livro cooperativa

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    PPoollttiiccaa IInnssttiittuucciioonnaall ddee

    MMoonniittoorraammeennttooddaa AAuuttooggeessttoo ddaass

    CCooooppeerraattiivvaassddoo EEssttaaddoo ddee SSoo PPaauulloo::Uma Proposta de Metodologia, Pesquisa e Manual de Implantao.

    Apoio:

    FFAAPPEESSPP

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    i

    PPPooollltttiiicccaaa IIInnnssstttiiitttuuuccciiiooonnnaaallldddeee MMMooonnniiitttooorrraaammmeeennntttooo dddaaa AAAuuutttooogggeeessstttooo dddaaasssCCCoooooopppeeerrraaatttiiivvvaaasss dddooo EEEssstttaaadddooo dddeee SSSooo PPPaaauuulllooo:::

    UUUmmmaaa PPPrrrooopppooossstttaaa dddeee MMMeeetttooodddooolllooogggiiiaaa,,, PPPeeesssqqquuuiiisssaaa eee MMMaaannnuuuaaalll dddeee IIImmmppplllaaannntttaaaooo...

    Projeto de Pesquisa de Professores da

    Universidade de So PauloFaculdade de Economia Administrao e ContabilidadeCampus de Ribeiro Preto

    Instituio Parceira e Executora

    Organizao das Cooperativas do Estado de So Paulo - OCESPServio Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo - SESCOOP

    Financiamento e IncentivoFundao de Amparo da Pesquisa do Estado de So Paulo FAPESP

    Projeto de Polticas Pblicas

    EEqquuiippee EExxeeccuuttoorraa::

    CCoooorrddeennaaddoorr ddoo PPrroojjeettooPPrrooff.. DDrr.. SSiiggiissmmuunnddooBBiiaalloosskkoorrsskkiiNNeettooDDeeppttoo.. EEccoonnoommiiaaFFEEAA--RRPPPPrrooffeessssoorreess CCoollaabboorraaddoorreessPPrrooff.. DDrr.. MMaarrcceellooNNaaggaannooDDeeppttooCCoonnttaabbiilliiddaaddee--FFEEAA--RRPPPPrrooff.. DDrr.. FFeerrnnaannddooddeeAAllmmeeiiddaaDDeeppttoo.. AAddmmiinniissttrraaoo--FFEEAA--RRPP

    CCoooorrddeennaaddoorr ppeellaa IInnssttiittuuiioo PPaarrcceeiirraaEEccoonnoommiissttaaMMaarrccooAAuurrlliiooFFuucchhiiddaaSSuuppeerriinntteennddeennttee--OOCCEESSPPEExxeeccuuttoorreess ppeellaa IInnssttiittuuiioo PPaarrcceeiirraaEEnngg.. AAggrroo.. DDaavviidd RRooggrriiooddeeMMoouurraaCCoossttaa-- AAsssseessssoorriiaattccnniiccaa--OOCCEESSPPEEnngg.. AAggrroo.. TThhoommaazzFFrroonnzzaagglliiaaAAsssseessssoorriiaattccnniiccaa--OOCCEESSPP

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    Sumrio

    Introduo

    Cooperativas: Ambiente Institucional no Brasil e a Importncia doMonitoramento para uma Nova Gerao de EmpreendimentosCooperativados:........................................Sigismundo Bialoskorski Neto

    Parte ICooperativas e Monitoramento

    1.Apresentao

    2.Introduo2.1. O cooperativismo2.2. Os ramos do cooperativismo no Brasil2.3. As entidades de representao

    2.3.1. Servio Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo2.4. O monitoramento e as polticas pblicas

    3.Panorama do cooperativismo3.1. Diagnstico das cooperativas no Estado de So Paulo3.2. Descrio do ambiente institucional dos ramos

    4. Proposta de um programa de monitoramento4.1. Anlise de ndices e questionrios

    4.1.2.Medidas de importncia econmica e social4.1.3. Medidas de importncia financeira

    4.2. Atividades de monitoramento4.2.1. Funcionamento na OCESP4.2.2 Projeto bsico programado

    4.2.2.1 Diagnstico do cooperativismo paulista4.2.2.2 Implementao do sistema de monitoramento4.2.2.3 Programa de educao e treinamento

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    Parte IIImplementao e Pesquisa

    1.Apresentao

    2. Implantao do projeto piloto na OCESP

    2.1. Projeto piloto2.2. Amostragem2.3. Banco de dados

    3. Monitoramento e a metodologia de aplicao das Redes Neurais

    3.1. Definio do projeto3.1.1. Implementao de RNAs em anlises de riscos3.1.2. Implementaes de RNAs em previses financeiras

    3.2. Rede Neural artificial3.2.1. Breve histria3.2.2. Ciclo de vida de uma Rede Neural3.2.3. Estrutura da Rede Neural artificial3.2.4. O neurnio artificial (micro-estrutura)3.2.5. Arquitetura e dinmica (meso-estrutura)

    3.2.5.1. Entradas e sadas3.2.5.2. Treinamento3.2.5.3. O algoritmo de aprendizado

    3.2.6. Paradigma de aprendizado3.2.7. Modelagem das Redes Neurais (macro-estrutura)3.2.8. Porque usar Rede Neural artificial

    3.3. Metodologia

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    4. Monitoramento e impactos das variveis macro e micro econmicas

    4.1. O Capital Social4.2. Definio da anlise

    4.2.1 Variveis macroeconmicas4.2.2 Influncias das organizaes cooperativas na economia

    4.3. Ambiente institucional macroeconmico4.3.1 Taxa de juros

    4.3.2 Nvel de emprego4.3.3 Nvel de preos4.3.4 Taxa de cmbio4.3.5 Comportamento do salrio real mdio4.3.6 Tributao

    4.4. Consideraes finais

    5. Monitoramento e as variveis financeiras e scio-econmicas

    5.1. Sistema de acompanhamento de cooperativas SAC

    5.2. Adequao da estrutura contbil5.3. Medidas de importncia econmica-financeira5.4. Educao e treinamento5.5. Anlise dos resultados

    6. Referncias bibliogrficas

    Anexos

    1- Questionrio de Monitoramento

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    IInnttrroodduuoo

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    Cooperativas: Ambiente Institucional no Brasil e a Importncia do

    Monitoramento para uma Nova Gerao de Empreendimentos

    Cooperativados1

    Sigismundo Bialoskorski Neto2

    1. Apresentao

    Este documento apresenta os temas da Gesto e doMonitoramento da Empresa Cooperativa como uma sntese das

    discusses ocorridas no Sistema Cooperativista Brasileiro nos ltimos

    anos, tendo por base o X e o XI Congressos Brasileiros de

    Cooperativismo.

    O processo de abertura da economia traz para o cooperativismo

    novos desafios econmicos e estruturais, necessrio adaptar e

    modernizar a sua gesto, como tambm, urgente consolidar oempreendimento e o movimento cooperativista para se fazer frente aos

    problemas sociais destes novos tempos da economia.

    Isto somente ser alcanado por meio um empreendimento

    cooperativista forte, em nvel nacional e internacional dado que o processo

    de desenvolvimento aliado as recentes modificaes no ambiente de

    negcios fazem com que a empresa cooperativa e o cooperativismo

    estejam em uma delicada fase de sua histria econmica.

    Assim, destacam-se quatro momentos importantes. O primeiro o

    X Congresso Brasileiro de Cooperativismo, em 1988, onde foi discutida e

    1Texto ampliado do documento adaptado Moderno Gerenciamento de Cooperativas, discutido

    pelo sistema cooperativista durante o XI Congresso Brasileiro de Cooperativismo.2Professor Doutor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administrao e

    Contabilidade da Universidade de So Paulo campus de Ribeiro Preto e pesquisador do

    PENSA - Programa de Estudos dos negcios do Sistema Agroindustrial. e-mail [email protected]

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    determinada a questo da autogesto do sistema cooperativista. Este

    momento importante, pois a partir deste e da promulgao da

    Constituio, o sistema cooperativista brasileiro no vai mais depender da

    ao e da interveno do Estado em seu funcionamento.

    Por outro lado, no houve neste perodo nenhuma ao concreta

    que permitisse um monitoramento efetivo das cooperativas, tanto em nvel

    da sua constituio como empreendimento como na avaliao e

    acompanhamento de sua performance, o que se constitui ainda hoje como

    um problema a ser equacionado.O segundo o processo de abertura comercial do pas, que se

    iniciou no fim da dcada de 80, e que vai exigir paulatinamente novos

    padres de eficincia do empreendimento cooperativo, dado o aumento da

    concorrncia. Esta situao coloca para a empresa novas oportunidades e

    ameaas, tanto para a ampliao dos mercados interno e externo, como

    na busca de parcerias e na racionalizao de custos. O empreendimento

    cooperativo hoje tem que ser eficiente economicamente para subsistir nomercado e poder trazer benefcios para os seus cooperantes.

    O terceiro, o Congresso Centenrio da Aliana Cooperativa

    Internacional em Manchester, UK, onde foram discutidos, em 1995, os

    princpios fundamentais do cooperativismo, e nesta oportunidade

    reafirmados o da democracia interna, ou seja, a cada homem um nico

    voto, e da remunerao limitada ao capital; importantes referenciais para a

    discusso da gesto, da estrutura financeira, e capitalizao da empresa

    cooperativista.

    Nesta oportunidade tambm foi agregado como principio doutrinrio

    a responsabilidade do cooperativismo frente comunidade onde este

    atua, de modo econmico e social, de forma que estabelece uma ntida

    diferena entre a empresa cooperativa e a empresa no cooperativa,

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    reala as vantagens da arquitetura doutrinria do cooperativismo, e

    tambm os limites para uma nova abordagem da sua estrutura de capital.

    O quarto e ltimo fato a recente fase de reforma do Estado no

    Brasil, e a conseqente transformao da poltica pblica, que implica na

    diminuio da presena deste no funcionamento da economia,

    determinando novos desafios aos negcios privados. Esta mudana

    tambm a responsvel por possibilitar finalmente para o movimento

    cooperativista a existncia de um sistema financeiro prprio, por meio dos

    Bancos Cooperativos, indicando a possibilidade da existncia no mdioprazo de um novo padro de financiamento e capitalizao para os

    empreendimentos cooperativos.

    Tambm este afastamento da presena do Estado da economia

    que vai influenciar uma nova onda de crescimento de determinados

    segmentos do cooperativismo, como o de crdito, de trabalho, de sade,

    de servios, e de educao, que aparecem como formas organizadas da

    populao em lacunas apresentadas pelo afastamento do aparato Estatal.Portanto, quando discutimos o empreendimento cooperativo temos

    que necessariamente nos referir a algumas questes bsicas, como:

    a) A questo da gesto da empresa cooperativa sob a tica da

    eficincia empresarial em um ambiente econmico internacional aberto

    e competitivo, objetivando a solidificao da cooperativa, aliada

    necessria eficincia social deste empreendimento, dada a

    responsabilidade da empresa para com o cooperante.

    b) A questo da autogesto do sistema cooperativista tendo

    como meta o acompanhamento e o monitoramento da eficcia

    econmica e social das sociedades cooperativas, de modo que os

    objetivos sociais do movimento estejam garantidos e possam ser

    alcanados com tranqilidade; e,

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    c) A questo do financiamento e da capitalizao da empresa

    cooperativista, tanto por meio dos novos Bancos Cooperativos, como

    da abertura de seu capital participao do capital de risco de

    terceiros, respeitando os princpios doutrinrios da cooperao, ou

    ainda por meio do estabelecimento de alianas estratgicas entre

    empreendimentos cooperativos e no cooperativos.

    Todas estas preocupaes devem ser analisadas sob a tica dos

    princpios doutrinrios do cooperativismo onde o foco central, foi e sempre

    dever ser o cooperante e a funo social do empreendimento. Deste

    modo tambm podemos aferir, e talvez prognosticar, o que a nova

    gerao de empreendimentos cooperativos.

    Assim este documento discute como construir uma nova empresa

    cooperativa, gil, moderna, flexvel, eficiente economicamente, com

    acesso a diversas fontes alternativas de capital, para que seja possvel

    cumprir com a sua funo primordial, que o aspecto social da

    cooperativa inserindo o cooperante e sua empresa em um mercadoconfivel e estvel, possibilitando o seu crescimento.

    2. Cooperativas e doutrina

    O empreendimento cooperativo, devido a sua estrutura doutrinria,

    tem algumas dificuldades de gesto que devero ser analisadas e

    trabalhadas de modo a permitir a sua melhor performance econmica e

    social.

    A cooperativa somente ter um sucesso social, cumprindo com a

    sua responsabilidade junto ao seu quadro associado, se esta for

    necessariamente um empreendimento econmico de sucesso de forma a

    permitir o crescimento conjunto e igualitrio de seus cooperantes.

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    Deste modo a gesto da empresa cooperativada dever ser ao

    mesmo tempo uma atividade voltada diretamente para os desejos dos

    consumidores de servios e produtos no mercado, e por outro lado ser

    sensvel s necessidades de crescimento e consolidao das diversas

    empresas associadas ao empreendimento cooperativista. Cada associado

    uma empresa que dever crescer forte em conjunto com o seu

    empreendimento cooperativo.

    O que se nota uma heterogeneidade muito grande na gesto da

    empresa cooperativa, dependendo do segmento, da regio brasileira, e dotipo de negcios da sociedade. Assim, encontramos cooperativas que j

    contam com um gerenciamento profissionalizado com bons ndices de

    eficincia coexistindo, em um mesmo sistema, com outros empreendimentos

    cooperativadas que freqentemente apresentam problemas gerenciais que

    chegam a interferir decisivamente em sua performance financeira.

    Na oportunidade em que os segmentos do cooperativismo foram

    consultados de forma sistematizada sobre uma proposta de Modernizaodo Sistema Cooperativista Brasileiro3 estes indicaram de modo consensual

    como os principais estrangulamentos do sistema, entre outros:

    a) A falta de profissionalizao da gesto,

    b) A incipiente organizao,

    c) Os problemas de capitalizao da empresa,

    d) A falta de integrao entre cooperativas, e;

    e) A necessidade de se elevar o nvel de educao cooperativistado associado.

    Hoje estes problemas ainda persistem em diferentes graus de

    intensidade, dependentes da regio e do segmento ao qual a cooperativa se

    insere, mas de modo geral so ntidos para todo o sistema cooperativista.

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    Deste modo, cada uma destas questes apresenta especificidades

    que devem ser tratadas de forma detalhada, sem generalizaes, mas o que

    mostra que o cooperativismo como empresa no foge da obrigao de

    enfrentar cada uma destas questes em determinada fase de seu

    crescimento.

    Estes problemas parecem afetar a todos os ramos do cooperativismo

    e serem na verdade uma conseqncia de alguns fatores comuns. Deste

    modo, podemos fazer um paralelo entre algumas caractersticas doutrinrias

    da cooperao e o desempenho de gesto e dos negcios nestesempreendimentos.

    A empresa cooperativa difere da empresa de capital4 por ter uma

    relao diferente entre os fatores de produo, capital e trabalho. O voto em

    uma cooperativa proporcional ao trabalho - a cada homem um nico voto -

    enquanto em uma empresa de capital a deciso na empresa proporcional

    ao nmero de aes, isto , proporcional ao capital de cada investidor.

    Enquanto na cooperativa a distribuio do resultado proporcional aatividade (trabalho) de cada associado, em uma empresa de capital este

    resultado dividido proporcionalmente ao capital investido por cada

    proprietrio.

    Quando falamos de cooperativas nos referimos a "associados",

    "trabalhadores, e a "sobras" do exerccio, quando tratamos de empresas de

    capital fazemos referncia "proprietrios", "investidores" e "lucros" da

    atividade empresarial. Portanto h uma diferena fundamental, doutrinria,

    que resguardada pela Aliana Cooperativa Internacional - ACI e pela

    Organizao das Cooperativas Brasileiras - OCB.

    3OCB (1996). Informativo Especial - Plano de Modernizao do Cooperativismo Brasileiro.

    4O termo empresa de capital ser usado para distinguir as empresas no cooperativas das

    sociedades cooperativas.

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    A cooperativa ento uma empresa onde podemos identificar

    algumas dificuldades de gerenciamento como a questo da necessria

    agilidade no processo de tomada de deciso frente ao princpio da

    democracia que obriga esta sociedade a manter esferas determinadas para

    a deciso dependentes da participao dos cooperantes, como as

    assemblias gerais e conselhos.

    Tambm a questo do princpio de cada homem um nico voto faz

    com que a cooperativa a priori no tenha uma estrutura apropriada

    participao do capital de terceiros, nem mesmo possa emitir ttulos e teracesso a fontes alternativas de capitalizao.

    Como o associado ao mesmo tempo usurio e proprietrio de seu

    empreendimento, este pode implementar aes oportunsticas onde o

    indivduo beneficiado em detrimento da empresa cooperativa.

    Por outro lado, a organizao cooperativa mostra ser superior s

    alternativas organizacionais quando os agentes que nela atuam agem

    cooperativamente sem a necessidade de monitoramento, sem oportunismose buscando alcanar os interesses coletivos. Entretanto, quando o

    comportamento foge deste padro, surgem custos de transao que so em

    tudo, idnticos queles encontrados nas empresas no cooperativas.

    Deste modo, ntida a superioridade do empreendimento cooperativo

    quando este utiliza a sua configurao doutrinria para aumentar a eficincia

    de sua atuao. O princpio da democracia e da igualdade pode favorecer,

    por meio da assemblia geral, o estabelecimento de um planejamento

    estratgico da organizao muito mais slido de que em outras empresas, e

    esta caracterstica deve ser realada pela cooperativa.

    O empreendimento cooperativista tambm superior, quando

    comparado a outras formas de organizao, pelo fato de que torna possvel

    o desenvolvimento da empresa particular de cada associado, prestando

    servios e oferecendo condies para o desenvolvimento destas unidades

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    de trabalho eficientes e autnomas, que se auto - auxiliam sem prejuzo da

    necessria liberdade.

    Ainda o cooperativismo uma forma superior de organizao dado

    que mais eficiente para agregar e distribuir renda5 entre os seus

    cooperantes, e como regulador de preos regionais auxiliando com

    benefcios sociais toda a comunidade cooperada e no cooperativada.

    Para resguardar doutrinariamente o empreendimento

    cooperativado, e possibilitar um acrscimo em sua eficincia econmica e

    social, aproveitando-se das vantagens da arquitetura desta empresa,pode-se discutir alguns pontos relevantes, como:

    a) A profissionalizao do quadro gestor do empreendimento

    cooperativo. Com ateno tambm para a capacitao cooperativista

    dos profissionais contratados e que no conhecem as especificidades

    deste tipo particular de empresa.

    b) A ampliao da responsabilidade do conselho fiscal de modo

    que este auxilie o sucesso da autogesto do sistema, e inclusivepodendo prever uma composio diferente do conselho com a

    participao de uma auditoria especializada para o empreendimento

    cooperativo.

    c) Um trabalho de monitoramento de cooperativas que esteja

    atento performance evitando-se as situaes delicadas de sua

    estrutura financeira, orientando e auxiliando todo o sistema

    cooperativista, protegendo o corpo social e a eficincia do negciocooperativado.

    5Para cada aumento em 10% na proporo de produtores rurais cooperativados h um aumento

    de 2,5% na renda mdia regional. Esses dados so significativos e aferidos em modelos

    economtricos logartmicos. Para detalhes ver. Bialoskorski Neto, S. Agribusiness Cooperativo:

    Economia, Doutrina e Estratgias de Gesto. ESALQ. Dissertao de Mestrado. 1994. 135p.

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    d) A questo do capital, como a possibilidade de emisso de

    ttulos, como certificados de investimento em cooperativas, ou ainda, a

    possibilidade da abertura de capital das cooperativas ao capital de risco

    de terceiros, onde esta poderia contar com uma nova fonte de recursos

    para o seu crescimento e capitalizao.

    e) A existncia de um sistema de auditoria independente para

    auxiliar na autogesto das atividades dos empreendimentos

    cooperativistas.

    f) A existncia de um rgo especializado de treinamento e

    capacitao, de modo a possibilitar a melhoria na formao dos

    profissionais ligados gesto do empreendimento cooperativo.

    Estas consideraes, entre tantas outras discutidas pelo sistema

    cooperativo nacional, so importantes para uma melhor gesto

    cooperativa, pois possibilitam um novo padro de crescimento, de

    capitalizao, e uma situao de um importante aumento da confiana do

    sistema financeiro para com as cooperativas, devido melhoria domonitoramento e da auditoria. Em um novo ambiente de negcios

    necessria uma renovada empresa alicerada na fundao segura da

    doutrina cooperativista, e nos princpios fundamentais de atendimento ao

    associado e ao mercado de forma harmnica, sem se esquecer tanto da

    sua misso econmica e social.

    3. A Nova Gerao de Empreendimentos Cooperativos

    As sociedades cooperativas apresentam uma ntida vantagem no

    papel de coordenao, de uma cadeia de processos em um ambiente de

    negcios em constante transformao, como o caso dos sistemas

    agroindustriais no segmento das cooperativas agropecurias, de todo um

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    processo de engenharia financeira para o segmento de crdito, ou ainda de

    todo um sistema de prestao de servios e assistncia especficos do

    segmento de sade.

    Neste mbito da coordenao, h a possibilidade de um melhor

    processo de adoo de novas tecnologias e/ou conhecimentos, bem como o

    estmulo ao desenvolvimento e implantao de processos de preciso6,

    tanto na rea produtiva ou administrativa, como tambm, para o exerccio

    profissional do associado, colocando-se como uma forma organizacional de

    arquitetura mais eficiente sob este aspecto estratgico.Assim, ntido que a possibilidade de utilizar as assemblias gerais

    para envolver-se no planejamento estratgico de mdio e longo prazo,

    associado existncia de profissionais capazes de colocar em prtica as

    decises gerenciais de modo articulado em um mesmo sistema ou processo

    uma vantagem e um desafio da estrutura de gesto cooperativista que

    precisa ser mais utilizada e desenvolvida.

    Somente este tipo de empresa pode de modo articulado perceber asmodificaes e as exigncias do consumidor e de modo flexvel coordenar a

    mudana nas linhas de produo associadas e da prpria cooperativa, ou

    ainda rever o sistema de prestao de servios, como no caso do segmento

    sade, ou ainda incorporar novas tecnologias em todo o sistema

    considerado.

    Isto , o empreendimento cooperativado deve ser entendido como um

    sistema articulado de pequenos empreendimentos independentes, e assim

    tem como atribuio fundamental, e como vantagem de negcios, a

    possibilidade de articular todo este sistema de produo ou prestao de

    servios.

    6Zylbersztajn,D. e Bialoskorski Neto,S. (1996) Vignettes on Managing Global Change by

    Agribusiness and Cooperative Firms. Paper apresentado Conference of the Graduete Institute of

    Cooperative Leadership.

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    Para que o gerenciamento de uma empresa cooperativa seja eficiente

    necessrio que existam estruturas de monitoramento e incentivo a este

    processo, como um sistema integrado aos rgos de representao e

    especializado nas sociedades cooperativas, capaz de resguardar os

    interesses do cooperante e o desempenho econmico, financeiro e social da

    empresa.

    Assim, o monitoramento do sistema como um todo se torna uma

    necessidade para aferir periodicamente os caminhos dos empreendimentos

    nos diversos segmentos do movimento cooperativista, possibilitando amanuteno da imagem do cooperativismo na sociedade e a seriedade da

    sua estrutura empresarial, tambm em defesa do corpo social da

    cooperativa.

    Um monitoramento, cuja dimenso tem que ser discutida, aliada a

    uma estrutura de capacitao gerencial especfica ao movimento parece ser

    condicionante para o processo de melhoria da gesto da empresa

    cooperativa. Mesmo a gerncia profissional tem obrigatoriamente que sercapacitada nos diversos aspectos especficos da doutrina e da cooperao.

    Vrios pases do mundo adotam diferentes tipos de monitoramento

    dos empreendimentos cooperativos, tambm por meio auditorias

    especializadas do prprio sistema, ou dos diferentes graus de

    responsabilidade do conselho fiscal da cooperativa. Assim se neste

    conselho for possvel presena e a assessoria de profissionais

    especializados certamente as sua funes de monitoramento sero

    acrescidas de eficincia e toda a sociedade cooperativa ter uma maior

    garantia de que a sua empresa est apresentando uma performance

    adequada.

    A auditoria, especializada e independente, vai tambm auxiliar e

    garantir o monitoramento, a separao entre a propriedade e o controle na

    empresa, e, portanto gerar maior grau de confiana no empreendimento

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    cooperativista, por parte do sistema financeiro, podendo inclusive diminuir os

    custos relativos ao financiamento e a capitalizao de todo o sistema

    cooperativado.

    3.1. A Questo do Capital

    A questo das estratgias quanto estrutura de capital nos

    empreendimentos cooperativas se implementa experimentalmente em

    alguns pases, devido importncia cada vez maior da internacionalizaodo capital e a conseqente reduo no seu custo.

    Para que a empresa cooperativa possa crescer a uma velocidade e

    com uma flexibilidade compatveis com a dinmica do mercado consumidor

    globalizado h, muitas vezes, a necessidade de se capitalizar de modo gil e

    a custos reduzidos para competir de modo igualitrio com as outras

    empresas no cooperativas do mesmo setor.

    Este processo de capitalizao dever obrigatoriamente ocorrer deacordo com os princpios doutrinrios do cooperativismo, por meio da

    cooperativa holding controladora de empresas com capital aberto, ou ainda

    por meio de uma nova forma organizacional destas sociedades.

    essencial a participao do sistema financeiro cooperativista, por

    meio dos novos Bancos Cooperativos, para estabelecerem as estratgias de

    engenharia financeira do setor, a nvel interno como tambm a nvel

    transnacional, promovendo a internacionalizao do capital entre estas

    sociedades. Isto tambm possvel com a criao de fundos de

    investimentos que possibilitem ao investidor nas cidades diversificar os seus

    investimentos em vrios empreendimentos cooperativados, sempre

    lastreado e garantido pelo sistema financeiro cooperativado.

    A capitalizao pode ser alcanada de vrias formas alternativas,

    por meio da emisso de ttulos de investimento, como proposta no XI

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    14

    congresso, ou por meio da abertura direta do capital, se possibilitada a

    emisso de aes preferenciais sem direito a voto e que apresentem

    dividendos competitivos em nvel de mercado.

    Logicamente estas estratgias somente sero factveis se o sistema

    contar com um monitoramento confivel de suas atividades por meio de

    auditorias, e a sua gesto for devidamente profissional, a exemplo das

    empresas concorrentes.

    3.2. A Nova Gerao

    A nova gerao de cooperativas constituda de empreendimentos

    onde a estrutura doutrinria do cooperativismo respeitada, mas se

    estabelece um padro diferenciado de empreendimento onde se tem o

    cuidado de aproveitar as vantagens do empreendimento cooperativado e

    de reduzir as suas desvantagens.

    Deste modo, h um sistema onde duas pilastras so importantes:1. O monitoramento, e as auditorias independentes; e,

    2. A separao entre a propriedade e o controle, por meio da

    profissionalizao da gesto da empresa cooperativa.

    Neste ambiente o empreendimento cooperativado deve ser

    arranjado de tal maneira em que seja possvel trabalhar o associado

    cooperativado tambm de duas maneiras:

    3. Incentivando a educao cooperativa, onde o associado

    deve estar sendo formado para a questo da cooperao

    reduzindo-se os oportunismos individualistas que

    depreciam a sociedade como um todo; e,

    4. Possibilitando a participao ativa do cooperante nas

    esferas de deciso de sua empresa de modo rpido e gil,

    transformando a assemblia geral da sociedade em um

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    verdadeiro frum de planejamento estratgico de mdios e

    longos prazos.

    Com estes quatro vrtices na arquitetura da empresa cooperativa

    surge a necessidade de se proporcionar o contnuo crescimento da

    empresa, usando-se de uma estrutura de capital que permita a eficincia

    financeira do negcio cooperativado, por meio da emisso de ttulos, da

    abertura de capital, das alianas estratgicas de negcios, e de fundos de

    investimentos ligados ao sistema financeiro cooperativo.

    Assim uma empresa eficiente pode continuar a crescer e competirno mercado de modo tambm eficiente, buscando-se uma nova relao de

    cooperao entre os fatores de produo capital e trabalho.

    Principalmente construindo-se uma nova forma de cooperao entre o

    capital de terceiros e o empreendimento de trabalho organizado em forma

    de cooperativa.

    Tambm necessria a mudana das relaes de direitos de

    propriedade, fazendo com que a participao nas atividadescooperativadas seja valorada, de modo que passe a existir valor para a

    participao, por meio transaes com as quotas-parte e a transferncia

    de direitos de propriedade, ou de entrega, delivery rights7.

    Constituda e fundamentada neste quatro pontos iniciais, uma nova

    arquitetura de direitos de propriedade, e podendo contar com um sistema

    factvel de capitalizao, resta para a Nova Gerao de Empreendimentos

    Cooperativosa resoluo de sua dicotomia maior, isto , a orientao de

    seus negcios.

    7A chamada Nova Gerao de Cooperativas, pressupem uma nova arquitetura de distribuio

    dos direitos de propriedade. H direitos de entrega, correspondentes proporo do capital de

    investimento que podero ser transacionados em mercado de balco recebendo ento valor.

    Para detalhes consultar: Bialoskorski Neto, S. A Nova Gerao de Cooperativas e Direitos de

    Propriedade. Anais do II Seminrio de Agribusiness. FEA-RP/USP. 1999.

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    A harmonia no tratamento desta questo importante, tanto para a

    empresa como para o cooperante, assim o negcio coletivo deve ganhar

    vida prpria e sistematizar as atividades onde seja possvel o crescimento

    de cada um dos empreendimentos das cooperativadas.

    Esta a verdadeira questo social do cooperativismo, possibilitar

    de modo contnuo a insero de cada uma das empresas associadas a

    uma realidade de mercado que mutante e flexvel de acordo com os

    ajustes no comportamento do consumidor.

    Assim o coletivo deve prezar e se esforar pela insero de cadaassociado nesta realidade promovendo a adaptao do sistema como um

    todo. A cooperativa como empreendimento somente ir existir em funo

    da eficincia e fortalecimento de cada um de seus cooperantes e de seus

    empreendimentos associados. Como tambm, este inverso verdadeiro,

    cada uma das economias associadas somente ir continuar a existir com

    eficincia e sucesso se sua empresa tambm existir com uma estrutura de

    custos compatvel com o mercado.O objetivo claro na orientao de negcios, sem se afastar de uma

    meta factvel de longo prazo, onde a cooperativa deve trilhar somente os

    caminhos onde apresente vantagens claras de concorrncia, de eficincia,

    e de gesto, esse o caminho social a ser seguido pelo empreendimento

    coletivo.

    Isto , uma nova e forte gerao de empreendimentos

    cooperativados, onde a funo social precpua , como foi em Rochdale

    em 1844, a transformao do econmico pelo social, com eficincia,

    liberdade de aes, igualdade de oportunidades, fraternidade e

    solidariedade entre os agentes econmicos. Deste modo, fazendo-se uso

    do econmico, possvel caminhar no sentido da construo de uma

    sociedade solidria, mais igualitria e justa.

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    PPaarrttee II

    CCooooppeerraattiivvaass ee MMoonniittoorraammeennttoo

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    18

    1. Apresentao

    Essa publicao foi elaborada tendo por base a parte inicial do

    projeto Estabelecimento de uma Poltica Institucional de Monitoramento

    da Autogesto das Cooperativas do Estado de So Pauloexecutado em

    parceria entre professores da Universidade de So Paulo Faculdade de

    Economia Administrao e Contabilidade e a OCESP Organizao das

    Cooperativas do Estado de So Paulo, como parte do Projeto de Polticas

    Pblicas financiadas pela FAPESP - Fundao de Amparo a Pesquisa do

    Estado de So Paulo, no perodo de 1999 a 2000.

    O objetivo o de apresentar algumas concluses e procedimentos

    propostos iniciais, de forma a possibilitar uma divulgao mais ampla de

    resultados parciais e das informaes por hora analisadas no projeto

    conjunto de pesquisa, e assim disponibilizar conhecimentos e mtodospropiciando a discusso inicial entre os interessados acadmicos,

    estudiosos do cooperativismo, organizaes de representao, gestores e

    dirigentes, que porventura podero vir a auxiliar no processo, colaborando

    no detalhamento, na implantao, bem como indicar eventuais falhas em

    procedimentos.

    Desse modo apresenta-se, em uma primeira parte, uma introduo

    ao cooperativismo e as instituies de representao de forma a

    possibilitar ao leitor um primeiro contato com o tema de cooperativismo e

    monitoramento, como a descrio dos ramos do cooperativismo, o

    ambiente institucional e as polticas pblicas hoje existentes.

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    Em seguida, aps a descrio do panorama geral e a identificao

    dos dados, faz-se uma anlise dos questionrios e sistemas encontrados,

    de forma a apresentar um possvel modelo de ferramenta a ser utilizado.

    Na segunda parte procura-se fazer consideraes e descrever as

    possveis atividades para a implantao de um projeto de monitoramento

    de cooperativas, coloca-se ainda, de modo complementar a metodologia

    de pesquisa.

    importante considerar que esse um projeto de pesquisa e

    implantao em conjunto entre duas instituies de culturasorganizacionais e institucionais completamente diferentes, a USP/FEA-RP

    instituio pblica de ensino e pesquisa, e a OCESP organizao de

    representao que tem por objetivo a implementao de atividades

    prticas de apoio ao cooperativismo paulista. Essa parceria, a princpio

    lgica, traz em seu bojo um conflito entre o acadmico e o prtico, que

    antigo nas discusses metodolgicas, e que caba por ser superado, de

    modo eficiente, trazendo benefcios diretos para as duas instituies, ouseja, de promover uma ligao efetiva entre a prtica e a teoria, entre a

    implementao e o acadmico, e entre o resultado imediato e de longo

    prazo.

    Esse projeto foi incentivado pelo esprito empreendedor e inovador

    da FAPESP, que procurou com esse projeto especial de Polticas Pblicas

    trazer para a universidade e as instituies esse importante desafio do

    trabalho conjunto, da anlise em equipe, da unio do prtico com o

    terico, e da cooperao entre instituies.

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    2. Introduo

    As cooperativas so organizaes de fins econmicos, mas que

    no visam a obteno de lucro. Como essas organizaes so formadas

    de associados que subscrevem quotas-partes desse empreendimento e

    que tm o mesmo direito de deciso - cada associado tem apenas um

    voto - sob qualquer condio, necessrio o desenvolvimento de controle

    e monitoramento desses negcios.

    As empresas no cooperativas, como as sociedades annimas,

    formadas de um nmero grande de acionistas minoritrios, tm na

    Comisso de Valores Mobilirios - CVM, um rgo de monitoramento e

    controle de suas operaes, inclusive fazendo com que as atividades

    dessas empresas sejam sempre transparentes a todos os seus acionistas.

    Mas, no caso das cooperativas isso no ocorre. A legislao em

    vigor prev que haja um conselho fiscal formado de cooperantes e que obalano dessas sociedades sejam aprovados em uma assemblia geral

    ordinria AGO, mas freqentemente, o cooperante no tem condies

    de controle e monitoramento por meio do conselho fiscal, e em algumas

    vezes o associado no comparece e participa da AGO para se informar

    das condies financeiras de sua cooperativa.

    Essa situao faz com que haja a necessidade, a exemplo das

    sociedades annimas, de uma estrutura de monitoramento dessas

    sociedades, que cumpra com um papel abrangente de defesa do

    associado, do negcio cooperativado, e ainda como um instrumento de

    educao do quadro associativo.

    Esse projeto, portanto apresenta duas vertentes importantes, a

    primeira que objetiva os estudos para a implantao de um sistema de

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    21

    monitoramento da autogesto das sociedades cooperativas no Estado de

    So Paulo, visando a melhoria de sua performance e, portanto o

    incremento de suas funes sociais, e a segunda que a anlise do

    ambiente institucional e de polticas pblicas de cada um dos ramos do

    cooperativismo, efetuando-se as anlises de benefcios econmicos e

    sociais da existncia dessas sociedades, sem fins lucrativos, e que devem

    nortear ao final as indicaes de polticas pblicas para o setor.

    2.1. O cooperativismo no Brasil

    As cooperativas so sociedades civis de objetivo econmico mas

    sem fins lucrativos e que se organizam mediante uma legislao

    especfica a Lei 5764, diferenciando-se ento das sociedades de fins

    comerciais. Portanto, essas sociedades no apresentam renda e no so

    tributadas para fins do imposto de renda.

    Ainda, segundo Pinho (2000), o ato de cooperao definido comoalgo diferente do ato comercial e pela constituio de 1988 devem ser

    tratados de modo especial para fins tributrios. No obstante a essas

    particularidades de tratamento do cooperativismo no Brasil, essas

    sociedades apresentam uma mesma base de organizao chamada de

    doutrinria e advinda das discusses dos socialistas utpicos chamados

    de associacionistas. (Hugon, 1970).

    Assim a cada homem dado o direito a um nico voto, h a

    liberdade de entrada e sada da organizao, o controle democrtico, e

    h um objetivo social em sua organizao, de profundo teor distributivo.

    Essas caractersticas organizacionais fazem das sociedades cooperativas

    uma importante ferramenta social de empreendedorismo e de distribuio

    de renda e oportunidades na sociedade.

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    O cooperativismo regido por uma base doutrinria estabelecida

    pela Aliana Cooperativa Internacional ACI que em 1995, em seu

    congresso centenrio, modificou os princpios doutrinrios do

    cooperativismo incluindo a responsabilidade da sociedade cooperativa

    com o desenvolvimento autossustentado, havendo uma ntida

    responsabilidade social dessas organizaes com toda a comunidade.

    importante ressaltar que o fato de haver uma cooperativa em

    determinada estrutura de mercado faz com que haja uma externalidade

    positiva de controle de nveis de preos. Assim, a existncia decooperativas agropecurias faz com que o nvel de preos pagos, pelos

    produtos agrcolas, aos produtores rurais, possa ser maior, bem como o

    preo pago pelo produtor rural, pelos insumos agropecurios necessrios,

    possa ser menor, havendo assim nas comunidades onde h cooperativas

    um controle de nveis de preos. (Bialoskorski, 1997). O mesmo ocorre

    nitidamente com as cooperativas de consumo, onde h um supermercado

    de cooperativa de consumo h um menor nvel geral de preos cobradosem outros supermercados.

    As cooperativas so organizaes que se representam por meio

    Organizaes Estaduais no caso de So Paulo a OCESP Organizao

    das Cooperativas do Estado de So Paulo, que por sua vez filiada a

    OCB Organizao das Cooperativas Brasileiras que ento participa tanto

    da OCA Organizao das Cooperativas Americanas como da ACI a

    Aliana Cooperativa Internacional.

    Hoje h um grande nmero de cooperativas em todo o mundo, em

    1997 perfazia um total de mais de 650 mil cooperativas com um nmero

    de 778 milhes de cooperantes. importante notar que esse nmero

    cresceu significativamente de 1936 a 1997 em 175,85% (tabela 1).

    Portanto, pode-se verificar que o cooperativismo uma importante

    arquitetura organizacional e de impacto social relevante em vrios pases.

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    No Brasil o cooperativismo se encontra moderadamente

    consolidado, como realidade para alguns ramos do cooperativismo como

    o agropecurio e o mdico, no ocorrendo, no entanto o mesmo com

    outros ramos a exemplo do trabalho e crdito, que ainda apresentamgrande crescimento e um processo de consolidao.

    O cooperativismo, como empreendimento econmico, responde

    diretamente pelo fato de ser uma forma alternativa e eficaz de organizao

    da populao frente adversidade do ambiente econmico em

    decorrncia de polticas macroeconmicas.

    Bialoskorski (1999) descreve que conforme cresce o nvel de

    desemprego aumenta tambm o nmero de cooperativas de trabalho e

    conforme crescem as taxas de juros reais tambm crescem as

    cooperativas de crdito. Figuras 1 e 2.

    Ano Cooperativas % Cooperados %1936 238.517 70.436.4621960 526.208 121 164.466.287 1331966 575.000 9,2 215.500.000 31,031971 630.717 9,6 305.186.321 41,611980 741.767 17,6 355.257.026 16,41993 850.000 14,59 705.922.453 98,7

    1997 657.970 -22,5 778.512.815 10,28Fonte: ACI - Elaborao OCESP

    Tabela 1. Nmeros do Cooperativismo no Mundo -Evoluo

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    24

    Numero de Cooperativas de Credito eTaxas de Juros no Brasil

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    3000

    3500

    1.990 1.991 1.992 1.993 1.994 1.995 1.996 1.997 1.998

    Ano

    %

    600

    650

    700

    750

    800

    850

    900

    950

    Nme

    ro

    Taxa de Juros Taxas de Juros Proporcional Cooperativas de Credito

    Desemprego e Cooperativas de Trabalho no Brasil

    500

    700

    900

    1100

    1300

    1500

    1700

    1900

    2100

    1.990 1.991 1.992 1.993 1.994 1.995 1.996 1.997 1.998

    Ano

    NmerodeCooperativas

    deTrabalho

    6

    7

    8

    9

    10

    11

    12

    Perc

    entualde

    Desemprego

    Coops de Trabalho Desemprego

    Figura 1.

    Figura 2.

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    25

    Bialoskorski (1994) argumenta que onde h cooperativas

    agropecurias h tambm um significativo aumento de renda mdia dos

    produtores rurais e um incentivo a adoo de tecnologia e crescimento

    econmico, para um aumento de 10% na proporo de produtores

    associados cooperativas h, para o Estado de So Paulo, um aumento

    de aproximadamente 2,5% no nvel de renda mdia da regio. Assim, o

    cooperativismo importante para prover as populaes rurais e urbanas

    de oportunidades de organizao econmica e de gerao de renda.Os outros ramos do cooperativismo tambm so importantes para a

    agregao de renda s populaes menos favorecidas. As cooperativas

    de trabalho so hoje uma importante fonte de emprego, possibilitando

    oportunidades de trabalho para 293.499 brasileiros. As cooperativas de

    crdito apresentam um grande crescimento e potencial de atendimento a

    populaes menos favorecidas, atuando tambm no chamado

    microcrdito, auxiliando positivamente perto de 1.407.089 associados quepodem obter recursos financeiros a menores custos.

    O cooperativismo no Brasil, apesar dessa expanso e do processo

    de consolidao, sofreu algumas importantes alteraes recentes no seu

    ambiente institucional como o que ocorreu durante o processo constituinte

    de 1988, onde o cooperativismo obteve a chamada autogesto -

    anteriormente a essa data era necessrio no s uma Autorizao de

    Funcionamento AF, expedida pelo antigo INCRA, para as cooperativas

    poderem funcionar, como tambm, as assemblias gerais e a cooperativa

    eram acompanhadas por esse rgo governamental. Aps a constituio

    de 1988 no h mais nenhum acompanhamento ou interveno

    governamental, e livre a constituio de cooperativas no Brasil.

    Essa situao a que gerou no XI Congresso Brasileiro de

    Cooperativismo uma indicao da necessidade de um processo de

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    26

    monitoramento das cooperativas no Brasil de forma a garantir a

    transparncia da gesto dessas organizaes, a certificao de um

    processo cooperativo, e o monitoramento da performance financeira e

    social dessas organizaes.

    Como essa particularidade diferente para cada um dos ramos do

    cooperativismo, necessrio descrever cada um desses ramos para aps

    instrumentalizar o que seria um processo de monitoramento para as

    cooperativas do Estado de So Paulo.

    2.2. Os ramos do cooperativismo

    O Cooperativismo, particularmente no Estado de So Paulo, pode

    ser analisado e dividido em oito ramos representativos8, esses ramos so

    classificados e descritos pela OCB Organizao das Cooperativas

    Brasileiras, os quais so:

    Agropecurio: constitudo pelas cooperativas de produtoresrurais, cujos meios de produo pertencem ao cooperante,

    freqentemente processando e agregando valor a commodity

    agropecuria.

    Consumo: constitudo pelas cooperativas que proporcionam

    a oportunidade de compra em comum de artigos de

    consumo, como gneros alimentcios, para os seus

    associados.

    Crdito: constitudo pelas cooperativas que promovem a

    poupana e financiam necessidades ou empreendimentos de

    seus associados.

    8No h no Estado de So Paulo representao e importncia de alguns ramos a

    exemplo do ramo de minerao.

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    27

    Educacional: constitudo por cooperativas formadas por pais,

    as quais proporcionam educao bsica para seus filhos.

    Tambm h aquelas constitudas de alunos de escolas

    tcnicas do estado de So Paulo.

    Energia e Telecomunicao: constitudo pelas cooperativas

    que prestam servios pblicos e comunitrios, atendendo

    diretamente o quadro social na distribuio de energia

    eltrica, principalmente na zona rural.

    Habitacional: constitudo pelas cooperativas com finalidade

    de construo, manuteno e administrao de conjuntos

    habitacionais, orientadas para a populao de baixa renda.

    Sade: constitudo pelas cooperativas que proporcionam o

    atendimento recuperao e a preservao da sade da

    populao, tanto na rea clinica como tambm odontolgica,

    de psicologia, entre outras.

    Trabalho: constitudo pelas cooperativas de trabalhadores detodas as categorias profissionais para prestar servios a

    terceiros.

    Desses ramos, o cooperativismo agropecurio um dos mais

    representativos, dado o nmero de cooperantes e a sua importncia em

    faturamento e gerao de benefcios.

    As cooperativas agropecurias surgiram como alternativas que os

    produtores rurais encontraram para aumentar sua capacidade de

    produo e de comercializao.

    Os produtores rurais trabalham solidariamente, no ciclo de

    produo das cooperativas agropecurias, desde a compra de insumos

    at o processamento e distribuio final dos produtos. As cooperativas

    compram os insumos e os fornecem aos cooperantes, esses por sua vez

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    28

    repassam a sua produo s cooperativas, que armazenam processam e

    vendem no mercado, assim distribuem e comercializam o produto, tanto

    para consumidores do prprio pas como tambm para consumidores

    estrangeiros com a exportao de produtos.

    O produtor rural, em conseqncia das estruturas de mercado

    encontrado, freqentemente encontra dificuldades adicionais no

    armazenamento e na comercializao de seus produtos, assim, o fato

    desses estarem integrados ao sistema cooperativista faz com que

    obtenham uma melhor situao de comercializao e deste modo, possvel garantir uma melhora no nvel de renda.

    Para que se possa obter eficincia nas cooperativas agrcolas de

    fundamental importncia uma boa administrao e principalmente uma

    forte participao dos cooperantes. A cooperativa agropecuria para

    enfrentar a concorrncia busca estar sempre atualizada em informaes

    de mercado e novas tecnologias, transferindo-as para os seus associados,

    em conseqncia colabora com a gerao de emprego e renda regional,auxiliando tambm na fixao do homem no campo.

    Outro importante ramo do cooperativismo o de consumo, que

    propicia aos seus associados vantagens na aquisio de bens de

    consumo.

    O cooperativismo de consumo foi o ramo que deu origem ao

    cooperativismo mundial. Este ramo envolve prestao de servios que

    visam a aquisio de bens de primeiras necessidades como, por exemplo:

    produtos de higiene pessoal, vesturio, produtos alimentcios, entre

    outros. Os servios so repassados com qualidade, fator de atrao de

    vrios consumidores, e com preos mais acessveis.

    Elas oferecem grande variedade de produtos que podem ser

    comparados aos produtos das melhores lojas e ainda, muitas distribuem

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    29

    produtos de marca prpria. Investem em administrao na modernizao

    da loja e no aprimoramento profissional.

    O cliente dessa cooperativa ao mesmo tempo, associado e

    usurio. Ele investe capital em forma de quotas-partes e no final de cada

    ano, as sobras9 so distribudas para os cooperantes conforme as

    atividades que ele realizou, ou seja, dependendo de sua atuao em

    compra de gneros em sua cooperativa.

    Existem dois tipos de cooperativas de consumo, as cooperativas

    fechadas e as cooperativas abertas. As cooperativas fechadas soformadas, em grande parte, por funcionrios de uma mesma empresa ou

    de uma mesma categoria profissional, ou seja, isso significa que no

    qualquer pessoa que pode associar a ela. Existem empresas que so

    ligadas s cooperativas fechadas que ajudam na sua instalao,

    participam de modo geral do investimento fixo e financiam suas

    necessidades iniciais de capital de giro.

    Nas cooperativas abertas qualquer tipo de pessoa pode seassociar, no h restrio em relao necessidade de que seus

    integrantes sejam da mesma empresa ou da mesma categoria

    profissional. O cooperante se responsabiliza por todos os custos de

    implantao e o dinheiro que investe poder ser compensado no preo

    das mercadorias adquiridas.

    As cooperativas de consumo regulam preos, oferecendo preos

    competitivos dos produtos, alm de oferecerem aos associados formas

    especiais de pagamento como a compra a prazo sem cobrana de juros

    ou cobrana de juros a uma taxa menor que a do mercado. Alm disso,

    geram empregos e renda.

    9No cooperativismo, como no h o objetivo de lucro, no caso de haver algum resultado

    final esse chamado de sobra das operaes.

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    30

    Para uma cooperativa de consumo atingir eficincia, ela tem que

    apresentar boa administrao financeira, que compreenda fluxo de caixa,

    financiamento, capitalizao, capital de giro e contabilidade. ainda

    necessria uma equipe bem treinada e competente, j que so gastos de

    60 % a 70% dos custos operacionais em mo-de-obra.

    Alm das cooperativas de consumo, que atualmente apresentam

    uma reduo sistemtica em seus nmeros, h as cooperativas de

    trabalho que ao contrrio apresentam um elevado incremento em seu

    nmero nos ltimos anos.So vrias as cooperativas de trabalho como as de auditoria,

    consultoria, artesanato, informtica, entre outras. O desemprego uma

    das principais causas que levam profissionais a se unirem e formarem

    cooperativas. As cooperativas oferecem vantagens aos associados que se

    esses estivessem trabalhando sozinhos no conseguiriam obt-las. As

    cooperativas de trabalho so, muitas vezes, solues para resolver

    problemas em uma comunidade.Alm de oferecerem preos dos servios finais melhores e mais

    atraentes do que o do mercado, so alternativas para a gerao de

    trabalho e renda.

    As sobras nesse tipo de cooperativa podem em parte ser

    destinadas para a constituio de um fundo de assistncia ao cooperante

    que poder ajudar financeiramente o cooperante no caso desse estar

    impossibilitado para o trabalho como no caso de uma doena, por

    exemplo, ou ento para investir em novos equipamentos que trariam

    melhoras e por conseqncia, aumentariam a produo.

    Esse ramo do cooperativismo apresenta um grande crescimento no

    perodo recente apontando para uma provvel situao de hegemonia

    dentro do cooperativismo paulista. H tambm ntidas vantagens

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    tributrias e de flexibilizao das relaes de trabalho nesse tipo de

    arquitetura organizacional.

    Outro ramo que vem apresentando sistemtico crescimento o

    ramo habitacional, pois possibilita uma alternativa de acesso a casa

    prpria.

    As cooperativas habitacionais esto se tornando uma tendncia

    alternativa para pessoas de baixa renda que no conseguem adquirir seus

    imveis pelo preo alto oferecido pelo mercado e que freqentemente no

    conseguem acesso s linhas tradicionais de financiamento.As cooperativas destinadas construo de imveis podem buscar

    apoio no Sistema Financeiro da Habitao, nos Fundos Imobilirios e nas

    fontes externas de financiamentos. Porm, muitas vezes, so caros e

    difceis de se obter, por essa razo, o autofinanciamento uma sada para

    solucionar essa falta de recursos. O processo de autofinanciamento pode

    ser estimulado por meio parcerias realizadas com diferentes instituies

    como as Prefeituras Municipais, que em alguns casos chegam inclusive aincentivar esse tipo de organizao oferecendo assessoria e at

    procedendo doao de terrenos.

    Os cooperantes pagam uma taxa mensalmente orientada para a

    construo de um fundo. Fazem parte dos custos desse fundo o preo dos

    terrenos, projetos, administrao e obra. Esses custos so divididos na

    proporo do preo da unidade escolhida. A participao do cooperante

    se d em todo o ciclo, desde a aquisio do terreno at a entrega das

    chaves. Para entrar numa cooperativa habitacional necessrio

    apresentar uma renda familiar que seja compatvel ao empreendimento

    desejado. A entrega dos imveis decidida por meio assemblias.

    A cooperativa habitacional, alm de gerar renda, empregos e fazer

    movimentar o comrcio, oferece a possibilidade do cooperante obter seu

    imvel a um preo de custo, geralmente 30% abaixo do preo de

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    mercado. Alm disso, as sobras so aproveitadas para um refinamento

    dos empreendimentos.

    H ramos do cooperativismo que hoje re-iniciam um processo de

    crescimento encontrando um ambiente institucional favorvel esse o

    caso do cooperativismo educacional que por anos estava estagnado em

    decorrncia de polticas especficas para o setor.

    O cooperativismo de educao, alm de permitir o acesso

    educao de qualidade, tambm o instrumento ideal para a formao do

    aluno em valores bsicos da cooperao, tais como a ajuda mtua, aigualdade, a eqidade, a solidariedade, a democracia, a liberdade, a

    honestidade e a responsabilidade social.

    O objetivo principal dessas cooperativas de permitir a formao

    de homens e mulheres integrados com o meio que vivem com os ideais de

    cooperao, ou seja, as cooperativas educacionais proporcionam uma

    ponte para a educao cooperativa.

    O cooperativismo na escola um elemento transformador dasociedade. O aprendizado passa a ser visto como uma forma de melhoria

    pessoal e da sociedade.

    Nas cooperativas educacionais, h maior interao entre

    professores e alunos, h maior flexibilidade e a forma de liderar

    democrtica. Tudo que se faz, desde o projeto pedaggico at o

    funcionamento da escola, estabelecido por todos: diretores, professores,

    alunos, pais e funcionrios.

    No Brasil foram criadas inicialmente trs tipos de cooperativas

    educacionais, em 1971 foram criadas as cooperativas escolares, fundadas

    por alunos de estabelecimentos de ensino com a funo de oferecer

    recursos para o aparelhar a escola, em 1982 foram incentivadas as

    cooperativas escola, especficas para a realidade do ensino agrcola, e em

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    1987 eram criadas as cooperativas de ensino como solues encontradas

    para a crise educacional, e de elevados custos das escolas brasileiras.

    As cooperativas educacionais apresentam mais qualidade no

    ensino por meio uma viso com grandes valores e princpios de uma

    sociedade mais honesta, menor custo, valorizao do homem, salrios

    dignos e aperfeioamento docente. Alm disso, participam com a gerao

    de empregos e de renda no pas. O cooperante, nas cooperativas

    educacionais, trabalha com uma participao efetiva e criatividade.

    O ramo de maior dinamismo nas ltimas dcadas, e de umaimportncia social fundamental, o cooperativismo de sade, hoje

    exemplo para o mundo inteiro.

    As cooperativas de sade so formadas por aproximadamente 40%

    dos profissionais da rea no Brasil. Isso ocorre principalmente devido

    falta de prioridade pblica para uma poltica mais efetiva para o setor no

    pas. O cooperativismo de sade surgiu na dcada de 60, em resposta a

    uma ao de crescimento de empresas de medicina de grupo que sointermediadoras do trabalho mdico.

    No incio, esse tipo de cooperativismo enfrentou dificuldades por

    falta de crdito por parte da populao. Porm, aos poucos o

    cooperativismo nessa rea foi entendido como um importante instrumento

    em defesas do interesse econmico do profissional mdico, e de seus

    clientes.

    Alm da gerao de empregos e renda, as cooperativas mdicas se

    diferenciam tanto da prestao de servios oferecida pelo setor pblico

    como pela medicina com o objetivo de lucro devido ao valor que as

    cooperativas emprestam ao profissional e seus clientes o que causa

    diretamente um processo de fortalecimento da qualidade do atendimento,

    que passa a ser personalizado, individualizando o paciente. Oferecem

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    tambm melhores condies aos trabalhadores oferecendo uma melhor

    remunerao.

    As sobras so repartidas entre os associados ou investidas na

    melhor forma possvel. Um bom exemplo de uma administrao bem

    sucedida a Fundao Centro de Estudos da UNIMED.

    Ao lado das cooperativas mdicas, bem estruturadas, as

    cooperativas de crdito aparecem como um dos ramos mais bem

    organizados do cooperativismo, inclusive devido ao controle de dois

    Bancos Cooperativistas que proporcionam um nvel adequado eprofissional de organizao.

    As cooperativas de crdito so sustentadas no campo econmico

    pela possibilidade do associado obter acesso a aplicaes, melhor

    remunerao de capital, como tambm, emprstimos a juros mais baixos

    que o mercado.

    As cooperativas de crdito rural esto articuladas com as

    cooperativas agropecurias. Os agricultores recuperam a capacidade deproduo, negociam e poupam o dinheiro da safra at um novo plantio.

    Assim, as cooperativas de crdito tornam-se boa opo de

    autofinanciamento e de alternativa a polticas pblicas para o setor.

    Existem dois tipos de cooperativas de crdito, as cooperativas de

    crdito mtuo- urbano - e as cooperativas de crdito rural. Ambas com

    objetivos de conceder emprstimos individuais com base na poupana

    coletiva, de oferecer educao econmica e financeira para os

    cooperantes, de incentivar os cooperantes a poupar sistematicamente

    pequenas quantias de dinheiro e de prestar servios de natureza bancria

    como o fornecimento de emprstimos, financiamentos, operaes de

    desconto de ttulos, cobrana bancria, pagamento de salrios,

    fornecimento de cheque especial, recebimento de aplicaes e de

    poupana, entre outras.

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    As cooperativas de crdito urbano so formadas por profissionais

    de uma mesma categoria profissional ou por pessoas de uma mesma

    empresa. Utilizam linhas de crdito, as quais atendem s necessidades

    pessoais ou profissionais do cooperante.

    As cooperativas de crdito rural so formadas por produtores rurais

    que utilizam linhas de crdito, as quais atendem ao investimento e ao

    custeio das safras agrcolas.

    O cooperativismo de crdito tem um conselho mundial e

    confederaes continentais. No Brasil, existem dois bancos, o BANCOOBe o BANSICREDI que so bancos controlados pelas cooperativas centrais

    de crdito rural e mtuo e funcionam como organizaes de apoio ao

    sistema de cooperativas de crdito, o SICREDI.

    As cooperativas de crdito precisam de uma autorizao do Banco

    Central - BACEN para poderem operar. Alm disso, h a necessidade de

    terem um vnculo com alguma federao ou central, e tambm so

    obrigadas a enviar mensalmente os balancetes ao BACEN e a central.Operam com as menores taxas de mercado e o resultado retorna aos

    cooperantes em proporo ao que eles movimentarem financeiramente

    com as cooperativas.

    As cooperativas de crdito apresentam um baixo custo operacional

    e oferecem aos cooperantes segurana e garantia de crdito. Alm disso,

    quando apresentam resultados positivos, h um fortalecimento do nvel de

    liquidez, o que pode trazer mais recursos para a re-aplicao, ou ainda

    benefcios aos cooperantes.

    importante descrever, por ltimo, o ramo de eletrificao, que

    apesar de no apresentar o dinamismo do ramo de crdito, tem uma

    importncia fundamental para os produtores e moradores da zona rural.

    As cooperativas de eletrificao rural so cooperativas de prestao

    de servios e tm como objetivos o fornecimento de energia, repassada

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    de concessionria geradora, e, portanto contribuem com inmeros

    benefcios em locais do interior, que no apresentam atratividade para as

    empresas concessionrias com o objetivo de lucro, levando, portanto

    melhores condies de vida e colaborando para com a atividade agrcola.

    Atualmente essas cooperativas passam por uma intensa

    modificao no ambiente institucional uma vez que esto se adaptando s

    normas da ANEEL Agencia Nacional de Energia Eltrica, para a qual

    essas cooperativas devero se reportar periodicamente.

    2.3. As entidades de representao

    Em nvel mundial, o cooperativismo representado pela Aliana

    Cooperativa Internacional - ACI, com representantes em todos os

    continentes. A ACI foi criada em 1895 e atualmente est sediada em

    Genebra, Sua. Essa ONG - organizao no-governamental a maior

    e mais antiga ONG do mundo, sendo que essa rene, representa e presta

    apoio s cooperativas e suas correspondentes organizaes. Objetiva a

    integrao, autonomia e desenvolvimento do cooperativismo.

    No mbito do continente americano essa articulao feita pela

    Organizao das Cooperativas da Amrica - OCA, fundada em 1963. Hoje

    essa entidade tem sua sede na cidade de Bogot, Colmbia, e integra as

    representaes de vinte pases, incluindo o Brasil.

    A Organizao das Cooperativas Brasileiras - OCB, o rgo de

    representao do Cooperativismo Nacional. Rene mais de 5.500cooperativas, que atuam nos mais diversos segmentos da sociedade. A

    OCB formada por um Conselho de Administrao composto de

    membros indicados pelas Organizaes de Cooperativas Estaduais -

    OCEs, e conselheiros indicados pelos diversos ramos do cooperativismo.

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    A Diretoria Executiva composta pelo Presidente, Vice-

    Presidentes, Superintendncia e pelos membros do Conselho Fiscal.

    Compondo seu quadro tcnico, a OCB tem a Gerncia Tcnica e a

    Gerncia Administrativo-Financeira, alm das Assessorias Jurdica,

    Parlamentar e Internacional. A Gerncia Tcnica (GETEC) responsvel

    pelo planejamento, coordenao, execuo e acompanhamento de

    informaes tcnicas, diagnsticos, levantamentos e estudos de interesse

    do Sistema Cooperativista. As aes da Gerncia Tcnica visam subsidiar

    a defesa dos interesses do Cooperativismo junto ao Governo Federal,entidades pblicas e privadas.

    A Assessoria Jurdica da OCB tem sua atuao basicamente

    voltada para o atendimento das demandas vindas das bases do Sistema,

    com foco na Constituio Federal, direito cooperativista voltado para as

    reas tributrias, trabalhistas, administrativas e demais de interesse do

    setor. Atua tambm no acompanhamento, em Braslia, da tramitao de

    documentos das cooperativas nos rgos pblicos federais; e em conjuntocom a Assessoria Parlamentar, nos projetos de lei de interesse do setor

    no Congresso Nacional. de responsabilidade da Assessoria Jurdica o

    credenciamento de auditores independentes junto ao sistema, de acordo

    com as normas legais.

    A Assessoria Parlamentar promove, integra e defende os interesses

    do cooperativismo brasileiro, junto ao Congresso Nacional e ao executivo.

    No Congresso Nacional acompanha o andamento das matrias que

    envolvem o sistema, contribuindo para o contnuo aperfeioamento da

    legislao cooperativista. Trabalha de forma integrada e harmoniosa com

    a Frencoop - Frente Parlamentar do Cooperativismo - subsidiando-a na

    sua atividade parlamentar. Promove encontros tcnicos e seminrios

    internacionais, estreitando as relaes negociais entre as cooperativas,

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    proporcionando troca de experincias e de tecnologia e, ainda, a formao

    de alianas estratgicas e parcerias com cooperativas de outros pases.

    Em nvel estadual a OCESP Organizao das Cooperativas do

    Estado de So Paulo, composta por um Conselho Diretor, Presidente e

    Vice-presidente, Superintendente, Conselho Fiscal, e por representantes

    dos diversos ramos em um Conselho Consultivo. Em nvel estadual a

    OCESP representa o cooperativismo paulista e promove a excelncia no

    cooperativismo paulista, viabilizando aes de educao, integrao,

    representao, orientao e comunicao.Para tanto, os servios oferecidos pela OCESP atualmente so:

    consultoria: na abertura e planejamento de gesto de cooperativas;

    representao e defesa dos interesses de classe junto ao Estado e ao

    poder pblico, instituies financeiras e o mercado em geral; promove

    tambm a assistncia tcnica e a orientao especializada, pareceres

    tcnicos e jurdicos.

    Especialistas dividem suas experincias com cooperativas de todosos ramos a fim de solucionar problemas e otimizar resultados; ainda h

    esforos de capacitao de cooperantes, dirigentes, tcnicos e

    funcionrios de cooperativas, A capacitao profissional uma constante

    preocupao da OCESP, em face de competitividade de mercado tendo

    em vista o desenvolvimento da organizao cooperativista.

    O Servio Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo

    SESCOOP foi criado a partir do RECOOP Programa de Revitalizao

    das Cooperativas Agropecurias, com a misso de promover a

    capacitao, assessoria e promoo social, O SESCOOP presta contas

    ao Tribunal de Contas da Unio e formado pelas unidades estaduais, no

    Estado de So Paulo, o SESCOOP/SP dirigido pelo Superintendente da

    OCESP, e conta com os departamentos de capacitao, assessoria e

    consultoria e promoo social.

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    2.4. O monitoramento e as polticas pblicas

    As sociedades cooperativas no Brasil no contam com um sistema

    de monitoramento de suas atividades de forma sistemtica. No entanto h

    a necessidade de um sistema desse tipo uma vez que so sociedades

    formadas de um grande nmero de associados, por legislao com o

    mnimo de 20, mas em sua maioria com um nmero mdio muito maior.

    Por exemplo, O nmero mdio de associados no ramo agropecurio de

    595,82 associados por cooperativa, no ramo crdito de 1.529,44, noramo de trabalho de 176,70 e no ramo mdico de 426,24 associados

    por cooperativa.

    Nas dcadas de 70 e parte de 80, o cooperativismo no Brasil foi

    acompanhado pelo INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma

    Agrria, que tinha por atribuio a expedio de uma autorizao de

    funcionamento para as cooperativas, no permitindo que existissem mais

    de uma cooperativa de mesmo ramo em uma mesma rea de atuao, eainda exercendo um controle sobre a gesto e as assemblias dessas

    sociedades.

    Na poca, por exemplo, no era permitida a cooperativa chamada

    de integral, na qual tambm a terra seria um fator de produo

    cooperativado, foi permitido apenas as cooperativas agropecurias onde o

    fator de produo terra era particular de cada associado e apenas a

    comercializao ou o processamento que funcionava de modo

    coletivizado. Isto ocorria, na poca, como conseqncia do controle social

    que o Governo Federal exercia sobre a sociedade em um regime de

    exceo.

    Em 1988, durante o processo constituinte, o sistema cooperativado

    brasileiro envida grandes esforos para aprovar a autogesto das

    cooperativas, ou seja, a independncia de constituio e funcionamento

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    obrigao de haver ao mesmo tempo, uma assemblia geral ordinria por

    ano onde obrigatoriamente as contas como o balano financeiro da

    sociedade sejam expostas e aprovadas pelos seus associados. Mas, com

    um nmero mdio grande de associados, a presena da maioria dos

    associados em assemblia operacionalmente difcil e custosa. Alm

    dessa caracterstica h tambm o problema de que o associado a uma

    cooperativa geralmente tem dificuldades para entender detalhadamente as

    configuraes contbeis de um balano.

    De outro modo, h ainda a obrigao de se compor um conselhofiscal composto por trs membros cooperantes e mais trs suplentes que

    tem por atribuio o acompanhamento das contas da cooperativa. Mas,

    tambm dada ausncia de profissionais da rea nesse conselho, acaba

    por ser problemtica e difcil o adequado acompanhamento das contas de

    uma cooperativa, principalmente se essa do ramo agropecurio que

    pode contar tambm com toda uma parte industrial de processamento da

    produo ou ainda do ramo mdico que pode contar com hospitais eoutras unidades de difcil controle contbil.

    Apesar de no haver obrigatoriedade explcita, muitas das

    cooperativas contam com uma auditoria independente, que muitas vezes

    no apresenta uma experincia adequada na auditoria de sociedades sem

    fins lucrativos, e de claros objetivos sociais como so as sociedades

    cooperativas.

    Alguns ramos especficos como o ramo crdito e o de eletrificao

    e telefonia rural contam com controles de monitoramento externos ao

    sistema cooperativado, ou seja, respectivamente, o Banco Central e a

    Agncia Nacional de Energia Eltrica.

    Assim, as cooperativas de crdito devem prestar conta para a sua

    central e ao BACEN regularmente, o que garante ao associado que o

    negcio cooperativado tem garantia e margens de segurana. Quanto s

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    cooperativas de eletrificao, essas tero que manter padres de

    qualidade e preos compatveis, o que significa que a excelncia em

    servios deva ser obtida e que ser tambm uma garantia ao associado

    dessa organizao.

    Mas, os outros ramos do cooperativismo no contam com uma

    agncia nacional ou ainda um rgo pblico que coordene o

    acompanhamento e o monitoramento de servios das cooperativas. Deve-

    se lembrar que para as Sociedades Annimas a CVM Comisso de

    Valores Mobilirios exerce uma importante funo de defesa deacionistas minoritrios, procedendo a um monitoramento peridico dessas

    sociedades, que contam com um elevado grau de assimetria de

    informaes.

    Assim para o cooperativismo, aps o XI Congresso Brasileiro de

    Cooperativismo, fato que um sistema de acompanhamento e controle

    deva existir, e que esse deva ser independente do Estado e ligado

    diretamente ao movimento cooperativista nacional.Hoje o ambiente econmico, institucional e de polticas pblicas

    para as sociedades cooperativas, obriga que essas tenham um grau de

    transparncia e performance capaz de gerar, para o seu associado, os

    benefcios sociais e econmicos esperados.

    O ambiente econmico obriga a essas sociedades que elas sejam

    suficientemente grandes para obterem o mesmo grau de eficincia

    econmica de outras empresas concorrentes, assim as cooperativas

    acabam por serem obrigadas a um tamanho econmico no compatvel

    com um sistema rudimentar de acompanhamento e controle. Tambm o

    sistema financeiro exige um elevado grau de fidelidade de informaes

    para a construo de complexas operaes, que tambm incompatvel

    com sistemas rsticos de monitoramento.

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    Portanto, a elaborao de uma poltica institucional de

    monitoramento das cooperativas passa a ser uma exigncia institucional

    para o sucesso das sociedades cooperativas.

    3. Panorama do cooperativismo

    A primeira sociedade cooperativa brasileira foi fundada em So

    Paulo no municpio de Limeira no ano de 1891 - Associao Cooperativa

    dos Empregados da Companhia Telefnica - seguida da Cooperativa

    Militar de Consumo no Rio de Janeiro em 1894.

    A primeira legislao em 1932 consagrou os princpios adotados

    pela Aliana Cooperativa Internacional. O cooperativismo nessa poca

    encontrou dificuldades j que o Brasil era um pas predominante agrcola e

    a maior parte da populao no tinha acessa educao.

    No perodo entre 1964 e 1988, o cooperativismo no pas enfrentou

    vrias restries e controle de seu funcionamento por parte do Estado,segundo Silva, (2000).

    Em 1988, com a nova Constituio, que as organizaes

    cooperativas conseguem que o Estado no interfira mais em seu

    funcionamento, conquistando assim, a chamada autogesto. A partir

    desse momento, observa-se uma evoluo positiva no nmero de

    cooperativas e tambm de cooperantes, mostrando a importncia que as

    organizaes cooperativas tm no pas.

    Na dcada de 80, existiam no Brasil 3.529 cooperativas com

    3.232.098 associados. J em 1990, esse nmero passou para 5.102

    organizaes cooperativas com 4.428.925 associados nos diversos ramos

    existentes.

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    Ramo 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998Agropecurio 1,393 1,404 1,438 1,344 1,334 1,378 1,403 1,449 1,408

    Consumo 311 336 336 292 261 256 241 233 193Servios 195 206 202 194 191 194 209 206 187

    Educacional 101 107 112 100 105 106 176 187 193Trabalho 629 531 618 705 825 986 699 1,025 1,334

    Habitacional 179 182 177 187 176 174 190 231 202Crdito 741 763 665 788 809 834 859 882 890Sade 468 530 585

    Especial/Mineral/Produo 71 108 110Total 3,549 3,529 3,548 3,608 3,701 3,928 4,316 4,851 5,102

    Obs: de 1990 a 1995 as cooperativas mdicas faziam parte do ramo de trabalho.A partir de 1996, as cooperativas mdicas foram excludas daquele ramo.

    Fonte: OCB/DETEC/Banco de Dados

    Tabela 2. Evoluo do Nmero de Cooperativas Registradas na OCB, por Ramo, no perodo1990-1998

    No Brasil existem, segunda a OCB (2000), 5.652 sociedades

    cooperativas com 5.014.016 associados - respectivamente 60,2% e 55,1%

    a mais do que na dcada de 80 - e 167.378 empregados, ou seja, essas

    sociedades beneficiam diretamente a 5.181.994 e indiretamente algo

    prximo aos 20 milhes de pessoas. Deve-se notar que esse nmero de

    cooperativas aumentou em 10,78% no ltimo ano, e continua a crescer

    continuamente como mostra a tabela 2, onde se pode tambm observar a

    evoluo por ramo do nmero de cooperativas no Brasil na ltima dcada.

    A OCB estima que algo em torno de 5% do PIB Produto Interno

    Bruto Brasileiro gerado pelas transaes econmicas oriundas das

    sociedades cooperativas. Se os dados da Aliana Cooperativa

    Internacional forem analisados pode-se notar que ainda o cooperativismo

    no Brasil incipiente e encontra condies de crescimento quando

    comparado com a presena de cooperativas em outros pases do mundo.

    Enquanto nos EUA, em 1998, existiam 27.076 sociedades

    cooperativas que representavam 76,9% das cooperativas na Amrica do

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    Norte, e na Frana no mesmo perodo existiam 23.573 sociedades

    cooperativas, no Brasil, pas de propores continentais, existiam apenas

    4.744 sociedades cooperativas, segundo as estatsticas da Aliana

    Internacional Cooperativa.

    No Brasil o cooperativismo economicamente mais significativo no

    Centro-Sul do pas, regies Sul e Sudeste, onde se encontram as maiores

    e mais profissionalizadas cooperativas. Enquanto no Estado de So Paulo

    h 1.006 cooperativas com uma mdia de 1.900,87 associados por

    cooperativa e no Rio Grande do Sul existem 621 sociedades com umamdia de 1.083,57 associados por cooperativa, no Nordeste tem-se outra

    realidade, como na Bahia onde h 199 cooperativas com uma mdia de

    apenas 214,46 associados por cooperativa e no Estado do Cear onde h

    247 sociedades com apenas 332,63 cooperantes por empreendimento. Os

    nmeros da regio Norte ainda so menores.

    Das sociedades cooperativas brasileiras 25,4% so cooperativas

    agropecurias, com 17,0% dos associados, as cooperativas de trabalhorepresentam 29,4% das sociedades com 5,8% dos associados e as

    cooperativas de crdito so 16,3% das cooperativas, com 28,1% dos

    associados.

    Esses dados, tabela 3, mostram que em nmero as cooperativas de

    trabalho j ultrapassam as tradicionais cooperativas agropecurias e em

    nmero de associados as cooperativas de crdito so mais significativas.

    Esses dois ramos tm apresentado um constante crescimento nos ltimos

    anos.

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    46

    importante notar que grande parte da produo agrcola e da

    exportao de produto agropecurio nacional passa pelas cooperativas

    agropecurias. A tabela 4, mostra a importncia dessas organizaes para

    a agropecuria, ou seja, em 1999 27,9% do caf e 29,4% da soja do Brasil

    foram originadas em cooperativas agropecurias. Nestas organizaes

    39,5% dos associados tm reas menores que 10 hectares e 55,27% tem

    menos que 50 hectares (tabela 5), portanto se caracterizando por serem

    pequenos produtores rurais.

    Ramo Cooperativas Cooperados EmpregadosAgropecurio 1437 856202 106753

    Consumo 191 1473038 7952Crdito 920 1407089 16908

    Educacional 210 48403 2505Energia e Telecomunicao 184 551799 5355

    Especial 4 25484 14

    Habitacional 216 53011 2063Minerao 21 1899 28Outros 2 40 0

    Produo 107 6011 38Sade 698 297521 19340Servio 1 20 0

    Trabalho 1661 293499 6422Total 5652 5014016 167378

    Fonte: Ncleo de Banco de Dados da OCB

    Tabela 3. Cooperativas, Cooperados e Empregados por Ramo

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    Produo Agrcola Total (Participao)Algodo 38.91%

    Alho 22.47%Arroz 11.36%Aveia 39.21%Caf 27.97%

    Cevada 44.19%

    Feijo 11.18%Milho 16.68%Soja 29.40%

    Sunos 31.52%Trigo 62.19%Uva 19.17%

    Tabela 4. Participao das Cooperativasna Produo Agrcola Brasileira

    Fonte: Ncleo de Banco de Dados da OCB

    Dimenso (hectares) % da classe % acumuladoNo Proprietrios 28.09 28.09

    De 0 a 10 hectares 39.56 67.85De 10 a 50 hectares 15.71 83.36De 50 a 100 hectares 8.90 92.26

    De 100 a 500 hectares 2.35 94.61Acima de 500 hectares 5.39 100.00

    Total 100.00

    Tabela 5. Distribuio do Quadro Social Segundo aDimenso das Propriedades do Brasil

    Fonte: Ncleo do Banco de Dados da OCB

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    De acordo com as tabelas 6 e 7, verifica-se o nmero de

    trabalhadores em alguns setores de atividades no pas quando esses so

    empregados por empreendimentos cooperativos. Na Administrao

    Pblica h o menor nmero de empregados, sendo que nos setores de

    comrcio e servios, indstria de transformao e agropecurio h o maior

    nmero de empregados pelas cooperativas.

    Setores de Atividades Nmero de EmpregadosExtrativismo Mineral 10

    Indstria de Transformao 78225

    Servios Industriais de UtilidadePblica

    3091

    Construo Civil 2262Comrcio 50781Servios 56034

    Administrao Pblica 7Agropecuria 18914

    Outros/ Ignorado 89Total 209413

    Fonte: RAIS,1997

    Tabela 6. Nmero de Empregados de Cooperativas segundoSetores de Atividades no Brasil em 1997

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    De acordo com a tabela 8, a remunerao mdia dos empregados

    associados a cooperativas no Brasil est concentrada em faixas salariais

    entre 1,5 e 7 salrios mnimos. Em relao aos empregados no

    associados a cooperativas no pas a remunerao mdia est

    concentrada entre 3 a 15 salrios mnimos.os ramos menos tradicionais

    do cooperativismo ganharam importncia relativamente recente como

    ocorre com as cooperativas mdicas onde so realizados atendimentos

    em convnio mdico, a administrao de 45 hospitais, proporcionando

    trabalho para 297.521 mdicos associados, beneficiando

    aproximadamente 11.000.000 de usurios, e o recente crescimento do

    cooperativismo de crdito que j atinge um movimento considervel,

    beneficiando com emprstimos a custos menores favorecendo mais de 1,4

    milhes de associados.

    Setores de Atividades Nmero de EmpregadosExtrativismo Mineral 93

    Indstria de Transformao 4668Servios Industriais de Utilidade

    Pblica210

    Construo Civil 1975Comrcio 3080Servios 30224

    Administrao Pblica 436389Agropecuria 7919

    Total 484558Fonte: RAIS, 1997

    Tabela 7. Nmero de Empregados no associados aCooperativas segundo Setores de Atividades no Brasil em 1997

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    No Brasil, segundo a OCB (1999), as cooperativas apresentaram

    um crescimento relativamente recente, na dcada de 60 foram criadas 473

    cooperativas, na dcada de 80 outras 751, e na dcada de 90 foram

    fundadas 3170 sociedades cooperativas, figura 3.

    Faixas de RemuneraoAssociados a

    Cooperativas (%)No Associados aCooperativas (%)

    At 0,50 sm 0,16 0,04De 0,51 a 1,00 sm 1,80 0,20De 1,01 a 1,50 sm 5,45 1,57

    De 1,51 a 2,00 sm 10,04 2,31De 2,01 a 3,00 sm 24,31 4,05De 3,01 a 4,00 sm 16,74 10,98De 4,01 a 5,00 sm 10,87 19,40De 5,01 a 7,00 sm 11,71 15,14De 7,01 a 10,00 sm 7,46 16,77De 10,00 a 15,00 sm 5,01 14,49De 15, 01 a 20,00 sm 2,16 5,59Mais de 20,00 sm 3,50 8,67

    Ignorado 0,79 0,81

    Total 100,00 100,00Fonte: RAIS, 1997

    Tabela 8. Faixas de Remunerao de Empregados Associados aCooperativas e de Empregados no Associados Cooperativas noBrasil em 1997

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    Fonte: Banco de Dados da OCB

    3.1. Diagnstico das cooperativas no Estado de So Paulo

    No Estado de So Paulo verifica-se que h uma evoluo do

    cooperativismo na ltima dcada. Enquanto em 1991 So Paulo

    Apresentava 577 cooperativas, em 1999 esse nmero evoluiu para 1.038

    cooperativas com cerca de 2.110.583 associados.Atualmente no Estado de So Paulo existem 144 cooperativas

    agropecurias, 43 cooperativas de consumo, 211 cooperativas de crdito,

    22 cooperativas educacionais, 131 cooperativas habitacionais, 176

    cooperativas de sade, 20 cooperativas de eletrificao e 291

    Figura 3. Evoluo das Cooperativas, de Acordo com a Dcada de Fundao

    751

    3170

    167 181414

    473

    1900 - 1949 1950 - 1959 1960 - 1969 1970 - 1979 1980 - 1989 1990 - 1999

    Dcada

    NmerodeCooperativas

    Coop. que no informaram a fundao: 496

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    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

    anos

    quantidade

    Agropecuria Consumo Crdito Educacional

    Habitacional Sade Eletrif icao Trabalho

    cooperativas de trabalho. A figura 4 mostra a evoluo do nmero de

    cooperativas no Estado de So Paulo na dcada de 90.

    Figura 4 . Evoluo do Nmero de Cooperativas no Estado de SoPaulo no Perodo de 1991 a 1999.

    As cooperativas agropecurias possibilitam aos produtores

    associados um aumento de suas rendas mdias. H uma tendncia de

    crescimento o nmero de cooperativas agrcolas no pas, o que pode

    comprovar a eficincia do cooperativismo para os produtores rurais,

    principalmente em Estados pouco desenvolvidos da nao.

    Por outro lado, verifica-se ainda que no Estado de So Paulo essa

    tendncia no ocorre, isto , o nmero do cooperativismo decrescente.

    Isso possivelmente est ocorrendo devido a fuses e incorporaes que

    esto ocorrendo com objetivos de aumentar sua produtividade, ampliar

    seu poder de mercado e reduzir seus custos de transao.

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    O cooperativismo agropecurio importante no Estado de So

    Paulo uma vez que apoia pequenos produtores rurais transfere tecnologia

    e possibilita o desenvolvimento rural. Dos estabelecimentos rurais do

    Estado de So Paulo, 46,7% dos estabelecimentos com menos de 100

    hectares, so associados a cooperativas. Dos estabelecimentos rurais

    associados a cooperativas 73,2%, ou seja, mais que 2/3, so menores que

    100 hectares.

    A tabela 9 mostra que h uma desigualdade, semelhante ao dos

    estabelecimentos rurais do Estado de So Paulo, na distribuio da posse

    de terras para os estabelecimentos associados a cooperativas, sendo que

    73,25 % dos estabelecimentos rurais de cooperantes so constitudos de

    estabelecimentos com rea inferior a 100 h