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Livro de Atas Coordenadores: Ana Cristina Câmara Emília Sande Lemos Maria Helena Magro Lisboa, 2017

Livro de Atas - Universidade de Coimbra...Na sequência, aplicou-se uma análise de Clusters, procedimento multivariado para detetar grupos homogéneos nos dados (PESTANA e GAGEIROS,

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Livro de Atas

Coordenadores:

Ana Cristina Câmara Emília Sande Lemos Maria Helena Magro

Lisboa, 2017

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VIII CONGRESSO IBÉRICO DE DIDÁTICA DA GEOGRAFIA

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Atas do VIII Congresso Ibérico de Didática da Geografia

Educação Geográfica na Modernidade Líquida O conteúdo deste livro não pode ser reproduzido, nem total nem parcialmente, sem a autorização prévia do editor. A ele estão reservados todos os direitos.

Editor: Associação de Professores de Geografia

Coordenadores: Ana Cristina Câmara, Emília Sande Lemos, Maria Helena Magro

ISBN 978-972-99669-8-9

Formato: PDF

Idiomas: Castelhano e Português

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Access].Barcelona: Universidad de Barcelona, vol. XVII, nº 459, 10 de diciembre de 2013. http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-459.htm [Último acceso, 3 septiembre 2017]

RISCOS NATURAIS E MISTOS NA ÁREA METROPOLITANA DO PORTO PERCECIONADOS POR ALUNOS DO 9º ANO DE ESCOLARIDADE

Adélia N. Nunes Bruno Martins

Luciano Lourenço [email protected]

Universidade de Coimbra

Pretende-se aferir, no presente estudo, as percepções que os alunos do 9º ano de escolaridade têm de alguns conceitos fundamentais ligados à ciência do Risco e avaliar a respetiva capacidade em identificar e classificar os riscos naturais e mistos mais susceptíveis de se manifestarem, tanto à escala nacional como ao nível do município de residência, na Área Metropolitana do Porto (AMP). Procedeu-se à aplicação de um inquérito, por questionário, e os resultados mostram que os discentes classificam o risco de incêndio florestal como o de maior probabilidade de ocorrência, quer a nível nacional quer nos concelhos da AMP, com uma classificação a variar entre elevada e moderada, respetivamente.

Palavras-chave: riscos naturais e mistos; educação; percepção de conceitos; alunos de 9.º ano; Área Metropolitana do Porto, Portugal INTRODUÇÃO

A educação constitui uma das mais importantes e poderosas ferramentas na

construção de novos conceitos, na mudança de hábitos e no diálogo intergeracional. Desempenha, por isso, um papel basilar e estruturante na implementação de mecanismos que conduzem a cidadãos melhor preparados e a sociedades mais resilientes, contribuindo para a crescente consciencialização do risco e percepção do perigo. A educação para o risco é, hoje, reconhecida como uma componente da formação da criança e do jovem que importa desenvolver desde os primeiros anos de vida. A escola tem neste processo um papel fundamental, assumindo-se como interveniente privilegiado na mobilização da sociedade, proporcionando e promovendo dinâmicas e práticas educativas que visam, no espectro mais amplo da educação para a cidadania, a adoção de comportamentos de segurança, de prevenção e a gestão adequada do risco.

A campanha mundial “A redução de desastres começa na escola”, desenvolvida em 2006 e 2007 pela Estratégia Internacional para Redução de Desastres – EIRD/ONU, em resultado da Conferência Mundial sobre Redução de Desastres, realizada no Japão, em 2005, teve como objetivo informar e mobilizar os governos para que a redução de risco de desastres

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se integrasse nos currículos escolares, das escolas primárias e secundárias, de modo a aumentar a resiliência dos países frente aos desastres.

Em Portugal, só em 2011, o Conselho Nacional de Educação, através da Recomendação n.º 5/2011, considerou que a escola deve promover a educação para o risco, inserindo nos seus curricula matérias relevantes aos diferentes conceitos de risco e tratando estas matérias não só pela transmissão de informação e conhecimentos, mas também promovendo a ação que lida na prática com casos específicos de risco. Pretende, deste modo, “transformar a escola num agente de intervenção e num motor de mobilização da sociedade, em matéria de Educação para o Risco, através dos alunos, das suas famílias e da restante comunidade educativa” (NUNES et al., 2013).

A Geografia como disciplina integradora, e porque procura responder às questões que o Homem coloca sobre o meio físico e humano, os quais interagem entre si e se alteram constantemente, pode desempenhar um papel fulcral na “educação para o risco”. Com efeito, o conhecimento e a compreensão da sociedade e do planeta em que vivemos podem constituir instrumentos essenciais na formação e na informação dos futuros cidadãos, ou seja, na promoção de uma cidadania interventiva (SILVA e FERREIRA, 2000). Nessa perspectiva, as orientações curriculares propostas pela reforma de 2001 introduziram, no 7.º ano de escolaridade, o subtema ‘Riscos e Catástrofes Naturais’ o qual se integra no tema ‘Meio Natural’ e onde são desenvolvidos conteúdos relacionados com as “Causas das catástrofes naturais” e os “Efeitos sobre o homem e sobre o ambiente”. Todavia, pareciam manifestamente insuficientes as indicações, emanadas pelas orientações curriculares, pois apenas eram no sentido de abordar as causas e os efeitos das catástrofes, sem qualquer referência à explicitação dos conceitos básicos, como o de risco e catástrofe ou a definição dos diferentes tipos de risco. Por outro lado, o processo de ensino/aprendizagem deve centrar-se na prevenção e mitigação das catástrofes, importantes na criação de uma cultura de prevenção que pode levar à redução dos efeitos negativos das consequências (TEDIM et al., 2010).

No intuito de colmatar estas deficiências, implementou-se através das metas curriculares, iniciativa do Ministério da Educação e Ciência, o domínio “Riscos, Ambiente e Sociedade”, no 9.º ano de escolaridade, tendo como objetivo iniciais a compreensão/explicitação de um conjunto de conceitos relacionados com a teoria do risco, como suscetibilidade, vulnerabilidade, risco e catástrofe. A identificação de diferentes riscos quanto às suas causas (naturais, antrópicos e mistos) constituiu outro dos descritores enunciados. Os riscos naturais enunciados são, essencialmente, de cariz climático/meteorológico (furacões, tornados e tempestades de vento, secas, ondas de calor e vagas de frio), hidrológico (cheias e inundações) e geomorfológico (movimentos de vertente). Já no que se refere aos riscos mistos, privilegiaram-se os que, devido à ação antrópica, se desenvolvem no seio da atmosfera (formação do smog, chuvas ácidas, aumento dos gases com efeito de estufa e destruição da camada do ozono) e da hidrosfera (degradação das águas continentais e marinhas), assim como os que afetam a litosfera e a biosfera (erosão e degradação do solo, desertificação e incêndios florestais). A implementação curricular destas metas viria a ocorrer apenas no ano letivo de 2015/16.

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Em 2015 foi, também, apresentado o “Referencial de Educação para o Risco (RERisco)”59, destinado à Educação Pré-Escolar, ao Ensino Básico e ao Ensino Secundário, o qual se propõe contribuir para a concretização da educação para o risco, no quadro da Educação para a Cidadania: na sua dimensão transversal; no desenvolvimento de projetos e iniciativas que contribuam para a formação pessoal e social dos alunos; na oferta de componentes curriculares complementares, nos 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico.

Embora a preocupação com a “Educação para os riscos”, em ambiente escolar se encontre numa fase “embrionária” no nosso país, com o presente estudo procurámos avaliar a perceção que os alunos do 9º ano letivo têm sobre conceitos fundamentais associados à ciência do risco e avaliar a dimensão espacial que os alunos têm dos riscos naturais e mistos que afetam o nosso território, em geral, e a respectiva área de residência, na Área Metropolitana do Porto.

Com este exercício pretendeu-se, ainda, analisar o pensamento espacial destes discentes, o qual tem, segundo o National Research Council (NRC), o objectivo educacional de promover o hábito de pensar espacialmente, a prática de pensamento espacial de uma forma informada, e a adopção de uma postura crítica relativamente ao pensamento espacial (NRC, 2006).

1. METODOLOGIA Assim, com o objectivo de avaliar o conhecimento que os discentes do 9º ano de

escolaridade têm de conceitos fundamentais associados à “Ciência do Risco”, tais como susceptibilidade, vulnerabilidade, risco e catástrofe, e aferir a respetiva capacidade em identificar e classificar os riscos naturais e mistos com maior probabilidade de se manifestarem, tanto a nível nacional como nas áreas de residência , na Área Metropolitana do Porto, procedeu-se à aplicação de um inquérito por questionário. A sua aplicação decorreu antes do tema “Riscos, Ambiente e Sociedade” ser leccionado, no âmbito da disciplina de Geografia, no 9º ano de escolaridade, cujos conteúdos se integram no referido Domínio.

O questionário foi aplicado a 308 alunos do 9º ano de escolaridade (3º ciclo) que integram escolas 4 dos concelhos - Matosinhos, Porto, Vila Nova de Gaia e Gondomar- na Área Metropolitana do Porto. O questionário encontra-se dividido em 2 partes. Na primeira procura avaliar-se os conhecimentos que os alunos do 9º ano de escolaridade têm sobre conceitos como susceptibilidade, vulnerabilidade, risco e catástrofe. Para cada um destes conceitos foram colocadas 4 opções de resposta, tendo que identificar a que consideravam de correta.

Na segunda parte do questionário pretende-se avaliar a capacidade que os discentes apresentam na identificação e classificação da probabilidade de ocorrência de riscos naturais e mistos à escala nacional e no concelho de residência. Foram elencados 17 riscos naturais e mistos e introduzida uma escala quantitativa de 1 a 5, a que corresponde uma escala qualitativa <1: mínimo; 1-2: reduzido; 2-3: moderado; 3-4: elevado; 4-5: máximo, de forma a avaliar a respetiva perceção espacial do risco em função da probabilidade de ocorrência, tanto a nível nacional como municipal. 59 Trabalho conjunto da Direção-Geral da Educação (DGE), Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) e a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC)

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Na sequência, aplicou-se uma análise de Clusters, procedimento multivariado para detetar grupos homogéneos nos dados (PESTANA e GAGEIROS, 1998). A Classificação Hierárquica de Clusters é um dos métodos utilizados e serve essencialmente para medir a hierarquia da “proximidade” entre objetos, neste caso os distritos. O programa utilizado oferece várias hipóteses de agrupamento, entre os quais o método average linkage ou ligação por média. Algumas características desse método são, segundo KAUFMANN (1990): “(…) menor sensibilidade a ruídos que os métodos de ligação por vizinho mais próximo e por vizinho mais distante; apresenta bons resultados tanto para distâncias Euclidianas como para outras distâncias; - tendência a formar grupos com número de elementos similares. (…)”

Com base nesta matriz de proximidade entre as amostras, construiu-se um diagrama de similaridade denominado dendrograma. Assim, o dendrograma hierarquiza esta similaridade de modo a podermos ter uma visão bidimensional da similaridade ou dissimilaridade dos riscos percecionados pelos alunos, quer a nível nacional que no respetivo concelho de residência.

2.RESULTADOS 2.1. Conceitos associados à ciência do risco

Dos alunos inquiridos, cerca de metade (51,3%) respondeu corretamente quando lhes

foi pedido para identificarem o conceito de risco, entendido como a “combinação da probabilidade de ocorrência de um evento potencialmente perigoso com as suas consequências negativas”. As restantes opções, “acontecimento com efeitos relativamente limitados no tempo e no espaço, susceptíveis de causar danos em pessoas e bens”; “manifestação de fenómenos físicos, tecnológicos e antrópicos e respectivas consequências sobre pessoas e bens” e “consequências físicas e humanas resultantes da ocorrência de fenómenos perigosos” colheram uma percentagem de respostas próxima dos 15% (figura 1a)

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Figura 1. Distribuição das respostas aos conceitos de Risco (cima, esq.), Catástrofe (b),

Susceptibilidade (c) e Vulnerabilidade (d), em %

Relativamente ao conceito de “Catástrofe”, a opção correta “plena manifestação do risco e suas consequências” obteve 17,2% das respostas, muito inferior aos 46,9% que entende o conceito como “Grande calamidade, devida às elevadas perdas humanas e materiais”. Cerca de 30% dos alunos compreende catástrofe como os “prejuízos que um fenómeno natural acarreta para uma dada população” e apenas 3,9% como “acontecimento que resulta do não controlo de produtos químicos perigosos” (figura 1b).

Para cerca de 38% dos alunos o conceito de “susceptibilidade” é entendido como a “propensão de uma área ser afetada por uma catástrofe natural”. A resposta correta, “condições que um território apresenta para a ocorrência de um fenómeno destrutivo”, obteve cerca de 27% das escolhas, valor muito próximo da opção “elementos naturais e humanos expostos a um determinado risco”, que foi opção para 24,4% das respondentes. Cerca 10,0% entende susceptibilidade como uma “área geográfica de risco elevado” (figura 1c).

O último conceito analisado, o de “vulnerabilidade”, é entendido como “área geográfica mais exposta a um risco natural ou antrópico” pela maioria dos alunos inquiridos, cerca de 43%, valor significativamente superior à opção correta, “caraterísticas e circunstâncias de uma comunidade que a tornam suscetível aos efeitos nocivos do processo”, que obteve um total de respostas ligeiramente inferior a 30%. As opções “capacidade de resposta da população afectada por fenómeno perigoso” e “medidas de proteção experimentadas antes da ocorrência de um fenómeno natural, tecnológico ou antrópico” colheram, respetivamente, 15,2% e 12,5% das respostas (figura 1d).

2.2. Dimensão espacial dos riscos: perceção a nível nacional vs municipal (AMP)

De um modo geral, a perceção que os alunos têm da dimensão espacial dos riscos naturais em função da sua probabilidade de ocorrência é reduzida, quer à escala nível nacional

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(média 2,71; desvio padrão 0,55; variância 0,3), quer na AMP (média 2,12; desvio padrão 0,49; variância 0,29). Os riscos geofísicos, onde incluem o risco sísmico, vulcânico e de tsunami, são os de probabilidade mais baixa de manifestação. Assim, o risco vulcânico é o que apresenta o valor mais baixo, muito próximo de 1,8 para o território nacional e ligeiramente superior a 1,2 para a AMP. Relativamente ao risco sísmico, este é o que apresenta valores mais elevados dentro deste conjunto de riscos, próximo dos 2,4 para o território nacional, devido ao facto de se contemplar a região autónoma dos Açores, e baixa para 1,6 na AMP, ou seja oscila entre o nulo e o reduzido (Quadro 1). Já o risco de ocorrência de tsunamis ronda os 2 ou seja é percepcionado como reduzido, quer a nível nacional quer na AMP. Quadro 1. Média e Desvio Padrão (DP) da probabilidade de manifestação de riscos geofísicos na AMP

e a nível Nacional Risco sísmico Risco de tsunami Risco vulcânico Média DP média DP média DP AMP 1,6 0,73 1,6 0,72 1,2 0,95 Nacional 2,4 0,57 2,2 0,74 1,8 0,97

No que concerne aos riscos climáticos, estes são percepcionados com uma

probabilidade de manifestação baixa a moderada, já que os valores médios são próximos dos 2,5 no território nacional e de 2 na AMP. Foram considerados, para este conjunto de riscos, as ondas de calor, as vagas de frio, os furacões, os tornados e as secas. Aqueles cuja probabilidade de ocorrência é percecionada como mais elevada para o território nacional são as ondas de calor (média 2,97; DP 0,51), as vagas de frio (média 2,89; DP 0,43) e as secas (média 2,57; DP 0,37). Para AMP as vagas de frio obtiveram um valor ligeiramente superior às ondas de calor, 2,56 e 2,44 respetivamente, sendo que os restantes riscos considerados apresentam valores inferiores a 2 (Quadro 2). Quadro 2. Média e Desvio Padrão (DP) da probabilidade de manifestação de riscos climáticos na AMP

e a nível Nacional Ondas de

calor Vaga de frio Secas Tornados Furacões

média DP média DP média DP média DP média DP AMP 2,44 0,56 2,56 1,6 1,86 0,52 1,61 0,72 1,54 0,77 Nacional 2,97 0,51 2,9 0,43 2,57 0,37 2,06 0,80 2,01 0,83

Os riscos hidrometeorológicos, cheias e inundações, assinalam uma probabilidade de

manifestação moderada para o território nacional. As inundações apresentam um valor ligeiramente superior às cheias, 3,17 e 3,13 respetivamente. Para a AMP os valores são inferiores. As inundações são percepcionadas como um risco ligeiramente inferior às cheias, percepção esta que vai ao arrepio dos valores obtidos para o território nacional, sendo que os valores são, para ambos os riscos inferiores, na ordem dos 2,56 (Quadro 3):

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Quadro 3. Média e Desvio Padrão (DP) da probabilidade de manifestação de riscos

hidrogeomorfológicos na AMP e a nível Nacional Cheia Inundação Mov. em massa Erosão costeira média DP média DP média DP média DP AMP 2,56 0,56 2,56 0,56 1,99 0,37 2,3 0,45 Nacional 3,13 0,65 3,17 0,53 2,47 0,49 2,96 0,50

Nos riscos geomorfológicos foram considerados os movimentos em massa e a erosão

costeira. Para os primeiros, os resultados sugerem uma probabilidade média de ocorrência baixa para a AMP, inferior a 2. Para a escala nacional sobe para próximo dos 2,5. O risco de erosão costeira é aquele que colhe uma percepção de risco em função da probabilidade de ocorrência mais elevada em ambas as escalas de análise. À escala nacional ascende para um valor médio próximo dos 3 e ligeiramente superior a 2,3 para na AMP (quadro 3).

Quadro 4. Valores da média e desvio padrão obtidos para os riscos com os valores mais elevados a nível nacional

Incêndio florestal Poluição da água Poluição da ar média DP média DP média DP

AMP 2,89 0,87 2,55 0,65 2,80 0,82 Nacional 3,94 1,11 3,26 0,74 3,21 0,70

Os resultados identificam, todavia, o risco de incêndio florestal como o de maior

probabilidade de ocorrência, quer a nível nacional (média 3,94; DP 1,11), quer na AMP (média 2,89; DP 0,87) (Quadro 4). Paralelamente a este risco, classificado de misto, os riscos de poluição da água e do ar, apresentam os valores mais elevados a nível nacional, ainda assim integrados na classe de moderada ocorrência.

Na figura 2 sistematiza-se a distribuição qualitativa da probabilidade de manifestação dos diferentes riscos, percecionada pelos alunos do 9º ano de escolaridade, no território nacional (em cima) e na AMP (debaixo).

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Figura 2. Distribuição qualitativa da probabilidade de manifestação dos diferentes riscos, percecionada pelos alunos do 9º ano de escolaridade, em território nacional (em cima) e na AMP

(baixo) 2.3. Perceção espacial dos riscos: similaridade entre as escalas nacional e as municipais

A aplicação da análise hierárquica de clusters à perceção que alunos têm da espacialização dos diferentes tipos de riscos mostra, que a nível nacional, individualizam a ocorrência de incêndios florestais, face à probabilidade de manifestação dos restantes riscos. Com efeito, os incêndios florestais assumem no panorama nacional uma manifestação recorrente, sobretudo no Norte e Centro de Portugal, amplamente divulgados pelos meios de comunicação, tornando-os os riscos de elevada probabilidade de ocorrência (Figura 3).

Num segundo grupo emergem aqueles que de menor relevância em termos espaciais, os vulcões, o processo de desertificação, os furacões, os tornados e os tsunamis. Já no terceiro cluster integram-se os restantes riscos, divididos em 2 subgrupos: por um lado, as cheias, as

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inundações, a poluição da água e do ar e a erosão costeira a par das ondas de frio e calor e também da degradação dos solos. As secas, os movimentos de vertente e os sismos emergem num outro subgrupo.

Figura 3. Análise hierárquica de clusters, a nível nacional, da perceção dos alunos de 9º ano de escolaridade relativamente à manifestação dos diferentes riscos naturais e mistos

A nível municipal, os resultados obtidos mostram ligeiras similaridades e discrepâncias,

entre si e em relação à realidade nacional que merecem ser destacadas. Assim, em nenhum dos municípios os incêndios florestais são identificados como risco com maior potencial de ocorrência, aparecendo no entanto no conjunto dos riscos com maior probabilidade de manifestar. Os alunos dos municípios do Porto e de Vila Nova de Gaia individualizam os vulcões como um risco de nula probabilidade de ocorrência, incluindo os restantes em 2 subgrupos principais (figura 4). Embora a sequência não seja a mesma, a similitude na agregação dos riscos é bastante idêntica, apenas diferindo os movimentos de vertente e a erosão costeira, ambos percecionados como mais relevantes no município do Porto face ao de Vila Nova de Gaia.

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a) Porto

b) V.N. Gaia

Figura 4. Análise hierárquica de clusters, nível municipal, da perceção dos alunos de 9º ano de escolaridade relativamente à manifestação dos diferentes riscos naturais e mistos

Para Matosinhos e Gondomar (figura 5) aplicação da análise hierárquica de clusters faz

emergir dois conjuntos principais, os quais agregam os riscos que se relacionam mais fortemente entre si. Assim, os resultados apurados para Matosinhos e Gondomar apenas diferem na classificação da poluição da água e dos movimentos de massa, integrados no grupo de riscos com menor probabilidade de ocorrerem respectivamente em Matosinhos e Gondomar.

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c) Matosinhos

d) Gondomar

Figura 5. Análise hierárquica de clusters, a nível municipal, da perceção dos alunos de 9º ano de escolaridade relativamente à manifestação dos diferentes riscos naturais e mistos

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A perceção que os alunos têm dos riscos, da sua intensidade e probabilidade de

manifestação é essencial na educação para o risco. Em termos conceptuais, assinala-se alguma confusão em termos de terminologia, sobretudo quando avaliados conceitos como susceptibilidade, vulnerabilidade e catástrofe.

De uma modo geral, os alunos identificaram os riscos com maior probilibidade de se manifestarem quer a nível nacional, quer na respetiva área de residência. Salienta-se, com exceção dos incêndios florestais, do risco de poluição da água e do ar e dos riscos de cheias e inundações, a classificação de uma probabilidade de manifestação mínima a reduzida a nível local, sendo que a probabilidade de ocorrência que atribuem à sua área de residência é sempre inferior quando comparada com a escala nacional.

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Os resultados aqui analisado apresentam um carácter preliminar, sendo necessário complementar a sua interpretação com outras variáveis também auscultadas, como: os factores responsáveis pela sua manifestação e intensidade, as consequências da sua manifestação e, sobretudo, que medidas adotar durante e após a sua manifestação, no sentido de mitigar as suas consequências.

BIBLIOGRAFIA

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