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C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 1, p. 111-129, jul./dez. 2013 DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2175-7755/cs.v35n1p111-129 111 Um raio X dos jornalistas de ciência: há uma nova “onda” no jornalismo científico no Brasil? An X-Ray of science journalists: Is there a new “wave” of science journalism in Brazil? Un rayo X de periodistas científicos: ¿Hay una nueva “ola” del periodismo científico en Brasil? Luisa Massarani Jornalista, doutora em Gestão, Educação e Difusão em Biociências pela Univer- sidade Federal do Rio de Janeiro. É líder do grupo de pesquisa: Ciência, Comu- nicação & Sociedade, pela Fundação Oswaldo Cruz. Docente em dois progra- mas de Pós-Graduação da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Email:luisa.massarani3@ gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq. br/2675160937325484. Martin W. Bauer Professor do Institute of Social Psychology and Methodology, da London School of Economics, Reino Unido. E-mail: m.bauer@ lse.ac.uk. Currículo: http://www.lse.ac.uk/rese- archandexpertise/experts/ profile.aspx?KeyValue=m. bauer%40lse.ac.uk Luís Amorim Graduação em Comunica- ção Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2003) e mestrado em Co- municação, Ciência e Mídia pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2006. É coordenador do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica/Museu da Vida/ Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Email: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq. br/7537201109252347

Luisa Massarani Jornalista, doutora em Um raio X dos ... · de jornalismo científico em diversos países da região (MASSARANI et al., 2012). Como parte deste movimen-to latino-americano,

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Um raio X dos jornalistas de ciência: há uma nova

“onda” no jornalismo científico no Brasil?

An X-Ray of science journalists: Is there a new

“wave” of science journalism in Brazil?

Un rayo X de periodistas científicos: ¿Hay una nueva

“ola” del periodismo científico en Brasil?

Luisa MassaraniJornalista, doutora em Gestão, Educação e Difusão em Biociências pela Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro. É líder do grupo depesquisa: Ciência, Comu-nicação & Sociedade, pela Fundação Oswaldo Cruz. Docente em dois progra-mas de Pós-Graduação da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Email:[email protected]. CurrículoLattes: http://lattes.cnpq.br/2675160937325484.

Martin W. BauerProfessor do Institute of Social Psychology and Methodology, da London School of Economics, Reino Unido. E-mail: [email protected]. Currículo:http://www.lse.ac.uk/rese-archandexpertise/experts/profile.aspx?KeyValue=m.bauer%40lse.ac.uk

Luís AmorimGraduação em Comunica-ção Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro(2003) e mestrado em Co-municação, Ciência e Mídia pela Fundação OswaldoCruz (Fiocruz), em 2006. É coordenador do Núcleo de Estudos da DivulgaçãoCientífica/Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Email: [email protected]ículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7537201109252347

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Luisa Massarani; Martin W. BauerLuís aMoriM

RESUMO Este artigo tem como ponto de partida o pressuposto de que os jornalistas de ciência são atores-chave no processo de consolidação da cultura de ciência no País. Isto é particularmente pertinente no contexto de um país em desenvolvimento, no qual os meios de comunicação de massa são umas das principais fontes de informação sobre ciência e tecnologia. No Brasil, um movimento importante do jornalismo científico ocorreu na década de 1970, quando foi criada a Associação Brasileira de Jornalismo Científico, intensificando-se nos anos 1980. Neste artigo, apresentaremos os resultados de um estudo exploratório realizado com o uso de um formulário de pesquisa online, em que buscamos entender quem são os profissionais de mídia que cobrem atualmente os temas ciência e tecnologia no Brasil, bem como quais são suas condições e práticas de trabalho. Este estudo inclui 71 jornalistas e é parte de uma pesquisa mundial sobre o jornalismo científico. De acordo com nossos resultados, o jornalista científico brasileiro modal seria uma mulher, com menos de 40 anos, que trabalha na área há menos de dez anos e escreve principalmente para a imprensa escrita e para a internet. Um número importante de participantes da enquete trabalha em tempo integral e está satis-feito com sua profissão. Ao contrário da hipótese que estimulou nossa pesquisa – de que o jornalismo científico estaria em crise – nosso estudo mostra que, ao menos entre aqueles que responderam nossa pesquisa, há um sentimento de otimismo nesta carreira no Brasil. Este resultado confirma outras observações na área da divulgação científica e leva-nos à questão: há uma nova “onda” de jornalismo científico no Brasil?Palavras-chave: Jornalistas de ciência. Jornalismo científico. Cultura de ciência. Brasil.

ABSTRACTThe starting point of this paper is the assumption that science journalists are stakeholders in the process of consolidating a science culture in Brazil. This is particularly pertinent in the context of a developing country, in which the mass media is one of the main sources of science and technology information. In Brazil, an important movement of the science journalism was observed in the 1970s, when the Brazilian Association of Science Journalism was created, and increased in the eighties. We will present the results of an exploratory study using an online survey on who are the media professionals who cover Science and Technology issues in Brazil, which are their working conditions and their practices. This Brazilian study included 71 respondents and is part of a global survey of Science Journalism. According to our results, the modal Science journalist working in Brazil is a woman with less than 40 years old, writing mostly for printed outlets and the Internet, and working in the field for less than 10 years. An important number of respondents have been working in full-time positions and are satisfied with their profession. In contrast to the working hypothesis that stimulated this survey – Science Journalism is in crisis – our study shows that, at least among those who answered our survey, there is a feeling of optimism toward this profession in Brazil. These results confirm other observations on Science communication in Brazil. This leads us to the question: Is there a new ‘wave’ of Science Journalism in Brazil? Keywords: Science journalists. Science Journalism. Science culture. Brazil.

RESUMEN Este artículo tiene como punto de partida el supuesto de que los periodistas científicos son actores clave en el proceso de consolidación de la cultura de ciencia en Brasil. Esto es particu-larmente relevante en el contexto de un país en desarrollo, en que los medios de comunicación masivos son una fuente importante de información sobre ciencia y tecnología. En Brasil, un movimiento importante del periodismo científico ocurrió en la década de 1970, cuando fue criada la Asociación Brasileña de Periodismo Científico, intensificándose en los años 1980. En este artículo, presentamos los resultados de un estudio exploratorio realizado utilizando una encuesta online, que trató de comprender quiénes son los profesionales de los medios que cubren temas de ciencia y tecnología en Brasil y cuáles son sus condiciones y prácticas de trabajo. Este estudio incluye 71 periodistas y es parte de una encuesta mundial sobre periodismo científico. De acuerdo con nuestros resultados, el periodista científico brasileño modal sería una mujer, con menos de 40 años, que trabaja en el área por menos de 10 años y escribe especialmente para los medios impresos y Internet. Un número importante de participantes de la encuesta trabaja a tiempo completo y está satisfecho con su profesión. A diferencia de la hipótesis que estimuló nuestra investigación –la que el periodismo científico estaría en crisis– nuestro estudio muestra que, al menos entre aquellos que respondieron a nuestra encuesta, hay un sentimiento de optimismo con respecto a esta carrera en Brasil. Este resultado confirma las observaciones de otros estudios realizados en el ámbito de la comunicación de la ciencia en Brasil y lleva a la pregunta: ¿habría una nueva ‘ola’ de periodismo científico en Brasil?Palabras clave: Periodistas científicos. Periodismo científico. Cultura de ciencia. Brasil.

Submetido em:17.12.2012Aceito:15.7.2013

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A ciência brasileiraO crescimento da ciência brasileira tem sido parti-

cularmente relevante nas últimas duas décadas, levan-do o país a ganhar um papel de maior proeminência no cenário internacional, com aumento importante no número de artigos em periódicos científicos indexados. O Brasil atualmente se posiciona na 13ª posição em número de artigos publicados, ultrapassando países como Holanda, Israel e Suíça (REGALADO, 2010). De acordo com os National Science Indicators (NSI), 32.100 artigos foram publicados por brasileiros em periódicos indexados em 2009, contra 19.500 artigos em 20071.

Em relação ao público, segundo a pesquisa nacional realizada em 2009, os brasileiros mostram--se interessados em temas de ciência e tecnologia (C&T). Do total de 2.016 pessoas entrevistadas, 65% afirmam ser interessadas ou muito interessadas em C&T, valor similar a esportes2. Refletindo uma tendên-

1 Fonte: Thomson Reuters Scientif ic INC / Ministry of Science, Technology and Innovation. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/314568/Numero_de_artigos_brasileiros_publicados_em_periodicos_cientificos_indexados_pela_ThomsonISI_e_Scopus_1996_2011.html>. Acesso em: 21 nov. 2012.

2 A pesquisa sobre o que os brasileiros pensam sobre ciência e tecnologia foi realizada pelo Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e pelo Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz, com o suporte da Unesco. Resultados disponíveis em: <http://www.museudavida.fiocruz.br/media/enquete2010.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2012.

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cia internacional, a enquete mostra que os meios de comunicação de massa são uma das principais fontes de informação sobre C&T no Brasil. A confiança dos brasileiros nos jornalistas como fonte de informação também é significativa: estes profissionais estão em segundo lugar na lista das fontes mais confiáveis em C&T, depois de médicos.

Neste contexto, nosso artigo tem como ponto de partida o pressuposto de que os jornalistas de ciência são atores-chave no processo de consolidação de uma cultura de ciência no País. Isto é particularmente importante no contexto de um país em desenvolvi-mento, em que o sistema formal de educação em ciência tem fragilidades, dando aos meios de co-municação de massa um papel central como fontes de informação em C&T. Nosso trabalho tem como objetivo entender melhor quem são os jornalistas que cobrem temas de C&T, quais são suas condições de trabalho e suas opiniões sobre a cobertura de ciência.

“Ondas” no jornalismo de ciênciaA cobertura de ciência no Brasil tem cerca de

dois séculos de história. Assim que a proibição da cria-ção de uma imprensa brasileira foi banida no País, os primeiros jornais que circularam, como A Gazeta do Rio de Janeiro e O Patriota, começaram a publicar matérias relacionadas a ciência (OLIVEIRA, 1999; MO-REIRA; MASSARANI, 2001). Desde então, a ciência tem ocupado espaço na grande imprensa, apesar de em diferentes intensidades. Segundo BAUER (1998, 2012), é possível identificar uma tendência internacional neste fenômeno, as chamadas “ondas” de atenção públi-ca. Estimativas destas ondas sugerem o crescimento da atenção pública dada à C&T na década de 1920,

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Um raio X dos jornalistas de ciência: há Uma nova “onda” no jornalismo científico no Brasil?

nas décadas de 1950 e 1960 e, novamente, na déca-da de 1980. Os intervalos referem-se a momentos de menor intensificação da cobertura de ciência.

A década de 1920 foi marcante para a divulga-ção científica brasileira. Como parte de um amplo movimento em prol da ciência, que engajou a então embrionária comunidade científica nacional, foi cria-da a primeira rádio no Brasil, em 1923, com objetivo de divulgar ciência (MOREIRA; MASSARANI, 2002). As visitas de cientistas estrangeiros, como Albert Einstein (1925) e Marie Curie (1926), foram amplamente cober-tas pelos jornais da época. Depois de uma diminuição nesta onda de divulgação científica na década de 1930, e com o fim da Segunda Guerra Mundial, o País vivenciou um importante momento de institucionali-zação da ciência. É durante esta fase que é criado um suplemento de ciência que, por sua importância, merece ser destacado: “Ciência para todos”, editado por Fernando de Souza Reis com a participação do biólogo Oswaldo Frota-Pessoa e outros cientistas, pu-blicado pelo jornal A Manhã, de 1948 a 1953 (ESTEVES; MASSARANI; MOREIRA, 2006; ESTEVES, 2006).

Uma pessoa importante que inspirou o jornalismo científico no Brasil e em outros países da América La-tina foi o jornalista científico espanhol Manuel Calvo Hernando, em um movimento que resultou na cria-ção de seções de ciência em jornais e associações de jornalismo científico em diversos países da região (MASSARANI et al., 2012). Como parte deste movimen-to latino-americano, foi criada em 1977 a Associação Brasileira de Jornalismo Científico. Este foi o primei-ro passo para uma onda importante do jornalismo científico no Brasil, observada na década de 1980, com a criação de editorias de ciência nos principais

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jornais do País, novas revistas de divulgação da ci-ência, como Ciência Hoje, Globo Ciência e Superin-teressante, e programas de TV, como Globo Ciência (MOREIRA; MASSARANI, 2002). Na década seguinte e no início deste século, há uma redução desta onda – em contraste com o aumento em outras áreas da divulgação científica, como a criação de museus e centros de ciência interativos no País.

Na última década, de uma maneira geral, a área da divulgação científica foi fomentada no Brasil, em parte por um apoio governamental, com a cria-ção, em 2003, do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Este movimento em nível nacional, que inclui a alocação de recursos financeiros para área, teve repercussões nos estados, com reflexos positivos no apoio às ações de divulga-ção científica.

Outro marco político importante foi a inclusão da área de divulgação científica em três importantes documentos: os planos nacionais para a ciência e tecnologia 2007-2010 e 2011-2015 e o chamado Livro azul, resultado dos debates ocorridos na 4ª Conferên-cia Nacional de Ciência e Tecnologia, em maio de 2010 (MCTI, 2010).

A população de jornalistas de ciência no BrasilComo no Brasil os jornalistas não são obrigados

a registrarem-se em um órgão de classe, como os médicos e os engenheiros, para poder atuar na área, o número de jornalistas ativos no País não é conheci-do de forma precisa. A Federação Nacional de Jor-nalistas (Fenaj), principal sindicato de jornalistas do Brasil, tem, em seu banco de dados, 25 mil jornalistas

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filiados; a Fenaj, porém, estima em cerca de 40 mil o número de jornalistas em exercício3.

Neste contexto, o número de jornalistas especiali-zados na cobertura de ciência é ainda mais impreciso. A Associação Brasileira de Jornalismo Científico tem, em seus registros, 500 nomes (cerca de 90% jornalistas); mas apenas 30 são membros ativos da Associação4. Outra fonte, para entender melhor a população de jornalistas de ciência, é uma lista eletrônica chamada “Jornalistas Científicos”, que engloba 55 jornalistas que se autoconsideram jornalistas de ciência5.

A dificuldade de estimar o número de jornalis-tas de ciência no Brasil é uma fragilidade em nosso estudo. Como não conhecemos exatamente a po-pulação, não podemos afirmar que nossa amostra é representativa e, portanto, nossos resultados não podem ser necessariamente generalizados. Por outro lado, como a população é desconhecida, há uma demanda clara por estudos exploratórios que bus-quem entender melhor quem são os profissionais que cobrem C&T, quais são suas condições de trabalho e seus pontos de vista sobre seu papel na relação entre ciência e público. Neste contexto, nosso estu-do mostra algumas tendências da prática no País e, ainda, pode ajudar a montar este quebra-cabeça sobre quem são os jornalistas de ciência brasileiros.

Em outros países, há alguns estudos recentes so-bre os jornalistas de ciência. Um deles foi realizado 3 Informação enviada em mensagem pessoal aos autores do

artigo em 19 de abril de 2011, pela então vice-presidente da Federação Nacional de Jornalismo, Maria José Braga.

4 Informação enviada em mensagem pessoal aos autores no dia 10 de abril de 2011, pela então presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico, Cilene Victor da Silva.

5 Informação enviada por mensagem pessoal aos autores em 17 de dezembro de 2012, por Maurício Tuffani, gerenciador da lista.

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pela Cardiff University, no Reino Unido (WILLIAMS; CLI-FFORD, 2009). Dois outros estudos foram conduzidos pelo periódico Nature (BRUMFIEL, 2009) e outro pela London School of Economics (LSE) (BAUER; HOWARD, 2009); este último está conectado à nossa pesquisa. Na pesquisa da London School of Economics, 179 questionários foram respondidos, principalmente por europeus (59,2%) e norte-americanos/canadenses (14%). A pesquisa conduzida pela Nature, divulgada em março de 2009, contou com a resposta de 493 jornalistas de ciência, sendo 91,7% dos Estados Unidos, Canadá, Europa e Rússia. Ambas, portanto, por conta da composição de sua amostra, sinalizam tendências no hemisfério norte.

Até onde sabemos, não há estudos no Brasil ou em outros países na América Latina que busquem entender melhor os jornalistas de ciência, além da nossa pesquisa.

MetodologiaNosso estudo buscou mapear quem são os jor-

nalistas de ciência que trabalham no Brasil, suas con-dições de trabalho e suas opiniões sobre a profissão, bem como sua visão sobre seu papel na interação entre ciência e público.

Nossos dados foram coletados por meio de uma pesquisa online, usando o mesmo questionário aplica-do pela London School of Economics, como mencio-nado anteriormente (BAUER; HOWARD, 2009), traduzi-do para o português. A consolidação do questionário levou em conta fontes como os estudos realizados pela fundação PEW sobre jornalismo nos Estados Uni-dos (PEW04, 2004; PEW07, 2007) e o estudo da Nature (BRUMFIEL, 2009). O questionário era constituído de 38

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questões divididas nas seguintes seções: informações pessoais e formação educacional, situação profissio-nal atual, rotinas e carga de trabalho, o jornalismo científico atual e seu futuro e o ethos da profissão.

A pesquisa foi realizada de 2 de julho a 3 de novembro de 2010. Durante este período, foram en-viados e-mails para jornalistas de ciência brasileiros registrados pela Rede Ibero-Americana de Monitora-mento e Capacitação em Jornalismo Científico (lide-rada pelo Museu da Vida), convidando-os a participar e reenviar o convite a seus colegas de profissão. Além disso, enviamos notas sobre a pesquisa em boletins especializados em divulgação da ciência. Obtivemos 71 respostas de todo o País. Nossa amostra inclui uma grande concentração de jornalistas dos estados do Rio de Janeiro (43,7%) e de São Paulo (29,6%), ambos com papel preponderante na indústria de comuni-cação brasileira.

Quem são os jornalistas de ciência no Brasil e o que eles pensam?

Dois terços dos que responderam nossa pesqui-sa são mulheres. Há presença importante de jovens jornalistas: 27,1% têm entre 21 e 30 anos; 32,9% têm entre 31 e 40 anos; 25,7% estão na faixa de idade de 41 a 50 anos. Em relação à geração sênior, 11,4% do total dos participantes têm entre 51 e 60 anos; 2,9% têm mais de 61 anos.

Cerca de metade dos participantes da pesquisa (46,5%) trabalha com a cobertura de ciência há me-nos de cinco anos; 19,7%, de 6 a 10 anos; 14,1%, de 11 a 15 anos. Cerca de um quinto (19,7%) trabalha na área por mais de 15 anos. Parte importante dos que responderam nosso questionário está em um emprego

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de tempo integral (71,8%); 14,1% trabalham em tem-po parcial. Entre os que trabalham como freelancers, 5,6% trabalham em tempo integral e 1,4% em tempo parcial. Outros 7% trabalham com outros vínculos, por exemplo, bolsistas.

Praticamente todos os entrevistados têm diploma universitário. Além disso, observamos que muitos bus-cam cursos de pós-graduação: 42,3% possuem mes-trado; 15,5%, doutorado. No entanto, como mostra o Gráfico 1, não observamos uma diferença relevante quando consideramos a formação de mestres e dou-tores e sua inserção no mercado de trabalho: 70,7% dos que possuem títulos de mestrado ou doutorado estão empregados em tempo integral; no caso dos que possuem apenas o diploma universitário, o per-centual é de 70,0%.

Gráfico 1 - Situação atual de emprego

Para cerca de metade dos que responderam à enquete (53,5%), não houve mudanças em relação à sua inserção no mercado de trabalho nos últimos cinco anos. Outros 16,9%, no entanto, conseguiram um em-prego fixo, enquanto 5,6% deixaram esse tipo de víncu-

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lo e tornaram-se freelancers. Alguns dos participantes da pesquisa (12,7%) relataram um aumento no número de horas trabalhadas; 2,8% tiveram uma redução no número de horas dedicadas ao trabalho na área.

Como mostra o Gráfico 2, internet e mídia impressa são apontados pelos que responderam ao questionário como os veículos principais de difusão de seus traba-lhos, enquanto TV e rádio foram pouco mencionados.

Gráfico 2 - Em quais destes tipos de mídia seu traba-lho aparece?

As fontes mais significativas de informação so-bre audiência, segundo os participantes da pesquisa, são o número de acessos em sites e, algumas vezes, cartas enviadas pelos leitores (Gráfico 3). Estudos de audiência são raramente realizados para que os jor-nalistas conheçam melhor o público para o qual es-tão escrevendo; 7,0% disseram que não têm qualquer feedback sobre sua audiência.

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Gráfico 3 - Fontes de informação sobre audiência

Pouco menos da metade dos participantes (43,7%) afirmou que a principal função do jornalista de ciência é informar; 31% descreveram seu papel como traduzir material complexo para uma linguagem mais acessível. Outros papéis mencionados foram: mobilizar o público (8,5%), educar (4,2%), vigiar e assegurar os interesses do público (2,8%) e entreter (1,4%).

O material produzido por assessorias de imprensa é usado por 78,6% dos participantes da pesquisa. So-bre o uso diretamente de releases de assessorias, em comparação com o uso de cinco anos atrás, cerca de um terço (31,0%) respondeu usar com a mesma frequência, 9,9% reportaram um aumento, 7% disse-ram usar menos frequentemente e 35,2% disseram nunca usá-las.

Sobre o número de vagas para jornalistas de ci-ência, 42,3% afirmaram que sua organização contra-tou mais empregados para a cobertura de ciência, meio ambiente, saúde e tecnologia. Cerca de um quinto (21,1%) afirmou que não houve mudanças nos

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últimos cinco anos; 9,9% indicaram uma redução de pessoal. Apesar de ser observada uma tendência de aumento de equipes na cobertura do tema, grande parte dos jornalistas (64,7%) destacou um aumento em sua carga de trabalho.

Uma grande maioria dos jornalistas (85,1%) discor-da que o jornalismo de ciência seja uma profissão em declínio e 59,4% consideram esse tipo de jornalismo um produto de alta qualidade. Um número importante dos que responderam à pesquisa (67,6%) expressou estar satisfeito com suas carreiras; 8,4% afirmaram estar insatisfeitos e 22,5% disseram não estar nem sa-tisfeitos e nem insatisfeitos. Quase todos os partici-pantes (94,3%) expressaram que pretendem continuar trabalhando na área nos próximos cinco anos. Além disso, 84,5% recomendariam a carreira de jornalista de ciência a um jovem estudante.

Considerações finaisComo mencionamos anteriormente, não conhe-

cemos estudos que sistematizem informações sobre a comunidade de jornalistas que cobrem temas de ciência no Brasil. Por isso, nosso estudo representa um esforço importante no sentido de mapear, de forma exploratória, quem são os jornalistas de ciência, bus-cando conhecer suas visões sobre a profissão e suas condições de trabalho.

Embora nossos resultados não possam ser neces-sariamente generalizados, mostram tendências impor-tantes do jornalismo científico praticado em nosso país.

Nosso estudo mostra que o jornalismo de ciência no Brasil é feito principalmente por mulheres (66,2%), em uma proporção maior do que o número de cien-tistas mulheres em nosso país, que representam cerca

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de 44,0% da força de trabalho na área da ciência (ABREU, 2010). O valor é superior ao encontrado no estudo da LSE (48,0%) que, por conta da composição de sua amostra, com grande presença de europeus e norte-americanos/canadenses, expressa tendências do hemisfério norte.

Observamos na enquete brasileira grande par-ticipação de jovens profissionais, com menos de 40 anos e com menos de cinco anos na profissão, o que sugere uma importante renovação de geração que trabalha na área de jornalismo de ciência. Os valores são superiores aos estudos realizados pela Nature e pela LSE, que contam com jornalistas mais experientes e que atuam há mais tempo na área.

Este cenário de renovação pode estar ligado ao fato de que nos últimos anos houve um significativo in-cremento nas atividades e nos recursos para a ciência e para a divulgação científica no Brasil. Temas contro-versos relacionados à ciência, como pesquisas com células-tronco embrionárias, cultivos transgênicos e mudanças climáticas, têm recebido grande atenção da mídia, o que também pode ter contribuído para o aumento do interesse dos jornalistas na cobertura de temas de ciência (ANDI, 2010; JURBERG; VERJOVSKY; CARDOSO, 2009; REIS, 2008).

Uma característica a ser destacada entre os pro-fissionais que responderam ao questionário é a busca pelos diplomas de mestrado e doutorado. No entanto, não observamos uma ligação direta entre capacita-ção e inserção no mercado de trabalho; em outras palavras, parece que ter um diploma de mestre ou doutor não implica, necessariamente, ser mais com-petitivo na busca de um emprego em tempo integral.

Por outro lado, pode-se dizer, de certa forma, que há uma boa perspectiva de inserção profissio-

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nal na área: praticamente todos os participantes da pesquisa estão trabalhando, apesar dos diferentes tipos de inserção profissional. Dois terços deles têm um emprego formal em tempo integral. Estes valores são superiores aos obtidos pelas enquetes da LSE e da Nature, que giram em torno da metade da amostra.

Seguindo a tendência das outras duas pesquisas, os principais meios de veiculação dos textos são a mídia impressa e a internet, sendo um tema global a pouca presença de cobertura de temas de ciência na TV – presente em 94,5% dos domicílios brasileiros, de acordo com o a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar de 2008 do IBGE (IBGE, 2008) – e no rádio, também com grande impacto na sociedade, espe-cialmente nos países em desenvolvimento. Estes da-dos são particularmente importantes em países como o Brasil, em que o sistema de educação formal, in-cluindo a educação em ciência, tem importantes fragilidades e a comunicação de massa é uma das principais fontes de informação sobre ciência e tec-nologia (MOREIRA; MASSARANI, 2001 e 2002).

Segundo a tendência observada na amostra da LSE, os jornalistas brasileiros que participaram da pesquisa consideram que seu papel é informar e tra-duzir material complexo para uma linguagem mais simples. Um número pequeno de jornalistas vê, como sua principal função, vigiar e assegurar o interesse do público. Este resultado pode talvez sugerir a ausência de um jornalismo de ciência mais crítico. Associado a isto está o fato de que os jornalistas de ciência são, em geral, entusiastas desta área, como mostrado por Almeida et al. (2011). Os jornalistas de ciência brasilei-ros – assim como jornalistas de outros países – são, em alguns casos, porta-vozes da ciência, refletindo ideias de periódicos científicos e universidades (ROSE, 2003).

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Uma preocupação que se sobressai em nosso estudo é a falta de ferramentas e pesquisas siste-máticas para o entendimento da audiência e para tornar a cobertura na área de ciência mais relevante para o público. Há poucas iniciativas por parte dos meios de comunicação próprios e, quando existem, em vários casos, limitam-se a buscar informações relacionadas com a opinião do público sobre seus temas favoritos, contagem de acessos a sites e co-mentários espontâneos do público, transmitidos por cartas, e-mails ou telefonemas.

No escopo acadêmico, há poucos estudos em todo o mundo visando compreender a audiência em jornalismo de ciência – uma exceção que merece aten-ção são os estudos realizados por Peters (2000). Neste contexto, as audiências são, em grande parte, desco-nhecidas pelos jornalistas de ciência (e outros atores na área da divulgação científica), deixando ainda sem resposta um grande número de perguntas, entre elas: quem são as audiências? Quais são suas preferências? Como o público reelabora os assuntos de ciência e como é possível melhorar o jornalismo científico?

Uma das hipóteses levantadas pelos pesquisado-res da LSE, antes do início deste estudo, era de que, entre os jornalistas de ciência, haveria um sentimento de que a área estaria em crise. No entanto, diferen-temente desta hipótese, os pesquisadores concluíram que, apesar de este sentimento atingir um terço da amostra, não era generalizado entre os jornalistas.

Entre os jornalistas brasileiros de nossa pesquisa, este sentimento de crise é ainda mais reduzido. Ao contrário, os participantes expressaram satisfação em relação ao seu trabalho e afirmaram que indicariam a profissão a jovens estudantes. Além disso, os parti-

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cipantes de nosso estudo declararam explicitamente não considerar que o jornalismo de ciência está em crise ou em declínio.

Um dos fatores que podem ter contribuído para o elevado nível de satisfação expresso em nosso estudo pode ser o fato de os que responderam a enquete estarem, em geral, inseridos no mercado de trabalho em valores mais elevados do que aqueles encontra-dos na pesquisa da Nature e LSE. Além disso, o au-mento no número de pessoas que trabalham com jor-nalismo de ciência nos últimos anos é também maior do que em outros países. Em síntese, ao contrário da hipótese que motivou esta pesquisa – de que o jorna-lismo científico estaria em crise – nosso estudo mostrou que, ao menos entre aqueles que responderam ao nosso questionário, há, na verdade, um sentimento de otimismo na área. Isso nos leva a uma questão: há uma nova onda no jornalismo de ciência no Brasil?

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