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Livro_Agricultura desenvolvimento
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Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvel
Frederico Fonseca da Silva
Valter Roberto Schaffrath
Eliandra Maria Zandon Alberguini
2012Curitiba-PR
PARAN
e-Tec Brasil 2 Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvel
Catalogao na fonte pela Biblioteca do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia - Paran
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAO, CINCIA E TECNOLOGIA - PARAN - EDUCAO A DISTNCIAEste Caderno foi elaborado pelo Instituto Federal do Paran para o Sistema Escola Tcnica Aberta do Brasil - e-Tec Brasil.
Presidncia da Repblica Federativa do Brasil
Ministrio da Educao
Secretaria de Educao a Distncia
Prof. Irineu Mario ColomboReitor
Prof. Mara Christina Vilas BoasChefe de Gabinete
Prof. Ezequiel WestphalPr-Reitoria de Ensino - PROENS
Prof. Gilmar Jos Ferreira dos SantosPr-Reitoria de Administrao - PROAD
Prof. Paulo Tetuo YamamotoPr-Reitoria de Extenso, Pesquisa e Inovao - PROEPI
Neide AlvesPr-Reitoria de Gesto de Pessoas e Assuntos Estudantis - PROGEPE
Prof. Carlos Alberto de vilaPr-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional - PROPLADI
Prof. Jos Carlos CiccarinoDiretor Geral de Educao a Distncia
Prof. Ricardo HerreraDiretor de Panlejamento e AdministraoEaD - IFPR
Prof Mrcia Freire Rocha Cordeiro MachadoDiretora de Ensino, Pesquisa e ExtensoEaD - IFPR
Prof Cristina Maria AyrozaCoordenadora Pedaggica de Educao aDistncia
Carmen Ballo WatanabeCoordenadora do Curso
Csar Aparecido SilvaVice-coordenador do curso
Adriana Valore de Sousa BeloCassiano Luiz Gonzaga da SilvaDenise Glovaski Faria SoutoRafaela Aline VarellaAssistncia Pedaggica
Prof. Ester dos Santos OliveiraProf. Jaime Machado Valente dos SantosProf. Linda Abou Rejeili de MarchiProf. Sheila Cristina MocellinLuara Romo PratesReviso Editorial
Eduardo Artigas AntoniacomiPaula BonardiDiagramao
e-Tec/MECProjeto Grfico
e-Tec Brasil
Apresentao e-Tec Brasil
Prezado estudante,
Bem-vindo ao e-Tec Brasil!
Voc faz parte de uma rede nacional pblica de ensino, a Escola Tcnica
Aberta do Brasil, instituda pelo Decreto n 6.301, de 12 de dezembro 2007,
com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino tcnico pblico, na
modalidade a distncia. O programa resultado de uma parceria entre o
Ministrio da Educao, por meio das Secretarias de Educao a Distncia
(SEED) e de Educao Profissional e Tecnolgica (SETEC), as universidades e
escolas tcnicas estaduais e federais.
A educao a distncia no nosso pas, de dimenses continentais e grande
diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao
garantir acesso educao de qualidade, e promover o fortalecimento da
formao de jovens moradores de regies distantes, geograficamente ou
economicamente, dos grandes centros.
O e-Tec Brasil leva os cursos tcnicos a locais distantes das instituies de
ensino e para a periferia das grandes cidades, incentivando os jovens a
concluir o ensino mdio. Os cursos so ofertados pelas instituies pblicas
de ensino e o atendimento ao estudante realizado em escolas-polo
integrantes das redes pblicas municipais e estaduais.
O Ministrio da Educao, as instituies pblicas de ensino tcnico, seus
servidores tcnicos e professores acreditam que uma educao profissional
qualificada integradora do ensino mdio e educao tcnica, capaz
de promover o cidado com capacidades para produzir, mas tambm com
autonomia diante das diferentes dimenses da realidade: cultural, social,
familiar, esportiva, poltica e tica.
Ns acreditamos em voc!
Desejamos sucesso na sua formao profissional!
Ministrio da Educao
Janeiro de 2010
Nosso contato
Indicao de cones
Os cones so elementos grficos utilizados para ampliar as formas de
linguagem e facilitar a organizao e a leitura hipertextual.
Ateno: indica pontos de maior relevncia no texto.
Saiba mais: oferece novas informaes que enriquecem o assunto ou curiosidades e notcias recentes relacionadas ao
tema estudado.
Glossrio: indica a definio de um termo, palavra ou expresso utilizada no texto.
Mdias integradas: sempre que se desejar que os estudantes desenvolvam atividades empregando diferentes mdias: vdeos,
filmes, jornais, ambiente AVEA e outras.
Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes nveis de aprendizagem para que o estudante possa
realiz-las e conferir o seu domnio do tema estudado.
e-Tec Brasil
e-Tec Brasil
Sumrio
Palavra do professor-autor 9
Aula 1 A questo agrria brasileira 111.1 Histrico 11
Aula 2 A questo agrria em pocas recentes 192.1 Movimentos populares 19
Aula 3 As consequncias da questo agrria 253.1 Revoluo Verde 25
Aula 4 Modernizao agrcola e degradao ambiental 31
Aula 5 Desenvolvimento Rural 39
Aula 6 Desenvolvimento sustentvel 45
Aula 7 Agricultura sustentvel 53
Aula 8 Agroecologia como uma cincia aplicada (parte I) 598.1 Conceitos 59
8.2 Agricultura Biodinmica 60
8.3 Agricultura Orgnica 62
Aula 9 A agroecologia como uma cincia aplicada (parte II) 65
9.1 Agricultura Natural 65
9.2 Agricultura Biolgica 65
Aula 10 Manejo de agroecossistemas 69
Aula 11 Agrotxicos: dos impactos imediatos ao modelo de produo 75
Aula 12 Manejo de Agroecossistemas para produo vegetal 83
Aula 13 Manejo de agroecossistemas para produo animal 89
Aula 14 Manejo integrado vegetal/animal 95
Aula 15 Mtodos e tcnicas de conservao do solo Parte I prticas vegetativas 99
15.1 Princpios Bsicos 100
15.2 Prticas Vegetativas 100
Aula 16 Mtodos e tcnicas de conservao do solo Parte II prticas edficas 105
16.1 Prticas Edficas 105
Aula 17 Manejo e conservao da biodiversidade 109
Aula 18 Seis causas bsicas de deteriorao da Biodiversidade 113
18.1 Causas de deteriorao da Biodiversidade 113
18.2 Mecanismos de deteriorao da biodiversidade 114
Aula 19 Agroecologia como enfoque cientfico 119
Aula 20 Certificao da produo orgnica 12520.1 Da Legislao 127
20.2 Cadastro nacional de produtores orgnicos e certificao 127
20.3 Comisso Nacional da Produo Orgnica 128
20.4 Mecanismos de Controle da Qualidade Orgnica 128
20.5 Organismo de Avaliao da Conformidade OAC 129
Referncias 133
Atividades autoinstrutivas 141
Currculo dos professores-autores 163
e-Tec Brasil Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvel
e-Tec Brasil9
Palavra do professor-autor
Caros Estudantes,
com muito carinho que preparamos esse material para, junto com vocs, po-
dermos refletir sobre a real possibilidade de um mundo mais sustentvel, mais
justo e produtivo, procurando respeitar e manter o potencial de cada ambiente.
Com isso, tira-se o foco principal da produo, vista e analisada apenas pelo
quantitativo produzido, principalmente, pelo olhar do lucro. E, passa-se a
pensar uma produo sustentvel, em harmonia com as relaes que inte-
rage todo o meio.
nisso, sob o nosso olhar, que consiste os fundamentos bsicos da agroe-
cologia. Os princpios da conservao, do respeito s partes envolvidas no
processo e, principalmente, em busca de uma produo limpa.
Nesse livro, procuramos construir um histrico dos fatos e traz-los at aos
dias de hoje para que, de forma conjunta, possamos construir o amanh.
No apenas porque dizemos e queremos isso ou aquilo, mas porque esta-
mos compartilhando e diariamente formando um fantstico grupo de pesso-
as que, coletivamente, ajudam a ver um amanh mais saudvel.
Dessa forma, recebam o nosso abrao e o desejo de um maravilhoso mo-
mento de estudo. Com a certeza de que no somos vendedores de iluso.
Somos semeadores de sonhos possveis.
Bons estudos!
Os autores,
Valter Roberto Schaffrath, Frederico Fonseca da Silva e Eliandra Maria Zandon Alberguini.
e-Tec Brasil11
Aula 1 A questo agrria brasileira
Nesta aula voc ser capaz de iniciar uma reflexo histrica para melhor
entendimento do contexto atual e entender o porqu, efetivamente, da
proposta agroecolgica.
1.1 HistricoUm pouco de histria no faz mal a ningum...
O Brasil um pas muito grande! Em alguns livros, inclusive, encontramos a
referncia de que esse nosso pas tem dimenses continentais.
Contudo, voc sabia que um dia (e, historicamente, no faz tanto tempo
assim) todas essas terras de nosso pas continente j pertenceram a apenas
doze donos?
Achou isso curioso? Estranho? Desconhecido? Ento vamos co-nhecer esta histria.
Quando os portugueses chegaram aqui por volta de 1500, as terras brasilei-
ras eram ocupadas pelos povos indgenas espalhados por todas as regies
do Brasil. Entretanto, foi somente a partir de 1530, trinta anos depois de
oficialmente descoberto, que as terras brasileiras foram distribudas para al-
guns donos escolhidos pela Coroa portuguesa.
Esses donos das terras brasileiras eram chamados de donatrios.
Entre 1534 e 1536, Dom Joo III (que nasceu no ano de 1502 e faleceu em
1557), o Rei de Portugal: dividiu as terras brasileiras em quinze faixas que
iam do litoral at a linha do Tratado de Tordesilhas. Essas faixas de terra eram chamadas de capitanias Hereditrias, doou para doze donatrios.
Provavelmente, Permita fazer logo agora no incio dessa Aula 1 a primeira
considerao de um grande mal do nosso meio rural. Cremos que uma das
origens genticas do latifndio no processo de formao da sociedade
brasileira, consista exatamente desse anseio do desejo de se obter o que
uma dzia de privilegiados obteve: posse e mais posse de terras!
DonatrioEra um ttulo concedido pelo Rei de Portugal a quem recebia terras consideradas de domnio portugus.
O Tratado de Tordesilhas, assinado na povoao castelhana de Tordesilhas em 7 de Junho de 1494, foi um tratado celebrado entre o Reino de Portugal
e o recm-formado Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e
por descobrir por ambas as Coroas fora da Europa. Este tratado surgiu na
sequncia da contestao portuguesa s pretenses da Coroa espanhola
resultantes da viagem de Cristvo Colombo, que ano e meio antes chegara
ao chamado Novo Mundo, reclamando-o oficialmente para Isabel a Catlica.
O tratado definia como linha de demarcao o meridiano em 370 lguas a
oeste da ilha de Santo Anto, no arquiplago de Cabo Verde. Essa linha es-
tava situada a meio-caminho, entre estas ilhas (ento portuguesa) e as ilhas
das Carabas descobertas por Colombo, no tratado referidas como Cipan-
go e Antlia. Os territrios a leste deste meridiano pertenceriam a Portugal
e os territrios a oeste, Espanha. O tratado foi ratificado pela Espanha a 2
de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Tordesilhas
As capitanias, foram uma forma de administrao territorial do imprio portugus uma vez que a Coroa, com recursos limitados, delegou a tarefa
de colonizao e explorao de determinadas reas a particulares, atravs
da doao de lotes de terra, sistema utilizado inicialmente com sucesso na
explorao das ilhas atlnticas.
No Brasil, este sistema ficou conhecido como capitanias hereditrias, tendo vigorado, sob diversas formas durante o perodo colonial, do incio do scu-
lo XVI at ao sculo XVIII, quando o sistema de hereditariedade foi extinto
pelo Marqus de Pombal, em 1759 (a hereditariedade foi abolida, mas a
denominao capitania no).
Mais uma vez queremos destacar
que a abolio da hereditarieda-
de foi extinta por decreto, mas na
mente de todos, no chamado in-
consciente, isso ainda persiste em
vrias famlias tradicionais, herda-
dos como se fosse algo divino!
Na Figura 1.1 vocs podero ver o mapa da diviso de terras per-
tencentes inicialmente a Portugal.
Observe ainda que, nesse contex-
to, a regio Sul do Brasil pertence-
ria Espanha e no a Portugal.Figura 1.1: As quinze Capitanias Hereditrias do BrasilFonte: http://1.bp.blogspot.com
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 12
A partir desta histria podemos entender o processo de distribuio de terras no Brasil e compreender aspectos da estrutura agrria atual.
A donatria no garantiu a ocupao das terras brasileiras e ento foi institu-
do o sistema de Sesmarias. Que era uma redistribuio de terras, agora fei-ta pelos prprios donatrios, a fim de ocupar as terras e torn-las produtivas.
O sistema de Sesmarias surgiu em Portugal durante o sculo XIV, com a Lei das Sesmarias de 1375, criada para combater a crise agrcola e econmica
que atingia o pas e a Europa, e que a peste negra agravara. Quando a con-
quista do territrio brasileiro se efetivou a partir de 1530, o Estado portu-
gus decidiu utilizar o sistema sesmarial no alm-mar, com algumas adapta-
es. A partir do momento em que chegam ao Brasil os capites-donatrios,
titulares das capitanias hereditrias, a distribuio de terras a sesmeiros (em
Portugal era o nome dado ao funcionrio real responsvel pela distribuio
de sesmarias, no Brasil, o sesmeiro era o titular da sesmaria) passa a ser uma
prioridade, pois a sesmaria que vai garantir a instalao da plantation au-careira na colnia. A principal funo do sistema de sesmarias estimular
a produo e isso era patente no seu estatuto jurdico. Quando o titular da
propriedade no iniciava a produo dentro dos prazos estabelecidos, seu
direito de posse poderia ser cassado. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sesmaria
Dessa forma, o modo de produo
adotado nas sesmarias brasileiras
foi a plantation da cultura da cana de acar, baseado na mo-de-obra
escrava que durou at a abolio da
escravatura. Nas Figuras 1.2 e 1.3, poderemos ver ilustraes clssicas
de trabalho escravo no sistema de
plantation, principalmente no culti-vo da cana-de-acar.
Figura 1.3: Sistema de plantation Fonte: http://2.bp.blogspot.com
SesmariasFoi um instituto jurdico portugus que normatizava a distribuio de terras destinadas produo: o Estado, recm-formado e sem capacidade para organizar a produo de alimentos, decide delegar particulares essa funo.
Figura 1.2: Trabalho escravoFonte: http://www.reporterbrasil.org.br
e-Tec BrasilAula 1 A questo agrria brasileira 13
Plantation um tipo de sistema agrcola (uma plantao) baseado em uma monocultura de exportao, mediante a utilizao de latifndios e mo-
-de-obra escrava. Foi bastante utilizado na colonizao da Amrica, princi-
palmente no cultivo de gneros tropicais e atualmente comum a pases
subdesenvolvidos. A Plantation apresenta as seguintes caractersticas:
Grandes propriedades; Cultivo de produtos tropicais; Monocultura; Emprego de mo-de-obra barata, inicialmente escrava; Utilizao de recursos tcnicos; Produo voltada para a exportao.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Plantation
Voltaremos a abordar mais sobre plantation em aulas futuras, dentro desse mesmo mdulo.
Conseguiram ver que a origem de toda a concentrao de terras nes-se pas passa pelo entendimento histrico?
Em 1850 foi aprovada a Lei de Terras no Brasil, que substitua o sistema de
doao de terras (Sesmarias) por um sistema de compra.
Esta lei tinha dois objetivos principais: o primeiro era o de manter a estru-tura agrria existente, baseada nas grandes propriedades, os latifndios. J que os donos no antigo sistema continuavam donos no novo sistema.
O segundo objetivo da Lei de Terras era impedir que pessoas de baixo po-der aquisitivo, como os escravos libertos e imigrantes pobres, se tornassem
proprietrios de terras no Brasil, a fim de manter a estrutura de poder polti-
co e econmico dominante.
Cabe ressaltar que, ainda que a libertao dos escravos se desse somente em
1888, seus indcios se faziam presentes em 1850 (com a proibio do trfico
de negros no Brasil em 1850 e o incio do ciclo de imigrao europeia a partir
de 1824) e ento havia uma preocupao das elites brasileiras em impedir o
acesso terra por esses grupos.
Segundo Matoso (1993), o mapa geopoltico do Brasil mudou com a juno
dos reinados de Portugal e Espanha (isso em 1580 e se estendeu at 1640).
Dessa forma, a unio das duas Coroas peninsulares possibilitou a constituio
LatifndioDeriva do latim latifundiu.
Na antiguidade, era o grande domnio privado da aristocracia,
j no sentido moderno, um regime de propriedade agrria, caracterizado pela
concentrao desequilibrada de terras pertencentes a poucos
proprietrios com ou sem aproveitamento fsico destas.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Latifndio
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 14
de um grande imprio Ibrico, que durou sessenta anos e as fronteiras foram
estendidas para o Oeste, como est, praticamente, at os dias de hoje com
exceo do estado do Acre, que foi posteriormente comprado da Bolvia.
Mas isso outra longa histria!
O importante que obedecendo aos ciclos econmicos, da cana-de-acar,
da minerao, da explorao da borracha nativa, do caf, da soja e mais
recentemente da cana-de-acar outra vez, h uma coerncia no modelo de
distribuio de terras e das tecnologias de produo adotadas.
Sempre houve o privilgio do latifndio, da monocultura e da produo para
atender ao mercado, normalmente externo. por isso que, para a histria,
50, 100, 500 anos no nada, uma vez que os conceitos permanecem e so
difceis de serem, efetivamente, mudados.
Assim, baseado nesta lgica, o territrio nacional foi sendo ocupado e des-
bravado, onde a mata nativa, nos seus diferentes biomas (mata atlntica, fl oresta amaznica, caatinga, cerrados, pampas e, alguns outros menores,
mas de importante signifi cado) foi dando lugar ao cultivo de diferentes tipos
de mercadorias de origem agrcola.
Amaznia Cerrado
Pantanal
Campos
Mata Atlntica
Caatinga
Figura 1.4: Biomas BrasileirosFonte: http://3.bp.blogspot.comhttp://www.mochileiro.tur.brhttp://www.ibge.gov.br
O conceito de bioma, palavra que vem do grego e signi ca Bio = vida + Oma = grupo ou massa, foi criado por eclogo norte americano Frederic Clements em 1943 e se caracterizaria pela uniformidade sionmica do clmax vegetal e pelos animais mais relevantes, possuindo uma constituio bitica caracterstica, ou seja, pela uniformidade e predomnio de espcies vegetais locais, bem como dos animais caractersticos da regio. (http://ciencia.hsw.uol.com.br/biomas.htm)
e-Tec BrasilAula 1 A questo agrria brasileira 15
Contudo, interessante notar que as tecnologias de produo adotadas at os
anos 1960, foram tecnologias de menor impacto ambiental do que as atuais.
Os sistemas de produo at ento, eram baseados em uma sequncia alter-
nada de perodos produtivos e perodos de descanso das terras (ou, tecni-
camente mais conhecido como pousio).
A sequncia e o manejo se davam da seguinte forma: a mata era derrubada
e queimada. Aps essa prtica, o terreno era coivarado ou seja, os restos da
queimada eram amontoados e enfileirados no meio da roa e a rea limpa
era plantada. Os sulcos e covas para o plantio eram abertos por arados de
trao animal ou com enxadas, de trao manual.
Aps alguns anos de cultivo, normalmente de 3 a 4, dependendo do tipo
de solo e da cultura adotada, quando a matria orgnica do solo estava es-
gotada, esta rea era abandonada a fim de que a mata fosse regenerada e,
novamente, acumulasse nutrientes para novo ciclo de cultivo. Ento, nova
rea era aberta neste mesmo modelo.
Vocs podem pensar que este modelo era irracional e altamente de-vastador do meio ambiente, no mesmo? E era! Porm, o que mais nos inquieta saber que, em pleno sculo XXI, esse mtodo pr--histrico ainda amplamente praticado em vrios lugares do Brasil.
Porm, era a tecnologia e o conhecimento disponvel na poca. Com isto
no estamos defendendo que no havia soluo. Era o modelo dominante!
Devemos lembrar que na Europa, onde as terras eram escassas, desde mui-
tos anos anteriores, o uso de rotao de culturas, utilizao de restos cultu-
rais, adubao orgnica e integrao da lavoura com a pecuria, as mesmas
reas de terra j eram usadas (e ainda so) por sculos.
Alm disso, conta a favor dos nossos avs o fato de que as modernas tec-
nologias atuais ainda no haviam sido inventadas pelo homem. Ento, muito
mais triste e at lamentvel sabermos que, com o passar dos anos, com o
advento das informaes, em vrios municpios, e vrios e vrios produtores
ainda adotam essa prtica da queimada, agora associada a outras prticas
de maior dano ao meio ambiente.
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 16
ResumoAo invs de tentar analisar a situao agrria hoje, sem conhecer a histria
desse pas, cometeremos alguns erros ou algumas concluses erradas. Ra-
zo pela qual, necessrio se faz buscar as origens dos problemas agrrios
na origem oficial do descobrimento do Brasil, entendo assim, a gentica
do latifndio.
Atividade de aprendizagem1. Relate o que voc entende por grandes propriedades.
2. Quais os principais cultivos tropicais realizados no passado e no presente nesse pas?
3. O que voc sabe sobre monocultura?
e-Tec BrasilAula 1 A questo agrria brasileira 17
e-Tec Brasil19
Aula 2 A questo agrria em pocas recentes
O objetivo da presente aula consiste em trazer tona alguns movimentos
populares (muitas vezes chamados de revoltas) em diversas regies do
Brasil, decorrentes das concentraes de renda e poder de poucas fam-
lias, na forma de mobilizao popular, oriundo das classes menos favore-
cidas. Ou seja, essas revoltas devem ser analisadas como consequncias
e no como causas.
Bom seria se tivssemos tempo para mais leituras e um estudo mais aprofun-
dado das classes rurais e das organizaes e lutas dessas classes, para que
pudssemos entender o processo de origem e formao do Movimento Sem Terra, por exemplo. Certamente voc j ouviu falar desse movimento, ento vamos entender como surgiram alguns dos mais importantes movi-
mentos populares brasileiros.
Na aula anterior falamos sobre a promulgao da chamada Lei da Terra que,
de to conservadora, j criava impedimentos para que escravos que viessem
a ser livres no pudessem ter o seu pedao de terra, trinta anos antes da
oficializao do fim do perodo escravo.
Dessa forma, comeamos a entender os escravos fugitivos que, por deses-
pero, agonia e a total falta de perspectiva de uma vida melhor, arriscavam as
suas vidas rumo a uma organizao social nos quilombos.
2.1 Movimentos popularesInfelizmente conhecemos to pouco sobre as lutas sociais existentes nesse
pas mesmo sobre as que foram relatadas e resgatadas atravs do tempo.
Por exemplo, o que sabemos dos movimentos quebra-quilos? Da revolta dos Mals?, Cabanagem?, Balaiada? Entre tantos outros. E, o que dizer de todos os movimentos que foram aniquilados, sufocados e sem registro
algum, esses abafados e corrodos pelo tempo!
2.1.1 Quebra-quilo
Em 31 de outubro, em Campina Grande, na Paraba, centenas de pessoas
invadiram a feira da cidade protestando contra os novos pesos e medidas.
Aos gritos, a massa quebrava os moldes de quilos dos feirantes, que eram
Figura 2.1: Panfleto da poca sobre o movimento Quebra QuilosFonte: http://3.bp.blogspot.com
2.1.2 Da revolta do MalsTambm conhecida como revolta dos escravos de Al, registrou-se de 25 a
27 de Janeiro de 1835, na cidade de Salvador, capital da ento Provncia da
Bahia, no Brasil. Essa revolta consistiu numa sublevao de carter racial, de
escravos africanos das etnias hau e nag, de religio islmica, organizados
em torno de propostas radicais para libertao dos demais escravos africa-
nos que fossem muulmanos. O termo mal deriva do iorub imale, designando o muulmano. Foi rpida e duramente reprimida pelos poderes
constitudos. Apesar de rapidamente controlada, a Revolta dos Mals serviu
para demonstrar s autoridades e s elites o potencial de contestao e
rebelio que envolvia a manuteno do regime escravocrata, ameaa que
esteve sempre presente durante todo o Perodo Regencial e se estendeu pelo
Governo pessoal de D. Pedro II (Figura 2.2).Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_dos_Mal%C3%AAs
fornecidos (vendidos ou alugados) pela administrao municipal. Os revol-
tosos invadiram os mercados, coletorias e a Cmara Municipal, destruram
os novos padres e queimaram os arquivos contbeis do governo. Em
1874, a obrigatoriedade do uso do quilo foi a gota dgua para a revolta
do quebra-quilos, um movimento que comeou na Paraba, se espalhou
por mais trs estados do Nordeste e s foi contido pelo envio de tropas
federais. O quilo, o metro, o litro, medidas sem a qual muita gente hoje
no saberia como viver, foram implantados custa de muita desavena
e conflitos por todo o mundo. Depois de determinadas por comisses
cientficas no fim do sculo XVIII, as unidades demoraram dcadas para
serem estabelecidas ainda hoje ingleses custam a render-se s unidades
francesas. Aderir a uma unidade alheia significava deixar a prpria cultura
de lado e, quando a mudana se tornou obrigatria, queixas eram qua-
se inevitveis. Foi assim em todo o planeta e pouca gente sabe que no
Brasil tambm (Figura 2.1).
Fonte: http://historia.abril.com.br/comportamento/nordeste-quilo-revolta-quebra-quilos-433572.shtml
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 20
Figura 2.2: Gravura da poca relatando sobre a revolta dos Mals. Fonte: http://www.historiabrasileira.com
2.1.3 Cabanagem
A denominao Cabanagem remete
ao tipo de habitao da populao ribei-
rinha, espcie de cabanas, constitudas
por mestios, escravos libertos e indge-
nas, ocorrida no perodo de 1835-1840.
Foi uma revolta na qual negros, ndios e
mestios se insurgiram contra a elite pol-
tica e tomaram o poder na ento provn-
cia do Gro-Par (Brasil). Entre as causas
da revolta encontram-se a extrema pobreza das populaes ribeirinhas e
a irrelevncia poltica qual a provncia foi relegada aps a independncia
do Brasil. De cunho popular, contou com a participao de elementos das
camadas mdia e alta da regio, entre os quais se destacam os nomes do
padre Joo Batista Gonalves Campos (Figura 2.3).Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabanagem
Figura 2.3: Gravura representando a dominao dos cabanos sobre a cidade Belm, capital do Par.Fonte: http://www.brasilescola.com
2.1.4 Balaiada Foi uma revolta de carter popular, ocorrida entre 1838 e 1841 no interior
da ento Provncia do Maranho, no Brasil, e que aps a tentativa de in-
vaso de So Lus, dispersou-se e estendeu-se para a vizinha provncia do
Piau. Foi feita por pobres da regio, escravos, fugitivos e prisioneiros. O
motivo era a disputa pelo controle do poder local. A definitiva pacificao
s foi conseguida com a anistia concedida pelo imperador aos revoltosos
sobreviventes. As causas foram misria promovida pela crise do algodo
(Figura 2.4).Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Balaiada
e-Tec BrasilAula 2 A questo agrria em pocas recentes 21
Nesse contexto de lutas, organizaes,
movimentaes, revoltas populares e mui-
tas represses por parte das classes domi-
nantes dos que fazem as leis, que o gover-
no brasileiro passa, a partir desse perodo,
a incentivar a imigrao de trabalhadores
civilizados e brancos para dar susten-
tao ao projeto de manuteno dos bens
de produo.
Poderamos at chamar esse processo de
flexibilidade da sociedade agrria conser-
vadora brasileira, como forma de manter o
seu insustentvel status quo.
Assim, a imigrao intensificou-se a partir
de 1818, com a chegada dos primeiros imi-
grantes no portugueses, que vieram para c durante a regncia de D. Joo
VI. Devido ao enorme tamanho do territrio brasileiro e ao desenvolvimento
das plantaes de caf, a imigrao teve uma grande importncia para o
desenvolvimento do pas, no sculo XIX.
Em busca de oportunidades na terra nova, para c vieram os suos, que
chegaram em 1819 e se instalaram no Rio de Janeiro (Nova Friburgo), os
alemes, que vieram logo depois, em 1824, e foram para o Rio Grande do
Sul (Novo Hamburgo, So Leopoldo, Santa Catarina, Blumenau, Joinville e
Brusque), os eslavos, originrios da Ucrnia e Polnia, habitando o Paran,
os turcos e os rabes, que se concentraram na Amaznia, os italianos de
Veneza, Gnova, Calbria, e Lombardia, que em sua maior parte vieram para
So Paulo, os japoneses, entre outros. O maior nmero de imigrantes no
Brasil so os portugueses, que vieram em grande nmero desde o perodo
da Independncia do Brasil.
E, aps a abolio da escravatura (1888), conforme j dito, o governo bra-
sileiro incrementou o incentivo entrada de imigrantes europeus em nosso
territrio. Com a necessidade de mo-de-obra qualificada, para substituir
os escravos, milhares de italianos e alemes chegaram para trabalhar nas
fazendas de caf do interior de So Paulo, nas indstrias e, principalmen-
te, na zona rural do sul do pas. No ano de 1908, comeou a imigrao
Status quoSegundo o Prof. Fernando
Rebouas, a expresso Latinain statu quo res erant
ante bellumsignifica o estado atual das coisas em qualquer
momento por elas vivido. Em sinnimo utiliza-se a
expressostatus quo.Manter o estado atual das coisas, de forma geral em documentos e
textos emprega-se a expresso mantero status quo . Se
voc pretende mudar tal situao, voc pretende mudar
ostatus quo. O termostatus quo originrio do termo
diplomticoin statuo quo ante bellumque , em portugus,
significa no estado em que estava antes da guerra. Se
voc escreve: Segundo o status quo; o mesmo se voc
escrever: segundo a situao ou momento atual.
(http://www.infoescola.com/curiosidades/status-quo/)
Figura 2.4: Capa de lbum em qua-drinhos com tema histrico: Ba-laiada A Guerra do Maranho.Fonte: http://impulsohq.com
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 22
japonesa com a chegada ao Brasil do navio Kasato Maru, trazendo do Japo
165 famlias de imigrantes japoneses. Estes tambm buscavam os empregos
nas fazendas de caf do oeste paulista.
Todos estes povos vieram e se fixaram no territrio brasileiro com os mais va-
riados ramos de negcio, como por exemplo, o ramo cafeeiro, as atividades
artesanais, a policultura, a atividade madeireira, a produo de borracha, a
vinicultura, etc.
Como quem mudou ao longo do tempo no foi o modelo social e sim a
fora de trabalho que sustentou essa classe, que se pode entender a trans-
ferncia dos problemas rurais e agrrios, vindo a culminar, nos dias atuais, na
existncia, formao e organizao dos Sem Terras, lembra? O movimento
que tratamos no incio da aula.
MST Movimento dos trabalhadores Sem Terra. Na pgina inicial desse movimento (http://www.mst.org.br) encontramos que h 29 anos, em Cascavel (PR), centenas de trabalhadores rurais decidiram fun-
dar um movimento social campons, autnomo, que lutasse pela terra,
pela Reforma Agrria e pelas transformaes sociais necessrias para o
nosso pas. Eram posseiros, atingidos por barragens, migrantes, meeiros,
parceiros e pequenos agricultores. Trabalhadores rurais sem terras, que
estavam desprovidos do seu direito de produzir alimentos. Expulsos por
um projeto autoritrio para o campo brasileiro, capitaneado pela ditadu-
ra militar, que ento cerceava direitos e liberdades de toda a sociedade.
Um projeto que anunciava a modernizao do campo quando, na
verdade, estimulava o uso massivo de agrotxicos e a mecanizao, ba-
seados em fartos (e exclusivos ao latifndio) crditos rurais; ao mesmo
tempo em que ampliavam o controle da agricultura nas mos de gran-
des conglomerados agroindustriais.
ResumoPela forma como a questo agrria foi formada, no poderia ser diferente
entender as reaes populares, muitas delas espontneas ou no, das classes
oprimidas. Interessante observar que os movimentos aqui estudados (na cer-
teza de que existiram muitos outros) ocorreram no sculo XIX e que resultou
na proposta do fim da escravatura, ainda no sculo em estudo. Como con-
traponto a esses movimentos, as classes dominantes promovem o incentivo
de importar trabalhadores civilizados, brancos, europeus.
e-Tec BrasilAula 2 A questo agrria em pocas recentes 23
Atividade de aprendizagem1. De quais desses movimentos aqui relacionados voc j tinha ouvido falar?
2. Estudando sobre esses movimentos populares, qual e por que, lhe cha-mou mais ateno? Em seguida, faa um bom relato a respeito.
3. Qual movimento popular voc teve a oportunidade de correlacionar ao municpio ou regio em que voc reside?
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 24
e-Tec Brasil25
Aula 3 As consequncias da questo agrria
A partir desta aula voc poder entender o porqu da revoluo verde,
da indstria (sempre multinacional) do agrotxico, e a formao e conso-
lidao da agricultura familiar. Desta forma, voc poder compreender a
realidade da questo agrria nos dias de hoje.
3.1 Revoluo Verde1. O que revoluo verde?
Breve histrico sobre a chamada revoluo verdeRevoluo verde refere-se inveno e disseminao de novas semen-tes e prticas agrcolas que permitiram um vasto aumento na produo
agrcola em pases menos desenvolvidos durante as dcadas de 1960 e
1970. O modelo se baseia na intensiva utilizao de sementes modifica-
das (particularmente sementes hbridas), insumos industriais (fertilizantes
e agrotxicos), mecanizao e diminuio do custo de manejo. Tambm
creditado revoluo verde o uso extensivo de tecnologia no plantio,
na irrigao e na colheita, assim como no gerenciamento de produo.
De uma forma crtica a Revoluo Verde proporcionou atravs destes
pacotes inovadores a degradao ambiental e cultural dos agriculto-
res tradicionais. Esse ciclo de inovaes iniciou com os avanos tecnol-
gicos do ps-guerra, embora o termo revoluo verde s tenha surgido
na dcada de 1970. Desde essa poca, pesquisadores de pases indus-
trializados prometiam, atravs de um conjunto de tcnicas, aumentar
estrondosamente as produtividades agrcolas e resolver o problema
da fome nos pases em desenvolvimento. Mas, contraditoriamente, alm de no resolver o problema da fome, aumentou a concen-trao fundiria, a dependncia de sementes modificadas e al-terou significativamente a cultura dos pequenos proprietrios.
Quanto ao item fertilidade, ou fertilizao ou nutrio das plantas a serem
cultivadas, pesquisadores nos Estados Unidos descobriram que essas plan-
tas respondiam muito bem quando adubadas com nitrognio qumico, principalmente os cereais como o milho, sorgo, arroz, trigo, etc.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_verde
E, por falar em mudanas... O tempo passou, e o modo como usamos a terra no Brasil, pouco mudou...
certo que ao longo de todo esse processo e etapas outras culturas foram
introduzidas na agricultura brasileira como o caf, o cacau, a seringueira, a
laranja e a soja.
Tambm foram introduzidas, a partir de 1960, novas tecnologias de produ-
o como a mecanizao, os adubos qumicos, os agrotxicos e as semen-tes melhoradas. Essas novas tecnologias por sua vez, trouxeram um ganho
no volume da produo e na produtividade, mas ao lado disso, tambm trouxeram graves danos ambientais e sociais.
At aqui, falamos de grandes propriedades, mas voc j parou para pensar em como surgiram as pequenas propriedades de terras no Brasil? Ento, antes de fazermos esse enorme recorte na histria, va-mos voltar um pouco mais na poca do Brasil colnia.
Nas margens dos grandes engenhos de cana-de-acar, ex-escravos e brancos
pobres cultivavam pequenas parcelas de terra para produzir alimentos apenas
para o sustento do Engenho, que produzia cana-de-acar em larga escala
para Portugal, mas precisava de alimentos para consumo e funcionamento.
Mais tarde, quando a monocultura entrou em decadncia, os engenhos fo-
ram enfraquecendo e permitiram que os grupos sociais que tinham ficado
fora das possibilidades de se tornarem donos de terras, quisessem disputar
a sua posse.
Voc sabia que as pequenas propriedades foram surgindo como expresso das lutas de classes sociais distintas ainda durante o perodo colonial?
Alm disso, nas fronteiras agrcolas sempre houve uma ocupao das terras
por homens livres e despossudos que abriam as terras, ou seja, desma-
tavam e tornavam prpria para o cultivo, quando ento eram obrigados a
desocupar as reas, pois os engenhos e outras exploraes autorizadas pela
coroa acabavam por ocupar estas reas legalmente.
Tambm no Sul do Brasil, por volta de 1824, comearam as primeiras expe-
rincias de formar colnias de imigrantes europeus em minifndios doados
Agrotxicos So o mesmo que venenos,
agroqumicos e pesticidas. Constituindo um conjunto de
compostos qumicos orgnicos sintticos, nocivos ao complexo ambiental, constitudo de seres
humanos, solo, ar e gua.
ProduoDo ponto de vista rural,
principalmente no segmento agrcola, chamamos de
produo tudo o que for colhido, mediante o que anteriormente
foi plantado. Ou seja, nem sempre colhemos tudo o que
foi plantado, pois, em funo de inmeras variveis, como falta
de gua (ou dficit hdrico), seca prolongada, excesso de chuva, granizo, geada, etc., colhemos
parte do que plantamos e esperamos colher. Exemplo: o seu Joo colheu 6.000 kg de milho plantado em 2 ha
(hectare).
ProdutividadeAinda do ponto de vista rural, principalmente no segmento
agrcola, chamamos de produtividade, tudo o que for colhido por uma unidade de rea padro como forma de
padronizao, visando melhoria no rendimento da rea. Exemplo: A produtividade mdia do milho
colhido pelo seu Joo foi de 3.000 kg/ha.
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 26
pelo governo Brasileiro. Estas experincias prosperaram e vrias colnias fo-
ram formadas. O objetivo principal do estmulo imigrao europeia era a
substituio da mo de obra escrava, o que no tardaria a ser necessrio.
Assim nesse contexto que necessitamos fortalecer o entendimento da ra-
zo pela qual procuramos saber pelo menos os principais aspectos relevantes
na distribuio de terras no Brasil e verificar que, por exemplo, a moderniza-
o no campo trouxe mquinas que substituram mo-de-obra, e o desem-
prego no campo aumentou de forma drstica.
Um pedao de terra suficiente para cada unidade de agricultura familiar poderia reduzir a pobreza no campo e, consequentemente, a violncia por
disputas de terra, j que terra haveria se fosse distribuda de maneira iguali-
tria, onde se observa um trabalho coletivo e participativo (Figura 3.1).
Figura 3.1: Trabalho participativo da agricultura familiarFonte: http://www.fetrafrn.org.br
Em geral, a agricultura familiar est relacionada a pequenos lotes de terra em que a prpria famlia labora, com a contratao espordica de um ou
outro trabalhador assalariado em tempos de maior necessidade de mo-
-de-obra, como no caso das colheitas. Alm disso, h maior diversificao
da produo e nfase nos insumos internos produzidos. O INCRA e a FAO consideram trs elementos como caractersticos da agricultura familiar: a) a gesto da unidade produtiva e os investimentos nela realizados so feitos
por indivduos que mantm entre si laos de sangue ou de casamento; b) a maior parte do trabalho igualmente fornecida pelos membros da famlia;
e, c) a propriedade dos meios de produo (embora nem sempre da terra) pertence famlia e em seu interior que se realiza sua transmisso em caso
INCRAInstituto Nacional de Colonizao e reforma Agrria. Que tem como misso: Implementar a poltica de reforma agrria e realizar o ordenamento fundirio nacional, contribuindo para o desenvolvimento rural sustentvel (http://www.incra.gov.br)
FAOOrganizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao (do ingles, Food Agricultural Organization). Que tem como compromisso: trabalha no combate fome e pobreza, promove o desenvolvimento agrcola, a melhoria da nutrio, a busca da segurana alimentar e o acesso de todas as pessoas, em todos os momentos, aos alimentos necessrios para uma vida saudvel (http://www.fao.org.br)
e-Tec BrasilAula 3 As consequncias da questo agrria 27
de falecimento ou de aposentadoria dos responsveis pela unidade produti-
va que as pequenas propriedades foram surgindo como expresso das lutas
de classes sociais distintas ainda durante o perodo colonial.
As reformas de distribuio de terra foram utilizadas por vrios pases em de-
senvolvimento como meio para melhorar as condies de vida do campesi-
nato, alm de aumentar a produtividade no setor agrcola. A reforma agrria
realizada em pases latino-americanos possuem as seguintes caractersticas:
a) Foram realizadas como resposta aos protestos de camponeses sem-terra;
b) Terminaram um sistema de semi-servido que prevalecia no setor agrrio;
c) A elite agropecuria reteve poder poltico suficiente para influenciar o regime no qual os camponeses receberam a terra (DIAZ, 2000).
Apesar de que no Brasil a distribuio de terra por meio da reforma agrria
foi pequena, ela se caracterizou pelos trs fatores descritos acima. A criao
e distribuio de unidades de agricultura familiar so relevantes para reduzir
a desigualdade de terra.
Assim, podemos sintetizar, pelo que at aqui vimos, que a reforma agrria
se faz necessria no Brasil, pois a estrutura fundiria em nosso pas muito
injusta. Para termos uma ideia desta desigualdade, basta observar o seguinte
dado: quase metade das terras brasileiras est nas mos de 1% da populao.
Para corrigir esta distoro, nas ltimas dcadas vem sendo desenvolvido em
nosso pas o sistema de reforma agrria. Embora lento, j tem demonstrado
bons resultados. Os trabalhadores rurais organizaram o MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que pressiona o governo, atravs de
manifestaes e ocupaes, para conseguir acelerar a reforma agrria e ga-
rantir o acesso a terra para milhares de trabalhadores rurais.
Fonte: http://www.suapesquisa.com/geografia/reforma_agraria.htm
ResumoA reao das classes rurais dominantes render-se ao pacote americano da
revoluo verde com a introduo de agrotxicos no solo, contaminando
a gua, a terra e, principalmente, o ser humano. E, como contrapartida,
fruto de uma sequncia histrica, surge a Agricultura Familiar, por uma pro-
duo limpa, constituda de pequenos mdulos rurais e responsveis pela
grande percentagem de comida que sustenta esse Pas.
No dia 30 de novembro comemora-se o Dia da
Reforma Agrria.
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 28
Atividades de aprendizagem1. Pesquise por que o dia da Reforma Agrria comemorado nessa data de
30 de novembro.
2. No municpio em que voc reside, como a diviso das terras rurais, quanto ao tamanho da propriedade?
3. Voc saberia dizer se j houve algum conflito nesta rea rural por ques-tes de terra?
e-Tec BrasilAula 3 As consequncias da questo agrria 29
e-Tec Brasil31
Aula 4 Modernizao agrcola e degradao ambiental
O objetivo desta aula fazer com que voc compreenda que nem sempre
o que vem com o rtulo de pacote tecnolgico benfico ou se traduz
em melhorias na qualidade de vida e do ambiente. At agora aprendemos
um pouco da histria da colonizao das terras brasileiras. Assim, nosso
objetivo nesta aula discutir, como o modelo de desenvolvimento agrcola
adotado no Brasil a partir de 1960, trouxe consequncias sociais e am-
bientais para toda a sociedade brasileira. Consequncias essas que apenas
ajudaram a agravar ainda mais as distores existentes nos campos.
Ol, turma! nesse processo da linha do tempo, agora j estamos tratando de
assuntos referentes aos dias atuais, de forma que os problemas ou situaes
que veremos, fazem parte do nosso dia a dia. Ou seja, somos contempor-
neos do que verificaremos.
O processo que hoje conhecemos como Modernizao Agrcola ou agri-cultura moderna iniciou no Brasil na dcada de 1960 do sculo passado.
Interessante notar que segundo Figueiredo (1996) essa modernizao agr-
cola das instituies de pesquisa e assistncia no Brasil no concorreu para
gerar tecnologias adequadas s condies da pequena propriedade, e sim
para atender e reforar mais as demandas dos setores industriais a montante e a jusante da produo agropecuria, dos grandes e ricos produtores.
Este processo se consistiu na adoo de tecnologias oriundas de outro pro-
cesso internacional conhecido por Revoluo Verde, cuja explicao foi visto no incio da Aula 03.
A sntese qumica do nitrognio na sua forma nitrato j era dominada pela
indstria blica e teve um grande incremento para a produo de uso como
explosivos na Segunda Guerra Mundial entre 1939 a 1945. Com o fim da
Guerra, sem ter para quem vender todo o nitrato produzido, o parque in-
dustrial foi revertido para a produo de fertilizantes nitrogenados para a
nascente agricultura moderna.
Outra caracterstica dessa dita e suposta modernizao agrcola est no uso
indiscriminado de mquinas e implementos agrcolas compactando cada vez
mais os solos e, ao mesmo instante, reduzindo o intervalo de tempo entre a
Montante e jusanteJusante e montante so lugares referencias de um rio pela viso de um observador. A jusante o lado para onde se dirige a corrente de gua e montante a parte onde nasce o rio. Por, isso se diz que a foz de um rio o ponto mais a jusante deste rio, e a nascente o seu ponto mais a montante.
colheita e o plantio da safra seguinte. A Figura 4.1 exemplifica muito bem essa ideia de ter uma bateria de colhedoras de um determinado cereal e, ime-
diatamente, logo atrs, sincronizado para o mesmo momento, um batalho
de semeadoras ocupando o solo com a aplicao de sementes tratadas com
defensivos qumicos juntamente com dosagens de fertilizantes qumicos.
muita mquina e muita qumica para um s momento!
No entanto, quando as variedades en-
to cultivadas passaram, como foi dito,
a serem tambm quimicamente aduba-
das. Alm de produzir mais, elas cresciam
demasiadamente e caiam com o menor
vento que as atingisse, causando gran-
des prejuzos.
A soluo para o problema foi busca e o desenvolvimento, atravs do
melhoramento vegetal de variedades chamadas de variedades ans (Fi-gura 4.2). Estas novas variedades eram de porte muito menor que as varie-dades cultivadas at ento e suportavam altas doses de adubos qumicos,
principalmente de nitrognio e no tombavam com o vento.
Melhoramento vegetal so um conjunto de tcnicas de cruzamento de plantas para se obter algum efeito desejado, como a resistncia a determi-
nada doena ou praga. Porm, normalmente, tem sido usado para aumentar
a produtividade adaptando as plantas a uma condio artificial, ou seja, um
solo ideal obtido atravs do preparo e adubao e irrigao e, nestas con-
dies, a nova variedade tem condies de ter altas produes. Uma dessas
tecnologias reduzir o tamanho vegetativo das plantas (Figura 4.2). Con-tudo, a verso mais recente deste melhoramento (mas ser que so mesmo
ou podem ser chamadas de melhoramento?) so os Organismos Laborato-
rialmente Modificados ou os transgnicos. Logo veremos onde estas tecno-
logias levaram a agricultura brasileira.
Figura 4.2: Variedades ans de arroz.Fonte: http://www.shigen.nig.ac.jp
Figura 4.1: Colhendo e plantando ao mesmo tempo.Fonte: http://s0.flogao.com.br
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 32
Para isso, deu-se incio a introduo de mais um pacote tecnolgico, chama-
do de biotecnologia, como forma de se dirigir e determinar mais rapida-mente os efeitos desejados (Figura 4.3).
Biotecnologia apresenta vrias definies de acordo com o olhar a ela lan-ado, mas de uma forma bem simples, um conjunto multidisciplinar de
conhecimentos que visa o desenvolvimento de mtodos, tcnicas e meios
associados a seres vivos, macro e microscpicos. Atualmente, os meios de
comunicao tm divulgado inmeras descobertas atribudas ao uso de tec-
nologias avanadas associadas biotecnologia. Alimentos transgnicos, mo-
dificados geneticamente, clonagem e tantas outras descobertas associadas
ao tema predispe a cada dia a necessidade de se saber pelo menos do que
se trata essa tal biotecnologia. Fonte: http://www.brasilescola.com/biologia/biotecnologia.htm
Cultura de tecido indiferenciado proveniente da raiz
Clulas se separam e crescem em um lquido
prprio para cultura
colocada uma bactria com plasmdeo modificado no frasco
com as clulas
O herbicida colocado a fim de selecionar clulas
que incorporaram o DNA diferente
Rediferenciao celular
Embrio da planta comea a crescer
Planta Adulta(Resistncia
Herbicida)
Planta Adulta(Sustentvel Herbicida)
Figura 4.3. Conceito de biotecnologiaFonte: http://ruisoares65.pbworks.com
O Brasil, nos anos 1960 investiu muitos recursos para fazer com que as mo-
dernas tecnologias para a agricultura fossem adotadas pelos agricultores.
Esses recursos vieram de acordos bilaterais principalmente entre o Brasil e
os Estados Unidos, que tinham amplo interesse que os produtos produzidos
pelas suas indstrias tivessem mercado nos pases em desenvolvimento.
Assim, lamentavelmente, adotamos pacotes tecnolgicos para a agri-cultura que continham sementes e animais melhorados, adubos qumicos,
agrotxicos, medicamentos, mquinas agrcolas pesadas, irrigao e que exi-
giam altos investimentos dos agricultores.
e-Tec BrasilAula 4 Modernizao agrcola e degradao ambiental 33
Estes investimentos eram financiados pelo governo com juros subsidiados,
onde parte da nossa histrica dvida externa somente era alimentada por
essa forma de subsidio para insero desse pacote de tecnologia, que garan-
tia primeiramente o benefcio dos americanos e multinacionais.
Leitura Complementar
Equvocos de Pacotes Tecnolgicos (O Exemplo de Baturit): Diante da supremacia do conhecimento cientfico, o ditado ouvir a voz da experi-
ncia destoava completamente da abordagem da modernizao agrcola,
introduzida nos anos 1960, com a chamada Revoluo Verde. Os avanos
tecnolgicos davam suporte para a adoo de pacotes com enfoque pro-
dutivista, que passavam por cima do conhecimento tradicional, experincia
e capacidade de organizao comunitria da populao rural. No se pode
negar que os investimentos em tecnologia realizados por meio de juros sub-
sidiados, trouxeram avanos inquestionveis em termos de produtividade
agrcola. Entretanto, o no ouvir a voz da experincia com a adoo de pa-
cotes-padro para condies culturais e agroecolgicas distintas, em alguns
casos, acabou por resultar em desastres ecolgicos, empobrecimento de
regies e perda de identidade cultural de comunidades rurais. Um exemplo
desses equvocos pode ser buscado na Serra de Baturit, uma ilha de Mata
Atlntica no macio central do Cear, uma tradicional regio produtora de
caf no sculo XIX, que chegou a deter 2% da produo brasileira. H re-
latos, da poca, de que o caf de Baturit era uma dos mais apreciados nas
cafeterias francesas (ROMERO & ROMERO, 1997).
Como resultado da adoo destes pacotes tecnolgicos, tivemos aumentos
na produo e na produtividade, ou seja, produzimos mais em volume total,
que includa a abertura de novas reas para o plantio e a produo animal e
tambm por rea plantada.
Ou seja, quanto mais avanvamos em reas protegidas, sob o nome de no-
vas fronteiras agrcolas, mais acabvamos com as nossas reservas ambien-tais. O fato de se desmatar uma terra agricultvel sob essa metodologia pas-
sou a ser crnico, trazendo como consequncias reduo de seu potencial.
A intimidade entre fronteira agrcola e desmatamento: A derrubada da floresta e a ampliao da fronteira possuem quatro fatores de estmulo
econmico principais: a madeira, que se extrai e se vende a preos cada vez mais atraentes; a pecuria, que normalmente entra em seguida derrubada para a ocupao da rea; a lavoura, que muitas vezes substitui pecuria;
Leia mais sobre esse exemplo que pode muito bem ser extrapolado
para vrias outras situaes no endereo eletrnico:
http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=261
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 34
e a terra, porque ningum bobo e ela continua sendo uma importante forma de reserva de valor, antes mesmo de ser capital.
Fonte: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/setembro2008/ju407pdf/Pag02.pdf.
Ao lado disto, tivemos graves problemas sociais e ambientais. Houve grandes migraes de pessoas do campo para as cidades, sem que as cida-des tivessem capacidade para absorv-las e garantir condies dignas de vida.
Para que se tenham ideia desse fluxo migratrio, nos anos 1960, 80% da
populao brasileira viviam no campo, hoje, 50 anos depois, so apenas 20%.
A mecanizao substituiu o trabalho humano e os trabalhadores foram dis-
pensados. Alm disso, a concentrao de terras aumentou muito com o processo de modernizao e tem se mantido praticamente inalterada nos lti-
mos trinta anos, apesar de alguns esforos na realizao da Reforma Agrria.
Em relao ao meio ambiente, a adoo das prticas agrcolas modernas cau-
sou e ainda causa srios problemas ambientais, como o desmatamento de
reas antes protegidas, o assoreamento de rios e mananciais de gua, a eu-trofizao de cursos de gua, a contaminao do solo, da gua e do ar com agrotxicos e adubos qumicos, alm de usar cerca de 70% da gua potvel.
Alm disso, os lenis freticos, como os do aqufero Guarani e outros mais superficiais esto sendo contaminados e sem a menor perspectiva de despo-
luio. Esses problemas contribuem com o aumento do efeito estufa (vide Figura 4.5), pela liberao de gs carbnico (CO2) pelas queimadas e pelo uso inadequado do solo que perde matria orgnica, onde o CO2 est retido; di-
minuem a biodiversidade, destruindo espcies de plantas e animais, tornando
o planeta mais vulnervel aos problemas ambientais como secas, enchentes e tempestades que so cada vez mais frequentes e intensas (Figuras 4.6).
Figura 4.4: Localizao do Aqufero GuaraniFonte: http://api.ning.com/
Conforme indicam os dados oficiais: O Censo Agropecurio 2006 revelou que a concentrao na distribuio de terras permaneceu praticamente inalterada nos ltimos vinte anos, embora tenha diminudo em 2.360 municpios. Nos Censos Agropecurios de 1985, 1995 e 2006, os estabelecimentos com mais de 1.000 hectares ocupavam 43% da rea total de estabelecimentos agropecurios no pas, enquanto aqueles com menos de 10 hectares ocupavam, apenas, 2,7% da rea total. Focalizando-se o nmero total de estabelecimentos, cerca de 47% tinham menos de 10 hectares, enquanto aqueles com mais de 1.000 hectares representavam em torno de 1% do total, nos censos analisados. Fonte: http://ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1464&id_pagina=1
EutrofizaoProcesso que consiste na gradativa concentrao de matria orgnica acumulada nos ambientes aquticos.
e-Tec BrasilAula 4 Modernizao agrcola e degradao ambiental 35
Efeito Estufa
Figura 4.5: Efeito estufaFonte: http://intrometendo.com
Voc sabia?
Aqufero Guarani O Aqufero Guarani o maior manancial de gua doce subterrnea transfronteirio do mundo. Est localizado na regio
centro-leste da Amrica do Sul, entre 12 e 35 de latitude sul e entre 47
e 65 de longitude oeste e ocupa uma rea de 1,2 milhes de Km,es-
tendendo-se pelo Brasil (840.000l Km), Paraguai (58.500 Km), Uruguai
(58.500 Km) e Argentina (255.000 Km).
Sua maior ocorrncia se d em territrio brasileiro (2/3 da rea total),
abrangendo os Estados de Gois, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, So
Paulo, Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O efeito estufa um processo que ocorre quando uma parte da radiao solar refletida pela superfcie terrestre absorvida por determinados gases
presentes na atmosfera. Como consequncia disso, o calor fica retido, no
sendo libertado para o espao. O efeito estufa dentro de uma determina-da faixa de vital importncia, pois sem ele, a vida como conhecemos no
poderia existir. Ele tambm serve para manter o planeta aquecido, e assim,
garantir a manuteno da vida. Mas, o que se pode tornar catastrfico a
ocorrncia de um agravamento do efeito estufa que desestabilize o equilbrio
energtico no planeta e origine um fenmeno conhecido como aquecimento
global. Os gases de estufa (dixido de carbono (CO2), metano (CH4), xido
nitroso (N2O), CFCs (CFxClx) absorvem alguma radiao infravermelha emitida
pela superfcie da Terra e radiam por sua vez a energia absorvida de volta para
a superfcie. Como resultado, a superfcie recebe quase o dobro de energia da
atmosfera do que a que recebe do Sol e a superfcie fica cerca de 30C mais
quente do que estaria sem a presena dos gases de estufa. Dentre esses
gases, um dos piores o metano, cerca de 20 vezes mais potente que o di-
xido de carbono, a atividade pecuria representa 16% da poluio mundial
no que se refere produo desse gs.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_estufa
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 36
Figuras 4.6: Degradao ambiental.Fonte: http://mtc-m12.sid.inpe.br
Um rio ou lago fica assoreado, como aparece na Figura 4.6, pelo arraste de partculas de solo que vem das lavouras preparadas para o plantio com
arao e gradagem. Este solo carrega tambm o adubo qumico que est presente e este adubo, solvel em gua, faz com que a gua fique muito
frtil e permita o crescimento desordenado de algas.
Essas algas, no seu crescimento e decomposio gastam muito oxignio,
que est fracamente dissolvido na gua, e este elemento vital acaba fazendo
falta para outros organismos aquticos, principalmente aos peixes.
assim que ocorre um desastre ambiental! Infelizmente, existem v-rias outras formas de se causar desastres ambientais.
ResumoA gerao atual se deparou com pacotes tecnolgicos importados, sob o
rtulo de que trariam benefcios e avanos ao campo. O que se verifica,
no entanto, so solos compactados (por uso de mquinas e implementos
agrcolas cada vez mais pesados), solos e mananciais contaminados; e que o
uso dessas ferramentas terminam por degradar o solo e trazer seres vegetais
desconhecidos da natureza, com o uso da biotecnologia ou transgenia. Por
fim, como consequncia de toda essa poluio tecnolgica, a natureza res-
ponde, por exemplo, com o efeito estufa.
Atividade de aprendizagem 1. Qual a diferena entre produo e produtividade agrcola?
GradagemMtodo que consiste em aplainar o solo por meio de grades puxadas por trator; tambm pode ser utilizada no combate s plantas daninhas.
e-Tec BrasilAula 4 Modernizao agrcola e degradao ambiental 37
2. Na sua cidade existe revenda de mquinas agrcolas? Se sim, foi instalada em que ano? Se no, pesquise sobre a revenda mais prxima.
3. Com base no que voc estudou at aqui, que relao existe entre revo-luo verde e uso indiscriminado de agrotxicos?
Anotaes
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 38
e-Tec Brasil39
Aula 5 Desenvolvimento Rural
Nesta aula voc ir aprofundar seus conhecimentos sobre os conceitos
referentes ao desenvolvimento rural sob a tica Agroecolgica, fazendo
um contraponto com o modelo de produo das reas em latifndio, vol-
tadas para o comrcio externo, tratadas e comercializadas em bolsas de
mercadorias, mais conhecidas como commodity.
Ol, turma! Uma vez discutidos os assuntos atuais, com os seus respectivos
problemas ambientais, iremos discutir nessa quinta aula sobre desenvolvi-
mento rural.
Voc sabe o significado do termo rural? Ser que ainda possvel, nos dias atuais, fazer a diferenciao entre os espaos rurais e urbanos?
Vamos decifrar alguns conceitos e ver que, como dissemos na aula anterior,
embora hoje cerca de 80% da populao brasileira viva em ambientes urba-
nos e, muitos moradores de reas rurais exeram atividades no mundo urba-
no, h sim um mundo rural.
Este ambiente rural se caracteriza principalmente pelo local onde estas pessoas
vivem e pelo tipo de trabalho re-
alizado. Portanto, quem vive fora
dos limites das cidades e realiza
trabalhos tpicos da agropecuria
vive no mundo rural.
As Figuras 5.1, 5.2 e 5.3 retra-tam, respectivamente, a colheita
manual, a colheita mecanizada e
a industrializao com todo o seu
processo atrelado a poluio. Figura 5.1: As respigadeiras de Jean Millet.Fonte:http://becreesct.blogspot.com
Este mundo rural secular ope-se claramente ao mundo urbano, marcado por
funes, atividades, grupos sociais e paisagens no s distintos, mas, tambm,
em grande medida construdos contra o mundo rural. Observe que os nossos
artistas nacionais, os personagens de diferente gerao, tais como o Jeca Tatu
ou Chico Bento, normalmente aparecem sujos e falando o dialeto caipira.
Esta oposio tende a ser encarada como natural e, por isso, recorren-
temente associada a relaes de natureza simbitica: campo e cidade so
complementares e mantm um relacionamento estvel num contexto (apa-
rentemente) marcado pelo equilbrio e pela harmonia de conjunto.
A vida na zona rural requer, por parte do Poder Pblico, uma srie de aes,
pois existe a necessidade de se pensar um modelo de desenvolvimento que
inclua esta populao rural para que ela tenha acesso s conquistas e direitos
sociais, como os servios de educao, sade, cultura e lazer etc., no campo.
Ou seja, preciso levar os servios at a populao de forma apropriada.
claro que no ambiente rural no existe apenas este modo de vida que se
harmoniza com a natureza. Tanto grandes como mdios e pequenos produ-
tores, ao adotarem o modelo moderno de desenvolvimento promovem profundas mudanas.
Historicamente, o mundo rural destaca-se por se organizar em torno de uma
tetralogia de aspectos bem conhecida:
uma funo principal: a produo de alimentos;
uma atividade econmica domi-nante: a agricultura;
um grupo social de referncia: a famlia camponesa, com modos
de vida, valores e comportamentos
prprios;
um tipo de paisagem que reflete a conquista de equilbrios entre as
caractersticas naturais e o tipo de
atividades humanas desenvolvidas.
Fonte: Ferro (2000).
Figura 5.2: Colheita mecanizada.Fonte: http://pt.dreamstime.com
Figura 5.3: Industrializao e polui-o ambiental Fonte: http://meioambiente.culturamix.com
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 40
Ferro (2000) levanta a suspeita de que este modelo moderno de desen-
volvimento hoje insustentvel, tanto por razes internas como por fatores
mais vastos, de ordem nacional e internacional.
Vocs lembram que ns j discutimos as consequncias do modelo de desenvolvimento adotado no Brasil e conhecido como Moderni-zao Agrcola?
No Brasil, principalmente a partir da Revoluo Verde, adotou-se uma matriz tecnolgica de produo no campo, que privilegia a produo em grandes
propriedades e em monocultura para a exportao de commodities.
Esta forma de produzir expulsa grande parte da populao do campo, gera di-
visas para os grandes produtores e para o pas de forma bem menos eficiente
do que se fossem a elas agregado valores, atravs da sua transformao.
Ento podemos dizer que o modelo de desenvolvimento rural adotado no Brasil nos dias de hoje tambm insustentvel do ponto de vista ambien-tal, econmico e social.
Porm, antes de se conceituar que tipo de desenvolvimento rural se quer,
a partir da agroecologia, importante refazer rapidamente os caminhos
do termo desenvolvimento rural at a atualidade. O termo Desenvolvi-mento Rural foi cunhado (criado) nos anos 1970 como estratgia para contrabalanar os efeitos negativos sobre os pases do terceiro mundo,
do modelo de desenvolvimento comunitrio amplamente aplicado pe-
las agncias internacionais de desenvolvimento, durante as dcadas de
1950 e 1960 usado como referncia aos produtos de base em estado bruto (matrias-primas) ou com pequeno grau de industrializao, de
qualidade quase uniforme, produzidos em grandes quantidades e por
diferentes produtores.
Do ponto de vista ambiental, este modelo de desenvolvimento um modelo que se baseia no uso indefinido dos recursos naturais como se eles fossem infinitos.
Toda a tecnologia de produo animal e vegetal baseada em energia fssil,
vinda do petrleo, que finita, ou seja, no renovvel.
Assim, para se produzir adubos qumicos, agrotxicos, movimentar mqui-
nas para o preparo do solo, plantio, tratos culturais, irrigao, colheita e
transporte e transformao da produo usado energia fssil.
Commodity (plural: com-modities) usada como referncia aos produtos de base em estado bruto (matrias-primas) ou com pequeno grau de industrializao, de qualidade quase uniforme, produzidos em grandes quantidades e por diferentes produtores. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Commodity).
e-Tec BrasilAula 5 Desenvolvimento Rural 41
Essa energia alm de ser finita altamente poluente, pois emite CO2 que
um dos gases causadores do efeito estufa. Alm disso, o balano energtico,
que mede quantas calorias gasto para cada caloria produzida, indica um
grande balano negativo, ou seja, normalmente so gastos de cinco a oito
calorias para cada caloria produzida nos alimentos.
preciso lembrar que o Brasil uma dos maiores emissores de CO2 do mun-
do graas s queimadas da floresta amaznica (Figuras 5.4 e 5.5) e dos cerrados, para a produo de pastagem para a bovinocultura, para o avano
da soja e da cana-de-acar, etc.
Figura 5.4: Queimadas na Amaznia.Fonte: http://www.infoescola.com
Figura 5.5: Um rio de madeira re-tirada da Amaznia.Fonte: http://crisdestri.zip.net/
No caso do Brasil, a principal fonte de emisso de CO2 a destruio
da vegetao natural, com destaque para o desmatamento na Amaz-
nia (Figura 5.5, acima) e as queimadas no cerrado (...), diz o estudo.
Essa atividade responde por mais de 75% das emisses brasileiras
de CO2, sendo a responsvel por colocar o Brasil entre os dez maio-
res emissor de gases de efeito estufa para a atmosfera. (MOREIRA E
WERNECK, 2010)
O estudo mostra que o problema antigo: em 1990, das 978.583.000 to-
neladas de CO2 emitidas, 77,48% (758.281.000) foram causadas pelo item
Mudana no uso da terra e florestas (derrubada e queimada de matas). A
situao no melhorou at hoje, avaliam os tcnicos do IBGE.
Do ponto de vista econmico, esse modelo altamente caro e exigente em
recursos financeiros.
Embora no Brasil no tenhamos muitos subsdios agricultura, ou seja, no
so gastos recursos pblicos para ajudar a cobrir os custos de produo
IBGEInstituto Brasileiro de Geografia
e Estatstica.
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 42
dos produtores, uma prtica muito comum nos Estados Unidos e na
Europa. Porm, por aqui os custos de produo que envolve todo o pacote
tecnolgico de adubos, agrotxicos e sementes que controlado pelas
indstrias cada vez mais caro, fazendo com que o lucro dos produtores
fique cada vez menor.
Para manter os ganhos os produtores compram mais terras e com isso au-
menta a concentrao das terras nas mos de cada vez menos pessoas.
Vocs se lembram das aulas anteriores, que no Brasil colnia todas as nossas terras pertenciam a apenas doze pessoas? Mantendo as devidas propores, ser que estamos caminhando para l outra vez?
Do ponto de vista social, este modelo excludente, pois as tecnologias e a
lgica de desenvolvimento dispensam as pessoas, pois as atividades so cada
vez mais mecanizadas e concentradoras de renda.
Assim, desde a dcada de 1960, houve uma grande inverso na ocupao
das pessoas. Cremos que convm mais uma vez repetir que naquela poca,
80% da populao estava no campo, hoje apenas 20% se ocupa de ativida-
des rurais e vivem nestes espaos.
Alm disso, a presso sobre as pequenas propriedades muito grande. H
uma intensa procura por terras por grandes proprietrios e empresas como
as produtoras de cana-de-acar, madeira, laranja, soja, etc. (todas essas
culturas voltadas para a exportao).
Os pequenos produtores, que no conseguem se inserir na lgica moderna
de produo, acabam vendendo ou perdendo suas propriedades para o pa-
gamento de dvidas e vo para as cidades viver de subempregos, pois no
tm qualificao para outro trabalho, ou resta-lhes a alternativa da organi-
zao social de luta para a Reforma Agrria.
ResumoVerificamos que o desenvolvimento rural no necessariamente passa pela
aquisio de pacotes tecnolgicos, muitos deles importados. Desenvol-
vimento rural est muito mais associado segurana alimentar do que
dedicao e produo de culturas que so comercializadas internacio-
nalmente em Bolsas de Mercadorias, como as commodities, estudadas nessa aula.
Atividadesdeaprendizagem
e-Tec BrasilAula 5 Desenvolvimento Rural 43
1. Relacione as principais commodities cultivadas no seu municpio e regio.
2. J que voc sabe diferenciar o rural de urbano, o que voc definiria como o novo rural? Cite exemplos.
3. Por que a proposta de desenvolvimento rural atual , ambientalmente, considerada insustentvel?
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 44
e-Tec Brasil45
Aula 6 Desenvolvimento sustentvel
A partir desta aula voc ser capaz de entender o conceito de desenvolvimen-
to rural e sustentabilidade como contraponto chamada revoluo verde.
O conceito de Desenvolvimento Sustentvel surgiu nos anos 1970 e foi refor-ado nos anos 1980 e 1990. Ocorre que mesmo aps 40 anos de seu surgi-mento, percebemos a necessidade de colocarmos este conceito em prtica.
A definio mais aceita para desenvolvimento sustentvel, tema chave da aula de hoje, o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da gerao atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras geraes. o desenvolvimento que no esgota os recursos para o futuro.
Fonte: www.wwf.org.br
Essa definio surgiu na Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento (1987), criada pelas Naes Unidas para discutir e propor meios de harmo-
nizar dois objetivos: o desenvolvimento econmico e a conservao ambiental.
A partir da conferncia Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
de Estocolmo, em 1972, as preocupaes com os limites do crescimento se
tornaram presentes nos discursos oficiais. Assim, ao modelo de desenvolvi-
mento no qual os conhecimentos das populaes locais para a gesto do
seu meio so valorizados, em oposio aos sistemas padronizados at ento
adotados, foi dado o nome de ecodesenvolvimento (SACHS, 1996)
Voc Sabia?
O conceito de ecodesenvolvimento, lanado por Maurice Strong em junho de 1973 consistia na definio de um estilo de desenvolvimento adaptado s
reas rurais do Terceiro Mundo, baseado na utilizao criteriosa dos recursos
locais, sem comprometer o esgotamento da natureza, pois nestes locais ainda
havia a possibilidade de tais sociedades no se engajarem na iluso do cres-cimento mimtico. Com a Declarao de Cocoyoc, no Mxico, em 1974, tambm as cidades do Terceiro Mundo passam a ser consideradas no ecode-
senvolvimento. Finalmente, na dcada de 1980, o economista Ignacy Sachs
se apropria do termo e o desenvolve conceitualmente, criando um quadro de
estratgias ao ecodesenvolvimento. Parte da premissa deste modelo se basear
em trs pilares: eficincia econmica, justia social e prudncia ecolgica.
Fonte: http://material.nerea-investiga.org/publicacoes/user_35/FICH_ES_32.pdf
Crescimento mimtico um dos sinais que distinguem o desenvolvimento do mal desenvolvimento.
A necessidade de ateno ao meio ambiente era, naquela momento, uma
novidade no cenrio mundial, pois at ento no havia a preocupao com
a poluio crescente, principalmente a partir de 1850.
No auge da Revoluo Industrial, a queima de combustveis fsseis coloca de volta ao meio ambiente, grandes quantidades de gases, principalmente
gs carbnico. Recentemente h um consenso entre os cientistas de que a
ao humana a responsvel pelo aquecimento global causado principalmen-
te pelas emisses crescentes deste gs.
Para ler e refletir...
A Revoluo Industrial consistiu em um conjunto de mudanas tecnol-gicas com profundo impacto no processo produtivo em nvel econmico
e social. Iniciada na Inglaterra em meados do sculo XVIII expandiu-se
pelo mundo a partir do sculo XIX. Ao longo do processo (que de acordo
com alguns autores se registra at aos nossos dias), a era da agricultura
foi superada, a mquina foi superando o trabalho humano, uma nova
relao entre capital e trabalho se imps, novas relaes entre naes se
estabeleceram e surgiu o fenmeno da cultura de massa, entre outros
eventos. Essa transformao foi possvel devido a uma combinao de
fatores, como o liberalismo econmico, a acumulao de capital e uma
srie de invenes, tais como o motor a vapor. O capitalismo tornou-se o
sistema econmico vigente.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial
Este conceito foi aos poucos modificado e atualmente o termo desenvolvi-
mento sustentvel passou a ser utilizado em substituio expresso ecode-senvolvimento e constituiu a base para a discusso e reorientao das pol-ticas de desenvolvimento e sua relao direta com as questes ambientais.
Assim, desenvolvimento sustentvel passou a ser aquele desenvolvimento
que atende s necessidades das geraes atuais sem comprometer as pos-
sibilidades das geraes futuras atenderem s suas prprias necessidades
(NOSSO FUTURO COMUM, 1991).
Este conceito no coloca limites ao crescimento e nem tampouco define
quais as necessidades concretas das geraes atuais e futuras, sofre um es-
vaziamento de significado e assumido nos discursos oficiais sem o menor
critrio de seriedade.
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 46
Assim sendo, o conceito de sustentabilidade passou a ser usado de forma
indiscriminada, inclusive simplesmente como sinnimo de lucro ou desen-
volvimento sustentado sendo vivel economicamente.
Mas o que sustentabilidade?
Sustentabilidade uma forma de pensamento sistmico, relacionado com
a continuidade dos aspectos econmicos, sociais, culturais e ambientais
da sociedade humana. Prope-se a ser um meio de confi gurar a civilizao
e atividade humanas, de tal forma que a sociedade, os seus membros e
as suas economias possam preencher as suas necessidades e expressar o
seu maior potencial no presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiver-
sidade e os ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a atingir
pr-efi cincia na manuteno indefi nida desses ideais.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sustentabilidade
Um resgate, acrescido de outras dimenses realizado por Caporal e Cos-
tabeber (2002), que fazem uma abordagem mais ampla do conceito de sus-
tentabilidade ao qual vamos nos ater na sequncia.
Para estes autores, a sustentabilidade necessariamente deve atender a ml-
tiplas dimenses. A concepo de uma pirmide de sustentabilidade, como
forma de anlise, d um novo signifi cado ao termo (Figura 6.1).
O conceito original levava em conta um trip que se limitava ao economica-
mente vivel, socialmente justo e ambientalmente correto. A este trip fo-
ram adicionadas mais trs dimenses: o culturalmente aceito, politicamente
atuante e tico.
Esta pirmide, com seis dimenses de anlise, permite fazer diagnsticos
muito ricos de sustentabilidade, pois valoriza as vrias dimenses da vida.
Multidimenses da sustentabilidade
tica
Cultural Poltica
Ecolgica SocialEconmica
Figura 6.1: As multidimenses da Sustentabilidade.Fonte: www.agroecologia.pro.br
e-Tec BrasilAula 6 Desenvolvimento sustentvel 47
Qualquer atividade que se pretenda sustentvel precisa mostrar a sua viabi-
lidade econmica, pois existe a necessidade concreta de manuteno das necessidades bsicas da famlia, para o seu autossustento e tambm para ter
acesso aos bens e servios bsicos que j foram conquistados pela humani-
dade, como atendimento sade de qualidade, satisfao das necessidades
de alimentao com qualidade e quantidade (de base ecolgica), vesturio,
transporte - preferencialmente coletivo, saneamento bsico, acesso s mani-
festaes culturais, ateno s necessidades emocionais, enfim a garantia de
um estilo de vida simples, porm integral, com as conquistas que a humani-
dade j realizou e que devem de forma equitativa ser alcanadas por todos.
A ateno s questes sociais outra dimenso que deve ser observada rigorosamente, e neste sentido necessrio atender s necessidades con-cretas das pessoas envolvidas diretamente nas atividades produtivas como tambm aquelas pessoas distantes, mas que de forma direta ou indireta so
afetadas pelas nossas atividades, como os trabalhadores urbanos, consumi-
dores, garantindo assim, a solidariedade de classe social.
Assim sendo, a garantia das satisfaes acima descritas para todos os envol-
vidos, e finalmente para toda a humanidade, devem ser alvo da nossa aten-
o e objetivos concretos colocados em nossas aes. Alm disso, questes
como as relaes de gnero, etnia, religiosidade, etc., devem ser trabalhadas
de forma que todos possam satisfazer as suas necessidades concretas.
A ateno ao meio ambiente, que gerou toda a demanda inicial levantada pelo ecodesenvolvimento, deve ser considerada, principalmente neste mo-mento em que os meios de comunicao dominantes entraram em cena em
defesa desta causa, principalmente para vender solues mirabolantes e
carssimas e que no necessitam de mudanas no modo de vida consumista.
Os atuais modelos de desenvolvimento passam a incorporar pequenas mu-
danas nos seus processos produtivos e se intitular sustentveis, porm sem
incorporar mudanas necessrias transformao dos modelos de produo.
Estamos vivenciando uma apropriao dos conceitos de sustentabilidade
pelo sistema dominante, numa forma clara de manuteno do status quo.
Assim sendo, o conhecimento das verdadeiras necessidades de cuidado e
proteo ao meio ambiente so necessrios, tanto no processo produtivo da
agricultura familiar, como nos demais.
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 48
Neste ponto os avanos construdos pela Cincia Agroecolgica tm uma
importante contribuio a dar, pois adotou as mltiplas dimenses aqui
abordadas, para construir o seu arcabouo de conhecimento terico/prtico,
e que tem permitido avanos.
A dimenso cultural envolve uma srie de valores acumulados pelas suces-
sivas geraes e que ainda tem se mantido atuante em alguns locais, apesar
da constante invaso cultural da classe dominante. Estes valores reais, des-
providos de preconceitos e mistificaes folclricas devem ser valorizados
no sentido de estimular a diversidade cultural da sociedade, o que a torna
mais rica e capaz de se gerir e criar estilos de vida diferenciados, capazes
de resistir s investidas mercadolgicas que criam necessidades alienantes e
destruidoras destes valores. Alm disso, garantir o acesso s manifestaes
culturais clssicas e contemporneas uma forma de garantir qualidade de
vida s pessoas.
A ao poltica de um ser humano passa muito longe do que atualmente
valorizamos como democracia participativa, que delega poderes para outros
resolverem as questes relativas ao dia a dia. Isto ocorre em todos os nveis
organizativos da sociedade, tanto no sindicato como na cooperativa ou nos
poderes municipal, estadual e federal.
Tem-se por regra delegar poderes para que os outros tomem as decises.
Isto proposital e muito adequado ao modelo de desenvolvimento hege-
mnico atual. necessrio romper, gradualmente com este tipo de atitude
passiva e buscar a efetiva participao nas atividades decisrias que ocorrem
em todos os nveis da sociedade.
Por ltimo, porm de forma mais abrangente, e por isso est no topo
da pirmide de sustentabilidade, est a tica. Este valor parece muito
escorregadio e difcil de ser vislumbrado como algo concreto que possa
ser atingido, pois parece que cada indivduo possui a sua tica. Porm,
no muito melhor, acabamos por defender questes ticas ditadas por
valores dominantes, que a maioria das vezes nos estranho, porm to
enfticos que acabamos aceitando como algo inevitvel. necessrio que
a sociedade, no conjunto dos seus atores sociais, defina novos valores
que envolvam as dimenses da sustentabilidade, a fim de construir mo-
delos de desenvolvimento capazes de atender s necessidades concretas
de toda a sociedade.
e-Tec BrasilAula 6 Desenvolvimento sustentvel 49
Em relao dimenso produtiva, podemos dizer que ela tem sido a base da
Agroecologia e que h muito conhecimento produzido nesta rea. A dimen-
so produtiva engloba todas as multidimenses da sustentabilidade em seus
processos produtivos.
No manejo dos Agroecossistemas so valorizadas aes de planejamento e
decises coletivas entre os membros da famlia ou da comunidade; aes de
valorizao cultural nos espaos comunitrios, com destinao de tempo e
valorao efetiva do tempo destinado para a cultura, lazer e recreao para
todas as idades.
Alm disso, as questes relativas ao que, como e onde produzir devem ser
aes coletivas da famlia ou comunidade, e o planejamento de demanda de
trabalho deve levar em conta primeiramente as necessidades concretas das
famlias produtoras, no seu autossustento, na sua relao com o meio am-
biente e em suas relaes pessoais, e s ento as necessidades do mercado.
Quanto s questes tcnicas, entendemos que a
Cincia Agroecolgica j possui um conjunto de
tcnicas e procedimentos de produo que podem
ser aplicados e melhorados pelos produtores e que
garantem a produo em quantidade e qualidade
para garantir a segurana alimentar de toda a po-
pulao. Uma mudana de paradigma de produ-
o envolve questes histricas, culturais e deve
ser construda de forma dialogada por toda a so-
ciedade, a fim de que possa promover uma trans-
formao orgnica, efetiva (Figura 6.2).
ResumoO segmento do que hoje vai se chamar de agronegcio, tataraneto das gran-
des concentraes histricas de terras, lana a Revoluo Verde como
algo, revolucionrio e transformador no setor rural. Contudo, o que se v
a entrada de capital estrangeiro, uso desordenado de agrotxicos, acentuan-
do mais ainda as relaes sociais e econmicas no setor agrrio. A sustenta-
bilidade, nas suas mltiplas dimenses, vem como forma de contrapor esse
assdio ao ambiente rural.
Figura 6.2: Representa-o ou simbologia de sustentabilidadeFonte: http://www.ecologiaurbana.com.br
Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentvele-Tec Brasil 50
Atividade de aprendizagem 1. Aps estudo desse contedo, qual a sua definio para desenvolvimento
sustentvel?
2. Cite pelo menos quatro danos da introduo da Revoluo Verde no nosso Pas.
3. No seu entender, desenvolvimento sustentvel e sustentabilidade so sinnimos?
e-Tec BrasilAula 6 Desenvolvimento sustentvel 51
e-Tec Brasil53
Aula 7 Agricultura sustentvel
O objetivo da presente aula consiste em mostrar que possvel haver uma
agricultura sustentvel, fundamentada no desenvolvimento rural, respei-
tando as multidimenses da sustentabilidade.
Para discutirmos aquilo que conhecemos hoje como agricultura sustentvel
no Brasil, precisamos fazer, novamente, uma pequena viagem no tempo e
buscar na histria os seus fundamentos.
Dessa vez, no em um tempo to distante, pois a nossa aventura comeou
no final da primeira metade do sculo XX.
Vocs lembram quando comeou a ser implantado no Brasil o modelo moderno de agricultura? claro que sim, pois discutimos isso em aulas anteriores!
Bem, logo aps o modelo moderno de agricultura ter sido implantado e
impulsionado pelos governos brasileiros, este modelo, que j havia sido im-
plantado nos Estados Unidos em dcadas anteriores, principalmente a partir
de 1930, j tinha se mostrado inadequado do ponto de vista ambiental.
J em 1962, uma pesquisadora dos Estados Unidos, Rachel Carson, bilo-
ga da rea de ambientes aquticos, publicou o resultado de suas pesquisas
sobre os agrotxicos usados na agricultura, principalmente os inseticidas. O
seu livro Primavera Silenciosa de fato calou o mundo, naquele momento a Revoluo Verde j tinha atingido boa parte do mundo dito desenvolvido
e comeava a ser exportada para o resto do mundo pobre, como a solu-
o para a fome mundial. Rachel Carson mostrou como o DDT penetrava
na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais,
inclusive do homem (chegou a ser detectada a presena de DDT at no leite
humano!), com o risco de causar cncer e dano gentico. A grande polmi-
ca movida pelo in