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CIÊNCIA LABORATÓRIO MUNDO Sabemos, intuiti- vamente, que o contato com flores e plantas faz bem à saúde. Quase nin- guém duvida de que a jardinagem- ou a simples con- templação de uma bela paisagem - traz renovação fí- sica e mental. Mas como explicar es- se efeito? Em um estudo publicado em junho no [our- nal of Environ- mental Psychology, Terry Hartig, da Universidade de Uppsala, na Suécia, concluiu que as pessoas se recuperam mais rapida- mente do estresse quando entram em contato com a natureza. E, o que é melhor, esse restabelecimento ocor- re em poucos segundos • O protozoário mutante Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, conseguiram criar uma versão geneticamente modificada do parasita cau- sador da leishmaniose, doen- ça que atinge 2 milhões de pessoas por ano, principal- mente nos países pobres. Desprovido de moléculas co- nhecidas como fosfoglicanos, o protozoário mutante do gê- nero Leishmania mostrou-se perfeitamente apto a sobrevi- Mais verde, menos estresse (The Wall Street [ournal, 26 de agosto). Hartig subme- teu 112 jovens a uma série de tarefas estressantes - en- tre elas, dirigir um auto- móvel por um local desco- nhecido. Os participantes, ver no organismo de um hos- pedeiro por tempo indeter- minado sem torná-lo doente (Science, 29 de agosto). Em sua versão natural, o parasita - transmitido aos homens e aos animais pela picada do mosquito flebótomo - conse- gue permanecer inativo du- rante longos períodos, reati- vando-se apenas para agravar os sintomas agudos da leish- maniose, que vão de leves ulcerações cutâneas a gravís- simas lesões nos órgãos inter- nos. Os pesquisadores espe- ram que o parasita mutante possa ajudá-los a compreen- 32 • OUTUBRO DE 2003 PESQUISA FAPESP 92 Contato com plantas: efeito comprovado até na recuperação de cirurgias que, depois disso, descan- saram em uma sala com vista para uma paisagem arborizada e, em seguida, passearam por um local com árvores; recobraram o ânimo e experimentaram der os mecanismos usados pela Leishmania para escapar do sistema imunológico ea desenvolver vacinas e trata- mentos mais eficazes para combatê-Ia. • O cigarro, o DNA e o câncer de pulmão Se fumar é normalmente pre- judicial à saúde, esse hábito pode causar danos ainda mais graves para as pessoas com problemas de reparo no ma- terial genético (DNA) das cé- lulas: os membros desse grupo apresentam uma probabilida- uma redução na pressão arterial em menos tempo do que as pessoas que se sentaram em uma sala sem ja- nelas e depois ca- minharam por uma área urbanizada. De acordo com ou- tra pesquisa, a sim- ples contemplação de paisagens natu- rais auxilia na reabi- litação de pessoas recém-operadas. Roger Ulrich, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, constatou que os pacientes internados em quartos com vista para a natureza se re- cuperam mais prontamente da cirurgia, em compara- ção com aqueles que fica- ram em um lugar sem essa vista privilegiada. de até 124 vezes maior de de- senvolver câncer de pulmão do que as pessoas que não fu- mam. Pesquisadores do Insti- tuto de Ciências Weizmann, em Israel, investigaram em 68 pacientes fumantes e 68 não- fumantes a atividade da enzi- ma OGG, uma das proteína associadas à correção de de- feitos no DNA (Journal of the National Cancer Institute). Verificaram que a ação da en- zima é rigorosamente a mes- ma nos dois grupos. Mas os problemas aparecem quando, a uma capacidade reduzida de regeneração do DNA por

Mais verde, menos estresse - revistapesquisa.fapesp.brrevistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2003/10/tecnociência... · mente do estresse quando entram em contato com a natureza

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• CIÊNCIA

LABORATÓRIO MUNDO

Sabemos, intuiti-vamente, que ocontato com florese plantas faz bem àsaúde. Quase nin-guém duvida deque a jardinagem-ou a simples con-templação de umabela paisagem -traz renovação fí-sica e mental. Mascomo explicar es-se efeito? Em umestudo publicadoem junho no [our-nal of Environ-mental Psychology,Terry Hartig, daUniversidade deUppsala, na Suécia,concluiu que as pessoas serecuperam mais rapida-mente do estresse quandoentram em contato com anatureza. E, o que é melhor,esse restabelecimento ocor-re em poucos segundos

• O protozoáriomutante

Pesquisadores da Escola deMedicina da Universidade deWashington, nos EstadosUnidos, conseguiram criaruma versão geneticamentemodificada do parasita cau-sador da leishmaniose, doen-ça que atinge 2 milhões depessoas por ano, principal-mente nos países pobres.Desprovido de moléculas co-nhecidas como fosfoglicanos,o protozoário mutante do gê-nero Leishmania mostrou-seperfeitamente apto a sobrevi-

Mais verde, menos estresse

(The Wall Street [ournal, 26de agosto). Hartig subme-teu 112 jovens a uma sériede tarefas estressantes - en-tre elas, dirigir um auto-móvel por um local desco-nhecido. Os participantes,

ver no organismo de um hos-pedeiro por tempo indeter-minado sem torná-lo doente(Science, 29 de agosto). Emsua versão natural, o parasita- transmitido aos homens eaos animais pela picada domosquito flebótomo - conse-gue permanecer inativo du-rante longos períodos, reati-vando-se apenas para agravaros sintomas agudos da leish-maniose, que vão de levesulcerações cutâneas a gravís-simas lesões nos órgãos inter-nos. Os pesquisadores espe-ram que o parasita mutantepossa ajudá-los a compreen-

32 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

Contato com plantas: efeito comprovado até na recuperação de cirurgias

que, depois disso, descan-saram em uma sala comvista para uma paisagemarborizada e, em seguida,passearam por um localcom árvores; recobraramo ânimo e experimentaram

der os mecanismos usadospela Leishmania para escapardo sistema imunológico e adesenvolver vacinas e trata-mentos mais eficazes paracombatê-Ia. •

• O cigarro, o DNA e ocâncer de pulmão

Se fumar é normalmente pre-judicial à saúde, esse hábitopode causar danos ainda maisgraves para as pessoas comproblemas de reparo no ma-terial genético (DNA) das cé-lulas: os membros desse grupoapresentam uma probabilida-

uma redução napressão arterial emmenos tempo doque as pessoas quese sentaram emuma sala sem ja-nelas e depois ca-minharam por umaárea urbanizada.De acordo com ou-tra pesquisa, a sim-ples contemplaçãode paisagens natu-rais auxilia na reabi-litação de pessoasrecém-operadas.Roger Ulrich, daUniversidade doTexas, nos EstadosUnidos, constatouque os pacientes

internados em quartos comvista para a natureza se re-cuperam mais prontamenteda cirurgia, em compara-ção com aqueles que fica-ram em um lugar sem essavista privilegiada. •

de até 124 vezes maior de de-senvolver câncer de pulmãodo que as pessoas que não fu-mam. Pesquisadores do Insti-tuto de Ciências Weizmann,em Israel, investigaram em 68pacientes fumantes e 68 não-fumantes a atividade da enzi-ma OGG, uma das proteínaassociadas à correção de de-feitos no DNA (Journal of theNational Cancer Institute).Verificaram que a ação da en-zima é rigorosamente a mes-ma nos dois grupos. Mas osproblemas aparecem quando,a uma capacidade reduzidade regeneração do DNA por

carência dessa enzima, seacrescenta o tabagismo, oprincipal fator de risco paradesenvolver câncer de pul-mão. •

• O mapa dagravidade na Terra

Saiu o primeiro resultadodo Grace (Gravity Reco-very and Climate Experi-ment), projeto conjuntoentre as agências espaciaisdos Estados Unidos e da Ale-manha: é o mais detalhadomapa da gravidade terrestre,feito a partir de dois satélitesidênticos lançados em marçode 2002. De imediato, o tra-balho deverá ajudar os ocea-nógrafos a entender melhor acirculação das correntes oceâ-nicas profundas, que influen-ciam o tempo e o clima. Asáreas vermelhas do modeloacima indicam as regiões nasquais a atração gravitacionalda Terra é mais forte. •

• Pequenos tremores,grandes estragos

As grandes falhas da crostaterrestre podem ser compara-das à fileira de botões de umacamisa apertada: basta saltaro primeiro e os outros se des-garram. Cada botão que voaequivale a um grande terre-moto que, ao surgir em al-gum ponto do planeta, de-sencadeia uma série de abalosmenores até dar origem a umnovo tremor de grandes pro-porções. Por isso, ao traçarseus mapas projetando a lo-calização e a intensidade deterremotos futuros, os geofí-sicos tendem a concentrar-senos tremores maiores e a con-siderar os menores como ati-vidade sísmica secundária.Em estudo recente, porém,Agnes Helmstetter, da Uni-versidade da Califórnia, emLos Angeles, Estados Uni-

dos, sugere que esse métodopode comprometer a preci-são do prognóstico (PhysicalReview Letters, 10 de agosto).

Depois de analisar os regis-tros de todos abalos secun-dários ocorridos nos últimos28 anos no sul da Califórnia,

Sob o olhar de Newton:forma de conhecer melhor

o clima no planeta

Agnês concluiu que a rela-ção entre a magnitude deum terremoto e o núme-ro de abalos secundários

provocados por ele não édiretamente proporcional.Segundo seus cálculos, o

fator alfa, que determinaessa relação, não é 1, como se

acreditava, mas 0,8. Isso querdizer, por exemplo, que o do-bro de determinada magni-tude não causaria necessaria-mente o dobro dos abalossecundários e que a todo aba-lo secundário também cor-responde uma atividade sís-mica própria - e importanteo bastante para repercutirnos grandes terremotos. •

o gene sexual das abelhasPara ser fêmea, uma abelhatem de nascer com ao me-nos duas versões distintasde um gene chamado csd(determinador complemen-tar do sexo). O macho sóprecisa de uma ou, even-tualmente, duas cópias damesma versão desse gene,que existe em uma dúziade variações diferentes. Aexistência do csd foi pro-posta há 50 anos, mas sóagora ele foi identificadopelo entomologista RobertPage, da Universidade daCalifórnia, em Davis (Cell,22 de agosto). Em abelhas,vespas e formigas - o gru-po de insetos chamados hi-menópteros -, os ovos fer-tilizados geram fêmeas. Osmachos não têm pai, querdizer, nascem de ovos não-fertilizados. A vida socialcomplexa desses insetos -que vivem em colônias comraras fêmeas reprodutoras,

Vida ou morte: machos estéreis são devorados

muitas trabalhadoras e umpunhado de machos ocio-sos - é em grande parte co-mandada pela atividade docsd. As abelhas-rainhas co-pulam com muitos machos- talvez para garantir a mis-tura de genes. Ninguémsabe por que o sistema re-produtivo desses insetosevoluiu assim. Uma hipó-tese é que favoreça as fême-as incapazes de encontrar

machos na natureza. Assim,elas conseguem gerar ma-chos com os quais possamcopular mais tarde. Mas aendogamia tem um preço.Se a fêmea copula com ummacho que carrega um csdigual ao dela, metade da crianasce estéril e é devoradapelas operárias. O próximopasso é descobrir por queversões idênticas do csd nãofuncionam juntas. •

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 33

Remédios provocam quedas de idososDelineia-se um grave riscopara a qualidade de vida daspessoas idosas: o uso exces-sivo de medicamentos elevaa incidência de quedas. Aconclusão emerge de um es-tudo coordenado por SuelyRozenfeld, pesquisadora daEscola Nacional de SaúdePública (ENSP), da FundaçãoOswaldo Cruz (Fiocruz), doRio de Janeiro, e publicadona Revista Panamericana deSalud Publica. Suely entrevis-tou 634 mulheres com maisde 60 anos, freqüentadoras

• Escova de baixocusto aprovada

Uma escova dental de baixocusto, cujo corpo e cerdas sãofeitas de um único materialplástico, foi aprovada numteste realizado pelas pesqui-sadoras Symonne Parizotto eCélia Regina Rodrigues, daFaculdade de Odontologia daUniversidade de São Paulo(USP). Conhecida como mo-nobloco e desenvolvida porPedro Bignelli, professor daUSP de Ribeirão Preto, essa

da Universidade Aberta daTerceira Idade, no Rio de Ja-neiro. Apenas 9,1% delasrelataram que não haviamtomado medicamentos nos15 dias anteriores. No outrogrupo, 52,7% usaram de 1 a4 medicamentos, 34,4% de5 a 10 remédios diferentes e3,8%, de 11 a 17 medicamen-tos. No universo de entrevis-tadas, 23,3% tinham sofridouma queda nos 12 meses an-teriores e 14%, duas ou mais.Dois tipos de medicamentosmostraram-se mais ligados

escova custa em média 15%do preço de uma escova ven-dida em farmácias. A pesqui-sa que comparou os dois tiposde escova envolveu 32 crian-ças de 4 a 6 anos de idade dacidade de Campo Grande,Mato Grosso do Sul. Ambasas escovas apresentaram amesma capacidade de remo-ver a placa bacteriana, embo-ra cerca de 60% dos depósitosde placa tenham persistidoapós a escovação, nas duas si-tuações. "As crianças nessaidade ~inda possuem uma

A monobloco:com ou semcreme dental,o mesmo efeito

34 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

à ocorrência de tombos. Oprimeiro são os beta-blo-queadores, que combatem ahipertensão e problemas car-diovasculares e podem pro-vocar episódios de pressãoarterial baixa. O outro gru-po são os tranqüilizantes. Aincidência de tombos recor-rentes foi duas vezes maiorentre os consumidores debeta-bloqueadores e 4,9 ve-zes maior entre os usuáriosde sedativos, comparados àsidosas que não usavam taisdrogas. "Muitas dessas que-

coordenação motora precá-ria", comenta Célia Regina,que é professora de Odonto-pediatria da USP, alertandopara a importância da super-visão dos pais na escovaçãodurante essa fase. O estudotambém comparou o desem-penho da escova mono blocousando-se ou não pasta dedente. Surpreendentemente,constatou-se que o uso dodentifrício (creme dental)não fez nenhuma diferençana remoção dos depósitos deplaca. "Imaginávamos que odetergente das pastas de den-te poderia ajudar na remo-ção, mas não houve diferen-ça': diz a pesquisadora. Osresultados da pesquisa, publi-cados recentemente na revis-ta Pesquisa Odontológica Bra-sileira, mostram o potencialda escova monobloco, sobre-tudo para populações caren-tes. Mas não se deve inter-pretar esses dados corno umacondenação à pasta de dente."Os dentifrícios contêm flúore seu uso é fundamental narealização da higiene bucal",afirma Célia Regina. •

das poderiam ser evitadascom um uso mais racionaldos remédios", diz a pesqui-sadora. "Vivemos numa so-ciedade que se deixou medi-calizar, um problema queatinge todos, não só aos ido-sos." Suely critica sobretudoo abuso dos tranqüilizantes,em geral, "usados para tra-tar problemas de ordem so-cial, não médica", afirma.Dados dos Estados Unidosmostram que 42% dos ido-sos que sofrem quedas têmde ser hospitalizados. •

• A análise de genesdo eucalipto

Começou há dois meses otrabalho de data mining (ga-rimpagem de dados) do ge-noma do eucalipto, mapeadopor laboratórios e empresaspaulistas no âmbito do proje-to Forests - Eucalyptus Geno-me Sequencing Project Con-sortium. As descobertas jácomeçam a aparecer: um gru-po de pesquisadores da Uni-versidade Estadual Paulista(Unesp), de Botucatu, desco-briu um gene que pode con-ferir resistência a um herbici-da. De modo geral, o que sebusca são formas de melho-rar a qualidade da madeirapara celulose e a produção deaglomerados de madeira, alémde aplicações em outros cam-pos, como a indústria farma-cêutica. Dessa etapa da pe-quisa, que deve terminar emjaneiro do próximo ano, par-ticipam grupos de pesquisa deoito estados - Alagoas, Ceará,Pernambuco, Rio de Janeiro,Rio Grande do Norte, RioGrande do Sul, Santa Catari-

na e São Paulo - sob a coor-denação de Luis Camargo eHelaine Carrer, da Escola Su-perior de Agricultura Luiz deQueiroz (Esalq), da Universi-dade de São Paulo (USP). •

á

a• A poluição na

gênese dos raiosMetrópoles de todo o mundosão fustigadas por uma quan-tidade cada vez maior de raiosnão apenas por causa do fe-nômeno conhecido comoilhas de calor - o aumento natemperatura de regiões ur-banas causado pela imper-meabilização do solo e asconstruções de concreto. "Apoluição atmosférica tam-bém tem um papel impor-tante na incidência crescentede raios", sustenta OsmarPinto Iúnior, com base em

e

e

um estudo feito com outrosdois pesquisadores do Insti-tuto Nacional de PesquisasEspaciais (Inpe), Kleber Nac-carato e Iara de Almeida Pin-to e publicado na revista Geo-physical Research Letters. Elesacompanharam as tempesta-des entre os verões de 2000

e 2002 em três regiões metro-politanas do Estado de SãoPaulo - a capital, Campinase São José dos Campos - ecomprovaram o aumento naincidência de raios: juntas, astrês regiões foram alvo de 310mil raios no período analisa-do e amargaram uma densi-dade de descargas elétricas de60% a 100% maior que emregiões próximas menos ur-banizadas. Tais dados combi-navam com a teoria das ilhasde calor. Mas o estudo especí-fico da Região Metropolitanade São Paulo revelou que osraios se intensificavam sem-pre que as partículas em sus-pensão no ar se avolumavam,segundo medições realiza-das pela Companhia de Tec-nologia de Saneamento Am-biental (Cetesb). Acredita -seque a poluição exerça umduplo efeito sobre as tempes-tades. De um lado, colaborapara a elevação da tempera-tura, potencializando as ilhasde calor. De outro, as partí-culas em suspensão formamnúcleos de condensação naatmosfera, que fazem comque mais moléculas de vapord'água se agreguem nas nu-vens .e mais partículas degelo sejam formadas. A fric-ção entre essas partículasproduz cargas elétricas que seacumulam - e vão converter-se em raros.

Perigo urbano: partículas no ar atraem descargas elétricas

• Os vermespersistentes

Um estudo realizado no mu-nicípio alagoano de Barra deSanto Antônio, a 40 quilôme-tros de Maceió, reafirma umaantiga equação dos sanitaris-tas: sem investir em saneamen-to básico e educação sanitária,é impossível combater as ver-minoses em comunidades po-bres. Gilberto Fontes e ElianaMaurício da Rocha, da Uni-versidade Federal de Alagoas,avaliaram a prevalência de pa-rasitoses intestinais entre 1.020alunos da 13 a 43 séries da re-de de ensino da cidade, numtrabalho financiado pela Fun-dação de Amparo à Pesqui-sa do Estado de Alagoas (Fa-peal). O exame parasitológicode fezes mostrou que 938 es-tudantes (92%) estavam con-taminados - e 767 traziam atéoito tipos de vermes ao mes-mo tempo, o chamado poli-parasitismo. As crianças foramtratadas com medicamen-tos contra as verminoses. Seismeses depois, os pesquisa-dores retomaram e reexami-naram uma amostra de 383estudantes. Pois 347 (nova-mente mais de 90%) estavamoutra vez contaminados e 281apresentavam até seis tiposde vermes. Segundo esse estu-do, aceito para publicação naRevista da Sociedade Brasi-leira de Medicina Tropical, oúnico ganho foi uma reduçãono grau de poliparasitismo."Não houve uma diferençasignificativa antes e depois detratamento, o que revela a ne-cessidade de investir em sa-neamento na melhoria dascondições socioeconômicasda população", diz Fontes.Cidade turística com praiasbelíssimas, Barra de SantoAntônio é um dos municí-pios mais pobres de Alagoas:apenas 1,2% das casas têmsaneamento básico. •

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 35

ITECNOLOGIA

• LINHA DE PRODUÇÃO MUNDO

Interferências na formação de cristais

Com a ajuda de simulaçõesde computador e de colegasna Hungria e na França, pes-quisadores do Instituto Na-cional de Ciência e Tecno-logia dos Estados Unidos(Nist, sigla em inglês) con-seguiram avançar no en-tendimento de como par-tículas estranhas - sejamimpurezas ou não - inter-ferem nos padrões de for-mação dos cristais. Primei-

Impurezasdefinem asmudançasde padrão

ro, eles descobriram que assimulações de computadordesenvolvidas para projetara formação de ligas metáli-cas tinham impressionantesemelhança com as imagensde cristais reais formadas emfilmes de polímeros bemmais finos que um fio de ca-belo. Em ambos os casos,encontravam-se partículasdispostas de maneira alea-tória, que os cientistas ape-

dos Estados Unidos anuncioua invenção de um receptordigital que promete comuni-car-se com todos os sistemasatualmente em uso. Alta pre-cisão e velocidade de processa-mento permitirão a esses apa-relhos administrar a recepçãode uma multiplicidade de si-nais simultâneos nas maisamplas larguras de banda.Deborah Van Betchen, dire-tora da divisão de eletrônicada Agência de Pesquisa Naval,diz que a Hypres - empresa

62 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

• Receptor captasinais múltiplos

Quem ainda se recorda da afli-ção, há dois anos, do pessoaldas equipes de resgate tentan-do comunicação por rádiodepois do ataque às torres gê-meas, em Nova York, conse-gue imaginar o que significa-ria uma comunicação livredos sinais cruzados e da in-compatibilidade de sistemas.Em setembro, a Agência dePesquisa Naval da Marinha

lidaram de "dendritos zon-zos': E os três eixos do cris-tal tendiam à assimetria, di-ferentemente do que ocorrenos cristais puros, que ten-dem a ser regulares e simé-tricos. Simulações posterio-res mostraram que a rotaçãoconjunta das partículas du-rante o processo de cristali-zação leva à produção dedendritos espiralados. Já aalternância de fileiras de par-

do Estado de Nova York quese encarregará da fabricaçãodos novos receptores - desen-volverá um protótipo doaparelho capaz de "digitali-zar" simultaneamente todosos sinais nas faixas mais críti-cas para a comunicação mili-tar (HF e VHF) e filtrará ossinais com a ajuda de umsoftware. O controle por soft-ware, aliás, é fundamentalpara o uso combinado comum sistema tático de rádio(JTRS, em inglês) que o De-

tículas de uma direção paraoutra produz padrões emziguezague. Os pesquisado-res acreditam que esses pa-drões complexos possam serreproduzidos experimental-mente. As sugestões vão des-de a utilização de um rolopara imprimir um padrãono cristal em formação até oemprego de campos eletro-magnéticos externos ou laserorientando as partículas. •

partamento de Defesa con-cebeu e já está a caminho. Osrádios JTRS, também equipa-dos com tecnologia digital,substituirão os modelos ana-lógicos, com o objetivo de re-duzir custos e a complexida-de dos aparelhos. •

• Investimento emtecnologia sem fio

Oito novos projetos - que vãodesde a transmissão multi-mídia via redes sem fio até a

investigação de novos espaçosde banda ultralarga para co-municação sem fio e redes desensores inteligentes - foramcontemplados com US$ 3,5milhões nos Estados Unidos.Além da fundação estatal Dis-covery Grants, um consórcioque reúne as empresas Erics-son, Hewlett-Packard, IBM,Intersil, Nokia e Texas Instru-ments, entre outras, financiaa iniciativa. Os estudos, quecomeçaram em agosto, são deresponsabilidade de 20 pes-quisadores da Iacobs Schoolof Engineering da Universi-dade da Califórnia, em SanDiego (UC San Diego NewsRelease, 28 de agosto). Entreos projetos consta um sobreespaços de banda ultralargapara comunicação sem fio,que investigará a possibili-dade de projetar sistemas ca-pazes de suportar conexõescom mais de 100 megabitspor segundo e por usuário.Também serão estudados osprotocolos de configuraçãode comunicação e as arquite-turas sem fio das redes de te-lefonia e de Internet. Outroprojeto escolhido vai tratardas redes de sensores paracaptura de imagens e intera-tividade. O objetivo é exami-nar os principais problemasque surgem quando os senso-res dos equipamentos de te-

.lecomunicações abrangemáreas muito grandes. •

• Laser quebrabarreira do quilowatt

Uma importante invenção nocampo da tecnologia do la-ser, com capacidade para libe-rar mais de 1 quilowatt (kW)de força com um feixe de altaqualidade em fibra única, foidesenvolvida pelo Centro dePesquisa Optico- Eletrônicada Universidade de Southam-pton, na Inglaterra. As fibrase amplificadores de laser sãofilamentos de vidro transpa-rente um pouco mais espes-sos que um fio de cabelo. Fo-ram criadas em meados dosanos 80 na própria universi-dade a partir de fibras ópti-cas de telefonia. Para produ-zir laser, o minúsculo núcleoda fibra recebe uma cargade íons semelhante à utiliza-da nos grandes lasers indus-triais. Surpresos, os pesqui-sadores descobriram que atímida luminescência das fi-bras que alimentam a Inter-net pode ascender à escalado quilowatt - potência su-ficiente para cortar uma pla-ca de aço. Comparados aosatuais lasers industriais, oslasers a fibra são fontes maisflexíveis, compactas e ro-bustas com feixes de melhorqualidade. "Conseguir fa-zê-Ias quebrar a barreira doquilowatt é um marco", dizDavid Paine, diretor do cen-tro de pesquisa. •

Plástico reciclado é base de tubos condutores de esgoto

Embalagens transformadasformado por uma mistura deplásticos reciclados, é moídoe passa por uma máquina ex-trusora, onde ganha a formafinal. Guido Nigra conta que asextrusoras convencionais ti-veram de ser adaptadas paraproduzir os tubos de PET, fa-bricados com base nas espe-cificações da Associação Bra-sileira de Normas Técnicas(ABNT). •

Encontrar novos usos para asgarrafas descartadas de refri-gerantes, água e outros pro-dutos, as embalagens de poli(tereftalato de etileno), cha-madas de PET, tem sido umdesafio para a imaginação.Afinal, nos últimos anos esseplástico resistente, depois dereciclado, transformou-se emroupas, tintas, pisos, revesti-mentos ~ outros produtos. Edesde maio pode ser encon-trado também em tubos paraesgoto de prédios, produzidospela Empresa Brasileira de Re-ciclagem (EBR), de Diadema,na Grande São Paulo. Antesde chegar ao produto final,chamado de Tubopet, GuidoNigra, diretor da empresa, ou-viu de vários especialistas quedificilmente conseguiria pro-duzir tubos de PET. Mas nãodesanimou. Procurou ajudano Instituto de Pesquisas Tec-nológicas (IPT) e no Departa-mento de Engenharia de Ma-teriais da Universidade Federalde São Carlos (UFSCar). Parachegar aos tubos que fazemas mesmas funções das tubu-lações em PVc, o material,

• Gaúchos ganhamparque tecnológico

A HP Brasil inaugurou emPorto Alegre um centro depesquisa e desenvolvimento,o maior da empresa na Amé-rica Latina, no novo parquetecnológico da PontifíciaUniversidade Católica do RioGrande do Sul, o TecnoPUc.Nas novas instalações, queocupam uma área superior a3 mil metros quadrados, ope-ram 80 profissionais comouma extensão dos vários la-boratórios mundiais da HPpara a geração de produtos epesquisa avançada de novastecnologias. •

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 63

Informação sobre o câncer nas escolasEspecialistas do Hospital doCâncer, de São Paulo, pro-duziram um kit com infor-mações sobre prevenção,diagnóstico precoce e dú-vidas a respeito da doença,que está sendo distribuídoa professores de escolas pú-blicas e particulares do Es-tado de São Paulo para usoem salas de aula. O kit Edu-cação em Câncer, compostopor cinco manuais, cartazes,folhetos e duas fitas de ví-deo, é resultado do proje-to de difusão científica doCentro Antonio Prudentede Pesquisa e Tratamento doCâncer, um dos dez Centrosde Pesquisa, Inovação eDifusão (Cepid) apoiadospela FAPESP. A iniciativatem como objetivo cola-borar para a mudança doperfil da doença no país,marcada pela falta de pre-venção e diagnóstico tardio.No kit podem ser encontra-das informações sobre fa-tores de risco, sintomas, pre-

• Alunos criam robôpara detectar bomba

Um robô controlado via rá-dio, utilizado para tarefas querepresentem risco para o ope-rador, como detecção de bom-bas e ambientes contami-nados por radioatividade,foi desenvolvido por alunosda Faculdade de Engenha-ria Mecânica da FundaçãoArmando Álvares Penteado(Faap) com materiais dispo-níveis no mercado, para quepossa ser reproduzido comfacilidade. O Veículo de Ope-ração Remota (VOR1) é equi-pado com câmera colorida,

II

venção, faixas etárias maispropensas a diferentes ti-pos de tumores, esclareci-mento das dúvidas maisfreqüentes e formas de tra-tamento. Segundo os espe-cialistas, cerca de 70% doscasos de câncer são causa-dos pela exposição indevi-

Material resultade projeto de

difusão científica

mira laser para guiá -10 e umbraço mecânico que lhe per-mite agarrar objetos com até10 centímetros de diâmetro.Segundo o coordenador docurso de Engenharia Mecâ-nica, Nicola Getschko, "o ob-

64 • OUTUBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 92

da a fatores de risco comocigarro, responsável por35% de todos os tumores,álcool, 15%, sol em excesso,

10%, e bactérias ou vírus,10%. O material também éencontrado nos sites doHospital do Câncer (http://www.ecancer.org.br) e doprojeto Saúde Brasil (www.-saudebrasilnet.corn.br), deonde poderá ser reproduzi-do na íntegra. •

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jetrvo de trabalhar com oVORl é criar condições rea-listas de trabalho para o fu-turo profissional". Getschkoconta que o conhecimentoadquirido vai ser utilizado nodesenvolvimento de outro

protótipo para testes de con-trole e de comunicação pormeio de fios. •

• Recuperação deáguas contaminadas

••••I~ Um processo de recuperaçãode águas industriais contami-nadas com compostos de si-licone, usados na indústriatêxtil para amaciamento defibras sintéticas, recebeu oprêmio de melhor trabalhoentre os 73 projetos científicosapresentados no II Encontrosobre Aplicações Ambientaisde Processos Oxidativos Avan-çados (Epoa), realizado em

Veículo éequipado combraço mecânicoe mira laser

~----------~----Campinas. Os pesquisado-res Claudio Augusto Oller doNascimento, Antônio CarlosSilva da Costa Teixeira e Ro-berto Guardani, do Labora-tório de Simulação e Con-trole de Processos da EscolaPolitécnica da Universidadede São Paulo, desenvolveramum método que utiliza a luzpara transformar os compos-tos poluentes em substânciasmenos nocivas ao ambiente.Todas as fases da pesquisa,do desenvolvimento do pro-cesso à elaboração da paten-te (veja Pesquisa FAPESP N°86), foram financiadas pelaFAPES~ •

PatentesInovações financiadas pelo Núcleo de Patenteamento e Licenciamento

de Tecnologia (Nuplitec) da FAPESP. Contato: [email protected]

Título: Fases Estacionáriaspara Cromatografia Líquida deAlta Eficiência Baseadas emPolissiloxanos Adsorvidos eImobilizados na Superfície deSílica PorosaInventores: Kenneth Coflins,Carol Coflins, Isabel Jardim,Tania Anazawa, Maria doCarmo da Silva, Carla Bot-toli, Edivan Tonhi, ZahraChaudhry e Marcos KaporTitularidade: Unicamp/FA-PESP• Empresa fecha

contrato no Havaí Membrana de hidrogel reforçada acelera cicatrização• Prevenção de danos

aos neurôniosA empresa Fujitec, de Forta-leza, fechou contrato paraimplantar até maio de 2004um novo sistema de bilheteseletrônicos para os 550 ôni-bus de Honolulu, no Havaí.Inicialmente serão 30 milcartões, com previsão dechegar a 250 mil em um ano,para atender aos usuários dosistema coletivo de transpor-te. Criada por dois ex-alunosdo Instituto Tecnológico deAeronáutica (ITA), de SãoJosé dos Campos, AdalbertoPessoa e Danilo Reis, a em-presa participou de licitaçãorealizada pela prefeitura dacapital havaiana em um con-sórcio formado com a Smar-talliance, dos Estados Unidos."Caberá à empresa norte-americana fornecer os car-tões, computadores e a infra-estrutura de rede, e a Fujiteco sistema de software e dehardware necessário para aemissão de cartões e das car-gas de valor, além do contro-le dos bilhetes eletrônicos",explica Reis. O contrato é deUS$ 2,2 milhões. Desse total,a Fujitec ficará com US$ 1,3milhão. •

• Curativo paraqueimaduras

• Novos materiais paracromatografia líquida

Aplicação de medicamentospara prevenir danos a neu-rônios causados pelo ácidometilmalônico, tóxico paraas células. Esse ácido se acu-mula no organismo emfunção de uma deficiênciametabólica genética, a aci-dose metilmalônica, doençaque causa retardo do de-senvolvimento infantil. Emtestes feitos em cultura decélulas de neurônios, elasmorreram quando tratadascom ácido metilmalônico.Quando tratadas com esseácido na presença de drogasque abrem canais de potás-sio, como o anti-hipertensi-vo diazóxido, a morte celu-lar foi inibida.

Novos materiais foram de-senvolvidos para a Cro-matografia Líquida de AltaEficiência (CLAE), resul-tando em análises eficien-tes e econômicas para con-trolar a qualidade de váriosprodutos. A CLAEé um ins-trumento de separação queutiliza colunas cromato-gráficas, que consistem deum tubo de aço inoxidávelrecheado com material po-roso ou não. A esses mate-riais se dá o nome de faseestacionária. Atualmente,a CLAE utiliza colunas re-cheadas com fases estacio-nárias quimicamente liga-das ao suporte poroso desílica. As propostas nesseinvento envolvem um con-ceito em que polímeros dotipo polissiloxano encon-tram-se adsorvidos (fixaçãode moléculas de uma subs-tância na superfície de ou-tra) e imobilizados dentrodos poros da sílica, elimi-nando a reação química

Desenvolvimento de umamembrana de hidrogel re-forçada com fibras de po-lipropileno, um materialplástico, ideal para o tra-tamento de queimados.Essa membrana apresentacomo vantagens grande re-sistência mecânica e esta-bilidade, mantendo as ca-racterísticas originais dogel sem reforço, como fle-xibilidade, adesão à pele,permeabilidade a líquido egases e barreira contra mi-crorganismos. O polipropi-leno permite que os cura-tivos sejam fabricados emqualquer dimensão.

Título: Curativo Formadopor Polímero Hidrofílico Re-forçado por Fibras TêxteisHidrofóbicas Enxertadas comMonômeros HidrofílicosInventor: Luiz HenriqueCatalani, Lilian Cristine Lo-pérgolo e Ademar BenévoloLugãoTitularidade: USP/FAPESP

Título: Uso de Agonistas deCanais de Potássio paraPrevenir e Tratar Danos Te-ciduais Promovidos por Áci-do MetilmalônicoInventores: Alicia I<owal-towski e Roger CastilhoTitularidade: USP/Uni-campl FAPESP

PESQUISA FAPESP 92 • OUTUBRO DE 2003 • 65