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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ MARCELO TREVISAN KARPINSKI FORMAÇÃO DO OFICIAL DA POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ CURITIBA 2013

Marcelo Trevisan Karpinski

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Text of Marcelo Trevisan Karpinski

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN

    MARCELO TREVISAN KARPINSKI

    FORMAO DO OFICIAL DA POLCIA MILITAR DO PARAN

    CURITIBA 2013

  • MARCELO TREVISAN KARPINSKI

    FORMAO DO OFICIAL DA POLCIA MILITAR DO PARAN

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao, rea de Concentrao em Cognio, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano, Setor de Educao, Universidade Federal do Paran, como parte das exigncias para a obteno do Ttulo de Mestre em Educao. Orientadora: Prof. Dr. Clara Brener Mindal

    CURITIBA 2013

  • Aos meus pais, Edmundo e Carmelina, por tudo o que hoje sou;

    Aos meus melhores amigos, meu irmo, Marcos, e minha irm, Elisandra; minha Alma Gmea,

    minha esposa, Daniele Cristina; E nossa Famlia, motivo para viver.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus. minha Famlia. Prof. Dr. Clara Brener Mindal, minha Orientadora, por compartilhar sua sabedoria, humildade e o seu mais precioso bem nesta existncia: Tempo. Ao Prof. Me. Luciano Blasius, Doutorando em Educao, Ser Lmpido. Aos componentes da Banca: Prof. Dr. Ettine Gurios, Prof. Dr.Joana Paulin Romanowski e o Prof. Dr. Ronilson de Souza Luiz. s Professoras e Professores da UFPR. Aos profissionais de todas as reas de atuao da UFPR. A todos os pesquisadores que pude conhecer, por meio de seus escritos, durante a realizao deste trabalho. A todos que de alguma maneira contriburam para o desenvolvimento desta pesquisa de Mestrado.

  • Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para no se tornar tambm um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para voc.

    Friedrich Nietzsche.

  • RESUMO

    O presente estudo tem seu foco na formao do oficial de Polcia Militar. As questes norteadoras da pesquisa consistem em descrever como feita a formao do oficial de polcia militar do Paran, e investigar o que dizem as teses e dissertaes produzidas nos programas de ps-graduao brasileiros entre 1988 e 2011 sobre a formao dos oficiais de Polcia Militar no Brasil. Com o processo de redemocratizao do Brasil, que tem seu primeiro grande marco em 1988, ano da promulgao da nova Constituio da Repblica Federativa do Brasil, ainda vigente, as Polcias Militares passaram a buscar uma nova identidade profissional por meio da formao adequada de seus membros. Assim, o objetivo da pesquisa aprofundar o conhecimento sobre a formao atual dos oficiais de Polcia Militar, as propostas de formao, e as discusses acadmicas que envolvem esse tema. Os objetivos especficos so: conhecer a histria das polcias militares; descrever como feita a formao do oficial de Polcia Militar no Paran; Levantar a legislao que regula a formao atual do Oficial no Paran; descrever a Doutrina de formao utilizada na APMG; conhecer a proposta da Matriz Curricular Nacional Para Aes Formativas dos Profissionais da rea de Segurana Pblica; descrever e analisar o que dizem as teses e dissertaes produzidas no Brasil sobre formao do Oficial de Policial Militar. A metodologia desta pesquisa, que de natureza terico-descritiva, realizou-se por meio de documentos oficiais, literatura cientfica disponvel e do estudo das produes acadmicas no perodo citado. Para o acesso (ao material de pesquisa) as produes acadmicas utilizou-se o Banco de Teses da CAPES. Como resultados destacam-se: a pouca pesquisa desenvolvida sobre o tema e, consequentemente, o desconhecimento acadmico em relao figura do oficial de Polcia Militar como formador; o quo pouco difundida a Matriz Curricular Nacional Para Aes Formativas dos Profissionais da rea de Segurana Pblica (2003); o modelo tradicional de acordo com o qual feita a formao do oficial de Polcia Militar. Mesmo assim concluiu-se que, desde o ano de 1988 at 2011, ocorreram melhorias significativas na formao do oficial de Polcia Militar, inclusive com a entrada de policiais militares nos cursos de ps-graduao acadmicos (mestrado e doutorado), no obstante ainda predominar o processo de formao endgeno e tradicionalista nas academias de Polcia Militar.

    Palavras-chave: Formao do Oficial Policial Militar. Formao de Oficiais. Polcia-Militar. Segurana Pblica.

  • ABSTRACT

    This study focuses on the education of the Brazilian Military Police officer. The main idea of this research consists of describing the Military Officers graduation course in Parana State, and what is stated in theses and dissertations of Brazilian post-graduates between 1988 and 2011, the subject being the professional education of Brazilian Military Police officers. With the process of re-democratization in Brazil, which had its first major mark in 1988 (the year of the proclamation of the new Constitution of the Federative Republic of Brazil), the still active Military Police began to seek new professional identities through suitable training of its officers. So, the goal of this research is to deepen the knowledge of current training of Military Police officers, training ideas and proposals, and academic disscusions involving this subject. Specific goals include: to understand the history of military police organizations; to describe how a Paran Military Police officer is trained; to bring to the table the legislation that regulates current training of a Paran officer; to describe the the training doctrine utilized by APMG; to understand the proposal of the National Curriculum Headquarters for the Training of Public Security Professionals (Matriz Curricular Nacional Para Aes Formativas dos Profissionais da rea de Segurana Pblica); to describe and analyze what is stated in Brazilian theses and dissertations covering the training of Military Police officers. The methodology of this research, which is of theoretical and descriptive nature, was based on official documents available scientific papers, and on the study of the cited academic works in the above mentioned period the CAPES Theses Bank was used for access to research material and academic papers. Highlighted results: little research has been conducted on this subject and, consequently, it forms academic ignorance in relation to the of image of the Military Police trainer; just how little widespread the National Curriculum Headquarters for the Training of Public Security Professionals (2003) actually is; the traditional models used in training Military Police officers. Nevertheless, the conclusion is that from 1988 to 2011 significant improvements were made in the training of Military Police officers, including the entrance of officers in post-graduate education courses (Masters and Doctorate), despite the predominant endogenous and traditional training models present in the Military Police academies.

    Key Words: Education of Military Police Officer. Officer Education. Military Police. Public Security.

  • LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 PIRMIDE HIERRQUICA DA PMPR ................................................. 32

  • LISTA DE QUADROS

    QUADRO 1 ROTINA BSICA DO CADETE DA ESCOLA DE OFICIAIS DA APMG

    ................................................................................................................................. 31

    QUADRO 2 - ESPECIFICIDADES DA EDUCAO MILITAR

    COMPARATIVAMENTE COM A EDUCAO PROFISSIONAL DE NVEL

    TCNICO DO MEC .................................................................................................. 35

    QUADRO 3 - A SUBORDINAO DE CADA RGO E AS ATIVIDADES

    RESUMIDAS QUE DESENVOLVEM ....................................................................... 49

    QUADRO 4 - TCNICAS DE ENSINO SUGERIDAS PELA MATRIZ CURRICULAR

    NACIONAL ............................................................................................................... 53

    QUADRO 5 PARADIGMA MILITARISTA .............................................................. 56

    QUADRO 6 TEMAS ABORDADOS NAS PESQUISAS ANALISADAS ................. 67

    QUADRO 7 METODOLOGIAS UTILIZADAS NAS PESQUISAS ANALISADAS ... 68

    QUADRO 8 OBJETIVOS A SEREM ATINGIDOS NAS PESQUISAS ANALISADAS

    ................................................................................................................................. 68

    QUADRO 9 GRAU ACADMICO, ESTADO, UNIVERSIDADE E ANO EM QUE

    FOI PRODUZIDA A PESQUISA ............................................................................... 69

    QUADRO 10 - AVANOS NA FORMAO DO OFICIAL DE POLCIA MILITAR

    QUE DEVEM SER MANTIDOS E APRIMORADOS NOS CURSOS ........................ 70

    QUADRO 11 - ASPECTOS NA FORMAO DO OFICIAL DE POLCIA MILITAR

    OS QUAIS DEVEM SER REFORMULADOS OU EXCLUDOS DOS CURSOS ...... 72

  • LISTA DE SIGLAS

    APMBB Academia Policial Militar do Barro Branco

    APMCV Academia de Polcia Militar Costa Verde

    APMG Academia Policial Militar do Guatup

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CBO Classificao Brasileira de Ocupaes

    CFO Curso de Formao de Oficiais

    EB Exrcito Brasileiro

    EsO Escola de Oficiais

    ESuSeP Escola Superior de Segurana Pblica

    IGPM Inspetoria Geral das Polcias Militares

    LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional

    NOTARA Normas Tcnicas para Avaliao da Aprendizagem

    PBUFAF Princpios Bsicos de Uso da Fora e Armas de Fogo

    PMMG Polcia Militar de Minas Gerais

    PMMT Polcia Militar do Mato Grosso

    PMPR Polcia Militar do Paran

    PUC-SP Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo

    RNED Rede Nacional de Educao Distncia

    SENASP Secretaria Nacional de Segurana Pblica

    SIEVAP Sistema Integrado de Valorizao Profissional

    SUSP Sistema nico de Segurana Pblica

    UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

    UFPR Universidade Federal do Paran

    UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

    UNIVALI Universidade do Vale do Itaja

  • SUMRIO

    1 INTRODUO.................................................................................................. 14

    1.1 MOTIVAO PARA PESQUISA.................................................................... 14

    1.2 PROBLEMATIZAO.................................................................................... 16

    1.3. OBJETIVOS.................................................................................................. 18

    1.3.1 Objetivo geral.............................................................................................. 18

    1.3.2 Objetivos especficos.................................................................................. 18

    1.4 JUSTIFICATIVA............................................................................................. 18

    2 POLICIAIS MILITARES NO CONTEXTO BRASILEIRO E PARANAENSE.... 21

    2.1 POLCIA, MILITAR E POLICIAL-MILITAR..................................................... 21

    2.1.1 Militares brasileiros...................................................................................... 24

    2.2 POLCIA MILITAR DO ESTADO DO PARAN.............................................. 25

    3 A FORMAO DO POLICIAL MILITAR DO ESTADO DO PARAN............. 27

    3.1 LEGISLAO E DOCUMENTOS SOBRE FORMAO NA PMPR............. 34

    3.1.1 Portaria de Ensino da PMPR...................................................................... 36

    3.1.2 Norma Tcnicas para Avaliao de Rendimento e da Aprendizagem........ 37

    3.1.3 Plano de curso............................................................................................ 38

    3.1.4 Plano de matria......................................................................................... 38

    4 A PROPOSTA DA MATRIZ CURRICULAR NACIONAL PARA AES

    FORMATIVAS DOS PROFISSIONAIS DA REA DE SEGURANA

    PBLICA.............................................................................................................

    40

    4.1 MATRIZ CURRICULAR NACIONAL ROMPENDO COM O PASSADO........ 46

    4.2 OBJETIVOS DA MATRIZ CURRICULAR NACIONAL .................................. 48

    4.3 COMPETNCIAS DA MATRIZ CURRICULAR NACIONAL.......................... 48

    4.4 ORIENTAES TERICO-METODOLGICAS........................................... 51

    4.5 SISTEMA DE AVALIAO DA APRENDIZAGEM E O PROCESSO DE

    EDUCAO CONTINUADA................................................................................

    53

    4.6 MALHA CURRICULAR NACIONAL PARA AES FORMATIVAS DOS

    PROFISSIONAIS DA REA DE SEGURANA PBLICA..................................

    54

    4.7 COMPONENTE DO PARADIGMA MILITARISTA QUE A MATRIZ BUSCA

    ROMPER..............................................................................................................

    55

    5 METODOLOGIA............................................................................................... 57

  • 5.1 SELEO DAS TESES E DISSERTAES E PROCEDIMENTO DE

    ANLISE..............................................................................................................

    57

    5.2 SELEO E ANLISE DOS DADOS COLETADOS..................................... 59

    6 CONCLUSES................................................................................................. 74

    REFERNCIAS.................................................................................................... 80

    APNDICES ...................................................................................................... 84

    ANEXOS............................................................................................................. 91

  • 14

    1 INTRODUO

    1.1 MOTIVAO PARA A PESQUISA

    Dado o carter peculiar e, s vezes, idiossincrtico desta pesquisa, importa

    que o pesquisador se apresente para que haja assim a necessria contextualizao

    do objeto pesquisado, admitido aqui como sui generis ainda que no indito no

    meio acadmico educacional, vez que trata de uma Educao especfica, a saber, a

    de Oficial de Polcia Militar.

    Isto posto e sem mais, encetemos. Como policial militar do Estado do

    Paran estou h mais de uma dcada atuando em diversos tipos e modalidades de

    policiamento, bem como na formao de novos policiais militares, fato que, per si,

    instou-me a buscar maior aperfeioamento pessoal e profissional. Depois de

    formado como Oficial de Polcia Militar trabalhei em Batalhes Operacionais da

    Polcia Militar do Paran (PMPR), como Oficial Coordenador de Policiamento, Chefe

    de Setores de Justia e Disciplina. Tambm atuei no Batalho de Trnsito, e no

    Batalho de Guardas e Escoltas, que o Batalho responsvel pela segurana dos

    estabelecimentos prisionais e pela escolta de presos. Na implantao estadual do

    Programa Patrulha Escolar Comunitria, atual Batalho de Patrulha Escolar

    Comunitria, fui membro da Coordenao. No antigo Comando do Policiamento da

    Capital, hoje Primeiro Comando Regional de Polcia Militar, trabalhei na Agncia

    Regional de Inteligncia como Chefe de Operaes.

    Minha experincia como instrutor da Academia Policial Militar do Guatup

    (APMG) iniciou no ano de 2005, ministrando disciplinas tcnicas para policiais

    militares, alunos do curso de formao de soldados. A atividade de instrutor permitiu

    compartilhar experincias, desenvolver relacionamentos e aprofundar

    conhecimentos, tarefas as mais gratificantes. No entanto, nessa poca j tinha

    preocupaes em relao melhor forma de lecionar e preparar os policiais militares

    para a atividade profissional.

    Considero que a formao inicial para a profisso preparou-me para uma

    carreira difcil, de primeira necessidade para sociedade, porm criticada, pouco

    compreendida e desvalorizada. Foi uma formao que percebi como insuficiente

  • 15

    para ascender pessoal e profissionalmente de maneira eficaz. Por meio destas

    constataes entendi que deveria especializar-me, aprender mais sobre a sociedade

    qual iria me dedicar e, paralelamente, tambm sobre a prpria profissionalizao

    das polcias militares.

    Antes mesmo do ingresso na carreira de policial militar eu acreditava que ter

    um propsito para o que fazemos primordial. Para um melhor desempenho como

    Oficial e Instrutor nos cursos da PMPR busquei a formao na rea jurdica,

    graduando-me bacharel em Direito. Cursei ps-graduao latu-sensu em

    administrao pblica, administrao com nfase em segurana pblica, e fiz alguns

    cursos de atualizao que a prpria Corporao proporciona.

    As experincias profissionais, inclusive com a formao de novos policiais,

    proporcionaram-me conhecer as carncias da formao dos policiais militares e a

    questionar-me: qual a melhor maneira de formar o policial militar? Como preparar os

    profissionais para atuarem em um cenrio de violncia, que se apresenta nas mais

    diversas formas e na qual, inclusive, o policial alvo? Como incutir pensamentos

    pacificadores nas mentes de jovens que so bombardeados diariamente, por

    sentimento de impunidade social? Como falar em Direitos Humanos e Polcia

    Comunitria, quando a prpria sociedade age com repulsa aos servios policiais? E

    por fim, como manter os policiais motivados em uma sociedade que os discrimina

    seja pela mdia, que os ridiculariza em suas novelas, os ataca em suas manchetes

    de jornais e lucra com o sistema falido?

    O acima exposto me levou necessria crena que a formao do

    profissional de segurana pblica deve ser contnua, proporcionando o

    aprimoramento constante, mantendo-os prximos dos valores profissionais e dos

    anseios sociais, refletindo sobre a sua atuao, tendo em vista que o cotidiano

    atribulado exige decises imediatas e que no admitem explicaes psteras.

    Em 2009 minhas atividades profissionais voltaram-se exclusivamente para o

    ensino, vez que fui designado a prestar servios na APMG, o que serviu de incentivo

    para estudos em relao qualidade da formao do policial militar. Nessa ocasio

    tomei conhecimento da Matriz Curricular Nacional Para Aes Formativas dos

    Profissionais da rea de Segurana Pblica e, em conversa com outros oficiais

    tambm instrutores da PMPR, pudemos constatar o pouco conhecimento que

    tnhamos desse documento.

  • 16

    A preocupao com a formao dos policiais militares cresce quando

    observamos que h uma mudana significativa no comportamento dos profissionais,

    que quando entram em ao cometem excessos de fora, ou no so proativos

    quando deveriam intervir de imediato, fatores que contribuem para desvalorizao

    das polcias militares. Acresce que h o pouco conhecimento sobre a Matriz

    Curricular Nacional, desconhecimento que no s meu, conforme pude

    amplamente constatar. Conversas com colegas possibilitaram refletir sobre a

    formao e a questionar: qual a melhor maneira de preparar o policial militar?

    A procura pelo Mestrado em Educao foi consequncia dessas reflexes e

    questionamentos. O desejo pessoal de melhorar a formao profissional dos

    policiais militares, e tambm a minha, me levaram a realizar esta pesquisa.

    1.2 PROBLEMATIZAO

    A PMPR, como Instituio preparada para cumprir o papel de defensora da

    cidadania e garantidora dos Direitos Humanos, tem por cento e cinquenta e nove

    anos buscado evoluir e atender as necessidades sociais, com o objetivo de melhor

    servir comunidade.

    O encontro de geraes de policiais militares em atividade profissional,

    propicia a manuteno da tradicional formao, oriunda do Exrcito Brasileiro, que

    baseada em valores de Defesa Nacional, ou seja, de proteo ao Estado e o

    combate a um inimigo personificado em ser humano. Contudo, as mudanas no

    contexto social do Brasil, com a promulgao da Constituio Federal de 1988 e,

    com a conscientizao dos cidados brasileiros de que seus direitos devem ser

    garantidos pelo Estado que sustentam por meio de impostos, e que seus

    representantes eleitos democraticamente so seus governantes, no mais admitem

    a hiptese de serem tratados como aquele inimigo do Estado e sim sabem que

    devem ser protegidos pelas foras de segurana pblica.

    A formao hermtica e endgena dos policiais militares contribui para que o

    processo de adequao profissional nova realidade seja lento. Os militares

    carregam em sua formao profissional traos marcantes de autoritarismo e

    violncia que se perpetuam devido a uma subcultura tcita que perdura nos

  • 17

    aquartelamentos, e com a qual os alunos das escolas de formao tomam contato

    habitualmente.

    Para esta Dissertao delimitamos a pesquisa na formao do oficial de

    Polcia Militar, por ser ele o ator principal na formao de novos policiais militares,

    pois depois de formado o oficial est apto a capacitar os futuros profissionais que

    sero seus subordinados e, posteriormente, sucessores.

    Com base na necessidade de atender ao cidado, rompendo definitivamente

    com o perodo de exceo a que estivemos sujeitos durante a ditadura militar no

    Brasil, novas ideologias esto sendo trabalhadas para que haja a melhor formao

    do militar estadual; entre elas a mais recente a apresentada pela Matriz Curricular

    Nacional para Aes Formativas dos Profissionais da rea de Segurana Pblica,

    lanada em 2003 pela Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP), do

    Ministrio da Justia e, reformulada por meio do programa Matriz Curricular em

    Movimento, no ano de 2005.

    Mesmo com a busca de melhorias na formao do policial militar, ainda

    ocorrem os entraves ditados pela subcultura do autoritarismo, do poder hierrquico

    deturpado e da violncia mascarada. A formao deve preparar o policial militar para

    proteger o cidado, garantir seus direitos e ao mesmo tempo ser firme o suficiente

    para proteger o profissional que forma.

    Neste contexto, a finalidade desta Dissertao contribuir com o

    conhecimento a respeito da formao dos oficias de Polcia Militar, e traz como

    questes norteadoras: como formado o oficial de polcia militar no Paran? O que

    dizem as teses e dissertaes produzidas nos programas de ps-graduao

    brasileiros entre 1988 e 2011 sobre a formao dos oficiais de Polcia Militar no

    Brasil?

  • 18

    1.3 OBJETIVOS

    1.3.1 Objetivo geral

    Aprofundar o conhecimento sobre a formao atual dos oficiais de Polcia

    Militar, sobre as propostas de formao e sobre as discusses acadmicas que

    envolvem esse tema.

    1.3.2 Objetivos especficos

    Conhecer a histria das Polcias Militares;

    Descrever como feita a Formao do Oficial de Polcia Militar no

    Paran;

    Inventariar a legislao que regula a formao atual do Oficial no

    Paran;

    Descrever a Doutrina de formao utilizada na APMG;

    Conhecer a proposta da Matriz Curricular Nacional Para Aes

    Formativas dos Profissionais da rea de Segurana Pblica;

    Descrever e analisar o que dizem as teses e dissertaes produzidas

    no Brasil sobre formao do Oficial de Policial Militar.

    1.4 JUSTIFICATIVA

    Em diversos momentos da histria e em diversos contextos sociais as

    polcias militares desenvolvem um papel especfico. Com o processo de

    redemocratizao do Brasil desde a anistia, mas principalmente a partir de 1988, a

    importncia da Polcia Militar evidencia-se, porm com urgente necessidade de

    mudana no papel a ser desempenhado, afastando-se do antigo modelo ditatorial e

  • 19

    autoritrio. A polcia a servio do Estado deve ser substituda por uma polcia que

    atenda ao cidado, democraticamente, no Estado de Direito em que vive.

    A tarefa do profissional de segurana pblica tornou-se complexa, o inimigo

    personificado no indivduo que hipoteticamente violaria o territrio do Pas, para

    tomar o poder, hoje conhecido como crime, elemento social abstrato, que se

    apresenta em variadas formas, geralmente oriundo de problemticas sociais no

    resolvidas pelo prprio Estado.

    Segundo a Matriz Curricular Nacional (2009, p. 1), cada vez mais

    necessrio pensar a intencionalidade das aes formativas, pois o investimento no

    capital humano e a valorizao profissional se tornam imprescindveis ..., isso por

    si s j justificaria o estudo da formao do oficial de Polcia Militar, mas ainda

    corrobora com esta ideia a necessidade conhecer plenamente o tema para

    posteriormente dedicarmo-nos tarefa de melhor formar os futuros oficiais de

    Polcia Militar com maior efetividade e eficcia, minimizado o risco de incorrermos

    nos mesmos erros apresentados pela tradio, sempre refratria a mudanas.

    A presente pesquisa est organizada da seguinte maneira: A introduo que

    apresentou breve relato da trajetria do autor na PMPR, as motivaes que

    conduziram a esta pesquisa: as carncias sociais no que tange segurana pblica;

    a atuao dos policiais militares que deveriam proteger o cidado; as indagaes de

    como formar o profissional de segurana pblica para dar atendimento adequado e

    eficaz a esse cidado, e as indagaes de como formar os docentes que capacitam

    os policiais militares.

    O segundo captulo destina-se a definir o policial, o militar e o policial-militar

    contextualizando-o na PMPR. Inicialmente apresenta-se, de maneira sucinta, a e

    Polcia e suas atribuies sociais. Neste mesmo ponto da Dissertao procura-se a

    definio histrica de militar e militarismo, que somados ideia de Polcia, propicia

    compreender a identidade do policial militar. O captulo Encerra-se com a descrio

    sobre a histria da Polcia Militar do Estado do Paran.

    O terceiro captulo descreve como feita a formao do policial militar no

    Estado do Paran, concentra-se na formao do Oficial da PMPR, que ocorre na

    APMG nas dependncias da Escola de Oficiais (EsO), por ser o oficial, inclusive, o

    principal ator na formao dos policiais militares do Paran. Esse ponto da pesquisa

    apresenta, ainda, a legislao de ensino e documentos que so utilizados na PMPR

  • 20

    para todos os cursos de formao, especializao e aperfeioamento dos policiais

    militares.

    O quarto captulo apresenta a Matriz Curricular Nacional Para Aes

    Formativas dos Profissionais da rea de Segurana Pblica, um referencial terico-

    metodolgico elaborado por meio de aes governamentais para a democratizao

    do ensino e da formao dos profissionais de segurana pblica no Pas. O captulo

    ainda descreve brevemente quais foram essas aes, anteriores Matriz Curricular

    Nacional, para propiciar uma formao equilibrada e unificada das foras de

    Segurana Pblica.

    O quinto captulo descreve a metodologia utilizada para responder s

    questes norteadoras: como formado o oficial de polcia militar no Paran? O que

    dizem as teses e dissertaes produzidas nos programas de ps-graduao

    brasileiros entre 1988 e 2011 sobre a formao dos oficiais de Polcia Militar no

    Brasil? Buscou-se a resposta para a primeira questo por meio de documentos

    oficiais e literatura cientfica disponvel. Para responder a segunda questo foi feita

    uma pesquisa no Banco de Teses da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal

    de Nvel Superior (CAPES) cujo contedo propiciou que coletssemos os dados

    para a Dissertao; com os dados organizados e discriminados entre aqueles que

    contribuem para a melhor formao do oficial de Polcia Militar, e aqueles que so

    supostamente adversos formao elaboramos seis quadros, os quais serviram

    para a sntese.

    As concluses so apresentadas no sexto captulo da Dissertao, onde

    ressalta-se os aspectos que precisam ser adequados para a formao do oficial de

    Polcia Militar, tendo como base o estudo das teses e dissertaes elaboradas sobre

    a temtica no perodo compreendido entre 1988 e 2011.

    Depois das referncias bibliogrficas que contriburam para esta

    Dissertao, apresenta-se nos apndices e nos anexos documentos consultados,

    como: plano do curso de bacharelado em segurana pblica 2012 a 2014 e plano de

    disciplina de direitos humanos.

  • 21

    2 POLICIAIS MILITARES NO CONTEXTO BRASILEIRO E PARANAENSE

    2.1 POLCIA, MILITAR E POLICIAL-MILITAR

    Este ponto do estudo tem o escopo de identificar o Policial, o Militar e o

    Policial-Militar, sem buscar aprofundar suas origens e sim conceitu-los. Justifica-se

    tal necessidade observando que o policial-militar um ser hbrido, com formao

    para ser policial e doutrinado por meio da cultura militar. As foras policiais militares

    brasileiras so oriundas do Exrcito Brasileiro e, conforme a Constituio Federal

    Brasileira de 1988, so atualmente suas foras auxiliares e reservas, e seguem o

    mesmo modelo de formao, em vrios estados os mesmos regulamentos,

    observando as doutrinas prprias da caserna. Mas por questo de ordem,

    encetamos por descrever Polcia, suas origens e funes.

    Bayley (2002), um cientista poltico que pesquisou instituies policiais de

    diversos pases por aproximadamente vinte anos, conclui que a Polcia s

    percebida durante eventos dramticos de represso poltica. Ainda que

    concordemos em partes com o autor, nossa experincia profissional mostra que a

    Polcia percebida no s nos eventos polticos, mas tambm quando requisitada

    em assaltos, sequestros, invases, e nos momentos de fragilidade humana, em que

    pese, ser notcia miditica apenas em grandes eventos quando a fora teve que ser

    usada e supostamente em demasia. A Polcia solicitada, lembrada e conhecida

    nos momentos de amargura, marcadamente e, ainda nos valendo das vivncias

    profissionais, podemos aduzir que a Polcia mais bem aceita, ou tolerada, nas

    comunidades pobres, onde o poder institucional estatal no se instalou, o poder

    aquisitivo inexistente e o policial a nica autoridade disponvel. Quando no

    ocorrem violaes ao patrimnio, seja ele pblico ou privado, e quando as elites

    sociais no so perturbadas, a Polcia esquecida, restando o descaso em relao

    ao assunto. Mas hodiernamente esta questo est mudando e o cidado est mais

    preparado, sabedor de seus direitos.

    No obstante, a indiferena com o assunto Polcia tende a acabar,

    inclusive o interesse acadmico mesmo tem sido despertado. Anteriormente, o que

  • 22

    levou ao menor interesse sobre os estudos relacionados Polcia tem explicao

    para Bayley (2002) devido a quatro fatores, a saber:

    a. A polcia raramente desempenha papel importante nos grandes

    eventos histricos. Suas atividades so rotineiras demais;

    b. Policiamento no uma atividade glamorosa, de alto prestgio. Os

    trabalhos so conduzidos por pessoas comuns, difcil associar

    pessoas interessantes ao servio policial;

    c. O policiamento repugnante moralmente. A coero, controle e

    opresso so necessrios, mas no so agradveis;

    d. Aqueles que se propem a estudar a polcia devem estar dispostos a

    enfrentar problemas prticos, como a dificuldade de acesso a dados

    e prpria instituio.

    Para entendermos Polcia temos que interpret-la de acordo com a

    comunidade que recebe seus servios, inclusive observando que normalmente os

    prprios profissionais de segurana pblica pertencem a ela. A estruturao poltica

    e social de cada Estado, a cultura da populao, enfim, como se desenvolveu cada

    unidade mundial, influi nas particularidades da ao policial. Ao analisarmos estes

    contextos veremos que a Polcia a mesma em todos os lugares, porm dotada de

    caractersticas singulares. Compreendamos que Polcia uma instituio pblica,

    legitimada atravs do Governo para em nome da coletividade manter a ordem

    pblica e, em casos de desarmonia social usar a fora necessria para reconduzir

    tranquilidade pblica. Corrobora com nosso entendimento Bayley (2002, p. 229), que

    define, ... polcia como o grupo de pessoas autorizadas por um grupo para regular

    as relaes interpessoais dentro de uma comunidade, atravs da aplicao da fora

    fsica. A definio de Polcia, de Bayley, deixa evidente que os interesses do grupo

    que legitima as aes de polcia deve ser respeitado, e aquele que porventura burlar

    os preceitos institudos para o coletivo deve ser impedido pela Polcia e conduzido

    autoridade competente.

    Associar o conceito de Polcia s definies de cidadania e direitos humanos

    torna-o mais inteligvel e perceptvel de que deve haver uma fuso, entre os trs,

    para que se justifique a existncia da prpria Polcia. Os profissionais desta rea

    devem estar cnscios de que sua prestao de servios est para a cidadania, de

  • 23

    maneira a defend-la de quaisquer ameaas. Entendemos por bem definir Polcia

    como uma instituio pblica legitimada, prestadora de servios em prol da

    cidadania, da defesa e valorizao dos direitos humanos dos quais no pode se

    dissociar, sob pena de no ser mais desejada. O que se disse teve o objetivo de

    buscar definir a Polcia e sua importncia, partimos agora para a identificao do

    militar e como incorporou sua doutrina ao servio policial.

    Na definio de Bobbio (1995, p. 748), O militarismo constitui um vasto

    conjunto de hbitos, interesses, aes e pensamentos associados com o uso de

    armas e com a guerra, mas que transcende os objetivos puramente militares. H

    que se concordar com Bobbio, principalmente no tocante ao que transcende os

    objetivos puramente militares, que em nosso entendimento a guerra, defesa e

    conquistas territoriais. O militarismo, tambm um cdigo de conduta fundamentado

    em valores morais, cvicos e ticos para a proteo do cidado. Mas quem o

    cidado? Brito (2005, p. 35), nos leva atravs da Histria ao Imprio Romano para

    definir cidado como, ... aquele a quem dado o direito de influir na gesto da

    coisa pblica, da civita, no sentido primitivo os que se domiciliavam na cidade, os

    civis. Segue-se que desde a antiguidade o cidado detentor de direitos,

    caracterstica que o determina e distingue hodiernamente.

    Contudo, havia uma frao de romanos que no habitavam a civita, e eram

    localizados aos seus arredores, em acampamentos, para dar segurana cidade,

    contra possveis invasores, chamada militares. No era conferido o status de

    cidados, a quem pertencia s legies romanas, aos militares, e estes s podiam

    adentrar a cidade com a permisso do governo. Observamos que mesmo com as

    restries polticas e nem ao menos podendo entrar nas cidades, os militares tinham

    o dever de proteger a civitas e, consequentemente, os cidados. Encontramos aqui

    um ponto em comum com as polcias, ou seja, a defesa, mesmo que indireta, do

    cidado e de seus direitos.

    No final do Imprio Romano surge o fenmeno denominado pretorianismo,

    a militarizao provisria das funes estatais ligadas segurana pblica, que

    ocorria em casos excepcionais de anormalidade, quando o poder estatal estava

    ameaado. Restaurada a ordem retornava-se normalidade civil. Este contexto

    explica o fenmeno histrico e poltico chamado militarismo, a ideia de que a

    sociedade mais bem servida quando incorporada a cultura e sistema militar

    (BRITO, 2005, p. 36). Contudo, prevalecia o interesse das cidades-estado, em

  • 24

    detrimento do interesse do cidado. quela poca, este era o motivo para

    militarizao provisria, ou seja, contar com indivduos que no tinham direitos como

    os cidados.

    Acima identificamos foras militares atuando em ambiente urbano, em

    contato com a sociedade organizada, tratando com cidados, porm observamos

    que no era este o preparo dado aos militares e sim o preparo para o combate

    contra o inimigo, contra outro ser humano. Posteriormente a atuao interna,

    urbanizada das foras militares, ocorreu em praticamente todos os pases da

    Europa.

    Bayley (2002) nos informa que na Frana, inicialmente, surgiram as

    gendarmes formadas por militares. Estes militares eram responsveis pelo

    policiamento nas reas rurais e das vias principais. Gendarmerie tornou-se padro

    nos pases europeus durante a primeira metade do sculo dezenove. Com o passar

    do tempo as foras militares anteriormente excludas do convvio da civitas,

    passaram a servir as cidades, realizando o policiamento.

    Conclumos este ponto do trabalho identificando Policial, o Militar, e

    constatando que a partir do momento em que o Militar passou a atuar dentro das

    cidades assumindo as funes no meio urbano passamos a ter o policial militar. O

    cidado policial militar como profissional de segurana pblica, doutrinado atravs

    da cultura militarizada, fazendo uso da fora legitimada, prestador de servios em

    prol da cidadania, da defesa e valorizao dos direitos humanos dos quais no pode

    se dissociar, sob pena de no ser mais desejado. O prximo passo desta pesquisa

    conhecer a respeito da criao das foras policiais militares no Brasil: como estes

    profissionais chegaram ao Pas?

    2.1.1 Militares brasileiros

    Castro (1990) aduz que junto com as Tropas Militares Portuguesas que

    desembarcaram no Brasil na primeira metade do sculo XVI, tambm vieram todos

    os elementos histricos que caracterizam o militarismo, e que se fundiram aos

    elementos locais para a construo da nossa cultura militar. A disciplina e o

  • 25

    autoritarismo so parte destes elementos histricos, e de acordo com Silva (1984, p.

    13), ...foram o molde onde se formaram as nossas foras militares.

    Segundo Leal (2011, p. 117), Em 1808, j existia tambm por aqui

    funcionando a plenos pulmes, uma diviso administrativa regular, dividida em trs

    ramos bsicos: a militar, a de fisco e a justia. Para nosso estudo interessa a militar.

    As tropas militares no incio do sculo XIX, segundo Leal (2011, p. 117), ... eram

    complementadas atravs de um recrutamento violento, com um contingente de

    prias brasileiros, especificamente de cor branca em sua esmagadora maioria.

    Com a Independncia do Brasil, em 1822, se estabelece o Exrcito

    Brasileiro a partir do modelo portugus, j que parte das tropas opta por permanecer

    fiel ao novo imprio. Para formao de oficiais em terras brasileiras, havia sido

    criada a Real Academia Militar, em 04 de dezembro de 1810 e, aps a

    Independncia Brasileira, a Imperial Academia Militar que, mesmo sob grande

    influncia da cultura militar lusitana, se tornaria a grande responsvel pela

    consolidao do nosso ethos militar (Castro, 1990).

    Nosso Exrcito estabeleceu-se oriundo de tropas de ocupao com

    recrutamento de seus soldados feito a qualquer custo, com violncia, sem seleo

    adequada e sem reconhecimento ou valorizao de seus homens. A seguir veremos

    o tpico que trata da histria da Polcia Militar do Estado do Paran, o como ela foi

    instituda.

    2.2 POLCIA MILITAR DO ESTADO DO PARAN

    Tendo suas origens no Exrcito Nacional, o qual realizava funes de

    polcia, patrulhando as ruas da Provncia do Paran, a PMPR seguiu e segue a

    estrutura militarizada as Polcias Militares, que pautam-se na disciplina e na

    hierarquia para manter o controle e organizar suas aes.

    Segundo Azevedo (2001), mesmo antes da criao efetiva do Estado do

    Paran, da Polcia Militar do Estado do Paran (PMPR), e da existncia de uma

    fora especfica para manter a ordem j havia organizaes pblicas com estas

    responsabilidades, eram denominadas Companhia de Ordenanas e Guardas

    Municipais Permanentes, cada uma delas com suas responsabilidades, a exemplo

  • 26

    das Guardas que protegiam a Estrada da Mata. A histria da PMPR praticamente

    confunde-se com a do estado do Paran.

    A criao da PMPR, a qual levou o primeiro nome de Companhia da Fora

    Policial da Provncia, em 10 de agosto de 1854, ocorreu pouco tempo depois da

    Emancipao Poltica do Estado do Paran, em 19 de dezembro de 1853, quando

    foi instalada oficialmente a Provncia do Paran nos tempos do 2 Imprio do Brasil.

    Em Blasius (2008), verificamos que a existncia de outras organizaes,

    entre elas o recm criado Exrcito Brasileiro, fez com que a instalao da Fora

    Policial enfrentasse diversas dificuldades, entre elas a resistncia dos integrantes

    das foras j existentes, tambm a baixa incluso de pessoal nos anos de 1854 e

    1855, a qual aumentou com o passar dos anos. Alm desses problemas ainda era

    preocupante a falta de um instrutor militar, para preparar a tropa, o que foi suprido

    pelo filho do Visconde de Ncar, o jovem Joaquim Antnio Guimares, que depois

    de estudar no Colgio Freese aprendeu, entre outros conhecimentos, as evolues

    militares. Com os primeiros problemas solucionados a Fora Policial foi ampliada e

    mudanas, inclusive da denominao, ocorreram.

    Por meio da Lei Estadual n 1943, no ano de 1954, a ento Fora Policial da

    Provncia do Paran a qual teve vrias denominaes ao longo da histria, passou a

    adotar o nome pela qual conhecida at a atualidade: Polcia Militar do Estado do

    Paran (PMPR).

    Desde sua criao a PMPR participou dos episdios histricos do Paran,

    entre eles, conforme Blasius (2008, p. 32), A invaso de tropas federalistas, a

    campanha do Contestado, o combate do Irani, a Revoluo de 1924 so exemplos

    de fatos e acontecimentos marcantes de uma Histria mais afastada dos dias de

    hoje.

    No captulo seguinte ser apresentada a formao do Policial Militar do

    Estado do Paran. A nfase estar no aluno oficial ou Cadete, como

    tradicionalmente conhecido. Este profissional deve ser preparado para as funes

    de comando da PMPR e para ser ele o formador de seus subordinados e futuros

    sucessores.

  • 27

    3 A FORMAO DO POLICIAL MILITAR NO ESTADO DO PARAN

    A abordagem a formao do Policial Militar do Estado do Paran aqui ser

    feita a partir do processo de seleo do candidato, quando esse faz a opo entre as

    duas carreiras possveis: a de Praa da PMPR, que tem incio com a aprovao do

    candidato em concurso pblico de nvel mdio e seu ingresso na PMPR, como

    Soldado de 2 Classe; ou a de Oficial de Polcia Militar, quando o candidato

    aprovado em concurso vestibular da Universidade Federal do Paran (UFPR) e

    ingressa como Cadete do 1 Ano do Curso de Formao de Oficiais (CFO). Desde o

    ano de 2012 e conforme o Decreto Estadual n 4491 de 9 de maio de 2012, a

    APMG, e atualmente com a Lei Estadual n 17.590, de 12 de junho de 2013 a APMG

    foi credenciada como Escola Superior de Segurana Pblica (ESuSeP), sendo

    autorizado o funcionamento do Curso de Graduao em Segurana Pblica

    Bacharelado, mas nesta Dissertao o denominaremos CFO como conhecido

    tradicionalmente.

    Em nosso estudo daremos nfase ao CFO, mas caberia perguntar: se

    temos uma classe de profissionais denominada Policiais Militares, por que

    concentrar o estudo na Formao dos Oficiais e no em todo o grupo de Policiais

    Militares? A razo que o Oficial de Polcia Militar no Estado do Paran o maior

    responsvel por toda a formao, especializao, aperfeioamento e instrues de

    todo o efetivo da PMPR, desde o Soldado de 2 Classe at o Curso Superior de

    Polcia; este ltimo capacita os oficiais superiores, majores e tenentes-coronis da

    PMPR para as funes de diretoria e comando da Corporao. Essa dinmica

    endgena de formao reflete-se em toda a PMPR, ou seja, desde o aluno soldado

    at o coronel de polcia so formados por seus pares e superiores, nunca por

    subordinados e s vezes por profissionais de outras reas. Constatamos ento que

    a tradio a base da formao, os oficias formam seus subordinados e aqueles

    que iro suced-los, fazendo com que o modelo se repita e os eventuais progressos

    ocorram de modo tmido, discreto e muito lentamente.

    Poder-se-ia levantar outro questionamento: mas os advogados, mdicos e

    demais profissionais da mesma maneira no formam tambm os nefitos das suas

    respectivas carreiras, no a mesma coisa? No. Advogados, mdicos e os demais

    profissionais formam futuros colegas de trabalho, talvez concorrentes, mas, militares

  • 28

    formam subordinados e assim que veem-se uns aos outros. Podemos talvez

    melhor contextualizar expondo o seguinte: no Paran existem muitas Universidades

    onde possvel cursar Medicina, Direito, Engenharia e onde os alunos convivem

    com outros alunos dos diversos cursos e com professores formados em outras

    faculdades; na Polcia Militar do Paran todos os oficiais so formados em um nico

    lugar, ou seja, na Academia Policial Militar do Guatup (APMG), Escola Superior de

    Segurana Pblica (ESuSeP), e todos os instrutores tambm foram formados l. H

    um elo na formao que no pode ser rompido facilmente.

    Aps as fases do concurso vestibular, se aprovado, o candidato ao oficialato

    da PMPR ser submetido aos seguintes exames: Sanidade Fsica e Mental;

    Capacidade Fsica e ainda a Pesquisa Social. Concludas as fases de seleo o

    candidato aprovado inicia sua formao na APMG, agora como Cadete da PMPR.

    Na APMG fica sediada a Escola de Oficiais (EsO), que nos prximos trs

    anos passar a ser a casa do Cadete. Localizada na Cidade de So Jos dos

    Pinhais, s margens da Rodovia BR 277, a Academia Policial Militar do Guatup

    est afastada vinte quilmetros do Centro de Curitiba, o que dificulta o acesso,

    principalmente para quem depende do transporte pblico. Mais difcil ainda para os

    cadetes oriundos das cidades do interior do Paran, ou ainda daqueles que vm de

    outros estados.

    A APMG tambm recebe excepcionalmente Cadetes de outros estados, em

    convnios firmados com outras corporaes policiais militares, a exemplo do Amap

    e Esprito Santo. Esses cadetes, os quais prestaram concursos em seus respectivos

    estados e pelo no funcionamento do CFO naquele respectivo ano, ou ainda pela

    ausncia de academia de polcia no estado podem fazer o curso aqui na APMG,

    sendo custeados pelo estado de origem para o qual devem retornar aps a

    formatura.

    H ainda jovens de outros estados do Brasil que optam por estudar na

    APMG e trabalhar na PMPR, prestando o concurso vestibular regularmente como os

    demais candidatos paranaenses pela UFPR. Contudo, uma vez aprovado no

    concurso vestibular no Paran e formado pela APMG, com recursos financeiros do

    estado do Paran, no existe a possibilidade de trabalhar em outra unidade da

    federao: essa lgica se repete em todas as outras instituies policiais militares do

    Brasil.

  • 29

    O processo de formao dos oficiais no est garantido com a aprovao

    nas fases do concurso vestibular: inclui o perodo de formao, aprovao nas

    disciplinas, estgios e adaptao ao regime militar, no qual imposta uma rotina

    rgida.

    A rotina do Cadete do 1 ano do CFO comea com a apresentao em data

    solene para o incio do curso. A data inicial marcada por uma aula inaugural com

    alguma autoridade convidada. Os alunos apresentam-se trajando passeio completo.

    Trazem consigo o enxoval do cadete, composto por todo o material que necessitaro

    durante o perodo de quarentena, no qual o aluno estar recluso por quarenta dias

    sem poder ausentar-se da APMG. Este perodo, que inicia aps a aula inaugural,

    serve para a adaptao do cadete nova vida.

    Uma vez inseridos no cotidiano, a partir de agora os alunos se vestem todos

    igualmente, blusa de moletom preta, camiseta branca, tnis preto e meias pretas,

    conjunto que utilizaro at que possam usar o fardamento da PMPR. Dos cadetes

    masculinos o cabelo cortado quase raspado e para as cadetes femininas o cabelo

    amarrado em coque na altura da nuca. Os alunos tambm no sero mais

    conhecidos por seus primeiros nomes e sim pelos nomes de guerra, no caso, pelo

    nome de famlia. Todo esse processo visa a identificar o aluno com o grupo.

    Inclusive, a partir do incio do perodo de adaptao, o aluno no mais visto como

    indivduo e sim como parte do grupo ao qual passar a pertencer. De maneira

    peculiar, todos os oficiais da PMPR reconhecem-se pelas turmas nas quais foram

    formados, tamanho o vnculo que se estabelece entre os indivduos: sequer

    poderia ser diferente, afinal so trs anos de convvio por vinte e quatro horas

    dirias. Esta sistemtica caracteriza as Instituies Totais, estudas por Goffman:

    Uma instituio total pode ser definida como um local de residncia e trabalho onde um grande nmero de indivduos com situao semelhante, separados da sociedade mais ampla por considervel perodo de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada. (GOFFMAN, 2010, p. 11)

    De modo mais simples Goffman (2010, p. 22) diz que Instituies Totais,

    Em nossa sociedade, so estufas para mudar pessoas. Em que pese a pertinncia

    do assunto, ele no ser aprofundado agora, mas em trabalhos futuros.

    O cadete inicia seu processo de formao profissional sujeito ao regime de

    internato, na companhia de indivduos que antes no conhecia e com uma rotina

  • 30

    singular a ser seguida. levado a cultuar todos os valores e princpios que, em tese,

    o capacitaro para a profisso. A doutrina policial militar tem origem nas Foras

    Armadas, e com maior nfase no Exrcito Brasileiro do qual copia e tenta reproduzir

    todas as ritualsticas, at mesmo pela fora legal que a subordina a ele.

    A rotina rgida, que a maioria dos jovens no conhecia diuturna, e inicia no

    perodo de adaptao. Durante a quarentena o aluno receber as primeiras

    orientaes de como se comportar durante a vida profissional e social, uma vez que

    seu status passa a ser o de militar estadual. Tradicionalmente, as orientaes so

    repassadas com a participao de cadetes que j esto cursando o segundo e

    terceiro ano do CFO, o que deve sempre ocorrer com a superviso de um oficial

    coordenador de curso.

    Aps o perodo de quarentena o cadete dispensado nos finais de semana,

    geralmente s sextas-feiras tarde para retornar a sua casa e rever seus familiares.

    Quando retorna APMG, aps a primeira liberao, est definitivamente sujeito s

    regras, ou seja, disciplina referente ao perodo de formao e tambm s sanes

    disciplinares ou penais prprias dos militares, que tambm fazem parte da formao

    e so critrios para a concluso ou no do curso.

    Semanalmente a rotina de inicia-se domingo, s 21 horas e segue a semana

    at sexta-feira, normalmente ao meio-dia, com carga horria diria de dez horas

    aulas, divididas em atividades tericas e prticas. As disciplinas que compem o

    currculo esto divididas em disciplinas fundamentais, profissionais e

    complementares.

    O incio das aulas aguardado com ansiedade pelos cadetes recm

    chegados APMG, pois sabem que quando iniciam as aulas e durante o perodo

    que esto em sala de aula no h outras tarefas a serem realizadas e assim podem

    descansar enquanto assistem s aulas. H uma poltica de ocupao mxima do

    tempo do aluno que praticada durante o perodo de formao, principalmente no

    primeiro ano. Os alunos so empregados em faxinas, exerccios fsicos, instrues

    ministradas pelos cadetes do segundo e terceiro ano etc., no h tempo ocioso

    desde a alvorada, s 6 horas, at as 22 horas, com o toque de silncio no Bloco III.

    A formao do oficial obedece a uma rotina detalhada de atividades. Para

    melhor ilustrar o cotidiano do aluno transcrevemos, do Manual do Cadete da APMG,

    o quadro abaixo com as atividades bsicas:

  • 31

    HORRIOS BSICOS

    06:00 Alvorada anunciada pelo Dia--Eso.

    06:00 s 07:00 Higiene pessoal dos Cadetes e limpeza dos alojamentos.

    06:20 Caf da manh no Rancho.

    06:50 Passagem de servio no Bloco.

    07:00 Revista nos alojamentos.

    07:10 Primeira formatura.

    07:30 s 12:00 Perodo de aulas.

    12:00 Almoo.

    13:10 Segunda formatura.

    13:30 s 17:50 Perodo de aulas.

    18:00 Arreamento das Bandeiras com a participao da Equipe de servio.

    19:00 Jantar.

    20:00 Pernoite.

    22:00 Silncio no Bloco.

    QUADRO 1 ROTINA BSICA DO CADETE DA ESCOLA DE OFICIAIS DA APMG FONTE: MANUAL DO CADETE ACADEMIA POLICIAL MILITAR DO GUATUP.

    O quadro acima mostra a rotina bsica do cadete. Alm das atividades pr-

    determinadas, existem outros compromissos e ainda as normas de comportamento

    a serem observadas. Segundo (CERQUEIRA, 2006, p. 16) Tudo que se vive na

    Academia [...] constitui o currculo da Escola de Formao de Oficiais: a estrutura, a

    organizao, o internamento, a lgica, o ritual, o dia da caserna, o limite da fora e a

    histria da polcia. Esse currculo complexo inicia todos os dias com a alvorada s 6

    horas da manh e todo processo desencadeado deve ser observado: o cadete deve

    manter sua cama limpa e arrumada, inclusive utiliza-se o ferro de passar roupas

    para que os lenis e sobre lenol no fiquem amassados, isso aps terem sido

    esticados e presos com alfinetes e elsticos junto ao estrado dos beliches. Os

    quartos coletivos, com aproximadamente dez colegas, devem estar limpos, e feita

    a revista matinal todos os dias com extremo rigor; o fardamento passado com frisos,

    sapatos engraxados e lustrados: para tudo h revistas matinais e esporadicamente

    ao longo do dia. A barba, no caso masculino, raspada e cabelo cortado com

    inspeo a cada 15 dias; as cadetes femininas devem ter os cabelos devidamente

    presos, tranas ou coques dependem do fardamento do dia, que so vrios, no

    mnimo 12 tipos de fardas.

    Durante os trs anos de formao os cadetes, do primeiro, segundo e

    terceiro anos reconhecem-se e so reconhecidos como precedentes hierrquicos,

    havendo, portanto, subordinao entre eles, inclusive fiscalizao diuturna entre os

    precedentes. Os sinais de respeito, demonstrados por meio da continncia militar,

    dos tratamentos pessoais so observados a todo o momento, isso potencializado

  • 32

    no trato com os superiores hierrquicos, ou seja, com oficiais, tanto quanto maior for

    a relao hierrquica, maiores so as prerrogativas e demonstraes de respeito

    devidas.

    Ao ingressar como cadete na APMG o aluno torna-se superior hierrquico

    em relao a todas as praas da PMPR e das demais corporaes militares, sejam

    elas estaduais ou federais, e h ainda a precedncia observada entre os prprios

    cadetes, abaixo segue figura ilustrativa da estruturao da carreira militar observada

    na PMPR:

    FIGURA 1 PIRMIDE HIERRQUICA DA PMPR FONTE: SITE DA PMPR (2013)

    Concludos os trs anos do CFO, o cadete declarado Aspirante a Oficial, e

    durante o perodo mnimo de um ano far estgio nos Batalhes da PMPR,

    habilitando-se a ocupar o primeiro posto do oficialato, ou seja, 2 Tenente do Quadro

    de Oficiais da Polcia Militar. As funes de Tenente esto definidas na Classificao

    Brasileira de Ocupaes (CBO, 2002), como aqueles que:

    Comandam peloto, coordenam policiamento ostensivo, reservado e velado; assessoram comando, gerenciam recursos humanos e logsticos, participam do planejamento de aes e operaes, desenvolvem processos e procedimentos administrativos militares, atuam na coordenao da

  • 33

    comunicao social; promovem estudos tcnicos e capacitao profissional. (CBO,2002, p. 33).

    As funes do oficial, especificamente do tenente, esto relacionadas ao

    policiamento das ruas, a gerncia e administrao de recursos materiais e,

    principalmente, humanos, limitando-se ao peloto que pode comandar. O tenente

    atua ainda como assessor dos Comandantes a que estiver subordinado e realiza

    procedimentos administrativos, como por exemplo: inquritos policiais militares e

    sindicncias, bem como servem de instrutores capacitando novos policiais militares,

    praas e oficiais.

    A preparao acadmica do oficial segue o currculo da doutrina militar e

    ainda uma sistemtica baseada em preparo intelectual e fsico. O preparo do oficial

    da PMPR baseia-se em legislao de ensino prpria que se ir descrever no

    prximo item.

  • 34

    3.1 LEGISLAO E DOCUMENTOS SOBRE FORMAO NA PMPR

    Desde a promulgao da Constituio Federal de 1988 o ensino nas Policias

    Militares deixou de estar atrelado exclusivamente ao Exrcito Brasileiro, fator este

    que propiciou maior autonomia s Corporaes. Em 1996 surgiu a Lei n 9.394, de

    20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educao

    nacional (LDB).

    A LDB diz que a educao deve abranger todos os processos formativos

    sociais, sociedade civil e manifestaes culturais, porm restringe-se ao tratar da

    formao do militar, em um artigo, o artigo 83 (LDB, 96), O ensino militar regulado

    em lei especfica, admitida a equivalncia de estudos, de acordo com as normas

    fixadas pelos sistemas de ensino. O ensino policial militar em alguns estados

    regulado por leis estaduais, em outros por portarias no mbito das prprias polcias

    militares. As polcias militares que tem o ensino regulado por portaria tm maior

    facilidade adeso as propostas do governo federal. (BASILIO, 2007, p. 56).

    Para Hamada (2007, p. 39), O propsito de manter um sistema prprio de

    educao tem como finalidade proporcionar aos integrantes da corporao a

    capacitao para o exerccio dos cargos e funes previstos na organizao policial

    militar. Ao estudar o ensino na Polcia Militar de Minas Gerais (PMMG) Santos1

    (2000, apud Hamada, 2007, p. 39), ... analisou as especificidades da educao

    profissional previstas na Lei de Diretrizes e Bases e a educao profissional de nvel

    tcnico executado na Corporao, conforme tabela ... que ns transformamos no

    quadro abaixo:

    ESPECIFICIDADES ENSINO MILITAR EDUCAO PROFISSIONAL

    Autonomia das escolas Pouca Ampla

    Matrcula em curso Mediante concurso Pblico e exames

    Imediata inscrio ou aps processo seletivo

    Normas discentes Regulamento disciplinar, cdigo penal e processual-militar

    Regimento da escola e regulamento de curso

    Diretrizes educacionais Casusticas e com enunciados especficos

    Enunciados genricos e amplos

    CONTINUA

    1 SANTOS, Marcos Antnio. A formao bsica do policial-militar de Minas Gerais: as

    especificidades do ensino militar em relao educao profissional de nvel tcnico. Dissertao - Fundao Joo Pinheiro, Belo Horizonte, 2000.

  • 35

    CONCLUSO

    Disposio do aluno para o curso

    Total, com direito a bolsa de estudos

    Parcial, sem recebimento de bolsa de estudos

    Ano letivo 1 600 horas 800 horas

    Desenvolvimento do curso

    Vrios rgos envolvidos

    Somente a escola

    Vnculo do aluno com a escola

    Empregatcio Pedaggico

    Freqncia Obrigatria, com abono de faltas

    No-obrigatria, sem abono de faltas

    Classificao no curso Gera vantagens pessoais para o aluno

    Inexiste o conceito classificatrio

    Dedicao dos docentes ao ensino

    Parcial Exclusiva

    Punio Administrativa, disciplinar e penal

    Administrativa

    QUADRO 2 - ESPECIFICIDADES DA EDUCAO MILITAR COMPARATIVAMENTE COM A EDUCAO PROFISSIONAL DE NVEL TCNICO DO MEC FONTE: HAMADA (2007)

    O quadro acima referente PMMG, porm segue o mesmo padro

    adotado pela PMPR, tanto para os cursos de formao de praas quanto para o de

    oficiais.

    Ao referir-se equivalncia dos cursos militares o artigo 83 da LDB fala do

    aproveitamento dos cursos militares para fins de equivalncia de estudos em novas

    formaes acadmicas, mas segundo Cerqueira (2006, p. 51), Quando a Lei de

    Diretrizes e Bases declara a equivalncia de cursos militares, significa apenas que o

    Conselho Federal de Educao decide quais cursos tm igual valor acadmico ao

    de determinados cursos civis ..., no sendo ento regra a admisso de alunos

    oriundos de cursos militares com o possvel aproveitamento de disciplinas em cursos

    universitrios em que possam vir a serem aprovados os militares.

    A PMPR tem sua legislao prpria para o ensino militar estadual, por meio

    de portaria. Essa portaria prev os cursos de formao, aperfeioamento e

    especializao tanto para as praas como para os oficiais da Corporao. Na seo

    seguinte apresentar-se- os pontos mais relevantes da Portaria de Ensino da PMPR.

  • 36

    3.1.1 Portaria de Ensino da PMPR

    A Portaria do Comando-Geral n 236, de 26 de fevereiro de 2008, que

    aprova a Portaria de Ensino da PMPR, trata do sistema de ensino militar estadual, e

    destina-se conforme seu artigo 1, ... a estabelecer as bases para o planejamento

    e execuo dos estgios e cursos de formao, habilitao, especializao,

    aperfeioamento e superior de polcia ..., na Polcia Militar do Estado do Paran.

    O planejamento desenvolvido pela Diretoria de Ensino e Pesquisa e

    executadas pelos rgos de apoio da PMPR, como por exemplo, a Academia

    Policial Militar do Guatup e ncleos descentralizados de formao que funcionam

    nos batalhes de Polcia Militar do Paran.

    Os princpios observados pelo ensino militar estadual, contemplados no

    artigo 3 da Portaria de Ensino da PMPR so os seguintes: objetividade;

    progressividade; continuidade; flexibilidade; produtividade; oportunidade e iniciativa.

    Os sete princpios elencados pela Portaria de Ensino pautam-se nos

    conhecimentos necessrios formao, bem como na formao continuada do

    profissional. Observa ainda a possvel evoluo social, almejando com o melhor

    preparo a produtividade. As oportunidades so valorizadas na busca da melhoria

    dos padres de eficincia da Corporao.

    Os objetivos do ensino militar estadual no Paran, pautados nos princpios,

    proporcionam o entendimento pela qualidade, estmulo, fortalecimento e

    desenvolvimento de competncias necessrias profissionalizao do Policial

    Militar.

    O Sistema de Ensino da PMPR abrange trs reas de ensino: ensino

    fundamental; ensino profissional e complementar.

    A difuso do planejamento e da programao no que diz respeito ao ensino,

    pode ser realizada atravs de reunies pedaggicas, cuja finalidade reunir os

    docentes dos diversos cursos e tratar sobre os objetivos a serem alcanados e

    tambm possibilitar revises dos contedos a serem ministrados durante as aulas.

    Como documento base da legislao de ensino da PMPR a Portaria de

    Ensino remete a outros documentos especficos que regulam os procedimentos

    prticos do ensino, um destes so as Normas Tcnicas para Avaliao da

  • 37

    Aprendizagem (NOTARA), que trata do Sistema de Avaliao (provas) que

    apresentamos na prxima seo.

    O sistema de avaliao dos alunos nos cursos da PMPR, faz-se pelos

    processos e instrumentos previstos nas Normas Tcnicas para Avaliao do

    Rendimento da Aprendizagem (NOTARA).

    3.1.2 Normas Tcnicas para Avaliao do Rendimento e da Aprendizagem

    Aprovada pela Portaria n 243, de 26 de fevereiro 2008, do Comandante

    Geral da PMPR, a NOTARA (2008, p. 9), ...tem como finalidade orientar os

    trabalhos ... na elaborao dos instrumentos, procedimentos e tcnicas de

    avaliao da aprendizagem.

    A avaliao segundo a NOTARA (2008, p. 9) , ...um processo por meio

    dos quais informaes so obtidas, analisadas, sintetizadas e relatadas, tendo em

    vista a tomada de decises sobre o rendimento do processo ensino-aprendizagem.

    As avaliaes bem elaboradas vo alm do processo de aprovao e reprovao do

    aluno, fazem parte do processo de aprendizado, e devem tambm verificar se os

    objetivos, inclusive a capacidade de transmitir conhecimento, do instrutor, foram

    cumpridos.

    A NOTARA tem os seguintes objetivos: controlar a aprendizagem; corrigir

    desvios do processo de ensino-aprendizagem, selecionar e classificar os discentes;

    obter subsdios para avaliar o rendimento do ensino ministrado pelos docentes e

    corrigir as falhas de planejamento. (NOTARA, 2008, p. 9).

    As funes da avaliao so estabelecidas assim: assegurar o domnio da

    aprendizagem; demonstrar os efeitos da metodologia empregada no processo

    ensino & aprendizagem; analisar os objetivos de ensino; revelar consequncias da

    atuao do docente; fornecer dados para avaliar a eficcia do currculo escolar.

    (NOTARA, 2008, p. 10).

    Para um melhor resultado as avaliaes devem estar de acordo com o

    planejamento dos cursos, que feito por meio dos Planos de Cursos que, por sua

    vez, so elaborados para todos os cursos desenvolvidos pela PMPR.

  • 38

    3.1.3 Plano de curso

    Plano de Curso o documento elaborado para disciplinar o funcionamento

    dos cursos da PMPR; para cada curso que ter incio deve ser elaborado o

    respectivo Plano de Curso, no qual constaro basicamente: os objetivos do curso; o

    regime escolar e local de funcionamento; as orientaes ao corpo discente e

    docente; o horrio das aulas; a matriz curricular; as orientaes sobre as avaliaes

    das disciplinas e estgios; os deveres e responsabilidades dos discentes; o

    planejamento administrativo; orientaes sobre as solenidades cvico-militares;

    orientaes sobre as atividades extraclasses; deveres da coordenao do curso;

    orientaes sobre os fardamentos e prescries diversas.

    No Anexo A, constamos o Plano de Curso do Curso de Graduao em

    Segurana Pblica 2012 a 2014, CFO, nele o leitor poder observar a malha

    curricular dos trs anos de curso, que totalizam 4.562 horas aula, divididas em 114

    disciplinas, estgios administrativos e operacionais, e 121 avaliaes.

    O planejamento das disciplinas a serem ministradas consta do Plano de

    Curso, que as distribui em: fundamental, complementar e operacional. As disciplinas

    seguem planejamento especfico e devem estar de acordo com a legislao de

    ensino, bem como com a Matriz Curricular Nacional.

    Para nortear o trabalho dos docentes, inclusive com a participao destes,

    so elaborados os Planos de Matria, assunto abordado no prximo item.

    3.1.4 Plano de Matria

    Plano de Matria um documento bsico, elaborado de acordo com o

    currculo do curso ou estgio que ser desenvolvido. Todas as disciplinas devem ter

    seu respectivo Plano de Matria, que servir como ferramenta de orientao para os

    docentes e discentes indicando: os objetivos particulares e especficos de cada

    disciplina; os assuntos a serem desenvolvidos em cada sesso (aula); os meios

    auxiliares a serem utilizados; as instrues metodolgicas; a bibliografia sugerida; o

    processo de avaliao (tipo de prova).

  • 39

    O Anexo B desta Dissertao apresenta como modelo o Plano de Matria de

    Direitos Humanos, disciplina que deve estar presente em todos os cursos de

    formao, aperfeioamento e especializao das foras pblicas de segurana,

    conforme sugere a Matriz Curricular Nacional, que apresentada no captulo quatro.

  • 40

    4 A PROPOSTA DA MATRIZ CURRICULAR NACIONAL PARA AES

    FORMATIVAS DOS PROFISSIONAIS DA REA DE SEGURANA

    PBLICA

    Este captulo visa abordar a Matriz Curricular Nacional para Aes

    Formativas dos Profissionais da rea de Segurana Pblica. Esse documento traz

    consigo uma nova filosofia de formao para os operadores da segurana pblica no

    Brasil, valorizando os direitos humanos, cidadania, tica e a sade do profissional

    alm de outros contedos nas disciplinas apresentadas em sua Malha Curricular.

    Para melhor entendermos o surgimento desse documento faremos uma anlise a

    partir da Constituio Federal de 1988, na qual est legalmente previsto o sistema

    de segurana pblica no Brasil.

    A Segurana Pblica no Brasil est prevista no artigo 144 da Constituio

    Federal de 1988 e mais bem compreendida quando visualizada atravs do

    Sistema Nacional de Segurana Pblica. Porm, como adverte Silva (2007, p. 45),

    Falar em sistema de segurana pblica pode ser complicado na medida em que

    facilmente se pode incidir em erros e divagaes por tentar dar conta de setor de

    grande complexidade. No ano de 2000 o Ministrio da Justia instituiu, por meio da

    Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP), o Plano Nacional de

    Segurana Pblica. Esse Plano trata do Sistema de Segurana Pblica,

    esclarecendo em sua introduo, que um plano de aes que tem como objetivo

    aperfeioar o sistema de segurana brasileiro, integrar as polticas de segurana

    pblica, sociais e as aes comunitrias, proporcionando a preveno do crime e a

    reduo da impunidade, maneira pela qual visa oferecer, ao cidado, mais

    tranquilidade e a segurana. Ainda na Constituio Federal de 1988 encontramos o

    instituto que remete organizao e funcionamento dos rgos de segurana

    pblica.

    Nos termos do pargrafo 7 do artigo 144 da Constituio Federal, A lei

    disciplinar a organizao e o funcionamento dos rgos responsveis pela

    segurana pblica, de maneira a garantir a eficincia de suas atividades. Para a

    regulamentao do pargrafo 7 da Constituio Federal, tramita na Cmara dos

    Deputados o Projeto de Lei nmero 3734, de 11 de abril de 2012, que visa

    disciplinar a organizao e o funcionamento dos rgos responsveis pela

  • 41

    Segurana Pblica, e institui o Sistema nico de Segurana Pblica (SUSP),

    constando dele todos os rgos previstos no artigo 144 da Constituio Federal, e a

    Fora Nacional de Segurana Pblica, podendo as guardas municipais serem

    colaboradoras desse Sistema.

    Nesse Projeto de Lei 3734/2012, ressaltamos a importncia do o artigo 20,

    que tem ligao direta com a educao dos profissionais de segurana pblica,

    instituindo o Sistema Integrado de Educao e Valorizao Profissional (SIEVAP),

    com a finalidade de:

    I - planejar, pactuar, implementar, coordenar e supervisionar as atividades de educao gerencial, tcnica e operacional, em cooperao com as unidades da Federao; II - identificar e propor novas metodologias e tcnicas de educao voltadas ao aprimoramento das suas atividades; III - apoiar e promover educao qualificada, continuada e integrada; IV - identificar e propor mecanismos de valorizao profissional. 1 O SIEVAP constitudo, entre outros, pelos seguintes programas: I - matriz curricular nacional; II - rede nacional de altos estudos em segurana pblica; III - rede nacional de educao distncia; e IV - programa nacional de qualidade de vida para segurana pblica. 2 Os rgos integrantes do SUSP e a Fora Nacional de Segurana Pblica tero acesso s aes de educao do SIEVAP, conforme poltica definida pelo Ministrio da Justia. (PROJETO DE LEI N 3734/2012, p. 7).

    Os programas citados no artigo 20 do Projeto de Lei 3734/2012, esto

    diretamente atrelados ao Ministrio da Justia e, consequentemente, SENASP,

    que desenvolve as atividades de valorizao do profissional de segurana pblica.

    Neste ponto encontramos a Matriz Curricular Nacional, que tem para o nosso

    trabalho, entre os demais programas, maior relevncia. O destaque que damos a

    Matriz Curricular Nacional est relacionado, como veremos, s mudanas que seus

    documentos vm proporcionando formao do policial militar.

    Contudo, no artigo 21 do Projeto de Lei 3734/2012 que se chega Matriz

    Curricular Nacional, a qual exerce influncia direta na formao dos policiais

    militares, por tratar da formao desde o seu incio, quando o profissional ingressa

    na carreira:

    Art. 21. A matriz curricular nacional constitui-se em referencial terico, metodolgico e avaliativo para as aes de educao aos profissionais de segurana pblica e dever ser observada nas atividades formativas de ingresso, aperfeioamento, atualizao, capacitao e especializao na rea de segurana pblica, nas modalidades presencial e distncia.

  • 42

    1 A matriz curricular pautada nos direitos humanos, nos princpios da andragogia e nas teorias que enfocam o processo de construo do conhecimento. 2 Os programas de educao devero estar em consonncia com os princpios da matriz curricular nacional. (PROJETO DE LEI N 3734/2012, p. 7).

    Conforme se extrai do artigo 21, a Matriz Curricular Nacional referencial

    terico-metodolgico e de avaliao das aes de educao, abrangendo a

    formao do profissional de segurana pblica completamente do ingresso s

    especializaes e capacitaes. Pautando-se nos direitos humanos, andragogia e

    teorias de construo do conhecimento, a Matriz Curricular Nacional, exerce papel

    de transformao no cenrio da formao de profissionais de segurana pblica

    buscando apagar os paradigmas do passado. Cabe ressaltar que a Matriz Curricular

    Nacional foi idealizada no incio dos anos 2000, vindo a ser apresentada no incio

    daquela dcada e posteriormente chamada de programa, no j citado Projeto de Lei

    3734/2012.

    A Matriz Curricular Nacional foi desenvolvida pelo Ministrio da Justia,

    atravs da SENASP, e apresentada no incio do sculo XXI, em 2003. Sua primeira

    modificao ocorreu em 2005, quando foram incorporados ao seu texto mais dois

    documentos: as Diretrizes Pedaggicas para as Atividades Formativas dos

    Profissionais da rea de Segurana Pblica e a Malha Curricular. A partir de 2005

    foram desenvolvidos seminrios denominados Matriz Curricular em Movimento.

    Tais seminrios contriburam para que fosse lanada uma verso atualizada e

    ampliada da Matriz Curricular Nacional, contendo em um s documento as

    orientaes para as aes formativas para profissionais de segurana pblica.

    Atitudes que consolidaram estas aes que j estavam em andamento desde os

    anos de 1990.

    A preocupao com a segurana pblica foi potencializada no final da

    dcada de 1990, quando o governo federal promoveu encontros, discusses e

    estudos sobre o tema. O resultado obtido com as aes promovidas foram que no

    primeiro quinqunio de 2000 a SENASP divulgou trs documentos que ocasionaram

    grande repercusso nas corporaes de segurana pblica do Brasil. Os

    documentos divulgados foram chamados: Bases Curriculares Nacionais para a

    Formao dos Profissionais da rea de Segurana do Cidado; Plano Nacional de

    Segurana e Matriz Curricular Nacional. (VERAS, 2008, p. 56)

  • 43

    O documento das Bases Curriculares Nacionais para a formao dos

    Profissionais da rea de Segurana do Cidado deu origem a Matriz Curricular

    Nacional, mesmo porque surgiu de estudos realizados pelo Ministrio da Justia

    anteriores a apresentao da Matriz. Segundo Veras (2006, p. 58), a elaborao das

    Bases Curriculares partiu de levantamentos feitos pelo Ministrio da Justia nos

    anos de 1998 e 1999, nas polcias do Brasil, dos quais resultaram informaes e

    diagnsticos verificando a necessidade de mudana na formao dos agentes de

    segurana pblica, e tambm nos currculos da polcia federal e policias estaduais

    nos nveis de formao, especializao, aperfeioamento e atualizao a fim de

    garantir a modernizao e equidade no ensino. Completa pela unio dos j citados

    documentos e atualmente denominada Matriz Curricular Nacional Para aes

    formativas dos profissionais da rea de Segurana Pblica, que d prosseguimento

    as Bases Curriculares e refora o Plano Nacional de Segurana Pblica junto com a

    Malhar Curricular.

    No incio do sculo XXI, verifica-se o Ministrio da Justia atuando de

    maneira a implementar as estruturas da Segurana Pblica do Brasil. Sem

    precedentes foi o esforo do Governo Federal para levar adiante a aplicao das

    Bases Curriculares de Formao dos Operadores de Segurana Pblica, buscando

    romper com a formao tradicional dos efetivos policiais, e para isto profissionais e

    especialistas de segurana pblica, defesa social, pesquisadores da sociologia,

    psicologia, cincias jurdicas, a representantes da comunidade e entidades de classe

    reuniram-se para tratar do assunto. A inteno com a reunio dos vrios segmentos

    era promover a interdisciplinaridade e romper com a tradio, promovendo o dilogo

    com o ideal de prevenir e combater o crime. (SILVA, 2007, p. 45)

    A Matriz Curricular Nacional, atravs do texto enriquecido por especialista,

    estudiosos e profissionais da rea de segurana pblica, visa seguir a proposta

    maior do Plano Nacional de Segurana Pblica, atendendo a seus princpios, ou

    seja, a interdisciplinaridade, pluralismo organizacional e gerencial, legalidade,

    descentralizao, imparcialidade, transparncia das aes, participao comunitria,

    profissionalismo atendimento das peculiaridades regionais e no respeito aos direitos

    humanos. (VERAS, 2008, p. 65)

    Pelo exposto, o Plano Nacional de Segurana Pblica busca cumprir seu

    papel, envolvendo a sociedade organizada no propsito de melhorar as aes de

    segurana como participante na soluo dos problemas, e segue a tendncia de

  • 44

    estudos modernos sobre segurana pblica que apontam para a necessidade de um

    novo modelo de Polcia.

    Por meio de estudos e pesquisas desenvolvidos no Centre for Brazilian

    Studies da University of Oxford, na Inglaterra, o jornalista e especialista em

    segurana pblica Marcos Rolim (2006) apresenta concluses a partir dos

    levantamentos feitos em pases da Europa e no Brasil, nos quais constata que o

    modelo reativo de policiamento est ultrapassado. O modelo preventivo e proativo

    de policiamento, ou seja, aquele que envolve o cidado e a comunidade de maneira

    que a parceria se estabelea com a polcia em prol da segurana coletiva tomando

    iniciativas que se antecipam ao crime. Ainda em Rolim (2006, p. 65), verificamos o

    seguinte: Um novo modelo proativo, de policiamento deve estar to prximo e

    vinculado s comunidades quanto possvel, inclusive com a retomada dos

    patrulhamentos a p. Desde que as polcias, principalmente a brasileira, passou a

    usar carros no patrulhamento, o que chamamos rdio patrulha, a polcia afastou-se

    da comunidade. Inclusive em geral os policiais no ficam satisfeitos quando so

    demandados a realizarem patrulhamento a p, preferindo trabalhar embarcados.

    O Plano Nacional de Segurana Pblica foca no envolvimento social, onde o

    cidado pode opinar sobre o tema segurana pblica, e a SENASP corrobora no

    sentido que ocorra essa integrao entre os rgos de segurana pblica e a

    comunidade, e mais, que a formao dos agentes seja unificada e equnime entre

    as Corporaes. O ponto alto desse foco a Matriz Curricular Nacional, que tem o

    intuito de padronizar a formao dos agentes de Segurana Pblica, e em especial

    dirigida aos profissionais das polcias civil, Polcia Militar e bombeiros militares.

    Ainda confirma este novo contexto de formao e valorizao da integrao dos

    agentes de segurana pblica o exposto no trabalho de Silva (2007, p. 44), Essa

    Matriz Curricular, ... tm realizadas as maiores tentativas para a aceitao da

    concepo de que a formao dos profissionais de segurana pblica deveria ser

    integrada.

    Como visto, a elaborao da Matriz Curricular Nacional atrela-se ao Plano

    Nacional de Segurana Pblica e a criao, tambm pela Secretaria Nacional de

    Segurana Pblica, do Sistema nico de Segurana Pblica (SUSP), os quais

    mantm e incentivam as pesquisas em segurana. Com o maior interesse pelo

    tema, o avano das pesquisas e estudos foi consequncia natural e entendeu-se

    que a melhora do aparato policial est vinculado Educao dos profissionais de

  • 45

    segurana pblica. Segundo Rolim (2006, p. 61), As melhores experincias de

    policiamento no Reino Unido e em vrios pases europeus parecem dever bastante,

    por outro lado, aos investimentos realizados na formao dos policiais.

    Constatamos que no s no Brasil tem-se pensado em aproximar os

    agentes de segurana pblica da sociedade, estabelecendo a cidadania atravs do

    investimento na formao dos policias. Isso ocorre tambm na Europa, que possui

    um histrico antigo no tocante segurana pblica. Contudo, no Brasil, o processo

    de aproximao entre sociedade e polcia lento frente cultura que se instalou

    durante dcadas de influncia das Foras Armadas na formao policial, e o

    rompimento com essa cultura depende de interesses no s sociais, mas polticos,

    conforme nos alerta Silva (2007, p. 48), ... depender da vontade da poltica

    compartilhada para se colocar de forma efetiva (real) os projetos de segurana

    pblica e de controle da criminalidade em aplicao, inclusive no que consiste

    formao e atualizao profissional.

    Conforme apresentado, o Projeto de Lei 3734/2012, que institui o SIEVAP, o

    qual, alm de outros programas, constitudo pela Matriz Curricular Nacional, em

    nosso entendimento constitui-se como Matriz e o mais completo documento j

    apresentado para a orientao da formao dos profissionais de segurana pblica,

    pois ele rompe com a formao tradicional e d o perfil de um agente de segurana

    pblica cidado.

    Para o melhor entendimento da Matriz Curricular Nacional e compreenso

    de sua importncia para as aes formativas dos profissionais da rea de segurana

    pblica, apresentamos a seguir os pontos mais relevantes do seu texto.

  • 46

    4.1 MATRIZ CURRICULAR NACIONAL ROMPENDO COM O PASSADO

    No sentido de adequar o ensinar a ser polcia, e que o aprendizado seja

    efetivo por parte dos agentes de segurana pblica, os estudos dos grupos que

    participaram da elaborao da Matriz Curricular Nacional apontaram para a

    necessria adequao dos currculos dos cursos de formao, especializao,

    aperfeioamento e atualizao. Pensar o currculo urgente e evidenciado na Matriz

    Curricular Nacional (2009, p. 6), Este pensamento impulsiona a necessidade de se

    repensar o currculo, a organizao curricular, os espaos e tempos das Aes

    Formativas. Sobretudo, a Matriz Curricular Nacional (2009) deixa claro que as

    aes devem privilegiar e valorizar o processo de aprendizagem; a construo de

    redes de conhecimento que promovam a integrao, a cooperao e a articulao

    entre diferentes instituies; as diversas modalidades de ensino; os diferentes tipos

    de aprendizagem e recursos; o desenvolvimento de competncias cognitivas,

    operativas e afetivas; a autonomia intelectual; a reflexo antes, durante e aps as

    aes policiais.

    O texto da Matriz Curricular Nacional orienta para a necessidade de focar no

    processo de aprendizagem, aprender segundo os novos conceitos e, em

    conformidade com Luiz (2008, p. 15), ... de se abandonar, no que for necessrio, o

    paradigma militarista e implantar um novo paradigma .... Em relao rede de

    conhecimentos que possam promover a integrao profissional entre as instituies,

    h no Brasil dificuldades de relacionamento entre as Instituies de Polcia;

    dificuldades que trazem prejuzo s corporaes, mas principalmente ao cidado,

    que quando necessita de atendimento se v a merc de desentendimentos

    institucionais. Promover a integrao e o respeito tambm segue os parmetros

    almejados pela Matriz Curricular Nacional no sentido de efetivar os servios pblicos

    de segurana, e isso ocorrer com a melhoria do ensino policial e tambm, por que

    no, do cidado.

    No ensino policial militar Brasileiro marcante a presena do que foi

    pregado pelas foras armadas, ou seja, uma formao pautada pela tradio. Na

    PMPR toda a formao, tcnica ou no, feita pelos policiais militares mais

    experientes, o que dificulta a quebra de paradigmas, tendo em vista que a maioria

    dos instrutores oficial de carreira j consolidada pelo sistema e escolhidos sem

  • 47

    critrios de qualificao exterior aos da caserna. Muitos dos profissionais que

    lecionam na instituio o fazem apenas com conhecimentos empricos ou com a

    teoria que receberam nos bancos acadmicos da APMG h duas ou trs dcadas

    atrs, inclusive sem a promoo por parte da instituio das novas tendncias de

    ensino, endgeno, como pode ser classificado o ensino policial militar.

    Contamos na atualidade com outros meios de ensino, os quais no so

    apenas aulas expositivas com a oratria do instrutor, a exemplo dos cursos

    promovidos pela SENASP, atravs do Ensino a Distncia e programas de ps-

    graduao oferecidos pela mesma Secretaria, mas o acesso ainda no est

    totalmente democratizado. O desenvolvimento das competncias cognitivas,

    operativas e afetivas somente poder ser efetivado por meio da quebra de

    paradigmas e a efetiva aplicao dos currculos sugeridos pelos grupos de estudo

    que os elaboraram, porm estes, assim como as ementas e os planos de disciplina,

    so tradicionalmente repetidos. So questes de difcil resoluo devido ao

    enfrentamento dos profissionais que atuam em todos os escales e que formados

    em outros regimes e com outros currculos acreditam que tiveram boa formao e,

    portanto, devem repeti-la. O investimento na autonomia intelectual deve estar mais

    presente na base hierrquica, no soldado de polcia, pois esse tem que decidir

    situaes do cotidiano sem contar com a presena de superiores, e este profissional,

    que v demandada urgncia em suas decises, o menos privilegiado por

    incentivos educacionais e recrutado atravs de processos menos valorizados.

    A autonomia intelectual est diretamente ligada ao poder de polcia e ao seu

    atributo da discricionariedade, quanto mais alto o posto ocupado maior a

    dependncia na tomada de decises, motivo este que leva a crer que o investimento

    maior deva ser na base, a qual necessita estar capacitada para tomar medidas

    imediatas que no podem demandar tempo. A reflexo antes, durante e aps as

    aes policiais, processo que visa romper com o passado recente, onde se desejava

    o policial que no ponderasse ordens, apenas as cumprisse srias so as

    consequncias de uma ao mal tomada, as repercusses podem atingir no s o

    policial, mas tambm vtimas e infratores. O policial preparado para a reflexo,

    consciente de seu papel social e de suas capacidades estar menos sujeito a expor

    vidas, inclusive a sua, e deixar de ser o mero cumpridor de ordens, tornando-se ser

    reflexivo, desprovido de preconceitos primrios.

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    4.2 OBJETIVOS DA MATRIZ CURRICULAR NACIONAL

    objetivo da Matriz Curricular Nacional (2009, p. 6), ser um referencial

    terico-metodolgico que orienta as Aes Formativas dos Profissionais da rea de

    Segurana Pblica, e para este contexto a palavra matriz tem sentido de criao

    e gerao, que orquestram um conceito mais abrangente e dinmico do que deve

    ser o currculo para a formao dos agentes de segurana pb