Manual Redacao Assembleia Mg

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MANUAL DE REDAO PARLAMENTAR

Manual de Redao Parlamentar

ASSEMBLIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

MANUAL DE REDAO PARLAMENTAR2 edio

Belo Horizonte

ASSEMBLIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS Rua Rodrigues Caldas, 30 Bairro Santo Agostinho 30190-921 Belo Horizonte - MG Internet: www.almg.gov.br Telefone: (31) 2108-7800

ISBN 85-85157-28-3

M294

Manual de redao parlamentar / [coordenao: Marclio Frana Castro]. 2. ed . Belo Horizonte: Assemblia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2007. 348 p. ISBN 1. Elaborao legislativa Minas Gerais. 2. Tcnica legislativa Minas Gerais. 3. Processo legislativo Minas Gerais. I. Castro, Marclio Frana. CDU: 340.134(815.1)Manual de Redao Parlamentar

MESA DA ASSEMBLIADeputado Alberto Pinto Coelho Presidente Deputado Doutor Viana 1-Vice-Presidente Deputado Jos Henrique 2-Vice-Presidente Deputado Roberto Carvalho 3-Vice-Presidente Deputado Dinis Pinheiro 1-Secretrio Deputado Tiago Ulisses 2-Secretrio Deputado Alencar da Silveira Jr. 3-Secretrio

SECRETARIAEduardo Vieira Moreira Diretor-Geral Jos Geraldo de Oliveira Prado Secretrio-Geral da Mesa

Diretoria de Processo Legislativo Cludia Sampaio Costa Diretoria de Comunicao Institucional Lcio Eustquio Perez de Carvalho Gerncia-Geral de Consultoria Temtica Flvia Pessoa Santos Gerncia-Geral de Apoio ao Plenrio Maurcio Machado de Castro Gerncia-Geral de Taquigrafia e Publicao Juliana Jeha Daura Gerncia-Geral de Apoio s Comisses Lda Rozzetto Gerncia-Geral de Documentao e Informao Sheyla Abreu de Brito Mello

EQUIPE TCNICACoordenao Marclio Frana Castro Raissa Rosanna Mendes (1 edio) Direo e superviso tcnicas Gabriela Horta Barbosa Mouro Marclio Frana Castro Elaborao dos textos Intro u do Marclio Frana Castro Proposies do processolegislativ o Ana Martins Marques Francisco de Morais Mendes Gabriela Horta Barbosa Mouro Marclio Frana Castro Maria Letcia Albuquerque Maranho de Oliveira Ricardo Srgio Brando Documentosdeordenaodoprocessolegislativ o Alosio de Arajo Monteiro Eduardo Costa Cruz Marques Maria Beatriz Chagas Lucca Correspondnciaoficial Raissa Rosanna Mendes Atos normativos internos Diana Ceres de Oliveira Freire Sara Meinberg Schmidt de Andrade Documentostcnico-consultivos Jos Alcione Bernardes Jnior Marclio Frana Castro Pronunciamentos Joo Bosco Canado Soares Jos Jurani Garcia de Arajo Maria Lina Soares Souza Convenes grficas e de estilo Anderson Fortes de Almeida ngela Leite de Castilho Souza Antnio Barbosa da Silveira Edelves Medeiros Correa da Cunha Isalino Silva de Albergaria Laura Aparecida de Souza Martins Lda Laetitia Freire Ribeiro Magda Maria Magalhes Maria Beatriz Chagas Lucca Maurcio Santiago de Almeida Filho Paola Costa Cruz Marques Raissa Rosanna Mendes Regina Ferreira e Braga Penha Ricardo Srgio Brando Slvia Maria Mascarenhas Vianna Glossrio de termos parlamentares Ana Mrcia Passarini de Resende Ladeira Ana Martins Marques ngela Renault de Vilhena Antnio Jos Calhau de Resende Denise Gontijo Machado Francisco de Morais Mendes Gabriela Horta Barbosa Mouro Juliana Franca Scavazza Marcelo Fonseca Ribeiro de Castro Maria de Lourdes Capanema Pedrosa Maria Letcia Albuquerque Maranho de Oliveira Maria Regina lvares Magalhes Ricardo Srgio Brando Srgio Cantini Nunes Colaborao tcnica Csar Plotz Fris Marcos Emdio Almeida Barbosa Maurcio Machado de Castro Reviso final Anderson Fortes de Almeida Marcelo Fonseca Ribeiro de Castro Ricardo Srgio Brando Srgio Cantini Nunes Normalizao Eliana Nunes Cunha Maria Ceclia Rubinger de Queiroz Digitao Eni Moreno Guimares Lacerda Caldas Patrcia Maria de Oliveira Editorao GM3 Comunicao e Consultoria

SUMRIOAPRESENTAO, 11 PREFCIO 2 EDIO, 13 PREFCIO 1 EDIO, 15 INTRODUO, 17 Os textos produzidos na Assemblia, 19 A linguagem parlamentar, 20 A orientao deste manual, 23 PROPOSIES DO PROCESSO LEGISLATIVO, 25 Proposies normativas, 27 O processo legislativo: consideraes gerais, 27 Projeto de lei, projeto de resoluo e proposta de emenda Constituio, 29 A preparao da lei: estudo preliminar, 29 Questionrio de referncia para a preparao da lei (c e hcklist), 32 A estrutura e a redao do texto legal, 34 A padronizao do texto legal, 52 A alterao das leis, 54 A redao final de proposies, 60 A errata, 61 Consolidao e sistematizao das leis, 61 Emenda a proposio, 63 Proposies no normativas, 66 Requerimento, 66 Parecer, 67 Relatrio de Comisso Parlamentar de Inqurito (CPI) e de Comisso Especial, 74 Recurso, 75 DOCUMENTOS DE ORDENAO DO PROCESSO LEGISLATIVO, 77 Ata, 79 Ordem do dia, 85 Edital de convocao, 85 Comunicao, 86 Acordo de Lderes, 87

Questo de ordem, 87 Deciso da Presidncia, 88 CORRESPONDNCIA OFICIAL, 91 Ofcio, 93 ATOS NORMATIVOS INTERNOS, 101 Deliberao da Mesa, 103 Ato da Mesa, 104 Deciso da Mesa, 104 Deciso administrativa da Presidncia, 104 Portaria, 104 DOCUMENTOS TCNICO-CONSULTIVOS, 107 Informao, 109 Nota tcnica, 110 PRONUNCIAMENTOS, 113 Estrutura, 117 Linguagem, 118 CONVENES GRFICAS E DE ESTILO, 119 Maisculas e minsculas, 121 Numerais e algarismos, 128 Siglas, 131 Aspas, 132 Hfen, 134 Abreviaturas e smbolos, 136 Formas de tratamento, 138 Notas sobre o uso de certos termos e expresses, 143 Indicao de supresso de texto, 150 MODELOS DE DOCUMENTOS, 151 GLOSSRIO DE TERMOS PARLAMENTARES, 299

SUMRIO

REFERNCIAS, 317 ANEXO: LEI COMPLEMENTAR N 78, DE 9/7/2004, 325 NDICE POR ASSUNTO, 333

APRESENTAO

com justificada satisfao que oferecemos ao pblico esta 2 edio do nossoa

Manual de Redao Parlamentar. Revista e aprimorada, a nova verso certamente vem confirmar o xito da anterior. A edio do manual significou para esta Casa um avano importante na difuso do conhecimento especializado e contribuiu para o estabelecimento dos rumos de uma poltica de redao. O manual constitui hoje uma ferramenta indispensvel para os que de algum modo trabalham com textos legislativos; tornou-se tambm, como se pretendia, uma referncia terica para as atividades de formao e, em escala mais ampla, para a prpria discusso dos procedimentos da elaborao legislativa. Para nossa felicidade, o impacto da primeira publicao no se limitou Assemblia de Minas Gerais e s cmaras municipais do Estado, que a acolheram com entusiasmo; o Manual de Redao foi bem recebido e consultado em outras casas legislativas e rgos de governo em todo o Brasil, o que nos serviu como incentivo para enriquecer a publicao e renov-la. Num momento em que esta Casa se empenha em imprimir uma maior racionalidade a sua produo legislativa, a fim de garantir uma legislao cada vez mais consistente e acessvel ao cidado, esta 2a edio vem nos lembrar que tal objetivo no ser alcanado com aes avulsas ou espaadas, mas somente com um esforo persistente e continuado.

ALBERTO PINTO COELHOPRESIDENTE DA ASSEMBLIA LEGISLATIVA DO ESTADO D E MINAS GERAIS

PREFCIO 2 EDIOassados dois anos da primeira edio deste manual, perodo durante o qual se pde submeter o texto crtica atenta dos que o acolheram, temos agora a oportunidade de apresentar ao pblico esta nova verso, que aperfeioa, corrige e amplia a primeira. O contedo e a estrutura do livro continuam basicamente os mesmos. Cada uma das partes, no entanto, foi revista e atualizada, alguns modelos foram substitudos ou acrescentados, e lacunas ou excessos da primeira verso foram, na medida do possvel, corrigidos. No captulo referente elaborao de projetos de lei, foi includa, adaptada realidade do Estado, uma lista com questes fundamentais a serem investigadas no momento da concepo da lei a chamada c e hcklist , com o objetivo no apenas de auxiliar o legislador, mas tambm de destacar a importncia que um estudo de impacto tem no esforo de dar clareza ao texto e consistncia lei. Alm disso, vem enriquecer este volume um glossrio de termos parlamentares, com o qual se oferece ao leitor no especializado uma noo bsica sobre termos que, de uso corrente no parlamento, referem-se a temas adjacentes redao parlamentar. A linha terica do manual tambm se mantm: d-se preferncia s diretrizes e s recomendaes, em vez da regra; valorizam-se a experincia e a riqueza das atividades prticas, por meio de exemplos e modelos selecionados a partir das situaes de trabalho; incentivam-se, sempre, a reflexo e a busca de solues inteligentes para problemas concretos. Sabemos que os textos produzidos em rgos pblicos so resultado, muitas vezes, de um processo de escrita coletiva, desenvolvido em situaes variadas, que requerem, a cada passo, um movimento distinto de quem escreve ou corrige. Por outro lado, o sentido desses textos seu impacto, sua concreo sempre construdo em funo da realidade de que fazem parte e de seus intrpretes, especialmente no caso das leis. Nessas condies, um texto no pode ser visto como um mero pedao de papel ou um modelo a ser copiado; o lugar do texto o da interao, que exige cuidado e mobilidade na escrita, na reescrita, na interpretao. Um manual de redao pode ser uma ferramenta til nesse jogo, mas no retira dos seus atores autores, redatores, intrpretes, leitores a responsabilidade sobre as coisas que as palavras criam.

P

O Coordenador

PREFCIO 1 EDIO

Do trabalho cuidadoso e persistente de vrias equipes, integradas por servidoresdo Poder Legislativo de Minas Gerais e reunidas sob eficiente coordenao, resulta este Manual de Redao Parlamentar, cujo contedo retrata, a um s tempo, a fonte genuna de que provm os textos produzidos no cotidiano da Assemblia e a atuao consciente e criativa dos que intervm na sua reelaborao. Muito me honra a incumbncia, recebida da Diretoria Legislativa, de prefaciar este manual, que concretiza o propsito de seus idealizadores de oferecer um referencial atualizado e seguro a quantos se dediquem tarefa de redigir documentos parlamentares na Assemblia de Minas, e mesmo em outras casas legislativas. por demais gratificante compulsar um trabalho desse porte, particularmente para quem exerceu, por mais de duas dcadas, atividades de redao parlamentar e de consultoria tcnico-legislativa na Casa e, algumas vezes, constatou a necessidade de textos norteadores dessas atividades. Este manual revela o profissionalismo e a competncia dos servidores responsveis por sua elaborao, e evidencia que esto em boas mos as funes de apoio s atividades legislativas, fiscalizadoras e polticas do Parlamento mineiro. Estruturado e elaborado de forma clara, coerente, didtica e inovadora, o manual apresenta diretrizes de redao e regras de padronizao dos documentos parlamentares nele indicados, que compreendem as proposies do processo legislativo e os documentos de ordenao do processo legislativo, os atos normativos internos, os textos de correspondncia oficial, os documentos tcnico-consultivos e os pronunciamentos parlamentares. Em seguida identificao de cada tipo de documento e anteriormente aos dados conceituais ou informativos a ele pertinentes, feita remisso precisa a um ou a mais de um modelo que dele se apresenta. Alm de conjugar, de forma admirvel, teoria e prtica, o manual, cujo principal objetivo favorecer o trabalho do redator, relaciona as Convenes Grficas e de Estilo adotadas na Assemblia. So dignos de registro trabalhos anteriormente editados pela Casa, entre eles o Manual de Informaes Bsicas, nos quais se procurou consignar conceitos e modelos de proposies do processo legislativo, ou mesmo de comunicaes oficiais e atos normativos. Todavia, o manual ora editado vem atender a um novo contexto e a um novo tempo, em que j se cuida de uma Teoria Geral da Legislao, e a tipologia legislativa

retrata a influncia das transformaes verificadas na prpria forma de atuao do Estado. As inovaes relativas atividade de elaborao legislativa decorrem, em especial, da promulgao, em 9 de julho de 2004, da Lei Complementar n. 78, que dispe sobre a elaborao, a alterao e a consolidao das leis do Estado de Minas Gerais, e que, embora tome como parmetro as disposies da Lei Complementar Federal n 95, de 26 de fevereiro de 1998, contm preceitos inovadores e atende s especificidades do processo legislativo mineiro. O manual contm consideraes gerais sobre a lei complementar estadual e a repercusso de suas normas na produo e na sistematizao das leis do Estado. Por todos os motivos, bem-vindo o Manual de Redao Parlamentar, que vem a lume quando o papel do Poder Legislativo se reafirma e se consolida, e a maior participao dos diversos segmentos sociais implica a produo de novos documentos, de que exemplo eloqente a proposta de ao legislativa, objeto de parecer da Comisso de Participao Popular, uma das maiores e mais recentes conquistas da cidadania.

NATLIA DE MIRANDA FREIREM ESTRA E M DIREITO CONSTITUCIONA L PELA UFMG, E X-RE DATORA D E DOCUMENTOS PARLAMENTARES E E X-CHEFE DA CONSULTORIA LEGISLATIVA E P ARLAMENTAR DA ASSEMBLIA LEGISLATIVA DO ESTADO D E MINAS GERAIS

Introduo Introduo

19

O parlamento, como espao de representao, abre-se a cenas e linguagensvariadas, que dialogam e se confrontam segundo motivaes e propsitos distintos. Compreender as relaes que se travam nessa arena e os papis reservados a cada um dos atores envolvidos (parlamentares, tcnicos, cidados) uma condio para o adequado aproveitamento das tcnicas de redao parlamentar. preciso, assim, distinguir as instncias de trabalho (o poltico, o tcnico, o administrativo), os interesses e as responsabilidades (o institucional e o partidrio, o pblico e o particular, o singular e o coletivo) e, ainda, os discursos (as palavras e os textos). Redigir um documento parlamentar verificar, em cada caso, o peso dessas diferenas e, a partir delas, construir o texto, num esforo conjugado de tcnica e interpretao.

Os textos produzidos na AssembliaOs textos produzidos na Assemblia Legislativa, articulando funes de natureza tcnica, poltica e administrativa, dizem respeito, basicamente, a dois grandes campos de trabalho: o das atividades parlamentares (legislativa, fiscalizadora e poltica) e o da organizao institucional. Os textos relativos ao primeiro campo correspondem aos documentos parlamentares e constituem o objeto deste manual. Os textos relativos ao segundo campo, que o manual no investiga, so elaborados paralelamente atividade parlamentar e envolvem trabalhos de representao jurdica, de comunicao institucional, de formao de pessoal, de criao de conhecimento (pesquisa e memria) e de administrao de servios. Embora a natureza e as funes desses textos muitas vezes se confundam, gerando uma escrita hbrida, de difcil classificao, possvel agrup-los da seguinte forma: Documentos parlamentares Textos de natureza tcnico-legislativa: so aqueles relacionados com o processo legislativo propriamente dito, por cuja autoria e efeitos respondem os parlamentares. Incluem as proposies (propostas de emenda Constituio, projetos de lei e de resoluo, emendas a projeto, requerimentos, pareceres e relatrios de comisso) e os documentos de ordenao do processo legislativo (ata, edital de convocao, ordem do dia, deciso da Presidncia). Textos de natureza poltico-administrativa: so aqueles elaborados em razo

INTRODUO

20das atividades poltico-administrativas da instituio. Tais documentos so assinados por parlamentar, no exerccio de uma competncia executiva regimentalmente prevista, ou por servidor, no desempenho de uma atribuio funcional. Incluem-se entre eles os atos normativos internos e os textos de correspondncia oficial. Textos de natureza tcnico-consultiva: elaborados e assinados por consultoria especializada, servem como informao ou advertncia tcnica sobre matria determinada, com o objetivo de subsidiar o parlamentar em sua atividade poltica, ou rgo da Casa, em sua atividade institucional. Trata-se das informaes e das notas tcnicas. Textos de natureza poltica: so os relativos s manifestaes parlamentares de cunho predominantemente poltico, de carter individual ou partidrio. Incluem-se neste rol os pronunciamentos (discursos). Outros textos produzidos na Assemblia Textos de natureza jurdico-institucional: so basicamente os textos elaborados pelo rgo de representao judicial do Poder Legislativo a sua Procuradoria. Distinguem-se dos demais principalmente pelo contedo especificamente jurdico e pela interface com o Poder Judicirio. Textos jornalsticos e de divulgao institucional: destinados aos pblicos interno e externo da Assemblia, adaptam-se aos meios pelos quais so veiculados. Tm por finalidade divulgar o contedo da legislao e as atividades do Poder Legislativo e prestar esclarecimentos sociedade, por meio da imprensa. Esses textos procuram tratar os fatos em linguagem coloquial, acessvel ao pblico, distanciando-se, quando possvel, do jargo jurdico e tcnico. Textos acadmico-institucionais: trata-se de estudos e ensaios tericos sobre questes relacionadas com o Poder Legislativo, divulgados em peridicos, como os Cadernos da Escola do Legislativo, ou em publicaes especiais. Textos administrativos: so os documentos relacionados com a atividade de organizao dos servios administrativos da Secretaria da Assemblia e dos gabinetes parlamentares.

INTRODUO

A linguagem parlamentarA redao de documentos parlamentares observa, de modo geral, os princpios que orientam a administrao pblica e servem de referncia para a redao de textos oficiais nos rgos pblicos. A diversidade de pessoas, de interesses, de culturas e, por extenso, de textos que fazem parte do trabalho de uma Casa Legislativa deve servir, no entanto, como sinal de ateno para o aproveitamento adequado desses princpios na situao especfica de produo de um texto parlamentar. A abertura

21a diferentes tipos de discursos e perspectivas uma marca tpica dos parlamentos e tem impacto direto sobre a forma como os documentos parlamentares so redigidos. Um dos mais importantes princpios da administrao pblica, o da publicidade, implica, do ponto de vista do redator, a necessidade de que o texto possa ser lido e compreendido pelo maior nmero possvel de pessoas. por isso que se buscam a clarez e a preciso da forma, e por isso que a simplicidade e a conciso devem ser toa madas como marcas da linguagem parlamentar. O domnio pblico exige, tambm, que os atos e as realizaes de seus agentes tenham fundamento de ordem pblica e se faam sem idiossincrasias, descolados de motivaes de ordem pessoal. Essa diretriz indica, na redao dos documentos pblicos, a linha da impessoalidade, que no deve significar rigidez e deselegncia, mas sim objetividade e racionalidade. Um texto impessoal evita a manifestao de opinies e impresses pessoais sobre o assunto tratado, o uso de figuras de estilo, como a metfora ou a ironia, e se prende formalidade. A formalidade, no grau em que ocorre na esfera pblica, no pode ser confundida com eruditismo, assim como a simplicidade no admite a vulgaridade. A formalidade da escrita supe um distanciamento entre os interlocutores e um grau maior de reflexo sobre a linguagem utilizada, o que afasta da escrita os traos da espontaneidade e da intimidade. A simplicidade, por sua vez, tem a ver com o emprego de termos acessveis, com a sintaxe direta, com frases sem rebuscamento. Um texto simples evita hermetismos, excessos, inverses e jarges e s utiliza termos tcnicos na medida em que forem necessrios ao assunto tratado. Outra caracterstica dos documentos pblicos a padronizao. As regras de padronizao de textos atendem s necessidades de classificao, indexao e organizao de documentos (sua sistematizao e arquivamento). Pretende-se com isso tornar mais fcil para qualquer pessoa o acesso, a consulta e a leitura dos textos. A padronizao, no entanto, no pode tornar-se, em si mesma, a finalidade de um procedimento. Pode-se dizer, assim, que os documentos parlamentares, salvo os pronunciamentos, que tm uma dico bastante peculiar, devem buscar a clareza, a preciso e a simplicidade, por meio de uma escrita que adote a formalidade e a impessoalidade e atenda aos padres de c rre da norma culta. o o A adequao do texto e o papel do redator

INTRODUO

Sem prejuzo das recomendaes gerais referentes forma da redao parlamentar, h ainda uma, muito importante, que, de certo modo, coordena o aproveitamento de todas as outras. Trata-se da diretriz de adequao do texto situao de elaborao. Tanto o texto de um projeto de lei, por exemplo, que complexo e sujeito a inmeras interferncias e mutaes, quanto, num outro extremo, o de um ofcio, que singular e feito em condies mais estveis, suportam, cada a um a seu modo, um processo de adaptao s circunstncias em que so produzidos. Esse processo de ajustamento do texto e de sua linguagem ao contexto da elaborao, de modo a obter sempre o melhor texto possvel, fundamental no mbito das atividades parlamentares.

22Os redatores parlamentares tm uma tarefa e uma responsabilidade cruciais nesse procedimento. So eles que, de acordo com fatores concretos, de ordem tcnica, poltica ou administrativa, vo preparar o texto e modular a sua linguagem (a estrutura, a sintaxe, o vocabulrio, o grau de formalidade), considerando especialmente a finalidade do documento e o seu destinatrio. O redator pode ser considerado, nessas condies, uma espcie de mediador lingstico das condies e das pessoas (e seus diferentes discursos) que atuam na elaborao do documento. O redator avalia e apresenta, em cada caso, a redao que parece ser a mais adequada. Redigir um texto , assim, um ato de interpretao. Sabe-se, por isso, que nenhuma diretriz absoluta: quando se quer aprimorar um aspecto do texto (a preciso, por exemplo), pode-se, sem querer, perder em outro (por exemplo, a elegncia). Nem sempre possvel conciliar todas as recomendaes para a boa redao de um texto. Cabe ao redator buscar o equilbrio e o acordo possvel, a cada vez. Entre os muitos fatores que condicionam a redao de um documento parlamentar, podemos enumerar aqui os mais comuns, que devem ser ponderados pelo redator no processo de adequao: A autoria do texto preciso distinguir quem assina o texto (e responde por ele) de quem o redige. preciso tambm saber quando a autoria de um texto ser atribuda a um rgo colegiado (uma comisso, por exemplo) ou a uma s pessoa (um Deputado). Essa distino tem influncia no modo de enunciar o texto (o ponto de vista a partir do qual ele ser apresentado e as vozes argumentativas que sero utilizadas). O destinatrio do texto Trata-se de verificar quem e quantos so os destinatrios, qual o universo a que o texto se destina. Entram aqui informaes como a formao tcnica, poltica e cultural do destinatrio, o grau de proximidade com o autor do texto e a hierarquia entre eles. A finalidade do texto

INTRODUO

Deve-se verificar qual objetivo do texto: comunicar ou inform r (um ofcio); a convencer (um pronunciamento); instruir (uma nota tcnica); opinar, avaliar ou criticar (um parecer); decidir (um ato da Mesa); regular ou n rmatizar (um projeto de lei); o registrar (uma ata); relatar (um relatrio). A natureza da matria Trata-se da rea em que o assunto se insere de forma predominante: o domnio tcnico, poltico ou administrativo.

23O grau de publicidade do texto preciso saber se o texto ser publicado e, em caso afirmativo, em que veculo de comunicao. As normas e as convenes estabelecidas em relao ao documento So determinaes constitucionais, legais e regimentais, bem como as institudas pela Assemblia, para efeito de padronizao. As circunstncias polticas e administrativas Deve-se ponderar a interferncia de lobbies, a discricionariedade poltica e a convenincia de certas opes de redao. O prazo para a redao. A praxe parlamentar (a tradio).

A orientao deste manualO esforo empreendido por este manual o de apresentar diretrizes para a elaborao dos diversos tipos de textos parlamentares e, ainda, fixar regras de padronizao desses documentos. Concebe-se assim, de incio, uma distino entre o que uma orientao para o redator, interpretvel em cada caso, e o que se firma como conveno, grfica ou de estilo, destinada a uniformizar a redao dos documentos parlamentares em geral. A construo de textos se d no terreno movedio das palavras e do sentido. Esse trabalho de criao no aceita normas taxativas, que quase sempre se revelam ineficazes diante de situaes imprevisveis. Mais interessante, quando se lida com a variedade e a indefinio, formular recomendaes e exemplos, que auxiliam a inteligncia do redator no seu trabalho dirio, sem engess-lo. O manual quer, assim, apresentar didaticamente, de forma refletida e condensada, o resultado de anotaes e experincias sobre a produo de textos parlamentares, em um trabalho que buscou enriquecer-se com a pesquisa acadmica sobre o assunto.

INTRODUO

No h texto que nasa de modo automtico ou por meio de frmulas mgicas. Tambm no h modelos absolutos de textos que possam ser copiados em qualquer situao. Uma lei bem elaborada, por exemplo, no o resultado da aplicao de uma receita de correo processual e jurdica. , quase sempre, o resultado de uma negociao entre vrios interessados, na qual o texto feito e refeito sucessivamente, sem possibilidade de atingir uma suposta perfeio. A esttica desse texto , de certo modo, suja, no sentido de que no comporta a assepsia de formas clssicas ou monolticas autoritrias. O texto de uma lei objeto de discusso e negociao: nesse campo intervm o redator, para articu-

24lar da melhor maneira possvel, segundo o conhecimento que a tcnica legislativa lhe oferece, a linguagem do documento. Os vrios modelos e exemplos que o manual apresenta, na tentativa de configurar uma quase tipologia de textos, devem ser tomados como referncia para casos semelhantes e tm o objetivo de tornar mais concreta a viso do redator sobre as questes mais comuns. O manual adota, assim, uma estratgia problematizadora da produo de textos dentro da Assemblia Legislativa. Em vez de apenas prescrever normas, atitude que talvez sugerisse uma convico idealista e distanciada do cotidiano, o manual tenta trazer luz problemas recorrentes de redao, dificuldades que se repetem, e com isso oferecer um campo mais pragmtico no automtico de solues. preciso salientar, por fim, que o manual tenta explorar, na medida do possvel, principalmente no que se refere aos textos normativos, aspectos, s vezes, pouco investigados dos documentos parlamentares, sob uma perspectiva antes lingstica do que jurdico-processual. Essa opo tem o propsito de encontrar solues possveis para problemas de redao que, submetidos apenas a um olhar predominantemente jurdico, privam-se de uma lgica alternativa, para certos casos, talvez, mais eficaz.

INTRODUO

Proposies do Processo Legislativo

27

s matrias destinadas apreciao dos parlamentares, em Plenrio ou em comisso, so apresentadas por meio de um instrumento formal, quase sempre escrito, ao qual se d o nome de proposio. Esse documento discutido e votado pelos parlamentares e constitui o objeto do processo legislativo. A proposio pode consistir em um projeto de legislao (proposta de emenda Constituio, projeto de lei complementar, ordinria ou delegada, projeto de resoluo), um veto do Chefe do Executivo ou outro documento a ser apreciado pelos Deputados (emenda, requerimento, recurso, parecer, representao popular, proposta de ao legislativa, mensagem governamental).

A

Este manual ocupa-se de dois grupos de proposies. Em primeiro lugar, so examinadas aquelas que constituem o objeto central do trabalho legislativo e se apresentam na forma de texto normativo: os projetos de lei e de resoluo e as propostas de emenda Constituio, bem como as emendas, na condio de proposies acessrias. Os documentos desse grupo so aqui chamados de proposies normativas. Em segundo lugar, examina-se o grupo das proposies que tm uma funo adjacente no processo legislativo e no se apresentam sob a forma de texto normativo: o requerimento, o parecer, o relatrio de comisso parlamentar de inqurito e de comisso especial e o recurso.

Proposies normativasO processo legislativo: consideraes geraisO processo legislativo um conjunto concatenado de atos preordenados (iniciativa, emenda, votao, sano, promulgao e publicao), realizados pelos rgos legislativos com vistas formao das leis em sentido amplo. Seu objeto , pois, a elaborao dos atos normativos previstos na Constituio. Distinguem-se trs fases no processo de elaborao das leis: a) fase introdutria: corresponde iniciativa, que a faculdade de propor um

PROPOSIES DO PROCESSO LEGISLATIVO

Para elaborar adequadamente uma proposio, necessrio observar as normas da Constituio do Estado e do Regimento Interno, as diretrizes estabelecidas na legislao especfica e, ainda, as recomendaes tcnicas e as convenes, como as contidas neste manual. Ao conjunto desses preceitos e orientaes chama-se genericamente Tcnica Legislativa. O objetivo deles conferir proposio a forma mais adequada sua finalidade, garantir a clareza do texto e facilitar sua interpretao e aplicao em cada caso.

28projeto de lei, atribuda a pessoas ou rgos, de forma geral ou especial; o ato que desencadeia o processo legislativo; b) fase constitutiva: compreende a deliberao e a sano. a fase de estudo e deliberao sobre o projeto proposto; inclui os turnos regimentais de discusso e votao, seguidos da redao final da matria aprovada. Essa fase se completa com a apreciao, pelo Executivo, do texto aprovado pelo Legislativo. a interveno do Executivo na construo da lei. Tal apreciao pode resultar no assentimento (a sano) ou na recusa (o veto). A sano transforma em lei o projeto aprovado pelo Legislativo. Pode ocorrer expressa ou tacitamente. A sano expressa quando o Executivo d sua concordncia, de modo formal, no prazo de 15 dias contados do recebimento da proposio de lei, resultante de projeto aprovado pela Casa Legislativa. A sano tcita quando o Executivo deixa passar esse prazo sem manifestao de discordncia.

PROPOSIES DO PROCESSO LEGISLATIVO

Pode o Executivo recusar sano proposio de lei, impedindo, dessa forma, sua transformao em lei. Tal recusa se manifesta pelo veto, que pode ser total ou parcial, conforme atinja total ou parcialmente o texto aprovado. Segundo dispe o 2 do art. 66 da Constituio da Repblica, ao qual corresponde o 4 do art. 70 da Constituio do Estado, o veto parcial somente abranger texto integral de artigo, de pargrafo, de inciso ou de alnea. O veto pode ter por fundamento a inconstitucionalidade da proposio de lei ou a sua inconvenincia. No primeiro caso, h um motivo jurdico: a incompatibilidade com a Lei Maior. No segundo caso, h um motivo poltico, que envolve uma apreciao de vantagens e desvantagens: o Executivo pode opor veto proposio se julg-la contrria ao interesse pblico; c) fase complementar ou de aquisio de eficcia: compreende a promulgao e a publicao da lei. A promulgao o ato que declara e atesta a existncia da lei, indicando que esta vlida e executvel. Cabe ao Chefe do Executivo promulgar a lei. Se ele, nos casos de sano tcita e de rejeio do veto, no o faz no prazo de 48 horas, deve o Presidente da Casa Legislativa faz-lo. Mesa da Assemblia, cabe a promulgao das emendas Constituio, e ao Presidente da Assemblia, a promulgao das resolues, devendo-se assinalar que, no prazo de 15 dias teis, contados da data da aprovao da redao final do projeto de que se tenha originado a resoluo, esta poder ser impugnada motivadamente, no todo ou em parte, pelo Presidente da Assemblia, hiptese em que a matria ser devolvida ao Plenrio, para reexame. Depois da promulgao, vem a publicao, que, em nosso sistema, o meio de tornar a norma conhecida e vigente.

29Projeto de lei, projeto de resoluo e proposta de emenda Constituio

Modelos nos 1 a 15Projeto a proposta de texto normativo submetida apreciao do Parlamento com vistas a sua transformao em uma das espcies normativas definidas no art. 63 da Constituio do Estado. O projeto que tem por objetivo alterar o texto constitucional recebe a denominao tcnica de proposta de emenda Constituio, reservando-se o termo projeto para as proposies que daro origem s leis ordinrias, complementares e delegadas e s resolues.

Antes de se iniciar a elaborao de um projeto de lei ou de uma proposta de emenda Constituio, deve-se proceder a um estudo tcnico sobre a viabilidade da proposio. Esse estudo importante para avaliar as condies de aplicao e os possveis impactos da nova legislao, e tambm para evitar a edio de leis desnecessrias. As informaes recolhidas e a anlise feita nessa etapa preliminar podem e devem ser usadas na justificao do projeto, se possvel de forma sistemtica, de modo que a proposio seja bem fundamentada, com argumentos consistentes e objetivos, teis ao debate sobre a matria. Os aspectos a serem examinados no estudo preliminar so os objetivos da lei, a necessidade de legislar, a possibilidade jurdica de legislar, o impacto sobre a realidade e o ordenamento, o objeto da lei e seu campo de aplicao. Os objetivos da lei Deve-se verificar se a lei pretendida trar alguma novidade em relao le-

gislao vigente e se o caminho legislativo , de fato, o mais adequado para solucionar as demandas em questo. necessrio, assim, logo de incio, fazer um levantamento da legislao existente sobre a matria, tanto no mbito do Estado quanto no da Unio, para avaliar concretamente a necessidade de uma lei nova e, sendo o caso, propor a melhor forma de, tecnicamente, inseri-la no sistema em vigor. A razo desses cuidados evitar o acmulo desnecessrio de atos normativos, sempre prejudicial administrao pblica e sociedade. Em muitos casos, a soluo do problema que leva o parlamentar a querer legislar est em uma medida administrativa, poltica ou, mesmo, judicial, e no na edio de lei nova. Sabe-se, ainda, que a identificao clara dos objetos da nova lei e de cada norma nela contida fundamental para orientar o modo de conceber a redao do texto legal: sua estruturao geral, a diviso em partes, a ordenao e a articulao dos dispositivos (quais so os preceitos centrais e os secundrios) e, tam-

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A preparao da lei: estudo preliminar

30bm, a terminologia a ser usada. Quanto mais indefinidos e imprecisos so os propsitos do legislador, maior o risco de a lei tornar-se ambgua ou obscura. A possibilidade jurdica de legislar Para se determinar a viabilidade jurdica do projeto, preciso considerar os seguintes aspectos: acompetnciaparalegislar, a iniciativa, a legalidade e a constitucionalidade. A competncia para legislar As matrias cujo tratamento a Constituio (da Repblica ou do Estado) reservou privativamente lei (reserva legal) no podem ser objeto de decreto do Executivo nem de resoluo da Casa Legislativa. No caso de Minas Gerais, h uma enumerao dessas matrias no art. 61 de sua Constituio.

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no mbito da Federao: avaliao das possibilidades e dos limites que o Estado tem para tratar da matria, tendo em vista as competncias institudas pela Constituio da Repblica para a Unio, os Estados e os Municpios. A anlise deve levar em conta a finalidade do projeto, a exclusividade ou a concorrncia para tratar da matria, o carter executivo ou legislativo da competncia, a legislao preexistente no mbito de cada ente federativo e, ainda, a possibilidade de atuao concreta dos entes da Federao no campo sobre o qual incide a proposio. no mbito dos Poderes e do instrumental normativo: verificao de qual o instrumento normativo adequado para o tratamento da matria: se realmente a lei (ordinria ou complementar) ou se o caso de resoluo ou de emenda Constituio; ou, ainda, simplesmente, se o ato de competncia privativa do Poder Executivo (decreto, resoluo de secretaria, portaria, etc.). Devem-se confrontar as competncias entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judicirio e as espcies normativas para fazer a escolha adequada.

A abrangncia do texto da lei e o espao a ser preenchido por decreto dependem da distribuio de competncias estabelecida na Constituio do Estado e, tambm, da poltica empreendida pelo legislador na regulao da matria. Providncias administrativas e medidas operacionais referentes aplicao da lei so, de modo geral, assunto para decreto.

A iniciativa Trata-se de averiguar, na Constituio do Estado, se a matria constante do projeto de lei de iniciativa aberta a todos os agentes competentes para deflagrar o processo legislativo ou se est restrita (iniciativa privativa) ao titular de algum dos Poderes. A legalidade e a constitucionalidade a anlise prvia sobre a obedincia do projeto s leis em vigor e s Constituies. interessante notar que, em alguns casos, a ilegalidade de uma proposta pode ser causada pelo m d como o oo texto redigido. O impacto sobre a realidade O xito de uma lei nova depende do cenrio econmico, social, poltico e cultural que vai recepcion-la. Devem-se, as-

31sim, analisar os possveis efeitos que as novas normas tero em cada um desses campos, do ponto de vista qualitativo e quantitativo, e avaliar a sua aplicabilidade. O estudo de impacto depende da rea temtica em que se est legislando e da complexidade da matria. A viabilidade financeira e oramentria, o impacto ambiental, a exeqibilidade, o potencial de aceitao das normas pela populao so aspectos importantes a serem avaliados antes de se propor a legislao e durante a discusso do projeto no parlamento. O impacto sobre o ordenamento Trata-se de verificar os efeitos que a nova lei trar para a configurao do ordenamento, a fim de definir, do ponto de vista textual, a melhor maneira de conect-la ao conjunto em vigor. Assim, preciso avaliar: a) a opo por lei autnoma ou por lei modificativa, em funo da legislao preexistente sobre a matria; b) as leis e os dispositivos que precisam ser expressamente revogados pela lei nova; c) a data mais adequada para que a lei entre em vigor; d) a necessidade de normas transitrias; e) a necessidade de legislao regulamentar e as questes a serem nela tratadas; f) os pontos de integrao com outras leis ou normas, para efeito de remisso ou citao. O objeto da lei e o seu campo de aplicao Trata-se de demarcar os limites da matria a ser regulada: definir com preciso o contedo das normas (os comandos normativos), o seu mbito de aplicao (onde e quando as normas se aplicam) e os respectivos destinatrios (a quem as normas se dirigem), tendo em vista os objetivos da lei. O recorte do objeto, que supe a seleo, a classificao e a sistematizao dos elementos que o constituem, h de ser feito com o mximo rigor conceitual, base para a coerncia do texto normativo e para a segurana do processo interpretativo da lei.

O assunto do projeto deve ser tratado de modo integral, para que no fiquem lacunas ou omisses que inviabilizem o cumprimento da norma. O mesmo objeto no pode ser disciplinado em mais de uma lei, exceto quando a nova se destine a complementar a anterior.

Tratar o objeto da lei de forma integral no significa detalhar determinados pontos que seriam apropriados para decreto, mas sim cobrir todos os aspectos fundamentais da matria, para garantir o entendimento e a aplicabilidade da proposio. Assim, por exemplo, quando uma lei cria um rgo pblico, preciso definir seu lugar na estrutura administrativa do Estado e suas atribuies bsicas; na criao de um fundo, necessrio definir os recursos a ele destinados, mas no preciso estipular os pormenores burocrticos de seu funcionamento.

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Cada proposio deve tratar de um nico objeto, no podendo conter matria a ele no vinculada por afinidade, pertinncia ou conexo.

32Questionrio de referncia para a preparao da lei (checklist)Definio do problema Qual o problema que se pretende solucionar? Quais so as alternativas para enfrent-lo (uma medida administrativa, a realizao de uma campanha informativa, uma ao de fiscalizao, a instaurao de um processo judicial)? Impacto da norma proposta Quais so os objetivos do novo ato? Ele exeqvel? Foi realizado um estudo de impacto detalhado, a fim de antecipar os efeitos favorveis e desfavorveis da nova norma? Quais so os efeitos provveis do ato proposto, quantitativa e qualitativamente, nos planos social, econmico, cultural, poltico, ambiental, etc.? Foram consultados especialistas em cada rea especfica? A medida proposta impe despesas ao oramento do Estado? De onde viro os recursos para a aplicao da lei? As normas financeiras e oramentrias do Estado foram atendidas? Os benefcios estimados da medida justificam os custos? O ato normativo ter repercusses especficas sobre algum segmento ou grupo social (uma categoria de servidores pblicos ou de consumidores, por exemplo), um setor econmico (empresas de determinada dimenso, por exemplo) ou uma regio do Estado? Os setores da sociedade envolvidos com a matria foram consultados? Esses grupos tiveram acesso a informaes suficientes para respaldar sua avaliao? Como os representantes desses setores avaliam a norma? Todos os rgos e entidades do poder pblico envolvidos com a norma foram consultados? Que avaliao eles fazem da medida proposta?

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H experincias anteriores a serem observadas? Que procedimentos e medidas foram adotados na situao comparada? A edio de um ato normativo realmente a melhor forma de solucionar o problema, tendo em vista a natureza deste, seu alcance, os benefcios que se pretende obter e a possibilidade de adoo de medidas alternativas? Possibilidade jurdica de legislar H amparo jurdico para legislar? A matria de competncia do Estado? O proponente tem poder de iniciativa para o ato? A proposta constitucional? A matria traz inovao ao ordenamento jurdico? Qual o instrumento normativo adequado para tratar da matria? matria para a Constituio, para lei ou para resoluo do Poder Legislativo? Sendo matria de lei, cabe lei ordinria ou complementar? Foi feito um levantamento exaustivo da legislao existente sobre a matria? Foi feita uma pesquisa sobre a legislao similar em outras unidades da Federao?

33Do ponto de vista histrico, como o objeto da norma vem sendo tratado pelo poder pblico? Os resultados das consultas foram efetivamente considerados na elaborao do ato normativo? H algum acordo estabelecido em negociao pblica? Que rgos, instituies ou autoridades devem assumir a responsabilidade pela execuo das medidas propostas? Eles detm de fato competncia para faz-lo? Qual a opinio das autoridades encarregadas a respeito da possibilidade de execuo dessas medidas? necessrio o estabelecimento de sanes? O prazo estabelecido para a entrada em vigor do ato normativo suficiente para a adoo das medidas necessrias aplicao da norma? preciso prever algum perodo de adaptao? necessrio fazer um trabalho de monitoramento de execuo da norma, para avaliar os seus resultados? Seria conveniente preparar um procedimento-piloto para a implantao da norma, em carter experimental, antes da sua adoo definitiva? Insero da norma no ordenamento Qual a legislao existente sobre a matria? Como ela est organizada? Qual a melhor forma de inserir a nova norma no sistema existente? Que normas sero afetadas com a entrada em vigor do novo ato? possvel a edio de lei modificativa ou necessria a edio de lei autnoma? Em caso de lei modificativa, necessrio reorganizar o texto de normas existentes? A edio do ato normativo implica a revogao de outras normas? Foi feito um levantamento de dispositivos e atos normativos a serem revogados expressamente? A matria foi tratada de forma abrangente, de modo a no deixar lacunas? Que grau de detalhamento deve ser conferido ao ato normativo? H necessidade de normas de transio entre o regime vigente e o novo? As remisses a dispositivos da prpria norma e a outros atos normativos foram feitas de forma clara e completa? As disposies do ato podem ser aplicadas diretamente ou precisam de regulamentao? O texto da norma O objeto da norma, seu mbito de aplicao e seus destinatrios esto definidos com clareza? A estruturao do texto, sua diviso em partes e os dispositivos foram articulados de forma lgica e coerente? H compatibilidade entre todos os preceitos institudos? H uniformidade entre as divises do texto? H uniformidade entre os dispositivos? A terminologia adotada precisa e uniforme ao longo de todo o texto? necessria a introduo de dispositivos que contenham a definio de termos utilizados? O texto claro, consistente e de fcil compreenso? O texto est padronizado de acordo com as convenes em vigor?

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34A estrutura e a redao do texto legalAs partes constitutivas do projeto de lei O projeto de lei assim como o projeto de resoluo ou a proposta de emenda Constituio pode ser dividido, do ponto de vista formal, em trs partes bsicas: o cabealho, o texto normativ e o o fe h alm da justificao, que no intec o, gra a proposio propriamente dita, mas requisito para sua apresentao. Cabealho central do projeto, como, por exemplo, disposies modificativas de leis em vigor ou alteraes na estrutura administrativa de rgos pblicos, destinadas a possibilitar a implementao da lei nova.Exemplos*: Cria o Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais Idene e d outras providncias. (Projeto de Lei n 1.422/2001 - Lei n 14.171, de 2002)

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O cabealho a parte introdutria da proposio e serve para identific-la no contexto legislativo. Compreende a epgrafe, a ementa e a frmula de promulga o, tambm chamada de prembulo (no caso do ato especfico de promulgao da lei). A epgrafe indica o tipo de projeto (de lei, de lei complementar ou de resoluo ou proposta de emenda Constituio), o nmero que lhe atribudo no ato de seu recebimento e o ano em que foi apresentado. A ementa serve para apresentar o contedo do projeto. Consiste em um resumo claro e conciso da matria tratada. O enunciado da ementa deve ser preciso e direto, de modo a possibilitar o conhecimento imediato do assunto e, ainda, facilitar o trabalho de registro e indexao do texto. A sentena comea com um verbo na terceira pessoa do singular do presente do indicativo, cujo sujeito implcito o projeto. A expresso e d outras providncias, que, s vezes, aparece no final das ementas, somente deve ser usada se a proposio contiver dispositivos complementares, relacionados com o objeto

(O projeto traz disposies que, para possibilitar a implantao do Idene, alteram os quadros de pessoal e a estrutura orgnica de outros rgos do Poder Executivo.)Dispe sobre a poltica de proteo fauna e flora aquticas e de desenvolvimento da pesca e da aqicultura no Estado e d outras providncias. (Projeto de Lei n 1.162/ 2000 - Lei n 14.181, de 2002)

(Para viabilizar a consecuo do disposto na lei, a proposio autoriza a abertura de crdito especial no Oramento do Estado e cria rgo colegiado na estrutura orgnica do Poder Executivo.)Altera a Lei n 6.763, de 26 de dezembro de 1975, que consolida a legislao tributria no Estado, e d outras providncias. (Projeto de Lei n 1.078/2003 - Lei n 14.938, de 2003)

(O projeto contm disposies que alteram outras leis alm da mencionada na ementa e comandos que no so modificativos.)_______________ * Nota: os textos dos exemplos contidos neste manual, extrados de documentos parlamentares, foram adaptados aos propsitos da publicao.

35Nos projetos de lei modificativa, o texto da ementa, ao descrever a alterao efetuada, deve indicar o nme a data ro, e a e enta da lei alterada: mExemplo: Altera a Lei n 13.437, de 30 de dezembro de 1999, que dispe sobre o Programa de Fomento ao Desenvolvimento das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte do Estado de Minas Gerais Micro Geraes. (Projeto de Lei n 1.936/2002 - Lei n 14.360, de 2002)

Nas situaes em que a lei alterada muito ampla e a alterao restringe-se a um aspecto especfico, a reproduo da ementa da lei modificada pode no ser suficiente para identificar com preciso a alterao. recomendvel, nesses casos, conciliar a descrio formal da alterao (nmero da lei e dos artigos alterados) com a descrio do contedo especfico da alterao.Exemplos: Cria a Comisso de Participao Popular, mediante alterao nos arts. 101, 102, 288 e 289 da Resoluo n 5.167, de 6 de novembro de 1997, que contm o Regimento Interno da Assemblia Legislativa do Estado de Minas Gerais. (Projeto de Resoluo n 309/2003 - Resoluo n 5.212, de 2003) Altera a Lei Complementar n 38, de 13 de fevereiro de 1995, que contm a organizao e a diviso judicirias do Estado, no que se refere composio do Tribunal de Alada, e d outras providncias. (Projeto de Lei Complementar n 17/96 - Lei Complementar n 45, de 1996)

Exemplos: Altera os arts. 7 e 21 da Lei Complementar n 26, de 14 de janeiro de 1993, que estabelecem a composio da Regio Metropolitana de Belo Horizonte e de seu Colar Metropolitano. (Projeto de Lei Complementar n 35/2002 - Lei Complementar n 63, de 2002) Revoga o art. 21 da Lei Complementar n 37, de 18 de janeiro de 1995, que dispe sobre a criao, a incorporao, a fuso e o desmembramento de Municpios. (Projeto de Lei Complementar n 19/96 - Lei Complementar n 47, de 1996) Altera o art. 9 da Lei n 10.363, de 27 de dezembro de 1990, que dispe sobre o ajustamento dos smbolos e nveis de vencimento e dos proventos do pessoal civil do Poder Executivo e d outras providncias. (Projeto de Lei n 716/2003 - Lei n 14.692, de 2003) Acrescenta inciso ao art. 8 da Lei n 11.396, de 6 de janeiro de 1994, que cria o Fundo de Fomento e Desenvolvimento Socioeconmico do Estado de Minas Gerais Fundese e d outras providncias. (Projeto de Lei n 1.262/2000 - Lei n 14.351, de 2002)

Texto normativo Compreende as disposies normativas da lei, formuladas por meio de artigos. Integram o texto normativo as disposies relativas a vigncia e revogao: a) clusula de vigncia: o dispositivo que determina a data em que a lei entra em vigor. Somente aps a publicao da lei no rgo oficial dos Poderes do Estado e o transcurso do prazo estabelecido para o incio de sua vigncia, seu cumprimento se impe a todos; b) clusula de rev o: deve ser usada oga somente quando a lei nova revoga explicitamente lei anterior ou disposies determinadas de outra lei. No se deve usar, genericamente, a frmula revogam-se as disposies em contrrio.

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Quando possvel, devem-se indicar o tipo de alterao efetuada (alterao de redao, revogao ou acrscimo de dispositivo) e os dispositivos objeto da alterao:

36As clusulas de vigncia e de revogao, quando houver, devem figurar em artigos distintos.

chamado de caput e contm o comandogeral do artigo. Os pargrafos so usados como ressalva, restrio, extenso ou complemento do preceito enunciado no caput do artigo. Desse modo, sempre relativizam a idia nele contida. Os incisos, as alneas e os itens servem como artifcio para enumerao de elementos dentro do artigo e podem ser usados da seguinte forma: a) os incisos vinculam-se ao caput do artigo ou a um pargrafo; b) as alneas vinculam-se a um inciso; c) os itens vinculam-se a uma alnea.

Fecho o encerramento da proposio e abrange: a) o local e a data de sua expedio; b) a assinatura da autoridade competente. Justificao

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O projeto a ser submetido apreciao da Assemblia Legislativa deve ser fundamentado pelo autor na justificao, que se insere aps o fecho e consiste na exposio de argumentos que demonstrem, se possvel detalhadamente, a necessidade e os benefcios da proposio, de acordo com estudo realizado previamente. A fundamentao dos projetos de autoria dos chefes de outros Poderes e rgos do Estado feita na exposio de motivos que integra a mensagem encaminhada Assemblia. A articulao do texto legal O artigo A unidade bsica da estruturao de um texto legal o artigo. Cada artigo deve tratar de apenas umassunto, podendo aparecer na forma de um dispositivo nico ou desdobrar-se em outros dispositivos pargrafos, incisos, alneas e itens , dependendo da complexidade do enunciado. Quando o artigo se desdobra, o dispositivo inicial, que abre o enunciado,

As solues para organizar as normas em dispositivos no so nicas nem predeterminadas. O arranjo dos preceitos depende de questes tcnicas, como a complexidade e a quantidade de enunciados ou a exigncia particular de nfase e clareza, mas tambm de contingncias polticas e das possibilidades de negociao entre os interessados. H casos, por exemplo, em que um mesmo contedo pode figurar como pargrafo de um artigo ou como artigo independente; h outros em que um mesmo enunciado pode vir em um nico dispositivo ou dividir-se em caput e pargrafo. Outra situao comum a da enumerao, que pode ser feita linearmente, numa mesma frase, ou em incisos.

37Ordenao dos artigos A ordenao dos artigos e a diviso do texto legal se fazem de acordo com a natureza, a extenso e a complexidade da matria. O mais importante, em qualquer situao, manter a coerncia do critrio adotado e a compatibilidade entre os preceitos institudos. Os a rtigos iniciais so usados, de acordo com as peculiaridades de cada projeto, para indicar o objeto da lei e seu campo de aplicao e para estabelecer os objetivos e as diretrizes reguladores da matria. Quando for o caso, servem, ainda, para definir o sentido de certos termos que sero usados de modo recorrente na seqncia do texto. O artigo introdutrio varia de acordo com o tipo e com a extenso da lei e pode ser formulado de diversas maneiras.Exemplos: reitos culturais assegurado a todo indivduo pelo Estado, em conformidade com as nor mas de poltica cultur al estabelecidas nesta lei. (Lei n 11.726, de 1994)

Apresenta-se a diretriz geral de uma poltica e anuncia-se a sua regulao pela lei:Art. 1 O Estado valorizar e estimular o uso da lngua portuguesa em seu territrio, nos termos desta lei. (Lei n 12.701, de 1997)

O artigo indica que a lei ser o novo marco regulatrio da matria:Art. 1 O Fundo de Desenvolvimento Regional do Jaba Fundo Jaba , criado pela Lei n 11.394, de 6 de janeiro de 1994, passa a reger-se por esta lei, observado o disposto na Lei Complementar n 27, de 18 de janeiro de 1993. (Lei n 15.019, de 2004)

O art. 1 define o objeto da lei, e o art. 2 indica o sentido de termos fundamentais da proposio:Art. 1 Esta lei estabelece normas de incentivo fiscal s pessoas jurdicas que apiem financeiramente a realizao de projeto cultural no Estado. Art. 2 Para os efeitos desta lei, considera-se: I incentivador o contribuinte tributrio ou a pessoa jurdica que apie financeiramente projeto cultural; II empreendedor o promotor de projeto cultural. (Lei n 12.733, de 1997)

Cria-se um fundo e indica-se a suafinalidade:Art. 1 Fica criado o Fundo de Desenvolvimento Urbano Fundeurb , destinado a dar suporte financeiro a investimentos urbanos municipais no Estado de Minas Gerais. (Lei n 11.392, de 1994)

O artigo apenas cria um programa:Art. 1 Fica criado, no mbito do Estado de Minas Gerais, o Programa Mineiro de Incentivo Produo de Aguardentes Pr-Cachaa. (Lei n 10.853, de 1992)

1 declara um princpio e anuncia as normas da lei como operadoras desse princpio:Art. 1 O pleno exerccio dos di-

O art.

Neste caso, extrado de lei federal,o caput do art. 1 estabelece, como diretriz interpretativa, um sentido para o

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38termo bsico da lei a educao. Nos pargrafos, indica-se o objeto da lei.Art. 1 A educao abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivncia humana, no trabalho, nas instituies de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizaes da sociedade civil e nas manifestaes culturais. 1 Esta lei disciplina a educao escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituies prprias. 2 A educao escolar dever vincular-se ao mundo do trabalho e prtica social. (Lei Federal n 9.394, de 1996)

As disposies relativas ao objeto da lei vm em seqncia aos artigos iniciais. Na ordenao geral do texto, os preceitos gerais normalmente precedem os especiais (excepcionais), os principais precedem os acessrios, os permanentes precedem os transitrios, e os substantivos precedem os processuais. As normas relativas implementao das disposies de contedo substantivo, as de carter transitrio ou geral e as de vigncia e revogao so estabelecidas nos a rtigos finais. Divises do texto Quando o projeto extenso ou tem contedo complexo, recomendvel que o texto seja dividido em partes, para facilitar sua compreenso. Essa diviso deve ser feita a partir do captulo, unidade mnima de agrupamento dos artigos. Sendo necessrio, o captulo pode ser dividido em sees, e estas, em subsees. Blocos de captulos podem agrupar-se em ttulos, e estes, por sua vez, podem compor livros, formando um cdigo. Sendo necessrio o agrupamento de livros, adotam-se as partes, denominadas parte geral e parte especial ou, excepcionalmente, parte primeira, parte segunda, etc. Cada uma dessas partes intitulada de acordo com a matria nela tratada. No campo da legislao estadual, so raras as leis que utilizam subdivises mais abrangentes do que o captulo. Alguns tipos de agrupamento de artigos so mais comuns e recebem os seguintes nomes, de acordo com sua utilidade no conjunto da lei: Disposies preliminares Essa designao aparece quando se quer destacar os artigos iniciais da lei das

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A lei autorizativa. O art. 1 estabelece o objeto preciso da autorizao:Art. 1 Fica a Companhia Energtica de Minas Gerais Cemig autorizada a associar-se e a celebrar acordo de acionistas, nos termos desta lei, com empresa do Sistema Petrobras para a gesto da Companhia de Gs de Minas Gerais Gasmig. Pargrafo nico Para os efeitos desta lei, considera-se empresa do Sistema Petrobras a Petrleo Brasileiro S.A. ou qualquer de suas subsidirias diretas ou indiretas e a Petrleo Gs S.A. Gaspetro ou qualquer de suas subsidirias. (Projeto de Lei n 1.855/2004)

H artigos introdutrios que j trazem a determinao central do projeto e praticamente esgotam o contedo normativo do texto. So proposies que, geralmente, tm uma finalidade especfica, de cunho concreto, como o caso da doao de imveis, da autorizao legislativa, da declarao de utilidade pblica, da abertura de crdito suplementar, entre outros.

39disposies substantivas propriamente ditas. As disposies preliminares, portanto, tratam da localizao da lei no tempo e no espao, contm princpios, objetivos e diretrizes e estabelecem normas de aplicao da lei. Disposies gerais Tal designao pode vir no incio ou no final da lei ou de algum de seus captulos ou divises. No incio da lei, tm a mesma funo das disposies preliminares; no incio de algum captulo, fazem o papel de disposies preliminares relativamente ao bloco que introduzem. Quando vm no final do texto, como mais comum ocorrer, as disposies gerais podem reunir: a) preceitos que so comuns a mais de um captulo do texto, aglutinados em um nico;Exemplo: Art. 72 A Secretaria de Estado da Cultura estabelecer normas destinadas a regular a organizao dos cadastros previstos nas sees do Captulo II desta lei, bem como a promover intercmbio de informaes entre os rgos responsveis por sua manuteno. 1 Os cadastros sero organizados e sistematizados de modo a tornar fcil o acesso s informaes neles contidas. 2 A Fundao Rural Mineira Colonizao e Desenvolvimento Agrrio Ruralminas fornecer regularmente Secretaria de Estado de Cultura os dados cadastrais de interesse do patrimnio cultural, identificados como prioridade nos termos do inciso II do art. 7 da Lei n 11.020, de 8 de janeiro de 1993. (Lei n 11.726, de 1994) Exemplo: Art. 256 considerado data magna do Estado o dia 21 de abril, Dia de Tiradentes, e Dia do Estado de Minas Gerais, o dia 16 de julho. 1 A semana em que recair o dia 16 de julho constituir perodo de celebraes cvicas em todo o territrio mineiro, sob a denominao de Semana de Minas. 2 A Capital do Estado ser transferida simbolicamente para a cidade de Ouro Preto no dia 21 de abril e para a cidade de Mariana no dia 16 de julho. (Constituio do Estado Disposies Gerais redao dada pelo art. 1 da Emenda Constituio n 22, de 1997)

c) comandos que estabelecem providncias destinadas a operacionalizar a aplicao da nova lei;Exemplo: Art. 32 Ficam transferidos para a Secretaria de Estado da Casa Civil e Comunicao Social os contratos, convnios, acordos e outras modalidades de ajustes celebrados pela Secretaria de Estado de Assuntos Municipais, extinta por esta lei. (Lei n 13.341, de 1999)

d) comandos que indicam o direito aplicvel a situao em que h mudana no regime legal (normas intertemporais).Exemplo: Art. 221 Aplicar-se- aos magistrados da Justia Militar, no que couber, o disposto nesta lei para a magistratura comum, quanto disciplina judiciria. (Lei Complementar n 59, de 2001)

b) preceitos autnomos que, por falta de pertinncia temtica, no caberiam em nenhuma das divises do texto;

A numerao dos artigos das disposies gerais faz-se em continuao dos demais artigos do texto legal.

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40Disposies finais As disposies finais podem ser usadas, de acordo com as possibilidades e as necessidades do texto, para agrupar os preceitos autnomos, as normas de operacionalizao da lei e as normas intertemporais. Podem, ainda, fazer parte das disposies finais as normas de vigncia e os dispositivos revogatrios. Disposies transitrias Ainda que o conceito de direito transitrio gere controvrsias tericas, possvel enumerar os tipos de normas que, geralmente, so abrigadas sob o rtulo de disposies transitrias: a) as normas que regulam, de modo autnomo e temporrio, situaes de transio entre o direito velho e o novo, funcionando como um terceiro regime jurdico, que coexiste com as normas que esto sendo revogadas e com as que esto sendo introduzidas. Trata-se de normas tipicamente transitrias;Exemplo: Art. 74 Observado o disposto no art. 76 desta lei complementar, assegurado o direito aposentadoria voluntria quele que tenha ingressado regularmente em cargo efetivo na administrao pblica, direta, autrquica ou fundacional dos Poderes Legislativo, Executivo e Judicirio, do Ministrio Pblico e do Tribunal de Contas, at a data de publicao da Emenda Constituio da Repblica n 20, de 15 de dezembro de 1998, desde que, cumulativamente, o servidor: I tenha completado cinqenta e trs anos de idade, se homem, e quarenta e oito anos de idade, se mulher; II possua cinco anos de efetivo exerccio no cargo em que se dar a aposentadoria; III conte tempo de contribuio igual, no mnimo, soma de: a) trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos, se mulher; b) um perodo adicional de contribuio equivalente a 20% (vinte por cento) do tempo que, na data da publicao da Emenda Constituio da Repblica n 20, de 15 de dezembro de 1998, faltava para atingir o limite de tempo estabelecido na alnea a. (Lei Complementar n 64, de 2002)

b) as normas que indicam qual o direito aplicvel a uma situao pendente, a fim de evitar conflitos de interpretao da lei no tempo. So normas tpicas do chamado direito intertemporal;Exemplo: Art. 78 At que se complete o prazo de noventa dias da publicao desta lei complementar, aplicam-se aos segurados relacionados no art. 3 cujo provimento tenha ocorrido aps 31 de dezembro de 2001 as alquotas estabelecidas nos incisos I e II do 1 do art. 77. Pargrafo nico No perodo de que trata o caput deste artigo, as contribuies nele previstas sero integralmente vertidas Confip. (Lei Complementar n 64, de 2002)

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c) as normas que disciplinam determinada situao, ou indicam o direito aplicvel a ela, at que se editem normas definitivas para regul-la (do ponto de vista terico, alguns autores no consideram transitria essa espcie de norma);Exemplos: Art. 327 At a elaborao da disciplina prevista no art. 99 desta lei, prevalecer o disposto na Resoluo n 135, de 11 de agosto de 1989, baixada pela Corte Superior. (Lei Complementar n 38, de 1995)

Art. 68 At a entrada em vigor da lei complementar a que se refere o art. 159, I e II, da Constituio do Estado, sero aplicadas as seguintes normas:

41I o projeto do Plano Plurianual de Ao Governamental, para vigncia at o final do primeiro exerccio financeiro do mandato subseqente, ser encaminhado at trs meses antes do encerramento do primeiro exerccio financeiro e devolvido para sano at o trmino da sesso legislativa; II o projeto da Lei de Diretrizes Oramentrias ser encaminhado at sete meses e meio antes do encerramento do exerccio financeiro e devolvido para sano at o trmino do primeiro perodo da sesso legislativa; III o projeto da Lei Oramentria do Estado ser encaminhado at trs meses antes do encerramento do exerccio financeiro e devolvido para sano at o trmino da sesso legislativa. Pargrafo nico As diretrizes, objetivos e metas do Plano Plurianual de Ao Governamental aplicveis no primeiro exerccio financeiro de sua vigncia sero compatveis com as disposies da Lei de Diretrizes Oramentrias para o mesmo exerccio. (Ato das Disposies Constitucionais Transitrias da Constituio do Estado)

As normas transitrias no precisam, necessariamente, compor um bloco destacado. Elas podem ficar inseridas no bloco das disposies gerais, quando estas aparecerem no final da lei, ou no das disposies finais.

Os anexos da lei Os anexos so usados em uma lei para organizar dados ou informaes cuja apresentao sob a forma de texto seria invivel ou inadequada. Trata-se de quadro tabelas, listas, modelos, formulrios, s, grficos, etc. O anexo deve ser institudo por um artigo da lei, podendo ser referido em outros artigos subseqentes.Exemplo: Art. 4 A estrutura das carreiras institudas por esta lei e o nmero de cargos de cada uma so os constantes no Anexo I.

d) as normas que definem procedimentos para pr em funcionamento a lei nova ou instituies por ela criadas.Exemplo: Art. 127 A primeira eleio para a escolha do Defensor Pblico Geral, na forma prevista no art. 7, realizar-se- no prazo de noventa dias contados da data de publicao desta lei complementar. 1 A eleio a que se refere o caput deste artigo ser organizada por uma comisso eleitoral instituda por resoluo do Procurador-Chefe em exerccio e integrada por dois representantes de cada classe da carreira. 2 At a posse do Defensor Pblico Geral, o Procurador-Chefe em exerccio responder pelas funes do cargo. (Lei Complementar n 65, de 2003)

Estrutura O anexo apresenta a seguinte estrutura: a) ttulo, contendo a palavra ANEXO, em maisculas; quando houver mais de um anexo, eles sero numerados com algarismos romanos; b) indicao, entre parnteses, abaixo do ttulo, do artigo que instituiu o anexo.Exemplos: ANEXO (a que se refere o art. 1 da Resoluo n ..., de ... de ... de ... .)

ANEXO IV (a que se refere o art. 8 da Lei n ... , de ... de ... de ... .)

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42c) c ontedo do anexo, com ttulo e subttulos, conforme o caso. Modificao A substituio de um anexo em vigor por um anexo novo feita por meio de um terceiro anexo, institudo pela lei modificativa especificamente para abrigar o contedo que passar a vigorar.Exemplo: Art. 4 Os Anexos I e II da Lei n 13.437, de 30 de dezembro de 1999, passam a vigorar na forma do Anexo desta lei. (...) Assessor Jurdico-Chefe, cdigo MG-99, smbolo GF-09, de recrutamento amplo, mantida a remunerao do cargo;

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ANEXO (a que se refere o art. 4 da Lei n ..., de ... de ... de 2002) ANEXO I (a que se refere o inciso III do art. 11 da Lei n 13.437, de 30 de dezembro de 1999) (...) ANEXO II (a que se refere o art. 23 da Lei n 13.437, de 30 de dezembro de 1999) (...) (Projeto de Lei n 1.936/2002 - Lei n 14.360, de 2002)

Em certos casos, necessrio estabelecer, em um artigo da lei, que os itens de determinado anexo tm valor de incisos, para efeito de organizao da lei e possibilidade de veto. o que ocorre, por exemplo, nos projetos de Lei de Diretrizes Oramentrias LDO e de Lei Oramentria Anual LOA , em que as emendas parlamentares aprovadas so reunidas em anexo especfico e referidas na lei como incisos de um artigo determinado. Aps a sano do Governador, caber ao Executivo fazer o enquadramento adequado desses dispositivos no interior dos textos ou anexos dessas leis. Nos projetos de resoluo que tratam da alienao de terras devolutas, cada uma destas especificada em um inciso do anexo. Para efeito de veto, o item de um anexo corresponde a um dispositivo. Exemplo: Art. 59 O Anexo IV integra esta lei na forma de incisos deste artigo.

Se incidir sobre itens isolados do anexo, a alterao poder ser feita diretamente pelo artigo da lei modificativa que a instituir.Exemplo: Art. 9 Ficam transformados, no quadro especial de cargos de provimento em comisso da administrao direta do Poder Executivo a que se refere o Anexo da L ei Delegada n 108, de 29 de janeiro de 2003, os seguintes cargos de provimento em comisso: I um cargo de Diretor II, cdigo MG-05, smbolo DR-05, em um cargo de

Numerao interna do anexo Na numerao do contedo do anexo, devem-se usar algarismos romanos quando seus itens forem considerados incisos. Nas outras situaes, podem ser usados algarismos romanos ou arbicos. Os subttulos devem ter a numerao iniciada com o algarismo romano corres-

43pondente ao nmero do anexo, seguido de algarismo arbico.Exemplo: ANEXO II (a que se refere o art. 41 da Lei n ..., de ... de ... de 2004) II.1 Tabela de correlao das carreiras da Secretaria de Estado de Defesa Social e do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais. Fo inadequada rma Art. 2 Fica terminantemente vedada a cobrana de taxas pela emisso de documentos escolares, tais como declaraes, certificados, guias de transferncia ou diplomas. Fo adequada rma Art. 2 vedada a cobrana de taxas pela emisso de documentos escolares.

A linguagem do texto legal O texto legal deve buscar sempre a clareza e a preciso, a fim de evitar conflitos de interpretao. por isso que o texto legal se articula em dispositivos: a escrita em tpicos facilita a ordenao e a identificao das normas e tambm as remisses e as referncias. O mais importante, porm, o m d como se redige o oo texto. A linguagem da lei deve ser concisa, simples, uniforme e, por ter de exprimir obrigao, deve ser tambm imperativa. Assim, recomendvel: a) para obter conciso: usar frases e perodos sucintos, evitando adjetivos e advrbios dispensveis, bem como construes explicativas, justificativas ou exemplificativas;Exemplos: Fo inadequada rma Art. 1 O fornecedor que proceder a alterao na embalagem, como modificao no peso, na quantidade ou no volume do produto, dever adotar providncias no sentido de esclarecer suficientemente o consumidor sobre a alterao proposta. Fo adequada rma Art. 1 O fornecedor informar o consumidor sobre alterao efetuada na embalagem de produto.

Exemplos: Fo inadequada (orao na ordem inversa) rma Art. 6 Sujeitam-se as operaes com recursos do Fundo s seguintes normas e condies: Fo adequada (orao na ordem direta) rma Art. 6 As operaes com recursos do Fundo sujeitam-se s seguintes normas e condies:

Fo rma adequada (orao na ordem inversa pela necessidade de reforar o carter imperativo do enunciado) Art. 4 vedado, na fabricao dos tonis ou barris de envelhecimento, o uso de madeira que possa prejudicar as caractersticas da cachaa ou ensejar risco de contaminao da bebida por compostos txicos.

dar preferncia s expresses na forma positiva;Exemplo: Fo inadequada rma Art. 33 A r ecarga artificial de aqferos no ser feita sem a realizao

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b) para obter simplicidade: dar preferncia s oraes na ordem direta, exceto quando a ordem inversa for necessria para reforar o carter imperativo do enunciado;

44de estudos que comprovem sua convenincia tcnica, econmica e sanitria e a preservao da qualidade das guas subterrneas. Fo adequada rma A rt. 33 A recarga ar tificial de aqferos fica condicionada realizao de estudos que comprovem sua convenincia tcnica, econmica e sanitria e a preservao da qualidade das guas subterrneas. Pargrafo nico O Conselho Estadual de Educao far o acompanhamento do curso objeto do convnio a partir de seis meses aps o incio de seu funcionamento.

Art. 1 Fica instituda, nas universidades pblicas estaduais, reserva de vagas para os candidatos afro-descendentes, os egressos da escola pblica e os portadores de deficincia. Pargrafo nico Estende-se s fundaes agregadas Uemg a exigncia de reserva de vagas (e no cota mnima) de que trata esta lei.

empregar palavras e expresses de uso corrente, salvo quando se tratar de assunto tcnico que exija nomenclatura prpria;

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Exemplos: Art. ... So transgresses disciplinares: (...) II adiar (e no p rocrastinar) o cumprimento de deciso judicial.

empregar termos de uso comum s diversas regies do Estado, evitando o uso de regionalismos e de modismos;Exemplo: Art. 5 Parcerias pblico-privadas so mecanismos de colaborao entre o Estado e particulares, por meio dos quais o particular assume a condio de encarregado de servios, atividades, infra-estruturas, estabelecimentos ou empreendimentos de interesse pblico, sendo remunerado segundo seu desempenho (e no s a perform ne), u ac pelas utilidades e servios que oferecer (e no disponibilizar).

Art. ... Independe (e no p rescinde) de concurso pblico a nomeao para cargo em comisso declarado em lei de livre nomeao e exonerao.

Art. 1 obrigatria a realizao de exame de fundo de olho em recm-nascidos no Estado, para diagnstico do retinoblastoma, da catarata e do glaucoma congnitos. (Uso adequado termos tcnicos).

buscar a uniformidade do tempo e do modo verbais em todo o texto; buscar o paralelismo nominal e verbal entre as disposies dos incisos, das alneas e dos itens constantes na mesma enumerao;Exemplo: Art. 160 Os projetos de lei relativos a Plano Plurianual, s diretrizes oramentrias, ao oramento anual e a crdito adicional sero apreciados pela Assemblia Legislativa, observado o seguinte: (...)

c) para obter uniformidade: expressar a mesma idia, ao longo de todo o texto, por meio das mesmas palavras, evitando sinnimos;Exemplos: Art. 3 As instituies comunicaro ao Conselho Estadual de Educao a celebrao de convnio nos termos do art. 1 desta lei e enviaro ao Conselho, concomitantemente, a proposta pedaggica do curso objeto do convnio (e no acordo ou ajuste).

45III as emendas ao projeto da lei do oramento anual ou a projeto que a modifique somente podem ser aprovadas caso: a) sejam compatveis com o Plano Plurianual e com a Lei de Diretrizes Oramentrias; b) indiquem os recursos necessrios, admitidos apenas os provenientes de anulao de despesa, excludas as que incidam sobre: 1) dotao para pessoal e seus encargos; 2) servio da dvida; 3) transferncia tributria constitucional para Municpio; ou c) sejam relacionadas: 1) com a correo de erro ou omisso; ou 2) com as disposies do projeto de lei. (Constituio do Estado)

d) para obter imperatividade: usar o futuro do presente do indicativo e o presente do indicativo;Exemplos: Art. 1 O Estado promover a assistncia integral sade reprodutiva da mulher e do homem, mediante a adoo de aes mdicas e educativas.

Art. 2 O Regime Prprio de Previdncia Social assegura os benefcios previdencirios previstos nesta lei complementar aos segurados e a seus dependentes.

preferir as formas verbais s nominais;Exemplos: Cabe Mesa designar os membros da Comisso (e no adesignao). vedado restringir o acesso ... (e no a restrio).

evitar o emprego de palavra ou expresso que confira ambigidade ao texto;Exemplos: Art. 6 O disposto neste artigo aplica-se aos crditos tributrios gerados at sessenta dias anteriores data da publicao desta lei. (Nos sessenta dias anteriores ou at sessenta dias antes?)

preferir os verbos significativos aos de ligao;Exemplo: Aplica-se ... (e no aplicvel).

preferir as formas verbais s constitudas de verbo e substantivo;Art. 2 O centro educativ gerenciado o por associao autnoma receber repasse de recursos do Poder Executivo se a entidade: I possuir finalidade no lucrativa e aplicar seus excedentes financeiros em educao; II assegurar a destinao de seu patrimnio a outra escola comunitria, filantrpica ou confessional, ou ao poder pblico, no caso de encerramento de suas atividades; III for declarada de utilidade pblica por lei. (Qual a entidade: o centro educativo ou a associao autnoma?) Exemplo: Requerer, paga nomear (e no fazer rer, querimento, fazer pagamento, fazer nomeao).

evitar o uso meramente enftico de termos ou expresses.Exemplos: Art. 5 O regulamento da Medalha de Mrito Profissional ser aprovado no prazo (mximo) de sessenta dias contados da data da publicao desta lei.

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46Art. 7 O Grupo de Trabalho apresentar relatrio contendo as sugestes relativas aos objetivos definidos no art. 2 (impreterivelmente) no prazo de sessenta dias contados da data da publicao desta lei.

Art. 2 (...) 2 O Plano Estadual de Parcerias Pblico-Privadas e os projetos, contratos, aditamentos e prorrogaes contratuais a ele vinculados sero (obrigatoriamente) submetidos a consulta pblica.

A locuo verbal que tem como auxiliar o verbo dever, apesar de tambm servir para exprimir obrigatoriedade, no indicada para textos legais, por ser menos direta e concisa e mais sujeita a ambigidades. Assim, por exemplo, no enunciado do art. 207 da Constituio do Estado, no seria recomendvel dizer O poder pblico deve garantir no lugar de O poder pblico garante, nem deve incentivar, valorizar e difundir onde se diz incentivar, valorizar e difundir. Entretanto, h algumas situaes em que o verbo dever parece ser mais adequado. So aquelas em que o comando expresso pelo verbo, sem perder o sentido de obrigatoriedade, apresenta-se, no contexto geral do enunciado, como um requisito a ser necessariamente cumprido para a consecuo de um objetivo mais amplo, explcito ou subentendido no artigo, e geralmente estabelecido como uma faculdade para o destinatrio da norma.Exemplos: Art. ... O recurso dever ser protocolado (e no ser protocolado) no prazo de trs dias contados da data da publicao da deciso. (Apresentar o recurso uma faculdade.) Art. ... Para usufruir dos benefcios concedidos por esta lei, o produtor rural dever cadastrar-se (e no cadastrar-se-) no rgo competente at o dia 30 de janeiro do exerccio fiscal subseqente ao da realizao da transao. (Cadastrar-se uma opo do produtor rural.)

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Sabe-se que a lei sempre imperativa. A imperatividade um trao genrico da lei e informa tanto as normas que estabelecem uma obrigao quanto aquelas que instituem uma faculdade ou uma diretriz. O uso de palavras ou expresses que querem dar nfase a uma obrigao como necessariamente, impreterivelmente ou obrigatoriamente pode ter um efeito indesejado: ao reforar o sentido de obrigatoriedade de um comando, enfraquece o de outro comando que no se exprimiu no mesmo tom enftico.

Uso dos verbos dever e poder O sentido imperativo de um enunciado legal dado, quase sempre, pelo uso do verbo no futuro do presente do indicativo ou no presente do indicativo.Exemplo: Art. 207 O poder pblico garante a todos o pleno exerccio dos direitos culturais, para o que incentivar, valorizar e difundir as manifestaes culturais da comunidade mineira. (Constituio do Estado)

O verbo poder empregado, na maior parte das vezes, para indicar uma faculdade ou uma possibilidade. O fato de exprimir possibilidade no retira do comando o carter imperativo, j que a opo , tambm ela, uma norma.

47Exemplos: Art. 10 (...) 2 O Estado poder legislar sobre matria da competncia privativa da Unio, quando permitido em lei complementar federal. (Constituio do Estado) Art. 53 A Assemblia Legislativa se reunir, em sesso ordinria, na Capital do Estado, independentemente de convocao, de primeiro de fevereiro a dezoito de julho e de primeiro de agosto a vinte de dezembro de cada ano. (...) 4 Por motivo de convenincia pblica e deliberao da maioria de seus membros, poder a Assemblia Legislativa reunir-se, temporariamente, em qualquer cidade do Estado. (Constituio do Estado) aplicado ao reajuste dos valores expressos em reais na Lei Federal n 10.165, de 27 de dezembro de 2000.

Art. 2 Ficam reconhecidos como praticados por motivos polticos, e no por falta de decoro parlamentar, os atos de cassao contidos na resoluo a que se refere o art. 1.

Art. 19 Na hora do incio da reunio, aferida pelo relgio do Plenrio, os membros da Mesa da Assemblia e os demais Deputados ocuparo seus lugares. (Regimento Interno da Assemblia)

Estrangeirismos O uso de termos ou expresses em lngua estrangeira nos textos legais s admitido em casos excepcionalssimos, quando a expresso for de uso consagrado e no tiver correspondente em portugus. Isso ocorre geralmente com alguns termos em latim (caput e causa mortis, por exemplo). No caso de nomenclatura vinculada a inovao tecnolgica, inquestionavelmente difundida, quando no existir na lngua portuguesa termo que a possa substituir, a palavra estrangeira pode tambm ser empregada (por exemplo, internet). Caso seu uso seja inevitvel, a palavra em lngua estrangeira deve ser grafada em itlico ou entre aspas. Coerncia e coeso A idia de coerncia est relacionada, no texto da lei, com o grau de integrao semntica que as normas nela contidas conseguem alcanar. Um texto legal considerado coerente quando possui uma unidade de sentido que favorece sua com-

Singular e plural Na lei, d-se preferncia ao singular, que mais conciso e, na maioria das vezes, tem efeito generalizante, fazendo com que a norma se dirija individualmente a cada um dos integrantes de um universo aberto.Exemplo: Art. ... Ser promovido o servidor que obtiver mais de 60% (sessenta por cento) dos pontos distribudos em avaliao de desempenho.

A forma plural mais sujeita a ambigidade e impreciso, mas pode mostrar-se recomendvel quando a norma tem uma aplicao concreta dentro de um universo definido de destinatrios (uma classe, um segmento, um grupo).Exemplos: Art. 7 (...) 1 Os valores constantes nesta lei, inclusive em seu Anexo III, sero reajustados na mesma data e pelo mesmo ndice

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48preenso, a aceitao de sua lgica e sua aplicao, fazendo reduzir o risco de interpretaes divergentes e contraditrias. sobretudo nas relaes entre os preceitos que a coerncia do texto legal se estabelece, tanto internamente, entre os dispositivos da prpria lei, quanto externamente, na integrao deles com os vrios elementos, normativos ou no, que compem a linguagem e o ordenamento jurdicos: os preceitos contidos em outras leis; os princpios do direito; as frmulas e os conceitos de uso comum entre os intrpretes, que tornam possvel a comunicao e o entendimento entre eles. Pode-se apontar como condies para a coerncia de um texto legal: a) o rigor na adoo de critrios, de categorias e de termos normativos (por exemplo, deve-se reconhecer com clareza em uma lei o que nela se concebe como princpio, diretriz, objetivo, ao, etc.);Exemplos: Art. 4 No planejamento e na execuo de aes na rea da cultura, sero observados os seguintes princpios: I o respeito liberdade de criao de bens culturais e sua livre divulgao; II o respeito concepo filosfica ou convico poltica expressa em bem ou evento cultural; III a valorizao dos bens culturais como expresso da diversidade sociocultural do Estado; IV o estmulo sociedade para a criao, produo, preservao e divulgao de bens culturais, bem como para a realizao de manifestaes culturais; (Projeto de Lei n 2.015/94 - Lei n 11.726, de 1994) I recuperar e expandir a cultura do algodo no Estado, com vistas a suprir a demanda da indstria mineira e a gerar excedentes exportveis; II estimular investimentos pblicos e privados para o desenvolvimento sustentado da atividade; III gerar oportunidades de emprego e aumento de renda nas regies produtoras. Art. 3 A poltica estadual de desenvolvimento sustentado da cadeia produtiva do algodo observar as seguintes diretrize s: I integrao das aes pblicas e privadas para o setor; II busca do aumento da produtividade e da melhoria da qualidade do algodo produzido no Estado; III criao de um programa de incentivo fiscal que leve em conta, principalmente, a produtividade, a qualidade e os aspectos ambientais da cultura do algodo; IV estmulo adoo da cotonicultura pela agricultura familiar; (...) Art. 4 Compete ao Poder Executivo, na administrao e na gerncia dos programas criados para efetivao da poltica de que trata esta lei: (aes) I promover a articulao dos setores envolvidos na cadeia produtiva do algodo; II destinar recursos para a melhoria tecnolgica do algodo produzido no Estado; III prestar assistncia tcnica aos agricultores, no que se refere sua organizao e capacitao para a produo e aos aspectos gerenciais e de comercializao; (Projeto de Lei n 2.392/2002 - Lei n 14.559, de 2002)

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Art. 2 So objetivos da poltica de que trata esta lei:

b) a compatibilidade jurdica entre os preceitos institudos na lei e entre eles e

49os preceitos de outras leis de hierarquia superior; c) o equilbrio no grau de detalhamento dos temas; d) a articulao lgica, em cada artigo, entre o disposto no caput e o disposto nos pargrafos, o que envolve: - a compatibilidade jurdica entre os dispositivos; - a afinidade e a integrao semntica entre eles: o contedo do pargrafo (o seu comando) deve ser uma extenso, uma especificao ou uma ressalva da idia contida no caput.Exemplos: Art. 48 A construo considerada habitvel ser ligada rede coletora de esgoto sanitrio. 1 Quando no houver rede coletora de esgoto sanitrio, o rgo prestador do servio indicar as medidas tcnicas adequadas soluo do problema. (ressalva) (Projeto de Lei n 48/99 - Lei n 13.317, de 1999) Art. 40 No podero obter concesso de terra devoluta: cada um dos tributos arrecadados, os recursos recebidos e os transferidos sob forma de convnio, os valores de origem tributria entregues e a entregar e a expresso numrica dos critrios de rateio. Pargrafo nico Os dados divulgados pelo Estado sero discriminados por Municpio. (complemento de norma contida no caput) (Constituio do Estado)

II o Vice-Governador e os Secretrios de Estado; III os Diretores de rgo da administrao direta e de entidades da administrao indireta; (...) Pargrafo nico A vedao de que trata este artigo se estende aos parentes consangneos ou afins, at o 2 grau, das pessoas mencionadas nos incisos do caput deste artigo. (ampliao de comando do caput) (Lei n 9.681, de 1988)

Art. 246 O poder pblico adotar instrumentos para efetivar o direito de todos moradia, em condies dignas, mediante polticas habitacionais que considerem as peculiaridades regionais e garantam a participao da sociedade civil. 1 O direito moradia compreende o acesso aos equipamentos urbanos. (explicao de termo usado no caput) (Constituio do Estado)

Art. 151 O Estado divulgar, no rgo oficial, at o ltimo dia do ms subseqente ao da arrecadao, o montante de

H casos curiosos, em que o vnculo lgico entre o enunciado do caput e o do pargrafo no , pelo menos primeira leitura, evidente. No entanto, uma vez que a ligao formal entre os dois dispositivos estabelecida no texto, uma relao semntica entre eles h de ser construda pelo intrprete. o que se v, por exemplo, no art. 13 da Constituio Federal:

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I o Governador do Estado;

50Art. 13 A lngua portuguesa o idioma oficial da Repblica Federativa do Brasil. 1 So smbolos da Repblica Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. 2 Os Estados, o Distrito Federal e os Municpios podero ter smbolos prprios.

ente que ele designa (no caso de ser um agente pblico ou privado, por exemplo) ou o conceito a que ele se refere (um termo tcnico, por exemplo). Veja-se a Lei n 12.733, de 30/12/97, que trata da concesso de incentivos fiscais para projetos culturais no Estado:Exemplo: Art. 1 Esta lei estabelece normas de incentivo fiscal s pessoas jurdicas que apiem financeiramente a realizao de projeto cultural no Estado. Art. 2 Para os efeitos desta lei, considera-se: I incentivador o contribuinte tributrio ou a pessoa jurdica que apie financeiramente projeto cultural; II empreendedor o promotor de projeto cultural. Pargrafo nico Sero estabelecidos em regulamento os requisitos e as condies exigidos do empreendedor para candidatar-se aos benefcios desta lei.

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A coerncia, como diz respeito lgica normativa, tem uma dimenso dinmica e conceitual que vai muito alm das conexes lineares entre os dispositivos. Entretanto, os mecanismos do texto que fazem a ligao formal entre os dispositivos estruturas sintticas, vocbulos e conectivos tambm colaboram para garantir a coerncia do texto legal como um todo. Esses mecanismos operam no plano da chamada coeso textual e podem ser considerados como marcas da coerncia na superfcie do texto. Eis algumas recomendaes para garantir a coeso no texto legal: a) ordenar logicamente os dispositivos e dar progresso sistemtica aos enunciados; b) fazer meno apenas a entes ou conceitos que j tenham sido determinados, na prpria lei ou em outra. um erro, por exemplo, a meno a rgos que ainda no foram expressamente criados e a referncia a procedimentos ou situaes que ainda no tenham sido estabelecidos, no texto, de forma explcita; c) antes de usar um termo ou expresso que tenha significado especfico no texto em que aparece, indicar o objeto ou

d) usar sempre o mesmo termo para fazer meno ao mesmo conceito ou ente. No devem ser utilizados sinnimos. Quando se opta por usar dois termos diferentes para designar um mesmo ente, isso deve ser explicitado na lei;Exemplo: Art. 1 Fica criado o Fundo Estadual de Desenvolvimento de Transportes Funtrans , com o obje