Locke e educação

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    Os Cadernos IHU ideiasapresentam artigos produzidos pelos

    convidados-palestrantes dos eventos promovidos pelo IHU. A

    diversidade dos temas, abrangendo as mais diferentes reas

    do conhecimento, um dado a ser destacado nesta publica-

    o, alm de seu carter cientfico e de agradvel leitura.

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    Um caminho de educao

    para a paz segundo Locke

    Odair Camati

    Paulo Csar Nodari

    ano 10 n 177 2012 ISSN 1679-0316

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    UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS

    ReitorMarcelo Fernandes de Aquino, SJ

    Vice-reitorJos Ivo Follmann, SJ

    Instituto Humanitas Unisinos

    Diretor

    Incio Neutzling, SJ

    Gerente administrativoJacinto Aloisio Schneider

    Cadernos IHU ideias

    Ano 10 N 177 2012ISSN: 1679-0316

    EditorProf. Dr. Incio Neutzling Unisinos

    Conselho editorialProfa. Dra. Cleusa Maria Andreatta UnisinosProf. MS Gilberto Antnio Faggion UnisinosDr. Marcelo Leandro dos Santos Unisinos

    Profa. Dra. Marilene Maia UnisinosDra. Susana Rocca Unisinos

    Conselho cientfco

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    RevisoIsaque Gomes Correa

    EditoraoRafael Tarcsio Forneck

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    UM CAMINHO DE EDUCAO PARA A PAZSEGUNDO LOCKE

    Odair CamatiPaulo Csar Nodari

    Busca-se nesse artigo analisar o pensamento de JohnLocke no que diz respeito formao da sociedade civil e deque maneira ela se constitui, em ltima instncia, como a que

    d garantia para a paz. Entretanto, se a sociedade civil vier adeixar de garantir os direitos naturais dos indivduos, razo pelaqual os indivduos deixam o estado natural, torna-se legtima aresistncia no intuito de reestabelecer os direitos dos indivduose, assim, manter a paz.1

    Se existem direitos naturais, por que a necessidade de secriar uma espcie de contrato que os garanta? No estado na-

    tural no seria possvel garantir tais direitos naturais sem entrarno estado civil? Fundamentalmente, esses questionamentosso como que a base a partir da qual o presente artigo se cons-titui, analisando a plausibilidade de possveis pistas de respostaa tais indagaes e argumentando, por isso, da necessidadeda constituio da sociedade civil como garantia dos direitosnaturais e da paz.

    Assim sendo, a presente reexo busca mostrar a impor-

    tncia da sociedade civil para o pensamento poltico de JohnLocke. Os inconvenientes no estado de natureza acabam porgerar um estado de guerra, pois neste a lei reinante acaba sen-do, em ltima anlise, a fora. Porm, para evitar tais inconve-nientes, os indivduos, por meio do consentimento, entram emsociedade civil. A sociedade civil tem, pois, por objetivo garan-tir os direitos naturais dos indivduos, em especial o direito depropriedade. E, segundo Locke, a garantia dos direitos naturais

    1 Este artigo fruto de uma bolsa de iniciao pesquisa da Universidade deCaxias do Sul (UCS), nanciada pela Fapergs. Parte do resultado da pesquisaem torno da concepo de paz, em John Locke, torna-se pblica, agora, pormeio da presente edio. Desde j o agradecimento tanto Fapergs como aoconselho editorial dos Cadernos IHUideias. Por m, lembra-se que este artigoest vinculado ao projeto de pesquisa coordenado pelo professor Dr. PauloCsar Nodari (PPGFIL-UCS), intitulado tica, poltica e direito. O projeto flosfcoda paz em Kant. Chances e limites!

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    dos homens gera mais facilmente a paz, na medida em que no necessrio usar a fora, a qual geraria o estado de guerra. A

    lei natural, antes, no estado natural, presente no imaginrio daspessoas, agora, escrita e xada, sendo que a mesma ela-borada pelo poder legislativo, eleito pela maioria dos indivduospara represent-los.

    O consentimento dos indivduos o que d origem e legiti-midade a uma sociedade civil, e a vontade da maioria escolhe aforma de governo a ser adotada. A funo do governo garantiros direitos naturais, e quando deixar de garanti-los ou exercer

    o poder para ns prprios e no comuns, o governo pode serderrubado e estabelecido um novo em seu lugar, de acordocom o que for melhor e mais conveniente ao povo. O direito deresistncia tambm busca a garantia da paz, na medida em queprocura resgatar os direitos naturais dos indivduos postos emrisco pelo mau exerccio do governo.

    1 Refutao do absolutismo e a liberdade natural

    Locke se posiciona contra o absolutismo. Ele escreve aobra Primeirotratado sobre o governo civil2com a nalidade derefutar as ideias absolutistas, principalmente de Robert Filmer. Aideia principal defendida por Locke a de que os homens nas-cem livres e iguais e por isso no devem adorar a um prncipecomo se todos fossem seus escravos e apenas o prncipe fosse

    um homem livre. Filmer, em sua obra, Patriarcha or the naturalpower of Kings3,publicada em 1680, arma que os homens nas-cem escravos, submetidos ao poder do prncipe, poder essede origem divina. O absolutismo justicado pelo poder divi-no concedido por Deus, primeiro a Ado e depois a todos osreis, os quais seriam descendentes seus. Para Locke, o homemnasce livre e no deve adorar a um prncipe como seo podernele depositado fosse de origem divina. Ele mostra que faltamargumentos racionais para mostrar em que reside o supostopoder supremo concedido por Deus a Ado e, por conseguinte,passado a todos os reis.

    O poder que Ado recebeu sobre as coisas irracionais,ou seja, sobre a natureza fsica, e no consiste em um domnioprivado de Ado, mas pertence a toda humanidade em comum.O poder que Ado bem como toda a humanidade recebeu

    o de cultivar a terra, fazendo com que ela produza os frutosnecessrios para a sobrevivncia do prprio homem. Filmer uti-

    2 Sempre que houver referncia ao Primeiro tratado, usar-se- a seguinte abre-viatura ITRAreferida edio da Martins Fontesde 1998, e, ao Segundo tra-tado, usar-se- II TRA igualmente da Martins Fontesde 1998. Por sua vez, asreferncias ao Ensaio sobre o entendimento humanosero abreviadas comoEEHda edio da Fundao Calouste Gulbenkian de 1999.

    3 FILMER, Sir Robert. Patriarcha and other political works. Oxford: BasilBlackwell, 1949.

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    liza-se do argumento da paternidade, armando que o poder deum pai sobre um lho absoluto e da mesma forma do prncipe

    sobre o povo. Como o nico criador Deus e o homem no capaz de criar vida. Logo, ele no possui poder absoluto sobrea vida. Alm disso, no existe um poder absoluto do pai sobrea vida do lho, pois a me tambm geradora e nutre o lho.

    Alis, se fosse o caso, ela muito mais, pois, inclusive, o nutredentro de si mesmo. Pai e me, nas Escrituras, esto em grausiguais, assim os lhos devem obedincia e respeito ao pai e me da mesma maneira.

    O mandamento honrar pai e me no poltico ao pontode poder ser justicao para um monarca. Tal mandamento privado aos pais, como dever de obedincia e respeito. Se

    Ado tivesse rgio poder pelo ptrio poder, ento tambm seuslhos o teriam e assim sucessivamente. Nesse sentido, armaLocke (I TRA 70, p. 276):

    Pois ou o ptrio poder confere ou no autoridade rgia

    queles que o possuem: se no a confere, nem Ado nemningum poderia ser soberano por esse ttulo, o que pron-tamente poria um m a toda poltica de nosso A.; se a con-fere, todo aquele investido de ptrio poder de autoridadergia e, segundo o governo patriarcal de nosso A., havertantos reis quantos so os pais.

    O pai s pode passar a um lho sua propriedade. Mas eleno tem a possibilidade de passar o ptrio poder para um -lho. Ento, para que se possa exercer algum poder sobre outraspessoas, faz-se necessrio um consenso prvio, porque exa-tamente por consenso que se entra em sociedade e se decidequem governar. Ado no foi monarca, porque ele possua po-der apenas sobre as coisas e animais, e no sobre as pessoas.No se justica, pois, com esse argumento a monarquia heredi-tria, e, muito menos, de que esse poder seria divino, pois Deus

    concedeu poder apenas sobre coisas a Ado.Agora, pode-se entrar no tema central deste trabalho, asaber, a constituio da sociedade civil e o direito de resistn-cia nas mos do povo, tendo em vista a construo da paz.Urge, todavia, recordar que os acontecimentos polticos dosculo XVIIinuenciaram diretamente a obra poltica de Locke,pois os abusos de poder, frequentes em sua poca, estavampor ameaar a vida do povo. No obstante a predominncia

    dos diferentes modelos de absolutismo, Locke parte da con-cepo de que todos os homens nascem com capacidades epodem chegar obteno do conhecimento. A igualdade entreos homens torna-se fundamental para Locke poder armar quenenhum homem possui qualquer espcie de poder sobre outrapessoa e que todos possuem o poder de executar a lei da natu-reza, lei racional que guiava as aes dos homens. Locke bus-ca, por isso, refutar as ideias de Sir Robert Filmer. Este armava

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    que os homens deveriam subordinar-se ao rei, pois seu podertinha origem divina e justicao em Ado. O poder concedido

    a Ado e a toda humanidade em comum era sobre as criaturasirracionais e permitia que o homem sobrevivesse, utilizando-sedos frutos da natureza, advindos do seu prprio trabalho.

    Sendo o homem livre e igual, no h ningum, portanto,que possa ser chamado de superior na terra. Os homens vivemlivremente no estado de natureza. Eles so guiados pela lei na-tural, tambm denominada de lei da razo. Contudo, o homemtende a buscar o amor prprioacabando por gerar impasses

    difceis de serem resolvidos se no houver interveno de umainstncia legitimamente constituda. Eis aqui nesse ponto o sur-gimento da sociedade civil, a qual est fundada sobre a igual-dade e a liberdade dos homens. Estes, por consenso, aderems leis estabelecidas, instituindo com consequente ato um juizsuperior e imparcial, capaz de resolver as possveis desavenasque porventura houver.

    2 A formao da sociedade civil

    Expe-se a seguir a teoria poltica de John Locke com ba-se nos Dois tratados sobre o governo civil. Essa obra est divi-dida em dois tratados. O primeiro constitui-se na tentativa derefutao do poder divino como fundamento do poder herdadopelos monarcas. O segundo, por sua vez, explicita como Locke

    entende a formao da sociedade civil. Tem-se a inteno deesclarecer o conceito de poder poltico que para o lsofo fundamental na compreenso da sociedade civil. Esta, por suavez, tem a nalidade, por meio de seus poderes constitudos, depreservar a propriedade, empregando a fora legitimadora daprpria comunidade na execuo das leis. A funo do poderpoltico , dito de forma simples, de garantir o bem pblico econsequentemente a paz. O poder poltico se manifesta ou temexpresso, j no estado de natureza, no poder que todo indiv-duo possui de aplicar a lei da natureza. E, na sociedade civil, opoder poltico se manifesta do poder que o indivduo depositano governo no intuito de que este possa fazer valer a lei natural,ou seja, a lei da razo.

    Todo indivduo possui poder poltico no estado de natu-reza. Neste, cada um possui o poder de executar a lei da na-

    tureza. Porm, com a formao da sociedade civil, esse poder entregue prpria sociedade, ou seja, a um governo a serconstitudo. No estado de natureza, o poder poltico consistiaem fazer uso dos meios que a natureza fornecia para preservara propriedade e castigar a infrao sofrida por terceiros. Porsua vez, na sociedade civil esse poder no tem outra nalidadea no ser a de preservar os seus membros, sua liberdade e suasposses, no podendo, portanto, ser arbitrrio sobre a vida e

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    propriedade de seus partcipes. O pacto por consentimento oque d origem e legitimidade ao poder exercido por um gover-

    no a ser escolhido pelo povo.Em sua teoria poltica, Locke parte do indivduo como por-tador de direitos naturais. Segundo ele, s o consentimento que d origem sociedade civil, entre homens iguais e livres.Locke inverte a concepo de teoria poltica clssica. Com ele,no mais se parte, como acontecia com a concepo aristo-tlica, da polispara chegar ao indivduo, mas, pelo contrrio,do indivduo de direitos como sendo capaz de formar a polis,

    entendida aqui como a sociedade civil.A sociedade civil surge com o objetivo de melhorar e as-

    segurar a vida dos indivduos, pois, no estado de natureza, elesestavam expostos s arbitrariedades dos mesmos, os quais,buscando apenas interesses particulares, privavam os demaisdas condies de sobrevivncia. Por conseguinte, a funo deuma sociedade a de garantir que todos os seus membros te-nham sua propriedade protegida. E isso se d especialmenteatravs de leis justas e estabelecidas, que levem em conta to-das as necessidades dos membros de tal sociedade. A tarefade garantir o bem pblico est depositada no governo, esco-lhido pelo povo, formado pelos poderes executivo, legislativo efederativo. O legislativo responsvel pela elaborao das leis;o executivo, pela sua execuo; e o federativo, ligado ao execu-tivo, cuida das relaes externas. A diviso serve para que no

    haja abuso de poder e para que cada instncia scalize a aoda outra. Contudo, tal diviso no impede por completo queaconteam arbitrariedades por motivos externos ou internos.Quando elas eventualmente acontecerem, o povo tem direitode resistir e retomar para si o poder de deciso, que, em ltimainstncia, pertence ao povo. E logo que destitudo o governo ar-bitrrio, pode-se formar um novo governo, capaz de restabele-cer os delitos cometidos e garantir novamente o bem de todos.

    Essa deciso cabe somente ao povo, nico capaz de julgar seo seu bem est ou no sendo garantido.

    2.1 O estado de natureza

    A m de compreender a maneira como Locke concebe opoder poltico, preciso, antes de tudo, perceber em que esta-do se encontram naturalmente todos os homens (II TRA 4, p.381). Estes naturalmente se encontram num estado de perfeita

    liberdade, submetidos apenas lei da natureza, no dependen-do da vontade de qualquer outro homem. No h, portanto, nin-gum que esteja subordinado aos caprichos de outro homem.

    Assim, no estado natural, reina, alm da liberdade, tambm aigualdade, pois todos os homens nascem iguais, possuidoresdas mesmas faculdades e das mesmas vantagens naturais. To-davia, o estado natural de Locke no tem aspecto pessimista,

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    pois se tornaria semelhante ao estado de natureza de Hobbes(1979, p.75) no Leviat:

    Com isto se torna manifesto que, durante o tempo emque os homens vivem sem um poder comum capaz de osmanter a todos em respeito, eles se encontram naquelacondio a que se chama guerra: e uma guerra que detodos os homens contra todos os homens.

    Congura-se uma espcie de estado de guerra de todoscontra todos. Mas, por outro lado, o estado natural de Locke

    tambm no pode ser otimista demais, pois, se esse fosse ocaso, tornar-se-ia desnecessria a adeso a sociedade civil. Eis,ento, o que arma Bobbio (1997, p. 172):

    Em suma: de uma concepo totalmente pessimista doestado de natureza, como a de Hobbes, s poderia de-rivar uma exaltao do homo artifcialis, isto , do poderpoltico, na qual o indivduo resumir-se-ia no sdito, quasesem deixar resduo. De uma concepo to otimista, nose poderia extrair uma concluso poltica, uma justicativado Estado; se na verdade o homem tivesse sido capaz deviver pacicamente no estado de natureza, no teria ne-cessidade de instituir a sociedade civil.

    Existem elementos positivos no estado de natureza, se-gundo Locke. Mas esses no subsistem por si mesmos. O es-tado de natureza no se caracteriza como um estado mau. Ele

    apresenta, outrossim, algumas desvantagens, sendo elas supe-radas apenas na sociedade civil. O estado de natureza a con-dio em que Deus estabeleceu todos os homens no mundo,anteriormente a qualquer forma de vida adotada pelos homensao viverem em sociedade (DUNN, 2003). A inteno de Locke,portanto, no a de descrever o comportamento humano, ouento, a de descrever o que os homens faziam no estado na-tural. Seu propsito muito mais o de mostrar que todos pos-

    suem direitos e deveres, anteriores a qualquer sociedade civilorganizada. Existe uma lei natural que todos os homens, peloesforo racional, podem conhecer.

    Chega-se ao conhecimento da lei natural pelo esforo ra-cional. Como a lei natural tem por m a preservao da huma-nidade e a garantia dos direitos naturais, liberdade, igualdade epropriedade, tudo o que for contra esse princpio est contra alei. Para Locke, a lei natural de desgnio divino. Deus dotou ohomem das capacidades sucientes para compreend-la e comisso poder viver em paz. Portanto, existe um aspecto divino nalei, ajustando-se, porm, conforme o agir humano, de acordocom o que for mais adequado preservao da humanidade.

    O homem tem inclinao para o amor prprio e para a bus-ca de interesses pessoais desmedidos, no tomando em consi-derao, por consequncia, o direito do outro (II TRA 13). As-

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    sim sendo, com a nalidade de impedir que um homem invadao direito do outro, a execuo da lei da natureza est posta sob

    responsabilidade de todos os homens. Dessa maneira, sempreque um homem for atingido em seus direitos pode castigar oseu transgressor na medida do delito cometido. A lei da nature-za seria v se no houvesse quem a executasse. Por isso queela est nas mos de todos os homens. Logo, o que um podefazer para executar a lei, todos os demais tambm o podem namesma medida. O transgredido adquire poder sobre o agres-sor. Esse poder, porm, no arbitrrio. Ele existe como direito

    de revidar e se daria de forma racional, a m de reparar o danocometido. Reparado o dano, cessa o poder que o transgredidotinha sobre o agressor.

    Como quem comete um delito ameaa a paz e a segu-rana de toda a humanidade, todos podem achar justo auxiliara reparar o mal cometido, pois todo homem tem o direito depreservar no somente a si mesmo como tambm a toda hu-manidade. Nesse sentido, o castigo ao crime tem por funorestringir e prevenir novos crimes, assim como reparar a parteprejudicada. Por isso, quem for prejudicado pode apropriar-sedos bens ou servios do delator sustentado pelo seu direito depropriedade. Como j se disse, todos tm o direito de castigaro crime para buscar impedir que o crime se repita e o fazem nointuito de preservar toda humanidade, executando para tantotudo o que for razovel para se chegar a tal m. Uma vez que o

    castigo se d na medida do delito, quem derramar sangue deveter, do mesmo modo, seu sangue derramado (II TRA 11).Ento, como os homens no estado de natureza so res-

    ponsveis pela execuo da lei natural, oamor prprioem des-medida e a busca de interesses pessoais podero torn-losimparciais ao tratarem de suas prprias causas, levando-os abuscarem seus interesses pessoais. H tambm no homemuma inclinao para o mal, paixo e vingana. Tudo isso

    levar o transgredido a exagerar na punio ao transgressor.Esses inconvenientes so mais facilmente possveis de cura nasociedade civil, pelo governo civil. E sobre a entrada no gover-no civil tratar-se- melhor a seguir. Eis como se expressa Locke(II TRA 13, p. 391):

    Admito sem hesitar que o governo civil o remdio ade-quado para as inconvenincias do estado de natureza,

    que certamente devem ser grandes quando aos homens facultado serem juzes em suas prprias causas, pois fcil imaginar que aquele que foi injusto a ponto de causarinjria a um irmo dicilmente ser justo o bastante paracondenar a si mesmo por tal.

    Porque os homens tm a inclinao de buscar somenteseus interesses particulares, nem que para isso tenham que in-vadir a propriedade de terceiros, nasce a sociedade civil, capaz

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    de garantir que todos tenham os mesmos direitos e ningum in-vada a propriedade de outrem, sendo, pois, possvel, em outras

    palavras, garantir a convivncia pacca. Locke objeta que essegoverno no pode ser de qualquer espcie e tambm que elevenha para melhorar o estado de natureza.

    Num estado monrquico, por exemplo, em que um ho-mem tem o poder de ser juiz em seu prprio caso, deixando delevar em conta uma multido de sditos, tal juzo poderia sermovido pelo erro e pela paixo. Por isso, Locke pergunta se oshomens precisam se submeter a tal estado. Se fosse o caso,

    seria melhor permanecer no estado de natureza, pois o homemno estaria obrigado a submeter-se vontade de outrem (II TRA13). Para Locke, todos os homens esto naturalmente em umestado de natureza e nele participam at que, pelo consenti-mento individual de todos, aderem a uma sociedade poltica.

    A entrada em tal sociedade s acontece no momento em quetodos pelo seu livre consentimento resolvem deixar o estadode natureza e abrem mo de serem executores da lei natural,estabelecendo, para isso, um juiz imparcial capaz de julgar deforma coerente e justa.

    Quando um homem invade a vida, ou a sade ou aindaos bens de outro homem declara-lhe estado de guerra (II TRA16). E em tal situao reina a inimizade e a destruio, poistodos os homens tm direito de destruir o que os ameaa. Casocontrrio, ele corre o risco de ser destrudo. Qualquer homem

    no estado natural pode destruir o outro que vai lhe fazer guerra,pois quem opta pelo estado de guerra perde todos os direitosdo estado de natureza e passa a valer somente a lei da fora eda violncia (II TRA 16).

    A razo natural impulsiona a considerar inimigo o homemque quiser lhe tirar a liberdade, impelindo por isso o homem aautopreservao. tambm declarado estado de guerra quan-do algum quer tornar outro homem seu escravo, sem consen-

    timento, pois est privando o indivduo da sua liberdade natural(II TRA 17).

    No estado de natureza os homens vivem juntos conformea razo sem um superior comum que tenha autoridade para jul-gar quem for agredido. Este, quando agredido, possui o direitode guerra justamente pela falta de um superior capaz de julgarde maneira imparcial. O direito de guerra passa a valer quandoalgum usar de fora para se apoderar de algo que pertence aoutro homem, que possuidor do direito de propriedade comotodos os outros homens. O direito de guerra permanece at queo agressor oferea a paz e deseje a reconciliao, reparando,assim, todos os danos causados. Evitar o estado de guerra jconstitui razo suciente para os homens se unirem em socie-dade e estabelecerem um juiz superior, uma autoridade capaz

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    de resolver as controvrsias, sem a necessidade de se entrarem um estado de guerra (II TRA 21).

    A liberdade no estado de natureza garante que nenhumhomem deve submeter-se vontadearbitrria de algum quese outorgaria o direito de possuir poder sobre outrem, tendoapenas por regra a lei da natureza. A liberdade, porm, noconsiste em fazer s o que agrada, mas de seguir as regras dasociedade civil, quando esta j estiver constituda, ou seguir alei natural dentro do estado de natureza. O homem pode se-guir livremente sua vontade em tudo o que a lei no prescrever

    algum tipo de limite. Nenhum homem pode dar mais do quepossui, e ningum tem poder sobre sua prpria vida. Por issono pode vend-la a outrem e estar subordinado a um poderarbitrrio. Isso consistiria num estado de guerra e escravido. Etal estado cessaria apenas quando as partes fariam um acordode poder e obedincia limitados.

    2.2 Os direitos naturais e o conceito de pessoa

    O direito de propriedade um dos direitos naturais do ho-mem e o que envolve todos os demais. Contudo, urge mostrarem que se fundamentam os direitos naturais do homem. Estesesto fundados sobre o conceito de pessoa em Locke. O con-ceito de pessoa faz com que o ser pensante possa se conside-rar asi mesmo como si mesmo nas diferentes circunstncias emomentos. O conceito de pessoa, em Locke, diferencia-se do

    conceito de homem. Locke (EEH, p. 442) arma:Visto que presumo que no somente a ideia de um serpensante ou racional que constitui a ideia de um homempara a maioria das pessoas e para o seu entendimento;mas a ideia de um corpo desta e daquela forma agregado mesma e, se essa for a ideia de um homem, o mesmocorpo sucessivo, no alterado de imediato, bem como omesmo esprito imaterial, tm de ir ao encontro da cons-

    truo do mesmo homem.O conceito de homem est ligado ao ser racional, mas de

    forma mais estreita, ao corpo, num sentido mais biolgico. Logoa ideia de homem no suciente para que se possa armaro ser homem como portador de direitos naturais, pois essesdevem se fundamentar numa identidade humana para alm doracional e do fsico. Nesse ponto tem-se o conceito de pessoa

    que vai alm do conceito de homem e torna o indivduo cons-ciente portador de direitos. A ideia est ligada ao conceito decorpo vivo organizado:

    Um animal um corpo vivo organizado e, consequente-mente, o mesmo animal, como j observamos, a mes-ma vida contnua transmitida s diferentes partculas dematria, uma vez que estas esto sucessivamente ligadasa esse corpo vivo organizado. E, o que quer que seja dito

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    acerca de outras denies, a observao inteligente es-clarece, sem margens para dvidas, que a ideia nas nos-

    sas mentes, da qual o som homem que sai das nossasbocas o sinal, no mais do que a de um animal comuma certa forma (LOCKE, EEH, p. 439).

    A ideia de pessoa vai alm do ser racional, capacidadede raciocnio e reexo. o indivduo que se pensa como serpensante em diferentes tempos e espaos (cf. LOCKE, EEH, p.443 em particular). Arma Nodari (1999, p. 65): pessoa umser pensante inteligente dotado de razo e reexo que podeconsiderar-se asi mesmo como si mesmo. a conscincia queo ser humano tem de si mesmo e de suas atitudes em diferentesespaos. s essa conscincia que d a identidade do homem.

    A conscincia sempre acompanha o pensamento do ho-mem, que no possui o mesmo corpo sempre, mas que tem aconscincia de todos os momentos diferentes que seu corpovivenciou. Uma vez que a conscincia acompanha sempre o

    pensamento e o que faz com que cada um seja ele prprio e,desse modo, se distinga de todas as outras coisas pensantes(LOCKE, EEH, p. 443.), portanto a conscincia d a identidadeindividual de cada ser. E a identidade individual garante a li-berdade do indivduo, que desse modo determinar a direoa ser seguida. A pessoa dona de suas prprias aes e, porconseguinte, de si mesma e do seu trabalho. Sobre identidadepessoal arma Nodari (1999, p. 67):

    Na identidade pessoal esto fundados todo o direito e to-da a justia de recompensa e punio, j que a felicidadee o infortnio constituem aquilo pelo qual cada um devepreocupar-se por ele mesmo, sem importar-se com o quepode acontecer a cada substncia que no esteja unida aessa tomada de conscincia ou que no se veja afetada dealgum modo por ela. Por conseguinte, a identidade pessoal a fonte ltima de todo o direito e justia de recompensaou punio.

    A identidade pessoal a partir do conceito de pessoa quetem conscincia de si mesma e de suas aes permite indivi-dualizar o agir do homem, tornando cada indivduo responsvelpela sua felicidade ou infortnio. Isso que permite a Lockearmar que no estado de natureza cada indivduo responsvelpela segurana de sua propriedade e pela execuo da lei na-

    tural. O termo pessoa se refere a seres racionais que possuemconscincia e que, portanto, so tambm capazes de lei.

    Sendo o homem senhor de sua prpria pessoa, enquan-to consciente de si mesmo, tem o direito de propriedade. Ohomem, enquanto pessoa, seu prprio mestre, proprietrio esenhor de sua prpria pessoa e est nele mesmo o fundamentode toda propriedade (NODARI, 1999, p. 85). A propriedade tem

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    sua legitimidade no conceito de pessoa enquanto portadora dedireitos e responsvel unicamente pela sua felicidade.

    Esse pequeno esboo da compreenso do conceito depessoa permite que se possa dar sequncia a esse trabalhoe se possa falar do principal dos direitos naturais do homem,a saber, a propriedade. Esta, em Locke, aparece como direitorestrito s posses e tambm como direito amplo, sendo, pois,tratado como direito de autopreservao. A ideia de pessoa entendida, pois, como um direito de posse do homem sobre simesmo. E, a partir disso, suas aes geram propriedade, tor-

    nando-se legtimo falar de propriedade tanto em sentido restritocomo amplo, como um direito natural do homem.

    2.3 O direito de propriedade

    O direito natural de autopreservao garante que o homemse utilize de tudo o que a natureza proporciona para sua sub-sistncia e como Deus deu o mundo aos homens em comumh a possibilidade de cada homem ter sua propriedade. Porquecada homem tem propriedade sobre si mesmo, e tudo o queconquistar com seu trabalho passa a ser propriedade particular(II TRA 27). Tudo o que pelo trabalho retirado do estado denatureza torna-se propriedade de algum, cando excludo docomum. Com isso nenhum outro homem tem direito ao que foiretirado do estado de natureza. Isso vale desde que haja emigualdade e de boa qualidade para todos os demais.

    O que estabelece o que comum e o que j no maiscomum o trabalho. Pelo trabalho o homem retira do comum,que est na natureza, e o transforma em propriedade privada. Aretirada de algo do comum no depende do consentimento detodos, pois se dependesse os homens poderiam morrer de fome.

    A apropriao, em justa medida, torna possvel que se distinga ocomum do privado, como arma Locke (II TRA 28, p. 409):

    Aquele que se alimenta das bolotas que apanha debaixode um carvalho ou das mas que colhe nas rvores dobosque com certeza delas apropriou-se para si mesmo.Ningum pode negar que o alimento lhe pertena. Pergun-to ento quando passou a pertencer-lhe: Quando o dige-riu? Quando o comeu? Quando o ferveu? Quando o levoupara casa? Ou quando o apanhou? Fica claro que, se ofato de colher o alimento no o fez dele, nada mais o faria.Aquele trabalhoimprimiu uma distino entre esses frutose o comum, acrescentando-lhes algo mais do que a natu-reza, me comum de todos, zera; desse modo, tornaram-sedireito particular dele.

    O ttulo de propriedade est vinculado ao uso que o ho-mem faz, pelo seu trabalho, das coisas que esto sua dispo-sio na natureza. o trabalho que garante a distino entreo comum e o privado, porque esse acrescenta algo novo ao

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    produto, que no foi dado pela natureza, mas pela ao do ho-mem. A propriedade, para Locke, a concretude dos direitos

    naturais do homem, pois representa mais do que simples pos-ses. Ela representa tambm a vida, a sade e a liberdade. Pelapropriedade a liberdade poltica no apenas um ideal, mas setorna real no agir livre dos homens em suas propriedades. O di-reito de propriedade justicado pelas necessidades indispen-sveis que o homem tem para sobreviver. Ele no um direitode dominao, mas da garantia das necessidades bsicas quegarantem a sobrevivncia do homem. Michaud (1986, p. 62)

    chega a falar em justia distributiva; ele arma que para Locke,ao contrrio, h, desde o incio, um princpio de justia distribu-tiva que dene o que devido a cada um: todo homem tem umdireito ativo a usar as coisas necessrias a sua preservao.Portanto, todos os homens possuem direito de adquirir possesque possam garantir de maneira digna sua sobrevivncia.

    O trabalho permite que o homem possa tirar algo da natu-reza e apropriar-se dele. Mas, ento, a apropriao ilimitada?No. A apropriao segue os padres e a medida que a pr-pria natureza estabelece. Cada homem pode se apoderar doque lhe for til e s at onde tiver capacidade de trabalhar. Oexcedente, consequentemente, torna-se a parte que cabe aosoutros, igualmente e na mesma qualidade da parte que j foiapoderada (II TRA 31).

    A terra a principal matria da propriedade e da mesma

    forma existem limites para sua apropriao. Uma propriedadepode se estender at onde um homem sozinho pode lavrar,plantar, melhorar e cultivar. Assim, no h a possibilidade dese apropriar de uma extenso de terra e simplesmente deix-lasem cultivo, pois com isso o homem estaria invadindo o direitodo outro de ter sua propriedade. A apropriao da terra umprocesso que depende do consentimento de todos os homensque buscam garantir seu direito de propriedade, pois todos

    possuem o direito terra. Locke (II TRA 36, p. 415) esclareceque foi a prpria natureza que se encarregou de xar o limite deuma propriedade

    A natureza xou bem a medida da propriedade pela exten-so do trabalho e da conveninciade vida dos homens. O traba-lho de nenhum homem seria capaz de dominar ou apropriar-sede tudo nem poderia o seu desfrute consumir mais que umapequena parte. De modo que era impossvel a qualquer homemusurpar dessa forma os direitos de outro ou adquirir uma pro-priedade em prejuzo do vizinho, que ainda teria espao parauma posse to boa e to grande (depois que o outro houvessetomado a sua) quanto a que havia antes da apropriao.

    Porm, com a introduo do dinheiro, feita por consenti-mento, logo, no natural, permitiu que alguns homens possus-sem mais do que outros, atribuindo, por conseguinte, valor co-

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    mercial terra. Com o dinheiro sendo estabelecido e rmadoentre os homens como meio e padro de troca, a moeda, como

    metal que no estraga, abriu-se a possibilidade de acmulo.Antes no se podia acumular, pois os produtos eram perecveise com o tempo estragavam. A entrada do dinheiro na sociedadeacontece por consentimento convencional, ou seja, ela no natural. Agora, admite-se e permite-se a troca de mercadoriaspor dinheiro (II TRA 36).

    A inveno do dinheiro legitimou ao homem a acumulaode capital na medida em que os homens possuem habilidades

    diversas que possibilitam a aquisio de posses diversas. Coma possibilidade de acumular pelo dinheiro, o homem passa autilizar dos seus graus de habilidades na busca de ter mais doque outros homens que no possuem tamanhas habilidades;com isso o homem aceita que uns tenham mais e outros me-nos. A posse desigual passa a ser vista como normal, devido livre iniciativa, criatividade e competncia dos homens. Isso,segundo Oliveira (1993), d margem para a explorao da forade trabalho que mais tarde ser denunciada por Marx e Engels.

    Alm disso, arma Oliveira (1993, p. 125), a inveno do dinhei-ro exacerbou os conitos no estado de natureza:

    O fato de a inveno do dinheiro ter provocado grandemudana no estado de natureza de modo algum signi-ca que o estado de natureza fosse em si s paz, pois ja, desde sempre, houve infraes da lei da natureza. A

    inveno do dinheiro exacerbou os conitos, e nessa fasenal do estado de natureza no mais possvel controlaros infratores da lei. A maioria dos homens no se rege deacordo com a lei natural, nem chega mesmo a conhecersuas prescries, pois s se preocupa com seus prpriosinteresses.

    O dinheiro tornou o homem mais preocupado com os seusinteresses particulares, buscando acumular sempre mais, semmais ter de se preocupar com os demais, deixando at mesmode seguir os preceitos racionais da lei da natureza. Portanto,principalmente com a inveno do dinheiro o homem buscouampliar suas posses, pois antes nada havia de atrativo em que-rer buscar mais do que o necessrio para sua subsistncia. Odinheiro s possui valor enquanto houver consentimento con-vencional entre os homens, uma vez que, a rigor, o trabalho

    do homem que naturalmente possui valor, pois ele modica oque a natureza proporciona. No estado de natureza, no exis-tindo possibilidade de acmulo indevido, cava fcil estabele-cer os limites da propriedade de cada indivduo. Arma Locke(II TRA 51, p. 429) que

    o homem tinha direito a tudo em que pudesse empregarseu trabalho, e por isso no tinha a tentao de trabalharpara obter alm do que pudesse usar. Isso no deixava

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    espao para controvrsias acerca do ttulo nem para viola-o do direito alheio. A poro que o homem tomava para

    seu uso era facilmente visvel e seria intil, bem como de-sonesto tomar demasiado, ou mais do que o necessrio.

    Mas como o homem tem a inclinao de ter mais do quenecessita em vista de seuamor prprio, a situao originria doestado de natureza no mais suciente para garantir a pro-priedade, a vida e a sade dos indivduos. Por isso, os homensaderem a uma sociedade civil. Essa tem por objetivo principalgarantir a preservao da propriedade, com uma lei estabeleci-da, reconhecida e aceita por todos, acabando com as contro-vrsias do estado natural onde cada um julgava conforme suaprpria interpretao da lei da natureza. Na sociedade civil htambm um juiz estabelecido e imparcial que julga conforme alei e assim resolve todos os eventuais problemas que venhama existir entre os membros da sociedade. Por m na sociedadecivil cria-se um poder que tem por funo executar as senten-

    as do juiz e fazer com que a lei seja cumprida por todos damesma maneira.

    2.4 A distino entre os poderes paterno, desptico e civil

    Antes de se analisar propriamente a sociedade civil consti-tuda, faz-se necessrio expor aqui a distino, feita por Locke,entre o ptrio poder, o poder desptico e o poder poltico, sen-do, por sua vez, este ltimo o nico capaz de dar legitimidade

    formao da sociedade civil.O ptrio poder, antes de tudo, no apenas o poder do

    pai, mas tambm o poder da me, pois ambos possuem natu-ralmente os mesmos direitos. O poder de ambos natural, de-riva do direito que os lhos possuem a vida, e at que os lhosno possam alcanar a idade da razo cam sob o cuidadodos pais. O poder paterno consiste no poder de governar oslhos visando o bem deles at que possam alcanar a idade da

    razo e assim no serem mais dependentes da tutela dos pais,sabendo por conta prpria seguir a lei da natureza. No demaneira alguma umpoder arbitrrio e severo, como diz o pr-prio Locke, e sim o de garantir que a prole cresa com sadee possa, ao alcanar a idade da razo, responder pelos seusprprios atos. O ptrio poder no constitui da mesma formaum poder poltico, pois os pais no alcanam nenhum poder

    sobre apropriedade do flho,j que o lho j pode responderpor si mesmo (II TRA 170).O poder desptico nasce do delito cometido por algum

    que, violando a lei de natureza, coloca-se em estado de guerra,sendo, portanto, passvel de punio a m de que sejam repa-rados os danos causados. Ele no , contudo, um poder naturale muito menos pode ser atribudo por pacto, j que nenhumhomem possui poder absoluto sobre a vida de outrem. Como

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    j se armou acima, ele provm do delito cometido por algumem estado de guerra. Logo, o prisioneiro de guerra justa est

    sujeito destruio por quem sofreu os danos e pelos demaishomens que possuem senso de justia. (II TRA 172).O poder poltico ou civil nasce apenas do consentimento

    entre homens livres e iguais. o poder que cada homem pos-sui no estado de natureza e o cede para a sociedade e parao governo ao ser constitudo aps o pacto entre os homens.Esse poder consiste na preservao da propriedade e na pu-nio a quem tenha infringido a lei natural. Com a constituio

    da sociedade esse poder ca, de maneira limitada, cedido aogoverno. Os indivduos se reconhecem como membros de umcorpo poltico, que no absoluto e arbitrrio sobre a vida e afortuna dos homens (II TRA 171),uma vez que sua funo ade preservar a vida e a propriedade dos membros.

    2.5 A sociedade civil

    Locke (II TRA 123, p. 494) pergunta-se por que o homemabandona o estado natural e junta-se em sociedade poltica:

    Se o homem no estado de natureza livre como se dis-se, se senhor absoluto de sua prpria e suas prpriasposses, igual ao mais eminente dos homens e a ningumsubmetido, por que haveria ele de se desfazer dessa li-berdade? Por que haveria de renunciar a esse imprio esubmeter-se ao domnio e ao controle de qualquer outro

    poder? A resposta evidente a de que, embora tivessetal direito no estado de natureza, o exerccio do mesmo bastante incerto e est constantemente exposto violaopor parte de outros, pois que sendo todos reis na mesmaproporo que ele, cada homem um igual seu, e por noserem eles, em sua maioria, estritos observadores da equi-dade e da justia, o usufruto que lhe cabe da propriedade bastante incerto e inseguro. Tais circunstncias o fazem

    querer abdicar dessa condio, a qual, conquanto livre, repleta de temores e de perigos constantes. E no semrazo que ele procura e almeja unir-se em sociedade comoutros que j s encontram reunidos ou projetam unir-se pa-ra amtuaconservao de suas vidas, liberdades e bens,aos quais atribuo o termo genrico depropriedade.

    A sociedade civil s passa a existir quando cada um dosintegrantes renuncia ao poder natural individual que possua noestado de natureza, passando-o s mos de uma comunidadeorganizada que se encontra sob a proteo de uma lei estabele-cida por todos. imprescindvel para que inicie uma sociedadecivil que os seus membros abandonem por completo seu poderexecutivo e passe-o comunidade. Para isso se estabelece um

    juiz capaz de resolver todos os problemas, baseado na lei ela-borada a partir da busca do bem pblico.

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    O homem s pode renunciar a sua liberdade natural e aoprprio poder executivo quando ele entrar em uma sociedade

    civil e concordar em juntar-se, formando um corpo poltico noqual a maioria tem direito de agir por todos (II TRA 87). spelo consentimento de todos os futuros membros que se podeformar uma sociedade poltica, ou sociedade civil, ambos os ter-mos so tomados como sinnimos pelo lsofo. Por isso, assimque formado o corpo poltico, todos os membros tm obrigaode acatar a deciso da maioria. Um governo s inicia pelo con-sentimento e sua forma escolhida de acordo com o que os

    membros vislumbrem como a mais adequada.Por consentimento, formada uma sociedade civil, seus

    membros tm de decidir, conforme lhes for mais conveniente,a forma de governo que os conduzir politicamente. Locke nodefende de modo explcito e exclusivo nenhuma forma de go-verno. Ele, porm, ope-se monarquia absolutista, baseadano ptrio poder e no suposto poder passado por Deus a

    Ado. Locke argumenta que o poder do pai em uma famlia igual ao da me e que Deus deu o poder a toda humani-dade, no a uma pessoa especca, no caso paradigmtico,a Ado. Independentemente da forma de governo adotadapor uma comunidade poltica, os poderes que constituem asociedade civil so indubitavelmente os poderes legislativo,executivo e federativo.

    Locke pensa a sociedade civil a partir dos direitos naturais

    do indivduo, direitos que so universais, ou seja, pertencentesa todos os homens em igual. Porm tais direitos pertencem aoindivduo livre que pode dar seu consentimento entrada nasociedade civil. Como os direitos do indivduo so naturais, asociedade civil no pode interferir neles de maneira arbitrria,mas, antes, tem de garantir que esses sejam preservados. Noh, por conseguinte, a possibilidade de se fundar uma socieda-de civil sem o consentimento do povo. Logo, aquele que con-

    quistar um povo por guerra injusta no possui qualquer direitosobre o conquistado, a menos que esse esteja de acordo coma dominao e apresente seu consentimento. O conquistadortem direito apenas sobre aqueles que participaram ou colabo-raram com a guerra. Sobre os demais ele no possui poderalgum. Todo aquele que abandona a razo e faz uso da foratorna-se suscetvel de ser destrudo por quem contra empregarsua fora. Contudo, o direito do conquistador limita-se vida

    dos que guerrearam e no sobre as suas posses. O que exis-te o direito de compensar os prejuzos causados pela guerra(II TRA 176). De maneira alguma devem ser atingidos os lhose a mulher de quem guerreou. Assim sendo, seus bens estogarantidos, pois no estavam em estado de guerra.

    Fazem parte de uma sociedade civil trs poderes essen-ciais para que cessem os inconvenientes presentes no estado

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    de natureza. So eles: o legislativo, o executivo e o federativo.O legislativo o poder supremo de uma comunidade respon-

    svel pela elaborao das leis, sempre de acordo com o bempblico e que possa garantir paz sociedade. Nada tem forade lei se no obtiver a sano do legislativo, sempre escolhidoe nomeado pelo povo. Apesar de ser supremo, ele no arbi-trrio, ou seja, no um poder sobre a vida e a propriedade daspessoas. Assim como no estado de natureza nenhum homemdeve submeter-se arbitrariamente a outro, na sociedade civil or-ganizada o legislativo no pode se tornar arbitrrio sobre a vida

    do povo. Sua nica e grande tarefa garantir o bem pblico,no podendo, ento, prejudicar nenhum dos membros da so-ciedade (II TRA 135).

    As obrigaes da lei natural devem ser cumpridas dentroda sociedade civil. Porm, elas podem se tornar mais rigorosas,pois as leis humanas podem anexar penalidades aos delitos am de garantir maior observncia por parte de todos. As leisque regem as aes dos homens no interior de uma socieda-de civil s so legtimas se estiverem de acordo com a lei danatureza. O poder legislativo no pode governar por meio deleis arbitrrias, pelo contrrio, a lei tem de ser xa e levar emconta o bem de todos, pois tem obrigao de ser justa e daras sentenas de acordo com leis promulgadas, por juzes im-parciais e autorizados (II TRA 137). O legislativo rene a forade toda a sociedade para garantir e assegurar a propriedade

    e fazer com que cada um conhea seus limites e no invada apropriedade alheia.Para Locke, ningum possui direito de invadir ou tirar a

    propriedade de outrem, a menos que esse apresente seu con-sentimento. Por isso mesmo que o legislativo no pode disporda propriedade de seus sditos arbitrariamente, ou retirar-lhesuma parte de suas propriedades, a no ser que os sditos ex-pressem seu consentimento (II TRA 138). Porque, se assim fos-

    se, a propriedade que, na sociedade civil, deveria estar segura,torna-se instvel devido ao daquele que tinha por funoproteg-la, no existindo, portanto, razo para abandonar o es-tado de natureza.

    A m de que todos igualmente estejam sob a proteo dalei, inclusive quem as elabora, que existe o poder executivo,responsvel pela execuo da lei de forma equitativa dentro deuma sociedade civil organizada (II TRA 143). Este, diferente-mente do legislativo, que no tem necessidade de ser perma-nente pela no necessidade de sempre se elaborar novas leis,deve ser permanente. A contnua existncia do executivo se ex-plica pelo fato de as leis no poderem deixar de ser cumpridaspor ningum dentro da sociedade civil. Separa-se o legislativodo executivo para que o poder no se concentre nas mos depoucos e para que todos tenham exatamente os mesmos direi-

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    tos e deveres. O poder concentrado pode facilmente se trans-formar em tirania, no mais garantindo o bem pblico, primeiro

    e grande objetivo de um governo.H tambm o poder federativo encarregado pelas relaescom quem no faz parte da sociedade civil, ou seja, com osestrangeiros. Ele pode promover alianas, transaes, podedar incio s guerras, quando necessrio, e cess-las quandose tiver alcanado os objetivos (II TRA 146). Esse poder nor-malmente est associado ao executivo que pode mobilizar asociedade com o intuito de buscar os objetivos propostos pelo

    poder federativo.Diante dos inconvenientes do estado de natureza citados

    acima, faz-se necessria a entrada do homem numa sociedadecivil, capaz de garantir que todos os direitos naturais do homemestejam preservados e garantidos, dessa maneira esteja esta-belecida a paz. Para isso estabelece-se um governo, escolhidoe legitimado pelo povo, que possui por funo preservar a pro-priedade dos membros da sociedade, garantindo-lhes, pois, avida, a sade, a liberdade e os bens dos indivduos. Para que defato esses direitos sejam preservados, o governo constitudopelos poderes legislativo, responsvel pela elaborao das leis,o executivo, responsvel pela execuo dessa lei e o federativoque trata das relaes externas da sociedade. Alm disso, caestabelecido um juiz imparcial capaz de julgar de acordo com alei e cuidar para que ningum tenha seus direitos prejudicados.

    Porm, quando, ainda que dentro da sociedade civil, osdireitos dos homens, tais como liberdade, sade, e especial-mente o direito propriedade tanto da pessoa como dos bensestiver sendo ameaado pelo no cumprimento das obrigaese atribuies que cabem ao governo , cabe ao povo resistir ssuas aes. Quando tal situao se efetiva, ao povo pertence odireito de resistncia, podendo destituir o governo, pois a pre-servao da propriedade e, consequentemente, da convivncia

    pacca est claudicante. A isso Locke chama direito de resis-tncia, item que ser abordado a seguir.

    3 O direito de resistncia

    A formao da sociedade civil acontece quando os indi-vduos, percebendo os inconvenientes do estado de natureza,

    transferem seu poder de executar a lei da natureza para umgoverno a ser escolhido pela maioria. O instrumento para queessa sociedade seja legtima consentimento dos seus mem-bros, que transferem o poder de executar a lei natural queantes possuam para o governo. Com isso a misso de protegera propriedade e garantir a paz no est mais nas mos dosindivduos isolados, mas ca a cargo do governo, atravs dos

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    poderes legislativo e executivo, responsveis pela elaborao eexecuo das leis, respectivamente.

    Desse modo, o governo tem por funo principal a prote-o da propriedade, entendida em sentido mais amplo como apaz, a sade e os bens materiais. Caso o governo venha a inter-ferir na propriedade do povo, ou seja, tom-la fora ou cobrartributos sem seu consentimento, estar agindo contrariamenteao seu maior m, portanto no estar mais cumprindo sua fun-o. Nesse contexto no h nenhuma vantagem em se formaruma sociedade, pois no h ningum que possa assegurar os

    direitos dos indivduos. Ao menos no estado natural cada umpoderia defender sua propriedade. Diante disso, legtimo aopovo resistir ao governo tirnico, que, abusando de seu poder,deixa de executar sua misso. A tirania entendida por Locke(II TRA 199, p. 561) como uso do poder que algum tenha nasmos no para o bem daqueles que estiverem submetidos aesse poder, mas para sua vantagem prpria, distinta e privada.No ser o povo tumultuador da paz. Ao contrrio, ele estarbuscando a paz que o governo deixou de garantir ao invadirindevidamente a propriedade dos membros da sociedade, atra-vs da tomada indevida de posses ou cobrana de impostossem o apoio da maioria. O direito de resistncia torna-se a ga-rantia de que o poder, em ltima instncia, pertence ao povo eesse pode derrubar um governo tirnico e estabelecer um novo,de acordo com o que for mais conveniente.

    A dissoluo do governo no acontece pela vontade dealguns indivduos isolados. fruto de um descontentamento co-mum e de uma mobilizao geral, visto que todos cam prejudi-cados pela ao de um governo que no busca o bem pblico,mas o privado dos governantes. A dissoluo tambm tem queseguir a lei at o ponto em que essa j no esteja mais sen-do levada em conta pelo prprio governo, somente nesse ca-so pode-se recorrer violncia. Portanto, o direito resistncia

    existe. Mas em determinadas situaes e de acordo com a leiestabelecida pela maioria. Isso porque o direito de resistnciano consiste simplesmente em usar a fora de guerra. Mas ele uma garantia de que a vontade do povo que deve ser tomadaem considerao. Nesse sentido, resistncia no sinnimo deviolncia. A fora s usada nos casos em que o caminho dalei no d mais conta de garantir a paz e o bem pblico. O po-vo resiste a um governo que deixa de cumprir seu papel. Isso,

    porm, no quer dizer que haja uma dissoluo da sociedadeenquanto tal. H apenas a formao de um novo governo deacordo com as demandas da maioria.

    O jusnaturalismo, teoria da qual Locke, assim como Hobbes,era defensor, arma o indivduo como racional e independente,encontrando na liberdade individual o fundamento estritamente

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    losco do direito de resistncia. Bobbio assim descreve o jus-naturalismo de Locke (1997, p. 147) nos Dois tratados:

    Os Tratados so uma obra caracteristicamente jusnatura-lista, inspirando-se na ideia de que existe uma lei natural, aqual pode ser conhecida e obrigatria e que, no mundocivil, de modo geral no mundo das relaes da convivn-cia humana, tudo o que se ajusta a essa lei um bem. Aprincipal funo do lsofo poltico consiste em descobrir,sob as falsas teorias e as prticas corruptas que dominamo mundo da poltica, as relaes naturais que permitem re-

    construir o Estado que mais de perto respeite a natureza,sendo assim o mais livre e o mais justo.

    Porm, em Hobbes tem-se outro modo de concepo, ouseja, como em Hobbes a liberdade natural leva o indivduo aoestado de guerra o governo precisa ser soberano. Arma Hob-bes (1979, p. 110) no Leviat:

    Pertence soberania todo o poder de prescrever as regras

    atravs das quais todo homem pode saber quais os bensde que pode gozar, e quais as aes que pode praticar,sem ser molestado por qualquer de seus concidados: isto que os homens chamam propriedade. Porque antesda constituio do poder soberano (conforme j foi mos-trado) todos os homens tinham direito a todas as coisas,o que necessariamente provocava a guerra. Portanto estapropriedade, dado que necessria paz e depende do

    poder soberano, um ato desse poder, tendo em vista apaz pblica.

    Por sua vez, Locke arma que o governo a soluo dosinconvenientes do estado de natureza. O governo tem, assim,por funo ltima salvaguardar os direitos naturais dos indi-vduos. Logo, de forma alguma, o governo pode se colocaracima da unio dos indivduos, dependendo do consentimen-

    to desses para governar. Todas as comunidades que possuemforma de governo estabelecida tm regras para indicar quemdeve possuir a autoridade poltica, ou seja, quem ir deter opoder dentro da sociedade constituda pelo consentimento detodos os seus membros. Diz Locke (II TRA 198, p. 559): tmtambm regras para a nomeao daqueles que tero qualquerparticipao na autoridade pblica, e mtodos xos de lhestransmitir o direito. Quem chegar ao poder por outros meios a

    no ser aqueles estabelecidos pela comunidade no possuirnenhum direito: j que no se trata da pessoa que as leisdesignaram e, consequentemente, no a pessoa a quem opovo consentiu (II TRA 198, p. 560). Portanto, ele no deveser seguido por nenhum dos membros, porque atingiu o po-der cometendo uma usurpao.

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    Outra forma de abuso de poder consiste na tirania, formana qual o poder exercido para alm do direito constitudo ao

    governante. Ento, quando este deixa de governar segundo alei e no busca mais a garantia do bem pblico, mas somentea satisfao de seus interesses pessoais, h a tirania (II TRA 199). Nesse momento a propriedade dos indivduos ca amea-ada. Logo, sendo que a principal funo do governo a desalvaguardar a propriedade, e no os interesses particulares dequem governa, quando se d a corrida pela satisfao pessoaldos interesses por parte do governante, tem-se a iminncia da

    perda da garantia da propriedade.A tirania pode acontecer em qualquer forma de governo,

    basta que o detentor do poder no procure em primeiro lugargarantir que a propriedade do povo no sofra qualquer ameaa.

    Assim, se expressa Locke (II TRA 202, p. 563):

    Onde termina a lei, comea e tirania, se a lei for transgredi-da para o prejuzo de outrem. E todo aquele que, investido

    de autoridade, exceda o poder que lhe conferido por leie faa o uso da fora que tem sob o seu comando paraimpor ao sdito o que a lei no permite, deixa, com is-so, de ser magistrado e, agindo sem autoridade, pode sercombatido, como qualquer outro homem que pela forainvade o direito alheio.

    Torna-se legtima a resistncia ao exerccio ilegal do poder.Porm, a resistncia deve seguir o caminho da lei. Apenas se

    no houver mais possibilidade de se recorrer aos trmites le-gais, que se pode utilizar a fora de guerra, estabelecendo umestado de guerra contra o governo. A lei possibilita a reparaopelos abusos cometidos a todos. Porm quando j se rompeuo pacto entre o governo e o povo, no existindo mais consen-timento dos membros em manter o governo, abre-se caminhopara o uso da fora. Isso acontece quando o malefcio se esten-

    de a todo o povo, esse unido pode derrubar o governo tirano.A legitimidade do direito de resistncia visa garantir a na-lidade da sociedade civil, ou seja, preservar a propriedade dosindivduos, j que a sociedade se constitui pelo consentimentodeles, que transmitem ao governo o poder que possuam noestado de natureza. Desse modo, o governante est sob as leisda sociedade. Quem julgar se elas foram ou no cumpridasser o povo.

    O objetivo de todo homem ao entrar numa sociedade pol-tica a preservao da propriedade que, no estado de nature-za, estava ameaada, estabelecendo, por isso, o poder legisla-tivo como responsvel pela elaborao de leis e regras capazesde garantir que a propriedade que salvaguardada. Quando olegislativo tentar destruir a propriedade do povo, agindo paratanto de maneira arbitrria, ca estabelecido estado de guerra enenhum membro do povo tem o dever de obedecer ao legislati-

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    vo, pois o mesmo est agindo de forma arbitrria (II TRA 222).Como o povo entregou o poder ao legislativo e esse no cum-

    priu sua funo, o poder volta ao povo que possui liberdadepara instituir um novo legislativo capaz de garantir proteo propriedade. A escolha do legislativo feita pelo povo, escolhaessa que tem de ser livre, porque de outra maneira o legislativoca desautorizado para qualquer ao. A sociedade tem direi-to de se preservar, o que s possvel quando existir o poderlegislativo constitudo capaz de elaborar leis imparciais que ga-rantam o bem de todos os membros da sociedade.

    Um governo no derrubado por cometer pequenas fa-lhas, mas por uma srie de abusos que no tenham mais repa-rao e principalmente pela falta de vontade poltica em repararas falhas cometidas que afetaram a maior parte da populao.Poder-se-ia questionar se o direito de rebeldia no ocasionariafrequentes estados de guerra que para garantir a paz poderiamser evitados, ao que Locke (II TRA 228, p. 586) argumenta:

    Se tais casos qualquer malefcio sobreviver, no deverser creditado quele que defende seu prprio direito esim quele que invade seu vizinho. Se o homem honestoe inocente deve ceder em silncio tudo o quanto possui,em nome da paz, quele que se apodera violentamente desua propriedade, quero que se considere que tipo de pazseria esta no mundo que consiste apenas em violncia erapinagem, e que deve ser mantida apenas para o benef-

    cio de ladres e opressores.A paz no se garante pelo abandono de direitos. Isso

    acontece principalmente com relao ao governo que tem queproteger os direitos do povo e no coloc-los em risco. Assim,quando o governo no mais estiver cumprindo sua funo, opovo tem direito de resistir, e isso no constitui em abandono dapaz. A paz acontece quando os direitos do indivduo so obser-vados. No caso da sociedade civil, o governo o responsveldireto para a garantia dos direitos e, consequentemente, daprpria paz. Na medida em que no mais cumprir sua funo,ele dar margem para um estado de guerra. Nesse sentido,a resistncia se constitui como que uma busca pela paz etorna-se legtimo ao povo fazer oposio a um governo tirano,usurpador ou formado sem o consentimento do povo. ArmaLocke (II TRA 229, p. 586):

    O m do governo o bem da humanidade, e o que seriamelhor para esta, que o povo estivesse sempre exposto vontade ilimitada da tirania ou que os governantes estives-sem por vezes de enfrentar oposio, quando exorbitas-sem no uso de seu poder e o empregassem para a des-truio e no a preservao das propriedades do povo.

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    Portanto, legtimo fazer oposio ao governo principal-mente quando esse for tirano e no cumprir sua funo no

    pacto estabelecido. Locke arma que se algum, sendo elegovernante ou sdito, quiser pela fora invadir os direitos dopovo ou do prprio governante, ele comete o maior crime queum homem poderia cometer e o seu tratamento deve ser de talmaneira a reparar os danos cometidos. Seu tratamento deveser semelhante a um inimigo comum que busca somente des-truir o pacto constitudo por todos em comum. Porm, se quemcometer delito ocupar cargo de governo, ele deve ser julgado

    com maior severidade, pois sua funo justamente de garantiro bem de todos, como severamente arma Locke (II TRA 231,p. 588):

    Houve quem negasse que se pudesse resistir aos magis-trados que zessem o mesmo; como se os que gozam dosmaiores privilgios e vantagens pela lei tivessem por isso opoder de infringir essas mesmas leis em virtude das quais,

    somente, foram colocados em lugar melhor do que seusirmos; enquanto a ofensa deles por isso mesmo aindamaior, no s por serem ingratos pela maior parte que tmpela lei, mas tambm por desrespeitarem o encargo queos seus irmos lhes colocaram nas mos.

    Pelo fato de exercer cargo de governo, a sua responsabi-lidade com a lei maior. O governante precisa ser o primeiroa cumpri-la com rigor. O povo o nico capaz de julgar se o

    governo est cumprindo adequadamente a sua funo, pois foio povo mesmo quem nomeou o governo. Portanto, tem o poderde afast-lo quando deixar de cumprir seu encargo. Quandogoverno e povo entrarem em controvrsia na qual a lei no te-nha resposta capaz de resolver o atrito, quem julgar o cor-po do povo, que em ltima instncia detentor do poder dedeciso. Um governo que j no cumpre mais sua funo, asaber, garantir a propriedade,ele promove o estado de guerra,pois abre a possibilidade de novamente os indivduos poder seutilizar da fora para preservar seus direitos. No estado de na-tureza, a defesa prpria faz parte da lei natural, ou seja, da leiracional, qual todos esto subordinados, e, no existindo maisum governo digno da conana do povo, este pode se defenderutilizando-se dos meios que a natureza fornece.

    O processo de abandono de um governo ou de uma socie-

    dade no acontece apenas pela vontade de alguns indivduos,mas, como j se armou, acontece por motivos externos ou in-ternos quando no mais forem respeitados termos do pacto quetornou possvel a sociedade civil pelo consentimento de todosos envolvidos. Porque instituda uma sociedade poltica cadaindivduo transfere seu poder executivo da lei da natureza paraa comunidade, no podendo retornar aos indivduos enquantoperdurar o governo (II TRA 243). Da mesma forma o legislativo

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    institudo pelo povo no pode retornar a esse enquanto existirum governo constitudo, porque o povo transferiu ao legislativo

    o poder de elaborar leis que direcionem as aes dos homens,em vista do bem de todos. O legislativo somente retorna ao po-vo quando agir de maneira arbitrria ou quando o pacto previrque o legislativo perdure por determinado tempo e em seguidaretorne ao povo que poder colocar em novas mos, conformefor mais conveniente.

    O intento de Locke buscar a preservao dos indivduosdentro da sociedade diante da possvel violncia do Estado,

    atravs de leis estabelecidas que garantam os direitos naturaisdos indivduos, entendidos em sentido estrito como as possese em sentido mais amplo como a vida, a sade e a liberdade.

    A teoria poltica de Locke tem um carter tridico. Para Locke,depois do estado de natureza, tem-se a possibilidade iminen-te do estado de guerra, devido aos inconvenientes presentesao estado natural, e, para resolver tal dilema, o indivduo entrana sociedade civil. Porm quando essa deixar de cumprir suafuno, o povo tem o direito resistncia, com o objetivo sem-pre de garantir a propriedade, entendida aqui, em sentido maisamplo, a paz.

    Resistncia no sinnimo de violncia. A fora s usa-da nos casos em que o caminho da lei j no d mais conta degarantir a paz e o bem pblico. O povo resiste a um governo quedeixa de cumprir seu papel. No se trata de dizer que haja uma

    dissoluo da sociedade enquanto tal. H apenas a formao deum novo governo de acordo com as demandas da maioria.A paz acontece quando os direitos do indivduo so ob-

    servados, no caso da sociedade civil o governo o respons-vel direto para a garantia dos direitos e consequentemente daprpria paz. Na medida em que no mais cumprir sua funoabrir margem para um estado de guerra, e nesse sentido a re-sistncia se constitui como que uma busca pela paz. Portanto, a

    funo do governo institudo pelo consentimento dos indivduosque formam a sociedade civil a de garantir o bem pblico eque a propriedade e os direitos naturais estejam assegurados.

    A passagem do estado de natureza para a sociedade civil comleis estabelecidas e com um juiz supremo o que garante ascondies para a paz. Porm, as leis tm de ser elaboradaslevando-se em conta as necessidades de todos os membros dasociedade e o governo tem que cumprir elmente sua funo,

    garantir o bem pblico. Na medida em que deixar de garantiro bem pblico o governo abre margem para a resistncia dopovo, que pode destituir esse governo e estabelecer um novoem seu lugar que seja capaz de garantir os direitos naturais dosindivduos.

    Percebe-se, pois, em Locke, que a paz na sociedade civilsomente alcanada pela garantia dos direitos dos indivduos,

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    responsabilidade essa colocada pelos indivduos, por consen-timento, nas mos do governo que pode ser destitudo quando

    no mais cumprir sua funo. Desse modo, no h contradioem se armar que a sociedade civil e o direito de resistncia notm outra nalidade seno a paz. Para Locke, a paz s poss-vel no interior da sociedade civil, constituda por um governo, oqual tem por responsabilidade a garantia dos direitos de cadamembro. O governo institudo deve garantir a convivncia pa-cca entre os homens. Portanto, na medida em que o governoinstitudo deixar de cumprir sua funo, , segundo Locke, leg-

    timo resistir-lhe no intuito de reestabelecer os direitos de cadamembro, e, assim, preservar a convivncia pacca.

    Referncias

    BOBBIO, Norberto. Locke e o direito natural. Traduo de Srgio Bath.Braslia: UnB, 1997.

    DUNN, John. Locke. So Paulo: Loyola, 2003.FILMER, Sir Robert. Patriarcha and other political works. Oxford: BasilBlackwell, 1949.

    HOBBES, Thomas. Leviat ou matria. Forma e poder de um estadoeclesistico e civil.So Paulo: Abril Cultural, 1979.

    LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. Traduo de Julio Fischer.So Paulo: Martins Fontes, 1998.

    LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. Traduo de E. Jacy

    Monteiro. So Paulo: Abril Cultural, 1978.LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. Volume I. Lisboa:Fundao Calouste Gulbenkian, 1999.

    LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. Volume II. Lisboa:Fundao Calouste Gulbenkian, 1999.

    MICHAUD, Ives. Locke. Traduo de Lucy Magalhes. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 1986.

    NODARI, Paulo Csar.A emergncia do individualismo moderno no pen-

    samento de John Locke. Porto Alegre: Edipucrs, 1999.OLIVEIRA, Manfredo Arajo de. tica e sociabilidade. So Paulo: Loyo-la, 1993.

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    TEMAS DOS CADERNOS IHU IDEIAS

    N. 01 A teoria da justia de John Rawls Dr. Jos NedelN. 02 O feminismo ou os feminismos: Uma leitura das produes tericas Dra. Edla Eggert

    O Servio Social junto ao Frum de Mulheres em So Leopoldo MSClair Ribeiro Ziebell e Aca-dmicas Anemarie Kirsch Deutrich e Magali Beatriz Strauss

    N. 03 O programa Linha Direta: a sociedade segundo a TVGlobo Jornalista Sonia MontaoN. 04 Ernani M. Fiori Uma Filosofia da Educao Popular Prof. Dr. Luiz Gilberto KronbauerN. 05 O rudo de guerra e o silncio de Deus Dr. Manfred Zeuch

    N. 06 BRASIL: Entre a Identidade Vazia e a Construo do Novo Prof. Dr. Renato Janine RibeiroN. 07 Mundos televisivos e sentidos identirios na TV Profa. Dra. Suzana KilppN. 08 Simes Lopes Neto e a Inveno do Gacho Profa. Dra. Mrcia Lopes DuarteN. 09 Oligoplios miditicos: a televiso contempornea e as barreiras entrada Prof. Dr. Valrio Cruz

    BrittosN. 10 Futebol, mdia e sociedade no Brasil: reflexes a partir de um jogo Prof. Dr. dison Luis GastaldoN. 11 Os 100 anos de Theodor Adorno e a Filosofia depois de Auschwitz Profa. Dra. Mrcia TiburiN. 12 A domesticao do extico Profa. Dra. Paula CaleffiN. 13 Pomeranas parceiras no caminho da roa: um jeito de fazer Igreja, Teologia e Educao Popular

    Profa. Dra. Edla EggertN. 14 Jlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prtica poltica no RS Prof. Dr. Gunter AxtN. 15 Medicina social: um instrumento para denncia Profa. Dra. Stela Nazareth Meneghel

    N. 16 Mudanas de significado da tatuagem contempornea Profa. Dra. Dbora Krischke LeitoN. 17 As sete mulheres e as negras sem rosto: fico, histria e trivialidade Prof. Dr. Mrio MaestriN. 18 Um itinenrio do pensamento de Edgar Morin Profa. Dra. Maria da Conceio de AlmeidaN. 19 Os donos do Poder, de Raymundo Faoro Profa. Dra. Helga Iracema Ladgraf PiccoloN. 20 Sobre tcnica e humanismo Prof. Dr. Oswaldo Giacia JuniorN. 21 Construindo novos caminhos para a interveno societria Profa. Dra. Lucilda SelliN. 22 Fsica Quntica: da sua pr-histria discusso sobre o seu contedo essencial Prof. Dr. Paulo

    Henrique DionsioN. 23 Atualidade da filosofia moral de Kant, desde a perspectiva de sua crtica a um solipsismo prtico

    Prof. Dr. Valrio RohdenN. 24 Imagens da excluso no cinema nacional Profa. Dra. Miriam RossiniN. 25 A esttica discursiva da tev e a (des)configurao da informao Profa. Dra. Nsia Martins do

    RosrioN. 26 O discurso sobre o voluntariado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS MSRosa

    Maria Serra BavarescoN. 27 O modo de objetivao jornalstica Profa. Dra. Beatriz Alcaraz MaroccoN. 28 A cidade afetada pela cultura digital Prof. Dr. Paulo Edison Belo ReyesN. 29 Prevalncia de violncia de gnero perpetrada por companheiro: Estudo em um servio de aten-

    o primria sade Porto Alegre, RS Prof. MS Jos Fernando Dresch KronbauerN. 30 Getlio, romance ou biografia? Prof. Dr. Juremir Machado da SilvaN. 31 A crise e o xodo da sociedade salarial Prof. Dr. Andr GorzN. 32 meia luz: a emergncia de uma Teologia Gay Seus dilemas e possibilidades Prof. Dr. Andr

    Sidnei MusskopfN. 33 O vampirismo no mundo contemporneo: algumas consideraes Prof. MS Marcelo Pizarro

    NoronhaN. 34 O mundo do trabalho em mutao: As reconfiguraes e seus impactos Prof. Dr. Marco AurlioSantana

    N. 35 Adam Smith: filsofo e economista Profa. Dra. Ana Maria Bianchi e Antonio Tiago Loureiro Arajodos Santos

    N. 36 Igreja Universal do Reino de Deus no contexto do emergente mercado religioso brasileiro: umaanlise antropolgica Prof. Dr. Airton Luiz Jungblut

    N. 37 As concepes terico-analticas e as proposies de poltica econmica de Keynes Prof. Dr.Fernando Ferrari Filho

    N. 38 Rosa Egipcaca: Uma Santa Africana no Brasil Colonial Prof. Dr. Luiz MottN. 39 Malthus e Ricardo: duas vises de economia poltica e de capitalismo Prof. Dr. Gentil CorazzaN. 40 Corpo e Agenda na Revista Feminina MSAdriana Braga

    N. 41 A (anti)filosofia de Karl Marx Profa. Dra. Leda Maria PaulaniN. 42 Veblen e o Comportamento Humano: uma avaliao aps um sculo de A Teoria da Classe Ocio-sa Prof. Dr. Leonardo Monteiro Monasterio

    N. 43 Futebol, Mdia e Sociabilidade. Uma experincia etnogrfica dison Luis Gastaldo, Rodrigo Mar-ques Leistner, Ronei Teodoro da Silva e Samuel McGinity

    N. 44 Genealogia da religio. Ensaio de leitura sistmica de Marcel Gauchet. Aplicao situao atualdo mundo Prof. Dr. Grard Donnadieu

    N. 45 A realidade quntica como base da viso de Teilhard de Chardin e uma nova concepo da evolu-o biolgica Prof. Dr. Lothar Schfer

    N. 46 Esta terra tem dono. Disputas de representao sobre o passado missioneiro no Rio Grande doSul: a figura de Sep Tiaraju Profa. Dra. Ceres Karam Brum

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    N. 47 O desenvolvimento econmico na viso de Joseph Schumpeter Prof. Dr. Achyles Barcelos daCosta

    N. 48 Religio e elo social. O caso do cristianismo Prof. Dr. Grard DonnadieuN. 49 Coprnico e Kepler: como a terra saiu do centro do universo Prof. Dr. Geraldo Monteiro SigaudN. 50 Modernidade e ps-modernidade luzes e sombras Prof. Dr. Evilzio TeixeiraN. 51 Violncias: O olhar da sade coletiva lida Azevedo Hennington e Stela Nazareth MeneghelN. 52 tica e emoes morais Prof. Dr. Thomas KesselringJuzos ou emoes: de quem a primazia

    na moral? Prof. Dr. Adriano Naves de BritoN. 53 Computao Quntica. Desafios para o Sculo XXI Prof. Dr. Fernando HaasN. 54 Atividade da sociedade civil relativa ao desarmamento na Europa e no Brasil Profa. Dra. An

    VranckxN. 55 Terra habitvel: o grande desafio para a humanidade Prof. Dr. Gilberto DupasN. 56 O decrescimento como condio de uma sociedade convivial Prof. Dr. Serge LatoucheN. 57 A natureza da natureza: auto-organizao e caos Prof. Dr. Gnter KppersN. 58 Sociedade sustentvel e desenvolvimento sustentvel: limites e possibilidades Dra. Hazel

    HendersonN. 59 Globalizao mas como? Profa. Dra. Karen GloyN. 60 A emergncia da nova subjetividade operria: a sociabilidade invertida MS Cesar SansonN. 61 Incidente em Antares e a Trajetria de Fico de Erico Verssimo Profa. Dra. Regina ZilbermanN. 62 Trs episdios de descoberta cientfica: da caricatura empirista a uma outra histria Prof. Dr.

    Fernando Lang da Silveira e Prof. Dr. Luiz O. Q. PeduzziN. 63 Negaes e Silenciamentos no discurso acerca da Juventude Ctia Andressa da SilvaN. 64 Getlio e a Gira: a Umbanda em tempos de Estado Novo Prof. Dr. Artur Cesar IsaiaN. 65 Darcy Ribeiro e o O povo brasileiro: uma alegoria humanista tropical Profa. Dra. La Freitas

    PerezN. 66 Adoecer: Morrer ou Viver? Reflexes sobre a cura e a no cura nas redues jesutico-guaranis

    (1609-1675) Profa. Dra. Eliane Cristina Deckmann FleckN. 67 Em busca da terceira margem: O olhar de Nelson Pereira dos Santos na obra de Guimares Rosa

    Prof. Dr. Joo Guilherme BaroneN. 68 Contingncia nas cincias fsicas Prof. Dr. Fernando HaasN. 69 A cosmologia de Newton Prof. Dr. Ney LemkeN. 70 Fsica Moderna e o paradoxo de Zenon Prof. Dr. Fernando HaasN. 71 O passado e o presente em Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade Profa. Dra. Miriam

    de Souza RossiniN. 72 Da religio e de juventude: modulaes e articulaes Profa. Dra. La Freitas PerezN. 73 Tradio e ruptura na obra de Guimares Rosa Prof. Dr. Eduardo F. CoutinhoN. 74 Raa, nao e classe na historiografia de Moyss Vellinho Prof. Dr. Mrio MaestriN. 75 A Geologia Arqueolgica na Unisinos Prof. MS Carlos Henrique NowatzkiN. 76 Campesinato negro no perodo ps-abolio: repensando Coronelismo, enxada e voto Profa.

    Dra. Ana Maria Lugo RiosN. 77 Progresso: como mito ou ideologia Prof. Dr. Gilberto DupasN. 78 Michael Aglietta: da Teoria da Regulao Violncia da Moeda Prof. Dr. Octavio A. C. ConceioN. 79 Dante de Laytano e o negro no Rio Grande Do Sul Prof. Dr. Moacyr FloresN. 80 Do pr-urbano ao urbano: A cidade missioneira colonial e seu territrio Prof. Dr. Arno Alvarez

    KernN. 81 Entre Canes e versos: alguns caminhos para a leitura e a produo de poemas na sala de aula

    Profa. Dra. Glucia de SouzaN. 82 Trabalhadores e poltica nos anos 1950: a ideia de sindicalismo populista em questo Prof. Dr.

    Marco Aurlio SantanaN. 83 Dimenses normativas da Biotica Prof. Dr. Alfredo Culleton e Prof. Dr. Vicente de Paulo BarrettoN. 84 A Cincia como instrumento de leitura para explicar as transformaes da natureza Prof. Dr.

    Attico ChassotN. 85 Demanda por empresas responsveis e tica Concorrencial: desafios e uma proposta para a

    gesto da ao organizada do varejo Profa. Dra. Patrcia Almeida AshleyN. 86 Autonomia na ps-modernidade: um delrio? Prof. Dr. Mario FleigN. 87 Gauchismo, tradio e Tradicionalismo Profa. Dra. Maria Eunice MacielN. 88 A tica e a crise da modernidade: uma leitura a partir da obra de Henrique C. de Lima Vaz Prof.

    Dr. Marcelo PerineN. 89 Limites, possibilidades e contradies da formao humana na Universidade Prof. Dr. Laurcio

    NeumannN. 90 Os ndios e a Histria Colonial: lendo Cristina Pompa e Regina Almeida Profa. Dra. Maria Cristina

    Bohn MartinsN. 91 Subjetividade moderna: possibilidades e limites para o cristianismo Prof. Dr. Franklin Leopoldo e

    SilvaN. 92 Saberes populares produzidos numa escola de comunidade de catadores: um estudo na perspec-

    tiva da Etnomatemtica Daiane Martins BocasantaN. 93 A religio na sociedade dos indivduos: transformaes no campo religioso brasileiro Prof. Dr.

    Carlos Alberto SteilN. 94 Movimento sindical: desafios e perspectivas para os prximos anos MS Cesar SansonN. 95 De volta para o futuro: os precursores da nanotecnocincia Prof. Dr. Peter A. SchulzN. 96 Vianna Moog como intrprete do Brasil MSEnildo de Moura CarvalhoN. 97 A paixo de Jacobina: uma leitura cinematogrfica Profa. Dra. Marins Andrea KunzN. 98 Resilincia: um novo paradigma que desafia as religies MSSusana Mara Rocca LarrosaN. 99 Sociabilidades contemporneas: os jovens na lan house Dra. Vanessa Andrade PereiraN. 100 Autonomia do sujeito moral em Kant Prof. Dr. Valerio Rohden

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    N. 101 As principais contribuies de Milton Friedman Teoria Monetria: parte 1 Prof. Dr. RobertoCamps Moraes

    N. 102 Uma leitura das inovaes bio(nano)tecnolgicas a partir da sociologia da cincia MSAdrianoPremebida

    N. 103 ECODI A criao de espaos de convivncia digital virtual no contexto dos processos de ensinoe aprendizagem em metaverso Profa. Dra. Eliane Schlemmer

    N. 104 As principais contribuies de Milton Friedman Teoria Monetria: parte 2 Prof. Dr. RobertoCamps Moraes

    N. 105 Futebol e identidade feminina: um estudo etnogrfico sobre o ncleo de mulheres gremistas Prof.MS Marcelo Pizarro Noronha

    N. 106 Justificao e prescrio produzidas pelas Cincias Humanas: Igualdade e Liberdade nos discur-sos educacionais contemporneos Profa. Dra. Paula Corra Henning

    N. 107 Da civilizao do segredo civilizao da exibio: a famlia na vitrine Profa. Dra. Maria IsabelBarros Bellini

    N. 108 Trabalho associado e ecologia: vislumbrando um ethos solidrio, terno e democrtico? Prof. Dr.Telmo Adams

    N. 109 Transumanismo e nanotecnologia molecular Prof. Dr. Celso Candido de AzambujaN. 110 Formao e trabalho em narrativas Prof. Dr. Leandro R. PinheiroN. 111 Autonomia e submisso: o sentido histrico da administrao Yeda Crusius no Rio Grande do

    Sul Prof. Dr. Mrio MaestriN. 112 A comunicao paulina e as prticas publicitrias: So Paulo e o contexto da publicidade e propa-

    ganda Denis Gerson SimesN. 113 Isto no uma janela: Flusser, Surrealismo e o jogo contra Esp. Yentl DelanhesiN. 114 SBT: jogo, televiso e imaginrio de azar brasileiro MSSonia MontaoN. 115Educao cooperativa solidria: perspectivas e limites Prof. MSCarlos Daniel BaiotoN. 116 Humanizar o humano Roberto Carlos FveroN. 117 Quando o mito se torna verdade e a cincia, religio Rber Freitas BachinskiN. 118 Colonizando e descolonizando mentes Marcelo Dascal

    N. 119 A espiritualidade como fator de proteo na adolescncia Luciana F. Marques e Dbora D.DellAglio

    N. 120 A dimenso coletiva da liderana Patrcia Martins Fagundes Cabral e Nedio SeminottiN. 121 Nanotecnologia: alguns aspectos ticos e teolgicos Eduardo R. CruzN. 122 Direito das minorias e Direito diferenciao Jos Rogrio LopesN. 123 Os direitos humanos e as nanotecnologias: em busca de marcos regulatrios Wilson EngelmannN. 124 Desejo e violncia Rosane de Abreu e SilvaN. 125 As nanotecnologias no ensino Solange Binotto FaganN. 126 Cmara Cascudo: um historiador catlico Bruna Rafaela de LimaN. 127 O que o cncer faz com as pessoas? Reflexos na literatura universal: Leo Tolstoi Thomas Mann

    Alexander Soljentsin Philip Roth Karl-Josef KuschelN. 128 Dignidade da pessoa humana e o direito fundamental identidade gentica Ingo Wolfgang Sarlet

    e Selma Rodrigues PetterleN. 129 Aplicaes de caos e complexidade em cincias da vida Ivan Amaral GuerriniN. 130 Nanotecnologia e meio ambiente para uma sociedade sustentvel Paulo Roberto MartinsN. 131 A phila como critrio de inteligibilidade da mediao comunitria Rosa Maria Zaia Borges AbroN. 132 Linguagem, singularidade e atividade de trabalho Marlene Teixeira e derson de Oliveira CabralN. 133 A busca pela segurana jurdica na jurisdio e no processo sob a tica da teoria dos sistemas

    sociais de Niklass Luhmann Leonardo GrisonN. 134 Motores Biomoleculares Ney Lemke e Luciano HennemannN. 135 As redes e a construo de espaos sociais na digitalizao Ana Maria Oliveira RosaN. 136 De Marx a Durkheim: Algumas apropriaes tericas para o estudo das religies afro-brasileiras

    Rodrigo Marques LeistnerN. 137 Redes sociais e enfrentamento do sofrimento psquico: sobre como as pessoas reconstroem suas

    vidas Breno Augusto Souto Maior FontesN. 138 As sociedades indgenas e a economia do dom: O caso dos guaranis Maria Cristina Bohn

    MartinsN. 139 Nanotecnologia e a criao de novos espaos e novas identidades Marise Borba da SilvaN. 140 Plato e os Guarani Beatriz Helena DominguesN. 141 Direitos humanos na mdia brasileira Diego Airoso da MottaN. 142 Jornalismo Infantil: Apropriaes e Aprendizagens de Crianas na Recepo da Revista Recreio

    Greyce VargasN. 143 Derrida e o pensamento da desconstruo: o redimensionamento do sujeito Paulo Cesar

    Duque-EstradaN. 144 Incluso e Biopoltica Maura Corcini Lopes, Kamila Lockmann, Morgana Domnica Hattge e

    Viviane Klaus

    N. 145 Os povos indgenas e a poltica de sade mental no Brasil: composio simtrica de saberes paraa construo do presente Bianca Sordi Stock

    N. 146 Reflexes estruturais sobre o mecanismo de REDD Camila MorenoN. 147 O animal como prximo: por uma antropologia dos movimentos de defesa dos direitos animais

    Caetano SordiN. 148 Avaliao econmica de impactos ambientais: o caso do aterro sanitrio em Canoas-RS Fernan-

    da SchutzN. 149 Cidadania, autonomia e renda bsica Josu Pereira da SilvaN. 150 Imagtica e formaes religiosas contemporneas: entre a performance e a tica Jos Rogrio

    LopesN. 151 As reformas poltico-econmicas pombalinas para a Amaznia: e a expulso dos jesutas do Gro-

    -Par e Maranho Luiz Fernando Medeiros Rodrigues

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    N. 152 Entre a Revoluo Mexicana e o Movimento de Chiapas: a tese da hegemonia burguesa no Mxi-co ou por que voltar ao Mxico 100 anos depois Claudia Wasserman

    N. 153 Globalizao e o pensamento econmico franciscano: Orientao do pensamento econmico fran-ciscano e Caritas in Veritate Stefano Zamagni

    N. 154 Ponto de cultura teko arandu: uma experincia de incluso digital indgena na aldeia kaiow eguarani Teikue no municpio de Caarap-MS Neimar Machado de Sousa, Antonio Brand e JosFrancisco Sarmento

    N. 155 Civilizar a economia: o amor e o lucro aps a crise econmica Stefano ZamagniN. 156Intermitncias no cotidiano: a clnica como resistncia inventiva Mrio Francis Petry Londero e

    Simone Mainieri PaulonN. 157 Democracia, liberdade positiva, desenvolvimento Stefano ZamagniN. 158 Passemos para a outra margem: da homofobia ao respeito diversidade Omar Lucas Perrout

    Fortes de SalesN. 159 A tica catlica e o esprito do capitalismo Stefano ZamagniN. 160 O Slow Food e novos princpios para o mercado Eriberto Nascente SilveiraN. 161 O pensamento tico de Henri Bergson: sobre As duas fontes da moral e da religio Andr Bray-

    ner de FariasN. 162 O modus operandi das polticas econmicas keynesianas Fernando Ferrari Filho e Fbio Henri-

    que Bittes TerraN. 163 Cultura popular tradicional: novas mediaes e legitimaes culturais de mestres populares pau-

    listas Andr Luiz da SilvaN. 164 Ser o decrescimento a boa nova de Ivan Illich? Serge LatoucheN. 165 Agostos! A Crise da Legalidade: vista da janela do Consulado dos Estados Unidos em Porto

    Alegre Carla Simone RodegheroN. 166 Convivialidade e decrescimento Serge LatoucheN. 167 O impacto da plantao extensiva de eucalipto nas culturas tradicionais: Estudo de caso de So

    Luis do Paraitinga Marcelo Henrique Santos ToledoN. 168 O decrescimento e o sagrado Serge Latouche

    N. 169 A busca de um ethos planetrio Leonardo BoffN. 170 O salto mortal de Louk Hulsman e a desinstitucionalizao do ser: um convite ao abolicionismo

    Marco Antonio de Abreu ScapiniN. 171 Sub specie aeternitatis O uso do conceito de tempo como estratgia pedaggica de religao

    dos saberes Gerson Egas SeveroN. 172 Theodor Adorno e a frieza burguesa em tempos de tecnologias digitais Bruno PucciN. 173 Tcnicas de si nos textos de Michel Foucault: A influncia do poder pastoral Joo Roberto Barros IIN. 174 Da mnada ao social: A intersubjetividade segundo Levinas Marcelo FabriN. 175 Um caminho de educao para a paz segundo Hobbes Lucas Mateus Dalsotto e Everaldo CesconN. 176 Da magnitude e ambivalncia necessria humanizao da tecnocincia segundo Hans Jonas

    Jelson Roberto de Oliveira

  • 5/27/2018 Locke e educa o

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    Odair Camati possui graduao pela Universi-dade de Caxias do Sul (2011). mestrando emFilosoa no Programa de Ps-graduao em Fi

    -losoa (PPGFIL-UCS) e bolsista da Fapergs. Atuacomo monitor nvel II nas disciplinas de tica EADna Universidade de Caxias do Sul.

    Paulo Csar Nodaripossui graduao em Filo-soa (bacharelado e licenciatura) pela Univer-sidade de Caxias do Sul (1991), graduao emTeologia pela Pontifcia Universidade Catlica doRio Grande do Sul (1994), mestrado em Filosoapela Universidade Federal de Minas Gerais (1998)e doutorado em Filosoa pela Pontifcia Universi-dade Catlica do Rio Grande do Sul (2004), com

    perodo sanduche na Universidade de Tbingen,Alemanha. professor-adjunto I na Universidade

    de Caxias do Sul. Foi professor no Programa de Ps-Graduao emEducao da Universidade de Caxias do Sul (PPGED-UCS). profes-sor de ps-graduao (nvel mestrado) em Filosoa na Universidadede Caxias do Sul (PPGFIL-UCS). Tem experincia nos seguintes temas:tica, liberdade, direitos humanos, paz, antropologia e educao. Defevereiro a julho de 2011, realizou ps-doutorado, em Filosoa (Bonn,

    Alemanha).Algumas publicaes do autor

    NODARI, Paulo Csar (org.). Por qu? A arte de perguntar. So Paulo:Paulinas, 2011.

    CESCON, Everaldo; NODARI, Paulo Csar (org.). Filosofa, tica e Educa-o:por uma cultura da paz. So Paulo: Paulinas, 2011.

    NODARI, Paulo Csar.A teoria dos dois mundos e o conceito de liberda-

    de em Kant. Caxias do Sul: EDUCS, 2009.______. A emergncia do individualismo moderno no pensamento deJohn Locke. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999.