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    MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 1

    M A N U A L

    de

    REDAÇÃO JURÍDICA

    da

    ADVOCAGIA GERAL DA UNIÃO

    (A G U )

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    I – A REDAÇÃO JURÍDICA

    1. A linguagem oral e escritaÉ claro que primeiramente o homem falou (linguagem oral ),

    decodificando depois os sons mediante sinais escritos, as letras (linguagem

    escrita). Em ambas as modalidades surgiram o linguajar do povo

    (coloquial , que se utiliza de vocábulos e construções bem simples) e o

    linguajar culto (literário, que se pauta pelas regras gramaticais da língua-

     padrão) – este, de emprego obrigatório nas redações jurídicas.Os recursos entregues à comunicação oral são bem superiores, porém, aos

    de que dispõe a comunicação escrita. O orador ou o professor, p. ex., têm a

    seu talante as modulações da voz, a postura do corpo, os gestos dos braços

    e das mãos, a fisionomia da face, a vivacidade do olhar: eles se

    comunicam, portanto, pelo ouvido, coadjuvados ainda, e sobretudo, pela

    dinâmica das atitudes. Já o escritor tem de suprir a carência de seu recursoimediato, reduzido à visão, apenas, veiculada esta, aliás, por um canal

    deficitário, em si (o texto redigido): por isso, se quiser transmitir sua

    mensagem com análoga força à do orador, p. ex., deve impregnar as

     próprias palavras de uma técnica toda especial – a da estilística -, para que

    nelas o leitor mantenha sua atenção constantemente, agradavelmente,

    convincentemente.

    2. O linguajar jurídico

    O linguajar jurídico concentra-se nos conceitos de direito e de

     justiça, veiculados predominantemente pela lei – que é sua fonte primária

    (LICC, art. 3º) em nosso sistema romano-germânico -, e, supletivamente,

     pela analogia,  pelos costumes e pelos princípios gerais de direito (LICC,

    art. 4º), além de, subsidiariamente, pela doutrina (aprofundamento dos

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    institutos pelos juristas) e pela  jurisprudência  (aplicação da lei após sua

    correta interpretação, a cargo do Judiciário).

    3. A finalidade da linguagem jurídica Ora, como a lei  é cogente, o emitente da mensagem tem de partir

    sempre dela (ou de seus sucedâneos), mediante uma argumentação sólida,

     baseada na doutrina e na jurisprudência, sobremodo, e calcada no

    complexo probatório (CC, art. 136, I/VII; CPC, art. 332), não sem a

    observância dos princípios da Lógica Formal  – tudo com uma finalidade

     precípua: a de convencer.

    4. Os meios necessários ao convencimento

    Para tanto, mister se faz um diálogo constante entre o emitente da

    mensagem e o leitor (à distância), mediante: 1º) a exposição didática do

    tema (com títulos e subtítulos nas peças mais longas); 2º) os diversos

    elementos de  persuasão, nomeadamente a ênfase (léxica, sintática, gráficae de pontuação), bem como os recursos estilísticos  propiciados pelas

    variadas modalidades de expressão da língua; e enfim, 3º) as intermitentes

     provocações do receptor, pelos vocativos diretos ou indiretos, a fim de

    manter o diálogo, aprisionando aquele em fixação constante na mensagem

    que lhe está sendo enviada.

    Ou em outros termos: quem escreve deve ser uma  presença viva.

    Quem o estiver lendo, vai ter de ouvir sua voz; vai ter de observar seus

    gestos, seu olhar, sua fisionomia, suas atitudes; vai ter de sentir o vigor de

    sua argumentação, obrigando-se a discuti-la.

    Pré-requisito para se transformar um texto numa presença viva de

    seu autor é a emoção (em seu sentido amplo), que deve diversificar-se

    conforme a parte da peça que está sendo vazada: aliás a emoção integra o

     processo do raciocínio, consoante a moderna Neurologia. Mas como o

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    texto permanece exposto a toda espécie de reflexão ou de crítica alheia,

    faz-se mister uma recordação dos conceitos gramaticais essenciais (já tão

    esquecidos) da matéria-prima de quem se comunica, isto é, da palavra em

    si, na sua morfologia  (estrutura, formação e classificação); da palavraconjugada ordenadamente às outras, formando orações ( sintaxe  de

    concordância, regência e colocação); da palavra à luz da  semântica  (ou

    seja, a evolução de seu sentido no tempo e no espaço); da palavra utilizada

    estilisticamente(as figuras de linguagem), não sem a atenta prevenção

    contra os vícios desta.

    5. O âmbito da obra

     Não é de interesse apresentar aqui mais um desses “formulários”

     para os diversos tipos de ação, que deles já existem muitos. A obra

     pretende orientar o advogado (o da União, nomeadamente), sobre como

    conduzir uma ação judicial, em suas diversas partes constitutivas (v.

    VII/VII.3) – tomando como parâmetro o procedimento ordinário do CPC, por ser o mais amplo. O procedimento sumário e dos Juizados Especiais, os

     processos de execução e cautelares, bem como os procedimentos especiais

    e o rito criminal, adaptar-se-ão ao que o bom senso sugerirá naturalmente.

    Tais normas, aliás, também proporcionalmente ajustadas, poderão

    utilizar-se nas peças administrativas mais longas, de caráter jurídico, como

    nos inquéritos e sindicâncias, pareceres e representações, requerimentos e

    ofícios onde se formulem pleitos ou defesas de natureza pública ou privada.

     Necessárias, então, recordações gramaticais básicas (com vista à

    correção da linguagem), antes de se penetrar no âmbito da literatura,

    quando se descobrirão as possibilidades expressivas das palavras,

    consideradas quer em si como conjuntos rítmicos de sons que vão dar

    harmonia às frases, quer como associações de idéias travadas em razão das

    construções sintáticas.

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    II – FRASE x ORAÇÃO

    1. A frase Há dois modos fundamentais pelos quais espontaneamente nos

    manifestamos pela palavra: mediante frases sem verbo (ou nominais) ou frases

    com verbo (oracionais). Desta forma, podemos simplificar:

     Frase é um todo significativo, constituído de um ou mais vocábulos,

     podendo ser oracional ou meramente nominal.

    2. Frase nominal (ou frase, simplesmente)

    É uma construção excepcional  -  sem  verbo - , o que não impede

    tenha sentido: pois este é expresso sinteticamente, por facilmente

    subentender-se; ex.: 

    O réu, nunca?! (interrogação/admiração retóricas)

     Justiça e Direito! (proclamação/pregão)

    Código de Processo Civil  (título de uma obra)

    Essas frases nominais tornaram-se de largo uso nas redações

     jurídicas, por sua utilidade, como p. ex.:

    a)  Nos vocativos (iniciais ou intercalados):

     Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível de Fortaleza

    Peço vênia a V. Exª, Senhor Ministro , para solicitar- lhe...

     Excelsa Turma: b) Nos cabeçalhos:

    Of. nº 453/91-VS

    Recurso em Mandado de Segurança nº 1187 - SP (91.0015064-0)

    Recorrente: Laboratório Clímax S. A.

    Recorrido: Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de Pinheiros - SP

    Relator: Ministro Barros Monteiro – 4ª Turma/STJ

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     b) Nas ementas (acórdãos) e sumários (pareceres):

    Conflito de competência – Ação ordinária de ressarcimento – Desvio de

    verba pública – Ex-prefeito – Falta de interesse da União – Competência

    estadual. (Conflito de Competência nº 19.974 – TO) Constitucional. Administrativo. Servidor celetista. Aposentadoria

     previdenciária anterior à Lei nº 8.112/90. Revisão de proventos.

    Equiparação com os vencimentos dos servidores públicos da ativa.

    Constituição Federal, art. 40, § 4º, na redação anterior à EC 20/98 (RE nº

    241.372-3/SC).

    d) Nos títulos (caixa-alta),  subtítulos (negrito) e alíneas (itálico):

    I – O RELATÓRIO

    1. A d. sentença

    1.1 A motivação do r. decisum

    II – O DIREITO

    2. A violação ao art. 458, I/III do CPC

    3. O dissídio jurisprudencial

    III – A CONCLUSÃO

    4. A síntese da matéria5. Os pedidos:

    a) a liminar

    b) o mérito

    c) os requerimentos gerais (citação, provas etc.) 

    3. Frase oracional (ou oração, simplesmente)

    É a construção normal, centrada em torno de um verbo, encerrando

    uma declaração –   que é a própria essência da oração -, a respeito de

    alguém ou de alguma coisa.

    Por isso, a oração é constituída sempre de um  predicado (que às

    vezes se confunde com o predicativo) e normalmente de um sujeito  –

     pois ocorre este não existir, quando o verbo é impessoal (v. ANEXO I). 

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    ANEXO I

    A) PREDICADO X PREDICATIVO

    Há três espécies de  predicado: o verbal, o nominal e o verbo-nominal – osquais devem ser tomados em especial consideração e apropriada escolha por quem

    escreve, pois são eles que vão conferir o tom ou o vigor da frase.

    a)  O predicado verbal   – é aquele que é expresso por um verbo (como

    normalmente acontece), a respeito da atuação  (ativa ou passiva) do sujeito (um

    substantivo ou pronome do qual se faz a declaração); ex.:

    O advogado compareceu à audiência.

    Todos aclamaram o Promotor no Júri.

    Os bons juízes velam pela Justiça.

    b) O predicado nominal   – é aquele que é veiculado por um verbo de ligação

    (como ser, estar, parecer, ficar, tornar-se etc.), que indigita apenas um estado ou

    qualificação do sujeito (expressos por um substantivo, pronome ou adjetivo); por isso,

    tal predicado denomina-se predicativo do sujeito; ex.:

    O juiz era muito competente.

    O advogado  parecia um leão na tribuna.

    Os réus agiram como selvagens.

     A Nação somos todos nós .

    c) O predicado verbo-nominal – é aquele que é expresso simultaneamente por

    um verbo (predicado verbal ), o qual indica a atuação do sujeito, e por um substantivo,

    pronome ou adjetivo ( predicativos), os quais indicam o estado  ou a qualificação de

    uma pessoa ou coisa; tal predicado é raro, ocorrendo quando há dupla declaração na

    mesma frase oracional: nesse caso, pode o predicativo ser tanto do sujeito da oração,

    quanto do objeto direto ou do objeto indireto do verbo, conforme se referir

    respectivamente a uma dessas funções sintáticas; ex.:

    O causídico chegou atrasado à audiência.

    Com a sentença, viram o autor muito feliz.

    O criminoso foi tachado [de] louco.

    A Rui chamaram-no/chamaram-lhe [de] Águia de Haia.

    Os herdeiros  constituíram  o Dr. Oswaldo Othon como o  advogado de

    todos no inventário. 

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    B) ORAÇÕES SEM SUJEITO

    Quando o verbo é essencialmente impessoal   (como chover, gear etc., que

    representam fenômenos da natureza; o verbo haver  quando sinônimo de “existir” ou

    quando indica tempo; o verbo fazer  também quando indica tempo), ou acidentalmente

    impessoal (como bastar, chegar, constar, ir, passar etc., seguidos de preposição) - a

    oração não  tem sujeito  e o verbo comunica essa sua impessoalidade a seu verbo

    auxiliar; ex.:

    Choveu  muito durante o interrogatório das partes.

    Há poucos livros de direito nesta biblioteca.

    Deve haver  muitas pessoas na seção do Tribunal.

    Há horas que estou esperando pela audiência com o Ministro. 

    Faz  dias que o MM. Juiz se encontra doente.

    Vai fazer  dias muito chuvosos na próxima semana, impedindo as audiências. 

    Basta de tantos feriados inúteis e prejudiciais ao andamento da Justiça.

    Não me consta de ordens do Juiz nesse sentido.

    Vai  em dez anos que esta ação se arrasta.

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    III – O PERÍODO

    1. Período

    É a formulação de nossos conceitos mediante uma ou mais frasesoracionais.

    Pode, assim, o período ter a dupla constituição abaixo:

    2. Período simples (ou oração absoluta)

    É o constituído de uma única oração (isto é: com um único verbo

     principal , colocado no infinitivo, no gerúndio ou no particípio)); ex.:

    O juiz chegou atrasado à audiência.

    O autor vai obter  sucesso em sua causa.

    O réu esteve quase obtendo a absolvição.

    As partes haviam argumentado  com precisão.

    3.  Período composto 

    É o constituído por  mais de uma oração, relacionadas entre si porqualquer desses dois processos sintáticos: da coordenação e/ou da 

     subordinação (v. ANEXO II).

    OBS.:  Esses processos sintáticos estão entre os variados os recursos da

    linguagem: as idéias de causa , concessão, conclusão e oposição, p. ex.,

     podem expressar-se de modo diverso, porém não equivalentemente quanto

    à expressividade, ora pela coordenação, ora pela subordinação (v. ANEXO

    II), ora ainda por intermédio de meras expressões adjetivas ou adverbiais

    (v. IV).

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    ANEXO II

    A) PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO

    1. A coordenação

    Na coordenação as orações são independentes entre si sintaticamente (mas

    nem sempre semanticamente, isto é: quanto ao entrosamento das idéias): por isso, em

    princípio têm menos vigor  expressivo do que as orações subordinadas.

    Essas orações são de dois tipos, caso tenham elos de ligação entre uma e

    outra, ou não os tenham: dizem-se, então, por isso, assindéticas ou sindéticas,

    respectivamente.

    2. A coordenação assindética 

    Dá-se quando ocorre mera  justaposição de uma oração com outra (quer dizer:

    sem conectivo entre si). Nelas a independência é tanto sintática quanto de sentido,

    cada uma das orações o tendo completo, a tal ponto que poderiam separar-se por

    ponto final ou equivalente, quando então formariam orações absolutas, independentes,

    meramente declaratórias: daí, não disporem de qualquer força enfática, por si

    mesmas. Compare as duas formulações abaixo e verifique como elas se igualam de

    sentido:

    O advogado não compareceu à audiência: estava doente.

    O advogado não compareceu à audiência! Estava doente.

    3. A coordenação sindética 

    Dá-se quando as orações se acham ligadas por conjunções coordenativas 

    (aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas ou explicativas), assumindo o nome

    destas, a saber:

    a) Coordenadas  aditivas  – são as conexas pelas conjunções e  ou nem

    (simples), equivalendo às orações justapostas, pois essas conjunções têm o papel de juntar, apenas, termos ou orações da mesma natureza sintática; mas se essas

    orações forem ligadas por conjunção correlativa aditiva (como não só ... mas também ),

    ocorre um paralelismo, de forma que a primeira parte do enunciado ( prótase) prepara

    a expectativa da segunda parte (apódose) – resultando como conseqüência uma

    ênfase natural; compare as diversas formulações abaixo:

    O advogado não compareceu à audiência e não se justificou (aditiva pura).

    O advogado não compareceu à audiência, nem se justificou (idem ). 

    O advogado não  só  não compareceu à audiência, como também  não se justificou(aditiva correlativa).

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    b) Coordenadas adversativas – são as ligadas pelas conjunções mas, porém,

    todavia, contudo, no entanto..., identificando uma relação de oposição, aproximando-

    se, na força de seu sentido, conquanto menos incisivamente, das orações

    subordinadas adverbiais causais  ou concessivas: não se lhes pode negar certa

    ênfase, portanto; comparem-se as construções a seguir:O advogado não compareceu à audiência, mas se justificou por quê (adversativa pura).

    O advogado não compareceu à audiência,  não por desídia, mas   se justificou pela

    ausência de intimação (adversativa-causal).

    O advogado não compareceu à audiência,  porque não foi intimado (causal).

    O advogado não compareceu à audiência, mas também não o haviam intimado

    (adversativa-concessiva).

    O advogado se justificou de que não tinha comparecido à audiência, embora  não

    houvesse sido intimado (concessiva).

    c)  As coordenadas alternativas – são as ligadas pela conjunção ou (simples),indicando mera exclusão; mas se ligadas por ou ... ou, ora ... ora, já ... já, quer ... quer, 

    indigitam uma correlação, adquirindo certa conotação concessiva, conferindo realce,

    nesse caso, ou seja: ênfase mais amenizada que a da oração subordinada

    correspondente; comparem-se as primeiras formulações abaixo com a última:

    O advogado comparecerá à audiência ou perderá a ação (alternativa pura).

    O advogado ou comparecerá à audiência ou perderá a ação (alternativa-concessiva).

    O advogado comparecerá à audiência, quer  haja sido intimado, quer  não [o haja sido]

    (idem).

    O advogado comparecerá à audiência,  intimado que  venha a ser e mesmo que não

    [venha a sê-lo] (concessiva).

    OBS.: Seja ... seja tanto pode ser conjunção alternativa, quanto formas verbais: neste

    último caso, devem ir para o plural (sejam ... sejam), a fim de concordarem com o

    número do sujeito ou do predicativo posposto; ex.:

    O advogado comparecerá à audiência, seja venha a ser intimado, seja não venha a sê-

    lo (conjunção).

    Os advogados comparecerão à audiência, quer sejam   intimados, quer não o sejam 

    (formas verbais).

    d) Coordenadas conclusivas  – ligadas pelas conjunções logo, pois, portanto,

     por conseguinte..., induzem um sentido subordinativo causal ou consecutivo entre as

    orações, daí resultando uma ênfase amenizada em relação a estas últimas; ex.:

    O advogado foi intimado: logo deverá comparecer à audiência (conclusiva).

    O advogado foi intimado: por isso deverá comparecer à audiência (causal).

    O advogado foi intimado: de modo que deverá comparecer à audiência (consecutiva).

    e) Coordenadas explicativas  – ligadas pelas conjunções  pois, porque,

     porquanto..., aproximam-se das orações subordinadas adverbiais causais  (menos

    enfaticamente que estas, contudo); ex.:

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    O advogado não compareceu à audiência, pois não foi intimado (conclusiva).

    O advogado não compareceu à audiência, porque não foi intimado (causal).

    B) PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO

    1. A subordinação 

    Na subordinação, as orações são dependentes sintática e semanticamente de

    uma outra - que é sua  principal  – e da qual exercem uma função sintática: por isso,

    sozinhas e isoladas, não têm sentido. Se se disser, p. ex.: que o advogado virá; ou

    que eu vi ; ou ainda, quando o juiz chegar  – essas orações só terão sentido caso se

    lhes acrescente (antecipando, intercalando ou pospondo) as respectivas orações

    subordinantes ( principais), tais como:

     Afirmo [ que o advogado virá ]. A peça jurídica [ que eu vi  ]  era linda.

    [ Quando o juiz chegar  ] , começará a audiência .

     As orações subordinadas podem formular-se desenvolvida ou reduzidamente,

    denominando-se então desenvolvidas ou reduzidas:

    a) Desenvolvidas  – quando expressas com o verbo no modo finito (isto é: no

    indicativo, no subjuntivo ou no imperativo), sendo antecedidas de conjunções

    subordinativas, partículas interrogativas indiretas ou pronomes relativos.

    b) Reduzidas – quando expressas mediante as formas nominais verbais (isto é:

    o infinitivo, o gerúndio ou o particípio), tendo implícitos os conectivos nesse caso: por

    isso, embora tornem a oração mais leve e elegante, podem também propiciar

    multiplicidade de interpretação sintática, devendo assim ser empregadas com cautela,

    a fim de não ensejarem ambigüidade de sentido.

    Quer desenvolvidas, quer reduzidas, ambas classificam-se como substantivas,

    adjetivas ou  adverbiais – em função das respectivas equivalências léxica e sintática

    que representarem.

    2. Orações subordinadas substantivas

    Chamam-se substantivas essas orações porque, além de equivalerem a um

    substantivo, passam a exercer funções próprias deste, isto é: de sujeito, predicativo,

    objeto direto, objeto indireto ou complemento nominal – funções essas que, por si sós,

    não conferem ênfase à oração. (Se desenvolvidas, seus conectivos serão as

    conjunções subordinativas integrantes: que, se...; ou então, as partículas interrogativas

    indiretas: quem, quanto, por que, como, quando, onde, que, qual  [sem antecedente]):

    a) Substantivas subjetivas  – ex.:Em razão das informações do Juízo impetrado, julgou-se que  o mandamus estava

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    MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 13

     prejudicado [= a carência de ação].

    Objetivava-se pelo MS impedir  o protesto das cambiais [= o obstáculo].

    c) Substantivas  predicativas – ex.:

    O certo é que  a impetrante já sabia da expedição de ofício aos tabeliães [= o

    conhecimento]. A verdade é ter  a impetrante sabido  da expedição de ofício aos tabeliães [= a ciência].

    d) Substantivas objetivas diretas – ex.:

    O Ministério Público requereu que se ultimasse o inquérito [= o término] .

     A Corte perguntou se haveria sustentação oral [= a indagação].

    O MM. Juiz nomeou quem seria o advogado dativo do réu [= o defensor].

    O Presidente da Corte determinou quando o autor da ação cautelar se pronunciaria

    relativamente ao prosseguimento do feito [= a manifestação].

    O prisioneiro indagou  por que permanecia preso além do prazo legal [= a permanência].

    O mandamus objetivava impedir   o protesto das cambiais [= o obstáculo].

    d) Substantivas objetivas indiretas – ex.:

    O Presidente da Corte informou o advogado de que deveria completar  o valor da caução

    [= a complementação].

    O réu necessita de ter  um advogado nomeado para sua defesa [= a nomeação].

    e) Substantivas completivas nominais – ex.:

    O MM. Juiz tomou conhecimento, pelas informações da autoridade coatora, de que os

     protestos dos títulos já haviam sido tirados [= a extração].

    O inocente não tem mister de ser defendido [= a defesa].

    OBS.: Não raro a conjunção integrante que  sofre elisão, por ser facilmente

    subentendida, o que vem conferir mais leveza e elegância à oração; ex.:

    O il. Presidente do Tribunal determinou [que]  se processasse o REsp e [que] se

    remetesse o recurso ao Eg. STJ.

    3. Orações subordinadas adjetivas

    Chamam-se adjetivas essas orações, por equivalerem a um adjetivo (ou a uma

    locução adjetiva) e exercerem a função sintática de adjunto adnominal. Classificam-se

    em restritivas ou explicativas, conforme o sentido que aferirem ao termo regente. (Se

    desenvolvidas, seus conectivos serão os pronomes relativos que, o qual, como, onde,

    quando... [que devem ser precedidos de antecedente]):

    a) Adjetivas restritivas – são as que identificam a classe de pessoas ou coisas

    a que pertence o antecedente, delimitando-se àquela; por si sós, não conferem ênfase

    ao período; por isso não se separam, por vírgula, de seu antecedente; ex.:

    Trata-se de recurso ordinário contra acórdão que  julgou prejudicado  o mandado de

    segurança [= prejudicador].

    Não se esclareceu o dia quando ocorreu o crime [= ocorrente].

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    MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 14

    O advogado falou como um trovão ribombando no Tribunal [= retumbante].

    Foi marcada a audiência a realizar-se no próximo dia 13 [= futura].

     A Instância ad quem ratificou o protesto cambiário autorizado pelo MM. Juiz

    [= concedido].

    O orador não era advogado de se dar  por derrotado [= fracassado].

    b)  Adjetivas  explicativas   – são as que indigitam um pormenor específico do

    antecedente, conotando uma circunstância, em geral de causa, fim ou concessão; por

    isso, exigem uma forte pausa, sendo antecedidas ou intercaladas por vírgula:

    conferem, assim, ênfase especial ao contexto; ex.:

     A contestação, que era muito sólida, convenceu o juiz [= porque era sólida].

     A União Federal enviou à Instância Superior seus advogados, os quais explicassem a

    dificuldade jurídica do tema em discussão aos Srs. Ministros do Supremo [= para que

    explicassem]. 

    O advogado, que   era tão dedicado à causa , não era reconhecido pelo

    cl ie nt e [= embora fosse tão dedicado à causa].

    Trata-se de Regimento do Tribunal,  proibindo as advogadas de comparecerem às seções de

    calças compridas [= para que não viessem].

    4. Orações subordinadas adverbiais

    Chamam-se adverbiais essas orações, por equivalerem a um advérbio (ou a

    uma locução adverbial) e exercerem a função sintática de adjunto adverbial.

    Estes expressam as mais diversas circunstâncias que envolvem uma

    determinada situação (causa/efeito, fim, tempo, condição etc.), como noções queestão no princípio de todos os conhecimentos, e que se tornam mais intensificadas

    ainda quando advindas de uma correlação. Daí, a ênfase natural de que se revestem

    essas orações, que se classificam pelo mesmo nome das conjunções subordinativas

    (excetuadas as integrantes) que as precedem (ou que estão implícitas), a saber:

    a) Adverbiais causais (conjunções:  porque, porquanto, como, visto que/como,

     já que, uma vez que...); ex.:

     A concessão da liminar chegou a destempo, porque os protestos já haviam sido tirados.

    Não havendo a requerente das medidas cautelares providenciado a caução em dinheiro,o Juiz revogou as liminares. 

    Por não falar  a verdade, a testemunha respondeu por perjúrio.

    Irritado com a má fé do autor, a sentença o condenou severamente.

    b) Adverbiais comparativas  (conjunções: como, qual, tanto/tão ... quanto, mais

    ... [do] que, menos ... [do] que, a...), quando normalmente ocorre uma correlação; ex.:

    Peticionava com tanto  zelo numa causa pequena, quanto numa grande [peticionaria].

    O advogado do réu era mais inteligente [ do ] que o do autor [era].

    É preferível perder o cliente a [perder] os próprios princípios.

    c)  Adverbiais  concessivas (conjunções: ainda que, se bem que, posto que,embora, por mais ... que, por menos ... que..., por muito ... que...), ocorrendo uma

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    correlação quando intensivas; ex.: 

     Ainda que  legalmente tal lhe fosse permitido,  a empresa se recusava a fazê-lo por

    motivos éticos.

    Por mais que  pretendesse a desconstituição dos protestos, não o obteria sem o

    cumprimento das exigências do MM. Juiz.

    Não constando dos autos a data certa da publicação do acórdão, é de se presumir sua

    tempestividade pela não impugnação da outra parte. 

    Sem entender  muito bem a lei, o habeas corpus lavrado pelo preso era, malgrado tudo,

    convincente.

    d) Adverbiais condicionais  (conjunções: se, caso, sem que, contanto que...), as

    quais constituem a correlação típica, onde a condicionante (prótase) já prenuncia a

    conseqüência condicionada (apódose); ex.:Se  a impetrante tivesse manifestado seu interessse no prosseguimento do processo,

    poderia ter argüido, então, a desconstituição dos protestos.

    Um verdadeiro ressurgimento de seu pedido alternativo não ocorreria sem se apresentar

    o comprovante do depósito da caução exigida. 

    e)  Adverbiais  conformativas  (conjunções: como, conforme, consoante,

    segundo); ex.:

    Como lhe mandaram fazer a réplica, assim o fez.

     A contestação foi vazada conforme lhe ditaram.

    f)  Adverbiais  consecutivas   (conjunções: tal, tão/tanto ... que, de modo/de

    forma/de sorte que), as quais expressam a conseqüência decorrente da intensidade

    ou do modo pelo qual a ação é praticada na oração principal; ex.: Aprofundou-se tanto  no assunto, que se tornou uma autoridade nele.

     Agia de maneira que todos o respeitavam.

    O juiz era severo de meter  medo.

    g) Adverbiais finais (conjunções: a fim de que, para que...); ex.:

    Na audiência vestiu a toga a fim de que fosse respeitado. 

    Fez-se tudo para obter  um bom resultado na demanda.

     Adulava o juiz visando à obtenção de uma sentença favorável . 

    h) Adverbiais  proporcionais (conjunções: à proporção que, à medida que, ao

     passo que...), onde emerge uma correlação para mais ou para menos relativamenteao que foi dito na oração principal; ex.:

     Advogava melhor à medida que se empenhava. 

     À proporção que ouvia tais despropósitos, mais se horrorizava. 

    Tanto mais avançava em idade quanto menos conseguia lembrar-se dos textos legais.

    i)  Adverbiais  temporais  (conjunções: quando, antes que, depois que,

    enquanto...); ex.:

    Logo que o juiz chegou, iniciou-se a audiência.

     Após deferir  a liminar, o juiz pediu informações à autoridade coatora.

    O Relator, deferindo  a liminar , pediu informações à autorida de coatora.

    Deferida a liminar, o advogado executou-a de imediato. 

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    IV – A UTILIZAÇÃO ESTILÍSTICA DOS PROCESSOS

    SINTÁTICOS

    1. O processo coordenativo

    Pelo que se viu do exposto e exemplificado anteriormente (v.

    ANEXO II, A, 1/3, a), a coordenação assindética  e a  sindética aditiva 

    (simples) são mais apropriadas para as exposições descritivas e narrativas,

     próprias dos relatórios  (parte inicial das peças jurídicas: v. VII.1) – sem

    intransigências nem muito menos exclusividade desses processos. Por isso,as demais orações coordenadas, máxime quando correlatas, p. ex., podem

    ser utilizadas nos relatórios quando se deseja apenas realçar  desde logo

    certos tópicos, objeto de futuros argumentos na discussão (segunda parte da

     peça jurídica): porquanto, embora detenham afinidades com as orações

    subordinadas adverbiais correspondentes, não  dispõem da mesma

    intensidade incisiva destas últimas (v. ANEXO II, A, 3, a/e) – as quais, seforem utilizadas também, convém o sejam com parcimônia e moderação;

    ex.:

    Consoante se depreende dos dados-xerox de sua Carteira de Trabalho e demais

     provas , o reclamante foi admitido a serviço da reclamada em 01/12/92 no cargo

    de frentista: nessas funções permaneceu até 30/06/97, trabalhando de segunda-

     feira a sábado, das 14 h às 22 h; ora, tal sobrejornada implicava não somente 

    48 horas semanais sem intervalo, como também o eram sem remuneração.

    2. O processo subordinativo 

    Por sua vez (conforme se pode verificar das explicações e exemplos

    constantes do ANEXO II, B, 1/2, a/e e 3, a), nada a opor que também nos

    relatórios  se utilizem orações subordinadas  substantivas  e adjetivas

    restritivas, ante a ausência de ênfase desses tipos frasais. As demaisorações subordinadas (as adjetivas explicativas e as adverbiais) são mais

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    apropriadas  para a argumentação, que é a feição típica das dissertações  

    (núcleo central e a parte mais importante da peça jurídica: v. VII.2) e das

    conclusões  (decisão ou opinião final do texto: v. VII.3) embora nestasúltimas se deva fazê-lo de modo mais ameno, como mero arremate da parte

    anterior, qual o seu consectário lógico. Pois, contrariamente às anteriores, é

    grande o vigor natural destas últimas orações, máxime se corroboradas pela

    correlação (v. ANEXO II, B, 3, b/4, a/i); ex.:

    O reclamante foi promovido a falso “gerente”,  pois assim a reclamada pretendia

     justificar a sobrejornada de 66 horas semanais  que lhe seriam impostas, duasdas quais seriam ficticiamente de intervalo: também não usufruía de período

    qualquer para descansar, igualmente não sendo remunerado. 

    Concessa venia, a decisão  supra merece reforma, tendo em vista que essa

     Excelsa Corte tem como proceder ao cotejo entre os fundamentos da decisão

    (que resultou no pagamento dos 7/30 avos de 16,19% no meses de junho e julho)

    e o RE (ilustrado com a alegação de ofensa ao princípio constitucional do

    direito adquirido – CF, art. 5º, XXXVI) – consoante se passa a demonstrar. 

    Diante do prequestionamento do tema constitucional suscitado no recurso

    extraordinário, relativamente ao art. 5º, XXXVI da CF, demonstrada que se

    acha a contrariedade frontal e direta ao referido dispositivo constitucional  ,  a

    União requer e espera reconsidere V. Exª a r. decisão ora agravada;  caso

    contrário, porém, digne-se de levar o feito ao julgamento da Eg. Turma, da qual

     se aguarda o provimento do presente agravo, passando a conhecer do apelo

    extremo, com vista a seu necessário julgamento. 

    3. A oração principal 

    A oração principal é aquela onde se concentra a idéia mais

    importante do período ou mesmo do parágrafo - segundo o ponto de vista

    do autor -, embora possa não sê-lo sintaticamente: pois essa idéia

    transborda, em geral, para as orações substantivas e adjetivas,

    complementares que são estas da oração principal, como meras funções

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    sintáticas suas (isto é: de sujeito, predicativo, complementos verbais ou

    nominais e adjuntos adnominais).

    Por isso, a oração principal é sobremodo importante para a fase

    discursiva da peça jurídica: porquanto, por meio dela (v. VII, 2.1/2.2):a)  É proposta a tese inicial - como pretexto para, em seu redor,

    construir-se o arcabouço da exposição que se vai seguir; ex.:

    O tema todo centra-se na impugnação ao protesto das cambiais,  cujas liminares

    em ação cautelar foram revogadas, porquanto não se deu o cumprimento

    satisfatório ou tempestivo das cauções determinadas.

     b)   É privilegiado diversamente este ou aquele conceito –  pela

    mera colocação  das palavras-chave correspondentes no início  da oração;

    ex.:

    Recurso ordinário contra o V. Acórdão da Eg. 8ª CTCiSP que, por votação

    unânime, julgou prejudicado o mandado de segurança impetrado contra ato do MM.

    Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Pinheiros/SP. 

    O V. Acórdão da Eg. 8ª CTCiSP julgou prejudicado o MS contra ato do MM.

    Juiz..., ensejando o presente recurso ordinário.

    Foi impetrado mandado de segurança contra ato do MM. Juiz..., ratificado pelo

    V. acórdão..., objeto do presente recurso ordinário.

    Contra ato do MM. Juiz..., foi impetrado mandado de segurança, que veio a ser

     prejudicado pelo V. Acórdão..., objeto do presente recurso ordinário.

    4. Outras estruturas frasais

    As mesmas idéias, veiculadas pelos processos acima, podemtraduzir-se também por expressões adjetivas  e adverbiais, equivalendo

    normalmente às específicas orações subordinadas; ex.:

    O criminoso, jovem ainda [= que era jovem ainda], ...

    O julgamento,  prolongado por muitas horas  [= que se prolongara por muitas

    horas], ...

    Segundo a opinião dos juristas [= Segundo opinam os juristas], ...

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    A defesa ponderou que o furto proviera da fome do acusado [= porque o acusado

    tivera fome]. 

    Com sua vinda [= Quando chegou], o juiz iniciou de pronto a audiência.

    Sem esforço [= Sem que se esforce], a contestação será mal vazada.

    O advogado só tinha olhos para a defesa dos pobres [= para defender os pobres].

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    V – O PARÁGRAFO

    1. Parágrafo

    É o conjunto de um ou mais períodos, constituindo um todo orgânicoe coerente, onde se conjugam as idéias secundárias a uma idéia central;

     prescinde, por isso, de alínea após cada período, exceto se este iniciar um

    subtítulo (expresso ou implícito).

     No texto abaixo, p. ex., poder-se-iam escrever os períodos uns após

    outros, seguidamente, pois seus conteúdos mutuamente se completam e

    concatenam. Não obstante, as idéias predominantes em cada um deles poderiam ou ser encimadas por um título ou subtítulo, a fim de clarificá-las

    expressamente; ou poderiam prescindir desses títulos (por serem facilmente

    subentendidos seus respectivos assuntos), mantendo-se as alíneas,

    entretanto, apenas por motivo de pausa visual e clareza gráfica expositiva;

    ex.:

    I – RELATÓRIO

    1. O agravo de instrumento  

    Agravo de instrumento, tempestivo, interposto em razão do r. despacho

    denegatório de seguimento a REsp, este vazado contra o V. Acórdão da Eg. 2ª

    CCTJPR, na parte referente à prefacial de nulidade da sentença por falta de

    fundamentação.

    2. A motivação do r. inter locutório

    Para tanto, o r. despacho baseou-se em que não teria ocorrido negativa de

    vigência aos aludidos dispositivos legais e em que não seria o caso de

    “improcedência do dissídio jurisprudencial”, fazendo remissão ao art. 255 do

    RISTJ. 

    2. Defeitos na redação do parágrafo

    2.1 Abuso de coordenação – ocorre quando o parágrafo é constituído de

    frases curtas demais, como:

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    a) As fragmentadas (que enfraquecem o pensamento, mediante mera

     justaposição frasal ou ligação por conjunções coordenativas simples,

    aditivas geralmente); ex.: 

    MM. Juiz: O autor celebrou um contrato de locação com o réu, ainstâncias dele. Este assegurou muitas vezes o cumprimento exato das

    mensalidades:  foram só promessas; era tudo para enganar . Mas agora se

    esgotou a paciência do autor. O réu foi procurado várias vezes em casa.

     Nunca estava. Vigarice pura. Esforços inúteis. Ao autor só restou apelar

    ao Judiciário, para a decretação do despejo.

     b) As intercaladas (que atrapalham o pensamento, interrompendo a

    cada passo o contexto, onde se inserem por meio de vírgulas, travessões ou parênteses); ex.: 

    O Tribunal,  por votação majoritária,  deferiu, em parte,  o pedido de

    medida cautelar ,  para suspender,  com eficácia ex nunc e com efeito

    vinculante, até final julgamento da ação, a prolação de qualquer decisão

    sobre pedido de tutela antecipada, contra a Fazenda Pública.

    Pela regulamentação em vigor, o Banco assegura aos funcionários que se

    aposentam  – ainda que com menos de 30 anos de serviço efetivo –  uma

    mensalidade que, somada ao benefício concedido pela respectiva

    instituição de previdência (Caixa de Previdência dos Funcionários do

     Banco do Brasil ou I.A.P.B.), perfaça o montante de seus proventos

    (vencimentos, qüinqüênios, comissão e gratificações), além de estender

    aos inativos - como se em exercício estivessem –   os periódicos

    reajustamentos salariais de que se beneficia o pessoal em atividade.

    2.2 Abuso de subordinação – ocorre quando as frases são longas demais,

    como:

    a) As quilométricas (que, pelo cansaço, desviam a atenção do leitor

     para longe das idéias-chave); ex.:

    Para efeitos de limite de remuneração, que é a de membro do Supremo

    Tribunal Federal, no Poder Judiciário (art. 37, item XI, da Constituição),

    essas vantagens individuais não deveriam se destacar, porque, repita-se, a

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    ressalva foi admitida apenas como exclusão à isonomia, e não ao teto de

    remuneração, cuja sede normativa era o item XI do art. 37, que não

    aludia a qualquer exceção, até porque, no Poder Judiciário, nenhum

    magistrado ou servidor exerce função mais relevante que a de Ministro

    do Supremo Tribunal Federal, como nenhum servidor, no Poder

    Legislativo, é mais proeminente que o parlamentar, e, no Poder

    Executivo, que o Ministro de Estado, para ter direito a remuneração

    superior à desses agentes políticos.

     b) As caóticas (que tornam o pensamento confuso); ex.:

    E mesmo que se considere que o protesto cambiário fora ineficaz porque

    coincidente em data (21/09/91) com a liminar concedida no “writ”, nada

    obstava que a dita liminar viesse a ser revogada (CPC, art. 807), e

    efetivamente o foi pelo V. Acórdão de fls. 191/192, com base nas

    informações da Autoridade dita coatora, na consumação dos protestos

    cambiais e no silêncio da impetrante sobre seu interesse no

     prosseguimento do mandamus – ratificando, aliás, o r. despacho de fls.

    166, “que julgou prejudicada a impetração”, cujo agravo regimental

    finalmente veio a ser improvido.

    2.3 Assimetria frasal  – ocorre quando se misturam construções sintáticas

    (o que demonstra uma mente desatenta à estrutura lógica das orações, que

    deve ser mantida ao longo de todo o período).

    Desta maneira:

    a) Numa seqüência enumerativa  – se iniciada por um substantivo, os

    demais itens devem começar também por substantivos; ex.:Daí, a propositura:

    a) de uma ação cautelar , a fim de sustar o protesto dos títulos;

     b) de uma ação ordinária, a fim de obrigar os alienantes ao cumprimento

    de suas obrigações;

    c) dos embargos à execução, a fim de frustrar a liminar que na ação

    cautelar havia sido deferida. 

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     b)  Numa seqüência subordinativa – deve-se manter o tipo de orações

    subordinadas (desenvolvidas ou reduzidas) da primeira oração; no exemplo

    acima, em vez de se usarem as orações subordinadas desenvolvidas finais,

     poder-se-ia substituí-las pelas equivalentes finais reduzidas de gerúndio, oumesmo, por orações adjetivas explicativas (de conotação final), desde que

    mantidas essas construções:

    a) ..., visando sustar.../que objetivasse sustar;

     b) ..., visando obrigar.../que objetivasse obrigar;

    c) ..., frustrar .../que objetivasse frustrar.

    c)   Numa  seqüência coordenativa (de termos  ou de orações 

    coordenadas) – deve-se manter idêntica coordenação, não misturando:

    c.1) idéias heterogêneas; ex.:

     Na viagem ao Exterior, o Presidente do Tribunal esteve em 

    Lisboa, Madri, Roma, no Vaticano, na  célebre Capela Sistina e com o

    Papa.

    Corrija-se: 

     Na viagem ao Exterior, o Presidente do Tribunal esteve em Lisboa, Madri, Roma e no Vaticano: aí visitou a célebre Capela Sistina e

    obteve audiência com o Papa;

    c.2) correlações mal estruturadas:

     Nem este setor apresentou projeto, como criticou o dos outros. 

    Corrija-se: 

    Este Setor não só não apresentou projeto, como ainda criticou o

    dos outros; c.3) construções díspares:

    Ao discursar, o advogado mostrou  eloqüência, ter   elegância de

    estilo e que adotava ainda prudência em suas palavras.

    Corrija-se:

    Ao discursar, o advogado mostrou eloqüência, elegância de estilo

    e prudência em suas palavras.

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    Outro exemplo:

     No agravo regimental sustentou: a)  fica suspensa a eficácia das medidas

     provisórias, prevalecendo o impedimento de ações cautelares; b) não se

    admite  pedido de cautelar nos próprios autos da rescisória; c)  seriaadequado o pedido de antecipação da tutela; d) não preenchimento dos

    requisitos do art. 273 do CPC.

    Comentário: Observe-se que nas alíneas a, b e c foram usadas duas formas

     passivas analíticas mediante os verbos auxiliares ficar e ser , e uma terceira,

     pronominal; que na alínea c  foi usado o futuro do pretérito (em vez do

    imperfeito do indicativo, que seria o exigido em face da correlação dos

    tempos); e que a alínea d   iniciou por um substantivo (quando toda a

    estrutura anterior principiava por uma forma verbal). 

    Corrija-se, então:

     No agravo regimental sustentou: a)  ficava suspensa  a eficácia das

    medidas provisórias, prevalecendo o impedimento de ações cautelares; b)

    não era admissível  pedido de cautelar nos próprios autos da rescisória;

    mas c) era adequado o pedido de antecipação da tutela; d) não haviam

     sido preenchidos os requisitos do art. 273 do CPC.

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    VI – O PLANEJAMENTO

    1. A redação

    Uma boa redação depende essencialmente de dois fatores: da cultura geral de quem escreve e de seu conhecimento específico sobre a matéria a

    ser desenvolvida. E tal implica uma preparação remota e uma preparação

     próxima.

    1.1 A preparação remota  

    A preparação remota é pura decorrência do acervo cultural de cadaum, que não advém de graça, sendo fruto da leitura, seja de que natureza

    for – técnica, informativa ou literária –, cujas idéias, imagens e emoções

    transmitidas permanecem armazenados na mente até serem afloradas e

    espontaneamente aproveitadas no momento oportuno, para enriquecerem o

    tema que interessa. É por essa preparação remota que se identifica o

    verdadeiro “escritor”, distinguindo-o do medíocre e sem qualificaçõesestilísticas. Quem não se acha alimentado por ampla sede de leitura, jamais

    conseguirá expressar-se com a desenvoltura exigida pela arte de escrever.

    1.2 A preparação próxima

    Esta, por sua vez, emerge após um mergulho profundo no conteúdo 

    do que se pretende desenvolver. É preciso, por isso, proceder à descoberta 

    desse conteúdo. Pois, se a pessoa ignora o assunto sobre o qual se vai

    manifestar, irá fazê-lo no vazio, mediante palavreado inútil ou dissonante

    do tema apropriado. Por sua vez, quanto maior o domínio de alguém sobre

    o tema, em toda sua amplitude, maior fluidez obterá na manifestação das

    idéias latentes. Para tanto, mister se faz perpassar por duas etapas prévias:

    1ª) O inventário das idéias – tanto nas situações normais, quando se

    deseja penetrar o tema sob todos os seus aspectos, quanto (e sobretudo) em

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    situações de emergência, quando ocorre um “branco” na mente, como por

    ocasião de provas e concursos ou de prazos judiciais na iminência de

    vencer – o que não raro ocorre com os advogados militantes -, nada melhor

    do que o recurso aos chamados “tropos” (< gr. Trópos = volta, giro),mediante questionamentos  fundamentais, quais sejam: o que, quem, por

    quê, para quê, quando, onde e como? Pois a idéia-mestra se desenvolve a

     partir da visão geral  sobre o tema, o que facilmente se obtém por meio das

    respostas a essas perguntas, as quais conduzem tanto às  pessoas 

     participantes ou que serão atingidas, quanto às circunstâncias mais

    significativas, agravantes ou atenuantes dos eventos. Sirva de exemplo, oaffaire conhecido como “apagão”:

    a) O tema (o quê?)  = um programa emergencial de redução do

    consumo de energia elétrica.

     b) As pessoas (quem?) = o Governo Federal e a população (urbana e

    rural) do país inteiro, a indústria e o comércio.

    c)  A causa (por quê?) =  o agravamento da situação hídrica (emmarço/abril de 2001).

    d)  A finalidade (para quê?) =  a redução do consumo de energia

    elétrica visando a evitar o colapso total do sistema.

    e) O tempo (quando?) = uma determinada temporada, até a situação

    hídrica se normalizar.

    f) O lugar (onde?) = o país inteiro (excluídas certas regiões, apenas,

    não atingidas pela estiagem).

    g) O modo (como?) = as metas obrigatórias de consumo, específicas

     para a população urbana e a rural, o comércio e a indústria, sob pena de

    sobretarifas e a suspensão da oferta de energia pelas concessionárias.

    2ª) O estudo aprofundado da matéria = as condições para se obter

    um conhecimento específico  do assunto (uma vez conseguida sua visão

    geral), o que não pode dispensar a exegese dos textos legais, a leitura da

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    MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 27

    doutrina e a  pesquisa da jurisprudência, do que a  Internet  oferece ótimos

    recursos, habilitando a uma redação bem estruturada e convincente.

    2. Fases do processo de escreverO processo de escrever – sob pena de prováveis graves defeitos – não

     pode prescindir de três momentos: o rascunho, a correção e a redação final.

    2.1 O rascunho

    Após a madura reflexão de seus estudos, surge para o escritor um

    momento em que se sentirá impelido a iniciar  a redação. A propósito, duasadvertências:

    1ª) Trata-se de um processo do subconsciente –  o qual tem de ser

    aproveitado, porque pode não retornar, desperdiçando-se a inspiração. 

    2ª) Deve-se escrever de um jato - sem permitir interrupções seja por

    que motivo for, quer para verificar o conteúdo da exposição ou de sua

    lógica, quer para refletir sobre as imperfeições de estilo ou de linguagem.

    2.2 A correção

    Esta deve processar-se, se possível, após um razoável lapso de tempo

    (entremeando-o com outros afazeres), a fim de “esfriar” a cabeça, no

    intuito de se obter uma visão bem objetiva do problema. É o momento

     propício, então, para se efetuar:

    1º)  A colocação das idéias  rascunhadas em seqüência lógica  –

     pondo-as em ordem, deslocando-as de posição, se preciso.

    Observe a desconexão do texto abaixo (em tom azul):

    O recorrido protocolizou petição, sustentando a ocorrência de fato

    superveniente com a edição da Medida Provisória nº 2.151/01, porquanto

    seu art. 7º previa estarem asseguradas as promoções aos anistiados

     políticos.

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    Todavia, quanto à promoção pelo critério de merecimento, cumpre

    ressaltar que sua ocorrência exige o preenchimento de determinados

    requisitos, que não podem ser aferidos no tocante ao militar inativo,

    como bem salientou em seu voto o em. Ministro X, no julgamento do RE

    nº 141.290/DF.

    A promoção por merecimento configura mera expectativa de direito,

     pois está sujeita a fato ou condição falível, havendo possibilidade de não

    se incorporar ao patrimônio do militar: neste sentido, RMS nº 21.108-

    3/DF e RE nº 141.290-9/DF, inter plures.

    O recorrido aduz que o art. 6º do Estatuto dos Militares prevê sejam as

     promoções efetuadas pelos critérios de antiguidade, merecimento ou

    escolha, ou ainda, por bravura e  post mortem  e que o art. 7º da MP nº

    2.151 garante o direito às promoções aos anistiados políticos.

    Contudo, a Medida Provisória suso mencionada não retira os requisitos

     para a promoção dos anistiados e aqueles não estão demonstrados no

     presente caso.

    Os critérios para a promoção por merecimento é que são subjetivos e

    competitivos, tais como a avaliação de merecimento e aproveitamento de

    cursos que o militar concluiu. Comentário: Após o 1º período (“O recorrido protocolizou petição... aos anistiados

     políticos”), introdutório do tema a ser debatido, o requerente devia iniciar sua

    argumentação pelo antepenúltimo e penúltimo períodos (“O recorrido aduz...

    anistiados políticos./ Contudo, a Medida Provisória... presente caso” ) – pois encerram

    eles as espécies todas de promoção, as quais a Medida Provisória em princípio não

    excluíra. A partir daí, é que devia retornar ao 2º e 3º períodos (“Todavia, quanto à

     promoção pelo critério de merecimento... RE nº 141.290/DF.”/”A promoção por

    merecimento... inter plures”), que versam especificamente sobre o tipo de promoção

     pleiteada, para afinal concluir com o último período (“Os critérios... militar concluiu”),

    explicitando a impossibilidade da pretendida promoção para o caso específico.

    Corrija-se, então (com o deslocamento correto dos períodos em tom verde, embora

    mantendo o mal emprego das partículas de transição): 

    O recorrido protocolizou petição, sustentando a ocorrência de fato

    superveniente com a edição da Medida Provisória nº 2.151/01, porquanto

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    seu art. 7º previa estarem asseguradas as promoções aos anistiados

     políticos.

    O recorrido aduz que o art. 6º do Estatuto dos Militares prevê sejam as

     promoções efetuadas pelos critérios de antiguidade, merecimento ou

    escolha, ou ainda, por bravura e  post mortem  e que o art. 7º da MP nº

    2.151 garante o direito às promoções aos anistiados políticos.

    Contudo, a Medida Provisória suso mencionada não retira os requisitos

     para a promoção dos anistiados e aqueles não estão demonstrados no

     presente caso.

    Todavia, quanto à promoção pelo critério de merecimento, cumpre

    ressaltar que sua ocorrência exige o preenchimento de determinados

    requisitos, que não podem ser aferidos no tocante ao militar inativo,

    como bem salientou em seu voto o em. Ministro X, no julgamento do RE

    nº 141.290/DF.

    A promoção por merecimento configura mera expectativa de direito,

     pois está sujeita a fato ou condição falível, havendo possibilidade de não

    se incorporar ao patrimônio do militar: neste sentido, RMS nº 21.108-

    3/DF e RE nº 141.290-9/DF, inter plures.

    Os critérios para a promoção por merecimento é que são subjetivos e

    competitivos, tais como a avaliação de merecimento e aproveitamento de

    cursos que o militar concluiu. 

    2º)  A complementação das  lacunas  – relativamente aos fatos mais

    importantes e às argumentações de maior peso.

     Na peça acima, cabia ao recorrido ter exemplificado os cursos

    ensejadores da pleiteada promoção por merecimento, mas aos quais o

    recorrente não se submetera na atividade (fatos relevantes); faltou ainda

    transcrever as ementas e/ou os excertos mais expressivos dos julgados

    trazidos à colação (argumentos de autoridade, porém valiosos pelo seu

    conteúdo).

    3º) O corte do que for irrelevante ou deslocado – quer relativamente

    a argumentações secundárias, quer a pormenores sem maior significação,

    quer ao palavriado inútil (assinalados em tom azul nos textos abaixo).

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    MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 30

     No mesmo exemplo acima, após “A promoção por merecimento

    configura mera expectativa de direito, pois está sujeita a fato ou condição

    falível”, o acréscimo “havendo possibilidade de não se incorporar ao

     patrimônio do militar”  constitui uma redundância absolutamentedesnecessária, seja para fins de conferir contundência ao argumento

    desenvolvido, seja para conferir mera ênfase ao texto.

    O palavriado inútil é muito comum no exórdio das peças em juízo

    (ou administrativas), e. g.:

    A UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, neste ato representada  por

    seu Advogado-Geral (Lei Complementar   nº 73, de 10/02/93, art. 4º,inciso III c/c o Decreto de 25/01/00 de sua nomeação), que esta

    subscreve, nos autos do Recurso Extraordinário acima referido, com

    trânsito por essa Eg. Corte Suprema e respectiva secretaria, tendo como

    recorrido Fulano de Tal, em atenção ao r. despacho de fls. ..., vem com 

    sumo acatamento e mui respeitosamente, expor para afinal requerer o que

    segue.

    Igualmente encontram-se prévias argumentações na peça inaugural,

    de todo deslocadas da etapa apropriada – que é a da dissertação; p. ex.:

    A UNIÃO, não se conformando, d. v., com a r. sentença de fls. .../..., que

    laborou em grave erro, ao julgar e condenar o apelante nas penas do “art.

    12 da Lei nº 8.429/92 e art. 37, § 4º da CF” por suposto ato de

    improbidade, condenando-o a ressarcir lesão inexistente e a pagar

    absurda multa, além de decretar a suspensão de seus direitos políticos por

    oito anos, ato esse que se reveste de extrema gravidade e só pode ser

    decretado sempre em caráter de absoluta excepcionalidade, o que não

    ocorreu no caso presente, posto que o condenado, no uso de seu poder

    discricionário, mediante ato revestido de interesse público, como

    Ministro..., apenas utilizou-se de aeronave da FAB, para empreender

    viagem a cidades diversas, a pedido do interesse público que sua pasta

    exige (“assuntos estratégicos”), assim como lhe é deferido por ato

    normativo confeccionado pelo Poder Público, motivo do presente, vem

     perante V. Exª interpor RECURSO DE APELAÇÃO para o Eg. Tribunal

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    MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 31

    Regional Federal da 1ª Região, na conformidade das razões que passa a

    expor.

    4º)  A verificação das  qualidades  de estilo  – clareza, concisão,

     propriedade, lógica, ênfase e harmonia (v. VIII.1/VIII.7). 5º)  A correção gramatical  – dos erros ortográficos, morfológicos e

    sintáticos (v. IX).

    2.3 A redação final 

    É o estágio último, em que se  passa a limpo a fase anterior, dando os

    definitivos retoques, até a pessoa sentir-se satisfeita com sua pequena

    “obra-prima”: é o momento, então, em que se deve atentar para a

    contundência dos princípios da lógica, para a beleza estilística e para a mais

    absoluta correção gramatical (léxica ou sintática). Alerte-se que esta será a

    forma definitiva  do texto que se vai apresentar à apreciação de um

    desconhecido interlocutor (cuja intransigência ou complacência se ignora)

     – perante o qual o redator ou se fará respeitar de imediato ou perderá seu

    crédito de uma vez por todas.

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    MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 32

    VII – AS PARTES CONSTITUTIVAS DA REDAÇÃO

    1. O intróito da redação jurídica

    Precede o corpo de uma peça jurídica a INTRODUÇÃO, onde se

    deve: 1º) indicar o juiz ou tribunal ao qual a peça é dirigida; 2º) identificar

    as partes pelo nome, estado civil, profissão, domicílio e/ou residência

    (dispensável, se já constar de petição anterior – como nos recursos); e 3º)

    esclarecer qual a natureza da ação ou do recurso que se está propondo

    (CPC, arts. 282, I/II e 496, I/VIII); ex.:

    EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ FEDERAL DA ..... VARA FEDERAL

    DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

    FULANA DE TAL, brasileira, casada, C. Id. nº ....., CPF .....,

    funcionária pública federal, residente e domiciliada na Av. ....., n° ....., ap. .....,

     N/C, por seu Advogado, com escritório na Rua Y, nº ....., sala ....., onde

    receberá intimações (CPC, art. 39, I), vem propor, nos termos dos arts. 282 e

    273, I c/c art. 461 do CPC, a presente AÇÃO ORDINÁRIA, com PEDIDO DE

    ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, contra a UNIÃO, pelos motivos de fato e

    razões de direito que passa a expor.

    2. As partes constitutivas da redação jurídica

     No corpo da peça jurídica deve-se cumprir as demais exigências dosincisos III/VII do citado art. 282 do CPC. Como parâmetro, podem ser

    adotadas as normas para as sentenças e acórdãos (CPC, art. 458, I/III c/c

    art. 165), cabíveis também para peças administrativas (v. I, 4). Esse corpo é

    constituído de três partes seguidas, cada qual com fim específico e processo

    sintático preferencial: 1º) o relatório (os fatos); 2º) a discussão (o direito);

    e 3º) a conclusão  (o julgamento/opinião final). (Sobre o uso dos tempos,

    modos e aspectos verbais, v. ANEXO III.) 

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    MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 33

    VII.1 - O RELATÓRIO

    1. A natureza do relatório

    O relatório consiste numa exposição objetiva e imparcial  dos fatos,

    considerados em seu sentido amplo: pois neles se açambarcam as

     preliminares, nomeadamente os pressupostos processuais e as condições da

    ação: às vezes, cabe a formulação da preliminar por expressa imposição

    legal, como no caso das ações diretas de constitucionalidade (Lei nº

    9.868/99, arts. 2°, I/IX e 14, III); às vezes convém fazê-lo, por se haver

    suscitado dúvida ou levantado discussão quanto a determinadas condições

    ou pressupostos. É a ocasião de se empregarem preferentemente orações

    coordenadas assindéticas e sindéticas aditivas simples e/ou orações

    subordinadas substantivas ou adjetivas restritivas (v. IV, 1 e 2, in initio).

    Isto porque nessas peças inaugurais, deve-se tomar uma atitude isenta, e

    não de antecipada condenação ou de apoio à tese que se pretende

    desenvolver na 2ª parte (a discussão) - o que vai impressionar bem a quem

    for julgar ou opinar a respeito, pois a estes cabe inferir qual o direito

    oriundo dos fatos expostos, segundo o adágio:  jura novit curia (= o

     julgador [é quem] conhece o direito). Como os fatos que se vão narrar ou

    descrever já ocorreram, o uso apropriado é o dos tempos do  perfeito ou o

     presente histórico, adotando-se procedimentos variados, conforme o estágio

    em que se encontrar a ação.

    2. Os procedimentos na petição inicial ou na contestação

    Após as  preliminares (se for o caso), segue-se a mera descrição ou 

    narração dos fatos e sua seqüência (do início para o fim ou do fim para o

    começo – conforme o objetivo visado pelo redator), contendo os motivos

    da insatisfação do autor da ação, ou vice-versa, da insatisfação do réu ante

    as pretensões do autor; ex.: 

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    MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 34

    I – RELATÓRIO

    A) A LEGITIMAÇÃO ATIVA

    É inequívoco, nos termos do art. 103, § 4º da Constituição Federal e do

    art. 13, I da Lei nº 9.868, de 10/11/99, que o Presidente da República possui legitimação 

    ativa  para propor a presente ação declaratória de constitucionalidade dos arts. 14/18 da

    Medida Provisória nº 2.152-2/2001. É inequívoco, ainda, que a mesma Autoridade é o

     juiz da urgência e da relevância da matéria, objeto das Medidas Provisórias, no exercício

    da competência privativa conferida pela mesma Constituição (art. 62 c/c art. 84, XXVI).

    B) A RELEVÂNCIA DA CONTROVÉRSIA JUDICIAL

    Por sua vez, consoante o disposto no art. 14, III da aludida Lei nº 9.868/99, tal

    ação declaratória deve demonstrar a existência de controvérsia judicial relevante sobre

    o objeto da ação. Ora, os inquinados dispositivos da Medida Provisória dizem respeito à

    legitimidade da cobrança de tarifa especial em determinadas hipóteses e à possibilidade

    de suspensão temporária do fornecimento de energia elétrica, a fim de evitar o colapso

    total do sistema, na presente situação de escassez pluviométrica. Até o momento, vale

    esclarecer, já foram propostas 126 ações em juízo, nas quais 28 liminares foram

    concedidas e 9 denegadas – o que implica flagrante incerteza  quanto às normas que

    devam ser observadas.

    3. Os procedimentos nos recursos

    Antes da fase de discussão, é fundamental: para o recorrente, que

    reproduza a síntese da decisão judicial (sentença, acórdão) dada à lide; e

     para o recorrido (em suas contra-razões), a síntese  da argumentação do

    recorrente e/ou a síntese da decisão judicial recorrida. Pois é a fase anteriorà manifestação do Ministério Público, que oficiará, opinando sobre quem

    tem ou não razão, ou em até que ponto; ex.:

    I – RELATÓRIO

    A) O CABIMENTO DA RECLAMAÇÃO

    A Lei nº 9.494, de 10/09/97, determina em seu art. 1º que “Aplica-se à tutela

    antecipada prevista nos arts. 273 e 461 do Código de Processo Civil o disposto nos arts.

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    MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 35

    5º e seu parágrafo e 7º da Lei nº 4.348, de 26 de junho de 1964, no art. 1º e seu

     parágrafo quarto da Lei nº 5.021, de 9 de junho de 1966, e nos arts. 1º, 3º e 4º da Lei nº

    8.437, de 30 de junho de 1992”. Ora, a constitucionalidade do art. 1º da referida Lei nº

    9.494/97 restou reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, ao conceder o provimento

    cautelar requerido na ADC nº 4-DF – decisão colhida por expressiva maioria, assim

    sumulada na Ata de Julgamento do Plenário:

    “O Tribunal, por votação majoritária, deferiu, em parte, o pedido de

    medida cautelar, para suspender, com eficácia ex nunc  e com efeito

    vinculante, até final julgamento da ação, a prolação de qualquer decisão sobre

     pedido de tutela antecipada, contra a Fazenda Pública, que tenha como

     pressuposto a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade do art. 1º da Lei

    nº 9.494, de 10/9/97, sustando, ainda, com a mesma eficácia, os efeitos

    futuros dessas decisões antecipatórias de tutela já proferidas contra a Fazenda

    Pública, vencidos, em parte, o Ministro Néri da Silveira, que deferia a medida

    cautelar em menor rextensão, e, integralmente, os Ministros Ilmar Galvão e

    Marco Aurélio, que a indeferiam.”

    B) OS FATOS 

    As requerentes ajuizaram ação ordinária, com pedido de antecipação dos efeitos

    da tutela, solicitando fosse a UNIÃO condenada a retificar seu enquadramento na classe

    B, padrão 17 da carreira de Técnico Judiciário, retroativamente à data de sua nomeação,

     pagando-se-lhe desde logo as diferenças de vencimentos havidos até o presente. Em 1º

    grau de jurisdição, foi indeferida a pretensão de tutela antecipada, mas o em. Relator do

    Eg. TRT da Região X acolheu as razões do agravo de instrumento, ao qual conferiu

    efeito ativo, nos seguintes termos:

    “Ante o exposto, suspendo a eficácia da decisão agravada, com base noart. 558, caput , do CPC, e, atribuindo efeito ativo ao agravo, determino a

    inclusão, em folha de pagamento, da diferença de remuneração das agravantes,

    entre o padrão 17 da classe B de Técnico Judiciário e o padrão 11 da classe A

    da mesma carreira (Lei nº 9.421/96), a título de complementação de

    vencimentos, até que venha a ser julgado o mérito da causa.” 

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    MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 36

    VII.2 - A DISCUSSÃO

    1.  A natureza da discussão

    É a parte mais importante da peça jurídica, consistindo na dissertação sobre o(s) problema(s) apresentado(s), mediante orações subordinadas

    adjetivas explicativas e adverbiais, de preferência (v. IV, 2),

    compreendendo a fixação do tema e seu desenvolvimento.

    2. A fixação do tema

    Este deve ser estabelecido desde logo (preferentemente), definindo oassunto sobre o qual se vai debater, em termos amplos e genéricos, obtido

     pela indução dos fatos e/ou pela dedução dos argumentos oferecidos pelas

     partes. Esse tema deve sintetizar-se em um ou dois períodos, apenas,

    constando de mera declaração, definição (legal ou doutrinária) da matéria

    ou  divisão didática desta, ou ainda, da reunião de mais de uma dessas

    feições; ex.:Reza o art. 1.101 do CC que “A coisa recebida em virtude de contrato

    comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a

    tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor”.

    Trata-se da aquisição das quotas sociais de uma empresa, mediante preço

    certo, parte à vista, parte à prestação, representadas por notas

     promissórias vinculadas ao contrato (doc. I), cujo pagamento podia ser

    suspenso em seu vencimento, caso não cumpridas (dentro do termo

     prefixado) duplas obrigações: a) as derivadas da lei - a saber: a

    comprovação da regularidade fiscal e comercial da empresa; e b) as

    decorrentes do ajuste - a saber: a dispensa e respectiva indenização dos

    empregados.

    3. O desenvolvimento do tema 

    É a explanação do tema (idéia-núcleo + circunstâncias envolventes) -o que pode perfazer-se dos mais variados modos:

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    a)  Definindo com precisão o sentido e os termos da proposição (se

     preciso) - a fim de não franquear ataques infundados posteriores; ex.:

     Não cumpridas ditas obrigações em seu termo, foram notificados os

    alienantes de que a documentação apresentada continha nada menos que25 (vinte e cinco) itens de irregularidades, dentre as quais avultava um

     passivo fiscal (jamais saneado!) por volta de 60 (sessenta milhões) – o

    que representava 75% (setenta e cinco por cento) do valor da transação, a

    recair cumulativamente contra os adquirentes -, além das não

    indenizações trabalhistas, expressamente reconhecidas na perícia.

     b)  Encarando os argumentos  da parte  – quer prevendo-os

    antecipadamente, quer contradizendo-os posteriormente: enfrentam-se osmais fortes de início, preferentemente, e mostram-se (sem amesquinhar

    com ironias) os mais fracos, logo em seguida; demonstra-se o mau

    emprego dos fatos e/ou as errôneas conclusões deles tiradas; argúi-se ainda

    a eventual deturpação ou má intelecção dos textos citados (legais,

    doutrinários ou jurisprudenciais); ex.:

    Daí, a conclusão do V. Acórdão:

    “...não podia o autor demandar sem outorga uxória, como

    decorrente do art. 10, caput , do Código de Processo Civil. A relação

     processual apresentou-se, assim, falha de um de seus pressupostos, o que

    arreda o julgamento pelo mérito. Insuprível, outrossim, a falta. Sujeita a

    rescisória a prazo de decadência, somente sua distribuição devidamente

    aparelhada e em termos antes de vencido o mesmo, irá evitar sua

    ocorrência. Se a inicial vem incompleta, como sucedeu in casu, não cabe

    ao Tribunal fazê-lo. No concernente ao dissídio jurisprudencial, não

    restou este configurado, por tratarem os acórdãos de hipóteses distintas

    do que aqui se cuidou, acrescido do fato de não terem os recorrentes feito

    o devido confronto analítico, em desatenção ao parágrafo único do art.

    255 do RI do STJ.”

    c) Oferecendo argumentação jurídica consistente  (legislação,

    doutrina e/ou jurisprudência) - passo a passo, pertinente a cada item

    relacionado com a proposição principal; ex.:

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    Ocorreu deste modo, sem dúvida, negativa de vigência aos arts. 458, I/III

    e 459 do CPC. Isso porque os Egs. Colegiados locais não determinaram

    ao MM. Juiz a quo proferisse nova sentença (onde não ocorresse nem a

    omisssão quanto ao segundo pedido, nem a restrição injustificada quanto

    ao âmbito do primeiro): elidiram, assim, o segundo grau de jurisdição,

    abonando flagrantes erros procedimentais da r. sentença, cuja nulidade

    “sanaram” a pretexto de decisão de mérito proferida em feito conexo,

    como se tal tivesse o condão de sanar aqueles.

    Ora (como rezam os VV. Julgados transcritos nos REsps), nula é a

    sentença carente de qualquer de seus “requisitos essenciais” (CPC, art.

    458, I/III), quer por omissão total ou parcial do relatório (RP 4/406, em.

    190; RJ 246/394; RT 567/94; RJTJMS 12/101); quer por carência de

    fundamentação, que é de ordem pública e constitucional (RT 551/169,

    587/155; RE 74.143-SP, DJU 10/11/72, pág. 7732); quer por não decidir

    todas as questões submetidas (RT 506/143; JTA 37/292, 92/427; RJTJSP

    31/89; RJTJMG 18/115; RJTJMS 12/113).

    Bem a propósito, este Col. Superior Tribunal de Justiça, por sua Eg. 4ª

    Turma, vem de decidir (REsps nºs 6.277/6.278-MG, Rel. o em. Min.

    Athos Carneiro, jj. 20/08/91, DJU 16/10/91)):

    “Ação cautelar de sustação do protesto de cártula vinculada ao

    contrato. O mérito da demanda cautelar não é o mérito da demanda

     principal, e assim a importância desta não implica necessariamente que

    se proclame a improcedência da ação acessória. Nesta, prevalece a

     prudente discricionariedade do juiz, no prevenir protestos desnecessários

    ou vexatórios.”

    Ocorreu ainda a negativa de vigência ao art. 798 do CPC: isto porque éexatamente nesse dispositivo que encontra pleno apoio a sustação do

     protesto cambiário.

    É que tal protesto constitui, comercialmente, “meio vexatório que causa

    inegáveis prejuízos no crédito do devedor”; e dessa maneira, “sua

    iminência não deixa de constituir fundado receio de dano grave e de

    difícil reparação. Se o ameaçado de protestos tem ação contra o portador

    do título para invalidá-lo, é claro que pode pretender evitar o perigo dodano representado pelo protesto” (HUMBERTO THEODORO JÚNIOR,

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     Processo Cautelar , 8ª ed., LEUD, SP, 1986, pág. 105).

    Em suma: tinham e continuam tendo os recorrentes o direito de

    suspender e manter suspenso o pagamento das prestações, seja por

     previsão contratual (cláusula 2ª, alíneas F/G), seja ex vi do art. 1.092 do

    CC, verbis:

    “Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de

    cumprida sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.” 

    d) Cuidando da correta interpretação da lei  – cuja exegese nada

    mais é que a investigação da essência  da vontade legislativa (ou seja: o

    sentido finalístico da lei = mens/ratio legis), tanto a coetânea ao tempo de

    sua promulgação quanto a do momento atual, fruto da evolução dasatividades humanas, impossível que é ao legislador prever todas as

    hipóteses, presentes e futuras. Não se pode circunscrever, destarte, a uma

    única técnica de indagação do verdadeiro sentido de um texto legal, mas

    conjugá-las todas, quais sejam:

    d.1) a interpretação literal   (ou gramatical) – que se prende à

    etimologia e/ou à semântica do vocábulo, à sua univocidade ou

    ambigüidade (na acepção corrente ou técnica) e às suas funções sintáticas

    no período;

    d.2) a interpretação lógica (ou racional) – que procura a comparação

    com outros dispositivos, não os isolando em compartimentos estanques;

    d.3) a interpretação  sistemática  – que investiga a subordinação da

    norma ao conjunto maior dos princípios norteadores do sistema, obtendo o

    entendimento daquela em função destes, pois a lei se integra num sistema

    legislativo;

    d.4) a interpretação histórica  – que leva em consideração as

    injunções políticas, sociais e econômicas que induziram à criação da lei,

     bem como os trabalhos preparatórios (como as exposições de motivo que

    acompanham os projetos de lei, os estudos das Comissões e as discussões

    em Plenário), que antecederam à sua votação, sanção e promulgação.

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    e) Cuidando da correta aplicação da lei  – considerando sua eficácia

    no tempo e no espaço, além de sua aplicação analógica, extensiva ou

    restritiva:

    e.1) a eficácia no tempo – que torna a lei obrigatória a partir de sua promulgação e publicação, se outra data não estiver prevista no próprio

    texto ou na LICC (art. 1º); que mantém essa obrigatoriedade enquanto outra

    lei não a modificar ou revogar, não se restaurando (salvo disposição em

    contrário) por ter a lei revogadora perdido a vigência (LICC, art. 2º e § 3º),

    ou enquanto sua inconstitucionalidade não for argüida (CF, art. 102, I, a);

    que faz voltar a lei para o futuro, sendo vedada sua retroatividade (salvo para as leis interpretativas e as mais favoráveis – que são casos de pseudo-

    retroatividade), como norma não só dirigida ao juiz como ao próprio

    legislador (LICC, art. 6º, §§ 1º/3º) e de assento inclusive constitucional

    (CF, art. 5º, XXXVI), tradicionalmente mantido no direito brasileiro;

    e.2) a eficácia no espaço – que torna a lei obrigatória, em princípio,

    como a expressão de sua soberania, às pessoas que morem ou estejam noslimites geográficos do país; que o direito brasileiro adota o princípio da

    territoriedade moderada, aplicando a norma do Estado respectivo às

    embaixadas e consulados, aos navios e às aeronaves, à qualificação dos

     bens e à regência de suas relações (LICC, art. 8º, caput  e § 1º e art. 9º) e

    ainda à prova dos fatos (id., art. 13); que nosso direito adota também o

     princípio da extraterritorialidade, aceitando as convenções e tratados

    internacionais (direito internacional privado e público);

    e.3) a aplicação analógica da lei – que aplica a lei a um caso não

     previsto, em razão da igualdade de motivos (exceto no direito penal, fiscal

    ou excepcional, dado o caráter restritivo destes), como se acha expresso, p.

    ex., nos seguintes axiomas:

    1º) a pari (= por igual [razão]) – ex.:

    Cabe aplicar à curatela as regras da tutela (CC, art. 453);

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    2º) a majori ad minus (= do mais para o menos) – ex.:

    Se ao mandatário forem conferidos os poderes especiais do § 1º do art.

    1.295 do CC, é que lhe estão sendo implicitamente outorgados os poderes

    gerais de administração de que fala o caput do mesmo artigo; 

    3º) a minori ad majus (= do menos para o mais) – ex.:

    Se o interditado resta proibido de reger sua pessoa e administrar seus

     bens (CPC, art. 1.180), igualmente o estará para dispor destes, bem como

     para exercer os direitos políticos de eleger e ser eleito;

    4º) a fortiori (= com maior [razão]) – ex.:

    Se ao Banco Central é vedado conceder empréstimos ao Tesouro

     Nacional e a qualquer órgão ou entidade que não seja instituiçãofinanceira (CF, art. 164, § 1º), muito menos o poderá a pessoas físicas;

    5º) a contrario sensu (= no sentido contrário) – ex.:

    A enumeração taxativa dos direitos reais, previstos expressamente no CC

    (art. 674, I/IX) e na legislação extravagante, exclui qualquer outra

    hipótese, por se tratar de numerus clausus (= número fechado);

    6º) ad hominem (= contra a [própria] pessoa [argumentante]) – ex.:

    Se a sobretarifa no “apagão” for acoimada de confisco por se tratar de

    tributo exorbitante (CF, art. 150, IV), alegando-se ser este último

    caracterizado pela compulsoriedade, provando-se que a tarifa de energia

    elétrica constitui mero preço público, cuja compulsoriedade provém de

    uma contraprestação de natureza contratual (e não de uma imposição

    legal, como o tributo), lança-se o argumento da parte contra ele próprio ;

    7º) tollitur quaestio (= destrói-se/esvanece a questão) – ex.:

    Quando o réu confessa o crime, sem coação alguma e sem contrariar o

    complexo probatório (CPP, arts. 197/200), não há mais o que discutir ;

    e.4) a aplicação extensiva ou restritiva da lei - que alarga ou reduz o

    raio de aplicação da lei, segundo os seguintes axiomas:

    1º) lex dixit plus/magis quam voluit (= a lei disse mais do que

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    quis/queria [dizer]) – ex.:

    A chamada Lei do Concubinato (Lei nº 9.278, de 10/05/96, que veio

    regulamentar o § 3º do art. 226 da CF) não estabelece período mínimo

     para configurar a estabilidade da união entre o homem e a mulher,visando a caracterizar tal união como entidade familiar; também não

    exige a convivência sob o mesmo teto – o que ensejaria tornar legítima a

    conjugação do concubinato com a vida matrimonial, a qualquer tempo: e

    assim, singularmente, por omissão, a lei disse muito mais do que

     pretendia dizer, exigindo contínua construção jurisprudencial a respeito,

    caso a caso;

    2º) lex dixit minus quam voluit (= a lei disse menos do que pretendeu/pretendia [dizer]) – ex.:

    O art. 714 do CPC somente se refere à adjudicação de imóvel pelo

    credor, finda a praça sem lançamento – o que a jurisprudência prevalente

    tem estendido aos bens móveis.

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    VII.3 - A CONCLUSÃO

    1. A natureza da conclusão

    É o  fecho  do texto – quando então se empregam orações

    subordinadas adverbiais (v. IV, 2), de preferência, e o verbo no tema do

     presente. Reitera-se, então, o teor do tema (com predominância de orações

    coordenadas) e sintetizam-se os argumentos desenvolvidos na discussão

    (com predominância de orações subordinadas adverbiais), mas sem a

    contundência desta última.

    2. A reiteração do teor do tema 

    Essa reiteração faz-se necessária, embora o tema já tenha sido

    expresso inicialmente, no começo da discussão (v. VII.2, 2). Com maior

    razão, se não o houver sido, faz-se mais que necessário fixá-lo, ora como

    um processo lógico, derivado da fundamentação, onde se encontra diluído.A finalidade é clara: pretendem as partes determinados pedidos, o

    Ministério Público deve opinar sobre eles e o Julgador deve decidir a

    respeito. É de toda conveniência, portanto, que a argumentação seja

    reiterada, a fim de ficar bem evidenciado, num momento-chave, o que se

     pretende ou obstaculiza, para a devida apreciação de quem vai manifestar-

    se com autoridade a respeito.

    3. A técnica da reiteração do tema

    Posta inicialmente a fórmula genérica do tema inicial (ou

    formulando-a na ocasião, como início do fecho), necessário se faz

    recapitular   os pontos capitais da argumentação expendida na discussão,

     proporcionalmente ao tamanho desta, numa  síntese do que então se

    desenvolveu, a fim de as partes justificarem os pedidos que irão fazer ao

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    MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 44

    final (como os requerimentos de liminares e de procedência ou

    improcedência, total ou parcial, daqueles); a fim, igualmente, de o Parquet  

    ou o Julgador poderem corretamente opinar ou decidir sobre tais pedidos.

    Por isso, tal recapitulação se torna de todo em todo necessária, quando adiscussão da matéria tiver sido longa: pois, abarrotado