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Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentável Frederico Fonseca da Silva Valter Roberto Schaffrath Eliandra Maria Zandoná Alberguini 2012 Curitiba-PR PARANÁ

Livro_Agricultura desenvolvimento

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Livro_Agricultura desenvolvimento

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  • Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvel

    Frederico Fonseca da Silva

    Valter Roberto Schaffrath

    Eliandra Maria Zandon Alberguini

    2012Curitiba-PR

    PARAN

  • e-Tec Brasil 2 Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvel

    Catalogao na fonte pela Biblioteca do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia - Paran

    INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAO, CINCIA E TECNOLOGIA - PARAN - EDUCAO A DISTNCIAEste Caderno foi elaborado pelo Instituto Federal do Paran para o Sistema Escola Tcnica Aberta do Brasil - e-Tec Brasil.

    Presidncia da Repblica Federativa do Brasil

    Ministrio da Educao

    Secretaria de Educao a Distncia

    Prof. Irineu Mario ColomboReitor

    Prof. Mara Christina Vilas BoasChefe de Gabinete

    Prof. Ezequiel WestphalPr-Reitoria de Ensino - PROENS

    Prof. Gilmar Jos Ferreira dos SantosPr-Reitoria de Administrao - PROAD

    Prof. Paulo Tetuo YamamotoPr-Reitoria de Extenso, Pesquisa e Inovao - PROEPI

    Neide AlvesPr-Reitoria de Gesto de Pessoas e Assuntos Estudantis - PROGEPE

    Prof. Carlos Alberto de vilaPr-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional - PROPLADI

    Prof. Jos Carlos CiccarinoDiretor Geral de Educao a Distncia

    Prof. Ricardo HerreraDiretor de Panlejamento e AdministraoEaD - IFPR

    Prof Mrcia Freire Rocha Cordeiro MachadoDiretora de Ensino, Pesquisa e ExtensoEaD - IFPR

    Prof Cristina Maria AyrozaCoordenadora Pedaggica de Educao aDistncia

    Carmen Ballo WatanabeCoordenadora do Curso

    Csar Aparecido SilvaVice-coordenador do curso

    Adriana Valore de Sousa BeloCassiano Luiz Gonzaga da SilvaDenise Glovaski Faria SoutoRafaela Aline VarellaAssistncia Pedaggica

    Prof. Ester dos Santos OliveiraProf. Jaime Machado Valente dos SantosProf. Linda Abou Rejeili de MarchiProf. Sheila Cristina MocellinLuara Romo PratesReviso Editorial

    Eduardo Artigas AntoniacomiPaula BonardiDiagramao

    e-Tec/MECProjeto Grfico

  • e-Tec Brasil

    Apresentao e-Tec Brasil

    Prezado estudante,

    Bem-vindo ao e-Tec Brasil!

    Voc faz parte de uma rede nacional pblica de ensino, a Escola Tcnica

    Aberta do Brasil, instituda pelo Decreto n 6.301, de 12 de dezembro 2007,

    com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino tcnico pblico, na

    modalidade a distncia. O programa resultado de uma parceria entre o

    Ministrio da Educao, por meio das Secretarias de Educao a Distncia

    (SEED) e de Educao Profissional e Tecnolgica (SETEC), as universidades e

    escolas tcnicas estaduais e federais.

    A educao a distncia no nosso pas, de dimenses continentais e grande

    diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao

    garantir acesso educao de qualidade, e promover o fortalecimento da

    formao de jovens moradores de regies distantes, geograficamente ou

    economicamente, dos grandes centros.

    O e-Tec Brasil leva os cursos tcnicos a locais distantes das instituies de

    ensino e para a periferia das grandes cidades, incentivando os jovens a

    concluir o ensino mdio. Os cursos so ofertados pelas instituies pblicas

    de ensino e o atendimento ao estudante realizado em escolas-polo

    integrantes das redes pblicas municipais e estaduais.

    O Ministrio da Educao, as instituies pblicas de ensino tcnico, seus

    servidores tcnicos e professores acreditam que uma educao profissional

    qualificada integradora do ensino mdio e educao tcnica, capaz

    de promover o cidado com capacidades para produzir, mas tambm com

    autonomia diante das diferentes dimenses da realidade: cultural, social,

    familiar, esportiva, poltica e tica.

    Ns acreditamos em voc!

    Desejamos sucesso na sua formao profissional!

    Ministrio da Educao

    Janeiro de 2010

    Nosso contato

    [email protected]

  • Indicao de cones

    Os cones so elementos grficos utilizados para ampliar as formas de

    linguagem e facilitar a organizao e a leitura hipertextual.

    Ateno: indica pontos de maior relevncia no texto.

    Saiba mais: oferece novas informaes que enriquecem o assunto ou curiosidades e notcias recentes relacionadas ao

    tema estudado.

    Glossrio: indica a definio de um termo, palavra ou expresso utilizada no texto.

    Mdias integradas: sempre que se desejar que os estudantes desenvolvam atividades empregando diferentes mdias: vdeos,

    filmes, jornais, ambiente AVEA e outras.

    Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes nveis de aprendizagem para que o estudante possa

    realiz-las e conferir o seu domnio do tema estudado.

    e-Tec Brasil

  • e-Tec Brasil

    Sumrio

    Palavra do professor-autor 9

    Aula 1 A questo agrria brasileira 111.1 Histrico 11

    Aula 2 A questo agrria em pocas recentes 192.1 Movimentos populares 19

    Aula 3 As consequncias da questo agrria 253.1 Revoluo Verde 25

    Aula 4 Modernizao agrcola e degradao ambiental 31

    Aula 5 Desenvolvimento Rural 39

    Aula 6 Desenvolvimento sustentvel 45

    Aula 7 Agricultura sustentvel 53

    Aula 8 Agroecologia como uma cincia aplicada (parte I) 598.1 Conceitos 59

    8.2 Agricultura Biodinmica 60

    8.3 Agricultura Orgnica 62

    Aula 9 A agroecologia como uma cincia aplicada (parte II) 65

    9.1 Agricultura Natural 65

    9.2 Agricultura Biolgica 65

    Aula 10 Manejo de agroecossistemas 69

    Aula 11 Agrotxicos: dos impactos imediatos ao modelo de produo 75

    Aula 12 Manejo de Agroecossistemas para produo vegetal 83

    Aula 13 Manejo de agroecossistemas para produo animal 89

  • Aula 14 Manejo integrado vegetal/animal 95

    Aula 15 Mtodos e tcnicas de conservao do solo Parte I prticas vegetativas 99

    15.1 Princpios Bsicos 100

    15.2 Prticas Vegetativas 100

    Aula 16 Mtodos e tcnicas de conservao do solo Parte II prticas edficas 105

    16.1 Prticas Edficas 105

    Aula 17 Manejo e conservao da biodiversidade 109

    Aula 18 Seis causas bsicas de deteriorao da Biodiversidade 113

    18.1 Causas de deteriorao da Biodiversidade 113

    18.2 Mecanismos de deteriorao da biodiversidade 114

    Aula 19 Agroecologia como enfoque cientfico 119

    Aula 20 Certificao da produo orgnica 12520.1 Da Legislao 127

    20.2 Cadastro nacional de produtores orgnicos e certificao 127

    20.3 Comisso Nacional da Produo Orgnica 128

    20.4 Mecanismos de Controle da Qualidade Orgnica 128

    20.5 Organismo de Avaliao da Conformidade OAC 129

    Referncias 133

    Atividades autoinstrutivas 141

    Currculo dos professores-autores 163

    e-Tec Brasil Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvel

  • e-Tec Brasil9

    Palavra do professor-autor

    Caros Estudantes,

    com muito carinho que preparamos esse material para, junto com vocs, po-

    dermos refletir sobre a real possibilidade de um mundo mais sustentvel, mais

    justo e produtivo, procurando respeitar e manter o potencial de cada ambiente.

    Com isso, tira-se o foco principal da produo, vista e analisada apenas pelo

    quantitativo produzido, principalmente, pelo olhar do lucro. E, passa-se a

    pensar uma produo sustentvel, em harmonia com as relaes que inte-

    rage todo o meio.

    nisso, sob o nosso olhar, que consiste os fundamentos bsicos da agroe-

    cologia. Os princpios da conservao, do respeito s partes envolvidas no

    processo e, principalmente, em busca de uma produo limpa.

    Nesse livro, procuramos construir um histrico dos fatos e traz-los at aos

    dias de hoje para que, de forma conjunta, possamos construir o amanh.

    No apenas porque dizemos e queremos isso ou aquilo, mas porque esta-

    mos compartilhando e diariamente formando um fantstico grupo de pesso-

    as que, coletivamente, ajudam a ver um amanh mais saudvel.

    Dessa forma, recebam o nosso abrao e o desejo de um maravilhoso mo-

    mento de estudo. Com a certeza de que no somos vendedores de iluso.

    Somos semeadores de sonhos possveis.

    Bons estudos!

    Os autores,

    Valter Roberto Schaffrath, Frederico Fonseca da Silva e Eliandra Maria Zandon Alberguini.

  • e-Tec Brasil11

    Aula 1 A questo agrria brasileira

    Nesta aula voc ser capaz de iniciar uma reflexo histrica para melhor

    entendimento do contexto atual e entender o porqu, efetivamente, da

    proposta agroecolgica.

    1.1 HistricoUm pouco de histria no faz mal a ningum...

    O Brasil um pas muito grande! Em alguns livros, inclusive, encontramos a

    referncia de que esse nosso pas tem dimenses continentais.

    Contudo, voc sabia que um dia (e, historicamente, no faz tanto tempo

    assim) todas essas terras de nosso pas continente j pertenceram a apenas

    doze donos?

    Achou isso curioso? Estranho? Desconhecido? Ento vamos co-nhecer esta histria.

    Quando os portugueses chegaram aqui por volta de 1500, as terras brasilei-

    ras eram ocupadas pelos povos indgenas espalhados por todas as regies

    do Brasil. Entretanto, foi somente a partir de 1530, trinta anos depois de

    oficialmente descoberto, que as terras brasileiras foram distribudas para al-

    guns donos escolhidos pela Coroa portuguesa.

    Esses donos das terras brasileiras eram chamados de donatrios.

    Entre 1534 e 1536, Dom Joo III (que nasceu no ano de 1502 e faleceu em

    1557), o Rei de Portugal: dividiu as terras brasileiras em quinze faixas que

    iam do litoral at a linha do Tratado de Tordesilhas. Essas faixas de terra eram chamadas de capitanias Hereditrias, doou para doze donatrios.

    Provavelmente, Permita fazer logo agora no incio dessa Aula 1 a primeira

    considerao de um grande mal do nosso meio rural. Cremos que uma das

    origens genticas do latifndio no processo de formao da sociedade

    brasileira, consista exatamente desse anseio do desejo de se obter o que

    uma dzia de privilegiados obteve: posse e mais posse de terras!

    DonatrioEra um ttulo concedido pelo Rei de Portugal a quem recebia terras consideradas de domnio portugus.

  • O Tratado de Tordesilhas, assinado na povoao castelhana de Tordesilhas em 7 de Junho de 1494, foi um tratado celebrado entre o Reino de Portugal

    e o recm-formado Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e

    por descobrir por ambas as Coroas fora da Europa. Este tratado surgiu na

    sequncia da contestao portuguesa s pretenses da Coroa espanhola

    resultantes da viagem de Cristvo Colombo, que ano e meio antes chegara

    ao chamado Novo Mundo, reclamando-o oficialmente para Isabel a Catlica.

    O tratado definia como linha de demarcao o meridiano em 370 lguas a

    oeste da ilha de Santo Anto, no arquiplago de Cabo Verde. Essa linha es-

    tava situada a meio-caminho, entre estas ilhas (ento portuguesa) e as ilhas

    das Carabas descobertas por Colombo, no tratado referidas como Cipan-

    go e Antlia. Os territrios a leste deste meridiano pertenceriam a Portugal

    e os territrios a oeste, Espanha. O tratado foi ratificado pela Espanha a 2

    de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494.

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Tordesilhas

    As capitanias, foram uma forma de administrao territorial do imprio portugus uma vez que a Coroa, com recursos limitados, delegou a tarefa

    de colonizao e explorao de determinadas reas a particulares, atravs

    da doao de lotes de terra, sistema utilizado inicialmente com sucesso na

    explorao das ilhas atlnticas.

    No Brasil, este sistema ficou conhecido como capitanias hereditrias, tendo vigorado, sob diversas formas durante o perodo colonial, do incio do scu-

    lo XVI at ao sculo XVIII, quando o sistema de hereditariedade foi extinto

    pelo Marqus de Pombal, em 1759 (a hereditariedade foi abolida, mas a

    denominao capitania no).

    Mais uma vez queremos destacar

    que a abolio da hereditarieda-

    de foi extinta por decreto, mas na

    mente de todos, no chamado in-

    consciente, isso ainda persiste em

    vrias famlias tradicionais, herda-

    dos como se fosse algo divino!

    Na Figura 1.1 vocs podero ver o mapa da diviso de terras per-

    tencentes inicialmente a Portugal.

    Observe ainda que, nesse contex-

    to, a regio Sul do Brasil pertence-

    ria Espanha e no a Portugal.Figura 1.1: As quinze Capitanias Hereditrias do BrasilFonte: http://1.bp.blogspot.com

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 12

  • A partir desta histria podemos entender o processo de distribuio de terras no Brasil e compreender aspectos da estrutura agrria atual.

    A donatria no garantiu a ocupao das terras brasileiras e ento foi institu-

    do o sistema de Sesmarias. Que era uma redistribuio de terras, agora fei-ta pelos prprios donatrios, a fim de ocupar as terras e torn-las produtivas.

    O sistema de Sesmarias surgiu em Portugal durante o sculo XIV, com a Lei das Sesmarias de 1375, criada para combater a crise agrcola e econmica

    que atingia o pas e a Europa, e que a peste negra agravara. Quando a con-

    quista do territrio brasileiro se efetivou a partir de 1530, o Estado portu-

    gus decidiu utilizar o sistema sesmarial no alm-mar, com algumas adapta-

    es. A partir do momento em que chegam ao Brasil os capites-donatrios,

    titulares das capitanias hereditrias, a distribuio de terras a sesmeiros (em

    Portugal era o nome dado ao funcionrio real responsvel pela distribuio

    de sesmarias, no Brasil, o sesmeiro era o titular da sesmaria) passa a ser uma

    prioridade, pois a sesmaria que vai garantir a instalao da plantation au-careira na colnia. A principal funo do sistema de sesmarias estimular

    a produo e isso era patente no seu estatuto jurdico. Quando o titular da

    propriedade no iniciava a produo dentro dos prazos estabelecidos, seu

    direito de posse poderia ser cassado. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sesmaria

    Dessa forma, o modo de produo

    adotado nas sesmarias brasileiras

    foi a plantation da cultura da cana de acar, baseado na mo-de-obra

    escrava que durou at a abolio da

    escravatura. Nas Figuras 1.2 e 1.3, poderemos ver ilustraes clssicas

    de trabalho escravo no sistema de

    plantation, principalmente no culti-vo da cana-de-acar.

    Figura 1.3: Sistema de plantation Fonte: http://2.bp.blogspot.com

    SesmariasFoi um instituto jurdico portugus que normatizava a distribuio de terras destinadas produo: o Estado, recm-formado e sem capacidade para organizar a produo de alimentos, decide delegar particulares essa funo.

    Figura 1.2: Trabalho escravoFonte: http://www.reporterbrasil.org.br

    e-Tec BrasilAula 1 A questo agrria brasileira 13

  • Plantation um tipo de sistema agrcola (uma plantao) baseado em uma monocultura de exportao, mediante a utilizao de latifndios e mo-

    -de-obra escrava. Foi bastante utilizado na colonizao da Amrica, princi-

    palmente no cultivo de gneros tropicais e atualmente comum a pases

    subdesenvolvidos. A Plantation apresenta as seguintes caractersticas:

    Grandes propriedades; Cultivo de produtos tropicais; Monocultura; Emprego de mo-de-obra barata, inicialmente escrava; Utilizao de recursos tcnicos; Produo voltada para a exportao.

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Plantation

    Voltaremos a abordar mais sobre plantation em aulas futuras, dentro desse mesmo mdulo.

    Conseguiram ver que a origem de toda a concentrao de terras nes-se pas passa pelo entendimento histrico?

    Em 1850 foi aprovada a Lei de Terras no Brasil, que substitua o sistema de

    doao de terras (Sesmarias) por um sistema de compra.

    Esta lei tinha dois objetivos principais: o primeiro era o de manter a estru-tura agrria existente, baseada nas grandes propriedades, os latifndios. J que os donos no antigo sistema continuavam donos no novo sistema.

    O segundo objetivo da Lei de Terras era impedir que pessoas de baixo po-der aquisitivo, como os escravos libertos e imigrantes pobres, se tornassem

    proprietrios de terras no Brasil, a fim de manter a estrutura de poder polti-

    co e econmico dominante.

    Cabe ressaltar que, ainda que a libertao dos escravos se desse somente em

    1888, seus indcios se faziam presentes em 1850 (com a proibio do trfico

    de negros no Brasil em 1850 e o incio do ciclo de imigrao europeia a partir

    de 1824) e ento havia uma preocupao das elites brasileiras em impedir o

    acesso terra por esses grupos.

    Segundo Matoso (1993), o mapa geopoltico do Brasil mudou com a juno

    dos reinados de Portugal e Espanha (isso em 1580 e se estendeu at 1640).

    Dessa forma, a unio das duas Coroas peninsulares possibilitou a constituio

    LatifndioDeriva do latim latifundiu.

    Na antiguidade, era o grande domnio privado da aristocracia,

    j no sentido moderno, um regime de propriedade agrria, caracterizado pela

    concentrao desequilibrada de terras pertencentes a poucos

    proprietrios com ou sem aproveitamento fsico destas.

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Latifndio

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 14

  • de um grande imprio Ibrico, que durou sessenta anos e as fronteiras foram

    estendidas para o Oeste, como est, praticamente, at os dias de hoje com

    exceo do estado do Acre, que foi posteriormente comprado da Bolvia.

    Mas isso outra longa histria!

    O importante que obedecendo aos ciclos econmicos, da cana-de-acar,

    da minerao, da explorao da borracha nativa, do caf, da soja e mais

    recentemente da cana-de-acar outra vez, h uma coerncia no modelo de

    distribuio de terras e das tecnologias de produo adotadas.

    Sempre houve o privilgio do latifndio, da monocultura e da produo para

    atender ao mercado, normalmente externo. por isso que, para a histria,

    50, 100, 500 anos no nada, uma vez que os conceitos permanecem e so

    difceis de serem, efetivamente, mudados.

    Assim, baseado nesta lgica, o territrio nacional foi sendo ocupado e des-

    bravado, onde a mata nativa, nos seus diferentes biomas (mata atlntica, fl oresta amaznica, caatinga, cerrados, pampas e, alguns outros menores,

    mas de importante signifi cado) foi dando lugar ao cultivo de diferentes tipos

    de mercadorias de origem agrcola.

    Amaznia Cerrado

    Pantanal

    Campos

    Mata Atlntica

    Caatinga

    Figura 1.4: Biomas BrasileirosFonte: http://3.bp.blogspot.comhttp://www.mochileiro.tur.brhttp://www.ibge.gov.br

    O conceito de bioma, palavra que vem do grego e signi ca Bio = vida + Oma = grupo ou massa, foi criado por eclogo norte americano Frederic Clements em 1943 e se caracterizaria pela uniformidade sionmica do clmax vegetal e pelos animais mais relevantes, possuindo uma constituio bitica caracterstica, ou seja, pela uniformidade e predomnio de espcies vegetais locais, bem como dos animais caractersticos da regio. (http://ciencia.hsw.uol.com.br/biomas.htm)

    e-Tec BrasilAula 1 A questo agrria brasileira 15

  • Contudo, interessante notar que as tecnologias de produo adotadas at os

    anos 1960, foram tecnologias de menor impacto ambiental do que as atuais.

    Os sistemas de produo at ento, eram baseados em uma sequncia alter-

    nada de perodos produtivos e perodos de descanso das terras (ou, tecni-

    camente mais conhecido como pousio).

    A sequncia e o manejo se davam da seguinte forma: a mata era derrubada

    e queimada. Aps essa prtica, o terreno era coivarado ou seja, os restos da

    queimada eram amontoados e enfileirados no meio da roa e a rea limpa

    era plantada. Os sulcos e covas para o plantio eram abertos por arados de

    trao animal ou com enxadas, de trao manual.

    Aps alguns anos de cultivo, normalmente de 3 a 4, dependendo do tipo

    de solo e da cultura adotada, quando a matria orgnica do solo estava es-

    gotada, esta rea era abandonada a fim de que a mata fosse regenerada e,

    novamente, acumulasse nutrientes para novo ciclo de cultivo. Ento, nova

    rea era aberta neste mesmo modelo.

    Vocs podem pensar que este modelo era irracional e altamente de-vastador do meio ambiente, no mesmo? E era! Porm, o que mais nos inquieta saber que, em pleno sculo XXI, esse mtodo pr--histrico ainda amplamente praticado em vrios lugares do Brasil.

    Porm, era a tecnologia e o conhecimento disponvel na poca. Com isto

    no estamos defendendo que no havia soluo. Era o modelo dominante!

    Devemos lembrar que na Europa, onde as terras eram escassas, desde mui-

    tos anos anteriores, o uso de rotao de culturas, utilizao de restos cultu-

    rais, adubao orgnica e integrao da lavoura com a pecuria, as mesmas

    reas de terra j eram usadas (e ainda so) por sculos.

    Alm disso, conta a favor dos nossos avs o fato de que as modernas tec-

    nologias atuais ainda no haviam sido inventadas pelo homem. Ento, muito

    mais triste e at lamentvel sabermos que, com o passar dos anos, com o

    advento das informaes, em vrios municpios, e vrios e vrios produtores

    ainda adotam essa prtica da queimada, agora associada a outras prticas

    de maior dano ao meio ambiente.

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 16

  • ResumoAo invs de tentar analisar a situao agrria hoje, sem conhecer a histria

    desse pas, cometeremos alguns erros ou algumas concluses erradas. Ra-

    zo pela qual, necessrio se faz buscar as origens dos problemas agrrios

    na origem oficial do descobrimento do Brasil, entendo assim, a gentica

    do latifndio.

    Atividade de aprendizagem1. Relate o que voc entende por grandes propriedades.

    2. Quais os principais cultivos tropicais realizados no passado e no presente nesse pas?

    3. O que voc sabe sobre monocultura?

    e-Tec BrasilAula 1 A questo agrria brasileira 17

  • e-Tec Brasil19

    Aula 2 A questo agrria em pocas recentes

    O objetivo da presente aula consiste em trazer tona alguns movimentos

    populares (muitas vezes chamados de revoltas) em diversas regies do

    Brasil, decorrentes das concentraes de renda e poder de poucas fam-

    lias, na forma de mobilizao popular, oriundo das classes menos favore-

    cidas. Ou seja, essas revoltas devem ser analisadas como consequncias

    e no como causas.

    Bom seria se tivssemos tempo para mais leituras e um estudo mais aprofun-

    dado das classes rurais e das organizaes e lutas dessas classes, para que

    pudssemos entender o processo de origem e formao do Movimento Sem Terra, por exemplo. Certamente voc j ouviu falar desse movimento, ento vamos entender como surgiram alguns dos mais importantes movi-

    mentos populares brasileiros.

    Na aula anterior falamos sobre a promulgao da chamada Lei da Terra que,

    de to conservadora, j criava impedimentos para que escravos que viessem

    a ser livres no pudessem ter o seu pedao de terra, trinta anos antes da

    oficializao do fim do perodo escravo.

    Dessa forma, comeamos a entender os escravos fugitivos que, por deses-

    pero, agonia e a total falta de perspectiva de uma vida melhor, arriscavam as

    suas vidas rumo a uma organizao social nos quilombos.

    2.1 Movimentos popularesInfelizmente conhecemos to pouco sobre as lutas sociais existentes nesse

    pas mesmo sobre as que foram relatadas e resgatadas atravs do tempo.

    Por exemplo, o que sabemos dos movimentos quebra-quilos? Da revolta dos Mals?, Cabanagem?, Balaiada? Entre tantos outros. E, o que dizer de todos os movimentos que foram aniquilados, sufocados e sem registro

    algum, esses abafados e corrodos pelo tempo!

    2.1.1 Quebra-quilo

    Em 31 de outubro, em Campina Grande, na Paraba, centenas de pessoas

    invadiram a feira da cidade protestando contra os novos pesos e medidas.

    Aos gritos, a massa quebrava os moldes de quilos dos feirantes, que eram

  • Figura 2.1: Panfleto da poca sobre o movimento Quebra QuilosFonte: http://3.bp.blogspot.com

    2.1.2 Da revolta do MalsTambm conhecida como revolta dos escravos de Al, registrou-se de 25 a

    27 de Janeiro de 1835, na cidade de Salvador, capital da ento Provncia da

    Bahia, no Brasil. Essa revolta consistiu numa sublevao de carter racial, de

    escravos africanos das etnias hau e nag, de religio islmica, organizados

    em torno de propostas radicais para libertao dos demais escravos africa-

    nos que fossem muulmanos. O termo mal deriva do iorub imale, designando o muulmano. Foi rpida e duramente reprimida pelos poderes

    constitudos. Apesar de rapidamente controlada, a Revolta dos Mals serviu

    para demonstrar s autoridades e s elites o potencial de contestao e

    rebelio que envolvia a manuteno do regime escravocrata, ameaa que

    esteve sempre presente durante todo o Perodo Regencial e se estendeu pelo

    Governo pessoal de D. Pedro II (Figura 2.2).Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_dos_Mal%C3%AAs

    fornecidos (vendidos ou alugados) pela administrao municipal. Os revol-

    tosos invadiram os mercados, coletorias e a Cmara Municipal, destruram

    os novos padres e queimaram os arquivos contbeis do governo. Em

    1874, a obrigatoriedade do uso do quilo foi a gota dgua para a revolta

    do quebra-quilos, um movimento que comeou na Paraba, se espalhou

    por mais trs estados do Nordeste e s foi contido pelo envio de tropas

    federais. O quilo, o metro, o litro, medidas sem a qual muita gente hoje

    no saberia como viver, foram implantados custa de muita desavena

    e conflitos por todo o mundo. Depois de determinadas por comisses

    cientficas no fim do sculo XVIII, as unidades demoraram dcadas para

    serem estabelecidas ainda hoje ingleses custam a render-se s unidades

    francesas. Aderir a uma unidade alheia significava deixar a prpria cultura

    de lado e, quando a mudana se tornou obrigatria, queixas eram qua-

    se inevitveis. Foi assim em todo o planeta e pouca gente sabe que no

    Brasil tambm (Figura 2.1).

    Fonte: http://historia.abril.com.br/comportamento/nordeste-quilo-revolta-quebra-quilos-433572.shtml

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 20

  • Figura 2.2: Gravura da poca relatando sobre a revolta dos Mals. Fonte: http://www.historiabrasileira.com

    2.1.3 Cabanagem

    A denominao Cabanagem remete

    ao tipo de habitao da populao ribei-

    rinha, espcie de cabanas, constitudas

    por mestios, escravos libertos e indge-

    nas, ocorrida no perodo de 1835-1840.

    Foi uma revolta na qual negros, ndios e

    mestios se insurgiram contra a elite pol-

    tica e tomaram o poder na ento provn-

    cia do Gro-Par (Brasil). Entre as causas

    da revolta encontram-se a extrema pobreza das populaes ribeirinhas e

    a irrelevncia poltica qual a provncia foi relegada aps a independncia

    do Brasil. De cunho popular, contou com a participao de elementos das

    camadas mdia e alta da regio, entre os quais se destacam os nomes do

    padre Joo Batista Gonalves Campos (Figura 2.3).Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabanagem

    Figura 2.3: Gravura representando a dominao dos cabanos sobre a cidade Belm, capital do Par.Fonte: http://www.brasilescola.com

    2.1.4 Balaiada Foi uma revolta de carter popular, ocorrida entre 1838 e 1841 no interior

    da ento Provncia do Maranho, no Brasil, e que aps a tentativa de in-

    vaso de So Lus, dispersou-se e estendeu-se para a vizinha provncia do

    Piau. Foi feita por pobres da regio, escravos, fugitivos e prisioneiros. O

    motivo era a disputa pelo controle do poder local. A definitiva pacificao

    s foi conseguida com a anistia concedida pelo imperador aos revoltosos

    sobreviventes. As causas foram misria promovida pela crise do algodo

    (Figura 2.4).Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Balaiada

    e-Tec BrasilAula 2 A questo agrria em pocas recentes 21

  • Nesse contexto de lutas, organizaes,

    movimentaes, revoltas populares e mui-

    tas represses por parte das classes domi-

    nantes dos que fazem as leis, que o gover-

    no brasileiro passa, a partir desse perodo,

    a incentivar a imigrao de trabalhadores

    civilizados e brancos para dar susten-

    tao ao projeto de manuteno dos bens

    de produo.

    Poderamos at chamar esse processo de

    flexibilidade da sociedade agrria conser-

    vadora brasileira, como forma de manter o

    seu insustentvel status quo.

    Assim, a imigrao intensificou-se a partir

    de 1818, com a chegada dos primeiros imi-

    grantes no portugueses, que vieram para c durante a regncia de D. Joo

    VI. Devido ao enorme tamanho do territrio brasileiro e ao desenvolvimento

    das plantaes de caf, a imigrao teve uma grande importncia para o

    desenvolvimento do pas, no sculo XIX.

    Em busca de oportunidades na terra nova, para c vieram os suos, que

    chegaram em 1819 e se instalaram no Rio de Janeiro (Nova Friburgo), os

    alemes, que vieram logo depois, em 1824, e foram para o Rio Grande do

    Sul (Novo Hamburgo, So Leopoldo, Santa Catarina, Blumenau, Joinville e

    Brusque), os eslavos, originrios da Ucrnia e Polnia, habitando o Paran,

    os turcos e os rabes, que se concentraram na Amaznia, os italianos de

    Veneza, Gnova, Calbria, e Lombardia, que em sua maior parte vieram para

    So Paulo, os japoneses, entre outros. O maior nmero de imigrantes no

    Brasil so os portugueses, que vieram em grande nmero desde o perodo

    da Independncia do Brasil.

    E, aps a abolio da escravatura (1888), conforme j dito, o governo bra-

    sileiro incrementou o incentivo entrada de imigrantes europeus em nosso

    territrio. Com a necessidade de mo-de-obra qualificada, para substituir

    os escravos, milhares de italianos e alemes chegaram para trabalhar nas

    fazendas de caf do interior de So Paulo, nas indstrias e, principalmen-

    te, na zona rural do sul do pas. No ano de 1908, comeou a imigrao

    Status quoSegundo o Prof. Fernando

    Rebouas, a expresso Latinain statu quo res erant

    ante bellumsignifica o estado atual das coisas em qualquer

    momento por elas vivido. Em sinnimo utiliza-se a

    expressostatus quo.Manter o estado atual das coisas, de forma geral em documentos e

    textos emprega-se a expresso mantero status quo . Se

    voc pretende mudar tal situao, voc pretende mudar

    ostatus quo. O termostatus quo originrio do termo

    diplomticoin statuo quo ante bellumque , em portugus,

    significa no estado em que estava antes da guerra. Se

    voc escreve: Segundo o status quo; o mesmo se voc

    escrever: segundo a situao ou momento atual.

    (http://www.infoescola.com/curiosidades/status-quo/)

    Figura 2.4: Capa de lbum em qua-drinhos com tema histrico: Ba-laiada A Guerra do Maranho.Fonte: http://impulsohq.com

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 22

  • japonesa com a chegada ao Brasil do navio Kasato Maru, trazendo do Japo

    165 famlias de imigrantes japoneses. Estes tambm buscavam os empregos

    nas fazendas de caf do oeste paulista.

    Todos estes povos vieram e se fixaram no territrio brasileiro com os mais va-

    riados ramos de negcio, como por exemplo, o ramo cafeeiro, as atividades

    artesanais, a policultura, a atividade madeireira, a produo de borracha, a

    vinicultura, etc.

    Como quem mudou ao longo do tempo no foi o modelo social e sim a

    fora de trabalho que sustentou essa classe, que se pode entender a trans-

    ferncia dos problemas rurais e agrrios, vindo a culminar, nos dias atuais, na

    existncia, formao e organizao dos Sem Terras, lembra? O movimento

    que tratamos no incio da aula.

    MST Movimento dos trabalhadores Sem Terra. Na pgina inicial desse movimento (http://www.mst.org.br) encontramos que h 29 anos, em Cascavel (PR), centenas de trabalhadores rurais decidiram fun-

    dar um movimento social campons, autnomo, que lutasse pela terra,

    pela Reforma Agrria e pelas transformaes sociais necessrias para o

    nosso pas. Eram posseiros, atingidos por barragens, migrantes, meeiros,

    parceiros e pequenos agricultores. Trabalhadores rurais sem terras, que

    estavam desprovidos do seu direito de produzir alimentos. Expulsos por

    um projeto autoritrio para o campo brasileiro, capitaneado pela ditadu-

    ra militar, que ento cerceava direitos e liberdades de toda a sociedade.

    Um projeto que anunciava a modernizao do campo quando, na

    verdade, estimulava o uso massivo de agrotxicos e a mecanizao, ba-

    seados em fartos (e exclusivos ao latifndio) crditos rurais; ao mesmo

    tempo em que ampliavam o controle da agricultura nas mos de gran-

    des conglomerados agroindustriais.

    ResumoPela forma como a questo agrria foi formada, no poderia ser diferente

    entender as reaes populares, muitas delas espontneas ou no, das classes

    oprimidas. Interessante observar que os movimentos aqui estudados (na cer-

    teza de que existiram muitos outros) ocorreram no sculo XIX e que resultou

    na proposta do fim da escravatura, ainda no sculo em estudo. Como con-

    traponto a esses movimentos, as classes dominantes promovem o incentivo

    de importar trabalhadores civilizados, brancos, europeus.

    e-Tec BrasilAula 2 A questo agrria em pocas recentes 23

  • Atividade de aprendizagem1. De quais desses movimentos aqui relacionados voc j tinha ouvido falar?

    2. Estudando sobre esses movimentos populares, qual e por que, lhe cha-mou mais ateno? Em seguida, faa um bom relato a respeito.

    3. Qual movimento popular voc teve a oportunidade de correlacionar ao municpio ou regio em que voc reside?

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 24

  • e-Tec Brasil25

    Aula 3 As consequncias da questo agrria

    A partir desta aula voc poder entender o porqu da revoluo verde,

    da indstria (sempre multinacional) do agrotxico, e a formao e conso-

    lidao da agricultura familiar. Desta forma, voc poder compreender a

    realidade da questo agrria nos dias de hoje.

    3.1 Revoluo Verde1. O que revoluo verde?

    Breve histrico sobre a chamada revoluo verdeRevoluo verde refere-se inveno e disseminao de novas semen-tes e prticas agrcolas que permitiram um vasto aumento na produo

    agrcola em pases menos desenvolvidos durante as dcadas de 1960 e

    1970. O modelo se baseia na intensiva utilizao de sementes modifica-

    das (particularmente sementes hbridas), insumos industriais (fertilizantes

    e agrotxicos), mecanizao e diminuio do custo de manejo. Tambm

    creditado revoluo verde o uso extensivo de tecnologia no plantio,

    na irrigao e na colheita, assim como no gerenciamento de produo.

    De uma forma crtica a Revoluo Verde proporcionou atravs destes

    pacotes inovadores a degradao ambiental e cultural dos agriculto-

    res tradicionais. Esse ciclo de inovaes iniciou com os avanos tecnol-

    gicos do ps-guerra, embora o termo revoluo verde s tenha surgido

    na dcada de 1970. Desde essa poca, pesquisadores de pases indus-

    trializados prometiam, atravs de um conjunto de tcnicas, aumentar

    estrondosamente as produtividades agrcolas e resolver o problema

    da fome nos pases em desenvolvimento. Mas, contraditoriamente, alm de no resolver o problema da fome, aumentou a concen-trao fundiria, a dependncia de sementes modificadas e al-terou significativamente a cultura dos pequenos proprietrios.

    Quanto ao item fertilidade, ou fertilizao ou nutrio das plantas a serem

    cultivadas, pesquisadores nos Estados Unidos descobriram que essas plan-

    tas respondiam muito bem quando adubadas com nitrognio qumico, principalmente os cereais como o milho, sorgo, arroz, trigo, etc.

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_verde

  • E, por falar em mudanas... O tempo passou, e o modo como usamos a terra no Brasil, pouco mudou...

    certo que ao longo de todo esse processo e etapas outras culturas foram

    introduzidas na agricultura brasileira como o caf, o cacau, a seringueira, a

    laranja e a soja.

    Tambm foram introduzidas, a partir de 1960, novas tecnologias de produ-

    o como a mecanizao, os adubos qumicos, os agrotxicos e as semen-tes melhoradas. Essas novas tecnologias por sua vez, trouxeram um ganho

    no volume da produo e na produtividade, mas ao lado disso, tambm trouxeram graves danos ambientais e sociais.

    At aqui, falamos de grandes propriedades, mas voc j parou para pensar em como surgiram as pequenas propriedades de terras no Brasil? Ento, antes de fazermos esse enorme recorte na histria, va-mos voltar um pouco mais na poca do Brasil colnia.

    Nas margens dos grandes engenhos de cana-de-acar, ex-escravos e brancos

    pobres cultivavam pequenas parcelas de terra para produzir alimentos apenas

    para o sustento do Engenho, que produzia cana-de-acar em larga escala

    para Portugal, mas precisava de alimentos para consumo e funcionamento.

    Mais tarde, quando a monocultura entrou em decadncia, os engenhos fo-

    ram enfraquecendo e permitiram que os grupos sociais que tinham ficado

    fora das possibilidades de se tornarem donos de terras, quisessem disputar

    a sua posse.

    Voc sabia que as pequenas propriedades foram surgindo como expresso das lutas de classes sociais distintas ainda durante o perodo colonial?

    Alm disso, nas fronteiras agrcolas sempre houve uma ocupao das terras

    por homens livres e despossudos que abriam as terras, ou seja, desma-

    tavam e tornavam prpria para o cultivo, quando ento eram obrigados a

    desocupar as reas, pois os engenhos e outras exploraes autorizadas pela

    coroa acabavam por ocupar estas reas legalmente.

    Tambm no Sul do Brasil, por volta de 1824, comearam as primeiras expe-

    rincias de formar colnias de imigrantes europeus em minifndios doados

    Agrotxicos So o mesmo que venenos,

    agroqumicos e pesticidas. Constituindo um conjunto de

    compostos qumicos orgnicos sintticos, nocivos ao complexo ambiental, constitudo de seres

    humanos, solo, ar e gua.

    ProduoDo ponto de vista rural,

    principalmente no segmento agrcola, chamamos de

    produo tudo o que for colhido, mediante o que anteriormente

    foi plantado. Ou seja, nem sempre colhemos tudo o que

    foi plantado, pois, em funo de inmeras variveis, como falta

    de gua (ou dficit hdrico), seca prolongada, excesso de chuva, granizo, geada, etc., colhemos

    parte do que plantamos e esperamos colher. Exemplo: o seu Joo colheu 6.000 kg de milho plantado em 2 ha

    (hectare).

    ProdutividadeAinda do ponto de vista rural, principalmente no segmento

    agrcola, chamamos de produtividade, tudo o que for colhido por uma unidade de rea padro como forma de

    padronizao, visando melhoria no rendimento da rea. Exemplo: A produtividade mdia do milho

    colhido pelo seu Joo foi de 3.000 kg/ha.

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 26

  • pelo governo Brasileiro. Estas experincias prosperaram e vrias colnias fo-

    ram formadas. O objetivo principal do estmulo imigrao europeia era a

    substituio da mo de obra escrava, o que no tardaria a ser necessrio.

    Assim nesse contexto que necessitamos fortalecer o entendimento da ra-

    zo pela qual procuramos saber pelo menos os principais aspectos relevantes

    na distribuio de terras no Brasil e verificar que, por exemplo, a moderniza-

    o no campo trouxe mquinas que substituram mo-de-obra, e o desem-

    prego no campo aumentou de forma drstica.

    Um pedao de terra suficiente para cada unidade de agricultura familiar poderia reduzir a pobreza no campo e, consequentemente, a violncia por

    disputas de terra, j que terra haveria se fosse distribuda de maneira iguali-

    tria, onde se observa um trabalho coletivo e participativo (Figura 3.1).

    Figura 3.1: Trabalho participativo da agricultura familiarFonte: http://www.fetrafrn.org.br

    Em geral, a agricultura familiar est relacionada a pequenos lotes de terra em que a prpria famlia labora, com a contratao espordica de um ou

    outro trabalhador assalariado em tempos de maior necessidade de mo-

    -de-obra, como no caso das colheitas. Alm disso, h maior diversificao

    da produo e nfase nos insumos internos produzidos. O INCRA e a FAO consideram trs elementos como caractersticos da agricultura familiar: a) a gesto da unidade produtiva e os investimentos nela realizados so feitos

    por indivduos que mantm entre si laos de sangue ou de casamento; b) a maior parte do trabalho igualmente fornecida pelos membros da famlia;

    e, c) a propriedade dos meios de produo (embora nem sempre da terra) pertence famlia e em seu interior que se realiza sua transmisso em caso

    INCRAInstituto Nacional de Colonizao e reforma Agrria. Que tem como misso: Implementar a poltica de reforma agrria e realizar o ordenamento fundirio nacional, contribuindo para o desenvolvimento rural sustentvel (http://www.incra.gov.br)

    FAOOrganizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao (do ingles, Food Agricultural Organization). Que tem como compromisso: trabalha no combate fome e pobreza, promove o desenvolvimento agrcola, a melhoria da nutrio, a busca da segurana alimentar e o acesso de todas as pessoas, em todos os momentos, aos alimentos necessrios para uma vida saudvel (http://www.fao.org.br)

    e-Tec BrasilAula 3 As consequncias da questo agrria 27

  • de falecimento ou de aposentadoria dos responsveis pela unidade produti-

    va que as pequenas propriedades foram surgindo como expresso das lutas

    de classes sociais distintas ainda durante o perodo colonial.

    As reformas de distribuio de terra foram utilizadas por vrios pases em de-

    senvolvimento como meio para melhorar as condies de vida do campesi-

    nato, alm de aumentar a produtividade no setor agrcola. A reforma agrria

    realizada em pases latino-americanos possuem as seguintes caractersticas:

    a) Foram realizadas como resposta aos protestos de camponeses sem-terra;

    b) Terminaram um sistema de semi-servido que prevalecia no setor agrrio;

    c) A elite agropecuria reteve poder poltico suficiente para influenciar o regime no qual os camponeses receberam a terra (DIAZ, 2000).

    Apesar de que no Brasil a distribuio de terra por meio da reforma agrria

    foi pequena, ela se caracterizou pelos trs fatores descritos acima. A criao

    e distribuio de unidades de agricultura familiar so relevantes para reduzir

    a desigualdade de terra.

    Assim, podemos sintetizar, pelo que at aqui vimos, que a reforma agrria

    se faz necessria no Brasil, pois a estrutura fundiria em nosso pas muito

    injusta. Para termos uma ideia desta desigualdade, basta observar o seguinte

    dado: quase metade das terras brasileiras est nas mos de 1% da populao.

    Para corrigir esta distoro, nas ltimas dcadas vem sendo desenvolvido em

    nosso pas o sistema de reforma agrria. Embora lento, j tem demonstrado

    bons resultados. Os trabalhadores rurais organizaram o MST (Movimento

    dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que pressiona o governo, atravs de

    manifestaes e ocupaes, para conseguir acelerar a reforma agrria e ga-

    rantir o acesso a terra para milhares de trabalhadores rurais.

    Fonte: http://www.suapesquisa.com/geografia/reforma_agraria.htm

    ResumoA reao das classes rurais dominantes render-se ao pacote americano da

    revoluo verde com a introduo de agrotxicos no solo, contaminando

    a gua, a terra e, principalmente, o ser humano. E, como contrapartida,

    fruto de uma sequncia histrica, surge a Agricultura Familiar, por uma pro-

    duo limpa, constituda de pequenos mdulos rurais e responsveis pela

    grande percentagem de comida que sustenta esse Pas.

    No dia 30 de novembro comemora-se o Dia da

    Reforma Agrria.

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 28

  • Atividades de aprendizagem1. Pesquise por que o dia da Reforma Agrria comemorado nessa data de

    30 de novembro.

    2. No municpio em que voc reside, como a diviso das terras rurais, quanto ao tamanho da propriedade?

    3. Voc saberia dizer se j houve algum conflito nesta rea rural por ques-tes de terra?

    e-Tec BrasilAula 3 As consequncias da questo agrria 29

  • e-Tec Brasil31

    Aula 4 Modernizao agrcola e degradao ambiental

    O objetivo desta aula fazer com que voc compreenda que nem sempre

    o que vem com o rtulo de pacote tecnolgico benfico ou se traduz

    em melhorias na qualidade de vida e do ambiente. At agora aprendemos

    um pouco da histria da colonizao das terras brasileiras. Assim, nosso

    objetivo nesta aula discutir, como o modelo de desenvolvimento agrcola

    adotado no Brasil a partir de 1960, trouxe consequncias sociais e am-

    bientais para toda a sociedade brasileira. Consequncias essas que apenas

    ajudaram a agravar ainda mais as distores existentes nos campos.

    Ol, turma! nesse processo da linha do tempo, agora j estamos tratando de

    assuntos referentes aos dias atuais, de forma que os problemas ou situaes

    que veremos, fazem parte do nosso dia a dia. Ou seja, somos contempor-

    neos do que verificaremos.

    O processo que hoje conhecemos como Modernizao Agrcola ou agri-cultura moderna iniciou no Brasil na dcada de 1960 do sculo passado.

    Interessante notar que segundo Figueiredo (1996) essa modernizao agr-

    cola das instituies de pesquisa e assistncia no Brasil no concorreu para

    gerar tecnologias adequadas s condies da pequena propriedade, e sim

    para atender e reforar mais as demandas dos setores industriais a montante e a jusante da produo agropecuria, dos grandes e ricos produtores.

    Este processo se consistiu na adoo de tecnologias oriundas de outro pro-

    cesso internacional conhecido por Revoluo Verde, cuja explicao foi visto no incio da Aula 03.

    A sntese qumica do nitrognio na sua forma nitrato j era dominada pela

    indstria blica e teve um grande incremento para a produo de uso como

    explosivos na Segunda Guerra Mundial entre 1939 a 1945. Com o fim da

    Guerra, sem ter para quem vender todo o nitrato produzido, o parque in-

    dustrial foi revertido para a produo de fertilizantes nitrogenados para a

    nascente agricultura moderna.

    Outra caracterstica dessa dita e suposta modernizao agrcola est no uso

    indiscriminado de mquinas e implementos agrcolas compactando cada vez

    mais os solos e, ao mesmo instante, reduzindo o intervalo de tempo entre a

    Montante e jusanteJusante e montante so lugares referencias de um rio pela viso de um observador. A jusante o lado para onde se dirige a corrente de gua e montante a parte onde nasce o rio. Por, isso se diz que a foz de um rio o ponto mais a jusante deste rio, e a nascente o seu ponto mais a montante.

  • colheita e o plantio da safra seguinte. A Figura 4.1 exemplifica muito bem essa ideia de ter uma bateria de colhedoras de um determinado cereal e, ime-

    diatamente, logo atrs, sincronizado para o mesmo momento, um batalho

    de semeadoras ocupando o solo com a aplicao de sementes tratadas com

    defensivos qumicos juntamente com dosagens de fertilizantes qumicos.

    muita mquina e muita qumica para um s momento!

    No entanto, quando as variedades en-

    to cultivadas passaram, como foi dito,

    a serem tambm quimicamente aduba-

    das. Alm de produzir mais, elas cresciam

    demasiadamente e caiam com o menor

    vento que as atingisse, causando gran-

    des prejuzos.

    A soluo para o problema foi busca e o desenvolvimento, atravs do

    melhoramento vegetal de variedades chamadas de variedades ans (Fi-gura 4.2). Estas novas variedades eram de porte muito menor que as varie-dades cultivadas at ento e suportavam altas doses de adubos qumicos,

    principalmente de nitrognio e no tombavam com o vento.

    Melhoramento vegetal so um conjunto de tcnicas de cruzamento de plantas para se obter algum efeito desejado, como a resistncia a determi-

    nada doena ou praga. Porm, normalmente, tem sido usado para aumentar

    a produtividade adaptando as plantas a uma condio artificial, ou seja, um

    solo ideal obtido atravs do preparo e adubao e irrigao e, nestas con-

    dies, a nova variedade tem condies de ter altas produes. Uma dessas

    tecnologias reduzir o tamanho vegetativo das plantas (Figura 4.2). Con-tudo, a verso mais recente deste melhoramento (mas ser que so mesmo

    ou podem ser chamadas de melhoramento?) so os Organismos Laborato-

    rialmente Modificados ou os transgnicos. Logo veremos onde estas tecno-

    logias levaram a agricultura brasileira.

    Figura 4.2: Variedades ans de arroz.Fonte: http://www.shigen.nig.ac.jp

    Figura 4.1: Colhendo e plantando ao mesmo tempo.Fonte: http://s0.flogao.com.br

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 32

  • Para isso, deu-se incio a introduo de mais um pacote tecnolgico, chama-

    do de biotecnologia, como forma de se dirigir e determinar mais rapida-mente os efeitos desejados (Figura 4.3).

    Biotecnologia apresenta vrias definies de acordo com o olhar a ela lan-ado, mas de uma forma bem simples, um conjunto multidisciplinar de

    conhecimentos que visa o desenvolvimento de mtodos, tcnicas e meios

    associados a seres vivos, macro e microscpicos. Atualmente, os meios de

    comunicao tm divulgado inmeras descobertas atribudas ao uso de tec-

    nologias avanadas associadas biotecnologia. Alimentos transgnicos, mo-

    dificados geneticamente, clonagem e tantas outras descobertas associadas

    ao tema predispe a cada dia a necessidade de se saber pelo menos do que

    se trata essa tal biotecnologia. Fonte: http://www.brasilescola.com/biologia/biotecnologia.htm

    Cultura de tecido indiferenciado proveniente da raiz

    Clulas se separam e crescem em um lquido

    prprio para cultura

    colocada uma bactria com plasmdeo modificado no frasco

    com as clulas

    O herbicida colocado a fim de selecionar clulas

    que incorporaram o DNA diferente

    Rediferenciao celular

    Embrio da planta comea a crescer

    Planta Adulta(Resistncia

    Herbicida)

    Planta Adulta(Sustentvel Herbicida)

    Figura 4.3. Conceito de biotecnologiaFonte: http://ruisoares65.pbworks.com

    O Brasil, nos anos 1960 investiu muitos recursos para fazer com que as mo-

    dernas tecnologias para a agricultura fossem adotadas pelos agricultores.

    Esses recursos vieram de acordos bilaterais principalmente entre o Brasil e

    os Estados Unidos, que tinham amplo interesse que os produtos produzidos

    pelas suas indstrias tivessem mercado nos pases em desenvolvimento.

    Assim, lamentavelmente, adotamos pacotes tecnolgicos para a agri-cultura que continham sementes e animais melhorados, adubos qumicos,

    agrotxicos, medicamentos, mquinas agrcolas pesadas, irrigao e que exi-

    giam altos investimentos dos agricultores.

    e-Tec BrasilAula 4 Modernizao agrcola e degradao ambiental 33

  • Estes investimentos eram financiados pelo governo com juros subsidiados,

    onde parte da nossa histrica dvida externa somente era alimentada por

    essa forma de subsidio para insero desse pacote de tecnologia, que garan-

    tia primeiramente o benefcio dos americanos e multinacionais.

    Leitura Complementar

    Equvocos de Pacotes Tecnolgicos (O Exemplo de Baturit): Diante da supremacia do conhecimento cientfico, o ditado ouvir a voz da experi-

    ncia destoava completamente da abordagem da modernizao agrcola,

    introduzida nos anos 1960, com a chamada Revoluo Verde. Os avanos

    tecnolgicos davam suporte para a adoo de pacotes com enfoque pro-

    dutivista, que passavam por cima do conhecimento tradicional, experincia

    e capacidade de organizao comunitria da populao rural. No se pode

    negar que os investimentos em tecnologia realizados por meio de juros sub-

    sidiados, trouxeram avanos inquestionveis em termos de produtividade

    agrcola. Entretanto, o no ouvir a voz da experincia com a adoo de pa-

    cotes-padro para condies culturais e agroecolgicas distintas, em alguns

    casos, acabou por resultar em desastres ecolgicos, empobrecimento de

    regies e perda de identidade cultural de comunidades rurais. Um exemplo

    desses equvocos pode ser buscado na Serra de Baturit, uma ilha de Mata

    Atlntica no macio central do Cear, uma tradicional regio produtora de

    caf no sculo XIX, que chegou a deter 2% da produo brasileira. H re-

    latos, da poca, de que o caf de Baturit era uma dos mais apreciados nas

    cafeterias francesas (ROMERO & ROMERO, 1997).

    Como resultado da adoo destes pacotes tecnolgicos, tivemos aumentos

    na produo e na produtividade, ou seja, produzimos mais em volume total,

    que includa a abertura de novas reas para o plantio e a produo animal e

    tambm por rea plantada.

    Ou seja, quanto mais avanvamos em reas protegidas, sob o nome de no-

    vas fronteiras agrcolas, mais acabvamos com as nossas reservas ambien-tais. O fato de se desmatar uma terra agricultvel sob essa metodologia pas-

    sou a ser crnico, trazendo como consequncias reduo de seu potencial.

    A intimidade entre fronteira agrcola e desmatamento: A derrubada da floresta e a ampliao da fronteira possuem quatro fatores de estmulo

    econmico principais: a madeira, que se extrai e se vende a preos cada vez mais atraentes; a pecuria, que normalmente entra em seguida derrubada para a ocupao da rea; a lavoura, que muitas vezes substitui pecuria;

    Leia mais sobre esse exemplo que pode muito bem ser extrapolado

    para vrias outras situaes no endereo eletrnico:

    http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=261

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 34

  • e a terra, porque ningum bobo e ela continua sendo uma importante forma de reserva de valor, antes mesmo de ser capital.

    Fonte: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/setembro2008/ju407pdf/Pag02.pdf.

    Ao lado disto, tivemos graves problemas sociais e ambientais. Houve grandes migraes de pessoas do campo para as cidades, sem que as cida-des tivessem capacidade para absorv-las e garantir condies dignas de vida.

    Para que se tenham ideia desse fluxo migratrio, nos anos 1960, 80% da

    populao brasileira viviam no campo, hoje, 50 anos depois, so apenas 20%.

    A mecanizao substituiu o trabalho humano e os trabalhadores foram dis-

    pensados. Alm disso, a concentrao de terras aumentou muito com o processo de modernizao e tem se mantido praticamente inalterada nos lti-

    mos trinta anos, apesar de alguns esforos na realizao da Reforma Agrria.

    Em relao ao meio ambiente, a adoo das prticas agrcolas modernas cau-

    sou e ainda causa srios problemas ambientais, como o desmatamento de

    reas antes protegidas, o assoreamento de rios e mananciais de gua, a eu-trofizao de cursos de gua, a contaminao do solo, da gua e do ar com agrotxicos e adubos qumicos, alm de usar cerca de 70% da gua potvel.

    Alm disso, os lenis freticos, como os do aqufero Guarani e outros mais superficiais esto sendo contaminados e sem a menor perspectiva de despo-

    luio. Esses problemas contribuem com o aumento do efeito estufa (vide Figura 4.5), pela liberao de gs carbnico (CO2) pelas queimadas e pelo uso inadequado do solo que perde matria orgnica, onde o CO2 est retido; di-

    minuem a biodiversidade, destruindo espcies de plantas e animais, tornando

    o planeta mais vulnervel aos problemas ambientais como secas, enchentes e tempestades que so cada vez mais frequentes e intensas (Figuras 4.6).

    Figura 4.4: Localizao do Aqufero GuaraniFonte: http://api.ning.com/

    Conforme indicam os dados oficiais: O Censo Agropecurio 2006 revelou que a concentrao na distribuio de terras permaneceu praticamente inalterada nos ltimos vinte anos, embora tenha diminudo em 2.360 municpios. Nos Censos Agropecurios de 1985, 1995 e 2006, os estabelecimentos com mais de 1.000 hectares ocupavam 43% da rea total de estabelecimentos agropecurios no pas, enquanto aqueles com menos de 10 hectares ocupavam, apenas, 2,7% da rea total. Focalizando-se o nmero total de estabelecimentos, cerca de 47% tinham menos de 10 hectares, enquanto aqueles com mais de 1.000 hectares representavam em torno de 1% do total, nos censos analisados. Fonte: http://ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1464&id_pagina=1

    EutrofizaoProcesso que consiste na gradativa concentrao de matria orgnica acumulada nos ambientes aquticos.

    e-Tec BrasilAula 4 Modernizao agrcola e degradao ambiental 35

  • Efeito Estufa

    Figura 4.5: Efeito estufaFonte: http://intrometendo.com

    Voc sabia?

    Aqufero Guarani O Aqufero Guarani o maior manancial de gua doce subterrnea transfronteirio do mundo. Est localizado na regio

    centro-leste da Amrica do Sul, entre 12 e 35 de latitude sul e entre 47

    e 65 de longitude oeste e ocupa uma rea de 1,2 milhes de Km,es-

    tendendo-se pelo Brasil (840.000l Km), Paraguai (58.500 Km), Uruguai

    (58.500 Km) e Argentina (255.000 Km).

    Sua maior ocorrncia se d em territrio brasileiro (2/3 da rea total),

    abrangendo os Estados de Gois, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, So

    Paulo, Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

    O efeito estufa um processo que ocorre quando uma parte da radiao solar refletida pela superfcie terrestre absorvida por determinados gases

    presentes na atmosfera. Como consequncia disso, o calor fica retido, no

    sendo libertado para o espao. O efeito estufa dentro de uma determina-da faixa de vital importncia, pois sem ele, a vida como conhecemos no

    poderia existir. Ele tambm serve para manter o planeta aquecido, e assim,

    garantir a manuteno da vida. Mas, o que se pode tornar catastrfico a

    ocorrncia de um agravamento do efeito estufa que desestabilize o equilbrio

    energtico no planeta e origine um fenmeno conhecido como aquecimento

    global. Os gases de estufa (dixido de carbono (CO2), metano (CH4), xido

    nitroso (N2O), CFCs (CFxClx) absorvem alguma radiao infravermelha emitida

    pela superfcie da Terra e radiam por sua vez a energia absorvida de volta para

    a superfcie. Como resultado, a superfcie recebe quase o dobro de energia da

    atmosfera do que a que recebe do Sol e a superfcie fica cerca de 30C mais

    quente do que estaria sem a presena dos gases de estufa. Dentre esses

    gases, um dos piores o metano, cerca de 20 vezes mais potente que o di-

    xido de carbono, a atividade pecuria representa 16% da poluio mundial

    no que se refere produo desse gs.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_estufa

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 36

  • Figuras 4.6: Degradao ambiental.Fonte: http://mtc-m12.sid.inpe.br

    Um rio ou lago fica assoreado, como aparece na Figura 4.6, pelo arraste de partculas de solo que vem das lavouras preparadas para o plantio com

    arao e gradagem. Este solo carrega tambm o adubo qumico que est presente e este adubo, solvel em gua, faz com que a gua fique muito

    frtil e permita o crescimento desordenado de algas.

    Essas algas, no seu crescimento e decomposio gastam muito oxignio,

    que est fracamente dissolvido na gua, e este elemento vital acaba fazendo

    falta para outros organismos aquticos, principalmente aos peixes.

    assim que ocorre um desastre ambiental! Infelizmente, existem v-rias outras formas de se causar desastres ambientais.

    ResumoA gerao atual se deparou com pacotes tecnolgicos importados, sob o

    rtulo de que trariam benefcios e avanos ao campo. O que se verifica,

    no entanto, so solos compactados (por uso de mquinas e implementos

    agrcolas cada vez mais pesados), solos e mananciais contaminados; e que o

    uso dessas ferramentas terminam por degradar o solo e trazer seres vegetais

    desconhecidos da natureza, com o uso da biotecnologia ou transgenia. Por

    fim, como consequncia de toda essa poluio tecnolgica, a natureza res-

    ponde, por exemplo, com o efeito estufa.

    Atividade de aprendizagem 1. Qual a diferena entre produo e produtividade agrcola?

    GradagemMtodo que consiste em aplainar o solo por meio de grades puxadas por trator; tambm pode ser utilizada no combate s plantas daninhas.

    e-Tec BrasilAula 4 Modernizao agrcola e degradao ambiental 37

  • 2. Na sua cidade existe revenda de mquinas agrcolas? Se sim, foi instalada em que ano? Se no, pesquise sobre a revenda mais prxima.

    3. Com base no que voc estudou at aqui, que relao existe entre revo-luo verde e uso indiscriminado de agrotxicos?

    Anotaes

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 38

  • e-Tec Brasil39

    Aula 5 Desenvolvimento Rural

    Nesta aula voc ir aprofundar seus conhecimentos sobre os conceitos

    referentes ao desenvolvimento rural sob a tica Agroecolgica, fazendo

    um contraponto com o modelo de produo das reas em latifndio, vol-

    tadas para o comrcio externo, tratadas e comercializadas em bolsas de

    mercadorias, mais conhecidas como commodity.

    Ol, turma! Uma vez discutidos os assuntos atuais, com os seus respectivos

    problemas ambientais, iremos discutir nessa quinta aula sobre desenvolvi-

    mento rural.

    Voc sabe o significado do termo rural? Ser que ainda possvel, nos dias atuais, fazer a diferenciao entre os espaos rurais e urbanos?

    Vamos decifrar alguns conceitos e ver que, como dissemos na aula anterior,

    embora hoje cerca de 80% da populao brasileira viva em ambientes urba-

    nos e, muitos moradores de reas rurais exeram atividades no mundo urba-

    no, h sim um mundo rural.

    Este ambiente rural se caracteriza principalmente pelo local onde estas pessoas

    vivem e pelo tipo de trabalho re-

    alizado. Portanto, quem vive fora

    dos limites das cidades e realiza

    trabalhos tpicos da agropecuria

    vive no mundo rural.

    As Figuras 5.1, 5.2 e 5.3 retra-tam, respectivamente, a colheita

    manual, a colheita mecanizada e

    a industrializao com todo o seu

    processo atrelado a poluio. Figura 5.1: As respigadeiras de Jean Millet.Fonte:http://becreesct.blogspot.com

  • Este mundo rural secular ope-se claramente ao mundo urbano, marcado por

    funes, atividades, grupos sociais e paisagens no s distintos, mas, tambm,

    em grande medida construdos contra o mundo rural. Observe que os nossos

    artistas nacionais, os personagens de diferente gerao, tais como o Jeca Tatu

    ou Chico Bento, normalmente aparecem sujos e falando o dialeto caipira.

    Esta oposio tende a ser encarada como natural e, por isso, recorren-

    temente associada a relaes de natureza simbitica: campo e cidade so

    complementares e mantm um relacionamento estvel num contexto (apa-

    rentemente) marcado pelo equilbrio e pela harmonia de conjunto.

    A vida na zona rural requer, por parte do Poder Pblico, uma srie de aes,

    pois existe a necessidade de se pensar um modelo de desenvolvimento que

    inclua esta populao rural para que ela tenha acesso s conquistas e direitos

    sociais, como os servios de educao, sade, cultura e lazer etc., no campo.

    Ou seja, preciso levar os servios at a populao de forma apropriada.

    claro que no ambiente rural no existe apenas este modo de vida que se

    harmoniza com a natureza. Tanto grandes como mdios e pequenos produ-

    tores, ao adotarem o modelo moderno de desenvolvimento promovem profundas mudanas.

    Historicamente, o mundo rural destaca-se por se organizar em torno de uma

    tetralogia de aspectos bem conhecida:

    uma funo principal: a produo de alimentos;

    uma atividade econmica domi-nante: a agricultura;

    um grupo social de referncia: a famlia camponesa, com modos

    de vida, valores e comportamentos

    prprios;

    um tipo de paisagem que reflete a conquista de equilbrios entre as

    caractersticas naturais e o tipo de

    atividades humanas desenvolvidas.

    Fonte: Ferro (2000).

    Figura 5.2: Colheita mecanizada.Fonte: http://pt.dreamstime.com

    Figura 5.3: Industrializao e polui-o ambiental Fonte: http://meioambiente.culturamix.com

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 40

  • Ferro (2000) levanta a suspeita de que este modelo moderno de desen-

    volvimento hoje insustentvel, tanto por razes internas como por fatores

    mais vastos, de ordem nacional e internacional.

    Vocs lembram que ns j discutimos as consequncias do modelo de desenvolvimento adotado no Brasil e conhecido como Moderni-zao Agrcola?

    No Brasil, principalmente a partir da Revoluo Verde, adotou-se uma matriz tecnolgica de produo no campo, que privilegia a produo em grandes

    propriedades e em monocultura para a exportao de commodities.

    Esta forma de produzir expulsa grande parte da populao do campo, gera di-

    visas para os grandes produtores e para o pas de forma bem menos eficiente

    do que se fossem a elas agregado valores, atravs da sua transformao.

    Ento podemos dizer que o modelo de desenvolvimento rural adotado no Brasil nos dias de hoje tambm insustentvel do ponto de vista ambien-tal, econmico e social.

    Porm, antes de se conceituar que tipo de desenvolvimento rural se quer,

    a partir da agroecologia, importante refazer rapidamente os caminhos

    do termo desenvolvimento rural at a atualidade. O termo Desenvolvi-mento Rural foi cunhado (criado) nos anos 1970 como estratgia para contrabalanar os efeitos negativos sobre os pases do terceiro mundo,

    do modelo de desenvolvimento comunitrio amplamente aplicado pe-

    las agncias internacionais de desenvolvimento, durante as dcadas de

    1950 e 1960 usado como referncia aos produtos de base em estado bruto (matrias-primas) ou com pequeno grau de industrializao, de

    qualidade quase uniforme, produzidos em grandes quantidades e por

    diferentes produtores.

    Do ponto de vista ambiental, este modelo de desenvolvimento um modelo que se baseia no uso indefinido dos recursos naturais como se eles fossem infinitos.

    Toda a tecnologia de produo animal e vegetal baseada em energia fssil,

    vinda do petrleo, que finita, ou seja, no renovvel.

    Assim, para se produzir adubos qumicos, agrotxicos, movimentar mqui-

    nas para o preparo do solo, plantio, tratos culturais, irrigao, colheita e

    transporte e transformao da produo usado energia fssil.

    Commodity (plural: com-modities) usada como referncia aos produtos de base em estado bruto (matrias-primas) ou com pequeno grau de industrializao, de qualidade quase uniforme, produzidos em grandes quantidades e por diferentes produtores. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Commodity).

    e-Tec BrasilAula 5 Desenvolvimento Rural 41

  • Essa energia alm de ser finita altamente poluente, pois emite CO2 que

    um dos gases causadores do efeito estufa. Alm disso, o balano energtico,

    que mede quantas calorias gasto para cada caloria produzida, indica um

    grande balano negativo, ou seja, normalmente so gastos de cinco a oito

    calorias para cada caloria produzida nos alimentos.

    preciso lembrar que o Brasil uma dos maiores emissores de CO2 do mun-

    do graas s queimadas da floresta amaznica (Figuras 5.4 e 5.5) e dos cerrados, para a produo de pastagem para a bovinocultura, para o avano

    da soja e da cana-de-acar, etc.

    Figura 5.4: Queimadas na Amaznia.Fonte: http://www.infoescola.com

    Figura 5.5: Um rio de madeira re-tirada da Amaznia.Fonte: http://crisdestri.zip.net/

    No caso do Brasil, a principal fonte de emisso de CO2 a destruio

    da vegetao natural, com destaque para o desmatamento na Amaz-

    nia (Figura 5.5, acima) e as queimadas no cerrado (...), diz o estudo.

    Essa atividade responde por mais de 75% das emisses brasileiras

    de CO2, sendo a responsvel por colocar o Brasil entre os dez maio-

    res emissor de gases de efeito estufa para a atmosfera. (MOREIRA E

    WERNECK, 2010)

    O estudo mostra que o problema antigo: em 1990, das 978.583.000 to-

    neladas de CO2 emitidas, 77,48% (758.281.000) foram causadas pelo item

    Mudana no uso da terra e florestas (derrubada e queimada de matas). A

    situao no melhorou at hoje, avaliam os tcnicos do IBGE.

    Do ponto de vista econmico, esse modelo altamente caro e exigente em

    recursos financeiros.

    Embora no Brasil no tenhamos muitos subsdios agricultura, ou seja, no

    so gastos recursos pblicos para ajudar a cobrir os custos de produo

    IBGEInstituto Brasileiro de Geografia

    e Estatstica.

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 42

  • dos produtores, uma prtica muito comum nos Estados Unidos e na

    Europa. Porm, por aqui os custos de produo que envolve todo o pacote

    tecnolgico de adubos, agrotxicos e sementes que controlado pelas

    indstrias cada vez mais caro, fazendo com que o lucro dos produtores

    fique cada vez menor.

    Para manter os ganhos os produtores compram mais terras e com isso au-

    menta a concentrao das terras nas mos de cada vez menos pessoas.

    Vocs se lembram das aulas anteriores, que no Brasil colnia todas as nossas terras pertenciam a apenas doze pessoas? Mantendo as devidas propores, ser que estamos caminhando para l outra vez?

    Do ponto de vista social, este modelo excludente, pois as tecnologias e a

    lgica de desenvolvimento dispensam as pessoas, pois as atividades so cada

    vez mais mecanizadas e concentradoras de renda.

    Assim, desde a dcada de 1960, houve uma grande inverso na ocupao

    das pessoas. Cremos que convm mais uma vez repetir que naquela poca,

    80% da populao estava no campo, hoje apenas 20% se ocupa de ativida-

    des rurais e vivem nestes espaos.

    Alm disso, a presso sobre as pequenas propriedades muito grande. H

    uma intensa procura por terras por grandes proprietrios e empresas como

    as produtoras de cana-de-acar, madeira, laranja, soja, etc. (todas essas

    culturas voltadas para a exportao).

    Os pequenos produtores, que no conseguem se inserir na lgica moderna

    de produo, acabam vendendo ou perdendo suas propriedades para o pa-

    gamento de dvidas e vo para as cidades viver de subempregos, pois no

    tm qualificao para outro trabalho, ou resta-lhes a alternativa da organi-

    zao social de luta para a Reforma Agrria.

    ResumoVerificamos que o desenvolvimento rural no necessariamente passa pela

    aquisio de pacotes tecnolgicos, muitos deles importados. Desenvol-

    vimento rural est muito mais associado segurana alimentar do que

    dedicao e produo de culturas que so comercializadas internacio-

    nalmente em Bolsas de Mercadorias, como as commodities, estudadas nessa aula.

    Atividadesdeaprendizagem

    e-Tec BrasilAula 5 Desenvolvimento Rural 43

  • 1. Relacione as principais commodities cultivadas no seu municpio e regio.

    2. J que voc sabe diferenciar o rural de urbano, o que voc definiria como o novo rural? Cite exemplos.

    3. Por que a proposta de desenvolvimento rural atual , ambientalmente, considerada insustentvel?

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 44

  • e-Tec Brasil45

    Aula 6 Desenvolvimento sustentvel

    A partir desta aula voc ser capaz de entender o conceito de desenvolvimen-

    to rural e sustentabilidade como contraponto chamada revoluo verde.

    O conceito de Desenvolvimento Sustentvel surgiu nos anos 1970 e foi refor-ado nos anos 1980 e 1990. Ocorre que mesmo aps 40 anos de seu surgi-mento, percebemos a necessidade de colocarmos este conceito em prtica.

    A definio mais aceita para desenvolvimento sustentvel, tema chave da aula de hoje, o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da gerao atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras geraes. o desenvolvimento que no esgota os recursos para o futuro.

    Fonte: www.wwf.org.br

    Essa definio surgiu na Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-

    mento (1987), criada pelas Naes Unidas para discutir e propor meios de harmo-

    nizar dois objetivos: o desenvolvimento econmico e a conservao ambiental.

    A partir da conferncia Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

    de Estocolmo, em 1972, as preocupaes com os limites do crescimento se

    tornaram presentes nos discursos oficiais. Assim, ao modelo de desenvolvi-

    mento no qual os conhecimentos das populaes locais para a gesto do

    seu meio so valorizados, em oposio aos sistemas padronizados at ento

    adotados, foi dado o nome de ecodesenvolvimento (SACHS, 1996)

    Voc Sabia?

    O conceito de ecodesenvolvimento, lanado por Maurice Strong em junho de 1973 consistia na definio de um estilo de desenvolvimento adaptado s

    reas rurais do Terceiro Mundo, baseado na utilizao criteriosa dos recursos

    locais, sem comprometer o esgotamento da natureza, pois nestes locais ainda

    havia a possibilidade de tais sociedades no se engajarem na iluso do cres-cimento mimtico. Com a Declarao de Cocoyoc, no Mxico, em 1974, tambm as cidades do Terceiro Mundo passam a ser consideradas no ecode-

    senvolvimento. Finalmente, na dcada de 1980, o economista Ignacy Sachs

    se apropria do termo e o desenvolve conceitualmente, criando um quadro de

    estratgias ao ecodesenvolvimento. Parte da premissa deste modelo se basear

    em trs pilares: eficincia econmica, justia social e prudncia ecolgica.

    Fonte: http://material.nerea-investiga.org/publicacoes/user_35/FICH_ES_32.pdf

    Crescimento mimtico um dos sinais que distinguem o desenvolvimento do mal desenvolvimento.

  • A necessidade de ateno ao meio ambiente era, naquela momento, uma

    novidade no cenrio mundial, pois at ento no havia a preocupao com

    a poluio crescente, principalmente a partir de 1850.

    No auge da Revoluo Industrial, a queima de combustveis fsseis coloca de volta ao meio ambiente, grandes quantidades de gases, principalmente

    gs carbnico. Recentemente h um consenso entre os cientistas de que a

    ao humana a responsvel pelo aquecimento global causado principalmen-

    te pelas emisses crescentes deste gs.

    Para ler e refletir...

    A Revoluo Industrial consistiu em um conjunto de mudanas tecnol-gicas com profundo impacto no processo produtivo em nvel econmico

    e social. Iniciada na Inglaterra em meados do sculo XVIII expandiu-se

    pelo mundo a partir do sculo XIX. Ao longo do processo (que de acordo

    com alguns autores se registra at aos nossos dias), a era da agricultura

    foi superada, a mquina foi superando o trabalho humano, uma nova

    relao entre capital e trabalho se imps, novas relaes entre naes se

    estabeleceram e surgiu o fenmeno da cultura de massa, entre outros

    eventos. Essa transformao foi possvel devido a uma combinao de

    fatores, como o liberalismo econmico, a acumulao de capital e uma

    srie de invenes, tais como o motor a vapor. O capitalismo tornou-se o

    sistema econmico vigente.

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial

    Este conceito foi aos poucos modificado e atualmente o termo desenvolvi-

    mento sustentvel passou a ser utilizado em substituio expresso ecode-senvolvimento e constituiu a base para a discusso e reorientao das pol-ticas de desenvolvimento e sua relao direta com as questes ambientais.

    Assim, desenvolvimento sustentvel passou a ser aquele desenvolvimento

    que atende s necessidades das geraes atuais sem comprometer as pos-

    sibilidades das geraes futuras atenderem s suas prprias necessidades

    (NOSSO FUTURO COMUM, 1991).

    Este conceito no coloca limites ao crescimento e nem tampouco define

    quais as necessidades concretas das geraes atuais e futuras, sofre um es-

    vaziamento de significado e assumido nos discursos oficiais sem o menor

    critrio de seriedade.

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 46

  • Assim sendo, o conceito de sustentabilidade passou a ser usado de forma

    indiscriminada, inclusive simplesmente como sinnimo de lucro ou desen-

    volvimento sustentado sendo vivel economicamente.

    Mas o que sustentabilidade?

    Sustentabilidade uma forma de pensamento sistmico, relacionado com

    a continuidade dos aspectos econmicos, sociais, culturais e ambientais

    da sociedade humana. Prope-se a ser um meio de confi gurar a civilizao

    e atividade humanas, de tal forma que a sociedade, os seus membros e

    as suas economias possam preencher as suas necessidades e expressar o

    seu maior potencial no presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiver-

    sidade e os ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a atingir

    pr-efi cincia na manuteno indefi nida desses ideais.

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sustentabilidade

    Um resgate, acrescido de outras dimenses realizado por Caporal e Cos-

    tabeber (2002), que fazem uma abordagem mais ampla do conceito de sus-

    tentabilidade ao qual vamos nos ater na sequncia.

    Para estes autores, a sustentabilidade necessariamente deve atender a ml-

    tiplas dimenses. A concepo de uma pirmide de sustentabilidade, como

    forma de anlise, d um novo signifi cado ao termo (Figura 6.1).

    O conceito original levava em conta um trip que se limitava ao economica-

    mente vivel, socialmente justo e ambientalmente correto. A este trip fo-

    ram adicionadas mais trs dimenses: o culturalmente aceito, politicamente

    atuante e tico.

    Esta pirmide, com seis dimenses de anlise, permite fazer diagnsticos

    muito ricos de sustentabilidade, pois valoriza as vrias dimenses da vida.

    Multidimenses da sustentabilidade

    tica

    Cultural Poltica

    Ecolgica SocialEconmica

    Figura 6.1: As multidimenses da Sustentabilidade.Fonte: www.agroecologia.pro.br

    e-Tec BrasilAula 6 Desenvolvimento sustentvel 47

  • Qualquer atividade que se pretenda sustentvel precisa mostrar a sua viabi-

    lidade econmica, pois existe a necessidade concreta de manuteno das necessidades bsicas da famlia, para o seu autossustento e tambm para ter

    acesso aos bens e servios bsicos que j foram conquistados pela humani-

    dade, como atendimento sade de qualidade, satisfao das necessidades

    de alimentao com qualidade e quantidade (de base ecolgica), vesturio,

    transporte - preferencialmente coletivo, saneamento bsico, acesso s mani-

    festaes culturais, ateno s necessidades emocionais, enfim a garantia de

    um estilo de vida simples, porm integral, com as conquistas que a humani-

    dade j realizou e que devem de forma equitativa ser alcanadas por todos.

    A ateno s questes sociais outra dimenso que deve ser observada rigorosamente, e neste sentido necessrio atender s necessidades con-cretas das pessoas envolvidas diretamente nas atividades produtivas como tambm aquelas pessoas distantes, mas que de forma direta ou indireta so

    afetadas pelas nossas atividades, como os trabalhadores urbanos, consumi-

    dores, garantindo assim, a solidariedade de classe social.

    Assim sendo, a garantia das satisfaes acima descritas para todos os envol-

    vidos, e finalmente para toda a humanidade, devem ser alvo da nossa aten-

    o e objetivos concretos colocados em nossas aes. Alm disso, questes

    como as relaes de gnero, etnia, religiosidade, etc., devem ser trabalhadas

    de forma que todos possam satisfazer as suas necessidades concretas.

    A ateno ao meio ambiente, que gerou toda a demanda inicial levantada pelo ecodesenvolvimento, deve ser considerada, principalmente neste mo-mento em que os meios de comunicao dominantes entraram em cena em

    defesa desta causa, principalmente para vender solues mirabolantes e

    carssimas e que no necessitam de mudanas no modo de vida consumista.

    Os atuais modelos de desenvolvimento passam a incorporar pequenas mu-

    danas nos seus processos produtivos e se intitular sustentveis, porm sem

    incorporar mudanas necessrias transformao dos modelos de produo.

    Estamos vivenciando uma apropriao dos conceitos de sustentabilidade

    pelo sistema dominante, numa forma clara de manuteno do status quo.

    Assim sendo, o conhecimento das verdadeiras necessidades de cuidado e

    proteo ao meio ambiente so necessrios, tanto no processo produtivo da

    agricultura familiar, como nos demais.

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 48

  • Neste ponto os avanos construdos pela Cincia Agroecolgica tm uma

    importante contribuio a dar, pois adotou as mltiplas dimenses aqui

    abordadas, para construir o seu arcabouo de conhecimento terico/prtico,

    e que tem permitido avanos.

    A dimenso cultural envolve uma srie de valores acumulados pelas suces-

    sivas geraes e que ainda tem se mantido atuante em alguns locais, apesar

    da constante invaso cultural da classe dominante. Estes valores reais, des-

    providos de preconceitos e mistificaes folclricas devem ser valorizados

    no sentido de estimular a diversidade cultural da sociedade, o que a torna

    mais rica e capaz de se gerir e criar estilos de vida diferenciados, capazes

    de resistir s investidas mercadolgicas que criam necessidades alienantes e

    destruidoras destes valores. Alm disso, garantir o acesso s manifestaes

    culturais clssicas e contemporneas uma forma de garantir qualidade de

    vida s pessoas.

    A ao poltica de um ser humano passa muito longe do que atualmente

    valorizamos como democracia participativa, que delega poderes para outros

    resolverem as questes relativas ao dia a dia. Isto ocorre em todos os nveis

    organizativos da sociedade, tanto no sindicato como na cooperativa ou nos

    poderes municipal, estadual e federal.

    Tem-se por regra delegar poderes para que os outros tomem as decises.

    Isto proposital e muito adequado ao modelo de desenvolvimento hege-

    mnico atual. necessrio romper, gradualmente com este tipo de atitude

    passiva e buscar a efetiva participao nas atividades decisrias que ocorrem

    em todos os nveis da sociedade.

    Por ltimo, porm de forma mais abrangente, e por isso est no topo

    da pirmide de sustentabilidade, est a tica. Este valor parece muito

    escorregadio e difcil de ser vislumbrado como algo concreto que possa

    ser atingido, pois parece que cada indivduo possui a sua tica. Porm,

    no muito melhor, acabamos por defender questes ticas ditadas por

    valores dominantes, que a maioria das vezes nos estranho, porm to

    enfticos que acabamos aceitando como algo inevitvel. necessrio que

    a sociedade, no conjunto dos seus atores sociais, defina novos valores

    que envolvam as dimenses da sustentabilidade, a fim de construir mo-

    delos de desenvolvimento capazes de atender s necessidades concretas

    de toda a sociedade.

    e-Tec BrasilAula 6 Desenvolvimento sustentvel 49

  • Em relao dimenso produtiva, podemos dizer que ela tem sido a base da

    Agroecologia e que h muito conhecimento produzido nesta rea. A dimen-

    so produtiva engloba todas as multidimenses da sustentabilidade em seus

    processos produtivos.

    No manejo dos Agroecossistemas so valorizadas aes de planejamento e

    decises coletivas entre os membros da famlia ou da comunidade; aes de

    valorizao cultural nos espaos comunitrios, com destinao de tempo e

    valorao efetiva do tempo destinado para a cultura, lazer e recreao para

    todas as idades.

    Alm disso, as questes relativas ao que, como e onde produzir devem ser

    aes coletivas da famlia ou comunidade, e o planejamento de demanda de

    trabalho deve levar em conta primeiramente as necessidades concretas das

    famlias produtoras, no seu autossustento, na sua relao com o meio am-

    biente e em suas relaes pessoais, e s ento as necessidades do mercado.

    Quanto s questes tcnicas, entendemos que a

    Cincia Agroecolgica j possui um conjunto de

    tcnicas e procedimentos de produo que podem

    ser aplicados e melhorados pelos produtores e que

    garantem a produo em quantidade e qualidade

    para garantir a segurana alimentar de toda a po-

    pulao. Uma mudana de paradigma de produ-

    o envolve questes histricas, culturais e deve

    ser construda de forma dialogada por toda a so-

    ciedade, a fim de que possa promover uma trans-

    formao orgnica, efetiva (Figura 6.2).

    ResumoO segmento do que hoje vai se chamar de agronegcio, tataraneto das gran-

    des concentraes histricas de terras, lana a Revoluo Verde como

    algo, revolucionrio e transformador no setor rural. Contudo, o que se v

    a entrada de capital estrangeiro, uso desordenado de agrotxicos, acentuan-

    do mais ainda as relaes sociais e econmicas no setor agrrio. A sustenta-

    bilidade, nas suas mltiplas dimenses, vem como forma de contrapor esse

    assdio ao ambiente rural.

    Figura 6.2: Representa-o ou simbologia de sustentabilidadeFonte: http://www.ecologiaurbana.com.br

    Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 50

  • Atividade de aprendizagem 1. Aps estudo desse contedo, qual a sua definio para desenvolvimento

    sustentvel?

    2. Cite pelo menos quatro danos da introduo da Revoluo Verde no nosso Pas.

    3. No seu entender, desenvolvimento sustentvel e sustentabilidade so sinnimos?

    e-Tec BrasilAula 6 Desenvolvimento sustentvel 51

  • e-Tec Brasil53

    Aula 7 Agricultura sustentvel

    O objetivo da presente aula consiste em mostrar que possvel haver uma

    agricultura sustentvel, fundamentada no desenvolvimento rural, respei-

    tando as multidimenses da sustentabilidade.

    Para discutirmos aquilo que conhecemos hoje como agricultura sustentvel

    no Brasil, precisamos fazer, novamente, uma pequena viagem no tempo e

    buscar na histria os seus fundamentos.

    Dessa vez, no em um tempo to distante, pois a nossa aventura comeou

    no final da primeira metade do sculo XX.

    Vocs lembram quando comeou a ser implantado no Brasil o modelo moderno de agricultura? claro que sim, pois discutimos isso em aulas anteriores!

    Bem, logo aps o modelo moderno de agricultura ter sido implantado e

    impulsionado pelos governos brasileiros, este modelo, que j havia sido im-

    plantado nos Estados Unidos em dcadas anteriores, principalmente a partir

    de 1930, j tinha se mostrado inadequado do ponto de vista ambiental.

    J em 1962, uma pesquisadora dos Estados Unidos, Rachel Carson, bilo-

    ga da rea de ambientes aquticos, publicou o resultado de suas pesquisas

    sobre os agrotxicos usados na agricultura, principalmente os inseticidas. O

    seu livro Primavera Silenciosa de fato calou o mundo, naquele momento a Revoluo Verde j tinha atingido boa parte do mundo dito desenvolvido

    e comeava a ser exportada para o resto do mundo pobre, como a solu-

    o para a fome mundial. Rachel Carson mostrou como o DDT penetrava

    na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais,

    inclusive do homem (chegou a ser detectada a presena de DDT at no leite

    humano!), com o risco de causar cncer e dano gentico. A grande polmi-

    ca movida pelo in