Livro português nivel 7 [Patricia]

PROGRAMA DE LENGUAS UNSAM PORTUGUÊS NIVEL 7 2015

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Apresentação ......................................................pág.3

Escritores ...........................................................pág.4

Contos e poema...................................................pág.5

A hiena que não ri...............................................pág.31

Férias diferentes ................................................pág.60

Agradecimentos..................................................pág.82


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Nesta terceira edição os alunos de Português do

nível sete usaram a criatividade e se transformaram em

escritores. A criatividade se manifesta de forma misteriosa

e muitas vezes paradoxal. O pensamento criativo é uma

característica marcante em muitas personalidades, mas

ela também pode mudar de acordo com a situação e

contexto. Por isso este livro contém obras genuínas. É a

representação de pessoas com mente aguçadas que se

abriram a essa nova experiência.


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Laura Galotta

Pablo Falabella

Jessica Sosa


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Por Pablo Falabella


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Introdução

Quando escutei essa frase, pensei que me estavam enganando. Seria possível que a professora tivesse falado sério. Ou tal vez a proposta fosse para outro nível, não para nosso nível. Tal vez ela tivesse pensado que faria uma tese para o final de uma carreira de letras... Mas quem estava errado era eu. A frase foi muito clara: “O trabalho final deste nível é escrever um livro”.

Sim, sem dúvidas. Percebi que tínhamos ouvido as mesmas palavras. Além disso, enquanto explicava os motivos e fundamentos dessa aloucada ideia, repetiu-a mais uma vez: “O trabalho final deste nível é escrever um livro”. E escutamos de novo.

Escrever um livro? Consigo apenas completar um e-mail, sem ter ainda muito claro quando deve ser formal e quando deve ser informal (não tenho claro, e também não percebo a diferença).

Escrever um livro? Faz pouco tempo que comecei este curso e acho que não tenho os


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recursos necessários para escrever algo parecido a um texto literário.

Escrever um livro? Mais penso, menos acredito. Mais repito essa frase e mais me afasto de toda lógica que me ajude a encontrar uma explicação.

Porém, também acontece que quanto mais repito essa frase, mais vai crescendo na minha mente uma pergunta perigosa: Por que não? Por que não o quê? Por que não escrever um livro?...

Se os Diretores do Programa de Línguas, se a Junta Coordenadora do Programa de Línguas, se os Chefes de Cátedra de Língua Portuguesa, e ainda mais, se nossa professora, com o apoio de quase todo o pessoal mencionado, planificou uma tarefa dessa magnitude, quem sou eu para me declarar em contra? Ninguém!!!.

Que ferramentas intelectuais eu posso utilizar para esgrimir e me manifestar como opositor deste grande desafio? Nenhuma.

Que palavras conquistariam a vontade de meus colegas para criar uma oposição comum? Muitas e nenhuma ao mesmo tempo...


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Nada podia fazer. Não tinha jeito nenhum de escapar. Só aceitar como um verdadeiro bravo, dar um passo para frente no precipício e entregar-me ao poder das letras.

Olha só! “...Entregar-me ao poder das letras” é uma frase do livro! Tal vez não seja tão difícil escrever.

Tal vez, escrever seja deixar a imaginação voar, traduzir essas imagens em letras, formar palavras e frases que façam a construção dessas mesmas imagens na cabeça e no coração de outro... Experimentemos....


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O anel Lá estava o sol, assomando, como um careca

mal escondido do outro lado do muro do horizonte. Por fim o grande dia chegou. Pulou da cama, abriu a janela e engoliu essa manhã inigualável. Não ia trabalhar. Tinha pedido licença pelos exames de sangue que João, seu amigo da infância e, por acaso o médico do trabalho, tinha recomendado (melhor dito inventado) que faça sem falta esse mesmo dia.

No dia anterior ligou para seus amigos, sua família e seus professores para avisar que ia estar ausente os próximos dois dias por uma importante viagem de trabalho. Paulo não queria que nada, nem trabalho, nem faculdade, nem amigos, nem família, fosse interferir em seus planos.

Tomou um banho e enquanto fazia a barba, olhava para o espelho e voltava a imaginar todas as possíveis alternativas não só de seus próprios fatos, como também as reações dela...


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Repetia mais uma vez... Então, olhando em seus olhos, eu vou dizer: “Você quer ser minha mulher? Quer compartilhar comigo a vida toda?”

Nesse momento, um raio de sol, entrando pela janela, iluminou todo o banheiro, criando com esse brilho a mesma magia de um “SIM”, um “SIM” cheio de vergonha, paixão, amor e simplicidade; um “SIM” incomparável, gigante, eterno, uma resposta emocionada e apaixonada, inesquecível, romântica, sincera, brotando daqueles lábios mais vermelhos que nunca, como se o coração fosse sair pela sua boca para explodir de felicidade... A magia de um simples “SIM”...

Porém... E se dissesse que “NÃO” ???? Logo e rapidamente o banheiro ficou em sombras. A escuridão foi total. A imagem de Paulo no espelho desapareceu, dando lugar á imagem da morte. Faltava o ar. Os latidos do seu coração eram como golpes do badalo de um sino... “Pulo de uma ponte” falou a morte no espelho. “Pulo de uma ponte” foi o único que ficou na sua mente nesse segundo de eternidade... “Se disser não, pulo de uma ponte” escutou novamente forte e claro. Tão forte e tão claro como as gargalhadas que começaram a se


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espalhar pelo banheiro, pelo quarto, pela casa toda, quase até a rua... Paulo rolava de rir, enquanto repetia “pular de uma ponte; pular pelo “não” de uma mulher?” As risadas eram cada vez mais altas... “Eu, pular.....?”

Conseguiu parar de rir. Secou seus olhos, pegou a navalha e o creme de barbear que foram jogados no chão com as gargalhadas e continuou.

Era impossível ela dizer não; ele jamais daria tanta importância a algo tão ruim. Não acreditava que um pensamento assim atravessasse sua mente. Pronto. Calça jeans preferida, camisa nova... Sapatos ou tênis?. Tinha usado tão poucas vezes os sapatos, que corria perigo de não ser reconhecido. Decidido, tênis.

Um café da manhã leve e rápido. Arrumar sutilmente o quarto, mais uma

olhada no espelho e rua. O concerto de buzinas dos milhões de carros engarrafados tinha o som de uma canção da Paula Fernandez. Os gritos das mães, os choros dos meninos, os palavrões dos motoristas de táxis e ônibus, eram como o canto da torcida do Flamengo na vitória 3-0 a Santos no sábado passado. A poluição, a fumaça dos carros


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misturados com os cheiros das baiucas do centro, parecia ao perfume da praça no começo da primavera.

Embora fosse quarta-feira, percebia tudo como se fosse um maravilhoso domingo de sol. Sem dúvidas, evidente e inegavelmente, estava muito apaixonado.

De vez em quando, olhava sua camisa e calça jeans, não queria estar com a roupa amassada. Abrira a caixinha com o anel e acomodara-o outra uma vez.

O trajeto foi mais curto do que ele pensara. Melhor dito, sua ansiedade fez que descera do ônibus muito antes do ponto certo.

Eram poucos quarteirões, caminhar fazia bem, não amassava a camisa e havia um monte de motivos para disfarçar essa bobagem de descer antecipadamente. Na sua mente se agitavam as frases do dia. ”Quer compartilhar comigo a vida toda?” “Pular de uma ponte”. “Estupidamente apaixonado”

Alguma vez escutei que uma mente ansiosa demais é muito similar á mente de um psicopata.


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Já estava perto do ponto de encontro e ainda tinha muito tempo. Só tinha que atravessar a ponte e caminhar dois quarteirões. Chegaria cedo e esperaria num restaurante. Melhor pegar uma mesa perto da janela, para poder ver quando ela chegasse.

De repente, algo o afastou de seus pensamentos. Numa loja, na mesma rua, na calçada oposta, saiu um casal que chamou sua atenção. Foi a aparência de atleta? Não. O tamanho de suas costas de esportista ou boxeador? Também não. Sem dúvidas, era ela. Instantaneamente se lembrou de Lúcia, seu amor. Ela com seus cabelos pretos, que balançavam com o vento, enquanto caminhava junto a seu esportista. Ela e seu sorriso. Tudo lembrava Lúcia. O vestido azul e verde, muito semelhante ao que ele tinha dado de presente no último aniversário...

Do casal brotava ar de amor, brotava um romantismo que era percebido mesmo de longe. Apesar de ser musculoso e alto, ele a abraçou delicadamente e começou a beijá-la. Quando tocou seus lábios, ela levantou um pé... Igual que Lúcia... “Lúuuuuuuuuciiiiiiiaaaaaaaaaaaa!!!!!!”


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Um grito comovente, um trovão repentino, paralisou o tráfego, paralisou as pessoas, paralisou o ruído, as luzes... Paralisou todo o quarteirão. Quebrou o ar de amor, quebrou o romantismo e quebrou o beijo também.

O que O Paulo fazia justo ali? Nessa hora? Nesse minuto? O olhar do Paulo atravessou a rua e encontrou os olhos de Lúcia, que não acreditava, não entendia, não sabia que, como, onde, quando, porque isso estava acontecendo...

A sirene da ambulância percorria célere a cidade, abrindo caminho entre os carros engarrafados. Dentro dela, um enfermeiro falou para o médico que tentava deter a hemorragia: - “Acidente!!!???? Fala sério??? Todas as testemunhas disseram que ele pulou!!”

A mão de Paulo se abriu, e uma caixinha com um anel caiu no chão da ambulância...


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VAI REPETIR Não lembro quando saí do hotel. Assim como o dia ia chegando a seu fim,

prazer de viajar por essa parte da rodovia também ia acabando. A noite dizia estou chegando. Umas nuvens pretas e grandes caminhavam próximas a meu carro, avisando que uma forte tormenta estava por chegar.

Noite e tormenta. O que pode ser pior para quem está em um carro no meio da rodovia, longe de qualquer cidade que possa me proteger?

Não sabia que podia ser pior, mas eu estava ali. E a tormenta, que já tinha aparência de tempestade, também estava ali. A chuva, o vento, os raios, os trovões... Todos os ingredientes de uma grande tormenta misturando sem nenhuma ordem, para criar um show violento, natural, perigoso e impressionante.

Tinha quase chegado ao limite de minha decisão de continuar avançando, quando subitamente, no escuro, a bênção de um sinal de


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trânsito, refletida pelas luzes do carro, indicava-me a proximidade de um povoado. Um quilômetro para a salvação. Sem dúvidas, foi o quilômetro mais longo da minha vida.

Ainda não sei como adivinhei que essas poucas luzes pertenciam ao único hotel do povoado.

Os três metros que separavam o carro da porta da recepção foram suficientes para molhar toda a minha roupa, toda, desde o boné até a ponta do tênis. E logo, o silêncio absoluto.

Podia escutar as gotas que caiam da minha camisa, batendo na madeira, no chão. Acho que também foram escutadas pelo porteiro que apareceu do nada e colocando o charuto do lado esquerdo da boca, disse: - “Boa noite, só pra cumprimentar”. Velho de poucos cabelos brancos. Seu corpo curvado, forçava-o a olhar para cima, transformando em inúteis seus óculos de lentes grossas. - Agora sim é boa noite! - falei com uma felicidade que não concordava com a situação, molhado, longe da civilização, diante de um velho porteiro de


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um hotel arruinado. Além disso, tinha percebido algo conhecido, como um “Déjà Vu”. - Hoje o senhor é nosso único hóspede. Todos os quartos estão livres e tem banheiro privado. Todas as portas estão abertas. Escolha o que quiser, entre, feche a porta e ligue 01. - Com licença... - Escolha o que quiser, entre, feche a porta e ligue 01, interrompeu-me o velho enquanto caminhava para os fundos.

Escolhi o quarto mais próximo da recepção. As roupas molhadas me faziam sentir frio e um banheiro com água quente era muito necessário. Entrei, fechei a porta, liguei para 01 e minha surpresa foi total. “Seja bem-vindo ao prestigioso Hotel Mais Uma, uma experiência que vai se repetir” falou um locutor e se escutava samba como música de fundo. “Por favor, disque 01 para fazer um percorrido acústico pelas opções que Hotel Mais Uma lhe oferece ou espere para nossa atenção personalizada”... Outra vez musiquinha. - Boa noite!- Reconheci imediatamente a voz do porteiro, que mal tentava disfarçar.


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- Boa noite. Desculpe o incomodo. O restaurante está aberto? O porteiro me interrompeu de novo - Água quente no banheiro: R$ 10. Travesseiro adicional: R$ 10. Cobertor: R$ 10. Aquecimento e ar acondicionado, não funcionam. Jantar até às 23.00h cardápio fixo R$ 100 (carne de porco, arroz, feijão, farofa, batata frita. vinho, cerveja ou água, queijo e goiabada de sobremesa, café) O senhor quer o serviço completo? - Somente água quente no banheiro. Esqueça o resto. Obrigado.

A água quente, a fadiga e o estresse esgotaram minhas forças. Cai na cama e apaguei. Não lembro quando sai do hotel.

O calor me matava. O azar estava do meu lado. Tinha pegado a rodovia há uma hora, quando o ar acondicionado deixou de funcionar, assim, sem mais nem menos. O sol ainda não estava alto e com certeza chegaria antes do meio-dia.

Às duas da tarde, o carro era um forno. Todas as janelas abertas e só conseguia trocar ar quente por ar mais quente. Minhas costas, que tentava em vão afastar do couro do assento, eram


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uma lagoa. A cabeça parecia uma cachoeira escorrendo pelo meu rosto.

Era preciso urgentemente deter a viagem, antes que me derretesse. O suor nos olhos e a fumaça que começava sair do carro, dificultavam minha visão de um jeito muito perigoso. Tinha quase chegado ao limite das minhas forças, quando subitamente, a bênção de um sinal de trânsito, indicava-me a proximidade de um povoado solitário no meio do nada.

Ruas de terra. Ainda não sei, submerso em uma nuvem de pó, como adivinhei que esse prédio era o único hotel do povoado. Além disso, tinha percebido algo conhecido, como um “Déjà Vu”.

Os três metros que separavam o carro da porta da recepção foram suficientes para encher todo meu corpo de poeira, além de ficar aderido pelo suor. Fiquei caboclo.

E logo, o silêncio absoluto. Podia escutar as gotas de suor caindo da

minha camisa, batendo na madeira, no chão. Acho que também foram escutadas pelo porteiro que apareceu do nada e colocando o charuto na parte esquerda da boca, falou:- “Bom dia!, só pra


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cumprimentar”. Velho de poucos cabelos brancos. Seu corpo curvado forçava-o a olhar para cima, transformando em inúteis seus óculos de lentes grossas. - Agora sim é um bom dia! – falei com uma felicidade que não concordava com a situação de estar suado e cheio de pó, longe da civilização, diante de um velho porteiro de um hotel arruinado. Outro “Déjà Vu”? - Hoje o senhor é nosso único hóspede. Todos os quartos estão livres e tem banheiro privado. Todas as portas estão abertas. Escolha o que quiser, entre, feche a porta e ligue 01. - Com licença... - Escolha o que quiser, entre, feche a porta e ligue 01, interrompeu-me o velho enquanto caminhava para os fundos.

Escolhi o quarto mais próximo da recepção. As roupas sujas se aderiam rapidamente e um chuveiro com água quente era muito necessário. Entrei, fechei a porta, liguei para 01 e minha surpresa foi total. “Seja bem-vindo ao prestigioso Hotel Mais Uma, uma experiência que vai se repetir” falou um


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locutor e se escutava samba como música de fundo. “Por favor, disque 01 para fazer um percorrido acústico pelas opções que Hotel Mais Uma lhe oferece ou espere para nossa atenção personalizada”... Outra vez musiquinha. - Boa noite!- Reconheci imediatamente a voz do porteiro, que mal tentava disfarçar. - Boa noite!. Desculpe o incomodo. O restaurante ainda está aberto? O porteiro me interrompeu de novo: - Água quente no banheiro: R$ 10. Travesseiro adicional: R$ 10. Cobertor: R$ 10. Aquecimento e ar acondicionado, não funcionam. Almoço, até às 16.00h cardápio fixo R$ 100 (carne de porco, arroz, feijão, farofa, batata frita, vinho, cerveja ou água, queijo e goiabada de sobremesa, café). O senhor quer o serviço completo? - Somente água quente no chuveiro. Esqueça o resto. Obrigado.

A água quente, a fadiga e o estresse esgotaram minhas forças. Peguei o jornal para me relaxar antes de dormir. As manchetes falavam de um carro, que, na tormenta, desviou-se da rota,


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bateu contra uma árvore e se incendiou. Nele viajava apenas o motorista.

Cai na cama e apaguei. Não lembro quando sai do hotel.


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Poema: Um por que

Porque falta o ar. Porque falta cor. Porque respirar. Porque sinto dor. Porque tenho temor, Por que essa necessidade? Porque falta amor. Porque a liberdade. Porque tua ausência. Porque sofrer. Porque essa doença, Por que morrer? Porque te amo.


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Por Jessica Sosa


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Capítulo Um 1° Dia

Levo aqui dias e dias observando, e somente hoje acordou, tanto tempo dormindo, esta vez demorou muito. Continua deitada no chão no meio da vegetação, olha para todos os lados, ainda não sabe onde está.

Até que enfim se levantou, continuei olhando, será que não lembra nada? O que estará pensando? Dá um passo e fica ali, se sente desconsertada, vai para lá, para cá, mas volta ao mesmo lugar onde acordou. Senta-se no chão e me pergunto de novo, o que estará pensando? Será que ela se lembra de mim? Não sei, igualmente eu sempre a vejo desde a mesma árvore, este é meu lugar, não faço nenhum movimento, não quero que me veja, não saberia o que dizer. Puxa vida! Sempre a mesma coisa.

Levanta-se novamente. Observa ao seu redor, com cara estranha. Os olhos abertos como se fosse fugir. Enquanto isso, gira sobre seu próprio


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eixo. Um giro; dois giros; três giros. Chega! Vou ficar tonto com seus giros. Mas ela continua, quantos giros??? Perdi a conta.

Já é de noite, terminou o dia e ainda não sabe onde está. Porque será? Melhor vou para minha cama, já é muito tarde e amanhã quero acordar cedo para vê-la acordar. Que sensação gostosa, quando abre seus olhos e seus cílios brigam por fechar-se de novo, mas bem, vou dormir.

2º dia Hoje aconteceu a mesma coisa que ontem,

ainda não sabe onde está, não percebe que isto é a selva, que está no coração dela, no meio do mato, sua memória não está bem. Deu mais de um passo. Bom, já caminhou bastante, mas não vai longe de onde estava. Acho que não quer se perder, volta ao seu lugar, parece que é o único lugar em toda a terra, tenho vontade de dizer: - Vá! Vá! Explore!!! Descubra o maravilhoso e tenebroso que isto pode ser! Vai ficar ali o dia inteiro, nunca saberá o que há e nem o caminho para ir embora. Será que quer ficar aqui na selva? Pode ser, tomara que sim, igualmente, não desejo isso a ninguém, cada um


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tem que encontrar seu lugar no mundo, mas só conseguimos isso explorando. Oh! Levantou-se de novo, não, só foi para... Para nada. Eu continuo detrás da mesma arvore, hummm! Adoro seu cheiro, acho que por isso sempre fico aqui, também porque assim não me vê, que bom, gostaria muito de falar com ela e dizer como são as coisas, mas se ela não quer descobrir por si mesma. Ainda não tenho coragem para falar. O que está acontecendo comigo? Melhor vou embora, de novo a noite se aproxima. Parece que hoje vai chover.


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Capitulo Dois 3º dia

Ao final foi só uma chuva leve, ainda bem, porque ela ainda dormiu no chão, não arrumou galhos para fazer uma casinha? Mas hoje tem outro olhar, será que quer saber que há do outro lado? Só viu alguns pássaros e folhas das árvores, não viu animais, há muitos de todas as espécies, que qualquer um possa chegar a imaginar, estará disposta a descobrir o “afora”?

Levantou-se, já deu, mais de 13,14,15 passos um milagre!!! Eu não me mexo! Sempre no meu lugar, não quero despertar nenhuma suspeita, foi além do esperado, que bom! Estou contente, só era questão de tempo. Esta vez esta mais viva, no caminho vai deixando rastros para saber como voltar, nunca havia feito coisa assim, lembrou-se de algo? Não, acho que não; senão iria direto, já saberia a resposta.

Por enquanto presumo tudo, ela continua caminhando, melhor vou atrás dela, não quero


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perdê-la de vista. Caminho bastante, eu quero gritar: - Paraaa!!! Ainda não está preparada para tudo o que vem.

Pelo sol, sei que são quase às 4 da tarde, não pensa voltar ou só marcou o caminho? Já é tempo de ir embora para nosso lugar, há horas que está caminhando e é longe.

4º dia Quando cheguei, ela já tinha acordado.

Nossa! Será que não dormiu ou hoje acordou antes que eu? Isso é impossível, com o cantar dos primeiros passarinhos, meus olhos abrem sozinhos, quando todos já começam a cantar e fazem barulho eu a observo.

Hoje posso ver através dos seus olhos, sei que tem medo, mas tem que continuar, tomara que retome de novo o caminho que marcou ontem. Já passaram mais de duas horas e ainda está deitada no chão, tentando tomar sol, brincando com as flores que tem ao seu redor, parece feliz aqui, sem


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preocupações. Ainda analiso já quase é meio dia, e por fim começa a caminhar pela trilha.

Quase duas horas caminhando e não fez todo o caminho pelo mesmo lugar, depois de 20 minutos, ela se desviou para outro lado, experimentando distintas sensações, podia notar em seu rosto, pelo seu sorriso. Tocou cada uma das flores, as folhas das árvores, também ia arrancando uma folha de cada uma e as guardava numa sacola, que tinha não sei onde, ela puxou de sua calça uma sacola, do seu bolso. Para quê quer folhas? Que estará pensando? De novo a intriga, que dá voltas na minha cabeça. Algumas são tão grandes que tem que dobrar no meio, mas tem muito cuidado. Até aqui posso perceber que quer que estejam impecáveis. Caminha e de repente se detém, está observando o penhasco, sua beleza é admirável! Não pode ir embora, tem que se deter para apreciá-lo. Sorte que perto dela há uma árvore, minha árvore preferida, tem o cheiro mais gostoso do mundo inteiro, é um cheiro único e que só aqui na selva é possível ter, tem uma mistura entre... Não saberia explicar bem, só posso dizer que é... Onde foi? Onde está? Olho para todos os lados e não


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posso encontrá-la. De repente, olho fixamente e vejo que está na beira do penhasco admirando-se. Ainda não posso acreditar que seja ela, no seu rosto noto um olhar de medo, atordoada, afasta-se da margem. Agora sim, percebeu que não é mais ela, fica assustada perto da minha árvore, daqui posso sentir o cheiro de medo que sai dela. Já passou mais de uma hora do acontecido, novamente volta para o penhasco, retorna para ver sua imagem refletida, não pode acreditar no que se converteu, mas vai ter que aceitar a realidade e procurar o caminho de volta a casa. Já é de noite ela prefere ficar aqui perto da água, ainda me pergunto por quê? Se já tinha uma pequena casinha lá, onde acordou pela primeira vez. Eu já não sei o que pensar, não sei aonde tudo isso vai terminar.

5º dia Escuto barulho ao longe, vou acordando, ao

abrir bem os olhos vejo um animal a meu lado. Puxa! Assustei-me, mas é a Clara, a bonita elefante daqui, todos a amam, é muito boa com os demais, conosco. Ainda dormi, não quero acordá-la, ontem


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teve um dia muito ruim, descobriu muitas coisas novas, vai demorar muito tempo para assimilar.

Quase duas horas observando, sinto tanto por ela, só quero que isto seja uma má lembrança, que passe tudo rápido. Depois de esperar muito tempo, finalmente acordou. A que hora dormiu ontem? Pode ser que eu dormi antes e ela ficou até o amanhecer, isso teria sentido, pois é quase meio dia, já é tarde para fazer coisas, aqui anoitece muito cedo ou pelo menos para mim...

Volta a ir à beira do penhasco, ontem não acreditou no que viu, ficou lá uns 10 minutos, é uma hiena que não ri, a única aqui na selva que tem cara de tristeza, o que estará acontecendo esta vez, para que fique desse jeito, já não quero vê-la mal, porquê está sempre voltando, isso não é bom para ninguém.

Começa a gritar como uma louca dizendo: - “Por que a mim, porque a mim?”.

Porque sempre é a mesma pergunta, se ela sabe qual é a resposta, já estou cansado das mesmas coisas. Agora começa a caminhar em círculos, não se detém. Puxaaa, eu sabia que isto ai acontecer!!! De repente desaparece da minha vista, onde está?


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Vou devagar entre as árvores, não quero que ela me veja, não esta por nenhum lugar, onde se meteu? Há mais de uma hora que a estou procurando e não sei como escapou.

Ali esta sentada no meio da grama e parece que fez um amigo, é o pequeno macaco, ele está aqui há pouco tempo, mas não acho que fique mais de uma semana com nós, ele é inteligente demais, só fica porque gostou muito de tudo o que contempla. Não posso escutar bem o que eles estão falando, só escuto as risadas. Depois de um tempo examinando a situação, aproximam-se a outros animais e parece feliz, cheia de vida, acho isto que lhe fazia falta, ainda ri depois de tudo o que aconteceu. Já é muito tarde, será que vai dormir ali? No meio da grama? Vai se molhar com o orvalho da noite, além do mais, aqui faz frio pelas noites. Bom, se ela quiser... Não posso ir contra sua vontade, também não quero nem posso falar com ela; melhor vou dormir e buscar minha árvore preferida para deitar nela.


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6º dia Sei que faz frio durante a noite neste lugar,

não é tão longe de onde eu moro, mas igualmente faz frio, não sei se vou poder dormir, ela está olhando as estrelas, são mais fortes e brilhantes do que as da cidade, aqui a vista é melhor. Tenta pegar alguma estrela com suas mãos, tadinha, só é uma confusão visual. No seu interior ela é uma criança que ainda não cresceu, mas sabe que já não é, e pode ser que esse seja seu medo... Já não sei o que achar, estou confundido.

São quase ás duas da amanhã e ela ainda está acordada, parece que vai ficar a noite toda brincando com as estrelas e fazendo que guarda no seu bolso. De tanto vê-la, também comecei a pegar, não posso parar de rir, sempre penso como seria minha vida sem ela, e me faço a mesma pergunta cada dia da minha vida: - Seria mais feliz sem ela? . Algumas vezes acho que seria muito feliz, ela sempre está mal, sempre com essa cara, faz problema por tudo o que acontece na sua vida e ao redor, acho que está maluca, mas não vou dizer nada, não quero que saiba a verdade. É ótimo o que


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penso, falo como se algum dia eu falasse com ela e isso nunca vai acontecer.

E porque não vai acontecer? Porque eu não quero ou por que algo me impede? Aqui estou de novo fazendo perguntas que nem eu sei responder, e isso que são para mim mesmo, imagine se essas mesmas perguntas fossem feitas a outra pessoa? Coitadinho ficaria sempre na confusão.

De tanto pensar já são ás cinco da manhã hoje não vou dormir nada, e parece que ela também não, ainda brinca com as estrelas, não se cansa nunca, o macaco já dormiu faz tempo. Com certeza ainda está pensando como aconteceu isso, na sua cara se vê o medo, o terror que ela sente por ficar aqui, mas aqui somos bonzinhos demais, ninguém briga com ninguém. Sempre temos o sorriso em nossos rostos, é muito diferente.

Eles sempre estão com pressa e nós não, aqui tudo é tranquilidade, carinho, amor e ajuda, no entanto lá são bravos, não são demonstrativos, imagine que o macaco se aproximou, sem saber nem seu nome, somente para ajudar porque viu seu olhar triste.


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De novo o cheiro que me enche de prazer. Que gostoso! Se pudesse comê-lo seria muito bom, mas não, a vida sempre tem um sabor amargo. Como amo esta árvore, é tão bom deitar nela, na sua superfície, até os galhos são bonitos e cheirosos, é calmo, gostaria que minha casa fosse feita desta árvore, cada centímetro dela, não melhor ainda, que todas as coisas da minha casa estivessem feitas com essa árvore. Ahhhh! Quando falo nela é impossível não ter um sorriso na minha cara, é pura felicidade e prazer.

Se todos soubessem da existência desta árvore, acho que já estaria extinta no mundo. Aqui, não é o mundo, para mim não pertence a nada, somos diferentes e moramos os que estamos preparados e outros só vêm de visita. Tem gente que nem sabem deste lugar, que é único, pelas cores que temos a nosso ao redor, pelas músicas dos animais, os cheiros das plantas e árvores, é diferente a tudo o que alguém possa chegar a imaginar. A vida é muito simples, isso é o que temos que saber.

Cada um que vem aqui sempre faz a mesma pergunta: - Porque eu estou aqui? O que fiz de


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ruim? Algum dia voltarei para minha casa? Estas são sempre as três perguntas mais frequente. Mas não procuram respostas, vivem pra questionar, isso me deixa muito chateado.

Pensando naqueles que passaram por aqui, até ela mesma... Já passaram das seis da manhã, melhor vou dormir um pouco, porque hoje o dia vai ser muito longo.

7º dia Não dormi nada, esta menina não me deixa

dormir, é quase ás 10 da manhã e graças a deus os dois estão dormindo. Vou tomar o café da amanhã, hoje preciso de um, para aguentar até noite e não “morrer na praia”.

A elefanta sabe como fazer o café da manhã é uma experta, cada dia faz melhor e melhor, sempre tão boa... Volto e parece que o macaco já foi embora, ela acaba de acordar e olha para todos os lados, como desorientada, o que estará acontecendo? Sempre com ela é algo novo cada dia. Parece que lembra onde está, ainda bem que não fiquei triste. Quando for embora, terminarei odiando-a, porque sempre é a mesma coisa todos os


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dias, tem que saber que isto de voltar vai passar mais de uma vez.

8º dia Um novo dia começa, hoje apareceu o sol,

que lindo e maravilhoso que é a nossa terra; ela dormiu ate ás 6 da manhã, desde cedo está percorrendo cada lugar, esta se descobrindo, refletindo sobre toda sua vida, as decisões boas e más, quer tomar seu rumo de novo, não quer voltar mais, posso ver isso no seu olhar, mas eu fico triste, com certeza não vai voltar mais aqui, vou ter saudade dela, são sentimentos estranhos, por outro lado estou alegre, ela percebe que não pode estar indo e voltando o tempo todo, porque não é bom para ela, hoje sei que está procurando seu destino e acho que vai dar certo.

Faltam 10 dias para que voltem novamente, mas ela não sabe, porque não lembra, aqui as regras são assim. Quem fica mais de dez dias e não se encontra tem que ficar aqui um ano, aquele que se encontra antes dos 10 dias volta rápido e esquece tudo.


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Ela sempre fica 15 dias aqui, nunca encontra a resposta a suas perguntas rápido, sempre toma seu tempo para... Para nada porque não pensa as coisas, não sei se pensa, será que pensa muito? Não sei, sei lá, igual acho que é a segunda opção, pensa muito tudo, ao pensar tanto nas possibilidades tira muitas conclusões, e não termina em nada. Quando isso acontece se pergunta o que fez? Nunca se pergunta se foi porque não fez nada. Essas coisas têm que mudar de agora para frente, já está velha para atuar por si mesma, não pode depender das opiniões dos outros, tem que ser forte para encarar a vida, sua liberdade. Ela sabe que é livre, mas sempre quer o incentivo dos outros, e a vida não é assim. Ainda bem! A gente tem que ser forte, a vida é tão curta que não percebemos, muitas vezes algo acontece, muda tudo, e voltamos ao caminho certo, mas sempre tem que suceder algo ruim para que lembremos o significado da vida, da nossa vida.


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9º dia Hoje não tenho vontade de aguentar

ninguém, melhor vou embora daqui, não quero ver o que vai fazer hoje. Caminho sem sentido no meio da selva, procurando minha árvore preferida e não encontro deve ser o destino ou... Sei lá, caminho e de repente encontro a uma pessoa nova, grande, elegante, diferente a todas, a mim. Não!!! Isto não está acontecendo, que estou fazendo aqui?! Não posso acreditar, caminho depressa, cada vez mais rápido, quero sumir deste mundo, que está acontecendo comigo? O que aconteceu? Estou como ela, sem saber onde estou nem quem sou e...

Quando acordo já é de noite, é uma noite muito cálida e seca, observo e não há ninguém por nenhum lado, estarei louco? Não sei o que pensar, eu estou confundido e tenho mil coisas na cabeça, estou, estou, vai acontecer de novo.

10º dia Acordo com a luz do sol, hoje está muito

quente, nunca faz tanto calor aqui, faz calor, mas não tanto, é difícil de explicar. Tenho diferentes


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sensações no meu corpo, sinto o sangue ferver dentro de mim, que experiência mais estranha. Tenho febre? Não me posso levantar, não tenho força, sinto o corpo inteiro fraco, é a primeira vez na minha vida que fico doente. Já passaram algumas horas desde que acordei, e nem sei onde estou, nunca estive neste lugar, estou ficando maluco, não posso acredito em nada. Vai acontecer de novo.

Desperto e são quase ás, ás... Não sei, está tudo escuro, nem a luz da lua esta iluminando, parece que houve um apagão, tenho muito medo e além do mais sinto um cheiro estranho, de outra pessoa, começo a gritar com todas as minhas forças, peço ajuda, algo estava mal comigo e de repente volto a ver de novo, é um raio de luz que não sei onde está, estou muito fraco e volto a desmaiar. Antes de fechar meus olhos a última coisa que lembro é que alguém pega meu braço e não me deixa que cair no chão.

Tive um sonho muito estranho, que eu era ela, que eu era a hiena que não ria. Acordo novamente, ainda é de tarde, estou na beira do penhasco olho para ambos os lados e não vejo


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ninguém perto de mim, o que a água reflete é incrível e não acredito no que vejo. Não, não, não, não sou eu, ela não é eu. Que brincadeira é essa, não conheço, não, não. De repente uma pessoa se aproxima e eu fico imóvel, achando que não me vê, quando chega perto de mim percebo que essa pessoa é eu, que vem por mim. Não é possível que o tempo que eu passei observando-a, na verdade era eu me observando a mim mesmo. Que bobagem!!! Como não percebi que a hiena era eu, por isso eu não queria falar com ela, como vou ia falar comigo mesma, com o meu outro eu, ainda estou fraca demais, as pernas estão cada vez pior, sinto o sangue percorrendo meu corpo, não quero desmaiar, quero saber que loucura é essa.

Não posso deixar de olhar à beira, vejo a pessoa que mais amo e que mais odeio, ali na minha frente, na água. Do meu lado ela está esperando que eu entre. É meu corpo e meu subconsciente, o mais sábio de todos, ele sempre está na frente, e eu sempre um passo atrás, é sempre tão gentil, amável e não tenho palavras para descrever o que sinto neste momento, a minha vida jogada no lixo.


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Nunca faço nada para mudar, por isso sempre volto ao mesmo lugar, ele sempre está ai, lembrando-se de mim, meu subconsciente. Aonde estará minha alma? A hiena que não ri, com certeza perdida em alguma parte... O que é isto? Já não sei onde estou, só sei que não quero voltar mais, cai muito baixo de novo, voltei a retroceder mil passos.

Puxa vida! Agora sim entendi que meu rumo tem que

mudar, mudar para melhor, porque senão eu volto a cair no mesmo lugar, eu me prejudico e as pessoas ao meu redor sofrem, eu sinto agora o sofrimento nas suas almas, mas onde esta a minha, não quero voltar sem ela...

Acordo e estou numa cama e tudo é branco, a meu lado minha mãe que não para de chorar e entre suas mãos a minha, sinto o calor que ela me transmite, e nesse mesmo momento falo... Amo-Te!

De repente ela sorri e minha alma volta ao meu corpo instantaneamente, me relaxo e meu mundo volta a sua normalidade. Agora sei que tudo vai mudar para melhor, que minha vida vai ser totalmente diferente, porque lembro o que pode


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fazer minha cabeça comigo, mas tenho que pensar que eu a controlo e não ao contrário.

Neste momento o único que eu penso é : “Obrigada mãe por estar sempre ao meu

lado”!


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Capítulo 1 Um passeio inesquecível

Um dia de primavera, você decide passear pela fazenda percorrendo caminhos e coletando flores. O dia está maravilhoso, um sol esplêndido, cálido, os passarinhos cantando, a grama recém-cortada, há um cheiro de flores no ambiente... Você sabe: é um daqueles dias em que você tem um coração cheio.

De repente tem vontade de deitar-se no chão, tirar os sapatos e que seus pés toquem a terra. A temperatura cálida ou o cansaço da noite anterior fez que você se adormecesse. Quanto tempo passou? Umas poucas horas? Tenta abrir seus olhos e uma escuridão o invade. Agora você percebe que o tempo passou e tem que voltar para sua casa, mas é difícil encontrar o caminho certo quando tudo está escuro. Não tem jeito, tentará encontrá-lo.


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Seus olhos se acostumam à noite escura e começa a caminhar, sem rumo seguindo seu instinto. Talvez já tenha caminhado por uma ou duas horas (é difícil sabê-lo com certeza) até que vê uma pequena luz em um morro. À medida que vai se aproximando, a luz começa a se tornar mais forte e consegue ver uma pequena casinha rodeada de ipês amarelos. Você tinha visto essa casa antes? Evidentemente não, começa a ficar preocupado, porque não está indo na direção certa, além do mais já escutou muitas histórias de robôs e pessoas perdidas em esses lugares.

A lua brilha encima da sua cabeça desfilando feixes de luz e aumentando as sombras ao redor. Agora que está mais perto percebi que a casa é bastante grande, com um portão verde na frente e um caminho de pedras que o guiam a entrada principal. A única luz acesa é a de um farol encima da porta, essa era a luz que via de longe. Uma placa na entrada chama sua atenção: “Olhe seu caminho porque ninguém olhará por você”. O que significa? Tal vez uma brincadeira ou uma frase que alguém gostou? Tem algum significado? Obviamente nestas circunstâncias não tem


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nenhuma graça. Decide tocar a campainha pequena e velha que está a lado do portão verde. Um ruído estridente quebra o silêncio da noite, e o eco se escuta nas serras. Nada acontece... Uns segundos e nada, passam minutos e nada. Decide tocar de novo, talvez não escutaram. Desta vez toca por um tempinho mais, fazendo que o som se propague ainda mais longe. De repente uma pequena luz é acesa e como se fossem bichinhos de luz começa a iluminar a casa, permitindo perceber a extensão da casa.

Uma mulher de 50 anos chega à porta vestindo um avental e farinha no rosto.

Fica envergonhada, era evidente que a senhora estava ocupada, cozinhando. - Boa noite moça, em que posso ajudar? - Oi, desculpe minha interrupção, estou perdida. Hoje cedo sai para caminhar e terminei adormecendo. Quando acordei já tinha escurecido. - Oh!!!É muito perigoso andar sozinha de noite por estes caminhos, você não escutou falar das coisas feias que estão acontecendo? - Escutei sim.. Você poderia me indicar o caminho, por favor?


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- Posso sim, mas é melhor entrar e que meu patrão lhe indique o caminho.

Atravessa a porta e a imagem que vê é muito diferente do que esperava. Um salão muito grande com um piano no meio e dois grandes sofás, à direita tem uma escada de madeira trabalhada e com pequenos detalhes que conduzem aos quartos, tudo parece muito refinado, um ambiente cálido. Sente-se como se fosse seu lar.

A faxineira se apresenta como “Nenê”. De perto você percebe a bondade refletida na sua cara, talvez tenha mais de cinquenta anos. Ela conta a história da casa, seus anos de luxo e esplendor e como foi destruída com o passar do tempo.

Parece o que o dono é um moço de uns vinte oito anos, chamado Joao, decidiu morar no campo e afastar-se de sua vida anterior. Se bem o lugar é lindo e tem seu encanto, não consegue imaginar o que aconteceu com ele. Alguém tão novo que se decide afastar de tudo.

Nenê lhe convida um copo de limonada e uns salgadinhos de presunto e queijo. Indica-lhe o lugar para lavar as mãos e esperar o Joao, tinha saído de caça.


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Senta-se em um dos sofás, perto da janela, observa o jardim, afastada da porta principal. Tal vez passaram vários minutos, percebe que uma figura a observa e sente como suas bochechas ficam vermelhas. - Eu fui caçar e a noite trouxe a presa. - Oi, você deve ser Joao, né? Nenê deixou que eu ficasse aqui até você chegar. - Que abusada essa Nenê! Você pode ficar até amanhã, no quarto à esquerda. Lá encontrará roupa, acho que ficará bem em você. O jantar será servido ás dez da noite, ninguém vai te chamar para comer. Depois de falar isso, deu meia volta e desapareceu pelas escadas.

Fiquei com a boca aberta sem poder reclamar nada. Você não queria ficar na casa de um desconhecido, somente queria saber o caminho de volta a casa. Não importava se tinha que caminhar sozinha pela noite. Mas a voz decidida do rapaz chamou sua atenção e fez com que não reclamasse nada.

Depois de pensar um pouco, sobe as escadas em direção ao andar superior. Só tinha duas portas. Abre a porta da esquerda, um ambiente moderno


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diferente do resto da casa, porém cálido. Um guarda-roupa, duas camas e um banheiro. Não era muito diferente que qualquer outro quarto, más com alguns detalhes que chamaram sua atenção. Flores ao lado de uma foto de uma menina adolescente e a placa da entrada. Impossível não observá-lo.

De repente o cansaço cai, mas decide ficar até a hora do jantar e depois ir embora, sem importar se Joao ou Nenê disserem ou não o caminho. Seus olhos começam a fechar e em uns poucos minutos dorme.


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Capítulo 2: Um jantar de novela

Com o nono badalar do relógio de parede despertou-se do sonho. Demora alguns minutos para se lembrar onde está e o que está fazendo ali. Pega o primeiro vestido que vê no armário e se dirige rapidamente a sala de jantar.

Na mesa encontra dois pratos colocados em cada extremo e velas que alumbram o ambiente. Sentado em uma cadeira estava o Joao, assistindo o jornal Globo, concentrado, discutindo com os jornalistas sobre alguma notícia que o deixara indignado. Quando percebeu sua presença, deixa o jornal num canto da mesa e indica uma poltrona para se sentar. - Você está muito linda, essa cor de vestido fica bem em você. Nenê está trazendo a comida em qualquer momento. - Obrigada! – (fica sem graça). “Por que uma pessoa que acabo de conhecer gera isso em mim”?


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Com a iluminação e de perto ele é ainda mais bonito. É um jovem de cabelo castanho com franja caindo no rosto, olhos verdes e com certa tristeza na sua expressão. - Menina! Posso perguntar por que você decidiu sair caminhando sozinha? - Sabe, algumas vezes eu preciso me afastar do mundo e começar a caminhar sem rumo para me a encontrar de novo.

A conversa continua sem esforço, como se eles se conhecessem a vida toda. Eles não perceberam, mas Nenê tinha trazido à comida e colocado na mesa. Evidentemente os dois estavam mais interessados em continuar com a conversa.

O cheiro gerado pela carne de panela é impossível de ignorar. Nunca tinha provado algo tão gostoso, dissolve na boca. O ambiente começa a se tornar mais e mais relaxado. À medida que as horas passam, fica cada vez mais difícil abandonar a casa e deixar ao excêntrico proprietário e sua faxineira amorosa para trás.

A música toca de fundo, o ambiente se mistura com o aroma da comida e de repente ela se


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esquece de tudo, quem é, com quem está e que alguém a espera de regresso. Tudo.

Sabe que tem pouco tempo, tinha saído à procura de uma aventura, mas nunca imaginou que a encontraria deste jeito. Podia ser só um pensamento momentâneo, mas começou a ficar na sua cabeça, dando voltas, como uma pequena mariposa com vontade de voar.

As velas começam a apagar-se lentamente. Nenê já foi dormir e agora sem vontade de se despedir, dirigem-se aos quartos.

Amanhã vão fazer um piquenique, andar a cavalo e despois ele a acompanhará ao povoado para comprar algumas cosas no mercado. A pesar de que ainda vão ter tempo para ficar juntos, nenhum dos dois quer se separar. De repente ele toma sua mão e a beija carinhosamente. - Boa noite! Obrigado pela conversa. Da meia volta e se dirige ao quarto, deixando-lhe com o coração batendo tão forte que se alguém passasse pela porta escutaria.


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Capítulo 3 Um piquenique acidentado

Às sete da manhã, os passarinhos cantam e a luz que entra pela janela é um pequeno detalhe, que faz ela pensar que o dia promete.

Decidiu tomar um banho e colocar um vestido amarelo, muito delicado que estava pendurado no guarda-roupa.

Uma vez pronta, começa a descer pelas escadas, ansiosa e emocionadamente. Joao estava na cozinha preparando bolo, suco e salgadinhos para levar ao piquenique

Andaram a cavalo pela fazenda. O lugar era muito grande e Joao com paciência mostrava cada detalhe. Desde as cachoeiras até os animais que encontravam no caminho. Depois de várias horas, decidem colocar a manta debaixo de duas grandes árvores que pelo tamanho tinha mais de cem anos. Enquanto ela tira os bolos da cesta, Joao se afasta da sua vista e regressa uns minutos depois com um grande buquê de flores silvestres, que tinha


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recolhido, e na outra mão uns morangos cuidadosamente escolhidos.

O clímax da noite anterior novamente aparece. Comem em silêncio, desfrutando a comida, o dia e a companhia do outro. Sem palavras ditas, mas ao mesmo tempo, todas faladas. Quanto tempo passou... Não poderia dizer. A imagem se confunde com o postal do lugar.

Lentamente começa a falar e decide perguntar por sua vida anterior e pela placa que tanto chamou sua atenção.

Joao um pouco incomodado pela pergunta, começa a olhar para outro lado. Como se prestasse atenção a um ponto que só ele vê. Logo começa a falar: - Há alguns anos atrás eu morava com minha namorada em uma casa muito linda perto do povoado. Ela era muito linda e inteligente, tínhamos planejado casar e formar uma família, mas eu gostava do campo. Meus avós tinham uma casa que eu tinha herdado e queria remodelar. Nesse tempo eu trabalhava e viajava muito, passava muitos dias fora de casa e não percebi que as necessidades de cada um eram diferentes. Começamos a ficar


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distantes, cada vez nos falávamos menos e compartilhávamos ainda menos. Um dia depois de uma longa viagem, tinha decidido pedir que se case comigo. Mas quando cheguei a casa, ela não estava e tampouco estavam suas coisas. Não entendia o que tinha acontecido e depois de sair do assombro fui correndo a casa de meu amigo. Para minha surpresa todas suas coisas estavam ali. Eu queria uma explicação, porém só consegui uma sentença. A última frase que meu amigo me disse: “Olhe seu caminho porque ninguém olhará por você”. É por isso que eu tenho essa placa, para nunca esquecer esse conselho. Não confiar em ninguém porque até um amigo pode trair. Depois disso, peguei minhas coisas e vim morar na fazenda do meu avô. Ter a vida que sempre sonhei... Mais o menos... - Que história triste. Mas você não acha que já é tempo de confiar? - Confiar em quem? Na única pessoa que confio é na Nenê. - Você pode confiar em mim. -Você é uma menina chata. Você acha que eu quero ficar com você!!!


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Nunca ninguém tinha me dito tantas coisas feias, reunidas em palavras. As lágrimas começam a correr pelas bochechas. Corre para casa, toma suas coisas, agradece a Nenê, que olha assombrada, e sai correndo sem olhar para atrás. Que tonta!! Como poderia ter imaginado que um homem como ele, rico e lindo olharia para ela. Primeiro corre por várias horas, chorando e depois mais calma, começa a caminhar o resto do caminho.

De repente detrás de umas árvores aparece o povoado, com seu movimento normal, como se nada tivesse mudado. Mas mudou, mudou e agora se sente uma estranha nesse lugar que viveu por vinte anos. Ninguém notou sua ausência, ninguém olha para ela, é realmente uma estranha nesse lugar. Chega a sua casa, toma um banho e tenta apagar toda a imagem do sonho vivido. Um sonho que parecia real, mas que só vai ser um sonho e uma lembrança para contar a seus netos.

Rin, ring. Alguém bate na porta. Quem será? Não quer ver ninguém.

Ring, ring. Continua soando insistentemente a campainha. Olha seu relógio, são ás dez da noite, a mesma hora em que chegou na casa do Joao.


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Passou toda a tarde tentando esquecê-lo, mas com cada detalhe fazia o contrário.

Rin, ring. De novo a campainha a fez sair de seu sonho. Dirige-se a porta. Abre e de repente não tinha forma de explicar o que estava vendo. Na porta da sua casa, com cara triste e os olhos chorosos, mas com sua beleza de sempre: João.

O mundo parou, o ambiente torna-se mais espesso e seus olhos se encontraram por alguns minutos. Joao começa a pedir desculpas. Ela já não está escutando, porque sabe que esse homem, que agora está na porta da sua casa, vai estar do seu lado à vida inteira.

Olhando para as crianças, logo de ter contado a história de como seus padres se conheceram, me convenço que foi bom trocar, há quatro anos atrás, as placas que marcavam a rota do novo ao povoado.


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Queria agradecê-los por tornar este projeto um sucesso.

Sei que, para que tudo saia de acordo, é imprescindível

planejamento, execução e empenho.

Obrigada pela boa dose de carinho e dedicação.

Senti isso no trabalho de vocês a cada momento, desde

nosso primeiro encontro, até o último momento.

Obrigada por tudo!

Estou muito orgulhosa de vocês!!

Patricia Cardoso Professora de Português

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