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2007/2008 GOVERNO DO ESTADO DO CEAR CID FERREIRA GOMES PRESIDENTE DO CONSELHO DE POLTICAS E GESTO DO MEIO AMBIENTE ANDR BARRETO ESMERALDO SECRETRIA DA EDUCAO DO ESTADO MARIA IZOLDA CELA DE ARRUDA COELHO COORDENADOR DE EDUCAO AMBIENTAL E ARTICULAO SOCIAL MARCOS ALBERTO DE OLIVEIRA VIEIRA

COORDENAO DO CURSO DE FORMAO DE EDUCAO AMBIENTAL CONPAM / SEDUC MARIA JOS DE SOUSA HOLANDA MARIA HOSANA MAGALHES VIANA

tica e Cidadania Diversidade tnico - Racial Sociedade Cultura e Natureza

SUMRIO

TICA E CIDADANIAAPRESENTAO.............................................................................................................. 05 TICA E CIDADANIA /FINALIDADES .................................................................................... 06 INTRODUO................................................................................................................................ 07 MENSAGEM INICIAL................................................................................................................... 08 INCORPORANDO ALGUNS CONCEITOS....................................................................... 09 A ESSNCIA DA TICA .................................................................................................... 10 PODER DA TICA ........................................................................................................... 11 DE UMA NOVA TICA PARA UMA NOVA TICA............................................................ 12 FUNDAMENTOS DE UMA REA DE SUSTENTABILIDADE ......................................... 13 OS QUATROS PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA DA SUSTENTABILIDADE............. 13 AS QUATRO VIRTUDES PARA UMA NOVA TICA......................................................... 16 A CONQUISTA PELA CIDADANIA.................................................................................... 19 CIDADO, POVO, NAO ............................................................................................... 21 A EDUCAO DE VALORES............................................................................................ 23 RVORE DE VALORES .................................................................................................... 26 COMPREENSO / EMPATIA / TOLERNCIA .................................................................. 26 A CONSCINCIA AMBIENTAL E OS 5 ES ................................................................... 28 SUGESTES DIDTICAS ESTRATGICAS ................................................................... 30 ROTEIRO DE POSSIBILIDADES...................................................................................... 31 OUTRAS SUGESTES ..................................................................................................... 32 RECOMENDAES DE APLICAO PRTICA............................................................. 32 OS SUJEITOS DA PRXIS PEDAGGICA...................................................................... 34 EDUCANDO....................................................................................................................... 36 CONCLUSO..................................................................................................................... 37 NINGUM VIVE S............................................................................................................ 37 MSICAS........................................................................................................................... 38 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA......................................................................................... 41 ALGUMAS SUGESTES DE LEITURA............................................................................ 42 VOCABULRIO................................................................................................................. 43 HOMENAGEM AO EDUCADOR........................................................................................ 44

APRESENTAO

O Conselho de Polticas e Gesto do Meio Ambiente CONPAM, em parceria com a Secretaria da Educao do Estado- SEDUC est realizando um projeto de Formao de Educadores Ambientais , com a finalidade de promover o desenvolvimento de um trabalho integrado, visando execuo de aes socioambientais. Essa proposta de formao incentivar o enraizamento da Educao Ambiental no sistema pblico de ensino, estimulando a elaborao de projetos na escola. O CONPAM e a SEDUC compreendem que a Educao Ambiental um processo permanente de formao centrado no desenvolvimento de uma compreenso integrada do meio ambiente em suas mltiplas relaes, envolvendo aspectos fsicos, sociais, polticos, econmicos, culturais, cientficos e ticos. Esse processo deve ser orientando para o desenvolvimento da conscincia crtica que permita a construo de habilidades e atitudes para entender as interrelaes entre o ser humano, a cultura e a natureza, baseado no respeito de todas as formas de vida. As escolas cearenses, em sua maioria, j esto realizando importantes experincias em Educao Ambiental como: os PCN Meio Ambiente na escola, as Conferncias Infanto-Juvenil; o Programa: Vamos Cuidar do Brasil; a construo da agenda ambiental, entre outros, em parceria do Ministrio da Educao e o Ministrio do Meio Ambiente. As escolas compreendem que os problemas ambientais so muitas vezes decorrentes do uso indevido dos recursos naturais, e que a sua funo social vai alm do ensinar a ler e escrever, preciso intensificao de aes vinculadas ao Projeto Poltico Pedaggico que ultrapassem os muros e que envolva toda a comunidade, viabilizando propostas que possam fortalecer os biomas locais e globais, promovendo a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar social. Para tanto, necessrio mais do qu e informaes e conceitos, preciso saber o que queremos transformar para que nossos esforos sejam canalizados para as aes significativas que possam contribuir para transformar o nosso ambiente social. O processo democrtico que devemos construir aquele que estabelea relaes entre as pessoas e os fatos, causas e conseqncias e verdadeiramente possa contribuir para a formao de uma cidadania plena . Esse o nosso desafio!

Andr Esmeraldo Barreto Presidente do CONPAM

Maria Izolda Cela de Arruda Coelho Secretria da Educao

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TICA E CIDADANIAFINALIDADES

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Qualificar profissionais para atuarem como promotores da educao ambiental, discutindo pressupostos tericos e prticas sobre tica e cidadania voltadas para formao das geraes do futuro, trazendo a possibilidade de transformao da realidade pouco edificante em que se vive. Propiciar embasamento para tomada de decises integradas atravs dos conceitos de tica e cidadania. Fomentar uma constante atitude crtica, de reconhecimento dos limites e possibilidades dos sujeitos e das circunstncias de problematizaes das aes, de valores e regras que norteiam as relaes entre as pessoas e destas com o ambiente. Oportunizar a fundamentao para elaborao de propostas pedaggicas capazes de contribuir para formao de cidados ticos crticos transformadores da crise e dos conflitos vigentes. Compreender a funo e a importncia da tica e cidadania enquanto temas de relevncia social; Investigar a origem e importncia da tica nas questes que envolvem cultura, identidade e permeam as relaes sociais e polticas no mundo contemporneo; Reformular conceitos e valores rumo a uma nova conscincia do papel social como individuo e profissional.

Nesse mundo, podemos afirmar de maneira absoluta que nada de grandioso foi realizado sem paixo ou entusiasmo. Hegel Regina Coele Souza Lopes Diniz Administradora, Pedagoga, Especialista em Gesto e Planejamento Ambiental

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INTRODUOA marca de sua ignorncia a profundidade da sua crena na injustia e na tragdia. O que a lagarta chama de fim do mundo, o mestre chama de borboleta.Richard Bach

Fazendo leituras de forma progressiva, concebemos sob forma de ensinamentos as teorias e prticas dos temas, tica e cidadania. Buscamos, assim, neste mdulo trazer discusses concretas para uma prtica social e educativa que fortalea a participao, o exerccio da cidadania, da tica como elemento vital na produo social, porque cada um de ns temos responsabilidades individuais e sociais. Objetivamos promover uma educao transdisciplinar considerando os temas transversais tica e cidadania; Relacionaremos os temas e contedos, evitando-se a fragmentao do conhecimento e levando o Formador compreender o mundo maneira global e sistemtica; Iremos sugerir aes educativas prticas que contextualizem os assuntos abordados em sala de aula. Os dois temas so instigantes relacionados a uma nova atitude para a construo de um futuro, os quais nos remetem a uma reflexo, sobre como despertar nos indivduos o seu papel de agentes de mudanas. Abordaremos numa seqncia de entendimentos a conscincia dos 5 Es (tica, Espiritualidade, Economia, Ecologia, Educao) e a articulao entre educao, tica e cidadania. Acreditando que fundamental uma reviso na construo de valores humanos baseados numa tica fundamentada na vida e no reconhecimento da dimenso espiritual do Ser humano, possibilitando-o uma nova maneira de estar no mundo. Esperamos que esta iniciativa possa contribuir efetivamente para o enriquecimento dos debates sobre os temas abordados, e colabore com desdobramentos, buscando outros olhares sobre as conexes possveis entre as prticas educativas e os grandes temas sociais.

Regina Coeli Souza Lopes Diniz, Administradora, Pedagoga, Especialista em Gesto e Planejamento Ambiental. 9

MENSAGEM INICIAL

REFLETINDO SOLIDARIEDADE E COMPANHIA

Solidrios, somos gente; Solitrios, somos peas. De mos dadas, somos fora; Desunidos, impotncia. Isolados, somos ilhas. Juntos, somos continentes. Inconscientes, somos massa; Reflexivos, somos grupo. Organizados somos pessoas; Sem organizao, somos objeto de lucro. Em equipe, ganhamos, libertamo-nos... Individualmente, perdemos, continuamos presos. Participando, somos povo; Marginalizando-nos, somos rebanho. Unidos somos soma; Na massa somos nmeros. Dispersos somos vozes no deserto; Agrupados, fazemo-nos ouvir. Amontoando palavras, perdemos o tempo. Com aes concretas, construmos sempre.

Manuel Pessoa

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INCORPORANDO ALGUNS CONCEITOS Cidadania: 1. Qualidade ou condio de cidado.Fonte: mini-dicionrio LUFT;

2. Dignidade ou qualidade de cidado.Fonte: Mini-dicionrio RIDEEL;

3. Qualidade, direito de cidado; ttulo honorfico com que uma cidade presta homenagem a uma personagem importante, considerando-a como um dos seus filhos.Fonte: lngua portuguesa on-line, http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx,

4. Qualidade de cidado, pessoa que est no gozo de seus direitos e deveres civis e polticos garantidos pela constituio. natural, quando se refere aos indivduos nascidos no pas, legal, se adquiridos por naturalizao. No se confunde com nacionalidade. So gratuitos os atos necessrios ao exerccio da cidadania. Unio compete, privativamente, legislar sobre nacionalidade, cidadania e naturalizao (C.F., arts. 1, II, 22, XIII).Fonte: Dicionrio tcnico jurdico, Deocleciano Torrieri Guimares.

tica: 1. Cincia da moral.Fonte: Mini-dicionrio RIDEEL;

2. Conjunto de regras e de valores ao qual se submetem os fatos e as aes humanas, para apreci-los e distingui-los, moral.Fonte: Mini-dicionrio, LUFT.

3. Disciplina filosfica que tem por objeto de estudo os julgamentos de valor na medida em que estes se relacionam com a distino entre o bem e o mal.Fonte: Lngua portuguesa on-line, http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo. aspx.

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4. Normas e princpios que dizem respeito ao comportamento do individuo no grupo social a que pertence.Fonte: Dicionrio tcnico jurdico, Deocleciano Torrieri Guimares.

A ESSNCIA DA TICA H vrios anos, quando fui solicitado pela primeira vez a percorrer vrias comunidades, de forma mais ampla e, como filsofo, a falar sobre tica, decidi pesquisar o que os homens e mulheres contemporneos estavam lendo, ouvindo e dizendo sobre questes ticas. Li artigos de revistas, publicaes profissionais e livros populares. Assisti a vdeos e ouvi fitas. Estudei todos os materiais motivacionais mais conhecidos. E, alm disso, decidi consultar citaes em todos os dicionrios existentes para saber como os outros palestrantes estavam abordando o assunto. Minha maior surpresa ocorreu quando folheava um desses manuais de citaes consultando tpicos como tica, moralidade, bem, mal, virtude. Um percentual significativo, s vezes at a maioria das citaes consultadas, tinha uma conotao negativa, ctica ou desdenhosa. Muitas vezes, tenho que admitir, eram citaes bastante engraadas como a famosa observao de Mae West que, sempre que era obrigada a escolher entre duas maldades, preferia optar pela que nunca havia praticado; ou, a viso de Wood Allen de que, aparentemente, as pessoas boas dormem melhor noite, porm as ms parecem se divertir mais quando esto acordadas. Observao inteligente e notvel. Por que tantas citaes sobre moralidade ou tica incluem essa atitude negativa? Uma das razes mais importantes que, durante muito tempo, muitas pessoas parecem ter interpretado incorretamente o que tica. Acreditam que a tica est associada restrio e coibio, implica em no poder fazer o que realmente gostaramos, limitados pelo controle social ou visando a no ofender os mais hipcritas. Enquanto no nos livrarmos dessa iluso, no apreciamos uma das bases mais importantes do esprito positivo na sociedade e no sucesso sustentvel no trabalho. Acredito que perdemos nosso senso de importncia da tica porque perdemos o seu significado. Stephen Hawking disse que todo fsico sonha em descobrir uma lei da natureza que explique tudo de forma absoluta, uma lei to

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simples que possa ser estampada em uma camiseta, impressa em um adesivo ou em um carto comercial. Na filosofia, s vezes buscamos sonhos semelhantes. Seria maravilhoso se pudssemos criar uma nica caracterizao da tica, suficientemente abrangente para explicar o que realmente tica e, ao mesmo tempo, suficientemente simples para ser estampada em uma camiseta, impressa em um adesivo ou em um carto comercial. Deixe tentar. tica simplesmente: Pessoas espiritualmente saudveis em relacionamento socialmente harmnicos. Talvez no seja assim to interessante, mas a definio verdadeira. Inferior aos tratados de todos os filsofos sobre utilitarismo e teoria do contrato, a definio de tica restringe-se simplesmente ao desenvolvimento pessoal adequado e bom relacionamento com outras pessoas - os dois lados os projetos moral, interno e externo. Pessoas espiritualmente saudveis em relacionamentos socialmente harmnicos. PODER DA TICA Portanto, o que ns ganhamos com tica? Descobri que ganhamos simplesmente a satisfao pessoal definitiva. A essncia interior e a grandeza exterior. Boas pessoas em bons relacionamentos de trabalho, constituindo juntas uma boa comunidade, da qual podem resultar parcerias poderosas. O poder interior e a satisfao coletiva. Hoje, as pessoas tendem a adotar uma abordagem negativa e legalista tica, como se no passasse apenas de uma questo de conformidade, como se o aspecto principal da tica ou da moralidade fosse simplesmente evitar problemas legais e outros. Essa viso estabelece um foco totalmente incorreto. A tica no compreende principalmente afastar-se dos problemas. No tem absolutamente nada a ver com evitar problemas. tica principalmente criar poder, em cada pessoa, na famlia, na comunidade, nos relacionamento e na vida. Quem pensa que a principal preocupao da tica simplesmente evitar problemas pode cair na tentao de enveredar por um atalho. Normalmente, h duas formas de evitar problemas. Uma fazer a coisa certa. s vezes isso pode ser difcil. O outro caminho fazer o que voc quer, mas camuflar as suas atitudes para que parea que voc fez a coisa certa. Um o caminho da sade; o outro o caminho

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da simulao. Quando se pensa tica simplesmente como uma forma de evitar problemas, o caminho da simulao pode se transformar facilmente em uma tentao muito forte para pessoas avessas a dificuldades. Quando claro que tica criar poder, o caminho da sade a escolha mais bvia. Pessoas espiritualmente saudveis em relacionamento socialmente harmnicos. Essa a receita para indivduos fortes e fortes relacionamentos de trabalho. E, evidentemente, um benefcio colateral considervel talvez seja a possibilidade bastante freqente de evitar problemas desnecessrios.

(Do livro A Nova Alma do Negocio, de Tom Morris Campus, 1998 )

DE UMA NOVA TICA PARA UMA NOVA TICA Essa tica deve nascer de uma nova tica. Caso contrrio no inaugura o novo paradigma e representaria apenas uma melhoria do antigo modo de viver. A nov a tica : a humanidade parte de um vasto universo em evoluo; a Terra, nosso lar, est viva (nota minha: Gaia, super organismo vivo) como uma comunidade de vida nica; a Terra providenc iou as condies essnciais para a evoluo da vida; cada um compartilha da responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da famlia humana e de todo o mundo dos seres vivos; o esprito de solidariedade humana e de parentesco com toda vida fortalecido quando vivemos com reverncia o mistrio da existncia, com gratido pelo dom da vida e com humildade o lugar que ser humano ocupa na natureza. Terra, vida e humanidade somos expresso de um mesmo o e imenso processo evolucionrio que se iniciou h quinze bilhes de anos. Terra, vida e humanidade formamos uma nica realidade complexa e diversa. o que nos testemunham os astronautas quando vem a Te rra l de fora da Terra a partir de suas naves espaciais: Terra, biosfera e humanidade no podem ser distinguidas, formam uma nica e irradiante realidade. Tudo vivo. A terra Gaia, um super organismo vivo. O ser humano (cuja origem filosfica vem de hmus=terra frtil e boa) a prpria Terra que sente, que pen sa, que ama, que cuida e que venera. Terra e humanidade possuem a mesma origem e o mesmo destino. A misso do ser humano, como portador de conscincia, inteligncia, vontade e amor, a de ser o cuidador da Terra, o jardineiro desse esplndido jardim

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do den. Ocorre que na histria ele se mostrou, em muitas ocasies, O Sat da terra e, em outras, transformou o jardim do den num matadouro, para usar uma expresso do grande especialista em biodiversidade, Edward Wilson (O futuro da vida, p.121). Mas sua vocao ser o guardio de todo ser. Essa vocao e misso deve ser hoje urgentemente despertada, pois a Terra, a vida e a humanidade esto doentes e ameaadas em sua integridade. Temos condies de destruir o projeto pl anetrio humano e devastar grande parte da biosfera. Da ser urgente um novo padro de comportamento e de virtudes que nos possam salvar de um destino trgico. Sucintamente como o formulou a Carta da Terra: em todos os mbitos da ativida de humana precisamos viver um modo sustentvel de vida. Esse o novo princpio civilizatrios, um sonho promissor para o futuro da vida. Mais que falar de um desenvolvimento sustentvel importa garantir e sustentabilidade da terra, da vida, da sociedade e da humanidade. Como bem dizia o manifesto pela vida manifiesto por la vida; a tica da sustentabilidade coloca a vida acima do interesse econmico-poltico ou prtico-instrumental; a tica da sustentabilidade uma tica para a renovao permanente da vida, da qual tudo nasce, cresce, adoce, morre e renasce. Fundamentos de uma tica da sustentabilidade Apresentamos agora, sucintamente, o que seja uma tica da

sustentabilidade. Ela se constri a partir de quatro princpios fundamentais e se realiza na vivncia de quatro virtudes imprescindveis. Os quatros princpios de uma nova tica da sustentabilidade 1. Principio da afetividade O mais fundamental de todos, pois tem a ver com a estrutura de base do ser humano. Hoje pelas aquisies das cincias da vida, da psicologia do profundo, da moderna reflexo filosfica (Heidegger), a estrutura primeira do ser humano no constituda pela razo ou logos. Mas pelo pathos sensibilidade. Ou se quiserem na linguagem recente de David Goleman pela inteligncia emocional ou pela razo sensvel de Michel Maffesolli. J Heidegger em sua analtica existncia em Ser e Tempo ensinava: a situao primeira do ser humano estar no mundo junto com outros e abertos ao futuro. Estamos no mundo sendo afetados e afetando. Somos impregnados de afetividade, de sentimento, de afeto, de emoo e de amorosidade. daqui que nascem os valores. aqui que se encontra o mundo das excelncias,

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daquilo que achamos bom ou mau, que nos agrada ou desagrada, que nos fascina ou nos causa repulsa. Da sensibilidade frontal, do pathos nasce o ethos. Hoje a crise da tica crise de sensibilidade e de afeto. Somos insensveis desgraa da maioria da humanidade que vive em nveis de pobreza e misria. Mostramo-nos indiferente degradao dos ecossistemas, poluio dos ares e dos solos e lenta extino das espcies. Se no suscitamos o pathos, vale dizer a capacidade de sentir, de se indignar, de se sensibilizar face aos outros, nenhuma tica possvel ou ento predomina a tica utilitarista do individuo isolado buscando sobreviver ou desfrutar sozinho dos benefcios da natureza e da cultura. J no sentimos mais e nos fa zemos insensveis a valores, solidariedade, ao cuidado, amorosidade e compaixo, dimenses que no tm preo mas tm valor e do sentido nossa vida. sobre esta sensibilidade que se pode construir uma sustentabilidade duradoura. 2. Principio do cuidado/compaixo H uma tradio filosfica que remonta de Csar Augusto e de seu bibliotecrio Higinus em sua famosa Fbula do Cuidado, que atravessou os sculos at alcanar o maior pensador do sculo XX, Martin Heidegger, que v no cuidado a essncia do ser humano. Por qu? Porque o cuidado o condicionar prvio a tudo o que possa acontecer ao ser humano. Se no houver cuidado prvio ele no existe nem subsiste, j que biologicamente um ser carente por no possuir nenhum rgo especializado. Se no houver cuidado no sobrevive nas primeiras horas de seu nascimento, no irrompe a inteligncia, no floresce o amor, no realiza sua misso no mundo. O cuidado um dado ontolgico prvio, construtor do humano. A primeira manifestao da sensib ilidade e do pathos o cuidado para com a vida. Toda vida deve ser cuidada seno morre. Tudo o que cuidamos dura mais. A verso oriental do cuidado vem sob o signo da compaixo. Ter compaixo, no sentido budista, no significa ter pena dos outros que sofrem. a capacidade de respeitar o outro como outro, no interferir em sua vida e destino, mas nunca deix-lo s em sua dor. voltar-se para ele, para ser solidrio e cuid-lo e construir junto o caminho da vida. O que precisamos hoje uma tica da compaixo, do cuidado, cuidado da terra como Gaia para que no sucumba s chagas que abrimos em seu corpo, cuidado da vida, cuidado do ser humano a partir dos que mais esto ameaados

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(bem dizia o Presidente Lula que hoje o ser mais ameaado da criao o ser humano, condenado a morrer antes do tempo), cuidado dos ecossistemas, cuidado da espiritualidade e cuidado at com a morte, para que possamos nos despedir com gratido desta vida. Em 1991, os vrios organismos da ONU ligados preservao do meio ambiente publicaram um texto precioso em duas verses uma acadmica e outra popular, que trazia como ttulo Caring for the Earth (Cuidando da Terra). Um dos eixos articuladores da Carta da Terra a categoria cuidado em todas as suas modulaes, do planeta, do sistema vida, do tipo de desenvolvimento e do modo sustentvel de viver. O Ministrio do Meio Ambiente do governo Luiz Incio Lula da Silva, sob a inspirao da Ministra Marina Silva cunhou este lema para qualificar as atividades oficiais vamos cuidar do Brasil. A categoria cuidado e o princpio da precauo tm centralidade na reflexo e na prtica do Ministrio. 3. Principio da Cooperao A cooper ao, como principio para uma tica sustentvel, constitui a lgica objetiva do processo evolucionrio e da vida. A fsica quntica e a nova cosmologia tiraram esse principio a limpo ao afirmar que no universo tudo tem a ver com tudo em todas os pontos e em todas as circunstncias. Todas as energias e todos os seres cooperam um com o outro para que se mantenha o equilbrio dinmico, se garanta a diversidade e todos possam co-evoluir. O propsito da evoluo no conceder a vitria ao mais forte, mas permitir que cada ser, mesmo o mais fraco, possa expressar virtualidades que emergem do vcuo quntico, daquele abismo de energia e de possibilidades, de onde tudo sai e para onde tudo retorna. O prprio principio da seleo natural, proposto por Darwin, s tem sentido dentro de uma fora maior e mais fundamental, que preside no apenas os organismos vivos mas todos os seres do universo. Foi cooperao que permitiu que nossos ancestrais antropides dessem o salto da animalidade para a humanidade. Ao sarem para buscar alimentos, no os comiam imediatamente e sozinhos, mas os traziam para o grupo, para distribu-los solidria e cooperativamente. Somos humanos porque somos seres de cooperao e solidariedade. Hoje no podemos ser apenas cooperativos e solidrios espontaneamente porque esta a lgica da evoluo e da vida, mas devemos s-lo conscientemente e como projeto de vida. Caso contrrio no salvaremos a vida nem garantiremos um

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futuro compromisso para a Humanidade. O sistema econmico e o mercado no se fundam sobre a cooperao, mas sobre a competio e a concorrncia mais desenfreada. Por isso criam tantas vtimas e se mostram cruis e sem piedade para com populaes e pases inteiros.

4. Principio da Responsabilidade. Este principio foi amplamente discutido pelo filsofo alemo Hans Jonas em seu livro O principio da Responsabilidade (Das Prinzip Verantwortung), publicado pela editora Vozes, em 2005. Ser responsvel dar-se conta das conseqncias de nosso atos. At a inveno das armas nucleares, da guerra qumica e biolgica e da manipulao do cdigo gentico podamos fazer intervenes na natureza sem maiores

preocupaes. Hoje a situao mudou radicalmente. Construmos o principio da autodestruio como o chamou Carl Sagan. Temos os meios de destruir a vida humana e desestruturar profundamente o sistema-vida. Podemos pela excessiva quimicalizao dos alimentos, pelos transgnicos e pela manipulao do cdigo gentico produzir um desastre de propores inimaginveis, inclusive irreversveis. Ento, devemos assumir nossa responsabilidade por ns mesmos, pela Casa Comum e pelo futuro compartilhado. O principio categrico : aja de forma to responsvel que as conseqncias de tua ao no sejam deletrias para a vida e seu futuro. Ou positivamente: aja de tal forma que as conseqncias de tuas aes sejam promotoras de vida, de cuidado, de cooperao e de amor. aqui que tem o seu lugar o principio da precauo to importante nas decises sobre a manipulao gentica de organismos vivos. Esses quatro princpios podero inspirar polticas limitadoras de agresses natureza, ainda dentro do sistema imperante e principalmente funcionam como quatro pilastras capazes de sustentar um novo ensaio civilizatrio, mais benevolente para com a natureza e a vida. As quatro virtudes para uma nova tica da sustentabilidade No bastam princpios. Precisamos de virtudes, vale dizer,

comportamentos e padres que traduzem os princpios na prtica. Vejo quatro virtudes fundamentais para dar sustentabilidade Humanidade e Casa comum.

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1. Hospitalidade J Immanuel Kant (+1804) colocou em seu derradeiro livro A paz perptua, a hospitalidade como a primeira virtude da repblica mundial. A hospitalidade um direito de cada pessoa humana, no s, de cada ser, pois todos somos filhos e filhas da Terra. Temos o di reito de ser acolhidos e perambular pelo nosso planeta. Ao direito corresponde o dever de oferecer hospitalidade, pois todos estamos em p de igualdade sobre o mesmo planeta. Hoje h uma falta criminosa de hospitalidade. So cerca de trezentos milhes que, por guerras, por razes econmicas, ticas e religiosas, esto refugiados ou fora de suas ptrias. As fronteiras dos pases opulentos de tornam cada vez mais fechadas a as exigncias de ingresso cada vez duras. A hospitalidad e possui uma dimenso csmica. Todos os seres, para alm de sua utilidade ou no aos humanos, tm direito de continuar a existir, se serem protegidos e terem garantidos seus habitats. 2. Convivncia Esta a segunda virtude para a sustentabilidade natural e social. Ns no existimos coexistentes; no vivemos convivemos. A convivncia fundada no conhecimento de que com todos os seres formamos uma comunidade csmica e bitica. Na verdade, no existe meio-ambiente, mas a comunidade de vida. Todos os seres so portadores de informao, possuem histria e seu modo prprio de se conectar com todos os demais. Por isso, so portadores de certo nvel de subjetividade. Conviver com eles significa acolh-los como so em suas diferenas. O limite maior da cultura ocidental, hoje globalizada, sua incapacidade histrica de acolher o outro como outro; quase sempre o subjugou e at o destruiu; raramente fez do outro um aliado na aventura da vida. H que se compreender o outro, tambm os outros seres da natureza como concidado que devem entrar em nossa forma de viver. A democracia no pod e ser apenas humana, mas tambm socioeconmica. O pacto social deve ser articulado com o pacto natural, pois s assim faremos justia realidade global. A convivncia com todos os seres da natureza nos leva a excluir a violncia e a utilizao meramente egosta e utilitria dos bens da natureza. Isso no significa que renunciamos ao desenvolvimento necessrio para atender nossas demandas. Mas o faremos em sinergia com a natureza e no custa de sua devastao.

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3. Respeito a todos os seres Cada ser tem valor intrnseco, tem seu lugar no conjunto dos seres, no interior de seus ecossistemas, revela dimenses singulares do Ser. A maioria dos seres muito mais ancentral que o ser humano; por isso merecem venerao e respeito. esta atitude de respeito, to viva entre as culturas originais, que impe limites veracidade de nosso sistema deprededor que tem como eixo de sua estrutura a vontade de poder sobre tudo e sobre todos. Quem melhor formulou uma tica do respeito foi Albert Schweitzer (+1965), mdico suo que se dedicou aos hansenianos em Lambarene no Congo. Ensinava: tica a responsabilidade ilimitada por tudo o que existe e vive (Was sollen wirtur,p.29). Como era tambm telogo, dos mais eminentes, estendia o valor da palavra de Jesus no juzo final tambm aos seres vivos mais indefesos: o que fizerdes a um desses mais pequenos foi a mim que o fizerdes (Op.cit.55). Esse respeito pelo outro nos obriga tolerncia, to urgente nos dias atuais, marcados pelo fundamentalismo e pelo terrorismo. A tolerncia ativa implica acolher as limitaes e at defeitos dos outros e conviver jovialmente com eles, elaborando formas no destrutivas de resolver os eventuais conflitos. Sem a tolerncia, o respeito e a venerao perderemos tambm a memria do Sagrado e do Divino, que perpassa todo o universo e que emerge na conscincia humana. So valores que daro sustentabilidade sociedade e natureza.

4. Comensalidade Vale dizer, o comer e beber juntos. Normalmente a segurana alimentar entendida antropocentricamente: garantir aos seres humanos o mnimo para a produo e reproduo da vida. Sequer o conseguimos porque cerca de um tero da humanidade vive faminta ou subnutrida. Mas, pelo fato de constituirmos uma comunidade de vida, dependermos de outros seres para nossa prpria vida, e ao mesmo tempo, somos responsveis pela vida deles, garantindo-lhes o habitat onde encontram sua alimentao. De que vale sermos hospitaleiros uns para com os outros, convivermos fraternamente, respeitar e tolerar nossas diferenas se todos estamos morrendo de fome? A comensalidade que outrora nos fez humanos, continua a humanizar-nos na medida em que repartimos os bens da natureza de forma solidria e responsvel. Esses princpios e essas fundamentam, tambm uma nova espiritualidade, vale dizer, uma nova experincia do Ser e do sentido da vida humana. esta 20

espiritualidade que cria uma aura e uma atmosfera, que fazem com que a tica no decaia no moralismo e as virtudes em imperativos categricos abstratos. O resultado final desses princpios e dessas virtudes que fundam a sustentabilidade de toda vida e a cultua da paz. A paz sign ifica aqui, como bem o formulou a Carta da Terra, a plenitude criada por relaes corretas consigo mesmo, com outras pessoas, com outras culturas, com outras vidas, com a terra e com todo maior do qual somos parte (n.16f).Texto elaborado por Leornado Boff, telogo, escritor, membro da comisso da Carta da Terra e portador do Premio Nobel da Paz Alternativo, 2001.

A CONQUISTA PELA CIDADANIA Como nasceu o cidado? Toda historia, a histria de um povo. De homens e mulheres iguais a todos ns, que sonham, lutam e assim constroem uma vida melhor. E ao fazemos, isso estaremos discutindo a cidadania que temos e dando passos decisivos para a construo que queremos vocs lembram quantas vezes escutaram as palavras cidadania e cidado nos ltimos tempos? Percebemos como elas so faladas pelo governo, igrejas, sindicados e associaes, polticos, TV, rdios, etc.? J se perguntaram por que essas palavras so to discutidas? Porque de uns tempos pra c elas esto na boca de todo mundo? Ns s sabemos essas respostas quando entendemos o que cidadania e o que ser cidado. A cidadania surgiu na Grcia quando o homem passou a viver em cidades, da que surgiu a palavra cidado. Segundo o Dicionrio Aurlio Buarque de Holanda Ferreira, cidadania a qualidade ou estado do cidado, entende-se por cidado o indivduo no gozo dos direitos civis e polticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este.

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No sentido et

imolgico da palavra, cidado deriva da palavra civita, que

em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego na palavra politikos aquele que habita na cidade. No sentido atenien se do termo, cidadania o direito da pessoa em

participar das decises nos destinos da Cidade atravs da Ekklesia (reunio dos chamados de dentro para fora) na gora (praa pblica, onde se agonizava para deliberar sobre decises de comum acordo). Dentro desta concepo surge a DEMOCRACIA GREGA, onde somente 10% da populao determinava os destinos de toda a cidade (eram excludos os escravos, mulheres e artesos). Vejamos neste quadro si nttico uma percepo pessoal sobre como se

processa a evoluo do Ser Humano at o Ser Cidado. O Ser HumanoA Dimenso do convvio social.

O Ser IndivduoA dimenso do mercado de trabalho e Consumo.

O Ser PessoaA Dimenso de encontrar-se no mundo.

O Ser CidadoA dimenso de intervir na realidade.

O homem tornar-se Ser Humano nas relaes de convvio social.

O Ser Humano tornarse indivduo quando descobre seu papel e funo social.

O Indivduo torna-se pessoa quanto toma conscincia de si mesmo, do outro e do mundo.

A pessoa torna-se cidado quando intervm na realidade em que vive.

Quem estuda o comportamento do Ser Humano? Seria a antropologia, a histria, ou a sociologia?

Quem estuda o comportamento do indivduo ? Seria a Filosofia, a sociologia ou a Psicologia?

Quem estuda o comportamento da pessoa ? Seria a Filosofia, a sociologia ou a Psicologia?

Quem estuda o comportamento do cidado ? Seria a Sociologia, a Filosofia ou As cincias polticas?

Quem garante os direitos do Ser Humano? A Declarao Universal do Direitos Humanos.

Quem garante os Quem garante os Quem garante os Direitos do Direitos da pessoa? A Direitos do cidado? (A Consumidor? O Cdigo prpria pessoa (amor Constituio e suas do Consumidor. prprio ou auto-estima). leis regulamentares).

Existe realmente uma natureza humana? Teologicamente, afirmamos que existe a uma natureza humana. Seguindo a corrente existencialista (J.P.

Que diferena existe entre o direito do consumidor e o direito do cidado? Ao Consumidor deve ser dado o direito de propriedade enquanto

O que significa tornarse pessoa no nvel psicolgico e social? A pessoa o indivduo que toma conscincia de si mesmo (Tornarse Pessoa de Karl

Como podemos intervir na realidade, modificando as estruturas corruptas e injustas? Quando os direitos do cidado lhe so oferecidos, e o

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Sartre) negamos tal natureza.

ao cidado deve ser dado o direito de acesso

Roger)

mesmo passa a exerc-lo, h modificao de comportamento.

CIDADO, POVO, NAO Ser um cidado passa pela educao? Claro que sim, mas isto no quer dizer que quem no sabe ler e escrever no possa ser um cidado. O inverso tambm verdadeira, ou seja, existem pessoas que so tecnicamente ilustradas e no chegam a exercer sua cidadania consequentemente no so cidados. Educao aqui tem um sentido mais amplo. Significa todo ato que contribui para a construo do mundo. O saber ler e escrever um instrumento utilizado para facilitar o processo da educao. evidente que quando o individuo aprende a ler e escrever ele humaniza-se e torna-se um cidado mais rapidamente, porque compreende as coisas com maior facilidade. O homem como cidado, diferentemente do homem como individuo, aquela pessoa que est a todo momento querendo saber o que acontece ao seu redor, quer na sua comunidade, no seu estado, no seu pas, no mundo. O homem como cidado vai ampliando a cada dia o seu raio de informao e conseqentemente aumentando sua ao inteligente na construo do mundo e na construo do seu prprio Ser, enriquecendo, de igual modo, sua condio de cidado de uma Nao. Agora vamos pensar? Observemos as duas figuras e as comparemos.

Qual das duas figuras entendemos como sendo um Povo? Porque?

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Vocs acham que os Estados Unidos formam um Pas ou uma Nao? Por qu? Numa Nao, as pessoas participam das lutas pelos seus direitos de

maneira civilizada, isso na medida em que so participantes atuantes nos sindicados, nos movimentos sociais, no mundo poltico e econmico, atravs da escolha consciente se deus representantes. Retornando aos exemplos. Vocs acham que lutar significa usar a violncia nas conquistas dos direitos de cada cidado? Por qu? Vocs acham que pichar os muros e paredes de uma cidade atitude de um cidado? Por qu? Voc sabe a quem o grafiteiro est dando o prejuzo? Quando colocamos papel na rua estamos demonstrando que somos cidados de uma Nao? Em suma o cidado de uma Nao um sujeito que tem tempo de: Rir / Gozar / Desejar / Estudar e aprender com o estudo / Conhecer com a cincia / Sentir e pensar com a arte / Alegrar-se / Desenvolver seu lado espiritual / Pensar e narrar sua experincia / Amar / Sentir dor, raiva e pensar sobre isso / Cuidar do seu corpo / Querer conviver e ajudar / Aperfeioar seu senso moral / Conversar / Passear e cantar / Tocar, pintar, danar / Cuidar da Terra, plantar / Cuidar dos filhos / Escrever e ler / Trabalhar. Esta lista de coisas que o povo de uma Nao est apto a desfrutar muito comprida e pode a cada dia ser enriquecida. Que mais coisas voc colocaria ai para fazer? H necessidade de voc estudar novas coisas? De conhecer mais e mais? Discuta como conseguir isso. Quais as dificuldades que voc encontraria para comear a vivenciar e desenvolver suas potencialidades. Voc poder super-las? Como? A EDUCAO DE VALORES Uma reunio de professores, sem apresentao prvia de uma pauta. Compareceram por saberem da importncia atribuda pela direo a essas reunies,

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mas no traziam idias especificas para o debate. Alm disso, o novo diretor era praticamente desconhecido pela equipe docente e a reunio seria uma oportunidade para descobri-lo plenamente. Foram surpreendidos pela abertura da reunio, na qual o diretor simplesmente exps: -- Gostaria que fosse feita uma refl exo sobre os valores considerados fundamentais para a humanidade e, nessa folha de papel a sua frente, apreciaria buscassem relacion-los em uma hierarquia, na qual os primeiros seriam os mais importantes. Busquem na sua historia de vida e no contexto de suas relaes interpessoais, o que consideram essencial para o seu dia-a-dia, para o de seus alunos e da humanidade em geral. Algumas idias: Amizade e atitude de plena aceitao do outro, independente de suas particularidades especficas?

Solidariedade aos conhecidos e tambm aos que no se conhecem, mas que atravessam dificuldades de qualquer natureza? Democracia em oposio frontal a aes e regimes totalitrios? Prestatividade ou ao de prontido para a ajuda sempre que necessria? Aceitao integral do pluralismo e da diversidade? Empatia ou capacidade plena de se colocar no lugar de outro? Dilogo como estratgia de soluo de conflitos? Fomento e cultivo da identidade de cada pessoa, povo e cultura? Respeito integral e defesa do meio ambiente? Compromisso com o bem comum acima de uma viso egocntrica? Desenvolvimento e aprimoramento progressivo de atitudes de cooperao entre comunidades, povos e culturas que nos ensinem a valorizar o local e o peculiar? A f reli giosa como instrumento de aproximao entre anseios pessoais e necessidades solidrias? Outros valores noenfatizados? Pois bem, vocs dispem de quinze minutos para essa tarefa. Passado esse tempo, os professores foram organizados de forma relativamente aleatria em duplas ou trios e buscaram um consenso em suas listas para chegaram a uma listagem comum, desejvel ainda que no-imprescindvel. Aps essa etapa, chegou-se elaborao de uma listagem que integrasse relativo consenso docente e, de posse desta, apresentaram-na ao diretor. Agradecendo o empenho de todos, informou o diretor que a finalidade essencial da Educao, bem mais que a de transmitir contedos, a de formar valores e que, existindo consenso sobre eles entre os professores, gostaria de reunir-se particularmente com cada um para ver de que forma poderiam ministrar suas aulas e fazer de sua listagem de valores uma ao pedaggica permanente e pertinente. Sabia que em muito no existia a conscincia dessa relao entre o fazer

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e o agir, entre o aprender e o viver, mas confiava que, com empenho e trabalho, chegariam a estabelecer relaes entre o que ensinavam e tudo quanto seria desejvel vivenciar. Orientou que se desviassem de relaes foradas ou forjadas, artificialmente construdas, mas que refletissem se, na transmisso de uma equao, grfico, texto, conceito ou mensagem, no seria vlido estabelecer paralelos que levassem os alunos a refletir sobre valores a praticar. Te rminou sugerindo leituras e discusses, muitas discusses. Os professores, desnecessrios acrescentar, saram da reunio surpresos e alguns deles sem nem mesmo saber por onde comear. A dvida e a serena mas firme e coerente cobrana da direo levou-os procura e esta, com o tempo, a solues surpreendentes. No existe um verdadeiro ideal revolucionrio no vizinho que reclama pelo silencio? A Matemtica no pode ajudar-nos a compreender que limites quantitativos, inspiram limites sociais? No existem captulos de Geografia que nos levam a refletir sobre o sentido da segregao e da forma de combat-la? Os temas de redaes no podem estimular pesquisas e reflexes sobre alguns valores? A Biologia, por acaso, no exib e no mundo animal e vegetal modelos de ecossistemas com os quais podemos aprender? O estudo da arte no nos consagra a percepo de formas alternativas de beleza, verdade e bondade? O ensino de lngua estrangeira no pode exercitar a construo de um vocabulrio de aes comunitrias? Aps as discusses e eleio de estratgias de trabalho, os professores descobriram caminho de uma nova interdisciplinaridade, na qual temas diferentes se mostravam integrados por idias comuns. Aprenderam que a disciplina ministrada por eles sintetizam linguagem especfica de uma mensagem comum, e foram sentido pouco a pouco que nenhuma pedagogia pode proclamar eficincia, se no se ampara numa tica social mais ampla, em valores essenciais que sustentam os caminhos do bom ensinar.

Fonte: Livro Ser Professor Hoje, Professor Celso Antunes

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RVORE DE VALORES COMPANHEIRISMO / AMIZADE IGUALDADE LIBERDADE / JUSTIA / SINCERIDADE ATITUDE / FRATERNIDADE / HARMONIA LEALDADE / SAUDVEL / COOPERAO CIDADANIA / F / PAZ / UNIO PARTICIPAO / BONDADE / COERNCIA ESPERANA / HUMILDADE / FIDELIDADE PERSEVERANA / RESPEITO / AMOR SOLIDARIEDADE / PERDO COMPREENSO / EMPATIA / TOLERNCIA

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RVORE DAS NOVAS RELAES

Ol! Tudo Bem? Saia de casa s pelo gosto de caminhar. Sorria para todos. Faa um lbum de famlia. Conte estrelas. Te lefone para seus amigos. Diga "gosto muito de voc! Converse com Deus. Volte a ser criana. Pule corda. Apague de vez a palavra "rancor". Diga "sim. D uma boa risada! Leia um livro. Pea ajuda. Corra. Cumpra uma promessa. Cante uma cano. Lembre o aniversrio de seus amigos. Ajude algum doente. Pule para se divertir. Mude de penteado. Seja disponvel para escutar. Deixe seu pensamento viajar. Retribua um favor. Termine aquele projeto. Quebre uma rotina. Tome um banho de espuma. Escreva uma lista das coisas que lhe do prazer. Faa uma gentileza. Escute os grilos. Agradea a Deus pelo sol. Aceite um elogio. Perdoe-se. Deixe que algum cuide de voc. Demonstre que est feliz. Faa alguma coisa que sempre desejou. Toque a ponta dos ps. Olhe com ateno uma flor. S por hoje evite dizer "no posso". Cante no chuveiro. Viva intensamente cada minuto de vida. Inicie uma tradio familiar. Faa piquenique no quintal. No se preocupe. Tenha coragem das pequenas coisas. Ajude um vizinho idoso. Afague uma criana. Reveja fotos antigas. Escute um amigo. Feche os olhos e imagine as ondas do mar. Brinque com seu mascote. Permita-se brilhar. D uma palmadinha nas suas prprias costas. Tora pelo seu time. Pinte um quadro. Cumprimente um novo vizinho. Compre um presente para voc mesmo. Mude alguma coisa. Delegue tarefas. Diga bem vindo! a quem chegou. Permita que algum o ajude. A-gra-de-a! Saiba que no est s. Decida-se a viver com "paixo, sem ela nada de grande se consegue. Conserve esta rvore diante de si os 365 dias do ano. Ela garante boa sade, excelentes relaes pessoais, rpido crescimento pessoal e comunitrio, e uma eternidade.

Para voc exercitar muita tica e cidadania!!!29

A CONSCINCIA AMBIENTAL E OS 5 ES

Joo Luiz Von Hoeffel Rosa Maria Viana Suzana Machado Pdua Nos ltimos anos a necessidade de se resolver inmeros problemas ambientais gerou propostas diferenciadas para suas resolues, que foram determinando medidas de diversas naturezas. Partindo da nfase em aes essencialmente corretivas, ampliam-se para medidas preventivas, onde as imposies legais assumem papel de destaque. No momento atual, expandem-se para a promoo de uma conscincia ambiental e tm como centro aes educativas envolvendo, alm de conhecimentos da ecologia, novas perspectivas econmicas e tecnolgicas, uma reviso de valores baseados numa tica fundamentada na vida e no reconhecimento da dimenso espiritual do Ser humano. Esta abordagem da conscincia ambiental congrega diversos campos do conhecimento inter-relacionados e pode ser formulada na relao entre os 5 ES: Ecologia, Economia, Espiritualidade, tica e Educao. Nesta interao, cada elemento traz para a conscincia ambiental qualidades, caractersticas e perspectivas prprias que, em conjunto, possibilitam ao Ser humano uma nova maneira de estar no mundo: Ecologia traz a relao harmnica do Ser humano com o espao e com os outros seres, formando elos de ligao entre a diferentes formas de vida; Economia envolve, na produo, uma prtica social cooperativa do Ser humano e um modelo sustentvel de relao com o ambiente, expressa de forma criativa e equilibrada; Espiritualidade possibilita a relao do Ser humano com sua dimenso transcendente, celebrando a sacralizao da vida cotidiana; tica traz a perspectiva planetria como base para ao consciente no mundo, construindo sistemas sociais mais justos e ambientalmente corretos; Educao diz respeito ao carter formativo do Ser humano, promovendo uma postura interna de reverncia pela vida, formando pessoas amorosas,

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ressaltando a importncia do auto conhecimento, da incluso de outros seres nos processos individuais e da expanso para o coletivo. A ca racterizao destes elementos parte de uma reviso conceitual que resgata e amplia cosmovises de diferentes culturas, que concebem a vida como unidade, e enfatizam a necessidade de despertar o Ser humano para o sentir, pensar e agir, conscientes e comprometidos com o desenvolvimento da humanidade. A conscincia ambiental abordada na integrao dos 5 Es aponta para a construo de uma proposta de sociedade que possvel vislumbrar num futuro prximo, j tendo um referencial terico consolidado. Existe, hoje, uma concepo da ecologia que engloba uma viso sistemtica e transdisciplinar, incluindo no s um conhecimento estritamente biolgico, mas tambm o campo cultural, econmico, poltico e espiritual (Batchelor, 1992). O filsofo noruegus, Arne Naess (1989), ao elaborar o termo Ecologia Profunda, aponta para a necessidade de ampliar a reflexo sobre problemas ambientais, considerando, alm das alteraes ecossistemas, a existncia de outros elementos que tambm os determinam. Nesta perspectiva, os problemas ambientais se originam na maneira como os seres humanos se relacionam entre si e com os outros elementos naturais, cuja tnica tem sido a explorao e busca do controle (Hoeffel, 1996). Segundo Goettlieb (1995), Capra (1996) e outros autores, somente mudanas com carter radical podero alterar o atual quadro ambiental, criando uma nova estrutura de sociedade humana, baseada numa nova cosmoviso fundamentada numa tica ambiental ecocntrica e numa percepo sistmica da vida. A discusso em torno da estrutura econmica atual coloca uma necessidade de reviso do conceito de desenvolvimento que deve passar do enfoque econmico, da produo de mercadorias, para uma abordagem humana e ecolgica, onde desenvolvimento diz respeito no a objetos mas a pessoas e sustentabilidade ambiental (Max-Neef, 1992; Sachs, 1986). Uma anlise

semelhante torna-se necessria com relao s noes de negcios, lideranas e trabalho (Harman & Hormann, 1995).

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Uma abordagem tica da produo e distribuio da riqueza social vem orientando concepes diferenciadas no campo da economia e da poltica, impondo uma reflexo centrada na vida, na cooperao, no respeito e na solidariedade (Leopold, 1949). Estas revises de conceitos e atitudes esto conduzindo para uma reconciliao entre os aspectos sagrados da vida cotidiana e da natureza, com as noes de religiosidade e transcendncia presentes nas sociedades humanas, trazendo para a vida uma essncia e um significado espiritual. Neste processo de ampliao da conscincia ambiental torna-se fundamental o papel da educao que reconhece e forma o ser humano em suas mltiplas dimenses. Nesta viso importante uma proposta educacional que defini o amor como meta a ser atingida no processo educativo e como estrutura do agir humano (Orr, 1996; Viana & Hoeffel, 1998). atravs da educao, entendida de uma forma ampla, como educao para a vida, que o ser humano desenvolve um amor por si mesmo, pelo outro e pelo ambiente em que se encontra. (Krishnamurti, 1992; Anderson, 1996; Pdua & Tabanez, 1997). Cabe a ns, no aqui e no agora, criar o futuro que queremos. No fundo da nossa conscincia sabemos que o futuro se desenvolve a partir da qualidade dos pensamentos, sentimentos e aes de hoje (Harman & Hormann, 1995, p.12. A educao ambiental , talvez, a melhor porta de entrada para um pensamento to amplo, uma vez que questiona os valores, os modelos vigentes e prope relacionamento mais harmnicos entre todos os seres vivos do planeta (Pdua, 1997). SUGESTES DIDTICAS ESTRATGICAS Em contato com professores em cursos e palestras, verifiquei que uma das preocupaes mais atuais quando trata-se dos temas tica e cidadania, com as estratgias, tcnicas, maneiras adequadas de se abordar as temticas, geralmente queremos algo pronto, o que estamos propondo que o educador, juntamente com seus alunos, criem formas mais adequadas, encontrem o melhor caminho de abordar os temas. A escola cabe uma parcela de contribuio nessas buscas. Sendo um espao privilegiado de informao, de transmisso e produo de conhecimento, de criatividade, de possibilidades.

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Pensamos que para a escola dar conta desses novos desafios em seu interior, preciso que os atores envolvidos nesse processo de construo, principalmente, os educadores, estejam discutindo e refletindo as noes de tica e cidadania e suas inter-relaes e como o educando se relaciona com essa realidade. Nessas interfases da educao, ns educadores poderemos Ser, a partir de novos parmetros educacionais interlocutores, mediadores ou porta-vozes de outros valores, de outras vises, de outras representaes, acreditando que a escola um lugar de formar cidados, deve ser um espao de resistncia de luta de democratizao de realizaes de saberes de criao de cultura. ROTEIRO DE POSSIBILIDADES Fase Preparao 1. Reunio na escola com a comunidade escolar para propor o programa de tica e cidadania e coletar sugestes, aperfeioar contedos, criar expectativa para implantao. 2. Preparao do material didtico e de divulgao, constando basicamente de: Audiovisual; Cartilha do aluno; Cartaz de divulgao; Cordel. 3. Planejamento das etapas de implantao e cronogramas, estabelecendo locais, prazos, pblico-alvo, estratgias e custos. 4. Palestras para os temas e sobre a importncia do programa e o papel social da escola. 5. Convnio com empresas, entidades governamentais e no-governamentais para manter parcerias visando a implantao das aes do programa. 6. Implantao supervisionar, acompanhar, rea lizar concurso de frases e cartazes na escola, selecionar jri que escolher os melhores trabalhos. 7. Criar frum permanente para atuar diretamente na insero de propostas metodolgicas, incentivando esprito de participao envolver os alunos por meio de trabalhos prticos e escritos. 8. Concurso de redao tema ligado aos contedos propostos cidadania e tica, verificar-contedo, seqncia, apresentao e originalidade. 9. Enviar redao para publicao em jornais de circulao local e/ou escolar.

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10. Cuidados com a escola e com o meio ambiente so, atitudes ticas e de cidadania. 11. Criao do certificado de mrito tico e de cidadania, este certificado dever ser expedido em reconhecimento s empresas por sua participao e contribuio com o programa. OUTRAS SUGESTES Tempestades de idias - explorar acontecimento que envolvem os temas trabalhados, as imagens veiculadas pela televiso, enfim ser criativo. Uso de jornais - colagem de noticias, depois cada um l em voz alta a noticia que mais tenha chamado ateno anotem-se os assuntos no quadro para debate. Revistas - podem ser usadas para trabalhos em equipe e criao de cartazes, todos falem das vises e idias contidas no cartaz das outras, depois comparam as interpretaes. Essa uma forma de trabalhar diferenas e semelhanas nas representaes.

RECOMENDAES DE APLICAO PRTICA PRIMEIRO: DISCUTA COM SEUS ALUNOS AS DISCIPLINA. Isto da rea do saber que voc est ensinando. O ensino, antes de mais nada, pode operar-se mais eficazmente se tornar-se um COMPROMISSAMENTO entre professor e alunos. SEGUNDO: COLOQUE-SE NO LUGAR DE SEUS ALUNOS. Antes de exigir deles algum trabalho, alguma pesquisa estudo, oriente-se plenamente, pois que de sua orientao vai depender o sucesso da aprendizagem deles. INTENES E OBJETIVOS DE SUA

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TERCEIRO: CRIE UM CLIMA DE OTIMISMO EM CLASSE. O otimismo constri. O pessimista no alcana este intento. Cada sucesso de um aluno deve ser ressaltado, no como forma de competio e desnvel junto aos demais da classe, mas como forma de prmio e estmulo a novas aventuras de aprendizagem. QUARTO: AUMENTE O REPERTRIO DE CONHECIMENTO DE SEUS ALUNOS. Faa-os viverem a prpria vida, sendo capazes de olh-la com olhos abertos e reconhecendo na prpria natureza, o que ela oferece para nosso aprendizado. QUINTO: DOMINE TODA A MATRIA QUE VOC EST ENSINANDO. Procure ressaltar as idias centrais e os pormenores importantes da rea que voc estiver ministrando. SEXTO: ESFORCE-SE PARA ACOMPANHAR O DESEN VOLVIMENTO DE SEUS ALUNOS. S assim voc estar sabendo como o processo de aprender esta sendo operado. Mas no deixe que isto ocorra unilateralmente, isto , somente por voc, nas avaliaes. Faa com que os prprios alunos digam como esto sentindo-se, onde crescem, o que j sabem. A melhor reco mpensa a auto-recompensa, sem dvida. STIMO: USE PLENAMENTE O TEMPO DE SUAS AULAS. O professor que planeja o seu tempo de aulas, efetivamente, consegue suprir as deficincias naturais da prpria reduo da carga horria.

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OITAVO: USE TODOS OS CDIGOS E MEIOS DE COMUNICAO. Eles permitiro uma aprendizagem mais significativa aos seus alunos. NONO: GERE CONFIANA NA APRENDIZ AGEM DE SEUS ALUNOS. Eles sero os primeiros a gerar confiana em seu trabalho. Pense nisto. DCIMO: VIVA COM ELE O ENSINO QUE VOC MINISTRA. Esta a melhor forma de compartilhar da aprendizagem de seus alunos. OS SUJEITOS DA PRXIS PEDAGGICA Cipriano Luckesi O EDUCADOR Quem o educador e qual o seu papel? Em primeiro lugar, um ser humano e, como, tal, construtor de si mesmo e da histria atravs da ao; determinado pelas condies e circunstncias que o envolvem. criador e criatura ao mesmo tempo. Sofre as influncias do meio em que vive e com elas se autoconstri. Em segundo lugar, alm de ser condicionado e condicionador da histria, ele tem um papel especfico na relao pedaggica, que a relao de docncia. O que isso significa? Na prxis pedaggica, o educador aquele que, tendo adquirido o nvel de cultura necessrio para o desempenho de sua atividade, d direo ao ensino e aprendizagem. Ele assume o papel de mediador entre a cultura elaborada, acumulada e em processo de acumulao pela humanidade, e o educando. O

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professor far a mediao entre o coletivo da sociedade (os resultados da sua cultura) e o individual do aluno. Ele exerce o papel de um dos mediadores sociais entre o universal da sociedade e o particular do educando. Para que se possa exercer esse papel, o educador deve possuir conhecimentos e habilidades para poder auxiliar o educando no processo de elevao cultural. Deve ser suficientemente capacitado e habilitado para compreender o patamar do educando. E, a partir dele, com todos os condicionamentos presentes, trabalhar para elev-lo a um novo e mais complexo patamar de conduta, tanto no que se refere ao conhecimento e as habilidades, quanto no que se refere aos elementos e processo de convivncia social. Para tanto, o educador deve possuir algumas qualidades, tais como: compreenso da realidade com a qual trabalha, comprometimento poltico, competncia no campo terico do conhecimento em que atua e competncia tcnico-profissional. Em primeiro lugar, o educador dificilmente poder desempenhar seu papel na prxis pedaggica se no tiver uma certa compreenso da realidade na qual atua. Precisa compreender a sociedade na qual vive, atravs de sua histria, sua cultura, suas relaes de classe, suas relaes de produo, suas perspectivas de transformao ou de reproduo. O educador no poder ser ingnuo. No que se refere ao educando necessita possuir habilidades na utilizao e aplicao de procedimentos de ensino. Por ultimo, esses elementos todos se completam com uma habilidade que denominamos arte de ensinar. preciso desejar ensinar, preciso querer ensinar. De certa forma, preciso ter paixo nessa atividade. Gramsci lembra que os intelectuais, na maior parte das vezes, esquecem-se do sentimento em suas atividades. preciso estar em sintonia afetiva com aquilo que se faz. Um professor que faz de sua atividade apenas uma mercadoria, dificilmente ser um professor comprometido com a elevao cultural dos educandos. O salrio no paga o trabalho que temos. Por isso, torna-se importante, alm da competncia terica, tcnica e poltica, uma paixo pelo que se faz. Uma paixo que se manifeste, ao mesmo tempo, de forma afetiva e poltica. Sem essa forma de paixo, as demais

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qualidades necessrias ao educador tornam-se formais e frias. O processo educativo exige envolvimento efetivo. Da vem a arte de ensinar, que nada mais que um desejo permanente de trabalhar, das mais variadas e adequadas formas, para a elevao cultural dos educandos. Para ser educador no basta ter contrato de trabalho numa escola particular ou um emprego de funcionrio pblico. preciso competncia, habilidade e comprometimento. Ningum se faz professor, do dia para a noite, sem aprendizagem e preparao satisfatrias. Em sntese, para exercer o papel de educador, preciso compromisso poltico e competncia tcnica. O EDUCANDO O educando, como o educador, caracterizado pelas mltiplas determinaes da realidade. Ou seja, um sujeito ativo que, pela ao, ao mesmo tempo se constri e se aliena. Ele um membro da sociedade como qualquer outro sujeito, tendo caracteres de atividade, socialidade, historicidade, praticidade. Na realidade educativa, dentro da prxis pedaggica, ele o sujeito que busca uma nova determinao em termos de patamar crtico da cultura elaborada. Ou seja, o educando o sujeito que busca adquirir um novo patamar de conhecimentos, de habilidades e modos de agir. para isso que busca a escola. Ir escola, forma institucionalizada de educao da sociedade moderna, no tem por objetivo a permanncia do estgio cultural em que se est, mas, sim, aquisio de um patamar novo. Assim, no trabalho escolar, o educador deve estar atento ao fato de que o educando um sujeito, como ele, com capacidade de ao de crescimento e, por isso, um sujeito com capacidade de aprendizagem, conduta inteligente, criatividade, avaliao e julgamento. preciso compreender o educando a partir de seus condicionantes econmicos, culturais, afetivos, polticos, etc., para que se possa trabalha adequadamente com ele.

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CONCLUSO Relao: Educador Educando Tomando por base as caracterstica s fundamentais do educador e do educando, como seres humanos e como sujeitos da prxis pedaggica, verificamos que o papel do educador est em criar condies para que o educando aprenda e se desenvolva, de forma ativa, inteligvel e sistemtica. Para tanto, o educador, de modo algum, poder obscurecer o fato de que o educando um sujeito ativo e que, para que aprenda, dever criar oportunidade de aprendizagem ativas, de tal modo que o educando desenvolva suas capacidades cognoscitivas assim como suas convices afetivas, morais, sociais e polticas. O educador, como sujeito direcionador da prxis pedaggica escolar, dever, no seu trabalho docente, estar atento a todos os elementos necessrios para que o educando efetivamente aprenda e se desenvolva. Para isso, alm das observaes aqui contidas, dever ter presente os resultados das cincias pedaggicas, da didtica e das metodologias especficas de cada disciplina. O planejamento, a execuo do ensino sero insatisfatrios se no forem processados dentro de mnimos parmetros de criticidade. O estudo deste captulo tem por inteno chamar a ateno de educadores e de futuros educadores para o fato de que os sujeitos da prxis pedaggicas no esto dados definitivamente, mas sim que eles devem ser permanentemente repensados e recompreendidos, se queremos produzir uma ao docente discente de forma crtica.

NINGUM VIVE SNingum vive s... mesmo as estrelas do cu brilham juntas. Mesmo as guas do oceano correm em conjunto. Mesmo as lgrimas rolam duas a duas, no raro acompanhadas de sorrisos...

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Ningum vive s... Mesmo as folhas pequeninas dos arbustos dormem juntas. E os pssaros cortam ares em revoadas.

Ningum vive s. Mesmo as pedras procuram o caminho, porque o caminho no deserto, mas transitado pelos homens. Mesmo as flores procuram o jardim, porque os jardins so visitados. Mesmo os perfumes procuram as flores, porque a flor perfumada exerce maior atrao...

Ningum vive s... E nessa grande harmonia de conjunto, resta a constante busca de "outro", neste irresistvel poema de sociabilidade, ns nos situamos tambm como gente.

Ningum vive s... Situar-se como gente abandonar a idia do EU, a atitude do egosmo para aderir ao NS. Eu, voc, todos ns: Abertos, confiantes, construtivos, comunitrios e sociais!Roque Schneider,

MSICAS

COMIDA

Bebida gua. Comida pasto. Voc tem sede de que? Voc tem fome de que?

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A gente no quer s comida. A gente que comida, diverso e arte A gente no quer s comida. A gente quer comida, diverso e bal. A gente no quer s comida. A gente quer a vida como a gente quer. Bebida gua. Comida pasto. Voc tem sede que? Voc tem fome de que? A gente no quer s comer. A gente quer comer, quer fazer amor. A gente no quer s comer. A gente quer prazer pra aliviar a dor. A gente no quer s dinheiro. A gente quer dinheiro e felicidade. A gente no quer s dinheiro. A gente quer inteiro e no pela metade.

Tits , A gente quer valer o nosso amor A gente quer valer o nosso suor A gente quer valer nosso humor A gente quer do bom e do melhor A gente quer carinho e ateno A gente quer calor no corao A gente quer suar mas de prazer A gente quer ter muita sade A gente quer viver a liberdade A gente quer viver felicidade ,

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A gente no tem cara de panaca A gente no tem jeito de babaca A gente no est com A bunda exposta na janela pra Passar a mo nela.

Gonzaguinha

CIDADO

T vendo aquele edifcio moo? Ajudei a levantar Foi um tempo de aflio Eram quatro condues Duas pra ir, duas pra voltar

Essa dor doeu mais forte Porque que eu deixei o Norte Eu me pus a me dizer L a seca castigava Mas o pouco que eu plantava Tinha direito a comer

Hoje depois dele pronto Olho pra cima e fico tonto Mas me vem um cidado E me diz desconfiado Tu ta ai admirado? Ou ta pensando em roubar T vendo aquela igreja moo? Onde o padre diz amam Pus o sino e o badalo Enchi minha mo de calo L eu trabalhei tambm

Meu Domingo est perdido Vou pra casa entristecido Da vontade de beber E pra aumentar o meu tdio Eu nem posso olhar o prdio Que eu ajudei a fazer

L foi que valeu a pena Tem quermesse, tem novena E o padre me deixa entrar Foi l que cristo me disse Rapaz deixe d tolice No se deixe amedrontar

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Ta vendo aquele colgio moo? Eu tambm trabalhei l L e quase me arrebento Fiz a massa, pus cimento Ajudei a rebocar Minha filha inocente Veio pra mim toda contente Pai vou me matricular Mas me diz o cidado Crianas de p no cho Aqui no pode estudar

Foi eu que criei a terra Enchi o rio, fiz a serra No deixei nada faltar Hoje o homem criou asas E na maioria casas Eu tambm no posso entrar

Lcio Barbosa

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Antunes, Celso/Ser Professor Hoje/Celso Antunes, Fortaleza: Edies Livro Tcnico, 2005. 96p. Grun, Mauro/tica e educao Ambiental: A conexo necess ria/Mauro Grun. Campinas. SP: Papirus, 1996 (Coleo Magistrio Formao e Trabalho Pedaggico). Matos, Kelma Socorro Lopes de (Org.). Educao Ambiental em Tempos de Semear. / Kelma Socorro Lopes de Matos e Jos Levi Furtado Sampaio (Orgs.). et al. Fortaleza: Editora UFC, 2004. Rios, Terezinha Azevedo / tica e Competncia/ Terezinha Azevedo Rios 15. ed. So Paulo, Cortez, 2005. (Coleo Questes da Nossa poca: v.16). Ferry, Luc /Aprender a viver/ Luc Ferry: traduo Vera Lucia dos Rios. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. So Paulo (Estado). Secretaria de Estado do Meio Ambiente/Coordenadoria de Educao Ambiental. Educao, Meio Ambiente e Cidadania. Reflexes e Experincias / Fabio Cascino, Pedro Jacobi, Jos Flavio de Oliveira (Orgs.). So Paulo: SMA/CEAM, 1998. 122p. Dicionrio Tcnico Jurdico / organizao Deocleciano To rrieri Guimares: - 5, ed. Ver. E atual. So Paulo: Rideel: 2003. Mini-dicionrio compacto da lngua portuguesa / coordenao Ubiratan Rosa; equipe de atualizaes e reviso Ana Tereza Pinto de Oliveira, Irene Catarina Nigro, - 9. ed. So Paulo: Rideel: 1999. 43

Mini-dicionrio LUFT edio revista e ampliada por, prof. Francisco de Assis Barbosa da academia Brasileira de Letras, Manuel da cunha Pereira, autor do vocabulrio ortogrfico Brasileiro da Lngua Portuguesa, 10 edio.

ALGUMAS SUGESTES DE LEITURA Oliveira, Ftima Bio-tica: uma face da cidadania. So Paulo. Moderna, 1997. Minc. Carlos. Ecologia e cidadania. So Paulo. Moderna, 2002. Dallari, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidadania. So Paulo. Moderna, 2002. Dimentein, Gilberto. Aprendiz do futuro cidadania hoje e amanh. So Paulo. tica, 2002. Maldonado, Maria Tereza. Os construtores da paz: caminhos da preveno da violncia. So Paulo. Moderna, 2002. Bicudo, Hlio. Violncia: O Brasil cruel e sem maquiagem. So Paulo. Moderna, 2002. Pires, Ceclia. A violncia no Brasil. So Paulo. Moderna, 2002. Chiavento, Jlio Jos. tica globalizada & sociedade de consumo. So Paulo. 1998. Gikovate, Flvio. Os sentidos da vida: uma pausa para pensar. So Paulo. Moderna, 2002. Martins, Maria Helena Pires. Somos todos diferentes! Convivendo com a diversidade do mundo. So Paulo. Moderna, 2001. Martins, Maria Helena Pires. Preservando o patrimnio e construindo a identidade. So Paulo. Moderna. 2002. Aranha Maria Lcia de Arruda. A praa do pov o: poltica e cidadania. So Paulo. Moderna, 2002. Martins, Maria Helena Pires. Eu e os outros: as regras da convivncia. So Paulo. Moderna, 2002. Aranha, Maria Lcia de Arruda. A bssola e a balana: por um mundo mais justo. So Paulo. Moderna, 2002. Martinez, Paulo. Direitos de cidadania. So Paulo. Scipione, 2002. Novaes, Carlos Eduardo. Lobo, Csar. Cidadania para principiantes. So Paulo. tica, 2003. Dimenstein, Gilberto. O cidado de papel. So Paulo. Atica, 2003. Dimenstein, Gilberto. Aprendiz do futuro cidadania hoje e amanh. So Paulo. tica, 2002.

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Bueno, Maria Aparecida da Silva. Cidadania em preto e branco Discutindo as relaes raciais. So Paulo. tica, 1998.

Pedroso, Regina Clia. Violncia e cidadania no Brasil 500 anos de excluso. So Paulo. tica, 1999. Montreynaud, florense. O que amar? So Paulo. Scipione. Sung, Jung Mo. Deus: iluso ou realidade? So Paulo. tica, 1996. Oliveira, Malu. Homem e mulher a caminho do sculo XXI. So Paulo. tica, 2002.

VOCABULRIO

tica: (ethos) disciplina filosfica que estuda o valor das condutas humanas, seus motivos e finalidades. Reflexo sobre os valores e justificativas morais, aquilo que se considera o bem. Anlise da capacidade humana de escolher, ser livre e responsvel por sua conduta entre os demais. Para alguns autores, o mesmo que moral. Anti-tico: contra uma tica estabelecida ou contra a idia (da tica) de estabelecer o que devemos fazer ou quem queremos ser levando os outros em considerao. Muitas vezes, o antitico tem idias ticas prprias. Atico: sem tica, mas no contra uma ou outra tica. Moral: (mores) conjunto dos costumes, hbitos, valores (fins) e procedimentos (meios) que regem as relaes humanas, considerados vlidos e apreciados, individual e coletivamente. Embora possam variar entre grupos e ao longo da histria, tendem a ser considerados absolutos. Podem ser justificados pelo costume, pela natureza, pela educao, pela sociedade, pela religio. Pode ser considerado o mesmo que tica, com a diferena de que a tica acrescenta a reflexo e o estudo continuado sobre aquilo que se faz ou o que se deveria fazer, pensa sobre o bem e o mal, a felicidade, o prazer, a compaixo, a solidariedade e outros valores. Imoral: contra uma moral ou a idia moral vigente. Muitas vezes, o indivduo que questiona uma tica dominante tem idias morais prprias ou diferentes. Amoral: sem moral (aqum ou alm dela), mas no contra uma ou outra moral.

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Deontologia: estudo dos cdigos de condutas considerados vlidos entre grupos e classes (profissionais) de pessoas. Legal: aquilo que est conforme a lei civil de um estado nacional. Ilegal: aquilo que contraria a lei civil de um estado nacional. Autonomia: auto (prprio) nomos (lei humana). Literalmente, do grego, fazer a prpria lei, seguir a lei feita por si mesmo. Na antiga Grcia, esta era a prerrogativa dos homens livres, cidados, que faziam as leis da cidade onde viviam e conviviam entre outros iguais. Autonomia um princpio de liberdade civil, mas tambm significava, como hoje em dia, aquela capacidade de responder por si mesmo, prover-se economicamente e ser emancipado. Cidadania: (polis, civitas, cidade) A cidadania se refere s relaes entre os cidados, aqueles que pertencem a uma cidade, por meio dos procedimentos e leis acordados entre eles. Da nossa herana grega e latina, traz o sentido de pertencimento uma comunidade organizada igualitariamente, regida pelo direito, baseada na liberdade, participao e valorizao individual de cada um em um em uma esfera pblica (no privada, como a famlia), mas este um sentido que sofreu mutaes histricas. Um dos sentidos atuais da cidadania de massa, em Estados que congregam muitas diversidades culturais o esforo por participar e usufruir dos direitos pensados pelos representantes de um Estado para seus virtuais cidados; vir a ser, de fato, e no apenas de direito, um cidado. Os valores da cidadania so polticos: igualdade, eqidade, justia.

HOMENAGEM AO EDUCADOREDUCADOR aquele que desperta a sabedoria, estende a mo, prope o dilogo e encaminha o aluno para a aventura da vida. No somente aquele que oferece frmulas e regras, mas nos desperta para a realidade. O verdadeiro EDUCADOR no oferece um ser acabado, pronto, inquestionvel, mas instiga e ensina a pensar, fazendo germinar o saber no educando. EDUCADOR um amigo que compreende as dificuldades, estimula e enriquece a todos com sua presena, seu saber e sua ternura.

OBRIGADO, EDUCADOR! OBRIGADO, SENHOR, PELOS EDUCADORES!

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Zumbi dos palmares Enquanto o negro brasileiro no tiver acesso ao conhecimento da histria de si prprio, a escravido cultural se manter no Pas.(Joo Jos Reis, 1993)

Organizao: Maria Hosana Magalhes Viana Reviso: Maria Jos de Sousa Holanda 47

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Finalidades: FINALIDADES: Oferecer conhecimentos necessrios para a atuao dos formadores/professores na formao da cidadania no que se refere diversidade tico-racial, para que sejam capazes de formar cidados livres para pensar o pas na perspectiva da afirmao de sua identidade nacional; Estimular a escola na construo coletiva de um projeto educacional de incluso social na perspectiva da diversidade tnico-racial, oferecendo contribuies eficazes para o cumprimento da Lei n 10.639/2003.

INTRODUO A Histria da sociedade brasileira marcada pela forte presena de diferentes etnias, descendentes de diversas nacionalidades. Somos um pas formado dessa miscigenao, isso demonstrado pela nossa pluralidade cultural. A Constituio Federal Brasileira Art. 05 trata da questo o reconhecimento de que no h desiguais, h diferentes. O respeito a essas diferenas devem sair do papel e ser um eixo de sustentao entre a democracia e a sociedade. {...) Para viver democraticamente em uma sociedade plural preciso respeitar e valorizar a diversidade tnica e cultural que a constitui. Por sua formao histrica a sociedade marcada pela presena de diferentes etnias, grupos culturais, descendentes de imigrantes de diversas nacionalidade, regies e lnguas {...} MEC/SEF,1998 Segundo os dados do IBGE 2001 47% da populao brasileira formada de negros e pardas. A despeito da complexi dade dessa questo - que envolve cor e raa no nosso pas - confirma-se a necessidade de qualificar professores para o efetivo trabalho na escola, para que seja includa essa temtica no currculo oficial da rede de ensino, garantida pela a Lei 10.639/2003 - O Ensino de Histria e Culturas Afro-Brasileiras e Africanas. necessrio trabalhar com a diversidade tnica racial e cultural e promover uma ampla reflexo sobre a multiciplicidade de razes da nossa formao cultural. Essa questo no pode ser desconsiderada sob a pena de se priorizar apenas a viso hegemnica e unilateral do mundo. Os currculos escolares precisam contemplar o conhecimento de todos os povos, para tanto, o desenvolvimento de projetos interdisciplinares pode favorecer essa discusso junto aos professores, alunos e comunidade, possibilitando assim, uma mudana de atitudes e prticas preconceitos.(Hosana Magalhes Viana Coordenadora da E. Ambiental junto a SEDUC/CE.)

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INDICE

Introduo ...................................................................................................................... 49 Leitura Compartilhada: Musica..................................................................................... 51 Curriculo, Escola e Relaes tico-Raciais ............................................................... 52 A Escola e a Reproduo Das Desigualdades ........................................................... 54 A Escola e o Curriculo................................................................................................... 55 Relaes Raciais: A Negociao de Lugares.......................................................... 57 O Preconceito Racial no Caso Brasileiro: Quem negro No Brasil?....................... 59 Dimenses do Preconceito Racial ......................................................... 61 O Preconceito Racial, a Escola e o Professor................................... 63 O Currculo Cotidiano.............................................. 65 A Lei e o Currculo....................................................... 66 Currculo, Escola e Relaes tnico-Raciais............................................ 69 Introduo da Histria da frica - frica, Bero da Humanidade............................. 71 O Saber e o Progresso Tecnolgico .............................................. 75 A Dispora Africana................................................. 76 A Educao e o Luta Contra As Excluses ............................... 77 A Histria Africana Nas Escolas: Entre abordagens e perspectivas ....................... 81 Um olhar panormico sobre o ensino da histria da frica: Obstculos................ 82 Ensinar o que no foi aprendido. Ser uma tarefa possvel ..................................... 82 O Espao dedicado Histria Africana ...................................................................... 85 A Escolha dos Assuntos e os Recortes Tamti ........................ 85 O Tratamento da Escravido Tradicional Af 86 A Questo dos Conceitos; As Imagens ............................................. 87 Abordagens e experincias.......................................................... 88 Histria e Historiografia da Escravido no Brasil: Identidades Caminhos.............. 92 Percurso da Historiagrafia...................................... 92 Abolio e Memria Social ............................................ 96 Os Movimentos Sociais e a Escravido No Cear ...................................... 97 Diversidade Cultural; Respeitando as Diferenas e o Direito Igualdade............... 100 Direitos Humanos Direitos de Cidadania e Pluralidade ................... 102 Referncias Bibliogrficas............. 107

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Leitura Compartilhada

Hoje a minha pele j no tem cor, Vivo a minha vida seja onde for, Hoje entrei na dana e no vou sair, Vem, eu sou criana no sei fingir; Eu preciso, eu, preciso de voc Ah! Eu preciso, eu preciso, Eu preciso muito de voc... L onde estive o sonho acabou, C onde eu me encontro s comeou, L colhi uma estrela pra te trazer, Pegue o brilho dela at entender; Que eu preciso, eu, preciso de voc S feche seu livro que j aprendeu, S pea outro amor quem j deu o seu. Quem no soube a sobra, No sabe a luz, Vem no perde o amor de quem o conduz... Eu preciso, eu preciso de voc, Ns precisamos um do outro sim! Voc de mim... eu de voc. (Taiguara) 51

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CURRICULO, ESCOLA E RELAES TICORACIAIS Antes de refletir sobre o currculo e as suas implicaes a constituio de identidades individuais e sociais, gostaramos que voc refletisse sobre a escola, sua funo social e as condies de acesso e permanncia da populao negra e mestia em relao ao sistema de ensino. A escola, em nossa sociedade, a segunda instituio responsvel pelas relaes de sociabilidade de crianas e jovens, depois, claro da famlia. Na escola, o aprendizado sobre as regras e valores sociais experimentado sob a tica do grupo. No se trata de cada um com seus pais, mas sim com seus pares, mediados pela figura do professor. Entrando na escola cada vez mais jovem, a criana aprende logo cedo a dividir a ateno e os cuidados do adulto com os outros do grupo. Esta uma grande experincia fundante na sociabilidade escolar e na construo de identidades. As experincias iniciais com a escola precisam ser levadas a srio, pois podem definir a base de uma trajetria escolar mais tranqila ou mais atribulada. Sentir-se acolhido, includo e integrado facilita a construo de uma auto-estima positiva, elemento fundamental para o sucesso escolar. Desde a sua origem, a funo social da escola como transmissora da instruo pblica foi motivo de estudo e de reflexes nos diversos momentos histricos porque passaram as modernas sociedades ocidentais, sendo abordadas por diferentes terica, cada uma das quais construiu seu iderio especfico a respeito dela. De fato, foi s no fim do sculo XVIII, por volta de 1790, que o ensino passou a ser motivo de preocupaes constantes por parte das assemblias revolucionrias na Frana, permitindo Constituio do ano III o anncio do seguinte princpio: 52

Relaes de sociabilidade: so relaes que pautam a vida em comum; o viver em companhia de outros, regra de boa convivncia.

Fundante: ao, experincia, inteno que funda; que est na base; que estrutura.

Universalizante: tornado comum a muitas pessoas.

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uma instruo pblica e comum a todos os cidados, gratuita, no que se refere parte indispensvel para todos os homens (SOBOUL, 1981. P.50). Sem dvida, o carter universalizante e homogeneizado do ensino na escola, como responsvel pela instruo pblica, estava vinculado as enormes transformaes sociais, polticas, econmicas e culturais porque passava o mundo Ocidental naquele momento. Esta escola surge no bujo da prpria definio do papel do moderno Estado nacional e de seus servios, e ela precursora da Escola laica e da obrigatoriedade da universalizao do ensino princpios quase intocveis at os nossos dias. A escola de que falamos hoje, portanto, herdeira das intenes contidas na Constituio francesa do sculo XVIII. Os princpios gerais do pensamento liberal, isto , o individualismo, a propriedade, a igualdade e a liberdade, estavam no fundamento do surgimento da escola como responsvel pela uma instruo pblica. Essa escola deveria garantir o respeito e aptides individuais e o desenvolvimento mximo da capacidade de cada um, bem como a liberdade individual nas escolhas, no sentido de melhor aproveitar as potencialidades individuais, em respeito personalidade de cada um. A idia de igualdade do pensamento liberal estava vinculada igualdade perante a Lei, dela derivando a igualdade de oportunidades de acesso instruo pblica, com igualdades de direitos, independente do pertencimento de qualquer classe social. {...} Desse modo, o final do sculo XVIII, com todas as suas transformaes, ps fim ao privilgio do acesso ao ensino, abrindo a perspectiva do direito educao como condio de progresso social, regulamentando-o na forma da Lei e estabelecendo como funo do Estado a sua garantia. Um longo percurso de transformaes histricas e de construes tericas a respeito dela aconteceu. A ebulio de idias que caracteriza o inicio do sculo XX trouxe para a escola os filsofos os epistemlogos, os socilogos, os lingistas, os herdeiros da psicanlise, todos contribuindo,

Homogeneizador:

que apresenta semelhana de estrutura; de funo; uniforme.

Escola Laica: aquela que no pertence ao clero ou a uma ordem religiosa; que no est sob o controle da Igreja.

Epistemlogos: estudiosos ou especialistas da natureza; etapas ou limites do conhecimento humano.

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luz da sua disciplina, para desvendar a escola e sua funo social 1. A ESCOLA E A REPRODUO DAS DESIGUALDADES A situao da criana e do jovem negro e do mestio, apesar da multiciplicidade recente de pesquisas sociolgicas, educacionais e antropolgicas, no tem suscitado muito interesse nas reflexes brasileiras, se considerarmos a histria da educao em nosso pas e sua produo terica. Assim conhecida a precariedade de dados sobre a trajetria escolar dos alunos negros e mestios, desde o ensino fundamental at o universitrio. Entretanto, algumas publicaes recentes a cerca das desigualdades raciais no Brasil, em particular, nos seus reflexos no sistema educacional brasileiro tm contribudo para conhecer um pouco mais as condies de ingresso e permanncia do aluno negro e do mestio no sistema escolar. De uma perspectiva mais abrangente, os dados sobre as escolaridades das crianas negras, inclusive os coletados pelo IBEGE/PNAD, sugerem que a vida escolar dessas crianas mais difcil e acidentada que as das crianas brancas, isto , elas enfrentam maior nmero de sadas e voltas para o sistema escolar (LOPES,2006; HENRIQUES, 2001; SAMPAIO & TORRES,2000; ROSEMBERG, 1987).

Tantos os dados sobre o analfabetismo como os de anos de instruo formal, por cor ou raa, revelam nveis inferiores de escolaridades na populao de ascendncia africana. Em relao mdia de anos de estudos e instrues formal das pessoas de 25 anos ou mais, por cor ou raa, h uma diferena de dois anos de escolaridade a menos nas populaes de ascendncia africana. A populao branca, em 2001, apresentou 6,9 anos de estudo, enquanto a populao de ascendncia africana apresentou 4,7 anos de estudo. Essa diferena no se altera se compararmos com os dados de 1992, quando a populao branca apresentava 5,9 anos de estudo e a de ascendncia africana 3,6 anos de estudo. Vale ressaltar que a mdia de anos de estudo no Brasil aumentou, mantendo, porm, o nvel de desigualdade entre as populaes de origem tnica diferente, e que essa diferena permanece mesmo que isolemos os dados de condio econmica e renda familiar. Em outras palavras, a populao pobre branca tem anos a mais de estudo que a populao pobre negra (HENRIQUES, 2001 e HASEMBALG & SILVA, 1999). A manuteno dessa diferena, quando observada em nveis econmicos semelhantes, nos leva a refletir sob outros aspectos da 54

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dinmica social. Segundo a Hasembalg e do Valle, 1999, a literatura sociolgica mais recente tem mostrado a centralidade da educao para a reproduo das desigualdades entre brancos e no-brancos. A despeito da complexidade das questes envolvidas na auto-atribuio de cor ou raa no nosso pas, uma importante desigualdade se confirma ao compararmos esse resultado com os percentuais da composio racial brasileira que conta em sua populao segundo IBEGE 2001, com 51% de brancos e 47% de negros, categoria que engloba pretos e pardos. Os alunos negros e pardos e mulatos encontram-se sub-representados no total dos concludentes do ensino superior, enquanto brancos e amarelos encontram-se super-representados nesse mesmo total. Percentagens da populao brasileira e dos concluintes do Ensino Superior por cor. Cor Populao brasileira Concluintes do Ensino Superior. 77,8 2,7 16,4 2,4 1,1

Branca Preta Parda Amarela Indgena

54,0 5,4 39,9 0,5 0,2

Fonte: IBEGE, 1999/INEP, 2001

Essa analise, nos remete de forma evidente a um processo de excluso escolar voltado principalmente populao negra e mestia, demonstrando, conforme indica VALLE Silva e Hasembalg (1999), que no processo de aquisio da educao que reside o ncleo de desvantagens que indivduos negros ou pardos sofrem na sociedade brasileira. Assim ao recuperarmos a reflexo anterior sobre a escola e a sua funo social, podemos nos perguntar sobre qual tem sido a funo social da escola especificamente para a populao negra e mestia da nossa sociedade. 2. A ESCOLA E O CURRICULO O conceito de currculo, como forma de organizao do conhecimento escolar, surge como importante na reflexo sobre o papel social da escola. No se trata aqui de percorrer a histria do currculo nem de buscar as linhas tericas que o constituem ou discutir sua estrutura em 55

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si. O que nos interessa refletir sobre as implicaes das vises sociais que o currculo oficial produz e a que relaes ele est vinculado em nossa sociedade. Observe que o currculo no um elemento neutro e desinteressado na transmisso de contedos do conhecimento social. Ele esteve sempre imbricado em relaes polticas de poder e de controle social sobre a produo desse conhecimento. Por isso, ao transmitir vises de mundo particulares, reproduz valores que iro participar da formao de identidades individuais e sociais e, portanto, de sujeitos sociais. A escola dos contedos curriculares, tanto dos contedos conceituais e temticos, como os contedos de valores morais, passa por essas relaes. Fica ento para ns que estamos refletindo sobre a omisso no currculo escolar, das informaes sobre a presena e participao dos negros na histria brasileira a ponto de no conseguirmos separar no plano da cultura o que ser negro do que ser brasileiro as seguintes questes:

A quem interessou essa omisso? Qual a relao entre essa omisso consentida pelo currculo e pela escola, e os resultados sobre a vida escolar dos alunos de ascendncia africana? Como se constri a identidade dessas crianas e jovens na experincia escolar? Como fica a sua auto-imagem e auto-estima quando o espelho oferecido o da omisso exemplar, da falta de prestgio social e histrico da populao negra e mestia?

preciso olhar mais de perto as experincias escolares que essas crianas e jovens vivenciam. A escola precisa aprender para assim propor situaes de aprendizagem que considerem