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717-2706

714-0682

R4821

Ribas, Penna, 1907-1994.

A Luz vem do Alto/Penna Ribas. - Niterói, RJ :

Sociedade de Estudos e Pesquisas Espíritas, 1998.

192p.; il., 21 em.

ISBN 85-86004-02-2

1. Espiritismo. I. Sociedade de Estudos e Pesquisas

Espíritas. 11.Título.CDD - 133.9

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Mestre dos MestresJesus de Nazaré

“Amar a Deus sobre todas as coisase ao próximo como a si mesmo.”

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nico Mestre Allan Kardec

“Um outro caráter da revelação espírita e que ressalta as condi-ções mesmas nas quais ela se produz, é que, apoiando-se sobre osfatos, ela é e não pode deixar de ser senão essencialmente progressiva,como todas as ciências de observação. Por sua essência, ela contraialiança com a ciência, a qual, sendo a exposição das leis da Naturezanuma certa ordem de fatos, não pode ser contrária à vontade de Deus,o autor das leis. As descobertas da ciência glorificam Deus, em lugarde O rebaixar; elas não destroem senão o que os homens edificaramsobre idéias falsas que eles fizeram de Deus.

O Espiritismo não estabelece, portanto, como princípio absoluto,senão aquilo que está demonstrado com evidência ou que ressaltalogicamente da observação. Ligado a todos os ramos da economiasocial, aos quais empresta apoio de suas próprias descobertas, assimi-lará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem queelas sejam, elevadas ao estado de verdades práticas e saídas do domí-nio da utopia, sem o que ele se suicidaria; deixando de ser o que é,desmentiria sua origem e sua finalidade providencial. O Espiritismo,marchando com o progresso, jamais será ultrapassado porque, se no-vas descobertas demonstrassem estar em erro sobre um certo ponto,ele se modificaria sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar,ele a aceitará.”

A Gênese — Edição Especial — Editora Lumen págs. 36 e 37.

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Mestre Léon Denis

“Não vos viemos dizer que devamos ficarconfinados no círculo, por mais vasto que seja,do Espiritismo kardequiano. Não; o próprioMestre vos convida a avançar nas vias novas, aalargar a sua obra.

Estendemos as mãos a todos os inovadores, atodos os de boa vontade, a todos os que têmno coração o amor da Humanidade.”

Léon Denis — No InvisívelFederação Espírita Brasileira 7ª edição — pág. 4.

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nico Mestre Bezerra de Menezes

“O mundo tem todos os dias a prova material deque, na medida do desenvolvimento da perfectibili-dade humana, descem das alturas novas e mais ale-vantadas revelações.

O mundo, porém, não aprende, e, sempre cego, obe-dece fatalmente ao impulso que o leva a repelir tudoque é novo, tudo que vem substituir alguma peça domecanismo construído por seu saber.

A revelação religiosa, do mesmo modo que a cien-tífica, tem vindo sempre progressiva, e na razão do de-senvolvimento da perfectibilidade humana.”

Bezerra de Menezes — Estudos FilosóficosEditora Edicel — 1ª parte — págs. 11 e 17.

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nico Mestre Penna Ribas

“O Cristianismo, o Espiritismo e o Neo-espiri-tismo são doutrinas que, em conjunto, represen-tam três fases gradativamente aperfeiçoadas da in-cessante revelação divina, cuja finalidade é ilumi-nar, com luz cada vez mais forte, a consciênciamoral dos Espíritos terráqueos, à medida que evo-luem, quer estejam encarnados, quer estejam de-sencarnados, de molde a incrementar a fraternida-de entre os dois planos de vida: o visível e o invisí-vel!”

R. Penna Ribas — Jesus de Nazaré — comoele foi. Como ele é. pág. 341.

PREFÁCIO

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E com muita honra que respondemos ao convite paraprefaciar este livro.Não é somente uma honra; é tam-

bém uma responsabilidade enorme incentivar este mesmopúblico a reconhecer todo o conhecimento existente nassuas páginas, escritas por este honorável Mestre do Espiri-tismo, que dedicou sua vida à pesquisa e à elucidação dosfenômenos espíritas, à luz destes conhecimentos.

Dr. Randolpho Penna Ribas é bastante conhecido, tam-bém, por suas conferências, seminários e programas de rá-dio e televisão, dos quais participou.

Esta obra mostra a todos a profundidáde e a amplitudede seu pensamento e de suas pesquisas, tendo, portanto, acapacidade de ser a resposta para várias perguntas que otempo todo nos fazemos.

Ela é, obviamente, endereçada às pessoas inteligentes. Éo diagnóstico de um médico das enfermidades psicológicase sociais. Ele aponta aqui os passos que considera funda-mentais para que possa haver algum futuro.

Este homem é um intelectual brilhante, guia iluminadode muitas pessoas - talvez não compreendido por algunsque lutam para impedir o mundo de se mover em direção à ,

evolução espiritual.

Ele nos mostra que o autoconhecimento é o único cami-nho para o autoaperfeiçoamento. E para isso é mister des-cobrirmos nossas limitações, defeitos e imperfeições, e lu-tarmos contra elas, para no fim da escalada da evolução,atingirmos o estado puro da alma, processo semelhante ao

da pedra .bruta que extraída do fundo da terra, se torna umbrilhante nas mãos do lapidador. E que todo o nosso pro-gresso depende basicamente de nós mesmos. Nós somos,portanto, os lapidadores de nossas próprias almas, os cons-trutores de nosso próprio destino. E para sermos bem suce-didos nesse objetivo, é necessário empreendermos a maiore mais difícil batalha: nossa modificação interior.

Gandhi nos mostrou, através do seu próprio exemplo,como libertar seu povo da opressão, .vencendo a batalhasem o uso da violência. Ele também nos mostrou a necessi-

dade de sermos perseverantes, mesmo diante de todas asadversidades, para alcançarmos nossos objetivos: "Primei-ro eles o ignoram, depois o ridicularizam, em seguida o com-batem e por fim você os vence."

Michel CamposGlória Maria Belém F. Campos

APRESENTAÇÃO

Este livro constitui-se da compilação de uma coletâneade palestras radiofônicas, proferidas nas extintas rá-

dios Mundial, Guanabara e Copacabana; e, também de arti-gos jornalísticos publicados em jornais de grande circula-ção, em Niterói e no Rio de Janeiro, entre 1935 e 1980.

Alguns destes artigos foram revistos e ampliados pelopróprio autor, a fim de enriquecer "eampliar as fronteiras doEspiritismo, constituindo, posteriormente, capítulos dos li-vros Caminhoda IluminaçãoVolumesI e lI.

A SEPE - Sociedade de Estudos e Pesquisas Espíritas -relança muitos deles neste livro, agrupando-os por assunto,de forma a facilitar a todos aqueles que desejam conhecer aFilosofia Espírita ou ampliar seus conhecimentos sobre umasólida base.

SUMÁRIO

1. O Pior Cego é o que não quer ver! 232. O Preço da Verdade 29

3. O que é o Espiritismo l 354. O que é o Espiritismo II 415. O que Significa a Doutrina Espírita 476. Considerações sobre a Origem do Espiritismo 537. A Propósito da Publicação do Livro dos Espíritos 598. Em Defesa do Espiritismo l 649. Em Defesa do Espiritismo II 7110. Pelo Progresso do Espiritismo l 7711. Pelo Progresso do Espiritismo II 8312. Esclarecendo os Espíritas 8713. Falando aos Para-espíritas 9114. O Escândalo é Necessário 9515. Dúvidas duma Milionária 100

16. Por que a Convicção dos Espíritas é lrremovível 10617. O Ponto Nevrálgico do Espiritismo 11218. Espiritismo não é Exploração dos Espíritos 11719. O Espiritismo e a "Geografia" do Outro Mundo 12120. O Falso e o Verdadeiro Espiritismo 12621. Espiritismo - A Religião do Futuro 13222. Ciência e Espiritismo 13723. Fenômenos Espíritas - a Comprovação dos Sábios 14224. Fatos e Provas sobre o Espiritismo 14925. A Respeito da lnseminação "ln vitro" 154

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26. A Pluraridade dos Mundos Habitados27. Contra os Preconceitos Científicos28. Da Existência da Alma

29. Que é o Pensamento?

30. Contra fatos não há Argumentos31. Melhorar o Homen

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O PIOR CEGO E O QUE

NÃO QUER VER!

O mais cego dos cegos é o que, vendo, não quer ver. Há mais de um século, os espíritas vêm demons-

trando, com fatos positivos e argumentos lógicos, a veraci-dade do Espiritismo. Mas, apesar disso, os adversários, ir-ritados com o progresso da revelação divina, tapam os olhosà luz da verdade, ou se alapardam por trás das trincheirasde seus preconceitos. De toda forma, preferem não arros-tar as provas, a fim de que possam continuar a alimentar asilusões de suas crenças. Por isso mesmo, por mais insofis-mável que seja o valor do fato que se lhes apresente e pormais evidente que se torne o argumento que lhes oponha,continuam a proclamar que tudo é prodígio do subconsci-ente, quando não é arte de Satanás!

Todavia, como estou convencido de que, ao lado dessesantagonistas, existem muitas criaturas de bom senso, quese não deixariam enredar nas malhas dos sofismas teológi-cos, nem se subjugariam às facciosas teorias forjicadas porcientistas parciais, porquanto, aspiram a um conhecimentomais profundo acerca do destino humano, nutro a esperan-ça de que essas palestras lhes venham a servir de estímulopara o estudo da Doutrina Espírita.

Na verdade, o que torna o Espiritismo empolgante é que,além de basear-se em fatos comprovados mercê da obser-vação provocada, método empregado, diariamente, em vá-rios domínios da Ciência, dá respostas racionais a numero-

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sos problemas, que nenhum sistema religioso até hoje pôdesolucionar satisfatoriamente. Com essas credenciais, nin-guém o destruirá. E se, hoje, o Espiritismo repelido pelopreconceito humano, entra nos laboratórios universitáriosdisfarçado com o nome de Parapsicologia, amanhã, prova-das, não as hipóteses dos parapsicólogos, mas as afirma-ções dos espíritas, será forçosamente o farol da nova civili-zação, salvando a humanidade da destruição atômica, devez que estabelecerá, definitivamente, no mundo, a ver-dadeira conceituação da fraternidade cristã, acabando comos preconceitos de fronteiras e de raças e inspirando a or-ganização de um governo mundial, sem hegemonia denações, visando a paz perpétua entre os povos e a prospe-ridade de todas as criaturas!

Falando para auditório heterogêneo, admito que, dentreos que me distinguem com a atenção, figuram muitos que,ingenuamente, ainda imaginam que Espiritismo é feitiça-ria ou crendice de senzala. Para alertá-los, vou citar algu-mas observações, onde poderão ver que, por trás dos fe-nômenos, dirigindo as manifestações, estão ocultas inteli-gências portentosas, detentoras de conhecimentos que so-brepujam espetacularmente a cultura dos mais sábios cien-tistas da atualidade!

De fato, é notório o esforço e o potencial energéticomobilizado pelos modernos físicos para libertarem a ener-gia nuclear, transformando partículas de matérias em for-mas de radiação. Entretanto, no campo das manifestaçõesobjetivas da mediunidade, e, particularmente, no setor dasmaterializações e das desmaterializações, é fato de obser-vação a facilidade com que a matéria se transmuta em radi-ação e a radiação em matéria - tudo sem auxílio de tritura-dores de átomos, “ou doutros complicadíssimos recursosda moderna tecnologia”, como se o fenômeno fosse esponta-neamente provocado pela simples presença do médium. A

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menos que se admita que tais médiuns sejam dotados demisteriosa radiação, capaz de desagregar, e de tornar a agre-gar, espontaneamente as moléculas dos corpos circunvizi-nhos - hipótese absurda, força é admitir que, os médiunsde efeitos físicos são possuidores de enigmáticas radiações,armazenadas misteriosamente em seus organismos, radia-ções essas que são utilizadas na produção dos fenômenos,pelos cientistas do Além.

Tornando o assunto mais objetivo, entro logo no terrenodos fatos. Advirto, porém, que as provas são tão numero-sas e abarcam não só os casos de materialização de fantas-mas e de desmaterialização de médiuns, como de materia-lização e desmaterialização doutros corpos animados - ani-mais e plantas - e de corpos inanimados, como objetos do-mésticos.

Para simplificar, escolherei apenas alguns exemplos. Nascélebres experiências efetuadas, na Alemanha, por um gru-po de professores universitários, à frente do qual se colo-cou, com louvável desassombro, o prof. Zöellner, conhe-cido astrônomo, com a colaboração de vultos eminentes daCiência , como Webber e Fechner, o primeiro, fisiologistaafamado, e o outro, filósofo e psicólogo de reputação mundial,ficou comprovado que, com a participação do Dr. Slade,médico norte-americano, voluntariamente transformado emcobaia humana, para demonstrar ao mundo científico suasfaculdades mediúnicas, podiam ocorrer fatos absolutamen-te inexplicáveis para a Ciência do século passado, mas emcuja pista se encontram presentemente numerosos investi-gadores. De fato, duma feita, em presença desses reputadoshomens de ciência, pequena mesa de madeira foi totalmen-te desmaterializada e, em seguida, novamente materializa-da!

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Doutra vez, ainda em presença de Slade, sob o controlerigoroso dos mesmos cientistas, vários moluscos aindamolhados, foram misteriosamente transportados e deposi-tados sobre a mesa em torno da qual se sentavam o mé-dium e os investigadores que o controlavam. Entretanto, asala estava inteiramente isolada do mundo exterior, comtodas as entradas hermeticamente fechadas. De modo quea única explicação plausível para o fenômeno é a que dá oEspiritismo: os moluscos, previamente desmaterializados,no local onde se encontravam foram, em seguida transpor-tados, sob a forma duma radiação desconhecida, para o in-terior da sala, sendo então rematerializados. O mais sur-preendente, porém, foi que, a despeito da tremenda rea-ção atômica que os transformou primeiro em radiação, edepois, outra vez, em matéria, os moluscos continuaramvivos como se nada de extraordinário lhes houvesse acon-tecido, fato, por si só, mais maravilhoso do que a desmate-rialização e a rematerialização a que foram submetidos!

E para demonstrar que tais fenômenos são, de fato, diri-gidos por inteligências extraterrenas bastaria a seguinteprova: nessa mesma ocasião, com os mesmos sábios e como mesmíssimo médium, foram transmitidas várias mensa-gens, pelo processo da chamada “escrita direta”, em que osautores se identificavam como antigos habitantes destemundo. Para que se compreenda o valor dessa prova, urgeatentar no seguinte: o prof. Zöellner adquiriu pessoalmen-te, numa loja, diversas lousas, dessas que antigamente seusavam no curso primário. Depois, tomando-as duas a duas,amarrou-as uma contra a outra, colocando, antes, entre elas,um fragmento do lápis, próprio para a escrita nessas “pe-dras”. Para maior segurança, selava as lousas assim ajusta-das e amarradas, e, além disso, punha sua rubrica sobre o selo.Nessas condições, qualquer violação seria desmascarada. Con-tudo, para maior certeza, ele próprio segurava as lousas du-

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rante as experiências. Pois bem, por incrível que pareça,ao terminar a reunião, rompido o selo, seccionados os ati-lhos e apartadas as lousas, lá estava, na superfície interna,a mensagem nitidamente escrita, como se mão invisível ahouvesse traçado! Ora, como entre as lousas ficava, ape-nas, uma cavidade virtual, decorrente da justaposição dasmolduras de madeira das duas lousas estreitamente unidas,a única explicação para o fato é que as letras, em vez deescritas, foram, de fato, materializadas! E o mais interes-sante foi que, em certas ocasiões, terminada a experiência,escritas as mensagens, as pontas de lápis lá estavam, intei-rinhas, para demonstrar aos investigadores que os autoresda escrita conheciam outros processos para escreverem naslousas. E doutras vezes, para provar a chamada “passagemda matéria através da matéria”, a ponta do lápis atravessava aespessura da lousa e caía na mão de quem a segurava. E, nãoobstante, as mensagens eram escritas da mesma forma!

Tudo se passava, portanto, como se os cientistas do Alémquisessem provar aos sábios da Terra que a Ciência do ladode lá está mais avançada do que a do lado de cá!

Corroborando com as observações dos investigadoresalemães, posso citar ainda as provas dadas por Mme.d’Espérance, sob o controle de numerosos intelectuais e,dentre eles, o próprio Aksakof, cuja réplica à obra do filó-sofo alemão Von Hartmann, serviu para demonstrar o ele-vado critério com que investigou os fenômenos espíritas.Pois bem, dentre muitos outros fenômenos, cada qual maisassombroso, era comum haver a materialização de um oumais Espíritos, às vezes simultaneamente, permanecendo, noentanto, a médium consciente a ponto de poder, ela mesma,palestrar com Espíritos materializados à sua custa! E, às ve-zes, quando era maior o número de Espíritos materializados, adesmaterialização do corpo da médium era tão extensa quesomente a cabeça permanecia intacta, a flutuar em pleno ar!

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E dentre os Espíritos que mais freqüentemente se mate-rializavam havia um, com a aparência de bela jovem, quedizia chamar-se Iolanda e que era uma espécie de especi-alista em materialização de flores. Geralmente, pedia umcopo d’água, cobria-o com um pano, mantendo-o segurocom a mão, durante alguns instantes. Logo se via o panosubir, propelido por misteriosa força. E quando Iolandadescobria o copo, lá estava um galho florido, quase sem-pre a haste duma roseira. E o mais curioso é que a espéciede rosa ficava a critério dos assistentes. Houve, até, quemdesejasse a materialização duma rosa negra! E o Espíritonão se fez de rogado, materializou a exótica flor. Doutrafeita, um botânico desejou a materialização duma plantaoriginária da Índia, a Ixora crocata. Também, lhe foi feita avontade. E, para maior surpresa do cientista, Iolanda mate-rializou, também, um lírio dourado, espécie raríssima, queo especialista levou para casa, na Inglaterra, onde viveu,ainda, cerca de três meses, desmaterializando-se, depois,tão misteriosamente quanto fora materializada!

Ora, diante de fatos como estes, na verdade, uma fraçãodesprezível em face do número arrolado nos protocolosdas investigações científicas, realizadas não só na Europacomo na América, fica-se atônito ao constatar que ainda hámuitas pessoas cultas que imaginam que o Espiritismo éproduto da ignorância ou da arte do demônio!

Sem embargo, mais do que pelos fatos que apresenta, oEspiritismo vale por sua filosofia que nos dá gloriosa con-cepção do homem, do Universo e de Deus!

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Ninguém suponha que é fácil encontrar o caminho do Espiritismo. Todos os que chegaram à meta final, pri-

meiro que se convertessem, tiveram de pagar alto preço pelaluminosa revelação que receberam.

A princípio, é o sofrimento. Sofrimento moral, pela perdairreparável de um ente querido; ou sofrimento físico causa-do por doença misteriosa. Em suma - sofrimento que a reli-gião não consolou ou que a Medicina não debelou...

Depois, já em contato com o Espiritismo, surgem os obs-táculos de toda ordem. Primeiro, a oposição dos parentes,que, por ignorância, embora de boa fé, combatem o de quenão entendem. Uns afirmam que o Espiritismo é genuínodiabolismo; outros asseveram que é crendice primitiva, re-miniscência da necromancia dos silvícolas... Depois, vem apressão psicológica do grupo social. Os apodos dos adver-sários. As chufas dos céticos. As chalaças dos zombeteiros.Os remoques dos despeitados. O risinho de escárnio doscríticos levianos, que apontam o neófito na rua, acoiman-do-o de mentecapto, porque crê na manifestação dos “mor-tos”!

Contudo, o maior empeço não é a oposição nem a assua-da dos “vivos”; o grande estorvo é a sabotagem dos “mor-tos”, dos Espíritos atrasados, que não desejam o aperfeiço-amento moral dos homens. Companheiros habituais das cri-aturas pervertidas e viciadas, sentem-se felizes em parti-

O PREÇO DA VERDADE

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lhar com elas os prazeres terrenos. Presos à Terra por suaspaixões, permanecem ligados à humanidade, numa vidasemimaterial, a sugar, em autêntico vampirismo espiritual,as energias vitais de suas vítimas, mediante as quais podemconservar em seus Espíritos, as sensações carnais que tan-to valorizam!

Esses, os verdadeiros inimigos do Espiritismo. Porque, adespeito de “desencarnados”, muito lhes custa renunciaraos prazeres da carne. E, todavia, sabem que o gozo de taissensações só lhes será dado por intermédio do sistema ner-voso, ou melhor, da energia vital dos centros sensoriais dosmédiuns faltosos, desprovidos de proteção espiritual. Nãodesejam, portanto, que o homem se melhore, a fim de nãoperderem o controle que exercem sobre os habitantes daTerra. Para esses Espíritos atrasados, algemados, ainda, aosdesejos da carne, a regeneração da humanidade seria o fimdo nefasto domínio que exercem. Ora, a Filosofia Espírita,por seu poder de modificar o homem, transformando cria-turas crivadas de defeitos, em pessoas honestas, sensatas ecaridosas, constitui, de fato, grave obstáculo aos desígniosdos Espíritos inferiores, interessados em utilizar os indiví-duos displicentes e gozadores como instrumento para a sa-tisfação de sensações adstritas ao corpo carnal. Assim sen-do, é natural que os piores inimigos do Espiritismo estejamdo lado de lá, nos planos espirituais mais próximos de nos-so planeta.

E não se diga que são inimigos esporádicos, que arreme-tem em ataques fortuitos. Muito ao contrário. São terríveisadversários do bem, solidamente organizados em aguerri-das falanges, chefiadas por Espíritos altamente inteligen-tes, que ocuparam, não raro, elevados postos na Terra, e,fracassados espiritualmente, longe de se humilharem peranteà justiça divina, revoltam-se contra o destino e arvoram-seem líderes da maldade, aproveitando-se do subjugante

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magnetismo que possuem. Enquanto não se regeneram,equiparam-se aos demônios inventados pela Teologia. E,conquanto não estejam votados eternamente ao mal, o so-frimento que podem causar às criaturas erradas é, de fato,muito cruciante. Isso é fato sabido por todos que têm esta-do em contato com os habitantes do Além, quer sejam es-píritas ou não. Não é, pois, para admirar que, excitando aira dos que não querem o aperfeiçoamento da humanidade,o Espiritismo, como regenerador de almas que é, seja so-bremodo visado pelos Espíritos atrasados. E disso mesmologo se certifica o principiante, em face do combate surdoou ostensivo, que, desde o início, é obrigado a enfrentar.Bem intencionado, e, portanto, bem protegido, os Espíritosinferiores não o podem atingir diretamente. Não obstante,valem-se dos médiuns faltosos, para alvejá-lo indiretamen-te. Assim - se é dia de sessão, dia, portanto, em que deveevitar contrariedades e esgotamento físico, a fim de nãoprejudicar, à noite, durante a reunião, o trabalho dos Prote-tores a realizar-se no fluido vital de seu perispírito, campode força onde reside o mistério da vida, se é dia de sessão,repito, mil oportunidades se lhe deparam para irritá-lo a atra-sá-lo. No emprego, aparece, sempre, um companheiro a cri-ar-lhe um problema, que o emocione ou que o retarde.Emocionado ou angustiado pela dúvida de perder a sessão,de toda forma, o estado vibratório de seu perispírito estaráincompatível com a radiação suave e luminosa dos Prote-tores, e, destarte, pouco lucrará na reunião, a menos quelogre, por um esforço sobre-humano, restabelecer o auto-domínio.

Outras vezes, o elemento para o traiçoeiro assédio estádentro de casa: é, por exemplo, a cozinheira, que, no dia,retarda o jantar, dificultando a ida à sessão. Outras vezes, omédium faltoso está na rua, obstruindo o trânsito ou den-tro do ônibus, provocando brigas... Enfim, de mil modos,

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os Espíritos atrasados procuram prejudicar o indivíduo, que,tangido pela dor, começa a aproximar-se do Espiritismo,sequioso de consolo e de esclarecimento, acerca dos misté-rios do destino humano. Sem embargo, se houver pertiná-cia, tudo será superado. O essencial é não esmorecer e co-locar, acima de tudo, a voz da própria consciência, menos-prezando as opiniões e os preconceitos alheios. O Espiri-tismo é tão lógico na teoria e tão convincente na prática,que, para aceitá-lo como filosofia de vida, basta ter perso-nalidade, sobretudo caráter e amor à verdade. Os que so-brepõem às provas e aos dados da razão, os interesses pes-soais e as conveniências sociais, esses jamais serão verda-deiros espíritas, ainda que permaneçam a vida toda a fre-qüentar sessões. Na melhor das hipóteses, serão admirado-res do Espiritismo. Na maioria dos casos, porém, são sim-ples exploradores da bondade dos Espíritos protetores.Aparentam convicção na esperança de conquistar a simpa-tia dos Guias espirituais para a solução de seus problemas.Problemas materiais ou sentimentais - fique bem entendi-do. Mesmo assim, quando são justas as pretensões, conse-guem, muitas vezes, a benéfica interferência de Espíritosindulgentes...

Todavia, os que procedem dessa forma, ainda que se de-morem longos anos no caridoso aconchego do Espiritismo,não pretendem palmilhar o alcantilado caminho que os con-duziria à fulgurante revelação espírita! Preferem permane-cer no átrio, indiferentes à luz do tabernáculo. Mas, um dia,na vida espiritual, talvez acordem cegos; porque, na Terra,estiveram face a face com a verdade e não na quiseram ver;ou porque, vendo-a, acharam-na muito forte e, por isso,colocaram-na sob o alqueire...

Espíritas verdadeiros serão apenas aqueles que, depoisde arrostarem todos os óbices, depois de enfrentarem todosos preconceitos, depois de resistirem a todas as opiniões

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levianas, e acrimoniosas, impregnaram-se, finalmente, daessência da moral espírita, adotando-a como norma de vida.E aí principia o maior obstáculo, aquele que sobrepujarátodas as barreiras já vencidas, porque foi erigido pelos seusmais temíveis inimigos - as suas próprias imperfeições, assuas mazelas morais, os seus vícios inconfessáveis...

Doutrina profundamente consoladora, pela certeza quenos dá da sobrevivência, pela bondade do Criador que nosrevela e pela justiça que nos mostra na aparente injustiçados destinos humanos, nem por isso o Espiritismo deixa denos descortinar a tremenda responsabilidade de nossos atose, até, de nossos pensamentos, com vistas à construção denossa felicidade futura, nos planos do Além. De modo que,em última análise, o pior inimigo está dentro de nós mes-mos - é a nossa própria deficiência, a nossa fraqueza moral,a nossa tendência ao erro, a nossa vocação ao mal. Vencidoeste inimigo, aberto estará o roteiro para a conquista de to-dos os louros que a Filosofia Espírita nos pode dar, trans-formando-nos, de criaturas sofredoras e inseguras do pró-prio futuro, em adeptos otimistas, que lutam com denodocontra as próprias insuficiências, vencendo as paixões edominando os instintos, com a determinação de quem tema consciência de estar plasmando a própria felicidade - feli-cidade, que, indefectivelmente, desfrutará nas próximasencarnações! E só o otimismo e a paz de consciência que aFilosofia Espírita assegura ao adepto, só isso, já compensatodo sacrifício que, porventura, se faça, para praticá-la reli-giosamente. Por conseguinte, se você, meu irmão, está tor-turado pela dor, e se, em sua religião ou em seu ceticismo,não encontra explicação e consolo para seus males, por quehesita ainda em aproximar-se do Espiritismo, a filosofia dofuturo, aquela que alia a religião à Ciência, satisfazendo àsexigências da razão e atendendo às necessidades do cora-ção? E você, minha irmã, alma sensível, massacrada pelas

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iniqüidades da sorte, iniqüidades que sua religião, fria, dog-mática e anticientífica, não sabe explicar, por que teme vocêo contato com o Espiritismo, o herdeiro do legítimo cristia-nismo, difundido na Terra por emissários de Jesus, para aconsolação dos aflitos e para a confraternização de todosos povos? Por que, meus irmãos, essa hesitação e esse te-mor? O caminho é árduo, não nego; mas a grandeza daDoutrina Espírita compensa o sacrifício... De resto, nestesdias de inflação moral e de subversão de valores, é justoque seja muito alto o preço da verdade!

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Por incrível que pareça, há muitas pessoas - e pessoas cultas - que só de ouvirem falar em Espiritismo já se

arrepiam de pavor. É que, mal orientadas por capciosa ca-tequese, essas criaturas imaginam, ingenuamente, que o Es-piritismo é pacto com o demônio ou genuína feitiçaria!

Entretanto, para provar que o Espiritismo não é conluiocom o Diabo, basta dizer que os autores intelectuais daDoutrina Espírita, os Espíritos instrutores que guiaram AllanKardec na codificação do Espiritismo, esses, sempre afir-maram que o Evangelho é o caminho e que Jesus é o Mes-tre dos Mestres.

Ora, para admitirmos, como certos teólogos, que os en-sinamentos espíritas “são da lavra de Satanás”, teríamos deaceitar, primeiramente, uma dessas duas hipóteses: ou queBelzebu se converteu ao Evangelho e, como discípulo, re-generado e arrependido, segue Jesus - fato que se não coa-duna com a ortodoxia; ou que Jesus e o Evangelho são,ambos, roteiros de perdição, que, ao invés de nos salvarem,induzem-nos ao erro, transformando-nos em presa do Ma-lígno - fato que se harmoniza muito menos ainda com osdogmas religiosos dos próprios acusadores do Espiritismo!

Afastada, liminarmente, a hipótese de ser o Espiritismomaquinação do demo, de vez que nem o imaginário Satanásteológico pode converter-se ao cristianismo, nem Jesus podeservir de instrumento aos desígnios do demônio, vejamos

O QUE É O ESPIRITISMO I

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agora, depois dessa prévia explicação, quando os escrúpu-los de consciência de certos radiouvintes já foram satisfei-tos, o que é, realmente, o Espiritismo.

Sintetizando, como o exige o momento, podemos con-densar os sublimes conhecimentos que o Espiritismo nosrevela, dizendo, simplesmente, que o Espiritismo é uma fi-losofia religiosa, baseada em fatos experimentalmente com-provados por métodos científicos, que, alia, por conseguin-te, a religião à Ciência, e que tem, como princípios basila-res, os seguintes postulados: 1 - Existência de Deus - prin-cípio criador, organizador e mantenedor do Universo; 2 -Existência da alma ou espírito - sede das faculdades moraise intelectuais; 3 - Existência do corpo espiritual ou perispí-rito, composto de matéria desconhecida, instrumento de li-gação entre o espírito e o corpo carnal, detentor do fluidovital que anima a vida dos seres vivos e princípio diretor detodos os fenômenos físico-químicos intracelulares. Estecorpo espiritual, também denominado fantasma dos vivos,está irrecusavelmente comprovado não só pelas investiga-ções dos cientistas da Society for Psychical Research, deLondres, como por muitos outros pesquisadores, que, den-tre outras provas materiais, obtiveram fotografias decisi-vas; 4 - Imortalidade da alma, aí compreendida a preexis-tência, a sobrevivência e, como decorrência lógica, a pluri-vivência do Espírito; 5 - A palingenesia, as vidas sucessi-vas ou as reencarnações do Espírito, que, criado inocente eignorante, deverá evoluir, até conquistar a perfeição, e, comela a felicidade eterna, por meio de inúmeras vidas, mo-ralmente solidárias entre si, não só neste planeta como emtantos outros quantos necessários, tomando, para isso, umcorpo adequado ao mundo em que vai viver, e atravessan-do, nas vidas consecutivas, as mais diversas situações soci-ais, a fim de adquirir, através dessa múltipla e longa experi-ência individual, as qualidades morais e intelectuais indis-

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pensáveis ao ingresso nos planos de felicidade; 6 - A plura-lidade de mundos habitados ou a obrigatoriedade da encar-nação em diversos mundos, verdadeiras escolas para o Es-pírito - onde a disparidade de condições contribuirá para oenriquecimento da experiência pessoal, acelerando o aper-feiçoamento de cada Espírito, dando-lhe todas as oportuni-dades de exercitar suas faculdades, em benefício próprio,usando, para isso, o relativo arbítrio que lhe é concedido;7 - Existência duma lei de causalidade moral, que, tornan-do solidárias entre si as diversas vidas sucessivas de cadaEspírito, governa seu destino, fazendo reverter sobre ele,indefectivelmente, as conseqüências inalienáveis dos seusméritos e dos seus deméritos, de tal sorte que cada qual setorna responsável direto por seu próprio destino, quaisquerque sejam suas convicções filosóficas ou religiosas; 8 - Exis-tência de um Mundo Espiritual, movimentado por antigoshabitantes da Terra, que interferem, incessantemente, navida deste planeta, ora, discretamente, através das intui-ções e dos pressentimentos, orientando ou desorientandoas criaturas terrenas, de acordo com os seus sentimentos ecom as intenções dos Espíritos desencarnados, que, delasse aproximam, seja durante o dia, no estado de vigília, sejadurante a noite, no sono normal, por intermédio dos so-nhos proféticos ou premonitórios, ou por meio dos pesade-los, se o Espírito é inimigo, ora, ostensivamente, atravésdas manifestações supranormais dos médiuns; 9 - Existên-cia da mediunidade, considerada, não como estigma dege-nerativo, mas, muito ao contrário, como sinal de evoluçãobiológica, e indício de desenvolvimento de novas faculda-des psicológicas, que, no futuro, porão a humanidade intei-ra em contacto com o Mundo Espiritual, liquidando, defi-nitivamente, o materialismo ateu; e que, no presente, obri-ga a todos os médiuns, Espíritos sobrecarregados durante avida terrena com os compromissos assumidos, antes de en-

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carnarem, no Mundo Espiritual, e cujas faculdades não po-dem deixar de exercitar, em benefício próprio, a menos quese queiram arriscar a graves desequilíbrios mentais, comdolorosa repercussão na vida além túmulo; 10 - E, final-mente, para encerrar a modesta síntese dos postulados bá-sicos da Filosofia Espírita, e como decorrência imediata dosprincípios aqui formulados, a existência de doenças por in-fluência espiritual, ou seja, por sugestão telepática, propo-sitadamente transmitida, ocasionadas por Espíritos de maussentimentos e, de qualquer forma, prejudicados na atual ouem anterior existência, pelo médium do qual se aproxima-ram, com desejo de vingança ou de reparação - doençasque podem ser, também, sugeridas durante o sono normal,por entidades desencarnadas, e que se manifestam à manei-ra de sugestões post-hipnóticas, rapidamente curáveis pelo Es-piritismo e pelo Hipnotismo, mas que dificilimamente en-contrariam lenitivo na terapêutica oficial...

É quase certo que, para a imensa maioria dos que me dãoa honra de ouvir-me neste momento, muita coisa aqui afir-mada poderá parecer pura especulação, estribada em hipó-teses absurdas, algumas inteiramente superadas pela Ciên-cia, sobretudo pela Medicina, e, em particular, pela Psiqui-atria.

Todavia, se me derdes o privilégio de continuardes a es-cutar essas singelas palestras, que, com serem dirigidas aauditório heterogêneo, me obrigam a não descer a certasminúcias, espero que, nas próximas doutrinações, a poucoe pouco, possa demonstrar-vos que o Espiritismo é assuntomuito mais sério do que geralmente se imagina, e que, atéhoje não houve filosofia nenhuma, e, particularmente, filo-sofia religiosa, que se escorasse sobre tão vasto acervo defatos, rigorosamente comprovados, quanto o Espiritismo.

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Antes de tudo, porém, necessário se torna afastar a cren-dice perniciosíssima de que o Espiritismo determina a lou-cura. Os próprios médicos que afirmam essa revoltante in-justiça confundem, lamentavelmente, fenômenos mediúni-cos com Espiritismo, que é como se viu uma filosofia religi-osa, e não, apenas, a prática da comunicação com os mor-tos. Comunicar-se com os mortos, comunicam-se todos osindivíduos que são médiuns, sejam eles espíritas ou não,pois, desde os tempos mais primitivos, conforme compro-vam desenhos e inscrições milenários, sempre houve indi-víduos dotados de faculdades supranormais ou mediúni-cas, que, como sacerdotes, profetas, hierofantes, pitonisas,pajés, “pais-de-santo” etc., entraram em contato com osEspíritos, ora sendo por eles beneficiados, ora gravementeprejudicados, inclusive na saúde, como foi o caso bíblicode Saul, e, no entanto, naquela época, nem se sonhava decodificar a Doutrina Espírita!

Ao contrário: o Espiritismo, filosofia admiravelmenteconsoladora, que abre ao espírito humano novas perspecti-vas, deixando-o entrever o futuro glorioso que o aguarda;que lhe dá absoluta certeza de que a morte é mera ilusão,pois o corpo é, apenas, a roupa, enquanto o Espírito é tudo;que lhe explica a desigualdade dos destinos, conciliando osinfinitos poderes de Deus com a situação aparentementeinjusta e realmente torturante da criatura terrena; que justi-fica o sofrimento, não por pecado hereditário - injustiça cla-morosa - mas pelas faltas do passado e pelas fraquezas dopresente do próprio Espírito, que está a sentir, na carne, asconseqüências de suas iniqüidades, mas que, em compen-sação, sabe, de certeza certa, que a dor é corretiva, que ocastigo é efêmero, durando, tão-somente, o tempo necessá-rio à sua regeneração, pois a finalidade é a salvação e não aperdição, e, por isso, nega o tormento eterno, que só se justi-ficaria por odiosa vingança, porque não teria nenhum obje-

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tivo. Uma filosofia, que dá ao homem coragem para lutar,força para sofrer, resignação para esperar e estímulo paraaperfeiçoar-se, pela certeza de que ninguém padece semmotivo justo, nem se salva por uma graça iníqua, ou pelosangue de um justo, mas, exclusivamente, pelo próprio me-recimento, de acordo com uma lei de justiça universal, pe-rante à qual são absolutamente iguais todas as criaturas deDeus; uma filosofia de tanta beleza moral e de tanto escla-recimento espiritual, uma filosofia assim, senhores ouvin-tes, nunca, jamais, poderia servir de roteiro para o hospício,nem de instrumento de degradação, uma filosofia assim é,isso sim, fulgurante farol a nos clarear, entre impérvias etraiçoeiras veredas, a estrada maravilhosa que nos levará,um dia, contritos e deslumbrados, à sacrossanta presençade Deus!

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O QUE É O ESPIRITISMO II

Codificada há mais de um século, a Doutrina Espírita, pelo temor de uns e pela displicência de outros, con-

tinua ignorada por muitos e deturpada por grande númerode compatrícios. Daí a lamentável mixórdia, que, com nomede “Espiritismo”, se observa em certos ambientes e quedão ensanchas aos vitupérios de iracundos adversários.

Aproveito, pois, a oportunidade para dirimir certas dúvi-das, focalizando, em rápida síntese, os pontos cardeais daDoutrina dos Espíritos, conforme a denominou Allan Kar-dec.

Em se tratando duma filosofia religiosa, o primeiro pos-tulado do Espiritismo não poderia deixar de ser a existênciade Deus. Não de um Deus antropomórfico, de aparênciahumana e dotado de qualidades e defeitos peculiares às cri-aturas terrenas, mas de um Deus perfeito, sábio e justo, quelonge de ser objeto de nosso temor é alvo de nosso amor.Inteligência suprema e supremo poder, Deus, criador, orga-nizador e mantenedor do Universo, se nos revela através dainfinita sabedoria com que rege a natureza e se nos mani-festa por intermédio da sábia justiça com que preside nos-sos destinos.

Donde se infere que, ao contrário do que acontece namaioria das religiões, a Doutrina Espírita nos dá gloriosaconceituação a respeito do Criador.

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Aceito este princípio, passo agora, ao postulado imedia-to: a existência da alma. Ainda aqui, o Espiritismo se afas-ta da maioria das religiões, que, escoradas em pretensas re-velações, admitem a alma como princípio de fé, questãodogmática, fechada à razão. Contrapondo-se a essa atitudede impor à força, pelo respeito à autoridade - (magister dixit!)- aquilo que se quer provar, o Espiritismo comprova, comfatos de observação, a existência da alma ou Espírito, prin-cípio imortal do homem. Para isso, vale-se de duas catego-rias de fatos, que, mutuamente se confirmam, provando aindependência que existe entre o Espírito e a matéria, em-bora, normalmente, matéria e Espírito funcionem como umtodo psicossomático indissociável. Refiro-me aos fatos aní-micos, que dizem respeito ao Espírito encarnado e aos fa-tos espíritas, que se referem ao Espírito desencarnado. Noque toca os fatos anímicos estão cientificamente compro-vados mercê das investigações da Sociedade de PesquisasPsíquicas, de Londres, mundialmente afamada. E poucoimporta que, dentre seus membros, alguns cientistas, paranão renunciarem às suas convicções religiosas ou para evi-tarem polêmicas estéreis, hajam escapado pela tangente,aventando hipóteses que fogem à realidade dos fatos. Oque importa é que, do meticuloso trabalho realizado pelaconceituada sociedade londrina, ficou demonstrada, nosseres humanos, a existência de um duplo etéreo ou corpoespiritual, o perispírito de Allan Kardec, sede do Espírito e,por conseqüência, da consciência e das faculdades superio-res do Espírito, que, em determinadas condições, pode des-prender-se do corpo carnal, transportar-se a distância e, até,provar, objetivamente, essa transcendental exteriorização.Dentre as provas coligidas por sábios, quase todos infensosà tese espírita, posso citar a máscara de Eusápia Paladino, acélebre napolitana, cuja mediunidade fora comprovada pormais de cinqüenta cientistas europeus. Retida numa cadei-

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ra, sob o controle de vários cientistas, o duplo da médiumpôde desprender-se do corpo físico, e, semimaterializado,imprimir, na argila úmida, adrede preparada, e colocada adistância, da médium, artística máscara facial, onde se viamestereotipadas até as contraturas musculares observadas emsua fisionomia, durante a produção do fenômeno!

Como se vê, já não se trata de fenômeno subjetivo, atri-buível à alucinação - é prova material, documento irrecusá-vel, que, sobre comprovar a existência do corpo espiritual,demonstra que, ainda em vida, o Espírito já se pode libertare agir independentemente do corpo material, razão não ha-vendo, por conseguinte, para não sobreviver à morte docorpo carnal.

E, na verdade, independentemente do transe profundo,como ocorreu no caso de Eusápia, criaturas há cujo duplose desprende com freqüência e com grande facilidade. Hajavista o que sucedia com Mademoiselle Sagée, modesta pro-fessora francesa, repudiada do magistério por causa de suasfaculdades. Estivesse ela na aula, no jardim ou em seu pró-prio quarto, com tamanha facilidade desprendia-se-lhe oduplo, com tal freqüência via-se-lhe o corpo espiritual aolado ou a distância do corpo físico, e tantas vezes assustouas educandas que se vira despedida de quatro educandáriosconsecutivamente. E - note-se - no caso de Mlle. Sagée, o“duplo” fora visto, simultaneamente, por várias jovens, nãosendo cabível, por conseguinte, a hipótese de alucinação,tão ao sabor dos céticos. Muito menos aceitável seria umaalucinação coletiva, hipótese absurda, que elimina o valordo testemunho humano, e, por conseqüência, nega a exis-tência da própria história da civilização. De fato, se a provatestemunhal, mesmo quando baseada no depoimento denumerosas pessoas, deve ser tida em conta de alucinaçãocoletiva, então já não sabemos se devemos, ou não, acredi-tar na existência de Alexandre, de Cleópatra, de Napoleão,de Sócrates, de Kant e, até, do próprio Jesus!

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Sejamos, pois, razoáveis: não há como negar os inúme-ros desdobramentos de Mlle. Sagée. E, aceito o desdobra-mento, comprovada a libertação momentânea do corpo es-piritual, sem prejuízo dos mais elevados atributos do Espí-rito, estabelecida fica a independência entre a alma e o cor-po, não havendo razão, portanto, para que a alma não so-breviva à morte do corpo.

De resto, a independência da alma pode demonstrar-se,também, experimentalmente, com auxílio de hipnotismo.Em hipnose profunda, sobretudo quando é potente a radia-ção magnética do hipnotizador, pode obter-se a exteriori-zação do “duplo” do sensitivo, exteriorização essa obser-vada pelos videntes e confirmada pela prova fotográfica!

Portanto, quando a Doutrina Espírita afirma a existênciada alma, não se estriba num ato de fé - baseia-se em provasirrecusáveis, obtidas quer nos desdobramentos espontâne-os, quer nos desdobramentos provocados, - os primeiros,observados no êxtase místico ou no transe mediúnico; osoutros, verificados no “estado de hipnose”. Em conclusão:o espírita não crê na existência da alma - o espírita sabe daexistência da alma!

E admitindo provada a existência da alma, passo a outropostulado fundamental da doutrina - a sobrevivência daalma. Também aqui, o Espiritismo não se cinge a uma vagacrença - chega à certeza. Parte dos fatos, da hipótese detrabalho, da observação provocada, até chegar à contra-ex-periência. Depois, conclui por indução. O próprio desprendi-mento do “duplo”, ou seja, do Espírito, envolvido no peris-pírito, durante a vida terrena demonstrando sua indepen-dência do corpo carnal, já seria forte argumento a favor dasobrevivência. Sem embargo, a prova decisiva está na ma-terialização dos Espíritos, acompanhada de insofismávelidentificação de antigos habitantes deste planeta - fato jácomprovado nos países mais civilizados da Europa e da

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América, desde o segundo quartel do século passado. Ecomprovado não por simples diletantes, mas por verdadei-ros sábios, consagrados em diversos ramos da Ciência, eque, em conjunto, constituem a mais brilhante equipe decientistas que até hoje investigou em qualquer setor da na-tureza. E, se nem todos aderiram à concepção espiritista, averdade é que, em tese, nenhum deles pôde apresentar qual-quer teoria capaz de substituir a Doutrina Espírita na expli-cação dos fenômenos. De modo que, em última análise,prevalece a teoria espírita, com a certeza da sobrevivênciada alma. E, com essa certeza, entro no último postulado,que, pela angústia de tempo, só poderei analisar sucinta-mente, - a pluralidade de vidas, ou seja - a lei da reencarna-ção.

Partindo da desigualdade dos Espíritos, patente na di-versidade dos predicados espirituais e dos valores moraisobservados entre os homens, e baseada na convicção deque Deus não pode ser injusto, a Doutrina Espírita afirmaque, antes de encarnarem, os Espíritos já existiam e já havi-am adquirido as qualidades que entre si os distinguem. Casocontrário, o Criador seria arbitrário e faccioso - o que é blas-fêmia. Ora, se, antes de tomarem um corpo carnal, os Espí-ritos já viviam livremente no Além, é evidente que, regres-sando, com a morte, ao Mundo Espiritual, nada poderiaimpedir que novamente voltassem à Terra, em outras en-carnações. Na verdade, a própria preexistência da alma, ser-ve de argumento a favor da lei da reencarnação. De resto,sem a reencarnação é impossível conciliar a bondade doCriador com a chocante desigualdade dos destinos huma-nos. Solucionando o problema, a Filosofia Espírita admiteque os Espíritos foram criados exatamente iguais: partiramda ignorância e da inocência, e, dotados de relativo arbítrio,foram, lentamente, conquistando experiências e valores,através de vários planos e de múltiplas vidas, até alcança-

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rem a Terra, onde prosseguirão encarnando enquanto nãomerecerem mundo melhor. Saindo deste planeta, a evolu-ção continuará noutros mundos gradativamente mais aper-feiçoados, onde a vida é cada vez mais feliz, até alcança-rem a perfeição e, com ela, a suprema felicidade. Essa evo-lução está, entretanto, governada por sábia lei de causalida-de moral. Todos os atos e pensamentos, automaticamentegravados no perispírito, refletem sobre o Espírito que ospraticou ou que os emitiu. Cada Espírito se torna, assim,arquiteto de seu próprio destino. Todo mérito é motivo deprazer e caminho de progresso; todo demérito, ao contrário,é fonte de sofrimento e razão para estacionamento. Toda-via, ninguém herda “pecados”, nem se salva por graça es-pecial. Se há herança, é fruto daquilo que cada Espíritoacumulou em vidas anteriores e que conserva no subcons-ciente - produto da sementeira que semeou - nunca errodos ancestrais, com os quais nada tem de comum, pois comoEspírito eterno, proveio de Deus e não de Adão!

Em conclusão: provando a sobrevivência, o Espiritismoextingue o temor da morte, suavizando a vida; demonstran-do a comunicação dos Espíritos, torna menos cruel a se-paração dos entes amados que partiram para o Além; colo-cando em nossas próprias mãos a construção de nossa feli-cidade, dá-nos estímulos para lutar contra nossas deficiên-cias, de vez que afasta de nossa frente o espantalho dasfaltas irremissíveis e dos castigos eternos; mostrando-nos,em suma, um Deus benevolente, cuja justiça se inspira noamor, infunde-nos serenidade e otimismo e dá-nos confian-ça para lutar em prol de nossa perfeição. Numa palavra: oEspiritismo, pelo realismo dos fenômenos e pela grandiosi-dade de sua filosofia é o farol que, futuramente, iluminará anova civilização - civilização decalcada no amor fraterno ena cooperação internacional de todos os povos, para a feli-cidade da humanidade e para a glória dos emissários de Deus,que há mais de um século vêm lutando heroicamente pelaimplantação da nova revelação divina!

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O QUE SIGNIFICA A DOUTRINA ESPÍRITA

ADoutrina Espírita não é criação de Allan Kardec. Em- bora não se possa menosprezar o trabalho interpreta-

tivo do genial fundador do Espiritismo, a verdade é que asubstância da filosofia, proveio do plano espiritual.

Aliás, desde as épocas mais primitivas, à medida que acivilização progredia, crescente revelação foi sendo espar-zida sobre as criaturas terrenas, quer no campo da Ciência,através dos descobridores, quer no domínio das religiões,através dos “iniciados”. Nessas condições, mercê da intui-ção dos sábios e da mediunidade dos místicos, dia-a-dia,ampliaram-se nossas concepções relativas ao Criador e aoUniverso.

Todavia, o Espiritismo, queiram ou não os que o comba-tem, marcou nova fase no longo curso da revelação divina.Até sua aparição, toda revelação teve caráter pessoal. Qual-quer religião, por mais antiga que seja, foi obra de um mis-sionário de Deus. O Bramanismo, o Budismo, o Masdeís-mo, o Islamismo, o Judaísmo, o próprio Cristianismo, origi-naram-se de revelações divinas transmitidas à Terra por umprofeta, isto é, por um médium. Com o Espiritismo, porém,a coisa foi diferente. Não dependeu de um missionário so-mente. A revelação jorrou por toda parte. Numerosas na-ções da América e da Europa, exatamente as mais civiliza-das, foram por ela contempladas. Centenas de médiuns, per-tencentes às mais díspares religiões, começaram a receber,

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inesperadamente, significativas mensagens, alertando a hu-manidade para uma verdade maior. Apresentando-se emnome de Deus e como mensageiros de Jesus, Espíritos ab-negados iniciaram, simultaneamente, em diversos países,notável trabalho de catequese. Ao mesmo passo, fornece-ram, por intermédio de diversos médiuns, os elementosnecessários para que Allan Kardec, já consagrado comopedagogo, pudesse colocar-se à vanguarda do movimento,tornando-se o mais notável colaborador de Jesus na ingentetarefa de restabelecer o verdadeiro sentido dos ensinamen-tos do glorioso profeta da Galiléia, revoltantemente assas-sinado, antes que sua doutrina estivesse solidamente radi-cada no coração dos homens. Tanto assim que, para salvaro pouco que se salvou de suas pregações, antes que os dis-cípulos se dispersassem, apavorados com a cruel condena-ção do Mestre, Jesus teve de lutar muito, depois de desen-carnado, manifestando-se a várias pessoas, inclusive, com-pletamente materializado, aos próprios apóstolos, já em ris-co de se deixarem dominar pelo ceticismo de Tomé!

De modo que, no que concerne a Jesus, podemos dizerque ele foi portador não duma, mas de três revelações con-secutivas: a primeira quando encarnado; a segunda logodepois de desencarnado e a terceira, quase 2 milênios maistarde, por meio do Espiritismo, através dos ensinamentoscomplementares, trazidos por seus enviados.

Como se infere, a Doutrina Espírita supera os anterioresensinamentos de Jesus, não só porque perdeu o cunho derevelação pessoal, tornando-se revelação de equipe, confir-mada em toda parte, por numerosos Mensageiros do Mun-do Espiritual, através de médiuns pertencentes às mais di-ferentes crenças, como, também, porque, agora, graças àliberdade de consciência religiosa, a verdade pode ser pro-clamada claramente, sem os riscos que cercaram as prega-ções do Nazareno e que o levaram, a despeito de todas ascautelas, inclusive do emprego de linguagem parabólica, aomartírio do calvário!

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Partindo, embora, dessas premissas, ninguém julgue, noentanto, que o Espiritismo é uma religião como outra qual-quer, condenada a permanecer estagnada sob a pressão deconceitos dogmáticos. Ao contrário. Aliada à Ciência, cu-jos métodos de investigação adota, a Filosofia Espírita éessencialmente dinâmica, evoluindo paralelamente com osconhecimentos humanos.

Todavia, pelo fato de ser evolutiva e, por conseqüência,sujeita a ampliações, e a retificações, à medida que os ho-mens se desenvolvem espiritualmente, nem por isso deixade ser autêntica, já que seus ensinamentos assumem cará-ter universal, promanando de várias fontes, todas se confir-mando mutuamente, de tal modo que, no conjunto, consti-tuem o maior, e o melhor, repositório de verdades divinasaté hoje transmitidas às criaturas terrenas!

De qualquer forma, porém, os fatos que servem de baseà doutrina são submetidos, sistematicamente, à crítica ci-entífica, conforme preconizou seu venerável codificador.

O espírita não é, portanto, um fanático; é um convicto.Fanático seria se aceitasse tudo o que lhe dizem os Espíri-tos, acreditando cegamente em afirmações contrárias à ra-zão. Convicto é, com efeito, porque, partindo da dúvida,mediante à observação dos fatos, chega, por via indutivaou dedutiva, à certeza da realidade. Por isso mesmo, postoque pareça paradoxo, a fé do verdadeiro espírita é, em últi-ma análise, uma conclusão lógica.

Entretanto, exatamente porque empresta grande valor aosensinos transmitidos do Além, o espírita não pode deixarde ser rigoroso na apuração dos fatos. Antes que aceite aorigem espiritual da mensagem, o espírita, cioso da integri-dade da doutrina, procura afastar, uma a uma, todas as hi-póteses que, fora do Espiritismo, poderiam explicar os fe-nômenos observados. De modo que, somente quando nãohá nenhuma hipótese que explique melhor o fato, é que o

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espírita passa a considerá-lo proveniente do Mundo Espiri-tual, emprestando-lhe, não obstante, relativo valor; pois,qualquer que seja o teor da comunicação, ela traduzirá, tão-somente, o ponto de vista do Espírito que a deu, valendo,apenas, como opinião individual, compatível com a evolu-ção, e, por conseguinte, com o plano espiritual em que seencontra o autor da mensagem.

Sabido que, em comunicação com nosso planeta, exis-tem, no Mundo Espiritual, Espíritos que se encontram nosmais diversos graus de evolução, claro é que o conteúdodas mensagens deverá ser muito variável, não só quanto aovalor literário como quanto ao valor doutrinário.

O que é inegável, porém, é que mensagens existem decuja origem não se pode duvidar. Darei exemplo; colhido,ao acaso, dentre muitos outros, em Nos Umbrais do Além,cujo autor, William Barrett, sobre ter sido professor de Físi-ca na Universidade de Dublin, foi membro da Royal Socie-ty, onde só ingressam verdadeiros sábios.

Dedicando-se, durante vários anos, à investigação da fe-nomenologia espírita, o prof. Barrett idealizou vários pro-cessos para evitar as causas de erro.

Como a escrita automática, mais conhecida por psico-grafia, dá aos críticos a impressão de que, quando a mensa-gem não é propositadamente fingida, é criação do subcons-ciente do médium, o mestre inglês empregou, de preferên-cia, o processo da prancheta. Aliás, foi o meio pelo qualAllan Kardec recebeu as primeiras mensagens. Consistenuma pequena tábua triangular, munida de três pés, à qualse amarra um lápis. O médium apenas a toca, de leve, comas extremidades digitais. A prancheta, em seguida, princi-pia a escrever a “comunicação”. A fraude é mais difícil doque na psicografia. Sobretudo quando dois ou mais médiunsestão encostando os dedos na prancheta; porque, neste caso,a escrita exigiria, não só prévia combinação, das frases aescrever, como fantástica coordenação dos movimentosmusculares!

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Contudo, o prof. Barrett aperfeiçoou o processo, dificul-tando ainda mais a mistificação. De resto, com o empregode máscaras, que vedavam totalmente a visão dos médiuns,o cientista tornou a fraude absolutamente impossível. Nadaobstante, decisivas provas da sobrevivência da alma se lheapresentaram. Eis uma delas: com a participação de, ape-nas, duas jovens da sociedade inglesa, ambas filhas de mé-dico, foi transmitida, pela prancheta sob a fiscalização doprofessor, uma mensagem cujo autor se dizia o primo dumadas moças, oficial do exército francês, que morrera um mêsantes, no front. Dentre outras coisas recomendou ele: “Digaà minha mãe que dê o meu alfinete de gravata com cabeçade pérola àquela que eu devia esposar.”

Como ninguém sabia nada a respeito desse noivado oEspírito deu, em seguida, o nome, o sobrenome e o endere-ço de sua ex-noiva. Não obstante, a carta enviada à noiva,foi devolvida, com a anotação de que, no endereço, a moçaera desconhecida! Tudo dizia, portanto, que a mensagemera apócrifa. Entretanto, não era. A prova apareceu seismeses mais tarde, quando o Ministério da Guerra mandouabrir a bagagem do oficial. Lá estava o testamento, onde elese referia à noiva, cujo nome coincidia, exatamente, com oda mensagem da prancheta! Ainda mais - dentre os perten-ces do oficial, figurava o alfinete de gravata de cabeça depérola!

Ora, por incrível que pareça, este noivado, contraído emLondres, antes da partida do oficial para o front, na França,foi mantido em segredo: ninguém da família sabia do caso.Muito menos a prima, que recebeu a mensagem. Somentecom a morte do oficial, o noivado veio à baila - primeiropela mensagem mediúnica; depois pelo testamento. Comose vê, fraude não houve, porque, embora a noiva não fosseencontrada - coisa muito explicável numa época de guerra,quando ninguém tem residência fixa, - o testamento do ofi-

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cial não deixou margem a qualquer dúvida. Telepatia tam-bém não foi, porque ninguém sabia do caso: nem as moças,nem o prof. Barrett, nem parente nenhum do oficial. Logo,não podia ser telepatia. Criação do subconsciente dos mé-diuns, muito menos, pois o fato foi autenticado seis mesesmais tarde, através do Ministério da Guerra. Nessas condi-ções, apenas uma hipótese fica de pé: a hipótese espírita.Foi, de fato, o Espírito do morto, que, preocupado em tes-temunhar à noiva seu amor, quis, a qualquer preço, fazerchegar ao seu conhecimento aquilo mesmo que já determi-nara no testamento - que o alfinete de pérola fosse a suaherança. O fato de o Espírito ignorar a mudança de endere-ço da ex-noiva, nada significa, porquanto é muito comum,entre os recém-desencarnados, a amnésia de certos fatos eo alheiamento de outros, tudo provocado pelos própriosGuias do morto, para evitar choques emocionais, que po-deriam determinar longos períodos de perturbação. Quemconhece a doutrina sabe disso. Quem tem prática de lidarcom os habitantes do Além, também. De modo que, noexemplo em foco, não há outra alternativa - foi, mesmo, oEspírito do ex-oficial que transmitiu a mensagem, dando,ao mesmo passo, bela prova de sobrevivência da alma. E éassim, com fatos comprovados, que o Espiritismo caminhapara a vitória, sem temor do futuro, porque está aliado àCiência; e sem fugir às provas, porque está com a verdade!

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CONSIDERAÇÕES SOBRE A ORIGEM

DO ESPIRITISMO

Provido de modestos órgãos sensoriais, que o colocam em relação apenas com pequena fração dos fenôme-

nos do Universo; vendo e ouvindo menos do que muitosirracionais; dotado de faculdades lógicas que mais lhe va-lem para apontar o erro do que para encontrar a verdade;sujeito, por conseqüência, às contingências dos sentidos ecoarctado à relatividade da razão, o homem não pode ter aveleidade de querer assenhorear-se das causas primárias,nem das causas finais, no mundo de causalidade que o cer-ca, esmagando-o com o peso do seu mistério!

Na verdade, o número de Kant e os desígnios de Deussão tremendos enigmas, que, por muitos séculos ainda de-safiarão a argúcia dos sábios!

Sem embargo, como toda forma de sabedoria, a revela-ção divina, embora lenta e gradativa, desde os primórdiosda civilização, vem manifestando-se-nos, cada vez maisampla e mais perfeita, à medida que a mente humana, pe-nosamente aperfeiçoada, através da morosa evolução bio-lógica da espécie, pode absorver maiores e melhores co-nhecimentos. Conhecimentos de caráter científico, comauxilio da intuição dos inventores e dos teorizadores, queequacionam os problemas e formulam as leis, sistematizan-do as ciências; conhecimentos de cunho religioso, por in-termédio dos iniciados, que, desde as eras mais primitivas,com o nome de profeta, mago, pitonisa, feiticeiro, pajé, numa

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palavra - médium - entram em contato com o Mundo Espi-ritual, e, de acordo com o grau de evolução de cada um,apreendem uma das múltiplas facetas do mundo misterio-so do Além.

Donde se infere que todo conhecimento, seja ele religio-so ou científico, obtido através da intuição do sábio, oumediante a mediunidade dos místicos, é, em última análise,uma conquista feita ao Mundo Espiritual: conquista discre-ta, no caso da intuição, em que a idéia, a “hipótese de tra-balho” surge, de repente, à revelia do raciocínio, já perfeitae com tanta força de evidência, que o pesquisador, que,antes, tentara, debalde, encontrar o roteiro da descoberta,não tergiversa - vai direto ao ponto crucial do problema;conquista ostensiva, por via supranormal, quando a mediu-nidade está abertamente em função, seja na caverna do pri-mitivo, seja na maloca do silvícola, seja, finalmente, no ta-bernáculo do “iniciado”.

De qualquer modo, cada médium recebe, sempre, a men-sagem que merece, da mesma forma que cada povo tem areligião que pôde alcançar. Os ensinos serão tanto mais su-blimes quanto mais virtuoso for o médium, e as religiõestanto mais espiritualizadas quanto mais evoluídos os adep-tos.

Interpretada com esse caráter de universalidade, a me-diunidade, sobre esclarecer muitos problemas que continu-am a desafiar a perspicácia dos antropólogos, dos etnólo-gos e dos sociólogos, justifica a insistência com que a His-tória nos aponta, entre as mais diversas nações, as raçasmais díspares e as mais diferentes culturas, a crença namanifestação dos Espíritos.

E o curioso é que, a despeito do progresso atual, casoshouve em que os processos primitivos deram ensejo a co-municações tão verídicas quanto às que se podem obterpresentemente, quando, com a denominação de “percep-ção extrasensorial”, a mediunidade penetrou nos modernoslaboratórios de Parapsicologia...

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Haja vista o caso de Patrício e Hilário, relatado por Ami-ano Marcelino, historiador romano, que viveu no 4o séculoda Era Cristã. Esses cidadãos, acusados de magia, explica-ram ao tribunal como procederam. Construíram uma mesi-nha de loureiro, considerada planta mágica, e sobre ela co-locaram uma bacia metálica, em cujas bordas havia um al-fabeto gravado. Depois, um médium, invocando o Protetorespiritual, segurou, entre os dedos, um fio de linho, em cujaextremidade fora amarrado um anel metálico, mantendo essepêndulo no ar no centro da bacia. Em seguida, o anel, pro-pelido por força invisível, principiou a saltar de letra paraletra, estacionando sobre a escolhida, a fim de que os cir-cunstantes tivessem tempo de anotá-la; e, assim, de letraem letra, de palavra em palavra, ia transmitindo as mensa-gens do Além.

Nessas condições, interrogado o invisível autor do movi-mento do anel qual seria o sucessor do Imperador, o anel,sem que se soubesse por quê, apontou apenas as letras T,H, E, O... E, sem motivo aparente, estacionou, não se mo-vendo mais de modo algum. Concluíram todos que o suces-sor seria Theodoro. E, nisso todos erraram; menos o anelou, melhor, o Espírito, porque, de fato, Theodósio, foi quemascendeu ao trono.

Como se vê, um fenômeno interessante, porque, tal comose deu, afastou a hipótese da interferência do subconscien-te do médium, de vez que, também ele errou o palpite, ima-ginando que o escolhido seria Theodoro e não como foi,Theodósio. Não há, por conseguinte, como recusar-se aofato o caráter premonitório.

Hoje, nós espíritas não procederíamos dessa forma, àmaneira dos radiestesistas. Comportar-nos-íamos como oprof. William Barrett, da Universidade de Dublin. Optarí-amos por uma prancheta, que tem gloriosa tradição no mo-

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vimento espírita. Mas não a usaríamos como no tempo deKardec. Colocaríamos, como o fez o sábio inglês, entre duasplacas de vidro grosso, cartões com as letras do alfabeto,sem a menor preocupação sobre a posição que ocupassem.E, na verdade, só poderia haver vantagem se a seqüênciadas letras não fosse a normal de vez que mais difícil seria afraude e menos numerosas as causas de erro. Depois, aindapor precaução, mandaríamos inverter os cartões, virando asplacas, de modo que as letras, ao invés de permaneceremvoltadas para os investigadores, ficassem invisíveis, vira-das para a superfície da mesa. Em seguida, pediríamos aosmédiuns que pusessem, de leve, seus dedos sobre a pran-cheta assentada sobre as placas de vidro.

Dessa maneira, ainda que as letras fossem visíveis, sen-do várias as pessoas a tocarem na prancheta, só se deletre-aria a mensagem, se todos os participantes da experiênciahouvessem combinado, previamente, o seu conteúdo. Casocontrário, seria dificílimo haver a necessária coordenaçãode movimentos, entre os diversos experimentadores, a fimde que as mensagens não saíssem verdadeiros disparates.

Nada obstante, para maior segurança, exigiríamos que nãosó os médiuns como todos os elementos da “corrente” per-manecessem de olhos vendados, com máscaras opacas,como procedeu o cientista inglês.

Com a visão livre, deixaríamos, apenas, o encarregado deanotar as letras à medida que a prancheta as fosse apontan-do. Mas este, não teria contato algum com a prancheta, e,por conseguinte, não poderia influir nos movimentos dela.

Assim, as mensagens seriam garantidas de toda autenti-cidade, como garantidas de autenticidade foram as obtidaspelo ilustre físico de Dublin.

Por isso mesmo é que, quando o prof. Barrett nos afirmaque, por este processo, obteve inequívocas provas de iden-tidade de amigos falecidos, não se pode, de boa fé, duvidardo seu respeitável depoimento.

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Infelizmente, até hoje, apesar do imenso progresso dospadrões de mediunidade e a despeito das técnicas científi-cas introduzidas no controle da fenomenologia espírita, aindahá adversários que combatem o Espiritismo ridicularizan-do-o por ter nascido da chamada dança das mesas.

Esquecem-se tais opositores de que dos fatos aparente-mente mais banais surgiram grandes descobertas, que glori-ficam a Ciência contemporânea.

Foi da oscilação duma lâmpada, fato corriqueiro, que sur-giram as leis do pêndulo, e, conseqüentemente, os cronô-metros. Mas, para arrancar o segredo à natureza, necessáriose tornou que um gênio - Galileu - verificasse, contando aspróprias pulsações, que eram isócronas às oscilações do lam-padário da catedral de Pisa...

Foi de um fato trivial, a contração das patas duma rã, quenasceu toda uma ciência - a eletricidade. O homem vulgarcontemplaria o fato com um sorriso de desdém. O gênio deGalvani, porém, fê-lo estacar, para observar; e, depois, ex-perimentar, para concluir. Resultado - o galvanismo e, emseguida, a réplica de Volta, com a construção da primeirapilha elétrica...

Em todos os tempos o vinho, sem que se soubesse porquê, de quando em quando azedava. Azedou durante sécu-los. Todo mundo via e sabia, mas o recurso era conformar-se. Até que o gênio de Pasteur descobriu, na “doença dovinho”, a presença de germes de fermentação; e, mais tar-de, o mesmo sábio, por analogia, concluiu que, à maneiradas “doenças do vinho”, muitas doenças do homem deveri-am ser causadas, como de fato são, por micróbios que pu-lulam na intimidade do organismo!

Desde remota antigüidade, muita gente consultou osEspíritos por intermédio das mesas. O próprio Tertulianonos dá conta do fato. Mas só o gênio de Allan Kardec pôdever naquele fenômeno banal, a revelação de um processo,

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não para passatempo com Espíritos galhofeiros, atraídospela displicência de ociosos ou pelos sentimentos inconfes-sáveis dos que desejavam tirar partido dos Espíritos, mas,ao contrário, para estabelecer intercâmbio com Espíritosinstrutores que viriam iluminar a consciência dos homenscom uma doutrina sublime, na qual, a evidência dos fatos ea lógica dos princípios completam uma filosofia religiosa,profundamente confortadora, que nos demonstra a magna-nimidade do Criador, a justiça das provações terrenas e oesplendor do glorioso destino reservado ao homem!

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A PROPÓSITO DA PUBLICAÇÃO

DO LIVRO DOS ESPÍRITOS

Dia virá em que a data 18 de abril será comemorada, no mundo inteiro, como marco luminoso, a assinalar,

na história do pensamento filosófico-religioso, uma das mai-ores senão a maior transformação sofrida pela humanidadeno ciclo acidentado de sua evolução.

Na verdade, com a publicação do O Livro dos Espíritos,obra básica da Doutrina Espírita, a 18 de abril de 1857,iniciou-se, positivamente, nova Era para nossa civilização,com a eliminação gradativa, mas fatal, do materialismo ateue a confraternização universal dos povos, em torno de umespiritualismo diferente, inspirado no mais sadio idealismo,estruturado com postulados racionais e soerguido sobresólido alicerce de fatos de observação, cientificamente con-trolados.

Com efeito, contrariamente ao que se propala por aí, empérfida e insidiosa campanha, o Espiritismo não é, comoacreditam os ingênuos, os ignorantes e - por que não dizer?- os fanáticos, motivo de perdição, caminho do inferno, nem,muito menos, fator de desequilíbrio mental, causa de lou-cura. Não! Firmando convicções com provas irremovíveise justificando logicamente o sofrimento e o chocante con-traste dos destinos humanos, o Espiritismo, doutrina con-fortadora, nunca poderia ser fonte de distúrbios mentais,originários de psicopatias. Confortando profundamente osdeserdados da sorte, pela certeza da imortalidade e pela

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segurança de que uma lei de amor e de sábia justiça unetodas as criaturas, por mais inferiores que sejam e sejamquais forem suas crenças, a um Criador boníssimo, que, dadaa diversidade de evolução dos Espíritos encarnados, embo-ra se veja obrigado a essa desigual distribuição de destinos,pois é de justiça que se tratem desigualmente indivíduos dedesiguais méritos e deméritos, reserva, não obstante, paratodos os seus filhos um futuro glorioso, aureolado pela per-feição e nimbado de imarcescível felicidade, o Espiritismo,confortando como conforta e regenerando como regenera,jamais, poderia tornar-se instrumento de perdição, passa-porte para o inferno!

Não! O Espiritismo, sublime filosofia religiosa decalca-da na moral evangélica, em tempo algum poderia ter sidoinspiração satânica, obra demoníaca, não só porque forafundada sob os auspícios de Jesus de Nazaré, em cujo nomefalavam e continuam a falar os Espíritos missionários queditaram o O Livro dos Espíritos, como porque, converten-do-se a ele o homem se melhora em todos os sentidos, tor-nando-se otimista, confiante, sereno, resignado, tolerante,caridoso, e, não obstante, severo consigo mesmo, se esfor-çando parra perder os vícios, lutando para expungir-se davaidade, do orgulho, do ciúme, da maledicência, da vingan-ça, do egoísmo e de todos os defeitos, que, de algum modo,poderão acarretar-lhe graves dissabores na vida espiritual,independentemente dos aborrecimentos que lhe trazemdurante a existência terrena!

Não! Se é válido o critério que nos deu Jesus de Nazaré,se “pelo fruto se conhece a árvore”, a regeneração dos quese tornam espíritas é prova suficiente de sua origem divina.Porque, tornando-se espírita, o chefe de família relapso,desvencilha-se da amásia, afasta-se da boêmia, abdica dojogo e reajusta-se novamente à família, ressarcindo-lhe aeconomia e amparando moralmente a esposa, a companheira

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de todos os momentos, e os filhos, cujo futuro lhe foi con-fiado; o viciado, beberrão contumaz ou batoteiro invetera-do, arrependido do tempo malbaratado, da saúde compro-metida e do dinheiro perdido encontra, no Espiritismo, aforça para libertar-se dos grilhões que o algema à fonte dadegradação - e regenera-se e torna-se homem decente e trans-forma-se em cidadão prestadio; e até o criminoso, conver-tendo-se ao Espiritismo, transfigura-se inteiramente, modi-ficando o temperamento e retificando o caráter, tamanho éo poder corretivo da Filosofia Espírita!

Não! Uma doutrina, como a espírita, que dá ao homemtão portentosa convicção sobre seu glorioso destino, e quelhe empresta tanta força para aperfeiçoar-se, de modo ne-nhum poderia, jamais, contribuir para levá-lo à loucura oupara conduzi-lo ao inferno, como afirmam, cavilosamente,alguns adversários!

Não! O Espiritismo é, de fato, a religião do futuro, por-que, além de falar tão intensamente ao coração, arrosta, semtemor, à razão, porquanto se baseia em fatos rigorosamentecomprovados. Não é, como poderia parecer, produto daespeculação dum precursor. É fruto do trabalho de equipede Espíritos missionários, iniciado por intermédio de duasjovens, castas e puras, Carolina e Julia Baudin, a primeirade dezesseis e de quatorze anos a outra, que, valendo-sedum instrumento primitivo, a corbelha ou cesta-pião, trans-mitiram a Allan Kardec, durante quinze meses consecuti-vos, os ensinamentos que deveriam constituir os funda-mentos do O Livro dos Espíritos. Processo rudimentar e tra-balhoso, quase ridículo, é verdade, mas útil e eficiente, por-que teve a vantagem de eliminar a fraude, excluindo do fe-nômeno a participação intelectual das jovens, cuja colabo-ração era, tão-somente, mecânica e limitada aos movimen-tos involuntários dos braços, completamente controladospelos Espíritos! Nessas condições, era de todo em todo

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impossível que a escrita, já de si muito difícil, pudesse ori-ginar-se de prévia combinação das duas irmãs, e isso pordois motivos: o primeiro é que, dada a espécie de aparelhoutilizado, a cesta-pião, a coordenação dos movimentos dasduas participantes do fenômeno, exigiria tal perícia e tãoperfeita sincronização de movimentos, que, se pode ter acerteza moral de que o prodígio não estava ao alcance des-sas moças ingênuas e desinteressadas, que nem sequer ava-liavam a influência que tais mensagens teriam, mais tarde,para o futuro da humanidade; o segundo motivo - e esse émais decisivo - é que, na maioria das vezes, as mensagens,não poderiam ser forjicadas, com intenção dolosa, pela sim-ples razão de que eram respostas a perguntas formuladas,na ocasião, por Allan Kardec.

De resto, como, de um modo geral, o teor das mensagensestava em contradição com as opiniões de Kardec, o Codi-ficador, para certificar-se da origem extra-humana e da au-tenticidade do ensinamento submeteu-as a cuidadoso tes-te, consultando os Espíritos que o assistiam por intermé-dio doutra jovem, Srta. Japhet, que conhecera na residênciada família Roustan, e que nada sabia das “mensagens” dasirmãs Baudin. Ainda uma vez, foi empregado um instru-mento tosco, a corbelha de bico, antecessora da prancheta,que tanto se divulgou posteriormente. Mas, apesar disso,ou talvez por isso mesmo, afastada qualquer participaçãomental da jovem, as mensagens obtidas vieram confirmarimpressionantemente os pontos básicos dos ensinamentosministrados por intermédio das irmãs Baudin, fato que muitocontribuiu para consolidar a convicção de Allan Kardec,levando-o a publicar o livro, que, não sendo fruto de suaelaboração mental e sim pensamento dos Espíritos, só po-deria denominar-se, como, de fato, se denominou: O Livrodos Espíritos!

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Conseqüentemente, no momento em que se rememora apublicação dessa obra, é justo que, ao render minhas ho-menagens ao glorioso fundador do Espiritismo, encareça avaliosa colaboração dessas três jovens , sem cujo concursoos Espíritos missionários, encarregados da revelação espí-rita, dificilmente teriam entrado em contato com AllanKardec, escolhido para tão importante codificação!

Com efeito, se é certo que, para a confecção das demaisobras da coleção kardequiana, houve colaboração de mui-tos outros médiuns, é incontestável que a obra básica dadoutrina, aquela cuja publicação hoje se festeja, essa se devenão só à abnegação duma equipe de Espíritos missionáriose ao talento didático de Allan Kardec, como a colaboraçãodaquelas que serviram de ponte entre os dois mundos, onosso e o mundo dos Espíritos, as jovens irmãs Carolina eJulia Baudin e a senhorita Japhet, razão por que fazem juzao preito de gratidão de todos os espíritas.

E ao falar em tributo de gratidão aos responsáveis peloadvento do Espiritismo, é-me grato consignar a homena-gem que a Câmara Municipal de Niterói vem de prestar aAllan Kardec, dando seu nome a uma rua no Barreto, cujaplaca fora doada pela Federação Espírita do Estado do Riode Janeiro. Como espírita, estou agradecido ao poder públi-co pelo apreço que demonstrou ao fundador do Espiritis-mo. Só me resta formular os melhores votos para que osque ainda não leram as obras de Allan Kardec, diligenciempor conhecê-las enquanto antes; pois a verdade é que elasabriram uma era para a humanidade - a era da evoluçãoespiritual pela compreensão das leis que regem o destinohumano, a Era do aperfeiçoamento moral por amor à per-feição, único caminho para chegar-se a Deus - fonte da ver-dadeira felicidade!

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Numa obra mundialmente conhecida, Gustave Le Bon, que, além de erudito psicólogo, foi proficiente inves-

tigador nos domínios das ciências experimentais, ao estu-dar o mecanismo psicológico das crenças religiosas, afir-mou, paradoxalmente, que a lógica servia para nos ajudar adescobrir o erro, mas pouco valia para nos conduzir à des-coberta da verdade.

Embora não possa deixar de fazer restrições à generali-zação desse conceito do afamado escritor francês, diantedo que tenho verificado, em longos anos de doutrinação,sou forçado a convir que, pelo menos em relação à fenome-nologia espírita, tão rica de fatos ostensivos no sentido ba-coniano, a lógica não serve para convencer certos adversá-rios. Pois, por mais que lhes mostremos os fatos, e que lhesdemonstremos, à luz da razão crítica, que a única doutrinaque explica logicamente o conjunto dos fenômenos é, in-contestavelmente, o Espiritismo, tais adversários perma-necem insensíveis a toda espécie de argumentação, porqueestão metidos, à maneira dos crustáceos, dentro de grossacarapaça de resistentes preconceitos, que lhes tolhem o ra-ciocínio. Preconceitos religiosos ou preconceitos científi-cos, pouco importa, de vez que ambos se eqüivalem emmatéria de intolerância e de intransigência. De modo que,para certos adversários, os fatos mediúnicos, comprovemcomo comprovam a sobrevivência da alma e a comunica-

EM DEFESA DO ESPIRITISMO I

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ção dos mortos, são, sempre, arte do demônio, solércia deSatanás para arrebanhar criaturas incautas, levando-as àperdição eterna. Pouco importa que os demônios, que semanifestam nas sessões espíritas, pratiquem a caridade, pre-guem o Evangelho e apontem Jesus como Mestre. Nadadisso importa. O fruto é bom, mas a árvore não presta.Jesus é que se enganou, ou que nos quis enganar, quandonos legou, em suas prédicas, o falso critério de julgarmos ovalor da árvore pela qualidade dos frutos! Eis o beco semsaída onde nos quer colocar a obstinação dos inimigos doEspiritismo!

Para outros adversários, porém, a explicação dos fatostem origem menos apavorante. Não se trata de nenhumacilada do Diabo, mas duma espécie de contrabando do in-consciente do médium. Tudo que o médium produz, pro-vém dele mesmo, de seu inconsciente. Também não impor-ta que os fatos estejam muito acima da mentalidade domédium. O inconsciente, para tais adversários, é, de fato,onisciente; pois é como um vasto estuário onde desembo-cam múltiplas correntes, que arrastam, em suas caudais, todaa sedimentação multissecular de imensa cultura filogênica.De sorte que, se o médium não sabe, soube seu pai; e se seupai também não soube, deveria saber seu avô, ou outroqualquer ancestral. O fato é que, para esses adversários,todos nós herdamos, através da hereditariedade, toda a sa-bedoria de nossos antepassados - sabedoria que permane-ce, nos tipos normais, sem função alguma, como entulhojogado num porão, lá bem no fundo do inconsciente. Mas,com os médiuns, a coisa é diferente. Nesses tipos mórbidos- dizem eles - há uma desagregação psicológica, uma desar-ticulação do trapézio que sustenta a consciência, uma fen-da na estrutura mental por onde poreja colossal sabedoriahereditária, que embasbaca os ingênuos, fazendo-os acre-ditar em almas do outro mundo. Para outra escola de com-

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batentes, os fenômenos espíritas são manifestações da libi-do, explosões de complexos recalcados, de grande signifi-cação para a interpretação sibilina das neuroses que se apos-saram dos pobres médiuns.

Não é pilhéria, não. Com palavras mais arrevesadas oucom termos mais técnicos, os médiuns são arrolados entreos degenerados e o Espiritismo, quando escapa do ridículodo cientista, é para sofrer o impacto do vitupério clerical...

Consola-nos, no entanto, a certeza de que, nem um nemoutro, estudou sinceramente a Doutrina Espírita, nem in-vestigou, jamais, os fatos em que ela se baseia. Ambos re-peliram-na, movidos, apenas, pela paixão, imbuídos de pre-conceitos, incapazes, portanto, de raciocinarem com lógi-ca. A mesma paixão e o mesmíssimo preconceito que, dumafeita, obrigaram aquele padre-mestre da Universalidade dePádua a repelir o convite de Galileu para contemplar osastros ao telescópio; e, noutra ocasião, levou a Academiade Ciências da França a escarnecer do fonógrafo - um dosinventos que deveria, mais tarde, tornar afamado o nomede Edison.

Sobre este último incidente prefiro dar a palavra a umatestemunha ocular - o célebre astrônomo Camille Flamma-rion. “Assistia eu - escreve o afamado autor de A Pluralida-de dos Mundos Habitados - assistia eu, certo dia, a uma sessãoda Academia de Ciências, dia esse de hilariante recordação,em que o físico Du Moncel apresentou o fonógrafo de Édi-son à douta assembléia. Feita a apresentação, pôs-se o apa-relho docilmente a recitar a frase registrada em seu respec-tivo cilindro. Viu-se, então, um acadêmico, de idade madu-ra, de espírito compenetrado, saturado mesmo das tradi-ções da cultura clássica, nobremente revoltar-se contra aaudácia do inovador, precipitar-se sobre o representante deÉdison e agarrá-lo pela gola, gritando: ‘Miserável! Nós nãoseremos ludibriados por um ventríloquo’!” O sábio, meus

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irmãos, era Bouillaurd, uma das mais sólidas culturas daFrança nos meados do século passado. E, para que possaisaquilatar até que ponto o preconceito científico pode afas-tar um homem de ciência do caminho da verdade, não meposso furtar ao prazer de conceder novamente a palavra aogrande Flammarion: “Mais curioso ainda - acrescenta o afa-mado astrônomo - mais curioso ainda é que, seis meses após,numa sessão análoga, sentiu-se Bouillaurd muito satisfeitoem declarar que, após maduro exame, não constatara, nocaso, mais do que simples ventriloquia, mesmo porque,disse ele textualmente, não se pode admitir que um vil me-tal possa substituir o nobre aparelho de fonação humana!”

Em conclusão - para um dos mais reputados membros daAcademia de Ciências da França, o fonógrafo, que dos pri-mitivos gramofones evoluiu para as modernas eletrolas, nãopassava duma ilusão acústica!

Centenas de outros incidentes escabrosos como este,poderia eu recapitular, para demonstrar como também oshomens de ciência erram lamentavelmente quando, em pre-sença de fatos que escapam à rotina de suas atividades ci-entíficas, eles, por preconceito apenas, teimam em inter-pretá-los à luz dos princípios de seus sistemas...

Basta-me, porém, a convicção de que os que condename rebatem a autenticidade dos fenômenos mediúnicos, sãoespíritos facciosos e apaixonados, empolgados, muitas ve-zes, por interesses inconfessáveis. Por isso mesmo, seja qualfor a posição que ocupem, no mundo religioso ou no cientí-fico, de pouca monta será o valor de seus depoimentos.

E como me dirijo, não aos que não querem, mas aos quedesejam e precisam das verdades provadas pelos Espíritos,prefiro não perder tempo com a dialética e apresentar logoo fato, que é sempre mais convincente, quando o raciocínionão está totalmente obliterado por sentimentos interessei-ros.

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O caso está relatado numa obra muito interessante - TheHoly Truth ou, em vernáculo, A Verdade Sagrada, de autoriado banqueiro norte-americano Hugo Browne, convertidoao Espiritismo em virtude das provas sensacionais que ob-teve graças à mediunidade de seus próprios filhos.

Com efeito, o capitalista tinha uma filha, menina de onzeanos apenas, que, de vez em quando, manifestava o fenô-meno da escrita automática ou psicografia, como se diz naterminologia espírita. Embora só conhecesse a língua ma-terna, o inglês, as mensagens vinham em várias línguas,completamente desconhecidas pela jovem psicógrafa, e,também, por todos da família. Mensagens que eram deci-fradas, posteriormente, com auxílio de tradutores, e que,por conseguinte, não poderiam provir do subconsciente deninguém da casa.

Acontece, porém, que Mr. Browne vivera vários anos emNatal, na África Meridional, onde aprendera o dialeto dosnativos. E, por feliz coincidência, certo dia, estando já naAmérica, ao sair a passeio com a esposa, o banqueiro en-controu um negro de orelhas rasgadas, que, pelas caracte-rísticas raciais se lhe afigurou um cafre. E, de fato, o era.Tanto assim que, interpelado no dialeto africano, o negro,espantadíssimo, sem compreender como um americano po-deria falar sua língua, respondeu prontamente à interpela-ção. Daí nasceu mutua simpatia entre ambos, ainda que issopareça incrível, em se tratando de norte-americano, pois láa rivalidade racial é quase um imperativo nacional. Mas ofato é que Mr. Browne gostou do negro, e como logo arqui-tetou uma experiência com ele, convido-o a aparecer emsua residência.

Ainda por uma feliz coincidência, o negro chegou à casado milionário justamente na ocasião em que sua filha esta-va psicografando várias mensagens. Imediatamente ocor-reu ao banqueiro a idéia de efetuar uma prova, ou melhor,

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uma contraprova para verificar, mais uma vez, se as mensa-gens provinham de inteligências extracorpóreas ou se pro-manavam do subconsciente de sua própria filha. Para issoMr. Browne perguntou aos Espíritos, ali presentes, se, por-ventura, dentre eles se encontrava alguma entidade, amigado cafre, que com ele se quisesse comunicar. Incontinenti,a mão da menina traçou, rapidamente, uma frase em línguacafre, que, lida pelo banqueiro, foi perfeitamente compre-endida pelo negro, com exceção, apenas, duma palavra,cujo sentido não apanhou. O banqueiro tentou ler a pala-vra de diversas maneiras. Tudo debalde. O negro não pes-cava nada. Entrementes, a mão da menina escreveu a se-guinte mensagem: “Dê um estalo com a língua.” O efeitofoi imediato, informa o escritor. “Recordei-me então dumcaracterístico estalo, que deve, habitualmente, acompanhara letra t na língua cafre e pronunciei a palavra conforme ométodo indicado, conseguindo fazer-me entendido imedia-tamente.” Mas, intrigado com o fato de receber mensagemem língua cafre, quando sabia, por experiência própria, queos negros cafres ignoram totalmente a grafia, Mr. Brownequis apurar como fora possível semelhante fato; e, nestesentido, interrogou aos Espíritos. A resposta não tardou. Amão da menina escreveu significativa mensagem, em in-glês, na qual velho amigo de Mr. Browne, pessoa culta e deelevada posição social, que residira, também, longos anosem Natal, onde travara conhecimento com o dialeto doscafres, explicou que fora ele quem escrevera foneticamentea mensagem, a pedido de amigos do negro que não sabiamescrever. Na realidade, a mão da psicógrafa já havia escritovários nomes numa folha de papel, nomes estes que o ne-gro identificou como sendo de antigos conhecidos seus,todos já falecidos - fato que corrobora a explicação dadapelo amigo de Mr. Browne.

Eis, grosso modo, o fato, ou melhor - os fatos. Perguntoagora: poder-se-á, em sã consciência, atribuir tais mensa-gens apenas ao subconsciente da filha de Mr. Browne? Não!

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É impossível. Mesmo se quiséssemos aceitar as hipótesesabsurdas dos bio-psicologistas e dos psicanalistas para ex-plicar o fato de a menina escrever em línguas que desco-nhecia, como uma conseqüência de conhecimentos lingüís-ticos hereditários, herdados de seus antepassados, é difíciladmitir-se que os ancestrais dessa americanazinha tenhamraízes nas selvas africanas. Além disso, não está demonstra-do que os conhecimentos sejam hereditários. Ao contrário,tudo prova que a sabedoria é aquisição individual, fruto doestudo e da experiência pessoal, transmissível apenas den-tro de certos limites, pelos meios normais de transmissãodo pensamento - nunca através dos genes.

Por outro lado, teria Mr. Browne transmitido telepatica-mente as mensagens? Também impossível. Primeiro, por-que muitas mensagens houve que só foram compreendidascom auxílio de tradutores. Segundo, porque, em relação àmensagem em dialeto cafre, ele também não na pôde deci-frar senão com o auxílio da filha, que lhe transmitiu a ad-vertência para dar o tal estalo da língua antes do t. Em rela-ção ao negro, a hipótese de transmissão telepática fica pre-judicada pelo mesmíssimo motivo.

Portanto, em boa lógica só fica de pé a hipótese espírita,isto é, as mensagens foram transmitidas por inteligênciasextracorpóreas, Espíritos de antigos habitantes deste mun-do, uns conhecidos de Mr. Browne, outros amigos do negroafricano - todos desejosos de demonstrarem a sobrevivên-cia da alma e a comunicação dos impropriamente chama-dos mortos com os impropriamente chamados vivos - por-que, na verdade, eles estão muito mais vivos do que nós,assim como amanhã estaremos muito mais vivos do quehoje!

Esta é uma grande certeza que nos trouxe o Espiritismoe, ainda que fosse essa a única certeza, já valia a pena delutar por ela com todo entusiasmo, com todo amor, com omáximo sacrifício, porque o Espiritismo abre à humanida-de terrena nova era de progresso e de felicidade!

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EM DEFESA DO ESPIRITISMO II

Écom profunda tristeza que os verdadeiros espíritas vêem, a cada passo, o Espiritismo acusado ou chaco-

teado por pessoas que, embora instruídas, nunca leram nemsequer as obras básicas da doutrina. Invectivam-no e ridi-cularizam-no baseadas, tão-somente, em errôneas informa-ções ou escoradas em lamentáveis mistificações, observa-das com médiuns inescrupulosos, indiferentes aos postula-dos morais que norteiam a Filosofia Espírita.

Todavia, não é justo que, com falsas informações ou comfatos fraudulentos, se forme juízo temerário e se estabeleçadesprimorosa conceituação a respeito duma doutrina tãosublime quanto a espírita, que conjuga o arrojo da concep-ção filosófica com o rigor da técnica experimental, polari-zando, num deslumbrante foco luminoso, os dois pólos dahumanidade - o sentimento e a razão.

É verdade que, com o nome de Espiritismo, campeia,livremente, em nossa Pátria, execrável exploração dastendências místicas das massas populares. Contudo, aoEspiritismo não se lhe pode incriminar por tamanho des-calabro, de vez que certas práticas abomináveis e certoscultos esdrúxulos que, por aí afora se realizam, não secoadunam com os ensinamentos doutrinários plasmadosna codificação kardequiana - única fonte do legítimoEspiritismo.

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Falando francamente, devo ressaltar que o caricato Es-piritismo que se esparrama através de grande número depseudos Centros Espíritas, é decorrência lógica da falta depreparação doutrinária dos dirigentes, aliada aos sentimen-tos interesseiros da maioria dos freqüentadores. Desgraça-damente, a exagerada tolerância dos líderes espíritas temcontribuído para que indivíduos desprovidos do necessáriopreparo moral e do indispensável lastro cultural, se arvo-rem em dirigentes de organizações, cujo progresso, como éevidente, depende, sobretudo, da assistência de Espíritosmissionários, encarregados de propiciarem à humanidadeuma revelação mais ampla, e mais profunda, a respeito dodestino do homem. De tal modo que, não havendo, na ins-tituição, nem o clima moral indispensável, nem os apare-lhos mediúnicos adequados, os verdadeiros arquitetos daobra, os Espíritos protetores, acabam afastando-se, desen-cantados, do falso Centro Espírita. Como conseqüência,duas lastimáveis eventualidades podem ocorrer: ou a asso-ciação se fragmenta imediatamente, em virtude de deplorá-veis retaliações entre seus dirigentes, originando-se, dessadetestável divisão de forças, novos Centros Espíritas, que,marcados pelo malsinado dissídio, não poderão ter melhordestino, fadados como estão, por sua vez, a sucessivas de-fecções, até ao esfacelamento total, sob a instigação invisí-vel de temíveis inimigos da doutrina; ou, o infortunadoCentro Espírita, a despeito do afastamento dos Guias espi-rituais, conduzido pela obstinação interesseira de seus res-ponsáveis, prossegue seu acidentado roteiro, qual navio semleme em mar tormentoso, ludibriado por Espíritos atrasa-dos, quiçá zombeteiros, que, ocultos sob o nome de antigaspersonalidades terrenas de notória projeção social, passama interferir nos trabalhos mediúnicos, generalizando a mis-tificação e corrompendo os médiuns, com grave prejuízomoral para a doutrina, embora, em sã consciência, não se

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lhe possa incriminar pelo procedimento de criaturas que aignoram completamente, ou que nunca quiseram pautar suavida pelas normas morais por ela estabelecidas.

Na verdade, podem ser médiuns; espíritas, não. Porque épreciso não confundir - médium: indivíduo dotado de fa-culdades supranormais, com espírita: adepto da FilosofiaEspírita, ou, como prefere Allan Kardec - da Filosofia dosEspíritos.

Não é, entretanto, sem uma nota de melancolia que so-mos obrigados a reconhecer que esse descalabro poderiaser evitado, se todos os dirigentes de instituições espíritastivessem capacidade para fazer, de cada centro, uma “esco-la de iniciação”, de tal forma que o corpo mediúnico fosserigorosamente selecionado, não apenas pelo valor extrínse-co do médium, isto é, pela variedade de faculdades supra-normais que apresenta, mas, sobretudo, por seu valor in-trínseco, ou seja, pelo padrão de seu caráter.

Porque a verdade é que, sem médiuns de grande sensibi-lidade mediúnica e de ilibada vida moral, não se pode con-tar com a cooperação dos verdadeiros Instrutores da huma-nidade, Espíritos superiores, compromissados no progres-so da revelação divina, pela difusão dos ensinamentos filo-sóficos do Espiritismo. Contar-se-á, quando muito, com oauxílio de Espíritos medianeiros, sequiosos de evolução echeios de boa vontade, mas desprovidos dos conhecimen-tos indispensáveis à orientação das verdadeiras instituiçõesespíritas.

Entretanto, a despeito da transcendente significação doproblema, essa questão tem sido, até hoje, deploravelmen-te descurada. Via de regra, os médiuns, mal ingressam numcentro, logo são convidados a desenvolverem suas facul-dades. E, se aceitam, vão sentar-se à mesa, como elos dumacorrente espiritual, ocupando o lugar dum “iniciado”, em-bora tudo ignorem da doutrina e da mediunidade, estando,ali, apenas, pela esperança de se livrarem de todos os malesque os afligem...

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Ora, é preciso não esquecer que, em tese, os médiunsque procuram os Centros Espíritas, são sofredores, quasesempre psiconeuróticos, que já tentaram, debalde, todos osrecursos da medicina. Desiludidos da arte médica, acabamaceitando o convite de alguém, que já se beneficiou com oEspiritismo. Vão, assim, à sessão, ansiosos por um lenitivoqualquer. É claro, portanto, que, se lá lhes dizem que seussofrimentos só desaparecerão quando eles “trabalharem”como médiuns, não se lhes pode recriminar a afoiteza comque se sentam à “mesa de desenvolvimento”, pois a culpada precipitação cabe, toda inteira, ao leviano dirigente dostrabalhos mediúnicos. Porque de duas, uma: ou a doença éorgânica e, neste caso, o médium não pode desenvolver suasfaculdades antes de equilibrar a saúde, pois, para o “desen-volvimento” é imprescindível o perfeito funcionamento doscentros nervosos ligados à mediunidade; ou a doença é deorigem espiritual, isto é, uma Espiritopatia, provocada pelaatuação telepática, durante a vigília, ou pela sugestão post-hipnótica, realizada durante o sono, por Espíritos atrasados,que assediam o médium, na ânsia de dominá-lo, com finsescusos; hipótese em que o perispírito do médium está seri-amente afetado, pela perda de fluidos a ele inerentes e pelocontágio com fluidos prejudiciais, transmitidos pelas enti-dades que o fazem sofrer, motivo por que não pode desen-volver suas faculdades mediúnicas, sem amparar, primeira-mente, pela oração e pela doutrinação, os Espíritos que operturbam, a menos que queira arriscar-se a ter como “de-senvolvedor” um dos Espíritos que já o estão prejudicandoa ponto de afetar-lhe a saúde! É por ignorar tais coisas quemuitos médiuns, além do estranho mal-estar que sentem na“corrente de desenvolvimento”, vêem seu estado de saúdeagravar-se, em vez de melhorar, depois que foram conside-rados “prontos” por presidentes ineptos, que, por mera vai-dade, arrostaram a gravíssima responsabilidade de dirigirsessão espírita!

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Na verdade, as relações entre os médiuns e os Guias es-pirituais são regidas por uma lei de justiça absoluta - cadamédium tem o Protetor que merece, computando-se osméritos não só da atual, como das passadas encarnações -tudo de acordo com o carma individual. Donde se concluique, para ter boa proteção, é indispensável que o médiumse corrija e se integre nos deveres espirituais. Para isso, an-tes de pensar em desenvolver suas faculdades, pondo-as aserviço do Mundo Espiritual, é mister que estude criterio-samente a doutrina, até compreendê-la e senti-la no cora-ção, para praticá-la religiosamente, testemunhando-a emtodas as oportunidades, sem transigir, jamais, com o pre-conceito; e sem misturá-la com os dogmas, os rituais ou ossacramentos doutras seitas, já que o Espiritismo é uma filo-sofia religiosa que se basta a si mesma, dispensando o adju-tório de sibilinas especulações teológicas.

Mais do que se possa imaginar, sei quanto é difícil a orga-nização de um grupo de médiuns. Há vários anos luto, comos maiores sacrifícios, para formar um corpo de médiuns,com os predicados que reputo imprescindíveis. O que con-segui, quase nada é, em relação ao esforço empreendido.De toda forma, porém, prefiro poucos - bons, do que mui-tos - mentirosos e mistificadores. Por isso mesmo, a SEPEsempre lutou com as maiores dificuldades materiais. E omotivo é simples. Lá, nós não vendemos ilusões. Não pro-metemos “arranjar a vida” de ninguém. Não enganamos commentirosas “limpezas psíquicas” dos lares desajustados, nem“descarregamos” o azar de quem quer que seja. E é exata-mente para isso que muita gente vai ao Espiritismo, con-fundindo os Mensageiros de Deus, com vis lacaios, prontosa satisfazerem os interesses materiais de uns e as paixões evícios de outros...

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Infelizmente, para muita gente a finalidade do Espiritis-mo é “tirar o azar” e “melhorar a vida”. Por isso mesmo, àssextas-feiras vão em busca de sorte nos centros e, aos do-mingos, à Igreja, pedir perdão a Deus!

Entretanto, se há doutrina de regeneração moral e de es-piritualização, essa é o Espiritismo. Assim sendo, para quea situação melhore, para que o azar desapareça, o que épreciso não é fazer “trabalho” ou “despacho”: é que haja acorreção das faltas da vítima da provação, a fim de merecerque as provas se lhe tornem cada vez mais amenas. De fato,compreendendo, sentindo e praticando o Espiritismo, to-dos os sofrimentos vão-se tornando suaves, todas as prova-ções vão sendo abreviadas, de vez que a razão do sofrimen-to é, sempre, expungir o homem de suas imperfeições. Ecom efeito, somente pela compreensão da doutrina e con-seqüente retificação do comportamento, muitas criaturastêm sido beneficiadas, inclusive, libertando-se de vícios,como o de fumar, o de beber e o de jogar; muitos lares têmsido reajustados e muitas dores têm sido aplacadas, em nossaSEPE. Por isso mesmo, apesar de tudo, estou convencidode que, mais do que nunca, é dever de todo espírita sincerolutar em prol da elevação do nível cultural e doutrináriodos dirigentes de grupos mediúnicos e pela formação inici-ática dos médiuns. Só assim, obteremos constantes mensa-gens autênticas. Fora disso, o que haverá é a mistificaçãogeneralizada, voluntária ou involuntária, mas, de qualquerforma, muito prejudicial à reputação da Doutrina Espírita,que já é tão injustamente combatida e que não merece seracoimada pela negligência daqueles que têm o dever dedefendê-la custe o que custar!

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Em prosseguimento ao tema focalizado na derradeira pa- lestra, vou reprisar em problemas que reputo de suma

importância para o futuro do Espiritismo. E, em se tratan-do de assunto que diz respeito particularmente aos médiunse aos dirigentes de instituições espíritas, dou liberdade, desdejá, aos demais radiouvintes para se livrarem da maçada,desligando, sem constrangimento, os receptores.

E, agora, meus caros confrades, reunidos em família, per-miti vos fale francamente, como é de meu feitio.

Como não podeis ignorar, a Doutrina Espírita não seoriginou de nenhum desses livros, considerados de origemdivina, que, a despeito dos erros crassos que contêm ser-vem de inspiração às diversas religiões atualmente pratica-das: proveio, ao contrário, do ensino coletivo dos Espíri-tos, transmitido através de centenas de médiuns, perten-centes às mais diversas nações e às mais diferentes cren-ças.

Explicando, racionalmente, os milagres registrados noslivros sagrados de todos os povos, confirmando integral-mente a moral cristã e reforçando a posição de Jesus comoa do maior Mestre até hoje encarnado neste planeta, a Filo-sofia Espírita sobrepuja a todas as outras revelações divi-nas, não só pela grandiosa concepção que nos dá a respeitodo Criador do Universo e do homem, como, sobretudo, pelofato de ter promanado totalmente do Mundo Espiritual,

PELO PROGRESSO DO ESPIRITISMO I

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trazida por Mensageiros do Além, que lá estão vivendo esentindo em si próprios a aplicação das sábias leis moraisque governam o destino humano, esteja o Espírito proviso-riamente encarnado, na Terra, ou, desprovido de corpo ma-terial, no espaço. Entre o valor de seu testemunho, diaria-mente a jorrar sobre a humanidade em catadupas de luz, e asignificação das mensagens esparsas transmitidas, em tem-pos remotos, por veneráveis profetas e, posteriormente, tra-duzidas e interpretadas ao sabor dos interesses e dos pre-conceitos da época, vai, na verdade, grande distância. Dis-tância tão grande quanto a que iria, por exemplo, entre ovalor da opinião duma dúzia, ou, mesmo, duma centena deturistas, que, ocasionalmente, em apressadas excursões, nosséculos passados, houvessem obtido permissão para con-templar, furtivamente, algumas paisagens maravilhosas, numpaís misterioso, interdito aos estrangeiros, e o peso do tes-temunho pessoal de centenas e centenas de habitantes des-sa enigmática nação, que, agora, em nossos dias, em virtu-de do progresso dos meios de comunicação, nos viessemtrazer, voluntariamente, todos os dados relativos às condi-ções de vida na referida região!

Mutatis mutandis, o comportamento dum Sociólogo, que,para a conceituação dos fenômenos sociais ocorridos emtal país, preferisse, ao testemunho vivo dos atuais habitan-tes, a duvidosa opinião de esporádicos excursionistas, co-lhida de vetustas tradições populares e preservada na letrade velhos anais, não seria tão absurdo, talvez, quanto o pro-cedimento dos teólogos, que, agarrados aos textos de ve-lhos alfarrábios inspirados nas visões místicas dos antigosprofetas, tapam os olhos e os ouvidos às formosas lições,que, presentemente, nos vêm ministrar, por intermédio decentenas de médiuns, os próprios habitantes do MundoEspiritual, aqueles que, melhor que ninguém, nos podeminformar sobre a vida espiritual e o destino que nos aguar-da, guiando nossos passos para futuro mais venturoso!

Mas, exatamente porque nós, espíritas, temos a certeza

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do incomensurável valor da doutrina, não só pela amplitu-de que deu à revelação divina, como pelo efeito propulsorque exerce sobre o progresso espiritual do homem, confor-tando-o no sofrimento e impelindo-o, sempre, para o aper-feiçoamento moral, exatamente por isso, meus irmãos, te-mos o dever de contribuir, com o máximo esforço, para que,cada vez mais, se torne constante e perfeita a torrente deconhecimentos extravasada através dos médiuns. Porque,se é inegável que, graças ao valor individual de alguns mé-diuns, os fatos espíritas estão solidamente estabelecidos e adoutrina inteiramente abroquelada contra as investidas dosadversários, não é menos verdade que, evolutivo como é, ofuturo do Espiritismo está dependendo, em grande parte,do aperfeiçoamento moral dos médiuns. Desejosos de am-pliar os conhecimentos doutrinários dos espíritas, deve ha-ver, no Além, muitos Instrutores. O que lhes falta, porém,é o aparelho adequado - o médium altamente espiritualiza-do e consagrado, acima de tudo, aos deveres da doutrina,como é o caso de Chico Xavier, ideal pelo qual me venhobatendo, na sociedade que dirijo. Porque, na verdade, mé-diuns para manifestações grosseiras, existem muitos - den-tro e fora do Espiritismo. Mas, médiuns para Espíritos dou-trinadores, muito poucos. E, para Espíritos cientistas, queeu saiba, nenhum, por enquanto!

Via de regra, as manifestações ou são de sofredores oude obsessores. Instrutores, mesmo, de verdade, poucos con-seguem transmitir suas mensagens, tão imperfeitos moral-mente são, ainda, os médiuns que encontram! Idêntica defi-ciência se nota, outrossim, no setor dos fenômenos físicos,aqueles que, por sua objetividade, comportam a aplicaçãode métodos científicos, provocando proselitismo entre ossábios. Dada a falta de preparação doutrinária, tão sobre-carregado de fluidos prejudiciais está, em geral, o perispíri-to do médium, que nenhum Espírito de certa elevação se

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aventuraria a absorver tais fluidos, para materializar-se.Materializar-se mesmo, materializa-se, quase sempre, umEspírito atrasado, cuja mentalidade, via de regra, está abai-xo do nível intelectual do médium - fato que chocou a talponto alguns homens de ciência, que, liminarmente, afas-taram a hipótese de ser o fantasma diante deles materializa-do um habitante do outro mundo, para admitirem que, mui-to ao contrário, a personalidade materializada era, apenas,a projeção, no espaço, duma emanação do organismo domédium, plasmada por misteriosas energias do subconsci-ente!

Na verdade, esses sábios não puderam compreender, porfalta de conhecimento doutrinário, que, à maneira do tea-tro de fantoches, por trás dos fantasmas momentaneamen-te materializados, trabalhou uma equipe de cientistas doAlém, que não entrou em cena por falta de médiuns ade-quados, mas que manobrou os cordéis para dar efêmeraencarnação a Espíritos cujo perispírito estava de acordo como perispírito do médium disponível na ocasião.

Todavia, quando os médiuns de materialização compre-enderem que, afinal, eles não são os tais, porque os fenô-menos que tanto assombro e entusiasmo despertam, nãosão provocados por eles, e sim, trabalho alheio, sabedoriados Espíritos, certamente se compenetrarão de sua insigni-ficância e procurarão corrigir-se, de acordo com a doutrina,para merecerem, futuramente, a materialização de Espíri-tos de elevada hierarquia espiritual. E, nesse dia, grandepasso terá dado o Espiritismo, consolidando seu prestígionos meios científicos, porquanto as Entidades materializa-das saberão discutir, com vantagem, com os sábios terre-nos, provando-lhes sua origem.

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Tudo isso é sabido e ressabido, bem sei, meus irmãos.Contudo, para que a doutrina não estacione é imprescindí-vel que médiuns, cada vez mais aperfeiçoados, sejam, cui-dadosamente preparados, por todas as Instituições Espíri-tas do mundo. E, para isso, o caminho é aquele que, emmensagem póstuma, Allan Kardec apontou aos espíritas doBrasil e que Bezerra de Menezes tentou estabelecer, em vida,na Federação Espírita - a escola de médiuns.

Com efeito, o espetáculo pouco edificante que, infeliz-mente, se observa, em certos locais, onde se imagina prati-car o Espiritismo, constitui alarmante sintoma da mais crassaignorância dos princípios basilares da doutrina! As mistifi-cações que aí se processam correm por conta da irresponsa-bilidade de médiuns que, desconhecendo a gravidade desua função, foram para a “mesa de desenvolvimento”, nãopara exaltarem a doutrina, dedicando-se a ela de corpo ealma, como deveriam proceder, se fossem verdadeiramenteespíritas, mas, ao contrário, desejando, apenas, se safaremdos sofrimentos que os levaram ao centro, para, depois decurados, voltarem as costas aos benfeitores!

E alguns há tão afoitos que pouco se demoram na mesa.Na ânsia de se tornarem médiuns a força, pavoneando-secom as faculdades que Deus lhes deu, não se conformamem esperar que tudo venha a seu tempo, à medida que formerecendo, por sua renovação moral, única maneira de ilu-minar seu perispírito, instrumento de ligação entre os doismundos - o material e o espiritual. Preferem, então, deser-tar e ingressar num terreiro, onde, dizem eles, os protetoressão mais fortes e as manifestações mais rápidas. Pudera!Todo segredo do desenvolvimento mediúnico reside, comosabeis, meus irmãos, na modificação do estado vibratóriodo perispírito, de modo a tornar o campo mediúnico facil-mente controlável pelos Mensageiros do bem, cujas vibra-ções perispirituais são incompatíveis com as dos médiuns

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faltosos. Ora, os protetores de certos terreiros são tão im-perfeitos, ou mais, do que a maioria dos médiuns. Assimsendo, dada a semelhança de estado vibratório do perispíri-to de ambos, o “protetor” e o “cavalo” não encontram ne-nhuma dificuldade de adaptação. Daí a facilidade da mani-festação, a presteza com que o “cavalo” fica “pronto”. Issonão significa, contudo, como erroneamente imaginam mui-tas pessoas, que o impropriamente chamado “espiritismode terreiro” seja mais forte do que o de mesa. Significa ape-nas, que, para certa espécie de protetores, desnecessário setorna maior aperfeiçoamento do médium.

Em suma: a maioria dos erros cometidos pelos médiunsprovém do desconhecimento de fatos elementares, que de-veriam ser, sistematicamente, ensinados, nas escolas demédiuns, antes que se permitisse o desenvolvimento damediunidade, porque o médium, antes de ser médium deveser espírita! E é nesse sentido que aqui deixo o meu apelo,aos médiuns e aos dirigentes de Centros Espíritas, em be-nefício do progresso do Espiritismo!

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PELO PROGRESSO DO ESPIRITISMO II

Quando se compara a profundeza da Filosofia Espírita com o mistifório da maioria das “mensagens do

Além”, publicadas nos países onde o Espiritismo se vemexpandindo, não se pode deixar de lamentar a displicênciacom que os líderes desse grandioso movimento de renova-ção espiritual têm encarado o futuro da Doutrina dos Espí-ritos, como a denominou Allan Kardec.

Na verdade, já deveria ter havido, no seio do Espiritis-mo, uma reação contra a abusiva liberdade com que, qual-quer indivíduo, independentemente de prévio preparo dou-trinário, se arvora em dirigente de um Centro Espírita, e,por falta de cultura, ou de integridade moral, se transformaem instrumento de retardamento, ou de desmoralização dadoutrina, como tem acontecido.

Nada de semelhante seria tolerado em qualquer religião.Mas como, por enquanto, não há legislação específica nessesentido e o funcionamento dos Centros Espíritas está su-bordinado a uma delegacia de costumes, órgão entendidono crime, mas incompetente em matéria de filosofia religio-sa, é claro que, para tal autoridade, desde que o pretenden-te não seja marginal, pode fundar um Centro Espírita, edirigi-lo, contanto que não fuja às normas dos bons costu-mes.

Todavia, para presidir os destinos duma instituição espí-rita, não basta não possuir maus costumes: é preciso ter

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outras credenciais, indispensáveis perante o Mundo Espiri-tual, que é quem, em última análise, dirige o movimentoespírita.

Infelizmente, contra tão necessária seleção, impera ain-da, no meio espírita, a esdrúxula conceituação de que, noEspiritismo, não existem mestres, porque Mestre só Jesus oé. Imagine-se se no Catolicismo ou no Protestantismo, am-bos filiados ao cristianismo, fosse assim. Que balbúrdia nãoseria! Quantos cismas não surgiriam diariamente! Não fora,pois, o esforço dos Mensageiros do Além, em face dessamentalidade, que equipara o douto ao semi-analfabeto e ovirtuoso ao interesseiro, a Doutrina Espírita já se teria esfa-celado, fragmentada em milhares de opiniões pessoais e di-luída nas mais estapafúrdias modalidades de cultos e de ri-tuais!

Não! Sem o mínimo menosprezo por Jesus, verdadeiroprecursor do Espiritismo, força é reconhecer que, sem oconcurso de pregadores cultos, e moralmente idôneos, aFilosofia Espírita jamais se imporá ao mundo civilizado!Basta atentar no fato de que, além de retificar muitos errosadmitidos por outras religiões, o Espiritismo revoluciona aCiência, sobretudo a Medicina e, particularmente, a Psi-quiatria. Logo, as teses que sua doutrina inspira não podemser debatidas por qualquer um. E, assim sendo, é justo quese arregimentem os líderes espíritas no sentido da criaçãoimediata de escola de doutrinadores, onde, por força de lei,deveriam ser preparados os candidatos à direção dos Cen-tros Espíritas, das escolas de médiuns e, até, das institui-ções assistenciais de cunho espírita - tudo em benefício doprestígio do Espiritismo.

Paralelamente a esta providência, os presidentes de ins-tituições espíritas deveriam estatuir a freqüência obrigató-ria à escola de médiuns para quantos se candidatassem aodesenvolvimento das faculdades mediúnicas, evitando-se,

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assim, que médiuns desequilibrados somática ou psiquica-mente, assumissem o compromisso de tarefas incompatí-veis com seu estado físico ou mental, como, desgraçada-mente, é fato de observação, em muitos locais que se di-zem espíritas!

Sei, de experiência própria, quanto é difícil disciplinar oambiente espírita, onde, por não querer aceitar a autorida-de dos Mestres, cada qual se julga professor, querendo en-sinar aos outros o que não sabe para si mesmo...

De experiência própria, sei, outrossim, quanto é custosoconvencer aos médiuns de que a mediunidade não é facul-dade mecânica, que se movimenta maquinalmente, quandoeles se sentam à volta da mesa; mas, ao contrário, é sintoni-zação espiritual, que se consuma à custa de morosa e árduaascenção espiritual, mediante a prévia destituição das im-perfeições morais e a sincera integração nos postuladosdoutrinários.

Rebatendo a argüição dos que afirmam que, a despeitode moralmente imperfeitos, médiuns há que dão autênticascomprovações de suas faculdades, devo ressalvar que, nocaso, o que se visa não é uma ou outra prova verdadeira,mas a autenticidade de todas as manifestações, de vez queé do equilíbrio espiritual do “grupo dos médiuns” que de-pende o futuro de cada Centro Espírita.

De fato, por mais prodigiosa que seja a mediunidade, seo médium é moralmente fraco, longe de ser um sustentácu-lo para a instituição a que pertence, pode tornar-se instru-mento de mistificação, de discórdia interna, e, até, de desa-gregação da obra que se propôs realizar!

Na verdade, há um ponto que não se deve esquecer: aimensa maioria dos médiuns só procura os Centros Espíri-tas porque, sofrendo muito, não encontrara lenitivo na Me-dicina. No fundo, porém, todos querem ver-se livres dasmazelas, para se escafederem enquanto antes, do local onde

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se beneficiaram. Não lhes move, pois, nenhum sentimentonobre, em relação às faculdades que possuem: desejam, egois-ticamente, seu bem-estar. Curados, não pensam, via de regra,nos que poderiam, também, curar. E se muitos permanecemnos centros, fazem-no constrangidos, com medo de se retira-rem e de serem castigados pelos “protetores” da instituição,que os amparou. Tudo errado e contrário a uma doutrina deamor e de perdão, como é a Filosofia Espírita. Mas, de qual-quer modo, médiuns dessa espécie não servem para o progres-so da doutrina. Para isso, é imprescindível que o médium sinta,no coração, o entusiasmo por sua missão, colocando, acima detudo, os sagrados interesses da doutrina. Caso contrário, deser-tará - ora por tibieza em face dos deveres; ora por vaidade,julgando-se, já, mestre e capaz de, por sua vez, dirigir umgrupo de médiuns! Nessas condições, por fraqueza de von-tade ou por fatuidade, tão cego está que nem repara na trai-ção que perpetra contra a instituição que o socorreu; e nempondera a responsabilidade duma defecção, que pode retar-dar o progresso do Espiritismo! E é assim, pela pusilanimi-dade de uns e a vaidade de outros, que muitos Centros Es-píritas acabam divididos e subdivididos em grupos, grupi-nhos e grupelhos, onde os médiums traidores, que repudi-aram a autoridade do Mestre que os amparou, transvesti-dos em mestres-mirins, disseminam os frutos de sua exe-crável felonia!

Em suma - contra tais descalabros, urge que se plasme amentalidade espírita noutros moldes, implantando-se a mís-tica de que os sacrossantos interesses do Espiritismo de-vem sobrepairar acima de tudo, até da própria vida do adepto,porque a Doutrina Espírita é, antes de tudo, um patrimôniodivino confiado à humanidade para a regeneração do mun-do e a elevação espiritual do homem, a fim de que a paz e afelicidade sejam, definitivamente, implantadas no planeta!

Que venham, pois, - enquanto antes - as escolas de dou-trinadores e as escolas de médiuns, pedras angulares para ograndioso edifício, que o Espiritismo construirá, para aventura da humanidade e para glória de Deus!

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Confrades há que, sem embargo da confiança, do entu- siasmo mesmo, que demonstram pelo Espiritismo,

continuam a comportar-se, em muitas situações, ao arrepiodos princípios doutrinários.

Na verdade, são espíritas pelo coração, que agradecidospelo amparo moral recebido, a si mesmo se dispensaram deempregar a razão na análise dos fatos. E é fora de dúvidaque, pela fé, podem conquistar certa evolução espiritual.Todavia, porque não estudaram a teoria, nem utilizaram oraciocínio em matéria de tamanha responsabilidade para eles,além de cometerem erros lastimáveis, causam escândalo econfusão, nos sectários doutras crenças, o que é lamentá-vel, de vez que dificulta o proselitismo.

Em palestras anteriores, já mostrei quanto é errado o es-pírita fazer promessa aos santos católicos, acender velas àsalmas e defumar o lar. Hoje, quero chamar a atenção paraum fato, aparentemente sem importância, mas que, no en-tanto, é de suma gravidade para o espírita, que o pratica.Refiro-me ao batismo. Bem sei que muitos confrades não oconsideram senão como um ato puramente social, sem qual-quer valor místico. Mas aí é que está o erro. Primeiro, por-que, praticado como exigência social, o batismo deixa deser um fato sem significação, para ser hipócrita transigênciacom descabido preconceito; e o espírita, para ser espírita,

ESCLARECENDO OS ESPÍRITAS

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não pode ser hipócrita, nem admitir qualquer preconceitosocial. E muito mais grave será a falta espiritual, se, portrás desse ato, considerado como meramente social, se ocul-tam interesses inconfessáveis, como é o caso dos que pro-curam para os filhos padrinhos ricos ou influentes, com ofito de tirarem proveito de fingida amizade. Porque, aí, oerro não foi, somente, a hipocrisia: foi a calculada barganhaduma amizade insincera pelos favores de um compadre in-gênuo - fato que, à luz da espiritualidade, é crime perfeita-mente caracterizado, que atenta contra a lei da fraternida-de.

Contudo, à parte o aspecto social com o qual esses con-frades querem disfarçar a hipocrisia ou a tibieza de convic-ções doutrinárias, o batismo tem, para os que o instituíram,e para os que nele crêem, transcendental significação: é,para certos cristãos, um sacramento, que tem o privilégiode apagar o pecado original e, segundo certos teólogos, deexpulsar o demônio e de transformar o batizando em filhode Deus!

Como se vê, o batizado, como sacramento, tem poderesque a Filosofia Espírita, a priori, nega. De fato, não só por-que seria clamorosa injustiça, como porque, admitindo a leidas vidas múltiplas, a Doutrina Espírita não pode aceitar ahipótese do pecado original, herança absurda de discutívelerro de lendário casal, que, afinal de contas, nada mais fezdo que aquilo que todo casal continua a fazer com o bene-plácito da própria Igreja; dessa mesma Igreja que valoriza ocasamento a ponto de considerá-lo um sacramento, e que,de acordo com o “crescei e multiplicai” aconselha os pais agerarem filhos!

Ora, aceitando, como não pode deixar de aceitar a reen-carnação, o espírita, ipso facto, não pode admitir o pecadooriginal, a menos que o conceba não no sentido teológico,mas como tara de imperfeições trazidas de anteriores exis-

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tências, no Espírito da criancinha que acaba de nascer. Mas,nesse caso, a tara deverá ser extinta mediante as lutas dareencarnação, pela diuturna depuração do Espírito reen-carnado - e não por um passe de mágica na pia batismal!

Da mesma forma, se, em virtude de crimes cometidosem vidas anteriores, o Espírito que acaba de reencarnar,veio assediado por Espíritos maléficos, inimigos de outro-ra, participantes do crime, de toda forma, essa má assistên-cia, não se afastará de repente, e sim, mais tarde, quando aelevação espiritual do antigo criminoso lhe permitir ampa-rar aqueles que, no passado, levou à desgraça.

De resto, para o espírita, convicto como deve ser de quetodas as criaturas humanas foram criadas por Deus - e cria-das exatamente iguais, como Espíritos inocentes e ignoran-tes, que, pelo próprio esforço e gozando de relativo arbí-trio, devem atingir, um dia, a perfeição e, com ela, a felici-dade definitiva, - para o espírita, repito, não tem sentidodizer que o batismo transforma o catecúmeno em filho deDeus, porque, na verdade, todos os Espíritos, estejam elesencarnados ou desencarnados, na Terra ou noutro planetaqualquer, são, desde a origem, filhos de Deus. Por conse-guinte, sob o aspecto teológico, o batismo não tem a menorsignificação para o espírita.

Todavia, pelo fato de não ter, para o espírita, maior signi-ficação, não se segue que o batizado, em si, não traga gra-ves prejuízos aos filhos dos espíritas. E isso é que é de fun-damental importância, até para o progresso da Doutrina Es-pírita. De fato, é dever de todo espírita zelar pelo futuro dahumanidade, transmitindo aos filhos não só as lições comoos exemplos do Espiritismo. Toda mistura de doutrina, todaconfusão de práticas, repercute, sempre, de modo altamen-te prejudicial nos jovens que principiam a absorver os ensi-namentos da Filosofia Espírita, fato explicável pelas leispsicológicas já formuladas. Mas o certo é que a mistura de

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religião não é prejudicial apenas na juventude - tambémnas primícias da vida pode influir, se se levou a criancinha ainvoluntário compromisso com Espíritos doutras seitas. Eé o que acontece no batismo quer seja ele praticado no Ca-tolicismo, no Protestantismo ou noutra qualquer religião,que tenha o batismo na conta de sacramento. De fato, du-rante o batismo, a criancinha recebe, no corpo espiritual ouperispírito, um fluido magnético, correspondente à religiãodo sacerdote que realiza a cerimônia; e mais - esse fluido étrazido, no momento, por um Mensageiro do Além, partidá-rio da religião oficiante, que se considera, daí em diante,paraninfo e protetor do batizando, responsabilizando-se,perante seus superiores, pela futura conversão do recém-batizado!

Diante disso, é de calcular-se o trabalho que, mais tarde,o pai espírita terá, para converter o filho, que inadvertida-mente batizou em religião antagônica à sua! E, desde já,posso asseverar que, se não tiver ascendência moral sobreo Espírito que paraninfou o compromisso do batizado, con-vertendo-o à Doutrina Espírita, jamais converterá o filho; eterá o dissabor de vê-lo encaminhado para doutrina dife-rente, ou, o que será pior, transviado para o materialismo erevoltado contra os antagonismos das religiões, fato queele não saberá, jamais, justificar, porque na realidade, nãoatentou na diversidade da evolução dos Espíritos encarna-dos na Terra. Em conclusão: nada justifica que os espíritasbatizem os filhos na Igreja Católica ou noutra qualquer. Nemno Espiritismo, onde o batizado seria uma aberração!

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FALANDO AOS PARA-ESPÍRITAS

O Espiritismo é muito freqüentado, mas pouco estuda- do. Pelo menos no Brasil assim é. De modo que mui-

tas criaturas, a despeito de freqüentarem, assiduamente, assessões espíritas, continuam a proceder contrariamente àdoutrina. Muitos até nem mudam de religião. Às sextas-fei-ras, vão ao centro, “para descarregar o azar”, e aos domin-gos assistem à missa, para pedir perdão a Deus pelo conta-to com o culto espírita! Esses, coitados, imaginam-se, qui-çá, religiosos liberais, livres de peias sectárias, e, não obs-tante, são espíritas superficiais, que não penetraram nemnos meandros da Doutrina Católica, nem na essência daFilosofia Espírita. Caso contrário, só pelo fato de admiti-rem, no intercâmbio com o mundo dos Espíritos, a mani-festação de autênticos benfeitores da humanidade, dispen-sados ficariam do comparecimento à missa, cuja significa-ção é a reconciliação do Criador com a criatura medianteum deicídio - hipótese absurda, que o Espiritismo jamaispoderia aceitar.

Contudo, o pior não é esse injustificável arrependimento,esse serôdio remorso dominical pelos benefícios porventu-ra colhidos no Centro Espírita. Isto prova, apenas, fraque-za de caráter ou tibieza de convicções, até certo ponto com-preensíveis, nos sofredores que ainda não encontraram o

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verdadeiro caminho que lhes traçou o destino. Mas é pro-vável que, se perseverarem, um dia, acharão, finalmente, areligião, que, consoante o grau de evolução espiritual emque se encontram, poderá conduzi-los ao mais rápido pro-gresso espiritual. O pior é que, muitas pessoas que freqüen-tam o Espiritismo fazem uma salgalhada danada, misturan-do, na prática, rituais do Catolicismo e dos “terreiros” doscultos africanos, que, mais ou menos deformados vicejamem nossa pátria. Por falta de maior esclarecimento, essesirmãos, que, com licença dos glotólogos, eu me permitodenominar para-espíritas, a despeito de se dizerem espíri-tas, continuam a render culto a imagens, conservando, emseus lares, os santos do Catolicismo, o que não é, propria-mente um mal, embora seja demonstração de incompreen-são da Doutrina Espírita. O pior é que muitos para-espíri-tas, isto é, irmãos que estão próximo de serem verdadeirosespíritas, faltando-lhes, apenas, melhores conhecimentosdoutrinários, ainda cometem um grave erro: fazem promes-sas ridículas aos santos. Ora, o santo quando é santo deverdade, é sempre, um irmão superior, um Mestre no Mun-do Espiritual e, na Terra, um protetor da humanidade. Comoocorre com Espírito iluminado, desprendido já das paixõese questiúnculas que movimentam os insignificantes habi-tantes deste planeta, a única promessa que, de fato, propor-ciona alegria a um santo é o compromisso moral, assumidopelo promitente, de que vai corrigir-se de seus defeitos, deseus vícios, em suma, de suas imperfeições. Só assim, po-derá obter a proteção do santo, isto é, do irmão superior,que, por suas virtudes, pode servir de intercessor, sem atentarcontra os princípios que governam a sapientíssima justiçadivina. Todavia, quando se conhece a Doutrina Espírita,sabe-se, de certeza certa, que melhor intercessor não há nempode haver, do que o Guia espiritual, o Mentor de cadacriatura, de vez que, perante o Criador, é ele o fiador do

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progresso espiritual de seu protegido. Ora, onerado comtamanha responsabilidade perante à espiritualidade, é justoque, em todos os casos, sobretudo naqueles que de algumaforma poderiam afetar o destino do homem, é o Guia espi-ritual, seu Mentor, que, em última instância, delibera sobrea conveniência ou não de atender ao pedido que originou apromessa. Logo, o espírita, ao invés de dirigir-se a outrosIrmãos superiores do Além, dirige-se diretamente ao seuMentor, que é o seu maior protetor. Mas a ele se dirige, nãopara prometer baboseiras, que para um Mentor espiritualnada representam, e sim para pedir socorro espiritual, istoé, paciência, humildade e, sobretudo, resignação na luta in-cruenta das provações redentoras, que a todas as criaturasafligem durante a encarnação terrena. Não é senão se me-lhorando, corrigindo-se e conquistando valores espirituais,que o homem pode suavizar suas provas, adquirindo essapreciosidade que se chama paz de espírito, apanágio de pou-cas criaturas terrenas, num mundo revolvido, ainda, pelafúria da ganância, pela sofreguidão de usufruir sensações epelos desvarios da luxúria - ganância, sensações e luxúriaque empolgam a imensa maioria dos terrícolas. Paz de espí-rito que é, por conseguinte, um corolário do esforço empre-endido no sentido da ascensão espiritual. Ascensão espiri-tual, que assegura a proteção de Mensageiros do amor deJesus. Proteção, que conforta na adversidade e inspira nasolução de complexos problemas materiais. Conforto e ins-piração que decorrem do mérito real de cada um, já que éda Lei que cada qual receba de acordo com suas obras, so-bretudo das obras realizadas em vidas anteriores. Não é,portando, tentando “comprar”, com vãs promessas, à justi-ça divina, nem tão pouco acendendo velas às almas ou de-fumando o lar, que se há de solucionar problemas moraisou econômicos, como imaginam, desgraçadamente, os pre-tensos espíritas, que no contato com o Espiritismo, não

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absorveram nem os princípios fundamentais da luminosaFilosofia Kardequiana. Velas acesas com intenção de alu-miar os caminhos de almas transviadas, seria rematada toli-ce, se não fora lamentável convite a Espíritos sofredores,em estado de intensa confusão mental, que atraídos pelopensamento de quem acende a vela e conturbados, ainda,pelas crendices que aceitaram na vida terrena, se instalamdentro de casa, lá permanecendo longo tempo, vários me-ses, talvez, num estado que é menos de oração do que defascinação, diante de débil luz, que jamais lhes poderia cla-rear o roteiro para Deus, pois a luz que nos conduz ao Cri-ador, é a luz com que, graças às nossas virtudes, ilumina-mos o nosso próprio Espírito.

De resto, querer afungentar Espíritos maléficos com de-fumador, seria ridícula pantomima, se não fosse perigosaoportunidade de dar a Espíritos atrasados, novas energiaspara redobrarem seus malefícios, piorando o ambiente, quese quis melhorar e agravando o problema que se pretendeusolucionar.

Não! Não é assim que se obtém proteção espiritual eamparo para a solução de problemas angustiantes, e muitomenos, tranqüilidade de consciência. É, ao contrário, lu-tando contra as próprias imperfeições, expungindo as ma-zelas da alma e trabalhando com amor pelo bem do próxi-mo, que se conquista a iluminação espiritual, aquela queatrai os Mensageiros do bem e encurta o caminho do pro-gresso na direção do Senhor do Universo - fonte da supre-ma felicidade!

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Escandalizam-se certos religiosos, que vivem fanatica- mente apegados à letra morta dos textos, quando ou-

vem o espírita interpretar, à luz da Filosofia Kardequiana,confusos e problemáticos ensinamentos bíblicos. Sobretu-do se o texto é atribuído a Jesus, o glorioso profeta galileu,prematuramente assassinado, antes que houvesse escrito,fielmente, tudo o que sabia, ou, pelo menos, atraído para ogrupo de seus discípulos, um elemento à altura da doutrinaque deveria transmitir às futuras gerações. Pois, nesse parti-cular, Jesus foi mais infeliz do que Sócrates, que, nada ten-do escrito, contou, não obstante, com o gênio de Platão,para legar à posteridade o pensamento do mestre ateniense.E a verdade é que, por mais que queiram jogar poeira nosolhos dos incautos, se Jesus, depois de morto, não continu-asse a trabalhar heroicamente na crosta terrena, aparecen-do aos discípulos videntes e, até, materializando-se total-mente, para convencer Tomé, com a execrável crucificaçãodo inocente, ficaria definitivamente encerrada a missão doglorioso Mestre, tão acovardados já estavam os seus segui-dores.

De toda forma, porém, há dois fatos que se não podemmenoscabar, quando se quer estudar a Doutrina de Jesus, o

O ESCÂNDALO É NECESSÁRIO

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primeiro é que ele, pessoalmente, nada escreveu; e, de tudoque pregou, só conhecemos o que nos participaram os au-tores dos diversos Evangelhos aparecidos posteriormente,dentre os quais a primitiva igreja, arbitrariamente, escolheuos quatro, que considerou canônicos, Evangelhos que, emmuitos pontos, discordavam entre si - diga-se de passagem.

O outro fato sobre o qual não se pode deixar de atentar éque Jesus, positivamente, não pregou tudo o que sabia, emvirtude da intolerância religiosa do Sinédrio, que, de acordocom o Deuteronômio, não admitia novas revelações, casti-gando com a morte os que ousassem infringir as leis deMoisés. E posto que, nos próprios Evangelhos incorpora-dos à Vulgata, haja fortes indícios de que Jesus, particular-mente, revelava aos discípulos mais dignos de confiança,certos ensinos que, publicamente, não poderia proferir semarriscar-se a ser lapidado, o fato é que tais ensinos não figu-ram em nenhum dos Evangelhos, nem mesmo nos trinta enove que a Igreja considerou, por conta própria, como apó-crifos! Ao contrário, em todos os documentos conhecidos,o pensamento de Jesus está, sempre, obscurecido pela pa-rábola, quando não deturpado por conceitos antagônicosao espírito de sua doutrina de amor universal.

Em face, pois, da obscuridade dos textos e dos contras-tes dos ensinos considerados como de Jesus, o espírita ado-ta o critério de analisar os textos bíblicos através do prismade sua doutrina, que, como é notório, não proveio, como asdemais, de revelação pessoal, confiada a determinado pro-feta, mas, ao contrário, foi transmitida a Kardec, e continuaa ser confirmada no mundo inteiro, por Espíritos missioná-rios, que, falando em nome de Deus, afirmam que vêm re-por, no devido lugar, a doutrina que Jesus não pôde esclare-cer, ampliando-a, de acordo com a mentalidade mais evo-luída da época atual. De modo que, sem estabelecer parale-lo entre Kardec e Jesus, já que entre eles medeiam dezeno-

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ve séculos de civilização, a verdade é que a Doutrina Espí-rita, embora mergulhando suas raízes no mais puro cristia-nismo, dilatou sobremaneira a revelação do glorioso Mestrede Nazaré, criando íntimos contatos entre os diversos sis-temas religiosos, e deixando prever, para futuro talvez nãomuito remoto, a unificação de todas as religiões no esque-ma filosófico do Espiritismo, decalcado como está, não emfiligranas de apologética, mas em fenômenos cientificamentecomprovados.

Seja como for, porém, o fato é que, seguro como está daautenticidade dos ensinos trazidos pelos Emissários de amor,que, vindos do Mundo Espiritual, forneceram a matéria pri-ma para a codificação kardequiana, o espírita não pode dei-xar de orientar-se, no estudo da Bíblia, pelas luzes que suafilosofia religiosa lhe oferece. Caso contrário, teria de refu-gar numerosos textos bíblicos, refugando, inclusive, diver-sas passagens evangélicas.

Haja vista o que figura no Cap. XVIII vers. 1 a 9, de Ma-teus, episódio um tanto truncado em Marcos e Lucas. Pas-sagem, como se vê, que leva a vantagem de figurar nos es-critos de três evangelistas.

Conforme sói acontecer entre condiscípulos, disputavamos aprendizes de Jesus sobre quem seria o maior no reinodo Céu, isto é, no Além. Querendo eliminar a emulação,que a vaidade já principiava a estimular entre os discípulos,Jesus adverte-os que, se não se tornarem como meninos,isto é, puros e sinceros como toda criança inocente, jamaisentrariam no reino do Céu. Creio que, até aí, todos estão deacordo. A menos que haja mesmo algum teólogo capaz desupor que Jesus pretendia o milagre biológico de metamor-fosear um adulto em criança. Todavia, prosseguindo naprédica, Jesus, depois de afirmar que o escândalo era ne-cessário, ou, melhor, inevitável, malsina o escandaloso, di-zendo que “melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço

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uma mó de azenha e que ele se atirasse ao fundo do mar!”Ora, isso, friamente dito, é, se me não falha a luz da razão,lamentável convite ao suicídio - o maior crime que umacriatura poderá praticar contra si mesma. Convite absoluta-mente contrário à Doutrina do Nazareno. Logo, o que res-sumbra aí, só poderá ser chocante imagem de oratória, paraamedrontar os causadores de escândalos, acerca dos sofri-mentos que os aguardam no Além. Continuando, porém, aestigmatizar os provocadores de escândulo, sentencia Je-sus: “Se a tua mão ou o teu pé é objeto de escândalos, cor-ta-o e lança-o fora, porque melhor será que entres na vidamaneta ou perneta do que seres lançado ao fogo eterno. Ese o teu olho te escandalizar, arranca-o e atira-o longe de ti,porque melhor te será entrar na vida com um só olho doque seres lançado ao fogo eterno.” Tirante este “fogo eter-no”, que deve ser uma das muitas interpolações com que osprimitivos pais da igreja, a pouco e pouco, foram ajeitandoaos seus desígnios os textos evangélicos, tudo diz que Je-sus, de fato, tenha proferido tais conselhos, de envolta comtão terríveis ameaças. E, interpretadas ao pé da letra, nãohá de negar que a prédica distoa berrantemente da própriarevelação trazida por Jesus, na qual se nos manifesta a pre-sença de um Deus todo amor e justiça, que implantou, comolei, a fraternidade, a caridade, o amor ao próximo e, por-tanto, a tolerância e o perdão. Tudo contrário, portanto, aotrágico código de automutilação, que transparece no textoevangélico. E, errada como é a humanidade, se a sentençafosse para valer, milhares de cristãos perambulariam por aísem mão, sem braço, sem olho e, muito provavelmente, semoutros órgãos, que, com maior facilidade, levam o homemao fracasso.

Compreendida assim, literalmente, a Doutrina de Jesusseria simplesmente horripilante! Examinada, no entanto, àluz dos ensinamentos espíritas, a lição de Jesus adquire uma

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feição sublime porque alia à justiça do Criador a bondadedo Pai. Basta projetar-se sobre a crueldade do texto evan-gélico a claridade da lei da reencarnação. Agora sim. Se, porum lado, o texto nos lembra de que a mão, pelos crimes quecomete, pelos documentos que falsifica, pelos livros por-nográficos que escreve e por tudo mais que possa difundir aação maléfica de um homem perverso, falsário ou deprava-do, é, de fato, instrumento de escândalo, e, por conseguin-te, objeto de perdição, por outro lado nos adverte de que,para evitar, noutras encarnações, a incidência nos mesmoserros, Deus nos priva dos órgãos que propiciaram a realiza-ção dos crimes. Daí os aleijões de nascença. E quantos Es-píritos há que, de tanto cobiçarem, em sucessivas encarna-ções, e de tanto errarem, por conta dessa ambição ingênita,acabam privados, desde o nascimento, do órgão da visão -única maneira de não errarem, porque, não vendo, não de-sejam desbragadamente? E não é só a deformidade físicaque os erros reiterados podem originar, com finalidade cor-retiva: são, também, e principalmente, os sofrimentos mo-rais, enfrentados no Mundo Espiritual, após a desencarna-ção, esses bem piores do que as mutilações de nascença. E,exatamente porque são piores, é que Jesus, conhecendo-os,afirmava que melhor seria arrancar o olho do que continuarvendo, e perder o Espírito, pelas tentações que o olho pro-porciona ao ganancioso, ao guloso, ao libidinoso, etc. etc.

Em suma, examinado à luz da Doutrina Espírita, o nebu-loso ensinamento parabólico anotado pelos evangelistastransmuta-se em fonte viva de amor e de verdade; e Jesusassume proporções assombrosas, figurando entre os maio-res, senão o maior Instrutor da humanidade, que, até hoje,encarnou neste humilde planeta que habitamos. Portanto,se quiserem compreender Jesus - e, se não o compreende-rem, jamais o poderão amar - estudem, meus irmãos, a Fi-

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losofia Espírita e vejam como sua luz espanca as trevas denumerosos textos evangélicos e abre sendas ao Espíritohumano!

Atendendo ao pedido, vou responder as objeções que lhe faz uma parenta rica contra suas convicções espí-

ritas. Isso porque as dúvidas da milionária são razoáveis.Eu próprio, se não houvesse encontrado, no Espiritismo, aexplicação lógica para certos mistérios ligados ao destinohumano, estaria, até hoje, num estado de espírito parecidocom o da ricaça - duvidando de que uma lei de causalidademoral regesse os caminhos das criaturas terrenas. Por issomesmo, de antemão, como espírita, perdôo a acrimônia comque a parenta rica procura humilhar a crença da missivista,que é, também, a minha crença. Dada esta prévia explica-ção, entro agora no assunto da carta, respondendo, sumari-amente, consoante o permite a angústia desses minutos deque disponho.

Não acredita a milionária na existência dos Espíritos; epergunta à parenta pobre como pode ser, se a população domundo aumenta cada vez mais? Respondendo, pela bon-dosa confreira que confiou no meu fraco saber, devo escla-recer à feliz argentária que, no estado atual das investiga-ções científicas realizadas no domínio da fenomenologiaespírita, a existência dos Espíritos não é mais problema es-peculativo; é fato provado. Contudo, por uma concessão à

DÚVIDAS DUMA MILIONÁRIA...

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cegueira mental dos que ignoram as pesquisas realizadas nodomínio do Espiritismo, dou de barato que a prova nãohouvesse sido feita. E daí? Qual a dificuldade que se pode-ria opor ao Criador do Universo para criar incessantementenovos Espíritos? Pois o homem, inconscientemente, movi-do, apenas, pelo prazer sexual não “cria”, a cada passo,novos seres? E, porventura, as leis biológicas, e, dentre elas,as que dirigem a embriogênese, a formação do corpo fetal,não refletem a sabedoria do Criador? Ou, acaso, haverá al-guém tão ingênuo que, à maneira de certos materialistasempedernidos, acredita que a organização do corpo huma-no seja obra exclusiva da natureza, como dizem aquelesque, para negar o Criador, divinizam a criação? Não. A na-tureza em si nada mais é do que a manifestação do pensa-mento divino no domínio das forças cósmicas. E se, no se-tor material, onde predominam as leis físico-químicas, no-vos corpos se formam, a cada momento, por que negar aoCriador o poder de criar novos Espíritos? Será que o Uni-verso é tão pequeno que não comporte tal criação? Ouserá que o espaço ocupado pelos Espíritos, que sobrevive-ram, desde que a Terra se tornou habitável, já está tão re-pleto que não caibam outros mais? Que representa, na ver-dade, este aumento da população de nosso Globo, diantedas dimensões do Universo e do mínimo espaço ocupadopelo Espírito desencarnado? Nada. E é, até, ridículo negara existência dos Espíritos pelo fato de não se saber ondecolocar, em face do crescente aumento da população destemundo, tantos Espíritos, que, diariamente, são libertadosatravés das portas da morte! E mais ridículo ainda é quererforçar o Criador a permanecer inativo, em férias, depois dasprimeiras criações... De toda forma, porém, é preciso aten-tar no fato de que este mundozinho minúsculo que nós ha-bitamos, presentemente é, apenas, um ponto infinitesimal

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perdido na incomensurável vastidão do Universo! Maisalém, muitos outros mundos existem, maiores e melhores,onde evolui um número incalculável de Espíritos, nossosirmãos, dentre os quais alguns já habitaram e outros aindahabitarão a Terra, ou um planeta semelhante; pois não só aTerra como todos os mundos nada mais são do que “esco-las” destinadas à eterna evolução do Espírito eterno!

Que a parenta rica de minha ouvinte pobre não se as-sombre, pois, com o número de Espíritos necessários à cons-tante multiplicação das criaturas humanas em nosso plane-ta; porque, apesar de tudo, sobrou um Espírito para animarseu corpo carnal, e, depois que os vermes o devorarem,ainda encontrará, do lado de lá, muito espaço para o seuverdadeiro eu - esse mesmo Espírito imortal, que irá darcontas dos atos aqui praticados; e que terá muito tempopara compreender aquilo que hoje se lhe afigura tão absur-do - a permanente atividade criadora do supremo Criadordo Universo e a constante renovação dos Espíritos que ha-bitam a Terra, uns, provenientes de planos inferiores, ou-tros, de planos superiores e a maioria, originária de nossopróprio plano, onde reingressa pela lei da reencarnação, etodos, sem exceção alguma, em busca de novos valores paraseus Espíritos carecentes de progresso...

Outro motivo de perplexidade para a parenta rica de mi-nha missivista pobre é que para o Espiritismo só se encami-nham os pobres, nunca se vendo os milionários nas casasespíritas, dando assim a entender que a crença no Espiritis-mo é um derivativo para criaturas torturadas pela miséria,sendo inteiramente dispensável aos que se julgam donos dopróprio destino.

Posto que, ao contrário do que imagina a apatacada ad-versária, o Espiritismo não seja, exclusivamente, um cam-po para os miseráveis, mas, acima de tudo, um farol para osque têm sede de verdade e buscam o caminho da ilumina-

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ção espiritual, é sabido que as criaturas terrenas, presunço-sas como são, só se humilham perante o Criador, no mo-mento em que as massacra o sofrimento. Não foi por palpi-te, pois, que grande instrutor da humanidade, muito co-nhecido de nome e pouco imitado até hoje, em sua últimaencarnação terrena, nos legou o Sermão das bem-aventu-ranças, onde bem claro está: “Bem-aventurados os que cho-ram, porque serão consolados; bem-aventurados os que têmfome e sede de justiça, porque serão saciados...” Tambémnão foi por leviandade que o iluminado Rabi da Galiléiarematou sua imortal prédica com a terrível advertência: “Aide vós que sois ricos, porque já recebestes a vossa consola-ção! Ai de vós que rides agora, pois que lamentareis e cho-rareis!...” É evidente que, bom como era, a ponto de con-sagrar-se inteiramente à sua prodigiosa mediunidade cura-dora, e viver para mitigar os sofrimentos alheios, sem aufe-rir, com isso, o mínimo provento material, praticando o bempelo amor ao bem, e, ao mesmo passo, revelando nova con-ceituação acerca do Criador, mostrando-O não como umDeus privativo do povo de Israel, “Senhor dos exércitos” eprotetor parcial duma nação privilegiada, mas, ao contrá-rio, como um Deus Universal, Pai de todos, Jesus, que as-sim procedia, e assim ensinava, não poderia louvar o sofri-mento e malsinar a riqueza se, no comportamento das cria-turas, não vislumbrasse, acima de tudo, as conseqüênciasmorais sofridas numa vida maior - a vida espiritual!

De feito, com louvar o sofrimento, não mais fazia Jesusdo que proclamar o valor corretivo que as provações exer-cem na retificação dos erros e nas ratificações das virtudes- virtudes e erros que, independentemente da forma de reli-gião, darão ao Espírito desencarnado a justa situação emque se encontrará. E, como a vida espiritual é a verdadeiravida, não só porque mais intensa e mais ligada à consciên-cia moral, como porque mais duradoura, natural se torna

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que se louve o choro, quando é ele, que, qual remédio amar-go, nos expurga do Espírito as mazelas que nos poderiamjungir a planos infernais, de cruciantes tormentos depura-dores, mal a morte nos surpreendesse! Por outro ao expro-brar a riqueza, não fê-lo Jesus por despeito, ele que forafilho dum pobre carpinteiro, mas, porque, como Espírito degloriosa evolução, profundo conhecedor da psicologia hu-mana, e, sobretudo, como autêntico iniciado que fora, sa-bia de ciência certa, quanto a fortuna pode contribuir parao fracasso espiritual do homem!

Na verdade, poucas criaturas existem ainda hoje, na Ter-ra, que podem manipular o dinheiro sem chafurdar-se noatascal das mais sórdidas maquinações. A maioria, iludidapelo poder social que o ouro lhe dá, além de massacrar oarbítrio de seus semelhantes; além de corromper caracterespusilânimes; além de esparramar a desgraça e a corrupçãoem muitos lares modestos; além de desonrar moças inexpe-rientes; além disso tudo, ainda se torna atrabiliária, prepo-tente, orgulhosa, egoísta, sibarita, gozadora, descaridosa,indiferente à dor alheia, vivendo para si, e, sobretudo, vi-vendo da e para a satisfação dos sentidos corporais!

Ora, a Doutrina Espírita ensina que o dinheiro, comotodo bem que é dado ao homem, não constitui, de fato,uma propriedade de quem o retém em mãos, mas, tão-so-mente, um empréstimo concedido por Deus ao Espíritoencarnado, a fim de que ele o mobilize em proveito próprio,não só no que toca ao conforto material, mas, sobretudo,no que diz respeito ao seu progresso espiritual, mediante acultura intelectual, quando for o caso, e, sempre, através doamparo material e moral que venha a dispensar a seus se-melhantes, quer estejam eles dentro da família, quer per-maneçam ligados apenas ao campo de suas atividades. En-sina, pois, que o dinheiro não é para ser esbanjado egoisti-

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camente, para regalo próprio e dos seres amados, mas tam-bém utilizado em proveito dos irmãos associados à sua vida,seja como domésticos, seja como empregados, seja comoparentes necessitados...

Não manda - é claro - a Doutrina Espírita que todo ricoproceda como aquele rico invejoso, que, despeitado com aprodigiosa mediunidade de Jesus, foi ao encontro do Mes-tre com o secreto intuito de propor-lhe a compra, a peso deouro, do segredo de sua mágica, que tantas curas fazia, eque, desmascarado diante da percepção extra-sensorial doRabi, foi convidado, propositadamente, a fazer aquilo queele, rico usuário, jamais faria, ainda que fosse para ser discí-pulo e para possuir o dom de curar: destituir-se de todos osbens materiais, dividindo a fortuna com seus fâmulos, e,pobre como o filho do carpinteiro, palmilhar as estradas daPalestina esparzindo, a mancheias, não as espórtulas dumcofre abarrotado, mas uma riqueza muito mais valiosa, por-que inesgotável e eterna, a riqueza da mediunidade curado-ra e da fraternidade - riqueza que conforta, regenera, con-verte e conquista o coração amargurado e revoltado dosdesgraçados que ainda não encontraram Deus!

Não exige - é evidente - a Doutrina Espírita que o rico sefaça miserável para ser verdadeiro espírita, mas mostra atremenda responsabilidade do manuseio da fortuna e coíbeo abusivo emprego do poder econômico em detrimento deseus semelhantes. E isso, via de regra, é contrário à concei-tuação que os ricos fazem de seus bens; e, sobretudo, é muitocontrário ao uso inconfessável que muitos ricaços costu-mam fazer do dinheiro que herdaram ou que acumularamsabe Deus de que maneira. Por isso é que, por enquanto,ainda são raríssimos os milionários desapegados dos bensterrenos, conforme observou a parenta rica da ouvinte po-bre que me escreveu. Dia virá, porém, talvez poucos anosdepois da hecatombe atômica que se aproxima, em que osmilionários da Terra também saberão valorizar o Espiritis-

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mo! Atualmente, força é reconhecer que o Espiritismo des-tina-se precipuamente aos Espíritos desencarnados que ain-da perambulam neste planeta, e, quiçá, a alguns habitantesda Terra que têm sede e fome de justiça e de verdade!

Na época em que residi nas proximidades da basílica de Nossa Senhora Auxiliadora, em Santa Rosa, tive opor-

tunidade de ouvir, em prédica irradiada para rua, um con-ceito muito honroso para os adeptos do Espiritismo. Refe-ria-se o ardoroso orador sacro ao fato de certa senhora o terprocurado, para ministrar a extrema-unção a um parenteprestes a desencarnar. Supondo, pelo nome, que se tratassede conhecido espírita, inflamou-se o sacerdote em santarevolta contra o moribundo, interpelando a lacrimosa beatase, acaso, não se tratava do réprobo espírita. Assombrada,persignando-se talvez, a zelosa temente a Deus, protestouque não, esclarecendo o iracundo padre sobre a confusãodo nome, ou melhor - do sobrenome do agonizante. Satis-feito o piedoso zelo do prelado, o orador em patética após-trofe, reproduzira o que, em resposta à solícita católica, lhehavia dito: “Ainda bem, minha senhora, porque se fora oespírita, eu lá não iria; pois saiba a senhora que os espíritasnão se convertem; são irremovíveis em suas convicções; jáfizeram, em vida, um pacto com Satanás!’’

Na verdade, meus caros ouvintes, por trás do vitupério,oculta-se a grande verdade. O pacto com Satanás foi in-venção do padre, mas que os verdadeiros espíritas jamaispoderiam converter-se ao Catolicismo isso é certíssimo! Digo

POR QUE A CONVICÇÃO DOS ESPÍRITAS

É IRREMOVÍVEL

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mais - da boca de um padre nunca se poderia esperar maiorelogio do que esse - que os espíritas não se convertem, por-que, neles, a convicção é inabalável!

Todavia, com ser inabalável, não se segue que provenhado fanatismo, da ignorância! Muito ao contrário, a fé doespírita repousa sobre um bloco indestrutível de fatos rigo-rosamente comprovados. E comprovados não, apenas, pe-los crentes, mas por muitos homens de ciência, quase todosdominados por profundo ceticismo, senão por verdadeirarevolta contra a hipótese da comunicabilidade dos Espíri-tos. Contudo, a força comprobatória dos fenômenos é detal monta que grande número de cientistas, de adversáriosque eram antes de investigarem, adeptos se tornam depoisque pessoalmente verificaram a realidade das manifestaçõesdos habitantes do Além! E, na verdade, mais do que a auto-ridade da Bíblia, pesa, na consolidação dos postulados filo-sóficos da Doutrina Espírita, o ensino direto trazido à Ter-ra pelos Espíritos missionários, encarregados da ampliaçãoda divina revelação. E a prova é que sempre que os textosdas chamadas “sagradas escrituras” não condizem, com osfatos comprovados experimentalmente, prevalece o ensinotransmitido pelos Instrutores do Além. Como se infere, oespírita, ao invés de permanecer hipnotizado à letra mortade problemáticos textos bíblicos, vai diretamente à fonteda verdade, recebendo do Mundo Espiritual o produto daexperiência daqueles que lá estão vivendo; e que, por con-seguinte, melhor do que os que aqui ficam a especular acer-ca do “outro mundo”, sabem, de ciência própria, as leis quenos regem os destinos, podendo, portanto, orientar-nos commaior segurança sobre o futuro que nos aguarda. De fato,entremostrando-nos o comportamento que tiveram na exis-tência terrena, e relatando-nos as conseqüências que lhesadvieram, os Mensageiros do Além, dão-nos uma idéia muito

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justa do que nos aguarda, quando, como eles, chegarmosdo lado de lá. E como, além de Espíritos elevados, identifi-cados pelo teor moral de seus ensinamentos, também secomunicam Espíritos inferiores, nos mais díspares níveisde evolução, caracterizados pela grosseria de suas mensa-gens, dos depoimentos de tantos habitantes do Além, cadaqual opinando de acordo com o grau de sua perfeição, podeo Espiritismo fazer um levantamento fiel das relações mo-rais que unem os dois planos de vida - o nosso e o deles.Nessas condições, sobre ter a certeza de sua imortalidadepessoal, o espírita conhece suficientemente as sábias leisde justiça, que presidem aos destinos humanos, para poderdispensar no momento da desencarnação, os sacramentos,que a outros se lhes afiguram indispensáveis à conquista docéu...

Justificada a inconvertibilidade dos espíritas às outrasdoutrinas religiosas, vejamos agora, de relance, um instan-tâneo do colossal arquivo das investigações científicas járegistradas na literatura espírita. Por falta de tempo, cingir-me-ei à obra dum único cientista - a Física Transcendental deZöellner, professor da Universidade de Leipzig, - e, dentrodessa obra, limitar-me-ei a um só capítulo, àquele que oautor denomina de Uma experiência para os céticos. Pena éque vos não possa descrever experiências contidas noutroscapítulos, cada qual mais sensacional. Todavia, os poucosminutos de que disponho assim me obrigam a proceder. Semembargo, se fordes imparciais, haveis de ver, na insignifi-cância que vos vou mostrar, a prova cabal da manifestaçãodos habitantes do Além, dotados duma ciência mais perfei-ta e movidos pelo intuito de dar ao planeta conhecimentosmais verdadeiros no que tange às coisas de Deus.

Com efeito, tendo como médium o médico norte-ameri-cano Dr. Slade, o prof. Zöellner, que já havia obtido inú-

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meras provas da chamada “passagem da matéria através damatéria” e da “escrita direta”, idealizou uma experiênciaque pudesse convencer também aos que não houvessemestado presentes à sessão. Depois de ouvir a opinião doprof. Wach, criminologista conceituado, Zöellner chegou àconvicção de que se, ao invés de fechar simplesmente alousa dupla que costumava usar, a lacrasse depois de fe-chada. Fechada, nenhuma escrita fraudulenta poderia serefetuada nas superfícies internas. Seguro disso, o cientistaalemão comprou várias lousas duplas, dotadas de dobradi-ças, que se fechavam à maneira dos livros; depois, esco-lhendo uma, colocou dentro uma ponta do lápis apropria-do, fechou-a cuidadosamente, girando a dobradiça, e, sobreas molduras, por precaução, colou tiras de papel e, por cima,lacrou-as, pedindo, em seguida, ao prof. Wach que apuses-se seu sinete. Nessas condições, só se poderia escrever nassuperfícies interiores, se se rompessem as tiras de papel,abrindo a lousa. Apesar de tudo, Zöellner conservou-a, as-sim preparada sob sua direta custódia, até o momento daexperiência, realizada, no mesmo dia, na casa de vonHoffmann, seu amigo íntimo. Presentes os três, Zöellner,von Hoffmann e Slade, todos sentados em volta de peque-na mesa, o médium insistiu para que também Zöellner im-primisse o seu sinete na lousa; o que foi feito.

Nesse ínterim, ocorre ao cientista alemão perguntar aSlade se ele porventura já obtivera a “escrita direta” nopapel, em substituição à lousa. Respondendo negativamen-te, o médium quis, contudo, tentar. Incontinenti, Zöellnertomou uma folha de papel, dobrou-a ao meio e, entre asduas metades, colocou uma ponta de lápis. Nessa altura, omédium intervém e pede ao sábio, que, para posterior com-provação, cortasse um pedaço de cada ponta de papel. Fei-ta a vontade, Zöellner depositou o papel dobrado sobre amesa e, acima dele, colocou uma lousa comum. Depois,

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todos repousaram as mãos em cima da mesa, ficando as deZöellner sobre as do médium. Como nada ocorresse duran-te vários minutos, Slade, como de hábito colocou uma pon-ta de grafite sobre uma lousa e, segurou-a debaixo da mesa,comprimindo-a de encontro ao móvel; e, em seguida, interro-gou mentalmente, seus Guias a respeito do aparente insu-cesso. A resposta dada em escrita materializada na superfí-cie interna da lousa foi a mais inesperada: “O papel, já es-crito, está dentro da lousa lacrada.’’ E, de fato, levantada aoutra lousa, o papel ali colocado pelo prof. Zöellner, lá nãoestava mais! No entanto, sacudida a lousa lacrada, ruídocaracterístico pareceu mostrar a presença do papel misteri-osamente desaparecido. Entretanto, como essa lousa deve-ria ser aberta em presença do prof. Wach, a verificação fi-cou para depois. Todavia, Wach não foi encontrado nessedia; e, no outro dia, na residência de von Hoffmann à horado almoço, inesperadamente, Slade entra em transe, incor-pora um Espírito e dita ao anfitrião o conteúdo exato dopapel. E, com efeito, horas mais tarde, rompidas as tiras depapel e retirados os lacres, na presença de Wach, vonHoffmann, Tiersch e Zöellner, encontrou-se, perfeitamen-te dobrado, o papel que havia sido posto debaixo doutralousa, sobre a mesa, tudo sob as vistas do conhecido inves-tigador alemão! Retirando então do bolso os pedaços corta-dos, Zöellner verificou a coincidência dos cortes! De modoque o papel fora transportado, penetrando no interstícioduma lousa dupla, hermeticamente fechada e lacrada, o que,noutros termos, significa a passagem da matéria através damatéria, ou, o que é mais provável a desmaterialização e,em seguida a rematerialização do papel no interior da lousafechada; e, além desse prodígio, a prova da interferênciados Espíritos lá estava: na superfície interna do papel do-brado, três frases em línguas diferentes, todas desconheci-

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das pelo médium!Ora, em se tratando duma experiência, que, pelo valor

científico dos investigadores, afasta, in-limine, a hipótese defraude, resta-nos a certeza de que os fenômenos foram con-trolados por inteligências, poderosas, conhecedoras de leisque ainda escapam à Ciência. E como tais inteligências,sistematicamente, se identificam como antigos habitantesdeste mundo, desejosos, quase sempre, de auxiliarem o pro-gresso espiritual do homem, razão não há para repudiar-sea hipótese que está palpável e é aceita pelo Espiritismo,para atribuir os fatos à Satanás - estranho Satanás, aliás,porque, além de cientista, seria, outrossim poliglota e mo-ralista!... E mais do que moralista - cristão; pois os demôni-os, que se manifestam nos Centros Espíritas, ensinam queJesus é o Mestre e o Evangelho, o caminho!!!

Em conclusão: a convicção do espírita é inabalável por-que construída sobre fatos indestrutíveis, comprovados ri-gorosamente por homens de ciência; e o pacto do espíritanão é propriamente com Satanás, como afirmara o apaixo-nado teólogo, mas com os denodados Mensageiros do bem,que, na posição de emissários de Jesus, desejam impulsio-nar o progresso espiritual da humanidade de molde a tornaros homens mais fraternos, a vida mais suave e o mundomelhor!

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Oponto nevrálgico das doutrinas estribadas na comu- nicação com os Espíritos como o Espiritismo, é a

imperfeição dos médiuns. De fato, o Espiritismo dá-nos ad-mirável concepção do Universo. Revela-nos um Criador ver-dadeiramente sábio, justo e bom, cujas relações conosco seinspiram, sempre, no amor. Afasta de nós o pesadelo doInferno eterno. Esmaga, como uma afronta, a imaginária iradivina. Esfacela a absurda ameaça da vingança de Deus.Pulveriza a revoltante teoria da salvação pela graça. Ani-quila a invencionice da predestinação. Iguala todas as cria-turas perante o Criador. Afirma que todos foram criadosidênticos - partiram do mesmo ponto: a inocência e a igno-rância. Ignorância e inocência, que deverão ser superadaspelo esforço próprio, através de múltiplas vidas sucessivas,em planos cada vez mais aperfeiçoados. Ensina que todasas vidas de um mesmo Espírito, esteja ele encarnado oudesencarnado, estão indissoluvelmente ligadas entre si, comoelos duma cadeia, por uma lei de causalidade moral quegoverna seu destino.

O PONTO NEVRÁLGICO DO ESPIRITISMO

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Esclarece que o homem, no tempo e no espaço, é umproduto de si mesmo: a evolução espiritual, que demons-tra, e a posição social, que ocupa, são frutos de seu passa-do. Virtudes morais e dotes mentais são conquistas de vi-das anteriores. O próprio corpo carnal é retrato fiel do es-forço que o Espírito empreendeu, e das obras que praticou,no pretérito. Proclama que o homem é, em suma, o arquite-to de sua felicidade. Só dele depende progredir ou estacio-nar. Progredindo, colabora com as leis divinas e amplia, cadavez mais, sua felicidade; estacionando, dilata o período desofrimento, retardando seu acesso aos planos de ventura.O destino está em suas mãos - depende de sua vontade. Asleis de Deus são perfeitas e inderrocáveis. Obedecendo-as,o homem caminha para a perfeição e para a felicidade; trans-gredindo-as, agrava seu destino, sobrecarregando-o de do-res e de decepções - dores e decepções, que, mais cedo oumais tarde, o reconduzirão ao rumo da perfeição.

Dotado de relativo arbítrio, o homem, dentro de certoslimites, pode escolher a direção a tomar. Se acertar, seráfeliz; caso contrário, o sofrimento o advertirá. Mas, de todaforma, um dia, as leis divinas lhe mostrarão o verdadeirocaminho. Nunca estará, portanto, irremediavelmente perdi-do. Em qualquer tempo que se arrependa, novas oportuni-dades lhe serão concedidas pela misericórdia divina. Cria-do pelo amor de Deus, o Universo não comporta proscri-tos. Por mais rebelde e degradado que seja, o dotado davida eterna, sempre encontrará a salvação. Acrisolado pelador, arrependido e remorciado, um dia, o desgraçado com-preenderá, que somente na obediência às leis de Deus po-derá encontrar a perfeição e a verdadeira felicidade. Inicia-rá, então, o roteiro de sua reparação, retificando erros dopassado e conquistando valores para o futuro. E, para ori-entá-lo, nessa gloriosa ascensão, encontrará, dentro de simesmo, um juiz indefectível - a consciência. Ouvindo a voz

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da própria consciência, o homem aprenderá a usar o relati-vo arbítrio que a vida terrena lhe concede. E se, porventu-ra, tiver dúvidas, fácil lhe será encontrar o roteiro certo -bastar-lhe-á permutar os papéis, imaginando que alguémprocedeu com ele conforme pretende proceder com outrem.Se a consciência lhe disser que tal procedimento é precisa-mente aquele que desejaria tivesse com ele, poderá agir,porque estará agindo corretamente perante Deus. Mas setal não acontecer, melhor será abster-se, porque o erro seráfatal. E por mais oculta que seja a má ação, devassada estaaos olhos dos Espíritos, que, embora invisíveis, o obser-vam atentamente, como testemunhas onipresentes da jus-tiça divina. Nessas condições, por mais que oculte seus er-ros perante os homens, sua alma será, sempre, um livro aber-to ao exame dos Espíritos. De resto, seu próprio perispíritoou corpo astral, à guisa de maravilhosa fita magnética, re-gistrará fielmente todos os seus pensamentos e todas as suasações, durante a encarnação terrena. De modo que, ao de-sencanar, levará consigo o próprio corpo de delito, que ser-virá para seu julgamento. Ora, observado, dia e noite, pelosEspíritos, e marcado, em seu próprio corpo astral, com to-das as faltas que cometeu, como poderia o homem iludir ajustiça divina? Não, não na iludirá jamais. Posto que corre-tivo e, por isso mesmo, proporcional às faltas cometidas, ocastigo é inevitável. Nenhum sacramento o impedirá. Todoritual é inoperante e irrisório. Não há como fugir à justiçado Criador. E os médiuns não podem duvidar dessa verda-de. Em contato com o Mundo Espiritual, sentindo, muitavez, na própria carne, a impressão dos sofrimentos dos Es-píritos imperfeitos, e, por outro lado, recebendo diariamen-te a confirmação da felicidade dos Espíritos evoluídos, osmédiuns não podem ignorar que, depois da morte, cada qualrecebe de acordo com suas obras. Além disso, por experiên-cia própria, não podem desconhecer que, na vida terrena,

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cada um tem a assistência espiritual que merece. Os Espíri-tos, quer estejam encarnados, quer estejam desencarnados,se atraem por suas afinidades. Os homens bons, de bonsEspíritos se cercam; os homens maus, com maus Espíritosconvivem. Médium ou não, de toda maneira, os Espíritosinterferem nas ações humanas, inspirando idéias compatí-veis com o caráter e a cultura dos a quem assistem. A pri-meira condição, portanto, para um médium tornar-se útil asi mesmo e a seus semelhantes é perder os defeitos, paramerecer boa assistência. Para desgraça do Espiritismo, po-rém, este ponto ainda é muito descuidado. Via de regra, osmédiuns militantes na doutrina não receberam a devidaeducação espiritual. Muitos, nem espíritas são. Freqüentamo Espiritismo e trabalham como médiuns porque se cura-ram num Centro Espírita. Depois, ameaçados com a “vin-gança dos protetores” (parece incrível!) continuam à mesade médiuns, como autômatos, inconscientes da sublime ta-refa que lhes cabe na difusão da doutrina!

Lamentavelmente, ninguém vai a uma sessão somentepelo desejo de conhecer a verdade e de aperfeiçoar-se espi-ritualmente. Quase todos vão tocados pela dor, que nin-guém pôde aliviar. E, em se tratando de médiuns, todoschegam atingidos por cruéis Espiritopatias. Chegam, por-tanto, com má assistência espiritual. São criaturas desequi-libradas física e psiquicamente, que carecem de amparo es-piritual e de instrução moral. Precisam, sobretudo, de apren-der o Espiritismo - a única doutrina que os poderá socorrercom eficiência. Entretanto, no fundo, nada querem com oEspiritismo - exceto a cura. Ignoram a filosofia que norteiao ambiente que freqüentam. Ignoram porque o Espiritismocura doenças que os médicos não curam. Ignoram o que éser médium. Ignoram porque adoeceram. Ignoram comoforam influenciados por Espíritos atrasados a ponto de adoe-cerem do corpo e da alma. Ignoram como poderão curar-se

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definitivamente. Ignoram tudo, enfim, salvo que o Espiri-tismo os pode curar, pois já viram curas de casos idênticos.Entretanto, em muitos locais com tanta ignorância reunida,esses médiuns desequilibrados, geralmente, são colocadosà mesa de “desenvolvimento”, sob o pretexto de que preci-sam prestar a caridade! Ora, “desenvolver a mediunidade”é, em última análise, melhorar-se espiritualmente, corrigir-se dos defeitos, libertar-se dos vícios, em suma, aperfeiço-ar-se moralmente, a fim de que possa haver “sintonização”entre as vibrações perispirituais do médium com as vibra-ções dos Espíritos evoluídos. E é justamente o que não acon-tece. Quase sempre o suposto “desenvolvimento” consisteem lamentável adaptação dos centros nervosos do médiumtorturado, ao perispírito dos próprios Espíritos que já o tor-turavam. Conseqüentemente, sem prévio desenvolvimentoespiritual, o médium, ao invés do “desenvolvimento medi-único”, mais não faz do que fortalecer a imantação comEntidades atrasadas e consolidar a mediunidade torturada!

Conclusão: dada a precipitação - e por que não dizer? - aincapacidade da maioria dos dirigentes de grupos, que co-locam à mesa médiuns faltosos, as “manifestações” estão,via de regra, abaixo da crítica, com grave desdouro para adoutrina professada pelo médium. Contudo, a culpa não éda doutrina - é dos homens, que dizendo-se espíritas não sepreparam para ser mestres e que sendo médiuns não que-rem ser espíritas!

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Duma feita, em ocasional conversa de ônibus, minha esposa, com profunda tristeza, ouviu dos lábios da

companheira de banco, um conceito sobre o Espiritismo,que, desgraçadamente, está muito generalizado. Depois deelogiar as sessões, que, durante nove anos, assistiu num larespírita, explicou a passageira, que, por fim, acabou desis-tindo, não só porque pouco pôde entender, como porquechegou à conclusão de que os Espíritos não evitam os so-frimentos dos que lhes buscam a proteção, e, assim sendo,não adiantava o sacrifício de ir às reuniões.

Dizer que essa criatura “pouco entendeu” do Espiri-tismo que freqüentou durante tão longo tempo, seria umeufemismo hipócrita. No duro mesmo, ela não entendeunada; absolutamente nada. E não entendeu porque tam-bém lá não compareceu para entender a doutrina; e siminteressada em que os Espíritos a livrassem de todos ossofrimentos. E como essa irmã, muitos irmãos existempor aí que, anos a fio, freqüentam sessões, sem percebe-rem o sentido profundamente consolador e regeneradordo trabalho dos Espíritos, tão alheios permanecem aosensinamentos e tão absorvidos continuam nos desejosegoístas e, até, criminosos, que os levaram ao encontrodos Protetores espirituais!

ESPIRITISMO NÃO É EXPLORAÇÃO

DOS ESPÍRITOS

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Lamentavelmente, a maioria das pessoas, em virtude daserrôneas noções religiosas que receberam, não podem ava-liar a grandeza da revelação religiosa contida na FilosofiaEspírita. Imaginam que o Espiritismo é, apenas, oportuni-dade de comunicação com o Além, para exploração da pro-teção dos Espíritos. Nessas condições, quando compare-cem a um Centro Espírita, não vão em busca da verdade:vão tentar proteção para a satisfação de seus interesses e,quase sempre, interesses inconfessáveis, como se os Men-sageiros de Deus fossem alcoviteiros ou capangas e, alémde alcoviteiros - mercenários!

Infelizmente, muitos presidentes de sessões espíritas,involuntariamente, têm contribuído para a manutenção des-se aviltamento da doutrina. Preocupados com os frutos ime-diatos da prática espírita, para satisfação dos desejos dosfreqüentadores, esses presidentes, por ignorância ou dis-plicência, descuidam-se do ensino doutrinário, esquecidosde que a prévia preparação teórica é indispensável aos quese querem beneficiar, verdadeiramente, com o trabalho dosEspíritos.

De fato, o maior benefício que os Espíritos podem fazera uma criatura não é dar-lhe, como lhe dão, muita vez, asolução de um problema da vida terrena, que a está a tortu-rar: é esclarecê-la, corrigindo-a, para que, amanhã, não ve-nha a enfrentar, angustiada, situações idênticas; e, se vier,para que possa arrostá-las serenamente, confiante na justi-ça de Deus e certa de que tudo que lhe acontece tem umarazão de ser, em seu próprio benefício, pois é pelo sofri-mento que a criatura se aperfeiçoa e conquista, na vida es-piritual, planos de felicidade.

Em verdade, em verdade, ninguém procura a proteçãodos Espíritos enquanto a fortuna lhe sorri, derramando-lhesobre a cabeça a cornucópia das cobiçadas dádivas terre-nas. Ao contrário, é quando se lhe abre a fatídica caixeta de

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Pandora, e as desgraças, à guisa de viperídeos furibundos,atiram-se-lhe ao gasganete, que o homem, qual novo Epi-meteu, vai pedir aos Espíritos que lhe não deixe escapar, naprecipitada libertação das potências malévolas, a últimaesperança que lhe restou... O pior, porém, é que, em seaproximando dos Espíritos, a maioria não traz o propósitode absorver-lhe os ensinamentos, mas, tão-somente, o ego-ístico intuito de usufruir-lhe os proveitos, melhorando suasituação, para, em seguida, voltar-lhe as costas o mais de-pressa possível, como se fugisse dum antro compromete-dor! Muitos existem, mesmo, que amparados pelos Espíri-tos, nunca o confessaram publicamente, com vergonha daopinião dos presunçosos, que desconhecem o que é, real-mente, o sublime trabalho dos Espíritos! Outros há que,nas sextas-feiras, freqüentam sessões espíritas e, nos do-mingos vão à missa, pedir perdão a Deus, como se houves-sem praticado algum delito! Criaturas desse padrão jamaispoderiam merecer a ventura de compreender a transcen-dental significação dos ensinamentos dados pelos Espíri-tos!

Enganam-se, redondamente, os que imaginam que osEspíritos trabalham, apenas, para “tirar o azar” e forçar odestino. O destino é Deus quem o dá - dá-lo de acordo como merecimento de cada um, tudo regulado por uma lei decausalidade moral, que une, entre si, as diversas encarna-ções de uma mesma criatura. Os Espíritos podem suavizar- e, de fato, suavizam muito o destino humano, porque es-clarecem o homem sobre os motivos dos seus padecimen-tos, e, ao mesmo tempo, dão-lhe muita coragem, muita pa-ciência e muita resignação, para vencer suas provações.Todavia, os Espíritos não podem extinguir, no adepto, osofrimento que lhe coube como instrumento para seu acri-solamento espiritual! Caso contrário, os Espíritos ao invésde revelação de leis divinas, seriam um meio de transgres-

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são dessas leis. Erram, portanto, e erram muito, os que pen-sam que, freqüentando sessões espíritas, nenhum sofrimen-to lhes advirá. Iludem-se os que acreditam que os Espíritospodem revogar as leis de Deus, abolindo o padecer dosque lhes pedem a proteção. Dada a inferioridade dos Espí-ritos encarnados neste planeta, a dor é lei para todos. Ne-nhuma religião a abolirá, por enquanto, da face da Terra.Também não poderá prometer “tirar o azar”, “descarregar opeso” de ninguém, salvo se o azarento ou o pesado se dis-pusesse a seguir os ensinamentos morais dados pelos Es-píritos corrigindo-se, para conquistar melhor assistênciaespiritual, a fim de não incidir em faltas, que cada vez maisagravariam suas provações. Os Espíritos, aliviam, e alivi-am muito, os sofrimentos, “tirando o peso” e “eliminando oazar” daqueles que, aceitando seus ensinamentos, fazemjus a maior amparo espiritual para que o azar e o peso pos-sam transformar-se em dias mais venturosos, graças ao pró-prio merecimento de cada um. O essencial, portanto, é que,ao invés de querer forçar os Espíritos à imerecida carida-de, o que seria flagrante injustiça, o sofredor, que procu-rou os Espíritos, se esforce por compreender-lhes os ensi-namentos, regenerando-se e, à medida que for sendo es-clarecido, conformando-se com o seu destino; pois, qual-quer que seja sua crença, esse destino foi traçado antes desua encarnação; e, para seu bem, deverá ser cumprido, custeo que custar. Todavia, poderá ficar certo de que, nenhumadoutrina religiosa lhe poderá dar melhor orientação e mai-or resignação do que os Espíritos doutrinadores!

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Consignando o atual desinteresse pelas obras de Voltaire, o genial pensador, que, no conceito de Victor Hugo,

caracteriza todo o século XVIII, Will Durant, conhecidofilósofo e historiador norte-americano, justifica o menos-prezo, alegando que já não nos atraem, como, outrora, asbatalhas teológicas em que se empenhou o terrível satírico,porquanto a geração contemporânea está mais empenhadana economia deste, do que na “geografia” do outro mundo.

Embora reconhecendo o feroz utilitarismo hodierno, nãoposso deixar de exaltar o idealismo do talentoso polígrafofrancês, que, com o fulgor de sua dialética e o cautério desua crítica candente, esboroou a tirania clerical e abriu ca-minho para a liberdade e para a democracia - democracia eliberdade que transferiram ao cidadão, mais do que o direi-to de gerir sua economia, o direito de pensar e de proclamarsuas idéias! E tão irresistível é o poder das idéias expostascom lógica e sinceridade, que o próprio Napoleão, que ja-mais temeu o fragor dos mais cruentos embates bélicos,tremeu diante da expectativa da liberdade de imprensa! Comefeito, pressentindo a força incoercível do movimento li-bertador latente em todas as consciências, o genial soldado,com indisfarçável acrimônia, advertiu aos régulos da épocaque, assim como o canhão matara o feudalismo medieval, a“tinta”, isto é, a imprensa mataria aquela civilização!

O ESPIRITISMO E A ‘‘GEOGRAFIA” DO OUTRO MUNDO

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Na verdade, o genial guerreiro estava com a razão. Aimprensa falada e escrita não tardaria a derrocar numerosostronos, destroçando velhas aristocracias, que, protegidas poriníquo jus sanguinis, se aboletavam nos cargos públicos, paraexplorar, acintosamente, a classe proletária. E hoje, mercêde Deus, derruídos velhos tabus e extintas as classes privi-legiadas na maioria do orbe terráqueo, o que tende a preva-lecer no mundo é o primado da inteligência e da técnica,dentro dum regime de livre manifestação do pensamento.Os governos liberticidas tendem a desaparecer, tão contrá-rios são ao espírito de nossa época. A História os registrarácomo tenebrosos eclipses na órbita luminosa de nossa civi-lização...

Todavia, não fora a semente lançada pelos Voltaires detodos os tempos, idealistas impenitentes que, à maneira deMitya, nos Irmãos Karamazov, não desejam milhões, mas,apenas, respostas para suas perguntas, não fora essa se-mente e outro teria sido o roteiro da humanidade, chafur-dada que permaneceria no lodaçal da ganância, dominadapela cupidez do ouro, quando não refestelada no esterqui-línio da mais sórdida corrupção moral!

Sem embargo, para que este mundo, que aí está todo“absorvido na economia desta vida”, como disse o filósofoamericano, não venha, um dia, por falta de um sopro espi-ritualista, a transformar-se num reino de Midas, onde oshomens, posto que abarrotados de ouro, se sintam maisdesgraçados do que nunca, famintos de fé, divorciados deDeus e na expectativa de apocalíptica hecatombe atômica,urge que todos os que têm uma mensagem de esperança ede renovação moral não poupem sacrifícios para transmiti-la a seus semelhantes, como contribuição à construção deum mundo melhor. E, nesse sentido, nenhuma filosofiapoderá superar a Doutrina Espírita.

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Com efeito, correspondendo às exigências da atual men-talidade, a Filosofia Espírita, a despeito de seu caráter reli-gioso, foi decalcada sobre fatos de observação, que po-dem ser comprovados pelos métodos utilizados pela Ciên-cia. Não é, portanto, teoria mística, puramente especulati-va: é um conhecimento organizado por indução - partindodos fatos particulares, para relacioná-los, em seguida, emleis gerais. De modo que seus postulados não são, como sepoderia supor, opinião pessoal dos Mestres - são dados daexperimentação, controlados com todo rigor científico. Porisso mesmo, ao contrário das outras religiões, o Espiritis-mo faz empenho em aliar-se à Ciência, tão certo está deque a cooperação dos sábios só lhe poderá exaltar o valor.

Haja vista o que ocorreu no século passado, com o prof.Robert Hare, da Universidade de Pensilvânia, que foi umverdadeiro sábio, pois além de importantes descobertasescreveu numerosos trabalhos científicos, que, segundo otestemunho do prof. Zöellner, ocupam uma coluna inteirano Dicionário Biográfico e Literário de Poggendorff.

Pois bem; não obstante seus inúmeros afazeres, o prof.Hare, atraído pelos rumores que vinham causando os fe-nômenos mediúnicos, e preocupado que seus amigos nãose deixassem envolver naquilo que supunha ser pura mis-tificação, resolveu investigar o que havia, de real, no setordo Espiritismo.

Rigoroso investigador, principiou por imaginar aparelhosque lhe garantissem maior segurança de controle dos fenô-menos. E, armado com os próprios engenhos que inventou,meteu mãos à obra. Para eliminar a interferência do mé-dium na produção das mensagens, inventou o “espiritoscó-pio”, aperfeiçoamento da clássica prancheta das primitivascomunicações espíritas e que consistia num aparelho dota-do de um “mostrador” com as letras do alfabeto, que erapercorrido por um ponteiro - “indicador”. Com as letras

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apontadas pelas inteligências ocultas, formavam-se as pa-lavras e, com as palavras, as frases. Era assim que os Espí-ritos transmitiam as mensagens. Mas o essencial, no caso,era que o médium nem podia ver o “mostrador”, nem ter omínimo contato com o aparelho. Dadas as condições, edevido ao conteúdo das mensagens, estava já o cientistaconvencido da realidade da comunicação de antigos habi-tantes da Terra, quando a repercussão dessas investigaçõeslevou à sua presença conhecido médico, o Dr. Peters, queestava curioso de ver, com os próprio olhos, os maravilho-sos fenômenos. E valeu a pena. Porque, pela primeira vezque o médico entrou no Laboratório do prof. Hare, teve aventura de observar um fato assombroso, em cuja produ-ção não podem deixar de interferir inteligências dotadasde conhecimentos muito acima dos atuais, e, com mais for-te razão, dos conhecimentos da época, em 1858, quando aFísica Nuclear era, apenas, um mito...

Mas o fato é que, presentes o prof. Hare, o Dr. Peters eo médium, honesto rapazola de 19 anos, que nenhuma van-tagem material usufruía das investigações, foi transmitida,pelo “espiritoscópio”, lacônica mensagem na qual se con-vidava o Dr. Peters para por, com suas próprias mãos, den-tro duma caixinha de madeira, colocada sobre a mesa, pró-ximo do “espiritoscópio”, dois tubos de ensaio, fechados àlâmpada, e dois pedaços de platina, pertencentes ao labo-ratório. Obedecida a ordem, a caixinha foi fechada à chavee mantida sobre a mesa, à vista de todos.

Feito o silêncio, o médium entrou em transe, e, decorri-dos exatamente 55 minutos, o “espiritoscópio” novamentevoltou a movimentar-se, sozinho, desta feita para anunciaruma surpresa para o visitante. “Temos um presente para oDr. Peters; que ele o tire da caixa”- dizia, textualmente, amensagem. Aberta a caixa, estranho fenômeno se deparouao olhar maravilhado do médico: os pedaços de platina

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haviam sido introduzidos dentro dos tubos de ensaio, e,não obstante, os tubos continuavam íntegros, hermetica-mente fechados! Era a chamada “passagem da matéria atra-vés da matéria”. Teoricamente, tudo se passou como se aplatina fosse desmaterializada, e, em estado de “radiação”,atravessasse o vidro, para, novamente, materializar-se noseu interior; ou como se os tubos de ensaio houvessemsido parcialmente desmaterializados para darem passagemaos fragmentos do valioso metal, e, em seguida, remateri-alizados, para voltarem à forma primitiva. De toda manei-ra, um fato sensacional, que comprova a intervenção depoderosas inteligências, dotadas de conhecimentos cientí-ficos, que, apesar do atual progresso, ainda constituem mis-tério para os sábios da Terra!

Contudo, como, em suas mensagens, essas “inteligênci-as” se confessaram antigos cientistas terrenos, que, dota-dos de um saber mais profundo, podiam dominar a estrutu-ra da matéria com a maior facilidade; e, como, de qualquerforma, não cabe a suspeita de fraude numa experiênciadesse gênero, controlada por um sábio como o prof. Hare,fica demonstrada a comunicação dos Espíritos e, ipso facto,a sobrevivência da alma; o que, por si só, bastaria para des-truir o materialismo dessas gerações utilitárias, que só sepreocupam com a economia desta vida, como acentou WillDurant.

Não! Diante das provas acumuladas pelos sábios, não háduvidar; a morte é ilusão - o homem sobrevive com a res-ponsabilidade dos atos praticados neste mundo. Não basta,portanto, cuidar apenas da economia deste mundo - é pre-ciso aprender a “geografia” do “outro mundo”, estudando epraticando o Espiritismo, porque, nele, se encontra o ca-minho mais curto para a perfeição e a felicidade!

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Até certo ponto, é compreensível a aversão que muitas pessoas demonstram pelo Espiritismo.

Porque, desgraçadamente, muita coisa existe, por aí, como nome de Espiritismo, que, de Espiritismo nada tem - sãopráticas exóticas, que nenhuma relação apresentam com aDoutrina dos Espíritos, sabiamente codificada pelo profes-sor Rivail, que, com o pseudônimo de Allan Kardec, se tor-nou mundialmente afamado.

Nessas condições, em defesa do bom nome da doutrina,urge alertar os incautos, a fim de que não venham a cair naesparrela armada, sub-repticiamente, por indivíduos ines-crupulosos, com o fito de explorar, em proveito próprio, oprestígio popular do Espiritismo.

Com efeito, o que se nos apresenta, em certos locaiscom o nome de Espiritismo, não passa, na verdade, delamentável deturpação de cultos africanos, para cá impor-tados com as vítimas da escravatura.

Privados de liberdade e de Mestres, os escravos, a poucoe pouco, foram-se desapegando das tradições religiosas deseus ancestrais, ao mesmo passo que assimilavam os ele-mentos do culto de seus “senhores”. Foi, portanto, do es-púrio conluio de seitas antagônicas - os cultos africanos e aReligião Católica - que resultou o chocante sincretismo re-ligioso dos “terreiros” brasileiros, abusivamente rotuladoscom o nome de Espiritismo.

O FALSO E O VERDADEIRO ESPIRITISMO

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De fato, como é notório, o termo - Espiritismo - foi cria-do por Allan Kardec, para caracterizar a filosofia religiosapor ele fundada. Conseqüentemente, o vocábulo não pode-rá ser honestamente empregado noutro sentido. Cabe, por-tanto, aos espíritas, o direito de reivindicarem para suadoutrina o privilégio dessa designação. Por outro lado, com-pete aos partidários dos cultos afro-católicos, a obrigaçãode inventarem denominação mais adequada para as cren-ças que professam. O que não se compreende é que às prá-ticas de umbanda, de quimbanda ou de nagô sejam deno-minadas “espiritismo de umbanda”, “espiritismo de quim-banda” ou “espiritismo de nagô”, quando Espiritismo sóexiste um - o de Allan Kardec!

Todavia, batendo-me contra a confusão do Espiritismocom cultos de “terreiro”, não quero, com isso, demonstraranimosidade contra os cultos dos africanos, nem dos cabo-clos, nem contra culto algum, de vez que a todos respeito,quando honestamente praticados. Sou, por princípio, intran-sigente defensor da liberdade de consciência. Não poderia,por conseguinte, propugnar pelo cerceamento da mais sa-grada de todas as liberdades - a liberdade de culto. Mas épreciso não confundir um culto verdadeiro, inspirado naadoração a Deus, no amor ao próximo, na prática desinte-ressada da caridade e no soerguimento moral dos adeptos,como é o caso do Espiritismo, com falsos cultos, onde mé-diuns ignorantes e interesseiros, num ambiente de vício ede degradação, saturado de vapores embriagantes de mara-fa, de fumaça de nauseabundos charutos e dos gases asfixi-antes da combustão da pólvora, servem de “cavalo” a Es-píritos atrasados, que barganham favores em troca de “des-pachos” escorchantes! É contra tal abominação que me re-volto, certo que estou dos prejuízos causados aos que sedeixam fanatizar por práticas tão primitivas. E revolto-me,sobretudo, quando vejo um antro dessa laia classificado

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como Centro Espírita, em acintosa afronta ao Espiritismo,uma filosofia religiosa profundamente moralizadora, quejamais justificaria semelhante degradação! Mas, apesar dis-so, entre os que desconhecem as bases do Espiritismo, aconfusão está muito generalizada. E, como prova, vou ci-tar, dentre muitos, um fato típico. Chamado duma feita,para prestar assistência médica a infeliz epiléptica, vítimade antiga obsessão, confessou-me, trêmulo de medo, o paida enferma que, de longa data, desejava ouvir minha opi-nião. Entretanto, via-se num dilema, porque, desanimadoda cura, procurara, a conselho de terceiros, um “espírita”,que, além de deixá-lo quase na miséria, com as polpudasverbas que exigia para os “despachos”, ainda o ameaçavaque, se chamasse médico, faria um “trabalho” para o enlou-quecer!

Com grande esforço, tive de sopitar a indignação paraesclarecer esse pai angustiado, que, no caso, não tratara comum “espírita” e sim com autêntico chantagista, de cujaspaparrotices nada deveria temer, de vez que estava proce-dendo corretamente, de acordo com seu coração e com suaconsciência, movido pelo impulso de salvar a filha.

Mas o fato é que, como esse cidadão, ainda há muitagente que confunde um vil explorador, um refinado ma-cumbeiro, com um espírita!

Entretanto, em se tratando de curar, o espírita, a menosque seja médico, nada poderá cobrar, porquanto o que elevai dar ao enfermo não é produto de seu esforço e de suacultura, mas conseqüência de uma proteção espiritual, tra-balho de Mensageiros do Além, que não exigem nem se-quer a gratidão do doente. Além disso, o espírita, pelo fatode aceitar a lei da reencarnação, vê, em cada semelhante,um irmão, filho do mesmo Criador, e, provavelmente, umparente de vidas passadas, razão por que envolve, no mes-mo afeto fraternal, a humanidade inteira. Por isso mesmo, o

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espírita sente-se feliz ajudando o próximo, nunca se equi-parando com um macumbeiro, que vive de enganar e deextorquir os incautos.

Na verdade, quando melhores sentimentos não o animem,o espírita sabe, de certeza certa, que o destino humano sedesenrola sob o comando duma lei de causalidade moral; eque, a cada momento, com os sentimentos e os pensamen-tos, está a tecer, em seu próprio corpo espiritual, a trama doseu futuro, de modo que, feliz ou desgraçado, somente so-bre ele recairá a responsabilidade da situação que para simesmo criou. Ciente, pois, dessa verdade, o espírita jamaispoderia praticar uma chantagem, como essa de cobrar emo-lumentos pelo trabalho dos Espíritos!

Realmente, o verdadeiro espírita revela-se por seu com-portamento, quer na vida privada, quer na vida pública. Adireção de sua existência é uma só: uma linha reta a cami-nho do aperfeiçoamento moral. Como todo homem, podecair; pois, pelo fato de ser espírita, não é infalível, nem per-feito. Em caindo, porém, procura soerguer-se, escorado namisericórdia divina e na assistência de seus Protetores espi-rituais; pois sabe que o preço da felicidade é a conquista daperfeição e que cada um é o arquiteto de seu próprio desti-no.

Outro erro grosseiro consiste em considerar espírita todoindivíduo que crê na comunicação dos mortos. Pelo fato deacreditar na manifestação dos Espíritos, ou de possuir fa-culdades mediúnicas, não se segue que a pessoa seja espíri-ta. Exceção feita do Catolicismo e de seu subproduto, oProtestantismo, religiões que traçaram um cordão de isola-mento entre o nosso e o “outro mundo”, a fim de que sobreo padre e o pastor recaísse a glória de servirem de exclusi-vos medianeiros entre o Criador e a criatura, poucas reli-giões haverá em que o intercâmbio dos dois mundos nãoseja cultivado, carinhosamente, por intermédio de seus mé-

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diuns, de seus profetas, de seus oráculos, de seus feiticei-ros, ou de seus pajés. Pajés, feiticeiros, oráculos e profetas,que, na verdade, nada mais são do que médiuns ou inter-mediários entre o nosso plano existencial e o Além. Podemver, ouvir e conversar com os Espíritos, sem que, por isso,sejam espíritas. Porque espírita é quem aceita como normade vida, os postulados filosóficos da Doutrina Kardequia-na, ou melhor - da Doutrina dos Espíritos. Para ser espíritaé imprescindível, portanto, que se conheça, ao menos, asobras básicas da Filosofia Espírita. Entretanto, por parado-xal que pareça, centros existem que, embora se denominem“espíritas”, proíbem os freqüentadores de ler as obras deKardec sob o pretexto de que contribuem para o desequilí-brio mental dos leitores!

É fantástico esse conceito! Fantástico e contraditório.Como se pode ser adepto duma doutrina que se reputa pe-rigosa para o equilíbrio mental?! Que crédito pode merecerum centro ou uma tenda - o nome pouco importa - que,dizendo-se “espírita”, interdita a leitura dos livros espíritasaos que lá comparecem em busca de uma nova filosofia,ou, pelo menos, em procura de uma explicação mais racio-nal para o problema do sofrimento humano? Pois será crí-vel que uma doutrina, como a espírita, que prova ao ho-mem sua imortalidade, pondo-o em contato com parentes eamigos que o precederam na viagem de além túmulo; que,em conseqüência disso, extingue o pavor da morte, trans-formando a catacumba numa porta aberta para outra exis-tência mais bela e mais emocionante; que, além disso, con-ceitua a justiça divina em termos de sabedoria e de amor,dando ao sofredor a certeza de que a dor é corretiva, pro-porcional às faltas cometidas em vidas anteriores, e que,mais dias menos dias, conquistará, pelo próprio merecimen-to, a paz e a felicidade almejadas; uma doutrina, em suma,que longe de apavorar, consola e encoraja, será crível queessa doutrina possa enlouquecer seus adeptos?

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Não, absolutamente! Só por ignorância, ou por má fé, sepoderia afirmar semelhante sandice. Mas sendo ignoranteou dotado de má fé, tal indivíduo não tem capacidade men-tal, nem idoneidade moral para dirigir um centro - deve ce-der o lugar a outro que seja espírita de verdade, em benefí-cio da humanidade!

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ESPIRITISMO - A RELIGIÃO DO FUTURO

Desde os primórdios da civilização, foi, sempre áspero e cruento o embate entre a religião e a Ciência. E,

por lamentável que seja, ainda hoje, é inevitável esse mul-tissecular conflito entre o sentimento e a razão, em virtudedo antagonismo existente entre as duas filosofias que pola-rizam os ideais da humanidade - o materialismo e o espiri-tualismo.

A própria história da civilização, com seus períodos áu-reos de acelerado progresso, e os seus eclipses de estagna-ção e de retrocesso; com seus admiráveis lanços de heroís-mo e seus sórdidos ciclos de fanatismo e de crueldade; comsuas quadras de brilhante cultura e de austera moralidadedos costumes e suas épocas de obscurantismo intelectual ede deliqüescência moral, - a própria história da civilização,repito, nada mais é do que imensa projeção, no tempo e noespaço, dessa hercúlea pugna, desenrolada entre duas con-cepções de vida, a disputar a hegemonia na direção do mun-do!

Com efeito, para o materialista, o Universo todo se res-tringe no pequeno número de vibrações que lhe impressio-nam os sentidos. Por isso, só acredita no que vê, no queouve, no que palpa, no que pode degustar, ou no que podecheirar. Em suma, para ele, o homem se reduz a um sistemade forças mecânicas, engenhosamente entrosadas numacadeia de energias físico-químicas auto-reguladas. Noutros

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termos - o homem é, apenas, máquina, com a particularida-de de segregar o pensamento! De modo que, todas as facul-dades da alma são, nesse sistema, apenas, funções cerebrais;e todas as manifestações espirituais, simples especializa-ções das células nervosas!

Pois Bichat, o afamado catedrático francês, depois demiudamente espostejar o encéfalo dum cadáver, não se jul-gou com direito de escarnecer dos espiritualistas, afirman-do que, se a alma existisse ele a teria encontrado na ne-cropsia?

Na verdade, de acordo com a absurda conceituação detais adversários, não existe base científica para qualquerforma de espiritualismo. Porque, à luz do materialismo, avida terrena é, para o homem, uma pilhéria de mau gosto,que lhe pespega o destino. Tangido por forças incoercíveis,ora representando uma comédia, ora vivendo uma tragédia,o homem, numa jornada penosa e sem finalidade, palmilha,dia-a-dia, melancólico “vale de lágrimas”, esmagado sob opeso do destino, ignorando por que nasceu e por que mor-rerá! Em conclusão - considerada sob esse aspeto, a vida ,individualmente, não tem sentido. A personalidade huma-na é fogo fátuo, que bilha um segundo e logo se extingue,absorvida no coletivismo evolutivo da humanidade!

Ora, negando a sobrevivência individual, limitando a vidaà duração do corpo carnal, o materialismo, implicitamente,estimula a saciedade dos mais grosseiros prazeres - únicafelicidade que se pode usufruir, enquanto há saúde e moci-dade. Qualquer esforço no sentido do aperfeiçoamento es-piritual não tem significação alguma. A própria fraternida-de, com todos os predicados que desenvolve, não tem ne-nhum valor. O homem é, apenas, um átomo inteligente,arrastado, implacavelmente, através do infinito turbilhão doUniverso, num minúsculo planeta, onde a vida surgiu poracaso... Urge, pois, aproveitar todas as oportunidades paradesfrutar o máximo de prazer, antes que a morte o arrebatepara o trágico festim dos vermes!

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Tais são as conseqüências lógicas do materialismo ateu.Em contradição, o espiritualismo empresta nobre senti-

do à vida. A dolorosa trajetória entre o berço e o túmulo, jánão é um jogo de cabra-cega da criatura com seu própriodestino - a vida terrena tem uma finalidade: é o aperfeiçoa-mento do Espírito provisoriamente encarnado, não só pelacultura mental e moral como por todas as experiências quese podem adquirir no convívio social - tudo em função dumavida maior, e melhor, nos planos espirituais, depois da mor-te do corpo físico. Nessas condições, a virtude e a sabedo-ria adquirem profunda significação, porque transcendem oefêmero período da encarnação, para constituírem fontesde felicidades na vida de além-túmulo! Além disso, a frater-nidade se impõe como lei fundamental, de vez que todos oshomens estão ligados entre si por uma origem comum - Deus- perante o qual todos são irmãos.

Por outro lado, a vida assume proporções imprevistas -ultrapassa a órbita da existência terrena e projeta-se no tem-po e no espaço. De modo que, a vida terrena não é mais avida - é, apenas, uma fração da vida eterna palingenética emultiplanetária; não é um fim - é um meio para a aquisiçãode valores espirituais, que, esses sim, duram infinitamente.De jeito que a virtude e o saber, por mais que valham naTerra, não se destinam, somente, à vida planetária, mas, àvida eterna, esteja o Espírito encarnado ou desencarnado,aqui ou alhures, pouco importa.

Em síntese - o espiritualismo contribui para o aperfeiço-amento moral do homem, ao passo que o materialismo esti-mula o abuso dos prazeres e das sensações, em detrimentoda felicidade alheia!

Força é reconhecer, no entanto, que existem materialis-tas virtuosos e espiritualistas desonestos. Isso significa quenem um, nem outro, segue, na prática, as conseqüênciaslógicas do sistema que adota, mas os ditames da consciên-

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cia de acordo com a evolução conquistada em encarnaçõesanteriores. Porque, de fato, entre a aceitação teórica dumafilosofia e a execução fiel de seus postulados medeia, muitavez, profundo abismo. Quantas maldades não se têm prati-cado em nome de Deus? Quanto sangue não tem corridopara exaltar o valor de Jesus? Quantos crimes não se come-teram por causa do santo sepulcro? Quantas chacinas nãose realizaram nas guerras santas? Quantas vidas preciosas,quantos médiuns inocentes, não foram barbaramente torra-dos nas fogueiras dos facínoras da Inquisição para “maiorglória de Deus”?!

Sem embargo, nada disso destrói o valor do espiritualis-mo - mostra, apenas, que muitos espiritualistas, embora tra-gam o nome de Deus à flor dos lábios, não sentem, no cora-ção e na consciência, o influxo regenerador das idéias quepregam. Contudo, do mau comportamento de alguns sectá-rios cruéis não se pode inferir a imprestabilidade da doutri-na. Porque há péssimos religiosos, não se pode deduzir quea religião seja um mal. Porque existem ateus bondosos, nãose pode concluir que o ateísmo seja um bem. Com exceçõesnão se formam regras. É pela influência moral que exercesobre a maioria que podemos aquilatar do valor duma dou-trina religiosa, e não pelo fracasso eventual de alguns adep-tos.

Para o bem da humanidade, no entanto, seria desejável aextirpação do fanatismo religioso mediante a cooperaçãoda Ciência, de tal modo que o verdadeiro espiritualista, aoinvés de ser um crente, hipnotizado pela autoridade do pre-ceptor, fosse um convicto, convencido pela prova científi-ca dos fatos! Nessas condições, muito mais patente se tor-naria a responsabilidade moral dos atos praticados na vidaterrena. Mas, infelizmente, os contatos entre a Ciência e areligião ainda são muito explosivos. Via de regra, os cientis-tas, sob a falsa alegação de que os fatos não se prestam àaplicação dos métodos científicos, recusam-se a realizarinvestigações no domínio dos fenômenos espirituais. Os

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religiosos, por sua vez, encerrados na torre de marfim dosdogmas obsoletos, repulsam, apavorados, a indiscreta per-quirição da Ciência, sempre irreverente e imparcial. Des-tarte, gera-se um clima de franca hostilidade em derredorde um terreno quase inexplorado ainda, onde, ao invés deestéril emulação, Ciência e religião deveriam conjugar es-forços em busca duma verdade maior!

Todavia, já é um consolo saber-se que, a despeito de tudo,desde o século passado, alguns espíritos livres, livrementevêm pesquisando a verdade, sem se deterem nas fronteirasdos fenômenos espirituais, ou supranormais. E é para essesespíritos independentes que o Espiritismo abre novas pers-pectivas, consorciando a Ciência com a religião.

Com efeito, o Espiritismo não se originou da especula-ção metafísica - nasceu da observação científica dos fenô-menos. É, por conseguinte, uma filosofia religiosa de cará-ter científico. Para estabelecer seus princípios basilares, re-corre à Ciência, utilizando-lhe os métodos. E, embora ad-mita algumas hipóteses indemonstradas, não nas impõedefinitivamente, condicionando-as aos futuros avanços daCiência, pois aceita, por princípio, que, como a própria ver-dade científica, a verdade religiosa é progressiva, como pro-gressiva é, em todos os sentidos, a revelação divina!

Ao contrário, pois, das demais doutrinas religiosas, oEspiritismo não prescinde do apoio da Ciência. Ao contrá-rio, exige-lhe a colaboração, empregando, na experimenta-ção, os mesmos métodos adotados pelos homens de ciên-cia. Por isso mesmo, os fatos são irrecusáveis e a fé quepropicia não é crença fanática - é convicção indestrutível!

Aliada à Ciência, a Doutrina Espírita é, na verdade, aúnica filosofia religiosa com força de evidência para con-quistar o mundo, de modo que, queiram ou não seus adver-sários, o Espiritismo será, fatalmente, a religião do futuro -aquela que, movimentando o cérebro e o coração das eli-tes, criará um mundo melhor, estruturado na confraterniza-ção universal, para felicidade do homem e para Glória de Deus!

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CIÊNCIA E ESPIRITISMO

OEspiritismo está, incontestavelmente, destinado a provocar a maior revolução jamais verificada no pen-

samento universal.Síntese luminosa das revelações que, desde os primórdi-

os da civilização e numa progressão intimamente vinculadaà espiritualidade de cada geração, vivificaram as crenças detodos os povos, a Filosofia dos Espíritos é a cristalizaçãodos princípios vitais de todas as doutrinas que fixaram arealidade da vida e do Universo num plano muito superioràs formas efêmeras e às forças contingentes da matéria.

É como um vasto estuário acolhedor, que abriga ao seiotodos os mananciais que, brotando nos templos da Índia enas catacumbas do Egito, se expandiram e fecundaram ou-tras plagas, enxertando-se com as tradições de outros po-vos, transmutando-se de minguado filete que era, em pos-sante caudal cujo ímpeto subjuga tremendos obstáculos e afaz jorrar aos borbotões ao toque mágico da eloqüência dosApóstolos...

E é nos eflúvios dessa corrente de idéias que havemos decaptar as vibrações do pensamento divino, manifestando-se nas fulgurações geniais de um Pitágoras, de um Sócrates,de um Platão, de um Plôtino, de um Porfírio, de um AmônioSacas, de um Jâmblico, destilando-se da doçura evangélicade Jesus de Nazaré, o maior dos Missionários divinos, para,finalmente, sublimar-se na mais grandiosa concepção davida e do Universo!

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Contudo, a verdade dolorosa é que a Doutrina dos Espí-ritos, onde repousam “as bases do novo edifício que se le-vanta e que deve um dia reunir todos os homens num mes-mo sentimento de amor e caridade”, não foi compreendidanem pelos “diretores de consciências”, nem pela imensamaioria dos homens de ciência.

E o fato é que, nestes dias tenebrosos de brutal materia-lismo, quando nefasto cepticismo calcinou os mais purossentimentos de espiritualidade; quando a Ciência se mostraimpermeável às pesquisas dos fenômenos do Espírito; quan-do o pensamento é uma secreção cerebral e a consciênciaapenas um epifenômeno; quando muitos se jactam de ate-ísmo e poucos são os que não se pejam de orar, é lógicoque, neste clima moral, o Espiritismo vale menos pela bele-za de sua ética, baseada numa justiça perfeita, regida porsábia lei de causalidade moral, que estabelece uma relaçãoconstante entre o delito e o castigo, entre a causa e o efeito,e explica racionalmente o sofrimento e a desigualdade dosdestinos humanos, é lógico, repito, que neste clima moral, oEspiritismo vale menos por sua ética do que pelo bloco defatos concretos e indestrutíveis sobre os quais construiu oseu majestoso edifício doutrinário.

É nesse particular que a Filosofia Espírita se destaca etoma uma feição sui generis: ela não se baseia apenas naespeculação metafísica, mas aproxima-se das ciências ex-perimentais, “conduzindo os homens até os fatos para quesigam sua ordem e encadeamento”, conforme preconizavaBacon; não impõe uma fé irracional, mas convida a Ciênciaa verificar, com o máximo rigor, os fenômenos que origina-ram a doutrina; procura, assim, conciliar a razão com a re-velação, a Ciência com a religião.

Adverte, apenas, que, “quando se apresenta um fato novo,independente de qualquer das ciências conhecidas, o sábioque pretende estudá-lo deve fazer abstração de sua ciência

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e confessar que, sendo novo o estudo, não pode ser feitocom idéias preconcebidas.” Ora, estas palavras de Kardecrevelam um senso de realidade tão claro, que nenhum ho-mem de ciência hesitaria em subscrevê-las. Tanto assim,que no século passado, num congresso científico em Muni-ch, o afamado prof. Virchow já declarava textualmente:“Quando penetro em novos terrenos científicos, sempre digode mim para comigo: agora precisas principiar a aprender.”

Infelizmente não é com essa imparcialidade que os ho-mens de ciência encaram os fenômenos espíritas. O próprioVirchow, quando convidado pelo prof. Zöellner para assis-tir às experiências que realizava com o Dr. Slade - médiumnotável e uma das vítimas da calúnia dos homens de ciên-cia - fez exigências de tal monta que, se aceitas, teriam im-pedido as manifestações mais interessantes porque com-provantes.

Não há, realmente, fato mais desconcertante para oobservador imparcial do que sentir a paixão, a hostilidade,a idiossincrasia e, se me permitem o neologismo, a “medio-fobia” com que os homens de ciência penetram nos estu-dos desses fatos.

Entretanto, se ao menos algumas das verdades espíritasfossem consideradas como “hipóteses de trabalho”, de acor-do com o mecanismo do método experimental, magistral-mente descrito por Claude Bernard, o sábio autor de Intro-duction à L’étude de la Medicine Experimentale, as investiga-ções teriam sido muito mais fecundas.

Mas os homens de ciência ainda acham tão temerário afir-mar a existência de Espíritos que o próprio prof. Richet,que consagrou longos anos à observação dos fatos; que nãohesitou em afirmar que “ils sont nombreux, authentiques, ecla-tants”, recusou-se a aventar teorias. Preferiu acumular fatossobre fatos, sem interpretá-los, insólito procedimento de umsábio, criticado aliás por René Sudre, com toda justiça.

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Entretanto, o motivo real por que o sábio fisiologista fran-cês se absteve de interpretações, prende-se, certamente,ao fato de que, conforme confessa, “dans certains cas raresl’hypothese spirite, simpliste, parait preferible...” Donde se con-clui que Richet teve medo de converter-se ao Espiritismo!De qualquer maneira, a Filosofia Espírita, posto que sendoainda uma ciência in fieri, um conhecimento em organiza-ção, como de resto toda filosofia, está de posse de umastantas premissas, que, aplicadas imparcialmente, como idéi-as diretrizes, às investigações psíquicas, revolucionará to-talmente muitas concepções da Ciência atual.

Quando a Ciência resolver tornar-se neutra na contendaentre materialistas e espiritualistas e quiser compreenderque as hipóteses espíritas devem figurar dentre as mais pro-váveis para explicar um conjunto de fenômenos já muitobem observados, por inúmeras sumidades, a Ciência, nessedia festivo para a humanidade, fará uma revisão completados fenômenos observados no sono normal ( nos sonhos),no sono sonambúlico, no sono magnético, no sono hipnóti-co, e nos diferentes graus de transe mediúnico e, então, aCiência encontrará, no estudo comparativo desses fatosinteressantíssimos, a prova cabal das razões do Espiritis-mo.

Tenho plena convicção que dos estudos de De Rochas, deRichet, de Meyer, de Crookes, de Schrenck-Notzing, de Boi-rac, de Bozzano, de Wallace, de Lodge, de Aksakof, de Gibier,de Delanne, de Maxwell, de Lombroso, de Flammarion, deTrespioli, de Ochorowicz e de tantos outros no terreno da me-diunidade, bem como dos trabalhos de Baraduc, de Durville,de Azam, de Levy, de Yung, de Coste, de Deleuze, de DuPotet, do nosso Fajardo, do nosso Medeiros e Albuquerque, deLiebeault, Charcot, Bernheim e tantos outros nos terrenos domagnetismo animal e do hipnotismo, tenho plena convicçãoque, do estudo comparado desses fatos, surgirá uma nova Bio-logia, uma nova Filosofia, uma nova Psicologia, uma novaPsiquiatria, uma nova Sociologia e uma nova Medicina...

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Não quero dizer, absolutamente com isso, que todas es-tas ciências estão erradas, nem que serão totalmente arra-sadas; penso, porém, que serão de tal modo ampliadas eengrandecidas que no futuro mal as reconheceremos...

Até lá, não obstante, há muito que caminhar no terrenoexperimental, e há, sobretudo, imenso trabalho de síntese arealizar! Trabalho ciclópico, é verdade, que, por alguns anosainda, continuará a desafiar a argúcia dos especialistas, masque virá, fatalmente, para a felicidade do gênero humano emaior glorificação do supremo Criador!

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Apesar da obstinação com que os adversários do Espi- ritismo inventam as mais inverossímeis explicações

para o fato - e isso quando não o negam sumariamente - averdade é que, da vasta documentação acumulada nos pro-tocolos de centenas de observações científicas, realizadasdurante um século de pesquisas, o que ressalta, ostensiva-mente, é a comprovação de que os fenômenos espíritassão, de fato, controlados por inteligências extraterrenas,dotadas de conhecimentos que ainda não foram alcançadospor nossa Ciência.

Não quero dizer com isso que todas as entidades que senos manifestam são um prodígio de sabedoria, capazes dedeixar boquiabertos os mais sábios dos nossos sábios; poissou o primeiro a testemunhar que a maioria dos Espíritos,que conosco se comunicam, revelam uma capacidade men-tal inferior à normo-média dos habitantes deste planeta.

Todavia, dada a supranormalidade dos fenômenos espí-ritas, tão maravilhosos que, muitas vezes, são consideradosautênticos milagres, nenhum homem dotado de medianobom senso seria capaz de atribuir a Espíritos tão incultos aautoria desses prodígios. Para controlar tais maravilhas, éindispensável uma Ciência mais profunda, e mais perfeita,do que essa que aí está estruturada pela sabedoria dos maisproeminentes representantes do gênero humano...

FENÔMENOS ESPÍRITAS -A COMPROVAÇÃO DOS SÁBIOS

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E para demonstrar que não exagero, vou recordar sinteti-camente, algumas observações empreendidas por uma equi-pe de sábios alemães, à frente da qual se encontrava o prof.Zöellner, físico e astrônomo de elevada reputação científi-ca.

O médium, para tais investigações, foi um médico ame-ricano, o Dr. Henry Slade, cujo entusiasmo pela observa-ção científica dos fenômenos supranormais, que com ele semanifestavam, nunca se arrefecera diante da repulsa comque muitos vultos eminentes do mundo científico recebe-ram sua oferta de pôr-se à disposição deles, para a averi-guação da origem de tão estranhas manifestações. Nemmesmo a atitude insólita de um cientista inglês, que, depoisde impor condições contrárias às manifestações, o proces-sou indignamente como mistificador, conseguiu quebran-tar o ânimo do corajoso paladino do Espiritismo!

Absolvido, graças ao testemunho de um dos maiores sá-bios da Inglaterra, o grande naturalista Alfred Wallace, pros-seguiu o Dr. Slade no seu espinhoso roteiro, servindo, ab-negadamente, de “cobaia” para todos os homens de ciên-cia que quisessem dedicar alguns momentos à investigaçãodos fenômenos metapsíquicos.

Dotado de raras qualidades morais, senhor da alta mis-são que lhe estava reservada e possuidor de excepcionaisfaculdades mediúnicas, o Dr. Slade estava fadado a tornar-se ótimo aparelho para a pesquisa dos fenômenos espíritas,nas mãos dos sábios de Leipzig.

De fato, logo na primeira sessão, efetuada na residênciado astrônomo alemão e na presença de outras sumidades,como os professores Fechner, Weber, Wundt, Scheibner,todos sábios de fama mundial, o médium demonstrou forteradiação magnética que se desprendia das extremidades deseus dedos. Dupla radiação magnética, aliás, porque oraatraía o polo norte, ora o polo sul da agulha magnética.

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Com efeito, valendo-se duma bússola, encerrada numacaixa de latão com tampa de vidro, solicitou, o prof. Zöellner,ao afamado médium, passasse, horizontalmente, suas mãosespalmadas sobre o instrumento. A agulha, a princípio, per-maneceu imóvel, como que para demonstrar que o médiumnão trazia oculto, em suas mangas, nenhum ímã ou frag-mento de ferro; mas, momentos depois, ao perpassar suasextremidades digitais sobre a bússola, a agulha foi agitadaviolentamente, revelando a presença de forte campo mag-nético!

A experiência foi renovada de várias formas, em sessõesdiferentes. Assim é que, doutra feita, estando o médium eos experimentadores sentados, em volta duma pequenamesa, sobre a qual colocaram as mãos unidas umas às ou-tras, o prof. Weber, célebre por suas descobertas no campoda Eletricidade, teve a idéia de colocar, no centro da mesa,uma bússola encerrada em caixa de vidro, de modo que portodos pudesse ser observada facilmente. Minutos após, aagulha principiou a mover-se bruscamente, descrevendoarcos que oscilavam de 40 a 60o, até que, por fim, deu umgiro completo de 180o !

Afastando-se, voluntariamente, da “corrente” estabele-cida sobre a mesa, pelo mútuo contato das mãos dos ob-servadores, o Dr. Slade deu a todos a oportunidade de secertificarem que, de fato, era dele a radiação magnética,porque os movimentos da agulha cessaram incontinente; esó voltaram, quando ele, novamente, ocupou o primitivolugar na mesa: então a força foi tamanha que a agulha tor-nou a dar uma rotação completa!

Repetida a experiência com duas bússolas, verificou-seque a ação da radiação magnética era invisivelmente “con-trolada” porque, enquanto uma bússola acusou forte atra-ção magnética, a agulha da outra, colocada a seu lado, per-maneceu imóvel, neutralizada, portanto, a influência do

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campo magnético. Além disso, o médium ora emitia mag-netismo positivo, ora magnetismo negativo, pois seus de-dos atraíam umas vezes o polo sul, outras vezes o polo nor-te da agulha magnética. Outra prova do controle do mag-netismo do médium foi dada quando, a pedido de Zöellner,o médium tentou a imantação duma agulha de crochet: con-trariamente à expectativa de todos, a agulha só ficou iman-tada numa das extremidades, e com magnetismo negativo,pois o polo que se formou foi o polo sul; a outra extremida-de da agulha não acusou o menor fluxo magnético, apesarde as linhas de força do polo sul serem tão possantes queimprimiam uma rotação de 180o na agulha da bússola!

Como se depreende dessas experiências, para que os fa-tos se processassem como se processaram, deveria estarpresente algum poder controlador, estranho ao médium eaos assistentes, poder controlador este, que conhece técni-cas ainda ignoradas, mediante as quais logrou o domíniosobre as leis naturais que regem os fenômenos do magnetis-mo.

E tanto isso é verdade que os fenômenos se desenvolve-ram à revelia do médium; e, muitas vezes, contra a vontadede todos. E foi o que aconteceu logo na primeira reuniãodos sábios alemães com o médium americano. Estavam,todos, preocupados com a verificação da radiação magnéti-ca do médium, na expectativa duma possível confirmaçãodas experiências realizadas anteriormente pelos professo-res Fechner e Erdmann com Mme. Ruf; quando mal se po-sitivou a radiação magnética do médium americano, retum-bou na sala tremendo fragor, despencando-se pesado re-posteiro, de envolta com a galeria, partida sem contato porpoderosa força misteriosa, a mais de dois metros de distân-cia do médium!

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E quando, em seguida, o médium, de pé, na expectativade obter uma mensagem por escrita direta, colocou sobre amesa uma ponta de lápis de pedra e cobriu-a com uma lou-sa nova, comprada para esse fim, pelo prof. Zöellner, todosouviram, admirados, um ruído, como se mão invisível aliestivesse escrevendo misteriosa mensagem, embora a mãodo médium, houvesse permanecido completamente imó-vel.

Virada, no entanto, a pedra, lá estava a seguinte mensa-gem em inglês: “Perdoem-nos pelo que aconteceu; não eraintenção nossa causar prejuízo.”

Ora, mensagens como esta, escritas sem contato mate-rial, como se as letras fossem materializadas sobre a lousa,eram transmitidas a cada passo, durante as investigaçõesdos sábios alemães com o Dr. Slade! E isso a despeito dorigoroso controle dos investigadores. Mensagens houve, até,que foram escritas em lousas duplas, amarradas e lacradas,e depois colocadas a distância, sem o mínimo contato físi-co. Outras vezes, os próprios investigadores seguravam alousa. Mas, a despeito de tudo e de todos, as mensagensvinham confirmar a interferência de inteligências extrater-renas na manifestação dos fenômenos. O próprio médium,preocupado em demonstrar que a escrita não provinha deprévia preparação da lousa, pediu aos investigadores for-mulassem uma frase mental. Imediatamente a frase surgiana superfície interna da lousa. E como eram frases impro-visadas, nas quais nem os próprios pesquisadores haviampensado antes, não se pode admitir qualquer mistificação.Além disso, para rebater tal hipótese, basta se atente navariedade e na simultaneidade dos fenômenos. Para imitá-los seria necessário grande equipe de prestidigitadores, comnumerosos comparsas, além de ambiente adequado e de com-plicada aparelhagem - coisa que não existe, absolutamente,numa investigação científica, como as que estou a descrever.

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Realmente, os sábios alemães observaram,com o Dr. Slade,espantosa simultaneidade de fenômenos supranormais. As-sim, enquanto observavam a ação do médium sobre a bús-sola, uma campainha foi levitada, e, a tilintar ruidosamen-te, andou a esvoaçar pela sala. Simultaneamente, pequenamesa, colocada a quase dois metros de distância, movimen-tou-se sozinha, deslocou-se, em seguida, até ocultar-sedebaixo da mesa maior, ao redor da qual se encontravam,sentados, os investigadores e o médium. Momentos de-pois, a mesa desapareceu misteriosamente, como se hou-vesse sido desmaterializada, para aparecer, mais tarde, empleno ar, junto ao teto e de lá precipitar-se sobre os investi-gadores, contundindo um deles.

Doutra feita, o médium segurou uma harmônica, semtocar nos teclados, e, enquanto o instrumento, movido porforça desconhecida, executava trechos musicais, a campai-nha soou sozinha e passeou voando na sala. Simultanea-mente, uma delicada mão tocou nas mãos dos assistentes eum papel esfumaçado, previamente colocado pelo prof.Zöellner debaixo da mesa, mostrou a impressão de um pédescalço - pé esquerdo, que, pela deformação de algunsdedos, provou que seu misterioso dono usava sapatos debicos finos...

Comparada com os pés do médium, a impressão nenhu-ma semelhança demonstrou. Outras vezes as impressõesde mãos e de pés eram deixadas em farinha de trigo, coloca-da em pratos, no chão, longe do médium. E, neste caso, apedido dos próprios sábios alemães, os membros momen-taneamente materializados comprovavam sua solidez aper-tando, ou beliscando os investigadores, e deixando, em suasroupas, a impressão permanente desses contatos furtivospelo testemunho das manchas de farinha de trigo...

Muitos outros fatos, cada qual mais notável, foram teste-munhados pelos sábios alemães. Não seria possível, por-tanto, nos limites duma única palestra, esgotar inteiramen-

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te o assunto. Todavia, o que disse já deve ter sido suficientepara demonstrar que o modus operandi desses fenômenos es-capa à Ciência de nossos dias. Conseqüentemente, não sepode admitir que tudo seja, apenas, obra do subconscientedo médium, já que a hipótese de fraude, em investigaçõescomo as que estou relatando, não seria uma calúnia apenas- seria o cúmulo da calúnia!

Não! Desagrade a quem desagradar, o fato é este: a únicaexplicação racional para tais fenômenos é a que lhes dá oEspiritismo!

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FATOS E PROVAS SOBRE O ESPIRITISMO

Os adversários do Espiritismo costumam afirmar enfa- ticamente que os fenômenos espíritas, melhormente

denominados fenômenos mediúnicos, não existem senão naimaginação dos espíritas, de vez que tudo se explica ou pelaalucinação ou pela fraude!

Infelizmente, como a maioria dos brasileiros, coagida porseus diretores espirituais, nunca leu coisa alguma sobre oEspiritismo e desconhece, por conseguinte, o padrão moraldos investigadores e o valor científico das provas coligidas,está muito arraigada entre nós a convicção de que o Espiri-tismo é fonte de loucura e que os espíritas, quando não sãopsicopatas, são papalvos que se deixaram ludibriar pela so-lércia de médiuns exploradores.

Todavia, para pulverizar tamanha sandice, bastaria con-trapor ao caviloso argumento o testemunho dos sábios que,desde a segunda metade do século passado, tiveram opor-tunidade de estar em contato com a fenomenologia espíri-ta. Pode-se afirmar, sem receio de desmentido, que, emnenhum outro setor dos conhecimentos humanos, houve aparticipação de investigadores dotados de tão diversas cultu-ras especializadas; nem dominados por tão manifesta mávontade, desejando cada qual interpretar os fatos à suamaneira, de acordo com seus preconceitos. Não obstante,dentre os que persistiram, controlando demoradamente osfenômenos e repetindo observações e experiências, não

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houve absolutamente nenhum que pudesse negar a autenti-cidade dos fatos. Ao contrário, antropologistas como Lom-broso, fisiologistas como Richet, físicos como Hare,Crookes, Barrett e Lodge, psicólogos como Meyer, Morsellie Flournoy, psiquiatras como Wolff e Fischer, engenheiroscomo De Rochas, laboratoristas como Gibier, químicoscomo Mapes, astrônomos como Flammarion e Zöellner, ma-temáticos como Morgan e Von Lindermann, magistradoscomo Edmunds etc, todos expoentes da cultura no gênerode suas especialidades, uns, convertidos completamente àDoutrina Espírita, outros, infensos à teoria, mas todos deacordo sobre a realidade dos fatos, que não podem ser ex-plicados, na maioria dos casos, nem pela alucinação coleti-va, nem, muito menos, pela trapaça!

Na verdade, em alucinação coletiva, hipótese de si mes-ma discutível, não se pode pensar, porque, para provar osfatos, foram obtidas provas duradouras, como chapas foto-gráficas, modelos em parafinas, impressões em argila ou empapel esfumaçado, gráficos em aparelhos registradores, alémdo controle por meio de aparelhos ultra-sensíveis, como ocontador de Geissler e a célula fotoelétrica. Ora, se o fenô-meno fosse apenas alucinatório, não poderia, em hipótesealguma, deixar a prova material de sua existência - seriaapenas subjetivo, adstrito aos centros nervosos dos médiuns.Com fotografias, trabalhos plásticos e gráficos de precisão,obtidos em aparelhos movimentados por mecanismo de re-lojoaria, fica eliminada a hipótese de alucinação: e fraude,será?

Partindo do fato de poderem ser simulados, nos palcos,quase todos os fenômenos espíritas, os opositores do Espi-ritismo generalizam, abusivamente, o caso, enquadrandotoda a fenomenologia no capítulo da simulação. Ninguémnega que, em certos casos e em dadas circunstâncias, con-forme o caráter do médium, pode dar-se a falcatrua. Não,

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porém, quando os investigadores são idôneos e competen-tes. Com Home, por exemplo, todos os fenômenos se de-senrolavam em plena luz, sem qualquer preparação prévia.

Foi em plena luz, na residência de Crookes, o própriosábio segurando o instrumento, um acordeão, enquanto omédium caminhava à distância de vários metros, executou,sem contato visível com o teclado, belos trechos musicais!Foi também em plena luz que o próprio médium se viu levi-tado até ao teto, podendo lá escrever, a carvão, um sinal,que ficou para demonstrar que não se tratava de alucina-ção; em seguida, sempre levitado, saiu por uma janela, e,voando sobre a rua, numa altura correspondente ao quartoandar, onde se encontrava, entrou, finalmente, por outrajanela para pousar, suavemente, ao solo! Tudo isso, sob oolhar vigilante de Crookes e de outros cientistas, por eleconvidados!

Além de tudo, há, na fenomenologia espírita, uma parti-cularidade que, por si só, afasta a hipótese de farsa - é asimultaneidade das manifestações, fato assinalado por nu-merosos investigadores.

No caso específico de Home, quando o acordeão, seguropor Crooks, tocava sozinho uma melodia, simultaneamen-te notas diversas eram vibradas, num piano, por mão invisí-vel, as cortinas agitadas violentamente e um lenço retiradodo bolso dum assistente e atirado ao canto da sala com umnó apertado... fenômenos que, se fossem fraudulentos, exi-giriam a participação de vários comparsas! Fatos semelhan-tes e, até, muito mais assombrosos foram registrados porsábios insuspeitos, que controlaram numerosos médiuns.Sem embargo, os adversários do Espiritismo continuam atrombetear, estentoricamente, que os fenômenos são umafarsa, raciocinando dessa forma: os fenômenos espíritas sãoimitados pelos prestidigitadores; os prestidigitadores traba-lham por meio de truques e de ilusões dos sentidos; logo, osfenômenos espíritas são truques e ilusões.

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Na verdade, se essa lógica de arromba fosse válida, a Ci-ência estaria derrocada. Pois o método experimental, exa-tamente aquele que lhe deu o atual prestígio, permitindo-lhe até colocar em órbita satélites artificiais, esse métodoconsiste, precisamente, em imitar, no laboratório, os fenô-menos naturais, com o fito de determinar-lhes as leis... Averdade, porém, é que a imitação dum fenômeno, seja elaproduzida por um sábio ou um prestidigitador, nunca anu-lou, por si só, a existência real do fato.

De resto, não pode haver termo de comparação entre osfenômenos espíritas, sempre supranormais, demonstrandoconhecimentos não equacionados pela ciência terrena e pro-duzidos sem qualquer mise en scène, com os truques dos pres-tímanos, realizados à distância do público, de um ângulopropício, sob a proteção de cortinas, disfarçados por jogosde luz e com a participação de comparsas adestrados.

Contrastando com essa encenação, nas investigações es-píritas, o médium é previamente despido, e, depois de mi-nuciosamente examinado, metido num macacão de filó ounum saco especial. Em seguida, é enjaulado e trincafiado.Muitas vezes, por precaução, é também algemado ou amar-rado com cordas ou correntes. Não há comparsas. Não podehaver trampolinagem. O controle é rigoroso. A iluminaçãorazoável, salvo em certos casos, quando a luz inibe os fenô-menos, obsta a manifestação, paralisa a produção. Mas, nes-tes casos, a supressão do controle visual é compensada pelocontrole dos aparelhos automáticos, ou de circuitos elétri-cos ou pelo contato direto e permanente entre o médium eseus controladores. Além disso, fenômenos há que se pro-cessam na escuridão mas que, nem por isso, deixam de serprobantes. Eis um exemplo: em plena treva, estando o mé-dium algemado e amarrado, completamente tolhido em sualiberdade, nota-se, de repente, que toda frase pronunciadana sala é, imediatamente, transformada em misterioso le-treiro de linda fluorescência. Qualquer frase, dita por qual-quer pessoa. Não há possibilidade de fraude, como se vê.Fraude haveria se o letreiro luminoso houvesse sido ante-

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riormente confeccionado, colocado no devido local e coma instalação elétrica pronta para funcionar logo que a liga-ção fosse feita. Mas, nesse caso, ainda que o truque nãofosse descoberto imediatamente, sê-lo-ia logo em seguida,porque só determinadas frases pronunciadas por determi-nadas pessoas, exatamente as que conhecessem o conteú-do dos letreiros, apareceriam escritas em letras luminosas -as demais, pronunciadas pelas outras pessoas, não produzi-riam o fenômeno. De toda forma, o truque só seria possívelpara um número muito restrito de frases e o logro só surtiriaefeito com indivíduos incautos, desprovidos de senso críti-co e privados de examinar o ambiente e de controlar o mé-dium. Ora, no Espiritismo, doutrina de rígida moral, desti-nada à regeneração do homem, pela compreensão de quesó a perfeição e o mérito individual o levam até Deus -fonte da Suprema felicidade - no Espiritismo, repito, nãohaveria, jamais, clima para semelhantes trampolinices cole-tivas.

Se há médiuns trapaceiros e desonestos - e há de havê-los certamente, porque, como todo homem, o médium éfalível - a verdade é que tais infelizes, via de regra, não sãoespíritas, não cabendo, portanto, ao Espiritismo a mínimaresponsabilidade por seu procedimento. Mas, ainda quandoo sejam, a doutrina não merece inquinada pelo fato de cer-tos adeptos, malgrado a intenção que revelam, não logra-rem praticá-la como o exigem seus postulados morais. Por-que isso acontece com todas as filosofias e com todas asreligiões. É portanto, mal das criaturas e não das doutrinas.

A grande verdade, no entanto, é que os fenômenos espí-ritas são irremovíveis e insofismáveis; que o Espiritismo éuma filosofia de elevadíssimo padrão moral; e que os mé-diuns, em geral, são criaturas abnegadas, que se submetem,docilmente, às exigências dos cientistas, convictas da mis-são que lhes cabe realizar, em benefício da humanidade, edesejosas, quase sempre, de ajudarem o próximo, e dandode graça o que de graça receberam!

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A RESPEITO DA INSEMINAÇÃO ‘‘IN VITRO”

Dentre as cartas, que, ultimamente, me chegaram às mãos, se destaca a duma amável ouvinte, culta e in-

teligente, que após exagerados encômios ao valor doutriná-rio dessas palestras, confessa, lealmente, que, agora, quan-do, empolgada pelo Espiritismo, principiava a despojar-sede arraigado ceticismo religioso, eis que surgem as investi-gações da equipe do prof. Petrucci na Itália a entremostrara possibilidade da inseminação fora do corpo humano, dei-xando-a perplexa, sem saber que pensar acerca da origemdo homem.

Pergunta-me, pois, a missivista se, à maneira do que ocor-rerá a outros sistemas espiritualistas, também a DoutrinaEspírita não ruirá inteiramente, se, porventura, a Ciêncialograr gerar uma criança no laboratório?

Antes de entrar no âmago da questão, só para tranqüili-zar a consciência da talentosa argüidora, quero assegurar-lhe, sem a mínima hesitação, que quaisquer que sejam osresultados finais dessas assombrosas investigações, a Dou-trina Espírita continuará de pé. E, de pé, continuará poruma razão muito simples: é que a Filosofia Espírita, ao con-trário dos sistemas especulativos, foi erigida sobre um blo-co maciço de fatos irremovíveis. E basta confrontar, sempreconceito, os fenômenos anímicos, uns cientificamenteestudados no hipnotismo, outros criteriosamente observa-dos pelos investigadores da afamada Sociedade de Pesqui-

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sas Psíquicas, de Londres, com os fenômenos espíritas, fu-riosamente controlados por numerosas sumidades do mun-do científico, basta confrontar essas duas categorias feno-menais para chegar-se à conclusão de que a existência daalma é fato irretorquivelmente comprovado.

Com efeito, os fenômenos anímicos, que, em situaçõesmal definidas, despontam, quer no sono normal, quer nosonambulismo espontâneo, quer no transe hipnótico, de-monstram, insofismavelmente, que o Espírito pode liber-tar-se eventualmente do corpo somático, e, independente-mente do mecanismo cerebral, conservar não só as facul-dades normais como as supranormais, raramente exibidasdurante a encarnação, mas certamente utilizáveis na vidalivre do Além. Ora, constatada a libertação do Espíritodurante a encarnação, por efêmera que seja essa liberdade,demonstrada fica a possibilidade da sobrevivência após adestruição do corpo carnal, conforme acreditam todos osespiritualistas. E que a sobrevivência não é passageira, comoquerem certos materialistas impenitentes e sim duradourae, quiçá, eterna, conforme afiançam as religiões, é fato con-firmado na fenomenologia espírita, mediante a identifica-ção do Espírito de antigos habitantes deste mundo. Hajavista o que sucedeu com o Espírito de meu avô materno,que, vários anos depois de “morto”, se me manifestou porintermédio duma médium que nada sabia a seu respeito,identificando-se-me com tamanha riqueza de dados íntimos,de segredos de família, de fatos pessoais, de retalhos doseu passado, e, tudo isso, numa linguagem que lhe era pe-culiar, temperada de ironia e de facécia, numa personifica-ção tão característica que, terminada a palestra que mante-ve comigo, convicto estava eu de que, na verdade, o Espí-rito sobrevive à morte do corpo físico. E, se sobrevive éporque já existia durante a encarnação. De modo que euque, como tantos outros, buscara, em vão, a prova da exis-

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tência da alma nos dados da Embriologia, da FisiologiaNervosa e da Psicologia, acabei convencido, por uma espé-cie de demonstração a posteriori, que, existindo post-mortem,o Espírito não poderia deixar de ter existido durante a vidaterrena, quaisquer que fossem suas relações com o corpocarnal. E é assim, à margem dos debates metafísicos e dasespeculações teológicas, que o Espiritismo, estribado emfatos de observação, comprova essas três verdades funda-mentais para o destino da humanidade: a existência da alma,a sobrevivência da alma e a comunicação das almas dos“mortos”com os habitantes da Terra. Quaisquer que sejamos futuros progressos da Ciência, nada destruirá essa con-quista do Espiritismo, tão sólida é a base em que repousa.

Dito isso, vou mostrar a posição do Espiritismo em facedas investigações de Bolonha. Diz o noticiário da imprensaque os cientistas italianos conseguiram preparar um “berçobiológico”, ou seja um meio de cultura em que o óvulo e oespermatozóide se encontram em situação muito semelhan-te à que ocorre no organismo feminino após a cópula; eque, graças a isso, não só o óvulo foi fecundado como, umavez transformado em ovo, processou-se a segmentação, aprincípio, de acordo com a embriogenia, mas, posteriormen-te, perturbada por inesperada deformação, motivo por queas investigações não ultrapassaram, por enquanto, o prazode vinte e nove dias.

Como se vê, os pesquisadores nada mais fizeram do queimitar a natureza. E não vejo nisso o menor motivo paraescândalo. Nem a Ciência tem de dar satisfações a precon-ceitos religiosos. O erro provém da pressuposição de que ofilho é carne de nossa carne e sangue de nosso sangue, quan-do, na realidade, exceção feita para os cromossomos comos respectivos genes, os pais nada mais dão aos filhos. Aocontrário, desde o início da fecundação o novo ser conser-va sua autonomia, permanecendo separado do organismo

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materno por uma barreira biológica, através da qual recebedo sangue da mãe alguns elementos químicos previamenteselecionados. Nessas condições, sob o ponto de vista bio-lógico, pouco importa que o ovo seja cultivado no útero ouno tubo de ensaio. De toda forma sua individualidade bio-lógica será preservada.

E sob o aspecto moral serão, acaso, calamitosas as con-seqüências, se, amanhã, a Ciência gerar uma criança nasretortas do laboratório? Em que pese a retificação que cer-tas religiões terão de fazer em suas falsas concepções, nadaexiste no fato que se lhe possa inculpar como imoral. E aoEspiritismo nada afetará o prodígio. Formado no útero ouno recipiente do laboratório, o corpo humano é, semprefruto da movimentação de forças espirituais, trabalho men-tal de embriologistas do Além, que presidem a formação docorpo fetal desde o início da fecundação. E isso não é apa-nágio do gênero humano: ocorre com todos os seres vivos.Com uma diferença - é que, no que concerne à criatura hu-mana, a construção do corpo carnal está subordinada a umalei moral. As leis da Genética, como todas as leis naturais,são controladas por certa categoria de Espíritos. O Univer-so é, pois, como disse Flammarion, um dinamismo psíqui-co, já que é dirigido pelo pensamento dos Espíritos superi-ores, instrumentos da vontade divina. E os cientistas destemundo nada mais são do que instrumentos dos desígniosdos cientistas do Além aos quais estão permanentementeligados por meio de um sexto sentido - a intuição. Ao con-trário do que se imagina, pois, a hereditariedade é espiri-tualmente controlada na espécie humana. Cada Espírito,ao encarnar, deve receber exatamente o corpo que carecepara suas necessidades, no sentido de seu progresso. Assimsendo, o corpo é previamente planificado no Mundo Espi-ritual. Depois, a radiação mental dos cientistas do Alémdirige toda a embriogenia, desde a seleção do espermato-

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zóide até o nascimento do feto. Em havendo, pois, as con-dições físico-químicas imprescindíveis, o corpo fetal tantopode ser construído no útero, como no recipiente dum la-boratório. De toda maneira, Espíritos especialistas desen-cadearão as energias indispensáveis à atuação dos genes eaos fenômenos biológicos dela decorrentes. Pouco importaque o cientista julgue que tudo foi obra sua. Na verdade,porém, sua atuação nos fenômenos físico-químicos, foi ape-nas o reflexo do pensamento dos cientistas que, do outrolado da vida, estão interessados no progresso da Ciência. Eesteja o embrião num “berço biológico” ou alojado no úte-ro, de toda forma, o Espírito destinado à encarnação serátrazido do plano espiritual em que se encontrar, para serimantado gradativamente, célula a célula, no novo organis-mo em gestação. De qualquer modo o Espírito que vier aanimar o corpo artificialmente gerado, estará num grau deevolução compatível com as combinações de genes possí-veis no material colhido para a inseminação artificial. Será,de fato, um filho de laboratório, um Espírito desprovido depai e mãe, mas, de toda forma, um Espírito eterno, criaturade Deus e, por conseguinte, um irmão nosso, sujeito àsmesmas leis fisiológicas e morais que nós, e não um mons-tro, como poderiam supor os que por um erro multissecu-lar, estão acostumados a considerar os filhos como pedaçosda alma e sangue do seu sangue, quando, na verdade, osfilhos são Espíritos eternos, como nós, e como nós provi-soriamente encarnados. A posição do filho é, pois, situaçãoefêmera, para estreitar laços de afinidade espiritual. O quenós somos mesmo é - irmãos. Mas irmãos não pela carne,que é caduca, mas pelo Espírito, que é eterno. E quer aCiência consiga, ou não, gerar uma criança no laboratório,o problema da origem da vida continuará no pé em queestá. Porque na verdade, o segredo permanecerá com osEspíritos superiores, que supervisionaram a reencarnação.

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Logo, o Espiritismo, que ensina tais verdades, em nada po-derá ser prejudicado com a inseminação in vitro, mesmo quese chegue à formação dum ser humano, pois, de toda for-ma, o que terá estado em jogo será a natureza dirigida pelopensamento dos Espíritos - os encarnados e os desencarna-dos - todos obedecendo aos supremos desígnios do Cria-dor.

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De longínqua cidade mineira e com o indefectível atra- so de nossos serviços postais, acabo de receber, acom-

panhada de um recorte de O Globo de 11 de novembro,com uma entrevista do professor de Física da PontifíciaUniversidade Católica desta capital, amável missiva de umouvinte deste programa, em que se me pede um comentárioconcernente à hipótese da pluralidade dos mundos habita-dos, aceita, em princípio, pelo sacerdote-cientista.

Inicialmente, devo declarar alto e bom som que estou depleno acordo com o sábio sacerdote, no que tange aos con-ceitos científicos e às previsíveis conseqüências do lança-mento de satélites artificiais; e que aplaudo, com sincerojúbilo, o desassombro anticanônico com que o esclarecidomembro da Igreja Católica afirmou de público e raso que:“Mesmo prescindindo de provas concretas pode-se sempreafirmar que o Universo todo, que, em sua extraordináriavariedade representa a riqueza de Deus no sentido materi-al, também seja lugar apropriado para representar a riquezade Deus no sentido espiritual, isto é, com a existência deoutros seres inteligentes.”

De fato, quando se compara nosso pequenino planeta,considerado pela Igreja como o centro das atenções de Deus,mundo privilegiado, que, além da encarnação do homem,mereceu a encarnação do próprio Criador do Universo, per-sonificado em Jesus Cristo; quando se compara este insig-

DA PLURALIDADE DOS

MUNDOS HABITADOS

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nificante mundozinho torto, que, acossado por forças inco-ercíveis, traduzidas, a miúdo, em terríveis cataclismos, emlastimáveis intempéries, rodopia através da imensidão doespaço, em chocante contraste com a majestosa grandeza ea deslumbrante beleza de outros astros mil vezes mais por-tentosos; quando, em suma, se compara o nosso mundo comos mundos que nos rodeiam, não podemos deixar de con-jecturar que a vida não é apanágio da Terra. Na verdade,que pensaríamos nós de um rei poderosíssimo, que man-dasse construir imenso palácio, com milhares de faustosís-simos salões e amplíssimos quartos e riquíssimas alcovas e,a despeito de tudo, e contra tudo, encafuasse os filhos nocômodo mais reles do luxuosíssimo palácio, naquele que,aparentemente, estaria destinado ao abrigo dos mais ínfi-mos servos da real mansão? Pensaríamos, certamente, que,embora, riquíssimo e poderosíssimo o rei, além de um paidegenerado, era totalmente louco pois não haveria qualquerfinalidade na grandiosa obra que empreendera!

Como conceber, então, que Deus, a infinita sabedoria,pudesse criar um Universo infinitamente grande e povoadode mundo incontáveis, para, ao fim, localizar a vida exclu-sivamente nesta água-furtada da divina criação, que é a nossapobre Terra, e deixar eternamente vazios, sem vida, os ou-tros mundos, os maiores, os mais belos os que, melhor-mente, atestam a sabedoria de Deus?

Claro que, quando falamos vida não na concebemos talqual se encontra aqui - concebemo-la sobre outros aspec-tos e formas que se adaptam tão bem aos outros, quanto avida terrena se ajusta ao nosso planeta.

Raciocinar doutra forma, imaginar que só há vida ondeexistem condições semelhantes às da Terra é raciocinarcomo o peixe de que nos fala Flammarion. Sim, porque, seum peixe da superfície se atrevesse a arriscada incursão nascamadas profundas do oceano, e lá quisesse convencer ao

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cego habitante das eternas trevas marinhas da existência deoutros mundos habitados - um sólido, palmilhado por es-tranho bípede implume, e outro gasoso, cortado pelo vôoincessante de maravilhosa fauna alada, o peixe dos abismosoceânicos jamais aceitaria a “revelação” do habitante dasclaras águas superficiais, por mais que o outro lhe assegu-rasse que todas as vezes que logrou aflorar a cabeça forad’água pôde comprovar a existência dos referidos mundos.Obstinado, o peixe das profundezas marinhas continuaria aafirmar, enfaticamente, que a vida só poderá existir nomundo aquático e em trevas, já que ele nada vê.

Idêntico raciocínio costumam fazer os homens de ciên-cia, que negam a existência de seres vivos noutros mundos,sob a alegação de que em nenhum deles existem condiçõespara a manutenção da vida.

Entretanto, quem já teve oportunidade de várias vezestestemunhar a sobrevivência da alma, de comprovar a ma-terialização efêmera de um Espírito que habitou, como nós,este mundo e que, desprovido do corpo carnal, continuoutão vivo, ou mais, do que quando encarnado neste mundo,e a prova é que, valendo-se de forças e de leis que a Ciênciaterrena ainda ignora, podem reconstruir, momentaneamen-te, com o auxílio de certos médiuns, um corpo carnal idên-tico ao que possuíram em vida; quem já teve ocasião decertificar-se da existência da vida fora do corpo, indepen-dente da matéria, não pode, absolutamente, duvidar de queos outros mundos são outras tantas moradas de seres inteli-gentes, os quais, como a raça humana, percorrem, atravésdesses globos celestes, os eternos caminhos da eterna evo-lução rumo a Deus, que é a suprema meta, porque é o cen-tro da infinita perfeição e da felicidade absoluta.

Mesmo dando de barato que somente nos planetas quepossuem condições de habitabilidade idênticas às da Terraa vida pode subsistir, ainda assim, tão numerosos são os

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astros, (centenas de milhares só em nossa galáxia) que muitofortes são as probabilidades de haver, espalhados no Uni-verso, muitos mundos que reúnem as condições exigidas aodesenvolvimento da vida.

De toda forma, portanto, a teoria da pluralidade de mun-dos habitados encontra apoio na lógica dos fatos e no con-ceito de sabedoria que todos nós, teístas, quer sejamos ca-tólicos ou espíritas, formamos a respeito do Criador doUniverso.

Por isso mesmo, não me causa espécie que um físico docalibre do mestre da Pontifícia Universidade Católica ad-mita a existência de seres inteligentes em outros mundos,se bem que ele pareça querer restringir o círculo da vida amundos semelhantes ao nosso. O que me impressionou, noentanto, foi o fato de um sacerdote católico, embora físicoprovecto, não haver encontrado a mínima incompatibilida-de entre o ensino da Igreja e a provável demonstração dire-ta da existência de selenitas, marcianos e venusianos nospróximos anos, graças aos fantásticos progressos científi-cos e tecnológicos recentemente conquistados.

Na verdade, não é o primeiro padre que aceita a plurali-dade de mundos habitados. Poucos, porém, teriam a cora-gem de proclamá-lo publicamente. Vejamos porquê.

A Igreja admite, como dogma, que Jesus foi Deus encar-nado para salvar os homens, que, afastados da lei de Deus,subjugados à tentação de Satanás, caminhavam, todos, paraas caldeiras do Inferno. Desprende-se, então, uma partícu-la da santíssima trindade - o filho - e fazendo-se homem,chama a si todas as dores da humanidade e, por seu sofri-mento, nos salva a todos nós de irremediável perdição.

Parece que aqui houve um erro de previsão e flagranteinjustiça. Erro de previsão quando o Criador, ao criar osprimeiros Espíritos humanos, imaginou que eles própriospudessem salvar-se por seus méritos pessoais. Mas a prin-

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cipiar por nosso pai Adão, ou melhor, por nossa mãe Eva,logo se viu que a criatura de Deus era mais fraca do que Elesupunha... Também pudera. Se Belzebu, que era anjo, de-caiu revoltando-se contra seu criador, como não haveria defracassar Adão, espírito estritamente humano, nada seme-lhante aos anjos, se, além de suas próprias fraquezas ingê-nitas, ainda teve de arrostar a tentação de um anjo crimino-so, transformado em eterno malfeitor, com salvo-condutopara excursionar neste planeta e com inteira liberdade parailaquear a boa fé dos incautos, como o primitivo habitantedo Éden? E, à guisa de Adão, como não haveriam de fra-cassar as demais criaturas, todas imperfeitas e todas sujei-tas a onímoda tentação do solerte e sagassíssimo rei do In-ferno e da sinistra camarilha que o obedece passivamente?

Verificada, porém, a impossibilidade de o homem erguer-se por si mesmo, quis Deus remediar seu próprio erro e,para isso, faz-se homem, não para nos salvar por sua dou-trina e por seu exemplo, mas para aplacar a ira de Deus,chamando sobre si as dores provocadas pelas iniqüidadeshumanas e restabelecer a reconciliação entre o Criador e acriatura.

Infelizmente, porém, parece que ainda uma vez, a previ-são falhou. Porque a despeito da doutrina e dos exemplos,os homens não compreenderam a grandeza do missionário- mataram-no hediondamente na cruz e voltaram as costasaos seus exemplos - foram fabricar bombas atômicas e tele-guiados, para tornarem mais eficientes as futuras hecatom-bes...

Sei perfeitamente que há várias interpretações em rela-ção a finalidade da divina encarnação. Não pretendo discu-ti-las, no entanto, mas apenas ressaltar o seguinte: se a en-carnação de Deus se tornou imprescindível à salvação doshomens, então houve flagrante injustiça na condenação detodos os que antecederam à vinda do Salvador, e que fra-

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cassaram, porque, por eles mesmos, não se poderiam salvar- fato difícil de aceitar porque Deus é a Suprema Perfeição,e, por conseqüência, não poderia jamais praticar a mínimainjustiça.

Admitido, porém, que Deus encarnou, de fato, nestemundo, evidente se torna que, para ser justo, deverá encar-nar, sucessivamente, em todos os mundos onde haja criatu-ras inteligentes. Do contrário, a Terra e a humanidade terre-na seriam privilegiadas - e como o privilégio é sempre re-pugnante às consciências bem formadas, não se poderiaadmitir tamanho absurdo partindo d’Aquele que para nósencarna a perfeição infinita. Logo, Jesus, que, para a IgrejaCatólica, é Deus, na pessoa do Filho, uma das pessoas damisteriosa Trindade, estaria forçado a encarnar em todos osmundos onde as criaturas por si mesmas não se pudessemsalvar. Ora, encarnar a mesma pessoa em vários mundoschama-se exatamente reencarnar. De modo que, em acei-tando a pluralidade de mundos habitados, terá de aceitaripso facto, a Igreja Católica, a reencarnação de Deus nos di-ferentes mundos necessitados do divino exemplo, da di-vina doutrina ou do divino sacrifício... Conseqüentemente,a Igreja, que repele, indignada, a reencarnação dos Espíri-tos humanos, imperfeitos e carecedores de inúmeras opor-tunidades para se corrigirem de suas impurezas e deficiên-cias originárias, a Igreja será forçada a aceitar a doutrina dareencarnação por uma via muito mais transcendental - re-encarnação de Deus nos diversos mundos habitados, parase quitar com a própria justiça divina.

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CONTRA OS PRECONCEITOS CIENTÍFICOS

Nunca, jamais, a paixão falseou tanto a interpretação dos fatos como no explosivo domínio da fenomeno-

logia espírita!Ainda que se despreze inteiramente a opinião dos sectá-

rios fanáticos, que, impulsionados por uma fé de todo emtodo irracional, estribada, apenas, em duvidosos textos depretensas escrituras sagradas, antepõem aos fatos de obser-vação as provas experimentais, versículos bíblicos; aindaque se despreze, liminarmente, a condenação dessa gente,força é reconhecer que também nos meios científicos senota, desgraçadamente, a influência poderosíssima de mui-tos preconceitos, que contribuem para deformar as conclu-sões das investigações experimentais, dos fenômenos me-diúnicos.

Embora seja regra elementar do método experimental,os cientistas que investigam os fenômenos espíritas fingemesquecer que: quando, no decurso duma experiência, sur-gem várias hipóteses para explicar os fatos observados, deve-se considerar como verdadeira a que explica maior númerode fatos. Fingem esquecer, disse eu, porque, no fundo desuas consciências, ele sabem muito bem que a única hipó-tese que abarca o conjunto dos fenômenos é a espírita, masnão querem, ou não podem arrostar as idéias que, emboraerrôneas, já conquistaram direito de cidade. Manda a justi-ça se ressalve, no entanto, que dentre os sábios que repul-

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saram o Espiritismo, muitos não o fizeram por tibieza, ape-nas: foram ludibriados, porém, por seus próprios precon-ceitos, que se entrechocaram com a teoria espírita. Repeli-ram-na a priori, ao invés de deixarem a natureza falar, paraverificarem se ela era pró ou contra o Espiritismo.

Pode-se mesmo afirmar que, em relação aos fenômenosespíritas, muitos homens de ciência investigam não paradescobrir a verdade, mas para sufocá-la definitivamente,eliminando, da liça, um competidor importuno das teoriasque lhe granjearam fama e honrosa posição na hierarquiacientífica.

Quereis, porventura, uma prova ? Pois dar-vos-la-ei in-continenti.

Quem não conhece, de nome, ao menos, o célebre pro-fessor Charles Richet? Sábio de fama mundial, emérito ca-tedrático da Faculdade de Medicina de Paris, autor de me-moráveis descobertas científicas, glória legítima da França,o prof. Richet dedicou cerca de cinqüenta anos à investiga-ção dos chamados fenômenos ocultos. Durante este longoperíodo esteve em contato com vários médiuns de fama,investigou os fenômenos espíritas com toda argúcia e rigortécnico de que era capaz, obteve provas estupendas da so-brevivência da alma, e, conseqüentemente, a confirmaçãodas hipóteses aceitas pelo Espiritismo. Não obstante, de-pois de tão árduas e prolongadas experiências, confessou,rasgadamente, em seu Tratado de Metapsíquica, que a únicateoria que parecia explicar o conjunto dos fatos era a espíri-ta, mas, tão infensa era sua formação intelectual ao Espiri-tismo, que ele preferia não concluir nada, não formar teo-ria alguma e continuar, apenas, a juntar fatos sobre fatos,para ver se, mais tarde, alguma generalização científica po-deria ser feita!

Como vedes, prezados irmãos, uma atitude berrantementeanticientífica, tomada, ostensivamente, por um dos maio-res sábios do século passado.

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Aliás, noutra obra de vulgarização, já traduzida para overnáculo, o eminente mestre francês, refletindo a mentali-dade que ainda impera na maioria dos círculos científicos,teve a hombridade de confessar publicamente aquilo mes-mo que, desgraçadamente, a maioria dos investigadorescostuma fazer, sem ter, no entanto, a coragem de declararabertamente. Confessou Charles Richet em O Sexto Sentido,obra interessantíssima, diga-se de passagem, que, em in-vestigando os maravilhosos fenômenos mediúnicos, osmesmos que foram batizados nos austeros salões das aca-demias com o pomposo nome de fenômenos criptestésicos,ou, mais condensadamente, criptestesia, todo o seu esforçoconvergiu, não no sentido de comprovar a existência dosfatos, mas, ao contrário, de demonstrar a inexistência deles.

Para dirimir dúvidas, dou a palavra ao mestre da Sorbo-ne. Diz ele, textualmente, à página 103 de O Sexto Sentido,edição de 1940, da Sociedade de Metapsíquica de São Pau-lo: “Minhas muito numerosas experiências, muitas vezesinterrompidas, prosseguidas durante cinqüenta anos nascondições mais diversas, embora as dificuldades de todasas espécies, permitem estabelecer com grande nitidez, aexistência do conhecimento da realidade por meios dife-rentes dos sensoriais normais.” Mais adiante, depois de ad-vertir que os resultados de suas investigações não podemser atribuídos ao acaso, afirma peremptoriamente: “Serialoucura supor que minha vida e minha experimentação fo-ram cercadas de coincidências.” E, logo em seguida, reve-lando seu estado de espírito durante essas investigações,confessa abertamente: “Procurei estabelecer a ausência dacriptestesia. Empreguei grandes esforços para não consta-tá-la. Não obstante, cheguei, por minhas próprias experiên-cias, a confirmar o que as alucinações verídicas já me havi-am ensinado, a saber que algumas vezes a realidade fere porvias misteriosas nossa inteligência. Para recusarmos a ad-

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mitir isso, continua o sábio fisiologista, para recusarmosadmitir isso, é preciso ter a triste coragem de desdenhar aciência experimental!”

São palavras textuais de Richet, meus irmãos. Se, porum lado, elas fazem honra à coragem com que o mestreconfessou seus esforços para eliminar uma hipótese bas-tante incômoda para a ciência materialista, por outro lado,podemos verificar quanto a paixão turbou o raciocínio dosábio, pois estando, como esteve, frente a frente com a teo-ria espírita, a única que lhe daria a explicação racional doconjunto de fatos, afastou-a, propositadamente, só porquecontrariava seus preconceitos acadêmicos!

Esta, aliás, tem sido, infelizmente para a humanidade, atrilha seguida pela maioria dos cientistas. E ao focalizar onome aureolado do grande sábio, não me move outro senti-mento senão o de tomar, como padrão para discussão, umvulto eminente como ele, cuja autoridade científica é in-contestável, e, pela crítica de sua atitude, face ao Espiritis-mo, justificar, perante meus amáveis irmãos, por que moti-vo muitos sábios que experimentaram no terreno da feno-menologia espírita, não aderiram à Doutrina Kardequiana.

É por considerar Richet autêntica expressão da culturacientífica e uma autoridade em matéria de fenômenos me-tapsíquicos que o elegi, dentre muitos, para o tema destapalestra.

Agora, vou tentar reproduzir uma das mais notáveis ex-periências arquitetadas por Richet, onde se nota claramen-te o contraste entre os fatos observados e as hipóteses in-duzidas, tudo em detrimento da única hipótese que ressaltaaos olhos de quem não se deixa cegar pela paixão.

Imaginemos, neste momento, que temos diante dos olhosuma sala, onde se vêem duas mesas retangulares, distantesuma da outra cerca de três metros. Numa das mesas, sen-tam-se três pessoas - o médium, ao centro, e de cada lado,

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um controlador para observar seus movimentos e impedirsua problemática ação sobre o móvel. Na outra mesa, pordetrás da primeira, está colocado um quadro alfabético, emposição oblíqua, escorado e escondido por um anteparo.Nela, sentam-se duas pessoas: uma, de lápis em punho, vaipercorrendo o letreiro, cujas letras não estão, aliás, na or-dem normal do alfabeto mas, ao contrário, foram dispos-tas, de propósito, numa ordem totalmente arbitrária. Ao ladodessa pessoa, está outra, com papel e lápis, para anotar asletras escolhidas. Prestai bem atenção: o médium está decostas para a mesa onde se coloca o quadro alfabético; mas,ainda que estivesse de frente, nada poderia ver porque oalfabeto fica oculto, por um anteparo, e, além disso, as le-tras estão do outro lado do quadro, de frente para a pessoaencarregada de anotar as letras escolhidas. Pois bem: esta-belece-se um circuito elétrico, dentro do qual se coloca umacampainha e se dispõe tudo de tal modo que, toda vez queum dos pés da mesa perde contato com o solo, a campainhatilinta imediatamente. Note-se bem: o contato elétrico éestabelecido com um dos dois pés do móvel que estão maispróximo do médium, o qual tem suas mãos, controladas,sobre a mesa, de modo que, se ele quiser forçar o móvel,em vez de erguer, só poderá calcar, cada vez mais, o pé domóvel sobre o solo.

No entanto, com tal disposição experimental, imaginadapelo prof. Richet, conforme descreve no Tratado de Metap-síquica, sempre que a ponta do lápis, guiada pela pessoa queestava sentada por trás do médium e em frente ao quadroalfabético, passava sobre a letra necessária à formação dapalavra, o pé da mesa era levitado, a campainha retinia e apessoa encarregada de anotar escrevia no papel a letra apon-tada pela mesa.

Nessas condições, a mesa transmitiu mensagens muitointeressantes, inclusive em latim e em escrita especular, istoé, em escrita invertida, que só se lê refletida num espelho.

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Além disso, transmitiu mensagens em francês arcaico, assi-nadas por Villon, cujo estilo se equiparava ao do afamadoboêmio, cuja verve escarninha vergastou, muitas vezes, atirania de Luiz XI. Doutra feita, estando presente o sábioWilliam Crookes, que foi especialmente à França, para as-sistir às experiências de Richet, a mesa transmitiu mensa-gem em inglês, língua que o médium ignorava totalmente.

Ora, para Richet tudo isso é criptestesia - faculdade su-pranormal, pela qual o médium pode ver sem ajuda dosolhos. E a levitação para ele é movimento muscular incons-ciente, o tal aventado por Chevreul, e desmoralizado pelasinvestigações de Gasparin, Thury, De Rochas, Maxwell etantos outros sábios, que provaram que havia, também, le-vitação sem contato de espécie alguma, e, portanto, semauxílio de qualquer contratura muscular, consciente ou in-consciente. Também a afamada Sociedade Dialética deLondres, constituída de grandes vultos da ciência inglesaarrasou, numa série de experiências memoráveis, a hipóte-se absurda de Chevreul.

A hipótese de que as letras tenham sido escolhidas pelomédium é de todo em todo improcedente. Pelo simples fatode que, durante a experiência, o médium não entrava emtranse - ficava no estado normal, conversando ou obrigadoa ler em voz alta um livro qualquer. Também os demaisinvestigadores, inclusive Richet, palestravam, cantavam ouliam durante o tempo todo. Isto, por si só, afasta, outros-sim, a hipótese de telepatia. Alucinação coletiva tambémnão era. Porque a mensagem anotada, perdurava, como pro-va permanente de um fenômeno passageiro. Hipnotismonão era também, porque o circuito elétrico não poderia serinterrompido por efeito hipnótico. De modo que, a despei-to de tudo e de todos, a única hipótese que se impõe é,incontestavelmente, a espírita. Villon e os demais Espíri-tos, conhecedores de forças e de leis que ainda desconhe-

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cemos, mas cujos efeitos constatamos diariamente no Es-piritismo, conseguiram transmitir suas mensagens e demons-trar, assim, que a vida continua depois da tumba.

Uma coisa é acreditar na sobrevivência da alma, outracoisa é prová-la experimentalmente. E é o que o Espiritis-mo vem fazendo para reforçar a confiança do homem najustiça divina, estimulando-o, destarte, a aperfeiçoar-se afim de merecer, no Além, vida mais feliz do que esta daTerra!

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Nada deverá interessar tanto ao homem quanto sa- ber se nele existe ou não uma alma imortal. Da acei-tação ou da negação deste fato, resultará, fatalmente, seucomportamento em relação à vida terrena.

Em que pese, porém, a transcendental significação doproblema, a questão tem ficado, até hoje, circunscrita aocampo da Metafísica e ao domínio da religião - com a solu-ção adstrita, por conseguinte, à dialética e à dogmática. ACiência, essa tomando como absoluta a relativa interdepen-dência existente entre as faculdades da alma e as funçõessomáticas, considera o Espírito como subproduto do cére-bro, transformando, destarte, a Psicologia - etimologicamen-te ciência da alma - em mera fisiologia nervosa...

Sem embargo, seguindo outra via de acesso, vou demons-trar, não apenas com argumentos lógicos, mas com fatosirrecusáveis, que as correlações entre as faculdades da almae o sistema nervoso, embora muito estreitas, não são, con-tudo, absolutas, devendo o cérebro ser considerado, nãocomo o produtor das faculdades do Espírito, mas, tão-so-mente, como o instrumento adequado às manifestaçõesanímicas no plano terreno. Vou demonstrar mais - que, du-rante a vida terrena, já se pode constatar, com provas obje-tivas, a presença, no homem, do corpo espiritual com o qualviverá no Além. Em suma, vou demonstrar a existência daalma, como um fato positivo - e não como um artigo de fé.

DA EXISTÊNCIA DA ALMA

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Ninguém nega que, normalmente, os “estados de consci-ências”, eufemismo com que a Ciência oculta as faculdadesda alma, estão ligados à fisiologia cerebral. Ligeira diminui-ção da circulação cerebral pode provocar perda da consci-ência. E se o distúrbio for crônico, todas as faculdades men-tais serão seriamente afetadas, inclusive a memória.

Contrastando com isso, apresenta-se-nos o fato de indi-víduos afogados, momentos antes de perderem a consciên-cia, se haverem recordado, com estranha nitidez, das míni-mas particularidades do passado, vendo, numa espécie devisão panorâmica, tudo o que com ele ocorreu desde as pri-mícias da vida. Casos houve, até, em que objetos perdidosforam reencontrados mercê dessa prodigiosa memorização.

Ora, se a memória fosse, de fato, propriedade exclusivado cérebro, não se compreenderia como, exatamente, nomomento em que o órgão está gravemente afetado, privadode oxigênio, a memória possa adquirir tamanha intensida-de, superando a do estado normal. Eis aqui, pois, o primei-ro indício de que as faculdades da alma não são, mesmo,propriedades da matéria, fabricação dos neurônios.

Prossigamos, porém. Como toda gente sabe, as sensa-ções são coletadas por receptores específicos e de lá trans-mitidas ao cérebro, onde se transmutam em percepções.Assim: o receptor para a visão, são células em cone ou embastonete da retina; o receptor para a audição é o órgão deCorti, localizado no ouvido interno; o receptor para o olfa-to são as células olfativas da mucosa nasal; os corpúsculosde Meissner e de Pacini são os receptores para o tato; oscorpúsculos de Krause, para a sensação de frio; os deRuffini, para as de calor; as terminações nervosas livres,para a dor etc, todas constituindo as vias através das quaisas diferentes sensações atingem à consciência.

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Vale dizer que: sem retina, ninguém poderá ver; sem ór-gão de Corti, ninguém poderá ouvir; sem células olfativas,ninguém poderá sentir odor, etc.

Entretanto, no estado de sonambulismo, seja ele espon-tâneo ou provocado, o indivíduo vê de olhos fechados, vêde olhos rigorosamente vendados e, até, através de corposopacos; vê, portanto, sem ajuda da retina, fato inexplicávelà luz da Ciência. Da mesma forma, com o conduto auditivohermeticamente tapado, o sonâmbulo ouve sons inaudíveisao ouvido normal; ouve, até, conversas a grandes distânci-as - tudo absolutamente contrário à fisiologia e ao arrepiodas leis físicas.

Isso prova que a consciência ou melhor - o Espírito -possui vias extrasensoriais para o contato com o mundoexterior. Prova mais: que a sensação é propriedade imanen-te do Espírito e não, apenas, fenômeno físico-químico ine-rente a receptores adequados.

Ainda mais - é ponto pacífico, na Fisiologia, que os re-ceptores das diversas sensações, respondem, especificamen-te, aos estímulos, quaisquer que sejam. Por exemplo: a re-tina, tanto faz que o excitante seja a luz, a corrente elétricaou o traumatismo, reage, sempre, com um fenômeno lumi-noso.

Contudo, não só no sonambulismo, como no hipnotismoou no Espiritismo, pode ocorrer - e ocorre freqüentemente- a transposição dos sentidos, de tal forma que o indivíduopassa a ver pela extremidade dos dedos, por exemplo, en-quanto que a retina permanece absolutamente cega.

Pode, também, ouvir por diversas partes do corpo, o co-tovelo, por exemplo, ao passo que o aparelho auditivo setorna completamente insensível aos sons.

Ora, como nos dedos não existem células em bastonetes,nem em cone, e como, no cotovelo, não existe, outrossim,órgão de Corti, é óbvio que, embora, normalmente, tais re-

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ceptores sejam os instrumentos adequados, a sensação nãoreside na matéria, não é propriedade do neurônio - éfaculdade do Espírito, razão por que, em certos casos, erro-neamente considerados patológicos, pode escapar, momen-taneamente, do órgão próprio, afluindo para outra regiãodo corpo somático.

Por outro lado, é sabido que durante o transe, seja elesonambúlico , hipnótico ou mediúnico, a sensibilidade de-saparece totalmente da superfície do corpo, embora as fi-bras receptoras lá permaneçam perfeitas.

O indivíduo pode ser espetado, furado, queimado, tortu-rado que pouco se lhe dá - nada sente! Também não reage,muita vez, às mais violentas excitações, um tiro ao pé doouvido não lhe provoca o menor reflexo de defesa; um chu-maço de algodão embebido de amônia não lhe causa qual-quer incômodo. Não sente nada, não ouve nada, não perce-be nenhum odor! Todos os sentidos estão como que blo-queados. Entretanto, a inteligência pode estar muito maisaguçada. Tanto assim que resolve, em transe, problemasque, acordado, não sabe solucionar!

Experiências interessantíssimas de De Rochas, que foradiretor da Escola Politécnica de Paris, demonstraram que,durante o transe, escapa, do corpo dos sonâmbulos umaemanação de dupla coloração, azulada à direita e averme-lhada à esquerda, a princípio de forma indefinida, que, apouco e pouco, adquire exatamente a aparência do corpocarnal, como se fosse o seu fac-simile etéreo: é o corpo astraldos ocultistas, o corpo espiritual de São Paulo, o perispíritodos kardequistas.

Valendo-se da clarividência de diversos sensitivos, simul-taneamente em transe, De Rochas pôde certificar-se de quea sensibilidade escapando da pele, permanece fora do cor-po, em camadas concêntricas, até três metros de distância.Qualquer contato com elas, provoca dor e contraturas mus-

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culares no sonâmbulo. Uma alfinetada na mão do corpoastral, determina um ferimento correspondente na mão dosensitivo. Tudo demonstrando que a sensibilidade perten-ce, de fato, ao corpo astral, ao perispírito e não ao sistemanervoso.

E será, acaso, o corpo astral uma realidade objetiva? Sim.É, de fato, uma realidade. Eis a prova. Primeiro a provasubjetiva. Emília Sagée, bela professora francesa, em plenovigor físico, desdobrava-se com a maior facilidade, sendo ofenômeno testemunhado por todas as jovens educandas deum colégio que, em 1845, existiu em Vôlmar, nas proximi-dades de Riga. Às vezes, durante a refeição, estando senta-da, seu “duplo” escapulia do corpo, permanecendo de pé,atrás dela, movimentando-se sincronicamente com a gesti-culação do corpo físico. Duma feita, na ocasião em que umacolegial se enfeitava diante do espelho, viu nele, refletida, aimagem do duplo da professora que, no momento, se apro-ximou para ajudá-la a vestir-se. A moça desmaiou de emo-ção. Todavia, a reflexão da imagem, de acordo com as leisda Ótica, é prova de que não foi alucinação. Mesmo por-que, doutra feita, estando a professora no jardim e observa-da por quarenta e duas alunas, seu duplo veio, inexplicavel-mente, sentar-se à cabeceira duma mesa, em torno da qualestavam reunidas todas as jovens. Ainda mais - duas alunassó se convenceram de que não era a própria professora, emcarne e osso, quando tocaram e atravessaram, sem resis-tência, o corpo espiritual ali presente!

Não se pode recusar tão forte prova testemunhal. Sobre-tudo quando se sabe, que, ao ser despedida do colégio, adesditosa professora, confessou, lacrimosa, que, com aque-le, era o décimo oitavo educandário que a mandava embo-ra!

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Contudo, vamos às provas objetivas. Respondendo aodesafio do filósofo Von Hartmann, o Conselheiro Aksakof,homem de vasta erudição e de caráter ilibado, estampouem seu livro, Animismo e Espiritismo, várias provas fotográ-ficas, obtidas em condições que comprovam, insofismavel-mente, a objetividade do corpo espiritual ou perispírito. Emuitos outros exemplos existem na literatura espírita. Ora,as máquinas fotográficas não sofrem alucinações.

Logo o perispírito é um fato. E que pode deslocar-se àgrande distância do corpo físico. Provam-no exemplos comoeste: certa vez, estando eu muito preocupado com a doen-ça duma sobrinha, vali-me das faculdades supranormais deminha senhora, pedindo-lhe que fosse, em Espírito, à Para-íba do Sul, cidade que ela não conhecia, e verificasse a ver-dade. Entretanto, em estado cataléptico, aparentementemorta, assim permaneceu alguns minutos. Voltando, emseguida, ao normal, descreveu tudo exatamente: a cidade, acasa, as pessoas, a doença da menina e o engano do médicoassistente. Fui imediatamente ao telefone. Meu irmão, es-pantado, confirmou, inclusive uma queda sofrida pela cri-ança. Tudo confirmado, estribei-me na orientação e pres-crevi a medicação homeopática. A doença, que já durava15 dias, desapareceu como que por encanto. Contei apenasum caso. Poderia contar muitos. A Sociedade de EstudosPsíquicos, de Londres, ninho de sábios, publicou em Fan-tasmas dos Vivos cerca de 700 casos semelhantes. Penso,porém, que a prova está feita. Mostrei que os estados deconsciência não dependem tanto do cérebro como se admi-te. Mostrei que as sensações, em última análise, não depen-dem dos órgãos receptores. Mostrei que o corpo espiritualestá sujeito às leis da ótica e que pode ser fotografado.Mostrei, finalmente, que o Espírito, ainda em vida, podeagir fora do corpo. Provei, portanto, a existência da alma!

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QUE É O PENSAMENTO?

O pensamento é a própria essência da vida. Impalpável como o éter, é evidente como a luz. Misterioso comoa vida, é mais potente do que o Sol. Porque fez, sozinho, omilagre da civilização.

Libertou o homem da caverna; arrancou-o das presasagressivas de inimigos ferozes; impeliu-o ao domínio detodos os elementos; fê-lo rei da natureza. Desbravou selvasindevassáveis. Sulcou mares ignotos. Entrelaçou cinco con-tinentes. Edificou milhares de cidades. Transformou a fisi-onomia da Terra: mesclou todas as raças.

Fez mais, o pensamento. Rompeu os grilhões da escrava-tura terrena. Quebrou as grades que mantêm o homem en-carcerado num mundo torto, hostil à vida, sacudido de ca-taclismos, sujeito às intempéries, girando no infinito, comoum átomo de pó arrastado pela brisa, em meio de milharese milhares de universos, cujas distâncias entre si, se contamem milhões de anos-luz!

E, destarte, livre em espírito, posto que, acorrentadomaterialmente ao planeta, o homem viajou num raio deluz, através da vertigem apocalíptica do espaço-tempo...

E pesou mundos. E ultrapassou nebulosas.Depois de vencer a selva, o mar e o espaço, o pensa-

mento escapou da Terra para conquistar o Universo in-teiro!

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Tudo isso realizou o pensamento humano. E mais do quetudo isso, anulou todas as distâncias e aproximou o homemde Deus, pelas vibrações da prece!

E, no entanto, esta força colossal, este poder incalculá-vel, escapa, sorrateiramente, ao registro dos mais engenho-sos aparelhos!

Não modifica o equilíbrio da balança mais sensível. Nãoimpressiona o aparelho mais delicado. Não se pesa; não semede; não se vê e não se palpa; é imponderável! E, contu-do, é evidente, insofismável, irredutível. Está, indissolu-velmente, ligado à vida do homem, de tal sorte que, despo-jado dele, o homem não passaria de um macaco degenera-do, vivendo automaticamente, conduzido pelos instintos,condenado eternamente à toca, para sobreviver à sanha dosanimais mais possantes e menos tímidos...

É justa, portanto, a consagração que, em todos os tem-pos, mereceu o pensamento. Pitágoras, como Platão e Aris-tóteles, e todos os gênios, só valem pelo que pensaram...

Entretanto, ninguém como Descartes valorizou tanto opensamento.

Para o afamado autor de Discurso sobre o Método, a existên-cia do homem está, em última análise, condicionada à exis-tência do pensamento. Não a existência do homem físico,carnal, mas a do homem eterno, imortal, supra-físico - oEspírito, que gera o pensamento.

“Penso, logo existo”. Três palavras que valem um epiní-cio à supremacia espiritual do homem. A maior apologia dopensamento, no mais singelo e universal dos entimemas.Centro de gravitação de todos os raciocínios do métodocartesiano. De sorte que, na filosofia da dúvida, o pensa-mento é a única certeza indestrutível...

Em que pese, porém, a influência outrora exercida pelofilósofo nos círculos intelectuais, o pensamento, que paraele era tudo, continua, ainda hoje, muito desconhecido emsua essência, e, até, muito discutido quanto à origem...

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Os métodos de investigação científica estão, atualmen-te, tão aperfeiçoados que um fisiologista não se sentiriaconstrangido se lhe pedissem a quota exata de energia, gas-ta pelo organismo, num simples piscar de olho.

Em compensação, ficaria perplexo, se convidado fosse amedir a despesa do organismo, durante uma penosa elucu-bração mental.

É fácil medir a contração do bíceps. Mas é difícil aquila-tar o dispêndio de energia necessária à produção do pensa-mento. Porque tudo se passa como se o cérebro não consu-misse nada.

Calculando-se em energia química, o trabalho do orga-nismo é maior para mexer o dedo mínimo do que para com-por um poema!

Fato paradoxal. Contrário à experiência pessoal dos quesaciam nos textos a sede de saber; e que se esforçam paratransmitir aos outros o fruto de sua experiência e de suasreflexões.

Não obstante, o fisiologista sente-se coagido a confessarque a Oração aos Moços de Ruy Barbosa, a Virgem de Muriloou a Virgem de Praxíteles - três obras-primas da Literatura,da Pintura e da Escultura, - brotaram espontaneamente, semtrabalho, porque o metabolismo, dosado nos momentospatéticos da inspiração em plena ebulição mental, quandoos pensamentos jorram, feito fachos de luz, não acusa ne-nhum acréscimo sensível do consumo de energia orgânica.Entretanto, fatos existem - e muitos numerosos - que indu-zem a pensar que o trabalho mental, se pouca, ou mesmonenhuma energia química requer do organismo, em com-pensação, consome outra espécie de energia, muito desco-nhecida ainda, mas já pressentida de longa data, por umgrupo de investigadores afeitos à complexa fenomenologiado Magnetismo, do Hipnotismo e do Espiritismo, energiaesta que principia agora, a ser entrevista nas oscilações docampo eletromagnético da massa encefálica, mercê dasampliações obtidas com as válvulas eletrônicas...

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A esta nova energia - energia psíquica, ou “força psíqui-ca” de William Crookes - é que se deve supor esteja ligadaa manifestação do pensamento. Futuras experiências deci-dirão o problema.

Todavia, não se pode desprezar o fato de que há indiví-duos que sob certas condições fisiologicamente pouco co-nhecidas, emitem esta energia com tal intensidade que setorna possível um estudo mais profundo do pensamento. Jánão se pode negar que o pensamento se transmite indepen-dentemente do sistema nervoso. Porque as comunicaçõestelepáticas, a grandes distância, estão mais do que demons-tradas.

De resto, o pensamento pode materializar-se. Não é tãoabstrato e intangível como se imagina geralmente. Os indi-víduos magnetizáveis ou hipnotizáveis e também os mé-diuns vêem os pensamentos dos seus magnetizadores, dosseus hipnotizadores, ou das pessoas presentes, quando setrata de sessão espírita. E vêem com um realismo incrível.

A hipótese de fenômeno alucinatório não satisfaz quasenunca.

Binet cita experiências muito interessantes. Sugerindo apresença de um retrato sobre um móvel sua “paciente” alémde vê-lo tal qual fora imaginado pelo ilustre professor, ain-da o via retratado num prisma, ou refletido num espelho,sempre de acordo com leis físicas que ela ignorava inteira-mente!

Feré, por sua vez consigna o fato extraordinário de que avisão destas imagens mentais - ou “formas-pensamentos”,como as denominam os teosofistas - obedece ao mesmomecanismo de acomodação observado em relação às ima-gens reais! Além disso, Darget, logrou gravar, numa chapafotográfica, uma imagem mental. Não se trata de fotografiado pensamento, porque o fator luz não entra no fenômeno.Trata-se da gravação, em completa obscuridade, de umaideoplastia conforme a expressão de Bozzano.

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Em duas palavras, a experiência se processou assim: umachapa fotográfica, dentro dum estojo de madeira; o estojo éenvolvido em papel enegrecido para maior segurança con-tra a ação da luz; numa câmara escura, a chapa é colocada àpequena distância da fronte do experimentador; depois depensar concentradamente com a máxima energia mental,em uma garrafa, Darget, o experimentador, teve a fortunade, à revelação, encontrar na chapa a ideoplastia da garrafa,exatamente como a imaginara!

Esta experiência, não é a única do gênero.Outros investigadores obtiveram resultados equivalen-

tes embora depois de muitos fracassos. O determinismo dofenômeno é muito obscuro ainda. Mas a Ciência já está natrilha de sua maior descoberta - a descoberta da energiapsíquica, a energia do pensamento!

E, seja como for, um fato é inegável: o pensamento prin-cipia a ser uma realidade tangível...

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CONTRA FATOS NÃO HÁ ARGUMENTOS

Vai para 39 anos, em agosto de 1922, o Times, de Lon- dres, sempre sóbrio em matéria de sensacionalismo

jornalístico, abriu suas colunas, quiçá pela primeira vez,para publicar espetacular reportagem, que causou assom-bro à sociedade inglesa, imbuída de tradicional convencio-nalismo.

Assinada por conhecido redator do prestigioso órgão daimprensa britânica, que, na ocasião, excurcionava a bordodo Makura, transatlântico japonês, rumo ao lendário paísdas cerejeiras, a reportagem fora colhida dos próprios lábi-os do comandante, o que lhe emprestou excepcional pe-nhor de autenticidade.

Os fatos dizem respeito à circunspecta senhora inglesa,residente em Honolulu, no Havaí, que, sem ser espírita enão querendo ser médium, possuía, a contragosto, a valiosafaculdade da escrita automática, como a denominam osparapsicólogos. Na verdade, era médium dotada de psico-grafia mecânica, já que sua consciência não participava dofenômeno, permanecendo aparentemente em estado nor-mal, a palestrar com os circunstantes, enquanto sua mãotraçava, com vertiginosa rapidez, estranhas mensagens. E,para maior perplexidade da própria médium, as mensagens,não raro, eram escritas em caracteres hieroglíficos, que per-maneciam indecifráveis.

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Sabedor desse fato, e tendo-a duma feita a bordo, rumoàs plagas orientais, o comandante, que ardia de curiosida-de, passou a assediá-la, insistindo para que lhe desse opor-tunidade de comprovar sua notável faculdade. Posto quecontrafeita, a passageira, que não desejava desagradar tãoagaloado marinheiro, acabou aquiescendo. Em companhiadele, a médium sentou-se à volta duma mesa, tomou dolápis e, sem concentrar-se, aguardou que alguma Entidadese lhe manifestasse. Todavia, não esperou muito. Pronta-mente perdeu o controle do braço direito, que, dormente,se lhe inteiriçou, para, em seguida, garatujar, com incrívelvelocidade, complicados hieróglifos ilegíveis!

Decepcionada, a médium, que só teria motivos para de-sejar captar a simpatia do comandante, não pôde ocultarsua desilusão, exclamando: “Que pena! Quem se manifes-tou foi o tal oriental, que escreve a seu modo!”

Não obstante, o velho lobo do mar, pressentiu que, aocontrário do que supunha a médium, o documento poderiater imenso valor, razão por que solicitou à psicógrafa quelh’o desse, pois desejava conservá-lo sob custódia, até quepudesse ser decifrado. Sem hesitar, a médium satisfez avontade do comandante. E foi bom, porque assim o entre-vistado pôde exibi-lo à bisbilhotice do repórter londrino,reforçando seu depoimento. E melhor ainda, pôde mos-trar ao jornalista, boquiaberto, a tradução do texto enigmá-tico!

Sim, porque de posse da mensagem psicográfica, o co-mandante não descansou enquanto não viu o mistério des-vendado. Certo de que a escrita era originária da Índia, elesentiu intenso júbilo, quando, certo dia, veio a saber que abordo viajavam dois eruditos hindus.

Era a sonhada oportunidade - pensou ele. Contudo, em-basbacados diante dos hieróglifos, os sábios não pescarampatavina!

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Estava, pois, o bravo marujo japonês receoso de fracas-sar no desigual combate com os mistérios do Além, quan-do, por felicidade, embarca em seu navio, um dos maissábios arqueólogos do mundo. Sem perder tempo, o co-mandante procurou interessá-lo pelo problema. Perplexodiante do misterioso documento, o arqueólogo prorrom-peu em exclamações de surpresa, deixando transparecer aemoção de que estava possuído. À medida que percorria,com o olhar, os misteriosos caracteres, interpelava o co-mandante como obtivera tão estranho documento, ficando,a princípio, sem resposta as insistentes perguntas. E expli-cações claras só as teve depois que, com grande espanto, ocomandante ouviu do sábio a assertiva de que a mensa-gem fora transmitida em escrita hierática, forma abreviadada escrita sagrada usada pelos sacerdotes egípcios e quepredominou na Ásia Menor 5.000 anos antes da Era Cris-tã!

Diante disso, o comandante não pôde mais ocultar a ori-gem do documento.

Aliás, a menos que o tradutor a acoimasse de mistifica-ção, a fonte da mensagem não lhe poderia ser negada.Porque, em linhas gerais, o documento principiava por umagradecimento do autor à médium, que lhe propiciara opor-tunidade de comunicar-se com nosso mundo. Em conti-nuação, tecia irônicos comentários acerca do chocante con-traste entre a atual comodidade, quando as viagens se fa-zem em majestosos paquetes, e a época em que o misterio-so autor estivera encarnado, tendo de sujeitar-se a viajar nolombo de lerdos e pachorrentos camelos. Comentava, emprosseguimento, cenas que, no momento, se desenrolavam,longe das vistas das pessoas presentes, no interior do cama-rote do comandante, ali sentado ao lado da médium. E, porfim, fornecia valiosos dados sobre as condições meteoroló-gicas, formulando votos de boa viagem.

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Foi essa a súmula da reportagem do Times.Embora, sob o aspecto científico, o depoimento se res-

sinta dum vício insanável, - a omissão da identidade daspessoas implicadas - não se lhe pode imputar origem frau-dulenta. Porque, citado o nome do transatlântico e invoca-do o posto do tripulante, é evidente que, se se tratasse dumafarsa jornalística, o comandante imediatamente protestaria,máxime em se tratando dum oficial japonês, cuja noção dedignidade pessoal é mundialmente reconhecida. Ora, comodiz o velho adágio “quem cala, consente”. Logo, até provaem contrário, força é admitir-se a veracidade da reporta-gem do Times e a autenticidade dos fatos nela menciona-dos. E, aceita a legitimidade dos fatos, demonstrada ficanão só a sobrevivência do Espírito, como a comunicaçãodos mortos - pontos fundamentais da Filosofia Espírita.

De fato, a recusar-se a origem extraterrena da mensa-gem, forçados seríamos a admitir que a médium, uma cri-atura de cultura vulgar, sem nenhuma instrução especializa-da, pudesse dominar uma escrita desaparecida, há setentaséculos, e conhecida, presentemente, por uma dezena, tal-vez, de poliglotas dedicados à Arqueologia ...

Não! Sejamos sensatos. A única hipótese racional, nocaso, é a proclamada pelo Espiritismo. Todas as outras são,na verdade, mais milagrosas e antinaturais. Com efeito, re-pugna à razão admitir uma ciência infusa; revolta-se o bomsenso contra a onisciência do subconsciente; rebela-se aprópria experiência comum contra um saber hereditário,herdado de remotos ancestrais. Ora, se o conhecimento daescrita hierática não foi dado, instantaneamente, por ciên-cia infusa; se não proveio do subconsciente e se não foiherdado de antepassados egípcios, é claro, e é lógico, que aescrita foi, com efeito, produzida por antigo habitante des-te mundo, que, servindo duma médium inglesa, pôde, even-tualmente, comunicar-se com nosso plano existencial, po-

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sitivando sua sobrevivência, e, portanto, confirmando, maisuma vez , a imortalidade da alma. E é assim, apresentandofatos e acumulando provas, que o Espiritismo, a despeitodas assacadilhas de uns e das diatribes de outros, prosse-gue serenamente no seu roteiro glorioso, confiante em que,um dia, reunirá a humanidade pelo amor fraterno, constru-indo um mundo melhor para felicidade de todas as criatu-ras e para a glória de Deus!

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MELHORAR O HOMEM

Abarrotadas de arrasadoras armas bélicas, as grandes potências poderão, num entrechoque horrendo, não

só se destruírem mutuamente, como pulverizar grande nú-mero de nações pacíficas e quase desarmadas. Vale dizerque enorme extensão, senão a totalidade de nosso planeta,está permanentemente ameaçada de pavorosa destruição.Donde se colhe que, dum momento para outro, milhões,quiçá bilhões de habitantes da Terra podem ser massacra-dos na mais horrorosa catástrofe de todos os tempos!

Diante disso, perguntar-se-á: como pode o homem que,com sua inteligência, com seu raciocínio e seu poder cria-dor, construiu a mais portentosa civilização que se poderiaimaginar, permanecer infenso ao conhecimento de si pró-prio e repelindo as hipóteses, as teorias e, até, os fatos quedemonstram a existência do Criador e a plurivivência doEspírito eterno?

Aliás, para conceber a onipresença de Deus no Universo,basta o testemunho da onipotência e, por conseqüência, daonisciência revelada nas leis que regem a fenomenologiauniversal; e para aceitar a infinita bondade do Criador, ésuficiente compreender a finalidade da vida terrena; e paraentender a perfeição da justiça divina, é suficiente admitir alei da reencarnação, que oferece à criatura humana tantasoportunidades quantas sejam necessárias para ela atingir aperfeição, e, além disso, valorizar a lei de causalidade mo-

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ral, pela qual cada Espírito, esteja ele encarnado ou desen-carnado, recebe o fruto da árvore que plantou. Quem prati-cou o bem, recebe aqui mesmo ou no plano espiritual quemereceu,após a desencarnação, a recompensa correspon-dente. Quem praticou o mal, sofre, aqui ou alhures, o casti-go corretivo da infração que cometeu. De toda forma a en-carnação visa a apressar a evolução intelectual e moral doEspírito que foi dotado de um corpo físico, cuja vida é ali-mentada pelo corpo bioplasmático ou, melhor, pelo corpoespiritual, que é a emanação do Espírito eterno.

Na verdade, na presente conjuntura mundial, o homemnão pode imitar o avestruz, que, segundo o conceito popu-lar, quando se lhe apresenta um perigo, evita vê-lo, meten-do a cabeça debaixo das asas. Mas, ao homem, cujo Espíri-to é radiação do Criador, cabe arrostar a hecatombe, zelan-do pelo auto-aperfeiçoamento e unindo-se, com amor, aosseus semelhantes. Somente assim, haverá paz e felicidadena Terra. De resto, urge a união de todos que crêem emDeus e na cooperação dos Espíritos que, pelo esforço pró-prio, através dos séculos, podem interpretar a vontade doCriador. Todos, seja qual for a religião ou a seita das quaissão sectários, devem orar, pelo menos ao despertar e à horade dormir, em benefício dos Protetores, máxime dos Men-tores dos estadistas que governam as diferentes nações,sobretudo das mais poderosas. Com a prodigiosa força daoração sentida pelo Espírito que reza, com a máxima since-ridade, criar-se-á no mundo, intransponível barreira vibra-tória contra guerras iminentes, assaltos e seqüestros diári-os, que enodoam nossos foros de povo civilizado!

Outrossim, é premente a necessidade de coibir a desbra-gada libidinagem e a desenfreada linguagem torpe que seinfiltraram em todas as camadas sociais. Se os devassossoubessem o que lhes espera após a desencarnação - a de-morada permanência no próprio túmulo com todas as sen-

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sações inerentes à putrefação do corpo carnal e, ao depoisdesse martírio, a zombeteira companhia de antigas mere-trizes e de asquerosos rufiões - certamente procurariam li-bertar-se, enquanto antes, da lascívia que continuou a asse-diá-los após a desencarnação! Por outro lado, se os porno-gráficos e os pornofônicos estivessem informados de que,após demorada permanência unido ao corpo carnal, em de-composição cadavérica, só se libertariam das emanaçõespútridas, emitidas pelo Espírito simultaneamente com opalavrão e registradas no perispírito - camada protetora docorpo espiritual - depois de obrigatória estada em local deemanação compatível com a de seu perispírito, isto é, numalatrina, num encanamento de esgoto, num charco fétido,etc., aposto que, desde já, se esforçariam para corrigir-se,respeitando a palavra, dote do homem e donativo divino!

Para terminar, aqui deixo um lembrete de Jesus, o Espí-rito mais perfeito que, até hoje, encarnou na Terra.

Criticado pelos fariseus porque seus discípulos não la-varam as mãos antes da refeição, como mandava a tradi-ção, Jesus retrucou-lhes: “Não compreendeis que tudo queentra pela boca... é lançado em lugar escuso? Mas o quesai da boca vem do coração; e é isso que contamina o ho-mem. Porque do coração procedem maus desígnios, homi-cídios, adultérios, prostituição, furtos, calúnias, blasfêmias.’’

Como se deduz, são os sentimentos que inspiram as boase as más ações. Em síntese, para melhorar o mundo (e issodeve ser feito com a máxima urgência) é imprescindívelmelhorar o homem!

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