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 PPGEP   Gestão industrial (2006) UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERALDO PARANÁ P R  UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS PONTA GROSSA DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PPGEP PATRÍCIA GUARNIERI  NÍVEL DE FORMALIZAÇÃO NA LOGÍSTICA DE SUPRIMENTOS DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA   ANÁLISE DO CASO DAS MONTADORAS PONTA GROSSA DEZEMBRO  2006

Patricia Ppgep

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UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN

PRUNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN CAMPUS PONTA GROSSA DEPARTAMENTO DE PS-GRADUAO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO PPGEP

PATRCIA GUARNIERI

NVEL DE FORMALIZAO NA LOGSTICA DE SUPRIMENTOS DA INDSTRIA AUTOMOTIVA ANLISE DO CASO DAS MONTADORAS

PONTA GROSSA DEZEMBRO 2006

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PATRCIA GUARNIERI

NVEL DE FORMALIZAO NA LOGSTICA DE SUPRIMENTOS DA INDSTRIA AUTOMOTIVA ANLISE DO CASO DAS MONTADORAS

Dissertao apresentada como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Engenharia de Produo, do Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo, rea de Concentrao: Gesto Industrial, do Departamento de Pesquisa e Ps-Graduao, do Campus Ponta Grossa, da UTFPR. Orientador: Prof. Kazuo Hatakeyama, Ph.D.

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TERMO DE APROVAO

PATRCIA GUARNIERI

NVEL DE FORMALIZAO NA LOGSTICA DE SUPRIMENTOS DA INDSTRIA AUTOMOTIVA ANLISE DO CASO DAS MONTADORASDissertao de Mestrado aprovada como requisito parcial obteno do grau de Mestre em Engenharia de Produo, do Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo, rea de Concentrao: Gesto Industrial, do Departamento de Pesquisa e Ps-Graduao, do Campus Ponta Grossa, da UTFPR, pela seguinte banca examinadora: Orientador: Prof. Kazuo Hatakeyama, Ph.D. Departamento de Engenharia de Produo, UTFPR Prof. Francisco Jos Kliemann Neto, Dr. Departamento de Engenharia de Produo, UFRGS Prof. Guilherme Ernani Vieira, Ph.D. Departamento de Engenharia de Produo, PUCPR Prof. Luis Mauricio Martins de Resende, Dr. Departamento de Engenharia de Produo, UTFPR

Ponta Grossa, 01 de dezembro de 2006

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minha querida me, estimado pai (in memorian) e amados irmos Antonio Carlos e Paulo Ricardo pelo amor que ultrapassa as barreiras do tempo e distncia.

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AGRADECIMENTOSPrimeiramente, agradeo a DEUS pela vida que me concedeu e pelas oportunidades infinitas de progresso intelectual e espiritual;

minha famlia, que mesmo distante, esteve sempre presente, me apoiando com seu amor incondicional;

Ao meu orientador, Prof. Dr. Kazuo Hatakeyama, pelo apoio, dedicao e generosidade em compartilhar comigo seu vasto conhecimento;

Aos professores do PPGEP, pela valiosa contribuio nos ensinamentos repassados e por seu incentivo;

CAPES pelo apoio financeiro que possibilitou a elaborao do presente trabalho;

s empresas participantes, que gentilmente cederam o precioso tempo de seus funcionrios, com o intuito de cooperarem na realizao da presente pesquisa;

Aos funcionrios e bolsistas do PPGEP, pela presteza, amizade e carinho que demonstraram no decorrer do curso;

Aos meus amigos, irmos que Deus nos d para partilhar essa jornada espiritual chamada vida, sua simples presena tornou o caminho mais fcil;

A um amigo, em especial, Lindomar Subtil de Oliveira, com quem compartilhei momentos difceis e alegres nestes ltimos dois anos, com certeza, sem sua amizade e apoio tudo seria mais difcil.

A todas s pessoas muito especiais, com quem tenho a felicidade de compartilhar minha vida.

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O futuro tem muitos nomes. Para os fracos, o inatingvel. Para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes, a oportunidade. Victor Hugo

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RESUMOUm dos maiores desafios para as empresas do segmento industrial saber como gerenciar sua cadeia de suprimentos de forma abrangente e eficaz. O segmento automotivo pode ser considerado representativo neste sentido e merece ser destacado, pois apresenta iniciativas considerveis no gerenciamento da cadeia de suprimentos. Por isso, julgou-se relevante estudar quais so os principais fatores que impactam no abastecimento da produo das indstrias automotivas brasileiras. Para responder a esta questo realizou-se uma pesquisa aplicada, exploratria e descritiva, atravs do mtodo indutivo que, do ponto de vista da abordagem do problema, caracteriza-se como qualitativa. O procedimento tcnico utilizado foi o levantamento de dados, tendo como procedimento adicional a realizao de visita tcnica em um dos fornecedores da indstria automotiva, visando aprofundar algumas questes pertinentes. A coleta de dados foi realizada por meio de questionrios de pesquisa, entrevista semi-estruturada, observao direta e anlise documental. O principal objetivo da pesquisa foi verificar o nvel de formalizao na logstica de suprimentos das montadoras da indstria automotiva brasileira. Para atender a este objetivo foi necessrio verificar os conceitos e ferramentas tecnolgicas utilizadas nas atividades envolvidas no processo de suprimento da produo; analisar se a viso do GCS dos fornecedores converge com a viso das montadoras e diagnosticar a existncia de parcerias entre fornecedores e clientes. Percebeu-se que entre os fatores considerados na dificuldade de implantao do conceito do GCS destaca-se a incoerncia na cultura das empresas pesquisadas, no que se refere s parcerias e ao intercmbio de informaes entre os membros envolvidos. Palavras-chave: Indstria automotiva, gerenciamento da cadeia de suprimentos, logstica de suprimentos, cultura empresarial.

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ABSTRACTOne of the major challenges for the companies of industrial segment is to know how to manage its supply chain in an efficiently and comprehensively form. The

automotive segment can be considered representative in this sense and deserves to be noticeable once it presents considerable initiatives in the supply chain management (SCM). Thus, it is prominent to study the main factors of the SCM that impacts in the supplying of Brazilian automotive industries output. In order to answer this question, it was accomplished an applied, exploratory, descriptive and qualitative research, through inductive approach. The technical procedure used to collect the data was a survey with an additional source from the technical visit to a representative supplier of the automotive industry, aiming to deepen some pertinent questions. The data collection was carried out through questionnaires, semiThe main

structured interview, direct observation and documentary analysis.

objective of the research was to verify the level of formalization of supply logistics of the Brazilian automakers. Therefore, in order to attend this objective, it was necessary to verify the concepts and technological tools used in the activities involved in the supplying processes of the output, aiming at the resources optimization; analyze whether or not the SCM vision of the suppliers converges with the SCM vision of the automakers, and diagnose the existence of partnerships between suppliers and clients. It was verified that, among the factors considered, the difficulty of implementation of the SCM concept is detached as the incoherence in the culture of the companies researched, concerning the partnerships and the information exchanging among the involved members. Keywords: Automotive industry; Supply Chain Management; Supply Logistics; Enterprises Culture.

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LISTA DE FIGURASFIGURA 1 Cadeia de logstica integrada ...............................................................36 FIGURA 2 Processo logstico.................................................................................49 FIGURA 3 Sistema de coleta integrada de peas Milk Run ...................................67 FIGURA 4 Cross-docking .......................................................................................69 FIGURA 5 Posicionamento dos software de SCM .................................................74

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LISTA DE QUADROSQUADRO 1 Atividades logsticas chave ou primrias da cadeia de suprimentos ..50 QUADRO 2 Atividades logsticas de apoio da cadeia de suprimentos...................51 QUADRO 3 Capacidades exigidas para a nova configurao de relacionamento entre fornecedores e montadoras ......................................................................53 QUADRO 4 Atividades da rea de suprimentos (compras)....................................55 QUADRO 5 Aes de apoio s atividades de abastecimento ................................56 QUADRO 6 Tipos de custos associados manuteno de estoques....................62 QUADRO 7 Mdulos que compem o ERP ...........................................................73 QUADRO 8 Caractersticas das normas de qualidade das indstrias automotivas ...........................................................................................................................87

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLASAssociao Nacional dos Fabricantes de Veculos Automotores ANFAVEA American National Standard Institute ANSI Advanced Planning and Optimizer APO Advanced Planning and Scheduler APS Bills of Material BOM British Standards Institute BSI Conselho de Administrao Logstica CAL Completely built up CBU Cost insurance and freight CIF Completely knocked down CKD Council of Logistics Management CLM Capacity Requirements Planning CRP Customer Relationship Management CRM Distribution Requirements Planning DRP Efficient Response Consumer ECR Eletronic Data Interchange EDI Estratgia modular EM Enterprise Resource Planning ERP Comunidade Europia EU Estados Unidos da Amrica EUA Free on board FOB Gerenciamento da cadeia de suprimentos GCS General Motors GM International Automotive Task Force IATF International Organisation for Stadardization ISO Just-in-sequence JIS Just-in-time JIT MERCOSUL Mercado Comum do Sul Master Production Scheduling MPS Milk Run MR Material Requirements Planning MRP Pontos de venda eletrnicos PDVE

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Produto Interno Bruto PIB Produto Nacional Bruto PNB Rough-Cut Capacity Planning RCCP Supply chain management SCM Shop Floor Control SFC Sistema Toyota de Produo STP Tecnologias de informao e comunicao TIC Transport Management TM Transport Management System TMS Vendor Management Inventory VMI Volkswagen VW Warehouse Management System WMS

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LISTA DE SMBOLOScc km %US$ centmetro cbico/cilindrada quilmetro por cento dlar americano

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SUMRIODEDICATRIA AGRADECIMENTOS EPGRAFE RESUMO ABSTRACT LISTA DE FIGURAS LISTA DE QUADROS LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS LISTA DE SMBOLOS SUMRIO

1 1.1 Tema ............................................................................................................................................18 1.1.1 Apresentao do tema de pesquisa......................................................................................18 1.1.2 Delimitao do tema de pesquisa .........................................................................................18 1.2 1.3 1.4 Apresentao do problema .......................................................................................................19 Apresentao da justificativa.....................................................................................................19 Objetivos....................................................................................................................................21

INTRODUO ...............................................................................................................................17

1.4.1 Apresentao do objetivo geral.............................................................................................21 1.4.2 Apresentao dos objetivos especficos ...............................................................................21 1.4.3 Estruturao do trabalho .......................................................................................................21 2 2.1 Mtodo Cientfico .........................................................................................................................23 2.2 Caracterizao da pesquisa.........................................................................................................24 2.2.1 Do ponto de vista de sua natureza .......................................................................................24 2.2.2 Do ponto de vista de seus objetivos .....................................................................................24 2.2.3 Do ponto de vista da forma de abordagem do problema......................................................25 2.2.4 Do ponto de vista dos procedimentos tcnicos ....................................................................25 2.3 Planejamento das etapas da pesquisa ........................................................................................26 3 3.1 Logstica Empresarial...................................................................................................................32 REVISO DA LITERATURA .........................................................................................................32 METODOLOGIA DA PESQUISA ..................................................................................................23

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3.1.1 Histria da logstica empresarial ..........................................................................................32 3.1.2 Conceito de logstica .............................................................................................................34 3.1.3 Cadeia de logstica integrada................................................................................................36 3.2 Gerenciamento da cadeia de suprimentos (GCS) .......................................................................37 3.2.1 Cadeia de Suprimentos.........................................................................................................37 3.2.2 Conceituao de gerenciamento da cadeia de suprimentos (GCS).....................................38 3.2.3 Fatores que conduziram ao conceito de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos .........40 3.2.4 A necessidade e as vantagens de integrao da cadeia de suprimentos............................41 3.2.5 Parcerias e desenvolvimento de fornecedores .....................................................................44 3.2.6 A funo estratgica da logstica no gerenciamento da cadeia de suprimentos..................47 3.2.7 Gerenciamento logstico na cadeia de suprimentos .............................................................48 3.2.7.1 Atividades logsticas chave ou primrias na cadeia de suprimentos.............................50 3.2.7.2 Atividades logsticas de apoio na cadeia de suprimentos .............................................50 3.2.8 Logstica de suprimentos ......................................................................................................51 3.2.8.1 Suprimentos (compras) ..................................................................................................53 3.2.8.2 Transportes ....................................................................................................................56 3.2.8.3 Armazenagem ................................................................................................................59 3.2.8.4 Administrao de estoques ............................................................................................61 3.2.8.5 Cross-docking.................................................................................................................68 3.2.9 Sistemas e tecnologias de informao (TI) no Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos 70 3.2.9.1 Sistemas Enterprise Resource Planning (ERP).............................................................72 3.2.9.2 Software de Gerenciamento da cadeia de suprimentos (GCS) ...............................73

3.2.9.3 Resposta eficiente ao consumidor - ECR ......................................................................79 3.2.9.4 Intercmbio Eletrnico de Dados - EDI ..........................................................................80 3.2.9.5 Gerenciamento do inventrio do vendedor - VMI ..........................................................82 3.3 Indstria automotiva .....................................................................................................................83 3.3.1 Caractersticas das indstrias automotivas brasileiras .........................................................83 3.3.2 Normas de qualidade na indstria automotiva......................................................................86 3.3.3 A evoluo dos sistemas de manufatura atravs das indstrias automotivas .....................88 3.3.4 Produo modular na indstria automotiva...........................................................................91 4 4.1 Resultados do levantamento........................................................................................................96 4.1.1 4.1.2 4.2.3 4.2.4 4.1.5 Gerenciamento logstico e GCS...................................................................................121 Administrao de estoques ..........................................................................................124 Transporte ....................................................................................................................127 Normas de Qualidade e Sistemas de Manufatura ......................................................127 Sistemas de informaes e tecnologia da informao.................................................128 COLETA DE DADOS.....................................................................................................................96

5 ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS DA PESQUISA ....................................................131 6 CONCLUSES E RECOMENDAES...........................................................................................139

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6.1 CONCLUSES ..........................................................................................................................139 6.2 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS.........................................................................141 REFERNCIAS....................................................................................................................................142 GLOSSRIO ........................................................................................................................................146 ANEXO A CARTA DE APRESENTAO DA PESQUISADORA S VISITA TCNICA...............148 ANEXO B OFCIO DE APRESENTAO DA PESQUISADORA...................................................149 APNDICE A QUESTIONRIO DE PESQUISA (MONTADORAS)................................................150 APNDICE B QUESTIONRIO DE PESQUISA (FORNECEDORES)............................................155 APNDICE C ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA ..............................................159 APNDICE D RELAO DE ARTIGOS PUBLICADOS .................................................................161

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1 INTRODUOA evoluo da logstica empresarial tem apresentado avanos significativos nos ltimos anos, por ser considerado um dos fatores essenciais para a competitividade das empresas. H, sem dvida, diversos fatores que aceleraram este desenvolvimento, dos quais podem ser citados: a presso por maior giro e reduo de estoques, o atendimento a mercados distantes e a crescente inovao tecnolgica. Atualmente, a tendncia a integrao de todas as atividades logsticas, desde o pedido do cliente ao fornecedor at a entrega ao consumidor final, permeada por servios e informaes que agreguem valor. Para viabilizar esta integrao, surge o conceito do gerenciamento da cadeia de suprimentos (GCS) ou Supply Chain Management (SCM), na lngua inglesa, que envolve no somente os processos de negcios, mas tambm o relacionamento com clientes e fornecedores, visando parcerias estratgicas, que beneficiem todos os componentes da cadeia. Existe ainda certa confuso no contexto acadmico com relao aos termos, logstica e gerenciamento da cadeia de suprimentos. De acordo com o conceito do Conselho de Administrao Logstica (CAL) a logstica um componente da cadeia de suprimentos, ou seja, ela necessria para que ocorra o correto planejamento, implementao e controle, de modo eficiente e eficaz, do fluxo de produtos, servios e informaes desde sua origem at a entrega ao consumidor final, atendendo s necessidades dos clientes. Um dos maiores desafios para as empresas justamente saber como gerenciar sua cadeia de suprimentos de forma abrangente e eficaz. Um dos segmentos industriais que pode ser considerado representativo neste sentido e merece ser destacado o segmento automotivo, pois apresenta iniciativas considerveis no gerenciamento da cadeia de suprimentos. De acordo com Wanke (2003), o GCS uma meta que as empresas perseguem h pelo menos 80 anos. A indstria automotiva precursora na tentativa de evoluo desse conceito. De Henry Ford, na poca da Primeira Guerra Mundial, com a integrao total de suas fontes de suprimento, passando por Alfred Sloan da

Captulo 1 Introduo 18

General Motors Company (GMC), na dcada de 30 e pela Toyota nas dcadas de 40 a 70, at a experincia recente, pela introduo do Consrcio Modular na Volkswagen do Brasil em Resende, o conceito de GCS experimentou uma srie de transformaes. A cadeia automotiva brasileira, segundo informaes extradas da Associao Nacional dos Fabricantes de Veculos Automotores - ANFAVEA, incluindo veculos, peas e mquinas agrcolas, rene 17 marcas e abriga os principais grupos mundiais do setor, incluindo norte-americanos, europeus e asiticos. A cadeia de suprimentos da indstria automotiva envolve, montadoras, fornecedores, varejistas (distribuidoras e revendas) e cliente final. Um simples atraso gerado por qualquer um dos membros desta cadeia ocasiona paradas de produo e, consequentemente, prejuzos para toda a cadeia de suprimentos. Devido complexidade de suas operaes, peas e componentes , mais do que necessrio, que obtenha sucesso no gerenciamento da cadeia de suprimentos, principalmente no que tange a reduo de custos logsticos e integrao de todos os elos que a compe. Uma das tendncias mundiais que fique a cargo das montadoras a coordenao dessa desenvolvimento do produto e na execuo dos processos de montagem dos veculos. cadeia, enquanto os fornecedores trabalham no

1.1 Tema

1.1.1 Apresentao do tema de pesquisa Gerenciamento da cadeia de suprimentos na indstria automotiva.

1.1.2 Delimitao do tema de pesquisa A presente pesquisa se limitar no estudo do nvel de formalizao na logstica de suprimentos das montadoras da indstria automotiva brasileira.

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1.2 Quais so os principais fatores que impactam no abastecimento da produo das indstrias automotivas (montadoras) brasileiras?

Apresentao do problema

1.3 A cadeia automotiva brasileira uma das grandes responsveis pelo crescimento da economia do pas. Ela responsvel por 4,5% do PIB do Brasil e por 13,5% do seu PIB industrial, alm de ser grande geradora de empregos e renda. a pioneira de muitas tcnicas e conceitos gerenciais, que posteriormente foram repassados aos outros setores da economia. De acordo com Pires (2004), durante os ltimos cem anos a indstria automotiva se desenvolveu e tornou-se um dos segmentos industriais mais representativos. Alguns relatos mostram que cerca de 10% de todo o comrcio mundial ocorre no mbito das indstrias automotivas. Por seu pioneirismo e nvel de competitividade, se posicionou em termos de inovaes tecnolgicas e gerenciais, tornando-se um verdadeiro referencial para o ambiente industrial. No que tange ao GCS, claramente percebe-se que mais uma vez, as indstrias automotivas so as precursoras. Ainda conforme o mesmo autor, o Brasil recebeu durante os ltimos dez anos, aproximadamente US$ 30 bilhes de investimentos. Uma parte desse valor foi aplicado na atualizao tecnolgica das unidades j existentes no pas, porm a maior parte foi direcionada construo de novas e inovadoras unidades sob a perspectiva do conceito de GCS. Isto possibilitou ao pas tornar-se exemplo mundial, por possuir em seu territrio instalaes fabris de praticamente todas as grandes montadoras automotivas do mundo, bastante atualizadas, especialmente em termos de processos logsticos e GCS. A questo cambial atingiu o setor automotivo em 2005, que de acordo com informaes da ANFAVEA, embora as exportaes de automveis e peas tenham registrado o valor expressivo de US$ 11,2 bilhes, estas perderam lucratividade nas vendas ao exterior. E desta forma as empresas do setor transferiram para o mercado interno as esperanas para recuperar rentabilidade. A perda de competitividade tambm a principal preocupao das montadoras de automveis, no momento em

Apresentao da justificativa

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que empresas concorrentes japonesas e coreanas conquistam cada vez mais espao no mercado internacional. De acordo com Soares (Revista EXAME, 2006), no corrente ano, sem soluo vista para o problema cambial, o setor automotivo aposta em expanso de at 8% no mercado interno. A ordem redobrar a produtividade, qualificar pessoal e investir em novas tecnologias e produtos para se obter a competitividade. Tal declarao indica que um dos caminhos para atingir estes objetivos o fomento de parcerias entre os membros da cadeia de suprimentos. Neste contexto, de acordo com Rebello (2006), uma grande empresa brasileira fabricante de carrocerias de nibus, considerada lder mundial, firmou contratos de parcerias com o objetivo de atender dois dos mercados mais promissores, que so o russo e o indiano. Na Rssia, a parceria opera com a maior montadora local de veculos, na qual a empresa realiza a montagem das carrocerias e a parceira os chassis e as instalaes industriais. Na ndia, a associao foi com a maior montadora local, que fornecer a tecnologia e ser responsvel pelas vendas, enquanto que a empresa brasileira se encarregar pelos processos produtivos e desenvolvimento de novos produtos (Revista EXAME, 2006). Esta mais uma iniciativa que fortalece a idia de que a integrao entre empresas necessria e vital para o sucesso dos negcios. Estes fatores positivos podem e devem ser conhecidos e divulgados aos outros elos da cadeia de suprimentos e as deficincias devem ser diagnosticadas, a fim de solucion-las. Desta forma, os recursos fsicos, materiais, monetrios e humanos so otimizados e o valor agregado torna-se perceptvel ao cliente final, satisfazendo suas necessidades, gerando maior oportunidade de negcios e lucratividade para toda a cadeia de suprimentos. Com base nesta justificativa, o presente trabalho pretende verificar os principais fatores que impactam no abastecimento da produo das indstrias automotivas, para posteriormente propor possveis solues que embasadas na teoria, venham auxiliar na implementao deste conceito com sucesso em toda a cadeia de suprimentos.

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Captulo 1 Introduo 21

No entanto, ressalta-se que o presente trabalho limita-se ao estudo destes fatores apenas em uma parte da cadeia de suprimentos, ou seja, o que tange logstica de suprimentos, que engloba os relacionamentos entre a montadora, os fornecedores e os sub-fornecedores. Deixando-se para outros estudos a logstica de apoio produo que envolve estratgias internas na transformao de insumos em produtos acabados, a logstica de distribuio que abrange as relaes entre canais de distribuio e clientes finais e por fim a logstica reversa que procura re-inserir os resduos gerados pelo processo logstico direto ao ciclo produtivo e/ou de negcios.

1.4

Objetivos

1.4.1 Apresentao do objetivo geral Verificar o nvel de formalizao na logstica de suprimentos das montadoras da indstria automotiva brasileira.

1.4.2 Apresentao dos objetivos especficos Verificar os conceitos e ferramentas tecnolgicas utilizadas nas atividades envolvidas no processo de abastecimento da produo das montadoras e seus fornecedores; Analisar se a viso do GCS dos fornecedores converge com a viso das montadoras; Diagnosticar (montadoras); Confrontar os resultados obtidos atravs do levantamento das montadoras e fornecedores e tambm com os dados obtidos na visita tcnica em um dos fornecedores destacados. a existncia de parcerias entre fornecedores/clientes

1.4.3 Estruturao do trabalho A apresentao da dissertao estruturada em forma de captulos, onde no Captulo 1 apresentado o tema escolhido para a pesquisa, expondo a justificativa

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Captulo 1 Introduo 22

da escolha, demonstrando os objetivos pretendidos, bem como a estrutura do trabalho. No Captulo 2 evidenciada a metodologia da pesquisa para dar suporte e confiabilidade s consideraes finais da presente dissertao. No Captulo 3 so apresentadas as informaes que fundamentam teoricamente a dissertao, enfatizando aspectos relacionados ao histrico da logstica e o gerenciamento da cadeia de suprimentos, bem como os aspectos relacionados ao histrico da indstria automotiva mundial e nacional e suas principais caractersticas. No Captulo 4 so apresentados os dados coletados no levantamento com fornecedores e montadoras, na forma de um quadro para possibilitar a sua comparao, bem como os dados coletados na visita tcnica junto a um dos fornecedores destacados por sua representatividade. No Captulo 5 so apresentados os resultados, sua anlise e discusso que possibilitam a elaborao das concluses No Captulo 6 so apresentadas as concluses gerais obtidas na pesquisa e recomendaes para trabalhos futuros. A seguir evidenciada a metodologia utilizada para a elaborao da presente pesquisa, bem como o detalhamento de suas etapas.

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2 METODOLOGIA DA PESQUISAPara que uma pesquisa cientfica seja considerada confivel e atinja os objetivos a que se destina necessria a definio da metodologia a ser utilizada, visando esclarecer e orientar os procedimentos de forma coerente e organizada facilitando o trabalho do pesquisador. Para tanto, foram utilizadas as abordagens de alguns autores que embasam o relato da forma pela qual foi conduzida a presente pesquisa, tendo em vista seus aspectos metodolgicos.

2.1 Mtodo Cientfico Lakatos e Marconi (2001, p. 83) afirmam que todas as cincias caracterizam-se pela utilizao de mtodos cientficos; em contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam estes mtodos so cincias. O mtodo o conjunto das atividades sistemticas e racionais que, com maior segurana e economia, permite alcanar o objetivo conhecimentos vlidos e verdadeiros , traando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decises do cientista. O mtodo escolhido foi o indutivo por fornecer bases lgicas investigao, que, segundo Gil; Lakatos e Marconi (apud SILVA e MENEZES, 2001, p. 26): um mtodo proposto pelos empiristas como Bacon, Hobbes, Locke e Hume. Considera que o conhecimento fundamental na experincia, no se levando em conta princpios pr-estabelecidos. No raciocnio indutivo a generalizao deriva de observaes de casos da realidade concreta. As constataes particulares levam elaborao de generalizaes. A induo para Lakatos e Marconi (2001, p. 86), um processo mental por intermdio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, no contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos levar s concluses cujo contedo muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam. Segundo Lakatos e Marconi (2001, p. 87), o mtodo indutivo se realiza em trs etapas: 1. Observao dos fenmenos a fim de descobrir as causas de sua manifestao;

Captulo 2 Metodologia da pesquisa 24

2. Descoberta de relao entre os fatos e fenmenos; 3. Generalizao da relao entre os fenmenos e fatos semelhantes. O mtodo indutivo apresenta duas formas: completa ou formal e incompleta ou cientfica. O presente estudo ser feito atravs da induo incompleta ou cientfica, que no deriva de seus elementos inferiores, enumerados ou provados pela experincia, mas permite induzir, de alguns casos adequadamente observados, e s vezes de uma s observao, aquilo que se pode dizer dos restantes da mesma categoria (LAKATOS e MARCONI, 2001, p. 89).

2.2 Caracterizao da pesquisa

2.2.1 Do ponto de vista de sua natureza Do ponto de vista de sua natureza foi realizada uma pesquisa aplicada que segundo Silva e Menezes (2001, p. 20), objetiva gerar conhecimentos para aplicao prtica dirigidos soluo de problemas especficos. Envolve verdades e interesses locais.

2.2.2 Do ponto de vista de seus objetivos Do ponto de vista de seus objetivos, a pesquisa considerada exploratria e descritiva atravs do mtodo indutivo. uma pesquisa descritiva, pois visa descrever com exatido os fenmenos da realidade estudada. Segundo Gil (apud SILVA e MENEZES, 2001. p. 21), a pesquisa descritiva objetiva descrever as caractersticas de determinadas populaes ou

fenmeno ou o estabelecimento de relaes entre as variveis. Envolve o uso de tcnicas padronizadas de coletas de dados: questionrios e observao sistemtica que assume em geral a forma de levantamento. Tambm exploratria, pois trava um maior conhecimento do problema, atravs de pesquisas bibliogrficas, levantamento e estudo de caso. Conforme define Gil (apud SILVA e MENEZES, 2001, p. 21), a pesquisa exploratria visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vista a torn-lo explcito ou a construir hipteses. Envolve levantamento bibliogrfico; entrevistas com pessoas que tiveram experincias prticas com o problema pesquisado; anlise de exemplos que estimulam a compreenso.

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Captulo 2 Metodologia da pesquisa 25

2.2.3 Do ponto de vista da forma de abordagem do problema Do ponto de vista da forma de abordagem do problema a metodologia empregada foi a pesquisa qualitativa, visando as caractersticas e a natureza do problema estudado. Para Silva e Menezes (2001, p. 20), uma pesquisa qualitativa considera que h uma relao dinmica entre o mundo real e o sujeito, isto , um vnculo indissocivel entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que no pode ser traduzida em nmeros. No requer o uso de mtodos e tcnicas estatsticas e descritiva. O processo e seu significado so os focos principais da abordagem.

2.2.4 Do ponto de vista dos procedimentos tcnicos Do ponto de vista dos procedimentos tcnicos a pesquisa foi realizada em duas partes: a primeira se constituiu em uma reviso bibliogrfica em fontes primrias e secundrias e a segunda parte em um levantamento com a aplicao de questionrios em 23 montadoras de veculos e 50 fornecedores, sub-fornecedores e sistemistas, que atuam no setor automotivo. Posteriormente, com o intuito de confirmar e oferecer maior suporte aos dados do levantamento, que apresenta como limitao a falta de profundidade, destacou-se uma empresa fornecedora de sistemas trmicos para veculos, considerada representativa no segmento por fornecer para a maioria das montadoras estabelecidas no pas, onde foi realizada uma pesquisa de campo atravs de visita tcnica, que incluram entrevistas, observao direta e anlise documental. A pesquisa bibliogrfica, para Gil (apud Silva e Menezes, p. 21), elaborada a partir de material j publicado, constitudo principalmente de livros, artigos de peridicos e eventos e atualmente com material disponibilizado na Internet. As pesquisas do tipo levantamento so caracterizadas pela interrogao direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Procede-se solicitao de informaes a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida, atravs da anlise quantitativa, obter as concluses sobre os dados coletados (GIL, 1999).

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2.3 Planejamento das etapas da pesquisa Conforme Luna (2002), para que a pesquisa atinja os objetivos desejados, ela deve ter um planejamento que inclua conhecimentos anteriores e metodologia adequada, alm da forma de obteno dos recursos materiais, humanos e do tempo necessrio para sua realizao. Para isso, a seguir, so discriminadas as etapas da pesquisa. Escolha do tema: Ocorreu em funo do papel estratgico que a logstica representa no Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, conceito este que se apresenta em constante evoluo no ambiente empresarial e que se constitui em fonte de vantagem competitiva. O setor automotivo foi escolhido pela sua representatividade na economia do pas. Levantamento de dados: Primeiramente, foi realizada uma pesquisa bibliogrfica em fontes primrias e secundrias, sobre os principais trabalhos j realizados sobre o tema, com o objetivo de obter dados atuais e relevantes sobre o mesmo. A pesquisa bibliogrfica alm de auxiliar a projetar o trabalho, direcionando a pesquisa, tem a funo de embas-la, preparando o pesquisador para a etapa posterior que a pesquisa de campo. Formulao do problema da pesquisa: Verificou-se atravs da reviso bibliogrfica, de palestras e de visitas tcnicas que existem ainda, no ambiente empresarial, mais especificamente, no setor automotivo, alguns fatores que impactam positivamente e negativamente na sua logstica de suprimentos da produo. Segundo Lakatos e Marconi (2001) problema uma dificuldade, terica ou prtica, no conhecimento de alguma coisa, para a qual se deve encontrar uma soluo. Definio dos termos: Para eliminar ou reduzir a margem de interpretaes equivocadas em relao aos termos da pesquisa, buscou-se esclarec-los de acordo com suas definies que so apresentadas na reviso bibliogrfica da presente pesquisa. Delimitao da pesquisa: Delimitar a pesquisa, de acordo com Lakatos e Marconi (2001, p. 162), ... estabelecer limites para a investigao. Quanto ao assunto a pesquisa limitou-se a estudar a logstica de suprimentos no gerenciamento da cadeia de suprimentos para a indstria automotiva. Quanto extenso limitou-se a uma das

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subdivises da logstica empresarial que a logstica de suprimentos. Quanto ao ramo de atuao limitou-se ao estudo do segmento industrial, mais especificamente ao automotivo. Amostragem: Foram selecionados dois procedimentos tcnicos para embasar a presente pesquisa: levantamento e visitas tcnicas, portanto, foi necessrio a seleo de duas amostras distintas. Levantamento: Num primeiro momento, foram selecionadas todas as empresas associadas ao SINDIPEAS PR, at dezembro de 2005, que totalizaram 475 empresas da indstria automotiva, incluindo-se fornecedores, sistemistas e subfornecedores. Aps isso foi realizado um levantamento com a ANFAVEA a fim de verificar quais as montadoras estabelecidas no pas, que totalizaram 23. Desta forma a amostra selecionada constituiu-se de 55 empresas do setor automotivo que incluem fornecedores, sub-fornecedores e sistemistas. Destas 55 empresa, 5 foram destacadas para o pr-teste dos questionrios. E a amostra dos fornecedores

constituiu-se em 50 empresas, ou seja, 10% do total. No caso das montadoras, constituiu-se de 23 empresas, ou seja, 100% do total. O tipo de amostragem escolhida para o presente trabalho a amostragem por acessibilidade ou por convenincia, que de acordo com Gil (1999), constitui-se no menos rigoroso de todos os tipos de amostragem. Por isso destituda de qualquer rigor estatstico. O pesquisador seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo. Aplica-se este tipo de amostragem em estudos exploratrios ou qualitativos, onde no requerido elevado nvel de preciso. Desta forma a amostra desta pesquisa caracterizou-se por ser no probabilstica. Para Costa Neto (2002), h uma diferena entre populao objeto e populao amostrada. Populao objeto aquela previamente definida para realizar um trabalho estatstico. Entretanto, apenas uma parte desta populao est acessvel, que a populao amostrada. Os mesmos autores afirmam que em geral, estudos realizados com base nos elementos da populao amostrada tero, na verdade, seu interesse de aplicao voltado para os elementos restantes da populao-objeto. A partir disso, denota-se a importncia de que as duas populaes apresentam as mesmas caractersticas (COSTA NETO, 2002, p. 42). Na mesma concepo Rea e Parker (2000), explicam que a populao o universo para o qual o pesquisador deseja abranger as constataes do estudo. Porm, os

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mesmos autores esclarecem que, em uma amostragem no probabilstica, os dados da amostra no podem ser usados para qualquer generalizao alm da mesma, porque o grau de erro de amostragem a ela associado no pode ser estimado sem a hiptese de normalidade. Em outros termos, nesse tipo de amostragem presume-se que a amostra tem certa semelhana com a populao til, e pela sua disponibilidade. Baseado nestes fatores denota-se que a presente pesquisa no teve um tratamento probabilstico, ou seja, de forma que os resultados pudessem ser generalizados. No entanto, possvel afirmar que os resultados obtidos serviram para indicar uma tendncia quanto a sua aplicao ao restante total da populao. Adicionalmente, para aprofundar o estudo e verificar se os dados apurados atravs do levantamento condizem com a realidade, foi destacada uma empresa fornecedora da maioria das montadoras estabelecidas no pas para a realizao de visita tcnica com a durao 16 horas. A empresa em questo produz sistemas trmicos para veculos e localiza-se no estado do Paran. Sua atividade se concentra na produo de componentes e sistemas trmicos, que so fornecidos para as principais montadoras de auto-veculos estabelecidas no pas. considerada representativa, pois considerada exemplo de fornecedor, para as montadoras em diversos conceitos e tcnicas gerenciais. Seleo dos mtodos e tcnicas: O mtodo utilizado na presente pesquisa o indutivo por considerar que o conhecimento essencial na experincia e parte da observao da realidade para chegar a concluses que depois so generalizadas. A pesquisa foi realizada com base em um levantamento de dados, atravs do envio de questionrios via correio fsico, eletrnico e pessoalmente. Quanto visita tcnica, realizada para melhor embasar os dados obtidos atravs do questionario, objetivou entender a rotina da empresa de forma mais aprofundada atravs da observao direta e entrevistas com os responsveis pelas atividades logsticas de suprimentos da produo. Depois de concluda a coleta de dados se buscar o estabelecimento de tendncias. Organizao do instrumental da pesquisa: O principal instrumento utilizado para a coleta de dados da pesquisa foi o questionrio. Segundo Rea e Parker (2000), razovel se esperar que esse procedimento produza um ndice de resposta de 50 a

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60%, o qual pode ser considerado satisfatrio para anlise e o relato das constataes. Foi organizado um questionrio destinado aos fornecedores da indstria automotiva, contemplando os fatores do gerenciamento da cadeia de suprimentos que impactam na logstica de suprimentos, bem como das principais prticas logsticas das empresas pesquisadas e da sua viso do conceito de GCS. Outro questionrio contemplando as mesmas questes foi elaborado para a participao das montadoras. Para colher as informaes internas da empresa selecionada para a visita tcnica, foram elaborados roteiros de entrevistas, a serem seguidos pelo pesquisador e respondidos pelos responsveis das reas de logstica, GCS e tecnologia de informao. Teste de instrumentos e procedimentos: Para Lakatos e Marconi (2001, p.165), aps a elaborao dos instrumentos de pesquisa, o procedimento mais utilizado para averiguar a sua validade o teste-preliminar ou pr-teste, que consiste em testar os instrumentos da pesquisa com uma pequena parte da amostra selecionada, para verificar se estes contm erros que possam conduzir a pesquisa a um resultado falso. Normalmente, para a natureza da pesquisa proposta, se utiliza o pr-teste com 5 ou 10% do total da amostra. O pr-teste foi realizado com 05 empresas da indstria automotiva, extradas da relao de associados ao SINDIPEAS - PR, que constituem 10% da amostra selecionada de fornecedores. Os questionrios foram enviados via correio eletrnico em 20/12/2005 e o retorno ocorreu no perodo compreendido a partir desta data at 13/01/2006. De acordo com sugestes recebidas, foram efetuadas algumas alteraes quanto forma e contedo dos questionrios. Coleta de dados: A coleta de dados a etapa da pesquisa onde so aplicados todos os instrumentos elaborados e as tcnicas selecionadas previamente, a fim de coletar os dados necessrios realizao da pesquisa. As tcnicas utilizadas na coleta de dados da seguinte pesquisa foram: 1)Levantamento: Para a coleta de dados deste procedimento tcnico, foram enviados em 23/01/2006 via correio eletrnico, os questionrios destinados s 23 montadoras e aos seus 50 fornecedores, sub-fornecedores e sistemistas. Foi enviada tambm cpia fsica dos questionrios, atravs do correio, para as mesmas empresas, em 25/01/2006. Estabeleceu-se uma data limite para a devoluo dos

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mesmos via correio normal ou eletrnico at 15/08/2006. Dos fornecedores, 29 empresas devolveram via correio eletrnico e 03 empresas via correio fsico, representando um retorno de 64%. Quanto s montadoras obteve-se resposta de 9 empresas, todas atravs de correio eletrnico, o que representa um retorno de 39%. 2) Visita tcnica: A coleta de dados deste procedimento tcnico adicional ocorreu atravs de: observao direta, entrevista e coleta documental. Para tanto, foi realizada a visita tcnica nos dias 06 e 07 de dezembro de 2005, na empresa selecionada. Nesta ocasio, foram efetuadas entrevistas, gravadas, com o Gerente de Logstica e Informtica e com o Supervisor de Logstica e Controle de Materiais; foi realizada ainda, observao direta no departamento de Armazenagem e entrevista com o responsvel do mesmo; com os Analistas de Sistemas do departamento de Informtica foram realizadas entrevistas semi-estruturadas e coleta documental. Elaborao/Anlise e Interpretao dos dados: Aps a coleta dos dados, estes devem ser elaborados e classificados de forma resumida para facilitar a anlise e interpretao. Lakatos e Marconi (2001, p.166) salientam que a elaborao dos dados deve seguir as seguintes etapas: Seleo, Codificao e Tabulao. Obteve-se um retorno de 64% dos questionrios enviados aos fornecedores e 39% das montadoras. O que considerado satisfatrio, sob a perspectiva de uma amostra por acessibilidade. Os dados dos questionrios foram tabulados manualmente, aps processados, confrontou-se as informaes obtidas das montadoras e as obtidas dos fornecedores para ento ser possvel a elaborao das concluses. Concluses: As concluses foram a ltima etapa da pesquisa, procuram explicitar o que foi investigado, analisado e interpretado, os quais devem estar ligadas aos objetivos formulados no incio da pesquisa. Nesta etapa tambm so apresentados os eventuais problemas que ficaram sem solues para que possam ser desenvolvidos em pesquisas posteriores. Sugestes: Depois de concluda a pesquisa proposta, foi possvel propor sugestes s empresas do setor estudado, bem como propor sugestes para estudos futuros, considerando-se as limitaes da pesquisa e visando a continuidade do trabalho cientfico.

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Aps a definio da metodologia utilizada na pesquisa, necessrio realizar uma reviso da literatura em fontes primrias e secundrias, a respeito do assunto tratado, visando embasar o estudo e preparar o pesquisador para a pesquisa de campo. No prximo captulo apresentado o referencial terico pertinente ao tema pesquisado.

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3 REVISO DA LITERATURA

3.1 Logstica Empresarial

3.1.1 Histria da logstica empresarial A logstica teve seus primeiros indcios na Grcia Antiga, pois com o distanciamento das lutas, era necessrio um estudo do abastecimento das tropas como armamentos, alimentos, gua, medicamentos, alm do estabelecimento de acampamentos (GOMES e RIBEIRO, 2004). Ainda conforme Gomes e Ribeiro (2004), Napoleo Bonaparte interessou-se muito pelo apoio logstico, pois sofreu por falta de vveres e raes, durante a campanha contra a Rssia. O primeiro a difundir a palavra Logstica foi o general de Napoleo, Baro Antoine Henri de Jomini, sendo que a palavra provavelmente se originou da palavra francesa loger, que significa alocar. Em 1844, nos escritos do engenheiro francs, Julie Dupuit, j se observava o conceito do gerenciamento coordenado na logstica, a idia de substituir um custo pelo outro (custos de transportes por custos de estocagem) era evidente na escolha entre transporte rodovirio e aquavirio (BALLOU, 2001, p.20). A Logstica tornou-se matria na Escola de Guerra Naval dos Estados Unidos, em 1888 e teve seu primeiro tratado cientfico em 1917, com o livro Logstica Pura: A Cincia da Preparao para a Guerra, escrito pelo tenente-coronel Thorpe, do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. J no incio do sculo XX, havia a preocupao com o escoamento da produo agrcola (GOMES e RIBEIRO, 2004, p. 6). De acordo com Ballou (1993), at cerca de 1950, as empresas fragmentavam a administrao das atividades-chave em logstica: o transporte era gerenciado pelo setor de produo; os estoques eram da responsabilidade de marketing, finanas ou produo; o processamento de pedidos era controlado por finanas e vendas, o que resultava em grande conflito entre as reas. A atividade logstica militar na Segunda Guerra Mundial foi a precursora de diversos conceitos logsticos utilizados atualmente, o que influenciou as empresas comerciais somente alguns anos depois.

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Segundo Ballou (1993), no perodo entre o incio dos anos 50 at a dcada de 60, as condies econmicas e tecnolgicas encorajaram o desenvolvimento da logstica e quatro condies-chave foram identificadas: 1) migrao das reas rurais para os centros urbanos; 2) presso por custos nas indstrias; 3) avanos na tecnologia de computadores; 4) a experincia militar. Durante as dcadas de 50 a 60 filosofias administrativas cristalizaram-se; surgiram cursos na rea de logstica oferecidos pelas universidades; livros-texto foram preparados; as empresas comearam a colocar em prtica as novas idias e a criao de associao de empresrios, de educadores e de consultores, conhecida como Conselho Nacional de Administrao da Distribuio (POZO, 2002) Ballou (1993) afirma que, a dcada de 70, at os dias atuais representam os anos de crescimento da logstica, os princpios j estavam estabelecidos, as empresas estavam comeando a colher os benefcios do seu uso. A competio mundial aumentou e comeou a haver falta de matrias-primas de qualidade requerida. Eventos fundamentais para a mudana foram o embargo petrolfero e a sbita elevao do preo do petrleo realizada pelos pases da OPEP em 1973. Controle de custos, melhor administrao de suprimentos, produtividade e controle de qualidade passaram a ser reas de interesse, medida que as empresas tentavam enfrentar o fluxo de mercadorias importadas. A partir da dcada de 1970 at os meados da dcada de 80, houve a fase de valorizar o foco no cliente, ressaltando a produtividade e os custos com estoques, quando ocorreu a introduo da logstica no ensino dos cursos superiores. Atualmente a logstica no GCS est na fase de elemento diferenciador ou que agregue valor, onde pode ser visto um destaque considervel na globalizao, tecnologia da informao, responsabilidade social e ecologia (GOMES e RIBEIRO, 2004). No incio de 1991, de acordo com Christopher (1997), o mundo presenciou um exemplo dramtico da importncia da logstica. Como precedente para a Guerra do Golfo, os Estados Unidos e seus aliados tiveram que deslocar grandes

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quantidades de materiais blicos e de subsistncia a grandes distncias, o que se pensava ser em um tempo impossivelmente curto. Meio milho de pessoas e mais de meio milho de toneladas de materiais e suprimentos tiveram que ser transportados atravs de 12.000 quilmetros por via area, mais 2,3 milhes de toneladas de equipamentos transportados por mar, e tudo isto em questo de poucos meses.

3.1.2 Conceito de logstica Nas ltimas dcadas, como citado anteriormente, as empresas estavam mais preocupadas em gerar lucros e, a satisfao dos clientes era relegada ao segundo plano. No entanto, a concorrncia mundial impeliu as empresas a reverem fortemente seus conceitos para sobreviverem no mercado reduzindo seus custos de produo. Neste momento, o conceito de logstica, to utilizado pelas Foras Militares foi resgatado para o ambiente empresarial. Vrios princpios desenvolvidos nesta poca passaram a ser utilizados com sucesso pelas empresas e dentre eles destaca-se o conceito da logstica que tem forte potencial para a obteno de vantagem competitiva sustentvel em um mercado to competitivo. A logstica para Christopher (1997) o processo de gerenciar estrategicamente na empresa a aquisio, movimentao e armazenagem de matria-prima, peas, produtos acabados e demais materiais, alm dos fluxos de informao recprocos, atravs da organizao de seus canais de marketing, tornando possvel a maximizao das lucratividades presentes e futuras atravs do atendimento dos pedidos dos clientes a custos reduzidos. A concepo logstica de agrupar conjuntamente as atividades relacionadas ao fluxo de produtos e servios para administr-las de forma coletiva, uma evoluo natural do pensamento administrativo. De acordo com Ballou (1993, p. 18):As atividades de transporte, estoques e comunicaes iniciaram-se antes mesmo da existncia de um comrcio ativo entre regies vizinhas. Hoje, as empresas devem realizar essas mesmas atividades como uma parte essencial de seus negcios, a fim de prover seus clientes com os bens e servios que eles desejam. Entretanto, a administrao de empresas nem sempre se preocupou em focalizar o controle e a coordenao coletiva de todas as atividades logsticas.

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A logstica, segundo Dornier et al. (1998), tem tido mais do que nunca um papel importantssimo nos negcios das organizaes. Mudanas nas expectativas dos clientes ou localizaes geogrficas continuamente modificadas pela natureza dos mercados, por sua vez geram transformaes que influenciam diretamente no funcionamento satisfatrio dos fluxos no mbito da empresa. Descobertas tecnolgicas e mercados emergentes abrem novos caminhos para a reorganizao, adaptao e otimizao do fluxo de matrias-primas, semi-acabados, peas sobressalentes (sobras) e materiais reciclados. Para Ballou (1993), na economia mundial, sistemas logsticos eficientes formam bases para o comrcio e a manuteno de um alto padro de vida nos pases desenvolvidos. Os pases, assim como a populao que os ocupam, no so igualmente produtivos. Assim, muitas vezes, certa regio detm uma vantagem sobre as demais no que diz respeito a alguma especialidade produtiva. Um sistema logstico eficiente permite uma regio geogrfica explorar suas vantagens e pela exportao desses produtos s outras regies. O sistema permite ento que o custo do pas (custos logsticos e de produo) e a qualidade desses produtos sejam competitivos com aqueles de qualquer outra regio. O potencial considervel de significativos que os gerentes logsticos representam nas organizaes, os fazem crticos para o sucesso da empresa em penetrar em novos mercados, realizando altos nveis de servio ao redor do globo. Conseqentemente, a logstica e o gerenciamento de operaes devem ser estabelecidos e implementados em um novo contexto global (DORNIER et al. 1998). A relevncia da logstica, conforme Ballou (1993), influenciada diretamente pelos custos associados a suas atividades. Fatores de peso esto influenciando o incremento dos custos logsticos. Dentre eles, os mais relevantes so: o aumento da competio internacional, as alteraes populacionais, a crescente escassez de recursos e a atratividade cada vez maior de mo-de-obra nos pases em desenvolvimento. O aumento do comrcio internacional indica que a especializao do trabalho continua acontecendo numa escala mundial. evoluo e os impactos operacionais

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3.1.3 Cadeia de logstica integrada Atualmente, o gerenciamento logstico busca o foco na integrao das atividades da empresa e sua intensa troca de informaes, pois se considerando que todas elas fazem parte de um processo nico, cujo objetivo satisfazer as necessidades do cliente final, no h razes para gerenci-las separadamente, incorrendo em riscos desnecessrios empresa. De acordo com Ching (2001), o alto desempenho na cadeia de logstica integrada requer maior qualidade nos processos, foco nas necessidades do servio prestado ao cliente, provendo melhoria na estrutura de custos por meio de todo o processo e reduo de prazos de entrega. O conceito de logstica integrada, de acordo com Arbache et al. (2004), uma forma organizada de perceber todos os processos que geram valor para o cliente final de um produto, independentemente de onde ele esteja sendo executado, se na prpria empresa ou em alguma outra com a qual h algum tipo de relacionamento. As subdivises de relacionamento da cadeia de logstica integrada mostrada na Figura 1.

CADEIA DE LOGSTICA INTEGRADA

LOGSTICA DE SUPRIMENTOS

LOGSTICA DE PRODUO

LOGSTICA DE DISTRIBUIO

LOGSTICA REVERSA

Envolve as relaes fornecedor-empresa

Envolve todas as reas na converso de materiais em produtos acabados

Envolve as relaes empresa-cliente-consumidor

Envolve as atividades para que os bens de ps-consumo e ps-venda retorne ao processo produtivo ou de negcios.

Fonte: Adaptado de Ching (2001, p. 89-91) FIGURA 1 Cadeia de logstica integrada

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A cadeia de logstica integrada, para Ching (2001), pode ser estruturada em trs blocos: logstica de suprimentos; logstica de produo e logstica de distribuio. Contudo, conveniente a incluso de um novo bloco referente logstica reversa, diante das tendncias do mercado que exige das empresas, uma postura ambientalmente responsvel, sendo esta, fator preponderante em negociaes em um mercado global. Esta mudana conceitual na forma de como as empresas gerenciam sua relao com o produto ofertado ao mercado, passando a compartilhar com outros componentes da cadeia, os processos-chave do negcio justamente o GCS, que ser tratado com maiores detalhes na prxima seo (ARBACHE, 2001).

3.2 Gerenciamento da cadeia de suprimentos (GCS)

3.2.1 Cadeia de Suprimentos Uma cadeia de suprimentos (CS) engloba todos os estgios envolvidos, direta ou indiretamente no atendimento eficaz de um pedido de um cliente. A CS no envolve somente fabricantes e fornecedores, o setor de compras ou de estoque de uma empresa, mas tambm transportadoras, varejistas, depsitos e os prprios clientes (CHOPRA e MEINDL, 2003). Para o Supply Chain Council apud Pires (2004), uma CS engloba todos os esforos envolvidos na produo e liberao de um produto final, desde o primeiro fornecedor do fornecedor at o ltimo cliente do cliente e basicamente, quatro so os processos que definem esses esforos: Planejar, Abastecer, Fazer e Entregar. Planejar - envolve as atividades de Processamento de Pedidos e Planejamento e Controle da Produo (PCP), visando prever os recursos necessrios (materiais, fsicos, financeiros e humanos), para a produo dos bens ou servios a que a empresa se destina. Abastecer - envolve as atividades de Suprimentos, Transportes, Armazenagem e Administrao de Estoques que providenciam os insumos necessrios ao setor de produo da empresa. Fazer engloba todos os processos internos envolvidos na transformao da matria-prima em produto acabado. Entregar - refere-se aos meios necessrios distribuio do produto acabado ao mercado consumidor (PIRES, 2004).

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Todos estes processos so envolvidos no gerenciamento logstico integrado, ou seja, Planejar d incio ao processo logstico; Abastecer est inserido na logstica de suprimentos; Fazer tratado na logstica de apoio produo e Entregar gerenciado na logstica de distribuio. O componente essencial para que exista uma CS a satisfao do cliente, em um processo que no final gere lucro para a empresa. A CS inicia quando o cliente efetua o pedido e termina quando ocorre o pagamento do servio ou do produto adquirido. O termo CS representa produtos ou materiais que se deslocam ao longo da seguinte cadeia: fornecedores, fabricantes, distribuidores, lojistas ou varejistas e cliente final. Chopra e Meindl (2003) salientam que essencial em uma CS a troca de informaes entre fabricantes e fornecedores, principalmente no que tange as informaes sobre demanda, pois assim possvel para o fabricante no manter ou reduzir nveis de estoque. Informando seus fornecedores em tempo real sobre a demanda possvel o rpido atendimento de pedidos de matria prima, sem nenhum atraso na produo e sem estoques. Em termos gerais, para Pires (2004), uma CS uma rede de empresas autnomas ou semi-autnomas, que so responsveis pela obteno, produo e liberao de um determinado produto e/ou servio ao cliente final. Chopra e Meindl (2003) afirmam que o objetivo de toda CS maximizar o valor global gerado. O valor gerado por uma CS a diferena entre o valor do produto final para o cliente e o esforo realizado por esta CS para atender ao seu pedido.

3.2.2 Conceituao de gerenciamento da cadeia de suprimentos (GCS) A maioria das empresas tradicionais organizada em estruturas funcionais, ou seja, elas apresentam uma clara diviso de suas atividades e responsabilidades, onde cada atividade busca atingir seus objetivos individualmente. Assim, a estrutura normalmente encontrada a diviso da empresa em atividades de processamento de pedidos, planejamento e controle da produo, compras ou suprimentos, produo, embalagem, manuseio, armazenagem, estoques e distribuio, entre outras. Para gerenciar estas atividades existem gerentes especficos que so os

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responsveis diretos pelo sucesso ou fracasso do desempenho dessas funes, existindo uma viso verticalizada da empresa. O conceito de GCS, de acordo com Christopher (1997), entendido como a gesto e a coordenao dos fluxos de informaes e de materiais entre a fonte e os usurios como um sistema, de forma integrada. A ligao entre cada fase do processo, na medida em que os produtos e materiais se deslocam em direo ao consumidor baseada na otimizao, ou seja, na maximizao do servio ao cliente, enquanto se reduzem os custos e os ativos retidos no fluxo logstico. O GCS, segundo Wanke (2003), uma tarefa mais complexa que a gerncia logstica dos fluxos de produtos, servios e informaes relacionadas do ponto de origem para o ponto de consumo. Este conceito envolve alm do gerenciamento das atividades de forma integrada, estratgias de relacionamentos com fornecedores e clientes visando maior durabilidade nos negcios, atravs de parcerias baseadas na confiana e na colaborao que geram vantagens competitivas. Muitas empresas descobriram que atravs destas parcerias poderiam melhorar o projeto de produto, estratgias de marketing e servio ao cliente e descobrirem formas mais eficientes de trabalharem juntas. Os significados dos termos GCS e logstica ainda so, constantemente, confundidos. Cooper, Lambert e Pagh (1997) apud Waters (1999) afirmam que GCS a integrao dos processos de negcios do usurio final atravs de seus fornecedores originais que providenciam servios e informaes que adicionam valor aos clientes. Para Waters (1999), se de um lado, a CS tem sido considerada como uma simples extenso da logstica, ligando clientes s indstrias e aos fornecedores e no outro extremo, ela identifica um conjunto completo de atividades e organizaes conectadas por transportes, telecomunicaes e intercmbio pessoal, ainda com a incluso do processo de desenvolvimento de produtos. O conceito de gerenciamento logstico integrado no qual o fluxo de informaes e materiais, entre as fontes e os usurios, coordenado e gerenciado como um sistema amplamente entendido atualmente, quando no amplamente implantado. A lgica da ligao entre cada fase do processo, medida que os materiais e produtos se deslocam em direo ao cliente, baseada nos princpios da

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otimizao, cujo objetivo maximizar o servio ao cliente, ao mesmo tempo em que se minimizam os custos e se reduzem os ativos detidos no fluxo logstico (CHRISTOPHER, 1997). Para Waters (1999), quando as empresas tentaram reduzir seus custos, seus estudos iniciais eram focados nas funes separadamente: localizao de facilidades, compras, controle de estoques, armazenagem e transporte. Porm, logo perceberam que a melhor estratgia seria a integrao, no mais observando estas funes separadamente, mas considerando a CS na sua totalidade. Dessa forma, todos os elos da CS procuram atingir uma situao em que haja benefcios para ambos e onde h oportunidades de crescimento conjunto, o que conseqentemente aumenta o nvel de servio logstico, agregando valor ao produto final perceptvel aos clientes e aumentando a lucratividade da cadeia.

3.2.3 Fatores que conduziram ao conceito de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos Devido s grandes mudanas que ocorreram no ambiente empresarial nas ltimas dcadas, as empresas obrigaram-se a rever seus conceitos. O argumento de que as demandas do mercado para fornecimento de melhores servios, combinadas com uma concorrncia acirrada, exigem uma mudana de paradigma na maneira de pensar sobre as organizaes. Atualmente, novas presses de reduo de custos esto definindo as abordagens e estruturas utilizadas pelas empresas. Para Dornier et al. (1998), essas presses incluem duplicao de inventrio, incompatibilidade fsica de infra-estrutura logstica e a limitada capacidade da reao individual para mudanas gerais na CS. As novas abordagens so significativamente diferentes para aqueles que determinaram as antigas atividades relacionadas aos fluxos fsicos. Ferramentas conceituais e gerenciais agora so aplicadas no gerenciamento da distribuio fsica, providenciando solues. Estas ferramentas refletem uma nova viso global de operaes/logstica. Trs foras principais esto na rota desta evoluo, de acordo com Dornier et al. (1998): 1) A integrao de funes internas, incluindo gerenciamento da distribuio fsica, marketing, manufatura, etc, atravs da corporao;

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2) O aumento da cooperao entre a logstica e as reas operacionais dos diferentes membros da CS (integrao setorial); 3) A busca por melhoria na integrao geogrfica que vai alm das reas tradicionais de atividades econmicas para abranger o mundo como uma fonte de clientes, conhecimento, tecnologias, matrias-primas, e assim por diante. Existe a tendncia, conforme Christopher (1997), de as concentrarem-se no que poderia ser chamado de ncleos de competncia e adquirir todo o restante de fontes externas. As empresas desempenharo e se concentraro somente naquelas atividades, na cadeia de valor, que elas acreditam promover uma vantagem diferencial, enquanto todas as outras atividades sero executadas por sub-contratados, co-produtores e parceiros logsticos. Nestes casos, a necessidade de coordenao dos fluxos de informaes e materiais entre as entidades da CS tornar-se- uma prioridade-chave, realando mais ainda o papel central da logstica como uma tarefa gerencial orientada para o processo. empresas

3.2.4 A necessidade e as vantagens de integrao da cadeia de suprimentos Christopher (1997) declara que talvez a maior implicao dos desafios para uma organizao gil seja a prioridade que deve ser dada integrao, no somente a integrao interna da organizao, mas tambm com seus fornecedores, distribuidores e clientes finais. Pires (2004) salienta que em muitos setores industriais, j no mais suficiente apenas integrar as operaes, estruturas e infra-estruturas internas com a estratgia competitiva: a tendncia a integrao dos processos internos-chave da empresa com fornecedores externos e clientes, formando uma CS com propsitos e procedimentos bem definidos e consistentes. Desta forma, a vantagem competitiva obtida conjuntamente, ao longo da CS, torna-se mais difcil de ser ultrapassada pelos concorrentes. O que se percebe nas empresas europias e americanas que na tentativa de resgatar os princpios do Just-in-time praticados nas indstrias japonesas para sua realidade, ocorrem equvocos na compreenso da integrao da cadeia de suprimentos, onde fornecedores, fabricantes e clientes atuam juntos, visando benefcios para todos os participantes dos elos da cadeia. Na verdade, na tentativa

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de aplicar os princpios de Just-in-time, estas empresas somente tm transferido a responsabilidade dos estoques e custos para os fornecedores, o que os onera, de forma a obrig-los a repassar estes custos para o produto, desta forma no gerando benefcios para nenhuma das partes envolvidas. claramente perceptvel, de acordo com Christopher (1997), que o maior motivo das ineficincias da cadeia de suprimentos a falta de coordenao. Em verdade, existe um reconhecimento cada vez maior por muitas empresas que a parceria e a cooperao proporcionam melhores resultados do que o interesse prprio e o conflito. Dornier et al. (1998), refere-se aos esforos dos parceiros da CS para coordenar e gerenciar suas atividades como uma nica entidade unificada, antes do que como entidades separadas. A idia principal que mercados industriais so formados por fornecedores e clientes ou, mais genericamente, por compradores e vendedores. O sucesso completo da integrao da CS requer das partes sua parcela de conhecimento sobre recursos, organizao, estratgias e assim por diante. Atravs do compartilhamento desta informao, as empresas podem otimizar o canal total, eliminando redundncias e outras ineficincias que adicionam custos sem adicionar valor. Quanto mais estreito o relacionamento entre o fornecedor e o comprador, maiores sero as probabilidades que as habilidades de cada parte sejam aplicadas para benefcio mtuo. De acordo com Christopher (1997), muitas empresas descobriram que atravs da forte cooperao com os fornecedores elas poderiam melhorar o projeto do produto, praticar engenharia de valor dos componentes e geralmente descobrir meios mais eficientes de trabalharem juntos. Igualmente, de acordo com Marini (2003), um dos principais objetivos do GCS de atender o consumidor final com maior eficincia, tanto pela reduo de custos quanto pela adio de mais valor aos produtos finais. A reduo de custos tem sido obtida mediante a reduo do volume de transaes de informaes e papis, dos custos de transporte e estocagem, a eliminao dos pontos de controle de qualidade e da reduo da variabilidade da previso de demanda de produtos e servios. Valor tem sido adicionado aos produtos por meio da criao de bens e servios customizados e do desenvolvimento conjunto de competncias atravs da

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cadeia produtiva e dos esforos para que, tanto fornecedores como clientes, aumentem a lucratividade. Neste contexto, Christopher (1997) enfatiza que esta a lgica que acentua a emergncia do uso do conceito de co-produo, que pode ser definida como: O desenvolvimento de um relacionamento de longo prazo com um nmero limitado de fornecedores com base na confiana mtua, tornando o fornecedor como uma extenso da montadora. Os benefcios de um relacionamento de co-produo so: Prazos de entrega mais curtos; Promessas de entregas confiveis; Menos quebras de programao; Nveis de estoque mais baixos; Implantao mais rpida das modificaes de projeto; Menos problemas de qualidade; Preos competitivos e estveis; Maior prioridade dada aos pedidos. Algumas empresas, como a indstria automotiva, que anteriormente fabricava todos seus componentes, agora somente realiza a montagem do produto acabado, outras podem sub-contratar a fabricao e outras ainda se utilizam terceiros para servios de distribuio e logstica. Na indstria automotiva, segundo Christopher (1997), aproximadamente 12% dos custos de materiais para o fabricante de automveis so explicados pelos custos logsticos dos fornecedores. Quando se descobre que uma proporo destas causada pela falta de integrao e parceria entre eles e o fabricante de automveis, evidente que existe uma grande oportunidade para a reduo de custos. No relacionamento tradicional de adversrios, o fabricante de veculos poderia procurar reduzir seus custos de materiais pressionando a margem de lucro do fornecedor de componentes. A abordagem de co-produo bem diferente: nela o fabricante de veculos procura reduzir os custos do fornecedor, no os lucros. Sob esta nova tica dos negcios, as empresas devem ter conhecimento sobre as tecnologias que sero implementadas, devem ter flexibilidade para resolver problemas e inovar, permitindo a criao de um canal de comunicao aberto para que possa haver a integrao entre seus processos. premente a troca de

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informaes, a gesto das atividades e tecnologias avanadas de logstica e o desenvolvimento de novos projetos que incentivem a existncia de confiana e de cooperao direta entre parceiros (MARINI, 2003). As empresas de vanguarda, ainda conforme Christopher (1997)

compreenderam que a competio real no feita entre uma empresa e outra, mas entre uma CS e outra. O conceito de GCS, enquanto relativamente novo, em verdade no nada mais que uma extenso da logstica. O gerenciamento logstico est primeiramente preocupado com a otimizao de fluxos dentro da organizao, enquanto que o GCS reconhece que a integrao interna por si s no suficiente.

3.2.5 Parcerias e desenvolvimento de fornecedores Um dos pressupostos do GCS a integrao e reduo de fornecedores, porm, para que isso ocorra sem causar danos continuidade dos processos da empresas, necessrio qualificar e desenvolver os fornecedores que permanecem como componentes da CS, tornando-os verdadeiros parceiros de negcios e estabelecendo relacionamentos confiveis e duradouros. De acordo com Pires (2004), considerando-se que as empresas de manufatura cada vez mais repassam componentes e servios aos fornecedores, reforando seu foco na realizao de suas competncias centrais, deduz-se que esperam de seus fornecedores um desempenho adequado. O que aumenta a qualidade dos servios e dos produtos fornecidos reduz custos desnecessrios e tempos de re-suprimento, alm de tornar os preos mais competitivos. Se isso, por algum motivo, no ocorre, a empresa cliente pode passar a produzir o componente ou realizar o servio internamente, mudar para um fornecedor mais capacitado ou auxiliar o fornecedor a melhorar sua capacidade. As novas exigncias tm sido seguidas como referncia para que as montadoras e seus fornecedores diretos possam manter a eficincia no s nas suas atividades diretas, como tambm ao longo da cadeia. As principais exigncias das montadoras para participar como fornecedores so: - Sade financeira: custo transparente e capacidade de investimento; - Certificao (ISO e QS 9000) e sistemas de auditoria das prprias montadoras;

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- Integrao eletrnica; - Desenvolvimento conjunto de novos produtos, processos e sistemas, diviso de responsabilidades/riscos/ganhos; - Padres internacionais de custo, qualidade, quantidade e preo; - Logstica - confiabilidade e prazo de entrega; - Reduo de desperdcios: resduo, defeito e estoque zero. Para Christopher (1997), existem muitas vantagens da abordagem pr-ativa para o desenvolvimento de fornecedores, no somente em termos de reduo de custos, mas tambm sob o ponto de vista de marketing. Muitas empresas esto descobrindo que o fornecedor uma fonte crescente de inovao do produto ou do processo. Estas empresas esto percebendo que, ao manterem o fornecedor envolvido no processo de desenvolvimento do produto no estgio inicial, sempre haver a possibilidade de introduo de uma nova perspectiva que leva s solues inovadoras. Desenvolver um fornecedor, para Handfield et al. (2000), qualquer atividade que uma empresa cliente realiza com o objetivo de melhorar o desempenho e/ou capacidade do fornecedor a curto ou longo prazos. Elas podem variar de uma avaliao informal de seus procedimentos e operaes at o desenvolvimento de um programa de investimento conjunto em treinamento, melhoria de produtos e processos, entre outros. Muitas empresas tm estabelecido programas de treinamento para seus fornecedores, de acordo com Christopher (1997), para auxili-los a alcanar nveis de desempenho superiores. Em vez de ameaar os fornecedores com a perda do negcio, estas empresas inovadoras procuram meios para alcanar os resultados desejados atravs da parceria. No conceito de GCS, no basta somente que as empresas clientes repassem exigncias aos fornecedores, pressionando-os para que atinjam um determinado objetivo, mas sim que ratifiquem e rediscutam as novas exigncias de forma a auxili-los no cumprimento das mesmas. O desenvolvimento de fornecedores, de acordo com Christopher (1997), deve ser ampliado para uma anlise de como seus sistemas e procedimentos podem ser

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aperfeioados e alinhados com os dos clientes. Tendo sempre em mente que a vantagem competitiva cada vez mais uma funo da eficincia e eficcia da CS, ficar bastante claro que, quanto maior a colaborao, em todos os nveis, entre os fornecedores e os clientes, maior ser a probabilidade de obteno de alguma vantagem. Para Ching (2001), na cadeia de logstica integrada, fazer parcerias com fornecedores essencial, pois permite ganhos de eficincia operacional; conduz a vantagens de integrao vertical e de melhor especializao do ramo, alm de constituir-se em uma vantagem competitiva sustentvel frente concorrncia. De acordo com Killen et al. (2004), a qualidade e a confiabilidade tm se tornado mais importante com a introduo da produo Just-in-time e com o uso dos sistemas ERP, pois desta forma os componentes e matrias-primas somente so requeridos quando necessrio o que reduz sensivelmente os custos com inventrio. As parcerias na cadeia de suprimentos permitem s montadoras, por exemplo, gerenciarem sua CS, enquanto focam suas competncias essenciais. Assim, clientes e fornecedores cooperam com a CS e aumentam a lucratividade para todos os parceiros. Ao fazer a seleo de fornecedores e tambm ao procurar os critrios para a reduo da base de fornecedores, conforme Christopher (1997), a organizao deve buscar aqueles que sejam capazes de aceitar o conceito de co-produo. Tipicamente, o comprador sofisticado est procurando uma garantia que o fornecedor possa satisfazer consistentemente padres de determinados. Normalmente, isto incentivar o fornecedor a obter um certificado de um rgo apropriado, como a International Organisation for Standization (ISO) ou o Britisth Standards Institute (BSI). Uma vez que o cliente no far mais a inspeo de recebimento e provavelmente estar operando em algum tipo de gerenciamento de estoque JIT, a necessidade de garantia total da qualidade pelo fornecedor imperativa. Para Segil (1998) apud Killen et al. (2004), o desenvolvimento e uso de um processo de formao de alianas e de construo de fortes relacionamentos entre os membros da CS essencial para aumentar o sucesso da parceria. De acordo com o mesmo autor, ainda outros fatores devem ser considerados: os interesses qualidade pr-

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comuns e comunicao aberta entre parceiros, o que possibilita maior visibilidade nos processos de ambos e, consequentemente, otimizao dos recursos. Buttery e Buttery (1996) apud Killen et al. (2004) apresenta cinco critrios que influenciam fortemente no sucesso das alianas/parcerias entre membros da CS. So eles: - Superposio de domnio: os membros devem ter algo em comum; - Algo para oferecer: cada membro deve oferecer algo para a aliana; - Motivao para unio: membros devem ter iniciativa para buscar alianas; - Clima: a cultura, crenas e prticas de negcios devem ser compatveis; - Vinculao: deve ser formado um vnculo entre os membros. Outro pressuposto bsico do conceito de GCS a integrao das atividades necessrias produo e comercializao dos produtos e, isto pode ser obtido atravs da compreenso da funo estratgica da logstica e do gerenciamento logstico, que so tratados a seguir.

3.2.6 A funo estratgica da logstica no gerenciamento da cadeia de suprimentos O gerenciamento logstico pode proporcionar uma fonte de vantagem competitiva sustentvel, ou seja, uma posio de superioridade duradoura sobre os concorrentes, em termos de preferncia do cliente. A tendncia em direo a uma integrao mundial da economia e a arena competitiva global esto forando as empresas a projetar produtos para o mercado global, e racionalizar seus processos de produo, assim como maximizar seus recursos corporativos. Empresas devem coordenar suas atividades funcionais dentro de uma estratgia coerente que conduza natureza global de seu negcio (DORNIER et al., 1998). De acordo com Christopher (1997), a fonte de vantagem competitiva encontrada, primeiramente, na capacidade da organizao em diferenciar-se de seus concorrentes aos olhos do cliente e, em segundo lugar, pela sua capacidade de operar a baixo custo e, portanto, com lucro maior. As empresas bem sucedidas ou tm vantagem pela alta produtividade, ou tm vantagem de valor, ou uma combinao das duas. A vantagem de produtividade proporciona um perfil de custo

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mais baixo e a vantagem de valor proporciona ao produto ou oferta um diferencial extra sobre as concorrentes. Corroborando com este argumento, Christopher (1997) afirma que o desenvolvimento de uma estratgia baseada em valores adicionados normalmente exigir uma abordagem mais segmentada do mercado. Quando uma empresa examina os mercados atentamente, freqentemente descobre que existem segmentos de valor distintos, ou seja, grupos de clientes, que atribuem importncias distintas a benefcios diferentes. A importncia desta segmentao de benefcios que geralmente existem oportunidades substanciais para a criao de apelos diferentes para segmentos especficos. A adio de valor atravs da diferenciao um meio poderoso de se alcanar uma vantagem defensvel no mercado. Os desafios das operaes globais e a demanda por novas respostas logsticas, conforme Dornier et al. (1998), requerem pesquisas que continuam a criar novos modelos gerenciais baseados na aplicao de conceitos como delocalizao, modularizao, diferenciao no atraso e postergao: Delocalizao se refere prtica de adicionar valor para um produto em diferentes localizaes prximas aos clientes; Modularizao refere-se prtica de linha de montagem de um produto completo usando mdulos diferentes comprados de fontes diferentes. Modularizao torna necessria uma mudana no projeto do produto para acomodar estes processos; Diferenciao no encomendas depois da demanda ter sido identificada e registrada. atraso e postergao refere-se customizao de

3.2.7 Gerenciamento logstico na cadeia de suprimentos As atividades logsticas absorvem, de acordo com Pozo (2002), uma parcela significativa dos custos envolvidos nos processos organizacionais (em mdia 25% das vendas e 20% do Produto Nacional Bruto - PNB). No entanto, para se obter sucesso no processo logstico, conforme o mesmo autor de suma importncia que se disponha de um sistema de informaes que possa atender a todos os requisitos que compem sua estrutura, atendendo assim a rapidez das respostas ao desejo do consumidor. A administrao de materiais, o planejamento da produo, o

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suprimento e a distribuio fsica integram-se para formar este novo conceito de gerenciar os recursos fundamentais para atender aos desejos do cliente, que a Logstica Empresarial. Estas atividades podem ser divididas em atividades primrias ou chave e atividades de apoio ou suporte. As atividades de apoio contribuem no suporte s atividades primrias. Segundo Ballou (1993), as atividades de apoio so: armazenagem, manuseio de materiais, suprimentos, embalagem, manuseio de mercadorias devolvidas e tambm sistemas de informao. O processo logstico pode ser visualizado na Figura 2.

Fonte: Adaptado de Rogers e Tibben-Lembke (1999:5).

FIGURA 2 Processo logstico

De acordo com Ballou (2001), as atividades chave ou primrias e as de apoio so separadas, porque certas atividades ocorrero em todo o canal logstico, enquanto outras ocorrero dentro de uma empresa em particular, alm de se considerar que, as atividades consideradas chave, contribuem com a maior parcela dos custos logsticos e so essenciais para a eficaz concluso das tarefas na CS.

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A seguir, apresenta-se uma breve caracterizao das atividades logsticas primrias ou chave e de apoio na CS, para que se compreenda a abrangncia de cada uma delas.

3.2.7.1 Atividades logsticas chave ou primrias na cadeia de suprimentos Segundo Ballou (1993, p.24), as atividades primrias so consideradas essenciais para o desempenho da empresa, alm de contriburem com a maior parcela do custo total da logstica, so de importncia primria para o atingimento dos objetivos logsticos de custo e nvel de servio. A descrio das atividades primrias so apresentadas no Quadro1.Atividade Esta atividade em muitas empresas considerada a mais importante, pois absorve de um a dois teros dos custos totais em logstica, alm de impactar diretamente no atendimento dos pedidos dos clientes. essencial que as empresas providenciem a movimentao de suas matrias-primas e de seus produtos acabados, caso contrrio os mesmos permaneceriam nos canais de distribuio, deteriorando-se e tornando obsoletos, sem atender ao mercado consumidor. Os modais mais utilizados so: rodovirio, ferrovirio, hidrovirio, aerovirio e dutovirio, ou ainda a combinao de dois ou mais deles. Descrio

Transportes

Manuteno de Nem sempre as empresas podem prever com exatido a demanda dos seus clientes e tambm no vivel produzir ou providenciar a entrega instantnea de estoques seus produtos. Para se atingir um grau razovel de disponibilidade dos produtos, de forma a amortecer a diferena entre oferta e demanda, necessrio manter estoques. Porm o excesso na manuteno dos estoques pode, de certa forma, prejudicar a empresa, pois esta atividade responsvel tambm por aproximadamente um a dois teros dos custos logsticos totais. O sucesso na administrao dessa atividade manter o nvel de estoque o mais baixo possvel sem prejudicar a disponibilidade das mercadorias desejada pelos clientes. Processamento Esta atividade inicia a movimentao de produtos e a entrega de servios aos clientes. considerada uma atividade crtica em termos do tempo necessrio para de Pedidos levar bens e servios aos clientes, no detentora de grande parcela de custos como as atividades de transporte e manuteno de estoques, porm considerada tambm essencial ao cumprimento da tarefa logstica. Fonte: Ballou (1993 e 2001). QUADRO 1 Atividades logsticas chave ou primrias da cadeia de suprimentos

3.2.7.2 Atividades logsticas de apoio na cadeia de suprimentos Para que o processo logstico atinja seus objetivos so necessrias tambm as atividades de apoio. Segundo Ballou (1993, p. 24) ... as atividades de apoio so

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aquelas adicionais, que do suporte ao desempenho das atividades primrias, para que a empresa possa ter sucesso, que se obtm mantendo e conquistando clientes com pleno atendimento do mercado e satisfao total do acionista em receber seu lucro. Estas atividades, bem como suas descries, so apresentadas no Quadro 2.Atividade Armazenagem o processo que envolve a administrao dos espaos necessrios para manter os materiais estocados, que podem ser internamente, na prpria fbrica, como em locais externos, mais prximos dos clientes. Essa atividade envolve localizao, dimensionamento, arranjo fsico, equipamentos apropriados, recuperao de estoque, projeto de docas ou baas de atracao, necessidade de recursos financeiros e humanos. Manuseio de materiais Est associada armazenagem e tambm manuteno de estoques. Envolve toda a movimentao dos materiais e produtos no local onde esto estocados. Pode ser a transferncia dos estoques para o processo produtivo e deste para o estoque de produtos acabados. Envolve tambm a transferncia de um depsito para outro. Descrio

Embalagem de A embalagem para a logstica tem como objetivo movimentar produtos com toda a proteo com um custo razovel. Um projeto adequado de embalagem do produto proteo ajuda a garantir a perfeita movimentao sem desperdcios, alm de melhorar o manuseio e a armazenagem dos produtos. Suprimentos ou obteno a atividade que mantm a