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1 Maio, 2013 Relatório final Introdução O número de pessoas com 65 anos ou mais está projetado para crescer de 524 milhões em 2010 para 1.5 bilhão, aproximadamente, em 2050 (WHO, 2011) 1 . O Brasil enfrenta um acelerado processo de envelhecimento. A esperança de vida ao nascer se amplia de tal maneira, que muitos brasileiros chegarão à velhice, e o farão sem encontrar infraestrutura nos serviços de saúde compatíveis com a demanda. Além da alteração do padrão demográfico, enfrentamos importantes alterações no quadro de morbi-mortalidade. Esta realidade gera reflexos na dinâmica populacional brasileira, atingindo custos da previdência social, mercado de trabalho, acesso a serviços de saúde, entre outras situações que sofrem o impacto do envelhecimento no Brasil. São concretos os motivos para se repensar nas políticas públicas de saúde desenvolvidas no País. A não utilização de projetos de promoção e prevenção, acompanhados de estratégias de correção do uso abusivo de procedimentos diagnósticos e terapêuticos de alta tecnologia, são verdadeiros desafios para os gestores de saúde, que buscam redução de custos, equidade e equilíbrio na assistência em saúde em um País de realidades tão desiguais. A Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC), parte integrante do Sistema Único de Saúde (SUS), é o órgão da Prefeitura do Rio de Janeiro responsável por formular e executar a política municipal de saúde. Norteada pelos princípios do SUS, a SMSDC tem como propósito promover a saúde, priorizando as ações 1 WHO. Global Health and Ageing. National Institute on Aging/National Institutes of HealthNIH Publication no. 11-7737 October 2011 / Available in: http://www.who.int/ageing/publications/global_health/en/index.html

Maio, 2013 - newcities.org · 1 Maio, 2013 Relatório final Introdução O número de pessoas com 65 anos ou mais está projetado para crescer de 524 milhões em 2010 para 1.5 bilhão

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1

Maio, 2013

Relatório final

Introdução

O número de pessoas com 65 anos ou mais está projetado para crescer de

524 milhões em 2010 para 1.5 bilhão, aproximadamente, em 2050 (WHO, 2011)1. O

Brasil enfrenta um acelerado processo de envelhecimento. A esperança de vida ao

nascer se amplia de tal maneira, que muitos brasileiros chegarão à velhice, e o farão

sem encontrar infraestrutura nos serviços de saúde compatíveis com a demanda.

Além da alteração do padrão demográfico, enfrentamos importantes alterações no

quadro de morbi-mortalidade.

Esta realidade gera reflexos na dinâmica populacional brasileira, atingindo

custos da previdência social, mercado de trabalho, acesso a serviços de saúde, entre

outras situações que sofrem o impacto do envelhecimento no Brasil. São concretos

os motivos para se repensar nas políticas públicas de saúde desenvolvidas no País. A

não utilização de projetos de promoção e prevenção, acompanhados de estratégias

de correção do uso abusivo de procedimentos diagnósticos e terapêuticos de alta

tecnologia, são verdadeiros desafios para os gestores de saúde, que buscam redução

de custos, equidade e equilíbrio na assistência em saúde em um País de realidades

tão desiguais.

A Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC), parte integrante do

Sistema Único de Saúde (SUS), é o órgão da Prefeitura do Rio de Janeiro responsável

por formular e executar a política municipal de saúde. Norteada pelos princípios do

SUS, a SMSDC tem como propósito promover a saúde, priorizando as ações

1 WHO. Global Health and Ageing. National Institute on Aging/National Institutes of HealthNIH

Publication no. 11-7737 October 2011 / Available in: http://www.who.int/ageing/publications/global_health/en/index.html

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preventivas e democratizando as informações relevantes para que a população

conheça seus direitos e os riscos à sua saúde. No escopo do PSF está a intervenção

nos fatores de risco aos quais a população está exposta. A assistência integral ao

indivíduo no seu ambiente familiar vem trazer respostas à estas circunstâncias. O

PSF não é uma solução barata para preencher as necessidades da população

economicamente menos favorecida, nem mesmo uma política de exclusão. Pelo

contrário, a incorporação de novas tecnologias que cresce em larga escala pelo setor

de saúde deve ser abrangente e atingir também a atenção básica, racionalizando o

uso e democratizando o acesso2.

Portanto, a disponibilização de atendimento domiciliar para pacientes acima

de 60 anos e possibilidades móveis diagnósticas, como apoio às Clínicas da Família

têm o potencial de diminuir o tempo de espera até a realização dos exames

complementares e consulta, aumentando a satisfação da população e melhorando o

cuidado médico da mesma. Propostas criativas, que possam ofertar soluções

diferentes na manutenção de terapêuticas que alcancem as necessidades dos

pacientes, podem auxiliar na construção de modelos de atendimento adaptados às

nossas realidades.

Fundamentos

O Sistema Único de Saúde (SUS) surgiu na Constituição de 19883 e da sua

criação até o concreto estabelecimento de seus princípios há um hiato. Ainda que

tenha surgido num período de intensa atividade social e abertura política do País,

apenas em 1994, quando foi criado o Programa de Saúde da Família (PSF), é que o

processo de consolidação dos princípios do SUS estava de fato começando a

acontecer. O PSF propôs a reestruturação dos serviços de saúde, orientando o

modelo médico assistencial vigente, predominantemente “hospitalocêntrico” e

2 niversidade de o a lo ac ldade de a de lica . Programa de

Saúde da Família. São Paulo: 2000;34(3):316-9. Disponível em: <www.fsp.usp.br/rsp> Acesso em 15 Jan 2012 3 A Reforma Sanitária, impulsionada pelos movimentos sociais contra a ditadura, com a bandeira da

Saúde e Democracia, consolida o que viriam a ser as bases do Sistema Único de Saúde.

3

procurando harmonizar os princípios da universalidade, equidade da atenção e

integralidade das ações, princípios do atendimento na atenção básica no Brasil4.

O Município do Rio de Janeiro (MRJ), capital do estado do Rio de Janeiro, é a

segunda cidade mais importante economicamente do país e possui uma geografia

peculiar, está encravada entre o mar e a montanha. Tem uma área territorial de

1.264,2 Km², divididos em 160 bairro, 34 Regiões Administrativas e, na área de

saúde, em 10 Áreas de Planejamento (AP).

O Município do Rio de Janeiro tem uma população estimada para o ano de

2009 de 6.667.233 habitantes, sendo aproximadamente 15% de idosos, com

distribuição heterogênea entre as Áreas de Planejamento, variando de 9,5% na AP

5.3 a 23,1% na AP 2.1.

Atenção Primária – Clínicas da Família

A atual gestão tem como principal foco o Programa de Saúde Presente, que

em 2009 marcou o início de uma nova fase para o atendimento de saúde para

população do Rio de Janeiro. O programa foi lançado com o objetivo de expandir os

serviços de saúde a toda população do Rio de Janeiro de maneira mais homogênea,

atendendo regiões até então prejudicadas na gestão de saúde.

Com o Saúde Presente, a população passou a contar com um sistema

personalizado de assistência onde cada cidadão tem uma equipe de saúde que o

acompanha dando orientações sobre promoção e prevenção e realizando o

diagnóstico precoce de doenças. O programa tem como metas a melhoria dos

4 Universidade de S o a lo ac ldade de a de lica blica. Programa de

Saúde da Família. São Paulo: 2000;34(3):316-9. Disponível em: <www.fsp.usp.br/rsp> Acesso em 15 Jan 2013 Fernandes LCL et al. ealth service se in a pop lation covered the stratégia de a de da am lia. Rev Saúde Pública 2009;43(4) BRASIL. inistério da a de ecretaria ec tiva istema nico de a de princ pios e con istas inistério da a de, ecretaria ec tiva ras lia inistério a de, p il

4

indicadores de mortalidade materno-infantil e a qualidade de vida da população,

além de redução de custos hospitalares, diminuindo internações, consultas e

exames.

O programa Saúde Presente conta com um sistema integrado de unidades de

saúde, onde a porta de entrada é a Clínica da Família (CF) e os Pólos de Saúde.

Nestes locais é possível realizar exames laboratoriais, de raios-x e ultrasonografia,

além de consultas e outros procedimentos.

As equipes profissionais das clínicas, formadas por médicos, enfermeiros,

técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde, dentistas e auxiliares de

consultório dentário, técnicos de saúde bucal, agentes de vigilância em saúde e

agentes de defesa civil, acompanham os pacientes com problemas crônicos, como

hipertensão e diabetes. Eles são encaminhados para consultas ambulatoriais e com

especialistas quando necessário, diminuindo a evolução para doenças mais graves

que, quando não tratadas adequadamente, podem resultar diferentes eventos

clínicos graves (infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência

renal, insuficiência cardíaca, diabetes mellitus, dentre outras).

Em 2009, as Equipes de Saúde da Família já cobriam 50,7% da população

brasileira, um total de 30.328 equipes estabelecidas. Na cidade do Rio de Janeiro já

são mais de 30 clínicas. Considerando o Brasil, o PSF está presente em mais de 90%

dos municípios brasileiros e estima-se que tenha cobertura de mais de 85 milhões de

pessoas5.

Clínica da Família Santa Marta

Em março de 2009 foi inaugurada a unidade básica de Saúde da Família na

Comunidade Dona Marta onde funciona o Polo de Inclusão Social Padre Velloso

sendo o primeiro polo de saúde localizado na AP 2.1.

No total, são três equipes compostas por um médico, um enfermeiro, um

5 Departamento de Atenção Básica da Secretaria de Atenção a Saúde. Available in:

(http://dab.saude.gov.br/abnumeros.php )

5

técnico de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde. Além disso, duas

equipes de saúde bucal com um dentista e um auxiliar de consultório dentário para

atendimento local.

Cada equipe atende cerca de 3 mil pessoas cadastradas, totalizando uma

cobertura de 100% da população da comunidade, que é de mais de 7 mil habitantes,

divididos em 1.740 domicílios6.

Saúde do Idoso

Dentre os vários programas da SMSDC temos a Gerência de Programas de

Saúde do Idoso. O aumento da longevidade é uma conquista social, que se deve em

grande parte ao progresso da medicina e a uma cobertura mais ampla dos serviços

de saúde, mas também é um desafio por soluções para demandas por políticas

públicas voltadas para a população idosa.

Chegando à terceira idade, é preciso levar em conta que os tratamentos

tornam-se mais prolongados e onerosos, pois a recuperação é mais lenta e

complexa. Há um aumento da incapacidade funcional, potencializado pela carga de

morbidades relacionada à idade, quanto mais idosos, mais propensos a desenvolver

co-morbidades. O numero de consultas médicas aumenta, consequentemente, o

numero de exames, medicamentos e internações hospitalares prolongadas7.

O envelhecimento saudável implica em aumento da sobrevida

quantitativamente com qualidade. A população que envelhece requer serviços de

saúdes específicos, que envolvam políticas preventivas e de promoção da saúde,

com foco na qualidade de vida, na boa alimentação e na prática de exercícios físicos

6 Para mais informações: http://www.psfsantamarta.com

7 Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Síntese de indicadores sociais Uma

análise das condições de vida da população brasileira 2010. Brasília, 2009. Available in: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2010/default.shtm Access in September 10

th 2012

Schramm, JMA et al. Transição epidemiológica e o estudo de carga de doença no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro,9(4)2004 . Available in: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-

81232004000400011&script=sci_abstract&tlng=pt . Access in September 10th

2012

6

e reabilitação. Da mesma forma que necessita de projetos voltados à atenção

domiciliar, ambulatorial e da Estratégia de Saúde da Família. É indiscutível a

necessidade de um fortalecimento das ações e acessibilidade de atendimento à

população idosa dentro do município do Rio de Janeiro com parâmetros de eficácia,

eficiência e efetividade e em consonância com a Política Nacional de Saúde da

Pessoa Idosa.

Desenho do Estudo

Título: Análise de Custo-Consequência do Projeto Piloto e-Health no Sistema Público

de Saúde do Brasil

Desenho da Análise Clínica e Econômica

(1) Objetivo

Estimar os benefícios clínicos e econômicos do Projeto Piloto e-Health numa

coorte de pacientes idosos acompanhados no Programa de Saúde da Família da

Unidade Básica de Saúde Santa Marta em Botafogo, Rio de Janeiro, comparado com

dados históricos antes da implantação do projeto. Controles históricos são usados na

comparação de sujeitos que estejam sendo tratados ou acompanhados

simultaneamente.

População estudada: Coorte de pacientes da Clínica da Família Santa Marta, Rio de

Janeiro, Brasil.

Recrutamento: Inicialmente, tínhamos colocado como critérios de inclusão

pacientes que já estavam matriculados na Clínica da Família, acima de 60 anos de

idade, com uma doença crônica que fosse alvo do estudo (hipertensão, diabetes,

acidente vascular cerebral) e mobilidade reduzida. Considerando o baixo número de

pacientes em recrutamento e curto prazo de coleta de dados, decidimos fazer uma

"força-tarefa", mas os pacientes foram ao nosso encontro, e neste caso o critério de

mobilidade reduzida não foi totalmente respeitado. Além disso, buscamos observar

7

a rotina da Clínica da Família na organização de visitas domiciliares e suas

prioridades.

Perspectiva: O ponto de vista da análise foi o Sistema Único de Saúde - SUS.

Desenho do estudo: antes e depois do desenho

Na terminologia do projeto, "antes" refere-se a uma medição a ser feita antes de

uma intervenção ser introduzida a um grupo e "depois" refere-se a uma medição a

ser feita após a sua introdução. Termos equivalentes para "antes" e "depois" são

"pré" e "pós".

O desenho de projeto “antes e depois” é a concepç o não experimental mais

importante para os nossos propósitos, uma vez que é uma opção razoável para uma

avaliação. O desenho antes e depois oferece mais evidências sobre a eficácia da

intervenção do que os outros projetos não experimentais. Embora sofra algumas

ameaças à validade interna, pode em muitos casos, fornecer evidências preliminares

da eficácia de intervenção, principalmente quando completadas com informações

complementares.

Procedimentos para coleta de dados

Para coletar os dados epidemiológicos, utilizamos o registro histórico do banco de

dados VITACARE.

Para coleta de dados clínicos, os profissionais receberam uma ficha clínica (Anexo 1),

que deveria ser preenchida na primeira visita domiciliar. Na segunda visita, foi

preenchido um questionário (Anexo 2) sobre os possíveis custos do paciente com

seus problemas de saúde, envolvendo habitação, assistência fora da Clínica da

Família e tempo dos cuidadores.

8

Treinamento

Um time composto por 11 profissionais (4 médicos, 3 enfermeiros, 3 técnicos de

enfermagem e a gerente, que é uma enfermeira) foram treinados antes do início da

coleta de dados. O primeiro treinamento foi sobre a mochila, seus equipamentos e o

uso pelos profissionais.

Depois, os médicos foram treinados para usar o V-SCAN.

Todos os profissionais foram treinados para usar o equipamento de

Eletrocardiograma (ECG).

Ficou estabelecido que a mochila seria utilizada pelos profissionais que fazem visitas

domiciliares. A gerente e 2 médicos não realizam visitas, uma vez que desenvolvem

outras atividades na Clínica da Família.

Considerando a coleta de dados de 30 semanas, foram feitas 200 visitas com a

mochila, chegando a uma média de 6,6 visitas por semana. A mochila também foi

utilizada em visitas domiciliares para pacientes que não preenchiam os critérios de

inclusão do estudo (mulheres grávidas, pacientes com idade inferior a 60 anos,

portadores de deficiência). Apenas para ilustrar, após a realização das visitas, a

equipe de pesquisa selecionou os pacientes que poderiam ser incluídos na pesquisa.

Sob as circunstâncias acima mencionadas, pelo menos 50 pacientes foram excluídos.

Aspectos Éticos

Este projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal

de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro. Como se trata de uma pesquisa com seres

humanos, alguns pontos importantes foram cuidadosamente observados:

- espera pela aprovação do projeto antes da coleta de dados

- autorização para acessar o banco de dados VITACARE

- assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por todos os

participantes da pesquisa

9

- permissão para uso de voz e imagem para disseminação dos resultados

Devemos ressaltar que o início da pesquisa, a equipe como um todo esteve

empenhada em evitar que a variação máxima da rotina da Clínica da Família. Os

pacientes são principalmente não para ser servido, e desviar suas funções de

serviços profissionais para atender às demandas da pesquisa seria antiético para

pacientes e profissionais.

Além disso, considerando a incerteza da permanência da mochila na Clinica, seria

antiético avaliar um grupo placebo (sem a presença da mochila), sem ter a certeza

de oferecer o atendimento posterior com a mochila.

Por estas razões, a proposta foi pesquisar o mesmo grupo de pacientes, comparando

os dados da intervenção "mochila", com dados históricos de VITACARE. E por essas

razões, não foi possível avaliar o mesmo grupo em duas circunstâncias: assistido pela

pesquisa, mas sem a mochila e, posteriormente, com a mochila.

(2) FORMA DE AVALIAÇÃO: Análise de Custo-Consequência

Gestores e formuladores de políticas de saúde têm uma necessidade de informação

sobre o valor econômico de intervenções alternativas de saúde para que possam

tomar decisões informadas sobre a alocação de recursos escassos da saúde. Uma

abordagem para a apresentação de informações sobre o valor de uma intervenção

médica é a análise de custo-consequência. Uma análise de custo-consequência tem

sido definida por Russell et al.8 como uma análise ". . . em que os custos e os efeitos

são calculados, mas não agregadas em anos de vida ajustados pela qualidade, ou

razões de custo-efetividade ". Este tipo de análise proporciona a apresentação de

informação mais completa descrevendo o valor de uma intervenção médica, e é

também o mais simples conceitualmente. É uma listagem de todos os custos e

8 Russell LB, Gold MR, Siegel JE, et al. The role of cost-effectiveness analysis in health and medicine.

JAMA 1996; 276:1172-7

10

resultados relevantes ou consequências da intervenção, e compreende os seguintes

componentes principais:

· Custos médicos diretos;

· Custos não médicos diretos (por exemplo, dispositivos e cuidadores pagos);

· Custos indiretos (ex.: perda de rendimentos)

· Impacto de qualidade de vida;

· Resultados clínicos.

Coleta de dados (3) DADOS DE EFICÁCIA

A avaliação clínica foi baseada em uma coorte de pacientes da Clínica de Saúde

Santa Marta, Rio de Janeiro, Brasil.

(4) MEDIDA E AVALIAÇÃO DE BENEFÍCIOS

Os desfechos primários foram “internação evitada” e “desfechos clínicos evitados”.

(5) CUSTOS

Uma ampla pesquisa e revisão da literatura sobre o custo da doença e da carga de

doença no Sistema Único de Saúde (SUS) foi realizada. O objetivo foi estimar o custo

econômico de doenças e procedimentos médicos para avaliar a Análise Custo-

Consequência.

(6) ANÁLISE ESTATÍSTICA

Estatística descritiva

Teste de hipóteses:

Hipótese nula: média de Resultados Clínicos antes do Piloto E.Health menos Média

resultados clínicos após o Piloto E.Health = 0

11

Hipótese Alternativa: média de Resultados Clínicos antes do Piloto E.Health menos

média dos resultados clínicos após o Piloto E.Health > 0

= 0,05 (95% intervalo de confiança)

T tabulado = valor extraído da tabela Tstudent

Tcalculado = valor calculado a partir dos dados da amostra

Quando Tcalculado é maior que T tabulado rejeitar a hipótese nula e aceitar a hipótese

alternativa.

(7) RESULTADOS:

ACESSO AO SISTEMA DE SAÚDE

Facilitar o acesso é estar preocupado em ajudar as pessoas a ordenar os recursos

apropriados de cuidados de saúde, a fim de preservar ou melhorar a sua saúde.

Acesso é um conceito complexo e, pelo menos, quatro aspectos requerem

avaliação9. Se os serviços estão disponíveis e existe uma oferta adequada de

serviços, então a oportunidade de obter cuidados de saúde existe, e uma população

pode “ter acesso aos serviços”. O quanto à pop laç o “ganha o acesso” tam ém

depende de barreiras financeiras, organizacionais, sociais ou culturais que limitam a

utilização dos serviços. Assim, o acesso medido em termos de utilização é

dependente da disponibilidade, acessibilidade física e aceitabilidade dos serviços e

não apenas a adequação da oferta. Serviços disponíveis devem ser relevantes e

eficazes se a população quer "ter acesso a resultados de saúde satisfatórios". A

disponibilidade de serviços e as barreiras ao acesso têm que ser consideradas no

contexto das diferentes perspectivas, as necessidades de saúde e de materiais e

configurações culturais de diversos grupos da sociedade. Equidade de acesso pode

ser medido em termos de disponibilidade, utilização ou resultados dos serviços.

Dimensões horizontal e vertical de equidade exigem consideração.

9 Gulliford M et al. What does 'access to health care' mean? J Health Serv Res Policy 2002 ;7(3):186-8.

12

Desde 1989, todos os brasileiros têm direito a cuidados de saúde gratuitos no nível

primário, secundário e terciário através de um sistema nacional de saúde, que é

único na América Latina, que está sendo financiado por impostos e contribuições

sociais, tais como pagamentos da seguridade social10. A implementação do Sistema

Único de Saúde (SUS) foi acompanhada por uma forte descentralização e resultou

em maior acesso aos cuidados de saúde primários, por meio da Estratégia de Saúde

da Família.

A realização da visita médica é a porta de entrada do paciente para o sistema de

saúde. Caracteriza-se como um indicador robusto de acesso da população aos

cuidados de saúde. Na amostra de pacientes atendidos no período de 01/01/2012 a

31/12/2012, a visita médica alcançou 84,31% da população atendida na Clínica de

Saúde Santa Marta, provando ser um bom indicador de acesso a serviços de saúde

Ta ela 1 A partir de cons ltas em casa, os pacientes ≥ 65 anos de idade

representavam 26% do total. Na Clínica de Saúde de Santa Marta, a porcentagem de

pacientes ≥ 6 anos de idade é de 13,78%

Tabela 1: Visitas médicas no período de 01/01/2012 a 31/12/2012 na Clínica da

Família Santa Marta

Número %

Consultas médicas realizadas 8701 84,31%

Consultas médicas canceladas 490 4,75%

Consultas médicas não realizadas 204 1,98%

Pacientes que faltaram as consultas 925 8,96%

NOTA: As visitas médicas mostradas acima estão relacionadas a todas as consultas

agendadas em 2012

10

Paim J et al. The Brazilian health system: history, advances, and challenges. Lancet 2011;377(9779):1778-97

13

RESULTADOS CLÍNICOS

O controle da pressão arterial é uma das ações de saúde pública com maior impacto

na redução da morbidade e mortalidade relacionada à doença cardiovascular. O

grupo de pacientes observados no projeto E.Health apresentou redução média na

pressão sanguínea sistólica de 5,29 mm Hg (p <0,05) (Tabela 2). Há evidências

robustas na literatura médica de que a redução na pressão arterial sistólica, em

torno dos valores documentados no Projeto E.Health representa benefício na

proteção cardiovascular e doença renal relacionada à hipertensão, especialmente

em pacientes diabéticos11.

Tabela 2: Medidas da Pressão Arterial sistólica e diastólica antes e depois do

projeto E.Health

Avaliação da Pressão Arterial Sistólica

Pressão Arterial Sistólica

Pré-projeto

Pressão Arterial Sistólica

Pós-intervenção

Redução média

Média 139,77 mmHg 134,48 mmHg 4,29% (p < 0.05)

Avaliação da Pressão Arterial Diastólica

Pressão Arterial Diastólica

Pré-projeto

Pressão Arterial Diastólica

Pós-intervenção

Redução média

Média 80,63 mmHg 79,18 mmHg , 7% p ≥ 5

11

Turnbull F et al. Effects of different blood pressure lowering regimens on major cardiovascular

events in individuals with and without diabetes mellitus: results of prospectively designed overviews

of randomized trials. Arch Intern Med 2005;165:1410–1419.

14

RESULTADOS CLÍNICOS E ECONÔMICOS

Acidente Vascular Cerebral (AVC)

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte

entre a população adulta brasileira, variando entre a primeira e a terceira posições,

de acordo com o ano e o Estado da Federação12. A mortalidade é apenas uma das

medidas de saúde pública sobre o impacto do acidente vascular cerebral, com

sequelas sendo igualmente importante, e, consequentemente, falta de

produtividade, perda de qualidade de vida e aposentadoria precoce. Estima-se que

85% dos acidentes vasculares cerebrais são de origem isquêmica e 15% de origem

hemorrágica13. Um inquérito epidemiológico efetuado o Sistema Único de Saúde

(SUS)14 em pacientes com AVC, na idade produtiva de 20 a 59 anos, mostrou que

80% referiram algum tipo de incapacidade funcional persistente após o primeiro

episódio. Após o AVC, 70% dos pacientes tornaram-se desempregados ou

aposentados prematuramente.

Christensen et al estimaram o custo do tratamento agudo do AVC isquêmico

e hemorrágico em dois hospitais públicos brasileiros15. Os autores utilizaram uma

análise retrospectiva dos prontuários e identificaram 316 pacientes com

permanência hospitalar de duração média de 12,0 ± 8,8 dias, para acidente vascular

cerebral isquêmico e 13,3 ± 23,4 dias para acidente vascular cerebral hemorrágico. O

custo médio de internação para o tratamento de acidente vascular cerebral

isquêmico foi US$1,902 dólares.

A Tabela 3 mostra o resumo do benefício de saúde e econômico do Piloto

E.Health por evitar acidente vascular cerebral nos pacientes com hipertensão. Houve

14,8% de AVC no controle histórico e 0,82% no piloto E.Health. Significa benefício

12

Lessa I. Epidemiologia das doenças cerebrovasculares no Brasil. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 1999;4:509-18. 13

Bonita R. Epidemiology of stroke. Lancet 1992;339(8789):342-4. 14

Falcão IV et al. Acidente vascular cerebral precoce: implicações para adultos em idade produtiva atendidos pelo Sistema Único de Saúde. Rev bras saúde matern infant 2004;4(1):95-102. 15

Christensen MC et al. Acute treatment costs of stroke in Brazil. Neuroepidemiology 2009;32(2):142-9.

15

absoluto de 13,98 por cada 100 doentes no grupo piloto E.Health (p <0,05). A

estimativa de redução de custos de 100 pacientes do grupo piloto E.Health por um

ano é de R$ 65.454,36.

Tabela 3: Frequência (%) de AVC em pacientes hipertensos

% resultados no controle histórico* 14,8%

% resultados no piloto E.Health 0,82%

Benefício absoluto por 100 pacientes no grupo piloto E.Health 13,98 (p < 0.05)

Média de custo da hospitalização por AVC ** R$4.682,40

Redução de custos por 100 pacientes no grupo piloto E.Health por

um ano

R$ 65.454,36

*Fonte: Mion Jr D et al. Hipertensão Arterial na Cidade de São Paulo: Prevalência

Referida por Contato Telefônico. Arq Bras Cardiol 2010;95(1):99-106.

**Média de custo total na hospitalização inicial. Fonte: Christensen MC et al. Acute

treatment costs of stroke in Brazil. Neuroepidemiology 2009; 32 (2): 142-9.

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA

Insuficiência Cardíaca representa a principal causa de internação no Sistema Único

de Saúde (SUS), a partir de 65 anos de idade. A prevalência de insuficiência cardíaca

está aumentando, devido ao incremento na expectativa de vida da nossa população

e maior eficácia de novos medicamentos no tratamento dos pacientes, estendendo

suas vidas.

Araujo et al. descreveu os custos diretos e indiretos do tratamento ambulatorial e

hospitalar de insuficiência cardíaca, no Hospital Escola do Estado do Rio de Janeiro,

16

Brasil 16 . Um estudo transversal sobre utilização e valoração de recursos em

pacientes, selecionados de forma consecutiva, em tratamento ambulatorial e

hospitalar. Questionários e prontuários dos pacientes foram utilizados para a coleta

de dados. Os recursos utilizados foram valorados em reais (2002). O ponto de vista

do estudo foi a perspectiva da sociedade. A população estudada foi composta por 70

pacientes (39 mulheres), com idade média de 60,3 anos. Houve 465 dias de

internação para 28,5% da amostra de pacientes. Houve 386 internações em

enfermaria e 79 na UTI. O custo com consultas ambulatoriais foi de R$14,40. As

despesas com medicamentos em ambulatório foram de R$83.430,00

(R$1.191,86/paciente/ano). O custo por paciente internado foi de R$ 4.033,62. Os

custos com exames complementares totalizaram R$39,009.50

(R$557.28/paciente/ano). Vinte pacientes se aposentaram devido à insuficiência

cardíaca, o que representou uma perda de produtividade de R$182.000,00. O custo

total foi de R$444.445,20. Hospitalização representou 39,7% e a utilização de

medicamentos 38,3% do custo direto.

A Tabela 4 mostra o resumo de benefício de saúde e econômico do Piloto E.Health

para evitar a hospitalização por insuficiência cardíaca em pacientes com diabetes

tipo II e hipertensão. Houve 17,1% de pacientes com insuficiência cardíaca no

controle histórico e 6,36% no piloto E.Health. Demonstra benefício absoluto de

10,74 por cada 100 doentes no grupo piloto E.Health (p <0,05). A estimativa de

redução de custos de 100 pacientes do piloto E.Health grupo por um ano é de

R$8.055,00.

16

Araujo DV et al. Cost of Heart Failure in the Unified Health System. Arq Bras Cardiol 2005;84(5):422-

427.

17

Tabela 4: Frequência (%) de Insuficiência Cardíaca em pacientes com diabetes tipo

II e hipertensão

% resultados no controle histórico * 17,1%

% resultados no piloto E.Health 6,36%

Benefício absoluto por 100 pacientes no grupo piloto E.Health 10,74 (p < 0.05)

Média de custo da hospitalização por Insuficiência Cardíaca** R$ 750,00

Redução de custos por 100 pacientes no grupo piloto E.Health

por um ano

R$ 8.055,00

*Baseado no auto-relato de diagnóstico de Insuficiência cardíaca de 171 de 1000

pacientes diabéticos tipo II ambulatoriais do SUS em 8 cidades brasileiras. Fonte:

Bahia LR et al. The Costs of Type 2 Diabetes Mellitus Outpatient Care in the Brazilian

Public Health System. Value in Health 2011;14:S137-S140.

**Ribeiro RA et al. Annual Cost of Ischemic Heart Disease in Brazil. Public and Private

Perspective. Arq Bras Cardiol 2005;85:3-8.

TERAPIA RENAL SUBSTITUTIVA (TRS)

A doença renal crônica é um problema de saúde pública. Estima-se que mais

de dois milhões de brasileiros sofrem algum tipo de disfunção renal. Hoje, mais de

70 mil pacientes necessitam de terapia renal de substituição (TRS), seja diálise ou

transplante de rim, com uma despesa anual de cerca de R $ 2,0 bilhões. Desde 1975

TRS tem sido publicamente financiada pelo nível federal. A previsão é de que em

2015 haverá 125 mil pacientes que necessitam de TRS, dos quais 89% serão cobertos

pelo SUS17.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia hipertensão arterial e

diabetes são as causas subjacentes em aproximadamente 50% dos pacientes em

diálise. Estes dados são comparáveis à de outros países da América Latina, no

17

Grupo Multisetorial de Doença renal Crônica (SBN, SOBEN, ABCDT, Associações de Pacientes renais Crônicos). Perfil da Doença Renal Crônica: O Desafio Brasileiro – 2007. Available in: http://www.sbn.org.br/

18

entanto, nos Estados Unidos, estas duas condições são as causas subjacentes de três

quartos dos pacientes em diálise, o que pode ser explicado pelo número maior de

indivíduos idosos em países desenvolvidos.

No rastro da transição demográfica e do envelhecimento da população, estas

duas condições podem potencialmente representar uma proporção cada vez mais

crescente de casos de insuficiência renal terminal nos próximos anos no Brasil,

levando a um aumento no número de pacientes que necessitam de diálise.

Em 2007, o custo da diálise no Brasil foi estimado, incluindo custos

ambulatoriais, os custos de internações hospitalares por qualquer causa, e eventos

cardiovasculares18. Custo médio total por ano por paciente em hemodiálise para o

Ministério da Saúde foi US$ 7,980.00 dólares.

A Tabela 5 mostra o resumo de benefício de saúde e econômico do Piloto

E.Health para evitar a terapia de hemodiálise crônica em pacientes com diabetes

tipo II e hipertensão. Houve 28% de pacientes com Doença Renal Crônica no

controle histórico e 2,71% no piloto E.Health. Demonstra benefício absoluto de

25,29 por cada 100 doentes no grupo piloto E.Health (p <0,05). A estimativa de

redução de custos de 100 pacientes do piloto E.Health grupo por um ano é de R$

403.628,40.

Tabela 5: Percentagem anual de pacientes diabéticos tipo II em hemodiálise

% resultados no controle histórico * 28%

% resultados no piloto E.Health 2,71%

Acompanhamento (meses) 12

Benefício absoluto por 100 pacientes no grupo piloto E.Health 25,29 (p < 0.05)

Média de custo por terapia de hemodiálise crônica** R$ 15.960,00

Redução de custos por 100 pacientes no grupo piloto E.Health por

um ano

R$ 403.628,40

18

Sesso R et al. Dialysis care, cardiovascular disease, and costs in end-stage renal disease in Brazil. International Journal of Technology Assessment in Health Care, 23:1 (2007), 126–130.

19

*Número estimado de adultos em hemodiálise baseado no número total de

procedimentos reembolsados pelo SUS. Fonte: Chronic Dialysis in Brazil - Report of

the Brazilian Dialysis Census, 2011. J Bras Nefrol 2012;34(3):272-277.

**Média do custo global por paciente/ano em terapia de hemodiálise crônica.

Fonte: Sesso R et al. Dialysis care, cardiovascular disease, and costs in end-stage

renal disease in Brazil. International Journal of Technology Assessment in Health

Care, 23:1 (2007), 126–130.

TRATAMENTO DO OLHO A LASER

A retinopatia diabética progride de anormalidades suaves não proliferativas,

caracterizadas pelo aumento da permeabilidade vascular, a retinopatia diabética

proliferativa moderada e severa, caracterizadas por fecho vascular, a retinopatia

diabética proliferativa, caracterizada pelo crescimento de novos vasos sanguíneos na

retina e a superfície posterior do vítreo. O Estudo de Retinopatia Diabética (DRS)

investigou se a intervenção com fotocoagulação (panretinal), em comparação com o

adiamento indefinido, poderia reduzir o risco de perda de visão por retinopatia

diabética proliferativa. Depois de apenas dois anos, a fotocoagulação demonstrou

reduzir significativamente a perda visual grave (isto é, a melhor acuidade visual de

5/200 ou pior)19. Assim, existe uma forte evidência de que o tratamento de

fotocoagulação é padrão para retinopatia diabética proliferativa.

A Tabela 6 mostra o resumo do benefício de saúde e econômico do Piloto

E.Health para evitar a retinopatia diabética, em pacientes com diabetes tipo II.

Houve 17,5% de pacientes com retinopatia diabética no controle histórico e nenhum

no piloto E.Health. Demonstra benefício absoluto por de 17,5 por cada 100 doentes

no grupo de Piloto E.Health (p <0,05). A estimativa de redução de custos de 100

pacientes do piloto E.Health grupo por um ano é de R$ 3.150,00.

19

Fong DS et al. Retinopathy in Diabetes. Diabetes Care, volume 27, supplement 1, january 2004

20

Tabela 6: Percentagem anual de pacientes diabéticos tipo II fazendo tratamento a

laser para retinopatia diabética

% resultados no controle histórico * 17,5

% resultados no piloto E.Health 0

Acompanhamento (meses) 12

Benefício absoluto por 100 pacientes no grupo piloto E.Health 17,5 (p <

0.05)

Média de custo por tratamento a laser do olho** R$ 180,00

Redução de custos por 100 pacientes no grupo piloto E.Health por

um ano

R$ 3.150,00

* Fonte: Bahia LR et al. The Costs of Type 2 Diabetes Mellitus Outpatient Care in the

Brazilian Public Health System. Value in Health 2011;14:S137-S140.

**Fonte: quarto sessões de tratamento a laser do olho (custo por sessão = R$ 45,00)

Disponível em: http://sigtap.datasus.gov.br/tabela-

unificada/app/sec/procedimento/exibir/0405030045/03/2013

ÚLCERAS DOS PÉS

Rezende et al. analisou o atendimento recebido pelos pacientes

hospitalizados com diabetes mellitus e úlceras do pé no Brasil, levando em conta os

aspectos clínicos e econômicos20. Um estudo prospectivo de coorte de 109 pacientes

com diabetes hospitalizados principalmente para úlceras do pé, cobertos

exclusivamente pelo sistema público de saúde brasileiro. Todos os pacientes tinham

diabetes mellitus tipo 2, a equipe do hospital não tinha formação específica para o

atendimento de pacientes com pé diabético e o estudo não teve acesso a equipes

20

Rezende KF et al. Direct costs and outcomes for inpatients with diabetes mellitus and foot ulcers in

a developing country: The experience of the public health system of Brazil. Diabetes & Metabolic

Syndrome: Clinical Research & Reviews 3 (2009) 228–232

21

multidisciplinares ou de reabilitação, caracterizando um conjunto não organizado.

Os doentes tinham úlceras crônicas, profundas e infectadas com pouco ou nenhum

acesso prévio a uma clínica especializada em pé diabético antes da hospitalização.

Quarenta e três (39%) pacientes tiveram alta com cura primária e 52 (48%) foram

curados com a amputação. Quatorze pacientes (13% da amostra) morreram durante

a internação. Apenas cinco pacientes (4,6% da amostra) receberam procedimentos

vasculares reconstrutivos. O custo direto por paciente variou entre US$324,3 e

US$5.628,4 (1.533,0 ± 1.029,3). O custo total para os 109 internações foi de

US$167,097.40. Os autores concluíram: Neste conjunto não organizado,

atendimento hospitalar para pé diabético no sistema de saúde pública do Brasil está

relacionado a altos custos e resultados ruins.

A Tabela 7 mostra o resumo da comparação com úlceras do pé em pacientes

com diabetes tipo II. O resultado não foi estatisticamente significativo.

Tabela 7: Frequência (%) de úlceras dos pés de pacientes diabéticos tipo II

% resultados no controle histórico * 4,5%

% resultados no piloto E.Health 4,52%

Benefício absoluto por 100 pacientes no grupo piloto E.Health NS p >

0.05**

* Baseado em 45 de 1000 pacientes diabéticos tipo II que relatarm úlcera nos pés no

ano anterior. Fonte: Source: Bahia LR et al. The Costs of Type 2 Diabetes Mellitus

Outpatient Care in the Brazilian Public Health System. Value in Health 2011;14:S137-

S140.

** Não estatisticamente significativo

22

A DOENÇA ARTERIAL PERIFÉRICA

No Brasil, dados de estudos relacionados com a prevalência de doença

arterial periférica (DAP) e seus fatores de risco são escassos e restritos a populações

específicas, com quase todos eles realizados na região Sudeste do país. Entre eles,

dois estudos de base populacional, destacam-se: Projeto Bambuí, que avaliou

(Estado de Minas Gerais), e mostrou uma prevalência de 2,5% de claudicação

intermitente21 e o Estudo Epidoso, que a cidade de São Paulo, por meio da ABI e

encontrou uma prevalência de 36,4% de DAP22. Um estudo mais recente, também

realizado no estado de Minas Gerais, encontrou 37,5% de DAP em pacientes com

doença renal crônica pré-dialítica23.

Makdisse et al. avaliaram os fatores de prevalência e risco relacionados à

doença arterial periférica (DAP) em centros urbanos brasileiros com mais de 100.000

habitantes. A prevalência de DAP foi de 10,5%24. A claudicação intermitente (CI)

esteve presente em apenas 9% dos pacientes com DAP. Foi encontrada uma

associação significativa entre a DAP e os seguintes fatores: diabetes, obesidade total

e abdominal, acidente vascular cerebral e doença cardíaca isquêmica (DCI). Houve

uma tendência de prevalência de DAP maior entre os indivíduos com hipertensão

arterial, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica em diálise, bem como

aqueles que fumaram mais de 20 anos. Para o sexo feminino, presença de DCI foi

associada a 4,9 vezes maior risco de DAP. Entre os homens, um risco 6,6 vezes maior

de DAP foi encontrado para diabéticos em comparação com indivíduos não-

diabéticos. Prevalência de DAP foi elevada, considerando-se a baixa média de idade

da população estudada (44 ± 14,7 anos). Claudicação intermitente foi detectada em

uma minoria de pacientes com DAP, indicando um número considerável de

21

Passos VMA et al. The Bambuí Health and Aging Study (aBHAS): prevalence of intermittent claudication in the aged population of the community of Bambuí and its associated factors. Arq Bras Cardiol 2001;77:458-62. 22

Makdisse M et al. A risk score for predicting peripheral arterial disease in individuals 75 years or older. Arq Bras Cardiol 2007; 88(6):630-6. 23

Carmo WB et al. Doença arterial obstrutiva de membros inferiores em pacientes com doença renal crônica pré-dialítica. J Bras Nefrol 2007; 29(3):127-34. 24

Makdisse M et al. Prevalence and Risk Factors Associated with Peripheral Arterial Disease in the Hearts of Brazil Project. Arq Bras Cardiol 2008;91(6):370-382

23

indivíduos assintomáticos. Diabetes, obesidade, AVC e DCI foram os preditores mais

fortes de DAP.

A Tabela 8 mostra o resumo dos dados para a amputação de membros em

pacientes com diabetes tipo II. Não havia controles históricos de prevalência de

amputação de membros em pacientes de diabetes tipo II para comparar com o

piloto E.Health.

Tabela 8: Incidência anual e prevalência de amputação de membros em pacientes

diabéticos tipo II

% resultados no controle histórico * (Incidência) 0.18%

% resultados no piloto E.Health (Prevalência) 1,35%

*Baseado no registro regional de amputações na cidade do Rio de Janeiro de 1992-

1994. Fonte: Capture-recapture method to estimate lower extremity amputation

rates in Rio de Janeiro, Brazil. Rev Panam Salud Publica. 2001 Nov;10(5):334-40.

INFARTO DO MIOCÁRDIO

Alguns estados do Brasil têm uma elevada taxa de mortalidade por doença

isquêmica do coração, apesar dos leitos hospitalares disponíveis no Sistema Único de

Saúde (SUS). A capital do estado do Rio de Janeiro tem a maior rede hospitalar

pública do país, no entanto, o estado tem a segunda maior taxa de mortalidade

específica por doença isquêmica do coração no Brasil (68.44/100, 000 habitantes)25.

Os coeficientes de mortalidade por infarto do miocárdio em cidades

brasileiras, estratificados por idade, apresentam um perfil de risco que são

25

Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) e IBGE 2003. Available in:

http://www.datasus.gov.br.

24

diferentes daquelas observadas em outros países26. Cerca de 50% das mortes no

sexo masculino devido à doença da artéria coronária ocorrem na faixa etária <65

anos. Nos Estados Unidos, Cuba e Inglaterra, esse percentual é de cerca de 25%. Esta

alta mortalidade em faixas etárias mais jovens representa um importante impacto

socioeconômico para o Brasil, uma vez que promove uma retirada rápida do

indivíduo no mercado de trabalho. Uma hipótese para tal é a elevada mortalidade

por falta de acesso ao tratamento durante a fase aguda do enfarte do miocárdio.

A Tabela 9 mostra o resumo dos dados sobre infarto do miocárdio em

pacientes com hipertensão. Não havia controles históricos de prevalência de infarto

do miocárdio em pacientes com hipertensão para comparar com o piloto E.Health

Tabela 9: Risco Populacional Atribuível e Prevalência de infarto do miocárdio em

pacientes com hipertensão

Risco Populacional Atribuível no controle histórico* 43.2%

% resultados no piloto E.Health 0,59%

*Fonte: Lannas F et al. Risk Factors for Acute Myocardial Infarction in Latin America.

The INTERHEART Latin American Study. Circulation 2007;115:1067-1074.

HOSPITALIZAÇÃO EVITADA E REDUÇÃO DE CUSTOS

A análise do Piloto E.Health demonstrou diminuição da morbidade

cardiovascular para os pacientes hospitalizados por doença cardiovascular (Tabela

10). Houve uma redução relativa de 74% no risco de hospitalização, antes e após a

comparação dos dados de séries temporais e piloto E.Health. Para a perspectiva do

gestor e formulador de políticas de saúde, pode ser estimada uma redução de 360

26

Avezum A et al. Risk factors associated with acute myocardial infarction in the Sao Paulo

metropolitan region: a developed region in a developing country. Arq Bras Cardiol 2005; 84(3):206-13.

25

internações por mil pacientes tratados no piloto E.Health. Redução de custo é de

cerca de R$ 273.000,00 para cada 1000 pacientes tratados no piloto E.Health.

Tabela 10: Hospitalização por doença cardiovascular antes e após o Piloto E.Health

Hospitalização

% resultados no controle histórico * 49

% resultados no grupo piloto E.Health 12,5

Acompanhamento (meses) 12

Benefício absoluto por 100 pacientes no grupo piloto E.Health 36,5 (p < 0.05)

Média de custo por paciente internado R$ 750,00

Redução de custos por 100 pacientes no grupo piloto E.Health por

um ano

R$ 273.750,00

* Fonte: Rosa MLG et al. Análise da Mortalidade e das Internações por Doenças

Cardiovasculares em Niterói, entre 1998 e 2007. Arq Bras Cardiol 2011;96(6):477-

483

Indicadores econômicos, de processo e resultados relacionados

ao Projeto de m-health, no Rio de Janeiro

26

INDICADORES DE PROCESSO

1. Controle da Pressão Arterial (PA) < 140/90 mmHg em diabéticos e/ou hipertensos27

INDICADORES DE RESULTADO

2. Mortalidade

3. Disfunção renal [proteinúria patológica e/ou ↓clearance de creatinina clearance < 60ml/min)] em pacientes diabéticos e/ou hipertensos

4. Ocorrência de Acidente Vascular Cerebral ou Ataque Isquêmico Transitório

5. Ocorrência Síndrome Coronariana Aguda (SCA)

6. Ocorrência de fratura proximal do fêmur

INDICADORES ECONÔMICOS

RAZÃO DE CUSTO-CONSEQUÊNCIA INCREMENTAL

7. Custo monetário (R$) do paciente no m-health program por hospitalização evitada* (%)

8. Custo monetário (R$) do paciente no m-health program por controle da PA (mmHg)

9. Custo monetário (R$) do paciente no m-health program por evento cardiovascular evitado

10. Custo monetário (R$) do paciente no m-health program por fratura proximal do fêmur evitada

11. Custo monetário (R$) do paciente no m-health program por óbito evitado

ANÁLISE DE CUSTO-BENEFÍCIO

12. Custo monetário (R$) do paciente no m-health program por hospitalização cardiovascular evitada em valor monetário (R$)

13. Custo monetário (R$) do paciente no m-health program por hospitalização ortopédica evitada em valor monetário (R$)

*Hospitalização evitada: toda hospitalização relacionada à fratura por queda e

eventos cardiovasculares

Análise de Satisfação

Pacientes

27 Em idosos com valores muito elevados de PA sistólica, podem ser mantidos inicialmente níveis de

ate 160 mmHg

27

Considerando que a Estratégia Saúde da Família surgiu para reorientar o

modelo atual de saúde da atenção primária e de acordo com os princípios do

Sistema Único de Saúde, pudemos assistir a um novo desempenho dinâmico em

unidades básicas de saúde, a definição de responsabilidades entre os serviços de

saúde e da população.

Para o Programa de Saúde da Família, a família deve ser entendida de forma

holística e em seu espaço social, abordando seu contexto socioeconômico e cultural,

considerando que ocorrem nas famílias interações e conflitos que afetam

diretamente a saúde das pessoas28. Entre os serviços prestados pela CF, podemos

citar a visita domiciliar, que é um importante instrumento de aproximação entre os

profissionais e os pacientes atendidos pela CF. A visita domiciliar também foi o

principal instrumento de coleta de dados em nosso estudo.

De acordo com o Ministério da Saúde29, each cada nova estratégia de ação

proposta em serviços de saúde deve ser avaliada. Considerando o questionário de

satisfação como uma metodologia de avaliação, com base em seus resultados, o

mesmo pode ser entendido como uma resposta às necessidades da população e

uma ferramenta de treinamento para profissionais. Após a segunda visita, o paciente

ou responsável foi convidado a participar de uma pesquisa de satisfação (Anexo 3)

sobre a visita e sobre a mochila em particular. Para melhor compreensão, as

perguntas foram agrupadas: gráfico 1 mostra satisfação com visitas domiciliares e

28 rasil inistério da a de ecretaria de Assistência a de oordenaç o de a de da

om nidade a de da am lia ma estratégia para a reorientaç o do modelo assistencial ras lia inistério da a de, 1 7 29

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de Atenção Básica. Avaliação na Atenção Básica em Saúde. Barsília, DF, 2005

28

atendimento em geral e gráfico 2 mostra satisfação com a utilização da mochila.

Resultados nos gráficos:

Gráfico 1:

No primeiro gráfico, podemos ver que a avaliação geral é boa, de modo que o único

parâmetro que se destaca dos outros diz respeito a espera pelos os exames, 38% dos

pacientes avaliaram a espera como regular. As informações que recebemos da

Clínica da Família, é que os exames de sangue (glicose, triglicerídeos e colesterol) são

coletado duas vezes por semana (na Clínica da Família e na casa do paciente quando

necessário). O resultado leva em média três dias para sair na internet e então o

paciente pode acessar o seu resultado (o paciente recebe uma senha para acessar os

resultados de seu exame no momento da coleta), mas também o resultado é

impresso para a clínica e chega numa média de 7 a 10 dias após a sua coleta.

Gráfico 2

29

No segundo gráfico, podemos ver que 73% dos pacientes avaliaram

positivamente o uso do kit na visita domiciliar e 68% fizeram uma boa avaliação da

duração da visita (poderia ser uma visita demorada, considerando a variedade de

dispositivos).

Uma vez que a satisfação é uma medida subjetiva, centrada no usuário,

fatores psicossociais ganham importância na compreensão de satisfação. A

expectativa dos pacientes é, sem dúvida, um fator determinante na resposta à

avaliação, fatores como a satisfação com a vida em geral e da comunidade em que

reside, o nível de credibilidade de médicos na região, e o estado atual de saúde do

usuário , que podem intervir não apenas por gravidade, mas através da limitação

psicológica doença física, mental ou social resultante, tal como a depressão.

Houve um alto grau de satisfação dos usuários das visitas domiciliares na CF

estudada, podendo haver uma associação da satisfação com as seguintes variáveis:

duração da visita, frequência de visitas, o equipamento e a relação usuário-

profissional de saúde. Ressalta-se que o baixo nível de escolaridade e baixa renda

30

familiar dos usuários podem estar favorecendo o julgamento de satisfação com o

serviço de saúde, pois o usuário tende a ser mais condescendente com o

atendimento recebido.

Além disso, no Brasil precisamos considerar as desigualdades sociais que

afetam a compreensão do questionário. Como consequência do atraso na escola,

incluindo o público-alvo do nosso estudo, hoje vemos o envelhecimento progressivo

do grupo mais afetado pelo analfabetismo no País30.

Este fator também influencia a percepção do paciente sobre o que é uma

visita com a mochila. Os pacientes que costumavam ser visitados, são pacientes com

múltiplas comorbidades, e que na maioria dos casos não tem condições sócio-

culturais para entender a diferença entre as visitas. E como se trata de uma

população em envelhecimento, há viés de memória, quando realizamos a segunda

visita muitos deles não se lembravam da primeira visita com a mochila.

De acordo com Esperidião, os pacientes sentem-se satisfeitos,

independentemente da boa qualidade do atendimento recebido e a insatisfação se

manifesta apenas em eventos extremamente negativos. Portanto, a satisfação não

indica que a assistência foi boa, mas que não era "muito ruim"31.

Apesar desses fatores determinantes, o PSF constitui uma política inovadora

que tem como objetivo reduzir as desigualdades sociais e possibilitar uma cobertura

30

Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Síntese de indicadores sociais Uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Brasília, 2012. Disponível em ftp://ftp.ibge.gov.br/Indicadores_Sociais/Sintese_de_Indicadores_Sociais_2012/SIS_2012.pdf 31

Espiridião MA, Trad LAB. Avaliação de satisfação de usuários: considerações teórico-conceituais Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(6):1267-1276, jun, 2006

31

mais igualitária. Assim, é possível que a ESF esteja contribuindo para reafirmar a

igualdade, um princípio do SUS que visa reduzir as desigualdades existentes entre os

grupos que apresentam diferentes condições socioeconômicas, considerando as

necessidades de cuidados de saúde. Mudanças no modelo de atenção à saúde e a

implementação da Estratégia de Saúde da Família parecem produzir um impacto

positivo e progressivo das condições de saúde da população mais pobre, uma vez

que tem como objetivo reduzir as disparidades e promover a equidade.

Profissionais

Propomos uma análise de satisfação da equipe profissional. No total, seis

profissionais responderam ao questionário, os quais usaram diretamente o kit.

O gráfico a seguir apresenta a experiência do usuário a partir da perspectiva

do profissional.

32

Considerando que o gráfico pode apenas dar-nos uma impressão do que os

profissionais pensam sobre o projeto, uma vez que é uma análise subjetiva,

podemos ver que em geral, tivemos uma boa avaliação para o uso do kit.

Para uma melhor compreensão sobre a pior avaliação, o treinamento, pode-

se supor que é por causa do excesso de treinamento. Apesar da formação ser muito

boa, houve muitos treinamentos, às vezes marcados e cancelados, exigindo ausência

de atividades de trabalho.

Embora a avaliação seja subjetiva, a opinião dos profissionais é

extremamente importante, uma vez que apresentam uma visão técnica,

contextualizada, que conhece a rotina atual da Clínica da Família e os impactos

gerados pelo uso de uma nova tecnologia, o kit.

DISCUSSÃO

No ano de 2008, 63% das mortes no mundo foram causadas por DCNT. A

Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou em 2010 um relatório indicando que

Países de baixa e média renda estão apresentando aproximadamente 80% de

encargos com doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e doenças respiratórias. O

mesmo documento identifica a atenção primária como a melhor estrutura para

implementação de ações baseadas em evidências para prevenção de agravos em

saúde32.

32 WHO. Global status report on noncommunicable diseases – WHO, 2010. Available in:

<http://whqlibdoc.who.int/publications/2011/9789240686458_eng.pdf > Access January 15th

2012

33

As doenças crônicas como doenças as cardiovasculares (DCV) são apontadas

pelo MS como a principal causa de morte entre brasileiros. Em 2007, cerca de 72%

das mortes no Brasil foram atribuídas às DCNT (doenças respiratórias crônicas,

diabetes, câncer, doenças cardiovasculares entre outras). Entre os idosos acima de

60 anos, insuficiência cardíaca congestiva é a causa mais comum de internações

hospitalares 33.

Com meta estabelecida pela OMS, de redução de 25% de mortes evitáveis

em 2025 por doenças crônicas, os sistemas de saúde precisam passar por

transformações, abordando os determinantes sociais da saúde, sendo capazes de

melhorar a gestão dos fatores de risco e reduzindo as comorbidades34. É essencial

encontrar soluções que criem sinergias entre os investimentos nos países de baixa e

média rendas para diversas doenças.

Em países com dificuldades sociais e de acesso aos serviços de saúde,

alternativas precisam ser criadas para garantir que o paciente vai ser assistido

quando ele precisar. Níveis de atenção primária associados à prestação de serviços,

podem ser soluções iniciais para a saúde nas áreas mais pobres e carentes. O

Programa Saúde da Família do Brasil tem sido citado como um exemplo de prestação

de serviços e abordagem integrada, sugerindo que a expansão do programa foi um

dos principais contribuintes para o decréscimo registrado na mortalidade.35.

Serviços de saúde e facilidade de acesso chegam para o paciente, sua casa e

sua família36. A inserção da Clínica da Família em comunidades carentes aumentou

da cobertura de cuidados e tem sido associada também com o aumento da demanda

33

Schmidt MI et al. Chronic non-communicable diseases in Brazil: burden and current challenges. Available in: www.thelancet.com Published online May 9, 2011 DOI:10.1016/S0140-6736(11)60135-9 34 WHO. 65th World Health Assembly. Prevention and control of non-communicable diseases.

Geneva: World Health Organization, 2012. http://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/WHA65/A65_6-en. pdf (accessed Sept 20, 2012). 35

Atun R. Improving responsiveness of health systems to non-communicable diseases. www.thelancet.com. Vol381 February23,2013 36

Aquino R et al. Impact of the Family Health Program on infant mortality in Brazilian municipalities. Am J Public Health 2009; 1: 87–93

34

por serviços de cuidados primários, a redução de hospitalizações evitáveis por

doenças não transmissíveis37 e melhores resultados em termos de saúde geral38.

LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Algumas limitações sobre os métodos utilizados neste estudo merecem uma análise

mais aprofundada. Nós usamos uma comparação entre o controle histórico e a

amostra do Programa Saúde da Família. Existem fatores de confusão (por exemplo,

características socioeconômicas diferentes), mas encontramos uma grande

magnitude do efeito em resultados, tais como acidente vascular cerebral e

insuficiência cardíaca. De acordo com o Grading of Recommendations Assessment,

Development and Evaluation (GRADE) 39,40 o sistema de graduação da evidência,

quando você tem uma grande magnitude de efeito, este é um fator que pode

aumentar a qualidade de evidências baseadas em estudo observacional. Além disso,

a escolha dos desfechos duros finais ao invés de marcadores substitutos é outra

questão comentada pelo Grupo de Trabalho GRADE como uma estratégia para obter

uma boa evidência.

Finalmente, os indicadores de saúde do Programa Saúde da Família na Comunidade

Dona Marta são melhores do que outras comunidades do Rio de Janeiro. Então, nós

não temos uma boa validade externa para extrapolar os resultados para todos.

CONCLUSÃO

Foi realizada uma análise de custo-consequência a partir da perspectiva do

Sistema Único de Saúde brasileiro, para comparar a estratégia do projeto piloto

E.Health em um nível de atenção primária realizada pela Clínica de Saúde da Família,

versus a abordagem convencional (controle histórico). Nosso objetivo foi avaliar se o

custo inicial com o conjunto de equipamentos do Piloto E.Health resultaria em uma

37

Rocha R et al. Evaluating the impact of community-based health interventions: evidence from razil’s famil health program Health Econ 2012; 19: 126–58. 38

Macinko J et al. Major expansion of primary care in Brazil linked to decline in unnecessary hospitalization. Health Aff (Millwood) 2010; 29: 2149–60. 39

Guyatt GH et al. GRADE: an emerging consensus on rating quality of evidence and strength of recommendations BMJ 2008;336:924-926. 40

Guyatt GH et al A Jo rnal l 6 | Vol me 1 • N m er 1

35

diminuição nos custos posteriores, como a necessidade de re-internação hospitalar e

os procedimentos realizados para melhor controle de doenças no nível da atenção

primária. Conclui-se que, ao adotar a estratégia de Piloto E.Health, no cenário do

sistema público de saúde, a morbidade pode ser reduzida para estes pacientes. Os

resultados do piloto E.Health mostraram benefícios clínicos aos pacientes e

econômicos aos gestores de saúde.

ANEXO 1

FICHA CLÍNICA:

Nome do paciente:

Gênero: Idade:

Altura: Peso:

Temperatura:

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HGT: Triglicerídeos:

Colesterol:

Pulso: Saturação:

Pressão arterial: Circunferência abdominal:

ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO DE CUSTOS

NOME COMPLETO EQUIPE DATA Utilização de recursos físicos e humanos na Clínica da Família Santa Marta Internação nos últimos 12 meses ( ) sim ( ) não Número de diárias ______ Diárias de UTI ______ Exames complementares realizados ambulatorialmente nos últimos 12 meses:

Exames Nº de exames realizados nos últimos 12 meses

Quem pagou ?

Ecocardiograma uni e bidimensional com Doppler

Radiografia de tórax

Cinecoronariografia

Eletrocardiograma

Ultrasonografia de abdômen

Ultrasonografia de Membros Inferiores

Ultrasonografia de Carótidas

37

Sódio sérico

Creatinina sérica

Cintilografia miocárdica

Uréia

Ácido úrico

Hemograma

TAP

Potássio sérico

Outros:

Exames complementares realizados durante a internação hospitalar:

Exames Nº de exames realizados nos últimos 12 meses

Quem pagou ?

Ecocardiograma uni e bidimensional com Doppler

Radiografia de tórax

Cinecoronariografia

Eletrocardiograma

Ultrasonografia de abdômen

Ultrasonografia de Membros Inferiores

Ultrasonografia de Carótidas

Sódio sérico

Creatinina sérica

Cintilografia miocárdica

Uréia

Ácido úrico

Realizou cirurgia(s) nos últimos 12 meses ? ( ) sim ( ) não Qual ? ____________________________________________________________________ Dias de trabalho perdidos em decorrência da doença: _____ dias Transporte para consulta e/ou realização de exames: ( ) carro ( ) ônibus ( ) barca ( ) van ( ) metrô ( ) outros ___________________ Nº de acompanhantes ______ Gasto por deslocamento para o ambulatório ________ Nº de idas ao atendimento (Pronto-socorro + ambulatório + internação + realização de exames) _______ Aluguel ( ) sim ( ) não Quanto pagava por mês nos últimos 12 meses _______ Outras visitas em outros hospitais (públicos e/ou privados) – Especificar o local de

38

atendimento Nº de consultas _______ Nº de internações ________ Precisou de atendimento de outros profissionais de saúde?

Atendimento de outros profissionais

Numero de consultas Quem pagou?

Fisioterapia

Fonoaudiologia

Psicologia

Dentista

Serviço Social

ANEXO 3

INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO DOS USUÁRIOS

1) Dados de identificação:

Nome completo: Idade:

Endereço:

Motivo da visita:

Equipe que é atendido:

2) Uso dos serviços da Clínica da Família

Você já foi pessoalmente à Clínica da Família?

SIM NÃO

É a primeira vez que você recebe atendimento em casa?

SIM NÃO

Você já realizou exames pela Clínica da Família?

SIM NÃO

3) Acesso aos serviços da Clínica da Família PERGUNTA PÉSSIMO RUIM REGULAR BOM ÓTIMO NÃO

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AVALIEI

O que você acha da visita domiciliar

Tempo de espera entre uma visita e

outra

Tempo de espera para realizar os

exames solicitados pelo médico

Em sua opinião a assistência

prestada foi

O uso dos equipamentos da maleta

As explicações para o uso da maleta

Tempo de consulta no atendimento

com a maleta

Facilidade no atendimento com a

maleta

Você ficou satisfeito com o

atendimento com a maleta

Qual sua avaliação geral da consulta