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Macário (2)

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O período literário conhecido como Ultra-romântico dominou o cenário europeu na segunda metade do século XIX.

Caracteriza-se pelo exagero de certas tendências românticas:

• Melancolia e o desespero permanentes;• Excesso emocional;• O desejo pela morte;• A percepção de uma dor universal que recobre todo

o presente, levando ao escapismo temporal e espacial e à introspecção.

• No Brasil o ultra-romantismo é representado, tradicionalmente, pela 2ª geração romântica, cujo maior expoente é Álvares de Azevedo.

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Dentre as obras do autor, destaca-se, pela expressividade, singularidade e representatividade social, o drama Macário .

Obra prima da 2ª fase do Romantismo brasileiro, narra o diálogo do jovem estudante com Satã e o amigo Penseroso que se passa, em maior parte, em uma cidade grande (provavelmente, São Paulo) que é o palco onde protagonizam mulheres lascivas, padres dissolutos, soldados ébrios e estudantes vadios.

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Quanto a estrutura formal, a obra tem sido definida pela crítica como um DRAMA-PROBLEMÁTICO, uma vez que é todo ele uma mistura de drama (texto feito para a representação teatral), diário pessoal e narrativa.

“Nesta linha, porém, o triunfo se encontra no extravagante Macário, mistura de teatro, narração dialogada e diário íntimo; no conjunto, e como estrutura, sem pé nem cabeça.

Não cometamos a injustiça de julgar Macário pelos padrões teatrais, condenando-o porque não observa as regras dramáticas.”

(Antonio Candido)

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A história se divide, basicamente, em dois episódios:

No primeiro deles, o estudante chega para passar a noite em uma taverna, onde, pouco tempo depois, começa a conversar com um Estranho que se apresentará, mais tarde, como Satã e o levará até uma cidade, palco das mais diversas devassidões, que consistirão em um ponto de partida para uma série de reflexões e críticas.

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O Espaço...

Quanto à descrição física e moral da cidade, a descrição apresentada por Álvares de Azevedo, por meio do personagem Satã, remete a uma São Paulo dos estudantes românticos entediados:

“Demais, essa terra é devassa como uma cidade, insípida como uma vila, e pobre como uma aldeia. Se não estás reduzido a dar-te ao pagode, a suicidar-te de spleen, ou a alumiar-te a rolo, não entres lá. É a monotonia do tédio...”

Tal cidade diabólica tem nome de santo, e a descrição de seus habitantes oferece ao personagem Satã inúmeras oportunidades de debater sobre aparências e comportamentos, conforme mostram os fragmentos a seguir:

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SATÃ: Mulheres, padres, soldados e estudantes. As mulheres são mulheres, os padres são soldados, os soldados são padres, e os estudantes são estudantes: para falar mais claro: as mulheres são lascivas, os padres dissolutos, os soldados ébrios, os estudantes vadios. Isso, salvo honrosas exceções, por exemplo, de amanhã em diante, tu. (...)

MACÁRIO: Que boa terra! É o Paraíso de Mafoma!

SATÃ: Mas as moças poucas vezes têm bons dentes. (...) Um médico que ali viveu e morreu deixou escrito numa obra inédita, que para sua desgraça o mundo não há de ler, que a virgindade era uma ilusão. E contudo, não há em parte alguma mulheres que tenham sido mais vezes virgens que ali. (...)

SATÃ: (...) Aquelas mulheres são repulsivas. O rosto é macio, os olhos lânguidos, o seio morno... Mas o corpo é imundo. Tem uma lepra que ocultam num sorriso. Bufarinheiras de infâmia dão em troca do gozo o veneno da sífilis. Antes amar uma lazarenta!

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O segundo episódio se passa na Itália e focaliza o diálogo entre Macário e o amigo Penseroso, com quem também dialoga acerca do amor, da moral e dos costumes da sociedade da época.

Os dois episódios constituem, em conjunto, o lugar comum onde Álvares de Azevedo encontra respaldo para a construção de um verdadeiro debate – de tal forma bem articulado - que conjuga em si temas de ordem histórica, filosófica, sociológica e religiosa.

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Considerações gerais:

• As dúvidas de Macário, reforçadas pelo niilismo de Satã, são fundamentais para a leitura do drama enquanto veículo da relação polêmica entre Álvares de Azevedo e o Romantismo brasileiro oficial . nacionalista, indianista ou crente no futuro brilhante da nação .

• São colocadas em discussão a impossibilidade de conhecer ao outro, a falta de sentido da filosofia humana, a inutilidade de se procurar um sentido para a existência.

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• Ao entrar em cena, a figura do satanismo personificado carrega, na mistura de negativismo, humor negro e desrespeito aos valores estabelecidos que a caracteriza, a responsabilidade de ecoar a voz desiludida do estudante Macário, que pode ser visto sem problemas como uma representação interessante, em suas oscilações, do ultra-romântico brasileiro nos meados do século XIX.

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Os dois episódios constituem, em conjunto, o lugar comum onde Álvares de Azevedo encontra respaldo para a construção de um verdadeiro debate – de tal forma bem articulado - que conjuga em si temas de ordem histórica, filosófica, sociológica e religiosa.

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A obra representa a concretização de um projeto literário romântico (centrado na perspectiva alemã de Schiller) que privilegia o questionamento das formas literárias e, ao mesmo tempo, aponta para a necessidade de uma postura reflexiva e crítica. Nesse afã, a IRONIA constitui uma poderosa arma para desestabilizar não apenas a estrutura formal do gênero drama, mas também a imagem canonizada de Romantismo brasileiro em meados do século XIX.

Afinal, o gênio inquieto de Azevedo mostra-se sempre sequioso de engajamento extraliterário e de contribuição para com o contexto brasileiro da época. Disso decorre o vanguardismo romântico que contraria a caracterização mais banal e difundida do movimento, cuja literatura seria lacrimosa, ultra-sentimentalista e, aparentemente, ACRÍTICA.

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Puff... (sopro ou

baforada)• O prefácio de Macário – intitulado Puff - se faz mais pelas negativas do que propriamente por meio de uma definição clara e objetiva;• inclui uma longa lista de autores (frequentados por Álvares de Azevedo);•Esses autores constituem uma série de precursores diabólicos, ou seja, de escritores que têm o diabo como personagem de suas obras;•

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