazendo certo. Por isso, compramos os coletores separados para cada andar, fizemos um manual para os moradores e criamos um local para abrigar o lixo que seria reaproveitado”, contou.

Para a missão, Cláudia contou com o apoio da Cooperativa de Agentes Ecológicos de Canabrava, que garante emprego para catadores de lixo que saíram do Lixão de Canabrava. Além de recolher o lixo separado, os cooperados também realizam palestras e oferecem até um selo de responsabilidade ambiental.

“O lixão fechou em 2000 e, então, criamos a cooperativa, que é um projeto social. Porque, quando eles estavam no lixão, viviam à margem da sociedade e, uma vez cooperados, eles têm todos os direitos trabalhistas, participam de programas do governo. E, acima de tudo, se sentem agentes do meio ambiente”, explica Otávio Leme, assessor técnico da cooperativa.

Mas as práticas sustentáveis diárias trazem, não só benefícios sociais e ambientais, como também econômicos. Quando percebeu a aderência à coleta seletiva, a subsíndica seguiu adiante e implantou o sistema de telemetria de água, que separa o consumo de água de cada apartamento e, consequentemente, a conta mensal. “As pessoas pagam o que consomem, e quando mexe no bolso todo mundo economiza mais. Fez bem para o bolso de todo mundo”, ponderou Cláudia.

“Pensar o dia a dia, nas pequenas coisas, que multiplicadas fazem grandes eventos, é fundamental”ASHER KIPERSTOK, coordenador do Teclim

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Outra medida foi a implantação de coletores de óleo, pilhas e baterias e um recipiente de sacos plásticos orgânicos para os condôminos limparem as sujeiras dos animais que passeiam pela rua. “É uma questão de cultura, porque uma ideia puxa a outra e aí vamos criando uma consciência sustentável”, disse.

Para o secretário municipal de Cidade Sustentável, André Fraga, cada uma dessas ações gera um retorno positivo. “Se economizo água e energia, consequentemente, estou economizando dinheiro. Se vou de bicicleta ao trabalho, evito trânsito, me exercito. Pensar a sustentabilidade é pensar nessa cadeia virtuosa, onde todos ganham”, avaliou.

Segundo André Fraga, há bairros que se destacam com grupos bastante mobilizados. “Além do Alto do Itaigara, que está mudando a cara das ruas com arborização e coleta de resíduos, tem em Cajazeiras um grupo de moradores que ocupou uma área verde desenvolvendo trilhas interpretativas e sinalização, transformando em um parque, que estamos batalhando para oficializar”, revela.

Seguindo a ideia de que a rua é uma extensão da nossa casa, Mário Amici, subsíndico do Condomínio Palácio Itaigara, foi além dos muros do seu

Foto: Arisson Marinho

Mario Amici (de óculos) criou uma composteira orgânica e, com outros moradores, plantou 200 árvores em 600 metros de rua no seu bairro

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prédio. Criou a Apita (Amigos Pelo Itaigara) e, em parceria com moradores, plantou 200 árvores em 600 metros de rua do bairro. “Nós plantamos há dois anos e elas já estão bonitas. A gente pensa no bairro como um todo, reunimos crianças e plantamos pequenas mudas e sementes”, revelou Mário.

Para o coordenador da Teclim, apresentar ações positivas para as pessoas é a melhor forma de criar uma consciência voltada para a sustentabilidade. “A melhor forma de contribuir é educar pelo exemplo”, disse Kiperstok. “Ainda é preciso mudar muitas mentes e a educação é o fio condutor dessa transformação”, completou André.

O secretário explica que está crescendo o número de pessoas que desenvolvem práticas sustentáveis em Salvador. “Temos exemplos de pessoas que apelidamos de Dedo Verde, que plantam árvores e flores por conta própria por toda a cidade. Muitos precisam de orientação técnica, mas sua intenção já faz a diferença”, afirmou.

Além da coleta seletiva, Mário Amici buscou consultoria do professor Agamenon de Almeida Farias, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira de Itabuna, e criou uma composteira para a produção de composto orgânico e plantação de vegetais e plantas medicinais, no terreno em frente ao edifício. Os vegetais produzidos vão ser oferecidos como um “bônus” aos moradores que participam da reciclagem.

“A única possibilidade de fazermos a diferença é essa ação mais horizontal. Precisamos parar de achar que tudo tem que vir do poder público. Se as pessoas não se envolvem na manutenção da sua cidade, ela não vai para frente”, acredita Amici.

O coordenador da Teclim concorda, mas pondera que há a necessidade de políticas públicas que induzam o comportamento voltado para a sustentabilidade. “Para largar o automóvel, tenho que dispor de transporte coletivo de boa qualidade e isto é o poder público que tem que me garantir. Tenho que ter acesso a condições ambientais mais dignas e, para isso, tenho que fazer minha parte e cobrar dos poderes públicos”, explicou Asher.

“Se as pessoas não se envolvem na manutenção da sua cidade, ela não vai para frente”MÁRIO AMICI, subsíndico do condomínio Palácio Itaigara

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Esse app é para aquelas pessoas que, além de tomar banho, ficam debaixo do chuveiro

cantando, relaxando ou apenas ouvindo o barulho da água. Criada pelo instituto Akatu e

a Leo Burnett Tailor Made, a ferramenta mostra o quanto de água é desperdiçado sem

necessidade. O app também simula a vazão e o barulho de água caindo, para que a pessoa

só abra o chuveiro na hora do banho. É gratuito e está disponível em iOS e Android.

Se você encontrou lixo jogado em locais impróprios e

não sabe como denunciar, o aplicativo pode te ajudar.

Criada pela WiseWaste, a ferramenta utiliza o serviço

de geolocalização do aparelho, registrando o local do

descarte indevido de lixo, e encaminha a informação

para órgãos públicos responsáveis. O objetivo é fazer

com que os cidadãos contribuam com o poder público

para limpar a cidade. Em iOS e Android, com instalação

gratuita.

O que fazer com aquela bateria velha ou com as latinhas

que sobraram da última festa? Se você não tem ideia, o

aplicativo iRecycle pode te ajudar. A ferramenta apresenta

informações sobre reúso e maneiras de reciclagem. A sua

base de dados reúne mais de 1,5 milhão de ideias e notícias

sobre o assunto e mais de 1.600 maneiras de reciclar mais

de 350 materiais. Ele está disponível gratuitamente em

iOS e Android, mas apenas em inglês.

A bicicleta é uma ótima opção para quem quer dispensar o

uso do carro. O Bike Salvador é um aplicativo que integra

o projeto de sustentabilidade da Prefeitura de Salvador,

disponibilizando o aluguel de bicicletas em estações

distribuídas em pontos da cidade. O app, gratuito em iOS

e Android, informa o local das estações e a quantidade

de bicicletas disponíveis em cada uma delas. Para usar as

bikes basta pagar a taxa anual de R$ 10.

* É só clicar para começar a agir

Akatu Fake Shower

Lixarada

iRecycle

Bike Salvador

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Nada melhor do que aprender brincando. Isso é o que propõe o aplicativo voltado

para o público infantil. A ferramenta reúne uma série de jogos relacionados ao meio

ambiente e à sustentabilidade, com o objetivo de promover estímulos saudáveis e

tornar o aprendizado algo prazeroso e produtivo. Está disponível para aparelhos com os

sistemas iOS e Android e tem o download gratuito.

A cada minuto embaixo do chuveiro, 9 litros de água são

gastos. Em 20 minutos de banho, são 180 litros de água

que vão pelo ralo. Para ajudar as pessoas a economizar

água, o aplicativo, criado pela ONG SWU, funciona como

um despertador ecológico. Quando acionado, ele avisa,

tocando uma música em volume alto, forçando o banhista

a sair do chuveiro para desligar o aparelho. O aplicativo é

gratuito e disponível apenas para iOS.

O aplicativo conta com uma base de dados coletada

em mais de 1,7 mil cidades do mundo, incluindo capitais

brasileiras como Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro,

Brasília e Porto Alegre. Ele permite que o usuário verifique

a poluição do ar, da água, do solo e a interferência de ondas

de rádio captadas por meio de 39.341 fontes, só no Brasil.

É gratuito, porém só está disponível para aparelhos com o

sistema iOS.

Galera Animal

Sai desse Banho

Pollution

Disponível para o sistema iOS, o aplicativo ajuda a

mensurar o consumo mensal de energia a partir do

cadastro de todos os eletrodomésticos e eletrônicos

de uma residência e o tempo médio em que eles ficam

ligados. Ele também informa quais aparelhos consomem

mais energia e qual o dispêndio ideal. Apenas em inglês, o

app é baseado na recomendação norte-americana para

emissões de carbono. Custa US$ 0,99.

Green Outlet

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Economia de até 50% na conta de energia

Quem compra geladeira, televisão, ar-condicionado ou até mesmo lâmpadas já está acostumado a identificar nesses produtos selos com escalas que indicam a sua eficiência no consumo de energia. Mas esse tipo de classificação ultrapassou a barreira dos eletrodomésticos e agora também pode ser aplicada para casas e edifícios.

O setor de eficiência energética da Coelba, Celpe e Cosern - empresas do Grupo Neoenergia -, por exemplo, concede consultoria gratuita para quem quiser pleitear a obtenção de etiquetas de eficiência para seus imóveis.

A gerente de eficiência energética da Neoenergia, Ana Christina Mascarenhas, explica que existem dois tipos de etiquetas: a do projeto e a da obra construída. O selo abrange edifícios comerciais, residenciais e de serviços, sendo obrigatório apenas para edificações públicas federais. A etiquetagem tem o objetivo de classificar o nível de consumo de energia e mostrar a sua eficiência através da aplicação de ferramentas da construção que favoreçam um consumo menor.

“A economia pode chegar a 30% para edificações já existentes, se estas passarem por uma intervenção tipo retrofit (reforma e/ou atualização). Nas novas edificações, ao se utilizar tecnologias energeticamente eficientes desde a concepção inicial do projeto, a economia pode chegar a 50% do consumo, comparada com uma concebida sem essas tecnologias”, argumenta Ana.

Foto: Evandro Veiga

As noves torres do empreendimento Hangar

obtiveram a etiqueta de conservação de energia por

usar, por exemplo, menor iluminação artificial

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Para que um prédio ganhe uma certificação de alto padrão de eficiência no consumo, é preciso ter intervenções que vão desde o projeto (para o caso dos imóveis ainda não construídos) à fase da utilização dos imóveis pelos moradores.

“Muito se fala que para que um empreendimento seja eficiente é preciso gastar muito. Mas, se ele for pensado desde o projeto, o custo pode ser menor. Se você escolher uma cor mais clara isso já colabora. Não envidraçar o prédio inteiro, por exemplo, não onera a obra”, ressalta Ana.

O objetivo da etiqueta, que classifica a eficiência dos imóveis, é estimular o desenvolvimento de projetos arquitetônicos mais eficientes, que tenham menor consumo de energia durante sua vida útil.

COMO CONQUISTAR A ETIQUETA DE EFICIÊNCIACEE

Fonte: Coelba

É necessário apresentar à Coelba o projeto arquitetônico (planta baixa, cortes, fachadas e detalhes de esquadrias); projeto elétrico e luminotécnico; projeto de condiciona-mento de ar; memorial descritivo do material a ser utilizado nas fachadas e coberturas para análise das propriedades térmicas e fator solar dos vidros.

Em seguida, a Coelba inicia a consultoria pelo setor de Eficiência Energética. O projeto é encaminhado para os órgãos Certi e Fundação Vanzolini, autorizados pelo Inmetro para a emissão da etiqueta de eficiência energética e esse serviço é cobrado.

Para avaliação de projeto e/ou consultoria de edificações residenciais, comerciais, de serviços e públicas, os interessados devem entrar em contato com o setor de Eficiência Energética da Coelba/Neoenergia, através do email

[email protected]

EppCpd

“A Coelba tem consultoria gratuita para quem quer ter o selo de eficiência”ANA CHRISTINA MASCARENHAS, gerente de eficiência da Coelba

*Imóveis

10 mil reais. É o preço médio para que seja feita a classificação da eficiência em um edifício de 10 andares. Pela consultoria, a Coelba não cobra nada

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“Eficiência energética em edificações é a qualidade que determinado edifício, seja de comércio, serviço ou habitação, para oferecer as melhores condições ambientais com o menor consumo de energia possível”, ressalta.

No procedimento de etiquetagem, após a consultoria gratuita da Coelba - que é feita geralmente em 90 dias -, o morador ou empresa responsável por pleitear a certificação deve buscar uma empresa que avalie o empreendimento e emita a certificação. A Certi e a Fundação Vanzolini são as únicas habilitadas no país para essa função, com um prazo médio de 45 dias de análise.

“Em média, essas fundações cobram para avaliar e emitir a certificação de uma torre residencial de 10 andares, por exemplo, o valor de R$ 10 mil. Na questão financeira, esse retorno vem na economia do uso de energia pelo resto da vida da construção. É um investimento”, pontua Ana.

Apesar dos benefícios no consumo menor de energia, desde 2010, apenas 16 solicitações foram realizadas nos três estados do Nordeste cobertos pelo grupo Neoenergia. “O selo precisa ser conhecido para que haja um maior interesse das empresas por tentar conquistar a certificação. No caso de construções já existentes, seria necessário uma reforma, mas o planejamento deve ser feito desde o começo para novos projetos”.

Na Bahia, o empreendimento Hangar Business Park, campus corporativo construído pela Odebrecht em Salvador, foi o primeiro empreendimento comercial do país a conquistar o Procel Edifica, após receber a consultoria da Coelba. As noves torres do empreendimento Hangar obtiveram a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (Ence) A, e da Edificação Construída para envoltória em todos os edifícios.

Foto: Evandro Veiga

Projeto do Hangar priorizou o uso da

iluminação natural nos principais espaços do

empreendimento

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No processo de análise da etiquetagem de eficiência, para edifícios comer-ciais, de serviço e públicos, são avaliados três sistemas individuais: envol-tória (fachadas e cobertura), sistema de iluminação e sistema de ar-con-dicionado. A classificação geral ponderará esses três sistemas, somando ainda bonificações, que podem ser obtidas através da economia do uso de água, do emprego de fontes alternativas de energia e de qualquer inovação tecnológica que resulte em economia de energia na edificação. Para edifícios residenciais, são avaliados: envoltória para verão, envoltó-ria para inverno, o aquecimento de água e bonificações. Nas áreas de uso comum dos edifícios residenciais também podem ser avaliados os seguin-tes sistemas: iluminação artificial, equipamentos, aquecimento de água, elevadores e bombas.

Processo avalia os critérios de uso de energia nos imóveis

O complexo conta ainda com sete torres comerciais e duas hoteleiras integradas por um projeto paisagístico e um Green Mall com infraestrutura de serviços. Os dois hotéis foram os primeiros das regiões Norte e Nordeste etiquetados com o selo PBE Edifica, que integra o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), que é desenvolvido em parceria com o Inmetro e a Eletrobras/Procel Edifica.

A adoção de soluções que reduzem o consumo de energia, no Hangar, como aquecimento solar térmico para água nas torres hoteleiras, vidros de alta eficiência, isolamento térmico das envoltórias e coberturas, colaborarou para que o empreendimento, que é localizado na Avenida Paralela, recebesse a etiqueta de eficiência.

Segundo o diretor de Incorporação/Engenharia, da Odebrech Realizações Imobiliárias na Bahia, Eduardo Pedreira, a etiquetagem agrega valor ao empreendimento ao dialogar com os conceitos de sustentabilidade.

“A certificação do empreendimento demonstra a importância do assunto dentro da filosofia empresarial Odebrecht, que tem a atuação pautada na construção sustentável com foco na ecoeficiência, na tecnologia e na promoção de resultados positivos nos âmbitos econômico, ambiental e social”, argumenta.

Infográfico: Cidades inteligentes, mais que tendência, uma im-posição

Em todo o mundo, o processo de urbanização segue acelerado. Desde 2007, mais da metade da população mundial vive em cidades, fato inédito na história da humanidade. Estima-se que, em 2050, sejam 70%. Essa realidade exige dos governos fortes investimentos na qualificação do espaço urbano.

No Brasil, as cidades crescem rapidamente, mas carecem de planejamento. Salvador, por exemplo, cresce de forma desordenada, seja no uso dos espaços urbanos, seja no trânsito.

No mundo, há bons exemplos de planejamento urbano que merecem ser seguidos. São as smart cities, cidades inteligentes. Elas contemplam seis dimensões fundamentais:

Economia sustentável Mobilidade

Meio ambiente Pessoas

Qualidade de vida Governança

Que são smart citiesUma cidade pode ser considerada smart quando os investimentos em capital humano, transportes e infraestruturas de comunicação estimulam:

Uma economia sustentável

Elevam a qualidade de vida dos moradores, com um gerenciamento planejado e participativo

A importância da TICPara que as iniciativas sejam bem-sucedidas, é preciso contar com as operacionalidades das TIC (tecnologias da informação e comunicação). As smart cities sempre combinam o uso intensivo de várias ferramentas tecnológicas modernas, a exemplo de:

Plena acessibilidade à banda larga, condição fundamental para adoção de soluções urbanas inteligentes

Computação em nuvem, com manuseio seguro e maior capacidade de armazenamento de informações

Redes de sensores, para monitorar variáveis de segurança, meio ambiente, engenharia de trânsito, iluminação pública, coleta de lixo, etc.

CIDADES INTELIGENTES,mais que tendência, uma imposição

Riscos e limitações das smart cities

Fonte: Superintendência deDesenvolvimento Industrial da FIEB.

Exclusão digital – Em cidades onde seja frágil a intimidade da comunidade com dispositivos eletrônicos modernos, deve-se investir em projetos de inclusão digital.

Sistemas confiáveis – Como as soluções criativas costumam envolver o uso de alta tecnologia, é imprescindível que os sistemas sejam blindados para evitar instabilidades e para garantir a segurança de dados e informações.

Tecnologia – Quando o projeto envolve uso de tecnologias vindas “de fora”, deve-se evitar pacotes “fechados” que geram dependência tecnológica e criam vácuos na oferta de serviços, caso haja descontinuidade da relação comercial.

Governança – A maneira pela qual o município exerce a administração dos recursos sociais e econômicos deve estar alinhada com os interesses da sociedade. O que foi planejado deve ser executado, ainda que haja margem para adapta-ções. Interesses imediatistas, políticos ou empresariais, podem colocar bons projetos em risco.

EXEMPLOS DE SMART CITIES

BOSTONPossui 4,6 milhões de habitantes.

Capital do estado de Massachusetts, em sua região metropolitana estão três das melhores universidades do mundo:

Soluções inteligentesLixeiras inteligentesAbastecidas por energia solar, compactam lixo, na maioria papel e garrafas pet. Quando a lixeira está quase cheia, emite um sinal para a empresa de limpeza urbana, avisando que precisa ser esvaziada. Resultado: reduz pela metade a frequência das coletas.

Bancos de praça inteligentesPossuem placas que captam energia solar e carregam bateria de celular. Também possuem sensores que armazenam informações sobre qualidade do ar e nível de ruído.

Instituto de Tecnologia de Massachusetts – MIT

Elas concentram capital intelectual, tornando a cidade um local onde há forte estímulo às inovações em gestão pública e em facilidades.

Universidade Harvard

Universidade de Boston

BARCELONAPossui 1,6 milhão de habitantes

Capital da região autônoma da Catalunha, sua Região Metropolitana abriga 4,2 milhões de moradores. Desenvolve o projeto 22@Barcelona, para transformar a área industrial decadente de Problenou em ambiente de circulação criativa, baseado em três pilares:

Renovação urbana, com novo plano de zoneamento que atrai investimentos em economia criativa e em novas moradias

Soluções inteligentesColeta de lixo - Sistema inovador de absorção pneumática de resíduos, com sacos de lixo de estabelecimentos comerciais e de residências transportados por tubulações subterrâneas até as centrais e coleta, onde o lixo é separado e compactado para destinação final.

Renovação social, promove o intercâmbio entre profissionais que trabalham na área e moradores.

Reforma econômica, atrai para a área universidades, centros de pesquisa e tecnologia, etc

SKOLKOVOPossui 25 mil habitantes.

Situada a dois quilômetros de Moscou, em 2010, o então presidente russo Dmitry Medvedev decidiu transformar o local em centro de inovação. O projeto de smart cities de Skolkovo prevê investimento de US$ 15 bilhões e estará concluído no final de 2015. Inclui:

Soluções inteligentesOs bairros serão interligados, integrados à paisagem e autossuficientes, com comércio e serviços. A ideia é criar um ambiente propício à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico de ponta, aliado ao convívio residencial.

Habitações para 31 mil pessoas em área de 400 hectares, com bairros integrados à paisagem, com equipamentos necessários para a moradia e o trabalho. Os bairros são ligados pelo eixo viário Boulevard Central;

Criação do Instituto Skolkovo de Ciência e Tecnologia e do campus Technopark, vizinhos, prevendo a interação dos corpos técnicos das empresas, dos projetos de pesquisa e das instituições de ambos;

Espaços para pequenos negócios.O Instituto Skolkovo tem acordos de cooperação com empresas como Intel, Microsoft, Nokia, Cisco e IBM e as universidades Harvard, Stanford e Instituto de Tecnologia de Massachu-setts. Já o Tecnopark criará um ambiente propício à inovação e comercialização de tecnologias. Eles incluem escritórios e residências.

AMSTERDÃPossui 2,3 milhões de habitantes.

O Amsterdã Smart Cities é um dos mais conhecidos projetos de cidade inteligente. Ele cria parcerias entre a população, empresas e autoridades locais, para estabelecer padrões sustentáveis no consumo de energia, agora e no futuro, sem abrir mão do desenvolvimento.

Soluções inteligentesReduzir emissão de CO² e de consumo de energia das famílias, com uso de medidores de qualidade do ar, medidores de energia, além de competições entre empregados de empresas para reduzir consumo;

Trabalho sustentável, com redução do consumo de energia nas empresas e residências;

Mobilidade sustentável, com a otimização dos trajetos de transportes públicos, pontos de carregamento para veículos elétricos, etc;

Consórcio de empresas para investir em TIC, visando a troca de informações e criação de aplicativos para mobilidade urbana, gestão de resíduos e segurança pública.

RIO DE JANEIROPossui 16,4 milhões de habitantes.

A capital carioca foi eleita a principal smart city do mundo em 2013, concorrendo com 200 cidades de 35 países. O prêmio foi concedido pelo Smart City Expo World Congress, por conta de iniciativas como o Centro de Operações Rio e a Central Telefônca 1746.

Soluções inteligentesCentro de Operações Rio – Em parceria com a IBM, possui centenas de monitores, com 400 operadores. O objetivo é interligar os órgãos municipais e as diversas concessionárias de serviços públicos para gerenciar crises.

Central telefônica 1746 – Todas as solicitações de serviços municipais estão concentradas em um único número e o atendimento deve ocorrer nos prazos pré-estabelecidos. A iniciativa é inspirada na central 311, da cidade de Nova York.

Em todo o mundo, o processo de urbanização segue acelerado. Desde 2007, mais da metade da população mundial vive em cidades, fato inédito na história da humanidade. Estima-se que, em 2050, sejam 70%. Essa realidade exige dos governos fortes investimentos na qualificação do espaço urbano.

No Brasil, as cidades crescem rapidamente, mas carecem de planejamento. Salvador, por exemplo, cresce de forma desordenada, seja no uso dos espaços urbanos, seja no trânsito.

No mundo, há bons exemplos de planejamento urbano que merecem ser seguidos. São as smart cities, cidades inteligentes. Elas contemplam seis dimensões fundamentais:

Economia sustentável Mobilidade

Meio ambiente Pessoas

Qualidade de vida Governança

Que são smart citiesUma cidade pode ser considerada smart quando os investimentos em capital humano, transportes e infraestruturas de comunicação estimulam:

Uma economia sustentável

Elevam a qualidade de vida dos moradores, com um gerenciamento planejado e participativo

A importância da TICPara que as iniciativas sejam bem-sucedidas, é preciso contar com as operacionalidades das TIC (tecnologias da informação e comunicação). As smart cities sempre combinam o uso intensivo de várias ferramentas tecnológicas modernas, a exemplo de:

Plena acessibilidade à banda larga, condição fundamental para adoção de soluções urbanas inteligentes

Computação em nuvem, com manuseio seguro e maior capacidade de armazenamento de informações

Redes de sensores, para monitorar variáveis de segurança, meio ambiente, engenharia de trânsito, iluminação pública, coleta de lixo, etc.

CIDADES INTELIGENTES,mais que tendência, uma imposição

Riscos e limitações das smart cities

Fonte: Superintendência deDesenvolvimento Industrial da FIEB.

Exclusão digital – Em cidades onde seja frágil a intimidade da comunidade com dispositivos eletrônicos modernos, deve-se investir em projetos de inclusão digital.

Sistemas confiáveis – Como as soluções criativas costumam envolver o uso de alta tecnologia, é imprescindível que os sistemas sejam blindados para evitar instabilidades e para garantir a segurança de dados e informações.

Tecnologia – Quando o projeto envolve uso de tecnologias vindas “de fora”, deve-se evitar pacotes “fechados” que geram dependência tecnológica e criam vácuos na oferta de serviços, caso haja descontinuidade da relação comercial.

Governança – A maneira pela qual o município exerce a administração dos recursos sociais e econômicos deve estar alinhada com os interesses da sociedade. O que foi planejado deve ser executado, ainda que haja margem para adapta-ções. Interesses imediatistas, políticos ou empresariais, podem colocar bons projetos em risco.

EXEMPLOS DE SMART CITIES

BOSTONPossui 4,6 milhões de habitantes.

Capital do estado de Massachusetts, em sua região metropolitana estão três das melhores universidades do mundo:

Soluções inteligentesLixeiras inteligentesAbastecidas por energia solar, compactam lixo, na maioria papel e garrafas pet. Quando a lixeira está quase cheia, emite um sinal para a empresa de limpeza urbana, avisando que precisa ser esvaziada. Resultado: reduz pela metade a frequência das coletas.

Bancos de praça inteligentesPossuem placas que captam energia solar e carregam bateria de celular. Também possuem sensores que armazenam informações sobre qualidade do ar e nível de ruído.

Instituto de Tecnologia de Massachusetts – MIT

Elas concentram capital intelectual, tornando a cidade um local onde há forte estímulo às inovações em gestão pública e em facilidades.

Universidade Harvard

Universidade de Boston

BARCELONAPossui 1,6 milhão de habitantes

Capital da região autônoma da Catalunha, sua Região Metropolitana abriga 4,2 milhões de moradores. Desenvolve o projeto 22@Barcelona, para transformar a área industrial decadente de Problenou em ambiente de circulação criativa, baseado em três pilares:

Renovação urbana, com novo plano de zoneamento que atrai investimentos em economia criativa e em novas moradias

Soluções inteligentesColeta de lixo - Sistema inovador de absorção pneumática de resíduos, com sacos de lixo de estabelecimentos comerciais e de residências transportados por tubulações subterrâneas até as centrais e coleta, onde o lixo é separado e compactado para destinação final.

Renovação social, promove o intercâmbio entre profissionais que trabalham na área e moradores.

Reforma econômica, atrai para a área universidades, centros de pesquisa e tecnologia, etc

SKOLKOVOPossui 25 mil habitantes.

Situada a dois quilômetros de Moscou, em 2010, o então presidente russo Dmitry Medvedev decidiu transformar o local em centro de inovação. O projeto de smart cities de Skolkovo prevê investimento de US$ 15 bilhões e estará concluído no final de 2015. Inclui:

Soluções inteligentesOs bairros serão interligados, integrados à paisagem e autossuficientes, com comércio e serviços. A ideia é criar um ambiente propício à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico de ponta, aliado ao convívio residencial.

Habitações para 31 mil pessoas em área de 400 hectares, com bairros integrados à paisagem, com equipamentos necessários para a moradia e o trabalho. Os bairros são ligados pelo eixo viário Boulevard Central;

Criação do Instituto Skolkovo de Ciência e Tecnologia e do campus Technopark, vizinhos, prevendo a interação dos corpos técnicos das empresas, dos projetos de pesquisa e das instituições de ambos;

Espaços para pequenos negócios.O Instituto Skolkovo tem acordos de cooperação com empresas como Intel, Microsoft, Nokia, Cisco e IBM e as universidades Harvard, Stanford e Instituto de Tecnologia de Massachu-setts. Já o Tecnopark criará um ambiente propício à inovação e comercialização de tecnologias. Eles incluem escritórios e residências.

AMSTERDÃPossui 2,3 milhões de habitantes.

O Amsterdã Smart Cities é um dos mais conhecidos projetos de cidade inteligente. Ele cria parcerias entre a população, empresas e autoridades locais, para estabelecer padrões sustentáveis no consumo de energia, agora e no futuro, sem abrir mão do desenvolvimento.

Soluções inteligentesReduzir emissão de CO² e de consumo de energia das famílias, com uso de medidores de qualidade do ar, medidores de energia, além de competições entre empregados de empresas para reduzir consumo;

Trabalho sustentável, com redução do consumo de energia nas empresas e residências;

Mobilidade sustentável, com a otimização dos trajetos de transportes públicos, pontos de carregamento para veículos elétricos, etc;

Consórcio de empresas para investir em TIC, visando a troca de informações e criação de aplicativos para mobilidade urbana, gestão de resíduos e segurança pública.

RIO DE JANEIROPossui 16,4 milhões de habitantes.

A capital carioca foi eleita a principal smart city do mundo em 2013, concorrendo com 200 cidades de 35 países. O prêmio foi concedido pelo Smart City Expo World Congress, por conta de iniciativas como o Centro de Operações Rio e a Central Telefônca 1746.

Soluções inteligentesCentro de Operações Rio – Em parceria com a IBM, possui centenas de monitores, com 400 operadores. O objetivo é interligar os órgãos municipais e as diversas concessionárias de serviços públicos para gerenciar crises.

Central telefônica 1746 – Todas as solicitações de serviços municipais estão concentradas em um único número e o atendimento deve ocorrer nos prazos pré-estabelecidos. A iniciativa é inspirada na central 311, da cidade de Nova York.

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Construção aliadaVocê consegue imaginar como seria a sua vida se sua casa produzisse toda a energia que consome? É, toda a eletricidade viria da própria casa, bem como do material com os quais ela foi construída... Não é conversa fiada, não. Esse tipo de construção já existe e tem até um nome próprio: ‘casa passiva’ (em inglês, ‘passive house’). O conceito, que surgiu na Alemanha, na década de 1990, foi apresentado pela gerente de eficiência energética do grupo Neoenergia, Ana Christina Mascarenhas, no Fórum Agenda Bahia.

“Eles usam uma série de conceitos de edifícios com alta performance energética, além de alto conforto térmico”, explicou Ana Christina. Na Europa, é comum que essas casas tenham painéis solares na fachada. Mas, se fosse para funcionar aqui no Brasil, o ideal é que os painéis ficassem na cobertura. “Se nós usássemos na fachada, aqui, acabaríamos perdendo metade da energia gerada”, explica Ana Christina.

A especialista acredita que a maioria dos prédios construídos na Bahia não pensa na arquitetura sustentável. “Não planejam um sistema passivo, em que se valorize a iluminação e a ventilação natural”,

O gerente da Innovation Academy in Freiburg, Steffen Ries, defende a ideia de que um edifício que produza sua própria energia seja adaptado para a realidade de Salvador. “Vocês precisam de um conceito que ajude a resfriar o local. Uma boa ideia pode ser construir a casa de forma que se produza sombra, por exemplo. Assim, os moradores não precisariam usar tanta energia com ar-condicionado, por exemplo”, comentou.

O ar-condicionado, como lembra Ana Christina Mascarenha, é o maior vilão por

- Construir casas que tenham eficiência energética

- Planejar prédios com arquitetura sustentável que foquem na iluminação e ventilação natural e reduzam o uso de aparelhos que consomem muita energia, como ar-condicionado

- Instalação de painéis solares para a geração de energia

- Usar o calor dos equipamentos que existem dentro da casa para produzir energia renovável

Solução

Foto: Evandro Veiga

Ana Mascarenhas citou exemplos de eficiência energética

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consumir muita energia. “E usamos cada vez mais esse aparelho porque nossos prédios são todos fechados e envidraçados”, lembra.

Em Freiburg, no sudoeste da Alemanha, todas as casas que são construídas devem seguir o conceito de ‘passive houses’, citado pela gerente da Coelba. “Na verdade, não só as casas, mas também prédios, como escolas de educação infantil, também”, garante. Uma das principais fontes de energia nos edifícios de Freiburg é a luz do sol. “A casa não precisa de outros combustíveis. Ela fica aquecida pelo sol, mas recebe o calor das pessoas que vivem nela, já que as pessoas também produzem calor”, disse Ries.

Na Suécia, a tecnologia também é usada na construção de residênciais, segundo Jessica Magnusson: “Nós construímos casas para que possam produzir energia renovável que supra necessidades da própria casa”.

Foto: Divulgação

A casa passiva de Freiburg, na Alemanha, onde conceito foi criado

Ana Christina Mascarenhas chamou atenção em sua palestra sobre a ne-cessidade da eficiência energética. A previsão é que em 2035 o consumo mundial aumente cerca de 30%. “O alto consumo de energia é preocupan-te. No mundo, há 1,4 bilhão de pessoas sem acesso à eletricidade”, alerta. Na Bahia, segundo Ana Christina Mascarenhas, são 200 mil habitações sem energia, número que foi reduzido com o programa Luz para Todos.

“Se o Nordeste crescer como previsto, e assim esperamos, cerca de 30%, podemos ter problemas. Não precisamos de racionamento, mas consumir menos energia”, avisa. Por isso, a Coelba tem desenvolvido progra-mas para conscientizar e ajudar a população no consumo consciente de energia. Já substituiu 239 mil geladeiras velhas por novas desde 2005. A economia, segundo Ana Christina Mascarenhas, daria para abastecer uma cidade como Barreiras por 10 meses.

Outro programa da Coelba é o de auxiliar moradores na certificação de selo de eficiência energética, uma espécie de etiqueta para prédios resi-denciais, como já acontece com alguns aparelhos, como televisão.

Consumo consciente para evitar desperdício de energia

Construção aliada

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Antes de construir um novo empreendimento, é preciso estudar o clima local para reduzir o consumo de energia, segundo a gerente de Eficiência Energética do grupo Neoenergia, Ana Christina Mascarenhas. Por isso, as construções recebem selos de eficiência energética - aqueles comuns em utensílios domésticos como geladeira e televisão. Desde 2001, essa cer-tificação é feita de maneira voluntária. Já em 2009 foi criada uma regula-mentação para conceder selos aos prédios comerciais.

No ano seguinte, 2010, foi lançada a etiqueta para os prédios residenciais. “O objetivo é incentivar projetos que sejam adaptados ao clima local. O governo federal fez um decreto que indica que todos os prédios federais precisam ter o selo A (o máximo de eficiência energética), assim como todos os equipamentos comprados”, contou Ana Christina, durante o Fórum Agenda Bahia, ontem. Ainda de acordo com ela, entre os aspectos que são observados para a certificação estão a cor e a iluminação. “A parede tem que ser boa para o calor não entrar e a cor interfere. Se for escuro, a radiação interna vai ser maior”.

É necessário estudar o clima local antes de construir

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Solução também pelas águas

Para levar uma carga com 3,6 mil toneladas de algodão de Luis Eduardo Magalhães, no Oeste da Bahia, para Juazeiro, no Norte do estado, são necessárias 140 carretas, que percorrem os 900 quilômetros entre as cidades em dois dias. Já se a mesma carga for levada pelo Rio São Francisco, o tempo de deslocamento passa para seis dias - em condições adequadas de navegação - mas com custo 20% menor no valor do frete, além de reduzir drasticamente a emissão de CO2 na atmosfera.

Apesar da diferença de preço, os rios têm recebido um número bem menor de cargas do que a capacidade. O Brasil possui atualmente 22 mil quilômetros de rios navegados - apenas 52% do seu potencial - para uso de transporte de cargas ou passageiros, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), vinculada à Secretaria de Portos da Presidência da República. A maioria desses rios está na região Amazônica (cerca de 80%). No Plano Nacional de Viação do Brasil, que é de 1973, estima-se que o país tenha 41.635 quilômetros de rios aptos para a navegação.

Foto: Divulgação/Aiba

Carga de algodão foi transportada pelo Rio São Franscisco para chamar atenção à necessidade de investimento no setor

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“Há uma subutilização histórica das hidrovias brasileiras. Um subinvestimento por parte do governo na locação e no uso dos recursos para investir nesse modal de transporte. O custo do transporte ferroviário é 1/3 do rodoviário e o hidroviário, por sua vez, tem custo de 2/3 do transporte rodoviário”, indica Carlos Campos, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Diretor do grupo cearense Icofort, Décio Alves Barreto Júnior sente no bolso os efeitos da falta de infraestrutura hidroviária para escoar sua produção. Desde 2007, sua empresa é a única que realiza transporte de insumos pelo Rio São Franscisco. Porém, este ano, apenas uma carga de algodão navegou pelo rio em função da falta de condições de navegação.

“Pela hidrovia, em um único comboio (com um rebocador e seis barcaças), conseguimos transportar 3,6 mil toneladas de produto e levar para todo o Nordeste e também para vendas no exterior. Mas, sem a infraestrutura de navegação, temos que pagar mais caro para levar a carga pela rodovia”, argumenta o empresário.

O presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Júlio Cézar Busato, defende que a má estruturação da navegação tem impactado na competitividade dos produtores de grãos da região Oeste da Bahia, principalmente.

Frete mais caro, produtos com preço maior para o consumidor. “O principal diferencial para a economia pelo uso de hidrovias é com o gasto menor de combustível, que, inclusive, colabora com uma menor emissão de gases no meio ambiente”, explica.

De acordo com o balanço da Antaq, o Brasil movimentou, via navegação nos rios internos, 38 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2014, enquanto nos primeiros meses de 2013 esse volume foi de 39,1 milhões de toneladas. A realidade brasileira é bem diferente da de outros países, como é o caso da Alemanha que, no ano passado, movimentou 112,8 milhões de toneladas de produtos em barcas por rios internos.

Apesar das reclamações dos empresários, o gerente de Desenvolvimento e estudos da Antaq, José Renato Ribas Fialho, garante que nos quatro últimos anos houve avanços na política hidroviária brasileira, mas ressalta que a escassez de chuvas no Sudeste e no Nordeste afetou o setor. “No mês de abril, a navegação do sistema Tietê-Paraná, através do Rio Tietê (SP), foi suspensa, assim como a navegação pelo Rio São Francisco. Quando a operação interrompe, o empresariado se desmotiva”, opina.

Mas, além da seca, José Renato admite que a falta histórica de investimentos no setor é outro desafio para o desenvolvimento do sistema hidroviário brasileiro. “A estiagem é muito forte, mas a falta de

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investimentos também torna a situação crítica. O passivo histórico da falta de investimento é grande”, destaca. Por esse motivo, segundo ele, não seria primordial ampliar a quantidade de quilômetros navegados (dos atuais 52%) no país antes que houvesse uma requalificação de estruturação das hidrovias já existentes.

No Nordeste, estimativas da Aiba indicam que as culturas de soja, milho, caroço de algodão e algodão ganharão muito com o uso das hidrovias (ver tabela ao lado). “Pelo menos, 87,5% do milho que hoje é transportado pelas rodovias poderia ser levado pela hidrovia, à exceção dos produtos que são transportados para Feira de Santana e Vitória da Conquista. Quando se transporta por hidrovia não tem custo com pneu, oficina e peças. O potencial de desenvolvimento que a hidrovia trará para a nossa região quando estiver em pleno funcionamento será um salto na competitividade”, diz o presidente da Aiba.

POTENCIAL DE CARGA POR HIDROVIAEM MILHÕES

Culturas % Qtde (t) Valor - R$

Soja 41,0 1.417,94 1.347.046,80

Milho 87,5 2.017,31 773.303,13

Caroço Algodão

100,0 1.235,97 347.061,77

Algodão

Total 4.819,55 2.615.728,68

30,0 148,32 148.316,99

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Enquanto o sistema hidroviário navega em dificuldades de investimento, o transporte de automóveis ganha largos incentivos. Levantamento do jornal O Globo mostra que, em 2013, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e o subsídio da gasolina - com a isenção da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) somaram R$ 19,38 bilhões.

O valor é quase o dobro do montante destinado a melhorar o transporte público nas cidades, que foi na ordem de R$ 10,2 bilhões no ano passado.

Incentivo maior para carro do que transporte público

O secretário da Indústria Naval e Portuária do Estado da Bahia (Seinp), Carlos Costa, indica que, atualmente, duas equipes trabalham na revi-talização da hidrovia do São Francisco, que tem 1.371 quilômetros de rios navegáveis, mas está sem realizar transporte de cargas. “Há, nesse momento, duas dragas tratando de desimpedir 21 trechos da hidrovia do São Francisco. Isso quer dizer que vai ter navegabilidade entre Muquém de São Francisco e Juazeiro (cerca de 450 quilômetros). Quando a recu-peração acabar, pelo menos 150 mil carretas devem deixar de circular nas rodovias anualmente” , diz. Ainda não há prazo de conclusão da dragagem.

Segundo a estimativa da Seinp, com a conclusão das obras - que visam oferecer estrutura melhor para navegação em qualquer época do ano, incluindo os períodos de pouca chuva - as quase 5 milhões de tonela-das de produtos que vão pela estrada terão as hidrovias como forma de escoamento.

“O estado da Bahia, em especial, pelo seu tamanho, tem como objetivo revitalizar todo sistema de modal ferroviário, hidroviário e rodoviário”, sinalizou.

O presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Júlio Cézar Busato, explica que a inclusão da hidrovia no sistema de logísti-ca do Oeste da Bahia, por exemplo, dará mais competitividade à produção de grãos e fibras da região. “Países da América do Norte gastam, em média, US$ 25 para escoar uma tonelada de algodão. No Oeste da Bahia, gasta-se, aproximadamente, US$ 90 para transportar a mesma quan-tidade por rodovia até o Porto de Santos”, explicou Júlio. O Ministério dos Transportes informou, em nota, que foram destinados R$ 23 milhões em recursos para as obras na hidrovia do São Franscisco. “As ações na hidrovia do São Francisco são para manutenção do canal de navegação e da sinalização náutica no Rio São Francisco em uma extensão de 1.292 km, serviços esses de caráter contínuo e permanente”, disse o ministério.

São Francisco: hidrovia tira 150 mil carretas da estrada

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*Navegação pelos rios

50 milhões de toneladas que atualmente são transportadas pelas estradas poderão ser conduzidas pelo São Francisco

20% de economia no valor do frete acontece quando é utilizada a hidrovia para o transporte de carga

52% do potencial de navegação é utilizado no Brasil

Desde 2009, os incentivos ao carro somaram R$ 56,4 bilhões, de acordo com o levantamento do jornal O Globo.

“Por essa falta de conhecimento do potencial das hidrovias, as autori-dades preferem alocar recursos em modais mais conhecidos como as rodovias”, explica Carlos Campos, técnico de pesquisa e planejamento do Ipea. De acordo com o Ministério dos Transportes, os investimentos totais nas hidrovias são estimados em R$ 17 bilhões. “Além dos investimentos públicos em hidrovias, esperam-se investimentos da iniciativa privada, com montante estimado em mais de R$ 5 bilhões, em terminais hidroviá-rios e um valor da mesma magnitude para terminais, e mais R$ 4 bilhões na expansão da frota atual”, disse o ministério, em nota.

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Hidrovias à baiana

Segunda maior e mais navegável do mundo, a Baía de Todos os Santos atualmente tem apenas a travessia Salvador-Itaparica pelo sistema ferry-boat como instrumento de navegação. “É muito pouco para o potencial de exploração que há nessa região. Acredito fortemente que devemos reconquistar o caráter fluvial e anfíbio do Brasil. A Baía de Todos os Santos e a Baía de Camamu poderiam puxar essa valorização da cultura construtiva de cidades flúvio-marítimas”, afirma o coordenador do Grupo Metrópole Fluvial da Universidade de São Paulo, Alexandre Delijaicov, um dos palestrantes do Agenda Bahia.

O professor é um dos responsáveis pelo projeto Hidroanel, de despoluição e integração dos rios de São Paulo para o transportes de carga e de passageiros, além da criação de ilhas para a reciclagem dos resíduos sólidos. Para o especialista, na Baía de Todos os Santos poderia ser implantado o transporte de passageiros para bairros de Salvador - do Comércio ao Subúrbio Ferroviário, por exemplo. O novo modal ajudaria na mobilidade urbana da cidade, avalia. A hidrovia do Rio São Franscisco é outra região de desenvolvimento hídrico pouco aproveitada na Bahia e no Nordeste, segundo o professor.

- O transporte hidroviário é a alternativa para o transporte de cargas e de passageiros

- Reduz o custo logístico para as empresas, além de menor impacto no meio ambiente

- Através de hidrovias, é possível promover a integração com outros modais de transporte, como o rodoviário e o ferroviário

- Para o Rio São Francisco, canais laterais permitiriam a navegabilidade até em período de seca, avalia Delijaicov

Desafio

Foto: Evandro Veiga

Para Alexandre Delijaicov, ainda há

muito potencial para ser explorado nas

hidrovias do estado

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“O eixo do São Franscisco que pega alguns estados, sobretudo a Bahia, é extraordinário para a navegação de cargas e passageiros. É a bacia totalmente brasileira. Os governos têm que ter um empenho para fazer essa hidrovia funcionar”, sugere.

No São Franscisco, atualmente, há obras de dragagem sendo realizadas em 21 pontos para possibilitar a navegação, inclusive no período onde há pouca oferta de água no rio. “A integração entre rodovias, hidrovias e ferrovias facilitaria a distribuição logística de produtos de consumo nas cidades”, destaca.

Para Delijaicov, as cidades tenderam, ao longo da história, a construir canais cobertos e ignorar os potenciais de navegação. “Poderíamos, em vez de tampar o rio, investir na navegação fluvial. Isso seria diferencial competitivo, por exemplo, para o transporte de cargas públicas”, ressalta. Dentre essas cargas, com potencial transporte pelas hidrovias, estão o sedimento de dragagem, o lodo das estações de esgoto, entulhos, movimento de terras e escavações.

Delijaicov integrou o grupo de professores que desenvolveu o projeto do Hidroanel, em São Paulo. A ideia é criar – com investimento médio de R$ 2 bilhões - uma rede de vias navegáveis formada pelos rios Pinheiros e Tietê e pelas represas Billings, Taiaçupeba e Guarapiranga, que irão integrar mais de 170 quilômetros de hidrovias urbanas. Com pelo menos três canais (um central de navegação e drenagem e outros dois, às margens, com túneis para o esgoto), o Hidroanel teria ainda a facilidade de integrar a população nessas regiões. “Os rios das metrópoles precisam também ser pensados como locais de uso para as pessoas também”, argumenta.

A proposta do projeto paulista é despoluir especialmente os rios, especialmente o Tietê, para criar rotas de transporte de carga e de passageiro em 17 cidades. Ao longo dos rios também serão instaladas “ilhas” de reciclagem de resíduos sólidos. “É como se entrasse a linguiça e saísse o porco”, brinca, sobre a possibilidade de reaproveitar o lixo.

Foto: Divulgação

Projeto do Hidroanel em São Paulo:

integração com moradores

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O estado de São Paulo tem sofrido com a falta de água para consumo ao acumular sucessivos recordes negativos. Mas pelas águas – mesmo que poluídas – surge uma possível solução para aumentar a produti-vidade e a conexão das 14 cidades da Grande São Paulo. O projeto do Hidroanel Metropolitano de São Paulo, do Laboratório de Projeto do Departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo, tem como diferencial a integração entre os sistemas rodoviário, hidroviário e ferroviário.

“Através, por exemplo, de barcos urbanos de carga e dos barcos elétricos será possível transportar 400 toneladas de dejetos a cada 30 minutos pelas hidrovias”, disse o professor Alexandre Delijaicov, que é um dos responsáveis pelo projeto, orçado em R$ 2 bilhões. São Paulo tem cinco hidrovias urbanas com 170 quilômetros de vias navegáveis. O exemplo paulista, segundo Delijaicov, pode também ser empregado em outras cidades do país, inclusive na Bahia. “As hidrovias são importante alter-nativa para a navegação, tanto de pessoas quanto de cargas”, explicou Delijaicov.

Exemplo paulista de integração através de cinco hidrovias

“As hidrovias são importante alternativa para a navegação, tanto de pessoas quanto de cargas”ALEXANDRE DELIJAICOV, coordenador do Hidroanel

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Bahia sustentável

Em três anos, a Bahia caiu cinco posições no ranking de competitividade feito pela consultoria britânica Economist Intelligence Unit, a pedido do Centro de Liderança Pública (CLP). Saiu do 9º lugar, em 2011, para o 13º em 2013-2014. No indicador de Sustentabilidade, o estado ficou ainda mais abaixo, na 17ª posição do ranking.

“O setor industrial brasileiro vive, neste momento, grandes desafios para manter-se competitivo. A sustentabilidade assumiu um papel significativo na agenda de negócios das empresas no mundo todo, e com a Bahia isso não é diferente”, esclareceu a gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Arlinda Coelho.

Para a especialista, o futuro das cidades depende da gestão sustentável. E os empresários precisam, cada vez mais, perceber o diferencial que essa gestão pode trazer para o seu negócio e para o fortalecimento da competitividade do estado. Atentas a esse fator, empresas e instituições sediadas ou com ações na Bahia estão desenvolvendo práticas que servem de modelo para todo o setor.

Os municípios de Aratuípe, Jaguaripe, Valença, Presidente Tancredo Neves, Teolândia, Taperoá, Cairu, Nilo Peçanha, Wenceslau Guimarães, Gandu, Piraí do Norte, Ituberá, Igrapiúna, Camamu e Ibirapitanga integram o Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade do Mosaico de Áreas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia (PDCIS), da Fundação Odebrecht.

“O PDCIS se concentra na criação de tecnologia social capaz de tornar a região do Baixo Sul da Bahia próspera, fixando os jovens no campo, integrados às suas famílias”, contou Eduardo Odebrecht de Queiroz, vice-presidente do conselho de curadores da Fundação Odebrecht.

Eduardo explica que o programa é baseado em quatro capitais: o produtivo, com a geração de trabalho e renda por meio da organização dos agricultores e aquicultores em cooperativas; o humano, a partir dos centros educacionais que contribuem para a formação de novos empresários rurais; o social, com iniciativas que valorizam a cidadania e a cultura; e o ambiental, com ações que focam na recuperação e conservação dos recursos naturais.

“Contribuímos com iniciativas que estejam voltadas a soluções fomentadoras do desenvolvimento social na Bahia e em qualquer lugar do país”, disse o vice-presidente.

Com isso, o Baixo Sul do estado, só em 2013, alcançou com o programa um número de 23 mil pessoas beneficiadas diretamente e 85 mil

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indiretamente, em 805 comunidades envolvidas. A fundação e as 60 instituições e empresas que permitem a realização do projeto investiram mais de R$ 50 milhões, o que garantiu a presença de mais de mil famílias integrando as cooperativas e quase 500 jovens formados pelos centros educacionais.

“As médias e grandes empresas têm um papel muito importante de influenciar o engajamento de toda a cadeia de valor”, afirmou Arlinda Coelho. Mas tamanho não é documento e as micro e pequenas empresas também podem criar iniciativas que, mesmo em pequena escala, contribuem de maneira relevante para o desenvolvimento sustentável do estado.

Foto: Divulgação

Projeto no Baixo Sul, da Fundação Odebrecht, investe em ações, como a piscicultura, para desenvolver a região e manter o jovem no campo

Foto 1: Divulgação

Foto 2: Almiro Lopes

Casa construída com tijolo ecológico, em Nova Viçosa,

permitiu baratear custo e realizar o empreendimento. À direita, bolsas e

pulseiras ecológicas feitas de PET

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É o caso da Salve Terra, uma grife de roupas e acessórios feitos de material reciclável que, além de contribuir com o meio ambiente, também promove oficinas de capacitação em comunidades de Salvador. “A Salve Terra surgiu com a ideia de transformar esses conceitos sustentáveis em moda”, explica o proprietário da loja, Guilherme Menezes dos Santos.

A partir de material como garrafas pet, papelão, papel jornal, lonas de banners e pneus, a empresa cria, não só os produtos, como também as embalagens, promovendo uma cadeia produtiva com o mínimo de impacto possível.

“Com a garrafa pet consigo um reaproveitamento total. Com a boca faço flores, com a parte do meio crio pulseiras e com o fundo, as embalagens para as camisas, que são também de malha pet. As bolsas são de lona, e os pufs de pneus. O papel jornal vira flores e embalagens pequenas para as pulseiras de pet. A gente usa tudo”, garantiu Guilherme.

No âmbito social, a loja mantém ação de capacitação com oficinas de reciclagem em comunidades da cidade. “Ensinamos, por exemplo, a fazer sabão em barra com óleo de cozinha que seria jogado fora. Fizemos com a Associação de Mulheres do Cabula, e elas estão produzindo o sabão e ganhando dinheiro com isso”, revelou. Para Guilherme, os consumidores estão mais conscientes e atentos a esse diferencial de mercado.

Foto: Divulgação

Estudantes da Casa Familiar Rural de Igrapiúna: capacitação

Foto: Reprodução

Arquitetura sustentável do Hospital Sarah

Kubitschek, em Salvador, contribui

para tratamento médico

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Um empreendimento que respeitou o meio ambiente em todo o processo de construção e ainda movimentou a economia da comunidade local. A construtora Brasil Sol precisou criar até uma pequena fábrica de tijolos ecológicos para construir a Ecovila Caminho de Abrolhos, em Nova Viçosa.

“A área é bem preservada e não fazia sentido nada além de uma ecovila. Tivemos algumas dificuldades, que é comum ainda quando o assunto é sustentabilidade, mas quando o empreendimento se torna uma causa, a gente não consegue mais voltar atrás”, contou Stelio Cristóvão, presiden-te da construtora.

Os obstáculos se tornaram oportunidades para ampliar a área de atuação do projeto. Quando a compra de tijolos ecológicos se tornou inviável, a empresa optou por criar uma fábrica do produto em Nova Viçosa. A inicia-tiva garantiu a manufatura e ainda gerou empregos para os moradores .

“No nosso plano, os tijolos eram muito importantes, mas transportá-los geraria tanta emissão de carbono que eles perderiam a finalidade. Além do mais, os tijolos comprados gerariam um custo muito maior, que acabaria sendo repassado para o consumidor”, revelou a gerente de comunicação da Brasil Sol, Mariliamelia Biondi.

Arlinda Coelho ressalta que para ser sustentável é preciso pensar em vários âmbitos, sem perder de vista a viabilidade econômica. “É necessário priorizar governança organizacional, meio ambiente, questões relativas ao consumidor, à comunidade no entorno, entre outros aspectos, sem perder de vista o pilar econômico”, argumentou.

Ecovila ganha até fábrica de tijolo ecológico

Outro exemplo de construção sustentável é o Hospital Sarah Kubitschek, localizado no bairro do Stiep, na capital baiana. O edifício, construído pelo arquiteto João Filgueiras Lima (1932-2014), o Lelé, mostra como um conceito arquitetônico voltado para a sustentabilidade pode contribuir até para tratamentos médicos e terapêuticos.

Além de privilegiar a acessibilidade, há uma integração entre as áreas externa e interna e uma valorização do espaço verde. O prédio também prioriza a luz natural e a flexibilidade dos ambientes, e seus elementos estruturais foram pensados para a diminuição do custo da obra.

Para a gerente de Meio Ambiente da Fieb, Arlinda Coelho, esses esforços refletem diretamente na qualidade de vida das pessoas e no desenvolvi-mento do estado.

Integração e valorização das áreas verdes

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*Resultados das novas gestões

23 mil pessoas foram beneficiadas diretamente, e 85 mil indiretamente, pelos projetos do programa da Fundação Odebrecht, só em 2013

9 mil garrafas pet são reaproveitadas pela Salve Terra para a produção de camisas e embalagens

500 jovens foram formados pelos centros educacionais e de capacitação do programa desenvolvido no Baixo Sul da Bahia

300 litros de óleo são reapro-veitados para a produção de sabão em barra nas oficinas de capacitação promovidas pela Salve Terra

Sustentabilidade

Desenvolvimentosustentável* Saneamento Básico

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Propostas apresentadas no seminário

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Executar medidas propostas no Plano Nacional de Saneamento Básico, que prevê a universalização desse serviço no Brasil até 2033

Além de criar metas, a nova lei federal mudou também o conceito do que é saneamento básico. Em vez de só contemplar os serviços de abastecimento de água potável e esgotamento sanitário, passa a incluir a limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e a drenagem e manejo das águas pluviais urbanas

Saneamento Básico é um dos principais indicadores para medir a qualidade de vida de uma população. Não existem cidades sustentáveis sem a universalização desse serviço, apontam especialistas

A universalização do saneamento básico impacta na saúde da população, no desenvolvimento das crianças, na educação do país, na produtividade do trabalhador e até na economia das cidades

A cada 1 dólar investido em serviços de água e saneamento poderia se obter um retorno de US$ 4,3 com a redução dos custos de saúde, aumento da produtividade no trabalho e criação de novos empregos

Levantamento da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) revela que, para resolver o déficit de saneamento básico no Brasil, deveriam ser investidos R$ 274,8 bilhões até 2033. A entidade faz um alerta: com os recursos atuais, a universalização só aconteceria em 50 anos

De acordo com estudo do Instituto Trata Brasil, seriam necessários R$ 18 bilhões para que todas as residências sejam conectadas a redes de tratamento de esgoto na Bahia. Os benefícios seriam maiores: a universalização poderia gerar R$ 20 bilhões para a economia baiana

Integração dos três níveis de governo para criar mecanismos de incentivo ao planejamento sanitário dos municípios, com a real formulação dos planos de saneamento, considerando não somente a cidade, mas toda a bacia hidrográfica. Na Bahia, apenas uma cidade, Camacã, tem plano já aprovado e em fase execução

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As crianças são as mais atingidas com a falta de saneamento. O contato direto com esgoto, segundo especialistas, pode afetar o desenvolvimento cerebral, caso haja seguidas diarreias até os 5 anos de idade

Consórcios entre municípios de pequeno porte para elaboração de plano conjunto de saneamento básico

Revitalização das empresas de águas e esgotos, com obrigatoriedade de metas para redução de perdas de água e energia e obtenção de resultados positivos. O índice de perdas de água – por ligação de água irregular, falta de medição, desperdício e falta de hidrômetro - no Nordeste chega a 44,6%, maior do que no Brasil (36,9%)

Desburocratizar o acesso aos recursos financeiros para dar celeridade às obras de saneamento, simplificar procedimentos e operações, aperfeiçoar mecanismos de regulação do setor e dar agilidade às licenças ambientais. Liberação dos recursos pode demorar dois anos

Finalizar obras de saneamento básico na Bahia. Apenas 14% das 638 obras previstas para o estado tinham sido concluídas

Reduzir a tributação de PIS e Cofins para obras de saneamento básico

Conscientização da população para a necessidade de integração na rede de esgotamento sanitário

Monitoramento e avaliação sistemática, por parte da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, da evolução dos planos de saneamentos dos municípios. E divulgação de relatório anual sobre o atual cenário brasileiro

Cidades com rede completa de saneamento básico atraem mais investimentos

Obras de saneamento geram empregos. A previsão é de que seriam criados 500 mil novos postos de trabalho. Estudo revela que o setor gerou 726,6 mil empregos diretos e indiretos e receitas totais, em água e esgoto, de R$ 83,2 bilhões

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Inovação e tecnologia para reaproveitamento do esgoto, seja no reúso de água e na geração de biogás para geração de energia e de biocombustíveis, na busca por projetos de eficiência hídrica e energética

Integração entre academia e setor privado para estimular pesquisas de eficiência hídrica e energética

Tornar estações de tratamento de esgoto (ETEs) 100% eficientes energeticamente através da geração do biogás. A energia é o segundo maior custo operacional de uma ETE

Criar incentivos, como isenção de impostos e valorização de leilões de reservas de biogás, para estimular o reaproveitamento de esgoto

Incentivar projetos que utilizem urina como matéria-prima, através da extração de elementos como fósforo, para confecção de fertilizantes usados na agricultura. Na Holanda, programa de coleta somente nos parques, daria para fertilizar, anualmente, um espaço equivalente a 10 mil campos de futebol

Na Bahia, segundo a Limpurb, somente no Carnaval da capital baiana daria para gerar 120 milhões de litros de fertilizantes

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Tiro no futuro

Em meio ao esgoto que corre a céu aberto na porta de casa, crianças brincam de esconde-esconde e montam até o baba. Mas a diversão de todo dia pode custar muito caro, já que o cenário da brincadeira é, na verdade, nocivo à saúde. “A falta de saneamento básico é um tiro no futuro. Só no ano de 2011, no Brasil, foram registradas 400 mil internações por diarreia. Desse total, 53% foram em crianças de 0 a 5 anos. Essa é a face mais cruel da falta de saneamento”, explicou Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, durante o segundo seminário da 5ª edição do Fórum Agenda Bahia.

De acordo com o professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) José Eli da Veiga, o contato direto de crianças de até 5 anos com esgoto pode afetar o desenvolvimento cerebral.

“Uma criança de menos de 5 anos que tenha seguidas diarreias por causa do seu contato com o esgoto danifica o desenvolvimento do cérebro. Até 5 anos, toda energia que o ser humano assimila é para o desenvolvimento do cérebro. Para combater essa diarreia, a energia vai para a doença em vez de desenvolver a cognição”, adianta.

Segundo ele, é muito comum as pessoas comentarem sobre a relação de doenças com a falta de saneamento, mas o que muita gente desconhece é que, muitas vezes, essas doenças podem não ter cura. “Quando a gente pensa que metade da população não tem esgoto, lembra que as famílias vão continuar a ver suas crianças crescerem brincando no esgoto. Enquanto os bebês estão no berço, eles são relativamente protegidos. Mas, quando começa a engatinhar, vai conviver no esgoto e vai ter diarreia. Isso é a pior injustiça na sociedade brasileira”, destaca. Para Édison, há uma dificuldade de estimar numericamente os efeitos dessa exposição aos agentes nocivos dos esgotos, a falta de água tratada de forma abundante e também à coleta de lixo deficiente.

“A deficiência de investimento nas políticas de água e esgoto do país gera prejuízos cognitivos. Uma criança submetida a uma diarreia constante durante a infância chega a ter 18% de defasagem no aprendizado, segundo estimativas de algumas pesquisas. Mas, em alguns casos, os danos são irreversíveis”, revela. Além de problemas de saúde na infância, elas também geram consequências no mercado de trabalho, onde essas pessoas só conseguem subempregos em função de problemas cognitivos na infância”, ressalta Édison.

Levantamento do Instituto Trata Brasil indica que as crianças não estão sozinhas nos prejuízos da falta de saneamento básico. “No Brasil, 102 milhões de brasileiros não têm coleta de esgoto, sendo que apenas 38%

*Infância ameaçada

53% das 400 mil internações no Brasil em 2011 são de crianças entre 0 a 5 anos

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de todo esgoto gerado no país é tratado. Além disso, 35 milhões dos brasileiros (17%) não têm acesso a agua tratada”, informa Édison.

Segundo o professor da USP, apesar de o saneamento ser um direito humano básico, infelizmente, não convence os políticos. “Não dão prioridade para a questão do esgoto, que é um direito humano fundamental. Entra por um ouvido e sai pelo outro. Talvez, se tivessem ideia das consequências cognitivas, isso podia mudar. Não consigo classificar que miserável é quem está abaixo de um faixa de renda. Se uma pessoa não tem esgoto, ela é miserável, do meu ponto de vista. Esse é o tamanho da encrenca do Brasil. Isso é trágico, ter metade da população sem esgoto”, opina José Eli.

Um dos problemas é a falta de informação. As pessoas não sabem a ligação entre a falta de saneamento e os problemas de saúde. De acordo com Eli, as pessoas têm consciência de que precisam reivindicar mais saúde, posto, hospital, mas depois voltam para casa e o esgoto continua passando na porta da casa dela.

“A população não está consciente da relação entre as duas coisas. Os técnicos estão preocupados com números. Mas, quando pensamos nas crianças que ficam com desenvolvimento afetado, não dá para colocar valor. Ter a capacidade cerebral reduzida é imensurável”, pontua.

A universalização do acesso à coleta de esgoto e à água tratada, de acordo com a pesquisa, reduziria em 6,8% o atraso escolar, o que possibilitaria o aumento da escolaridade média do brasileiro nos próximos anos, com efeito sobre a produtividade no trabalho e na renda. Édison Carlos pondera que a conscientização é, com o maior investimento em políticas públicas, uma das principais ferramentas para melhorar a qualidade de vida em áreas com saneamento parcial.

Foto: Evandro Veiga

José Eli durante a palestra no auditório da Fieb: alternativas

sustentáveis para saneamento

“Uma criança submetida a uma diarreia constante durante a infância chega a ter 18% de defasagem no aprendizado”

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O Instituto Trata Brasil reúne grandes empresas privadas brasileiras para monitorar políticas públicas de saneamento básico no país. Razões para essa preocupação não faltam. Em plena segunda década do século XXI, 17,3% da população não tem acesso a água potável. Uma parcela de 51,7% dos brasileiros não acessa redes de esgotos e só 38,7% do esgoto gerado recebe algum tipo de tratamento. E a Política Nacional do Saneamento Básico, que estipula novas regras, com prazos que vencem ano que vem, prevê apenas para 2033 a universalização desses serviços.

Para o presidente do instituto, Édison Carlos, chegamos a este “déficit gigante” pela ausência de investimentos e porque as poucas inversões feitas focaram mais a questão do acesso à água que a construção e tratamento de redes de esgoto. Segundo ele, a situação só vai mudar se a sociedade se moblizar, junto com ONGs e todas as esferas de governo, para transformar, de fato, a questão do saneamento em prioridade nacional. E por que deveria ser se no Brasil há tantas necessidades básicas não resolvidas? Porque, alerta Édison, a deficiência nos serviços de água e esgotos impactam na saúde, na educação, no turismo e na produtividade do trabalhador (ausência do trabalho).

O Agenda Bahia 2014 debateu os desafios e as soluções para essa área, inclusive projetos inovadores que transformam esgoto em água e bioenergia. Confira trechos da entrevista do presidente do Trata Brasil ao CORREIO, feita por e-mail.

Déficit giganteEntrevista com Édison Carlos

Foto: Divulgação

Édison Carlos: 'Não podemos falar de cidades sustentáveis se não tiverem resolvido o saneamento básico'

“Nada é tão básico nem tão importante para melhorar a qualidade de vida quanto ter acesso a uma boa água para beber, ter seus esgotos coletados e tratados”

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Déficit giganteEntrevista com Édison Carlos

Qual a relevância do saneamento básico para o desenvolvimento de cidades sustentáveis? Na visão atual do governo federal, saneamento básico compreende quatro serviços: água potável, coleta e tratamento dos esgotos, lixo urbano (coleta até a disposição final) e drenagem das águas de chuva. No Trata Brasil, temos foco na água e nos esgotos e no impacto que a falta desses serviços traz às pessoas (problemas de saúde, na educação, no turismo, nas faltas ao trabalho, etc). Não podemos falar em cidades sustentáveis se elas não tiverem resolvido a mais básica das infraestruturas, que é saneamento. Nada é tão básico nem tão importante para melhorar a qualidade de vida das pessoas quanto ter acesso a uma água boa para beber, ter seus esgotos coletados e tratados.

Qual o diagnóstico atual do saneamento básico no país, no Nordeste e na Bahia? Segundo os indicadores de atendimento em saneamento, dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), em números de 2012 (os mais atuais): 82,7% da população tem acesso a água potável (0,3 pontos percentuais de aumento em relação a 2011); 48,3% da população com acesso à coleta de esgotos (0,2 pp de aumento), 38,7% do esgoto é tratado (aumento de 1,2 pp). No Nordeste: 72,4% da população total tem acesso a água; 22,2% acesso a coleta de esgoto e 31% do esgoto gerado é tratado. Da Bahia, temos apenas os números de 2011: 78,6% da população total tem acesso a rede de água (94,7% da população urbana); 29,5% da população do estado acessa a rede de esgoto (39,6% da população urbana): desse total, 89,1% do esgoto é coletado e apenas 42,9% é tratado.

Foto: Divulgação

Na Bahia, apenas 30% da população acessa a rede

de esgoto no estado, bem abaixo dos 48,3% do

índice nacional

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É possível indicar as razões que nos levaram a este ponto? O Brasil passou quase duas décadas sem investimentos em saneamento, a não ser o feito pelas grandes empresas (Sabesp, Copasa, Embasa, etc.) e que foram muito mais focados em água do que em esgotos. Como consequência, as cidades cresceram sem um planejamento sanitário, criando um déficit gigante, principalmente em esgotos. Podemos dizer que os investimentos somente voltaram após a Lei 11.445 (Lei do Saneamento) promulgada em 2007 e depois com o PAC e mais com a entrada mais sólida de empresas privadas no setor.

Com base neste diagnóstico, quais as soluções que o Instituto Trata Brasil aponta a curto, médio e longo prazos? Saneamento tem que ser prioridade, principalmente dos prefeitos e dos governadores; ao mesmo tempo, precisamos mostrar ao cidadão a importância, de forma a que ele se mobilize por soluções. Precisamos que os três níveis de governo criem mecanismos de incentivo ao planejamento sanitário dos municípios, com a real formulação dos planos de saneamento, considerando não somente a cidade, mas toda a bacia hidrográfica. Precisamos propor formas de revitalização das empresas de águas e esgotos, mas com obrigatoriedade de metas para redução de perdas de água e energia e obtenção de resultados positivos. Desburocratizar o acesso aos recursos financeiros para dar celeridade às obras de saneamento, simplificar procedimentos e operações, aperfeiçoar mecanismos de regulação do setor e dar agilidade às licenças ambientais.

Foto: Antonio Saturnino/Arquivo Correio

Cidades cresceram sem planejamento sanitário, diz

Édison Carlos, e o esgoto acaba in natura nos rios e praias

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Todos os investimentos dependem de fontes de recursos e financiamentos. Obras de saneamento custam caro e são consideradas de baixo retorno eleitoral porque, primeiro, ninguém vê quando prontas e, segundo, porque durante a execução geram muitos transtornos. Com tantas prioridades (educação, equilíbrio das contas, etc), como sensibilizar governos a investirem nessa área? Como dito na resposta anterior, precisamos mostrar ao cidadão a importância de termos saneamento, de forma a que ele se envolva na discussão. Os governantes precisam sentir a vontade do eleitor em ter acesso aos serviços, e isso se formalizar nas eleições. Precisamos que as ONGs se juntem nessa pauta, assim como já existem movimentos em prol da preservação da água na natureza, e convencer formadores de opinião para o tema. O Trata Brasil tem tentado manter o assunto em destaque para que as autoridades entendam sua importância.

Do outro lado da questão, como sensibilizar a sociedade - que é quem elege e, portanto, deveria ser quem ordena as prioridades - a pressionar os governos para esse tema? Mostrando a relação estreita entre saneamento e saúde, saneamento e educação, e assim por diante. Pesquisas do Instituto Trata Brasil mostram que o brasileiro sempre pede melhores condições de saúde, mas sempre pensando em mais hospitais e postos de saúde. Dificilmente pensamos na relação entre os esgotos e rios poluídos com as doenças que nos afetam. Precisamos aproximar os discursos do cidadão.

Devido a investimentos vultosos e a incapacidade dos poderes públicos, seria recomendável privatizações ou concessões a grupos privados? Na avaliação do Instituto Trata Brasil, qual o melhor modelo para executar obras e gerir sistemas de saneamento básico no Brasil? O Ranking do Saneamento nas cem maiores cidades do país, publicado todos os anos pelo Trata Brasil, mostra que entre os 20 melhores municípios temos cidades operadas por empresas municipais, estaduais e privadas. Entre as piores também temos os três tipos. Significa que a solução não está somente na concessão ao privado, mas na promoção da melhor gestão e eficiência no saneamento. Não importa o modelo adotado pela cidade, desde que a empresa seja eficiente, que cumpra metas, que reduza perdas de água, que atue com tarifa adequada à população, etc. Por isso, é fundamental que haja uma Agência Reguladora monitorando e fiscalizando os serviços. Certamente, o setor privado traz ao saneamento boas práticas de gestão que podem ajudar as empresas públicas. Então, somente a junção do público com o privado poderá trazer velocidade a um serviço tão atrasado.

Qual a avaliação do Instituto Trata Brasil sobre a Política Nacional do Saneamento Básico? Que avanços e/ou recuos ela traz? O que fazer para que não vire mais uma daquelas leis muitos bonitas no papel, mas que não são aplicadas na prática? O Plansab é muito importante, pois mostra o tamanho do desafio e os

“Os governantes precisam sentir a vontade do eleitor em ter acesso aos serviços, e isso se formalizar nas eleições. Precisamos que as ONGs se juntem nessa pauta”

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cenários do país. No entanto, o Plansab somente ajudará a resolver o problema se for executado nas cidades. Saneamento acontece cidade a cidade, então não será o Plansab que resolverá os problemas, mas sim o empenho dos prefeitos, governadores e empresas operadoras.

Quais são as datas, eventos e pontos-chave dessa política que devem despertar a atenção/fiscalização/cobrança da sociedade? Qual o papel de cada esfera de governo nessa política? O Plansab trabalha com 20 anos para a universalização, portanto em 2033. Prevê R$ 508 bilhões para os quatro serviços. Recomendo que todos os interessado busquem maiores informações com o próprio Ministério das Cidades porque, ao nosso entender, não há alterações no papel de cada ente governamental, ou seja, governo federal estabelendo as macropolíticas e garantindo recursos, governos estaduais com suas grandes empresas e elaborando as políticas de recursos hídricos, e as prefeituras atuando na concessão ou na operação com suas empresas municipais. O Plansab prevê também a participação privada e a promoção das parcerias público-público e público-privadas.

“Brasileiro pede mais hospitais, postos de saúde. Mas, dificilmente, pensamos na relação entre os esgotos e rios poluídos com as doenças que nos afetam”

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Saneamento integrado

Saneamento básico não é só ter coleta de esgoto. É preciso ter integração com o tratamento de esgoto, oferta de água potável e coleta de lixo. Essa é a opinião de Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil.

“É importante fazer o ciclo completo: água potável, coleta, drenagem e saneamento. Hoje, no Brasil, temos em torno de 6 milhões de brasileiros sem acesso a um sanitário. Tem criança neste país que não sabe nem o que é vaso sanitário. Muitos desses casos estão em zonais rurais e no semiárido”, explica.

Dados da Organização Mundial da Saúde, divulgados em novembro de 2014, indicam que cerca de 750 milhões de pessoas não têm acesso a água potável de forma sustentada no mundo e 1,8 bilhão usam fontes contaminadas com sedimentos. O estudo apontou ainda que 2,5 bilhões de pessoas não têm acesso a saneamento adequado e que um bilhão não tem acesso a sanitário, nove em cada dez em áreas rurais. O levantamento da OMS aponta ainda que o Brasil é o país que mais investe em saneamento básico e acesso a água potável entre nações que ainda estão em desenvolvimento - um total de US$ 11,7 bilhões.

Foto: Evandro Veiga

Édison destaca que as crianças são as

principais vítimas da falta de saneamento

- Aumento da oferta de esgotamento sanitário

-Expansão da rede de tratamento de esgoto

- Coleta de lixo ampliada em todas as áreas da cidade

- Adequação das po-líticas de saneamento básico das cidades para que haja mais oferta de redes de esgoto

- Conscientização da população da necessi-dade de integração na rede de esgotamento sanitário

Solução

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“O saneamento ficou esquecido por décadas no Brasil. A prioridade foi sendo levar água potável para as pessoas, em uma política desde antes dos anos 70, que, bem ou mal, veio vindo até os dias atuais onde a água potável foi o indicador que mais avançou, mas ainda de forma insuficiente”.

O especialista alertou que o descarte inadequado do esgoto já ameaça os oceanos. “O esgoto foi esquecido e essa tragédia que é o sistema de saneamento no país se formou. Acabamos transformando os rios urbanos em diluidores de esgoto. E mais recentemente os oceanos – mesmo com a capacidade de depuração da carga orgânica – acabaram dando sinais da dificuldade em assimilar essa carga”.

Levantamentos realizados pelo Trata Brasil mostram que o Brasil perde 40% de sua agua potável e a cobertura de esgoto só chega a 51% da população brasileira. Do esgoto gerado, somente 38% é tratado. “ Muitas vezes, obras são feitas sem considerar o saneamento sanitário. Há áreas onde as empresas não podem entrar para fazer as obras por razões sanitárias e até mesmo de legislação de ocupação do uso do solo das cidades”, diz.

“O esgoto foi esquecido, os rios urbanos viraram depósito e os oceanos acabaram dando sinais de dificuldade em assimilar essa carga”ÉDISON CARLOS, presidente do Trata Brasil

Foto: Trata Brasil/Divulgação

Édison Carlos apresentou uma obra

de urbanização, em São Paulo, que não integrou

o saneamento

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A falta de infraestrutura de saneamento afeta principalmente as crianças. “400 mil internações por diarreia foram registradas no Brasil em 2011. Dessas, 53% foram em crianças de 0 a 5 anos. Essa é a face mais cruel da falta de saneamento. Uma criança submetida a uma diarreia constante durante a infância pode ser irreversível. A falta de saneamento é um tiro no futuro”.

A deficiência de abastecimento de água está relacionada diretamente com a ocorrência de doenças oriundas de esgoto. A falta de água abundante para hidratação e higiene colabora diretamente com o aumento do problema. “Em 2011, a Agência Nacional das Águas (ANA) apontava que 55% dos municípios do Brasil poderiam sofrer com a falta de abastecimento de água nos próximos quatro anos, quadro esse que se apresenta forte no país no Sudeste, Norte e Nordeste”, lembra Édison.

Apesar da escassez, o índice de perdas de água – por ligação de água irregular, falta de medição, desperdício e falta de hidrômetro - no Brasil é alto. “A média é de 36, 9% no Brasil e, no Nordeste, esse índice chega a 44.6%”.

*Desafios

102 millhões de brasileiros não têm coleta de esgoto. Além disso, somente 38% de todo esgoto gerado no país é tratado

84% das cidades brasileiras necessitam de investimentos para adequação de seus sistemas produtores de água até o ano de 2025

3ªposição Essa é a marca da Bahia no número de investimento em saneamento no Brasil. Fica só atrás de São Paulo e Minas Gerais

R$ 70 bilhões Esse é o valor estimado para melhorias, ampliação e proteção dos sistemas de água no Brasil

R$ 20 bilhões são necessários para universalização do sistema de esgoto sanitário na Bahia, segundo o Trata Brasil

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Para que todos os moradores da Bahia tenham suas casas conectadas a redes de tratamento de esgoto seria necessário um investimento de R$ 18 bilhões. Essa é a estimativa do presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. Apesar da alta soma, ele indica que os benefícios provoca-dos pela oferta maior de saneamento geraria uma economia para o estado bem maior: de R$ 20 bilhões.

“Esse seria o valor necessário para investimento até 2025 para a univer-salização da oferta no estado. Com isso, só no número de internações por diarreia haveria uma economia de R$ 2,9 milhões por ano com a redução de 9 mil atendimentos desse tipo”, argumentou.

Para Édison, apenas em dias de afastamento do trabalho o ganho seria de R$ 8,3 milhões em um ano. “Quando o trabalhador tem mais saúde ele é mais produtivo. Até no turismo, a universalização do saneamento tem impacto. Só na Bahia seriam criados mais 38 mil postos nesse setor”, opina Édison. Ele destaca que, apesar de ainda ser insuficiente, a Bahia tem tido grande volume de investimento no setor. “Entre os anos de 2010 e 2012, a Bahia só ficou atrás de São Paulo e de Minas Gerais no volume de investimentos em saneamento básico”.

Pesquisas do Instituto Trata Brasil indicam que a falta de saneamento atinge todas as regiões do Brasil. Em 2011, em todo o país, 54 mil pessoas foram internadas nas 100 maiores cidades brasileiras só com diarreia.

“Nós temos problemas de saneamento seríssimo em área rica e também em pobre. É uma lenda achar que saneamento é problema só de pobre e de estados do Norte do Brasil. Mesmo em São Paulo e no Rio de Janeiro, temos problemas de saneamento. Hoje, em todo o país, há 6 milhões de pessoas que não têm banheiros”.

“As doenças relacionadas à falta de saneamento atingem todas as camadas da população. A ideia de que elas chegam só para as comunidades mais pobres é uma lenda, pois as pessoas - e consequentemente os vírus e bactérias também - circulam por toda a cidade”, explica o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.

R$ 18 bilhões para a Bahia universalizar o saneamento

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O esgoto onde corre a saúde

Diarreia, hepatite A, leptospirose, doenças de pele... A lista de enfermidades é extensa e só tende a crescer em localidades onde há deficiência na cobertura de saneamento básico. Mas, se toda população brasileira tivesse acesso à coleta de esgoto, a contagem seria outra, pois haveria uma redução, em média, de 74,6 mil internações nas unidades de saúde provocadas por essas doenças. Pelo menos 56% dessa redução ocorreria no Nordeste, de acordo com levantamento realizado pelo Instituto Trata Brasil.

Para minimizar esse problema, a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que a cada R$ 1 investido na área de saneamento outros R$ 4 deixam de ser necessários para uso na área de saúde no tratamento de doenças relacionadas à exposição ao esgoto. Mas o Brasil ainda está longe de alcançar esse investimento ideal para o setor.

“A meta da universalização das redes de esgoto no Brasil até 2033 está longe de ser alcançada. Seriam necessários R$ 16 bilhões por ano. Mas, hoje, são R$ 9 bilhões investidos. Regiões como Norte e Nordeste têm altos índices de internação em função da contaminação das águas por esgoto. Além disso, em muitas cidades, os recursos não são geridos com celeridade, o que só aumenta a dificuldade de saneamento”, explica Édison Carlos.

O reflexo dessa contaminação está nas unidades de saúde espalhadas pelo Brasil. Em 2011, 396.048 pessoas foram internadas por diarreia. Desse total, dados do Ministério da Saúde, 138.447 foram crianças menores de 5 anos (35% do total). Já nas 100 maiores cidades, 54.339 pessoas foram internadas (14% do total) e 28.594 delas foram crianças entre 0 e 5 anos de idade.

Coordenadora de agravos da Secretaria Estadual da Saúde da Bahia (Sesab), Izabel Xavier explica que a Bahia, especialmente nos últimos anos, conseguiu avançar no controle desse tipo de doença. “Grandes obras de saneamento, como o projeto Bahia Azul, e o aumento das campanhas de vacinação para o rotavírus, por exemplo, serviram para reduzir a ocorrência das doenças de veiculação hídrica”, diz.

“A seca colabora com os casos de diarreia, pois com a menor oferta de água as pessoas tendem a ter uma hidratação prejudicada e também há dificuldades na higienização”, explica.

A professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/Ufba) Maria da Glória Lima Cruz Teixeira destaca que à medida que o saneamento aumenta há uma redução na ocorrência de doenças. “Quando o saneamento melhora, há uma redução de 26% das diarreias infantis agudas nas áreas onde o saneamento é precário”, diz.

*Defasagem

R$ 18 bilhões

R$ 9 bilhões

seriam necessários por ano até 2033 para universalizar o sanea-mento básico no Brasil

são investidos por ano, atualmente, o que segundo especialistas não serão suficientes para atingir a meta do governo

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Maria da Glória, que atua em estudos na área de Epidemiologia e Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmissíveis, destaca que os investimentos públicos ainda são insuficientes. “É preciso investir mais e pensar não apenas como saneamento básico. Temos que pensar como o aumento no saneamento do ambiente, onde há um aumento da coleta de lixo e do saneamento do esgoto e também da oferta de água, que precisa ser corrente e tratada”, destaca.

As crianças e os idosos são as camadas da população mais vulneráveis para contaminação ou infecção por doenças relacionadas à falta de saneamento. “A letalidade é maior nesses dois grupos, pois eles têm uma imunidade reduzida, mas é fundamental que os menos idosos e

Em 45% dos 100 municípios analisados, mais de 50% das internações foram crianças de 0 a 5 anos. As 10 cidades com maiores taxas (internação de crianças x número de internações por diarreia) foram:

77,1 74,1 73,5 73,3 72,7 72,4 71,1 68,1 66,8 66,7

Duque de Caxias

Juazeiro

do Norte

Macapá

Belém

Porto Velho

Manaus

Nova Iguaçu

São João de M

eriti

Uberaba

Em %

Ananindeua (PA)1

Belford Roxo (RJ)2 Campina Grande (PB)7

Anápolis (GO)3 Santarém (PA)8

Belém (PA)4 João Pessoa (PB)9

Várzea Grande (MT)5 Maceió (AL)10Significa também que 5% das internações do país se concentraram em apenas 10 cidades

54.339Das pessoas internadas por diarreianas 100 cidades em 2011, cerca de 20 mil (37%) ocorreram em 10 municípios com as piores taxas de internação por diarreia

O IMPACTO DA FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO NA SAÚDE E NA ECONOMIA DAS CIDADES

internações por infecções gastrointestinais no país

O Norte e o Nordeste aparecem como as áreas com as taxas mais elevadas de internações por diarreias – 7 das 10 cidades com pior desempenho foram dessas regiões

Em Salvador, os principais bairros com ocorrência de doenças relacionadas a falta de esgoto estão no Subúrbio Ferroviário, Pau da Lima, Cabula, Beiru/Tancredo Neves e Nordeste de Amaralina

340 mil

74,6 mil

Em 2013, segundo o Ministério da Saúde (Datasus), foram notificadas mais de

internações; 56% dessa redução ocorreria no Nordeste

Se 100% da população tivesse acesso à coleta de esgoto haveria uma redução, em termos absolutos, de

2.135

(15,5%)

morreram no hospital por causa das infecções gastroin-testinais. Se todos tivessem saneamento básico haveria redução de 329 mortes

Em 2013,

396.048pessoas foram internadas por diarreia no Brasil

Em 2011,

138.447eram crianças menores de 5 anos

Dessas,

54.339Nas 100 maiores cidades do país,

pessoas foram internadas por diarreias

28.594 delas foramcrianças entre 0 e 5 anos de idade (53% do total)

por paciente na média nacional

O custo de uma internação por infecção gastrointestinal no Sistema Único de Saúde (SUS) foi de

R$ 355,71 As despesas com horas pagas e não trabalhadas pelos trabalhadores doentes por ano chegou a

trabalhadores precisaram se afastar por problemas gastrointestinais ligados à falta de saneamento.

R$ 238 milhões

217 mil

Fonte: Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento Brasileiro - Instituto Trata Brasil / CEBDS, 2014, SMS e Sesab

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde da Bahia, as principais doenças que surgem em função da deficiência de esgotamento sanitário são:

DIARREIA HEPATITE A DERMATITEESQUISTOSSOMOSE LEPTOSPIROSE

te

Macapá

B

Feira de Santana

( )7

Vitória da Conquista (BA)6

131

Em 45% dos 100 municípios analisados, mais de 50% das internações foram crianças de 0 a 5 anos. As 10 cidades com maiores taxas (internação de crianças x número de internações por diarreia) foram:

77,1 74,1 73,5 73,3 72,7 72,4 71,1 68,1 66,8 66,7

Duque de Caxias

Juazeiro

do Norte

Macapá

Belém

Porto Velho

Manaus

Nova Iguaçu

São João de M

eriti

Uberaba

Em %

Ananindeua (PA)1

Belford Roxo (RJ)2 Campina Grande (PB)7

Anápolis (GO)3 Santarém (PA)8

Belém (PA)4 João Pessoa (PB)9

Várzea Grande (MT)5 Maceió (AL)10Significa também que 5% das internações do país se concentraram em apenas 10 cidades

54.339Das pessoas internadas por diarreianas 100 cidades em 2011, cerca de 20 mil (37%) ocorreram em 10 municípios com as piores taxas de internação por diarreia

O IMPACTO DA FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO NA SAÚDE E NA ECONOMIA DAS CIDADES

internações por infecções gastrointestinais no país

O Norte e o Nordeste aparecem como as áreas com as taxas mais elevadas de internações por diarreias – 7 das 10 cidades com pior desempenho foram dessas regiões

Em Salvador, os principais bairros com ocorrência de doenças relacionadas a falta de esgoto estão no Subúrbio Ferroviário, Pau da Lima, Cabula, Beiru/Tancredo Neves e Nordeste de Amaralina

340 mil

74,6 mil

Em 2013, segundo o Ministério da Saúde (Datasus), foram notificadas mais de

internações; 56% dessa redução ocorreria no Nordeste

Se 100% da população tivesse acesso à coleta de esgoto haveria uma redução, em termos absolutos, de

2.135

(15,5%)

morreram no hospital por causa das infecções gastroin-testinais. Se todos tivessem saneamento básico haveria redução de 329 mortes

Em 2013,

396.048pessoas foram internadas por diarreia no Brasil

Em 2011,

138.447eram crianças menores de 5 anos

Dessas,

54.339Nas 100 maiores cidades do país,

pessoas foram internadas por diarreias

28.594 delas foramcrianças entre 0 e 5 anos de idade (53% do total)

por paciente na média nacional

O custo de uma internação por infecção gastrointestinal no Sistema Único de Saúde (SUS) foi de

R$ 355,71 As despesas com horas pagas e não trabalhadas pelos trabalhadores doentes por ano chegou a

trabalhadores precisaram se afastar por problemas gastrointestinais ligados à falta de saneamento.

R$ 238 milhões

217 mil

Fonte: Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento Brasileiro - Instituto Trata Brasil / CEBDS, 2014, SMS e Sesab

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde da Bahia, as principais doenças que surgem em função da deficiência de esgotamento sanitário são:

DIARREIA HEPATITE A DERMATITEESQUISTOSSOMOSE LEPTOSPIROSE

te

Macapá

B

Feira de Santana

( )7

Vitória da Conquista (BA)6

os mais jovens se preocupem com essas doenças”, ressalta Glória. A coordenadora de agravos da Sesab destaca que essas populações ficam expostas em qualquer período do ano. “No Verão, há um maior número de episódios de diarreias, pois há um grande consumo de sucos, frutas e picolés sem a preocupação com sua origem e higienização. Na época de enchentes, aumenta o risco de doenças como leptospirose e também da contaminação de mananciais de rios”, destaca.

Em Salvador, os bairros do Subúrbio Ferroviário, Cabula, Pau da Lima, São Marcos, Nordeste de Amaralina e Beiru/Tancredo Neves são os que mais apresentam casos de doenças relacionadas à irregularidade da oferta de saneamento básico, segundo destaca o médico infectologista Robson

132

Reis, que é membro da Secretaria Municipal de Saúde e professor de Urgências e Emergências Médicas da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.

“Uma doença que é comum em Salvador é a leptospirose nessas regiões. Há casos em que o esgoto passa por dentro das casas, que estão localizadas em áreas de ocupação irregular”, indica.

O infectologista mostra que a falta do saneamento integral na cidade atinge os mais variados públicos. “Temos muitos casos de leptospirose que atingem trabalhadores informais que atuam na limpeza de canais e caixas de esgoto, por exemplo”, informa.

Pesquisa do Instituto Trata Brasil mostra ainda o impacto da ausência desse serviço para o mercado de trabalho. No total, 217 mil trabalhadores precisaram se afastar por problemas gastrointestinais ligados à falta de saneamento. As despesas das empresas com horas pagas e não trabalhadas pelos trabalhadores doentes chegou a R$ 238 milhões por ano.

Segundo a Embasa, em nota enviada ao CORREIO, na área de esgotamento sanitário, Salvador, desde 2007, teve investimentos que correspondem a R$ 804 milhões. “Atualmente, Salvador alcança um índice de cobertura de esgotamento de 79,1%, desempenho bem superior à média nacional, que gira em torno dos 38%”.

“As doenças relacionadas à falta de saneamento atingem a toda população, não só os mais pobres ”ÉDISON CARLOS, presidente do Trata Brasil

*Atraso na educação 84% 745 18%

das mortes por diarreia são de crianças. A diarreia mata mais crianças do que a aids, a malária e o sarampo juntos

milhões de reais poderiam ser economizados em internações com sanea-mento básico no país, diz estudo de 2010

é a diferença de aproveitamento escolar entre crianças que têm e não têm acesso ao saneamento básico

133

18%

Dinheiro pelo esgoto

A vista da janela da residência da dona de casa Vera Lúcia Santana, 59 anos, moradora da cidade de Jequié, a 365 quilômetros de Salvador, era - até o início deste ano - composta por árvores, alguns animais e pela rede de esgoto que escorria pela estrada na frente da casa. A rua dela passou por uma transformação e a rede de coleta de esgoto foi instalada, retirando Vera de uma estatística difícil de ser resolvida na Bahia e no Brasil: apenas quatro de cada grupo de dez baianos possuem acesso à rede de esgotamento.

“Dois dos meus três filhos já ficaram doentes de tanto pisar no esgoto. Aqui também enchia de mosquito e ratos. O lixo ficava na porta de casa e demorava muito para o caminhão levar para longe. Juntava lixo com esgoto e virava uma dor de cabeça, diarreia e tudo quanto é doença”, conta.

Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado com base nos dados de 2010, indica que 60% dos moradores das cidades baianas não têm seus dejetos lançados - e tratados - em uma rede de esgoto (ver tabela ao lado).

Para resolver o problema, a solução passa por muitas cifras. Segundo o estudo Benefícios Econômicos do Saneamento Brasileiro, apresentado pelo Instituto Trata Brasil e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), com base em pesquisa realizada pela Consultoria Econômica Ex Ante, seriam necessários R$ 18 bilhões para universalizar o sistema de saneamento básico na Bahia.

“Viabilizar esse montante de dinheiro seria até fácil. O problema - e maior desafio - é fazer com que esses valores cheguem ao destino final. Em alguns casos até há dinheiro para universalizar a rede de água e esgoto. Mas, até ele virar uma obra, vai se perdendo no meio do caminho. De 5% a 10% apenas chega ao destino final”, informa Fernando Malta, assessor de relações institucionais do CEBDS.

O presidente da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), Abelardo de Oliveira Filho, rebate esses números. Segundo ele, no estado da Bahia, nos últimos sete anos, 2,5 milhões de pessoas foram beneficiadas com novas ligações de esgoto instaladas. Desde 2007, como principal executora do Programa Água para Todos (PAT), do governo do estado, a Embasa assegurou recursos para investimentos da ordem de R$ 7,1 bilhões, podendo chegar, em 2014, a R$ 8,7 bilhões.

“Com isso, hoje, o número de baianos atendidos com coleta, tratamento e disposição final de esgoto já chega a 4,5 milhões”, pontua. A Embasa, atualmente, tem abrangência em 364 dos 417 municípios baianos. O restante possui a gestão de águas e esgoto sob a responsabilidade das

134

de reais é o valor que seria

necessário para universalizar o

sistema de saneamento

básico na Bahia

18 bilhões

de reais seriam economizados

por ano no Brasil com internações, caso houvesse a universalização dos serviços de água e esgoto

27,3bilhões

empregos poderiam ser criados na Bahia caso houvesse a universalização

total da rede de esgoto. No Brasil seriam 499 mil

novos postos de trabalho

38.261

Essa é a média de atraso na educação

da população em idade escolar por conta da falta da universalização do saneamento básico na Bahia.

A média nacional é de 4,25 anos

4,95 anos

de reais seriam economizados por ano na Bahia com internações,

caso houvesse a universalização dos serviços de água e esgoto

2,9milhões

de reais seriam necessários para universalizar o sistema de

saneamento básico no Brasil

313,162bilhões

de trabalho foram perdidas por ano com afastamentos por diarreia na Bahia. No Brasil foram 123.790.839 horas

5.867.835horas

seria o ganho médio de renda com a universalização de um imóvel na Bahia. No Brasil, o valor seria de R$ 2.845,45

R$ 2.057,26

de reais é o valor que seria

necessário para universalizar o

sistema de saneamento

básico na Bahia

bilhões

de reais seriameconomizados

por ano no Brasilcom internações,caso houvesse auniversalização dos serviços deágua e esgoto

bilhões

de reais seriam necessáriospara universalizar o sistema de

saneamento básico no Brasil

bilhões

Essa é a média de atraso na educação

da população emidade escolar por conta da falta da universalizaçãodo saneamentobásico na Bahia.

A média nacional é de 4,25 anos

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horas

seria o ganho médio de renda com a universalização de um imóvel na Bahia.No Brasil, o valor seria de R$ 2.845,45

empregos poderiam ser criados na Bahia caso houvesse a universalização

total da rede de esgoto. No Brasil seriam 499 mil

novos postos de trabalho

de reais seriam economizados porano na Bahia com internações,

caso houvesse a universalizaçãodos serviços de água e esgoto

milhões

135

prefeituras. Abelardo indica que há dificuldade em instalação e ampliação da rede em algumas cidades.

“Para universalizar o esgoto é necessário também cuidar de outros aspectos como mobilidade urbana, limpeza pública, coleta, drenagem, dentre outros fatores. Há cidades também que, além desses fatores, têm uma dificuldade na instalação das redes de esgoto em função do tipo de solo”, argumenta Oliveira.

Em Salvador, a Embasa está investindo R$ 1,2 bilhão, sendo R$ 354 milhões em abastecimento de água e R$ 857,6 em esgotamento sanitário. De janeiro de 2007 a maio de 2014, a empresa implantou cerca de 200 mil ligações intradomiciliares de esgoto, mantendo uma média de 2.300 ligações executadas por mês.

A falta de rede de esgoto universalizada tem reflexos nos mais variados setores da sociedade. O assessor de relações institucionais do CEBDS indica que a falta de investimentos tem impactos diretos na economia e na saúde pública. De acordo com levantamento da entidade, as internações por doenças infecciosas crescem na medida que a rede de esgotamento falha, inclusive, provocando óbitos e danos aos cofres públicos. Em 2013,

sotibóedemún ro

proporção da população com acesso à rede

2.397

2.337

2.278

2.219

2.160

2.101

2.042

1.983

1.924

1.865

1.806

1.700

1.800

1.900

2.000

2.100

2.200

2.300

2.400

2.500

Fontes: Simulação com base em dados do Datasus, SNIS e IBGE. Nota: (*)CID-10: cólera, shiguelose, amebíase, diarreia e gastroenterite origem infecciosa presumível, outras doenças infecciosas intestinais, peste.

MORTES POR DOENÇAS INFECCIOSAS* SEGUNDO PROPORÇÃO DA POPULAÇÃO COM ACESSO A ESGOTO

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%0%

136

segundo dados do Datasus, o custo nacional com internações provocadas por infecções gastrointestinais chegou a R$ 121 milhões. O Nordeste respondeu, em 2013, por 52,1% dessas despesas e a região Norte por 16,3%.

Com a universalização da rede de esgoto, segundo estimativa do CBEDS, das 45 mil internações ocorridas na Bahia, em 2013, 8 mil poderiam ter sido evitadas - o que significaria uma economia de R$ 2,9 milhões. Em todo o país, a economia seria de R$ 27 milhões.

O coordenador estadual de emergência em saúde pública da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), Juarez Dias, ressalta que o número de atendimentos é diretamente proporcional à falta de rede de esgotamento sanitário com tratamento adequado.

Os efeitos da falta de saneamento básico são integrados. “São cinco elementos que estão diretamente ligados ao esgotamento sanitário que têm efeitos diretos na necessidade de assistência à saúde da população: falta de água de qualidade e abundante, drenagem do esgotamento existente, controle de detritos, coleta de lixo e drenagem pluvial”, explica.

O coordenador estadual de emergência em saúde pública da Sesab ressalta que esses cinco fatores, geralmente, se concentram em áreas de difícil acesso ou mais carentes das médias e grandes cidades. “Mas os danos podem acontecer em qualquer cidade de qualquer tamanho”, diz.

Representante do CEBDS ressalta que os dados da falta de investimento em saneamento vão além da saúde pública. “Há impacto no turismo, na produtividade, na competitividade, dentre outros fatores do desenvolvimento humano e econômico. No caso de turismo, nenhum visitante vai recomendar, por exemplo, uma cidade que tinha problemas de saneamento básico. Um problema desse nível impacta do dono do hotel ao pequeno comerciante”, destaca.

“O Nordeste ainda está atrasado na coleta e tratamento de esgotos”ÉDISON CARLOS, presidente do Trata Brasil

137

POPULAÇÃO COM ACESSO AO SANEAMENTOUnidades da federação

com acesso aágua tratada

(%) dapopulação total*

com acesso arede de esgoto

(%) dapopulação total*

Norte %8,6048.611.1%3,83109.203.6

%0,3656.05%9,33709.075ainôdnoR

Acre %8,9000.37%4,03353.722

%8,31922.705%5,14106.325.1sanozamA

%1,81422.58%2,97222.273amiaroR

P ará %4,2463.281%9,92699.023.2

%1,4300.92%0,73646.952ápamA

%2,31463.981%4,17671.820.1snitnacoT

%5,91795.637.01%3,56837.088.53etsedroN

%1,8685.345%1,93312.906.2oãhnaraM

Piauí %2,5119.461%4,75120.418.1

%4,62564.282.2%3,86514.009.5áraeC

%0,91287.526%4,17574.853.2etroNodednarGoiR

%6,42469.849%4,86995.536.2abíaraP

%4,51191.393.1%8,76033.441.6ocubmanreP

%9,31264.254%4,16546.000.2saogalA

%0,51040.223%6,18898.157.1epigreS

%9,62691.300.4%8,17341.666.01BAHIA

%5,27002.252.06%8,98613.326.47etseduS

%4,66234.184.31%8,78603.428.71siareGsaniM

%7,83840.054.1%9,08989.820.3otnaSotirípsE

%4,06434.367.9%8,98766.125.41orienaJedoiR

%9,28682.755.53%5,19453.842.93oluaPoãS

Sul %0,33686.833.9%5,08246.218.22

%8,25061.017.5%3,48079.911.9ánaraP

%1,41357.119%3,86990.504.4anirataCatnaS

%5,42377.617.2%9,38375.782.9luSodednarGoiR

%3,14306.599.5%1,67117.450.11etseO-ertneC

%2,92529.637%0,28357.760.2luSodossorGotaM

%9,61920.425%1,74160.954.1ossorGotaM

%6,63028.882.2%9,87176.039.4sáioG

%8,19928.544.2%5,79522.795.2laredeFotirtsiD

FONTE: SNIS e IBGE. Nota: (*) Valores da população do IBGE foram revistos em dezembro de 2013.

Brasil 150.674.308 87.439.92676,3% 44,3%

138

Faltam planos

O Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) estima um investimento de R$ 508,4 bilhões em ações no país nos próximos 20 anos. Mas boa parte desse recurso pode deixar de ser destinado às prefeituras por um problema criado por elas mesmas: a falta de projetos. É que o Plansab, instrumento previsto pelo artigo 52 da Lei 11.445, que estabelece diretrizes, metas e ações de saneamento básico para o Brasil até 2033, determina que, para ter acesso aos recursos, os 5.564 municípios devem elaborar seus Planos Municipais de Saneamento até 2015.

O prazo inicial para entrega era dezembro de 2010, foi prorrogado para 2013 e depois para dezembro de 2015. Apesar do atraso, as prefeituras caminham a passos lentos. Dos 417 municípios baianos, só Camacã, no Sul do estado, elaborou e aprovou o plano na Câmara Municipal, e Firmino Alves já elaborou e depende só da aprovação do legislativo municipal. “A situação está muito ruim, mas já esteve pior. É o Brasil todo, não é só a Bahia que está assim. Aqui é pior porque, historicamente, o processo de disparidade social é gritante e tem ainda a extensão do estado”, avalia o coordenador do projeto Sanear Mais Bahia e chefe de gabinete do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea), Herbert Oliveira.

METAS PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS

cobertura de

99%, sendo

100% na área

urbana

Abastecimento de água potável:

cobertura de 92%,

sendo 93% na área

urbana

Esgotamento sanitário:

universalização da coleta na área urbana e a ausência de lixões ou vazadouros a céu aberto em todo o país

Resíduos sólidos:

reduzir a quantidade de municípios em que ocorrem inundações ou alagamentos a

Águas pluviais:

11%uncolurbausou céu

Re

redde quinuala

Ág

Novo Plano Nacional de Saneamento Básico prevê aumentar cobertura de esgotamento sani-tário, dos atuais 48,3% para 92% no país. Na Bahia, das 417 cidades, só duas elaboraram seus projetos munici-pais - apenas uma já conta com a aprova-ção dos vereadores

Atraso

139

O plano nacional prevê alcançar, nos próximos 20 anos, cobertura de 99% no abastecimento de água potável, sendo 100% na área urbana. Já no esgotamento sanitário, visa uma cobertura de 92%, sendo 93% na área urbana. Em resíduos sólidos, o Plansab prevê a universalização da coleta na área urbana e a ausência de lixões ou vazadouros a céu aberto em todo o país. Para águas pluviais, a meta é reduzir a quantidade de municípios em que ocorrem inundações ou alagamentos a 11% na área urbana.

Para atingir esses resultados, as prefeituras precisam planejar suas ações. E isso será possível através dos planos municipais, que vão estabelecer metas e objetivos para universalizar os serviços de saneamento e melhorar a qualidade deles no país inteiro. O orçamento previsto é de R$ 504,8 bilhões. Desse montante, 59% serão oriundos do governo federal e os 41% restantes devem ser financiados pelos governos estaduais e municipais, prestadores de serviços de saneamento, iniciativa privada, organismos internacionais, dentre outros.

“Como é que você planeja para um país como um todo? Você planeja em nível macro e depois vem com os planos estaduais de saneamento básico e com os planos municipais de saneamento básico”, explica o Ph.D. em Saúde Ambiental e professor titular em Saneamento da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Luiz Roberto Santos Moraes, que participou da construção do Panorama Nacional do Saneamento Básico, documento que serviu de base para elaborar o Plansab.

Além de criar metas, a nova lei mudou também o conceito do que é saneamento básico. Em vez de só contemplar os serviços de abastecimento de água potável e esgotamento sanitário, passa a incluir a limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e a drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. Também determina que os contratos para prestação de serviços públicos de saneamento básico só terão validade se houver um plano de saneamento básico, a existência de estudo comprovando a viabilidade técnica e econômico-financeira da prestação universal e integral dos serviços, entre outras condicionantes.

A lei também estabelece que, para um plano ser validado, é preciso ter a participação e o controle social. “Tem que discutir o planejamento da cidade com as pessoas que nela residem”, pondera o engenheiro Herbert Oliveira. Os atrasos, segundo o professor Moraes, não estão restritos aos municípios. Segundo ele, a União deveria ter terminado o plano nacional em 2008, mas só o aprovou no ano passado, com cinco anos de atraso. O prazo concedido ao estado expirou em 2009, mas até hoje o documento não foi finalizado.

Na avaliação de Herbert Oliveira, o problema existe porque não houve um planejamento histórico do saneamento básico no país. “É aquela questão que todo mundo fala: o que está enterrado ninguém vê. Quando você fala

“Tem que discutir o planejamento da cidade com as pessoas que nela residem”HERBERT OLIVEIRA, chefe de gabinete do Crea

140

de saneamento básico, ninguém enxerga esse tipo de obra, que afeta diretamente a qualidade de vida, a saúde das pessoas e o bem-estar delas”.

O artigo 7 do decreto 8141, que dispõe sobre o Plansab, diz que a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades deve elaborar anualmente e dar publicidade ao relatório de monitoramento e de avaliação sistemática do plano, que contenha elementos que possibilitem identificar a evolução dos cenários, as metas, os indicadores, os investimentos, as macrodiretrizes, as estratégias e avaliar a implementação dos programas. Procurado pelo CORREIO, o Ministério informou que não dispõe, de forma atualizada, de informação da quantidade de prefeituras que já elaboraram planos no país.

01 - Água Frita02 - Antônio Gonçalves03 - Arataca04 - Aurelino Leal05 - Banzaê06 - Barrocas07 - Biritinga08 - Caatiba09 - Caculé10 - Caetité

11 - Caldeirão Grande12 - Camamu13 - Candeal14 - Cravolândia15 - Filadélfia16 - Guaratinga17 - Heliópolis18 - Ichú19 - Igaporã20 - Iguaí

21 - Itaquara22 - Itatim23 - Jussari24 - Lafaiete Coutinho25 - Lagedo do Tabocal26 - Lagoa Real27 - Lamarão28 - Malhada29 - Maracás30 - Maraú

31 - Matina32 - Milagres33 - Mutuípe34 - Nordestina35 - Nova Canaã36 - Palmas de Monte Alto37 - Pindaí38 - Pindobaçu39 - Ponto Novo40 - Queimadas

41 - Quijingue42 - Retirolândia43 - Riachão das Neves44 - Riachão do Jacuípe45 - São Domingos46 - São Miguel das Matas47 - Sebastião Laranjeiras48 - Teofilândia49 - Ubaíra50 - Valente

CONSÓRCIOS PELO INTERIOR

BRASIL

42 0602215

3940

450

1811344

4622

32

2424

25

29

28

36

43

47

31

19

1037

26

09

249

33314121

12

30

0423

03

20

35

08

16

445

38

11

2701

0748

17

052

4150

34

EXTREMO OESTE BAIANO

VALE SÃO-FRANCISCANO DA BAHIA

CENTRO NORTE BAIANO

CENTRO SUL BAIANO

NORDESTE BAIANO

SUL BAIANO

METROPOLITANA DE SALVADOR

Funasa e Crea firmam parceria com cidades de baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) para ajudar a elaboração dos planos de saneamento básico

141

Enquanto muitos municípios ainda não sabem por onde começar a ela-boração dos planos municipais de saneamento, 50 cidades baianas têm a promessa de chegar ao final do ano com os seus projetos prontos. É que o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) firmou um convênio de cooperação técnica com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), no valor de R$ 6,9 milhões, para qualificar e assessorá-los tecnicamente na elaboração desses planos, através do projeto Sanear Mais Bahia. A primeira parcela já foi repassada para o Crea.

Apesar de o Plansab ser capitaneado pelo Ministério das Cidades, é a Funasa que acompanha os municípios com população inferior a 50 mil habitantes. Na Bahia, dos 417 municípios, 373 se enquadram nesse perfil. “Com os planos prontos a partir de meados do ano que vem, esses 50 municípios vão passar a ter acesso aos recursos. É muito recurso, mas você não tem como pegar se não tem projeto”, avalia o chefe de gabinete do Crea e coordenador do projeto, Herbert Oliveira.

Foram escolhidos os municípios com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), com as maiores incidências de doenças diarréicas, maior população rural e menor cobertura de abastecimento de água. Outro requisito era pertencer a consórcios públicos.

“O consórcio se apresenta como uma possibilidade, porque você consegue bancar uma equipe de engenharia para trabalhar. Um município só não banca”, explica.

Essa não é a primeira vez que a Funasa destina recursos para realização de planos municipais. Segundo a superintendente da Funasa na Bahia, Jacilene Costa, 33 cidades baianas foram contempladas em 2009 em uma seleção pública realizada pelo órgão. Três desistiram e só Camacã concluiu o plano.

“Há uma dificuldade desses municípios, mesmo recebendo recursos. Há dificuldade de destrinchar o processo licitatório, por conta da baixa capa-citação das prefeituras. Há ausência de equipes técnicas nos municípios para realizar esse trabalho”, avalia Jacilene. Segundo ela, até o número de empresas de consultoria na Bahia nessa área é insuficiente. “Há casos em que precisamos contratar empresa de São Paulo”, conta.

Projeto prevê a construção de 50 planos na Bahia

“Existe muito recurso, mas é preciso ter projetos bem feitos para conseguir liberação”HERBERT OLIVEIRA, chefe de gabinete do Crea

142

Os promotores que atuam na Bahia vão acompanhar a elaboração dos planos municipais e cobrar dos municípios a sua implementação. “Faremos isso enquanto fiscal da lei e curador do meio ambiente e da saúde pública, que são dois bens jurídicos estabelecidos pela Constituição”, diz a promo-tora e coordenadora da Câmara Temática de Saneamento do Centro de Apoio às Promotorias do Meio Ambiente (Ceama), Karinny Guedes.

Segundo ela, a Lei de Crimes Ambientais tem um crime específico para a legislação de resíduos sólidos, mas não tem para esgotamento sanitário. Mesmo assim, o poder público pode ser responsabilizado por omissão. “Além de reparação civil, também existe o crime de poluição ambiental. Podemos vincular a omissão à poluição a um crime que afeta a saúde. Mas, para responsabilizar criminalmente um prefeito, é preciso comprovar que ele se omitiu”, explica.

Apesar de a lei abrir espaço para que os gestores respondam criminal-mente, a promotora ressalta que essa é uma medida para ser adotada só em última instância.

“Na realidade que vivemos, que falta a cultura do planejamento, é um pouco temerário ficar falando de crime. Certamente, não é o caminho que a gente quer trilhar. A gente espera sentar com os municípios para assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e garantir que a determi-nação seja cumprida”. A ideia é que os promotores trabalhem buscando soluções com os municípios. “Não é uma coisa de outro mundo, mas muitas vezes o município não quer se mexer, alega que não tem dinheiro”, avalia, acrescentando que os municípios têm que planejar seus serviços. “Sem esse planejamento, os serviços públicos podem não contemplar as reais necessidades do município”.

MP cobra prazo de prefeituras

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Empacou

Os números chamam atenção em todos os sentidos. São 638 obras de saneamento básico na Bahia que custaram mais de R$ 3 bilhões, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em vez de aceleradas, essas obras seguem, na sua maioria, empacadas. Segundo dados do último relatório regional do PAC, divulgado no dia 30 de outubro, apenas 90 delas foram concluídas. Para ser mais preciso: 14% do total. O resto segue em fase de licitação, de contratação ou em obras.

Há projetos que começaram em 2007 e ainda não foram finalizados, como acontece em Alagoinhas, Camaçari, Candeias, Feira de Santana, Ilhéus, Juazeiro, Lauro de Freitas, entre outros municípios. Enquanto isso, populações convivem em meio a esgoto a céu aberto por conta de um problema gravíssimo: a falta de saneamento.

Nos últimos anos, a Bahia aumentou sua rede de esgotamento sanitário, mas ainda há muito por fazer. Na avaliação do presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Edison Carlos, a partir do momento que há um atraso dessas obras, você condena uma população a permanecer vítima de doenças, infecções e enfermidades. “Mais importante do que os números são as pessoas que estão nessas áreas. Há crianças brincando nesses córregos, que são esgotos a céu aberto. As obras têm como grande objetivo tirar as cidades dessa realidade. Elas são realizadas em áreas mais carentes, que não tinham saneamento, ou onde já tinha e está sendo aprimorado o que se tornou obsoleto”, diz.

Apesar dos baixos resultados, o coordenador executivo de Articulação e Monitoramento da Casa Civil do governo da Bahia, Luiz Henrique D´Utra, diz que os números de saneamento do estado estão acima da média nacional e que a Bahia figura entre os dez estados com melhor desempenho do Brasil, segundo o 10º Balanço do PAC 2.

“Muitas vezes, obras já concluídas e entregues à população estão em prestação de contas final ou em fase de encerramento do contrato, e ainda não figuram como encerradas no balanço do governo federal”, explica. No site do PAC, no entanto, em30 de outubro de 2014, essas obras constavam em aberto.

Mesmo reconhecendo os problemas que esses atrasos acarretam na vida das populações, Edison Carlos informa que a situação da Bahia é comum. “No caso do PAC 1, são os contratos de 2007 e de 2008 que tiveram problemas de projeto em várias cidades e também com empreiteiras. Já no PAC 2, as obras demoraram a começar por conta da burocracia em Brasília para a verba chegar ao interior. Houve casos em que levou até dois anos para resolver a questão da documentação”, explica.

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Até dois anospara aprovação

Até dois anospara aprovação

Confira quais são os caminhos percorridos para aprovação de planos de saneamento

1Governo abre seleção para recebimento de propostas

Proponentes têm prazo de 60 dias para enviar propostas enquadradas nas modalidades disponíveis

34A Secretaria

Nacional de Saneamento leva dois meses para analisar as propostas

É publicada uma pré-seleção

5A pré-seleção é encaminhada para o comitê do PAC

6É publicada a homologação

7

8

As propostas selecionadas são enviadas para a Caixa Econômica Federal

A Caixa Econômica Federal avisa ao proponente, pede para ele a documentação e leva um tempo para analisar o material

9

10

O processo volta para o Ministério das Cidades que vai informar os projetos habilitados

É formalizado o contrato de financiamento

11É formalizada síntese do projeto aprovado

12Autorizada a realização da licitação

13Realizada a licitação

14Empresa é contratada15

Homologa a licitação para a Caixa Econômica Federal

16A Caixa Econômica Federal aprova a licitação

17 Só então começam as obras

as

esd 60

Fonte: Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento Básico (Aesbe)

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Até dois anospara aprovação

Até dois anospara aprovação

Confira quais são os caminhos percorridos para aprovação de planos de saneamento

1Governo abre seleção para recebimento de propostas

Proponentes têm prazo de 60 dias para enviar propostas enquadradas nas modalidades disponíveis

34A Secretaria

Nacional de Saneamento leva dois meses para analisar as propostas

É publicada uma pré-seleção

5A pré-seleção é encaminhada para o comitê do PAC

6É publicada a homologação

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As propostas selecionadas são enviadas para a Caixa Econômica Federal

A Caixa Econômica Federal avisa ao proponente, pede para ele a documentação e leva um tempo para analisar o material

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O processo volta para o Ministério das Cidades que vai informar os projetos habilitados

É formalizado o contrato de financiamento

11É formalizada síntese do projeto aprovado

12Autorizada a realização da licitação

13Realizada a licitação

14Empresa é contratada15

Homologa a licitação para a Caixa Econômica Federal

16A Caixa Econômica Federal aprova a licitação

17 Só então começam as obras

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Fonte: Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento Básico (Aesbe)

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Além do excesso de burocracia, os especialistas também apontam outro problema que impactou no andamento dessas obras. O Brasil ficou 20 anos sem investimentos na área do saneamento básico, só voltou a ter depois da criação do Ministério das Cidades e com o PAC, em 2007. Com isso, se perdeu muito do conhecimento existente no país na área do saneamento. “Isso acabou desestruturando a cadeia de profissionais da engenharia”, avalia o presidente da Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento Básico (Aesbe), Roberto Cavalcanti Tavares.

Luiz Henrique D´Utra reforça esse coro. Segundo ele, com a retomada do financiamento do setor, concessionárias contratantes e empresas projetistas contratadas não estavam preparadas para absorver a imensa demanda reprimida de estudos e projetos para viabilizar os empreendimentos a serem realizados. “Os projetos existentes na Bahia em 2007, além de desatualizados, não eram suficientes, nem em qualidade nem em quantidade, para atender imediatamente os processos de seleção do PAC”, observa.

Outro aspecto que pode justificar a morosidade, segundo especialistas, é que, para alguns políticos, investir em obras de saneamento não costuma ser um negócio atraente. “Existe e sempre existiu uma visão de que obras de saneamento são caras, complicadas e não são possíveis de concluir para entregá-las em quatro anos, além de ser uma obra enterrada, com poucos benefícios eleitoreiros. Os políticos preferem fazer hospitais para tratar doenças do que evitá-las”, considera Edison Carlos, do Trata Brasil.

Do outro lado, o coordenador executivo de Articulação e Monitoramento da Casa Civil afirma que o PAC está garantindo que demandas históricas sejam atendidas: “Isso é fruto de um governo que compreendeu a necessidade de inverter prioridades e de investir em questões fundamentais, como é o caso do saneamento básico, que tem impacto importante na vida da população, melhorando índices de saúde e o dia a dia das pessoas nas cidades”.

Nas cidades pequenas, as deficiências são ainda maiores. As prefeituras não têm corpo técnico para fazer o diagnóstico e buscar recursos para fazer essas obras. Além disso, muitas vezes dependem do dinheiro do governo do estado, de emenda parlamentar ou das grandes obras do governo federal. “Os consórcios e os comitês de bacias hidrográficas

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são saídas fundamentais para os pequenos municípios, mas ainda são muito pouco usados no Brasil. Às vezes não faz sentido construir uma rede para um município só”, sugere o presidente do Instituto Trata Brasil.

O plano nacional prevê alcançar, nos próximos 20 anos, cobertura de 99% no abastecimento de água potável, sendo 100% na área urbana. Já no esgotamento sanitário, visa uma cobertura de 92%, sendo 93% na área urbana. Em resíduos sólidos, o Plansab prevê a universalização da coleta na área urbana e a ausência de lixões ou vazadouros a céu aberto em todo o país. Para águas pluviais, a meta é reduzir a quantidade de municípios em que ocorrem inundações ou alagamentos a 11% na área urbana.

Um levantamento realizado pela Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento Básico (Aesbe) aponta que os projetos do PAC 2 levam, em média, 22 meses para aprovação e liberação das obras. “Há uma burocracia impeditiva de acelerar a velocidade dos investimentos. Seja porque se demora muito para contratar, ou porque, depois que contrata, a sistemá-tica passa por outros controles que fazem com que o processo não avance, criando efeito na cadeia do setor”, explica o presidente da Aesbe, Roberto Cavalcanti Tavares.

Em uma equação que por si só já parece complicada surge outro agravante: as obras têm proponentes distintos e os recursos vêm de três ministérios. Há os financiamentos ligados ao Ministério das Cidades, ao Ministério da Saúde - por meio da Funasa - e ao Ministério da Integração, por meio da Codevasf.

“Ao pulverizar os recursos do saneamento por vários ministérios e vários proponentes, você tem muitos problemas. Além disso, a forma de contra-tação de recursos é muito concentrada em alguns períodos do ano. Há uma avalanche de projetos ao mesmo tempo e falta estrutura para dar conta disso”, destaca Tavares, acrescentando que a diversidade de proponentes também complica o processo. “Você tem todo tipo de gente fazendo obra de saneamento. Se para uma empresa estadual já é difícil fazer um bom projeto, uma boa licitação, gerenciar e fiscalizar as obras corretamente, imagina para outros proponentes”.

Segundo ele, só os recursos do PAC não são suficientes. “É preciso abrir o mercado para outras formas de financiamento, tirar o peso dos impostos do setor. A tributação de PIS e Cofins é incoerente com um setor que precisa expandir, representa de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões por ano”, explica.

Obras do PAC: até dois anos para serem aprovadas

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Segundo especialistas, as obras de saneamento não costumam ser atra-tivas para políticos e, às vezes, a própria população desconhece o impacto que elas teriam nas suas vidas. No entanto, o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, defende que o cidadão tem papel fundamen-tal para garantir que essas obras saiam do papel. “É o cidadão que move a política, por isso, é importante que ele se envolva com o tema, participe das discussões e cobre isso. Ao não sinalizar o saneamento como impor-tante, passa a impressão de que é algo que não precisa ser feito nesse momento”, pontua.

Segundo Carlos, o Ibope já fez três pesquisas para saber a importância que a população atribui ao saneamento. “Em um primeiro momento, o cidadão não faz a associação de que a falta de saneamento é causado-ra de doenças, mas, quando conversa com ele sobre o assunto, ele sabe que aquele esgoto traz doenças, mas tem outras coisas importantes que fazem com que ele não eleja o saneamento como prioridade”, informa. “O cidadão sabe bem mais do que a gente imagina. Mas o saneamento não é tão importante para entrar nas suas prioridades. É uma coisa lenta, mas que precisa acontecer”, completa.

População precisa cobrar melhorias no saneamento básico

“Estamos numa evolução muito tímida e isso pode comprometer as metas do setor”ROBERTO CAVALCANTI TAVARES, presidente da Abes

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AMÉLIA RODRIGUES(2009) / 25.190

R$ 102.100,0031/12/2014

BELO CAMPO(2010) / 16.021

R$ 130.713,6530/12/2014

BOA NOVA(2012) / 15.411

R$ 169.398,0430/11/2014

BUERAREMA(2012) / 18.605

R$ 240.621,8430/11/2014

CAMACÃ(2011) / 31.472

R$ 285.984,0130/12/2013

CANAVIEIRAS(2010) / 32.336

R$ 150.000,0025/06/2014

CANSANÇÃO(2011) / 31.472

R$ 180.000,0031/12/2014

CIAPRA(2012) / 48.471

R$ 443.838,82 30/11/2014

COARACI(2012) / 20.964

R$ 254.662,4603/12/2014

CONDE(2010) / 23.620

R$ 116.998,7830/12/2014

FIRMINO ALVES(2011) / 5.384

R$ 250.367,1530/12/2014

IBIASSUCÊ(2011) / 10.062

R$ 226.738,14

30/12/2014

IBICOARA(2012) / 17.282

R$ 169.398,04NÃO INFORMADO

ITACARÉ(2010) / 21.318

R$ 200.000,0030/12/2014

ITAJU DO COLÔNIA (2011) / 7.309

R$ 250.367,1530/12/2014

ITORORÓ(2012) / 19.914

R$ 248.153,7728/12/2014

ITUBERÁ(2010) / 26.591

R$ 204.520,0030/12/2014

JANDAÍRA(2012) / 10.331

R$ 183.653,1430/11/2014MARAGOJIPE

(2011) / 42.815

R$ 296.062,5031/12/2014

PAU BRASIL (2011) / 10.852

R$ 250.367,1530/12/2014

PINTADAS(2011) / 10.342

R$ 184.893,9630/12/2014

PIRAÍ DO NORTE(2010) / 9.799

R$ 102.100,0028/06/2014

PLANALTO24.481

R$ 255.431,7831/12/2014

POÇÕES44.701

R$ 255.431,7831/12/2014

RIACHO DE SANTANA(2012) / 30.646

R$ 258.170,7901/12/2014

RIO DE CONTAS(2011) / 13.800

R$ 234.928,68

30/12/2014

RIO DO ANTONIO(2011) / 14.815

R$ 240.241,49

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UNA(2010) / 24.110

R$ 150.000,0031/12/2014

URUÇUCA(2010) / 19.837

R$ 250.000,0028/06/2014

ANDORINHA (2011) / 14.414

R$ 183.224,1330/12/2014

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Firmino Alves: Elaborou o plano, conseguiu aprovação em audiência pública e depende só da aprovação pela Câmara Municipal para virar lei

Camacã: é o único município baiano que tem o plano municipal de saneamento básico

MUNICÍPIOINÍCIO DO CONVÊNIO / POPULAÇÃO VIGÊNCIA DO CONVÊNIO VALOR

FONTE: FUNASA

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AMÉLIA RODRIGUES(2009) / 25.190

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BOA NOVA(2012) / 15.411

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CAMACÃ(2011) / 31.472

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CANAVIEIRAS(2010) / 32.336

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CANSANÇÃO(2011) / 31.472

R$ 180.000,0031/12/2014

CIAPRA(2012) / 48.471

R$ 443.838,82 30/11/2014

COARACI(2012) / 20.964

R$ 254.662,4603/12/2014

CONDE(2010) / 23.620

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FIRMINO ALVES(2011) / 5.384

R$ 250.367,1530/12/2014

IBIASSUCÊ(2011) / 10.062

R$ 226.738,14

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IBICOARA(2012) / 17.282

R$ 169.398,04NÃO INFORMADO

ITACARÉ(2010) / 21.318

R$ 200.000,0030/12/2014

ITAJU DO COLÔNIA (2011) / 7.309

R$ 250.367,1530/12/2014

ITORORÓ(2012) / 19.914

R$ 248.153,7728/12/2014

ITUBERÁ(2010) / 26.591

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PAU BRASIL (2011) / 10.852

R$ 250.367,1530/12/2014

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R$ 184.893,9630/12/2014

PIRAÍ DO NORTE(2010) / 9.799

R$ 102.100,0028/06/2014

PLANALTO24.481

R$ 255.431,7831/12/2014

POÇÕES44.701

R$ 255.431,7831/12/2014

RIACHO DE SANTANA(2012) / 30.646

R$ 258.170,7901/12/2014

RIO DE CONTAS(2011) / 13.800

R$ 234.928,68

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RIO DO ANTONIO(2011) / 14.815

R$ 240.241,49

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R$ 150.000,0031/12/2014

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Firmino Alves: Elaborou o plano, conseguiu aprovação em audiência pública e depende só da aprovação pela Câmara Municipal para virar lei

Camacã: é o único município baiano que tem o plano municipal de saneamento básico

MUNICÍPIOINÍCIO DO CONVÊNIO / POPULAÇÃO VIGÊNCIA DO CONVÊNIO VALOR

FONTE: FUNASA

Sem planos, dinheiro vai pelo raloA Fundação Nacional de Saúde (Funasa) destinou mais de R$ 7 milhões para que 30 municípios baianos com até 50 mil habitantes elaborassem seus planos municipais de saneamento básico. Os convênios foram assinados entre 2009 e 2012, mas até final de 2014 só Camacã tinha conseguido concluir todas as etapas. Sem esgotamento sanitário, Firmino Alves depende apenas da aprovação na Câmara Municipal. Os outros 28 até agora não finalizaram seus projetos.

A Funasa também selecionou outros três municípios, mas nenhum deles atendeu as exigências e ficaram de fora do programa. Ou seja, dinheiro tem, mas as prefeituras precisam fazer a sua parte. O governo federal prorrogou até dezembro de 2015 o prazo para que todas as cidades do país tenham seus planos.

Quem não apresentar os projetos não poderá receber recursos para obras de saneamento básico. Essa é uma exigência do Plano Nacional de Saneamento Básico, nova lei que prevê como meta a cobertura de 92% de esgotamento sanitário em todo o país - hoje é de apenas 48%.

A Funasa estimou que o prazo para que municípios baianos entregassem seus planos seria de oito meses para municípios com até 20 mil habitantes e dez meses para municípios acima de 20 mil habitantes. Só que, cinco anos após os primeiros convênios, nenhum deles cumpriu o combinado, nem mesmo os que já estão com os planos prontos.

O Consórcio Intermunicipal da Área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi reúne cinco dos 30 municípios: Ituberá, Piraí do Norte, Nilo Peçanha, Igrapiúna e Ibirapitanga. Os dois primeiros, inicialmente, pleitearam a verba individualmente, em 2010. Só em 2012 que o consórcio fez o convênio para realização do plano nas cidades vizinhas. Aí veio o impasse.

O diretor executivo do consórcio, Francisco Pereira, explica que, por conta da proximidade, os municípios decidiram se unir ao consórcio para reduzir custos. “Precisamos brigar com a Funasa para incluirmos Piraí e Ituberá. Essa foi a parte mais trabalhosa. A publicação do aditivo só terminou em abril”, diz.

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O edital para contratação de empresa para realizar o plano foi lançado em abril de 2014 e a licitação, concluída em junho. A meta é concluir o documento em 2015.

Somando as verbas, o consórcio conta com R$ 747 mil. “É suficiente, porque se tem um elemento aglutinador que é o consórcio, que potencializa o recurso”, destaca, acrescentando que a proximidade dos municípios permite que uma única equipe trabalhe nos cinco. E, em caso de reunião, gestores se desloquem a um só local.

Outra cidade que fez o convênio desde 2009 e até 2014 não tinha concluído o plano é Amélia Rodrigues. Segundo informações da Funasa, foram empenhados R$ 102.100 para a cidade. Procurada pelo CORREIO, por meio de nota, a assessoria de imprensa da prefeitura informou que, segundo informações da Secretaria de Obras de Amélia Rodrigues, o município foi contemplado com R$ 100 mil, mas houve repasse de apenas R$ 50 mil. Eles alegam que não houve renovação do contrato com a empresa selecionada para elaborar o plano e que o município fez uma nova licitação para dar continuidade ao projeto.

Enquanto alguns municípios não têm previsão de concluir seus projetos, o gerente de Convênios e Contratos de Firmino Alves, no sul da Bahia, Fábio Guilherme Soares dos Santos, está em contagem regressiva para o plano virar lei na cidade. O município firmou o convênio com a Funasa de R$ 250.367,15, em 2012, mas o projeto só começou a ser tocado em 2013, com a nova gestão municipal.

“Quando assumimos, percebemos que tinha recurso liberado e abraçamos a proposta”, diz. O processo licitatório começou em fevereiro de 2013 e foi concluído em junho do mesmo ano. A vencedora foi a empresa paulista 3 A Projetos Ambientais. “Foi a que conseguiu oferecer um menor custo, atendendo aos termos de referência”, informou Fábio.

Segundo ele, o mais difícil foi identificar os problemas de saneamento do município. “Achávamos que tínhamos saneamento básico, quando, na verdade, a cidade estava toda irregular. Após a identificação dos problemas, começamos a construir nossa proposta para o governo federal”, disse, informando ainda que a cobertura de esgotamento na cidade de 5.383 habitante é de 0%.

“O esgoto deveria ser canalizado e direcionado para uma estação de tratamento, mas é jogado em um rio. Não temos esgotamento”, constata. Uma das maiores dificuldades na construção do plano foi

Cidade descobre que tinha 0% de saneamento

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Um dos grandes entraves enfrentados pelos municípios é a falta de pessoal qualificado para elaboração dos planos de saneamento básico, o que torna obrigatória a contratação de consultoria. “A principal dificul-dade é que eles fazem as licitações, mas não fazem termos de referência que exijam uma qualificação mínima. Acabam vencendo empresas que não têm nenhuma experiência na elaboração de planos de saneamento”, ressalta a engenheira da Funasa Luiza Berndt, acrescentando que há na Bahia poucas empresas com corpo técnico capacitado para fazer esses planos.

O chefe de gabinete do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) e coordenador do Sanear Bahia - programa realizado pela Funasa e o Crea para ajudar município na elaboração de seus planos - , Herbert Oliveira, também chama a atenção para o problema dos municípios pequenos que não têm quadro técnico.

Faltam técnicos para definir os projetos

garantir a participação popular. Na primeira mobilização, a prefeitura usou até fogos de artifício para a convocação.

“Todo mundo foi à praça saber o motivo”, disse. E, durante as discussões em torno do plano, a prefeitura tomou conhecimento de um foco de esquistossomose na cidade. “Hoje, temos um olhar diferente sobre o saneamento e traçamos ações de curto, médio e longo prazo”, conta Fabio.

Enquanto Firmino Alves aguarda a aprovação na Câmara Municipal, Camacã já fez o dever de casa completo e ostenta o título de primeiro município baiano a ter o plano municipal de saneamento. Com uma população de 31.430 habitantes, começaram a elaborar o plano em agosto de 2012, concluíram em 2013 e, no final do mesmo ano, o documento foi transformado em lei.

Segundo a integrante do comitê de coordenação e execução do plano Amélia Martins Larcher, foram três etapas para elaboração: mobilização, diagnóstico, prognóstico e, por último, a apresentação do relatório. O plano custou R$ 267 mil.

Enquanto a dificuldade para muitos municípios é a falta de recursos, Amélia Larcher diz que o maior desafio foi garantir a participação social. O município divulgou pela internet, carro de som, anunciou no rádio e ainda teve corpo a corpo. Mesmo assim, não foi fácil. “Como a cidade é pequena, muitas vezes, em dia de audiência pública, falecia uma pessoa querida e ninguém ia. Os conflitos entre índios e fazendeiros também eram outro obstáculo”, conta.

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“Não tem engenheiro civil, ambiental, não tem sociólogo, não tem ur-banista. Não tem um quadro qualificado para elaborar um documento com essa magnitude, que é um documento complexo. Nem os grandes, nem os pequenos. Os grandes até que têm quadro, mas não com essa finalidade”, destaca Oliveira, que é doutor em engenharia e professor da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Levantamento realizado pelo Crea mostra que 70% dos engenheiros registrados no conselho estão concentrados na Região Metropolitana de Salvador. “Da parte civil, sanitária, ambiental, de uns 373 municípios menores, nós só temos 500 engenheiros de um total de 8 mil do estado”, informa Herbert Oliveira.

Na avaliação dele, embora a Funasa tenha colocado como teto o valor de R$ 250 mil para os municípios elaborarem os planos, o custo não sairia por menos de R$ 600 mil por município. “A Funasa define que você tem que ter engenheiro civil, sanitarista, ambiental, urbanista, tem que ter so-ciólogo, agente social. Como você vai remunerar oito profissionais no ano com R$ 250 mil?”, avalia.

Diante desse cenário e do alto custo que é manter uma equipe multidis-ciplinar, uma saída é a criação de consórcios. Quem atesta isso é o diretor executivo do Consórcio Intermunicipal da APA do Pratigi, Francisco Pereira. “Como os municípios ficam próximos, marcamos uma só reunião, e conseguimos resolver tudo de uma vez só”, pontua. Outro argumento que ele usa é em relação aos custos. “Se os municípios recebessem os recursos isoladamente, não sei se seria suficiente”, avalia.

*Pelo estado

70% dos engenheiros baianos atuam em Salvador ou Região Metropolitana

500 engenheiros trabalham nos 373 municípios baianos com menos de 50 mil habitantes

8 mil É o número de enge-nheiros que atuam em todo o estado da Bahia

“Achávamos que tínhamos saneamento básico, mas a cidade estava toda irregular. Vamos partir do zero”FABIO DOS SANTOS, gerente de Convênios de Firmino Alves

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Para evitar colocar dinheiro em um projeto que poderia não vingar, a Funasa estabeleceu que os recursos seriam empenhados e liberados em duas parcelas, de acordo com o cumprimento de exigências previstas no termo de referência. “A primeira parcela só era repassada quando a gente aprovava a documentação técnica. No caso dos três municípios com convênio cancelado, não houve nem a liberação da primeira parcela porque eles não conseguiram concluir esses documentos”, explica a engenheira Luiza Berndt.

Outro aspecto que ela chama a atenção é o descaso das prefeituras. “A elaboração do plano não depende só da empresa contratada. Cabe a eles o trabalho técnico”, diz. Só que tem a mobilização social. “Há diversas etapas que precisam da participação da sociedade. É aí que entra o município para fazer a mobilização. E muitas vezes eles falham”, aponta.

Recursos dependem de cumprimento de etapas

1 Estabelecer mecanismos e procedimentos que garantam efetiva participação da

sociedade em todas as etapas do processo de elaboração, aprovação, execução, ava-

liação e revisão do plano

2 Diagnósticos do abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos sólidos e

águas pluviais em todo o território do município

3 Proposta de intervenções com base na análise de diferentes cenários e estabeleci-

mento de prioridades

4 Definição dos objetivos e metas de curto, médio e longo prazo

5 Definição de programas, ações e projetos necessários para atingir os objetivos e

metas estabelecidos

6 Programação física, financeira e institucional da implantação das intervenções defi-

nidas

7 Programação de revisão e atualização

* Passo a passo

“A primeira parcela só era repassada quando a gente aprovava a documentação”LUISA BERNDT, engenheira da Funasa

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3.500 piscinas de esgoto

A faixa de esgoto cruza o chão de terra, invade o mar ou até mesmo despeja os dejetos nos rios. Situações como essas não são restritas apenas às pequenas cidades brasileiras. De acordo com levantamento do Instituto Trata Brasil, nas 100 maiores cidades brasileiras, somente 38,5% dos esgotos são tratados. Por esse levantamento, é como se 3.500 piscinas olímpicas de esgotos fossem jogadas, sem tratamento, por dia, na natureza. Para se ter uma ideia, cada piscina tem capacidade média de 2,5 milhões de litros.

O presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, explica que cidades de todos os tamanhos sofrem com os problemas da falta de tratamento adequado de esgoto. “O Instituto Trata Brasil avalia, principalmente, as 100 maiores cidades do Brasil, isto é, municípios com população acima de 250 mil habitantes. A partir desses diagnósticos,

Cidade Franca (SP) Maringá (PR) Limeira (SP)Santos (SP)Jundiaí (SP)Uberlândia (MG)São José dos Campos (SP) Sorocaba (SP)Curitiba (PR)Ribeirão Preto (SP)Ponta Grossa (PR) Taubaté (SP)Londrina (PR)Niterói (RJ)São José do Rio Preto (SP)Volta Redonda (MG)Praia Grande(SP)Belo Horizonte (MG)Uberaba (MG)Piracicaba (SP)Vitória da Conquista (BA)Salvador (BA)Feira de Santana (BA)

Ranking 1ª2ª 3ª4ª5ª6ª7ª 8ª9ª10ª11ª 12ª13ª14ª15ª16ª17ª18ª19ª20ª32ª34ª67ª

Nota total (máx. 10)*9,228,658,568,358,318,298,14

8,038,037,977,977,937,827,827,707,427,427,427,19

7,026,366,264,34

Fonte: Instituto Trata Brasil

* Índice considera quesitos como percentual da população abastecida com água potável e a perda do recurso no sistema de saneamento.

REALIDADE BRASILEIRADas 100 maiores cidades do Brasil, só três baianas estão na lista do ranking de esgota-mento sanitário. Vitória da Conquista (32ª) e Salvador (34ª) têm as melhores coloca-ções dentre as cidades nordestinas no ranking. Feira de Santana (67ª) está atrás de cidades como Fortaleza (66ª)

Por dia, a natureza recebe 2,5 milhões de litros de esgoto in natura. Deficiência de saneamento básico se concentra, principalmente, nas cidades de pequeno e médio portes. Seriam necessários R$ 274,8 bilhões até 2033 para resolver esse déficit

Descaso olímpico

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temos um panorama de como esses municípios atuam na questão do saneamento básico”, diz.

Levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgado em setembro de 2014, indica que o Brasil precisará investir R$ 274,8 bilhões até 2033 para resolver o déficit de saneamento. O valor, segundo o CNI, é o volume de recursos necessário para atingir as metas de universalização do sistema de saneamento básico traçadas para um período de 20 anos pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab). Com os recursos atuais, a universalização só aconteceria em 50 anos.

Para Fernando Malta, assessor de relações institucionais do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), outro fator que colabora com a baixa oferta de saneamento, e também da pouca quantidade de esgoto gerado que é tratado, está na falta de capacidade técnica para tocar obras, principalmente nas cidades mais distantes.

“As obras de saneamento básico nos locais mais distantes do país tendem a demorar de chegar ou até mesmo de ter sua conclusão dentro do prazo por falta de qualificação técnica da mão de obra junto com a vontade política para investimento nesse setor”, assegura.

O investimento em tratamento do esgoto, para Malta, deveria ser pensado como uma forma de desenvolvimento econômico. “A universalização do saneamento básico tem um benefício a médio e longo prazo. Com o sistema universal, há um aumento de produtividade e na atração de investimento. Uma fábrica, por exemplo, não vai querer instalar sua sede em uma cidade que tem esgoto a céu aberto”, justifica Malta.

Édison ressalta que o volume de descarte alto de esgoto não tratado produz uma séride de problemas para o país. “Isso nos preocupa bastante, pois como são cidades bem estruturadas, com recursos financeiros provindos do estado e da Federação com maior peso do que os médios e pequenos municípios, nós encontramos grandes cidades paradas no tempo”, destaca.

Édison explica que as cidades menores tendem a sofrer mais para resolver seus desafios de saneamento, “Muitas vezes, elas não possuem técnicos para fazer projetos e planos, mas também há vários grandes municípios que pouco coletam e quase não tratam os esgotos, como os casos de capitais como Belém, São Luis, Teresina, Porto Velho, etc”.

Para o coordenador de Disseminação de Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Bahia, Joilson Rodrigues de Souza, a deficiência de saneamento básico se concentra, principalmente, nas cidades de pequeno e médio portes por uma questão histórica de investimento e de crescimento da população.

156

“Isso é um reflexo histórico dos planos de saneamento básico do Brasil. Quando vamos para as cidades maiores, há uma tendência que elas possuam mais aportes de recursos para esse segmento de investimento”, explica.

Outro fator fundamental para que se tenha esse atual quadro de saneamento é a ocupação da população, segundo argumenta Joilson. “A Bahia tem dimensões enormes e sua população é espalhada em todos os cantos do seu território. Em cidades grandes, temos muitas famílias residindo em áreas como morros, por exemplo, o que dificulta o acesso desse tipo de obra de saneamento depois que as construções já estão erguidas”, indica.

Das 100 cidades avaliadas pelo Instituto Trata Brasil como as melhores na oferta e coleta de saneamento, apenas três baianas estão na lista. Vitória da Conquista (32ª) e Salvador (34ª) têm as melhores colocações dentre as cidades do Nordeste no ranking. Feira de Santana (67ª) está atrás de cidades como Fortaleza (66ª) e atrás de outras como Recife (68ª) e Caruaru (68ª), ambas em Pernambuco.

Dos 417 municípios da Bahia, 364 têm o sistema de água e esgota-mento sanitário sob responsabilidade da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa). Desse total, 4,5 milhões de baianos são atendidos com esgotamento sanitário. Já para abastecimento de água, esse número é muito maior: 12,7 milhões de habitantes. A empresa opera 80 sistemas de esgotamento sanitário que atendem 88 regiões, sendo 81 na zona urbana e sete na zona rural.

O presidente da empresa, Abelardo de Oliveira Filho, explica que, dessas cidades, apenas 14 são responsáveis por 70% da receita anual da Embasa, que é de R$ 2 bilhões, em média. Ou seja, o valor pago pelos clientes nas suas contas mensais nesses municípios consegue equilibrar as contas de investimentos da Embasa nas outras cidades.

“Essas cidades são responsáveis por equilibrar a receita e permitir que haja investimentos em toda a área de cobertura”, argumenta Abelardo. O presidente da empresa explica que o desafio da universalização da rede de esgotamento sanitário precisa ser visto como uma ação integra-da. “Para universalizar o esgoto é necessário também cuidar de outros aspectos como mobilidade urbana, limpeza pública, coleta, drenagem. Hoje há pontos críticos para instalação da rede em função de serem áreas de vale, alagadiças e de ocupação desordenada”, pondera.

14 cidades são responsáveis por 70% da receita da Embasa

Foto: Trata Brasil/ Divulgação

A destinação irregular de esgoto provoca doenças na população

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Cidades que sustentam as contas da Embasa para o saneamento básico

FONTE: EMBASA

1 - Salvador 2 - Feira de Santana3 - Porto Seguro4 - Teixeira de Freitas5 - Mata de São João 6 - Guanambi7 - Simões Filho

8 - Barreiras9 - Lauro de Freitas10 - Vitória da Conquista11 - Ilhéus12 - Jequié13 - Candeias14 - Camaçari

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10 11

12

1314

Bahia

O presidente da Embasa ressalta que em uma cidade onde as ações de saneamento não estão integradas com essas outras elas se tornam pouco efetivas. “Se tiver tudo universalizado, o impacto é grande. Mas, se não houver ação integrada entre as ações de saneamento básico com as outras, o tratamento de esgoto não adianta”, diz.

“De 2007 pra cá, conectamos 2,5 milhões de famílias na rede de esgoto. Temos em andamento 196 cidades em obras de esgotamento como, por exemplo, Itaberaba e Cruz das Almas”, explica Aberlardo Olveira Filho.

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Muita obra por fazer

Mais da metade da população brasileira não tem acesso a rede de esgoto. São, exatamente, 51,7% de brasileiros, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS 2012), divulgados pelo Instituto Trata Brasil. Expostos a doenças e ao comprometimento de suas capacidades cognitivas e laborais, esses brasileiros estão no interior da moldura que, mais que o atraso, retrata uma tragédia nacional.

No entanto, uma imagem também pode ser vista sob o prisma do otimismo: investimentos para mudar essa realidade, além da promover qualidade de vida da população, apresentam potencial de geração de riquezas, trabalho e renda.

De acordo com estudos do próprio Instituto Trata Brasil, a universalização do acesso ao saneamento básico no país – entendido como acesso a água potável e a rede de esgoto tratado – demanda um investimento total de R$ 313,162 bi até 2033. A data não foi escolhida ao acaso. É ditada pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), que prevê esse ano como aquele em que os brasileiros finalmente terão acesso ao saneamento básico em todo o país.

Do ponto de vista da infraestrutura essas obras têm multiplicador: geram emprego e renda para os trabalhadores e divisas para o estado. Ou seja, fazem girar a roda da economia e contribuem para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país).

No estudo Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento, o Trata Brasil aponta que o setor de saneamento gerou 726,6 mil empregos diretos e indiretos em todo o país. O setor também gerou receitas totais, em água e esgoto, de R$ 83,2 bilhões.

Ainda segundo a pesquisa, a análise das possibilidades de criação de empregos com a universalização do saneamento básico indica que, em todo o Brasil, poderiam ser criados quase 500 mil novos postos de trabalho.

As engenharias avançaram e hoje o custo de uma obra de saneamento básico é menor, tanto do ponto de vista financeiro quanto do operacional. O segredo está na substituição de materiais, trocando concreto e cerâmica pelo plástico.

O gerente de Engenharia de Aplicação e Desenvolvimento de Mercado da Braskem, Antonio Rodolfo Júnior, enumera as vantagens do uso de material plástico. “A instalação de tubos de materiais convencionais depende do uso de máquinas. Esses tubos são de 1,5 metro de comprimento. Ou seja, a cada 1,5 metro uma nova obra civil tem de ser feita para fazer a junção dos

“Ainda existem muitos gargalos para se avançar no saneamento em todo o Brasil”ÉDISON CARLOS, presidente do Instituto Trata Brasil

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canos. Esses materiais também são mais sujeitos a fraturas e penetração de plantas e raízes”, explica Antonio Júnior.

De acordo com o gerente da Braskem, o tubo de concreto apresenta o problema adicional de conter vergalhões de aço, que podem sofrer corrosão e perda de resistência. “Os tubos de plástico são leves e não precisam de tantas máquinas para a instalação. Hoje, um cano para rede de saneamento pode ter até seis metros de comprimento. O plástico tem resistência química elevada e seu interior, por ser liso, facilita o transporte do esgoto e a autolimpeza”, defende.

Instituto Trata Brasil (ITB) divulgou pesquisa com os últimos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, em 2012. O ranking avalia as 100 maiores cidades brasileiras em relação ao acesso da população à rede de saneamento básico. Desse total, 19 estão no Nordeste, sendo três baianas.

SANEAMENTO BÁSICO NO NORDESTE

Vitória da Conquista (BA) - 32ªSalvador (BA) – 34ªCampina Grande (PB) – 37ªPetrolina (PE) – 47ªMossoró (RN) – 58ªCaucaia (CE) – 63ªJoão Pessoa (PB) – 65ªFortaleza (CE) – 66ªFeira de Santana (BA) – 67ª Recife (PE) – 68ª

Caruaru (PE) - 69ªMaceió (AL) – 75ªOlinda (PE) – 78ªSão Luís (MA) – 79ªAracaju (SE) – 80ªNatal (RN) – 81ªJuazeiro do Norte (CE) – 88ªTeresina (PI) – 89ªJaboatão dos Guararapes (PE) – 98ª

MA

PI

BA

CE

AL

SE

Vitória da Conquista, na 32ª posição, e Salvador, na 34ª, ambas baianas, são os municípios nordestinos melhor colocados no ranking. O terceiro baiano na lista é Feira de Santana, ocupando a 67ª colocação. Confira, no infográfico ao lado, quais são as 19 cidades nordestinas listadas no levantamento do ITB, que posição ocupam no ranking e em que estados estão.

32ª

BA

34ª

BA

58ª

RN

63ª

CE

66ª

CE

67ª

BA

69ª

PE

68ª

PE 78ª

PE

79ª

MA

S

80ª

SE

ª81ª

RN

88ª

CE

89ª

PI 47ª

PE

PE

65ª

PB

RN 37ª

PB

PBPP

75ª

AL

98ª

PE

BRASIL

160

Antonio Júnior comenta ainda que a utilização do plástico propicia uma cava menor para a instalação de canais de água e esgoto, o que reduz custos das obras com aluguel e uso de máquinas, mão de obra, instalação e manutenção das redes.

“O uso de cerâmica era predominante há 15, 20 anos, mas algumas concessionárias dos serviços de água e esgoto ainda utilizam essa tecnologia. O plástico é cada vez mais dominante e tem potencial para crescer ainda mais nas soluções complementares”, garante o gerente da Braskem, empresa petroquímica com plantas de produção de plásticos no Polo Industrial de Camaçari.

Uma dessas soluções complementares é a tecnologia para a construção dos chamados poços de visita, que são aberturas das redes de água e esgoto para a entrada de homens que vão fazer a limpeza e conservação das estruturas. As tampas de ferro de alguns desses poços podem ser vistas nas principais avenidas de Salvador, por exemplo. “Mesmo um poço de visita pode ser feito de plástico, prevendo, ou não, a entrada de homens, já que em muitos casos essa entrada não seria mais necessária”, comenta.

Para Édison Carlos, do Trata Brasil, para resolver o problema de saneamento básico no país é preciso romper vários obstáculos. “Ainda existem muitos gargalos para se avançar no saneamento, entre eles a forte burocracia para a chegada dos recursos federais às obras, a demora das licenças ambientais, a má qualificação de muitas empreiteiras responsáveis pelas obras nas cidades, baixo envolvimento das prefeituras quando são necessárias intervenções locais (paralisação de trânsito, remoção de moradias em áreas irregulares), dentre outros”, completa.

“O plástico é cada vez mais dominante e tem potencial para crescer nas soluções complementares”ANTONIO RODOLFO JÚNIOR, gerente da Braskem

O Instituto Trata Brasil (ITB) é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), formado por empresas determinadas a promover avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país. Entre as empresas que participam da organização estão Braskem, Tigre, Coca-Cola, entre outras. “O governo quase precisa dobrar o ritmo de investimentos em água tratada e redes de esgoto para

Ritmo tem que aumentar para cumprir meta

161

A universalização dos serviços de abastecimento de água potável e de coleta de esgoto na Bahia – ou seja, o atendimento a toda a população do estado com redes de saneamento básico – tem um custo estimado de R$ 18,229 bilhões, o que corresponde a 11,4% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual. Segundo o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), a universalização dos serviços de saneamento básico tem de estar con-cluída até 2033. Os números do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2012 – levantados pelo Instituto Trata Brasil (ITB) - apontam que Salvador está na 34ª posição no Ranking do Saneamento, documento que avaliou as cem maiores cidades brasileiras em relação ao atendimento à população com redes de água e esgoto.

Salvador é a cidade nordestina melhor colocada na listagem. Segundo esses dados, 92,49% das pessoas que habitam a capital baiana são aten-didas por rede de abastecimento de água tratada. Já 82,68% da sua po-pulação tem acesso a coleta de esgoto. O mesmo percentual (82,68%) se aplica em relação ao tratamento do esgoto coletado na cidade. Os serviços, no entanto, geram perdas financeiras de 48,7% com a água tratada devido a vazamentos, ligações clandestinas e falta ou erros de medição. Já as perdas de água nos sistemas de distribuição somam 50,37%. Em todo o estado da Bahia, as perdas de água nos sistemas de distribuição somam 37,72%, e as financeiras são da ordem de 27,56%. O atendimento para acesso de água tratada atinge a 81,11% da população baiana.

Investimentos podem chegar a 11,4% do PIB da Bahia

conseguir universalizar os serviços até 2033. Hoje, o investimento anual está na casa dos R$ 9 bi anuais, sendo que para atingir a universalização daqui a 20 anos seriam necessários investir R$ 16 bi, totalizando os mais de R$ 300 bilhões até 2033”, assegura Édison Carlos, presidente do ITB.

Todo desafio envolve riscos. E os riscos para a universalização do sanea-mento básico no Brasil e na Bahia não são poucos, segundo Édison Carlos. Por um lado, há desafios técnicos e, por outro, os políticos. O lado técnico é mais fácil de resolver, assegura, com bons engenheiros, projetos e novas tecnologias. Os problemas políticos são mais difíceis. De acordo com Édison Carlos, os recursos federais são insuficientes e demoram a chegar às pre-feituras, e no âmbito local ainda persiste uma visão de que obras de esgoto custam caro e não dão votos porque ficam escondidas debaixo da terra.

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Emissão controladaEm breve será possível saber a quantidade de gases que contribuem para o efeito estufa emitidos em Salvador. Isso será possível porque a prefeitura, através da Secretaria da Cidade Sustentável, está firmando um convênio com a World Resources Institute (WRI) e o Iclei para realização de um inventário da emissão dos gases do efeito estufa. O projeto é financiado pela embaixada britânica.

O inventário será feito através da coleta de dados do consumo da energia elétrica, do consumo de combustível e do volume de resíduos gerados na cidade. Todos esses dados serão multiplicados por fatores de emissão adequados e assim será obtido o resultado. A previsão é que o estudo fique pronto em seis meses.

O documento será a primeira ferramenta que vai dar subsídos para que Salvador possa se planejar melhor quanto as suas emissões. “Vai possibilitar que a cidade tenha um planejamento das suas emissões. Sabendo quais são os setores mais críticos”, explica o gerente de Mudanças Climáticas da Iclei (Governos Locais pela Sustentabilidade), Igor Albuquerque.

Atualmente, cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, Curitiba, Recife e Fortaleza já contam com esse inventário. “É uma

Foto: Arisson Marinho

Igor Albuquerque: Salvador fará um inventário dos gases do efeito estufa

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ferramenta que permite que a cidade tenha um diagnóstico melhor dos recursos naturais que usa. Seja através da água, da energia ou da geração de resíduos sólidos”, informa.

O inventário é só o documento que vai sinalizar os excessos para que o poder municipal possa traçar estratégias para melhorar essa realidade. Por isso, após a conclusão do documento, é fundamental que haja um plano de ação e que essas ações sejam, de fato, implementadas.

Secretário da Cidade Sustentável, André Fraga já sabe que terá um longo trabalho pela frente. “Esse inventário dará subsídios para que a gente possa fazer uma política municipal de combate aos efeitos da mudança climática global e possamos determinar nosso plano de redução de emissões”, informa.

Segundo ele, na prática, Salvador já faz um pouco do dever de casa. “Na concessão do transporte público, a prefeitura orienta que a frota de ônibus use combustíveis menos poluentes. Ao adotar o BRT, ela contribui para a redução de ônibus trafegando na cidade. Com o plantio de ávores, também contribui para sequestrar o carbono”, lista. Ele cita ainda o IPTU Verde, que concede desconto para construções sustentáveis. Ou seja, que tenham sistema de eficiência energética, uma política de redução de resíduos, que utilize matérias-primas sustentáveis, que aproveite a iluminação natural, entre outros fatores.

Além da cidade, os indivíduos também podem fazer sua parte, contribuindo no dia a dia para a redução das emissões. Isso é possível através da coleta seletiva para reciclagem, redução do uso do automóvel e do uso da energia.

“Sendo a mudança climática um problema global, parece que ele não tem dono. Os países não fazem nenhum acordo. Isso foi visível no Rio +20. No entanto, as cidades já estão começando a se movimentar, entrando em acordo”, disse o secretário André Fraga, acrescentando que, ao realizar o inventário, Salvador passa a integrar a grande rede de cidades que se preocupam e passam a fazer alguma coisa pelo clima.

*Efeito no planeta

7,8% É o percentual de aumento das emissões brasileiras de gases de efeito estufa em 2013 na comparação com o ano anterior

41,1% Foi o percentual de queda registrado durante o período de 2005 a 2012. O resultado foi impulsionado pela redução no desmatamento

7,8 toneladas de gás carbônico por habitante. Este é o total de emissões por pessoa (per capita). O volume é maior que a média global, que é de 7,2

Energia

Agropecuária Indústria Resíduos

Uso da terra

473.265.688

416.694.029 86.512.922 48.738.583

1.025.211.222

Fonte: SEEGEmissão de gases-estufa no país em 2013 Em tCO2eq

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Aumento da temperatura, da frequência das chuvas, estiagem, seca em algumas regiões, aumento do nível do mar... Você sabia que cada um desses fatores tem uma influência direta no saneamento básico? A infor-mação é do gerente de Mudanças Climáticas do Iclei, Igor Albuquerque, um dos palestrantes do Agenda Bahia 2014. Segundo ele, o aumento da inci-dência de chuvas pode acarretar em enchentes, contaminando reservató-rios de água. Já a estiagem diminui a oferta de água e, consequentemente, da água disponível para saneamento.

“O saneamento tem que desenvolver mecanismos de tratar essas questões, de se adaptar, de mitigar esses embargos. Seja através da introdução de tecnologias e inovação, através de reaproveitamento de gases, de tratamento de efluentes líquidos, ou de políticas integradas à gestão de resíduos”, destaca.

Entre as iniciativas desenvolvidas no país, ele cita Recife e Fortaleza, como duas cidades-piloto de um projeto chamado Airborne Weather (radar me-teorológico). Segundo Albuquerque, nesse projeto, o saneamento aparece como uma prioridade, como algo fundamental para o desenvolvimento urbano de baixo carbono. “Saneamento não está simplesmente ligado ao desenvolvimento, às questões econômicas e políticas, mas, principalmen-te, ao bem-estar, à qualidade de vida, à saúde e à educação”.

Mudanças climáticas também afetam o saneamento básico

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Inspiração alemã

Não foi só na Copa do Mundo que a Alemanha ganhou de goleada do Brasil. No quesito de eficiência energética nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), os alemães batem um bolão. Pelo menos mil ETEs do país que usam o chamado tratamento anaeróbico do lodo (que é um produto criado no tratamento do esgoto) gera o biogás ou gás metano. Muitas ETEs pelo mundo geram esse gás, mas as alemãs transformam o metano em energia para o consumo das estações.

“Em média, 50% do consumo de kWh da estação de tratamento é consumido pela própria geração de biogás nas mil estações que existem na Alemanha. Com isso, só 1% do lodo é enviado para aterros. O objetivo é tornar 100% eficientes”, explica Victor Bustani Valente, coordenador de aproveitamento energético de águas residuais da GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit).

Foto: Arisson Marinho

Victor Valente acredita que o uso de

biogás nas estações pode ser viável

economicamente

- O biogás gerado nas estações de trata-mento de esgoto pode ser usado para suprir a energia das próprias estações

- O governo deve investir em mecanis-mos para incentivar projetos de eficiência energética

- A academia precisa formar mão de obra qualificada e investir em pesquisas para aprimoramento e uso do biogás

- Investimento em tecnologia e inovação também deve partir das empresas

Solução

166

A GIZ é uma empresa do governo alemão criada para cooperação internacional que atua em 130 países no mundo. “A realidade alemã é de vanguarda, mas há outros países do mundo como Estados Unidos (com mais de 140), África do Sul, Grécia e o Brasil que já utilizam o biogás gerado no tratamento do esgoto no consumo de energia das próprias ETEs”, diz o especialista. Para Valente, um dos principais benefícios do reúso do biogás é de economia no processo de tratamento do esgoto. “A eletricidade é o segundo maior componente do custo operacional das companhias de saneamento”, explica.

Valente destaca que os projetos das ETEs que usam o biogás gerado são uma importante solução de sustentabilidade. “Vivemos em cidades cada vez maiores que não se sustentam, que precisam de alimentos e produtos de fora. Além disso, tem o consumo de tudo isso que gera resíduos, emissões e esgotos”, explica.

A GIZ, no Brasil, participa do Projeto Probiogás, de cooperação técnica entre a GIZ e o Ministério das Cidades, com o objetivo de até 2017 ter feito um investimento de 10 milhões de euros para aumentar a produção e uso do biogás no Brasil.

“Não é possível estimar hoje quantas ETEs do Brasil usam o biogás que eles geram. Temos alguns exemplos em atividade como em Minas Gerais, Ribeirão Preto e Franca, em São Paulo, além da Bahia (em fase de finalização de projeto). O biogás gera energia elétrica, térmica e na forma de combustível veicular, que pode ser usada em vários momentos da produção das ETEs”.

Para Valente, é fundamental que haja uma interação de governo, iniciativa privada e instituições de ensino para melhorar o uso do biogás. “O governo precisa criar mecanismos para incentivar projetos de eficiência energética. A academia precisa formar mão de obra qualificada e as empresas necessitam investir em inovação”.

“O biogás pode ser usado para tornar as estações de tratamento mais eficientes”VICTOR VALENTE, coordenador da GIZ

Já existe isenção de ICMS para equipamentos geradores de energia a partir de biogás nos estados de São Paulo e Minas Gerais

Nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo já existem decretos estaduais para a injeção do biogás (biometano) na rede de abastecimento

Até dezembro, terá reunião da Agência Nacional de Petróleo (ANP) para regulamentar o uso do biometano como combustível

* Biogás

1 - Impostos 2 - Biometano 3 - Regulamentação

167

3 - Regulamentação

Energia que sai do esgoto

Da descarga dos vasos sanitários para as turbinas de geração de energia. Parece um caminho sem sentido relacionar o tratamento do esgotamento sanitário com a produção energética, mas essa já é uma realidade em cerca de mil cidades da Alemanha, que começa a ganhar corpo também no Brasil depois de ter aportado em países com Chile, EUA, África do Sul, Grécia e China, dentre outros países.

O desafio do tratamento de esgoto é grande. Ele é composto por 99,9% de água e 0,1% de outros elementos. As estações de tratamento de esgoto têm o objetivo de devolver a água com qualidade e nelas há uma oportunidade de extração de energia, o chamado biogás ou gás metano.

A utilização do chamado biogás gerado nas estações de tratamento, segundo Valente, é uma oportunidade para diminuir os custos do tratamento do esgotamento sanitário. “O biogás é gerado normalmente no processo de tratamento do esgoto. Mas as estações não costumam aproveitar esse gás para que ele se transforme em energia, que pode ser usada no próprio consumo das ETEs. É uma boa economia, já que a eletricidade é o segundo maior componente do custo operacional das companhias de saneamento”, argumenta Valente.

Na Alemanha, as mil ETEs geram 1 Terawatt-hora (TWh) de energia, o que consegue suprir 50% da demanda de energia das estações. A meta alemã é conseguir 100% de eficiência energética com as estações de tratamento. No Brasil, há projetos na Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais sendo desenvolvidos. Além da economia do valor do tratamento do esgoto, de acordo com Valente, a utilização do biogás nas ETEs favorece a melhoria da qualidade no tratamento .

“Como, para gerar o uso do biogás, o esgoto inicial passa por mais processos, ele acaba sendo melhor tratado e tem uma redução da carga orgânica. A utilização do biogás nas ETEs ainda favorece uma necessidade da melhoria na mão de obra para trabalho nas estações. As empresas que investem nesse tipo de ação ainda conseguem melhoria da imagem da corporação diante da sociedade”, argumenta Valente.

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Esta estação alemã tem capacidade para atender até 200 mil habitantes. A secagem é efetuada por energia solar e térmica proveniente do calor resultante da reciclagem dos gases de fermentação do esgoto.

A Companhia de Tratamento de Esgotos de Karlsruhe é responsável pela coleta e tratamento de esgotos da cidade alemã. A capacidade da ETE de Karlsruhe abrange 875 mil habitantes. O lodo bruto seco é utilizado num processo próprio de incineração do qual é utilizado o calor para a produção de eletricidade (através de turbinas a vapor) e para a secagem do lodo.

A planta de biogás em Darmstadt-Wixhausen é uma das primeiras a colocar biogás proveniente da sua própria produção, após ser devidamente enriquecido, na rede de distribuição de gás natural.

A Ambient, concessionária responsável pelo esgoto, trata em torno de 110 mil m³ de esgoto por dia com eficiência de 96% de remoção de carga orgânica. É produzido cerca de 7.000 Nm³ (nanômetro cúbico) por dia de biogás. Desde 2011, foi instalado na ETE o Sistema de Geração de Energia Elétrica com uso do biogás, composto por dois motogeradores que geram cerca de 15 mil kW/h por dia, que são usados para consumo interno.

A capacidade de tratamento dessa ETE alemã é de processar o esgoto gerado por 95 mil habitantes. O biogás produzido é aproveitado pela planta em microturbinas.

O Departamento de Água de Orange, no Sul da Califórnia, investiu em filtros, tratamentos, produtos químicos, uso de luz ultravioleta e repouso subterrâneo para transformar 280 milhões de litros de esgoto em água potável. A região é cinco vezes mais seca do que São Paulo.

* Pelo mundo: esgoto vira até água potável

Neckarsulm

Karlsruhe

Wixhausen

Ribeirão Preto

Carl Macher

Orange

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

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Orange

Riqueza de onde menos se espera

Qual a melhor solução para o esgoto do que transformá-lo em dinheiro? Parece loucura, mas essa iniciativa já é uma realidade em várias partes do mundo e ganhou um projeto piloto em Feira de Santana, através de uma parceria entre a Coelba e a Embasa, com o apoio da agência de cooperação alemã GIZ e participação da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs).

A gerente de eficiência energética do grupo Neoenergia, que controla a Coelba, Ana Christina Mascarenhas, apresentou o projeto da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Jacuípe II, no segundo dia de palestras do Fórum Agenda Bahia, que teve como tema o Saneamento Básico. A ETE vai gerar energia com o aproveitamento do biogás produzido com o tratamento de esgoto.

O projeto, que ainda não foi concluído, já gera energia elétrica para 120 mil habitantes do município, o que corresponde a 20% da população total de Feira de Santana. “A nossa estimativa é que o novo sistema supra 80% da energia demandada pela estação”, revelou a gerente de eficiência energética da Neoenergia.

Hoje, a estação consome 80MWH por mês, que representa uma conta de R$ 26 mil paga pela Embasa, que administra a estação, à Coelba. Mas, com o novo sistema, a empresa de água e saneamento vai economizar cerca de R$ 20 mil. “Temos um investimento total de mais de R$ 3,8 milhões, sendo R$ 300 mil uma contrapartida da Embasa. A nossa previsão de geração já é no segundo semestre de 2015, provavelmente em julho”, revelou.

O gás metano, que é liberado na decomposição do esgoto, é 21 vezes mais prejudicial ao efeito estufa do que o gás carbônico. No processo de geração de energia, esse gás é captado por um reator UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket), que funciona como um biodigestor que converte a matéria orgânica em biogás a partir da digestão anaeróbica. Com isso, o biogás reaproveitado é usado para a geração de energia.

Essa técnica só funciona em estações de esgoto que utilizam o processo anaeróbico. No Brasil, elas representam 90% do total. De acordo com o Biogás Journal, da German Biogás Association, quase 3% de toda energia gerada no país é consumida pelas empresas de saneamento. Para Ana Christina, a iniciativa, além de ser uma alternativa para redução do consumo de energia tradicional, contribuiu com a preservação do meio ambiente. “A gente não pode jogar metano no meio ambiente, enquanto poderíamos jogar energia”, falou a gerente.

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Foto: Arisson Marinho

A gerente da Neoenergia, Ana Christina

Mascarenhas, apresentou resultados da estação de

tratamento de esgoto

Ana Christina Mascarenhas explicou que alguns obstáculos dificultam o reaproveitamento do esgoto no país. A falta de qualificação profissional é um dos principais. “Falta conhecimento técnico aqui. Essa ideia da Embasa e da Coelba veio de fora, durante uma viagem que fizemos à Alemanha. Não temos aqui conhecimento para tocar isso aí”, contou. A participação da Universidade Estadual de Feira de Santana aconteceu com o intuito de mudar esse cenário. “A presença da Uefs é uma forma de disseminar esse conhecimento”, apontou.

Segundo ela, o objetivo é que esse conhecimento gerado permaneça no estado e gere novos projetos semelhantes ao de Jacuípe II. “Está sendo bem proveitoso para a universidade também. Porque tudo aquilo que vira energia é muito interessante para todos”, avaliou. Outro ponto de entrave identificado pela gerente de eficiência energética do grupo Neoenergia é o desempenho do governo em viabilizar o sistema. “Falta vontade política no Brasil”, disparou. Para ela, o valor baixo do leilão de reservas de biogás, feito pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a dificuldade de importação de equipamentos e o ICMS sobre a energia jogada na rede são exemplos que deveriam ser modificados pelos poderes públicos.

Tecnologia nacional será desenvolvida para o projeto

*Estação Jacuípe II

120 mil habitantes, ou 20% da po-pulação de Feira de Santana, utilizam a energia produzida na ETE

80% da energia da estação deve ser produzida a partir do biogás, segundo estimativa da Neoenergia

20 mil reais vão ser economizados por mês pela Embasa com energia elétrica a partir do novo sistema de biogás

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Segundo Ana Christina Mascarenhas,, atualmente, a estação de Jacuípe II, em Feira de Santana, atende a 120 mil habitantes do município, o que cor-responde a cerca de 20% da população total de Feira de Santana. “A nossa estimativa é que o novo sistema supra 80% da energia demandada”, revelou. A estação consome 80MWh por mês, que representa um valor de R$ 26 mil que a Embasa paga à Coelba de energia. Com futuro desconto de 80%, cerca de R$ 20 mil serão economizados pela empresa de água e sa-neamento. Ela explicou que a iniciativa é uma parceria da Coelba e Embasa, com o apoio da GIZ. “Temos também a Universidade Estadual de Feira de Santana nesse projeto, porque é uma forma de disseminar o conhecimen-to”, contou Ana.

Para ela, a falta de qualificação é o maior entrave que impede o rea-proveitamento do esgoto. “Falta conhecimento técnico. E também a questão do custo é um problema, tudo que vem para cá fica mais caro. Mas cabe às empresas se unirem e ficarem atentas para viabilizar esses projetos. Porque não é possível que a gente fique jogando metano no meio ambiente, enquanto poderíamos jogar energia”, falou.

Ana Christina também argumentou que o leilão de reservas de biogás, feito pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), tem valores muito baixos. “Hoje, estamos pagando um valor muito alto pela geração térmica e estamos fazendo leilões com valores baixos”, disse. Para ela, falta vontade política para incentivar a exploração do esgoto como energia. “Vamos tirar o ICMS de jogar energia na rede. Facilitar as importações desses equipamentos. Se o governo quisesse, faríamos isso a um custo muito menor. Não é possível que a gente esteja queimando óleo diesel, enquanto poderíamos estar usando o esgoto”, completou Ana Christina Mascarenhas.

Estação em Feira já atende a 20% do município

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Multiplicação da água

A ação da Aquapolo na região do ABC paulista é exemplo prático dos benefícios de um dos pilares da sustentabilidade: reutilizar. Ao reutilizar, amplia-se a vida útil de produtos e se economiza no uso de recursos naturais.

No caso, a economia é de água, recurso cada vez mais escasso em todo o mundo e em especial em São Paulo, que, além de atravessar uma das maiores secas da história, apresenta uma população cuja demanda é maior que a oferta disponível em rios e aquíferos.

A Aquapolo capta parte do esgoto gerado nos municípios do ABC para transformá-lo em água para reúso industrial. O recurso é disponibilizado às 13 indústrias instaladas no Polo Petroquímico de Mauá (também no ABC). Graças a essa reutilização, a água do Rio Tamanduateí que seria usada na produção petroquímica fica disponível para uso humano. Benefício que atinge diretamente a 500 mil pessoas - quase que a soma total dos habitantes de Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia.

A Aquapolo foi apresentada ao público do Fórum Agenda Bahia pelo líder de Desenvolvimento de Novos Negócios da Odebrecht Ambiental, Cláudio Villas Boas. Segundo ele, o projeto trouxe outra vantagem para a economia local: segurança hídrica. O projeto, assegurou o executivo, impediu a descontinuidade dos trabalhos da indústria paulista durante a seca.

No caso de São Paulo, essa segurança é um ativo importante para a atração de novos investimentos e instalação de novas indústrias no próprio Polo Petroquímico do ABC. “Porém, o mais bonito do projeto é que aumentou a disponibilidade de acesso a água potável para 500 mil pessoas”, falou. Entre diversos prêmios que o Aquapolo recebeu em reconhecimento a suas ações de sustentabilidade, destaca-se o que, segundo o executivo, é o maior do setor, o Global Water Award (Prêmio Global da Água, em tradução livre).

Foto: Arisson Marinho

Cláudio Villas Boas mostrou projeto de reúso de água através do reaproveitamento de esgoto

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O executivo Cláudio Villas Boas explicou que a Aquapolo é uma empresa formada pela Odebrecht Ambiental, dona de 51% do negócio, e pela Sabesp - empresa de saneamento básico de São Paulo, proprietária de 49%. O investimento na nova empresa foi de R$ 364 milhões. Ainda segundo o executivo, a parceria nasceu a partir de condições pré-exis-tentes: geração de esgoto, a demanda das 13 plantas industriais do polo petroquímico da região e a escassez de recursos hídricos em São Paulo. Tais condições deram viabilidade econômica ao projeto.

Apesar dessas pré-condições serem praticamente únicas, Villas Boas acredita que o exemplo pode ser replicado na Bahia, desde que observa-das ofertas e demandas locais.

“Temos aqui uma demanda industrial, do Polo de Camaçari, temos, também, o esgoto gerado na região metropolitana, Camaçari e Simões Filho”, listou, para, em seguida, completar: “O complicador é que aqui não há escassez de água, o que gera impacto na viabilidade econômica (do empreendimento), pois água em excesso diminui o preço (que pode ser pago pela água tratada pelas indústrias)”.

O executivo da Odebrecht Ambiental acredita, porém, que a equação financeira pode valer a pena se o tratamento de esgoto gerar energia, pois reconheceu no suprimento de energia elétrica um dos maiores problemas do Polo de Camaçari. Ainda assim, disse que é preciso fazer contas e um planejamento financeiro adequado.

Para executivo, projeto pode ser repetido em Camaçari

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A produção de água de reúso começa na Estação de Tratamento do ABC, da Sabesp, que coleta esgoto in natura das cidades da Região Metropolitana de São Paulo. A Sabesp processa o dejeto, retirando a maior parte dos poluentes orgânicos.

Ao entrar na Estação do Aquapolo, o esgoto passa por uma filtragem de disco que retém detritos sólidos minúsculos, maiores do que 400 micra. Micra é o plural de mícron. Um fio de cabelo tem a espessura de até 90 micra.

Depois da filtragem a disco, o insumo é encaminhado para nove tanques biológicos, onde micro-organismos atuam para remover matéria orgânica. Processos anóxicos e aeróbicos ajudam a remover componentes como nitrogênio e fósforo.

Se a qualidade da água ainda não atender aos parâmetros exigidos pelas indústrias clientes, aplica-se o processo de osmose reversa. A técnica reduz a condutividade e a salinidade do líquido, responsável pela diminuição da vida útil dos equipamentos industriais. A água passa ainda por um processo de desinfecção com a aplicação de dióxido de cloro.

Dos tanques biológicos, o fluxo é bombeado para 63 módulos de ultrafiltração equipados com o sistema MBR (Membrane Bio Reactor), dotados de poros de 0,05 micron. As membranas de ultrafiltração eliminam sólidos minúsculos e bactérias. Medidores on line monitoram a qualidade do líquido permeado.

No fim do processo, quatro tanques cobertos, com capacidade total de 70 milhões de litros, armazenam o produto pronto para ser enviado ao Polo Petroquímico do ABC. Em seguida, a água é bombeada por uma adutora de 17 quilômetros e a água de reúso é distribuída diretamente aos clientes.

* Passos da transformação

1 - Captação de esgoto

2 - Filtragem

3- Tanque biológico

5 - Parâmetros

4 - Ultrafiltração

6 - Bombeamento

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

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O xixi que vale ouro

Fazer xixi na rua em Salvador vai custar caro. Quem for pego em flagrante terá que pagar uma multa no valor de R$ 1.008. Mas não duvide que isso, no futuro, poderá se transformar numa atitude que vale ouro. É que, em Amsterdã, na Holanda, a urina já é usada como matéria-prima para confecção de fertilizantes usados na agricultura. Na verdade, é o fósforo extraído dela que é usado na empreitada. Além do fósforo, a urina humana é rica em nitrogênio e potássio.

De acordo com o professor sênior José Eli da Veiga, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, depois das rochas fosfálticas do Marrocos, a maior fonte de fósforo é a urina. Detalhe: no mundo inteiro, só há dois produtores do mineral. Além do Marrocos, a China. Ou seja, caso haja alguma barreira à exportação, os demais países terão que se virar para garantir sua produção.

“Não se trata de uma questão de esgotamento de recurso, que é ultraconcentrado, mas qualquer problema com os exportadores afetaria o resto do mundo”, observa o professor da USP. Para viabilizar o projeto na Holanda, foi montado um esquema de coleta de urina. Para o projeto dar certo, é preciso que os colaboradores contribuam. Nos mictórios, só é possível fazer xixi, explica José Eli.

A estimativa era que o volume de urina produzido nos parques seria suficiente para fertilizar, anualmente, um espaço equivalente a 10 mil campos de futebol. O projeto foi iniciado em 2014.

No momento, importar o fósforo de fora ainda sai mais barato do que extraí-lo do xixi, mas o professor destaca que, a depender do cenário internacional, isso pode mudar. “Em 2008, por exemplo, a China extinguiu a exportação e o preço ficou dez vezes maior”, informa. É por isso que a Holanda atua pensando no futuro. Hoje, toda sua produção de fertilizante usando o fósforo retirado do xixi é estocada.

“O fósforo é estratégico. A gente importa, mas já deveríamos estar pensando nisso. Durante a Copa, só com a coleta da Vila Madalena, teríamos estocado urina para muitos anos”, alerta o especialista.

Na capital baiana, só no Carnaval, segundo estimativas da Empresa de Limpeza Urbana do Salvador (Limpurb), são gerados 12 milhões de litros de xixi. “Para chegarmos a esse número, consideramos um público de 3 milhões de pessoas, o consumo de bebida e multiplicamos pelos seis dias de festa”, informa a presidente da Limpurb, Kátia Alves.

Segundo ela, a urina coletada no Carnaval seria capaz de gerar 120 milhões de litros de fertilizantes. “Cada litro de urina deve ser diluído em 10 litros

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de água para ser usada como fertilizante”, explica. Apesar da abundância, Kátia Alves lista dois motivos que fazem com que a prática não seja adotada ainda por aqui, por enquanto.

“Não temos equipamentos exclusivos para coleta só de urina e também não sabemos se ela serve como fertilizante após a ingestão de bebida alcoólica. Caso já tenha algum estudo que sinalize isso, podemos avaliar a possibilidade de aproveitar, pelo menos para usar nos canteiros e praças da cidade”, informa.

A utilização da urina para gerar eletricidade já foi aplicada aqui no Brasil, no Carnaval do Rio de Janeiro, com uso de mictórios especiais. O processo funcionou igual ocorre nas centrais hidroelétricas: o fluxo de urina moveu um dínamo presente no banheiro, que usou o líquido para produzir energia. A eletricidade foi armazenada nas baterias usadas para abastecer o carro de som.

- O fósforo extraído da urina é usado como matéria-prima para confecção de fertilizantes utiliza-dos na agricultura

- Em experiência na Holanda, o volume de urina produzido nos parques será sufi-ciente para fertilizar, anualmente, um espaço equivalente a 10 mil campos de futebol

- Em 2014, no Carnaval do Rio, a urina foi usada para gerar eletricidade

Solução

*Carnaval de Salvador

120 milhões de litros de fertilizantes poderiam ser gerados com o xixi produzido no Carmaval baiano

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Um estudo realizado pelo Ph.D. e decano do Centro de Formação em Ciências Ambientais da Universidade Federal do Sul Da Bahia (UFSB) Asher Kiperstok aponta para a necessidade do ciclo do nitrogênio ser melhor gerenciado. As principais rotas de excreção do nitrogênio do corpo humano são a urina e as fezes. O corpo humano retém apenas 10% do nitrogênio ingerido na forma de proteínas, sendo 80% eliminado na urina e 10%, nas fezes. A urina deve ser coletada para utilização na agricultura.

Estudos desenvolvidos na Universidade Federal da Bahia (Ufba) apontam que a principal utilização dos sanitários em prédios de uso público é para atender à necessidade de urinar. Essa motivação representa acima de 70% das idas aos sanitários. No caso de uso de mictórios sem descarga hídrica, economias superiores a 80% do consumo de água dos sanitários seriam possíveis.

O objetivo do projeto europeu Value from Urine, coordenado pelo Centre of Excellence for Sustainable Water Technology (WETSUS), na Holanda, é produzir, numa primeira fase, fertilizantes para solos ricos em fósforo e, num segundo momento, utilizar micróbios capazes de gerar eletricidade através da urina e fertilizantes ricos em azoto.

Os dois países estão realizando experiências que usam células a combustível microbiana para a bioeletricidade através de estações de tratamento. Isso é possível porque micro-organismos oxidam a matéria orgânica, permitindo a produção direta de eletricidade. Esse novo processo tem sido usado em sistema de tratamento de águas residuais, apresentando elevado potencial para integrar fluxos de eletricidade e tratamento de águas residuais em sistemas descentralizados.

* Negócios sustentáveis

Bahia

Holanda

Espanha e França

Foto: Divulgação

“Durante a Copa do Mundo, só com a coleta da Vila Madalena, teríamos estocado urina para muitos anos”JOSÉ ELI DA VEIGA, professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da USP

Infográfico: Déficit de saneamento na Bahia supera média nacional

Representação, segundo estado, do índice médio de tratamento dos esgotos coletados, em 2011, distribuído por faixas percentuais

< 10,0 %

Índice de esgoto tratadoreferido à água consumida

> 70,0 %

10,0 a 20,0 %20,1 a 40,0 %40,1 a 70,0 %

Representação, segundo estado, do índice médio de atendimento urbano por rede de água, em 2011, distribuído por faixas percentuais

< 40,0 %

Índice de atendimentourbano de água

> 90,0 %

40,0 a 60,0 %60,1 a 80,0 %80,1 a 90,0 %1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013

Domicílios Atendidos com Rede de Água

Domicílios Atendidos com Rede Coletora de Esgoto

Domicílios Atendidos com Coleta de Lixo

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Brasil

Bahia

Brasil

Bahia

Brasil

Bahia

A Bahia ainda está abaixo da média nacional em relação aos serviços que compõem o saneamento básico. Quando se compara o número de domicílios atendidos com abastecimento de água, o estado evoluiu de 68,5%, em 1999, para 82,9% em 2013. Um avanço significativo, sem dúvida, mas ainda abaixo da média nacional, cuja evolução foi de 79,8% para 85%, no período.

Em termos de cobertura de redes de esgoto, de 1999 a 2013, os domicílios baianos atendidos passaram de 29,4% para 50,1%, o que significa que, apesar do reconhecido avanço, metade dos lares estão descobertos.No Brasil, houve uma evolução de 52,9% para 58,2% no período.

Já em relação à coleta de lixo, a Bahia passou de 58,9% dos domicílios atendidos para 80,3%, entre 1999 e 2013. No Brasil, a evolução foi de80,0% para 89,4% no período.

Metas do Plano Nacionalde SaneamentoO Plano Nacional de Saneamento Básico (PNSB)foi publicado em dezembro de 2011. Ele estabelece diretrizes, metas e ações de saneamento básico parao país nos próximos 20 anos (2014-2033).

O plano prevê alcançar, em 20 anos, 99% decobertura no abastecimento de água potável,sendo 100% na área urbana e 92% no esgotamento sanitário, sendo 93% na área urbana.

Em resíduos sólidos, o Plano prevê a universalizaçãoda coleta na área urbana e a ausência de lixões ou vazadouros a céu aberto em todo o país. Para águas pluviais, outra meta é a redução da quantidade de municípios em que ocorrem inundações ou alagamentos, na área urbana de 11%.

O PNSB contempla uma abordagem integradados serviços de saneamento básico em quatro componentes: abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejode resíduos sólidos, e drenagem e manejo daságuas pluviais urbanas.

50 cidades baianasvão elaborar planos50 municípios baianos serão contemplados com capacitação e assessoramento técnico, para elaboraro Plano Municipal de Saneamento, pelo Programa Sanear Mais Bahia. Termo de Cooperação Técnicafoi firmado entre a superintendência estadual da Fundação Nacional de Saúde e o Conselho Regionalde Engenharia e Agronomia da Bahia. O PMSB é obrigatório pela Lei 11.445/2007, que estabeleceas diretrizes nacionais para o saneamento básico.

Municípios contempladosÁgua Fria, Antonio Gonçalves, Arataca, Aurelino Leal, Banzaé, Caatiba, Caldeirão Grande, Camamu, Caculé, Caetité, Igaporã, Lagoa Real, Malhada, Matina, Palmas de Monte Alto, Pindaí,São Sebastião, Laranjeiras, Barrocas, Biritinga, Candeal, Ichú, Lamarão, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia,São Domingos, Teofilândia, Valente, Cravolândia, Itaquara, Lafaiete Coutinho, Lagedo do Tabocal, Maracás, Mutuípe,São Miguel das Matas, Ubaíra, Filadélfia, Guaratinga, Heliópolis, Iguaí, Itatim, Jussari, Maraú, Milagres, Nova Canaã, Pindobaçu, Ponto Novo, Riachão das Neves, Riachão do Jacuípe.

Déficit de saneamento naBahia supera média nacional

99%de cobertura

no abastecimentode água potável

100%na área urbana

93%na área urbana92%

no esgotamentosanitário

Rede de água Rede coletora de esgoto Coleta de lixo

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Fonte: Ministério das Cidades.Fonte: IBGE.

Representação, segundo estado, do índice médio de tratamento dos esgotos coletados, em 2011, distribuído por faixas percentuais

< 10,0 %

Índice de esgoto tratadoreferido à água consumida

> 70,0 %

10,0 a 20,0 %20,1 a 40,0 %40,1 a 70,0 %

Representação, segundo estado, do índice médio de atendimento urbano por rede de água, em 2011, distribuído por faixas percentuais

< 40,0 %

Índice de atendimentourbano de água

> 90,0 %

40,0 a 60,0 %60,1 a 80,0 %80,1 a 90,0 %1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013

Domicílios Atendidos com Rede de Água

Domicílios Atendidos com Rede Coletora de Esgoto

Domicílios Atendidos com Coleta de Lixo

1999

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A Bahia ainda está abaixo da média nacional em relação aos serviços que compõem o saneamento básico. Quando se compara o número de domicílios atendidos com abastecimento de água, o estado evoluiu de 68,5%, em 1999, para 82,9% em 2013. Um avanço significativo, sem dúvida, mas ainda abaixo da média nacional, cuja evolução foi de 79,8% para 85%, no período.

Em termos de cobertura de redes de esgoto, de 1999 a 2013, os domicílios baianos atendidos passaram de 29,4% para 50,1%, o que significa que, apesar do reconhecido avanço, metade dos lares estão descobertos.No Brasil, houve uma evolução de 52,9% para 58,2% no período.

Já em relação à coleta de lixo, a Bahia passou de 58,9% dos domicílios atendidos para 80,3%, entre 1999 e 2013. No Brasil, a evolução foi de80,0% para 89,4% no período.

Metas do Plano Nacionalde SaneamentoO Plano Nacional de Saneamento Básico (PNSB)foi publicado em dezembro de 2011. Ele estabelece diretrizes, metas e ações de saneamento básico parao país nos próximos 20 anos (2014-2033).

O plano prevê alcançar, em 20 anos, 99% decobertura no abastecimento de água potável,sendo 100% na área urbana e 92% no esgotamento sanitário, sendo 93% na área urbana.

Em resíduos sólidos, o Plano prevê a universalizaçãoda coleta na área urbana e a ausência de lixões ou vazadouros a céu aberto em todo o país. Para águas pluviais, outra meta é a redução da quantidade de municípios em que ocorrem inundações ou alagamentos, na área urbana de 11%.

O PNSB contempla uma abordagem integradados serviços de saneamento básico em quatro componentes: abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejode resíduos sólidos, e drenagem e manejo daságuas pluviais urbanas.

50 cidades baianasvão elaborar planos50 municípios baianos serão contemplados com capacitação e assessoramento técnico, para elaboraro Plano Municipal de Saneamento, pelo Programa Sanear Mais Bahia. Termo de Cooperação Técnicafoi firmado entre a superintendência estadual da Fundação Nacional de Saúde e o Conselho Regionalde Engenharia e Agronomia da Bahia. O PMSB é obrigatório pela Lei 11.445/2007, que estabeleceas diretrizes nacionais para o saneamento básico.

Municípios contempladosÁgua Fria, Antonio Gonçalves, Arataca, Aurelino Leal, Banzaé, Caatiba, Caldeirão Grande, Camamu, Caculé, Caetité, Igaporã, Lagoa Real, Malhada, Matina, Palmas de Monte Alto, Pindaí,São Sebastião, Laranjeiras, Barrocas, Biritinga, Candeal, Ichú, Lamarão, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia,São Domingos, Teofilândia, Valente, Cravolândia, Itaquara, Lafaiete Coutinho, Lagedo do Tabocal, Maracás, Mutuípe,São Miguel das Matas, Ubaíra, Filadélfia, Guaratinga, Heliópolis, Iguaí, Itatim, Jussari, Maraú, Milagres, Nova Canaã, Pindobaçu, Ponto Novo, Riachão das Neves, Riachão do Jacuípe.

Déficit de saneamento naBahia supera média nacional

99%de cobertura

no abastecimentode água potável

100%na área urbana

93%na área urbana92%

no esgotamentosanitário

Rede de água Rede coletora de esgoto Coleta de lixo

79,8%

85%

Brasil

1999

2013

68,5%

82,9%

Bahia

1999

2013

52,9%

58,2%

Brasil

1999

2013

29,4%

50,1%

Bahia

1999

2013

80%

89,4%

Brasil

1999

2013

58,9%

80,3%

Bahia

1999

2013

Fonte: Ministério das Cidades.Fonte: IBGE.

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Otimismo de sobra

O prazo exíguo para a apresentação de planos municipais e saneamento básico não afeta o otimismo de três especialistas do setor que debateram o tema dentro da programação do Fórum Agenda Bahia.

O Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) prevê a universalização do acesso ao saneamento básico até 2033. Uma das etapas dessa política é a conclusão e a apresentação de planos municipais de saneamento até 31 de dezembro de 2015. O município que não cumprir o cronograma não terá acesso a recursos federais para financiar obras de coleta e tratamento de esgoto, abastecimento de água, de drenagem pluvial e de tratamento de resíduos sólidos.

O debate foi conduzido pelo jornalista da TV Bahia Mauro Anchieta e contou com a participação da assessora de planejamento da Embasa, Bartira Rondon, do representante da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Álvaro Menezes, e do chefe de gabinete do Conselho Regional de Engenharia (Crea), Hebert Oliveira.

“A universalização do acesso ao saneamento é possível. Mas a condição para isso é a conjunção de esforços (prefeituras, estados, união, empresas públicas e privadas)”, afirmou Bartira Rondon. Segundo ela, o critério de exigência de um plano municipal por parte do governo federal não é uma mera questão burocrática. O motivo é que um dos desafios do setor é garantir a eficiência da aplicação dos recursos nas obras contratadas. “O plano é uma necessidade para que não haja recursos públicos jogados no lixo”, falou. “O novo modelo para o setor tem oito anos. Temos de sair do entender para o acontecer", completou.

Foto: Arisson Marinho

O jornalista Mauro Anchieta mediou o debate com Hebert, Bartira e Álvaro

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Álvaro Menezes e Hebert Oliveira não acreditam que todos os municípios vão concluir seus planos dentro do prazo. Mas afirmam que muitas cidades o farão. Para os dois, o obstáculo para o cumprimento do cronograma é a falta de mão de obra qualificada à disposição dos municípios de pequeno e médio porte.

“A falta de mão de obra especializada não é um problema da Bahia ou do Nordeste. É de todo o Brasil”, afirmou Hebert Oliveira.

A favor do cronograma, os especialistas apontaram o interesse popular e as cobranças do Ministério Público sobre os prefeitos. “Os problemas ambientais são mais visíveis na atualidade. Há pressão da sociedade. E o Ministério Público também ajuda nisso”, afirmou o representante dos engenheiros sanitaristas e ambientais.

Para garantir a celeridade e a execução do Plansab, Menezes pediu maior flexibilidade do governo federal. “A União precisa entender que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) precisa ser mais flexível para pagar Parcerias Público-Privadas. Que os recebíveis não podem ser a única garantia da obra. O PAC poderia ter um fundo garantidor para o saneamento como forma de atrair mais investimentos, principalmente privados”.

O representante do Crea apontou como uma saída a criação de consórcios entre os municípios. “Os municípios podem acelerar esse processo se consorciando. Dez municípios juntos conseguem, ganhando escala, diminuir o custo individual. E é possível, tanto com o Crea, quanto com outras empresas, buscar desenvolver esse trabalho conjunto”, afirmou.

O que é o Plansab e qual a sua importância? Plansab é a sigla para Plano Nacional de Saneamento Básico. Ele propõe a universalização do serviço de saneamento básico - entendido nas vertentes de esgoto tratado, distribuição de água potável, destinação correta de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais - até 2033. O Plansab é importante na mesma medida da importância do saneamento básico. Diversas pesquisas comprovam que uma comunidade com acesso ao saneamento adoece menos e se desenvolve mais, com melhor desempenho na educação das crianças e na produtividade do trabalhador. Obras de saneamento geram emprego e renda em diversos setores, entre eles o turismo.

Por que as prefeituras precisam apresentar um plano municipal de saneamento? A apresentação desse plano é uma exigência do governo federal para que o município tenha acesso às verbas da União destinadas às obras

Nova lei

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de saneamento. Entende-se que uma obra bem planejada racionaliza os recursos e diminui os impactos das obras. Os municípios podem apresentar os planos individualmente ou consorciados com cidades vizinhas. Pelo cronograma do Plansab, esses planos precisam ser apresentados ao governo federal até 31 de dezembro de 2015.

Qual a maior dificuldade encontrada pelas prefeituras para elaborar um plano municipal de saneamento básico ? A principal dificuldade, relatada em todas as regiões do Brasil, é a ausência de mão de obra qualificada (engenheiros, principalmente). Na Bahia, um convênio entre Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) e Funasa (Fundação Nacional da Saúde) disponibilizou pessoal especializado para atender a 50 municípios na elaboração dos planos.

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Saída pela educaçãoUm país não pode pensar em ser sustentável sem investir na educação para a sustentabilidade. E como lugar de aprender é na escola, esse processo só vai deslanchar se houver professores comprometidos com esse propósito.

Na avaliação do professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo José Eli da Veiga, ainda é preciso fazer com que os professores de ensino médio entendam o desenvolvimento sustentável.

“Houve um problema muito sério no Brasil que é um bloqueio no sistema educacional brasileiro. Se fala em educação ambiental, mas não se fala em educação para o desenvolvimento sustentável”, avalia. Segundo o professor, a Unesco elegeu a década de 2005 a 2015 para a educação para o desenvolvimento sustentável, mas no Brasil não se explorou essa iniciativa. “Se alguém perguntar para o professor de ensino médio o que é desenvolvimento sustentável e o que é sustentabilidade, ele não sabe. É trágico. Nós somos uma jabuticaba nessa história. O resto do mundo inteiro está com a Unesco, de que tem que preparar os professores para o desenvolvimento sustentável”, pondera.

Segundo ele, sustentabilidade é uma noção muito usada, mas que não há uma definição. “Sustentabilidade é um valor e valores são difíceis de ser definidos. Não é algo que tenha uma definição possível de se mensurar como em um bem material. A pergunta é: estamos fazendo alguma coisa

Foto: Evandro Veiga

O diretor de redação do CORREIO, Sergio Costa, mediou o debate entre Édison Carlos, José Eli e Igor

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hoje que pode reduzir as escolhas das gerações futuras? Demorou muito para termos a preocupação do que o que estamos fazendo agora vai prejudicar nossos tataranetos”, observa.

Já o gerente de Mudanças Climáticas do Iclei, Igor Albuquerque, chama a atenção para a grande demanda por educação para a sustentabilidade. Na avaliação dele, é necessário que o governo invista recursos que possibilitem a implementação de ações de educação, que garantam que o público internalize isso. “Que seja uma campanha de massa, assim como acontece com o câncer de mama, com o câncer de próstata. É preciso uma campanha que mostre os efeitos de continuar com os hábitos de consumo que temos, a forma que isso está impactando o meio ambiente”, ressalta.

O presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, também critica o atual modelo de instrução das populações sobre a relação com a sustentabilidade. “A educação ambiental do Brasil virou programa de reciclagem de lixo. O problema é que a empresa de coleta joga tudo no caminhão e no mesmo aterro. É preciso repensar esse modelo. Afinal, nada para nós é mais importante do que associar saneamento à saúde”.

Édison Carlos destaca ainda que, por muitos anos, a estratégia das entidades que cobram mais políticas de desenvolvimento sanitário era focada na diminuição do número de doenças. “Mas isso não chama atenção nem mobiliza os políticos. Só mostrar que reduz o número de doenças não impacta. Por isso mudamos a estratégia e começamos a mostrar que investir em saneamento é gerar riqueza também. Essa foi a forma que encontramos para abordar em conjunto saneamento e educação”.

A mudança de pensamento - e atitudes da população - na cobrança por mais obras de infraestrutura, segundo Édison, é uma forma de pressionar por mais saneamento, por exemplo.

“Para o político, é muito bom inaugurar um posto de saúde e não uma rede de esgoto. Mas, aos poucos, a população está buscando essas melhorias. Na Rocinha, comunidade no Rio de Janeiro, o povo disse que queria saneamento e não teleférico. Existem lugares onde isso está acontecendo, mas é muito pouco para o tamanho do problema”, conclui.

*Esgoto em debate

55 das cem maiores cidades do país tratam menos de 40% do esgoto produzido

88% das mortes por diarreias no mundo são causadas pelo saneamento inadequado

3 estados (SP, MG e PR) têm 18 dos 20 municípios com os melhores índices de saneamento do Brasil

107 milhões de litros de esgoto sem tratamento são jogados por dia na natureza

400 mil casos de diarreia foram registrados no Brasil no ano de 2011

“Tem que preparar os professores para o desenvolvimento sustentável”JOSÉ ELI DA VEIGA, professor da USP

185

Metade das 240 obras de saneamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) acompanhadas pelo Instituto Trata Brasil nas 100 maiores cidades do Brasil não cumpre o cronograma inicial das obras. Disse o presidente do instituto, Édison Carlos, que atribui o problema à burocracia e a deficiência técnica dos projetos de saneamento. “Só no trâmite legal são 23 meses de papelada antes de começar as obras – que se soma a outros gargalos que vão desde má qualidade das empreiteiras até problemas ambientais”, explica Édison, se referindo ao PAC-2, que está no terceiro ano de execução.

Ele ressalta que as cidades menores precisam de apoio técnico em função de falta de projetos adequados. “O ritmo está muito devagar. Não é por falta de dinheiro. Os pequenos municípios precisam de apoio técnico do governo federal pois não têm capacidade de tocar esses projetos. Ou o governo faz uma estrutura de apoio a essas cidades ou esses pequenos municípios não vão aproveitar nada dessas verbas do PAC”, explica Édison.

O gerente de Mudanças Climáticas do Iclei, Igor Albuquerque, informou que também acompanha de perto essa falta de conhecimento técnico nas próprias prefeituras. “É preciso uma interação maior com o governo federal para ter esse apoio logístico. Mas, às vezes, as divergências políti-cas têm atrapalhado esse diálogo. Falta conhecimento técnico e vontade política para fazer”, constata o especialista.

Nesse contexto, o especialista José Eli da Veiga chamou a atenção para os critérios utilizados para denominar o que é cidade. “Aqui, chamamos de cidade o que no resto do mundo é chamado de vila ou aldeia. Chamamos de cidade qualquer sede de município que não necessariamente tem es-trutura para ser uma cidade”, lamenta o professor da USP. Além da falta de estrutura das cidades para tocar obras de grande complexidade, ele chamou a atenção ainda para o fato de muitas vezes a própria população não se empenhar no processo. “Às vezes, o obstáculo é a própria popu-lação, que é chamada para pensar em soluções para o saneamento e nem sempre está disposta a participar desse debate”, diz.

Gargalos que travam o cumprimento das metas

Agronegócio

*Desenvolvimentoprodutivo

Competitividade e Capital Humano

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Política nacional para aumentar a competitividade brasileira. O País vem perde do posições no Ranking de Competição Global do IMD (Institute for Management Development). Na edição mais recente (2014), o Brasil está em 54ª posição. Há dez anos, estava 16 lugares acima

Entre as sugestões, reformas tributária e trabalhista. No Brasil, a carga tributária corresponde a 35,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos Estados Unidos e no México, o impacto é menor, 24% e 19,7%, respectivamente

Redução de custos com a energia para a indústria. No Brasil o preço da energia elétrica subiu 90% nos últimos dez anos. Nos Estados Unidos, o aumento foi de 30% no mesmo período e, no México, de 55%

Oferta de matéria-prima a preços competitivos e infraestrutura logística eficaz para reduzir o custo das empresas com escoamento da produção. Integração dos modais

Política de incentivos e investimentos para tornar cidades médias baianas mais competitivas para promover o desenvolvimento em todo o estado, reduzindo a pressão na Região Metropolitana

Nenhuma economia é sustentável sem educação, sem inovação e sem infraestrutura logística

Maior produtividade do trabalhador. Nos últimos anos, a produtividade brasileira cresceu apenas 3%, ao contrário dos Estados Unidos (19%) e do México (53%)

Investimento no capital humano. Para especialistas, recursos existem, mas o país precisa de uma gestão mais eficaz para melhorar a qualidade da educação em todos níveis

O Brasil ocupa o 27º lugar em Gastos Totais em Educação no Ranking Mundial de Talentos (World Talent Report), que mede a qualidade dos recursos humanos de 60 países. A pior posição do país foi a 59ª no quesito Qualidade do Sistema Educacional

Como reflexo da piora no ensino, o Brasil perdeu 24 posições em nove anos, segundo o mesmo ranking. Hoje ocupa a 52ª posição

Propostas apresentadas no seminário

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Mobilização de toda a sociedade pela educação de qualidade. Na última avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), em 2012, apesar de ter conseguido uma evolução significativa, o Brasil está em 58º lugar entre os 65 países comparados

Definição de metas e prazos para mudar esse cenário, inclusive na Bahia.

Para especialista, com boa liderança de atores sociais, como empresários, líderes sindicais, governo e professores, em dez anos o Brasil poderia atingir a meta de melhores resultados na educação. Na Coreia do Sul, esse foi o tempo para uma revolução no país a partir da educação

Ênfase na qualificação do diretor e do professor nas escolas e universidades

Maior engajamento de empresários na formação de seus funcionários e também em projetos de melhoria da qualidade da educação dos brasileiros, desde a educação básica

Campanhas para incentivar o ingresso de jovens em cursos de engenharia, matemática, física e química para mudar o cenário - o Brasil tem a pior posição nesse ranking - e tornar o país mais inovador

Investimento em pesquisa, tecnologia, inovação e desenvolvimento industrial. Segundo o Senai, na China, o investimento do setor privado em P&D é de 74%, nos EUA, de 71% e, na Alemanha, de 66%. Já no Brasil, apenas 43%

Maior investimento em inovação permite preparar o país para a chamada Quarta Revolução Industrial, onde haverá desenvolvimento de produto, produção e serviços que se comuniquem via softwares e redes

Criatividade e inovação de forma integrada em todos os níveis das empresas para tornar os ambientes mais competitivos

Incentivar um time colaborativo, o empreendedorismo e lideranças que articulem essas novas visões de fazer negócio

Valorizar iniciativas, aprendizados, engajamentos e talentos. Ousar e explorar novos desafios, problemas e mercados

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Universidades mais atuantes e conectadas com o mercado

Estimular cursos de qualidade em atividades com maior escassez de mão de obra qualificada na economia baiana, como nas áreas naval, eólica, engenharia, mineração, logística, construção civil e comércio

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Presente sem futuro

O retrato da família formada pelo porteiro André, pela doméstica Cleuza e suas duas filhas é o reflexo do Brasil em 2014, apresentado pelo professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral (FDC), no seminário Competitividade e Capital Humano do Fórum Agenda Bahia. A foto mostra uma família da nova classe média, com renda mensal de R$ 2,9 mil, e recentemente incluída no mercado de consumo, com casa quitada e carro zero. Acomodados pelas conquistas do presente, André e sua mulher deixaram de lutar pelo futuro. Logo eles, que saíram do distrito de Girú, município de Joaíma (MG), para tentar vida melhor em Belo Horizonte.

Neto de escravos que chegaram a Minas fugindo da seca do sertão baiano, ele declarou ao palestrante que a educação das filhas não é responsabilidade dele ou da mulher. A menina mais velha, Silvia, que estuda em uma escola da periferia de Belo Horizonte, fez Enem em 2014. E foi mal em tudo, chegando a zerar a prova de língua estrangeira.

Arruda acompanha a vida da família de André há anos. Realiza entrevistas com eles periodicamente e por isso adquiriu a intimidade que o levou a ser um dos financiadores da compra da casa própria do casal. O professor tem conhecimento para constatar que - devido à educação de baixa qualidade - o futuro de Silvia e da irmã está comprometido. Silvia, no máximo, vai ter o mesmo tipo de emprego da mãe, avalia o especialista.

A especialidade de Arruda é estudar as condições econômicas do Brasil. Ele é o responsável por recolher os dados do país para a formulação do Ranking Mundial de Competitividade do Institute of Management Development (IMD). “O Brasil não se prepara para o futuro. E, assim como a família de André, não tem percepção disso”, disse.

Para Arruda, a qualificação da mão de obra brasileira depende mais da melhoria da qualidade do ensino do que de mais aportes financeiros no setor. Ele também pede maior participação das empresas com a educação básica - e não só no treinamento de seu próprio trabalhador - e campanhas para estimular a juventude a ingressar em cursos universitários de engenharia, matemática, física e química, que podem transformar o Brasil em um país mais inovador.

Solução

Foto: Evandro Veiga

Carlos Arruda, professor da FDC, apresentou nova pesquisa no Agenda Bahia

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Presente sem futuro Segundo Arruda, André e Cleuza não foram educados, foram empregados. “O crescimento do Brasil nos últimos anos se deu pelo emprego e não pela produtividade, contribuindo para a perda de competitividade da economia do país”, falou Arruda. “A baixa produtividade do trabalhador é uma herança passada por toda a cadeia produtiva e por isso compromete toda a competitividade de um setor e não só da porta para dentro das empresas ou indústrias”, completou, cobrando mais proatividade dos empresários na questão da educação dos brasileiros.

A falta de competitividade determina a abertura, manutenção ou perda de postos de trabalho, emprego e renda. Para Arruda, o desempenho do Brasil no ranking do IMD mostra que o país tem uma agenda positiva, fruto das conquistas alcançadas nos últimos anos. Mas também tem uma agenda de grandes desafios para dar continuidade às conquistas.

Do lado positivo, o recente processo de inclusão socioeconômica. “A cada quatro anos, o Brasil inclui uma população do tamanho da Argentina”, falou o professor da FDC. Isso torna o país atrativo e o faz o quarto do mundo a receber maior volume de investimento estrangeiro direto (produção e não em aplicações financeiras). E ressalva: “Os empregos foram criados no setor de serviços, para uma mão de obra com baixo conhecimento tecnológico”.

Do lado dos desafios, o Brasil, ainda segundo Arruda, precisa de mais investimentos em infraestrutura e de reformas em seu conjunto de leis que regulam as atividades produtivas para melhorar o ambiente de atração de empresas. E, o mais importante, a melhoria na qualidade da educação. “Não faltam recursos. O problema é a qualidade. O Brasil está em penúltimo lugar no ranking da variável da qualidade de ensino. Temos de dobrar a qualidade e não os recursos”, observou.

Arruda apresentou números que também indicam que no país existem poucos alunos nas áreas de engenharia, ciências e tecnologias. “Gente que é formada para inovar”, disse, para ressaltar que a competitividade das empresas também depende de produtos e processos inovadores.

*Ranking da competitividade

16 posições foram perdidas pelo Brasil no Ranking de Competitividade Global do IMD entre 2010 e 2014, caindo da 38ª para a 54ª

2,4 é a nota do Brasil em Qualidade da Infraestrutura Básica. A média dos outros países do ranking é 7,3. Brasil é o último da lista neste ponto

12,99 dólares é a produtividade do trabalho por pessoa empregada por hora no Brasil (52ª de 60). A média do ranking é de US$ 34,27

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Falta qualificação

Em 2005, o Brasil estava em 28º lugar no Ranking Mundial de Talentos (World Talent Report), que mede a qualidade dos recursos humanos de 60 países. Nove anos depois, em 2014, o país aparece na 52ª posição. A queda de 24 posições mostra o quanto o país precisa avançar na qualidade de sua educação.

A lista foi apresentada pela primeira vez em um evento público pelo professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral (FDC), no Fórum Agenda Bahia 2014.

O ranking foi construído com os mesmos dados usados para a elaboração do Ranking de Competição Global do IMD (Institute for Management Development). Na edição mais recente (2014) dessa lista, na avaliação sobre competitividade, o Brasil aparece na 54ª posição. Há dez anos, estava 16 lugares acima. À frente do Brasil no ranking de talentos estão economias desenvolvidas como Suíça (1ª colocada) ou Dinamarca (2ª) e também em desenvolvimento, a exemplo da China (43ª), Chile (44ª), Índia (48ª) e México (50º).

Ao apresentar a pesquisa, Arruda - responsável pela coleta dos dados brasileiros para os rankings do IMD - observou a quase similaridade das posições do Brasil nas listas (52ª e 54ª). O que, segundo ele, mostra a influência da qualificação dos trabalhadores na competitividade dos países.

O ranking de talentos leva em conta fatores de desenvolvimento, atração e retenção de talentos, avaliando critérios como gastos totais do PIB em educação, relação aluno x professor, força de trabalho feminina e treinamento de colaboradores.

Na apresentação, Arruda chamou a atenção para alguns pontos da avaliação brasileira no ranking. A pior posição do país foi a 59ª (de um total de 60) no quesito Qualidade do Sistema Educacional. A melhor, 26ª, foi no critério Treinamento de Funcionários em Empresas Privadas.

Entre uma e outra, o país alcançou o 27º lugar em Gastos Totais em Educação; 28º com Trabalhadores Estrangeiros Qualificados; 34º em Aprendizado Profisisonal; 38º em Motivação dos Trabalhadores; 40º em Força de Trabalho Feminina; 50º em Experiência Internacional; 54º em Relação Aluno-Professor (educação primária); 58º em Gerentes Qualificados.

A boa colocação nos gastos totais em educação mostra que recursos existem, mas há falhas na gestão dos recursos e na qualidade do ensino, segundo o especialista.

193

“Não adianta dobrar orçamento se não dobrar a qualidade dos professores e dos diretores das escolas. Isso irá determinar ao Brasil ser mais competitivo no futuro”, alerta Arruda.

* Péssimo desempenho

52ª posição é a ocupada pelo Brasil no Ranking Mundial de Talentos 2014. Em 2005, o país estava em 28º lugar. O estudo inclui 60 países

54º é lugar do país no Ranking Global de Competitividade. A produtividade do trabalhador é um dos fatores que fizeram a avaliação do país despencar

*Baixa formação

Produtividade A baixa escolaridade é um dos fatores que levam o trabalhador bra-

sileiro a estar entre os de menor produtividade do mundo. Isto porque, sem acesso à

educação de base, ele perde a capacidade de se adpatar a novas tecnologias e pro-

cessos. Ou se adapta de maneira mais lenta que os trabalhadores de outras nações.

Competitividade A baixa qualificação da mão de obra - e seu reflexo na produtividade

- também influi negativamente na competitividade das empresas e, assim, em toda a

economia brasileira. No ranking mundial de competitividade, o Brasil aparece em 54º

lugar em uma lista de 60. Estudos mostram que o crescimento do salário e do custo

do trabalhador no Brasil não foram acompanhados pelo crescimento de produtivida-

de, o que, a longo prazo, pode gerar inflação ou recessão.

Inovação O Brasil forma poucos engenheiros e cientistas. Tem a pior posição nesse

ranking: 15,2% dos diplomados no ano de 2008. Profissionais dessas áreas são os

mais indicados para trabalhar com inovação de produtos e processos. Na América

Latina, o Chile formou 29,3% de engenheiros e cientistas entre todos os formandos

de 2008. No México, essa relação foi de 34,7%. Ainda entre seus principais concor-

rentes, o Brasil fica atrás da Turquia, com 37,2%. Para efeito de comparação, a relação

na China chegou a 55,08%, no Japão a 60,6% e em Cingapura a 63,6%. Na Europa, o

Reino Unido registrou a relação de 34,1%, a França de 34,9% e a Alemanha de 36,7%.

A maior economia do mundo, os Estados Unidos, formaram 31,4% de engenheiros e

cientistas em 2008.

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Ciclo vicioso: A baixa qualidade do sistema educacional, se perpetuada, vai produzir

trabalhadores cada vez mais improdutivos, afetando ainda mais a competitividade da

economia brasileira, comprometendo a sustentabilidade dos avanços sociais conquis-

tados pelo país, asseguram os especialistas.

* Aplicação errada

27º é o lugar ocupado pelo Brasil no Ranking Global de Competitividade no item Gastos Totais em Educação

59ª é a posição do Brasil, em um total de 60, no quesito Qualidade do Sistema Educacional

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Família Brasil

Existem várias maneiras para tentar entender o Brasil. Carlos Arruda - da Fundação Dom Cabral, uma das melhores escolas de negócios do mundo - segue duas. A primeira é analisar a competitividade da economia do país com a coleta de dados usados na formulação do ranking global de competitividade. A outra é realizar entrevistas periódicas com trabalhadores de diversas faixas de renda, acompanhando avanços, recuos, sonhos e decepções.

Durante a sua participação no Fórum Agenda Bahia, Arruda trouxe a história do porteiro André como uma metáfora do Brasil atual, em termos de conquistas e de riscos para o futuro.

O ranking de competitividade mostra o Brasil perdendo posições pela incapacidade de mudar marcos regulatórios - como legislações trabalhista e tributária - e de qualificar sua mão de obra. No entanto, o país exibe vantagens, a exemplo do mercado de trabalho aquecido, crescimento da renda e inclusão social intensa.

André é neto de escravos. Seus antepassados deixaram o sertão baiano para fugir de uma seca, fixando moradia na localidade de Girú, em Minas Gerais. Estudou até a 4ª série e, aos 15, mudou-se para Belo Horizonte atrás de trabalho. Casou-se com Cleuza, também de Girú.

Após vários bicos, André foi cobrador e depois porteiro. Ocupa a mesma vaga há 12 anos. Cleuza passou de casa em casa na informalidade e, hoje, com carteira assinada, está há 15 anos como funcionária da mesma família. Os dois têm renda mensal de R$ 2,9 mil. Compraram casa própria e um carro zero. Esta, segundo Arruda, é a agenda positiva do Brasil: a inclusão de milhões de pessoas no mercado de consumo.

O ponto crítico é o futuro da família, no caso, as filhas, que estudam em uma escola pública de baixa qualidade. Silvia prestou Enem em 2014 e foi reprovada. E o sinal de alerta não foi ligado. André e Cleuza cresceram pelo trabalho de baixa qualificação e não enxergam no estudo a condição para que suas meninas cresçam mais que eles.

Para Arruda, sem acesso a uma educação de qualidade, Silvia e a irmã tendem a ocupar postos no mesmo nível que os preenchidos pelos pais. “Se o Brasil não transformar a educação hoje vai comprometer a competitividade futura”, destacou o professor. Com a competitividade comprometida, o país deixará de criar postos de trabalho, fechando os que já possui, mesmo os de porteiro e de domésticas, limitando o mercado para as filha de André. Para Arruda, as conquistas do presente não devem acomodar, e sim motivar para um futuro melhor.

“Se o Brasil não transformar a educação hoje vai comprometer o futuro do país”CARLOS ARRUDA, professor da Fundação Dom Cabral

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André e Cleuza estão empregados, apesar da baixa escolaridade. Ele é porteiro em Belo Horizonte há 12 anos. Ela trabalha como doméstica de uma mesma família há 15. Conseguiram essas vagas ao deixar para trás a localidade de origem, Girú, também em Minas Gerais. O casal tem duas filhas. A mais velha conclui o ensino médio. Estudou mais que André, que largou a escola na 4ª série.

Os hábitos de consumo da família suprem necessidades básicas do casal e luxos. André e Cleuza compraram a casa própria, por R$ 65 mil. O bem está quitado graças a empréstimos de amigos, pagos em dia sem a cobrança de juros. Eles também compraram um carro zero, financiado, por R$ 28 mil, para uso nos finais de semana. Ao pagar IPVA, André constatou que o bem custa mais que um filho.

Nas entrevistas conduzidas pelo professor Carlos Arruda, André e Cleuza dizem que não sentem ameças de desemprego. Por isso, se arriscam no mercado de consumo, adquirindo produtos financiados, comprados em lojas de perfil popular. O casal não costuma olhar o custo efetivo do produto adquirido - que inclui a cobrança dos juros do financiamento - apenas se o valor da prestação cabe no orçamento do mês.

Silvia, 17 anos, é a filha mais velha do casal. Em 2014 fez as provas do Enem e não foi aprovada, zerando o teste de língua estrangeira. Ela acumula mais tempo de escolaridade que os pais, mas frequentou uma escola pública de baixa qualidade. Segundo o professor da Fundação Dom Cabral, o ensino fraco faz com que a menina acabe qualificada apenas para empregos similares aos dos pais.

Baixa escolaridade e educação de má qualidade afetam a produtividade do trabalhador, entre outros fatores, por dificultar sua capacidade de aprendizado e manejo de novas tecnologias. A baixa qualificação da mão de obra se reflete, ainda segundo Arruda, na competitividade da economia brasileira. Sem condições de competir no mercado global, a tendência das empresas brasileiras é a de fechar vagas.

A maioria dos postos abertos no Brasil nos últimos anos foi no setor de serviços, em vagas que exigem baixa qualificação. No entanto, até essas posições ficam ameaçadas quando há pouco dinamismo econômico e dificuldade das empresas em competir globalmente. Sem alterações neste cenário, a tendência é que novas gerações não avancem socialmente na comparação com seus pais.

*

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Presente

Futuro

Emprego e educação

Básico e supérfluoConsumo

Emprego das filhas

Produtividade Nova geração

Fotos: Reprodução

Foto 1: André e Cleuza: emprego e casa, mas educação das filhas é precária

Foto 2: André ficou surpreso com carro zero: despesa custa mais que um filho

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Reformas urgentes

Todas as conquistas alcançadas pelo Brasil estão por um fio. A cada dia que passa, a economia do país perde um pouco a sua capacidade de competir em pé de igualdade com a de outros países. Uma economia sem competitividade significa empregos em risco, retração de investimentos, menor arrecadação (menos dinheiro para educação, saúde, segurança e infraestrutura). Pior, sem educação, saúde, segurança e infraestrutura, começa uma fase de ciclo vicioso, pois o país vai perder ainda mais competitividade.

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40

30

38ª54ª

2010 2014

Entre 2010 e 2014 o Brasil perdeu 16 posições no Ranking Global de Competitividade, que analisa o ambiente de negócios de 60 países

A PERDA DE COMPETITIVIDADE

1

2

3

4

5

6

Legislação trabalhista

inflexível4

Infraestrutura deficiente

Má qualidade da educação

Falta de transparência nos gastos públicos

Custo menor da energia para setor produtivo

Carga tributária elevada

RANKING IMD/FDCOS PAÍSES MAIS COMPETITIVOS DO MUNDO1 – EUA2 – Suíça3 – Cingapura4 – Hong Kong5 – Suécia6 – Alemanha7 – Canadá8 – Emirados Árabes9 – Dinamarca10 - Noruega

OS PAÍSES MENOS COMPETITIVOS DO MUNDO51 – Colômbia52 – África do Sul53 – Jordânia54 – Brasil55 – Eslovênia56 – Bulgária57 – Grécia58 – Argentina59 – Croácia60 – Venezuela

Sul

198

O professor Carlos Arruda está pessimista: destaca que o país já vive em um ciclo vicioso em termos de competitividade. Entre os fatores, a ausência de reformas legislativas somada a uma infraestrutura precária e, a partir de 2014, a uma preocupação sobre a segurança e o custo da energia. “Sem reformas e investimentos básicos, a tendência é só piorar”, observa.

O professor da Fundação Dom Cabral, contudo, reconhece que há setores da economia brasileira que são bastante competitivos. Porém, diz, também acabam afetados pelo que não vai bem. “A competitividade tem de ser vista de maneira sistêmica”, explica. “A Embraer é uma empresa que exporta produtos de alta tecnologia, mas precisa de mão de obra qualificada e o Brasil tem deficiência educacional. A empresa terá de enfrentar um gargalo na área de recursos humanos”, exemplifica.

“Do mesmo modo, os ganhos de competitividade da agricultura não servem para nada se a soja, para ser exportada, encontra estradas, ferrovias e portos ruins. A infraestrutura reduz a competitividade adquirida dentro da fazenda”, complementa.

O economista Cláudio Frishtack, da Inter B. Consultoria, acredita que a situação chegou ao ponto atual devido a ausência de rigor na análise de custo e benefício de investimentos públicos. “Por exemplo, a Transposição do Rio São Francisco. Alguém fez a análise custo versus benefício desse investimento? Fez a conta do que se poderia ganhar com a obra em comparação com os gastos e se isso geraria prejuízos?”, questiona.

Para Frishtack, o quadro brasileiro piorou muito a partir de 2006, quando o governo federal abandonou a agenda de reformas legislativas e institucionais iniciadas na década de 1990. Naquela década, diz, o país avançou na modernização das agendas macro e microeconômica.

“Ocorreram as privatizações, que foram boas. Tudo bem que talvez poderiam ter sido feitas com maior exigência regulatória, mas foram boas”, diz. “Este processo seguiu até o primeiro mandato do presidente Lula, quando a responsabilidade fiscal não foi rompida e a lei das Parcerias Público-Privadas (PPP), aprovada. Foram 12 anos de avanços interrompidos a partir do segundo governo Lula. Acho que Dilma tentou dar um choque, mas recuou”, avalia.

Com o diagnóstico feito, Frishtack aponta uma série de medidas que podem ser tomadas para fazer o país avançar e voltar a ostentar condições de competitividade econômica, pois acredita que nem tudo está perdido. “Não é nenhum bicho de sete cabeças”, atesta. Carlos Arruda, da FDC, concorda.

“Na nossa legislação trabalhista falta flexibilidade e sobram incertezas quanto às regras”CARLOS FRISHTACK, consultor internacional

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“O Brasil possui vantagens em relação a outros países. O tamanho da economia é um deles, o potencial de consumo é outro, ainda mais com uma ótima taxa de emprego. É uma economia saudável, mas sensível. E ainda atrai investimentos”, afirma Arruda.

A análise de Carlos Arruda, tendo por base o ranking das economias mais competitivas do mundo, leva em conta que a queda de posições do Brasil não se deu por causa da perda dessas vantagens, mas sim pelo fato de que os outros países ganharam mais competitividade ao avançar em reformas que se refletiram em um melhor ambiente para negócios.

Um dos temas avaliados é a eficiência empresarial, que, de acordo com a FDC, foi a principal responsável pela perda de posições do Brasil no ranking em 2014. Nesse ano, o país ocupava a penúltima posição (59ª) em relação à produtividade.

“Diferentemente dos últimos anos, em que os demais subfatores de competitividade relacionados à atividade empresarial sustentavam condições competitivas, em 2014 todos os subfatores e a maioria das variáveis relacionadas indicam perda de competitividade e otimismo”, relata a FDC no texto em que apresenta a pesquisa.

As principais mudanças legislativas, segundo Carlos Arruda, devem ocorrer nas áreas trabalhista e tributária para diminuir os elevados custos de produção no Brasil. Frishtack concorda: “Na nossa legislação trabalhista falta flexibilidade e sobra incerteza quanto a regras”. Segundo o consultor internacional, a falta de clareza das regras de contratação e gestão de mão de obra deixa o empresário exposto a uma justiça desequilibrada, que tende ao trabalhador.

Em relação ao sistema tributário, o economista acredita que pior que taxas e impostos altos é a complexidade do sistema. “Gera dúvidas. As empresas nunca sabem se estão fazendo certo ou errado. Enquanto isso, o governo gasta mais e, por isso, tem de tributar mais”.

Além dessas duas reformas, a receita de Frishtack para que o Brasil seja mais competitivo inclui ainda o aumento de investimentos na infraestrutura do país e melhoria na gestão pública, com a adoção de metas-alvo na educação, e maior transparência em relação ao gasto público como forma a garantir explicações claras e rigorosas à sociedade da relação custo x benefício desses investimentos .

“O Brasil precisa encarar de frente seus problemas. Podemos estar em um beco sem saída. Mas é possível fazer e é possível avançar”, pontua.

“Sem reformas e investimentos básicos, a tendência é só piorar”CARLOS ARRUDA, professor da FDC

200

“Podemos estar em um beco sem saída. Mas é possível fazer e é possível avançar”

CARLOS FRISHTACK, economista

A economia baiana sofre dos mesmos problemas de competitividade que a brasileira. Com dois agravantes: baixa escolaridade do trabalhador e infraestrutura ainda mais deficiente que a do Sul e Sudeste do país. “O Nordeste como um todo está em grande desvantagem em relação a São Paulo, por exemplo, por causa da infraestrutura e dos indicadores educa-cionais”, diz Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral (FDC), de Minas Gerais, considerada a melhor escola de negócios da América Latina.

Arruda explica que não há como fazer um ranking de competitividade eco-nômica por estados aos moldes da listagem feita mundialmente pela FDC em parceria com o International Institute of Management Development (IMD). “Muitos dos fatores que formam o ambiente de negócios de um estado dependem de decisões do governo central”, explica. No entanto, revela, é possível fazer reflexões sobre os problemas e as soluções para o ganho de competitividade dos estados.

No caso da Bahia, Arruda acredita que há ainda um terceiro fator a ser vencido: a extensão territorial, o que dá ainda mais importância aos in-vestimentos em infraestrutura. “Falo, essencialmente, de infraestrutura básica, que é a de logística”, diz. Carlos Arruda acrescenta ainda a necessi-dade de investimentos na educação e em ciência e tecnologia. “Nenhuma economia é sustentável sem educação e sem infraestrutura”, ensina.

Para Cláudio Frishtack – da Inter B. Consultoria – o calcanhar de aquiles da economia baiana é mesmo a falta de integração logística. O segundo maior problema seria o da educação. Em terceiro lugar ele aponta a necessidade de modernização administrativa do estado.

“É preciso melhorar a qualidade dos serviços públicos de educação, saúde e segurança”, prega. “Não é um desafio impossível. O baiano tem mil quali-dades. É um estado rico, tem o agronegócio no Oeste e a economia flores-tal no Sul. E é forte também no turismo”, complementa Frishtack, em tom otimista.

Solução para a Bahia

201

O ranking mundial de competitividade do International Institute for Management Development é publicado anualmente desde 1989. Ele avalia as condições de competitividade de 60 países a partir da análise de dados estatísticos nacionais e internacionais e de uma pesquisa de opinião realiza-da com quatro mil executivos. No Brasil, a pesquisa e a coleta de dados são coordenadas e conduzidas pela Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais.

As posições na lista, a cada ano, são feitas com base na diferença em relação à economia mais competitiva de acordo com os critérios da pesquisa. Os Estados Unidos figuram como a economia mais competitiva do mundo por, entre outros motivos, número de empregos e o alto desempenho em tec-nologia e infraestrutura.

Segundo o economista Cláudio Frishtack, da Inter B. Consultoria, uma economia é competitiva quando os custos ajustados à produção são baixos. “Na Alemanha, o trabalhador tem custo baixo e alta produtividade”, cita.

No ranking IMD/FDC 2014, a Alemanha ocupa a 6ª posição. O Brasil, a 54ª, à frente apenas de Eslovênia, Bulgária, Grécia, Argentina, Croácia e Venezuela. A colocação do Brasil – e, claro, dos outros países - se deve à análise de cerca de 300 variáveis agrupadas em três categorias: desempenho da economia, eficiência do governo e eficiência das empresas.

No desempenho da economia, a FDC destaca que o ambiente de negócios encontrado aqui está sendo impactado pela inflação (54º lugar) e pela baixa participação do país no mercado internacional (59º), que para o professor Carlos Arruda, um dos responsáveis pelo estudo, é fruto do declínio das ex-portações para mercados tradicionais, como a Argentina, a União Europeia e os EUA, além do aumento de importações de produtos industriais, principal-mente da China.

Favoravelmente, o Brasil tem uma economia entre as maiores do mundo (7º PIB), o tamanho da economia doméstica (7º em consumo das famílias) e emprego (6º). Já no item eficiência do governo, o Brasil perde pontos por causa do ambiente institucional e regulatório, historicamente o ponto mais crítico da competitividade do país, segundo a FDC.

Isso se dá porque o país não apresenta sequer sinais de uma reforma que simplifique as legislações trabalhista e tributária. Por outro lado, a atuação do BNDES levou a uma pontuação positiva no quesito incentivo público às empresas (3º lugar). Outro ponto de destaque é a reserva em moeda es-trangeira (6ª posição).

Ranking mundial de competitividade analisa 60 países

202

Ações para a indústria

Os problemas surgidos a partir da falta de competitividade são sentidos em toda a economia brasileira, mas o setor que mais sofre é o industrial. Isso porque a indústria brasileira compete com a de outros países, tanto no mercado externo quanto no mercado interno. Em muitos casos, produtos importados são vendidos no Brasil a preços menores que os produzidos aqui, por causa de fatores como carga tributária e câmbio apreciado.

Para vencer o desafio da competitividade, o presidente da Braskem, Carlos Fadigas, propôs - em sua apresentação no Fórum Agenda Bahia 2014 - seis ações. A primeira delas seria a desoneração tributária de investimentos. Outra medida a ser adotada é um maior apoio à inovação.

O ‘pacote’ seria completado com a redução do custo de energia para a indústria, tanto elétrica quanto do gás, ampliação dos investimentos para melhorar a infraestrutura logística do país, adoção de medidas para simplificar o sistema tributário brasileiro, investir mais para melhorar a qualidade da formação da mão de obra nacional e aumentar a disponibilidade de matéria-prima a preços competitivos a diversas cadeias das indústrias do Brasil.

Ao comparar o Brasil com seus concorrentes, Fadigas mostrou que outros países têm adotado investimentos estratégicos para se destacar no cenário global. Nos últimos dez anos (2004 a 2010), por exemplo, a produtividade brasileira cresceu apenas 3%, ao contrário dos Estados Unidos (19%) e do México (53%).

“ O efeito da política pública pode ser maior ou menor, a depender de onde você dá o estímulo”

Foto: Evandro Veiga

Para Fadigas, a desoneração tributária de investimentos e o apoio à inovação são algumas medidas para o aumento da competitividade

203

Ações para a indústria Em paralelo, os salários dispararam no Brasil (100%). Já nos Estados Unidos, 27%, e no México, 67%.

“É ótimo que os salários cresçam. Mas esse crescimento deve ser pago com produtividade, se não vira conta com inflação ou desaceleração da economia”, alerta o presidente da Braskem. *Em baixa

1,6% é o recuo do PIB industrial brasileiro na comparação entre 2014 e 2013, segundo estimativas do Banco Central apresentadas em setembro

16% é o estoque da infraestrutura do país disponível para a indústria brasileira. Nos EUA, esse percentual é de 64%

110 bilhões de dólares é o déficit da balança comercial brasileira de produtos manufaturados estimado para 2014

90% foi quanto aumentou o custo da energia para a indústria no Brasil. Nos Estados Unidos, apenas 30%

32 bilhões de dólares é o déficit da balança comercial de produtos químicos no Brasil. País importa mais que exporta, segundo dados da Abriplast

* Cenário crítico

Câmbio real desvalorizado Em dez anos, moeda brasileira se valorizou 20% frente ao

dólar, prejudicando exportações brasileiras de produtos manufaturados

Salários x Produtividade - relação descompassada Entre 2004 e 2014, os salários

cresceram 100% no Brasil, enquanto que a produtividade do trabalhador brasileiro

aumentou apenas 3%

Eletricidade - crescimento de custo O preço da energia elétrica subiu 90% nos últimos

dez anos. Nos Estados Unidos, o aumento foi de 30% no mesmo período e, no México,

de 55%. A Braskem gasta quase R$ 2 bilhões em energia por ano. Caso houvesse

redução nesse custo, como acontece com outros países, Carlos Fadigas garantiu que o

investimento da empresa poderia ser muito maior

Gás - preço em alta O gás pode ser usado na geração de energia e como matéria-prima

das indústrias química e petroquímica. No Brasil, o custo do insumo subiu 60%. Nos EUA

e no México, caiu 25% e 37%, respectivamente

Impostos - sistema caro e complexo Em 2011, a carga tributária no Brasil correspondia

a 35,3% do PIB, ante 24% nos EUA, e 19,7% no México. A legislação tributária brasileira é

de difícil entendimento e afeta a geração de caixa das empresas

204

Entraves tiram espaço da indústria no PIB

A falta de competitividade da economia brasileira é sentida, principalmente, pelo setor industrial do país. Dados apresentados pelo presidente da Braskem, Carlos Fadigas, mostram que a indústria brasileira tem perdido participação no PIB brasileiro. O país exporta cada vez mais produtos básicos (matérias-primas) para importar cada vez mais produtos manufaturados.

Fadigas concorda com Carlos Arruda, da FDC, quando diz que é fundamental para o Brasil investir em capital humano, qualificando trabalhadores e empresas. Nesse sentido - e também em resposta à afirmação de Arruda de que a educação é papel tanto das empresas quanto do governo - Fadigas apresentou o Plano de Incentivo à Competitividade (PIC), que leva a Braskem a investir na qualificação de gestores e trabalhadores de empresas fornecedoras e clientes. Entre os problemas que afetam a competitividade da indústria brasileira, entre outros, o presidente da Braskem listou, além da produtividade, os custos da energia , o câmbio apreciado e a carga tributária.

Outro ponto importante é a política energética. Para Carlos Fadigas, o país poderia dar prioridade ao setor industrial e assim se tornar mais competitivo. No Brasil, o custo com eletricidade para a indústria aumentou em 90%, ante 30% dos EUA e 55%, no México.

“Hoje, uma parte importante vai para o consumidor final e isso não traz o que a gente chama de efeito multiplicador da economia. O efeito da política pública pode ser maior ou menor, a depender de onde você dá o estímulo. Se dá na base da cadeia produtiva, o benefício se multiplica ao longo da cadeia produtiva. Dar o estímulo ao consumidor final tem um efeito positivo menor para a sociedade”, defendeu.

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Metas para educação

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que mede a produtividade do Brasil, mostra que na década de 60 o país tinha desempenho semelhante a países da Europa e Ásia Central. Na época, o Brasil aparecia com 5 e eles com 6. Mais de meio século depois, a diferença é gritante. O Brasil tem 17 e eles 40. Os fatores são diversos, mas um em especial chama a atenção do doutor honoris causa em Ciência e Ph.D. em Sociologia pela Universidade de Wiscosin (EUA) José Pastore: a educação.

“Esses países deram um salto lá atrás na educação da população. E a população educada sabe trabalhar com inovação. Lá na década de 60 não estávamos muito diferentes, mas o Brasil perdeu a oportunidade”, avalia.

O país já perdeu muito tempo, mas ainda é possível correr atrás do prejuízo. Mas para a empreitada dar certo, esse não pode ser um movimento isolado. “Se o país fizesse uma grande mobilização a favor da educação de qualidade, com boa liderança de atores sociais, como empresários, líderes sindicais, governo e professores, em dez anos atingiria a meta de melhorar a educação”, avalia.

Mas, Pastore faz uma ressalva: “O resultado seria uma boa educação para aquele tempo, porque a corrida é em direção a um ponto móvel. Tem que ter uma velocidade razoável para fazer isso”.

Na última avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), apesar de ter conseguido uma evolução significativa nos itens

Foto: Evandro Veiga

Pastore defende que seja feito um mutirão para mudar

a educação brasileira

“Esses países deram um salto lá atrás na educação da população. E a população educada sabe trabalhar com inovação”

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avaliados, o Brasil ficou em 58º lugar dos 65 avaliados. Para Pastore, melhorar os resultados não depende só de aumentar o volume de recursos, mas de melhorar a gestão, dando ênfase ao diretor da escola.

“Professores quando dirigidos por bom gestores apresentam melhores resultados. Um bom gestor faz toda a diferença. Não é tudo, mas quase tudo”, sugere, informando que a China e a Índia deram uma arrancada na economia depois de garantir 30% da população bem educada.

As empresas, segundo Pastore, já estão dando a contribuição. “O sistema S é um exemplo de que é possível fazer educação de qualidade com poucos recursos. É uma questão de gestão. Não tem exorbitância de recursos, mas tem esse resultado por ser administrada pela indústria, que carrega para dentro dela a cultura de empresa”, diz. Mas as empresas ainda podem ajudar muito mais.

“É muito comum o prefeito chegar para a empresa e falar que precisa de ajuda para melhorar a estrutura das escolas. Por que não condicionar a ajuda a uma meta, a um bom desempenho no Ideb?”, sugere José Pastore. Os dados do Ideb 2013, divulgados em setembro pelo Ministério da Educação, mostram que o Brasil só conseguiu bater a meta de qualidade nos primeiros anos do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano).

Nas demais séries, as notas foram insatisfatórias. “O Brasil não está bem na foto. Muitos dizem que a qualidade caiu porque aumentou a oferta. Mas isso é falacioso. Vários países aumentaram a quantidade de vagas e melhoraram seus indicadores”, assegura o especialista.

O país saiu devastado de uma guerra e estabeleceu que, em 30 anos, todos os coreanos deveriam ter de dez anos para cima de escolaridade. O governo contratou, remunerou e qualificou professores e o setor privado construiu escolas, laboratórios e os manteve em bom funcionamento. Depois de 30 anos, eles tinham mais de 12 anos de ensino.

Pesquisador de Harvard fez um experimento em 200 escolas dos Estados Unidos. A um grupo ele deu mais dinheiro para as escolas, mas não mudou muito. A outro, prometeu US$ 3 mil se houvesse boa aprovação dos alunos. Para o último, deu US$ 3 mil aos professores e disse que, se os alunos não tivessem bom desempenho, o valor deveria ser devolvido. O último foi um sucesso.

* O que fez a diferença

Coreia do SulEUAOs chineses já definiram sua arma para dominar o mundo: a educação. O país realiza uma revolução na preparação de talentos para ciência e tecnologia. A China quer eliminar a diferença existente em relação aos Estados Unidos, ao Japão e à Alemanha e se apronta para ser o líder em pesquisa e desenvolvimento e, consequentemente, na produção industrial até 2050.

ChinaÉ apontada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE ) e pela ONU como o 1º lugar no Índice de Educação Global. Há 40 anos o país reviu suas prioridades e revolucionou o sistema educacional. Apesar de haver currículo nacional básico, lá os professores têm autonomia para escolher os livros, métodos e a didática que vão usar na sala de aula.

Finlândia

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Tecnologia como aliada

O Brasil não pode pensar em melhorar a produtividade e ser mais competitivo se não tiver preparado para fazer uma verdadeira revolução na educação. Segundo o doutor honoris causa em Ciência e Ph.D. em Sociologia pela Universidade de Wiscosin (EUA), José Pastore, a velocidade da tecnologia vai em um ritmo que não é compatível com o aprendizado e com a educação, que tem seguido em uma cadência mais lenta. “Muitas escolas não estão preparadas para esse novo ritmo. A educação tem um peso fundamental para acompanhar esse processo, mas não é qualquer educação, é a boa educação. No mundo atual, não basta ser adestrado, tem que ser bem educado”.

Como a tecnologia se transforma a todo instante, Pastore alerta que é preciso ter capacidade para aprender continuamente. “A educação de boa qualidade é a chave para as pessoas acompanharem o desenvolvimento tecnológico do mundo atual”, propõe. Essa mudança já é sentida no mercado de trabalho. As empresas, quando vão recrutar, querem saber se o candidato tem capacidade de entender as ideias e usá-las. Procuram pessoas com bom senso, com lógica de raciocínio, que saibam se comunicar. Que leiam uma frase e saibam o que significa. Que sejam capazes de transformar informação em conhecimento, que saibam trabalhar em grupo e interagir com o outro. E, claro, que conheça seu ofício e o domine.

“Há 50 anos, fiz uma pesquisa para o Senai sobre o que as empresas demandavam quando contratavam um ferramenteiro. Eles queriam pessoas que sabiam transformar desenho em uma peça. Quase 50 anos depois, repeti a mesma pesquisa. Agora, além de transformar desenho em uma peça, querem que tenham bom senso, raciocínio lógico e que dominem um pouco de inglês. O mercado de trabalho está mais exigente. Acabou com a dicotomia do generalista ou especialista. Agora quer as duas coisas”, explica.

Diante das constantes inovações, a saída é conviver com a tecnologia e tirar vantagens dela. “Isso demanda aprendizado continuado, que só pode ser garantido com educação de qualidade”, sugere. Além de mostrar competência para ser contratado, o colaborador deve comprovar isso no dia a dia. “Há uma exigência por educação e capacitação. É a capacidade de aprender novas coisas que garante a permanência no emprego”.

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A conta é alta

Segundo o presidente do Instituto Acende Brasil e integrante do President´s Management Program, da Harvard University, Claudio Sales, de um modo geral, o custo da energia no Brasil já é muito alto e quando se trata da indústria a situação é ainda mais grave. “Isso tira a competitividade da indústria brasileira frente aos outros países”, avalia. Na composição da conta de energia da indústria, 34% do valor corresponde a tributos e encargos sociais.

Esse custo elevado é atribuído a um conjunto de fatores. Além da elevada carga tributária, Sales cita o momento conjuntural que o país vive, de seca e baixa nos reservatórios, a questões estruturais mais complexas, como a forma com que estão sendo conduzidos o planejamento do setor e os leilões de energia. “Em 2012, não houve leilões e, em 2013, os realizados não foram suficientes para estimular a oferta. Os critérios dos leilões podem produzir a geração de energia mais eficiente ou menos eficiente. Mas eles não estão levando a um desenho mais eficiente”, pontua.

Outro fator que acaba impactando também no custo da energia são os atrasos nas obras do setor elétrico. “Falta coordenação na implantação de novos empreendimentos de energia. Há usinas que não podem operar

Foto: Evandro Veiga

Claudio Sales destacou as

implicações da MP 579 para o setor de

energia

*Impacto no Brasil

40% do valor cobrado na conta de luz é referente a impostos e encargos, segundo Claudio Sales

70% do consumo brasileiro em energia sai das hidrelétricas espalhadas pelo país

40% do parque termelétrico é constituído por usinas que custaram pouco, mas quando acionadas têm custo operacional elevado

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por falta de transmissão, há linhas de transmissão ociosas por falta de subestações para receber energia e há distribuidoras que incorrem em sobrecusto por atraso de obra de transmissão”, explica.

O estudo Quanto Custa a Energia Elétrica para a Indústria no Brasil?, realizado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), mostra que, se o custo da energia para a indústria seguir a tendência de aumento esperada pelo setor, até o final de 2015, o Brasil terá a quarta energia mais cara entre os 27 países avaliados, ficando atrás apenas da Índia, Itália e Cingapura. Hoje, o Brasil ocupa a 8ª posição e é 179,9% superior à média dos custos nos Estados Unidos.

O custo médio esperado para o período avaliado é de 420 (R$/MWh), enquanto a média dos outros países fica em torno de 257,7 (R$/MWh), o que significa que o Brasil seria 52,4% mais caro do que seus concorrentes. Os vizinhos Paraguai e Argentina, por exemplo, destacam-se no ranking por apresentarem os menores custos médios, de 97,81 (R$/MWh) e R$ 57,63 (R$/MWh), respectivamente. Isso impactaria diretamente na competitividade do país frente aos outros mercados.

Claudio Sales chama a atenção também para outra preocupação do setor, que são os efeitos da Medida Provisória (MP) 579, que introduziu um novo regime de concessões de forma súbita e precipitada, acarretando erros e atropelos. “Os problemas desencadeados pela MP 579 acarretaram uma série de problemas, agravados pelos remendos adotados posterior-mente - como a Resolução CNPE 003/2013 - que acabou deflagrando uma grande quantidade de disputas judiciais”, diz. Isso aconteceu porque, segundo Sales, a MP foi promulgada sob o pretexto de reduzir a tarifa de energia em 20%, mas sem nenhuma discussão prévia com o setor. “Obviamente que não funcionou. Ela veio cheia de erros, cheia de proble-mas e está nos custando até hoje”, critica o especialista.

O impacto da MP ainda é sentido nos cofres das empresas de geração e transmissão de energia. “Só no elo da cadeia de distribuição temos algo da ordem de R$ 20 bilhões que deveriam ser repassados e estão represados. Na transmissão de energia, as empresas que optaram pela renovação da concessão ainda estão para receber algo entre R$ 17 bilhões a 21 bilhões, que foram prometidos e não foram pagos”, explica.

Medidas polêmicas impactam no setor

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Impostos e encargos pesam 40% na conta de luz

O Brasil é um dos países que têm mais potencialidades de fonte de energia e também onde o consumidor paga mais caro por ela. Cerca de 40% do valor cobrado na conta de luz é referente a impostos e encargos. Segundo o presidente do Instituto Acende Brasil e participante do President’s Management Program, da Harvard University, Claudio Sales, os valores contrastam com a realidade do país, que tem uma matriz elétrica predominantemente renovável - a energia hidrelétrica responde por mais de 70% do consumo do país.

“Com esse potencial e parque instalado, deveria ter uma energia mais barata que o resto dos países, mas não é por conta da elevada carga tributária, que faz com que seja desnecessariamente cara”, avalia. Outro fator que na avaliação dele onera a tarifa é que quase 40% do parque termoelétrico é constituído por usinas que custaram pouco, mas, quando acionadas, têm um custo operacional elevado. “A energia acaba saindo mais cara do que se tivéssemos outro tipo de termoelétrica com custo maior para ser instalada e menor na operação”.

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Os obstáculos da lei

Uma das grandes reivindicações do movimento sindical, a redução da carga horária de trabalho de 44 para 40 horas é defendida sob o argumento de que manteria a renda dos empregados e aumentaria o número de empregos no país. Na avaliação do doutor honoris causa em Ciência e Ph.D. em Sociologia pela Universidade de Wiscosin (EUA) José Pastore, é preciso um olhar mais amplo sobre a questão. Reduzir a carga horária significa um aumento de 10% no salário hora, o que impactaria na produtividade e, consequentemente, na competitividade das empresas.

Segundo o especialista, a redução da carga horária é só mais uma das muitas discussões que envolvem o mundo do trabalho. “É uma área tão ou mais complexa do que a educação. Temos um quadro jurídico com mais de 70 anos, que não se modernizou, que não acompanhou as necessidades dos tempos atuais. Produzir em cadeia exige grande capacidade de engajamento profissional”.

Como exemplo, Pastore cita o engessamento da legislação: “Por que não permitir que as empresas contratem um portador de deficiência para trabalhar duas ou três vezes por semana? Por que não permitir que os empregados reduzam o horário do almoço para sair mais cedo do trabalho se eles quiserem? Porque a Justiça do Trabalho entra nessa para dizer que é proibido”.

Foto: Evandro Veiga

O mediador Sergio Costa (esq), José Pastore, Carlos Arruda e Claudio Sales: capital humano em pauta

212

Quando olha para os projetos em trâmite que visam modernizar as relações de trabalho, Pastore percebe a resistência. “O projeto de terceirização está aí há dez anos. Imagine o custo de um apartamento se a construtora tivesse que comprar o equipamento da terraplanagem, se tivesse que contratar o pintor desde o início da obra. Isso é perda de competitividade e produtividade. Onera muita coisa. O encarecimento vem dessa legislação trabalhista que temos”, ressalta.

Professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Carlos Arruda faz coro com as colocações de Pastore e defende que mudanças na legislação trabalhista sejam uma agenda do país, da mesma forma como deve acontecer com a melhoria da qualidade da educação. “Ter agenda é fundamental. O desafio é convidar todos os atores do setor para transformar a agenda em ação. É preciso trabalhar em torno de um propósito”, falou.

Sales destacou a necessidade de investimentos em outras fontes de energia, como eólica, para atender ao país. Segundo ele, reservatórios do Nordeste estão apenas com 13% do nível de armazenamento, muito abaixo do ideal.

213

O desempenho no ensino superior no Brasil está abaixo de países vizinhos, mesmo com o grande volume de ingresso em faculdades nos últimos anos. “O Brasil só tem hoje 18% de sua população em faculdades. Enquanto o Chile, nosso vizinho, tem 34%. Além disso, as taxas de evasão estão altas. No ensino presencial chega a 35% e, no ensino a distância, a 80%”, explica o professor Silvio Meira, doutor em Computação pela University of Kent at Canterbury (Inglaterra).

Para o especialista em inovação, o Brasil deveria investir menos em com-modities e mais em produtos com valor agregado que aumentam as receitas do país.

Meira ressalta que uma reformulação nas escolhas educacionais seria fun-damental para alavancar a competitividade brasileira. “Temos um país de quase 200 milhões de habitantes onde só 25% das pessoas têm acesso à educação básica. É preciso colocar a mão na massa e tomar vergonha na cara para reformular tudo”, defende.

Meira destaca ainda que, além da educação, o país precisa rever decisões estratégicas de investimento. Investir mais em tecnologia e inovação para importar menos e exportar mais produtos com maior valor no mercado.

Leone Peter Andrade, diretor regional do Senai Bahia, ressalta a impor-tância da formação avançada dentro das áreas de conhecimento, desta-cando as industriais. “Chega a ser um flagelo nacional a educação básica. Isso reflete no mercado de trabalho, onde falta base e condição mínima de escolaridade”, explica.

Para o diretor de Sustentabilidade e Comunicação da Renova Energia, Ney Maron, uma indústria sem mão de obra qualificada não consegue competir. “Existem vagas que não conseguimos atender por falta de capacitação.

Decisões estratégicas para as empresas

Foto: Arisson Marinho

Editor assistente do CORREIO, Donaldson

Gomes (esquerda) mediou debate entre Meira, Maron e Leone

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Então, qual a real capacidade de concorrer com o mercado externo se não investirmos na qualificação profissional?”, pondera. Segundo Maron, uma das soluções é aproximar as universidades e instituições de ensino das empresas e do mercado. “Educação e mercado precisam estar mais conectados”, avalia Maron.

“Educação e mercado precisam estar mais conectados”NEY MARON, diretor da Renova Energia

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O peso do Custo Brasil no bolso do brasileiro

No carrinho do supermercado está parte dos produtos para a ceia do Natal. Tem peru, panetone, arroz, queijo, nozes, bombons, vinho, cerveja e refrigerante. Ao pagar a conta, além do custo dos produtos, o consumidor que levar esses itens para casa terá embutido na conta impostos que chegam a 55,6% do valor do produto (cerveja), além de custos logísticos que podem chegar a 20%. E se ele decidir incluir nas compras uma cachaça, aí serão 82% só de tributos.

Não é à toa que, segundo especialistas em macroeconomia, a carga tributária está entre os gargalos que colocam o Brasil na berlinda quando o assunto é competitividade. Somada a ela, entra a infraestrutura precária, a baixa qualificação profissional e a burocracia. E isso afeta toda uma cadeia de produção. É imposto sobre imposto, custo sobre custo e os preços vão lá para cima. Outro problema é a distorção na tributação: o imposto cobrado para um cachorro-quente (15%) é menor do que o arroz, o feijão e a carne (cada um com imposto de 17%).

Levantamento realizado pela Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) na última safra mostra que os produtores baianos do Oeste têm um custo entre 20% a 30% mais alto do que o de outros estados do país. Atualmente, 100% da produção é escoada via transporte rodoviário.

Além de ter que arcar com custos mais altos do que o ferroviário e o hidroviário, os produtores baianos ainda precisam encontrar saídas para manter-se competitivos convivendo com estradas muitas vezes esburacadas, deixando parte da safra pelo caminho. De acordo com o diretor de projetos e pesquisa em agronegócio da Aiba, Ernani Saboia, a saída tem sido as parcerias público-privadas (PPP) para a melhoria das rodovias.

Produtores entram com diesel, alojamento, caminhões para transporte dos trabalhadores e alimentação e os prefeitos com pessoal específico, máquinas e massa asfáltica. “Nossa região chove bastante e as vias estão há muito tempo sem manutenção adequada. As estradas são refeitas, mas não suportam, porque a malha asfáltica é muito antiga”, explica o diretor Ernani Saboia.

Ainda segundo ele, há lugares que os proprietários das transportadoras não querem ir buscar a carga por conta da situação das estradas, que não são boas. “O anel da soja é bastante deteriorado. Isso causa sérios problemas: acidentes, morosidade para retirada de produtos. Aumenta o consumo de combustível e influencia no custo”, avalia o diretor da Aiba.

Mas essa conta eles não pagam sozinhos. Quando colocam os números no papel, os produtores vão dividir esses custos com o consumidor. “Por

216

Cerveja garrafa

55,60%Nozes

36,45%Refrigerante

garrafa

44,55%

Queijos

16,59%Champagne

59,49%Peru

29%Panetone

35%2Bombons

37,61%

iPod49,45%

Barbeador elétrico48,11%

Maquiagem

nacional

51,04%

Bolsa de couro41,52%

Calça jeans38,53%

Câmera fotográfica44,75%

Perfum

e im

portado

78,43%

Perf

ume

naci

onal

69,1

3%

Telefone celular33,08%

Maquiagem

importada

69,04%

Porta-

retra

to

43,47%

Televisor

44,94%

Óculos

de sol

44,18%

PVinho

54,73%Arroz

17%

CONFIRA QUANTO CADA PRODUTO TEM DE IMPOSTO

FONTE: Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT)

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conta de uma logística mais cara, nosso farelo fica mais caro e isso vai impactar no preço da carne”, acrescenta. Na prática, significa que, na outra ponta, a dona de casa também vai sentir o baque nas compras.

De acordo com o professor de cenários macroeconômicos de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, o conjunto de problemas como logística, infraestrutura, burocracia e falta de mão de obra qualificada acaba se traduzindo no chamado Custo Brasil.

“A estrada ruim torna o transporte mais caro e, no final das contas, é o consumidor que paga esse custo. A mercadoria chega ao porto e tem que esperar dias para ser transportada, isso também significa custos com armazenagem”, explica Rochlin.

Segundo o especialista, o exportador de milho, por exemplo, paga pelo frete o mesmo valor que desembolsa pela mercadoria. “Os tributos também pesam. A cadeia toda sofre o peso do tributo, que é excessivo e maior do que o dos concorrentes externos. A mão de obra brasileira não tem o mesmo nível de qualificação de outros países. Por isso, a produtividade tende a ser menor e, quanto menor a produtividade, maior o custo”, explica o especialista.

Para Mauro Rochlin, esse foi um dos motivos para que o Brasil perdesse espaço para seus principais concorrentes no cenário global. “O custo da Coreia, da China e da Alemanha, por exemplo, é mais baixo que o Custo Brasil. Isso incide nos preços”, explica.

Estudo do Fórum Mundial, que mede a competitividade levando em conta três indicadores referentes a eficiência e inovação, coloca o Brasil na 57ª posição no universo de 144 países. Dentre os membros dos Brics (grupo de países emergentes), só a Índia ficou num ranking pior. A África do Sul, a China e a Rússia ocupam posições melhores do que a do Brasil.

De acordo com o superintendente de Desenvolvimento Industrial da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Marcus Verhine, a pesquisa atribui esse desempenho levando em consideração os principais gargalos do Brasil, a exemplo da ineficiência dos portos, da excessiva regulação tributária, da baixa qualificação no mercado de trabalho, da precária infraestrutura e dos elevados impostos. Se no Brasil o cenário ainda precisa melhorar, na Bahia, o cuidado deve ser ainda maior. “A Bahia está em desvantagem em relação ao Brasil”, destaca Verhine.

“A cadeia toda sofre o peso do tributo, que é excessivo e maior do que o dos concorrentes do Brasil”MAURO ROCHLIN, professor da FGV

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Um estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que o Nordeste gasta R$ 30,2 bilhões anualmente com transportes, incluindo custos com frete interno, pedágios, transbordo e de termi-nais, tarifas portuárias e frete marítimo. O Projeto Nordeste Competitivo aponta a necessidade de se investir R$ 25,8 bilhões para modernizar e ampliar rodovias, ferrovias, hidrovias e portos da região. Essas obras pro-porcionariam uma economia anual de R$ 6 bilhões, como base na movi-mentação de cargas projetada para 2020.

Dos R$ 25, 8 bilhões, os portos da região exigem 43% dos recursos e as ferrovias, 47%. Os projetos rodoviários respondem por 9% do valor total e as hidrovias, 1%.

Presidente do Conselho de Infraestrutura da CNI, José de Freitas Mascarenhas diz que o Brasil investe pouco no setor. “O déficit de infraes-trutura é de R$ 600 bilhões num prazo de cinco anos, em todos os modais. O governo fez esforços recentes com o PAC, mas ainda são insuficientes para a posição do Brasil na economia. Nós investimos 2,5% do PIB em in-fraestrutura, mas seriam necessários pelo menos 5%”, explica.

Segundo o superintendente da Fieb, Marcus Verhine, a principal queixa na Bahia é com relação aos portos. “A gente tem o de Aratu, que está defasado, e o de Salvador, que vai passar agora por um processo de ampliação, que também pode implicar mudança de custos, a depender do modelo adotado”, explica. Verhine revela que empresas em Juazeiro que vendem algodão para o Japão não usam o Porto de Aratu. Segundo ele, preferem pegar o caminhão e mandar para o Porto de Santos, em São Paulo, porque tem conexão direta.

Mascarenhas também reforça a necessidade de novos investimentos. “O Porto de Aratu precisa de um sistema de retirada de carga, de uma completa reestruturação. Tem que sofrer uma modernização para baixar os custos operacionais, ampliar os berços e de uma atualização tecnológi-ca dos equipamentos. É lá que circula a maior parte da riqueza da indústria. Só a infraestrutura é capaz de atrair investimentos novos”, defende.

A Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) também surge como uma solução. “Vai permitir o escoamento dos grãos do Oeste baiano e também da produção mineral, da região de Caetité, através do Porto Sul. Agora, é importante também ter um porto. Os dois têm que acontecer para ser uma coisa viável”, afirma Verhine.

Nordeste precisa de investimento de R$ 25 bilhões“O déficit de infraestrutura no Brasil é de R$ 600 bilhões num prazo de cinco anos. Só investimos 2,5% do PIB. Seriam necessários pelo menos 5%”JOSÉ DE FREITAS MASCARENHAS, presidente do Conselho da CNI

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A carga tributária é alta e quem paga a maior parte da conta é quem tem menos poder aquisitivo. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), mais de 79% da população brasileira, que recebe até três salários mínimos por mês, contribui com 53% da arrecadação tributária total no país. Presidente executivo do IBPT, João Eloi Olenike diz que o sistema tributário brasileiro prioriza tributos em cima do consumo e muito pouco sobre a renda, o lucro e o patrimônio. Diferente de outros países, onde a tributação parte do ganho.

A consequência disso, segundo Olenike, é que o pobre acaba pagando muito imposto. “Como o sistema tributário brasileiro é extremamente concentrado no consumo, o pobre acaba, proporcionalmente, pagando mais. Isso faz com que a população de menor poder aquisitivo tenha um custo tributário muito elevado”. Com salário menor, o percentual pago com imposto acaba sendo maior do que quem tem melhor renda.

O especialista chama atenção ainda para o fato de que no Brasil a tributa-ção incide em cascata. “Todas as etapas têm tributação que vão passando para a seguinte e fazem com que os produtos encareçam muito. A maior carga tributária é a da cachaça, que é 82%, por ser considerada um item supérfluo, assim como acontece com artigos de luxo e eletrônicos”, informa, acrescentando que o Brasil está entre os 30 países com pior retorno à população em função do bem-estar e retorno em serviços.

Pobres pagam mais impostos do que os ricos, diz estudo

De onde vêm os impostos

42,4% do montante arrecadado aos cofres públicos são de gastos com habitação

14,7% do montante arrecadado pelos cofres públicos são de gastos com alimentação* 5,3%

dos impostos arrecadados no Brasil são de gastos com vestuário

23,8% dos impostos arrecadados no país são oriundos dos gastos com transporte

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Futuro no presente

O setor de criação não pode criar sozinho sem que haja a vontade da empresa de aproveitar seus inventos. Se o grupo administrativo pensar exclusivamente nas produções, a empresa não caminha para o futuro. O processo de inovação das corporações, segundo Silvio Meira, doutor em computação pela University of Kent at Canterbury (Inglaterra), um dos criadores do C.E.S.A.R (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), passa pelo processo integrado de inovação das empresas e organizações .

“Resolver novos problemas é uma confusão radical que gera uma oportunidade ou risco de mudança”, destaca o professor ao explicar que uma das possíveis soluções para aumentar a competitividade é acreditar na inovação e no empreendedorismo.

Meira destaca que o futuro das empresas está condicionado ao entendimento das contradições que existem nos sistemas das corporações. “A primeira contradição é a da necessidade de mudança. Quanto mais a gente muda, mais a gente descobre que vai ter mais mudança. Quando mudamos por alguma insatisfação cria uma contradição, pois a mudança necessita de mais mudança. A segunda contradição é a do conhecimento que vem depois da mudança. Quanto mais se sabe, mais se tem perguntas”.

Essas contradições, de acordo com Meira, são oportunidades para que as empresas transformem seus ambientes em espaços competitivos. “As empresas precisam trabalhar com imaginação, criatividade e inovação de forma integrada em todos os seus setores e não só na criação. Se não fizermos a combinação dessas três coisas é sentar e esperar a morte organizacional em curto espaço de tempo”, destaca Meira.

O professor indica ainda que dentro das organizações é preciso que se tenha um pensamento de time colaborativo e não apenas de lideranças isoladas. “O líder ou funcionário que quer instituir práticas inovadoras e empreendedoras precisa efetivamente colaborar em níveis sofisticados de elaboração de ações para chegar nos desejos do que apenas participar dos processos”.

Para que as inovações das empresas apareçam, Meira ressalta que a inovação é a via de condução desse caminho. “A inovação faz com que levemos soluções para o mercado, mas elas precisam ser provocadas. E o que faz com que as soluções resolvam os problemas é o ato empreendedor”, explica o professor. Para ele, inovação é uma necessidade. “A arquitetura de competição ao nosso redor está mudando de forma sistemática. E, se não mudarmos o ritmo pela inovação, vamos ficar obsoletos”, ressalta o professor.

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Inovar para crescer

A inovação e o empreendedorismo têm contradições que são necessárias para seus próprios desenvolvimentos. É o que analisa Silvio Meira, doutor em computação pela University of Kent at Canterbury (Inglaterra), professor da Fundação Getulio Vargas e um dos criadores do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R), referência no Brasil nesses dois temas.

“Empreendedores cuidam do processo de descoberta e estão sempre em embate com os administradores do negócio, que cuidam do processo de exploração e gestão dos recursos. O que as empresas precisam é ter líderes estratégicos que articulem essas visões” , argumenta.

O professor, citando o paquistanês Ziauddin Sardar, indica que vivemos em tempos pós-normais onde há um conjunto de Contradições, Caos e Complexidades que envolvem os sistemas organizacionais.

“Para lidar com os ‘C’ e as suas implicações é preciso trabalhar com imaginação, criatividade e inovação. Se não fizermos a combinação dessas

Foto: Arisson Marinho

Silvio Meira acredita que a inovação e o

empreendedorismo são fundamentais

dentro das empresas

- É preciso trabalhar com imaginação, criati-vidade e inovação

- Os líderes precisam ter Visão, Iniciativa, Talento, Aprendizado e Engajamento

- Líderes devem ter pessoas melhores que eles em suas equipes

- Não tenha medo de errar. Afinal, só o erro favorece os acertos

- As empresas e seus líderes precisam valo-rizar iniciativas, apren-dizados, engajamentos e talentos

Solução

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três coisas é esperar a morte organizacional”, alerta. Para Silvio Meira, inovar é requalificar a realidade. “Se olhar para ela de uma forma criativa vai inovar”, ressalta.

O professor admite que o mundo real é muito mais complexo do que a teoria. “Na vida real, o universo de perguntas e respostas é abstrato. O que é concreto é a necessidade de ter uma solução na prática e indicar como as ações devem ser tomadas. Dessa forma, as soluções abrem espaço para novas soluções. E o que faz com que se leve soluções para o mercado é o processo de inovação. Por sua vez, o que faz com que as soluções resolvam os problemas é o ato empreendedor”, destaca.

Meira ressalta que as start-ups (empresas com fundo tecnológico e em início de operação) estão relacionadas a todo processo de inovação. “Quem resolve problemas, mesmo em empresas existentes, se articulou com umas start-up. Elas são um arranjo, um time e não um grupo. Funcionam como um sistema que tem um conjunto de interações que tem processo de construção e manutenção próprios, pessoas que criam, descobrem e resolvem problemas”.

O educador defende que a necessidade de inovar surge em função da competição do mercado de trabalho. “De onde surge a necessidade de inovar? A resposta está no fato que uma coisa que era competitiva em 1950 passou a ser diferente nos anos seguintes. É necessário mudar a cultura de negócios - quando se tenta cumprir normas com a cultura de performance se afastando do padrão contraproducente de comando e controle . Ao permitir a cultura de performance abre caminho para a cultura de inovação”.

Criatividade * Os paradoxos para a transformação, segundo Silvio Meira

Apoio Incentivar as paixões dos colaboradores, mas sem esquecer de atingir os objeti-

vos do negócio, que é a receita no final do mês

Incentivo Desafiar os colaboradores permantemente e aumentar sua confiança ao

mesmo tempo

Visão É possível encorajar iniciativas pessoais enquanto se mantém o coletivo criativo

Desafios Corra riscos, mas procure e explore novos desafios, problemas e mercados

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Inovação

Tempos pós-normais

Diversidade Encoraje a diversidade nos colaboradores, sem deixar de manter objetiva-

mente a coesão dos times

Erros Aprendemos mais com os erros dos outros do que com os acertos. Embora nossa

cultura valorize mais o sucesso

Sucesso É preciso sempre inovar, mesmo quando a ação já deu resultado

Conhecimento Quanto mais se sabe, mais conhecimento deve-se buscar

Alinhamento Quanto mais gente está indo na mesma direção mais difícil perceber a

hora de mudar

Incertezas Não tente prever tudo. Conhecimento e capacidade de mudar vão definir o

seu caminho

Tranquilidade Sempre trate seus cenários de maneira paraconsistente (não-clássica) e

ache uma forma calma de conviver com as dúvidas

Experiência “Esqueça aquele MBA e vá trabalhar com quem está empreendendo”,

acredita Silvio

Contradições A primeira contradição é a da mudança. “Quanto mais eu sei, mais eu

tenho perguntas”, diz Silvio Meira

“Temos um megaproblema para fazer com que as empresas sejam criativas totalmente ”

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Gestão sustentável

A chegada do Complexo Eólico Alto Sertão, o maior da América Latina, na região sudoeste do estado, trouxe muito mais benefícios do que somente a energia gerada pelas hélices. Os moradores dos municípios de Caetité, Guanambi, Igaporã, Pindaí, Riacho de Santana, Licínio de Almeida, Urandi e Guanambi puderam participar de um programa de qualificação de mão de obra da Renova Energia, que administra o parque eólico. A formação permitiu que cerca de 70% dos postos de trabalho direto fossem ocupados pela mão de obra local.

O diretor de Sustentabilidade e Comunicação da Renova Energia, Ney Maron, explicou que a ação integra o Projeto Catavento, um investimento da empresa, que tem a missão de contribuir para o desenvolvimento sustentável. “Nos enxergamos como ferramenta de colaboração para o desenvolvimento local”, disse Maron.

Sustentado em quatro pilares – cultural, organizacional, ambiental e socioeconômico –, o Catavento foi responsável por 12 turmas de qualificação, para 247 moradores e mais de 20 comunidades.

A construção civil é a área com maior demanda de profissionais. Foram 17 comunidades contempladas, entre elas Cubículo, São Domingos e Brejo

Foto: Arisson Marinho

Para o diretor da Renova Energia, Ney Maron,

investimento no Capital Humano impacta no

desenvolvimento das regiões

- Universidades mais atuantes e conectadas com o mercado

- Entender as particu-laridades de cada região para desenvolver uma operação adequada

- Promover capaci-tação e não só uma renda adicional, para que as pessoas não se acomodem e possam se desenvolver

- Visão de longo prazo para criação de mercado competitivo

- Investimento em gestão

Solução

225

dos Padres, com 91 pessoas certificadas. “Há muitas oportunidades ligadas à construção civil. A implantação de um parque eólico nada mais é do que a abertura de acessos, bases, etc”, revelou o diretor.

Em seguida, as áreas de corte e costura e carpintaria foram as de maior interesse. O curso de corte e costura foi realizado em 13 comunidades, como Gurunga, Veredas do Cercado e Tabocas , com 131 profissionais certificados. Já o de carpintaria abrangeu as comunidades de Tábua dos Alves, Salinas e Quixaba, com 25 pessoas certificadas.

A partir dessa qualificação, as empresas que participam da operação do complexo eólico conseguiram absorver 71 profissionais locais, em um total de 100 vagas disponíveis para a operação. “Havia oportunidade, só não tinha gestão. Com isso, alcançamos a capacitação de um contingente significativo”.

O impacto social da iniciativa é notado com o aumento de 14% de trabalhadores da região com carteira assinada em funções na área da construção civil, 25% a mais de pessoas com atividade remunerada na área de corte e costura e 9% a mais de carpinteiros autônomos.

A renda da população, informou Ney Maron, também refletiu essa mudança. Houve um aumento de 4% de trabalhadores da construção civil com renda maior que dois salários minímos, de 7% para aqueles com renda entre um e dois salários e diminuição de 10% para os de renda inferior a um salário.

Na área de corte e costura, os números apontam um aumento de 7% de pessoas com renda de um salário mínimo e a diminuição de 10% daqueles que têm renda inferior a um salário. “Não aproveitar a mão de obra local resulta em um impacto na região de serviço público, segurança e outros aspectos”, ponderou.

Para ele, apesar dos resultados, a Renova Energia espera um retorno ainda maior a longo prazo. “Estamos com uma visão mais de longo prazo, formando um mercado mais competitivo que vai ser bom para todos”, falou.

“Não tem milagre, é trabalho e definição de estratégias. A gente tem uma chance de sair da inércia e ser o fio condutor dessa mudança”, falou.

*Programa de Qualificação da Renova

70% dos postos de trabalho do Complexo Eólico Alto Sertão foram preenchidos por funcionários da região

12 turmas de qualificação profissional foram formadas com a iniciativa do Projeto Catavento

247 moradores dos sete munícipios foram certificados nas áreas de construção civil, corte e costura e carpintaria

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Tecnologia de ponta

Um robô com sotaque alemão, mas que está sendo construído na Bahia, é um exemplo de inovação e investimento em tecnologia e da atual situação de mão de obra qualificada no estado. O robô, que tem como objetivo monitorar dutos e instalações de plataformas do pré-sal em grande profundidade, está sendo construído no Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec), em Salvador, com a ajuda de especialistas da Alemanha.

O Cimatec forma, há quase uma década, profissionais para atender a demanda industrial. É considerada a melhor entidade de ensino superior do Nordeste. Apesar das conquistas, ainda é preciso avançar mais. “É uma situação comum que enfrentamos, que é a falta de mão de obra qualificada. Por isso, temos hoje três doutorandos alemães trabalhando nesse projeto aqui na Bahia. O que mais falta é gente”, explica o diretor regional do Senai Bahia, Leone Peter Andrade, destacando que o Senai enviou profissionais brasileiros para estudar tecnologia na Alemanha.

O projeto, que é composto por cinco etapas, deve entrar em operação em 2016. A primeira fase, que está em execução, tem investimento de R$ 40 milhões. “É uma tecnologia que está saindo daqui e vai ser aplicada pela empresa BGGroup, que encomendou o projeto, na exploração do pré-sal na Bacia de Campos e Santos, mas pode ir para o mundo, já que a empresa é uma multinacional”, argumentou Leone.

Foto Leone: Arisson Marinho

Foto Robô: Reproção

Leone apresentou robô de última geração (no

detalhe) que está sendo desenvolvido no Cimatec

e será usado em águas profundas do pré-sal

“Hoje, a falta de mão de obra qualificada é um problema para os processos de inovação”LEONE PETER, diretor do Senai Bahia

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Para fomentar o desenvolvimento de mais projetos inovadores como o do robô, Leone ressalta a necessidade de ampliação de centros de pesquisa. “Para fazer todo esse desafio precisa ter uma rede integrada de parcerias. O Senai hoje tem apoio de universidades, instituições nacionais e internacionais e de start-ups”, revela.

Além disso, o Senai está conduzindo a implantação de 59 Institutos de Tecnologia no Brasil (dois já em fase de implantação e um de projeto) e dos 26 institutos Senai de Inovação no país, sendo que três já estão instalados na Bahia. “Esse esforço faz parte de uma mobilização empresarial para a inovação e, consequentemente, fortalecimento da indústria”, explica Leone. Hoje, o Senai é a maior rede privada de educação profissional e serviços tecnológicos e tem atuação em 28 setores industriais. A previsão é que quatro milhões de pessoas estudem nas unidades do Senai em 2014.

O diretor do Senai destaca que é fundamental a ampliação do investimento privado no setor de pesquisa e desenvolvimento industrial. “Na China, país comunista, o percentual é de 74%, nos EUA, de 71% e, na Alemanha, de 66%. Já no Brasil, o investimento do setor privado em PD&I é só de 43%, o que mostra o desafio para a criação de ambiente para a revolução da manufatura, que passa pela mão de obra”, assegura.

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Manufatura avançada já é uma realidade

“Nos próximos 12 anos, a economia digital orientará toda a economia. Teremos clientes mais conectados, consumidores e empregados exigindo mais recursos e, consequentemente, cobrando mais capacidade de inovação das empresas que enfrentarão novas fontes de competição”. A análise de Leone Peter Andrade, diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) Bahia, indica os caminhos que precisam ser estimulados para aumentar a capacidade competitiva da Bahia e do Brasil diante do cenário de futuro de oportunidades. “Estamos vivendo as proximidades da chamada Quarta Revolução Industrial, a da Manufatura Avançada, que requisitará maior investimento em financiamento para inovação. Será uma fase onde haverá desenvolvimento de produto, produção e serviços que se comuniquem via softwares e redes”, explicou.

Segundo Leone, os países de liderança global – dos quais o Brasil ainda não faz parte – estão em busca de redes dinâmicas dos controles, modelos digitais para todos os processos onde humanos definem os modelos e regras para decidir o que os sistemas irão fazer. O diretor do Senai-BA destacou que o futuro passará por usos intensos de equipamentos tecnológicos de alta performance.

Leone afirmou que existe em atuação uma Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), da qual o sistema Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia) participa e tem como objetivo melhorar a infraestrutura e de colaborar com a inovação em pesquisa e desenvolvimento para pequenas e médias empresas. “Precisamos pensar na constituição de parcerias que resultem na inovação. O Instituto Senai de Inovação, por exemplo, tem como objetivo as parcerias com a indústria, start-ups, universidades e instituições internacionais para fomentar a inovação”, ressaltou Leone.

*Financiar o futuro

43% é o percentual de investimento privado, no Brasil, em pesquisa, desenvolvimento e inovação

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Jovens brasileiros entre os mais inovadores

O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) publica, desde 1999, a lista MIT Technology Review com os dez jovens, até 35 anos, mais inovadores de diferentes países em suas profissões. O ranking já contou com nomes famosos como Mark Zuckerberg, do Facebook, Sergey Brin, da Google, e JB Straubel, da Tesla Motors.

Em 2014, pela primeira vez, a instituição criou uma lista com os jovens brasileiros. Foram 240 candidatos avaliados no processo que resultou nos nomes de David Schlesinger, 34 anos, Eduardo Bontempo, 30, Guilherme Lichand, 28, Gustavo Caetano, 32, Lucas Strasburg, 22, Mario Sérgio Adolfi Jr., 27, Martin Restrepo, 32, Vanessa Testoni, 34, Wendell Coltro, 34, e a baiana Lorrana Scarpioni, 23.

Em nota no site, o MIT afirma que os jovens brasileiros são um exemplo de como a tecnologia está evoluindo no mundo: “São evidências do surgimento de uma comunidade de pessoas com vocação para transformar o mundo”.

Ainda segundo a nota, o objetivo da classificação é “homenagear um grupo de homens e mulheres talentosos — engenheiros, cientistas da computação e economistas — que têm em comum seu trabalho de alto impacto sobre o desenvolvimento de tecnologias emergentes”.

Foto: Divulgação

David Schlesinger, 34 anos: destaque

na lista de brasileiros do MIT criou empresa

para diagnóstico de doenças raras

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Entre os destaques brasileiros está o doutor em genética David Schlesinger. Juntamente com os médicos Fernando Kok e André Valim e o bioinformata João Paulo Kitajima, David criou a Mendelics — empresa que desenvolveu um método para diagnóstico de doenças raras mais eficaz e rápido do que os existentes hoje.

O geneticista explicou que a partir de 2009 a tecnologia de sequenciamento teve um avanço muito grande. “Antes era muito lenta e só era possível sequenciar alguns trechos de cada vez. De lá pra cá, já é possível sequenciar um bilhão de trechos de uma só vez”.

Apesar da evolução, o Brasil ainda tinha dificuldades para montar um processo laboratorial que diagnosticasse as mais de cinco mil doenças genéticas existentes. “Antes não se fazia teste genético no Brasil, no máximo de duas doenças mais comuns”, afirma Schlesinger.

Percebendo essa lacuna, o grupo de médicos produziu o teste que sequencia todos os genes e por computação processa os dados e tenta encontrar a mutação que causa a doença. “Quando começamos, em 2011, não existiam nem cinco laboratórios no mundo que faziam isso”, revela o médico.

Para ele, o “pulo do gato” foi ter uma visão diferente do que já era feito para laboratórios. “Sempre digo que não existem mercados, existem pessoas. Tem pessoas que têm boas ideias e elas vão encontrar outras que acreditam nessa visão. Se procurarmos, vamos achar essas pessoas e para elas sempre vão ter oportunidades”, explica.

Ele reconhece que sua formação foi importante para despertar o interesse por novas ideias. “Não somente a minha educação formal, mas a minha educação cultural, em casa e na escola, ela me deu esse perfil de questionar o status quo”, analisa.

O estudante de Engenharia Mecânica Lucas Strasburg concorda que a qualificação fez diferença em sua carreira. Gaúcho de Novo Hamburgo, o jovem projetou, em parceria com Eduardo Trierweileir, uma prótese ortopédica de baixo custo feita com material reciclado. O projeto, que ganhou o nome de Revo Foot, surgiu, em 2009, no Curso Técnico de Mecânica da Fundação Liberato.

“Difícil mensurar a importância de nossa escola no surgimento do Revo Foot. Acho que se tivesse escolhido outra escola, não teria feito nada do que fiz. É uma instituição pública que incentiva muito a pesquisa científica, que aguça o seu olhar e a percepção para com os problemas ao seu redor”, disse Lucas.

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Para ele, países emergentes, como Brasil e Índia, possuem um mercado fértil para negócios de impacto social. Porém, é imprescindível incentivo no desenvolvimento de tecnologias. “Creio que nosso negócio, sendo de impacto social, aproveita um nicho de mercado que necessita ser explorado”, afirma.

A baiana fundou em 2012 a rede colaborativa de troca de tempo chama Bliive (bliive. com). A start-up permite aos usuários cadastrados trocarem atividades, como aula de inglês ou de defesa pessoal, por exemplo. A plataforma já conta com mais de 15 mil usuários em 55 países

Jovem fundador da Kidopi, uma start-up que desenvolveu um aplicativo de administração hospitalar. O software facilita as decisões de atendimento porque correlaciona indicadores. Foi considerado pela ONU como o melhor sistema inteligente para gestão de hospitais do Brasil

Mais jovem da lista, Lucas criou, juntamente com Eduardo Trierweileir, uma prótese ortopédica de baixo custo feita com material reciclado. O mecanismo tem boa resistência e comportamento biomecânico semelhante ao do pé humano

Doutora em Engenharia Elétrica pela Unicamp, ela desenvolve uma pesquisa inovadora que garante segurança na compra de conteúdo multimídia, imagens e vídeos através da internet. Vanessa trabalha atualmente no Instituto de Pesquisa Samsung

* Conheça os brasileiros na lista

Lorrana Scarpioni, 23

Mario SérgioAdolfi Jr., 27

Lucas Strasburg, 22

Vanessa Testoni, 34

Criou a empresa Editacuja que desenvolveu uma metodologia de aprendizagem baseada em tecnologia móvel para melhorar a formação dos jovens. Usa ferramentas em que alunos e professores podem criar novas fórmulas e novos conteúdos multimídia

Martín Restrepo, 32

232

Especialista em educação, é cofundador da empresa Geekie, uma plataforma de ensino adaptativo para turmas heterogêneas, que reúnem alunos de diferentes níveis de habilidade, que personaliza o ensino em universidades e escolas

Professor de Química da Universidade Federal de Goiás (UFG) criou uma tecnologia mais acessível para a fabricação de aparelhos que vão ser usados em análises microfluídicas a partir de papéis reagentes que permitem a análise de fluidos, como sangue e urina, a baixo custo

Criador da Samba Tech, uma empresa que oferece uma plataforma para a transmissão de vídeos em ambientes corporativos. Recebeu prêmios como os da Business Insider e da Forbes

Economista e estudante de Ph.D. em Harvard, é cofundador da MGov e criou um sistema para coletar e distribuir dados meteorológicos, via celular, para agricultores em regiões carentes

Eduardo Bontempo, 30

Wendell Coltro, 34

Gustavo Caetano, 32

Guilherme Lichand, 27

233

Carlos Gilberto Farias concedeu entrevista ao CORREIO quatro meses após ser empossado como presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). Destacou o papel da Fieb na formação e capacitação de profissionais para o mercado e no investimento em pesquisa e inovação para melhorar a produtividade e a competitividade. Farias morreu em novembro de 2014, antes da realização do primeiro seminário. O Fórum Agenda Bahia homenageia o então presidente da Fieb ao publicar sua última entrevista.

O ritmo de crescimento do Brasil dos últimos anos não foi acompanhado pela qualificação da mão de obra do trabalhador brasileiro. Resultado: a cada ano, o Brasil perde posições no ranking de competitividade. Quais os desafios do Brasil e da Bahia nessa área? A competitividade é resultado de fatores como logística, infraestrutura, parque fabril e, sem dúvida, também da qualificação de mão de obra. Mesmo com o esforço do governo federal e avanços alcançados com o programa Pronatec, um dos principais gargalos do país para avançar na qualificação profissional é a formação básica. Na última avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), em 2012, apesar de ter conseguido uma evolução significativa, o Brasil ainda está nas posições mais baixas do ranking. Entre os 65 países comparados, ficamos em 58º lugar. Na Bahia, a Fieb tem direcionado o Senai a avançar muito na formação profissional, tanto em volume de matrículas quanto na diversificação espacial, passando a atuar em diversos municípios do interior. Nos últimos anos, dobramos o volume de matrículas em cursos de formação profissional básica e técnica. Temos nos esforçado também para avançar na formação de pessoal em nível superior, além dos mestres e doutores, pois são profissionais com foco muito claro na inovação e na melhoria de competitividade da indústria.

O investimento em pesquisa e inovação tecnológica pode ajudar a melhorar a produtividade e a competitividade? Sim, pode ajudar a melhorar a nossa customização. Hoje, não temos mais a guerra fiscal. Então, para onde as empresas vão? Para onde tiver a melhor tecnologia. Onde tiver a melhor mão de obra preparada. Antigamente, o governo dizia, venha para cá que tiro não sei quanto de ICMS. Hoje não tem mais isso e a Bahia vai se destacar por conta do Cimatec, dessa estrutura de escolas. Deve-se levar em consideração que vivemos num ambiente econômico competitivo em âmbito global. Dessa forma, as organizações e mesmo os indivíduos precisam buscar sempre aperfeiçoar seus produtos e serviços. Isso se dá por meio de um esforço na inovação, que não precisa, necessariamente, ser algo revolucionário. Por vezes, pequenos ajustes em processos, em métodos, raciocínios podem gerar incrementos expressivos na produtividade e na produção.

Qualificação para atrair mais negóciosEntrevista com Carlos Gilberto Farias

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O Cimatec é um polo de educação tecnológica referência no Brasil. De que forma essa experiência pode se expandir? Já estamos com 11 cursos superiores de tecnologia e cinco cursos de engenharia. O sexto curso, de Engenharia Química, começa ano que vem. Temos também dois cursos de mestrado e um de doutorado, que são os únicos do Senai no país. Temos uma equipe sólida de doutores trabalhando não só no ensino de graduação e pós graduação, mas também com pesquisas de interesse da indústria, que é inovação. A gente integra o ensino e a indústria. A pesquisa agropecuária foi transformada para atender a indústria. A Embrapa tem trazido resultados fantásticos. O Brasil investe pouco em pesquisa, há uma preocupação agora para que se invista mais. Temos que ir criando os Cimatecs voltados às necessidades de cada lugar. Camaçari é uma região que conta com uma infraestrutura de ferrovia para o porto, que tem um suporte de infraestrutura. Outra regional é Alagoinhas, que tem um aquífero fantástico e cresce muito.

A sua empresa, a Agrovale, tinha uma das maiores produtividades de cana-de-açúcar. Como outros setores podem obter tamanho desempenho via mão de obra? Ainda é a maior do mundo. Mas não é só via mão de obra, são necessários outros componentes. A Bahia, pela sua pluviosidade e pela sua distribuição geográfica - 70% é árido e semiárido -, depende da irrigação. Mas isso

Foto: Evandro Veiga

Carlos Gilberto Farias: ‘O Brasil

investe pouco em pesquisa’

“A chegada da universidade faz muita diferença a uma região. Os cursos vão acontecendo, a cidade vai se cosmopolizando e as cabeças vão mudando”

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está muito atrasado aqui. O governo do presidente Lula não foi feliz nessa área da irrigação. O Oeste só pode trabalhar com culturas de ciclos curtos, porque só chove de outubro a março. A Agrovale deu certo porque é 100% irrigada e está próxima de duas cidades que já contam com universidades, que é Juazeiro e Petrolina. A chegada de uma universidade faz muita diferença a uma região. Quando os cursos vão acontecendo, a cidade vai se cosmopolizando e as cabeças vão mudando.

Que tipo de trabalhador baiano a indústria espera para os próximos anos? Há uma considerável demanda por profissionais altamente qualificados, em especial em áreas mais tecnológicas. Hoje, há mais oferta de formação superior em áreas mais administrativas do que em áreas técnicas. A necessidade do mercado mudou para perfis de maior qualificação, a partir do nível técnico, passando pelo nível superior até profissionais com mestrado e doutorado, tudo isso em função das oportunidades de desenvolvimento de projetos de inovação, seja para melhoria de produtos ou processos ou para inovações mais radicais, situações em que esses profissionais são essenciais. É nesse contexto que o Senai-BA, por meio do Cimatec e demais unidades, oferta programas de formação nos níveis técnico, superior e de pós-graduação (inclusive mestrado e doutorado), desenhados em parceria com a indústria, de sorte a prover todo o suporte em educação profissional, tecnologia e inovação.

Quais os planos da Fieb em inovação, educação e qualificação profissional? Estamos com um eixo de desenvolvimento de interiorização das ações do Sesi e do Senai, começando pelas regionais estabelecidas pela Federação após estudo cuidadoso do desenvolvimento dessas regiões, das suas populações, dos seus PIBs, das suas dificuldades, dos interesses das indústrias locais e das que se propõem a investir nelas. Paralelo a isso, vamos preparando mão de obra para dar sustentação a essas empresas. Estamos concluindo em Luis Eduardo Magalhães uma escola do Sesi/Senai que vai preparar, por ano, 1.200 pessoas e outras 1.200 em Barreiras. Vamos oferecer cursos de qualificação profissional que duram de três a

“Um dos principais gargalos do país é a formação básica (de ensino). O Brasil ainda está nas posições mais baixas do ranking mundial”

Foto: Marina Silva

Cimatec baiano é referência em todo o

país pelo investimento em tecnologia e

inovação

236

quatro meses e também os técnicos, de maior duração. Também temos um projeto na região Sudoeste, em Vitória da Conquista, para ofertar entre 1.800 a 2.000 vagas por ano.

A Fieb mapeou as demandas da região? Fizemos levantamento de demanda in loco, mas a CNI tem dados do país inteiro e desenvolve um sisteminha que a gente chama de mapa do trabalho, que mostra a demanda por formação profissional em todos os municípios do país. A primeira coisa que fizemos foi avaliar esse mapa, que usa dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do IBGE e do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e sinaliza os investimentos para cada região. No Oeste, a preocupação maior é em agregar valor à produção. A região é um celeiro brasileiro na produção de grãos de alimentos e precisa atrair a indústria de transformação. Temos hoje a melhor fibra de algodão, capaz de fazer o lençol fino que faz no Egito. O mesmo ocorre com a soja. Exportamos só in natura, mas podemos agregar muito valor com a indústria da transformação em óleo e no próprio agregado de ração. Há toda uma cadeia e é papel da Fieb atuar não só na articulação para atrair novos negócios, mas também na formação e na preparação dessa mão de obra.

Em alguns polos em desenvolvimento na Bahia, a carência de mão de obra qualificada ainda é um problema. As empresas têm gastado mais para importar esses profissionais ou têm investido em qualificação? É um desafio apoiar todos os polos industriais do estado, e a interiorização das ações do Sistema Fieb é uma prioridade nossa. Ainda há uma maior concentração da demanda na Região Metropolitana de Salvador, estamos atentos às recentes, e cada vez maiores, oportunidades de crescimento das empresas do interior. O programa de interiorização da Fieb busca, entre outras coisas, apoiar as empresas que hoje não conseguem se desenvolver por falta de pessoal qualificado e, em alguns casos, acabam “importando” mão de obra, porque o negócio não pode esperar. Para reverter isso, estamos construindo Unidades Integradas (Senai, Sesi e IEL) nas principais regiões do estado e iniciamos um planejamento para alcançar cidades de menor porte com pequenas unidades locais de Centros de Formação Profissional (CFP). Também temos um programa estruturante chamado Programa de Melhoria da Competitividade da Indústria Brasileira, parceria do Senai Nacional com o BNDES, que financiará uma parte dos recursos necessários para a expansão do Senai-BA rumo ao interior. Ainda assim, qualquer demanda de indústria que queira ampliar ou se instalar no estado poderá contar conosco, pois a Fieb e o Senai se mobilizarão para o sucesso do empreendimento.

Ainda hoje as pessoas buscam capacitação para trabalhar na capital e na RMS. O que fazer para que essas pessoas se capacitem e permaneçam nas suas regiões? Só consegue isso se der suporte. É preciso um forte trabalho de desconcentração espacial do desenvolvimento econômico e social,

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tanto em âmbito nacional quanto estadual. Não se pode admitir o nível de desigualdade que verificamos no Brasil e na Bahia. Esse trabalho parte da realização de fortes investimentos públicos na infraestrutura física e social, que criem condições propícias ao investimento privado nessas áreas. O Senai e o Sesi já estão presentes em mais de cem municípios. Devemos formar mais de 140 mil alunos em 2014 e muitos deles no interior.

Na sua campanha, o senhor falou na promoção de um programa completo de formação profissional. Como será? É a construção de novas escolas dentro desse processo moderno que é educar com mais rapidez nos cursos. Uma coisa interessante é que, antigamente, para formar um torneiro mecânico no Senai levava quase cinco anos, hoje há cursos de quatro meses. Os cursos hoje são mais dinâmicos.

Foto: João Alvarez/Divulgação

Senai é campeão na oferta de vagas

da educação profissional pelo

Pronatec na Bahia

238

Até seis meses para preencher uma vaga

Procura-se operador de jato de areia, operador de ponte rolante, mecânico de montagem de máquinas, técnico de engenharia civil... As vagas estavam disponíveis há quase 50 dias no SineBahia e não foram ocupadas. Pode parecer muito tempo, mas, para quem já levou até seis meses para encontrar um engenheiro de instrumento, não há surpresa alguma.

De acordo com o coordenador de Intermediação para o Trabalho e Seguro-Desemprego da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Estado (Setre), Hildásio Pitanga, faltam profissionais nas áreas naval, eólica, de mineração, de logística, da construção civil e no comércio. A escassez dessa mão de obra é relacionada às mudanças na economia baiana.

“A Bahia, nos últimos anos, vive um dinamismo. Passou a contar com novos setores, alguns foram aquecidos e outros retomados. Isso gerou novas demandas”, avalia. O desafio agora é garantir a formação para não ter que importar mão de obra.

“O setor naval estava desaquecido. Agora há um movimento de retomada com o Estaleiro Paraguaçu e não temos mão de obra qualificada. Já na área de logística, recebemos os centros de distribuição do Boticário, da Avon, da Magazine Luiza e das Casas Bahia e com isso veio a necessidade de pessoal com conhecimentos específicos”, explica.

Para o secretário da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, a existência de mão de obra qualificada pressupõe que o município, ou mesmo a região, já possua um parque industrial instalado. “Na maioria das vezes, isso não acontece. Muitas vezes há uma vocação natural, mas somente a chegada do setor produtivo faz deslanchar a qualificação”, explica.

A companhia canadense Largo Resource começou a operar em 2014 em Maracás. O mesmo aconteceu com o grupo Boticário, que instalou duas unidades na Bahia: uma fábrica em Camaçari e um centro de distribuição em São Gonçalo dos Campos. A multinacional explora o minério vanádio e o grupo paranaense produz e comercializa produtos de beleza. Mesmo atuando em regiões e atividades distintas do estado, as empresas têm algo em comum: não encontraram mão de obra qualificada no interior e precisaram formá-la.

Segundo dados da Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração (SICM), 260 empresas nas áreas da indústria e comércio foram implantadas e ampliadas no interior do estado entre 2009 e 2013. Juntas, elas geraram 32.340 novos empregos. A depender da área, antes de assinar contrato, esse pessoal precisou passar por cursos de formação.

239

Quando anunciou as primeiras vagas de operadores para a sua planta na Bahia, a Largo Resource recebeu inscrição de técnicos da China e da África do Sul, mas preferiu empregar moradores da região onde está instalada. Ofereceu um curso de formação em eletromecânica para 78 pessoas. Desse grupo, só 20 foram aproveitados.

“Tínhamos consciência de que a régua de medir o perfil deles seria no nível de aprendizes. Se subíssemos um pouco, metade não entraria. Tínhamos 24 vagas e paramos em 20”, diz o gerente geral de Recursos Humanos da planta, Mauro Ribeiro.

Na falta do profissional pronto, a saída encontrada pelas empresas é treinar o próprio pessoal, como ocorreu com a Largo Resource, ou contar com os profissionais formados pelo Sistema S (Sesi/Senai) nos centros estaduais de educação profissional, nas vagas do Pronatec ou nas instituições privadas.

Na seleção da primeira turma da Largo Resource, a capacitação técnica ficou em segundo plano. “Nossa ideia é aproveitá-los como aprendizes”, diz o gerente de RH. Recentemente, houve nova seleção para preencher 50 vagas nas áreas de operação e manutenção.

“Anunciamos em rádios, blogs, fixamos cartazes em pontos mais frequentados na região e conseguimos preencher quase 90%. No final, para as entrevistas, era praticamente um candidato por vaga”, informa. Ainda restam 20 vagas imediatas e o gestor já traça as estratégias diante da possibilidade de não conseguir pessoas na região. “Nossa prioridade é o aproveitamento do pessoal local. Depois, vamos crescendo o raio de atuação a até 100 km. Se ainda assim não preenchermos, o jeito é partir para Salvador e regiões mais distantes ou até fora do estado”, analisa.

No caso do grupo Boticário, a gerente de desenvolvimento organizacional na Bahia, Margareth Barretto, informa que, como não encontraram mão de obra qualificada para as posições que queriam, firmaram parceria com o Sesi/Senai para capacitar 400 pessoas em logística e produção industrial. Conseguiram aproveitar 95.

“Mesmo com a qualificação, alguns não conseguiram aprovação no recrutamento interno”, informa. Como Camaçari já conta com um polo industrial, as dificuldades maiores são na região de São Gonçalo. Mesmo assim, Margareth Barretto se mantém otimista. “Já sabíamos que encontraríamos algum tipo de dificuldade para contratação desde que o grupo pensou em se instalar aqui, por isso preparamos a capacitação”, destaca.

Ainda assim, não deu para preencher todas as vagas só com a população local. “A maioria dos funcionários da operação é de São Gonçalo e Feira

240

de Santana, mas teve gente que veio da unidade de São Paulo. Se encontrássemos pessoas qualificadas para as posições de engenheiros, analistas e técnicos teríamos contratado os da região também, mas para essas áreas há mais dificuldades”, lamenta.

Em um estado tão extenso como a Bahia e com uma economia diversificada, a falta de mão de obra qualificada afeta todas as regiões e setores, inclusive o agronegócio. Na avaliação da presidente da Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa), Isabel da Cunha, este é um problema que atinge a todos os segmentos.

“Percebemos que existe uma dificuldade de encontrar pessoas com qualificação técnica para vários setores. Para atender as nossas demandas, a Abapa investe alto em treinamento e qualificação na área do agronegócio”, informa, referindo-se ao centro de treinamento de mecânico e operadores, que funciona desde 2010 e é mantido com recursos do Fundo do Algodão.

“Infelizmente, quando o operador não é alfabetizado, não vai ter o aproveitamento que deveria”, observa Isabel. Na avaliação dela, a oferta de mão de obra qualificada na região reduziria custos e garantiria mais agilidade nos processos. “Reduziria perdas e isso impactaria nos custos”, ressalta a presidente da Abapa.

Herdeira do grupo Agrosul, que comercializa maquinários para produtores, Bruna Lermer Oliveira até hoje lembra de uma história que ouviu, no departamento de serviço da empresa, que reflete a falta de qualificação: um cliente havia solicitado o serviço de pós-venda após um funcionário reclamar que o equipamento esquentava muito. Ao atender o chamado, o técnico constatou que não havia problema. Só foi preciso desligar o aquecedor do banco, criado para proteger trabalhadores na colheita durante o Inverno dos Estados Unidos, onde o equipamento é fabricado.

“Infelizmente, temos essa imensa deficiência educacional e precisamos capacitar o operador por nossa conta para que ele possa entender e usufruir de toda a tecnologia que está à disposição dele”, diz Bruna Oliveira.

“A falta de educação é um dos fatores que mais contribuem para o custo Brasil”OSWALDO GUERRA, professor de Economia da Ufba

241

Mais do que gerar um problema para investidores, a falta de profissionais qualificados representa hoje um obstáculo para o crescimento. “O gargalo do país está principalmente na falta de mão de obra qualificada para os novos setores. Não é possível avançar mais rápido porque faltam inves-timentos em qualificação profissional”, diz o coordenador do SineBahia, Hildásio Pitanga. Segundo ele, as dificuldades não ficam só nas ocupações estratégicas do negócio, mas também nas de âmbito técnico.

Professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Oswaldo Guerra também alerta que o desafio competitivo para a Bahia atrair investimentos passa pela educação e infraestrutura. “É preciso melhorar o nível de educação do trabalhador baiano. Mas essa é uma tarefa que não muda de uma hora para outra, não é a curto prazo. Se não houver um investimento pesado nessas duas áreas, tem que ficar dando incentivos fiscais o tempo todo e, quando acaba esse incentivo, a empresa sai do estado”, lembra o professor.

Obstáculos para o crescimento

Cursos de qualificação não faltam na Bahia. O Senai/Sesi conta com mais de 140 mil vagas por ano, a Secretaria de Educação oferta 70 mil vagas na educação profissional e há outras 5.267 no Instituto Federal da Bahia (Ifba). Ainda assim, não supre toda a demanda do estado. Gerente do núcleo estratégico do Senai, Luís Alberto Brêda Mascarenhas diz que há um mapeamento para expansão no interior.

“Cada região tem um perfil e a oferta é em função de fatores como número de empresas existente e perfil delas”, explica. Mas uma coisa é certa: mecânica, manutenção, logística e elétrica são áreas mais trans-versais e qualquer indústria que vier a se instalar vai demandar.

Também há um comitê técnico setorial para verificar as demandas. “Não há uma definição de oferta e aquilo é congelado. Às vezes, é feita a formação, atendemos a demanda e só voltamos a ofertar naquela área depois de algum tempo. Também nos baseamos no mapa do trabalho, que aponta a demanda de profissionais por área no Brasil inteiro”, diz.

Com base nessas informações, os curso são montados para formar o aluno com o perfil que o mercado precisa. “Hoje o mercado é muito dinâmico. Os equipamentos são mais complexos, não dá para operar de forma simples”, justifica.

Mecânica, logística e elétrica são as mais procuradas

242

Fonte: SineBahia - Informações de vagas captadas até 3 de outubro de 2014

Agropecuária Indústria Comércio Serviços Financeiro Ignorado Total

ALAGOINHAS 193 324 191 349 24 2 1.083

BARREIRAS 662 293 226 384 0 121 1.686

EUNÁPOLIS 2.179 598 330 1.321 29 1.395 5.852

FEIRA DE SANTANA 980 871 462 2.184 87 37 4.621

IRECÊ 45 172 116 43 0 0 376

ITABUNA 157 393 445 1.161 15 293 2.464

JACOBINA 188 182 234 121 46 22 793

JEQUIÉ 52 852 132 353 23 3 1.415

JUAZEIRO 4.552 842 1.210 528 52 437 7.621

LIVRAMENTO 1.174 192 57 99 20 2 1.544

RMS 2.428 6.398 6.437 21.850 950 117 38.180

SANTO ANTÔNIO DE JESUS 705 2.636 239 485 45 50 4.160

VITÓRIA DA CONQUISTA 1.335 517 466 554 30 169 3.071

TOTAL 14.650 14.270 10.545 29.432 1.321 2.648 72.866

86 251 95 380 4 0 816

331 222 99 110 0 61 823

1.896 422 68 868 4 1.006 4.264

777 188 175 555 8 14 1.717

38 154 59 18 0 0 269

56 182 191 861 3 39 1.332

83 21 91 58 0 6 259

87 736 97 783 1 1 1.705

3.250 676 820 304 9 179 5.238

625 88 11 24 0 0 748

691 4.494 2.074 11.161 42 12 8.474

578 2.429 265 443 25 36 3.776

867 576 487 476 22 126 2.554

9.365 10.439 4.532 16.041 118 1.480 41.975

CARGOS OCUPADOS: MENOS DE 60%

COLOCADOSVAGASInformações de janeiro a agosto de 2014

Ciente de que sem formação não há crescimento, o presidente da Fecomércio, Carlos Andrade, diz que esse é um desafio constante da entidade. “Digo sempre: time que não treina não ganha campeonato. Na educação, infelizmente, o país ainda está muito atrasado. A gente pega o exemplo dos Brics e estamos na rabeira, porque não se investiu em educação”, avalia.

A Fecomércio possui 11 unidades entre capital e interior e atende a 110 municípios. “Temos planejamento estratégico para atender o estado inteiro. O Senac móvel conta com seis carretas circulando o estado, como se fosse uma sala de aula móvel, com laboratório, cozinha e sala de aula. Nossa meta para 2014 é ter 103 mil atendimentos”, diz.

243

*Oportunidades

140 mil vagas são ofertadas por ano pelo Sesi/Senai e há plane-jamento para expansão

70 mil vagas são ofertadas pelo estado em cursos de educação profissional

5.267 vagas são ofertadas pelo Instituto Federal da Bahia em cursos técnicos

Mais do que garantir a formação profissional, uma preocupação é com a qualidade da educação. “Há uma deficiência de formação em função de di-ficuldades da educação básica. Isso esbarra na aprendizagem. Para assimi-lar os conhecimentos de um curso técnico tem que ter um conhecimento preliminar básico de matemática e português”, alerta Hildásio.

Para especialistas, não adianta investir na oferta de cursos de qualificação se não houver um cuidado com a educação básica. “Os cursos profissio-nalizantes são muito importantes, desde que cheguem com boa base. Se não há uma boa formação, vai sobrar para a empresa. A educação é uma das coisas que mais contribuem para o custo Brasil”, avalia Guerra. Para quem está na dúvida entre um curso técnico ou a universidade, ele dá uma dica: “Temos uma tradição no Brasil que, para ser doutor, tem que estar na universidade, mas nem todo mundo tem aptidão para isso”.

Prioridade em educação básica

Infográfico: Infraestrutu-ra, um tiro na competitivi-dade

Gargalos de infraestrutura, especialmente em transportes e energia, comprometem a competitividade da economia brasileira.Não são problemas conjunturais, que podem ser superados no horizonte de curto prazo, mas problemas estruturais, como a opção histórica pelo modal rodoviário, mais caro e que impacta no consumo de energia.São problemas que exigem um esforço concentrado de todos os entes federativos (União, estados e municípios) para sua superação.Veja algumas das mazelas nacionais.

Infraestrutura, um tirona competitividade

Fonte: Ministério dos Transportes.

Transportes A maior parte das cargas no Brasil é transportada em caminhões. Como a rodovia é um modal caro (só perde para o transporte aéreo), isso afeta a competitividade do produto brasileiro.

EnergiaNo Brasil, a energia (eletricidade, combustíveis fósseis, biomassa, etc) é cara e, ainda por cima, boa parte dela é consumida em transporte de carga via rodovias (diesel, gasolina, etc). Além de baratear o custo, com redução de impostos, o governo deve investir mais em ferrovias e hidrovias, que consomem menos energia.

Ferramenta de política industrialFornecer energia em condições competitivas para a grande indústria ajuda a criar empregos, estimula o crescimento econômico, aumenta a arrecadação e reduz a inflação.Alguns exemplos no mundo:

Enquanto isso, no Brasil, contrato datado dos anos 1970, entre a Chesf e eletrointensivas, para fornecimento de 800 MW médios a unidades de produção da Gerdau, Braskem, Vale, Dow, Ferbasa, Paranapanema e Mineração Caraíba, localizadas nos estados da Bahia, Alagoas e Pernambuco, irá encerrar em meados de 2015. Com poucas perspectivas de prorrogação, tudo indica que as empresas serão obrigadas a se valer do mercado livre, onde a energia é mais cara e com fornecimento instável, comprometendo sua competitividade.

O Brasil é o quinto maiorconsumidor de energia do planeta(consumo anual em milhões de toneladasequivalentes de petróleo)

Consumo de combustível por modal (litros gastos a cada 100 quilômetros percorridos pela carga)

Participação e custosdos modais – Brasil

(TKU - Tonelada Transportada por Quilômetro Útil)

2012 % TKU US$ | Mil TKU

67 %RODOVIÁRIO

FERROVIÁRIO

AQUAVIÁRIO

DUTOVIÁRIO

AÉREO

US$ 133

18 % US$ 22

11 % US$ 30

3 % US$ 25

0,04 % US$ 1.060

Fonte: Ministério dos Transportes.

Transporte rodoviário nototal de carga transportada (%)

Brasil67

Estados Unidos31

Alemanha18

Rússia8

Japão6

Fonte: Ministério dos Transportes eAgência Internacional de Energia

Brasil224

Japão309

China1.703

Estados Unidos1.432

Rússia461

No Brasil, mais de um terço da energia fornecida é consumida em transporteO percentual só é maior nos EUA

China14%

Rússia20%

Alemanha24%

Brasil35%

Japão24%

Estados Unidos42%

Fonte: Fundação João Cabral

Custos logísticos médios das empresas em relação à receita líquida no Brasil (%)(Transporte, armazenagem, estoque, tempo de espera, etc)

22,69Bens de capital

20,88Construção

14,63Mineração

12,82Siderurgia | Metalurgia

12,04Agropecuária

10,74Bens de consumo

9,45Têxtil

8,76Automotivo

6,29Químico | Petroquímico

13,14Custo médio Brasil

Fonte: Ministério de Minas e Energia

Rodovia

Hidrovia

96

105

Bens de capitalBens de capital

ConstruçãoConstrução

MineraçãoMineração

Siderurgia | MetalurgiaSiderurgia | Metalurgia

AgropecuáriaAgropecuária

Bens de consumoBens de consumo

TêxtilTêxtil

AutomotivoAutomotivo

Químico | PetroquímicoQuímico | Petroquímico

Custo médio BrasilCusto médio Brasil

Fonte: Ministério de Minas e Energia

Gargalos de infraestrutura, especialmente em transportes e energia, comprometem a competitividade da economia brasileira.Não são problemas conjunturais, que podem ser superados no horizonte de curto prazo, mas problemas estruturais, como a opção histórica pelo modal rodoviário, mais caro e que impacta no consumo de energia.São problemas que exigem um esforço concentrado de todos os entes federativos (União, estados e municípios) para sua superação.Veja algumas das mazelas nacionais.

Infraestrutura, um tirona competitividade

Fonte: Ministério dos Transportes.

Transportes A maior parte das cargas no Brasil é transportada em caminhões. Como a rodovia é um modal caro (só perde para o transporte aéreo), isso afeta a competitividade do produto brasileiro.

EnergiaNo Brasil, a energia (eletricidade, combustíveis fósseis, biomassa, etc) é cara e, ainda por cima, boa parte dela é consumida em transporte de carga via rodovias (diesel, gasolina, etc). Além de baratear o custo, com redução de impostos, o governo deve investir mais em ferrovias e hidrovias, que consomem menos energia.

Ferramenta de política industrialFornecer energia em condições competitivas para a grande indústria ajuda a criar empregos, estimula o crescimento econômico, aumenta a arrecadação e reduz a inflação.Alguns exemplos no mundo:

Enquanto isso, no Brasil, contrato datado dos anos 1970, entre a Chesf e eletrointensivas, para fornecimento de 800 MW médios a unidades de produção da Gerdau, Braskem, Vale, Dow, Ferbasa, Paranapanema e Mineração Caraíba, localizadas nos estados da Bahia, Alagoas e Pernambuco, irá encerrar em meados de 2015. Com poucas perspectivas de prorrogação, tudo indica que as empresas serão obrigadas a se valer do mercado livre, onde a energia é mais cara e com fornecimento instável, comprometendo sua competitividade.

O Brasil é o quinto maiorconsumidor de energia do planeta(consumo anual em milhões de toneladasequivalentes de petróleo)

Consumo de combustível por modal (litros gastos a cada 100 quilômetros percorridos pela carga)

Participação e custosdos modais – Brasil

(TKU - Tonelada Transportada por Quilômetro Útil)

2012 % TKU US$ | Mil TKU

67 %RODOVIÁRIO

FERROVIÁRIO

AQUAVIÁRIO

DUTOVIÁRIO

AÉREO

US$ 133

18 % US$ 22

11 % US$ 30

3 % US$ 25

0,04 % US$ 1.060

Fonte: Ministério dos Transportes.

Transporte rodoviário nototal de carga transportada (%)

Brasil67

Estados Unidos31

Alemanha18

Rússia8

Japão6

Fonte: Ministério dos Transportes eAgência Internacional de Energia

Brasil224

Japão309

China1.703

Estados Unidos1.432

Rússia461

No Brasil, mais de um terço da energia fornecida é consumida em transporteO percentual só é maior nos EUA

China14%

Rússia20%

Alemanha24%

Brasil35%

Japão24%

Estados Unidos42%

Fonte: Fundação João Cabral

Custos logísticos médios das empresas em relação à receita líquida no Brasil (%)(Transporte, armazenagem, estoque, tempo de espera, etc)

22,69Bens de capital

20,88Construção

14,63Mineração

12,82Siderurgia | Metalurgia

12,04Agropecuária

10,74Bens de consumo

9,45Têxtil

8,76Automotivo

6,29Químico | Petroquímico

13,14Custo médio Brasil

Fonte: Ministério de Minas e Energia

Rodovia

Hidrovia

96

105

Bens de capitalBens de capital

ConstruçãoConstrução

MineraçãoMineração

Siderurgia | MetalurgiaSiderurgia | Metalurgia

AgropecuáriaAgropecuária

Bens de consumoBens de consumo

TêxtilTêxtil

AutomotivoAutomotivo

Químico | PetroquímicoQuímico | Petroquímico

Custo médio BrasilCusto médio Brasil

Fonte: Ministério de Minas e Energia

Fonte: Fieb Arte: Bamboo editora

246

Mão de obra produtiva

“Não adianta a empresa ter uma máquina supermoderna e inovadora se não há um funcionário que tem capacidade de usar de forma eficaz esse equipamento”, diagnostica a gerente da Unidade de Acesso a Mercado e Serviços Financeiros do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Sueli De Paula. O pensamento de Sueli reflete uma das preocupações para o aumento da competitividade: como alavancar o crescimento dos setores da economia com as deficiências da mão de obra?

Nos próximos anos, a Bahia terá crescimento na oferta de emprego em diversos setores como Tecnologia da Informação, Agronegócio, Energia e Petroquímica. Mas, para conquistar uma dessas vagas, é preciso que o trabalhador esteja qualificado. Especialistas apontam o perfil que o mercado irá exigir.

“O agronegócio, por exemplo, é a grande força baiana que precisa e pode ser explorada. Entretanto, esse desenvolvimento passa não só pela implementação de novos equipamentos, mas também pela formação de profissionais que consigam melhorar a produção”, diz Sueli.

Na contramão, segundo Sueli, estão setores como o de comércio: “A violência faz com que as pessoas comprem menos em lojas de rua. Esses empresários precisam rever esse método de trabalho para que o setor se recupere”.

Outras atividades com crescimento exponencial da Bahia, segundo o gerente do Núcleo Estratégico do Senai, Luis Alberto Breda, são energias renováveis e indústria petroquímica. Mas para o desenvolvimento desses setores será necessário que o estado invista em força de trabalho capacitada. Só o Senai forma por ano 150 mil profissionais na Bahia em várias áreas.

“A energia eólica, por exemplo, tem um potencial importante de atração de mão de obra especializada nas áreas de instalação, manutenção, automação e engenharia mecatrônica”, argumenta.

Breda ressalta que o trabalhador que faz a diferença em processos de logística das empresas serão os mais cobiçados, principalmente em setores estratégicos para a economia baiana.

“Um bom profissional é o elemento chave do processo competitivo. Espera deles cada vez mais uma visão sistêmica e capacidade de solução de problemas. Isso se mostra mais necessário em áreas como de TI, pelo desenvolvimento de programas, e também de logística”, ressalta.

247

O setor de energias renováveis tem potencial de crescimento no mercado de trabalho na Bahia em função da projeção de implantação de novas cadeias produtivas no estado. Vagas podem ser abertas no setor de manutenção, operação e engenharia.

Energia eólica

Responsável por boa parte do PIB baiano, o setor tem previsão de abertura de milhares de vagas no próximo ano.

Petroquímica

A capacidade de gerenciar equipamentos e informações aumenta a competitividade das empresas. Favorece a formação de profissionais em Logística e Comércio.

Logística

A área de TI, através da criação e gestão de softwares, é uma das apostas para ampliar esse setor no estado.

Tecnologia da Informação (TI)

Após a instituição da PEC das Domésticas surgiu no mercado a necessidade de qualificação para realização de atividades do lar. Nos próximos 10 anos, a estimativa é que o setor exija mais profissionalização.

Serviços do lar

Música, artes, entretenimento e cultura em geral são potenciais formas de desenvolvimento econômico para serem exploradas na Bahia.

Economia criativa

Em todos os setores da economia há uma probabilidade de aumentar o investi-mento em inovações de processos e tecnologia. Com isso, cresce a necessidade de novos profissionais.

Inovação

Setor tem possibilidade de expan-são pela maior profissionalização e investimento em tecnologia. Entre as atividades, estão desenvolvi-mento de tecnologias de processos e produção e as ligadas diretamente à agricultura.

Agronegócio

NOVAS OPORTUNIDADES NA BAHIA

FONTES: Sebrae, SEI, Fecomercio e Senai

O comércio tem como tendência, em função do aumento da violência e de necessidade de economia de custos, seguir o caminho da reunião em centros comerciais fechados. Isso demandará mais investimento de profissionais em segurança, logística e desenvolvimento de tecnologias.

Comércio

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Comércio

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Para o economista e consultor da Fecomércio-BA, Fábio Pina, a Bahia é rica em recursos naturais. Esse é um diferencial do estado, segundo o especialista, na atração de investimentos que podem impulsionar o potencial competitivo de setores importantes da economia baiana.

“A Bahia tem recursos naturais para explorar energia sustentável. Mas para esse setor ser explorado precisa de mão de obra qualificada no setor industrial. São engenheiros, técnicos e tecnólogos, dentre outras atividades. De forma geral, esses são os recursos mais escassos hoje no Brasil, em especial na Bahia pelo seu potencial”, explica.

Dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), divulgados no início do mês, relacionados à educação na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE) mostram que 14,3% da população do estado é composta por analfabetos, sendo que o maior percentual de analfabetos está na faixa etária acima dos 40 anos. A Bahia também teve fraco desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado este ano: no ensino médio, por exemplo, está abaixo da média nacional (3,7) e caiu de posição (de 3,0 para 2,8).

Essa situação reflete diretamente na qualidade competitiva da mão de obra. “Percebo que o setor de serviços é o que mais sofre com isso. Vivemos um apagão de talentos. Temos uma falta de pessoas qualificadas para trabalhar nas empresas do ponto de vista técnico e também comportamental”, opina Ricardo Galvão, do Grupo de Líderes Empresariais (Lide Bahia). Galvão reforça que o profissional baiano precisa melhorar na qualificação e na eficiência. “O baiano tem a flexibilidade e a criatividade como diferenciais, mas precisa que o governo e os próprios empresários invistam mais na formação desses profissionais”, destaca.

A Bahia vive situações antagônicas nos 25 principais subsetores de atividades econômicas. É o que aponta levantamento realizado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI). Coordenador de Pesquisas Sociais da SEI, Roberto Maximiano Pereira explica que os subsetores de atividade econômica do mercado de trabalho formal que mais se destacaram positivamente de 2012 a outubro de 2014 na geração de empregos formais na Bahia foram na área de serviços e comércio.

“Os serviços de alojamento, alimentação, reparação e manutenção tiveram a criação de 26.605 novos postos de trabalho. Em segundo lugar veio o setor de comércio varejista com a criação de 26.033 novas vagas. Em terceiro lugar, o setor de Construção Civil que, apesar de ter perdido força em 2014, gerou no período 20.261 postos de trabalho”, diz.

Bahia: indústria calçadista perdeu mais empregos

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Na outra ponta, os subsetores econômicos que mostraram uma retração na criação de postos de trabalho estão os ligados à indústria, principal-mente, como a Calçadista (com a supressão de 11.574 vagas, pelo fim de uma fábrica no Sul da Bahia), a de Material Elétrico e de Comunicações e a Metalúrgica.

Para Roberto Maximiano Pereira, a Bahia tem potencial para crescimento em diversos setores. “Os de serviços ligados ao turismo, subsetores de ensino e serviços médicos e hospitalares e serviços técnicos apontam como maiores empregadores neste momento da economia, com boas perspectivas de continuar crescendo nos próximos anos”, explica o coor-denador da SEI.

A gerente da Unidade de Acesso a Mercado e Serviços Financeiros do Sebrae, Sueli De Paula, destaca que uma importante solução para melhorar o mercado de trabalho baiano é apostar em setores da economia criativa e também de logística.

“Salvador, por exemplo, é rica culturalmente e tem muito potencial que pode ser explorado para dinamizar seu mercado. Além disso, hoje, o setor de logística de serviços - com o crescimento de delivery - tem um grande potencial de atração de mão de obra trabalhadora”.

Outros setores ganham mais força na economia baiana

“A indústria da Bahia precisa de transformação. Onde tem indústria, hoje, precisa de mão de obra qualificada”SUELI DE PAULA, gerente do Sebrae

250

‘Minha vida mudou’

O administrador de empresas Joilson Cerqueira dos Reis, 36 anos, vende sequilhos desde os 21 anos para complementar sua renda. Trabalhava sozinho: comprava os quitutes em uma empresa de Vitória da Conquista e revendia de porta em porta. Em uma dessas vendas, foi aconselhado pelo cliente, o diretor-geral de Empreendedorismo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Turismo e Cultura, Alan Rocha, a formalizar seu negócio através do Centro do Empreendedor Municipal (CEM).

Joilson seguiu o conselho e, com os novos benefícios, conseguiu uma linha de crédito no valor de R$ 2.600. O montante foi suficiente para a compra de um forno industrial. E a vida de Joilson mudou: o empreendedor passou de revendedor para produtor de sequilhos. “Comprava o quilo por R$ 16. Hoje, com a minha produção, o quilo sai a R$ 12 e ainda não gasto o deslocamento”, revelou.

Com isso, o número de clientes dobrou, seu rendimento cresceu cerca de 50% e ele ainda precisou contratar duas funcionárias, suas irmãs Nancy Reis, 52, e Marli Reis, 50. “Transformar o que eu já fazia em uma empresa, com tudo certinho, mudou a minha vida. Mudou o meu negócio para melhor”, disse o microempreendedor.

Foto: Evandro Veiga

Joilson montou sua empresa, aumentou a renda em 50% e contratou duas funcionárias

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Assim como Joilson, mais de 2,7 milhões de microempreendedores individuais foram formalizados no país, até fevereiro de 2013, de acordo com o Boletim Radar nº 25, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Desse total, 41% encontram-se na região Nordeste. Só em Salvador são 98 mil registrados.

Apesar disso, o número de pessoas que trabalham na informalidade ainda é muito grande. Mas, desde março do ano passado, os soteropolitanos podem contar com o apoio do Centro do Empreendedor Municipal (CEM), um programa da prefeitura coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Cultura (Sedes) que busca fomentar ambiente favorável ao empreendedorismo na capital baiana.

“O eixo desse programa é a formalização com um foco maior no microempreendedor individual, aquele que fatura até R$ 60 mil por ano”, explicou Alan Rocha, diretor-geral de Empreendedorismo da Sedes. Além desse perfil, o programa também atende a ações mais amplas.

Primeiro foi feita a aproximação com associações de categorias que se encaixam no perfil do microempreendedor individual para buscar parcerias, como as de taxistas, baianas de acarajé e ambulantes. Depois, um mapeamento das áreas e espaços na cidade que são ocupados por microempreendedores.

A Sedes realizou cadastros e uma pesquisa em alvarás de funcionamento dos estabelecimentos. “Verificamos também a demanda de cursos de qualificação que eles queriam e, a partir daí, fomos levando essas pessoas para os serviços oferecidos pelo CEM”, explicou.

Com a agência funcionando, o CEM pode reunir em um só lugar diversos serviços ligados a essa área. Além de um posto do Sebrae, o primeiro parceiro do projeto, o centro conta com postos da Secretaria Municipal da Fazenda (Sefaz) e da Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom).

“Estamos com negociações com outros órgãos como a Vigilância Sanitária, a Secretaria Municipal de Ordem Pública e o Procon”, garantiu o gestor.

Além da formalização, há também cursos e palestras. “A qualificação é um elo muito importante, porque é através dela que vamos fomentar o empreendedorismo”, afirmou.

Depois de trabalhar 20 anos em uma empresa de segurança eletrônica, Jorge Santos Matos, 48 anos, resolveu criar o seu próprio negócio. Jorge, que atua na área de instalação e manutenção de sistemas de segurança, espera aumentar o seu rendimento, já que terá acesso a benefícios como

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cobertura previdenciária, isenção de taxas para o registro da empresa e acesso a linhas de crédito. “O próximo passo é fazer um investimento, crescer e melhorar a minha renda”, disparou.

Adriana Matias Borges, 33 anos, foi em busca do mesmo objetivo. Decidida a começar uma empresa, encontrou um ponto comercial na Via Regional que é ideal para seu futuro negócio: um depósito de bebidas. No CEM, Adriana, inexperiente no ramo, recebeu orientação e pôde concluir a formalização da sua empresa. “O Sebrae indicou que eu viesse aqui. Como nunca tinha aberto nenhum negócio, me senti mais segura fazendo todo esse processo”, falou.

Alan Rocha revelou que, desde a abertura da agência, em 2014, o CEM atingiu diretamente 7.255 pessoas, prestando 2.093 serviços para 1.549 clientes. O centro também qualificou 5.074 pessoas. A coordenadora do Centro do Empreendedor Municipal, Elizabeth Andrade Coelho, explicou que os serviços mais requisitados na agência são: a emissão da guia de recolhimento mensal (DAS), a orientação para a declaração anual do Simples Nacional e a formalização dos microempreendedores.

Mesmo tendo sido lançado em 2013, somente em março de 2014 foi inaugurada a primeira agência do projeto, situada no Shopping JJ Center, na Baixa dos Sapateiros. Antes disso, os serviços eram prestados através do Portal do Empreendedor, acessado pelo endereço www.portaldoempreendedor.gov.br.

Foto: Evandro Veiga Foto: Monique Lôbo

Adriana Matias Borges abriu a primeira empresa com auxílio do CEM

Jorge Matos: criou empresa de manutenção de sistema de segurança

“Eu nunca tinha aberto nenhum negócio e me senti mais segura aqui”ADRIANA MATIAS BORGES, microeemprendedora

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A história de Joilson Cerqueira dos Reis é um exemplo de como a forma-lização de uma atividade pode torná-la um negócio lucrativo. Há 15 anos, ele buscou uma forma de aumentar sua renda fixa como atendente de te-lemarketing e, depois, como funcionário do setor financeiro de uma escola. Um amigo percebeu seu interesse em empreender e sugeriu a venda de sequilhos. “Ele viu que eu queria vender algo e me falou para tentar os sequilhos, que tinham muito mercado”, contou. A demanda foi o que atraiu o vendedor.

“Eu vi ali uma oportunidade. Vi que tinha muita gente para vender, que tinha como crescer”, falou. Começou comprando os produtos em uma empresa em Vitória da Conquista, a 517 km de Salvador. “No início, eu comprava 30 kg de sequilhos por mês e até o dia em que me profissiona-lizei já estava comprando 100 kg”, lembra. Joilson colocava tudo em seu carro e seguia pelas ruas da cidade. Além das vendas avulsas, visitava algumas repartições públicas.

Em uma delas, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Turismo e Cultura, no bairro da Graça, Joilson tinha entre os clientes o diretor-geral de Empreendedorismo do órgão, Alan Rocha. “Ele sempre vendia os se-quilhos por aqui. Mas, um dia, eu não estava com dinheiro para comprar e ele imediatamente sacou uma maquineta de cartão”, lembrou Alan.

A atitude chamou a atenção do gestor pela visão empreendedora do ambulante. “Ele é uma daquelas pessoas criativas e com tino empreen-dedor”, disse Alan. Vendo o potencial do ambulante, Alan sugeriu que ele procurasse o Centro do Empreendedor Municipal para, além de formalizar a empresa, se capacitar para gerir melhor o seu negócio. Joilson criou a sua empresa e participou de cursos e palestras de qualificação ofertados pelo órgão.

“O CEM foi fundamental para mim. Porque antes eu era um ambulante, que é como um desempregado, e agora eu sou um empresário”, afirmou. Com a empresa regularizada, Joilson teve acesso a uma linha de microcrédito do governo federal no valor de R$ 2.600.

O dinheiro foi usado para a compra de um forno industrial e um armário de gavetas resfriadoras, além de utensílios como assadeiras. Com o inves-timento, o microempreendedor passou a produzir 300 kg de sequilhos por mês, diminuindo os custos, de R$ 16, por quilo, para R$ 12 com a sua produção, aumentando o rendimento em cerca de 50%. Empolgado, ele já planeja novos voos. “Eu acreditei no meu negócio, quero crescer cada vez mais. Meu objetivo é em um ano produzir mil quilos”, prometeu.

Formalização aumenta renda de ex-ambulante

“O CEM foi fundamental. Antes eu era um ambulante, que é como um desempregado, e agora eu sou um empresário”JOILSON DOS SANTOS, microeemprendedor

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Além da formalização de empresas, que garante a abertura do CNPJ, emissão de notas fiscais, enquadramento no Simples Nacional, isenção de tributos federais e abertura de contas e empréstimos, o Centro do Empreendedor Municipal também oferece serviços de orientação e suporte para os microempreendedores, cursos de capacitação e serviços de órgãos como o Sebrae, Sefaz e Sucom. A coordenadora da agência, Elizabeth Coelho, contou que, ao chegar na agência, o cidadão passa por um breve cadastro na recepção.

“Aqui acontece um primeiro contato. Registramos uma foto, o nome e o serviço que a pessoa procura”, falou Elizabeth. Ao passar por essa etapa, ele é dirigido ao setor de orientação para esclarecer qualquer dúvida sobre o processo ou sobre sua atividade. “O CEM não busca apenas formalizar, partimos do pressuposto que eles ainda não entendem tudo sobre a área de atuação, então o primeiro passo é a orientação”, contou o diretor-geral de Empreendedorismo da Sedes, Alan Rocha.

Em seguida, ele é encaminhado para o setor que deseja, que pode ser algum dos postos dos órgãos presentes ou a sala de formalização. Ao encerrar seu atendimento, o indivíduo pode buscar outro serviço ou encerrar sua visita. A agência do CEM funciona no 3º piso do Shopping JJ Center, que fica na Avenida JJ Seabra, 173, Baixa dos Sapateiros.

Agência na Baixa dos Sapateiros agiliza atendimento

Foto: Evandro Veiga

O centro no JJ Center conta com etapas que eliminam a burocracia

*Números do Centro do Empreendedor Municipal

98 mil é o número de microempreendedores formalizados em Salvador

7.255 pessoas foram beneficiadas diretamente pelos serviços oferecidos pelo CEM

2.093 serviços foram prestados na agência do programa, que está localizada no JJ Center

1.549 clientes foram atendidos desde a abertura da sede do programa, em março

5.074 pessoas passaram por cursos e palestras de qualificação do programa

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Pequenas e micro podem exportar

Ampliar a atuação no mercado é o objetivo de qualquer empresa. E, em um mundo globalizado, o mercado não está restrito às fronteiras geográficas. Com isso, muitas empresas brasileiras buscam ganhar espaço no cenário internacional.

Mas essa possibilidade não está restrita às grandes corporações. Pequenas e micro empresas podem e devem melhorar a qualidade dos seus serviços e produtos e ingressar no ambiente internacional.

Para ajudar os empreendedores, o Sebrae criou, em 2012, o Programa Competitividade para Negócios Internacionais. O projeto busca discutir o tema e capacitar os empresários para se tornarem mais competitivos. “Percebemos que algumas empresas careciam de orientações para enxergar melhor as oportunidades no mundo internacional”, disse Lauro Ramos, diretor técnico do Sebrae.

Até o momento, 200 empresas já participam do programa. De acordo com Lauro, a iniciativa tem alguns enfoques, sendo o principal deles a exportação da produção. “Essa é a possibilidade natural de uma empresa que se internacionaliza”, falou o diretor. Mas ele alertou que os resultados vão muito além disso.

A importação é outra oportunidade que pode ser aproveitada pelas empresas. “Tanto para aquelas que oferecem produtos quanto para as de serviços, olhar para a importação é importante, porque elas podem utilizar produtos que só são encontrados lá fora e que garantam melhor inserção no mercado”, apontou.

Ele também ressaltou que o acesso a novas tecnologias é outro benefício que pode ser usufruído pelos empresários. “Com esse processo, as empresas baianas se aproximam dos principais centros mundiais no que há de vanguarda da tecnologia de agronegócio, indústrias, entre outras coisas”, esclareceu.

Outro ponto importante da relação com companhias estrangeiras é a possibilidade de elevar a qualidade dos serviços ou produtos oferecidos a partir de exemplos de alto nível. “Essas parcerias elevam o patamar de competitividade das nossas empresas. Porque as estrangeiras estão parametrizadas em um nível mundial. Isso torna os nossos empresários mais preparados para ter sucesso com sua atividade”, contou.

A artista plástica e empresária Selma Calheira conhece bem esses benefícios. Ela fundou, em 91, a Cores da Terra, que produz objetos de decoração de cerâmica e ferro. A empresa, situada em Ibirataia, a 345 km de Salvador, tinha uma produção pequena e voltada para o público local.

256

Atenta para as mudanças no cenário econômico, Selma ingressou no Programa Competitividade para Negócios Internacionais e começou a participar de feiras de empreendedores em São Paulo. Com os contatos que conquistou, ela fez sua primeira exportação, em 1996, para a famosa loja de departamentos Bloomingdales, nos Estados Unidos.

“Iniciamos um trabalho de capacitação e eu criei uma linha de produção em maior escala. E começamos a colocar o pé lá fora, enviando frutas de cerâmica para decoração da loja”, lembrou Selma.

A partir de 2000, o comércio com empresas internacionais começou a deslanchar e a empresária rodou o mundo selando parcerias em feiras e congressos voltados para o setor. “Hoje, eu vendo para a Europa inteira e Estados Unidos. Tenho uma distribuidora, o que é imprescindível para qualquer empresa brasileira, porque eles que fazem a ligação com os clientes. E emprego 100 pessoas aqui no Brasil”, relatou.

Atualmente, 80% da produção da Cores da Terra é dedicada a exportação. “Se estamos vivos hoje é graças à internacionalização”, revelou. Segundo ela, por estar situada em uma cidade do interior e enfrentar problemas como a precária logística de transporte, por exemplo, o mercado brasileiro não se torna interessante. “Lá o padrão é muito diferente, eles são bem mais exigentes. Isso eleva o nosso também”, diz.

Foto: DivulgaçãoFoto: Mateus Pereira/Divulgação

Artista plástica Selma Calheira passou a exportar produtos para Europa e EUA

Lauro Ramos, diretor do Sebrae: ‘As empresas baianas se aproximam dos principais centros mundiais no que há de vanguarda da tecnologia’

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Oportunidades

De acordo com o Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), até 2015, o Polo Industrial de Camaçari vai contar com investimentos que chegam a R$ 7 bilhões. Com expansão e criação de novos empreendimentos, o complexo vai gerar 17 mil novos postos de trabalho, direta e indiretamente.

O superintendente do Cofic afirma que a maior demanda é para profissionais com nível técnico, o que representa 75% das vagas. A outra fatia do bolo fica com os profissionais de nível superior, que devem ocupar 25% das vagas disponíveis.

Em nível técnico, as vagas são, predominantemente, nas áreas de operação, manutenção industrial, instrumentação, mecatrônica e mecânica. Já para o nível superior, a procura é maior por engenheiros químicos, mecânicos, elétricos e, mais recentemente, engenheiros de produção.

“Essa é uma projeção de cinco anos, que partiu do ano de 2010 até 2015, e mostra o aumento de empregos gerados pelo Polo de Camaçari”, revelou o superintendente de Desenvolvimento de Pessoas e Comunicação do Cofic, Erico Oliveira.

A qualificação profissional é imprescindível para quem deseja pleitear uma vaga no complexo. “É preciso que a pessoa tenha, no mínimo, o nível médio e uma extensão técnica se quer entrar. Algumas empresas escolhem as

Foto: Divulgação

A maioria da demanda das empresas do Polo

é para profissionais com nível técnico. Nível superior atende a 25% dos postos de trabalho

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pessoas e oferecem a complementação específica para a necessidade do trabalho”, disse Erico.

Para Krícia Galvão, responsável por Pessoas & Organização Vinílicos da Braskem, empresa com indústria no Polo de Camaçari, a formação dos funcionários é importante para o desenvolvimento do profissional e para a competitividade da empresa.

“O integrante Braskem tem consciência da sua contribuição para a sociedade. É preciso saber lidar com as novas tecnologias, ter conhecimento abrangente das diversas etapas da cadeia produtiva, visão de negócio e de futuro, sempre aprendendo e buscando o autodesenvolvimento”, diz.

Ela explica que a empresa conta com funcionários de perfis variados, especializados em operação, caldeiraria, manutenção, mecânica, instrumentação e elétrica. “Há também médicos do trabalho, engenheiros ambientais e técnicos nas áreas de saúde, segurança e meio ambiente”, elenca. Ainda segundo Krícia, entre as formações mais requisitadas estão mecânica, elétrica, mecatrônica, eletromecânica, química e de segurança do trabalho.

O engenheiro de processo da planta de PE–3, da Braskem, Dimitri Guimarães de Oliveira Santana, sabe bem disso. Há dois anos na petroquímica, Dimitri compreende que sua formação como engenheiro químico lhe permite transitar por diversas áreas na empresa.

“É comum encontrar engenheiros químicos trabalhando em áreas como automação, ambiental, produção, segurança, assim como nas áreas de gestão, treinamento e vendas. Essa versatilidade é importante para entender os problemas que não são da área do profissional, mas que têm alguma influência na competitividade”.

Com um pouco mais de experiência, a engenheira de processos da PE2, da Braskem, Cintia Silveira Esperancine já trabalhou na indústria de açúcar e álcool e está há mais de três anos trabalhando na petroquímica.

Para Cintia, essa área possui grandes desafios e processos muito dinâmicos e cabe aos profissionais se manter atualizados com as últimas tecnologias para fazer frente à concorrência. “Por ser uma área muito abrangente, é preciso continuar se especializando e estudando para conseguir maior atuação no mercado de trabalho”, disparou.

Krícia Galvão afirma que, apesar da Bahia contar com mão de obra qualificada, nem sempre é em número suficiente para atender a demanda da indústria. “Então, entendemos que nós temos que ser parceiros das instituições de ensino na formação desses profissionais”, completou.

259

Quem sonha em trabalhar na indústria petroquímica tem que ter, além de formação, compreensão de todo o processo produtivo. Quem explica isso é Krícia Galvão, responsável por Pessoas & Organização Vinílicos da Braskem. Para ela, o profissional ideal precisa servir às necessidades dos clientes da empresa. “Os profissionais diferenciados são aqueles que, além do saber técnico específico da área de atuação, têm compreensão da cadeia produtiva e vontade de servir aos clientes”, disse.

Segundo Krícia, um funcionário de qualidade precisa entender que a contribuição individual é fundamental para melhorar os processos produ-tivos. Com um quadro de integrantes formado por 58% de técnicos e 10% de engenheiros, a Braskem estimula o desenvolvimento de suas equipes. “Entendemos que a educação é fundamental para o desenvolvimento dos nossos integrantes. Nossos líderes têm a função de estimular suas equipes. Além disso, há programas internos de treinamento e gestão do conhecimento”, revelou.

Especialização na área e conhecimento do mercado

“É preciso lidar com as novas tecnologias, ter visão de negócio e conhecimento da cadeia produtiva”KRÍCIA GALVÃO, Pessoas & Organização Vinílicos da Braskem

260

Capacitados

Emanuel Barbosa da Silva, 33 anos, iniciou sua vida profissional como estagiário em 2001. Na intenção de progredir dentro da empresa, começou a planejar o ingresso na Faculdade de Engenharia. Mas ao se deparar com o valor da mensalidade - que na época representava 50% do seu salário - Emanuel pensou que não teria chances de progredir na carreira. Contudo, em 2002, foi beneficiado pelo programa de educação continuada da empresa onde trabalha, a Coelba, concessionária de energia elétrica, que bancou metade do valor das mensalidades dele pelos cinco anos da graduação.

“Quando eu concluí o curso, já era técnico, mas fui reenquadrado como engenheiro. Se não fosse a ajuda da Coelba, eu não teria conseguido”, conta Emanuel, que cursou Engenharia Elétrica na Faculdade Área 1.

A qualificação profissional empolgou a carreira de Emanuel que, atualmente, é gestor na Coelba, onde está desde quando começou sua vida profissional. “Fiz também uma pós-graduação e já estou de olho em outra área de gestão. Se eu não tivesse feito essa graduação talvez nem tivesse ainda minha filha (de 2 anos), que teve o nascimento planejado justamente pela estabilidade da minha carreira na Coelba”, conta Emanuel.

O caso de Emanuel não é o único dentro da Coelba, conforme explica o gerente do Departamento de Relações com Pessoas da Coelba, Alexandre Guedes. “A Coelba dá para seus colaboradores apoio na graduação, pós-graduação e formação técnica. Os subsídios chegam a até 100% do valor das mensalidades. O apoio para esses cursos é estudado pela empresa e liberado quando a formação pretendida pelo funcionário tem relação com sua atividade”, destaca.

Desde 2009, 1.132 colaboradores diretos da Coelba tiveram suas formações pagas com auxílio da empresa. Nos últimos cinco anos, o investimento da empresa em educação dos funcionários foi de aproximadamente R$ 3 milhões. Sendo que, só em 2014, foram R$ 739 mil.

Os benefícios são estendidos para todos os funcionários diretos - hoje, cerca de 2,5 mil - e também para os terceirizados - 12,5 mil - que recebem cursos técnicos focados em tecnologia, inovação e segurança do trabalho. “Temos um atraso aqui na Bahia na educação basilar. A empresa auxilia a formação do funcionário para melhorar sua qualificação e também traz retorno de melhoria na qualidade da mão de obra e, consequentemente, no serviço que oferecemos para os clientes”, diz Guedes.

Para o gerente do Departamento de Relações com Pessoas da Coelba, o investimento em educação é fundamental para que a empresa consiga inovar em seus processos. “Não adianta ter um leitor de alta tecnologia

Foto: Shirley Stolze/Divulgação

Empresa bancou metade da graduação de Emanuel em Engenharia

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instalado nos imóveis se o funcionário que está responsável pela medição não tem conhecimento tecnológico para mexer nele”, argumenta Guedes lembrando que a Coelba implementou o sistema de impressão automática na conta de energia no mesmo momento da medição.

Ele destaca ainda que, para auxiliar na formação, além do subsídio financeiro, há uma flexibilização no horário do trabalho do funcionário e também nas suas demandas educacionais.

Foto: Shirley Stolze/Divulgação

Terceirizados também estão no grupo que recebe apoio na formação em cursos técnicos e de segurança

“Investir na educação do funcionário é uma forma de melhorar a qualidade da mão de obra e do serviço ”ALEXANDRE GUEDES, gerente do Departamento de Relações com Pessoas/Coelba

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Turismo

*Desenvolvimentoturístico

Turismo Sustentável

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Sustentabilidade como o futuro do turismo. Especialistas lembram que destinos precisam se planejar e investir em gestões mais modernas para reforçar o aspecto econômico, mas também social, cultural e ambiental

Conhecer as forças e fraquezas e investir no principal segmento do destino

Elaborar uma política de turismo sustentável e destinar mais recursos para que o Brasil e estados como a Bahia possam atrair e fidelizar novos turistas

Com o turista mais consciente, é fundamental investir em práticas mais sustentáveis em todos os níveis

Investir em pesquisas e, com os dados, elaborar cruzamentos de informações que permitam definir o perfil do destino e do turista e possam apontar diferenciais e tendências

Tecnologia trouxe mais informação também para os turistas e colabora no processo decisório para uma viagem. Por isso, deve-se investir no feedback e na interação com as redes sociais

Turismo de experiência ganha cada vez mais espaço nas escolhas dos turistas

Engajamento de todos os setores da sociedade na construção de um Plano Nacional para Turismo Sustentável

Incluir no currículo escolar o debate por uma educação que leve em consideração consciência pelo desenvolvimento sustentável dos territórios, inclusive o consumo consciente

Investimento nos destinos em energia renovável e uso racional da água, com definição de metas e prazos

Investir no manejo de resíduos e áreas de florestamento

Universalização do saneamento básico nas cidades brasileiras é fundamental para a promoção e preservação dos destinos sustentáveis. Somente em nove estados, de acordo com pesquisa, seriam criados 139.836 postos de trabalho com uma geração de

Propostas apresentadas no seminário

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R$ 1,3 bilhão, caso houvesse coleta e tratamento de esgoto nessas regiões

Incentivar a produção e compra de fornecedores na própria cidade

Ações de inclusão, capacitação profissional e valorização permitem o crescimento econômico e social da região, o que beneficia os moradores do entorno e o meio de hospedagem

Considerar o patrimônio e o valor das culturas locais

Organizar e limitar o fluxo de visitantes nos pontos turísticos, independente das pressões econômicas da demanda, como acontece em Bonito, que utiliza sistema de vouchers para controlar o número de visitantes em áreas de proteção ambiental

Parceria público-privada e do terceiro setor para promoção do desenvolvimento sustentável

Preservação da história das belezas naturais através de programas educacionais voltados para moradores

Oferecer experiência diferenciada em um destino sustentável

Investir em transportes públicos nos destinos turísticos, especialmente os menos poluentes

Campanhas educativas para sensibilizar toda a cadeia do turismo a adotar práticas sustentáveis

Novos equipamentos turísticos e roteiros para atrair turistas e gerar mais emprego e renda nas regiões

Incentivar também turismo comunitário: agrega valor ao destino, diversifica as ofertas de atração, incrementa o fluxo de turistas, promove interação entre comunidade e turistas de forma sustentável e atende a uma demanda crescente do chamado turismo de experiência

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O então secretário do Desenvolvimento, Turismo e Cultura de Salvador Guilherme Bellintani garantiu a criação de novos equipamentos, como museus, para atrair mais turistas para a cidade e ainda um calendário de eventos para chamar a atenção do público também na baixa estação

O presidente da Codeba, José Rebouças, afirmou que a empresa tem projeto para transformar uma área do porto em polo turístico. Em uma área de 10 mil m² serão construídos restaurantes, espaços para entretenimento e até para convenções. O processo de licitação estaria previsto para começar no primeiro semestre de 2015

Compromissos firmados

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Fundamental para o desenvolvimento das cidades, o turismo adotou conceitos de sustentabilidade para promover a atividade de uma outra forma. As práticas, apesar de ainda isoladas no Brasil, contribuem para a geração de lucro nos negócios, mas levam em consideração não apenas a viabilidade econômica, como também a equidade social e a preservação das tradições culturais e do meio ambiente. Para o professor André Coelho, do Núcleo de Turismo da Fundação Getulio Vargas - responsável por projetos em todo o país -, planejamento é a palavra-chave para que o turismo se torne cada vez mais sustentável.

“É importante ter planejamento de médio e longos prazos. Conhecer as forças e fraquezas. E investir naquilo que é o principal segmento do destino”, acredita. Em entrevista ao CORREIO, para a série de reportagens para o Fórum Agenda Bahia 2014, organizado pelo jornal e pela rádio CBN, com apoio da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), o professor explica o conceito de turismo sustentável, revela os benefícios para os destinos e as cidades que adotam tais práticas e avalia a atividade turística no Brasil e no exterior.

Novos negócios Entrevista com André Coelho

Foto: Cristina Romanelli/Divulgação

André Coelho, do Núcleo de Turismo da Fundação

Getulio Vargas, é especialista em turismo

sustentável

“Os destinos devem conhecer suas forças e fraquezas. E investir naquilo que é o seu principal potencial. Falta planejamento estratégico às cidades turísticas”

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Qual o conceito de turismo sustentável? O conceito de turismo sustentável esbarra no próprio conceito de sustentabilidade. Do ponto de vista básico, é ter uma atividade que seja economicamente lucrativa, mas que também promova equidade social e se preocupe com a preservação do meio ambiente. Na verdade, o conceito de sustentabilidade começou no início da década de 80 em resposta às evoluções conceituais em termos de desenvolvimento, que eram muito voltadas para o crescimento econômico. E, a partir da década de 80, alguns grupos ecodesenvolvimentistas começaram a se preocupar com a questão dos insumos e dos recursos naturais. Então, o conceito de sustentabilidade surge para cunhar um desenvolvimento mais sustentável. E o turismo, enquanto uma matéria que não tem uma identidade 100% própria, ou seja, é composto de várias outras teorias, de várias outras áreas de conhecimento, como economia, administração, psicologia, meio ambiente, se apropria desse termo para valorizar a sua própria atividade.

Quais os benefícios dessa prática? Do ponto de vista econômico, a preocupação é com um destino que gere lucro, mas que esse lucro seja de longo prazo. Ou seja, esse conceito indica que não adianta nada você extrair todo o lucro de uma vez só ou se preocupar somente com a questão econômica e não se preocupar com o futuro. A outra vantagem é o cuidado social e cultural, que é muito importante no caso do turismo, com a preservação das culturas, o combate à pobreza e ao desemprego. A preservação do meio ambiente, o nosso maior bem, também ganha destaque: além de se preocupar com a biomassa, as florestas, os parques, esse conceito também inclui campanhas para consumir menos água, poluir menos, tentar otimizar os meios de transporte.

Quais as ações que devem ser tomadas para garantir o turismo sustentável de uma cidade? Os destinos precisam conhecer suas forças e fraquezas. E investir naquilo que é o principal segmento do destino. Não só investir, como seguir o seu planejamento. Fazer um planejamento de longo prazo sustentável, ou seja, que gere lucro, mas que também haja preservação do ambiente de visita e ainda preserve a cultura local. Uma fórmula, digamos assim, básica, mas muitos destinos do Brasil carecem de um plano estratégico e de desenvolvimento em que a cidade entenda como deve se posicionar no médio e longo prazos.

Quais os exemplos de cidades que desenvolvem atividades turísticas sustentáveis? Eu usaria o conceito de destino e não de uma cidade em si. Porque é difícil uma cidade ser totalmente sustentável. Machu Picchu, no Peru, é uma das cidades que têm investido nesse conceito. No Equador, Galápagos. No Brasil, Bonito já vem recebendo prêmios relacionados à questão de sustentabilidade e a preocupação com um planejamento de médio e longo prazos para o turismo. Fernando de Noronha também possui alguma preparação para a questão turística. Tenho certeza que existem boas práticas em Trancoso e em Arraial

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d’Ajuda, na Bahia, mas são só boas práticas. Em Sauipe, certamente, por causa dos hotéis também. O Brasil vem melhorando nessa questão.

Existe algum ranking ou alguma norma que aponte essas ações ou esses locais? O Estudo de Competitividade do Ministério do Turismo inclui nas suas dimensões de estudo a parte ambiental, a parte cultural e, logicamente, a parte econômica. Ele não fecha uma dimensão exclusiva para a sustentabilidade, mas, de alguma forma, menciona a posição das cidades em cada uma das dimensões. Então, isso já é um avanço bem grande para se conhecer como as cidades estão desenvolvendo valores culturais, econômicos e ambientais. Não existe um ranking, mas já é uma forma de estudar isso tecnicamente.

Existe um estudo similar que aponte um panorama global? Existem alguns índices de sustentabilidade. O Fórum Econômico Mundial, por exmplo, trata disso. Mas os problemas desses índices, em nível internacional, é que eles acabam trabalhando com dados secundários. E isso, na minha opinião, tem que ser feito com muito cuidado, porque você acaba colocando o Brasil todo como uma unidade, e isso é um pouco relativo. Ainda mais em um país com o tamanho do Brasil, que tem 200 milhões de habitantes e com essas condições socioeconômicas que nós temos. Existem diversos “Brasis” dentro do Brasil. Todos os índices têm valor, mas é muito importante que tenhamos estudos nacionais e regionais que nos ajudem a identificar as particularidades de cada região turística do Brasil.

Foto: Divulgação

Trancoso, segundo André, explora bem

um dos lados da sustentabilidade: o

meio ambiente

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Mesmo com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, em 2016, eventos de grande atrativo turístico, o Brasil ficou em 51º no ranking de competitividade no setor do Fórum Econômico Mundial, em um total de 140 países. A que você atribui essa colocação? O grande problema de um estudo como esse, que abarca o Brasil inteiro, é o que você incluiu nas suas premissas. A posição do Brasil nunca foi muito avantajada porque entram indicadores sociais. Os países que se posicionam melhor nesse ranking têm também melhor desempenho em uma série de outras atividades econômicas.

O que você acha dessas comparações entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos ou em desenvolvimento quanto aos padrões turísticos? Uma coisa muito importante de entender, porque aí nós estamos falando de imagem internacional, é que nós temos que ser o que nós somos. Não temos que mimetizar os outros. Nós podemos fazer um benchmarking em boas práticas para ver se essas práticas funcionam aqui, mas isso não significa que todas as práticas que funcionam em outros lugares do mundo vão funcionar no Brasil. O que importa nessa comparação é que o Brasil seja o que ele é. Que a cultura dele seja como é, com as mazelas e com a história que o país tem. E é importante ressaltar que o turista de hoje entende essas coisas. O turista de hoje é um turista muito informado. Países mais ricos, mais desenvolvidos, já têm questões econômicas e políticas melhores estruturadas do que a de um país como o Brasil, que está muito bem na fase de desenvolvimento, mas ainda em fase de desenvolvimento.

Como conciliar os interesses da indústria do turismo com as necessidades de sustentabilidade? Não vamos negar que o primeiro ponto de qualquer empresa é o lucro. Sem lucro, a empresa não sobrevive e, sem sobreviver, não existe emprego, então a questão do lucro é uma questão importante. Acho que mais do que campanhas, existe uma necessidade grande de incluir na pauta de planejamento a questão da sustentabilidade. Porque só assim a gente

Foto: Divulgação

A cidade perdida dos incas, Machu Picchu, no Peru, investe na sustentabilidade

“O que importa é que o Brasil seja o que ele é. Com sua cultura e a história, mas também com suas mazelas. O turista de hoje é muito bem informado e entende essas coisas”

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consegue ter as empresas participando. E os governos precisam participar também. Esse conceito deve fazer parte do turismo público e privado. Se isso não tiver dentro da cabeça das pessoas, não adianta, porque vai ser simplesmente um conceito bonito que a gente não vai conseguir desenvolver. Há formas de ter lucro e ser sustentável. É só querer: promover a união de empresários, governo e, por que não, terceiro setor também, que tem muita participação, para que esses conceitos de sustentabilidades locais sejam cumpridos.

A ideia de turismo sustentável ainda está muito ligada a questões ecológicas. Com isso, fica mais fácil imaginar iniciativas que viabilizem o turismo sustentável em cidades com predominância natural. Mas o que pode ser feito para alcançar a sustentabilidade no turismo de cidades urbanas e nas grandes cidades? O braço da natureza é um dos pés do tripé da sustentabilidade. Tem economia, que tem tudo a ver com as cidades grandes. Também a questão da equidade social e cultural, temas também importantes para as cidades grandes. Na verdade, até a parte ecológica. Porque pensar em sustentabilidade não é só pensar em preservar as florestas e os parques. É, por exemplo, você ter hotéis e pousadas ou cidades pequenas que tenham um sistema de tratamento e reaproveitamento de água ou que utilizem energia fotovoltaica. Isso pode ser feito no meio urbano também.

Como você avalia o turismo em Salvador e na Bahia? Eu gosto muito da questão cultural de Salvador. Conheço a costa sul da Bahia, mas pouco o interior do estado. Acho que o turismo na Bahia teve um momento de ascensão muito forte, principalmente nos turismos doméstico e internacional da costa sul. E depois entrou em uma curva de estabilidade, declínio e segue fazendo essa variação. É muito importante que exista uma boa divisão dos segmentos e dos interesses, porque a Bahia é um estado com muita coisa pra se ver. Você pode ver sol e praia, você pode ver cultura, você pode ver natureza, você tem diversos segmentos ao mesmo tempo, segmentos que se falam.

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Mais que uma foto

Uma foto bonita pode até ajudar a vender um destino turístico, mas ela sozinha não sustenta mais a definição de uma escolha. Além da foto, o turista, que está cada vez mais exigente, vai pesquisar sobre o destino, especialmente pela internet, e levar em consideração também serviços prioritários como hospedagem, alimentação, acesso, atrativos e alguns ainda vão observar a questão da sustentabilidade.

“A foto divulga de uma forma mais agressiva, mas precisa refletir também a realidade. Os destinos de hoje precisam se conscientizar que

- O turista deve levar em consideração serviços prioritários do turismo como hos-pedagem, alimentação, acesso, atrativos e a sustentabilidade

- As pessoas vão querer saber se os locais oferecem infraestrutura, se realmente existem práticas sustentáveis nos hotéis, se existem práticas sustentáveis nas comunidades locais

- Além da viabilida-de econômica e da equidade social, é preciso enxergar a questão da sustenta-bilidade como o futuro

Solução

Foto: Evandro Veiga

André Coelho: FGV realiza pesquisa

sobre as decisões do visitante em destinos

sustentáveis

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simplesmente as fotos numa cachoeira não vão vender mais aquele destino”, diz o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) André Coelho, coordenador de vários projetos de sustentabilidade pelo país.

A FGV já está com uma pesquisa em andamento para levantar informações sobre a tomada de decisão do turista. Afinal, o que o leva a escolher um destino sustentável? “Já existem algumas pesquisas no âmbito internacional. Queremos entender no momento o que uma iniciativa sustentável ou uma prática sustentável bem avaliada faz determinado turista tomar a decisão de visitar aquele destino”, explica. O professor ressalta a relevância desse estudo.“Nós vivemos um processo de escolha baseado nos consumidores”, destaca o especialista.

Para os destinos que ainda não inseriram esse conceito em seus planejamentos, André Coelho faz um alerta: além da viabilidade econômica e a equidade social, é preciso enxergar a sustentabilidade como o futuro. “Temos que pensar o que podemos fazer em termos de sustentabilidade para que as próximas gerações possam ter o mesmo grau, o mesmo nível de conforto que temos hoje”, sugere.

O professor ressalta que hábitos precisam ser modificados. “Precisamos alterar medidas que estamos tomando. E não podemos demorar”, conta.

E para quem acha que a sustentabilidade anda na contramão do desenvolvimento econômico, o pesquisador da FGV informa que produzir em grande escala é relevante para as economias, mas hoje já há um entendimento de que é muito importante frear um pouco essa produção em larguíssima escala que pode afetar, de modo muito grave, no futuro.

“No caso do turismo, por exemplo, a sustentabilidade não é um novo segmento para o turismo, enxergamos a sustentabilidade como o futuro do turismo. Ou seremos sustentáveis no turismo ou o turismo não conseguirá se desenvolver”, afirma.

De acordo com André Coelho, existem vários exemplos de que é necessário começar a mudar as relações de consumo. “Os engarrafamentos estão aí para nos mostrar que nem sempre muito consumo significa uma qualidade de vida melhor”, diz Coelho.

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Uma pesquisa realizada pelo Expedia mostrou que os turistas internacio-nais consultam, em média, 35 sites antes de decidir comprar um pacote de viagem. O dado só vem reforçar que já foi o tempo em que o turista escolhia o hotel pelo catálogo telefônico e só in loco ia comprovar se fez mesmo uma boa escolha. Nos dias atuais, antes de pegar a estrada - ou o avião -, o turista tem o mundo ao seu alcance.

Basta uns cliques para ver fotos, opiniões de pessoas que você nem conhece sobre determinado destino, o que é legal no local, o que não funciona, os points, onde comprar... Comentários sobre a qualidade do hotel, se o estabelecimento é limpo, bem localizado, e pode ainda trocar figurinhas com pessoas que já tiraram a prova dos nove. Mas a interação não para por aí. Depois de conhecer o destino, o mesmo turista que se apropriou da internet para tomar suas decisões vai poder fechar o ciclo de experiências, colaborando também com outros viajantes, publicando suas impressões.

Para o professor André Coelho da Fundação Getulio Vargas, o novo padrão de consumo reflete um novo momento no turismo, que acompanhou as mudanças dos últimos 15 anos nas formas de comunicação. Isso vai desde

Viajando na viagem

*Força nacional

8,5 milhões de viagens domésticas devem ser realizadas pela classe média em 2014

3,2 milhões

de viagens internacionais devem ser realizadas pela classe média

84% dos empresários de turismo no Brasil apostam no cresci-mento do setor

4% dos empresários de turismo no Brasil esperam uma redução do setor este ano

12% dos empresários de turismo no Brasil acreditam na estabilidade do setor

61% dos entrevistados pelo Expedia alegaram falta de tempo para viajar

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o advento da internet e a criação de sites de reserva até os sites de avalia-ção. “Nós temos hoje equipamentos que permitem pegar todas as infor-mações necessárias antes de visitar um destino”, avalia.

Segundo Coelho, o processo decisório é influenciado muito na escolha de um destino turístico. As novas tendências de inovação, o uso da internet, os novos processos de relacionamento que existem entre o consumidor e os vendedores, as agências e até mesmo o próprio hoteleiro, segundo o especialista, vêm sendo interferidos por instrumentos pré-escolha de avaliação que tem relevância.

“Com o uso da tecnologia, o processo de decisão migrou de um modelo baseado no consumidor para um modelo baseado na experiência. Antes, a tomada de decisão era rápida e limitada. Agora é lenta e precisa”, explica o especialista. De fato, isso já foi comprovado em pesquisa. Ao cruzar infor-mações da sondagem do consumidor com dados de pesquisas, segundo Coelho, foi possível constatar que o imaginário do turista nacional para viajar se alongou.

Ou seja a viagem começava a ser planejada apenas três meses antes dela ocorrer. Agora, o turista começa a pensar e planejar a viagem que fará entre janeiro e fevereiro desde agosto. Durante esse período, ele vai con-sultar outras pessoas e sites na internet para buscar informações sobre sua escolha.

Pesquisas realizadas no setor apontam para aumento das demandas tu-rísticas. Na sondagem do consumidor realizada pela FGV, por exemplo, que avalia mensalmente a disponibilidade das pessoas de viajar nos próximos 6 ou 12 meses, 24,8% das pessoas manifestaram interesse em viajar a lazer. Parte desse público é da classe média, que cresceu nos últimos anos no Brasil e, com isso, aumentou a participação da classe C no turismo. “A cesta turística faz parte do consumo das novas classes”, informa André Coelho. A estimativa para este ano é que serão realizadas 8,5 milhões de viagens domésticas no Brasil.

Pesquisadores se debruçam agora em estudar essa nova demanda e saber de que forma ela está se comportando na tomada de decisão e, consequentemente, de que forma isso vai interferir na sustentabilidade. “Existem vários destinos no Brasil que têm um apelo muito grande aos recursos naturais, outros, um apelo muito grande a questões culturais, mas todos estão preocupados com a sustentabilidade. Uns estão tratando de forma mais agressiva, outros ainda de forma embrionária. Mas o setor de turismo está em crescimento e essa demanda vai buscar esses atrati-vos de uma forma ou de outra”, observa.

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Os Brasis do turismo

De acordo com o IBGE, o Brasil tem uma área territorial de 8.515.767,049 km². Um país com tamanha dimensão reúne uma diversidade de cenários sociais, econômicos e culturais. Com o turismo não é diferente. Muitos destinos sofrem com ações desordenadas e com gestões deficientes que dificultam a atividade turística. Em contrapartida, muitos locais já se adaptaram e buscam desenvolver práticas sustentáveis.

“Um país com o tamanho do Brasil e com essas condições socioeconômicas tem diversos ‘Brasis’ dentro do Brasil”, afirmou André Coelho, consultor do Núcleo de Turismo da Fundação Getulio Vargas. Dessa forma, é possível encontrar cenários com práticas positivas e negativas, muitas vezes, no mesmo destino.

O Ministério do Turismo, em seu Estudo de Competitividade, apresentou 21 exemplos de práticas sustentáveis que foram analisadas por técnicos do ministério, Sebrae Nacional e Fundação Getulio Vargas.

Entre elas, o Guia de Acessibilidade Cultural da Cidade de São Paulo, que reúne informações sobre diversos pontos culturais da cidade que oferecem serviços de acessibilidade. O documento orienta o turista com as informações sobre a acessibilidade oferecida pelos espaços culturais da cidade a cada uma das deficiências. Porém, a mesma cidade precisa definir melhor as instâncias turísticas, como explica Mario Beni, professor de Turismo aposentado pela USP e membro do Conselho Nacional de Turismo do Ministério do Turismo. “As instâncias turísticas em São Paulo estão equivocadas. O problema está na aplicação dos recursos que deveriam ir para o desenvolvimento turístico e acabam sendo destinados para outras demandas, como infraestrutura, por exemplo”, falou.

Outro destino que enfrenta um grande desafio é Paraty, no Rio de Janeiro, lembrado por Alexandre Garrido, da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Apesar de ter práticas sustentáveis e ganho prêmios, o local não conta com saneamento básico. A cidade não tem rede de esgoto e os dejetos são despejados nos rios e no mar. A cidade também não tem tratamento da destinação final do lixo, que é lançado a céu aberto em condições semelhantes a de um lixão, afetando áreas de preservação.

Porém, em Petrópolis, também no Rio de Janeiro, já existe projeto que incentiva a correta destinação e o tratamento de resíduos residenciais e de empreendimentos turísticos, incluído na lista do Estudo de Competitividade do Ministério do Turismo. Chamado de Programa de Biodigestores, o projeto já conta com cerca de 40 biodigestores implementados. Com eles, os empreendimentos aproveitam o esgoto coletado para gerar a energia que alimenta as casas de cinco bairros populares da cidade.

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No Nordeste, Fernando de Noronha, em Pernambuco, é um bom exemplo da diversidade de cenários no turismo do país. O arquipélago foi lembrado pelo estudo do Ministério do Turismo através do projeto Golfinho Rotador que prestou consultoria gratuita em gestão sustentável aos meios de hospedagem, avaliando o processo de Sustentabilidade do Sistema de Hospedarias Domiciliares do local.

Mas, de acordo com Anna Carolina Lobo, coordenadora do Programa Mata Atlântica da WWF Brasil, o destino, uma área ambiental protegida, não comporta o número de visitantes e o tratamento de água e de lixo resultante desse aumento de pessoas. “Os moradores reclamam muito dos visitantes. E, atualmente, há outro problema por conta da visitação dos cruzeiros marítimos que fazem o desembarque de milhares de pessoas no mesmo período. Os turistas desembarcam no local, produzem lixo durante a visita e voltam para os cruzeiros, onde consomem tudo que precisam”, relatou.

“Não existe turismo sustentável no Brasil, essa é uma premissa”, disparou Mario Beni. Para ele, existem alguns cenários sustentáveis. Mario Beni explica que, para que haja uma atividade turística sustentável, é preciso que todos os cenários – ambiental, econômico, social, cultural, político e institucional – sejam sustentáveis.

Anna Carolina Lobo concorda, mas pondera que a diversidade brasileira não é desculpa para modelos de turismo ultrapassados. “Existem diversos destinos com diversas realidades, mas isso não é motivo para não fazer a sustentabilidade”, avaliou.

Para Anna Carolina, falta ao Brasil uma política de governo nesse segmento. “Não tem política de desenvolvimento do turismo no país. Na Nova Zelândia, o ministro do Turismo é o mesmo da Casa Civil, e ele desenvolve o turismo de forma sustentável. Aqui é diferente, esses ministérios, como o do Turismo, são deixados de lado, com menos recursos, e são usados como moeda política”, acredita.

Para André Coelho, as práticas sustentáveis estão ligadas a uma consciência sustentável e, principalmente, a um planejamento. “É uma consciência que esses destinos precisam ter. Sustentabilidade é uma questão de gestão. É um conceito muito novo, e é mais sério do que não jogar lixo no chão, e planejamento é a palavra-chave”, alerta.

A coordenadora do Programa Mata Atlântica ainda explica que, para vencer as barreiras que impedem o turismo sustentável no Brasil, é preciso que os empresários e visitantes trabalhem a educação ambiental. “Que se ensine desde a escolha do hotel até a não deixar lixo na praia e valorizar a cultura local. É necessário fazer entender que aplicar uma gestão ambiental é um investimento que vai trazer benefícios”, afirmou.

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“Existem formas de se fazer turismo sustentável e ter mais lucro. Sustentabilidade é muito viável”, completou André Coelho.

O apoio do governo também foi lembrado pelo consultor da Fundação Getulio Vargas. Para André, a disparidade dos cenários é resultado dos contrastes sociais do Brasil. Com isso, os problemas ligados ao turismo são, antes de tudo, problemas sociais, econômicos e estruturais do país. “No caso do Brasil, nós temos um problema antes do turismo. O problema de saneamento de uma cidade pequena como Paraty não vai ser resolvido pela prefeitura de Paraty. Precisa de apoio estadual e federal”, contou.

Ainda assim, o cenário está mudando. “Acho que melhorou muito. As pessoas querem ser ‘sustentável’. Às vezes tem uma barreira econômica, e elas não querem perder dinheiro. Mas vejo sempre o copo meio cheio”, considerou André Coelho.

“Existem [...] diversas realidades, mas isso não é motivo para não fazer a sustentabilidade”ANNA CAROLINA LOBO, coordenadora do Programa Mata Atlântica da WWF Brasil

“Sustentabilidade é uma questão de gestão. É mais sério do que não jogar lixo no chão”ANDRÉ COELHO, consultor do Núcleo de Turismo da Fundação Getulio Vargas

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Práticas positivas Práticas negativas

1 - Curitiba (PR)Mapeou mais de 20 pontos de ônibus que fazem a Linha Turismo de Curitiba e os atrativos em que eles se localizam. O levantamento foi incorporado aos mapas e guias turísticos com informa-ções de acessibilidade para deficientes.

2 - Recife (PE)O projeto Recife Antigo de Coração dividiu as ruas do bairro em polos com diversão e entretenimento gratuito para a população. A ação incentiva o conhecimento histórico cultural com vistas a valorizar os atrativos turísticos.

3 - Lençóis (BA)O Canto das Águas, primeiro hotel a ganhar o selo de sustentabilidade no Brasil, está fomentando, junto com o Senac, a capacitação dos funcionários da hotelaria em cursos relativos aos meios de hospedagem.

4 - João Pessoa (PB)O aplicativo Olha Isso, Limpinho! possibilita que os cidadãos e visitantes de João Pessoa denun-ciem o descarte inadequado de lixo.

5 - Fernando de Noronha (PE)Disponibiliza uma esteira de acesso ao mar, cadeiras de rodas anfíbias e profissionais qualificados para o banho assistido, que permitem a cadeirantes tomar banho de mar, na Praia do Sueste, na área do Parque Nacional Marinho.

6 - Bento Gonçalves (RS)O aplicativo oferece informações gerais e turísticas sobre Bento Gonçalves, facilitando a estada do turista e/ou visitante na cidade.

7 - Tiradentes (MG)Em 2011, a Prefeitura de Tiradentes sancionou a lei para realização de eventos de grande porte no município, que é Patrimônio da Humanidade, e teve tombado seu conjunto arquitetônico e paisagístico pela Unesco.

8 - Belo Horizonte (MG)O projeto busca as adequações de condutas gerenciais e operacionais das empresas, as boas práticas de promoção do turismo sustentável e a promoção da infância e juventude na cadeia de turismo no município.

9 - Foz do Iguaçu (PR)Programa promove processo educativo na comunidade local para que ela perceba e fortaleça a importância do turismo para Foz do Iguaçu e região e seu papel no desenvolvimento da atividade turística.

10 - Belém (PA)O coletivo de artesãos e designers paraenses trabalha com o conceito de economia criativa, em que cada artesão contribui com seus valores e, juntos, encontram a criatividade aliada à sustentabilidade, história, ciência e cultura.

1 - Bombinhas – Santa Catarina (SC)Localizado no coração do corredor da Mata Atlântica, o destino recebe um turismo de massa desordenado e fora da capacidade de suporte da região.

2 - Balneário Camboriú – Santa Catarina (SC)O destino sofreu uma explosão de especulação imobiliária que resultou na construção de muitos prédios em frente às praias, sem planejamento.

3 - Litoral Centro – São Paulo (SP)O local tem áreas de proteção ambien-tal marinha, com a APA Marinha do Litoral Centro, e está próximo a diversas unidades de conservação estaduais como o Parque Estadual da Serra do Mar e o Parque Estadual Marinho Laje de Santos, mas durante o período de alta visitação a capacidade de suporte é extrapolada.

4 - Porto Seguro – Bahia (BA)O destino não tem uma preocupação com sustentabilidade. O local não controla entrada de turistas e não produz nada do que é vendido na região, deixando de gerar emprego e renda.

5 - Costa do Sauipe – Bahia (BA)Não foi feito um estudo de localização nem de estabilidade econômico-financeira. A comunidade local não foi preparada para desempenhar serviços nos hotéis. Do ponto de vista ambien-tal, o destino também encontra problemas de esgoto no Rio Sauipe.

6 - Beach Park – Ceará (CE)Quando foi concebido, o empreendi-mento não levou em conta o modelo endógeno, com a geração de emprego local, inclusão social e o aproveitamento efetivo da mão de obra local.

7 - Visconde de Mauá – Rio de Janeiro (RJ)O destino teve uma ascensão e um desenvolvimento muito grande que gerou a construção de hotéis muito próximos uns dos outros.

8 - Itacaré – Bahia (BA) O destino é um caso emblemático referente a impactos ambientais na região, que teve uma série de problemas em relação à interdição de acesso à praia pelos condomínios.

9 - Mairiporã e Atibaia – São Paulo (SP)As duas cidades sofrem com os condomínios e casas de segunda-residência que ocuparam diversas áreas de recarga do Sistema Cantareira, um reservatório que atende quase 10 milhões de moradores.

10 - Baía de Guanabara – Rio de Janeiro (RJ)O destino sofre com a poluição. De acordo com o The New York Times, mais de 10% do lixo despejado na baía não é coletado.

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Práticas positivas Práticas negativas

1 - Curitiba (PR)Mapeou mais de 20 pontos de ônibus que fazem a Linha Turismo de Curitiba e os atrativos em que eles se localizam. O levantamento foi incorporado aos mapas e guias turísticos com informa-ções de acessibilidade para deficientes.

2 - Recife (PE)O projeto Recife Antigo de Coração dividiu as ruas do bairro em polos com diversão e entretenimento gratuito para a população. A ação incentiva o conhecimento histórico cultural com vistas a valorizar os atrativos turísticos.

3 - Lençóis (BA)O Canto das Águas, primeiro hotel a ganhar o selo de sustentabilidade no Brasil, está fomentando, junto com o Senac, a capacitação dos funcionários da hotelaria em cursos relativos aos meios de hospedagem.

4 - João Pessoa (PB)O aplicativo Olha Isso, Limpinho! possibilita que os cidadãos e visitantes de João Pessoa denun-ciem o descarte inadequado de lixo.

5 - Fernando de Noronha (PE)Disponibiliza uma esteira de acesso ao mar, cadeiras de rodas anfíbias e profissionais qualificados para o banho assistido, que permitem a cadeirantes tomar banho de mar, na Praia do Sueste, na área do Parque Nacional Marinho.

6 - Bento Gonçalves (RS)O aplicativo oferece informações gerais e turísticas sobre Bento Gonçalves, facilitando a estada do turista e/ou visitante na cidade.

7 - Tiradentes (MG)Em 2011, a Prefeitura de Tiradentes sancionou a lei para realização de eventos de grande porte no município, que é Patrimônio da Humanidade, e teve tombado seu conjunto arquitetônico e paisagístico pela Unesco.

8 - Belo Horizonte (MG)O projeto busca as adequações de condutas gerenciais e operacionais das empresas, as boas práticas de promoção do turismo sustentável e a promoção da infância e juventude na cadeia de turismo no município.

9 - Foz do Iguaçu (PR)Programa promove processo educativo na comunidade local para que ela perceba e fortaleça a importância do turismo para Foz do Iguaçu e região e seu papel no desenvolvimento da atividade turística.

10 - Belém (PA)O coletivo de artesãos e designers paraenses trabalha com o conceito de economia criativa, em que cada artesão contribui com seus valores e, juntos, encontram a criatividade aliada à sustentabilidade, história, ciência e cultura.

1 - Bombinhas – Santa Catarina (SC)Localizado no coração do corredor da Mata Atlântica, o destino recebe um turismo de massa desordenado e fora da capacidade de suporte da região.

2 - Balneário Camboriú – Santa Catarina (SC)O destino sofreu uma explosão de especulação imobiliária que resultou na construção de muitos prédios em frente às praias, sem planejamento.

3 - Litoral Centro – São Paulo (SP)O local tem áreas de proteção ambien-tal marinha, com a APA Marinha do Litoral Centro, e está próximo a diversas unidades de conservação estaduais como o Parque Estadual da Serra do Mar e o Parque Estadual Marinho Laje de Santos, mas durante o período de alta visitação a capacidade de suporte é extrapolada.

4 - Porto Seguro – Bahia (BA)O destino não tem uma preocupação com sustentabilidade. O local não controla entrada de turistas e não produz nada do que é vendido na região, deixando de gerar emprego e renda.

5 - Costa do Sauipe – Bahia (BA)Não foi feito um estudo de localização nem de estabilidade econômico-financeira. A comunidade local não foi preparada para desempenhar serviços nos hotéis. Do ponto de vista ambien-tal, o destino também encontra problemas de esgoto no Rio Sauipe.

6 - Beach Park – Ceará (CE)Quando foi concebido, o empreendi-mento não levou em conta o modelo endógeno, com a geração de emprego local, inclusão social e o aproveitamento efetivo da mão de obra local.

7 - Visconde de Mauá – Rio de Janeiro (RJ)O destino teve uma ascensão e um desenvolvimento muito grande que gerou a construção de hotéis muito próximos uns dos outros.

8 - Itacaré – Bahia (BA) O destino é um caso emblemático referente a impactos ambientais na região, que teve uma série de problemas em relação à interdição de acesso à praia pelos condomínios.

9 - Mairiporã e Atibaia – São Paulo (SP)As duas cidades sofrem com os condomínios e casas de segunda-residência que ocuparam diversas áreas de recarga do Sistema Cantareira, um reservatório que atende quase 10 milhões de moradores.

10 - Baía de Guanabara – Rio de Janeiro (RJ)O destino sofre com a poluição. De acordo com o The New York Times, mais de 10% do lixo despejado na baía não é coletado.

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Destinos que fazem a diferença

O trabalho não é fácil, mas também não é impossível. Destinos como Bonito, Fernando de Noronha, Paraty e Gramado, no Brasil, e Açores, em Portugal, mostram o caminho que percorreram para fazer com que a sustentabilidade virasse uma realidade. Cada um começou com uma iniciativa sustentável e, aos poucos, as práticas foram sendo disseminadas em outras áreas. O desafio agora é difundi-las cada vez mais.

Não há uma fórmula pronta. No entanto, os gestores informam que só é possível trilhar esse caminho se houver a participação de todos os atores sociais: município, trade turístico e sociedade civil organizada. Sem esse entrosamento, o projeto não anda. A proposta é trabalhar para que o desenvolvimento do turismo aconteça equilibrando um tripé que compreende preservação ambiental, fortalecimento da economia e preservação da identidade e cultura do local.

No Brasil, ainda se fala muito mais em sustentabilidade no turismo do que se coloca em prática. Na Bahia, por enquanto, há estabelecimentos que abraçaram a causa, mas só desenvolvem ações individuais. “As coisas precisam ser pensadas dentro do conceito sustentável. Mas nós, brasileiros, ainda não estamos totalmente inseridos nesse contexto. Só o consumo não vai nos levar a lugar nenhum e pode nos causar sérios problemas no futuro”, alerta o professor André Coelho, da Fundação Getulio Vargas.

Embora a prática ainda seja restrita, especialistas são otimistas e apostam que tudo é uma questão de tempo. Fernando de Noronha começou produzindo energia limpa e agora estuda o uso de bioquerosene nas aeronaves que atendem a ilha. Bonito limita o número de turistas nos atrativos. Paraty colocou a sustentabilidade em pauta com o programa Passaporte Verde. Em Gramado, as crianças aprendem sobre o desenvolvimento do turismo em sala de aula. E em Açores, em Portugal, as ações desenvolvidas na ilha fizeram do local campeão em sustentabilidade entre os destinos europeus.

Nas escolas municipais de Gramado, além das disciplinas básicas, os estudantes aprendem um conteúdo que tem tudo a ver com o dia a dia deles: educação para o turismo. O cuidado não é à toa. Lá, parte dos 34 mil habitantes vive direta ou indiretamente do turismo, responsável por atrair 6 milhões de visitantes/ano e por 85% do ISS. “A educação para o turismo está na grade do ensino fundamental e no ensino médio, através de projetos especiais”, diz a secretária de Turismo de Gramado, Rosa Helena Volk.

Gramado

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Um inventário realizado em Fernando de Noronha, em Pernambuco, apontou que 54% da emissão de gás carbônico na ilha é gerada pelas aeronaves. Mas isso pode mudar. A administração do arquipélago busca incentivos fiscais para substituir o combustível dos aviões que chegam e saem de lá por bioquerosene, para reduzir esse impacto.

Eleito um dos destinos mais paradisíacos do Brasil, Noronha também inaugurou, há dois meses, a primeira etapa de uma usina solar, responsável por gerar 4% da demanda de energia consumida na ilha. A meta é conseguir, em 2015, chegar a 14% só com fontes limpas. Uma nova etapa do projeto será inaugurada e eles passarão a contar também com mais cinco aerogeradores.

Outro projeto está em curso para tornar o destino mais sustentável. Foi criado, em 2011, o Noronha +20, que norteará o desenvolvimento sustentável da ilha nas próximas duas décadas. O trabalho, que rende bons frutos agora, começou em 2007, com o incentivo da produção individual de energia limpa. Há também um decreto que limita em 246 o número de turistas por dia na ilha.

Fernando de Noronha

É na escola também que eles aprendem a importância de valorizar e preservar sua história, cultura e tradição. O turista que chega a Gramado não sai de lá sem tomar um café colonial ou saborear o tradiconal churrasco gaúcho, com resgate da colonização alemã e apresentações de danças típicas. Agora, a prefeitura quer implantar um programa nos moldes bad and breakfast (cama e café), em que os moradores abrem suas casas para os hóspedes, aumentando assim a vivência da cultura local.

Principal destino do país no Inverno, a cidade tem um calendário que garante o fluxo de turistas o ano inteiro, além dos tradicionais Festival de Cinema e do Natal da Luz. Um estudo de carga levou a prefeitura a limitar a construção de mais hotéis - hoje são 13 mil leitos. Há ainda um plano para o desenvolvimento do turismo sustentável com planejamento estratégico até 2020.

Com foco na sustentabilidade, há quatro roteiros para o turista conhecer a cidade a pé e há opções de bicileta. Um projeto de educação no trânsito garantiu que o pedestre seja respeitado sem que haja sinaleira na cidade, apenas faixas de segurança. “Gramado foi uma das primeiras cidades do Rio Grande do Sul a ter um Plano Diretor, o que garantiu um crescimento ordenado”.

Foto: Divulgação

Fernando de Noronha quer

substituir o combustível

dos aviões por bioquerosene

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Entre os destinos europeus, Açores, em Portugal, destaca-se como o mais sustentável. Concorreu com mais 22 lugares e foi o vencedor do programa internacional Quality Coast, promovido pela organização europeia Coastal & Marine Union. Nos últimos três anos, o arquipélago conquistou sempre a melhor classificação, sendo eleito, por três vezes consecutivas, o melhor destino da Europa em termos de turismo sustentável.

E sabe o que o fez campeão? O trabalho que desenvolveu ao longo dos anos, pautado na sustentabilidade. Com nove ilhas, Açores é apontado por guias reconhecidos mundialmente como um dos destinos que obrigatoriamente devem ser visitados. O lugar destaca-se pela preservação da natureza, da vida marinha e áreas costeiras, a paisagem, além dos fatores socioeconômicos e preservação da identidade local e do patrimônio natural e cultural, incluindo a sua beleza natural e a qualidade ambiental.

Atualmente, 28% da energia gerada lá é através de fontes renováveis. A meta é chegar a 2018 com 75%. Eles focam na otimização das energias renováveis, principalmente a eólica, a geotérmica e a biomassa. A ilha preza pela produção de um modo tradicional, especialmente vinho, queijo, frutas, chá e atum, cujo produto na versão enlatada é considerado o mais sustentável do mercado mundial.

Açores transformou a desvantagem econômica causada pela proibição internacional da caça à baleia em oportunidade, ao passar a desenvolver uma atividade de observação da espécie. Um dado que chama a atenção é que apenas 5% dos Açores têm área construída de modo urbano. Suas principais fontes de renda são agricultura, pecuária leiteira e de corte de gado, pesca e turismo.

Açores

“Temos um trabalho voltado à preservação ambiental, geração de emprego e renda e valorização da cultura do Nordeste”, explica o administrador da ilha, Reginaldo Valença. Com uma população de 3 mil habitantes, Noronha bateu o recorde este ano: atraiu mais de 70 mil visitantes, superando a média dos últimos anos, de 58 mil.

Na administração da ilha desde 2007, Valença sabe que ainda há muito a fazer, mas não dá para resolver tudo de uma vez só. “Tudo o que conquistamos até aqui é fruto do interesse de todos. Cada um tem feito sua parte em prol da sustentabilidade”.

Fernando de Noronha, em Pernambuco, que recebe 50 mil visitantes por ano, também foca na sustentabilidade. Um decreto publicado em 2007 limita o número de visitantes a 247 por dia. Logo na chegada, os visitantes recebem um folheto alertando sobre os cuidados que devem ter para ajudar na preservação do destino.

Na Praia do Sancho, eleita pelo TripAdvisor como a mais bonita do mundo, embarcações só ancoram com autorização. Além do cuidado com o meio ambiente, o administrador geral da ilha, Reginaldo Valença Jr, explica que há também um trabalho voltado para a sustentabilidade econômica e social.

Dos 3 mil habitantes, 90% vivem do turismo. “Os moradores são capacitados e temos um trabalho voltado para a valorização da cultura do Nordeste, como o maracatu e o artesanato de Noronha”, informa.

Foto: Divulgação

Açores: eleito o destino mais sustentável da Europa; ilha concorreu com outros 22

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Paraty, no Rio de Janeiro, é uma das poucas cidades no mundo com embarcações que fazem sequestro de carbono nos roteiros turísticos desenvolvidos na região. A neutralização do carbono é feita por meio da recuperação de áreas de florestas degradadas. A meta é que haja avanços com projetos similares em outros setores, como hotelaria e gastronomia. As características naturais e culturais da histórica Paraty fizeram com que a cidade fosse escolhida, em 2008, como destino piloto da campanha internacional Passaporte Verde (Green Passport), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

A escolha levou em consideração os seus 375 atrativos naturais, seu calendário cultural diversificado e a presença de manifestações culturais autênticas - comunidades tradicionais, sítios e caminhos históricos, festas, artesanato e gastronomia. A partir da inserção na campanha, a sustentabilidade entrou na pauta da administração municipal de forma institucional.

Um dos primeiros passos dados foi com a implantação da educação ambiental nas escolas, com foco no consumo consciente na área de turismo. De acordo com Laíse Costa, agente de informações turísticas de Paraty, foi criado o Fórum da Agenda 21 local, que reúne todas as ações de desenvolvimento sustentável do município.

Também foi criado o roteiro Vivência Paraty Agroecoturismo e o projeto Gastronomia Sustentável, que incentiva donos de restaurantes a comprar produtos na própria cidade. Outra iniciativa nesse sentido é a realização de um estudo de carga em Trindade, uma vila de pescadores afastada da cidade que virou símbolo hippie na década de 70. “O Sebrae também está desenvolvendo um projeto de sustentabilidade com os hotéis. Os principais restaurantes procuram só fornecedores locais”, conta a agente de informações turísticas.

Paraty

Foto: Divulgação

Paraty: destino piloto do programa

Passaporte Verde para trabalhar a

sustentabilidade

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Sorria, você está em um destino sustentável

Bonito, no Mato Grosso, figura entre os destinos mais visitados do país. Só em 2013 foram 240 mil turistas e os negócios do setor movimentaram R$ 200 milhões. Lá, quase um quarto da população de 20 mil habitantes vive do turismo. Mais do que os números e as belezas que ostenta, Bonito se destaca por ser um dos poucos destinos brasileiros em que o turismo sustentável caminha para se transformar em realidade.

A cidade ganhou o prêmio de Melhor Destino para Turismo Responsável da World Travel Market (WTM), um dos principais eventos de turismo do mundo, e foi finalista da edição deste ano do Tourism for Tomorrow Awards (Prêmio Turismo para o Amanhã).

O reconhecimento que extrapola as fronteiras do país é possível porque tanto o poder público quanto os empresários locais sabem que, para garantir a sustentabilidade, é preciso equilibrar um tripé que contemple aspectos ambiental, sociocultural e econômico.

Um sistema de vouchers controla o número de visitante nos 40 atrativos turísticos, para que não extrapole a capacidade espacial e prejudique

Foto: Divulgação

Bonito ganhou prêmio internacional como Melhor Destino Para Turismo Responsável pela combinação de ações ambiental, social e econômica

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o meio ambiente. A maior parte das trilhas é feita a pé, minimizando o impacto da emissão de carbono. Além disso, só as agências de viagens da região emitem o voucher de acesso aos passeios, garantindo emprego e renda.

Para a diretora socioambiental da Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (Braztoa), Andrea Leone Bastos, outro exemplo de turismo sustentável é a Serra Gaúcha, que compreende municípios como Gramado, Canela e Bento Gonçalves. A região atrai turistas o ano inteiro, gera emprego e renda para a população e adota mecanismos de preservação.

Com potencial para ser explorado no Inverno, a Serra Gaúcha se planejou para atrair visitantes de janeiro a janeiro, apostando na diversidade. “Eles criaram eventos como o Natal Luz, que antes durava 15 dias e hoje são três meses, mantendo a cidade cheia também no Verão”, exemplifica.

O município de Socorro, no interior de São Paulo, que tem como forte o turismo rural e de aventura, é outro case de sucesso. “A cidade é toda acessível e conta até com turismo de aventura acessível”, diz a coordenadora geral de Sustentabilidade do Ministério do Turismo, Isabel Barnasque. Lá, quase 100% dos hotéis são adaptados aos mais variados tipos de deficiência. Bares e restaurantes apresentam cardápios em braile e até os telefones públicos estão adaptados para pessoas com deficiência auditiva.

Entre as mais de 20 atividades de aventura oferecidas, dez já foram adaptadas e podem ser praticadas até mesmo por cadeirantes. A experiência foi reconhecida internacionalmente e a cidade ganhou este ano o Prêmio Rainha Sofia de Acessibilidade, outorgado pelo Conselho Real para Deficiência, do governo da Espanha. A sustentabilidade também está presente em programas de reflorestamento que compensam os

Foto: Divulgação

Socorro, no estado de São Paulo, se destaca pela acessibilidade

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danos causados pela exploração agropecuária, nos projetos de educação ambiental e no envolvimento da comunidade nas atividades turísticas com produção de artesanato local.

Foz do Iguaçu, no Paraná, que recebe 1 milhão de visitantes por ano, também entra na lista dos destinos que adotam ações voltadas para a sustentabilidade. A preservação ecológica é uma das diretrizes do turismo local.

No Parque Nacional do Iguaçu, por exemplo, é desenvolvido o Projeto Respeito à Vida, Ecocataratas, que visa garantir que as atividades em torno do parque, principalmente às margens da rodovia, causem o menor impacto possível no espaço de preservação ambiental, com ações de conscientização dos motoristas e das comunidades para a preservação da área. Além disso, o turismo é exemplo de sustentabilidade com geração de emprego e renda para milhares de pessoas.

Como o turismo sustentável só entrou em pauta no país depois da Rio-92, os passos ainda são lentos, mas, aos poucos, deixa de ser só uma teoria e ganha forma em alguns destinos brasileiros. “Todo o turismo tem que ser sustentável, mas isso é complexo. Comparado à década de 90, já temos alguns avanços. Sustentabilidade é um conceito interno. Não se vende sustentabilidade, tem que vender qualidade com sustentabilidade”, defende Ariane Janer, integrante do Conselho Consultivo da Sociedade Internacional de Ecoturismo e coordenadora técnica da EcoBrasil.

Assim como ela, André Coelho, especialista em Turismo da FGV Projetos, reconhece que, de alguma forma, todos os países têm a sua bandeira da sustentabilidade. “Alguns mais, outros menos. A Alemanha é um dos líderes mundiais. A Espanha também vem aplicando a prática forte no seu litoral. A Suécia, a Noruega e a Dinamarca colocaram isso como uma bandeira séria e desde a década de 80 vêm desenvolvendo isso nas escolas, na política”, diz.

Até os Estados Unidos, que são considerados os vilões da sustentabilidade, contam com parques que são considerados modelos nessa área.

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Respeitar a legislação vigente Eficiência energética

Uso racional da água

Manejo de resíduos

Áreas de florestamento

Respeito à capacidade de carga do destino

Coleta de lixo

Transporte público eficiente

Acessibilidade

Combate à pobreza

Preservação das tradições

Geração de emprego

Geração de renda

Geração de emprego

Qualificação da mão de obra

Valorização dos produtos locais

Acesso à educação

Boa sinalização

Respeitar o direito das populações locais

Considerar o patrimônio e o valor das culturas locais

Considerar o desenvolvimento social e econômico dos destinos

Conservar o ambiente natural

Garantir a sustentabilidade da atividade e o planejamento responsável

NOVO OLHARPrincípios que regem e viabilizam o turismo sustentável: Ambiental

EconômicoSociocultural

Na Bahia ainda não há nenhum destino que se destaque como susten-tável, de acordo com especialistas. Mas todos são unânimes em apontar Porto Seguro na contramão desse conceito. Professor aposentado de Análise Estrutural do Turismo pela Universidade de São Paulo (USP) e con-vidado da Universidade de Brasília (UnB), Mário Beni aponta a cidade como o exemplo mais gritante de como romper toda a capacidade instalada de um destino. Com uma população de 140 mil habitantes, o município recebe 800 mil turistas por ano e possui 48 mil leitos. Só perde para Rio de Janeiro e São Paulo.

“Lá não existe nenhuma perspectiva de sustentabilidade espacial. Se tomou todo o espaço possível, não se preservou, tornou-se um turismo de massa. Não se monitora, não se planeja. É o exemplo mais típico do que

Porto Seguro sofre hoje com a falta de planejamento

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Quando se fala em empreender com sustentabilidade supõe-se que isso significa aumentar custos. De fato, requer um investimento inicial, mas que terá retorno. “O turismo sustentável não é um mau negócio. Quando o empresário percebe que pode reduzir custos operacionais, melhorar a organização interna da empresa e ser mais competitivo, se dá conta de que é um bom negócio”, diz o diretor da Sextante Consultoria e coordena-dor da Comissão de Estudos da Norma de Sustentabilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Alexandre Garrido. Segundo ele, quase 80% dos hotéis e pousadas controlam o uso racional de água e energia. “Isso impacta no lado econômico”, avalia.

Para a especialista Ariane Janer, é a ganância de curto prazo que estraga o futuro. Para ela, se ganha muito menos se pensar só a curto prazo. “Um hotel precisa de 15 a 20 anos para dar um bom retorno financeiro. Se tenho um hotel, posso ganhar bem por cinco anos, mas depois ter que vender a preço de banana. O turismo sustentável tem que planejar mais”, diz Ariane.

Gasto maior é compensado com redução dos custos

não se deve fazer para garantir a sustentabilidade”, critica. Na avaliação do especialista André Coelho, o consumo descontrolado é o grande vilão da sustentabilidade para o homem e um fator contraprodutivo.

No caso de Porto Seguro, Ariane Janer observa que a cidade não preparou o terreno nem as pessoas para o turismo. “Os destinos têm um ciclo de vida. A natureza é um capital e o capital deve ser usado para ganhar di-videndos. Nenhum destino deve depender exclusivamente do turismo”, alerta.

Apesar das críticas, o secretário municipal de Turismo de Porto Seguro, Luiz Otávio Borges, reconhece que a cidade errou muito no passado, mas que vem trabalhando para reverter isso. “Já temos uma produção forte de artesanato, temos estimulado a produção de outros bens, para evitar que os empresários tenham que importá-los de Minas e do Espírito Santo, o que ainda é bem comum, pela proximidade que tem do município”, diz.

Borges informa ainda que o município tem controlado o acesso dos turistas aos atrativos. “Temos o Recife de Fora, que é uma área de coral, e só 25% dessa área é aberta à visitação e estabelecemos um limite de apenas 400 visitantes por dia”, garante.

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Para garantir que um destino seja sustentável é preciso haver conscienti-zação e políticas públicas de turismo. “É preciso institucionalizar essas po-líticas nos três setores. Tem que ter parceria público-privada e do terceiro setor. Os três setores precisam se comprometer com esse desenvolvi-mento sustentável, senão ele não acontece”, sugere o professor Mário Beni. Outro fator importante é que haja um Conselho Municipal de Turismo atuante que reúna diversos setores para propor, de forma conjunta, as ações voltadas para o setor. “Turismo é uma construção social. Não existe sustentabilidade se não envolve a comunidade”, defende.

Esforço de todos os setores da sociedade

“Turismo é uma construção social. Não existe sustentabilidade se não envolve a comunidade”MÁRIO BENI, professor da USP

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Bonito de se ver

O rapel de 72 metros que desce por uma fenda na rocha leva a uma caverna que tem um lago de águas cristalinas, onde mergulhadores podem flutuar junto com os peixes. A descrição pode impressionar e chamar a atenção do visitante, mas para conhecer o Abismo Anhumas e outras mais de 40 atrações turísticas da cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, é preciso ter paciência e planejamento.

Afinal, no município, eleito em 2013 como melhor destino de turismo responsável pela organização internacional World Travel Market (WTM), há uma restrição no número de visitantes em cada atrativo turístico pela peculiaridade do destino, considerado frágil por sua natureza. “Cada estalactite para crescer demora mais de 10 mil anos. E se houver um descontrole no fluxo de turistas podemos causar um prejuízo para os recursos naturais”, explica Juliane Ferreira Salvadori, secretária de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito.

Nos últimos 20 anos, a cidade passou por um planejamento para se transformar em um dos principais destinos do ecoturismo do mundo. Em 1993, após a cidade ganhar visibilidade nacional através de reportagens da Rede Globo, foi iniciado o projeto através da formação de 40 guias, em parceria com o Sebrae. Dois anos depois, o Conselho Municipal de

- Organizar e limitar o fluxo de visitantes nos pontos turísti-cos, independente das pressões econô-micas da demanda. Em Bonito, a solução foi criar um voucher único, que controla o acesso dos turistas

- Participação da comunidade na intenção de promover e também de cuidar do destino

- Preservação da história e das belezas naturais através de programas educa-cionais voltados para moradores

Solução

Foto: Evandro Veiga

Secretária de Bonito, Juliane

Salvadori acredita na ação integrada do

trade turístico nos ecodestinos

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Turismo determinou uma série de ações, entre elas a criação, em 1995, de um voucher único, para organizar, controlar e catalogar o acesso aos atrativos da cidade, que conta com pelo menos 200 grutas. “Todo turista que deseja visitar a cidade precisa passar em uma agência de viagem para pegar o voucher, pois só com ele é possível conhecer os pontos e fazer os passeios”, explica. Na baixa estação, o voucher custa R$ 45 e, na alta, R$ 60.

Apesar do reconhecimento no aspecto da sustentabilidade, a secretária aponta barreiras e dificuldades. “Precisamos avançar ainda na pesquisa de demanda e também de feedback do turista. Além disso, temos dificuldades com a mão de obra. É muito difícil encontrar pessoas com a qualificação e disposição para o trabalho sem finais de semana e feriados”, diz.

O planejamento de Bonito tem dado certo. Apesar de restringir o acesso aos principais pontos turísticos, a cidade conseguiu aumentar a perma-nência do turista para uma média de 4 a 5 dias, de um a dois dias a mais que há oito anos. A cidade possui uma fiscalização e controle no fluxo de visitantes para seus pontos turísticos, inclusive, estabelecendo limitação no número de passeios diários.

A cidade tem área de 4.934 km² e cerca de 20 mil habitantes. Este ano, o município fechará o balanço turístico tendo recebido 240 mil visitantes. Atualmente, o turista que visita Bonito é, em sua maioria, do estado de São Paulo. “O público principal é formado por famílias e casais com renda estimada entre R$ 5 mil e R$ 6 mil. Apenas 10% são de turistas estrangei-ros”, informa Juliane Salvadori.

A cidade conta com 85 empreendimentos hoteleiros – entre hostels, hotéis e pousadas - com 5.065 leitos. O turismo tem vital importância para a cidade. Cerca de 40% dos empregos de Bonito são diretamente ligados ao setor.

Mais turistas apesar de controle de fluxo

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A cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, tem área de 4.934 km², cerca de 20 mil habitantes e mais de 40 atrativos turísticos. Em 2014, o muni-cípio tinha previsão de fechar balanço turístico com um número de visi-tantes 12 vezes maior do que sua população. “É uma quantidade menor do que o que poderia ser explorado. Mas preferimos estabelecer limites nas visitações dos pontos para preservar as belezas naturais da cidade”, explica Juliane Ferreira Salvadori, secretária de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito.

A cidade conta com 85 empreendimentos hoteleiros – entre hostels, hotéis e pousadas - com 5.065 leitos. Cerca de 40% dos empregos de bonito são diretamente ligados ao turismo. “Todo o destino turístico dentro da cidade tem estudo de impacto ambiental e de capacidade de carga. Hoje, todos os passeios em Bonito são licenciados em busca de se tornar cada vez mais um destino sustentável”, argumenta. Para tornar a cidade ainda mais sustentável, 98% do esgoto é tratado e está sendo desenvolvido projeto de criação de um aterro sanitário em conjunto com outras oito cidades da região.

Onde a beleza tem limite

Foto: Divulgação

Bonito: limitação de carga em atrativos e conselho municipal muito atuante

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Outros valores

Pesquisa mostra que o turista que valoriza a sustentabilidade está disposto a pagar mais caro por isso. Segundo o professor de Turismo André Coelho, da Fundação Getulio Vargas, ainda não é possível quantificar quanto os turistas estão dispostos a pagar a mais, apenas que existe gente com essa predisposição. No entanto, o especialista diz que ainda não há nenhum estudo que sinalize que os hotéis que adotam conceitos sustentáveis custam mais caro.

“As pesquisas, por enquanto, são só qualitativas, não existe nenhum estudo quantitativo”, informa o especialista. Coelho diz que hoje há uma demanda preocupada com a sustentatabilidade e chama a atenção para um aspecto: “As pessoas já se perguntam o que podem fazer para as próximas gerações”, informa.

Na avaliação de Juliane Ferreira Salvadori, secretária de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito, cidade que foi eleita ano passado como melhor destino de turismo responsável pela organização internacional World Travel Market (WTM), é a busca por um experiência diferenciada em um destino sustentável que leva o visitante a ter disposição de pagar a mais por isso.

“Na minha impressão, o turista que vai para um destino sustentável tem essa disposição pela experiência de conhecer um destino que seja sustentável”, explica. Hoje, em Bonito, o gasto médio do visitante por dia é de R$ 250. O valor deixado pelo turista na cidade é acima do padrão de consumo diário na média nacional. Dados do Ministério do Turismo indicam que, em média, o gasto de um turista que visita alguma cidade brasileira é de US$ 68,9 (R$ 180).

Outro atrativo que vem despertando cada vez mais adeptos é o chamado Turismo de Experiência, tendência cada vez mais forte no mercado europeu e que começa a chegar nos Estados Unidos, segundo Marianne Costa, diretora da Rede Mulher Empreendedora e sócia da Raízes Desenvolvimento Social, empresa responsável por projeto de Turismo de Base Comunitária no Vale do Jequitinhonha, em Minas. “Muitos desses turistas nunca desligavam o celular ou deixavam de consultar o Facebook. E perceberam que aquelas pessoas (do Vale do Jequitinhonha) vivem sem nada disso e são felizes”, relatou Marianne. “Isso leva os turistas a uma reflexão sobre o estilo de vida e até mesmo a mudar conceitos”, completou.

Foto: Divulgação

Em Bonito, pacotes especiais: mergulho em grutas e flutuação em rios

*Quanto custa

R$ 250

R$ 180

Esse é o valor que o turista gasta por dia para viver uma experiência sustentá-vel em Bonito

Essa é a média que o turista brasileiro gasta por dia em viagens no país

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Um hotel com 50 quartos que possui uma taxa média de ocupação de 80% pode economizar no consumo de água, em um ano, o equivalente a duas piscinas olímpicas através da reutilização das águas cinzas. Segundo o professor da FGV André Coelho, a estimativa leva em consideração que os quartos são ocupados por duas pessoas, o consumo do chuveiro chega a 300 litros, o da pia, a 30 litros, e o vaso, 36 litros

O projeto de arquitetura do Hotel Canto das Águas, em Lençóis, privilegiou o aproveitamento da luz natural. Com isso, o restaurante, por exemplo, não usa luz artificial entre as 8h e 18h. No fim do mês, segundo o gerente de Sustentabilidade do empreendimento, Ramiro Barbosa, isso resulta em uma economia de até 46% no consumo de energia elétrica

* Como ser mais sustentável

Piscinas

Uso de luz natural

O Turismo de Base Comunitária no Vale do Jequitinhonha - a região mais pobre de Minas Gerais - tem como base o artesanato local, caracterizado por bonecas de até 80 cm. A procura pelas peças por turistas de Belo Horizonte e São Paulo gera renda para a comunidade, que também ganha com a hospedagem familiar e a venda de alimentação para grupos de viajantes

Artesanato

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A gestão do meio de hospedagem é a principal característica para se alcançar a sustentabilidade. Para André Coelho, da FGV, os hotéis precisam ter um planejamento de médio e longo prazos e os gestores devem conhecer as forças e fraquezas do negócio para poder investir no seu potencial. “Não só investir, como seguir o seu planejamento, de forma que gere lucro, mas que também haja preservação do ambiente e da cultura local”, disse. Beatriz Muniz, diretora do Hotel Ville La Plage, em Búzios, criou um plano de gestão sustentável e conquistou, em 2010, com o hotel, o prêmio MPE Brasil, etapa do Rio de Janeiro no setor turístico

O Hotel Ville La Plage, em Búzios, no Rio de Janeiro, mantém uma horta que produz alimentos orgânicos que são utilizados no restaurante. Além da produção de alimentos saudáveis, a ação diminui os custos do hotel

A escolha dos produtos utilizados nos hotéis deve priorizar sempre materiais orgânicos, biodegradáveis e de fornecedores certificados. A produção local também é necessária por colaborar com a economia da região e reduzir impactos ao meio ambiente sem o transporte de longas distâncias

A relação do empreendimento com a comunidade local deve ser próxima. Ações de inclusão, capacitação e valorização permitem o crescimento econômico e social da região, o que beneficia os moradores do entorno e o meio de hospedagem

Gestão sustentável

Horta orgânica

Consumo

População local integrada

Hotéis podem economizar até 40% no consumo de água através da sua reutilização. Isso é possível com uma técnica em que a água sai do chuveiro e da pia direto para um sistema que vai filtrá-la. Logo depois, segue para uma caixa externa, podendo ser utilizada na descarga de vasos sanitários, para molhar o jardim e lavar carro.

Reutilização de água pode garantir economia de até 40%

Uso de água cinza em hotéis e grandes empreendimentos

Efluentes

Estação de tratamento

Reservatório de água limpa (porém não potável)

Reservatóriode água

bruta

Lavagem de calçadas

Regar jardins

Reuso em vasos sanitários

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Criatividade no detalhe

Depois de se tornar referência para todo o Brasil na certificação de Hotel Sustentável, o Canto das Águas, em Lençóis (Chapada Diamantina), tem agora o desafio de criar um “panorama sustentável’, espalhando a filosofia da sustentabilidade para todo o município. E para isso conta com o uso da criatividade e ações de educação ambiental.

Segundo o gerente de Sustentabilidade do Canto das Águas, Ramiro Barbosa, a criatividade é fundamental para envolver hóspedes, clientes e comunidade com as ações que aliem o desenvolvimento socioeconômico com a preservação de recursos naturais.

“É com criatividade que vamos maximizar a presença da cultura local no dia a dia do empreendimento”, contou, durante a apresentação de seminário no Fórum Agenda Bahia 2014. A valorização da cultura local é um dos pressupostos da sustentabilidade. E a valorização da cultura é uma forma de inserir o hotel mais profundamente na vida da comunidade.

Um dos exemplos de criatividade citado por Ramiro é o uso de guardanapos bordados. “É um mimo aos hóspedes, a personalização de um serviço que gera renda a artesãos locais”, contou o gerente.

Foto: Arisson Marinho

Ramiro destacou que a criatividade é

fundamental também para envolver

os hóspedes e a comunidade

“Com ações como essas, o hotel vira um corpo social da cidade. O cliente gosta [de sentir a cidade]”

299

Outro exemplo é que, para cumprir a obrigação imposta pela certificação, o Canto das Águas tem de informar aos hóspedes quais são as espécies típicas da fauna e flora locais e, para fazer isso, o hotel contratou artesãos locais para pintar os animais em pedras usadas para ornar o jardim. “Trouxemos a arte para a operação. A criatividade deve ser buscada, pois vai ser primordial na operação”, acredita.

Outra obrigação exigida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para certificar o hotel foi a de integrar plantas típicas no paisagismo do empreendimento. O que levou o hotel a fazer uma parceria com pesquisadores da Ufba para criar o Jardim das Polinizadoras. O espaço é hoje praticamente um laboratório usado por todas as escolas de Lençóis. A iniciativa atraiu interesse de fora do país: o hotel sediou curso internacional de polinização que durou 15 dias.

“Com ações como essas, o hotel vira um corpo social da cidade. O cliente gosta [de sentir a cidade]”, avalia. Ainda de acordo com Ramiro, a criatividade para passar informações sobre o meio ambiente faz com que o cliente leve a sustentabilidade como um valor para si após a viagem.

* Por dentro do Canto das Águas

Espaço para educação ambiental O Canto das Águas foi além da obrigação ao implantar

espaço para expor espécies da fauna e flora de Lençóis. Criou o Jardim de Polinização,

que já foi tema de curso internacional, e é usado para aulas de educação ambiental pelas

escolas da cidade. A educação de crianças é essencial para levar a sustentabilidade para

as famílias.

Valorização de produtores locais O Hotel Canto das Águas busca fornecedores na própria

comunidade. Por isso, leva ao café da manhã frutas de época produzidas por agricultores

da região. Pratos da culinária local, com ingredientes típicos, também são servidos no

restaurante. O sombreiro da piscina foi feito por artesãos locais, com cipó.

Consumo menor de energia e água A tecnologia é uma aliada da sustentabilidade,

segundo Barbosa. Ele contou que cartões economizadores, luz natural e distribuidor ele-

trônico de sabão nas máquinas de lavar ajudam o Hotel Canto das Águas a reduzir em até

46% o consumo de energia elétrica. O empreendimento também reutiliza 18% da água.

Equipe envolvida na sustentabilidade A criatividade aplicada na valorização da

cultura local é um fator que pode ser usado para envolver os trabalhadores com a

visão e as metas da organização. Para Ramiro Barbosa, o sucesso do Hotel Canto das

Águas na prática da sustentabilidade só foi obtido graças ao envolvimento de todos os

colaboradores.

300

Experiência transformadora Faz parte do sistema de gestão sustentável do Hotel Canto

das Águas a educação ambiental dos hóspedes. Com isso, um cliente desacostumado

com o programa de troca programada de toalhas e roupas de cama, por exemplo, pode, se

bem informado pelo empreendimento, levar a sustentabilidade como valor para a sua vida

cotidiana.

A certificação de hotel sustentável dada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) foi um desafio vencido a muito custo, mas que ainda não se traduziu em vantagens econômicas para o Canto das Águas, primeiro hotel do Brasil a obter tal certificação. Ainda assim, seu gerente de sustentabilidade, Ramiro Barbosa, afirmou no Agenda Bahia que nada faria o empreendimento mudar o compromisso com a sustentabilidade.

“Existem outras vantagens. Ganhamos mídia espontânea, a perspectiva de valorização do produto final, uma inserção mais profunda na comunida-de e maior grau de satisfação”, comentou, sem apresentar tom de queixa ou desânimo.

Não é para menos. Segundo Ramiro, o Canto das Águas virou referência para outros hotéis brasileiros e caso de estudo em todo o mundo. De cada cem hóspedes - de um total de 25 mil por ano - 40 são estrangeiros, e parte desse grupo já escolhe o empreendimento por causa da certificação. Ao mesmo tempo, o hotel tem desenvolvido uma operação que leva be-nefícios a toda a comunidade de Lençóis. Entre os citados, o de educação ambiental e a valorização da cultura e de artistas locais.

Em termos econômicos, as práticas sustentáveis ali adotadas significam uma economia de 46% em energia elétrica e reúso de 18% da água para irrigar o jardim, e 74% dos resíduos são reciclados.

Hotel baiano colhe os benefícios de ser sustentável

301

Sustentabilidade: um dever de todos

As férias estão chegando e você já começou a planejá-las. Escolheu um destino bacana, comprou passagens, reservou hospedagem, arrumou as malas e está em contagem regressiva para viver esse momento tão esperado. Agora eis a questão: em algum momento você se preocupou em saber de que forma a sua viagem vai colaborar com o turismo sustentável? Caso não, não fique com vergonha. Você não está sozinho.

Na avaliação da integrante do Conselho Consultivo da Sociedade Internacional de Ecoturismo e coordenadora técnica da EcoBrasil, Ariane Janer, ainda há muito o que avançar para que a defesa do turismo sustentável seja uma bandeira de maioria.

“Eu diria que, no Brasil, entre 15% e 20% das pessoas são como eu, que procuram isso. Outras 20% acham tudo um absurdo e até rejeitam e 60% das pessoas são só simpáticas às ideias, mas na hora de planejar a viagem não levam isso em conta”, diz a especialista. Se você faz parte do rol que é simpático a esta filosofia, mas ainda não a coloca em prática, saiba que não é preciso mover o mundo para fazer com que sua viagem seja sustentável. Há muitas ações que estão ao seu alcance, não vão pesar no bolso e dependem exclusivamente de você.

A sustentabilidade está desde o meio de transporte escolhido a hábitos adotados e até na forma como o turista pretende se comportar no destino. “O que provoca um passivo grande é a questão do transporte, porque se transportar polui muito, principalmente de avião, que é o vilão das emissões”, alerta André Coelho, especialista em Turismo da FGV Projetos. Com isso, ele não quer dizer que você tem que excluir o transporte aéreo dos seus planos, mas deve usá-lo com responsabilidade.

Nesse caso, a campanha Passaporte Verde, que é uma parceria do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e os ministérios do Meio Ambiente e do Turismo, dá a dica: “Ao escolher um voo direto, além de economizar tempo, você também está reduzindo o volume de emissões de carbono. Parte significativa das emissões de um avião ocorre nas decolagens e aterrisagens”. Outra dica é quanto a hospedagem. “Prefira hotéis que fiquem próximos aos locais que deseja conhecer. Assim você economiza em transporte e diminui a emissão de poluentes”, alerta a campanha.

O gestor ambiental e professor de administração Fábio Matos Fernandes sabe bem os cuidados e preocupações que deve ter e faz questão de cumprir o dever de casa em suas viagens. “Adotar práticas sustentáveis é uma questão de consciência. Ou seja, é ter a noção de que tudo que faço vai gerar impactos que podem ser negativos ou positivos, a depender do

302

meu estilo de vida como turista. Assim, adoto determinadas posturas para tentar minimizar os impactos negativos”, diz.

Fábio já estabeleceu uma rotina para todas as vezes que pensa em colocar o pé na estrada. O ritual inclui planejar bem as viagens e estudar o local onde vai visitar para ficar mais fácil de se adaptar, de conversar com as pessoas e também para respeitar as diferenças culturais. Mas não para por aí. Ele evita excesso de bagagem, respeita o meio ambiente local, utiliza serviço de guias locais e compra artesanatos nas comunidades mais carentes, entre outros cuidados.

Na avaliação do especialista em Turismo da Fundação Getulio Vargas André Coelho, o visitante é um ator direto da sustentabilidade. “O turista que quer sustentabilidade, a sustentabilidade tem que partir dele. E isso pode ser feito não deixando a torneira aberta, reutilizando a toalha, utilizando a menor quantidade possível de energia. O que as crianças veem é exatamente o que elas fazem”, alerta.

É difundindo essa consciência que se espera que o Brasil possa dar passos mais largos no que diz respeito ao turismo sustentável. “Pouco a pouco, o brasileiro tem maior consciência quanto à importância de adotar hábitos mais racionais de utilização dos recursos naturais, mas evidentemente ainda precisa de maior sensibilização para ampliar essa cultura de sustentabilidade”, avalia o especialista em Planejamento e Gestão no Turismo Richard Alves, que é diretor técnico da Barcelona Media Inovação Brasil.

Na avaliação de Alexandre Garrido, coordenador da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), para ampliar isso é preciso fazer mais campanhas educativas, sensibilizando um número de turistas cada vez maior. “Esta informação sobre como se comportar pode ser veiculada por toda a cadeia do turismo. Desde a operadora de turismo, que montou o pacote, passando pela agência de viagem, pela companhia aérea, pelo receptivo, pela empresa de transfer, pelo hotel, guias turísticos, bares e restaurantes e atrativos”, sugere.

“Adotar práticas sustentáveis nos destinos é uma questão de consciência do turista”FÁBIO FERNANDES, gestor ambiental

303

Escolha um voo direto, além

de economizar tempo, você

também está reduzindo o

volume de emissões de

carbono.

Evite hospedar-se em

estabelecimentos

construídos em Áreas

de Preservação

Permanente (APP).

Procure saber mais sobre

seu destino e busque

roteiros que permitam

conhecer a cultura e as

belezas naturais e

vivenciar o ritmo local.

Prefira hotéis que fiquem

próximos aos locais que

deseja conhecer.

Leve poucas malas. Quanto menos

malas, menos necessidade de

espaço para carregá-las.

Precisa mesmo levar tantos

eletrônicos?

Comprar produtos de higiene ou

alimentos no mercadinho local,

objetos de artesanato e produtos

regionais, contribui com a geração

de empregos, aumenta a renda

dos moradores e valoriza os

talentos locais.

Aproveite a luz solar.

Precisa mesmo do ar-condicionado?

Só peça para trocar toalhas e

enxoval no hotel se for

realmente necessário.

Mesmo hospedado em um hotel

ou apartamento alugado, separe

o lixo para facilitar a reciclagem

Depois de carregar seu celular,

tablet ou computador, tire o

plug da tomada.

Planejando a viagem:

Fazendo as malas:

Hospedagem:

304

Depois de trabalhar com os operadores do turismo, com os fornecedo-res e distribuidores, a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) se prepara agora para trabalhar a questão da sustentabilidade no turismo com o consumidor.

De acordo com a diretora executiva da Braztoa, Mônica Samia, os turistas precisam ter consciência que eles têm um papel importante no momento que compram o pacote, se a operadora tem alguma certificação, se tem uma política sustentável.

Não basta só comprar o pacote, mas também o papel que ele tem enquanto turista, porque o impacto que pode causar é grande.

“Sensibilização do papel do consumidor. Muita gente já pensa nisso, mas não coloca como prioridade na hora de consumir, porque tem um impacto financeiro. Ainda não se transformou em atitude concreta na hora do consumo. Outros fatores ainda têm peso maior, como o preço e as facili-dades. É um trabalho de longo prazo”, acredita.

Segundo Mônica Samia, as empresas precisam estimular essa conscientização. “Nosso papel agora é fazer essa comunicação. Precisamos continuar o trabalho de formiguinha, dando passinhos. Falta muita informação ainda. É o foco que a gente quer dar a partir de agora”, diz. Mônica ressalta que esse é o momento no Brasil. “A hora é de sensibilizar e fazer a pressão de fora para dentro, porque se o cliente tiver uma percepção maior todo mundo se adapta. Ninguém quer perder cliente”, avalia.

Entidade vai estimular operadoras a sensibilizar turistas

Apesar da questão da sustentabilidade no turismo ainda ser tratada como algo recente, que só agora vem ganhando novos adeptos, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostra que o turismo sustentável já faz a diferença nas escolhas.

O 2º Estudo CMIGreen Traveler Anual aponta que as preferências e com-portamentos dos consumidores têm demonstrado para as indústrias de turismo e hospitalidade que a sustentabilidade apresenta uma gama de novas oportunidades, com o aumento de conscientização pública e demanda.

“A questão fundamental hoje não é se a sustentabilidade vai influenciar a escolha do consumidor, mas como”, diz o estudo, que constatou ainda que os consumidores estão se tornando mais informados acerca desse

Nos EUA, turismo sustentável já influencia escolhas

305

Entidade vai estimular operadoras a sensibilizar turistas tema e exigindo um maior envolvimento social e ambiental de destinos e fornecedores.

“Com esta mudança na consciência do consumidor, o turista padrão está tendendo para alternativas mais responsáveis. Os líderes da indústria do turismo e da hospitalidade estão realmente abraçando a sustentabilida-de para estabelecer vantagem competitiva, aumentar o valor da marca e impulsionar as vendas”, alerta.

O Estudo CMIGreen Traveler Anual é realizado desde 2009 e todo ano apresenta novos resultados sobre as tendências do mercado do turismo.

Antes de pegar a estrada, Fábio costuma planejar bem as viagens e estudar o local que vai visitar. Dessa forma, segundo ele, fica mais fácil de se adaptar, de conversar com as pessoas e respeitar as diferenças culturais. Também prioriza hotéis e hostels que adotem boas práticas sustentáveis. “Os preços, na maioria das vezes, não divergem muito dos que não adotam tais práticas”.

Para evitar excesso de bagagem, Fábio leva sempre roupas sintéticas fáceis de lavar e que não ocupam muito espaço na mochila, principalmente quando faz trilhas. Ele também busca respeitar o meio ambiente local e reduzir ao máximo a poluição causada durante sua estada na região, evitando excesso de embalagem e sempre se responsabilizando pelo lixo produzido por ele.

Fábio costuma utilizar serviço de guias locais e comprar artesanato nas comunidades mais carentes por onde passa. A depender da cidade, ele diz que opta por fazer Walking Tour ou utilizar o transporte público quando as atrações são distantes. “Tenho a noção de que tudo que faço vai gerar impactos que podem ser negativos ou positivos, a depender do meu estilo de vida como turista”, diz.

* Fábio Fernandes, o turista consciente

Marrocos

Machu Picchu

Patagônia Argentina

306

Para surpreender

Um destino turístico não se desenvolve apenas pelas belezas, atrativos locais e divulgação. Não dá para ter casa cheia sem cuidar de detalhes básicos como iluminação, poda e limpeza. Foi isso que o secretário de Desenvolvimento, Turismo e Cultura, Guilherme Bellintani, constatou, na prática, ao assumir a pasta, há dois anos. Ele diz que encontrou Salvador tão malcuidada que antes de fazer algo mais arrojado para atrair mais turistas teve que garantir o essencial para os moradores e visitantes que chegavam à terrinha.

“As pessoas vinham a Salvador por dois motivos: ou porque gostavam muito da cidade ou porque eram levadas a consumir um produto que não conheciam”, disse, informando que os dois primeiros anos de gestão foram usados para uma ampla reforma na cidade.

“Primeiro, colocamos Salvador num nível de cidade normal para se viver e se fazer turismo. Ainda não é um ar de transformação. Se a gente não consegue surpreender como surpreendia antes, que pelo menos tenha a normalidade comum às outras cidades”, defende.

Depois do trabalho inicial, a prefeitura decidiu ir um pouco além para atrair mais turistas. Uma das iniciativas foi transformar o Réveillon em uma festa de destaque no cenário nacional, investindo em grandes atrações para tornar a data a segunda maior da cidade, ficando atrás apenas do Carnaval.

Outra aposta para fisgar o turista tem sido investir na criação de novos equipamentos e na revitalização de outros já existententes. Exemplo disso

- Criar novos equipamentos, como museus, para atrair mais turistas

- Firmar um calendário de eventos para chamar a atenção do público também na baixa estação, a exemplo do Festival da Primavera, realizado em setembro

- Ter uma malha aérea que atenda as necessidades

- Desenvolver a orla

Desafios

Foto: Evandro Veiga

Bellintani aposta na criação de novos equipamentos para atrair mais turistas para Salvador

307

foi a criação da Casa do Rio Vermelho, recentemente inaugurada, que guarda a memória de Jorge Amado e Zélia Gattai.

“São pequenos saltos simbólicos e efetivos para uma cidade que, nos últimos tempos, o turista que chegava aqui e buscava um programa diferente ia para Praia do Forte”, ressalta Bellintani, frisando que o turismo em si tem um poder relevante de transformação. É partindo dessa premissa que o secretário defende que o turismo deve ser tratado como política pública. “Como fazer isso em uma cidade que passou anos abandonada e sequer tinha poda de grama nas avenidas de vale? Quem sequer corta uma grama é incapaz de fazer um planejamento a médio e longo prazo”, avalia.

Leitores de Jorge Amado agora podem entrar na sua intimidade e na de Zélia Gattai de uma maneira muito especial. Na casa onde eles viveram durante 47 anos, os admiradores do escritor podem apreciar móveis, objetos pessoais e até correspondências trocadas entre eles. É que, depois de 11 anos fechada, a casa foi transformada em memorial e aberta à visitação em outubro. A expectativa é receber até 10 mil visitantes por mês e 30 mil na alta estação.

A casa de Jorge Amado é a primeira de uma série de intervenções para a cidade, segundo Bellintani. A secretaria trabalha ainda para inaugurar os Museus de Pierre Verger e Carybé, em 2015, e reformar, para 2016, equi-pamentos como o Forte de São Marcelo, o subsolo do Mercado Modelo, o Elevador Lacerda e o Cine Excelsior.

A casa, que recebeu um investimento de R$ 6 milhões, a maior parte da prefeitura, possui 15 ambientes projetados onde são exibidas lembranças da vida do casal. Os visitantes também podem acessar documentos e im-portantes cartas trocadas por Jorge Amado com personalidades nacionais e internacionais. “Quem já foi conhecer sabe que trata-se de um projeto de primeiro mundo”, diz o secretário Bellintani.

Na Sala de Leitura há vídeos de personalidades interpretando trechos das obras do escritor. Já a Roda de Conversa, que fica no quintal da casa, chama a atenção por exibir depoimentos de famosos, amigos e familiares.

Comprada em 1960 com dinheiro da venda dos direitos do livro Gabriela, Cravo e Canela para a MGM, a casa mais tarde se transformou no título do livro de Zélia Gattai contando a história vivida pelo casal quando residiu no imóvel.

Casa do Rio Vermelho: só o primeiro novo equipamento

Foto: Arisson Marinho

Casa Jorge Amado: expectativa de receber 10 mil visitantes por mês

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Já pensou se no lugar do Porto de Salvador, no Comércio, em vez daqueles armazéns de carga houvesse uma grande área de lazer, com espaço para caminhada à beira-mar, bares, restaurantes, embarque e desembarque de grandes cruzeiros e barcos e lanchas fazendo passeios diários pela Baía de Todos os Santos? Esse é o projeto idealizado pelo secretário de Desenvolvimento, Turismo e Cultura de Salvador, Guilherme Bellintani. Só que, para virar realidade, precisa também do aval dos governos federal e do estado.

O secretário sabe que a proposta é polêmica e que vai ter quem bata pé firme em defesa do porto, sob alegação de que ele é fundamental para o desenvolvimento econômico. No entanto, para os opositores, ele tem um bom argumento: as operações realizadas no Porto de Salvador em 2013 representaram uma receita líquida de R$ 140 milhões. “É muito pouco para o espaço que ocupa e para o tanto que atrapalha. Salvador lucra R$ 1,2 bilhão só com o Carnaval. É desproporcionalmente absurdo. Alguém precisa enfrentar isso. É fundamental sair dali”, informa o secretário, destacando que a Baía de Todos os Santos é bem extensa e que o porto poderia funcionar em outro lugar.

O uso do porto como equipamento turístico já é adotado por grandes capitais no mundo inteiro, desde a vizinha Argentina, que transformou a área do Puerto Madero em um polo gastronômico, a Barcelona, que destinou a área ao entretenimento, com direito a shopping, bares, restaurantes e boate. Cidades brasileiras como Belém, Rio de Janeiro e Recife também já colocaram a ideia em prática.

“É preciso transformar aquela área em um grande centro, um grande polo turístico. Chega a ser até uma agressão aos soteropolitanos e turistas passar e ver aqueles armazéns fechados, atrapalhando a vista. Quem tem uma Baía de Todos os Santos com o potencial que ela tem e não explora está cometendo um crime”, diz Bellintani, acrescentando que uma intervenção naquela área repercutiria em todo o Centro Histórico e também na Cidade Baixa.

Por enquanto, não há nada de concreto no sentido de transformar a área ocupada hoje pelo porto em um grande polo turístico, mas Bellintani diz que o novo Plano de Desenvolvimento Urbano de Salvador (PDDU) vai colocar bem claramente na pauta o que quer para aquela região da cidade. “Tem que ser para a promoção do desenvolvimento e não uma grande bolha, sem movimento no entorno”, ressalta.

Outra área da cidade que requer atenção, segundo o secretário, é o Centro Histórico. Ele diz que todas as grandes cidades do mundo

Secretário quer tirar o porto do Comércio

309

que querem ser bem tratadas e respeitadas pelos turistas valorizam o seu Centro Histórico. E Salvador não pode ser diferente. Mas é necessário que o poder público entre em ação. “É preciso transformar o Centro Histórico em algo normal na vida do cidadão. Tem que ter vida no Centro Histórico. A prefeitura reconhece isso e vai passar a agir nesse sentido. A responsabilidade é compartilhada. Tem o governo federal, através do Iphan, o governo do estado e o município”, sugere, acrescentando que a iniciativa não pode partir só da iniciativa privada porque, do ponto de vista econômico, é mais barato e mais rápido para os empresários construir fora a investir no local.

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Foto: Marina Silva

Porto, no Comércio: volume de investimento na área é apontado como justificativa para manter atividade no atual local

Polêmica ancorada

Ao apresentar sua proposta de retirada do Porto de Salvador do Comércio, o secretário de Desenvolvimento, Turismo e Cultura de Salvador, Guilherme Bellintani, disse saber que causaria polêmica. E tinha razão.

Para alguns, a medida é precipitada, para outros representa o progresso. Bellintani apresentou a proposta durante debate sobre Turismo Sustentável, no Fórum Agenda Bahia 2014. Ele disse que “o resultado do porto é muito pouco para o espaço que ocupa e o tanto que atrapalha” e também que é “fundamental (o equipamento) sair dali”. O secretário apresentou como exemplos a revitalização dos portos de Buenos Aires (Puerto Madero) e Barcelona.

Bellintani informou que a ideia é “iniciar uma discussão” sobre o assunto e disse que não necessariamente todo o porto teria que sair dali. “O que estou propondo é iniciar uma discussão sobre novos usos para aquele espaço, sobre o futuro da cidade e de como aquele equipamento pode ser transformado em uma área turística”, afirmou. “Não sei se seria necessário a retirada de todo o porto daquele local ou se bastaria a retirada de parte dessa área. O que é preciso é discutir a utilização daquele espaço”, disse.

O presidente da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), José Muniz Rebouças, não vê com bons olhos a proposta do secretário.

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Segundo ele, o porto movimenta acima de US$ 5 bilhões (R$ 12 bilhões) por ano em mercadorias. De acordo com informações do Terminal de Contêineres de Salvador (Tecon), a receita líquida do porto é de R$ 140 milhões.

Rebouças destacou também que, para deslocar o porto, será, primeiramente, necessário uma determinação do governo federal, responsável pelo planejamento portuário do país. “Em seguida, tem que haver um volume de investimento muito grande. Só na obra da Via Expressa foram investidos R$ 500 milhões. Seriam necessário bilhões e bilhões para obras de acessibilidade, para dragar porto, construir infraestrutura portuária”, ponderou.

De acordo com Rebouças, a Codeba já tem um projeto para transformar uma área do porto em polo turístico. “Temos 10 mil m² para integração com a cidade, para construção de restaurantes, espaços para entretenimento e até para convenções. Tudo isso a partir de um processo de licitação a partir do 1º semestre de 2015”. Ainda segundo Rebouças, o caso de Puerto Madero, em Buenos Aires, não é um bom comparativo. “Puerto Madero era o porto de um rio que foi desativado porque a profundidade era pequena. Grandes navios não tinham condições para chegar. Quando desativado, virou uma área degradada e, posteriormente, transformaram numa área gastronômica”, explicou.

O responsável pela unidade Bahia-Sergipe da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Alfeu Luedy, também criticou a proposta. “Entendo como intempestiva, já que a soma vultosa de recursos federais foi investida na dragagem do Porto de Salvador, na construção da Via Expressa, na construção de moderna Estação de Transbordo de Passageiros e na ampliação e modernização do Terminal de Contêineres do Porto de Salvador”, disse.

Segundo ele, a proposta tem pontos negativos que precisam ser discutidos com cautela. “O aspecto negativo é financeiro e ambiental. Fazer nova infraestrutura portuária, novos acessos rodoviários, ia impactar, ambientalmente, outros sítios”, disse. Ele destaca ainda que os ganhos urbanísticos são “de difícil mensuração”. “O polo turístico pode ser feito em outras áreas da cidade, sem rejeitar um equipamento tão caro e tão dinâmico como o porto”, afirmou.

O presidente na Bahia da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-BA) e vice-presidente do Conselho Baiano do Turismo, José Alves Peixoto Júnior, sonha com uma revitalização do espaço. “O estado precisa diversificar os seus pontos de atração. Locais antigos precisam ser revisitados, mas também é preciso outros olhares e esse (o projeto de requalificação do Porto de Salvador) se tornou um sonho”, disse.

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Na avaliação de Peixoto Júnior, para que o projeto saia do papel, é preciso abrir mão da zona portuária comercial de contêineres. “É, inclusive, uma área da cidade que já teve a sua importância histórica. É um local que precisa ser explorado. Lá há um patrimônio cultural muito forte, além de ter algo que não se encontra em nenhum lugar do mundo que é a Feira de São Joaquim”, enumera.

Para o urbanista Ney Castro, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), as alterações não provocariam muitas alterações. “A atividade comercial da Cidade Baixa já é reduzida, o tecido urbano da cidade está redesenhado, a cidade já não possui um centro comercial como foi o Comércio e a Cidade Baixa, então, isso não terá implicações danosas”, afirmou.

Ele apontou a necessidade de discutir o assunto com cuidado. “Acho que tudo isso deve passar primeiro por uma discussão mais ampla com as força sociais para entender o redimensionamento da cidade, saber o que a cidade quer”, afirmou.

Nesse ponto, a análise vai ao encontro do secretário Bellintani. “Não acredito que essas mudanças possam acontecer em quatro anos. Alterações como essas precisam ser pensadas e debatidas com cuidado. O que estou propondo é que comecemos a fazer esse debate, sobretudo através do PDDU”, disse.

Iniciada em 2012 e com prazo para conclusão em 2016, a obra de requalificação do Porto do Rio de Janeiro ganhou o nome de Porto Maravilha. As ações envolvem quatro avenidas e uma área de 5 milhões de metros quadrados. Foram concluídas a ampliação da rede de esgoto e drenagem, a urbanização do Morro da Conceição e a restauração de jardins suspensos. Além de mudanças urbanísticas, como a demolição do Elevado da Perimetral e a reurbanização de 70 km de vias, estão incluídos no projeto o plantio de 15 mil árvores e implantação de 17 km de ciclovia. O local vai receber seis torres de 50 andares, as chamadas Trump Towers cariocas.

* Áreas revitalizadas no Brasil e no mundo

Rio de Janeiro

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O Porto de Belém, no Pará, está entre um dos mais confortáveis do Brasil. No local, é possível encontrar cafés, lanchonetes, serviços de orientação ao turista, lojas de artesanato, terminais de autoatendimento e lotéricas. O espaço de embarque no Terminal de Passageiros tem cadeiras padronizadas, salão climatizado, painés de LED com as informações atualizadas dos embarques, além de sistema de som. O Porto de Belém tem 102 anos, fica na Baía do Guajará e é um dos principais pontos de comércio do Pará. O local tem ainda seis restaurantes, choperia, lojas e quiosques de artesanato, salão de beleza, salões de eventos, agência de câmbio e sorveteria.

O Puerto Madero foi inaugurado no final do século XIX, pelo empresário Eduardo Madero, mas o projeto pouco moderno tornou o espaço obsoleto em dez anos. Em 1919, o porto foi revitalizado e durante alguns anos foi um importante ponto de comércio para a Argentina, até cair em descaso novamente. Em 1989, o espaço passou por mais uma reforma e atualmente o local é ponto turístico e um dos bairros mais nobres de Buenos Aires, com cafés ao ar livre, largos calçadões para pedestres, ciclovia, escritórios de grandes empresas, bares e restaurantes, hotéis de luxo e museus. O espaço abriga ainda obras de artistas nacionais.

O Porto de Lisboa está situado entre as margens do Rio Tejo e é ladeado pelo centro histórico e cultural de Lisboa. Historiadores acreditam que a primeira estrutura do porto foi construída pelos fenícios no século XXII a.C. A região foi dominada por diferentes povos e o porto foi reinaugurado inúmeras vezes. Atualmente, a estrutura oferece diversidade de restaurantes, bares e outros espaços de lazer. O Porto de Lisboa é parte importante na animação noturna da cidade, com bares e casas de show. Concertos musicais e outros espetáculos são realizados no espaço, ao ar livre ou em áreas cobertas, além de atividades esportivas como vela, remo e canoagem.

Belém

Buenos Aires

Lisboa

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O poder do turismo

A atividade turística representa 9% do PIB global, gera 1 a cada 11 postos de trabalho diretos e indiretos e é responsável por US$ 1,3 trilhão de exportação, chegando a 6% do total das exportação dos países em desenvolvimento. Os números da Organização Mundial de Turismo (OMT) foram contabilizados para mostrar a força desse segmento na economia global e permitiram pela primeira vez que o G-20 - reunião dos países mais ricos do mundo - pudesse debater o Turismo em suas reuniões.

“O Turismo tem uma força enorme. Em 2030, pelas projeções, haverá 1,8 bilhão de turistas viajando pelo mundo”, revelou Fernanda Fedrigo, representante da OMT no Brasil e também presidente do Polo Iguassu, durante o Fórum Agenda Bahia. Apesar dos avanços no setor, o Brasil ainda está “engatinhando” com apenas seis milhões de entradas de turistas por ano. “Isso é ridículo. Qualquer igrejinha na Itália recebe isso”, disparou. “Precisamos pegar uma parcela desses viajantes internacionais”, alertou em seguida.

De acordo com Fernanda, a OMT, uma agência especializada das Nações Unidas e a principal organização internacional no campo do turismo, busca reforçar a relevância da atividade, que possui mais capacidade de contribuir para uma economia sustentável e inclusiva.

“O caminho para se pensar em sustentabilidade é através da parceria público-privada”

Foto: Arisson Marinho

Fernanda Fedrigo, representante da

OMT e presidente do Polo Iguassu: ‘O Brasil

precisa se preparar para atrair esses

novos turistas’

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“E o caminho para se pensar em sustentabilidade é através da parceria público-privada (PPP)”, acredita. Para ela, falta ao país um amadurecimento para compreender a importância da atividade e da parceria público-privada para desenvolver a economia. “Não temos o DNA de formar líderes aqui no Brasil. E isso a parceria público-privada vem para facilitar”, disse.

Para Fernanda, os conselhos de desenvolvimento, a sociedade civil organizada e empresas e instituições fortalecidas podem interferir nas decisões municipais. “O prefeito não vai dizer não se houver esse alinhamento. Esse entendimento de que é isso que a sociedade quer”, afirmou.

O exemplo disso aconteceu na Região Trinacional do Iguassu. Centro do Mercosul, o destino está entre as fronteiras do Brasil, Argentina e Paraguai. No lado brasileiro, a Cidade de Foz do Iguaçu recebe, em média, quatro milhões de turistas por ano. Mas, em 2011, passou por um período de estagnação com a hotelaria defasada e degradada devido ao alto número de compradores que visitam o local para usufruir do comércio no Paraguai.

“As mudanças que deram a virada foi a gestão integrada no turismo. Porque estava todo mundo na lama, então tivemos que nos unir”, disse Fernanda. Com a criação do conselho de desenvolvimento, o local passou a contar com orçamento de R$ 2,5 milhões por ano de fundo privado. “A gente depende muito um do outro, e passamos a ser mais ativos nas decisões”, ensina.

*Indústria global

U$ 1,3 trilhão em exportação mundial vem do turismo

9%

do produto interno bruto global vem da atividade turística

6% do total de exportação dos países em desenvolvimento é baseado no turismo

1,8 bilhão de turistas irão viajar pelo mundo em 2030, segundo OMT

6 milhões de turistas é quanto o Brasil recebe por ano

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* Região trinacional

Foz do Iguaçu é a maior cidade com população de fronteira do Brasil

Fronteira do Brasil com Argentina e Paraguai. O destino é o centro geográfico do

Mercosul

72 etnias estão presentes na Região Trinacional do Iguassu

3º destino de turistas estrangeiros do Brasil

3ª cidade mais visitada no Brasil por turistas de negócios e eventos, atrás apenas do

Rio de Janeiro e São Paulo

30 mil leitos estão disponíveis na hotelaria de Foz do Iguaçu

Uma das 7 Maravilhas da Natureza atrativo binacional do Brasil e da Argentina

Melhor destino não capital na avaliação do estudo de competitividade

A presidente do Polo Iguassu e representante da Organização Mundial de Turismo (OMT), Fernanda Fedrigo, apresentou o exemplo da região trinacional do Iguassu, na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. No território brasileiro, a cidade de Foz do Iguaçu recebe mais de 4 milhões de turistas ao ano. “Mas essa é uma conta meia-boca, porque, de fato, a gente não sabe quantos turistas vão lá”, disparou. Para ela, a falta de dados que mensurem o turismo brasileiro é um dos maiores problemas. “No Brasil, a gente levanta os dados, mas não cruza e aí não sabemos a melhor forma de empacotar o nosso produto para vendê-lo melhor”, disse. Nesse ponto, ela explica, a OMT tem um papel fundamental de auxílio aos destinos turísticos.

“A OMT é uma grande biblioteca com todo tipo de informação e isso dá suporte às universidades”, conta. Fernanda afirmou que as universida-des brasileiras precisam ser mais participativas e os municípios precisam cobrar essa interação. “As universidades precisam sair do conforto de suas torres de marfim e olhar para o mercado”, argumentou.

Representante da OMT aponta desafios do turismo

317

Mais emprego

A faixa de esgoto deixa a paisagem feia de um jeito que nenhum efeito do Instagram pode resolver. Mais do que deixar os álbuns de viagem dos visitantes bonitos, investimento em saneamento básico, além de melhorar a qualidade de vida dos moradores, tem impacto direto no volume de recursos no turismo. Se houvesse a universalização do serviço para toda a população , os nove estados do Nordeste somariam mais 139.836 postos de trabalho com uma geração de R$ 1,3 bilhão, segundo o estudo do Instituto Trata Brasil e do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Na Bahia, segundo o levantamento, o incremento na geração de renda em turismo seria equivalente a R$ 357,64 milhões por ano. O estudo mostrou ainda que 38 mil novos empregos poderiam ser criados através da oferta de 100% de saneamento.

“Ninguém vai querer passear em um destino que seja conhecido pelo esgoto a céu aberto. O Brasil é atingido prejudicialmente pela falta de saneamento. Em casos de cidades litorâneas, o cidadão não vai levar a sua família para uma praia contaminada com esgoto”, alerta Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil.

A pesquisa identificou que o lançamento de esgoto sem tratamento ainda é o principal causador da poluição direta nos rios e praias nordestinas. “A falta de saneamento é preponderante para os turistas decidirem seus destinos de viagem. Isso acontece muito com o turista estrangeiro, que prioriza nas suas escolhas o conforto e a saúde”, explica Pedro Galvão, secretário do Turismo da Bahia.

Galvão destaca que, quando o turista, principalmente de lazer, sabe que a cidade não tem saneamento básico adequado, o destino tende a perder. “A presença de saneamento amplia diretamente o número de visitantes e, consequentemente, tem efeito multiplicador na geração de emprego e renda”.

Segundo o secretário, no caso da Baía de Todos os Santos, há um projeto para melhorar a qualidade de coleta e tratamento de resíduos sólidos nas 18 cidades que compõem a baía. “Isso vai funcionar como um mecanismo de atração ainda maior de turistas para esses destinos”, argumenta.

Para Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), turismo e saneamento estão diretamente relacionados. Ao analisar a situação nacional, o estudo prevê a criação de quase 500 mil novos empregos e mais de R$ 7 bilhões de renda adicional somente em turismo no país, mas, para isso, precisará universalizar os serviços de saneamento.

Bahia geraria R$ 357 milhões e 38 mil postos de trabalho em destinos que tivessem saneamento básico universalizado

Solução

318

Os novos postos de trabalho seriam gerados através da possibilidade de instalação de novos equipamentos turísticos e também da maior necessidade de mão de obra em atrativos que atualmente não estão em boas condições de saneamento e, consequentemente, de visitação para o turista.

“As áreas degradadas não apenas afastam os turistas, deixando de captar recursos, mas também deixam de fornecer empregos para a população local. Só em 2013, quase 140 mil empregos diretos deixaram de ser criados no Nordeste por falta de saneamento básico”, lembra.

Questionado sobre as relações do saneamento com o turismo, o Ministério do Turismo informou, em nota, que a reputação de um destino é uma fórmula construída sobre inúmeras referências, incluindo serviços essenciais, limpeza e o bom funcionamento geral da cidade e saneamento. Segundo o Ministério, o turismo de sol e praia precisa definir destino final para os resíduos sólidos para evitar a poluição das águas do mar, dos rios, lagos e lagoas, regiões especialmente procuradas por turistas.

*Prejuízo

7 bilhões de reais seriam gerados no Brasil se houvesse a oferta integral de saneamento básico

Fontes: CEBDS E INSTITUTO TRATA BRASIL COM Simulação com base em dados do IBGE. (*) A preços médios de 2013

Empregos em turismo e oportunidades da universalização

EstadoGeração de renda com a universalização (R$ em milhões)

Empregos que poderiam ser criados

São Paulo

63.709

1.215,49

Paraná

55.146

1.064,42Rio Grande do Sul

46.942

730,29

Santa Catarina

22.165

421,19

Bahia

38.261

357,64

Ceará

36.613

334,40

Goiás

21.915

319,58

Mato Grosso do Sul

15.377

263,02

Mato Grosso

12.536

212,80

Rio Grande do Norte

18.352

199,35

Rio de Janeiro

12.448

185,39

Espírito Santo

12.030

158,77

Pernambuco

13.508

157,05

Paraíba

17.300

145,79

Tocantins

5.835

71,08

Alagoas

3.896

45,69

Piauí

5.511

41,29

Amapá

2.247

38,40

Pará

3.749

39,36

Sergipe

3.459

30,50

Rondônia

1.790

24,00

Distrito Federal

1.191

20,81

Maranhão

2.936

20,76

Amazonas

1.299

16,27

Acre

767

12,35

Roraima

300

3,45

AC

AM

PA

MTRO

GODF

TO

MA

AP

RR

PI

BA

CE RN

PB

PE

AL

SE

MGES

RJ

SPMS

PR

SC

RS

*

Minas Gerais

80.600

1.075,47

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Fontes: CEBDS E INSTITUTO TRATA BRASIL COM Simulação com base em dados do IBGE. (*) A preços médios de 2013

Empregos em turismo e oportunidades da universalização

EstadoGeração de renda com a universalização (R$ em milhões)

Empregos que poderiam ser criados

São Paulo

63.709

1.215,49

Paraná

55.146

1.064,42Rio Grande do Sul

46.942

730,29

Santa Catarina

22.165

421,19

Bahia

38.261

357,64

Ceará

36.613

334,40

Goiás

21.915

319,58

Mato Grosso do Sul

15.377

263,02

Mato Grosso

12.536

212,80

Rio Grande do Norte

18.352

199,35

Rio de Janeiro

12.448

185,39

Espírito Santo

12.030

158,77

Pernambuco

13.508

157,05

Paraíba

17.300

145,79

Tocantins

5.835

71,08

Alagoas

3.896

45,69

Piauí

5.511

41,29

Amapá

2.247

38,40

Pará

3.749

39,36

Sergipe

3.459

30,50

Rondônia

1.790

24,00

Distrito Federal

1.191

20,81

Maranhão

2.936

20,76

Amazonas

1.299

16,27

Acre

767

12,35

Roraima

300

3,45

AC

AM

PA

MTRO

GODF

TO

MA

AP

RR

PI

BA

CE RN

PB

PE

AL

SE

MGES

RJ

SPMS

PR

SC

RS

*

Minas Gerais

80.600

1.075,47

MARINA GROSSI, presidente do CEBDS

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A taxa de expansão do emprego, se houvesse a universalização da rede de esgoto, seria maior na região Nordeste – principalmente na Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. É o que aponta levantamento do Instituto Trata Brasil e do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). A região Sudeste, contudo, ficaria com 36,7% da renda do turismo gerada devido a universalização.

O estado de São Paulo, por sua vez, teria o maior rendimento com a oferta de mais saneamento, com incremento econômico anual de R$ 1,2 bilhão. “O impacto no turismo atinge todos os setores desde o hotel ao comércio local. O esgoto jogado no mar traz um prejuízo grande para o setor turís-tico inteiro”, afirma Fernando Malta, assessor de relações institucionais do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Malta afirma que a universalização nacional traria crescimento ao PIB (Produto Interno Bruto) de mais de R$ 12 bilhões.

O Ministério do Turismo criou e mantém um índice de competitividade, que faz uma avaliação geral dos 65 destinos do desenvolvimento turístico regional. Uma das questões analisadas nesses destinos é o aspecto am-biental, que trata, dentre outras variáveis, da estrutura da rede pública de distribuição de água, da rede de coleta e tratamento de esgoto e da desti-nação pública de resíduos sólidos.

A média nacional, neste quesito, mostra que o índice apresentou uma melhora. Ele alcançou 67,7 pontos em 2013, sendo que em 2008 esse índice era de 58,9 pontos. “Esses dados mostram que estamos avançan-do nesse sentido, e que esse tem sido um foco de atenção para governos federal, estaduais e municipais para lidar com a situação”, disse o Mtur.

Impacto é maior em cidades do Nordeste

Índice mede competitividade dos destinos regionais

321

A vez do turismo comunitário

O Turismo de Base Comunitária ainda é uma forma de turismo sustentável que tem grande potencial de crescimento no Brasil e na Bahia. No caso, a sustentabilidade está mais ligada ao pilar social que ao ecológico, o viés mais comum do chamado turismo sustentável. Para que toda a potencialidade dessa atividade se realize, no entanto, é preciso ultrapassar vários desafios.

A análise é de Marianne Costa, diretora da Rede Mulher Empreendedora e sócia da empresa Raízes Desenvolvimento Sustentável. Ela e sua empresa desenvolvem projeto de turismo comunitário no Vale do Jequitinhonha, região mais pobre de Minas Gerais.

O principal desafio levantado por ela é o da comunicação. Primeiro para vender destinos de turismo comunitário no Brasil. E segundo para articular todas as experiências no ramo que já têm lugar no país. “Temos de nos unir. Sós, somos fracos”, lembra.

A especialista destacou também que o turismo comunitário “não resolve todos os problemas, nem deve ser a única fonte de renda de uma comunidade”. “Os grupos familiares devem contar com a soma dos benefícios de várias atividades”, completou.

Foto: Arisson Marinho

Marianne Costa conduz projeto de

turismo comunitário no Vale do

Jequitinhonha

- Comunidades, orga-nizações e empresas de negócios sociais e/ou sustentáveis já realizam ações para vencer os desafios do turismo comunitário no Brasil

- Um exemplo é a retomada do Projeto Bagagem, para mapear as experi-ências desse tipo de turismo em cursos em todo o país

- Esse trabalho tende a provocar uma articulação desses grupos, aumentando a visibilidade e a promoção desses destinos

Solução

322

O projeto nasceu com o objetivo de usar o artesanato para gerar renda para as mulheres do local. Em meio ao trabalho, resolveram retomar projeto anterior do governo estadual batizado de turismo solidário, mas que fora abandonado por quatro anos. “Famílias que ganham um salário mínimo construíram novos quartos, banheiros, para receber um visitante que nunca veio”, falou Marianne. “No projeto anterior, as reservas deveriam ser feitas por meio do próprio governo. Um aparelho de fax instalado na comunidade era chamado pelos moradores como central de reservas”, revelou, em entrevista dada após sua apresentação no Agenda Bahia.

O novo projeto retomou, então, a capacitação das famílias e investiu na divulgação da experiência do turismo comunitário. “Os primeiros grupos foram de nossos amigos, de Belo Horizonte e de São Paulo. Utilizamos nosso networking. Depois, foram os amigos dos amigos”, disse Marianne. Já são sete grupos de turistas recebidos pelas famílias do Vale do Jequitinhonha. O oitavo está programado para janeiro.

Na Bahia, já foram mapeadas 67 comunidades urbanas e rurais com algum grau de envolvimento com o turismo de base comunitária. Quem explica é o turismólogo e pesquisador Alberto Viana. “São comunidades urbanas, quilombolas, assentamentos agrários, comunidade de pescadores e indí-genas”, disse. Porém, desse total, cerca de 20 apenas recebem visitantes de forma periódica. “A maioria ainda está em uma fase de estudo de viabi-lidade para implantação da atividade”, revelou.

Em Salvador, existem quatro comunidades da periferia que já recebem visitantes. Entre elas, a do Calafate, na Avenida Barros Reis. Um grupo formado por mulheres organizou uma espécie de memorial do local, princi-pal atrativo para os visitantes.

Tem também o Platatour, na comunidade de Plataforma, onde se encontra o restaurante Boca de Galinha. Eles criaram um tour pela região que parte do restaurante e mostra as cooperativas, atividades de artesanato e ma-nifestações culturais.

Em Cachoeira, a 133 km de Salvador, tem a comunidade quilombola Rota da Liberdade, que recebe turistas com frequência. “Todo ano eles fazem a festa da ostra e a cada ano atraem mais visitantes”, afirmou. E na Chapada Diamantina os assentamentos agrários de Itaetê ganharam destaque. “Tem o Poço Azul, em Nova Redenção, que as pessoas fazem a flutuação no lago em uma caverna, e é todo gerido por uma família de agricultores familiares”, citou. Alberto Viana ainda destacou o assentamento Baixão, também na Chapada, que tem a trilha da Cachoeira Encantada.

Bahia tem 67 iniciativas de turismo comunitário

323

O Turismo de Base Comunitária é uma forma de se fazer turismo sus-tentável. Com foco no desenvolvimento social, ele gera trabalho e renda e fortalece as comunidades locais. O conceito foi explicado por Marianne Costa, diretora da Rede Mulher Empreendedora e sócia da Raízes Desenvolvimento Sustentável.

Sua empresa desenvolve um projeto de turismo comunitário no Vale do Jequitinhonha, região mais pobre de Minas Gerais. “Muitos desses turistas nunca desligavam o celular ou deixavam de consultar o Facebook. E per-ceberam que aquelas pessoas (do Vale do Jequitinhonha) vivem sem nada disso e são felizes”, relatou. “Isso leva os turistas a uma reflexão sobre o estilo de vida e até mesmo a mudar conceitos”, completou.

Para ela, o turismo comunitário oferece outras vantagens econômicas: agrega valor ao destino, diversifica as ofertas de atração, incrementa o fluxo de turistas, promove interação entre comunidade e turistas de forma sustentável, e atende a uma demanda crescente do chamado turismo de experiência.

No entanto, para atingir toda sua potencialidade, essa atividade precisa superar desafios, entre eles o de maior articulação entre as experiências que já acontecem em todo o Brasil e de maior promoção dessa forma de se viajar.

Foco no desenvolvimento social

324

Profissionalização

Como identificar o perfil do turista de acordo com o destino se no Brasil a maioria deles não dispõe de dados que mensuram a atividade? Essa foi a questão levantada pela presidente do Polo Iguassu e representante da Organização Mundial de Turismo (OMT), Fernanda Fedrigo, durante o segundo debate do último dia do Fórum Agenda Bahia.

Para Fernanda, é imprescindível que a atividade se profisionalize. A primeira tarefa é um estudo de impacto da atividade na economia. “Porque ninguém vai falar com a gente se não souber como nós [Turismo] impactamos na economia”, alertou. Fernanda participou com Ramiro Barbosa, do hotel Canto das Águas, e Marianne Costa, do Raízes Sustentáveis, do debate Um Novo Público para Destinos Sustentáveis: Como Conquistá-los, o último painel do Fórum Agenda Bahia 2014. O debate foi moderado por Linda Bezerra, editora de produção do jornal CORREIO.

A profissionalização da atividade turística também tem de alcançar hotéis e pousadas, na opinião de Ramiro Barbosa, gerente de Sustentabilidade do Hotel Canto das Águas, de Lençóis, o primeiro do Brasil a ser certificado como Sustentável pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Para Ramiro, é papel desses empreendimentos educar os hóspedes. E que essa educação tem de se dar pela informação bem cuidada.

Para Marianne Costa, diretora da Rede de Mulheres Empreendedoras e responsável por projeto de turismo comunitário no Vale do Jequitinhonha (MG), uma viagem pode ser uma experiência transformadora. “Turismo é educação. No caso do turismo de base comunitária, o turista sai da zona de conforto e muda ao retornar”, acredita.

Foto: Arisson Marinho

A editora do CORREIO Linda Bezerra fez a mediação do debate com Marianne, Fernanda e Ramiro

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Os debatedores concordaram que um dos pontos que devem ser melhorados é a divulgação dos destinos do país. Fernanda apontou que o Brasil recebe 6 milhões de turistas estrangeiros por ano, número bem abaixo do potencial turístico do país.

Segundo ela, pesquisa feita com turistas que vieram para a Copa mostra que o que mais gostaram foi do povo e da gastronomia. “Temos de embalar nossa capacidade de receber e vender o Brasil com base no brasileiro”, disse Marianne.

“No caso do turismo de base comunitária, o turista sai da zona de conforto e muda ao retornar”MARIANNE COSTA, diretora da Raízes Sustentáveis

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Equilíbrio das cidades

Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) André Coelho, o desenvolvimento sustentável é o futuro não só do turismo, mas do país.

“O Brasil ainda é um país que tem problemas sociais, que vive regido por questões de renda e esses dados impactam diretamente no turismo”, lembrou durante debate Turismo Sustentável e os Impactos para as Cidades, mediado por Joaquim Nery, empresário e colunista de Turismo do jornal CORREIO.

De acordo com André Coelho, o desenvolvimento turístico passa também pela reformulação dos destinos. “Estamos no melhor momento para enaltecer a sustentabilidade desses destinos”, sugere o professor da FGV.

O professor lembra que é preciso se adaptar às novas relações. “O problema não é do outro, é de todos nós. O consumo precisa ser reduzido, muitas práticas urbanas precisam ser restabelecidas. Quanto mais nos atenciparmos do ponto de vista de sustentabilidade turística, melhor será”, defende.

O secretário de Desenvolvimento, Cultura e Turismo de Salvador, Guilherme Bellintani, ressaltou que ações que preservem a cidade e estimulem a vinda dos turistas trazem melhorias para os moradores e os visitantes, criando um ciclo positivo de sustentabilidade. Quem também levanta a bandeira da sustentabilidade é a secretária de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito, Juliane Ferreira Salvadori.

Ela destaca que é fundamental dentro dos conceitos de sustentabilidade levar em consideração o engajamento e a participação da comunidade local dos destinos sustentáveis. “Quando se fala de sustentabilidade, temos que pensar nas pessoas que moram na cidade. Para isso realizamos dois festivais – o de Inverno e da Guaíra –, onde há tarifa reduzida para o bonitense, e também o Carnaval”, explica. Segundo a secretária, outro projeto com as escolas da cidade leva crianças para conhecer os atrativos da região e estimular o interesse pela preservação.

Foto: Evandro Veiga

Joaquim Nery, empresário e colunista do CORREIO, moderou o debate com Bellintani, Juliana e André

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Viagem sem barreiras

Por dois anos, o empresário José Fernandes Franco investiu na transformação do seu hotel, na cidade de Socorro (SP), em um espaço para receber turistas portadores de deficiência ou que tivessem dificuldade de locomoção. O investimento inicial - cerca de R$ 40 mil para adaptação de quartos - se juntou ao desenvolvimento de pesquisas e equipamentos que transformaram o hotel.

A adaptação aumentou o volume de visitantes dos empreendimentos de José: Hotel Fazenda Campo dos Sonhos e Hotel Parque dos Sonhos. “Desde que transformamos nossas instalações, aumentamos a ocupação dos hotéis de 60% para 90%”, diz. O reconhecimento veio também através de prêmios, com os títulos Best for People with 765’Disabilities (Melhor para Pessoas com Deficiência) e World Reponsible Tourism Award – Overall Winner (Prêmio de Turismo Responsável no Mundo) na World Travel Market (WTM) - maior feira de turismo do mundo.

“Foi surpreendente o número de pessoas com deficiência que passaram a visitar o hotel. As pessoas com deficiência, inclusive, quando viajam sempre estão acompanhadas de pelo menos mais três pessoas, o que aumentou a ocupação do hotel”, explica José, nesse mercado há 15 anos.

Em 2013, o hotel recebeu quatro mil hóspedes que eram portadores de algum tipo de deficiência, além de 30 mil que não tinham nenhuma limitação, sendo 50% do público oriundo da Grande São Paulo.

O local possui cadeira de apenas uma roda para fazer trilhas guiadas, além de cardápios e mapas em Braile, rampas de acesso e acomodações

O Brasil tem 45 milhões de pessoas com deficiência, porém, apenas dois hotéis são certificados para atender a esse público. Segundo o Ministério do Turismo, não há barreiras se houver adaptação: eles estão dispostos a viagens de 2 a 21 dias

Mercado inclusivo

Foto: Divulgação

Guia especializado ajuda hóspedes com dificuldade de locomoção

Foto: Divulgação

Áreas de lazer foram projetadas para receber até carrinhos de bebê

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adaptadas para atender idosos, pessoas com deficiência de todos os tipos e obesos. Há ainda apartamentos com canil para cães guias.

Desde 2012, os hotéis são os únicos empreendimentos do Brasil com certificação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), voltada à Acessibilidade em Meios de Hospedagem, e também a contar com suporte de equipes de emergência, fisioterapia e guias especiais.

“As pessoas com deficiência têm muita vontade de viajar, tempo e dinheiro para realizar seus passeios. É uma questão social, mas também empresarial. A acessibilidade não é só para pessoas com deficiência. Um carrinho de bebê tem os mesmos limites de uma cadeira de rodas”, ressalta.

Os hotéis de Socorro atendem a uma demanda imensa. “São mais de 45 milhões de brasileiros que possuem algum tipo de deficiência, de

“Desde que transformamos as nossas instalações, aumentamos a ocupação dos hotéis de 60% para 90%”JOSÉ FERNANDO FRANCO, do Hotel Campo dos Sonhos

Foto: Divulgação

Equipamentos foram desenvolvidos no

Hotel Fazenda Campo dos Sonhos: uma

cadeira especial permite que o turista possa curtir a piscina

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acordo com os dados do IBGE, e que muitas vezes não viajam por não ter a sua disposição informações sobre a acessibilidade dos destinos, empreendimentos e atrações turísticas”, explica o coordenador-geral de Programas de Incentivo a Viagens (CGPIV) do Ministério do Turismo, Vitor Iglezias Cid.

O Estudo de Perfil de Turistas - Pessoas com Deficiência, realizado pelo ministério e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, detectou comportamentos bem heterogêneos para as viagens.

“Há desde viagens rápidas: de 2 a 4 dias; viagens de uma semana e até viagens mais longas, de 15 a 21 dias. Vale destacar que, de acordo com o estudo, as pessoas com deficiência pesquisadas já possuem o hábito de viajar de uma a duas vezes ao ano. Ou seja, um empreendimento que apostar nesse público tem grandes chances de ter sua taxa de ocupação ampliada”, assegura.

Em Salvador, a maior dificuldade é no Centro Histórico, segundo explica Jaime Sanjurjo, proprietário do Hotel Don Juan, localizado ao lado da Praça Castro Alves. “Temos prédios que foram construídos em meados dos anos 30 e, por esse motivo, essas construções tiveram as suas fachadas tombadas pelo patrimônio histórico, o que impede alterações. E do ponto de vista externo, no Centro Histórico, por exemplo, as ruas são estreitas, as ladeiras muito íngremes e o pavimento de pedras, o que impede ambiente adequado para a locomoção dos cadeirantes”, diz.

Guilherme Bellintani, que comanda a Secretaria de Desenvolvimento Turismo e Cultura de Salvador há dois anos, reconhece que Salvador tem dificuldades em atender a esse público. “Há dificuldades claras. No Centro Histórico é muito difícil ter melhorias efetivas de acessibilidade para contemplar, por exemplo, um cadeirante. Acho que é possivel melhorar, mas sempre vai haver dificuldades por circunstâncias geográficas”.

Ele ressaltou que os projetos já executados pela gestão municipal nos últimos anos pensaram em atender as demandas das pessoas com deficiência através da instalação de passeios mais largos e pisos táteis. “A cidade tem avançado muito na acessibilidade, principalmente pela ampliação e reforma das calçadas e também na concepção de projetos da Barra e de São Tomé de Paripe que facilitam o acesso e circulação de pessoas”, argumenta.

Bellintani destaca, porém, a dificuldade de adaptação de monumentos mais antigos da cidade. “O Farol da Barra, por exemplo, é muito estreito e seria difícil adaptar para a passagem de uma cadeira de rodas”, agumenta.

330

Em outros lugares do mundo, países já adaptaram seus pontos turísticos para esse público, como o Cliffs of Moher, na Irlanda. No local, composto por falésias rochosas, a principal atração é caminhar pelas trilhas estreitas - difíceis mesmo para o mais hábil dos atletas. Mas parte do percurso foi adaptada com a instalação de rampas que facilitam o acesso de cadeiras de rodas, carrinhos de bebê e para grupos de idosos.

O coordenador-geral do CGPIV do Ministério do Turismo, Vitor Cid, informou que, através do programa Turismo Acessível , entre 2013 e 2014, foram realizados investimentos de cerca de R$ 100 milhões em pesquisas, obras de infraestrutura turística, ações promocionais, criação do site e aplicativo de turismo acessível e campanhas de sensibilização dos empreendimentos e atrações turísticas para adaptações. Além disso, foram estabelecidas metas para o setor até 2016.

Na Irlanda, acessibilidade até nas falésias

Foto: Divulgação

A charrete adaptada permite que

cadeirantes façam passeio por boa parte

das instalações da fazenda

331

Apesar do público em potencial, os operadores de turismo encontram dificuldades em formatar pacotes para atender a esse público na Bahia. O próprio secretário estadual de Turismo, Pedro Galvão, admite que o estado não está preparado para atender os deficientes, apesar do potencial desse mercado.

“No caso da Bahia, temos problemas de topografia irregular (com as ladeiras íngremes), passeios e prédios antigos que dificultam a adapta-ção para pessoas com deficiência ou com dificuldade de deslocamento”, diz Galvão. O secretário concorda que o investimento em acessibilidade poderia ser altamente lucrativo para o setor turístico. “Os aposentados, por exemplo, podem viajar em qualquer época do ano, inclusive na baixa temporada”, lembra.

Bahia não está preparada para atender a esse público

O Ministério do Turismo lançou uma versão portátil do Guia Turismo Acessível. A ferramenta leva a celulares e tablets um banco de dados com 530 mil estabelecimentos, que podem ser acessados e avaliados de qualquer lugar que tenha internet (turismoacessivel.gov.br). A proposta é ter retorno sobre a rede hoteleira do país

Acessibilidade conectada

METAS PARA O BRASIL

Fonte: Ministério do Turismo

Realizar uma campanha nacional para incentivar as pessoas com deficiência a utilizarem o portal eletrônico e o aplicativo.

Instituir instrumento normativo para regulamentar e estabelecer regras e condições a serem observadas pelos prestadores de serviços de transportes turísticos.

Disponibilizar e divulgar linhas de crédito à iniciativa privada, para adaptações e qualifica-ções de serviços de empreendimentos turísticos.

Aumentar para 5% o número de acomoda-ções acessíveis (quartos, apartamentos, etc.) nos meios de hospedagem das 12 cidades-sede da Copa do Mundo e seus entornos.

Preparar 8 mil profissionais do turismo para bem atender a pessoas com deficiên-cia ou mobilidade reduzida.

Implantar um guia de turismo acessível colaborativo, por meio de um portal eletrônico e um aplicativo para telefones móveis, com informações acerca da acessibili-dade de empreendimentos e atrativos turísticos de destinos brasileiros.

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Toda a cidade ganha

O turismo pode ser a mais sustentável entre as atividades econômicas, gera emprego e renda sem impactar o meio ambiente. Esta sustentabilidade, porém, depende tanto do poder público quanto de empresas, empreendimentos e dos próprios turistas. De nada vale um hotel reutilizar água se o hóspede deixa o chuveiro ligado enquanto está na pia escovando os dentes. Vale menos ainda uma prefeitura limpar a areia da praia se o visitante jogar sacos e embalagens no mar ou na areia.

A boa notícia é que a disseminação de preocupações com o futuro do planeta aumenta as exigências de um turista cada vez mais sustentável. E, para não perder clientes, hotéis já adotam práticas de responsabilidade social e ambiental, beneficiando comunidades do entorno e, por conseguinte, o planeta.

Engana-se quem imagina que boas práticas ecológicas e sociais só são adotadas em hotéis e destinos do chamado ecoturismo, onde os principais atrativos são praias, rios, cachoeiras, florestas. Elas são cada vez mais demandadas em empreendimentos urbanos, estando presentes, inclusive, na rede hoteleira de Salvador.

Exemplo disso é o Hotel São Salvador, localizado no Stiep, perto da Avenida Tancredo Neves, o que já revela que o foco do empreendimento é o visitante de negócios.

Foto: Evandro Veiga

Placas solares do São Salvador (antigo Matiz), no Stiep, reduzem

gastos com energia. Hotel também tem horta e reaproveita

água da chuva

A preocupação com a sustentabilidade tem levado hotéis de vários perfis a adotarem boas práticas ecológicas e sociais, ampliando o impacto positivo da atividade econômica e beneficando comuni-dades no entorno dos empreendimentos

Benefícios ampliados

333

O empreendimento adota várias práticas sustentáveis. Entre elas, uma política de recursos humanos que valoriza a mão de obra local e oferece cursos de treinamento para colaboradores e também uma política de compras que privilegia fornecedores da própria cidade, ajudando a girar a economia local. Jemerson Clemência, 23 anos, e Alice Braga, 29, são exemplos da política de RH, explicada pelo gerente-geral, Guntfried Schwarz. “Damos preferência ao trabalhador baiano, acho que atualmente o único não baiano sou eu”, conta.

Alice e Jamerson ingressaram na empresa na fase de inauguração, em 2001. Ela acumulava experiência na área de Compras. Ele nunca havia tido a oportunidade de um emprego formal. Alice, já no início de 2013, foi promovida a coordenadora. Quase um ano depois, outra promoção. Hoje, em uma área totalmente nova para ela, é a supervisora de Alimentos e Bebidas e é responsável por cuidar de estoques e chefiar uma equipe de 50 subordinados. “Aproveitei as oportunidades de crescimento dadas pela empresa”, observa.

Jemerson começou como mensageiro (carregador de bagagens). Em seguida virou auxiliar de recepção e hoje atua como auxiliar de reservas. Morador de Ondina e estudante de Contabilidade, diz que um dos fatores que o levam a permanecer na empresa é a política de Recursos Humanos, que dá ao hotel um ambiente de trabalho leve e amigável. “Eles empregam muita gente dos bairros próximos, o que facilita a interação dos colegas. Acho legal também a atenção dada à questão étnica. Tem negros na Recepção”, destaca Jemerson.

Já a política de compras injeta recursos na economia soteropolitana. “90% de nossos fornecedores são locais. Acho que só a compra de xampus e de enxovais é com empresas de São Paulo”, assegura o gerente-geral. “O pescado compramos de pescadores locais. Evidentemente que com a homologação de nossas nutricionistas. Os uniformes, incluindo sapatos, são comprados em empresas daqui. Também são de Salvador as companhias que fazem a manutenção desse mesmo vestuário”, completa.

As práticas tradicionais de sustentabilidade também estão presentes. O gerente geral lembra que a construção do empreendimento ficou em torno de 30%

Foto: Divulgação

Tivoli, na Praia do Forte: educação ambiental e mão de obra local

Foto: Divulgação

A arquitetura do resort está integrada à características da região

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mais cara com a adoção de sistemas e materiais ecologicamente corretos. Mas que esse investimento deu retorno em aproximadamente oito meses. “Valeu a pena. Temos 304 apartamentos, 150 colaboradores e nossa conta de luz é da ordem de R$ 35 mil. Tem hotéis com metade dos quartos e com conta de energia que é o dobro”, observa.

A economia de energia é garantida por vários fatores. A arquitetura aproveita a iluminação natural. Há sensores de presença em todos os locais. O São Salvador também usa geradores a diesel no horário de pico (17h50 às 21h10), quando o custo da energia é mais cara. “Nossos geradores não poluem. São baseados em uma nova tecnologia, no uso de diesel ecológico, que gera vapor e não fumaça de gás carbônico”, garante o gerente.

O empreendimento tem também horta e serviço de segregação de resíduos sólidos e de coleta seletiva próprios. O hotel praticamente não utiliza água da Embasa, pois usa dois poços artesianos e recolhe água da chuva. Essa água é tratada em uma estação localizada no subsolo. Potável após a primeira fase de tratamento, a água é canalizada para pias e chuveiros. Em seguida, a água dos banhos e das lavagens de mãos é coletada para um segundo tratamento e é dirigida aos vasos sanitários.

Economia de água e energia e valorização da comunidade local são a base de qualquer empreendimento sustentável. Até por isso, a pousada Âmbar, na Barra, abraçou fortemente outro princípio: o trabalho em rede. É uma forma, segundo explica o gerente, Nelson Vilaronga, de ampliar o impacto social do turismo.

“Damos preferência ao trabalhador baiano. E 90% de fornecedores são locais”JAMERSON CLAMÊNCIA, auxiliar de reservas, Hotel São Salvador

Foto: Divulgação

Pousada Âmbar, na Barra, fez reforma

baseada no trabalho em rede

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Na Âmbar, a reforma do prédio foi tocada por uma rede de microempreendedores de diversos setores. O trabalho de arquitetos, decoradores, chefs, relações públicas, etc., será recompensado pela visibilidade da pousada e pela continuidade da própria rede.

Vilaronga conta que a Âmbar, após as obras, ganhou uma pequena galeria para a exibição e venda de obras de artistas locais. “Recebemos turistas de todo o mundo e os artistas baianos terão a chance de alcançar novos públicos”, fala. “Trata-se de um raciocínio solidário, uma equipe virtual que reúne talento e vocação e oferece mais democracia a toda a cadeia. Promovemos trocas compensatórias”, diz.

No turismo de natureza, ou ecoturismo, quando a beleza natural é o principal atrativo do destino, ações socioambientais sustentáveis são ainda mais rele-vantes. E podem ser adotadas independentemente do tamanho do empre-endimento, se por um grande resort ou pequena pousada. No Sítio do Conde, entre as dunas que cercam o local, foi construída a Apoena Ecopousada. É um empreendimento de apenas oito bangalôs. Ainda assim, assumiu o compro-misso com o meio ambiente e com o bem-estar da comunidade do entorno.

Toda a arquitetura foi feita respeitando as características do lugar. A pouca vegetação nativa que teve de ser removida foi replantada. O empreendimen-to também reutiliza os resíduos orgânicos como adubo. A água utilizada é de poço artesiano. E parte da energia consumida é solar. Os oito colaboradores da pousada são nativos do Conde que, mais que treinados, foram educados pela pousada.

“Alguns deles sequer sabiam ler e escrever o próprio nome”, falou Neli Beatriz de Almeida Moretti, administradora da pousada. Assim como a mão de obra, os fornecedores também são todos locais.

“Compramos muitas frutas”, diz a administradora. A pousada ainda contribui com projetos sociais da região. É em parceria com outro hotel do local que a proprietária de um terreno na área urbana da cidade (Conde), cedido para uma ONG, ministra atividades extraescolares para as crianças da região. “Queremos educá-las e mantê-las o máximo possível afastadas das ruas e do tráfico”, justifica a gerente.

Outra prática importante é a de conscientizar os hóspedes sobre a impor-tância da conservação ambiental. “Fazemos esta orientação. Os hóspedes respondem bem”, diz.

Educação ambiental de hóspedes e colaboradores também é apontada como diferencial pelo Tivoli de Praia do Forte, um dos mais famosos resorts da Bahia.

Hotéis apostam na educação ambiental

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O diretor João Eça acredita que a sensibilização feita com hóspedes e tra-balhadores é um caminho para levar as preocupações com sustentabilidade para fora do empreendimento, pois tendem a ser adotadas nas residências dos turistas e dos colaboradores, o que provoca um importante impacto na comunidade.

Ele conta que o Tivoli expõe em painéis espalhados em diversos espaços as espécies da fauna e flora da região. Outra medida são as aulas sobre o meio ambiente dadas no Clube das Crianças. Eça destaca ainda o apoio dado pelo resort a projetos sociais. “Acho interessante os projetos de inclusão digital e o de horta nas escolas. São projetos concretos e cujo crescimento podemos acompanhar”, fala.

O resort também dá oportunidade de estágio para adolescentes da região. “Fazemos isso porque sabemos que de nada adianta ficar isolado. O hotel ganha quando desenvolve a qualidade de vida das comunidades do entorno, pois melhora a qualidade dos serviços ao turista. Traz benefício ao hotel, mesmo que intangível”, avalia.

*Olho neles

Segundo o site Ecohospedagem, um hotel sustentável é caracterizado pela adoção de várias ações e medidas. Entre as principais: condutas contrárias à exploração sexual, uso de equipamentos economizadores de água e energia, reutilização de toalhas e roupas de cama, controle de uso de energia por cartões-chave, reciclagem de lixo, compostagem de resíduos orgânicos, captação de água da chuva, abertura para receber reclamações e sugestões dos hóspedes, preferência dada à culinária local, contribuição frequente a alguma ONG e possuir estrutura adequada para receber hóspedes com deficiência.

A lista completa de itens que fazem de um empreendimento hoteleiro sustentável ou não pode ser conferida no site (ecohospedage.com).

O portal também apresenta lista desses hotéis por região e estado do país. Essa listagem, contudo, é feita pelos próprios hotéis, sem um trabalho efetivo de checagem por parte da equipe do portal.

Como reconhecer um hotel sustentável?

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Esses são certificados

O turismo é uma atividade econômica que tem como matéria-prima os patrimônios natural e cultural. Dessa forma, é imprescindível para o desenvolvimento do setor uma preocupação com a sustentabilidade. Apesar disso, no Brasil, ainda não há uma legislação que regule o turismo sustentável. Uma das poucas regras diz respeito aos hotéis: a Associação Brasileira de Normas Técnicas criou, em 2006, a ABNT NBR 15401 para meios de hospedagem.

O sistema exige uma gestão sustentável dos empreendimentos para que consigam manter um desenvolvimento ecológico, econômico e social. Aqueles que utilizam as regras da ABNT recebem um certificado que atesta a postura sustentável da hospedaria.

A norma é fruto do Programa de Certificação de Turismo Sustentável (PCTS), realizado pelo Ministério do Turismo, em parceria com o Instituto de Hospitalidade, de 2002 a 2007. O projeto começou a implementar novas práticas em hotéis brasileiros e previa alcançar 400 empreendimentos no país. Mas, até agora, sete anos depois, apenas dez empreendimentos brasileiros são certificados.

Foto: Divulgação

O Hotel Canto das Águas, em Lençóis, foi o primeiro a ser certificado pela norma da ABNT NBR 15401 para meios de hospedagem

Apesar de ter sido criada em 2007, norma da ABNT ainda não ganhou maior adesão do setor. Quem segue a nova cartilha comemora o retorno financeiro, a atração de clientes e a preservação do meio ambiente, fundamentais para continuidade do negócio

Novos rumos

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“A norma da ABNT é resultado do PCTS, que começou a levar as práticas para os hotéis e, hoje, quase todos os hotéis que obtiveram o certificado da ABNT já participavam do programa”, revela Alexandre Garrido, coordenador da Comissão de Estudo de Gestão da Sustentabilidade em Meios de Hospedagem da ABNT.

O primeiro a conquistar a certificação foi o Hotel Pousada Canto das Águas, em Lençóis, a 414 km de Salvador. O empreendimento, fundado em 1986, já tinha uma postura ecológica. “O hotel já foi construído pensando nisso. Foi projetado para aproveitar a iluminação natural, houve muito cuidado para que ele não afetasse o rio que passa ao lado, tudo isso sem a intenção de conseguir nenhum certificado”, explica Ramiro Barbosa, responsável pelo sistema de gestão do hotel. Ramiro foi um dos palestrantes do seminário Turismo Sustentável, do Fórum Agenda Bahia 2014.

Mas foi preciso fazer novas adaptações que adequassem o ambiente e a estrutura da hospedagem aos requisitos exigidos pela Norma. “Mesmo o hotel já tendo sido construído considerando os aspectos naturais, ocorreram algumas mudanças significativas, como o sistema de ar-condicionado, que foi substituído por outro de menor consumo, a iluminação também foi trocada e instalados sensores de presença para economia de energia”, afirma Ramiro.

Além do Canto das Águas, os outros hotéis certificados são: Hotel Lençóis, também em Lençóis (BA); Hotel Ville La Plage, em Búzios (RJ); Mabu Resort, em Foz do Iguaçu (PR); Spa Don Ramon, Hotel Pousada Encantos da Terra e Pousada Blumenberg, em Canela (RS); Summerville Beach Resort e Mar Hotel, em Recife (PE).

“A norma é a maneira de gerenciar o negócio com foco na sustentabilidade. Um hotel precisa ter uma declaração das premissas e interesses com relação a sustentabilidade nas suas três dimensões: seja ambientalmente

Fotos: Divulgação

Foto 1: O Hotel Ville La Plage, em Búzios, ganhou prêmio seguindo a norma

Foto 2: O Spa Don Ramon, no Rio Grande do Sul, maximizou seus resultados

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responsável, socialmente justo e economicamente viável”, descreve Alexandre Garrido.

Entre as práticas estão a eficiência energética, seleção e uso de insumos, aproveitamento da vegetação nativa, atenção à saúde e segurança dos clientes e dos trabalhadores, estimular atividades complementares para os trabalhadores, se engajar em iniciativas voluntárias para contribuir com o desenvolvimento das comunidades locais, promover a divulgação da cultura local, criar políticas de formação de preços e estratégias de promoção.

A diretora do Hotel Ville La Plage, Beatriz Muniz, destaca que o foco da norma é na gestão do negócio e que isso é importante para que pequenas empresas possam se organizar e ter os seus setores interligados. “Graças a esta organização, no ano de 2010, o Ville La Plage ganhou o prêmio MPE Brasil, etapa estado do Rio de Janeiro, no setor turístico”, conta Beatriz.

Os prêmios são um reconhecimento de boas práticas no setor. No caso do Spa Don Ramon, o empreendimento controlou e diminuiu o centro de custos e aumentou a produtividade. “A importância da norma é o resultado obtido, pois neste sistema de gestão desenvolvido trabalhamos com a premissa de melhoria contínua, em todos os níveis da empresa”, pondera o gerente do hotel, Vicente Atz.

E os clientes percebem isso. Para Mario Dias, gerente geral do Mabu Resort, os clientes são prioridade. “Temos um retorno real de imagem e econômico-financeiro. E os clientes priorizam isso, principalmente os clientes corporativos e os organizadores de evento”, afirma.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Enrico Fermi, concorda. Segundo ele, os últimos acontecimentos fizeram com que os hóspedes pensassem mais no tipo de serviço que estão consumindo. “Com esses apagões, falta de água, eles estão sentindo na pele a importância da sustentabilidade e se preocupando em escolher hotéis que oferecem isso como um diferencial”, diz.

“Temos um retorno de imagem e também da parte financeira do hotel”MARIO DIAS, gerente Mabu Resort

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A norma orienta que os hotéis planejem e implementem medidas para minimizar o consumo de energia, principalmente as fontes não renováveis. E ainda recomenda o uso de fontes renováveis, como o painel solar fotovoltaico

O empreendimento deve incentivar a venda de artesanato e produtos típicos da região, produzidos por pessoas das comunidades locais, promovendo a interação entre o cliente e o artesão

O hotel deve utilizar, preferencialmente, produtos frescos e, se possível, insumos de produção orgânica, respeitando a disponibilidade sazonal dos ingredientes, para não ameaçar a flora e a fauna

Recomenda-se iniciativas de treinamento no local de trabalho e outras ações que encorajem o aprendizado continuado dos funcionários do empreendimento

A arquitetura do hotel precisa ser integrada à paisagem local, minimizando os impactos durante a construção e a operação do empreendimento hoteleiro

Planejar e implementar as suas atividades e a oferta de serviços, levando em conta a viabilidade econômica no longo prazo do empreendimento

* Mudanças de hábito

Eficiência energética

Estímulo da cultura local

Alimentos naturais

Capacitação

Arquitetura integrada

Viabilidade econômica

Foto: Monique Lôbo

O Hotel Canto das Águas, na Bahia, usa painéis solares fotovoltaicos

Foto: Monique Lôbo

A decoração do Canto das Águas é uma vitrine do

artesanato local

Foto: Divulgação

O Hotel Ville La Plage mantém uma horta orgânica nas instalações

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É preciso planejar e implementar medidas para reduzir, reutilizar ou reciclar os resíduos sólidos. Buscar metas, de acordo com as condições locais, incluindo os resíduos gerados pelos clientes

É recomendável ao meio de hospedagem planejar e implementar produtos e serviços considerando o perfil e as expectativas dos clientes

Gestão de resíduos

Satisfação do cliente

Foto: Divulgação

O Ville La Plage faz um mutirão de limpeza da praia de João Fernandes

*Cinco passos para os hotéis

se certificarem

Conhecer a norma NBR 15401 Acessar e adquirir a norma, através do site www.abnt.

org.br. Para micro e pequenas empresas, após um breve cadastro, a norma pode ser

visualizada e comprada com desconto no endereço portalmpe.abnt.org.br.

Realizar diagnóstico Comparar as práticas sustentáveis adotadas e a gestão do

negócio com a norma NBR 15401. Isto pode ser feito avaliando o cumprimento de cada

requisito da norma.

Implementar a Gestão da Sustentabilidade no negócio Adotar as boas práticas de sus-

tentabilidade necessárias, conforme identificado no diagnóstico, e investir na gestão.

Isto pode ser feito por conta própria ou com o apoio de uma empresa de consultoria

especializada. Além disso há um Guia da ABNT-Sebrae de orientação para a implemen-

tação da norma, que pode ser baixado no site portalmpe.abnt.org.br/guias.

Buscar a certificação Quando julgar que a gestão de sustentabilidade foi implementada

e está gerando resultados para o negócio, a hospedaria pode solicitar a certificação na

Associação de Normas Técnicas. Atualmente, existem três organizações de certifi-

cação, avaliados pelo Inmetro: ABNT, Instituto Falcão Bauer da Qualidade e Fundação

Carlos Alberto Vanzolini.

O processo de certificação envolve a análise da documentação do sistema de gestão

e a realização de auditoria nas instalações do meio de hospedagem. A equipe de au-

ditoria irá avaliar se todos os requisitos da NBR 15401 são atendidos e, caso isso seja

confirmado, a certificação é concedida por um período de três anos, onde anualmente

são realizadas auditorias de manutenção. Caso o hotel não esteja cumprindo todos os

requisitos será acordado um prazo para que isso seja realizado. Após os três anos de

validade do certificado o processo se reinicia.

Divulgação A partir da certificação, o meio de hospedagem deve divulgar que é um

negócio sustentável. Hoje, além dos inúmeros benefícios diretos para a gestão do

negócio, ser reconhecido como sustentável representa um diferencial competitivo.

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Passeio ambiental

Estimular o aprendizado socioambiental de forma lúdica. Esse é o objetivo da Estação Ambiental Braskem (EAB) - área de 66 hectares com 750 metros quadrados de espaço construído - no município de Mata de São João. O empreendimento virou centro de atração de turistas e visitantes interessados em conhecer aplicações da sustentabilidade no Litoral Norte da Bahia.

A EAB integra o Programa de Educação Ambiental do Eco Parque Sauipe. O Parque é gerido pelo Instituto Fábrica de Florestas (IFF), que tem a Braskem como uma de suas mantenedoras junto com Cetrel e Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic).

“Todas as atividades do Instituto Fábrica de Florestas têm essa dimensão educativa e buscam informar e sensibilizar pessoas para a temática ambiental e para o seu engajamento em ações sustentáveis”, explica Álvaro Oyama, diretor executivo do IFF.

Para Emmanuel Lacerda, gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia, empresa que é a maior produtora de resinas termoplásticas das Américas, o local é um espaço de comunicação, experiência e aprendizado

Foto: Vaner Casaes e Ulisses Dumas /

Agência Bapres/ divulgação

Estação Ambiental Braskem recebe turistas e visitantes de cidades próximas, como estudantes, que são guidos por uma equipe multidisciplinar

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socioambiental. “Ele resume, de maneira didática e lúdica, a nossa crença de que o plástico e a química tornam a vida das pessoas melhor”, ressalta Lacerda.

O gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia destaca que o equipamento foi construído para atender prioritariamente as escolas públicas das comunidades vizinhas ao Polo Industrial de Camaçari, que é o maior complexo industrial do Hemisfério Sul.

“Mas, diante da grande demanda por visitas ao Parque, a Estação deverá receber mais de sete mil pessoas somente este ano, incluindo escolas particulares, universidades e grupos de comunidades da Região Metropolitana de Salvador como, por exemplo, Camaçari, Dias D’Ávila, Mata de São João e Simões Filho”, informa Lacerda.

Para fazer jus à sustentabilidade, o parque não dispõe de ar-condicionado. A estrutura física foi planejada privilegiando a ventilação natural do local. A iniciativa aumenta a eficiência energética da estação. “Como as visitações acontecem até as 16h e esse horário ainda está claro, não é necessário o consumo de energia para a iluminação dos espaços”, indica Emmanuel Lacerda.

O único consumo de energia de toda a estação é manter dez televisores ligados das 9h às 16h e alguns acionamentos elétricos para a movimentação de módulos interativos. “Além disso, o uso de LED contribui para um baixo consumo de energia”, diz Lacerda.

Foto: Vaner Casaes e Ulisses Dumas /

Agência Bapres/ divulgação

Estrutura da Estação Ambiental integra

o Programa de Educação Ambiental

do Eco Parque Sauipe

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O espaço da estação é distribuído em três módulos diferentes, mas todos com foco na interatividade do visitante com os aspectos que envolvem a sustentabilidade. O primeiro, Espaço Braskem, é dedicado às aplicações e ciclo do plástico e à sustentabilidade, com destaque para o PE verde, resina plástica da Braskem produzida a partir do etanol de cana-de-açúcar, uma matéria-prima 100% renovável, que contribui para a captura de CO2 no seu processo produtivo.

“Para ajudar os consumidores a identificar os produtos e embalagens plásticas feitas com esse plástico verde, foi criado o selo I’m Green™ (Eu sou verde, em inglês). Nesse ambiente, o público encontra informações audiovisuais em painéis com uso de LED e em dispositivo interativo”, diz.

O segundo módulo da estação é o Espaço Interativo da Sustentabilidade, composto por ambientes que representam partes de uma casa, como sala, banheiro e cozinha. “Os visitantes passam por um percurso, onde são demonstradas diversas atividades do dia a dia, como elas acontecem e quais são as soluções que podem ser aplicadas para que o uso de recursos naturais seja mais consciente”, destaca.

Já o terceiro e último módulo é o Viveiro Escola, onde os alunos visitantes recebem informações sobre botânica, de produção e plantio de mudas nativas da Mata Atlântica e conservação das florestas.

A EBA conta com uma equipe multidisciplinar formada por biólogos, técnicos ambientais e viveiristas do Parque Sauipe que guiam os visitantes pelo espaço. No total, sete profissionais trabalham na estação. Quem tiver interesse em visitar a estação pode agendar visitas pelo telefone (71) 8117-3656 ou pelo e-mail: [email protected].

“As atividades têm a dimensão educativa e buscam informar e sensibilizar as pessoas para a temática ambiental ”EMMANUEL LACERDA, Relações Institucionais da Braskem

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