Manual III

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  • 1Manual III Tecnologias de Informao e Comunicao na Gesto da Empresa Agrcola

    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

    Manual III Tecnologias de Informao e

    Comunicao na Gesto da Empresa Agrcola

    Elaborao Conjunta AJAP/Agri-Cincia

    Coordenao Cientfica e Redaco:Miguel de Castro Neto,

    Antnio Cipriano A. Pinheiro e Jos Castro Coelho

    Coordenao Tcnica e Recolha de Informao de Campo:Equipa tcnica da AJAP

    Co-financiado no mbito da Medida 10 do Programa AGRO

    Convite Pblico n 04/2004 - Projecto n. 2005090010264

  • 2Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

    Manual III Tecnologias de Informao e Comunicao na Gesto da Empresa Agrcola

    EdioAssociao dos Jovens Agricultores de Portugal

    Rua D. Pedro V, 108 - 2 1269-128 Lisboa

    Tel.: 21 324 49 70Fax: 21 343 14 90

    E-mail: [email protected]: www.ajap.pt

    ImpressoGazela, Artes Grficas, Lda.

    Depsito Legaln. 268067/07

    Registo de Autorian. 4605/07

    ISBN978-989-95613-2-8

    Distribuio Gratuita

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    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

    NDICE

    1. INTRODUO 5

    2. GESTO DE INFORMAO EM AGRICULTURA 62.1 Tecnologias de Informao e Comunicao e Gesto de Informao

    6

    2.2 Gesto de Informao em Agricultura 72.3 Dados, Informao e Conhecimento 11

    3. SISTEMAS DE INFORMAO NA GESTO DA EXPLORAO AGRCOLA

    14

    3.1 Evoluo 143.2 O que um sistema de informao 203.3 Principais tipos de sistemas de informao 223.4 Sistemas de Informao nas Exploraes Agrcolas 263.5 Mercado Nacional de Sistemas de Informao para as Empresas Agrcolas

    34

    4. UTILIZAO DE TECNOLOGIAS DE INFORMAO E COMUNICAO NA GESTO DA EMPRESA AGRCOLA

    35

    4.1 Recolha de Informao 354.2 Planeamento de actividades 404.3 Informao de gesto da explorao 584.4 Agricultura de Preciso 624.5 Gesto da Rega 81

    4.6 Gesto de efectivos pecurios 86 4.7 Controlo ambiental de estufas 894.8 Internet 914.9 Servios da Internet 944.10 World Wide Web 984.11 A Internet ao servio do mundo rural 1104.12 Internet marketing 123

    5. A EMPRESA AGRCOLA DA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

    135

    5.1 i-Farm 1375.2 Business Intelligence 1405.3 Desenvolvimentos Futuros 143

    6. CONCLUSO 145

    7. REFERNCIAS 147

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    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

    1. INTRODUO

    A gesto de informao e as tecnologias de informao e comunicao que a suportam so, do nosso ponto de vista, o factor crtico de sucesso da empresa agrcola na sociedade da informao e do conhecimento.

    Este manual estabelece como principal objectivo apresentar os mais modernos desenvolvimentos das tecnologias de informao e comunicao e do potencial que encerram para a gesto da empresa agrcola.

    Surge naturalmente na sequncia do Manual I, dedicado ao marketing dos produtos agro-pecurios, que consubstancia a necessidade dos empresrios agrcolas adoptarem uma estratgia orientada para o mercado, e do Manual II, que aborda a gesto da empresa agrcola, visando apresentar os princpios econmicos a ser utilizados para suportar a tomada de deciso do empresrio agrcola.

    Com esse objectivo, este manual, aborda questes como o conceito de gesto de informao/conhecimento, a tipologia de sistemas de informao e o papel que desempenham na gesto da empresa agrcola, as novas tecnologias de informao e comunicao na gesto da empresa agrcola a empresa digital e o papel da Internet e das tecnologias associadas na gesto da empresa agrcola do Sc. XXI.

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    2. GESTO DE INFORMAO EM AGRICULTURA

    2.1 Tecnologias de Informao e Comunicao e Gesto de Informao

    A gesto de informao e as tecnologias de informao e comunicao (TIC) que a suportam assumem de forma crescente um papel fundamental no seio das organizaes empresariais, permitindo a sua utilizao melhorar a eficincia da utilizao dos recursos e atingir nveis de desempenho mais elevados.

    O recurso a aplicaes informticas, cobrindo as diversas reas do negcio (produo, recursos humanos, vendas e marketing, finanas e contabilidade), suporta uma gesto mais flexvel e pr-activa, sendo promotoras da obteno de vantagens competitivas permitindo, quando bem utilizadas, obter ganhos de eficincia inquestionveis. Adicionalmente, a utilizao da Internet nas suas diversas potencialidades (comunicao, partilha de informao, transaco, etc.) , cada vez mais, um veculo privilegiado para aceder a informao actualizada.

    Por outro lado, as TIC, enquanto instrumentos de suporte a processo de gesto de informao, favorecem a adopo e utilizao de tecnologias de preciso, como sejam os sistemas de posicionamento global (GPS), os sistemas de informao geogrfica (SIG) e as redes de sensores sem fios, enquanto ferramentas de suporte agricultura de preciso, que permitem reduzir os custos, aumentar a produo, ajustar os inputs s necessidades do solo e das culturas, aumentar os rendimentos e reduzir os impactos ambientais, no que se convencionou denominar de agricultura de preciso.

    A Internet e as tecnologias relacionadas permitem, tambm, desenvolver estratgias de marketing directo dos produtos agrcolas e tambm explorar oportunidades como o comrcio electrnico, os leiles e a venda de servios.

    Por ltimo, no podemos deixar de referir o potencial deste meio para suportar o ensino distncia, cujo potencial de aplicao no mundo rural elevadssimo.

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    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

    2.2 Gesto de Informao em Agricultura

    A gesto de informao , cada vez mais, um factor crtico de sucesso para o empresrio agrcola.

    A razo no por estarmos na Era da Informao, mas sim porque a informao necessria, isto , porque cada vez mais necessria, a ponto de, em boa agronomia, poder ser considerada, um dos actuais factores limitantes.

    Esta limitao prende-se no com a sua escassez, mas sobretudo, tal como o azoto no solo, ou a radiao que atravessa os campos de cultura, por ser extremamente mvel e, portanto, efmera. Esta mobilidade identificvel pelo modo como a informao flui entre a produo e o consumo.

    Tambm, semelhana dos ciclos e fluxos de massa nos ecossistemas agrcolas, os fluxos de informao so cada vez mais alargados, a ponto de ser do domnio comum o recm criado termo de globalizao, querendo significar uma quase universalidade de acesso a vrios recursos, de entre os quais, a informao paradigmtica.

    Esta mobilidade crescente da informao seguramente devida ao progresso tecnolgico na rea das telecomunicaes e aos mtodos modernos de transporte e armazenamento de dados, bem como aos crescentes e variados modos de lhes dar forma.

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    Neste contexto, o domnio das TIC que suportam os processos de gesto de informao e por essa via apoiam as tomadas de deciso dos empresrios agrcolas, de uma importncia vital no ambiente em permanente mudana em que vivemos.

    O empresrio da sociedade da informao e do conhecimento ter de assegurar uma gesto da informao eficiente e eficaz, tendo como resultado a disponibilizao ao decisor da informao pertinente, no momento oportuno e no formato adequado. Gerir a informao ser, pois, decidir o que fazer com base em informao e decidir o que fazer sobre informao.

    No contexto agrcola a empresa e empreendimento agrcola vivem da constante tomada de decises sobre o modo como agir sobre o ambiente, as plantas e os animais, pelo que tm uma necessidade permanente de recorrer a informao.

    De facto, na actividade agrcola em particular, a importncia que o recurso informao tem vindo a ganhar deve-se, essencialmente, complexidade duma actividade onde a incerteza associada variabilidade climtica, variabilidade das caractersticas espaciais e diversidade das plantas e animais utilizados, proporcionalmente maior do que noutros ramos de actividade. Esta complexidade ainda acrescida por uma forte regulamentao subjacente ao enquadramento poltico e legal induzido pela Unio Europeia, nomeadamente pela Poltica Agrcola Comum (PAC), pelos acordos mundiais de comrcio, etc.

    As constantes mudanas decorrentes da PAC, a crise energtica e as crescentes preocupaes com a higiene e segurana alimentar, criaram um contexto em que a informao se tornou um recurso com importncia crescente para o planeamento e aplicao de polticas ao nvel da Unio Europeia,

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    nacional e local, para a gesto da explorao e para a diversificao, qualidade e especificidade dos produtos agrcolas.

    Actualmente os empresrios agrcolas so decisores que tm que assumir permanentemente o papel de solucionadores de problemas num sector de produo complexo que tem sido sempre dependente de muitos factores ambientais que so frequentemente difceis de prever ou controlar. De facto, os agricultores europeus enfrentam, simultaneamente, presses crescentes provocadas por desafios relacionados com o excesso de produo, concorrncia, qualidade e segurana alimentar, ambiente, diversificao e ainda com a PAC e com os Acordos Mundiais de Comrcio, que tornam este sector ainda mais complexo.

    No caso concreto da PAC, sendo esta uma matria especializada, os agricultores para poderem maximizar os seus objectivos tm de ter conhecimento oportuno das decises que vo sendo tomadas e ter capacidade para as interpretar e agir em conformidade, quer nas suas decises de curto prazo, quer nas de mdio e longo prazo.

    A gesto, enquanto processo, envolve no s materiais, capitais e pessoas mas, tambm, informao. Este recurso considerado, actualmente, como o mais escasso. A informao como factor de produo tem vindo a tornar-se de interesse vital na agricultura, floresta e indstria alimentar e, embora muitas instituies tenham vindo a oferecer servios de informao em linha, o acesso livre a documentos de interesse para os decisores permanece insatisfatrio.

    A informao que usada pelo agricultor poder-se- dividir em dois tipos: a informao externa, que como o nome indica provm do exterior da explorao, e a informao interna que provm directamente do interior da explorao.

    Tradicionalmente, a informao necessria actividade agrcola tem sido garantida pelos prprios agricultores ou, devido s suas caractersticas de bem pblico, cumulativamente fornecida pelas entidades pblicas responsveis. No entanto, tm vindo a verificar-se cada vez mais no s as limitaes de cada agricultor em garantir autonomamente as suas carncias de informao, mas, tambm, a insuficincia das informaes demasiadamente genricas fornecidas pelos servios da administrao pblica com responsabilidades na matria.

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    Mais, aqueles produtores que utilizarem a informao eficientemente podem melhorar a sua posio negocial, residindo o segredo em abandonar o marketing de massas e no tratar os parceiros de negcio como adversrios, compreendendo as interdependncias entre fornecedores e compradores, e desenvolvendo servios de marketing personalizados que promovam um aumento global do volume de negcio e de lucros assentes em processos informao intensivos.

    Relativamente gesto da produo, assistimos a uma tendncia para a chamada micro-gesto de cada local de produo, de cada instalao, de cada animal. Esta mudana induzida por fluxos de informao cada vez mais detalhados sobre os factores ambientais e biolgicos que afectam a produo, tendo como motivaes a diminuio dos custos e a melhoria da qualidade dos produtos.

    A prpria tecnologia de produo disponvel possui cada vez maiores capacidades, assistindo-se hoje ao desenvolvimento de mquinas inteligentes, dispondo de sensores e microprocessadores que promovem um melhor desempenho. O recurso monitorizao da produo, aos sistemas de posicionamento global e a tecnologias de dbito varivel sero cada vez mais vulgares.

    Esta associao de tecnologias recebeu o nome de agricultura de preciso e pressupe, ainda, a necessidade de existirem computadores e capacidades de gesto de informao. Este ltimo aspecto tem vindo a necessitar de investimentos em capital cada vez menores, pois o custo dos computadores pessoais no pra de baixar e o acesso s fontes de informao cada vez mais barato e em tempo mais oportuno com a vulgarizao do acesso Internet.

    Todavia, os conhecimentos agronmicos, o denominado capital humano, continuam a ser um factor crtico de sucesso, uma vez que o grande desafio ser recolher, armazenar e converter os dados em informao til para a tomada de deciso, isto , gesto do conhecimento. O futuro passa por disponibilizar informao medida para os empresrios agrcolas, para regies e/ou culturas, criando assim uma oportunidade de negcio para fornecedores de informao privados nas mais diversas reas de consultoria: gesto, fertilidade, sanidade, rega, marketing, etc.

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    2.3 Dados, Informao e Conhecimento

    Quando se aborda a questo da gesto de informao no se pode contornar a questo do conceito informao, isto , importante efectuar a distino entre dados e informao. Frequentemente as palavras dados e informao so utilizadas de forma indiscriminada. Todavia so substancialmente diferentes, dados so factos em bruto, no resumidos ou analisados, enquanto que informao so dados que foram processados e convertidos numa forma til. Os dados so, assim, a matria-prima usada para produzir informao.

    Uma ilustrao desta distino pode ser uma srie de dados dirios de uma varivel meteorolgica, como por exemplo a precipitao, recolhidos ao longo de 30 anos, convertidos em informao mediante um determinado tratamento estatstico, com a qual o decisor interage, aplicando a sua experincia e conhecimento para tomar decises.

    Por sua vez, esta mesma informao ser um dado para um investigador do fenmeno do aquecimento global, isto , esta informao est detalhada demais para este investigador. Neste caso a informao ser o tratamento estatstico que projecte o contedo dos dados para um horizonte temporal bastante mais alargado.

    Assim, dados so sempre dados, mas as informaes de um indivduo podem ser os dados de outro. Por um lado, a informao que tem interesse para uma pessoa pode ser demasiadamente detalhada para outra e, por outro, a noo de informao pode variar ao longo do tempo.

    Dados factos em bruto, no resumidos ou analisados.

    Informao dados processados e convertidos numa forma til.

    Conhecimento capacidade de utilizar informao no processo de tomada de deciso.

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    Figura 1- Relao entre dados, informao e conhecimento

    Um processo de deciso termina com recurso ao conhecimento do decisor para interpretar a informao e tomar a deciso. O conhecimento ser, ento, a capacidade de utilizar informao. Actualmente, quer os empresrios quer a sociedade em geral, experimentam simultaneamente um excesso de informao e uma escassez de conhecimento.

    As relaes entre dados, informao e conhecimento, so visveis na figura 1. Como se pode observar, uma pessoa com os conhecimentos relevantes solicita informao para enquadrar uma tomada de deciso. Como resultado, os dados so convertidos, por exemplo por uma aplicao informtica, em informao, sendo o conhecimento pessoal ento aplicado para interpretar a informao requerida e chegar a uma concluso. Claro que o ciclo pode ser repetido vrias vezes, caso seja necessria mais informao antes de uma deciso poder ser tomada. O conhecimento tem um papel essencial na definio de que informao requerer e de como a interpretar no processo de tomada de deciso.

    A utilidade e valor da informao so determinadas pelo utilizador nas suas aces e decises, no sendo s por si uma caracterstica dos dados. Assim, no considerado um recurso no sentido tradicional do termo uma vez que no possui valor intrnseco, no se consome quando utilizado, intangvel e ubqua.

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    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

    Enquanto recurso produtivo, a informao ter de possuir valor para o utilizador, isto , ter de preencher um conjunto de requisitos de forma, contedo e temporalidade que iro garantir que a mesma ser til na tomada de deciso que ir suportar, nomeadamente:

    A dimenso temporal da informao, englobando caractersticas de oportunidade (informao quando necessria) e actualidade (informao actual);

    O contedo, geralmente considerado como a dimenso mais crtica da informao. Entre os aspectos que deve cobrir inclui- -se a exactido (informao livre de erros), relevncia (informao relacionada com o problema) e totalidade (informao que cobre com detalhe suficiente a totalidade do problema);

    A ltima dimenso da informao, a forma, percebida como o aspecto como a informao fornecida. As suas caractersticas incluem o detalhe (informao com o grau de pormenor adequado ou granularidade) e apresentao (informao apresentada no formato mais adequado).

    .Tomada de Deciso

    Para apoiar qualquer tomada de deciso, crucial dispor-se da informao correcta (contedo), no momento em que necessria (tempo) e no formato adequado (forma). A informao ser, ento, o conjunto de dados que, quando fornecido na forma e no momento adequado, melhora o conhecimento da pessoa que o recebe, ficando ela mais habilitada a desenvolver determinada actividade ou a tomar determinada deciso

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    3. SISTEMAS DE INFORMAO NA GESTO DA EXPLORAO

    AGRCOLA

    3.1 Evoluo

    As tecnologias de informao e comunicao na agricultura tm sido, historicamente, alvo de grandes promessas e de reduzidos resultados. De facto, temos assistido periodicamente a vagas de euforia que no se tm traduzido na ampla adopo e utilizao destas tecnologias no sector agrcola nem na obteno generalizada de mais valias e ganhos de competitividades por essa via.

    Esta realidade no , no entanto, uniforme em toda a Europa, o que sem dvida est relacionado com o prprio perfil do agricultor de cada pas e com as variveis que esto correlacionadas positivamente com a sua adopo e utilizao. De qualquer modo, possvel efectuar um percurso histrico da evoluo da utilizao das tecnologias de informao e comunicao no sector, como veremos de seguida.

    Informatizao do Back Office

    A informtica dos anos oitenta tratava, essencialmente, da mecanizao de processos existentes. Pacotes de software contabilstico permitiam um acompanhamento mais fcil do desempenho da explorao e menos complicaes no final do ano para preencher os requisitos contabilsticos legais. Programas para a gesto de efectivos bovinos leiteiros tambm ofereciam anlises valiosas do desempenho individual dos animais, o que consistiu num dos primeiros casos de sucesso do uso de TIC no sector.

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    No entanto, uma melhor gesto da informao na explorao interessante, mas pouco inspiradora, pois muitos agricultores consideram que o esforo necessrio para registar a informao no computador superior ao benefcio obtido e, assim, o nmero de utilizadores cresceu lentamente (Andy Offer, 2005).

    Neste contexto, eram necessrias novas abordagens para encorajar uma adopo generalizada das tecnologias onde os benefcios fossem claramente superiores ao esforo envolvido na sua utilizao.

    Crescente regulamentao e consequente peso dos processos administrativos

    Um dos principais factores que encorajaram uma maior utilizao dos computadores no sector foi, sem dvida, a crescente importncia que os registos da explorao tinham para finalidades relacionadas com a obteno de apoios, ajudas, etc. regulamentadas no mbito da Poltica Agrcola Comum, bem como com as questes relacionadas com a segurana alimentar e a rastreabilidade.

    Neste campo podemos destacar a utilizao de softwares de gesto da exploraes e de solues incorporando a possibilidade de produzir

    AUTOMATIZAO DE EXPLORAES LEITEIRAS

    Uma das primeiras utilizaes das tecnologias de informao e comunicao em agricultura foi no processo de automatizao das exploraes leituras, onde foram implementados sistemas de informao que mantinham registos contnuos das produes individuais do efectivo e ajustavam a alimentao em funo dos resultados obtidos. Na figura podemos observar um moderno sistema de alimentao individual automtico.

    Sistema de alimentao individual automtico (fonte: http://www. afimilk.com)

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    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

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    mapas decorrentes da imposio do Parcelrio, aplicaes para gerir efectivos pecurios para dar resposta s imposies do SNIRB, Medidas Agro-Ambientais, etc. No entanto, o advento do Regime Pagamento nico (RPU), um regime de apoio aos agricultores que tem por princpio bsico o desligamento total ou parcial da produo e que substitui os apoios directos anteriormente concedidos ao abrigo de vrios regimes, poder ter impactos que ainda no so conhecidos no que toca adopo de aplicaes informticas ao nvel da explorao.

    De qualquer forma, o projecto recm lanado pelo Ministrio da Agricultura do Desenvolvimento Rural e Pescas denominado de i-Digital que pretende suportar on-line todo o relacionamento da administrao central com os empresrios agrcolas atravs da Internet pode ser uma alavanca para promover a adopo e utilizao das modernas TIC no sector, embora as primeiras impresses recolhidas junto de utilizadores do sistema no apontem nesse sentido.

    Por ltimo, neste momento claro que a procura de informao sobre a provenincia dos alimentos est a aumentar dramaticamente medida que diferentes esquemas de certificao tm vindo a entrar em funcionamento, quer voluntrios quer obrigatrios. Isto implica que, independentemente da dimenso da explorao, ser necessria a existncia de sistemas de registo informatizados para lidar com as necessidades de informao decorrentes destes modos de produo e certificao.

    A revoluo da comunicao

    O correio electrnico , sem dvida, uma tecnologia que poder levar generalizao da informtica em todas as empresas agrcolas. A necessidade de comunicar e as vantagens que a utilizao do e-mail proporciona, tm feito desta tecnologia uma das mais utilizadas da era da Internet.

    A utilizao comercial da Internet para fornecer informao ainda est no seu incio e verificamos existir um crescimento do nmero de fornecedores especializados de informao agrcola. De facto, depois de inmeros esforos no sentido de descobrir exactamente que informao os empresrios agrcolas necessitavam, agora claro que os maiores benefcios advm de informao que muda rapidamente e que exige

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    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

    actualizaes frequentes como seja preos, relatrios de mercado e informao meteorolgica.

    Comrcio na Internet

    Este um dos melhores exemplos das expectativas das tecnologias de informao estarem muito frente da realidade. Foram gastas fortunas e a credibilidade do conceito foi posta em causa. No sector agrcola existiu algum entusiasmo na realizao de transaces on-line de factores e produtos e diversos projectos multi-nacionais foram lanados para explorar esta oportunidade. Hoje restam apenas algumas iniciativas que se converteram prestao de servios on-line e ao fornecimento de informao aos empresrios agrcolas ou ento que focaram o seu negcio mais a montante e/ou a jusante da explorao agrcola, trabalhando com os fabricantes, distribuidores, etc.

    Embora se tenha dado nfase aos falhanos em grande escala da era dot.com, no devemos esquecer um nmero considervel de iniciativas de pequena dimenso que, tendo apostado em nichos de mercado, como por exemplo agricultura biolgica, produtos tradicionais de qualidade ou mesmo na multifuncionalidade do espao rural complementando a actividade agrcola com o turismo, artesanato, gastronomia, ambiente, etc., tm tido algum sucesso.

    Para terminar, existe claramente espao para o comrcio electrnico no sector agrcola, nomeadamente pela sua estrutura fragmentada, disperso de agentes econmicos e consequente ineficincia da cadeia de produo. Por outro lado, o lanamento de iniciativas de pequena dimenso destinadas a promover o marketing directo de produtos agrcolas junto dos consumidores finais poder ter algum impacto no curto mdio/prazo.

    Agricultura de preciso

    A Agricultura de Preciso aparece, geralmente, com dois objectivos genricos: o aumento do rendimento dos agricultores; e, a reduo do impacte ambiental resultante da actividade agrcola. O primeiro destes objectivos pode, por sua vez, ser alcanado por duas vias distintas mas complementares: a reduo dos custos de produo; e, o aumento da produtividade (e, por vezes, tambm da qualidade) das culturas. O

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    cumprimento do segundo daqueles objectivos est relacionado com o rigor do controlo da aplicao dos factores de produo (sobretudo, produtos qumicos, atendendo s externalidades ambientais negativas que lhes esto normalmente associadas), que dever ser feita, tanto quanto possvel, na justa medida das necessidades das plantas.

    Ser capaz de identificar a posio de qualquer mquina agrcola com uma resoluo de poucos metros na superfcie do planeta tem um potencial interessante mas, como j aconteceu anteriormente, a viso foi muito mais longe do que a realidade. inquestionvel o interesse que o ajustamento da utilizao dos factores em funo dos nveis existentes no solo de, por exemplo, fsforo ou potssio, ou modificar as aplicaes de azoto ou do pesticida a pulverizar para reflectir o potencial produtivo da cada local. O problema que muitas das variaes espaciais existentes numa determinada parcela raramente se repetem de ano para ano, pois so resultado de muitas e complexas interaces envolvendo caractersticas do solo, da cultura, do clima, da sanidade vegetal, e das prprias prticas culturas, como por exemplo a data de sementeira, etc. Isto significa que as previses iniciais de sermos capazes de controlar automaticamente a aplicao de factores de produo utilizando mapas de produtividade e software agronmico mais inteligente ainda est longe de ser uma realidade.

    Acresce ainda o facto que na grande maioria dos casos a construo dos sistemas de informao geogrfica e a utilizao do GPS para apoiar a utilizao de dbitos variveis de aplicao de factores no poupar tempo, uma vez que os agricultores iro necessitar de tempo para aprender as novas tcnicas envolvidas e que a complexidade da questo e as grandes quantidades de dados que tero de ser interpretados so um importante factor de limitao da sua adopo no presente.

    Adiante voltaremos a este tema da agricultura de preciso de a generalizao do conceito para todas as actividades realizadas ao nvel da explorao para um futuro que antevemos no muito distante.

    Melhorando a tomada de deciso

    A utilizao de computadores para registar informao e fornecer aconselhamento , talvez, o maior desafio e a oportunidade mais interessante num futuro prximo. Estes sistemas podem aplicar a

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    informao de um forma lgica e consistente, podendo lidar com quantidades de informao muito superiores aquelas que os seres humanos conseguem.

    Na concepo tradicional de um sistema de apoio deciso, o conhecimento relativo a um determinado domnio foi formalizado num modelo matemtico mais ou menos complexo, sendo necessrio para fornecer um suporte deciso a introduo de dados locais de caracterizao do problema.

    Existem hoje numerosos exemplos na literatura de sistemas de apoio deciso informatizados para a gesto agrcola, como por exemplo para a fertilizao e irrigao de parcelas, para o tratamento de pestes, pragas e doenas, etc. Os Sistemas de Apoio Deciso (SAD) que podem levar em considerao condies locais, como por exemplo solos, dados meteorolgicos, etc., so mais interessantes para os agricultores do que os sistemas genricos, visto que permitem dar um apoio mais preciso e personalizado s decises que o agricultor tem de tomar.

    Em sistemas desenvolvidos para serem integralmente executados em computadores pessoais de forma inteiramente independente, da responsabilidade do utilizador o fornecimento, no formato correcto, de todos os dados personalizados necessrios ao funcionamento do sistema. Neste modelo o utilizador efectua observaes na explorao e recolhe dados de outras fontes de informao externas, dados estes que alimentam o sistema de apoio deciso mediante a introduo manual dos mesmos ou com recurso construo de ficheiros de dados para carregamento automtico. Neste modelo, visto que a introduo e gesto dos dados da responsabilidade do utilizador, existem algumas restries quantidade de dados que um sistema de apoio deciso baseado em computadores pessoais pode requerer, uma vez que uma actividade que ir consumir muitos recursos/tempo ao utilizador.

    Quando um SAD exige o fornecimento de dados com uma elevada frequncia de actualizao, como por exemplo dados meteorolgicos horrios ou dirios, o consumo de gua diria, etc. ento no vivel para o agricultor proceder manuteno dos dados manualmente. necessrio que o SAD esteja ligado a uma rede e que possua formas de actualizao automtica dos mesmos. Estes dados tanto podem ter origem em registos de dados locais (estaes agrometeorolgicas,

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    medidores de caudal, etc.) como ser provenientes de fontes externas.

    Neste contexto as denominadas aplicaes Web tm vindo a ganhar terreno como forma de disponibilizar sistemas de apoio deciso aos potenciais utilizadores, uma vez que possibilitam que os mesmos sejam colocados disposio de audincias globais a custos extremamente reduzidos. Paralelamente e no caso dos sistemas de apoio deciso extraordinariamente importante, as aplicaes Web permitem que todo o processamento seja efectuado do lado servidor, fazendo com que o lanamento de novas verses e as actualizaes das bases de dados de suporte sejam possveis sem quaisquer necessidade de interveno do utilizador final. No campo da gesto da rega, em que a multiplicidade de variveis envolvidas , muitas vezes, um entrave para a generalizao da sua utilizao, estas solues oferecem uma resposta muito interessante, uma vez que possvel colocar ao dispor do utilizador bases de dados de dados meteorolgicos actualizadas em tempo real, a que se associam dados de culturas, solos e tecnologias, muitas vezes de difcil caracterizao para o agricultor.

    3.2 O que um sistema de informao

    Um sistema de informao pode ser definido como um conjunto de componentes interrelacionados que recolhem, processam, armazenam e distribuem informao para suportar a tomada de deciso e o controlo de uma organizao. Como qualquer outro sistema, um sistema de informao inclui inputs (dados, instrues, etc.) e outputs (clculos, relatrios, etc.), processando os inputs e produzindo outputs que so enviados ao utilizador ou para outros sistemas, podendo incluir mecanismos de feedback que controlam o seu funcionamento.

    Para alm de serem teis para a tomada de deciso, coordenao e controlo, os sistemas de informao podem ainda auxiliar os gestores e demais recursos humanos das organizaes na anlise de problemas, na visualizao de questes complexas e na criao de novos produtos e servios.

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    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

    Figura 2 - Sistema de Informao

    Neste manual iremos perspectivar os sistemas de informao enquanto sistemas suportados por tecnologias de informao e comunicao para cumprir determinadas tarefas. Os componentes base de um sistema que fornecem capacidades de processamento e disponibilizam informao de apoio tomada de deciso so os seguintes:

    Hardware conjunto de dispositivos, como por exemplo a unidade de processamento central, o monitor, o teclado e a impressora, que permitem a introduo de dados, efectuam o seu processamento e a sua apresentao;

    Software conjunto de programas informticos que permitem ao hardware processar os dados;

    Base de dados coleces organizadas de ficheiros ou registos relacionados que armazenam os dados e as relaes entre eles;

    Rede sistema de ligao que permite a partilha de recursos entre computadores;

    Procedimentos estratgias, polticas, mtodos e regras de utilizao do sistema de informao;

    Pessoas o elemento mais importante dos sistemas de informao, incluindo as pessoas que trabalham com o sistema de informao ou que utilizam o seu output.

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    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

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    3.3 Principais tipos de sistemas de informao

    Os sistemas de informao apoiam os processos de gesto de informao podendo ser classificados de diversas formas. Uma das possibilidades consiste em agrup-los segundo o nvel de gesto em que so utilizados e o grupo de utilizadores que servem.

    Tradicionalmente podemos estruturar uma organizao em trs nveis a que correspondem outros tantos grupos de utilizadores distintos. Desde a nvel estratgico, em que esto envolvidos os gestores de topo que tomam decises de longo prazo envolvendo o conhecimento do ambiente externo e interno da organizao e onde existem sistemas de informao que suportam as actividades de planeamento de longo prazo dos gestores seniores, at ao nvel operacional, onde vamos encontrar os gestores operacionais que lidam com a produo e manufactura propriamente dita com recurso a sistemas de informao que monitorizam as actividades elementares e as transaces da organizao. Entre os nveis estratgico e operacional temos o denominado nvel de gesto intermdia, onde vamos encontrar os gestores intermdios que lidam com as questes tcticas suportados por sistemas de informao que suportam as suas actividades de monitorizao, controlo, tomada de deciso e actividades administrativas, e o nvel do conhecimento, em que o trabalho tcnico ou especializado se concentra tirando partido dos sistemas de informao que suportam os trabalhadores do conhecimento e dos dados.

    Figura 3 - Relao entre nveis organizacionais servidos e tipos de sistemas de informao

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    Utilizando os nveis referidos acima podemos classificar os sistemas de informao de acordo com o grupo que servem da seguinte forma:

    SSE Sistemas de Suporte Executivo (ESS - Executive Support Systems) sistemas destinados a lidar com questes no estruturadas. Apresentam interfaces simples e intuitivas para apoiar a apresentao de informao necessria gesto de topo sem apoio de intermedirios, sendo menos analticos e orientados ao modelo do que os SAD. Preferencialmente apresentam informao de uma forma resumida com origem em dados externos e internos gerados pelos SPT, SIG ou SAD;SAD Sistemas de Apoio Deciso (DSS - Decision Support Systems) sistema de informao combinando dados, modelos analticos ou ferramentas de anlise de dados sofisticados e interface amigvel para suportar decises semi e no estruturadas, associando s funcionalidades j disponibilizadas pelos SIG a possibilidade de colocar questes ad-hoc e possurem capacidades analticas avanadas;SIG Sistemas de Informao de Gesto (MIS - Management Information Systems) sistemas de informao ao nvel da gesto intermdia cujo propsito consiste na disponibilizao de informao de suporte s actividades de planeamento, controlo e tomada de deciso sob a forma de snteses de informao de rotina e relatrios de excepo;STC Sistemas de Trabalho do Conhecimento (KWS - Knowledge Work Systems) sistemas de informao que apoiam os tcnicos na criao e integrao de novo conhecimento na organizao, suportando processos conhecimento intensivo utilizados por pessoas com conhecimentos especficos adquiridos atravs de formao formal;SIE Sistemas de Informao de Escritrio (OIS - Office Information Systems) sistemas informticos desenhados para aumentar a produtividade dos trabalhadores de dados no escritrio. Consistem em aplicaes concebidas para aumentar a produtividade do trabalho nos escritrios, incluindo tipicamente os processadores de texto, agendas electrnicas, correio electrnico, etc. e utilizados normalmente pelos administrativos das organizaes;

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    SPT Sistemas de Processamento de Transaces (TPS - Transaction Processing Systems) sistemas de suporte aos negcio que servem o nvel operacional consistindo em sistemas computorizados que realizam e registam as transaces dirias de rotina necessrias para o desenvolvimento do negcio. Os dados recolhidos por estes sistemas funcionam, normalmente, como suporte aos sistemas de informao dos restantes nveis de gesto.

    Os sistemas de informao tambm podem ser classificados segundo a rea funcional da organizao que servem preferencialmente. Tradici-onalmente as organizaes estruturam-se em quatro reas funcionais: vendas e marketing, recursos humanos, finanas e contabilidade e manufactura e produo, existindo sistemas de informao especficos para cada uma delas, conforme se apresenta de seguida:

    Sistemas de informao de vendas e marketing tratam-se de sistemas que auxiliam na identificao dos clientes para os produtos e servios da empresa, no desenvolvimento, promoo e venda de produtos e servios preenchendo, assim, as necessidades dos clientes e fornecendo, ainda, suporte aos clientes antes, durante e aps a venda;

    Sistemas de informao de manufactura e produo sistemas que lidam com o planeamento, desenvolvimento e produo de produtos e servios, bem como com o controlo dos fluxos de produo;

    Sistemas de informao financeira e contabilstica sistemas que permitem o acompanhamento dos activos financeiros da empresa, bem como dos movimentos de tesouraria;

    Sistemas de informao de recursos humanos sistemas que mantm registos dos dados dos funcionrios, das suas habilitaes, do seu desempenho na funo que desenvolvem, da formao que recebem e que suportam a gesto de benefcios, planeamento de carreiras, etc.

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    Figura 4 - A empresa digital

    A crescente presso que as organizaes tm vindo a sofrer no sentido de minimizarem o tempo de resposta ao ambiente externo, de melhorarem o seu relacionamento com os clientes, de entrarem no campo do comrcio electrnico, etc., vieram despertar a necessidade de se desenvolverem aplicaes empresariais que permitissem a existncia de sistemas de informao que pudessem coordenar actividades, decises e partilha de conhecimento atravs das diferentes reas funcionais, nveis de gesto e unidades de negcio das empresas (Figura 4). Entre estas aplicaes incluem-se:

    Sistemas empresariais (Enterprise Resource Planning Systems) criam um sistema de informao global da organizao para coordenar os processos chave internos da empresa, integrando a produo, distribuio, vendas, finanas e recursos humanos; Sistemas de gesto da cadeia de aprovisionamento (Supply Chain Management Systems) procuram automatizar a relao entre os fornecedores e a empresa tendo em vista optimizar o planeamento, aprovisionamento, produo e fornecimento de produtos e servios; Sistemas de gesto do relacionamento com o cliente (Customer Relationship Management Systems) tentam desenvolver uma viso coerente e integrada de todas as relaes que a empresa mantm com os seus clientes;

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    Sistemas de gesto de conhecimento (Knowledge Management Systems) procuram criar, capturar, armazenar e disseminar conhecimento na organizao.

    3.4 Sistemas de Informao nas Exploraes Agrcolas

    No caso do sector agrcola nacional, a nossa experincia no campo permite-nos constatar que, quando existem, a grande maioria dos sistemas de informao em funcionamento se centram em instrumentos de natureza contabilstica-financeira, restringindo-se a informatizao, normalmente, ao sector administrativo.

    Quanto ao acesso informao, existe uma evoluo positiva contnua da adeso da populao s Tecnologias de Informao e Comunicao, patente na intensidade da difuso recente dos computadores pessoais e da Internet. Dados publicados no Plano Estratgico Nacional (PEN) para o Desenvolvimento Rural (2007) referem uma taxa de utilizao de 37,2% no universo de potenciais utilizadores, em que cerca de 41,3% dos agregados domsticos possuem computador e 26% tm acesso a Internet, valores ainda inferiores ao que se verifica na UE (42%). A utilizao do computador e o acesso Internet est generalizada em grande nmero de empresas, enquanto a posse de Website ainda reduzida, em particular nas pequenas empresas. Infelizmente, ainda segundo o PEN, os dados mostram que nas zonas rurais, apenas 1,8% da populao tem acesso prprio Internet por ligao ADSL.

    Analisando o perfil do agricultor portugus, segundo o Recenseamento Geral Agrcola de 1999 (INE), verificamos que a maioria dos produtores agrcolas singulares so do sexo masculino (77%), tm 55 ou mais anos de idade (65%), 95 % possui, no mximo, o ensino bsico e a SAU mdia da explorao de 9,29 ha.

    Comparando o perfil comummente aceite para o cibernauta portugus com o perfil do agricultor portugus verificamos a longa distncia que os separa. Segundo um estudo recente (Cardoso et al, 2005) o cibernauta nacional na sua maioria do sexo masculino (57%), solteiro (57%), tem entre 15 e 35 anos (70%), um grau de instruo aprecivel (27% com curso superior e 34% com ensino secundrio), nvel scio-econmico elevado (mais de 50% tem um rendimento mensal mdio superior a 850 ) e reside, sobretudo, no litoral.

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    Tambm estudos realizados a nvel internacional tm demonstrado que a adopo e utilizao de tecnologias de informao e comunicao na agricultura est, em grande medida, relacionada positivamente com a maior dimenso da explorao, a menor idade do empresrio agrcola, o maior nvel de instruo do empresrio agrcola.

    Ainda segundo estes autores, tambm a orientao produtiva da explorao tem influncia neste comportamento. Assim, uma explorao orientada para a prtica de actividades pecurias, como por exemplo os bovinos para leite, tem uma maior probabilidade de utilizar tecnologias de informao e comunicao do que uma explorao vocacionada para a culturas arvenses de sequeiro. Esta caracterstica pode tambm ser encontrada em Portugal, onde, caso as condies acima referidas estejam reunidas (dimenso, idade e nvel de instruo), so utilizados, de forma mais ou menos generalizada, sistemas de informao suportados por modernas tecnologias de informao e comunicao que, mantendo registos dirios da alimentao e produo de cada um dos elementos do efectivo animal, ajustam a sua alimentao em funo de tal informao.

    Com base nos indicadores acima apresentados pode concluir-se que o perfil do agricultor nacional e a estrutura das exploraes agrcolas portuguesas levantam muitas dvidas quanto nvel actual de adopo das novas tecnologias de informao e comunicaes pelo sector agrcola nacional.

    Tambm num inqurito realizado em Inglaterra (Warren, 2000) se verificou que a utilizao de computadores na gesto est fortemente associado com a dimenso e orientao produtiva da explorao, verificando-se que existe um nvel de adopo de computadores superior nas exploraes leiteiras e de culturas arvenses do que nas produtoras de carne de bovino e ovino, bem como uma maior adeso nas exploraes de maiores dimenses. Tambm o uso da Internet reflecte o mesmo padro de comportamento, acentuando-se o domnio das grandes exploraes de culturas cerealferas, verificando-se que o facto da Internet ser considerada benfica estava positivamente associada com nveis de instruo mais elevados.

    Numa perspectiva diferente, h quem defenda que a base de conhecimento e a experincia do empresrio agrcola influenciam

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    o grau de acesso a informao, isto , novos e jovens empresrios agrcolas tendem a desenvolver e procurar mais informao, at as suas habilitaes e base de conhecimento estarem desenvolvidas para a sua explorao em particular.

    Esta realidade, como podemos observar na figura 5, confirmada pelas relativamente baixa taxas de utilizao de computadores e de acesso Internet existentes no grupo profissional em que se inserem, sendo de realar a evoluo extremamente positiva que se tem vindo a verificar. No entanto, quando estes factores chave para a adopo e utilizao de TIC se conjugam de forma favorvel, encontramos empresas agrcolas em que a informatizao dos processos uma realidade e que a sua competitividade assenta, em grande medida, no valor acrescentado que os sistemas de informao utilizados permitem obter.

    Figura 5 Utilizao de TIC pelo grupo profissional Agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura e pesca (Fonte: UMIC)

    Por exemplo, a adopo dos denominados Supply Chain Management Systems tem alguma tradio em subsectores especficos, vejamos o caso da integrao vertical na produo animal, como por exemplo na produo de frangos. Mais recentemente, com as crescentes preocupaes com a higiene e segurana alimentar, este tipo de sistemas ganhou uma importncia acrescida com o que se denominou de rastreabilidade. A rastreabilidade um conceito associado capacidade de identificar a histria, manipulao e localizao de um bem ou actividade atravs de registos de informao. A gesto da rastreabilidade implica a recolha, armazenamento, processamento e disponibilizao de grande

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    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

    quantidades de informao ao longo da cadeia de produo, que devem estar permanentemente acessveis, a todos os agentes envolvidos no processo, desde os agricultores/produtores at aos consumidores finais.No incio de 2005 entrou em vigor um novo enquadramento legal, visando a diminuio de potenciais riscos e consequente aumento do nvel de proteco da sade humana, que impe aos operadores da cadeia de produo alimentar a necessidade de assegurarem condies de rastreabilidade dos alimentos em todas as fases da cadeia. Assim, ser de esperar que este tipo de sistemas venham a ter um forte desenvolvimento no sector a curto e mdio prazo.

    Relativamente sofisticao dos sistemas de informao de gesto utilizados ao nvel da explorao agrcola, Lewis (1998), num estudo efectuado junto de 2500 membros da Victorian Farmers Federation (Austrlia), conclui que a sofisticao est positivamente correlacionada com a maior abertura inovao do agricultor, com a maior experincia na actividade, com maiores quantidades de informao utilizadas na gesto da explorao e com o maior apoio do cnjuge na empresa agrcola, conforme visvel na figura seguinte.

    Figura 6 - Nvel de sofisticao dos sistemas de informao de gesto da explorao

    Embora diferentes estatsticas tenham vindo a mostrar um nvel reduzido de adopo de tecnologias de informao e comunicao, tal dever ser analisado com algum cuidado, pois no se verifica de forma uniforme escala global.

    De facto, no se pode deixar de referir a prpria dinmica associada ao processo de adopo das tecnologias relacionadas com a Internet dificulta a interpretao dos dados disponveis, quer pela multiplicidade de fontes com dados muitas vezes dspares, quer pela sua constante mutao. Assim, se h alguns anos atrs a sua adopo era baixa

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    na generalidade dos pases, esta situao tem vindo a alterar-se profundamente e em 2001, apenas a ttulo de exemplo, pode referir- -se que em Inglaterra e segundo o Department for Environment, Food and Rural Affairs DEFRA, 60% das empresas agrcolas tinham acesso a computadores, 35% utilizavam os computadores no negcio e 26% utilizavam a Internet para fins profissionais. No Estados Unidos em 2007 e segundo o National Agricultural Statistics Service - NASS, 63% das exploraes agrcolas tm acesso a computadores, 35% utilizam-nos no negcio e 55% tem acesso Internet. Tambm na Alemanha (Stricker et al., 2003) trs inquritos independentes realizados em 2000/2001 com distribuio regional concluem que os computadores so amplamente utilizados pelos agricultores deste pas e, dependendo da regio, 85 a 95% das exploraes possuem computador, variando o acesso Internet entre 63,8 e 83,3% dependendo tambm da regio inquirida.

    Podemos ainda voltar ao exemplo dos Estados Unidos onde, em 2007 (NASS, USDA 207), considerando apenas as exploraes em que o somatrio da facturao com os pagamentos do Governo so iguais ou superiores a $250,000, os valores de adopo sobem para 80% no acesso a computador, 78% possui ou aluga computador, 66% usam computador no negcio e 75% tem acesso Internet.

    Para alm destes valores francamente elevados, importa salientar, conforme visvel na Figura 7, o consistente crescimento anual que se tem vindo a verificar ano aps ano.

    Fgura 7 - Adopo das TIC na agricultura Norte Americana (NASS, USDA 2007)

    Estes diferentes padres de adopo e utilizao podem ser parcialmente explicados pelas diversas caractersticas prprias das tecnologias de

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    informao que podem ter um impacte substancial na taxa de adopo dessas tecnologias. Entre essas caractersticas podemos referir:

    Rentabilidade das tecnologias de informao a adopo de tecnologias de informao aumenta com maiores expectativas de rentabilidade dos sistemas de informao. No caso dos investimentos em tecnologias de informao a grande dificuldade reside em estimar de forma exacta os benefcios decorrentes da sua realizao, como por exemplo na aquisio de um modelo de simulao. Assim, aquelas tecnologias de informao que mais facilmente permitem uma contabilizao dos seus benefcios, a minoria, sero mais rapidamente adoptados;Interface amigvel e necessidade de tempo para a utilizao das tecnologias de informao se os modelos computorizados so de difcil utilizao e se so necessrios longos perodos de tempo para introduo de dados ou para a obteno dos resultados, mesmo o melhor e mais rentvel sistema dificilmente ser utilizado;Credibilidade os softwares contm sempre modelos mais ou menos complexos e os modelos so sempre simplificaes da realidade. Por vezes, quer como resultado de agregaes quer devido s especificaes do modelo, os resultados obtidos no so totalmente credveis e induzem alguma desconfiana nos agricultores face ao seu conhecimento adquirido ao longo de anos de prtica. Este ponto est ligado ao aspecto apresentado de seguida;Adaptao das tecnologias de informao situao da explorao mesmo quando as interaces bsicas do modelo so aceites, o software no considerado adequado aos problemas especficos do agricultor. Por exemplo condies edficas diferentes, diferentes espcies pecurias ou variedades vegetais, podem requerer ajustamentos ao programa que consomem muitos recursos. Por vezes os sistemas at se ajustam s caractersticas especficas da explorao, mas no do as respostas que o agricultor pretende;Informao actualizada a informao para a gesto agrcola , na maioria dos casos, temporalmente crtica, isto , tem de ser disponibilizada actualizada e em tempo til para melhorar o processo de tomada de deciso. Assim, as prprias tecnologias de informao tm de ser rpidas e o agricultor tem de assegurar

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    Manual III Tecnologias de Informao e Comunicao na Gesto da Empresa Agrcola

    que os dados de entrada esto disponveis e que a informao produzida utilizada atempadamente. Esta questo tem vindo a ganhar importncia com a possibilidade de se aceder em linha a bases de dados que podem alimentar os sistemas de informao da empresa agrcola praticamente em tempo real;Conhecimento do utilizador finalmente o prprio utilizador explica parte das taxas de adopo das tecnologias de informao. Se o software exige muitos conhecimentos prvios do agricultor relativamente ao problema, ele dificilmente ser utilizado. Em princpio, a experincia com computadores positiva para a difuso das tecnologias de informao e, assim, os agricultores mais jovens que j cresceram a conviver com elas, tm menor dificuldade na adopo de novas ferramentas.

    Um ltimo aspecto que tem um peso significativo quando se debate o acesso e utilizao da Internet na empresa agrcola consiste na disponibilidade espacial de banda larga no territrio nacional. De facto, conforme se pode observar na informao disponibilizada no stio Web da ANACOM apresentada, existe uma ntida concentrao no litoral e nas zonas mais densamente povoadas do continente em detrimento do interior rural.

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    Figura 8 - Disponibilidade geogrfica da banda larga em Portugal (ANACOM, 2007)http://www.icp.pt/template12.jsp?categoryId=176882

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    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

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    3.5 Mercado Nacional de Sistemas de Informao para as Empresas Agrcolas

    Quando analisamos o sector agrcola nacional do lado da oferta de solues informticas para suportar a gesto da empresa agrcola, verificamos que existem diversas empresas de software que desenvolvem aplicaes para satisfazer as necessidades especficas deste mercado, colocando disposio dos empresrios agrcolas inmeras solues adaptadas s caractersticas prprias da agricultura nacional.

    Embora existindo uma oferta bastante diversificada, a grande maioria das aplicaes disponveis no mercado enquadram-se no grupo dos sistemas de informao de apoio gesto da produo e podemos encontrar desde solues de gesto de actividades especficas, como sejam a gesto de bovinos, sunos, etc., passando pela gesto do parque de mquinas, at chegarmos gesto global da explorao.

    Apresentamos de seguida os principais actores deste mercado e ao longo do presente manual iremos aprofundar, quando tal se justifique, a oferta de solues que colocam no mercado.

    EMPRESAS DE TECNOLOGIAS DE INFORMAO NO SECTOR AGRCOLAEmpresa Agri-Cincia, Consultores de Engenharia, Lda.URL http://www.agriciencia.com

    Empresa Agro.GestoURL http://www.agrogestao.com

    Empresa BRPIURL http://www.brpi.net

    Empresa Carto PostalURL http://www.cartaopostal.net

    Empresa ConsulaiURL http://www.consulai.com

    Empresa INIS/PrimaveraURL http://www.inis.pt

    Empresa ISAGRIURL http://www.isagriportugal.com

    Empresa MetacortexURL http://www.metacortex.pt

    Empresa SoftimbraURL http://www.softimbra.pt

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    4. UTILIZAO DE TECNOLOGIAS DE INFORMAO E COMUNICAO NA GESTO DA EMPRESA AGRCOLA

    4.1 Recolha de Informao

    As novas tecnologias de informao e comunicao tm vindo a colocar ao dispor dos empresrios agrcolas inmeras solues que lhe permitem desenvolver a sua actividade de uma forma muito mais informada e, consequentemente, tomar as suas decises de uma forma mais racional, suportada por um enquadramento rico em informao anteriormente praticamente impossvel de construir.

    Tendo por objectivos levar por diante as actividades de recolha de informao indispensveis para responder s exigncias de um processo de planeamento racional, o empresrio agrcola necessita de recolher um conjunto bastante vasto de informao que lhe permitir caracterizar a sua explorao em termos edafo-climticos, quantificar os recursos existentes (terra, mquinas, capital, etc.) e sua disponibilidade ao longo do ano e ainda conhecer o comportamento dos mercados potenciais dos produtos que pretende produzir na sua explorao.

    Figura 9 - Processo de tomada de deciso

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    Manual III Tecnologias de Informao e Comunicao na Gesto da Empresa Agrcola

    Esta informao de base, conforme foi referido no Manual II, ir permitir suportar a tomada de deciso relativamente a que culturas escolher suportada pela anlise de uma srie de variveis chave, nomeadamente:

    Condies edafo-climticas (radiao, temperatura; precipitao, evapotranspirao, geadas, tipo de solo, declive; pedregosidade; espessura efectiva do solo; dfice hdrico; caractersticas qumicas, fsicas e biolgicas do perfil cultural, etc.);

    Recursos disponveis (terra, trabalho, gua, capital, etc.);

    Condies econmicas (relacionadas as condies de mercados/preos dos factores de produo e de escoamento dos produtos, com o regime de acesso e a taxa de juro do crdito, etc.);

    Condies especficas da prpria explorao (associadas, por exemplo, com a sua dimenso, o grau de mecanizao, a capacidade de organizao empresarial e os valores e gosto pessoal do empresrio).

    Tendo como enquadramento as necessidades de informao proveniente do ambiente externo, existem actualmente em Portugal um conjunto bastante significativo de instituies que disponibilizam no servio Web da Internet informao particularmente relevante para os fins referidos acima e de que damos conta em seguida.

    Face ao crescimento exponencial de informao publicada na Web e ao nmero crescente de organizaes que adoptam este meio para partilhar informao, a lista apresentada no se pode considerar exaustiva, mas sim um ponto de partida para a pesquisa de informao.

    Informao Cartogrfica

    Sistema Nacional de Informao Geogrfica (Instituto Geogrfico Portugus) http://snig.igeo.pt/

    Carta Administrativa Oficial de Portugal (Instituto Geogrfico Portugus)http://www.igeo.pt/produtos/cadastro/caop/inicial.htm

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    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

    Atlas do Ambiente (Instituto do Ambiente)http://www.iambiente.pt/atlas/est/index.jsp

    O Pas Visto do Cu - Fotografias areas de Portugal Continental produzidas em 1995 (Instituto Geogrfico Portugus)http://ortos.igeo.pt/

    Cartas de Solos e Capacidade de Uso (Direco-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural) http://www.idrha.min-agricultura.pt/cartografia/

    IGeoE-SIG visualizador Web de informao geogrfica (Instituto Geogrfico do Exrcito)http://www.igeoe.pt/igeoesig/igeoesig.asp

    Cartas Militares, Modelos Digitais do Terreno, Ortofotos (Instituto Geogrfico do Exrcito)http://www.igeoe.pt/

    Seces Cadastrais do Cadastro Geomtrico da Propriedade Rstica (Instituto Geogrfico Portugus)http://www.igeo.pt/servicos/cic/cad_seccoes.htm

    Mapas no Google http://maps.google.com http://earth.google.com

    Informao Meteorolgica

    Instituto de Meteorologiahttp://www.meteo.pt

    Sistema Nacional de Informao de Recursos Hdricos (Instituto da gua)http://snirh.pt/

    Centro Operativo e de Tecnologia de Regadiohttp://www.cotr.pt

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    Manual III Tecnologias de Informao e Comunicao na Gesto da Empresa Agrcola

    Informao Estatstica

    Instituto Nacional de Estatsticahttp://www.ine.pt

    Gabinete de Planeamento e Polticashttp://www.gpp.min-agricultura.pt

    EUROSTAThttp://ec.europa.eu/eurostat

    Food and Agriculture Organization of the United Nationshttp://www.fao.org/

    Informao de Preos e Mercados

    RICA - Rede de Informao de Contabilidades Agrcolas(Gabinete de Planeamento e Poltica Agro-Alimentar)http://www.gppaa.min-agricultura.pt/rica/

    SIMA - Sistema de Informao de Mercados Agrcolas(Gabinete de Planeamento e Poltica Agro-Alimentar)http://www.gppaa.min-agricultura.pt/sima.html

    SICOP Sistema de Informao de Cotaes de Produtos Florestais na Produo(Direco-Geral das Florestas)http://cryptomeria.dgrf.min-agricultura.pt

    Informao Legal / Regulamentao

    Ministrio da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas (MADRP)http://www.min-agricultura.pt/

    Gabinete de Planeamento e Polticas (GPP)http://www.gpp.min-agricultura.pt

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    Gesto da Empresa Agrcola no Sculo XXI

    Programa AGROhttp://www.programa-agro.net

    Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP)http://www.ifap.min-agricultura.pt

    Dirio da Repblica Electrnico(Imprensa Nacional Casa da Moeda)http://dre.pt/

    Ensino e Investigao

    Ministrio da Cincia, Tecnologia e Ensino Superiorhttp://www.mctes.pt

    Ensino, Formao e Investigao no Agroportalhttp://www.agroportal.pt/ensino

    Instituto Nacional dos Recursos Biolgicoshttp://www.inrb.min-agricultura.pt

    Organizaes de Agricultores

    Associao dos Jovens Agricultores de Portugalhttp://www.ajap.pt

    Confederao dos Agricultores de Portugal http://www.cap.pt

    Confederao Nacional de Cooperativas Agrcolas e do Crdito Agrcola de Portugal, CCRL http://www.confagri.pt

    Confederao Nacional da Agricultura http://www.cna.pt

    Para terminar, devemos referir, no entanto, que a dinmica associada ao uso da World Wide Web para publicar informao pode levar a que

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    algum dos recursos indicados acima veja o endereo que lhe d acesso alterado. Caso tal acontea, sugerimos o recurso a um motor de pesquisa, como por exemplo o Google ou o SAPO, para o encontrar.

    4.2 Planeamento de actividades

    O planeamento das actividades e a deciso sobre quais realizar deve ser suportado, conforme j vimos nos dois manuais anteriores, por um conhecimento aprofundado do mercado e por uma slida anlise tcnica e econmica das diferentes opes em jogo.

    Neste contexto, e tendo em considerao as metodologias de anlise apresentadas no Manual II dedicado s questes relacionadas com a gesto da empresa agrcola, iremos agora abordar a forma como podemos tirar partido das tecnologias de informao ao nosso dispor para operacionalizar as mesmas.

    Assim, iremos apresentar os procedimentos necessrios para podermos utilizar as vulgares folhas clculo normalmente disponveis em qualquer computador, como por exemplo o Microsoft Excel, para efectuar os clculos de suporte s tomadas de deciso econmicas sobre o que produzir e quanto produzir no diferentes prazos de anlise abordados.

    Posteriormente e ainda de acordo com o modelo de anlise alfanumrica e espacial apresentado no Manual II relativo questo O que produzir?, iremos apresentar os sistemas de informao geogrfica que, tendo em considerao as mltiplas variveis envolvidas no processo de planeamento das actividades no contexto da empresa agrcola, em particular a natureza espacial de muitas delas, so o instrumento actualmente disponvel mais vocacionado para o planeamento das actividades agrcolas. No caso dos sistemas de informao geogrfica, temos de frisar que uma tecnologia que exige um grau de conhecimento mais elevado, envolvendo normalmente a necessidade de formao especfica para a sua utilizao.

    4.2.1 Utilizao de Folhas de Clculo

    Como do conhecimento da grande maioria dos utilizadores de computadores, as folhas de clculo includas nos pacotes de aplicaes

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    de escritrio instaladas na sua grande maioria colocam ao nosso dispor uma ferramenta extremamente poderosa para proceder a anlises mais ou menos elaboradas e efectuar os mais diversos tipos de clculo.

    Neste contexto, as folhas de clculo, como por exemplo o Microsoft Excel, oferecem a possibilidade de com o recurso construo de frmulas1 mais ou menos complexas, criar sistemas de apoio deciso bastante interessante.

    Para ilustrar esta possibilidade vamos apresentar a forma como poderamos utilizar o Microsoft Excel (verso Microsoft Excel 2003) para efectuar algumas das anlises apresentadas no Manual II, mais concretamente o clculo do VAL e da TIR, bem como a resoluo de problemas de maximizao ou minimizao de uma determinada funo objectivo recorrendo Programao Linear.

    Clculo do VAL e da TIR

    VAL - Calcula o Valor Actualizado Lquido de um investimento utilizando uma taxa de desconto e uma srie de futuros pagamentos (valores negativos) e rendimentos (valores positivos).

    Sintaxe - VAL(taxa;valor1;valor2; ...)

    Taxa - a taxa de desconto ao longo de um perodo.

    Valor1; valor2; ... - so entre 1 e 29 argumentos que representam os pagamentos e rendimentos.

    Valor1, valor2, ... devem ser igualmente espaados no tempo e ocorrer no final de cada perodo.

    VAL utiliza a ordem de valor1, valor2, ... para interpretar a ordem dos fluxos monetrios. Certifique-se de que introduz os valores relativos ao pagamento e ao rendimento na sequncia correcta.

    1Frmula: sequncia de valores, referncias de clulas, nomes, funes ou operadores de uma clula que, em conjunto, produzem um novo valor. Uma frmula comea sempre por um sinal de igualdade (=) numa clula - chamada de clula de destino de uma folha de clculo.

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    Os argumentos que forem nmeros, clulas em branco, valores lgicos ou representaes de nmeros em texto so contados; os argumentos que forem valores de erro ou texto que no podem ser convertidos em nmeros so ignorados.

    Exemplo dos dados de entrada/frmulas na folha de clculoA B

    1 Dados Descrio2 10% Taxa de desconto anual

    3 -10.000Custo inicial do investimento desde h um ano

    4 3.000 Receita do primeiro ano5 4.200 Receita do segundo ano6 6.800 Receita do terceiro ano7 Frmula Descrio (Resultado)

    8 =VAL(A2; A3; A4; A5; A6)Valor actual lquido do investimento (1.188,44)

    Figura 10 Captura de ecr da resoluo do VAL em Excel

    TIR - Devolve a Taxa Interna de Rentabilidade para uma srie de fluxos monetrios representada pelos nmeros em valores. Estes fluxos monetrios no tm de ser iguais, como acontece para uma anuidade.

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    Contudo, os fluxos monetrios tm de ocorrer em intervalos regulares, como, por exemplo, mensalmente ou anualmente. A TIR a taxa de juro recebida por um investimento que consiste em pagamentos (valores negativos) e receitas (valores positivos) que ocorrem em perodos regulares.

    Sintaxe - TIR(valores; estimativa)

    Valores - uma matriz ou uma referncia a clulas que contm nmeros cuja taxa de retorno interna se deseja calcular.

    Valores devem conter, pelo menos, um valor positivo e um valor negativo para calcular a taxa de retorno interna. TIR utiliza a ordem de valores para interpretar a ordem de fluxos monetrios. Certifique-se de que introduziu os valores de pagamentos e receitas na sequncia desejada. Se uma matriz ou argumento de referncia contiver texto, valores lgicos ou clulas em branco, estes valores so ignorados.

    Estimativa - um nmero que se estima estar prximo do resultado de TIR.

    O Microsoft Excel utiliza uma tcnica iterativa para calcular TIR. Comeando por estimativa, TIR circula pelo clculo at o resultado ter uma preciso de 0,00001 por cento. Se TIR no conseguir localizar um resultado que funcione depois de 20 tentativas, o valor de erro #NM! devolvido. Na maioria dos casos, no necessrio fornecer a estimativa para o clculo de TIR. Se a estimativa for omitida, considerada 0,1 (10 por cento). Se TIR devolver o valor de erro #NM!, ou se o resultado no ficar prximo do esperado, tente novamente com um valor diferente para estimativa.

    Nota a TIR est intimamente relacionada com o VAL, a funo do Valor Actualizado lquido. A taxa de retorno calculada pela TIR a taxa de juro correspondente a um VAL 0 (zero). A frmula seguinte demonstra como o VAL e a TIR esto relacionados:

    VAL(TIR(B1:B6);B1:B6) igual a 3,60E-08 [Com a preciso do clculo TIR, o valor 3,60E-08 , na realidade, 0 (zero).]

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    Exemplo dos dados de entrada na folha de clculoA B

    1 Dados Descrio2 -70.000 Custo inicial de um negcio3 12.000 Receita lquida para o primeiro ano4 15.000 Receita lquida para o segundo ano5 18.000 Receita lquida para o terceiro ano6 21.000 Receita lquida para o quarto ano7 26.000 Receita lquida para o quinto ano8 Frmula Descrio (Resultado)

    9 =TIR(A2:A6)Taxa de retorno interna do investimento depois de quatro anos (-2%)

    10 =TIR(A2:A7) Taxa de retorno interna depois de cinco anos (9%)

    11 =TIR(A2:A4;-10%)Para calcular a taxa de retorno interna depois de dois anos, tem de incluir uma estimativa (-44%)

    Figura 11 Captura de ecr da resoluo da TIR em Excel

    Programao Linear

    A opo Solver2 utilizada no Microsoft Excel para esta finalidade faz parte

    2NOTA: Para utilizarmos o Microsoft Excel para resolver problemas de programao linear, temos de instalar previamente o Ferramenta Solver a partir da opo Ferramentas > Suplementos, pois o mesmo no est disponvel na instalao padro do Excel.

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    de um conjunto de comandos por vezes chamado de ferramentas de anlise de hipteses3.

    Com o Solver, acessvel a partir do menu em Ferramentas > Solver, podemos encontrar um valor ptimo para uma frmula trabalhando com um grupo de clulas que esto relacionadas, directamente ou indirectamente, frmula na clula de destino. O Solver ajusta os valores nas clulas especificadas que se alteram - chamadas clulas ajustveis - para produzir o resultado que especifica da frmula da clula de destino.

    Podemos aplicar restries s clulas ajustveis, clula de destino ou a outras clulas que esto directa ou indirectamente relacionadas com a clula de destino para limitar os valores que o Solver pode utilizar no modelo e as restries podem se referir a outras clulas que afectam a frmula da clula de destino.

    Exemplo de Maximizao

    O objectivo do empresrio a maximizao da margem bruta proveniente das culturas da beterraba e do milho. Se designarmos por X1 a rea ocupada com milho e X2 a rea plantada de beterraba, o problema que temos para resolver pode ser assim equacionado.

    Maximizar a margem bruta = 756,03X1+ 1574,87X2

    Respeitando as restries:A quantidade de terra (ha) utilizada nas duas culturas no pode exceder os 100 ha disponveis:

    1 X1+1 X2

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    Exemplo dos dados de entrada/frmulas na folha de clculoA B C DVariveis Resultados

    1 Funo Objectivo2 X13 X24 Restries5 Restrio 1 =B2+B3

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    Exemplo de Minimizao

    O seu objectivo, como empresrio, fornecer aos animais, pelo menos, as quantidades mnimas de vitaminas, protenas e hidratos de carbono ao menor custo.

    Designando por X1 e X2, as quantidades de concentrado e de farinha da rao diria dos animais, o problema, matematicamente, toma a seguinte forma:

    Minimizar o custo da rao = 0,30 X1+0,15X2

    Satisfazendo as seguintes necessidades dos animais:

    1. A quantidade de hidratos de carbono tem de ser de, pelo menos, 200 unidades:

    20 X1+50X2> = 200

    2. A quantidade de vitaminas tem de ser de, pelo menos, 150 unidades:

    50 X1+10X2> =150

    3. A quantidade de protena tem de ser de, pelo menos, 210 unidades:

    30 X1+30X2> =210

    Exemplo dos dados de entrada/frmulas na folha de clculoA B C D

    1 Funo Objectivo2 X13 X24 Restries5 Restrio 1 =20*B2+50*B3 >= 2006 Restrio 2 =50*B2+10*B3 >= 1507 Restrio 3 =30*B2+30*B3 >= 2108 e9 X1 e X2 Inteiros1011

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    Figura 14 Configurao dos parmetros do Solver para os dados de entrada apresentados

    Figura 15 Captura de ecr da resoluo do problema depois da configurao dos parmetros do Solver e de seleccionar a opo Solucionar

    Para terminar e no caso da resoluo dos problemas de programao linear, vale a pena referir que o Excel disponibiliza a criao de relatrios para a apresentao da resposta da resoluo do problema, de anlise de sensibilidade e de explorao dos limites, que nos fornecem informao adicional sobre a resoluo dos problemas. Para produzir estes relatrios basta seleccionar aquele(s) em que estamos interessados na janela que nos apresentada quando, aps seleccionarmos a opo Solucionar, nos perguntado se aceitamos a resposta proposta.

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    4.2.2 Sistemas de Informao Geogrfica

    Um sistema de informao geogrfica (SIG) uma ferramenta de natureza computacional para mapear e analisar coisas que existem e eventos que acontecem na superfcie da Terra. A tecnologia SIG combina operaes comuns em bases de dados tais como pesquisas e anlises estatsticas com os benefcios nicos da visualizao e anlise geogrfica oferecida pelos mapas. Estas capacidades distinguem os SIG de outros sistemas de informao a tornam-nos valiosos para um vasto leque de organizaes pblicas e privadas com vista explicao de acontecimentos, previso de resultados e planeamento de estratgias. (ESRI, 1997)

    A grande diferena entre um SIG e outros sistemas de informao a sua capacidade de manipular informao com base nos seus atributos espaciais. Esta capacidade de um SIG relacionar camadas de dados atravs de atributos georeferenciados comuns, permite combinar, analisar e, finalmente, mapear os resultados. A informao espacial utiliza a localizao, de acordo com um determinado sistema de coordenadas, como base de referncia. A representao mais comum da informao espacial um mapa onde a localizao de qualquer ponto pode ser dada utilizando a latitude e longitude, ou com um sistema de referncia local tal como o sistema de coordenadas geodsico portugus (Datum Melria ou Datum 1973).

    Actualmente as grandes questes com que nos debatemos tm uma dimenso espacial - excesso de populao, poluio, desertificao, desastres naturais, etc. Por outro lado, a localizao de um novo negcio, a determinao do melhor solo para uma dada cultura ou a descoberta da melhor rota para um dado destino tambm so problemas com uma natureza espacial que podem ser tratados com o recurso a um SIG.

    Os SIGs permitem-nos criar mapas temticos, integrar informao da mais diversa natureza, visualizar mltiplos cenrios, resolver problemas

    Informao Geogrfica

    A informao geogrfica consiste em informao georeferenciada, isto , informao sobre algo localizado na superfcie da Terra. Este tipo de informao pode ter uma resoluo geogrfica muito varivel, podendo ser muito detalhada (informao sobre a localizao de cada uma das rvores de uma floresta) ou muito abrangente (clima de uma determinada regio).

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    complicados, apresentar ideias e propor solues.

    Componentes de um SIG

    Numa abordagem holstica, Marble (1984) detalhou quatro subsistemas includos num sistema de informao geogrfica:

    Um subsistema de introduo de dados, que recolhe e/ou processa dados espaciais derivados de mapas existentes, deteco remota, etc.;Um subsistema de armazenamento, que organiza os dados espaciais de forma a ser possvel um acesso rpido por parte do utilizador tendo em vista a sua utilizao em anlises subsequentes. Este subsistema dever permitir, ainda, a actualizao e correco rpida e precisa da base de dados espacial;Um subsistema de manipulao e anlise, que desempenha uma variedade de tarefas, tais como a alterao da forma dos dados por regras de agregao definidas pelo utilizador ou produzindo estimativas com base em parmetros e restries para diversos modelos de simulao e optimizao espacio-temporais;Um subsistema produzindo relatrios que capaz de apresentar total ou parcialmente quer a base de dados original, quer os dados manipulados e o resultado dos modelos espaciais, em formato de tabelas ou em mapas.

    Em termos de recursos, um SIG constitudo por cinco componentes principais:

    PESSOAS definem as tarefas que o SIG executar; DADOS patrimnio de informao geogrfica existente numa organizao;PROCEDIMENTOS patrimnio de raciocnios de manipulao de informao geogrfica existente numa organizao;SOFTWARE software SIG, gestores de bases de dados, software de desenho, estatstica, etc.;HARDWARE suporte fsico da informao, software e procedimentos.

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    Formatos de Dados Espaciais

    Um SIG armazena informao georeferenciada como uma coleco de camadas temticas que podem ser interligadas atravs de atributos geogrficos comuns.

    Qualquer actividade econmica ou ambiental com uma dimenso espacial no pode ser totalmente compreendida sem referncia s suas caractersticas espaciais. Os dados espaciais possuem duas componentes essenciais: os atributos (qualquer local tem um nmero de caractersticas ou propriedades associadas a ele), que so geralmente mantidos em tabelas de dados alfanumricos, contendo informao como por exemplo tipos de vegetao, populao, rendimento anual, idade, etc. e a localizao (referncia geogrfica explicita - latitude e longitude ou os sistemas de coordenadas nacionais ou referncia geogrfica implcita - endereo, cdigo postal, nmero da estrada, etc.). Um processo automtico denominado geocodificao pode ser utilizado para criar referncias geogrficas explcitas com base nas referncias implcitas. Estas referncias geogrficas permitiro as operaes de localizao de determinadas caractersticas (a localizao de um objecto ou de uma regio) e eventos (por exemplo uma cheia) na superfcie da Terra, para efeitos de anlise.

    Os dados espaciais podem ser representados num sistema de informao geogrfica num (em ambos) dos seguintes formatos: modelo vectorial (representados por objectos geomtricos: pontos, linhas e polgonos) e modelo raster (representados por ficheiros de imagem compostos por uma grelha de clulas denominadas pixels).

    Figura 16 Cinco componentes de um SIG

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    Figura 17 - Modelo Vectorial vs Modelo Raster

    Dados VectoriaisNo modelo vectorial a informao sobre pontos, linhas e polgonos codificada e armazenada como uma coleco de coordenadas x,y. A localizao de um dado do tipo ponto, pode ser descrito por uma simples coordenada x,y. Dados lineares podem ser armazenados como um conjunto de pontos coordenados. Dados do tipo polgono podem ser armazenados como um conjunto sequencial de coordenadas em que o primeiro e o ltimo ponto so idnticos.

    Dados RasterPara possibilitar a representao de fenmenos de natureza contnua foi desenvolvido o modelo raster. Neste modelo, uma imagem consiste numa grelha de clulas semelhante a um mapa ou imagem digitalizada. utilizada uma matriz raster (uma grelha de clulas de imagens) para representar a informao. A resoluo (i.e. definio visual) do raster depende do tamanho do pixel (clula). A resoluo do pixel representa o tamanho da rea de terreno coberta por cada pixel na imagem. Assim, quanto menor o tamanho da clula, maior a resoluo da imagem.

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    um modelo mais adequado para representar fronteiras indefinidas, tais como informao temtica sobre tipos de solos, humidade do solo, vegetao, temperatura do solo, etc. Para alm disto, na medida em que os satlites e voos de reconhecimento utilizam modelos de digitalizao baseados em raster, a informao (i.e. as imagens digitalizadas) podem ser incorporadas directamente nos SIG capazes de lidar com este tipo de dados. Contudo, quanto maior a resoluo do raster, maior ser a dimenso do ficheiro, pelo que esta a maior limitao deste modelo de dados.

    Vector vs RasterAmbos os modelos de armazenamento de dados geogrficos tm vantagens e desvantagens caractersticas, no entanto, os modernos SIG tm as capacidade de lidar com ambos os modelos, pelo que podemos aproveitar os pontos fortes de cada um deles.

    Figura 18 - Ilustrao do mundo real (ESRI, 1999)

    A principal vantagem do modelo de dados vectorial o facto de permitir a representao precisa de pontos, linhas e polgonos. tambm possvel num SIG segundo o modelo vectorial, definir as relaes espaciais entre as diferentes entidades das coberturas, aspecto este conhecido por topologia, que se revela bastante importante em tarefas como, por exemplo, a anlise de redes. Por contraste, o modelo raster define a posio das entidades em termos de coordenadas x,y onde as associaes topolgicas so mais difceis de representar.

    Assim, a principal desvantagem do modelo de dados vectorial o facto

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    das fronteiras dos polgonos de mapas da resultante serem discretas (delimitadas por linhas de fronteira bem definidas) quando na realidade os polgonos no mapa podem representar uma transio gradual, como por exemplo numa carta de solos ou no habitat de uma espcie.

    A questo sobre qual dos modelos devemos utilizar depende da natureza e do objectivo do trabalho que estamos a desenvolver. O tipo de modelo depende da natureza dos dados. O volume de dados gerados, facilidade de anlise e exactido tero tambm de ser considerados. Geralmente, os conjuntos de dados vectoriais so mais econmicos em termos de tamanho de ficheiros e tm uma preciso de localizao superior, mas consideravelmente mais complexa a sua utilizao em operaes matemticas. Pelo contrrio, os dados raster tm a tendncia de criar ficheiros mais pesados e a terem uma resoluo mais grosseira, sendo, no entanto, mais fceis de trabalhar matematicamente.

    Processamento de Dados Georeferenciados

    De forma geral, os sistemas de informao geogrfica realizam seis tipos de tarefas ou processos com os dados: introduo, manipulao, gesto, pesquisa e anlise e visualizao.

    Figura 19 - Ilustrao da Realidade (ESRI, 1999)

    Introduo de dadosAntes de ser possvel utilizar dados geogrficos num SIG existe a

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    necessidade de os converter num formato digital adequado. O processo de converso de dados do formato de papel para ficheiros em formato digital denominado de digitalizao.

    ManipulaoOs dados necessrios para um projecto SIG necessitam de ser previamente transformados ou manipulados de alguma forma, com vista a torn-los compatveis com o nosso sistema. Por exemplo, a informao geogrfica pode estar disponvel a diferentes escalas, isto , por ordem decrescente de detalhe, podemos ter os eixos de via, os cdigos postais, as divises administrativas, etc. Antes desta informao poder ser integrada, tem de ser transformada para a mesma escala (nvel de detalhe e exactido), no que pode ser uma operao temporria ou definitiva, consoante a finalidade seja, respectivamente, a apresentao ou a anlise.

    Gesto de dadosEm projectos SIG de pequena dimenso, pode ser suficiente armazenar a informao nas tabelas directamente associadas informao georeferenciada. Quando o volume de dados cresce e o nmero de utilizadores desses dados aumenta, geralmente mais aconselhvel utilizar um sistema gestor de bases de dados (SGBD). O modelo SGBD mais bem sucedido em SIG actualmente o modelo relacional (os dados so armazenados conceptualmente como uma coleco de tabelas, sendo utilizados os campos comuns em diferentes tabelas como elos de ligao entre elas). Um exemplo de um SGBD utilizando o modelo relacional o Microsoft Access.

    Pesquisa e anliseOs SIG permitem responder a questes simples (por exemplo, Quem o proprietrio do terreno naquele vale?) e analticas (por exemplo, Qual o tipo de solo dominante para uma floresta de eucaliptos?), pois disponibilizam quer capacidades de pesquisa simples, mediante o apontar e clicar, quer ferramentas de anlise sofisticada, tendo em vista disponibilizar a informao necessria no momento e formato adequado aos gestores e analistas. O potencial dos SIG revela-se quando utilizado para analisar informao georeferenciada em busca de padres ou tendncias na ocorrncia de fenmenos distribudos espacialmente ou, ainda, para proceder a anlises mediante a utilizao de cenrios do tipo condicional.

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    Actualmente os SIG dispem de inmeras ferramentas de anlise, referindo-se, pela sua utilidade e importncia as seguintes:

    Anlise de proximidadePara responder a questes como, Qual o nmero de produtores de milho numa rea de influncia de 10 km da cooperativa?, a tecnologia SIG utiliza um processo denominado buffering para determinar as relaes de proximidade entre dados georeferenciados.

    Anlise de sobreposioA integrao de diferentes camadas de dados envolve um processo denominado de sobreposio. Esta pode ser vista como uma operao visual, mas operaes matemticas complexas permitem a ligao entre uma ou mais camadas. Esta sobreposio, ou juno espacial, pode, por exemplo mediante a integrao de dados de solos, declive, infra-estruturas, exigncias agro-ecolgicas das culturas levar determinao de cartas de potencial agrcola, de risco de eroso, etc.

    Figura 20 Anlise de proximidade

    Anlise de redesNeste tipo de anlise podemos determinar o caminho mais curto entre dois pontos, o percurso ptimo tendo em conta a necessidade de passar por diferentes pontos, etc. Um aspecto muito interessante, o facto de podermos utilizar como critrios de anlise variveis espaciais (distncia), temporais (tempo de deslocao), econmicas (custo de deslocao), etc.

    VisualizaoA adio da componente espacial oferece uma nova dimenso

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    visualizao da informao, tornando-a muito mais rica. Assim, os SIGs disponibilizam actualmente diversas ferramentas que permitem a adio ao mapa final de grficos, relatrios, tabelas de dados, modelos 3D, fotografias, etc.

    Utilizaes de SIG

    Os SIG so utilizados actualmente nos mais diversos sectores de actividade e com objectivos muito diversos. Apenas a ttulo de exemplo, podemos referir a sua utilizao na G