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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO CURSO DE ARTES VISUAIS ENSAIOS PLÁSTICOS EM QUADRINHOS DANIEL RAPHAEL MAGALHÃES Campo Grande – MS 2009

Magalhães; daniel raphael ensaios plásticos em quadrinhos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO

CURSO DE ARTES VISUAIS

ENSAIOS PLÁSTICOS EM QUADRINHOS

DANIEL RAPHAEL MAGALHÃES

Campo Grande – MS

2009

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DANIEL RAPHAEL MAGALHÃES

ENSAIOS PLÁSTICOS EM QUADRINHOS

Relatório apresentado como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais à Banca Examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob orientação da Profª.Drª. Carla de Cápua.

Campo Grande – MS

2009

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RESUMO Este relatório é formado por um apanhado de conceitos e discussões acerca das histórias em quadrinhos e sobre a importância dos estilos gráficos e plásticos que envolvem a ilustração de qualquer história, quadrinhos ou não. Para ilustrar estes argumentos foram escolhidas três músicas brasileiras: Rita Lee, dos Mutantes; Maria Inês, do Karnak; e Maldito Hippie Sujo, do Matanza. A letra de cada uma dessas músicas serviu como base para o roteiro de uma história em quadrinhos, que foi interpretada visualmente conforme sensações sobre a melodia que acompanhou determinada letra. Assim sendo, três histórias em quadrinhos foram produzidas em estilos diferentes, finalizadas em materiais distintos, explorando desenho, pintura e texturas. Foram desenvolvidas algumas alternativas no que diz respeito à criação de arte seqüencial. Palavras-chave: arte seqüencial, criação, desenho, estilo, histórias em quadrinhos.

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SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ........................................................... 04 INTRODUÇÃO ..................................................................... 06 1 ESTUDANDO QUADRINHOS ......................................... 09 1.1 CONHECER, COMPARAR E COMBINAR ................................. 09

1.2 E DAÍ? ........................................................................................ 12

1.3 AGREGANDO CONHECIMENTO .............................................. 14

2 FAZENDO QUADRINHOS .............................................. 17 2.1 RITA LEE .................................................................................... 17

2.1.1 Interpretar ............................................................................... 18

2.1.2 Construir ................................................................................. 19

2.1.3 Observar ................................................................................. 21

2.2 MARIA INÊS ............................................................................... 23

2.2.1 Interpretar ............................................................................... 23

2.2.2 Construir ................................................................................. 24

2.2.3 Observar ................................................................................. 27

2.3 MALDITO HIPPIE SUJO ............................................................ 30

2.3.1 Interpretar ............................................................................... 30

2.3.2 Construir ................................................................................. 31

2.3.3 Observar .................................................................................. 36

2.4 MEU GIBI .................................................................................... 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................ 40

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LISTA DE FIGURAS Figura 1. Capa da edição nº1 de Sandman, Dave McKean................................ 06

Figura 2. Capa de Elektra: Assassina, Bill Sienkiewicz. ............................... 07

Figura 3. Capa da compilação norte-americana de Kingdom Come, Alex Ross. 07

Figura 4. Esboços para Rita Lee. ............................................................... 18

Figura 5. Esboços da página 02 de Rita Lee. ..................................................... 19

Figura 6. Lápis final da página 02 de Rita Lee. .......................................... 20

Figura 7. À esquerda, teste com lápis aquarelável; à direita, página pronta

com a cor definitiva em aquarela e tratamento digital. .................... 20

Figura 8. Todas as páginas de Rita Lee. ..................................................... 21

Figura 9. Estrutura das páginas de Rita Lee. ..................................................... 21

Figura 10. Leitura convencional. .......................................................................... 22

Figura 11. Fluxo real. .................................................................................... 22

Figura 12. Fluxo induzido. .......................................................................... 22

Figura 13. Thumbnails para Maria Inês. ..................................................... 24

Figura 14. Progresso do desenho para a página 3 de Maria Inês. ..................... 24

Figura 15. Arte final digitalizada (e) e editada (d). .......................................... 25

Figura 16. Camada de textos da página 03. ..................................................... 25

Figura 17. Detalhe de madeira escolhido e editado. .......................................... 25

Figura 18. Maria Inês, página 03. ............................................................... 26 Figura 19. Todas as páginas de Maria Inês. ..................................................... 27

Figura 20. Estrutura das páginas de Maria Inês. .......................................... 28

Figura 21. Conjunto de closes de olhar, reunidos numa única imagem

mantendo suas respectivas posições na página. ..................... 29

Figura 22. Thumbnails para MHS. ............................................................... 31

Figura 23. Pintura central da página 2 . ..................................................... 33

Figura 24. Quadros desenhados da página 2. ................................................. 32

Figura 25. Rosto do hippie. ...................................................................... 32

Figura 26. Requadros da página 2. ............................................................. 32

Figura 27. Página 2 de Maldito hippie Sujo. ..................................................... 32

Figura 28. Requadros da página 3 ......................................................... 35

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Figura 29. Desenho de fundo. ................................................................. 34

Figura 30. Pintura de fundo. ................................................................. 34

Figura 31. Quadros desenhados. ............................................................... 34

Figura 32. Estampas das roupas do Hippie (e) e do patrão (d). ..................... 34

Figura 33. Página 3 de Maldito Hippie Sujo .................................................... 34

Figura 34. Todas as páginas de MHS. ............................................................... 35

Figura 35. Estrutura das páginas de MHS. ..................................................... 35

Figura 35. Imagens originais para o rosto dos hippies. ............................... 37

Figura 36. Edição final dos rostos. ............................................................... 37

Figura 37. Outras páginas. .......................................................................... 38

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INTRODUÇÃO

Com mais de um século de história, os quadrinhos já não são novidade.

Talvez seu valor ainda seja duvidoso para alguns, mas isso não tira seu mérito

técnico ou artístico na maioria das vezes.

Essa linguagem, os quadrinhos, agrega um enorme potencial cinematográfico

e pode até representar seus gêneros sem dificuldades ou estranhamento do leitor.

Outrossim, a narrativa pode ser um tanto subjetiva. Muitas vezes, no cinema, uma

determinada ação recebe alguns cortes que eliminam cenas para aumentar a

dramaticidade ou eliminar momentos difíceis de serem realizados pelo elenco. Nos

quadrinhos essas limitações técnicas de efeitos especiais e dublês não existem, e os

cortes são puramente estéticos.

É, pois, essa qualidade cinematográfica das histórias em quadrinhos e,

principalmente, suas possibilidades plásticas que pretendi abordar neste projeto. As

histórias em quadrinhos apresentam uma enorme possibilidade de criação.

Fotografia, desenho, pintura, arte digital e até mesmo esculturas podem ser vistas

em algum álbum de quadrinhos. Dessa forma, ainda há muito o que explorar no que

diz respeito à expressão plástica nas histórias em quadrinhos.

Muitos artistas plásticos en-

contraram seu espaço nos quadrinhos,

nas maiores editoras americanas,

chamadas de mainstream, como DC e

Marvel (casas de Super-Homem e

Homem-Aranha, respectivamente) que

são os gigantes do mercado ocidental.

Para citar alguns dos mais renomados e

premiados nesse meio editorial

específico, cito Dave McKean e Bill

Sienkiewicz. O primeiro é conhecido por

suas capas em publicações do

personagem Sandman, de Neil Gaiman

(figura 1), onde utiliza desde simples

Fig. 1. Capa da edição nº1 de Sandman

Autor: Dave McKean Fonte: http://www.comicoo.com/

sandman/Sandman01/html/image1.htm

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manipulação digital de fotografias a

escultura, pintura, desenho e assem-

blages em belíssimas obras de arte.

As capas foram publicadas mensal-

mente de 1988 a 96, sem contar

edições especiais e encadernados. Já

Sienkiewicz aproveita de seu estilo

muito particular de desenho como

alicerce para uma “orgia” de grafismos

e aberrantes representações de

anatomia, como pode ser visto em

Elektra: Assassina (1986) (fig. 2).

Outro artista, este muito popular

do meio dos comics (como os

quadrinhos são chamados em língua

inglesa), é Alex Ross. Virtuoso artista,

Fig. 2. Capa de Elektra: Assassina

Autor: Bill Sienkiewicz Fonte: http://hqmaniacs.uol.com.br/

img/materia/elektraassassina_panini.jpg

originário do mundo publicitário, Ross ficou mundialmente conhecido por Marvels

(1994) e Kingdom Come (1996) (fig. 3), onde emprega desenho e pintura foto-

realísticos.

Fig. 3. Capa da compilação norte-americana de Kingdom Come

Autor: Alex Ross Fonte: http://goodcomics.comicbookresources.com/wp-

content/uploads/2009/07/4pb0h7k.jpg

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Mesmo assim existem parâmetros a serem observados: clareza na narrativa,

harmonia do conjunto e diagramação das páginas. Tudo isso deve “funcionar como

um relógio” para que o produto não seja corrompido pela falta de coesão e le-

gibilidade. Desenhar bem não é o suficiente. Escrever bem também não. A narrativa

gráfica em quadros se apresenta como um sistema complexo de signos e depen-

dência intrínseca entre arte e texto, mesmo quando esse último não aparece.

Para preencher a necessidade textual das histórias em quadrinhos que

produzi para este trabalho, utilizei músicas brasileiras. A letra de cada música serviu

de argumento enquanto a melodia guiou a interpretação plástica. Foram

selecionadas: Rita Lee, de Arnaldo e Sérgio Baptista e Rita Lee, da banda Mutantes;

Maria Inês, de André Abujamra, da banda Karnak; e Maldito Hippie Sujo, de Donida,

da banda Matanza. Assim, a partir das músicas selecionadas uma pesquisa de

materiais e suportes seguiu o desenvolvimento da idéia até sua conclusão impressa.

“Muitas pessoas pensam que é fácil escrever. Quem tem essa opinião ge-

ralmente não escreve nem lê nada” (MARAT, 2006:11). Esse trabalho também ser-

viu para me dar mais segurança no que diz respeito à elaboração de roteiros, já que

tive as letras de música como base. Explorar essa área também me interessa, para

futuramente trabalhar com meus próprios personagens em publicações completa-

mente autorais.

Mas a questão central é: como adequar possibilidades plásticas dentro de

uma mídia gráfica para que a narrativa continue concisa e fluida conservando ou in-

tensificando valores dramáticos presentes na narrativa musicada de origem?

Responder isso foi o meu objetivo. Experimentar algumas possibilidades

plásticas encontradas durante a pesquisa para o meio gráfico dos quadrinhos e

apresentar algumas possibilidades narrativas, também.

Este relatório está dividido em duas partes. Na primeira descrevo minha

pesquisa por fundamentos, buscando autores e artistas que utilizei como ponto de

partida para meu trabalho e abordando algumas características dos comics que se

relacionam com sua própria estrutura. Na segunda apresento minha produção,

mostrando passo a passo como ela foi construída e discutindo algumas escolhas

mais profundamente.

Ao final deste relatório, um volume com a obra concluída segue em anexo.

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1 ESTUDANDO QUADRINHOS

O mundo dos quadrinhos é rico em temas, formas e definições. O que

Eisner já chamou de narrativas gráficas (2005), atualmente considera-se como

“imagens pictóricas e outras justapostas em seqüência deliberada” (McCLOUD,

2005). Cito alguns estudiosos e artistas dessa área que influenciaram a

materialização deste projeto e que me encantam com suas pesquisas e obras já há

muito tempo.

Muitos artistas já passaram por esse meio e outros se aventuram entre os

quadros e as onomatopéias. Mesmo tendo uma vasta gama de personagens de co-

nhecimento público e sendo berço de grandes obras, não é tão conhecida a

produção teórica sobre o assunto. “Para muitos educadores e autoridades, os

quadrinhos são ainda um passatempo infantil, próprio para iletrados e acometidos de

preguiça mental” (Henrique Magalhães in GROENSTEEN, 2004:13).

Existem, entretanto, artistas-teóricos que com anos de experiência na área

das tiras e gibis resolveram pesquisar mais a fundo os mistérios narrativos escondi-

dos nas entrelinhas e canaletas (também chamadas de sarjetas ou calhas, os

espaços entre os quadros), buscando apresentar ao maior número de pessoas os

fundamentos dessa forma de arte, ou, “com todo o respeito às outras, para mim,

quadrinho é a primeira arte” (Sidney Gusman in A NONA ARTE, 2008).

1.1 CONHECER, COMPARAR E COMBINAR

O mais popular e considerado um gênio desta forma de narração é Will Eisner

(1917-2005), autor de duas obras importantíssimas para quem quer entender

quadrinhos (Quadrinhos e arte seqüencial e Narrativas gráficas). Sempre será lem-

brado por seu personagem que revolucionou a maneira de fazer quadrinhos, The

Spirit (O Espírito), de 1940, que segue sendo publicado por outros autores até hoje,

em aventuras que misturam mistério, ação e algumas pitadas de humor. Outro autor

americano, também quadrinhista, Scott McCloud carrega o fardo de atualizar as

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teorias de Eisner e demonstrar as novidades e possibilidades dentro do novo século,

como os webcomics, os quadrinhos para Internet. Sua trilogia (Desvendando os

quadrinhos, 2005, Reinventando os quadrinhos, 2006, e Desenhando quadrinhos,

2008) é esclarecedora e acrescenta muito a quem estuda ou produz quadrinhos.

No Brasil, Álvaro de Moya e Moacy Cirne escreveram muito sobre o assunto e

exploraram muitos tópicos importantes para o desenvolvimento da leitura de HQs

(abreviação convencionada para Histórias em Quadrinhos) de uma maneira mais

séria e crítica. Diz Cirne que “além da importância ideológica e social, os quadrinhos

registram uma problematicidade expressional de profundo significado estético,

tornando-se a literatura por excelência do século XX” (1974:22-3). Tanto ele quanto

os autores supracitados serviram de pedra fundamental no que diz respeito à

construção teórica deste trabalho, que também contou com meu acervo pessoal de

quadrinhos, além de outros autores.

No campo da prática, adquiri gosto por alguns artistas que explorei no de-

senvolvimento da linguagem trabalhada em cada uma das músicas escolhidas para

a conclusão do projeto. Artistas como os já citados McKean e Sienkiewicz, que tra-

balham com várias técnicas entrelaçadas. Também os brasileiros Flávio Colin e

Rafael Grampá serviram de inspiração. Colin com seus brilhantes enquadramentos e

arte excepcional, e Grampá com seu traço sujo e cheio de hachuras. Artistas muito

diferentes entre si e que em sua obra me ajudaram a alcançar soluções plásticas

para materializar histórias presentes em músicas de autores nacionais.

Como a intenção deste projeto é desenvolver e demonstrar possibilidades

plásticas em meio gráfico, muito de composição e conteúdo específico de artes foi

revisado, incluindo a Pop-art, que lembrou o mundo das artes da existência dos

quadrinhos.

Por falar em narrativas, as obras teóricas de Eisner (2001 e 2005) e McCloud

(2005, 2006 e 2008) funcionam como pedra fundamental, mas estão lado a lado com

outra mídia que também foi investigada para este trabalho: o cinema. Narrativas

seqüenciais são comuns tanto ao cinema quanto aos quadrinhos, mesmo que de

forma ligeiramente diferente. Primeiramente, há a relação entre os quadrinhos e o

storyboard, que é uma ferramenta/etapa muito importante da produção

cinematográfica e é, sem dúvida, uma forma de narrativa gráfica. O cinema também

nos fez ver imagens que acreditávamos impossíveis, tornando suas possibilidades

“supraterrestres” (BENJAMIN, 1993), mesmo quando muitas das imagens que se

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tornavam tão surpreendentes na tela já haviam sido vistas de diversas formas nas

páginas dos comics.

As histórias em quadrinhos permitem até uma revolução de subtexto e

narração, que nunca foram vistos em outras mídias, tendo como álibi o suporte ou

seja, a página e a maneira como se relacionam. A narração gráfica não estabelece

sua duração de tempo, sequer obedece as leis da física. Lapsos temporais,

onipresença e seqüências de ação impossíveis são tão simples quanto rabiscar

grama ou traçar nuvens num quadrinho. Thierry Groensteen diz sobre histórias em

quadrinhos:

... usa códigos particulares; aqueles, notadamente, dos cortes, bem dizendo das elipses, e da paginação, quer dizer, da disposição das imagens na página e na justaposição planejada. Uma história de mais de um século e meio soube trazer aos quadrinhos um alto grau de sofisticação. (2004:19)

Mas, assim como o cinema algumas vezes se inspirou nos quadrinhos, os

quadrinhos às vezes tomam emprestadas maneiras cinematográficas de contar

histórias, embora sejam técnicas que podem ser vistas mesmo em gravuras ou

pinturas, como é o caso do plano de rolo que seria o equivalente gráfico, guardadas

as devidas proporções, ao plano-seqüência cinematográfico, onde não há cortes e a

cena se desenrola sem mudanças abruptas de plano e, principalmente, sem cortes.

As histórias em quadrinhos têm muita relação com o cinema, principalmente

por serem as principais formas narrativas que lidam com o campo visual e o tempo.

“Os romances são normalmente longos e lentos. Não se lê um romance geralmente

de uma só vez. Ver um filme é habitualmente algo que se assiste uma só sessão, e

esta diferença é muito importante” (Wolf Rilla apud MARNER, 2006:56).

Nos quadrinhos o mesmo conceito é aplicável se este for considerado mero

entretenimento, da mesma forma que o cinema, que já passou pelos mesmos

questionamentos e hoje não se duvida de suas possibilidades artísticas; Duhamel

dizia que o cinema era um passatempo para analfabetos, Werfel não o considerava

arte se mostrasse realidade e Mars via o cinema como renascentista, onde só se

deveria mostrar o belo (apud BENJAMIN,1993).

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Histórias curtas e tiras também não costumam ser feitas para serem lidas e

relidas. Mesmo arcos de histórias que durem meses para serem concluídos

dificilmente são relidos depois de concluídos. Além do que:

O cinema exige pouco mais do que a atenção de um espectador, en-quanto os quadrinhos precisam de um pouco da capacidade de leitura e participação. O espectador de um filme fica aprisionado até um filme terminar, mas o leitor de quadrinhos está livre para folhear a revista, olhar o final da história ou se deter numa imagem e fantasiar (EISNER, 2005:75).

É como diz Benjamin: “as massas procuram diversão, mas a arte exige

concentração” (1993:26) e, com relação ao cinema, “o público das salas obscuras é

bem um examinador, porém um examinador que se distrai” (1993:27). Da mesma

forma, a mídia impressa dos quadrinhos faz com que o leitor possa facilmente viajar

entre as páginas e ver como a história termina, fazendo com que o autor tenha a

difícil tarefa de prender o leitor em seu conteúdo. E o público deve conhecer a mídia

e a linguagem tanto quanto o artista (COSTA, 1999).

A obra deve absorver a atenção do leitor por completo e os conhecimentos

envolvidos ajudam nesse aspecto. E para o artista, conhecimento é primordial. O

artista amador já foi aceito após indicar produção eficiente de nível profissional. Hoje

é muito mais difícil entrar no meio sem a academia. Mesmo assim, o amador que se

inicia nas artes e tem então uma vasta produção tem alguma chance e deve dominar

as novas tecnologias para alcançar o profissionalismo (id, ibid.).

1.2 E DAÍ?

Todos os elementos que constituem a página (número, formato e dis-tribuição dos quadros, estilo do desenho, imagens em cor ou em preto e branco, presença ou não de texto escrito) influenciam a mensagem produzida pelo leitor durante a leitura (SRBEK, 2006:64).

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Desde a mais antiga concepção deste trabalho, quis demonstrar o valor de

cada peça da composição das histórias em quadrinhos. Principalmente no que diz

respeito à arte.

Quão importante é a maneira como uma história é ilustrada? Qual a diferença

entre a leitura de A Divina Comédia com as gravuras de um ou outro artista? Que

diferença existe na leitura das paráfrases pintadas por Picasso e as obras originais?

Qual a diferença entre utilizar páginas simples ou páginas duplas numa história? E

se o estilo de arte variar durante a história, isso interfere na leitura? Foram questões

desse tipo que quis responder dentro do universo das histórias em quadrinhos.

As outras falas que considerei fundamentais para a materialização deste

trabalho são:

A realidade é que o estilo de arte conta uma história. Lembre-se de que este é um meio gráfico e o leitor absorve o tom e outras abstra-ções através da arte. O estilo de arte não só conecta o leitor com o ar-tista, mas também prepara a ambientação e tem valor de linguagem (EISNER, 2005:159); e

A interpretação dos resultados da pesquisa em arte não converge para a univocidade, mas para a multivocidade, uma vez que cada interlo-cutor deverá fazer sua interpretação pessoal e proceder uma leitura subjetiva para analisar o resultado da pesquisa contido na própria obra de arte (ZAMBONI, 2001:59).

Lembrando que o leitor também é co-autor das histórias, criando voz e

entonação para os personagens; as obras que materializam minha pesquisa ao final

deste relatório não pretendem ter um significado único, sua interpretação é aberta.

As páginas de quadrinhos que produzi são parte da minha interpretação sobre suas

músicas de origem. São a minha versão para uma adaptação. Essa é muito mais

uma arte de comunicação do que uma simples aplicação de arte (EISNER, 2001). “A

imagem não é a expressão de um código, é a variação de um trabalho de

codificação: não é o depósito de um sistema, e sim a geração de sistemas” (Roland

Barthes apud SRBEK, 2006:47).

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1.3 AGREGANDO CONHECIMENTO

Lembrando que a emoção expressa em arte é mais bem expressa assim e

recebida dessa forma do que por outros meios (OSBORNE, [s/d]) e que toda expe-

riência visual é dinâmica e inserida num contexto de espaço e tempo (ARNHEIM,

1980), um importante conceito deve ser explicado: o que é timing (EISNER, 2001)?

Relativo a tempo (time em inglês), Eisner descreve-o com dramaticidade.

Serve muito comumente como expressão quando se diz que alguém “tem timing”

para alguma coisa. Como quando um comediante conta uma história que soa engra-

çada e seu vizinho conta a mesma história e lhe passa despercebida. Descrever o

tempo de uma maneira dramática altera a percepção da história e destaca um

acontecimento que você deseja que o leitor creia ser mais importante do que outros.

Ação dramática leva mais tempo na mente do leitor mesmo que dure apenas dez ou

quinze segundos no mundo real. Um diálogo que levaria dez minutos no dia-a-dia

pode ser contado em poucos quadros e durar apenas poucos segundos na mente do

leitor. Isso é timing.

Nos quadrinhos, a principal maneira de manipular o tempo é a divisão de

quadros. Uma página com muitos quadros leva mais tempo para ser lida. Um quadro

sem falas é lido rapidamente, mas é entendido como uma duração maior de tempo

conforme seu tamanho. O tamanho dos balões interfere em como o leitor “ouve” a

fala de uma personagem. O leitor é conduzido e manipulado pelas páginas por

muitos fatores que, às vezes, não compreende, mas aceita e torce para que isso

aconteça da maneira mais natural possível.

Para o criador de quadrinhos, o leitor está sempre pronto para a leitura. No

momento em que o consumidor final abre um fumetto (como os italianos chamam as

HQs), entende-se que ele esteja a par do “contrato” (EISNER, 2005). Isto significa

que o leitor sabe que deve ler em determinado sentido, compreender as leis da

física, entender como os balões e legendas funcionam, ter criatividade o suficiente

para compreender o que não é mostrado nos desenhos e assim por diante, pois as

imagens raramente são passíveis de sobreposição, tal qual um desenho animado ou

um storyboard.

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O storyboard muitas vezes é lembrado como uma forma de quadrinhos que

reforça a relação entre HQs e cinema. Apesar disso, existem muitas diferenças entre

ambos. Diferenças estas que esclarecem porque quadrinhos podem ser

considerados uma forma de arte, um instrumento de expressão autônoma, uma obra

em si, e o storyboard não.

Dentro do que diz respeito a cinema, o storyboard não passa de uma etapa

que constitui a obra, o filme. É uma ferramenta de tradução do roteiro em imagens,

funcionando como uma interpretação gráfica do que se pretende ver na tela. É o

primeiro conjunto de imagens concretas de um filme. Mas não é um filme, não é

cinema. E também não é história em quadrinhos. Pode ser considerado um esboço

do filme, no mesmo nível de um copião, que é a primeira filmagem completa, ainda

sem edição, apenas um aglomerado de filme em seqüência lógica.

O storyboard representa para o cinema o que os thumbnails (as miniaturas –

“unhas de dedão” em tradução livre) representam para os quadrinhos. O processo

chamado de thumbnailing é semelhante ao do storyboard, representando o primeiro

esboço do que irá se tornar uma obra de fato. No cinema o desenhista lê o roteiro e

apresenta sua interpretação imagética do que está escrito. No caso dos quadrinhos,

algumas vezes o escritor já tem alguma idéia de como deve ser a página, que

estrutura de quadros ele deve conter. No cinema, alguns diretores produzem seus

próprios storyboards.

Acredito que a principal diferença entre uma e outra forma de narração

gráfica, quadrinhos e storyboard, seja seu valor como obra. Da mesma forma que

não considero storyboard quadrinhos, não considero thumbnailing como quadrinhos.

São pequenas etapas, pequenas partes da engrenagem, e não se comparam ao

todo.

As páginas constituem boa parte do significante das histórias em quadrinhos.

Não apenas o papel, a folha, mas qualquer suporte onde quadrinhos possam ser

lidos: arquivos de imagem no computador, tiras pintadas em paredes ou seqüências

riscadas numa calçada. Deve haver ritmo, deve haver continuidade, deve haver um

trajeto. Por isso chama-se arte seqüencial.

No ocidente, por causa do sentido de leitura da esquerda para a direita e de

cima para baixo, o fluxo de leitura sempre levará o leitor ao canto inferior direito (no

oriente, o canto inferior esquerdo), fazendo com ele se sinta obrigado a virar a

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página, continuar a leitura, buscar mais informações. Quanto mais natural for essa

necessidade de continuar lendo, melhor será a experiência de leitura.

Ler é uma atividade da qual é fácil se distrair. Uma oscilação na luz ambiente

pode distrair o leitor, assim como um ruído ou uma música, podem fazê-lo pular uma

linha de texto.

Se o leitor conseguir virar a página sem perceber que está fazendo isso, é

uma conquista da obra. Significa que houve “imersão”. O leitor está envolvido com o

enredo de tal forma que não repara mais nas divisões dos quadros ou na cor da

roupa dos figurantes. Ele quer a história, quer continuar lendo, continuar virando as

páginas e isso só é possível quando há um bom roteiro e este é acompanhado de

uma boa arte.

Os quadrinhos, “seja numa função alegremente digestiva ou seriamente

crítica, constituíram-se numa articulação imagística original e própria” (Cohen e

Klawa in MOYA, 1977:110). Surgiu como opção à literatura, aproveitou-se de

linguagens cinematográficas e depois das artes plásticas; hoje os quadrinhos são

uma forma de arte particular para além da literatura e artes plásticas, onde texto e

imagem têm a mesma importância dentro da página.

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2 FAZENDO QUADRINHOS

O mais divertido (e tenso) após tanta pesquisa foi materializar toda leitura

e teorias em aplicações práticas atraentes visualmente. Fazer HQs. Depois de muito

esforço e trabalho, três quadrinhizações foram produzidas para ilustrar melhor este

pequeno estudo e aplicar seu conteúdo sobre narrativa em páginas que buscam

materializar todas as impressões que tive ao ouvir as músicas selecionadas.

2.1 RITA LEE

Quando entrei na universidade ouvia Mutantes regularmente. Quando defini

que iria adaptar músicas para os quadrinhos, a música Rita Lee, homônima à

integrante do grupo e música do álbum homônimo à banda, logo veio à minha

cabeça. As razões eram óbvias para mim para que começasse por essa música

gravada em 1969. Simples, divertida e curta. Pareceu-me um ótimo ponto de partida.

A música narra as desventuras da personagem Rita Lee que, solitária, sonha

com o amor e espera por seu “príncipe encantado” até que, não mais que de

repente, ela se casa. Fim.

Assim, de supetão, a história termina com ela contraindo matrimônio com

alguém que surge sem nome ou procedência. A letra da música pode ser dividida

em três partes, considerando suas três estrofes, que são breves e objetivas. Na

primeira, Rita Lee passeia triste e não consegue ficar feliz de maneira alguma, por

causa de sua solidão. Na segunda, ela sonha em encontrar alguém e continua triste

por ser tão sozinha, ainda. Na terceira, ela está em uma igreja se casando e se

tornando uma pessoa muito mais feliz. A história tem um quê de sonho de menina,

um tanto ingênua. O pessimismo do começo se transforma imediatamente na

realização de uma doce fantasia adolescente, onde uma menina se casa em uma

igreja com o homem de seus sonhos.

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2.1.1 Interpretar

Entendi que seria correto fazer, então, uma história em quadrinhos com

apenas três páginas, onde cada uma representa uma parte da história. Depois de

esboçar essas páginas (fig. 4), testei-as individualmente e em conjunto, buscando

Fig. 4. Esboços para Rita Lee.

encontrar a diagramação correta para

definir os quadros nas páginas e o

desenho final. Estes testes foram

realizados em folhas sulfites tamanho A4

(21x29,7cm), o que se mostrou um

empecilho desnecessário, pois desde

quando decidi produzir HQs eu tive a

certeza de utilizar o formato americano

(aproximadamente 17x26cm).

Rascunhar em A4 me atrapalhou

porque o formato americano, apesar de

ser pouco menor, é mais estreito. Assim,

as relações entre a altura e a largura dos

desenhos tiveram que ser alteradas nas

páginas definitivas.

Com relação às cores, o humor interferiu muito na realização da pintura, o

que causou um resultado vibrante devido à música soar para mim muito alegre. Uma

balada agridoce com final feliz. A primeira parte é um tanto triste, mas um dia lindo;

uma página com cores vibrantes, porém soturna. Então ela sonha com um possível

amado indefinidamente; um pouco melancólica, o predominante verde produziu a

página mais morna do conjunto. E, eis que, casou-se e realizou seu grande sonho;

muita vibração e “alegria aos baldes”. A paleta restrita a cores primárias e

secundárias tornou tudo mais intenso, mais vivo.

O uso do nanquim branco na última página é mais um dos diferenciais do fim

da história, que organizei para se destacar das demais e, de certa maneira,

sobrecarregar o leitor. Aumentar a surpresa. O nanquim branco permitiu uma

cobertura e brilho diferentes da aquarela, o que era necessário para o efeito que

Page 20: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

19

busquei com sua utilização. A última página também trouxe a única palavra da HQ.

“Fim”. Escrito com sobreposição de cores aquareladas.

A partir do momento em que essa música foi escolhida não consegui imaginar

outras cores para utilizar, bem como a escolha pela aquarela, tinta aguada que

permite uma mistura e variedade de nuances que considerei ideais para uma história

tão “bonitinha”. Essas sutilezas também me levaram à não utilização de legendas ou

balões de fala. Isso tornou a leitura mais objetiva e a surpresa ao final da história

surge tão abruptamente quanto a chegada do leitor ao final, dada uma leitura tão

breve.

2.1.2 Construir

Apresento-lhes, agora, o processo de criação para a segunda página.

O primeiro rascunho foi elaborado na mesma folha em que tinha a letra da

música para eu estudar (fig. 4). Risquei cada página com quase duas polegadas de

altura. A partir desse esboço, testei a mesma página no formato A4, para ter melhor

noção em tamanho maior e ficar mais certo de que fizera as melhores escolhas (fig.

5). O desenho final foi feito com lápis HB e 2B sobre papel Montval 270g/m² (fig. 6).

Fig. 5. Esboços da página 02 de Rita Lee.

Page 21: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

20

Com o desenho definido em uma margem de 25x38 cm, próxima à proporção

do formato americano, digitalizei-o em um scanner doméstico e imprimi em um A3

couché fosco 170g/m², para testar as cores. Utilizei lápis aquarelável.

Fig. 6. Lápis final da página 02 de Rita Lee.

A página final foi pintada com

aquarela em bisnaga sobre o papel com

o desenho. As cores foram tratadas

digitalmente de maneira discreta, apenas

para remediar os problemas de contraste

da digitalização (fig.7).

Fig. 7. À esquerda, teste com lápis aquarelável; à direita, página pronta com a cor definitiva em aquarela e tratamento digital.

Page 22: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

21

2.1.3 Observar

Levando em consideração a simplicidade do argumento desta história, minha

construção de páginas tornou-a ainda mais objetiva. Sua leitura é muito rápida não

só pela história breve, mas, principalmente, pelos seguintes motivos: a falta de

balões/legendas e de quadros “coadjuvantes”. Vejamos todas as páginas prontas,

lado a lado (fig.8), e então um diagrama estrutural das páginas (fig.9).

Fig. 8. Todas as páginas de Rita Lee.

Fig. 9. Estrutura das páginas de Rita Lee.

Page 23: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

22

Como podem ver, as páginas são

praticamente iguais. A repetição estru-

tural também influi no ritmo de leitura,

fazendo com que o leitor repare menos

na diagramação dos quadros e mais no

conteúdo deles. A ausência de balões

também aumenta o valor de significação

das imagens, além de aumentar a

velocidade de leitura. Pode-se entender

melhor o fluxo de leitura com as imagens

ao lado (figuras 10,11 e 12).

Começo dando valor aos quadros.

Os quadros com requadros têm mais

valor porque neles há história se

desenvolvendo. Os quadros que

compõem o fundo das páginas não

representam muito da história e servem

mais como momentos de contemplação,

“tempos mortos” se fosse cinema.

Assim, o fluxo de leitura que

normalmente seria representado como

na figura 10 identifica-se melhor com o

da figura 11.

A ausência de texto nas páginas

força ainda mais o fluxo de leitura. Esse

“empurrão”, associado aos valores

narrativos dos quadros que compõem as

páginas, representa um fluxo como o da

figura 12 e contribui para uma leitura

inicial de poucos segundos, onde a

página é mais percebida como

composição e menos pelos quadros. Os

valores pictóricos acabam pedindo uma

segunda leitura.

Fig. 10. Leitura convencional.

Fig. 11. Fluxo real.

Fig. 12. Fluxo induzido.

Page 24: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

23

2.2 MARIA INÊS

Quis transformar Maria Inês em quadrinhos desde a primeira vez em que a

ouvi. Sua letra, escrita por André Abujamra, conta a história de uma mulher que,

cansada dos abusos do marido, enfia a faca no “miserável”. Sua vingança não passa

despercebida. Seu cunhado e depois seu sobrinho partem em seu encalço. Gravada

em 2000, no álbum Estamos Adorando Tokio, da banda Karnak, Maria Inês nos

remete à literatura de cordel. No cordel, história de apelo popular ganham forma em

contos curtos, geralmente rimados e ilustrados com gravuras.

2.2.1 Interpretar

Das três músicas escolhidas, esta foi a mais difícil de começar a desenhar.

Demorei a ter alguma idéia de como elaborar as páginas. Os personagens foram

mais fáceis de encontrar, principalmente a família de Antônio, marido de Maria Inês.

O que levou algum tempo foi encontrar o traço para eles, pois a forma de interpretar

esta música em quadrinhos já era bem clara para mim: eu iria simular xilogravuras,

forma tradicional de ilustrar cordéis. A música me inspirou nesse caminho desde o

início. As linhas tiveram que engrossar, ou serem pensadas para ficarem mais

grossas depois.

Produzir em preto e branco foi inquestionável, assim como buscar um traço

que reforçasse a associação com a literatura de cordel. Decidi utilizar imagens como

se fossem cortadas na madeira e tratá-las no computador. Todavia, tenho certeza de

que, se essas páginas realmente tivessem sido feitas em madeira e gravadas em

papel, o resultado teria sido muito mais impressionante. Isso implicaria, todavia não

conseguir cumprir meus prazos no fim do semestre. Xilogravura é uma técnica que

muito me agrada e interessa. Aproveitei a oportunidade de abordá-la com esta

história, mesmo que apenas como simulação. Ainda tenho vontade de fazer uma

história em quadrinhos toda em matrizes de madeira. Definitivamente teria que ser

feito em outro projeto. Um dia, quem sabe?

Page 25: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

24

2.2.2 Construir

Vamos ver como foi realizada a página 03 de Maria Inês.

Depois das miniaturas das páginas elaboradas (fig. 13 e fig.14, primeira

etapa), os rascunhos foram realizados em margens de 12,8x19,6 cm em sulfite

75g/m² (fig. 14, segunda etapa). O desenho foi feito em papel layout 140g/m²,

inicialmente com grafite HB 0,5mm verde e então com lápis 2B e 4B (fig. 14, terceira

etapa). Com uma mesa de luz fiz a arte final em papel layout 63g/m², em nanquim,

com canetas descartáveis 0.3 e 0.8mm e pincéis variados (fig.15, primeira etapa).

Essa página foi digitalizada e teve suas sarjetas preenchidas digitalmente (fig.15,

segunda etapa).

Fig. 13. Thumbnails para Maria Inês.

Fig. 14. Progresso do desenho para a página 3 de Maria Inês.

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25

Fig. 15. Arte final digitalizada (e) e editada (d).

Todo o texto e os balões foram

feitos no computador (fig. 16) e depois

inseridos nas imagens digitalizadas. Só

então a imagem final foi tratada para se

parecer com uma gravura. Para simular

o efeito de xilogravura nas páginas,

algumas imagens de madeira foram

selecionadas e editadas digitalmente

(fig. 17).

Fig. 16. Camada de textos da página 03.

Fig. 17. Detalhe de madeira escolhido e editado.

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26

O resultado você pode conferir abaixo (fig.18).

Fig. 18. Maria Inês, página 03.

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27

2.2.3 Observar

Vamos, primeiramente, olhar como ficaram as páginas prontas (fig. 19) e

entender suas estruturas (fig. 20).

Fig. 19. Todas as páginas de Maria Inês.

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28

Fig. 20. Estrutura das páginas de Maria Inês.

Durante a elaboração das páginas notei uma curiosidade no meu processo

narrativo: todas as páginas ímpares tinham uma personagem que se revoltava e,

nas pares, uma que morria. Assim, decidi elaborar uma relação entre os

personagens que se revoltavam, tornando este sentimento claro por meio do

enquadramento do seu olhar e cenho franzido no momento em que sentem “sangue

nos olhos”. Veja: página 1, quadro 9; página 3, quadro 9; página 5, quadro 5; e

página 7, quadro 1, sendo neste último quadro de uma maneira diferente.

Page 30: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

29

Estes enquadramentos também elevam suas posições no decorrer das

páginas, terminando, na página 07, com um agrupamento de policiais no topo da

página, caçando Maria Inês. Podemos agrupá-los numa mesma imagem (fig. 21) e

entender como o perigo aumentou para Maria Inês durante a história.

Fig. 21. Conjunto de closes de olhar,

reunidos numa única imagem mantendo

suas respectivas posições na página.

Além disso, existe outra relação

entre as páginas que, infelizmente, só

não foi possível entre as duas primeiras.

A metade da primeira página serviu para

introduzir a história e isso exigiu mais

quadros. Dessa forma, o destino de

Antônio, marido de Maria Inês, foi

decidido em duas páginas com 9 e 6

quadros respectivamente. Nas outras

páginas os personagens são envolvidos

na trama e têm sua participação

concluída com o mesmo número de

quadros. O delegado Tonhão, 10 e 10.

João Augusto, 7 e 7. Maria Inês encerra

sua trajetória com 6 e 6 quadros.

A segunda página poderia

também ser contada em 9 quadros, mas

não existiu a necessidade para isso. A

morte de Antônio deveria ocupar muito

da página e uma maior divisão do resto

da página iria reduzir o valor dos outros

quadros. Assim, enquanto a primeira

página chama o leitor para a história, a

segunda chama atenção pelo impacto da

desforra.

A violência na primeira página prepara o leitor para a morte de Antônio e para

as seguintes, quando, com gradual aceleração, os antagonistas de Maria Inês são

elencados e o duelo é travado.

Page 31: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

30

2.3 MALDITO HIPPIE SUJO

Antes de decidir interpretar letras de música com estilos diferentes, meu

projeto era transformar em quadrinhos apenas músicas da banda Matanza. Isso

mudou quando me deparei como uma vontade de desenhar muitas outras músicas.

Claro que guardei uma do Matanza para o final e, entre todas, a Maldito Hippie Sujo

propiciava uma liberdade que permitiu uma experimentação mais aberta.

2.3.1 Interpretar

Por dois ou três anos, Maldito Hippie Sujo foi um objetivo pessoal. Tinha que

virar quadrinhos de uma vez por todas. As outras histórias elaboradas para esse

volume foram planejadas como um todo, algo que em MHS (como vou chamar essa

história daqui em diante) ocorreu de maneira ligeiramente diferente. Assim como as

outras, MHS foi planejado pensando na seqüência de todas as páginas, mas cada

página deveria permitir uma interpretação imagética diferente. Seu conjunto de

páginas foi rascunhado várias vezes. Antes mesmo de as outras músicas serem

escolhidas para esse projeto, MHS já tinha sido pensado em páginas. Depois das

outras músicas terem sido rascunhadas, MHS foi rascunhado novamente. Depois

das outras prontas, MHS foi rascunhado outra vez.

O produto desse estudo foi um material calcado na experimentação individual

das páginas. Suportes diferentes, materiais diferentes. Foi um relativo descanso. Ao

invés de pensar na produção integral da história, como uma página se relacionaria

com a outra, decidi que cada página se relacionaria com o próprio trecho da música

que representa. A produção fragmentada se sobressai, mantendo a narrativa.

As histórias anteriores foram produzidas na exata seqüência em que se

apresentam. MHS não. Suas páginas com suportes diferentes foram feitas na ordem

da vontade. Quando eu queria trabalhar com tinta acrílica, pintava de uma só vez

tudo o que eu gostaria que fosse assim. Quando queria trabalhar apenas com lápis,

Page 32: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

31

fazia quadros soltos que não faziam parte da mesma página. Alguns desenhos

foram intuitivos e riscados diretamente com caneta sobre o papel. Outros foram

finalizados no estilo linha clara, comum aos quadrinhos franco-belgas, como Tintin,

de Hergé. Realizei também algumas colagens digitalmente, utilizando material

digital, papel de embalagem, imagens da Internet, rabiscos e outras coisinhas.

Menos racionalização e mais inspiração. O produto é o mais contemporâneo do

conjunto ao lidar com fusão de materiais e linguagens analógicas e digitais.

2.3.2 Construir

Com tantos recursos diferentes, veremos o processo que envolveu a criação

das páginas 2 e 3 de MHS.

Muito thumbnailing foi realizado. O último, que serviu para orientar os

rascunhos foi este da figura 22. Olhando com algum cuidado, observa-se que

poucas páginas sofreram grandes alterações. Apesar de parecerem tão diferentes

entre si no produto final, o objetivo é sempre fazer com que funcionem em conjunto.

Também dá para ver que algumas

páginas estão em branco. Aconteceu a

mesma coisa durante a produção de

Maria Inês. Certas páginas só se tornam

claras para mim quando outras já estão

prontas. Depois de concluir uma ou duas

páginas é que os tons da arte e da

narrativa se confirmam ou não, e o resto

é produzido como conseqüência das

decisões tomadas nessas primeiras

páginas feitas.

Fig. 22. Thumbnails para MHS.

Page 33: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

32

Na página 2 (fig. 27), utilizei tinta acrílica para a imagem central, apenas preto

e branco (fig. 23). Os quadros superior e inferior foram feitos com lápis e nanquim

branco em retalhos de caixas de camisa (fig. 24). O rosto do hippie (fig. 25),

personagem título, é totalmente digital. Os requadros são digitais (fig. 26). Na página

3 (fig. 33), os requadros (fig. 28), as estampas dos tecidos (fig.32) e o rosto do hippie

são imagens digitais. Os quatro quadrinhos justapostos (fig. 31) foram feitos em

papel, antes fundo de um bloco de papel Canson. Usei lápis e caneta-corretor

escolar. O desenho ao fundo (fig. 29) foi feito com caneta nanquim descartável em

Layout 63g/m². As manchas (fig. 30) foram feitas com tinta acrílica preta e branca,

também sobre fundo de bloco de papel. Essas mesmas manchas também compõem

a última página dessa história.

Entenda melhor o processo dessas páginas a seguir.

Fig. 23. Pintura central da pág. 2.

Fig. 25. Rosto do hippie.

Fig. 24. Quadros desenhados da pág. 2.

Fig. 26. Requadros da página 2.

Page 34: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

33

Fig. 27. Página 2 de Maldito hippie Sujo.

Page 35: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

34

Fig. 28. Requadros da página 3.

Fig. 30. Pintura de fundo.

Fig. 32. Estampas das roupas do Hippie (e) e do patrão (d).

Fig. 29. Desenho de fundo.

Fig. 31. Quadros desenhados.

Page 36: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

35

Fig. 33. Página 3 de Maldito Hippie Sujo.

Page 37: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

36

3.3.3 Observar

Vejamos todas as páginas (fig. 34) e suas estruturas (fig. 35).

Fig. 34. Todas as páginas de MHS.

Fig. 35. Estrutura das páginas de MHS.

Page 38: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

37

Escolhi falar das páginas 2 e 3 pois acredito que elas deram o tom do que

viria a seguir e já vemos nelas boa parte das soluções que seriam utilizadas no

decorrer de MHS. Lidemos primeiro com a página 2.

As páginas 1-3 foram pensadas como uma coisa só que iria se desenvolver

até chegar ao tom da história. Como a página 1 é muito semelhante à 02, eu decidi

retirá-la do comparativo. Também a imagem escolhida para a capa desta história é

um detalhe da página 02, que poderia muito bem fazer parte da página 01, e serve

para iniciar a experiência do leitor dentro do clima das primeiras páginas e evitar um

contraste estrondoso ao iniciar a leitura. Desta maneira, o leitor inicia sua leitura com

linhas e tinta e aos poucos vê interferências digitais e colagens. Mais para frente

será apresentado a texturas e muitas interferências mais.

Olhando as páginas e estruturas de MHS, percebemos duas grandes

diferenças quanto às outras histórias deste volume: variedade de materiais e

páginas duplas.

A variedade de materiais torna a leitura mais dinâmica, embora tire a atenção

do texto algumas vezes. Quanto mais atraente a arte, mais a atenção se desvia do

texto, mais tempo é reservado à contemplação das páginas. Se as técnicas e

materiais dessa arte variam não há como passar despercebido pelos desenhos.

Assim, para não complicar muito a experiência do leitor, todo o texto presente nos

quadrinhos foi retirado da letra do Matanza. Esse “delírio visual” também possibilitou

um uso maior de texturas nas imagens, algo que eu buscava por me agradar e que

tentei colocar em todas as páginas de MHS.

As páginas duplas também serviram para aumentar a importância das

imagens. MHS é uma história recheada de violência. As passagens mais violentas

mereceram páginas duplas. As páginas duplas pouco acrescentam para a narrativa,

pois sua utilização interrompe o ritmo do leitor. Mesmo assim, ao invés de atrapalhar

a leitura, elas geram alívio e um momento de contemplação e surpresa,

principalmente por fugirem de uma diagramação padronizada. Isso não aconteceria

se a história tivesse sido elaborada em pranchas horizontais, de forma que todas as

páginas fossem duplas.

Da mesma forma, o rosto dos hippies causa enorme estranhamento no início

da história por não se relacionar com os outros rostos. Ao final, quando outros

hippies aparecem na cidade, o rosto multiplicado em todos os hippies massifica o

medo daquele povoado. Quando todos são o mesmo, cada um perde a

Page 39: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

38

individualidade no grupo. A turba acaba por perder o rosto onde todos são iguais. Se

eles eram apenas uma multidão enfurecida, agora são uma força da natureza com

sede de vingança.

Todo o processo de criação da face dos hippies foi digital. Veja melhor

abaixo, dos rascunhos (fig. 36) às edições finais (fig. 37).

Fig. 35. Imagens originais para o rosto dos hippies.

Fig. 36. Edição final dos rostos.

Page 40: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

39

2.4 MEU GIBI

Fig. 37. Outras páginas.

Depois das três histórias

concluídas, um volume foi elaborado para

reuni-las. Ao lado podem ser conferidas

as páginas que preenchem o resto do

volume (fig. 37).

Elas foram realizadas sempre com

a intenção de página dupla. De cima para

baixo: a capa, imagem contendo detalhes

das três histórias; a folha de rosto, com

parte das informações contidas também

na folha de rosto desse relatório; o índice,

também com alguns detalhes das

histórias; a página que antecede Rita Lee

e a que encerra a leitura após Maldito

Hippie Sujo; e as últimas páginas do

volume, contendo uma breve biografia

minha e informações para contato. Todas

essas páginas foram desenvolvidas para

se relacionarem com a diagramação das

capas individuais, mantendo áreas

divididas por linhas.

Toda a experiência de leitura

pensada para as histórias se mantém. O

leitor começa com páginas coloridas e

amplas, pouco texto, seguindo para a

leitura de Rita Lee. Quando termina o

volume de histórias encontra uma página

preta e então uma página dupla que, de

certa forma, dá continuidade à

experiência de MHS.

Page 41: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

40

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este trabalho realizei um sonho: fiz quadrinhos. Anos de rabiscos e

rascunhos finalmente construíram um gibi. Exigiu mais paciência do que eu gostaria,

mais tempo do que eu previ, mas resultou muito melhor do que eu esperava.

Rita Lee, efêmera e graciosa; Maria Inês, dolorida e violenta; Maldito Hippie

Sujo, chocante e delirante. Era tudo o que eu queria. A seleção das capas

individuais e a composição da capa do volume; a criação das páginas adicionais.

Fazer este trabalho foi espetacular.

O único porém talvez seja a não publicação (ainda) deste material. Procurei

fazê-lo de maneira independente, mas os custos são altíssimos, visto o número de

páginas e sua impressão colorida. O que não diminuiu minha satisfação em tê-lo

produzido. De qualquer forma, o gibi está disponível para leitura online e download

gratuito no endereço <http://issuu.com/shamaniel/docs/epeq>.

Devo acrescentar que as referências não se limitam às listadas no final deste

relatório. Muito mais material sobre quadrinhos, cinema e história da arte foi lido. A

lista é enorme e se eu citasse a todos, possivelmente não sobraria muito espaço

para minhas próprias opiniões.

Ao final deste relatório segue em anexo um volume desta obra que servirá

tanto para mostrar que fui capaz de concluir o que me propus como projeto, que

consigo trabalhar com diferentes formas de finalização e, também, que eu consegui

produzir um conteúdo prático e teórico dentro da área dos quadrinhos que servirá

como portfólio para minha vida profissional.

Muita produção me aguarda fora destas páginas. Muitos quadrinhos a serem

preenchidos. Ainda existem muitas formas de se elaborar uma página que eu não

utilizei, muitas técnicas que deixei de lado, muitas maneiras de diagramar uma

página, de pintar uma cena, de narrar uma história.

Obrigado pela atenção e até o próximo quadrinho.

Page 42: Magalhães; daniel raphael   ensaios plásticos em quadrinhos

41

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