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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR DO ÓRGÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. ASSOCIAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO SUL – AMPRS, pessoa jurídica de direito privado, inscrita junto ao CNPJ/MF sob o nº 87.027.595/0001-57, com sede na Av. Aureliano de Figueiredo Pinto, 501, Porto Alegre, RS, vem, perante Vossa Excelência, por intermédio de seu procurador firmatário, ut instrumento de mandato em anexo (Doc. 01), impetrar o presente MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO PREVENTIVO (com pedido liminar) contra atos que se encontram na iminência de serem praticados pelo Exmo. Sr. Governador do Estado do Rio Grande do Sul, pelo Diretor-Presidente do Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul-IPE/RS e pelo Diretor de Previdência do Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul-IPE/RS, sendo que a primeira autoridade impetrada integra a estrutura do Estado do Rio Grande do Sul e as demais integram a estrutura da autarquia estadual Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul- IPE/RS, fazendo-o com fulcro no Artigo 5°, LXIX, da CF/88, e na Lei n° 12.016/09, com base nos fundamentos de fato e de direito que passa a expor: I. DOS FATOS: A Impetrante possui, consoante se depreende de seu estatuto (Doc. 02), dentre suas finalidades institucionais, a função de “representar seus associados, judicial e extrajudicialmente, na defesa de seus direitos e interesses, perante qualquer instância administrativa ou jurisdicional, independentemente de autorização de assembleia”.

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO PREVENTIVO (com … · impetrar o presente ... não há propriamente um ato administrativo a ser impugnado, ... Segurança menciona como autoridade

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR DO ÓRGÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.

ASSOCIAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO SUL – AMPRS, pessoa jurídica de direito privado, inscrita junto

ao CNPJ/MF sob o nº 87.027.595/0001-57, com sede na Av.

Aureliano de Figueiredo Pinto, 501, Porto Alegre, RS, vem, perante Vossa Excelência, por intermédio de seu procurador firmatário, ut instrumento de mandato em anexo (Doc. 01),

impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA

COLETIVO PREVENTIVO (com pedido liminar)

contra atos que se encontram na iminência de serem praticados pelo Exmo. Sr. Governador do Estado do Rio Grande do Sul, pelo Diretor-Presidente do Instituto de Previdência do

Estado do Rio Grande do Sul-IPE/RS e pelo Diretor de Previdência do Instituto de Previdência do Estado do Rio

Grande do Sul-IPE/RS, sendo que a primeira autoridade impetrada integra a estrutura do Estado do Rio Grande do Sul e as demais integram a estrutura da autarquia estadual

Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul-IPE/RS, fazendo-o com fulcro no Artigo 5°, LXIX, da CF/88, e na Lei n° 12.016/09, com base nos fundamentos de fato e de

direito que passa a expor:

I. DOS FATOS:

A Impetrante possui, consoante se depreende de seu estatuto

(Doc. 02), dentre suas finalidades institucionais, a função de “representar seus

associados, judicial e extrajudicialmente, na defesa de seus direitos e interesses,

perante qualquer instância administrativa ou jurisdicional, independentemente de

autorização de assembleia”.

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De acordo com o entendimento da autoridade impetrada, que

através da Resolução IPE/RS nº 416/2017 (Doc. 03) regulamentou o Art. 5º, da

Lei Complementar/RS nº 14.967/2016 (Doc. 04), estaria vedada a percepção

cumulativa do benefício de pensão por morte com outra pensão por morte, pensão

especial, vencimento, remuneração, salário, soldo, proventos de inatividade,

subsídio ou com qualquer outra espécie remuneratória, dos ocupantes de cargos,

funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional,

dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal

e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos,

bem como dos militares.

Segundo o entendimento da Administração, a vedação de

percepção cumulativa deve observar, como limite único, o subsídio mensal dos

Desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.

Importante esclarecer, desde já, que o presente Mandado de

Segurança Coletivo Preventivo não visa à declaração direta da

inconstitucionalidade da Resolução IPE/RS nº 416/2017 e/ou do Art. 5º, da Lei

Complementar/RS nº 14.967/2016. Isso não seria juridicamente viável, seja pelo

sistema atual de controle de constitucionalidade das leis, seja em face enunciado

da Súmula 266, do STF.

Endereça-se o presente writ contra os atos administrativos que

se encontram na iminência de aplicar tais preceitos, os quais hão de ser

incidentalmente declarados inconstitucionais, evitando-se que as Associadas da

Impetrante sofram indevidamente o denominado “estorno teto constitucional”, a que

se refere o Art. 4º, da Resolução IPE/RS nº 416/2017.

3

No caso específico dos autos, objetiva-se prevenir e, se for o

caso, reparar a violação o direito líquido e certo de Associadas da Impetrante,

legitimando-se, pois, o emprego do presente Mandado de Segurança.

Em se tratando de Mandado de Segurança Preventivo, ainda

não há propriamente um ato administrativo a ser impugnado, mas, sim, um justo

receio de sua consumação, de acordo com o já anunciado na Resolução nº

416/2017, publicado no Diário Oficial do dia 18/05/2017, já em vigor:

Esclareça-se que o endereçamento do presente Mandado de

Segurança menciona como autoridade impetrada, de um lado, o Exmo. Sr.

4

Governador do Estado do Rio Grande do Sul, porquanto claramente se trata de

autoridade administrativa dotada de poder decisório sobre temas referentes a

questão que se faz objeto da presente demanda, nos termos de precedentes deste

colendo Órgão Especial (v.g. 70.066.912.254 e 70.066.247.156). De outro, o

endereçamento do writ em desfavor do Diretor-Presidente e do Diretor de

Previdência do IPE/RS, fundamenta-se, respectivamente, no Art. 13, da Lei

Estadual 12.395/2005 c/c Art. 12, do Decreto 47.420/2010, e no Art. 16 da Lei

Estadual 12.395/2005 c/c Art. 21, do Decreto 47.420/2010.

Diante do relatado, com o escopo de prevenir a iminente

violação de direito líquido e certo dos associados da entidade Impetrante é que o

presente writ de índole coletiva é impetrado, o qual é fundamentado pelos

argumentos a seguir esposados.

II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA IMPETRAÇÃO:

Vários são os fundamentos que escoram a pretensão da

Impetrante, os quais serão invocados de modo sucessivo e articulado.

O cerne da controvérsia trazida nos autos consiste em saber se

o abate-teto, decorrente da aplicação do Art. 37, XI, da CF/88, reproduzido na Lei

Complementar/RS nº 14.967/2016 e na Resolução nº 416/2017 deve incidir

individualmente sobre os valores recebidos pelas Associadas da Impetrante ou

sobre o somatório de ambos os benefícios.

De início, há de ser salientado que o Art. 5º, da Lei

Complementar/RS nº 14.967/2016, em nada inovou no ordenamento jurídico

Pátrio, porquanto tal dispositivo é a reprodução parcial do Art. 37, XI, da

Constituição Federal:

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Lei Complementar/RS nº 14.967/2016:

Art. 5º. A percepção cumulativa do benefício

pensão por morte com subsídio, vencimentos,

salários, proventos de inatividade ou outra

espécie remuneratória deverá observar, em

qualquer caso, o limite único estabelecido no

art. 33, § 7º, da Constituição do Estado, para

fins de observância do disposto no art. 37, § 12,

da Constituição Federal.

Constituição Federal

Art. 37. (...)

XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes

de cargos, funções e empregos públicos da

administração direta, autárquica e

fundacional, dos membros de qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, dos detentores de

mandato eletivo e dos demais agentes políticos

e os proventos, pensões ou outra espécie

remuneratória, percebidos cumulativamente ou

não, incluídas as vantagens pessoais ou de

qualquer outra natureza, não poderão exceder

o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do

Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como

limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e

nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio

mensal do Governador no âmbito do Poder

Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais

e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o

subsídio dos Desembargadores do Tribunal de

Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e

cinco centésimos por cento do subsídio mensal,

em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal

Federal, no âmbito do Poder Judiciário,

aplicável este limite aos membros do Ministério

Público, aos Procuradores e aos Defensores

Públicos; (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 41, 19.12.2003)

Verifica-se, pois, que a legislação estadual, ainda que de forma

mais concisa, reproduz a norma constitucional.

Ocorre que, e este é um dos argumentos centrais do presente

Mandado de Segurança, quanto à interpretação a ser dada ao referido Art. 37, XI,

da CF, o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, em sua composição plenária, teve a

oportunidade de se manifestar no sentido de que OS PROVENTOS DECORRENTES

DO EXERCÍCIO DE CARGO PÚBLICO E A PENSÃO POR MORTE DEVEM SER

INDIVIDUALMENTE CONSIDERADOS:

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“AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. TETO

CONSTITUCIONAL. ACUMULAÇÃO DE PROVENTOS DE

APOSENTADORIA COM VALORES DE PENSÃO POR MORTE DE

CÔNJUGE. FATOS GERADORES DIVERSOS. REPERCUSÃO GERAL DA

MATÉRIA RECONHECIDA NO RE 602.584/DF, PENDENTE DE

JULGAMENTO. LESÃO À ECONOMIA PÚBLICA NÃO EVIDENCIADA.

AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (Ag. Reg. na

Suspensão de Segurança nº 5.017/SP, Plenário do Supremo Tribunal

Federal, julgado em 19/08/2015)

Do acórdão proferido no Ag. Reg. na Suspensão de Segurança

nº 5.017/SP, cuja ementa foi acima colacionada, a Impetrante pede vênia para

transcrever trecho da fundamentação do voto, o qual é aqui invocado para

subsidiar a impetração:

“A Procuradoria-Geral da República reconheceu a competência do Supremo

Tribunal Federal para o julgamento do pedido, e opinou pelo indeferimento

da suspensão, nos seguintes termos:

Transparece do texto constitucional que o teto aplica-se a parcelas de

natureza remuneratória, ou seja, aos valores pagos ao servidor como

contraprestação pelos serviços prestados à Administração.

(...)

Esclareça-se que a referência constitucional aos proventos e pensões

como submetidos ao limite remuneratório há que ser compreendida como

restrita às situações em que seja possível a identificação do vínculo

jurídico entre o servidor e o Estado. Não é o que ocorre na espécie,

relativa a pensão instituída pelo falecido esposo da interessada.

Esse entendimento, aliás, justifica-se também pela própria finalidade do

teto constitucional, voltado à garantia da isonomia e da moralidade na

Administração, em nada afetadas, a toda evidência, pelo pagamento de

valor pecuniário decorrente de título distinto de qualquer liame

funcional da servidora com o Poder Público.

Na ocasião do julgamento do Recurso Especial Eleitoral 25.129/GO, pelo

Tribunal Superior Eleitoral, assentou o Ministro AYRES BRITTO:

(...)

4. Bem vistas as coisas, acompanho a conclusão do Ministro relator. É

que a pretensão da União, ora recorrente, esbarra no entendimento do

Tribunal Superior Eleitoral de que, no cálculo do limite remuneratório

constitucional a ser aplicado na percepção cumulativa de subsídios,

remuneração ou proventos, com pensão decorrente de falecimento de

cônjuge ou companheiro, as verbas deverão ser consideradas

individualmente, por se originarem em fatos geradores diversos, inclusive

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aquelas pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS,

viabilizadas restituições das retenções anteriormente efetivadas (grifei PA

n° 19.458/DF, rel. Min. Cezar Peluso). Em outras palavras, na linha da

jurisprudência desta Corte Eleitoral, não há óbice algum a que a soma

dos valores percebidos a título de pensão por morte e de aposentadoria

ultrapasse o teto constitucional, ainda que seja paga pela mesma pessoa

jurídica de direito público.

5. Convergentemente, é como entende o Conselho Nacional de Justiça,

bem como o Tribunal de Contas da União, respectivamente in verbis:

Art. 2º Estão sujeitas aos tetos remuneratórios previstos no art. 1º as

seguintes verbas:

(...)

Parágrafo único. Para efeito de percepção cumulativa de subsídios,

remuneração ou proventos, juntamente com pensão decorrente de

falecimento de cônjuge ou companheira(o) observar-se-á o limite fixado

na Constituição Federal como teto remuneratório, hipótese em que

deverão ser considerados individualmente. (Parágrafo acrescentado pela

Resolução n° 42 - DJ 14.09.2007)’ (grifei - artigo 2º da Resolução n°

14/2006). Consulta. Percepção simultânea de benefício de pensão com

remuneração de cargo efetivo ou em comissão e de benefício de pensão

com proventos de inatividade. Conhecimento. Resposta no sentido de que

não incide o teto constitucional sobre o montante resultante da

acumulação de benefício de pensão com remuneração de cargo efetivo ou

em comissão, e sobre o montante resultante da acumulação do benefício

de pensão com proventos da inatividade, em face do que dispõem os arts.

37. XI (redação dada pela Emenda Constitucional n ° 41/2003) e 40. § 11.

da Constituição Federal (redação dada pela Emenda Constitucional n°

20/1998). Ciência da deliberação à autoridade consulente. Arquivamento

(grifei Consulta n° 2.079/2005, rel. Min. Ubiratan Aguiar).

6. Penso que tal entendimento é o que melhor reflete a própria natureza

jurídica da pensão por morte, destinada, como sabido, a assegurar tanto

quanto possível a continuidade dos ganhos mensais de um dado núcleo

familiar. Impedindo acentuados desfalques, portanto, no padrão de

rendimentos a que se habituara um dado núcleo doméstico. Núcleo

doméstico para cuja sustentação econômicofinanceira habitual

concorria, de fato, o ganho mensal da pessoa que veio a falecer. Donde

a compreensão de que investimentos, dívidas e despesas normalmente

programadas a partir da renda global doméstica ficariam severamente

comprometidos com o desfalque dos ganhos mensais do membro

familiar falecido. Somando-se, então, e por modo perverso, a definitiva

perda afetiva de tal membro e a queda do padrão de vida dos familiares

remanescentes.”

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O teto constitucional, portanto, deve incidir em separado sobre

os proventos de aposentadoria/remuneração e de pensão porque são benefícios de

origens e naturezas diversas.

Da norma disposta no Art. 37, XI e do Art. 40, caput e § 11,

ambos da Constituição Federal, extrai-se o significado de que a previdência do

servidor público tem caráter contributivo, inclusive prevendo contribuição dos

inativos para o sistema.

Deste caráter contributivo, como já salientou o CONSELHO

NACIONAL DE JUSTIÇA, decorre que a pensão por morte é direito legítimo do

beneficiário, na medida em que o cônjuge falecido e o aposentado/ativo

contribuíram/contribuem para o sistema. Confira-se:

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. REGIME PREVIDENCIÁRIO. PERCEPÇÃO

CONJUNTA, POR MAGISTRADO OU SERVIDOR, DE PENSÃO E

REMUNERAÇÃO, SUBSÍDIO OU PROVENTO. HIPÓTESE

EXCEPCIONAL QUE NÃO SE SUBMETE À DISCIPLINA INSCRITA NO

INCISO XI DO ART. 37 DA CF. Diante da natureza contributiva do regime

previdenciário da Administração Pública (art. 40 da CF), a pensão por morte

regularmente instituída constitui direito legítimo do beneficiário, pouco

importando a existência concomitante ou pregressa de vínculo funcional

entre este e a Administração Pública. Deve, por isso, ser preservada a

percepção simultânea de pensão com outras espécies remuneratórias,

observando-se, contudo, sobre qualquer dessas espécies remuneratórias, o

teto máximo previsto no Texto Constitucional (art. 37, inciso XI). (PP/CNJ nº

445, Relator Conselheiro DOUGLAS ALENCAR RODRIGUES, DJ

7/7/2006).

Na mesma esteira já se manifestou o SUPERIOR TRIBUNAL

DE JUSTIÇA, nos autos do Recurso em Mandado de Segurança nº 30.880, que:

“A imposição de teto ao somatório da aposentadoria com a pensão por

morte, em se tratando de regime contributivo, insisto, implica inegável

enriquecimento indevido dos cofres públicos.

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Há aqui um aspecto de segurança jurídica a ser observado.

O servidor contribui ao longo de toda a sua carreira para o sistema

previdenciário na justa expectativa de que será amparado em sua velhice

ou na de que sua família será amparada na sua ausência. Não me parece

legítimo que o Estado se aproprie dessas contribuições porque elas

merecem a retribuição esperada(...)”

De outro lado, além dos fundamentos acima invocados,

somam-se outros para subsidiar a concessão da segurança.

Refira-se, neste particular, o recentíssimo julgamento do

Supremo Tribunal Federal, nos autos do RE 602.043, com Repercussão Geral.

In verbis:

“Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, vencido

o Ministro Edson Fachin, apreciando o tema 384 da repercussão geral,

negou provimento ao recurso e fixou a seguinte tese de repercussão geral:

"NOS CASOS AUTORIZADOS CONSTITUCIONALMENTE DE

ACUMULAÇÃO DE CARGOS, EMPREGOS E FUNÇÕES, A

INCIDÊNCIA DO ART. 37, INCISO XI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

PRESSUPÕE CONSIDERAÇÃO DE CADA UM DOS VÍNCULOS

FORMALIZADOS, AFASTADA A OBSERVÂNCIA DO TETO

REMUNERATÓRIO QUANTO AO SOMATÓRIO DOS GANHOS DO

AGENTE PÚBLICO". Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia.

Plenário, 27.4.2017.”

Considerando que o acórdão ainda não foi publicado, a

Impetrante pede vênia para colacionar o INFORMATIVO STF Nº 862, relativo ao

referido RE 602.043/RG:

“Acumulação de cargo público e ‘teto’ remuneratório

Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos,

empregos e funções, a incidência do art. 37, XI (1), da Constituição Federal

(CF) pressupõe consideração de cada um dos vínculos formalizados,

afastada a observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos

ganhos do agente público.

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Com base nesse entendimento, o Plenário, em julgamento conjunto e por

maioria, negou provimento a recursos extraordinários e reconheceu a

inconstitucionalidade da expressão “percebidos cumulativamente ou não”

contida no art. 1º da Emenda Constitucional (EC) 41/2003, que alterou a

redação do art. 37, XI, da CF, considerada interpretação que englobe

situações jurídicas a revelarem acumulação de cargos autorizada

constitucionalmente.

Além disso, declarou a inconstitucionalidade do art. 9º da EC 41/2003 (2),

para afastar definitivamente o art. 17 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias (ADCT) (3), por já ter surtido efeitos na fase de transformação

dos sistemas constitucionais — Cartas de 1967/1969 e 1988 —, excluída a

abrangência a ponto de fulminar direito adquirido.

No caso, os acórdãos recorridos revelaram duas conclusões principais: a)

nas acumulações compatíveis com o texto constitucional, o que auferido em

cada um dos vínculos não deve ultrapassar o teto constitucional; e b)

situações remuneratórias consolidadas antes do advento da EC 41/2003 não

podem ser atingidas, observadas as garantias do direito adquirido e da

irredutibilidade de vencimentos, porque oponíveis ao poder constituinte

derivado.

O Colegiado afirmou que a solução da controvérsia pressupõe interpretação

capaz de compatibilizar os dispositivos constitucionais em jogo, no que

aludem ao acúmulo de cargos públicos e das respectivas remunerações,

incluídos os vencimentos e proventos decorrentes da aposentadoria,

considerados os preceitos atinentes ao direito adquirido (CF, art. 5º, XXXVI)

e à irredutibilidade de vencimentos (CF, art. 37, XV).

Ressaltou que a percepção somada de remunerações relativas a cargos

acumuláveis, ainda que acima, no cômputo global, do patamar máximo, não

interfere nos objetivos que inspiram o texto constitucional. As situações

alcançadas pelo art. 37, XI, da CF são aquelas nas quais o servidor obtém

ganhos desproporcionais, observadas as atribuições dos cargos públicos

ocupados. Admitida a incidência do limitador em cada uma das matrículas,

descabe declarar prejuízo à dimensão ética da norma, porquanto mantida a

compatibilidade exigida entre trabalho e remuneração.

Assentou que as possibilidades que a CF abre em favor de hipóteses de

acumulação de cargos não são para benefício do servidor, mas da

coletividade. Assim, o disposto no art. 37, XI, da CF, relativamente ao teto,

não pode servir de desestímulo ao exercício das relevantes funções

mencionadas no inciso XVI (4) dele constante, repercutindo, até mesmo, no

campo da eficiência administrativa.

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Frisou que a incidência do limitador, considerado o somatório dos ganhos,

ensejaria enriquecimento sem causa do Poder Público, pois viabiliza

retribuição pecuniária inferior ao que se tem como razoável, presentes as

atribuições específicas dos vínculos isoladamente considerados e respectivas

remunerações. Ademais, essa situação poderá potencializar situações

contrárias ao princípio da isonomia, já que poderia conferir tratamento

desigual entre servidores públicos que exerçam idênticas funções. O preceito

concernente à acumulação preconiza que ela é remunerada, não admitindo

a gratuidade, ainda que parcial, dos serviços prestados, observado o art. 1º

da CF, no que evidencia, como fundamento da República, a proteção dos

valores sociais do trabalho.

Enfatizou que o ordenamento constitucional permite que os ministros do

Supremo Tribunal Federal (STF) acumulem as suas funções com aquelas

inerentes ao Tribunal Superior Eleitoral (CF, art. 119), sendo ilógico supor

que se imponha o exercício simultâneo, sem a correspondente contrapartida

remuneratória. Da mesma forma, os arts. 95, parágrafo único, I, e 128, § 5º,

II, “d”, da CF veiculam regras quanto ao exercício do magistério por juízes

e promotores de justiça, de maneira que não se pode cogitar, presente o

critério sistemático de interpretação, de trabalho não remunerado ou por

valores inferiores aos auferidos por servidores que desempenham, sem

acumulação, o mesmo ofício. Idêntica orientação há de ser observada no

tocante às demais circunstâncias constitucionais de acumulação de cargos,

empregos e funções públicas, alusivas a vencimento, subsídio, remuneração

oriunda do exercício de cargos em comissão, proventos e pensões, ainda que

os vínculos digam respeito a diferentes entes federativos.

Consignou que consubstancia direito e garantia individual o acúmulo tal

como estabelecido no inciso XVI do art. 37 da CF, a encerrar a prestação de

serviços com a consequente remuneração, ante os diversos cargos

contemplados, gerando situação jurídica na qual os valores devem ser

recebidos na totalidade.

O teto remuneratório não pode atingir, a partir de critérios introduzidos por

emendas constitucionais, situações consolidadas, observadas as regras

preexistentes, porque vedado o confisco de direitos regularmente

incorporados ao patrimônio do servidor público ativo ou inativo (CF, arts.

5º, XXXVI, e 37, XV).

Essa óptica deve ser adotada quanto às ECs 19/1998 e 41/2003, no que

incluíram a expressão “percebidos cumulativamente ou não” ao inciso XI do

art. 37 da CF.

Cabe idêntica conclusão quanto ao art. 40, § 11, da CF, sob pena de criar

situação desigual entre ativos e inativos, contrariando preceitos de

envergadura maior, entre os quais a isonomia, a proteção dos valores sociais

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do trabalho — expressamente elencada como fundamento da República —, o

direito adquirido e a irredutibilidade de vencimentos.

As aludidas previsões limitadoras, a serem levadas às últimas consequências,

além de distantes da razoável noção de teto, no que conduz, presente

acumulação autorizada pela CF, ao cotejo individualizado, fonte a fonte,

conflitam com a rigidez constitucional decorrente do art. 60, § 4º, IV, nela

contido.(...)”

Ora, se o STF entendeu que em casos de cargos acumuláveis

legitimamente, o teto previsto no Art. 37, XI, da CF há de ser considerada

separadamente, por vínculo funcional, maior razão ainda no caso de acumulação

de pensão com proventos ou remuneração. Isso porque se o STF considera tetos

separados em casos de contraprestações pecuniárias de mesma natureza, com

maior razão há de fazê-lo em relação a verbas de índole diversa.

Desta forma, voltando-se as atenções para o caso dos autos, é

plenamente legítimo e constitucional o isolamento dos valores percebidos a títulos

distintos, fazendo incidir individualmente o teto constitucional.

A interpretação que deve ser extraída do Art. 37, XI e do Art.

40, § 11, ambos da CF/88, do Art. 5º, da Lei Complementar/RS nº 14.967/2016 e

da Resolução 416/2017 é no sentido de que, para efeito da incidência do teto

remuneratório, o abate-teto deve considerar cada benefício individualmente, e não

o somatório de ambos.

III. DA LIMINAR:

Requer a Associação Impetrante seja, nos termos do disposto

no Artigo 7°, III, da Lei n° 12.016/09, deferida liminarmente a tutela de urgência

para que, em caráter preventivo, seja expedido mandamento para que ocorra o

isolamento dos valores percebidos a títulos distintos, fazendo incidir

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individualmente o teto constitucional, mantendo-se a situação fática existente até

a entrada em vigor da Resolução nº 416/2017.

No caso em análise, percebe-se que as condições necessárias à

concessão do pleito liminar encontram-se implementadas.

A plausibilidade das alegações, espera-se, decorre dos

argumentos esposados na presente demanda, da documentação que a aparelha

(prova pré-constituída) e do posicionamento jurisprudencial retratado.

Outrossim, em razão do caráter alimentar da verba discutida

nos presentes autos, deve ser considerado em prol da Impetrante e de suas

Associadas o fato de que o Supremo Tribunal Federal reconheceu a repercussão

geral da matéria no RE 602.584/DF, pendente de julgamento, conforme ementa:

“TETO REMUNERATÓRIO INCIDÊNCIA SOBRE O MONTANTE

DECORRENTE DA ACUMULAÇÃO DE PROVENTOS DE

APOSENTADORIA E PENSÃO ARTIGO 37, INCISO XI, DA CARTA

FEDERAL E ARTIGOS 8º E 9º DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº

41/2003. Possui repercussão geral a controvérsia sobre a possibilidade de,

ante o mesmo credor, existir a distinção do que recebido, para efeito do teto

remuneratório, presentes as rubricas proventos e pensão, a teor do artigo 37,

inciso XI, da Carta da República e dos artigos 8º e 9º da Emenda

Constitucional nº 41/2003.”. (RE nº 602.584, Rel. Min. MARCO AURÉLIO,

DJe de 25.2.2011)

O risco de não se tutelar a pretensão liminar da Impetrante

afigura-se igualmente evidente, no sentido de que se relegar tal asseguração

somente para quando do julgamento meritório acarretará, além da manutenção da

violação do direito líquido e certo, dada a natureza alimentar dos proventos em

questão, há a possibilidade de dano inverso, porquanto reduzirá a renda da

unidade familiar, com comprometimento severo do padrão de vida da família.

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Estes, portanto, os fundamentos da impetração.

IV. DOS PEDIDOS:

DIANTE DO EXPOSTO, requer a Impetrante:

a) seja, nos termos do Artigo 7°, III, da Lei n° 12.016/09, inaldita altera parte, deferida a

liminar para, em sede de tutela preventiva, ser mantida a situação fática existente até a

entrada em vigor da Resolução IPE/RS nº 416/2017 – sem redução da pensão –, mediante

a expedição de mandamento para que ocorra o isolamento dos valores percebidos a títulos

distintos, fazendo incidir individualmente o teto constitucional sobre cada rubrica, até o

julgamento final de mérito;

b) sejam notificadas as autoridades impetradas para apresentarem as informações que

julgarem necessárias para a elucidação do presente writ, nos termos do Artigo 7°, I, da Lei

n° 12.016/2009;

c) seja notificado o órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada –

Procuradoria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul, nos termos do Art. 7º, II, da Lei nº

12.016/2009;

d) seja intimado o ínclito representante do Ministério Público Estadual para que se manifeste,

nos termos do Art. 12, da Lei n° 12.016/2009;

e) por fim, que seja concedida a ordem para os efeitos de, declarando-se que o Art. 37, XI, da

CF/88 incide separada e individualmente nas pensões e nas outras parcelas percebidas a

títulos de proventos ou remuneração/subsídio, ser determinado que as autoridades

impetradas se abstenham de promover quaisquer cortes ou estornos a título de teto

remuneratório em decorrência de percepção simultânea de pensão ou outras parcelas

dotadas de natureza diversa (proventos, remunerações, subsídios etc).

Atribui-se à causa, para fins fiscais, o valor simbólico de R$ 10.000,00.

Termos pelos quais,

Requer e espera deferimento. Porto Alegre, 19 de maio de 2017.

RAFAEL DA CÁS MAFFINI BRUNO ROSSO ZINELLI

OAB/RS N° 44.404 OAB/RS 76.332