Manuela Carolino, Naida Romão e Natércia Romão · Manuela Carolino, Naida Romão e Natércia Romão 0 . PROJETO SOBRE AS NOSSAS CASAS ... No quarto havia uma cama feita com paus

PROJETO SOBRE AS NOSSAS CASAS Manuela Carolino, Naida Romão e Natércia Romão

0


1

Índice

Agradecimentos ................................................................................................................... 2

O que pensamos e sabemos sobre as nossas casas? ................................................... 3

O que queremos saber? ..................................................................................................... 5

Como eram as nossas casas? ............................................................................................ 6

Como foram destruídas nossas casas? ............................................................................. 9

Entrevistas ............................................................................................................................. 11

Entrevista à Dra. Armandina Soares ............................................................................ 13

Carta para o Departamento de Educação e Juventude ...................................... 16

Entrevista aos familiares da Manuela, da Naida e da Natércia ............................ 19

As nossas conclusões sobre estas oito entrevistas ................................................. 21

Entrevista à restante comunidade ............................................................................... 28

As nossas conclusões sobre estas entrevistas ......................................................... 29

Fotografias do dia em que nos destruíram as casas! ................................................... 35

Conclusões do nosso projeto ........................................................................................... 42

O que escreveram sobre nós ........................................................................................... 47


2

Agradecimentos

Nós agradecemos a todos aqueles que responderam às nossas entrevistas, em

especial à Dra. Armandina Soares, que nos deixou falar com ela e nos explicou

que não tinha derrubado as nossas casas como nós pensávamos.

Agradecemos à Dra. Madalena Cordeiro e às famílias da turma B que

responderam às nossas perguntas.

Agradecemos à Ilda Alves que entrevistou as nossas famílias na Pensão Barca

Tejo, à Joana que nos tirou fotografias e ao Tiago que fez o trabalho com a Ilda.

Agradecemos à Lígia Vitorino que nos acompanhou no projeto.

Agradecemos à Dra. AMB que nos deu as fotografias que tinha tirado no dia em

que nos derrubaram as casas.

Agradecemos a todos os que nos ajudaram e ainda nos podem ajudar a

encontrar uma casa.


3

O que pensamos e sabemos sobre as nossas casas?

Antes de serem derrubadas nós vivíamos lá. As nossas casas eram brancas e

tinham portas. Umas casas eram feitas com tijolos e outras com areia. Não havia

casas-de-banho, por isso fazíamos xixi no campo.

Quando as casas foram derrubadas estávamos a dormir e bateram à porta para

tirarmos as nossas coisas. Rápido.

Metade das roupas e os fatos ficaram destruídas, as casas e os batons também.


4

Uma casa na Granja


5

O que queremos saber?

Como é que as casas foram destruídas?

Porque é que destruíram as casas?

Porque é que não nos avisaram que iam destruir as nossas casas?

Porquê é que não nos deram novas casas para morar?

Porque é que os nossos pais não voltaram a construir casas com tijolos e areia

noutro sítio?

Porque é que as pessoas que arrombaram as casas não construíram casas para

nós?


6

Como eram as nossas casas?

Algumas casas tinham tijolos, outras eram pintadas e outras eram feitas de terra.

Algumas casas tinham janelas, portas, telhados e chuveiros.

Havia motas e bicicletas.

Também havia um menino chamado Miguel que roubava os brinquedos todos os

às pessoas e deixava os bebés a chorarem. Nós íamos a casa dele pedir-lhe os

brinquedos e ele dizia que não os tinha. A irmã dele também roubava os

brinquedos às crianças.

Algumas pessoas iam à casa da Naida pedir para tomar banho. Nós brincávamos

na Granja.

Houve um dia em que nós estávamos a dormir e a polícia bateu à porta e disse:

- Antes de nós arrombarmos as casas tirem tudo!

As nossas mães acordaram-nos e eu e a Manuela fomos acordar a Débora.

Antes de sairmos da casa da Débora já estavam a derrubar as nossas casas.

E não sei o resto da história.

Natércia Romão


7


As casas tinham telhados, tijolos, cimento, portas, brinquedos, janelas, vestidos,

camas e tínhamos batons.

No quarto havia uma cama feita com paus de ferro para mim e para o meu

irmão. No quarto existiam ratos, uma vez um mordeu-me o dedo enquanto

dormia. E eu gritei!

Manuela Carolino


8


As nossas casas tinham portas e casas-de-banho. As nossas casas eram feitas de

tijolos, tinham telhados e janelas. Lá dentro tinham camas e guarda-fatos nos

quartos, sofás e televisões nas salas, fogão na cozinha. Eu tinha janela na minha

casa-de-banho, no quarto e na cozinha.

A minha família tinha um quintal. Nós tínhamos cavalos e vacas lá em baixo.

Havia árvores e na rua havia ratos e cobras. Havia montes, onde andávamos de

bicicleta.

Nós tínhamos batons e bases para nos pintarmos e brinquedos para brincarmos.

Nós tínhamos roupa e sapatos.

Eu gostava de viver na Granja!

Naida Romão


9

Como foram destruídas nossas casas?

Um polícia bateu-nos à porta, quando estávamos a dormir. As nossas mães

abriram a porta e assustaram-se. As mães saíram de casa com os meninos ao

colo e acordaram os filhos mais velhos.

Os pais falaram com a polícia.

Nós fomos dizer à mãe da Débora que as casas estavam a ser destruídas. E…

quase… que a casa da mãe da Débora caía em cima dela.

As nossas casas foram destruídas por um trator amarelo, com rodas grandes e

com uns bicos afiados e fortes que destruíram as casas. As casas foram destruídas

uma de cada vez. A primeira foi a da Manuela.

Uma senhora que estava a ver começou a rir-se e nós começámos a pensar que

foi ela que mandou deitar as nossas casas abaixo.

As nossas mães choraram muito. Nós sentimo-nos tristes e zangadas.

Depois… veio o autocarro… e levou-nos para uma pensão! O polícia disse que

não podiam entrar lá cães e por isso os nossos cães foram levados para o canil e

morreram.


10

Pensão Barca Tejo, Lisboa

Manuela Carolino


11

Entrevistas

A casa que a Natércia gostaria de ter


12

Carta à Dra. Armandina Soares

Diretora do Agrupamento de Escolas de Vialonga

Granja, 9 de Novembro de 2010

Exma Sra. Dr. Armandina Soares,

Directora Conselho Executivo

do Agrupamento de escolas de Vialonga

Nós somos a Naida, a Natércia e a Manuela e estudamos na Granja. Nós estamos

a fazer um projecto sobre as nossas casas na Granja, onde nós morávamos.

Queremos estudar Porque é que as nossas casas foram destruídas; porque

destruíram as casas; por que não nos avisaram que iam destruir as casas; porque

é que não nos deram casas para morar; porque é que os nossos pais não

voltaram a construir casas com tijolos e areia noutro sítio; porque é que as pessoas

que arrombaram as casas não construíram novas casas para nós.

Nós gostaríamos de fazer uma entrevista a vossa excelência para nos contar o

que sabe.

Com os melhores cumprimentos,

Naida,

Natércia

Manuela


13

Entrevista à Dra. Armandina Soares

Diretora do Agrupamento de Escolas de Vialonga

1º Apresentam-se

1) Porque é que você mandou destruir as nossas casas da Granja? Se a Dra.

Armandina não mandou destruir as casas, quem foi?

Eu não mando destruir casas nenhumas. Eu sou diretora da escola e uma diretora

de uma escola não trata das casas dos alunos.

O dono do terreno onde vocês estavam foi-se queixar ao tribunal e foi o tribunal

que deu ordem para derrubar as vossas casas.

2) Nós precisamos de casas para viver. Porque é que não nos dá outras casas?

Eu não dou casas a ninguém. O que as pessoas têm de fazer é de trabalhar e

para ter um trabalho é preciso estudar. Nós devemos ir sempre à escola e não

faltar. Quando estudamos temos um trabalho, ganhamos dinheiro para pagar a

nossa casa.

3) Porque é que ainda estamos na Barca? Já lá vivemos há três anos. Porquê?

Vocês ainda estão na Pensão porque a Câmara ainda não resolveu a vossa

situação, é a Câmara que decidi quem a quem dá casas e não eu. Eu não

decido, nem dou casas. Vocês sabem que é preciso trabalhar para ter uma casa.


14

4) Não há outra solução sem ser viver na Barca? Na Barca há muitas baratas e

ratos e está muito danificada. A casa-de-banho do irmão da Manuela até já

caiu.

Vocês recebem dinheiro da Segurança Social e com esse dinheiro podem

arranjar a casa-de-banho. Além disso, os vossos pais sabem arranjar casas, não

sabem? Nós arranjamos as casas onde estamos a viver, mesmo que não sejam

nossas. Quando alugamos uma casa é assim!

5) Será que a Dra. Armandina podia alugar casa para nós, enquanto procurava

outra casa para nós vivermos?

(R: Sim. Então Porque é que já não alugou?)

(R: Não. Porquê?)

Eu não vos podia alugar casas, têm de ser vocês a alugar.

6) Porque é que nós vamos deixar de ter camioneta para vir para a escola? Nós

precisamos de ir à escola e para isso precisamos do autocarro.

O autocarro custa 150 euros todos os dias e o país está sem dinheiro, por isso não

é possível ter o autocarro para vos transportar de Lisboa até Vialonga.

7) E o que vão fazer?

Se vocês não vierem para esta escola, têm de ir para outra escola em Lisboa.


15

Interior da Pensão Barca Tejo, Lisboa

Natércia Romão


16

Carta para o Departamento de Educação e Juventude

Câmara de Vila Franca de Xira

Turma B Escola da Granja <[email protected]>[email protected],

data15 de Fevereiro de 2011 15:34

assuntoprojecto sobre as nossas casas- EB1/JI Granja

enviado porgmail.com

Exmo(a) Sr(a)

Departamento de Educação e Juventude

Câmara Municipal de Vila Franca de Xira









que sabe.


Naida,

Natércia

Manuela


17

Entrevista na Câmara de Vila Franca de Xira

Nós gostávamos muito das nossas casas. Gostávamos muito de lá viver. Vivíamos

lá bem.

1) Porque é que mandou destruir as nossas casas?

2) Se mandaram destruir as nossas casas, Porque é que não fizeram lá nada?

3) Porque é que destruíram as nossas casas e não deram outras? E Porque é

que mandaram destruir as casas se viviam lá pessoas?

4) O que é que nós fizemos para derrubarem as nossas casas?

5) Porque é que derrubaram as nossas casas sem avisar? Nós tínhamos tudo

nas casas, nem tivemos tempo para tirar as nossas coisas, colocar as coisas

nos sacos e levar para a Barca.


18

Pensão Barca Tejo

por Natércia Romão


19

Entrevista aos familiares da Manuela, da Naida e da Natércia

1) O que é que nós fizemos para derrubarem as nossas casas?

2) Porque é que mandaram destruir as nossas casas?


4) Porque é que destruíram as nossas casas e não deram outras? E Porque é

que mandaram destruir as casas se viviam lá pessoas?

5) Porque é que derrubaram as nossas casas sem avisar? Nós tínhamos tudo

nas casas, nem tivemos tempo para tirar as nossas coisas, colocar as coisas

nos sacos e levar para a Barca.

6) Porque é que ainda estamos na Barca? Já lá vivemos há três anos. Porquê?

7) Não há outra solução sem ser viver na Barca?

8) Porque é que nós vamos deixar de ter camioneta para vir para a escola?

Nós precisamos de ir à escola e para isso precisamos do autocarro.

9) Nós podíamos alugar casa até encontrarmos outra casa para nós

vivermos?


20

Planta da casa que a Naida gostaria de ter


21

As nossas conclusões sobre estas oito entrevistas

1- O que é que nós fizemos para nos derrubarem as casas?

Nada – 4

O dono do terreno quis vendê-lo – 1

Por causa do lume e do barulho que nós fazíamos – 2

Não sei – 1

Quatro pessoas das nossas famílias pensam que nós não fizemos nada.

Uma pessoa diz que o dono do terreno quis vendê-lo e para isso precisou que nós

saíssemos de lá.

Duas pessoas são da opinião que o lume e o barulho que fazíamos fez com que

tivéssemos de sair.

2 – Porque é que mandaram destruir as nossas casas?

A segurança social não queria que estivessem nas barracas – 1

Por causa da miséria das casas – 1

Porque recebemos uma carta do tribunal – 3

Não sei – 1

Porque quiseram vender o terreno – 1

Porque nós fazíamos lume – 1

Uma pessoa não sabe a resposta. Outra pessoa acha que mandaram destruir as

nossas casas porque nós fazíamos lume; outra diz que foi por causa da miséria

das casas e outra acha que o dono do terreno quer vender o terreno.

Três pessoas contam que foi o tribunal que mandou destruir as nossas casas.


22

A casa que a Natércia gostaria de ter


23

3 – Se mandaram destruir as nossas casas porque é que não fizeram lá nada?

Não quiseram fazer lá nada – 1

Não sei – 2

Não precisam do terreno – 1

Talvez tenham vendido a outras pessoas – 1

Nós fazíamos muito barulho – 1

Para nos tirar de lá – 1

Uma pessoa diz que foi para nos tirar de lá e outra conta que foi por causa do

barulho.

Uma é da opinião que não fazem lá nada porque não querem e outra diz que não

precisam do terreno.

Duas pessoas que entrevistámos não souberam responder.

Nós sentimos saudades das nossas casas e que estávamos lá bem. Podíamos ir à

escola sozinha.

Na Barca é muito perigoso, há muitos carros a passar. Na Granja é mais seguro.

Se estivéssemos na Granja podíamos ir para a escola a pé.

4 – Porque é que destruíram as nossas casas e não nos deram outras? E porque é

que mandaram destruir as nossas casas se viviam lá pessoas?

Não querem dar casas – 1

Não sei porque é que mandaram destruir as nossas casas – 4

A segurança social não quer dar casas – 1

A Câmara devia ter dado casas a toda a gente – 2

Por racismo – 1

Uma pessoa diz que não nos querem dar casas; quatro pessoas não sabem

porque é que mandaram destruir as nossas casas.

Uma pessoa diz que é a Segurança Social que não quer dar casas e duas pessoas

dizem que é a Câmara. Uma pessoa acrescentou que é por racismo.


24

5 – Porque é que derrubaram as nossas casas sem avisar? Nós tínhamos tudo nas

casas e nem tivemos tempo para tirar as nossas coisas, colocar as coisas nos

sacos e levar para a Barca?

Foi às 7 horas da manhã, nós estávamos a dormir, bateram à porta e alguns até

vieram para a rua em pijama – 5

Recebemos cartas do tribunal – 1

Porque a polícia mandou destruir as nossas casas – 1

Cinco pessoas contaram que no dia em que nos derrubaram as casas chegaram

lá às 7 horas da manhã, nós estávamos a dormir, bateram à porta e alguns até

vieram para a rua em pijama. Uma pessoa diz que recebemos cartas do tribunal

e uma pessoa pensa que foi a polícia que mandou destruir as nossas casas.

6 – Porque é que ainda vivemos na Barca? Vivemos lá há três anos?

Porque a Segurança Social não quer dar casas – 1

Porque ainda não deram casas – 4

Não temos dinheiro para alugar casas e nem alugam casas a ciganos – 1

Porque não temos para onde ir – 1

Ninguém nos disse nada durante este tempo – 1

Continuamos à espera de casas – 4

Quatro pessoas dizem que ainda não nos deram casas e outras quatro contam

que ainda estamos à espera de casas. Uma pessoa diz que a Segurança Social

não quer dar casas, outra diz que não temos dinheiro para alugar casas e que

não alugam casas a ciganos e uma diz que não temos para onde ir.


25

Uma casa na Granja

por Natércia Romão


26

7 - Não há outra solução sem ser viver na Barca?

Não, porque não temos outro sítio para dormir – 8

Oito pessoas pensam que não há outra solução sem ser viver na Pensão Barca

Tejo porque não temos outro sítio para dormir.

8 - Porque é que nós vamos deixar de ter camioneta para vir para a escola? Nós

precisamos de ir à escola e para isso precisamos do autocarro.

Porque a Segurança Social não quer dar casas, nem camioneta – 1

Porque a Segurança Social não quer pagar – 1

Se o autocarro era assim tão caro deviam ter dado logo casas – 1

Porque a Segurança Social diz que não há dinheiro – 5

Cinco pessoas contaram que a Segurança Social não tem dinheiro para pagar o

nosso autocarro, mas outra pessoa acha que não quer dar casas, nem

camioneta, não quer pagar.

Outra pessoa ainda pensa que deviam ter dado logo casas, porque o autocarro

era muito carro.


27

9 - Nós podíamos alugar casa até encontrarmos outra casa para nós vivermos?

Não, porque não temos dinheiro para pagar a renda – 6

Não, porque ninguém aluga casas a ciganos -3

Não sei – 1

Seis pessoas afirmam que as nossas famílias não têm dinheiro para pagar a renda

e três dizem que ninguém aluga casas a ciganos.

Uma pessoa não sabe.

Uma casa na Granja, por Naida Romão


28

Entrevista à restante comunidade

(em especial aos pais dos meninos da turma B)

Granja, 7 de Dezembro de 2010

Olá!









que sabe.

1) Conheciam as nossas casas?

2) Antes de estarem lá as nossas casas, o que lá existia?

3) Sabem, porque é que mandaram destruir as nossas casas?


5) Porque é que destruíram as nossas casas e não deram outras?

6) E Porque é que mandaram destruir as casas se viviam lá pessoas?

7) Sabiam que nós já vivemos na pensão da Barca há três anos. Sabem

porquê?


29

As nossas conclusões sobre estas entrevistas

Nós fizemos entrevistas aos pais dos meninos da nossa turma.

Três famílias não conseguiram responder. Quatro famílias vivem na Granja há

pouco tempo e por isso não sabem nada sobre a nossa história e nada sobre as

nossas casas.

Após as entrevistas analisámos todas as respostas.

1) Conheciam as nossas casas?

Sim – 5 pessoas

Não conheciam – 1 pessoa

Não sabem nada – 5 pessoas

Não responderam – 3 pessoas

Há cinco famílias que conheciam as nossas casas e seis famílias que não

conheciam.

2) Antes de estarem lá as nossas casas, o que lá exisitia?

Fábrica – 4 pessoas

Armazéns – 1 pessoa

Terreno vazio – 1 pessoa

Não sabemos – 5 pessoas


Antes de nós estarmos lá existia uma fábrica que deixou de funcionar. No mesmo

sítio nós construímos barracas.

3) Sabem porque é que mandaram destruir as nossas casas?


30

O terreno não era vosso – 5 pessoas



O terreno onde estavam as nossas casas não era nosso e por isso mandaram

destruir as nossas casas.

4) Se mandaram destruir as nossas casas, porque é que não fizeram lá nada?

O dono ainda não teve dinheiro para arranjar o que está destruído – 1 pessoa

Os terrenos têm donos e só eles podem decidir o que fazem ao terreno – 3

pessoas

O dono ainda não vendeu o terreno – 1 pessoa

É injusto, porque o terreno não está a ser utilizado – 1 pessoa



Existe um terreno que não está a ser utilizado, mas são os donos que decidem o

que fazer com os terrenos.

Alguns vendem-nos, outros plantam legumes e outros ainda constroem casas.


31

A casa que a Manuela gostaria de ter

5) Porque é que destruíram as nossas casas e não nos deram outras?

Os nossos pais devem trabalhar e receber um ordenado – 3 pessoas

Os nossos pais deviam comprar um terreno – 1 pessoa

Foi injusto – 1

Não sabemos, mas gostávamos que vos dessem uma casa ao pé de nós – 1

pessoa



Uma família gostava que nós morássemos ao pé dela. Outra pessoa pensa que foi

injusto o que nos aconteceu, porque se calhar sabe que a Câmara Municipal de

Vila Franca de Xira prometeu dar casas e passados quase três anos ainda não fez

nada.

Três pessoas são da opinião que os nossos pais deviam trabalhar e ter um

ordenado ao final do mês.


32

Os nossos pais trabalham muito na feira, mas é provável que o dinheiro não

chega para comprar um terreno e uma casa.

6) Porque é que mandaram destruir as nossas casas se viviam lá pessoas?

O dono queixou-se e o tribunal mandou destruir as casas, porque nós não saímos

– 1 pessoa

O terreno não era nosso – 1 pessoa



As nossas casas foram destruídas porque estavam construídas num terreno que

não era nosso.

No dia em que eles destruíram as casas nós ainda estávamos lá a viver porque

não saímos antes. Ainda estávamos a arrumar as coisas.

7) Sabiam que nós já vivemos na pensão da Barca há quase três anos? Sabem

porquê?

Porque a Dra. Armandina não tinha casa para vocês e tiveram de ir para a barca

– 1 pessoa

Porque continuam à espera que alguém vos desse uma casa, em vez de irem

trabalhar como toda a gente – 3 pessoas



Três pessoas pensam que nós ainda estamos à espera de uma casa.

Nós já tentámos alugar uma casa, mas não sabemos se alguém nos aluga uma

casa. Há três anos nós tentámos alugar uma casa para nós e ninguém nos quis

alugar uma casa.


33

O quarto que a Natércia Romão gostaria de ter


34

Outras conclusões

Na nossa opinião todas as pessoas deviam saber do nosso problema. Se todos

soubessem dos problemas dos outros talvez pudessem ajudar.

Talvez as pessoas consigam só preocupar-se com os seus problemas, que já são

muitos e não consigam ajudar e saber dos problemas dos outros todos.

Os nossos familiares ajudam pessoas da família e os vizinhos, mas não

conseguem ajudar os outros que possam também ter problemas. Se calhar todos

fazem assim. Ajudam aquelas pessoas que são da família e, por isso, já não

conseguem ajudar mais ninguém.

O avô Francisco ajuda sempre quando há brigas.

O tio da Natércia pediu ajuda ao pai dela para carregar a carrinha para a venda.

Quando o avô da Natércia estava a morrer no hospital, os tios e os pais iam lá

todos os dias vê-lo.

Estas ajudas acontecem nas outras famílias também.


35

Fotografias do dia em que nos destruíram as casas! Cedidas por AMB

A Dra. Armandina Soares com a tia Piedade e a Marisa, mãe do José Silva.

Tinha a Laura no colo.

Nós já temos pena das nossas casas.

15/2/2011


36

A prima Mara, mãe do Tony com os agentes da GNR.

A Paula, com 3 anos. Filha da Miriam e do Chico.

Ao fundo nós brincávamos. Subíamos e descíamos para as nossas casas. Era

como se fossem escadas. Adorávamos brincar aqui.


37

Uma família arrumou as coisas todas para ir embora. Enrolámos tudo o que

tínhamos em lençóis e sacos de plástico para ir para a Pensão Barca Tejo.

Da frente para trás e da esquerda para a direita


38

Miguel Carolino, Natércia Romão, Bruna Romão, António, Raquel carolino (irmã do

Miguel) e a Andreia Romão (irmã da Natércia).

A família do tio Adelino estava triste porque iam derrubar as casas!


39

Todos queriam ver as nossas casas a ser derrubadas e nós só pensávamos que

íamos viver para a rua.

Quando era o aniversário da Manuela ou do Samuel nós íamos lá cantar os

parabéns! Nesta casa vivia a Manuela, o Samuel, o Lisandro e os pais da

Manuela. O pai da Manuela fez uma casa para o Ricardo.

Havia uma vida dentro destas casas!

Nós não queríamos sair de lá!


40

O António e o Lisandro a brincar. O Lisandro ainda estudava na escola onde nós

agora estudamos. Agora estuda na sede do agrupamento e adora ler!

É o menino do 6º ano que mais requisita livros na biblioteca da escola!


41

Os pais da Manuela estão a conversar e o Lisandro estava a brincar com o

António.


42

Conclusões do nosso projeto

Nós queremos casas para viver!

Numa casa…

Numa casa nós pagamos água, luz e gás.

Numa casa nossa, nós brincamos, arrumamos as nossas coisas, comemos as

refeições a horas certas.

Na nossa casa nós estamos à vontade.

Na Pensão nós não fazemos as nossas camas e não temos privacidade, não

estamos à vontade.

Na escola…

Na escola aprendemos outra forma de falar, de estar, de dançar, de cantar.

Na escola nós aprendemos tudo, tiramos um curso e escolhemos uma profissão, o

que queremos ser quando formos grandes.

A Naida quer ser professora para escrever no quadro, a Natércia quer ser

professora ou dona de um café e a Manuela quer ser professora de 1º Ciclo,

como a professora Carmen.

Para isso nós precisamos de aprender, de não sair da escola e tirar um curso.

Com um trabalho vamos conseguir ganhar dinheiro, para comprar ou alugar uma

casa, comprar comida e roupa.


43

Para estudar, para aprender, precisamos de ter uma casa para morar!

Glória a Deus, não nos tiraram o resto do sorriso!

Com casas seremos felizes!

Com casas vínhamos sempre à escola.

Com casas nós somos olhados com respeito.

Os nossos pais não tiveram oportunidade de estar na escola!

Nós queremos estar na escola!

Nós gostamos da escola!


44

Pedidos e divulgação do projeto


45

Carta à Dra. AMB,

Granja, 9 de Novembro de 2010

Exma Sra. Dra. AMB,








A nossa professora Cármen contou-nos que você tinha fotografias das nossas

casas que foram destruídas em 2008. Será que nos pode ajudar e enviar as

fotografias?


Naida, Natércia e Manuela


46

Granja,15 de Abril de 2011

Carta que enviamos para divulgar o nosso projeto

Exmo(a)

Nós somos a Naida, a Natércia e a Manuela e estamos a fazer um projeto sobre

as nossas casas na Escola da Granja, no Agrupamento de Escolas de Vialonga.

Nós estamos a viver um problema muito grave, porque as nossas casas foram

derrubadas há três anos. Desde então vivemos numa pensão e em Junho vamos

ser obrigadas a sair desta pensão (onde nós não gostamos de estar) e vamos

viver para a rua.

Nesta situação estão 29 crianças e jovens, ao todo dez famílias.

Gostaríamos que lesse o nosso projeto e nos ajudasse a encontrar uma solução

para o nosso problema.

Nós já pensámos nalgumas soluções:

1) Podíamos alugar casas se forem muito baratas, mas quando tentamos alugar

não conseguimos, porque somos ciganos e os donos de casas parecem-nos ser

racistas.

2) Os nossos pais podiam ir trabalhar, sem ser nas feiras, mas os nossos pais não

foram à escola durante muito tempo e por isso só sabem vender na feira. Mesmo

quando tentamos arranjar trabalho, dizem sempre que não há trabalho, porque

somos ciganos e parece-nos que isso é uma atitude racista.

Nós as três queremos estudar para aprender a ser professoras e para isso

precisamos de trabalhar muito e de imitar a professora Carmen. Para que isto

aconteça precisamos de uma casa para vivemos com a família.

Ficamos à espera da sua resposta.


Naida, Natércia e Manuela


47

O que escreveram sobre nós

Direitos da criança por cumprir

20.11.08

Demolições

As Nações Unidas aprovaram a 20 de Novembro de 1989 a Convenção sobre os

Direitos da Criança. Infelizmente quantos direitos estão por cumprir!

fotos:AMB

http://inquietacaopedagogica.blogspot.com/

http://pascalpaulus.wordpress.com/2011/01/22/projectos-comunitarios-na-escola/


48

Projectos comunitários na escola

(…)

Um projecto de turma com meninas ciganas que vivem desde há três anos numa

pensão porque as casas delas foram derrocadas e desde então vivem num

impasse acerca do seu realojamento. A sua própria história de vida está a ser

fixada, através de entrevistas com pais (delas e de colegas da turma) que

viveram este período, com a directora da escola que saiu em sua defesa, e que

está a constituir um livro;

(…)




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Manuela Carolino, Naida Romão e Natércia Romão · Manuela Carolino, Naida Romão e Natércia Romão 0 . PROJETO SOBRE AS NOSSAS CASAS ... No quarto havia uma cama feita com paus