179
 __, T R N S F O R M Que livro Tenho a convicção de que nossa cultura conhecerá o evangelho por meio de cristãos que individualmente compreendem e vivem cada aspecto de suas vidas diante da face de Deus como um ato de adoração. Darrow Miller criou algo de muito valor ao nos ajudar a compreender e aplicar o evangelho em todas as áreas da vida. Tyler Johnson Diretor da Surge School for Transformational Leadership Darrow Miller adapta como ninguém a visão do reino de Deus às realidades e exigências essenciais do reino. Esteja avisado Enquanto lê este livro, talvez você se sinta confrontado e compelido a viver de acordo com o autêntico estilo de vida do rei-no de Deus. Mas por que alguém Phil A rendt Diretor do Ministrv Development. Partners International O trabalho de Darrow sobre cosmovisões é mais completo e prático do que tudo o que já vi até o momento. A questão merece um sério estudo e implementação por aqueles que desejam reposi-cionar seu trabalho ou empresas para o propósito de estabelecer o reino de Deus. Uma referência útil para pastores e líderes de ministério, este livro será valioso em seu esforço de edificar os crentes a serem efetivos e frutíferos... onde quer que trabalhem. Por trás do texto de Darrow, há um grande coração de pai voltado para o discipulado das nações. Tenho o privilégio de vê-lo em ação tanto na Ásia quanto na África. Seelok Ting Consultor e Facilitados, GroLving Change Agents' . for the Workplace, Malásia Darrow Miller transmite uma mensagem profética. Em vez de enfocar os sintomas de uma cultura doentia, Darrow conduz seus leitores à causa da questão. Ele desafia as suposições da atualidade e nos convida a analisar profundamente os princípios fundamentais dados por Deus para assegurar a verdadeira saúde em todas as áreas da vida. O convite é estar plenamente engajado em todas as áreas da cultura como embaixador do Deus Vivo. David Collins Fundador do Paradigm Ministries O maravilhoso - ainda que crítico - pano de fundo deste livro consiste no fato de que tanto o autor quanto suas palavras foram "postos à prova" por décadas. Aqueles que buscam chaves para aplicar o evangelho do reino em todas as áreas da vida, em vez de se fechar entre as quatro paredes do prédio da igreja, certamente serão equipados por meio desta obra. Os conceitos deste livro e suas aplicações são indispensáveis para os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo. Mark R. Spengler Diretor Executivo do Center for Law and Social Strategv, Kailua-Kona, Havaí Vocação desmascara nosso pensamento e comportamento dualista ao mesmo tempo em que nos encoraja ao fornecer uma estrutura prática para aplicação do pensamento bíblico correto à vida como um todo, inclusive em relação ao trabalho. Os empresa-rios cristãos de todas as áreas poderão enxergar como sua vida de trabalho e sua vida cristã podem ser reconectadas, alcançando mais realização pessoal enquanto contribuem para o avanço do reino de Deus. Habilidades e experiências adquiridas no percurso profissional fazem parte do trabalho de uma vida toda, o qual entrelaça nossas vidas e profissões para cumprir os propósitos de Deus em vez de separá-las em

Livro Vocação - Darrow Miller

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Que livro Tenho a convicção

de

que nossa cultura conhecerá o evangelho por meio de

cristãos que individualmente compreendem e vivem cada aspecto de suas vidas diante da face de

Deus como um ato de adoração. Darrow Miller criou algo de muito valor ao nos ajudar a compreender

e aplicar o evangelho em todas as áreas da vida.

Tyler Johnson

Diretor da Surge School for Transformational Leadership

Darrow Miller adapta como ninguém a visão do reino de Deus às realidades e exigências

essenciais do reino. Esteja avisado Enquanto lê este livro, talvez você se sinta confrontado e

compelido a viver de acordo com o autêntico estilo de vida do rei-no de Deus. Mas por que alguém

aceitaria menos que isso?

Phil A rendt

Diretor do Ministrv Development. Partners International

O trabalho de Darrow sobre cosmovisões é mais completo e prático do que tudo o que

já vi até o momento. A questão merece um sério estudo e implementação por aqueles que desejam

reposi-cionar seu trabalho ou empresas para o propósito de estabelecer o reino de Deus. Uma

referência útil para pastores e líderes de ministério, este livro será valioso em seu esforço de

edificar os crentes a serem efetivos e frutíferos... onde quer que trabalhem. Por trás do texto de

Darrow, há um grande coração de pai voltado para o discipulado das nações. Tenho o privilégio de

vê-lo em ação tanto na Ásia quanto na África.

Seelok Ting

Consultor e Facilitados, GroLving Change Agents' . for the Workplace, Malásia

Darrow Miller transmite uma mensagem profética. Em vez de enfocar os sintomas de

uma cultura doentia, Darrow conduz seus leitores à causa da questão. Ele desafia as suposições

da atualidade e nos convida a analisar profundamente os princípios fundamentais dados por Deus

para assegurar a verdadeira saúde em todas as áreas da vida. O convite é estar plenamente

engajado em todas as áreas da cultura como embaixador do Deus Vivo.

David Collins

Fundador do Paradigm Ministries

O maravilhoso - ainda que crítico - pano de fundo deste livro consiste no fato de que tanto

o autor quanto suas palavras foram "postos à prova" por décadas. Aqueles que buscam chaves

para aplicar o evangelho do reino em todas as áreas da vida, em vez de se fechar entre as quatro

paredes do prédio da igreja, certamente serão equipados por meio desta obra. Os conceitos deste

livro

e

suas aplicações são indispensáveis para os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo.

Mark R. Spengler

Diretor Executivo do Center for Law and Social Strategv, Kailua-Kona, Havaí

Vocação desmascara nosso pensamento e comportamento dualista ao mesmo tempo em

que nos encoraja ao fornecer uma estrutura prática para aplicação do pensamento bíblico correto

à vida como um todo, inclusive em relação ao trabalho. Os empresa-rios cristãos de todas as áreas

poderão enxergar como sua vida de trabalho e sua vida cristã podem ser reconectadas, alcançando

mais realização pessoal enquanto contribuem para o avanço do reino de Deus. Habilidades e

experiências adquiridas no percurso profissional fazem parte do trabalho de uma vida toda, o qual

entrelaça nossas vidas e profissões para cumprir os propósitos de Deus em vez de separá-las em

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duas esferas distintas: secular x sagrado. Que libertação advém do entendimento do valor eterno

que nosso aparente trabalho secular pode contribuir para o plano de Deus

John Bottimore

Executivo de Vendas Aeroespaciais Internacionais

A compreensão de que o trabalho é urna vocação a ser realizada para a glória de Deus e o

serviço às pessoas deu-me um firme fundamento para o meu trabalho de desenvolvimento entre

as comunidades carentes do Brasil. Pessoalmente. é uma experiência libertadora compreender o

trabalho como um alto chamado, basca-do em quem Deus é como trabalhador, e executá-lo como

um ato de adoração. Em relação às comunidades. o ensinamento de Dar-row nessa área é a base

para o verdadeiro e duradouro desenvolvimento.

Mauricio J. Cunha

Centro de Assistència e Desenvolvimento Integral (CADD Brasil

Darrow Miller explica que Cristo se tornará Senhor de todas as coisas quando todos os

seus seguidores submeterem suas vidas por completo ao Seu Senhorio.

Vishal Mangalwadi

Autor de Verdade e Trans fOrma

cão

Vocação é cheio de uma verdade instigante. experiências tocantes e um chamado compassivo

a manifestar o reino de Deus em todas as esferas da vida. Ler esta obra completamente ou ape-nas

mergulhar em alguns capítulos é uma oportunidade de rever nossa agenda de trabalho e de vida

com uma perspectiva bíblica inspiradora. conectando nossa história à história do Pai de maneira

prática e redentora.

Roberto Rinaldi Jr.

Empresário da ProBusiness - Empresa de Consultoria. Brasil

O livro de Darrow traz esperança às nações, equipando a igreja com conhecimento

prático de como a Bíblia fala a cada setor da cultura e da sociedade. Como profissional na área de

desenvolvimento atuando na Ásia Central, tenho testemunhado como ensinar_ entender e

implementar uma cosmovisào bíblica impacta as atividades de nosso programa. Isso inspirou

e

transformou os líderes e membros da igreja como um todo. além de ter capacitado o corpo de

crentes a mover-se para fora da igreja local trazendo esperança e

cura a sua comunidade e nação.

Conheço Darrow Miller e venho trabalhando com ele na Ásia Central há mais de uma década. Este

livro é resultado de anos de sucesso na promoção

de

transformação.

Robert C. Hedlund

Presidente e Fundador da Joini Development Associates International. Inc.

Vocação mudará sua cosmovisão acerca cio que devemos fazer na Terra até a volta de

Jesus. Este livro faz você se levantar e

viver mais propositadamente a fim de alcançar o máximo

potencial possível para sua esposa, esposo. filhos. pais, sociedade e para Deus. Vocação descreve

fé e ação como se complementando mutuamente. Quando elas caminham juntas, vivemos

entusiasticamente (do grego en-Theós. Deus em você). Leia este livro repetidas vezes

e comece a

transformar sua sociedade promovendo mudanças neste lindo e abundante mundo.

Andy Budi Janto Sutedja

Diretor Presidente do PT Succe.ss Motivation Instante, Indonésia

Representante da Disciple Nations Alliance, Indonésia

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Deus está falando claramente

e

globalmente com o corpo de Cristo em relação à tarefa de

discipular nossas comunidades

e

servir a Deus 24 horas por dia, sete dias por semana em cada área

de nossas vidas. Daqueles que Deus tem chamado para ser precursores, poucos falam com mais

autoridade

e experiência do que Darrow Miller. Por décadas ele tem buscado a Deus e servido às

tribos e

nações com sua mensagem. Qualquer pessoa que tenha sério interesse no processo de

redescoherta da mensagem bíblica para as nações incluirá este livro a sua lista de leitura.

Landa L. Cope

Diretora Executiva do The Template Institut)

,

Autora de The Old Testament Template

Na contramão da concepção limitada e individualista do evangelho que infelizmente é

pregado em muitas igrejas evangélicas, Miller oferece uma descrição acertada e revigorante do

evangelho do reino. Ele apresenta uma visão de como conectar o todo da vida e do trabalho ao nosso

glorioso futuro sobre a Nova Terra. Vocação alarga visão e paixão por assumir nosso grande chamado

de fazer cultura, unindo-nos ao Rei Jesus em Sua missão de restaurar nosso arrasado planeta.

Amy L . Sherman

Diretora do Center on Faith in Communities

Membro Sênior do Sagamore Institute for Policv Research

O livro de Darrow verdadeiramente merece o status de clás-sico. Espero que ele se

torne o "padrão" na área. Nenhum outro livro integra a cosmovisão bíblica com o tópico do

trabalho com tanta profundidade, amplitude e equilíbrio.

Christian Overman

Diretor Fundador do Worldview Matters

Meu colega de ensino Darrow Miller tem um dom. Esse dom consiste em abordar um

problema complexo. defini-lo em linguagem acessível e, em seguida, inspirar àqueles que o lerem

a fazer sua parte no mundo. Vocação é uma chamada à ação para todo discípulo verdadeiro.

Bob M offitt

Presidente da The Harvest Foundation

Darrow Miller possui uma compreensão excepcionalmente clara e bíblica sobre Deus e

o ser humano, criação e

cultura, igreja e sociedade, e de como todos esses elementos devem se

relacionar mutuamente em uma cosmovisão bíblica. Ele compreende que homens e mulheres.

criados à imagem e semelhança de Deus, devem ser projetistas, construtores, cultivadores,

administradores, professores, artistas, músicos e comunicadores. O ministério cristão não ocorre

simplesmente na igreja - e sim na vida

Larry G. Sears

Guarda Florestal Americano (Aposentado) e Consultor cai Engenharia Florestal

Durante milito tempo. os cristãos têm construído e

mantido uma muralha de separação

entre o secular e o sagrado. Essa divi-são mítica resultou na incapacidade de muitas pessoas de

viver uma vida fundamentada na realidade de que todos vivemos em "ministério integral". 0 efeito

dessa barreira é a ausência da alegria e satisfação que experimentaremos quando seguirmos o

comando bíblico de "glorificar a Deus em tudo o que fazemos". Este livro funciona como uma

marreta contra essa muralha.

Tom Shrader

Fundador do Priority Living pr.

Arizona - Pastor de E11,11110 na East Valley Bihle Church

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Gostaria que todo estudante lesse os capítulos de Darrow Mi I ler sobre cosmovisão em

operaçãoe

a necessidade dc se combater o dualismo

e

a dicotomia entre o sagrado e o secular. De

maneira brilhante. Darrom, demonstra como viver

e

trabalhar diante de Deus e por que é tão

importante compreendermos a teologia bíblica da vocação. Seu resumo da metanarrativa essencial

da Bíblia é apropriado e sua aplicação dela em questões culturais é exatamente a mensagem que

precisa ser ouvida.

Marvin Olasky

Reitor do The Kin

g

's Coll

e

,

e„New York - Editor Galé Mundial

Tendo trabalhado entre as pessoas mais pobres do mundo. Darrow Mi Iler tem

credibilidade quando escreve sobre as fontes da pobreza. Com

sua inteireza e gentileza de cos-

tume, ele expõe a base da cosmovisão do trabalho

e da criação dc riqueza.

Nancy Pearcey

Amora de l'eniatle Absoluta e (mimara de E

A

g

ora Como Viverennis?

Vôcação ensina os fundamentos para a transformação de nações. Neste livro você

descobrirá ferramentas para a renovação da cultura de cidades

e nações. Vocação contém os

fundamentos para cumprir a oração de Jesus para que venha o reino de Deus e seja feita a Sua

vontade na Terra.

Luis Bush

laciliradoi Internacional, lramsform World Connettion.s

Darrow passou sua vida tentando ajudar cristãos em todo o mundo a redescobrir o

conceito bíblico do reino de Deus. Como é trágico ser que a principal missão de Jesus Cristo (Lucas

4:43) está tão alheia a nossos pensamentos, afeições e comportamentos. Como é extraordinário que

Vocação nos apresente novamente à maravilha do reino e ao nosso papel nele Este livro é genuinamente

de Darrow: cheio de paixão. discernimento bíblico, penetrante análise e aplicação prática. Deve ser lido

por todo cristão no século XXI.

Brian Fikkert

Diretor vecutiro do ("mimeis' Center dói Ecanomic 1)evelopment,

Cmenim Collet

ie - Comam- de When Ilel

a

in

g

Hum

Vislumbramos a igreja unida em cada comunidade ao redor do mundo vivendo e proclamando

as boas novas de Jesus. Vemos igrejas aliadas buscando transformação. santidade e justiça para

indivíduos. famílias. comunidades, povos e nações. Tal visão exige uma significativa mudança na

cosmovisão dos cristãos em todo o mundo. Vocação articula muito bem essa cosmovisão, e será uma

grande ferramenta ajudando a moldar mentes. corações e estratégias em nossa comunidade global.

Geoff Tunnicliffe

Diretor /mei-tu/cio/m /

Executivo chefe da World Eu-an

g

elical Alliance

Finalmente eis um livro que captura o ensino fundamental sobre a cosmovisão que

Darrow Miller vem compartilhando tão efe-tivamente com líderes cristãos de todo o mundo por

tantos anos. O fruto de seu trabalho pode ser visto desde as montanhas do Nepal até as planícies

da África Ocidental. onde cristãos têm sido capacitados a ir além da construção de igrejas

e

têm

impactado suas comunidades por meio do que têm aprendido e aplicado.

Jane Overstreet

Presidente/Executiva ("re

li' da Derelopmem AsNociateç Internacional

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As tempestades de areia seculares danificaram gravemente os nossos olhos espirituais.

Elas nos cegaram para que acreditás-serros que a busca do status é compatível com a busca do

reino de Deus. Temos prazer em tudo o que possuímos e marginal i-zamos o que o Senhor possui.

Muitos de nós declaramos amor ao Senhor ao mesmo tempo em que tratamos as pessoas com

desprezo. Essas tempestades de areia têm obscurecido nossa visão de maneira que não conseguimos

mais ver os padrões morais e éticos bíblicos como radicalmente diferentes dos padrões de Holly-

wood. O livro de Darrow Miller nos possibilita remover nossas cataratas espirituais

e

colocar em

seu lugar lentes para que vejamos as boas novas do evangelho.

John DeHaan

Diretor Executivo da Association gf

. Evangelical /Mei' and

Devei opinem O rga n Eat ion s, 1998-2006

Vocação é um sopro de ar fresco - um lembrete

e uma renovação da verdadeira visão

daquilo que os cristãos são chamados a fazer aqui nesta vida... Este livro reflete o contínuo

compromisso de Darrow com o evangelho na medida em que nos guia de maneira muito real e

poderosa em direção ao que Jesus disse sobre "trabalhar até que Ele volte".

Hank Giesecke

Presidente do Reach Out Mnistries

Três elementos são impressionantes em Darrow Miller: sua energia, sua paixão

e seu

amor por Cristo e pelas pessoas. Ele é alguém que pratica o que prega, aproveitando toda

oportunidade - durante o almoço ou enquanto caminha - para conduzir as pessoas para mais perto

do Redentor e inspirá-las a glorificar o Senhor em todos os aspectos de suas vidas. Deus seja

louvado por levantar tal homem em nossos tempos.

Fernando Guarany Jr.

Prafessor de Inglês como Língua Estrangeira e 1Laduior,

Instituto de Educação (riso: Imago Dei, Brasil

Conheço Darrow desde 1998

e

tenho utilizado seus materi-ais sobre cosmovisão

e

desenvolvimento em meus ensinos... Seu livro Discipulando Nações é leitura obrigatória

em

minhas classes. Darrow tem um dom singular de discutir

e escrever sobre seus tópicos de uma

forma desafiadora. transformadora, que muda as vidas de seus ouvintes e leitores. Eu mesmo sou

uma das pessoas que foram influenciadas e transformadas por seus escritos e discurso. Todos os

pastores e

líderes cristãos, assim como aqueles que atuam na academia, deveriam ler seus livros,

especialmente Vocação.

Reynaldo S. Taniajura

Docente na /H/•rua/fona/ Gradua/e

School of Leadership e na

Asian School (d

 

Development and Cross-Cultural Studies

O sonho de Deus é a "transformação global", e isso se tornará realidade quando as paredes

da igreja desmoronarem e os antigos paradigmas forem abolidos. O dia dos santos está chegando

quando todos os crentes estarão equipados para comunicar o reino todos os dias em todos os

lugares. Esse exército de Ezequiel 37 gerará transformação em cada aspecto da cultura. Se você

quer ser parte do sonho de Deus, leia Vocação de Darrow Miller.

Dave Gustaveson

Diretor da JOCUM Los Angeles e da Gobal largo Networls

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OUTROS LIVROS DE DARROW L. MILLER

Discipulando Nações: O Poder da Verdade para Transformar Culturas,

com Stan Guthrie

God's Remarkable Plan for the Nations,

com Scott Allen e Bob Moffitt

God's Unshakable Kingdom,

com Scott Allen e Bob Moffitt

The Worldview of the Kingdom of God,

com Scott Allen e Bob Moffitt

Against All Hope: Hope for Africa,

com Scott Allen e the African Working Group of Samaritan Strategv Africa

On Earth As It Is in Heaven: Making It Happen,

com Bob Moffitt

The Forest in the Seed,

com Scott Allen

Nurturing the Nations: Reclaiming the Dignity of Women

in Building Healthy Cultures.

com Stan Guthrie

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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V O C A Ç Ã O :

Escreva sua assinatura

no universo

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Vocação: Escreva Sua Assinatura no Universo

Darrow L. Miller

Traduzido do oric.iinal em inglês

LifeWork: A Biblical Theology for What You Do Every Day

Copyright O 2009 hy Darrow L. Miller

Publicado pelo Instituto

e

Publicações Transforma em parceria com o DNA Brasil

Primeira edição: Fevereiro 2012

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida de forma alguma sem

a permissão escrita da editora. exceto nos casos de citações breves em artigos ou críticas.

A menos que indicada de outra forma, as citações bíblicas neste livro foram retira-das da HOLY

BIBLE. NEW INTERNATIONAL, VERSION®. NIVO. Copyright 973. 1978, 1984 hy Interna-

tional Bible Society. Used hy permission of Zondervan. All rights reserved.

Tradutores

Fernando Guarany

Joanita Tavares

Tradutores (porções)

Andréia Parente Teixeira

Nelson da Costa Monteiro Jr.

Revisores

Joanita Tavares

Andréia Parente Teixeira

Revisores (Porções)

Nelson da Costa Monteiro Jr.

Duleira Torres

Diagramação

a5 Impressões - Curitiba - PR

[email protected]

(41) 3053-6490

Capa

Hiago Angelusi

Coordenador Geral

M.Rodrigo Tapia P.

www.institutotransforma.org

[email protected]

(41) 3095-2269

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Dedicado a Francis Schaeffer e Loren e Darlene Cunningham

Dr. Schaeffer tinha esperança de que Deus utilizaria o ministério L'Abri

para inspirar os cristãos a levar o evangelho a todos os setores da sociedade.

Seu sermão "Ocupem-se até que Eu Volte " foi a gênese de minha reflexão

sobre o assunto.

Loren e Darlene Cunningham fundaram a JOCUM (Jovens com uma

Missão) com uma visão parecida. O desejo de seus corações é levantar cristãos

que inundem os continentes com indivíduos construtores de nações.

Que este livro possa contribuir com suas esperanças e legados

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SUMÁRIO

Prefácio

3

15

PARTE 1:

O PARADIGMA FALHO

1.

Cosmovisões em Ação

9

2.

Como Chegamos Aqui? O Dualismo na História da Igreja

43

3.

A Dicotomia Sagrado-Secular: Uma Cosmovisão Completa 65

4.

Um Senhor, Um Reino: Uma Parábola 79

5.Coram Deo: Diante da Face de Deus

87

PARTE

2: PRIMEIROS PASSOS EM DIREÇÃO À TEOLOG IA BÍBLICA DA VO CAÇÃ O

6.

A Necessidade de uma Teologia Bíblica da Vocação 105

7.

A Metanarrativa Essencial

111

PARTE 3: O MANDATO CULTURAL

8.

Cultura: Onde o Físico e o Espiritual Convergem

123

9.

Elementos do Mandato Cultural

135

10.

Queda, a Cruz e a Cultura

141

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PARTE 4: VOCAÇAO

11.

Chamado: Vocação

153

12.

Chamado Geral: À Vida

161

13.

Chamado Particular: Ao Trabalho

173

14.

Características de Nossa Vocação

191

PARTE 5: A ECONOMIA DE NOSSA VOCAÇAO

15.

Mordomia: A Ética Protestante

209

16.

Economia da Doação: Compaixão Generosa

227

PARTE 6: NO MUNDO

I7. Reino Avança de Dentro para Fora

241

18.

Portões da Cidade 249

19.

Domínios

267

20.

Grande Mandamento

313

PARTE 7: IGREJAS SEM PAREDES

21.

Servindo como Guardiões dos Portões

43

22.Corpo de Cristo: Igrejas sem Paredes

351

2 3. Ocupem-se até que Eu Volte

65

Notas

373

Materiais Extras para Estudo e Aplicação

395

Sobre o autor

39

7

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I 13

PREFÁCIO

A parábola dos talentos em Lucas 19 foi meu ponto de partida para

escrever este livro. (Essa parábola também é conhecida como a parábola das

minas ou das moedas de ouro, conforme a tradução.) Ao se aproximarem de

Jerusalém, Jesus utilizou essa parábola para ensinar seus discípulos sobre o

reino de Deus e para corrigir a visão distorcida que tinham - "que o reino de

Deus se havia de manifestar imediatamente" (Lucas 19.11). Assim, ele

comunicou uma nova maneira de compreender quem ele era, quem eles eram

e

qual era o objetivo de suas vidas e trabalho com relação ao reino de Deus. E

por meio disso ele também nos instrui e encoraja a viver e trabalhar ativamente

em e para o reino de Deus que está por vir.

Meu mentor, o falecido Francis Schaeffer - evangelista, apologista, profeta

à nossa geração e fundador do L'Abri - chamou minha atenção para a parábola

das minas muitos anos atrás, na época em que eu vivia e estudava no L'Abri da

Suíça. Isso me inspirou grandemente e, por muitos anos, a mensagem do meu

coração foi expressa em uma palestra intitulada "Ocupem-se até que Eu Volte "

- urna frase adaptada da parábola encontrada em Lucas 19.13 na versão João

Ferreira de Almeida Atualizada. Além disso, meus amigos Moses Kim. da

Universidade das Nações da JOCUM no Havaí, e o Dr. Robert Osburn, do

MacLaurin Institute na Universidade de Minnesota, desafiaram-me a

desenvolver e escrever estudos acerca de uma teologia bíblica da vocação.

Agora, após anos ministrando sobre esse assunto, chegou o momento de

transformar esses ensinamentos em livro.

Agradeço ao Dr. George Grant do Centro de Estudos King's Meadow

que, em um momento particularmente vulnerável na redação deste livro, ofereceu

sua equipe para dar assistência editorial a esta obra. Sem o encorajamento e a

ajuda do Dr. Grant, este projeto não teria sido concluído.

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14 1

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

A Cindy Bemn, Sarah Gammill. Lindsay Lavery e, especialmente, Mandie

Miller, que trabalharam incansavelmente neste projeto na área de pesquisa,

levantamento de dados, processamento de texto, verificação de fatos, e edição.

Ao meu colaborador

eamigo Scott Allen, que dialogou, criticou e contribuiu

com ideias para este livro.

A meu editor, Marit Newton, e meu publicador, Warren Walsh, da YWAM

Publishing, meu sincero agradecimento. O objetivo dessas pessoas foi me ajudar

a comunicar esta mensagem da forma mais clara e poderosa possível. Eles

ampararam minha visão, desejando que este livro fale às pessoas de maneira

tão efetiva que elas se tornem atuantes no processo de transformar essa visão

em urna realidade. O sucesso deste livro será em grande parte produto de seu

espírito visionário, trabalho duro, comprome-timento e parceria. Eles foram "além

do dever" para que Vocação pudesse vir à luz.

A centenas de pessoas que durante anos ouviram a apresentação oral

deste material, sob o título de Vocação e Teologia Bíblica da Vocação, e me

encorajaram a escrever este livro. Sua crença na importância desta mensagem

me fez prosseguir nos anos de trabalho deste projeto.

A Marilyn, minha amada esposa e parceira de vida, que, além de me

amar, passou incontáveis horas editando este livro.

Ao nosso Criador que conferiu propósito a nossas vidas, colocou-nos

neste pequeno planeta e nos chamou para sermos criadores de cultura para a

sua glória

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I 15

INTRODUÇÃO

Alguns anos atrás, um missionário nas Filipinas encontrou-se com alguns

jovens que estavam pensando em aderir ao grupo de rebeldes maoistas. O

missionário perguntou ao líder daqueles jovens o que ele havia encontrado de

tão convincente no maoismo que não pudesse ser encontrado também no

cristianismo. A resposta do jovem veio com uma profunda crítica, não a Cristo

ou à sua mensagem, mas à realidade e à prática do cristianismo atual:

O maoismo nos oferece... quatro coisas essenciais: (1) uma visão

unificada e coerente do mundo, da história e da realidade; (2) uma meta

bem definida pela qual trabalhar viver e morrer; (3) um chamado a todas

as pessoas à fraternidade comum; e (4) um senso de compromisso junto à

missão de divulgar, aos que perderam as esperanças, as boas novas de que

existe esperança. O jato é que a fé cristã, em toda a sua beleza, parece ser

incapaz de nos oferecer uma visão como essa.'

Com muita tristeza o missionário observou aqueles jovens idealistas

virarem suas costas àquilo que conheciam como cristianismo e abraçarem algo

que os levaria à destruição. Mas por quê? Bem, eles podiam até ter ouvido as

boas novas do evangelho, mas não haviam visto o evangelho.

Por vezes, a igreja se ocupa na proclamação do evangelho, e se esquece

de demonstrá-lo. Dizemos as palavras, mas não as vivemos. Frequentemente

nossas vidas como cristãos são ineficientes porque reduzimos o evangelho às

boas novas para a eternidade, nos esquecendo das boas novas para hoje.

Repetidas vezes compreendemos nossas vidas como tendo duas partes distintas

e separadas: a parte espiritual da vida e o restante da vida, nosso tempo nas

atividades religiosas e nosso tempo na escola e trabalho. Reduzimos o

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16 1 v()cAcÃo: Escrer,

cristianismo à esfera pessoal e particular, vivendo nossas vidas diárias de maneira

pouco diferente das outras pessoas em nossa sociedade. Temos criado uma

igreja confortável, mas que é grandemente desengajada das realidades da vida

cotidiana no mercado de trabalho, no lar e no exterior. Portanto, temos falhado

em desvelar a verdade e a esperança do reino de Deus para milhões de pessoas

carentes de melhores respostas do que aquelas oferecidas por outras religiões

ou pelo secularismo.

Entretanto. há um mover entre alguns cristãos que se perguntam: Será

que o evangelho não deveria influenciar a vida corno um todo e ajudar a moldar

a minha nação? Será que o evangelho não deveria impactar o mercado de

trabalho, a minha profissão? Será que tenho mesmo que deixar meu emprego e

tornar-me missionário para que a minha vida valha algo no reino de Deus?

Um grupo crescente de pastores tem se perguntado: Será que não há

nada na igreja além de prédios, reuniões e programações? Como podemos

levar nosso povo para fora do prédio

e

para dentro do mundo onde estão as

necessidades e os necessitados? Será que a igreja não deveria influenciar a

sociedade? Por que será que as famílias, comunidades e sociedades estão

desmoronando quando existem tantos cristãos? Em nenhum outro momento

histórico existiram mais cristãos, mais igrejas, e igrejas tão grandes quanto hoje.

então, por que as sociedades estão tão fragmentadas?

Enquanto muitos cristãos e igrejas vivem felizes com suas existências

confortáveis e programações eclesiásticas, enquanto se satisfazem na

proclamação do evangelho, muitas pessoas - Os pobres, os céticos, as pessoas

com a mentalidade pós-moderna do início do século XXI - esperam por "ouvir"

com seus olhos. Palavras não bastam Essas pessoas querem ver a verdade, a

beleza e a justiça do evangelho diante de seus olhos. Porém, muitas vezes, a

igreja está bastante ocupada em proclamar o evangelho, mas não em vivê-lo

As mesmas coisas que os jovens filipinos e grande parte do restante do

mundo procuram - uma visão coerente da realidade, algo pelo que viver e morrer.

um

senso de comunidade e algo que traga esperança para os que a perderam -

nada mais são do que a razão pela qual fomos feitos

e

pela qual Cristo se

entregou: o reino de Deus. O mundo espera por ver o reino demonstrado por

meio de nossas vidas

e

em nosso trabalho diário.

UMA VISÃO CONVINCENTE

Você também foi feito para viver a mesmíssima coisa pela qual os jovens

filipinos ansiavam. Todos Os homens e mulheres foram feitos para viver na

realidade que Deus fez, a realidade do reino de Deus. Uma visão - uma visão

convincente - é uma das mais elementares necessidades humanas. Isso é

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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1 17

afirmado nas Escrituras: "Onde não há visão, o povo perece" (Provérbios 29.18).

A vida de cada um de nós é conduzida por algum tipo de visão. Mas nem todas

as visões são verdadeiras, tampouco são igualmente gratificantes.

Nossa visão vem de nossa cosmovisão. o modo como compreendemos o

universo e o nosso relacionamento com ele. Nossa cosmovisão molda nossos

valores

e

nossas decisões, nos dizendo o que há de mais importante em nossas

vidas. Por determinar o que vemos em nossas vidas e no mundo a nossa volta

e

a maneira como vemos, geralmente utilizamos o termo óculos para descrever

esse fator em nossa existência. São os óculos através dos quais olhamos o

mundo que determinam nossa visão da vida - e nossa visão para a nossa vida.

A cosmovisão através da qual vivemos nossas vidas nada mais é do que

a visão convincente pela qual Cristo viveu

e

morreu - o reino de Deus. Ele

descreveu sua visão como um logo: "Vim lançar fogo na terra; e que mais

quero, se já está aceso'?" (Lucas 12.49).

Será que a visão de Cristo impulsiona a igreja de hoje? E. Stanley Jones

(1884-1973), o maior missionário estadista à índia, com tristeza declarou: "A

igreja perdeu. A igreja perdeu [a visão bíblica de l o Reino de Deus'. Jones

descreve essa perda de visão como "a doença de nossa era".

Conforme a igreja adentra o século XXI, torna-.se grandemente dividida

em dois grupos, cada um com um entendimento muito diferente sobre o reino

de

Deus. O primeiro compreende o reino de Deus como místico, invisível, ce-

lestial e para o futuro. Esses cristãos declaram que Jesus é o Senhor de tudo.

mas seu reino somente afetará a vida aqui na Terra quando Cristo voltar no fim

da história. O segundo grupo, em contraste, entende que o reino de Deus deve

fazer a diferença aqui e agora. Entretanto, com muita frequência, essas pessoas

enfocam preocupações as sociais e políticas e a utilização de meios humanos

para estabelecer o reino de Deus agora com a exclusão do evangelismo e

aspectos futuros do reino. Cada uma dessas duas visões é equivocada e

incompleta.

De maneira bem simplificada, o reino de Deus existe onde quer que

Deus reine. Esse "onde quer que" não tem limite de tempo, lugar ou esfera. O

Deus Todo-Poderoso, que sempre foi, é e será, é Rei tanto dos céus quanto da

Terra. Ele é Senhor da história assim como da eternidade. Ele está vivo e

presente tanto na esfera espiritual quanto na material. E é muito importante que

entendamos, para o nosso propósito aqui, que é ele quem define, por sua própria

natureza, o que é verdadeiro, bom e belo. Como foi reconhecido pelos primeiros

cientistas modernos, embora por vezes esquecido posteriormente, mesmo as

"leis naturais" aparentemente impessoais vêm da mente divina - o modo corno

ele projetou nosso mundo para funcionar.

Infelizmente, em sua rebelião, os seres humanos perderam a habilidade

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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18 1 VOCAÇÃO:

Escrevo Nua assinatura no luaverso

de viver plenamente dentro da estrutura divina para a qual foram criados,

conforme o relato em Gênesis 3. O reino não se foi, mas, ao se rebelar contra

os seus caminhos, as pessoas acabaram perdendo até sua habilidade de vê-lo e

entendê-lo, ou seja, de se restabelecer dentro dessa estrutura. Em vez disso.

elas criaram vidas baseadas em uma ilusão da realidade que estava em acentuado

conflito com o reino de Deus. Distante da verdade da existência, esse reino

falso e esse retalho de mentiras era inevitavelmente um caminho de morte.

Contudo, Deus nunca abandonou sua criação a esse fracasso. A narrativa

bíblica relata Deus nos resgatando, revelando-nos a verdade sobre si mesmo e

nos chamando de volta ao seu reino e à verdadeira plenitude de vida com ele.

Por fim, ele faz o inimaginável e se lança ao coração de nossa existência ao

entregar seu próprio Filho, o qual revela da maneira mais plena sua natureza e

o significado da vida com ele. Com

isso, ele escancara a porta de retorno ao

reino. A mensagem introdutória de Jesus na Galiléia, e hoje para nós, declara

que "(...) É chegado o reino de Deus" - uma mensagem maravilhosa e atual -

"Arrependei-vos, e crede no evangelho [boas novas]" (Marcos 1.15). Superando

o peso do pecado que estava sobre nós

e

derrotando a morte, Deus nos tomou

pela mão e está nos levando, bem como nossas sociedades, de volta para o

reino. Este, que vem a ser nossa origem, nosso lar, deve ser habitado tanto no

presente como na eternidade. Jesus nos mostra o caminho; o Espírito Santo nos

dá a inspiração e o poder.

"É por essa visão que Jesus viveu, trabalhou, sofreu e morreu. E foi ela

que ele confiou aos seus discípulos"' e à igreja. Essa visão, de que o reino "é

chegado", caminhando em direção a um tempo de plena realização em toda a

criação no fim da história, é o tema central que permeia toda a Bíblia. É ela que

nos oferece "o mais poderoso símbolo de esperança"' na história da humanidade;

além de definir todo o poder de nossas vidas como crentes. Nossa vida como

cristão deve ser focada em crescer como cidadão desse reino, mantendo a

porta aberta para os outros e os ajudando a entrar por ela e, por meio de nossas

vidas, continuar a resistir e a superar o movimento "antiDeus" presente em

nosso mundo, movimento este que destrói vidas e obscurece o reino. O reino de

Deus é algo pelo qual vale a pena trabalhar, viver e morrer.

VISÕES ANÊMICAS

Infelizmente, a maioria dos cristãos de hoje vive suas vidas não pela

nítida, clara e verdadeira visão revelada pela cosmovisão do reino de Deus,

mas por visões distorcidas e anêmicas de outras cosmovisões. Essas visões

menores são disseminadas pelas culturas em que vivemos e crescemos.

A cosmovisão predominante no Ocidente é o secularismo ou o

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I19

materialismo ateísta. É através dela que a maioria de nós vive suas vidas. Essa

cosmovisão é a crença de que o universo não possui realidade espiritual - de

que ele é apenas um universo físico - daí sua correspondente compulsão

materialista para um consumo cada vez maior.

A cosmovisão que guia a vida e o trabalho das pessoas nos países em

desenvolvimento frequentemente deriva do animismo. Nesse sistema de crenças,

o universo é compreendido como algo essencialmente espiritual; nele os objetos

e

fenômenos do mundo natural possuem espíritos. Corno consequência, esta

cosmovisão tende a ser altamente fatalista, vendo todos os eventos como

predeterminados pelo destino e, portanto, inevitáveis e inalteráveis. Ela empobrece

nações inteiras moral, espiritual e materialmente, dando à vida pouquíssimo

significado ou propósito.

Conforme os chamados países desenvolvidos adentram o século XXI,

por vezes, nós ocidentais descobrimos que a cosmovisão secular tem reduzido

o trabalho a uma mera carreira e a vida a um infindável consumo de coisas.

Como resultado, vivemos sem esperança e propósito, e tanto nosso trabalho

quanto nossa vida possui pouco ou nenhum significado. As altas taxas de suicídio,

o alcoolismo, as drogas, a pornografia e o sexo, o divórcio e a crescente solidão

(mesmo em blocos de apartamentos lotados) são todos sinais da morte da alma

do ser humano. A vida e o trabalho das pessoas, da forma como Deus gostaria

que fossem, foram prejudicados. Quando vemos nosso valor sendo determinado

no mercado de trabalho pela quantidade de dinheiro que ganhamos, acabamos

por sacrificar o que há de mais valioso - família, amigos, casamento, comunhão

cristã - em busca de sucesso, prestígio, fama, poder e outras metas valorizadas

pelo mundo. Com

muita frequência, há uma relação direta entre nossa crescente

prosperidade material e

o aumento de nossa pobreza moral e espiritual.

Nos países em desenvolvimento também, tanto o trabalho quanto a vida

tem sido grandemente prejudicados em relação às boas intenções de Deus

devido à abordagem das pessoas. Por exemplo, em grande parte do mundo

animista (espírita) em desenvolvimento por onde viajo, o trabalho é visto como

uma maldição e a vida das pessoas é apenas uma questão de destino. Ambas

as crenças são causas de sofrimento físico e pobreza econômica. As pessoas

nesses contextos podem trabalhar arduamente, algumas de quatorze a dezesseis

horas por dia, mas recebem muito pouco como fruto de seu trabalho. Muitas

vezes também há pouca estima social por seu trabalho e pela contribuição que

eles fazem à sociedade.

Logo, tanto para as pessoas do mundo Ocidental quanto para aquelas do

mundo em desenvolvimento, a vida e o trabalho foram separados dos valores e

intenções práticos e diários do reino de Deus no mundo - os quais realmente

conferem ao nosso trabalho verdadeiro valor e significado.

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7

()

OCAÇÃO: le

,(Tera sua assinatura no universo

Essa separação marca a vida dos crentes também. Muitos cristãos

separam o trabalho da adoração: a vida é vivida em dois compartimentos

diferentes. O primeiro compartimento contém a vida religiosa e espiritual, que

ocorre na igreja no domingo. Nele os cristãos são bastante proati vos e

conscientemente engajados nas atividades cristãs. O segundo compartimento é

o do trabalho e

de nossas vidas na comunidade de segunda a sábado. Nessa

parte da vida, os cristãos são, na melhor das hipóteses, reativos. Na pior das

hipóteses, podemos ser altamente passivos, agindo na suposição de que o

cristianismo é espiritual e de que o reino é apenas uma realidade futura, não

uma existência presente. Enfim, não há conexão entre essas duas partes da

vida. Para muitos de nós, a Bíblia fala à parte espiritual da vida, mas são os

valores de nossa cultura nacional que governam a maior parte de nossas vidas.

Como consequência disso, indivíduos e nações inteiras não conseguem alcançar

seus potenciais dados por Deus.

O EMANUEL ESTÁ CHEGANDO AO QUIRGUISTÃO

Um dos hinos de Natal mais apreciados em todo o mundo, inspirado em

Isaías 7:14, é "Ó vem, ó vem, Emanuel". Ele reconhece a vinda do Cristo ainda

criança, a presença do próprio de Deus, que reinaria do trono de Davi. Isaías

9.6-7 expande essa revelação, declarando que "(...) o governo estará sobre os

seus ombros (...) [reinará] sobre o trono de Davi e no seu reino, para o

estabelecer e o fortificar em retidão e em justiça. desde agora e para sempre

(...)". Buscando inspiração nesta passagem, este maravilhoso hino de Natal

inclui as seguintes linhas:

Sabedoria que é do além,

Ordena tudo aqui também

O bom caminho, vem mostra;

E como nele sempre andar

Certa vez no Quirguistão durante uma conferência para pastores,

estávamos em adoração à tarde, quando, durante o refrão de um hino em par-

ticular, surgiu no ambiente uma sensação tão forte que tive calafrios que corriam

para cima e para baixo em minha espinha. Por não entender russo, não compre-

endia o que os pastores estavam cantando com tamanha convicção. Assim,

perguntei ao tradutor: "O que eles cantam no refrão?", ao que ele respondeu:

"Emanuel está chegando ao Quirguistão ". Eles haviam vislumbrado, em meio

a sua pobreza e circunstâncias, em meio à fragmentação de sua nação, que a

profecia de Isaías era verdadeira. Há um bom futuro para o Quirguistão com o

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vindouro reinado do Emanuel; e esses líderes cristãos sabiam que podiam

contribuir para trazer o governo do reino de Deus para a sua nação.

RECONECTANDO NOSSAS VIDAS E TRABALHO

À MISSÃO DE DEUS

Os pastores no Quirguistão haviam enxergado palavras frequentemente

ignoradas na Oração do Senhor: "Venha o teu reino, seja feita a tua vontade

assim na terra como no céu" (Mateus 6.10). É surpreendente como damos tão

pouca atenção a essa parte da oração de Jesus. Não obstante, aqui Jesus

claramente nos ensina a orar para que o reino de Deus venha à Terra assim

como já é no céu.

Não existe qualquer indicação aqui de que o processo será fácil. Sim, é

"chegado" o reino, a porta foi aberta para nós e Jesus é "o Caminho".

Entretanto, como Jesus diz a seus discípulos mais tarde: "E desde os dias

de

João, o Batista, até agora. o reino dos céus é tornado à força, e os violentos o

tomam de assalto" (Mateus 11.12). A violência não é necessariamente física

(ainda que seja assim para muitas pessoas ao redor do mundo), mas a

resistência contra o avanço do reino pode ser dura. De fato, ela começa

internamente, conforme enfrentamos velhos hábitos, antigas formas de pensar

e de responder às situações, e mesmo nosso senso condicionado acerca do

que é agir de maneira "inteligente" ou "tola". Os padrões enraizados pela

sociedade cedem menos facilmente ainda, às vezes se opondo com grande

força contra aqueles que saem do molde ou desafiam o status quo - e quase

sempre só cedem por meio dos esforços persistentes e concentrados das

pessoas durante um longo período de tempo.

Nesse sentido, a busca pelo reino é de fato uma batalha, com um novo

território sendo tomado em pequenos acréscimos e mantido, ou "ocupado", como

um lugar onde o reino de Deus está em operação, somente pela fidelidade

concedida pelo Espírito. Isso significa que os homens e mulheres que buscam

transformar suas vidas e suas sociedades pelo reino devem ser cristãos robustos.

Esta não é urna empreitada para fracos Todavia, a diferença entre os soldados

do mundo e os cio reino é grande. Enquanto os primeiros se fiam em força

muscular, tanques, armas e no poderio da tecnologia militar moderna, o cristão

que avança com o reino confia no exemplo de vida de Cristo, no poder do

Espírito Santo e em "toda a armadura de Deus... verdade... justiça... o evangelho

da paz... fé... salvação... e... na palavra de Deus" (Efésios 6.13-17). Avançar

não se trata de forçar a vontade de uma pessoa sobre as outras, mas sim de

conduzir pelo caminho de acordo com a visão do reino de Deus, como Cristo

nos conduziu, superando toda resistência que venha contra nós.

1 21

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22 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no In/lut

- st)

Fazemos o trabalho de Cristo como igreja. seu "corpo em nosso mundo'',

e cada um de nós tem um papel a desempenhar nesse corpo e, portanto, na

vinda do reino de Deus. O apóstolo Paulo esclarece muito bem a questão:

Porque também o corpo não é um membro, mas muitos. Se o pé

disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixará de ser

do corpo. E se a orelha disser: Porque não sou olho, não sou do corpo:

nem por isso deixará de ser do corpo. Se o corpo todo lOsse olho, onde

estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora

Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos

fossem um só membro, onde estaria o corpo? Agora, porém, há muitos

membros, mas um só corpo. ( I Co 12.14-20)

Há grande variedade nos papéis que individualmente os cristãos

desempenham, mas cada um é indispensável na grande mobilização para o

avanço do reino de Deus. De fato, Paulo diz que o papel de cada pessoa é

especificamente designado por Deus para aquela pessoa e para o benefício do

corpo. Nenhuma pessoa, ou trabalho que seja ético, é mais santo, mais abençoado

ou mais consagrado do que outro. Todo cristão - não apenas os pastores, líderes

ou missionários cristãos - deve começar a reconhecer o significado de sua

própria vida e trabalho, os quais Deus projetou para ser parte integrante do

corpo e sem os quais o corpo fica incompleto. Nosso trabalho, o trabalho de

todos, é parte da missão de Deus na Terra, e isso inclui não somente nossa

"carreira" - apesar dela ser uma parte importante - mas todas as áreas da vida,

toda ocupação e atividade que fazemos.

A base comum para todos é a reconexão de nossas vidas e trabalho à

missão de Deus, seu reino vindouro - tornando-nos verdadeiramente o corpo de

Cristo, com o Cristo ressurreto sendo o cabeça. O reino para o qual trabalhamos

não virá em toda a sua glória somente quando Cristo retornar, de fato ele já "é

chegado" e é demonstrado hoje de maneiras substanciais por meio da vida e do

trabalho de cada cristão.

UMA FERRAMENTA PARA O CRISTÃO CONSCIENTE

O propósito deste livro é ajudar os cristãos a começar a reconectar suas

vidas e trabalho ao avanço do reino de Deus. Uma chave para alcançar isso é

o desenvolvimento de uma cosmovisão que nos capacite a entender nosso

trabalho, em termos de chamado e aptidão, e, portanto, nossas vidas mais

consistentemente como algo que glorifica a Deus. Esse processo transforma

nossas vidas e trabalho no que chamo de nossa Vocação - a relação da vida e

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123

do trabalho do indivíduo com Deus e com o desenvolvimento do seu reino.

Vocação é uma ferramenta para ajudar os cristãos, em todo o mundo, a

alcançar essa transformação. Assim eles poderão "levar o reino"' ao seu trabalho,

qualquer que seja ele, e, por consequência, influenciar suas culturas e sociedades.

Entre as pessoas às quais desejo alcançar de maneira específica com

este livro estão indivíduos que desejam ser o que chamo de cristãos do mercado

de trabalho, mas que questionam o valor ou a fidelidade dessa escolha. Milhões

de cristãos, especialmente no Ocidente, têm um senso de "chamado" ao mercado

de trabalho, para trabalhar em um dos então conhecidos como domínios seculares

da vida. O problema é que muitos desses cristãos aprenderam a pensar sobre

trabalho dentro de um cristianismo que ensina, ou implica, que, se você não

estiver no "ministério", você é um cristão de segunda categoria; em outras

palavras, você não é "espiritual". Assim, eles se sentem culpados em relação a

qualquer trabalho secular que estejam realizando. Outros, talvez havendo tor-

nado-se cristãos após iniciarem suas carreiras, abandonam o trabalho secular

mesmo sem saber se tal trabalho poderia ter sido seu chamado de Deus. Eles

são ensinados a deixar o "mundo" em busca de um trabalho que seja "espiritual".

Na Bíblia, essa dicotomia entre sagrado e secular não existe; o que existe é

apenas uma vida consagrada ou não.

O segundo público que particularmente desejo atingir é o de pastores,

ministros, obreiros de organizações não governamentais (ONGs), ativistas sociais

e

missionários que foram chamados a trabalhar entre os mais pobres do mundo.

Uma das maiores causas da pobreza no mundo em desenvolvimento é a mentira

de que o trabalho não tem sentido ou de que ele é até mesmo uma maldição.

Contudo, um dos principais componentes da cosmovisão judaico-cristã é a

dignidade do trabalho, e essa é uma das principais ferramentas para tirar as

pessoas da pobreza. Se você estiver trabalhando com pessoas carentes, minha

esperança é que você entenda que esses amigos e estrangeiros precisam muito

mais do que simplesmente dinheiro para resolver seus problemas; eles precisam

de Cristo e de uma maneira bíblica de ver o mundo - uma cosmovisão bíblica.

É necessário um esclarecimento nesse contexto. Muitas pessoas pobres

trabalham arduamente. Como disse anteriormente, muitas delas trabalham en-

tre quatorze e dezesseis horas por dia, mas a mentalidade cultural acerca do

trabalho geralmente as leva a duas situações. Primeiro, o fruto de seu trabalho

é roubado pelos outros por meio da corrupção, o que os deixa ainda mais pobres

ou até miseráveis. Segundo, a contribuição de seu trabalho à comunidade não é

reconhecida como algo significativo; assim, aqueles que trabalham são vistos

como tolos. Essas duas situações levam ao seu empobrecimento. Lembro-me

que muitos anos atrás, quando eu era um jovem cristão numa faculdade no sul

da Califórnia, tive a oportunidade de viajar à Cidade do México com um grupo

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24 1 vc)cAçÃo:

s i n u tu r a n o u n i w t s o

de outros estudantes, um pastor

e

sua esposa. A viagem de Mexicali até a

Cidade do México levou dois dias e três noites. Quanto mais adentrávamos o

México, mais pobreza avistávamos. Começamos a ver que a pobreza era nor-

mal na mentalidade social. E eu era um garoto da praia. salva-vidas, um americano

de classe média: jamais havia visto tanta pobreza. o que acabou me perturbando

profundamente.

Nunca me esquecerei de quando o trem se aproximou da Cidade do

México. Ele se aproximou vagarosamente (como os trens fazem perto do fim

de suas viagens) passando por uma imensa

e

horrenda favela. Consegui ver

bem pela janela e fiquei chocado ao enxergar uma multidão de pessoas vivendo

entre montanhas de lixo. Quando olhei mais

de

perto. percebi que eles haviam

construído suas "casas" com lixo. As janelas eram feitas

de

pneus de carros e

as portas de dezenas de latinhas amassadas e amarradas com barbante ou

pedaços de arame. Vi crianças remexendo o lixo e fiquei sabendo que estavam

procurando itens de valor para vender nas ruas. Foi como se alguém me houvesse

levado para outro planeta. se

tornando um momento decisivo em minha jovem

vida. Meu coração ficou despedaçado, o que me levou a chorar. Eu não havia

visto a pobreza apenas com os meus olhos: Deus me havia permitido vê-la com

meu coração. Eu sabia que no futuro não conseguiria virar as costas para tal

situação. Um forte desejo começou a crescer dentro de mim: quando o dia de

minha morte chegasse, eu veria menos dessa miséria no mundo. Eu não sabia

que um dia eu trabalharia para a Food for the Ilungry International' 1Alimento

para os Famintos], mas sabia que precisava fazer algo em relação à pobreza.

Portanto, o chamado para minha vida tem sido realizado não apenas

entre os cristãos do Ocidente. mas também no mundo em desenvolvimento.

onde diariamente as cosmovisões perpassam considerações muito práticas

acerca da pobreza e da fome. Tenho um grande compromisso tanto com os

cristãos no mercado de trabalho quanto com aqueles que labutam junto aos

pobres do mundo. Ambos buscam consciente. ou intencionalmente, ser cristãos.

O fato de você estar lendo este livro indica que quer viver sua vida como

cristão de forma intencional. Que este livro seja um encorajamento para você.

Infelizmente, como em toda geração. muitos cristãos são apenas nominais. Mas.

graças a Deus, você não está satisfeito em viver uma vida irreflexiva. Você

quer fazer perguntas difíceis e procurar as respostas nas Escrituras. Você é

intencional acerca de sua caminhada com Cristo e quer analisar o significado e

o lugar de sua vida e trabalho dentro do reino de Deus. Você quer pensar sobre

a sua fé e agir de maneira consciente com base nela. O objetivo deste livro é

ser uma ferramenta para você.

Cristãos intencionais. cada um à sua maneira. vivem no meio termo radi-

cal. Eles reconhecem o ensinamento bíblico de que o universo é tanto moral

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1 25

quanto aberto'. É moral e, portanto, todos têm a responsabilidade de ser bons

mordomos do que Deus criou e de cuidar da comunidade, particularmente dos

pobres. E por ser "aberto", os recursos devem ser desenvolvidos e utilizados

para o avanço do reino de Deus neste exato momento. Esses cristãos também

reconhecem - ainda que intuitivamente - que Deus os chamou para fazer isso

no mundo e que eles precisam de muito mais ajuda e instrução para tanto do

que as que já possuem. Em Vocação eu tento oferecer justamente essa ajuda.

Também desejo que pessoas reflexivas. que têm começado a ponderar

sobre essas coisas. ou aquelas que ainda não responderam afirmativamente ao

chamado de Cristo se beneficiem ao explorar as questões relacionadas à vida e

ao trabalho a partir de uma perspectiva distintamente cristã.

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PARTE :

O PARADIGMA FALHO

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Capirulo I

COSMOVISÕES EM AÇÃO

A maioria dos adultos no mundo Ocidental passa a metade do tempo em

que estão acordados no trabalho. Em muitos países em desenvolvimento, o

número de horas gastas no trabalho é ainda maior. Porém, mesmo passando

todo esse tempo trabalhando, raramente refletimos sobre as perguntas: O que é

o trabalho? Por que trabalhamos? Na maioria das vezes, vivemos vidas

irreflexivas; fazemos as mesmas coisas que nossas mães e pais fizeram (em

alguns países isso acontece durante gerações) sem nenhuma explicação. O

simples fato de levar essas questões a sério pode criar uma reordenação radi-

cal em nossas vidas.

Como com todas as questões, as respostas são, no fim das contas,

determinadas por nossa cosmovisão'. Ela determina como vemos o mundo, o

tipo de vida que vivemos e o tipo de sociedade que criamos. Nossa cosmovisão

molda a maneira como respondemos às questões metafísicas que enfrentamos

- questões básicas sobre a natureza da realidade. Existe uma cosmovisão objetiva,

a cosmovisão da Bíblia. Todas as outras cosmovisões, em maior ou menor

escala, são uma distorção da realidade que Deus fez.

O PODER DA HISTORIA

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30 1

VOCAÇÃO: Escrevo .s11(1 assinatura nn universo

Todos os seres humanos são seres sociais. Assimilamos nossa

mentalidade, nossa maneira de ver o mundo, a partir da cultura. Tendemos a

pensar da maneira que nossa cultura pensa e a valorizar aquilo que ela valoriza.

Isso é parte do que significa ser humano. Quando nos tornamos cristãos,

precisamos começar a ter nossas mentes renovadas. A palavra arrepender-se

- metanoeo no grego - significa literalmente mudar a mente de alguém.

Arrepender-se é começar a ver o mundo da maneira corno Deus o fez e a viver

e agir dentro dessa estrutura. Devemos ter a mente de Cristo: levar todo

pensamento cativo a ele; não devemos mais nos conformar ao mundo, mas sim

ser transformados pela renovação de nossas mentes'. Ao nos tornarmos cristãos,

precisamos começar a pensar "cristãmente". Precisamos ter cada vez mais a

mente de Cristo, não a mente que herdamos de nossa cultura.

As cosmovisões de nossas culturas, em grande parte, distorcem a

realidade, sendo assim inadequadas para nos mostrar a natureza de Deus, o

mundo e a nós mesmos como realmente somos. A menos que sejamos

intencionais acerca da renovação de nossas mentes de acordo com a

cosmovisão do reino, nossa cosmovisão cultural determinará, consciente ou

inconscientemente, o nosso conceito de trabalho. Além do teísmo bíblico, existem

duas importantes cosmovisões: o secularismo, que prescreve que a realidade é

apenas física, e o animismo que pressupõe que o universo é, em última instância,

espiritual. Infelizmente, a cosmovisão de grande parte do mundo evangélico,

carismático e pentecostal de hoje não é o teísmo bíblico, mas um subconjunto

da cosmovisão animista, um dualismo grego que divide a realidade entre o físico

e o espiritual, pressupondo que o espiritual é mais importante. Cada uma dessas

cosmovisões nos oferece uma visão empobrecida do universo, empobrecendo,

por sua vez, indivíduos, nações e sociedades inteiras. Testemunhamos isso tanto

nos países "desenvolvidos" quanto em países "em desenvolvimento", apesar de

a tendência seguir em muitas direções diferentes. De que maneira essas

cosmovisões podem estar moldando o seu entendimento de sua vida e trabalho?

SECULARISMO: O custo do consumo

Madre Teresa, originária de Calcutá - talvez uma das cidades mais pobres

do mundo em termos físicos - declarou que jamais havia visto tanta pobreza

quanto encontrara em Nova York. Ela compreendia a triste verdade: a sociedade

Ocidental, em sua maioria, abraçou a falência espiritual em troca do

desenvolvimento material.

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Cosmoviscie.s• em ação

1 31

SECULARISMO

O conceito de trabalho atual de boa parte do mundo Ocidental, inclusive

do Canadá e dos Estados Unidos, tem sido moldado pelo paradigma materialista

ou secular. Nessa cosmovisão, não há realidade espiritual, somente física. A

partir dessa perspectiva, qual a função do trabalho? É dar-nos acesso a coisas

materiais. O propósito do trabalho é nos permitir o consumo. O ser humano é

visto como um animal, altamente evoluído, mas que é essencialmente um

consumidor. Nesse paradigma, o homem não possui valor intrínseco. Não existe

um Deus em cuja imagem fomos feitos, atribuindo isso valor às nossas vidas.

Ao invés disso, nosso valor como seres humanos é determinado pelo que temos.

De acordo com essa cosmovisão, quanto mais consumimos, melhor é a nossa

vida. Como diz um ditado moderno: "Quem morrer com o maior número de

brinquedos é o vencedor ". Assim sendo, o sucesso no mercado de trabalho

significa subir cada vez mais na carreira, acumulando mais dinheiro ou poder

com o intuito de consumir cada vez mais.

Bem longe dos planos de D eus, o trabalho no O cidente é altamente utilitário

e interesseiro. Os objetivos são dinheiro, poder, lazer e realização pessoal. O

hedonismo reina: "Come, bebe e alegra-te que amanhã morrerás ".

O CUSTO DO CONSUMO

12

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32 I vOCA0():

o

As consequências dessa visão da vida e do trabalho são sistêmicas tanto

para os indivíduos quanto para sociedades inteiras. O lar

e a comunidade são

diminuídos conforme o trabalho se torna o ambiente social primário. Sendo a

vida reduzida a ter coisas, as pessoas sacrificam aquilo que o dinheiro não pode

comprar - suas identidades espirituais, seus casamentos e seus filhos. suas

amizades e suas famílias - pelo sucesso no mercado

de

trabalho. fazendo o que

for preciso para progredir em suas carreiras. A verdade e a virtude dão lugar

ao pragmatismo. O profissionalismo substitui o caráter como a virtude mais

importante. Não há fundamento metafísico para a criatividade. O futuro

desaparece em nome do consumo presente. O serviço à comunidade é perdido

em nome do serviço ao eu. O cuidado com a criação é substituído pela violação

dos recursos em nome do consumo opulente. Em última instância, as pessoas

perdem seu propósito na vida, gastando não somente seu dinheiro (conseguido

com tanto esforço) como também todos os seus dias em algo que não pode

satisfazer a alma humana.

O crítico social Os Guinness descreve esse afastamento da cosmovisão

bíblica nas sociedades Ocidentais como a mudança de uma "economia de

chamado" para uma "economia comercial''. Entretanto, desde os tempos

medievais, houve um propósito mais amplo para a educação: enriquecer e formar

a pessoa interior tanto em termos de fé quanto da habilidade de pensar de

forma racional e abrangente sobre a vida e seus muitos elementos - crescer em

sabedoria assim corno em estatura. As primeiras universidades na Europa

foram fundadas como escolas da igreja, de lato. com

uma clara perspectiva

intencionalmente cristã na aquisição do conhecimento

e

do estudo. No início da

história dos Estados Unidos, as escolas eram fundadas não somente para ensinar

os três Rs (Nota do tradutor: Leitura. Escrita

e

Aritmética - Reading, wRiting.

aRithmetic.), mas também para preparar melhores cidadãos para o reino de

Deus. Os currículos faziam frequente referência à informação bíblica e à

instrução moral. Isso se estendeu à educação superior quando as primeiras

universidades americanas foram fundadas pelas igrejas, assim como seu;

predecessores europeus haviam feito. Elas eram uni lugar de treinamento para

os novos religiosos. bem como de preparação dos rapazes para outras finalidade,

sendo a maior parte das disciplinas e do treinamento intelectual vista como boa

base para qualquer direção na vida.

Entretanto, por volta do século XX, unia mudança começou a ocorrer no

entendimento de nossa sociedade em relação ao propósito da vida e o significado

do trabalho. Quer se reconhecesse, quer não. o propósito da vida foi reduzido a

trabalhar para que o indivíduo pudesse ser produtivo, assegurando que haveria

riqueza para consumo na sociedade. O mercado de trabalho tornou-se decisivo

na determinação do valor das pessoas. Aqueles que conseguissem ganhar muito

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COSMOViSlies em (1001

3 3

dinheiro eram considerados mais valiosos que os que não conseguissem. Logo,

a razão de se ir à escola ou mesmo à faculdade e universidade era aprender e

crescer como pessoa para poder ter um emprego quando se formasse.

Quando o propósito de nossas vidas é assim definido e quando o nosso

valor é baseado na quantidade de dinheiro que ganhamos e no tamanho de

nossos contracheques, nós acabamos falidos. Nesse paradigma, o trabalho se

torna um deus, um ídolo; o bom impulso da humanidade ao trabalho diligente é

distorcido quando o trabalho é separado do Criador e do reino de Deus. O

trabalho se torna uma fuga das pressões de uma vida quebrada ou sem sentido.

As pessoas se tornam viciadas em trabalho como um meio de fugir de vidas

ocas, irreflexivas e sem propósito, e de sociedades empobrecidas moral,

intelectual e espiritualmente. Mas o elemento trágico de uma sociedade viciada

em trabalho é que, pelo fato de esse trabalho estar separado de Deus, ele se

torna igualmente sem sentido. O que chega com a promessa de nos dar satisfação

acaba acrescentando mais desespero.

Como cristãos do Ocidente, experimentamos o desespero e o

empobrecimento da nova economia comercial em vários graus, dependendo de

quão habituados estivermos com a cultura a nossa volta. Alguns de nós podem

estar, de certa forma, vivendo exatamente como nossos vizinhos sem perceber,

julgando as pessoas e a nós mesmos pela afluência de nossos estilos de vida e

inconscientemente dando valor indevido àquilo que o dinheiro pode comprar.

Podemos forçar a nós mesmos a rios equiparar aos outros em relação ao prestígio

de nossas carreiras ou à maneira pela qual construímos um estilo de vida

desejável ou corno sustentamos nossas famílias com todo o conforto. Podemos

nos encontrar continuamente insatisfeitos, sempre pensando que a vida será

melhor - de fato que a vida finalmente começará - se conseguirmos comprar

nossa própria casa, acrescentar mais um cômodo à nossa residência, mudar

para um bairro melhor, quitar a hipoteca, tirar aquelas férias dos sonhos ou nos

aposentar cedo. Em suma, sem percebermos podemos estar baseando nossos

objetivos, prioridades e planos em uma premissa falsa, esquecendo-nos do

irreconciliável choque cultural entre a cosmovisão das Escrituras e a cosmovisão

de nossa sociedade.

Por outro lado, podemos experimentar um grande nível de dissonância,

reconhecendo essas tendências culturais em nós mesmos e

nos sentindo

desapontados com o abismo entre o que cremos ser verdade e

a forma como

de fato vivemos nesse nível fundamental. Lutamos para realmente ouvir Jesus

nos dizendo: "Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo

que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo,

pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais

do que o vestuário?" (Mateus 6.25). Temos uma boa ideia de onde devemos

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34 I

N'OCAcÀO: Escreva ma (Ksinalura no unia erso

estar e do que queremos ser; por isso, ficamos perturbados ao perceber o

quanto não somente estamos neste mundo, mas o quanto também somos dele.

Em relação às nossas necessidades materiais, Jesus disse: "Pois a todas estas

coisas os gentios procuram" (Mateus 6.32), e às vezes nós mesmos não somos

muito diferentes. Em urna cultura onde as expectativas materiais são altas, nós

também encontramos nossa família em luta, nossa conexão com a comunidade

comprometida. nossa identidade em Cristo incerta, e nossa própria identidade

sendo levada pelo vento. Além disso, nos vemos em desespero no abismo entre

o modo como pensamos que a vida deve ser e a falta de significado que às

vezes experimentamos. de forma profunda ou efêmera, por causa da repetitiva

mecânica para sustentar o status quo, o tempo todo sabendo que tantos a nossa

volta estão sofrendo - que nós e o mundo precisamos de algo radicalmente

diferente.

Não são apenas os cristãos que experimentam essa dissonância. Muitas

pessoas que conhecemos em nossas comunidades, universidades, locais de

trabalho e escolas infantis percebem que a vida é mais do que apenas consumir.

Eles buscam viver com propósito, de acordo com um conjunto de valores mais

profundos. Muitos são comprometidos em viver de maneira simples, em uma

rejeição direta ao materialismo da cultura. Estão se tornando mais "ecológicos".

Muitos estão trabalhando para construir urna comunidade mais saudável em

sua própria cidade ou no mundo. Eles são voluntários, ativistas, zelosos,

preocupados. Mesmo não sabendo que o reino de Deus é o que dará sentido ao

seu desejo e tratará da fragmentação presente em todo aspecto da vida humana,

eles conseguem sentir de forma clara a necessidade.

Muitos de nós experimentam essa dissonância porque essa carência -

essa falta - é real. Deus nos criou para um tipo diferente de vida. A vida que

experimentamos

e

tudo o que sabemos sobre nós mesmos simplesmente não se

encaixa com o paradigma materialista secular.

Como cristãos em meio a urna cultura materialista, partilhamos com muitas

ressoas de uma desenfreada fome por um convite contracultural do Criador do

universo, que conhece como e por que nos criou. "Vós, todos os que tendes

sege. vinde às águas. e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei;

sim. vinde e comprai. sem dinheiro e sem preço. vinho e leite. Por que gastais o

dinheiro naquilo que não é pão e o produto do vosso trabalho naquilo que não

-coce satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e deleitai-vos

com a gordura. Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma

vivera..." (Isaías 55.1-3).

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Cosmovisões em ação

135

ANIMISMO: A maldição do destino

Bilhões de pessoas no mundo em desenvolvimento também esperam por

ouvir esse convite aberto do Criador e Salvador do universo. Alheios à sua

verdadeira identidade e ao real caráter de Deus e sua criação, eles também

estão experimentando a morte da alma do ser humano, além da morte de seus

próprios corpos.

Em muitos dos países materialmente empobrecidos, existem pessoas

preguiçosas, assim como em qualquer outro lugar. Mas a esmagadora maioria

trabalha arduamente, por horas a fio, recebendo pouco retorno. Mesmo os

jovens graduados em faculdades se veem diante de economias estagnadas,

com poucas oportunidades de trabalho. Outros encontram empregos no setor

público o qual em nada se utiliza de seus grandes talentos.

Boa parte da culpa pela estagnação dessas economias pode ser posta no

comp ortamento ganancioso e corrupto dos o ficiais do governo e do s mercantilistas

e caciques que controlam a economia. Esse comportamento é institucionaliza-

do em leis e estruturas que são contra a liberdade, tirando dos pobres os frutos

de seu labor ou roubando sua oportunidade de trabalho. O estilo de liderança

autocrático suprime a iniciativa, a inovação e a criatividade. As economias

controladas e a corrupção desenfreada enfraquecem a iniciativa econômica. A

ausência de direitos de propriedade e da proteção dos direitos autorais impede

os árduos trabalhadores de desfrutar de sua merecida recompensa.

Tudo isso advém de uma cultura de corrupção onde o suborno é uma

forma de vida, na qual os aspectos morais ou metafísicos não são considerados.

Por baixo dessas culturas frequentemente se encontra o sistema de crenças

animista, no qual tudo na natureza possui um espírito. Nessa perspectiva, a

responsabilidade moral é retirada do ser humano; as pessoas estão nas mãos

do "destino" ou nas mãos de espíritos indiferentes, e até mesmo hostis. Vistos

através dessa lente fatalista, a razão e os esforços para aumentar o entendimento

e a habilidade para afetar ou utilizar os recursos naturais possuem pouco valor

aparente. De acordo com essa cosmovisão, o trabalho é uma maldição do destino,

contribuindo apenas para a desgraça do ser humano. É uma labuta. Trabalhamos

para sobreviver.

ANIMISMO O Novo PAGANISMO

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36 1

VOCAÇÃO:

Es

creva suo assinatura no universo

Lembro-me de ter conhecido um jovem do oeste da África após um

ensino sobre esse assunto. Ele me disse: "Tenho um exemplo para você. Em

meu país, todos os jovens querem ir para a universidade com o intuito de se

formar e depois conseguir um 'emprego de gravata'". O que esses jovens querem

é um emprego público no qual possam trabalhar em um escritório com ar-

condicionado, dirigir um carro com ar-condicionado e receber um contracheque

sem realmente ter que trabalhar. E o jovem estava falando sério quando disse

isso. Em boa parte do mundo em desenvolvimento, as pessoas veem o trabalho

desta forma: uma maldição da qual se deve fugir.

A MALDIÇÃO DO DESTINO

Em alguns países em desenvolvimento, encontramos homens com as

unhas do dedo mínimo compridas como uma demonstração de seu desdém pelo

trabalho. Devido ao fato de ser possível realizar vigorosos trabalhos físicos e ao

mesmo tempo ter longas unhas, eles comunicam ao mundo a mensagem de que

estão acima do trabalho manual - de que são da elite. Quando o trabalho é uma

maldição, nosso desejo é colocar outras pessoas para cumprir nossas obrigações

por nós. Em muitos países onde existe aristocracia, os aristocratas existem

porque há uma visão inferiorizada do trabalho. Por crerem que o trabalho é

ruim, os aristocratas possuem escravos e

servos para realizar o trabalho que

seria deles. Essa cultura de pobreza pode ser encontrada também na antiga

União Soviética. Dois provérbios russos ilustram essa ideia: "O trabalho ama os

tolos" e "Pessoas espertas não trabalham"4 .

Certa vez, eu estava conversando com uma amiga da Venezuela, Xiomara

Suarez, quando ela disse: "Darrow, eu tenho urna música para mostrar a você";

e

então a cantou para mim. Um ano depois, estávamos em uma conferência

e

pedi que Xiomara cantasse aquela canção, pois ela ilustrava a atitude de seu

país em relação ao trabalho. Quando ela começou a cantar em espanhol, pessoas

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Cosmorisoes em ação

I 37

de outros quatro ou cinco países de língua espanhola imediatamente se uniram

a ela. Eu havia pensado que aquela canção era apenas venezuelana, mas, ob-

viamente, era uma canção conhecida em todo o mundo de língua espanhola. A

canção se chama "O Negro de Batei".

Chamam-me de negro de Batei

Porque para mim O "trabalho" é inimigo

Todo trabalho eu deixarei para o boi

Pois eus fez o trabalho como castigo [grifo

meu].

Você consegue imaginar uma cultura inteira entoando essa canção o

tempo todo? O trabalho é um castigo? Para que serve o trabalho? Para os

animais, não para os seres humanos.

Gosto de dançar esse merengue

Dançar com uma negra bonita

Gosto de dançai; a noite inteira, pra lá e pra cá

Dançar agarrado com minha negra bonita.

Gosto de dançar merengue,

Merengue é melhor do que trabalho

Pois ter que trabalhar

Me causa grande dor (grifo meu].

Por que algumas nações são pobres? Quando se acredita que o trabalho

é uma maldição, evita-se trabalhar e não se respeita o trabalho dos outros. O

trabalho e o labor são humilhantes. Se existirem nações inteiras onde o objetivo

é evitar o trabalho e nas quais aqueles que possuem poder usufruem dos esforços

dos menos favorecidos, no que isso resultará? O resultado será a pobreza em

vez da produtividade. Na raiz da pobreza está um empobrecimento moral e

espiritual tão trágico como o do Ocidente, com milhões de pessoas removidas

da verdadeira história a respeito delas e do mundo.

Mesmo que vivamos em afluência e pensemos que não temos relação

com o animismo, ainda assim podemos encontrar reflexos de nós mesmos na

cosmovisão animista. A letra da canção "O Negro de Batei" e a identificação

das pessoas com ela, na realidade, não é algo tão chocante para muitos de nós.

Com

um diferente estilo cultural, Os mesmos sentimentos podem ser identificados

nas mesas de milhões de restaurantes, bares e jantares em família toda sexta-

feira. Quase todos conhecem o acrônimo em inglês TGIF (Nota do tradutor:

Thank God It's Friday - Graças a Deus é sexta-feira). Existe até um restaurante

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38 1

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura na univena

chamado T.G.I. Friday's. onde se pode comemorar da devidamente o fim da

semana de trabalho. Como crianças liberadas pelo toque de saída da escola,

quando chega a hora de deixar o trabalho, agradecemos a Deus que a sexta-

feira finalmente tenha chegado, quando nosso tempo é todo nosso, e quando a

"vida real" acontece. É claro que podemos nos ale-grar com um trabalho bem

concluído

e

ficar felizes em descansar como Deus pretende que façamos. Mas

o

sentimento geralmente não é dessa natureza.

Durante anos, a lenda americana da música country, George Jones. abria

o final de semana nas estações de rádio em todos os cantos dos Estados Unidos

com sua famosa canção "Finally Friday". Como a letra de "O Negro de Batei",

a letra de "Finally Friday" é urna janela para vermos como as pessoas pensam

e se sentem em relação ao trabalho. A letra contrasta a "tristeza do trabalho"

durante uma semana de labuta quase insuportável com o ótimo tempo livre de

um "final de semana louco" com tempo e dinheiro para gastar. Ainda que a

maioria de nós não saia correndo do trabalho às sextas para exercer nossa

liberdade com bebida e mulheres como descreve essa canção, conhecemos

bem o terror da segunda-feira... e de terça, quarta, quinta... Podemos nos

identificar fortemente com o contraste entre a tristeza do trabalho

e

a expectativa

e

a doçura da liberdade. Ainda que suas imagens exatas possam ser estranhas

a alguns norte-americanos, como aquelas da canção folclórica latina, esse clássico

americano reverbera em meio à cultura do Ocidente viciada em trabalho. Este

poderia ser o nosso hino: Finalmente é sexta-feira; estou livre novamente.

Tampouco estão os cristãos imunes a essa visão da vida

e cenário

emocional presentes em suas culturas. Assim corno nos sentimos

desconfortáveis com a elevação interesseira e materialista do trabalho, também

sentimos grande dissonância entre o que nossa fé cristã diz acerca do caráter

santo de nosso trabalho e nossa experiência negativa com este. Mesmo

conhecendo a verdade, há momentos em que agimos como se o trabalho fosse

mesmo uma maldição. Ainda que às vezes gostemos de nosso trabalho e, em

nossos melhores dias, o percebamos mesmo como um chamado, há momentos

em que nos pegamos agindo ou pensando como se fôssemos escravos dele,

como se quiséssemos abandoná-lo na primeira oportunidade, como se ele não

tivesse qualquer valor intrínseco e nenhuma conexão inerente a quem realmente

somos.

Podemos até saber que Deus não instituiu o trabalho como uma maldição;

e

saber que Deus nos criou à Sua imagem - nos fez para trabalhar como ele,

com um grande propósito e recompensa. Mas para nossa decepção e

desconforto, em nossa real experiência, o trabalho está mais ligado à nossa

sobrevivência do que ao cumprimento de nossos destinos. Podemos trabalhar

somente para suprir nossas próprias necessidades e as de nossas famílias, mesmo

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Casmovisoes em ação 1 39

não sabendo exatamente o que é necessário, mas certamente alimento, abrigo

e vestuário o são. Pode ser que trabalhemos simplesmente para sobreviver.

Até certo ponto, podemos nos sentir encurralados, como os animistas, à mercê

de forças fora de nosso controle. Por causa dessas necessidades, desses duros

fatos da vida, sacrificamos as horas de trabalho de nossas vidas - mas não mais

do que isso. Quando chega o fim de semana, nossos dias de folga, o recebemos

com um doce alívio.

Infelizmente, essa doçura não dura. Quando passamos a semana inteira

insatisfeitos esperando a vida começar, geralmente continuamos nos dias de

folga com o mesmo padrão mental: de estar presos na areia movediça. Nossos

dias de folga, e todas as nossas esperanças postas neles, geralmente acabam

em frustração. É impossível separar nossa visão do trabalho de nossa visão da

vida. Descobrimos que nossas expectativas de uma vida feliz e significativa

não podem ser alcançadas em alguns dias à exclusão de outros. Deparamo-nos

com a verdade: ao invés de urna maldição, o trabalho faz parte do centro de

nossa identidade e é fundamental para nosso propósito.

UM

DUALISMO ANTIBIBLICO:

Um local de alcance espiritual

A igreja evangélica moderna, em vez de apresentar uma cosmovisão

que desafie o trágico empobrecimento dos paradigmas animistas e materialistas,

tem se retirado da vida pública e abandonado a cultura e o mercado de trabalho.

Em reação ao avanço da cosmovisão secular na sociedade moderna, grande

parte da liderança da igreja, no início do século XX, trocou a cosmovisão bíblica

por uma versão cristã de uma cosmovisão dualista que divide o universo entre

o reino espiritual, que é bom e santo, e o reino físico, que é mau e profano. (No

capítulo 2, traçaremos como esse pensamento dualista infectou a igreja.) Os

resultados nos são familiares.

DUALISMO EVANGÉLICO

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DEUS

40 I

VOCAÇÃO: Escreva suo asnumura uo universo

A divisão percebida entre o céu e a temi, entre o mundo espiritual e o

mundo físico, tomou duas formas no pensamento cristão acerca do trabalho:

"chamado superior" e "local para alcance espiritual".

A primeira manifestação desse pensamento dualista entre Os cristãos é

um desejo por um chamado superior. De acordo com essa mentalidade, é melhor

deixar a arena secular

e

entrar na arena espiritual para que nos tornemos "obreiros

cristãos de tempo integral". Nesta visão, apenas os evangelistas, plantadores

de igrejas, pastores, missionários e teólogos estão fazendo um trabalho cristão

de tempo integral, já que somente esses tipos de trabalho são espirituais. As

"profissões de apoio" (assistentes sociais, agentes comunitários, conselheiros,

etc.) são quase consideradas como "ministério de tempo integral". Por outro

lado, contabilidade, carpintaria, cinema, arte, agricultura e serviços domésticos

são consideradas atividades seculares e. portanto, inferiores. São vistas como

menos espirituais. Assim, os cristãos abandonam o mercado de trabalho porque

seu desejo é ser mais espiritual. Quando o cristão não se torna missionário e

permanece em sua comunidade para realizar o trabalho "secular" que fazia

antes da conversão, geralmente é levado a ter um sentimento de culpa.

O CHAMADO SUPERIOR

O segundo conceito sustenta que o ambiente de trabalho é um local de

alcance espiritual. A ideia é que se não pudermos ser obreiros cristãos em

tempo integral, devemos fazer atividades espirituais em nossos ambientes de

trabalho. De acordo com essa mentalidade, fazer estudos bíblicos e reuniões de

oração no ambiente de trabalho compensa o fato de não sermos missionários.

Isso nos permite operar nessa esfera inferior porque estamos trazendo o reino

superior para dentro do reino inferior. Mas esse raciocínio ainda é estruturado

por uma dicotomia antibíblica, gerando a sensação de se viver em dois mundos.

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Co.smori.soe.s 

em ação 1 41

LUGAR PARA

ALCANCE ESPIRITUAL

Não é apenas na área da profissão que os cristãos lutam com o problema

de viver em dois mundos, mas também na questão do posicionamento. Quando

existe essa divisão entre o chamado trabalho espiritual e o secular, trabalhar no

exterior se torna uma posição mais elevada. Trabalhar no país de origem é visto

como uma posição inferior. Muitos cristãos se sentem culpados por não trabalhar

no exterior, pois esse é um chamado mais elevado. Permanecer no país de

origem é ser um cristão de segunda classe. Mas, na verdade, essa é uma visão

falha. Quando aceitamos esse raciocínio antibíblico, servir no exterior já não é

suficiente. Para algumas pessoas, trabalhar na Janela 10/40 ou entre os povos

não alcançados é o serviço mais espiritual, enquanto que servir com outras

missões transculturais é um trabalho de segunda classe.

Todo esse ensinamento é um reflexo de um paradigma que torna as

pessoas meras sombras daquilo que Deus pretende, desengajando a igreja da

cultura, lançando as comunidades na lama da pobreza e impedindo que as nações

sejam discipuladas. Jamais houve mais cristãos ou igrejas no mundo do que

existem hoje. Nos últimos cinquenta anos, tem havido um investimento sem

precedentes em evangelismo, implantação e crescimento de igrejas. Em muitas

partes do mundo, temos obtido sucesso naquilo que nos propusemos a fazer:

salvar almas, plantar igrejas e desenvolver megatemplos. Mas, para quê? A

pobreza material ainda reina nos países em desenvolvimento que já foram

evangelizados; por outro lado, a pobreza moral e espiritual reina no ocidente

"cristão".

Em muitas partes do mundo onde a igreja está crescendo, o crescimento

se dá na proporção de "um quilômetro de comprimento e um palmo de

profundidade". A igreja se esqueceu de sua função de ser sal e luz na sociedade,

de viver o reino de Deus e iluminar seus locais rotineiros bem como o ambiente

de trabalho, e. quando necessário, ser uma voz profética. Nesse esquecimento,

a igreja tem se tornado bastante impotente.

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42 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Deparamo-nos com essa terrível situação em um momento de

oportunidades sem precedentes. O comunismo sucumbiu em todo o mundo. O

paradigma materialista tem deixado muita desilusão no Ocidente, alimentando

o corpo, mas não a alma; então, em meio a toda a nossa riqueza relativa e até

mesmo luxo, há crescentes sinais de agonia. Nesse meio tempo, a igreja tem

enfrentado grandes desafios, até mesmo em relação a sua existência em certos

lugares - e o islamismo vem crescendo por todo o planeta. O mundo anseia por

um cristianismo vibrante, que trate das profundas crises morais, espirituais,

sociais, econômicas e políticas da atualidade.

Por que a igreja está despreparada para apresentar uma resposta a esse

cenário? Porque a vida e o trabalho dos cristãos foram separados tanto de seu

fundamento na cosmovisão bíblica quanto do fim para o qual flui toda a nossa

vida - o reino de Deus. Sem uma estrutura transcendente que fale a todas as

áreas da vida, nosso propósito de vida fica limitado a morrer para ir para o céu.

Perdemos a estrutura mais ampla na qual se entende que nossa vida e trabalho

estão relacionados - no relacionamento com Deus por meio da adoração, com

o próximo pelo serviço e com a criação por meio da mordomia. Nossa vida e

trabalho têm sido, em grande parte, separados de sua missão e isso, em última

instância, advém da perda de uma cosmovisão bíblica. Quando sucumbimos ao

pensamento dualista, a maior parte de nossas vidas - a chamada parte "secu-

lar" - é informada pelas cosmovisões empobrecedoras de nossas culturas, pelos

elementos de materialismo e animismo descritos acima, em vez de pela verdade

das Escrituras.

Como a igreja de Jesus Cristo, e tantos de nós individualmente, chegamos

a esse estado de impotência? No próximo capítulo, traçaremos as raízes do

dualismo em nossa herança cristã de maneira que possamos ir além desse

danoso paradigma de uma vez por todas e consigamos ouvir Deus dizendo a

nós e a toda humanidade: "Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a

vossa alma viverá" (Isaías 55.3; grifo meu). A vida - em todos os aspectos, a

cada dia da semana, pessoalmente ou coletivamente - é encontrada no Deus

que criou e sustenta o céu e a terra e tudo o que neles há. O dualismo, como

veremos nos próximos capítulos e em todo este livro, é antitético à fé cristã e

falacioso à realidade.

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Capítulo 2

COMO CHEGAMOS AQUI?

O

DUALISMO NA HISTÓRIA DA IGREJA

As Escrituras não dividem a existência em dois reinos, natural e

sobrenatural ou material e espiritual. A separação que o mundo moderno tende

a fazer é totalmente alheia à cosmovisão bíblica. É improvável que as pessoas

da Bíblia pudessem até mesmo entender o modo como tendemos a ver nossas

vidas e

o mundo hoje em dia. A Bíblia revela que Deus é o Criador tanto dos

céus quanto da terra. Ele não é apenas transcendente e eterno, mas também o

Deus da história, em todos os seus detalhes. Deus governa os céus

e

é também

Senhor de toda a vida - tanto das atividades comuns ao dia a dia quanto dos

grandes acontecimentos. Ele não somente criou os céus e a terra e toda vida

dentro deles, mas também os sustenta como presença viva e ativa; ele se faz

conhecer no cair da chuva, na colheita frutífera, no nascimento de uma criança

(todas presentes de suas mãos), assim como em profecias realizadas ou em

atos divinos excepcionais. A adoração não ocorre através de cerimônias formais,

ainda que essas também sejam adequadas por se tratar de um Deus poderoso,

porém, mais importante do que isso é o "sacrifício vivo" de urna vida inteira

vivida

em íntima conexão com ele.

Então como nos distanciamos tanto desse entendimento unificado da

vida e do relacionamento com Deus, e chegamos a essa separação moderna da

vida em duas esferas distintas "espiritual" e "física" ou "religiosa" e "secular"?

O dualismo de hoje e os valores que vinculamos a cada reino são produtos de

uni processo que durou séculos e por meio do qual o cristianismo incorporou

elementos de outras filosofias e cosmovisões.

Compreender como chegamos a esse ponto nos dá a oportunidade de

revisitar nosso próprio pensamento e ver que podemos estar embasando algumas

de nossas pressuposições e hábitos em conceitos alheios à cosmovisão bíblica.

Isso, por sua vez, nos libertará para seguirmos a Jesus mais plenamente e

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44 1 VOCAÇÃO:

Es.crera sua assinatura no universo

sermos mais efetivos em trabalhar com ele a fim de levar nosso mundo ao reino

de Deus até que ele retorne.

ANTIGOS COMEÇOS

O cristianismo teve início dentro da tradicional comunidade judaica na

região galiléia da Terra Santa e nas vizinhanças de Jerusalém. Quando o

cristianismo começou a se expandir além dessas fronteiras e, particularmente,

quando chegou às cidades gregas na Ásia Menor e em seguida à Europa, ele

adentrou em um mundo que pensava de maneira muito diferente. Apesar das

muitas outras religiões ali presentes, as ideias no mundo greco-romano eram

grandemente influenciadas pela filosofia grega.

O filósofo grego Platão (c. 428-348 a.C.) forneceu a inspiração para

uma parte considerável do pensamento que se seguiria por vários séculos. Ele

descreveu o mundo material como uma sombra do mundo espiritual. O mundo

material e finito era simplesmente uma projeção obscura do mundo real

permanente e eterno. A famosa alegoria da caverna de Platão ilustrou suas

ideias. Nela Platão descreve prisioneiros em uma caverna vendo sombras de

fantoches sendo lançadas na parede. Os prisioneiros, não podendo ver os

verdadeiros fantoches, pensam que as sombras são "fantoches reais". O

argumento de Platão é que as coisas que observamos com nossos sentidos são

meras sombras da realidade - os universais - que não conseguimos ver.

A ALEGORIA PLATÔNICA DA CAVERNA

FOGO

ESSOAS MANIPULANDO

IGURAS PROJETADAS

FIGURAS DO LADO DE FORA

A PAREDE

PRISIONEIROS

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Conto cheg

amos a

q

,,u,1 45

Antes de Platão, outro filósofo grego, Pitágoras (c. 580-c. 500 a.C.), já

havia imposto limites sobre o valor do mundo físico. Mais conhecido hoje em

dia pelo Teorema de Pitágoras, ensinado nas aulas de geometria no Ensino

Médio, este filósofo ensinou que a essência do mundo físico e mesmo dos

conceitos abstratos podiam ser expressos através da matemática. Os números

- não o mundo físico - representavam a verdadeira realidade.

Tais conceitos dualistas, e as escolas de pensamento que se desen-

volveram a partir deles, separaram efetivamente o reino do bom, ideal e

permanente, de nossas vidas físicas e do mundo em que vivemos nossa existência

diária. Apenas a mente. participando do reino das ideias, poderia se conectar

com o bom e eterno. O mundo material veio a ser visto de maneira negativa.

Ele era temporário e muito menos valorizado, e o corpo não passava de uma

prisão para o mais verdadeiro e valioso elemento do indivíduo.

A partir dessa ideia, o trabalho físico era visto como não possuindo valor

algum. Em um mundo onde apenas os homens providos de posses tinham acesso

à educação e a "mais elevada" vida da mente, e onde a escravidão era comum

e utilizada ao máximo nos trabalhos subalternos, o trabalho físico era facilmente

visto como humilhante. Essa remoção do aspecto físico do mundo

verdadeiramente "real" o destituiu mais ainda de seu valor. O trabalho físico

era, de fato, um uso inferior do tempo do ser humano e de seus talentos. O

entendimento platônico também justificava a atribuição de um baixo status às

mulheres, já que estas eram vistas como seres "físicos", feitas para dar a luz

aos filhos (uma função de seus corpos "inferiores", profanos e limitados) e

cuidar da casa.

Com o passar do tempo, esses pensamentos se desenvolveram. Con-

forme as fronteiras dos impérios se moviam no mundo antigo, as ideias se

espalhavam. Algumas das muitas religiões e filosofias com as quais os gregos e

romanos (assim como os judeus e, posteriormente, os cristãos) entraram em

contato também possuíam pontos de vista fortemente dualistas. A cosmovisão

predominante no Oriente, hoje presente no hinduísmo e no budismo, entende a

realidade como um eterno monismo espiritual, uma unidade espiritual absoluta

de todas as coisas. De acordo com essa cosmovisão, o reino espiritual é real,

enquanto o físico é uma misteriosa ilusão irracional.

Enquanto os registros do Antigo e Novo Testamento são essencial-

mente holísticos' e integradores dos reinos espiritual e natural, a antiga

cosmovisão dualista grega teve, como veremos, uma profunda influência sobre

alguns dos pais da igreja primitiva e, portanto, sobre a toda a história da igreja.

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46 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

GNOSTICISMO

O gnosticismo foi uma ampla e altamente variada corrente de pen-

samento que surgiu antes do cristianismo e continuou a se desenvolver

paralelamente a ele. Apresentando uma cosmovisão altamente dualista. os

gnósticos criam que o mundo material era mal e profano. Semelhante a Platão.

os gnósticos criam que o verdadeiro eu. constituído de elementos divinos, vivia

aprisionado no corpo físico. A palavra gnóstico significa "conhecimento secreto

e misterioso", e era por meio desse conhecimento, dado por revelação, que o

indivíduo conseguia escapar do mundo material e progredir para o mundo eterno

e espiritual.

Por volta do século II, uma linha do gnosticismo já havia se mesclado

com o cristianismo, tornando-se um significante elemento dentro da igreja. En-

tre aqueles que abraçaram o pensamento gnóstico e ainda assim se consideravam

cristãos, estava Valentim (c. 100-c. 155), um proeminente erudito da época. O

cristianismo gnóstico foi uma mistura (ou sincretismo) do cristianismo com a

filosofia dualista grego-oriental.

Urna das maiores disputas, entre os cristãos gnósticos e os cristãos que

defendiam o que veio a ser conhecido como crenças cristãs ortodoxas, dizia

respeito à natureza de Cristo. Os gnósticos possuíam a crença (conhecida como

docetismo) de que, devido ao fato de o mundo material ser mau. Cristo, que é

puro e divino, apenas parecia ter um corpo físico real e apenas pareceu ter

sofrido fisicamente. Essa questão foi tratada pelo Evangelho de João', por Inácio

de Antioquia em uma carta datada de 110 d.C. e pelo Conselho de Nicéia em

325 d.C.. O cristianismo estabeleceu a doutrina da encarnação da Palavra,

afirmando tanto a plena deidade quanto a plena humanidade de Cristo.

Apesar de o gnosticismo ter desaparecido como religião ou filosofia

dominante, elementos de seu pensamento continuam a reaparecer em pos-

teriores expressões da crença cristã. Hoje é possível descrever, como

gnosticismo evangélico, o dualismo - divisão entre o espiritual e o físico (ou

mundano) - que existe dentro do protestantismo evangélico. Isso é particularmente

verdade quando vemos os cristãos enfatizando atividades "espirituais" (ex.:

encontros de oração ou estudos bíblicos) ou ministérios ou missões "profissionais"

como o único modo de fato satisfatório de vivermos nossas vidas cristãs de

maneira fiel. De forma similar. temos demonstrado uma orientação gnóstica

sempre que inferiorizamos as coisas do mundo físico ou as vemos como

irrelevantes (ex.: meio ambiente, governo, arte, justiça ou saúde pública), ou

quando vemos o trabalho nos campos que lidam com elas como um chamado

menos cristão.

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Como chegamo.s 

47

A DISTORÇÃO NA CORRENTE INICIAL DO CRISTIANISMO

Influenciada pela cultura a sua volta e pelas filosofias e movimentos que a

precederam, até mesmo a igreja convencional desenvolveu padrões dualistas de pensamento.

Uma das maneiras pelas quais o dualismo foi absorvido dentro cio

pensamento cristão convencional foi por meio do precoce desenvolvimento do

monasticismo. Inicialmente tratava-se de um estilo de vida solitário. De fato, a

palavra monge deriva do termo grego "pessoa solitária". Apesar das pessoas

que escolhiam essa vida se embasarem em exemplos bíblicos, o monasticismo

era mais extremo do que os retiros temporários ao deserto relatados na Bíblia.

A rejeição radical dos monges ao "mundo" e seu foco em uma união mais

perfeita com o sagrado pode ser mais bem compreendida no contexto da filosofia

dualista grego-oriental descrita acima.

A princípio, os monges eram todos eremitas, indivíduos que, tanto quanto

possível, rejeitavam as coisas "do mundo" e saíam sozinhos (frequentemente

para o deserto) em busca das "coisas de Deus". No entanto, com o passar do

tempo, pessoas com uma mentalidade parecida começaram a se reunir,. e, em

318, a primeira comunidade monástica foi fundada. Os mosteiros e suas

comunidades religiosas rapidamente se tornaram um importante elemento na

igreja. Apesar de no início serem lugares para uma vida separada e santa, os

mosteiros vieram a se tornar centros para estudo, produção escrita e ensino,

assim como para preservação, tradução e duplicação de importantes textos,

inclusive a Bíblia. Eles também se tornaram importantes centros de trabalho

missionário. Grande parte do crédito pela expansão do cristianismo aos povos

da Europa é dos monges que viajaram pelo continente, estabele-cendo mosteiros

por onde passavam. Séculos mais tarde, as comunidades religiosas levaram o

evangelho ao mundo exterior, como, por exemplo, quando o cristianismo foi

levado ao hemisfério ocidental.

Entretanto, a filosofia dualista por trás do monasticismo é facilmente

identificada na obra de vários escritores da igreja primitiva. Um exemplo é

Eusébio (c. 260-c. 339), bispo de Cesaréia e às vezes chamado de "pai da

história da igreja". Em Demonstração do Evangelho, ele escreveu que Cristo

deixou "duas formas de vida" à igreja:

Duas formas de vida foram dadas pela lei de Cristo à sua Igreja. A

primeira esti', acima da natureza, e além da vida humana comum... Plena e

permanentemente separada da vida comum e costumeira da humanidade,

ela devota-se somente ao serviço de Deus... Esta sim é a perfeita forma de vida

cristã. A segunda, mais humilde, 117alS

humana, permite aos homens... dedicar-

se à agricultura, ao comércio e a outros interesses mais seculares assim como

à religião... E um tipo de grau de piedade secundário é atribuído a eles/

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48 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Dois

MODOS DE

VIDA

EUSEBIO DE CESAREIA

A VIDA PERFEITA

VIDA COMUM

VITA CONTEMPLATIVA

ITA ACTIVA

SUPERIOR, SAGRADA,

NFERIOR, SECULAR,

CONTEMPLATIVA

TIVA

SOCIALMENTE E

OCIALMENTE E

ESPIRITUALMENTE

SPIRITUALMENTE

SUPERIOR

NFERIOR

EX.: MONGES,

X.: FAZENDEIROS,

PADRES, FREIRAS,

ONAS DE CASA,

ARISTOCRATAS RABALHADORES

Nesse esquema, havia duas formas de vida, a vida perfeita e a vida

permitida. A vida perfeita era mais elevada, sagrada e contemplativa. Esta era

a vida dos obreiros religiosos, como padres, freiras, monges e teólogos. Estes

eram "superiores", social e espiritualmente, às pessoas comuns ou aos leigos.

Por outro lado, a vida p ermitida era inferior, secular e ativa. Ela envolvia trabalhos

manuais e cabia ao homem comum, ao fazendeiro, à dona de casa, ao marceneiro,

ao comerciante e ao artesão. Estes eram os "inferiores" sociais e espirituais à

classe religiosa.

Com o tempo, esse contraste dualista se transformaria em uma visão na

qual a "igreja", no sentido ativo, significaria o clero e, talvez, os monges. Du-

rante toda a Idade Média, as pessoas comuns - particularmente aquelas que

viviam "no mundo", em vez de viver uma vida "religiosa" consagrada - eram

vistas com tendo um papel distintamente passivo e inferior, dependendo da

"igreja" para se relacionar com Deus e para receber sua graça e salvação.

DICOTOMIA CLÉRIGO - LEIGO

CLÉRIGO

ERVE

ROFISSÕES ESPIRITUAIS

A DEUS

RABALHOS DE ASSISTENCIA

LEIGO

ERVE

ROFISSÕES SECULARES

A MAMON

RABALHOS MANUAIS

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50 1 VOCAÇÃO:

Escreva mu ri.ssinaturn no universo

seriedade religiosa da vocação monástica às atividades do mundo. O

indivíduo é chamado para servir a Deus de maneiras específicas no mundo.

Aqui, a utilização moderna e o sentido da palavra "vocação" ou

"chamado" pode ser visto emergindo no tempo da Reforma, por meio de

uma nova abordagem do trabalho. As línguas de cada área da Europa

afetada pela Refarma apresentam uma mudança decisiva no sentido da

palavra trabalho durante o século X VI: alemão (Beruf), inglês (calling).

holandês (beroep), dinamarquês ( kald), sueco (kallelse) e assim por

O fundamento do entendimento de chamado por Martinho Lutero era

o da doutrina da justificação pela fé. Os cristãos haviam passado a acreditar

em uma hierarquia da vocação: a vida contemplativa era mais elevada e

espiritual, enquanto a vida activa era mais comum e menos espiritual. O trabalho

do padre e da freira, trabalhadores religiosos, era santo, enquanto o trabalho do

fazendeiro e da dona de casa era "secular". Os padres eram justificados, porque

realizavam um trabalho santo. Para as pessoas comuns serem justificadas,

elas teriam que desempenhar "trabalhos espirituais", como ir à missa, pagar

indulgências e dar esmolas aos pobres. Isso escravizou e empobreceu mais

ainda aqueles que já eram pobres. Lutero e os reformadores no norte da Europa

desafiaram a ideia das "obras de justiça" insistindo que nenhuma obra externa,

mas somente o ato interno da fé, poderia tornar uma pessoa justa ou justificada

diante de Deus.

Os reformadores restauraram o conceito de trabalho vinculando-o ao

conceito de chamado. Se a justificação é pela fé, Lutero raciocinou, então, a

vida contemplativa dos monges e padres não é nem superior nem inferior à vida

ativa do fiel fazendeiro, marceneiro ou dona de casa. Lutero, que havia

abandonado a ordem monástica, compreendia que, se somos salvos pela graça

mediante a fé, o que importa não é o tipo de trabalho que se faz, mas a fé com

que se faz tal trabalho. Em outras palavras, o que importa é a consagração ou

a não consagração do trabalho do indivíduo. De repente, todo trabalho, contanto

que seja moralmente legítimo (isto é, não seja mau), torna-se sagrado. Sacerdote

e fazendeiro, freira e dona de casa, teólogo e

trabalhador braçal, todos estão,

pela fé. diante de Deus. Dietrich Bonhoeffer escreve sobre o desafio que Lutero

propõe à visão de trabalho do homem:

O retorno de Lutero do chauim foi o golpe mais forte sofrido pelo

mundo desde os dias do cristianismo antigo. A renú ncia que ele fez quando

se tornou monge virou brincadeira de criança comparada àquilo qu e ele

teve que fazer quando retornou ao mundo. Ele voltou com 1 1 1 7 7

ataque

frontal. A única maneira de seguir Jesus era viver no mundo. Até aqui a

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Como che,,,

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amo.s aqui

2

 

51

vida cristã havia sido uma façanha de poucos espíritos escolhidos sob as

excepcionalmente favoráveis condições do monasticismo; agora ela é dever

de lodo cristão que vive no mundo. O mandamento de Jesus deve ser

demonstrado em uma perfeita obediência na vocação diária da vida do

indivíduo. (Grifo meu.)'

A Reforma chamou a igreja para fora do prédio e para dentro do mundo,

desafiando diretamente a mentalidade dualista presente na igreja da Idade Média.

Em suma, os reformadores apresentavam dois argumentos. Primeiro,

todos os cristãos, não apenas os trabalhadores religiosos, têm um chamado.

Segundo, todo trabalho, não apenas o trabalho espiritual, pode ser considerado

um chamado. A dicotomia sagrado-secular é então abolida por aqueles que

abraçam esse pensamento bíblico.

PIETISMO - Século XVII

Por volta do século XVII, a jovem igreja protestante que havia virado a

Europa de ponta-cabeça estava cheia de problemas. Uma dificuldade era a

tendência, de algumas tradições ou denominações (ex.: o luteranismo ou a Igreja

Reformada), de se preocupar excessivamente com a teologia e a doutrina

corretas em detrimento de urna fé viva. Este foi um resultado infausto decorrente

das lutas teológicas trazidas pela Reforma.

Outro problema significativo foram os contínuos laços entre a religião e

o estado. Quando a Reforma se estabelecia em determinado estado ou nação,

no geral, a entidade inteira, e não apenas os indivíduos ou congregações, se

tornava oficialmente protestante e novas "igrejas oficiais" nacionais eram criadas.

As igrejas nacionais desempenharam papéis variados no governo de seus estados

e, para muitos indivíduos, ser parte de determinada igreja se tornou indistinguível

de sua cidadania em certo estado ou nação. Ademais, pelo menos nos primeiros

séculos dos novos estados protestantes, a participação ou o apoio a outras

igrejas (tais como os anabatistas) foi frequentemente suprimido ou, até mesmo,

punido de forma severa - às vezes, de maneira muito violenta. Até mesmo

batalhas ocorreram, em vários locais, conforme o movimento religioso se

combinava com os conflitos políticos e a inquietação social.

A experiência com o estabelecimento da igreja gerou a necessidade,

dentro de poucas gerações, de uma nova reforma e da recuperação do signi-

ficado espiritual. O movimento chamado Pietismo foi uma das respostas a essa

necessidade, apresentando um efeito amplo e duradouro.

O movimento pietista no geral é visto como emergindo do luteranismo da

Alemanha no final dos anos 1600. A agitação do pietismo começou com místicos

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52

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Em grande parte. o pietismo

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detrimento da convicção ortodoxa. o que gerou um loa;) na

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Enquanto os primeiro; reformadores h:15 iam ¿`o-to

compreender. interpretar e aplicar as Escrituras ì. 5

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e ao compimiliy-o espi Htual - a ao\ .1 abordagem

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formas de

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radiciwiais eram

modificadas ou abandonadas com base iia\aloriiação delas pelo indivíduo. Por

outro. o toco na vida cristã pessoal Irouxe renovo ás vidas de muitos crentes

e.

por essa razão. os pietistas lideraram illThOltilltes

C

S lr~ls

missionário;.

Em relação ao dualismo. o pietismo gerou uni empuxo entre os cristãos

para focarem no reino espiritual e retirarem-se da cultura. Isso pode ser

evidenciado na vida e no ensino de uni hom em conhecido conto o pai do piei ismo.

Phillip Spener (1635-1705). Spener iniciou um movimento de ideia nas casas

com encontros em sua própria residência. Publicou também unia coleção ele

propostas para a restauração da igreja. a qual incluía. entre outras coisas, estudos

bíblicos profundos

en1

encontros privados. fink:oes

In-:is

ara as pessoas

comuns na igreja.reorganiiação do treinamento teológico coma maior ênfase na

vida devocional e UM novo estilo

de

pregação com loco no coração. Durante

anos. ele destacou a necessidade espiritual de uni novo nascimento_

e falou da

separação entre os cristãos e o mundo.

Apesar de se considerar que o pietisnio teve seu rim em meados ou no

final dos anos 1700. suas influencias tem ;ido de longo alcance. Ainda neste

capítulo, veremos como elas estavam presentes na ascendência do gnosticismo

evangélico nos séculos XIX

e

XX.

O ILUMINISE10

éculos XVH 1 1

Também conhecido como a Idade da Ra/ao. o i timinismo foi uni

movimento filosófico centrado na Inglaterra. 1-rança e. inc certo ponto. na

Alemanha. Foi fundamentado na metafísica tradicional de deísmo. que pre-

sumia. assim como o teísmo bíblico. que o Criador existia. Porjm. dilçrente

Bíblia. o deísmo pressupunha que Deus não ara imanente ou presente. No

deísmo. Deus é Criador. mas não Salvador e Senhor. Ele r tun lia is Jistanie:

que criou o universo. o colocou em mo\ Miemo e o daisou. Ele não (

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pessoas e não responde

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54 1

VOCAÇÃO: Escreva

sua assinantra no universo

Salvador e Senhor da vida. A tendência era observar o universo de maneira

mecânica, corno sendo governado por leis naturais. Essas leis fluíam da natureza

do Criador, mas eram entendidas como operando sem o contínuo envolvimento

pessoal do Legislador.

O iluminismo, com sua celebração da razão humana e a tendência a

desvalorizar o reino espiritual. marcou uma transição na cultura geral do mundo

Ocidental. A igreja respondeu à era do iluminismo com um retorno a uma fé e

prática mais ortodoxas e holísticas.

O GRANDE AVIVAMENTO - Séculos XVIII e XIX

No início do século XVIII (1730-1750), um avivamento cristão ocorreu

dos dois lados do Atlântico. Ele representou um retorno à fé bíblica; não tendo

somente um componente espiritual, mas também holístico, gerando uma das

maiores transformações sociais dos tempos modernos. Aqui temos o surgimento

daquilo que o Dr. Ralph Winter, um impressionante estrategista em missões e o

fundador da Universidade Internacional William Carey, identificou como o

Evangelicalismo da Primeira Herança'. Winter possuía um entendimento amplo

e holístico do evangelho, incluindo salvação pessoal, transformação da sociedade

e missões transculturais. (Isso se contrastava com o que ele chama de

Evangelicalismo da Segunda Herança, cujo foco está primeiramente na salvação

pessoal, no arrebatamento e, em breve, na segunda vinda de Jesus Cristo. Esses

últimos evangélicos têm posto pouca ênfase na capacidade do evangelho de

mudar a sociedade.)

Na Inglaterra, o avivamento foi iniciado por um evangélico da Primeira

Herança, John Wesley (1703-1791), ministro anglicano que se tomou um ardente

evangelista e reformador social, sendo também fundador do movimento

metodista. Wesley pregou sobre o Cristo crucificado para centenas de milhares

de pessoas, pobres e ricas. Mas ele entendia que se Cristo levava alguém à

conversão, não era apenas para ir para o céu. Se a pessoa fosse salva, sua vida

e comportamento precisavam ser transformados e, assim, coletivamente, haveria

uma transformação da sociedade.

Nos Estados Unidos, o Grande Avivamento foi iniciado por dois homens:

Jonathan Edwards (1703-1758) e George Whitefield (1714-1770). Jonathan

Edwards era um pregador congregacional, teólogo e missionário aos americanos

nativos. Ele é reconhecido como talvez o mais refinado evangelista e teólogo

filosófico que os Estados Unidos já produziram. Os ideais da Reforma de João

Calvino fluíram para os Estados Unidos por meio de seus pensamentos, ensinos

e ministério. Sua pregação, particularmente seu famoso sermão "Pecadores

nas mãos de um Deus irado", levou dezenas de milhares de pessoas ao

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Como chegamos aqui?

I 55

arrependimento e à cruz de Cristo para a salvação.

George Whitefield havia sido líder do movimento metodista de Wesley

na Inglaterra. Em 1738, Whitefield mudou-se para a colônia britânica da Geórgia,

nos Estados Unidos, e começou a pregar em uma série de encontros de

avivamento. Juntamente com Edwards, ele pregava Cristo e, em seguida,

conduzia aqueles que eram salvos a uma fé e prática profundamente bíblicas.

Esse avivamento, iniciado por Wesley na Inglaterra e por Edwards e

Whitefield nas colônias americanas, nasceu de uma abrangente cosmovisão

bíblica na qual a fé pessoal levava à ação na sociedade civil e no mercado de

trabalho. Entendia-se que Deus é o Deus de toda a vida, não apenas do reino

espiritual. O Grande Avivamento produziu líderes e cidadãos, os filhos e netos

do movimento, que se propuseram a mudar suas sociedades e o mundo.

Na Inglaterra, Deus levantou um filho espiritual de Wesley, William

Wilberforce (1759-1833), que foi um parlamentarista britânico, filantropo e

reformador social. Além disso, ele foi o rosto por trás da abolição da escra-

vidão no Império Britânico e uma grande força na civilização de uma áspera

sociedade britânica. Ele entendia que a escravidão era um mal moral e que a

igreja devia trabalhar para acabar com essa instituição. Por operar com base

em uma cosmovisão bíblica, Wilberforce cria que Deus se interessava pela boa

conduta e pela justiça social, e não simplesmente pela salvação pessoal da

alma. Ele sabia que Deus se importava tanto com a transformação da sociedade

como com a do ser humano individualmente. Assim, além de trabalhar pela

abolição da escravidão, ele convocou a igreja a lutar contra o crescente

alcoolismo, uso de drogas, promiscuidade sexual, exploração patronal e outras

injustiças e elementos grosseiros da sociedade britânica.

Um grupo na Inglaterra, conhecido como Clapham Sect [Seita de

Claphaml, desempenhou um importante papel na transformação da nação em

sua época. Esses homens e mulheres foram social e politicamente ativos de

1790 a 1830. Evangélicos ricos e influentes, eles tinham variados tipos de

vocação - eram estudiosos, clérigos, políticos, banqueiros, escritores, artistas,

economistas, homens de negócios e filantropos. Seu propósito comum era dar

cobertura política e combustível econômico para mudar a cultura e, em seguida,

as leis da sociedade britânica. Foi esse grupo que criou a plataforma para que

homens e mulheres como Wilberforce desafiassem o status quo da sociedade

britânica. Deus os usou, em sua obediência a ele, para transformar sua nação.

Entre muitas das conquistas desse movimento, está o Ato contra o Comércio

de Escravos de 1807, que transformou o comércio de escravos em crime. Três

noites antes de Wilberforce morrer, o Parlamento aprovou o Ato de Abolição

da Escravidão de 1833, emancipando os escravos em todo o Império Britânico.

Outro filho espiritual de Wesley foi William Carey (1761-1834). Este era

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pobre sai iatéiro iitgles que somente ilaA ia estudado ate os 14 anos. Quando

e t

tr;;

;a0 t

o

; nadaqo peos ,t\ HaIngaera le

sentiu o

chamado de Deus sobre sua ‘, ida para tornar-sc uni missionário na índia. Caro:

quebrou todos i:s padrões do trabalho nu ssionario e se tornou o "pai das missões

modernas". fio

ares nas ceou com sua jovem família para a índia. Ele

possuía unia Cosll

k

lVlsãU blhhca e prega\ a o (_ cisto crucificado. Pessoas eram

sal \ as e igrefus eram plantadas: :nas allSi'dVa por ver as raites da cultura

da incha subcontmental transformadas. Sua história é muito bem contada por

Ruth c Visitai Nlangalss adi no lis o:

 

'IML' 1\N:1111W -

11 CaleV: A n

i

odel for

lhe transformation olá etulture I( legtido de V\ illiam ('ares : Um modelo para a

translormaçao de uma cultural.

Caret, mio apenas pregou o es anIciho

da salvação e plantou igrejas.

como também liderou os indianos no (lesem ok intento dc muitos outros setores

ele sua sociedade. Por exemplo, ele apresentou aos cristãos o conceito da

mordomia da terra. ensinando novos sistemas dc jardinagem para a recuperação

da terra deteriorada e a replantaç

:tio das florestas devastadas pelo excesso de

colheita. Ele também afiou por anos para estabelecer a dignidade das mulheres.

Do outro lado do :Atlântico. outros :::. angélicos da Primeira Herança

lança\ um as bases para a funda::ito de nina no\ e. nação. A maioria dos estu-

diosos seculares atribui os runelimentos dos Estados Lindos aos pensadores

deístas do iltiminismo. como Locke. Vol:aire e Montesquieu. Eles argumentam

que Jefterson e Franklin,

ambos influenciados pelo deísmo, foram canais por

meio dos quais o iluminismo entrou na s ia pública americana. No entanto. isso

cotio   adi/ o registro hisuirieo.

O experimento político a: ieric

i fundado sobre a le bíblica como

resultado do Grande As rica

..   risitios queriam formar uma cultura e

riaço política com base cio

Conselho Nacional para o

Currículo Bíblico na,

inetis é:itt unia extensa pesquisa feita pelos

professores e cientistas ( ledes S. Em/ e i)onaid S. Hyneman. Eles

aprOXIIlladaMCMC 111111/1.

ustOricos de literatura política,

publicados entre 176(1

e rrinni e quatro por cento do conteúdo dos

documentos da fundaçáo dos

idos indo,

- eram citações diretas da Bíblia'''.

Antes dos pais I undadores.

elitailit, e os peregrinos cruzaram o Atlântico

com Bíblias nas maos. (.) Grande Avis,imento chamou os pais fundadores de

volta ao Livro e a abrangente cosmovisao das Escrituras. Os jornalistas da

Nes\ s \\ eek

1)av id Gates e Kenneth Woodss tirel escreveram que "os historiadores

esta() descobrindo que a Bíblia. tal e/ ainda mais do que a Constituição. é o

nosso documento de fundaeao

.Ao participar na reetipertieão ele tinia cosmos isco bíblica no Grande

Às;

sar

nent

o.

0

 „ ev an

,

elleos tornaram ,t se comprometer com a obra de Deus

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1 1 1

I

57

no m undo. tr instem

-

mando o Império Britânico e fundando Os Estados tinidos

da América, talvez a nação mais livre. justa e

economicamelue prospere

du

história da humanidade. Na medida em que a igreja Tem abandonado sua laerinea

e se retirado da cultura, temos testemunhado a ascendência dos mundos mi Kierno

e pos-moderno. A questa() e: vamos recuperar a le de nossos ne

c

m sore

s ; j ; . ;

Primeira flerança?

A ERA rvIODERLIA

-:

;éculos MX, e

,Apesar do eleito tangível do Cirande Avis alucino. na era moderna. o

materialismo secular tem se levantado sobre uma absoluta negaeao do reino

espiritual, Pode-se dizer que essa cosmovisão se desenvolveu

como uma

extensão lógica do racionalismo do iluminismo, sendo consolidada pela publicacao.

em I 859. do livro de Charles Darwin A origem das

espécie,.

.\ teoria da evoluçao

de l)arwin oferecia uma explicação puramente natural (oposta ao ,.ohrenittura

para o surgimento da vida. preparando o caminho para o materialismo ateista.

Por definição. o paradigma materialista. quando unido com o ateísmo.

não deixa espaço para o espiritual e o transcendental. A inatéria é a Unica

realidade. Todas as coisas que têm sua fundamentação na realidade da existência

de

Deus desaparecem, pois o próprio Deus não existe.. Milagres não podem

acontecer, a oração não tem eleito, não há céu. Isso. por sua vez. leva a morte

cio ser humano. do amor. da just iça. da verdade. da moral, da graça e do chamado

vocacional. elementos cujo fundamento esta na existéncia de Deus. ,la que não

existe Deus e seu reino é fruto ri

a imaginaçao do ser humano. o trabalho não

pode ser VISA() à luz do reino

de

Deus; portanto. ele existe apenas para SUAS

recompensas materiais.

1-m refaça() à dicotomia entre o sagrado e o secular. o materialismo ido

enfatiza meramente o secular sobre o sagrado: ele reconhece apenas o seca-

lar. Entretanto. o desenvolvimento do materialismo tem causado impacto no

cristianismo de importantes formas a serem reconhecidas. Assim. voltamos

nossa atenção à resposta da igreja à ascensao do secularismo.

A RFSPOSTA DA IGREJA

Conforme o materialismo ateísta se expandiu pelas universidades e culturas

nacionais da Europa e da América do Norte, os fundamentos dessas naçoes

e

de suas igrejas foram desafiados.

Poucos na igreja se levantaram contra a maré do secularismo. tem deles

foi Abraham Kllyper (1837-1920), um pastor e teólogo holandês que. além

dc

ser um proeminente jornalista

e

educador, serviu tainhin como primeiro ministro

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58 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

da Holanda. Em 1898, Kuyper foi convidado pelo Seminário de Princeton,

instituição de treinamento teológico da elite americana, para proferir as famosas

Stone Lectures. Seu desejo era podar a maré de secularismo que entrava na

igreja da América do Norte e restaurar seus fundamentos bíblicos, ensinando

sobre o reinado de Cristo em todas as áreas da vida. Mas, como mostra a

história, a igreja, como um todo, abandonou a cosmovisão bíblica.

A SOBERANIA DE

CRISTO

"NÃO HÁ, UM ÚNICO CENTÍMETRO QUADRADO EM TODO O

DOMÍNIO DA EXISTENCIA HUMANA SOBRE O QUAL CRISTO,

QUE E SOBERANO SOBRE TUDO, NÃO CLAME: É MEU '"

— ABRAHAM KUYPER

SOLENIDADE INAUGURAL DA UNIVERSIDADE LIVRE DE AMSTERDÃ, 1880

Em resposta ao secularismo, a igreja apresentou duas respostas

problemáticas. A primeira foi acomodar o novo paradigma secular, e a segunda

foi rejeitá-lo, adotando um antigo paradigma grego. A igreja estava dividida.

A IGREJA DIVIDIDA PELO SECULARISMO

IGREJA

ACOMODAÇÃO

"LIBERAIS"

DENOMINAÇÕES

TRADICIONAIS

REAÇÃO

"FUNDAMENTALISTAS"

EVANGÉLICOS

PENTECOSTAIS

CARISMÁTICOS

Alguns ramos da igreja, frequentemente identificados como "liberais",

abraçaram em vários graus o paradigma secular moderno. O conceito de

verdade absoluta foi substituído pelo relativismo metafísico. A existência de

milagres - Deus agindo fora do reino natural - foi negada. Na medida em que

os ensinos deste lado da igreja foram se tornando cada vez mais consistentes

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Como chegamos aqui? 1 59

com a pressuposição ateísta, o poderoso evangelho do reino de Deus, que pode

levar à transformação de vidas e nações (conforme visto no Grande Avivamento),

foi reduzido a um mero ativismo social.

As necessidades físicas e sociais do mundo tomaram precedência sobre

as espirituais, sendo cada vez mais supridas por meios seculares, fundamentados

em urna filosofia secular. Em vez de reconhecer a fonte transcendente de justiça

e cura, a igreja tentou trazer justiça física e transformação social com suas

próprias forças

e fora da salvação de Cristo para o indivíduo como um todo.

Enquanto parte da igreja abraçou o paradigma secular moderno, outras

partes o rejeitaram. Estas reagiram ao que viram como um condenável

"modernismo" (ou "liberalismo") que havia tomado a igreja e ameaçado o

cristianismo ortodoxo. Esses líderes se apresentavam como fundamentalistas,

apegando-se aos fundamentos da fé. Mas, por também haverem abandonado a

cosmovisão bíblica, eles negligenciaram as abrangentes implicações do evangelho

para a transformação da sociedade. Eles se tornaram o que Winter chama de

evangélicos da Segunda Herança.

Os fundamentalistas, em vez de defender a cosmovisão bíblica, ado-

taram a antiga cosmovisão grega da qual falamos anteriormente neste capí-

tulo. Os gregos separavam os reinos espiritual e físico, separavam a graça e a

natureza. Ao adotarem esse paradigma gnóstico-dualista, os cristãos separaram

o sagrado do secular, o domingo da segunda. Muitos se tornaram "cristãos

domingueiros" e abandonaram o conceito de ser igreja na segunda-feira levando

o

reino de Deus à sua vida de trabalho todos os dias da semana, negando

funcionalmente que Cristo é soberano sobre toda a vida. Para os

fundamentalistas - que foram os precursores dos movimentos evangélico,

pentecostal e carismático - o reino espiritual era sagrado enquanto o secular

era profano.

A DICOTOMIA GREGA

D

I

N

O

SUPERIOR

MAIS

IMPORTANTE

FE

TEOLOGIA

GRAÇA ESPIRITUAL ÉTICA

(SAGRADO) ISSÕES

VIDA DEVOC IONAL

EVANGELHO

RAZÃO

<

INFERIOR

IENCIA

4

ZMENOSNATUREZA Físico NEGÓCIOS/ECONOMIA

• IMPORTANTE

SECULAR) OLITICA

al

RTE/MÚSICA

(f)

ATERIAL

ALIMENTO

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(71

1/10.1

1

tcrnv cl condicao (I() inundo moderno eram unta indicação de que Jesus

certamente est. a \ (Mando. Mesmo trabalhando duro para levar as pessoas a

Cristo. eles adotaram uma posição passiva em relação ã sociedade enquanto

esperavam o retomo de Cristo.

Em 1 b7t Flal Linsev. um teólogo dispens.,teionalista, publicou o best-

I L ,

l

o

1  

I1

tematica do fim dos tempos The Late Great Planet

(

into Planeta Terral. O livro de Lindsev foi publicado em

e \

ais de .'s5 milhões de cópias. permanecendo em publicação

Lincoll o movimento do fim dos tempos em grande aceleração de

1

-

ma a moldar profundamente as três Ultimas gerações de cristãos bem como

seu entendimento sobre a

natureza e a missão da igreja.

e

a vida cristã.

dinámL:a do Grande Avivamento para a transformação da sociedade

deu. O movimento dos evangélicos da Segunda Herança enfoca a

\ aedo pcs.,( ,

;1 e a 1,:c particularizada: tendo sido marcado por um anti-

inteic,:tualismo

-

Nao laça perguntas -- apenas creia " ). um abandono da cultura

Jastamento do mundo.

Os gnOsticos e ‘,

tornaram ao paradigma dualista pré-reforma.

O trabalho religioso. como o do pastor. do evangelista. do missionário e do

plantador de igrejas. era .\ isto conto um chamado mais elevado do que as funções

seculares. como acontecera na Idade Media. As pessoas que quisessem ser

santas tinham que enveredar pelo "serviço cristão em tempo integral". O trabalho

secular" era frequentemente estigmatizado por aqueles que realizavam trabalhos

,...spirittiais

-

Assim. novamente os cristãos passaram a viver em dois mundos

profissionais

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OS CHAMADOS

TEÓLOGO

PLANTADOR

DE IGREJAS

PREGADOR

"CRISTÃO DE T EMPO INTEGRAL

"CRISTÃO DE MEIO EXPEDIENTE"

62 1

VOCAÇÃO: ESCrelYI sua assinatura PIO

Mre

S0

Em termos de estratégia de missões, em vez de reconhecer que todos os

cristãos estão envolvidos em missões, somente aqueles que deixassem o trabalho

secular e se dedicassem ao trabalho "espiritual" eram considerados missionários.

Ainda hoje. muitas organizações de missões procuram retirar os cristãos do

mercado de trabalho e colocá-los naquilo que creem ser "mais significativo": o

trabalho missionário.

PONTE GNOSTICA PARA

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO

PREGADOR

CARPINTEIRO

ARTISTA

PLANTADOR

DE IGREJAS

PROFESSOR

Músico

DONA DE CASA

ENFERMEIRO

MECÂNICO

TEÓLOGO

Além disso, o posicionamento tornou-se uma importante questão entre

os trabalhadores espirituais. A Grande Comissão de Mateus 28:18-20 foi

reinterpretada, pelo paradigma gnóstico, como sendo para trabalhadores

religiosos profissionais desejosos de trabalhar no exterior e se-parar-se do

trabalho local "comum", indo proclamar o Evangelho em localidades distantes.

Nessa visão, ser enviado para servir transculturalmente era um chamado mais

elevado do que ficar no país de origem. Lembro-me de que, quando compartilhei

isso em uma conferência de liderança da JOCUM norte-americana, todos riram.

Quando lhes perguntei por que estavam rindo, eles responderam que se alguém

quisesse ser o mais espiritual de todos, tinha que trabalhar junto aos grupos não

alcançado

VIVENDO EM

Dois MUNDOS DIFERENTES

ATUAÇÃO

TRABALHAR

COM POVOS

NAO-ALCANÇADOS

MUITO

MAIS

-' ESPIRITUAL

IR PARA

ICAR

OUTRO PAÍS

M CASA

(ESPI

RITUAL

ESPIRITUAL

MAIS

ENOS

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Como chegamos aqui?

1 63

Pela primeira vez desde a Reforma, um grande número de cristãos que

não estava no "serviço cristão integral" começou a viver em dois mun-dos: um

durante a semana de trabalho e outro aos domingos. Ao abandonar a cosmovisão

bíblica e adotar uma cosmovisão fortemente dualista, muitos braços da igreja

se retiraram do mercado de trabalho. Dentro desse modelo, a fé cristã passou

a não informar a vida cultural de muitos cristãos. Infelizmente, as tentativas de

muitos destes em rejeitar o secularismo têm resultado em suas próprias vidas e

de suas comunidades sendo destituídas de Deus.

AONDE ESTAMOS INDO?

A história mostra que o pensamento dualista, se manifestando de várias

formas, há tempos tem sido um problema na igreja - na verdade, desde o seu

princípio. Aquilo que a Reforma havia eliminado, no conceito

e na prática, foi

levado adiante e perpetuado por tradições posteriores. Hoje, a dicotomia entre

o sagrado e o secular permanece como um grave problema. Tendo mapeado a

história do dualismo na igreja, analisaremos, no próximo capítulo, algumas

maneiras específicas nas quais o dualismo afeta nosso próprio modo de pensar.

Isso nos ajudará a repudiar esse persistente - e falso - paradigma, recuperando

uma visão verdadeiramente bíblica de nossa vida e trabalho, uma que nos permita

viver sem divisões e em consagração a Deus.

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66 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua a.ssinalurn no universo

ALMA - CORPO

Para o dualista, o ser humano é fragmentado. Ele tem um corpo e uma

alma. O dualista acredita que, porque Deus está interessado em coisas espirituais,

a alma de uma pessoa tem mais importância do que seu corpo. A salvação

garante apenas a ida da alma para o céu. Deus não está interessado em salvar

a totalidade do ser humano no tempo e na eternidade.

Meus irmãos e irmãs na Coréia expressam essa dicotomia no que diz

respeito à ministração às necessidades físicas e sociais das pessoas. Por anos,

tenho viajado para a Coréia para treinar jovens cristãos que querem trabalhar

entre os pobres nos países em desenvolvimento. Inevitavelmente, eles sempre

me fazem a pergunta: "A alma de uma pessoa é mais importante do que seu

A FESTA DE BABETTE

Baseado na história de 'sal< Dinesen,

o filme vencedor do Oscar A Festa de Babette

é uma festa em si, apresentando a nós a

generosidade e a bondade de Deus e sua

criação em um lindo conto que reúne corpo e

espírito, dever e prazer.

pesar de her-

deiras da Reforma Protestante e de seus

nomes terem sido dados em homenagem a

Mart inho Lutero e seu amigo Phil ipp Melanchton,

as duas irmãs do filme, Martina e Phillippa, são

completamente dualistas em sua cosmovisão.

Numa comunidade da costa da Dinamarca,

ambas lideram um pequeno grupo de idosos

protestantes fundado por seu falecido pai. Os

membros desse sombrio grupo levam vidas

de autonegação. Eles desconfiam dos

"prazeres do mundo" e temem se "alegrar

demais". Apesar de expressarem seu anseio

por sua "recompensa eterna" e parecerem

externamente piedosos, sua religião se tornou

um conjunto de ortodoxias e princípios

abstratos, em vez de uma fé vivenciada nas

atividades diárias. As duas irmãs lutam para

manter a unidade em meio a sua amargurada e

pequena membresia. Mart ina e Phil ippa, embora

comprometidas ao fiel serviço, negam-se

qualquer "satisfação terrena".

Porém Babette entra em suas vidas.

Quando essa refugiada da guerra na França

chega à sua porta e pede uma oportunidade

de trabalho, Martina e Philippa consentem.

Apesar de serem bondosas com Babette, as

irmãs a tratam com uma gentil

condescendência, sem considerar que ela

possa ter algo a ensiná-las, evitando assim

que Babette as sirva. Na realidade, Babette

havia sido uma famosa chefe de cozinha do

mais refinado restaurante de Paris - segredo

esse que ela guarda para si e humildemente

segue as instruções das irmãs no preparo de

suas insossas refeições. Finalmente, após

servir como sua empregada por muitos anos,

Babette recebe uma soma de dinheiro da

França e pede permissão para preparar uma

refeição francesa para os membros do grupo

em memória de seu fundador, pai das irmãs.

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A dicotomia sagrado-secular

167

corpo'?". Por anos, tentei responder essa pergunta de maneira direta, só para

ouvir no final a pergunta: "Mas, Darrow, qual é mais importante?". Finalmente,

raiou no meu entendimento a luz de que essa pergunta gnóstica demandava uma

resposta dualista. Para que as pessoas saiam desse paradigma dualista, a própria

suposição da pergunta precisa ser desafiada. Agora, toda vez que alguém me faz

essa pergunta, eu uso a oportunidade para trazer à luz o paradigma não-bíblico.

M inha resposta é: "Esta não é uma pergunta bíblica Ela é uma pergunta gnóstica ".

A Bíblia é holística. Ela traz uma mensagem integral: todo o conselho de

Deus para o todo de cada pessoa ("coração... alma... mente e... força", Marcos

12.30), para toda a humanidade ("todas as nações", Mateus 28.19), e para todo

o mundo ("para reconciliar para si mesmo todas as coisas", Colossenses 1.20).

Apesar de hesitarem em dar a permissão, as

irmãs consentem por reconhecerem que

Babet te jamais lhes hav ia ped ido co isa a lguma.

Carroças com ingredientes especiais

começam a chegar da França - uma tartaruga

e uma gaiola de codornas vivas, uma cabeça

de vaca, champanhes e vinhos caros, trufas

e caviar, sacolas cheias de frutas suntuosas

- e, quando os convidados começam a

perceber o escopo e a suntuosa natureza da

festa que Babette planeja preparar, eles se

unem determinados a não ser minados em sua

rígida distinção entre dever "celestial" e prazer

"mundano". Temendo ter sido "expostos a

forças perigosas e malignas", eles decidem

participar da refeição em respeito à Babette,

mas proclamam: "Usaremos nossas línguas

para a oração", e "será como se jamais

tenhamos tido o sentido do paladar". Contudo,

conforme as bandejas de ofertas, preparadas

com amor, emergem da cozinha e a refeição

continua, o início da transformação no grupo

fica aparente. Antigos conflitos parecem ser

esquecidos e há uma visível diferença no calor

e na unidade à medida que o grupo vai se

retirando. Um membro do grupo admite o que

os outros temem proferir: "Babette foi capaz

de transformar um jantar em um tipo de relação

amorosa - uma que não fez qualquer distinção

entre apetite corporal e apetite espiritual".

No fim, a extensão do sacrifício de

Babette é revelada: em vez de utilizar o

dinheiro para voltar para casa, ela abre mão

de sua carreira como uma renomada chefe

de cozinha para sempre, investindo sua

fortuna na refeição. As irmãs ficam chocadas

com seu amor e generosidade, mas Babette,

falando humildemente de sua vocação como

artista da cozinha, explica: "Fui capaz de fazê-

los feliz quando dei o melhor de mim".

Percebendo que o presente de Babette a eles,

fruto de seu profundo amor, representava

muito mais do caráter gracioso e generoso

de Deus do que o comportamento piedoso

externo do grupo religioso ou do que anos de

serviço realizado pelas irmãs, Philippa

proclama: "Esse não é o fim, Babette. No

Paraíso, você será a grande artista que Deus

queria que você fosse. Ah, e como os anjos

se alegrarão por sua causa".

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70 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

A HISTÓRIA DE MICHAEL BAER

O currículo de Michael Baer perpassa

pastorado, empreendedorismo, consultoria

empresarial e desenvolvimento de

microempresas no exterior. Conforme ele

explica em seu livro "Business as Mission:

The Power of Business in the Kingdom of

God" [Negócios como missões: O poder dos

negócios no reino de Deus], ele enxerga todo

o seu trabalho como parte de um chamado.

Após ser salvo por Cristo na época

de faculdade, passei os primeiros 14 anos

da vida adulta no ministério pastoral -

trabalhei com adolescentes, implantei duas

igrejas, servi uma terceira e fundei uma escola

de educação cristã. O Senhor abençoou meu

ministério e posso dizer verdadeiramente que

apreciei essas oportunidades e estava seguro

do meu chamado para elas. Entretanto, com o

passar do tempo, comecei a sentir Deus me

conduzindo a uma área diferente. Comecei a

desejar ministrar "de graça" e participar do

mundo dos negócios com as pessoas

perdidas. Em particular, eu queria fugir do

constante rebaixamento do evangelho que

ocorria quando as pessoas a quem eu

evangelizava criam que compartilhar o

evangelho nada mais era do que minha

profissão.

No início dos anos de 1980, comecei

a adentrar o mundo dos negócios estando

ainda no pastorado. Era como se eu estivesse

medindo a profundidade das águas e

procurando saber o que Deus queria que eu

fizesse. Finalmente, acabei deixando o

pastorado formal e passei os dez anos

seguintes no mundo dos negócios - fundando

diversas empresas (inclusive a empresa que

agora possuo) e liderando estratégias de

recuperação de empresas de outros. Deus

tinha prazer em me usar tanto no pastorado

quanto no mundo corporativo, e eu sou grato

a ele por isso. Choviam oportunidades de

comunicar o evangelho e encorajar os

crentes que eu encontrava pelo caminho. Foi

um tempo animador para mim: e era sempre

divertido compartilhar como Deus havia me

conduzido ao pastorado e, em seguida, ao

mundo dos negócios - duas partes da vida

aparentemente tão distintas.

Não obstante, enquanto eu sentia um

direcionamento de Deus para sair do

pastorado formal e entrar no mundo dos

negócios, também comecei a sentir que devia

haver mais na minha vida de negócios do que

ser somente uma testemunha de Cristo.

Comecei a orar e pedir a Deus que me

mostrasse como essas duas partes

aparentemente distintas da minha vida

poderiam se unir - 14 anos no ministério e 10

anos no mundo dos negócios. Seriam eles

capítulos separados ou, de fato, partes de

um todo maior, o "grande quadro" que Deus

havia guardado para mim?

As respostas às minhas perguntas

vieram no mais estranho dos lugares. Em

1993, fui convidado a viajar para uma área

mulçumana da antiga União Soviética para

desenvolver um programa de liderança e

gestão para estudantes de medicina.

Enquanto estava lá, tive uma experiência a

qual chamo de "eu nasci para isso". Finalmente

compreendi porque Deus havia me dado

treinamento no seminário e experiência pas-

toral bem como paixão e sucesso nos

negócios. Seu plano era unir ambos no

serviço a ele. Especificamente, ele desejava

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A dicotoma sagrado-secular

I 71

me usar por meio dos negócios para ministrar

àqueles que, de outra maneira, jamais seriam

alcançados. Com meu trabalho na área de

treinamento em negócios, oportunidades de

relacionamento e testemunho inimagináveis

se abriram. Deus começou a abençoar meu

trabalho de maneira poderosa. Durante os

próximos quatro anos, voltei à antiga União

Soviética anualmente com equipes de líderes

cristãos de negócios para realizar seminários

de gestão e compartilhar o evangelho com

aqueles que comparecessem.

Mesmo com a benção de Deus sobre

o trabalho voluntário, eu ainda sentia que o

quadro não estava completo. Então, em 1997,

fui procurado por missionários que

trabalhavam na mesma parte do mundo e

estavam em busca de um programa por meio

do qual cristãos empobrecidos pudessem

aprender a começar seus próprios negócios.

A ideia deles era que esses crentes

perseguidos pudessem escapar do

desemprego (mais de 90 por cento da

comunidade cristã em um dos países),

sustentar suas famílias, apoiar a igreja local

e, até mesmo, utilizar seus novos negócios

como base para a implantação de igrejas em

áreas remotas. Lançamos esse novo

programa em 1998 e hoje o trabalho que

surgiu a partir daquele encontro opera em

mais de 20 localidades ao redor do mundo,

ajudando as minorias cristãs perseguidas a

começar negócios e fornecer tração

econômica para seus movimentos nativos de

implantação de igrejas. Ao mesmo tempo,

deixei a empresa em que vinha trabalhando e

fundei uma nova consultoria empresarial - que

é a minha empresa atual - com o propósito de

fornecer empregos flexíveis a pessoas que

desejassem fazer parte de missões de

negócios no exterior e ainda permanecer

envolvidas com seus negócios em casa.

O resultado é que hoje uma forte

firma de consultoria com fins lucrativos e uma

agência internacional de desenvolvimento de

micronegócios está em operação.

Funcionários e associados, comprometidos

com Cristo e com os negócios do reino,

trabalham junto com centenas de voluntários

de outras empresas utilizando suas

competências empresariais e alinhando-as

aos ministérios de implantação de igrejas en-

tre os povos não alcançados.

Com tudo isso, vim a aprender que

não existem "partes" em minha vida. Minha

história pode apresentar diferentes capítulos,

mas são todos parte de um livro com uma

história unificada sendo escrita por Deus. Não

fico mais me perguntando por que Deus me

tirou do pastorado e me colocou no mundo

dos negócios. Não penso mais nisso como

sair do ministério. Em vez disso, comecei a

ver que, no reino de Deus, todas as coisas

são igualmente santificadas e unificadas nele.

Para os líderes de negócios cristãos, isso

leva ao que chamo de "a perfeita integração

entre negócios e missões". Para buscar essa

perfeita integração, devemos rejeitar o

pensamento antibíblico de que nossas vidas

podem ser dividas em compartimentos do tipo

sagrado e secular ou que o mundo dos

negócios e o ministério são, por definição,

atividades separadas. A Bíblia nos ensina a

abraçar a verdade de que todos os servos

de Cristo têm chamados elevados, santos e

igualmente agradáveis ao Senhor. Se Deus

nos chamou aos negócios, nosso objetivo é

descobrir por que e agir de acordo com esse

propósito. Conforme o fizermos, a criação de

Deus será abençoada e ele será glorificado.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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72 I VOCAÇÃO: EiCrel'a

.sua assinatu

a no unixvi 

sr,

FINS - MEIOS

O pensamento dualista nos encoraja a acreditar que podemos separar Os

fins dos meios, sendo que, na realidade, eles são inseparáveis. Os fins do trabalho

se referem ao propósito para o qual ele

se aplica. Os meios se referem à

metodologia usada para atingir os fins. Há uma quantidade de maneiras de se

relacionar fins e meios. Algumas pessoas são pragmáticas. Elas se concentram

nos fins. Bons fins justificam qualquer meio para alcançá-los. Se o resultado

for bom o bastante, você pode usar meios imorais, injustos e ilegais para alcançá-

lo. Em muitos países onde existe uma cultura de corrupção. os cristãos subornam

os oficiais para conseguir a aprovação ou equipamento para seus ministérios,

da mesma forma como os descrentes fazem. Outras pessoas só se preocupam

com o "profissionalismo". Elas se concentram no processo (os meios). Bons

meios é o que importa; os fins não são importantes. Essas pessoas querem

"fazer as coisas da forma certa". Elas podem até fazer "as coisas erradas da

forma certa". Isso acontece em companhias ou ministérios onde o foco é o

profissionalismo e o trabalho com qualidade. Isso é bom, mas para que fim essa

excelência é aplicada? Uma organização internacional de assistência pode

utilizar métodos de distribuição de ajuda que findam criando dependência e

maior pobreza. O que se esquece em ambas s abordagens é que os meios

tendem a moldar o fim.

A Bíblia demanda meios justos para alcançar fins justos e dignos de

nosso chamado. Como Francis Schaeffer gostava de dizer: "A obra de Deus

deve ser feita à maneira de Deus ". Porque vivemos no universo de Deus - um

universo moral -, processos e resultados morais devem cada vez mais definir

nossa vocação. Usando o ditado de Schaeffer, nós devemos fazer a obra de

Deus à maneira de Deus

A CRUZ - O MANDATO DA CRIAÇÃO

O pensamento dualista é o tipo de pensamento "isso ou aquilo". Dessa

forma, algumas pessoas limitam o poder da Cruz como sendo eficaz apenas

para salvar almas para a eternidade. Outros se concentram em nosso

mandato, dado por Deus, de desenvolver a Terra - um mandato que

estudaremos mais profundamente mais a frente neste livro. O equilíbrio

bíblico enfatiza que Jesus morreu para restaurar todas as coisas para si

mesmo. A Cruz restaura nosso propósito na Terra, como também nos garante

vida eterna, reunindo os dois debaixo do alcance integral de Deus.

De fato, em cada caso em que temos uma mente dividida - seja entre

a cruz e o mandato da criação. entre os fins e os meios, o indivíduo

e

a

comunidade, o coração e a mente, a alma e o corpo - precisamos retornar

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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A dicotoma sagrado-.secular

173

às Escrituras e à cruz de Cristo, e buscar a ajuda de Deus para reunir os

dois sob uma só esfera de sua criação e reinado: o todo-abrangente reino

de Deus.

DESLOCANDO A VERDADE

O dualismo não apenas polariza nossa compreensão de elementos como

o eterno e o temporal, o coração e a mente, como também afeta a totalidade de

nossa existência de uma outra forma importante. Ao restringir nossa fé cristã a

apenas uma parte de nossa existência e o espiritual a uma área encaixotada, a

mentalidade dualista deixa a maior parte de nossa vida e a realidade para serem

definidas por outras cosmovisões. Como discutimos no capítulo 1, a não ser que

tenhamos conscientemente renovado nossas mentes de acordo com a

cosmovisão das Escrituras - a cosmovisão objetiva e abrangente da realidade

como Deus a criou -, nossa visão da vida e trabalho é largamente determinada

pela cosmovisão de nossa cultura, e para muitos de nós, isso inclui elementos

do materialismo ateísta e do animismo. A seguir estão apenas algumas das

maneiras corno essas cosmovisões preenchem as lacunas abertas pela

mentalidade dualista dos crentes.

A NATUREZA DO UNIVERSO

A partir de uma visão bíblica, entendemos que o universo é parte da

criação. Vivemos na realidade estruturada pelo infinito Criador, onde o

universo é uma consequência da capacidade artística do Criador. Ao mesmo

tempo em que Deus se mantém fora da criação (transcendente), ele está

comprometido com ela (imanente). Parte do papel do homem, antes e depois

da Queda, é cuidar da criação corno mordomo de Deus - como alguém

incumbido de cuidar das posses do outro, nesse caso, da casa ou das

propriedades de Deus.

O entendimento bíblico do universo como criação contrasta com as

crenças que se levantam nas cosmovisões ateísta-materialista e animista. O

materialista tradicional tende a ver a natureza como que existindo para o homem

e não para Deus. Ela é vista como uma mina a ser explorada, uma floresta a

ser ceifada.

Em algumas formas de animismo, este mundo é na verdade maya - uma

ilusão. Em outras, o mundo natural não é importante porque está chegando ao

fim. Paradoxalmente, tanto para animistas quanto para neopagãos modernos

no Ocidente, o mundo natural é um deus a ser adorado. Cada um desses

pontos de vista criam atitudes muito diferentes sobre nossa vida e trabalho.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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74 1

VOCAÇÃO: Escreva .ma assinatura no universo

A ORIGEM DA HUMANIDADE

Ao criar

a humanidade. Deus não procurou um modelo fora de si. Em

vez disso, ele olhou para ele mesmo. As Escrituras revelam que fomos criados

à imagem de Deus. Nós estamos unidos com a criação - como uma de suas

criaturas. Porém, ao mesmo tempo, nos distinguimos da criação por apenas nós

sermos a imagem de Deus e termos sido feitos para ter domínio sobre o resto

da criação. Porque somos criados por Deus à sua imagem, cada vida humana

é e sempre será sagrada e significativa. Até mesmo a pessoa mais fraca e

destruída tem dignidade por carregar a imagem de Deus.

Esse entendimento da humanidade contraria as antropologias criadas

pelo materialismo e o animismo. No materialismo ateísta, o ser humano é

meramente um animal, um consumidor descontrolado de recursos escassos.

Essa mentalidade consumista floresce no Ocidente. Em contraste, os animistas

tendem a ver os seres humanos como espíritos que temporariamente habitam

corpos; a existência física no geral é passageira e portanto insignificante. Para

o animista, o mundo material não tem valor algum e não precisa se desenvolver.

Quando permitimos que nosso entendimento seja moldado por qualquer uma

dessas falsas visões, nossa vida e trabalho são arrancados da verdade fundacional

de que somos feitos à imagem de Deus.

O MUNDO CAÍDO E A CRUZ DE CRISTO

As Escrituras nos ensinam que, apesar de termos sido criados à imagem

de Deus, nós rejeitamos nosso Criador e o lugar planejado para nós em sua

criação, com trágicas consequências. Mesmo a vida humana tendo dignidade,

e cada indivíduo sendo importante, nós tamb ém som os rebeldes contra o Altíssimo

Rei Celestial, pecadores contra o santo Deus cujo próprio ser define tudo aquilo

que é bom. Como o profeta Isaías disse: "Todos nós andávamos desgarrados

como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho" (Isaías 53.6). O resultado

pode ser visto em palavras posteriores de Isaías, palavras como sofrimento,

enfermidades, pesares, julgamento e pecado. Nós escolhemos a mentira ao

invés da verdade, a injustiça ao invés da justiça. Nos desviamos do caminho

da inteireza e da integridade e assim prejudicamos a nós e ao restante da

criação no processo no qual somos incapazes de dar a volta por cima sozinhos.

A raiz do problema está dentro do homem; estamos, de fato, espiritualmente

mortos. Sem a intervenção de Deus, não temos esperança. Mas nós - e este

mundo caído - não somos um caso perdido. Toda a Bíblia é testemunha do fiel

trabalho de redenção de Deus, o qual culminou na vida, morte e ressurreição

de Jesus Cristo. Em Cristo, Deus está nos reconciliando, assim como todas

as coisas, a ele.

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A dicotomia sagrado-secular

1 75

O princípio bíblico do mundo caído e da necessidade da cruz de Cristo

contrastam com o materialismo ateísta, que não apresenta nenhuma estrutura

moral e, no entanto, argumenta, de forma irracional, que o homem é bom. Assim,

por que esses problemas se encontram em nosso mundo? Por que existe

sofrimento e discórdia? Nessa visão, a raiz de todos os problemas não está

dentro do homem, mas fora dele, no ambiente em que vive. As instituições

corruptas são o problema. Se as estruturas melhorassem, a bondade natural do

homem floresceria. De acordo com o materialismo, não existe Queda, logo não

há necessidade de salvação. Por meio da educação, o homem e sua cultura são

susceptíveis de perfeição.

Os eventos dos últimos cem anos - as duas guerras mundiais, os genocídios

em Camboja e Ruanda, a limpeza étnica nos Balcãs nos anos 1990, a fome

planejada na Ucrânia na década de 1930, a desumanidade de Mao e Stalin, o

apartheid na África do Sul, e o assassinato deliberado de centenas de milhões

de bebês por meio do aborto - todos negam a visão utópica do materialismo.

Por outro lado, a normalidade da maldade e o capricho dos deuses no

animismo geram culturas onde o fatalismo, a corrupção, a desesperança e o

desespero florescem. Você não pode combater o mal; pode apenas torcer para

satisfazer os deuses e evitar os desastres. Secas, inundações, doenças e fome

são normais. A vida, na melhor das hipóteses, se resume a sobreviver a esses

males.

O pessimismo do animismo contraria vividamente as visões utópicas do

materialismo secular. O p aradigma bíblico p roclama um a po sição radical diferente

de ambos. A Queda é real, mas, à luz da cruz de Cristo, devemos lutar contra

ela. Em suma, devemos ser idealistas realistas, não idealistas românticos (corno

no materialismo) ou realistas cínicos (como no animismo).

LIBERDADE HUMANA

Como cristãos, nossa vida e trabalho são moldados pela dança entre

nossa dependência e independência, entre o agir de Deus e o nosso agir. A

Bíblia apresenta uma tensão entre duas verdades. Primeiro, Deus é

transcendente; nós somos criaturas. Deus não depende da criação, mas tanto

nós como toda a criação somos dependentes de Deus. Ao mesmo tempo, a

humanidade se distingue do resto da criação. Corno imagens de Deus, somos

agentes morais livres com a responsabilidade de cuidar do resto da criação e a

habilidade de tomar decisões que afetam a história. Nesse sentido, nós somos

independentes.

Abordando a tensão por outro ângulo, as Escrituras testemunham que

Deus é soberano sobre toda a criação, incluindo nossas vidas individuais, e, ao

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76 OCAÇÃO: Es

crera Avo u.s.vinatura no universo

mesmo tempo. é nosso Pai. Sua soberania fala de seu poder supremo e de sua

autoridade absoluta. Em sua paternidade, ele tem poder e autoridade, mas

também mostra sua terna misericórdia, seu amor, sua orientação paterna. sua

disciplina e seu desejo de se relacionar. Esse entendimento da natureza de

Deus nos ajuda a entender melhor a natureza de nossa liberdade.

Nossa cultura nos contará apenas parte da história, ou nada a respeito

dela. O materialismo vê o universo de forma mecânica, considerando a

uniformidade das causas naturais em um sistema fechado. Nessa cosmovisão,

nós somos autônomos (não há Deus) e autoconfiantes. Isso nos leva a duas

abordagens da vida e do trabalho que não estão em sincronia com a realidade.

Por um lado, já que somos autoconfiantes, tudo depende de nós. Se algo vai

acontecer, devemos realizá-lo com nossa própria força e intelecto. A suposição

é de que somos capazes de cuidar de nossas vidas e do mundo, de vencer

qualquer obstáculo que impeça o aperfeiçoamento da sociedade humana e do

ambiente. Ao mesmo tempo. tendo total autonomia e sem que haja uma

autoridade superior e uma lei moral fluindo do Criador moral, não temos que

responder pelo que fazemos ou deixamos de fazer. Nesse sentido, o pensamento

materialista-ateísta conduz a uma visão na qual a humanidade é autônoma e

poderosa, mas livre da prestação de contas. Por outro lado, já que ele requer

um universo fechado governado por causas naturais, o materialismo também

nos leva finalmente a conclusão de que nossas ações e vontades são

insignificantes e fúteis. No fim, somos apenas mais um animal, outra parte da

natureza governada unicamente pelos genes, substâncias químicas e forças

externas, sem uma liberdade real.

Apesar de começar por um ponto diferente do materialismo ateísta, o

animismo, como já vimos, conduz ao fatalismo. A função moral é retirada das

pessoas

e

entregue ao destino e a unia pletora de espíritos que são

frequentemente caprichosos. Portanto, não apenas não há um Deus soberano

trabalhando em prol de um fim consistente e bom, como também as pessoas

não têm poder algum. Isso significa que nunca poderá haver um real significado

em qualquer nível de trabalho.

Enquanto cristãos, acreditamos na soberania de Deus e na liberdade

humana. É como criaturas singulares na criação de Deus - tanto dependentes

quanto independentes - que encontramos o propósito de nossa vida e trabalho:

somos chamados a servir como embaixadores da reconciliação de Deus em

todos os relacionamentos humanos e naturais desfeitos pela Queda, e Deus nos

capacitou e espera que tomemos decisões santificadas dentro da estrutura dos

princípios que governam sua criação.

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A

dicolomia sagrado-Acculdr 1 77

A GRANDE SEPARAÇÃO

Nós tocamos em

um punhado de ensinos bíblicos sobre a natureza de

Deus, o universo e a humanidade para explorar este enigma: como cristãos, nós

concordamos com verdades bíblicas fundamentais, porém muitos de nós

experimentamos uma grande separação entre esse conhecimento e a vida que

vivemos no mundo na maior parte do tempo.

Imagine o cérebro de um dualista. Em vez de um cérebro dividido nos

científicos hemisférios direito e esquerdo e em diferentes lobos, imagine um

cérebro dividido em 90% e 10%. Nossa concordância com as verdades

fundamentais sobre a realidade está contida no lobo de 10%, e as vias nervosas

para o resto de nosso corpo estão em grande parte cortadas. Sua transmissão

não é confiável, apenas quando provocada por certos exemplos aprendidos,

talvez nas manhãs de domingo quando nossa mente é desafiada ou com certos

amigos a quem prestamos conta. Não desenvolvemos as vias que fazem as

conexões com nossas ações, vida e trabalho. Em vez disso, as ideias contrárias

à Bíblia que preenchem o lobo de 9 0% enviam impulsos livremente, determinando

o que dizemos e fazemos, assumindo o comando sobre quase tudo.

Como os impulsos neurológicos em nosso corpo, nós não pensamos

conscientemente sobre essas coisas na maior parte do tempo. Mas aqui estamos

nós com uma mente dividida, criada por nossa cultura não examinada. Nós

vemos a realidade como uma série de dicotomias preto no branco - alma e

corpo, clero e leigo, eterno e temporal; vemos a realidade falsamente dividida

entre o espiritual e o material, o sagrado e o secular.

Esse estado mental nos cega para a verdadeira natureza da realidade,

uma realidade que Jesus expressa como o reino de Deus. No próximo capítulo,

ouviremos o próprio Jesus nos contar sobre seu reino enquanto buscamos ir

além do falso paradigma para a realidade que Deus nos criou para vivermos

nela.

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Capítulo 4

UM SENHOR, UM REINO:

UMA PARÁBOLA

Quando vemos a realidade a partir de uma cosmovisão bíblica, en-

tendemos que existe um Deus e um mundo.

TEÍSMO BÍBLICO

No entanto, os cristãos da contemporaneidade não estão sozinhos entre

os seguidores de Cristo em sua cegueira em relação à verdadeira natureza da

realidade criada por Deus para vivermos. Como ficou bastante claro ao

estudarmos o dualismo na história da igreja, as gerações passadas confundiram

a natureza do reino de Deus e subestimaram o escopo de Sua obra no mundo.

Como meus coautores e eu escrevemos em nosso livro God's Unshakable King-

dom

[O Reino Inabalável de Deus],

O conceito do reino de D eus é um dos mais difíceis, controversos e

mal compreendidos da Bíblia. Algumas pessoas promoveram violentas

revoluções em nome do estabelecimento do reino de Deus na Terra. Alguns

defendem elaborados esquemas de engenharia social e re-distribuição de

riquezas pelo avanço do reino de Deus. Muitos cristãos simplesmente

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80 I

VOCAÇÃO:

Escreva

1(1 (1.1,1i Mil IV

no nnilcrso

ignoram o conceito, associando-o a .seitas cristãs heréticas. Outros pensam

no reino de Deus como o céu ou .simplesmente esperam pelo retorno de

Cristo, mas não fica clara a nature:a ou relevância disso para suas vidas

no presente; tendo dificuldades em explicar O conceito para pessoas que

não .são cristãs.

Ainda assim, é 10111à10

indisculird

que o

reino de Deus .seja o tema

central dos ensinamentos de Jesus. A ,frase "reino de Deus" ou "reino dos

Céus" aparece noventa e oito veces no Novo Testamento ... Que ideia era

essa que queimara de maneira tão forte no coração de Jesus.' O que será

que ele estava tentando nos

  ensinar.'

Nossa dificuldade, hoje em dia, ao tentar compreender a mensagem do

reino não é diferente da dificuldade enfrentada por aqueles que cami-nhavam

lado a lado com Jesus 2000 anos atrás. Mesmo aqueles que estavam mais

próximos de Cristo tinham dificuldades de entender o que ele

dizia repetidas

vezes sobre si mesmo e sobre o seu reino. Após três anos com ele, seus discípulos

ainda tinham dúvidas ao acompanharem-no em sua última viagem a Jerusalém.

Embarquemos com eles na viagem, ouvindo-os enquanto Jesus tenta corrigir a

compreensão incorreta de seus próprios discípulos em relação ao reino de Deus.

O REINO É CHEGADO

Em sua última viagem a Jerusalém. Jesus e os doze viajaram em

companhia de um grupo maior de seguidores, pessoas que os haviam seguido

desde a Galiléia. As estradas estavam movimentadas, já que todos os judeus

fiéis que podiam estavam a caminho de Jerusalém para celebrar a Páscoa.

Apesar da difícil viagem, eles estavam felizes na expectativa de celebrar, no

grande templo, esse momento tão especial, apreciar as belezas da cidade e

reencontrar pessoas que não viam a tempos.

Além disso, para muitos essa não era uma peregrinação de Páscoa comum;

havia um elemento adicional de animação - e tensão. Pelo menos alguns na

multidão criam finalmente estar prestes a ver o dia em que o Messias se faria

conhecido em toda a sua glória, derrotando o Império Romano que os ocupava,

destituindo governadores injustos e estabelecendo o perfeito reinado de Deus

sobre a Terra. O povo de Deus seria finalmente liberto e Sião manifestaria sua

glória escriturai. E muitos que andavam com Jesus tinham certeza de que ele

era o Messias a tanto esperado e enviado do céu - o seu novo rei

A tensão era sentida fortemente pelos que estavam mais próximos a

Jesus. Eles haviam ouvido as ameaças contra ele e visto a raiva que ele podia

gerar, particularmente na elite governante. Mesmo desconsiderando isso. eles

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Um Senhor um reino 1 81

sabiam que os romanos - temerosos em relação aos insurgentes judeus - estariam

de prontidão com uma segurança reforçada no momento da entrada das

multidões em Jerusalém. Esperava-se que os romanos respondessem de maneira

muito áspera a tudo e a todos que parecessem ameaçar a ordem pública.

Paralelamente, os 12 discípulos não deixaram de ser afetados pela animação

messiânica, especialmente porque sabiam que Jesus era cheio de poder divino

e haviam ouvido sua pregação de que era "chegado" o reino de Deus.

A PARÁBOLA DOS TALENTOS

Em uma de suas últimas paradas durante a viagem, Jesus tentou mais

uma vez esclarecer, para os discípulos e para a multidão que o cercava, o tipo

de experiência da qual ele falava. Ao parar na casa de Zaqueu, um coletor de

impostos e

colaborador romano, Jesus reiterou seu propósito ao vir à Terra:

"Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido" (Lucas

19.10). Então, outra vez mais, contou-lhes uma parábola. Ao relatar essa

parábola, Lucas, escritor de um dos evangelhos, destaca o fato de Jesus desafiar

o conceito errôneo sobre a vinda do reino: "Ouvindo eles isso, prosseguiu Jesus,

e

contou uma parábola, visto estar ele perto de Jerusalém, e pensarem eles que

o reino de Deus se havia de manifestar imediatamente" (v. 11). Com essas

palavras, Lucas revela que as pessoas que esperavam a vinda do Messias

judaico tinham um paradigma falho - assim como muitos de nós ainda temos. É

por essa razão que Jesus contou a parábola dos talentos:

Certo homem nobre partiu para uma terra longínqua, a fim de

tomar posse de um reino e depois voltar. E chamando dez servos seus, deu-

lhes dez minas, e disse-lhes: Negociai até que eu venha.

Mas os seus concidadãos odiavam-no, e enviaram após ele uma

embaixada, dizendo: Não queremos que este homem reine sobre nós.

E sucedeu que, ao voltar ele, depois de ter tomado posse do reino,

mandou chamar aqueles servos a quem entregara o dinheiro, a fim de

saber como cada um havia negociado.

Apresentou-se, pois, o primeiro, e disse: Senhor, a tua mina rendeu

dez minas. Respondeu-lhe o senhor: Bem está, servo bom Porque no mínimo

foste fiel, sobre dez cidades terás autoridade.

Veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco minas.

A este também respondeu: S ê tu também sobre cinco cidades.

E veio outro, dizendo: Senhor, eis aqui a tua mina, que guardei

num lenço; pois tinha medo de ti, porque és homem severo; tomas o que

não puseste, e ceifas o que não semeaste.

Disse-lhe o Senhor: Servo mau Pela tua boca te julgarei; sabias

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82

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

que eu sou homem severo, que tomo O que não puis, e ceifo o que não

semeei; por que, pois, não puseste o meu dinheiro no banco? Então vindo

eu, o teria retirado com os juros.

E disse aos que estavam ali: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que tem as

dez minas. Responderam-lhe eles: Senhor, ele tem dez minas.

Pois eu vos digo que a todo o que tem, dar-se-lhe-á: mas ao que não

tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado. Quanto, porém, àqueles meus

inimigos

 

que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e

matai-os diante de mim. ( Lucas 19.12-27)

CONCEITOS ERRÔNEOS SOBRE O

REINO

Jesus contou essa história para corrigir o entendimento falho de seus

seguidores acerca de que tipo de reino havia chegado e de que papéis ele, o

Rei, e eles, seus servos, haviam de desempenhar. Anteriormente, du-rante a

viagem, ao se aproximarem da antiga cidade de Jericó, Jesus falou sobre sua

morte a seus discípulos pela terceira vez'. Mas, como Lucas acres-tenta, "(...)

eles não entenderam nada disso" (Lucas 18.34). O entendimento dos discípulos

estava bloqueado por diversos conceitos equivocados.

Em primeiro lugar, eles criam que, quando o Cristo entrasse em Jerusalém,

ele se tornaria rei e estabeleceria um reino político. O reino, pensavam eles,

seria presente e físico. Eles tinham em mente o poder e a autoridade terrenos e

queriam "um pouco de ação", como vemos em Marcos 10.35-44. E pensavam

que isso aconteceria se eles simplesmente pedissem.

Em segundo lugar, considerando o contexto da passagem e a palavra

imediatamente, em Lucas 19.11, fica claro que os discípulos pen-savam que

nada precisavam fazer além de esperar pelo reino. Jesus logo o estabeleceria;

tudo o que haviam de fazer era esperar.

Mesmo o tempo passando sem a Segunda Vinda, ou o Dia do Senhor,

aguardados pelos que ouviram Jesus, cristãos, durante toda a história da igreja,

têm sido imobilizados por essa "teologia da espera". Ela é expressada, por

exemplo, por pensamentos do tipo: "Fui salvo; agora é só esperar a volta de

Cristo ". Infelizmente isso abrange apenas os elementos da justificação e da

glorificação incluídos na salvação. Para muitas pessoas na igreja, é como se o

elemento da santificação do cristão não existisse. Eles agem como se tivessem

sido salvos apenas para o céu, dando pouca atenção a servir a Cristo e ter um

papel a desempenhar aqui e agora no avanço do reino na Terra.

Duas tendências teológicas falsas têm se desenvolvido entre os cris-tãos

que encorajam a passividade. A primeira é o fatalismo, não muito dife-rente do

tipo encontrado entre os animistas. Tudo o que acontece na vida é vontade de

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Um Senhor, um reino

183

Deus, creem eles. Morte fora de hora? Doença ou perda de capa-cidade física?

Essas pessoas creem que é a vontade de Deus. Diante da po-breza, fome e

injustiça, muitos acreditam ou agem como se não "houvesse nada que pudesse

ser feito ". Muitos usam o adágio "Sempre teremos pobres entre nós"' para

escapar do seu chamado à ação. Quando dizem que a fome mundial é inevitável,

negligenciam Aquele que alimentou cinco mil pessoas e venceu a morte.

A segunda tendência que alimenta a passividade na igreja é o insidioso

dualismo no pensamento cristão que já traçamos desde seu antigo começo.

Com o tempo, esse pensamento nos levou a ver uma dicotomia entre a realidade

física e espiritual, com a última sendo o que realmente importa. Na realidade,

quando os cristãos se ocupam apenas de preocupações definidas como

"espirituais", eles estão inconscientemente negando a importância e a realidade

do ensino de Cristo sobre o mundo e a vida presentes, sua ressurreição física e

muitos outros de seus ensinamentos e milagres. Jesus curou os doentes e

alimentou os famintos. Em vez de seguir Jesus, os cristãos, influenciados pelo

gnosticismo evangélico, geralmente se tornam muito passivos. O pensamento

dualista os impede de pôr sua fé em prática no dia a dia, tornando-a particular

e ineficiente, como se nada tivesse a oferecer a este mundo, nem tivesse qualquer

poder ou relevância no presente.

UMA TEOLOGIA DE AÇÃO

Em contraste a isso, nosso Senhor, prestes a passar pela cruz e agin-do

decisivamente na história para reverter os resultados da Queda, contou uma

parábola que vincula os dois aspectos da realidade e é claramente contrária à

teologia da espera. Ela descreve o presente e o futuro do reino como um só,

uma vida contínua, com um importante trabalho a ser feito pelos trabalhadores

do mestre. Essa parábola incluí o aspecto "ainda não chegado" do reino, o

tempo em que o mestre estaria fora antes de voltar para receber seu reino; mas

também apresenta uma teologia de ação e avanço no presente - no tempo de

espera por sua volta.

Perceba o papel ativo de Cristo na parábola. Cristo, "o nobre", sai "para

urna terra distante para receber um reino e depois voltar" (Lucas 19.12). Note

também o papel ativo dos discípulos, retratados como servos (ou escravos), na

parábola. "E chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas, e disse-lhes:

'Negociai até que eu venha.-

(Lucas 19.13).

As dez minas representam a porção de "capital"' que Cristo investe na

vida de cada crente. Além dos talentos, habilidades, interesses e temperamento

naturais do indivíduo, Cristo presenteia os crentes com seu Espírito e dons

espirituais (1 Co 12), e

"todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais"

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84 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

(Efésios 1.3). Esses dons não são dados para ser desperdiçados ou usados

para inflar nossos próprios egos. Eles são dados corno recursos a serem investidos

e utilizados na expansão de seu reino.

Após entregar o "capital", Cristo deu um comando: no grego, o comando

é pragmateuomai, que significa "negociar", "fazer negócios" ou "ocupar". Essa

é a única vez em que essa palavra é utilizada no Novo Testamento. A palavra

pragmático deriva dessa palavra grega. Podemos ver a natureza pragmática da

palavra refletida em muitas traduções: "fazer negócios", "colocar esse dinheiro

para render", "negociar com esse dinheiro", "fazer negócios com esse dinheiro"

e "comprar e vender com esse dinheiro". A tarefa dada por Cristo a seus discípulos

é muito simples: utilizar pragmaticamente o capital natural e espiritual que ele

nos deu para engajar nossas culturas e o mundo para Cristo e seu reino. Ele

capitalizou cada um de nós para fazer uma contribuição singular ao avanço

atual de seu reino. Nosso chamado é sermos criativos, práticos, diligentes,

enérgicos, ativos e zelosos com o "capital" que ele nos deu.

A

CONTRIBUIÇÃO ÚNICA

Além de relatar nosso chamado e tarefa básicos como crentes, a parábola

dos talentos serve como um lembrete de outra verdade sobre o reino de Deus.

A versão da Bíblia King James em inglês traduz a palavra pragmateuomai

como "ocupar", de maneira que o comando de Cristo, em Lucas 19.13, significa

"ocupem até que eu volte". Nos dias de hoje, a palavra ocupar tem certo tom

militar, mas não militarista, o que acertadamente coloca o comando de Cristo e

nossa tarefa em meio a um conflito espiritual histórico. Realmente há um conflito

cósmico acontecendo. A expansão do reino de Deus se cumpre em meio à

antiga guerra espiritual contra o reino das trevas.

Entretanto, essa guerra espiritual se manifesta aqui na Terra de maneiras

altamente tangíveis e tem consequências tanto para os indivíduos quanto para

as culturas. O inimigo tomou a Terra, mas seu reino é temporário. O Rei já veio

e derrotou o inimigo e logo voltará. Ele já enviou suas tropas, a igreja, adiante

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Uni Senhor um reino 1 85

de si, para tomar espaço e avançar no território inimigo e, em seguida, ocupar a

recém-conquistada terra para o seu retorno. Batalhas estão acontecendo em

muitas frentes. Há a batalha pela verdade, outra pela santidade na vida, outra

pela justiça, outra contra a fome, outra contra a pobreza, outra contra a ignorância.

Os servos do Rei devem ocupar-se - usando seus dons, talentos, habilidades

naturais e dons espirituais - em lutar contra as forças do mal e "ocupar" o

território inimigo. Dessa maneira, a noção de ocupar tem para nós um sentido

duplo de servir a Deus ativamente ("estar ocupado" com os negócios de Deus)

em meio ao conflito espiritual (no qual devemos "ocupar" o território). Essa é a

tarefa unificada que o nosso Senhor colocou diante de nós.

Em suma, pertencemos e servimos a um Senhor e participamos de um

reino, desde agora e para sempre. A propriedade do senhor na parábola não é

menos dele por estar distante, muito menos está ele entregando qualquer porção

de sua propriedade por considerá-la irrelevante ou menos valiosa. Além disso,

o trabalho atual de seus servos é tão importante para ele e para o seu propósito

final quanto sua celebração e serviço a ele em seu retorno.

Assim como ele fez com seus discípulos, Jesus quer abrir seus olhos

para a magnitude da vinda do reino de Deus, que engloba todos os aspectos de

nossa vida e trabalho. Como veremos, ele nos chama a um novo modo de vida

- de forma plena em sua presença.

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Capítulo 5

CORAM DEO :

DIANTE DA FACE DE DEUS

A parábola dos dez talentos nos ensina que cada cristão é chamado a

desempenhar um papel importante na manifestação do Reino de Deus na Terra.

Em contraste com o paradigma dualista ou gnóstico, as Escrituras revelam uma

visão integrada e holística do Reino o qual somos chamados a avançar. Deus é

o Senhor de toda a vida, e não apenas de parte dela. Ele é o Senhor da fé, das

missões e da implantação de igrejas, mas é também o Senhor dos negócios, da

ciência e das artes. Deus é o Senhor de tudo.

CORAM

DEO

PERANTE A FACE DE DEUS

DEUS

TICA

CIENCIA

AZÃO

NEGÓCIOS POLÍTICA

VIDA

EOLOGIA

DEVOCIONAL

EVANGELISMO

ARTE/MÚSICA SERVIÇO

MISSÕES COMUNITÁRIO

ALIMENTO EVANGELHO

JUSTIÇA NATUREZA

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88 I VOCAÇÃO: Es crera sua assinatura no

(MU( 'rs'a

CRIADOR, REDENTOR, SUSTENTADOR

O senhorio abrangente de Deus é verdadeiro em três níveis.

Primeiro, Deus é o Criador do mundo e de tudo o que nele há. O livro de

Gênesis revela que a arte de Deus era boa e bela, em harmonia com Deus e

consigo mesma. O mundo físico, assim como o mundo espiritual, é sagrado.

Tudo é criação de Deus.

Segundo, Deus sustenta toda sua criação hoje. Vemos isso em Colossenses

1.17: "Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por

ele",

e em

Hebreus 1.3: "O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da

sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder".

Terceiro, em Cristo, Deus trabalha redimindo toda a sua criação. O

apóstolo Paulo escreve: "Porque foi do agrado do Pai que toda plenitude nele

habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio

dele reconcilias-se consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra

como as que estão no céu" (Cl 1.19-20). Deus continuará seu trabalho de

reconciliação por meio de Cristo até que Este retorne no fim dos tempos'.

Por essas três razões, o paradigma gnóstico é na realidade falso. Não existe

dicotomia na mente de Deus. Ele criou, sustenta e está redimindo um só mundo,

não dois, e os cristãos, da mesma maneira, são chamados a viver em um só mundo.

VIVENDO CORAM DEO

Nossos antepassados na fé usaram a frase em latim coram Deo para

descrever esse estilo de vida. A palavra coram é derivada do latim cora, que

significa "a pupila do olho". É traduzida como "em pessoa", "face a face", "na

presença de alguém", "diante dos olhos", "na presença de", "diante de"

2 . A segunda

palavra, Deo, é a palavra latina para Deus. A ideia chave na frase é de um

relacionamento pessoal e íntimo. Nesse caso, Deus me conhece intimamente.

Nada está oculto. E eu estou conscientemente procurando viver toda a minha

vida na presença de Deus - "diante da face de Deus". Alguns têm usado o

conceito de "plateia de um só espectador" para descrever esse estilo de vida.

CHAMADOS PARA VIVER

CORAM DEO

ESTE

E O NOSSO CHAMADO:

VIVEREMOS TODA A NOSSA VIDA

NA PRESENÇA DE DEUS.

SOB A AUTORIDADE DE DEUS.

PARA A HONRA E A GLORIA DE DEUS.

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Coram Den

1 89

Na Europa, a Reforma Protestante do século XVI reacendeu essa

compreensão bíblica, como vimos anteriormente ao traçarmos a história do

dualismo na Igreja (Capítulo 2). Mais tarde, o pastor puritano Cotton Mather

(1663-1728) colocou a questão desta maneira: "Que todo cristão ande com

Deus enquanto trabalha em seu chamado, e atue em sua profissão com os

olhos em Deus, trabalhando sob os olhos de Deus"3 . Até o grande poeta inglês

John Milton (1608-1674) captou o sentido de viver sob o olhar do Empregador

celestial:

Tudo está, se eu tiver graça para assim usai;

Como sempre sob Os olhos do meu grande Mestre.'

Leland Ryken interpreta essas duas linhas do sétimo soneto de Milton

corno: "Tudo o que importa é que eu tenha graça para usar meu tempo, já que

vivo sempre na presença do meu grande Mestre"

5

.

FEITO PARA A PRESENÇA DE DEUS

O que esses cristãos que viveram antes de nós reconheceram foi que os

humanos foram feitos para andar na presença de Deus. De Gênesis a Apocalipse,

Deus se revela como um "Deus Infinito e Pessoal", usando o termo de Francis

Schaeffer. Em Gênesis 1.26, Deus revela que não só é o Deus Pessoal, como

também o Deus da comunhão. "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a

nossa semelhança". Antes da criação do mundo havia a intimidade da comunhão

e da comunicação entre as Pessoas da Trindade - o Único e Múltiplo Deus.

Deus fez o homem a sua imagem para que ele pudesse ter relacionamento

com os de sua própria raça (outros humanos) e também comunhão com o seu

Criador. A intimidade planejada por Deus é encontrada em Gênesis 3.8-9: "E

ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e

escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores

do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão e disse-lhe: Onde estás?".

Esse mesmo senso de comunhão é encontrado na peregrinação no deserto

quando Deus instrui Moisés a construir uma tenda para ele para que sua presença

divina transcendente pudesse habitar no meio do acampamento hebreu. Os

hebreus viviam em tendas, e Deus desejou tanto identificar-se com seu povo

que quis um "tabernáculo" - viver em uma tenda - assim como eles. "E me

farão um santuário, e habitarei no meio deles. Conforme a tudo que eu te mostrar

para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus vasos, assim mesmo

o fareis" (Êxodo 25:8-9).

Talvez a demonstração mais extraordinária da intenção de Deus de fazer

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90 1

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura na univers'a

com que os seres humanos habitem em Sua presença seja que ele escolheu

entrar na história como um bebê vulnerável. A Encarnação marca o ponto alto

da comunhão de Deus com o homem, pois nela o Filho de Deus se fez Ho-

mem, Jesus Cristo. A Tradução Literal de Young da Bíblia sintetiza a emoção

da intimidade da Encarnação em João 1.14: "E o Verbo se fez carne, e fez

tabernáculo entre nós, e vimos a sua glória, glória como do unigênito de um pai,

cheio de graça e de verdade" '̀.

A palavra grega usada para "tabernáculo", em Êxodo 25.8-9 na

Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento), skenoo, é a mesma

palavra usada em João 1.14. Significa "fixar o tabernáculo de alguém; ter o

tabernáculo de alguém; morar (ou viver) em um tabernáculo (ou tenda);

tabernáculo" ou "habitar". Essa é uma imagem poderosa do desejo e das intenções

de Deus de que habitetnos em sua presença, "perante a face de Deus".

Deus continua a tomar a iniciativa e a se oferecer para restabelecer a

intimidade conosco por meio de seu Filho, Jesus Cristo. O apóstolo Paulo

escreve: "A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no

entendimento pelas vossas obras más, agora, contudo vos reconciliou no corpo

da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e

irrepreensíveis, e inculpáveis. E não vos moverdes da esperança do evangelho"

(Cl 1.21-23).

Na redenção, assim como na criação, descobrimos que Deus deseja que

seu povo habite em sua presença.

O TRABALHO COMO ADORAÇÃO

Um dos principais pontos da Reforma foi a justificação pela fé, e o fato

de que devemos viver pela fé, perante a face de Deus.

O apóstolo Paulõ escreve claramente sobre a nossa justificação pela fé

em Efésios 2.8-9: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem

de vós, é dom de Deus, não por obras, para que ninguém se glorie". Quando nos

aproxima-mos de Deus, chegamos em fé - de mãos vazias. Boas obras não nos

salvarão. Estamos diretamente diante de Deus somente por sua graça, mediante

a fé no único mediador, Jesus Cristo'.

Assim córno na salvação estamos diante de Deus pela fé, as Escrituras

dizem que temos que 'viver diariamente perante Deus pela fé. Uma vez mortos,

estamos agora vivos em Cristo. Paulo escreve sobre isso em suas cartas; talvez

em nenhum outro lugar de forma tão clara como em Gálatas: "Já estou

crucificado com Cristo e eu já não vivo, mas Cristo vive em mim. A vida que

agora vivo na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou

por mim" (2.20). Verdadeiramente os "que recebem a abundância da graça, e

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Coram Deo

1 91

do dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo" (Rm 5.17).

Para os cristãos que entendem que somos salvos pela graça por meio da

fé, todo o conceito de trabalho foi transformado no de adoração. Paulo falou

para os crentes romanos: "Rogo-vos pois, irmãos [e irmãs], pela compaixão

de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável

a Deus, que é o vosso culto racional" (Romanos 12.1; grifo meu).

O historiador e crítico social escocês Thomas C arlyle (1795-1 881 ) capturou

a maravilha do que nossos antepassados entenderam:

Laborare est Orare, Trabalhar é Adorar... Todo trabalho verdadeiro

é sagrado; em todo verdadeiro trabalho, ainda que seja ele um trabalho

manual, existe algo divino... Nenhum homem tem trabalho, ou pode

trabalhar, senão religiosamente; nem mesmo o diarista pobre, o tecelão

de seu casaco, o costureiro de seus sapatos.'

Em 1520 Martino Lutero publicou uma obra curta chamada de

O

Cativeiro Babilônico da Igreja. À

medida que esse folheto começou a circu-

lar em toda a Europa, um ardente movimento foi gerado, transformando os

pensamentos de culturas inteiras sobre a vida e o trabalho. Conta-se uma história

anônima sobre dois padres que leram o panfleto quando este chegou à Holanda.

O texto a seguir é parte do que leram e que tanto mudou sua forma de pensar:

Os trabalhos dos monges e padres, por mais santo e árduo que

sejam, não diferem em nada, aos olhos de Deus, do que faz o trabalhador

braçal no campo ou da mulher que cuida das tarefas de sua casa, mas

todas as obras são medidas perante Deus somente com base na fé. Na

verdade, o trabalho doméstico de um servo ou serva é muitas vezes mais

agradável a Deus do que todos os jejuns e outras obras de um monge ou

padre, porque ao monge ou sacerdote falta a fé."'

Esse folheto desafiou os dois padres sobre a natureza da salvação, a

natureza da igreja e a natureza do trabalho. Até aquele momento, a igreja esteve

aberta para a paróquia sete dias por semana. Depois de lerem o panfleto,

anunciaram que as portas da igreja seriam abertas aos domingos, mas fechadas

no resto da semana.

Foi uma mudança chocante. Em que eles estariam pensando? Por meio

dos escritos de Lutero, os padres chegaram à conclusão de que o trabalho que

seus paroquianos faziam durante seis dias por semana não era menos sagrado

que o trabalho que eles mesmos faziam, isto é, se cada um tivesse trabalhado

com fé. Eles entenderam que as pessoas não precisavam visitar a igreja

diariamente para realizar seus serviços "espirituais" ou acrescentar medidas de

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92 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

santidade a seus dias. Ambos o clérigo e o "leigo" deveriam viver cada dia da

semana, cada hora do dia e em tudo que fizessem, coram Deo, diante da face

de Deus. Tanto aqueles que trabalhavam na igreja da comunidade quanto os

que trabalhavam nos campos, casas e

lojas tinham o potencial de prestar culto

a Deus com seu trabalho. Não era a natureza do trabalho em si, mas a fé com

a qual ele era realizado que importava.

SOLI DEO GLORIA

Não menos agora que no século XVI, seja qual for nossa profissão.

somos chamados a viver 24 horas por dia, sete dias por semana, perante a face

A HISTÓRIA DE ANA SANTOS

Ana Santos é uma estudante

brasileira de Direito que está buscando

formação em Direito Internacional com o in-

tuito de ajudar a promover a justiça junto a

mulheres e crianças ao redor do mundo. Ela

escreveu:

Obter uma cosmovisão bíblica acerca

do trabalho de uma vida é como ter uma

erupção de ideias que traz à tona o melhor de

Deus por meio de nós, tornando possível

compreender o que realmente significa ser

feito à sua imagem

Isso aconteceu comigo uns quinze

anos atrás quando ouvi pela primeira vez a

mensagem de Darrow Miller "Ocupem-se Até

que Eu Volte" em um rancho no leste do

Texas. Aquela mensagem faria toda a

diferença na direção que minha vida tomaria.

Percebi que devemos conectar nossas

habilidades e talentos ao reino de Deus não

somente para sermos cristãos agradáveis,

mas para tomar de volta o território de Deus

em todas as esferas da sociedade.

Foi enquanto trabalhava com o

governo de uma nação mulçumana que

comecei a enxergar e aplicar a centralidade

de Deus à minha vocação. Vi que era mais

fácil levar meus princípios cristãos a todo um

sistema de vida que ficar presa numa caixinha

de religião. O ambiente, o sistema de justiça,

a higiene e a assistência médica - tudo o que

eu vivenciava diariamente - passou a ser um

problema meu também. Parei de pensar em

estar no céu andando em ruas de ouro (que,

claro, é algo grandioso em que se pensar) e

entendi que o cristianismo é muito maior do

que esse sonho. Decidi exercer mordomia

sobre o meu entorno como cidadã do reino

que possui responsabilidades, assim como

todo cidadão tem em qualquer governo.

É impossível ver a vida como

entediante após essa revelação, pois há

muitas coisas com as quais se envolver e as

quais podemos trazer diante da face de Deus.

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94 I VOCAÇÃO: Escreva .sua (1 ,S inanira no universo

Em primeiro lugar, as Escrituras revelam que a glória de Deus é parte

integrante da realidade, é resultado de quem ele é, um fato de sua insuperável

e infinita grandeza e bondade. O apóstolo João expressou a glória de Deus

desta maneira: "Deus é luz; e não há nele trevas nenhumas" (1 Jo. 1:5). O

próprio Deus é a luz por meio da qual todos enxergam. É por isso que João

escreveu sobre Jesus: "Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a

luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam" (Jo. 1:4-5). O

Antigo Testamento nos diz: "Nunca mais te servirá o sol para luz do dia, nem

com o resplendor a lua te iluminará; mas o Senhor será a tua luz perpétua, e o

teu Deus a tua glória" (Is. 60:19). O Novo Testamento afirma isto: "E a cidade

não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória

de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada" (Ap. 21:23). Deus é

vida e luz; fora de Deus só há morte e escuridão. Essa é a mais pura verdade.

A glória de Deus é a nossa luz.

Em segundo lugar, toda a Escritura mostra que nós glorificamos a Deus

tornando a verdade sobre ele conhecida aos outros, não do ponto de vista de

Deus para que ele possa dizer "eu sou grande " ou "eu sou bom ", mas para que

toda a Terra experimente sua grandeza e bondade, para que toda a sua criação

seja restaurada às suas intenções originais. Onde Deus reina, há vida e luz.

Onde Deus reina, sua verdade, justiça e beleza são manifestas. Trabalhamos

para o dia em que "a terra será cheia do conhecimento da glória do Senhor,

como as águas cobrem o mar" (Hc. 2:14).

Na Escritura Sagrada, tão cheia de mistérios, encontra-mos um Deus

tão grande, tão cheio de glória, que nenhum ser humano pode vê-lo e ainda

viver. Vemos um Deus que inspira as pessoas a gritar para as montanhas e

rochas: "Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que está sentado no

trono e da ira do Cordeiro" (Ap. 6:16). Ainda assim, ele é um Deus que por

nossa causa "aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se

semelhante aos homens" (Fp. 2:7). Com essas verdades em mente, vejamos o

que as Escrituras dizem sobre a glória de Deus.

Toda glória é encontrada em Deus porque tudo pertence a ele.

Tua é, Senhor, a magnificência, e o poder, e a honra, e a

vitória, e a majestade, porque teu é tudo quanto há nos céus e

na terra; teu é, Senhor (I Cr 29:11)

Porque dele e por ele, e para ele, cão todas as coisas;

glória pois a ele eternamente. Amém. (Rni. 11:36)

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Coram Deo

1 95

A glória de Deus está enraizada em sua natureza e em seu caráter.

Desde a eternidade, Ele, o Único Deus, manifesta bondade, amor, fidelidade e

sabedoria.

Então Moisés disse: "Rogo-te que me mostres a tua glória".

Porém ele disse: "Eu farei passar toda a minha bondade por

diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e

me compadecerei de quem me compadecer". (Ex 33.18-19)

E todos os filhos de Israel, vendo descer o fogo, e a glória

do Senhor sobre a casa, encurvaram-se com o rosto em terra

sobre o pavimento, e adoraram e louvaram ao Senhor: "Porque

ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre". (II Cr 7.3)

Não a nós, Senhos; não a nós, mas ao teu nome dá glória,

por amor da tua benignidade e da tua verdade. (Sl 115.1)

Ao único Deus, sábio, seja dado glória por Jesus Cristo

para todo o sempre. Amém. (Rm 16.27)

Ora ao Rei dos Séculos, imortal, invisível, ao único Deus

seja honra e glória para todo sempre. Amém. (1 Tm 1.17)

A natureza da glória de Deus está revelada em suas obras de criação e

redenção.

Os céus manifestam a glória de Deus; e o firmamento

anuncia a obra de suas mãos. (SI

19.1)

Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos

as suas maravilhas (Si

96.3).

Aquele que nos ama e que em seu sangue nos lavou dos

nossos pecados e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai

- a ele glória e poder para todo o sempre Amém. (Ap 1.5-6)

O que parecia impossível - que a glória do Deus infinito se manifestasse

em forma humana - tornou-se realidade. A vida de Jesus Cristo representa

perfeita e tangivelmente a glória do eterno Deus.

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96 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua LISS

juntura no universo

O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão

exata do seu ser (Hb 1-3)

E o Verbo se fez carne e habitou entre nós. E 111710S a sua

glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de

verdade. (Jo 1.14)

Porque Deus, que disse que das trevas resplande-cesse a

luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação

do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. (II

Co 4.6)

Se quisermos compreender a glória de Deus, precisamos apenas olhar

para a face de Cristo. Conforme entendemos o que significa viver

constantemente na presença de Deus e trabalhar unicamente para a glória

dele, podemos meditar sobre o Cristo que não faz nada por ambição egoísta ou

por vaidade, mas que com humildade considera os outros superiores a si

mesmo'. Esse é o Deus que sonha em morar conosco, que nos convida a viver

intimamente em sua presença. Esse é o Deus que nos chama a trabalhar com

ele - soli Deo gloria.

ALÉM DO DUALISMO À CONSAGRAÇÃO

Paulo nos encoraja: "E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo coração,

como ao Senhor, e não aos homens" (Cl 3.23). Tudo quanto fizerdes significa

exatamente isso. Gerard Manley Hopkins disse em um sermão: "Levantar as

mãos em oração dá glória a Deus, mas um homem com uma forquilha na mão,

uma mulher com um balde, também lhe dão glória. Ele é tão grande que todas

as coisas o glorificam, se você as fizer com esse desejo"'. Em uma veia

ligeiramente diferente, Madre Teresa disse: "Nós não fazemos coisas grandes,

fazemos só coisas pequenas com grande amor'. Esta é a grande reparação

da teologia bíblica da vocação feita por Martinho Lutero na Reforma. Além de

ser uma descoberta que pode transformar nossas vidas e trabalho hoje.

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Coram Deo

197

A HISTÓRIA DE CHARLES THAXTON

O Dr. Charles

Thaxton estava deitado

em sua cama em nossa casa no Chalé

Bethany na L'Abri de Huemoz na Suíça. Ele

havia concluído seu doutorado em físico-

química na Universidade Estadual de lowa e

havia chegado à L'Abri para estudar com o

Dr. Francis Schaeffer, proeminente

evangelista, apologista e teólogo cristão.

Certo dia, quando entrei em seu quarto após

o almoço, encontrei Charles olhando para o

teto. Perguntei a ele se estava bem. Ele me

disse que havia dado estudos bíblicos du-

rante toda a graduação e pós-graduação. Ele

disse: "Todos esses anos, eu tinha as

'respostas' mas nunca tive as perguntas".

Vivendo e estudando em L'Abri, Charles havia

conseguido entender que as perguntas que

as pessoas faziam tinham respostas nas

Escrituras.

Assim como muitos cristãos na

segunda metade do século XX, ambos tínhamos

sidos influenciados pelo gnosticismo

evangélico. Nosso trabalho e estudos

ocupavam a "esfera secular" enquanto nossa

fé cristã ficava na "esfera espiritual". Francis

Schaeffer desafiou essa dicotomia e chamou

a igreja a retornar a uma cosmovisão bíblica.

Charles estava sendo confrontado com a

separação entre sua fé cristã e seu trabalho

como cientista. Foi em L'Abri que essa

"personalidade dividida" começou a ser curada.

Depois de seu tempo em L'Abri, Dr.

Thaxton buscou estudos de pós-doutorado

em história da ciência na Universidade de

Harvard e nos laboratórios de biologia mo-

lecular da Universidade de Brandeis.

Posteriormente, ele se tornou o editor

acadêmico do livro escolar de biologia para o

Ensino Médio, de 1989, intitulado Of Pandas

and People: The Central Question of Biologi-

cal Origins [Sobre Pandas e Pessoas: A

Questão Central da Origem Biológica], no qual

apareceu a primeira menção significativa ao

Desenho Inteligente. Ele é membro do Centro

para Ciência e Cultura do Discovery Institute,

fundado para desafiar as suposições

metafísicas sobre as quais a ciência

darwiniana foi fundada.

Muitos anos atrás, Charles relatou,

em uma carta aos seus amigos, uma

experiência que tivera enquanto palestrava

a um grupo de professores de ciências nas

universidades pós-comunistas da Romênia.

Um professor seguiu Charles até o hotel. O

homem aproximou-se dele e disse que havia

testemunhado um milagre naquele dia. O pro-

fessor exclamou: "Pela primeira vez na minha

vida, vi um cristão e um cientista no mesmo

corpo ". Que tragédia isso ser tão incomum

Com muita frequência, os cristãos envolvidos

com a ciência vivem em dois mundos. Talvez,

com o trabalho do Dr. Thaxton e de seus

colegas, os fundamentos da ciência

naturalista venham a rachar no Ocidente

assim como racharam na Oriente pós-

soviético.

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98 1

VOCAÇÃO:

Escreva sim r.SsÍnOMvu no universo

O grande teólogo. pastor, educador e primeiro-ministro holandês Abraham

Kuyper falou com paixão para a igreja no mundo ocidental com o intuito de

renovar a visão de seu chamado

e levá-la a voltar ao primeiro amor. Escrito no

alvorecer da cultura secular materialista da modernidade, o toque de convocação

da trombeta de Kuyper ainda é muito relevante para nós hoje:

Não é concebível nenhuma esfera da vida humana na qual unia

religião não mantenha suas exigências de que Deus seja louvado, de que

as ordenanças de Deus sejam observadas, e de que cada labora (trabalho)

seja permeado por sua ora (oração/adoração), em oração fervorosa e

incessante. Onde quer que o homem possa estar, o que quer que ele possa

fazer, onde quer que ele possa usar sua mão - na agricultura, no comércio

e na indústria, ou em sua mente, no mundo das artes e da ciência - ele está,

em qualquer que seja seu trabalho, constantemente diante do seu Deus,

ele é um empregado à serviço de seu Deus e deve obedecer rigorosamente

a ele, e acima de tudo deve visar a glória cio seu Deus.''

Não há dois mundos nem dois tipos de vida para se viver. Toda a vida,

incluindo as horas de meu trabalho, é para ser vivida coram Deo, para o avanço

do reino de Deus, para a glória do Senhor dos céus e da Terra.

É evidente que viver coram Deo significa que não devemos fazer uma

separação entre o sagrado e o secular. O secular habita na presença do sagrado.

O secular é infundido ao sagrado.

VIVENDO EM UM MUNDO

CONSAGRAGA0 OCAÇÃO

TUAÇÃO

POETA

NAO SANTIFICADO ANTIFICADO

RTISTA

O LAR

RANSCULTURAL

PASTOR

CARPINTEIRO

EVANGELISTA

DONA DE CASA

CONTADOR

FILOSOFO

JARDINEIRO

PLANTADOR DE IGREJAS

EMPRESÁRIO

CINEASTA

MISSIONÁRIO

FAZENDEIRO

COZINHEIRO

ENFERMEIRO

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Coram Deo

I 99

Mas, como os reformadores entenderam, há uma distinção que devemos

fazer. Essa distinção está entre viver uma vida consagrada e viver uma vida

não consagrada. A vida consagrada é a vida vivida coram Deo, em adoração,

Soli Deo Gloria. Uma vida consagrada é a que glorifica a Deus. É aquela que

modela a glória de Deus em uma pessoa que vive sob o senhorio de Cristo, que

representa a glória de Deus na Terra. Uma vida consagrada é uma vida dedicada

a Deus em todas as áreas. Ela é santificada Uma vida não consagrada é

aquela em que uma pessoa funciona como um cristão só na parte reli-giosa da

vida, ou quando é conveniente. Uma pessoa pode ser um adorador mecânico

de carros enquanto o outro é um evangelista adúltero. O indivíduo pode ser um

adorador agricultor, enquanto o outro, um pastor corrupto.

Ser consagrado é ser "devotado ou dedicado ao serviço e

à adoração a

Deus""'. Nós adoramos a Deus em nosso trabalho conforme conectamos a

totalidade de nossas vidas ao seu propósito divino - um propósito redentor

expressado por meio das Escrituras como o reino de Deus. O conceito bíblico

de trabalho é que o trabalho de uma pessoa é sua contribuição única para o

reino de Deus. Como estudado no capítulo anterior, nossa profissão é o lugar

para onde somos enviados para retomar o "território ocupado" para Cristo e

seu reino. Esse é o principal trabalho da vida cristã.

Como nossas vidas e trabalho ocupam territórios para Cristo e seu reino

é uma das questões que exploraremos no restante deste livro na medida em

que desenvolvemos uma verdadeira teologia bíblica sobre a vocação. O

Presidente americano Teddy Roosevelt proferiu "a ordem de Miquéias", que

pode servir como o lema da vida e trabalho cristãos, afirmando o meio pelo qual

ocupamos nossa esfera de influência para Cristo:

Ele declarou, 6 homem, o que é bom.

E que é o que o Senhor pede a ti?

Senão q ue pratiques a justiça, e ames a beneficência,

e andes humildemente com o teu Deus. (Mq 6 .8)

Em meio a um mundo caído, procuremos viver uma vida moral. Em meio

à injustiça e à corrupção, procuremos a justiça. Em meio a culturas que muitas

vezes são brutais e insensíveis, devemos amar a misericórdia. Em meio ao

poder e à arrogância, caminhemos humildemente com Deus. Somos, de alguma

forma, a encarnação de Cristo neste mundo falido. Nosso trabalho deve ser o

local onde damos vida às nossas orações: "Seja a tua glória sobre toda a terra"

(SI 57.5) e "Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como nos

céus" (Mt 6.10). Os princípios de vida do reino são para ser exercidos em

nossa vida

e

na esfera da sociedade onde trabalhamos.

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100 1 VOCAÇÃO:

li

 

reva

1r ,n~iirer co

Leland Ryken capta o efeito radical dessa visão bíblica do trabalho em

Redeeming the Time:

Obviamente, essa visão de trabalho dá a cada tarda um valor

intrínseco e integra todas as vocações ou tarefas legítimas à vida espiritual

cristã. Ela dá significação a cada trabalho, afirmando-o

C01710

uma esfera

para se glorificar a Deus, e fornece um caminho para os trabalhadores

servirem a Deus não só em seu trabalho no mundo,

mas por meio dele

também [grifo meu)."

Esse é o chamado que cada um de nós precisa ouvir hoje; que é possível

viver uma vida integrada de valores e propósitos na qual servimos a Deus pelo

nosso trabalho no mundo. É possível viver urna vida de consagração em vez de

separação.

O missionário à Índia E. Stanley Jones compreendeu o tipo de pessoa

que somos chamados a ser, o tipo de pessoa que queremos ser, em seu livro

The Unshakable Kingdom and the Unchanging Person. Ele escreveu que nossa

ocupação está enquadrada no maravilhoso reino de Deus:

Esse tipo de pessoa enxerga a Deus, não em unta visão, mas o vê

trabalhando com ele e nele e o apoiando. Ele vê Deus trabalhando em

todo lugar: O universo se torna vivo com Deus - cada arbusto incendiado

por ele, cada evento carregado de destino, a vida é uma aventura

emocionante com Deus. Você o enxerga operando em você, em eventos, no

universo. Deli da com você e o orienta. Vocês trabalham no mesmo

negócio,

na ntesnta

ocupação - o Reino. E esse negócio é a ocupação mais

emocionante e estimulante do mundo. Tudo mais é monótono e vazio - sem

graça. Você trabalha no melhor emprego, da maior escala, na tarefa mais

recompensadora, com o resultado mais significativo - o reino de Deus na

Terra [grifo

171CUI.

IN

Quando entendemos que todos Os cristãos devem viver a vida toda co-

ram Deo, entendemos que estamos todos em uma missão. Somos todos

missionários Em contraste com o gráfico da Ponte Gnóstica para o Significado

do Trabalho (ao final do capítulo 2), a Bíblia estabelece uma ponte onde todos

saem do paradigma missionário e adentram no significado do trabalho.

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PONTE BÍBLICA PARA

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO

OS

CHAMADOS

PREGADOR

CARPINTEIRO

ARTISTA

PROFESSOR

Músico

DONA DE CASA

ENFERMEIRO

PLANTADOR

DE IGREJAS

MECÂNICO

TEÓLOGO

PREGADOR

CARPINTEIRO

ARTISTA

PROFESSOR

Músico

DONA DE CASA

ENFERMEIRO

PLANTADOR

DE IGREJAS

MECÂNICO

TEÓLOGO

CRISTÃO DE TEMPO INTEGRAL

Coram Deo 1 101

A HISTÓRIA DE CHARLES THAXTON

John Beckett cresceu em Elyria, Ohio.

Logo após graduar-se bacharel em ciências

econômicas e engenharia mecânica na M.I.T,

Beckett se uniu a seu pai em uma pequena empresa

famil iar de manufatura. Alguns anos mais tarde,

com a morte de seu pai, Beckett assumiu o

negóc io. Durante anos ele fez a empresa crescer

até se to rnar uma f i rma g loba l com m ais de 600

empregados. Hoje a firma é líder mundial em

vendas e manufatura de aparelhos de

aquecimento com erc ia is e res idencia is .

Em 1998 Beckett escreveu seu primeiro

livro, Loving Monday: Succeeding in Business

W ithout Se ll ing Your Soul [Amando a Segunda-

Feira: Vencendo nos Negócios Sem Vender Sua

Alma ]. Nele o autor relata a jornada de sua vida

pessoal. O livro começa com Beckett contando

sobre sua vida com Cristo e seu desejo de

crescer como um dedicado cristão, esposo e

pai na época em que sua vida estava

estruturada sobre um paradigma gnóstico. Sua

caminhada com Cristo estava impactando sua

vida particular, mas não sua vida nos negócios.

Foi durante esse tempo que sua busca pela

santidade o levou a pensar que precisava

vender seu negócio e viajar para o exterior como

missionário.

Beckett descreve como a vida e obra

de Francis Schaeffer começaram a influenciar

sua própria vida. Schaeffer desafiou suas

suposições dualistas que separavam a fé do

trabalho. Suas palavras chamaram Beckett a

viver em um único mundo, diante da face de

Deus. O negócio de Beckett não devia estar

separado de sua fé; ao contrário, este devia

ser o lugar onde ele a viveria na prática. A

última parte de Loving Monday descreve como

Beckett empregou princípios bíblicos de

empreendedorismo para mudar a maneira

como conduzia sua empresa. John Becket t ve io

a compreender que o Senhor é Senhor de toda

a vida, inclusive dos negócios, e que a Bíblia

tem muito a dizer sobre os princípios para se

administrar uma empresa de maneira santa.

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P A R T E :

P R IM E IR O S P A S SO S E M

D IR EÇ Ã O A U M A T E O L O G IA

B ÍB LIC A D A V O C A Ç Ã O

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Capítulo

6

A NECESSIDADE DE

UM A TEOLOGIA BÍBLICA

DA VOCAÇÃO

Em um discurso intitulado "Por que trabalhar?", a autora inglesa Dorothy

Sayers disse o seguinte:

Em nada a igreja tem perdido tanto seu senso de realidade como

em seu fracasso em entender e respeitar a vocação secular. Ela permitiu

que o trabalho e a religião se tornassem departamentos separados; e é

espantoso descobrir que, como resultado disso, o trabalho secular do

mundo tornou-se puramente egoísta e com fins destrutivos, com grande

parte dos trabalhadores inteligentes do mundo se tornando irreligiosos

ou, no mínimo, desinteressados por religião. Mas isso é mesmo espantoso?

Como alguém poderia permanecer interessado em uma religião que parece

não ter qualquer relação com nove décimos de sua vida?'

Sayers fez esta declaração na década de 1940. Infelizmente, a igreja de

Deus ainda pode ver a si própria - e ao mundo - espelhado em suas francas

palavras.

Qual é o remédio para a separação entre trabalho e religião que tanto

incomodou Sayers e continua nos incomodando hoje? Seguindo pelo mesmo

Espírito que iluminou os reformadores protestantes, temos uma resposta

poderosa de um papa. Em sua mensagem para o XXXV Dia Mundial de Oração

pelas Vocações, o Papa João Paulo II apelou aos jovens católicos para verem

seu trabalho singular no contexto de uma nova cultura das vocações:

O Espírito de Deus escreve no coração e na vida de cada pessoa

batizada um projeto de amor e graça, que é a única maneira de dar total

sentido à existência, abrindo o caminho para a liberdade dos filhos de

Deus, permitindo a oferta pessoal e a insubstituível contribuição para o

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106 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

progresso da humanidade no caminho da justiça e da verdade. O Espírito

não apenas nos ajuda a nos colocar sinceramente diante das grandes

questões do coração - De onde vim? Para onde vou? Quem sou eu? Qual

o propósito da vida? Como devo utilizar o meu tempo? - como também

abre a perspectiva para uma resposta corajosa.

A

descoberta de que cada

homem e cada mulher tem seu próprio lugar no coração de Deus e na

história da humanidade constitui o ponto de partida para uma nova

cultura das vocações.'

Enquanto Sayers acendeu os holofotes sobre o problema que en-

frentamos, esta rica visão colocada no coração de João Paulo II ilumina a

solução. Se a tragédia de "uma religião que parece não ter qualquer relação

com nove décimos de [nossa] vida" e a visão desta "nova cultura vocacional"

ressoam em nós, o que devemos fazer?

TODOS SOMOS TEÓLOGOS

Devemos aceitar nosso papel como teólogos e tornar-nos bons teólogos.

O apelo do Papa João Paulo II para uma nova cultura vocacional é feito com o

mesmo espírito da chamada dos reformadores da Reforma Protestante, que

mobilizou os cristãos a viver a totalidade de suas vidas diante da face de Deus,

recuperando a teologia bíblica da vocação que precisamos desesperadamente

redescobrir hoje.

Você pode estar pensando: Não sou teólogo. Mas o ponto que não pode

ser ignorado é que todos somos teólogos.

Porque Deus existe e é soberano, todos estão vinculados a ele de uma

forma ou de outra. Algumas pessoas entram em um relacionamento direto e

pessoal com o Deus vivo. Alguns negam sua existência e, portanto, têm uma

relação hostil com ele. Mas mesmo o ateu, que diz que não há Deus, estabelece

uma base teológica para sua vida. Quer sejamos ateus ou pessoas de fé, não

deixamos de ter uma teologia. A teologia pode ser autoconsciente ou

inconscientemente formada. Pode ser uma boa teologia ou uma teologia mim.

Mas o fato é que temos uma teologia que molda nossas vidas.

Os cristãos inevitavelmente viverão sua verdadeira teologia com um bom

grau de consistência. Alguns estão procurando viver de uma forma cristã

consistente, isto é, estão procurando intencionalmente pensar e fazer sua teologia

- viver de maneira encamacional, manifestando o espírito vivo e os ensinamentos

de Cristo em suas vidas, comunidades e locais de trabalho.

Em contrapartida, existem pessoas que professam a Cristo, mas cuja

vida, linguagem e escolhas refletem que, na prática, são ateus. Elas falam as

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A necessidade de urna teologia bíblica da vocação

1 107

palavras certas sobre o que acreditam e podem até mesmo ser membros ativos

da igreja, mas suas vidas e valores práticos são mais formados pelos conceitos

de secularização do mundo contemporâneo do que pelo espírito do Cristo vivo

e os conceitos das Escrituras.

Como Jesus, seus seguidores devem organizar suas vidas baseados em

uma teologia bíblica consistente, em uma visão de mundo do reino de Deus.

Jesus compreendeu sua vida e trabalho nessa perspectiva, viveu sua vida e

realizou sua obra consistentemente. Nós devemos seguir seu exemplo. Para

seguir Jesus, para entender quem somos e para que fomos criados e chamados,

precisamos tanto de uma relação com o Deus vivo como de um entendimento

crescente da cosmovisão bíblica.

VIVENDO UMA VIDA EXAMINADA

Como o filósofo Richard Weaver nos lembra, as ideias têm conse-

quências. A perspectiva pela qual enxergamos o universo, nosso mundo e nossas

próprias vidas moldará o que vemos, o que nos tornamos e como vivemos

nossas vidas. Como vimos até agora, a igreja e nossa própria compreensão da

vida cristã têm, em muitos aspectos, sido moldadas pela defeituosa visão dualista,

criando a situação descrita por Dorothy Sayers. O que tenho chamado de

"gnosticismo evangélico"

tem consequências enormes para nossa própria

jornada, para o bem-estar de nossa sociedade e nossas igrejas, e para o

estabelecimento do reino de Deus no mundo.

A fim de efetivamente sair dessa visão de mundo defeituosa, preci-samos

desenvolver uma nova teologia da vocação. Isso significa redescobrir, para a

era contemporânea, como refletir sobre nossas vidas de acordo com uma

cosmovisão bíblica.

O preço de não refletir é alto. Como diz Dallas Willard,

"a teologia

prática de cada um afeta vitalmente seu curso de vida... Uma teologia

impensada ou desinformada cativa e orienta nossa vida tão intensamente

quanto unia teologia esclarecida e reflexiva'.

Ainda assim muitos de nós vivemos sem refletir sobre nossas vidas.

Podemos raramente, ou nunca, pensar sobre a teologia em que estamos vivendo;

muitas vezes funcionamos de forma rotineira, como se por controle remoto.

Raramente pensamos sobre o pensar, raramente examinamos por que fomos

colocados aqui na Terra. Podemos gastar de 50 a 75% de nossas horas

acordados e de 60 a 90% dos anos de nossas vidas trabalhando. No entanto,

quanto tempo é dado para responder às perguntas: Qual é o propósito de minha

vida? Por que trabalho? Qual o propósito da vida?

Não somente quase nunca refletimos a nível pessoal, como também a

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108 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura na universo

igreja moderna passa pouco tempo focando no comum, focando, na maior parte

do tempo, no espetacular, no escandaloso, naquilo que traz conforto, ou em

outros assuntos que são facilmente retirados de nosso mundo cotidiano.

A igreja tem a habilidade de preparar a força missionária - "o corpo de

Cristo" - para o local de trabalho, para a praça pública e para a comunidade. A

teologia bíblica da vocação deveria fazer parte do ciclo regular de pregação da

igreja. Classes devem ser criadas para preparar os membros da igreja para

discipular a esfera do mercado que eles ocupam em sua vida profissional. No

entanto, quando foi a última vez que seu pastor ensinou uma série de estudos

sobre o trabalho? Sobre princípios bíblicos de liberdade, iniciativa, ou ética nos

negócios? Quando foi a última vez que houve pequenos grupos ou escola

dominical que focasse no local de trabalho? A ausência desse tipo de pensamento

e pregação na comunidade cristã é um reflexo de como a falsa dicotomia secu-

lar/sagrado infectou nossa teologia.

Os principados e potestades, as forças do mal, usam o trabalho para

aumentar o reino das trevas. Ao mesmo tempo, Deus usa o trabalho para fazer

avançar o reino da luz. Existem tanto meios e usos piedosos do trabalho quanto

meios e usos iníquos dele. Mas isso deve dar-nos grande razão para fazer uma

pausa quando consideramos que tanto os cristãos professos quanto os não

cristãos podem contribuir para o reino da luz ou para expansão do reino das

trevas. A escolha pode ser feita conscientemente, de forma intuitiva, ou

relutantemente. Na verdade, os não cristãos podem contribuir para o reino da

luz simplesmente porque, mesmo o mundo estando caído, ele é intrinsecamente

um universo moral e a humanidade foi projetada para a atividade moral. Por

outro lado, o pecado faz com que cristãos e não cristãos da mesma forma

contribuam para o reino das trevas. Enquanto o trabalho é parte do bom projeto

de Deus para a humanidade, o pecado corrompe tanto os fins quanto o significado

de nosso trabalho.

Se como cristãos não agirmos conscientes constantemente em nome do

reino de Deus, é provável que nos encontremos contribuindo para o reino das

trevas. Sem a consciência de qual é nossa teologia pessoal, funcional e verdadeira,

corremos o risco de acordar tarde demais para entender que não vivemos de

maneira alguma a vida que queremos, e certamente não vivemos a vida que

Deus nos chamou e nos capacitou para viver. Guiados pelas distorções das

falsas visões de mundo e por nossa própria natureza pecaminosa, sem termos

sido transformados por Deus em nossos corações e mentes, é improvável que

a verdade e a justiça se manifestem; sem viver na presença de Deus, torna-se

difícil fazê-lo conhecido em nosso mundo falido.

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A necessidade de ama teologia bíblica da vocação

1 109

UMA ESTRUTURA ABRANGENTE

Assim, tanto pessoal quanto coletivamente, existe urna necessidade de

estabelecer urna estrutura abrangente para desenvolver urna teologia do trabalho.

Tal estrutura nos permite construir um entendimento integrado de nossa vida e

trabalho - nossa vocação. Isso requererá uma leitura diferente da Bíblia. A

maioria de nós lê a Bíblia corno um exercício devocional para nossa vida

espiritual. Isso é bom, mas precisamos ver as Escrituras pelo que são: o manual

de Deus para a vida como um todo. Elas falam de forma abrangente (mas não

exaustiva) sobre tudo na vida. Devemos ler a Bíblia de maneira plena, discernindo

toda a cosmovisão que ela representa em vez de juntarmos rapidamente textos

para provar um determinado assunto.

Outra maneira de dizer isso é comparando a Bíblia a uma floresta. Você

pode estudar a floresta a partir do interior, examinando cada árvore (verso) que

compõe as Escrituras. Mas há urna segunda forma de ler as Escrituras - a

partir de seu exterior. Na segunda abordagem, sobe-se até o topo da montanha

para ver a floresta de cima. Esta é a perspectiva da cosmovisão das Escrituras.

Existem três conceitos úteis que podem nos auxiliar ao nos aproximarmos

da Bíblia com urna perspectiva de cosmovisão: a largura e a profundidade das

Escrituras, e o fato de que a Bíblia é o manual do proprietário.

LARGURA E PROFUNDIDADE DAS ESCRITURAS

ANTES DO

PRINCIPIO

O FLUXO DA HISTORIA BÍBLICA

FUTURO

LARGURA

TERNO

CRIAÇÃO: QUEDA PEDENGAO CONSUMAÇAO:

No

PRINCÍPIO

OLTA DE CRISTO

O

S

D

 

D

H

S

O

 

O

Q.

t

O QUE

E QUE

E ARA ONDE A

A NATUREZA?

HOMEM?

ISTORIA ESTA INDO?

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11 O 1 VOCAÇÃO: E

screva sua as's'inatura

110 universo

Em primeiro lugar, as Escrituras têm largura. A Bíblia é uma história. É a

história do Criador. Ela começa em Gênesis e termina no Apocalipse. Existem

quatro componentes principais na narrativa: a Criação, a Queda. a Redenção

(a cruz de Cristo) e a Consumação (o retorno de Cristo e seu reino).

Em segundo lugar, a Bíblia tem profundidade. Ela revela a realidade da

maneira que Deus fez e responde às perguntas: O que é a verdade? O que é

bom? O que é belo? Ela responde a questões filosóficas básicas do ser humano.

Existem três principais áreas das questões humanas. Há questões

epistemológicas sobre conhecimento: O que posso saber? Como posso saber?

O que é verdade? Existe alguma verdade? Há questões metafísicas sobre a

natureza da realidade: O que é real? Existe um Deus? O que é o homem? Qual

é a natureza da criação? Para onde a história está indo? Qual o propósito de

minha vida? E existem questões morais: Existe certo e errado? O que é certo e

errado? Se existe um Deus bom, de onde o mal veio? O que é a beleza? A

profundidade das Escrituras revela a cosmovisão bíblica.

Em terceiro lugar, a Bíblia é o manual do proprietário. Quando você

compra um aparelho ou um veículo, ele vem com um manual do proprietário.

Quem escreveu o manual? Aqueles que projetaram e construíram o item Por

que eles escreveram? Para que o proprietário saiba o propósito do item e como

este funciona. A Bíblia é o manual de instruções que Deus escreveu para nós.

Ela nos ajuda a compreender o propósito de nossa vida; revela a estrutura

sobre a qual devemos fundamentar nossa vocação.

À medida que avançamos no desenvolvimento de uma teologia bíblica

da vocação - e enquanto buscamos descobrir nosso próprio "projeto de amor e

graça" - exploraremos as Escrituras a partir dessas perspectivas de cosmovisão.

Vamo s primeiro examinar a Bíblia como uma história - A H istória Transformadora

de Deus - uma narrativa que vai de Gênesis a Apocalipse e finalmente se

estende para abarcar nossa vida e trabalho no tempo e na eternidade.

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1 12 I VOCAÇÃO: Escreva mui assinatura no universo

A narrativa bíblica pode ser chamada de A História Transformadora.

pois tem a capacidade de mudar vidas, comunidades e nações enquanto

transforma nosso pensar e agir em todas as áreas da vida. Como a lagarta se

transforma em urna borboleta. assim também Deus tem o poder para transformar

trevas em luz. morte em vida, escravidão em liberdade, corrupção em justiça.

crueldade em compaixão, ganância em contentamento, pobreza em abundância.

Ao fazer isso, ele salva indivíduos, trazendo curas substanciais em suas vidas e

relacionamentos. A história bíblica tem a habilidade de tirar comunidades da

pobreza. Tem a capacidade de construir nações livres, justas e compassivas.

A história bíblica começa em Gênesis e termina no livro de Apocalipse.

Ela começa em um jardim, o Jardim do Éden, e termina em uma cidade, a

Cidade de Deus - a Nova Jerusalém. Ela começa com o primeiro casal. Adão

e Eva, e termina com o casamento do Cordeiro. No final da "História do Criador",

Jesus voltará para se casar com sua noiva, a igreja. Esta é uma história poderosa,

é A História, e é a verdade. Ela é a História para a qual pessoas no mundo

inteiro foram criadas e pela qual elas anseiam.

Vamos então dar urna olhada nessa maravilhosa narrativa.

CRIAÇÃO - No princípio, Deus

O silêncio da eternidade foi quebrado pelo estrondo das linhas iniciais da

narrativa bíblica: No princípio. DEUS... criou... os céus e a terra Cada cultura

tem uma história, e as linhas inicias da história estabelecem qual será o enredo.

No hinduísmo, a primeira linha é da "des-criação", a quebra do eterno. No

secularismo, o início foi uma piscina de água viscosa. Deus revelou a Moisés a

linha inicial da História Verdadeira de todas as culturas e de todos os tempos:

"No princípio DEUS criou os céus e a terra".

Se houve um "princípio", deve ter havido, como Francis Schaeffer nos

lembra, um "antes do princípio". Se no começo Deus criou, então Deus existe

antes daquele momento. O universo foi moldado pela natureza e o caráter do

Deus Eterno. Um exemplo disso é encontrado em Gênesis 1.26: "Então Deus

disse: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e

domine ele...". Deus revela a si mesmo como o Único e múltiplo Deus. Antes da

criação havia comunhão e comunicação entre os membros da Trindade. Todos

os anseios do homem por uma comunidade e uma comunicação significativa

têm fundamentos na eternidade. Da mesma forma, encontramos estas palavras

marcantes de Jesus registradas em João 17.24: "Pai, desejo que onde eu estou,

estejam comigo também aqueles que me tens dado, para verem a minha glória,

a qual me deste; pois que me amaste antes da fundação do mundo". Neste

texto descobrimos que o amor existia antes da fundação do mundo. Todos os

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A inetanarratira essencial 1 113

desejos humanos de amar e ser amado estão fundamentados na eternidade. A

cosmovisão para as nossas vidas e para a criação em si tem sua identidade

estabelecida "antes do início".

Gênesis 1 registra que Deus criou o universo do nada. Ele criou declarando

palavras. E depois que criou cada coisa, ele usou palavras mais uma vez para

denominar o que havia feito. Deus trouxe a criação à existência pela fala. No

final de cada fase da criação', ele proclamou que o que havia feito era "bom"

ou "agradável", no sentido de alegre. Da mesma forma, vemos que Deus profere

um comando criativo e, em seguida, lê-se imediatamente que "foi assim", "direito",

"justo" ou "verdade', no sentido de ser firme ou estável. Depois de concluir a

criação fazendo o homem, ele proclamou que seu trabalho era "muito

'extremamente] bom" (Gn 1.31). Tudo o que Deus fez, tanto no espiritual quanto

no mundo físico, é bom; está em harmonia com Deus e consigo mesmo. No

momento da criação, o homem tinha uma relação contínua com o seu Criador e

com o resto da criação.

Apesar de Deus haver criado tudo perfeito e completo desde o início, a

criação não havia alcançado seu pleno potencial. Deus fez o homem para

desenvolver esse potencial, como exploraremos em profundidade na Parte 3,

com ramificações motivadoras para a importância de nossa vocação.

QUEDA -

O Homem se Rebela contra

o Soberano Rei dos Céus

O homem foi colocado como mordomo da criação de Deus, para cuidar

e

administrar sua casa - o mundo. Mas acabamos descobrindo que a serpente

- Satanás - faz bem seu trabalho: ele distorce a verdade e desafia Adão e Eva

a pecar contra o Criador. Eles, por sua vez, escolhem acreditar nas mentiras de

Satanás em vez de na verdade de Deus, rebelando-se contra o Soberano Rei

dos Céus. Nessa revolta, a principal relação entre Deus e o homem é quebrada.

Como resultado, todas as relações secundárias, construídas em cima dessa,

foram desfeitas também. Todas as dimensões espirituais e morais acabaram

refletidas no físico.

O homem e o eu. O pecado do homem levou à morte - primeiro espiritual,

e

depois física. A identidade do homem foi destruída, a imagem de Deus nele

foi distorcida, e a âncora da ligação de sua vida ao Deus eterno foi quebrada.

Perguntas abundavam: "Quem sou eu?", "Minha vida tem algum propósito?",

"Eu sou apenas um animal?", "O que acontecerá quando eu morrer?".

O homem e os outros. A relação do homem com seu semelhante está

quebrada. Porque não sabemos mais quem somos, não sabemos quem nosso

próximo é. Agora há ódio, cobiça, ganância e desrespeito para com os outros e

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114 1

VOCAÇÃO:

Evcrera sua assinatura lu) univervo

seus bens. Racismo, tribalismo, a superioridade masculina e os sistemas de

castas abundam; falsos desenvolvimentos hierárquicos criados pelo homem para

mantê-los separados, sem trabalhar em conjunto. Assassinato e guerra se

proliferam. Existe desrespeito aos pais. Uma cultura de culpa é estabelecida na

qual as pessoas não assumem a responsabilidade por suas próprias ações, mas

apontam o dedo a outros. "Quem é o meu próximo?", "Qual é a responsabilidade

que tenho em relação aos outros?", "O que é uma família?". A própria âncora

das relações sociais foi quebrada.

O homem e o mundo físico. Como registrado em Gênesis 3, haverá ervas

daninhas no jardim e dor no parto. Ademais do mal natural, o homem agirá com

desrespeito para com a criação. Em vez de cuidá-la e administrá-la, ele tende

ao abuso e à violência em sua orgia consumista. O homem se esquece de que,

assim como a criação, ele também é uma criatura no universo do Criador e que

tem a responsabilidade de cuidar dele. "Será que este mundo existe mesmo'?" É

urna questão levantada na Ásia. Outras questões levantadas ao redor do mundo

incluem: "De onde o universo veio?", "Qual é a natureza do universo?", "Qual é

minha relação ou responsabilidade para com a natureza'?".

O hom em e o mundo metafísico. Além de se relacionar com o mundo f ísico, o

homem se relaciona com o mundo não físico, com o reino espiritual do angelical e

demoníaco . Ademais destas, a rebelião do hom em trouxe distorções em quatro áreas:

conhecimento, moral, estética e cultura, entendida como o aspecto de nossa vida

comum que funciona como um a ponte entre o mundo espiritual e o mundo físico.

No domínio do conhecimento, a sabedoria é abandonada para dar lugar à

loucura, a verdade é trocada por mentiras, as quais fortificam as fortalezas da

mente. No domínio da moral, o bem se torna mal e o mal se torna bem. A

corrupção substitui a justiça. Cada pessoa faz o que é certo a seus próprios

olhos. De igual modo, no domínio da estética, a beleza é trocada pela utilidade,

a amabilidade pela esterilidade, o esplendor pela desolação. Em vez de criar

urna cultura que reflete a verdade, a justiça e a beleza, o homem cria uma

cultura em que se encontra a corrupção e floresce a feiura. "Existe alguma

verdade?", "O que é a verdade'?", "Porque o mundo parece tão injusto?", "O

que é a beleza'?". Estas representam algumas das questões metafísicas em que

as pessoas trabalham desde a Queda.

A rebelião contra Deus trouxe consequências abrangentes e sistêmicas.

Todos os homens, todos os seus relacionamentos, e toda a criação foram

danificados pela Queda. Consequentemente, se existe alguma salvação, esta

deve ser abrangente, envolvendo não apenas as relações primárias, mas também

todas as relações secundárias. Esta é exatamente a provisão da cruz de Cristo.

o cumprimento e culminação da obra de Deus por meio da história, redimindo

sua criação e estabelecendo seu reinado no mundo.

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A metanarrativa essencial 1 115

REDENÇÃO - A Cruz

Os efeitos da Queda foram drásticos, mas Deus não abandonou sua

criação. Em Gênesis 3, Deus amaldiçoa a serpente:

Maldita serás tu dentre todos os animais domésticos e dentre todos

os animais do campo Sobre o teu ventre andarás e pó comerás todos os

dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua

descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás

o calcanhar (Gil 3.14-15)

Aqui já vemos a promessa de Deus de redenção. Ele declara que irá

esmagar a cabeça da serpente por meio da descendência de Eva. Esta prole, o

Cristo, virá ao mundo por meio da linhagem de um homem chamado Abrão. Em

Gênesis 12, Deus faz uma aliança com Abrão (a quem é dado um novo nome,

Abraão, em Gênesis 17, quando Deus reitera esta aliança):

O Senhor disse a Abrão: "Sai-te da tua terra, da tua parentela, e da

casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Eu farei de ti unia grande

nação abençoar-te-ei; e engrandecerei o teu nome, e tu será uma benção.

Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei aquele que te

amaldiçoar; todas as famílias da terra em ti serão benditas". (Gn 12.1-3)

O plano de Deus de abençoar todos as famílias da Terra começou com

o chamado de Abraão, a quem Deus tornou em urna grande nação - a nação de

Israel, o povo escolhido de Deus.

O restante do Antigo Testamento, de Gênesis 12 em diante, conta a

história do povo de Deus e, juntamente com o Novo Testamento, forma toda a

metanarrativa bíblica. Na realidade, está não é simplesmente a história do povo

de Deus, é, sim, a História, a História de Deus e sua obra na história. Deus

arranca seu povo da escravidão (várias vezes), dá a eles uma lei a cumprir, e

fala com eles por meio da voz de seus profetas. O povo de Deus, em meio a

seus triunfos e fracassos, anseia continuamente pelo momento da libertação,

quando Deus levantará um redentor. O profeta Isaías fala sobre esse tempo:

Então brotará um rebento do toco de Jessé; e das suas raízes um

renovo frutificará. E repousará sobre ele o Espírito do Senhor - O Espírito

de sabedoria e entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o

Espírito de Conhecimento e temor do Senhor (Is 11.1-2)

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116 I

VOCAÇÃO: Escrevo sua ussuummi

PIO 1111i1V1111

Por meio deste servo de Israel, Deus

irá redimir toda a criação, o cos-

mos inteiro. O Antigo Testamento termina em uma ansiosa expectativa por

essa vinda do redentor, o Cristo, e o Novo Testamento começa com sua chegada.

No momento kairós definitivo - a plenitude do tempo, quando a eternidade in-

vade o tempo - Deus assumiu a carne humana. A primeira vinda de Cristo

marcou o ponto decisivo na batalha pelo céu e a terra. Totalmente Deus e

totalmente homem, Jesus Cristo viveu uma vida perfeita por mim. E em seguida,

morreu a morte que eu merecia. Mas ressuscitou no terceiro dia, vencendo a

morte. dando-me uma nova vida. Este é o evangelho.

A Queda trouxe consequências cósmicas, mas também o fez a obra de

Cristo. Lemos na carta de Paulo aos colossenses que Cristo morreu para

reconciliar todas as coisas para si mesmo. A morte de Jesus na cruz assentou

os alicerces na relação primária do homem com Deus para que ela fosse plena-

mente restaurada e para que houvesse cura substancial nas relações secundárias

entre as pessoas e o mundo em que vivem. Isso gera uma cura significativa

dentro do homem, em suas relações sociais, em sua relação com a natureza e

no reino metafísico. A vida e o trabalho do homem são, então, colocados

novamente dentro da estrutura do reino de Deus. Quando Cristo voltar pela

segunda vez em glória, o processo desencadeado no calvário será consumado.

A CONSUMAÇÃO - O Retorno em Glória

Quando Jesus retornar no fim dos tempos, o processo de reconciliação

de todas as coisas para si mesmo estará concluído. Vemos um vislumbre desse

quadro por meio do profeta Isaías:

Morara o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se

deitará, e o bezerro, e o leão novo e o animal cevado viverão juntos; e um

menino pequeno os conduzirá. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas

crias juntas se deitarão, e o leão comerá a palha como o boi. A criança de

peito brincará sobre a toca da áspide, e a desmamada meterá a sua mão

na cova do brasílico. Não se fará mal nem dano em todo o meu santo

monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as

águas cobrem o mar. Naquele dia a raiz de lesse será posta por estandarte

dos povos, a qual recorrerão as nações; gloriosas lhe serão as suas

moradas. (Is 11.6-10)

O profeta também diz daquele dia:

E o Senhor dos exércitos dará neste monte a todos os povos um

banquete de coisas gordurosas, banquete de vinhos puros - de coisas

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A CRUZ

NOSSAS VIDAS

CONSUMAÇÃORIAÇÃO

A metanarratira essencial

I 119

circunstâncias modernas, e você terá o enredo de sua vida"

5 .

Nossa vocação ganha importância no âmbito da história bíblica,

especificamente ocupando o tempo e espaço entre a primeira vinda de Cristo,

na cruz, e sua segunda vinda, na consumação da história no fim dos tempos.

Entre a Queda e a Segunda Vinda, há dois eventos importantes. O primeiro é a

primeira vinda de Cristo à Terra para nos redimir. O segundo é você

DOIS EVENTOS IMPORTANTES

PASSADO A QUEDA UTURO

ETERNO TERNO

Você foi feito, como nenhuma outra pessoa na história, para tomar seu

lugar único no desenvolvimento do reino de Deus. Na economia de Deus, as

palavras de Mardoqueu a Ester falam da singularidade de cada uma de nossas

vidas dentro desse desenvolvimento: "E quem sabe se não foi para tal tempo

como este que chegaste ao reino?" (Ester 4.14).

Qual é o seu lugar na História de Deus? Qual é a sua vocação, a conexão

de sua vida e trabalho com o reino de Deus em desenvolvimento? Enquanto

prosseguimos em construir uma teologia bíblica da vocação, olharemos

atentamente os elementos-chave da História Transformadora, começando com

o chamado de Deus a nós na criação - um chamado renovado pela cruz de

Cristo e digno dos dias de nossa vida e do trabalho de todo o nosso ser: coração,

alma, mente e força.

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Capítulo 8

CULTURA:

ONDE O FÍSICO E O ESPIRITUAL

CONVERG EM

A pequena Hakani, com dois anos, ainda não sabia andar nem falar, por

isso os líderes de sua tribo ordenaram que seus pais a matassem. A decisão dos

líderes refletia urna crença comum entre várias tribos indígenas na Amazônia,

de que crianças com defeitos físicos não possuem alma e devem ser eliminadas

como se faz a um animal doente ou deformado.

Em vez de assassinar sua filhinha, a mãe e o pai de Hakani comete-ram

suicídio. O irmão adolescente de Hakani herdou a ordem brutal dos líderes e

tentou cumpri-la, golpeando sua irmãzinha com um facão. Mas ela acordou no

momento em que estava sendo enterrada e ele não conseguiu tentar matá-la

novamente. O avô de Hakani atirou uma flecha em sua netinha, porém, em

seguida, ficou com tanto remorso que tentou tirar a própria vida.

Ferida pela flecha de seu avô, Hakani fugiu para a floresta onde viveu

como um animal por três anos enquanto seu irmão lhe levava alimento. Adotada

por Márcia e Edson Suzuki, Hakani ainda não estava a salvo. Autoridades no

Brasil queriam impedir que os Suzuki, um casal brasileiro que vinha trabalhando

com a tribo Suruwahá por vinte anos, buscassem ajuda para a menina de cinco

anos por "respeito" à cultura tribal. A política oficial do departamento de saúde

do Brasil é "respeitar a cultura das pessoas", dizendo com isso que crianças

podem ser assassinadas com o pleno conhecimento do governo. Dezenas de

crianças na Amazônia são mortas todo ano, crianças como Hakani bem como

gêmeos e trigêmeos, os quais se acredita serem amaldiçoados.

Ativistas como os Suzuki trabalham para combater não somente as

crenças mortais da tribo, mas também as visões mortais dos burocratas e

acadêmicos. Ecoando a resposta oficial do governo, um professor de antropologia

de uma universidade da Amazônia é o exemplo máximo de uma visão comum

entre os antropólogos: "Essa

é a forma de vida deles e não deveríamos julgá-los

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124 I VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

com base em nossos valores. A diferença entre as culturas deve ser respeitada"'.

Será? Será que a cultura é realmente neutra? Será que não existe uma

realidade objetiva pela qual se possam medir as crenças e práticas de uma

cultura? As crianças não são feitas à imagem de Deus? Se sim, precisamos nos

posicionar contra o relativismo cultural; precisamos lutar contra uma cultura e

suas leis que permitem se tirar a vida de um ser humano inocente ou a

escravização de pessoas por causa da cor de sua pele. Se a cultura for relativa.

então, será o poder que determinará quem vive e quem morre. Se os poderosos

quiserem matar pessoas negras ou pessoas com retardos mentais, o que os

impedirá?

A mãe e o pai de Hakani sabiam disso. O irmão e o avô de Hakani

julgaram o modo de vida de sua cultura e chegaram às suas próprias conclusões.

Para fazê-lo, eles não tiveram que consultar valores de outra cultura e, como

pessoas de fora, não devemos julgá-los com base em nossos valores. Mas eles

podem e nós podemos emitir um julgamento com base nos valores que fluem da

Realidade.

CRIADORES DE CULTURA

Como discutimos no capítulo anterior, existe uma realidade objetiva,

testemunhada pela metanarrativa das Escrituras. Descobrimos que nossa

identidade humana e a identidade do universo têm suas raízes "antes do início"

no caráter e na natureza de Deus, seu Criador. Quando nos aprofundamos na

narrativa da criação, deparamo-nos com um conjunto de verdades vitais ao

correto entendimento de nossa natureza e propósito final: Deus fez a humanidade

para ser criadora de cultura, e é grandemente importante o tipo de cultura que

criamos. Qualquer que seja nosso chamado e aonde quer que sejamos enviados,

como cristãos, nosso trabalho maior é criar a cultura do reino - uma cultura que

reflete a verdadeira natureza e caráter de Deus.

Nossa m issão como criadores de cultura é o mandato da criação ou o ma ndato

cultural. Podemos encontrá-lo na narrativa da criação em Gênesis 1.26-28:

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa

semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu,

sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que

se arrasta sobre a terra. Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à

imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Então Deus os abençoou

e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai

sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que

se arrastam sobre a terra.

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Cultural

125

Lemos aqui que, em meio a sua atividade criativa, Deus disse: "Façamos

o homem à nossa imagem". Com essas palavras, ele estabeleceu a identidade

do ser humano. O ser humano é feito imago Dei - à imagem de Deus. Ele disse

também: "Domine ele...". Com essas palavras, ele estabeleceu o propósito do

ser humano. O ser humano foi feito para governar a Terra para Deus, como

mordomo da casa de Deus.

O que Deus havia feito era perfeito, porém ainda não estava pronto.

Deus é o Criador primário; a humanidade, para usar as palavras de J. R. R.

Tolkien, é uma "subcriadora"

=

. Deus fez a primeira criação. A humanidade

deve fazer urna criação secundária - a cultura - que revele e glorifique o primeiro

Criador e a primeira criação. Os seres humanos foram feitos para ser ativos na

criação, corno mordomos de Deus. Eles devem preencher a Terra com

portadores da imagem de Deus que, por sua vez, desenvolverão a Terra. Como

urna semente que é nutrida e se transforma em um grandioso carvalho, a criação

da mão de Deus era perfeita e completa em si, mas o potencial tinha que ser

liberado pelo homem e a mulher.

Um dos salmos mais lindos faz a seguinte pergunta: "Que é o homem,

para que te lembres dele?". E então revela que os seres humanos, tendo sido

feitos por Deus um pouco abaixo dos anjos, devem governar para Deus. O

Salmo 8.3-8 diz:

Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as

estrelas, que estabeleceste. O que é o homem para que te lembres dele, e o

filho do homem, para que o visites.' Contudo, pouco abaixo de Deus o

fizeste; de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras

das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: todas as ovelhas e bois,

assim como os animais do campo, as aves do céu, e os peixes do mar tudo

o que passa pelas veredas dos mares.

Não é impressionante? Deus fez os seres humanos para "ter domínio

sobre as obras de [suas] mãos" Quantos de nós cederíamos o controle de algo

sobre o qual tenhamos grande interesse ou tenhamos feito grande investimento?

Ainda assim, diferentemente de nós que governamos domínios muito menores,

nosso Deus, todo-poderoso, não é um louco controlador. Deus é mestre em

delegar. Ele nos convida, meros estagiários, a entrar na sala da direção executiva

corno colegas. E não nos dá tarefas sem importância. Ele nos projetou eequipou

para suportar peso. Ao nos fazer à sua imagem, ao nos criar para ser criadores,

Deus deu a cada um de nós uma tremenda responsabilidade e oportunidade. O

estudioso e escritor indiano Vishal Mangalwadi expressa isso com apropriada

reverência: "Deus fala e cria o universo. O homem fala e cria uma cultura que

molda o universo".

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126 I VOCAÇÃO:

Escreva .sua assinatura tio unixTry,

CULTURA: ADORAÇÃO EXTERNALIZADA

Por que se referir às passagens de Gênesis corno um mandato cultural?

Afinal, o que é cultura? E o que significa criar cultura?

Apesar de a história de Hakani mostrar que as pessoas não têm uma só

definição de cultura nem concordam se ela é "criada" ou não, na realidade é

fácil se definir cultura. O teólogo Henry Van Til fez uma afirmação clara e

concisa: "Cultura é a religião externalizada."

4

.

As palavras cultura, cultivar e culto capturam essa conexão. A maioria

de nós conhece a palavra culto em seus variados usos, desde a conotação

religiosa das seitas à obsessiva veneração às celebridades. Entretanto, nesses

casos, as pessoas erram o objeto de sua adoração, já que, em sua raiz, culto

significa "adoração ou homenagem reverencia a um ser divino". Assim como

cultura e cultivar, a palavra culto é derivada do latim cultus, particípio do verbo

colere: cuidar, arar, cultivar. Os dicionários definem cultus - raiz das três palavras

- como cuidado, adoração e veneração.

Essa família de palavras interconcctadas reflete a verdade de que a raiz

da cultura é a adoração. Em Plowing in Hope: Toward a Biblical Theology of

Culture [Cultivando com Esperança: Por urna Teologia Bíblica da Cultura],

David B. Hegeman declara:

O termo [cultura] também poderia ser utilizado em uni contexto

religioso com o sentido de adoração. A ideia aparentemente é que, da

mesma maneira que um agricultor cuida de forma ativa de suas plantações,

o adorador também dá grande atenção à deidade a quem .serve. Por

conseguinte, o termo está intimamente relacionado com O termo latino

cultos que significa adoração ou veneração. A língua inglesa preserva

essa conexão com termos como cult, calar, occult, etc.'

Em seu cerne, a cultura é produto do culto de um povo ou de sua religião

cívica. Ela é um reflexo do deus a quem se adora.

Isso entra em contraste com a premissa materialista moderna de que a

cultura é de alguma forma a soma de um modo de vida de grupos específicos

de pessoas. Em seu livro The Micah Mandate [O Mandato de Miquéias], George

Grant - pastor e educador - aponta o entendimento agostiniano da natureza da

cultura. Ele escreve:

De acordo com Agostinho, a cultura não é um reflexo da raça, da

etnia, do folclore, da política. da língua ou da herança de um povo. A

cultura é, na verdade, um reflexo do credo de um povo. Em outras palavras,

a cultura é uma manifestação temporal da fé de uni povo. Se a cultura

começa a mudai; isso não se deve a modismo ou ao passar do tempo, mas

é devido a uma mudança na cosmovi.são - devido a uma mudança de fé.

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Cultura

1 1 27

Portanto, raça, etnia, folclore, política, língua ou herança são

simplesmente unia expressão de um paradigma mais profiindo na matriz

espiritual da igreja de

III1Ia

comunidade e na integridade de seu

testemunho.

A razão pela qual Agostinho passou tanto tempo de sua vida e

ministério criticandoUSfilosqffias

pagãs do mundo e expondo as aberrantes

teologias da igreja foi porque entendeu muito bem que essas coisas são

importantes não somente no aspecto da eternidade, ao determinar o

destino espiritual da humanidade, mas também no aspecto do aqui e agora,

determinando o destino temporal de civilizações inteiras.

(...) Agostinho reconheceu que a cosmovisão dominante de um

povo inevitavelmente molda o seu mundo.'

É fácil ver isso em nosso mundo moderno. O Talibã, no Afeganistão,

criou uma sociedade que refletia seu culto. De forma semelhante, a cultura

popular dos Estados Unidos é um reflexo dos ideais materialistas do sistema de

crenças secular.

O conceito moderno de antropologia, derivado do pensamento ma-

terialista, vê a cultura como neutra. No paradigma materialista, no qual não há

Deus, não existe uma verdade objetiva; portanto, tudo é relativo. A partir desse

grupo de pressuposições, não há como uma pessoa ou cultura criticar a outra.

Nenhuma cultura ou aspecto de uma cultura é visto corno melhor do que outro.

Como tal, toda cultura é avaliada pelo que é. Com esse panorama, como podemos

distinguir entre os campos de concentração da Alemanha nazista, os hospitais

das Irmãs de Caridade de Madre Teresa e a cultura pop da América

contemporânea?

Sendo derivada do culto, a cultura nada possui de neutra. A cultura está

na convergência das esferas espiritual e física. Na realidade, pode-se dizer que

a esfera espiritual influencia a esfera física no nível da cultura. Assim como as

ideias têm consequências, nosso culto também tem.

O culto leva à cultura. Isso, por sua vez, determina os tipos de socie-

dades e nações que construímos. Se as pessoas adoram uma deidade cheia de

caprichos e que pode ser subornada, como no animismo do Oriente, logo uma

cultura de corrupção se estabelece na qual o suborno é parte da vida cotidiana.

Tal situação se manifesta nos sistemas comerciais, econômicos, governamentais

e judiciais que se enchem de corrupção. Isso, por sua vez, leva ao empo brecimento

material da nação, sem mencionar o empobrecimento espiritual.

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128 1

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura na universo

A HISTÓRIA DE KATHLEEN NORRIS

Quando a poetisa Kathleen Norris

deixou o mundo das artes de Nova Iorque

para mudar-se temporariamente para Dakota

do Sul ao herdar a casa de sua avó, ela não

fazia ideia do tipo de viagem na qual estava

embarcando. A mudança "temporária" acabou

durando vinte e cinco anos na medida em

que ela e seu esposo se tornaram parte da

comunidade das planícies - uma cultura bem

diferente.

Enquanto vivia na casa de seus avós,

Norris tornou-se membro e atuou como

pregadora na Igreja Presbiteriana de sua avó,

uma viagem que ela narra em seu primeiro

livro de não ficção Dakota: A Spiritual Geog-

raphy [Dakota: Uma Geografia Espiritual].

Norris tornou-se aberta ao cristianismo em

parte por causa dos monges de um mosteiro

beneditino. Para ela, assim como para muitos

escritores, a poesia em si era sua religião. Ao

comparecer em algumas sessões de leitura

literária no mosteiro, Norris deu outro passo

em uma profunda jornada que seria apoiada

por sua crescente amizade com os monges.

Por meio de uma longa luta, a poetisa veio a

ser uma seguidora de Cristo.

Anteriormente convencida de que ser

cristã e escritora eram coisas incompatíveis,

um temor que seus amigos escritores

continuavam a expressar, Norris provou o

contrário, prosperando em sua vocação. Além

de sua poesia, ela escreveu diversos

bestsellers para o New York Times, entre os

quais, Dakota e Amazing Grace: A Vocabu-

lary of Faith [Maravilhosa Graça: Um

Vocabulário da Fé]. Este último é uma série

de ensaios, cada um explorando uma palavra

importante para a fé cristã - inclusive muitas

palavras que ela diz terem parecido

assustadoras ou pesadas quando retornou

à igreja na idade adulta. A intenção e sucesso

de Norris com esse livro é bem resumido pela

agência Barclay que a representa: "Seu livro

Amazing Grace dá continuidade ao tema de

que o mundo espiritual está arraigado ao caos

da vida diária. Nesse livro, ela lança luz sobre

conceitos teológicos muito difíceis, tais como

graça, arrependimento, dogma e fé. Sua

intenção é contar histórias sobre esses

conceitos religiosos embasando-os no

mundo em que vivemos"'. O San Francisco

Sunday Examiner & Chronicle chama Norris,

de maneira muito acertada, de "uma das mais

eloquentes escritoras espirituais terrenas de

nosso tempo'.

Em uma entrevista, o jornal Homiletics

perguntou a Norris por que ela havia por tanto

tempo sentido que o cristianismo e sua

atividade

omo

scritora

ram

irreconciliáveis:

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Cultura 1 129

NORRIS:

Foi em grande parte devido

a minha educação. Cresci nos anos 50 e 60.

A psicologia fez parte disso também. Muitos

escritores se interessaram bastante pelo

crescimento da psicologia após a Segunda

Guerra Mundial e pela visão freudiana; a

religião era uma infantilidade que deveria ser

superada. Assim, acho que isso se infiltrou

em minha educação e cultura. A religião era

algo para crianças e velhinhas; se você fosse

realmente sofisticado e adulto, não precisaria

de religião. E ainda se vê essa atitude. Não

houve muitos escritores contemporâneos dos

quais gostasse e que fossem cristãos ou

expressassem ideias cristãs em seu trabalho.

Mas isso está mudando. Há muitos escritores

de minha geração e mais jovens que não

veem problema algum [em serem escritores e

cristãos]. E eu também não vejo mais. Porém

foi realmente uma luta. Eu pensava que teria

que abrir mão do meu intelecto, que minha

habilidade de escrever seria prejudicada...

HOMILETICS:

Que seria algo de

qualidade inferior.

NORRIS:

Sim, e houve outros

escritores que se preocuparam com isso e

disseram: "Como você consegue escrever

agora?". Lembro-me de uma sessão de

leitura certa vez. Eu havia escrito alguns

poemas com base em temas bíblicos e a

sensação era algo do tipo: "Olha, eu

consigo ". E foi divertido juntá-los e dizer:

"Esses não são opostos polares. Um alimenta

o

outro. Um inspira o outro. Eles trabalham

juntos".

Como Norris descobriu e demonstra

tão vividamente em seu trabalho, a fé cristã

não impede a honestidade, a criatividade ou

a arte, mas as inspira. Seus tópicos refletem

uma vida plena que não é presa, mas

alimentada pela fé; sua escrita explora

experiências diversas, inclusive o momento

em que encontrou seu espaço na faculdade

e

no mundo das artes de Nova Iorque du-

rante os tumultuados anos de 1960 e 1970; a

vivência, por meses, entre os beneditinos; a

interação com crianças na condição de artista

visitante em escolas de educação básica nas

Dakotas; o modo como lidava com sua

herança espiritual; a luta com questões

relacionadas à identidade e à depressão; a

peleja e o florescimento em seu casamento

de trinta anos. Uma verdadeira criadora de

cultura por meio de seu trabalho como

escritora e sua vida na comunidade, Kathleen

Norris engajou-se com a criatividade e a

disciplina, manifestando para a igreja e para

a cultura geral um pouco da natureza de Deus

e

das pessoas em sua criação.

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130 I VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

AVALIANDO A CULTURA

Está claro que a cultura não é neutra. Por vivermos em um universo

criado pelo Deus vivo e por existir uma realidade objetiva, apesar do que diz o

pensamento pós-moderno, a cultura de um povo pode ser criticada e avaliada.

Não somente pode, como deve ser avaliada. Se estivermos interessados na

saúde das nações, devemos distinguir os aspectos que levam à justiça daqueles

que geram corrupção. Devemos examinar os aspectos que geram liberdade,

compaixão e bem-estar econômico em contraste com aqueles que geram

escravidão, crueldade e pobreza.

Três principais padrões culturais podem nos guiar na avaliação de uma

cultura: a cultura do reino, a cultura falsa e a cultura natural'. Elas podem ser

encontradas em graus diferentes em qualquer nação. Toda nação terá algum

tipo de cultura do reino e de cultura falsa. Esse padrão presume que existe um

Deus e que ele criou um universo real e objetivo em que existe verdade e

falsidade, bem e mal, beleza e escuridão.

ELEMENTOS DA CULTURA

A VERDADE

AFIRMA

A MENTIRA

NATURAL

OPÕE-SE

ELEBRA

A

Cultura do Reino

A cultura do reino é construída sobre a realidade, a realidade criada por

Deus. Ela é um reflexo da natureza e do caráter do Deus vivo. A cultura do

reino é produzida quando as pessoas, consciente e inconscientemente, obedecem

às leis de Deus, que são uma manifestação de seu caráter. Assim como Deus

é verdadeiro, justo e belo, também o são sua criação e as leis que a governam.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Cultura 1 131

Quando Jesus disse aos discípulos que fizessem discípulos de todas as nações

"ensinando-lhes a obedecer tudo o lhes havia ordenado" (Mateus 28.20), a frase

"tudo que lhes tenho ordenado" está ligada à verdade (que reflete as leis

metafísicas e físicas de Deus), à justiça (que reflete as leis morais de Deus) e

à beleza (que reflete as leis estéticas de Deus). Douglas Jones e Douglas Wil-

son descrevem essa trilogia como "as três faces da cultura". Esses são os

fundamentos da cultura do reino, e eles levam à vida, à saúde e ao

desenvolvimento.

CULTURA DO REINO: CONSTRUÍDA NA REALIDADE

VERDADE: REFLETINDO AS LEIS FÍSICAS E METAFÍSICAS DE DEUS

JUSTIÇA: REFLETINDO AS LEIS MORAIS DE DEUS

BELEZA: REFLETINDO AS LEIS ESTÉTICAS DE DEUS

A cultura do reino é uma manifestação do reino de Deus. Jesus chama

seus discípulos a fazer o reino dos céus impactar o reino da Terra. A Oração do

Senhor'" reconhece a conexão entre os dois reinos: "Venha o teu reino, seja

feita a tua vontade assim na terra como no céu". O reino de Deus é qualquer

esfera onde sua vontade é feita e onde as pessoas obedecem aquilo que ele

ordenou. A substância do reino é a mesma no presente e no futuro, na terra e

no céu. A diferença não é a substância, mas o nível de realização.

A cultura do reino chama cada pessoa e nação a ir "mais alto e se envolver

mais"" no reino de Jesus. Ela chama ao desenvolvimento da terra, ao cultivo

do solo assim como da alma, como um ato de adoração ao Deus vivo. A igreja

deve criar uma cultura que manifeste a natureza e o caráter do Deus vivo ao

mundo que os observa. Isso significa que devemos levar a verdade (a metafísica

bíblica), a justiça (a ética bíblica) e a beleza (a estética bíblica) para a vida

como um todo.

Em toda nação, se encontrará elementos da cultura do reino. E onde

quer que eles forem encontrados devem ser cultivados e encorajados.

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132 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

CULTURA DO REINO VIVIDA E PROCLAMADA

METAFÍSICA BÍBLICA

1

01.0

ESTÉTICA

BÍBLICA

N

.0

S

ÉTICA BÍBLICA

A Cultura Falsa

A cultura falsa é o produto de se crer nas mentiras de Satanás sobre o

que é verdadeiro, justo e belo. Satanás mente tanto para indivíduos quanto para

nações. Ele mente às nações no nível da cultura. Isaías alerta a nação de Israel

contra a distorção da realidade:

Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que põem as trevas

por luz, e a luz por trevas, e o amargo por doce, e o doce por amargo (Is.

5.20)

É a crença nessas mentiras que leva à morte, à escravidão e ao em-

pobrecimento de nações inteiras. Cada nação tem algum nível de cultura falsa,

como as ideias da tribo dos Suruwahá em relação aos bebês que devem viver,

ou a crescente cultura americana que diz não haver Deus, ou a cultura sexista

encontrada em tantas partes do mundo que insiste que as mulheres são inferiores

aos homens. Se a nação quiser crescer com saúde, ela deve reconhecer os

elementos destrutivos, desarraigá-los e substituí-los pelos princípios do reino.

Cultura Natural

Os elementos naturais de uma cultura se encaixam no aspecto da

neutralidade moral - nem bons, nem maus. Eles dizem respeito à singularidade

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Capítulo 9

ELEMENTOS DO

MANDATO CULTURAL

Como aprendemos no capítulo anterior, o trabalho do cristão, independente

de sua vocação específica, é criar a cultura do reino - uma cultura que reflete

a verdadeira natureza e caráter de Deus. A narrativa da criação fornece diversos

princípios básicos que nos guiarão enquanto vivemos esse chamado, enchendo

a Terra com o conhecimento de Deus.

AS DUAS PARTES DO MANDATO CULTURAL

Em primeiro lugar, é importante que reconheçamos que há duas partes

principais no mandato cultural em Gênesis, uma em relação à sociedade e a

outra em relação ao desenvolvimento.

O Mandato para a Sociedade

Após criar os seres humanos à sua imagem, Deus os abençoou e lhes

disse: "Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra..." (Gn 1.28). A humanidade

foi criada para viver em comunidade; e a unidade básica da comunidade é a

família. Adão e Eva deviam ter filhos, e seus filhos deviam ter filhos. Eles

deveriam frutificar e multiplicar-se para encher a Terra. Mas encher a Terra

de que? O materialista vê o ser humano como um animal, um consumidor de

recursos, uma boca a se alimentar - e nada mais. Quando o comando à

multiplicação e ao enchimento da Terra é abordado pelo ponto de vista

materialista, ele quer dizer cada vez mais bocas a se alimentar.

Mas o modelo bíblico entende que os seres humanos são a imagem de

Deus. Eles têm mentes e corações capazes de inovar e criar. "Encher a terra"

não é multiplicar o número de bocas que consomem recursos, mas aumentar o

número de portadores da imagem de Deus que administram e cultivam a Terra

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136 VOCAÇÃO:

Escreva

sua assinatura no universo

para gerar beleza e abundância.

Os criadores de cultura devem ser enviados a todo canto do mundo para

encher a Terra com o conhecimento de Deus.

O Mandato ao Desenvolvimento

A segunda parte do mandato cultural diz respeito ao desenvolvimento.

"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem. conforme a nossa

semelhança; domine ele sobre os peixes do mar. sobre as aves do céu, sobre os

animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta

sobre a terra" (Gn 1.26). Como discutimos no capítulo anterior, o homem foi

criado para governar para Deus. Ele nos criou para sermos mordomos de sua

casa.

Há duas maneiras pelas quais a humanidade pode exercer a mordomia -

com as mãos e os pés, e com a alma e o espírito. Gênesis 2.15 declara: "Tomou,

pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e

guardar". E Gênesis 2.19-20 revela o segundo aspecto desse mandato ao

desenvolvimento:

Da terra ~no'', pois, o S enhor Deus todos os animais do campo e

todas as aves do céu e os trouxe ao homem, para ver como lhes chamaria;

e tudo o que o hom em chamou a todo ser vivente, isso foi o seu nome. Assim

o homem deu nomes a todos os animais domésticos, às aves do céu e a

todos os animais do campo.

Vemos nessas duas passagens os aspectos gêmeos dados ao homem, o

criador de cultura. Em primeiro lugar, há o cultivo do solo, usando suas mãos

para trabalhar e cuidar do jardim. Em segundo, o cultivo da alma, usando a

mente e o coração para nomear os animais. Aqui o homem usa a mente na

observação, no raciocínio e na categorização, e, em seguida, há a utilização do

coração na criatividade e paixão.

É interessante ressaltar que o significado das palavras cultivar e cultura

testificam desses aspectos do trabalho do homem no mandato cultural. Juntas,

as palavras cultivar e cultura têm dois sentidos: preparar a terra física para o

plantio e preparar a mente do indivíduo e da sociedade para o crescimento e a

maturidade. Literalmente, a palavra cultivar significa "melhorar e preparar (a

terra), arando ou fertilizando, para o plantio"'. Nesse sentido, também podemos

falar de "cultivar a mente", a tal ponto que alguns dicionários primeiro definem

cultivo como "refinamento" e "cultura".

Por outro lado, a palavra cultura na língua portuguesa também significa

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Elementos do mandato cultural

I 137

urna área de terra cultivada. A partir desse sentido de cultivo do solo, essa

palavra tomou o sentido de cultivo da mente, das faculdades ou das boas

maneiras. Cultura pode se referir ao "treinamento, desenvolvimento, refinamento

da mente e das boas maneiras; condição de ser treinado e refinado; o lado

intelectual da civilização"

2

. As definições do dicionário capturam tanto as raízes

quanto a utilização corrente de cultura: "o cultivo do solo" e "a totalidade dos

padrões de comportamento, artes, crenças, instituições e todos os outros

produtos do trabalho humano transmitidos socialmente".

Perceba que ambos os aspectos de nossa mordomia - o cultivo do solo e

o cultivo da alma - são alcançados por meio do uso do corpo, e que existe um

equilíbrio entre ação (trabalhar e cuidar do jardim)

4

e reflexão (nomear os

animais)5

. Deus nos deu mãos e pés para nos engajarmos fisicamente no mundo.

Ele nos deu mentes e corações para pensarmos e criarmos. Não devemos

trabalhar de forma mecânica; também devemos pensar sobre o nosso trabalho.

Deus estabeleceu o domínio do homem sobre a natureza ao fazê-lo criador

de palavras. Parte da imagem de Deus em nós está em nossa habilidade de

raciocinar, criar palavras e compreender distinções criadas. Como o homem

segue a Deus na utilização da linguagem, ele é separado do restante da criação

como o criador de cultura. Enquanto guiados pela adoração (culto), Adão e Eva

deveriam criar cultura cultivando tanto o solo quanto a alma.

CARACTERÍSTICAS CRÍTICAS DO MANDATO CULTURAL

Gênesis revela verdades que caracterizam esse trabalho que Deus nos

criou para fazer.

Um Projeto Comunitário

Primeiro, o mandato cultural é um projeto comunitário. Esse mandato e

seus elementos subordinados, relativos à sociedade e ao desenvolvimento,

necessitam tanto de homens quanto de mulheres. Ambos são igualmente

portadores da imagem de Deus e igualmente chamados a exercer mordomia

sobre a criação '̀.

O relato de Gênesis revela que um único homem não era suficiente para

completar a tarefa. Eram necessários homens e mulheres para criar uma

comunidade. Após criar o homem, "O Senhor disse: 'Não é bom que o homem

esteja só. Far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea.' (...) Então, o Senhor

fez o homem cair em um profundo sono; e enquanto dormia, ele tirou uma das

costelas do homem e fechou a carne em seu lugar. E da coste-la que o Senhor

Deus lhe tomara, formou a mulher e a trouxe ao homem" (Gn 2.18, 21-22).

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Elementos do mandato cultural

1 139

Um Processo Dinâmico

Terceiro, alcançar o potencial que Deus construiu na criação é um

processo dinâmico, caracterizado por atividade e progresso. A criação de Deus

não é para ser estática, mas estimulada a se desenvolver. Deus entrega ao

homem as tarefas de explorar, desenvolver e cultivar o solo, a alma e a cultura.

Os recursos devem ser descobertos e criados. A cultura piedosa deve ser

manifesta e as sociedades civilizadas devem ser construídas. Cidades devem

ser estabelecidas onde floresçam as artes, a ciência e o empreendedorismo. E

a Terra seja cheia do conhecimento do Senhor".

Há um tema que mantém as Escrituras unidas. A narrativa bíblica e toda

a história humana começam em um jardim - o Jardim do Éden

1 2 - e terminam

em uma cidade - a Nova Jerusalém'. David Hegeman descreve a beleza da

unidade das Escrituras do início de Gênesis ao fim de Apocalipse: "Existe uma

profunda sequência que perpassa a Bíblia inteira, do jardim original à Jerusalém

celestial. O lugar final é descrito tanto como um jardim [paradeisos] quanto

como uma cidade [polis], formando a paradigmática cidade-jardim" 5 .

A tarefa conferida aos seres humanos em Gênesis, como criadores de

cultura, é administrar a criação para que, de um lindo jardim, ela venha a se

tornar uma gloriosa cidade em um parque, uma cidade-jardim. A harmonia que

existia antes da Queda entre o homem, a criação e Deus deve ser restaurada,

e ela é o objetivo do fim dos tempos quando haverá uma harmonia completa

entre a criação do homem (a cidade) e a criação de Deus (a natureza).

De Semente a Árvore

Em quarto lugar, conforme cumprimos o mandato cultural, seguimos uma

progressão como a da semente de uma árvore. A humanidade deve liberar o

potencial presente na criação, assim como uma semente deve liberar seu potencial

e tornar-se uma grandiosa árvore. A pequena, simples (ainda que complexa) e

linda semente deve ser trabalhada e guardada de maneira a se tornar uma

árvore grandiosa. Esta se torna a casa de pássaros e esquilos, além de prover

sombra ao trabalhador cansado e um lugar para o piquenique de um casal

apaixonado. Ela se torna objeto da caneta do poeta e do pincel do pintor. Produz

também suas próprias sementes, manifestando o princípio da multiplicação e

criando centenas de novas florestas.

Deus colocou na criação os surpreendentes princípios iniciais. A

sementinha torna-se uma grandiosa árvore com o potencial de semear muitas

florestas. O DNA do primeiro cachorro continha todas as características dessa

espécie, gerando a incrível variedade de cães que vemos ao redor do mundo

hoje. O DNA da primeira rosa produziu todas as rosas que existem hoje. A

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140 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

partir das três cores primárias, surgiram todas as pinturas já pintadas ou que

ainda o serão. Dos fundamentos das notas musicais e de suas harmonias vieram

todas as sinfonias, baladas e canções de amor já compostas. Dos princípios

elementares dos números veio a matemática e o desvelar das verdades científicas

descobertas até o momento e que ainda o serão. Do primeiro princípio da fala

surgiram todos os poemas, versos, sonetos e provérbios de todas as línguas - e

até mesmo mundos inteiros como a Terra Média (de J. R. R Tolkien) e Nárnia

(de C .S. Lewis). De fato, começando com o trabalho de Adão de dar nome

aos animais, as vastas esferas do conhecimento diante de nós continuam a se

multiplicar hoje.

Toda vez que o ser humano constrói sobre os princípios iniciais, ao

descobrir coisas escondidas, explorar a imensidão do espaço, escrever e compor.

ele faz o que Deus planejou para que ele fizesse. Assim ele está exercendo

mordomia sobre o jardim, cumprindo o mandato cultural.

UMA QUESTÃO DE VIDA OU

MORTE

Claramente, o ser humano foi feito para criar cultura. Essa é sua primeira

tarefa. No entanto, a questão não é: O homem fará cultura?, mas sim: Fará ele

uma cultura boa ou ruim? Será ela construída sobre princípios do reino ou sobre

princípios falsos? Será que ela contribuirá para a verdade, a justiça e a beleza

ou para a ignorância, a corrupção e a feiura?

Neste capítulo, exploramos apenas algumas das preciosas intenções de

Deus para conosco como criadores de cultura. No próximo capítulo,

consideraremos o que significa ser criador de cultura em um mundo caído.

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Capítulo 10

A QUEDA, A CRUZ E A

CULTURA

Mesmo tendo Deus criado o ser humano à sua própria imagem, dando-

lhe a tremenda responsabilidade e alegria de ser seu mordomo, o homem rejeitou

sua identidade e seu propósito. Na Queda, o homem se tornou um rebelde

contra o Altíssimo Rei dos Céus que é a própria definição de tudo o que é bom.

O homem escolheu não participar da perfeita bondade de Deus. E a Queda

levou os seres humanos a criarem uma cultura que não reflete a natureza dele.

O fundamento para a cultura perfeita fora destruído, causando uma

fragmentação em todos os relacionamentos: de Deus com a humanidade, pessoa

a pessoa, pessoa e criação. Essa fragmentação inclui nosso relacionamento

com o trabalho e nossa função como criadores de cultura.

Mas a história não termina com a Queda Deus continua operando no

mundo, avançando seu reino. Jesus morreu na cruz para redimir os perdidos e

restaurar o que foi quebrado. Paulo revela que toda a criação espera pela

redenção', e que Jesus morreu para reconciliar todas as coisas consigo mesmo'.

A cruz não restaura somente o relacionamento do indivíduo com Deus, mas

também lança o fundamento para a cura substancial em todos os

relacionamentos. Isso significa que o mandato cultural encontrado em Gênesis

1 e 2 tem a capacidade de ser renovado.

A morte de Jesus restaurou e afirmou o ser humano como criador da

cultura de Deus.

Dallas Willard, em seu maravilhoso livro The Divine Conspiracy [A

Conspiração Divina], diz o seguinte:

Jesus esteve entre nós para mostrar e ensinar a vida para a qual fo-

mos feitos. Ele veio muito gentilmente, abriu o acesso ao governo de Deus

consigo e estabeleceu uma conspiração de liberdade em verdade entre os

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142 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

seres humanos. Tendo vencido a morte, ele permanece entre nós. Confiando

em sua palavra e presença, somos capacitados a reintegrar o pequeno

reino o qual nossa vida constitui no infinito governo de Deus. E esse tipo

de vida é eterno. Dentro de seu ativo governo, nossas ações tornam-se um

elemento na história eterna de Deus. Elas são o que Deus e nós fazemos

juntos, tornando-nos parte de sua vida e ele parte da nossa

Aqui Willard expressa o mistério da conexão orgânica entre nossa vida

e trabalho e a vida e o trabalho de Deus. A Queda gerou reinos quebrados que

rejeitaram o governo de Deus e resultaram em um mundo de desordem e morte.

Mas Jesus venceu a morte e nos mostrou como viver. Somos capacitados por

ele a trabalhar juntos com Deus para reparar e reunir os reinos separados pela

Queda. A questão crucial para os cristãos em relação ao mandato cultural é

esta: A Queda tomou nossa mordomia mais difícil. Entretanto, seguindo os passos

de Cristo, a humanidade é perfeitamente capaz de se posicionar contra suas

consequências.

O TRABALHO EM UM MUNDO DISTORCIDO

Em sua obra magistral Além do Planeta Silencioso

4 , C. S. Lewis des-

creve um planeta em rebelião contra o Criador do Universo como o "planeta

silencioso". Desde a rebelião de Adão e Eva, vivemos em um mundo caído e

estamos corrompidos.

Houve consequências naturais de nossa rebelião. Negar a ordem de

Deus é trazer desordem. Moisés explica a escolha diante de nós: viver na

ordem de Deus, obedecendo as suas ordenanças ou viver na desordem e na

morte, consequências do pecado:

Porque este mandamento, que eu hoje te ordeno, não te é difícil de-

mais, nem tampouco está longe de ti. Não está no céu para dizeres: Quem

subirá por nós ao céu, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o

cumpramos? Nem está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós

além do mar, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos? Mas

a palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a

cumprires. Vê que hoje te pus diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal.

Se guardares o mandamento que eu hoje te ordeno de amar ao Senhor teu

Deus, de andar nos seus caminhos, e de guardar os seus mandamentos, os

seus estatutos e os seus preceitos, então viverás, e te multiplicarás, e o

Senhor teu Deus te abençoará na terra em que estás entrando para a

possuíres. (...) O céu e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que

te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois,

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A queda, a cruz e a cultura

1 143

a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, amando ao Senhor teu

Deus, obedecendo à sua voz, e te apegando a ele; pois ele é a tua vida, e

o prolongamento dos teus dias; e para que habites na terra que o Senhor

prometeu com juramento a teus pais, a Abraão, a saque e a Jacó, que lhes

havia de dar (Dt 30.11-16; 19-20)

E. Stanley Jones sintetizou a importância da obediência às leis de Deus

em muitos de seus escritos. Ele explica que, como as leis e ordenanças de

Deus são imutáveis, elas são inquebráveis. Assim, quando nós, seres humanos,

tentamos quebrar as leis de Deus, nós é que somos quebrados. Se tentarmos

quebrar a lei física da gravidade saltando de um alto prédio, não conseguiremos

quebrar a lei, mas seremos quebrados. Se tentarmos quebrar, por exemplo, a lei

moral "não cometerás adultério", não quebraremos a lei, quebraremos a nós

mesmos e nossas famílias contra a lei.

Nosso pecado nos tornou pessoas quebradas e trouxe fragmentação à

criação. Ainda assim, para compreendermos corretamente nosso trabalho no

mundo, é crucial entendermos o que está quebrado e o que não está. Sobre a

questão do trabalho, muitos cristãos consideram o trabalho uma maldição. Mas,

como já dissemos, o trabalho já existia antes da Queda. Não foi o trabalho que

foi amaldiçoado, mas o solo. Além do que ele produzia de bom, agora produziria

também espinhos e cardos', e haveria secas, inundações, terremotos e fome.

Passaria então a existir o mal na esfera natural, algo que nossos antepassados

chamavam de "mal natural". O trabalho do ser humano seria mais difícil ("do

suor do rosto"), mas não seria mau em si.

Então, será que devemos nos assentar passivamente e deixar as ervas

daninhas infestarem o solo? Ou será que devemos desafiá-las? Como nossos

antepassados disseram, nós também devemos nos posicionar ativamente con-

tra o mal natural. O grande escritor de hinos e pastor inglês Isaac Watts (1674-

1748) sintetizou a mentalidade apropriada ao cristão em sua linda canção de

Natal "Joy to the World" [Alegria ao Mundo]. Em uma estrofe, canta-se do mal

natural e de nossa resposta a ele.

Que os pecados e as dores não cresçam mais,

Nem os espinhos infestem o solo;

Ele vem fazer fluir Suas bênçãos

Onde quer que se encontre maldição,

Onde quer que se encontre maldição,

Onde quer, onde quer que se encontre maldição.

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144 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura na universo

Essencial ao desenvolvimento de uma teologia bíblica da vocação é

lembrarmos que o trabalho é parte do que declarou Deus como sendo "muito

bom" (Gn 1.31). O homem foi feito para trabalhar como parte de sua dignidade.

como parte da inerente natureza do que significa ser humano, ser imagem do

Deus que trabalha. Como escreveu o Papa João Paulo II: "O homem foi feito

para ser no universo visível uma imagem e semelhança do próprio Deus; e foi

posto na terra para dominá-la. Portanto, desde o princípio, ele é chamado a

trabalhar".

Não somente o trabalho do ser humano não é amaldiçoado, como o próprio

ser humano não o é. Na batalha decisiva da guerra espiritual, o Filho de Eva

estava destinado a esmagar (derrotar) Satanás no mesmo momento em que

este ferisse Cristo na cruz'. Nós, seres humanos, somos imediatamente objetos

da promessa redentora de Deus, e nosso trabalho será um agente da redenção

no mundo na medida em que trabalhamos com Deus.

Não obstante, a inteireza de nossa vida e trabalho, parte tão importante

da intenção de Deus para nós, sentirá o peso da corrupção do pecado. Nas

dificuldades para realizar papéis que nos são conferidos dentro do contexto da

destruição gerada pelo pecado. podemos experimentar que o próprio trabalho

está desconectado de Deus e, portanto, de suas âncoras e significado teológicos.

O trabalho como mordomia, chamado. empreendedorismo e

parte do mandato

cultural está ameaçado e, nesse contexto degradado, podemos considerá-lo

entediaste, mecânico, repetitivo, difícil e, até mesmo, fútil.

Em uma escala maior, a Queda levou os sistemas econômicos a se

separarem dos princípios do reino. Princípios contrários levam a sistemas

dominados pela ganância e a corrupção. Esses sistemas, em vez de criarem um

ambiente onde os portadores da imagem de Deus podem florescer em seus

talentos artísticos e habilidades, reduzem o trabalho a nada mais do que

movimentos de engrenagens em uma máquina, como na cosmovisão comunista/

materialista, ou ao desempenho de um papel menos importante do que o serviço

de um servo ao bel-prazer de seu senhor feudal, como nos sistemas

mercantilistas.

Contudo, onde quer que o pecado tenha gerado maldades sistêmicas

como essas ou uma deslocação pessoal de nossas vidas e trabalho para longe

das intenções de Deus, este também está trabalhando para reverter os efeitos

da Queda e nos chamando a trabalhar com ele.

REALISMO-IDEALISMO

Vivendo em um mundo caído, somos incumbidos da responsabilidade de

lutar tanto contra o mal ético quanto contra o mal natural. Há urna guerra para

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A queda, a cruz

, e a cultura I 145

redimir toda a criação dos efeitos da Queda'. Deus continua a operar, por meio

da graça comum, para sustentar o universo. O homem colabora com Deus

para reverter os efeitos do mal natural por meio da ciência e tecnologia, e as

fronteira da pobreza por meio do empreendedorismo econômico. Conforme o

evangelho avança para transformar os corações das pessoas e conformá-las à

imagem de Cristo - a imagem original do ser humano - a dignidade do trabalho

é afirmada e a vocação é estabelecida por meio da conexão com o reino de

Deus.

Devemos ter duas atitudes em relação ao trabalho em um mundo caído:

realismo e idealismo. O realismo nos lembra de ver as coisas como elas são:

estruturas econômicas corruptas, seres humanos pecadores e mal natural. Não

existe vida perfeita nem trabalho perfeito. Até Cristo voltar, o suor do rosto

permanecerá. Não podemos ser romanticamente utópicos. Como Francis

Schaeffer gostava de dizer: "Se esperarmos a perfeição ou nada, o resultado

será sempre nada ".

Entretanto, além de sermos realistas, precisamos ser idealistas. Sabemos

que Cristo, na cruz, venceu uma batalha crucial que marcou o ponto decisivo na

guerra cósmica contra o mal moral e natural'. Conhecemos o resultado final do

conflito. Cristo nos chamou a seguir sua bandeira em meio à batalha. Deus está

em operação no mundo, redimindo sua criação, construindo seu reino. Nós

devemos participar disso. A agenda de Cristo é a nossa agenda. O idealismo

nos chama a ver as coisas como deveriam ser, refletidas na oração: "Venha a

nós o teu reino, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu" (Mateus

6.10). Somos chamados a nos engajar na batalha para o avanço do reino em

vez de ficarmos sentados de forma passiva. Como servos do Rei, fazemos isso

de maneiras muito tangíveis aqui na terra, empregando todos os dons naturais e

espirituais com os quais fomos equipados para combater a fome, a pobreza e a

ignorância e para lutar pela verdade, pela vida e pela justiça.

Em meio à fragmentação, o homem redimido deve trabalhar para redimir

a cultura e transformar as nações. David Hegeman resume a questão desta

forma:

Portanto, Deus procura criar urna comunidade de pessoas

redimidas e equipadas para toda a boa obra. Somos redimidos para que

possamos trabalhar A raça humana é trazida de volta a um estado de

justiça para que possamos retornar ao nosso chamado edênico de desen-

volver ("trabalhar") a Terra, transformando-a em uma gloriosa cidade-

jardim e finalmente tomando posse de nossa esperada herança.'"

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VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

O ser humano redimido não deve simplesmente seguir a cultura existente,

muito menos deve apenas enfocar o ataque às coisas negativas da cultura. Ele

deve promover a cultura do reino. E deve sempre ser "contracultural" em relação

ao sistema do mundo. Como alguém já disse, não basta reclamar da escuridão;

precisamos acender uma luz em meio às trevas.

Em suma, a Queda é real, mas devemos lutar contra ela. Culturas podem

ser transformadas e nações reformadas. A Aliança Abraâmica" que abençoa

todas as nações agora está vinculada à Grande Comissão dada por Cristo para

que discipulássemos as nações "ensinando-as a obedecer tudo o que ordenara"

(Mateus 28.20).

Esse processo é progressivo e dinâmico. A transformação pode ser

substancial, com significativa cura em todas as áreas da vida. Entretanto, não

devemos nos iludir acerca de nossa "perfectibilidade". Nada será perfeito por

aqui até a segunda volta de Cristo. E o progresso acontecerá no Espírito, não

na carne. O processo é uma dança. Cristo é o líder, e nós o seguimos. Ele tem

seu papel e nós temos o nosso. Ele voltará com o seu reino, e enquanto isso

cabe a nós seguirmos seu comando de ocupar o território até que ele volte

(Lucas 19.13). A consumação ocorrerá quando Cristo voltar.

A FINALIDADE DA CULTURA

Qual é a finalidade da cultura? Qual é o propósito da cultura? Para que

estamos trabalhando? Quando Cristo volta no fim da história, ele vem para desposar

sua noiva, a igreja'. Ele retomará com a Cidade Santa, a Nova Jerusalém'.

Então os reis da terra virão carregando presentes para a festa de casamento.

Encontramos essas palavras impressionantes em Apocalipse 21.22-26:

Nela não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor Deus

Todo-Poderoso, e o Cordeiro. A cidade não necessita nem do sol, nem da

lua, para que nela resplandeçam, porém a glória de Deus a tem alumiado,

e o Cordeiro é a sua lâmpada. As nações andarão à sua luz; e os reis da

terra trarão para ela a sua glória. As suas portas não se fecharão de dia,

e noite ali não haverá; e a ela trarão a glória e a honra das nações.

Que cena Os reis da Terra trarão a glória e a honra das nações para

a Cidade de Deus. No final dos tempos, como cumprimento da benção e do

discipulado das nações, a glória singular de cada nação será revelada à luz da

glória de Deus. Assim como os magos do Oriente presentearam o menino Jesus

com ouro, incenso e mirra', também os reis da Terra levarão a glória e o

esplendor das nações a Cristo no dia de seu casamento.

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A queda, a cruz e a cultural

147

Vemos imagens de Apocalipse 21 nos Salmos 46, 72.10-1 7, e 11 7 e em

Isaías 60.1-20. 62.1-3, e 66.18-21. Hegeman aponta as quatro semelhanças

das duas visões

1 5 : Primeiro haverá o ajuntamento das nações para adoração'.

Segundo, não haverá mais sofrimento'

7

. Terceiro, os portões da cidade nunca

se fecharão'''. E quarto, os presentes das nações serão entregues'''.

Vejamos os presentes entregues conforme registrado em Isaías 60.4-14:

Levanta em redor os teus olhos, e vê;

todos estes se ajuntam, e vêm ter contigo;

teus filhos vêm de longe, e tuas filhas se criarão a teu lado.

Então o verás, e estarás radiante,

e o teu coração estremecerá e se alegrará;

porque a abundância do mar se tornará a ti,

e as riquezas das nações a ti virão.

A multidão de camelos te cobrirá, os dromedários de Midiã e Efá;

todos os de Sabá, virão; trarão ouro e incenso,

e publicarão os louvores do Senhor.

Todos os rebanhos de Quedar se congregarão em ti,

os carneiros de Nebaoite te servirão;

com aceitação subirão ao meu altar,

e eu glorificarei a casa da minha glória.

Quem são estes que vêm voando como nuvens

e como pombas para as suas janelas?

Certamente as ilhas me aguardarão,

e vêm primeiro os navios de Társis,

para trazerem teus filhos de longe, e com eles a sua prata e o seu ouro,

para o nome do Senhor teu Deus,

e para o Santo de Israel, porquanto ele te glorificou.

E estrangeiros edificarão os teus muros,

e os seus reis te servirão; porque na minha ira te feri,

mas na minha benignidade tive misericórdia de ti.

As tuas portas estarão abertas de contínuo;

nem de dia nem de noite se fecharão;

para que te sejam trazidas as riquezas das nações,

e conduzidos com elas os seus reis.

Porque a nação e o reino que não te servirem perecerão;

sim, essas nações serão de todo assoladas.

A glória do Líbano virá a ti;

a faia, o olmeiro, e o buxo conjuntamente,

para ornarem o lugar do meu santuário;

e farei glorioso o lugar em que assentam os meus pés.

Também virão a ti, inclinando-se, os filhos dos que te oprimiram;

e prostrar-se-ão junto às plantas dos teus pés

todos os que te desprezaram;

e chamar-te-ão a cidade do Senhor, a Sião do Santo de Israel.

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A queda, a cruz e a cultura 1 149

G. B. Caird, em seu comentário sobre Apocalipse, escreve o seguinte em

relação à gloria e honra das nações:

Nada da antiga ordem que tenha valor à vista de Deus deixará de

entrar na nova ordem. O céu de João não é um nirvana que rejeita o

inundo, e no qual as pessoas podem escapar das incuráveis mazelas da

existência terrena; o céu de João é um s elo de confirmação da bondade da

criação de Deus. O tesouro que as pessoas encontram no céu são os tesouros

e riqueza das nações, o que de melhor conheceram e amaram na Terra

redimido de todas as imperfeições e transfigurado pelo esplendor de Deus.

2 2

C. S. Lewis sintetiza isso em seu livro A Última Batalha'. O mundo

caído que atualmente habitamos é chamado por Lewis de "Terra das Som-

bras", e ele se refere ao "novo céu e a nova terra" como o "País de Aslam".

Aslam, o leão, é uma ilustração de Cristo, Rei dos céus e da terra. Quando os

heróis e heroínas de A Última Batalha passam da Terra das Sombras para o

País de Aslam, este os recebe chamando-os a entrar'. Conforme as crianças

adentram o país, ocorre um alvorecer, uma progressiva revelação. Quanto mais

longe eles vão, mais claro fica que agora estão livres da Terra das Sombras;

estão no lugar pelo qual ansiavam, o lugar para o qual foram feitos. Lewis

escreve: "Finalmente cheguei em casa Esta é minha verdadeira nação Meu

lugar é aqui. Esta é a terra que venho procurando a minha vida inteira, apesar

de não tê-la conhecido até agora". E as crianças inglesas não apenas chegaram

em casa; conforme avançam no País de Aslam, elas sentem que "já estiveram

ali antes". E continuando a viagem, descobrem que estão na Inglaterra em toda

sua glória. Todas as impurezas foram queimadas. Restou somente a singular

beleza da nação". Nessa imagem, Lewis dramatiza lindamente a verdade da

bondade de cada cultura sendo redimida, purificada à luz da glória de Deus.

NOSSO PROPÓSITO ORIGINAL E FINAL

Que tipo de cultura você e as pessoas de sua comunidade estão tra-

balhando para criar? Isso é imensamente importante, no tempo e na eternidade.

O ser humano como imagem de Deus é um criador de cultura. Seu propósito

original, pela ordem de Deus no mandato cultural, é criar uma cultura santa -

uma cultura que incarne a natureza e o caráter do próprio Deus em toda a sua

verdade, beleza e justiça. Ao desafiar Deus e em nossa ignorância, temos

multiplicado a fragmentação por toda a Terra. Mas Deus está trabalhando para

reconciliar todas as coisas a si mesmo. É como reconciliador que ele avança

seu reino, e é como reconciliadores que trabalhamos com ele, manifestando

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VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

sobre a Terra a cultura de um reino verdadeiramente celestial.

O teólogo holandês Herman Bavinck (1854-1921) escreveu:

A cultura, em seu sentido mais amplo, é o propósito para o qual

Deus criou o ser humano à Sua imagem... [que] inclui não somente os

chamados mais antigos à... caça e pesca, agricultura e criação de animais,

mas também ao comércio e à ciência e às artes."

Quer médicos, chefes de cozinha, paisagistas, pastores ou desenvol-

vedores de software, todos nós trabalhamos como criadores de cultura.

Entender nosso trabalho no contexto do mandato cultural é fundamental para

se construir uma teologia bíblica da vocação. Como toda a metanarrativa das

Escrituras testemunha, desde a Criação até a Consumação, nosso trabalho é,

no fim das contas, ver as pessoas chegarem a Cristo, serem levadas à vida de

seu reino e dedicarem suas profissões ao avanço da cultura do reino. É nesse

contexto que encontramos nossos chamados - a conexão de nossa vida e trabalho

com o reino de Deus. Nos próximos capítulos, pesquisaremos o que significa,

para cada um de nós, ser chamado a uma vocação conforme continuamos a

explorar a História Transformadora de Deus.

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PARTE 4:

VOC AÇ Ã O

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Capítulo l

O CHAMADO: Vocação

Os Guinness escreve em The Call [O Chamado]: "Se não houver quem

chame, não haverá chamado - apenas trabalho". E trabalho sem sentido. Se o

universo se cala, como diria o modernista, não há propósito na vida, apenas

"escuridão" e perguntas sem respostas.

Mas, na realidade, o universo não está em silêncio. Antes da criação do

mundo, a comunidade já existia na Trindade. Relacionamento é um dos princípios

fundamentais do universo. Deus criou o ser humano para viver em uma conexão

profundamente pessoal com ele. Dentro do relacionamento de Deus com o ser

humano, Deus é aquele que chama e o homem, aquele que é o chamado.

Portanto, o nosso chamado está na comunhão com a Trindade, com o Deus

soberano que ordena todas as coisas e tem um lugar nessa ordenação

especificamente para "mim".

NOSSO DUPLO CHAMADO

Desde Adão e Eva no Jardim, passando pelos patriarcas e apóstolos, até

chegar aos homens e mulheres dos dias atuais, vemos o Deus do universo

chamando as pessoas para um relacionamento face a face com ele, e cha-

mando-as para suas tarefas pessoais para o avanço de seu reino.

Nosso chamado é, antes de tudo, à salvação. Esse é o primeiro cha-

mado ao qual todos os crentes devem responder. Mas o chamado secundário,

que é singular a cada crente, é à vocação ou ocupação. Cada um de nós em

Cristo é chamado a um papel específico no avanço do reino de Deus, da mesma

forma como Deus chama cada estrela pelo nome. A oração do Senhor: "Venha

o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu" (Mt 6.10),

deve ser levada a sério pelos súditos leais do reino de Deus. Somos chamados

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154 1

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

a entrar no reino e, em seguida, estender esse reino ao mundo levando verdade

(a metafísica bíblica), justiça (a ética bíblica) e beleza (a estética bíblica) para

todos os aspectos da vida por meio de nossa fé e vocação.

A palavra vocação vem do latim vocatio e significa chamado, convo-

cação ou convite, como na frase "o chamado de Deus". Por sua vez, vocatio

vem de vocare, chamar. Noah Webster definiu vocação em seu dicionário de

1828, o American Dictionary of the English Language:

Entre os teólogos, um chamado pela vontade de Deus; ou a

concessão da distinta graça de Deus sobre uma pessoa ou nação, pela

qual a pessoa ou nação é posta no caminho da salvação; 2. Convocação;

chamamento; encorajamento. 3. Designação ou destinação a um estado

ou profissão em particular. 4. Emprego; chamado; ocupação; uma palavra

que inclui profissões assim como ocupações mecânicas. Que cada teólogo,

médico, advogado e mecânico sejam diligentes em sua vocação. 2

Webster, primeiro lexicógrafo do inglês americano, operava a partir de

uma cosmovisão bíblica. Suas definições estão arraigadas na linguagem e no

pensamento bíblico. No dicionário de Webster, o entendimento bíblico de vocação

inclui tanto o sentido de chamado à salvação quanto a convocação à profissão.

Ainda que frequentemente utilizemos a palavra vocação para nos referirmos à

nossa área específica de atuação, em um sentido mais amplo, nossa vocação

inclui nossa vida de trabalho como um todo, nossa ocupação primária, mas

também todo serviço que Deus nos dá para fazer neste mundo. Em outras

palavras, o chamado de Deus aos crentes é um chamado que aponta para

Cristo e um chamado para que todo crente seja um instrumento do reino de

Deus no mundo. É um chamado geral à vida e um chamado singular e particu-

lar ao trabalho: uma vida de trabalho.

O ABRANGENTE CHAMADO DE DEUS

Entender o todo de nossa vida e trabalho no contexto do chamado de

Deus é essencial ao desenvolvimento de uma teologia bíblica da vocação.

Lembremos que foram os reformadores que recuperaram a aplicação do conceito

de chamado à grande arena da vida, ensinando que todos os cristãos têm

chamados a todos os tipos legítimos de vocação, não somente vocações

monásticas e eclesiásticas. Essa aplicação foi divulgada pela Europa à medida

que alguns cristãos, tocados pelo pensamento da Reforma, recuperaram uma

cosmovisão bíblica abrangente.

Como os reformadores compreenderam, o chamado de Deus não é

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O chamado: vocação 1 1 55

fragmentado; é holístico, integrado e abrangente. Ele envolve todo o nosso ser

e toda a realidade. Infelizmente, hoje, a igreja, de maneira geral, apresenta um

chamado altamente truncado, estreito e com ênfase no aspecto espiritual. É um

chamado somente à salvação da alma para a eternidade. Esse conceito grego

de chamado deixa o mundo ansiando por algo que fale a toda a nossa existência,

tanto agora como na eternidade.

Na introdução, iniciei a discussão sobre vocação relatando a história de

um grupo de jovens filipinos que estavam pensando em aderir aos rebeldes

maoístas. Indagados por um missionário acerca daquilo que viam no maoísmo

que não enxergavam no cristianismo, seu líder respondeu:

Senhor, o maoísmo oferece aos jovens em nossa situação atual

quatro coisas essenciais: (1) uma visão unificada e coerente do mundo,

da história e da realidade; (2) uma meta bem definida pela qual trabalha];

viver e morrer; (3) um chamado a todas as pessoas à fraternidade comum;

e (4) um senso de compromisso e uma missão de divulgar aos que perderam

as esperanças as boas novas de que existe esperança. É fato, senhor, que a

fé cristã em toda a sua beleza parece ser incapaz de nos o ferecer uma visão

como essa.'

Ah, como deveríamos chorar. Apesar daqueles jovens filipinos não

saberem, eles nada estavam buscando além do Rei e de seu reino. A alma do

homem e a alma das culturas anseiam por aquilo para o qual foram criadas.

Além de verdade, justiça e beleza, a fé cristã fornece os "quatro essenciais"

que o mundo procura: uma visão coerente da realidade, algo pelo que se viver

e morrer, um senso de comunidade, e algo que traga esperança aos que a

perderam. Mas a igreja tem oferecido apenas uma sombra da glória que recebeu.

Como membros do corpo de Cristo, precisamos ser lembrados de que o

chamado de Deus envolve o ser humano inteiro e todos os seus relacionamentos.

Envolve o coração, a mente, a alma e a força do homem. Envolve seu

relacionamento com Deus, com seu próximo e com a criação.

Como afirma Os Guinness: "O chamado é a premissa da própria existência

do cristão. Ele implica que todas as pessoas, em todos os lugares e em tudo

cumprem os seus chamados (secundários) em resposta ao chamado (primário)

de Deus"

4 .

EXPLORANDO A PALAVRA CHAMADO

Nas Escrituras, as palavras hebraicas e gregas para chamar são usadas

mais de setecentas vezes'. Assim como a palavra chamar em português, as

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O chamado:

1'0c0((701

157

um mundo no qual exerceriam suas vocações. Da mesma forma com Abraão;

Deus o abençoou para a tarefa de se tornar uma nação modelo a partir da qual

todas as nações do mundo seriam abençoadas: "Abençoar-te-ei" (Gn 12.2). Deus

chamou Moisés para construir o tabernáculo. Ele o proveu para a tarefa chamando

o povo a apresentar sua abundância material e suas habilidades. Semelhantemente,

na Grande Comissão, Jesus chamou os discípulos a discipular as nações". E

vemos que ele os equipou para a tarefa'".

O que significa equipar? No Novo Testamento, a palavra equipar é

katartismos". Ela é encontrada uma vez em Efésios 4.12 onde se traduz como

"aperfeiçoamento"; aqui, os apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres

são entregues à igreja para que a "equipem" ou "treinem completamente" para

a obra. Essa palavra é derivada da palavra katartizo, que significa "pôr em

ordem", "preparar", "fortalecer", "tornar o indivíduo aquilo que ele deve ser"''.

Nós a vemos sendo utilizada em Hebreus 13.20-21: "Que o Deus da paz... vos

aperfeiçoe em toda boa obra, para fazerdes a sua vontade".

O tema comum ao Antigo e Novo Testamentos é que Deus tem um

propósito para as nossas vidas e nos equipa para esse propósito. A nível pessoal,

encontramos essa revelação nas maravilhosas palavras do salmista:

Pois tu formaste os meus rins;

entreteceste-me no ventre de minha mãe.

Eu te louvarei, porque de uni modo tão admirável

e maravilhoso fui formado:

maravilhosas são as tuas obras,

e a minha alma o sabe muito bem.

Os meus ossos não te

.

foram encobertos,

quando no oculto fui formado,

e esmeradamente tecido nas profundezas da terra.

Os teus olhos viram a minha substância ainda informe,

e no teu livro foram escritos os dias,

sim, todos os dias que foram ordenados para mini,

quando ainda não havia nem um deles. (Salmo 139.13-16)

Fomos criados de modo admirável e maravilhoso para um propósito; e

Deus nos planejou, equipou e abençoou para o propósito para o qual fomos

feitos. O DNA de nosso código genético estabelece nossa constituição física.

Simultaneamente existe o DNA metafísico que molda nosso chamado singular.

Há algo que fomos criados para fazer que ninguém mais foi feito para fazer da

maneira como nós fazemos. Michael Novak, filósofo economis-ta, articula isso

de maneira eloquente: "O que nos faz diferentes é a trajetória do chamado que

seguimos, como meteoritos que cortam o céu noturno da história'.

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158 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

FEITOS PARA O AUTOR DO

CHAMADO

Deus planejou o ser humano para trabalhar com ele, moldando o curso

da história. As palavras e ações de todas as pessoas influenciam a história de

outros indivíduos, comunidades e nações. O Dr. Francis Schaeffer disse que

uma pessoa é como uma pedrinha que, lançada num lago, produz ondas, ondas

que "adentram a eternidade". Meu bom amigo, Dr. Bob Moffitt, fundador da

The Harvest Foundation, disse: "Todas as pessoas foram criadas para escrever

sua assinatura no universo".

Ansiamos por propósito, significado e realização porque há algo para o

qual fomos criados. Fomos feitos para o Autor do Chamado, para a eternidade.

Os Guinness sintetiza isso maravilhosamente: "O fato de nós humanos termos

desejos é a prova de que somos criaturas. Incompletos em nós mesmos,

desejamos tudo aquilo que achamos estar nos atraindo para nos completar'''.

Somos como Abraão, que foi chamado, pela fé, a deixar sua terra e

cultura em Ur dos Caldeus e vagar pelo deserto'. Ele abandonou tudo o que

conhecia, todo o conforto, pela viagem, pelo reino de Deus. O que ele estava

procurando enquanto andava pelo deserto? Ele buscava a Cidade de Deus'

6

.

Assim como fizeram todos os santos da antiguidade. Eles vagaram pelo deserto

em busca da cidade. Todos eles morreram na fé sem receber as promessas'

7 .

Como Abraão e a grande nuvem de testemunhas, somos "peregrinos em uma

viagem", "peregrinos em uma terra estrangeira", ansiando pelo reino de Deus,

procurando nosso lugar no universo.

Guinness escreve:

Chamados pessoalmente pelo Criador do universo, recebemos um

significado no que fazemos que incendeia cada segundo e milímetro de

nossas vidas... O chamado é sempre para irmos mais alto, mais fundo e

mais longe.

Despertados em relação a nossos mais profundos dons e aspira-

ções, sabemos que a importância do chamado sempre deve preceder a

importância da carreira, e que somente podemos buscar a mais profunda

satisfação no trabalho dentro das perspectivas do chamado.

(...) Deus nos chamou, e nunca mais seremos os mesmos a não ser

que o respondamos plenamente.'

Devemos deixar o familiar e o conforto de nossa própria Ur dos Cal-

deus e vagar no deserto, fixando nossos olhos naquilo que ainda está fora do

alcance: "a cidade que tem os fundamentos, da qual o arquiteto e edificador é

Deus" (Hb 11.10).

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O chamado: vocação

1 159

CHAMADOS A UMA VIDA DE

TRABALHO

Nossa jornada à Cidade de Deus começa no momento de nossa con-

cepção. Fomos chamados à vida. Nascemos em uma família, uma comunida-

de, um povo e uma nação. Nascemos em um contexto e em uma rede de

relacionamentos específicos. A jornada continua com o chamado à salvação; é

aqui que entramos em uma nova família; somos adotados na família de Deus.

Essa é uma fraternidade que vai além do tempo e do espaço. Ela se conecta à

grande nuvem de testemunhas mencionada em Hebreus 11 e continua no

presente. Ela se conecta a uma família de toda tribo e nação'. O chamado é

para entrar no reino de Deus.

A jornada continua com o chamado de Deus ao trabalho. Aqui Deus nos

equipa para nossa ocupação, para o lugar onde realizaremos o trabalho de

nossa vida. Nesse lugar ou lugares, devemos crescer e amadurecer até que o

trabalho para o qual ele nos chamou esteja completo.

Qualquer que seja o trabalho de nossa vida, ele deve ser compreendido

em meio ao plano de Deus - no contexto da história do Criador. Deus está

trabalhando para avançar o seu reino, reconciliando todas as coisas consigo

mesmo, e ele nos chama a trabalhar com ele.

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Capáulo 12

O CHAMADO GERAL:

À VIDA

O chamado geral à salvação - o entrar no reino de Deus - é fundamental

para o nosso chamado particular ao trabalho - de propagar o reino. O chamado

geral define, em termos morais e espirituais, a estrutura para o nosso chamado

particular.

Enquanto buscamos responder ao duplo chamado de Deus - conectar

toda a nossa vida e trabalho ao reino de Deus - vivemos firmemente na realidade.

Essa busca é possível e vital, pois o trabalho de Deus de reconciliação abrange

todas as coisas em todos os tempos. O chamado de Deus à vida - à salvação -

é abrangente.

A NECESSIDADE DE UM PLANO ABRANGENTE

Corno vimos anteriormente, antes da rebelião do homem contra Deus,

toda a criação estava em harmonia. Gênesis 1 registra que, em cada etapa da

criação, Deus examinou o que havia feito e declarou que aquilo era "bom" ou

"excelente"' ou "justo". "certo" ou "verdadeiro'. Estas não são decisões

arbitrárias, mas as determinações do Criador divino sobre o que ele havia feito

e mantém até hoje. Em Gênesis 1.31, quando o homem, a joia da coroa da

criação, foi criado, Deus declarou que ele era "muito" ("extremamente" ou

"abundantemente") bom. Toda a criação estava em harmonia com Deus

e

consigo mesma.

Na rebelião do homem contra Deus, essa harmonia foi quebrada, e a

principal relação entre o homem e Deus foi desfeita. Por essa relação primária

ser fundamental para todas as outras, todos os relacionamentos secundários da

humanidade foram desfeitos também. O efeito da rebelião estendeu-se para

todos os relacionamentos

e

toda a criação.

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162 I VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Tanto o relacionamento interno do homem, ou sua capacidade única de

refletir sobre sua própria existência, quanto seus relacionamentos externos,

com os outros e com o restante da criação, foram afetados. Com

seu

relacionamento com Deus rompido, o próprio senso de identidade do homem se

perde. Todas as questões referentes à identidade - Quem sou eu? Qual o

propósito de minha vida? Eu tenho algum significado? - começam a se levantar.

Além de não saber quem ele é, o homem também não sabe o que é o

resto da criação. Em relação a seu próximo, os mais íntimos relacionamentos

familiares estão rompidos. Em nenhum outro lugar isso é mais aparente do que

na América contemporânea, onde os casamentos e as crianças são sacrificados

pelo mercado de trabalho ou por conveniência pessoal. Em muitos lugares do

mundo, esquece-se que as mulheres são feitas à imagem de Deus. Elas são

muitas vezes tratadas como escravas em suas próprias casas, como uma

propriedade de seus maridos ou como objetos sexuais. As maravilhas da

sacralidade do casamento são trocadas por adultério e prazeres fugazes de

uma noite. A beleza do amor é substituída pela destruição do ódio e do

assassinato. Temos família lutando contra família, clã contra clã, nação contra

nação. As maravilhas da justiça são trocadas pelos ganhos a curto prazo da

ganância e da corrupção. Em relação ao resto da criação de Deus, em vez de

serem mordomos, as pessoas violentam e destroem o lugar que Deus lhes deu

para viver e trabalhar. Elas não conseguem ver a importância de cuidar da

criação, e acabam contaminando o local de sua vida de trabalho. Em sua rebelião,

o homem divorciou tudo o que ele é e faz de seu significado original.

A ABRANGENTE PROVISÃO DE DEUS

Por a Queda ser abrangente, a salvação também deve ser abrangente.

No Antigo Testamento, a palavra que melhor descreve essa salvação é paz. No

Novo Testamento, a palavra é salvação.

O Novo Dicionário da Bíblia fornece um amplo entendimento da pa-

lavra paz como usada no Antigo Testamento:

"completude", "solidez", "bem-estar"... É utilizada quando alguém

pede ou ora pelo bem-estar do outro (Gn 43.27; Ex 4.18; Jz 19.20), guando

se está em harmonia ou união com o outro (Js 9.15; 1 Rs 5.12), quando se

busca o bem de uma cidade ou país (SI 122.6; Jr 29.7). Ela pode significar

prosperidade material (SI 73.3) ou segurança física (SI 4.8). Mas também

pode significar bem-estar espiritual. Tal paz é o adjunto da justiça e da

verdade, mas não da maldade (Si 85.10; Is 48.18, 22; 57.19-21).3

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O chamado geral

1 163

Conforme utilizado no Novo Testamento, a palavra grega para paz abrange

o sentido pleno dessa palavra no Antigo Testamento "e quase sempre tem uma

conotação espiritual. A amplitude de seu significado é especialmente aparente

em sua ligação com palavras-chave como graça (Rm 1.7, etc.), vida (Rm 8.6),

justiça (Rm 14.17), e em seu uso em bênçãos como em 1 Ts 5.23 e Hb 13.20"

4

.

Como usado na Bíblia, paz expressa a plenitude do plano redentor de

Deus, restaurando todos os relacionamentos desfeitos na Queda:

Para o homem pecador é necessário primeiro haver paz com Deus,

a remoção da inimizade do pecado por meio do sacrifício de Cristo (Rm

5.1; Cl 1.20). Então a paz interior pode seguir (F14.7), sem os impedimentos

dos conflitos do mundo (Jo 14.27; 16.33). A paz entre os homens é parte

do propósito pelo qual Cristo morreu (Ef 2) e da obra do Espírito (G1

5.22); mas o homem também deve ser ativo em promovê-la (Ef 4.3; Hb

12.14), e não apenas como a eliminação de discórdias, mas como a har-

monia e o real funcionamento do corpo de Cristo (Rm 14.19; 1 Co 14.33).

5

O conceito bíblico da solução de Deus para o problema do pecado e suas

consequências é abrangente. Encontramos estas notáveis palavras na carta de

Paulo aos colossenses:

Porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude, e que,

havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele

reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra

como as que estão no céu. (Cl 1.19-20)

Quando as pessoas são questionadas: "Por que Cristo morreu na cruz?",

a resposta geralmente é: "Para salvar minha alma " ou "Para que eu possa ir

para o céu ". Essas respostas são verdadeiras, porém elas limitam o efeito do

sangue de Cristo na cruz às almas dos indivíduos apenas. O que Deus nos

revela em Colossenses é que ele tem um plano abrangente, e que esse grande

plano é de basicamente reconciliar todas as coisas com ele. Isso inclui a alma

do homem. Inclui cada pessoa integralmente. Mas não se limita apenas à

humanidade. Devido ao fato de a rebelião do homem ter trazido consequências

para todas as coisas, a reconciliação também deve alcançar todas as coisas. O

sacrifício de Cristo não foi somente para garantir o perdão dos pecados, mas

também para reestabelecer as relações do homem entre si e com a criação.

Vemos o grande plano de Deus sendo descrito no livro de Romanos.

Paulo escreve:

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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164 I

VOCAÇÃO: EA

crera sua assinatu

a no universv

Porque a criação aguarda com ardente expectativa a revelação

dos filho.s• de Deus. Porquanto a criação,

ficou sujeita à vaidade, não por

-

sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que

também a própria criação há de ser liberta do cativeiro da corrupção,

para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a

criação, conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora. (Rm

8.19-22)

A linguagem de Paulo mergulha na profundidade do impacto do pecado

na criação - "frustração". "cativeiro da corrupção" e "geme e está com dores do

parto" - e sobe às alturas da redenção que está por vir - "aguarda com ardente

expectativa", " liberta" e "para a liberdade da glória". O abrangente plano de

Deus se estende a toda a criação.

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Esse processo pode ser visto como uma série de círculos concêntricos.

O círculo interior representa a restauração da relação primária do homem com

o Pai celeste, o novo nascimento. O círculo central representa a cura substancial

na vida de um indivíduo devido à cura no primeiro relacionamento interior -

físico, psicológico, intelectual e no desenvolvimento do caráter (moral). O terceiro

círculo representa a cura substancial que ocorre em suas relações externas

secundárias no mundo externo, com seu próximo e com a criação.

INVESTIGANDO A PALAVRA SALVO

Em Efésios 2.1-9. Paulo descreve a situação do homem e a solução de

Deus para o problema. a salvação:

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O chamado geral I 165

Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,

nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o

príncipe das potestades do ar; do espírito que agora opera nos filhos da

desobediência... Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito

amor com q ue nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos

vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)... Porque pela

graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não

vem das obras, para que ninguém se glorie. (NASB)

Observe como Paulo descreve a condição do homem não redimido: "E

vós estáveis mortos nos vossos delitos e pecados". Entrando nesse estado

desesperador, onde um "homem morto" não pode tornar-se vivo novamente.

vêm a palavra maravilhosa que nos preenche: "Mas Deus, sendo rico em

misericórdia, pelo seu muito amor...". Enquanto estávamos mortos espiritu-

almente e incapazes de salvar a nós mesmos, Deus nos amou tanto que enviou

seu próprio Filho para morrer por nós e para ser ressuscitado por nós. Portanto,

a nossa salvação é pela obra consumada de Cristo na cruz.

Mas o que a palavra salvo significa?

Embora a palavra salvo seja geralmente usada no sentido espiritual

clássico de salvar as almas das pessoas, na verdade, ela tem um caráter muito

mais abrangente. Quando utilizada no Novo Testamento, ela tem um sentido de

restaurar aquilo que foi quebrado, purificar o que é profano. A palavra grega

traduzida como salvo nos versos de Efésios que acabamos de ler é usada mais

de cem vezes no Novo Testamento. Seu significado inclui manter alguém salvo,

salvar alguém do perigo ou da destruição, e restaurar a saúde de alguém que

sofre de uma doença. É também traduzida como "tornar inteiro", "curar" e "ser

inteiro'. Tiago fala do crente que pacientemente enfrenta tribulações, tornando-

se "maduro e completo, não faltando em coisa alguma" (1.4). Ser salvo inclui

tornar-se inteiro (completo) e santo (moralmente virtuoso). Na justificação,

somos declarados santos; na santificação, vivemos uma vida santa. A salvação,

de fato, tem uma conotação ampla; podemos assim dizer que a salvação é

"holística" - ela engloba a totalidade.

ANALISANDO A PALAVRA SALVO

Não somente a definição de salvação é abrangente, como também o é o

cronograma da vida do crente e do desenvolvimento do reino. Durante todo o

Novo Testamento, o conceito de salvação aparece no tempo passado, presente

e futuro no que se refere ao crente. Como cristãos, podemos dizer: "Eu fui

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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166 1 VOC AÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

salvo ", "Eu estou sendo salvo " e "Eu serei salvo ". Aqueles a quem Deus

justificou, ele os está santificando e os glorificará.

PASSADO - eu fui salvo (Justificação)

Cada cristão pode declarar: "Eu fui salvo ". Na linguagem teológica, isso

se refere à justificação. Este é o momento do arrependimento, o tempo na vida

de um pecador quando ele "nasce de novo". Outra maneira de dizer isso é que

a justificação é uma chamada à cruz "E como Moisés levantou a serpente no

deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo

aquele que nele crê tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal

maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não

pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3.14-16).

Assim como a cura física veio àqueles hebreus que, pela fé, olharam

além de si mesmos e levantaram seus olhos para o cajado com a serpente

enrolada em torno dele, assim também, de forma permanente, a cruz salva o

crente.

CURA

Justificação é

um termo jurídico que se refere ao fato de que ao crente

é imputada a justiça de Cristo e que este carregou a pena do pecado do crente

em si mesmo na cruz. Vemos essa afirmação em 2 Coríntios 5.1: "Aquele que

não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos

feitos justiça de Deus". Jesus, que era sem pecado, foi feito pecador por nós.

Nós, que éramos pecadores por nascimento e por opção, tivemos a justiça de

Deus credenciada a nós. Tendo-a recebido, somos declarados "inocentes".

"Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus"

(Rm 8.1). Que notícia maravilhosa Esta é realmente uma boa notícia.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O chamado geral 1 167

PRESENTE - Eu estou sendo salvo (Santificação)

Assim como um crente pode dizer: "Eu fui salvo ", ele pode dizer: "Eu

estou sendo salvo". Enquanto a justificação marca um ponto no tempo, a

santificação é o termo teológico que descreve um longo processo pelo qual nos

tornarmos na realidade o que já somos em nossa posição em Cristo. Assim

como há o momento da concepção na vida de um bebê, e desde então um longo

processo de crescimento, há um processo similar marcado pelo nascimento e

crescimento espiritual. Enquanto a justificação nos chama a ficar à sombra da

cruz, a santificação tem como marca a negação de nós mesmos e a chamada

para pegarmos a nossa cruz diariamente e seguirmos a Jesus.'

Na justificação, somos declarados santos e justos; na santificação,

estamos nos tornando aquilo que fomos declarados ser - santos e justos na

prática Vemos isso na resposta de Paulo em Efésios 2.10 aos versículos

anteriores 1-9. A santificação é a resposta à justificação: "Porque somos feitura

sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou

para que andássemos nelas". Descobrimos que somos salvos pela fé para uma

finalidade. Somos salvos pela fé para fazer as boas obras que Deus preparou

para nós desde a fundação do mundo. Nossas obras não nos justificam, mas

elas são parte do processo de santificação que o Espírito Santo opera em nós.

Da mesma forma, Filipenses 2.12-13 revela a operação dual de nossa

santificação. Embora seja a obra de Deus que justifica por si só, tanto Deus

quanto os seres humanos trabalham no processo da santificação: "De sorte

que, meus amados, do modo como sempre obedecestes - não como na minha

presença somente, mas muito mais agora na minha ausência - efetuai a vossa

salvação [santificação] com temor e tremor, porque Deus é o que opera em

vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade".

A "salvação" inclui a vida cristã diária, vivida a cada momento. Mas o

justo viverá pela fé9

. A santificação é viver diante da face de Deus em todas as

áreas de nossa vida e em todos os nossos relacionamentos enquanto somos

fortalecidos e restaurados à imagem de Cristo pela obra do Espírito Santo.

Demasiadas vezes na igreja moderna, quando falamos de santificação, falamos

dela como algo interior e pessoal. Falamos de santidade pessoal. Esta é uma

parte importante do processo de santificação, mas ele não se limita a isso.

Além do desenvolvimento da moral e do caráter na santidade pessoal,

deve haver também uma mudança de mentalidade

0

. Não apenas o homem

natural nasce morto espiritualmente como também cresce até ter a metafísica

- mentalidade - de sua família e cultura. Cada pessoa, por meio do processo de

aculturação, desenvolve uma maneira de ver o mundo, uma cosmovisão que

molda tudo em sua vida. Ainda que Deus nos tenha criado para viver no mundo

da cosmovisão bíblica, nossas culturas, a não ser que estejam adorando ao

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168 1 VOCAÇÃO: Escreva mia (i.s•.s

inotiow no 1111i1V111,

Deus vivo, têm "trocado a verdade de Deus pela mentira" (Rm 1.25). Parte do

processo da santificação pessoal está em nos apropriarmos da mente de Cristo

para termos uma maior compreensão da cosmovisão bíblica, a visão de mundo

que reflete a realidade.

O processo de santificação também produz tanto responsabilidade social

quanto administrativa. Trata-se

de vi ver no presente e promover a cura

substancial a todas as relações secundárias do homem. O crente deve procurar

levar o amor onde há ódio, a paz onde há conflitos, a beleza onde existe

monotonia, a verdade onde há mentira. o bem onde existe o mal. Os cristãos

devem posicionar-se, com Deus, contra a devastação do mal natural, das secas,

inundações, terremotos, fome, doenças. e

contra a destruição humana causada

pela criação de resíduos, pelo consumo irresponsável e pela violência ao ambiente

natural. Como parte do processo de santificação, devemos ser mordomos da

criação. Como o apóstolo Paulo nos lembra, a criação aguarda a revelação dos

filhos de Deus". Ela está esperando que aqueles que foram declarados filhos

de Deus em sua justificação comecem a agir como filhos de Deus em sua

santificação.

A santificação é ampla e progressiva. Em tudo isso há uma "dança"

entre o crente e Deus. Deus guia a dança, mas o crente é responsável por

envolver-se voluntariamente em resposta. Na santificação, o crente é ativo e

intencional nesta parte da salvação.

Não somos simplesmente chamados da escuridão para a luz, também

somos chamados a "andar na luz". Assim como o slogan de minha geração nos

lembra: "Devemos ser coerentes ". Deus é amor; devemos amar nossos amigos,

vizinhos e até inimigos. Deus é justo; devemos buscar a justiça em um mundo

corrupto. Deus é misericordioso; temos que expandira compaixão em um mundo

destruído. Deus é verdadeiro: falemos a verdade em vez de mentiras, e vivamos

uma vida digna de confiança em um mundo de promessas traiçoeiras. Deus é

belo; temos que promover a beleza em nossas comunidades. edifícios, paisagens,

arte e música.

Assim como a salvação de Deus é abrangente, nosso serviço também o

é. Ele deve ser expresso na adoração ao Rei, no amor aos nossos semelhantes

e na administração da criação.

FUTURO - serei salvo (Glorificação)

Aquilo que começou na justificação e manteve-se no processo da

santificação será completado quando Cristo voltar no final da história. Enquanto

temos a tarefa de ocupar territórios até o retorno de Cristo, este tem a missão

de voltar com o reino''. No final da história, todos os planos e propósitos de

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O chamado geral

1 169

Deus serão cumpridos. O retorno de Cristo no fim dos tempos, para completar

o processo que começou na cruz, é conhecido em termos teológicos como a

glorificação. Portanto, além de dizer: "Eu fui salvo " e "Eu estou sendo salvo ",

com alegria, o crente pode dizer: "Eu serei salvo ". Jesus voltará em glória e

toda a dor e o sofrimento da vida presente serão lançados fora. O processo,

uma vez iniciado, será gloriosamente concluído.

Uma palavra que capta a plenitude disso em tempo e espaço e com

relação ao indivíduo

e

ao reino é consumação. A palavra fala de chegar à

plenitude, à realização, para cumprir um propósito e glória eternos. Paulo fala

disso em 1 Coríntios 13.12: "Porque agora vemos como por espelho, em enigma,

mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei

plenamente, como também sou plenamente conhecido". Vemos agora em um

mero reflexo urna imagem desfocada do que virá. C.S. Lewis fala de nossa

existência agora como sendo na "Terra das Sombras". Mas, quando Cristo

voltar, as coisas serão como foram feitas para ser.

Enquanto na justificação somos declarados santos e justos em rela-ção à

nossa posição perante Deus; e, na santificação, procuramos viver uma vida

santa e justa na prática; na glorificação, seremos de fato perfeitamente santos

e justos.

Aquilo que fomos declarados ser será final e completa-mente alcançado.

Vemos exemplos da promessa da conclusão do processo nos escritos de Paulo:

No qual também vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o

evangelho da vossa salvação, e tendo nele também crido, fostes selados

com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança,

para redenção da possessão de Deus - para o louvor da sua glória. (Ef

1.13-14)

Aqui, Paulo utiliza duas imagens que falam da conclusão do processo de

salvação. A primeira é a de ser "marcado com um selo". Antigamente, se um

documento importante ou algo estimado fosse ser transportado para outro destino,

o rei colocava seu próprio selo sobre o objeto. O selo garantia a chegada segura

do objeto apreciado. A segunda imagem é a de fazer um depósito. Em muitas

culturas, se você quer separar um item até que possa finalizar a compra, você

pode fazer um pré-pagamento ou, no caso de um imóvel, pode depositar um

sinal da compra. Ou seja, o depósito é urna de-monstração de compromisso de

que a operação final será concluída. Assim Paulo está dizendo nessa passagem

que Deus o Pai selou a entrega final e perfeita de nossa salvação com o selo ou

o depósito do Espírito Santo.

Vemos urna imagem diferente em Filipenses 1.6: "tendo por certo isto

mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de

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170 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Cristo Jesus". Paulo está confiante de que o Deus que iniciou a boa obra de

nossa salvação tem a capacidade e o compromisso de prosseguir com o processo

até sua conclusão quando Jesus Cristo voltar.

Nossa salvação pessoal é abrangente. Deus completará o bom trabalho

que começou em nós pessoalmente, para fazer-nos santos, "perfeitos e

completos, não faltando em coisa alguma" (Tiago 1.4). Mas não devemos nos

esquecer do abrangente plano de Deus: restaurar todas as coisas, tudo em

cada cristão, e todos os seus relacionamentos. Haverá a restauração completa

de todas as coisas quando Jesus retornar com seu reino. Quando o Rei voltar, o

reino estará consumado. No momento, devemos trabalhar na graça e no poder

de Deus para ver cura substancial em todas as áreas da vida. Quando Jesus

voltar, o clímax do processo será a consumação do reino em toda a sua glória'.

O reino de Deus existirá em toda a sua plenitude e glória.

SALVAÇÃO : O N DAS

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Em suma, a salvação produz ondas; ela faz parte do passado, do presente

e do futuro do crente.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O chamado geral

1 171

A NATUREZA DA SALVAÇÃO

CoNCEITo

JUSTIFICAÇÃO

SANTIFICAÇÃO GLORIFICAÇÃO

TEMPO

ASSADO RESENTE

UTURO

FUI SALVO

STOU SENDO SALVO

EREI SALVO

POSIÇÃO

DECLARADOTORNANDOSESANTO

JUSTO E SANTO

USTO E SANTO

LIVRE DA

ORNANDO-SE IVRE

CONDENAÇÃO

IVRE DO PODER

DO PECADO

O PECADO

TEXTOS

REF. BÍBLICAS

...SE, PORÉM ALGUÉM

PECAR, TEMOS UM

INTERCESSOR JUNTO

AO PAI, JESUS

CRISTO, O

JUSTO.

IJoÃo 2:1

DEUS TORNOU

PECADO POR NÓS

AQUELE QUE NÃO

TINHA PECADO, PARA

QUE NELE NOS

TORNÁSSEMOS

JUSTIÇA DE DEUS.

2

CORINT1OS

5:2 I

...PORQUE SOMOS

CRIAÇÃO DE DEUS

REALIZADA EM CRISTO

JESUS PARA FAZERMOS

BOAS OBRAS, AS QUAIS

DEUS PREPAROU

ANTES PARA NÓS AS

PRATICARMOS.

EFÉSIOS 2: 10

ASSIM, MEUS AMADOS,

COMO SEMPRE VOCÊS

OBEDECERAM, NÃO

APENAS NA MINHA

PRESENÇA, PORÉM

MUITO MAIS AGORA NA

MINHA AUSÊNCIA,

PONHAM EM AÇÃO A

SALVAÇÃO DE VOCÊS

COM TEMOR E TREMOR.

FILIPENSES 2: 2

...TENDO CRIDO,

VOCÊS FORAM

SELADOS EM CRISTO

COM O ESPÍRITO

SANTO DA PROMESSA.

EFÉSIOS I : 1

3

ESTOU CONVENCIDO

DE QUE AQUELE

QUE COMEÇOU BOA

OBRA EM VOCÊS, VAI

COMPLETÁ-LA ATÉ

O DIA DE CRISTO

JESUS.

FILIPENSES

I :6

JÁ E AINDA NÃO

Cristo já veio e virá outra vez. O Rei esteve aqui

1 4 e virá novamente.

Seu reino já é, mas ainda não. O reino é uma realidade presente onde quer que

Cristo reine'', no entanto, ele será plenamente revelado no futuro' quando

Cristo voltar. Ele está presente agora em seus primórdios e virá no futuro em

toda a sua glória. Esta é a dinâmica da História de Deus, da história da redenção.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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172 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

A salvação abrange integralmente cada crente e todos os seus rela-

cionamentos.

e

isso envolve o passado, o presente e o futuro da vida do crente.

Nem todos os cristãos ou tradições da igreja têm dado ênfase na plenitude da

salvação. Alguns têm enfatizado um ou dois elementos em detrimento dos outros.

O teísmo bíblico, no entanto, com sua cosmovisão bíblica, salienta que a salvação

é o nosso estado pessoal diante de Deus, bem como o processo de trazer cura

substancial a todos os nossos relacionamentos. Esse processo será concluído

quando Cristo voltar.

Toda a nossa vida e trabalho estão intrinsecamente ligados à obra de

Deus de reconciliar todas as coisas consigo mesmo, avançando seu reino de

justiça, paz e alegria, no tempo e na eternidade.

As Escrituras revelam que nós, tendo sido chamados para a vida, temos

uma missão - nossa vocação singular na vida

e

nosso lugar específico no corpo

de Cristo. No próximo capítulo, exploraremos este segundo aspecto do duplo

chamado de Deus - nosso chamado particular ao trabalho.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Capítulo 13

O C H A M A D O P A R TIC U L A R :

AO TRABALHO

As Escrituras revelam que, tendo sido chamados ao reino, cada um de

nós tem um papel singular em sua manifestação e expansão. Quer Deus nos

conceda muitos ou poucos dias, devemos usá-los para descobrir e viver nossa

tarefa particular. Quer ele nos conceda "emprego" ou "desemprego", períodos

de saúde ou de doença, a tarefa continua. Sendo chamados por Deus, devemos

evitar o sentido secular de "trabalho" em que existe um tempo de trabalho e um

tempo de aposentadoria. O conceito de aposentadoria é estranho à cultura bíblica.

Como cidadãos do reino de Deus e membros do corpo de Cristo, somos

chamados a pôr nossos pés, mãos e imaginação em ação para fazer valer a

oração "venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade". A nossa vida é de

paixão e não de apatia, de trabalho e não de facilidades.

FEITURA DE DEUS

Se a passividade ou o descompromisso fossem a norma de Deus, o

inevitável teria acontecido: teríamos nos perdido para sempre. Em vez disso,

como exploramos em Efésios 2.1-9, por iniciativa de Deus, quando estávamos

mortos, fomos salvos pela graça, mediante a fé. Não somente fomos resgatados

da morte, mas Deus também nos sarou e está nos tornando incorruptíveis. Por

sua graça, ele está restaurando o propósito e o potencial que pôs em nós quando

nos criou à sua imagem. Paulo escreve em impressionante contraste à morte

existente fora de Cristo: "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus

para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas"

(Efésios 2.10). Coerente com o restante das Escrituras, esse versículo testifica

que o trabalho é central à nossa identidade e propósito em Cristo. Trabalhamos

à luz de nossa cria-ção e redenção em Cristo.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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174 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

Dois termos nesse poderoso versículo chamam nossa atenção, feitura e

boas obras. Encontrada apenas aqui em Efésios e em Romanos 1.20, a palavra

feitura é a palavra grega poiema, raiz da palavra poema'. Em Romanos 1.20,

poiema se refere a toda a criação - mediante "as coisas criadas". Deus é o

Primeiro Poeta. Sua criação e a minha vida são atos de seu poiema. Minhas boas

obras são viabilizadas por ele e em resposta a ele. Como sempre, Deus é o

iniciador, o ponto de partida. Meu trabalho é parte do trabalho dele, de sua feitura.

A segunda palavra a se explorar é ergon, palavra grega utilizada para um

feito ou ação em contraste à inatividade ou meras palavras. Encontrada 169

vezes no Novo Testamento, ela é usada de variadas maneiras, incluindo a obra

de Cristo, a obra do evangelho, a boa obra de servir aos necessitados e a obra

da "ocupação" ou "profissão'.

A palavra hebraica equivalente no Antigo Testamento é abad, trabalhar

ou servir. Ela é utilizada para se referir ao trabalho do homem conforme atribuído

por Deus e é parte dos ciclos comuns de trabalho/descanso do Decálogo'.

Essa é a mesma palavra que exploramos anteriormente e que é parte do mandato

cultural dado ao homem de abad e shamar o jardim.

Fomos redimidos para trabalhar, e esse trabalho pode ser visto em um

amplo contexto, desde o "trabalho espiritual" até as obras de serviço e compaixão

4

e as tarefas comuns dadas ao homem no mandato cultural. Devemos ter cuidado

para não compreendermos a palavra obras apenas em um restrito sentido

espiritual. Toda boa obra quer dizer todo bom trabalho E também implica que

todo o nosso trabalho deve ser bom - bem feito; devemos fazer nosso trabalho

com excelência.

PARTE DO

TODO

Se compreendermos nosso trabalho como algo para o qual fomos criados

e redimidos, então, o que anteriormente víamos como um simples emprego ou

degrau na carreira pode se tornar parte de nossa vocação. Enquanto cada um

de nós partilha de um propósito em comum, nossa própria vocação, nossa vida

de trabalho, é singular. A natureza de nosso singular "projeto de amor e graça',

como o Papa João Paulo II tão bem chamava nossa ocupação particular, advém

da natureza de nosso Criador e Convocador. Como escreve Michael Novak:

Cada um de nós é tão único em seu chamado quanto somos por

sermos feitos à imagem de Deus. (Seria preciso um número infinito de seres

humanos, escreveu São Tomás de Aquino, para refletir as infinitas facetas

da Trindade. Cada pessoa reflete apenas uma pequena - mas linda - parte

do todo.'

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O chamado particular 1

175

Que ilustração magnífica para se meditar Cada um de nós é um reflexo

singular de sua infinita imagem. Nossa própria natureza e "as boas obras, as

quais Deus antes preparou para que andássemos nelas" (Efésios 2:10) estão

arraigadas na natureza do próprio Deus.

AS HISTÓRIAS DE LISA ETTER E HAYDEN SMITH

"Você foi criada para ser apaixonada

e propositada para Deus e para as pessoas

desse mundo " Essas palavras, escritas pelo

pai de Lisa Etter para sua filha de doze anos,

moldaram a vida de Lisa e impactaram as

vidas de inúmeras outras.

Anos após a carta de seu pai, Lisa

conheceu Hayden Smith na Calvin College em

Grand Rapids, Michigan. As duas rapidamente

reconheceram sua visão de vida

compartilhada e se tornaram melhores

amigas. Após sua graduação na Calvin em

2002, elas mudaram-se para uma diversificada

vizinhança de Chicago onde Hayden ensinava

a primeira série e Lisa trabalhava como

estagiária em um abrigo para mulheres sem-

teto. Foi revelador viver em meio a esse

ambiente urbano e interagir diariamente com

indivíduos de aparência diferente e com

experiências de vida diferentes de sua

educação de classe média.

"Conforme construíamos amizades

com nossos vizinhos e com as pessoas com

as quais trabalhávamos, ficávamos tristes

com a maneira que esses amigos tinham sido

reduzidos a rótulos-'em risco,' baixa renda,'

'sem-teto' pelo mundo em sua volta.

Percebemos que eles não eram tão diferentes

de nós. Todos nós, independentemente de

nossa história ou situação, têm as mesmas

necessidades básicas: descobrir quem

somos, ser amados como somos, usar nossos

dons, contribuir. Nossos anseios básicos são

os mesmos e, no fim das contas, todos

apontam para Deus e como ele nos fez. Tantas

pessoas são privadas de oportunidades de

explorar essas coisas e contribuir com seus

dons para o mundo por serem vistas ou

tratadas como se não tivessem nada de valor

a oferecer."

Diante da realidade de como tantas

pessoas vivem, as duas começaram a fazer

perguntas: Quem somos? Como devemos

viver? O que esse conhecimento significa para

nossas vidas? Seu desejo de criar um lugar

onde todos os tipos de pessoa fossem bem-

vindos e recebessem espaço para explorar

seus dons começou a crescer.

Em meio ao período de Lisa e Hayden

em Chicago, o pai de Lisa ficou terminal-mente

enfermo e ela deixou a cidade para voltar

para casa e cuidar dele. Certa noite, conforme

a saúde de seu pai continuava a se deteriorar,

Lisa estava pensando sobre as questões com

as quais ela e Hayden vinham lutando, os

valores que seus pais haviam semeado nela

e seus sonhos e dons. Quando começou a

unir essas peças, ela disse: "Vamos sonhar

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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176 1

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no univer,a

juntos, Senhor." Oportunamente, ela começou

a visualizar um tipo singular de cafeteria que

permitisse que muitos tipos de pessoas em

uma comunidade pudessem se reunir e

sentir-se parte de um lugar onde fossem

valorizados e amados por quem são. Ela

escreveu e delineou os detalhes em seu diário

e mais tarde os compartilhou com Hayden,

que ficou igualmente animada com a idéia

como uma maneira de estar disponível às

pessoas ao seu redor enquanto integrava

muitos aspectos de sua vida.

Após a morte do pai da Lisa, uma série

de eventos e conexões improváveis levaram

Lisa e Hayden para Seattle, onde elas

entraram em contato com uma igreja em busca

da pessoa correta para abrir uma cafeteria

para servir de ponte com a comunidade. Na

primavera de 2005, a cafeteria Green Bean

Coffee Shop abriu as portas, com Hayden e

Lisa como gerentes. Agora a Green Bean se

estabeleceu como ponto de encontro da

comunidade, oferecendo aulas propostas e

ministradas pelos próprios fregueses,

sediando eventos da vizinhança, sendo um

local para os artistas locais exporem seu

trabalho, dando boas vindas e conectando

um grupo diverso de fregueses uns com os

outros. As gorjetas também são doadas a

organizações da comunidade local.

Hayden e Lisa transbordam de

histórias de fregueses que se tornaram parte

da comunidade Green Bean. "Chris," um bem-

sucedido advogado, inicialmente deixou sua

hostilidade ao cristianismo bem clara e deixou

a cafeteria várias vezes dizendo que jamais

voltaria. Com

o tempo, ele se tornou parte de

seu grupo de amigos e, apesar de não ter se

tornado cristão, começou a imitar o amor de

Cristo que ele testemunhou nesse grupo.

recentemente pedindo a seus amigos

advogados que comprassem um computador

portátil para um freguês carente.

''Jay" tornou-se um freguês frequente

logo após o Green Bean ser inaugurado. mas.

na maior parte do tempo se mantinha

reservado, sentado no canto por horas,

escrevendo poesia. Com

o tempo, ele

começou a se abrir e compartilhar a sua

poesia com Lisa e Hayden, que imediatamente

colocaram molduras em algumas de suas

composições e as penduraram nas paredes

do Green Bean. Quando ele ficou sabendo

que seu câncer havia voltado, Lisa e Hayden

lhe ofereceram um lugar para ficar enquanto

durasse o tratamento, reconhecendo que ele

não tinha nenhum outro familiar para apoiá-

lo. Lisa e Hayden e outros fregueses o

levavam de carro para fazer o tratamento.

Quando ficou claro que ele não ia se

recuperar, ele deu às duas uma procuração

para tomar suas decisões de ordem médica.

No hospital, Lisa e Hayden compartilharam o

evangelho com ele e Jay aceitou o Senhor.

Na primeira vez que Lisa e Hayden

se encontraram com "Rex," ele lhes contou

sobre os heróis de revistas em quadrinhos

que ele pensava serem reais e balbuciou

coisas sem sentido a maior parte do tempo.

Conforme as duas passaram a conhecê-lo

melhor e continuaram a tratar dele como um

valioso ser humano. ele se tornou uma figura

regular na cafeteria, oferecendo-se para lavar

janelas. varrer a varanda e ajudar a carregar

as compras para dentro, além de frequentar

a igreja com elas aos domingos. Quando as

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O chamado particular

1 177

duas ficaram sabendo de seu interesse por

eus é compartilhada através de nosso

música, elas conseguiram um teclado e, a

partir de então, Rex podia ser encontrado em

grande parte do tempo na varanda por trás

do Green Been tocando música.

Essas são apenas algumas das

histórias de vidas transformadas, e Lisa e

Hayden reconhecem a importância de

celebrar esses caminhos que Deus está em

operação no Green Bean. "É muito fácil ficar

preso nas dificuldades do dia-a-dia," explicou

Hayden. "Mas é muito mais uma questão de

perspectiva. Faço uma longa viagem para

comprar suprimentos para o Green Bean toda

semana e minha atitude poderia ser 'Que

tarefa irritante' ou posso ir entendendo que

estou servindo a Deus através disso. Não

importa o que você está fazendo, você pode

glorificar a Deus através disso. Precisamos

superar essa idéia de que algumas pessoas

estão no ministério e outras não. A glória de

trabalho."

Lisa concorda. "Sempre me confunde

e

me deixa triste quando as pessoas dizem

coisas do tipo: 'Sou advogado, mas meu

ministério é trabalhar no abrigo de mendigos

nos finais de semana.' Precisamos perceber

que cada momento é significativo e que temos

o

poder de impactar as pessoas em nossa

volta de maneiras que nem mesmo

percebemos, não importa o que façamos.

Hoje mesmo estava conversando com o

atendeste da quitanda e algo que ela disse

me deu coragem para enfrentar outra difícil

visita ao Jay no hospital.

"Trata-se de viver na alegria de ser

alguém redimido. Se crermos que fomos sal-

vos de algo, viveremos essa alegria onde

quer que formos, quer sirvamos café ou

estejamos fazendo compras ou pastoreando

e essa alegria transformará as pessoas."

O Deus Único e Trino

Deus é uma Trindade, não o deus do unitarismo. Pai, Filho e Espírito

Santo são pessoas únicas com papéis e responsabilidades singulares, existentes

como três personalidades separadas. Ainda assim, eles são igual e

indivisivelmente Deus: um Deus - três Pessoas. Da mesma forma, na família e

na sociedade, existe uma diversidade de dons, talentos, personalidades, papéis

e responsabilidades; ao mesmo tempo, todos os membros da família humana

são iguais em dignidade e valor, pois todos são a imagem de Deus. E, assim

como os membros da Trindade são definidos tanto por sua singularidade quanto

por seu relacionamento na comunidade, também cada pessoa é igualmente

definida tanto individual quanto coletivamente.

A Igreja -

o Corpo de Cristo

Não é de se admirar que, quando Deus chamou a igreja, ele também

chamou a comunidade. Paulo utiliza a imagem do corpo de Cristo' para refletir

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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178 1

VOCAÇÃO:

Escreva ma assinatura no universo

a unidade na diversidade da igreja. E a igreja de Cristo mani-festa suas diversas

partes e funções na unidade de um corpo. Paulo descreve a manifestação do

primeiro princípio de comunidade no corpo de Cristo de forma muito plena em

1 Coríntios 12.12-27:

Porque, assim como O corpo é

ruir,

e tem muitos membros, e todos os

membros cio como, embora muitos, forni

a

m um só corpo, assim também é

Cristo. Pois em uni só Espírito fomos todos nós batizados em uni só corpo,

quer judeus, quer gregos, quer escrcn'os quer livres; e a todos nós foi dado

beber de um só Espírito.

Porque também o corpo não é um membro, mas muitos. Se o pé

disser: Porque não sou mão, não sou do como; nem por isso deixará de ser

do corpo. E se a orelha disser: Porque não sou olho, não sou do corpo;

nem por isso deixará de ser do corpo. Se o corpo todo fosse olho, onde

estaria o ouvido'? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora

Deus colocou os membros no corpo, cada um deles

(1)1710

quis. E, se todos

.

fossem um só membro, onde estaria o corpo? Agora, porém, há muitos

membros, mas um só como.

E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti. Nem

ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros

do corpo que parecem ser mais fracos são necessários; e os membros do

corpo que reputamos serem menos honrados, a esses revestimos com muito

mais honra; e os que em nós não são decorosos têm muito mais decoro, ao

passo que os decorosos não têm necessidade disso. Mas Deus assim formou

o corpo, dando limito mais honra ao que tinha falta dela, para que não haja

divisão no corpo, mas que os membros tenham igual cuidado uns dos outros.

De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele;

e s e 1 1 1 1 1

membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele.

Ora, vós sois corpo de Cristo, e individualmente seus membros.

Ao refletir nessa passagem, vemos que Deus organizou as partes, da

forma como desejou, para um propósito específico (v. 18). Cada parte tem um

papel singular a desempenhar no corpo; cada uma é indispensável (v. 22). Embora

cada uma tenha diferentes papéis e funções, cada parte tem igual valor e

dignidade (v. 24-25). A descrição de Paulo é similar em Romanos 12:4-8 e

Efésios 4.11-13.

Unidade e Diversidade nos Dons

Cristo dá ao seu corpo uma diversidade de dons. Como 1 Coríntios 12.4-

7. 11 revela:

Ora, há diversidade de dons, mcis o Espírito é o mesmo. E há

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O chamada particular

1 179

diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de

operações. mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um,

porém, é dada a manifestação do Espírito para O proveito comum. (...)

Mas um sé e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo

particularmente a cada uni como quer

Nessa passagem, vemos a referência à unidade na diversidade de Deus

como fundamental à unidade na diversidade na concessão dos dons ao corpo

de Cristo. Vemos um Deus e três Pessoas: o mesmo Espírito (Espírito Santo), o

mesmo Senhor (Jesus Cristo)

e o mesmo Deus (o Pai).

Também percebemos que, assim como Deus criou a unidade na

diversidade, ele também estabeleceu o princípio da semente para a multiplicação.

Existe uma qualidade orgânica acerca dos dons que Deus nos deu. Um provérbio

africano nos lembra do milagre natural da semente: "Você pode contar as

sementes da manga, mas não consegue contar as mangas na semente". Cada

manga tem uma semente. Mas essa semente produz milhares de árvores e

inúmeros frutos

Vemos esse efeito multiplicador na dispensação dos dons: diferen-tes

tipos de dons são multiplicados por diferentes tipos de serviço e trabalho. Um

dom em particular dado a um indivíduo terá uma forma diferente de serviço do

mesmo dom entregue a outra pessoa. O resultado do ministério terá um impacto

diferente em diferentes contextos por causa da singularidade de cada contexto.

Mesmo havendo uma infinita variedade de efeitos para cada dom, todos

os dons individuais são entregues para o bem comum (1 Co 12.7). Os dons

devem ser usados não para urna diversidade de benefícios pró-prios, mas para

o bem de todo o corpo. Essa mesma ênfase também se encontra em Efésios

4 .11-13:

E ele deu uns como apóstolos. e outros como profetas, e outros

como evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o

aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação

do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno

conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da

estatura da plenitude de Cristo.

Essas singulares vocações de líderes "na" igreja foram entregues para

que esta funcione em serviço, de forma que a unidade, a maturidade e a pleni-

tude do corpo de Cristo sejam estabelecidas. Como mencionamos anteriormente,

esses dons de liderança são funções singulares, mas não mais elevados do que

outros dons dados ao corpo de Cristo. Uma igreja saudável, por sua vez, não

existe para si. Ela existe para ser um instrumento de cura em um mundo destruído.

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180 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

DEUS HABITA NAS COISAS COMUNS

É como membros do corpo de Cristo que podemos começar a entender

a nós mesmos e a maneira como nos relacionamos com as pessoas e com as

necessidades que encontramos no mundo.

O Papa João Paulo II disse que cada um tem seu "próprio lugar no

coração de Deus e na história da humanidade", e é com base nisso que cada

um é capaz de dar uma "contribuição pessoal e insubstituível ao progresso da

humanidade na vereda da justiça e da verdade". Você acredita ter seu próprio

lugar no coração e na história de Deus? Você crê que Deus o capacitou e

chamou para dar uma contribuição insubstituível? Você consegue ouvir de

verdade o que o apóstolo Paulo diz acerca do seu lugar no corpo de Cristo?

Ouça novamente: "Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um

deles como quis" (1 Co 12.18). A sua parte no corpo é legítima e necessária.

Deus não somente cria aquilo que chamamos de comum - as flores do campo,

as estrelas do céu, a respiração em nosso peito e tantas outras coisas que são

milagres do dia a dia - como também habita nas coisas comuns, operando em

todo homem e mulher e através deles. Vemos, por toda a Escritura e na história,

como Deus utiliza pastores e donas de casa, sapateiros e agricultores, para

moldar a história. Dallas Willard sintetiza isso ao dizer: "O segredo das coisas

"simples" é que elas foram feitas como receptáculo do divino, um lugar onde

flui a vida de Deus"".

Dois de meus exemplos favoritos disso estão no Antigo Testamento. O

profeta Jeremias escreve:

Dai voltas às ruas de Jerusalém,

e vede agora, e informai-vos,

e buscai pelas suas praças

a ver se podeis achar um homem .

se há alguém q ue pratique a justiça,

que busque a verdade;

e eu lhe perdoarei a ela. (Jr 5. I )

É impressionante pensar que Deus está buscando uma pessoa, não 10.000,

100 ou 10. Ele pode e trabalhará com e por meio de até mesmo uma pessoa.

Mas perceba que essa não é uma pessoa qualquer; é alguém que "pratique a

justiça, que busque a verdade". Vemos uma ilustração parecida em Eclesiastes

9.13-18:

Também vi este exemplo de sabedoria debaixo do sol, que me

pareceu grande: Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens;

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O chamado particular 1

181

e veio contra ela um grande rei, e a cercou e levantou contra ela grandes

tranqueiras. Ora, achou-se nela um sábio pobre, que livrou a cidade pela

sua sabedoria; contudo ninguém se lembrou mais daquele homem pobre.

Então disse eu: Melhor é a sabedoria do que a força; todavia a sabedoria

do pobre é desprezada, e as suas palavras não são ouvidas.

As palavras dos sábios ouvidas em silêncio valem mais cio que o

clamor de quem governa entre os tolos. Melhor é a sabedoria do que as

armas de guerra; mas um só pecador faz. grande dano ao bem.

Que ilustração maravilhosa Deus usou um homem pobre e desconhecido

para salvar uma pequena cidade de um poderoso rei e seu cerco. Sabedoria e

palavras mansas são mais significativas do que as armas de guerra e os "brados"

dos poderosos. Deus pode utilizar até mesmo as pes-soas mais insignificantes,

cujos nomes o mundo não reconhece, para res-taurar sua comunidade e até

mesmo seu mundo.

O teólogo britânico F. W. Farrar (1831-1903) expressa a maravilha de

quando Deus usa as coisas simples:

Há unia grandeza em nomes desconhecidos; há uma imortalidade

nos deveres silenciosos e alcançados pelo ser humano mais simples; e

quando o Juiz virar a mesa, muitos desses últimos serão os primeiros... a

preencher um pequeno espaço, porque Deus assim?, o quer; prosseguindo

alegremente com uma porção de tarefas simples, pequenas vocações;

aceitando sem murmurar uma posição inferior; sendo incompreendidos,

tendo suas palavras distorcidas, caluniados, sem reclamar; sorrindo com

as alegrias dos outros mesmo que seu coração esteja doendo; - a banir

toda ambição, todo orgulho e toda inquietação por amor à obra de nosso

Salvador. Fazer isso durante toda uma vida é um imenso esforço e aquele

que o faz é um herói maior do que aquele que fica na brecha por uma hora

ou se lança sem medo cio fogo ou na frente de uma bala. Suas obras o

seguirão. Ele pode não ser herói para o mundo, mas é uni dos heróis de

Deus."'

As marcas da grandeza e do sucesso que o mundo reconhece não são as

que Deus reconhece. Vemos em Paulo, inicialmente um impiedoso inimigo da

cruz de Cristo, as credenciais daqueles chamados ao serviço do reino:

Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios

segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são

chamados. Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para

confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para

confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as

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182 I vocAcAo:

f:

suleru

ta as,nuinou no uni

verso

despre:adas, e a.s que não .são, para redu:ir a nada as que são,' para que

nenhum mortal se glorie na presença de Deus. Mas' vós sois dele, em Cristo

Jesus, o qual para nosfi

ui feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação,

e redenção; para que. como esta escrito: Aquele que se gloria, glorie-se

no Senhor: ( I Co 1.26-31: grilo meu)

Os critérios de Deus são muito diferentes dos critérios do mundo. Ele

escolhe as pessoas loucas, fracas e ignóbeis. Ele escolhe pessoas com pouca

significância aos olhos do mundo para fazer seu trabalho. Por quê? Porque a

força de Deus se manifesta melhor por meio de humildes servos. Imagine uma

vela posta em um jarro de barro. São as fendas no jarro que deixam a luz

passar. Semelhantemente, a glória de Deus é melhor revelada por meio das

coisas loucas, fracas e ignóbeis. Paulo enxerga isso em sua própria vida. Ele

escreve em 2 Coríntios 12.9-10:

E ele me disse: A

minha graça te basta, porque o meu poder se

aperfeiçoa na jraquez.a. Por isso. de boa vontade antes me gloriarei nas

minhos,fraque:as, a fim de que repouse sobre Mini O poder de Cristo. Pelo

que .sinto irar,-.er nas fraquezas. nas injúrias, nas necessidades, nas

perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou

.fraco, então e que sou forte.

Em seu poderoso sermão "1 Qualify ", meu amigo e pastor da Igreja

Lighthouse em Nairóbi, Done Mathenv. declara:

A Bíblia e lieti relato de indi 

duo.s conntn.s sendo usados por Deus

para realizar o extraordinário - homens e mulheres que, pelos padrões e

aparência naturais, pareciam bastante inadequados à tarda para a qual

foram chamados ou escolhidos. Entretanto, Deus os considerou adequados

ao propósito ou posição: assim. eles se tornaram poderosas ferramentas

em Suas mãos. Nas Escritureis, lemos sobre uni menino pastor que se tornou

o maior guerreiro e rei de Israel. Sobre um simples copeiro que

arregimentou toda uma cidade para recoustruir seus muros dest•uídos na

guerra décadas antes. Sobre uni homem que em sua juventude matou outro

e, ainda assim, foi educado para libertar o povo de Deus do Egito após

400 anos de amargo cativeiro e grandes dificuldades. Indiváluos

qualificados pelo próprio Deus'.

Você deve se

lembrar de que todos os grandes homens e mulheres

de Deus na historia tinham imperfeições. defeitos, .falhas e fracassos. Moisés

gaguejava. Sara ria. Gideão demorava a crer lonas se aborrecia com

facilidade. Pedro amaldiçoava. Tomé duvidava. Não obstante, cada um

deles foi escolhido e chamado por Deus

e,

portanto, qualificado para

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O eIit,nudu p a r t i c u l a r

1 1 8 3

realizar proezas em Seu nome. O que você precisa entender é que a

qualificação não se baseia no desempenho ou na produção. A qualificação

se baseia na posição. Deus não usa uma pessoa com base em suas

conquistas. Deus usa aquele que está mais próximo a Ele "

Assim, ficamos maravilhados pelas coisas simples, pela maneira como

Deus usa pessoas comuns de forma tão extraordinária, como escreve o Apóstolo

Paulo para igreja de Corinto:

Antes em tudo recomendando-nos como ministros de Deus; em muita

perseverança, em aflições, em necessidades, em angústias, em açoites, em

prisões, com tumultos, em trabalhos, em vigílias, em jejuns, na pureza, na

ciência, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não

,fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas aromas da justiça

à direita e à esquerda, por honra e por desonra, por má lama e por boa

.

fama; como enganadores, porém verdadeiros; como desconhecidos, porém

bem conhecidos; como quem morre, e eis que vivemos; como castigados,

porém não mortos: como entristecidos, mas sempre nos alegrando: corno

pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, mas possuindo

tudo. (2 Co 6.4-10)

Fomos criados para fazer história. Fomos feitos para cumprir um destino

em nosso tempo e lugar para o qual ninguém mais foi feito. Devemos viver

nossas vidas comuns em meio ao extraordinário chamado de Deus.

A partir de Miquéias 6.8 - "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que

é o que o Se nhor requer de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benev olência,

e andes humildemente com o teu Deus'?" -, meu amigo educador e pastor Dr.

George Grant descreve como Deus usa pessoas comuns para moldar o destino

das nações:

Afinal de contas, o futuro de nossa cultura não depende de Ille.SrSitIS

políticos 00 de soluções institucionais. Muito menos depende da

emergência de algum novo e brilhante porta-voz ou de uni líder inspirada:

Pelo contrário, o futuro de nossa cultura depende de homens e mulheres

comuns da igreja que escolham viver vidas de justiça, misericórdia e

humildade diante de Deus.'

Há poder não apenas nas vidas comuns, mas em dias comuns. A Batalha

do Bulge, que marcou o extraordinário ponto de virada da 2" Guerra Mundial na

Europa, ocorreu dentro do contexto de um dia de guerra comum. Phillip Yancey,

escrevendo para o Christianity Today, faz uma reflexão sobre um especial de

televisão que entrevistou sobreviventes da guerra na Europa:

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184 1 vocAçÃo:

ENCIVIYI

Sua

assinalara no universo

Os soldados se recordam de como passaram um dia em particular

Um deles ficou sentado em um fosso o dia inteiro; uma ou duas vezes,

passou um tanque alemão e ele atirou nele. Outros jogavam cartas e

passavam o tempo. Alguns se envolveram em terríveis tiroteios. De maneira

geral, o dia passou como qualquer outro para os infantes no fronte.

Posteriormente, eles ficaram sabendo que haviam participado de uni dos

maiores e mais decisivos combates da guerra, a Batalha do Bulge. Não

pareceu decisivo para nenhum deles na época, pois nenhum deles

conseguia imaginar o que estam se desenrolando em outras frentes.

Grandes vitórias são conquistadas quando pessoas comuns

executam suas tarefas; e unia pessoa fiel não debate todo dia se está de

bom humor para seguir as ordens do sargento ou ir trabalhar em uni

emprego entediante. Exercitamos nossa fé ao responder à tarefa diante de

nós. c'

Deixemos que uma extraordinária heroína americana, a cega, surda e

muda Helen Keller, explique, com suas próprias palavras, o poder e o significado

de uma vida comum. Algumas pessoas poderiam até mesmo dizer que Keller

nem chegava a ser comum. Em uma cultura como a do Terceiro Reich, ela

teria sido rotulada como "uma vida que não merece viver". Keller escreve:

Anseio por cumprir uma grandiosa c' nobre tarefa, mas é meu gran-

de dever cumprir tarefas humildes como se fossem grandiosas e nobres.

Não se move o mundo pelos fortes empurrões de seus heróis, mas pelos

minúsculos e agregados impulsos de cada trabalhador honesto.

1 4

O que isso ilustra? De maneira simples, Deus usa pessoas comuns, na

parte comum do mundo em que habitam, para moldar o destino das nações.

Sua vida vale algo neste mundo perdido. Deus o fez para fazer história. Você é

chamado para um papel singular no desenvolvimento do reino de Deus.

4 0611 0 1

A HISTÓRIA DE JEMIMAH WRIGHT

Jemimah Wright escreveu a história

sobre o infanticídio no Brasil relatado no início

do capítulo 8. Seu artigo levou essa

atrocidade à atenção de leitores na Grã-

Bretanha e muito além. Desde então ela

escreveu um livro sobre Hakani e os Suzu-

kis. Aqui ela conta a história de como-

finalmente-encontrou seu chamado como

escritora independente.

Conclui meu bacharelado em

publicação e história na Universidade de Ox-

ford Brookes, em grande parte porque queria

estar em Oxford. Não sabia muito sobre

publicação, mas pelo que eu tinha

conhecimento me parecia como uma boa

carreira a se ter. Após a graduação, consegui

empregos temporários em publicação

acadêmica, os quais eu odiava. Lembro-me

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O chamado particular

1 185

de orar dizendo que preferia ir logo para o

céu a continuar em um emprego que não me

inspirasse, mas que, ao contrário, parecia

sugar a minha vida. Para meu alívio, ano após

ano, consegui um trabalho em um jornal

cristão. Mas após três anos, fui demitida e,

mais uma vez, não tinha idéia do que fazer

com minha vida. Deus parecia estar em

silêncio em relação ao assunto. Com

minhas

próprias forças tentei salvar a mim mesma.

Pensei em todo emprego possível, mas no

fundo sabia que eu não queria nenhum deles.

O desespero tomou conta de mim.

Entretanto, eu tinha o desejo de

trabalhar com órfãos da AIDS na África do

Sul. Mandei um email para o pastor da igreja

Vineyard na Cidade do Cabo e perguntei se

poderia ir ajudá-lo. Mas aí entrei em pânico,

pensando que precisava de um emprego "de

verdade" e começar a subir os degraus da

minha carre i ra. Em minha confusão, pedi a Deus

deixar claro se ele queria que eu fosse à África

do Sul; ele confirmou fornecendo, de forma

milagrosa, o dinheiro de que precisava.

Voei para África do Sul em 2003 e

trabalhei em um município chamado Imizamo

Yethu ajudando os mais pobres dentre os

pobres. Estava aberta a esse ser meu

chamado, mas sentia que não seria por muito

tempo. Voltar à estaca zero pedindo a Deus

para me mostrar o que fazer. Fazia seis meses

que estava na Cidade do Cabo quando

completei vinte e cinco anos. Certo dia estava

dirigindo de volta para casa quando um

pensamento me veio à mente: Seja jornalista

independente . Era uma voz ca lma, não um gr i to

ressoante dos céus, mas no momento que tive

esse pensamento, soube que vinha de Deus.

Então, após um ano na África do Sul,

voltei a Londres para me tornar jornalista

independente. Eu tinha uma profunda

convicção de que Deus estava naquilo, mas

não tinha a mínima ideia de como ir em frente.

E também não tinha dinheiro Fui informada

sobre um curso de jornalismo de cinco meses.

O preço normal do curso era 700 libras, mas

por eu estar desempregada antes de iniciar o

curso, o governo subsidiou o valor e somente

tive que pagar 10 libras Após terminar o curso,

candidatei-me a um emprego como escritora

de assuntos diversos (faits divers) em uma

agência jornalística. Parecia a maneira

perfeita de aprofundar meu treinamento e

fazer contatos para o futuro.

Consegui o emprego, mas tinha

alguns meses livres antes de meu trabalho

começar. Tinha mantido contado com a

JOCUM do Haiti e enviei-lhes uma mensagem

eletrônica perguntando se poderia ir ajudá-

los com os trabalhos assistenciais

relacionados com o furacão. Quando lá

cheguei, Terry Snow, líder da base da JOCUM,

disse-me: "Jemimah, você é jornalista. Quer

escrever um livro?" Eu ri. Eu mal podia me

chamar de jornalista. Não tinha experiência,

então respondi "de jeito nenhum." Terry tentou

me convencer, mas eu estava decidida. Mas

as semanas foram se passando e eu comecei

a desejar escrever o livro. Certa manhã orei

e pedi a Deus que, se ele quisesse mesmo

que eu escrevesse o livro, que ele fizesse a

Terry me convidar novamente naquele dia.

(Eu precisava saber que Deus estava naquilo,

pois sabia que precisaria de sua ajuda ) Terry

raramente ficava na base da JOCUM e eu já

havia dito de jeito nenhum, então as

probabilidades eram remotas. Contudo, a

primeira pessoa em quem esbarrei naquele

dia foi Terry, que disse: "Jemimah, tem certeza

de que não quer escrever aquele livro?" Fiquei

boquiaberta. "Ok ' Respondi.

Após trabalhar no livro, voltei para

casa e assumi o emprego na agência

jornalística em Bristol. Tive o maior susto da

v ida O em prego era com jorna l ismo de tab ló ide

e era um mundo muito sujo. Logo no primeiro

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1 86 1

VOCAÇÃO:

Esc rem vni (I.s.sinatura no universo

F 1.1• • .

a al

dia, voltei para casa pensando: "Tenho que

pedir demissão." Certamente o Senhor não

me quer aqui, não é, Senhor? Orei. Mas senti

que Deus continuava confirmando que eu

estava onde ele me queria porque viria uma

benção extraordinária. Minha cota mensal no

jornal era de 3000 libras em histórias

vendidas. Na primeira semana pedalei de

volta para casa preocupada com a cota;

parecia impossível. Então, repentinamente,

senti Deus dizer: "Quem conseguiu esse

emprego para você? "Ah, sim. Foi o Senhor,"

respondi. "Bem, se eu consegui o emprego,

você crê que posso lhe dar as histórias para

alcançar sua cota?" Um peso foi retirado dos

meus ombros quando percebi que o problema

não era meu. Mas a benção de Deus veio

com um preço de obediência. Senti que ele

me pedia para caminhar em firme integridade-

em um contexto tentador para não fazê-lo.

Nosso pagamento era um salário

mínimo, mas todo mês ganhávamos um bônus

de 100 libras se alcançássemos nossas

metas. Entretanto, para ganhar a bonificação,

tínhamos que mentir e registrar o valor como

despesas para burlar os impostos. Sabia

que Deus estava dizendo que eu não podia

fazer isso. Foi difícil, pois realmente precisava

do dinheiro, mas, no fim das contas, entendi

que Deus era meu provedor e que precisava

temê-lo. Assim fiz e, na primeira semana,

ganhei 5000 libras para a empresa com uma

história. Era um milagre sem precedentes,

pois quando se está começando não se

ganha nada no primeiro mês. Logo fui

apelidada de "Ouro" pois eles diziam que tudo o

que eu tocava virava ouro. Pude falar-lhes que aquilo

não t inha nada a ver comigo; era simplesmente o favor

de Deus. Eu era a única cristã no escri tório e tenho

certeza que eles ficaram sem saber o que pensar

Após um ano senti Deus dizer que

estava na hora de virar freelancer. Mas todos

diziam que não iria funcionar, que primeiro eu

teria que mudar para Londres e trabalhar para

os jornais de alcance nacional por alguns anos

e, somente depois, tentar atuar como

freelancer. Comecei a acreditar no que diziam

e passei a achar que eles sabiam mais do

que Deus Certa noite estava sozinha em

casa. Sabia que Deus estava tentando falar

comigo, mas eu o ignorava, arrumando a

casa, distraindo me fazendo qualquer coisa

menos buscá-lo. Acabei indo dormir.

Geralmente quando repousava a cabeça no

travesseiro, logo adormecia. Mas, naquela

noite, não consegui dormir. Fiquei virando de

um lado para o outro com a cabeça cheia de

preocupações sobre minha atuação como

freelancer. Às 3:00 da manhã entreguei os

pontos. Acendi a luz e disse: "Senhor, por

favor, fale comigo." Abri minha Bíblia em

Deuteronômio 11 e li: "Entra na Terra que Deus

te deu, vá e serás abençoada...." Sabia que

Deus estava dizendo que ele havia ido adiante,

eu apenas teria que seguir e ele faria o resto.

Depois disso, as pessoas me diziam que não

iria funcionar, mas eu sabia que Deus me havia

dito para fazê-lo, e eu tinha que ir

Tornei-me jornalista independente no

dia do meu aniversário em 20 de março de

2006. E tem sido maravilhoso. Deus me tem

dado as histórias e meu emprego é perfeito

para o meu caráter. Amo a criatividade de

escrever e amo ouvir as histórias das pessoas.

Amo a animação de vender as histórias e o

desafio de encontrá-las. Ser freelancer também

significa que tenho tempo para sair do país e

escrever mais livros como Taking the High

Places [Alcançando os Lugares Altos], a

história do ministério de Terry Snow no Haiti.

Acabo de voltar do Brasil, onde fiquei um mês

escrevendo a biografia de dois missionários

da JOCUM que estão tentando parar o

infanticídio naquela nação.

Sinto como se Deus, por algum tempo,

tivesse escondido o chamado e emprego que

ele queria que eu realizasse para me preparar,

fazer-me buscá-lo e ensinar-me a confiar.

Assim, quando passei a buscar primeiro o

seu reino na África do Sul-não a minha própria

carreira-ele me mostrou o que fazer. Ele

proveu de maneira espantosa a cada

momento, abrindo portas que jamais imaginara

e,a1

,

90 muito animador

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O chamado parficular

187

O REI E SUA OBRA

Já estudamos o extraordinário significado da vida humana comum.

Analisemos agora, por um momento, o extraordinário significado da mais

extraordinária vida humana, o Deus-Homem, Jesus Cristo.

Quando o Deus do universo veio à Terra em carne humana, em que

ocupação ele veio? Ele poderia ter vindo como uma figura política - um rei, um

faraó ou um imperador. Poderia ter vindo como um sacerdote, para afirmar a

superioridade do trabalho espiritual. Poderia ainda ter nascido em um palácio

em uma cidade de classe mundial como Atenas ou Roma. Mas como ele escolheu

vir? Ele nasceu no que chamamos hoje em dia de uma nação do terceiro mundo

ocupada por um exército conquistador. Deus veio em carne humana; nasceu

em uma família comum e

de uma mulher pobre dentre o oprimido povo judeu.

Sua primeira cama foi uma manjedoura

de animais; sua primeira morada foi um

estábulo. O Deus do universo escolheu nascer em uma família comum da classe

trabalhadora e vir a tornar-se um carpinteiro proletário.

Sabemos que Jesus foi e é um servo-rei. Ele é o Rei dos reis e Senhor

dos senhores, não obstante, como diz Marcos 10.45: "Ele não veio para ser

servido, mas para servir, e dar sua vida em resgate de muitos". A plena imagem

de Deus foi revelada em Cristo por meio de seu serviço; enquanto a obra

primária de Cristo era a nossa salvação, ele executou essa obra no contexto de

uma vida comum, dois mil anos atrás, por meio de uma série de vias vocacionais.

Ele foi carpinteiro e fazia mobília, montava portas e janelas. Ele foi professor e

ensinava tanto crianças quanto adultos. Ele foi "agente de saúde" levando cura

emocional, espiritual e física.

Deus é um Deus que trabalha. Ele trabalha diretamente na história e

trabalhou distintamente em Cristo durante trinta e três anos na Terra. Ele também

está em

operação por meio das vidas dos crentes em suas profissões. O escopo

de seu trabalho é imenso.

Uma das heroínas de nossa fé, a missionária estadista à índia, Amy

Carmichael, captou o relacionamento entre o trabalho de Deus e o nosso trabalho.

Em Anima: The Life and Words of Amy Carmichael [Arrima: A Vida e as

Palavras de Amy Carmichaell, a autora Elizabeth R. Skoglund apresenta citações

de Carmichael. Eis um trecho das palavras de Amy e a correspondente citação

das Escrituras:

"Qual é o seu trabalho:' Qualquer que seja, o Senho,: o Rei,

sse

tipo de trabalho e você habita com Ele para realizar a Sua obra [trabalho]...

"Seu trabalho é proteger (como tuna mãe), confortar e fortale-cer?

( 'antes nos apresentamos brandos entre vós, [como uma mãe que acaricia

seus próprios

1 Ts 2 .7.)

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188 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

"Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei: e

em Jerusalém vós sereis consolados...

"Você trabalha na costura?

"E o Senhor Deus fez túnicas de peles para Adão e sua mulher, e os

vestiu...

"O seu trabalho é cozinhar acender o fogo na cozinha, cedo pela

manhã, preparando comida para os outros?

"Mas ao romper da manhã, Jesus se apresentou na praia: toda-via

os discípulos não sabiam que era ele. Ora, ao saltarem em terra, viram ali

brasas, e um peixe posto em cima delas, e pão. Disse-lhes Jesus: Vinde,

comei. (João 21.12)...

"Você trabalha como enfermeira, fazendo curativos em feridas?

"[Ele] sara os quebrantados de coração, e cura-lhes as feridas...

"Você trabalha COM

contabilidade, com ensino ou aprendizado de

aritmética ou C0171 110111e

de coisas difíceis de lembrar?

"[Ele] conta o número das estrelas, chamando-as a todas pelos

seus nomes. Mas até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados...

"O seu trabalho é na fazenda com os animais?

"Como pastor ele apascentará o seu rebanho; entre os seus braços

recolherá os cordeirinhos, e os levará no seu regaço...

"Ele fez o trabalho que agora você faz. E você habita com o Rei

para realizar a Sua obra [trabalho]"''.

Como Amy Carmichael reconheceu, Deus já fez o trabalho que agora

estamos fazendo. Deus nos dá uma espécie de arquétipo por princípios para

que desenvolvamos vocações moralmente legítimas. Ele foi o Primeiro Agricultor,

Curador Divino, Engenheiro de Águas, Contador, Investidor/Empreendedor'

6

.

O modelo da natureza de Deus é manifestado em Cristo por toda as Escrituras.

Cristo é o comunicador, o agricultor, o construtor, o curador e o comerciante. O

mais extraordinário ser humano de todos os tempos, Jesus de Nazaré, infundiu

dignidade em todo trabalho que o mundo chama de ordinário. Ele obteve glória

e glorificou atividades comuns.

O estudioso do Novo Testamento e autor Paul S. Minear (1906-2007)

escreve sobre o impacto do Deus do universo ao se encarnar em um humilde

carpinteiro:

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O chamado par calar

1 189

Um efeito disso foi dar aos trabalhadores, em todas as áreas, uma

genuína igualdade diante de Deus e uma genuína importância na vida da

comunidade... Nenhum trabalho comum está em si abaixo da dignidade

do profeta, do sacerdote ou do rei. De fato, Deus escolheu um desconhecido

pastorzinho como rei e um incógnito carpinteiro como Messias.'

Dallas Willard também capta a essência de Cristo e da vocação:

Se ele viesse hoje em dia como veio no passado, poderia cumprir

sua missão por meio de qualquer ocupação decente e útil. Ele poderia ser

assistente ou contador em uma loja de eletrônicos, um técnico de

computadores, um banqueiro, um editor, um médico, um garçom, um pro-

fessor, um empregado de fazenda, um técnico laboratorista ou um

trabalhador da construção civil. Ele poderia administrar um serviço de

faxina doméstica ou consertar automóveis.

Em outras palavras, se ele viesse hoje, poderia muito bem fazer o

que você faz. Poderia muito bem morar em seu apartamento ou casa e ter

o seu emprego.' 0

Cristo quer habitar o mundo por meio de seu povo no local onde vivem

e trabalham. Como cristão, eu não sou discipulado a fazer "coisas espirituais"

nem como um chamado mais elevado nem para suplementar meu "trabalho

secular". Não, eu devo aprender a viver toda a minha vida da maneira como

Jesus gostaria que fosse, na casa e na vocação às quais fui chamado. Outra

vez, Dallas Willard captou esse sentido:

Estou aprendendo com Jesus a viver minha vida como ele a viveria

se fosse eu. Não estou necessariamente aprendendo a fazer tudo o que ele

fez, mas estou aprendendo afazer tudo o que faço da maneira como ele fez

tudo o que fez.'

O Deus do universo andou no jardim com nossos primeiros pais, Adão

e Eva. Ele ordenou que Moisés construísse um tabernáculo, pois queria "habitar"

com seu povo'. Em Cristo, "a Palavra se fez carne e habitou entre nós"''.

Agora ele quer habitar entre as nações por meio de sua igreja'. Devo aprender

com Jesus como ele viveria a minha vida, de sorte que ele esteja substancialmente

presente em meu local de trabalho e no local onde vivo. Devo ocupar o território

e o tempo de minha vida para Jesus Cristo.

O Irmão Lawrence (c. 1614-1691), autor do clássico The Practice of

the Presence of God [A Prática da Presença de Deus], sintetiza o sentido

desse foco quando comenta: "Nossa santificação não depende tanto de

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190 1 VOCAÇÃO: E.screra .vuti as•cinalura

no univena

mudarmos nossas atividades como de fazê-las para Deus em vez de para nós'.

Deixa de ser a minha obra para ser a obra de Deus. Não é algo que eu faça

meramente para sobreviver ou para acumular riquezas ou poder. Meu trabalho

é o local por meio do qual o Seu reino vem e a Sua vontade é feita. As coisas

simples são vivificadas com o sagrado.

Corno vimos nessa parte de nossa jornada. Cristo nos salvou para além

de "irmos para o céu". Tendo sido salvos para o céu, também fornos salvos para

a Terra; fomos salvos para servir a Cristo e avançar o seu reino na Terra assim

como no céu. Até agora analisamos três fundamentos. Primeiro, fomos salvos

para um propósito e esse propósito é nossa vida de trabalho. Segundo, esse

chamado é um chamado geral para todos os cristãos adorarem a Deus, amarem

o próximo e exercerem mordomia sobre a criação. Terceiro, cada um de nós

tem um chamado particular para o qual fomos feitos singularmente e o qual

devemos descobrir e vivenciar.

Agora exploraremos mais características de nossa vida de trabalho.

Conforme continuamos a avançar, minha esperança é que você veja o potencial

de sua vida e trabalho dentro da estrutura da vinda do reino de Deus.

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Capitulo 14

CARACTERÍSTICAS DE

NOSSA VOCAÇÃO

A história de Deus revela que ele é o Rei, o mundo é o seu reino e nós

somos seus mordomos. Portanto, devemos ter domínio sobre a criação. Devemos

cumprir o mandato de Cristo de discipularmos as nações para que a glória das

nações seja preparada para o retorno de Cristo. Devemos fazer isso como

cristãos dentro do nosso contexto de trabalho, mas não apenas ali. Nossa tarefa

é manifestar o reino de Deus por meio de nosso trabalho como parte de nosso

chamado.

Quando buscamos andar em nossa vocação, precisamos considerar quatro

diretrizes importantes: a primazia da graça, a redenção do tempo e do espaço,

a manifestação da excelência de Deus e a revelação da glória de Deus.

OS FRUTOS DE NOSSA VOCAÇÃO

SÃO RESULTADO DA GRAÇA

Ao considerarmos os frutos de nosso trabalho, nos perguntamos: O que

constitui o "sucesso"? Sucesso, em termos simples, é a realização daquilo que

nos propomos a fazer. O objetivo pode ser bom ou mal, mas é alcançado.

As pessoas geralmente definem riqueza e poder como medidas de

sucesso. Em um paradigma bíblico, o objetivo não é a riqueza nem a pobreza'

nem o poder; devemos ser servos. Em um paradigma bíblico, o objetivo é a

entrada no reino de Deus e o seu avanço'. Assim a pergunta adequada para o

cristão é: Como minha vida e trabalho podem contribuir para o avanço do reino

de Deus?

Assim como em tantas outras coisas, há um equilíbrio radical tanto em

termos de objetivo - "não me dês nem pobreza nem riqueza" (Pv 30.8) - quanto

em termos de processo ou meios. Em culturas materialistas, as pessoas acreditam

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192 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no univervo

que o sucesso é alcançado somente por meio de seus esforços. O mantra é

esse: "Consegui sozinho " ou "Venci por meus próprios esforços ". Em culturas

animistas fatalistas, as pessoas creem que o sucesso depende do capricho dos

deuses ou do acaso. Na visão bíblica, a graça de Deus e a responsabilidade das

pessoas dançam juntas. As pessoas têm a responsabilidade de aplicar seus

esforços e de ter disciplina em suas vidas e trabalho: mas é pela graça de Deus

que vem o sucesso. Isso é claramente articulado em Deuteronômio 8.18: "Mas,

lembrem-se do Senhor, o seu Deus, pois é ele que lhes dá a capacidade dc

produzir riqueza, confirmando a aliança que jurou aos seus antepassados.

conforme hoje se vê".

Pelo que dizem, Charles Spurgeon, grande pastor e pregador inglês do

século XIX, contava uma história que ilustrava esse equilíbrio. Havia duas

meninas, uma das quais tirava boas notas na escola. A menina que não conseguia

alcançar boas notas perguntou à outra qual era o segredo de seu sucesso. Esta

respondeu que estudava muito e se preparava para as avaliações. Então, a

menina com notas ruins tentou se esforçar mais. Após a avaliação seguinte,

suas notas haviam melhorado pouco. Ela então perguntou à outra por que, após

tanto esforço, ela não havia logrado êxito. Ao que a outra menina perguntou-

lhe: "Você orou?". E a menina respondeu: "Não ". Assim, a outra menina lhe

disse que, além de ter estudado muito, ela havia também buscado o favor de

Deus. Conforme a história continua, Spurgeon diz:

Devemos trabalhar corno se tudo dependesse de nós.

Orar como se tudo dependesse de Deus e

Dar a Deus a glória pelos resultados.

Por toda a Bíblia, vemos que o relacionamento entre Deus e a humanidade

está acima de todos. Vemos que Deus é soberano e que nós somos responsáveis.

Esta é a tensão bíblica sobre a qual a vida acontece. O equilíbrio radical das

Escrituras revela que os seres humanos são independentes. Isso significa que

eles têm liberdade - independência - e responsabilidade pessoal para agir, mas

também que eles devem viver em relacionamento tanto com Deus quanto com

a comunidade, e ali encontrar sua verdadeira independência - em sua in-

dependência. E o sucesso é todo pela graça.

Enquanto nossa salvação e justificação pertencem totalmente a Deus,

nossa santificação reflete a dança da responsabilidade com o relacionamento.

Paulo nos lembra em Filipenses 2.12-13: "ponham em ação a salvação de

vocês

com temor e tremor [disciplina pessoal], pois é Deus quem efetua em vocês

tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele [poder de

Deus]". Vemos esse equilíbrio, de forma semelhante, em Tiago 1.5: "Se algum

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Características de nossa vocação

1 193

de vós tem falta de sab edoria, peça-a a D eus, que a todos dá livremente, de boa

vontade; e lhe será concedida". Como uma criatura "independente", uma pessoa

tem a responsabilidade de conhecer suas próprias limitações e orar. Deus tem

a habilidade de prover sabedoria, discernimento, coragem e força.

Esse equilíbrio radical foi bem articulado pelos reformadores na Europa

e posteriormente pelos puritanos na América do Norte. Martinho Lutero

escreveu:

Quando as riquezas chegam, o coração do indivíduo sem Deus

pensa: Consegui isso por meus esforços. Ele não pensa que essas são

puramente bênçãos d e Deus, bênçãos que às vezes vêm até nós por meio de

nossos esforços e outras vezes sem eles, mas nunca por causa deles; pois

Deus sempre as concede devido a sua plena misericórdia, a qual não

merecemos.'

Similarmente, João C alvino escreveu:

As pessoas em vão se estafam com trabalho em demasia e se consomem

para adquirir riquezas, já que essas coisas também são um benefício

concedido por Deus.'

Cotton Mather (1663-1728) foi um influente pregador puritano e um

escritor prolífico, sendo às vezes até mesmo um pioneiro na ciência e um líder

na política, nos primórdios de M assachusetts. Ele escreveu: "Em no ssa profissão,

espalhamos nossas redes, mas é Deus quem traz para elas tudo o que

carregam"'.

O professor de Inglês Leland Ryken, escrevendo em Worldly Saints

[Santos Mundanos], resume para nós:

Os puritanos consideravam a riqueza um bem social. Eles não a

consideravam um bem pessoal - ela era um presente de Deus e não o

resultado do esforço humano apenas ou um sinal da aprovação divina.'

Quando procuramos andar em nossa vocação, somos guiados por essas

percepções profundas: nosso sucesso provém da graça divina, a riqueza não é

um sinal da aprovação divina, mas da graça, e nossa riqueza não é para posse

ou consumo pessoal, mas para o bem da comunidade. Este é o pensamento do

reino.

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194 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

NOSSA VOCAÇÃO REDIME O TEMPO E O ESPAÇO

Nossas próprias vidas são o primeiro presente de Deus para nós. Além

disso, ele nos deu tanto o espaço quanto o tempo nos quais se desenvolvem

nossa vocação. Ele nos deu o espaço deste planeta, e um vasto universo no

qual habita nosso pequeno planeta, como um contexto para as nossas vidas.

Foi-nos dada uma alma e um corpo que nos permitem nos envolver com o

conjunto da criação, tanto com os elementos materiais quanto com os imateriais.

Nossos corpos e seus sentidos dão-nos a capacidade de apreciar, participar e

explorar o universo. Ele nos deu mentes racionais para explorar e descobrir os

segredos do universo, e nos deu a criatividade com a qual criamos novos

universos em nossa imaginação.

Como vimos na parábola das minas, Cristo financiou seus discípulos para

promover seu reino'. Uma das minas de seu investimento é o tempo de nossas

vidas. Jesus nos diz que sua vocação - sua vida, morte e ressurreição - foi para

que "tenham vida, e a tenham plenamente" (Jo 10.10 b). Ele nos deu tempo

para explorar, criar, participar de seu plano, e, como importantes agentes.

escrever a história. Como usamos nosso tempo, no entanto, tem sido a questão

crucial desde a Queda. Será ele aproveitado ou desperdiçado?

Ele nos deu sete dias por semana e cinquenta e duas semanas por ano.

Esse tempo deve ser usado para gerar vidas que honrem o Criador, expandam

sua criação, e criem uma cultura que reflita Deus e sua ordem criada. Ele nos

deu o sol, a lua e as estrelas para marcar as estações do ano e nos orientar no

processo de ter domínio sobre este mundo"

.

O apóstolo Paulo nos lembra que devemos usar o tempo e as

oportunidades com sabedoria: "Portanto, vede prudentemente como andais, não

como néscios, mas como sábios, remindo o tempo; porquanto os dias são maus"

(Ef 5.15-16). O tempo não pode ser trazido de volta. Uma vez que ele se foi, se

foi para sempre. Temos perdido tempo ou temos tirado proveito dele? Temos

considerado o tempo como um presente precioso ou o temos desperdiçado?

Temos usado o tempo para criar uma cultura que reflita o Criador e o trabalho

que ele nos deu na criação, ou temos seguido a orientação do mentiroso -

Satanás - e criado mundos que refletem falsos princípios e que se baseiam nas

ilusões de Satanás?

John Wesley escreveu:

Não perca tempo. Se você compreende a si mesmo e ao seu

relacionamento com Deus e com o homem, você sabe que não tem tempo

nenhum de sobra. Se você entende seu chamado como deveria, não ficará

ocioso."

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Características de nossa vocação

1 195

A extensão de nossa vida terrena é limitada, como somos lembrados em

Isaías 40.6-7: "Que toda a humanidade é como a relva, e toda a sua glória como

as flores do campo. A relva murcha e as flores caem". Além disso, podemos

também concordar com Isaque: "Eu

7

2

não sei o dia de minha morte" (Gn

27.2). Será que viveremos um dia, cem dias ou cem anos? Mais ainda, não

sabemos quando o Mestre, que investiu em nós e nos deu como incumbência o

trabalho de seu reino, voltará''. O Senhor não nos questionará: "Quantos anos

você viveu?", mas "O que você fez com os anos que lhe dei?". Como temos

usado nosso tempo?

Conforme buscamos cultivar esse tipo de consciência do valor do tempo,

podemos ser atraídos a uma direção diferente por nossa cultura. Para o

materialista, o principal valor do tempo é econômico: ele é, antes de tudo, um

fator na produtividade e nas relações de tempo-salário. O que mais importa é a

quem o tempo pertence. Já que não existe Deus em um contexto secular, existe

apenas o "tempo do relógio", não há tempo transcendente ou a plenitude dos

tempos. A passagem do tempo pode ter importância em termos de

desenvolvimento, mas a história não tem significado eterno. Além disso, não há

nenhum significado duradouro para o tempo na vida de um indivíduo fora da

realização de certos objetivos - econômicos, intelectuais ou de lazer. Em última

análise, essa falta do valor eterno do tempo apoia a abordagem hedonista

exemplificada pelo lema "Coma, beba e seja feliz, porque amanhã você morrerá ".

O tempo que não está sendo empregado no trabalho passa a ser visto como

destinado ao prazer. Você trabalha a semana toda para que possa passar os

fins de semana no lazer. Vida e trabalho são frequentemente separados.

Curiosamente, de fato, há algo que as culturas animistas têm em comum

com as Escrituras nesse ponto, e essa é a importância dos relacionamentos e

do uso do tempo dedicado a eles. As pessoas nessas culturas valorizam muito

os relacionamentos - por vezes vivem em uma teia muito complexa formada

por eles - e gastarão um tempo considerável desfrutando da companhia das

pessoas que conhecem, mesmo que não haja nenhum ganho material nesse uso

do tempo. As crianças, muito valorizadas, provavelmente serão mantidas por

muito mais tempo na companhia dos pais e de outros adultos, tanto nos períodos

de lazer quanto nos de trabalho. E muitas vezes os membros da sociedade que

dependem de outros -crianças pequenas, doentes, idosos enfermos - são atendidos

pessoalmente com pouco caso, ignorados ou confiados apenas aos cuidados de

profissionais. Isso tudo está em total contraste com as sociedades materialistas

cuja produção e os valores são orientados para o prazer, frequentemente levando

as pessoas a sacrificar os relacionamentos a fim de buscar o sucesso no mercado

de trabalho ou a perseguição desenfreada pelo prazer.

No entanto, embora as pessoas em culturas animistas possam ter tempo

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Características de nossa vocação 1

197

geologia e biologia até a capacidade que Deus deu ao homem de expressar essas

diversas leis na matemática ou na poesia, a habilidade refinada de Deus se

manifesta. O salmo 104.1-5 revela a arte e a habilidade maravilhosa de Deus:

Bendize o Senhor a minha alma

Ó Senhor, meu Deus, tu és tão grandioso

Estás vestido de majestade e esplendor

Envolto em luz como numa veste,

Ele estende os céus conto urna tenda,

E põe sobre as águas dos céus

As vigas dos seus aposentos.

Faz das nuvens a sua carruagem. E cavalga nas

asas do vento. Faz dos ventos seus mensageiros

e dos clarões reluzentes seus servos.

Firmaste a terra sobre os seus fundamentos,

para que jamais se abale.

Como a poesia deste salmo transmite, a excelência de Deus se manifesta

na criação e na forma como ele trabalha para sustentar o mundo natural. Vemos

também a excelência de Deus na redenção e na maneira como ele trabalha

para sustentar seu povo, como expressado nas belas palavras do Salmo 111:

Aleluia.

Darei graças ao Senhor de todo o coração

na reunião da congregação dos justos.

Grandes são as obras do Senhor,

nelas meditam todos os que as apreciam.

Os seus feitos manifestam majestade e esplendor,

e a sua justiça permanece para sempre.

Ele fez proclamar as suas maravilhas;

o Senhor é misericordioso e compassivo.

Deu alimento aos que o temiam,

pois sempre se lembra de sua aliança.

Mostrou ao seu povo os seus Jeitos poderosos,

dando-lhe as terras das nações.

As obras das suas mãos são fiéis e justas;

todos os seus preceitos merecem confiança.

Estão firmes para sempre;

santo e temível é o seu nome.

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria;

todos os que cumprem os seus preceitos

revelam bom senso.

Eles será louvado para sempre

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198 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Lemos neste salmo um manifesto à excelência. Como o salmista diz,

quando ponderamos as obras do Senhor, vemos sua doçura, glória, majestade,

justiça, graça, compaixão, poder, fidelidade, justiça, lealdade, constância, retidão.

santidade e sabedoria. Assim como Deus nos capacita, e assim como

trabalhamos diligentemente para desenvolver a capacidade que ele nos deu,

nosso trabalho deve manifestar essa mesma natureza excelente de Deus. Ob-

serve que esse salmo de louvor a Deus termina com uma promessa para nós

em nosso próprio trabalho: "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria;

todos os que cumprem os seus preceitos revelam bom senso" (S1 111.10).

Em que tipo de trabalho nosso Deus excelente nos chama a trabalhar

com ele? Em um trabalho excelente Por quê? Porque nosso trabalho contribui,

de alguma maneira, para com a morada de Deus e para com nossa futura

morada - o reino de Deus. Exploremos este belo quadro.

Vimos que existe uma simetria maravilhosa entre o Antigo e o Novo

Testamento. No Antigo Testamento, Deus se revela como o primeiro artista e o

primeiro artesão; no Novo Testamento, ele continua sua criatividade como

arquiteto e construtor da cidade eterna". No Antigo Testamento, vemos Deus

e as pessoas colaborando para construir primeiro o tabernáculo'' e,

posteriormente, o templo

como moradas de Deus'

7

. No Novo Testamento,

vemos Deus e as pessoas colaborando para construir o presente e o futuro

reino de Deus, onde os redimidos viverão com Deus para sempre'''.

A construção de uma morada onde Deus se manifesta nos chama à

excelência. Vemos um exemplo dessa excelência na descrição da construção

do templo em 2 Crônicas 2.1-14:

Ora, resolveu Salomão edificar uni templo em honra ao nome do

Senhos; como também um palácio real para si. Designou, pois, Salomão

setenta mil homens para servirem de carregadores, e oitenta mil para

cortarem pedras na montanha, e três mil e seiscentos como capatazes.

Depois Salomão enviou esta mensagem a Hirão, rei de Tiro: "Envia-me

cedros como ,fizeste para meu pai Davi, quando ele construiu seu palácio.

Agora estou para construir um templo em honra do nome do Senhor, o meu

Deus, e dedicá-lo a ele. "O templo que vou construir será grande, pois o

nosso Deus é maior do que todos os outros deuses. Mas, quem é capaz de

construir um templo para ele, visto que os céus não podem contê-lo? "Por

isso, manda-me um homem competente no trabalho com ouro, com prata,

para trabalhar em Judá e em Jerusalém com os meus hábeis artesãos,

preparados por meu pai Davi. "Também envia-me do Líbano madeira de

cedro, de pinho e de jui -

per°, pois eu sei que os teus servos são hábeis

artesãos em cortar a madeira de lá. Hirão, rei de Tiro, respondeu por carta

a Salomão: "O Senhor ama o seu povo, e por isso te fez rei sobre ele". E

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Características de nossa vocação

1 199

acrescentou: "Bendito seja o Senhor, o Deus de Israel, que fez os céus e a

terra, pois deu ao rei Davi um filho sábio, que tem inteligência e

discernimento, e que vai construir um templo para o Senhor "Estou te

enviando Hirão-Abi... Ele foi treinado para trabalhar com ouro e prata...

Ele é hábil em todo tipo de entalhe. Ele pode executar qualquer projeto

que lhe for dado. Trabalhará com os teus artesãos e com os de meu senhor

Davi, teu pai."

Como Salomão, temos a grande tarefa de contribuir com uma morada

para Deus e seu povo e mostrar a excelência de sua natureza diante de um

mundo observador. Nossa vocação é nossa contribuição para a vinda do reino

de Deus. Com

esse rei de Israel, podemos dizer: "O templo que vou construir

será grande, pois o nosso Deus é maior do que todos os outros deuses" (v. 5).

Podemos ficar maravilhados como ele: "Mas, quem é capaz de construir um

templo para ele, visto que os céus não podem contê-lo??Quem sou eu, então,

para lhe construir um templo...?" (v. 6). Contudo, Deus nos chamou. Abordamos

nosso trabalho como Salomão fez, com seriedade, criatividade e desenvoltura,

procurando o que para nós equivale aos melhores projetos, os materiais de

maior qualidade e beleza, e os artesãos mais qualificados.

As gerações anteriores de cristãos compreenderam a chamada para a

excelência melhor do que nós hoje. A filosofia das comunidades Shaker, que se

sobressaíram na confecção de móveis, reflete esse tipo de cuidado:

Faça cada produto melhor do que jamais tenha sido feito. Faça as

peças que você não pode ver tão bem quanto as peças que você pode ver.

Use apenas o melhor material, até mesmo para os itens de uso mais

corriqueiro. Dê atenção aos mínimos detalhes, assim como dá aos maiores.

Projete seu produto para durar para sempre."

John Wesley, o reformador da Inglaterra e fundador do movimento

metodista, captou esse mesmo sentido de excelência em seu sermão sobre o

dinheiro:

Você deve estar sempre aprendendo, a partir da experiência dos

outros ou de sua própria experiência, da leitura, da reflexão, para fazer

tudo o que você precisa fazer melhor hoje do que o fez ontem. E procure

praticar aquilo que aprendeu, para que você possa fazer o melhor em tudo

o que estiver em suas mãos.'"

Uma história é contada sobre uma menina brasileira, de doze anos de

idade, que também compreendeu essa necessidade da excelência em todo o

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200 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

trabalho porque é feito para o Senhor. O pai de Luiza ofereceu-se para consertar

uma velha caixa usada para coletar as ofertas na Capela da Videira. Ele fez um

ótimo trabalho e a caixa ficou linda. Luiza acrescentou algo a mais, no entanto.

Ela fez um pequeno travesseiro para caber dentro da caixa e o adornou com

ponto-cruz. O anseio de Luiza em ajudar e o cuidado em fazer o travesseiro se

tornaram um exemplo e uma inspiração que encorajou outros ao serviço do

Senhor'. Assim como essa menina brasileira percebeu em sua pouca idade, a

Bíblia nos chama à fidelidade e à excelência, não só nas grandes coisas, mas

também naquelas que podemos achar inconsequentes, supérfluas ou comuns.

Porque há dignidade e mistério nas pequenas coisas, somos chamados a santificar

as coisas "servis" e pequenas. Mas, porque Deus está interessado no comum,

os filhos de Deus devem apreciar as coisas simples e dar dignidade a elas,

trabalhando com excelência não importando o quão insignificante a tarefa possa

parecer. Quando entendemos o milagre do comum, reconhecemos o que um

puritano escreveu: "que um cristão pode considerar 'sua loja bem como sua

capela como um lugar sagrado"

Cerca de trinta anos atrás, minha esposa Marilyn e eu estávamos dirigindo

de Phoenix, Arizona, para Denver, Colorado. No meio do deserto do sudoeste

do Colorado, eu parei no único posto de gasolina, depois de milhas, para utilizar

as instalações. Nos EUA, naquela época, os banheiros dos postos de gasolina

eram famosos por serem imundos. Quando abri a porta do banheiro masculino,

eu esperava o pior. Mas que surpresa O banheiro estava impecável, e ao lado

da pia havia um vaso de flores frescas. Quem quer que fosse a pessoa que

cuidava daquele banheiro, ela entendia que devemos trazer dignidade e prazer

para o trabalho servil.

Em outra ocasião, eu estava hospedado em um hotel. Quando entrei no

banheiro do quarto, os pequenos sabonetes embalados estavam artisticamente

dispostos em forma de leque ao lado da pia. Quando vi isso, agradeci a Deus

pela pessoa que me recebeu com essa pequena amostra de arte no meio do que

é normalmente um item utilitário. A empregada daquele hotel deixou sua

assinatura ali, escolhendo trazer dignidade para um simples banheiro.

Essas pequenas obras de cuidado e arte estão em consonância com uma

cosmovisão bíblica. Um compromisso com a excelência e a beleza contrasta

com a filosofia pragmática do materialista moderno, para quem a eficiência,

utilidade e reprodutibilidade são valores primários. Nada exemplifica mais isso

do que a indústria de fast-food. A cadeia de restaurantes McDonald's construiu

todo um modelo de negócios sob esses valores. Suas lojas têm a mesma

aparência em todo o mundo, a aquisição e a preparação dos alimentos são

altamente padronizadas, e os trabalhadores são treinados e julgados de acordo

com métodos de trabalho, velocidade e eficiência exatos e padronizados. Embora

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Características de nossa vocação 1

201

haja um lado bom nessas eficiências, elas não tendem a promover beleza e

excelência.

Nas cosmovisões animista e fatalista ou nos sistemas corruptos, que

muitas vezes estão associados a elas, também pouco se faz para promover a

excelência no trabalho. Se nada nesta vida tem um significado duradouro, ou se

os trabalhadores e empresários não têm o senso de que a qualidade de seu

trabalho faz diferença tanto para eles como para as pessoas que eles beneficiam,

há poucas razões para se fazer um esforço extra para se ter produtos ou serviços

considerados excelentes.

Mas, se sabemos o tipo de Deus para quem e com quem estamos

trabalhando, temos motivos de sobra para buscar a excelência. Como John

Politan da Igreja Bíblica Scottsdale colocou,

A única e maior declaração que a maioria das pessoas farão em

suas vidas pela causa de Cristo - por bem ou por mal - é o modo como

fazem seus trabalhos. 2 3

E Chuck Colson escreve:

A excelência, que a Bíblia exige, em nosso chamado se torna nosso

mais poderoso testemunho no local de trabalho. Aqueles cristãos já nos

campos missionários da contabilidade, das vendas, dos softwares, da

construção e de outras honrosas vocações, precisam ser equipados para

trabalhar com integridade e, assim, compartilhar sua fé em ações, bem

como em palavras."

Como retratado na parábola das minas, como seguidores de Cristo, somos

trabalhadores administrando os negócios do Mestre, responsáveis por continuar

a desenvolvê-los, fazendo nosso trabalho diário de acordo com seus planos.

Somos chamados a fazer nosso trabalho com a excelência apropriada a Aquele

que nos chamou.

NOSSA VOCAÇÃO REVELA A GLÓRIA DE DEUS

A glória de Deus é revelada quando seus servos são obedientes a seu

apelo em suas vidas. À medida que buscamos, de alguma maneira, dispor nossos

pés, mãos e imaginação para viver a Oração do Senhor, as primícias do reino

são reveladas e o Rei do reino é glorificado.

Como Cristo e seu reino avançam neste mundo corrompido, Deus fez

cada um de nós para cumprir um propósito único. Dentre uma infinidade de

possibilidades, podemos ilustrar isso com duas figuras bíblicas: Moisés e Jesus;

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202 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

com uma dádiva da história recente: William Wilberforce; e com um a das heroínas

da fé de hoje: Joni Eareckson Tada.

Olharemos primeiro para o profeta Moisés, um hebreu nascido de forma

humilde, que, por meio de circunstâncias providenciais, foi criado para se tornar

um príncipe no Egito. Deus usou este homem para tirar o povo hebreu da

escravidão e leva-los à fronteira da Terra Prometida. Como vimos, durante

quarenta anos de peregrinação pelo deserto, Deus instruiu Moisés a construir

um tabernáculo. Em Êxodo 25.8-9 se lê: "E farão um santuário para mim, e eu

habitarei no meio deles. Façam tudo como eu lhe mostrar, conforme o modelo

do tabernáculo e de cada utensílio". No desenrolar da história, Deus revela

seus planos, o fornecimento de suprimentos e de artesanato é realizado, e o

tabernáculo é construído. Assimilamos a narrativa em Êxodo 40.33: "Finalmente,

Moisés armou o pátio ao redor do tabernáculo e colocou a cortina à entrada do

pátio. Assim, Moisés terminou a obra". O tabernáculo foi concluído pouco an-

tes de ele morrer.

Moisés viveu sua vida ao máximo, procurando ser obediente ao Deus de

Abraão, de Isaque e de Jacó. Ele "terminou bem"; completou sua missão. Ele

guiou o povo hebreu para fora do cativeiro no Egito. E terminou o tabernáculo.

Hoje encontramos essas extraordinárias palavras em Êxodo 40.34-35: "Então a

nuvem cobriu a Tenda do Encontro, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo.

Moisés não podia entrar na Tenda do Encontro, porque a nuvem estava sobre

ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo". Descobrimos que, quando Moisés

terminou a missão que Deus tinha para ele, "a glória do Senhor" preencheu

aquele espaço. Quando o trabalho de Deus é feito à maneira Dele, ele é

glorificado e sua glória vivifica a obra - sopra vida nela. Note duas coisas aqui.

Primeiro, Deus é glorificado por nossa obediência, por completarmos a tarefa

que nos foi dada. Segundo, quando a tarefa está concluída, a glória de Deus

transforma o trabalho.

Vemos um padrão semelhante refletido na vida de Cristo. No início de

sua vida, Jesus reconheceu que tinha uma tarefa dada pelo Pai. Isso está

registrado em seu ministério público:

Enquanto isso, os discípulos insistiam com ele: "Mestre, come

alguma coisa". Mas ele lhes disse: "Tenho algo para comer que vocês não

conhecem". Então os seus discípulos disseram uns aos outros: "Será que

alguém lhe trouxe comida?". Disse Jesus: "A minha comida é fazer a

vontade daquele que me enviou e concluir a

sua obra."

(Jo 4.31-34; grifo

adicionado)

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Características de nossa vocação 1

203

Jesus compreendeu que tinha um trabalho a fazer, o trabalho que seu Pai

havia delegado a ele. Vemos isso refletido em João 5.17: "Disse-lhes Jesus:

"Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando"".

Jesus é uma parte indispensável do que Deus está fazendo. O chamado é

semelhante em nossas vidas. O chamado de Cristo é um chamado para realizar

os trabalhos do Pai. Ele está trabalhando agora, e deseja conectar nossas vidas

a sua obra. Nossa vocação é essa conexão.

Jesus reflete sobre seu trabalho. Na última ceia, ele ora o que viemos a

conhecer como sua Grande Oração Sacerdotal. A primeira parte da oração nos

instrui a pensar sobre a necessidade de conectar nosso trabalho ao reino de

Deus. João 17.1, 4-5 diz:

Depois de dizer isso, Jesus olhou para o céu e orou: "Pai, chegou a

hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho te glorifique. Eu te

glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer. E agora,

Pai, glorifica-me junto a ti, com a glória que eu tinha contigo antes que o

mundo existisse".

Vemos que Jesus glorificou o Pai, "completando a obra que me destes

para fazer" Jesus tinha uma tarefa específica, e a conclusão dessa tarefa

trouxe glória ao Pai. Você quer trazer glória ao Pai? Então execute o trabalho

que ele tem para você Não glorificamos a Deus executando o trabalho de

outra pessoa, mas o glorificamos quando fazemos o trabalho que ele nos dá

para fazermos.

Quando eu era um jovem cristão, estudando no L'Abri Fellowship na

Suíça, ficava depressivo ao acordar de manhã. Eu tinha três heróis em L'Abri

- Francis Schaeffer, Udo Middelmann e Os Guinness. Fiz uma composição de

cada um dos seus pontos fortes e disse: Esta é a pessoa que quero ser. No

entanto, não considerei nenhum de seus defeitos na formação dessa caricatura.

Ao comparar-me com esse "homem modelo", vi como estava longe de satisfazer

os padrões. Fiquei desanimado. Um dia percebi meu pecado em fazer isso e

entendi que Deus me fez para um propósito. Glorificamos a Deus quando nossa

vida cumpre o propósito para o qual fomos feitos. Destruímos a nós mesmos

quando nos comparamos com os outros. Não glorificamos a Deus tentando

fazer o que ele fez para outra pessoa fazer.

Devemos também observar que, quando Jesus completou a obra que o

Pai tinha para ele, o Pai glorificou o Filho. Cada um de nós é absolutamente

único. O mistério de nossa própria habilidade especial é revelado quando somos

obedientes ao chamado que Deus tem sobre nossas vidas.

A vida de um de meus heróis, William Wilberforce, ilustra isso. Como

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Caracterislicas de no.ssa vocação1

205

Várias vezes, durante sua

fala, vi o presidente Bush olhar

diretamente para Jani. No final de seu discurso, o presidente surpreendeu

a todos. Descendo do pódio, ele colocou os braços em torno de Joni e

abraçou-a e beijou-a. Foi um momento comovente. Certamente, pensei

que esse foi o mom ento e a razão para os q uais Joni havia nascido. Havia

uni propósito para todos os seus s ofrimentos.'

Joni poderia ter se voltado para si mesma após o acidente. Sua vida

poderia ter sido marcada pela autopiedade, amargura e desespero. Mesmo

assim não foi. O que poderia ter feito a diferença? Em vez de fazer

incessantemente a pergunta: "Por que, Senhor?" Joni começou a fazer as

perguntas: "Senhor, que queres que eu faça? Como posso responder a essa

tragédia de forma a honrá-lo?". Na busca por ouvir o chamado de Deus em sua

vocação, a vida de Joni foi transformada e tem sido usada por Deus para

promover o seu reino. Enquanto Joni estava sentada em sua cadeira de rodas

na Casa Branca, a voz de Mardoqueu podia ser ouvida ao longo da história:

"Quem sabe se não foi para um momento como este que você chegou à posição

de rainha?" (Ester 4. 14).

Deus é glorificado por meio de nosso trabalho - quando andamos no

chamado particular que ele colocou em nossas vidas. Ele é glorificado quando

terminamos a tarefa para a qual ele nos fez, quando atingimos o nosso destino.

Ele é glorificado quando somos carpinteiros, políticos e artistas piedosos; quando

somos piedosos como filhos e filhas, mães e pais, irmãs e irmãos, maridos e

esposas. Ele é glorificado quando manifestamos a verdade, a beleza e a justiça

em nossas comunidades, locais de trabalho e nações. Ele é glorificado quando

caminhamos com confiança em nossa vocação.

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PA RTE 5:

A E C O N O M IA D E N O S SA

V O C A Ç Ã O

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Capítulo 15

MORDOMIA:

A ÉTICA PROTE STANTE

Uma característica de nossa vida de trabalho deve sem dúvida ser uma

compreensão bíblica sobre economia. Se você lesse a Bíblia do Gênesis ao

Apocalipse e registrasse em um diário cada passagem que encontrasse sobre a

salvação da alma ou sobre negócios e economia, qual lista seria mais longa ao

final da pesquisa? As passagens sobre negócios e economia seriam muito mais

numerosas do que aquelas sobre a salvação espiritual. Será este um sinal de

que a salvação espiritual é secundária? Não Muito pelo contrário; a salvação

de uma pessoa é fundamental para todo o resto. Mas isso destaca que Deus

está interessado na economia e nos deu os primeiros princípios para nos ajudar

a cuidar da criação e promover uma atividade econômica saudável.

"HOMEM ECONÔMICO"

A atividade econômica segundo Deus se refere ao valor encontrado em

produzir, guardar e dar. Em Gênesis, Deus ordena a mordomia sobre a criação'.

A mordomia implica tanto em progredir (produção abundante) quanto em

conservar (cuidar da criação). Vemos esse senso de boa mordomia na raiz

grega da palavra economia, que é oikonomia e significa "gerenciar uma casa"

ou "administrar uma propriedade". (Oikos pode significar "casa" ou "templo", e

nomia vem de nemein, que significa "colocar" ou "gerenciar".) Se pensarmos

no mundo que Deus criou como sua "casa", então podemos pensar em nós

mesmos como os mordomos que ele tem colocado para administrá-la. É por

isso que sempre digo que o homem é homo oikonomia - "homem econômico".

Portanto, poderíamos dizer que a economia é uma sábia gestão da família de

Deus (o mundo) por meio da imaginação moral, ou, dito de outra forma, a

gestão dos recursos dentro dos limites das leis de Deus.

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210 I VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

EVITANDO DOIS

ERROS

Deus confiou sua família a nós e, como podemos ver com a parábola do

administrador astuto= e na parábola das dez minas', ele espera que sejamos

gestores responsáveis. Na parábola do administrador astuto, o senhor elogiou o

administrador desonesto por sua gestão "prudente". Este não é um chamado

para ser desonesto, mas um chamado a ser sábio na área econômica. Na parábola

das dez minas, o mestre enaltece os administradores piedosos que renderam

dez' e cinco vezes' mais em seus investimentos. Ele condena a pessoa que

escondeu o capital e não o converteu em lucro'. Qual foi o foco de interesse do

mestre? Ele estava olhando para o uso sábio e inteligente de seus investimentos

de capital. Um investimento prudente produzirá "lucro" para o mestre e para o

reino de Deus.

Como discutimos no começo do livro, parábolas como as das dez minas

não são apenas sobre economia, mas servem também como metáforas para as

realidades espirituais. No entanto, parte de como Deus nos criou, e de como ele

tem nos chamado e nos equipado para manifestar e estender o reino, está em

nosso trabalho literal na área econômica, pela forma como lidamos com o que

ele nos confiou, incluindo tempo, espaço e recursos, tanto os da Terra como os

dos nossos lares.

Pode ser fácil ignorarmos vários ensinamentos bem práticos das Escrituras

sobre as intenções de Deus para nossa vida econômica. Por um lado, se estamos

mergulhados na mentalidade do dualismo evangélico, veremos o mundo mate-

rial como irrelevante, ou apenas uma sombra do mundo espiritual "real". Assim

não haveria sentido em discutir algo tão "mundano" como economia em um

livro sobre teologia; não veríamos uma conexão entre nossa fé e nossa vida

econômica. Por outro lado, ao reconhecer que não existe essa dicotomia - que

o físico está infundido ao sagrado - podemos ser tentados a cair em outro erro

e incluir o material no espiritual. Podemos acabar espiritualizando em excesso

a questão de forma que já não tenha sua natureza física como Deus a criou.

Neste cenário também não haveria sentido em discutir a economia. Em vez de

cair no mesmo erro, queremos que nosso pensamento seja moldado por uma

compreensão bíblica da relação entre os mundos material e espiritual, na qual

ambos são partes inseparavelmente ligadas a uma realidade que Deus fez. Só

então poderemos ser o tipo de administradores que Deus quer que sejamos,

sem excluir nada nem ninguém de seus cuidados e redenção.

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Mordomia

1211

A ÉTICA PROTESTANTE E

AS TRÊS REGRAS SIMPLES DE JOHN WESLEY

Os reformadores do movimento protestante reconheceram a importância

de nossa vida econômica como cidadãos do reino de Deus. Seus ensinos sobre

esse tema vital mudou o mundo. Na verdade, como discutiremos no capítulo 19

(Os Domínios), foi a cosmovisão bíblica ensinada pelos reformadores que os

historiadores econômicos têm reconhecido como um fator importante no

levantamento de nações inteiras da pobreza por meio do desenvolvimento da

sociedade de classe média. Por meio das novas economias da Europa, multidões

foram libertadas para viver de forma muito diferente dos antigos criados e

servos contratados, para desfrutar de oportunidades mais amplas em suas vidas,

e para ter um efeito significativo sobre a vida da nação.

Os ensinamentos dos reformadores sobre o trabalho tiveram uma

influência tão grande e duradoura que acabou sendo conhecida como a ética

protestante. Assim como nosso Salvador ensina as virtudes da humildade e do

perdão aos seus seguidores, os reformadores formularam, por meio de frequentes

admoestações, uma série de princípios econômicos. Estes foram impressos nas

mentes, quebrando as fortalezas das falsas visões de mundo e os vícios que

derivam delas. Como as mentes e os corações foram instruídos com as virtudes

bíblicas, as culturas foram transformadas'.

O que os reformadores ensinaram na esfera do mercado, que trans-

formou economias e estruturas sociais na maior parte do norte da Europa? Já

vimos que eles abo liram o p aradigma gnóstico da vida perfeita e da vida p ermitida;

que acabaram com a distinção entre vita contemplativa (vida contemplativa) e

vita activa (a vida ativa). Com o entendimento de que toda a vida é sagrada e

de que estamos vivendo coram Deo (diante de Deus), o que os reformadores

ensinaram sobre o trabalho?

O lema de John Wesley sobre o trabalho e o uso do dinheiro pode o-

ferecer uma estrutura simples para se analisar os ensinamentos econômicos

dos reformadores na Europa. Deus usou John Wesley para iniciar um

avivamento na Inglaterra, em meados de 1700, que transformou a nação em

pouco mais de uma geração; semelhantemente às transformações iniciadas

por Lutero e Calvino em suas regiões 200 anos antes. Wesley pregava a cruz

de Cristo para a salvação pessoal e, em seguida, extraía as implicações sociais

do evangelho para a transformação nacional. As três regras básicas de Wesley

sobre o uso de dinheiro são:

Ganhe tudo o que puder

Salve tudo que o puder

Dê tudo o que puder

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212 1

VOCAÇÃO: E

screva sua assinatura no universo

Essas advertências devem ser infundidas novamente nas nações

ocidentais, que estão perdendo rapidamente sua alma, e em um mundo em

desenvolvimento, que anseia por realização e por uma saúde material elusiva

garantida por esses princípios. Examinemos cada um desses aspectos.

GANHE TUDO O QUE PUDER:

TRÊS RAZÕES PARA TRABALHAR

A primeira parte do chamado de Wesley é para o trabalho: "Ganhe tudo

o que puder, sem prejudicar a si mesmo ou ao seu vizinho, na alma ou no corpo,

aplicando-se com diligência intermitente e com todo o entendimento que Deus

lhe deu"". O chamado de Wesley é para o trabalho saudável e moral, o trabalho

que edifica a si e ao próximo de forma holística. Ele deve ser realizado com

cuidado; as pessoas devem se empenhar e empregar todos os dons e habilidades

dadas por Deus. Somos chamados a cultivar as virtudes da constância e da

diligência e a acabar com os vícios da ociosidade, da apatia e da preguiça.

Martin Luther capturou a essência dessa discussão em Êxodo 13.18:

"Deus não quer que o sucesso venha sem o trabalho... Ele não quer que eu

sente em casa, com preguiça, e entregue os problemas a Deus, esperando que

um frango frito caia na minha boca. Isso seria tentar a Deus". Devemos

trabalhar duro, com produtividade e diligência.

O pregador puritano Robert Bolton (1572-1631) escreveu: "Seja diligente,

com consciência e fidelidade, em alguns chamados particulares, legais e

honestos... nem tanto para acumular ouro e absorver riqueza, mas para a provisão

necessária e moderada da família e para a posteridade: e em consciência e

obediência àquela responsabilidade comum colocada sobre todos os filhos e

filhas de Adão até o fim do mundo"".

Na essência da ética protestante, descobrimos que o trabalho tem um

valor intrínseco. Nosso trabalho, juntamente com nossa cidadania, é o lugar

onde contribuímos para a construção da cultura. Nosso trabalho não é apenas

o que fazemos para sobreviver (animismo), para consumir (materialismo) ou

para ter uma plataforma de testemunho (gnosticismo evangélico). Em vez disso,

as Escrituras revelam três razões para o trabalho.

Deus Trabalha

Deus é um Deus de trabalho. Como já estabelecemos, o trabalho não é

uma parte da maldição, como muitos supõem. Quando pensamos que o trabalho

é uma maldição, as palavras de Gênesis 2.2-3 nos surpreendem:

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Mordomia

1 2 1 3

Ora, havendo Deus completado no dia sétimo a obra que tinha

Jeito, descansou nesse dia de toda a obra que fiz:era. Abençoou Deus o

sétimo dia, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que

criara e fizera.

A criação do universo foi um trabalho. E foi Deus quem fez esse tra-

balho. Deus trabalhou seis dias na criação e ao sétimo dia descansou. Trabalhar

está na natureza de Deus. Note que a palavra trabalho aqui é o hebraico melakah.

Ela é usada 167 vezes no Antigo Testamento e é traduzida como "ocupação",

"trabalho" ou "negócio'. Esta é a mesma palavra' hebraica utilizada nos Dez

Mandamentos quando se fala do ciclo de trabalho e descanso que devemos

manter."

Acabamos descobrindo que Deus não apenas trabalhou na época da

criação, como também continua a trabalhar na manutenção dela. Salmos 104.10-

16 é um testemunho de seu trabalho em curso:

És tu que tios vales fazes rebentar nascentes que correm entre

as

colinas. Dão de beber a todos os animais do campo; ali os asnos monteses

matam a sua sede. Junto delas habitam as aves dos céus dentre a ramagem

fazem ouvir o seu canto. Da tua alta morada regas os montes; a terra se

.

farta do fruto das tuas obras. Fazes crescer erva para os animais e a

verdura para uso do homem - de sorte que tia terra tire o alimento, o vinho

que alegra o seu coração o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que

lhe fortalece o coração. Saciam-se as árvores do Senhor os cedros do

Líbano que ele plantou.

Vemos também nas palavras de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo

que seu Pai está sempre trabalhando. "Mas Jesus lhes respondeu: 'Meu Pai

trabalha até agora, e eu trabalho também.'" (João 5.17), e em João 4.34: "A

minha comida... é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua

obra". Jesus veio aqui fazer a obra do Pai. Nossa salvação e o progresso do

reino são seu trabalho contínuo. Note que Deus continua a trabalhar hoje. Sua

obra de graça comum sustenta o universo. Sua obra de graça especial é seu

trabalho por nossa salvação. Deus é um Deus trabalhador. Isso faz parte de

sua natureza.

O Homem Foi Feito para Trabalhar

A segunda razão pela qual trabalhamos é que o homem foi feito para

trabalhar. As Escrituras deixam claro que o trabalho não faz parte da maldição,

mas parte da bênção; é parte da dignidade do homem. Vimos isso no debate

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Mordomia

1 215

O trabalho é uma atividade normal. Como a lua marca as estações do

ano, como o leão caça sua presa, assim o homem sai para trabalhar. Deus

trabalha e o homem trabalha. De forma similar, o salMo 128.1-2 diz:

Bem-aventurado todo aquele que teme ao Senhor

e anda nos seus caminhos.

Pois comerás do trabalho das tuas mãos;

feliz serás, e te irá bem.

Encontramos aqui o sentido de contentamento, satisfação e realização

do trabalho. Existe uma bênção no contentamento da alma e na satisfação de

um trabalho bem feito.

Somos Colegas de Trabalho de Deus

Há uma terceira razão para o trabalho: somos colegas de trabalho de

Deus. Ele é um Deus de trabalho, e tem um plano para a sua criação. Ele fez o

homem para trabalhar, mas não apenas para trabalhar por conta própria para

seus próprios fins; ele fez o homem para trabalhar com ele em seu grande

plano para o universo. Como vimos na discussão sobre o mandato cultural, por

serem feitas à imagem do Deus Criador, as pessoas devem usar sua criatividade

e espírito empreendedor para cultivar o mundo, formá-lo e extrair seu potencial.

Gênesis 1.26-28, juntamente com Gênesis 2.15 e 2.19, reflete que estamos

criando cultura. Deus não concluiu a criação ao descansar. Agora é nossa vez

de trabalhar ao lado de Deus. Devemos usar nossas mãos, corações e mentes

para ampliar o jardim e trazer à tona todo o potencial da criação, para a glória

de Deus.

Também estudamos em Efésios 2.10: "Porque somos feitura sua, criados

em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que

andássemos nelas". Por que fomos salvos? Fomos salvos dos nossos pecados a

fim de nos juntarmos a Deus em seu trabalho. Deus está trabalhando hoje.

Nosso trabalho deve ser um veículo para a obra de Deus. Ele é uma atividade

comunitária e relacional. Nossa vida e trabalho devem estar conectados a vinda

do reino. Como vimos em Colossenses 3.23, devemos fazer tudo "como se

estivéssemos trabalhando para o Senhor ". Por quê? Porque Deus está

trabalhando e nos chamou para fazer parte de sua obra.

Por que, então, devemos trabalhar? Primeiro, trabalhamos porque Deus

trabalha. Segundo, trabalhamos porque o homem foi feito para trabalhar. Terceiro,

trabalhamos porque o homem foi feito para ser um colaborador de Deus em

seu empreendimento.

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216 I

VOCAÇÃO: Escrcva .sua assinatura no universo

SALVE TUDO O QUE PUDER:

SEIS RAZÕES PARA ECONOMIZAR

A segunda parte do chamado de John Wesley foi para poupar: "Salve

tudo o que puder, cortando todos os gastos que servem apenas para saciar os

desejos insensatos; para satisfazer o desejo da carne, dos olhos, ou o orgulho da

vida: não desperdice nada, vivendo ou morrendo. no pecado ou na loucura, quer

para si ou para seus filhos'.

Para um ocidental que foi afetado pelo "espírito da era" da cultura de

consumo, esta linguagem é de outra época. Não alimente paixões infames; não

desperdice nada na vida ou na morte. Aqui encontramos um apelo à frugalidade,

um estilo de vida simples, e à prática da simplicidade externa. Somos chamados

a cultivar as virtudes da parcimônia, da frugalidade, do contentamento e da

moderação, e a extirpar os vícios da inveja e do desperdício.

Alguns cristãos são, no fundo, materialistas; eles idolatram a riqueza. O

evangelho da prosperidade ensina que somos filhos do Rei, e o Rei quer que

seus filhos sejam ricos, saudáveis e felizes - portanto, satisfeitos Outros cristãos

idolatram a pobreza. Mateus 19.24 diz o quanto é difícil para um rico entrar no

reino dos céus. Lucas 6.20 diz: "Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso

é o reino de Deus". Estes cristãos veem a riqueza como um sinal de impiedade,

e a pobreza como uma virtude, um sinal de piedade. Alguns se identificam tanto

com os pobres que se tornam empobrecidos. Não há nenhuma razão para poupar,

mas todos os motivos para doar.

Em contraste com essas compreensões erradas mantidas por muitos

cristãos, a Bíblia revela seis razões para pouparmos. Os princípios que levam

ao investimento demandam uma comunidade de pessoas que sejam progressivas

o suficiente para gerar riqueza e conservadoras o suficiente para cuidar da

criação e das necessidades de uma comunidade maior.

Deus Cuida da Criação

Em primeiro lugar, como Deus governa sua criação com cuidado, nós

também devemos governar com cuidado o que ele tem colocado sob nossa

responsabilidade. Sabemos que por meio de sua graça comum, Deus sustenta

todas as coisas hoje". Podemos imaginar Deus como o primeiro lavrador. O

significado da palavra cultivar inclui "os cuidados de um lar", "o controle ou a

utilização judiciosa de recursos" e "o cultivo ou a produção de plantas ou

animais '9

. Como o primeiro lavrador, Deus apoia e cuida de sua criação com

prudência, ou com um julgamento são.

As palavras do grande hino de Walter Chalmers Smith, "Imortal, Invisível,

Deus único e sábio", capta o sentido de Deus como lavrador: "Sem descanso,

sem pressa, e

silencioso como a luz, nem desprovendo, nem desperdiçando. Tu

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Mordomia I

217

dominas em poder". Deus cuida de sua criação. Ele governa com força, sem

falta nem desperdício; e deseja que seus filhos façam o mesmo'. O juízo vem

sobre aqueles que causam necessidade e desperdício sobre a terra".

Assim, a primeira razão para se poupar é que isto é um reflexo da

administração de Deus sobre a criação, manifestado na virtude da economia.

Vemos as instruções dadas à humanidade em Gênesis 2.15 quando Adão e Eva

foram colocados no jardim para "trabalhar nele" (avançar) e para "cuidar dele"

(conservar). Como bons "lavradores", temos que mostrar economia.

Trabalhe Seis Dias

- Viva Sete

A segunda razão para poupar é que trabalhamos seis dias e vivemos

sete. Gênesis 2.2 estabelece que Deus modelou o padrão de descanso e trabalho.

Deus trabalhou seis dias na criação e então descansou no sétimo dia. Esse

mesmo padrão é ordenado ao homem. Vemos isso em Êxodo 20.8-11, onde o

quarto mandamento obriga tanto o trabalho sagrado quanto o descanso sagrado.

Temos que trabalhar seis dias e descansar no sétimo. A razão para se poupar é

que, se vivemos sete dias

e trabalhamos apenas seis, precisamos economizar

durante os dias úteis para o dia do descanso sabático. Enquanto esta razão para

economizar pode ter pouca aplicação no mundo da classe média, ela tem uma

força significativa para as pessoas que ainda vivem na pobreza.

Vivemos em um Mundo Caído

A terceira razão para se poupar é que vivemos em um mundo caído.

Gênesis 3 revela que houve consequências para a rebelião do homem. A Terra

agora está amaldiçoada, e haverá ervas daninhas no jardim. O que os teólogos

chamam de "mal natural" agora faz parte da paisagem. Haverá secas e

inundações, terremotos e fomes. A fim de preparar-nos para Os anos ruins (e

eles virão), precisamos economizar nos anos bons. Se não pouparmos nos anos

bons, morreremos de fome nos anos ruins.

O exemplo clássico disso é encontrado em Gênesis 41 na história de

José. O Faraó do Egito teve um sonho no qual viu sete vacas gordas e sete

vacas magras. Elas representavam sete anos de abundância e sete anos de

escassez. José desenvolveu o que foi provavelmente o primeiro plano de

preparação para desastres na história. O plano pedia o armazenar nos anos

bons e

a distribuição de alimentos nos anos ruins. Pessoas prudentes salvarão

nos anos bons, porque sabem que os anos ruins virão. Isso se aplica, de forma

real, nos países economicamente desenvolvidos e naqueles em desenvolvimento,

quando encaramos desastres naturais, recensões e crises pessoais.

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218 1

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

Provisão para o Futuro

A quarta razão é semelhante à terceira, para gerar provisão para o fu-

turo. Em contraste com sociedades materialistas e animistas nas quais não há

crença no futuro, na economia bíblica - na realidade - há um futuro. De fato,

uma das facetas da cosmovisão bíblica é que a história está indo para algum

lugar. Houve um passado, há um presente e há um futuro no qual Cristo volta

com seu reino. Por enquanto, vivemos no reino contínuo. Temos que apreciar o

passado, aproveitar o presente, e construir e contribuir para a vinda do reino.

Há um futuro em minha vida. Há um futuro para meus filhos e os filhos de

meus filhos. Há um futuro para a sociedade. Precisamos atrasar a recompensa

pelo bem dos outros. Precisamos economizar agora para a educação de nossos

filhos ou para capitalizar um negócio, comprar uma casa, dotar a arte, construir

bibliotecas, universidades, clínicas e hospitais.

Vemos esse princípio ilustrado no exemplo da formiga em Provérbios

6.6-8:

Vai ter com a formiga ó preguiçoso,

considera os seus caminhos, e sê sábio;

a qual, não tendo chefe

nem superintendente nem governador,

no verão faz a provisão do seu mantimento

e ajunta o seu alimento no tempo da ceifa.

Até a formiga é sábia (leia astuta) a este respeito. Ela armazena provisões

no verão para o inverno. Se a formiga é prudente, certamente as pessoas

deveriam ser mais então.

Virtude na Vida Simples

A quinta razão para se poupar é que há virtude na moderação e na

simplicidade. Levaremos um longo tempo para rever este ponto, pois é necessário

estabelecer duas verdades colocadas em tensão na cosmovisão bíblica: as

Escrituras afirmam que as pessoas têm direito ao fruto de seu trabalho e que,

como cristãos, somos chamados a escolher um estilo de vida moderado,

procurando ser criadores, poupadores e doadores de riqueza, não apenas

consumidores dela.

Para entender nosso apelo a uma vida simples, é importante primeiro

reconhecer que Deus quer que a humanidade receba o fruto de nosso trabalho.

O princípio de que "o trabalhador merece o seu salário" (Lucas 10.7), ou como

traduz a versão King James: "o trabalhador é digno do seu salário", foi

estabelecido por Deus desde o início:

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Mordomia

1 219

E tomou o SENHOR Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para

o lavrar e o guardar. E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De

toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do

conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que

dela comeres, certamente morrerás. (Gn 2.15-17)

Nesses versos, naturalmente ouvimos o mandamento de Deus sobre que

o homem não deve comer. Mas eles também mostram que, com exceção de

uma árvore, o fruto de todas as outras é para que o alimento do homem. Este

está cultivando e guardando o jardim, e o fruto de seu trabalho é sua provisão.

Da mesma forma, Gênesis 1.29-30 registra:

Então Deus disse: "Eis que vos tenho dado todas as ervas que

produ-zem semente, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem

como todas as árvores em que há fruto que dê semente; ser-vos-ão para

mantimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todo

ser vivente que se arrasta sobre a terra, tenho dado todas as ervas verdes

como mantimento." E assim foi.

Aqui, também, vemos Deus ordenando que o trabalho da humanidade no

jardim os sustentaria. Ele fez as plantas com sementes. Se você plantar uma

semente, recebe de volta cem ou mil vezes mais. Deus fez o mundo para produzir

em abundância, provendo para a expansão da comunidade humana.

Deus confirmou a verdade de que o trabalhador merece o seu salário

nos mandamentos que deu a seu povo, por meio de Moisés, após tirá-los da

escravidão no Egito. O oitavo e o décimo mandamento são fundados no princípio

de que uma pessoa tem direito ao fruto de seu trabalho:

Não furtarás... Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás

a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi,

nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo. (Êx 20.15, 17)

Esses mandamentos estabelecem o direito da "propriedade privada".

Embora, em sentido absoluto, tudo pertença a Deus, as pessoas têm direito ao

fruto de seu trabalho. A propriedade privada é estar encarregado daquilo que

basicamente pertence a Deus.

Da mesma forma, o Novo Testamento também ensina que o trabalhador

é digno do seu salário. Tiago 5.4 diz: "Eis que o salário que fraudulentamente

retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama e os clamores

dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor Todo Poderoso". Uma pessoa

tem direito ao seu salário. Reter o salário de alguém é fraude e roubo.

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220 I VOCAÇÃO:

E.s•orea mu a.s

.cinatura no unirory,

Enquanto a Bíblia afirma que ternos direito ao fruto de nosso trabalho e

que devemos apreciar a bondade das coisas físicas da criação de Deus, ela

também nos chama à moderação. A moderação estabelece um equilíbrio entre

idolatrar a riqueza (materialismo) e ser condenado à pobreza (animismo). Vemos

isso articulado em Provérbios 30.7-9:

Duas coisas te peço;

não mas negues, antes que morra

Alonga de mim a falsidade e a mentira;

não me dês nem a pobreza nem a riqueza:

dá-me .só o pão que me e necessário;

para que eu de farto não te negue,

e diga: Quem é o SENHOR.'

ou, empobrecendo, não venha a fitam;

e profane o nome de Deus.

"Não me dês nem a pobreza nem a riqueza". Existe um equilíbrio aqui.

Nem as riquezas, para que eu não reconheça a necessidade de Deus, nem a

pobreza, para que eu não desonre o nome do Senhor roubando. As Escrituras

estabelecem a meta de "adequação" - suficiência em todos os âmbitos da vida.

Ela chama para um estilo de vida simples, baseado em um ascetismo externo.

Alguns já chamaram isso de "teologia do suficiente".

Alguns veem a riqueza como um sinal do favor de Deus. Mas os re-

formadores e puritanos não. Ryken escreveu:

Será um choque para os céticos da ética protestante saber que os

protestantes originais viram uma relação inversa entre a riqueza e a

piedade. Dada sua posição como uma minoria muitas vezes perseguida,

os prilneims protestantes consideravam a perseguição e o sofrimento, não

um sucesso terreno, como o maior resultado provável da vida piedosa."

Isso reflete o pastor colonial Samuel Willard, que escreveu em A Com-

plete Body of Divinity: "Como as riquezas não são evidências do amor de Deus,

consequentemente, não é a pobreza evidência de sua raiva ou ódio"'". A pobreza

não indica desaprovação de Deus ou falta de fé, nem é a pobreza um sinal de

piedade, como diria o asceta. Nem a riqueza um sinal do favor de Deus. Cristãos

impactados por um sistema de valores materialistas têm idolatrado a riqueza

(servindo às riquezas), enquanto aqueles que se identificam com os pobres têm

romantizado a pobreza.

O equilíbrio está em apreciar o mundo material sem ter um relacio-

namento idólatra ou avarento com ele. Ternos que buscar um estilo de vida

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222 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

desampararei

-

 O Dr. Howard Hendricks, Presidente do Centro de Liderança

Cristã no Seminário Teológico de Dallas, comenta sobre o erro humano da

"ânsia pelo dinheiro como forma de obter o 'suficiente', em vez de ansiar por

Deus como o provedor do 'suficiente'"'. A questão aqui não é a renda, mas o

consumo. Trata-se de uma atitude e um estilo de vida de contentamento.

O que acontece quando as virtudes do trabalho duro e da economia são

praticadas? A riqueza, ou o "capital", é criada Mas a riqueza não é para o

consumo. Os princípios da moderação - uma vida simples e o contentamento -

definem o uso da riqueza. O que deve ser feito com toda essa riqueza? Ela

deve ser entregue para o avanço o reino.

DÊ TUDO O QUE PUDER: TRÊS RAZÕES PARA DOAR

A terceira parte do chamado de John Wesley é para doar: "Dê tudo o

que puder, ou, em outras palavras, dê tudo o que tem a Deus. Não se limite... a

esta ou aquela proporção. 'Dai a Deus', não um décimo, não um terço, não a

metade, mas tudo o que é de Deus, seja mais ou menos; empregando tudo em

si mesmo, em sua casa, em sua família da fé e em toda a humanidade, de tal

maneira que você possa dar boa conta de sua administração quando não mais

puder administrar""

Tudo o que temos, não só o capital criado pelo trabalho árduo e pela

economia, pertence a Deus, e deve ser empregado a serviço de Cristo e seu

reino. Wesley escreveu:

Quando o Possuidor dos céus e da terra o trouxe à existência, e o

co-locou neste mundo, ele o colocou aqui, não como proprietário, mas

como administrador. Como tal, ele confiou a você, por uma estação,

mercadorias de vários tipos, mas a propriedade exclusiva destas repousa

em si, não podendo ser alienadas dele. Assim como você não é dono de si

mesmo, mas dele, assim é, igualmente, com tudo o que você gosta. Assim a

sua alma e seu corpo, não são seus, mas de Deus... E ele disse a você, em

claros e expressos termos, como deve empregá-los para ele, de tal forma

que tudo seja um sacrifício santo, aceitável por meio de Cristo Jesus.

2 7

Como Wesley reconheceu, Deus é o dono de todas as coisas. Devemos

cultivar as virtudes da comunhão, da benevolência, da caridade, da generosidade

e da compaixão, e acabarmos com os vícios da avareza, da cobiça, da ganância

e do egoísmo. No centro da questão, o egoísmo impede o doar. "O egoísmo, em

seu pior ou inadequado sentido, é a essência da depravação humana, e isso o

coloca em oposição direta à benevolência, que é a essência do caráter divino.

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Mordonual

223

Como Deus é amor, logo o homem, em seu estado natural, é egoísmo"". Como

crentes, queremos uma atitude de sacrifício próprio em favor dos outros, não

sacrificar os outros em nosso favor. O foco bíblico, em todo o Antigo e o Novo

Testamento, é sempre externo para uma comunidade maior. As Escrituras

revelam três razões para se doar: a gratidão, o pragmatismo e a obediência.

Gratidão

A primeira razão para se doar é para agradecer a Deus por seu amor e

graça

2 9

. Ele nos tem dado o que não merecemos: a vida eterna e abundante. E

é misericordioso em não nos dar o que merecemos: a morte.

Como devemos responder a tal misericórdia e graça? Com gratidão O

apóstolo Paulo recorda-nos a resposta lógica à misericórdia de Deus em

Romanos 12.1: "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apre-

senteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus,

que é o vosso culto racional". É razoável. Paulo elogia a igreja da macedônia ao

escrever aos coríntios:

Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus que ,foi

dada as igrejas da Macedônia; como, em muita prova de tribulação, a

abundância do seu gozo e sua profunda pobreza abundaram em riquezas

da sua generosidade. (2 Co 8.1-2)

Paulo continua em 2 Coríntios 9.6-7:

Mas digo isto: Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e

a-quele que semeia em abundância, em abundância também ceifará. Cada

um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por

constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria.

O ato de dar deve ser feito livremente e com alegria, como fruto de um

coração agradecido.

Pragmatismo

A segunda razão para dar é pragmática, fomos projetados para dar. Deus

é um Deus que serve3 0 . A própria natureza de seu amor revela sacrifício próprio'''.

E mais uma vez, somos feitos à sua imagem. Fomos criados para servir. Somos

mais completos e mais humanos quando compartilhamos com os outros.

Porque Deus revela em si a comunidade, nós fomos feitos para a

comunidade. Fomos feitos para nos conectar com outras pessoas. Sendo assim,

devemos olhar para fora, não só para nossos próprios interesses, mas também

para os interesses dos outros32.

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224 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Em Isaías 58, lemos que a nação de Israel está "deprimida". Ela está

fora do favor de Deus. Nos versículos 6-10, Deus dá sua receita para sair da

"escuridão":

"Acaso não é este o jejum que escolhi?

que soltes as ligaduras da impiedade

que desfaças as ataduras do jugo?

e que deixes ir livres os oprimidos

e despedaces todo jugo?

Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto,

e recolhas em casa os pobres desamparados?

vendo o nu. o cubras,

e não te escondas da tua carne?

Então romperá a tua luz como a alva

e a tua cura apressadamente brotará

e a tua justiça irá adiante de ti

e a glória do Senhor será a tua retaguarda.

Então clamarás, e o SENHOR te responderá

gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui.

"Se tirares do meio de ti o jugo,

o estender do dedo e o falar iniquamente;

e se abrires a tua alma ao faminto,

e fartares o aflito; então a tua luz nascerá nas trevas,

e a tua escuridão será como o meio dia."

Por que Deus disse que, quando o povo de Israel alimentasse os famintos

e vestisse os nus, a sua luz nasceria das trevas? Porque eles foram concebidos

para dar. Se eles dessem aos outros, cumpririam um dos objetivos centrais de

suas vidas, afirmando a imagem de Deus dentro de si e nos outros.

Quando funcionamos com base em nosso projeto, a vida funciona melhor

do que quando tentamos negar nossa concepção. Quando damos, somos

abençoados e a comunidade é abençoada. Paulo nos lembra, em seu discurso

de despedida a seus amigos de Efésios: "Em tudo vos dei o exemplo de que

assim trabalhando, é necessário socorrer os enfermos, recordando as palavras

do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar

do que receber" (Atos 20.35).

Obediência ao Mandamento de Deus

A terceira razão para dar está fora da obediência ao mandamento de

Deus. Às vezes, na maioria das vezes, não agimos por gratidão. E às vezes não

agimos de certa forma porque é o melhor para nós. No entanto, Deus

providenciou uma rede de segurança para nos apanhar quando cairmos. Ele diz

que temos que dar "porque eu ordenei ".

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Mordomia

225

Os cristãos geralmente citam as palavras de Jesus aos seus discípulos

em Mateus 26.11: "Porquanto os pobres sempre os tendes convosco". Muitos

cristãos tomam isso corno uma desculpa para não cuidar dos pobres e

necessitados, e poucos tiram um tempo para estudar a passagem a qual Jesus

estava se referindo em sua declaração. Ela vem de Deuteronômio 15.7-11,

onde Deus chama seu povo a dar generosamente aos pobres no meio deles. A

passagem termina com estas palavras: "Pois nunca deixará de haver pobres na

terra. Portanto, eu ordeno que você seja mão aberta com seus irmãos e para

com os pobres e necessitados na sua terra". Ao povo de Deus foi ordenado

cuidar dos pobres e necessitados. Não é uma opção. Os cristãos que interpretam

mal as palavras de Jesus a fim de servir seu próprio egoísmo falham em ouvir

o coração e o comando de Deus.

Foi dito pelo Dr. Larry Ward, o fundador da Christian Relief e da or-

ganização de desenvolvimento Food for the Hungry, que ninguém no mundo

havia visto mais rostos famintos do que ele. Certa vez, durante uma entrevista,

um repórter perguntou por que o Dr. Ward era tão fervoroso em ajudar os

pobres e famintos. "Será que foi porque você viu muitos famintos?", o repórter

perguntou. Larry Ward respondeu segurando sua Bíblia. Ele disse que foi por

causa deste livro. Do começo ao fim, a Bíblia fala de um Deus compassivo, que

ama os pobres e comanda seu povo a cuidar dos indigentes e famintos.

Logo, podemos dar os agradecimentos pela graça de Deus em nossas

vidas, pela razão pragmática na qual fomos criados para fazê-lo, ou por

obediência.

Wesley resume:

Rogo-vos, em nome tio Senhor Jesus, que ajam de acordo com a

dignidade da vossa vocação Chega de preguiça Tudo quanto vos vier à

mão para ,fazer, laçam-no com toda a vossa força Chega de desperdício

Cortem todos os gastos que a moda, o capricho ou carne e sangue pedem

Chega de ambição Mas empreguem o que Deus vos confiou em fazer o

bem, todo o bem possível, em todos os tipos e graus possíveis para com a

família da fé, para com todos os homens Esta não é uma pequena parte da

"sabedoria dos justos". Deem tudo o que tendes, bem como tudo o que sóis,

como um sacrifício espiritual a Ele que não vos poupou seu Filho, seu

único Filho."

Como Wesley e outros reformadores protestantes reconheceram, somos

chamados a viver como cidadãos econômicos do reino de Deus. Fomos feitos

não apenas para sermos seres espirituais, mas também para sermos seres

econômicos. Corno os cristãos antes de nós, abracemos a ética bíblica do

trabalho. Busquemos um estilo de vida de generosa compaixão.

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Capítulo 16

A ECONOM IA DA DOAÇÃO :

COMPAIXÃO GENEROSA

Entender a economia da doação - tantas vezes incompreendida - é vital

para que caminhemos em nossa vocação. Assim, antes de avançar com o

conceito bíblico de mordomia encontrado nas três regras de John Wesley, quero

debruçar-me sobre o tema da doação generosa.

DOAÇÃO: UM REFLEXO DO PLANO

ABRANGENTE DE DEUS

Lembrando que Deus tem um plano abrangente - nada menos do que

reconciliar todas as coisas consigo mesmo' e ver todas as nações trans-

formadas por meio do discipulado2

-, somos chamados a ser nada menos do

que os embaixadores de seu reino. É nosso privilégio e responsabilidade doar

de forma a refletir o abrangente plano de Deus.

RELAÇÕES

DEUS

HOMEM CRIAÇÃO

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228 1

VOCAÇÃO:

Escreva sue as•cinutura no universo

Há três relacionamentos que estão na essência de nossa doação. De-

vemos dar a Deus na adoração. à criação na mordomia e ao próximo na cari-

dade.

O HOMEM E SUAS RELAÇÕES

ADORAR

A DEUS

CUIDAR

DA CRIAcAO

AMAR

O HOMEM

A Deus em Adoração

Paulo escreve sobre a doação generosa dos macedônios à igreja em

Jerusalém, apesar de sua própria pobreza: "E não somente fizeram como nós

esperávamos, mas primeiramente a si mesmos se deram ao Senhor, e a nós

pela vontade de Deus" (2 Co 8.5).

O puritano Richard Baxter escreveu:

Escolha o emprego ou a vocação... no qual você possa ser mais útil

a Deus. Não escolha aquela na qual você pode ser mais rico Ou honrado

no mundo. mas aquela em que você mais possa faz,er o bem e fugir do

pecado.'

Que visão maravilhosa Temos que escolher o trabalho que nos permita

maximizar nossa utilidade para Deus, e que nos permita uma maior oportunidade

para fazer o bem a toda a comunidade. Nosso trabalho deve ser tal que não nos

tente ao consumo excessivo, mas que facilite nossa doação ao reino de Deus.

Trabalhamos por dinheiro? Ou trabalhamos para o reino? Estamos "promovendo

o reino" em nosso trabalho para fazer o melhor para o reino?

À Criação na Mordomia

Vimos que a cruz de Cristo restaurou o mandato da criação. Nosso trabalho

e

doação destinam-se à administração da criação, primeiro em não fazer o mal

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A economia (1,1 doação

1229

e segundo em reverter o mal natural. A criação aguarda "a revelação dos filhos

de Deus" para a "liberdade da glória dos filhos de Deus" (Rm 8.19,21). Nosso

tempo, talentos, recursos e estilo de vida devem refletir nossa administração da

criação.

À Comunidade na Caridade

Por estarmos, por meio da criação, relacionados com a comunidade maior,

temos a responsabilidade de levar a cultura do reino - verdade, justiça e beleza

- para dentro dela. Cristo colocou os interesses dos outros antes de seus próprios.

e somos chamados a seguir seu exemplo'. Quando Jesus retornar, ele julgará o

quão bem nos importamos com a sociedade em geral por meio de nosso trabalho.

bem como por seus frutos'.

O puritano William Perkins escreveu:

O principal fim de nossas vidas... é servir a Deus servindo aos

homens nas obras de noss os chamados... Alguns homens talvez digam: O

que? Não devemos trabalhar em nossos chamados para manter nossas

famílias? Eu respondo: isso deve ser feito, mas este não é o escopo nem a

finalidade de nossas vidas. Sua principal finalidade é

. lazer o serviço para

Deus servindo ao homem'

Foi isso que o Dr. Bob Moffitt, da Fundação Harvest, chamou de

"Mínimo Irredutível". Se analisarmos os mandamentos de Deus até sua essência,

o mínimo irredutível é que demonstramos nosso amor e serviço a Deus amando

e servindo as pessoas. O apóstolo João captura uma parte disso em 1 João

3.17-18: "Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitando.

lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus? Filhinhos,

não amemos de palavra, nem de língua, mas por obras e

em verdade".

O príncipe dos pregadores, Charles Haddon Spurgeon, disse:

A intenção de Deus em munir qualquer pessoa com mais substância

do que ela precisa é para que ela tenha o prazeroso trabalho, ou melhor,

o maravilhoso privilégio, de aliviar a carência e a aflição.'

Quando damos a Deus em adoração, à criação na mordomia, e a nossa

comunidade na caridade, participamos da grande amplitude do plano de Deus.

Ao longo deste livro, temos explorado nossa vida de trabalho tanto como culto

quanto como mordomia. Aqui nos concentraremos na caridade - a generosa

doação à comunidade.

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230 1

VOCAÇÃO: Escreva .sua (i.S.Sillafut no universo

A DOAÇÃO DEVE BASEAR-SE NA

REALIDADE

Vivemos em um universo com limites morais e metafísicos. O universo

é moral, e assim temos a responsabilidade de sermos tanto "guardiões de nosso

irmão" corno administradores da criação. Isso contrasta com a visão amoral

tanto do secularismo como do animismo.

O universo também é um sistema aberto. É aberto à intervenção de

Deus, seu Criador, bem como à intervenção dos anjos, demônios e do homem.

Pelo fato de os seres humanos terem mentes para descobrir e resolver

problemas. e corações para imaginar e inventar, e por serem agentes morais

livres', os recursos são, em primeiro lugar, um fator das habilidades humanas,

produto da imaginação humana e da mordomia moral"

.

O conceito bíblico de que os recursos são, em primeiro lugar, um fator da

capacidade humana está em contraste com o secularismo, ou naturalismo, em

que não há Deus, nem anjos, nem demônios. No secularismo, o homem é apenas

um ser biológico, um animal - parte da grande "máquina cósmica". Ele é um

consumidor de recursos. Não há realidade transcendente. A natureza é tudo o

que existe. Assim, o universo é um "sistema fechado". Nesse paradigma, os

recursos são limitados: finitos. A "torta" econômica é fixa - soma zero". Como

existem cada vez mais pessoas na Terra para compartilhar da torta, seus pedaços

ficam cada vez menores.

A maioria dos sistemas modernos de doação é baseada nessa premissa

materialista. Neste paradigma, como se ajuda aos pobres? O que resta para

nós é simplesmente dividir as fatias da torta. Se a fatia da torta de uma pessoa

ou uma nação é grande, então a dos outros é necessariamente menor. De

acordo com esse pensamento, a razão pela qual os pobres são pobres é porque

os ricos têm muito da torta. A maneira de ajudar os pobres é redistribuindo a

torta dos ricos aos pobres. Quando comecei meu trabalho com a Food for the

Hungry, em 1981, esse foi o modelo que considerei para resolver os problemas

da fome e da pobreza.

Mas a visão bíblica da economia - que nasceu tanto de estudos bíblicos

quanto do que experimentei em várias nações no campo - mostra um universo

aberto. Por Deus haver criado o universo, este está "aberto" a sua intervenção.

Também está aberto à intrusão de anjos, demônios e seres humanos. A criação

física é regida por leis físicas, mas Deus, os anjos, os demônios e toda a

humanidade podem impactar este mundo com suas decisões e ações. Por

causa disso, a economia é um sistema de soma positiva (pense no princípio da

semente em que uma vasta e interminável colheita é gerada a partir de uma

única semente). A riqueza não é fixa, ela é criada. Nesse sistema aberto, os

recursos são criados e descobertos e, assim, a riqueza pode crescer

exponencialmente.

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economa da doação 1 1 3 1

Para sermos eficazes em nossa administração, como cristãos, precisamos

rejeitar a visão naturalista do universo em favor de nosso chamado ao mandato

cultural e ser subcriadores, extraindo o potencial latente da criação de Deus.

Precisamos aceitar a evidência bíblica e prática de que a supervisão da família

de Deus não é análoga a dividir pedaços de urna torta finita.

Da mesma forma, em nossa era consumista, precisamos ouvir que a

natureza aberta do universo não significa que podemos nos dar ao luxo de

sermos irresponsáveis ou egoístas com os recursos que Deus confiou à nossa

administração. Há uma razão para que muitas pessoas estejam preocupadas

em dividir a torta: estamos certos em nos preocupar com os outros; estamos

certos em querer que todas as pessoas compartilhem da abundância da criação

de Deus. Essa preocupação com a justiça e o bem-estar dos outros é o âmago

da verdade no defeituoso paradigma da "torta".

Talvez um gráfico ajude a explicar o que estou dizendo.

FILOSOFIA ECONÔMICA

SISTEMA ABERTO SISTEMA FECHADO

U

V

O

 

O

R

OIKONOMIA

OCIALISMO

(MORDOMIA DEALISTA

DA CRIACÃO) UNIVERSO

MECÂNICO

MATERIAL)

_ J

o

• CAPITALISMO OMUNISMO

PREDATÓRIO

LÁSSICO

ln

(CONSUMISMO

CONTROLE

• HEDONISTA) NSTITUCIONALIZADO)

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economa da doação 1 23 3

um consistente paradigma ateísta-materialista. O universo é fechado e não há

nenhuma restrição moral. Este regime está alinhado ao darwinismo social - a

sobrevivência do mais forte. E tem tudo a ver com o poder. Vemos modelos

fracassados no Terceiro Reich na Alemanha e no marxismo da União Soviética.

A segunda posição consistente é o que a Bíblia e os antigos conheciam

como oikonomia; podendo ser chamada de economia da mordomia do teísmo

bíblico. O sistema é ab erto e o universo é mo ral. Portanto, somo s de filio guardiões

de nossos irmãos e recebemos a ordem de sermos administradores morais da

criação de Deus.

Dissemos anteriormente que a economia é a gestão inteligente da

família de Deus com a imaginação e a gestão dos recursos dentro dos

limites das leis de Deus. Isso significa que existem restrições morais sobre

a forma corno ganhamos e usamos a riqueza. Na economia de Deus, a

obtenção de riquezas precisa acontecer na perspectiva dos cuidados com

a criação, e seu uso deve acontecer na perspectiva do cuidado com a

grande comunidade. É importante ouvirmos isso em meio a nossa cultura

materialista.

Será que ganhamos dinheiro e outros recursos de forma honesta e sem

prejudicar a nós mesmos, nossos familiares, vizinhos e ao meio ambiente? E

será que gastamos o que ganhamos com nós mesmos ou incluímos outros em

nossa generosidade, por amor a Cristo e seu reino?

Como devemos considerar as pessoas pobres quando nos pusermos a

compartilhar nossos ganhos? Como todos os seres humanos são criados à

imagem de Deus, eles não são apenas bocas a se alimentar; são pessoas, com

mentes e corações, prontas a receberem a oportunidade de alcançar o potencial

dado por Deus corno desenvolvedores de suas comunidades, criadores da cultura

divina. Eles podem utilizar seus corações

e

mentes para criar sua própria

recompensa e exercitar a mordomia moral compartilhando a recompensa com

seus vizinhos e cuidando da criação.

Ao desenvolvermos nossos ministérios ou criarmos instituições de

caridade ou praticarmos a caridade pessoal de cuidar do próximo, estamos

buscando conscientemente viver na realidade de um sistema aberto e um universo

moral?

PRINCÍPIOS

DA COMPAIXÃO

É

um axioma dizer que o caráter de Deus informa todas as coisas boas

da vida. Quando pensamos em articular os princípios da generosidade, não

precisamos observar mais nada além de seu caráter. A natureza de Deus sempre

deve

informar os princípios do ministério.

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234 1 VOCAÇÃO:

Escreva .,71,1 assinatura no universo

Um dos livros que se revelou fundamental em minha própria jornada de

compreensão foi o do Dr. Marvin Olasky The Tragedy of American Compas-

sion''. Olasky relata como o conceito americano de compaixão mudou ao sairmos

de uma cosmovisão bíblica para uma cosmovisão ateísta-materialista. O livro

de Olasky tem sido um dos profundos formadores de meu próprio pensamento.

Um dos capítulos do livro é intitulado "Sete Marcas da Compaixão", e mostra

os princípios de uma antiga geração de trabalhadores que funcionavam a partir

de um paradigma bíblico.

Daniel A. Bazikian escreveu uma crítica sobre o livro do Dr. Olasky

para a Foundation for Economic Education. Sua crítica resume as sete marcas

derivadas dos princípios bíblicos:

"As Sete Marcas da Compaixão" constitui o cerne do estudo [de O-

lasky] e de sua crítica. Sete ideias básicas motivaram os trabalhadores da

caridade cem anos atrás: ,filiação, que é manter a família do indivíduo, a

religião ou os fortes laços comunitários, de modo a reforçar seu sentido de

pertencer a algo: ligação, ou o desenvolvimento de uma estreita relação

pessoal entre o voluntário da caridade e o destinatário, a fim de persuadir

e incentivar o último a um status de autossuficiência; categorização, ou a

atribuição de indivíduos às diferentes categorias de necessidade (por

exemplo, a necessidade de ajuda permanente, ajuda temporária, auxílio

na busca de um emprego, ou apenas a designação de alguém como

impróprio à assistência devido à falta de vontade de trabalhar); com isso

veio o discernimento, a vontade de separar os objetos dignos de caridade

daqueles fraudulentos; buscando a meta do emprego de longo prazo a

todos os chefes tio lar fisicamente capazes, de modo a incutir a

autosstificiência e a responsabilidade no indivíduo; enfatizando a

liberdade, ou a capacidade de trabalhar sem as restrições governamentais,

ele modo a melhorar sua sorte na vida cio longo de um período de tempo;

e, finalmente, reconhecendo a relação da pessoa com Deus, já que homens

e mulheres tinham necessidades espirituais bem como físicas.

A presença desses princípios deu à caridade tradicional sua grande

força. Por outro lado, sua ausência na caridade contemporânea explica a

pobreza espiritual e moral da compaixão americana e suas trágicas

consequências sociais: o declínio da mobilidade ascendente dos pobres,

o estado enfraquecido da caridade privada e o estado de desintegração

do casamento. Estes princípios, que Olaskv sustenta, precisam ser

reinseridos e reintegrados elll programas de ajuda aos pobres.'

Como povo de Deus, não participaremos da tragédia que Olasky descreve.

Devemos ser um povo de compaixão, e é importante articularmos e aplicarmos

princípios bíblicos de compaixão, pois os povos, as culturas e as instituições de

caridade tornam-se como o Deus ou os deus(es) a quem eles adoram.

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A economia da doação

1 235

A fonte de compaixão é o coração de Deus. De fato, pode-se dizer que

um mundo sem Cristo é um mundo com compaixão limitada. Deus manifestou

sua compaixão na encarnação, quando Cristo, o servo sofredor, "juntou-se" ao

povo em sua necessidade.

O Conde Zinzendorf, que liderou a renovação de influência morávia na

Alemanha do século XVIII, foi estimulado pela obra de Domênico Feti Ecce

Homo, "Eis o Homem". A pintura retrata Cristo usando sua coroa de espinhos

diante de Pilatos e do povo judeu. Sob a famosa obra foi inscrita a expressão:

"Isto eu fiz por ti. que fizeste por mim?". A partir do momento em que leu essas

palavras, Zinzendorf adotou como lema de vida: "Tenho uma única paixão, Jesus.

Ele e somente Ele"

4 .

Quando li isso pela primeira vez, fui profundamente tocado. Como faço

para responder à pergunta: "Isso eu fiz por ti, que fizeste por mim?".

Os cristãos, reconhecendo que são feitos à imagem de Deus, e em

gratidão pela compaixão de Deus, são chamados a "sofrer com" aqueles em

necessidade. Deus escolhe manifestar sua compaixão por meio de seu povo. A

Bíblia está repleta de admoestações para representar a extravagante compaixão

de Deus, não apenas dando dinheiro, mas também se identificando com os

pobres e servindo-os. Exemplos não faltam. Lemos em Isaías 58.6-7:

Acaso não é este o jejum q ue escolhi?

que soltes as ligaduras da impiedade

que desfaças as ataduras do jugo...?

que repartas o teu pão com o faminto,

e recolhas em casa os pobres desamparados?

que rendo o nu, o cubras

e não te escondas da tua carne?

A conhecida história do Bom Samaritano, em Lucas 10 é também uni

retrato perfeito da compaixão que Deus deseja ver em seu povo. Essa passagem

muda a palavra próximo de substantivo para verbo".

Em Mateus 25.34-36, Jesus reforça a necessidade dos cristãos agirem

com bondade ao descrever o que estará procurando ao retornar:

Então dirá o R ei aos que estiverem à sua direita: "Vinde, benditos

de meu P ai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a

fundação do mundo; p orque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me

destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e

171C

vestistes;

adoeci, e me visitastes; estava na prisão e Mies ver-me."

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236 1

VOCAÇÃO: Escreva sua a.ssinauura nn wiircr.so

Quando vivemos a compaixão de Cristo, o resultado é impressionante.

Durante o século III. o imperador Juliano reconheceu que os primeiros cristãos

eram urna nova raça de pessoas. A compaixão não existia como um conceito

110 mundo greco-romano até os cristãos chegarem. Juliano escreveu:

[A

fé cristã tem avançado especialmente por meio do serviço

amoroso prestado a estranhos, e de seus cuidados para com o enterro dos

mortos. E um e.scandalo que não haja um único judeu que seja mendigo, e

que os ímpios galileus cuidem não apenas de seus próprios pobres, mas

também dos

nossos,

enquanto aqueles que pertencem a nós buscam em

vão pela ajuda que devemos dar a eles.'

Podemos ser inspirados pela história da doação generosa do comer-

ciante Stephen Girard da Filadélfia, em 1790, como relatado por Marvin Olasky:

Nascido na França em 1750, Girard saiu de casa ainda menino,

viajou por 12 de anos, instalou-se na Filadélfia, no início da Revolução,

e acumulou uma fortuna no negócio com transportes durante as duas

décadas seguintes. Mas foi sua obra durante a epidemia de febre amarela

de 1793, em ve: de seu talento para negócios, que lhe rendeu grande

renome. Girard, que recebera exposição prévia à doença, encarregou-se

de pagar contas de um hospital durante a epidemia. Mas também passou

mese.s tratando os presos e fornecendo alimentos e combustível aos doentes

e .sua.slamílias. Mais tarde, ele colocou muitos órfãos em sua própria casa,

e, após sua morte, deixou um legado que estabeleceu lana escola para

meninos órfãos carentes.'

Cada uma dessas passagens e exemplos reflete que devemos doar -

nosso tempo e talento - bem como nosso tesouro. A compaixão de Deus fez

grandes exigências a ele, que sacrificou seu próprio filho. A generosidade da

compaixão não é medida pela quantidade dinheiro doada, mas pelas

admoestações das Escrituras que representam a extravagante compaixão de

Deus por se identificar com os pobres e servir a eles. Como o professor Robert

Thompson. da Universidade da Pensilvânia, escreveu no final do século XIX:

Você pode julgar a escala em que qualquer sistema de ajuda aos

necessitados baseado nesta única qualidade: Ela ,fà: grandes exigências

aos homens de doarem-se a seus irmãos?'

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A economia da doação 1 237

LIÇÕES DO LIVRO DE RUTE

Finalmente tiraremos uma lição da Bíblia sobre como podemos ajudar

aos necessitados. A história de Rute e Boaz demonstra lindamente a dádiva

bíblica:

Também à hora de comer, disse-lhe Boaz: "Achega-te. Come do pão e

molha o teu bocado no vinagre". E, sentando-se ela ao lado dos segadores, ele

lhe ofereceu grão tostado. E ela comeu e ficou satisfeita, e ainda lhe sobejou.

Quando ela se levantou para respigar, Boaz deu ordem aos seus moços, dizendo:

Até entre os molhos deixai-a respirar, e não a censureis. Também, tirai dos

molhos algumas espigas e deixai-as ficar, para que as colha, e não a repreendais."

(Rute 2.14-16)

A moabita Rute estava entre as mais pobres dos pobres de sua época.

Durante urna grande fome em Israel, a família de seu marido havia fugido

como refugiados para Moabe, onde ela se juntou à família. Após cerca de dez

anos, o marido, o sogro e o cunhado de Rute morreram, e Rute acompanhou

sua sogra, Noemi, em sua volta para Israel.

Nessa terra estrangeira, Rute chegou destituída a casa de Boaz. É de se

notar que Boaz tratou dela pessoalmente, corno um ser humano. Ele a convidou

para comer em sua casa. Após a refeição, ele planejou provisões para Rute e

Noemi. A maneira como ele fez isso é muito instrutiva. Nossa dignidade está

ligada ao nosso trabalho. Se você tirar uma pessoa de seu trabalho, você tira

dela sua dignidade. Assim Boaz seguiu o comando' de Deus para os proprietários

de deixarem as margens sem sega - uma colheita para os pobres apanharem.

Em vez de fazer a coisa mais fácil para ele e Rute (fazer que seus operários

trouxessem os feixes de grãos colhidos para dar a ela), Boaz escolheu permitir

que Rute trabalhasse para seu sustento. Ele instruiu seus trabalhadores a retornar

ao campo e "retirar algumas hastes para ela a partir dos feixes e deixá-los para

ela pegar". Boaz estava preocupado com a saúde física de Rute, mas também

com sua dignidade. Se ele a despisse disso, na verdade, ele a deixaria em maior

pobreza.

Essa parte da maravilhosa e doce história de Rute ilustra um dos princípios

de compaixão de Deus: que os pobres devem receber cuidados, mas também

que sua dignidade deve ser preservada na provisão.

Gravemos esses princípios bíblicos firmemente em nossas mentes ao

consideramos nosso papel como doadores de compaixão, uma marca da vida

de trabalho de um cristão.

Voltemos agora nossa atenção ao potencial de nossa vocação para o

avanço do reino de Deus, em nossas comunidades e nações, por meio de nossa

participação nos domínios da sociedade: os campos inspiradores aos quais

podemos ser chamados, tais corno negócios, artes, educação e ciência.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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P A RT E 6:

N O M U ND O

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Capítulo 17

O REINO AVANÇ A DE

DENTRO PARA FORA

Os reinos deste mundo expandem seus territórios por meio de guerras,

derramamento de sangue e colonialismo. Diferente deste mundo, o reino de

Deus não invade um país militarmente para impor sua cultura divina - ou seja,

uma cultura que reflete a verdadeira natureza de Deus e de sua criação.

Uma citação atribuída ao novelista russo Alexander Solzhenitsyn nos faz

lembrar daquilo que a Bíblia deixa claro': "A linha entre o bem e o mal não é

traçada entre nações ou partidos, mas em cada coração humano". Nós não

veremos sociedades transformadas até que vejamos os corações humanos

transformados. Jesus ilustrou em sua conversa com o intrigado Nicodemos:

"Em verdade te digo, quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus"

(João 3.3).

A transformação das nações acontece na medida em que crentes de

todas as origens obedecem às ordenanças de Deus, amam seus próximos, servem

suas comunidades, se engajam no mercado das ideias, e compartilham em

palavras e ações as boas novas de Jesus Cristo. Essas palavras e ações criam

uma oportunidade para que os indivíduos e, no final, as comunidades e nações,

tornem-se uma força em prol do reino de Deus.

A transformação de um indivíduo causa impacto fora dele, por meio das

instituições da família e da igreja, chegando até as estruturas e instituições das

comunidades, nações, e, eventualmente, do mundo. Jesus ilustrou um quadro

da extensão expansiva, inspiradora e transformadora do reino ao compará-lo

com o fermento: "O reino de Deus é como o fermento que uma mulher pegou

e misturou com uma grande quantidade de trigo, até que ele levedou toda a

massa" (Mateus 13.33). Cada um de nós está ligado a esta transformação

misteriosa.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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242 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua trssilullIal 110

universo

Ao considerarmos tanto o contexto quanto a substância da obra que

desenvolvemos na vida, podemos imaginar qualquer cultura como uma série de

círculos concêntricos. O círculo mais interior é o coração e a mente humana.

Os círculos ao redor deste representam, nesta ordem, a família, a igreja, a

nação e o mundo.

O PROCESSO DE AVANÇO DO REINO

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MUNDO

O CORAÇÃO HUMANO

A primeira batalha para o avanço do reino de Deus, e também a mais

fundamental, acontece dentro do coração humano. Alguém já disse que "as leis

de Deus devem estar escritas no coração do indivíduo, e então, nas tábuas de

pedra das instituições da sociedade'. Quando uma guerra é travada, o exército

que vai ao ataque precisa determinar o primeiro ponto de combate. Na narrativa

do Velho Testamento acerca da conquista de Canaã, o ponto inicial da invasão

foi na batalha de Jericó. A ofensiva para conquistar o coração de uma nação

começa com a batalha para conquistar o coração dos cidadãos individualmente.

Nós observamos isto no fato de que o próprio Jesus Cristo invade o coração e

nos chama a uma nova natureza' e uma nova ordem - o reino de Deus. É a

obra do Espírito Santo e a atratividade das ações e palavras dos crentes que

são a chave para a abertura dos corações humanos.

Deus se utiliza de muitas maneiras para alcançar o coração humano,

mas é importante lembrar que, na maioria dos contextos, a entrada para o

coração humano acontece por meio da demonstração do amor de Deus, que

representa nada menos do que nosso serviço ao próprio Cristo

4

. Estamos

buscando o avanço do reino de Deus? Então, precisamos ir ao lugar onde as

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O reino avança de dentro para foral

243

pessoas estão feridas. Deus é um Deus de compaixão. Ele quer se encontrar

com as pessoas no lugar onde elas estão sangrando. Esse é o significado da

estratégia samaritana - o plano de Deus para que seu povo mostre compaixão

às pessoas em seu ponto de necessidade'.

Outro ponto crítico da atratividade do crente é manifestar a cultura do

reino - verdade, beleza e justiça. As pessoas que estão escravizadas pela

ignorância e por mentiras esperam por alguém que traga a verdade e o

conhecimento a elas. As pessoas que estão cercadas pelas trevas e pela

monotonia desejam ver a beleza. E as pessoas que estão esmagadas pelo peso

da corrupção desejam a justiça. A chave para entrar no coração humano é

demonstrar o amor de Deus e manifestar Sua verdade, beleza e justiça.

Uma vez que nossos corações foram regenerados pelo poder do Espírito

Santo - uma vez que "nascemos de novo" - devemos receber a oportunidade de

entrar na "Escola Bíblica" de Deus. O chamado ao arrependimento é o chamado

para ser (literalmente) liberto na mente das "filosofias e vãs sutilezas, segundo

a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo"

(Cl 2.8). Somos chamados a amar a Deus não apenas com todo o nosso coração

(emoções), mas também com toda a nossa mente. O apóstolo Paulo nos lembra:

"E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da

vossa mente" (Rm 12.2). Nós devemos iniciar o processo, que durará a vida

inteira, de conscientemente desvelar as suposições que não se alinham à Palavra

de Deus e substituí-las pela verdade bíblica. O comportamento humano só

mudará quando nossas mentes forem transformadas pela cosmovisão bíblica.

Haverá transformação nas famílias e sociedades quando a mente e o

comportamento humano estiverem voltados para Deus.

Pessoas em todo o mundo anseiam por comunidades e nações que reflitam

a justiça, a beleza e a verdade. Mas não é possível haver justiça na comunidade

até que o conceito de justiça esteja na mente das pessoas. Não é possível haver

beleza até que ela esteja no coração. E não é possível haver verdade até que

ela esteja na mente. As pessoas anseiam por ver suas comunidades e nações

se desenvolvendo. Mas esse desenvolvimento ocorre quando há uma renovação

nos corações e nas mentes de uma massa crítica de pessoas - renovação esta

que encontrará naturalmente seu caminho à sociedade.

Em toda sociedade, há três instituições fundamentais: a família, a igreja e

o governo civil. Observaremos a família e a igreja neste capítulo e examinaremos

o governo no capítulo 19.

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244 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

A FAMÍLIA

A família é a primeira instituição fundamental de Deus. Ela existe para

cumprir, de duas formas, o mandato da criação dado em Gênesis. A primeira é

a função social do mandato - encher a Terra com carregadores da imagem de

Deus, criar grandes famílias, comunidades e finalmente nações. A segunda é a

função do desenvolvimento do mandato - ser mordomo sobre a criação.

É responsabilidade dos pais, não do estado, nutrir e educar seus filhos,

preparando-os pa ra viver como cidadãos livres e produtivos na sociedade Tal educação

deve alimentar a alma por meio do desenvolvimento do intelecto a fim de que seja

inquisitivo e inovador. Os p ais preparam o coração de seus filhos para a criatividade e

a vontade deles para a virtude. Os pais têm a ma ravilhosa opo rtunidade de mo ldar a

próxima geração de cidadãos e líderes de uma nação. Se os pais forem b em-sucedidos

nisto, a família será sã e as nações prosperarão moral e materialmente. Haverá paz

social, suficiência econôm ica e justiça cívica. Se a família não fo r sã, a sociedade se

tornará progressivamente disfuncional, corrupta e empobrecida.

O mundo ocidental moderno é dominado tanto pelo individualismo quanto

pelo egocentrismo. Por causa disso, vemos, em um nível menor, a desintegração

da família e, a nível nacional, o crescimento de um movimento "anti-materno"

que tem gerado um suicídio cultural em muitas nações europeias°.

Logo, se queremos ver uma nação transformada, é necessário começar

com a transformação interna dos indivíduos e então prosseguir para a

transformação da família imediata e da família como um todo. Partindo daí, há

uma próxima instituição fundamental, a comunidade de crentes, a igreja.

A IGREJA

A igreja é a comunidade escolhida por Deus, selecionada para avançar

seu reino na Terra. Diferente do governo, que deve "manusear a espada" -

proteger a nação e promover a paz e a justiça social - a igreja deve usar a

"espada do Espírito, que é a palavra de Deus" (Ef 6.17). Ela é o agente essencial

de Deus para o desenvolvimento de comunidades e a formação de nações.

A missão da Igreja é conduzir a humanidadea seu destino final,

revelando o plano oculto de Deus através dos séculos. O apóstolo Paulo fala

dos mistérios dos tempos, o propósito divino da igreja.

Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do

mistério de Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos

dos homens... A saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo

corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho; do qual fui

feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me

foi dado segundo a

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PREGAR À

TODA CRIAÇÃO

Ir

FAZEI 1

DISCÍPULOS

DE TODAS r

1

AS NAÇÕES

6

 

O

ATÉ OS

CONFINS

DA TERRA

246 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

e até os "confins da terra ' ' . Este é um chamado à com issão

geográfica

do evangelho

de viajar ao redor do mundo. Ela é uma perspectiva horizontal da Grande Comissão.

Em Mateus 28.18-20, há um foco diferente: "fazei discípulos de todas as

nações". Observe que o foco aqui não são as almas individuais. A palavra

grega para nações é

ethne;

ela significa grupo de pessoas ou grupo étnico.

Observe também que não é dito "evangelize"; mas "fazei discípulos". É claro

que o evangelismo por vezes precede o discipulado; no entanto, é possível

evangelizar as pessoas e nunca discipulá-Ias. Aqui Deus está nos dizendo para

discipularmos as nações. O evangelho não deve apenas ir até os confins da

Terra, mas deve penetrar as culturas. Este é o aspecto vertical da Grande

Comissão; o componente

demográfico

do mandato. Discutiremos mais sobre

isso a frente.

O Evangelho de Marcos tem uma perspectiva muito diferente. Aqui Cristo

nos diz para "pregarmos as boas novas a toda a

criatura "(a toda a criação)8

.

Novamente, nada é dito sobre almas; além de não haver referência a nações

também. Esta é a palavra grega

ktisis -

criatura ou criação. Podemos adotar o

termo ktisisográfico

para descrever essa perspectiva da Grande Comissão. Deus

está interessado em toda a sua criação. Lembre-se Cristo morreu para reconciliar

todas as coisas a si mesmo". Paulo nos lembra disso ao dizer que toda a criação

aguarda a redenção'". O apóstolo João diz isso desta forma: "Porque Deus amou o

mundo

[kosmos - universo]

de tal maneira que deu o seu Filho unigênito" (Jo 3 .16).

Assim, quando pensamos na Grande Comissão, devemos entender que

ela é um mandato abrangente que vai até os confins da Terra, penetra as culturas

e traz boas novas a toda a criação.

TIRES DIMENSÕES DA

GRANDE COMISSÃO

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O reino avança (k dentro para Iara I 247

Todos os Domínios da Sociedade

No último passo do desenvolvimento do reino de Deus, queremos voltar

e focar no componente vertical da Grande Comissão. Como a igreja discipula

uma nação? Ela penetra a cultura da nação com a cultura do reino - verdade,

beleza e bondade. Ela traz ordem e princípios bíblicos a todas as esferas da

sociedade. Isso é feito na medida em que o povo de Deus vive coram Deo -

perante a face de Deus - em todas as áreas de suas vidas. Enquanto isso

acontece, a cosmovisão bíblica flui por meio da igreja para o mundo. Como

crentes, nosso comprometimento com o mundo é determinado a uma larga

extensão por nossos chamados específicos na vida - nossas vocações. Nós

temos a oportunidade de examinar nossas vidas, entender nossos dons, e

reconhecer as oportunidades dadas por Deus para exercitá-los para o avanço

de seu reino. A maioria dos cristãos será chamado a pequenas esferas, onde

exercerão algum tipo de influência. Pela graça de Deus, temos a habilidade de

amadurecer em nossas habilidades para a glória de Cristo e seu reino.

Cada área vocacional válida oferece oportunidades únicas ao avanço do

reino de Deus. Cristãos envolvidos na política e com a legislação podem

reconhecer a Deus como a autoridade suprema e a suas leis como superiores a

todas as outras. Os cristãos nos negócios podem trabalhar com honestidade e

integridade. Os médicos cristãos podem defender a inviolabilidade da vida

humana e trazer curar a seus pacientes. Os artistas cristãos podem refletir a

natureza de Deus e a glória de sua criação por meio da arte. Os cristãos

envolvidos na ciência podem buscar entender as complexidades da ordem criada

por Deus e desenvolver inovações para ajudar a combater a fome e as doenças.

Em todos os casos, os cristãos devem ser cidadãos buscando oportunidades de

oferecer liderança e serviço na vizinhança e na comunidade, e assim representar

a cultura do reino de Deus da forma correta. Alguns cristãos trarão reforma

institucional por meio de suas vocações - reforma esta que consiste com o

reino de Deus. Outros responderão ao chamado de Deus de confrontar o mal

institucionalizado em suas culturas. Em todos os casos, as atividades dos cristãos

devem estar relacionadas à mensagem e ao poder do evangelho e ao

entendimento de que o reino avança de "dentro para fora"".

Onde podemos ser agentes da mudança social? As possibilidades são

praticamente infinitas. Lembre-se do que disse Dallas Willard, o qual lemos

anteriormente:

Se ele viesse hoje em dia como veio no passado, poderia cumprir

sua missão por meio de qualquer ocupação decente e útil. Ele poderia ser

assistente ou contador em uma loja de eletrônicos, um técnico de

computadores, um banqueiro, um editor, um médico, um garçom, um pro-

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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248 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

fessor, uni empregado de fazenda, um técnico laboratorista ou um

trabalhador da construção civil. Ele poderia administrar um serviço de

faxina doméstica ou consertar automóveis.

Em outras palavras, se ele viesse hoje, poderia muito bem fazer o

que você faz. Poderia muito bem morar em seu apartamento ou casa e Zer

o seu emprego.'

No próximo capítulo, extrairemos sabedoria das Escrituras para vivermos

nossos chamados nos "portões da cidade", e, nos capítulos 19 e 20, exploraremos

o vasto potencial para um trabalho significativo, vivificador e transformador

nos domínios modernos.

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Capítulo /8

AS PORTAS DA CIDADE

Como vimos, a obra de redenção de Deus - o avanço do seu reino -

trabalha de dentro para fora. Como o fermento, trabalhando sua maneira

transformadora todo o caminho através da massa, a transformação do coração

e da mente de um indivíduo feita por Deus, trabalha o seu caminho externo para

a família, na igreja de Cristo, e através da igreja para o mundo em geral.

ASSUMINDO A RESPONSABILIDADE PELAS PORTAS

Adotando uma metáfora (e uma realidade) desde os tempos bíblicos, o

conceito de "Portas da cidade" expressa o ambiente da nossa vocação. Como

cidadãos do reino de Deus, devemos ocupar as portas das nossas cidades,

como seus administradores, com a nossa vocação. Para nós, o propósito de

administrar a entrada na porta não é para comandar e controlar a sociedade.

Pelo contrário, o objetivo é enviar os servos líderes ao mercado de trabalho e à

praça pública para levar a verdade, beleza e justiça em nossas sociedades. Ao

ocupar os seus portões, o reino de Deus pode ser manifestado na cidade.

Essa aplicação metafórica do conceito de portas da cidade vem da

importância real dessas estruturas nos tempos bíblicos. As portas da cidade

desempenhavam uma função decisiva tanto social quanto civicamente no mundo

antigo. Ao longo da história, quando os judeus erguiam cercas e muros para

delimitar os limites de sua propriedade, portas eram construídas em locais

estratégicos ao longo das paredes para fornecer acesso. Quando os judeus

eram nômades, eles tinham portas nas entradas de seus acampamentos.' E

quando eles estavam vivendo na Terra Prometida, eles tinham portas para o

palácio real,' para o templo,' e, especialmente, dentro das cidades.4

Todos os

tipos de vida pública e discurso foram realizados nessas portas, além de ser

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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250 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua as.vinatura

PIO

universo

uma medida para defender uma cidade. As portas pode também se referir à

área em volta delas, exatamente a terra dentro e fora dos portões. Na verdade,

as pessoas, muitas vezes, usavam o termo as portas para a cidade como um todo.

Hoje, as nossas sociedades estão se definhando, porque as portas

metafóricas das nossas cidades têm sido bastante abandonadas pelas próprias

pessoas, que podem levar a pessoa de Cristo e o poder transformador do

evangelho para a alma da sociedade. Deus quer que os descendentes de Abraão

ocupem as portas das cidades com o objetivo de abençoar as nações.' Têm-se

uma ideia desse potencial, se associamos a esse chamado, o fato de sermos

cristãos, que têm um evangelho que salva, redime, renova, e restaura, e a

cosmovisão da Escritura, que nos instrui sobre como desenvolver essa visão

transformadora do mundo, através de nossos chamados em cada área da vida.

Visão semelhante tem trazido desenvolvimento econômico sem precedentes,

liberdade política, Estado de direito e o conceito de educação universal em

grande parte do mundo. Isso tem trazido a emancipação dos escravos e a

dignidade para as mulheres. Em outras palavras, isso tem dado à raça humana

a sua humanidade.

Administração cristã de " as portas", portanto, é vital para a vida das

nossas sociedades. Quem assume a responsabilidade pelas portas irá definir o

projeto de saúde ou de destruição da sociedade.

AS PORTAS COMO O LUGAR DA VIDA PÚBLICA

O cenário para grande parte da nossa vocação pode ser retratado como

as portas da cidade: o lugar de vida pública nos tempos bíblicos. Em muitas

cidades européias e latino-americanas, a praça da cidade era o local de vida

pública. A igreja da cidade ou catedral poderia ser encontrada em um dos lados

da praça e os prédios do governo local, do outro lado, com as tendas para os

mercados e comércio localizados em outros lugares ao redor da praça. Esse

era o local onde a vida pública da cidade acontecia. No mundo ocidental de

hoje, as high streets de cidades na Grã-Bretanha e na Europa e as áreas

conhecidas como downtown nas cidades americanas, desempenham uma função

semelhante, como fazem grandes arenas esportivas suburbanas, que muitas

vezes são contratadas para eventos públicos, como as convenções políticas,

feiras, encontros religiosos e shows de música e outras formas de entretenimento.

Os aspectos importantes da vida pública que ocorriam nas portas de

uma cidade nos tempos bíblicos incluem o seguinte:

realização de negócios e comércio"

audição da leitura da Lei'

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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As portas da cidade 1

251

•audição e resolução de disputas legais '̀

conservação do governo e administração cívica'

audição das notícias e anúncios publicosu  

participação em reuniões públicas e fazer discurso público'

Em cada uma dessas áreas da vida pública, a Escritura nos dá

conhecimento das formas através das quais o cristão pode ser fiel com o seu

trabalho em "as portas da cidade." Vamos explorar a vida nas portas da cidade

antiga, com um olho aberto para as idéias novas e criativas a fim de pensarmos

sobre os nossos próprios chamados hoje.

Negócios e Comércios

As portas da cidade eram lugares de negócio e comércio. Algumas portas

eram chamadas pelo nome dos grandes mercados que aconteciam próximos a

elas, como, por exemplo: a Porta das Ovelhas (Ne 3.1), a Porta dos Peixes (Ne

3.3), e a Porta dos Cavalos (Ne 3.28). O segundo livro de Reis 7.1 descreve a

comercialização de farinha de trigo e cevada. Podemos imaginar os vendedores,

com suas bancas de mercadorias e seus quiosques de comida, temperos e

utensílios domésticos, trocando e vendendo seus produtos ao redor das portas

da cidade. Até hoje, a cidade velha de Jerusalém (a área de Jerusalém contida

nas paredes antigas) mantém alguns dos nomes das Portas. Uma delas é a

Porta do Esterco,'

2

por onde passava o lixo da antiga cidade para ser queimado

fora dos muros. A Porta das Ovelhas também é conhecida agora como a Porta

do Leão e a Porta de Santo Estevão.

Transações de negócios muito maiores, como a com pra e venda de imóveis,

também ocorreu nas portas. Em Gênesis, foi na "porta da sua cidade" onde Abraão

fez um acordo com um homem chamado Efrom, e por "quatrocentos siclos de

prata" comprou um imóvel onde ele iria enterrar sua amada esposa, Sara (Gn

23.1-20). Características de uma operação empresarial moderna podem ser

encontradas nesta história: era propriedade privada, um "levantamento" do imóvel

foi feito, houve discussão pública e negociações abertas para estabelecer um

preço justo de mercado, o dinheiro mudou de mãos e havia testemunhas para a

transação. Em transações públicas como essas era difícil haver fraude, corrupção

ou balanças enganosas. Um lembrete de que as transações comerciais devem

ser justas, ordenadas e imparciais. Negócios eram uma atividade santa. Investir

em empreendimentos era incentivado e riquezas eram geradas.

Hoje também, alguns são chamados às portas da cidade, como cristãos do

mercado de trabalho para assegurar que os m ercados são livres e justos. Os cristãos

do m ercado de trabalho podem fazer negócios com integridade. Eles podem o cupar

as portas da cidade, com verdade e justiça, serviço e pro visão, criatividade e inovação.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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252 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

A Leitura da Lei

Os portões da cidade também eram locais onde a Lei era lida, como no

livro de Neemias 8:

Todas as pessoas reunidas como um só homem na praça diante da

Porta das Águas. Eles disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro

da Lei de Moisés, que o Senhor tinha ordenado a Israel. Assim, no primeiro

dia do sétimo mês, o sacerdote Esdras trouxe a lei diante da assembléia,

que era composta de homens e mulheres e todos os que eram capazes de

entender. Ele o leu em voz alta, desde o amanhecer até o meio-dia, na

praça diante da Porta das Águas, na presença de homens, mulheres e

outras pessoas que podiam compreender. E todo o povo ouvia atentamente

o Livro da Lei. No segundo dia do mês, os chefes de todas as famílias, em

conjunto com os sacerdotes e os levitas, se reuniram ao redor de Esdras, o

escriba, para dar atenção às palavras da lei. (Ne 8.1-3,13)

A HISTÓRIA DE SHERRON WATKINS

Criada em uma cidade desconhecida

de Tomball, Texas, por pais que trabalhavam

como professores do Ensino Médio, Sherron

Watkins era contadora, cujos talentos e

habilidades a levaram a tornar-se vice-

presidente de desenvolvimento corporativo

da infame Enron Corporation. Nessa época,

a Enron era a décima sétima maior empresa

dos Estados Unidos. Membro da Primeira

Igreja Presbiteriana de Houston, Texas,

Sherron tinha no coração o desejo de viver

sua fé no trabalho, mas não tinha a menor

ideia do que isso significaria.

Em 2001, após trabalhar na Enron por

oito anos, Watkins ficou preocupada com a

saúde financeira da empresa. Ela veio a

perceber que grande parte da riqueza da

empresa havia sido construída de maneira

fraudulenta. Quando a fraude viesse à tona,

a empresa provavelmente iria à falência.

Sherron assistiu quando um bom amigo e

colega de trabalho, o tesoureiro da empresa

Jeff McMahon, fora punido por seu chefe, o

executivo Jeffrey Skilling, quando tentou

expor os problemas contábeis na Enron.

Sherron não queria ser punida por falar algo.

Mas o que ela deveria fazer? Ela desejava

fazer o que era certo. Ela queria ser uma

pessoa íntegra.

Watkins tinha medo de falar

publicamente. Assim, ela escreveu uma

carta anônima detalhando suas

preocupações e a deixou na caixa de

sugestões da empresa. Nada aconteceu.

Então, em agosto de 2001, com o intuito de

fazer "a coisa certa", ela escreveu uma

carta de sete páginas para Ken Lay,

Presidente do Conselho de Diretores da

Enron. A carta detalhava questões relativas

à fraude financeira perpetuada contra o

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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As portas da cidade 1 253

A praça diante da Porta das Águas era larga o suficiente para todas as

pessoas da cidade se reunirem em um só lugar. Note que eles se reuniam

"como um só homem", "tanto homens quanto mulheres." Havia unidade entre

eles. E não devia nenhuma distinção perante a Lei; tanto homens quanto mulheres

deveriam ouvir sua leitura. Tanto homens quanto mulheres deveriam ser cidadãos

responsáveis.

Observe também que a Lei foi lida em um lugar público. Por quê? A

razão é que a leitura da Lei de Deus, para eles, não era apenas um evento

religioso particular.

O Livro da Lei foi dado aos hebreus para ajudá-los a ser bons

administradores de sua nação. Ou seja, a Lei do Senhor pôs os alicerces de

uma sociedade justa, fornecendo a base para o desenvolvimento do caráter

individual e para o direito civil, ambos vitais para a construção de uma sociedade

justa.

público em geral, empregados e acionistas.

Watkins levou a carta em mãos para Ken

Lay. Nessa época, Sherron não sabia que

dois dias antes, Lay havia vendido suas

ações para a empresa com um lucro de um

milhão e meio de dólares. Posteriormente,

veio à tona que Skilling e Lay estavam no

centro da fraude. Logo a Enron ruiu,

derrubando com ela a firma Arthur Andersen

que, até então contava com excelente

reputação.

Cinco meses mais tarde, após a Enron

ir à falência, a carta de Watkins tornou-se

parte do registro público e Sherron tornou-se

heroína para milhões de pessoas ao redor do

mundo por posicionar-se e confrontar Lay

com a verdade do que estava ocorrendo na

Enron. Havia profunda falha moral na

liderança e cultura da Enron. As pessoas se

interessavam mais por ganho econômico de

curto prazo do que pela verdade, prestação

de contas e pela saúde a longo prazo da

empresa.

Essa falha moral, caso se torne

endêmica nos cidadãos americanos, acabará

por fazer a nação desmoronar. (Grandes

civilizações não são conquistadas de fora

para dentro, mas morrem de dentro para fora,

devido à falência moral e espiritual.) Uma

mulher teve o caráter moral e a coragem para

confrontar o problema. Por causa disso, ela

foi reconhecida pela revista Time como uma

das três Pessoas do Ano de 2002. Sua

fotografia apareceu na capa da Time duas

vezes naquele ano. Watkins não estava

buscando ser famosa; como cristã, ela

simplesmente queria fazer a coisa certa,

mesmo que isso significasse perder seu

emprego.

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254 1

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

As sociedades modernas democráticas são baseadas no Estado de Direito,

mas, ao invés de serem alicerçadas na Lei de Deus, frequentemente elas

instituíam suas próprias leis, por causa de considerações egoístas ou pragmáticas,

ou por causa da forte pressão do secularismo e percepções distorcidas do "bem

público." Na realidade, as leis de Deus são sempre para o verdadeiro bem

público. Elas conduzem sem falta para justiça e vida.

Nos Estados Unidos, porque muitos se esqueceram ou não foram ensinados

que as leis bíblicas ajudaram a formular uma parte importante e vital do nosso

sistema judicial, controvérsias surgem facilmente. Por exemplo, em 2001, no

Supremo Tribunal de Justiça de Alabama, Roy Moore tinha um monumento de

granito dos Dez Mandamentos instalado e exibido durante a noite, na rotunda do

Prédio Judiciário do Estado de Alabam a, onde um número de tribunais e bibliotecas

de direito do Estado residem e onde o juiz Moore presidia. Ele acreditava que era

de fundamental importância reconhecer e homenagear os Dez Mandamentos

como uma realidade histórica e devido aos fundamentos morais para o sistema de

leis que fizeram da América um das nações mais justas no mundo. Lutas jurídicas,

políticas e religiosas se sucederam em ambos os lados desta questão para

determinar se o m onumento poderia ficar ou se deveria ser removido. Em novem bro

de 2002, uma Corte Judiciária dos Estados Unidos decidiu contra o monumento,

alegando que ele violava a Cláusula de Estabelecimento da Primeira Emenda da

Constituição dos Estados Unidos da América. Quando o Chefe de Justiça Moore

se recusou a obedecer a uma ordem do tribunal federal de retirar o monumento,

um grupo de jurados de ética jurídica votou para removê-lo da tribuna. As apelações

subsequentes de Moore falharam, e o Supremo Tribunal Federal dos Estados

Unidos da América decidiu não considerar o caso.

No entanto, a posição de Moore provocou debate por todo o país, entre

cristãos e não cristãos. Apesar dos custos pessoais e profissionais, como observou

em seu livro So Help Me God (Assim Deus me Ajude), o ex-chefe de Justiça

Moore se mantém firme em sua convicção de que "ao recusar-se a seguir

ordens ilícitas de um juiz federal, ele negou a regra do homem e confirmou a

Constituição dos Estados Unidos, o verdadeiro Estado de Direito, como exigia

seu juramento."

1 3 Como Martin Luther King Jr., que foi preso por desobediência

civil, Moore fez uma escolha consciente que muitos reformadores fizeram,

positivamente aceitando as consequências jurídicas de seus atos. Como os

assuntos trazidos ao conhecimento do público por Moore continuam sendo

debatidos pelo povo e pelos tribunais dos Estados Unidos, o juiz Moore poderia

ser considerado um administrador da porta da lei e da justiça nos Estados Unidos

do século XXI. Quer trabalhemos dentro do sistema judicial como Moore fez

ou em outro domínio no geral, Deus chama a todos nós para sermos cidadãos

responsáveis e bons administradores das nossas nações, à luz da lei do Senhor.

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As portas da cidade

1 255

Disputas Legais

Além de ser o local ideal para a leitura pública da lei, as portas da cidade

eram os lugares para a resolução de litígios. Quando Deus conduziu o povo

para fora do Egito para o deserto, ele instituiu um sistema de governança e

justiça, que funcionava através de uma delegação de autoridade, com os líderes

e administradores sendo nomeados por Moisés "chefes de mil, chefes de cem,

chefes de cinquenta e chefes de dez." (Éx 18.25). Essa delegação de poderes

surgiu como resultado de Moisés se queimar ao tentar (estupidamente) re-

solver sozinho as disputas de todos (como lemos anteriormente em Ex 18). É

dessa forma que um sistema eficaz de justiça foi iniciado na antiga cidade de

Israel. Pouco tempo depois, "juízes e oficiais" foram designados para resolver

pendências nas portas. Em Deuteronômio 16.18-20, lemos:

Nomeiem juízes e oficiais para cada uma de suas tribos em todas as

cidades que o Senhor, o seu Deus, lhes dá, para que eles julguem o povo

com justiça. Não pervertam a justiça nem mostrem parcialidade. Não

aceitem suborno, pois o suborno cega até os sábios e prejudica a causa

dos justos. Siga única e exclusivamente a justiça, para que tenham vida e

tomem posse da terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá.

Um número de princípios é estabelecido nesta passagem. Cada cidade

tem que ter seu próprio juiz, e todos devem ter acesso a um julgamento justo.

Presentes e subornos são tabus, porque isso perverte a justiça. E porque Deus

"não age com parcialidade" (Dt 10.17), os juízes devem ser imparciais. Tais

princípios são particularmente vitais para os pobres, que, simplesmente porque

são pobres, podem não ter acesso à justiça. Por exemplo, por falta de dinheiro,

eles podem carecer de poder legal para corrigir as injustiças cometidas contra

eles. Em nossos dias, podemos dizer que "eles não podem pagar um advogado."

O profeta Amós adverte contra deixar os pobres a enfrentar a injustiça (note

também, que os pobres têm vindo à porta procurar a justiça):

Eles odeiam ao que na porta os repreende [Sha'ar: porta]

e abominam ao que fala a verdade.

Portanto, visto que pisais o pobre

e dele exigis tributo de trigo,

embora tenhais edificado casas de pedras lavradas

não habitareis nelas;

e embora tenhais plantado vinhas desejáveis

não bebereis do seu vinho.

Pois sei que são muitas as vossas transgressões

e graves os vossos pecados;

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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256 1

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

afligis o justo, aceitais peitas,

e na porta negais o direito aos necessitados [Sha'ar: porta].

Portanto, o que for prudente guardará silêncio naquele tempo,

porque o tempo será mau.

Buscai o bem, e não o mal

para que vivais;

e assim o Senhor, o Deus dos exércitos, estará convosco,

como dizeis

Aborrecei o mal, e amai o bem,

e estabelecei o juízo na porta

Talvez o Senhor, o Deus dos exércitos, tenha piedade

do resto de José. (Amos 5.10-15)

Nesse cenário, a nação trocou a verdade de Deus pela mentira, e a

adoração do Deus vivo pela adoração de ídolos. Essa falsa adoração não está

sem consequências nos tribunais. A partir da adoração aos deuses pagãos, a

justiça se desvirtua por meio de suborno e outros meios. Assim, os pobres são

feitos mais pobres e são ainda mais oprimidos, porque o juiz aceita suborno.

Observe, também, que, em Amós 5.15 os justos não devem ficar longe das

portas por causa da corrupção. Na verdade, é precisamente por causa da

corrupção que eles devem se envolver corretamente. Eles devem ir aos tribunais

lutar contra o mal, amar o bem e estabelecer a justiça.

Infelizmente, em muitas sociedades materialistas, a profissão jurídica se

torna um meio para revolver enormes quantidades de processos judiciais para

assegurar amplos rendimentos para os advogados. É bastante frequente no

mundo de hoje, ver cristãos se ajuntando a outros em sociedade e entrando na

lei só porque é financeiramente lucrativo. Esses cristãos têm uma vida dividida.

separando a fé de seu trabalho.

Os cristãos podem ser chamados por Deus para trabalhar no sistema

judicial. Os juízes, advogados, auxiliares jurídicos, e outros especialistas jurídicos

podem trabalhar para trazer justiça e servir como defensores dos pobres e

oprimidos. Alguns advogados são nomeados pelo tribunal para defender as

pessoas que não têm dinheiro para contratar seus próprios advogados. Esses

representantes legais não ficam ricos, mas eles trabalham para justiça. Outros

advogados trabalham alguns dos seus casos pro bono (para o bem do povo)

sem custo, dedicados a ver que a justiça é feita para os pobres. Mesmo o

cidadão comum pode trabalhar ou se voluntariar como companheiros de tribu-

nal para crianças no sistema judicial, tornando-se seus defensores e um rosto

familiar constante no sistema intimidador legal. Evidentemente, trabalhar no

sistema jurídico pode ser um chamado sagrado.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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As portas da cidade 1

257

Governar e Administrar

Hoje em culturas animistas, o palácio do chefe é o lugar onde todas as

decisões importantes são feitas para o bem da comunidade. O equivalente nos

tempos bíblicos era a porta da cidade, que funcionava como sede do governo. A

Escritura, portanto, fala dos "anciãos à porta" (Dt 21.19, 25.7), cuja função era

a de influenciar e supervisionar civilmente a cidade. Um simples exemplo bíblico

é encontrado em Provérbios 31.23: "Conhece-se o seu marido nas portas, quando

se assenta entre os anciãos da terra." Aqui os mais velhos se reúnem na porta

para supervisionar os assuntos da cidade, e este homem é respeitado por suas

habilidades. Daniel 2.47-49 é um notável exemplo de governança às portas:

O rei disse a Daniel: "Não há dúvida de que o seu Deus é o Deus dos

deuses, o Senhor dos reis e aquele que revela os mistérios, pois você conseguiu

revelar esse mistério".

Então o rei colocou Daniel num alto cargo e o cobriu de presentes. Ele o

designou governante de toda a província da Babilônia e o encarregou de todos

os sábios da província. Além disso, a pedido de Daniel, o rei nomeou Sadraque,

Mesaque e Abede-Nego administradores da província da Babilônia, enquanto o

próprio Daniel permanecia na corte do rei. ltera': Caldeu para "portal

O rei de Babilônia admitiu o Deus do universo e reconheceu que

Daniel servia a esse Deus. Nabucodonosor, então, designou Daniel para

governar toda a província de Babilônia, fazendo dele a cabeça sobre

todos Os outros governadores, o que hoje poderíamos chamar de um

primeiro-ministro. Daniel tomou seu lugar designado na porta da cidade,

a partir da qual o rei governava o povo através de Daniel. Note também

que Daniel garantiu posições no governo para três outros homens,

qualificados e piedosos: Sadraque, Mesaque e Abednego (veja também

Dn 1.17).

Na vida moderna, os homens e mulheres de Deus precisam estar prontos

para servir no governo, quer a nível local, como no quadro de escola ou do

município, a nível estadual ou provincial, ou mesmo a nível nacional. Por isso

não quero dizer que os cristãos precisam apenas tornar-se políticos ou

governantes eleitos. Os funcionários eleitos precisam de vários tipos de

assistentes e colaboradores trabalhando com eles, e cristãos podem ocupar

para o reino em tais posições.

Em grande parte do mundo de hoje onde o evangelho da salvação tem

sido declarado, alguns cristãos, infelizmente, buscam cargos no governo apenas

para conquistar o poder político. Talvez possa haver também um sentimento de

triunfalismo nas visões cristãs de governança. Por exemplo, as pessoas podem

pensar: "Se conseguíssemos um cristão para a presidência, então, todos os

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VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

problemas da nação seriam resolvidos." Basta olhar para o Quênia, Guatemala

e Coréia do Sul, onde os cristãos evangélicos têm estado em posições de poder

político e se corromperam por esse poder, para ver que ter líderes cristãos

simplesmente, não garante a transformação de uma nação.

O poder político pode também corromper de outras maneiras. Meu amigo

ganense Chris Ampadu disse que em algumas sociedades, na África, depois de

um ser feito um chefe tradicional, ele se torna adorado, e de repente, suas

opiniões são consideradas sempre certas. O chefe deve ser respeitado por

todos, e não deve haver nenhuma dissidência interna ou até mesmo fóruns para

a crítica adequada de políticas. Chefes, então, podem facilmente dominar, em

vez de servir a seu povo. Além disso, muitas pessoas altamente instruídas se

envolvem em política simplesmente pelo respeito que ela traz e porque lhes

dará acesso às propriedades tribais ricas em depósitos minerais ou madeireiras

florestais, as quais procura explorar por ambição egoísta.

Corrupção como essa tem impedido os cristãos de entrarem para a política

nessas sociedades, porque eles perguntam: "Se o sistema político é corrupto, o

que me impede de ser corrompido?" Muitos de nós estamos familiarizados com

o ditado de Lord Acton: "O poder leva à corrupção, o poder absoluto corrompe

totalmente". O importante é que não devemos procurar o "poder" político, mas

que os cristãos que são chamados para a política deveriam vir para servir os

outros. Eles devem buscar a Deus, como fez Daniel, na Babilônia e como José

fez no Egito. Como esses homens buscavam a Deus, Deus os colocou em suas

vocações políticas nacionais através das quais eles serviam o povo.

Por outro lado, muitos cristãos veem a política como algo mundano, e

eles alegam que "bons" cristãos não deveriam entrar no governo, porque eles

serão contaminados pelo mundo. Essa não é uma atitude bíblica. Deus

estabeleceu o governo' como uma das instituições mais básicas da sociedade.

Por muito tempo, por causa de suas atitudes pietistas, os cristãos evacuaram o

campo da política, que deixou um grande vazio moral nas nossas sociedades e

contribuiu para a sua decadência. Os cristãos ao responderem ao chamado

para o governo e para a administração civil podem ajudar a mudar isso.

Notícias e Anúncios Públicos

Nos tempos antigos, as portas também eram centros de comunicação

para um fluxo constante de notícias e informações públicas importantes. Vemos

um exemplo de um grande anúncio, feito quando, Senaqueribe, rei da Assíria.

invade Judá. O rei Ezequias organiza a defesa da cidade e, em seguida, chama

o povo para se reunir na praça da porta da cidade de Jerusalém, para ouvir sua

mensagem de incentivo referente à defesa da cidade. II

Crônicas 32.6-8 registra

esse evento:

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As portas da cidade

I 259

Então pôs oficiais de guerra sobre o povo e, congregando-os na

praça junto à porta cia cidade falou-lhes ao coração, dizendo: "Sede

corajoso, e tende bom ânimo. Nem vos espanteis, por causa do rei da

Assíria, nem por causa de toda a multidão que está com ele, pois há

conosco um maior do que o que está com ele. Com ele está um braço de

carne, mas conosco o Senhor nosso Deus, para nos ajudar e para guerrear

por nós" E o povo descansou nas palavras de Ezequias, rei de Judá.

Mais do que apenas notícias corriqueiras eram proclamadas às portas.

Os profetas proclamavam mensagens lá também. 1 5

E em Provérbios 1.20-21,

vemos uma personificação da sabedoria nas portas:

"A sabedoria clama em voz alta nas ruas, ergue a voz nas praças

públicas; nas esquinas das ruas barulhentas ela clama, nas portas da

cidade faz o seu discurso."'

Enquanto que em Provérbios 31 .28-31 , notícias honrando a mulher virtuosa

é tornada pública às portas da cidade.

No mundo de hoje, temos jornais, revistas, serviço de correio, telefone,

televisão, fax, rádio, internet, e-mail, YouTube e blogs para a divulgação de

notícias e fazer anúncios públicos. Quem controla essas "portas" (a mídia) no

seu país? Quem controla os mecanismos de informação pública? As pessoas

estão sentadas nas portas dessas indústrias, mas quem eles representam e

quais ideias estão espalhando? Não é exagero dizer que os cristãos são chamados

em primeiro lugar para ser comunicadores. Isso significa que muitos de nós

devíamos estar envolvidos nas indústrias de comunicações, para ajudar a resgatar

as nossas sociedades, através do trabalho, feito em obediência a Deus, para

comunicar a verdade através de todas as formas da mídia e da imprensa.

Reuniões Públicas e Discursos

As portas bíblicas da cidade , como observamos, eram lugares onde as

pessoas eram ativas em assuntos relativos a comércio, lei, governo, questões

civis e jurídicas. Eram também lugares, para onde amigos e vizinhos vinham de

suas casas, para se reunir e conversar, ou onde os viajantes encontravam amigos

e obtinham informações seguras sobre hospedagem e aprendiam sobre a cidade.

Encontramos um exemplo em Gênesis 19.1-2:

Os dois anjos chegaram a Sodoma ao anoitecer, e Ló estava sentado à

porta da cidade. Quando os avistou, levantou-se e foi recebê-los. Prostrou-se,

rosto em terra, e disse: "Meus senhores, por favor, acompanhem-me à casa do

seu servo. Lá poderão lavar os pés, passar a noite e, pela manhã, seguir caminho."

"Não, passaremos a noite na praça", responderam.

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As portas da cidade 1

261

AS PORTAS COMO UMA METÁFORA PARA A

CIDADE

Até Jesus voltar, as portas continuarão a ser um local estratégico de

ocupação. Observando a maneira como as portas representam a vida pública,

o termo as portas no Antigo Testamento é usado, às vezes, para se referir a

toda a cidade- para o que era bom e mau, ou glorioso e fraco. O que era dito

sobre as portas era uma reflexão sobre o poder e a glória da cidade, ou a sua

falta.

Às vezes sha'ar é até traduzida como "cidade", como a Nova Versão

Internacional faz em Gênesis 22:17-18: "esteja certo de que o abençoarei, e

farei seus descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia

das praias do mar. Sua descendência conquistará as cidades [sha'ar] dos que

lhe forem inimigos e, por meio dela, todos os povos da terra serão abençoados,

porque você me obedeceu". Aqui encontramos a reafirmação da aliança

Abraâmica que Deus abençoaria Abraão como um veículo para a bênção das

nações. Nessa reafirmação daquela promessa, vemos que a bênção de Deus

através de Abraão se estende às próprias cidades.

Mas, muitas vezes, mesmo quando sha'ar é traduzida como "as portas",

é uma óbvia referência metafórica à cidade (ou cidades) em questão. Tomemos,

se papel do estado resolver os problemas

da pobreza. O livro de Olasky foi,

sobretudo, um chamado aos fundamentos

bíblicos e, portanto, um avivamento do

engajamento pessoal e coletivo da

caridade. Foi Olasky quem começou a

declarar a necessidade de um

"conservativismo com-passivo" que

influenciou líderes nacionais como William

Bennett, Newt Gingrich e o Presidente

George W. Bush.

Por Olasky compreender que os

cristãos precisam se pronunciar no mercado

de idéias e buscar o engajamento social,

político e econômico, em 1992 ele se tornou

editor chefe da revista World, a quinta revista

semanal mais lida nos Estados Unidos. Ele

continuou o seu trabalho e foi um dos

catalisadores na criação do Instituto de

Jornalismo Mundial para treinar os jornalistas

cristãos a abordarem seu ofício a partir de

um ponto de vista distintamente bíblico (ao

invés de secular).

Não contente em guardar os portões

da cidade, Marvin Olasky é um modelo de

influência que podemos ter na sociedade se

rejeitarmos uma mente dividida e uma vida

dividida e passarmos a viver toda a vida co-

ram Deo, trabalhando fielmente na esfera à

qual Deus nos chamou.

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262 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

por exemplo, Gênesis 24.60, quando a família de Rebeca a abençoa quando ela

é prometida ao filho de Abraão, Isaque: "E abençoaram a Rebeca, e disseram-

lhe: Irmã nossa, sê tu a mãe de milhares de miríades, e possua a tua descendência

a porta lsha'arl de seus aborrecedores." Desde que possuir as portas significava

ter o controle da cidade em si, podemos ver o significado metafórico do verso.

Além disso, quando uma cidade é próspera, diz-se que suas portas são

prósperas. Quando a cidade está padecendo, suas portas padecem. Quando

uma cidade está em sua glória e em seu poder, as suas portas são fisicamente

mantidas, de uma forma que condiz com a glória da cidade. Em contraste,

quando uma cidade está cheia de lamentações, suas portas revelam isto. As

entradas para a cidade revelam o seu estado debilitado, sua perda da glória e

de poder. Por exemplo, no livro de Jeremias, encontramos a nação de Judá sob

o juízo divino, após o reinado do malvado rei Manasses. Julgamento virá através

de seca, fome e exércitos invasores. Em Jeremias 14.2-7 podemos ver o

entendimento metafórico de "as portas" no registro da palavra do Senhor sobre

o impacto da seca:

"Judá pranteia, as suas cidades [sha'ar] estão definhando e os

seus habitantes se lamentam, prostrados no chão O grito de Jerusalém

sobe. Os nobres mandam os seus servos à procura de água; eles vão às

cisternas, mas nada encontram. Voltam com os potes vazios, e,

decepcionados e desesperados, cobrem a cabeça. A terra nada produziu,

porque não houve chuva; e os lavradores, decepcionados, cobrem a cabeça.

Até mesmo a corça no campo abandona a cria recém-nascida,

porque não há capim. Os jumentos selvagens permanecem nos altos,

farejando o vento como os chacais, mas a sua visão falha, por falta de

pastagem". Embora os nossos pecados nos acusem, age por amor do teu

nome, ó Senhor Nossas infidelidades são muitas; temos pecado contra ti.

Prósperas cidades, que um dia foram cheias de vendedores de grãos e

comércios, agora "padecem", como Jeremias registra ao usar o termo porta da

cidade.

QUE O REI DA GLÓRIA POSSA ENTRAR

Não apenas exemplos como aquele em Jeremias mostram como as portas

representam a cidade metaforicamente; eles também ressaltam a profundidade

de um povo de luto pela perda da glória de Deus dentro de suas cidades. Uma

descrição de tal luto é encontrada em Lamentações 4.6-9:

A punição do meu povo é maior que a de Sodoma, que foi destruída

num instante sem que ninguém a socorresse. Seus príncipes eram mais

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As portas da cidade 1 263

brilhantes que a neve e mais brancos do que o leite, tinham a pele mais

rosada que rubis; sua aparência lembrava safiras. Mas agora estão mais

negros do que o carvão; não são reconhecidos nas ruas. Sua pele enrugou-

se sobre os seus ossos; parecem agora madeira seca. Os que foram mortos

pela espada estão melhor do que os que morrem de fome, os quais, torturados

pela fome, definham pela falta de produção das lavouras.

Observe o dramático contraste esboçado através da descrição dos

príncipes que eram "mais brilhantes do que neve e mais brancos do que o leite",

mas agora são "mais negros que a fuligem". Observe, ainda, a triste constatação

de que é melhor morrer pela espada do que por fome.

Pode ficar muito escuro e pervertido em cidades, sociedades e nações

quando "as luzes" enfraquecem ou apagam. Muitos reis e outras autoridades

durante os tempos do Velho Testamento trouxeram grande escuridão sobre as

suas cidades e terras quando se afastaram de Deus para adorar "outros deuses."

Na linguagem do Novo Testamento, esses reis "trocaram a verdade de Deus

pela mentira e adoraram e serviram as coisas criadas ao invés do Criador" (Rm

1.25). Em vez de olhar para o Deus vivo para obter força, prosperidade e

proteção para as suas sociedades, eles adoraram e seguiram os mandamentos

dos ídolos para a vida religiosa, econômica e política. Na canção de Deborah,

durante o tempo dos juízes, encontramos essas trágicas palavras:

"Nos dias de Sangar, filho de Anate, nos dias de Jael, as estradas

estavam desertas; os que viajavam seguiam caminhos tortuosos. Já tinham

desistido os camponeses de Israel, já tinham desistido, até que eu, Débora,

me levantei; levantou-se uma mãe em Israel. Quando escolheram novos

deuses, a guerra chegou às portas, e não se via um só escudo ou lança

entre quarenta mil de Israel. " (Jz 5.6-8)

Deus trouxe juízo sobre o seu povo quando eles adoraram as divindades

Baal e sua consorte Astarote. Quando veio a guerra, as defesas foram dominadas,

as estradas foram abandonadas, as pessoas pararam de viajar, o comércio

encolheu e a vida da aldeia cessou. Os agricultores abandonaram os seus cam-

pos para a relativa proteção dentro dos muros da cidade. Eles se tornaram um

povo derrotado e deprimido. A vida normal ficou paralisada. Ainda hoje, quando

Deus é recusado e negado, as sociedades se corrompem. Elas se organizam

em torno da adoração cultual, quer seja do tipo animismo pagão ou do tipo

humanismo pagão,' que dita ao povo como suas vidas sociais, econômicas e

políticas devem ser vividas. Isso prejudica muito a sociedade, porque a vida do

seu povo não é "ordenada" pela sabedoria das Escrituras.

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264 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Impressionantes ilustrações atuais disso podem ser encontradas na África

animista, onde os padrões de trabalho são baseados em sistemas de crenças

derivadas dos espíritos. Portanto, há dias em que a agricultura e a pesca são

proibidas, porque, nesses dias, os deuses precisam de paz e descanso e ninguém

dever perturbá-los. Isto, naturalmente, perturba muito a atividade econômica.

Além disso, há rios e córregos em que as pessoas sempre estão proibidas de

pescar, porque acredita-se que os canais são permanentemente habitados por

espíritos. Mesmo que a saúde das famílias que moram perto desses rios e

riachos sejam muito beneficiadas pelos peixes, os conselhos dos espíritos (deuses)

impedem isso, mesmo durante tempos de

fome.

No Ocidente pagão secular, estamos assistindo à morte lenta dos nossos

países. Não há nenhuma norma transcendente da verdade e da moralidade, de

modo que cada pessoa faz o que é certo aos seus próprios olhos. Dependência

de drogas, álcool, jogos e pornografia são galopantes. O aborto e a

homossexualidade que, em meados do século XX, foram rejeitadas, são

promovidos e praticados como normais. Enquanto europeus e norte-americanos

abandonam suas raízes na fé judaico-cristã, perdem sua identidade. Isto leva a

uma prática antinatal; a maioria dos países da Europa e alguns estados dos

EUA têm taxas de natalidade (1,2-1,5 filhos por mãe) que não vai sustentar

suas sociedades. Como resultado, haverá suicídio cultural em pouco mais de

uma geração.

Como Débora, Neemias, e muitos outros reformadores bíblicos, os cristãos

são chamados a mudar esses padrões culturais. Devemos crescer e descobrir

o nosso chamado e vivê-lo, para o bem de nossas sociedades, para o avanço do

reino de Deus. Temos que fazer isso se vivemos no Ocidente ou em países em

desenvolvimento. O clamor do Salmo 24.7-10 pode ser o nosso clamor:

Abram-se, ó portais; abram-se, ó portas antigas,

para que o Rei da glória entre.

Quem é o Rei da glória? O Senhor forte e valente,

o Senhor valente nas guerras.

Abram-se, ó portais; abram-se, ó portas antigas,

para que o Rei da glória entre.

Quem é esse Rei da glória? O Senhor dos Exércitos;

ele é o Rei da glória

Como este salmo declara nos versos de sua abertura, o Senhor é o Criador

e o proprietário da terra e tudo que há nela. Aqui, as portas se referem à

gloriosa Cidade de Sião, cujo glorioso Rei é introduzido. Ele está tomando posse

para governar e reinar.

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Capítulo 19

OS D OMÍNIOS

Vamos explorar o amplo potencial para transformar o trabalho nas "portas

da cidade" em nossos dias, aprendendo como, historicamente, os cristãos

ocuparam essas portas, ajudando a transformar suas sociedades.

O que era representado pelas portas da cidade nos tempos bíblicos veio

a ser conceituado no mundo de hoje como domínios ou esferas da sociedade.

Jesus Cristo e os cristãos que o seguiram, fizeram mais para transformar os

domínios da sociedade para o bem, do que qualquer outro tipo de movimento

religioso ou social em todo o mundo. Não quero dizer com isso que o cristianismo

tornou perfeita a vida no mundo ou que injustiças e atrocidades não foram

cometidas em nome do cristianismo. Não obstante, penso que o registro histórico

mostra que o cristianismo tem moldado as sociedades pai o bem como nada

mais o fez. Em seu livro

The Rise of Christianity: A Sociologist Reconsid-

era History [A Ascensão do Cristianismo: Um Sociologo Reconsidera a

História], o sociólogo evangélico Rodney Stark escreve:

Creio que foram as doutrinas particulares da religião que

permitiram que o cristianismo estivesse entre os mais abrangentes e bem

sucedidos movimentos de revitalização da história. E foi a m aneira que

essas doutrinas se tornaram físicas, a maneira que guiaram as ações

organizacionais e o comportamento individual, que levaram à ascensão

do cristianismo [itálicos adicionados].'

Quando os cristãos apresentam o evangelho em pormenores, a sociedade

muda. O historiador Thomas Cahill aponta que "o 'impulso inicial' do cristianismo

lançou 'atos e idéias', não somente 'através dos séculos', mas também ao redor

do mundo."2

Essas "idéias e atos" têm transformado muitas áreas nos domínios

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268

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

da vida, conforme os discípulos de Cristo ocuparam territórios para o reino e

vivenciaram os seus chamados na história. No prefácio do livro de Alvin Schmidt

Under the Influence: How Christianity Transformed Civil ization [Sob influência:

Como o Cristianismo Transformou a Civilização], Paul L. Maier. professor de

história antiga na Western Michigan University. descreve como Cristo e seus

seguidores moldaram a história:

Não, foram só as vidas de inúmeras pessoas que foram transformadas

por Jesus Cristo, mas a própria civilização. No mundo antigo, seus

ensinamentos elevaram os brutais padrões de moralidade, pararam o

infanticídio, melhoraram a vida humana, emanciparam mulheres, aboliram

a escravidão, inspiraram organizações de caridade e socorro, criaram

hospitais, estabeleceram orfanatos e fundaram escolas.

Em tempos medievais, o cristianismo, quase que exclusivamente,

manteve viva a cultura clássica através da reprodução de manuscritos,

construção de bibliotecas, moderação de gu erras através de dias de trégua,

além de liincionar como mediador em contendas. Foram os cristãos que

inventaram faculdades e universidades, dignificaram o trabalho como

vocação divina e estenderam a luz da civilização aos bárbaros nas

fronteiras.

Na era moderna, o ensinamento cristão, corretamente expresso,

promoveu o avanço da ciência, difundiu conceitos de liberdade econômica,

política e social, promoveu a justiça e forneceu a m aior fonte de inspiração

para as grandiosas realizações nas artes, arq uitetura, música e literatura

que tanto apreciamos hoje em dia.'

Nós também podemos encontrar nossos chamados em qualquer urna

dessas áreas. Assim como o povo de Israel participava da dinâmica vida de

suas comunidades nas portas, e assim como os seguidores de Cristo seguiram

seus passos em todo tipo de empreendimento humano, nós também temos um

escopo ilimitado para viver nossos chamados. Nós também podemos ser parte

da transformação de comunidades e sociedades inteiras. As possibilidades

expandem a imaginação; o potencial é inesgotável.

Ao discutir os domínios, utilizarei amplamente o livro de Alvin Schmidt

Under the Influence, o livro de Stark Stark The Rise of Christianity, e o livro do

Dr. James Kennedy e Jerry Newcombe, What If Jesus Had Never Been Born?

[E se Jesus Jamais Tivesse Nascido?' Esses livros extraem de diversas áreas

da história variados domínios transformados pela vocação dos cristãos. Meu

objetivo é que aprendamos com o passado e sejamos inspirados em nossos

chamados hoje. Neste capítulo exploraremos seis domínios modernos: governo,

educação, saúde, arte, atividade econômica e ciência.

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Os domínio,

1 269

GOVERNO

Já vimos que a transformação do reino opera a partir de corações e

mentes, através da família, penetrando na igreja e, através da igreja, adentra

outros domínios da sociedade. Ao considerar a sociedade como um todo,

começaremos corno o domínio do governo porque Deus ordenou três instituições

primárias na sociedade: famílias,' igrejas.' e governo civil - o estado.' Essas

são as instituições fundamentais de qualquer sociedade. Para que uma sociedade

seja saudável, cada uma dessas instituições deve ser saudável. Para serem

saudáveis, essas instituições devem estar em um relacionamento correto umas

com as outras.

Reconhecer esses relacionamentos corretos começa com o entendimento

de que Deus é soberano sobre toda a criação. Portanto, Deus e suas leis e

ordenanças são soberanos sobre cada uma dessas instituições. Cada instituição

deriva sua vida, fronteiras e autoridade de Deus. A saúde de cada instituição é

determinada por sua livre obediência às leis e ordenanças de Deus. Livre

porque a obediência não é coagida pela tirania externa. Os seres humanos

nascem livres; portanto, a obediência nasce da motivação interna e do

autogoverno. Cada uma dessas instituições fundamentais tem que prestar contas

somente a Deus. Enquanto esses reinos se relacionam uns com os outros e

enquanto membros individuais da sociedade podem estar engajados em todas

as três instituições, a integridade de cada uma é protegida dos abusos das outras

através da prestação de contas e responsabilidade somente para com Deus. O

teólogo J. 1. Packer capta isso quando escreve:

Cada meio [família, igreja e estado] tem sua própria esfera de

autoridade sujeita a Cristo, que agora governa o universo no nome de seu

Pai, e cada esfera tem que ser delimitada em referência às demais. Em

nosso mundo caído, isso limciona como um anteparo contra a anarquia, a

lei da selva e a dissolução da sociedade ordenada.'

O estado tem o poder da espada e a igreja tem o poder da Palavra de

Deus. A igreja não deve lançar mão da espada e o estado não deve usurpar a

Palavra de Deus. A família tem a responsabilidade de cultivar e educar a

próxima geração de cidadãos. Isso não é tarefa do estado, como se pensa em

muitas sociedades hoje em dia.

O padrão bíblico para relacionar essas três instituições fundamentais

reconhece que Deus é soberano sobre o universo e sobre os negócios do ser

humano. Aqui reinam a liberdade e o autogoverno. Deus é soberano sobre

indivíduos livres e autogovernados. Esses indivíduos são membros de famílias,

igrejas e governo civil. A lei, não os homens, governa o estado.

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270 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Cada uma das três instituições funciona em sua própria esfera sujeita às

leis de Deus para glória de Deus. Cada uma tem sua própria área de autoridade

sob Deus, mas não possui autoridade máxima sobre as outras esferas. A família

possui responsabilidade delegada para promover as crianças fisicamente,

emocionalmente e socialmente e para educá-las no desenvolvimento do

conhecimento, sabedoria e virtude, tudo isso para que as crianças possam ser

cidadãs livres e autogovernadas em suas nações.

A igreja tem a responsabilidade delegada de proclamar em palavra e

ação a Palavra de Deus. Ela é responsável pela adoração coletiva e por equipar

os santos para serem cidadãos livres no mercado de trabalho e na esfera pública;

ela deve ainda servir o bem-estar da comunidade como um todo.

O estado tem a responsabilidade primária de levantar a espada. Por

vivermos em um mundo caído e por sermos pecadores, o estado tem a

responsabilidade de defender os cidadãos contra ameaças externas e cuidar

para que haja paz e tranquilidade à sociedade. Ela deve defender o domínio da

Lei e estabelecer a estrutura do livre comércio e liberdades civis.

Conforme homens e mulheres assumem seus papéis como pais de famílias,

membros de igrejas e cidadãos de comunidades, eles influenciam as portas da

cidade - os vários setores das sociedades - com a cultura do reino, repleta de

verdade, beleza e bondade. O que resulta disso é a sociedade mais livre, justa

e sadia já imaginada. Esse tipo de sociedade pode ser identificado como uma

"república constitucional." Nela, cidadãos livres e autogovernados assentam-se

às portas da cidade.

REPÚBLICA CONSTITUCIONAL

(DEUS

É SOBERANO)

4

C

IDADÃOS AUTOGOVERNADOS)

FAMÍLIA

CRIA E EDUCA

SEUS FILHOS

IGREJA

PROCLAMAÇÃO E

DEMONSTRAÇÃO DA

PALAVRA DE DEUS

GOVERNO

CIVIL

JUSTIÇA E

PROTEÇÃO

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Os domínios 1 271

Esse padrão de ordem social reconhece que a liberdade nasce dentro

das pessoas; ela é dada por Deus e não pelo estado. Ela reconhece que a mais

elevada forma de governo é o autogoverno interno. O advogado e teólogo

holandês Hugo Grócio assim resumiu o princípio do autogoverno:

Aquele que não sabe governar um reino, não pode administrar

uma Província; nem conseguirá governar uma província aquele que não

sabe ordenar uma Cidade; nem ordenar uma Cidade aquele que não sabe

regular uma Vila; nem uma vila, aquele que não consegue guiar uma

Família; nem conseguirá guiar bem uma família o homem que não sabe

Governar a si mesmo; e ninguém conseguirá Governar a si mesmo a menos

que sua Razão seja o Senhor e que Vontade e Apetite sejam vassalos dessa

Razão; mas a Razão não conseguirá governar a menos que ela própria

seja governada por Deus e (plenamente) obediente a Ele.'

Minha boa amiga e fundadora da Chrysalis International, Dra, Elizabeth

Youmans, ajuda a esclarecer esse princípio:

O princípio cristão do autogoverno é Deus governando

internamente a partir do coração do crente. Para alcançar a verdadeira

liberdade, o homem deve DE BOA VONTADE (voluntariamente) ser

governado INTERNAMENTE pelo Espírito e Palavra de Deus ao invés de

ser governado por forças externas. O governo é primeiro interno

(causativo) e depois externo (efeito).°

Quanto mais autogovernado for um povo, mais livre será o estado. Quanto

menos as pessoas se governam, maior a necessidade do poder do estado. O

fundador da Pensilvânia, William Penn, escreveu: "Aqueles que não são

governados por Deus serão governados por tiranos."

0 Aqueles que se permitem

serem governados internamente por Deus podem ser participantes de um governo

civil que promove a liberdade e justiça respeitando a integridade da família, da

igreja e todos os domínios da sociedade.

Os princípios que levam a esse tipo de governo são encontrados na

cosmovisão bíblica. Indivíduos, famílias, igrejas e governos alcançam seu mais

elevado potencial quando servem ao Deus vivo. A saúde de cada governo é

determinada por sua obediência às leis e ordenanças de Deus. Se as leis civis

forem baseadas na lei moral de Deus - os Dez Mandamentos - e se forem

obedecidas por cidadãos livres e autogovernados, o resultado é verdade, justiça

e liberdade.

Deus tornou alcançável o governo humano baseado na verdade, na justiça

e na liberdade ao revelar a si mesmo e os seus caminhos a nós. Como discutimos

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272 1

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no unirem,

anteriormente, Deus revelou a si mesmo através da criação e da revelação.

Suas ordenanças estão incorporadas à realidade e estabelecem a ordem natu-

ral, metafísica e moral. Deus fala claramente através de sua criação para que

todas as pessoas possam saber que Deus existe e possam conhecer algo de

sua natureza através das coisas que ele fez." Em termos teológicos, isso se

chama revelação geral.

Similarmente, a lei moral de Deus é revelada na criação e em sua Palavra.

Paulo fala da "lei . . . gravada em seu coração. Disso dão testemunho também

sua consciência" (Rm 2.15). Essa revelação está incorporada na criação. Os

antigos chamavam essa forma de revelação de "lei natural." A Bíblia também

revela a natureza da lei moral de Deus através dos Dez Mandamentos e da

vida de Cristo.

Como Paulo testifica em Romanos, o mundo greco-romano da antiguidade

sabia "ler" a lei revelada na criação e na consciência humana - a lei natural.

Schmidt escreve:

A lei natural era compreendida como o processo na natureza,

através do qual os seres humanos, fazendo uso da sã razão, eram capazes

de perceber o que era moralmente certo e errado. Essa lei natural era

vista como um fundamento eterno e imutável de todas as leis humanas."

Mas mesmo a lei natural tinha que ser "interpretada" e aplicada. Isso era

feito por pessoas caídas e que, geralmente, estavam buscando os seus próprios

interesses e operando sem a revelação e diretrizes das Escrituras. Assim sendo,

a criação de leis era geralmente injusta e cruel e feita de acordo com os desejos,

ordens e caprichos de governantes e reis.

A lei de Moisés, entretanto, era muito diferente da lei greco-romana.

Nela, a origem divina da lei era enfatizada. Isso levou a significativas diferenças

no entendimento da lei abraçada por Israel e pelas outras nações. Isso significava

que para a nação de Israel, a autoridade máxima da lei residia em Deus,

diferentemente de outras nações, cuja autoridade máxima estava no rei, no

ditador ou no estado (nas democracias ocidentais de hoje em dia, o poder reside

no "povo").

Talvez, a diferença mais fundamental apareceu quando os Dez

Mandamentos foram anunciados, começando com o prefácio "Eu sou o Senhor

teu Deus, que te tirou do Egito, da terra da escravidão" (Êxodo 20.2). Essa

declaração geralmente passa despercebida, mas é indispensável para o que

segue, pois significa que a Lei de Deus começou com a grande verdade de

libertação (da escravidão no Egito) e que os mandamentos e leis que seguirão

traziam consigo um caráter redentor. Em outras palavras, a Lei foi

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Os domínios

1 273

fundamentada na experiência de salvação das pessoas, no favor divino que a

Israel antiga havia recebido de Javé, algo que não foi recebido por nenhuma

outra nação.'

Além disso, os Dez Mandamentos não diziam respeito somente à piedade

pessoal. Eles também diziam respeito ao desenvolvimento da ordem social

para as pessoas que, até aquele momento não tinham leis para governá-las

como povo e, posteriormente, como nação. Anteriormente eles eram

dependentes das leis do Egito para a sua vida social e política.

O entendimento da lei também era diferente em escopo do entendimento

de outras nações. Muitos códigos legais da antiguidade lidavam somente com

questões legais, deixando as questões morais e religiosas para outros ramos da

literatura. Mas na Lei de Moisés, também chamada Torá, os comandos legais,

morais e religiosos formam uma unidade inseparável.

Desde o tempo de Cristo, os cristãos procuram interpretar a lei bíblica e

a instituem para mudar políticas injustas e opressivas em suas próprias cidades

e nações. Por exemplo, tipicamente em toda a história, o chefe, rei, imperador

ou czar era uma lei para si mesmo, o que hoje em dia chamaríamos de ditador.

Ele fazia as leis e todos estariam presos à elas exceto ele. O primeiro incidente

conhecido de alguém ter levado o ditador a responder à lei está registrado em

Ambrósio (c. 340-397): o bispo de Milão desafiou o injusto massacre dos

inocentes pelo Imperador Teodósio o Grande (r. 379-395).

1 4

No início do século XIII, Stephen Langton, arcebispo de Canterbury,

liderou os esforços que levaram o Rei João a concordar com a Magna Carta,

que é um dos documentos mais fundamentais de liberdade já escritos.1 5 Essa

carta, estabelecida com base em esforços anteriores, tornava até mesmo um

rei sujeito ao domínio da lei e concedia alguns direitos básicos aos cidadãos.

Entre outros princípios, ela estabelecia que a justiça não poderia mais ser

comprada ou vendida, que não poderia haver cobrança de impostos sem

representação, muito menos prisão sem julgamento e que a propriedade não

poderia ser confiscada sem justa compensação.''

Em 1520, Martinho Lutero pregou a posição de separação entre igreja e

estado. Cristo distinguiu entre dois reinos - Deus e César'' - e Lutero

argumentou a partir desse ponto de vista. O cristão, disse ele, é membro de

ambos os reinos e tem a obrigação de ser um bom cidadão tanto de sua nação

quanto do reino dos céus. Outro reformador, João Calvino, realizou profundos

estudos sobre como lei e aliança bíblicas podem ser interpretadas e aplicadas

na Europa.

As idéias dos reformadores atravessaram o Atlântico e foram cruciais

na formação da governança das colônias e, basicamente, na formação dos

Estados Unidos da América. Por exemplo, o renomado estudioso de legislação,

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274 1 VOCAÇÃO:

Escreva suo assinatura no universo

o inglês William Blackstone (1723-1780) descreveu expressivamente os conceitos

da lei natural ensinados por Paulo18

e

pelos gregos e que foram divulgados

pelos pais da igreja. Sua obra Commentaries on the Laws of England

[Comentários sobre as Leis da Inglaterra] (1675) era leitura comum dos

fundadores dos Estados Unidos. A Constituição dos Estados Unidos-chamada

por muitos de "a maior carta de liberdade e justiça do mundo"-foi assinada por

trinta e nove dos fundadores da nação, dos quais a maioria era cristã.' '̀

Muitas das características que hoje deixamos passar despercebidas na

sociedade Ocidental estão ligadas a uma cosmovisão bíblica. Já discutimos a

separação entre igreja e estado, na qual ambas as esferas respondem a Deus

sem ter poder uma sobre a outra, e também tratamos do princípio do autogoverno.

Adicionalmente, o domínio da lei e o sistema de freios e contrapesos na

governança (separação de poderes) estão ligados a um entendimento bíblico da

depravação do ser humano. Também a igualdade do indivíduo diante da lei está

ligada ao fato de que todos os homens e mulheres são feitos à imagem de Deus

e, portanto, são iguais em dignidade e valor.

Deus ordenou o governo-o seu governo, o autogoverno e o governo civil.

Ele nos mostrou como governar e governou em liberdade e justiça. Ele chama

os cristãos a essa esfera de influência para manifestar seu reino redentor, o

reino de Deus.

Nossos Chamados Hoje

Promover liberdade, justiça e o conceito de autogoverno. Esse é um

chamado ao qual podemos responder quer estejamos trabalhando em um dos

ramos do governo ou em nossas famílias, escolas, mídia, negócios, igreja ou

programas comunitários.

Sermos cidadãos que respeitam às leis.

Tornarmo-nos eleitores conscientes, conhecendo as questões envolvidas

e os candidatos.

Engajar-nos no processo político de outras maneiras no nível local,

regional ou nacional; por exemplo, participando de reuniões na prefeitura ou do

conselho diretivo de escolas, comunicando-nos com os representantes eleitos,

voluntariando-nos para trabalhar como mesários em uma eleição ou trabalhando

em uma campanha.

Protestar contra as autoridades onde as ações do governo ou quando a

lei local, regional ou internacional se opõe às leis de Deus. Declarar apoio a

ações e leis que manifestem verdade e justiça.

Trabalhar com habilidade e integridade no serviço público no governo

municipal, regional ou nacional.

Servir em um cargo público, desde a câmara dos vereadores e conselho

para questões hídricas até cargos de alcance estadual e nacional.

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276 1 VOCAÇÃO: Escreva

sua assinatura na univer.sv

logo em seguida nos livretos educativos como, por exemplo, o Didache que

instruía novos convertidos,'' e nas escolas "catequéticas" de Justin Martyr do

segundo século, que forneceram instrução na fé e prática."

Seguindo o padrão das escolas catequéticas fundadas pelos pais da igreja,

as escolas "catedráticas" e "episcopais" administradas pelos bispos eram

construídas junto aos prédios das igrejas e das catedrais. Essas escolas

ensinavam tanto doutrina quanto as "sete artes liberais." O currículo tinha duas

partes: O trivium (gramática, retórica e lógica) e o quadrivium (aritmética, música,

A HISTÓRIA DE JOHN W. WHITEHEAD

Muitos anos atrás, ouvi uma história

sobre meu mentor Francis Schaeffer ter

ministrado a um grupo de advogados

cristãos. Ele lhes perguntou o que tornava

cristã a prática de um advogado. Seria

suficiente colocar revistas cristãs na mesa

do cafezinho na sala de espera? Schaeffer

fez uma provocante pergunta àqueles

jovens advogados: "O que vocês têm feito

diante da Corte Suprema ultimamente?"

Conforme a história que me

contaram, havia um jovem advogado

chamado John Whitehead entre eles. A

pergunta de Schaeffer motivou Whitehead

a examinar sua própria vida e trabalho. Em

resposta ao desafio de Schaeffer, em 1982

Whitehead fundou o Instituto Rutherford,

uma firma de direito de interesse público

especializada em questões de diretos

humanos e civis. Por mais de vinte e cinco

anos, o Instituto Rutherford oferece

serviços advocatícios gratuitos a pessoas

que necessitam de proteção de seus

direitos. O Instituto Rutherford tem sido um

contrapeso na sociedade americana em

relação ao Sindicato das Liberdades Civis

Americanas (American Civil Liberties Union

- ACLU).

O próprio John Whitehead seria o

primeiro a admitir que suas ações iam con-

tra o pensamento corrente em relação tanto

como cristão quanto como advogado. "As

pessoas religiosas em grande parte haviam

se retirado e não estavam participando de

sua cultura," diz Whitehead. De fato, White-

head ouviu de alguns cristãos que "o

envolvimento cristão nas cortes era

antibiblico."

Hoje, após muitos anos de

perseverança, fé e ação, o Instituto Ruth-

erford de John Whitehead pode responder

ao desafio de Schaeffer de maneira

afirmativa. Em 2007, o Instituto Rutherford

recebeu 1594 pedidos de assistência

advocatícia e 66 casos que tratavam de

várias violações de direitos civis e humanos

seguiram os estágios pré-litigiosos e

litigiosos, inclusive vários que tiveram

apelos diretos à Suprema Corte dos Estados

Unidos.

2

Em vinte e cinco anos, o Instituto

Rutherford tem assegurado para os Estados

Unidos uma porção de êxitos em áreas como

liberdade de expressão, liberdade religiosa,

direitos religiosos, direitos parentais e

assédio sexual. Recentemente, em um

movimento para proteger à liberdade de

expressão não violenta dos ativistas pró-

vida, os membros do Instituto Rutherford

declaram sua crença de que "a expressão

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Os domínio,

1 277

geometria e astronomia).' Perceba que nisso, a educação cristã vai além da

instrução religiosa e moral e começa a alcançar todas as áreas da vida. Isso

ficou conhecido como educação cristã clássica, mas, para sociedades que

abandonaram os fundamentos da Escritura, isso ficou conhecido como artes

liberais.

Indo além da educação cristã clássica, os seguidores de Cristo fundaram

as primeiras universidades durante a Idade Média. Apesar dos gregos e romanos

terem produzido alguns dos maiores filósofos, poetas e eruditos do mundo, eles

em nossa república deve continuar livre não

somente para oradores populares, mas

também para os impopulares e

dissidentes."'

Em um caso diferente, o Instituto

Rutherford impetrou uma ação solicitando

que a Suprema Corte invalidasse a decisão

de uma corte inferior que determinava não

ser necessária a autorização dos pais para

que um menor de idade fizesse um aborto.

Respondendo à decisão positiva da

Suprema Corte, Rutherford declarou:

"Estamos satisfeitos que a Suprema Corte

confirmou os direitos reservados aos

estados e às pessoas de proteger os

menores que enfrentam decisões sérias

como o aborto.. .. Afinal de contas, se os

menores precisam de autorização dos pais

para colocar piercings, fazer tatuagens ou

bronzeamento artificial, por que não

deveriam os pais serem notificados sobre

algo tão determinante quanto o aborto?"

É importante percebermos que o

Instituto Rutherford compromete-se em

proteger os direitos individuais de cada

pessoa nos Estados Unidos, não somente

os direitos das pessoas com cujas visões

e ações eles concordam. Isso pode trazer

desconforto em certo momento. Nas

palavras de Whitehead: "Nossa esperança

é que todos os americanos se lembrem que

nossos direitos e liberdades constitucionais

devem se aplicar a todos os cidadãos, não

apenas àqueles a quem o nosso governo

decide concedê-los."

Em setembro de 2008, continuando

sua decisão de "assentar-se no portão da

lei," Whitehead respondeu a um chamado

de prestar testemunho diante do Subcomitê

Constitucional do Comitê Judicial do Senado

dos Estados Unidos. A questão a qual

Whitehead foi solicitado a tratar era o

enfraquecimento do estado de direito nos

Estados Unidos. Em seu testemunho por

escrito, ele declarou: "Nunca na história

americana houve uma necessidade mais

premente de se viver pelo estado de direito,

respeitar a separação de poderes e

verificar o poder e abuso do governo. . .

Isso é particularmente crítico neste

momento, quando os efeitos da guerra

americana contra o terrorismo continuam a

ser sentidos em casa e no exterior."

6

O Instituto Rutherford tem sido uma

forte voz para a liberdade, fazendo a nação

prestar contas por sua Constituição e

particularmente por sua Declaração de

Direitos e Garantias. Como a vocação de

John Whitehead tem demonstrado, é

possível, - e vital-que os cristãos se

engajem com a cultura em todos os níveis,

no caso de Whitehead nas complexidades

do direito e governança que afetam a todos

nós.

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278 1 VOCAÇÃO:

Escreva .sua assinatura no universo

deixaram de criar instituições de educação superior que resistissem ao tempo.'

Foram os seguidores de Cristo que, com sua paixão por obter conhecimento

bíblico em todos os domínios, lançaram as bases da educação superior. Du-

rante o início da Idade Média na Europa, várias ordens monásticas cristãs

desenvolveram bibliotecas, que atraíram para si estudiosos e lançaram os

fundamentos das primeiras universidades. A primeira foi a Universidade de

Bolonha na Itália em 1158. Não demorou muito tempo para as universidades

aparecerem na Espanha, Escócia, Suécia, Polônia e Itália. A Universidade de

Paris na França apareceu em 1200 e, em seguida, veio Oxford na Inglaterra e

as universidades de Portugal, da Alemanha e da Áustria.

No outro lado do Atlântico, as primeiras universidades americanas antes

da Guerra da Independência dos Estados Unidos, com exceção da Universidade

da Pensilvânia, também foram fundadas por cristãos e baseavam-se em

princípios para os propósitos do reino." Harvard, Yale e Princeton estavam

entre elas. De fato, mais de cem das primeiras faculdades e universidades

fundadas nos Estados Unidos tinham raízes cristãs." Fica claro que os cristãos

durante séculos tiveram uma grande paixão pelo aprendizado e responsabilidade

de passar conhecimento às próximas gerações.

Outro aspecto da educação que deixamos passar despercebido em nossos

dias é a "educação universal," na qual todos devem ter acesso ao aprendizado

básico, independente de seu gênero, raça ou condição social. O acesso irrestrito

à educação é outro legado dos Reformadores do século XVI. Eles criam que

todas as pessoas, inclusive os camponeses e atendentes de lojas, deveriam ter

acesso à educação básica em disciplinas como gramática, leitura, aritmética e

religião, assim como educação secundária com o propósito de treinar os cidadãos

para exercerem a liderança civil e eclesiástica. Isso começou com a profunda

crença dos Reformadores de que a Bíblia deveria ser traduzida para muitas

línguas e estar disponível a qualquer indivíduo, não apenas aos "representantes"

da igreja. Kennedy e Newcombe escrevem: "Foi somente quando a Bíblia

tornou-se novamente o foco do cristianismo que a educação para as massas

nasceu.' O historiador da educação William Boyd observa: "Lutero, de fato,

queria um sistema de educação tão livre e irrestrito quanto o Evangelho que ele

pregava [e] indiferente, assim como o Evangelho, às distinções de sexo ou

classe social.""

Hoje, na esfera educacional, tanto problemas quanto oportunidades são

abundantes. Em muitas nações da África, a epidemia de HIV/AIDS está

estagnando ou impedindo o progresso na área educacional. Há poucos

professores e as crianças e suas famílias são forçadas a lutar pela sobrevivência

diária ao invés de se prepararem para o futuro. Mesmo nas regiões onde não se

cobram mensalidade, o custo de uniformes, livros, materiais e transporte tornam

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Os domínios 1

279

a educação algo inatingível. Sem condições de ter essas coisas, muitas crianças-

tanto órfãos quanto aqueles que ainda têm a felicidade de ter pais-são forçados

a trabalhar para suprir necessidades básicas. Mesmo onde não há uma epidemia

de HIV/AIDS, a falta de acesso, oportunidades iguais para meninas e a

necessidade de trabalhar acabam impedindo milhões de crianças em todo mundo

de receber educação. Quando visitei uma das regiões mais pobres da Guate-

mala, um amigo me falou de uma das escolas locais. Essa escola existia há

trinta anos e contava com quatrocentos alunos. Mas em trinta anos, apenas

doze meninos haviam completado o sexto ano e apenas uma menina havia

frequentado a escola. Essa é uma ilustração típica do cenário educacional atual

em grande parte do mundo em desenvolvimento, onde é necessário que haja

maior influência cristã e mais trabalhadores cristãos.

As nações ricas também enfrentam seus próprios dilemas educacionais.

Há tempos abandonaram a instrução sobre virtude e o desenvolvimento do

caráter, e passaram a ser promotores militantes da cosmovisão ateísta/

materialista, da "ciência" darviniana e do relativismo moral e cultural.

Quando pensamos nas carências de nosso país e de todo o mundo e os

muitos tipos de métodos educacionais, como educação no lar, escolas públicas

e particulares, vemos que os cristãos tem inúmeras oportunidades de descobrir

sua vocação no domínio da educação.

Nossos Chamados Hoje

•Codificar línguas para que todos os povos tenham acesso às Escrituras.

Esse é o chamado de homens e mulheres em organizações cristãs como a

Wycliffe Bible Translators.

•Fundar bibliotecas em comunidades e bairros pobres para encorajar a

alfabetização e o aprendizado.

•Estabelecer programas de alfabetização para crianças e adultos em

sociedades não alfabetizadas e para pessoas analfabetas em geral.

Estabelecer programas de treinamentos e capacitação.

Ser tutor de crianças e adultos que necessitem de encorajamento e

treinamento adicionais para alcançarem seu potencial.

•Demonstrar aos pais como assumir responsabilidade pela educação de

seus filhos.

Estabelecer escolas que sejam conscientemente fundamentadas sobre

uma cosmovisão bíblica e utilize um currículo com base na Bíblia para todos os

aspectos da vida, não apenas para instrução religiosa.

•Apoiar a escola de seus filhos ou as escolas comunitárias doando tempo,

dinheiro e outros recursos.

•Oferecer estágios

e

mentores para estudantes em sua área de trabalho.

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280 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Trabalhar como estudiosos cristãos, sendo os melhores professores e

pesquisadores que pudermos.

Trabalhar como professores e administradores em escolas públicas,

particulares ou escolas do lar, preparando a próxima geração para seus papéis

como líderes-servos em suas áreas de atuação.

Trabalhar na equipe de apoio em escolas e universidades, ajudando a

oferecer a melhor educação possível para os alunos.

SAÚDE

Questões de saúde e enfermidade são vistos muito diferentemente do

que eram vistas no tempo de Jesus. Você pode imaginar como deve ter sido se

pensar que no mundo greco-romano, a crueldade e a violência eram consideradas

virtudes e a compaixão um sinal de fraqueza (discutiremos isso melhor no

A HISTÓRIA DE ELIZABETH YOUM ANS

Dra. Elizabeth Youmans é uma

educadora que conseguiu entender que a

Bíblia não é somente um livro "espiritual",

mas também o "manual do proprietário" para

toda vida. Ela entende que a Palavra de

Deus estabelece a verdadeira natureza do

que significa ser um ser humano e uma

criança e, portanto, tem algo de importante

a dizer sobre educação.

Frequentemente, os educadores

cristãos, tendo sido criados em um ambiente

secular, começam com um entendimento

ateísta de criança e da natureza humana e,

portanto, consciente ou inconscientemente

aderem a uma filosofia e pedagogia

seculares de educação. Com

essa base,

eles contratam cristãos para ensinar em

suas escolas, constroem uma capela e

inserem uma aula de estudo da Bíblia e

concluem que isso é educação cristã.

Elizabeth Youmans compreende que

precisamos ir ao Livro como fundamento

para desenvolver uma teologia da criança

e, então, desenvolver uma filosofia e

pedagogia educacional fundamentadas em

uma cosmovisão bíblico-cristã. Ela escreve:

A primeira questão é se Deus criou

as crianças cheias ou vazias. Se a

resposta for vazias, então a filosofia de

educação é despejar informação dentro da

cabeça da criança para que ela memorize e

repita a resposta "correta" como um

papagaio. Se a resposta for cheia, então a

filosofia de educação será trazer para fora

o potencial de Cristo da criança de maneira

que ela possa desenvolver sua habilidade

de pensar e raciocinar a partir de uma

perspectiva bíblica ou base de verdade. O

papel da educação é trazer para fora o

pleno potencial de cada criança de forma

que ela possa atingir o destino de Deus para

sua vida.

Todo pensamento e raciocínio

começa com alguma base, alguma premissa,

alguma filosofia. A base para pensar e

raciocinar na perspectiva de Deus é a

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Os domínios

1 281

próximo capítulo). "Assistência Médica" certamente não era uma prioridade

como é no mundo moderno. Havia poucas instituições gregas e romanas nessa

área. O autor John Jefferson Davis escreve:

No Império Romano pré-cristão, só existiam hospitais para soldados,

gladiadores e escravos. Trabalhadores braçais e outros indivíduos

desfavorecidos não tinham lugar de refúgio. Os homens. . . pouco se

interessavam pelos doentes e frequentemente os punham para fora de

casa, deixando-os à mercê do destino."

O mundo hebreu ou judaico da época de Cristo (e de antes) foi chamado

por Deus a abandonar o pensamento pagão acerca da saúde e a seguir suas

leis. Obediência era a chave para uma vida saudável (veja, por exemplo, Dt

7.11-15). O livro de Levítico é cheio de sabedoria prática para sustentar a

verdade e palavra reveladas de Deus. A

palavra de Deus é central à educação

cristã.'

Assim sendo, a Dra. Youmans tem

sido pioneira na educação centrada na

Palavra. Ela é líder na Abordagem por

Princípios, que utiliza o método histórico

americano de raciocínio e coloca a verdade

da Palavra de Deus no centro da educação.

Ela atuou como professora de sala de aula,

administradora escolar, treinadora de

professores, professora da pós-

graduação, escritora de currículos e editora

do The Noah Plan, um currículo na

Abordagem por Princípios para escolas

cristãs e para pais que preferem ensinar

seus filhos em casa.

Essa apaixonada educadora

abraçou o chamado de Deus sobre sua vida

para levar a Educação por Princípios ao

mundo em desenvolvimento. Professora

visitante na Universidade de Regent na

Virgínia, Youmans treinou estudantes do

mundo inteiro que retornam para seus

países para serem líderes na educação. Ela

também fundou e lidera a Chrysalis Interna-

tional, um instituto educacional sem fins

lucrativos que busca ensinar líderes

cristãos ao redor do mundo a aplicar

princípios bíblicos à educação. Ela viaja ao

redor do mundo, comunicando a visão da

educação com bases numa cosmovisão

cristã, treinando professores cristãos e

ajudando a fundar escolas e associações

educacionais cristãs em alguns dos países

mais pobres do mundo. Ela também

desenvolveu um currículo por princípios para

crianças chamado AMO.

Elizabeth Youmans tem quatro filhos

e sete netos e tem uma vocação que abraça

as crianças do mundo. Seu trabalho

reconhece que "cada criança é feita à

imagem de Deus e destinada à imortalidade"

e que "cada criança é uma promessa com

um nome, uma paixão, uma história e um

lugar na história do Criador "2

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282 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

saúde das pessoas e de suas comunidades. Os capítulos 11 a 15, por exemplo,

instruem em princípios de nutrição, dieta, saneamento, higiene, doenças

infecciosas, criação de filhos e cuidados com crianças.

Quando Jesus veio à terra, podemos ver o grande choque entre as

cosmovisões hebraica e greco-romana ao observarmos suas diferentes atitudes

em relação aos cuidados com os doentes. Apesar do famoso médico grego

Hipócrates (460 -377 AC), "Pai da Medicina", ter introduzido a ética aos

profissionais de saúde através do Juramento de Hipócrates e apesar de ter

feito muito para colocar a medicina em uma base científica separando-a da

superstição, esses benefícios em grande parte afetaram somente os ricos e

livres.

Em contraste, Jesus e seus seguidores tornaram a misericórdia universal

e a compaixão pelos enfermos um dos mais elevados valores da obediência e

discipulado cristãos. Jesus geralmente é chamado de o Grande Médico por

conta de sua ênfase determinada em curar pessoas de qualquer raça ou condição

social. A misericórdia, compaixão e o cuidado dos cristãos, nos primórdios,

com os doentes, foi algo revolucionário no mundo greco-romano e esses valores

têm sido um contraponto redentor contra atitudes cruéis e impiedosas em relação

aos doentes desde então. Jesus chegou ao ponto de ensinar que quando cuidamos

dos doentes, estamos cuidando dele.

3 1

Durante o início da era cristã, os cristãos abandonaram a cultura pagã ao

levar os doentes e moribundos para suas casas para cuidar deles. Muitos

pagãos fugiram das pragas que assolaram o Império no segundo e terceiro

séculos, enquanto os cristãos ficaram para cuidar dos que sofriam e padeciam.

Eles sabiam que o reino de Deus avança mesmo em meio ao sofrimento.

Cipriano, bispo de Cartago, escreveu em 251:

Que apropriado e necessário que essa praga e pestilência, que

parece horrível e mortal, busque a justiça de cada indivíduo e sonde as

mentes da raça humana; se os bons realmente cuidam dos enfermos, se os

parentes amam os seus entes como deveriam, se os senhores mostram

compaixão pelos seus escravos que padecem, se os médicos não

abandonam os aflitos [grifo meu]. -"

Lembre-se que a maior parte desses cristãos não eram pessoas com

treinamento médico. Eram pessoas comuns que simplesmente ajudavam como

que podiam. Ao oferecer simples confortos como água, cobertores e um toque

humano, assim com seu tempo, cuidado, compaixão e, sim, às vezes até mesmo

suas próprias vidas, esses cristãos sustentaram milhares de pessoas abandonadas

pela sociedade pagã durante os estágios difíceis da praga. O evangelho, como

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Os domínios 1 283

vemos, é uma operação de resgate e esses cristãos sabiam o que isso queria

dizer.

Em 325 o Conselho de Nicéia, além de lidar com questões teológicas,

determinou que fosse fundado um hospital em cada cidade onde se construísse

uma catedral.' No século VI, os hospitais haviam se tornado tão comuns quanto

mosteiros."' E no início da Idade Média, já havia tantos hospitais administrados

por cristãos que o mundo árabe-tão impressionado com o cuidado dos cristãos

com os doentes -começou no século VIII a construir hospitais em suas próprias

terras. O termo utilizado, muitas vezes, para se referir a esses hospitais era

casa de Deus.

Henry Dunant (1828-1910), um seguidor de Cristo, originário da Suíça e

um dos fundadores da YMCA [No Brasil, ACM - Associação Cristã da

Mocidade], presenciou uma batalha em Solferino, Itália, que se tornou um marco

em sua vida. Dessa experiência ele viu a necessidade de uma organização

internacional voluntária que cuidasse dos feridos em tempos de guerra." Como

resultado, a Cruz Vermelha Internacional foi fundada em 1864. Foi a fé cristã

de Dunant que o levou a usar a cruz como símbolo da nova organização. Em

1876, a Sociedade Mulçumana do Crescente Vermelho foi fundada no Império

Otomano, a Turquia dos dias atuais. Essa iniciativa humanitária estabelecida

por não-cristãos foi resultado da obediência cristã a Jesus."'

Na França, o Dr. Louis Pasteur (1822-1895), outro seguidor de Cristo,

foi um dos maiores biólogos de seu tempo. Kennedy escreve que a "pesquisa

em bacteriologia de Pasteur deu luz à pasteurização, esterilização e

desenvolvimento de vacinas contra a maior parte das doenças letais, entre elas

a raiva, difteria e o carbúnculo."' Milhares de pessoas em todo o mundo hoje

desfrutam de boa saúde porque Pasteur ouviu as palavras de Cristo para ajudar

os enfermos.

Depois da Guerra Civil americana, hospitais começaram a florescer nos

Estados Unidos, geralmente fundados por denominações ou igrejas individuais.

Suas raízes católicas e protestantes podem ser vistas em seus nomes ainda

hoje: Hospital Batista, Hospital Luterano, Hospital Metodista, Hospital

Presbiteriano, São João, São Lucas, Santa Maria e São José. "

A enfermagem médica também é um legado dos seguidores de Jesus.

Mesmo não havendo enfermeiras "profissionais" durante os primeiros anos da

era cristã, evidências "indicam que viúvas, diaconisas e virgens comumente

serviam como enfermeiras nos primeiros hospitais cristãos."'" Nos séculos

seguintes, comunidades religiosas cuidaram dos doentes e muitos dos hospitais

de hoje foram fundados por irmãs enfermeiras. Florence Nightingale (1820-

1910) é conhecida como a fundadora da enfermagem moderna. Cristã devota,

ela começou a liderar equipes

de

mulheres que cuidavam dos moribundos e

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Os domínios 1 285

Fundar ou trabalhar em algum empreendimento que ofereça serviços

de "cuidados diários" para aliviar pessoas que estejam cuidando de parentes

idosos, doentes ou deficientes ou voluntariar o seu tempo para ajudar familiares

que estejam cuidando de enfermos.

Voluntariar-se para participar de viagens missionárias de assistência

médica. Sempre há necessidade de médicos, enfermeiras, dentistas e equipe

de apoio.

Oferecer treinamento a profissionais da área médica em países em

desenvolvimento contribuindo para seu aperfeiçoamento.

Ofertar o seu tempo para cuidar dos doentes pobres em sua própria

comunidade.

Continuar a pesquisa na luta contra doenças, que ajuda a combater os

efeitos da Queda.

•Trabalhar para mudar as leis injustas na área de saúde, seja na condição

de advogado, político ou cidadão.

ARTE

Com exceção do islamismo, judaísmo e cristianismo, as grandes religiões

e filosofias mundiais defendem um mundo sem princípio, um mundo sem Criador.

Mas se o ato da criação não existe, de onde vem o impulso criativo que vemos

nas pessoas ao redor do mundo? Por que, então, existe música, escultura, drama,

poesia e pintura? Que estrutura pode explicar e dar sentido à criatividade da

humanidade? Em contraste a um mundo sem início, a linha de abertura da

narrativa bíblica explode nos anseios de artistas ao redor do mundo: "No princípio

Deus criou os céus e a terra" (Gênesis 1.1). Essas palavras revolucionárias

estabelecem o "enredo" da História. A metanarrativa que começa com essas

palavras cria um mundo muito diferente e um contexto muito diferente para

nossas vidas do que as histórias de outras cosmovisões. Entre outras coisas, ela

responde às questões de nossos anseios por desenhar, pintar, esculpir, compor

música e dançar.

Deus fez o ser humano à sua semelhança; e como tal, os seres humanos

tanto são fabricantes de palavras41 quanto fabricantes de arte.42 O autor inglês

J. R. R. Tolkien escreve que a arte é o "vínculo operativo entre a imaginação e

o resultado final, a Subcriação."

4 3

A maravilha do ser humano, a imago Dei, é que começando com o que

Deus forneceu, o homem é capaz de fazer novas coisas. O compositor pode

criar uma sinfonia que ninguém jamais ouviu. O pintor pode criar uma pintura

que nenhum olho jamais viu. O poeta pode escrever um poema que ninguém

jamais leu. Enquanto tudo isso é original, nada disso surpreende Deus.

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286 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

A HISTÓRIA DE MARY HOLMGREN

Na vocação que engloba ser esposa

de pastor, com seis filhos e doze netos,

Deus traçou em sua vida um chamado es-

pecial para cuidar dos doentes e idosos.

Através da vocação de uma mulher a servir

os idosos, Deus fez a si mesmo conhecido

na simplicidade.

Olhando a vida de Mary Holmgren,

surge um padrão. Ela se sentia à vontade

com os idosos ainda quando era

adolescente. Sua mãe dirigia uma casa de

repouso na residência da familia nos anos

de 1950. Essa foi uma das diversas

maneiras que a mãe de Mary sustentava a

família após ficar viúva - e ela contava com

a ajuda de Mary. Mary lembra que muitos

dos residentes da casa de repouso eram

como avós. Esse padrão de chamado na

vida de Mary continuou quando ela saiu de

casa. Após o Ensino Médio, enquanto

cursava graduação em serviço social, Mary

residiu com senhoras idosas que aceitavam

acompanhantes. Alguns anos mais tarde,

Mary casou-se com Alvin Holmgren e, como

esposa de pastor, tanto na juventude

quanto quando se tornou mais madura, ela

percebeu que seu trabalho estava sempre

relacionado com as muitas pessoas idosas

da congregação. Enquanto ela e Alvin

criavam uma jovem familia e cuidavam de

seus pópios pas, suacasa

frequentemente ficava cheia de visitantes

idosos e seus filhos se lembram de ter

passado horas em casas de repouso,

hospitais e funerais.

Posteriormente, quando a maioria de

seus filhos havia crescido, os Holmgrens

acomodavam e cuidavam de um amigo da

família que sofria de câncer ósseo em

adiantado estágio. Seguindo essa

experiência, enquanto pastoreavam, eles

decidiram abrir uma casa de repouso, um

modelo de assistência que estava se

reavivando na época. Eles reformaram uma

parte do primeiro andar da casa e fizeram

tudo o que era preciso para conseguir a

autorização do governo para funcionar.

Em certo momento, havia cinco

residentes vivendo com os Holmgrens.

Alguns residentes ficavam alguns meses;

outros se tornaram parte da família por

anos. Durante dez anos de operação da

atividade, Mary realizou muitas tarefas de

rotina. Ela visitava os residentes, preparava

três refeições por dia sem falta, ajudava as

pessoas a caminharem até o banheiro,

esvaziava cadeiras sanitárias, dava

banhos, aplicava medicações, atendia a

chamados no meio da noite e participava

de reuniões de associações para ficar a

par das regulamentações do governo e

para fazer novos clientes. Sobretudo, Mary

ficava em casa e disponível vinte e quatro

horas por dia; quando queria sair por alguma

razão, ela precisava pagar um substituto

qualificado. A rotina era ininterrupta, 24

horas por dia, 7 dias por semana, o que

afetou a família de maneiras desafiadoras.

Certamente podemos chamar o que Mary

fazia de trabalho. Mas era trabalho com um

propósito. A atividade tanto ajudou a

sustentar sua família quanto forneceu uma

alternativa familiar à assistência

institucional para vinte e nove pessoas.

Mary conhecia as histórias dos

residentes, de onde vinham e como haviam

passado suas vidas. la sabia o que

gostavam de comer e o que lhes deixava

nervosos. À vontade com os idosos de

uma maneira que muitas pessoas não ficam,

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Os domínios I 287

ela tratou as pessoas sob seu cuidado com

amor e respeito, como indivíduos, não de

maneira genérica como "idosos

simpáticos." Quando familiares e amigos

apareciam ou quando membros da igreja se

reuniam no lar dos Holmgrens para

comunhão u elebração, la

frequentemente convidava os residentes a

participar, ajudando-os a manobrar seus

andadores até a sala de estar da família.

Mary sabia que cuidar dos

residentes envolvia cuidar de suas famílias

mesmo que ela estivesse ocupada ou

cansada. Ela ouvia suas histórias e

preocupações, ajudando-os a lidar com o

processo de envelhecimento de seus

amados. Ela ouvia as histórias dos parentes

dos idosos. Para os residentes que

possuíam famílias atenciosas-quer filhos e

filhas, netos, irmãos, sobrinhos ou

sobrinhas-tudo se tornava familiar. Uma das

idosas, esposa de um dos residentes,

passava horas conversando com Mary toda

semana. Quando não conseguia mais viver

independentemente, ela mudou-se para a

casa de repouso dos Holmgren, já se

sentindo à vontade.

Talvez a parte mais singular do

trabalho de Mary ocorria quando os

residentes ficavam fracos ou doentes. Se

a hospitalização não funcionasse e fosse

possível para ela continuar a cuidar deles,

May pemtiaqueos idosos

permanecessem na casa, mesmo com o

aumento da carga de trabalho. Ao invés de

mandar as pessoas embora quando a morte

se aproximava, ela era capaz de oferecer

um ambiente familiar para os residentes e

suas famílias. A começar por seu amigo

com câncer, muitas pessoas faleceram no

lar Holmgren. Para Mary como profissional

da saúde e Alvin como pastor, ajudar as

pessoas no fim da vida era uma parte inte-

gral de seu chamado. O que era

incompreensível e assustador para as

pessoas havia se tornado corriqueiro para

eles, ainda que não banal. Confiantes no

aspecto sagrado da vida e de nossa

passagem para a próxima vida, eles foram

capazes de ajudar famílias a negociar tanto

os aspectos práticos quanto as emoções

da morte de um ente querido.

Para que fosse financeiramente

viável e oferecesse assistência de

qualidade, esse trabalho era extremamente

confinador, exigindo que Mary estivesse a

postos a maior parte do tempo. Mas ela foi

capaz de dedicar-se ao cuidado dos idosos

nesse período de sua vida, enquanto, por

uma série de razões, os familiares eram

incapazes de oferecer cuidado vinte e

quatro horas por dia aos seus entes

queridos.

Nos anos que vieram após Mary se

aposentar do trabalho na casa de repouso,

ela e Alvin cuidaram em sua casa de uma

pessoa idosa de sua família com esclerose

múltipla e não possuía condições de viver

sozinha. Agora com mais de setenta anos,

os Holmgrens enfrentam-antes do que

imaginaram-os mesmos desafios com os

quais, com graça e esperança, ajudaram

outros indivíduos e suas famílias. Conforme

sofrem com as mudanças progressivas

causadas pelo mal de Alzheimer em Alvin,

eles se apoiam no mesmo Deus que os

chamou à salvação em Cristo e os sustenta

em fé, o Deus que também os preparou e

os sustenta na Vocação.

Olhando essas duas vidas comuns

que Deus uniu, fica claro que, assim como

Deus preparou e chamou Alvin para a

Vocação como pastor, Deus também

preparou e chamou Mary para a Vocação

na qual ela continua a se fazer conhecida

em dias comuns e de maneiras simples.

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288 I VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Somos destinados a ser criadores. Como Edith Schaeffer escreve:

Somos criados à semelhança do Criador. Somos criados à imagem

de um Criador. Assim, somos, num nível finito, pessoas que podem criar.

Por que o ser humano tem criatividade? Por que o homem pode pensar em

tantas coisas com sua mente [imaginação], escolher e, em seguida, trazer

à existência algo que as outras pessoas possam experimentar com o paladar,

olfato, tato, audição e visão? Porque o ser humano foi criado à imagem de

um Criador. O homem foi criado para que pudesse criar. Ser criativo não

é perda de tempo. Não é desperdício dedicar-se a realizações artísticas e

cientificas com criatividade, porque foi para isso que o ser humano foi

feito."

O chamado às artes, como Schaeffer reconhece, ao início de tudo, à

criação. Assim como todas as vocações, a vocação do artista está ligada ao

nosso chamado coletivo a criar cultura. Assim como a cultura é uma

manifestação da adoração, toda arte pode ser dita religiosa, e não somente a

arte que trate explicitamente de um tema religioso. E assim como uma sociedade

individual tem vários graus de cultura do reino, cultura falsa

e cultura natural, o

mesmo pode ser dito da arte.'

Assim como a arte de cada cultura, a expressão criativa do povo de

Deus, Israel, refletia sua adoração. No mundo hebraico, restrições claras da lei

judaica determinavam como Deus poderia ou não ser retratado em sua arte.

Por exemplo, a Israel da antiguidade foi ordenada a não fazer imagens religiosas

que pudessem usurpar sua adoração a Deus." Entretanto, as pessoas eram

livres para ser artísticas de outras maneiras. Eles podiam basear nos recursos

da criação e nas leis da estética que Deus deu a todos nós. Certo escritor

aponta que Deus não proibiu todo tipo de arte representacional,

4 7 "os hebreus

antigos ainda estavam desconfiados em relação a fazer 'imagens' do tipo que

seus vizinhos adoradores da natureza veneravam como manifestações de seus

deuses. Isso não significa, como comumente se alega, que eles não faziam

arte. Enquanto os pagãos adornavam sua cerâmica e outros artefatos com

figuras de animais, seres humanos e deidades, os hebreus favoreciam desenhos

não representacionais. Padrões confusos, formas integradas e cores

agradáveis."

4

" Além disso, o Antigo Testamento evidencia que os judeus

preencheram a sua cultura com dança, música, poesia e canções em sua

adoração ao Deus vivo. As seções poéticas da Escritura como os Salmos e a

Canção de Salomão são testemunhos disso. Também vemos um exemplo

impressionante de criatividade artística no livro de Êxodo, onde Deus chama e

capacita diversos tipos de artesãos para a construção de seu tabernáculo (morada

para Deus) no deserto.' Quando esse grande empreendimento artístico foi

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domínio, I 289

concluído, Deus o abençoou ricamente com sua presença.'"

Com a exceção da cultura hebraica, a arte do mundo greco-romano na

qual Cristo entrou revelava a adoração do povo pelas coisas da criação,

retratando seus deuses e deusas

e as forças da natureza. O Infinito ou Divino,

no sentido em que judeus e cristãos entendem por 'Deus,' não era retratado,

pois o Deus transcendente não era parte de sua cosmovisão.

Desde a revelação de si mesmo em Cristo, os cristãos fielmente vivendo

suas vocações nas artes têm exibido a natureza de Deus, a natureza de sua

criação, e a natureza de seu povo. Eles têm contado a verdadeira história, a

história do Criador. Cynthia Pearl Maus, em seu livro Christ and the Fine Arts

[Cristo e as Belas Artes], escreve: "Mais poemas foram escritos, mais histórias

contadas, mais pinturas pintadas e mais canções cantadas sobre Cristo do que

qualquer outra pessoa na história humana, pois por essas avenidas a mais pro-

funda apreciação do coração humano pode ser expressa da maneira mais

adequada."5 1 Isso foi feito em toda a história da igreja de muitas maneiras e

formas, de simples "hinos e cânticos espirituais" registradas em Efésios 5.19, a

basílicas e catedrais da Europa, ao trabalho de Michelangelo.

Uma disciplina artística em que os cristãos em toda a história da

humanidade têm feito significativas contribuições é a música. Música que sirva

à Palavra de Deus tem sido criada para elevar a alma à Deus." O Papa Gregório

o Grande (c. 540-604) reestruturou a liturgia e a música da igreja, criando o

canto gregoriano. No início do século IX, "as óperas de igreja" (histórias bíblicas

transformadas em drama) eram escritas e cantadas próximo aos altares

franceses. Elas foram as precursoras das óperas que se desenvolveram

quinhentos anos mais tarde durante a Renascença."' E no século XI, um monge

chamado Guido de Arezzo (c. 990-1050) tornou-se o "pai da notação musical

moderna." A partir daí, a música ocidental foi liberta da dependência da tradição

oral, um passo crucial para transformar a música em "linguagem escrita."'

Muitos hinos grandiosos, como "Castelo Forte é o Nosso Deus" de

Martinho Lutero, vieram do período da Reforma. George Frideric Handel (1685-

1759), seguidor de Cristo, deu ao mundo o Messias, que ele escreveu em menos

de um mês, dizendo estar sob inspiração de Deus.' E o renomado Johann

Sebastian Bach (1685-1750), considerado "pai da música moderna," também

era cristão. Para Bach, a música era um ato de adoração. Em todos os seus

manuscritos e partituras podem-se encontrar as seguintes anotações: "S. D.

G", sigla de Soli Deo gloria, que significa "Glória somente a Deus"; "J.J.", Jesu

Juban, que quer dizer "ajuda-me, Jesus"; e "I.N.J" para In Nomine Jesu, que

quer dizer "no nome de Jesus."'

A música é apenas uma faceta do trabalho criativo dos cristãos nas

artes. Os cristãos lideraram as artes no passado e podem

liderar novamente.

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290 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Para isso ocorrer, o corpo de Cristo deve reconhecer que a arte é um dom de

Deus. Os artistas não precisam de outra justificativa além do fato de serem

chamados às artes. Existem, é claro, muitas justificativas válidas; o filósofo

grego Platão resumiu a importância das artes para moldar o futuro de uma

nação: "Dê-me as canções de uma nação e não fará diferença quem escreve

suas leis."' Entretanto, na raiz, não é necessária nenhuma outra validação

além do chamado de Deus.

Infelizmente, contrariando uma cosmovisão bíblica, muitos artistas têm

A HISTÓRIA DE STEFAN EICHER

Stefan Eicher é um artista da Índia.

Ele é muito consciente das injustiças

perpetuadas contra os pobres por causa

do sistema de castas hindu e sobre as

mulheres, por serem do sexo feminino e

consideradas muito inferiores aos homens.

Para ele, amar a Deus e amar ao próximo

através de seu trabalho assumiu diferentes

formas ao longo de sua viagem, finalmente

o levando a uma vocação que ele não

previu. Aqui ele conta a história de como

ele encontrou o seu chamado e uma

conexão entre arte, fé e justiça.

Estudei física na faculdade por ser,

de todas as ciências, a mais fácil para mim.

O fato de sentir que eu somente tinha as

ciências a escolher teve muito a ver com a

história de três gerações de trabalho

missionário de minha família na Índia.

Estudar ciências parecia legítimo porque o

único precedente havia sido a escolha de

meu irmão de estudar biologia na faculdade.

Eu era grato pela história que minha família

traçou nessa nação, como também por meus

pais me ensinarem a crer em Deus e serem

modelos de amor pelas pessoas, mas

quando entrei na faculdade, o fiz com a

decisão de que eu me desassociaria daquilo

que era, e ainda é, amplamente chamado

de "ministério em tempo integral," em outras

palavras, ser evangelista e pastor.

Em meu último ano de faculdade vim

a conhecer o conceito de trabalho de

desenvolvimento cristão e fiquei

entusiasmado com a ideia de que Deus nos

chama a servir os pobres, pois havia visto

o crescimento da pobreza. Na realidade,

fiquei entusiasmado de que havia

oportunidades de fazê-lo profissionalmente

em um "emprego real," sem ter que "levantar

recursos" como via meus pais terem que

fazer.

Após sete anos de trabalho com uma

agência de socorro e desenvolvimento, eu

tive um esgotamento e tirei um sabático. Uma

de minhas orações em relação a minha

recuperação era que Deus me desse

oportunidades de ser criativo pois desde

minha infância eu amava arte. Finalmente

tive a oportunidade de estudar arte na

faculdade, junto com física, e o ateliê me

forneceu grande alívio do laboratório de

física. Durante meu sabático, um grupo de

quatro antigos colegas de arte decidiu se

reunir para uma semana de comunhão em

que escolhêssemos o tema e pintássemos

a partir da perspectiva de nossa fé; a

semana terminava com uma exibição na qual

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Os domínios 1 291

pouco apoio ao seu chamado e, frequentemente, são desencorajados por suas

igrejas, pastores e colegas cristãos. Com

muita frequência a igreja abandona o

seu rico chamado às artes em favor de um tipo de superespiritualidade. Para a

arte ter algum valor em muitos círculos evangélicos, ela tem que tratar

explicitamente e de forma inequívoca de temas espirituais e religiosos. Ela pode

ser justificada se for empregada na adoração e evangelismo. Fora disso, há

pouco espaço para o artista cristão ser artista. Existe também pouco entendimento

e espaço para o cantador de baladas"-o artista profético-falar ao mundo.

vendíamos nossas pinturas. A semana foi

uma experiência tão profundamente

satisfatória que se tornou um evento anual

e deu um nome ao nosso grupo: A

Sociedade Limner.

Em meu trabalho eu havia mudado

de saúde comunitária para tentar

diretamente fazer as igrejas responderem

aos pobres e, ainda assim, fiquei

crescentemente animado com a ideia dos

artistas serem discipuladores de nações.

Certo dia enfrentei um dilema ao descobrir

que o encontro anual da Limner estava

agendado na mesma semana que um

importantíssimo retiro de planejamento da

equipe de treinamento de nossa igreja.

Fiquei entre a cruz e a espada em relação

ao que fazer. O líder de minha equipe

asseverou que se eu tivesse claro em

relação ao meu chamado, essas decisões

menores fluiriam naturalmente. Ele

recomendou que eu tirasse o dia de folga e

perguntasse a Deus. Sentado em minha

cadeira de balanço, senti, pela primeira vez

em minha vida, que quando Deus olhava

para mim, ele via um artista. Jamais havia

pensado nisso, pois isso ia contra o que as

pessoas a vida inteira consideravam

"importante," "urgente," ou "espiritual."

Também tive uma visão de que, se me

trancasse naquele quarto e passasse os

próximos trinta anos pintando imagens de

Jesus no "aqui e agora" da Índia,

simplesmente para me ajudar a conhecê-lo

melhor e ninguém jamais visse essas

pinturas, minha vida seria um completo

sucesso. Desnecessário dizer, mas acabei

indo para o encontro de arte ao invés do

retiro para planejamento. Desde então

comecei a organizar um encontro anual na

índia intitulado "Consciência Criativa,"

baseado na Sociedade Limner, em que

artistas seguidores de Cristo pintavam

acerca das questões sociais com uma

cosmovisão bíblica e, em seguida,

compartilhavam seu trabalho com o público.

Meu desejo de pintar somente

cresce, assim como minha convicção que

da mesma maneira que a igreja se interessa

pelo evangelismo por causa do amor pelos

perdidos, ou pelos ministérios de alcance

social devido ao cuidado de Deus com os

pobres, a igreja também deveria separar

recursos e pessoal para criar arte, pois

Deus é o Criador. Tenho uma visão de

começar uma fundação de artes que crie

espaços para que os artistas seguidores

de Cristo na Índia possam praticar a arte,

descobrir seus chamados e conectar a sua

arte, sua fé e as realidades de um mundo

corrompido à sua volta. E isso me permitiria

pintar

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292 I VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Essa é outra consequência da mentalidade sagrado-secular: que a igreja

perpetua a idéia de categorias estreitamente definidas de "arte religiosa" e "arte

cristã," truncando o chamado dado por Deus às pessoas. O romancista e escritor

de histórias Flannery O'Connor, católico devoto, vê o problema tanto do ponto

de vista bíblico quanto artístico:

O próprio termo "romance católico" é, obviamente, suspeito e as

pessoas que são conscientes de suas complicações não o usam exceto

entre aspas. Se eu tivesse que explicar o que é um "romance católico",

somente poderia dizer que é um romance que representa a realidade

adequadamente como a vemos manifestada nesse mundo de coisas e

relacionamentos humanos

Igreja que vemos, mesmo a Igreja univer-

sal, é um pequeno segmento de toda a criação. . . . Toda a realidade é o

reino de Cristo em potencial e a face da terra espera ser recriada por seu

espírito. Isso tudo significa que, o que chamamos de romance católico,

não é necessariamente sobre um mundo cristianizado ou catolizado, mas

simplesmente que é um mundo em que a verdade conhecida pelos cristãos

foi utilizada como luz para que se veja o mundo através dela. Esse pode ser

um mundo católico ou não e pode ter sido visto ou não por um católico."

5

'

O escopo do trabalho do artista é a realidade como um todo. É o reino de

Cristo em potencial; é a "face da terra." O que o distingue é a cosmovisão.

Por outro lado, o termo arte cristã, geralmente, traz à mente uma subcultura

de trabalho inferior, quer seja ficção, pintura ou música. Em seu ensaio "Por

que Trabalhar?" a escritora inglesa Dorothy Sayers diz:

Em seus próprios prédios, em sua própria arte e música eclesiástica,

em seus hinos e orações, em seus sermões e em seus livrinhos de devoção,

a igreja tolera, ou permite uma intenção piedosa para desculpar trabalhos

tão feios, tão pretensiosos, de tão baixa qualidade e assuntos tolos, tão

insinceros e insípidos, tão ruins que chocam e horrorizam qualquer artista

decente. E por quê? Simplesmente porque perdeu todo o senso do fato de

que a verdade viva e eterna é expressa em obra somente na medida em que

o trabalho é verdadeiro em si, para si, e para os padrões de sua própria

técnica. Ela se esqueceu de que a vocação secular é sagrada. Esqueceu

que uni prédio tem que ter uma boa arquitetura antes de ser uma boa

igreja; que uma pintura tem que ser bem pintada antes de ser uma boa

imagem sacra; que o trabalho tem que ser bom antes que possa ser chamado

de uma obra de Deus.

Que a Igreja lembre isto: que todo construtor e trabalhador é

chamado a servir a Deus em sua profissão ou área-não fora dela?'

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Os (101111'17i0.S' 1 2 9 3

O'Connor lança luz sobre esse ponto. Após falar sobre aqueles que

conscientemente distorcem seus talentos em troca de popularidade ou dinheiro,

O'Connor diz:

Com muita frequência, penso eu, vemos pessoas que distorcem os

seus talentos em nome de Deus, por razões que acham ser boas-para

reformar ou ensinar ou levar as pessoas à Igreja. E é muito menos fácil se

dizer que isso é repreensível. Nenhum de nós é capaz de julgar tais pessoas,

mas devemos, em nome da verdade, julgar os produtos que fazem. Devemos

considerar se esse ou aquele romance retrata verdadeiramente o aspecto

da realidade que se propõe a retratar O romancista que, deliberadamente,

abusa de seu talento para algum bom propósito, pode não estar cometendo

pecado algum, mas, certamente, está caindo em um a grave contradição,

pois está tentando refletir Deus em algo que equivale a unia inverdade

prática.

Romances m al escritos-não importa o quão piedosos e edificantes

seja o comportamento dos personagens-não são bons em si mesmos e,

portanto, no findo não são realmente edificantes.'

O'Connor continua, reconhecendo que Deus pode usar trabalhos ruins,

mas aponta que fazer isso é prerrogativa de Deus, não dos seres humanos.

Infelizmente, existe uma pobreza estética na igreja que também é

encontrada na cultura como um todo. A "arte cristã" também deixa a desejar

em relação à natureza encarnada e sacramental que pode conter verdade, beleza

e mistério. Conforme a cultura ocidental vira às costas para o Deus Vivo, ela

se torna utilitária em imaginação e gosto. O mundo moderno faz perguntas

pragmáticas: "Vai funcionar?" ao invés de "É verdadeiro?" "É de valor" ao invés

de "É bom?" e "É funcional?" ao invés de "É belo?"

Em meio à riqueza material, o Ocidente de hoje está, em muitos casos,

moral, espiritual e esteticamente falido por termos abandonado o Deus Vivo e a

beleza de sua santidade. Conforme nos distanciamos de um padrão objetivo de

beleza encontrada na beleza e santidade de Deus para um padrão sedimentado

em relativismo, a beleza passa a estar "nos olhos de quem vê."

Essa falência na cultura geral tem se disseminado dentro da igreja. Mesmo

ainda havendo uma forma de espiritualidade ou, em alguns casos, de religiosidade,

a igreja hoje está tomada pelo gnosticismo grego, que leva ao anti-intelectualismo,

aumento da imoralidade e ao antiesteticismo. Como a igreja no Ocidente vive

em uma cultura pós-cristã que nega o Deus da Verdade, Bondade e Beleza, ela

assume os valores da cultura geral. Tanto a igreja quanto o mundo precisam da

visão e liderança dos cristãos nas artes que entendam a natureza de Deus e de

sua criação.

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294 I

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

Nossos Chamados Hoje

Comprar obras de arte originais para encorajar e apoiar os artistas

cristãos.

Criar formas de arte que reflitam a natureza de Deus e sua criação.

Levar beleza a ambientes comuns e simples como casas e escritórios.

Fundar escolas onde todas as formas de arte e teologia bíblica são

fundidas, de maneira que a arte possa ser tanto para glória de Deus quanto

para o avanço do reino.

Tornar nossos locais de adoração mais belos e instigantes ao pensamento

e menos utilitários.

Promover aulas de arte e história da arte em escolas.

Escrever e produzir boas peças de grandes temas bíblicos.

Plantar lindos jardins de flores.

Promover o uso da arte em espaços públicos como parques, centros de

convenções e salões de concerto.

Engajar-se pessoalmente em alguma forma das artes: escrever poesia

e prosa; compor, tocar ou cantar música; pintar; esculpir ou dançar.

Encorajar seus filhos a desenvolver suas habilidades criativas.

A HISTÓRIA DE MAKOTO FUJIMURA

Makoto Fujimura é um pintor

americano cujas obras estão expostas em

todo o mundo. Ele mora no local onde um

dia havia a sombra do World Trade Center.

No dia 11 de setembro ele ficou preso no

metrô abaixo do Marco Zero. O ataque

deixou Makoto, sua esposa e três filhos sem

onde morar por três meses. Seus filhos fo-

ram resgatados de suas escolas por

bombeiros logo antes de as torres

desabarem.

Como ser humano, artista e cristão,

como Fujimura responderia aos eventos de

11 de setembro e a subsequente

experiência de suas devastadoras

consequências? A tragédia levantou

profundas questões para Fujimura sobre o

sentido de sua vida e o significado da arte.

Ele se perguntou: "Será que Nova Iorque é

como a Babilônia ou Jerusalém'?" Como

posso permanecer fiel nessa situação,

mesmo em meio a escombros?"'

Ele escreveu para amigos:

"Devemos criar e responder a esse

momento negro. O mundo precisa de

artistas que se dediquem a comunicar as

imagens de Shalom. Jesus é a Shalom."

Como um artista cristão comunica a Paz

Shalom em meio à guerra? Entre as

respostas à tragédia estava a exibição de

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Os domínios

1 295

pinturas abstratas de Fujimura chamada de

"Chamas de Água." Fujimura descobriu que

o caminho para a Paz em um mundo caído é

através do fogo; ele encontrou o tema de

seu trabalho nas obras dos poetas Dante e

T. S. Eliot.

Uma raridade na cultura

contemporânea, Fujimura é tanto cristão

quanto um dos artistas visuais mais

proeminentes dos Estados Unidos. Ele

introduziu na arte abstrata moderna a

antiga técnica japonesa nihonga, a qual

ele passou seis anos estudando no Japão.

Ele também introduziu temas de beleza e

verdade, redenção e cura. Fundador do

Movimento Internacional das Artes e

presbítero em uma igreja presbiteriana em

Greenwich Vil lage, Fujimura reconhece

que alguns críticos "não sabem em que

prateleira categorizar as minhas obras.

Eles conseguem enxergar a óbvia

dimensão religiosa. Mas, mesmo que eles

gostem, meu trabalho está fora de sua

semântica

omo ríticos

contemporâneos." Ainda assim, seu

trabalho é altamente respeitado no mundo

da arte e ressoa tanto junto às plateias

seculares quanto cristãs.

Greg Wolfe, editor do jornal literário

e de artes Image, diz que Fujimura demonstra

à cultura corrente que "a arte que lida com

a realidade da experiência tradicional em

um contexto bíblico, pode ser tão boa quanto

qualquer coisa que alguém possa estar

produzindo em artes visuais", ao mesmo

tempo em que desafia os cristãos "a terem

mais discernimento, conforme somos

chamados pelo Apóstolo Paulo a aprender

a discernir os sinais dos tempos."

O Movimento Internacional de Artes

de Fujimura se dedica a encorajar a arte

reflexiva em meio à sociedade moderna.

Sua liderança nas artes foi reconhecida

pela comenda presidencial ao Conselho

Nacional de Arte. Em dezembro de 2005, a

revista World conferiu a Makoto Fujimura

sua capa, como "Daniel do Ano", por

restaurar o bom nome da arte entre os

cristãos e por dar aos cristãos um bom

nome nas artes.

Em uma entrevista ao Instituto

MacLaurin, perguntaram a Fujimura como

ser artista contribuía para seu entendimento

do caráter de Deus. Ele respondeu: "Deus

é o Criador perfeito e nós somos 'pequenos

criadores.' A Bíblia, de Gênesis a

Apocalipse, deixa bem claro que o caráter

de Deus é definido por seu amor pelo

mundo e pela graça que opera através de

pessoas quebrantadas. Ser artista faz o

indivíduo perceber como o amor de Deus

está incorporado na criação e em nossa

criatividade." Fujimura vê que, além de a

igreja negligenciar a estética, existe uma

profunda questão teológica em operação

que não permite que o todo de nossa

humanidade seja integrado em nossa vida

e adoração." Nossa esperança para

"recuperar a arte e a criatividade na igreja,"

diz ele, está em "redescobrir o evangelho

holístico."

Mais informações sobre a

fascinante história e arte de Fujimura estão

disponíveis no artigo de capa da World

intitulado "Art Aflame." [A Arte em Chamas]

por Mindy Belz."2

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296 I

VOCAÇÃO: Escreva

.ma assinatura no universo

ATIVIDADE ECONÔMICA

Neste livro tentamos desenvolver uma visão bíblico-cristã do trabalho

que é. obviamente, algo ligado à atividade econômica. Muito já foi dito sobre

economia, mas eu quero mencionar algumas outras ideias essenciais sobre esse

domínio e sua ênfase e importância em toda a história cristã.

Como aprendemos, o ser humano foi feito para empreender, para a

atividade econômica pessoal. É por isso que me refiro ao ser humano como

homo oikonomia - "homem econômico." Os seres humanos, feitos à imagem

de Deus, foram feitos para os negócios. Dennis Peacocke escreve em Doing

Business God's Way [Fazendo Negócios à Maneira de Deus], "A maneira que

Deus administra sua Criação O qualifica como o mais proeminente e produtivo

homem de negócios de todos."" Em outras palavras, a humanidade foi feita

para se unir a Deus no empreendimento de construir o reino.

Infelizmente, ao invés de nos unirmos ao empreendimento de Deus, nosso

trabalho e atividade econômica no mundo moderno são, geralmente, marcados

por pessoas e corporações que correm apressadamente para fazer cada vez

mais dinheiro enquanto desperdiçam os recursos conhecidos da natureza.

Através dessa atitude antiética podemos ver até onde as sociedades se

distanciaram de um entendimento bíblico sobre a moderação e prudência que

devem cercar a atividade econômica. É uma confirmação do ensinamento do

Novo Testamento de que "o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males" e,

assim, as pessoas "têm se atormentado com muitos sofrimentos" (1 Tm 6.10).

Tiago também tem palavras duras para os ricos cujo amor é o dinheiro,

ao invés de Deus:

Ouçam agora vocês, ricos Chorem e lamentem-se, tendo em vista a

miséria que lhes sobrevirá. A riqueza de vocês apodreceu, e as traças

corroeram as suas roupas. O ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a

ferrugem deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a

carne. Vocês acumularam bens nestes últimos dias. Vejam, o salário dos

trabalhadores que ceifaram os seus campos, e que por vocês foi retido com

fraude, está clamando contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos

ouvidos do Senhor dos Exércitos. Vocês viveram luxuosamente na terra,

desfrutando prazeres; (Tiago 5.1-5a)

Veja que Tiago não está repreendendo as pessoas simplesmente por serem

ricas. Afinal de contas, Deus chama algumas pessoas para serem muito ricas,

e elas podem ser bons mordomos dessa riqueza. Tiago está, particularmente,

repreendendo aqueles que praticam o que chamamos hoje em dia de políticas

injustas de emprego, particularmente deixando de pagar salários justos. Eles

conseguem sua riqueza através de meios injustos (veja v. 4.).

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Os domínios' 1 297

A história está cheia desses exemplos. Pense no que muitas empresas

de petróleo fizeram em países em desenvolvimento. Assinaram contratos com

governos corruptos permitindo que as empresas de petróleo extraíssem valiosos

recursos nacionais com pouquíssimo retorno para os trabalhadores dos campos

de petróleo e para a nação. Pense na exploração de trabalhadores no mundo

em desenvolvimento, onde os menores salários são pagos a pessoas que

trabalham praticamente como escravos para suprir a parte mais rica do mundo,

inclusive muitos de nós, com vários tipos de produtos (geralmente não essenciais).

Hoje, o mundo Ocidental é culpado de muita injustiça, comportamento e políticas

antiéticas na esfera econômica. Conforme o mundo pós-cristão avança,

presenciamos um crescente vácuo de padrões morais. A quebra da Enron em

2001 e a falência da Global Crossing em 2002 são exemplos do aumento dessa

ganância e corrupção nos níveis mais altos da vida corporativa. A crise imobiliária

de 2007 e 2008 é um reflexo de práticas de empréstimo corruptas baseadas na

maximização dos lucros e sem restrições morais.

Já que o homem é ser econômico, o objetivo do cristão deve ser resgatar

a esfera econômica através da aplicação de princípios bíblicos de economia.

As Escrituras estão cheias de provérbios, parábolas e profecias relacionadas

com a atividade econômica. Além de passagens específicas, a Bíblia hebraica

reflete uma metafísica em que o mundo físico é honrado como criação de

Deus, afirmando o valor do nosso trabalho neste momento e lugar. De acordo

com a Escritura, ao longo da história os cristãos têm contribuído de forma

significativa na esfera econômica.

O próprio Jesus trabalhou nesse domínio. Não sabemos quanto dinheiro

Jesus ganhou quando trabalhou como carpinteiro ou o que ele fez com esse

dinheiro. Mas podemos supor que, assim como ele cumpriu obediência às leis

de Deus em todas as outras esferas, ele o fez na sua vida econômica. Usando

suas ferramentas de carpinteiro - formões, serras, plainas e martelos - Jesus

dignificou o trabalho, mesmo com unhas sujas e mãos calejadas. E quando ele

entrou em seu ministério aos trinta anos, ele usou várias lições, histórias e

parábolas sobre a vida econômica para ilustrar verdades eternas sobre o reino.

O Apóstolo Paulo, também, entendia a necessidade da atividade

econômica moderada e prudente. Ele entendia claramente a visão de Deus da

esfera econômica. Sabemos que, durante vários períodos do seu ministério

público, que durou décadas, Paulo não considerou algo inferior dedicar um pouco

do seu tempo aos trabalhos manuais. Na verdade, as Epístolas demonstram

várias vezes o trabalho do dia-a-dia de Paulo através do qual ele ajudou a

sustentar sua própria vocação financeiramente. Atos 18.3 revela que Paulo

trabalhou como fabricante de tendas, uma profissão que ele aprendeu

provavelmente nos seus primeiros anos em Tarso, sua cidade natal. Uma vez

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298 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

que as tendas eram geralmente feitas de couro, isso significava que Paulo teve

de ser treinado como coureiro. E parece que Paulo trabalhou nessa função

regularmente. "trabalhamos arduamente com nossas próprias mãos", escreveu

Paulo (1 Cor. 4:12). E em 2 Tessalonicenses 3:7-10 lemos:

Pois vocês mesmos sabem como devem seguir o nosso exemplo,

porque não vivemos ociosamente quando estivemos entre vocês, nem

comemos coisa alguma à custa de ninguém. Pelo contrário, trabalhamos

arduamente e com fadiga, dia e noite, para não sermos pesados a nenhum

de vocês, não por que não tivéssemos tal direito, mas para que nos

tornássemos um modelo para ser imitado por vocês. Quando ainda

estávamos com vocês, nós lhes ordenamos isto: se alguém não quiser

trabalhar, também não coma.

A HISTÓRIA DO GRUPO MANTHEI

O empresário Jim Manthei escreve:

O Grupo Manthei consiste de seis

irmãos e primos que cresceram juntos no

norte de Michigan. Fomos criados em duas

famílias que possuíam sociedades

comerciais e uma forte fé cristã. No final

dos anos de 1960, seis de nós resolveram

investir e trabalhar em grupo. Acreditávamos

que trabalhando em equipe e entendendo

os dons uns dos outros, poderíamos atingir

mais do que se trabalhássemos

individualmente. Hoje temos negócios que

incluem manufatura de folheados, parques

veiculares recreativos e casas móveis,

desenvolvimento de terras, construções

pré-fabricadas, construção de estradas e

produtos comercializados internacional-

mente para cobertura de solos. Todos nós

somos crentes em Cristo e compartilhamos

um objetivo comum de divulgar as boas no-

vas.

Na condição de cristãos, os

membros do Grupo Manthei servem

individualmente vários projetos missionários

e estão profundamente envolvidos com

missões transculturais. Ganhar dinheiro e

doá-lo ao campo missionário internacional

foi a maneira na qual fomos criados, então,

isso acontece naturalmente em nossas

vidas. Muitos cristãos têm corações

desprendidos e são fiéis apoiadores de

missões. Para nós, o maior desafio tem

sido aprender a integrar nossa fé às nossas

vidas diárias no trabalho entendendo que o

aspecto "secular" do trabalho é, na

realidade, parte do chamado sagrado que

Deus colocou em nossas vidas.

Creio que o que nos ajudou a

crescer nesse caminho mais do que

qualquer outra coisa foi lidar com lutas

pessoais travadas nos relacionamentos

dentro de nosso grupo. Nós, seis,

começamos a nos reunir, bissemanalmente,

com um pastor local e vários de nossos

filhos envolvidos em nossas empresas.

Fizemos um curso chamado de Gospel

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Os domínios

1 299

Avançando na história da igreja, o monge franciscano frei Luca Pacioli,

teólogo e matemático, publicou um livro em 1494 sobre a ciência e a teologia da

matemática. Nele, ele escreveu um capítulo que estabeleceu a contabilidade de

dupla entrada, um método em que uma transação é inscrita como um débito

para uma conta e um crédito para outra, a fim de que os totais de débitos e

créditos sejam iguais. O pai da contabilidade moderna escreveu que as pessoas

devem se envolver em transações econômicas "em nome de Deus.' A respeito

desse humilde seguidor de Cristo, Kennedy escreve: "A metodologia que ele

desenvolveu mudou o futuro dos negócios para sempre e levou ao

desenvolvimento de planilhas. Sua engenhosa equação contável de "Ativos =

Passivos + Patrimônio do proprietário" é usada até hoje em todo o mundo."

6 5

Transformations [Transformações pelo

Evangelho] que nos ajudou a entender o

quanto somos maus e o quão Deus é bom.

Após isso, passamos vários meses

estudando uma série em vídeo chamada de

On Earth as It Is in Heaven [Assim na Terra

como no Céu], ministrada por Darrow Miller

e Bob Moffitt. Através desse estudo,

crescemos em entendimento do chamado

de Deus para nossas vidas, que é sermos

modelos de Cristo em nossa comunidade

local. Em seguida, estudamos um livro de

Gregory Boyd, Repenting of Religion: Turn-

ing from Judgment to the Love of God

[Arrependendo-se da Religião: Rejeitando

o Julgamento e abraçando o Amor de Deus].

Como resultado desse tempo de

crescimento, o Grupo Manthei decidiu

fundar uma clínica em nossa comunidade

para ministrar a nossos empregados e suas

famílias. Temos uma enfermeira que

trabalha em tempo integral e dois médicos

que dão meio expedientes. Oferecemos

assistência médica gratuita, ensinamos

princípios de nutrição e proporcionamos

aconselhamento financeiro e familiar.

Inicialmente, muitos empregados ficaram

desconfiados, pensando que estávamos

tentando invadir suas vidas pessoais. Mas

a clínica cresceu e temos servido muitas

pessoas e ajudado diversas delas a

mudarem suas vidas. Essa tem sido uma

maneira de honrar nossos funcionários e

mostrar-lhes que nos importamos com eles

e que Deus se importa com eles. Agora

estamos começando a ter mais

envolvimento intencional em nossa

comunidade local, doando, servindo e

ajudando a alcançar os objetivos da

comunidade. Queremos construir pontes

com nossa comunidade, sendo sensíveis

ao direcionamento do Espírito Santo. Nosso

objetivo é usar nossas vidas e negócios

para servir a Deus através do serviço às

pessoas.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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300 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

O mundo econômico que hoje conhecemos também foi grandemente

moldado pelo reformador protestante João Calvino. Kennedy escreve sobre a

contribuição de Calvino para a mudança econômica: "Calvino tirou o dinheiro

do cativeiro em que havia sido mantido durante séculos, e ele liberou o poder

que o capitalismo produziu:

6 6

As idéias de Calvino foram parte de um movimento econômico muito

maior, que varreu os países influenciados pela Reforma Protestante. Na verdade,

é a cosmovisão bíblica recuperada pelos reformadores que os historiadores

econômicos têm reconhecido como um importante fator no desenvolvimento

da "classe média" da sociedade. Antes da Reforma na Europa, a esmagadora

maioria das pessoas ao redor do mundo era pobre. A maioria de todos os povos

e nações eram, para usar a linguagem moderna, subdesenvolvidos. Havia poucas

pessoas ricas, incluindo as famílias reais, chefes tribais, alguns agentes políticos,

alguns proprietários privados, comerciantes bem sucedidos, e mercantilistas,

que controlavam o comércio. Mas, essencialmente, todo o restante era pobre;

alguns eram servos, vassalos ou escravos.

Depois da Reforma, nos países do norte da Europa que foram tocados

pelos reformadores, muitos foram retirados da pobreza. Pela primeira vez na

história da humanidade, havia uma classe média, de tamanho significativamente

grande, para se tornar um importante setor da sociedade. Essas pessoas não

eram nem pobres nem tão ricas, mas participantes da economia do país, completos

o bastante para desfrutar tanto de oportunidades mais amplas e terem uma

influência significativa sobre a vida da nação.

Que conteúdo dos ensinamentos da Bíblia tirou nações inteiras da

pobreza?

Em seu livro The Wealth and Poverty of Nations [A Riqueza e a Pobreza

das Nações], o historiador econômico David S. Landes levanta a questão: "Por

que alguns países são tão ricos e alguns tão pobres?" Landes mostra a forte

influência das culturas chinesa e islâmica e pergunta por que eles não produziram

a dinâmica retirada de nações inteiras da pobreza da maneira que o experimento

econômico da Europa o fez. Ele atribui isso aos "valores religiosos" ou cosm ovisão

judaico-cristãs. Landes escreve:

Diferentes estudiosos sugeriram várias razões, geralmente

relacionadas a valores religiosos:

I. O respeito judaico-cristão pelo trabalho manual. . . .

2. A subordinação da natureza judaico-cristã ao homem. Isso é uni

abandono às crenças e práticas animstas que viam algo de divino em

todas as árvores e córregos (daí os termos náiades e dríades). Os

ecologistas de hoje podem pensar que essas crenças animistas são

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Os domínios

1 301

preferíveis, mas ninguém dava atenção ao culto pagão à natureza na

Europa cristã.

3.

A percepção judaico-cristã de tempo linear. Outras sociedades

pensavam no tempo como cíclico, voltando a estágios anteriores e

começando de novo, o que implicava em nenhum progresso na história e

nenhum sentido do trabalho para o ser humano. O tempo linear é

progressivo ou regressivo, avançando para coisas melhores ou decaindo

de estágios anteriores e mais felizes. Para os europeus, desde a época

medieval até os nossos dias, a visão progressista prevaleceu.

4.

Em última análise, no entanto, gostaria de destacar o mercado.

O

empreendedorismo era livre

na Europa. A inovação funcionava e

compensava, e os governantes e interesses pessoais eram limitados na sua

capacidade de impedir ou desencorajar a inovação. O sucesso gerava

imitação e reprodução; além disso, havia um senso de poder que, em

longo prazo, elevava

as pessoas quase ao nível de deuses

¡grifo ~111'7

Assim, a diferença, de acordo com Landers era a cosmovisão religiosa:

a dignidade do trabalho, a humanidade tendo domínio sobre a criação, a história

progredindo para algum lugar e um mercado livre. Landes acertou os três

primeiros, mas, em minha opinião, entendeu o quarto ponto ao contrário. A

visão elevada do ser humano não foi resultado do empreendedorismo; foi o

conceito bíblico de uma perspectiva elevada do ser humano-a imagem de Deus-

que levou ao empreendedorismo. O ser humano é o criador, inovador, inventor

e artista secundário. São esses elementos de cosmovisão (além de outros) que

tiraram as nações da pobreza.

Dois outros economistas políticos e sociais de dois séculos diferentes

têm articulado a tese de que o desenvolvimento econômico tem mais a ver com

a mentalidade e os valores do que com recursos naturais: Max Weber (1864-

1920) da Alemanha e Michael Novak (1933-present) dos Estados Unidos.

Primeiro, vejamos Weber.

Max Weber viveu na Alemanha durante o mesmo século que Karl Marx

(1818-1883). O mundo conhece o nome de Karl Marx por causa do marxismo

e de seu movimento social e econômico, agora desacreditado, conhecido como

comunismo. Poucas pessoas fora do campo da sociologia sabem quem foi

Max Weber. Entretanto. ambos tinham interesse em filosofia social e econômica.

Marx, como materialista completo, acreditava em um modelo econômico

de sistema fechado e soma zero,68 onde o homem é um consumidor e os recursos

são limitados. Se algumas pessoas têm mais recursos do que outras, é porque

elas os têm roubado, de uma maneira ou de outra. O sistema sócio-econômico

de Marx foi feito para resolver esta discrepância, mas no final do século XX, o

mundo presenciou o colapso da ordem comunista. O sistema entrou em colapso

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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302 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

porque as ideias sobre as quais foi fundamentado não eram válidas.

Max Weber tinha o mesmo interesse que Marx, mas estava trabalhando a

partir de um conjunto diferente de suposições econômicas. Weber entendia que o

sistema era aberto e acreditava em um modelo econômico de soma positiva. Ele

entendia que ideias têm consequências. Ele fez a observação de que havia uma

ética do protestantismo que dava dignidade ao trabalho do ser humano. Essa

ética protestante foi ensinada dos púlpitos da R eforma. À medida que os princípios

éticos foram aplicados pelas massas, a cultura foi transformada e novos sistemas

político e econômico foram desenvolvidos para refletir esses princípios.

A Reforma não só trouxe mudança para a igreja, mas também na cultura

européia que, por sua vez, transformou nação após nação-um processo que,

quinhentos anos mais tarde, fez florescer a economia global. Hoje, uma mudança

na cosmovisão dos países escravizados pela pobreza pode certamente causar

um impacto sobre o desenvolvimento e clima econômico das nações.

Da mesma forma, pode-se argumentar que a livre iniciativa tem um poder

revolucionário de impactar nações atoladas em opressão e injustiça e que, por

sua própria natureza e para sua própria sobrevivência, as empresas devem

trabalhar para esse fim. O escritor e filósofo econômico Michael Novak

argumenta que as empresas precisam não apenas trabalhar a partir de um

quadro moral, mas também contribuir para um clima moral na cultura, cultivando

virtudes.69 Novak escreve que a ecologia moral na alma dos negócios é tão

importante quanto a ecologia natural com a qual o mundo (corretamente) se

preocupa. Embora alguns argumentem que "realismo" significa reconhecer que

as empresas não podem se dar ao luxo de se preocuparem excessivamente

com questões morais, na realidade, o próprio DNA do empreendedorismo-seu

código genético-exige sociedades livres e justas. Para serem plenamente bem

sucedidas, as empresas devem apoiar o Estado de Direito e liberar o potencial

de homens e mulheres livres para agirem com responsabilidade em relação aos

membros mais fracos da comunidade. A empresa que age contrariando, o que

Novak chama de "ecologia moral", com perversão, corrupção ou atacando os

princípios de piedade que nos foram revelados na Escritura, acaba por minar a

sociedade e, no fim das contas, causar a sua própria morte.

Novak dá um aviso às empresas em uma sociedade livre:

Em suma, as empresas têm muitas responsabilidades para a ecologia

moral de nossa nação e, especialmente, para a cultura da virtude. É errado-

devastadoramente errado-que os anunciantes, em nome dos negócios

promovam ataques às tradicionais virtudes. Elas são os músculos,

ligamentos e tendões de uma sociedade livre. Corte-os e paralisará a

liberdade.'

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Os domínios

1 3 03

Claramente, a esfera econômica tem um enorme potencial para o bem.

Todos os seres humanos são "seres econômicos." Cabe aos cristãos de hoje

descobrir vocações na área econômica, procurar expandir a livre iniciativa,

gerar empregos, ajudar os pobres a saírem da pobreza e produzir prosperidade

econômica.

Nossos Chamados Hoje

Restabelecer uma teologia bíblica e uma ética da atividade econômica

que se posicione contra a corrupção econômica.

•Enfocar atividades econômicas que administrem adequadamente a terra

e o desenvolvimento humano.

•Desenvolver uma declaração de visão e missão que conecte o seu

negócio diretamente ao avanço do reino de Deus.

o • Trabalhar com afinco.

o • Pagar um salário justo e familiar, para que o chefe de família possa

sustentá-la e permitir que tenha tempo para ficar em casa e cuidar da próxima

geração de cidadãos.

Participar no processo político com o intuito de desenvolver políticas

que apóiem o empreendedorismo e a livre iniciativa.

Apoiar leis que preservem os direitos de propriedade e a liberdade

econômica.

Estimular a criação de negócios em comunidades pobres.

Ensinar as virtudes bíblicas da econo mia, do trabalho árduo, da excelência

do trabalho e do chamado para trabalhar em comunidades pobres.

Recompensar o trabalho árduo e de excelência no mercado de trabalho.

Ampliar as recompensas com base em mérito e não no nepotismo e no exercício

do cargo.

Estabelecer programas de microcrédito para comunidades carentes.

Estabelecer a utilização de medidas precisas e boas práticas de

contabilidade.

Pensar em termos de produção e criação de riqueza em vez de

simplesmente tomar e receber a riqueza.

Ofertar parte dos lucros de sua empresa para aumentar a saúde e

integridade da comunidade como um todo.

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304 1

VOCAÇÃO:

Escre a sua assinatura no universo

A HISTÓRIA DE TED CORWIN

Ted Corwin é um homem que,

como muitos dentre nós, sabe o que é

ser rejeitado pelo chefe ou pela cultura

de uma organização. Recebemos a sua

história no momento em que ele foi

"politicamente" tirado de um emprego

que ama. A rejeição foi devastadora.

Como parte de seu processo de cura e

reagrupamento, ele reservou tempo para

buscar ao Senhor. Durante esse tempo

de reflexão, Ted sentiu o Senhor dizendo

a ele: "Construa uma organização cristã.

Compartilhe a sua fé. Ajude as pessoas

a crescerem. Seja um exemplo de uma

casa construída sobre um fundamento

sólido. Seja humilde. Importe-se. Entre

nos negócios."

Essa foi uma grande mensagem

para alguém que pensava: "Eu não tenho

jeito para fundar um negócio. Sou

conservador demais e não quero

fracassar." Não obstante, Corwin estava

convencido de que era o Senhor que o

estava chamando para algo que ele não

estava capacitado a fazer; assim, ele

sabia que se fosse mesmo o chamado

de Deus sobre sua vida, o Senhor o

ajudaria a ter êxito. Ted contatou alguns

amigos para pedir conselho. Um deles

era um amigo mais velho que conhecia

bem o ramo da manufatura de móveis.

O segundo era um amigo que prestava

consultoria a pessoas de negócios no

tocante a como conectar a fé ao trabalho

ou como integrar os negócios à missão.

A partir de vários conselhos,

oração e obediência, a Designmaster

Móveis foi fundada em março de 1989

para ser especialista na manufatura de

móveis de qualidade para salas de jantar.

A admoestação de Jesus a Pedro em

João 21.17 - "Apascenta minhas

ovelhas"-tem definido o propósito da

Designmaster. Corwin escreve que o

propósito da Designmaster pode ser

visto de várias perspectivas.

Apascentamos os empregados

e representantes de vendas da

Designmaster fisicamente com trabalho,

de forma que eles possam sustentar

suas famílias.

Apascentamos todos os

envolvidos com a Designmaster

espiritualmente, orando com eles e por

eles e compartilhando com eles como

Deus está trabalhando em nossas vidas.

Dizimamos dos lucros da

Designmaster, usando produtos e

dinheiro para ajudar a sustentar as obras

de caridade e ministérios cristãos.

Além disso, devido aos seus

relacionamentos pessoais com Jesus

Cristo, a liderança da Designmaster

escolheu valorizar o seguinte:

•Obediência através de oração

• Relacionamentos santos

Verdade

• Trabalho de qualidade

Liberdade e responsabilidade

Ted Corwin e sua equipe buscam

conscientemente integrar sua fé em

Cristo ao seu trabalho.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Os donthliosi

305

CIÊNCIA

Já foi dito que a ciência é o homem pensando os pensamentos de Deus

segundo ele. Ciência envolve a busca humana por entender o universo através

do estudo empírico. Historicamente, a palavra ciência não se limitou à maneira

pela qual a entendemos hoje, como o desenvolvimento metodológico e aplicação

de leis naturais. Até o século XIX, ciência significava o estudo de qualquer área

do conhecimento,

e

aqueles que estudavam esses campos eram oficialmente

conhecidos como filósofos naturais. É importante notar que, durante a Idade

Média, quando não havia separação metafísica entre o espiritual e o mundo

físico. a teologia, sendo o ponto de integração de todos os estudos universitários,

era chamada a rainha das ciências.

O domínio da ciência, no qual podemos incluir a tecnologia, é muito

complexo e tem significado coisas muito diferentes ao longo da história. Duas

correntes históricas se destacam: o antigo método dedutivo e o método indutivo

mais moderno. Analisemos cada uma dessas importantes correntes.

Até onde sabemos, a primeira corrente significativa foi desenvolvida pelos

gregos antigos, que se engajaram em pensamento sistemático sobre os

fenômenos naturais. A natureza, conforme vista por eles, era controlada por

leis naturais "impessoais," que podiam ser descobertas e compreendidas. Nesse

modelo é necessário começar, em algum lugar, com um primeiro passo, que é

tão óbvio que não pode ser desafiado. Exemplos disso seriam: o fogo é quente,

o gelo é frio, argila exposta ao sol endurece, água evapora quando aquecida e

assim por diante. Kenneth McLeish escreve:

Todas essas idéias se baseiam na observação da Natureza-e, de

é possível viver uma vida confortável e segura simplesmente

aceitando-as sem se preocupar com explicações. . . Há uma sequência

contínua de

"conhecimento" baseado em senso comum sobre o mundo

natural que é suficiente para a maioria das pessoas.'

Esse método de estudar a natureza é chamado de dedução e é quase

totalmente uni exercício intelectual.

Nos tempos antigos, e até mesmo durante o período medieval, o método

dedutivo foi considerado uma das maiores conquistas do pensamento humano.

E foi mesmo. Entretanto, a grande fraqueza desse modelo é que ele depende

somente do pensamento. Falta-lhe o tipo de observação e experimentação

rigorosas com a natureza, tão necessárias para testar se os primeiros passos

são falhos. A partir do século XV em diante, mais e mais teorias "científicas"

dedutivas foram derrubadas e a "ciência moderna" com seus métodos de indução

nasceu.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

O método de indução é a outra corrente científica significativa na história:

uma mudança de 180 graus em relação à dedução na maneira como as pessoas

investigam o mundo da natureza. No raciocínio dedutivo se inicia com uma

declaração particular e se prossegue intelectualmente por passos lógicos até

que uma conclusão geral seja atingida (por exemplo, a terra é o centro do

universo, por isso os planetas orbitam a Terra). Com o método indutivo científico,

tem início um grande conjunto de observações de caráter geral

e conclui-se,

em particular, (por exemplo, até agora o sol tem subido todos os dias na

experiência humana, então, também nascerá amanhã). É a partir desse tipo de

investigação rigorosa da natureza que as "leis científicas" de hoje foram

descobertas e aplicadas.

Embora alguns cientistas" gregos da antiguidade e posteriormente, no

período medieval, alguns cientistas árabes e mulçumanos terem feito descobertas

notáveis na astronomia, matemática e medicina, foi o cristianismo, durante o

período entre o século XIV e século XIX, que criou realmente a estrutura

metafísica para a rápida ascensão da ciência. Tudo isso ocorreu com a difusão

do cristianismo e seu entendimento do mandato cultural. Os cristãos sabiam

que Deus havia criado um mundo que funcionava por leis físicas universais que

podiam ser descobertas, compreendidas e aplicadas para glória de Deus. E

muitos cristãos fizeram da ciência sua vocação.

Acredita-se que no século XIII, Robert Grosseteste (c. 1175-1253), um

bispo franciscano e o primeiro chanceler da Universidade de Oxford, foi o

primeiro a propor seriamente utilizar o método indutivo de ciência e conduzir

experiências segundo ele.' Ainda no século XIII, outro notável monge

franciscano, Roger Bacon (c. 1214-1294), propôs que "todas as coisas podem

ser verificadas pela experiência.' Bacon estudou em Oxford e Paris e é mais

conhecido por sua clara antecipação dos métodos da ciência moderna. Ele

acreditava que o fim de toda verdadeira filosofia é chegar a um conhecimento

do Criador através do conhecimento do mundo externo.

No século XVI, os líderes da Reforma Protestante ensinaram que Deus

revelou a si mesmo em dois "livros". Francis Bacon (1561-1626), outro seguidor

de Jesus e um dos defensores iniciais do método indutivo, escreveu: "Há dois

livros postos diante de nós para que os estudemos, para evitar que incorramos

em erro; em primeiro lugar, o volume das Escrituras, que revelam a vontade de

Deus: depois, o volume das Criaturas, que expressam o seu poder."

7 5

Em outras

palavras, existem leis naturais ordenadas por Deus que podem ser conhecidas

ao investigarmos metodicamente a ordem criada por Deus. Bacon, praticamente

sozinho, direcionou os pensamentos da Europa em direção a Deus ao

desenvolver e promover o seu método de indução. Bacon também ensinou que

as obras produzidas usando as leis da natureza deveriam ser motivadas pela

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Os domínios

1 307

caridade cristã. O conhecimento adquirido, disse Bacon, deve ser utilizado para

servir aos outros, para aliviar o sofrimento humano e aumentar o bem estar das

pessoas. Seu método, amplamente conhecido pelos cientistas de hoje, envolve

o exame de uma multidão de experiências particulares e o desenvolvimento de

leis gerais da natureza a partir delas. Desta forma, estudamos e compreendemos

o que Deus tem realmente feito na criação.

7 6

Vários outros cristãos notáveis "fundadores da ciência moderna" incluem

Johannes Kepler (1571-1630), astrônomo alemão, que disse que conforme

descobrimos as leis da natureza, "pensamos os pensamentos de Deus segundo

ele."77 Kepler escreveu: "Visto que nós astrônomos somos sacerdotes do Deus

altíssimo em relação ao livro da natureza, cabe a nós raciocinarmos, não pela

glória de nossas mentes, mas, acima de tudo, pela glória de Deus?

Isaac Newton (1642-1727), filósofo e matemático inglês, escreveu:

"Tenho uma crença fundamental na Bíblia como Palavra de Deus, escrita por

homens que foram inspirados. Estudo a Bíblia diariamente." Reconhecido

como um dos maiores cientistas, Newton fez importantes contribuições ao estudo

da luz e também inventou um telescópio refletor. Mas ele é mais conhecido por

sua formulação das leis da gravidade e do movimento.

A HISTÓRIA DE FRANCIS COLLINS

Pode surpreender a alguns

cristãos contemporâneos que um ex-

diretor do Projeto Genoma Humano seja

um cristão evangélico. Esse renomado

cientista, Francis Collins, analisa o seu

estudo do DNA humano com uma

cosmovisão diferente do que se pode

esperar. "A elegância e complexidade

do genoma humano é fonte de profundo

assombro," "Esse assombro somente

fortalece minha fé ao fomentar

percepções de aspectos da humanidade

sempre conhecidos por Deus, mas que

nós, apenas, estamos começando a

descobrir."'

Como outros cientistas durante os

séculos, Collins reconhece que a fé e a

ciência não são conflitantes. Ele explica:

"A ciência explora o mundo natural. A fé

explora o mundo sobrenatural. . . Será

que isso as torna separadas e

impossíveis de se integrar em uma

pessoa, uma experiência e um

pensamento? . . . Não, na minha

perspectiva essas duas visões de

mundo coexistem em mim e em muitos

de vocês neste exato momento. Nós

não somos separados por causa

disso; não somos forçados a

contradições. Ao invés disso, creio que

somos enriquecidos e abençoados.

Temos a oportunidade de praticar

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VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

ciência como forma de adoração.

Temos a chance de ver Deus como o

maior dos cientistas. Conforme

descobrimos coisas sobre o mundo,

podemos apreciar as maravilhas da

criação de Deus. Que benção ser

cientista e poder fazer isso."'

No Projeto Genoma Humano,

Collins e sua equipe trabalharam treze

anos para completar o mapeamento de

três bilhões de pares de letras que

descrevem a sequência do DNA

humano. Essa sequência de DNA

comanda todas as propriedades

biológicas de nossos corpos,

determinando se teremos olhos azuis

ou castanhos, se correremos risco de

doenças cardíacas ou de um tipo

específico de câncer. O projeto foi

concluído em 2003 criando um novo

corpo de conhecimento que propiciará

avanços científicos e médicos, mas

também gerará um grande potencial

para grandes abusos.

O conhecimento do mapa do DNA

humano oferece grandes oportunidades

de melhorar a efetividade dos

tratamentos médicos. Assim como

avanços anteriores na medicina

pouparam milhões de pessoas da pólio

e varíola, o mapeamento genético

permite maiores possibilidades de aliviar

os efeitos das doenças. Entretanto, junto

com grandes possibilidades vêm

verdadeiros perigos, entre os quais o da

discriminação genética e acesso

desigual dos pobres aos benefícios.

Talvez o perigo de maior

preocupação seja a potencial

manipulação do DNA para afetar a

constituição de futuras gerações, algo

de que Collins tem bastante

consciência. Ele reconhece que deve

haver uma firme divisão entre usar o

conhecimento do DNA para tratar

doenças na geração atual e utilizá-la

para produzir "bebês de grife por

encomenda" no futuro. Para mostrar

essa distinção, ele explica o termo linha

germinal. "A linha germinal é parte do

DNA que se transfere para a geração

seguinte. A maior parte de nosso DNA

não é linha germinal. . . Se eu tivesse

fibrose cística e quisesse que fosse

curada em meus pulmões, e você

tivesse como mudar os genes em meus

pulmões que apresentassem o

problema, eu iria querer que você o

fizesse. Mas isso não afetaria a minha

descendência. Acho que essa é uma

distinção crítica. E todas as promessas

que vejo para as terapias genéticas da

diabete, doenças do coração ou câncer,

não requerem que se entre na linha ger-

minal para fazer essas modificações."3

A relativa novidade desse

conhecimento significa que cristãos

como Collins têm uma grande

oportunidade de ajudar a moldar a ética

relacionada a seu uso. A igreja como

corpo e a igreja espalhada na ciência e

no governo podem ser influentes em

determinar se a sociedade utiliza de

maneira ética ou antiética as

descobertas que Deus tem nos

permitido fazer.

No fim das contas, como Francis

Collins reconhece, Deus é o único

cientista que sempre conhecerá todos

os segredos de sua criação. Somos

privilegiados em nos unir ao trabalho

do "maior dos cientistas."

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o. donaniml 309

O apelo e os benefícios da ciência e da tecnologia de hoje são tão

poderosos em todo o mundo que mesmo as sociedades animistas os buscam

incessantemente. Talvez por causa de todos os muitos benefícios legítimos da

descoberta científica, o mundo parece estar em uma louca corrida para descobrir

coisas novas. Neste sentido, temos ido muito além de obediência a Deus no

cumprimento do mandato cultural. Na verdade, a ciência médica em particular,

está se movendo tão rápido que é extremamente difícil dizer que tipo de restrições

éticas devem ser estabelecidas em relação a ela. Basta pensarmos em avançar

com a investigação do DNA e o mapeamento do genoma humano e considerar

as implicações graves que virão. Será que um tipo particular de ciência e

tecnologia deve ser desenvolvido? Como podem os benefícios dos avanços

científicos e tecnológicos serem estendidos aos pobres? Que novas descobertas

ainda estão para ser feitas que irão ajudar a reverter os efeitos da Queda?

Alguns cristãos são chamados à ciência. Que eles apliquem os frutos da

descoberta científica para reverter a maldição.

Nossos Chamados Hoje

Encorajar a reintegração na ciência do estudo das revelações de Deus em

relação ao mundo e a sua Palavra. Isso desafia os pressupostos metafísicos da ciência

materialista ou naturalista.

Incentivar os alunos com uma inclinação para a ciência ao estudo da ciência e

a fazerem cursos avançados para que possam ensinar e fazer pesquisas científicas.

Trabalhar nos países em desenvolvimento para educar as pessoas sobre a

ordem do universo, os princípios indutivos de descoberta e de resolução de problemas,

assim como conceitos básicos de ciência e tecnologia e ajudá-los a construir suas

sociedades nesta área tão importante.

Realizar pesquisas para desenvolver tecnologia que combata o "mal natural",

tais como inundações, terremotos, plantas, animais e doenças humanas, e outros eventos

devastadores.

Realizar pesquisas sobre prevenção e tratamento de doenças, defeitos

congênitos, lesões e outros problemas de saúde.

Reintroduzir critérios morais e a ética no campo científico. Não é o suficiente

fazer ciência e tecnologia, simplesmente porque "agora podemos fazer isto ou aquilo."

Devemos perguntar: "Será que devemos?"

Promover a troca de conhecimento na área de saúde animal, agricultura,

aquicultura entre as nações. Criar a livre troca de ideias na ciência e tecnologia.

Introduzir o uso de tecnologias apropriadas para ajudar os pobres a dar passos

significativos entre a agricultura da idade da pedra

e

agricultura moderna.

Apoiar políticas que incentivem uma maior produtividade e manejo da terra.

Temos uma grande nuvem de testemunhas que viveram suas vidas como

cristãos nas portas da cidade, trazendo os princípios bíblicos, visão e vida em

todos os domínios. Será que faremos o mesmo no Século XXI?

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3 10 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

A HISTÓRIA DE GEORGE WASHINGTON CARVER

Renomado cientista e inventor afro-

americano do início do século XX, George

Washington Carver (c. 1861-1943) dedicou

sua vida ao serviço do Grande Criador e à

busca incessante de seus sonhos.

Enquanto a maioria dos cientistas da época

(e muitos na atualidade) achava que a fé e

a ciência não podiam ser justapostas,

Carver as considerava inseparáveis; seu

estudo e descoberta do mundo natural eram

simplesmente maneiras através das quais

se podia conhecer a Deus mais

profundamente. Conforme o próprio Carver:

"A natureza e suas variadas formas são

pequenas janelas através das quais Deus

permite que tenhamos comunhão com Ele e

vejamos muito da Sua glória, majestade e

poder; basta levantar a cortina e olhar."'

Ainda bem jovem, George, já era

interessado por plantas e tinha um talento

natural tão grande em mantê-las vivas que

foi apelidado de "Médico das Plantas."

Vizinhos distantes levavam-lhe plantas para

que as reanimasse. Conforme foi cre-

scendo, as perguntas de Carver sobre o

mundo natural só foram aumentando e,

percebendo que as pessoas à sua volta

não conseguiam respondê-las, ele lançou-

se na busca por conhecimento. Falando de

sua infância, Carver disse: "Eu queria sa-

ber o nome de toda pedra e flor e inseto e

pássaro e animal. Eu queria saber de onde

vinha a sua cor, de onde vinha a sua vida-

mas não havia quem me dissesse."2

George

nfrentou

uitos

obstáculos em busca de seu sonho: ele

nasceu escravo durante a Guerra Civil e

tornou-se órfão ainda bebê, ele foi impedido

de ter acesso às escolas por causa de sua

raça, testemunhou e sofreu espancamentos

e ataques por motivação racial e lidou

constantemente com a perpétua

desconfiança e ódio, inúmeras dificuldades

que poderiam tê-lo forçado a desistir de sua

paixão e contentar-se com um caminho que

lhe exigisse menos. Ao invés disso,

George tratou cada derrota como uma

experiência de aprendizagem. Sua

tenacidade e criatividade em romper

barreiras, combinadas ao apoio de alguns

mentores fundamentais, mantiveram-no na

vereda para a qual ele sabia ter sido feito.

Finalmente, George foi trabalhar

como professor no Instituto Tuskegee no

Alabama, instituição para negros

estabelecida por Booker T. Washington para

educar antigos escravos. Conforme a fama

de Carver cresceu, ofereceram-lhe

posições em outras organizações que

aumentariam significativamente o seu

salário, mas ele escolheu permanecer em

Tuskegee por todos os seus anos de

ensino, reconhecendo a importante

influência que possuía na instituição.

A influência de Carver se expandiu

muito além das fronteiras do campus. Além

de mentorear estudantes tanto

espiritualmente quanto academicamente,

Carver era profundamente comprometido em

usar sua crescente perícia para ajudar os

fazendeiros do sul que passavam por

dificuldades. A agricultura no sul dos

Estados Unidos estava em apuros. A

indústria era completamente dependente do

sucesso das plantações -de algodão e,

naquele momento, após explorar a mesma

plantação por muitos anos, os fazendeiros

começaram a se dar conta de que ela tinha

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Os domínios 1

311

27 1101~11.1MME..

passado a não produzir tão bem. Além

disso, o bicudo-do-algodoeiro, um inseto

temido por sua habilidade em destruir

plantações de algodão, havia chegado à

região a partir do México. George viu isso

como a oportunidade perfeita de introduzir

e encorajar o cultivo de diferentes

plantações. Essas novas plantações não

ficavam suscetíveis ao bicudo-do-

algodoeiro, restaurariam os nutrientes do

solo e ofereceriam aos fazendeiros uma

maneira de alimentar suas próprias famílias.

George passava muito tempo em

seu laboratório, trabalhando para descobrir

o maior número possível de usos para as

novas plantações. Para compartilhar esse

conhecimento, George publicou "livretos

triplos" sobre os produtos que ele estava

encorajando os fazendeiros a plantarem,

numa tentativa de ajudá-los a tirar o máximo

de cada plantação. Esses populares

livretos incluíam conselhos de plantios para

fazendeiros, receitas e muitos outros usos

práticos da plantação para suas esposas,

além de informação científica sobre as

plantas para centenas de graduados em

agriculturas de Tuskegee espalhados na

região que atuavam como professores e

fazendeiros. Além dos livretos, George

transformou Tuskegee em um centro de

recursos para os fazendeiros da região.

Para divulgar ainda mais o seu trabalho, ele

ajudou a estabelecer uma caravana que

viajava por toda a região sul oferecendo

informações sobre agricultura.

Através da calma e persistente

influência de Carver, os métodos de cultivo

no Sul dos Estados Unidos começaram a

mudar e organizações de todo o país

começaram a procurar seus métodos e

sabedoria. Com o tempo, o trabalho e a

influência de Carver se estenderam aos

mais altos níveis da ciência e do governo e

cruzaram o mundo. Entre outras honras,

Carver foi chamado a depor diante do

Congresso, recebeu o Presidente Theodore

Roosevelt em Tuskegee e serviu de

conselheiro para oficiais da África e da

União Soviética no tocante a métodos de

cultivo.

Entretanto, para George cada uma

dessas oportunidades era simplesmente

uma ocasião para compartilhar seu amor

por Deus e pela ciência. Ele desejava

particularmente que as pessoas

influenciadas por ele utilizassem a natureza

em sua volta como meio de vir a conhecer

seu Criador mais profundamente, assim

como ele conhecia. "Àqueles que ainda

não descobriram o segredo da verdadeira

felicidade, que é a alegria de entrar no mais

íntimo relacionamento com o Criador e

Preservador de todas as coisas: comecem

agora a estudar as pequenas coisas em

seu próprio quintal, partindo daquilo que já

é conhecido para o mais próximo

desconhecido, pois, de fato, cada nova

verdade nos leva para mais perto de

Deus."'

George Washington Carver é

reconhecido como um dos primeiros

defensores da agricultura sustentável e

técnicas de fertilização orgânicas e por

tornar conhecidas centenas de usos

práticos de produtos derivados do

amendoim, da batata doce, noz pecan e da

argila. Apesar de ser lembrado

popularmente por ter inventado a manteiga

de amendoim, Carver realizou mais, muito

mais do que isso. Através de sua vida de

estudo e serviço, Carver certamente

vivenciou aquilo que ele gostava de dizer:

"Nenhum indivíduo tem qualquer direito de

vir ao mundo e sair dele sem deixar atrás

de si razões legítimas e distintas para ter

passado por aqui."'

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Capítulo 20

O G R A N D E M A N D A M E NT O

Foi dito que um mundo sem Cristo é um mundo sem amor e piedade.

Isso é visivelmente verdadeiro hoje, em um mundo onde a condição das cidades,

por exemplo: alienação de raças, desconfiança e crueldade. Sem o verdadeiro

amor e compaixão, a vida social espalha as sementes do descontentamento,

amargura

e violência. Partindo de nossa depravação pecadora, a desumanidade

das pessoas com os outros causa grande parte da instabilidade social e violência

no mundo. Contrária à crença secular de que o homem é basicamente bom, os

seres humanos nascem com uma propensão para o pecado. Tanto as Escrituras

como a história revela que os seres humanos são egocêntricos, egoístas, e

muitas vezes cruéis. Eles precisam ser "civilizados" para obedecer ao Estado

de Direito, sendo compassivo com estranhos, colocando as necessidades dos

outros antes das suas próprias, amando um ao outro e os inimigos, e até mesmo

praticando o que as pessoas de outrora chamavam de "refinamento de cos-

tumes." O Sociólogo Rodney Stark afirma que o cristianismo subjugou a

sociedade pagã greco-romana por manifestar um conjunto superior de idéias

no seu centro:

Algo distinto veio ao mundo com o desenvolvimento do pensamento

judaico-cristão: a vinculação de um código altamente s ocial e ético com

religião. Não havia nada de novo na ideia de que o sobrenatural faz

exigências comportamentais em humanos - os deuses sempre quiseram

sacrifícios e adoração. Nem havia nada de novo na noção de que o

sobrenatural responderia as ofertas-que os deuses podem ser induzidos à

troca de serviços pelos sacrifícios. O que era novo era a noção q ue, mais

do que as relações de troca de interesse próprio, elas eram possíveis entre

os humanos e o sob renatural. A doutrina cristã de que Deus am a aqueles

que o amam foi alheio a crenças pagãs... Igualmente estranho ao

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314 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

paganismo foi a noção de que, porque Deus ama a humanidade, os cristãos

não podem agraciar a Deus a menos que eles amem uns aos outros. Na

verdade, como Deus demonstra seu amor através do sacrifício, os seres

humanos devem demonstrar o seu amor através do sacrifício a favor cio

outro. Além disso, tais responsabilidades' deveriam ser ampliadas para

além dos laços de família e tribo, aliás para "todos os que, em todo lugar,

invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo" ( I Co 1.2). Essas foram

idéias revolucionárias.'

Para que a sociedade se torne civil, os indivíduos devem se tornar amorosos

e morais. Indivíduos brutais criam sociedades brutais. Sociedades brutais geram

pobreza. Na miséria da sociedade greco-romana, os primeiros cristãos trouxeram

não só esperança, mas também transformação social. Stark escreve:

Cristianismo serviu como um movimento de revitalização, que surgiu

em resposta à miséria, caos, medo e brutalidade da vicia urbana no mundo

greco-romano... [O Cristianismo proveu] novas normas e novos tipos de

relações sociais capazes de lidar com muitos problemas urbanos urgentes.

Para cidades cheias de desabrigados e pobres, o Cristianismo oferecia

caridade, bem como esperança. Para cidades cheias de recém chegados e

estranhos, o Cristianismo oferecia uma base imediata para vínculos. Para

cidades cheias de órfãos e viúvas, o Cristianismo oferecia uma nova e

ampliada sensação de família. Para cidades dilaceradas por conflitos

étnicos violentos, o Cristianismo oferecia uma nova base para

solidariedade social... E para as cidades que enfrentavam epidemias,

incêndios e terremotos, o Cristianismo oferecia serviços eficazes de

enfermagem... Então, o que eles trouxeram não era simplesmente um

movimento urbano, mas unia nova cultura capaz de fazer a vida nas cidades

greco-romanas mais tolerável.'

O que Cristo e seus seguidores têm feito, como observa Stark no final de

seu livro, não é nada menos do que a humanização do homem.'

A HUMANIZAÇÃO DO HOMEM

E O GRANDE MANDAMENTO

Não é por acaso que essas observações são feitas sobre o efeito do

Cristianismo que acompanhou Jesus. Jesus disse que é pelo nosso amor um

pelo outro que seremos conhecidos como seus seguidores.

4

E Jesus resumiu

toda a Lei e os Profetas da seguinte maneira: ame a Deus e ame o teu próximo

como a ti mesmo.' Na verdade, isso é o que Jesus disse quando foi perguntado:

"De todos Os mandamentos, qual é o mais importante?"

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O grande mandamento

1 315

"O mais importante 7 7

é este: 'Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o

único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda

a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças.' O segundo é

este: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo.' Não há outro mandamento

maior que estes." (Mc 12.29-31)

Qualquer que seja o domínio para o qual somos chamados, em qualquer

que seja a forma particular que somos chamados para ocupar as portas da

nossa cidade, esse Grande Mandamento é a base para nosso trabalho. Seja

qual for a nossa vocação, se seguimos a Jesus, vamos manifestar em nosso

trabalho o amor de Deus por todas as pessoas, jovens e velhos, homens e

mulheres, escravos e livres, independentemente de cor e credo. Nesse aspecto,

vamos resgatar o que significa ser verdadeiramente humano, feito à imagem de

Deus.

Cristãos ao longo da história, trabalhando em uma pluralidade de domínios,

têm exemplificado para nós como ver e tratar as pessoas como Deus faz, um

verdadeiro marco da cultura do reino. Vamos olhar quatro áreas da vida que os

seguidores de Jesus têm ajudado a ajustar às intenções de Deus: a santidade da

vida humana, a emancipação dos escravos e a reconciliação racial, dignidade e

respeito pelas mulheres, esposas e casamento, e misericórdia e compaixão pelos

pobres.° Essas quatro áreas continuam sendo lugares onde somos chamados a

viver o Grande Mandamento hoje.

A SANTIDADE DA VIDA HUMANA

O mundo greco-romano no qual Cristo entrou foi um de grande e rotineira

crueldade, violência e barbaridade. Pense dos gladiadores. Assim como as

pessoas hoje assistem a uma partida de futebol ou um jogo de beisebol, os

romanos antigos enchiam coliseus para ver seres humanos serem mortos, como

se fosse um tipo de evento esportivo. O historiador William Stearns Davis escreve

que os jogos de gladiadores "ilustra completamente o espírito impiedoso e a

falta de cuidado com a vida humana escondida por trás do esplendor, do brilho,

e das pretensões culturais da grande era imperial."' Além disso, como uma

forma de entretenimento para si e para a elite romana, o imperador Nero (r. ad

54-68) atirava os cristãos aos leões nas arenas, os crucificava, ou os queimava

em postes para fornecer luz para estradas e festas nos jardins.'

O suicídio foi outro ato comum de violência, tão comum que "tirar a

própria vida era [considerado] um ato de glória pessoal."

9 Na verdade, o suicídio

era tão "normal" que um ditado surgiu a partir disso. Quando chegava a hora de

tirar a própria vida, as pessoas muitas vezes reagiam com o refrão "abra suas

veias." '" Muitos líderes romanos, como Pôncio Pilatos, os senadores Brutus e

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316 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

Cássio, Antônio, e o Imperador Adriano cometeram suicídio."

O infanticídio e o abandono de crianças eram outros dois atos comuns de

barbaridade. O infanticídio foi justificado por filósofos como Sêneca, Platão e

Aristóteles1 2 e foi consagrado pela lei. "As Doze Tábuas" - o mais antigo código

legal romano conhecido, escrito a cerca de 450 ac-permitia a um pai abandonar

qualquer criança do sexo feminino e com qualquer deformação ou qualquer

criança debilitada do sexo masculino." Devido ao conceito romano de paterfa-

milias (segundo o qual os pais de família detinham o poder absoluto nas famílias),

o pai romano tinha poder absoluto de vida ou morte sobre seus filhos. George

Grant escreve que, devido ao conceito de paterfamilias,

o nascimento de um romano não era um

. fato biológico. Bebês eram

recebidos no mundo apenas se a família quisesse. Um romano não tinha

um filho; ele adquiria um filho. Imediatamente após o parto, se a família

decidisse não criar a criança-literalmente, elevando-a acima da terra-era

simplesmente abandonada. Havia lugares especiais elevados ou muros,

onde o recém-nascido era levado e abandonado para morrer"

Esse desrespeito "natural" pelas criancinhas naqueles dias é demonstrada

na repugnante história do assassinato, a mando de Herodes, de todos as crianças

de dois anos para baixo, conforme registrado em Mateus 2.16.

O aborto também era comum. Devido ao conceito de paterfamilias, um

marido romano poderia ordenar a sua esposa a fazer um aborto, atendendo ao

seu próprio capricho.' Em Roma, algumas mulheres abortavam por razões

econômicas, algumas para cobrir seus adultérios, e algumas, por não terem

filhos, ter mais "influência."''

O mundo ocidental moderno, apesar dos amplos fundamentos cristãos,

está agora se saindo um pouco melhor. Durante o século XX, as nações ocidentais

viveram uma virada, saindo da visão bíblica da "santidade da vida humana"

para o sistema de valores moderno e secular-pagão da "qualidade de vida." O

ocidente moderno está retornando ao paganismo através de práticas de aborto,

infanticídio, eutanásia e pesquisas com células-tronco usando embriões humanos.

No entanto, mesmo nos tempos da igreja primitiva, toda a vida humana,

incluindo a do nascituro, era considerada sagrada por cristãos. E à medida que

a igreja crescia nos primeiros séculos, a influência da visão de vida dos cristãos

pôs fim em muitas práticas pagãs. Por exemplo, por volta do século IV, "Sob o

reinado do imperador cristão Teodósio I (378-395), lutas de gladiadores foram

encerradas no Oriente, e seu filho Honorius acabou com elas em 404 no

Ocidente." '

7

A elevada visão cristã de toda a vida humana mudou gradualmente a

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O grande mandamento

1 317

opinião das pessoas sobre o suicídio, infanticídio, abandono de crianças, e aborto.

Já que os cristãos entendiam que "tu não matarás" também incluía não "matar-

se", os pais da igreja primitiva se posicionaram contra o suicídio. E como os

seguidores de Cristo aumentavam em número, o infanticídio e abandono de

crianças diminuíram no mundo greco-romano. D. James Kennedy escreve: "O

clamor foi para trazer as crianças à igreja. Fundações, orfanatos e creches

passaram a acolher as crianças."'' De fato, um documento influente da primeira

Igreja chamado Didaqué (escrito entre 85 e 110 e, muitas vezes referido como

Doutrina dos Apóstolos) afirma em seu segundo parágrafo: "Não matarás uma

criança através de aborto, nem as mate quando nascer." A igreja medieval

continuou esta tradição, emitindo mais de quatro mil cânones entre os séculos

IV e XII, que reconhecia a santidade da vida. A Igreja da Reforma, semelhante

à Católica Romana, também reafirma a santidade da vida humana. ''

A igreja moderna tem tido uma resposta misturada. Tanto o Catolicismo

quanto o cristianismo evangélico têm sido uma proteção para a santidade da

vida humana. Mas muitas das denominações Protestantes tradicionais estão

mais alinhadas com o pensamento secular sobre as questões do aborto e da

eutanásia. Apesar disso, nos Estados Unidos, por exemplo, os cristãos de todos

os tipos criaram milhares de centros de crise da gravidez, onde as mulheres

podem receber aconselhamento e apoio para salvar a vida de seus bebês du-

rante a gestação. Este é um grande chamado em uma nação onde,

surpreendentemente, cerca de 1,5 milhões de bebês a cada ano são sacrificados

antes do nascimento através do aborto, com (até recentemente),

aproximadamente 13 mil mortos por ano no momento do nascimento, por "aborto

por nascimento parcial."

Cabe a todos os cristãos lutar pela santidade de toda vida humana, tanto

os jovens e os velhos, tanto aqueles que são saudáveis quanto aqueles que

estão doentes ou deficientes. Hoje os cristãos estão liderando a luta para proteger

a vida humana através de preparação e voluntariado em centros de crise da

gravidez para as mães e bebês e em casas de repouso aqueles que servem ao

fim da vida.

Nosso Chamado Hoje

Estabelecer políticas pró-vida e procedimentos nos hospitais.

Trabalhar para estimular uma legislação pró-vida nacional.

Cuidar de bebês que foram deixados para morrer sob as ordens do

médico, e chamar a atenção das pessoas para esta "prática médica" através da

mídia.

•Apoiar a execução ou a promulgação de leis que protegem toda vida

humana.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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318 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

•Trabalhar no suporte à saúde das famílias, sem fins lucrativos ou através

do governo de serviços sociais.

•Trabalhar dentro do governo para melhorar as vidas das crianças sob

os cuidados do Estado.

•Providenciar instituições ou famílias adotivas para crianças.

•Adotar órfãos e crianças abandonadas.

Trabalhar com os sem-teto e outros jovens em situação de risco.

•Cuidar dos idosos, doentes e deficientes, em sua própria família e ampliar

esse cuidado a outros.

Comprometer-se a servir os idosos e os doentes na sua igreja, incluindo

os que não podem estar presentes ao culto.

Procurar conhecer daqueles desvalorizados em sua própria comunidade

ou em outras comunidades ou países, incluindo os deficientes, os doentes, os

pobres, minorias étnicas e religiosas, e meninas e mulheres. Orar por eles e ser

uma voz para eles.

A HISTÓRIA DE JILL STANEK

Jill Stanek é uma enfermeira

diplomada que veio a entender o que

significa viver como cristã em meio a um

mundo corrompido. Ela escreve:

Estava trabalhando há um ano no

Christ Hospital em Oak Lawn - Illinois, no

Centro Obstétrico, como enfermeira

diplomada, quando soube através de um

relatório que abortaríamos um bebê no

segundo trimestre de gravidez com

síndrome de Down. Fiquei completamente

chocada. Na verdade, particularmente, eu

havia escolhido trabalhar no Christ Hospital

porque era um hospital cristão e não

envolvido, pensava eu, em aborto. Doeu

muito saber que o mesmo lugar onde esses

abortos estavam sendo cometidos era um

hospital chamado pelo nome de meu Senhor

e Salvador Jesus Cristo. Doeu-me mais

ainda descobrir que os associados

religiosos do hospital, a Igreja Evangélica

Luterana da América e a Igreja Unida de

Cristo, eram pró-aborto. Não tinha a menor

ideia de que uma denominação cristã

pudesse ser pró-aborto

Mas o que foi mais doloroso foi

tomar conhecimento do método que o Christ

Hospital utiliza para abortar, chamado de

aborto por parto induzido, também

conhecido como "aborto de nascido vivo."

Nesse procedimento de aborto específico,

os médicos não tentam matar o bebê no

útero. O objetivo é simplesmente causar o

parto prematuro da criança que morre du-

rante o processo de nascimento ou logo

depois....

Não é incomum que um bebê

abortado vivo sobreviva uma ou duas horas

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O ,strantle mandamento 1319

ou até mais. No Christ Hospital um desses

bebês sobreviveu quase um plantão inteiro

de oito horas. . . .

Caso um bebê abortado nasça vivo,

ele recebe "cuidados de conforto," que

significa manter o bebê aquecido em um

cobertor até que morra. Os pais podem

segurar o bebê se quiserem. Se os pais

não quiserem segurar seu bebê abortado

enquanto morre, um membro da equipe cuida

do bebê até que morra. Se o membro da

equipe estiver ocupado ou se recusar a

segurar o bebê, o bebê é levado à nova

Sala de Conforto do Christ Hospital, que é

completo com uma máquina fotográfica,

caso os pais desejem fotos profissionais

de seu bebê abortado; produtos para

batismo, túnicas e certidões; equipamento

para tirar as digitais dos pés; pulseirinhas

de recordação e uma cadeira de balanço.

Antes da Sala de Conforto ser construída,

os bebês eram levados para a asquerosa

sala de utilidades para morrer.

Certa noite, uma colega enfermeira

estava levando um bebê com síndrome de

Down abortado vivo para a Sala de

Utilidades porque seus pais não queriam

segurá-lo e ela estava ocupada. Eu não

podia suportar pensar naquela criança

agonizante morrendo na sala de utilidades,

então o coloquei em um berço e o balancei

durante os 45 minutos que ele sobreviveu.

Ele tinha entre 21 e 22 semanas, pesava

talvez um pouco mais de 200 gramas e tinha

quase 25 centímetros de comprimento. Ele

estava fraco demais para se mover muito e

usava toda a energia que lhe restava para

respirar. Perto do fim ele estava tão quieto

que eu mal podia dizer se ele ainda estava

vivo. Eu o levantei e pus na luz para

enxergar através de seu peito se o seu

coração ainda estava batendo. Após ser

considerado morto, dobramos os seus

bracinhos em seu peito, envolvemos seu

corpo em uma pequena manta e o levamos

ao necrotério do hospital para onde todos

os nossos pacientes falecidos são

levados.

Após segurar aquele bebê, o peso

do que eu sabia tornou-se grande demais

para suportar. Eu tinha duas escolhas: Uma

escolha era pedir demissão e ir trabalhar

em um hospital que não cometesse abortos.

A outra era tentar mudar a prática de abortos

do Christ Hospital. Assim, li a Bíblia que

falou diretamente a mim e à minha situação.

Provérbios 24.11-12 diz: "Liberte os que

estão sendo levados para a morte; socorra

os que caminham trêmulos para a matança

Mesmo que você diga: "Não sabíamos o que

estava acontecendo "Não sabíamos o que

estava acontecendo " Não o perceeberia

aquele que pesa os corações? Não o

saberia aquele que preserva a sua vida?

Não retribuirá ele a cada um segundo o seu

procedimento?" Decidi que pedir demissão

naquele momento seria irresponsabilidade

e desobediência a Deus. Certamente eu

ficaria mais à vontade se deixasse o hos-

pital, mas os bebês continuariam a morrer.'

O que você faria nessa situação:

separaria sua fé de seu trabalho ou

conectaria o seu trabalho ao reino de Deus?

Jill fez sua escolha. Ela se posicionou con-

tra as políticas do hospital. Ela foi a público

com suas acusações e acabou por

testemunhar quatro vezes diante dos

Subcomitês Nacional e Congressional de 11-

linois. Em 31 de outubro de 2001, após

uma batalha de dois anos e meio, Jill Stanek

foi demitida de seu emprego. Qual foi o seu

"crime"? Ela falou a verdade contra os

poderosos e defendeu o direito das

crianças viverem. Faríamos o mesmo?

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320 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

A EMANCIPAÇÃO DOS ESCRAVOS

E A RECONCILIAÇÃO RACIAL

No

mundo em que Jesus entrou, metade da população do Império Roma no

e 75 por cento dos Atenienses eram escravos.'" Esse número incluia tanto

trabalhadores braçais quanto artesãos qualificados. Schmidt escreve:

Escravos realizavam praticamente todo o trabalho físico ou manual. Assim.

a Via Ápia, as Sete Maravilhas do Mundo, e até mesmo as belas esculturas da

época foram trabalhos de escravos. A cada vez que os turistas de hoje ficam

impressionados pelos magníficos edifícios antigos e estátuas

''

nos países do

Oriente Médio ou na Europa, eles estão olhando para produtos de trabalho

escravo.'

O filósofo grego Aristóteles (384-322 BC) se tornou representante da

época quando ele descreveu a escravidão como "natural", expediente. e justa."22

Em algum lugar ele escreveu que "um escravo é uma ferramenta viva, assim

como uma ferramenta é um escravo inanimado. Portanto, não pode haver

amizade com um escravo sendo ele um escravo."23

Durante a Idade Média, a escravidão era comum entre os Árabes e os

Mongóis, bem como entre os Vikings e

outros Europeus. Saint Patrick foi

capturado e levado como escravo para a Irlanda. Muitas tribos indígenas

americanas praticavam a escravidão também.' A escravidão do negro pelo

negro podia ser encontrada na África, e foram em grande parte os negros

africanos que, mais tarde, venderam seus compatriotas africanos para os

comerciantes Europeus. Mesmo depois de abandonar a escravidão em suas

próprias nações, muitos estados Europeus ainda permitiam a escravidão em

suas colônias. A prática continuou sendo legal até 1865 no recém-independente

Estados Unidos, e no Brasil, até 1888. No século vinte, possuir escravos foi

legal na Etiópia até 1941, na Arábia Saudita até 1962, no Peru até 1964, e na

Índia até 1976."

Hoje, a escravidão continua sendo um problema internacional trágico.

Em todo o mundo, na Europa, no Sudeste Asiático, na Índia, nas Américas. na

África e no Oriente Médio, o moderno comércio de escravos cresce. Meninos

são geralmente escravizados como trabalhadores ou soldados mirins, mulheres

e meninas são frequentemente vendidas no comércio do sexo, algumas jovens

com cinco anos de idade. Mesmo nos Estados Unidos, as mulheres, muitas

vezes importadas sob falsos pretextos. são mantidas cativas ilegalmente nos

negócios do sexo. Os imigrantes têm sido encontrados trabalhando em condições

escravizantes, com pouca ou nenhuma compensação, alguns supostamente

"pagando" aqueles que os levaram até o país - uma forma de escravidão. ou

pelo menos trabalho contratado. Em todo o mundo. o tráfico de seres humanos

é um grande fabricante de dinheiro, geralmente ligado ao crime organizado.

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O grande mandamento 1

321

Centenas de milhares de pessoas são comercializadas através das fronteiras

nacionais a cada ano, e milhões são vendidas e utilizadas dentro de seus próprios

países. Na Índia, mais de milhões são praticamente escravas através do sistema

de castas.

Jesus Cristo morreu para destruir as barreiras entre raça, classe e

preconceito de castas que estão na raiz da escravidão. Vemos isso, por extensão,

em alguns princípios seminais que Paulo apresenta em suas epístolas. Efésios

2.11-22 revela que, através do sangue de Cristo e através da cruz, Judeus

"circuncidados" e Gentios "incircuncisos" se tomam "um novo homem." No

nível mais básico, isso significa que as divisões baseadas em raça, classe, etnia

e castas devem ser abolidas de nossa humanidade. As paredes divisórias devem

ser demolidas. Em Cristo, esse percentual sobe ao ponto mais alto de coação,

porque o sangue precioso de Cristo foi derramado para fazer um novo homem.

Gaiatas 3.28 ensina que "em Cristo" não há nem "escravo nem livre... porque

todos vós sois um em Cristo Jesus "(ver também Cl 3.11).

A igreja primitiva, embora não tenha alterado a atual estrutura social de

escravidão, apesar de tudo, procurou, onde foi possível, mudar as atitudes em

relação à escravidão. Um exemplo extraordinário está no relato de Paulo

enviando um escravo fugitivo, Onésimo, de volta ao seu senhor, Filemom, que

era um cooperador cristão em Colossos. Ao que tudo indica Onésimo havia

roubado de Filemom, ou causado algum outro tipo de dano considerável ao seu

mestre, e depois fugiu. De alguma forma, Onésimo acabou em Roma, onde

Paulo lhe deu abrigo, e ele se tomou um cristão. Buscando transformar apenas

uma pequena parte do conceito de escravidão existente, Paulo, no final das

contas, enviou Onésimo de volta a Filemom, com uma carta, dizendo que ele

deveria receber Onésimo como um irmão no Senhor. Evidentemente, era

impensável para Paulo que um cristão devesse "possuir" outro cristão. (Veja no

livro de Filemom a história toda.)

Mais tarde, a atitude cristã a respeito da escravidão se espalhou

politicamente. Em 315 d.C. Constantino "impôs a pena de morte para aqueles

que roubavam crianças para tomá-las escravas."

2 6

Santo Agostinho (354-430

d.C.) declarou que a escravidão era o produto do pecado e era contrário ao

plano divino de Deus.

2 7

Em 1102 um concílio da igreja de Londres aboliu a

escravidão na Inglaterra." Durante o século XII na Europa os escravos eram

raros, e até o século XIV a escravidão era quase desconhecida no continente.""

O século XVI, no entanto, trouxe um ressurgimento do comércio de

escravos nas colônias das nações Européias. Cerca de dez milhões de escravos

foram enviados para as Américas.

A resposta cristã à escravidão nos tempos modernos foi conduzida em

grande parte, como já vimos, por William Wilberforce, um seguidor de Cristo e

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322 I VOCAÇÃO: Esmera s.sinatarw na unircno

membro do Parlamento Britânico, e pelo Grupo de Clapham que lutou durante

décadas para acabar com a escravidão no Império Britânico. A Lei da abolição

de 1833 emancipou 700.000 escravos britânicos. Nos Estados Unidos uma

grande renovação religiosa no final do século XVIII

e

início do século XIX

ajudou a inflamar o movimento abolicionista. O grande avivalista e evangelista

Charles G. Finney fundou a Oberlin Collegx para treinar evangelistas e para

liderar a luta contra a escravidão. Diz-se que Finney escondeu escravos fugitivos

em seu próprio sótão.'" Em 1835, dois terços dos membros do movimento

abolicionista nos E.U.A faziam parte do clero.31 E muitos outros líderes desse

movimento, tais como Charles Torrey, Harriet Beecher Stowe, e William Lloyd

Garrison, eram seguidores de Cristo. Eles vivenciaram seus chamados em um

ambiente nacional muito enfurecido. Foi urna luta dura, com sentimentos intensos

nos dois lados de uma questão que dividiu a maioria das denominações e partidos

políticos nacionais. Pessoas foram mortas por defender seus pontos de vista, e

a escravidão era um ingrediente principal na sangrenta e onerosa Guerra Civil

nos E.U.A. (1861-1865). A Décima Terceira Emenda à Constituição dos Estados

Unidos que foi proposta e ratificada em 1865, aboliu a escravidão.

Em nosso contexto moderno, os cristãos foram os grandes responsáveis

nos E.U.A. pela liderança do movimento pelos direitos civis. John M. Perkins

cresceu no Sul como um produtor agrícola. Ele se tornou um ativista dos direitos

civis e fundador da Fundação John M. Perkins para a Reconciliação e

Desenvolvimento. Perkins trabalhou para aplicar os princípios bíblicos na esfera

da reconciliação racial e desenvolvimento econômico para aqueles que nasceram

na pobreza. Talvez o mais famoso dos líderes do movimento moderno dos direitos

civis foi o Dr. Martin Luther King Jr., um pastor batista que iniciou a Southern

Christian Leadership Conference (Conferência de liderança cristã do sul) em

1957, cujo propósito foi usar a autoridade moral das Escrituras e a poderosa

organização das igrejas formadas por negros para liderar um movimento não

violento pelos direitos civis. Em 28 de agosto de 1963, das escadas do Lincoln

Memorial durante a Marcha sobre Washington por Empregos e Liberdade, o

Dr. King pronunciou um discurso intitulado "I Have a Dream" ( Eu tenho um

Sonho). Esse discurso tanto eletrificou quem ouviu quanto lembrou a nação dos

princípios de sua fundação, onde "todos os homens são criados iguais." Era um

momento decisivo para o Movimento Americano de Direito Civil.

Foram figuras corno Perkins e King que chamaram os Estados Unidos

da América e o mundo para a responsabilidade dada por Deus para reconhecer

na lei e na prática a dignidade de todos os seres humanos. Hoje muitos crentes

estão seguindo o chamado de Cristo para libertar aqueles que estão escravizados

e trazer a reconciliação. Um grupo. a International Justice Mission, está

empregando advogados e ativistas cristãos para contestar, internacionalmente,

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O grande mandamento 1 3 23

a escravidão sexual infantil . É o apelo ao cristão de hoje para trabalhar contra

o racismo, sistema de castas, e tribalismo, onde quer que estejam predominando

no mundo de hoje.

Nosso Chamado Hoje

Demonstrar o poder do sangue de Cristo, para derrubar as barreiras

entre casta, raça e classe, modelando em nossas igrejas "um novo homem"

(veja Efésios 2).

Construir relacionamentos no trabalho ou em suas comunidades com

pessoas que são de diferentes origens étnicas e raciais.

• Pressionar os governos a condenar o Sudão por suas práticas de

escravidão moderna, assim como outras nações por participação ou cumplicidade

com o tráfico de seres humanos e a indústria do sexo comercial.

•Trabalhar por direitos civis e áreas dos direitos humanos.

•Apoiar a igreja na Índia e chamá-la para se opor, em palavra e prática,

ao equivalente da escravidão em operação no sistema de castas hindu.

•Formar grupos de artistas para a justiça ou mães para justiça em seu

país ou estado.

Estudar direito internacional ou lei de direitos civis e se tornar um

advogado ativista.

DIGNIDADE E RESPEITO PARA AS MULHERES, ESPOSAS

E CASAMENTO

O mundo greco-romano que Cristo entrou não era diferente do mundo

"sexista" de hoje. Mulheres durante esse tempo, muitas vezes tinham o status

social de uma escrava. Aristóteles disse: "O silêncio dá graça à mulher."32

Segundo a lei ateniense, uma mulher de qualquer idade sempre foi considerada

uma criança "e, portanto, era a propriedade legal de um homem em todas as

fases de sua vida."3 3 Na vida grega, era comum uma mulher sair de casa apenas

na companhia de um acompanhante masculino, geralmente um escravo. As

meninas não podiam ir à escola, e uma mulher não poderia falar em público.

3 4

Enquanto que uma mulher romana tinha mais liberdade do que sua irmã

grega, quando comparadas com homens elas praticamente não tinham direitos

e privilégios. A lei romana manus estabeleceu ao marido a "propriedade" e

absoluto controle sobre a vida de suas esposas." Houve, de fato, tão pouco

respeito com as mulheres que quando presas ficavam, muitas vezes, nas mesmas

celas dos homens, criando condições extremamente abusivas. E em relação

aos solteiros, Philip Schaff escreve: "A virtude da castidade, em nosso sentido

cristão, era quase desconhecida entre os pagãos. A mulher era essencialmente

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324 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no soliverso

A HISTÓRIA DE DOLPHUS WEARY

"Eu não volto " foi o voto de Dolphus

Weary após finalmente deixar para trás a

paralisante pobreza, racismo e injustiça de

Mendenhall, Mississipi, nos anos de 1960.

Como negro no extremo Sul dos Estados

Unidos durante o início do movimento dos

Direitos Civis, as oportunidades eram

limitadíssimas e os afro-americanos tinham

que lidar diariamente com a realidade de

assédio e violência indiscriminados.

Quando Dolphus teve a

oportunidade de frequentar a Faculdade

Batista de Los Angeles (Los Angeles Bap-

tist College - LABC) na Califórnia como um

de seus primeiros estudantes negros, sua

experiência naquela instituição mudou a sua

vida. Diferente do Mississipi, Dolphus teve

acesso à mesma educação oferecida aos

estudantes brancos. As oportunidades

começaram a se descortinar diante dele e

ele se animou por ter escapado da vida

humilhante que tantas pessoas ainda

levavam aprisionadas no Mississipi.

Apesar do futuro promissor de

Dolphus, ele ainda tinha que lidar com uma

forma sutil de racismo e desconfiança mais

sutil na LABC. Após testemunhar a alegria

de alguns alunos brancos ao ouvir a notícia

do assassinato de Martin Luther King Jr,

Dolphus percebeu que ele não conseguiria

mais continuar procurando se adequar e

ficar à vontade, mas precisava criar

coragem para se pronunciar. Apesar de

machucado pelo comportamento de seus

colegas, Dolphus sabia que ele podia ser

usado por Deus para abrir portas de

entendimento em estudantes que haviam

sido ensinados por suas famílias e

comunidades a serem preconceituosos e

que o propósito do tempo que passara na

LABC significava mais do que apenas obter

uma graduação; também era uma

oportunidade de educar e desafiar as

pessoas próximas em suas atitudes em

relação a outros grupos raciais.

Posteriormente, perto de alcançar

um segundo título, um mestrado em

educação cristã, Dolphus começou a

pensar mais seriamente sobre sua direção

futura, agora, junto com sua esposa Rosie.

A primeira vez que Dolphus tinha ido à

Califórnia havia sido com uma bolsa de

basquetebol e teve a oportunidade de

passear pelo leste da Ásia com um time de

basquete. Durante o passeio, ele ficou

surpreso que, sendo um negro do Missis-

sippi, ele era tratado com muito respeito e

começou a pensar em voltar com Rosie para

ministrar nos países asiáticos onde havia

sido tão bem recebido.

Entretanto, não demorou muito an-

tes que a insistência de um dos mentores

de Dolphus, um homem chamado John

Perkins, e do gentil chamado do Senhor o

levassem de volta ao Mississippi.

Inicialmente, Dolphus resistiu, lembrando-

se do seu volto de nunca voltar ao lugar

que tanto o havia oprimido. Mas, com o

passar do tempo, seu coração mudou.

"Percebi que não importava o quanto eu

fugisse, para a Califórnia ou Taiwan, jamais

poderia fugir da Mendenhall dentro de mim,

dentro de minha mente e dentro do meu

coração. Até conseguir superar isso, viveria

aprisionado a um senso de desesperança.

Ainda assim, sabia que eu, por mim mesma,

jamais conseguiria superar isso-somente

Deus poderia. . . . Voltar ao Mississippi

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O grande mandamento

I 325

//411-14Ã

envolvia um sacrifício de meus próprios

desejos para servir pessoas que

precisavam de ajuda. Senti que Deus

estava me chamando: 'Dolphus, tenho algo

para você no Mississippi."

Quando Dolphus e Rosie voltaram a

viver em Mendenhall, a comunidade negra

estava paralisada em um ciclo de pobreza.

Ficou claro que, muito do racismo e da

desesperança com os quais eles haviam

crescido, ainda estava presente. Conforme

se familiarizaram novamente com seus

vizinhos e com a comunidade, ficaram

claras as necessidades de cuidados

básicos de saúde, educação de qualidade,

assistência jurídica, treinamento pastoral e

muito mais. Nos mais de trinta anos desde

então, o Ministério Mendenhall cresceu e

respondeu a essas necessidades fundando

e operando instituições que jamais

estiveram presentes na comunidade

anteriormente: uma clínica de saúde; uma

escola particular de qualidade e preço

acessve eumpogamade

acompanhamento escolar; um armazém que

gerava empregos e vendia mercadorias a

preços razoáveis; um centro comunitário

que dá aos jovens oportunidades de

comunhão e recreação; e muito mais.

Todos esses ministérios existem em volta

da Igreja Bíblica de Mendenhall.

No início, Dolphus e sua equipe

enfrentaram dificuldades para integrar o

evangelho aos ministérios que atendiam as

necessidades físicas das pessoas. Eles

reconheciam que frequentemente as

pessoas nem mesmo conseguiam entender

as palavras do evangelho por causa de

suas gritantes necessidades físicas. Ainda

assim, sem uma transformação de dentro

para fora, poucas das necessidades físicas

que o ministério pudesse resolver teriam

um efeito duradouro. Às vezes parecia que

eles estavam operando dois ministérios

separados: as pessoas vinham à clínica ou

à escola em busca de saúde ou educação

e

eram enviadas à igreja por questões

espirituais. Com o tempo, isso mudou. Nas

próprias palavras de Dolphus: "O que

queremos é que cada trabalhador faça o

seu trabalho com base em um espírito de

serviço cristão. E queremos que cada um

deles saiba como conduzir alguém a Cristo

e como enxergar isso como parte do seu

trabalho."'

Agora como presidente da Missão

Mississipi, durante os dez últimos anos,

Dolphus tem se concentrado na

reconciliação racial. O Ministério Jackson

de Mississippi patrocina e coordena

oportunidades para pessoas de diferentes

denominações e raças se encontrarem,

conhecerem e servirem juntas ao Senhor.

Trabalhando para sarar as divisões raciais

e

denominacionais entre as igrejas cristãs,

Dolphus fala extensivamente tanto para

congregações de negros quanto de

brancos nos Estados Unidos, desafiando

os crentes com a questão: "Como devem

viver os redimidos?", a partir de textos

poderosos, tais como Efésios 2.3

Ele não

pede às pessoas que mudem de

denominação mas que mudem sua atitude

de separação. "A Missão Mississippi, vista

por muitos como uma voz de esperança,

ajuda a fechar aquela velha brecha racial

histórica," diz Dolphus. "Estamos fazendo

coisas agora que não poderíamos ter feito

cinco ou dez anos atrás."'

De Mendenhall a Jackson a

comunidades em todos os Estados Unidos,

qualquer pessoa que cruzou o caminho de

Dolphus Weary experimentou o resultado

transformador de um homem fiel ao

chamado de Deus.

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326 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

uma escrava das paixões inferiores do homem.' A respeito do casamento,

Schmidt salienta o historiador do segundo século Tácito afirmando que "a

imoralidade sexual era tão evidente que uma mulher casta era vista como uma

raridade."

7

Além disso, o infanticídio no mundo greco-romano era parcialmente

destinado a eliminar a criança "inferior"-a fêmea. Garotas recém-nascidas eram

mortas rotineiramente através da exposição ou afogamento. Uma carta de um

soldado romano chamado Hilarião, lotado no Norte da África, para sua esposa

grávida, Alis, mostra essa típica atitude:

Saiba que eu ainda estou em Alexandria. E não se preocupe se

todos eles voltarem e eu permanecer em Alexandria. Eu peço e imploro

que cuide hem de nosso filho querido, e assim que eu receber o pagamento

enviarei para você. Se você tiver uma criança [antes de eu voltar para

casa], se é uni menino o mantenha, se uma menina descarte-a. Você me deu

a palavra, "Não se esqueça de m im." Como posso te esquecer. Peço-lhe

que não se preocupe.'

Mais tarde as sociedades também tiveram atitudes e leis sobre as mulheres

que fazem o mundo moderno cristão se encolher. No mundo hindu da índia, as

mulheres acreditam terem sido, numa vida anterior, homens que tiveram um

mau karma. Pensando assim, ser mulher é uma punição pelo "pecado" cometido

em uma vida passada. Casamentos de noivos infantis e suttee-queima de viúvas-

estiveram entre as práticas culturais decorrentes dessa visão hindu de mulheres.

Embora a Índia moderna tenha legislado contra o suttee e essa prática seja

agora relativamente rara, hoje persistem outros problemas. Esposas ainda estão

sendo assassinadas, geralmente queimadas, seja porque elas são julgadas

insatisfatórias ou, muitas vezes, porque a família do marido gostaria de receber

outro dote. (A concessão de dotes é ilegal, mas ainda é comum.) Embora esses

assassinatos de esposas seja tão ilegal quanto qualquer outro assassinato, eles

continuam. É uma triste realidade que fala em crenças culturais persistentemente

malignas, bem como a corrupção no sistema de justiça da Índia.

Também resistente à mudança é a prática da noiva infantil, que continua

na Índia e em muitas outras nações. Na Etiópia, onde 57 por cento das mulheres

etíopes se casam antes dos dezoito anos, não é incomum que meninas de nove

anos de idade casem-se contra sua vontade. O casamento precoce tragicamente

nega às meninas uma educação e as expõe a um risco muito maior de violência

doméstica, HIV/AIDS, e a morte ou invalidez durante o parto.

Infelizmente, milhões de meninas no mundo são vítimas de aborto e

infanticídio. Alguns pesquisadores estimam que, devido ao diagnóstico do sexo

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O grande mandamento 1 327

no período pré-natal e devido ao aborto seletivo, cerca de dez milhões de meninas

não nasceram, só na Índia durante os últimos vinte anos.

3

" Os abortos com

base no sexo foram considerados ilegais por uma lei, aprovada na Índia há mais

de uma década. Mas isso não mudou o sentimento cultural que impulsiona à

procura.

Em todo o mundo, uma falsa crença na superioridade masculina leva a

uma grande injustiça e à corrupção das intenções de Deus para homens e

mulheres, ambos feitos à sua imagem. Na China, Japão e Coréia, o

confucionismo ensina uma relação hierárquica entre homens e mulheres. O

relacionamento entre marido e mulher é "o marido superior" dominando "a m ulher

inferior", que, naturalmente, leva à e perpetua a valorização da criança do sexo

masculino sobre as crianças do sexo feminino. Os muçulmanos instruem, através

do Alcorão (Sura 4:34), que "homens são superiores às mulheres... Mas aqueles

cuja perversidade temais, admoesta-os e remove-os para dormitórios e surra-

os; mas se eles se submeterem a você, então não procure um caminho contra

eles.4

" " Na América Latina e na América do Sul, o machismo é a palavra de

um ideal de masculinidade popular, que inclui a noção de superioridade masculina.

Na África animista, as mulheres são vistas como propriedade dos homens.

"Verdadeiros homens", como um Ruandês me disse, "bate em suas esposas."

Mesmo quando essa não é a atitude, em muitas culturas animistas o homem

ainda é o chefe tirânico da família e uma mulher é obrigada a submeter-se. Em

algumas situações, as mulheres devem se ajoelhar ao cumprimentarem os

homens. Também pode haver contextos, como em um grupo de homens e

mulheres, em que as mulheres não podem ter conversas conjuntas com os

homens.

Nessas culturas, embora existam muitos casos em que os homens protejam

bem suas mulheres, e em algumas culturas alguns homens trabalhem arduamente

na agricultura ou no pastoreio para alimentar e sustentar a família, é inegável o

fato que a crença antibíblica na superioridade masculina tem consequências

devastadoras para todos. De fato, na esfera dos costumes sexuais, existe uma

mentalidade cultural comum em partes da África que as meninas e as mulheres

não têm direito a dizer não e podem até mesmo ser violentadas sem

consequências para o agressor. Esse é um dos fatores que faz com que a luta

contra o HIV/AIDS seja tão difícil. A epidemia de HIV/AIDS também é

agravada em algumas culturas, pela tradição da herança da esposa e pelo fato

das mulheres não poderem possuir imóvel. Nessas culturas, na morte do marido,

uma mulher que resiste a ser "herdada" pela família dele é enxotada de sua

casa pelos parentes do marido. A fim de sustentar seus filhos e

ter um lugar

para morar, ela pode ser forçada a aceitar um acordo sexual arriscado com um

parente ou alguém de fora da família.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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328 I

VOCAÇÃO:

Escreva

s

ua assinatura na universo

A um mundo de distância na experiência de suas mulheres e meninas, o

ocidente tem seus próprios desafios. Embora a cultura popular ainda promova

uma visão das mulheres e até meninas como objetos sexuais, e embora algumas

mulheres ainda sofram violência doméstica, a maioria das mulheres têm muito

mais oportunidade de cumprir o seu potencial dado por Deus e realizar os seus

sonhos do que as mulheres nos países subdesenvolvidos. As mulheres têm a

liberdade de casar ou não casar, estudar e seguir suas vocações, protegidas por

lei em vigor, alicerçada por uma crença cultural ampla no valor de todas as

pessoas,. No entanto, em uma triste reviravolta, mulheres que optam por ficar

em casa e cuidar da família são muitas vezes desvalorizadas porque não ganham

dinheiro, a moeda de valor. Isso porque a dignidade é encontrada no mercado

na cultura ocidental. A cultura secular, muitas vezes promove a ideia de que

para uma mulher ter a dignidade real, ela deve ter um emprego que pague,

porque a sua dignidade e valor básicos são determinados por sua renda. De

fato, nas últimas décadas, muitos homens substituíram a esperança de ser capaz

de sustentar suas famílias totalmente, pela análise cuidadosa de esposas em

potencial do ponto de vista econômico. Alguém que traga mais riqueza para o

lar. Além disso, já construímos uma economia que exige que as mulheres façam

parte da força de trabalho pública, de forma que haja trabalhadores o suficiente

para manter a roda de riqueza girando. Agora temos de ter duas pessoas

trabalhando para obter o estilo de vida que aprendemos a considerar necessário.

Então, apesar da cultura ocidental promover a igualdade e a dignidade das

mulheres do ponto de vista do mercado, o valor intrínseco de uma mulher como

a imagem de Deus e o valor de seu trabalho como educadora de crianças tem

pouco ou nenhum valor.

Essa busca por riquezas e valores materiais significa que sacrificamos

as coisas que mais importam: nosso casamento e nossos filhos. Chegamos a

uma proporção epidêmica de divórcio ou de estilos de vida que não colocam o

casamento em primeiro lugar. Ao mesmo tempo, as crianças são colocadas em

creches com algumas semanas ou meses de idade para que suas mães possam

retornar ao trabalho. As crianças são, muitas vezes, criadas por empregados

mal pagos da creche que são estranhos à família.

A ima gem b íblica é muito diferente. De G ênesis ao Apo calipse, as mulheres

são apresentadas com dignidade. Desde a criação, elas são feitas à imagem de

Deus e têm valor e responsabilidade iguais aos homens. Do primeiro casamento

em Gênesis ao casamento de Cristo e da Igreja no Apocalipse, o casamento e

a família está estabelecida como uma instituição sagrada. O próprio Cristo foi

um revolucionário em sua geração na forma como ele desafiou as normas

culturais e no seu tratamento e visão com relação às mulheres.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O g ronde mandamento

1 329

É um equívoco comum na cultura contemporânea achar que homens

como Jesus e Paulo considerassem as mulheres como seres inferiores. Isto

está longe dos fatos. As mulheres se dirigiam a Jesus, porque ele ensinou

publicamente e demonstrou a liberdade, a dignidade e a igualdade que elas

tinham em Deus desde o início da criação. Os relatos das conversas de Jesus

com uma mulher junto ao poço`' e a mulher apanhada em adultério4 2

são

exemplos disso. Em ambos os casos, Jesus estava violando as proibições da lei

rabínica tradicional. Jesus apareceu primeiro às mulheres depois da sua

ressurreição, até mesmo chamando-as a anunciar publicamente a ressurreição.

4 3

É como se isso marcasse o início de uma nova era de "emancipação" das

mulheres no mundo. Claramente, Jesus estava quebrando um padrão muito

antigo da vida cultural judaica.

Jesus foi também um reformador do casamento. Ele ensinou sobre a

igualdade que a esposa e o marido tem tido desde o início.

4 4

Na verdade, ele

elevou bastante o padrão para os casamentos, ao dizer que se um homem

desejar outra mulher, ele cometeu adultério com ela em seu coração. Em

outras palavras, não é preciso o ato físico para cometer adultério.

4 5

Até o padrão

de pensamento do marido em relação à sua esposa é, então, crucial.

A igreja primitiva adotou a visão de Cristo centrada em Deus com relação

a mulheres e relacionamentos conjugais. As mulheres foram aceitas de bom

grado na fé e apresentadas à igreja através do batismo, e elas participavam da

Ceia do Senhor e adoração. Mais uma vez, foi Paulo quem escreveu que em

Cristo não há masculino nem feminino.

4 6

E, como Jesus, Paulo tinha muitas

mulheres que participam ativamente nas suas "equipes de ministério".

4 7 A igreja

primitiva condenou "o divórcio, incesto, infidelidade conjugal e poligamia"."

No ano de 374 o imperador Valentiniano I teve a iniciativa de revogar a Claúsula

da patria potestas, cuja lei romana tinha mil anos de idade, que dava ao homem

o poder absoluto (vida ou morte) sobre sua esposa e filhos.

4 9

Uma nova cultura de respeito surgiu como resultado dos valores cristãos

a respeito das mulheres. O escritor de Hebreus reflete o coração de Deus para

o casamento: "O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal

conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúlteros." (Hb 13.4)

Em 125 d.C. um filósofo Ateniense e cristão chamado Aristides escreveu

ao Imperador Adriano sobre a atitude e o comportamento dos seguidores de

Cristo em relação ao sexo e ao casamento:

Eles não cometem adultério ou imoralidade. Suas esposas, ó rei,

são tão puras como as virgens, e suas filhas são modestas. Seus homens se

abstêm de todo contato sexual ilegal e da impureza, na esperança de

recompensa que está por vir em outro mundo.

5"

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330 1

VOCAÇÃO: Escreva .sua assinatura no universo

A HISTÓRIA DE KIM ALLEN

Kim Allen era uma "mulher de

carreira" que conseguiu enxergar o

poder de ser uma mãe que educa seus

filhos em casa. Ela está investindo

seu tempo, talento e as melhores

horas de seu dia na construção de

uma família forte e, através de seus

filhos, investindo no futuro de sua

comunidade e nação criando seus

filhos para serem edificadores da

nação.

Certa noite após ter concluído

a graduação, época em que estava

ensinando no Japão, fiz a seguinte

pergunta aos meus alunos: "O que

vocês querem fazer após terminarem

a escola?"

"Ser mães e esposas,"

responderam de maneira entusias-

mada.

"Só isso?" Indaguei, surpresa

com suas pequenas aspirações.

Bem, quase vinte anos mais

tarde, apesar de mim mesma e devido

à abundante misericórdia de Deus,

agora sou esposa há quinze anos e

mãe de cinco filhos. Deus

graciosamente abriu os meus olhos

para seu lindo plano para que eu me

tornasse, não apenas o que poderia

ser, mas abraçasse meu papel como

auxiliadora idônea junto ao meu

maravilhoso marido. Apesar de ter

sido criada para ser independente,

Deus está me ensinando o que

significa me submeter ao meu esposo

por reverência a Cristo. Quando

comecei minha jornada de

matrimônio, tive que mudar minha

mentalidade de "eu" para "nós." Deus

fez ambos de nós de maneira singu-

lar com certos dons individuais que

poderíamos

scolher tilizar

separadamente ou juntos para

avançar o seu reino. Vejo que somos

verdadeiramente mais efetivos

conforme combinamos esses dons

complementares e trabalhamos em

equipe.

Minha esfera de influência e

centro de operações é o lar, mas

dessa base é possível pela graça de

Deus investir nas vidas de meu esposo

e filhos assim como alcançar outras

pessoas. Daqui posso amar e servir

meu esposo ajudando-o a manter a

casa em ordem, encorajando-o em

sua visão, orando por ele diariamente

e respeitando-o como líder espiritual

de nossa família.

Hoje percebo que parte da

intenção de Deus para o casamento é

educar os filhos para que sejam

piedosos (Ml 2.15). Aprendi que não

sou capaz de educar nem mesmo

uma criança e garantir que ela

crescerá e seguirá a Deus, mas posso

ensiná-las a conhecê-lo e a sua

palavra. Minha tarefa é ser fiel e instruí-

los no caminho que devem seguir.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O grande mandamento 331

Deus é responsável pelo resultado.

Deus deu a meu marido e a

mim uma visão para nossos filhos.

Queremos vê-los crescendo em amor

pelo Senhor, vivendo uma vida de fé

ativa e amando as pessoas.

Trabalhamos para cultivar neles um

coração

ronto

ervir,

particularmente os perdidos e os que

sofrem. Também queremos lhes

comunicar o amor pela verdade.

Queremos que sejam autogovernados

e tenham amor pela beleza e pela

criação de Deus, uma paixão pelo

aprendizado e pela descoberta, e amor

por outras culturas e nações. Uma

grandiosa visão-e uma visão que

parece impossível em dias que o

devocional do café da manhã é sobre

paciência e, duas horas depois, eu a

perco quando as crianças começam

a brigar e a enxaqueca aparece

Graças a Deus que ele é capaz de

trabalhar mesmo através de vasos

fracos para cumprir seus propósitos.

Quando eu estava crescendo, a

educação era centrada em notas e em

minhas atividades, como minha

participação na equipe de natação.

Hoje vejo minha educação não

somente como uma disciplina a ser

conquistada ou a busca de boas

notas. Agora é mais entusiasmante

porque cada disciplina revela parte do

caráter de Deus. Em ciências

exploramos a criatividade de Deus.

Em matemática, vemos sua ordem.

Em história, vemos o desvelar de sua

história redentora. Além desses

tópicos mais acadêmicos, parte da

educação é aprender a amar nosso

próximo, praticando a hospitalidade e

servindo a igreja e a comunidade.

Podemos fazer coisas simples como

preparar refeições para os doentes,

visitar vizinhos, desenvolver amizades

com famílias de refugiados ou fazer

uma viagem missionária ao México.

Ser mãe é o maior desafio e

benção que já conheci. Quer eu esteja

trocando fraldas, preparando

sanduíches de pasta de amendoim,

explicando fração ou lendo sobre a

Grécia antiga, estou ocupando o

território para Deus até que ele volte

Ao invés de um chamado de segunda

classe, vejo isso como o mais elevado

privilégio de passar meus dias em

casa servindo meu esposo e criando

meus filhos.

Essa experiência não é só

minha. Conheço dezenas de

mulheres que trilharam caminhos

parecidos. Após a graduação e de se

estabelecerem em suas carreiras,

elas voltaram seus corações para o

lar. Elas encontraram realização e paz

respondendo ao chamado de Deus

para que "a amem aos seus maridos

e filhos, sejam moderadas, castas,

operosas donas de casa, bondosas,

submissas a seus maridos, para que

a palavra de Deus não seja

blasfemada" (Tt 2.4-5).

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332 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

As normas culturais que permeiam nossas vidas hoje e parecem óbvias.

têm suas raízes nas primeiras virtudes cristãs. O historiador Britânico Edward

Gibbon (1737-1794) nos lembra de que depois de anos do desrespeito Romano

pelas mulheres e casamento, "a dignidade do casamento foi restaurada pelos

cristãos."" Constâncio II (r.337-361), filho do Imperador Constantino, ordenou

a separação de homens e mulheres presos' para a proteção das mulheres.

Embora Cristo tenha entrado em um mundo polígamo, ele ensinou

monogamia." Quando o Cristianismo se espalhou, as relações poligâmicas fo-

ram largamente abandonadas. Na era moderna, William Carey e outros

seguidores de Cristo trabalharam em seus chamados para pôr fim à suttee e

casamentos infantis na Índia. Os cristãos na China trabalharam para trazer a

liberdade às mulheres que sofriam com o doloroso e humilhante ritual dos pés

amarrados. E são os cristãos que estão desafiando a clitoridectomia (a mutilação

genital feminina) na África e o comércio do sexo feminino em partes da Ásia e

ao redor do mundo.

A vida de Amy Carmichael é um exemplo notável da vocação cristã

para libertar as meninas e mulheres. Quando Carmichael, uma missionária

Irlandesa, viajou para a índia, ela descobriu que meninas de cinco anos estavam

sendo vendidas para templos de prostituição. Ela tomou uma posição contra

essa prática, o que também significou, por vezes, ir contra as autoridades

Britânicas e Indianas e até mesmo contra alguns colegas missionários Ela

lutou arduamente pela dignidade e honra daquelas crianças. Ela estabeleceu

uma casa e uma escola, chamada Donhavur Fellowship, para aquelas meninas

que ela poderia salvar da prisão e abuso sexuais. Sua vida foi literalmente

dedicada a esse chamado.

L.F. Cervantes escreve na Nova Enciclopédia Católica (1967) que "o

nascimento de Jesus foi um divisor de águas na história da mulher."" Isso não

é um exagero. Aquele carpinteiro judeu era nada menos que um revolucionário.

Hoje, muitos cristãos estão descobrindo chamados nos quais eles podem avançar

com a marcha, que Cristo desencadeou, da liberdade e da dignidade das

mulheres."

Nosso Chamado Hoje

Lute contra o tráfico de meninas e mulheres como objetos sexuais, seja

no "mercado da carne" no mundo ocidental, seja no machismo da cultura latina.

ou na escravidão sexual no comércio de sexo.

Trate todas as mulheres com respeito e dignidade porque são feitas à

imagem de Deus.

Resista à pressão da sociedade ocidental que fez o mercado determinar

o valor humano. Essa tendência de forças das mulheres no mercado em busca

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O grande nandamenrol

333

A HISTÓRIA DA JOCUM DE PORTO RICO

Alguns anos atrás fui contratado por

Yarley Nino, uma das líderes da Jovens Com

Uma Missão (JOCUM) de Porto Rico. Ele me

contou que meu primeiro livro, Discipulando

Nações: O Poder da Verdade para

Transformar Culturas, tinha impactado a ela

e a alguns os líderes do ministério e do

centro de treinamento, de tal forma, que sua

equipe tinha começado a ver a importância

de abandonar a cosmovisão dualista da

igreja e abraçar a poderosa, integrada e

abrangente cosmovisão da Bíblia. Como

resultado, eles começaram a ver tanto suas

vidas individuais e coletivas de uma

perspectiva muito nova.

No verão de 2003 nos encontramos

em uma oficina de Artes Globais onde dei

uma série de palestras que chamei de

"Cosmovisão e as Artes: Chamado aos

Cantadores de Baladas." A arte é talvez a

mais poderosa ferramenta para moldar a

cultura. Músicos, cineastas, poetas e

escritores estão na linha de frente da

formação cultural. Nessa série, reconheci

como os cristãos têm utilizado a arte na

adoração e evangelismo. AJOCUM é famosa

por suas escolas de adoração e, por anos,

venho os desafiando a fundar uma escola

que prepare os cristãos talentosos nas artes

a falar profeticamente a suas culturas.

Nessas palestras chamei os artistas cristãos

a começar a pensar a partir de princípios e

paradigmas

íblicos , ntão,

conscientemente falar a verdade, a bondade

e a beleza-a trilogia da cultura do reino-às

suas nações. Os jovens e mulheres de Porto

Rico ouviram o chamado e alguns deles

formaram um grupo chamado DNA

(Discipulando as Nações através da Arte).

Em 2005 tive o privilégio de facilitar

uma oficina de Cosmovisão e

Desenvolvimento em seu ministério em

Porto Rico. Certa noite me perguntaram

sobre o coração maternal de Deus.1 No meio

da sessão, o Espírito de Deus veio em nosso

meio trazendo um espírito de

quebrantamento e arrependimento em

relação à cultura machista de Porto Rico

que oprimia as mulheres. Mal sabia eu o

que significaria aquela noite nas vidas

desses jovens artistas.

Quando retornei ao centro no verão

de 2006 para apresentar uma série de

palestras intituladas "Levantando Ester," os

artistas me saudaram alegremente com o

trabalho criativo que haviam feito desde que

estivéramos juntos pela última vez. Vários

dos membros da equipe me mostraram seus

diários de poesia tratando da dignidade das

mulheres. Outro membro, Miguel Rodriguez,

mostrou-me um vídeo de quarenta e cinco

minutos feito pela equipe para contar a

história da santidade da vida e dignidade

das mulheres. Em seguida, ele me mostrou

um álbum de onze canções e partituras

originais que os membros da DNA haviam

escrito, tocado e gravado. Esse grupo de

jovens artistas se move com o desejo de

falar à sua nação através das artes com o

intuito de mudar uma cultura que denigre

as mulheres transformando-a em uma

cultura que as honra. Que sua tribo cresça.

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3 3 4 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

de sua identidade, que muitas vezes leva à desagregação da família.

Crie ambientes amigáveis onde as mulheres são incentivadas a

desenvolver o seu potencial de liderança.

Valorize a maternidade, a criação dos filhos e a construção do lar.

Mostre a santidade do casamento em palavras e ações.

Construa casamentos fiéis e bonitos que honrem a Cristo.

Inicie ou participe de programas para o desenvolvimento de castidade

entre os adolescentes.

Lute contra a mutilação genital feminina.

Ministre para aqueles que estão presos na prostituição por razões

econômicas.

Trabalhe com mulheres presas ou escapando da violência doméstica.

Trabalhe para a educação das meninas, onde elas têm menos acesso à

educação que meninos.

MISERICÓRDIA E COMPAIXÃO PELOS POBRES

No mundo em que Cristo entrou, compaixão e misericórdia eram

consideradas sinais de fraqueza, muitas vezes vistas até mesmo como vícios.

Plauto (c.254-184 a.C.), um filósofo romano, resume a atitude romana: "Você

faz um mau serviço a um mendigo, dando-lhe comida e bebida. Você perde o

que você dá e prolonga a vida dele para mais miséria." Os romanos praticavam

liberalitas: doando para agradar um destinatário que viria depois a retribuir o

favor.5 7

De fato, de acordo com os achados de Kennedy, "A antiguidade não

deixou nenhum vestígio de qualquer esforço de caridade organizada." Os pobres

e os necessitados não conseguiram se sair melhor em outras sociedades que

não tinham o evangelho. Citando Edward Ryan, Schmidt salienta que os "bonzas,

ou sacerdotes japoneses, ao sustentar que os doentes e necessitados eram

odiosos aos deuses, impediu os ricos de aliviá-los."

5 9

E até hoje, no mundo

Ocidental rico, ajudar os pobres não é, na maioria das vezes, visto como uma

responsabilidade individual.

Em contraste, toda a vida de Jesus Cristo pode ser definida como uma

vida de entrega aos pobres. Abra qualquer página do Novo Testamento e você

verá a prova. A parábola do bom samaritano

6 0

e o ensinamento de Jesus sobre

"as ovelhas e as cabras" (Mt 25.31-46) são exemplos contundentes, chamando

os cristãos para servir os pobres, os necessitados e os marginalizados. De fato,

é esta vocação que é, ou deveria ser, a marca do cristão.

Em contraste com o mundo greco-romano circundante, que praticou

Liberalitas, a igreja primitiva praticava caritas, doando para atender as

necessidades físicas e econômicas, sem esperar nada em troca.

6

' Desse modo

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O

grande mandamento 1 3 35

os primeiros cristãos padronizaram sua compreensão de ágape, grande palavra

grega do Novo Testamento, usada para expressar o amor de Deus para o

homem. O verdadeiro amor ágape sempre dá, mas não espera nada em troca.

Ele sempre coloca o valor no receptor. Então os primeiros cristãos simplesmente

amavam os pobres e necessitados da maneira que Deus os amava. Era a coisa

certa a fazer. Um dos primeiros padres da igreja, Tertuliano (c.155-230).

escreveu: "É nosso cuidado com os indefesos, a prática da bondade amorosa,

que nos condena aos olhos de muitos dos nossos adversários. "Apenas veja,"

eles dizem: 'Veja como eles se amam 6 2

Tertuliano também relatou que os

cristãos tinham criado um fundo voluntário para apoiar "as viúvas, deficientes

físicos, órfãos carentes, doentes, prisioneiros presos devido à sua fé cristã, e os

professores que necessitavam de ajuda; esse fundo cuidava dos enterros de

pessoas pobres e, por vezes, levantava recursos para a libertação de escravos."'

O imperador romano pagão Juliano (r.361-363) escreveu: "Eu acho que quando

os pobres a serem negligenciados e esquecidos pelos sacerdotes, os ímpios

galileus [ele está se referindo aos cristãos como "ímpios ", porque esses se

recusaram a curvar os joelhos e adorar o imperador] cuidaram disso e se

dedicaram à benevolência."

6 4

E, em uma mensagem diferente, ele disse: "Os

ímpios galileus ajudam não só os seus pobres, mas também os nossos. Todos

podem ver que nosso povo carece de nossa ajuda."'

A igreja cristã, desde então, teve um recorde impressionante de ajuda

aos pobres e necessitados ao redor do mundo. Inúmeros são os asilos, orfanatos,

hospitais, refeitórios, alojamento para os refugiados, escolas e outras obras de

caridade e sociedades começaram pelas ordens religiosas cristãs, igrejas

e

organizações de serviços. Exemplos dos passados duzentos anos abundam. O

movimento de orfanato de George Müller na Inglaterra era cuidar e educar

mais de oito mil crianças na época de sua morte, em 1898.

6

' Também em

Inglaterra, a Igreja do Tabernáculo Metropolitano de Charles Spurgeon

demonstrou o amor de Deus aos pobres e excluídos através de mais de sessenta

ministérios diferentes. Nos EUA, Charles Loring Brace fundou a Children's

Aid Society na construção de casas para crianças abandonadas. Em 1887, uma

série de líderes cristãos de Denver, Colorado, fundou a Organização da Sociedade

de Caridade, agora conhecida como United Way.

No mundo contemporâneo existem exemplos contemporâneos

importantes da Igreja trabalhando para ajudar os pobres e necessitados. Um

excelente exemplo é a Igreja Pentecostal de Kampala, em Kampala, Uganda.

Sob a direção do Pastor Gary Skinner, esse grupo de crentes, enquanto eu

escrevia este livro, tem oferecido casas para mais de dois mil órfãos da Aids. A

visão dessa única igreja, atualmente com quinze mil membros, em mil e

quinhentas células, é proporcionar lares para

dez

mil crianças órfãs devido

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3 3 6 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

AIDS e ser uma resposta da igreja para a pandemia da AIDS por toda a África.

Cada célula tem sido desafiada a "adotar" uma pessoa que está morrendo de

AIDS e cuidar dessa pessoa e de sua família.

Outro exemplo é Abba Love, uma igreja em grandes células em Jacarta.

na

Indonésia, que está ministrando aos muçulmanos pobres em favelas perto

da igreja e prestando cuidados de saúde, escolas para crianças e cuidando das

viúvas e órfãos.

A assistência humanitária cristã para socorro e desenvolvimento Food for

the Hungry (Alimento para os famintos) trabalha para salvar vidas durante a

guerra e fome. Em M oçamb ique durante a década de 1990 , alimentou meio milhão

de pessoas po r mês durante dois anos e então providenciou sementes e ferramentas

para as pessoas plantarem a sua própria comida quando a fome acabou.

Meu amigo ganense Chris Ampadu disse que, na maioria das sociedades

africanas onde há vida em comum, cada família geralmente é capaz de cuidar

de seus próprios doentes e pobres. As famílias usam os recursos disponíveis

para tratar dos seus necessitados com respeito e compaixão. No entanto, um

dos efeitos devastadores da epidemia do HIV/AIDS na África é o colapso

dessas redes causado pela morte de muitos membros das mesmas famílias e

comunidades, deixando muito poucos ou mesmo ninguém para cuidar dos doentes

ou, mais triste ainda, para criar adequadamente as crianças sobreviventes.

Hoje, no Ocidente, organizações como a Food for the Hungry e a Youth

With A Mission (JOCUM) estão proporcionando oportunidades para dezenas

de milhares de homens e mulheres para viver e trabalhar entre pessoas pobres

e necessitadas. Após o furacão Katrina ter atingido a Costa do Golfo dos EUA.

foram as igrejas locais em toda a América que provaram ser os primeiros que

reagiram. Nascida de um amor para com os pobres nos Estados Unidos, Kit

Danley fundou o Neighborhoo d M inistries, em Phoenix - Arizona, e Am y Sherman

estabeleceu Charlottesville Abundant Life Ministries em Charlotteville - Virgínia.

A hora é agora para todos os cristãos se envolverem, seja pouco ou muito, no

ministério de misericórdia com os pobres.

Nosso Chamado Hoje

Cuidar de pessoas com AIDS.

Fornecer casa e abrigo para os órfãos da AIDS.

Ajudar os pobres e famintos a começarem a cuidar de si próprios.

Construir casas para muçulmanos pobres (como algumas igrejas estão fazendo

nas Filipinas).

Ser monitor de crianças pobres que estão com dificuldades na escola.

Visitar aqueles que estão na prisão.

Auxiliar em um refeitório local.

Trabalhar entre os refugiados.

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O grande mandamento

1 337

Iniciar ou apoiar um programa da Angel Tree, que dá presentes no Natal para

crianças pobres cujos pais estão presos.

Empreendedores, empresários, e executivos corporativos: criar empresas em

bairros arruinados.

Advogados e políticos: trabalhar para o estabelecimento de leis que apoiam a

livre iniciativa e premiar a iniciativa humana.

Banqueiros: estabelecer programas de micro poupança em comunidades pobres

como parte de seu serviço à comunidade.

Empreiteiros: ajudar a construir habitações de baixa renda tanto em comunidades

de classe média como em comunidades arruinadas.

A HISTÓRIA DE DAVID BUSSAU

Começando com um carrinho de

cachorro-quente na idade de quinze anos,

o empreendedor australiano David Bussau,

logo cedo, mostrou seu dom para os

negócios. Quinze empreendimentos mais

tarde, com trinta e cinco anos, ele se

aposentou de um negócio multimilionário na

área da construção, tendo alcançado o que

chama de "a economia do bastante."

Após realizar trabalho de

assistência, em uma vila remota da Indonésia

após um terremoto, e descobrir que fazer

obras de infraestrutura como escolas, pon-

tes e estradas não estava quebrando o ciclo

de pobreza na comunidade, Bussau

transformou seu dom em uma organização

que lida com a pobreza em suas raízes. Ele

foi cofundador da Opportunity International,

uma organização que fornece pequenos

empréstimos a empreendedores em vinte e

sete países em desenvolvimento.

Hoje, os empréstimos a

microempresas dos quais Bussau foi pioneiro

são um meio encorajador através do qual

Deus trabalha para ajudar os pobres de uma

maneira que reconheça sua dignidade. Muitas

agências cristãs de socorro agora oferecem

programas que capacitam as pessoas em

países em desenvolvimento a fazer pequenos

empréstimos para iniciar ou expandir um

negócio. Os microempréstimos são pagos

em dia em mais de 95% das vezes e têm sido

utilizados no crescimento de grande variedade

de negócios, desenvolvendo milhares de vilas

no processo.

Como cristão, Bussau definiu como

seu objetivo administrar recursos em

benefício das pessoas. Ele vê a criação de

riquezas como um aspecto crítico da

mordomia cristã. Com

o desenvolvimento de

microempresas, ele e outros estão

desafiando o modelo convencional de

redistribuição de riqueza e estão criando

riqueza de maneira responsável. Bussau

diz: "Cada um de nós tem a capacidade de

ser incrivelmente produtivo e aqueles que

percebem isso são aqueles que fazem a

diferença no mundo. Para mim o desafio é

encontrar maneiras de liberar esse incrível

potencial nos seres humanos,

possibilitando que essa força e impulso

criativos sejam colocados para fora."'

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DIMENSÓES:

338 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

O EVANGELHO PLENO

Em conclusão, o evangelho de Cristo é o "evangelho pleno." Cristo nos

ensinou a orar: "Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade assim na terra,

como no céu." À medida que seus seguidores responderam a esse chamado ao

longo da história, eles trouxeram a progressiva transformação em culturas e

nações. Os cristãos são chamados a serem fabricantes de história. Não fomos

feitos para ficar passivos e assistir a história passar. Devemos viver coram

Deo, contribuindo agora como exemplos de primícias da expressão plena do

reino que ainda está por vir para todos os domínios. Qualquer coisa menos que

isso não é viver de acordo com o evangelho de Deus.

Muitos leitores deste livro podem estar vivendo em sociedades, tais como

as do mundo em desenvolvimento, onde as questões sociais discutidas neste

capítulo se tornarão focos bastante necessários de seus chamados. Outros

viverão em sociedades em que essas alterações já estão presentes em graus

variados. Se assim for, seus chamados hoje incluem perguntar que outras

injustiças precisam ser abordadas e quais outras descobertas e possibilidades

excitantes nos esperam, enquanto aprendemos com a Bíblia a ver o nosso mundo

pela luz do evangelho. Não há sociedade no mundo que não precise de mais

sabedoria de Deus e de mais influência do reino. Como cristãos, somos chamados

a assumir a liderança através de nossos chamados no mundo.

Cristo chamou seus seguidores a levar todo o evangelho para cada pessoa,

em cada nação, e para cada setor da sociedade. Como já vimos, a Grande

Comissão é abrangente.

CULTURA DO REINO E A GRANDE COMISSÃO

PREGAR

TODA CRIAÇÃO

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CULTURA

DO REINO

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DISCÍPULOS

DE TODAS

AS NAÇÕES

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O grande mandamento

1 339

É um chamado para ir até os confins da terra (geográfica - Atos 1.8),

para ir a toda a criação (ktisisográficos - Marcos 16.15), e para penetrar na

cultura (demográficas - Mateus 28.18-20). E o que devemos levar? Começamos

com as boas novas de Jesus Cristo. E acabamos levando a cultura do reino de

Deus: verdade, bondade e beleza. Quando infundimos a cultura do reino na

Grande Co missão, o fruto é "Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade assim

na terra, como no céu."

É minha esperança e oração que este estudo das portas e domínios, e a

aplicação do Grande Mandamento (manifestar o amor de Deus para todas as

pessoas) ao nosso trabalho nos domínios tenham nos ajudado a entender com

mais firmeza o evangelho pleno e poderoso do reino de Deus. É um evangelho

que leva homens e mulheres a um conhecimento redentor de Cristo. Mas não

termina aí. Ele chama os cristãos para entrar nos portões da cidade e nos

domínios da vida com a única e verdadeira esperança para um mundo perdido

e confuso.

Na parte 7 - Igrejas sem Paredes - vamos procurar fazer dessa entrada

de esperança uma realidade. Vamos sair de nossos prédios para o mundo.

Vamos seguir a bandeira de Cristo e de seu reino até as portas da cidade.

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PARTE 7:

IGREJAS SEM PARED ES

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Capítulo 21

SERVINDO COM O

GUARDIÕES DAS PORTAS

Até agora vimos que é imperativo que cada um de nós conecte a sua

vocação ao reino de Deus. Como nos lembra Dallas Willard, fazer nosso trabalho

"como Jesus faria... é o coração do discipulado, e não podemos ser verdadeiros

aprendizes de Jesus sem integrar o nosso trabalho ao Reino em Nosso Meio."'

O cristão que ocupa as portas da cidade pode ser considerado um "Pro-

motor do Reino"' - alguém que procura fazer do seu local de trabalho um lugar

onde o reino pode tornar-se realidade. Tal crente procura conscientemente

levar verdade, beleza e bondade ao mercado de trabalho e ao público, unido à

comunidade da igreja para adoração, para equipar-se e disseminar-se no serviço

e discipulado das nações. Os Promotores do Reino realizam seu trabalho por

Cristo e por seu reino, não primeiramente pelo dinheiro.'

Um promotor do reino é:

• médico não por dinheiro, mas por Jesus e pela saúde da

comunidade;

advogado, não pelo dinheiro, mas por Jesus e pela justiça na

sociedade;

•engenheiro, não pelo dinheiro, mas por Jesus e pela luta contra

os efeitos do mal natural;

artista, não pelo dinheiro, mas por Jesus e pelo avanço da verdade

e da beleza no mundo;

•empresário, não para autoengrandecimento, mas por Jesus e pela

suficiência econômica da sociedade.

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344 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

PROMOVENDO

O REINO

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Quando oramos "Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na

terra como no céu", estamos orando para que a terra seja mais parecida com o

céu. Quando paramos de orar e agir, a terra se torna mais com o inferno. Em

nosso trabalho, temos o potencial para tornar o mundo mais parecido com o

inferno e

a oportunidade de tornar o mundo mais parecido com o céu, mais

parecido com o que Deus planejou na criação.

Como podemos começar hoje, em princípio e prática, a ocupar as portas

da cidade?

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OCUPANDO AS PORTAS EM PRINCÍPIO

Em primeiro lugar, cada um de nós pode começar agora mesmo a ocupar

as portas da cidade, em princípio, atacando a fortaleza da mente. Precisamos

começar a pensar como cristãos em todas as áreas de nossas vidas, inclusive

em relação ao nosso trabalho. Precisamos confessar que temos cedido ao espírito

deste mundo. Romanos 12.2 chama o cristão a parar de se conformar aos

sistemas do mundo. Esse cativeiro é rompido através da renovação da mente.

Paulo lembra-nos em 2 Coríntios 10.4-6 que a batalha que estamos enfrentando

é uma batalha de idéias e ideais. É uma batalha pelas mentes das pessoas e

culturas. Existem fortalezas em nossas mentes que precisam ser quebradas,

trazendo cativo todo pensamento a Cristo.

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Servindo corno guardiões das portas

I 345

Em segundo lugar, cada um de nós pode procurar compreender

e

manifestar que Cristo deve ser preeminente em todas as coisas.

4 Como vimos,

devemos levar os princípios do reino a todos os domínios da sociedade: no

direito (levar a justiça), nos negócios (levar a honestidade e integridade), nas

ciências (levar a objetividade), na comunicação (levar a verdade), e na arte

(levar a beleza).

Em terceiro lugar, cada um de nós pode restaurar o conceito e conteúdo

de virtude às portas procurando de alguma pequena forma praticar o que é

verdadeiro, bom e belo. Isso deve ser feito em todas as áreas de nossas vidas.

Em quarto lugar, podemos começar a ocupar as portas passando a ver a

igreja como um povo, não um prédio. Como veremos no próximo capítulo, o

nosso conceito de igreja deveria libertar o povo para estar no mundo, nas portas

da cidade, no mercado de trabalho, na praça pública e nas universidades, como

pequenas comunidades encarnadas.

OCUPANDO AS PORTAS NA PRÁTICA

Quais são algumas coisas práticas que você pode começar a fazer

imediatamente para ter maior influência na porta que você ocupa?

Primeiro, se ainda não o fez, você precisa procurar identificar o(s)

domínio(s) para os quais você foi chamado a servir.'

Em segundo lugar, você pode fazer a oração do Senhor no que se refere

ao seu domínio. "Venha o teu reino, seja feita a tua vontade neste domínio assim

na terra como no céu." Comece a perguntar "Se Cristo trabalhasse nessa área,

como ele mudaria as coisas? Conforme responde essa pergunta, você vai

começar a ver qual é o seu plano.

Em terceiro lugar, trabalhe para descobrir como Deus o equipou para

exercer a liderança nesse domínio.

Em quarto lugar, estude as Escrituras no tocante à sua vocação.

Desenvolva uma teologia bíblica da vocação específica para o seu chamado,

para que possa começar a ter a mente de Cristo no que se refere ao seu

trabalho.

Em quinto lugar, desenvolva uma série de estudos bíblicos que possam

ser utilizados para ensinar outras pessoas os princípios relacionados aos seus

domínios.'

Em sexto lugar, una-se a um grupo da igreja ou célula no local de trabalho

que se concentre em ser uma comunidade de redimidos nesse domínio. Os

exemplos incluem uma célula de médicos para o hospital local, uma célula de

engenharia para a empresa, e uma célula de alunos e professores para a

universidade.

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346 I VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Em sétimo lugar, procure se desenvolver mais, formalmente ou

informalmente, conforme necessário, para aumentar sua excelência.

profissionalismo e respaldo em sua área profissional. Isso pode incluir a leitura

de livros conceituais que se relacionem a uma teologia bíblica para o seu domínio

ou avançar em sua formação acadêmica ou técnica.

Em oitavo lugar, crie materiais de treinamento para preparar outros

cristãos para o mercado de trabalho. Escreva livretos e livros que ajudem a

promover o reino no mercado de trabalho. Promova treinamentos em sua igreja

local ou local de trabalho para ajudar os cristãos a começarem a conectar o seu

trabalho ao reino. Quando tiverem concluído o treinamento, os participantes

podem ser comissionados para o local de trabalho.

COM QUAL FINALIDADE?

Com qual finalidade devemos ser guardiões das portas, ser promotores

do reino? A fim de que as culturas sejam transformadas e as nações-não apenas

os indivíduos em cada nação-sejam discipulados. Jesus tem levantado a igreja

para discipular as nações.' Ele é o Rei do céu e da terra agora.' Seu reino deve

avançar neste mundo.

9

Quando oramos o Pai Nosso, "Venha o teu reino".

estamos orando para o avanço do reino de Cristo tanto na terra como no céu.

Dallas Willard escreve:

Então, quando Jesus nos orienta a orar; "Venha o teu reino", ele

não quer dizer que devemos orar para que esse reino venha a existir. Pelo

contrário, devemos orar para que ele assuma o controle em todos os pontos

na ordem pessoal, social e política, de onde agora está excluído: "na

terra como no céu." Com esta oração, estamos invocando isso ao mundo

real de nossa existência diária ao mesmo que agimos pela fé."

 

Nações são discipuladas conforme são ensinadas a obedecer "a tudo o

que lhes ordenei" (Mt 28.20). O que vemos em uma nação discipulada? Dr. Jun

Vencer do Ministério DAWN apresenta um útil resumo do objetivo. Uma nação

discipulada, diz ele, seria caracterizada pelo seguinte:

Suficiência econômica

• Paz social

• Justiça pública

Justiça nacional

E onde todos os aspectos da vida são centrados no Senhorio de Jesus

Cristo"

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Servindo como guardiões das portas 1 347

Da mesma forma, Lawrence Harrison, estudioso e antigo trabalhador da

USAID no Caribe, escreve sobre os anseios de pessoas em todo o mundo que

A vida é melhor do que a m orte

A saúde é m elhor do que a doença.

A liberdade é melhor do que a escravidão.

A prosperidade é melhor do que a pobreza.

A educação é melhor do q ue a ignorância.

A justiça é melhor do que a injustiça.' 2

Vivemos no mundo que Deus fez e as pessoas anseiam pela vida para a

qual foram feitos. Cada cristão tem um papel a desempenhar para satisfazer os

anseios dos seus vizinhos e colegas de trabalho. Profissionais de saúde podem

oferecer cuidados pessoais, saúde, educação e novas tecnologias para promover

uma saúde melhor. Empresários e empreendedores podem criar empresas nas

quais não basta obter lucro, mas sim fazê-lo criando um ambiente de trabalho

humano e contribuindo para a saúde em longo p razo e a integridade da com unidade

como um todo. Os professores podem promover não só o conhecimento

acadêmico, mas também a verdade, a sabedoria e o desenvolvimento do caráter

nas escolas e universidades onde trabalham. Advogados, juízes e políticos podem

estabelecer leis que sejam justas e equitativas. Cada cristão tem uma ocupação

nas portas da cidade.

EXEMPLO DE UM GUARDIÃO DE PORTAS:

WILLIAM CAREY

A maioria de nós chamados a ocupar as portas da cidade continuará a

ser desconhecido para o resto do mundo. No entanto, cada um de nós tem um

chamado que pode encontrar inspiração na transformadora vocação de Will-

iam Carey, um homem cujo trabalho continua a influenciar vários domínios

mesmo já tendo se passado muitas gerações após sua morte. Conhecido como

o pai das missões modernas, William Carey não foi nenhum missionário comum

em sua época, e ele continua a ser excepcional hoje em dia. No notável livro de

Vishal e Ruth Mangalwadi, The Legacy of William Carey [O Legado de Will-

iam Carey], vemos como Deus usou um humilde sapateiro inglês para influenciar

o povo da Índia. Carey utilizou a mente bíblica em sua estratégia e metodologia

de missões, entendendo que o evangelho era para impactar todas as áreas da

sociedade.

No capítulo de abertura do livro, os Mangalwadis expõem a Carey através

dos olhos de vários estudantes universitários indianos que participam de uma

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348 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

competição nacional de História da Índia. Uma das perguntas foi: "Quem é

William Carey?" Eis algumas das respostas:

"William Carev foi um missionário cristão", responde uni estudante

de ciências. "E ele também foi o botânico que deu o nome à Careya herbace.

É uma das três variedades de eucalipto encontrada somente na índia.

"Carey trouxe a margarida inglesa para a índia e introduziu o

sistema de Lineu à jardinagem. Ele também publicou os primeiros livros

sobre ciência e história natural da Índia, como a Flora Indica de William

Roxburgh, porque acreditava na visão bíblica de que "Todas as Tuas

obras Te louvam, Ó Senhor" Carev acreditava que a natureza é declarada

"boa" pelo seu Criador; ela não é maya (ilusão), não deve ser evitada,

mas é um assunto digno de estudo pelos seres humanos. Ele frequentemente

palestrou sobre ciência e tentou mostrar que mesmo os insetos não são

almas humildes em escravidão, mas criaturas dignas da nossa atenção.'

William Carev introduziu o estudo da astronomia no

Subcontinente", declara um estudante de matemática. "Ele era

profundamente preocupado com as ramificações culturais destrutivas da

astrologia: fatalismo, temor supersticioso, e a incapacidade de organizar

e gerir o tempo.

"Carey queria introduzir a índia à cultura científica da astronomia.

Ele não cria que os corpos celestes eram 'divindades que regem nossas

vidas.' Ele sabia que os seres humanos são criados para governara natureza,

e que o sol, a lua e os planetas são criados para nos ajudar em nossa tarefa

de governar. Carey era convicto de que os corpos celestes devem ser

cuidadosamente estudados, uma vez que o Criador os fez para ser sinais

ou marcadores. Eles ajudam a dividir a monotonia do espaço em direções:

Leste, Oeste, Norte e Sul e do tempo em dias, anos e estações. Eles

possibilitam que concebamos calendários; estudemos geografia e história;

planejemos nossas vidas, nosso trabalho e nossa ordem social. A cultura

da astronomia nos liberta para ser governantes, ao passo que a cultura

da astrologia nos tornam vítimas e nossas vidas determinadas pelas

estrelas.

1 4

"William Carey", diz uma estudiosa da ciência social feminista, foi

o primeiro homem a ficar contra tanto os assassinatos cruéis e da opressão

generalizada contra as mulheres-quase sinônimos de hinduísmo, nos

séculos XVIII e XIX. Os homens na Índia estavam oprimindo as mulheres

através da poligamia, do infanticídio feminino, do casamento infantil, da

queima das viúvas, da eutanásia e forçando o analfabetismo feminino-

todos sancionados pela religião. O governo britânico aceitava timidamente

esses males sociais como sendo uma parte intrínseca e irreversível das

tradições religiosas da Índia. Carey começou a conduzir pesquisas

sociológicas sistemáticas e bíblicas sobre estas questões. Ele publicou os

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Servindo cama guardiões das portas

1 349

seus relatórios, a fim de levantar a opinião pública e protestar, tanto em

Bengala quanto na Inglaterra. Ele influenciou toda uma geração de

servidores públicos-seus alunos na faculdade Fort William College-a

resistir a esses males. Carey findou escolas para moças. Quando viúvas se

convertiam ao cristianismo, ele as encorajava a se casarem novamente.

Foi a persistente batalha de 25 anos de Carey contra o sati, a queima de

viúvas, que finalmente levou ao famoso édito de Lorde Bentinck em 1829,

proibindo uma das mais abomináveis de todas as práticas religiosas. "'-s

Através destas descrições dos alunos sobre a transformadora influência

produzida em seu país pela cosmovisão de William Carey, podemos ver o

potencial do trabalho transformador nesses e em outros domínios em nossos

dias.

Fica claro que cada cristão é chamado a servir como guardião de portas;

cada cristão é chamado a uma vocação que conecte toda a sua vida e trabalho

ao reino de Deus. Também fica claro que somos chamados, não isoladamente,

mas como parte da igreja de Cristo. É necessário um novo entendimento de

"igreja" para vermos os cristãos vivendo seus chamados nas portas das cidades

e vermos o cumprimento dos anseios das pessoas pelo o reino para o qual

foram feitas. Nos dois últimos capítulos desse livro, consideraremos o que

significa ser corpo de Cristo no mundo.

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Capítulo 22

O CORPO DE CRISTO:

IGREJAS SEM PAREDES

Jesus declarou: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja,

e as portas

do Hades não poderão vencê-la" (Mt 16.18). Estas palavras revelam que a

igreja de Cristo está a avançar em território inimigo. As portas do inferno não

poderão resistir ao ataque da Igreja. "Edificarei" marca o avanço do reino e do

plano de Cristo. Irá ocorrer porque o Senhor do universo declarou.

Nesse quadro quem está na ofensiva? A igreja. Cristo venceu o medo da

morte na cruz e a própria morte na ressurreição. Ele agora é o Rei do céu e da

terra. Satanás está na defesa. Ele perdeu a grande batalha da guerra pelo

universo. Ele está em retirada. Cristo está levando suas forças em operações

de limpeza. Devemos seguir Cristo e sua bandeira para as portas do inferno.

A guerra continua entre Deus e Satanás, entre a verdade e a mentira,

entre o bem e o mal, entre a luz e a escuridão, entre a vida e a morte. As forças

do mal não são páreos para o ataque do reino. O reino de Deus irá prevalecer

no final.

Essa guerra se manifesta aqui na terra de maneiras muito concretas que

têm consequências tanto para os indivíduos como para a cultura. Há batalhas

que precisam ser combatidas em várias frentes. Há uma batalha pela verdade

e contra as mentiras, para a cultura da vida e contra a cultura da morte; e outra

para a justiça e contra a corrupção; outra para a beleza e contra o feio e

horrível; outra para a abundância e contra a fome; outra para suficiência

econômica e contra a pobreza; e outro para a sabedoria e contra a ignorância;

e outro para a saúde e contra a doença. Servos do Rei devem se ocupar-

usando seus dotes naturais, talentos e habilidades-para a luta contra essas

batalhas. Eles devem fazer uma contribuição única, em sua vida e vocação,

para ocupar o território inimigo para Cristo.

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352 I VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

Como parte do exército de Deus não lutamos com espadas, armas, ou

bombas, mas com a verdade, a beleza e a justiça. Não avançamos em navio ou

em tanques, mas de joelhos e através de um trabalho humilde. À medida que

cada cristão está posicionado estrategicamente, ele implanta a bandeira de

Cristo.

A CONTRIBUIÇÃO ÚNICA

A guerra na qual somos chamados a servir hoje tem diminuído e se

enfraquecido ao longo da história. Às vezes o reino de Deus avança, às vezes

as forças das trevas avançam. Neste momento da história têm ocorrido avanços

sem precedentes no evangelismo e implantação de igrejas. Jamais houve mais

cristãos ou igrejas no mundo do que existem hoje. Mas o impacto da Igreja na

cultura ocidental está diminuindo drasticamente. O reino das trevas está

impactando profundamente as nações mesmo enquanto as igrejas crescem

numericamente. A igreja praticamente perdeu o Ocidente para o secularismo, e

o secularismo está desmoronando sob o peso da ganância e da corrupção em

sua insuficiente fundação. O pós-modernismo ou neo-paganismo está avançando

nos corações e mentes das nações, especialmente na Europa pós-cristã e as

principais cidades da América do Norte. Em grande parte do mundo em

desenvolvimento, a mentalidade e o sistema de valores do espiritismo continuam

a prevalecer, diminuindo o impacto do crescimento numérico da igreja.

Então, qual é o prob lema? A igreja, na nossa geração, tem uma m entalidade

de que Satanás está na ofensiva e que a Igreja está na defensiva. Esta

mentalidade é exatamente o oposto do ensino da Escritura e está criando uma

mentalidade derrotista na igreja.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O corpo de CO corpo de cristoristo

1 353

Precisamos ser lembrados de quem ganhou a batalha da cruz e quem venceu

a batalha sobre a morte. Cristo e seu reino continuarão avançando até que seu

triunfo seja concluído. Ele é o Rei de Israel prometido escrito em Isaías 9.6-7:

Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo

está sobre os seus ombros. E ele será chamado M aravilhoso C onselheiro,

Deus P oderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz.

Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de

Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e retidão,

desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos E xércitos fará isso.

Deus vai realizar a sua obra de redenção completamente. As portas do

inferno não prevalecerão.

Se isso é verdade, a igreja deve ter a mentalidade vitoriosa de avançar

contra o reino de escuridão. Ela deve ser proativa, atacando as portas do in-

ferno, não desprendida ou remota. Nem ela deve ser reativa-na defensiva,

respondendo aos ataques do reino das trevas.

A falsa mentalidade da dicotomia do sagrado-secular é aquela que iria

ver as portas da cidade-os domínios de governo, a mídia ou a ciência-como as

"portas do inferno". Por sua resultante postura separatista ou antagônica em

relação ao mundo, os gnósticos cristãos evangélicos têm mostrado que, algumas

vezes, eles (equivocadamente) igualam o trabalho "nas portas da cidade" ou

"no mundo" com o trabalho bem nas portas do inferno. Obviamente esse não é

o caso. As esferas da sociedade humana são ordenadas por Deus ou provem

do mandato dado por nosso Deus de administrar toda a criação. A harmonia

encontrada na criação antes da Queda é o objetivo do fim dos tempos, onde

haverá uma harmonia entre a criação do homem-a cidade-e a criação de Deus-

a natureza.'

É evidente que as portas da cidade, os domínios da sociedade, não são as

portas do inferno que a igreja deve se mover contra; elas não são o alvo do

ataque da Igreja. Como Paulo escreve: "pois a nossa luta não é contra pessoas,

mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de

trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais." (Ef. 6:12).

Como as culturas mais amplas da qual fazem parte, os domínios da sociedade

que somos chamados a ocupar e influenciar têm diferentes graus de cultura do

reino, cultura falsa e cultura natural. Não é atacando verbalmente devido à

frustração pela ação ineficaz, nem é nos fechando, que atacamos as portas do

inferno, mas manifestando mais claramente a cultura do reino nas portas da

cidade. Na força da palavra de Jesus, sua igreja deve tomar a iniciativa. Trata-

se de tomar a ofensiva. Porque Jesus disse, a verdade irá desafiar a mentira, o

bom irá vencer o mal, o amor irá superar o ódio, e a luz irá vencer as trevas.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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354 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua a.s.s

inatura no universo

UMA COMUNIDADE ENCARNADA

O que é a igreja? Na sua essência, ela é uma comunidade encarnada.

Na sua essência, ela não é um edifício. Ela não é definida por sua estrutura

eclesiástica e política. Não, ela é uma comunidade de crentes que devem

encarnar o Verbo em um mundo corrompido.

Em primeiro lugar, a Igreja é a comunidade. A igreja é descrita como o

corpo de Cristo,' a noiva de Cristo.' e uma nação santa e sacerdócio real.'

Essas são todas descrições relativas à vida, orgânicas. A igreja não é estática.

O que marca uma igreja é o seu povo e sua vida em conjunto, e não o lugar ou

edifício onde se reúnem, adoram, e estão preparados para a batalha e servidão.

Um edifício pode ser o lugar onde os crentes se reúnem para adorar e se

preparar, mas o templo não é a igreja. De certa forma, a igreja é uma comunidade

de crentes, uma comunidade dos redimidos através da qual Deus trabalha. Ao

identificar a igreja como o corpo de Cristo, Paulo revela que essa comunidade

é uma unidade da diversidade de muitos membros únicos' com uma variedade

de dons, serviços e ministérios.

°

Essa é uma comunidade que reflete a própria

natureza e propósitos de Deus.

Em segundo lugar, a igreja é encarnada. Ao chamar a igreja de "o corpo

de Cristo", faz com que se lembre de que ela é uma comunidade encarnada.

Assim como Cristo foi "Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre

nós." (Jo 1:14), agora o Verbo (Jesus) é encarnado hoje através de sua igreja.

Quando viemos a Cristo, entramos em seu reino. Como a igreja, devemos viver

como ele viveria no mundo.'

DUPLA CIDADANIA

Em A Cidade de Deus, Santo Agostinho disse que somos cidadãos de

"duas cidades." Cristo é o Rei do céu e da terra, agora e no futuro.' Porque

suas leis são eternas e imutáveis, os princípios bíblicos são aplicáveis tanto nos

céus quanto na terra. O cristão é, em cada momento, um cidadão dos céus'

quanto deste mundol0 e está sujeito às leis de Cristo, em ambos os reinos.

O reino de Deus é agora e ainda não. O cristão deve viver a realidade do

futuro retorno do rei, enquanto manifesta a presença do reino no mundo de

hoje. O reino de Deus está plenamente estabelecido no céu, e está avançando

consideravelmente sobre a terra agora. Isso significa que o Reino da Luz estará

desafiando o reino das trevas de Satanás. Os aspectos do reino futuro irão

realizar uma colheita plena, quando Cristo voltar. Seu reino será consumado

mediante uma única soberania. A paz Shalom vai reinar Até então, os cristãos

serão cidadãos dos dois reinos, com um pé em cada um.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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PARA A MORTE

O corpo de Cristo 1 355

A IGREJA E O MUNDO

A igreja deve ser ao mesmo tempo separada do mundo (santificada-

separada) e ativamente engajada (conquistando para Cristo) no mundo. Jesus

deixa isso claro quando ele ora por seus discípulos na Grande Oração Sacerdo-

tal na Última Ceia (Jo 17.15-19):

"Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno.

Eles não são do mundo, como eu também não sou. Santifica-os na verdade;

a tua palavra é a verdade. Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei

ao mundo. Em favor deles eu me santifico, para que também eles sejam

santificados pela verdade."

Imediatamente antes da jornada para a cruz, Cristo ora por si mesmo,

por seus discípulos e por todos os crentes.11 Ele ora para que seus discípulos

estejam no mundo, mas não serem do mundo. O que isso significa? De duas

formas muitos membros da Igreja que se opõem ao conceito correto de "estar

no mundo, mas não ser do mundo." O primeiro é o que chamo de igreja fortaleza.

A Igreja Fortaleza

A igreja fortaleza procura fisicamente se separar do mundo. Para usar a

expressão da oração de Cristo no sentido inverso, a igreja está "fora do mundo

e dentro do templo." A Igreja, na tentativa de manter-se afastada do mundo e

do diabo, se separa da vizinhança pelas paredes do templo. Ela deixa o mundo

para trás e desengaja da cultura. Nesta perspectiva, tudo o que Deus quer é

que a igreja esteja escondida por trás dos muros de proteção de uma cultura

independente e isolada. Por muitas vezes essa tem sido a postura de muitos

fundamentalistas e igrejas evangélicas.

IGREJA FORTALEZA

DESCONECTADA

DENTRO DA IGREJA E FORA DO MUNDO

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356 1

VOCAÇÃO: Escreva

.11W

assinatura no universo

A Igreja Sincrética

A segunda forma eu chamo de igreja sincrética. No sincretismo as igrejas

compartilham da mesma estrutura básica moral e metafísica da sociedade em

geral. Ela está conforme o mundo em vez de estar conforme a Cristo. Para

distorcer a expressão da oração de Cristo, a Igreja está "no mundo e do mundo."

Na tentativa de ser relevante ou atrativa para a sociedade, ela torna-se como a

sociedade, indistinguível da cultura. Ao invés de transformar a cultura por Cristo,

a igreja é transformada pelo mundo até que ela já não se diferencia dele.

Demasiadas vezes, as denominações chamadas liberais e muitas das igrejas

com "exigências amigáveis" de hoje têm sucumbido a essa tendência.

IGREJA SINCRÉTICA

CONFORMADA

INDISTINGUIVEL DO MUNDO

I I I 1 1 1

1

 L

PARA A MORTE

A Igreja do Reino

No meio radical está a igreja do reino. Essa igreja é engajada na sociedade

e, ao mesmo tempo é moralmente e metafisicamente consagrada. Para usar a

expressão exata da oração de Cristo, a Igreja está "no mundo, mas não é do

mundo." A Igreja esta sempre se reformando e buscando transformar a

sociedade. Ela é sempre contra cultural. Ela pede para construir reinos de

comunidade e cultura que se dedicam ao mundo com a verdade, beleza e justiça.

A palavra grega para igreja é ekklesia, que significa "chamar para fora."

Ser chamado para fora significa ser chamado de algo e para algo. Como a

Igreja, somos chamados para fora da mentalidade do mundo, ético e estético,

mas não do próprio mundo. Somos chamados a ser separados por Cristo, com

Cristo e para Cristo.

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O corpo de Cristo

1 357

Somos chamados para fora do mundo e para dentro do reino. Mas porque

devemos estar no mundo nos relacionando com ele, embora não sejamos dele,

o chamado para fora é a separação do sistema do mundo, da sua atitude, da sua

ética e de sua estética, para entrar na cosmovisão do reino e da cultura.

A Igreja é chamada para ser uma comunidade encarnada que reflete e

apresenta o caráter de Deus. Esta chamada para fora e impressionar a

comunidade e nação em geral com a fidelidade, santidade e beleza de Deus. É

para ser um povo com uma maneira diferente de pensar (a verdade), uma

maneira diferente de viver (virtude), e uma maneira diferente de se expressar

(amabilidade, esplendor).

A noção de sermos os "chamados para fora" é verdadeira tanto para as

expressões universais quanto locais do corpo de Cristo. A igreja deve ser

separada moralmente e metafisicamente, mas não fisicamente. Ela deve ser

um povo santo e especiall 2 vivendo no mercado de trabalho e na praça públical3

como comunidades encarnadas. Os cristãos como indivíduos, a igreja espalhada,

devem ser socialmente e fisicamente engajados na comunidade e na nação,

levando o reino para o mundo, em todos os domínios da sociedade, enquanto

inteiramente consagrados, com uma mente bíblica, com uma estética bíblica e

com urna ética bíblica. A comunidade do reino é como sal e luz,14 como o

fermento do pão:15 informa, explica, esclarece, demonstra, influencia e afeta a

comunidade. Não é controladora, dominante, ditadora ou manipuladora. Não é

desengajada, individual, isolada ou inacessível. Ela deve ser um farol no mundo,

e não uma fortaleza contra o mundo. Ela deve trazer sabor, conservação e

limpeza, trazendo vida para a comunidade.

IGREJA DO REINO

REFORMANDO: INFLUENCIANDO O MUNDO

NO MUNDO, MAS NÃO DO MUNDO

PARA A VIDA

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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358 1

VOCAÇÃO:

Escreva .ma assinatura no universo

DESENFOCADA

Grande parte da igreja evangélica moderna no Ocidente tem hoje um

entendimento completamente sem foco. Ela está tanto fora do mundo quanto

conforme o mundo. Está fisicamente separada, além de estar metafisica e

ideologicamente conforme. Hoje a igreja ocidental é na maior parte mundana-

agimos religiosamente quando reunidos, e agimos como o mundo quando estamos

dispersos. Demasiadas vezes, agimos como cristãos quando é "conveniente",

quando não há nenhum custo.

Dietrich Bonhoeffer, que foi martirizado pelo Terceiro Reich nazista por

resistir à sua reivindicação de poder absoluto, denunciou o sincretismo na igreja

alemã de sua época, que é tão semelhante à da Igreja em nosso tempo. Ele

escreve sobre o conceito da graça barata que é essencial nas igrejas liberais e

evangélicas de hoje:

Se a graça é o valor para a minha vida cristã, isso significa que eu

me propus a viver a vida cristã no inundo com todos os meus pecados

justificados de antemão. Eu posso ir e pecar o quanto quiser, e contar com

a graça para perdoar-me, afinal o mundo é justificado, em princípio, pela

graça. Por isso, posso agarrar a minha existência burguesa secular, e

permanecer como eu era antes, mas com a garantia de que a graça de

Deus vai me cobrir É sob a influência desse tipo de "graça" que o mundo

foi feito "cristão", mas ao custo da seculariJação da religião cristã como

nunca antes' A

ida cristã passa a significar nada mais do que viver

no mundo e como o inundo; não ser diferente do mundo, o qual na verdade

significa que, é proibido ser diferente do mundo por causa da graça [itálico

adicionado ] .

1

"

Durante o Terceiro Reich, noventa por cento dos alemães eram cristãos

professos. Mas a maioria da igreja tinha se submetido totalmente ao Estado.

Essa triste condição permeia a maior parte do mundo cristão hoje. Na Igreja

ocidental, o cristianismo é em grande parte sincretizado com o materialismo

secular.

Ao observar o nosso mundo hoje, é claro que o verdadeiro "sucesso" de

uma igreja não é determinado pelo critério materialista de seu tamanho e riqueza,

mas pelo critério orgânico de sua piedade e pelo seu impacto positivo sobre a

cultura circundante. Nunca houve mais cristãos no mundo do que há hoje.

Nunca houve mais igrejas do que existem hoje. Nunca existiu tantas igrejas

grandes como as que existem hoje. No entanto, as nações ainda estão

corrompidas, empobrecidas

e

escravizadas. Os indivíduos são as sombras dos

seres humanos que Deus pretendia. Há pouca cura verdadeira ocorrendo.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O corpo de Cristol

359

Normalmente conseguimos apenas o que nos propusemos a fazer. Du-

rante os últimos cinquenta anos, o mantra tem sido "o crescimento da igreja."

As igrejas ao redor do mundo estão atingindo esse objetivo. Mas, para quê? A

igreja é viva? O Verbo se fez carne na vida dos crentes? As grandes comunidades

e nações estão sendo transformadas pela Igreja local? Infelizmente, existem

muito poucos lugares onde as comunidades e nações estão sendo afetadas, e

muito menos transformadas.

IGREJAS DE PROGRAMAÇÃO ORIENTADA

Uma das razões para o fracasso da igreja em impactar a cultura é o

entendimento errado das igrejas como um edifício ou um conjunto de programas.

Uma igreja de programação orientada é uma igreja que define a si mesma por

seus programas. Seu objetivo é tirar as pessoas do mundo (o lugar secular),

para a igreja (o lugar sagrado). A igreja de programação orientada muitas vezes

vê a igreja corno um templo ou como pessoas que estão na igreja quando elas

estão em uma "reunião da igreja" ou quando estão "fazendo o trabalho da igreja."

Essas igrejas são definidas pelo calendário semanal de reuniões e atividades.

Muitas vezes, é o número de reuniões que uma pessoa participou que marca

sua espiritualidade. Muitas vezes, o sucesso da igreja é definido pelo número de

reuniões e o número de pessoas presentes nessas reuniões. Quanto mais

reuniões houver, mais "sucesso" a igreja terá.

O autor e teólogo Elton Trueblood descreve o erro desse fenômeno: "É

um erro grosseiro supor que a causa cristã avança, somente ou principalmente,

nos finais de semana. O que acontece nos dias normais pode ser muito mais

importante, no que diz respeito à fé cristã, do que aquilo que acontece aos

domingos."' Podemos acrescentar que o que acontece fora das paredes do

templo da igreja pode ter mais a ver com o avanço do reino do que aquilo que

acontece dentro da igreja. Um professor universitário da Coréia uma vez

lamentou-se comigo que a pressão da responsabilidade pelos "trabalhos" e pelas

reuniões que ele tinha em sua igreja o mantinha distante de trabalhar e ministrar

eficazmente aos seus alunos na universidade.

TODO CRISTÃO É UM MINISTRO

Em oposição ao conceito da igreja como um templo ou um conjunto de

programas, devemos perceber que a igreja é uma comunidade encarnada.

A igreja reúne e dispersa. Ela reúne para adorar e preparar, e dispersa

para o ministério. Em uma igreja de programação orientada os componentes da

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360 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura

110

universo

equipe pastoral são vistos como ministros. Os membros existem para apoiar a

equipe pastoral em "seu" ministério. Em uma igreja orientada pelo reino, as

pessoas são os ministros. A função dos pastores e dos professores é preparar

os santos para o ministério, não para fazer o ministério sozinho. Precisamos

restaurar os ministros para as portas da cidade.

IGREJA: REUNIDA E ESPALHADA

REUNIDA PARA LOUVAR

E SE EQUIPAR

ESPALHADA PARA SERVIR

E DISCIPULAR AS NAÇÕES

O apóstolo Pedro nos lembra: "Vocês, porém, são geração eleita,

sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas

daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe. 2:9). As

Escrituras anunciam claramente que cada cristão é um ministro, cada membro

é um sacerdote. Isso tem sido chamado o sacerdócio dos crentes Lembro-me

quando jovem de ver um cartaz na frente de uma igreja que tinha captado essa

verdade. Lia-se:

O pastor-o preparador;

A congregação-os ministros

Hendricks chama o congregado de "O Novo Clero."18 Isso instiga a

imaginação. Mas não é um conceito novo; de certa forma, é um conceito bíblico

que se perdeu e precisa ser restaurado.

A Grande Comissão libera todos os cristãos no mercado de trabalho.

Quando Cristo diz: "Portanto ide" (Mt. 28:19), a frase literalmente significa

"então vá" ou "vai indo." Assume-se que o cristão está engajado nas portas da

cidade, fazendo negócios, mantendo relacionamentos, ouvindo os anúncios, etc.

A Igreja se reúne para preparar e adorar e, em seguida, se dispersa pelas

portas da cidade para trazer a cultura do reino às pessoas.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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O corpo de Cristo

I 361

PORTÕES DA CIDADE

SOCIAL

COMUNICAÇÃO

DUCAÇÃO

ARTES

SAÚDE

NEGÓCIOS

IENCIA

E ECONOMIA

TECNOLOGIA

GOVERNO E LEI

Devido ao gnosticismo evangélico ter cegado a igreja em relação à Grande

Comissão, vale a pena abordar duas questões que dizem respeito a "ir": a questão

da implantação e a questão da vocação.

Em termos de implantação, o gnóstico evangélico considera que essa

passagem refere-se a missionários profissionais que vão trabalhar no exterior.

No entanto, uma cosmovisão bíblica pressupõe que esta passagem é para todos

os cristãos onde quer que eles sejam designados. A segunda questão refere-se

à vocação. Os gnósticos evangélicos supõem que essa passagem é destinada

ao profissional religioso. O teísmo bíblico pressupõe que todos os cristãos são

chamados para discipular as nações, e, além disso, considera-se que isso pode

ocorrer em qualquer vocação honesta ou moral. O sacerdócio dos crentes

entende que todos os cristãos são sacerdotes e que têm um encargo ou domínio

designado onde eles deverão servir.

PREPARANDO OS MINISTROS

A igreja tem um papel vital a desempenhar na preparação dos cristãos

para suas mobilizações no mercado de trabalho e em praça pública. George

Grant resume o trabalho da igreja ao levantar aqueles líderes em seu livro

Changing of the Guard (Troca da Guarda):

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362 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assimoura no universo

A Igreja deve treinar o povo de Deus para a obra do ministério. Se

nossa nação deve ter pastores completamente preparados, então a Igreja

deve formar os jovens para o ministério do Evangelho (Romanos 10: 14-

15). Se nossa nação deve ter professores completamente preparados, então

a Igreja deve treinar jovens mães e pais para o ministério da educação

(Tito 2:1-15). Se nossa nação deve ter artesãos, artistas, músicos, filósofos,

médicos, operários, advogados, cientistas, comerciantes, completamente

preparados, então a Igreja deve treiná-los para o ministério da aculturação

(2 Timóteo 3:16-17). E, evidentemente, se a nossa nação deve ter

magistrados completamente preparados, então a Igreja deve treiná-los

para o ministério da ação política.'

9

O que é preciso para preparar os ministros para as portas da cidade?

Em primeiro lugar, é preciso que os pastores e os professores estejam

dispostos a preparar os santos. O modelo de pastor como superstar, fazendo

todo o ministério, deve ser abandonado. Assim também deve ser o modelo de

negócio dos pastores como administradores ou gerentes de negócios da mega

igreja. Paulo revela o importante papel do pastor e professor em Efésios 4.11-

12:

E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros

para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar

os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja

edificado.

Note a progressão nesta passagem. A tarefa dada aos apóstolos, profetas,

evangelistas, pastores e professores é preparar os santos. Para qual propósito?

Para as obras de serviço. Para qual finalidade? Para a edificação do corpo de

Cri sto.

A palavra preparar em Efésios 4.12 é a palavra grega katartismos que

significa "mobiliário completo", ou "equipamento'. Como vimos, as pessoas-

os santos-são os ministros. Eles precisam estar preparados para as obras de

serviço. Então, de que modo os ministros são preparados para o serviço? Por

aqueles que têm dons de liderança e no ensino da Palavra. O papel de preparar

os santos não é maior do que aquele dos ministros; é apenas diferente. Não é o

papel do pastor-professor fazer todo o trabalho do ministério, mas é o seu papel

preparar os santos para as suas missões.'

Segundo, preparar os ministros para as portas da cidade precisará de um

ensino constante do púlpito sobre a teologia da vocação. Tenho sido um cristão

desde 1957. Em todos os anos desde então tenho ouvido apenas dois sermões

dedicados ao tema do trabalho. O primeiro foi o de Francis Schaeffer no L'Abri

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O corpo de Cristo

1363

Fellowship na Suíça. A segunda foi por um pastor nos Estados Unidos que

equivocadamente declarou que o trabalho era parte da maldição. Na realidade,

a causa de Cristo pode avançar mais durante os seis dias da semana do que no

domingo, mais no mercado de trabalho do que no templo da igreja. Devido a

isso, precisamos gastar mais tempo ensinando sobre assuntos do reino e sobre

a vocação do que apenas sobre o foco "espiritual" encontrado em muitas igrejas.

Em terceiro lugar, serão necessárias aulas de discipulado para preparar

as pessoas para trabalhar holisticamente no mercado de trabalho. Além de

falar do púlpito sobre temas profissionais, deve haver grupos de células ou

aulas sobre o reino de Deus na igreja para discipular os cristãos para o mercado

de trabalho. Passamos a maior parte de nosso tempo na escola dominical, estudo

bíblico, e até mesmo reuniões de célula para preparar as pessoas para agirem

espiritualmente. É preciso treinar os empresários para serem santos em suas

práticas de negócios e trazer princípios do reino para o mercado de trabalho.

Precisamos preparar os advogados e juízes cristãos para exigir justiça na

sociedade e para conduzir questões ao Supremo Tribunal do país, se necessário,

não simplesmente para ganhar o seu sustento ou dar sentenças corruptas, como

acontece em muitos países.

Em quarto lugar, será necessário o reconhecimento público para

comissionar e enviar empresários preparados para ministrar no mercado de

trabalho; advogados no sistema judicial; os funcionários públicos no governo, a

força policial, e o corpo de bombeiros; administradores para as fazendas, pomares

e vinhas, empregados domésticos nos lares. Cada cristão deve ser ordenado

para o seu ministério, deve ser separado para a missão dada por Cristo. A igreja

deve liberar cada pessoa para o seu destino.

Em quinto lugar, serão necessários grupos de células de cristãos, a partir

de domínios individuais na sociedade, em uma cidade ou em um país para

requerer a verdade e os princípios bíblicos em seus próprios setores. Como

exemplo, uma igreja que tem um trabalhador da área de saúde pode enviá-lo

para um grupo de células de cristãos da área de saúde, não só para ter comunhão

juntos, mas a fim de desenvolver uma estratégia de introdução do reino no

hospital. No nível estadual ou federal, profissionais setoriais cristãos podem se

unir para tentar impactar políticas públicas e legislativas para a justiça. Esse

padrão pode ser aplicado para qualquer esfera da sociedade.

ENVIANDO LÍDERES PARA AS PORTAS DA CIDADE

A restauração dos ministros para as portas da cidade é importante.

Nossas comunidades e nações precisam desesperadamente de liderança do

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364 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

reino. Pastor E.W. Lutzer, da famosa Moody Church em Chicago, descreveu a

escolha diante da igreja de hoje, quando ele denunciou a forma como a igreja na

Alemanha falhou em criticar sua própria cultura. Em vez disso foi bastante

complacente com a ascensão de Hitler e até mesmo, por uma questão de serem

bons alemães, apoiaram o Terceiro Reich. A escolha deles é a nossa escolha:

"A igreja teve que escolher entre um Cristo que era Senhor sobre uma 'esfera

espiritual' minguada e um Cristo que era "o Senhor sobre tudo.'"22 Em seu livro

Hitler's Cross (A Cruz de Hitler), Lutzer mostra que padrões existentes hoje

nos E.U.A. são muito semelhantes aos que existiam na Alemanha na ascensão

de Hitler ao poder. Ele desafia a Igreja nos E.U.A. e, por consequência, a

igreja no resto do mundo:

Se a cruz de Cristo é a maior expressão do amor de Deus ao mundo,

então aqueles entre nós que o segue tem de mostrar o nosso amor para o

mundo também.

É tempo dos cristãos se tornarem líderes na arte, na política, na

educação e na lei. Não vamos cometer o erro da igreja alemã e isolar a

esfera espiritual da esfera política, social e cultural.

Uma vez que partilhamos o planeta com toda a humanidade, temos

de restabelecer a liderança em todas essas áreas onde os cristãos muitas

vezes guiaram o caminho. Educação, política e lei - aqui é onde temos

credibilidade para que o inundo possa ouvir nossa mensagem. A Cruz

deve ser vista onde quer que os cristãos sejam encontrados. 2 3

Especialistas em liderança Warren Bennis e Burt Nanus contribuem com

um tema semelhante:

Se alguma vez houve um momento na história em que uma visão

estratégica global da liderança era necessária, não apenas por alguns

líderes em altos cargos, mas por um grande número de líderes em cada

trabalho... é agora.2 4

Os domínios da sociedade têm necessidade de liderança de reino que

manifesta a verdadeira natureza e propósitos de Deus e sua criação. O trabalho

da igreja é de vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, e não apenas

aos domingos. É no mundo, não em um templo. O trabalho da igreja é levar a

mente e o sistema de valores do reino para todo o mundo, não a mente e o

sistema de valores do mundo para a igreja. Quando uma massa importante de

membros do corpo de Cristo abraçar seus chamados como ministros e estiver

preparada para viver e trabalhar no mundo como comunidades encarnadas, a

verdade, a bondade e a beleza fluirão com vivacidade da Igreja para a

comunidade e nação. Através do corpo de Cristo, Deus se fará conhecido.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Capítulo 23

OCUPEM-SE ATÉ

QUE EU VOLTE

Na jornada que fizemos juntos, vimos que a igreja e nós, como cristãos,

individualmente, em grande parte temos nos retirado de nossas culturas e

privatizado a nossa fé. Vimos que nossas estratégias de evangelismo e

implantação de igrejas têm funcionado muito bem. Jamais houve mais cristãos

ou igrejas no mundo do que existem hoje. Não obstante, frequentemente as

nossas comunidades e nações se encontram irremediavelmente corrompidas.

Vimos que a razão para essa corrupção é por termos abandonado a

poderosa e integrada cosmovisão bíblica trocando-a pela cosmovisão anêmica

e dualista do gnosticismo evangélico. Essa cosmovisão reduziu a nossa visão a

simplesmente ir à igreja e ir para o céu. Perdemos a poderosa visão para a qual

Cristo nos chamou.

Neste livro procuramos estabelecer as bases para um retorno à

cosmovisão bíblica e poderosa e ao papel da igreja de ser voltada para fora,

para o mundo e para o mercado de trabalho. Temos chamado a igreja a ser

igreja na segunda-feira, tomando o seu lugar nas portas da cidade. Isso significa

que cada cristão deve viver coram Deo.

HABITANDO NA PRESENÇA DE DEUS

Como membros do corpo de Cristo, somos chamados a trabalhar com

ele com o intuito de que "a Terra se encherá do conhecimento da glória do

Senhor, como as águas enchem o mar" (Hc 2.14). Temos de ser agentes para

a vinda do reino de Deus. Paulo escreve que em Cristo Jesus, estamos "sendo

edificados juntos, para nos tornarmos morada de Deus por seu Espírito" (Efésios

2.22). Somos membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos

apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, na qual todo o

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366 1

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor" (Efésios

2.19-21). Assim como a presença de Deus habitou entre seu povo de Israel no

templo, a sua presença habita neste novo templo, um templo sem muros.

Na ilustração do reino vindouro, somos lembrados de que o homem habita

cada vez mais na presença de Deus. Deus será o nosso Deus e nós seremos o

seu povo. Gênesis 3.8, Êxodo 25.8 e João 1.14 são claros lembretes de que

Deus habita entre as pessoas. E se Deus habita entre as pessoas, então as

pessoas habitam na presença do Deus vivo. Somos chamados e privilegiados

por viver toda a nossa vida diante da face de Deus.

As histórias da construção do tabernáculo e do templo no Antigo Testa-

mento criam para nós imagens de pessoas habitando na presença de Deus para

usar os seus dons e talentos para fazer uma morada para Deus entre os homens.

Deus chamou artesãos e artífices para manusear coisas inertes e moldá-las

para a glória de Deus. Ao criar a terra, Deus fez um lugar para o ser humano

habitar. O ser humano, ao criar o tabernáculo e o templo, fez lugares para Deus

habitar.

Deus criou uma miríade de ocupações piedosas para encher a terra com

o conhecimento do Senhor. Como já mencionado anteriormente, isso é ilustrado

nos dons necessários para construir o tabernáculo:

Disse então o Senhor a Moisés: "Eu escolhi a Bezalel, filho de Uri,

filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, dando-lhes

destreza, habilidade e plena capacidade artística para desenhar e

executar trabalhos em ouro, prata e bronze, para talhar e esculpir pedras,

para entalhar madeira e executar todo tipo de obra artesanal. Além disso,

designei Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã, para auxiliá-lo.

Também capacitei a todos os artesãos para que executem tudo o que lhe

ordenei:

Disse então Moisés aos israelitas: "O Senhor escolheu Bezalel,

.filho de Uri, neto de Hur, da tribo de Judá, e o encheu do Espírito de Deus,

dando-lhe destreza, habilidade e plena capacidade artística, para

desenhar e executar trabalhos em ouro, prata e bronze, para talhar e

lapidar pedras, entalhar madeira para todo tipo de obra artesanal. E

concedeu tanto a ele como a Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã,

a habilidade de ensinar os outros. A todos esses deu capacidade para

realizar todo tipo de obra como artesãos, projetistas, bordadores de linho

fino e de fios de tecido azul, roxo e vermelho, e como tecelões. Eram capazes

para projetar e executar qualquer trabalho artesanal".

"Assim farão Bezalel, Aoliabe e todos os homens capazes, a quem o

Senhor concedeu destreza e habilidade para fazerem toda a obra de

construção do santuário, realizarão a obra como o Senhor ordenou. "

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Ocupem-se ate que eu volte

1

367

"Então Moisés chamou Bezalel e Aoliabe e todos os homens capazes

a quem o Senhor dera habilidade e que estavam dispostos a vir realizar a

obra." (Êxodo 31.1-6; 35.30-36.2)

Que ilustração incrível Deus construiu uma casa para o homem,

e

agora o povo de Deus deve construir uma casa para Ele. Deus tinha um plano

detalhado para o tabernáculo. Ele pediu para que o povo de Israel fizesse provisão

para sua casa.' As pessoas liberalmente traziam ofertas que ultrapassaram a

necessidade do tabernáculo. Então o Senhor chamou Bezalel, filho de Uri, um

mestre artesão, para liderar o projeto. Bezalel foi cheio do Espírito de Deus e

preparado para a tarefa. Deus também forneceu artesãos que tinham a

capacidade de ensinar os outros a trabalhar sob a liderança de Bezalel. Deus

tinha um plano. Ele chamou pessoas para completar esse plano. Ele os preparou

e deu-lhes poder, como diria Francis Schaeffer, para "fazer a obra do Senhor à

maneira do Senhor."

D.B. Hegeman, escrevendo em Plowing in Hope [Cultivando com

Esperança], lembra-nos a glória da diversidade de dons e talentos utilizados no

tabernáculo:

A variedade de

ocupações

utilizada na construção do tabernáculo

e do templo é impressionante: madeireiros, carpinteiros, fiandeiros,

tintureiros, artesãos, bordadeiras, costureiras, trabalhadores de fundição

e metalúrgicos, ourives, entalhadores, curtidores, perfumistas, mineiros e

pedreiros. E havia aqueles que davam direto apoio logístico: fabricantes

de ferramentas, tratadores de animais de tração, marítimos e trabalhadores

braçais... Havia pessoas envolvidas nas atividades de culto, após os

santuários serem concluídos. Sacerdotes e assistentes, músicos, cantores,

fabricantes de instrumentos musicais e salmistas. As graciosas

circunstâncias da redenção do Antigo Testamento são uma celebração da

impressionante diversidade profissional e habilidade humana. O

tabernáculo e o templo eram ambos emblemáticos - ainda que em uma

escala pequena - da grande diversidade que viria a marcar o esforço

cultural global dado ao homem no Jardim do Éden. E eles apontam para

as maravilhosas potencialidades culturais que serão liberadas após a

consumação, quando uma humanidade glorificada e sem pecado cumprirá

com perfeição o desenvolvimento cultural da Nova Terra [grifo meu].'

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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368 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

À medida que construímos, devemos construir com o fim em mente.

Esse fim é a vinda do reino de Deus. As questões que devemos responder são:

Como vivemos diante da face de Deus? Como podemos utilizar nossos dons,

talentos e habilidades para avançar o reino de Deus? De que maneira as nossas

vidas contribuem para o lugar futuro, a Cidade de Deus, onde Deus habitará

conosco para sempre? Assim como os homens e mulheres dos dias de Moisés

foram dotados para a construção do tabernáculo - habitação de Deus - nós

também fomos preparados em nossa geração para contribuir para a plenitude

da vinda do reino de Deus.

VIVENDO ENTRE DOIS TEMPOS

Estamos vivendo antes da segunda vinda, mas depois da primeira vinda

de Cristo. Cristo veio entre nós e morreu para restaurar nosso relacionamento

primário com Deus e criar as bases para uma cura real de todos os nossos

relacionamentos secundários. Não devemos "esperar" pelo retorno de Cristo,

devemos trabalhar pelo seu retorno. Vivemos em um tempo de expectativa.

Durante os dias concedidos para as nossas vidas, devemos cuidar dos interesses

de Cristo. Devemos viver ativamente; devemos dar ouvido ao seu comando de

"ocupar até que eu volte " O lugar da minha profissão deve ser o lugar que

reivindico para Cristo e seu Reino.

Eu me lembro, quando criança, de assistir a um filme sobre a invasão da

Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Uma cena do filme mostrava uni

grande mapa da Europa controlada pelos nazistas, as ilhas britânicas e o Canal

da Mancha. No mapa havia uma grande seta no meio do Canal da Mancha que

marcava a posição da armada aliada pronta para a invasão. E havia setas que

eram um pouco menores representando pontos de invasão ao longo das praias

da Normandia. Bem dentro da França controlada pelos nazistas, os cruzamentos

principais, as pontes, os depósitos de combustível e os estaleiros de trem foram

todos identificados com setas menores mostrando onde os paraquedistas ou

tropas aerotransportadas desceriam. Esse foi o mapa da batalha do Dia D.

Nesse plano, cada pessoa tinha um papel a desempenhar: cada soldado, cada

marinheiro e cada aviador tiveram um papel fundamental na libertação da

Europa. Cada soldado devia lutar para liberar a terra e estabelecer uma cabeça

de ponte para a libertação da França. Eles deviam lutar para ocupar o território.

para destituir a tirania e pela liberdade da Europa. Os soldados tinham sido

alistados, treinados (discipulados), equipados e faziam parte do plano de batalha.

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EXERCITO

BRITÂNICO

r

...4 9 1 .

 

4

1 1 0°

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E X E R C I T O

A M E R I C A N O

I

/

LINHA DE OcupAçÃo

DO PLANO DO DIA D

Ocupem-se até que eu voltei

369

DIA D: A REOCUPAÇÃO

Isso criou uma imagem vivida em minha mente. A obrigação do cristão é

ocupar o território para Cristo. Devemos nos opor à tirania do mundo, da carne

e do diabo em qualquer lugar, estrutura e instituição nos quais nos engajarmos

em nossa vocação. Nossa grande oportunidade é lutar pela liberdade, pelo reino

da justiça, pela vinda da compaixão, de suficiência econômica para todos, pela

paz social e por mais saúde em nossas comunidades. Assim como cada soldado

aliado tinha uma tarefa, assim também o cristão. Cristo conquistou a cabeça de

ponte em cada uma de nossas vidas e tem planos para que avancemos mais.

Talvez possamos entender as palavras de Cristo "Ocupem até que eu volte "

meditando em outro drama da Segunda Guerra Mundial. General Douglas

MacArthur, comandante das forças aliadas no Pacífico durante a Segunda Guerra

Mundial, foi expulso das Filipinas pelas tropas invasoras japonesas. Após ter sido

levado ao Território do Norte da Austrália para planejar a libertação das Filipinas

como parte da grande ofensiva contra o Japão, MacArthur mandou uma mensagem

para a resistência filipina: "Eu saí de Bataan e vou voltar."

4

O General MacArthur

queria que o mundo soubesse que ele havia escapado do plano japonês para

capturá-lo e que queria que a resistência filipina continuasse a lutar, porque ele

iria voltar para as Filipinas. Dois anos e sete meses após sua mensagem ter sido

enviada ao mundo, ele voltou para as Filipinas para restaurar a sua liberdade.

Isto é essencialmente o que Cristo chamou seu povo a fazer. Ele venceu

a morte na ressurreição e voltou para o Pai para obter o reino e depois voltar.

Enquanto isso, ele diz a seu povo: "Continuem a lutar, pois Eu voltarei " Não nos

rendamos às forças inimigas. Não esperemos passivamente pelo retorno de

Cristo. Devemos ocupar o território até que ele volte.

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370 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no unirerm

Estamos vivendo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Vivemos

no tempo entre o agora e o ainda não do reino de Deus. Não devemos ser

espectadores em meio à batalha pelo coração e alma das nações e das culturas.

Cada cristão tem uma vida e um trabalho. Nossa vocação é ocupar o território

para Cristo. Os reformadores na Europa e os puritanos na América tinham um

forte senso de compreensão do papel que a vocação significava para o reino. O

pastor puritano Richard Steele escreveu: "Aquele que emprestou os talentos

também disse: "Negocie até que eu volte " Como é que você fica o dia todo sem

fazer nada?... Sua vocação é ocupar o seu próprio território."' Lutero compreendia

tanto a natureza quanto a intemporalidade da tarefa, quando supostamente disse:

"Se eu soubesse que Cristo voltaria amanhã, plantaria uma árvore hoje."

Não devemos esperar Devemos apressar o dia do seu retorno

APRESSE O DIA DO SEU RETORNO

Nesse tempo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, vivemos

tanto no reino terrestre quanto celestial, servindo como embaixadores do reino

celestial. Através do apóstolo Pedro, o Senhor revela mais sobre a posição do

crente nesse tempo intermediário. Em 2 Pedro 3.10, Pedro reflete sobre o

futuro retorno de Cristo e o papel do crente antes de sua segunda vinda: "Virá,

pois, como ladrão o dia do Senhor, no qual os céus passarão com grande estrondo,

e os elementos, ardendo, se dissolverão, e a terra, e as obras que nela há, serão

descobertas." À luz desses eventos vindouros, como devemos viver nossas

vidas? Essa é a questão levantada e respondida em 2 Pedro 3.11-12. Três

coisas se esperam: (1) que vivamos vidas santas e piedosas, (2) que esperemos

com grande expectativa o dia do seu retorno e (3) que apressemos o dia do seu

retorno. Incrível De alguma forma, a atividade do crente e da igreja influencia

o retorno de Cristo.

Nossas vidas devem ser vividas com base no fato histórico da primeira

vinda de Cristo. Nossas estratégias e declarações devem ser feitas com a

certeza de sua segunda volta.

Devemos ser rebeldes nesse mundo. Devemos nos posicionar contra as

forças do mal. Devemos nadar contra a maré de nossa cultura. Devemos viver

na realidade da existência de Deus e de sua obra na história. Devemos moldar

a história pelas coisas que dizemos e pelas escolhas que fazemos, de maneira

que evidencie e honre ao Deus vivo.

Devemos ser advogados em busca de justiça e verdade; estudantes

tornando-se educados pela maravilha do conhecimento; pais reconhecendo a

responsabilidade sagrada com seus filhos; escritores criando mundos que

refletem a criação de Deus; agricultores colhendo fartura em suas terras;

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Ocupem-se até que eu volte 1 371

cidadãos votando e participando nas atividades de escolas; líderes empresariais

discutindo questões de ética no mercado de trabalho; pessoas estabelecendo

relações de confiança com os seus vizinhos; e igrejas desenvolvendo ministérios

para os pobres, viúvas e órfãos.

ENCONTRANDO UM TRABALHO QUE SOMENTE

UM CAVALEIRO POSSA FAZER

Na clássica história de São Jorge e o Dragão, as virtudes cristãs de um

cavaleiro: verdade, justiça e coragem guerreiam contra o dragão, que representa

as virtudes pagãs do pecado e do mal. Quando São Jorge estendeu a paz do reino

para um lugar, ele procura um novo trabalho "que só um cavaleiro possa fazer "

Esta história lembra-nos o chamado do reino de Deus. Conta a história que:

Um dia de São Jorge cavalgou por todo o país. Por todo canto ele

via homens ocupados em seu trabalho nos campos, as mulheres a cantar

enquanto trabalhavam em suas casas e as criancinhas a gritar com suas

brincadeiras.

"Essas pessoas estão todas seguras e felizes. Elas não precisam

mais de mim," disse São Jorge.

"Mas em algum lugar, talvez, haja problemas e medo. Pode haver

um lugar onde crianças não possam brincar em segurança, uma mulher

pode ter sido levada de sua casa-talvez haja até mesmo dragões a serem

aniquilados. Amanhã irei embora e nunca pararei até conseguir encontrar

uni trabalho que só um cavaleiro possa fazer"

Assim como São Jorge, devemos procurar trabalhos que só um cristão

possa fazer. Felizmente, o Senhor nos deu uma ordem inspiradora para discipular

as nações, começando de onde estamos agora. O Papa João Paulo

II

capta a

imaginação de todos os filhos de Deus, jovens e velhos, quando escreve:

Desejo, por fim, dirigir-me a vós, queridos jovens, e repetir essas

palavras a vocês com carinho: Sejam generosos e entreguem suas vidas ao

Senhor. Não tenham medo Nada a que se temer, porque Deus é o Senhor

da história e do universo. Que cresça em vós o desejo de grandes e nobres

projetos. Cultivem uni senso de solidariedade: pois, isso é o sinal da ação

divina em seus corações. Coloque ao dispor de suas comunidades os

talentos que a Providência derramou sobre vós. Quando mais disposto

estiverdes em entregar-vos a Deus e ao próximo, tanto mais descobrirás o

verdadeiro sentido da vida. Deus espera muito de vós

7

O comando foi dado: "Ocupem-se até que eu volte "

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1373

NOTAS

INTRODUÇÃO

1.

ohn Fuellenbach, The Kingdom of God: The Message of Jesus Today 10 Reino de

Deus: A Mensagem de Jesus Hoje] (Maryknoll, N.Y.: Orbis Books, 1995), 9.

2.

E. Stanley Jones, The Unshakable Kingdom and the Unchanging Person [O Reino

Inabalável e a Pessoa Imutável] (Nashville: Abingdon Press, 1971), 19.

3.

Ibid.

4. Fuellenbach, The Kingdom of God [O Reino de Deus], 15.

5.

Ibid, 6.

6.1 Co 12.27.

7.A primeira vez que ouvi o termo promotor do reino [em inglês, kindomizer] usado foi

por Paul Jeong da Natural Church Development da Coreia no Fórum da Aliança para o Discipulado

das Nações em Phoenix, Arizona em 16 de abril de 2002. Devemos ser agentes do Rei e seu reino

em nossa vida e em nosso trabalho. Devemos levar o reino ao nosso trabalho.

8.0 autor trabalhou para a organização Food for the H ungry International (www.fhi.net)

por vinte e seis anos e agora trabalha para a Aliança para o Discipulado das Nações

(www.disciplenations.org ).

9.0s dois principais entendimentos do universo que desejo distinguir aqui são um universo

aberto e um universo fechado. A Bíblia revela que antes do universo existir, Deus existia. Deus

criou o universo e, portanto, o universo é "aberto" à sua intervenção assim como à intrusão dos

anjos e dos seres humanos. Deus, anjos, demônios e o ser humano podem impactar esse mundo

através de suas decisões e ações. Em um sistema aberto, os recursos são criados e descobertos e,

portanto, a riqueza pode crescer. O conceito de que os recursos podem crescer define-se como um

modelo de soma positiva. Isso entra em contraste com um sistema "fechado", visão do darwinismo,

secularismo e naturalismo. Nessa visão da realidade, não há Deus, nem demônios ou anjos, e o ser

humano é produto de forças evolucionárias. O universo é uma grande máquina, sendo o homem

uma parte dessa máquina. Em um sistema fechado, não existe liberdade para os seres agirem e os

recursos são coisas físicas e, portanto, finitos; a riqueza é limitada. O conceito de uma quantidade

"fixa" de recursos define-se como um modelo econômico de soma zero.

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374 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

CAPÍTULO 1: COSMOVISÕES EM AÇÃO

1.

Para mais informações sobre cosmovisões, veja meu livro Discipling Nations: The

Power of Truth to Transform Cultures : O Poder da Verdade para Transformar Culturas (YWAM

Publishing, 1998; publicado no Brasil por Fatoé Publicações, 2003)(Seattle: YWAM Publishing,

1998) ou The Universe Next Door: A Basic Worldview Catalog de James W. Sire (Downers

Grove. III.: InterVarsity Press, 1997).

2.

Veja 1 Co 2.16: 2 Co 10.5: Rm 12.2.

3.0s Guinness, The Call: Finding and Fulfilling the Central Purpose of Your Life [O

Chamado: Encontrando o Propósito Central de Sua Vida] (Nashville: Word Publishing, 1998), 141.

4.

Relatado a mim em uma Conferência de Lançamento da Visão em Rostov, Rússia em

junho de 2002. Para mais informações sobre Conferências de Lançamento da Visão, visite o cite

da Aliança para o Discipulado das Nações, www.disciplenations.org/vc.

5.

Bobby Boyd, Dewayne Mize, Dennis Robbins, e Warren Haynes, "Finally Friday,"

Trevcor Music Corporation (Código do Título: 360247010).

CAPÍTULO 2: COMO CHEGAMOS AQUI?

1.

Uso a palavras holístico conforme me amigo e colaborador Dr. Bob Moffitt, Presidente

da Harvest Foundation. Holístico se refere ao todo da palavra de Deus para todo ser humano no

mundo todo. Reconhecemos que holístico é uma palavra inventada. E fazemos clara distinção

entre a maneira que a utilizamos (no sentido de abrangente) e que a maneira que o movimento da

Nova Era a utiliza com o significado de unidade sem diversidade.

2.

João 1.1-4, 14.

3.

Eusébio, Demonstration of the Gospel (Demonstratio Evangelica) [Demonstração do

Evangelho], cidado em W. R. Forrester, Christian Vocation [Vocação Cristã] (New York: Charles

Scribner's Sons. 1953), 42, citado em Leland Ryken, Redeeming the Time [Redimindo o Tempo]

(Grand Rapids: Baker Books, 1995), 74.

4.

Donald K. McKim, ed., Westminster Dictionary of Theological Terms [Dicionário

Westminster de Termos Teológicos] (Louisville, Ky.: John Knox Press, 1996), 62.

5.

Alister E. McGrath, Reformation Thought: An Introduction [O Pensamento da Reforma:

Uma Introdução] (Malden, Mass: Blackwell Publishers, 2001), 266-67.

6.

Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship [O Custo do Discipulado] (New York:

MacMillan Publishing Co., 1977). 51-52.

7.

LovetoKnow Classic Encyclopedia Enciclopédia Clássica LovetoKnow], s.v. "Pietism"

[Pietismo], http://www. 1

91 lencyclopedia.org/Pietism

(acessado em 27 de maio de 2009).

8.0s fundadores da ciência teísta moderna eram homens tementes a Deus como Francis

Bacon (1561-1626), Johannes Kepler (1571-1630), Blaise Pascal (1623-1662), e Isaac Newton

(1642-1727). Para esses homens não existia separação entre fé e razão, entre o reino natural e o

reino espiritual.

9.

Ralph D. Winter, "The Future of Evangelicals in Mission" [O Futuro dos Evangélicos

em Missões] Mission Frontiers, Setembro-Outubro de 2007.

10.

Vishal and Ruth Mangalwadi, The Legacy of William Carey: A Model for the Trans-

formation of a Culture [O Legado de William Carey: Um Modelo de Transformação Cultural]

(Wheaton, 111.: Crossway Books, 1999). O livro dos Mangalwadis vale seu peso em ouro.

Altamente recomendado para qualquer pessoa que deseja transformar a cultura.

11.

Woodrow Kroll, Taking Back the Good Book: How America Forgot the Bible and

Why h Matters to You [Retomando o Bom Livro: Como a América Esqueceu-se da Bíblia e por

que Isso Interessa a Você] (Wheaton, III.: Good News/Crossway, 2007), 41.

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Notas

1 375

12. Kenneth Woodward e David Gates, "How the Bible Made America" [Como a Bíblia

Formou a América], Newsweek, 27 de dezembro de 1982.

CAPÍTULO 3: A DICOTOMIA SAGRADO-SECULAR

1.Apocalipse 21.1, 5-6.

2. Para mais informações, veja o capítulo 13 de meu livro Discipulando Nações: O Poder

da Verdade para Transformar Culturas.

3.1s 30.28: Hh 12.27-28; Ap 16.18-19.

4.1 Co 3.10-15; 2 Pedro 3.10.

5.Mateus 22.37; Marcos 12.30.

6.

Cl 1.20.

A FESTA DE BABETTE

Babette's Feast, DVD, dirigido por Gabriel Axel (1987; Los Angeles: MGM Studios,

2001).

A HISTÓRIA DE MICHAEL BAER

Michael R. Baer, Business as Mission: The Power of Business in the Kingdom of God

[Negócios como Missão: O Poder dos Negócios no Reino de Deus], (Seattle: YWAM Publishing,

2006), 10-12. Citado com permissão.

CAPÍTULO 4: UM SENHOR, UM REINO

I.Scott

D. Allen, Darrow L. Miller e Bob Moffitt, "God's Unshakable Kingdom" [O

Reino Inabalável de Deus], Kingdom Lifestyle Bible Studies [Estudos Bíblicos do Estilo de Vida

do Reino) (Seattle: YWAM Publish-ing, 2005), 15.

2. Lucas 18.31-33.

3. Mateus 26.11.

4. Um termo para descrever recursos que estão disponíveis para ser usados e produzir

mais riqueza.

CAPÍTULO 5: CORAM DEO

l.Efésios

1.7-10.

2.

William Whitaker, PALAVRAS, s.v. "coram," http://www.archives.nd.edu/cgi-bin/

wordz.pl

?keyword=coram (acessado em 27 de maio de 2009).

3.Cotton Mather, "A Christian at His Calling" [O Cristão e Seu Chamado] citado em

Ralph Barton Perry, Puritanism and Democracy [O Puritanismo e a Democracia] (Nova Iorque:

Vanguard, 1944), 127, citado em Leland Ryken, Redeeming the Time [Redimindo o Tempo]

(Grand Rapids: Baker Books, 1995), 106.

4.John Milton citado em Leland Ryken, Worldly Saints: The Puritans As They Really

Were [Santos na Terra: Os Puritanos como Realmente Eram] (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 28.

5. Ryken, Worldly Saints, 28.

6. Robert Young, Young's Literal Translation [Tradução Literal de Young] (Oak Harbor,

Wash.: Logos Research Systems, 1997), S. Jn 1:14.

7. Enhanced Strong's Lexicon [Lexicon Ampliado de Strong], s.v. "skenoo."

8. I João 2.1

9. Thomas Carlyle, Past and Present [Passado e Presente] (1843; Project Gutenberg,

1996), www.gutenberg.org/files/13534/13534.txt

(acessado em 27 de maio de 2009).

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376 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

10.

Martin Luther, The Babylonian Captivity of the Church [O Cativeiro Babilônico da

Igreja] (1520: Project Wittenberg Online Electronic Study Edition [Edição de Estudo Eletrônica],

2002), www.ctsfw.edu/etext/luther/babylonian/babylonian.htm

(acessado em 27 de maio de 2009).

11.Ex 3.20.

12.

Fl 2.1-11.

13.

Os Guinness, The Call: Finding and Fulfilling the Central Purpose of Your Life [O

Chamado: Encontrando o Propósito Central de Sua Vida] (Nashville: Word Publishing, 1998), 200.

14.

Kathryn Spink e Madre Teresa, Life in the Spirit: Reflections, Medi-tations, Prayers,

Mother Teresa of Calcutta [Vida no Espírito: Reflexões, Meditações, Orações, Madre Teresa de

Calcutá] (Nova Iorque: Harper Collins, 1983). 74.

15.

Abraham Kuyper, Lectures on Calvinism [Palestra sobre o Calvinismo] (Grand

Rapids: William B. Eerdmans, 1943), 52.

16.

Noah Webster's American Dictionary of the English Language [Dicionário Americano

da Língua Inglesa de Noah Websted, s.v. "consagrado."

17.

Ryken, Redeeming the Time, 104.

18.

E. Stanley Jones, The Unshakable Kingdom and the Unchanging Person [O Reino

Inabalável e a Pessoa Imutável] (Nashville: Abingdon Press, 1972), 159.

A HISTÓRIA DE ANA SANTOS

Ana Santos, em testemunho escrito ao autor, 13 de agosto de 2007.

A HISTÓRIA DE JOHN BECKETT

John D. Beckett. Loving Monday: Succeeding, in Business Without Selling Your Soul

(Downers Grove, III.: InterVarsity Press, 2001). Veja também "About John Beckett" [Sobre John

Beckett] em www.lovingmonday.com

/about (acessado em 26 de janeiro de 2008).

CAPÍTULO 6: A NECESSIDADE DE UMA TEOLOGIA

BÍBLICA DA VOCAÇÃO

1.Dorothy L. Sayers, "Why Work?" ["Por que trabalhar?"] in Creed or Chaos? [a Fé ou

no Caos?] (Nova Iorque: Harcourt, Brace and Company, 1949), 56.

2.Papa João Paulo II, Message of the Holy Father for the XXXV World Day of Prayer

for Vocations [Mensagem do Santo Pai para o XXXV Dia Mundial das Vocações, 3 de maio.

1998, http://www.vatican.va/holy_father/john

paul_ii/messages/vocations/documents/he jp-

ii_mes_24091997_xxxv-voc-1998_en.html (acessado em 27 de maio de 2009).

3.

Dallas Willard, The Spirit of the Disciplines [O Espírito das Disciplinas] (Nova Iorque:

HarperCollins, 1998), 14.

CAPÍTULO 7: A METANARRATIVA ESSENCIAL

1.Gn 1.4, 10, 12, 18, 21, 25.

2.

Gn 1.7, 9, 11, 15, 24, 30.

3.

Cl 1.20.

4. "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus

antes preparou para que andássemos nelas" A para feitura aqui é a palavra grega poiema, raiz da

palavra poema.

5.0s Guinness, The Call: Finding and Fulfilling the Central Purpose of Your Life [O

Chamado: Encontrando o Propósito Central de Sua Vida] (Nashville: Word Publishing, 1998),

178.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Notas

1 377

CAPÍTULO 8: CULTURA

1. Jemimah Wright, "Girl Survived Tribe's Custom of Live Burial" [A Menina que

Sobreviveu ao Costume do Enterro Vivo] Telegraph, 22 de junho de 2007, http://

www.telegraph.co.uk/news/worldnews/1555339/Girl-survived-tribe's-custom-of

-live-baby-burial.html (acessado em 27 de maio de 2009).

2.J. R. R. Tolkien, Tree and Leaf [A Árvore e a Folha] (Londres: Unwin Books, 1964), 61.

3.

Vishal Mangalwadi, palestra sem título (Mercy Ship's Foundation in Community

Development School, Tyler, Texas, Maio de 1995).

4.

Henry Van Til, citado em David Bruce Hegeman, Plowing in Hope: Toward a Biblical

Theology of Culture [Cultivando Esperança: Por uma Teologia Bíblica da Cultura], (Moscow,

Idaho: Canon Press, 1999), 15.

5.

The Compact Edition of the Oxford English Dictionary [Edição Compacta do Dicionário

Oxford de Inglês] (Oxford: Oxford University Press, 1971), s.v. "cult [culto]."

6.

Hegeman, Plowing in Hope, 13-14.

7.George Grant, The Micah Mandate: Balancing the Christian Life [O Mandato de

Miquéias: Equilibrando a Vida Cristã] (Nashville: Cumberland House, 1999), 243.

8.A idéia básica para isso veio de Colin Harbinson da JOCUM, The Arts and Cultural

Restoration [As Artes e a Restauração Cultural], www.colinharbinson.com/order/cultrestbook.html

(acessado em 29 de maio de 2009).

9.Douglas Jones e Douglas Wilson, Angels in the Architecture: A Protestant Vision for

Middle Earth [Anjos na Arquitetura: Uma Visão Protestante para a Terra Média] (Moscow,

Idaho: Canon Press, 1998), 18.

10.

Mateus 6.9-13.

11.

C. S. Lewis, The Last Battle [A Última Batalha] (1956; repr., Nova Iorque: The

MacMillan Company, 1967), 149.

A HISTÓRIA DE KATHLEEN NORRIS

1.

Steven Barclay Agency, "Kathleen Norris," www.barclayagency.com/norris.html

(acessado em 31 de janeiro de 2008).

2. Ibid.

3."Entrevista de Homilética: Kathleen Norris: Flowers in the Desert" [Flores no Deserto]

Homiletics Online, http://homileticsonline.com/subscriber/interviews/norris.asp (acessado em

26 de janeiro, 2008). Impresso com permissão da Homiletics Online, www.HomileticsOnline.com

.

CAPÍTULO 9: ELEMENTOS DO MANDATO CULTURAL

The American Heritage Dictionary of the English Language, s.v. "cultivar."

2. The Compact Edition of the Oxford English Dictionary, s.v. "cultura."

3. The American Heritage Dictionary of the English Language, s.v. "cultura."

4. Gn 2.15.

5. Gn 2.19.

6. Veja Gn 1.26-28.

7. Enhanced Strong's Lexicon [Lexicon Ampliado de Strong], s.v. "abad."

8. Ibid., s.v. "shamar."

9. João Calvino, Commentaries on the First Book of Moses called Genesis [Comentários

do Primeiro Livro de Moisés chamado Gênesis], tradução de Rev. John King (Grand Rapids:

Baker Book House, 1979), 125.

10. Para mais informações, veja os capítulos 7 e 11 de meu livro Discipulando Nações: O

Poder da Verdade para Transformar Culturas.

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378 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

11.

Is 11.9; Hb 2.14.

12.

Gn 1-2:.

13.

Apocalipse 21-22:, .

14.

Apocalipse 22.1-5.

15.

David Bruce Hegeman, Plowing in Hope: Toward a Biblical Theology of Culture

[Cultivando Esperança: Por uma Teologia Bíblica da Cultura], (Moscow, Idaho: Canon Press.

1999), 33-34.

CAPÍTULO 10: A QUEDA, A CRUZ E A CULTURA

1.

Rm 8.18-23

2.

Cl 1.20.

3.Dallas Willard, The Divine Conspiracy [A Conspiração Divina] (São Francisco:

HarperSanFrancisco, 1998), 27.

4.C. S. Lewis, Out of the Silent Planet [Além do Planeta Silencioso] (Nova Iorque:

Scribner, 2003).

5.

Gn 3.17-18.

6.

Papa João Paulo II, Laborem Exercens (Sobre o trabalho humano) (Washington, D.C.:

Conferência Católico nos Estados Unidos, 1981), 1, citado em Chuck Colson e Jack Eckerd, Wh)

America Doesn't Work [Por que a América não Funciona] (Nashville: W Publishing Group.

1991), 31.

7.

Veja Gn 3.14-15.

8.

Rm 8.18-23

9.Cl 2.15.

10.

David Bruce Hegeman, Plowing in Hope: Toward a Biblical Theology of Culture

[Cultivando Esperança: Por uma Teologia Bíblica da Cultura], (Moscow, Idaho: Canon Press.

1999), 71.

11.

Gn 12.1-3.

12.

Apocalipse 19.6-9.

13.

Apocalipse 21.2.

14.

Mateus 2.11.

15.

Hegeman, Plowing in Hope, 86.

16.

Is 60.1-3; Ap 21.24.

17.

Is 60.18; Ap 21.4.

18.

Is 60.11; Ap 21.25.

19.

Is 60.6-7, 9, 13, 17; Ap 21.24, 26.

20. Anthony Hoekema, The Bible and the Future [A Bíblia

e

o Futuro] (Grand Rapids:

William B. Eerdmans Publishing Co., 1979), 285, citado em Hegeman, Plowing in Hope, 87-88.

21.

Hegeman, Plowing in Hope, 88.

22.

G. B. Caird, The Revelation of Saint John [A Revelação (San Francisco:

HarperSanFrancisco, 1966) citado em Hegeman, Plowing in Hope, 93.

23.

C. S. Lewis, The Last Battle [A Última Batalha] (Nova Iorque: MacMillan Publish-

ing, 1956).

24.

Ibid, 162.

25.

Ibid.

26.

Herman Bavinck citado por Charles Colson e Nancy Pearcey em How Now Shall We

Live? [E agora, como viveremos?] (Wheaton,

yndale House Publishers, Inc., 1999), 293.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Notas

1379

CAPÍTULO 11: O CHAMADO

1.0s Guinness, The Call: Finding and Fulfilling the Central Purpose of Your Life [O

Chamado: Encontrando o Propósito Central de Sua Vida] (Nashville: Word Publishing, 1998), 42.

2.

Noah Webster's American Dictionary of the English Language [Dicionário Americano

da Língua Inglesa de Noah Webster], s.v. "vocação."

3.

John Fuellenbach, The Kingdom of God: The Message of Jesus Today [O Reino de

Deus: A Mensagem de Jesus Hoje] (Maryknoll,

rbis Books, 1995), 9.

4.

Guinness, The Call, 34.

5.

A palavra grega keleo é traduzida como chamado 125 vezes e convocar 16 vezes. A

segunda palavra grega, klesis, se traduz como chamado 10 vezes e vocação uma vez. A palavra do

Antigo Testamento qara se traduz chamado 528 vezes e clamor 98 vezes.

6.

Noah Webster's American Dictionary of the English Language [Dicionário Americano

da Língua Inglesa de Noah Webster], s.v. "chamado."

7.

Robert Laird Hamis, Gleason Leonard Archer, e Bruce K. Waltke, eds., Theological

Wordbook of the Old Testament [Caderno Teológico do Antigo Testamento], vol. 1 (Chicago:

Moody Press, 1980), s.v. "barak," 132.

8.

Ex 35.4-5, 10.

9.

Mateus 28.18-20.

10.

Mt 25.14-17; Lucas 19.12-13.

11.

Enhanced Strong's Lexicon iLexicon Ampliado de Strong], s.v. "katartismos."

12.

Ibid., s.v. "katartizo."

13.

Michael Novak, Business as a Calling: Work and the Examined Life [Negócios como

chamado e a vida Examinada] (Nova Iorque: The Free Press, 1996), 40.

14.

Guinness, The Call, 13.

15.

G 11.31; 12.1, 4.

16.

Hebreus 11.10.

17.

Hebreus 11.12-16.

18.

Guinness, The Call, 151.

19.

Apocalipse 5.9-10.

CAPÍTULO 12: O CHAMADO GERAL:

1.G 1.4, 10, 12, 18, 21, 25.

2.G 1.7, 9, 11, 15, 30, .

3.

F. Foulkes, "Peace" [Paz], The New Bible Dictionary (Wheaton, 111.: Tyndale House

Publishers, 1962), no sistema de bibliotecas Logos 2.1, Logos Research Systems, Oak Harbor,

Wash.

4.

Ibid.

5.Ibid.

6.

Cura Substancial é um termo usado por Francis Schaeffer. Ele reflete que certo nível de

cura deve ocorrer no relacionamento secundário como manifestação da restauração do relacionamento

primário do indivíduo para com Deus. Mesmo sendo uma cura real, ela não será completa em

nenhuma área até que Cristo retorne.

7.

Enhanced Strong's Lexicon [Lexicon Ampliado de Strong], s.v. "sozo."

8.

Mateus 16.24.

9.

Rm 1.17

10. Rm 12.2; 1 Co 2.16.

11.

Rm 8.19-22

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380 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

12.

Lucas 19.12-13.

13.

Isaías 11.6-9; 60.1-13; Apocalipse 60.1-13.

14.

Mateus 28.18.

15.

Apocalipse 19.11-16.

16.

Lucas 11.20; 17:21.

17.

Lucas 19.12, 15.

CAPÍTULO 13: O CHAMADO PARTICULAR:

1.

Enhanced Strong's Lexicon, s.v "poiema."

2.

Por exemplo, a palavra ergon fala da palavra obra (feitos) de Cristo em Mateus 11.2 e

Lucas 24.19; a obra do evangelho em João 6.27-29 e Fl 2.30; a boa obra de serviço àqueles que

necessitam em Mateus 5.16, Cl 1.9-10; e a obra de "emprego" ou "ocupação" em Marcos 13.34;

João 4.34; 17.4; Atos 13.2: e 1 Ts 5.12-13.

3.Colin Brown, ed., The New International Dictionary of New Testament Theology, vol.

3 (Grand Rapids: Zondervan, 1979), 1147-1151. Para exemplos, veja Gn 2.15; Êx 20.9; Dt 5.13.

4.

Veja Mt 25.34-40; Lucas 10.25-37; Efésios 4.12.

5.Papa João Paulo II, Message of the Holy Father for the XXXV World Day of Prayer

for Vocations [Mensagem do Santo Pai para o XXXV Dia Mundial das Vocações, 3 de maio,

1998, http://www.vatican.va/holy father/john_paul ii/messages/vocations/documents/hf_jp-

ii_mes_24091997_xxxv-voc-1998_en.html (acessado em 27 de maio de 2009).

6.

Michael Novak, Business as a Calling: Work and the Examined Life [Nego-cios como

chamado e a vida Examinada] (Nova Iorque: The Free Press, 1996), 34.

7.Rm 12.4-5; Efésios 1.22-23; 4.12-13.

8.Pope John Paul II, Message of the Holy Father for the XXXV World Day of Prayer for

Vocations [Mensagem do Santo Pai para o XXXV Dia Mundial de Oração por Vocações.]

9.Dallas Willard, The Divine Conspiracy [A Conspiração Divina] (São Francisco:

HarperSanFrancisco, 1998), 14.

10.

Frederic W. Farrar, The Fall of Man and Other Sermons (Londres: Macmillan and

Co., 1878), 210-211, http://books.google.com/books?id=A3Q3AAAAMAAJ.

11.Essa transcrição do sermão de Don Matthew "Eu me qualifico ," que ouvi pregada em

uma conferência para pastores de igrejas em célula em Maio de 2003 na Cidade do Cabo, África

do Sul, me foi dada por Matheny. Matheny é pastor da Igreja Nairobi Lighthous em Nairobi no

Kenya.

12.

George Grant, The Micah Mandate: Balancing the Christian Life [O Mandato de

Miquéias: Equilibrando a Vida Cristã] (Nashville: Cumberland House, 2a Edição), 1999, 25.

13.

Philip Yancey, "Living with Furious Opposites," Christianity Today, 4 de setembro

de 2000, www.christianitytoday.com/ct/2000/september4/4.70.html.

14.

H. Lyndon Kilmer, Helen Keller (Nova Iorque: Skillen e Fortas, 1964), 194, citado em

Grant, The Micah Mandate, 250.

15.

Elizabeth R. Skoglund, Amma: The Life and Words of Amy Carmichael (Grand

Rapids: Baker Books, 1994), 110-112.

16.

Gn 2.9; Ex 15.26; Gn 1.6-9: Dt 25.13-16; Lucas 19.12-13, 15.

17.

Paul S. Minear, "Work and Vocation in Scripture," em Work and Vocation: A Christian

Discussion, ed. John Oliver Nelson (Nova Iorque: Harper, 1954), 32-83.

18.

Willard, The Divine Conspiracy, 14.

19.

Ibid. 283.

20. Êx. 25:8.

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Notas 1381

21. João 1.14

22.

Mt 28.19-20; Lucas 17.15-18; Efésios 2.22.

23.

Irmão Lawrence [Nicholas Herman], The Practice of the Presence of God (Springdale.

Pa.: Whitaker House. 1982), 20.

AS HISTÓRIAS DE LISA ETTER E HAYDEN SMITH

Lisa Etter e Hayden Smith, entrevistadas por Cynthia Kniffin, 25 de setembro de 2007.

A HISTÓRIA DE JEMIMAH WRIGHT

Jemimah Wright, em testemunho escrito ao autor, 11 de fevereiro de 2008.

CAPÍTULO 14: CARACTERÍSTICAS DE NOSSA

VIDA DE TRABALHO

1.Provérbios 30.8-9:

2.

Marcos 10.35-45

3.Mateus 6.33.

4.

Efésios 5.19 2:8-9.

5.Martinho Lutero, "Exposition on Deuteronomy 8:17-18," em What Luther Says: An

Anthology, ed. Ewald M. Plass (St. Louis: Concordia, 1959), 1495, citado em Leland Ryken,

Redeeming the Time (Grand Rapids: Baker Books, 1995), 99.

6.João Calvino, Comentário do Salmo 127:2, em Leland Ryken, Worldly Saints: The

Puritans As They Really Were (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 32.

7.Cotton Mather, "A Christian at His Calling" [O Cristão e Seu Chamado] citado em

Ralph Barton Perry, Puritanism and Democracy [O Puritanismo e a Democracia] (Nova Iorque:

Vanguard, 1944), 312, citado em Leland Ryken, Redeeming the Time [Redimindo o Tempo]

(Grand Rapids: Baker Books, 99), .

8.

Leland Ryken, Worldly Saints: The Puritans As They Really Were [Santos na Terra:

Os Puritanos como Realmente Eram] (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 33.

9.Lucas 19.13.

10.

Gên 1.14-19.

11.

John Wesley, "The Use of Money" (Sermão 50, texto da edição 1872), http://gbgm

-umc.org/umw/wesley/serm-050.stm (acessado em 27 de maio de 2009).

12.

Marcos 13.32-33

13.

Os Guinness, The Call: Finding and Fulfilling the Central Purpose of Your Life [O

Chamado: Encontrando o Propósito Central de Sua Vida] (Nashville: Word Publishing, 1998),

132, 133.

14.

Hebreus 11.10.

15.

Êxodo 31.1-6; 35.30-36.1

16.

2 Cr 2-3.

17. Êx 25.8; 40.33-34, 38.

18.

Mt 6.9-10, 33; 28.19-20; Lucas 19. 10-13.

19.

Guinness, The Call, 198-199.

20.

Wesley, "The Use of Money."

21. Relatado por Cleiton e Eli Oliveira após uma Conferência para Lançamento da Vião

em Belém, Brasil, em maio de 2002.

22. George Swinnock, The Christian Man's Calling em Richard B. Schlatter, The Social

Ideas of Religious Leaders:1660-1688 (1940; repr., Nova Iorque: Octagon Books, 1971), 189,

citado em Ryken, Worldly Saints, 15.

23.

John Politan (sermão, Capela de Food for the Hungry, Phoenix, Ariz., 9 de fevereiro

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382 I VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

de 2000; fonte: anotações de Scott Allen).

24.

Charles Colson, "What's So Important About Faith and Work?" BreakPoint Com-

mentary #020201, 1 de fevereiro de 2002.

25.

Glimpses of Christian History, " 26 de julho de 1833: Dying Wilberforce Learned

Slaves Were Finally Liberated," http://www.christianhistorytimeline.com/DAILYF/2001/07/daily

-07-26-2001.shtml (Acessado em 27 de maio de 2009).

26. Charles Colson, "Can Adversity Be a Blessing?" BreakPoint Commentary #020503,

3 de maio de 2002.

CAPÍTULO 15: MORDOMIA:

I.Gênesis

1.26-28.

2.

Lucas 16.1-15.

3.Lucas 19.1 I -26.

4. Lucas 16.8.

5.Lucas 19.16-17.

6.Lucas 19.18-19.

7.Lucas 19.20-26.

8.Virtude é a prática do que é verdadeiro e bom. Em seu Dicionário de 1828, Noah

Webster disse: "Virtude nada mais é do que a voluntária obediência à verdade." Ele a chamou de

"excelência moral particular." Virtude é diferente da palavra moderna valores no sentido de que

valores são subjetivos e representam padrões pessoais e sociais, os valores não exigem a prática.

As virtudes, por outro lado, são fundamentadas em uma estrutura de absolutos morais e obediência.

9.

John Wesley, "The Use of Money" (Sermão 50, texto da edição 1872), http://

gbgm-umc.org/umw/wesley/serm-050.stm (acessado em 27 de maio de 2009).

10.

Martinho Lutero, "Exposition on Exodus 13:18," em What Luther Says: An Anthol-

ogy, ed. Ewald M. Plass (St. Louis: Concordia, 1959), 1496, citado em Leland Ryken, Redeeming

the Time (Grand Rapids: Baker Books. 1995), 102.

11.

Robert Bolton, General Directions for a Comfortable Walking with God (Ligonier,

Pa.: Soli Deo Gloria, 1991), 77, citado em Ryken, Redeeming the Time, 102.

12.

Enhanced Strong's Lexicon [Lexicon Ampliado de Strong], s.v. "melakah"

13.

Como vimos no capítulo 13, abad também é utilizado no Decálogo.

14.

Êxodo 20.8-11.

15.

Gênesis 1.28.

16.

John Milton, Paraíso Perdido, linhas 618-20, citado em Leland Ryken, Worldly

Saints: The Puritans As They Really Were [Santos na Terra: Os Puritanos como Realmente Eram]

(Grand Rapids: Zondervan, 1990), 35

17.

Wesley, "The Use of Money."

18.

Cl 1.17; Hb 1.3.

19.

Merriam-Webster's Online Dictionary, s.v. "pecuária."

20.

Rm 8.19-21

21. Apocalipse 11.18.

22. Ryken, Worldly Saints, 99.

23. Samuel Willard, A Complete Body of Divinity, citado em Stephen Foster, Their

Solitary Way: The Puritan Social Ethic in the First Century of Settlement in New England (New

Haven: Yale University Press, 1971), 128, citado em Ryken. Worldly Saints, 100.

24.

Mateus 6.33.

25. Doug Sherman e William Hendricks, Your Work Matters to God (Colorado Springs:

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Notas 1 383

NavPress, 1988), 185.

26.

Wesley. "The Use of Money."

27.

Ibid.

28.

Noah Webster's American Dictionary of the English Language [Dicionário Americano

da Língua Inglesa de Noah Webster], s.v. "egoísmo."

29.

João 3.16; 1 João 4.9-10, 16.

30.

Salmo 23; Marcos 10.45: João 13.2-17.

31.

João 3.16; Fil. 2.6-8.

32.

Fil. 2:4.

33.

Wesley, "The Use of Money."

CAPÍTULO 16: A ECONOMIA DA DOAÇÃO:

i .C1

1.20.

2.Mateus 28.18-20.

3.

Richard Baxter, A Christian Directory, in Protestantism and Capitalism: The Weber

Thesis and its Critics, ed. Robert W. Green (Boston: D. C. Heath, 1959), 72, citado em Leland

Ryken, Worldly Saints: The Puritans As They Really Were (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 31.

4.

Fl 2.4-8.

5.

Mateus 25.31-46.

6.

William Perkins, Vocations or Callings of Men, em Works, 1:757, em Leland Ryken,

Redeeming the Time (Grand Rapids: Baker Books, 1995), 106.

7.

Charles Spurgeon, Metropolitan Tabernacle Pulpit, vol. 23 (London, U.K.: Morgan &

Chase, 1930), 19, citado em George Grant, Bringing in the Sheaves: Transforming Poverty into

Productivity (Brentwood, Tenn.: Wolgemuth & Hyatt, 1988), 54.

8.

Veja meu livro Discipulando Nações: O Poder da Verdade para Transformar Culturas,

cap. 6

9.

Veja Scott Allen e Darrow Miller, The Forest in the Seed (Phoenix: Disciple Nations

Alliance, 2007).

10.

Veja meu livro Discipulando Nações, capítulos 7 e I 1 .

l 1. Soma zero é um termo econômico derivado da visão naturalista da realidade. Ele

supõe que os recursos são coisas físicas "no solo." Por natureza, eles são finitos ou limitados. Se

uma pessoa ou nação ganha mais, isso acontece à custa de outra pessoa ou nação.

12.

Marvin Olasky, The Tragedy of American Compassion (Washington, D.C.: Regnery

Gateway, 1992).

13.

Daniel A. Bazikian, "Book Review: The Tragedy of American Compassion by Marvin

Olasky," http://www.thefreemanonline.org/columns/book-review-the-tragedy-of-american-com-

passion-by-marvin-olasky/

(acessado em 27 de maio de 2009).

14.E. E. Ryden, The Story of Christian Hymnody (Philadelphia: Fortress Press, 1959), 139.

15.Veja os versículos 29 e 36.

16.

Stephen Neill, A History of Christian Missions (New York: Penguin Books, 1966). 42.

17.

Olasky, The Tragedy of American Compassion, 19.

18.

Ibid, 225.

19.

Lv 19.9-10; 23.22; Dt 24.19-21.

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384 I

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

CAPÍTULO 17: O REINO AVANÇA

DE DENTRO PARA FORA

1.G 6.5-6; Rm 3.23.

2. Grover Gunn, "Making Waves," TableTalk (Janeiro de 2001): 12.

3.2 Co 5.17.

4. Mateus 25.35-40.

5.Lucas 10.25-37.

6.Para mais informações veja meu livro. Nurturing the Nations: Reclaiming the Dignity

of Women in Building Healthy Cultures (Colorado Springs: Paternoster Publishing, 2008).

7.0 1.20.

8.Marcos 16.15

9.C1 1.20.

10.

Rm 8.19-21

11.

Gunn, "Making Waves," 12.

12.

Dallas Willard, The Divine Conspiracy [A Conspiração Divina] (São Francisco:

HarperSanFrancisco, 1998), 14.

CAPÍTULO 18: OS PORTÕES DA CIDADE

1.xodo

32.26.

2.

Neemias 2.8.

3.1 Reis 6.34-35.

4.Gn 19.1; Juízes 16.3; Jr 37.13.

5.Gn 22.17-18.

6.Gn 23.17-18; 2 Reis 7.1; Neemias 3.1, 3, 28.

7. Neemias 8.

8.Dt 16.18-21; 21.18-20; Josué 20.4; Rute 4.1-2, 11; 2 Reis 23.8: Pv 22:2; Amós 5.15.

9.2 Sm 19.8; 1 Reis 22.10; Pv 31.23; Dn 2.48-49.

10.2 Reis 7.1; 2 Crônicas 32.6-8; Pv 31.31; Jr 7.2; 17.19-27; 36.10.

11.

Gn 19.1; Rute 4.11; SI 69.12; Amós 5.12.

12.

Neemias 3.14.

13. Roy Moore e John Perry, So Help Me God: The Ten Commandments, Judicial

Tyranny, and the Battle for Religious Freedom (Nashville: B&H Publishing Group, 2005).

14.

Rm 13.1-6

15.

Jr 7.2; 17:19-20.

16.

Veja também Pv 8.1-4.

17.

Rm 1.18-23

A HISTÓRIA DE SHERRON WATKINS

A história de Sherron Watkins é contada em vários veículos, desde o Wall Street Journal

até a revista Time e Today's Christian Woman. Por exemplo, veja Bob Jones, "Reluctant Hero,"

World, vol. 17, no. 4 (2 de fevereiro de 2002) e Franklin Pellegrini, "Person of the Week: 'Enron

Whistleblower' Sherron Watkins," Time, 18 de janeiro de 2002.

A HISTÓRIA DE MARVIN OLASKY

1. Marvin Olasky, The Tragedy of American Compassion (Washington. D.C.: Regnery

Gateway, 1992).

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Notas 1385

CAPÍTULO 19: OS DOMÍNIOS

1.

Rodney Stark, The Rise of Christianity: A Sociologist Reconsiders History (Princeton:

Princeton University Press, 1996), 211.

2.

Thomas Cahill, Desire of the Everlasting Hills: The World Before and After Jesus

(New York: Doubleday, 1999), 310-311.

3.

Paul L. M aier in Alvin J. Schmidt, Under the Influence: H ow C hristianity Transformed

Civilization (Grand Rapids: Zondervan, 2001), 8.

4.

Gn 2.24.

5.

Mateus 16.18.

6.

Gn 9.6.

7.

J. 1. Packard, Concise Theology: A Guide to Historic Christian Beliefs (Wheaton, Ill.:

Tyndale House Publishers, 1993), no sistema de bibliotecas Logos 2.1, Logos Research Systems,

Oak Harbor, Wash.

8.R. J. Slater, Teaching and Learning America's Christian History (San Francisco: Foun-

dation for American Christian Education, 1960), 199 citado em Elizabeth Youmans, The Chris-

tian Principie of Self-Government (não publicado, 2005), 1.

9.

Youmans, The Christian Principie of Self-Government, 1. Para saber mais sobre Chrysalis

International, visite http://www.chrysalisinternational.org/default.asp.

10. H. Dolson, William Penn: Quaker Hero (New York: Random House, 1961), 155,

citado em Youmans, The Christian Principie of Self-Government, 1.

11.

Rm 1.18-20

12.Schmidt, Under the Influence, 253.

13.

Veja o Salmo 147.19-20.

14.

Schmidt, Under the Influence, 249-250.

15.D. James Kennedy e Jerry Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom? (Nash-

ville: Thomas Nelson, 1994), 81.

16.

Schmidt, Under the Influence, 251.

17.

Mateus 22.21.

18.

Gn 1.18-20; Rm 2.14-15.

19.Schmidt, Under the Influence, 256.

20.

Rm 1.25

21.

Schmidt, Under the Influence, 171.

22. Ibid.

23. Ibid, 173.

24.

Charles H. Haskins, The Rise of Universities (New York: Henry Holt, 1923), 3,

citado em Schmidt, Under the Influence, 186.

25.

Ellwood P. Cubberly, The History of Education (Boston: Houghton Mifflin, 1948),

218, citado em Schmidt, Under the Influence, 187.

26. Paul Lee Tan, Encyclopedia of 7700 Illustrations: Signs of the Times (Rockville,

Md.: Assurance Publishers, 1984), 157, citado em Schmidt, Under the Influence, 190.

27. Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Born?, 52.

28.

Ibid, 43.

29.

William Boyd, The History of Western Education (New York: Barnes and Noble,

1955), 189, citado em Schmidt, Under the Influence, 177.

30.

John Jefferson Davis, Your Wealth in God's World: Does the Bible Support the Free

Market? (Phillipsburg, N.J.: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1984), 65, citado em

Kennedy and Newcombe, What If Jesus Had Never Been Born?, 144.

31. Mateus 25.36.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 363/373

38 6 1

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

32.

Cyprian, Mortality 15-20, 1958 ed., citado em Rodney Stark, The Rise of Christian-

ity. 81.

33. Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 145.

34.

David Riesman, The Story of Medicine in the Middle Ages (New York: Harper and

Brothers, 1936). 356, citado em Schmidt, Under the Influente. 157.

35. Kennedy e

Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 151.

36.

Schmidt, Under the Influence, 166.

37. Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 152.

38.

Schmidt, Under the Influence, 160.

39.

Ibid, 162-163.

40.

Ibid, 165.

41.

Gn 2.19.

42.

Êxodo 31.1-6; 35.30-36.1

43.

J. R. R. Tolkien, Tree and Leaf [A Árvore e a Folhai (Londres: Unwin Books, 1964), 44

44.

Edith Schaeffer, Hidden Art (London: The Norfolk Press, 1971), 24.

45.

Veja o capítulo 8 para uma discussão da cultura como adoração e as três principais

áreas da cultura do reino, cultura falsa e da cultura natural.

46.

Êx 20.4, 23.

47.

Êx 25; 1 Reis 7.2-37.

48.

Mindy Belz, "Art Aflame," World, 17 de dezembro de 2005, http://

www.worldmag.com/

articles/11356 (acessado em 27

de

2009).

49.

Êxodo 31.1-11; 35.4-39.43

50. Êx 40.34-38.

51.

Cynthia Pear Maus, Christ and the Fine Arts: An Anthology of Pictures, Poetry.

Music, and Stories Centering in the Life of Christ, edição revisada e ampliada (Nova Iorque:

Harper and Row Publishers. 1938. 1959), 2, citado em Kennedy e Newcombe, What If Jesus Hal

Never Been Bom?, 174.

52.

Kennedy e Newcombe. What If Jesus Had Never Been Bom'?, 182.

53.

Paul Griffiths. "Opera." in The Oxford Companion to Music, ed. Denis Arnold (New

York: Oxford University Press, 1983), 3:1291, citado em Schmidt, Under the Influence, 316-317.

54.

Kennedy e Newcombe. What If Jesus Had Never Been Born?, 182.

55. Ibid.

56.

Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 185.

57.

Platão, A República, citado em Schmidt, Under the Influence, 342.

58.

A expressão cantor de baladas era usada nos tempos medievais para se referir a

pessoas que cantavam baladas-histórias musicadas-em lugares públicos. Uso a palavra em relação

aos cristãos que são artistas (não apenas os compositores e cantores) chamados a ser uma voz

profética à sua cultura ou às nações. Seu chamado é conscientemente levar a cultura do reino-

verdade, bondade e beleza-para o mercado de trabalho e esfera pública.

59.

Flannery O'Connor, Mystery and Manners: Occasional Prose (Nova Iorque: Farrar.

Straus and Giroux, 1969). 172-173.

60.

Dorothy L. Sayers, "Why Work?" ['Por que trabalhar'?"1 in Creed or Chaos? [na Fé

ou no Caos?] (Nova Iorque: Harcourt, Brace and Company, 1949). 57.

61.

O'Connor, Mystery and Manners, 74.

62.

Dennis Peacocke, Almighty & Sons: Doing Business God's Way (Santa Rosa, Calif.:

Rebuild, 1995). ix.

63. Mateus 5.17.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 364/373

Notas

1 387

64.

Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 111.

65.

Ibid.

66. Ibid, 114.

67.

David S. Landes, The Wealth and Poverty of Nations: Why Some Are So Rich and

Some So Poor (Nova Iorque: W. W. Norton & Company, 1998), 58-59.

68.

Para urna explicação completa de sistemas fechados e abertos, veja o capítulo 16.

69.

Michael Novak, Business as a Calling: Work and the Examined Life [Negócios corno

chamado e a vida Examinada (Nova Iorque: The Free Press, 1996), 112.

70.

Ibid.,159.

71.

Kenneth McLeish, Key Ideas in Human Thought (Prima Publishing, 1995), 658-659.

72.

Homens como Pitágoras, Hipócrates e Euclídes.

73. Thomas Goldstein, Dawn of Modern Science: From the Arabs to Leonardo da Vinci

(Boston: Houghton Mifflin, 1980), 171, citado em Schmidt, Under the Influence, 219.

74.

Roger Bacon, Opus Majus, tradução de Robert Belle Burke (Nova Iorque: Russell

and Russell, 1962). 584, citado em Schmidt, Under the Influence, 219.

75. Henry Morris, Men of Science Men of God (San Diego: Master Books, 1984), 35,

citado em Kennedy and Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 97.

76. John Peck e Charles Strohmer, Uncommon Sense: God's Wisdom for Our Complex

and Changing World (Londres: SPCK Publishing, 2001), 155.

77.

Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 99.

78.

Henry Morris, Men of Science Men of God (San Diego: Master Books, 34-35),

citado em Kennedy and Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 99 .

79.

Heroes of History, vol. 4 (West Frankford, 111.: Caleb Publishers, 1992), 36, citado em

Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 100.

A HISTÓRIA DE JOHN W. WHITEHEAD

1.

History of The Rutherford Institute," The Rutherford Institute, http://www.rutherford

.org/About/History.asp

(acessado em 27 de maio de 2009).

2.

"About Us," The Rutherford Institute, http://www.rutherford.org/About/AboutUs.asp

(acessado em 27 de maio de 2009).

3.

"Rutherford Attorneys Weigh In On 'Nuremberg Files' Case, Ask U.S. Supreme Court

To Affirm Right Of Pro-Life Activists To Engage In Non-Violent Speech," The Rutherford

Institute News, April 6, 2006, http://rutherford.org/articles_db/press_release

.asp?article_id=610 (acessado em 27 de maio de 2009).

4.

"U.S. Supreme Court Ruling Calls For Emergency Exception While Affirming Parents'

Right To Be Notified If Minor Child Opts To Have An Abortion," The Rutherford Institute

News, 19 de janeiro de 2006. http://rutherford.org/articles_db/press_release.asp?article

_id=597 (acessado em 27 de maio de 2009).

5.

"Rutherford Institute President Commends U.S. Supreme Court Decision To Limit

President's Power To Detain 'Enemy Combatants,'?" The Rutherford Institute News, 28 de

junho de 2004, http://rutherford.org/articles_db/press_release.asp?article

id=497 (acessado em

27 de maio de 2009).

6.

"John W. Whitehead Testifies To U.S. Senate Constitution Subcommittee On Steps

The Next President Must Take To Restore Rule Of Law In America," The Rutherford Institute

News, 16 de setembro de 2008, http://www.rutherford.org/articles_db/press_release.asp?article

id=726 (acessado em 27 de maio de 2009).

A HISTÓRIA DE ELIZABETH YOUMANS

1. Elizabeth L. Youmans, Ed.D., Education of Children, a Biblical Perspective (Food for

the Hungry International Child Development Seminar, Lima, Peru, 27-30 de maio de 2002).

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 365/373

388 1 VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

2. Elizabeth Youmans. Ed.D.. "The Christian View of Children PowerPoint," Chrysalis

International, http://www.chrysalisinternational.org/assets/pdfs/Chr_View

of Child

PPT.pdf (acessado em 27 de maio de 2009).

A HISTÓRIA DE MARY HOLMGREN

Escrito para o autor por Marit Newton, filha de Mary Holgrem em 7 de julho de 2008.

A HISTÓRIA DE STEFAN EICHER

Stefan Eicher, em testemunho escrito ao autor. 6 de agosto de 2007.

A HISTÓRIA DE MAKOTO FUJIMURA

1.

As citações desse parágrago vem da entrevista do MacLaurin Institute's interview com

Makoto Fujimura, "Discovering Grace Through Art with Makoto Fujimura," The MacLaurin

Institute, verão de 2008, 3.

2.

A substância dessa história e todas as citações não atribuídas são de Mindy Belz, "Art

Aflame." World, 17 de dezembdro de 2005, http://www.worldmag.com/articles/11356

(acessado

em 30 de janeiro de 2008).

A HISTÓRIA DO GRUPO MANTHEI

Jim Manthei, em testemunho escrito ao autor em 31 de julho de 2007.

A HISTÓRIA DE TED CORWIN

A substância dessa história vem das correspondências com Ted Corwin e do relato de

Corwin em "On My Own?" Guideposts, March 1999, publicado em http://www

.designmasterfurniture.com/History.aspx (acessado em 20 de setembro de 2008).

A HISTÓRIA DE FRANCIS COLLINS

A história de Francis Collins foi adaptada do 2009 Personal Prayer Diary and Daily

Planner (Seattle: YWAM Publishing, 2008), 43. Utilizado com permissão.

1.

Francis Collins, Faith and the Human Genome (palestara na American Scientific Affili-

ation, Malibu, Calif., 4 de agosto de 2002), http://www.asa3.org/ASA/PSCE/2003/PSCF9

-03Collins.pdf (acessado em 27 de maio de 2009).

2.

bid.

3.Francis Collins. entrevistado por Bob Abernathy, Religion and Ethics Newsweekly,

PBS, 16 de junho de 2000, http://www.pbs.org/wnetheligionandethics/transcripts/collins.html

(acessado em 27 de maio de 2009).

A HISTÓRIA DE GEORGE WASHINGTON CARVER

1.

George Washington Carver and Gary R. Kremer, George Washington Carver: In His

Own Words (Columbia: University of Missouri Press, 1991), 143.

2.

Linda McMurry Edwards, George Washington Carver: The Life of the Great American

Agriculturist (Nova Iorque: Rosco Publishing, 2004), 18.

3.

Carver e Kremer, George Washington Carver: In His Own Words, 143.

4.Ibid, 1.

CAPÍTULO 20: O GRANDE MANDAMENTO

1 .

Rodney Stark, The Rise of Christianity: A Sociologist Reconsiders History (Princeton:

Princeton University Press, 1996). 86.

2.Ibid, 161-162.

3.Ibid, 215.

4.João 13.34-35

5.

Mateus 22.36-40.

6.

Ao discutir essas áreas de influência cristã, utilizarei o livro de Alvin Schmidt Under the

Influence: How Christianity Transformed Society. e o livro de Rodney Stark The Rise of Chris-

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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Notas

1 389

tianity: A Sociologist Reconsiders History, e o livro de D. James Kennedy e Jerry Newcombe.

What If Jesus Had Never Been Bom?

7.

William Stearns Davis, A Day in Old Rome (Boston: Allyn & Bacon, 1925), 389,

citado em Alvin J. Schmidt, Under the Influence: How Christianity Transformed Society (Grand

Rapids: Zondervan, 2001), 61.

8.

D. James Kennedy e Jerry Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom? (Nash-

ville: Thomas Nelson, 1994), 22.

9.

Schmidt, Under the Influence, 67.

10.

Ibid, 68.

11.

Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 25.

12.

Stark, The Rise of Christianity, 118.

13.

Michael J. Gorman, Abortion and the Early Church (Downers Grave, 111: InterVarsity

Press, 1980), 25, citado em Stark, The Rise of Christianity, 118.

14.

George Grant, Third Time Around: A History of the Pro-Life Movement from the

First Century to the Present (Franklin, Tenn.: Legacy, 1991), 20, citado em Kennedy and

Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom, 11.

15.

Stark, The Rise of Christianity, 120.

16.

Schmidt. Under the Influence, 55.

17. Ibid, 63.

18.

Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 12.

19.

Schmidt, Under the Influence, 59.

20.

Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 18.

21. Schmidt, Under the Influence, 272-273.

22.

Aristóteles, Política 1.1255, citado em Schmidt, Under the Influence, 272.

23.

Aristóteles, Ética a Nicômaco 8.11, citado em Schmidt, Under the Influence, 274.

24.

David R. James, "Slavery and lnvoluntary Servitude," in Encyclopedia of Sociology,

ed. Edgar F. Borgatta and Marie L. Borgatta (Nova Iorque: Macmillan, 1992), 4:1792, citado em

Schmidt, Under the Influence, 272.

25.

Schmidt, Under the Influence, 273.

26.

Charles Schmidt, The Social Results of Early Christianity, tradução de Mrs. Thorpe

(Londres, R.U..: Wm. Isbister Ltd., 1889), 430, citado em Alvin Schmidt, Under the Influence, 274.

27.

Santo Agostinho, Cidade de Deus, tradução Mateus Dods (Nova Iorque: Random

House, 2000), 693.

28.

Kenneth Scott Latourette, A History of Christianity (Nova Iorque: Harper and

Brothers, 1953), 558, citado

em

Schmidt, Under the Influence, 276.

29.

W. E. H. Lecky, History of European Morais: From Augustus to Charlemagne (Nova

Iorque: D. Appleton, 1927), 2:71; citado em Schmidt, Under the Influence, 275.

30.

Sherwood Eliot Wirt, The Social Consciente of the Evangelical (Nova Iorque: Harper

and Row, 1968), 39, citado em Kennedy and Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 22.

31.

Liberty (September/October 1984), citado em Kennedy and Newcombe, What If

Jesus Had Never Been Bom, 22.

32.

Aristóteles, Política 1.1260a, citado em Schmidt, Under the In-fluence, 99.

33.

Stark, The Rise of Christianity, 102.

34.

Schmidt, Under the Influence, 98-99.

35.

J. P. V. D. Balsdon, Roman Women: Their History and Habits (Nova Iorque: John

Day, 1963), 272, citado em Schmidt, Under the Influence, 100.

36.

Philip Schaff, The Person of Christ: The Miracle of History (Boston: American Tract

Society, 1865), 210, citado em Schmidt, Under the Influence, 101.

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39 0 1

VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo

37. Schmidt. Under the Influence, 82.

38.

Annales (Tácito) 3.34. citado em Schmidt. Under the Influence, 82.

39. Christine Toomey, "Gender Genocide." The Sunday Times, 26 de agosto de 2007. http:/

/www.timesonline.co.uk/tol/news/world/asia/article2307893.ece (acessado em 27 de maio de 2009).

40. Alcorão. Sura 4.34, citado em Schmidt, Under the Influence, 97.

41. João 4.4-29

42. João 8.1-11

43.

Mateus 28.1-10.

44. Mateus 19.4-6.

45. Mateus 5.28.

46.

Gálatas 3. 28.

47. Rm 6.1-2, 6; 1 Co 16.19; FI 4.2-3; C14.15.

48. Stark, The Rise of Christianity, 104.

49.

William C. Morey, Outlines of Roman Law (Nova Iorque: G. P. Putnam's Sons,

1884), 150, citado em Schmidt, Under the Influence, 111.

50. Wirt, The Social Conscience of the Evangelical (Nova Iorque: Harper and Row, 29),

131, citado em Kennedy and Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 131.

51. Edward Gibbon, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire (1789:

repr., Londres: Penguin Books, 1994). 813, citado em Schmidt, Under the Influence, 84.

52.

C. Schmidt, The Social Results of Early Christianity, 441-42, citado em A. Schmidt.

Under the Influence, 65.

53.

Mateus 19.4-6.

54.

L. F. Cervantes, "Women," New Catholic Encyclopedia (New York: McGraw-Hill,

1967), 14:991, citado em Schmidt. Under the Influence. 98.

55. Para mais informações, veja meu livro, Nurturing the Nations: Rec-laiming the Dig-

nity of Women in Building Healthy Cultures (Colorado Springs: Patemoster Publishing, 2008).

56. Trinummus Plauto 2.338-'39, citado em Schmidt, Under the In-fluence, 129.

57. Schmidt, Under the Influence, 126.

58. Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?. 29.

59. Edward Ryan, The History of the Effects of Religion on Mankind: In Countries

Ancient and Mudem, Barbarous and Civilized (Dublin: T. M. Bates, 1802), 268, citado em

Schmidt, Under the Influence, 131.

60.

Lucas 10.25-37.

61. Schmidt, Under the Influence, 126.

62.

Tertulliano, "Apology." The Ante-Nicene Fathers, ed. Alexander Roberts and James

Donaldson (Grand Rapids: Eerdmans, 1989), 39, em Stark, The Rise of Christianity, 87.

63. Adolf Harnack, The Mission and Expansion of Early Christianity in the First Three

Centuries, tradução de James Moffat (Nova Iorque: G. P. Putnam's Sons, 1908). 1:153, citado em

Schmidt, Under the Influence, 125-26.

64. Stark. The Rise of Christianity, 84.

65. Ibid.

66. Cyril J. Davey, "George Müller," in Great Leaders of the Christian Church, ed. John

Woodbridge (Chicago: Moody Press, 1988), 320, citado em Schmidt, Under the Influence, 133.

A HISTÓRIA DE JILL STANEK

1.Jill Stanek, "Live Birth Abortions: Testimony of Jill Stanek," Priests for Life, http://

www.priestsforlife.org/testimony/jillstanektestimony.htm

(acessado em 8 de setembro de 2008).

Usado com permissão de Priests for Life.

A HISTÓRIA DE DOLPHUS WEARY

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 368/373

Noras

1391

1. Dolphus Weary e William Hendricks, I Ain't Comin' Back (Wheaton, III.: Tyndale,

1990), 88.

"). Ibid, 125.

3.

Para um exemplo, veja o sermão "How Should the Redeemed Live?" do Rev. Dolphus

Weary pregado na Igreja Presbiteriana Bethany em Seattle, Washington, 16 de setembro de 2007,

http://www.bethanypc.org/sermons/2007/index.htm

4.

Daniel Townsend, "Dolphus Weary," Jackson Free Press, 20 de abril de 2005, http://

www.jacksonfreepress.com/index.php/site/comments/dolphus_weary.

A HISTÓRIA DE KIM ALLEN

Kim Allen, em testemunho escrito ao autor, 3 de fevereiro de 2008.

A HISTÓRIA DA JOCUM DE PORTO RICO

1.

Para mais informações sobre o coração materno de Deus, veja meu livro, Nurturing the

Nations: Reclaiming the Dignity of Women in Building Healthy Cultures (Colorado Springs:

Paternoster Publishing, 2008).

A HISTÓRIA DE DAVID BUSSAU

A história de David Bussau foi adaptada do 2009 Personal Prayer Diary and Daily

Planner ( (Seattle: YWAM Publishing, 2008), 55. Utilizado com permissão.

I.David Bussau, Mylmpact, http://www.myimpact.ch/Our%20Work/

Our%20work_book%20MyImpact/Interviewees/Australia/Our%20work book%

20Mylmpact_Interviewee_DavidBussau_OpportunitiesInternational_main.htm (acessado em

29 de maio de 2009).

CAPÍTULO 21: SERVINDO COMO

GUARDIÕES DOS PORTÕES

1.Dallas Willard, The Divine Conspiracy [A Conspiração Divina] (São Francisco:

HarperSanFrancisco, 1998), 287.

2.

A primeira vez que ouvi o termo promotor do reino [em inglês, kindomizer] usado foi

por Paul Jeong da Natural Church Development da Coreia no Fórum da Aliança para o Discipulado

das Nações em Phoenix, Arizona em 16 de abril de 2002.

3.Não é que o dinheiro seja ruim. Não é. É o amor ao dinheiro a raiz de todos os males (1

Tim. 6:10). O reino é de primeira importância (Mateus 6:33). O dinheiro é secundário.

4.

Cl 1.18.

5.Uma ferramenta para isso é "Discovering Your Call" e pode ser encontrada no website

da Monday Church: www.MondayChurch.org.

6.Uma ferramenta para isso é "Biblical Theology of Vocation"

e

pode ser encontrada no

website da Monday Church: www.MondayChurch.org

7. Mateus 28.19.

8.

Mateus 28.18.

9.Mateus 6.10.

10.

Willard, The Divine Conspiracy, 26.

11.

Relatado pelo colega de trabalho de Jun Vencer Roy Wingerd no Fórum da Aliança

para o Discipulado das Nações em Fênix, Arizona em 16 de abril de 2002.

12.

Lawrence E. Harrison, "Why Culture Matters," em Culture Matters: How Values

Shape Human Progress, eds. Lawrence E. Harrison and Samuel P. Huntington (Nova Iorque:

Basic Books, 2000), xxvi-xxvii.

13.

Vishal and Ruth Mangalwadi, The Legacy of William Carey: A Model for the Trans-

formation of a Culture (Wheaton, 111.: Crossway Books, 1999, 17

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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392 I

VOCAÇÃO:

Escreva sua assinatura no universo

14.

Ibid, 21.

15.

Ibid, 22-23.

CAPÍTULO 22: O CORPO DE CRISTO

1.

Veja Apocalipse 21-22.

2.

Efésios 1.22-23.

3.

Apocalipse 19.7.

4.1 Pedro 2.9.

5.1 Co 12.12.

6.1 Co 12.4-6.

7.

Um excelente material de apoio é o livro Se Jesus fosse Prefeito (Editora Jocum) do

cofundador da Aliança para o Discipulado das Nações, Dr. Bob Moffitt. Esse livro pode ser

adquirido pelo site da Aliança para o Discipulado das Nações: www.disciplenations.org/store.

8.

Mateus 28.18.

9.F1 3.20.

10.

Rm 13.1-7

11.

João 17.

12.

João 17.17, 19; 1 Pedro 2.9.

13.

João 17.15, 18.

14.

Mateus 5.13-16.

15. Mateus 13.33.

16.

Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship (Nova Iorque: MacMillan Publishing

Co., 1977), 54.

17.

Elton Trueblood, Your Other Vocation (Nova Iorque: Harper and Brothers, 1952),

57, citado em Doug Sherman e William Hendricks, Your Work Matters to God (Colorado Springs:

NavPress, 1988), 217.

18.

Sherman e Hendricks, Your Work Matters to God, 215.

19.

George Grant, The Changing of the Guard: Biblical Principies for Political Action (Ft.

Worth: Dominion Press, 1987), 130.

20.

Enhanced Strong's Lexicon, s.v. "katartismos."

21.

O site da Harvest Foundation (parceiro da DNA) dispõe de excelentes materiais para

pastores equiparem o seu povo para o trabalho do ministério no mundo:

www.harvestfoundation.org

.

22.

Erwin W. Lutzer, Hitler's Cross: The Revealing Story of How the Cross of Christ

Was Used as a Symbol of the Nazi Agenda (Chicago: Moody Press, 1995), 133.

23.

Ibid, 204.

24.

Warren Bennis e Burt Nanus, Leaders: Strategies for Taking Charge (Nova Iorque:

Harper e Row, 1985), 20, citado em David J. Vaughan, The Pillars of Leadership (Nashville:

Cumberland House Publishing, 2000), 13.

CAPÍTULO 23: OCUPEM ATÉ QUE EU VOLTE

1.Êx 35.4-9.

2.

Ex 36.3-7.

3.

David Bruce Hegeman, Plowing In Hope: Toward a Biblical Theology of Culture

[Cultivando Esperança: Por uma Teologia Bíblica da Cultura], (Moscow, Idaho: Canon Press,

1999), 52-53.

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 370/373

Notas1 3 93

4.

Australia's War 1939-1945, "The Old War Horse: The Battle of Surigao Strait, 25 de

outubro de 1944," http://www.ww2australia.gov.au/waratsea/story_warhorse.html

(acessado em

11 de setembro de 2008).

5.

Richard Steele, The Tradesman's Calling, in R. H. Tawney, Religion and the Rise of

Capitalism (New York: Harcourt, Brace, 1926), 240, 321, citado em Leland Ryken, Worldly

Saints: The Puritans As They Really Were (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 27.

6.

William J. Bennett, ed., The Book of Virtues: A Treasury of Great Moral Stories (Nova

Iorque: Simon & Schuster, 1993), 192-195.

7.Papa João Paulo II, Message of the Holy Father for the XXXV World Day of Prayer

for Vocations [Mensagem do Santo Pai para o XXXV Dia Mundial das Vocações, 15 de agosto,

1995, http://www.va/holy_father/john_paul_ii/messages/vocations/documents/hfjp-

ii_mes_l

5081995 world-day-for-vocations_en.html (acessado em 27 de maio de 2009).

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http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 371/373

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MATERIAIS EXTRAS PARA

ESTUDO E APLICAÇÃO

Esperamos que este livro o tenha desafiado e inspirado com uma visão

para o avanço do reino de Deus através de sua vocação em particular.

Para ajudá-lo a aprofundar-se mais e ap licar os p rincípios apresentados

neste livro, gostaríamos de convidá-lo a visitar www .M ondayC hurch.org. Lá

você enco ntrará um variedade de m ateriais, entre os quais:

Um guia de estudos por capítulo com perguntas para reflexão, dis-

cussão e aplicação

Um estudo bíblico gratuito desenvolvido para ap licação individual ou

em pequenos grupos

Um inventário pessoal para ajudá-lo a descobrir a sua vocação e

chamado pessoais

Informações para realizar uma conferência vocacional e como a vo-

cação está relacionada ao avanço do reino de Deus

Sugestões úteis para pastores e membros de igreja compartilharem a

visão e equiparem suas congregações para avançarem o reino de Deus através

de suas vocações

E m uito m ais

www.mondaychurch.org

8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller

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DISCIPLE NATIONS A LLIANC E

[ALIANÇA PARA O DISCIPULADO DAS NAÇÕES]

Equipando a Igreja para Transformar o Mundo

A Disciple Nations Alliance [Aliança para o Discipulado das Naçõ es]

faz pa rte de um mo vimento global de indivíduos, igrejas e organizações com

uma visão com um: ver a Igreja mundial alcançar o seu pleno po tencial como

instrumento de Deus para a cura, benção e transformação das nações.

A DNA foi fundada em 19 97 através de uma pa rceira entre a Food for

the Hungry [Alimento para os Famintos] (www.fh.org

) e a Harvest

(www.harvestfoundation.org

). Nossa missão é influenciar o paradigma e a

prática das igrejas locais ao redor do mundo, ajudando-as a reconhecer e

abando nar falsas crenças, e abraçar um a robusta cosmo visão bíblica-levando

verdade, justiça e beleza a toda esfera da sociedade e demonstrando o am or

de Cristo de maneiras práticas, abordando a fragmentação de suas

comunidades e nações a partir de seus próprios recursos.

Para ob ter mais informações sob re a Disciple Nations Alliance e acessar

diversos recursos, currículos, livros, materiais de estudo e ferramentas de

aplicação, visite nosso web site.

www.DiscipleNations.org

E-mail: [email protected]

396 1

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O AUTOR

Darrow L . M iller é cofundador da Aliança o D iscipulado das naçõ es.

É um reconhecido autor e mestre. É um conferencista bem conhecido após

ter ensinado por mais de 25 anos sobre temas como: O cristianismo e a

cultura, Apologética, Cosmovisão, Pobreza e a Dignidade da M ulher.De 1 981 -

200 7, Darrow trabalhou para a fundação contra a fom e (FH ), da qual é vice

presidente deste 1994. Antes de fazer parte da FH, fez parte do pessoal da

comunidade L'Abri, Suíça, por 3 anos, onde foi discipulado por Francis

Sheaffer. Tamb ém tem servido com o Pastor Estagiário na No rthern Arizona

University e como p astor na Sherman Street Fellowship , no centro de Den-

ver, Colorado. Ao mesmo tempo em que se formou em Educação para Adultos

pela Universidade do estado do Arizona, Darrow realizou estudos de

graduação em filosofia, teologia, apologética cristã, estudos bíblicos e m issões,

nos Estados Unidos, Israel e Suiça. Também é autor de números trabalhos,

artigos, estudos bíblicos e livros, entre outros Discipulando Na ções, O Poder

da Verdade para transformar C ulturas (Editoria FatoÊ-) e Ensino as Naçõ es:

Reivindicação da Dignidade das M ulheres para Edificar Culturas Sadias (Edi-

torial JUCUM, Tyler, Texas, 2011).