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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA FLORESTAL MANEJO EXPERIMENTAL DE UMA FLORESTA OMBRÓFILA MISTA SECUNDÁRIA NO RIO GRANDE DO SUL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Régis Villanova Longhi Santa Maria, RS, Brasil 2011

manejo experimental de floresta ombrófila mista secundaria no rio grande do sul

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manejo florestal; brasil; floresta ombrófila mista; sul do brasil; rio grande do sul; manejo de mata secundaria

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

    CENTRO DE CINCIAS RURAIS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA FLORESTAL

    MANEJO EXPERIMENTAL DE UMA FLORESTA

    OMBRFILA MISTA SECUNDRIA

    NO RIO GRANDE DO SUL

    DISSERTAO DE MESTRADO

    Rgis Villanova Longhi

    Santa Maria, RS, Brasil

    2011

  • MANEJO EXPERIMENTAL DE UMA FLORESTA

    OMBRFILA MISTA SECUNDRIA NO

    RIO GRANDE DO SUL

    Rgis Villanova Longhi

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de

    Ps-Graduao em Engenharia Florestal, rea de Concentrao em

    Manejo Florestal, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),

    como requisito parcial para obteno do grau de

    Mestre em Engenharia Florestal

    Orientador: Prof. Dr. Paulo Renato Schneider

    Santa Maria, RS, Brasil

    2011

  • Universidade Federal de Santa Maria

    Centro de Cincias Rurais

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia Florestal

    A Comisso Examinadora, abaixo assinada,

    aprova a Dissertao de Mestrado

    MANEJO EXPERIMENTAL DE UMA FLORESTA OMBRFILA

    MISTA SECUNDRIA NO RIO GRANDE DO SUL

    elaborada por

    Rgis Villanova Longhi

    como requisito parcial para obteno do grau de

    Mestre em Engenharia Florestal

    Santa Maria, 18 de outubro de 2011.

  • AGRADECIMENTOS

    minha querida famlia, pelo incentivo e apoio incondicional em todas as decises de

    minha vida.

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo Renato Schneider, pela confiana em mim

    depositada, pela amizade salutar e por todos os ensinamentos e contribuies dados durante a

    realizao deste trabalho.

    Ao grande amigo Prof. Dr. Solon Jonas Longhi, por ter sido o principal incentivador

    desta etapa da minha vida.

    Ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Florestal da Universidade Federal de

    Santa Maria, pela oportunidade. CAPES, pela concesso da bolsa de estudos e ao Projeto

    Ecolgico de Longa Durao PELD-CNPQ, pelo aporte financeiro e logstico ao longo da

    coleta de dados.

    Paludo Agropecuria S.A., empresa do grupo Vipal, em nome do senhor Vicncio

    Paludo, pela disponibilizao do local e manuteno do experimento na Fazenda Tupi.

    Aos colegas engenheiros florestais, Geedre Adriano Borsoi e Cristiano Hack, pelo

    fornecimento dos dados iniciais para o presente estudo.

    Aos demais professores do PPGEF, em especial os meus coorientadores, professores

    Dr. Csar Augusto Guimares Finger e Dr. Frederico Dimas Freig, pelos ensinamentos

    transmitidos.

    Aos colegas do laboratrio de Manejo Florestal, pelas conversas, discusses e trocas

    de experincias nos mais diversos temas florestais, alm de inmeros momentos de

    descontrao, que fizeram dessa convivncia o alicerce de uma slida amizade durante a

    realizao do curso e para toda a vida. So eles: Guilherme, Claudio, Thiago, Emanuel, Jean,

    Flvio, Evandro, Gabriel, Elisabete, Veridiana, Llian e Tatiane.

    Ao engenheiro florestal Marcelo Krug e acadmica de Engenharia Florestal e futura

    colega Ana Flvia Boeni, pelo auxlio na coleta de dados campo.

    E a todos que, de alguma ou outra forma, contriburam para a realizao deste

    trabalho, meu MUITO OBRIGADO!

  • Fui para a mata porque queria viver

    deliberadamente, enfrentar apenas os fatos

    essenciais da vida e ver se no poderia

    aprender o que ela tinha a ensinar, em vez de,

    vindo a morrer, descobrir que no tinha

    vivido.

    Henry David Thoreau

  • RESUMO

    Dissertao de Mestrado

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia Florestal

    Universidade Federal de Santa Maria

    MANEJO EXPERIMENTAL DE UMA FLORESTA OMBRFILA MISTA

    SECUNDRIA NO RIO GRANDE DO SUL

    AUTOR: RGIS VILLANOVA LONGHI

    ORIENTADOR: Dr. PAULO RENATO SCHNEIDER

    Local e Data da Defesa: Santa Maria, 18 de outubro de 2011.

    A presente dissertao foi desenvolvida com o objetivo de avaliar a recuperao da floresta e o

    crescimento de espcies de valor comercial oito anos aps a aplicao de diferentes intensidades de

    cortes seletivos em uma rea de Floresta Ombrfila Mista secundria no Rio Grande do Sul. As

    avaliaes foram baseadas nas alteraes da composio florstica, na diversidade de espcies, na

    estrutura e dinmica do extrato arbreo em cada tratamento de manejo e para a testemunha (unidade

    sem interveno de manejo), alm da anlise dos incrementos para o grupo de espcies de valor

    comercial e do tempo de recuperao do estoque comercial inicial da floresta por intensidade de corte

    seletivo. Os tratamentos que receberam intervenes de manejo foram: T1- Testemunha; T2-Corte

    Seletivo Leve (reduo de cerca de 20% da rea basal por classe de DAP); T3-Corte Seletivo Mdio

    (reduo de 30-40% da rea basal por classe de DAP); T4-Corte Seletivo Pesado (reduo de 50-60%

    da rea basal por classe de DAP). Os dados foram provenientes de trs ocasies de medio, ou seja,

    inventrio pr-exploratrio (2001) e dois inventrios de monitoramento (2006 e 2010), em que foram

    remedidos todos os indivduos com DAP9,6 cm, presentes em cada tratamento. Oito anos aps a aplicao dos cortes seletivos, independentemente da intensidade aplicada, verificou-se aumento da

    densidade e dos parmetros fitossociolgicos das espcies comerciais, em comparao com o

    tratamento sem interveno de manejo. Alm disso, no houve perdas no nmero de espcies, gneros

    e famlias com o passar do tempo para as diferentes intensidades de explorao. Foi verificado maior

    ganho nos ndices de diversidade de espcies para os tratamentos que receberam intervenes de

    manejo e menor alterao para o tratamento testemunha. A densidade de indivduos mostrou boa

    capacidade de resilincia, independente da intensidade dos cortes seletivos. Contudo, a recuperao da

    rea basal, com o passar do tempo, apresentou dificuldades quando realizadas intervenes muito

    pesadas (T4). O incremento peridico anual mdio em dimetro para todas as espcies nos tratamentos

    que receberam cortes seletivos apresentou baixa variao entre os mesmos, com valores prximos de

    0,30 cm.ano-1

    , porm com ganho de mais de 100% em relao ao tratamento testemunha, com valor

    absoluto de 0,14 cm.ano-1

    . Da mesma forma, as espcies de valor comercial apresentaram valores de

    incremento peridico anual em dimetro (0,53 cm.ano-1

    para o T2; 0,48 cm.ano-1

    para o T3; e 0,49

    cm.ano-1

    para o T4) e rea basal (23,64 cm.ha-1

    .ano-1

    para o T2; 21,61 cm.ha-1

    .ano-1

    para o T3; e

    18,55 cm.ha-1

    .ano-1

    para o T4) superiores aos do tratamento que no recebeu cortes seletivos, com

    valores de 0,28 cm.ano-1

    em dimetro e de 17,41 cm.ha-1

    .ano-1

    em rea basal. O tempo de recuperao

    do estoque comercial inicial entre as diferentes intensidades de explorao foi de cerca de oito anos

    para o T2, 16 anos para o T3 e de 34 anos para o T4. Para o manejo sustentvel de florestas

    secundrias no domnio da Floresta Ombrfila Mista na regio da encosta superior do nordeste do Rio

    Grande do Sul, recomenda-se a realizao de cortes seletivos leves (reduo em torno de 20% da rea

    basal por classe de DAP) e com ciclos de corte de oito anos, como forma de conduzir a floresta com

    cortes frequentes a uma estrutura mais produtiva.

    Palavras-chave: Floresta com araucria. Fitossociologia. Incremento. Ciclo de corte.

  • ABSTRACT

    Master Dissertation

    Programa de Ps-graduao em Engenharia Florestal

    Universidade Federal de Santa Maria

    EXPERIMENTAL MANAGEMENT OF A SECONDARY MIXED

    OMBROPHILOUS FOREST IN RIO GRANDE DO SUL

    AUTHOR: RGIS VILLANOVA LONGHI

    ADVISER: Dr. PAULO RENATO SCHNEIDER

    Place and Date of Defense: Santa Maria, October 18 th

    , 2011.

    The present paper was developed with the aim to evaluate the forest recovery and growth of species of

    commercial valuable eight years after the application of different intensities of selective cuts in an area

    of secondary Mixed Ombrophilous Forest in Rio Grande do Sul. The evaluations were based on

    floristic composition changes, species diversity, structure and dynamics of tree extract for each

    management treatment and for the control (treatment without management intervention), and the

    analysis of increments for the group of species of commercial value and the recovery time of the initial

    commercial inventory for each intensity of selective logging. The treatments that received

    management interventions were: T1-Control, T2-Selective Light Cutting (reduction of about 20% of

    basal area by DBH class), T3- Selective Medium Cutting (30-40% reduction of basal area by DBH

    class), T4-Selective Heavy Cutting (50-60% reduction of basal area by DBH class). Data were from

    three measurement occasions: Pre-harvest inventory (2001) and two monitoring inventories (2006 and

    2010). In inventories remeasured monitoring were all individuals with DBH 9.6 cm in each treatment. Eight years after the application of selective cuts regardless of the intensity applied, there

    was increased density and phytosociological parameters of commercial species, compared with

    treatment without management intervention. In addition, there were no losses in the number of

    species, genres and families over time for different intensities of logging. Largest gain was observed in

    diversity of species to the treatments that received handling interventions and less change to the

    control treatment. The density of individuals showed good resilience, regardless of the intensity of

    selective cuts. However, the recovery of basal area over time presented difficulties when performed

    very heavy intervention (T4). The regular annual average increase in diameter for all species in the

    treatments with selective cuts showed low variation between them, with values close to 0.30 cm.year-1

    ,

    but with a gain of more than 100% compared to control treatment with absolute value of 0.14 cm.year-

    1. Similarly, the commercially valuable species had values of periodic annual diameter increment (0.53

    cm.year-1

    to T2; 0.48 cm.year-1

    for T3; and 0.49 cm.year-1

    to T4) and basal area (23.64 cm.ha-1

    .year-1

    for T2; 21.61 cm.ha-1

    .year-1

    for T3; and 18.55 cm.ha-1

    .year-1

    to T4) higher than the treatment that

    received selective cuts, with values of 0.28 cm.year-1

    in diameter and 17.41 cm.ha-1

    .year-1

    in basal

    area. The recovery time of the initial commercial inventory between different intensities of logging

    was about eight years for T2, 16 years for T3 and 34 years for T4. For the sustainable management of

    secondary forests in the area of occurrence of Mixed Ombrophylous Forest in the region of encosta

    superior do nordeste of Rio Grande do Sul, it is recommended to carry out selective light cuts

    (reduction of approximately 20% of basal area by DBH class) and cycles cutting eight years as a way

    to lead the forest with frequent cuts to a more productive structure.

    Keywords: Araucaria Forest. Phytosociology. Increment. Cutting cycle.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Diferentes curvas cumulativas de crescimento tpicas de diversas espcies arbreas

    em florestas tropicais, conforme o grupo ecolgico de sucesso. .......................................... 21

    Figura 2 Localizao da rea de estudo no municpio de Nova Prata, RS. .......................... 29

    Figura 3 Imagem do satlite GeoEye da Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ............................ 30

    Figura 4 Localizao das unidades amostrais constituintes de cada tratamento de manejo

    aplicados na Floresta Ombrfila Mista da Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ............................ 34

    Figura 5 Detalhe da faixa amarela a altura da CAP da rvore (a); medio a campo da CAP

    com fita mtrica (b) e; etiqueta numrica (c). Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ....................... 35

    Figura 6 Representao das medidas estatsticas em um grfico box plot. .......................... 42

    Figura 7 rvores cadas pela ao do vento no tratamento Corte Seletivo Pesado,

    observadas durante a ocasio de 2010. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ................................. 49

    Figura 8 Distribuio diamtrica da densidade de indivduos e rea basal por hectare, por

    ocasio de medio, para cada tratamento de manejo, e frequncia estimada do nmero de

    indivduos por classe de dimetro para o ano de 2010. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ......... 57

    Figura 9 Incremento peridico anual relativo transformado, entre os anos de 2006 e 2010,

    por classe de dimetro, para todas as espcies em cada tratamento de manejo aplicado na

    floresta. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ............................................................................... 62

    Figura 10 Incremento peridico anual em dimetro relativo transformado em cada

    tratamento de manejo para a espcie Araucaria angustifolia. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS.

    ............................................................................................................................................ 68

    Figura 11 Incremento peridico anual em dimetro relativo transformado em cada

    tratamento de manejo para as espcies de canelas. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ............... 69

    Figura 12 Incremento peridico anual em dimetro relativo transformado em cada

    tratamento de manejo para as demais espcies de valor comercial. Fazenda Tupi, Nova Prata,

    RS. ....................................................................................................................................... 70

    Figura 13 Simulao do tempo de recuperao do estoque comercial em cada intensidade de

    corte seletivo, para um horizonte de 34 anos. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ....................... 73

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Intensidades dos cortes seletivos para cada tratamento de manejo aplicado na

    Floresta Ombrfila Mista da Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. Adaptado de Borsoi (2004). .... 33

    Tabela 2 Frmulas utilizadas para clculo dos parmetros fitossociolgicos para cada

    espcie amostrada nos tratamentos de manejo. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. .................... 37

    Tabela 3 Parmetros fitossociolgicos de cada tratamento de manejo aplicado na floresta,

    para as ocasies de 2001 e 2010 para as espcies com valor de importncia maior de 2% no

    ano de 2010. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ........................................................................ 46

    Tabela 4 Parmetros fitossociolgicos para o grupo de espcies comerciais nos tratamento

    de manejo aplicado na floresta, para os inventrios dos anos 2001 e 2010. Fazenda Tupi,

    Nova Prata, RS. ................................................................................................................... 50

    Tabela 5 Variao do nmero de famlias, gneros e espcies nos diferentes tratamentos de

    manejo para as ocasies de 2001 e 2010. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ............................. 51

    Tabela 6 ndices de diversidade e equabilidade de espcies para os tratamentos de manejo

    aplicados na floresta nas diferentes ocasies de monitoramento. Fazenda Tupi, Nova Prata,

    RS. ....................................................................................................................................... 52

    Tabela 7 Recrutamento e mortalidade para os diferentes tratamentos de manejo aplicados na

    floresta da Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ........................................................................... 54

    Tabela 8 Estatsticas de cada equao estimadora do nmero de indivduos por hectare por

    classe de dimetro para cada tratamento de manejo. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ............ 58

    Tabela 9 Variveis dendromtricas para os diferentes tratamentos de manejo aplicados na

    floresta nos inventrios das ocasies de 2001, 2006 e 2010. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. 59

    Tabela 10 Incremento peridico anual absoluto em dimetro e em rea basal para o grupo de

    espcies de alto valor comercial por classe diamtrica em cada tratamento de manejo. Fazenda

    Tupi, Nova Prata, RS. .......................................................................................................... 64

    Tabela 11 Incremento peridico anual em dimetro e em rea basal para os diferentes

    grupos de espcies de valor comercial em cada tratamento de manejo. Fazenda Tupi, Nova

    Prata, RS. ............................................................................................................................. 65

    Tabela 12 Incremento peridico anual relativo em dimetro, rea basal e volume para o

    grupo de espcies de valor comercial por classe diamtrica em cada tratamento de manejo.

    Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ............................................................................................ 66

    Tabela 13 Incremento peridico anual em volume absoluto e relativo para cada tratamento

    de manejo. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ........................................................................... 71

    Tabela 14 Tempo de recuperao do estoque inicial em volume comercial com casca para

    cada intensidade de corte aplicada na floresta. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. ..................... 72

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CAP circunferncia altura do peito (1,3 metros de altura)

    DAP dimetro altura do peito (1,3 metros de altura)

    FOM Floresta Ombrfila Mista

    FO2001 Frequncia observada na ocasio de 2001

    FO2006 Frequncia observada na ocasio de 2006

    FO2010 Frequncia observada na ocasio de 2010

    G rea Basal (m.ha-1)

    G 2001 rea basal observada na ocasio de 2001

    G 2006 rea basal observada na ocasio de 2006

    G 2010 rea basal observada na ocasio de 2010

    IPA Incremento peridico anual

    IPAd Incremento peridico anual em dimetro

    IPAd(%) Incremento peridico anual em dimetro percentual

    IPAg Incremento peridico anual em rea basal

    IPAg(%) Incremento peridico anual em rea basal percentual

    IPAv Incremento peridico anual em volume comercial com casca

    IPAv(%) Incremento peridico anual em volume comercial com casca percentual

    PELD Projeto Ecolgico de Longa Durao

    Vc c/c Volume comercial com casca (m.ha-1

    )

  • SUMRIO

    1 INTRODUO --------------------------------------------------------------------------------------- 13

    1.1 Pressupostos ----------------------------------------------------------------------------------------- 15

    1.2 Objetivos --------------------------------------------------------------------------------------------- 16

    1.2.1 Objetivo geral -------------------------------------------------------------------------------------- 16

    1.2.2 Objetivos especficos ----------------------------------------------------------------------------- 16

    2 REVISO BIBLIOGRFICA -------------------------------------------------------------------- 18

    2.1 Enquadramento fitogeogrfico ------------------------------------------------------------------ 18

    2.2 Dinmica e sucesso florestal -------------------------------------------------------------------- 19

    2.2.1 Recrutamento e mortalidade --------------------------------------------------------------------- 22

    2.2.2 Crescimento ---------------------------------------------------------------------------------------- 24

    2.3 Manejo de florestas naturais--------------------------------------------------------------------- 25

    2.3.1 Regulao da produo florestal ---------------------------------------------------------------- 25

    2.3.2 Tratamentos silviculturais ------------------------------------------------------------------------ 26

    3 MATERIAL E MTODOS ----------------------------------------------------------------------- 29

    3.1 Caractersticas da rea de estudo --------------------------------------------------------------- 29

    3.1.1 Localizao ----------------------------------------------------------------------------------------- 29

    3.1.2 Climatologia --------------------------------------------------------------------------------------- 30

    3.1.3 Relevo e solos -------------------------------------------------------------------------------------- 31

    3.1.4 Vegetao natural --------------------------------------------------------------------------------- 31

    3.1.5 Histrico da floresta da Fazenda Tupi---------------------------------------------------------- 32

    3.2 rea experimental --------------------------------------------------------------------------------- 32

    3.2.1 Obteno dos dados e variveis levantadas --------------------------------------------------- 35

    3.3 Avaliao da sustentabilidade ecolgica dos tratamentos de manejo ------------------- 36

    3.3.1 Estrutura fitossociolgica ------------------------------------------------------------------------ 37

    3.3.2 Diversidade e equabilidade ---------------------------------------------------------------------- 37

    3.3.3 Recrutamento e mortalidade --------------------------------------------------------------------- 38

    3.3.4 Estrutura diamtrica ------------------------------------------------------------------------------- 39

    3.4 Anlise de incrementos---------------------------------------------------------------------------- 39

    3.5 Determinao do tempo de recuperao do estoque---------------------------------------- 43

  • 4 RESULTADOS E DISCUSSO ------------------------------------------------------------------ 45

    4.1 Sustentabilidade ecolgica no manejo florestal ---------------------------------------------- 45

    4.1.1 Mudanas na composio de espcies e estrutura horizontal ------------------------------- 45

    4.1.2 Mudanas na diversidade e equabilidade de espcies ---------------------------------------- 52

    4.1.3 Recrutamento e mortalidade --------------------------------------------------------------------- 54

    4.1.4 Mudanas na estrutura diamtrica e da rea basal -------------------------------------------- 56

    4.2 Anlise do incremento ----------------------------------------------------------------------------- 59

    4.2.1 Caractersticas dendromtricas de cada tratamento ------------------------------------------ 59

    4.2.2 Incremento peridico anual em dimetro percentual para a floresta IPAd(%) --------- 61

    4.2.3 Incremento peridico anual em dimetro e rea basal para o grupo de espcies de alto

    valor comercial ------------------------------------------------------------------------------------------- 63

    4.2.4 Incremento peridico anual relativo em dimetro, rea basal e volume comercial com

    casca para o grupo de espcies de alto valor comercial -------------------------------------------- 66

    4.3 Tempo de recuperao do estoque comercial por intensidade de corte ---------------- 71

    4.3.1 Determinao do incremento peridico anual relativo em cada tratamento -------------- 71

    4.3.2 Determinao do tempo de recuperao do estoque por intensidade de corte ----------- 72

    5 CONCLUSES --------------------------------------------------------------------------------------- 75

    Recomendaes ----------------------------------------------------------------------------------------- 76

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ----------------------------------------------------------- 77

  • 1 INTRODUO

    A ao do homem sobre os ecossistemas florestais, desde o passado, exerceu

    indiscutvel influncia no progresso e na cultura da humanidade. Contudo, muitas vezes, os

    recursos naturais, dados a sua abundncia, foram subaproveitados, altamente fragmentados ou

    mesmo dizimados, dando lugar a outras formas de atividade econmica.

    Exemplo cabal de fragmentao a Floresta Ombrfila Mista (FOM), tambm

    conhecida como Floresta com araucria, uma das mais expressivas fontes de recursos

    madeireiros at meados do sculo passado na economia dos estados do Sul do Brasil, a qual

    desde o incio da colonizao foi exaustivamente explorada, de forma predatria, sem

    qualquer preocupao com a sustentabilidade do recurso florestal. Em algumas reas, o

    processo de degradao foi to agudo ou extenso que a recuperao via regenerao natural

    muito pouco provvel, havendo necessidade da introduo de tcnicas silviculturais para a

    reabilitao dessas florestas a fim de assegurar a sustentabilidade de seu uso.

    Um grande avano no manejo de florestas foi dado com a introduo da ideia da

    sustentabilidade, formulada no incio do sculo XVI pelo florestal Hans Carl Von Carlowitz,

    na qual afirmava que: as florestas deveriam fornecer produtos madeireiros e no-madeireiros

    s geraes atuais e s futuras, em igual quantidade e qualidade s hoje disponveis. Para que

    isso possa ser possvel, Schneider e Finger (2000) salientam que preciso que,

    periodicamente, seja cortada apenas uma quantidade de madeira igual ao crescimento das

    rvores da floresta, proporcionando, assim, a perpetuao do estoque de madeira e da

    biodiversidade, o que requer longo prazo e a manuteno do equilbrio do ecossistema,

    suporte bsico de qualquer produo.

    Em que pese o fato de a legislao florestal, que regula a elaborao e execuo de

    Planos de Manejo Florestal, existir a muito tempo, a sua aplicao no teve comandos e

    controles com a eficincia e eficcia necessrias para assegurar a implantao de planos de

    manejo florestal verdadeiramente sustentveis, tanto do ponto de vista da produo como da

    conservao e da biodiversidade. Em consequncia disso, esse instrumento tcnico caiu em

    descrdito, impedindo que os produtores rurais se apropriassem de produtos da floresta,

    indispensveis para atender s necessidades da sociedade e contribuir para a melhoria da

    renda e qualidade de vida de seus proprietrios.

    No Estado do Rio Grande do Sul, as florestas atualmente encontram-se alteradas pela

  • 14

    explorao madeireira no passado, em estgio secundrio de desenvolvimento, as quais ainda

    podem ser bastante produtivas e, geralmente, contm espcies de rpido crescimento, com

    madeiras de boa qualidade, bem aceitas no mercado local madeireiro, alm de poderem

    oferecer produtos no madeireiros como frutos, plantas medicinais e ornamentais. O manejo

    dessas florestas torna-se, ento, uma alternativa vivel para diminuir a presso de

    desmatamento sobre as florestas ainda existentes, alm de desempenhar relevante papel

    ecolgico, pois contribui na fixao de carbono da atmosfera, na melhoria das condies

    ambientais, na restituio da fertilidade dos solos e na manuteno da biodiversidade.

    Em estudo recente, Porter-Bolland et al. (2011) analisaram 40 reas de proteo e 33

    comunidades florestais em 16 pases, sendo onze na Amrica Latina, trs na frica e dois na

    sia, e descobriram que as reas protegidas perdiam cerca de 1,47% de cobertura florestal por

    ano, enquanto as florestas geridas pelas comunidades tinham uma perda de cerca de 0,24% ao

    ano. Sobre isto, McEvoy (2004) enftico ao afirmar que, se ... pretendemos manter as

    florestas na paisagem, necessrio manej-las como tal, pois florestas sem manejo esto

    destinadas a desaparecer, sendo gradualmente convertidas para outros usos do solo, bem

    menos benficos do que sistemas florestais saudveis.

    Para manejar racionalmente as florestas alteradas por aes antrpicas, Sanquetta

    (1996) afirma que preciso conhecer e respeitar sua capacidade regenerativa. Tal capacidade

    est intimamente relacionada com trs processos demogrficos: recrutamento, crescimento e

    mortalidade, os quais governam a sustentabilidade e a diversidade da floresta.

    Sobre isto, Ahrens (1990 apud BRAZ, 2010) identifica ainda as seguintes informaes

    a serem consideradas:

    a) a distribuio diamtrica ideal para um povoamento: expressa pelo nmero de

    rvores em cada classe. Em adio aos objetivos da produo, a determinao da distribuio

    diamtrica ideal tambm influenciada pela composio de espcies e pela frequncia do

    abate de rvores, alm das caractersticas edafoclimticas que iro afetar o crescimento;

    b) a composio ideal de espcies: alm dos seus efeitos sobre a posio da curva e

    sobre a funo de distribuio diamtrica, o controle da composio de espcies

    extremamente importante para atender aos objetivos da produo;

    c) a periodicidade dos cortes: fator fundamental, deve-se sempre considerar as

    convenincias em se minimizar os danos e distrbios ao povoamento (principalmente no que

    se refere regenerao natural) para possibilitar retornos em ciclos menos dilatados. Tambm

    se deve ter em mente que a frequncia dos cortes afetar a distribuio diamtrica

    remanescente e futura;

  • 15

    d) a estratgia ideal de converso do povoamento para uma condio regulada: uma

    vez que a distribuio diamtrica ideal tenha sido definida, deve-se ento conceber a

    estratgia ou conjunto de aes silviculturais que permitam a transformao da estrutura atual

    da floresta em uma condio ideal, com caractersticas que possibilitem a sustentao da

    produo no futuro.

    O uso irracional e irresponsvel dos recursos florestais no mais admissvel. Quanto

    maior e mais profundo for o grau de conhecimento sobre as florestas, maior ser a

    possibilidade de que sejam usadas de forma correta, com menor dano sobre essas e maior

    longevidade de seus componentes. Como toda atividade de manejo florestal implica

    interveno, a atuao do engenheiro florestal somente ser bem sucedida no momento em

    que estejam disponveis ferramentas e tecnologia que lhe permitam prever os resultados de

    diferentes alternativas silviculturais, assegurando assim, o xito na escolha da opo de

    manejo mais adequada, que garanta a utilizao sustentvel do recurso natural.

    Vrios artigos sobre a Floresta Ombrfila Mista na regio Sul do Brasil tm sido

    publicados, com temas importantes, tais como anlises fitossociolgicas e estrutura diamtrica

    (LONGHI, 1980; SCHAAF et al., 2006), crescimento e dendrocronologia (FIGUEIREDO

    FILHO et al., 2003; RONDON NETO, 2003; SCHAAF et al., 2005; MATTOS et al, 2010),

    dinmica florestal (MOSCOVICH, 2006; FIGUEIREDO FILHO et al., 2010), anlise de

    agrupamento da vegetao (LONGHI et al., 2006; GOMES et al., 2008; ARAUJO et al.,

    2010), estimativa de biomassa e carbono (WATZLAWICK et al., 2009), entre outros, que

    poderiam ser analisados em conjunto, visando estabelecer uma abordagem preliminar para o

    uso sustentvel dessas florestas.

    Apesar de todo o conhecimento atualmente disponvel na rea de manejo florestal e do

    constante aperfeioamento da legislao florestal, no existe no Rio Grande do Sul nenhuma

    outra rea experimental de manejo de Floresta Ombrfila Mista conduzida com base em

    fundamentos tcnicos e cientficos capaz de embasar a elaborao de instrumentos legais

    reguladores do uso do recurso florestal e de nortear polticas de incentivo a essa atividade.

    1.1 Pressupostos

    Os fragmentos de Floresta Ombrfila Mista secundrias existentes na regio da

    encosta superior do nordeste do Rio Grande do Sul necessitam de intervenes regulares,

  • 16

    como forma de garantir a melhoria da floresta em termos de estrutura, composio de

    espcies, manuteno da capacidade de reproduo e perpetuao das espcies,

    principalmente da Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze; e tambm, visando acelerar o

    crescimento de espcies desejveis para futuro aproveitamento (rvores-futuro), tornando

    assim, a floresta produtiva, sem comprometer a sustentabilidade do recurso florestal.

    1.2 Objetivos

    1.2.1 Objetivo geral

    O trabalho teve como objetivo geral avaliar a recuperao da floresta e o crescimento

    de espcies de valor comercial, aps a aplicao de diferentes intensidades de cortes seletivos,

    realizados em uma rea de Floresta Ombrfila Mista na regio da encosta superior do

    nordeste do Rio Grande do Sul, visando fornecer subsdios para o manejo da biodiversidade e

    do incremento dessas florestas, aps oito anos de observaes.

    1.2.2 Objetivos especficos

    O trabalho teve os seguintes objetivos especficos:

    a) Verificar as mudanas ocorridas na diversidade e na estrutura da floresta com o

    passar do tempo para os diferentes tratamentos de intensidade de manejo;

    b) Caracterizar a dinmica de crescimento em cada tratamento de intensidade de

    manejo;

    c) Realizar um balano da explorao, observando mudanas no nmero de rvores, na

    rea basal e no volume, nos diferentes tratamentos de intensidade de manejo;

    d) Determinar o incremento peridico anual em dimetro, rea basal e volume, para a

    floresta em geral e para os grupos de espcies comerciais nos diferentes tratamentos de

  • 17

    intensidade de manejo;

    e) Determinar o tempo de recuperao do estoque comercial inicial em cada

    intensidade de corte aplicada no manejo da floresta.

  • 2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 Enquadramento fitogeogrfico

    A Floresta Ombrfila Mista (FOM) ou Floresta com araucria (IBGE, 1992) o tipo

    fitogeogrfico que caracteriza a fisionomia do planalto Sul Brasileiro, sendo a formao

    predominante da rea em estudo.

    Conforme Teixeira e Coura Neto (1986), a FOM compreende as formaes

    Submontana, Montana e Alto-Montana. A Floresta Submontana est associada a

    terrenos de at 400m de altitude, distribuda em fragmentos relictuais pela Depresso Central

    e o Planalto Sul-Riograndense. A Floresta Montana ocorre no Planalto das Araucrias e a

    leste do Planalto das Misses, em altitudes de 400 a 800 m, formando uma linha irregular ao

    longo das bordas superiores dos vales, em contato com as Savanas. A Floresta Alto-

    Montana restringe-se aos pontos mais altos do relevo, a nordeste do Planalto das Araucrias,

    distinguindo-se pela ausncia ou pela raridade das espcies da selva subtropical.

    Na FOM, a Araucaria angustifolia forma uma cobertura muito caracterstica, por

    vezes contnua, dando a impresso de se tratar de uma formao uniestratificada. Alm da

    presena dominante da Araucaria angustifolia no estrato superior, Reitz et al. (1983)

    descrevem a presena de um denso sub-bosque, constitudo, sobretudo, de laurceas, a

    exemplo de canela-lageana (Ocotea pulchella (Nees & Mart.) Mez), canela-guaic (Ocotea

    puberula (Rich.) Nees), canela-vick (Cryptocarya aschersoniana Mez), canela-preta

    (Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez), canela-amarela (Nectandra lanceolata Nees),

    canela-cheirosa (Nectandra grandiflora Nees); mirtceas, como os guamirins (Myrcia

    oblongata DC. e Calyptranthes concinna DC.), cambuns (Myrceugenia euosma (O.Berg)

    D.Legrand e Myrcia hartwegiana (O.Berg) Kiaersk.), araaceiros (Psidium cattleyanum

    Sabine e Myrcianthes gigantea (D.Legrand) D.Legrand), murta (Blepharocalyx salicifolius

    (Kunth) O.Berg); aquifoliceas como a erva-mate (Ilex paraguariensis A.St.-Hil.) e as canas

    (Ilex brevicuspis Reissek e Ilex dumosa Reissek); sapindceas como o camboat-branco

    (Matayba elaeagnoides Radlk.) e o camboat-vermelho (Cupania vernalis Cambess.);

    winterceas como a cataia (Drimys brasiliensis Miers); podocarpcea como o pinheiro-bravo

    (Podocarpus lambertii Klotzsch ex Endl.) e de fabaceas como a bracatinga (Mimosa scabrella

  • 19

    Benth.).

    No Brasil, a FOM originalmente distribua-se numa superfcie de cerca de 200.000

    km. Destes, 40% ocorria no estado do Paran, 31% em Santa Catarina, 25% no Rio Grande

    do Sul, 3% em manchas isoladas nas partes mais elevadas do sul de So Paulo e 1% em

    Minas Gerais e no Rio de Janeiro (CARVALHO, 2003); alm de ocorrer com disjunes em

    pases vizinhos, atingindo a Argentina, na provncia de Misiones, estendendo-se at o oeste do

    Paraguai (KLEIN, 1960; HUECK, 1972).

    No estado do Rio Grande do Sul, a FOM ocorria em toda borda superior livre do

    planalto, iniciando-se no norte de Santa Maria e estendendo-se at o extremo ngulo nordeste;

    na aba superior de todos os vales profundos dos rios Ca, Taquari, das Antas e Pelotas; em

    grupos isolados ou em densas comunidades nos capes disseminados pelo planalto; em

    indivduos solitrios em pleno campo, e misturada com a mata virgem do Alto Uruguai, ao

    norte de Passo Fundo e Lagoa Vermelha (RAMBO, 1956).

    Em 1983, o estado do Rio Grande do Sul possua uma rea de FOM de apenas

    1.866,58 km (0,66% da superfcie do estado). Contudo, dados recentes do Inventrio

    Florestal Contnuo do Estado (RIO GRANDE DO SUL, 2001) apontaram um aumento para

    aproximadamente 9.195,65 km ou 3,25% da superfcie coberta por FOM. Essa expanso

    proporcionou maior volume de madeira e maior nmero de indivduos, porm, uma

    diminuio em rea basal por hectare, indicando que as novas reas formadas so oriundas da

    regenerao natural (HESS, 2007).

    2.2 Dinmica e sucesso florestal

    A dinmica das florestas naturais depende, sobretudo, dos fatores ecolgicos que

    contribuem durante o seu desenvolvimento, tais como a sucesso, a competio, a exposio,

    o stio natural e a luminosidade (MOSCOVICH, 2006). Para esse mesmo autor, o

    conhecimento das interaes desses fatores, na dinmica da floresta, facilita a interpretao

    sobre como se desenvolveu a vegetao atravs do tempo, transformando-se numa ferramenta

    de fundamental importncia na tomada de decises concernentes ao manejo silvicultural.

    A dinmica e a sucesso florestal relacionam-se a distrbios na floresta. Com os

    distrbios e a consequente morte de rvores, pode ocorrer a formao de clareiras, que atuam

    favoravelmente na sobrevivncia das rvores, pois aumentam a disponibilidade de nutrientes,

  • 20

    luz e espao necessrio para o desenvolvimento das espcies, liberando-as da competio

    (WADSWORTH; ZWEEDE, 2006). Nesse caso, o prprio corte seletivo, ao diminuir a

    densidade da floresta, pode proporcionar aumento da sobrevivncia das plantas remanescentes

    (SMITH, 1986).

    Por outro lado, as mudanas causadas no ambiente, devido aos distrbios ou

    intervenes silviculturais, podem surtir efeito contrrio. De acordo com Schneider e

    Schneider (2008), quando se libera rvores que cresceram na sombra, suas folhas, adaptadas

    sombra, ficam expostas a uma maior intensidade luminosa e devem se ajustar a este novo

    ambiente, sendo que, em casos extremos, rvores sufocadas e depois liberadas podem chegar

    morte, no caso de espcies incapazes de se adaptar rapidamente a essa mudana.

    Segundo Carvalho (1997), aps a criao de uma clareira, as espcies pioneiras

    crescem rpido e vo formar o dossel, debaixo do qual estabelecem-se as mudas de espcies

    tolerantes a sombra. Quando as espcies intolerantes comeam a morrer, o dossel comea a

    desfazer-se, e as tolerantes so liberadas e crescem como um segundo ciclo. O autor ressalta

    ainda que a sucesso ocorre quando um grupo de espcies tolerantes sombra substitui um

    grupo de espcies intolerantes. Uma abordagem mais detalhada de cada grupo ecolgico,

    classificando as espcies arbreas em trs grupos, de acordo com as respectivas exigncias

    relativas luz, foi realizada por Lamprecht (1990):

    a) espcies helifilas (Pioneiras): necessitam de luz mais ou menos plena do incio ao

    fim da vida. Apresentam rpido crescimento e adquirem muito cedo a capacidade de

    reproduo, produzindo sementes em abundncia;

    b) espcies escifilas (Tolerantes): regeneram-se na sombra do povoamento e, sob

    certas condies, conseguem manter-se na sombra durante toda a vida. Precisam de sombra,

    pelo menos, durante o perodo juvenil. Em geral, sua produo de sementes no elevada. Ao

    contrrio das pioneiras, que necessitam de luz para se desenvolverem, as espcies escifilas

    podem sobreviver no interior da floresta durante dcadas sem crescer, praticamente. Neste

    compasso de espera, elas preservam sua capacidade de reagir ao crescimento a qualquer

    melhoria nas condies de luminosidade;

    c) espcies parcialmente escifilas (Intolerantes): capazes de regenerarem-se na

    sombra ou sob a luz, mas necessitam de luz plena na primeira fase. Apresentam grande

    capacidade de disseminao de sementes no interior da floresta, no entanto, a tolerncia das

    plntulas sombra limitada, ou seja, se, passados alguns anos, no houver um incremento

    de luminosidade, elas acabaro por morrer. Devido ao carter fortuito do surgimento de uma

    clareira e, tendo-se em vista o aspecto aleatrio desta regenerao, estas espcies tambm

  • 21

    recebem a denominao de nmades ou oportunistas. Ao contrrio das espcies escifilas, as

    espcies nmades conseguem estabelecer-se mesmo em grandes reas sem cobertura florestal,

    embora venham a se deparar com a concorrncia das pioneiras, com vigor superior a delas.

    O tamanho da clareira tem fundamental importncia para sucesso da floresta, sendo

    responsvel pela dinmica das espcies e um importante fator na manuteno da alta

    diversidade das florestas tropicais (HARTSHORN, 1989 apud JARDIM et al., 2007).

    Pequenas clareiras, como aquelas formadas pela queda de um galho, normalmente no

    promovem as condies microclimticas para o estabelecimento de espcies pioneiras. Nessas

    condies, as espcies de clmax acabam por preencher a clareira pelo crescimento lateral dos

    galhos. Por outro lado, se a clareira grande, ela primeiramente colonizada pelas espcies

    pioneiras (JARDIM et al., 2007). Portanto, o tamanho das clareiras deve ser levado em

    considerao quando se planeja a explorao florestal (SILVA, 1989); assim, quando a

    espcie desejvel tolerante sombra, a explorao deve minimizar a formao de clareiras

    muito grandes, que favorecem o desenvolvimento de espcies helifilas indesejveis

    (JARDIM et al., 2007).

    O esquema apresentado na Figura 1, extrado de Lamprecht (1990), retrata as diversas

    curvas cumulativas de crescimento entre o ciclo vital das pioneiras, escifilas e oportunistas.

    Figura 1 Diferentes curvas cumulativas de crescimento tpicas de diversas espcies arbreas

    em florestas tropicais, conforme o grupo ecolgico de sucesso.

    FONTE: Lamprecht (1990).

  • 22

    Nesses tipos de curvas apresentadas na Figura 1, caracterizadas por um

    comportamento sigmoidal, inicialmente, h um crescimento moderado at determinada idade,

    passando ento a apresentar uma ascenso convexa para com o eixo X at um determinado

    ponto de inflexo. Depois, a curva passa a ter um comportamento cncavo em relao a esse

    eixo X at um mximo, passando a ser, ento, levemente assinttica ou podendo at mesmo

    decrescer. Tal decrscimo se d em funo da senescncia do povoamento (ASSMANN,

    1970; FINGER, 1992).

    Assmann (1970) menciona que as florestas naturais possuem trs tipos de estgios:

    reestoqueamento (restocking), produo completa (full production) e mudana da

    cobertura (canopy change). Na fase de reestoqueamento, qual o autor refere-se como

    fase de construo, os estratos superior, mdio e inferior contribuem com um tero cada na

    cobertura. Nessa fase, o estrato superior no est totalmente estocado. Nela, o estoque seria

    ainda moderado para o potencial da floresta. A tendncia de que os estratos intermedirio e

    superior aumentem. No estgio de produo completa, o estrato superior ocupa

    aproximadamente 50% do teto de cobertura. A floresta est prxima de atingir seu estoque

    mximo e o incremento alcana seu mximo valor. No estgio de mudana de cobertura,

    depois de alcanar seu estoque mximo, acontece uma diminuio pesada da cobertura (seja

    por calamidade ou explorao). Outra vez, condies favorveis de luminosidade ocorrem,

    favorecendo inmeros pontos de regenerao. O crescimento moderado e,

    consequentemente, o incremento pequeno.

    Dessa forma, conhecer o tipo de estgio em que se encontra a floresta torna-se

    fundamental para se pensar o tratamento silvicultural, uma vez que a luminosidade

    imprescindvel para os processos de dinmica de seu crescimento. A prtica do manejo em

    florestas nativas, para Souza et al. (1993), passa, obrigatoriamente, pelo conhecimento desses

    processos que, segundo Arce et al. (1998), podem ser entendidos como um processo contnuo,

    que inclui uma entrada, um movimento e uma sada de matria. A entrada o ingresso ou

    recrutamento, o movimento o crescimento (incremento), e a sada a mortalidade.

    2.2.1 Recrutamento e mortalidade

    O recrutamento ou ingresso subentendido como o processo pelo qual as rvores

  • 23

    surgem na tabela de povoamento de parcelas permanentes depois de uma medio inicial

    (ALDER, 1983). Em outras palavras, recrutas so as rvores que atingiram um dimetro

    mnimo entre duas medies subsequentes, o que difere de regenerao, que Vanclay (1994)

    relaciona ao desenvolvimento de rvores j estabelecidas por sementes ou plntulas.

    Para Alder (1983), a quantidade de ingresso varia com a composio das espcies e

    com o grau de perturbao no dossel. Pequenas perturbaes, tais como aquelas resultantes da

    queda de uma rvore ou galho, no levam ao aparecimento de grande nmero de novos

    indivduos do recrutamento (SILVA, 1989). O mesmo autor salienta ainda que, se a clareira

    de pequeno tamanho, o ingresso no abundante, porque normalmente espcies de

    crescimento lento e tolerante sombra ocupam a clareira. Inversamente, perturbaes pesadas

    tais como aquelas causadas pela explorao, geralmente resultam em germinao e

    crescimento de grande nmero de espcies pioneiras de rpido crescimento, que logo crescem

    at o mnimo tamanho de medio.

    J a mortalidade definida por Sanquetta et al. (2003) como o nmero de rvores que

    foram mensuradas inicialmente, que no foram cortadas e morreram durante o perodo de

    crescimento. Pode ser causada por diversos fatores, a saber: idade ou senilidade; competio e

    supresso; doenas ou pragas; condies climticas; fogos silvestres; anelamento e

    envenenamento; injurias; corte ou abate da rvore (SANQUETTA, 1996).

    A mortalidade influencia as condies microambientais e as taxas de crescimento das

    rvores vizinhas, aumentando ou diminuindo a chance de morte de outras rvores

    (WERNECK; FRANCESCHINELLI, 2004). Alguns estudos sugerem ainda que a

    mortalidade tende a ser maior nas rvores pertencentes s maiores e menores classes de

    dimetro. No primeiro caso, devido ao grande porte, idade e por estarem mais susceptveis

    influncia dos agentes naturais, como ventos e deslizamentos de terras; e, no segundo, devido

    competio no sub-bosque e por estarem sujeitas a danos fsicos causados pela queda de

    rvores ou por partes delas (ROLIN et al., 1999; GOMES et al., 2003; KING et al., 2006).

    A posio da espcie no contexto do processo de sucesso tambm importante, uma

    vez que espcies pioneiras tendem a apresentar maiores taxas de mortalidade, que pendem

    diminuio medida que a floresta evolui para o seu clmax (WHITMORE, 1989).

  • 24

    2.2.2 Crescimento

    Para Davis e Johnson (1987), o conhecimento da produo e crescimento das florestas

    essencial para o manejo criterioso dessas florestas. A palavra crescimento definida por

    muitos autores, indicando a importncia dessa grandeza. Zeide (1993) definiu o crescimento

    como a expresso da interao de dois componentes opostos: um componente positivo, que

    manifesta o aumento gradual de um organismo e representa a tendncia natural de

    multiplicao, alongamento e engrossamento das clulas; e um componente negativo, que

    representa as restries impostas por fatores externos (competio, estresse hdrico,

    disponibilidade de nutrientes) e por fatores internos (mecanismos autorregulatrios,

    caractersticas genticas e envelhecimento).

    J Vanclay (1994) e Prodan et al. (1997) entendem por crescimento o aumento de

    dimenses de um ou mais indivduos em uma floresta em determinado perodo de tempo, o

    qual influenciado pelas caractersticas da espcie em interao com o ambiente. Tais

    dimenses podem ser o dimetro, a altura, o volume, a biomassa, a rea basal, etc.

    Os principais fatores que influem no crescimento de uma rvore, segundo Schneider e

    Schneider (2008), so: luz, contedo de clorofila, concentrao de CO2, temperatura, gua e

    nutrientes; fatores esses dependentes da adaptao gentica da espcie e da competio. Para

    Carvalho (1997), existe variao de crescimento entre espcies, assim como pode haver

    variao dentro de uma mesma espcie e entre indivduos por causa das diferenas existentes

    entre tamanhos e grau de iluminao do dossel e a influncia dos fatores genticos. Os

    tratamentos silviculturais podem diminuir ou at, em alguns casos, eliminar as diferenas do

    crescimento entre indivduos de uma mesma espcie e de seu padro de crescimento.

    O crescimento de uma floresta depende tanto da produtividade potencial, dada pela

    qualidade de stio, quanto do grau em que se aproveita essa potencialidade expressa pelo

    estoqueamento da floresta, ou seja, a densidade presente em relao a uma condio de

    referncia normal (CHASSOT, 2009). Conforme Prodan et al. (1997), o conceito de

    densidade est estritamente ligado s condies de concorrncia, ocupao da superfcie e

    fechamento do dossel.

  • 25

    2.3 Manejo de florestas naturais

    2.3.1 Regulao da produo florestal

    A regulao da produo o conjunto de procedimentos que permitem determinar as

    dimenses, a quantidade, a localizao e o volume de madeira que pode ser explorado em

    uma floresta de maneira sustentvel (BRAZ, 2010). Para Davis e Johnson (1987), uma

    floresta regulada aquela em que classes de idade, como classes de dimetro, esto crescendo

    segundo determinadas taxas e so representadas em propores tais que uma produo

    aproximadamente igual de madeira, anual ou periodicamente, segundo dimenses e

    qualidades desejadas, pode ser obtida de forma contnua, regular e perptua.

    A necessidade de estabelecer a normalidade e rendimento sustentado levou o

    engenheiro francs Liocourt, em 1898, a formular um modelo de floresta ideal para estruturas

    de seleo, em esquema de regulao de cortes consistentes (LOETSCH et al., 1973 apud

    SCHNEIDER; SCHNEIDER, 2008). A teoria de De Liocourt sugere que a distribuio

    diamtrica em florestas heterogneas tende a uma distribuio em forma de "J" invertido, na

    qual o nmero de rvores decresce na direo das classes de maior dimetro, podendo ser

    descrita por uma funo exponencial, como a aplicada por Meyer (1952), representada pela

    funo de densidade Yj = e bo+b1.Dj

    , sendo Yj o estimador do nmero de rvores por hectare na

    j-sima classe de DAP; b0 e b1, os coeficientes da equao; Dj, o dimetro correspondente ao

    centro da j-sima classe de DAP; e e, a constante dos logaritmos neperianos.

    A anlise do nmero de rvores por unidade de rea por intervalo de classe de

    dimetro pode ser utilizada como um indicativo de equilbrio ou desequilbrio do recurso

    florestal. Se a floresta est em equilbrio, as taxas de recrutamento ficam parecidas com as

    taxas de mortalidade e a distribuio dos dimetros das rvores apresenta a forma de J reverso

    ou exponencial negativo, que pode ser quantificado pelo quoeficiente de De Liocourt. Esse

    coeficiente fornece a relao entre o nmero de indivduos existentes em uma classe de

    dimetro e na classe imediatamente anterior, e, para a floresta estar em equilbrio, deve ser

    relativamente constante ao longo da curva. Se constante, indica que a floresta capaz de

    render um volume estvel de madeira ao longo do tempo, sem mudar sua estrutura ou volume

    inicial, podendo ser considerada sustentvel e qualquer mudana na curva pode indicar

    desbalanceamento na regenerao e no crescimento (OHARA, 2002).

  • 26

    Para conduzir a floresta a uma distribuio balanceada/regulada necessrio que o

    manejo a induza a um nvel de produo sustentada. A viabilizao desta prtica, segundo

    Scolforo (1997), depende da execuo criteriosa do inventrio florestal para, ento, utilizar-se

    o conceito de floresta balanceada, que, dentre outros benefcios, possibilita quantificar o

    nmero de rvores que se pode remover por classe diamtrica. No mesmo sentido, Souza et

    al. (2006) salientam que o conhecimento da estrutura diamtrica auxilia na conduo da

    floresta e, no caso de uma estrutura balanceada, na determinao da intensidade de corte e na

    manuteno da capacidade de sustentao da produo, bem como no estabelecimento do

    ciclo de corte e na colheita da madeira.

    Uma vez definida a inteno de se obter o rendimento sustentado, Braz (2010) salienta

    que necessrio definir qual rea deve ser submetida explorao seletiva periodicamente e

    qual volume pode ser explorado em cada perodo ou ciclo de corte para que o rendimento

    sustentado seja obtido ao longo do tempo. Para isso, o corte deve ser igual ao incremento,

    uma vez que, o incremento pode ser considerado o juro do estoque de crescimento, e o ciclo

    de corte, o tempo de acumulao desse juro. J para uma floresta cujas densidades sejam

    diferentes da padro, o corte dever ser ajustado, para que, pouco a pouco, obtenha-se a

    densidade desejada.

    2.3.2 Tratamentos silviculturais

    Segundo Pinard et al. (1999), sistemas silviculturais envolvem a aplicao de

    tratamentos pr e ps-colheita que objetivam, notadamente, realar a regenerao natural,

    aumentando as taxas de recrutamento, estabelecimento e crescimento das rvores, ou mesmo

    melhorar suas qualidades comerciais na floresta remanescente. Dentre os sistemas

    silviculturais aplicados a florestas nativas, que envolvem a explorao de espcies comerciais,

    GmezPompa e Burley (1991) destacam como eficientes os que favorecem a regenerao

    natural ou artificial, enriquecendo a futura floresta com espcies de interesse; e os que

    promovem a eliminao de espcies indesejveis.

    Para Azevedo et al. (2008), as taxas de crescimento podem ser aceleradas pelos

    tratamentos silviculturais, que envolvem dois tipos: i) liberao ou desbaste seletivo, que

    consiste na remoo de indivduos competidores, no desejveis, cujas copas estejam

    competindo por luz com as copas das rvores de espcies selecionadas para a prxima

  • 27

    colheita; ii) refinamento ou desbaste sistemtico, que consiste na reduo da rea basal de

    espcies no desejveis, visando diminuir a competio no povoamento de forma geral.

    De acordo com Schneider e Finger (2000), os cortes a serem executados nas rvores

    previamente selecionadas no inventrio e que constituem a taxa de corte devem ser

    considerados de acordo com o objetivo e a fase de sua aplicao, como:

    a) Corte de limpeza: compreende os cortes de eliminao de cips para facilitar o

    abate das rvores, reduzindo danos s remanescentes e riscos ao abatedor;

    b) Colheita propriamente dita: abate e extrao das rvores selecionadas, que

    compem a taxa de corte sustentada;

    c) Refinamento: abrange a liberao de rvores com um bom potencial futuro e a

    retirada de rvores com ms perspectivas de crescimento, formao e sobrevivncia.

    Tratamentos silviculturais, aplicados periodicamente, podem resultar em uma floresta

    com predominncia de espcies de valor econmico e em novas colheitas com ciclo de corte

    duas a trs vezes menores do que no caso de florestas no manejadas (OLIVEIRA, 2005).

    Diversas pesquisas realizadas para investigar o crescimento de rvores em relao ao aumento

    da disponibilidade de recursos, em funo de intervenes silviculturais, confirmam um maior

    crescimento em reas sob intervenes, quando comparado ao crescimento em reas sem

    intervenes, no mesmo stio (GERWING, 2001; SILVA et al., 1995; HIGUCHI et al., 1997;

    WADSWORTH; ZWEEDE, 2006; PEA-CLAROS et al., 2008; VILLEGAS et al., 2009).

    Esses estudos esto concentrados nas Florestas Tropicais, sendo escassos os estudos nas

    florestas sob domnio da Mata Atlntica.

    Em trabalho realizado por Villegas et al. (2009), concluiu-se que as taxas de

    crescimento em dimetro das rvores de interesse aumentaram com a disponibilidade de luz,

    intensidade de explorao, e diminuram com o grau de infestao de cips.

    Na floresta de terra firme na Amaznia brasileira, Wadsworth e Zweede (2006)

    verificaram que o corte de competidoras para liberao de rvores desejveis aumentou o

    incremento em dimetro em 20%, e o rendimento de madeira de 25m.ha-1

    na rea controle

    passou para 43m.ha-1

    na rea sob manejo, aps 5,7 anos.

    Em uma pesquisa que incluiu corte de lianas como tratamento silvicultural em

    Paragominas, na Amaznia brasileira, Gerwing (2001) verificou que na ausncia de

    intervenes silviculturais, o incremento mdio em dimetro foi de 1,3 mm.ano-1

    , enquanto

    que no tratamento com corte de lianas este foi de 3,0 mm.ano-1

    . Silva et al. (1995)

    encontraram taxa de crescimento em dimetro de 4,0 mm.ano-1

    aps cortes seletivos, e de 2,0

    mm.ano-1

    na rea no explorada, aps oito anos, na Amaznia.

  • 28

    Tambm na Amaznia brasileira, Higuchi et al. (1997) testaram diferentes

    intensidades de reduo da rea basal da floresta, em 4 tratamentos distintos: (i) sem remoo

    de rea basal (testemunha); (ii) remoo de 25% de rea basal; (iii) remoo de 50% de rea

    basal; e (iv) remoo de 75% de rea basal. O incremento anual em rea basal e volume das

    espcies comerciais com DAP acima de 10 cm nesse estudo foi, para a testemunha, de 0,07

    m.ha-1

    e 0,96 m.ha-1

    ; com remoo de 25% de rea basal, 0,16 m.ha-1

    e 2,11 m.ha-1

    ; com

    remoo de 50% de rea basal, 0,13 m.ha-1

    e 1,71 m.ha-1

    ; e com remoo de 75% de rea

    basal, 0,10 m.ha-1

    e 1,58 m.ha-1

    .

    Em uma Floresta Estacional Semidecdua secundria em Pirenpolis, estado de Gois,

    Venturoli (2008) testou diferentes intervenes silviculturais que consistiram em liberao de

    competio, corte de cips, plantio de enriquecimento e um controle. O incremento peridico

    anual em dimetro entre os tratamentos foi de 0,29 cm.ano-1

    na testemunha (tratamento 1),

    0,32 cm.ano-1

    no tratamento de liberao de desejveis (tratamento 2), 0,33 cm.ano-1

    no

    tratamento de liberao de desejveis mais corte de cips (tratamento 3) e de 0,36 cm.ano-1

    no

    tratamento de liberao de desejveis mais corte de cips e plantio (tratamento 4).

    Jesus e Souza (1995), trabalhando em floresta secundria de transio, no Estado de

    Minas Gerais, estimaram o incremento peridico anual em dimetro de 2,49; 4,76 e 5,50

    mm.ano-1

    , e para os povoamentos sem interveno, redues de 78,76 e 87,15% em rea

    basal, respectivamente.

  • 3 MATERIAL E MTODOS

    3.1 Caractersticas da rea de estudo

    3.1.1 Localizao

    A presente pesquisa foi realizada na Fazenda Tupi, pertencente Paludo Agropecuria

    S.A., empresa do grupo VIPAL, localizada no distrito de Rio Branco, municpio de Nova

    Prata, regio da encosta superior do nordeste do Rio grande do Sul, entre as coordenadas

    2840 e 2843S e 5138e 5136W, estando a uma altitude mdia de 662 metros (Figura 2).

    Figura 2 Localizao da rea de estudo no municpio de Nova Prata, RS.

    A rea total da Fazenda Tupi de 962,3 ha, sendo 784,3 ha ocupados com Floresta

    Ombrfila Mista em estgios de desenvolvimento mdio e avanado. A propriedade constitui-

    se em um dos ltimos remanescentes de floresta com araucria desta extenso na regio

    nordeste do Rio Grande do Sul, razo pela qual se destaca na paisagem como se pode

    observar na imagem do satlite GeoEye, apresentado na Figura 3.

  • 30

    Figura 3 Imagem do satlite GeoEye da Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. Fonte: Google earth (2011).

    3.1.2 Climatologia

    O clima da regio, de acordo com a classificao de Kppen, do tipo Cfbl,

    caracterizado pela ocorrncia de chuvas durante todos os meses do ano, apresentando a

    temperatura do ms mais quente inferior a 22C, e a do ms mais frio oscilando entre -3 e

    18C (MORENO, 1961).

    De acordo com dados meteorolgicos obtidos de 1961 a 1990, na Estao

    Agroclimtica da Embrapa Uva e Vinho, no municpio de Bento Gonalves (latitude 2909'S,

    longitude 5131'W e altitude de 640 m), prximo regio de estudo, a temperatura mdia

    anual de 17,2C, sendo junho o ms mais frio, com mdia de 12,8C; e janeiro o mais

    quente, com mdia de 21,8C. A umidade relativa mdia anual de 76,0%. As precipitaes

    so regularmente distribudas em todos os meses do ano, com mdia anual acumulada de 1736

    mm, sendo o ms de setembro o mais chuvoso, com 185 mm; e maio o mais seco, com 107

    mm.

    A formao de geadas na regio um fenmeno comum, em virtude de suas latitude e

  • 31

    orografia. Em mdia, ocorrem 4 geadas no outono, 13 no inverno e 3 na primavera, variando

    entre um mnimo de 8 e um mximo de 32 geadas anuais (MOSCOVICH, 2006).

    3.1.3 Relevo e solos

    A regio de Nova Prata apresenta relevo montanhoso, sendo recortada profundamente

    por rios que formam vales estreitos. As altitudes variam de 300 a 600 metros nos vales, at

    800 metros nos limites com o planalto (RIO GRANDE DO SUL, 2001).

    A unidade de relevo que ocorre na regio do tipo Planalto das Araucrias, situado na

    parte intermediria da serra e as declividades mdias do local no ultrapassam 30%

    (HERRMANN; ROSA, 1990).

    Na poro nordeste do Rio Grande do Sul so encontrados os derrames baslticos nas

    cotas mais baixas, formando as bases e encostas dos morros, enquanto os derrames riolticos

    aparecem nas cotas mais altas, geralmente acima de 700 a 800 metros de altitude (STRECK et

    al., 2008).

    O solo, cuja profundidade varia entre 1,5 a 2,0 m, moderadamente drenado, com

    textura argilosa, fortemente cido. Pertence unidade de mapeamento Durox, sendo

    classificado como Latossolo Vermelho distrofrrico tpico (STRECK et al., 2002).

    3.1.4 Vegetao natural

    Baseando-se na classificao proposta pelo IBGE (1992), a tipologia vegetal

    caracterstica da rea de estudo a Floresta Ombrfila Mista Montana. O carter ombrfilo

    deste tipo de vegetao refere-se ao clima, ou seja, formao florestal situada numa regio

    com alta pluviosidade, onde ocorrem chuvas bem distribudas ao longo do ano. O carter

    misto d-se pela mistura de floras com origens distintas: temperada (austro-brasileira) e

    tropical (afro-brasileira). J o carter montano deve-se ao fato da floresta localizar-se entre

    400 m e mais ou menos 1.000 m de altitude.

  • 32

    3.1.5 Histrico da floresta da Fazenda Tupi

    Na Fazenda Tupi, a partir da dcada de 70, teve incio uma explorao intensiva da

    floresta, culminando com a explorao indiscriminada ocorrida em meados da dcada de 80,

    quando foi abatida grande parte das araucrias adultas presentes na propriedade. Essa

    explorao acabou degradando a floresta, tanto pela ampla subtrao das araucrias como

    pelos danos causados s rvores remanescentes.

    Em 1989, a propriedade foi adquirida pela Paludo Agropecuria S.A., empresa do

    Grupo Vipal, que de imediato solicitou ao Centro de Pesquisas Florestais, da Universidade

    Federal de Santa Maria, a realizao de um estudo detalhado, visando caracterizar seu estado

    atual, seu potencial madeireiro remanescente e a elaborao de um plano de manejo florestal.

    Em 1995, implantou-se um experimento para estudo da dinmica de desenvolvimento

    da floresta nativa da Fazenda Tupi que, 4 anos depois, foi integrado a um Programa de

    Pesquisas Ecolgicas de Longa Durao (PELD) financiado pelo Conselho Nacional de

    Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPQ), intitulado de Conservao e Manejo

    Sustentvel de Ecossistemas Florestais Bioma Floresta de Araucria e suas Transies.

    O programa teve durao de 10 anos (1999 a 2009) com levantamentos anuais de dados.

    3.2 rea experimental

    A estrutura amostral da presente pesquisa teve como base a do experimento realizado

    por Borsoi (2004). Esse autor testou diferentes intervenes de manejo na floresta em

    unidades de 0,5 ha cada. Tais intervenes consistiram em rebaixar em cinco nveis

    percentuais a curva de distribuio de frequncia em relao rea basal. As intensidades das

    intervenes nos tratamentos foram: Tratamento 1 = reduo da curva de distribuio de

    frequncia em 20% do total da rea basal, por classe de DAP; Tratamento 2 = reduo da

    curva de distribuio de frequncia em 30% do total da rea basal, por classe de DAP;

    Tratamento 3 = reduo da curva de distribuio de frequncia em 40% do total da rea basal,

    por classe de DAP; Tratamento 4 = reduo da curva de distribuio de frequncia em 50%

    do total da rea basal, por classe de DAP; Tratamento 5 = reduo da curva de distribuio de

    frequncia em 60% do total da rea basal, por classe de DAP.

  • 33

    Para o presente estudo, com a finalidade de tornar mais prtico o estabelecimento das

    classes de grau de interveno da floresta e tambm para aumentar a rea amostral de cada

    tratamento, consideraram-se para os tratamentos que receberam interveno de manejo, trs

    intensidades de corte seletivo, adaptados de Borsoi (2004), as quais so descritas na Tabela 1.

    Tabela 1 Intensidades dos cortes seletivos para cada tratamento de manejo aplicado na

    Floresta Ombrfila Mista da Fazenda Tupi, Nova Prata, RS. Adaptado de Borsoi (2004).

    Trat. Descrio rea

    amostral Estratgia de Manejo

    T1 Testemunha 1,0ha Unidade que no sofreu interveno.

    T2 Corte Seletivo

    Leve 0,5ha

    Rebaixamento da curva de distribuio de frequncia,

    com a retirada de cerca de 20% do total da rea basal, por

    classe de DAP.

    T3 Corte Seletivo

    Mdio 1,0ha

    Rebaixamento da curva de distribuio de frequncia,

    com a extrao de 30-40% do total da rea basal, por

    classe de DAP.

    T4 Corte Seletivo

    Pesado 1,0ha

    Rebaixamento da curva de distribuio de frequncia,

    com a extrao de 50-60% do total da rea basal, por

    classe de DAP.

    A rea total amostral do presente trabalho foi de 3,5 ha, sendo 1,0 ha pertencente

    testemunha. A testemunha uma das cinco parcelas permanentes de 1,0 ha que foram

    monitoradas anualmente, no perodo de 2000 a 2009 pelo Projeto Ecolgico de Longa

    Durao (PELD). Para a escolha da testemunha, prevaleceu o fato de a mesma estar prxima

    rea onde ocorreram os cortes seletivos, evitando/diminuindo, assim, a influncia do stio nos

    tratamentos.

    Os tratamentos que receberam intervenes de manejo esto separados entre si por

    uma distncia de 20 m entre cada parcela. Cada parcela possui dimenso de 50 m de largura

    por 100 m de comprimento (0,5 ha). O tratamento Corte Seletivo Leve possui apenas uma

    parcela e os tratamentos Corte Seletivo Mdio e Corte Seletivo Pesado possuem duas parcelas

    cada. Cada uma dessas foi dividida em 5 faixas de 10 m de largura por 100 m de

    comprimento, as quais foram subdivididas em subunidades de 10 m por 10 m para o controle

    espacial dos indivduos na rea. As faixas foram marcadas nas extremidades e no centro das

    linhas laterais com canos de PVC branco de 40 mm de dimetro e nas subunidades de cada

    faixa com canos de PVC marrom de 25 mm. A localizao das parcelas constituintes de cada

    tratamento de manejo aplicado na Fazenda Tupi pode ser observada na Figura 4.

  • 34

    Figura 4 Localizao das unidades amostrais constituintes de cada tratamento de manejo

    aplicados na Floresta Ombrfila Mista da Fazenda Tupi, Nova Prata, RS.

    As intervenes de manejo ocorreram no ano de 2002, tendo em vista que, para a

    extrao das rvores, em cada tratamento, foi dada preferncia aos indivduos defeituosos,

    mortos e danificados e aos de maior densidade absoluta, sendo respeitados os critrios

    estabelecidos em cada tratamento. Esse mtodo de escolha se deu ao fato de que na prxima

    interveno ser possvel obter indivduos com fustes mais regulares, com melhores

    condies de sanidade, com copas bem distribudas e, por consequncia, tornar a floresta

    produtiva e com distribuio regular de espcies.

    A metodologia de abate das rvores imposta por Borsoi (2004) teve como base os

    trabalhos de pesquisa realizados sobre impactos na explorao de florestas tropicais. Em

    linhas gerais, Borsoi (2004) relatou que o abate teve como regra o direcionamento da queda a

    fim de causar os menores impactos possveis sobre os indivduos remanescentes. Para isto,

    realizou-se a limpeza das rvores selecionadas, quanto aos cips e, em seguida, orientou-se o

    corte, de maneira que a queda da rvore atingisse o menor nmero de indivduos, tanto de

    adultos quanto da regenerao natural.

    -284215

    -284231

    -513656 -513719

    -284040

    -284255

    -513859 -513557

    Rede viria

  • 35

    3.2.1 Obteno dos dados e variveis levantadas

    A obteno dos dados utilizados no presente estudo foi proveniente de trs ocasies,

    ou seja, trs inventrios de monitoramento da floresta, sendo estes:

    a) Inventrio pr-exploratrio: realizado no ano de 2001, foi base para o planejamento

    das intervenes de manejo realizadas por Borsoi (2004);

    b) 1 Inventrio de monitoramento: realizado no ano de 2006 em trabalho

    desenvolvido por Hack (2007) para a avaliao da recuperao da floresta aps as

    intervenes de manejo;

    c) 2 Inventrio de monitoramento: realizado no ano de 2010, sendo proveniente do

    presente estudo. Para esse, foi utilizada a mesma metodologia do inventrio anterior, a saber,

    remediram-se todas as rvores com CAP (circunferncia altura do peito) 30 cm presentes

    na parcela, que j estavam identificadas e numeradas com etiqueta de alumnio fixadas com

    prego a 1,25 metros da base da rvore, alm de apresentarem uma faixa amarela em torno de 2

    cm de largura na altura do ponto de medio (1,30 m), com a finalidade de se evitar erros de

    remedio subsequente da CAP (Figura 5).

    Figura 5 Detalhe da faixa amarela a altura da CAP da rvore (a); medio a campo da CAP

    com fita mtrica (b) e; etiqueta numrica (c). Fazenda Tupi, Nova Prata, RS.

    Foto: Longhi (2010).

    Cada indivduo teve medido a CAP, a altura comercial e total, e as coordenadas X e Y

    de seu posicionamento dentro da subunidade. Para a obteno da altura comercial foi

    considerada a altura entre o nvel do solo e a poro superior utilizvel do tronco, sendo esta

    a b c

  • 36

    determinada por presena de bifurcao, galhos de grande porte ou tortuosidade acentuada.

    Os indivduos que no estavam presentes no estoque de crescimento, mas que

    atingiram o CAP mnimo de 30 cm no ano da remedio, foram ingressados no estoque do

    estrato arbreo, receberam uma etiqueta de alumnio com nmero sequencial, foram

    identificados botanicamente, sendo medidas todas as variveis descritas anteriormente. A

    medio da CAP das rvores foi feita com trena de preciso em milmetros e as alturas das

    rvores com o Hipsmetro Digital Vertex, com preciso de 0,1 metro.

    A identificao botnica foi inicialmente realizada in loco, bem como utilizando as

    informaes encontradas nas bibliografias especializadas sobre o assunto e consultas ao

    acervo do Herbrio do Departamento de Cincias Florestais (HDCF) da Universidade Federal

    de Santa Maria. A nomenclatura das espcies segue a proposta do Angiosperm Philogeneny

    Group (APG) (APG III, 2009).

    3.3 Avaliao da sustentabilidade ecolgica dos tratamentos de manejo

    A produo sustentada de madeira em longo prazo requer, indiscutivelmente, a

    manuteno das condies ecolgicas timas da floresta, sem o qual no haver

    sustentabilidade. Para que isso possa ser possvel preciso que, periodicamente, seja cortada

    somente uma quantidade de madeira igual ao crescimento de cada rvore da floresta,

    propiciando-se, assim, a perpetuao do estoque de madeira e da manuteno do equilbrio

    ecolgico do ecossistema.

    Dessa forma, faz-se necessrio verificar o comportamento da floresta com o passar do

    tempo aps as intervenes de manejo, conhecendo-se as alteraes de estrutura, florstica e

    diversidade, alm da dinmica da floresta para os diferentes tratamentos de manejo. Esses

    resultados fornecero informaes confiveis do grau de alterao e recuperao da

    biodiversidade, base para o aproveitamento racional do recurso florestal.

  • 37

    3.3.1 Estrutura fitossociolgica

    Foram caracterizadas a composio de espcies e a estrutura horizontal dos diferentes

    tratamentos de manejo aplicados na floresta, para a ocasio antes das intervenes de manejo,

    em 2001, e oito anos aps as intervenes, em 2010, comparando-se as mudanas que

    ocorreram nesse perodo em relao ao tratamento que no sofreu cortes seletivos.

    Para se avaliar as mudanas na estrutura horizontal de cada tratamento, estimaram-se

    os parmetros fitossociolgicos tradicionalmente utilizados: densidade, dominncia,

    frequncia e valor de importncia (MUELLER-DOMBOIS; ELLENBERG, 1974; LONGHI,

    1980). As frmulas para os clculos dos parmetros so apresentadas na Tabela 2.

    Tabela 2 Frmulas utilizadas para clculo dos parmetros fitossociolgicos para cada

    espcie amostrada nos tratamentos de manejo. Fazenda Tupi, Nova Prata, RS.

    Parmetro Abreviao Frmula Unidade

    Densidade absoluta DA ni.ha-1

    n/ha

    Densidade relativa DR DA/N.ha-1

    x 100 %

    Dominncia absoluta DoA gi.ha-1

    m/ha

    Dominncia relativa DoR (DoA/G.ha-1

    ) x 100 %

    Frequncia absoluta FA % parcelas com registro da espcie %

    Frequncia relativa FR (FA/FA) x 100 %

    Valor de Importncia VI DR + DoR + FR %

    Em que: ni = nmero total de indivduos amostrados de cada espcie; N = nmero total de indivduos

    amostrados; gi= rea basal de cada espcie; G = rea basal total das espcies encontradas por unidade de rea.

    Para a anlise da estrutura horizontal, os dados foram processados nos diferentes

    perodos de anlise pelo software Mata Nativa 2 (CIENTEC, 2006).

    3.3.2 Diversidade e equabilidade

    A variao de espcies existentes entre comunidades pode ser representada e

    quantificada de diversas maneiras, sendo a mais comum por meio dos ndices de diversidade.

    Assim, para avaliar as mudanas de diversidade e equabilidade de espcies nos diferentes

    tratamentos de manejo aplicados na floresta, utilizaram-se os seguintes ndices: ndice de

    diversidade de Shannon (H) (SHANNON, 1948) e ndice de equabilidade de Pielou (J)

  • 38

    (PIELOU, 1966). A sntese do postulado de cada ndice apresentada a seguir:

    a) ndice de diversidade de Shannon (H) fornece a ideia do grau de incerteza em

    prever qual seria a espcie pertencente a um indivduo da populao, se retirado

    aleatoriamente (LAMPRECHT, 1990). expresso pela frmula:

    ii PPH ln' (1)

    Sendo: Pi=probabilidade de importncia de cada espcie (ni/N); ni=nmero de indivduos de cada

    espcie; N=nmero total de indivduos amostrados; ln=logaritmo neperiano.

    Quanto maior o valor de H, maior a diversidade da rea em estudo. Segundo Felfili e

    Rezende (2003), os valores do ndice de Shannon geralmente situam-se entre 1,3 e 3,5,

    podendo exceder 4,0 e alcanar em torno de 4,5 em ambientes florestais tropicais.

    b) ndice de equabilidade de Pielou (J) derivado do ndice de diversidade de

    Shannon e permite representar a uniformidade da distribuio dos indivduos entre as espcies

    existentes (PIELOU, 1966). expresso pela frmula:

    max'

    ''H

    HJ (2)

    Sendo: H=ndice de diversidade de Shannon; Hmax=ln(s); s=nmero de espcies amostradas.

    Seu valor apresenta uma amplitude de 0 (uniformidade mnima) a 1 (uniformidade

    mxima).

    3.3.3 Recrutamento e mortalidade

    Para o presente estudo, definiu-se como morta a rvore viva com CAP (circunferncia

    altura do peito, a 1,30 m do solo) 30 cm na ocasio do inventrio de 2006 e que estava

    morta no levantamento de 2010. Considerou-se como ingresso toda rvore viva que no foi

    amostrada no levantamento de 2006 e que, no inventrio de 2010, apresentava CAP 30 cm.

    As taxas de recrutamento e de mortalidade foram calculadas para cada unidade que

  • 39

    sofreu interveno, atravs das seguintes frmulas:

    100

    nN

    RTAR (3)

    100 nN

    MTAM (4)

    Sendo: TAR = taxa anual mdia de recrutamento, em percentagem; TAM = taxa anual mdia de

    mortalidade, em percentagem; R = nmero de rvores recrutadas no perodo entre 2006 e 2010; M =

    nmero de rvores que morreram no perodo entre 2006 e 2010; N = nmero de rvores vivas em

    2006; n = intervalo entre as medies.

    3.3.4 Estrutura diamtrica

    Foram verificadas as alteraes da densidade de indivduos por classe de DAP e da

    rea basal por classe de DAP. Para isso, consideraram-se as trs ocasies de monitoramento,

    ou seja, um ano antes das intervenes de manejo (2001), quatro e oito anos aps as

    intervenes (2006 e 2010, respectivamente).

    A anlise da estrutura diamtrica de cada tratamento consistiu na elaborao de

    histogramas, cujos intervalos de classe foram definidos pela frmula A/K, onde A representa

    a amplitude para o parmetro (DAP) e K definido pelo algoritmo de Sturges, extrado de

    Finger (1992), o qual expresso pela frmula )log(.3,31 nK , em que n= nmero de

    indivduos amostrados.

    O ajuste do nmero de indivduos em cada tratamento por centro de classe de DAP foi

    realizado por meio do modelo Yj = e bo+b1.Dj

    (MEYER, 1952), sendo Yj o estimador do nmero

    de indivduos e Dj o dimetro correspondente ao centro da j-sima classe de DAP.

    3.4 Anlise de incrementos

    Para a comparao dos incrementos entre os tratamentos, foi quantificado o

  • 40

    incremento peridico anual (IPA) absoluto e relativo, em dimetro, rea basal e em volume,

    para cada indivduo nos dois perodos de anlise e, aps, os valores foram somados para se

    obter o incremento total da varivel para cada tratamento. O IPA foi obtido pelas frmulas:

    n

    YYIPA

    mnm (5)

    nY

    YYIPA

    m

    mnm 100.%

    (6)

    Sendo: IPA = incremento peridico anual absoluto; IPA% = incremento peridico anual relativo;

    Y(m+n) = valor da varivel no final do perodo; Y(m) = valor da varivel no incio do perodo; n =

    perodo de tempo.

    Para a determinao do crescimento em volume comercial com casca para cada

    indivduo foi utilizada a equao volumtrica de Schumacher-Hall, descrita abaixo:

    logV = b0 + b1 log DAP + b2 log hc (7)

    Sendo: log = logaritmo de base 10; V = volume com casca por rvore, em m; DAP = dimetro altura

    do peito com casca, em cm; hc = altura comercial, em m.

    Os coeficientes (b0, b1 e b2) j foram definidos para espcies folhosas e para Araucaria

    angustifolia no Inventrio de Florestas Nativas do Rio Grande do Sul (BRASIL, 1983), como

    segue:

    a) Para folhosas:

    b0 = -3,95275; b1 = 2,04354 e b2 = 0,61461;

    b) Para Araucaria angustifolia:

    b0 = -4,29736; b1 = 2,18411 e b2 = 0,68504.

    A anlise do incremento foi realizada para o conjunto de todas as espcies em cada

    tratamento de manejo e tambm para o grupo de espcies de valor comercial. As espcies

    previamente identificadas como de valor comercial, ou seja, com relevante interesse no

    mercado local, foram as seguintes: Araucaria angustifolia (pinheiro-brasileiro),

  • 41

    Parapiptadenia rigida (angico-vermelho), Cedrela fissilis (cedro), Ocotea pulchella (canela-

    lageana), Ocotea puberulla (canela-guaic), Nectandra megapotamica (canela-preta),

    Nectandra lanceolata (canela-amarela), Cryptocarya aschersoniana (canela-vick),

    Cinnamomum amoenum (canela), Luehea divaricata (aoita-cavalo) e Prunus myrtifolia

    (pessegueiro-do-mato).

    Essas espcies foram dividas em trs grupos buscando-se agrupar, dentro de cada

    grupo, espcies com determinado grau de associao entre elas e que apresentassem nmero

    suficiente de indivduos (amostra) para anlise de mdias do IPAd(%) entre os tratamentos de

    manejo. Dessa forma, o primeiro grupo foi formado apenas pela espcie Araucaria

    angustifolia; o segundo grupo foi formado pelas espcies de canelas, tendo como associao

    entre as espcies, todas constituintes da mesma famlia - lauraceae; e o terceiro grupo ficou,

    ento, determinado pelas demais espcies de valor comercial.

    As espcies presentes em cada grupo ficaram assim distribudas:

    a) Grupo da araucria: Araucaria angustifolia;

    b) Grupo das canelas: Ocotea pulchella, Ocotea puberula, Nectandra megapotamica,

    Nectandra lanceolata, Cryptocarya aschersoniana e Cinnamomum amoenum;

    c) Grupo das demais espcies comerciais: Parapiptadenia rigida, Cedrela fissilis,

    Luehea divaricata e Prunus myrtifolia.

    Para a comparao das taxas de crescimento dos grupos de espcies de valor comercial

    entre os diferentes tratamentos de manejo, foi utilizado o incremento peridico anual em

    dimetro relativo ao invs do incremento absoluto, uma vez que a capacidade da rvore em

    ganhar incremento em dimetro ou em rea basal est relacionada ao seu dimetro inicial.

    Os incrementos peridicos anuais em dimetro percentual para o grupo de espcies de

    valor comercial foram representados por grfico de caixa ou box plot. O grfico box plot uma

    anlise grfica que utiliza cinco medidas estatsticas: valor mnimo, valor mximo, mediana,

    primeiro e terceiro quartil da varivel quantitativa. Este conjunto de medidas oferece a idia

    da posio, disperso, assimetria, caudas e dados discrepantes (outliers).

    Em um grfico box plot, a caixa contm a metade dos dados. O limite superior da

    caixa indica o percentil de 75% dos dados e o limite inferior da caixa indica o percentil de

    25% dos dados. A distancia entre esses dois quartis conhecida como interquartil. A linha

    dentro da caixa indica o valor de mediana dos dados. A representao das medidas estatsticas

    que podem ser observadas em um grfico box plot pode ser visualizada na Figura 6.

  • 42

    Figura 6 Representao das medidas estatsticas em um grfico box plot.

    Para a verificao dos valores discrepantes (outliers), optou-se por eliminar apenas os

    pontos com valores extremos (trs vezes o valor do interquartil), embora fosse possvel

    identificar na estrutura interna dos dados os pontos como sendo potenciais outliers (maior que

    1,5 vezes a distncia interquartil), uma vez que, dependendo das circunstncias em uma

    floresta, alguns indivduos podem apresentar incrementos mnimos, nulos ou at mesmo

    negativos, alm de poder manifestar crescimentos altamente elevados devido a uma condio

    especial a que podem estar sujeitos.

    Para essa anlise considerou-se um delineamento inteiramente casualizado com

    diferente nmero de observaes (desbalanceado), sendo as rvores presentes em cada

    intensidade de corte seletivo, as repeties. Os dados resultantes do incremento peridico

    anual em dimetro percentual foram submetidos anlise de varincia e as mdias

    discriminadas pelo teste F a 5% de probabilidade. Para a anlise, foi utilizado o procedimento

    PROC MIXED pelo teste LSmeans (estimativas de mdias ajustadas para dados

    desbalanceados) do sistema estatstico SAS (Statistical Analysis System) Verso 9.1 (SAS

    Institute Inc., 2004).

    Para garantir a aplicao de testes de significncia baseados na distribuio F, foi

    calculado o teste de normalidade e homocedasticidade (SNEDECOR; COCHRAN, 1989) para

    a varivel resposta incremento peridico anual em dimetro percentual. Para tal, utilizaram-

    se o teste de Bartlett para verificao da homocedasticidade e o teste de Kolmogorov

  • 43

    Smirnov para a normalidade. A fim de cumprir com os pressupostos, quando necessrio, foi

    utilizado o mtodo proposto por Box e Cox (1964) para estabilizar a varincia por meio de

    uma potncia lambda () estimada por mxima verossimilhana. A transformao Box-Cox

    automaticamente identifica uma transformao a partir de uma famlia de transformaes

    Y=Y de potncia de Y (SCHNEIDER et al., 2009), sendo que Y() = (Y 1)/ para tal 0

    e Y()

    = ln(Y) para = 0.

    Tambm foi realizada uma comparao do incremento peridico anual percentual para

    todas as rvores por classe de dimetro presentes em cada tratamento de manejo. Para isso,

    utilizou-se grfico box plot, que incluiu uma breve anlise da mdia (ANOM) com os limites

    de diferena superior e inferior calculados com nvel de significncia = 0,05. A anlise foi

    realizada utilizando-se o procedimento PROC ANOM do sistema estatstico SAS. Como o

    nmero de observaes no foi constante em cada classe de dimetro (desbalanceado) os

    limites de deciso foram calculados da seguinte forma:

    Limite Inferior (LI) = i

    ik

    nN

    nNMSEnnkhX

    ..).,...,,;( 1

    (8)

    Limite Superior (LS) = i

    ik

    nN

    nNMSEnnkhX

    ..).,...,,;( 1

    (9)

    Sendo: Quadrado Mdio do Erro (QME) =knn

    snsnMSE

    k

    kk

    ...

    ).1(...).1(

    1

    2211 ; X = mdia ponderada de

    k grupos; k = nmero de grupos; = nvel de significncia (95%); = graus de liberdade associado ao QME; ni = tamanho da amostra de cada grupo; N = tamanho da amostra total;

    3.5 Determinao do tempo de recuperao do estoque

    Para a determinao do tempo de recuperao do estoque, assumiu-se que a projeo

    do estoque remanescente fundame