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MACHADO DE ASSIS PROFª JAQUELINE CAPPELLARI 2ª SÉRIE CONTOS

Machado de assis - colegiogeracao.com.br... Medalhão, ou seja, alguém que conseguiu conquistar riqueza e fama. Ele passa, então, a tecer uma teoria de ... E o protagonista de Um

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MACHADO DE ASSIS

PROFª JAQUELINE CAPPELLARI2ª SÉRIE

CONTOS

Teoria do medalhão O que observar:O drama do indivíduo que deseja ser ilustre e

importante é traçado com ironia neste conto, pois o pai dá conselhos ao filho para que o mesmo se adapte à mediocridade, fugindo de qualquer idéia ousada, de qualquer expressão original, de qualquer pensamento profundo.

A receita do sucesso passa, dessa maneira, pelo uso de idéias banais e pela celebração de valores já consagrados – ver cada um dos conselhos que o pai dá ao filho para compreender o significado do que é um homem-medalhão.

Por meio de sua cáustica ironia, Machado faz uma crítica à mediocridade social.

Resumindo...

Basicamente trata-se de um diálogo que se dá entre pai e filho, após o jantar comemorativo de 21 anos deste. Estando os dois a sós, o pai aconselha ao filho tornar-se um Medalhão, ou seja, alguém que conseguiu conquistar riqueza e fama. Ele passa, então, a tecer uma teoria de como o filho conseguiria isso, aconselhando-o a mudar seus hábitos e costumes, anulando seus gostos e opiniões pessoais. O filho deveria sempre se manter neutro perante tudo, possuir um vocabulário limitado e conhecer pouco, e sempre preferir um humor mais simples e direto ao invés da ironia, que requeria certo raciocínio e construção imaginativa. Após muitos outros conselhos, o pai termina a conversa admitindo que suas palavras têm certa semelhança com a obra "O Príncipe", de Maquiavel, e diz para o filho ir dormir.

Um homem célebre O que observar:

Conto considerado uma parábola da existência humana.

Relata a frustração de um compositor de polcas cujo maior desejo era criar obras clássicas.

Temática: contraste entre entre vocação e ambição, seguindo a linha de construção “essência X aparência” tão utilizada por Machado de Assis.

Resumindo...Sua personagem principal, Pestana, é um famoso compositor de polcas, um estilo bastante popular de música, conhecido e louvado por todos que o cercam, mas ele vive um dilema pessoal: odeia suas composições e toda a popularidade que elas lhe proporcionam. Seu grande sonho é produzir música erudita no nível dos grandes mestres, como Chopin, Mozart, Haydn, é “compor uma peça erudita de alta qualidade, uma sonata, uma missa, como as que admira em Beethoven ou Mozart”. A busca pela perfeição estética marca a trajetória do famoso músico, que vê todas as alternativas lhe serem negadas no decorrer da vida: “Aspira ao ato completo, à obra total”. No entanto, eram as polcas, sempre as polcas, que lhe vinham à cabeça durante os momentos de composição.

Há a contradição entre o parecer e o ser, entre a máscara e o desejo, entre o que é público e a vida interior. E o protagonista de Um Homem Célebre vive, mesmo, envolto em contradições: é um famoso compositor de polcas, mas quer compor música erudita, assim como os “santos” que cultua: Mozart, Beethoven, Gluck, Bach, Shumann etc; deseja a glória com a produção de algo superior, mas sobrevive das suas polcas; é uma celebridade entre seus compatriotas, mas vive frustrado perante a sua falta de capacidade para a tão desejada glória e imortalidade. Para alcançar sua ambição, chega até a se casar com uma cantora lírica tísica, Maria, crendo que, convivendo com ela, finalmente teria a fatídica inspiração. Porém, nem após a morte de sua esposa, quando se propõe a compor um Réquiem para executar no seu primeiro aniversário de morte, consegue realizar seu objetivo. O personagem do editor traz consigo uma carga muito pesada, que é transposta para Pestana: é ele quem decide os títulos das polcas, serve-se do produto totalmente, e controla o sistema, indicando sobre o que e quando o músico deve compor. Suas escolhas rendem-se às convenções: seu objetivo é a venda fácil, por isso age de forma a regular o mercado, levando Pestana a produzir discorrendo sobre os temas que ele, o editor, acredita serem de interesse da população.

Foco narrativo: terceira pessoa, onisciente.

O espelho O que obervar:No trecho “O alferes eliminou o homem. Durante alguns

dias as duas naturezas equilibraram-se; mas não tardou que a primitiva cedesse à outra” há uma síntese das mudanças que ocorrem no alferes Jacobina, a partir das distinções com que agraciava a tia Marcolina.

A essência da teoria defendida pela personagem Jacobina é a de que cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora e outra que olha de fora para dentro; e é nessa última que está o interesse de Jacobina: “a alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma inspiração, uma operação...”.

No final do conto, para conseguir se ver no grande espelho da tia Marcolina, Jacobina tem de vestir-se de alferes, sua “alma exterior”, única garantia de encontrar de novo a identidade perdida.

Resumindo...

O conto tem início e fim com o foco narrativo em terceira pessoa; neste intervalo ocorre o discurso do personagem principal, Jacobina, que narra “um caso de sua vida” aos cavalheiros presentes na “casa do morro de Santa Tereza”.

A narrativa de Jacobina é linear, interrompida uma vez ou outra por pequenas perguntas dos outros cavalheiros que o ouviam atentamente, mas significativamente interrompida uma única vez pelo narrador em terceira pessoa que denuncia: “Santa Curiosidade! tu não és só a alma da civilização, és também o pomo da concórdia”.

Na trajetória de sua narrativa, o personagem percorre o caminho da tradição bíblica, mitológica, literária e filosófica para melhor expor os acontecimentos, afinal, como ele mesmo diz, “os fatos são tudo”.

Jacobina (protagonista), rapaz pobre que se torna alferes aos 25 anos, nomeação que gerava status e despertava inveja em muitas pessoas, “Houve choro e ranger de dentes”. Era um rapaz pobre; seu fardamento foi dado por amigos e depois disso passou a ser visto como o cargo que ocupava na guarda nacional, “o alferes eliminou o homem”.

Sua tia Marcolina convidou-o a passar uns dias em seu sítio e cercando-o de mimos por todos os lados, mandou colocar um grande espelho, relíquia da casa, em seu quarto, “obra rica e magnífica”. Tudo corria bem, até que sua tia Marcolina recebe notícias da doença de sua filha e viaja para vê-la, deixando-o sozinho com os escravos.

Jacobina sentiu uma grande tristeza, “coisa semelhante ao efeito de quatro paredes de um cárcere”, e os escravos o trataram muito bem, era “nhô alferes, de minuto a minuto”. Mas no dia seguinte Jacobina estava só, os escravos haviam fugido, e com eles todos os paparicos, não havendo ninguém mais no sítio, “nenhum ente humano” para reconhecer nele o “alferes”. Jacobina perdera então sua motivação para a vida, “nunca os dias foram mais compridos”. Tinha medo de olhar-se no espelho, “era um impulso inconsciente, um receio de achar-me um e dois”. Não era mais possível ver sua imagem refletida no grande espelho. Sua imagem era agora difusa, e sua figura era completa apenas nos sonhos, “o sono, eliminando a necessidade de uma alma exterior, deixava atuar a alma interior”. Até que ele tem a ideia de colocar a farda e olhar-se diante do espelho. Assim fardava-se uma vez ao dia e colocava-se diante do espelho, retomando sua identidade, já “não era mais um autômato, era um ente animado”.

Revela-se no início da narrativa um tom de incerteza e volubilidade das coisas, que permeia toda a estrutura do texto. O conto começa com “quatro ou cinco cavalheiros" que debatem acerca da natureza da alma, sobre metafísica enfim.

“Por que quatro ou cinco?” Porque o quinto personagem, Jacobina, mantém-se quieto durante a

A cartomante O que observar:

O final é surpreendente, um primor de sátira ao pensamento mágico, às crendices e às superstições populares, mesmo sendo um conto de feição mais anedótica.

Relato centrado na história e no desfecho imprevisto, prevalece a criação de atmosfera e o esquadrinhamento psicológico, isto é, é um conto que mais sugere do que diz.

Há um triângulo amoroso concreto (ao contrário do que ocorre no romance Dom Casmurro). Rita e Camilo são amantes, Vilela é o marido traído.

Há a citação de Hamlet quando ele observa a Horácio que há mais coisas no céu e na terra do que sonha nossa filosofia, porém, as personagens shakesperianas referem-se a mistérios inacessíveis à razão humana e Rita e Camilo procuram a explicação supersticiosa (ao invés de metafísica como Fulgêncio), e aí está novamente a ironia machadiana, pois o que acaba acontecendo não passa de uma vulgar tragédia burguesa e não um drama existencial como ocorre em Shakespeare.

Resumindo...O enredo apresenta o casal Rita e Vilela, que é advogado. Ele reencontra Camilo, um de seus amigos de infância, que contrata seus serviços para tratar dos processos judiciais que envolvem a morte de sua mãe. Porém, Rita envolve-se com Camilo e é criado um triângulo amoroso na história. Misteriosamente, alguém começa a enviar cartas sem identificação para Camilo. Nos bilhetes, alguém o chama de adúltero, o que faz com que Camilo comece a ficar mais cauteloso em relação à Rita. Esta, por sua vez, em dúvidas sobre o amor de Camilo, começa a visitar uma cartomante. Após algum tempo, Vilela envia uma carta para Camilo, em que chama o amigo para ir com urgência até a sua casa, mas não explica o motivo do convite. Preocupado, Camilo indaga a cartomante, que lhe faz uma revelação que pode mudar sua vida.

O tempo em que o conto ocorre é o ano de 1869 e o local é o Rio de Janeiro. O escritor ainda cita locais como a Rua da Guarda Velha e a Rua dos Barbonos.

“Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita”.

Narrando-o em terceira pessoa, neste conto, Machado de Assis caracteriza os personagens da seguinte forma: Camilo, rapaz de 26 anos, é descrito como inexperiente e sem intuição. Ele trabalha como funcionário público. Já Rita, é apresentada como uma mulher de 30 anos, curiosa, graciosa, tonta e de gestos vivos. Vilela, o marido, é um homem de 29 anos, advogado, que, apesar da idade, aparenta ser mais velho do que Rita. A cartomante é uma mulher de grandes olhos, na casa dos 40 anos, italiana e magra. O desfecho do conto é bastante pessimista. Em seus primeiros encontros com Rita e, até mesmo, depois da carta que recebe de Vilela, Camilo crê piamente que o marido não desconfia do romance dos dois. Então, vai até a casa de Vilela. Quando chega, encontra Rita morta e é eliminado por um tiro dado por seu amigo de infância.

A causa secreta O que observar:

O título sugere uma narrativa de mistérios, o que podemos perceber desde o início do conto devido ao constrangimento das personagens: “Agora mesmo, os dedos de Maria Luísa parecem ainda trêmulos...”.

O narrador (Garcia) analisa a alma humana.

Garcia.

Atentar para a descrição da expressão fisionômica de Fortunato no momento da dissecação do rato, o narrador fala do “vasto prazer, quieto e profundo” do homem.

Qual é a causa secreta do comportamento de Fortunato? “a necessidade de achar uma sensação de prazer que só a dor alheia lhe pode dar: é o segredo deste homem, verdadeira redução de Calígula”.

Resumindo...

Narrado em terceira pessoa, com um narrador onisciente, o conto começa com a informação de três pessoas, uma calma (Fortunato), outra intrigada (Garcia) e ainda uma terceira, tensa (Maria Luísa). Garcia havia visto pela primeira vez Fortunato durante a apresentação de uma peça de teatro, um “dramalhão cosido a facadas”. Este dava uma atenção especial às cenas, quase como se se deliciasse. Vai embora justo quando a obra entra em sua segunda parte, mais leve e alegre. Mais tarde, Garcia volta a vê-lo quando do episódio de um esfaqueado, para o qual Fortunato dedica atenção especial durante o seu estágio crítico, tornando-se frio, indiferente quando a vítima melhora. Fica, portanto, seduzido pelo mistério sobre a explicação, a causa secreta de um comportamento estranho (não se deve esquecer que a postura de Garcia assemelha-se, guardadas as devidas proporções (já que não é dotado de onisciência), aos santos de Entre Santos, pois é dotado da capacidade de prestar atenção à personalidade humana. É, pois, quase um alter ego de Machado de Assis). Tempos depois, passam a se encontrar constantemente no mesmo transporte, o que solidifica uma amizade. É a oportunidade para que o homem misterioso convide o amigo para conhecer casa e esposa. Estreitada a relação, duas consequências surgem daí. A primeira é a identificação entre Garcia e Maria Luísa, mulher do amigo. A sorte é que não se desenvolve nada mais do que isso. A segunda é a clínica que os dois homens vão abrir em sociedade. Nela, Fortunato vai-se destacar como um médico atencioso, principalmente para os doentes que se encontram no pior estágio de sofrimento. E para aprimorar suas técnicas, pelo menos é o que confessa à cônjuge, o personagem dedica-se a dissecar animais. Chocada com o sofrimento dos bichos, Maria Luísa pede intervenção a Garcia, que faz com que Fortunato não praticasse mais tal ato, pelo menos, ao que parece, na clínica, tão perto da esposa. A narrativa torna-se mais crítica quando Fortunato é flagrado vingando-se de um rato que supostamente teria roído documentos importantes: de forma paciente vai cortando as patas e rabo do bicho e aproximando do fogo, com cuidado para que o animal não morresse de imediato, possibilitando, assim, o prosseguimento do castigo. Maria Luísa havia pedido para Garcia interromper aquela cena, que foi a que justamente provocou o início do conto. A partir daí, encaminhamo-nos para o desfecho. A mulher desenvolve tuberculose. É quando seu marido dedica-lhe atenção especial, extremada no momento terminal, ao qual ela não resiste. O final do texto é crucial para a total compreensão da história. Velando o corpo fica Garcia, enquanto Fortunato dorme. Em certa hora da noite, este acorda e vai até o local onde está a defunta. Vê Garcia dando um beijo naquela que amou. Ia dar um segundo beijo, mas não aguentou, entregando-se às lágrimas. Fortunato, ao invés de ficar indignado com a possibilidade de triângulo amoroso, aproveitou aquela dor “deliciosamente longa”. Descobre-se, assim, o seu caráter sádico. É interessante notar como o autor deslinda aqui um comportamento doentio que norteia ações que aos olhos da sociedade podem parecer da mais completa bondade e dedicação ao próximo. É uma temática muito comum em Machado de Assis a ideia de que a aparência opõe-se radicalmente à essência

O enfermeiro O que observar:

Conto humano, porém irônico e distanciado, trabalha com a imperfeição ética das personagens que são, claro, representantes típicos da espécie.

O homem é mais uma vez retratado por Machado como um ser corrompido, egoísta, ingrato, oportunista e preso às forças malignas. Tais características podem ser observadas tanto em Procópio quanto no Coronel Felisberto. Esse pessimismo Machadiano em retratar a humanidade evidencia uma certa "má vontade" do autor em julgar o ser humano e a vida de uma maneira geral.

Ao término desse conto, algumas dúvidas insistem em nos intrigar: Qual seria a real intenção de Procópio ao aceitar o serviço de enfermeiro? Será que ele foi o responsável pela morte de Felisberto, ou esta foi fruto da enfermidade? E quanto ao Coronel, será que ele era tão mau quanto parecia? Será que Felisberto não deixou a herança para o Enfermeiro somente porque não tinha para quem deixar, ou até mesmo por simples arrependimento? E Quanto ao relato inicial de Procópio, este não tinha um tom de arrependimento, como se ele dissesse "Perdoe o meu pecado" - no caso, a morte do Coronel?

Resumo – filme assistido em aula.

Conto de escola O que observar:

Por meio de um acontecimento banal, em uma classe de meninos, o narrador-personagem chega ao primeiro conhecimento da corrupção e da delação.

É considerado um conto moral, tipo de conto em que se processa na consciência do(s) protagonista(s) uma aprendizagem moral (no sentido de ética), geralmente exposta no fim do relato. Porém, no conto de Machado, isso se dá às avessas, pois a experiência do menino – sublinhada no final do conto –é a da iniciação a valores degradados, que lhe eram até então desconhecidos.

Há profunda ironia contra a escola, pois ao invés de ser transmissora de valores morais, humanistas e científicos, ela impõe, através da violência e falta de sensibilidade do professor, um ensinamento medíocre e padrões mesquinhos de comportamento.

A aprendizagem de Pilar não está relacionada ao conhecimento da matéria dada, mas sim ao envolvimento do menino com Raimundo e, por extensão, com Curvelo.

Há a recordação do passado que permite a reconstituição dos velhos métodos pedagógicos. Pilar é castigado com a vara de marmeleiro por faltar à aula.

Estabelece-se contraste entre a noção de prisão (a escola) e de liberdade (o mundo lá fora).

Além do sentido moral, este conto forte dimensão de verdadeira poesia humana.

Resumindo...

Pilar (o narrador quando criança), hesitante entre os espaços livres e abertos, locais para brincar, acaba optando pela escola. Motivo da opção: o castigo que o pai lhe aplicara (uma sova de vara de marmeleiro), por ter faltado duas vezes às aulas. Já na escola, recebe de outro menino, Raimundo, filho do mestre, uma proposta: trocar uma explicação por uma moeda de prata. Outro aluno, Curvelo, vai ao mestre e delata os colegas. O severo professor, Policarpo, castiga os meninos, batendo neles com a palmatória. Pilar promete vingar-se, mas Curvelo foge com medo. No dia seguinte, após sonhar com a moeda, Pilar sai com a intenção de procurá-la, já que o mestre, antes da punição, a havia atirado à rua. Estando a procurar a moeda, Pilar se sente atraído por um batalhão de fuzileiros. Acompanha-o e depois retorna para casa sem moeda e sem ressentimentos. Adulto, o narrador, rememorando esses fatos, salienta que Raimundo e Curvelo foram os primeiros a lhe mostrar a existência da corrupção e da delação. O conto mostra de imediato o problema da relação entre professor e alunos, bem como o problema da formação moral. O narrador-protagonista, Pilar, tem uma inteligência superior à dos seus companheiros de sala. O problema é que o seu comportamento não é nada recomendável, principalmente pelo fato de estar acostumado a cabular aula. No momento tratado pela narrativa, só não tinha ido cabular porque havia apanhado do pai, que descobrira essa falha. Interessante é notar neste conto que a escola, apresentada como prisão, algo sufocante, acaba preparando de fato a personagem para a vida, mesmo que de forma torta. Como visto, tudo começa quando Raimundo, o angustiado corruptor, filho do mestre, oferece uma moeda a Pilar, seu colega de classe, em troca de umas lições de sintaxe. Curvelo, o delator que era um pouco levado do diabo, os denuncia ao professor. Embora a cena mais dramática do conto tenha se desenrolado no episódio ocorrido em sala de aula, esta serve apenas como ponto de contraste com a liberdade a que o protagonista tanto almejava nas brincadeiras de rua. No final, o que importa é que se conhece um pouco do que foi a infância para este narrador-personagem e como ele reagia ao mundo que o cercava: “Voltei para casa com as calças enxovalhadas, sem pratinha no bolso, nem ressentimento na alma”. O narrador, personagem central, não tem acesso ao estado mental das demais personagens. Narra de um centro fixo, limitado quase que exclusivamente às suas percepções, pensamentos e sentimentos.

O caso da vara

O que observar:

Assim como o conto Pai contra mãe, o conto O caso da vara mostra o espírito abolicionista de Machado, sem os lugares-comuns da literatura política, pois não há proclamação alguma dos oprimidos. Entretanto, a violência da escravidão é claramente apresentada.

Resumindo...

Neste conto, Machado enfoca o drama pessoal de Damião, o protagonista, que deseja abandonar o seminário. Trata da questão da escravidão e do jogo de poder que a relação encerra, onde a vilania do protagonista rege seus atos na luta pela autoconservação.

O foco narrativo é em em terceira pessoa.

Damião, seminarista sem vocação, fugido do seminário, troca a vara com que Sinhá Rita irá castigar a negra Lucrécia - pelo trabalho não terminado - pelos favores que a mesma Sinhá Rita lhe prestará intercedendo junto ao padrinho e, por este, ao pai, no caso da fuga do seminário. Neste conto, que o autor situa em 1850, fica clara a relação de favor que caracterizava as relações sociais no século XIX brasileiro.

Pode-se perceber a intenção do autor em analisar as cruéis relações de dominação entre seres iguais, todos subjugados por um sistema político e social marcado pelo autoritarismo, mas que não hesitam em reproduzir e legitimar a opressão de que são vítimas. O caso da vara é um dos exemplos da crítica machadiana, sutil, mas repleta de uma ironia amarga.

Machado de Assis monta uma situação que revela algo do mundo interior dos personagens, destacando valores éticos ou morais. O enredo é o menos importante: o caso da fuga de Damião fica em aberto, pois é secundário saber se o rapaz voltou ou não para o seminário. O importante é observar sua conduta moral.

Missa do galo

O que observar:Conto de atmosfera ou psicológico.Um rapaz do interior e uma senhora casada

conversam enquanto não chega a hora da missa festiva de Natal, o diálogo entre os dois cria uma atmosfera de intimidade e cumplicidade.

Nas entrelinhas do registro que o jovem faz da conversa, percebem-se o erotismo sutil, o mútuo interesse, a disponibilidade quase que física de ambos, ameaçando a moral que a sala de estar, com sua decoração pesada, tão bem representa.

Ao final do conto, fica a dúvida de Nogueira, isto é, se, no passado, Conceição realmente teve interesse pelo jovem. Desse modo, novamente aparece a questão do mistério da alma feminina.

Resumindo...

O narrador do conto é Nogueira, um rapaz de dezessete anos de idade que veio ao Rio de Janeiro para o que chama de estudos preparatórios. É de Mangaratiba e está hospedado na casa do escrivão Menezes, viúvo de uma de suas primas e casado em segundas núpcias com Conceição, uma "santa", que se resigna com uma relação extraconjugal do marido. Este dorme fora de casa uma vez por semana dizendo que vai ao teatro. Vivem na casa, ainda, D. Inácia, mãe de Conceição, e duas escravas.

No diálogo entre Conceição e Nogueira, não há uma intriga nem um "mistério“ a resolver. Nos diálogos de aproximação entre os dois personagens principais do conto, não há uma concentração de ação nem uma linearidade intencionalmente produzida para seduzir o leitor.

É focalizada a situação, misto de conversa, de aconchego, de sensualidade e de insinuações. A densidade psicológica capaz de criar uma atmosfera voltada para o inusitado deve ser anotada como supremo ato da criação machadiana.

Igreja do Diabo O que observar: dividido em 4 capítulos, o que temos é uma

narrativa densa e, aparentemente, banal e de simples interpretação. Porém, para o leitor atento e bem munido de exemplos referencialmente citados ao longo do texto, a interpretação não se torna tão objetiva assim. Sobretudo, o mais importante é que se trata de uma grande apólogo constituído por outros menores; daí o seu caráter moralizante. Mas o que dá o toque genial ao conto são as inúmeras referências ao longo do texto. Quando esse fator é atentamente observado percebemos, claramente, os valores da sátira e da paródia constituindo um pilar que serve de base para a criação machadiana, principalmente, nesse texto, onde os elementos carnavalescos são fartamente explorados.

Enfoca de forma cômica a relação Deus/religião, homem/razão. Traz à tona a discussão de como cada pessoa pode exercer a religiosidade sem medo de viver suas incertezas, ou mesmo de duvidar da eficácia da benevolência do homem. Na discussão o Diabo questiona a hipocrisia religiosa e as práticas salvacionistas.

A religião está sujeita à crítica ferina do escritor. Machado de Assis criticou todas as formas religiosas existentes no Brasil, bem como o modo de comercializar a fé através das vendas de conceito religioso. Porque todas as religiões vendem uma mesma ideologia, a salvação.

Resumindo... O diabo decide fundar sua própria igreja. Assim como na crença geral, cansado de sua

inferioridade diante de Deus, ele decide criar sua doutrina e fundamentá-la em uma igreja.

Procura Deus e o avisa de suas ideias, empolgado na fé de que o homem facilmente aceitará as suas leis. Este, no entanto, se limita a não impedi-lo. Assim o diabo vai a terra e afirma-se como o verdadeiro Senhor, e que todos os antigos conceitos eram falsos e que com ele esta a verdade. Logo todos os pecados se tornam virtudes, justificados pela literatura e história.

Quando a nova igreja se espalha por todo o globo e é traduzida para toda língua, o diabo se surpreende ao ver que a única coisa que era proibida a seus servos, está sendo praticada até mesmo por seus mais fiéis seguidores – a bondade.

O diabo vai ter então com Deus, que o trata com o mesmo desinteresse e até mesmo preguiça, questionando o que ele quer que o faça. Visto que o homem é assim, uma eterna contradição.

Referências

ASSIS, Joaquim Maria Machado. Contos. São Paulo: FTD, 2002.

GONZAGA, Sergius. Curso de Literatura Brasileira. Porto Alegre: Leitura XXI, 2004.

NICOTTI, João Armando. Leituras Obrigatórias. Porto Alegre: Leitura XXI, 2004.

http://www.idelberavelar.com/abralic/txt_34.pdf

http://www.passeiweb.com/estudos/livros

http://vestibular.brasilescola.uol.com.br/

forhttp://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=561618taleza, ceará | segunda-feira | 18 de maio de 2009