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Livros de Resumos do congresso internacional Linguagens de Poder Universidade do Minho, 12 e 13 de julho Conferências plenárias Maria Helena de Araújo Carreira Universidade de Paris 8 Configurações temporais e pragmático - enunciativas de Linguagens de Poder Numa perspetiva semântica, na linha da teoria de Bernard Pottier, e pragmático- enunciativa (Benveniste, Kerbrat-Orecchioni e também Charaudeau, Maingueneau, Amossy), a questão que conduz o estudo pode declinar-se de modo tripartido: De que ponto de vista se constrói o discurso? Quais as ancoragens escolhidas e de que modo se tecem configurações temporais? Como se manifesta a instância enunciativa e como se constrói discursivamente a relação enunciador-enunciatário? O corpus escolhido releva do Discurso de Celebração do 25 de Abril, pelo Presidente da República de Portugal. O foco da análise incidiu no Discurso do Presidente Mário Soares de 25 de abril de 1992. A complexidade do discurso em análise que congrega, à Celebração do 25 de Abril de 1974, a evocação de outras celebrações (1492, 1985, e o ano em curso de 1992), revela -se de elevada produtividade para o estudo de ancoragens e configurações temporais e pragmático- enunciativas.

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Livros de Resumos

do congresso internacional

Linguagens de Poder

Universidade do Minho, 12 e 13 de julho

Conferências plenárias

Maria Helena de Araújo Carreira

Universidade de Paris 8

Configurações temporais e pragmático - enunciativas de Linguagens de Poder

Numa perspetiva semântica, na linha da teoria de Bernard Pottier, e pragmático-

enunciativa (Benveniste, Kerbrat-Orecchioni e também Charaudeau, Maingueneau, Amossy),

a questão que conduz o estudo pode declinar-se de modo tripartido:

De que ponto de vista se constrói o discurso? Quais as ancoragens escolhidas e de que modo se

tecem configurações temporais? Como se manifesta a instância enunciativa e como se constrói

discursivamente a relação enunciador-enunciatário?

O corpus escolhido releva do Discurso de Celebração do 25 de Abril, pelo Presidente da

República de Portugal. O foco da análise incidiu no Discurso do Presidente Mário Soares de 25

de abril de 1992.

A complexidade do discurso em análise que congrega, à Celebração do 25 de Abril de

1974, a evocação de outras celebrações (1492, 1985, e o ano em curso de 1992), revela -se de

elevada produtividade para o estudo de ancoragens e configurações temporais e pragmático-

enunciativas.

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A análise permite destacar: 1) o entrecruzamento de ancoragens temporais, de eventos-

suporte (pontos de referência), de cronologias da "ordem das coisas", assumidos por 2) uma

instância enunciativa que privilegia o NÓS inclusivo, transformando assim o enunciatário

coletivo em enunciador, do qual pode ser destacada uma parte – a juventude, 3) instância

enunciativa essa dotada de um ethos construído verbalmente, mas também por semiologias

paralelas ou, noutros termos, por uma dimensão multimodal/multidimensional.

O estudo poderá abrir vias interdisciplinares de acesso à produção discursiva e seu contexto.

Com efeito, o discurso analisado está carregado de símbolos ativos, históricos, culturais,

enraizados no passado, ancorados no presente e alimentando esse presente, dinamizando-o e

projetando-o no futuro, construindo um Discurso de Celebração de valores de liberdade e

democracia – que o 25 de Abril de 1974 restituiu –, discurso que, graças à sua instância

enunciativa inclusiva se revela um discurso de identificação nacional.

Patrick Charaudeau

Universidade de Paris 13

Du discours politique au discours populiste

Le populisme s'est considérablement développé en Europe depuis quelques années, au

point que les politiques taxent de populisme la plupart des partis politiques adverses.

Pour certains, tout parti opposé est populiste. D'autres, en revanche vont jusqu'à

revendiquer le populisme, et l'on peut se demander si le populisme, ce n'est pas toujours l'autre.

Dans cette intervention, il s'agit de définir les caractéristiques su discours populiste à

partir du discours politique, car c'est dans ce discours que le populisme prend ses racines.

Moisés de Lemos Martins

ICS – Universidade do Minho

A escrita das Ciências Sociais e Humanas

O funcionamento de uma disciplina científica supõe um dispositivo de escrita, ou seja,

um aparelhamento discursivo que constranja pelo olhar, em que as técnicas que permitem ver

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induzem efeitos de poder, e em que, em contrapartida, os meios de coacção tornam claramente

visíveis aqueles sobre quem se aplicam.

Parto do clássico princípio barthesiano de que o texto é um discurso fixado pela escrita.

E fixar-me-ei na escrita das Ciências Sociais e Humanas, fazendo incidir a análise nos

procedimentos específicos de vigilância, controle, inclusão e exclusão do discurso,

procedimentos esses que encenam apostas éticas, estéticas, científicas e institucionais. Michel

Foucault deu a esses procedimentos o nome de citação, comentário, doutrina (teoria e

metodologia), ritualidade, separação entre o verdadeiro e o falso.

Porque se trata, efetivamente, de uma realidade policiada, interna e externamente,

podemos considerar que, tanto como o objeto, a escrita classifica o especialista de uma

disciplina científica, proporcionando-lhe a legitimação do seu meio profissional, ou

eventualmente o descrédito e a indiferença - a integração, portanto, ou então a exclusão.

É meu entendimento que toda a disciplina científica deve obedecer a uma prática auto-

reflexiva. Por essa razão, são dois os pontos específicos que vou desenvolver, que toda a ciência

é discurso, e que no discurso não pode deixar de se interrogar o próprio olhar.

Conferências simultâneas

Micaela Aguiar

CEHUM/Universidade do Minho

[email protected]

Carisma e ethos do Presidente-rei – A construção da imagem carismática de Sidónio Pais

nos discursos da ditadura presidencialista de 1918

No centenário da morte de Sidónio Pais (1918-2018), a comunicação que nos propomos

apresentar pretende revisitar a figura do quarto Presidente da República que ficou “na memória

popular como uma vedeta, do ainda incipiente, embora impactante espetáculo mediático”

(Martins, 2016: 27) dos inícios do século XX, tendo como objetivo examinar, através de uma

análise qualitativa, a construção da imagem carismática de Sidónio Pais num corpus de 6

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discursos proferidos no curto período da “ditadura presidencialista” (Freire & Pinto, 2010: 21)

de 1918.

Este trabalho insere-se no quadro teórico da Análise do Discursos, numa perspetiva

discursiva-enunciativa e parte de uma conceção de carisma ligada à construção do ethos

(Charaudeau, 2015). Para tal partimos do pressuposto de que o carisma está ligado a uma

corporalidade (Charaudeau, 2015: 6) e a uma componente emocional (Donot & Emediato,

2015: 7) para:

a) categorizar os índices textuais que participam na construção discursiva de uma

corporalidade e de uma emotividade;

b) evidenciar o modo como a dimensão institucional do Presidente contribui para a

construção da imagem carismática;

c) analisar esta imagem nas relações de influência que se estabelecem com o outro

(povo português).

Palavras-chave: carisma, ethos, discurso presidencial, discurso político, ditadura

Referências

Charaudeau, P. (2015). Le charisme comme condition du leadership politique. Revue française des sciences de

l’information et de la communication, 7.

Donot, M., & Emediato, W. (2015). La construction de la figure des leaders. Ethos, identité et charisme en

perspective comparée. Revue française des sciences de l’information et de la communication, 7.

Freire, A., & Pinto, A. C. (2010). O Poder Presidencial em Portugal. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

Martins, L. A. (2016). Sidónio Pais, o Presidente-Rei. Visão Histórica - Os 18 presidentes, 27-29.

Thiago Henrique Alvarado

Universidade Estadual Paulista (UNESP)

[email protected]

Regrar o comer em Castela e Portugal (séculos XIV e XV)

Durante as cortes celebradas nos séculos XIV e XV, monarcas de Castela e Portugal

discutiram com procuradores de cidades e vilas, nobres e eclesiásticos uma série de questões

sobre a conservação, a produção, o comércio e os usos dos alimentos. Entre os problemas

apontados por esses homens como merecedores de atenção régia, que iam desde carestias e

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fomes a problemas de comércio e de abastecimento, encontravam-se os reprováveis excessos

no comer e as indistinções no consumo dos alimentos entre pessoas de estados diferentes. Tais

práticas à mesa e no trato dos alimentos eram consideradas, por aqueles homens reunidos nas

cortes, como prejudiciais ao temporal e ao espiritual, pois poderiam, de algum modo, afetar a

todos. Daí a necessidade de recorrer ao monarca para correção das faltas e para o

estabelecimento de regras de condutas alimentares. A partir das petições e das leis apresentadas

nas cortes castelhanas e portuguesas, a comunicação proposta visa mapear algumas das práticas

condenáveis, envolvendo o comer e os alimentos. Mais especificamente, objetiva-se discutir

em que medida o comer e os alimentos configuraram alguns dos eixos de edificação das

condutas nas terras castelhanas e portuguesas.

Palavras-chave: Cortes – Leis – Comer

Manaíra Aires Athayde

Universidade de Coimbra

[email protected]

Um mundo digital para Frida

Frida Kahlo não morreu. Basta olharmos para as redes sociais, aplicativos, videojogos,

videos no youtube, filmes, documentários, livros, camisetas, bolsas, objetos decorativos… Uma

infinidade de produtos que se conjugam em rede e que fazem com que a pintora mexicana tenha

uma das mais exploradas imagens no mundo digital. Em um dos vários perfis no Facebook que

levam o seu nome são mais de 6 milhões de seguidores. O perfil do Museu Casa Azul, outro

milhão. Centenas de memes com fotografias e frases da artista. Blogueiras e youtubers ensinam

como “ser Frida Kahlo”, em vídeos que “viralizam” na internet, dentre tantos outros exemplos.

Assim, todo esse universo on-line em torno da artista nos leva a investigar como a sua vida e

obra acabam por se transformar, dessa maneira, numa “narrativa transmidiática”, no sentido

proposto por Henry Jenkins. Perscrutamos de que modo a “cultura do software”, como diria

Lev Manovich, se converte numa das mais poderosas linguagens na sociedade da “information

aesthetics”, evidenciando novas formas de experiência estética do século XXI.

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Palavras-chave: Frida Kahlo; narrativa transmidiática; cultura do software; sociedade da

estética da informação.

Maria Auxiliadora Fontana Baseio

UNISA - São Paulo

[email protected]

Maria Zilda da Cunha

USP - São Paulo

[email protected]

Os sentidos da palavra e do silêncio: o discurso estético de Júlio Cortázar em diálogo

Somos engendrados por um universo semiótico que se expressa por meio da linguagem,

esta, como fato social, tece-se por meio de diversos e múltiplos sistemas sígnicos. Se todo signo

é ideológico, como salienta a visão bakhtiniana, deparamo-nos com um universo onde se travam

lutas e intensas disputas de ideologias e de poder entre os diversos agentes sociais. Sob essa

perspectiva, linguagem e poder configuram-se eixos temáticos importantes para compreensão

e possíveis reflexões críticas sobre as relações humanas. Sabe-se que, na Argentina, no período

de 1946-1955, Perón legitimou seu poder por meio de um discurso que aliou seu projeto de

governo com intensa propaganda ideológica, suscitando movimentos de contraposição por parte

da intelectualidade da época, sobretudo por alguns escritores, que encontraram na literatura um

meio de expressão de suas representações opostas ao regime, uma forma de contradiscurso que

rompia com o discurso dominante, como o fez Júlio Cortázar. É inegável a habilidade com que

o escritor argentino constrói suas narrativas para estabelecer novas percepções e interpretações

que resultam em experiências reflexivas sobre a linguagem e seu silenciamento, como se analisa

no conto “A casa tomada. A obra do escritor sul-americano acaba por suscitar remodelações

nas diversas artes, abrindo-se para reatualizações que ampliam o debate sobre o projeto

peronista de poder. Nesse sentido, possibilita, em traduções intersemióticas, intenso diálogo

com outras linguagens. Compreendendo o discurso como prática de linguagem inseparável de

seu contexto comunicativo de produção, o intuito deste trabalho é discutir as formas como se

enunciam as relações de poder no discurso literário e cinematográfico. Para tanto, beneficia-se

dos estudos comparados de literatura, capazes de oferecer instrumentais de leitura interpretativa

e de diálogo interartes.

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Palavras-chave: peronismo, Cortázar, discurso literário, discurso cinematográfico, tradução

intersemiótica

Jack Brandão

Universidade Santo Amaro (UNISA/SP)

[email protected]

Eikón, eidolon, imago. Imagem: étimo e emprego dissuasório

A comunicação pretende discorrer acerca da importância não só de se conhecer a questão

etimológica do termo imagem – de modo especial a partir da comparação tanto com os termos

gregos correspondentes, eikón e eidolon, quanto do latino imago –, como também demonstrar

seu poder intimidatório e coercitivo, empregado há milênios.

De posse dessas informações, buscaremos exemplificar como tais termos foram

empregados por Homero e Virgílio, coligindo suas peculiaridades, a fim de que possamos

conhecer não apenas o conceito em si, mas suas implicações imagético-linguísticas. Assim,

poderemos compreender a imagem não mais como mera cópia inintencional do mundo exterior,

mas como demonstração intencional de força e de poder empregada desde Antiguidade por

muitos povos, mas que ainda mantêm a mesma eficácia em nossos dias, conforme

exemplificaremos, por meio de diversas imagens fotográficas.

Palavras-chave: Imagem, poder coercitivo, etimologia, fotografia, iconofotologia.

Ana Lúcia Tinoco Cabral

Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL)

[email protected]

Interação verbal no contencioso: poder e argumentação

A lei, como manifestação da vontade social, destina-se a regular a atividade dos cidadãos

e os órgãos públicos, servindo, conforme Cabral (2007), à conservação dos sujeitos jurídicos,

sua organização política assim como à regulação da atribuição dos bens individuais, inclusive

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os conflitos daí decorrentes. O Processo Civil constitui um complexo de atos que se sucedem

com a finalidade de solucionar conflitos de interesses regulados por lei (Cabral, 2014). O

processo se dá entre sujeitos com interesses contraditórios, perante um juiz, sendo este a figura

central da ação a quem são atribuídos poderes. O processo instaura dois locutores defendendo

posições contrárias, procurando ganhar a adesão de um terceiro, na busca de convencê-lo de

que detém a verdade e a lei. Nesse contexto, a dinâmica dos autos é marcada pela preocupação

de convencer o juiz. Temos assim uma relação de poder clara, mas que suscita algumas

questões. Considerando que cada parte deverá refutar, combater e destruir os argumentos da

parte contrária, cabe perguntar: qual o estatuto de cada participante na interação?; que

estratégias linguísticas são utilizadas na construção argumentativa das partes? Dito isso, este

trabalho tem dois objetivos: 1. discutir o estatuto de interacional dos processos civis focalizando

as relações de poder; 2. Verificar as estratégias linguísticas utilizadas pelos participantes da

interação. Analisaremos um processo da Inicial até a Sentença de primeira instância. O quadro

teórico que dá suporte às análises insere-se na linha teórica da Semântica Argumentativa

(Ducrot, 1981; 1984) em confluência com os teóricos dedicados aos estudos da Linguística da

Enunciação (Benveniste, 1966; 1974; Kerbrat-Orecchioni, ([1998] 1997), das Interações

verbais (Kerbrat-Orecchioni, [1990] 1998 ; Kerbrat-Orecchioni e Platin, 1995) e do Estudo da

Polêmica (Amossy, 2014). Como metodologia de análise, apresentamos o quadro enunciativo

e procedemos ao levantamento de estratégias argumentativas de confronto, verificando as

marcas linguísticas.

Palavras-chave: interação, argumentação, discurso jurídico, poder.

José Carlos de Oliveira

UFU

[email protected]

Gêneros discursivos em Libras e ensino de línguas para alunos surdos: análises preliminares

Ensinar línguas para alunos surdos não é simplesmente provir a eles o vocabulário. É

necessário pensar também em estratégias que contribuem para o conhecimento de artefatos

culturais e as diferentes formas de uso da língua adequadas a cada situação comunicativa.

Considerando a evolução dos estudos surdos e dos estudos surdos em educação, o presente

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estudo tem como objetivo analisar os principais gêneros discursivos em Língua Brasileira de

Sinais – Libras aplicados ao ensino dessa língua, tanto para alunos surdos como primeira língua

(L1) quando inclusos no currículo da disciplina de Libras das escolas, quanto para alunos

ouvintes, como segunda língua (L2) quando inclusos no conteúdo dessa mesma disciplina em

cursos de extensão nas universidades. Para a compreensão de gêneros discursivos, a base teórica

utilizada foi a de Bakhtin (2011); para a compreensão da Libras e sua estrutura, Quadros e

Karnopp (2004) e para a discussão sobre os gêneros em Libras, Pimenta e Quadros (2011). O

estudo foi desenvolvido por meio de pesquisas bibliográficas, livros didáticos e do

planejamento do curso de Libras “Falando com as Mãos”, desenvolvido na Universidade

Federal de Uberlândia para checar os benefícios do trabalho e da análise de textos em Libras

em diferentes gêneros para o aprendizado e o desenvolvimento de habilidades comunicativas e

da proficiência nessa língua. Os resultados mostram que a utilização de gêneros discursivos em

Libras na sala de aula, desde textos traduzidos das línguas orais para a Libras, passando por

piadas, literatura adaptada e literatura surda, narradas por surdos, dentre outros, tem

possibilitado a apropriação do conhecimentos e habilidades da e na Libras, principalmente pelo

fato de a maioria dos alunos desse curso serem ouvintes e os mesmos não possuírem contato

direto com surdos nativos que lhe possibilitasse um processo interativo fora de sala de aula,

fator imprescindível para a aquisição/aprendizagem de uma segunda língua.

Palavras-chave: Gêneros discursivos, Língua Brasileira de Sinais, Ensino e aprendizagem de

línguas.

Maria Sirleidy de Lima Cordeiro

Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

[email protected]

Felipe Augusto Santana do Nascimento

Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP

[email protected]

A (des)estabilização de sentidos do verbete golpe em dicionários de língua portuguesa

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Este trabalho tem como objetivo discutir os processos de significação do verbete golpe

na textualidade específica dos dicionários de Língua Portuguesa, analisando como os sentidos

materializados na definição desse verbete foram sendo (des)estabilizados em diferentes

dicionário do século XVIII, XIX e XX. Fundamentados na articulação teórica entre a História

das Ideias Linguísticas e a Análise de Discurso, tomamos os dicionários como instrumentos

linguísticos (AUROUX, 2009) na sua relação imaginária com o saber linguístico, a sociedade

e a história, levando em consideração o político constitutivo de toda linguagem. Nessa

articulação teórica, encontram-se estudos desenvolvidos por Orlandi (1990; 2002; 2004), Silva

(1996) e Nunes (1992; 1996; 2002; 2006; 2008) que fundamentam essa pesquisa. A seleção dos

dicionários se baseou na importância deles para a consolidação da lexicografia brasileira e na

produtividade da definição dos verbetes para observar os sentidos de golpe nesse período de

tempo. Os dicionários foram: (1) o Vocabulario portuguez e latino, de Bluteau (1712-1728);

(2) o Dicionário da Língua Portuguesa, de Antonio de Moraes Silva (1789); (3) Dicionário da

língua brasileira de Luis Maria da Silva Pinto, 1832; (4) Grande e Novíssimo Dicionário da

Língua Portuguesa, de Laudelino Freire de (1939-1944) – período em que o Brasil sofreu um

golpe de Estado e ficou conhecido como Estado Novo; (5) Novo Dicionário Brasileiro

Melhoramentos Ilustrado, de Adalberto Prado e Silva (1962); (6) o dicionário de Aurélio

Buarque de Holanda Ferreira, Novo Dicionário da Língua Portuguesa (1975), lançado no

período da Ditadura Militar brasileira. Com este estudo, concluímos que o dicionário, na

história das práticas lexicais, desestabiliza os sentidos e ainda marca os confrontos existente

nos processos de significação do verbete golpe, uma vez que uma palavra tem memória e

história cujos sentidos evocam um saber e um imaginário sobre a língua.

Palavras-chave: Análise do Discurso. História das ideias Linguística. Sentidos. Verbete golpe

Simone de Brito Corrêa

Universidade Federal Fluminense

[email protected]

Embates sobre a língua nacional do Brasil:

a ‘ortografia de Monteiro Lobato’ em Urupês (1918, 1923, 1943, 1964, 1997) e a política

linguística normativa dos Decretos-Lei da Era Vargas (1930-45)

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Este trabalho apresenta pesquisa sobre o projeto de língua nacional do livro de contos

Urupês (1918, 1923, 1943, 1964, 1997), de Monteiro Lobato, tendo como aporte teórico-

metodológico a articulação entre a Análise do Discurso (Pêcheux, 1983, 1988; Orlandi, 1990,

2001, 2003, 2007; Mariani, 1996, 2001, 2004) e a História das Ideias Linguísticas (Auroux,

1992; Guimarães, 1993, 1994).

A análise linguístico-discursiva incidiu sobre uma nota dos editores de Urupês em que o

gesto metalinguístico do literato aparece como resistência à intervenção de natureza político-

jurídico-ideológica na língua nacional do Brasil, por parte do governo Vargas. Assim, pôde-se

descortinar, em diversos Decretos-Lei, uma rede de dizeres em que a Língua Portuguesa

aparece (im)posta como origem à língua nacional do Brasil. Dessa forma, procede-se ao

apagamento das línguas indígenas brasileiras (entre outras), destituindo-se sua importância no

processo de historicização da língua nacional do/no Brasil.

Da posição teórico-metodológica adotada neste trabalho, entende-se que tais gestos de

contenção sobre a diversidade linguística brasileira operam a partir da interdição de

possibilidades outras de gramatização (Auroux, 1992) que estejam em desacordo com o ditame

oficial, isto é, o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (1943), cuja

obrigatoriedade passa a ser exigida em nível nacional através do Decreto-Lei número 292

(1938).

Outros escritos de Monteiro Lobato (cartas pessoais, artigos em jornais, prefácios de

obras literárias) contribuíram para revelar indícios sobre as condições de produção e posições

discursivas envolvidas nas disputas pela legitimação ou não da ‘Língua Brasileira’ como língua

nacional do Brasil da primeira metade do século XX.

Palavras-chave: gramatização brasileira, políticas linguísticas.

Carolina da Costa

CLUNL – NOVA FCSH

[email protected]

A representação discursiva de mulheres e homens em posição de destaque: um estudo

comparativo e exploratório

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Esta comunicação tem como objetivo perceber como é que mulheres e homens, em

posição de destaque, se implicam nos discursos que produzem. Para tal, pretende-se analisar,

de um lado, o modo como se constrói e configura a enunciação de mulheres pioneiras no

exercício de cargos de destaque social; e, de outro lado, comparativamente, o modo como os

seus sucessores – homens – se representam linguisticamente nessa mesma posição de destaque.

A análise enquadra-se na área da Linguística do Texto e do Discurso e orientou-se a partir

dos pressupostos teórico-metodológicos do Interacionismo Sociodiscursivo, tendo como

suporte o conceito de folhado textual de Bronckart (1999). Mais especificamente, recorreu-se

a instrumentos que compõem a camada mais profunda, ou seja, (a análise d)as unidades

linguísticas que constituem os tipos de discurso e, consequentemente, que enquadram os

mecanismos de implicação.

Para a análise, extraíram-se quatro textos de um corpus mais amplo, que configuram

discursos políticos de tomada de posse – dois ao cargo de Primeiro-Ministro e dois ao de

Presidente da Assembleia da República -, com o intuito de localizar marcas linguísticas que

permitam verificar (i) como se distribuem e orquestram os tipos de discurso no texto, (ii) como

determinam o grau de implicação das instâncias produtoras no texto e (iii) quais as implicações

desses mecanismos para a construção e configuração da enunciação de mulheres e homens em

posição de destaque social, numa lógica (social) de género.

Esta análise constituiu uma abordagem exploratória de um projeto em desenvolvimento.

Não obstante, assumem-se como significativas as conclusões provisórias que parecem

evidenciar-se: com efeito, tendo sido atestados diferentes posicionamentos enunciativos,

observa-se tendencialmente mais envolvimento e mais implicação da instância produtora

feminina no texto, colaborando para (re)pensar a influência e o poder da(s) mulher(es) na

sociedade e equacionar modos de pensar e agir no que respeita aos estudos da linguagem e do

género.

Palavras-chave: Discurso. Mecanismos de implicação. Tipos de discurso. Posição de destaque.

Género.

Fernanda Moraes D´Olivo

Universidade Federal Fluminense (UFF)/Fundação Técnico-Educacional Souza

Marques (FTESM)

[email protected]

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Os refugiados e a língua do país de acolhimento: tomada de palavra e relações de poder

Este trabalho tem como objetivo questionar como se dá a tomada de palavra na sua relação

com o poder pelo estrangeiro em situação de refúgio, por meio de uma língua que não lhe é a

materna. Esta questão faz parte das reflexões advindas da pesquisa de pós-doutorado intitulada

“Refugiadas Congolesas no Rio de Janeiro: narrativas de vida e processos de subjetivação”. Em

nossas observações iniciais, pautadas no dispositivo teórico-analítico da Análise de Discurso

Materialista (Pêcheux, 1969), consideramos que na disputa por um espaço de dizer e pelos

sentidos, o estrangeiro se coloca em uma relação constante de embate com o outro - o não

estrangeiro - na constituição da sua nova identidade e na relação com a língua outra. No caso

dos refugiados, esse embate é profundo e, ao mesmo tempo, doloroso, já que essa língua outra,

bem como a cultura, não foi algo de sua escolha, mas, sim, imposto por sua condição. Nesse

processo de identificação e significação com o outro e com a língua estrangeira, é latente a

relação entre sujeito e significante, entre essa sonoridade que lhe é estranha, mas ao mesmo

tempo, necessária de ser apreendida para que ele possa preencher de sentidos seus dizeres e se

significar no país em que agora habita. Como esse sujeito faz e refaz essa experiência de se

fazer entender em uma língua estrangeira? Como esse sujeito toma a palavra para si e enuncia,

buscando um espaço de dizer? Essas questões são potencializadas quando se trata de refugiados,

pois há um processo de ruptura brusca entre esses sujeitos com a sua língua materna e uma

necessidade imanente de se relacionar com a nova sociedade, com a nova cultura e realizar um

movimento de tomada de palavra na sua relação com o poder, imbricado nas relações sociais.

Palavras-chave: Tomada de Poder, Refugiados, Relações de Poder, Língua Estrangeira

Fabiana Almeida dos Santos

UNIFAP/DELIC-CNPq

[email protected]

Lucimar França dos Santos Souza

IFG – Goiânia Oeste

[email protected]

Linguagens de poder em Timor-Leste: reflexões a partir de duas experiências docentes

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Este trabalho discutirá a relação língua, identidade e poder em um contexto plurilíngue,

tomando por base nossa experiência como professoras brasileiras em Timor-Leste, país

lusófono da parte sudoeste do continente asiático. Timor-Leste tem uma realidade

sociolinguística complexa em que o Português possui estatuto de prestígio, como Língua Oficial

juntamente com o Tétum. Nesse sentido, é importante compreender como esse estatuto se

reflete no tratamento dado às demais línguas que convivem no território leste-timorense. Para

tanto, nos ocuparemos de responder aos seguintes questionamentos: Quais práticas linguísticas

legitimam o estatuto do Português como Língua Oficial e, como essas práticas refletem a

manutenção das demais línguas de Timor-Leste? Partimos da premissa de que a importância

atribuída a uma língua faz com que esta possa obter ou perder estatuto na vida de um indivíduo

ou de uma comunidade. Para esta reflexão, adotaremos o conceito de linguagem à luz da

perspectiva discursiva de Bakhtin (2006), aos estudos de Calvet (2002, 2007) sobre políticas

linguísticas, entre outros autores. Portanto, trata-se de uma reflexão sobre língua, identidade e

poder, sob a perspectiva da manutenção e preservação das línguas de Timor-Leste. Esperamos

que os questionamentos levantados ampliem as discussões sobre o tema e revelem outros

aspectos importantes sobre a gestão de línguas em contextos sociolinguisticamente complexos,

como o é o Estado leste-timorense, demonstrado, dessa forma, que a relação estabelecida entre

sujeitos e suas comunidades determina a relevância das línguas.

Palavras-chave: Timor-Leste. Língua(s). Identidade(s). Práticas linguísticas de poder.

Leonor Werneck dos Santos

UFRJ

[email protected]

Isabel Roboredo Seara

Universidade Aberta; CLUNL; CEHUM

[email protected]

Linguagem e poder nas mídias brasileira e portuguesa:o caso Marielle Franco

Page 15: Livros de Resumos do congresso internacional Linguagens de …cehum.ilch.uminho.pt/poder/static/abstracts.pdf · no comer e as indistinções no consumo dos alimentos entre pessoas

Este trabalho demonstra como as estratégias de referenciação são utilizadas em textos

midiáticos brasileiros e portugueses que abordam o assassinato da vereadora carioca Marielle

Franco, ocorrido em março de 2018, e seus desdobramentos. Observamos de que modo notícias

e artigos de opinião veiculados online apresentam uma visão de mundo sobre o fato citado que

reitera relações de poder polarizadas. O aporte teórico desta apresentação baseia-se na

Linguística de Texto, representada por autores como Koch e Marcuschi (1998), Apotheloz

(2001), Mondada e Dubois (2003), Pecorari (2014), dentre outros. Também incluímos teóricos

que têm discutindo aspectos concernentes à referenciação em uma perspectiva que se coaduna

a uma concepção atualmente chamada de textual-discursiva – como Fonseca (1992), Fuchs

(1992) e Cornish (2011) – e em especial autores que analisam discursos de e sobre políticos –

tais como Maalej (2011), Santos e Cabral (2015) e Prior (2016). Em relação à Teoria da

Argumentação, baseamo-nos principalmente em Adam (1992, 2002), Charaudeau (2008) e

Amossy (2016). Nosso propósito é descrever o comportamento das anáforas como marcadores

axiológicos da condução argumentativa dos textos com temática política, polarizando a

complexa rede de poder associada aos fatos. Desta forma, aspectos relacionados à polarização

esquerda-direita e aos desdobramentos temáticos – como homofobia, machismo e racismo –

são analisados no corpus, por meio principalmente de anáforas diretas e encapsuladoras,

mostrando as semelhanças e diferenças de uso dessas estratégias visando ao projeto de dizer

dos enunciadores (KOCH, 2003, 2008).

Palavras-chave: Argumentação. Referenciação. Poder. Mídia brasileira.

Isabel Margarida Duarte

FLUP / CLUP

[email protected]

Alexandra Pinto

FLUP / CLUP

[email protected]

Estratégias discursivas de construção da ideia de povo, no discurso político populista em

Portugal - Estado Novo e movimentos nacionalistas atuais

Page 16: Livros de Resumos do congresso internacional Linguagens de …cehum.ilch.uminho.pt/poder/static/abstracts.pdf · no comer e as indistinções no consumo dos alimentos entre pessoas

O populismo carateriza-se pela contestação às elites, o desprezo pelo pluralismo e a

representação moralista e emocional do povo (Muller 2017). Acusa as lideranças políticas e

intelectuais de distância face aos anseios populares. “Rejeita a diversidade de interesses e

opiniões, desqualifica os partidos e as instituições parlamentares, nega o direito à diferença e à

dissidência. Moralista, arroga-se o estatuto de representante genuíno e único do “verdadeiro

povo” que ele próprio define, excluindo o que lhe pareça contrário, desqualificando-o como

“falso” ou “estrangeiro”. (Silva 2018).

Tomando como referência as propostas de definição acima registadas, podemos afirmar

que Portugal constitui, tanto historicamente como atualmente, um caso especial no panorama

europeu dos movimentos populistas. No Estado Novo, apenas algumas das características

citadas (a construção identitária do verdadeiro povo e a rejeição de opiniões diferentes)

encaixam efetivamente numa visão populista do discurso do regime. Por outro lado, no

panorama atual, a afirmação de movimentos políticos e cívicos com discursos extremistas-

populistas mantém um alcance limitado.

Neste estudo propomo-nos apresentar a análise de manifestações populistas em discursos

de dois momentos históricos: o discurso de revistas do Estado Novo (Mundo Gráfico, Boletim

da Mocidade Portuguesa, Portugal Colonial e O Século Ilustrado) e o discurso de páginas web

de movimentos políticos e cívicos atuais.

Demonstraremos que, se alguns pontos-chave da retórica populista se encontram

ausentes, alguns outros marcam presença nestes conteúdos, tais como: a polarização entre Nós

e Os Outros (os defensores do Liberalismo, os opositores ao Estado Novo, durante a ditadura;

ou hoje, refugiados, certas minorias raciais e religiosas); a extremação e o reducionismo

axiológicos e ideológicos; a aposta numa retórica do pathos, centrada sobre a exploração de

emoções no Tu, entre outras ideias-chave.

Palavras-chave: populismo; estratégias discursivas; revistas do Estado Novo; movimentos

nacionalistas atuais

Urbano Cavalcante Filho

Federal Institute of Bahia (IFBA)

State University of Santa Cruz (UESC)

Dialogue Research Group - University of São Paulo (USP/CNPq)

[email protected]

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Comparative analysis of discourses in a dialogic perspective

My purpose in this work is to present and discuss the fecundity of the theoretical and

methodological confluence between the Discourses Comparative Analysis, theoretical

component which was born in the Cediscor environment (Centre de recherche sur les discours

ordinaires et spécialisés) of the Université Sorbonne Nouvelle, in Paris, France,and the

Discourse Dialogic Analysis, from the Bakhtin Circle reflections for the discourse analysis of

three different ethnolinguistic communities. Thus, this presentation is divided in three distinct

moments, rather dependent and correlated: theoretical, methodological and analytical ones. In

the first moment, I dedicate my attention to the presentation of the theoretical assumptions

which base the study, such as, the bakhtinian theory and the discourse comparative analysis;

secondly, I present the methodological assumptions that support what I call “discourse

comparative and dialogic analysis”, whose metalinguistics constitutes the guide core of the

study; at last, in the third moment, I undertake na analystical gesture of comparing the scientific

dissemination discourse of how ethnolinguistic communities (Brazilian and French ones),

materialized in the utterances of the magazines Ciência Hoje and La Recherche, Brazilian

Society’s productions for the Progress of Science (SBPC) and Société d'éditions scientifiques,

respectively.

Key-words: Discourse Comparative Analysis; Discourse Dialogic Analysis; Scientific

Dissemination.

Geisa Fróes de Freitas

Universidade Federal da Bahia/ PPGLinC-UFBA

Instituto Federal da Bahia/IFBA

[email protected]

Entre a vitimização e o rancor: efeitos do ressentimento no discurso político eleitoral nas

redes sociais digitais.

Conforme aponta Angenot (2015, p.122), “o ressentimento tem sido e continua sendo um

componente dentre várias ideologias desse início de século XXI, tanto de direita (nacionalismos

de “pequenos países” e antissemitismos), quanto de esquerda, que são insinuados em diversas

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expressões do socialismo, do feminismo, dos militantismos minoritários, do terceiro-

mundismo”; os grupos sociais dividiram-se e parecem obcecados por reivindicações

identitárias, desviando-se do pensamento do direito para trazê-los a um mercado gritante dos

“direitos da diferença”, formado por grupos que mantêm divergências baseadas em litígios e na

reivindicação dos rancores do passado (Angenot, 2015, p. 124). Ademais, como afirma Kehl

(2004, p. 23), “o ressentimento na política produz-se na interface entre a lei democrática –

antecipação simbólica de igualdade de direitos – e as práticas de dominação paternalistas, que

predispõem a sociedade a esperar passivamente que essa igualdade lhes seja legada como prova

de amor e da bondade dos agentes no poder”. Nessa perspectiva, com base nos aportes da

Análise do Discurso em cuja filiação situamos M. Pêcheux, esta pesquisa busca compreender

como se constitui o ressentimento e seus efeitos produzidos no discurso político brasileiro nas

redes sociais digitais. Para isso, recortamos para compor o corpus da pesquisa um conjunto de

textos verbais, não verbais e verbo-imagéticos a propósito do discurso político-eleitoral virtual

no Facebook. Contemplamos como ressentimento, um modo de produção do sentido, dos

valores, de imagens identitárias, de ideias morais, políticas, cívicas que repousa sobre alguns

pressupostos e que visa a uma mudança de valores com base nos postulados de Nietzsche, Max

Scheler, Angenot e Kehl.

Palavras-chave: Análise do Discurso. Ressentimento. Discurso político virtual

Geisa Fróes de Freitas

Doutoranda pelo PPGLinC/UFBA

Professora de Língua Portuguesa/IFBA

[email protected]

Lahiri Trajano de Almeida Silva

Bacharel em Direito/UCSal

Especialista em Perícia Criminal/SENASP [email protected]

Pós-verdade e política: um estudo do fenômeno Fake News na arena do discurso político-

eleitoral e sua repercussão no sistema jurídico.

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O termo pós-verdade não é tão novo assim, segundo a Oxford, foi empregado pela

primeira vez em 1992 pelo dramaturgo sérvio-americano Steve Tesich, em um ensaio para a

revista The Nation e depois em 2004, quando o escritor norte-americano Ralph Keyes o colocou

no título de seu livro The Post-Truth Era: Dishonesty and Deception in Contemporary Life.

Mas só em 2016, seu uso ganhou potência e popularizou-se mundialmente com o jornal

britânico The Economist e seu artigo “Arte da mentira”. No texto de The Economist, o mundo

teria entrado em uma era política de pós-verdade, especialmente depois que os britânicos

ignoraram os alertas sobre o “Brexit” e votaram por deixar a Comunidade Europeia, e que os

americanos desdenhavam das graves advertências sobre Donald Trump, estando prestes a

colocá-lo na Casa Branca. No Brasil, esse conceito tem se tornado bastante usual na política

eleitoral, visto que no último pleito presidencial de 2014, tivemos um contexto conturbado,

marcado pela difamação, calúnia e injúria. Como consequência disso, foi formada uma

comissão pelo TSE para decidir como combater as notícias falsas publicadas em plataformas e

sites de redes sociais para o próximo pleito de 2018. De acordo com especialistas no assunto, a

pós-verdade não significa uma exaltação da mentira, ela surge como uma maneira de fortalecer

crenças pessoais. Nesse sentido, a pós-verdade constrói uma narrativa de sentido, em que nem

sempre é fácil separar claramente o que é factual do que é ficcional. Se a pós-verdade refere-se

à prevalência dos sentimentos e emoções sobre a realidade objetiva, e se a ela recorrem,

principalmente políticos demagogos e populistas, em busca do apoio dos cidadãos, o que existe

é uma grosseira distorção da realidade em busca do apoio popular. De acordo com Francisco

Rosales, “a demagogia e o populismo, que escondem a realidade e transbordam em ofertas e

promessas ocas e irrealizáveis em busca dos votos, eram mais próprias dos países latino-

americanos do que dos anglo-saxões". Ademais, conforme Arendt, a contemporaneidade é

marcada por uma forma de “mentira organizada”, uma aliança entre os meios de comunicação

e os regimes totalitários, onde toda a matriz da realidade pode ser falsificada através das

estratégias midiáticas de manipulação em massa. A partir dos pressupostos teóricos da Análise

do Discurso, considerando seu campo interdisciplinar, este trabalho objetiva analisar os efeitos

da pós-verdade na política brasileira na arena das redes sociais, de modo a verificar sua

repercussão e impacto no domínio jurídico, para assim pensarmos a jurisdição da Fake News

na atualidade com base na doutrina e na jurisprudência existentes.

Palavras-chave: Pós-verdade. Discurso Político. Análise do Discurso. Direito.

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Isabel Fuzeta Gil

Universidade de Coimbra/CELGA-ILTEC

[email protected]

[email protected]

O discurso como espaço de construção do poder

O presente trabalho apresenta uma reflexão sobre o modo como o exercício do poder se

manifesta na sequência de uma “conquista” através do uso da palavra, tal como analisado por

Patrick Charaudeau (2008, .2013, 2015). No quadro de uma consulta direta aos cidadãos, o

discurso surge como lugar de entrecruzamento de vozes e de olhares: o espaço social onde se

desenrola a polémica — inevitável dada a natureza “dilemática” da(s) questão(-ões), como

previsto pela própria Constituição da República — convoca a palavra institucional da esfera

política, a palavra do político que se assume como cidadão na imprensa e ainda a palavra do

cidadão comum.

Entre a racionalidade do “convencer” e a emoção subjacente ao “persuadir”,

destacaremos como estratégias enunciativas-argumentativas e retóricas a construção especular

dos ethe bem como os processos de referenciação mobilizados pelo contrato de comunicação

(apoiados, por vezes, pelo recurso à imagem). Tais estratégias estão ao serviço de uma função

social construtiva, no seio do dissenso (Amossy, 2010, 2014), viabilizando a discussão e o

exercício do poder numa sociedade democrática.

Palavras-chave: ethos, referenciação, polémica.

Tatiana Jardim Gonçalves

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

[email protected]

Enunciados para hipertrofiar ou para atrofiar?

Os textos que compõem este trabalho fazem parte de uma rede de discursos que se

relacionam à corporeidade. Esses textos se apresentam com aspecto proverbial e circulam com

sentidos ligados à motivação e à superação dirigidas aos que desejam modelar seus corpos

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através da prática de musculação. Este trabalho apresenta uma leitura dos efeitos de sentido

decorrentes da presença de operadores argumentativos presentes em enunciados de posts

motivacionais para obtenção de corpos hipertrofiados. Para tal, nos apoiamos em Foucault

(2012, 2015 e 2016) no que tange às questões do corpo enquanto superfície de investimento de

poder e nas reflexões de Agambem (2015) para argumentarmos sobre as capturas das ações

humanas. Para tratarmos das questões linguísticas, nos apoiamos na pragmática linguística de

Ducrot (1984) cuja teorização gira em torno da argumentação na língua e nas ações que podem

ser empreendidas por meio da linguagem. Com esta leitura, intentamos mostrar não só uma das

constituições de um dos muitos discursos referentes à corporeidade, mas, sobretudo, a

atualização de discursos impositivos que aprisionam modos de vida a partir de uma prática

discursiva pertencente ao cotidiano.

Palavras-chave: Corpo. Argumentação. Biopolítica.

Thierry Guilbert

CURAPP-ESS (UMR CNRS 7319)

Université de Picardie Jules Verne

[email protected]

Discours économique et pouvoir des médias.

De la « pédagogie » à la « conduite des conduites »

Nous concevons le « langage du pouvoir » à partir de deux approches qui nous semblent

complémentaires : celle de Michel Foucault (2004 [1977-1978]) qui décrit une nouvelle forme

de « gouvernementalité » visant à la « conduite des conduites » des populations, et celle de

l’analyse du discours interprétative (Pêcheux, Achard) et de la Critical Discourse Analysis

(Fairclough, Van Dijk) qui considèrent que langage et pouvoir sont étroitement mêlés, que le

pouvoir cherche à contrôler le langage et qu’aucun pouvoir, démocratique ou non, ne peut

s’établir ni se maintenir sans tenir un discours qui le constitue.

Notre hypothèse est que les « grands » médias se sont constitués progressivement en

« appareils spécifiques de gouvernement » (Foucault 2004), c’est-à-dire en instruments du

pouvoir économique, à travers deux phénomènes conjugués : d’une part, les « restructurations »

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ou regroupements monopolistiques et, d’autre part, leur discours économique normatif à propos

de la réforme de l’État. Plus précisément, il nous semble que le discours économique des médias

à propos des réformes est passé, suite à la crise de 2007-2008, d’un métadiscours de la

pédagogie (« expliquer » les réformes) à un discours de culpabilisation (surendettement des

citoyens et des États), c’est-à-dire à un discours qui exerce une « normalisation » – une mise à

la norme pour Foucault –, une conduite des conduites. Selon le philosophe M. Feher (2017), le

tournant se serait produit dans la petite ville canadienne Iqaluit en 2010, lorsque le G7 a décidé

du virage de l’austérité. Nous proposons donc une approche transdisciplinaire sociodiscursive

étudiant les reprises (interdiscursives/intertextuelles ?) des déclarations du G7 et des discours

des membres de la BCE de 2010 par les discours médiatiques (corpus multimodal : articles de

la presse généraliste française et sites économiques de type lafinancepourtous.org).

Mots-clés: gouvernementalité, reprises interdiscursives, reprises intertextuelles, discours

austéritaire

Conceição Maria Alves de Araújo Guisardi

SEDF/UFU

[email protected]

Maria Aparecida Resende Ottoni

UFU

[email protected]

Linguagem (d)e poder: uma análise de representações discursivas sobre o sistema de cotas

sociais no Brasil

O presente trabalho tem como objetivo analisar como políticas públicas referentes a cotas

sociais (alunos que cursaram o ensino médio em escolas públicas brasileiras) que visam garantir

o acesso de jovens de periferia no ensino superior são representadas discursivamente em

notícias e reportagens veiculadas na internet e em comentários produzidos por internautas.

Sabemos que as relações de poder e a assimetria entre as pessoas são instauradas por meio da

linguagem, evidenciando diferenças simbólicas, sociais e culturais. E isso tudo nutre os mais

diferentes fenômenos de discriminação. Para atingir o objetivo, apoiamo-nos em pressupostos

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teórico-metodológicos da Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 1989, 2001, 2003;

CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999) e da Gramática do Design Visual (KRESS; VAN

LEEUWEN, 2006). Analisamos as vozes e os discursos articulados, as escolhas lexicais, os

modos de operação da ideologia, as relações de poder, o ponto de vista, o olhar de demanda e

de oferta. A análise apontou que há diferentes representações acerca das cotas sociais. Muitos

aprovam por acreditarem que é uma forma de garantir igualdade, outros acreditam que as cotas

representam uma espécie de estratégia política para conquistar eleitores. Foram evidenciadas,

também, representações que apontam que o sistema de cotas acaba dividindo os grupos sociais,

mantendo relações assimétricas de poder. Nesse sentido, a ideologia opera por meio da

fragmentação (THOMPSON, 1995), marcada pela segmentação daqueles que representam

ameaças ao/s grupo/s dominante/s. Isso foi percebido também por meio de estratégias de

construção de sentido, tal como o próprio expurgo do outro, em que, dependendo dos interesses,

há a criação de inimigos, tais como: leitores internautas versus jovens cotistas; leitores

internautas versus governo etc. Cabe, então, uma reflexividade por parte dos produtores e

leitores das notícias e reportagens bem como do próprio Estado acerca desse problema/erro

social (FAIRCLOUGH, 2009) em questão.

Palavras-chave: Linguagem. Poder. Cotas Sociais. Discurso.

Audria Albuquerque Leal

Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa

Fundação para a Ciência e Tecnologia

[email protected]

O poder na reportagem: uma construção discursiva multimodal

A comunicação social é comumente reconhecida como o quarto poder, juntamente com

os três poderes de um estado democrático (Legislativo, Executivo e Judiciário). Isto por causa

da forte influência que exerce na sociedade. De facto, a força mediática está na procura de

analisar, denunciar e investigar os fatos que acontecem no mundo actual. Contudo, na

actualidade, em que os valores são construídos numa lógica de mercado, os Media precisam

antes de tudo se coadunar com os interesses políticos de determinados grupos sociais que os

sustentam. Partindo dessa ideia central, este trabalho tem como objetivo verificar como se dá a

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construção do poder mediático a partir da análise discursiva e temática em textos do gênero

reportagem em revistas publicadas no Brasil e em Portugal. Além disso, assume-se que os textos

produzidos e reproduzidos na comunicação social configura-se como um lugar de eleição para

a construção e manutenção das relações de poder (Fairclough, 2001). Teremos como base o

quadro teórico da Análise Crítica do Discurso, com referência a autores como Kress (1997) e

Fairclough (2001), numa conjunção com o Interacionismo SocioDiscursivo (ISD) proposto por

Bronckart (2008). Para complementar, seguiremos o quadro teórico-metodológico da Semiótica

Social (Kress e van Leeuwen (1996/2006). No intuito de atingirmos o nosso objetivo, esta

apresentação será dividida em duas partes: na primeira parte, centrar-nos-emos na apresentação

dos quadros teóricos da ACD e do ISD, procurando efetuar uma inter-relação entre os conceitos

de poder e sua expressão na Organização Temática e Discursiva; na segunda parte,

concluiremos, refletindo sobre como o modo de representação discursiva e temática configura-

se numa relação de poder que ambiciona determinar posicionamentos ideologicamente

aceitáveis. Como resultado da nossa análise, esperamos contribuir para um estudo sobre a

construção de ideologias pela comunicação social e para mostrar de que modo o impacto desta

construção ideológica configura-se como um exemplo de Hegemonia.

Palavras-chave: discurso mediático, multimodalidade, género textual, texto multimodal

Giane da Silva Mariano Lessa

Unila/Universidade Do Minho

[email protected]

“Civilização, Eu Sempre Odiei Essa Palavra” Discursividades e poder na América Latina:

O caso da Unila

Durante a conquista da América, várias práticas discursivas corroboravam ações de

dominação que tanto organizavam a ordem colonial como colaboravam para a consolidação do

poder colonial. Uma delas foi a construção da superioridade civilizatória legitimada pela escrita

alfabética associada ao sagrado, que validava a necessidade imperiosa da cristianização dos

habitantes da região. O poder colonial criou múltiplas estratégias de desvalorização contínua

de grupos pertencentes a culturas de base oral, falantes de línguas não hegemônicas, que

constróem seu conhecimento e memória por meio de outros sistemas de notação, naturalizando

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sua inferioridade social pela ausência da escrita alfabética em suas práticas sociais. Desde então,

a escrita alfabética é símbolo de superioridade, prestígio e ascenção social inquestionáveis na

América Latina, alcançados, no entanto, somente por aqueles que têm acesso à escola. Por outro

lado, ainda se faz notar a permanência de populações rurais e urbanas em sistemas de total ou

parcial oralidade, de modo que se vêem excluídos total ou parcialmente de serviços e beneficios

que favorecem parte da população, como o acesso a hospitais, educação e apoio jurídico.

Examinaremos neste estudo os casos de alguns estudantes e profesores de origem indígena da

Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA), criada pelo governo brasileiro

em 2010, situada na tríplice fronteira que compreende o Brasil, o Paraguai e a Argentina. Os

dados coletados por meio de entrevistas mostram como a UNILA, com vocação internacional

e estudos voltados para a América Latina, abre um espaço em que sujeitos provenientes de

culturas de base oral se articulam em contextos sociais constituídos pelo estado, atravessados

por práticas de letramento escrito e aponta alguns desafíos a serem vencidos numa universidade

que se pretende latino-americana e inclusiva.

Palavras chave: oralidade, escrita alfabética, poder, UNILA

Alexandre Ferreira Martins

Université Paul-Valéry Montpellier 3/Praxiling

[email protected]

Adriana Célia Alves

Universidade Estadual Paulista/Fapesp

[email protected]

Os efeitos retroativos do exame celpe-bras no Brasil: um percurso sobre o poder de um

instrumento de políticas linguísticas

Este trabalho procura discutir o papel do Certificado de Proficiência em Língua

Portuguesa para Estrangeiros (CELPE-BRAS) no Brasil para o desenvolvimento e as mudanças

da área de Português como Língua Adicional (PLA). Shohamy (2006) afirma que os testes de

língua/linguagem são dispositivos linguísticos que exercem poder na educação, provocando

efeitos nas práticas educativas. Isso remete ao debate a propósito do conceito de efeito

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retroativo (washback effect), que faz referência à maneira como uma avaliação pode afetar os

suportes pedagógicos e a gestão em sala de aula (Hughes, 1989) ou o ensino e a aprendizagem

(Alderson & Wall, 1993). Sabe-se que o exame, desde a sua constituição, provocou efeitos

retroativos na aprendizagem, nas representações dos alunos sobre a cultura de aprendizagem de

uma língua e nas pesquisas científicas produzidas na área e no ensino de PLA (Schoffen &

Martins, 2016). Schlatter et al. (2009) salienta que alguns estudos sobre tais efeitos mostram

uma mudança gradual nas metodologias de ensino graças à introdução de práticas de uso da

língua através de gêneros do discurso, conceito transposto ao Brasil e reinterpretado para o

ensino de língua portuguesa. Desse modo, esta comunicação apresenta, primeiramente, os

aspectos históricos e teóricos da área de PLA no país e sua relação com o advento do CELPE-

BRAS, assim como a importância deste exame nos contextos nacional e internacional. Em

seguida, faz-se um balanço da presença da perspectiva teórica que está na base deste

instrumento linguístico para a constituição de um novo paradigma teórico-metodológico no

ensino de PLA: a visão de língua/linguagem, de cultura e de sujeito. Algumas produções

acadêmcias, como os trabalhos de Kraemer (2012) e de Mittelstadt (2013), que propõem

reflexões didáticas/metodológicas a partir do quadro teórico do exame, permitem descrever e

compreender os efeitos deste instrumento para a criação de políticas linguísticas reais

(Shohamy, 2006).

Palavras-chave: Celp-Brás, poder, políticas linguísticas, efeito retroativo.

Simião Alberto Muhate

Universidade Pedagógica - Maputo

. [email protected]

Abordagem Mitocrítica dos Rituais de Purificação Pós-morte no Grupo Etno-linguístico dos

Varhonga do Sul de Moçambique

A nossa pesquisa, designada “Abordagem Mitocrítica dos Rituais de Purificação Pós-

morte no Grupo Etno-linguístico dos Varhonga do Sul de Moçambique” toma como referência

os trabalhos de Gilbert Durand, na sua linha anglo-americana, a partir de uma análise baseada

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no método mitocrítico dos rituais da morte recolhidos em Maputo pelo docente e estudantes do

“minor” em língua Xirhonga na Universidade Pedagógica no primeiro semestre de 2017.

A nossa pesquisa constitui uma crítica literária do mito, elegendo, para o efeito, o

mitologema da morte, assumindo que o conhecimento dos mitos visa a formação do homem

integral, junto à instrução. Daí que a instrução deve estar circunscrita na educação, e esta

congrega também a arte, em geral, e a literatura, em particular.

Neste campo, exploramos a literatura oral, estrita, no caso, o mitologema da morte,

porque, em nosso entender, não é possível separar o mito da literatura, uma vez que são

complementares na cultura e, por isso, na língua. Assim, todos os mitologemas agregados em

um mito são importantes como reguladores da sociedade à qual pertencem.

Definimos como objectivo: desenvolver a análise mitocrítica do mito como factor

indispensável para a Educação e a formação integral do homem.

Como hipótese assinalamos que o estudo da língua e a disseminação dos valores sócio-

culturais com professores capazes de uma abordagem interdisciplinar visando a formação do

homem integral seria mais proveitoso para o ensino da literatura ao serviço da língua

portuguesa.

Apresentamos a necessidade da validação da hermenêutica africana para o acesso

desinibido às realidades sócio-culturais dos grupos etno-linguísticos, o que propicia a

apropriação de aspectos da tradição africana e das memórias colectivas, como é o caso do mito

aqui representado pelo mitologema da morte.

Palavras-chave: hermenêutica simbólica africana, mito, mitocrítica, morte e ritual.

Ricardo Augusto Silveira Orlando

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

[email protected]

Regimes do visível no jornal impresso: enunciação verbo-visual em primeiras páginas de

diários das décadas de 1970 e 2010

A primeira página do jornal impresso contemporâneo funciona como anúncio, recortando

e enquadrando temas e atores: dupla injunção do que de atrativo há no produto e daquilo que

deve ser objeto de atenção dos leitores. Forma cultural histórica, reconhecida, a primeira página

atua como mapeamento da realidade social enquanto a produz discursivamente. Ela é central

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na construção da identidade do produto e do enunciador como fonte legítima e autorizada para

falar dessa realidade. Os modos de enunciação da informação jornalística no impresso

passaram, ao longo do século XX, a caracterizar-se pela crescente integração verbal-visual e

constituem-se em uma linguagem própria, situada em meio a relações de poder e modos como

determinada visualidade insere-se em regimes do visível e políticas do olhar. Seguindo a noção

de dispositivo de Maurice Mouillaud, a informação no jornal adota uma espécie de matriz que

produz estruturação específica, direcionando sentidos e interpretação dos textos. Há um ritual

básico da comunicação jornalística nos diários. Este trabalho busca estabelecer, com o apoio de

estudos do discurso, procedimentos de análise da enunciação com foco na integração verbal-

visual, tomando como eixo o tratamento da informação. Pretende localizar e mapear aspectos

que caracterizam este ritual do dizer jornalístico na primeira página, contrastando no tempo a

enunciação em suas especificidades e em seu vínculo com regimes do visível. Para tanto, estuda

exemplos de periódicos brasileiros de grande circulação, em dois momentos distintos do

jornalismo impresso (décadas de 1970 e 2010), que sintetizam um certo modelo de visualidade,

com seus modos correntes de construção de enunciados. O primeiro sucede o período em que

a linguagem visual dos jornais adquire certa maturidade (pós-1960, chamada fase de atenção

ao design). O segundo quando os diários estão em meio à ecologia comunicacional de uso

disseminado da internet e mídias sociais digitais.

Palavras-chave: design de imprensa, visualidade, discurso, enunciação, primeira página

Anísio Batista Pereira

UFU

[email protected]

Antoniel Guimarães Tavares Silva

UFU

[email protected]

Formações discursivas na rede digital e os efeitos de memória política do Brasil no Carnaval

2018

A evolução da mídia digital tem apresentado um impacto considerável no que respeita às

trocas de informações e facilidade em se comunicar de forma ágil e precisa. Nesse contexto, é

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veiculada uma gama de conteúdos variados, cujas publicações nas redes digitais se dão a partir

dos acontecimentos sociais de várias naturezas e dimensões. Pensando nessas questões sobre

os discursos midiáticos e em consonância com a considerada maior festa popular do país, este

trabalho tem por objetivo refletir sobre as formações discursivas na mídia digital acerca do

Carnaval ocorrido no Brasil em fevereiro de 2018. A constituição do corpus para análises se

baseia em comentários do facebook, a partir de uma postagem de um vídeo sobre uma escola

de samba cuja fantasia critica o atual momento político do país e o impedimento da presidente

Dilma Rousseff, ocorrido em 2016. Como suporte teórico-metodológico para as análises dos

enunciados, serão tomadas as formulações do considerado pai da Análise do Discurso de

vertente francesa, Michel Pêcheux, com ênfase aos conceitos de sujeito, discurso, formações

discursiva e ideológica e memória discursiva, bem como outros que podem estar ligados a esses,

dando suporte às leituras e discussões dos comentários supracitados. Pelas análises do recorte

escolhido, é perceptível as formações discursivas em relação à fantasia alusiva ao impeachment

presidencial e aos sujeitos filiados ao partido político de direita. A polêmica em relação a essas

formações discursivas se dão em meio a dois posicionamentos de sujeitos ligados a duas

formações ideológicas contrárias: de um lado, os inscritos nos discursos da direita e, de outro,

os sujeitos vinculados ao partido de esquerda. Nos enunciados é possível perceber a emergência

de efeitos de memória política brasileira, inclusive a retomada do militarismo, cujo golpe de

1964 é comparado à cassação da presidente de 2016, pelos sujeitos ligados à ideologia de

esquerda.

Palavras-chave: Discurso. Sujeito. Formações ideológicas. Memória discursiva. Carnaval

2018.

Wilma Maria Pereira

Instituto Federal de Educação do Norte de Minas

[email protected]

Mídia religiosa e poder: um estudo dos imaginários sociodiscursivos

Com o aparecimento de uma nova configuração social permeada pelos recursos

midiáticos, é possível perceber uma certa preocupação das denominações religiosas em ampliar

o alcance de suas mensagens e em manter os laços com os fiéis. Assim, percebe-se que o

ordenamento bíblico “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura” encontra na

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atualidade uma nova configuração e demonstra de certa maneira a motivação que está

relacionada ao uso dos dispositivos midiáticos pelos agentes religiosos na divulgação do

evangelho. Tratam-se de espaços de evangelização à distância materializados também pela

mídia impressa e, assim, revistas, jornais e livros são divulgados e comercializados em

quantidades consideráveis. No entanto, é possível perceber que além da intencionalidade de se

manter um vínculo com os fiéis, as mídias religiosas materializam uma forma de poder segundo

a qual as religiões divulgam e reforçam os comportamentos considerados adequados para os

fiéis. Neste contexto, é relevante os estudos que buscam analisar como são configurados esses

discursos e de que maneira podem ser compreendidos como mecanismos de poder e de controle

no meio social. Sendo assim, o objetivo desse artigo é discutir os imaginários sociodiscursivos

e a materialização de noções que servem de instrumentos de controle e de exercício de poder

no meio religioso. Para isso, propõe-se a análise a partir dos pressupostos teóricos e

metodológicos da Análise do Discurso, sobretudo, da Teoria Semiolinguística por considerá-la

propicia à investigação dos fenômenos que designam o conjunto da realidade linguageira na

combinação entre o “dizer” e o “fazer”. A análise dos imaginários sociodiscursivos sinaliza

para a arquitetônica de um discurso elaborado a fim de mobilizar racional e afetivamente os

interlocutores e de que maneira serviram à sedimentação de valores que buscam estabelecer

relações de controle e de dominação entre os interlocutores no discurso religioso.

Palavras-chave: semiolinguística; imaginários sociodiscursivos; discurso religioso; poder.

Éden Peretta

Departamento de Artes Cênicas

Universidade Federal de Ouro Preto (MG)

[email protected]

Fricções entre corpo e poder na dança butô

A dança butô, nascida no Japão nas décadas seguintes à segunda guerra mundial, nos

propõe uma intrigante relação entre o corpo de carne (nikutai) e o corpo social (shintai), uma

vez que apresenta a fricção contínua e recíproca entre estas duas dimensões da experiência da

vida como protagonista tanto de seus procedimentos metodológicos de criação como de seus

resultados cênicos. A presente comunicação visa, portanto, analisar este procedimento proposto

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por uma linguagem cênica à luz das reflexões sobre biopolítica e biopoder trazidas por

pensadores como Giorgio Agamben e Michel Foucault. Busca assim indicar possibilidades de

instauração de “políticas da carne” nas quais a vida nua (zoè) confronta-se com as

normatizações da vida (bios) gerando momentos fugazes que permitem outras possibilidades

de experimentação de nossos corpos.

Palavras-chave: Corpo; Biopolítica; Dança Butô; Linguagem Cênica.

Rosalice Pinto

CEDIS/CLUNL

[email protected];

Carla Teixeira

CLUNL

[email protected])

As Constituições Portuguesas de 1933 e 1976 e os seus ecos intertextuais:

a linguagem enquanto poder

A Constituição, como é de conhecimento de todos, é a lei fundamental de uma sociedade

politicamente organizada, sendo que “suas normas se articulam numa relação de dependência

hierárquica” (Justo, 2009, p. 275). Na verdade, como Carta magna de um país, esta espelha o

modo como a máquina social e política de um Estado se rege em determinado momento

histórico. No contexto português, em especial, duas Constituições demarcaram recentemente

ruturas histórico-sociais: a de 1933 e a de 1976. Face à relevância desses documentos na vida

em sociedade, este trabalho, centrado em perspetivas textuais-discursivas que preconizam o

estudo de textos empíricos, inseridos em suas práticas sociais, analisará os ecos intertextuais e

a sua semiotização linguística presentes tanto no preâmbulo constitucional quanto na descrição

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dos direitos e deveres constitucionalmente assentes dos cidadãos. Considerando que o processo

de interpretação se faz a partir de um percurso interpretativo (Rastier, 2001), dependendo

fortemente de ecos intertextuais para o preenchimento de ‘lacunas interpretativas’, descortinar

de que forma essa intertextualidade é semiotizada no corpo das Constituições da República

Portuguesa, no que se refere aos direitos e deveres dos cidadãos, é o propósito deste trabalho.

Os resultados obtidos mostram que, face a contextos históricos diferenciados de produção, os

ecos intertextuais identificáveis nas duas Constituições demonstram claramente que a

linguagem, enquanto representação coletiva (Bronckart, 2004) de uma realidade sócio-político-

histórica pode vir a ser um instrumento de poder social (van Dijk, 2008) Logo, este poder

decorre não apenas do processo de produção, mas também da interpretação desses textos

fundadores.

Palavras-chave: Constituição da República Portuguesa, Preâmbulo, Intertextualidade,

Linguagem, Representação Coletiva

Rosalice Pinto

CLUNL/CEDIS

[email protected]

Suzana Cortez

UFPE

[email protected]

Maria das Graças Soares Rodrigues

UFRN

[email protected]

Empatia e emoção em textos multimodais: o caso ‘Marielle Franco’.

É consensual que os textos de natureza verbal sobre temas polêmicos em circulação nos

media, materializam-se, enunciativamente, a partir de uma dinâmica, empática e emocionada,

na representação dos pontos de vista, como demonstrado em trabalhos anteriores

(RODRIGUES, 2017; RABATEL, MONTE & RODRIGUES, 2015; RABATEL, 2017;

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PINTO & CORTEZ, 2017). Face a esse contexto, esse estudo, de natureza empírica, procurará

demonstrar de que forma essa mesma dinâmica pode vir a ser construída e representada em

textos verbo-visuais (de natureza multimodal). Para atingir esse objetivo, serão identificadas a

partir de elementos da Gramática do Design Visual (KRESS & VAN LEEUWEN, 2006),

nomeadamente as representações ideacional e interacional, associadas aos pontos de vista

(PDV) (RABATEL, 2013 a e b, 2017) em circulação nos textos referidos, tais representações.

Tal pesquisa será realizada a partir da análise de capas dos jornais digitais e de postagens na net

que circularam no Brasil e em Portugal quando do homicídio da vereadora carioca Marielle

Franco, em março de 2018. Estudos preliminares atestam que as representações dos PDVs,

identificados a partir da construção multimodal dos textos analisados, demonstram o poder da

linguagem empática e emocionada para a instauração do ‘duelo de forças’ e do dissenso

(AMOSSY, 2017) nas sociedades democráticas.

Palavras chave: empatia; emoção; responsabilidade enunciativa; polêmica; multimodalidade

O discurso de opinião sobre o #MeToo

Zara Pinto-Coelho

CECS, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Universidade do Minho

[email protected]

O discurso de opinião sobre o #MeToo

Considerando a magnitude da participação na campanha #MeToo, a intensidade do debate

mediático que gerou, o envolvimento político de vários jornais e, em contraste, a fraca presença

do fenómeno no contexto nacional, não obstante os valores elevados da frequência do assédio

sexual em Portugal, quando comparado com aqueles que se verificam em média noutros países

europeus, importa conhecer os contornos que adquiriu este fenómeno no debate público

mediático português.

O discurso de opinião da imprensa escrita funciona, como é sabido, como um recurso

essencial de poder no debate público, dados o estatuto, a autoridade e notoriedade dos seus

autores, a relação das temáticas abordadas com a agenda pública e a atualidade, e os objetivos

persuasivos e mobilizadores da linguagem usada. Conhece-se também a polemicidade deste

discurso e o seu carater elitista, já que dirigido essencialmente a atores sociais e políticos

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influentes, com presença assídua nos média. Desempenha ainda um papel cultural, uma vez que

divulga de uma forma persuasiva normas e valores que guiam a avaliação dos eventos

noticiados.

Neste quadro, analisamos como foi representado o MeToo no discurso de opinião, as

atitudes e ideologias (de género e de sexualidade, entre outras) que enformaram as posições

tomadas e a significância dessas escolhas para a forma como vemos o fenómeno e a questão

social que o motivou, o assédio sexual no local de trabalho. Discute-se, nesta comunicação,

alguns dos traços mais relevantes deste discurso, colocando em diálogo literatura sobre

discursos de resistência, redes sociais e média tradicionais, feminismo numérico e políticas

sexuais e de género.

O corpus, composto por 55 artigos (Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de

Notícias, Público, Expresso, Observador, entre 1 de Outubro de 2017 a 21 de Janeiro de 2018),

foi construído a partir de uma busca orientada pelas palavras-chave #MeToo e assédio sexual.

Palavras-chave: #MeToo; discurso de opinião; imprensa escrita; ideologias; género e

heterossexualidade

Ana Ribeiro

ILCH – CEHUM

[email protected]

Literatura, (contra-)poder e direitos humanos em Angola

Antes ou depois da independência, não faltam na literatura angolana textos literários que

confrontam o poder oficial. Atuando como contra-poder, não estão eles, contudo, isentos de

poder(es), sem o que a sua existência, aliás, não se justificaria. Neste sentido, não podemos

deixar de considerar a literatura uma linguagem de poderes.

Ancorados na vivência quotidiana da população negra, da qual o sujeito da enunciação é

o porta-voz, muitos destes textos, com objetivos claramente interventivos, chamam a atenção

para o desrespeito pelos direitos humanos naquele território. Aliás, mesmo antes da

consagração oficial dos direitos humanos, já em Angola se denunciava a desumanidade da

discriminação racial e se reivindicava a igualdade entre negros e brancos. Autores como

Agostinho Neto, Viriato da Cruz, Ondjaki, Manuel Rui ou José Eduardo Agualusa permitirão

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uma radiografia da sociedade angolana pré e pós-independência, de forma a identificar, nas

situações representadas, os direitos humanos em falta. O confronto entre a representação

literária e alguns documentos legais tornará mais evidente o conflito entre as diversas

linguagens de poder que fazem parte do tecido social angolano.

Palavras-chave: Literatura angolana, poder, direitos humanos

Camila Ribeiro

Université de Picardie Jules Verne-UPJV/CURAPP-ESS

[email protected]

Construção discursiva das representações do Brasil por um jornal francês : leitura

interpretativa de uma forma instituída de poder

Propomos uma reflexão sobre a construção das representações da realidade social

brasileira pelo discurso jornalístico francês. Na medida em que os discursos jornalísticos

constroem e fazem circular representações, interessamo-nos pelo discurso do jornal francês Le

Monde em 2005, ano de realização do Ano do Brasil na França (ABF), evento que contou com

diversas manifestações culturais sobre o país e ano em que o Brasil conheceu um crescimento

econômico importante com o governo Lula (2003-2010), esses dois fatos tendo dado origem a

diversos artigos no jornal em questão.

Levando-se em conta que « le lien qui relie les "significations" d’un texte aux conditions

socio-historiques de ce texte n’est nullement secondaire, mais constitutif des significations

elles-mêmes » (Haroche et al., 1971 : 98), consideramos que esse momento de crescimento

econômico determinou a difusão e a circulação de certas representações sobre o país nos

discursos jornalísticos, tendo mesmo podido presidir a realização do ABF.

Partindo das noções de prédiscurso (Paveau, 2006), discurso fundador (Orlandi, 2003) e

discurso constituinte (Maingueneau et Cossutta, 1995), apresentaremos um quadro teórico que

sustenta que as representações são presididas por momentos anteriores de produção discursiva

que remontam ao momento da descoberta e da colonização europeia. A produção discursiva

anterior atravessa de uma certa maneira a produção discursiva de 2005 (e também a atual), no

sentido de que a antiga dicotomia dominador/dominado ou Velho/Novo Mundo se atualiza

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discursivamente na dicotomia países desenvolvidos/emergentes, o que implica uma forma

instituída de poder e submissão.

Inscrevemo-nos na perspectiva da análise do discurso e analisaremos as rubricas

jornalísticas e os temas que elas englobam com o objetivo de apreender e interpretar a

construção discursiva da realidade social e os efeitos de categorização gerados.

Palavras-chave: discurso, representação, crescimento econômico, poder.

Elisabete Ribeiro

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

[email protected]

Miguel Gonçalves

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

[email protected]

Marcas discursivo-pragmáticas do populismo em imprensa do Estado Novo

O presente trabalho visa a investigação pragmática em dois números da revista “O Século

Ilustrado”, nomeadamente “Fátima faz hoje 50 anos” e “Um ano de Ponte”, de maio e agosto

de 1967, respetivamente.

Foi nosso propósito identificar aspetos da construção discursiva da identidade portuguesa,

caracterizar os papéis da mulher e do homem durante o Estado Novo, identificar qualquer tipo

de dogmatismo, seja nos géneros de texto publicitário, jornalístico ou humorístico, bem como

fenómenos de racismo, xenofobia e machismo linguisticamente construídos. Pretendemos

também identificar marcas de culto da pessoa, da pátria e da religião católica. Identificamos

ainda as marcas linguísticas das sequências textuais propostas por Jean Paul Bronckart, e

atualizadas por Luiz Carlos Travaglia e as estratégias discursivas de natureza enunciativo-

pragmática.

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A nossa investigação teve ainda em conta os atos de fala, de modo a perceber de que

forma estes se relacionam com a sociedade portuguesa dos anos 60, isto é, como é que

determinados tipos de atos podiam influenciar as mulheres, por exemplo, a comprar certo

produto.

A análise de dois números da mesma revista, com apenas alguns meses de diferença,

ajuda-nos a perceber de que forma os aspetos da identidade portuguesa se alteraram, bem como

a construção da imagem da sociedade portuguesa para a qual as revistas/jornais contribuíam.

Palavras-chave: pragmática, atos de fala, sequência textual, construção discursiva

Gilmara dos Reis Ribeiro

Universidade Federal do Amapá

[email protected].

Controle do poder e ideologias: um estudo discursivo da divulgação do desmatamento na

Amazônia

Este trabalho analisa as estratégias ideológicas gerais (VAN DIJK, 2012) e os modos de

operação da ideologia (THOMPSON, 2002) presentes na divulgação do desmatamento na

Amazônia (causas e consequências) realizada pelos jornais O Liberal e A Crítica. Com um

corpus formado por 38 matérias publicadas no ano de 2011, sendo 26 do jornal O Liberal e 12

do A Crítica, o trabalho atrelado à Análise do Discurso Crítica objetiva verificar o papel das

ideologias no controle da informação sobre as causas e consequências desse desmatamento. Os

resultados da análise revelam como o uso da linguagem a serviço do poder pode camuflar os

fatos, por meio da difusão de um recorte de informação. Esse recorte pode, muitas vezes,

colaborar com a confirmação, legitimação e reprodução da dominação social, travada

discursivamente. Além disso, quanto ao papel das ideologias nas relações de controle de poder,

a análise mostra como a divulgação é influenciada pelos diversos atores que participam dela, já

que, por exemplo, o enfrentamento da problemática aparece atrelado a questões de ordem

econômica, inclusive no discurso “ecológico”.

Palavras-chave: Análise do Discurso; Desmatamento; Ideologias; Controle de poder.

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Rute Rosa

Universidade NOVA de Lisboa - FCSH/CLUNL, Bolseira de doutoramento FCT

[email protected]

Natalia Ricciardi

Universidade Nacional de Rosario

[email protected]

Matilde Gonçalves

CLUNL

[email protected]

O papel do graffiti na construção do poder: um estudo comparativo Portugal/Argentina

Situando-se num projeto de investigação em curso, desenvolvido no âmbito da

Linguística do Texto e do Discurso, esta proposta procura articular os pressupostos da Análise

Crítica do Discurso (Fairclough, 1989) e do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) (Bronckart,

[1997] 1999), privilegiando os instrumentos de análise do ISD e foca o papel do graffiti na

construção do poder.

Desde a sua génese, o termo graffiti remete para textos de natureza heterogénea que

partilham a ação de transgressão e apropriação indevida ou inesperada dos suportes públicos

(Campos, 2007; 2009). O graffiti é, assim, um meio privilegiado para a contestação e

legitimação do poder nas sociedades, constituindo uma prática discursiva de construção de

ideologias e representações sociais.

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Tendo em conta que o contexto é uma dimensão essencial na abordagem do discurso

(Pedro, 1997), as propriedades do graffiti são “determinadas (ou explicadas) pelas condições

de interação local e pelas características das estruturas macrossociais” (Bronckart, 2008: 81).

Neste sentido, partindo do pressuposto de que diferentes contextos discursivos geram

práticas linguísticas diferenciadas, o objetivo desta comunicação é analisar o papel do graffiti

na construção do poder em dois contextos. Para tal, apresentamos uma análise exploratória de

um corpus constituído por 20 textos, 10 em português europeu e 10 em espanhol riopratense,

recolhidos diretamente em duas cidades, Lisboa, em Portugal, e Rosário, na Argentina. Em

termos metodológicos, partindo do histórico-social para o linguístico, procedemos a um estudo

comparativo dos textos, considerando os mecanismos enunciativos mobilizados,

designadamente as vozes e as modalizações privilegiadas nas duas línguas, bem como os tipos

discursivos associados às diferentes formas de construção do poder nos dois contextos

discursivos.

A partir da análise efetuada, concluímos que, nas duas línguas, o graffiti é uma prática

discursiva que procura construir o poder, desconstruindo as formas de poder dominantes.

Palavras-chave: graffiti; construção do poder; estudo comparativo; Análise Crítica do

Discurso; Interacionismo Sociodiscursivo.

Referências

Bronckart, Jean-Paul. [1997] 1999. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo

sócio-discursivo. Anna Raquel Machado (Trans.). São Paulo: EDUC.

Bronckart, Jean-Paul. 2008. “A atividade de linguagem frente à LÍNGUA: homenagem a Ferdinand de

Saussure” In: Guimarães, Machado & Coutinho (orgs). O interacionismo sociodiscursivo. Campinas: Mercado de

Letras.

Campos, Ricardo. 2007. Pintando a cidade: uma abordagem antropológica ao graffiti urbano. Tese de

Doutoramento em Antropologia Visual. Lisboa: Universidade Aberta. http://hdl.handle.net/10400.2/765

Campos, Ricardo. 2009. “Entre as luzes e as sombras da cidade: visibilidade e invisibilidade no graffiti “

In: Etnográfica, vol. 13 (1). http://etnografica.revues.org/1292

Fairclough, Norman. 1989. Language and Power. Harlow: Longman Group UK Limited.

Pedro, Emília. 1997. “Análise crítica do discurso: aspectos teóricos, metodológicos e analíticos”. In: Pedro,

Emília R. (org.). Análise Crítica do Discurso. Lisboa: Caminho.

Uma ruga no tempo – sobre as crónicas de António Lobo Antunes

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André Corrêa de Sá

University of California, Santa Barbara

[email protected]

Uma ruga no tempo – sobre as crónicas de António Lobo Antunes

A tese desta comunicação é a de que os livros de António Lobo Antunes podem inspirar

um conjunto de posições ecocríticas – isto é, podem ajudar-nos a refletir sobre a relação entre

o homem e o meio-ambiente e sobre a linguagem de poder a que chamamos «progresso».

Desenvolvendo essa perspetiva e em referência aos livros de crónicas, propõe-se um exercício

de interpretação que revele em que sentido a atmosfera nostálgica dos textos em que se relembra

a infância pode contrapor-se ao discurso da sociedade capitalista contemporânea. O meu

objetivo é mostrar que, ainda que não se articulem com qualquer agenda política explícita ou

implícita, nem desenvolvam uma preocupação especial com temas ou motivos ecológicos, os

livros de Lobo Antunes têm o potencial de combinar uma crítica à modernidade mediática com

a noção de dever e responsabilidade que nos deve ligar ao lugar e à comunidade que habitamos.

Palavras-chave: António Lobo Antunes; crónicas; ecocrítica.

Maria Irene da Fonseca e Sá

Universidade Federal do Rio de Janeiro

[email protected]

O Poder dos Personagens de José Saramago: a sabedoria dos comuns

Com suas parábolas e fábulas, José Saramago encaminha seus leitores para a reflexão

sobre o atuar do ser humano num mundo globalizado. Seus romances mantêm a critica aos

estratagemas de perversidades, arbitrariedades e conivências praticados pelos diferentes

componentes da sociedade – o governo, as empresas, as religiões, as associações ilegais,

estabelecidos no mundo de forma a dominar a humanidade. Assim, Saramago, através de seus

romances e dos discursos de seus personagens, busca fazer com que seus leitores se questionem

e questionem o mundo em que vivem.

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O trabalho vale-se da pesquisa qualitativa e teve por objetivo buscar, em algumas das

obras de José Saramago, personagens que através de suas falas levem os leitores à reflexão

sobre as diferentes preocupações que afligem a sociedade contemporânea.

O próprio Saramago afirma que escreve para pensar sobre cicunstâncias da vida que o

inquietam. “[...] cada romance meu é o lugar de uma reflexão sobre determinado aspecto da

vida que me preocupa.”

Saramago utiliza personagens comuns para compor seus romances. Ele enfatiza: “[...]

nos meus livros não há heróis, não há gente muito formosa, talvez nem sequer as mulheres o

sejam, ainda que, como em geral não as descrevo, o leitor possa recriar a imagem segundo as

suas preferências.” e afirma: “Reflito e escrevo sobre pessoas comuns porque essa é a gente que

conheço.”

Assim, desde a saga dos Mau-Tempos de Levantado do chão, passando pela Blimunda e

Sete-Sóis de Memorial do Convento e chegando à família de oleiros de A caverna, Saramago,

fazendo uso de personagens simples, comuns, mas que possuem sabedoria, coloca em suas falas

discursos que questionam o mundo em que vivemos,ou seja, faz denúncias através do poder do

discurso de seus personagens.

Palavras-chave: José Saramago; Personagens; Pessoas Comuns; Sociedade

Contemporânea; Globalização

Isabel Roboredo Seara

Universidade Aberta; CLUNL; CEHUM

[email protected]

“O presidente é o fusível de segurança do sistema”.

Discurso de comemoração de mandato presidencial e diálogo subsequente.

Construção do ethos de proximidade e de autoridade

Fiel a uma tradição retórica clássica, o atual Presidente da República Portuguesa, Marcelo

Rebelo de Sousa, baseou o seu discurso oficial, no momento de comemoração de dois anos do

seu mandato, num ritmo binário que está em consonância, de resto, com o título do livro “Dois

anos depois: júbilo e tragédia”, que lançou no mesmo dia, 9 de março de 2018, no Palácio de

Belém, dia que iniciou o terceiro ano de mandato presidencial.

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O objetivo principal deste trabalho é analisar a construção da imagem de proximidade e

de autoridade do locutor, no discurso oficial proferido neste dia (duração 7 minutos) e nos quase

40 minutos subsequentes de respostas aos jornalistas, numa perspetiva marcadamente

pragmático-discursiva. Assim, a análise assenta em pressupostos teóricos do campo da análise

do discurso (Charaudeau 2014, 2017; Maingueneau 1999, 2002; Plantin 2011, 2016; Amossy

1999, 2010), nomeadamente da análise do discurso político (Marques 2014, 2016).

Em sintonia com Marques (2014) que afirma que os discursos presidenciais permitem

descortinar posturas políticas, antever posicionamentos ideológicos e confirmar a construção

da autoridade presidencial, consideramos que os discursos em análise evidenciam “o que de

bom e de dramático” se passou, mas sobretudo apresentam os cinco desafios que o Presidente

elenca para o futuro do país, assumindo-se pessoalmente como “fusível de segurança do

sistema”.

No diálogo com os jornalistas, o Presidente convoca uma dimensão pessoal, lembrando

marcas autobiográficas, das suas vivências profissionais anteriores, que estão na base da

construção de um ethos de proximidade e, simultaneamente, de autoridade.

Palavras-chave: Discurso presidencial; discurso comemorativo; ethos; análise pragmático-

discursiva

Isabel Sebastião

CLUP/CLUNL

[email protected]

Isabelle Simões Marques

Universidade Aberta & CLUNL

[email protected]

“Make America Great Again”: Quando a linguagem se torna poder

Pretendemos, na nossa comunicação, realizar uma análise discursiva das estratégias de

persuasão e de poder utilizadas no discurso político da campanha eleitoral de Donald Trump à

presidência dos Estados Unidos. Analisaremos as suas práticas nas redes sociais,

nomeadamente Facebook e Twitter, principais instrumentos de comunicação online do então

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candidato. A escolha deste tema deve-se à relevância social do fenómeno dos discursos políticos

enquanto instituição social de grande projeção quer nos Estados Unidos quer noutros países.

Neste processo, estão implicados o contexto histórico e social, o discurso político do então

candidato esteve contaminado por ideais populistas, refletindo, deste modo, as mudanças

estruturais que afetaram as identidades pessoais e sociais (Charaudeau, 2008, 2011), bem como

as noções de ethos, de representações e estereótipos, causando uma descentralização e um

deslocamento dos indivíduos e dos seus mundos sociais e culturais.

O nosso estudo insere-se na linha dos estudos da Análise (Crítica) do Discurso, que

considera a perspetiva do discurso como uma prática social dentro de um contexto sociocultural

(van Dijk, 2008). Desta forma, a metodologia utilizada será a da análise interpretativa dos níveis

e estratégias discursivas usados para identificar, descrever e explicitar as metas e os propósitos

comunicativos e sociais dos participantes na interação discursiva e a sua função quer nos textos

quer na sociedade.

Alguns resultados permitem perceber como Trump, um candidato não pertencente à

tradição política americana, conseguiu tornar-se Presidente dos Estados-Unidos, através, entre

outros, de argumentos de choque, críticas às elites, defesa do regresso de uma América forte,

indo ao encontro das expectativas de uma grande parte do eleitorado americano. Veremos como

valores nacionalistas e extremos, assim como temáticas com uma forte componente emocional

(tais como a imigração, o terrorismo ou a violência), veiculados através de uma retórica simples

e personificadas por um leader carismático, tiveram o sucesso esperado.

Palavras-chave: discurso político, identidade social, poder, ethos, ideologia.

Antoniel Guimarães Tavares Silva

UFU

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Anísio Batista Pereira

UFU

[email protected]

Reflexões sobre a constituição do sujeito presidente Michel Temer na rede digital em 2018

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Os discursos contemporâneos versam sobre camadas heterogêneas dos veículos de

comunicação constituindo materiais de análise suscetíveis à ângulos de investigação linguística

controversos. Com efeito, a evolução dos suportes dos dizeres produz efeitos de sentidos

consonantes com determinados vincos da história, memória e relações de poder. Partindo desta

perspectiva, examina-se a constituição de sujeitos polêmicos e contraditórios nas redes digitais,

especialmente personalidades localizadas em um momento sócio-histórico-ideológico

pertinente para a produção de enunciados que denotam posições subjetivas reveladas por

singulares formações discursivas. Neste sentido, objetiva-se com este trabalho propor algumas

reflexões sobre a constituição discursiva do sujeito Presidente Michel Temer na rede digital. A

construção do corpus de análise, por conseguinte, baseia-se na análise de comentários delegados

por usuários da rede social YouTube, especificamente direcionados ao vídeo “Uma saída para

a crise” do canal eletrônico Porta dos Fundos no ano de 2018. Para tanto, a investigação possui

fulcro no campo da Análise do Discurso de linha francesa, preconizada pela vertente de Michel

Pêcheux e as contribuições de Michel Foucault, não obstante, pensando os conceitos de

discurso, formação discursiva, sujeito e memória discursiva no âmbito enunciativo. Além disso,

pretende-se refletir como essas concepções operam no corpus e faz emergir um discurso político

que revela o sujeito supracitado. Apreende-se, neste contexto, uma articulação previamente

estabelecida entre posicionamentos políticos demarcados por dois polos férteis de grupos de

sujeitos, por um lado, discursos de usuários inscritos em formações discursivas orientadas pela

filosofia da “esquerda” partidária e, por outro lado, o pensamento ideológico da “direita”.

Ademais, o sujeito Michel Temer se constitui a partir da convergência de duas correntes

nitidamente observadas nos enunciados analisados, permeados por uma memória discursiva

atuante sobre os comentários em questão.

Palavras-chave: Discurso. Formação discursiva. Sujeito. Memória discursiva. Michel Temer.

Lucília Maria Abrahão e Sousa

FFCLRP/ USP – Brasil

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O poder na trama urbana: discurso de futuro e seus efeitos

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Partimos do ponto teórico da Análise do Discurso francesa de que nomear, situar as

palavras e cristalizar seus efeitos são formas de inscrição de poder, tomando-o sob uma das

formas mais recorrentes: tensão, disputa e luta. Sobre isso Pêcheux teorizou bastante e apontou

o modo como “o que pode e deve ser dito” regula-se sob o funcionamento da interpelação

ideológica, da evidência do naturalizado e tido como único meio possível de ordenar as relações

desiguais de posição entre os sujeitos. Com base nesse aporte teórico-metodológico, intentamos

analisar um enunciado muito repetido no país que aqui é entendido como um pré-construído

que regula sentidos sobre o tempo futuro e a nação, qual seja, “Brasil, país do futuro”, fazendo-

o ranger em relação à denominação Museu do Amanhã, recentemente inaugurado na cidade do

Rio de Janeiro. O jogo de retomada desse tempo futuro a ser documentado, arquivado e

colocado em circulação desenha na língua não apenas vestígios da suposta contemporaneidade

e avanço tecnológico do /no país, mas faz falar simulações, prognósticos, previsões, indicativos

de probabilidade sobre o planeta, a vida na terra e o ser humano daqui a alguns anos. Tal

operação funciona como um oráculo tecno-científico, apoiado em um modo de circulação do

discurso da ciência. O que nos parecer funcionar imaginariamente nessa repetição do futuro é

o tempo presente que precisa ser silenciado, contido e colocado em suspensão posto que

marcado pelo insuportável de toda ordem de violências e exclusões. Projeto FAPESP

(2016/22675-8)

Sérgio Sousa

Universidade do Minho

[email protected]

Em Gentes do Mato, Manuel Pacavira denuncia a colonização portuguesa em África.

Mais precisamente, em Angola. E fá-lo de um modo um tanto inesperado. Ao invés de criticar

abertamente o poder colonial através de um clássico esquema maniqueísta, (segundo o qual os

colonos brancos seriam uma comunidade de dominadores sem escrúpulos e os colonizados, os

negros, as vítimas desse poder inclemente), o escritor enfatiza uma sociedade colonial pautada

por hierarquias várias e movida por diversos preconceitos. Sociedade na qual certos

colonizados, a compasso com o poder colonial, revelam uma moralidade mais do que duvidosa.

No fundo, Pacavira problematiza a colonização nas suas complexas redes socio-simbólicas e

discursivas. Que é como quem diz: nas suas lógicas de poder.

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José Teixeira

Universidade do Minho

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Publicidade e linguagem(ns) –

ou quando o poder da mensagem vale 8 milhões de euros por minuto

Embora sem nos darmos conta, é a publicidade que suporta a nossa forma de viver. Sem

publicidade, não teríamos a gratuitidade de acesso ao conhecimento, à informação, à

comunicação, ao lazer que a internete possibilita. Constituindo-se, portanto, o fenómeno

publicitário como um dos alicerces da sociedade global, o seu poderio económico implica a sua

omnipresença comunicativa através de uma multiplicidade de técnicas e linguagens. Uma

grande variedade de técnicas (comunicação multimodal) acarreta uma grande variedade de

modos discursivos/comunicativos, desde uma comunicação preferencialmente direta que pode

ser tida como “básica” até formas mais sofisticadas de forte presença humorística e

metonímico-metafórica.

Procurando sempre aliar a concisão, rapidez e criatividade na comunicação, a publicidade

busca a sedução do discurso “completo e perfeito” nas dimensões clássicas do logos, ethos e

pathos.

Na comunicação a apresentar, tentaremos demonstrar como o poder de sedução do

discurso publicitário implica o domínio dos mecanismos e processos comunicativos referidos

(incluindo a dimensão cognitiva da metáfora concetual), por exemplo num “simples”

storytelling de um valioso e poderoso minuto.

Karina Mendes Nunes Viana

Instituto Federal de Brasília – IFB

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Representações da Mulher em Discursos Estéticos Midiáticos de Influenciadoras Digitais

Os efeitos na dinâmica social do discurso estético midiático direcionado às mulheres em

mídias sociais como o Instagram têm ganhado destaque no mundo inteiro. Fenômeno devido,

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em grande parte, ao poder do discurso de influenciadoras digitais em perfis na web. Diante

disso, o objetivo desta pesquisa é contribuir para o debate, de modo a identificar as

representações atribuídas às mulheres e os efeitos disso na construção de suas identidades nos

discursos de influenciadoras digitais. Para tanto, foram analisadas práticas sociais discursivas

em cinco dos perfis de influenciadoras digitais mais seguidas na rede social Instagram. A

perspectiva teórico-metodológica adotada fundamenta-se na Análise de Discurso Crítica

(FAIRCLOUGH, 1992, 2001, 2003; CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH, 1999; VAN DIJK,

2010; MAGALHÃES, 1996, 2000) e nos estudos de Martin (2000), Martin e Rose (2003) e

Martin e White (2005) sobre avaliatividade, com incursões nos estudos sobre Identidade

(HALL, 2000, 2007; WOODWARD, 2000; GIDDENS, 2002; BAUMAN, 2005; SILVA, 2000)

e Gêneros Sociais (BEAUVOIR, 1980; BUTLER, 2015; SAFFIOTI, 1992, 2004). As análises

apontam que o discurso estético midiático em perfis de influenciadoras digitais têm efeitos

paradoxais na construção da identidade da mulher. Ao mesmo tempo em que as práticas

discursivas contribuem para o empoderamento da mulher, elas também reiteram atributos do

gênero feminino à apropriação do mercado consumidor constituído pelas mulheres. De modo

que, a diversidade de representações de gênero nos perfis de influenciadoras digitais acaba por

reforçar o exercício de poder do discurso capitalista, à medida em que são negociados padrões

comportamentais e de consumo em troca do dito empoderamento da mulher na sociedade atual.

Palavras-chave: Análise de Discurso Crítica, linguagem e poder, identidade, representações,

mídias sociais.

Josenilde Cidreira Vieira

doutoranda em Ciências da Linguagem (FLUP PT)/ (IFMA - BR)

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Discurso político, géneros do discurso eletrônico e poder: o uso do tweet e do post na

construção do ethos do governador do Maranhão, Flávio Dino

A possibilidade de, hoje, nos comunicarmos em rede, permite-nos caracterizar a

sociedade contemporânea pela “possibilidade de interação, acesso, produção e troca de

informações. Essa dinâmica tem se refletido em todo processo de comunicação humana e neste

caso particular, na política”. (Levy, 1999:190). No Brasil, desde 2010, muitos políticos

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passaram a utilizar as redes sociais nas suas campanhas eleitorais, promovendo as suas

identidades por meios de posts e tweets nas redes sociais Twitter e Facebook, respectivamente.

Quanto ao discurso político, de acordo com (Charaudeau, 2015, p. 40), dedica-se a

construir imagens de atores (ethos) e por meio de estratégias de persuasão e de sedução, para

convencer e conquistar eleitores. Em contexto político, podemos dizer que quando um

determinado ator pronuncia um discurso, age sobre o mundo, demarca uma posição e daí

decorre a instituição de uma determinada relação de poder. Neste estudo, entende-se poder

enquanto "[...] uma característica da relação entre grupos, classes ou outras formações sociais,

ou entre pessoas na qualidade de membros sociais [...]" (Van Dijk, 2008, 41). Assim, esta

comunicação pretende analisar a construção do ethos político de Flavio Dino, governador do

Maranhão, a partir das estratégias de persuasão e de sedução utilizadas por este ator político,

por meio dos seus posts e tweets, enquanto géneros do discurso eletrônico, para estabelecer

relações de poder com os seus seguidores nas redes sociais Facebook e Twitter.

O corpus de análise é constituído por 50 posts e 50 tweets publicados nas plataformas

sociais acima identificadas no período de junho a dezembro de 2016, tendo sido analisado

maioritariamente o conteúdo linguístico dos mesmos..

Palavras-chave: Discurso político. Poder. Post. Tweet.

Referências

Charaudeau, P. (2006).Discurso da mídias. São Paulo: Contexto.

Charaudeau, P. (2015). Discurso político. 2. ed. São Paulo: Contexto.

Fairclough, N. (2001). Discurso e mudança social. Brasília, DF: UnB.

Lévy,P. (1999). O ciberespaço, a cidade e a democracia eletrônica. In: _____. Cibercultura . São Paulo: Editora

34.

Van Dijk, T. (2008). Discurso e Poder. São Paulo: Contexto.

Ana Isabel Viola

Universidade Aberta, Lisboa

[email protected]

A «ofensiva verde» no debate sobre o estado da Nação

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Tomando como pressuposto que o objetivo de um discurso político é construir um espaço

linguístico no qual um grupo se possa constituir, reconhecer e existir (Mayaffre, 2003),

pretendemos verificar, no presente estudo, de que forma o discurso parlamentar do Partido

(português) Ecologista «Os Verdes», de feição marcadamente polémica, visa a construção e

afirmação de uma identidade política maioritariamente pela apresentação pejorativa dos outros

na situação de comunicação de debate parlamentar, de «carácter agonal e agressivo» (Marques,

2009). Para a prossecução do nosso objetivo, selecionámos como corpus de análise excertos do

subgénero do discurso político parlamentar debate sobre o Estado da Nação, compreendidos

entre 2009 e 2017, no qual pretendemos analisar, sob uma perspetiva pragmático-retórica, e no

quadro da análise do discurso, a dimensão argumentativa dos discursos, no que concerne, em

particular, às formas de tratamento e à deixis pessoal; aos atos de fala ameaçadores da face; à

polifonia; às estratégias de implicitação; aos argumentos ad hominem e ad personam, bem como

aos dispositivos retóricos. A análise dos procedimentos discursivos de descredibilização do

adversário permitirá verificar como a imagem do partido se constrói na interação pela retórica

do dissenso (Amossy 2014) e se afirma pelo distanciamento relativamente ao(s) partido(s) do

governo. Por conseguinte, observa-se como o poder do partido «Os Verdes» é, sobretudo,

perspetivado como «an interactional skill and process» (Ilie, 2001).

Palavras-chave: Debate parlamentar; identidade política; oposição; dissenso; discurso

argumentativo