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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT FACULDADE DE DIREITO
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO CIVIL CONTEMPORÂNEO
Marcilene Ribeiro da Silva
DIREITO ASSISTENCIAL: RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FILHOS PELO ABANDONO
AFETIVO INVERSO
Cuiabá - MT 2017
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Marcilene Ribeiro da Silva
DIREITO ASSISTENCIAL: RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FILHOS PELO ABANDONO
AFETIVO INVERSO
Monografia apresentada como requisito final para a obtenção do título de Especialista em Direito Civil Contemporâneo da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.
Orientadora:
Prof.ª Msc. Maísa de Souza Lopes
Cuiabá – MT 2017
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Marcilene Ribeiro da Silva
DIREITO ASSISTENCIAL: RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FILHOS PELO ABANDONO
AFETIVO INVERSO
Monografia apresentada como requisito final para a obtenção do título de Especialista em Direito Civil Contemporâneo pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, sob a orientação da Prof.ª Msc. Maísa de Souza Lopes.
Aprovada em 06/10/2017.
Banca Examinadora:
Profª. Msc. Maísa de Souza Lopes Orientadora: UFMT
Prof. Dr. Carlos Eduardo Silva e Souza Examinador: UFMT
Cuiabá-MT, 06 de outubro de 2017.
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À memória de Agostinha Maria da Silva, mãe amorosa e sábia educadora, exemplo de vida que inspira-me a conquistar aquilo em que acredito, mesmo diante das adversidades.
A todos os idosos, que motivaram-me a escrever este trabalho, para que, num processo de conscientização, exercitem, plenamente, sua cidadania e consigam um nível de empoderamento capaz de instrumentalizá-los com vistas a diminuir a discriminação da sociedade capitalista que fomenta a ditadura da juventude e da beleza.
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AGRADECIMENTOS
Ao Divino Pai Eterno, Inteligência Infinita, meu professor/orientador ad aeternum, o meu louvor e a minha gratidão, pela certeza de sua presença constante em minha vida e por oportunizar-me a concluir, em ordem divina, todos os meus empreendimentos.
À Professora Msc. Maísa de Souza Lopes, que, pronta e gentilmente aceitou a responsabilidade de ser minha orientadora, pelas aulas ministradas, às quais serviram-me de incentivo para a eleição do meu tema de pesquisa e, principalmente, pelas orientações técnico-pedagógicas, das mais elementares às mais complexas, fundamentais para a tessitura deste trabalho.
Aos demais professores do Curso de Especialização em Direito Civil Contemporâneo, pelos sábios ensinamentos.
Aos colegas de turma, pelo relacionamento espontâneo vivenciado no cotidiano acadêmico, ambiência que favoreceu uma relação recíproca de aprendizado.
Ao Sirval Mendes, meu esposo, pela presença e apoio sempre constantes.
Aos meus irmãos e sobrinhos, família abençoada, pela união que há entre nós, em especial, pela certeza que temos que quando um da família cresce, todos crescem com ele.
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Não reconhecemos a velhice em nós, nem sequer paramos para observá-la, somente a vemos nos outros, mesmo que estes possuam a mesma idade que nós.
Simone de Beauvoir
Sabe o que mata mais rápido um idoso? É o seu esquecimento filho ingrato A sua falta de atenção, A sua falta de carinho! Ainda bem que Deus está vendo tudo! E o que você faz hoje com seus pais, Amanhã seus filhos farão com você! A lei do retorno existe e é implacável! É só esperar!
Andréia Godoi
Mensagem de WhatsApp veiculada em 01/07/2017
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RESUMO
Objetiva-se com este trabalho revisitar a história universal para mostrar que o processo de envelhecimento e o tratamento dispensado ao idoso reflete a ideologia que a sociedade tem a seu respeito. Sob essa ótica, trouxe à reflexão o idoso na civilização oriental e ocidental desde os primórdios até à atualidade. Para tanto, analisou-se as principais legislações pátrias de amparo ao idoso como a Constituição Federal de 1988, o Código Civil de 2002 e o Estatuto do Idoso, com enfoque no instituto da Responsabilidade Civil dos Filhos pelo Abandono Afetivo Inverso, por ser uma via judicial que possibilita a indenização de pais idosos em decorrência do abandono filial sofrido. Não obstante essa possibilidade judicial, a indenização aos idosos ainda é tema polêmico que exigirá muito estudo e debate como demonstram os julgados pátrios sobre essa questão. Formalmente, procurou-se desenvolver o conteúdo enfocando o idoso na história, na família, na sociedade, no ordenamento jurídico pátrio e na jurisprudência, para se compreender o processo de amparo e/ou exclusão social do qual tem sido protagonista e, acima de tudo, contribuir para que tenha uma vida digna, como merece todo cidadão que já contribuiu para uma sociedade melhor. Metodologicamente, utilizou-se a pesquisa bibliográfica partindo-se do método indutivo para o dedutivo, com vistas a verificar se o idoso tem recebido a tutela jurídica referente à indenização por abandono afetivo inverso face à sua situação de hipossuficiência e vulnerabilidade.
Palavras-chave: História, Idoso, Legislação, Responsabilidade Civil, Abandono Afetivo Inverso.
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ABSTRACT
This study aims at revisiting the universal history to show that the aging process and the treatment given to the elderly reflects the ideology that society has about them. From this point of view, it is brought to the reflection the elderly in Eastern and Western civilizations since the early days until today. Therefore, the main Brazilian laws for the protection of the elderly were analyzed, such as the 1988 Federal Constitution, the Brazilian Civil Code of 2002 and the Statute of the Elderly, focusing on the Filial Civil Responsibility for Reverse Affective Abandonment, as it is a judicial process which enables compensation for elderly parents who suffered filial abandonment. Notwithstanding this judicial possibility, compensation for the elderly is still a controversial issue that will demand further study and debate as demonstrated by the country’s cases on this subject. Formally, it was sought to develop the content in 04 chapters focusing on the elderly in history, family, society, the country’s legal system and jurisprudence, in order to understand the process of support and/or social exclusion from which he/she has been the protagonist and, above all, contribute to a dignified life, as every citizen that has already contributed to a better society deserves. Methodologically, the bibliographic research was used starting from the inductive to deductive method, in order to verify if the elderly has received the legal protection regarding compensation for revere affect abandonment in view of their situation of hypo-sufficiency and vulnerability.
Keywords: History, Elderly, Legislation, Civil Responsibility, Reverse Affective Abandonment.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 12
CAPÍTULO I
O IDOSO NO CONTEXTO SOCIOCULTURAL DA HISTORIA UNIVERSAL ......................... 13
1.1 Conceito de idoso .............................................................................................................. 13
1.2 Conceito de envelhecimento.............................................................................................. 14
1.3 O idoso na terceira idade ................................................................................................... 15
1.4 O idoso na Antiguidade ..................................................................................................... 16
1.5 O idoso na Idade Media ..................................................................................................... 22
1.6 O idoso na modernidade ................................................................................................... 23
1.7 O idoso na sociedade contemporânea .............................................................................. 24
1.8 O idoso e a família ............................................................................................................. 26
1.9 Maus tratos ao idoso ......................................................................................................... 27
CAPÍTULO II
A PROTEÇÃO DO IDOSO NO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO .......................... 30
2.1 A ONU e as pessoas idosas ............................................................................................. 30
2.2 O idoso nas constituições brasileiras ................................................................................. 31
2.3 A Constituição Federal de 1988 ......................................................................................... 33
2.4 Principiologia ..................................................................................................................... 35
2.5 Princípios constitucionais do Direito de Família: dignidade humana, afetividade e
solidariedade
................................................................................................................................................ 35
2.5.1 O princípio da dignidade humana .................................................................................. 36
2.5.2 O principio da afetividade ............................................................................................... 38
2.5.3 O princípio da solidariedade ........................................................................................... 40
2.6 Lei 10741/2003 – O Estatuto do Idoso .............................................................................. 41
2.7 O Código civil e o idoso .................................................................................................... 43
CAPÍTULO III
RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................................................................. 45
3.1 Responsabilidade civil: um breve escorço teórico .............................................................. 46
11
3.2 A responsabilização civil dos filhos nas relações com seus pais idosos ............................ 54
3.3.A possibilidade de indenização por danos morais decorrentes do abandono afetivo
inverso........................................................................................................................... 56
CAPÍTULO IV
O ABANDONO AFETIVO INVERSO NA JURISPRUDÊNCIA ........... 59
4.1 Breves considerações sobre o abandono afetivo inverso........................................................................................................................ 60
4.2 Posicionamento favorável à indenização por abandono inverso........................................................................................................................ 68
4.3 Posicionamento desfavorável à indenização por abandono afetivo inverso 72
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 75
REFERÊNCIAS...........................................................................................................................78
ANEXOS......................................................................................................................................82
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INTRODUÇÃO
A história universal nos mostra que o processo de envelhecimento não foi
similar em todos os povos. A visão que se tem do idoso é o reflexo ideológico de
uma dada sociedade sobre ele. Essa dicotomia fica mais nítida se compararmos
as duas grandes civilizações mundiais: a oriental e a ocidental. Na oriental, cujos
expoentes são a China e o Japão, a velhice, ao longo do tempo, sempre teve uma
condição privilegiada. Já, na ocidental, cuja ideologia enaltece o corpo jovem,
saudável e produtivo, a velhice é tratada, quase sempre, com desdém e, às vezes,
com muito desrespeito. Ademais, o idoso, no sistema capitalista, por não mais
constituir-se em mão de obra é considerado invisível e descartável, pois com o
envelhecimento surge a degradação física, mental e emocional.
Por ser efêmera a vida do ser humano, é essencial que ela seja digna em
todas as suas fases. A terceira idade, em razão de sua vulnerabilidade,
necessita de maior cuidado e proteção, garantias que são alcançáveis com leis
que criem condições para promover sua autonomia, integração e participação
efetiva na sociedade.
Nesse sentido, a Constituição Federal/88, o Código Civil, o Estatuto do
Idoso e a Lei 8.842/1994 (Política Nacional do Idoso), possuem dispositivos com
força coercitiva que obrigam os filhos a cuidarem de seus pais idosos. Um
exemplo dessa ação concreta é a reparação civil devida pelos filhos aos seus
genitores anciãos por danos morais sofridos pelo abandono afetivo. O caráter
coercitivo de tal medida justifica-se por entender que a omissão dos filhos em
relação aos seus pais na velhice constitui falta grave por violar a sua dignidade,
além de causar prejuízos como humilhação e angústia, situações que podem
causar doenças e, até mesmo, diminuir o seu próprio prognóstico de vida.
Aliás, o Código Civil tem se tornado um relevante instrumento de proteção
aos direitos essenciais dos idosos através da responsabilização civil, uma vez
que por meio dela poderá o idoso pleitear, perante o Poder Judiciário,
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indenização por danos morais sofridos em consequência do abandono afetivo de
seus filhos.
Partindo-se do pressuposto de que tudo gravita em torno da família,
primeiro ente de proteção do idoso, a ela cabe lutar para assegurar os seus
direitos fundamentais, em especial, o direito à vida com dignidade, como ressalta
a CF/88. Como a dignidade é inerente à pessoa, o dever dos seus familiares é
proporcionar as condições ideais para que haja uma longevidade saudável e
feliz.
Não obstante, a possibilidade de se ajuizar demandas com vistas à
indenização de idosos em decorrência do abandono filial sofrido, esta medida
judicial ainda é tema polêmico que exige muito estudo e debate. Contudo, a
reparação por danos morais no ambiente familiar objetiva assegurar a função
social da família, celula mater da sociedade.
Pretende-se com este trabalho verificar se o idoso tem recebido a tutela
jurídica referente à indenização por abandono afetivo tendo em vista a mesma
relação de hipossuficiência e vulnerabilidade da criança e do adolescente.
Objetiva-se, também, contribuir para o enriquecimento do acervo
bibliográfico a respeito da situação do idoso considerando que é uma parcela da
sociedade que aumenta a cada ano e, por esse motivo, precisa ser assistido
material e imaterialmente, com políticas públicas adequadas e mudanças de
atitudes tanto da família, como da sociedade, do Estado e do próprio idoso.
Formalmente, este trabalho possui 04 (quatro) capítulos assim
configurados: I - O idoso no contexto sociocultural da História Universal, II - A
proteção do idoso no ordenamento jurídico brasileiro, III - Responsabilidade Civil e
IV - O abandono afetivo inverso na jurisprudência
Com essa estrutura, procurou-se desenvolver o conteúdo enfocando o
idoso na história, na família, na sociedade e no ordenamento jurídico pátrio para
se compreender o processo de amparo e/ou exclusão social do qual tem sido
protagonista e, acima de tudo, contribuir para que tenha uma vida digna, como
merece todo cidadão que já contribuiu para uma sociedade melhor.
Metodologicamente, utilizou-se a pesquisa bibliográfica partindo-se do
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método indutivo para o dedutivo.
Vale consignar que a indenização por abandono imaterial, por si só, não
reaproxima os familiares, tampouco promove a solidariedade e a afetividade entre
eles. Todavia, possui caráter punitivo, compensatório e pedagógico, como toda
medida em que cabe responsabilidade civil.
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CAPÍTULO I
1. O IDOSO NO CONTEXTO SOCIOCULTURAL DA HISTORIA UNIVERSAL
Objetiva-se neste capítulo situar, historicamente, a questão do idoso,
trazendo à reflexão a concepção de diferentes civilizações sobre a velhice desde a
Antiguidade até os dias pós modernos, por acreditar que esta abordagem é
fundamental para se compreender a situação de exclusão e de abandono da qual
são vítimas muitas pessoas idosas.
Antes de discorrer sobre a história do idoso no contexto sociocultural
necessário se faz a conceituação dos termos idoso, envelhecimento e terceira
idade, elementos que constituem-se em base delimitada de saber para se
entender quem é o idoso, como se apresenta e como é visto pela sociedade na
qual está inserido.
1.1 Conceito de idoso
Tanto a Organização das Nações Unidas - ONU como a Organização
Mundial de Saúde - OMS definem o idoso a partir da idade cronológica e tomam
como parâmetro o nível socioeconômico de cada nação. Para ambas, em países
em desenvolvimento, é considerado idoso aquele que tem 60 ou mais anos de
idade. Já nos países desenvolvidos, a idade se estende para 65 anos.
Como se vê, o conceito de idoso é diferenciado para países em
desenvolv imento e pa ra pa íses desenvo lv idos . Nos p r ime i ros ,
como é o caso do B ras i l , são consideradas idosas aquelas pessoas com
60 anos e mais; nos segundos, são idosas as pessoas com 65 anos e mais. Essa
definição foi estabelecida pela ONU, em 1982, por meio da Resolução 39/125,
durante a Primeira Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre o
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Envelhecimento da População, realizada em Viena, capital da Áustria,
relacionando-se com a expectativa de vida ao nascer e com a qualidade de vida
que as nações propiciam aos seus cidadãos.
Etimologicamente, a palavra idoso vem de idade + oso. Sempre se
relaciona objetivamente com o tempo em anos, meses e dias, decorridos a contar
de uma data inicial determinada ou determinável. Idoso, em relação ao ser
humano, tem esse significado, a partir do nascimento.
Para a Lei 8.842/1994 - Política Nacional do Idoso, bem como para a Lei
10.741/2003 - Estatuto do Idoso, o vocábulo idoso refere-se à pessoa com 60
anos ou mais.
É importante esclarecer, no entanto, que a idade cronológica não é um
marcador preciso para as mudanças que acompanham o envelhecimento. Existem
diferenças significativas relacionadas ao estado de saúde, participação e níveis de
independência entre pessoas que possuem a mesma idade (SANTOS, 2010).
1.2 Conceito de envelhecimento
Envelhecimento é um processo inexorável e irreversível que ocorre em
todas as sociedades humanas em decorrência de mudanças biológicas,
cognitivas, sociais, culturais e econômicas (MACHADO, 2017).
Para referida autora, a velhice, no ser humano, caracteriza-se por um
processo biopsicossocial de transformações, ocorridas ao longo da existência,
suscitando diminuição progressiva de eficiência de funções orgânicas (biológica),
criação de novo papel social que poderá ser positivo de acordo com os valores
sociais e culturais do grupo ao qual o idoso pertence (sociocultural); e pelos
aspectos psíquicos vistos tanto pela sociedade quanto pelo próprio idoso
(psicológico).
De acordo com SARAIVA (2016), na visão da gerontologia, ciência que
estuda o envelhecimento do homem sob enfoques biológicos, psicológicos,
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ambientais e culturais, envelhecer é um processo natural, orgânico, dinâmico,
progressivo e irreversível que se instala no indivíduo desde o nascimento e o
acompanha por toda a vida, provocando alterações na forma do corpo, nas
funções orgânicas e nas reações químicas do organismo.
1.3 Conceito de terceira idade
Como descrito anteriormente, a ONU define Terceira idade1 como a fase da
vida que começa aos 60 anos nos países em desenvolvimento e aos 65 anos
nos países desenvolvidos.
Se fizermos um cotejo entre a definição de terceira idade apresentada pela
ONU com as principais legislações brasileiras, encontraremos pontos de
divergência relativos a essa faixa etária. Isso ocorre, porque a Constituição Cidadã
de 1988 estabelece que a terceira idade tem início aos 65 anos. Já o Código
Penal, considera idoso para efeitos criminais a partir de 70 anos e a Política
Nacional do Idoso, define o limite de 60 anos para o ingresso da pessoa na
referida fase.
Apresentados os conceitos em epígrafe, passa-se a revisitar a História
Universal, a fim de contextualizar a historicidade do idoso nas diversas fases do
processo civilizatório e, com isso, conhecer o lugar que ele, ideologicamente,
ocupa na sociedade contemporânea, de forma a contribuir para que tenha um
1 1 A terceira idade caracteriza-se por mudanças físicas em todo o organismo do indivíduo,
alterando suas funções e trazendo mudanças nos seus comportamentos, percepções, sentimentos, pensamentos, ações e reações. Há também alterações dos papéis sociais que resultam das mudanças biopsicológicas relacionadas ao avanço da idade. Assim, a terceira idade ou velhice não comporta um único conceito, uma vez que a idade cronológica pode não ser idêntica à idade biológica e social do indivíduo. O termo terceira idade foi criado pelo gerontologista francês Huet, cujo início cronológico coincide com a aposentadoria por emprego lucrativo, entre 60 e 65 anos. O envelhecimento ocorre em diferentes dimensões (biológica, social, psicológica, econômica, jurídica, política) e depende de diversos fatores ocorridos nas fases anteriores da vida, como as experiências vividas na família, na escola ou em outras instituições.
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tratamento voltado para as suas necessidades e não seja vítima do abandono
afetivo inverso.
1.4 O idoso na Antiguidade
Não há como negar: o idoso é uma parcela da sociedade que compõe o
contingente populacional de uma nação e, nessa condição, recebe tratamento
social e governamental, de acordo com a concepção sociopolítica dessa nação.
Isso significa dizer que o idoso é visto sob diferentes perspectivas consoante as
várias culturas na qual está inserido. Assim, na cultura oriental, o idoso é visto
como um símbolo de sabedoria devido às experiências vividas, e por isso, é o
mais respeitado e com o mais alto estatuto na sociedade.
Ao passo que na cultura ocidental, o viver da pessoa idosa é pontilhado por
preconceitos, discriminação e isolamento. Não obstante esses traços sombrios,
SANTOS (2001), afirma que eles vem sendo transformados em uma função mais
positiva.
Depreende-se dessas informações que a concepção sobre a velhice não é
única para todos os povos, tudo resulta do período em que cada um viveu e a
herança cultural recebida da própria civilização.
A autora em comento, partindo de reflexões filosóficas da história universal,
aborda a questão do envelhecimento na Antiguidade oriental e ocidental, sob a
visão de pensadores importantes como forma de o profissional que cuida do idoso
entenda esse processo e, com isso, cuide melhor de si e do idoso em suas reais
necessidades.
A China, à guisa de exemplo, tratava os idosos de maneira privilegiada. A
qualificação e a responsabilidade das pessoas aumentava com os anos e no ápice
da hierarquia de poder encontravam-se os anciãos. Essa posição elevada refletia-
se na família, sendo que toda a casa devia obediência ao homem mais idoso e,
sua autoridade, não diminuía com a idade.
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Na civilização oriental destacam-se Lao-Tsé e Confúcio como os principais
idealizadores e propagadores dessa concepção. O filósofo e historiador Lao - Tsé
ou Lao - Tzi (604-531 a.C) viu na velhice um momento de alcance espiritual
máximo, afirmando que o ser humano, aos 60 anos, atinge a possibilidade de
libertar-se de seu corpo através do êxtase e se tornar santo.
O outro expoente dessa época foi Confúcio (551 a.C. - 479 a.C.) que
justificava moralmente essa autoridade associando velhice à posse da sabedoria.
A sua filosofia visa a uma organização nacionalista da sociedade
estruturada no princípio da simpatia universal que deve ser alcançada por meio da
educação, e estender-se do ser humano à família e da família ao Estado, este
considerado a grande família.
O confucionismo, como descreve SANTOS (2001), tem como base a
família, na qual todos devem obediência ao ser humano masculino mais velho. A
autoridade do patriarca mantém-se elevada com a idade e até mesmo a mulher,
tão subordinada, na velhice, passa a ter poderes mais elevados do que os jovens
masculinos, exercendo influência preponderante na educação dos netos. Confúcio
acreditava que a autoridade da velhice é justificada pela aquisição da sabedoria.
Pregando que aos 60 anos o ser humano compreende, sem necessidade de
refletir tudo que ouve; ao completar 70 anos, pode seguir os desejos do seu
coração sem transgredir regra nenhuma, e que a sua maior ambição era que os
idosos pudessem viver em paz e, principalmente, que os mais jovens amassem
esses seres.
De acordo com a autora em referência, Confúcio entendia que não há no
mundo nada tão grande como o ser humano; e, no ser humano, nada é maior que
a piedade filial. Conforme sua doutrina, os deveres dos filhos para com os pais
compreendem: procurar torná-los seres humanos felizes, de todas as maneiras e
em todos os momentos; sempre cuidar deles com carinho e atenção; demonstrar
saudade e dó deles, por ocasião de sua morte; e, após a sua morte, oferecer-lhes
sacrifícios com muita formalidade.
Conclui o pensador, que o amor dos filhos aos pais envelhecidos, a
assegurar-lhes maior proteção e segurança na última idade do seu processo de
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viver, compreende uma das mais sublimes ações do ser humano para consigo
mesmo e para com a sua espécie, ou seja, para com a sua geração e para as
gerações futuras, sustentando a perpetuação do amor intenso e especial entre
pais e filhos.
No que diz respeito à literatura chinesa, a velhice nunca é concebida como
um flagelo. No Japão, a velhice é sinônimo de sabedoria e de respeito. O
fenômeno envelhecer é natural. O idoso é tratado com respeito e atenção, devido
à vasta experiência acumulada através dos anos. A família é o seu amparo. As
crianças e os adolescentes veem com orgulho os sacrifícios realizados pelos seus
idosos em benefício da família. Dentre esses sacrifícios destacam-se o trabalho
para satisfazer as despesas da casa e o pagamento do estudo dos filhos, mesmo
possuindo um grau de escolaridade elementar. Na cultura japonesa o ancião
ocupa sempre uma posição digna. Por isso, é comum as pessoas os consultarem
antes de tomarem uma decisão importante, por considerarem os seus conselhos
sábios e experientes. Os idosos tem, portanto, uma forte atuação tanto nas
decisões políticas como nas decisões do seu grupo social.
O aniversário do idoso é comemorado no Japão de forma solene. E mais,
desde 1.947, celebram o Dia do Respeito ao Idoso (keiro no hi). É um feriado
dedicado aos idosos, e neste dia, os japoneses rezam pela longevidade dos mais
velhos, agradecendo as contribuições feitas à sociedade ao longo de suas vidas.
Com relação à idade, esta não é perguntada às mulheres jovens, somente às mais
idosas, que respondem com muito orgulho terem 70 ou 80 anos. Em sentido
contrário, tal indagação aqui, no Brasil, é interpretada como falta de educação,
tendo em vista que perguntar a idade de alguém mais velho causa
constrangimento, como se fosse vergonhoso ter muitos anos de vida.
Na cultura japonesa, ao completar 60 anos de idade, é permitido ao homem
o uso de blazer vermelho, pois é preciso completar seis décadas de vida para ter a
liberdade de usar a cor dos deuses.
Como se vê, nas culturas orientais, o idoso é tido como alguém que
acumulou muita experiência, portanto, possuidor de um saber digno de respeito e
de admiração.
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Já no Ocidente, onde a beleza e o vigor físico eram cultuados e exaltados,
o primeiro texto dedicado à velhice, escrito em 2.500 a.C. por Ptah-Hotep, filósofo
e poeta egípcio, traça um quadro sombrio sobre o idoso, como se observa da
seguinte citação:
Como é penoso o fim de um velho! Ele se enfraquece a cada dia; sua vista cansa, seus ouvidos tornam-se surdos; sua força declina; seu coração não tem mais repouso; sua boca torna-se silenciosa e não fala mais. Suas faculdades intelectuais diminuem, e lhe é impossível lembrar-se hoje do que aconteceu ontem. Todos os seus ossos doem. As ocupações que até recentemente causavam prazer só se realizam com dificuldade, e o sentido do paladar desaparece. A velhice é o pior dos infortúnios que pode afligir um homem. O nariz entope, e não se pode mais sentir nenhum odor (BEAUVOIR apud SANTOS, 2001).
Referido pensamento nos apresenta a face cruel do processo do
envelhecimento com todas as suas mazelas e tece comentários de modo
desfavorável, desolado e depressivo.
Embora escrito na civilização antiga, esse texto reflete, em muito, o
universo do idoso no mundo atual, principalmente em países em desenvolvimento,
como é o caso do Brasil, haja vista a situação de abandono, isolamento,
preconceito e discriminação em que vive grande parte da população anciã.
Contudo, esse quadro sombrio tende a melhorar em virtude da criação de leis,
bem como de políticas públicas em prol dessa classe que é denominada “geração
esquecida”.2
Não se pode olvidar, no entanto, que em decorrência da globalização da
economia e, com ela, os avanços tecnológicos, científicos e demográficos, fatores
que contribuem para tornar o homem mais longevo não foram suficientes para os
idosos conquistarem um padrão ideal de qualidade de vida, ou seja, uma velhice
mais tranquila e saudável e, acima de tudo, mais adaptável às limitações próprias
dessa fase.
2 Geração esquecida, assim denominada, porque muitos idosos são deixados pela família em abrigos, esquecidos nos hospitais, mandados para lares, a maioria dos idosos não recebe visitas nem mesmo nas datas mais importantes e especiais, como o Dia do Pai/da Mãe, aniversário, Natal, Páscoa ou no Dia do Idoso.
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O respeito do povo judeu pelos idosos pode ser verificado através de seu
principal livro: a Bíblia. Sobre esse assunto MENDES (2011), esclarece que em
Eclesiástico, consta “Obrigações dos filhos” onde encontram-se recomendações
quanto ao cuidado com os idosos: “Filho, ampara a velhice de teu pai, e não lhe
dê pesares em sua vida: e se lhe forem faltando as forças, suporta-o, e não o
desprezes por poderes mais do que ele: porque a caridade que tu tiveres usado
com teu pai, não ficará posta em esquecimento” (Ecle, 3:14,15).
Continua o autor: Sobre a Maturidade da Velhice: “Como acharás tu na tua
velhice, que o não ajuntaste na tua mocidade? Quão belo é às cãs o juízo, e aos
anciãos o ter conhecimento do conselho! Quão bem parece a sabedoria nos
velhos, e a inteligência, e o conselho nas pessoas da alta jerarquia! A experiência
consumada é a coroa dos velhos, e o temor de Deus é a sua glória” (Ecle, 25:5-8).
Os antigos hebreus também se destacavam pela importância que davam a
seus anciões, que, em épocas de nomadismo eram considerados os chefes
naturais dos povos que eram consultados quando necessário. Matusalém é o
símbolo da velhice da cultura hebraica, aos 969 anos era considerado o homem
mais velho dessa nação.
Uma vida longa era vista mais como uma benção do que como uma carga,
e esta benção é vista nos patriarcas bíblicos.
No povo judeu, a sociedade descrita é patriarcal, na qual os grandes
ancestrais eram os eleitos e os porta-vozes de Deus, eram venerados e
respeitados. Tanto a velhice era valorizada que, maltratar os pais era um crime
que podia ser punido com a morte. Os idosos tinham um papel político na
sociedade, pois o órgão máximo do povo hebreu, o Sinédrio, era composto por
setenta (70) “anciãos do povo”, homens ilustres, cujas filhas poderiam casar-se
com sacerdotes.
Na Grécia Antiga, não se verifica uma unidade de tratamento para com os
mais velhos. Pode-se dizer que a velhice era mesmo uma etapa da vida temida
pelos gregos, principalmente pela civilização helênica, onde o vigor característico
da juventude era muito valorizado.
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Entretanto, é em Sócrates que se encontra o verdadeiro interesse pelos
problemas do idoso. Em sua obra “A República”, Platão dá voz a Sócrates que faz
referências ao envelhecimento afirmando que para os seres humanos prudentes e
bem preparados, a velhice não constitui peso algum.
De fato, se a pessoa, no decorrer da vida, desenvolver hábitos e atitudes
saudáveis e entender que a velhice é um processo natural da vida, tem grande
chance de ser um idoso consciente e dessa forma, será feliz e contribuirá com a
sociedade, à medida de sua capacidade. Platão, reproduzindo os diálogos e os
momentos vivenciados com Sócrates, afirmava que a velhice faz surgir nos seres
humanos um imenso sentimento de paz e de libertação. Aos 80 anos quando
escreveu “Leis” mostra as obrigações dos filhos para com os pais idosos,
enfatizando que nada é mais digno que um pai e um avô, que uma mãe e uma avó
todos idosos.
Já a visão de Aristóteles sobre o envelhecimento era a de que uma boa
velhice era aquela em que o ser humano não apresentasse enfermidades.Na
percepção aristotélica, o idoso era deprimente, reticente, hesitante, lento, de mau
caráter, só imagina o mal; é cheio de desconfiança e que essas características
são decorrentes de suas experiências de vida, sendo desprovidos de
generosidade, vivendo mais de recordações do que de esperanças e desprezando
a opinião alheia. Em “A Ética”, Aristóteles ensina que o ser humano progride
somente até os 50 anos.
Essa era, portanto, a concepção que imperava entre os gregos, amantes do
corpo jovem e saudável e, nessa preocupação de cultuar e preservar a beleza,
tratava a velhice com desconsideração e até mesmo com pavor, chegando alguns
a preferirem a morte do que envelhecer.
Observa-se que essa visão negativa da velhice ainda está arraigada no
imaginário coletivo dos povos ocidentais, entre eles, nós, brasileiros, que temos
uma imagem distorcida da pessoa idosa.
Porém, de maneira geral, a velhice estava associada à ideia de honra, o
que pode ser verificado mediante o fato de o rei ser assistido por um conselho de
anciãos, mesmo que esse conselho tivesse apenas um papel consultivo, para o
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qual alertava Homero. É que naquela época (séc. IX) a coragem física e valores
guerreiros desempenhavam um papel essencial, como pode ser constatado
através da obra “Ilíada”, de maneira que a velhice e a morte eram evocadas de
forma a induzir a uma aceitação deliberada da condição humana. A velhice era
associada à experiência, à arte da palavra e à autoridade, mas era reconhecida a
fragilidade física do idoso.
Na sociedade romana os anciãos tinham uma posição privilegiada. O direito
romano concedia a autoridade de “pater familias” aos anciãos. Quanto mais
poderes lhes eram concedidos, mais a ira de novas gerações se voltava contra os
velhos. A República Romana também conferia cargos importantes no senado aos
anciãos como “patrícios”. A imagem negativa da velhice foi combatida por Sêneca,
mas foi Cícero, com sua obra "A Senectude" que a velhice foi valorizada, uma vez
que encontrou nele seu maior defensor.
Entre os romanos, a relação do velho com a sociedade se dá através da
propriedade. Enquanto proprietários, a propriedade privada era garantida por lei e
eles eram respeitados. E, foram os ricos proprietários fundiários, que haviam
chegado ao fim de suas carreiras de magistrados, que detiveram o poder, eles
compunham o senado. O senado era a mais importante instituição de poder, cujo
nome deriva de “senex”, que significa idoso, valorizando a experiência desses
cidadãos.
Essa situação privilegiada dos idosos afirma-se no interior da família, onde
o poder do pater familias é quase sem limites. Ele tem os mesmos direitos sobre
as pessoas e sobre as coisas: matar, mutilar e vender. O regime republicano
fracassa a partir dos Gracos e o senado perde pouco a pouco seus poderes que
passam às mãos dos militares, ou seja, de homens jovens. Cícero, que era
senador, compõe, aos 63 anos, uma defesa da velhice para reforçar a autoridade
do senado que estava abalada. Ele chama de preconceitos as ideias que se têm
da velhice, mas reconhece que, em geral, ela é detestada. Com a queda do
Império Romano os anciãos também foram perdendo seu lugar de destaque na
sociedade, mais uma vez se tornaram vítimas da superioridade juvenil.
No sistema de estratificação por idade de cada sociedade estava implícito
http://www.ufrgs.br/e-psico/subjetivacao/tempo/velhice-pater-familias.htmlhttp://www.ufrgs.br/e-psico/subjetivacao/tempo/velhice-senectude.html
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que a idade era um determinante básico da distribuição de tarefas.
O Cristianismo pregou uma visão negativa da velhice. Este tema deixou de
interessar aos escritores cristãos que associavam a velhice com a moral e a
concebiam como uma etapa da decrepitude, feiúra e pecado.
Nas culturas Incas e Aztecas, a população anciã era tratada com muita
consideração. A atenção a este segmento social era vista como de
responsabilidade pública.
1.5 O idoso na Idade Media
Durante o Baixo-Império e a alta Idade Média (século V ao X), quando a
sociedade era regida pelas armas, os idosos foram excluídos da vida pública. Na
família, o avô era respeitado, os pais exigiam obediência de seus filhos e lhes
impunham casamentos. No século XIV, quando a propriedade funda-se em
contratos, e não na força física, os idosos ricos tornaram-se poderosos pela
acumulação de riquezas. Observa-se que, os antigos não tinham como referência
a idade cronológica para estabelecer a condição de velhice, esta poderia iniciar-se
a partir dos 45 anos, considerando que, com esta idade, a pessoa já detinha saber
ou propriedade, o que lhe assegurava um papel na sociedade, e a longevidade era
rara, poucos viviam muito mais do que isso3.
É possível verificar a associação entre velhice e sabedoria também na
descrição das idades da vida, apresentada por Ariès, onde elas são representadas
no século XVI, de acordo com as funções sociais. Em uma pintura no palácio dos
Doges, pode ser visto:
“Primeiro, a idade dos brinquedos: as crianças brincam com um cavalo de pau, uma boneca, um pequeno moinho ou pássaros amarrados. Depois, a idade da escola: os meninos aprendem a ler ou seguram um livro e um
3 A título de exemplo, Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano Germânico, faleceu aos 42 anos, em 1.380, com a reputação de um velho sábio.
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estojo; as meninas aprendem a fiar. Em seguida, as idades do amor ou dos esportes da corte e da cavalaria: festas, passeios de rapazes e moças, corte de amor, as bodas ou a caçada do mês de maio dos calendários. Em seguida, as idades da guerra e da cavalaria: um homem armado. Finalmente, as idades sedentárias, dos homens da lei, da ciência ou do estudo: o velho sábio barbudo vestido segundo a moda antiga, diante de sua escrivaninha, perto da lareira.”
1.6 O idoso na modernidade
No século XVIII, em toda a Europa, a população cresce e rejuvenesce
graças a uma melhor higiene, todavia o domínio do idoso na família e na
sociedade começou a mudar, e acredita-se que o início da perda de poder e de
prestígio se deva à Revolução Industrial, que ocorreu no fim desse século, e que
pode ser considerada a causa fundamental de grandes transformações
estruturais, especialmente no mundo ocidental, que interferiram na estrutura
familiar, nas relações de trabalho e nos valores econômicos. Surge a família
nuclear, na qual o idoso perde seu espaço, e não sendo mais produtivo
economicamente, passa a ser considerado improdutivo e descartável. E assim
surge o conceito negativo de velhice.
Na visão de Beauvoir (1990), as concepções de velhice variam conforme o
interesse das classes sociais, manifestas pelos legisladores e moralistas, e esta
questão está sempre relacionada com a questão do poder, pois até o século XIX,
ela não encontrou referência aos velhos pobres, que eram pouco numerosos e
sua vida era mais curta. A velhice idealizada e prestigiada na mitologia e no
folclore, observa Mascaro, é representada pela imagem do homem idoso, cheio de
vigor, bondade e sabedoria, enquanto que a imagem da velhice feminina é
identificada pelo lado negativo e sombrio da vida. O prestígio e a valorização da
mulher estavam relacionados à procriação, após a menopausa, perdiam seu valor.
As ideologias predominantes em cada época reconheciam a velhice como
categoria social, ora exaltando-a como virtude, ora marginalizando-a pela
ausência da força física. Já aos artistas e poetas, a velhice só interessou enquanto
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aventura individual, e desta forma, era temida e apresentada como um ser
negativo, evidenciando-se as suas limitações.
De toda a história da velhice o que se verifica é que, mesmo tendo sido
reconhecida como sabedoria, nunca foi ignorada sua fragilidade, por isso as
imagens que dela se tem em diferentes épocas, ora evocavam um ou outro
atributo. Felizmente, na pós modernidade, não tem sentido a imagem da
decrepitude do ancião dos séculos XVI e XVII. O ancião desapareceu, como diz
Ariès, foi substituído pelo “homem de uma certa idade”, e por “senhores ou
senhoras bem conservados”. Segundo o autor, “a ideia tecnológica de
conservação substituiu a ideia ao mesmo tempo biológica e moral da velhice,”
associadas à fragilidade e à sabedoria.”
1.7 O idoso na sociedade contemporânea
Não obstante os avanços científicos, tecnológicos, sociais, culturais e
legais na sociedade pós moderna, o idoso ainda é estigmatizado por preconceitos,
discriminação e exclusão. A imagem que se tem dele é de declínio e fragilidade. A
sociedade contemporânea está focada no novo, no belo e no produtivo, por isso,
valoriza o jovem e, por via reflexa, rejeita tudo o que não corresponde a essa
imagem.
A sociedade atual é caracterizada pela imagem e pelo consumo, status que
torna a velhice invisível e em decadência. Nesse contexto, o idoso é o inservível,
inadaptável à realidade sóciocultural. Sob essa ótica, ele perde o seu valor social
e simbólico positivos passando a ocupar um lugar estigmatizado e preconceituoso.
Nesse quadro, o idoso não é reconhecido como portador de conhecimentos os
quais são transmitidos aos mais jovens como ocorria nas sociedades antigas em
que era respeitado e valorizado como agente detentor de grande saber e que o
transmitia aos mais jovens.
Há um imaginário coletivo, em que se acredita que o idoso ocupa espaço e
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que está à espera da morte. Com o evoluir da sociedade, ele perdeu a sua função
de perpetuador cultural, aquele que transmite conhecimentos, ao contrário, é
reconhecido como inativo.
Isso ocorre, porque a sociedade em que vivemos é capitalista e, como tal,
valoriza a produção e o lucro, sendo o idoso também excluído neste quesito, uma
vez que não há mercado de trabalho para ele, por ser considerado inoperante e
improdutivo.
Sobre a atuação do idoso na sociedade, HORN (2013) assim pontua:
Numa sociedade capitalista, além de ser marcada pela cultura da imagem, se valoriza também a produção, que geralmente pode ser considerada a primeira dificuldade a ser enfrentada pelo idoso. Fazendo com que seja excluído do mercado de trabalho. Na atualidade, produtividade e velocidade são termos de grande importância para o mundo do trabalho e parece que fazem parte somente das características da juventude. É fato de que em certo ponto, a velhice se caracteriza por um período de redução e ausência de trabalho formal, fazendo com que seja utilizada uma quantidade de termos negativos que são aplicados aos idosos, como “inativos”, “improdutivos”, fazendo com que essas pessoas se sintam aposentadas para a vida e não somente para o trabalho.
Apesar desse quadro sombrio sobre o idoso na contemporaneidade, ele
conseguiu muitas conquistas sociais, legais e sanitárias. Na legislação pátria
tem-se a CF/1988, o Estatuto do Idoso, a Política Nacional da Pessoa Idosa, o
Código Civil e o Código do Consumidor, todas com dispositivos voltados à
proteção dos direitos e da dignidade da pessoa idosa.
Não se pode perder de vista que o idoso é um agente de transformação.
Com o seu conhecimento, seu salário e sua alegria, contribui para o bem estar de
muitas pessoas, em especial, as de sua família, principalmente quando é
aposentado e, muitas vezes, o provedor principal da família.
É preciso compreender, no entanto, que o envelhecimento é um processo
universal que afeta o próprio ser humano, sua família, sua comunidade e a
sociedade. Portanto, esse processo deve ser visto com naturalidade,
considerando que faz parte da vida.
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1.8 O idoso e a família
A maioria das famílias vive com o idoso sob o mesmo teto. Dessa
convivência nasce um relacionamento baseado na afetividade e, às vezes, na
agressividade. A família é definida como um grupo enraizado numa sociedade e
tem uma trajetória que lhe delega responsabilidades sociais. Especialmente
perante o idoso, a família vem assumindo um papel importante e inovador, na
medida em que o envelhecimento acelerado da população é uma realidade.
Sob o ponto de vista legal, a Constituição Federal de 1988 define família
como a base da sociedade e atribui-lhe como dever o amparo das pessoas idosas
de modo a assegurar-lhes a participação na comunidade, defendendo sua
dignidade e bem estar e garantindo-lhes o direito à vida.
Nesse sentido, enfatiza Fátima Teixeira que cabe aos membros da família
entender essa pessoa em seu processo de vida, de transformações, conhecer
suas fragilidades, modificando sua visão e atitude sobre a velhice e colaborar para
que o idoso mantenha sua posição junto ao grupo familiar e social.
Em sendo a família fundamental para o bem estar e o equilíbrio do idoso,
conclui-se que é no seio familiar que o idoso deve permanecer e receber o
cuidado, o apoio e o amor dos filhos ou de outros familiares.
Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a família ainda é a principal
provedora da pessoa idosa. Essa realidade é mais recorrente entre as famílias
pobres com idosos, onde acontece a formação de arranjos familiares entre várias
gerações, de modo a se fazerem companhia e se autoajudarem. Nesse processo
de coabitação, os familiares mais jovens, quase sempre desempregados, passam
a usufruir da renda dos mais velhos, e estes, dos cuidados e do afeto que a família
pode oferecer no ambiente doméstico, numa nítida relação de barganha na qual o
idoso provê a manutenção econômica e o jovem, em contrapartida, cuida do
idoso.
De fato, o Brasil é um dos países onde predominam os arranjos familiares
do tipo idoso com cônjuge, filhos e outros parentes que coabitam num mesmo
domicílio. No meu cotidiano há esse exemplo, reforçando a ideia de que é comum
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a coabitação entre mais de duas gerações, principalmente entre as famílias mais
pobres.
1.9 Maus tratos ao idoso
Os maus tratos é a ação e o efeito de maltratar (tratar mal uma pessoa,
sujeitando-a à violência e aos abusos). Este conceito está associado a uma forma
de agressão no âmbito de uma relação entre duas ou mais pessoas. Trata-se,
portanto, de violência praticada por alguém, de forma comissiva ou omissiva
contra outra pessoa que esteja sob os seus cuidados.
É comum observar a intolerância dos não idosos com os mais velhos.
Vulneráveis física e emocionalmente, os idosos sofrem, profundamente, essa
agressão.
A violência contra os idosos acontece de várias maneiras: abandono, roubo,
espancamento, humilhação, cárcere privado, violência física e psicológica são
alguns modos. Medo, constrangimento e constantes ameaças são as principais
causas que impedem a população idosa de denunciar esses delitos. As agressões
ocorrem dentro de casa, de quem, teoricamente, mais se espera amor e proteção.
Surge o dilema: Como denunciar o próprio filho ou outro parente? Pois,
quebrar o laço familiar é um desafio para as vítimas, que se calam diante da
situação de violência. O idoso não consegue anular a relação parental com o
agressor da família. Romper esse silêncio muitas vezes gera dor. Esse conflito
interno explica porque 90% das denúncias de maus tratos são anônimas.
A questão da violência contra a pessoa idosa é tão séria que foi criado o
Disque 1004, canal da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos responsável pelo
recebimento de denúncias de violações de direitos. Registrou-se 12.454
denúncias de violência contra a pessoa idosa nos quatro primeiros meses de 2016
(de janeiro a abril). Os dados, divulgados no Dia Mundial de Conscientização da
Violência contra a Pessoa Idosa, mostram que a maior parte das violações
4 Dados do Disque 100, divulgados em 15/06/2016, pela Assessoria de Comunicação Social da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH – PR.
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acontece dentro da casa das vítimas, cometida por filhos, netos ou outros
familiares. Comparado ao mesmo período do ano anterior, 2015, o número de
denúncias cresceu 20,54%.
Essas violações acontecem principalmente com os idosos mais
dependentes de cuidados, os indefesos, que não têm mobilidade, não só para sair
de casa, mas também de reclamar ou denunciar. Esses são os que sofrem mais",
afirma o presidente do Conselho Nacional de Direitos do Idoso (CNDI), Luiz
Legñani. Ele destaca, ainda, que a data é importante para criar uma consciência
sobre o assunto, que não pode ser tratado como normal. "Precisamos criar a
consciência de que o idoso precisa ser respeitado e valorizado, bem tratado e bem
cuidado. Diante de uma sociedade que prega individualidade, consumismo e
isolamento, o idoso acaba ficando deslocado em sua necessidade de conversar e
ter companhia".
Os dados revelam, ainda, que as violações mais comuns são a negligência,
a violência física ou psicológica e o abuso financeiro e econômico, também
chamado de violência patrimonial. O maior número de denúncias foi registrado em
São Paulo (2820), Rio de Janeiro (1699) e Minas Gerais (1116).
Afirma Legñani que o Brasil pode ser considerado referência em termos de
legislação e políticas públicas para o idoso, como a Política Nacional dos Direitos
do Idoso e o Estatuto do Idoso. Iniciativas como a Cidade Madura (João Pessoa,
PB) e o Centro Dia para idosos fazem parte deste quadro de referência, que ainda
precisaria ser expandido para beneficiar um número maior de pessoas.
No entanto, ele avalia que essas políticas ainda não chegam de maneira
satisfatória ao público direcionado, em razão da manutenção financeira. Em sua
opinião, quando o trabalhador está na ativa, sempre tem alguns benefícios, uma
cesta básica, auxílios para transporte, planos de saúde. Muitas empresas
conseguem viabilizar esses benefícios e os trabalhadores também. Mas, quando a
pessoa se aposenta, tudo isso acaba. Além disso, ele é atingido pelo fator
previdenciário, que diminui os benefícios”. Esta realidade coloca a pessoa idosa
em situação vulnerável para um tipo específico de violação: o abuso financeiro e
econômico. Isso acontece quando, pela dificuldade da pessoa idosa em gerenciar
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seu próprio patrimônio, um parente ou pessoa próxima consegue se apropriar
indevidamente do salário ou benefício recebido. Neste primeiro quadrimestre de
2016, este tipo de violação representa quase 39% dos casos denunciados, com
4.840 ocorrências.
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CAPÍTULO II
2. A PROTEÇÃO DO IDOSO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
A Constituição Federal e várias leis infraconstitucionais garantem à pessoa
idosa a efetivação de direitos especiais em função da trajetória de vida que se
manifesta na velhice. Esses direitos são uma forma de levar em conta a
realidade do envelhecimento social e individual (FALEIROS, 2007).
Na visão desse autor, a legislação traduz tanto a necessidade de proteção
como o incentivo ao protagonismo, à participação e à qualidade de vida,
dimensões que, de fato, devem ser articuladas na implementação das políticas
sociais formalmente assinaladas na Constituição.
Tendo-se em vista que os direitos dos idosos estão previstos em várias leis,
nesta pesquisa, optou-se pela abordagem da atual Constituição Federal de 1988,
do Estatuto do Idoso – Lei 10.741/2003, do Código Civil de 2002, da Lei
Orgânica da Assistência Social – Lei 8.742/93 e da Política Nacional do Idoso –
Lei 8.842/94, por serem instrumentos legais que visam proporcionar ao idoso
uma vida digna tanto no aspecto formal quanto material. .
2.1 A ONU e as pessoas idosas
De acordo com a Organização das Nações Unidas, o mundo está no centro
de uma transição do processo demográfico única e irreversível que irá resultar em
populações mais velhas em todos os lugares. À medida que taxas de fertilidade
diminuem, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais deve duplicar entre 2007
e 2050, e seu número atual deve mais que triplicar, alcançando dois bilhões em
2050. Na maioria dos países, o número de pessoas acima dos 80 anos deve
quadruplicar para quase 400 milhões até lá.
As pessoas mais velhas têm, cada vez mais, sido vistas como contribuintes
http://social.un.org/index/Ageing.aspx
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para o desenvolvimento, e suas habilidades para melhorar suas vidas e suas
sociedades devem ser transformadas em políticas e programas em todos os
níveis. Atualmente, 64% de todas as pessoas mais velhas vivem em regiões
menos desenvolvidas – um número que deverá aproximar-se de 80%, em 2050.
2.2 O idoso nas constituições brasileiras
Segundo OTTONI (2012), até o século XIX, o trabalhador idoso que era
expulso do seu local de trabalho era abandonado à própria sorte, pois não possuía
um amparo devido para prover a sua subsistência nas idades mais avançadas.
Essa situação era recorrente tanto nos países desenvolvidos como a Inglaterra,
França, Holanda, Bélgica e Estados Unidos, como nos subdesenvolvidos como o
Brasil.
Nos países desenvolvidos, buscou-se a manutenção do papel social e a
reinserção dos idosos, sendo a questão da renda resolvida por meio de sistemas
de seguridade social. Nos países em desenvolvimento, várias questões ficaram
pendentes, como a pobreza e a exclusão da população anciã. Em sua história o
Brasil já adotou sete constituições: uma no período monárquico e seis no período
republicano. São elas: 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. Apesar dessa
multiplicidade de cartas magnas, observa-se que os direitos dos idosos não foram
contemplados em todas elas.
De acordo com FALEIROS (2007), a Constituição de 1934 referia-se à
velhice como uma etapa improdutiva que merecia favor e apoiava a filantropia das
instituições de caridade para idosos. Somente haveria direito se a pessoa tivesse
sido inscrita na produção. Assim, os direitos da pessoa idosa foram inscritos na
Constituição de 1934 (art. 121, item h) como direitos trabalhistas, na
implementação da previdência social a favor da velhice. Ao se tornar improdutivo,
na era industrial, o sujeito passava a ser considerado velho, a partir do
pressuposto de sua exclusão da esfera do trabalho, como operário. Ao trabalhador
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rural de então, não foram reconhecidos direitos trabalhistas, pois ficava na esfera
do “aluguel de mão-de-obra sob a tutela da oligarquia rural.
Essa Carta Constitucional de 1934, previa, também, em seu art. 138, a
previdência social a favor da velhice com contribuição tripartite do empregador, do
empregado e da União, numa clara referência à transição industrial.
A Constituição de 1937, no art. 137, reafirmava o seguro de velhice para o
trabalhador.
A Constituição de 1946, em seu art. 157, dispunha sobre a formulação de
previdência contra as consequências da velhice, ampliando a ideia de um seguro
social somente para trabalhadores industriais.
Já a Constituição de 1967, em seu art. 158, estabelecia a previdência social
nos casos de velhice.
Depreende-se que nas citadas Cartas Políticas, conforme nos mostra o
sociólogo Vicente de Paula Faleiros, que o direito resguardado pela esfera pública
era o do trabalhador em decorrência de sua velhice e não o direito da pessoa
envelhecente. Como consequência, aos idosos que não tinham vínculo trabalhista,
contavam tão somente com a assistência familiar, filantrópica e religiosa. Exemplo
dessa assistência se deu através de instituições como as Sociedades São Vicente
de Paula que tentavam manter a família assistida em lares subsidiados e os asilos
que atendiam àqueles privados de laços familiares e de renda; a Legião Brasileira
de Assistência - LBA, fundada em 1943, que possuía alguns programas para
idosos, como o apoio a asilos.
Assim, o Serviço Social do Comércio – SESC, uma instituição ligada aos
trabalhadores, entidade patronal financiada pelos trabalhadores e consumidores
foi quem, a partir de 1963, passou a promover atividades abertas a idosos, nos
seus centros de convivência e fora do âmbito filantrópico, religioso ou estatal. Na
opinião do mencionado sociólogo, essas atividades destinadas a idosos
representaram, no entanto, um espaço de consideração da velhice como um
momento da vida, como uma esfera especial.
Somente após muitas décadas, o Brasil começou a tomar medidas para
compensar a situação de descaso com a população idosa.
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Na década de 70, a Lei 6.119/74, instituiu a Renda Mensal Vitalícia, no
valor de 50% do salário mínimo para maiores de 70 anos que houvessem
contribuído, ao menos um ano, para a Previdência. O Instituto Nacional de
Previdência Social – INPS, em 1.975, passou a apoiar os centros de convivência.
No final dos anos 70, as pessoas idosas começaram a se organizar em
associações, quando o Ministério da Saúde se voltou para a questão. Em 1982
surgiram as primeiras Universidades da Terceira Idade. Na década de 80,
continuou a expansão dos grupos de convivência articulados a várias
organizações. Em 1990, foi organizada a Confederação Brasileira de Aposentados
– COBAP, que se aplicou na luta pelos valores das aposentadorias, pelos direitos
sociais e pela cidadania da pessoa idosa.
2.3 A Constituição Federal de 1988
A Constituição Federal do Brasil de 1988 reflete, na concepção de
FALEIROS (2007), um pacto social fundado na democratização da sociedade, na
garantia de direitos e na implementação de uma forma de organização política que
viesse superar o centralismo e a fragmentação de políticas sociais e que
aprofundasse o federalismo, o municipalismo e o protagonismo das pessoas. Isso
acarretará implicações nas políticas para os idosos.
Estimativas da ONU, da OMS e do IBGE são unânimes em afirmar que a
população idosa está aumentando em ritmo acelerado. Esse crescimento exige
que o Estado, a sociedade e a família se estruturem para atender às necessidades
básicas dessa clientela por meio da implantação e da implementação de políticas
públicas que promovam o seu bem estar e a sua inclusão social.
No âmbito constitucional, a Carta Magna possui dispositivos que visam
proteger e promover a pessoa idosa na sociedade brasileira, atribuindo funções ao
Estado, à sociedade e à família, com vistas a proporcionar aos idosos uma velhice
saudável, respeitada e feliz.
A atual Constituição foi a primeira Carta do Brasil que se preocupou em
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assegurar os direitos do cidadão idoso. Atenta ao princípio da dignidade humana,
ideia de valor universal, também contemplada na Declaração dos Direitos
Humanos, ela instituiu dispositivos específicos de proteção aos idosos, garantindo,
assim, a sua cidadania.
Os direitos da pessoa idosa estão presentes em vários capítulos da
Constituição e se referem à responsabilidade da família, do Estado, da sociedade
e do próprio idoso no contexto em que se inserem. Esses direitos são circunscritos
à assistência, à família, ao trabalho e à previdência, considerando tanto a
cobertura de necessidades (de forma não contributiva) como em decorrência da
contribuição e do trabalho.
O amparo ao idoso rompeu o estigma ideológico que imagina a velhice
como uma categoria improdutiva e incapaz. A saúde é um direito universal embora
haja planos de saúde regulados pela Agência Nacional de Saúde e a medicina
privada. A previdência social tem um regime público com um teto de benefícios e
existem fundos privados. A assistência social pública tem um sistema que convive
com entidades filantrópicas, na maioria com subsídios do Estado. A família
assume um papel significativo no cuidado dos idosos dependentes. As pessoas
idosas têm direito à renda previdenciária ou assistencial e à atenção à saúde,
contudo, o acesso ainda é profundamente desigual, cabendo à família o cuidado
dos idosos dependentes. Por sua vez, os idosos contribuem significativamente
para a manutenção dos mais jovens.
Nesse sentido, a Constituição possibilitou a consolidação tanto do direito à
idade avançada com um mínimo de dignidade, participativa e protegida como
direito individual e coletivo, embora persista a profunda desigualdade social. Esses
direitos estão se corporificando numa rede de proteção que envolve vários órgãos
públicos. O modelo do envelhecimento ativo está previsto no marco legal e deve
ser efetivado de forma integrada para garantia de direitos, de forma
descentralizada.
Dessa forma, o artigo 229 estabelece que os filhos maiores tem o dever de
ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. Já o artigo 230,
atribui à família, à sociedade e ao Estado, o dever de amparar as pessoas idosas.
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Com esses dispositivos, objetiva o texto constitucional assegurar a participação do
idoso na comunidade, defender a sua dignidade e a garantir –lhe uma vida
saudável.
Acertadamente, o legislador constituinte garantiu ao idoso um tratamento
digno, de modo que seja visto e respeitado como cidadão, sem discriminação e
sem preconceito. Todavia, sabe-se que não basta só a lei em favor do idoso, é
fundamental a sua implementação e cumprimento, pois há muito descaso com a
pessoa idosa. É flagrante o abandono, o desrespeito e a violência contra os idosos
tanto por parte da família, quanto do Estado e da sociedade.
Além dessas garantias, outras em favor dos idosos são encontradas ao
longo do texto constitucional: O artigo 153, § 2º, I, prevê a individualização da
pena devendo esta ser cumprida em estabelecimento penal distinto. Os artigos
127 e 129, dispõem sobre a atuação do Ministério Público em defesa dos direitos
coletivos dos idosos, sendo que no plano individual, os idosos hipossuficientes
devem ser assistidos pela Defensoria Pública, como preconiza o artigo 134. Já o
artigo 201, prevê a isenção do imposto sobre a renda, bem como assegurando o
direito ao seguro social ou aposentadoria. O idoso que não possui seguro social, a
Constituição Federal através dos artigos 203, V e 204, garante-lhe a prestação de
assistência social à velhice, com um salário mínimo mensal ao idoso que
comprove não possuir meios de prover a sua própria subsistência.
Esses direitos e esse reconhecimento constitucional se traduz,
infraconstitucionalmente, em várias leis, cuja finalidade é a proteção, o
protagonismo e a prioridade que devem ser assegurados ao idoso.
2.4 Principiologia
Os princípios há pouco tempo, não eram considerados normas, tinham um
caráter de mera supletividade. Princípio é comando básico que busca otimizar e,
ao contrário das regras, não são objetivos, buscando um extremo ou outro, são
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repletos de subjetivismo, devendo um ser conjugado e sopesado com outro para a
mais eficaz interpretação e adequação ao caso concreto (FREITAS E
FIGUEIREDO, 2015).
2.5 Princípios constitucionais do Direito de Família: dignidade humana, afetividade e solidariedade
A família é, originariamente, o lugar onde a pessoa se encontra inserida por
nascimento, adoção ou agregamento e nela desenvolve, através das experiências
sua personalidade e seu caráter.
Na opinião de MALUF (2010), o conceito de família vem sofrendo, com o
passar dos tempos, inúmeras transformações de caráter público e privado em face
do interesse e do redimensionamento da sociedade.
É notório que o conceito de família, célula mater da sociedade, sofreu
alterações de cunho ampliativo pela Constituição Federal de 1988 e, via de
consequência, pelo Código Civil de 2002, diferindo-se das formas antigas em face
das suas formalidades, composição e papel de seus componentes em seu seio,
com a mulher adquirindo os mesmos direitos que o marido, sendo ambos
considerados “cabeça do casal”. Assim, a Carta Magna, reconheceu como família
outras entidades. unidas por laços socioafetivos, conferindo-lhes legitimidade.
Conclui a mencionada autora, que o conceito de família tomou outra
dimensão no mundo contemporâneo, estendendo-se além da família tradicional,
oriunda do casamento, para outras modalidades, muitas vezes informais, tendo
em vista o respeito à dignidade do ser humano, o momento histórico vigente, a
evolução dos costumes, o diálogo internacional, a descoberta de novas técnicas
científicas, a tentativa da derrubada de mitos e preconceitos, fazendo com que o
indivíduo possa, para pensar com Hanna Arendt, “sentir-se em casa no mundo”.
Feitas estas considerações, aborda-se os princípios da Dignidade humana,
da Afetividade e da Solidariedade, por entender que eles estão diretamente
ligados às necessidades materiais e socioafetivas das pessoas, especialmente
das idosas, que reivindicam um tratamento adequado, tanto em nível familiar
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quanto estatal, a fim de que possam participar da vida econômica, política e social
do país como cidadãos de direitos.
2.5.1 O princípio da dignidade humana
A dignidade da pessoa humana é o princípio constitucional que norteia todo
o ordenamento jurídico brasileiro.
A primeira Constituição brasileira a tratar do princípio da dignidade da
pessoa humana, enquanto fundamento da República e do Estado Democrático de
Direito em que ela se constitui, foi a de 1988.
Na esfera do constitucionalismo pátrio, o referido princípio foi albergado no
artigo 1º, inciso III, da Constituição do Brasil e constitui-se como fundamento da
República Federativa e do Estado Democrático de Direito5, E nessa condição,.
tem por escopo assegurar ao homem um mínimo de direitos que devem ser
respeitados pelo Estado, pela sociedade e pela família, tudo com vistas à
preservação e a valorização do ser humano.
Segundo MARTINS (2006), a Constituição brasileira transformou a
dignidade da pessoa humana em valor supremo do Estado brasileiro e, em
especial, do sistema jurídico constitucional. No constitucionalismo brasileiro
contemporâneo, o homem é concebido como centro do universo jurídico
constitucional e como prioridade justificante do Direito.
Para tornar mais clara a compreensão do princípio da dignidade da pessoa
humana, recorre-se ao seu conceito e, para tanto, lança-se mão do apresentado
por (SARLET, 2007):
5 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II - a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político.
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Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.
No que diz respeito à dignidade humana da pessoa idosa, constata-se na
história das Constituições do País, que a Constituição Federal de 1988 foi a
primeira a introduzir um capítulo que mencionou o Idoso (Capítulo VII do Título VIII
– Da Ordem Social), demonstrando assim preocupação com as pessoas idosas,
oferecendo-lhes tutela especial em razão de suas particularidades, vejamos:
Artigo 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhe o direito à vida.
Assim, assegurou-se a defesa da dignidade das pessoas com idade igual
ou superior a sessenta anos, muitas vezes desrespeitadas em decorrência do
declínio do vigor físico.
Verifica-se que há uma estreita relação entre o princípio da dignidade da
pessoa humana e a situação do idoso, posto que tal princípio pugna pela obtenção
de mínimas condições para uma vida autônoma e saudável, que deve ser
preservada em todas as fases da vida de um indivíduo.
Incontestável, portanto, a relação entre o princípio da dignidade da pessoa
humana e as pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos, bem como
com as normas constitucionais.
Assim, verificou-se estreita relação entre o princípio da dignidade humana e
o idoso, bem como o grande avanço conquistado em sua proteção através de
normas constitucionais e infraconstitucionais, notadamente o Estatuto do Idoso.
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Não obstante, para que tais regramentos tenham efetividade é necessário
um esforço comum entre o Poder Estatal e a sociedade, a fim de que sejam
realizadas políticas públicas em favor dos idosos, bem como conscientização
quanto às reais necessidades dessa clientela que merece respeito à sua
dignidade.
2.5.2 O princípio da afetividade
A afetividade nas relações familiares constitui inovação decorrente das
mudanças de paradigmas a partir de Constituição de 1988, corolário da dignidade
da pessoa humana. A partir do reconhecimento de tal princípio, o direito de família
passa a ter fundamento na comunhão de vida, na estabilidade das relações
socioafetivas, restando em segundo plano as considerações de caráter patrimonial
e biológico. De fato, o vocábulo “afeto” não se encontra expresso no texto
constitucional: deriva diretamente da nova disciplina aplicável ao direito de família.
Consideram-se manifestações do princípio da afetividade: o reconhecimento da
igualdade entre irmãos biológicos e afetivos, a pluralidade das entidades
familiares, o direito à convivência familiar, a prioridade absoluta assegurada às
crianças e adolescentes, entre outros.
Sobre o enquadramento constitucional do referido princípio, discorre Paulo
Lôbo: “Projetou-se, no campo jurídico-constitucional, a afirmação da natureza da
família como grupo social fundado essencialmente nos laços de afetividade, tendo
em vista que consagra a família como unidade de relações de afeto, após o
desaparecimento da família patriarcal, que desempenhava funções procracionais,
econômicas, religiosas e políticas” (LÔBO, 2000). Assim, o afeto – e não apenas
a mera consanguinidade - passa a ter valor jurídico na esfera das relações
familiares, consubstanciado na dignidade da pessoa humana. Em relação aos
idosos, ainda que haja o dever de cuidado imposto à família pelo Estatuto do
Idoso, há um dever determinado pelo respeito e pelo afeto dos laços familiares
que independem de jurisdição, que não necessitam de regulamentação. A
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afetividade é, então, meio primordial para tutelar a dignidade garantida
expressamente a cada um dos entes familiares. “O afeto é a mola propulsora dos
laços familiares e das relações interpessoais movidas pelo sentimento e pelo
amor, para ao fim e ao cabo dar sentido e dignidade à existência humana”
(MADALENO, 2011).
Em resposta à falta de afeto tornou-se comum a multiplicação de demandas
judiciais no direito de família, sendo a busca de reparação civil pelo abandono
afetivo, justamente espécie delas. Tal constatação foi observada pelo autor em
referência, segundo o qual “a sobrevivência humana também depende e muito da
interação do afeto; é valor supremo, necessidade ingente, bastando atentar para
as demandas que estão surgindo para apurar responsabilidade civil pela ausência
do afeto”. A ausência da afetividade pode gerar problemas psíquicos, refletindo
em angústia e afastamento social.
A afetividade ressalta a importância da entidade familiar, conforme ensina
Oswaldo Rodrigues (2005): O convívio e relacionamento entre as pessoas, além
de ser intrínseco à sua formação, ao seu desenvolvimento, e, portanto, ao próprio
envelhecimento, são fatores imprescindíveis à maturação física e psíquica do ser
humano. Ao falar-se em convívio e relacionamento, há que se realçar que eles se
apresentam em diversos setores da vida, tais como na família, na comunidade, no
trabalho, enfim, na sociedade em geral .
A resistência ao reconhecimento da afetividade como valor jurídico e
portanto, fundamento para demandas judiciais, existe na medida em que o seu
significado não é compreendido. Sobre esse aspecto, a lição de Paulo Lôbo
(2012) sobre o caráter do princípio é esclarecedora: “A afetividade, como princípio
jurídico, não se confunde com afeto, como fato psicológico ou anímico, porquanto
pode ser presumida quando este faltar na realidade das relações; assim, a
afetividade é dever imposto aos pais em relação aos filhos e destes em relação
àqueles, ainda que haja desamor ou desafeição entre eles.” (...) “Por isso, sem
qualquer contradição, podemos referir a dever jurídico de afetividade oponível a
pais e filhos e aos parentes entre si, em caráter permanente, independente dos
sentimentos que nutram entre si”.
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Logo, o conceito de afeto a ser considerado baliza do Direito de Família é,
justamente, aquele referente a um dever jurídico, na medida em que é o único elo
responsável por manter as pessoas unidas nas relações familiares.
2.5.3 O princípio da solidariedade
Define-se solidariedade, como sentimento que leva os homens a ajudarem-
se mutuamente”; outro vocábulo, bastante próximo e por vezes utilizado como
sinônimo é “fraternidade”, definível como “parentesco de irmãos, convivência
como de irmãos, amor ao próximo”.
O termo solidariedade tem sua origem associada ao étimo latino solidarium,
que vem de solidum, soldum (inteiro, compacto). Sacchetto define o termo como
uma forma de pensar contrária ao egoísmo. O sentimento de solidariedade é
próprio do ser humano.
Infere-se, pois, que o princípio da solidariedade tem íntima relação com os
chamados direitos de terceira dimensão o que não significa dizer que não
represente, também, direito de quarta dimensão, já que uma nova onda de direitos
não suplanta a anterior.
O princípio da solidariedade “explica” a existência de diversos direitos
fundamentais abrangidos pela Constituição. Pode ser encarado como a
contraprestação devida pela existência dos direitos fundamentais: se tenho
direitos, tenho, em contrapartida, o dever de prestar solidariedade àqueles que se
encontram em posição mais frágil que a minha.
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2.6 Lei 10.741/2003 - O Estatuto do idoso
De acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE, em 2025 os idosos representarão 15,1% da população do país e o Brasil
estará na sexta posição entre os países com o maior número de idosos, 31,8
milhões de pessoas acima de 60 anos6. Essa
demandaé preocupante, porque essa clientela em virtude de sua vulnerabilidade
necessita de cuidados especializados e, portanto, de maior atenção por parte da
família, do Estado e da sociedade.
Assim, no âmbito legal, para fazer frente a essa demanda, promulgou-se a
Lei Federal, de nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, o Estatuto do Idoso. Estatuto
é lei orgânica de um Estado, sociedade ou organização. Sob esse ângulo, o
Estatuto do Idoso é uma Lei Orgânica do Estado Brasileiro destinada a
regulamentar os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a
60 (sessenta) anos que vivem no país.
Referida lei veio ampliar direitos que já estavam previstos na Lei Federal,
de nº 8.842, de 04 de janeiro de 1994 e também na Constituição Federal de 1988
e, dessa forma, se consolida como instrumento poderoso na defesa da cidadania
das pessoas daquela faixa etária, dando-lhes ampla proteção jurídica para usufruir
direitos e viver com dignidade.
Formalmente, a lei em comento possui 118 artigos os quais se referem às
garantias prioritárias dos idosos, bem como ao transporte, à liberdade, à
respeitabilidade, à vida, à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, à saúde,
alimento, profissionalização e trabalho, previdência social, habitação, atendimento
nas entidades especializadas, aos crimes praticados contra eles, tanto em ações
por parte do Estado, como da sociedade. Cada uma dessas questões tem um
6 IBGE é a sigla do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, uma organização pública responsável pelos levantamentos e gerenciamentos dos dados e estatísticas brasileiras. 6A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que no ano de 2025 o Brasil será o sexto país mais envelhecido do mundo, com mais de trinta e quatro milhões de idosos, e que até o ano de 2050 cerca de um quinto da população mundial será composta de anciãos, aumentando-se a proporção para um terço nos países desenvolvidos.
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tratamento minucioso, contudo, os aspectos mais relevantes são os relativos a:
a) aposentadorias, reajuste dos benefícios na mesma data do reajuste do
salário mínimo, porém com percentual definido em regulamento; a idade para
requerer o salário mínimo estipulado pela Lei Orgânica da Assistência Social-
LOAS cai de 67 para 65 anos;
b) desconto de pelo menos 50% nas atividades culturais, de lazer e
esportivas, além da gratuidade nos transportes coletivos públicos;
c) no caso do transporte coletivo intermunicipal e interestadual, ficam
reservadas duas vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou
inferior a dois salários mínimos e desconto de 50% para os idosos da mesma
renda que excedam essa reserva;
d) prioridade na tramitação dos processos e procedimentos dos atos e
diligências judiciais nos quais pessoas acima de 60 anos figurem como
intervenientes;
e) os meios de comunicação também deverão manter espaços ou horários
especiais voltados para o público idoso, com finalidade educativa, informativa,
artística e cultural sobre o envelhecimento;
f) os currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal deverão
prever conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, a fim de contribuir
para a eliminação do preconceito, sendo que o poder público deverá