Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

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  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

    1/73

    JEAN-FRANOI

    o PS-MOU 11111111111U) 066963

    \ Contribuio discusso internacional sobre aquesto da legitimidade: o que permite dizer, hoje,que uma lei justa, um enunciado verdadeiro? Exis-tiram os grandes relatos, a emancipao do cida-do, a realizao do esprito, a sociedade semclasses. A idade moderna recorreu a eles para legi-timar ou criticar seussaberes e seus atos.

    O homem ps-moderno no acredita mais nisto.Osdecisores lhe oferecem como per$pectiva o au-mento do poder e a pacificao pela transparn-cia comunicacional. Mas ele sabe que o saber,

    . qu,ando se torna mercadoria informacional, uma ~:

    foMe de lucros e um meio de decidir e controlar.Onde reside a legitimidade, ap9s os relatos? Namelhor operatividade do sistema? Eum critrio tec-nolgico, ele no permite julgar o verdadeiro e o

    justo. No consenso? Masa inveno sefaz no dissen- ,timento. ~

    Porque no neste ltimo? A sociedade que vemergue-se menos de uma antropologia newtoniana(como.o estruturalismo ou a teoria dos sistemas) emais de uma pragmtica das partculas de lingua-gem. . .

    . O saber ps-moderno no somente o instru-mento dos poderes: ele nos refina'a senSib;.i1idade

    para as diferenas e nos refora a capacid de desuportar o incomensurvel. Ele mesmo no ncon-tra sua razo na homologia dosexperts, mas na pa- Iralogia dos inventores. (

    f agora: uma legitimao do vnculo, sociaf, .uma sociedade justa,seria praticv:!fseQundo umparadoxo anlogo? Emque este co~istina?

    JEAN-FRANCOIS LYOTARD

    J

    _o-JOSOlYMPIO EDITORA

    MT*'

    r

    1

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    066963

    JEAN FRANC06

    FOARD

    O

    POS

    MODERNO

    Contribuio

    discusso

    internacional sobre a

    questo

    da

    legitimidade:

    o

    que permite

    dizer, hoje,

    que um a

    lei

    justa,

    um enunciado verdadeiro?

    Exis

    t iram os

    grandes

    relatos,

    a emancipao do cida

    do,

    a

    realizao do esprito, a

    sociedade

    sem

    classes.

    A idade

    moderna recorreu

    a

    eles

    para

    legi

    timar

    ou criticar

    seus

    saberes e

    seus

    atos.

    Ohomem

    ps-moderno

    noacreditamais nisto.

    Os decisores lhe

    oferecem

    como perspectiva

    o au

    mento do

    poder

    e a

    pacificao

    pela transparn

    cia comunicacional. Mas ele sabe que

    o

    saber,

    quando se

    torna

    mercadoria

    informacional,

    um a

    fonte

    de

    lucros

    e

    um

    meio

    de

    decidir

    e

    controlar.

    Onde

    residea

    legitimidade,

    aps

    os relatos?

    Na

    melhor

    operatividade

    do

    sistema?

    um

    critrio tec-

    nolgico, ele no

    permite

    julgar o

    verdadeiro

    e

    o

    justo.

    No consenso? Masa inveno se faz

    no

    dissen

    timento.

    Por

    que

    no

    neste

    ltimo? A

    sociedade

    qi

    ergue-se menos

    de um a

    antropologia

    newt

    como

    o estruturalismo

    ou

    a teoria dos

    sistemas

    e

    mais

    de um a pragmtica das

    partculas

    de

    lingua

    gem.

    l L

    ? edio

    ue

    vem

    oniana

    saber

    ps-moderno

    no

    somente o

    instru

    mento dos

    poderes:

    ele nos refina

    a

    sensibilidade

    para

    as

    diferenas

    e

    nos

    refora

    a

    capacidade

    de

    suportar

    o

    incomensurvel.

    Ele mesmo

    no

    ncon-

    tra sua razo

    na

    homologia dos

    experts

    mas

    na

    pa

    ralogia

    dos

    inventores.

    E

    agora:

    uma legitimao

    do vnculo

    social,'

    um a

    sociedade

    justa,

    seria

    praticvel

    segundo

    um

    paradoxo

    anlogo? Em

    que

    este consistiria?

    ?

    r

    lio

    li

    ag 66963

    JOS

    OIYMPKJ STC RA

    ..

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

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    Jean-Franois Lyotard poucoconhecido entre nos. Ativo, contes-tador, adversrio declarado dosmodismos orquestrados pelos massmedia, provavelmente um dosmais brilhantes filsofos da sua gera-

    N id 1924 i iti

    m fn SS SIH ttlK KI tt lf p

    r

    M

    Jean-Franois

    Lyotard

    pouco

    conhecido

    entre nos.

    Ativo,

    contes-

    tador,

    adversrio

    declarado

    dos

    modismos

    orquestrados pelos

    mass

    media

    provavelmente

    um

    dos

    mais

    brilhantes

    filsofos da

    sua

    gera

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

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    tica radical: a abolio definitiva daidia de verdade que durante mui--tos sculos tem sido uma das princi-pais ferramentas do poder. Para Lyo-tard, portanto, a tarefa principal do ~filsofo contemporneo a de I,."acelerar" a decadncia dessaidia, e nesse sentido defende um"Niilismo ativo". Nietzsche, por con-seguinte, est no horizonte dessas

    reflexes.

    EmO ps-moderno,'importante li-vro publicado na Frana em 1979,Lyotard leva adiante o projeto de

    acelerar a decadncia da idia deverdade, pelo menos tal como ela

    tica radical:

    a

    abolio definitiva

    da

    idia

    de

    verdade

    que

    durante

    mui

    tos

    sculos

    tem

    sido

    uma

    das

    princi

    pais

    ferramentas

    do

    poder.

    Para

    Lyo

    tard,

    portanto,

    a

    tarefa

    principal

    do

    filsofo

    contemporneo

    a de

    ac elerar

    a decadncia

    dessa

    idia,

    e

    nesse

    sentido

    defende

    um

    Niilismo ativo.

    Nietzsche,

    por

    con

    seguinte,

    est

    no horizonte

    dessas

    reflexes.

    Ir!

    Em O

    ps-moderno, importante

    li

    vro

    publicado

    na

    Frana

    em

    1979,

    Lyotard

    leva

    adiante o

    projeto

    de

    acelerar

    a

    decadncia da

    idia

    de

    verdade,

    pelo

    menos tal

    como ela

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

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    Jean-Franois Lyotard

    o ps-moderno

    TraduoRICARDO CORRA BARBOSA

    J_o-JOS OLYMPIO EDITORARIO DE JANEIRO/1988

    )

    l

    Jean-Franois

    Lyotard

    O

    ps-moderno

    T r ad u o

    RICARDO

    CORRA BARBOSA

    3.a

    edio

    LO.

    JOS

    OLVMPIOJ

    EDITORA

    RIO

    DE

    JANEIRO/1988

    1

    /

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

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    Ttulo do origina! francs:LA CONDITION POSTMODERNE

    'reitos adql:liridos para a lngua portuguesa, no Brasil, pelarOM. D RIA JOS OLYMPIO EDITORA S.A.

    "I,/9 ~ Rua Marqus de Olinda, 12"'llio de neiro, RJ - Repblica Federativa do Brasil

    ROQ. (' (

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

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    "A verdade qu e a cincia favorecelI; aidia de uma fora intelectual rude e s-bria que torna francamente insuportveltodas as velhas representaes metafsicas

    e morais da raa humana."

    (Robert Musil,O homem sem qualidades, 11

    COM o incio) por volta dos anos 50) da chamada "eraps-industrial))) assistimos a modificaes substantivas nos

    estatutos d a cincia e da universidade. O mais importante

    nesse processo de modificao) cuja origem encontra-se na"crise da cincia)) (e da verdade) ocorrida nos ltimos decnios do sc. XIX) no foi apenas a eventual substituiode uma "m)) concepo da cincia (a empirista) por exem-

    plo) por outra qualquer. O que de fato vem desde entoocorrendo uma modificao na natureza mesma da cin-cia (e da universidade) provocacla pelo impacto das trans-

    LOt'~aes tecnolgicas sobre o saber. A cot1JEincia maisimediata d esse novo cenriO/oi tornar ineficaz;o quadroterico proporcionado pelo filsofo (leia-se: metafsico)moderno que) como sabemos) elegeu como s~a questo aproblemtica do conhecimento) secundarizando as ques-tes ontolgicas em face s gnoseolgica s. M as) ao proce-der dessa maneira) fez da filosofia um metadiscurso delef.!,itimao da prpria cincia. A modernidade do quadro

    terico em questo encontra-se exatamente no fato de con-ter certos rcits aos quais a cincia moderna teve que re-correr para legitimar-se como saber: dialtica do esprito)emancipao do sujeito razovel. ou do trabalhador) cres-

    TEMPOS

    PS-MODERNOS

    A

    verdade

    que

    a

    cincia

    favoreceu

    a

    id i a d e

    uma fora intelectual rude

    e

    s

    bria que

    torna francamente

    insuportvel

    todas as velhas

    representaes

    metafsicas

    e

    morais da

    raa

    humana.

    Robert

    Musil,

    O

    homem

    sem

    qualidades,

    E

    CoAf

    o

    incio,

    por

    volta dos anos

    50,

    da

    chamada

    era

    ps-industrial

    ,

    assistimos

    a

    modificaes

    substantivas

    nos

    estatutos

    da

    cincia

    e da

    universidade. O

    mais

    importante

    nesse processo

    de

    modificao, cuja origem

    encontra-se

    na

    crise

    da

    cincia

    (e

    da

    verdade

    )

    ocorrida

    nos

    ltimos

    de

    cnios do

    sc. XIX,

    no

    foi

    apenas

    a

    eventual

    substituio

    de

    uma

    m

    concepo

    da cincia

    (a

    empirista,

    por

    exem

    plo)

    por

    outra qualquer.

    O

    que

    de

    fato

    vem desde ento

    ocorrendo

    uma

    modificao

    na natureza mesma

    da cin

    cia

    (e

    da

    universidade

    )

    provocada

    pelo

    impac to das trans

    formaes tecnolgicas

    sobre o

    saber.

    A

    consequncia

    mais

    imediata

    desse

    novo

    cenrio

    foi

    tornar

    ineficazA quadro

    terico

    proporcionado

    pelo

    filsofo

    (leia-se: metafsico)

    moderno que,

    como

    sabemos,

    elegeu como

    sua

    questo

    a

    problemtica

    do conhecimento,

    secundarizando

    as

    ques

    tes

    ontolgicas em

    face

    s gnoseolgicas. Mas,

    ao

    proce

    der dessa

    maneira,

    fez

    da

    filosofia

    um

    metadiscurso

    de

    legitimao da

    prpria

    cincia.

    A modernidade

    do

    quadro

    terico

    em

    questo encontra-se

    exatamente

    no

    fato

    de

    con

    ter

    certos rcits aos

    quais

    a cincia

    moderna

    teve

    que

    re

    correr

    para

    legitimar-se

    como

    saber: dialtica

    do esprito,

    emancipao

    do sujeito

    razovel

    ou

    do

    trabalhador,

    cres-

    l

    vii

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    (C'lIljico" certo tipo de informao traduzvel na lingua-W'!II (Iue essas mquinas utilizam ou ento compatvel comc/ri, () que se impe com o tratamento informtico da"mensagem" cientfica na verdade uma concepo ope-racional da cincia. Nesse contexto) a pesquisa cientficapassa a ser condicionada pelas possibilidades tcnicas damquina informtica) e o que escapa ou transcende tais

    possibilidades tende a no ser operacional) j que no podeser traduzido em bits. Assim sendo) a atividade cientficadeix de ser aquela praxis que) segundo a avaliao hu-manstico-liberal) especulativa) investia' a formao do ((es-

    prito") do "sujeito razovel") da ((pessoa humana" e atmesmo da "humanidade". Com ela) o que vem se impondo a concepo da cincia como tecnologia intelectual, ouseja) como valor de troca e) por isso mesmo) desvincula-da do produtor (cientista) e do consumidor. Uma prticasubmetida ao capital e ao Estado) atuando como essa par-ticular mercadoria chamada fora de produo.

    Esse processo) fruto da corroso dos dispositivos mo-dernos de explicao da cincia) muito apropriadamentedesignado por Lyotard pela expresso "deslegitimao". Noentanto) ele no se d apenas em funo da corroso do((dispositivo especulativo" (Idealismo alemo) Hegel) oudo ((dispositivo de emancipao" (Iluminismo) Kant) Marx).Essa corroso (que Nietzsche entendeu ser uma das ra

    zes do "Niilismo europeu")) muito bem captada em nar-rativas como Pais e filhos (Ivan Turgueniev)) O homemsem qualidades (Robert Musil) e Sonmbulos (Herman

    Broch)) fez surgir novas linguagens que escapam s deter.minaes tericas dos dispositiv.os modernos e aceleram suaprpria deslegitimao. Da segunda lei da termodinmicil teoria da catstrofe) de Ren Thom; do simbolismo qu-mico s lgicas no-denotativas; da teoria dos quanta fsica ps-quntica; do uso do paradigma.._cibemtico-il1jor-mtico no estudo do cdigo gentico ao ressurgimento dacosmologia de observa~o; da crise da Weltanschauung

    newtoniana recuperao da noo de ((acontecimento")"acaso"I na fsica) na biologia) na histria) o que temos a crise de uma noo central nos dispositivos de legiti-mao e no imaginrio modernos: a noo de ordem. Ecom ela assistimos rediscusso da noco de "desordem"/o qUf!por sua vez torna impossvel submeter todos os dis-cursos (ou iogos de lingHqgm..s) Uu.toridLlde. de um -meta-

    dis.cur-s-o_quese-p~etendeaJl11.2e. do.llgJ1jJifl1te)J!g tg:~o e da p.rJ2l!rjq!.~~o) )sto l.-li1Jjl!frsg1...~_consistente.

    Por isso mesmo que as delimitaes clssicas doscampos cientficos entram em crise) se desordenam. Desa-

    parecem disciplinas) outras surgem da fuso de antigas;as velhas faculdades do lugar aos institutos de ensino e/oupesquisa jinanciadospela iniciativa privada) pelo poder p-blico ou por ambos. A universidade) por sua vez) enquan-to produtora de cincia) torna-se uma instituio sempre

    mais importante no clculo estratgico-poltico dos Esta-dos atuais. Se a revoluo industrial nos mostrou que semriqueza no se tem tecnologia ou mesmo cincia) a condi-o ps-moderna nos vem mostrando que sem saber cien-tfico e tcnico no se tem riqueza. Mais do que isto: mos-tra-nos) atravs da concentrao massiva) nos pases ditos

    ps-industriais) de bancos de dados sobre todos os sabereshoje disponveis) que a competio econmico-polticaentre as naes se dar daqui para frente no mais ,em

    funo primordial da tonelagem anual de matria-prima ou

    de manufaturados que possam eventualmente produzir.Dar-se-) sim) em funo da quantidade de informao

    1 Cf. Communications, n. 18, 1972 (nmero especial sobre a retomadada noo de acontecimento pelas cincias contemporneas).2 Sobre a centralidade dessa rediscusso na atual fase da pesquisa cient-fica, cf. Edgar Morin, La methode I: La nature de Ia nature; La methode11: La vie de Ia vie e Le paradigme perdu: Ia nature humaine, todospela Bditions du Seuil, Paris em 1977, 1980 e 1973, respectivamente.

    cientfico

    certo tipo

    de

    informao

    traduzvel

    na

    lingua

    gem que

    essas

    mquinas

    utilizam

    ou

    ento

    compatvel

    com

    ela.

    O

    que se

    impe

    com

    o

    tratamento

    informtico

    da

    mensagem

    cientfica

    na

    verdade

    uma

    concepo

    ope

    racional

    da

    cincia. Nesse

    contexto,

    a

    pesquisa

    cientfica

    passa

    a ser

    condicionada pelas

    possibilidades

    tcnicas

    da

    mquina informtica,

    e o

    que escapa

    ou transcende tais

    possibilidades

    tende

    a

    no ser

    operacional,

    j

    que

    no

    pode

    ser

    traduzido em bits.

    Assim

    sendo,

    a

    atividade cientfica

    deixa

    de ser

    aquela praxis

    que,

    segundo

    a avaliao

    hu-

    manstico-liberal,

    especulativa,

    investia

    a

    formao

    do

    es

    prito

    do sujeito

    razovel

    da pessoa

    humana

    e at

    mesmo da

    humanidade Com

    ela,

    o que vem

    se impondo

    a

    concepo

    da

    cincia como

    tecnologia intelectual,

    ou

    seja,

    como

    valor

    de

    troca

    e,

    por

    isso

    mesmo, desvincula

    da do

    produtor

    (

    cientista

    )

    e

    do

    consumidor . Uma

    prtica

    submetida

    ao

    capital

    e ao

    Estado,

    atuando

    como

    essa

    par

    ticular

    mercadoria

    chamada

    fora

    de produo.

    Esse processo,

    fruto da

    corroso

    dos

    dispositivos

    mo

    dernos de explicao

    da

    cincia,

    muito apropriadamente

    designado por

    Lyotard

    pela

    expresso

    deslegitimao

    .

    No

    entanto, ele

    no se

    d

    apenas em

    funo

    da

    corroso

    do

    dispositivo

    especulativo

    (

    Idealismo

    alemo,

    Hegel)

    ou

    do

    dispositivo

    de

    emancipao

    (

    Iluminismo

    ,

    Kant,

    Marx).

    Essa

    corroso (que

    Nietzsche entendeu ser um a

    das ra

    zes

    do

    Niilismo

    europeu,

    muito bem captada

    em nar

    rativas

    como Pais

    e

    filhos

    (Ivan

    Lurgueniev),

    O homem

    sem qualidades

    (Robert

    Musil)

    e Sonmbulos

    (Herman

    Broch),

    fez

    surgir novas

    linguagens

    que

    escapam

    as

    deter

    minaes

    tericas

    dos dispositivos

    modernos

    e aceleram sua

    prpria

    deslegitimao.

    Da

    segunda

    lei

    da

    termodinmica

    teoria

    da catstrofe,

    de

    Ren

    Thom;

    do

    simbolismo

    qu

    mico

    as

    lgicas

    no-denotativas;

    da

    teoria dos

    quanta

    fsica

    ps-quntica;

    do

    uso

    do

    paradigma

    ciberntico-infor

    mtico no

    estudo do cdigo

    gentico

    ao ressurgimento

    da

    cosmologia

    de

    observao;

    da

    crise

    da

    Weltanschauung

    newtoniana

    recuperao da

    noo

    de

    acontecimento

    ,

    acaso na

    fsica,

    na

    biologia,

    na histria,

    o

    que

    temos

    a crise de

    uma

    noo

    central

    nos dispositivos de

    legiti

    mao e no

    imaginrio

    modernos: a

    noo

    de

    ordem.

    E

    com ela

    assistimos

    rediscusso da

    noo

    de desordem

    /

    o que

    por

    sua

    vez

    torna impossvel

    submeter

    todos os

    dis

    cursos

    (ou OQOS

    de linguagens)

    _autoridade

    de

    um meia

    -

    discurso

    que.

    se

    -

    pretende

    a_sntese

    do

    significante.

    do

    sig:

    nificado

    e

    da

    prpria

    significao,

    isto

    ,

    universal

    _

    e

    consistente.

    Por

    isso

    mesmo

    que

    as

    delimitaes clssicas

    dos

    campos cientficos

    entram

    em

    crise,

    se

    desordenam.

    Desa

    parecem

    disciplinas,

    outras

    surgem

    da

    fuso

    de

    antigas;

    as

    velhas

    faculdades

    do lugar

    aos

    institutos de ensino

    e/

    ou

    pesquisa

    financiados

    pela iniciativa

    privada,

    pelo

    poder p

    blico

    ou

    por

    ambos. A

    universidade,

    por

    sua vez,

    enquan

    to

    produtora

    de

    cincia, torna-se

    uma

    instituio

    sempre

    mais

    importante

    no clculo

    estratgico-poltico

    dos

    Esta

    dos atuais.

    Se a revoluo

    industrial

    nos mostrou

    que

    sem

    riqueza

    no se tem tecnologia ou

    mesmo

    cincia,

    a condi

    o

    ps-moderna

    nos

    vem

    mostrando

    que sem

    saber

    cien

    tfico

    e tcnico

    no

    se

    tem riqueza. Mais

    do

    que

    isto: mos

    tra-nos,

    atravs da

    concentrao

    massiva,

    nos

    pases

    ditos

    ps-industriais,

    de bancos

    de dados

    sobre todos

    os

    saberes

    hoje disponveis,

    que a

    competio

    econmico-poltica

    entre as

    naes

    se dar

    daqui para

    frente

    no

    mais

    ,em

    funo primordial da

    tonelagem

    anual

    de

    matria-prima

    ou

    de

    manufaturados

    que possam eventualmente produzir.

    Dar-se-, sim,

    em

    funo

    da

    quantidade

    de

    informao

    % 4

    i

    1

    Cf.

    Communications, n.

    18,

    1972

    (nmero especial

    sobre

    a

    retomada

    da

    noo

    de

    acontecimento

    pelas

    cincias

    contemporneas).

    2

    Sobre

    a centralidade dessa

    rediscusso na

    atual

    fase da

    pesquisa

    cient

    fica,

    cf. Edgar

    Morin,

    La

    methode

    I:

    La

    nature de

    la

    nature;

    La methode

    II: La

    vie de la vie

    e

    Le

    paradigme perdu: la nature

    humaine, todos

    pela

    Editions

    du

    Seuil,

    Paris em

    1977,

    1980 e

    1973, respectivamente.

    xi

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

    9/73

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

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    ESTE estudo tem por objeto a pOSlao do saber nas

    sociedades mais desenvolvidas. Decidiu-se cham-Ia de

    "ps-moderna". A palavra usada, no continente ameri-

    ano, por socilogos e crticos. Designa o estado da cul-

    tura aps as t!.illlsf9J::maes_que afetaram as regras dos

    jogos da cind, da literatura e das artes a partir do final

    do sculo XIX. Aqui, essas transformaes sero situadas

    em relao crise d-_}"~ltgs.Originalmente, a cincia entra em conflito com os

    relatos. Do ponto de vista de seus prprios critrios, a

    maior parte destes ltimos revelam-se como fbulas. Mas,

    na medida em que no se limite a enunciar regularidades

    teis e que busque o verdadeiro, deve legitimar suas re-

    gras de jogo. Assim, exerce sobre seu prprio estatuto

    um discurso de legitimao, chamado filosofia. Quando

    este metadiscurso recorre explicitamente a algum grande

    relato, como a dialtica do esprito, a hermenutica do

    sentido, a emancipao do sujeito racional ou trabalhador,

    o desenvolvimento da riqueza, decide-se chamar "mo-derna" a cincia que a isto se refere para se legitimar.

    E assim, por exemplo, que a regra do consenso entre o re-

    metente e destinatrio de um enunciado com valor de

    verdade ser tida como aceitvel, se ela se inscreve na

    perspectiva de uma unanimidade possvel de mentalidades

    racionais: foi este o relato das Luzes, onde o heri d o

    saber. trabalha por um bom fim tico-poltico, a paz uni-

    ;

    IN TRODU O

    ESTE

    estudo

    tem

    po r

    objeto

    a p osi o

    do

    saber

    nas

    sociedades

    mais

    desenvolvidas.

    Decidiu-se

    cham-la

    de

    ps-moderna.

    A

    palavra

    usada,

    no continente

    ameri

    cano, po r

    socilogos

    e

    crticos.

    Designa

    o estado da cul

    tura

    aps as

    transformaes

    que

    afetaram

    as regras

    dos

    jogos da

    cincia,

    da

    literatura

    e

    das

    artes a partir do

    final

    do sculo

    XIX.

    Aqui,

    essas

    transformaes

    sero

    situadas

    em

    relao

    crise

    dos relatos.

    Originalmente,

    a

    cincia

    entra

    em conflito

    com os

    relatos.

    Do

    ponto

    de

    vista de seus

    prprios

    critrios,

    a

    maior

    parte

    destes ltimos

    revelam-se como fbulas.

    Mas,

    na

    medida em

    que

    no se

    limite

    a

    enunciar

    regularidades

    teis e

    que

    busque

    o verdadeiro,

    deve

    legitimar

    suas

    re

    gras de

    jogo.

    Assim,

    exerce

    sobre seu

    prprio

    estatuto

    um

    discurso

    de legitimao,

    chamado filosofia.

    Quando

    este

    metadiscurso recorre

    explicitamente a

    algum grande

    relato,

    como

    a

    dialtica do esprito,

    a

    hermenutica do

    sentido,

    a emancipao

    do sujeito racional ou

    trabalhador,

    o

    desenvolvimento da

    riqueza,

    decide-se

    chamar

    mo

    derna

    a

    cincia

    que

    a

    isto

    se

    refere

    para

    se

    legitimar.

    assim, por exemplo,

    que

    a

    regra

    do

    consenso entre

    o re

    metente e

    destinatrio de um enunciado com

    valor

    de

    verdade ser tida como aceitvel,

    se ela se inscreve

    na

    perspectiva de uma

    unanimidade

    possvel de mentalidades

    racionais:

    foi

    este

    o

    relato

    das Luzes,

    onde

    o

    heri

    do

    saber,

    trabalha

    por

    um

    bom

    fim

    tico-poltico,

    a

    paz

    uni-

    xv

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    11/73

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    Resta dizer que o_~pQsitQr ...~Ufl1_JiJ~f, e__n_YIllexpert. Este sabe o qu~..bee o que no sabe,aql.lel:no.Um conclui, o outro interroga; so dois jogos de lingua-gem. Aqui eles se encontram misturados, de modo quenenhum dos dois prevalece.

    O filsofo ao menos pode se consolar dizendo quea anlise formal e pragmtica de certOs discursos de legi-

    timao, filosficos e tico-polticos, que sustenta nossaExposio, ver a luz depois desta. Ela a ter introduzido,

    por um atalho um pouco sociologizante, que, embora a re-duzindo, a situa.

    Tal como est, ns a dedicamos ao Instituto Poli-tcnico de Filosofia da Universidade de Paris VIII (Vin-cennes), neste momento muito ps-moderno em que estauniversidade corre o risco de desaparecer e o institutode nascer.

    o ps-moderno

    Resta dizer que o

    expositor

    ura

    filsofo,

    e

    no um

    expert. Este sabe o

    que sabe

    e

    o que

    no

    sabe,

    aquele

    no.

    Ura

    conclui,

    o

    outro

    interroga; so

    dois jogos de

    lingua

    gem.

    Aqui

    eles

    se encontram

    misturados,

    de modo

    que

    nenhum dos dois prevalece.

    O filsofo

    ao

    menos

    pode se

    consolar

    dizendo

    que

    a anlise formal e

    pragmtica

    de

    certos

    discursos

    de

    legi

    timao,

    filosficos

    e

    tico-polticos,

    que

    sustenta

    nossa

    Exposio, ver

    a

    luz

    depois

    desta.

    Ela

    a

    ter

    introduzido,

    por

    um

    atalho

    um

    pouco

    sociologizante,

    que,

    embora

    a

    re

    duzindo, a

    situa.

    Tal como est, ns

    a

    dedicamos

    ao

    Instituto

    Poli

    tcnico de

    Filosofia

    da Universidade

    de Paris

    VIII

    (Vin

    cennes), neste

    momento

    muito

    ps-moderno

    em

    que

    esta

    universidade

    corre o

    risco

    de

    desaparecer

    e o instituto

    de

    nascer.

    O

    ps-moderno

    xviii

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    o CAMPO: O SABER NAS SOCIEDADESINFORMATIZADAS

    NaSSA hiptese de trabalho a de que o saber, mudade estatuto ao mesmo tempo que as sociedades entram naidade dita ps-industrialeas. lJJturas na idade dita ps-moderna.l Esta passagem comeou desde pelo menos ofinal dos anos 50, marcando para a Europa o fim de suareconstruo. Foi mais ou menos rpida conforme os pa-ses e, nos pases, conforme os setores de atividade: donde

    uma discronia geral, que no torna fcil o quadro deconjunto.2 Uma parte das descries no pode deixar deser conjectural. E sabe-se que imprudente conceder umcrdito excessivo futurologia.3

    Em lugar de organizar um quadro que no poderser completo, partiremos de uma caracterstica que de-termina imediatamente nosso objeto. O saber cientfico uma espcie de discurso. Ora, pode-se dizer que h qua-renta anos as cincias e as tcnicas ditas de vanguardaversam sobre a linguagem: a fonologia e as teorias lin-

    gsticas,4 os problemas da comunicao e a ciberntica,5as matemticas modernas e a informtica,6 os computadorese suas linguagens,? os problemas de traduo das lingua-gens e a busca de compatibilidades entre linguagens-mquinas,8 os problemas de memorizao e os bancos dedados,9 a telemtica e a instalao de terminais "inteli-

    "10 dI' 11 , 1 .gentes, a para oxo ogIa: eIS aI a gumas provas eVI-dentes, e a lista no exaustiva.

    1

    O CAMPO :

    O

    SABER

    NAS

    SOCIEDADES

    INFORMATIZADAS

    NOSSA

    hiptese

    de trabalho

    a

    de que o

    saber,

    muda

    de

    estatuto ao

    mesmo

    tempo

    que

    as sociedades entram

    na

    idade

    dita

    ps-industrial

    e

    as

    culturas

    na idade

    dita

    ps-

    moderna.1 Esta

    passagem

    comeou desde

    pelo

    menos

    o

    final

    dos

    anos

    50,

    marcando para a Europa

    o

    fim

    de sua

    reconstruo.

    Foi

    mais ou

    menos

    rpida conforme

    os pa

    ses e, nos

    pases, conforme

    os setores

    de

    atividade:

    donde

    uma

    discronia

    geral,

    que

    no

    torna

    fcil

    o

    quadro

    de

    conjunto.2

    Uma

    parte

    das

    descries

    no

    pode

    deixar de

    ser

    conjectural.

    E

    sabe-se

    que imprudente conceder

    um

    crdito excessivo

    futurologia.3

    Em lugar de

    organizar

    um

    quadro

    que

    no

    poder

    ser

    completo,

    partiremos

    de uma

    caracterstica

    que

    de

    termina imediatamente nosso

    objeto.

    O

    saber

    cientfico

    uma

    espcie

    de discurso.

    Ora,

    pode-se dizer que h

    qua

    renta

    anos

    as cincias e as tcnicas

    ditas

    de

    vanguarda

    versam

    sobre

    a

    linguagem:

    a

    fonologia e

    as

    teorias

    lin

    gusticas,4

    os

    problemas da

    comunicao

    e

    a

    ciberntica,5

    as

    matemticas

    modernas

    e a

    informtica,6

    os

    computadores

    e

    suas

    linguagens,7

    os

    problemas de

    traduo

    das lingua

    gens

    e a busca

    de

    compatibilidades entre linguagens-

    mquinas,8

    os problemas

    de

    memorizao

    e

    os bancos

    de

    dados,9

    a telemtica

    e a

    instalao

    de

    terminais

    inteli

    gentes,10

    a

    paradoxologia:11

    eis

    a

    algumas

    provas

    evi

    dentes,

    e a lista no

    exaustiva.

    3

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    (: () I'~sl:Ido ser suplantada medida que seja reforado op"incpio inverso, segundo o qual a sociedade no existel' no progride a no ser que as meflsagens que nela cir-culem sejam ricas em informao e fceis. de decodificll~'O Estado comear a aparecer como um fator de opaCI-dade e de "rudo" para uma ideologia da "transparncia"comunicacional, que se relaciona estritamente com a comer-

    cializao dos saberes. sob este ngulo que se arriscaa apresentar-se com uma nova acuidade o problema dasrelaes entre as instncias econmicas e as instnciasestatais.

    J nos decnios anteriores, aquelas puderam pr emperigo a estabilidade destas graas s novas formas decirculao de capitais, s quais deu-se o nome genricode empresas multinacionais. Estas formas implicam qu~ asdecises relativas ao investimento escapam, pelo menos em

    parte, ao controle dos Estados-naes.ll Com ~ tecnologiainformacional e telemtica, a questo corre o rISCOde tor-

    nar-se ainda mais espinhosa. Admitamos, por exemplo,que uma firma como a IEM seja autorizada a ocupar umafaixa do campo orbital da Terra para implantar satlitesde comunicao e/ou de banco de dados. Quem ter acessoa isto? Quem definir os canais ou os dados proibidos? OEstado? Ou ele ser um usurio como os outros? Nova-mente, surgem problemas de direito, e atravs deles aquesto: querp saber?

    A transformao da natureza do saber pode assim tersobre os poderes pblicos estabelecidos um efeito de re-torno tal que os obrigue a reconsiderar suas relaes de

    direito e de fato com as grandes empresas e mais generi-camente com a sociedade civil. A reabertura do mercadomundial, a retomada de uma competio econmica ativa,o desaparecimento da hegemonia exclusiva do capitalismoamericano, o declnio da alternativa socialista, a abertura

    provvel do mercado chins s trocas, e muitos outrosfatores, vm preparar os Estados, neste final dos anos 70,

    6

    para uma reVIsao serIa do papel que se habituaram a de-sempenhar desde os anos 30, que era de proteo e guia,e at de planificao dos investimentos.22 Neste contexto,as novas tecnologias, pelo fato de tornarem os dados teiss decises (portanto, os meios de controle) ainda maisinstveis e sujeitas pirataria, no podem seno exigirurgncia deste reexam~.

    Em vez de serem difundidos em virtude do seu valo.r"formativo" ou de sua importncia poltica (administra-tiva, diplomtica, militar), pode-se imaginar que os conhe-cimentos sejam postos em circulao segundo as mesmasredes da moeda, e que a clivagem pertinente a seu res-

    pei to deixa de ser saber/ignorncia para se tornar comono caso da moeda, "conhecimentos de pagamento/conhe-cimentos de investimento", ou seja: conhecimentos tro-cados no quadro da manuteno da vida cotidiana (recons-tituio da fora de trabalho, "sobrevivncia") versus cr-ditos de conhecimentos com vistas a otimizar as perfor-

    mances de um programa.Neste caso, tratar-se-ia tanto da transparncia como

    do liberalismo. Este no impede que nos fluxos de di-nheiro uns sirvam para decidir, enquanto outros no sejam

    bons seno para pagar. Imaginam-se paralelamente fluxosde conhecimentos passando pelos mesmos canais e demesma natureza, mas dos quais alguns sero reservadosaos "decisores", enquanto outros serviro para pagar advida perptua de cada um relativa ao vnculo social.

    1. A. Touraine. La Socit postindustrie/le, Denoel, 1969; D. Bell, The Co-ming of Post-Industria/ Society, New York, 1973; Iha~ Hassan. The

    Dismemberment of Orpheus: Toward a Postmodern Llterature, NewYork, Oxford U. P.,.1971; M. Benamou & Ch. Caramello ed., Perfor-mance in Postmodern Cu/ture, Wisconsin. Center for XXth CenturyStudies & Coda Press. 1977; M. K01er. "Postrriodernismus: einbe-griffgeschichtlicher Ueberblick". Amerikastudien 22,1 (1977).

    2. Uma expresso literria doravante clssica dada por M. Butor, Mo-bile. Etude pour une' reprsentation des Etats-Unis, Gallimard, 1962.

    7

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    logias contemporneas poderiam tomar que fosse uma al-tcmativa informatizao da socied~de.

    Isto significa que a hiptese banal. Mas ela o so-mente na medida em que no coloca em causa o paradigmageral do progresso das cincias e das tcnicas, ao qual pa-recem evidentemente orresponder o crescimento econ-mico e o desenvolvimento do. poder sociopoltico. Admite

    se como ponto pacfico que saber cit;ntfico e tcnico seacumulaI' discute-se quando muito forma desta acumu-lao, que alguns imaginam regular., contnua e unnime,e outros como sendo peridica, descontnua e conflitual.24

    Estas evidncias so falaciosas. Para comear,

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    vem evidenciar serem saber e poder as duas faces de umamesma questo: quem decide o que saber, e quem sabeo que convm decidir? O problema do saber na idade dainformtica mais do que nunca o problema do governo.

    23. La nouvelle informatque et ses utilisateurs, annexe lU, "L'informati-sation, etc.", loe. eit.

    24. B. P . Lcuyer, "Bilan et perspectives de Ia sociologie des sciencesdans les pays occidentaux", Arehives europennes de sociologie XIX(1978) (bibliog.), 257-336. Boa informao sobre as correntes anglo-sax-nicas: hegemonia da escola de Merton at incio dos anos 1970, dis-

    perso atual, notadamente por influncia de Kuhn; pouc,a informaosobre a sociologia alem da cincia.

    25. O term o foi difundido por Ivan Illich, Tools for Conviviality, N.Y.,Harper & Row, 1973; t.f. La eonvivialit, Seuil, 1974.

    26. S obre esta "desmoralizao", ver A. Jaubert e J .-M. Lvy-Leblond ed.(Auto)eritique de Ia scienee, Seuil, 1973, parte I.

    27. J. Habermas, Legitimationsprobleme im Spiitkapitalismus, Frankfurt,Suhrkamp, 1q73; t.f. Lacoste, Raison et lgitimit, Payot, 1978 (bi-bliog.).

    PELO que antecede, j/se observou que, para analisareste problema no 1V,dro que determinamos, preferimosum procedimento: o de enfatizar os fatos de linguageme, nestes fatos, seu aspecto pragmtico.28 A fim de facili-tar o desenvolvimento da leitura, til apresentar umaviso, mesmo que sumria, do que entendemos por estetermo.

    Um enunciado denotativ029

    como: A universidadeest doente, proferido no quadro de uma conversao oude um colquio, posig()_~_~l1_r.ems:le.nt~, (aquele que oenuncia), seu 4~tIii.trio (aquele que o recebe) e seu re-ferente (aquiI(; de que trata o enunciado) de uma maneiraespedfica: o remetente colocado e exposto por esteenunciado na posio de quem sabe (sachant) (ele sabecom>Vaia universidade), o destinatrio colocado napostura de ter de conceder ou recusar seu assentimento,e o prprio referente apreendido de uma maneira pr-pria aos denotativos, como qualquer coisa que precisa sercorretamente identificada e expressa no enunciado quea ele se refere.

    Se se considera uma declarao como: A universida-de est aberta, pronunciada por um decano ou um reitorquando do incio do ano letivo, v-se que as especifica-es precedentes desaparecem. Evidentemente, precisoque o significado c:l0 enun

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

    20/73

    isto uma condio geral da comunicao, que no per-mite distinguir os enunciados ou seus efeitos prprios. Osegundo enunciado, chamado de desempenho 3f~..,possuia particularidade de seu efeito sobre o referente coincidircom sua enunciao: a universidade encontra-se abertapelo fato de que declarada como tal nestas condies.Isto no est ento sujeito a discusso nem a verificao

    pelo destinatrio, que encontra-se imediatamente coloca-do no novo contexto assim criado. Quanto ao' remetente,deve ser dotado da autoridade de proferi-Ia; mas pode-sedescrever esta situao de modo inverso: ele no decanoou reitor, isto , algum dotado de autoridade para pro-ferir este gnero d enunciados, seno quando os profere,obtendo o efeito imediato que dissemos, tanto sobre seureferente, a universidade, quanto sobre seu destinatrio,

    o corpo docente.Um caso diferente o dos enunciados do tipo: Dem

    meios universidade, que so prescries. Estas podemser moduladas em ordens, comandos, instrues, recomen-daes, pedidos, solicitaes, splicas, etc. V-se que o re-metente aqui colocado na posio de autoridade, no sen-tido mais amplo do termo (incluindo a autoridade que o

    pecador tem sobre um deus que se declara misericordio-so), o que significa que ele espera do destinatrio a reali-zao da ao referida. Estas duas ltimas posies sofrema seu turno, na pragmtica prescritiva, efeitos concomi-tantes.31

    Outra ainda a eficincia de uma interrogao, deuma promessa, de uma descrio literria, de uma narra"o, etc. Resumindo. Quando Wittgenstein, recomeandoo estudo da linguagem a partir do zero, centraliza suaateno sobre os efeitos dos discursos, chama os diversostipos de enunciados que ele caracteriza desta maneira, edos quais enumerou-se alguns, de jogos de linguagem.32

    Por este termo quer dizer que cada uma destas diversas

    16

    rat~gorias de enunciados deve poder ser determinada porregras que especifiquem suas propriedades e o uso quedelas se pode fazer, exatamente como o jogo de xadrezse define como um conjunto de regras que determinam:lS propriedades das peas, ou o modo conveniente ded~sIoc-las.

    Trs observaes precisam ser feitas a respeito dos

    jogos de linguagem. A primeira que suas regras nopossuem sua legitimao nelas mesmas, mas constituemobjeto d~ _U.1l1~011tEatoexplcito ou n9~!ltreQS jogadores(o que no quer dizer todavia que estes as inventem). Asegunda que na ausncia de regras no existe jogo,33que uma modificao, por mnima que seja, de uma regra,modifica a natureza do jogo, e que um "lance" ou umenunciado que no satisfaa as regras, no pertence aojogo definido por elas. A terceira observao acaba de serinferida: todo enunciado deve ser considerado como um

    "lance" feito num jogo.Esta ltima observao leva a admitir um primeiroprincpio que alicera todo o nosso mtodo: que falar combater, no sentido de jogar, e que os atos de lingua-gem34provm de uma agonstica gera1.35Isto no significanecessariamente que se joga para ganhar. Pode-se realizarum lance pelo prazer de invent-Io: no este ocaso dotrabalho de estrnuloda lngua prqvocado--petfl __popu-lar ou pela literatl.!ta'? A inveno contnu de--onstruesnovas, de- palvras e de sentidos que, no nvel da palavra, o que faz evoluir a lngua, proporciona grandes alegrias.Mas, sem dvida, mesmo este prazer no independentede um sentimento de sucesso, sobre um adversrio pelomenos, mas de envergadura: a lngua estabelecida, a cono-

    ~ 36laao.

    Esta idia de uma agonstica da linguagem (tanga-.~icre) no deve ocultar o segundo princpio que lhe com-plementar e que norteia nossa anlise: que o vnculo social

    isto

    um a condio geral da

    comunicao,

    que no per

    mite

    distinguir

    os enunciados

    ou

    seus

    efeitos prprios.

    O

    segundo

    enunciado, chamado de desempenho 3

    O'}

    -possui

    a

    particularidade de seu efeito

    sobre o referente

    coincidir

    com

    sua enunciao:

    a

    universidade

    encontra-se aberta

    pelo

    fato

    de

    que

    declarada

    como tal

    nestas

    condies.

    Isto no

    est

    ento

    sujeito a

    discusso nem

    a

    verificao

    pelo

    destinatrio, que

    encontra-se

    imediatamente

    coloca

    do no no vo

    contexto

    assim

    criado.

    Quanto

    ao

    remetente,

    deve

    ser

    dotado da

    autoridade

    de

    proferi-la;

    mas

    pode-se

    descrever

    esta

    situao

    de

    modo inverso:

    ele no

    decano

    ou

    reitor,

    isto

    ,

    algum dotado

    de autoridade

    para

    pro

    ferir este

    gnero de

    enunciados,

    seno

    quando

    os

    profere,

    obtendo

    o efeito

    imediato

    que

    dissemos,

    tanto

    sobre

    seu

    referente,

    a

    universidade,

    quanto

    sobre

    seu

    destinatrio,

    o corpo

    docente.

    Um caso

    diferente o dos

    enunciados

    do

    tipo:

    Deem

    meios

    universidade,

    que

    so

    prescries.

    Estas podem

    ser

    moduladas

    em

    ordens,

    comandos, instrues,

    recomen

    daes,

    pedidos,

    solicitaes, suplicas,

    etc.

    V-se

    que

    o re

    metente aqui

    colocado

    na posio

    de

    autoridade,

    no

    sen

    tido mais

    amplo

    do

    termo

    (incluindo

    a

    autoridade

    que

    o

    pecador tem

    sobre um

    deus qu e

    se

    declara

    misericordio

    so),

    o que

    significa

    que ele

    espera

    do destinatrio

    a

    reali

    zao

    da ao

    referida.

    Estas duas

    ltimas posies

    sofrem

    a seu turno,

    na pragmtica

    prescritiva,

    efeitos

    concomi

    tantes.31

    categorias de

    enunciados deve

    poder ser

    determinada por

    regras

    que

    especifiquem suas propriedades e

    o uso

    que

    delas se pode

    fazer,

    exatamente

    como

    o

    jogo

    de xadrez

    se

    define

    como um

    conjunto

    de

    regras

    que

    determinam

    as

    propriedades das

    peas, ou o modo

    conveniente

    de

    desloc-las.

    Trs

    observaes

    precisam

    ser

    feitas

    a respeito dos

    jogos

    de linguagem.

    A

    primeira

    que

    suas regras no

    possuem sua

    legitimao

    nelas

    mesmas, mas

    constituem

    objeto de

    um

    contrato

    explcito ou no entre

    os

    jogadores

    (o

    que

    no

    quer dizer

    todavia

    que

    estes as

    inventem).

    A

    segunda

    que

    na ausncia de

    regras

    no exis te

    jogo,33

    que uma modificao,

    por mnima

    que

    seja, de

    uma

    regra,

    modifica

    a

    natureza

    do

    jogo, e que um lance

    ou um

    enunciado

    que

    no

    satisfaa

    as

    regras,

    no

    pertence

    ao

    jogo definido

    por elas.

    A

    terceira

    observao

    acaba de

    ser

    inferida: todo

    enunciado deve ser considerado

    como

    um

    lance feito

    num

    jogo.

    Esta

    ltima

    observao

    leva

    a admitir um

    primeiro

    princpio

    que

    alicera

    todo o nosso mtodo:

    que falar

    combater, no

    sentido de

    jogar,

    e

    que

    os

    atos

    de lingua

    gem34

    provm

    de

    uma

    agonstica

    geral.35

    Isto no

    significa

    necessariamente que se

    joga

    para ganhar.

    Pode-se

    realizar

    um

    lance

    pelo

    prazer

    de invent-lo:

    no

    este

    o caso

    do

    trabalho

    de

    estmulo

    da lngua

    provocado

    pela

    fala popu

    lar ou pela

    literatura?.

    A

    inveno

    contnua

    de

    construes

    novas, de palavras

    e de sentidos que, no

    nvel da palavra,

    o que

    faz

    evoluir

    a lngua, proporciona

    grandes alegrias.

    Mas,

    sem

    dvida,

    mesmo

    este

    prazer

    no

    independente

    de um

    sentimento de

    sucesso,

    sobre um

    adversrio

    pelo

    menos,

    mas de envergadura: a

    lngua estabelecida,

    a cono

    tao.36

    i

    Outra

    ainda

    a

    eficincia

    de

    uma

    interrogao,

    de

    uma promessa ,

    de

    um a

    descrio

    literria, de uma

    narra

    o,

    etc. Resumindo.

    Quando

    Wittgenstein,

    recomeando

    o estudo

    da linguagem a

    partir

    do

    zero, centraliza

    sua

    ateno

    sobre

    os

    efeitos

    dos

    discursos,

    chama

    os diversos

    tipos

    de

    enunciados que

    ele caracteriza

    desta

    maneira,

    e

    dos

    quais enumerou-se

    alguns, de jogos

    de

    linguagem.32

    Po r

    este termo

    quer dizer

    que

    cada

    um a

    destas

    diversas

    Esta

    idia

    de

    uma

    agonstica da

    linguagem

    (

    langa

    -

    gicre)

    no deve ocultar

    o

    segundo

    princpio

    que lhe

    com

    plementar

    e

    que norteia nossa

    anlise: que

    o vnculo

    social

    16

    17

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

    21/73

    i',. agol11stlca est no princIpIo da ontologia de Herclito e da dial-tica dos sofistas. sem falar dos primeiros trgicos. Aristteles reser-va-lhe uma grande parte de sua reflexo sobre a dialtica in Tpicosc Heluta'es solsticas. Ver F. Nietzsche, "La joute chez Homere', in"Cinq prfaces cinq livres qui n'ont pas t crits" (1872). Ecrits

    J!osthul1les 1870-1873, t.f. Backes, Haar & de Launay. Gallimard, 1975,IQ2-200.

    \b. No sentido estabelecido por L. Hjelmslev, Prolegol1lenll to a Theory01 Language, t. inglesa Whitfield, Madison, U. Wisconsin Press, 1963;LI'. Una Canger, Prolgol1l(!I1es une thorie du langage, Minuil, 1968.

    E retomado por R. Barthes, Ell1lents de sl11i%gie (1964), Seuil, 1966 IV. I.

    obscrvve1 feito de "lances" de linguagem. Elucidandoesta proposio entraremos no ceme do nosso tema.

    28. Na esteira da semitica de Ch, A. Peirce. a distino dos domniossinttico, semntico e pragmtico feita por Ch. W. Morris, "Foun-dations of the Theory of Signs", in O. Neurath, R. Carnap & Ch.Morris ed., International Encyclopedia 01 Unilied Science, I, 2 (1938),77-137. Ns nos referimos sobre este termo sobretudo a; L. Wittgen-stein, Philosophical Investigations, 1945 (Lf. Klossowski, Investigations

    philosophiques, Gallimard, 1961); J. L. Austin, How to Do Thingswith Words, OxIord, 1962 (t.f. Lane, Quand dire c'est faire, Seuil,1970); J. R. Searle, Speech Acts, Cambridge U.P .. 1969 (LI. Pauchard,

    Les actes de langage, Hermann, 1972); J. Habermas, VorbereitendeBemerkungen zu einer Theorie der kommunikativen Kompetens, inHabermas & Luhmann, Theorie der Gese/lschaft oder Sozialtechnologie,Stuttgart, Suhrkamp, 1971; O. Ducrot, Dire et ne pas dire, Hermann,1972; J. Puclain, "Vers une pragmatique ncleaire de Ia communica-tion", datilog., Universit de Montral, 1977. Ver tambm Watzlawicket aI. op. cito

    29. Denotao corresponde aqui descrio conforme uso clssico dos l-gicos. Quine substitui denotation por true of (verdade de). Ver W.V. Quine, t.f. Dopp e Gochet, Le mot et Ia chose, Flammarion, 1977,140, n. 2. Austin, op. cit., 39, prefere constatif a descriptif.

    30. Em teoria da linguagem, performativo assumiu desde Austin um sen-tido preciso (op. cit., 39 e passim). Iremos reencontr-Io mais adianteassociado aos termos performance e performatividade (de um sistema,notadamente) no sentido que se tornou corrente de eficincia mensu-rvel na relao input/output. Os dois sentidos no so estranhos umao outro . O performativo de Austin realiza a perlormance tima.

    Na traduo para o portugus preferiram-se as palavras desempenho oueficincia mensurvel como traduo de performativit e performatif(N. do Ed.)

    31. Uma anlise recente destas categorias foi feita por Habermas, "Vor-bereitende Bemerkungen ... ", e discutida por J. Poulain, art. cito

    32. Investigations philosophiques, loc. cit., 23.33. J. von Neumann & Morgenstern, Theory of Games and Economic

    Behavior, Princeton U.P., 1944, 3: ed., 1954; 49: "O jogo consiste noconjunto das regras que o descrevem." Frmula estranha ao espritode Wittgenstein, para quem o conceito de jogo escaparia aos ditames'de uma definio, visto que esta j um jogo de linguagem (op. cit., 65-84 sobretudo). .

    34. O termo de J. H.' Searle: "Os atos de linguagem so as unidadesmnimas de base da comunicao lingstica" (op. cit., d., 52). Ns ascolocamos de preferncia sob a gide do agn (a polmica) que dacomunicao.

    A

    agonstica

    est

    no

    princpio

    da

    ontologia

    de

    Herclito c da dial

    tica

    dos

    sofistas,

    sem

    falar

    dos primeiros trgicos.

    Aristteles

    reser

    va-lhe uma

    grande

    parte

    de sua

    reflexo

    sobre

    a dialtica

    in Tpicos

    c

    Refutaes

    sofsticas.

    Ver F.

    Nietzsche,

    La joute

    chez

    Homre

    ,

    in

    Cinq prefaces

    cinq

    livres

    qui

    nont pas

    etc

    crits

    (1872),

    crits

    posthumes

    1870-1873,

    t.f.

    Backs.

    Haar &

    de

    Launay, Gallimard,

    1975,

    192-200.

    No

    sentido estabelecido por

    L.

    Hjelmslev.

    Prolegomena

    to a

    Theory

    of

    Language,

    t.

    inglesa Whitfield,

    Madison.

    U.

    Wisconsin Press,

    1963;

    t.f.

    Una

    Canger,

    Prolgomnes

    une thorie

    du langage,

    Minuit,

    1968.

    F.

    retomado

    por

    R.

    Barthes,

    Elements de

    smiologie

    (1964),

    Seuil, 1966

    IV. 1.

    th.

    observvel

    feito de

    lances

    de linguagem.

    Elucidando

    esta

    proposio

    entraremos

    no cerne

    do nosso tema.

    NOTAS

    6 .

    Na

    esteira

    da

    semitica

    de Ch. A.

    Peirce,

    a

    distino dos domn io s

    sinttico, semntico

    e

    pragmtico

    feita por Ch .

    W.

    Morris,

    Foun

    dations

    of

    the

    Theory

    of

    Signs

    in

    O.

    Neurath,

    R.

    Carnap

    &

    Ch.

    Morris

    ed., International

    Encyclopedia of Unified

    Science,

    I,

    2

    (1938),

    77-137.

    Ns nos re fe r imos sobre

    este termo sobretudo

    a: L.

    Wittgen

    stein,

    Philosophical

    Investigations,

    1945

    (t.f.

    Klossowski,

    Investigations

    philosophiques,

    Gallimard,

    1961);

    J.

    L.

    Austin, How

    to Do

    Things

    with

    Words,

    Oxford,

    1962

    (t.f.

    Lane,

    Quand

    dire

    eest

    faire,

    Seuil,

    1970);

    J.

    R.

    Searle,

    Speech

    Acts,

    Cambridge

    U.P.,

    1969

    (t.f.

    Pauchard,

    Les actes

    de

    langage,

    Hermann, 1972);

    J.

    Habermas, Vorbereitende

    Bemerkungen zu einer

    Theorie

    der

    kommunikativen

    Kompetens,

    in

    Habermas &

    Luhmann,

    Theorie der

    Gesellschaft

    oder

    Sozialtechnologie,

    Stuttgart,

    Suhrkamp, 1971;

    O.

    Ducrot,

    Dire

    et ne

    pas

    dire,

    Hermann,

    1972;

    J.

    Puclain,

    Vers une

    pragmatique ncleaire

    de la communica

    tion, datilog.,

    Universit

    de

    Montral,

    1977. Ver tambm

    Watzlawick

    et al.,

    op.

    cit.

    Denotao

    corresponde aqui

    descrio

    conforme

    uso c l ssico

    dos

    l

    gicos.

    Quine

    substitui

    denotation por true

    of

    (verdade

    de).

    Ver W.

    V.

    Quine,

    t.f.

    Dopp

    e

    Gochet,

    Le mot

    et la

    chose,

    Flammarion,

    1977,

    140,

    n.

    2.

    Austin,

    op.

    cit.,

    39, prefere

    constatif

    a

    descriptif.

    Em

    teoria da

    linguagem,

    performativo

    assumiu

    desde Austin

    um

    sen

    tido

    preciso

    (op. cit., 39 e

    passim).

    Iremos

    reencontr-lo

    mais

    adiante

    associado

    aos

    termos

    performance

    e

    performatividade

    (de

    um

    sistema,

    notadamente)

    no sentido

    que

    se

    tornou corrente de

    eficincia mensu

    rvel

    na

    relao input/output.

    Os dois

    sentidos

    no

    so estranhos

    um

    ao outro. O

    performativo

    de Austin realiza a

    performance

    tima.

    Na

    traduo

    para

    o

    portugus

    preferiram-se

    as

    palavras desempenho

    ou

    eficincia mensurvel como

    traduo

    de

    performativit

    e

    performatif.

    (N.

    do

    Ed.)

    Uma anlise recente destas

    categorias foi feita

    por

    Habermas,

    Vor

    bereitende

    Bemerkungen.

    .

    ., e

    discutida

    por

    J.

    Poulain, art.

    cit.

    Investigations

    philosophiques,

    loc.

    cit.,

    23.

    J.

    von

    Neumann & Morgenstern,

    Theory

    of Games

    and

    Economic

    Behavior,

    Princeton

    U.P.,

    1944, 3.

    ed., 1954;

    49: O

    jogo

    consiste no

    conjunto

    das

    regras que

    o descrevem.

    Frmula

    estranha

    ao

    esprito

    de

    Wittgenstein,

    para quem

    o

    conceito de

    jogo escaparia aos ditames'

    de uma definio,

    visto

    que

    esta

    j

    um

    jogo

    de

    linguagem

    (op.

    cit.,

    65-84

    sobretudo).

    O

    termo

    de

    J.

    H.

    Searle;

    Os

    atos de

    linguagem so as

    unidades

    mnimas

    de

    base

    da

    comunicao

    lingustica

    (op. cit.,

    t.f.,

    52).

    Ns

    as

    colocamos

    de

    preferncia

    sob

    a

    gide

    do

    agn

    (a

    polmica)

    que da

    comunicao.

    28.

    29.

    li,

    30.

    31.

    32.

    33.

    34.

    19

    8

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

    22/73

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

    23/73

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

    24/73

    UU, antes, as possibilidades tcnicas impem a utilizao que delasse faz." Habermas ope a esta lei o fato dos conjuntos de meiostcnicos e dos sistemas de ao racional completa jamais se desen-volverem de maneira autnoma: "Consquences pratiques du progresscientifique et technique" (1968), in Theorie und Praxis, Neuwied,Luchterhand, 1963; t.f. Raulet, Thorie et Praxis, Payot, 11. 115-136.Ver tambm J. Ellul, La technique et l'enjeu de Ia science, Paris, Ar-mand Colin, 1954; id., Le systeme technicien, Paris, Calmann-Lvy.Que as greves e em geral a forte presso exercida pelas poderosasorganizaes de trabalhadores produzem uma tenso finalmente ben-fica para a eficincia mensurvel do sistema, o que Ch. Levinson,

    dirigente sindical, declara claramente; explica ele esta tenso como oavano tcnico e gestionrio da indstria americana (citado por H.-F.de Virieu, Le Matin, dcembre 1978, n.Ospcial "Que veut GiscardT').

    40. T. Parsons, Essays in Sociological Theory Pure and Applied, Glencoe,Free P., 1957 (reed.), 4647.

    11. A palavra tomada aqui segundo a aeepo que J. K. Galbraith deuao termo tecnoestrutura em Le nouvel .tat industriel. Essai sur lesysteme conomique amricain, Gallimard, 1968, ou R. Aron ao deestrutura tecno-burocrtica nas Dix-huit leons sur Ia socit indus-tielle, Gallimard, 1962, de preferncia ao sentido evocado pelo termoburocracia. Este ltimo muito mais "duro", porque tanto socio-

    poltico quanto econmico, procedendo inicialmente de uma crticafeita pela Oposio operria (Kollontai:) ao poder bo1chevique, depois

    pela oposio trotskista aO estalinismo. Ver a este respeito CI. Lefort,

    Elments d'une critique de Ia bureaucratie, Genebra, Droz, 1971,onde a crtica se estende sociedade burocrtica em seu conjunto.

    12. Eclipse de Ia raison, loco cit., 183.

    4"). M. Horkheimer, "Traditionelle und kritische Theorie" (1937) int.f. Maillard & Muller, Thorie traditionnelle et thorie critique, Galli-mard, 1974. Ver tambm: 1,f. Collectif du College de philosophie,Thorie critique, Payot, 1978. E a bibliografia comentada sobre aEscola de Frankfurt (francesa, interrompida em 197.8) in Esprit 5 (mai1978), por Hoehn & Raule1,

    44. Ver CI. Lefort, op. cit.; id.. Un homme en trop, Seuil, 1976; C. Cas-toriadis, La socit bureaucratique, 10/18, 1973.

    4'5. Ver por exemplo J. P. Garbier, Le marxisme lnifiant, Le Sycomore,1979.

    'Ib. t o ttulo que tinha o "rgo de crtica e de orientao revolucionria"

    publicado de 1949 a 1965 por um grupo cujos principais redatores(com diversos pseudnimos) foram C. de Beaumont, D. Blanchard,C. Castoriadis, S. de Diesbach, CI. Lefort, J.-F. Lyotard, A. Maso,D. Moth, B. Sarrel, P. Simon, P. Souyri.

    17. E. Bloch, Das Prinzip Hoffnung (1954-1959). Frankfurt, 1967. Ver G.Raulet ed., Utopie-Marxisme selon E. Bloch, Payot, 1976.

    ,11'. r:: um!i aluso s obstrues tericas provocadas pelas guerras daArglia e do Vietn, e pelo movimento estudantil dos anos 1960. Um

    panorama histrico dado por A. Schnapp e P. Vidal-Naquet, Jour-/lal de Ia Commune tudiante, Seuil, 1969, Apresentao.

    nativa parece clara - homogeneidade ou dualidade in-trnsecas do social, funcionalismo ou criticismo do saber- mas a deciso parece difcil de tomar. Ou arbitrria,

    Tentou-se dela escapar distinguindo duas espcies desaber: um positivista, que encontra facilmente sua aplica-o s tcnicas relativas aos homens e aos materiais e quese presta a tornar-se uma fora produtiva indispensvel ao

    sistema, e uma espcie crtica ou reflexiva ou hermenu-tica que, interrogando-se direta ou iridiretamente sobreos valores ou os fins, ope um obstculo a qualquer"recuperao" .51

    37. Ver em particular Ta1cott Parsons, The Social System, Glencoe Free,P., 1967; id., Sociological Theory and Modem Society, N.Y., Free P.,1967. A bibliografia da teoria marxista da sociedade contemporneaocuparia mais de cinqenta pginas. Pode-se consultar a til catalo-gao (dossis e bibliografia crtica) feita por P. Souyri, Le marxismeopres Marx, Flammarion, 1970. Uma viso interessante do conflitoentre estas duas grandes correntes da teoria social e de sua mixagem apresentada por A. W. Gouldner, The Coming Crisis of WesternSociology (1970), Londres, Heineman, 2: ed., 1972. Este conceitoocupa um lugar importante no pensamento de J. Habermas, simulotaneamente herdeiro da Escola de Frankfurt e polemizando com ateoria alem do sistema social, sobretudo a de Luhmann.

    38. Este otimismo aparece claramente nas concluses de R. Lynd, Know-ledge for What?, Princeton U.P., 1939, 239, que so citadas por M.Horkheimer, Eclipse of Reason, Oxford U.P., 1947; t.f. Laiz, Eclipsede Ia raison, Payot, 1974, 191: na sociedade moderna, a cincia deversubstituir a religio "usada at a exausto" para definir a finalidadeda vida.

    39. H. Schelsky. Der Mensch in der wissenschaftlichen Zeitalter, Col'nia, 1961, 24 sq.: "A soberania do Estado no se manifesta mais pelosimples fato de que ele monopoliza o uso da violncia (Max Weber) oudecide sobre o estado de exceo (Car! Schmitt), mas antes de tudo

    pelo fato de que decide sobre o grau de eficcia de todos os 1l1j:iostcnicos existentes em seu seio, que reserva para si aqueles cuja eficcia for mais elevada e pode praticamente colocar-se ele mesmo forado campo de aplicao destes meios tcnicos que impe aos outros."Dir-se- que uma teoria do Estado, no do sistema. Mas Schelskyacrescenta: "O prprio Estado v-se submetido, em funo da prpriacivilizao industrial: a saber, so os meios que determinam os fins,

    ou,

    antes,

    as

    possibilidades

    tcnicas impem

    a

    utilizao

    que

    delas

    se

    faz.

    Habermas

    ope

    a

    esta lei

    o fato dos

    conjuntos

    de

    meios

    tcnicos e dos sistemas

    de

    ao

    racional completa

    jamais

    se

    desen

    volverem

    de maneira

    autnoma: Consquences

    pratiques

    du

    progrs

    scientifique

    et

    technique

    (1968),

    in Theorie

    und Praxi s, Neuwied,

    Luchterhand, 1963;

    t.f.

    Raulet,

    Thorie et

    Praxis,

    Payot,

    II,

    115-136.

    Ve r

    tambm

    J.

    Ellul,

    La

    technique

    et

    Ienjeu

    de la science,

    Paris,

    Ar-

    mand Colin, 1954;

    id., Le

    systme

    technicien,

    Paris, Calmann-Lvy.

    Que

    as

    greves

    e em

    geral

    a

    forte

    presso

    exercida pelas poderosas

    organizaes de

    trabalhadores

    produzem

    uma

    tenso finalmente

    ben

    fica

    para

    a

    eficincia

    mensurvel do sistema,

    o

    que

    Ch.

    Levinson,

    dirigente sindical,

    declara

    claramente;

    explica ele esta tenso

    como

    o

    avano

    tcnico e gestionrio

    da

    indstria americana

    (citado

    por

    H.-F.

    de

    Virieu,

    Le Matin, dcembre 1978,

    n. spcial

    Que

    veut

    Giscard?).

    T. Parsons,

    Essays

    in

    Sociological

    Theory

    Pure and

    Applied,

    Glencoe.

    Free

    P.,

    1957

    (reed.),

    46-47.

    A

    palavra

    tomada aqui

    segundo

    a

    acepo

    que

    I.

    K.

    Galbraith

    deu

    ao

    termo tecnoestrutura

    em Le

    nouvel tat

    industriei. Essai

    sur le

    systme

    conomique

    amricain, Gallimard,

    1968,

    ou R. Aron

    ao

    de

    estrutura

    tecno-burocrtica

    na s Dix-huit leons sur

    la socit

    indus-

    tielle,

    Gallimard,

    1962,

    de

    preferncia

    ao

    sentido

    evocado

    pelo

    termo

    burocracia. Est e lt imo muito

    mais

    duro,

    porque

    tanto socio-

    poltico

    quanto

    econmico, procedendo

    inicialmente

    de

    uma crtica

    feita

    pela

    Oposio

    operria

    (Kollontai)

    ao poder

    bolchevique,

    depois

    pela

    oposio

    trotskista a

    estalinismo. Ve r

    a

    este

    respeito Cl.

    Lefort,

    lments

    d

    une critique

    de

    la

    bureaucratie,

    Genebra,

    Droz,

    1971,

    onde a

    crtica se estende

    sociedade

    burocrtica em

    seu

    conjunto.

    Eclipse

    de la raison,

    loc. cit.,

    183.

    M. Horkhemer,

    Traditionelle

    und kritische

    Theorie

    (1937)

    in

    t.f. Maillard &

    Muller,

    Thorie

    traditionnelle

    et thorie

    critique,

    Galli

    mard,

    1974. Ve r

    tambm:

    t.f.

    Collectif du

    Collge

    de

    philosophic,

    Thorie critique,

    Payot,

    1978. E

    a

    bibliografia

    comentada sobre

    a

    Escola de Frankfurt

    (francesa,

    interrompida

    em

    1978)

    in

    Esprit 5

    (mai

    1978),

    por

    Hoehn

    &

    Raulet.

    V er C l.

    Lefort, op.

    cit.;

    id.,

    Un

    homme

    en

    trop, Seuil,

    1976;

    C. Cas-

    toriadis,

    La socit

    bureaucratique, 10/18,

    1973.

    Ve r

    por

    exemplo

    J.

    P.

    Garbier,

    Le marxisme

    lnifiant,

    Le

    Sycomore,

    1979.

    o

    ttulo

    que

    tinha

    o

    rgo

    de

    crtica

    e

    de orientao

    revolucionria

    publicado

    de

    1949

    a

    1965

    por

    um

    grupo

    cujos

    principais

    redatores

    (com

    diversos

    pseudnimos)

    foram

    C.

    de

    Beaumont,

    D.

    Blanchard,

    C.

    Castoriadis,

    S. de

    Diesbach,

    Cl .

    Lefort,

    J.-F.

    Lyotard,

    A.

    Maso,

    D. Moth,

    B.

    Sarrel,

    P.

    Simon,

    P.

    Souyri.

    E.

    Bloch,

    Das

    Prinzip

    Hoffnung

    (1954-1959), Frankfurt,

    1967. Ve r G.

    Raulet

    ed., Utopie-Marxisme

    selon

    E. Bloch,

    Payot,

    1976.

    F.

    uma

    aluso s

    obstrues

    tericas

    provocadas

    pelas guerras da

    Arglia

    e

    do

    Vietn,

    e

    pelo

    movimento

    estudantil dos

    anos

    1960.

    Um

    panorama

    histrico dado por A.

    Schnapp

    e P.

    Vidal-Naquet,

    Jour

    nal

    de la

    Commune tudiante,

    Seuil,

    1969, Apresentao.

    homogeneidade

    ou dualidade

    in-

    ou criticismo

    do

    saber

    nativa

    parece

    clara

    trnsecas

    do

    social, funcionalismo

    mas

    a

    deciso

    parece

    difcil de

    tomar. Ou arbitrria.

    Tentou-se dela

    escapar

    distinguindo

    duas espcies

    de

    saber:

    um

    positivista,

    que

    encontra facilmente

    sua

    aplica

    o

    s

    tcnicas

    relativas

    aos

    homens e

    aos

    materiais

    e que

    se

    presta

    a

    tornar-se

    uma

    fora

    produtiva

    indispensvel ao

    sistema, e

    uma

    espcie

    crtica

    ou

    reflexiva

    ou

    hermenu

    tica

    que,

    interrogando-se direta ou

    iridiretamente

    sobre

    os valores ou os

    fins,

    ope

    um obstculo

    a

    qualquer

    recuperao.51

  • 7/23/2019 Lyotard Jean-Francois O Pos-moderno 3a Ed

    25/73

    49.

    11'

    I

    1;111

    50."1

    ,I

    51.

    Lcwis Mumford, T he Myth of the Machine. Tecnics and HumanDevelopment, Londres, Secker & Warburg, 1967; t.f. Le m yt he d eIa machine, Fayard, 1974.

    A hesitao entre estas duas hipteses se evidencia, no entanto, noapelo destinado a obter a participao dos intelectuais no sistema:Ph. Nemo, "La nouvelle responsabi li t d es deres", L e M on de , 8 septembre 1978.

    A oposio entre Naturwissenschaft e Geistwissenschaft tem sua orig em em W. Dilthey (1863-1911), t.f. Rmy, Le monde de l'esprit,Aubier-Mon taig ne, 1947.

    A NATUREZA DO VNCULO SOCIAL:A PERSPECTIVA PS-MODERNA

    NO seguimos uma soluo de diviso como esta. Pos-

    tulamos que a alternativa que ela busca resolver, mas que

    no faz seno reproduzir, deixou de ser pertinente em

    relao s sociedades que nos interessam, e que ela mesma

    pertence a um pensamento por oposies que no corres-

    ponde s manifestaes mais doqentes do saber ps-moderno. O "redesdobramento" econmico na fase atualdo capitalismo, auxiliado pela mutao das tcnicas e das

    tccnologias segue em paralelo, j se disse, com uma

    mudana de funo dos Estados: a partir desta sndromeforma-se uma imagem da sociedade que obriga a revisar

    seriamente os enfoques apresentados como alternativa. Di-

    gamos sumariamente 'que as funes de regulagem e, por-tanto, de reproduo, so e sero cada vez mais retiradas

    dos administradores e confiadas a autmatos. A grandequesto vem a ser e ser a de dispor das informaes queestes devero ter na memria a fim de que boas decisessejam tomadas. O acesso s informaes e ser da aladados experts de todos os tipos. A classe dirigente e sera dos decisores. Ela j no mais constituda pela classe

    poltica tradicional, mas por uma camada formada por di-rigentes de empresas, altos funcionrios, dirigentes de

    wandes rgos profissionais, sindicais, polticos, confes- 52

    SlonalS.

    A novidade que, neste contexto, os antigos plosde atrao formados pelos Estados-naes, os partidos, os

    27

    49.

    Lewis

    Mumford,

    The

    Myth

    of

    the

    Machine.

    Teenies

    and Human

    Development,

    Londres,

    Seeker

    &

    Warburg,

    1967; t.f.

    Le

    mythe

    de

    la

    machine,

    Fayard, 1974.

    50.

    A

    hesitao

    entre

    estas

    duas

    hipteses se

    evidencia,

    no

    entanto,

    no

    apelo

    destinado

    a obter

    a

    participao

    do s

    intelectuais no sistema:

    Ph.

    Nemo, La

    nouvelle

    responsabilit

    des

    eleres

    Le

    Monde,

    8

    septembre 1978.

    51. A

    oposio

    entre

    NaturwissenSchaft

    e

    Geistwissenschaft

    tem sua

    ori

    gem em W.

    Dilthey (1863-1911),

    t.f.

    Rmy,

    Le monde de

    1esprit,

    Aubier-Montaigne,

    1947.

    5

    A

    NATUREZA

    DO

    VNCULO

    SOCIAL:

    A PERSPECTIVA PS-MODERNA

    NAO

    seguimos

    uma

    soluo

    de

    diviso

    como

    esta.

    Pos

    tulamos

    que

    a alternativa

    que

    ela busca

    resolver, mas

    que

    no

    faz

    seno

    reproduzir,

    deixou

    de

    ser

    pertinente

    em

    relao

    s sociedades que

    nos

    interessam, e que

    ela

    mesma

    pertence

    a um

    pensamento

    po r

    oposies

    que no

    corres

    ponde

    s

    manifestaes

    mais

    eloquentes do saber

    ps-

    moderno. O

    redesdobramento

    econmico

    na fase

    atual

    do

    capitalismo,

    auxiliado

    pela mutao das

    tcnicas

    e das

    tecnologias

    segue

    em

    paralelo,

    j

    se

    disse,

    com

    uma

    mudana

    de

    funo dos

    Estados:

    a

    partir desta

    sndrome

    forma-se uma

    imagem

    da

    sociedade que

    obriga

    a

    revisar

    seriamente

    os enfoques apresentados

    como alternativa.

    Di

    gamos

    sumariamente

    que

    as funes

    de regulagem e, por

    tanto,

    de reproduo,

    so

    e

    sero

    cada vez

    mais

    retiradas

    dos

    administradores e

    confiadas a

    autmatos.

    A

    grande

    questo

    vem

    a

    ser

    e

    ser

    a

    de

    dispor

    das

    informaes

    que

    estes

    devero ter

    na

    memria a fim

    de

    que boas decises

    sejam

    tomadas. O acesso s informaes

    e

    ser da

    alada

    dos

    experts

    de todos

    os

    tipos.

    A

    classe

    dirigente e ser

    a

    dos decisores.

    Ela

    j

    no

    mais

    constituda

    pela

    classe

    poltica

    tradicional, mas

    por

    uma camada

    formada

    por di

    rigentes

    de

    empresas,

    altos funcionrios, dirigentes

    de

    grandes

    rgos

    profissionais,

    sindicais,

    polticos, confes

    sionais.52

    '1

    l

    A

    novidade

    que,

    neste

    contexto, os antigos

    plos

    de

    atrao

    formados

    pelos

    Estados-naes,

    os

    partidos,

    os

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    profissionais, as instituies e as tradies histricas per-dem seu atrativo. E eles no parecem dever ser substitu-dos, pelo menos na escala que lhes prpria. A Comissotricontinental no um plo de atrao popular. As "iden-tificaes" com os grandes nomes, com os heris da hist-ria atual, se tornam mais difceis.53 No entusiasmanteconsagrar-se a "alcanar a Alemanha", como o presidente

    francs parece oferecer cpmo finalidade de vida a seuscompatriotas. Pois no se trata verdadeiramente de umafinalidade de vida. Esta deixada diligncia de cadacidado. Cada qual entregue a- si mesmo. E cada qualsabe que este si mesmo muito pOUCO.54

    Desta decomposio dos grandes Relatos, que anali-saremos mais adiante, segue-se o que alguns analisam comoa dissoluo do vnculo social e a passagem das coletivi-dades sociais ao estado de uma massa composta de tomosindividuais lanados num absurdo movimento browniano.55

    Isto no relevante, um caminho que nos parece obs-

    curecido pela representao paradisaca de uma sociedade"orgnica" perdida.

    O si mesmo pouco, mas no est isolado; tomadonuma textura de relaes mais complexa e mais mvel doque nunca. Est sempre, seja jovem ou velho, homem oumulher, rico ou pobre, colocado sobre os "ns" dos cir-cuitos de comunicao, por nfimos que sejam.56 prefe-rvel dizer: colocado nas posies pelas quais passam men-sagens de natureza diversa. E ele no est nunca, mesmo ~o mais desfavorecido, privado de poder sobre estas men- \sagens que o atravessam posicionando-o, seja na posio

    de remetente, destinatrio ou referente., Pois seu deslo-camento em relao a estes efeitos de jogos de linguagem(compreende-se que deles que se trata) tolervel pelomenos dentro de certos limites (e mesmo estes so ins-tveis) e ainda suscitado pelas regulagens, sobretudo pelosreajustamentos atravs dos quais o 'sistema afetado afim de melhorar suas performances, Convm mesmo dizer

    28

    que o sistema pode e deve encorajar estes deslocamentos,na medida em que luta contra sua prpria entropia e quelima novidade correspondente a um "lance" no esperadoe ao deslocamento correlato de tal parceiro ou de tal grupode parceiros que nele se encontra implicado, pode forne-cer ao sistema este suplemento de desempenho que eleno cessa de requisitar e de consumir .57

    Compreende-se atualmente em que perspectiva forampropostos acima os jogos de linguagem como mtodo geralde enfoque. No pretendemos que toda relao social sejadesta ordem; isto permanecer aqui uma questo penden.te; mas que os jggos ..de.linguagem~,sejam,~_poru11l1l:lg,.omnimo de rdao exigido para qu~ hja "osQci~clacl~.1.no necessrio que I~e recorra a uma robinsonada para quese faa admiti-Io; desde antes do seu nascimento, haja vistao nome que lhe dado, a criana humana j colocadacomo referente da histria contada por aqueles que a cer-cam58 e em relao qual ela ter mais tarde de se deslo

    car. Ou mais simplesmente ainda: ~_~e~~xnculosocial, enquntQCnl~t~~ 19:o,jQgQ,de ..liugJlagem., o dainterrogao, que posiciona imediatamente aquele que aapresenta, aquele a quem ela se dirige, e o referente queela interroga: esta questo j assim o vnculo social.

    -, --'-' _._.....~---..,.,.~,".,,~""~... ,~"~-....,-_..-~."""-..

    Por outro lado, numa sociedade em que a componentecomunicacional torna-se cada dia mais evidente, simulta-neamente como realidade e como problema,59 certo que() aspecto de linguagem (langagier) adquire uma nova im-portncia, que seria superficial reduzir alternativa tra-dicional da palavra manipuladora ou da transmisso uni-lateral de mensagem, por um lado, ou da livre expressoou do dilogo, por outro lado.

    Uma palavra sobre este ltimo ponto. Expondo-seeste problema em termos simples de teoria da comunica-(,"o,se estaria esquecendo de duas coisas: ~s.!p~~~,-so dotadas de formas e de efeitos bastante diferentes,conforme forem, por exemplo, denotativas, prescritiv,a,s,

    _~ __ .~,_.,,_.. 0.0 , .. ,.~. ' . ' ..

    que o

    sistema pode e

    deve

    encorajar estes

    deslocamentos,

    na

    medida

    em

    que luta

    contra

    sua prpria entropia e

    que

    uma

    novidade

    correspondente

    a um

    lance

    no

    esperado

    e

    ao

    deslocamento correlato

    de tal parceiro ou de tal

    grupo

    de

    parceiros

    que

    nele se encontra

    implicado,

    pode

    forne

    cer ao sistem a este suplemento de

    desempenho que

    ele

    no cessa

    de

    requisitar e

    de

    consumir.57

    Compreende-se

    atualmente

    em

    que

    perspectiva

    foram

    propostos

    acima

    os

    jogos

    de

    linguagem

    como

    mtodo

    geral

    de

    enfoque.

    No pre tendemos que

    toda

    relao

    social

    seja

    desta

    ordem; isto permanecer

    aqui

    uma questo

    penden

    te;

    mas que

    os

    jogos

    de

    linguagem sejam, por um

    lado,

    o

    mnimo

    de relao

    exigido

    para

    que

    haja

    sociedade, no

    necessrio

    que

    se

    recorra

    a

    uma robinsonada

    para

    que

    sc

    faa

    admiti-lo;

    desde

    antes

    do seu

    nascimento,

    haja

    vista

    o

    nome que lhe

    dado,

    a

    criana

    humana

    j

    colocada

    como

    referente da

    histria

    contada

    po r aqueles

    que

    a

    cer

    cam58

    e em relao

    qual ela

    ter mais

    tarde

    de se

    deslo

    car.

    Ou

    mais

    simplesmente

    ainda:

    a

    questo

    do

    vnculo

    social,

    enquanto

    quest

    um

    jogo

    tie

    Jinguagem,

    o

    da

    interrogao,

    que

    posiciona

    imediatamente

    aquele

    qu e a

    apresenta,

    aquele

    a

    quem ela

    se

    dirige, e o referente

    que

    ela interroga: esta

    questo

    j

    assim

    o

    vnculo social.

    Por

    outro

    lado,

    numa

    sociedade em

    que

    a

    componente

    comunicacional

    torna-se

    cada

    dia mais evidente,

    simulta

    neamente

    como realidade

    e

    como

    problema,59

    certo

    que

    o

    aspecto

    de linguagem

    (

    langagier

    )

    adquire uma

    nova

    im

    portncia,

    que

    seria

    superficial

    reduzir

    alternativa

    tra

    dicional

    da

    palavra

    manipuladora

    ou

    da

    transmisso

    uni

    lateral

    de

    mensagem,

    po r

    um

    lado,

    ou

    da

    livre

    expresso

    ou do dilogo,

    po r

    outro

    lado.

    Uma palavra

    sobre

    este ltimo

    ponto.

    Expondo-se

    este problema

    em termos

    simples de teoria

    da

    comunica

    o,

    se estaria

    esquecendo

    de

    duas coisas:

    as

    mensagens

    so

    dotadas de

    formas

    e

    de

    efeitos

    bastante

    diferentes,

    conforme

    forem,

    por

    exemplo,

    denotativas,

    prescritivas,

    profissionais, as

    instituies

    e

    as

    tradies

    histricas

    per

    dem

    seu

    atrativo.

    E eles

    no

    parecem

    dever

    ser substitu

    dos,

    pelo

    menos

    na

    escala

    que

    lhes

    prpria.

    A

    Comisso

    tricontinental no

    um

    plo de atrao

    popular.

    As iden

    tificaes

    com os

    grandes

    nomes,

    com os heris

    da

    hist

    ria

    atual,

    se tornam mais

    difceis.53

    No

    entusiasmante

    consagrar-se

    a

    alcanar

    a

    Alemanha,

    como o

    presidente

    francs

    parece

    oferecer

    cpmo

    finalidade

    de

    vida

    a

    seus

    compatriotas. Pois no

    se

    trata

    verdadeiramente

    de

    uma

    finalidade

    de

    vida.

    Esta

    deixada

    diligncia de cada

    cidado.

    Cada

    qual

    entregue

    a-

    si

    mesmo. E

    cada

    qual

    sabe

    que este

    si

    mesmo

    muito

    pouco.54

    Desta decomposio

    dos

    grandes

    Relatos,

    que

    anali

    saremos mais

    adiante,

    segue-se

    o que

    alguns

    analisam como

    a

    dissoluo

    do

    vnculo social

    e a passagem

    das coletivi

    dades sociais ao

    estado

    de um a

    massa

    composta

    de

    tomos

    individuais

    lanados

    num absurdo

    movimento

    browniano.55

    Isto

    no

    relevante,

    um

    caminho

    que

    nos

    parece obs

    curecido

    pela representao paradisaca de

    um a

    sociedade

    orgnica

    perdida.

    O

    si

    mesmo

    pouco,

    mas

    no

    est

    isolado;

    tomado

    numa

    textura

    de

    relaes

    mais

    complexa

    e mais mvel

    do

    que

    nunca. Est

    sempre, seja

    jovem

    ou

    velho,

    homem ou

    mulher,

    rico

    ou

    pobre,

    colocado

    sobre os

    ns dos

    cir

    cuitos

    de comunicao,

    por

    nfimos

    que

    sejam.56

    prefe

    rvel

    dizer:

    colocado

    nas posies

    pelas quais

    passam

    men

    sagens de

    natureza diversa. E ele no

    est

    nunca,

    mesmo

    o

    mais

    desfavorecido,

    privado

    de

    poder sobre

    estas men

    sagens que o

    atravessam

    posicionando-o,

    seja

    na

    posio

    de

    remetente,

    destinatrio

    ou

    referente.

    Pois

    seu

    deslo

    camento

    em

    relao a

    estes

    efeitos

    de jogos

    de

    linguagem

    (compreende-se

    que

    deles

    que

    se

    trata)

    tolervel

    pelo

    menos dentro

    de certos

    limites

    (e

    mesmo

    estes so

    ins

    tveis)

    e

    ainda

    suscitado

    pelas regulagens,

    sobretudo

    pelos

    reajustamentos atravs

    dos

    quais

    o

    sistema

    afetado

    a

    fim

    de

    melhorar suas performances.

    Convm

    mesmo

    dizer

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    o nas filosofias, de desempenho nas empresas ... A bu-rocratizao o limite extremo desta tendncia.

    Contudo, esta hiptese sobre a instituio aindamuito "pesada"; ela parte de uma viso "coisista" do ins-titudo. Hoje, sabemos que o limite que a instituio opeao potencial da linguagem em "lances" nunca estabele-cido (mesmo quando ele o formalmente).63 Ele mesmo ,

    antes, o resultado provisrio e a disputa de estratgias delinguagem travads dentro e fora da instituio. Exemplos:o jogo de experimentao sobre a linguagem (a potica)ter seu lugar numa universidade? Pode-se contar hist-rias no conselho de ministros? Reivindicar numa caserna?As respostas so claras: sim, se a universidade abrir seusateliers de criao; sim, se os superiores aceitarem deli-

    berar com os soldados. Dito de outro modo: sim, se oslimites da antiga instituio forem ultrapassados.64 Reci-procamente, dir-se- que eles no se estabilizam a no serque deixem de ser um desafio.

    Acreditamos que neste esprito que convm abor-dar as instituies contemporneas do saber.

    M. Albert, comlssano do Plano francs, escreve: "O Plano umarepartio de estudos do governo ( ... ). I! tambm uma grande en-cruzilhada da nao, encruzilhada onde se agitam idias, onde :econfrontam pontos de vista e onde se formam as mudanas ( ... ). Naopodemos fic-ar sozinhos. I! preciso que outros nos esclaream ( ... )"(L'Expansion, novembre, 1978). Ver, sobre o problema da declsao