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38 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon Melo. Mas não é assim, é exactamente ao contrário: “O Quarto” (1957) é a primeira peça do dramaturgo inglês. Nela, estão as sementes das peças seguintes. Com “Comemoração”, de 1999, encerra a carreira literária. Quando escreveu a sua última peça, Pinter decidiu estreá-la juntando-lhe “O Quarto” para “juntar os seus vários fantasmas”. “Era um homem que em 99 já tinha 70 anos, todas as condecorações; mas estava a ver a vida a acabar. Se calhar é isso que a Rose, em ‘O Quarto’, está a ver”, propõe o encenador. É, sublinha, “uma peça muito engraçada por causa dos temas que Pinter vai desenvolver nas peças seguintes: a ocupação do quarto, as pessoas que entram inesperadamente e são ameaçadoras, o tempo a passar, a cegueira, a violência, a morte, e claro, as três paredes”. Pinter era muito tradicional na sua abordagem do teatro (começou a carreira como actor em companhias tradicionais inglesas): “Se Samuel Beckett escrevia para um palco vazio, Pinter escreve sempre para um cenarinho de teatro, tal e qual como deve ser: mesas, cadeiras, cadeirinhas, janelas, tudo. Excepto em ‘Comemoração’. Liberta-se finalmente, mesmo no fim da vida, dessas coisas. Esta encenação é um jogo sobre as convenções teatrais, o que não é convencional são as narrativas”. As três paredes são um “mundinho perdido” no grande palco do Teatro Municipal de Almada. “É mesmo para ficar pequenino”, diz Jorge Silva Melo. Ao centro, as três paredes do “Quarto” de Pinter; à volta, “umas sombras ameaçadoras, que põem em causa a segurança da senhora, coitadinha”. A senhora é Rose (Lia Gama), moradora no quarto número sete, o melhor do prédio. Lá, sente-se segura. Até ao dia em que chegam visitas inesperadas. Na obra de Pinter, estes dois textos são o “princípio e o fim. Ou o fim e o princípio”. Diz Silva Melo que “o mundo visto por dentro começa em ‘O Quarto’, a sociedade vista de fora, culmina na ‘Comemoração’”. aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Teatro/Dança A mãe das peças de Pinter Hoje nas Caldas da Rainha, e a partir de quarta-feira em Almada, os Artistas Unidos juntam “O Quarto” a “Comemoração”. Quarenta anos de Pinter, tal como ele os quis ver. Clara Campanilho Barradas O Quarto + Comemoração De Harold Pinter. Pelos Artistas Unidos. Encenação de Jorge Silva Melo. Com Cândido Ferreira, Daniel Martinho, João Meireles, João Miguel Rodrigues, Lia Gama, Sylvie Rocha, entre outros. Caldas da Rainha. Centro Cultural e de Congressos. R. Dr. Leonel Sotto Mayor. De 4/06 a 5/06. 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 262889650. 7€ a 10€. Almada. Teatro Municipal - Sala Principal. Av. Professor Egas Moniz. De 9/06 a 20/06. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 212739360. 6€ a 13€. Três semana depois da estreia do díptico “Comemoração”-“A Nova Ordem Mundial” no Centro Cultural de Belém, os Artistas Unidos fazem outra investida em Harold Pinter: sai “A Nova Ordem Mundial”, e entra “O Quarto”, que se junta a “Comemoração” para uma temporada no Teatro Municipal de Almada, de 9 a 20 de Junho . A antestreia é hoje e amanhã, no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha. Quarenta anos do teatro de Harold Pinter contidos em duas peças, tal como ele as quis ver: abre o pano, “Comemoração”, fecha o pano, intervalo, abre o pano, “O Quarto”, fecha o pano. “É exactamente como o Pinter estreou. ‘Comemoração’ primeiro e ‘O Quarto’ depois. Ele dizia com graça: ‘Quero que me digam quem é o autor jovem e quem é o autor velho’. Queria iludir os espectadores, fazendo pensar que ‘Comemoração’ era a obra de um autor jovem e que ‘O Quarto’ era de um autor velho”, diz Jorge Silva Teatro Estreiam Hot Pepper, Air Conditioner and The Farewell Speech De Toshiki Okada. Pela Chelfitsch Theater Company. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Garrett. Pç. D. Pedro IV. De 5/06 a 6/06. Sáb. e Dom. às 21h. Tel.: 213250835. 5€ a 12€. Alkantara Festival. Ver texto na pág. 34 e segs. Filho da Europa A partir de Peter Handke. Encenação de João Garcia Miguel. Com Nuno Cardoso, Sara Ribeiro. Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. De 4/06 a 5/06. 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 223401905. 5€ a 15€. FITEI. Answer Me De Gerardjan Rijnders. Pelos Dood Paard. Lisboa. Teatro Meridional. R. do Açucar, 64 - Poço do Bispo. De 7/06 a 9/06. 2ª e 3ª às 19h. 4ª às 21h. Tel.: 218689245. 5€ a 12€ Alkantara Festival. Epílogos: Confessions Sans Importance A partir de Max Aub. Pela Compagnie Toujours après Minuit. Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. De 8/06 a 9/06. 3ª às 21h30. 4ª às 18h30. Tel.: 223401905. 5€ a 15€. FITEI. Uma Grosseira Imitação da Vida Pelo Théâtre de la Démesure. Porto. Maus Hábitos. R. Passos Manuel, 178. Dia 8/06. 3ª às 23h. Tel.: 222087268. 10€. FITEI. Deserve De Jorge Leon, Simone Aughterlony. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos - Sala Principal. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. De 8/06 a 9/06. 3ª às 21h. 4ª às 19h. Tel.: 218438801. 5€ a 12€. Alkantara Festival. Fim de Partida De Samuel Beckett. Encenação de Julio Castronuovo. Matosinhos. Cine-Teatro Constantino Nery. Avenida Serpa Pinto. De 9/06 a 10/06. 4ª às 21h30. 5ª às 18h. Tel.: 229392320. 5€. FITEI. Continuam ECJ # El Jardin de los Cerezos A partir de Tchékhov. Pela Rayuela. Porto. Palacete Pinto Leite. R. da Maternidade, 3/9. Até 4/06. 3ª a 6ª, às 23h. Tel.: 222082432. 10€. FITEI. C’est du Chinois De Edit Kaldor. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. Até 5/06. 5ª a Sáb. às 19h. Tel.: 218438801. 5€ a 12€. Alkantara Festival. Se Uma Janela Se Abrisse De Tiago Rodrigues. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estúdio. Pç. D. Pedro IV. Até 5/06. 4ª a Sáb. às 23h. Tel.: 213250835. 5€ a 12€. Alkantara Festival. Mulher Mim De e com Rafaela Santos. Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Pequeno Auditório. Av. D. Afonso Henriques, 701. 4/06. 6ª às 22h. Tel.: 253424700. 5€ a 7,5€. Festivais Gil Vicente. Cratera De valter hugo mãe. Pelo Teatro Bruto. Encenação de Ana Luena. Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Pequeno Auditório. Av. D. Afonso Henriques, 701. 5/06. Sáb. às 22h. Tel.: 253424700. 5€ a 7,5€. Festivais Gil Vicente. Uma Família Portuguesa De Filomena Oliveira, Miguel Real. Pelo Teatro Aberto. Encenação de Cristina Carvalhal. Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Pequeno Auditório. Av. D. Afonso Henriques, 701. 10/06. 5ª às 22h. Tel.: 253424700. 5€ a 7,5€. Festivais Gil Vicente. Noites Brancas De Dostoiévski. Encenação de Francisco Salgado. Lisboa. Teatro da Trindade. Largo da Trindade, 7 A. Até 27/06. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. às 17h30. Tel.: 213420000. Dança Estreiam Boa Goa A partir de Fernando Pessoa. Pela Pigeons International. Porto. Teatro Helena Sá e Costa (ESMAE). R. Alegria, 503 (entrada pela R. da Escola Normal, 39). Dia 6/06. 2ª às 18h30. Dom. às 21h30. Tel.: 225189982. 10€. Lisboa. Teatro Camões. Pq. das Nações. De 9/06 a 10/06. 4ª às 21h30. 5ª às 18h. Tel.: 218923470. 7,5€ a 12€. FITEI. Dies Irae, en el Requiem de Mozart De Marta Carrasco. Porto. Teatro Nacional S. João. Pç. Batalha. 7/06. 2ª às 21h30. Tel.: 223401910. 7,5€ a 16€. FITEI. Giant City + Evaporated Landscapes De Mette Ingvartsen. Lisboa.CCB - Pequeno Auditório. Pç. do Império. De 6/06 a 7/06. Dom. e 2ª às 21h. Tel.: 213612400. 5€ a 12€. Alkantara Festival. Continuam Vamos sentir falta de tudo aquilo de que não precisamos De Vera Mantero. Lisboa. Culturgest - Grande Auditório. R. Arco do Cego - Ed. da CGD. De 7/06 a 9/06. 2ª a 4ª às 21h30. Tel.: 217905155. 5€ a 12€. Alkantara Festival. Bare Soundz De Savion Glover. Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Antº Maria Cardoso, 38-58. De 4/06 a 6/06. 6ª e Sáb. às 21h. Dom. às 17h. Tel.: 213257650. 5€ a 12€. Alkantara Festival. Vale De Madalena Victorino. Porto. Museu de Serralves - Auditório. R. Dom João de Castro, 210. De 5/06 a 6/06. 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 226156500. Entrada gratuita. Serralves em Festa. Agenda Mulher Mim De ecom RafaelaSantos m Bom mmmm Muito Bom mmmmm Exc FITEI. C’est du Chinois De Edit Kaldor. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. Até 5/06. 5ª a Sáb. às 19h. Tel.: 218438801. 5€ a 12€. Alkantara Festival. Se Uma Janela Se Abrisse De Tiago Rodrigues. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estúdio. Pç. D. Pedro IV. Até 5/06. 4ª a Sáb. às 23h. Tel.: 213250835. 5€ a 12€. Alkantara Festival. Tel.: 217905155. 5€ a 12€. Alk A A A A A A A antara Festival. Bare Soundz De D D D D D D D D D D D D D Savion Glover. Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Antº Maria Cardoso, 38-58. De 4/06 4/ 4/ 4/ 4 4 4 4 4 4 4 4 4 a 6/06. 6ª e Sáb. às 21h. Do Do Do Do Do Do Dom. Do Do D D Do D D Do Do D D D D Do D D D D D às 17h. Tel.: 213257650. 5 5 5 5 5€ a 5 5 5 5 5 5 5 5 12€. Alkantara Festival. Vale De Madalena V V V Vic V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V V torino. Porto. Museu de Serralves - Auditório. R. D Dom D D D João de Castro, 210. De 5/06 a 6/06. e Sáb. às 21h30. Tel.: 226156500. Entrada gratuita. Ser S S S S S S ralves em Festa. “Deserve” no Alkantara Festival “Dies Irae”, da coreógrafa catalã Marta Carrasco, no FITEI “Cratera” nos Festivais Gil Vicente Mette Ingvartsen no CCB O “Vale” de Madalena Victorino no Serralves em Festa Lia Gama, a senhora Rose, vive no quarto número sete, o melhor do prédio

Maria Clara

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  • 38 Sexta-feira 4 Junho 2010 psilon

    Melo. Mas no assim, exactamente ao contrrio: O Quarto (1957) a primeira pea do dramaturgo ingls. Nela, esto as sementes das peas seguintes. Com Comemorao, de 1999, encerra a carreira literria.

    Quando escreveu a sua ltima pea, Pinter decidiu estre-la juntando-lhe O Quarto para juntar os seus vrios fantasmas. Era um homem que em 99 j tinha 70 anos, todas as condecoraes; mas estava a ver a vida a acabar. Se calhar isso que a Rose, em O Quarto, est a ver, prope o encenador. , sublinha, uma pea muito engraada por causa dos temas que Pinter vai desenvolver nas peas seguintes: a ocupao do quarto, as pessoas que entram inesperadamente e so ameaadoras, o tempo a passar, a cegueira, a violncia, a morte, e claro, as trs paredes.

    Pinter era muito tradicional na sua abordagem do teatro (comeou a carreira como actor em companhias tradicionais inglesas): Se Samuel Beckett escrevia para um palco vazio, Pinter escreve sempre para um cenarinho de teatro, tal e qual como deve ser: mesas, cadeiras, cadeirinhas, janelas, tudo. Excepto em Comemorao. Liberta-se finalmente, mesmo no fim da vida, dessas coisas. Esta encenao um jogo sobre as convenes teatrais, o que no convencional so as narrativas.

    As trs paredes so um mundinho perdido no grande palco do Teatro Municipal de Almada. mesmo para ficar pequenino, diz Jorge Silva Melo. Ao centro, as trs paredes do Quarto de Pinter; volta, umas sombras ameaadoras, que pem em causa a segurana da senhora, coitadinha. A senhora Rose (Lia Gama), moradora no quarto nmero sete, o melhor do prdio. L, sente-se segura. At ao dia em que chegam visitas inesperadas.

    Na obra de Pinter, estes dois textos so o princpio e o fim. Ou o fim e o princpio. Diz Silva Melo que o mundo visto por dentro comea em O Quarto, a sociedade vista de fora, culmina na Comemorao.

    aMaumMedocremmRazovelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

    Tea

    tro/Dana

    A me das peas de PinterHoje nas Caldas da Rainha, e a partir de quarta-feira em Almada, os Artistas Unidos juntam O Quarto a Comemorao. Quarenta anos de Pinter, tal como ele os quis ver. Clara Campanilho Barradas

    O Quarto + ComemoraoDe Harold Pinter. Pelos Artistas Unidos. Encenao de Jorge Silva Melo. Com Cndido Ferreira, Daniel Martinho, Joo Meireles, Joo Miguel Rodrigues, Lia Gama, Sylvie Rocha, entre outros.Caldas da Rainha. Centro Cultural e de Congressos. R. Dr. Leonel Sotto Mayor. De 4/06 a 5/06. 6 e Sb. s 21h30. Tel.: 262889650. 7 a 10.

    Almada. Teatro Municipal - Sala Principal. Av. Professor Egas Moniz. De 9/06 a 20/06. 4 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h. Tel.: 212739360. 6 a 13.

    Trs semana depois da estreia do dptico Comemorao-A Nova Ordem Mundial no Centro Cultural de Belm, os Artistas Unidos fazem outra investida em Harold Pinter: sai A Nova Ordem Mundial, e entra O Quarto, que se junta a Comemorao para uma temporada no Teatro Municipal de Almada, de 9 a 20 de Junho . A antestreia hoje e amanh, no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha. Quarenta anos do teatro de Harold Pinter contidos em duas peas, tal como ele as quis ver: abre o pano, Comemorao, fecha o pano, intervalo, abre o pano, O Quarto, fecha o pano.

    exactamente como o Pinter estreou. Comemorao primeiro e O Quarto depois. Ele dizia com graa: Quero que me digam quem o autor jovem e quem o autor velho. Queria iludir os espectadores, fazendo pensar que Comemorao era a obra de um autor jovem e que O Quarto era de um autor velho, diz Jorge Silva

    Teatro

    EstreiamHot Pepper, Air Conditioner and The Farewell SpeechDe Toshiki Okada. Pela Chelfitsch Theater Company. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Garrett. P. D. Pedro IV. De 5/06 a 6/06. Sb. e Dom. s 21h. Tel.: 213250835. 5 a 12.

    Alkantara Festival.

    Ver texto na pg. 34 e segs.

    Filho da EuropaA partir de Peter Handke. Encenao de Joo Garcia Miguel. Com Nuno Cardoso, Sara Ribeiro.Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. De 4/06 a 5/06. 6 e Sb. s 21h30. Tel.: 223401905. 5 a 15.

    FITEI.

    Answer MeDe Gerardjan Rijnders. Pelos Dood Paard. Lisboa. Teatro Meridional. R. do Aucar, 64 - Poo do Bispo. De 7/06 a 9/06. 2 e 3 s 19h. 4 s 21h. Tel.: 218689245. 5 a 12

    Alkantara Festival.

    Eplogos: Confessions Sans ImportanceA partir de Max Aub. Pela Compagnie Toujours aprs Minuit. Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. De 8/06 a 9/06. 3 s 21h30. 4 s 18h30. Tel.: 223401905. 5 a 15.

    FITEI.

    Uma Grosseira Imitao da VidaPelo Thtre de la Dmesure. Porto. Maus Hbitos. R. Passos Manuel, 178. Dia 8/06. 3 s 23h. Tel.: 222087268. 10.

    FITEI.

    DeserveDe Jorge Leon, Simone Aughterlony. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos - Sala Principal. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. De 8/06 a 9/06. 3 s 21h. 4 s 19h. Tel.: 218438801. 5 a 12.

    Alkantara Festival.

    Fim de PartidaDe Samuel Beckett. Encenao de Julio Castronuovo. Matosinhos. Cine-Teatro Constantino Nery. Avenida Serpa Pinto. De 9/06 a 10/06. 4 s 21h30. 5 s 18h. Tel.: 229392320. 5.

    FITEI.

    ContinuamECJ # El Jardin de los CerezosA partir de Tchkhov. Pela Rayuela. Porto. Palacete Pinto Leite. R. da Maternidade, 3/9. At 4/06. 3 a 6, s 23h. Tel.: 222082432. 10.

    FITEI.

    Cest du ChinoisDe Edit Kaldor. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. At 5/06. 5 a Sb. s 19h. Tel.: 218438801. 5 a 12.

    Alkantara Festival.

    Se Uma Janela Se AbrisseDe Tiago Rodrigues.Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estdio. P. D. Pedro IV. At 5/06. 4 a Sb. s 23h. Tel.: 213250835. 5 a 12.

    Alkantara Festival.

    Mulher MimDe e com Rafaela Santos.Guimares. Centro Cultural Vila Flor - Pequeno Auditrio. Av. D. Afonso Henriques, 701. 4/06. 6 s 22h. Tel.: 253424700. 5 a 7,5.

    Festivais Gil Vicente.

    CrateraDe valter hugo me. Pelo Teatro Bruto. Encenao de Ana Luena. Guimares. Centro Cultural Vila Flor - Pequeno Auditrio. Av. D. Afonso Henriques, 701. 5/06. Sb. s 22h. Tel.: 253424700. 5 a 7,5.

    Festivais Gil Vicente.

    Uma Famlia PortuguesaDe Filomena Oliveira, Miguel Real. Pelo Teatro Aberto. Encenao de Cristina Carvalhal.Guimares. Centro Cultural Vila Flor - Pequeno Auditrio. Av. D. Afonso Henriques, 701. 10/06. 5 s 22h. Tel.: 253424700. 5 a 7,5.

    Festivais Gil Vicente.

    Noites BrancasDe Dostoivski. Encenao de Francisco Salgado.Lisboa. Teatro da Trindade. Largo da Trindade, 7 A. At 27/06. 4 a Sb. s 21h45. Dom. s 17h30. Tel.: 213420000.

    Dana

    EstreiamBoa GoaA partir de Fernando Pessoa. Pela Pigeons International. Porto. Teatro Helena S e Costa (ESMAE). R. Alegria, 503 (entrada pela R. da Escola Normal, 39). Dia 6/06. 2 s 18h30. Dom. s 21h30. Tel.: 225189982. 10.Lisboa. Teatro Cames. Pq. das Naes. De 9/06 a 10/06. 4 s 21h30. 5 s 18h. Tel.: 218923470. 7,5 a 12.

    FITEI.

    Dies Irae, en el Requiem de MozartDe Marta Carrasco. Porto. Teatro Nacional S. Joo. P. Batalha. 7/06. 2 s 21h30. Tel.: 223401910. 7,5 a 16.

    FITEI.

    Giant City + Evaporated LandscapesDe Mette Ingvartsen.Lisboa.CCB - Pequeno Auditrio. P. do Imprio. De 6/06 a 7/06. Dom. e 2 s 21h. Tel.: 213612400. 5 a 12.

    Alkantara Festival.

    ContinuamVamos sentir falta de tudo aquilo de que no precisamosDe Vera Mantero. Lisboa. Culturgest - Grande Auditrio. R. Arco do Cego - Ed. da CGD. De 7/06 a 9/06. 2 a 4 s 21h30. Tel.: 217905155. 5 a 12.

    Alkantara Festival.

    Bare SoundzDe Savion Glover.

    Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Ant Maria Cardoso, 38-58. De

    4/06 a 6/06. 6 e Sb. s 21h. Dom. s 17h. Tel.: 213257650.

    5 a 12.

    Alkantara Festival.

    ValeDe Madalena

    Victorino. Porto. Museu de Serralves - Auditrio. R.

    Dom Joo de Castro, 210. De 5/06 a 6/06. 6 e Sb. s 21h30. Tel.: 226156500.

    Entrada gratuita.

    Serralves em Festa.

    Agenda

    Mulher MimDe e com Rafaela Santos

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    FITEI.

    Cest du ChinoissDe Edit Kaldor. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. At 5/06. 5 a Sb. s 19h. Tel.: 218438801. 5 a 12.

    AlkantaraFestival.

    Se Uma Janela Se AbrisseDe Tiago Rodrigues.Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estdio. P. D. Pedro IV. At 5/06. 4 a Sb. s 23h. Tel.: 213250835. 5 a 12.

    Alkantara Festival.

    Tel.: 217905155. 5 a 12.

    AlkAAAAAAA antara Festival.

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    Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz.R. Ant Maria Cardoso, 38-58. De

    4/064/4/4/4/4/44444/44 a 6/06. 6 e Sb. s 21h.DoDoDoDoDomDoDom.DoDoDDDoDDDoDoDDDDDoDDDDoD s 17h. Tel.: 213257650.

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    Alkantara Festival.

    ValeDe Madalena

    VVVVicVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV torino.Porto. Museu de Serralves - Auditrio. R.

    DDom DDD Joo de Castro, 210. De 5/06 a 6/06. 6 e Sb. s 21h30. Tel.: 226156500.

    Entrada gratuita.

    SerSSSSSSSSS ralves em Festa.

    Deserve no Alkantara Festival

    Dies Irae, da coregrafa catal Marta Carrasco, no FITEI

    Cratera nos Festivais Gil Vicente

    Mette Ingvartsen no CCB

    O Vale de Madalena Victorino no Serralves em Festa

    Lia Gama, a senhora Rose, vive no quarto nmero sete, o melhor do prdio

  • A actriz inglesa Charlotte Rampling vai estar na prxima edio do Festival de Teatro Almada, em Julho, com Yourcenar/Cavafy, um dilogo ficcionado entre a autora de Memrias de Adriano e o poeta grego de Alexandria, interpretado pelo actor Polydoros Vogiatzis. O espectculo, concebido por Jean-Claude Feugnet a partir de uma cenografia de Lambert Wilson, ser apresentado no Teatro Nacional de S. Joo, no Porto (16 de Julho), e na sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II (dias 17 e 18). Mais conhecida pelos seus papis no cinema ao longo de quase meio sculo de carreira, trabalhou com Roger Corman, Luchino Visconti, Liliana Cavani, Woody Allen, Sidney Lumet, Nagisa Oshima, Claude Lelouch ou, mais recentemente, Franois Ozon e Todd Solondz , Rampling nunca deixou inteiramente o palco, ao qual agora regressa com este Yourcenar/Cavafy, que tem itinerado por vrios pases da Europa. Cruzando excertos de romances e ensaios de Marguerite Yourcenar (1903-1987), como Memrias de Adriano, A Obra ao Negro ou Fogos, e poemas de Konstandinos Kavafis (1863-1933), esta espcie de conversa literria imagina um

    encontro que nunca existiu a trs dimenses. Yourcenar passou o Vero de 1936 em Atenas e foi nessa ocasio que conheceu a poesia de Kavafis, atravs de Konstandinos Dimaras. O poeta tinha morrido trs anos antes, de cancro na laringe, e a primeira edio reunida dos seus poemas fora postumamente publicada em 1935. A romancista rapidamente se apercebeu de que tinha bastante em comum com o esteta de Alexandria. Homossexual, hedonista, fascinado pela Histria, Kavafis viveu em Inglaterra, durante a sua infncia e adolescncia, mas, de resto, salvo algumas breves viagens, raramente saiu de Alexandria, onde era corretor da Bolsa. Escreveu

    pouco mais de centena e meia de poemas, muitos deles relacionados

    com temas da histria

    grega e romana,

    outros de teor homoertico,

    apresentados como rememoraes da juventude. Yourcenar comeou a traduzi-lo nos anos quarenta, mas s em 1958 saiu na Gallimard a sua traduo integral dos poemas de Kavafis, co-assinada com Dimaras, que contestou muitas das solues propostas pela romancista, mas que raramente a ter conseguido persuadir dos seus pontos de vista. Dimaras veio mesmo a dizer, mais tarde, que Yourcenar no captou o clima particular da poesia de Kavafis e que a sua traduo , sobretudo, a obra de uma grande estilista francesa. O prprio executor literrio de Kavafis, Alexandros Singopoulos, no apreciou o trabalho de Yourcenar, cuja publicao ter procurado impedir, e apadrinhou a traduo francesa de G. A. Papoutsakis, editada no mesmo ano. Em Portugal, o primeiro tradutor de Kavafis foi Jorge de Sena, que publicou em 1970, na editora Inova, Constantino Cavafy: 90 e Mais Quatro Poemas. As suas verses foram altamente elogiadas pela prpria Yourcenar, numa extensa carta que esta lhe enviou. No final dos anos 80, o poeta e ensasta Joaquim Manuel Magalhes e Nikos Pratsinis comearam a traduzir e a publicar poemas e prosas de Kavafis, tendo finalmente sado, em 2005, na Relgio

    dgua, a traduo integral dos 154 poemas que o poeta, antes de morrer, considerara terminados. Lus Miguel Queirs

    Charlotte Rampling interpreta Yourcenar no Festival de Almada

    Flash

    Directora Brbara ReisEditor Vasco Cmara, Ins Nadais (adjunta)Conselho editorial Isabel Coutinho, scar Faria, Cristina Fernandes, Vtor Belanciano Design Mark Porter, Simon Esterson, Kuchar SwaraDirectora de arte Snia MatosDesigners Ana Carvalho, Carla Noronha, Mariana SoaresEditor de fotografi a Miguel MadeiraE-mail: [email protected]

    Ficha Tcnica

    SumrioManuel Mozos 6Filma, em Runas, um Portugal mais de misrias do que de grandezas

    O som e a fria 11de uma gerao

    Jens Lapidus 16Um advogado que escreve na pele do criminoso

    Manuel Alegre 18Uma escrita que puxa pela memria

    Clarice Lispector 20Chegou a hora da estrela

    Field Music 22So ingleses, gostam de futebol e fi zeram um grande disco duplo

    Tiago Bettencourt 26A msica que faz no a msica que ouve

    Anda mal o casamento de Julianne Moore Chloe, o novo filme de Atom Egoyan, uma anlise instituio casamento. Conta a histria de Catherine Stewart, uma mdica ( Julianne Moore) que se sente infeliz com o casamento. Quando suspeita da traio de David, o marido (Liam Neeson), decide contratar Chloe, acompanhante de luxo (Amanda Seyfried). O combinado era que Chloe revelasse a Catherine os pormenores dos encontros com David, mas Chloe parece ter os seus prprios planos, que podero mesmo destruir a famlia de Catherine. Este filme sobre uma mulher desencantada com o seu casamento. Comea a sentir que j no a mesma, mas escolhe uma maneira muito particular para tentar compreender o marido, disse Julianne Moore ao The Washington Post.

    A MTV e as Spice Girls mataram a fria femininaA pergunta colocada do ponto de vista de quem se recorda de Joan Jett, do punk de Siouxsie Sioux e do riot grrrl das Bikini Kill, de quem se v agora num cenrio onde figuras femininas esto no topo das tabelas e concentram ateno meditica como nunca antes. Dessa posio, surgiu no Guardian a pergunta: O que aconteceu s estrelas femininas furiosas?Nos ltimos vinte anos aponta Tahita Bulmer, vocalista dos New Young Pony Club, ao dirio britnico , as mulheres jovens aceitaram uma determinada persona. H a ideia que tens de ser obcecada pela fama, e parecer convencional ou sensual. A culpa, argumenta-se no artigo, tem dois nomes. MTV e Spice Girls. A primeira, escreve-se, transformou a cultura popular, deixando para trs bandas punk feministas como Slits ou Raincoats: A imagem tornou-se o mais importante, e mulheres zangadas que no queriam saber dela no se enquadravam nesse cenrio. J as segundas, apropriaram-se do vocabulrio das riot grrrls e proclamaram girl power, mas, argumenta Jude Rogers, a autora do artigo, fizeram-no seguindo o modelo convencional de banda pop fabricada por homens para mulheres adolescentes.Cazz Balse, co-autora do livro Riot Grrrl: Revolution Girl Style Now!, assinala que, num mundo de X-Factors e dolos, arriscar perigoso. Perseguindo a msica

    n, Sidney Lumet,ma, Claudemais te, Franooisis

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    Rampling Yourcenar num espectculo que fi cciona um dilogo entre a autora de Memrias de Adriano e o poeta grego Konstandinos Kavafi s

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    Julianne Moore em Chloe

  • 4 Sexta-feira 2 Abril 2010 psilon

    a terreno frtil, quando as pessoas se fartam do estado de coisas. Uma nova gerao est a pegar em guitarras e baterias e a dizer: Estou aqui! Vamos l! A concluso de Joan Jett, rocknroller furiosa original.

    Marina Abramovic impressiona os visitantes do MoMA

    Marina Abramovic senta-se em silncio a uma pequena mesa, no trio do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA). Sem pestanejar, fixa os visitantes que se sentarem a seu lado. A performance faz parte da retrospectiva sobre a artista que o MoMa apresenta at 31 de Maio.

    Marina Abramovic: The Artist is Present uma exposio cronolgica de 50 trabalhos, que abrange os 40 anos de performances, fotografias, instalaes e vdeos imaginados por Abramovic.O destaque vai para a pea Rhythm O, de 1974. Marina utilizou facas afiadas, fita adesiva, gaze, loo de barbear, uma rosa de p comprido e uma arma carregada e pediu a um grupo de napolitanos que usasse os objectos vontade, no corpo da artista. Quando um homem pegou na arma, outro parou a performance. Na altura, Marina disse querer explorar o limite e o quanto podia aguentar.Marina Abramovic nasceu na Jugoslvia em 1946, filha de dois

    dirigentes do Partido Comunista Jugoslavo. Estudou na Academia de Belas-Artes em Belgrado e em Zagreb e deu aulas em Novi Sad, na Srvia. Nessa altura, comeou a fazer performances. Em 1976,

    mudou-se para Amesterdo, onde conheceu o artista alemo Uwe Laysiepen, conhecido como Ulay.Os vdeos que resultaram da parceria de 12 anos de Marina

    como o equivalente a um emprego das nove s cinco, e querendo t-lo durante muitos anos, do seu interesse no agitar as guas. Estaremos ento resignados a esta formatao do feminino na msica popular urbana, onde artistas como Florence And The Machine considera Tahita Bulmer so quase um regresso ideia vitoriana da mulher histrica? No necessariamente. A reportagem aponta brechas. Refere que, actualmente, as formas de expressar essa fria feminina so diversas do passado.Surgem de forma discreta em cantoras como Laura Viers ou Laura Marling ou, mais exuberante, em Rihanna ou Lady Gaga. A Monster Ball Tour de Lady Gaga descreve Cazz Balse baseia-se na ideia de monstruoso, e nessa expresso zangada do feminino. Ele pode no o estar a gritar, e a sua msica no punk, mas esses sentimentos esto l.Sinto que estamos a

    regressar

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    Rihana: a fria feminina espreita?

    Marina Abramovic no trio do MoMA

    Gala Drop e Manuel Mota faro a primeira parte dos concertos dos Sonic Youth em Lisboa. No foi escolha ao acaso, antes pedido expresso dos nova-iorquinos. Dia 22 de Abril, no Coliseu de Lisboa, estar a banda de Nlson Gomes, Tiago Miranda, Afonso Simes e

    Guilherme Gonalves, com

    disco homnimo reeditado (um dos destaques de 2008) e semanas depois de abrir para outro histrico, o ex-Can Holger Czukai (9 de Abril, Lux). Dia 23, no Coliseu do Porto, chegado de uma digresso pela Blgica e por Frana, a vez do guitarrista Manuel Mota.

    Concertos

    d S i Y h

    GuGuililGGonalves, co

    ddisco homnimo reeditado(um dos destaques de 200

    Vdeos de Lady Gaga ultrapassam mil milhes de visitas na Web

    deos de Lady Gaga rapassam millhes de visitasWeb

    e Ulay tambm esto no MoMA. O trabalho dos dois consistiu em testar os limites do pblico europeu, em intransigentes faanhas de resistncia e loucura, a

    que os dois chamaram trabalho de relao.Em 1977, sentaram-se de costas, sem se mexerem ou falarem, ligados pelo cabelo, durante 16 horas. Essa uma das cinco performances de Abramovic recriadas ao vivo, pela primeira vez, para esta exposio. Foi ela que treinou os intrpretes.Os trabalhos de Abramovic exploram a relao entre o performer e o pblico, os limites do corpo, as possibilidades da mente, desafiam o perigo.Linda Yablonsky, crtica de arte do Washington Post,

    chama-lhe a imperatriz internacional da performance artstica. Diz que a performance de Marina no MoMA uma presena imponente e benevolente que no se esconde, com o propsito de arranjar tempo para que os outros se vejam a si prprios no reflexo dela. A ideia eliminar todos os pensamentos do passado ou do futuro e viver apenas o momento presente.

    Lady Gaga tornou-se na primeira artista a superar mil milhes de visitas nas plataformas de vdeo on-line. O portal Visible Measures precisou de somar apenas os nmeros de visualizaes de trs singles daquela que muitos apelidam de nova rainha da pop. Extrados dos dois discos da saga The Fame, Poker Face, Bad Romance e Just Dance contriburam, cada um, com valores entre os 380 e 270 milhes de visitas para a soma recordista. Curiosamente, nenhum deles entra, por si s, no top 5 geral, no qual constam quatro vdeos musicais. Uma estrela global da actualidade musical (Beyonc com Single Ladies em 3.), um dolo cujo desaparecimento impulsionou uma revitalizao do legado (Michael Jackson com Thriller em 4.) e um vdeo musical da categoria infantil (The Gummy Bear Song em 5.) sucedem excepo proveniente do cinema (Lua Nova, da saga Twilight, em 2.) na lista liderada por um artista cujo reconhecimento desproporcional nos dois lados do Atlntico: Crank dat, do norte-americano Soulja Boy, que j superou os 700 milhes de

    visitas. Numa lista com 65 vdeos 37 respondem temtica msica , com presenas de artistas como Miley Cyrus, Katy Perry, Avril Lavigne, Alicia Keys ou Mariah Carey, no encontramos nomes de bandas europeias s quais costumamos apontar o epteto de fenmenos de popularidade como os U2, Muse ou Arctic Monkeys. O primeiro vdeo musical europeu a integrar a lista descontamos o 9. lugar do despontar de Susan Boyle no Britains Got Talent da britnica Leona Lewis (Bleeding Love em 18.), ao qual se segue um videoclip dos Coldplay (Viva la Vida, em 40.).

    MA

    RTA

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  • P2 Quinta-feira 13 Maio 2010 9

    Quem so os Maria Clementina?So trs msicos e uma cantora portugueses, conhecidos pelos seus projectos individuais. Juntaram-se para formar um novo grupo, os Maria Clementina, que ir lanar em Junho um EP com

    msica pop. Mas no querem revelar a sua identidade. Segundo a Lusa, o tema Vem a Maria Clementina, primeiro carto de visita da banda, comea a passar nas rdios ainda esta semana.

    Leilo

    Bandeira de Jasper Johns bate recordea Entre 1960 e 1966, o artista pop Jasper Johns produziu uma srie de pinturas da bandeira americana. Todas obras nicas, mas uma delas mais nica do que as outras: a Flag em questo usa a tcnica de encustico, uma mistura de cores com cera usada na antiguidade clssica, que confere a cada pincelada uma materialidade distinta. Este trabalho, que no era visto em pblico h 18 anos, foi vendido na tera-feira pela Christies de Nova Iorque e estabeleceu um novo recorde (mais um em poca de crise). Tornou-se na mais cara obra de Jasper Johns vendida em leilo: 22,5 milhes de euros.

    Flag pertenceu a Michael Crichton, o conhecido escritor de fi co cientfi ca autor, por exemplo, de Parque Jurssico , que comprou esta pintura directamente a Johns, em 1974, e que a tinha pendurada por cima da lareira da sua biblioteca. Nunca teve outro proprietrio.

    A leiloeira fez saber ao The New York Times que esperava que a venda da obra atingisse um valor entre os 7,9 milhes de euros e os 12 milhes de euros. O valor que atingiu fi xou um novo recorde para as obras de Jasper Johns, mas no

    o recorde da venda de uma obra de um artista vivo. Esse pertence a Benefi ts Supervisor, de Lucian Freud, vendido por mais de 26,4 milhes de euros, tambm pela Christies de Nova Iorque, em 2008.

    Flag foi adquirida por Richard Rossello, negociante de pintura americana, da Pensilvnia. O comprador foi visto a falar ao telemvel durante todo o leilo, calculando-se que estivesse em representao de um comprador annimo.

    Do leilo (de arte do ps-guerra e contempornea) faziam parte mais 31 obras da coleco de Crichton, entre as quais trabalhos de David Hockney, Roy Lichtenstein ou Andy Warhol. A coleco foi posta venda pela viva e outros familiares, depois de vrias disputas entre os fi lhos do escritor relacionadas com a herana. Clara Campanilho Barradas

    Uma das obras da srie Flag

    O violino libertadoa Joseph Antonio Emidy (c.1775-1835) foi um escravo nascido na costa da Guin e levado, ainda criana, para o Brasil para trabalhar nas plantaes de caf. No se conhecem as circunstncias em que se tornou um msico virtuoso, no s como violinista mas tambm como compositor; sabe-se apenas que no fi nal do sculo XVIII Emidy era 2. violino da pera de Lisboa... Devolvido condio de escravo, foi recrutado pela Marinha Britnica e durante sete anos feito violinista de servio numa das suas embarcaes. Foi fi nalmente libertado em Falmouth, Sul da Inglaterra, onde viria a conseguir construir uma vida prpria, casar e afi rmar-se mesmo como msico durante trs dcadas, no lhe tendo sido, contudo, permitido entrar nos crculos musicais ofi ciais britnicos.

    A histria de Joseph Antonio Emidy visto como um dos compositores pioneiros da dispora africana, mesmo se at ns no chegou nenhum testemunho das suas pautas o tema do novo projecto de Jon Rose, Violino Escravo A histria real de um violinista

    escravo, que hoje, s 21h30, tem estreia mundial no Auditrio de Serralves.

    O espectculo deste compositor, violinista e artista australiano nascido em Inglaterra, em 1951, abre o 2. momento do programa Documente-se!, a iniciativa com que Serralves aborda, este ano, o tema dos lugares do reconhecimento no mundo de hoje.

    Jon Rose ir interpretar no Porto a pea Pailimpolin com o seu violino interactivo Midi criado em 1987, com o qual tem vindo a revolucionar a utilizao e mesmo o conceito deste instrumento que parece um dos mais convencionais do reportrio erudito.

    O 2. e ltimo momento de Documente-se! vai at domingo, com uma conferncia de Nathalie Heinich (amanh), o espectculo de teatro de Tim Etchells & Campo That Night Follows Day (dia 15) e o fi lme Estas So as Normas, de Murilo Salles e Lus Bernardo (dia 16); e ainda, no fi m-de-semana, duas mesas-redondas dedicadas a debater os temas Reconhecimento e sexualidades e Fora de campo. S.C.A.

    Jon Rose em Serralves

    Essa coisa do filme de abertura de festival um ritual que no engana. Tem quase sempre pouco a ver com cinema, mais com uma cerimnia protocolar. As escolhas so sempre volteis, conjunturais e com agendas por trs uma das mais bvias sendo a de trazer estrelas, fotgrafos e agradar a um estdio que utiliza o dia como publicidade para o lanamento do filme nos mercados mundiais. Ou seja, quando acaba, um alvio, porque a coisa vai finalmente comear isto , o cinema. Se olharmos para os ltimos anos de Cannes, com a excepo do ano passado, que foi altamente com a animao da Pixar Up, isso foi o que se passou com Ensaio sobre a Cegueira, Cdigo Da Vinci ou o pior Wong Kar-wai de sempre, My Blueberry Nights (O Sabor do Amor, em portugus). Este ano o mesmo, com o Robin Hood, de Ridley Scott.

    Nao vamos discutir se

    Scott um realizador que fez Blade Runner ou se foi um filme, Blade Runner, que, para o bem e para o mal, fez Ridley Scott. Mas vamos dizer que a sua leitura do mtico Robin Hood no acrescenta nada floresta de Sherwood. Nem herico ou aventureiro, porque os tempos de Errol Flynn j no voltam, nem (re)leitura nostlgica de uma velha lenda (como em A Flecha e a Rosa, de Richard Lester, em 1976, com Sean Connery e Audrey Hepburn

    em envelhecidos Robin dos Bosques e Lady Marian), o

    filme de Scott quer ser e curiosamente, tendo em conta que se trata de um realizador que j foi considerado publicitrio realista. ( verdade que no h grandes efeitos pirotcnicos, apesar do inevitvel momento do ponto de vista da flecha em direco ao alvo.) O resultado,

    sobretudo, lgubre. O argumento,

    creditado a Brian

    Helgeland, no foi capaz de ser to antimito como poderia para fazer a diferena com a iconoclastia. No que se invertesse a iconografia e se fizesse do xerife de Nottingham o bom da fita e Robin dos Bosques o (simptico) vilo. Mas o saltitar constante de intriga palaciana para uma histria de amor, e desta para uma aula de Histria sobre a vida na Inglaterra medieval, apenas estabelece cenrios como quem expe o que no vai ser capaz de desenvolver. E Scott no tem, de facto, cinema para isto (isto , sem filtros, o rei fica mais nu). Nem Russel Crowe, com 46 anos, dez anos mais velho do que quando fez O Gladiador, nem Cate Blanchett (uma Lady Marian vagamente feminista, socialmente consciente) transformam a sua presena em mais-valia. No muito evidente o que os atraiu, porque o filme no lhes d muito. Nada de politicamente incorrecto na floresta de Sherwood, nada de politicamente incorrecto na categoria filme de abertura de festival. V.C., em Cannes

    Nada de novo na floresta de SherwoodNem herico ou aventureiro, porque os tempos de Errol Flynn j no voltam, nem (re)leitura nostlgica de uma velha lenda o filme de Ridley Scott quer ser

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    O que os olhos deles viram...a O que que o amor triste de Catherine Deneuve e Nino Castelnuovo em Os Chapus-de-Chuva de Cherburgo ( Jacques Demy, 1964) nos diz sobre a solido dos dias de hoje, o que que os cartes, fundo negro, letras vermelhas, de Le Mepris (Godard, 1963) tem a ver com os territrios ocupados por Israel, com a escola, o subrbio e etc., ou o que que a imagem de Ingrid Bergman na rocha vulcnica de Stromboli (Roberto Rossellini, 1950) nos diz sobre o vulco islands?

    o desafi o do dirio francs Libration, edio de ontem. Para desmentir, e citamos o dirio, a ideia feita de que o cinema e a fi co esto afastados do real, e inspirando-se no lema as ideias separam-nos, os sonhos unem-nos, slogan do trailer do novo Godard, Film Socialism (ser exibido em Cannes na seco Um Certain Regard, mas na vspera pode ser descarregado da Net), o Lib pediu a 27 cineastas entre eles, Tim Burton, os Dardenne, Michael Haneke, Agns Varda, Gaspar No, Laurent Cantet, Christophe Honor, Michel Gondry, Carlos Diegues ou Claire Denis que escolhessem uma imagem de um fi lme que, aos seus olhos, ilustre um pedao do nosso mundo de hoje.

    E eles viram que falam de hoje cenas de Mamma Roma, de Pasolini (1962), Por Favor no

    me Morda o Pescoo, de Roman Polanski (2010) fora senhor Polanski, fora, incita o realizador Xavier Beauvois , Vampyr, de Dreyer (1932), O Homem que Matou Liberty Valance, de John Ford (1962, escolha de Jacques Audiard), O Homem Elefante, de David Lynch (escolha dos irmos Dardenne, contra o regresso insidioso do olhar cnico dos carrascos sobre os corpos, referindo-se ao processo que, no dia 14, num tribunal de Tquio, ope uma funcionria da Prada empresa que a despediu por ela ser, supostamente, feia), Viagem a Tquio, de Ozu (1953,

    escolha de Robert Gudiguian, para quem o fi lme a nica forma de falar da questo das reformas), Amarcord, de Fellini (1973), Last Days, de Gus Van Sant (2005), Robocop, de Paul Verhoeven (1987) ou De Olhos Bem Fechados, de Kubrick (1999).

    Na imagem da solido dos amantes de Os Chapus-de-Chuva de Cherburgo Michael Haneke diz ter escolhido a nica, entre a quantidade de imagens deprimentes e inquietantes da actualidade, que constante, a da tristeza dos amantes face ao mundo com o qual estaro sempre em contradio. Le Mepris a escolha de Laurent Cantet, para quem o lettering e os acordes da msica de Georges Delerue no deixam espao a outra coisa a no ser a tragdia cabe-nos escolher, o Haiti, os territrios ocupados, as polticas de imigrao, o Iro, a escola, o sarkozismo, enfi m, hoje... O brasileiro Carlos Diegues v o aviso de catstrofe no vulco Ingrid Bergman-Roberto Rossellini, e ressalvando que j no se fazem hoje vulces como antigamente, sinaliza a mesma mensagem na erupo que enviou nuvens de cinza para todo o mundo. Diz ele que estamos todos beira da catstrofe, a nica coisa que nos pode salvar neste frgil planeta a solidariedade, a excelncia do amor. Vasco Cmara, em CannesIngrid Bergman em Stromboli

  • psilon Sexta-feira 16 Abril 2010 33

    D. Quixote Dulcineia. E Dulcineia D. Quixote. Sancho Pana fica em ca-sa a cuidar dos filhos. Teresa Pana o brao direito de Dulcineia. D. Qui-xote foi do Cervantes, e depois do Ju-deu, Antnio Jos da Silva. Agora, nas mos do Bando, uma pera bufa.

    Confuso? Ento explicamos: O Bando estreou ontem, no Teatro da Trindade, em Lisboa, Quixote, a sua muito particular verso de Vida do Grande D. Quixote de la Mancha e do Gordo Sancho Pana, que Ant-nio Jos da Silva, o Judeu, escreveu para marionetas. Natural do Rio de Janeiro, onde nasceu, em 1705, numa famlia de cristos-novos, Antnio Jo-s da Silva viu-se obrigado a mudar-se para Lisboa devido perseguio pela Inquisio. A estudou Direito e escreveu vrias peas, com as quais obteve grande sucesso e respeito; entre elas, esta Vida do Grande D. Quixote..., pardia ao livro escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes em 1605. O Quixote de Cervantes uma verso erudita, profunda, e este aparentemente super cial, ligeiro. A obra de Cervantes mais provoca-dora, mesmo a nvel poltico e social. O Judeu tenta divulgar a obra, para a tornar mais popular, diz Joo Brites, director da companhia e encenador da pea, que ca no Trindade at 13 de Junho.

    Foi Cucha Carvalheiro, directora do Teatro da Trindade, quem props o texto do Judeu ao Bando. O desa o do grupo foi trabalhar a actualidade da mensagem. Difcil montar uma coisa em que ns estamos implica-dos. No s montar uma obra do Judeu, ainda que ele seja uma gura paradigmtica da nossa Histria. mais: o que que eu quero fazer com isto, o que que eu quero dizer com isto?, sublinha o encenador.

    E qual , ento, a actualidade do texto? [Tendo em conta] a minha ida-de, o meu tempo, a minha re exo, a minha passagem, a minha experin-cia, acho que foi adequado trabalhar este texto no sentido de problemati-zar a velhice. Pensamos que o Quixo-te s combate com moinhos de vento, mas no bem assim. O Quixote, na

    D. Quixote est velho

    e mudou de sexo

    Uma pera com msicas roubadas mostra Dulcineia, a rapariga do cavaleiro da triste fi gura, procura do homem ideal. Quixote, a nova produo de O Bando, est em cena no Teatro da

    Trindade, em Lisboa. Clara Campanilho Barradas

    PE

    DR

    O C

    UN

    HA

    O Quixote (...) tambm um gesto social e poltico, a negao de uma certa realidade procura de um mundo diferenteJoo Brites

    sada e quem acertasse em mais rou-bos ganhava um prmio. Ainda no tive tempo para fazer essa cha, mas talvez faa.

    Samos da sala acompanhados pela frase que resume todo o espectculo: Em memria de todos aqueles que,

    impedidos pela fora bruta, no atin-giram os prazeres da velhice.

    Como o prprio Judeu, que morreu na fogueira aos 34 anos.

    Ver agenda de espectculos pgs. 50 e segs.

    verso original, foge de casa. Est na cama, est doente. daqueles velhi-nhos como o meu av, que fugiam de casa e depois andava a famlia toda atrs dele. O que que leva um ve-lhinho a fugir de casa? Uma pulso de vida, responde Joo Brites. a procura da transgresso, de fazer coi-sas que no se podem fazer. uma conquista da sabedoria mas tambm o assumir do desejo, a utopia. Interes-sava-me aproveitar a obra do Judeu para parodiar estas coisas. Por trs deste lado ligeiro e super cial pode haver uma profundidade que chega a ser comovente, continua Brites. Mais: O Quixote tem essas pulses mais primitivas mas tambm um gesto social e poltico, a negao de uma certa realidade procura de um mundo diferente.

    Para servir a pardia, a direco artstica do grupo decidiu apostar numa mudana de gnero. Est tudo ao contrrio, portanto, avi-sa Joo Brites. O Judeu parodiou o Cervantes, a gente parodia o Judeu. Assim, as caractersticas intelectuais que Cervantes atribuiu a D. Quixote so transpostas, no texto do Bando, para Dulcineia, que quer correr o mundo procura do seu D. Quixote ideal. O mesmo acontece com San-cho Pana, que agora Teresa Pana, e com todas as outras personagens.

    Esta mudana de gnero faz sentido, porque a procura da utopia, hoje, uma coisa absolutamente feminina. Somos uma nova mulher. essa mu-lher que vai pelo mundo fora pro-cura de um homem para partilhar a vida e o sonho, explica Teresa Lima, que apoiou na dramaturgia.

    pera, msica pimba e roubalheira

    O cenrio de Quixote austero, la-cnico, sem cor. H cadeiras de rodas, muletas e andarilhos. Os actores esto de branco. So marionetas nas mos dos cantores, vestidos de negro, num plano elevado em relao ao palco. Tal como no velho teatro de mario-netas do tempo do Judeu, os cantores coordenam as cenas.

    Queramos contrariar as expec-tativas, diz Rui Francisco, o cen-grafo, com um cenrio que par-tida no correspondesse ideia de pardia. Que fosse provocatrio pela austeridade. uma estrutura muito elementar, baseada num nico movi-mento de rotao, que permite criar uma in nidade de espaos. Todo o cenrio partiu de uma experincia mtrica de Le Corbusier [arquitecto, 1887-1965].

    Quixote uma pera bufa. Com msica propositadamente composta para esta produo, inteiramente cantada por dois cantores, que fazem as vozes de cada uma das persona-gens. Como no h assim tantas vozes diferentes, o carcter da msica que de ne cada personagem. Escrevi a msica a partir destas condicionan-tes, diz Jorge Salgueiro, o director musical. Tambm tinha a motiva-o de pisar o risco. E -lo. Utilizei gneros que so considerados meno-res, como a msica pimba, a msica para publicidade ou a msica para telemveis. Nenhum artista verda-deiramente revolucionrio. Eu deixei de ter a pretenso de querer inovar e roubei mesmo msicas. A quem? Bom, isso j faz parte do jogo. Eu roubei; agora descubram de onde que foi. Alis, pensei que cada espec-tador podia preencher uma cha

    Tea

    tro

  • psilon Sexta-feira 14 Maio 2010 43

    Tom passaram frente (os cinco bailarinos de 32 rue vanderbranden, Sabine Molenaar, Marie Gyselbrecht, Jos Baker, Seolijin Kim e Hun-Mok Jung, e a mezzo-soprano Eurudike De Beul foram escolhidos em audies internacionais) e porque a actriz Maria Otal, que era a figura mais avassaladora do ltimo captulo da trilogia e o nico elemento do elenco que trabalhou nesta nova criao, morreu subitamente dez dias antes da estreia. J tnhamos dito: os Peeping Tom no so maiores do que a vida (embora s vezes paream).

    Da guerras e da luxriaTroilo e Crssida, a pea esquecida de William Shakespeare, representa-se pela primeira vez em Portugal. Finalmente, diz Joaquim Benite. Clara Campanilho Barradas

    Troilo e CrssidaDe Shakespeare. Pela Companhia de Teatro de Almada, ACTA, Companhia de Teatro de Braga. Encenao de Joaquim Benite. Com Andr Silva, Lus Vicente, Mrio Spencer, Rogrio Boane, Solange S, Tnia Silva.

    Almada. Teatro Municipal de Almada. Av. Professor Egas Moniz. At 16/05. 4 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h. Tel.: 212739360. 6 a 13.

    A meio do espectculo, Trsito, o bobo grego, resume a pea: Vai por aqui uma grande trapalhada. O

    pretexto de tudo isto um cornudo e uma puta, belo motivo para pr em conflito duas faces rivais e faz-las sangrar por ele at morte. Que a herpes os acometa a todos!.

    Est explicado o enredo de Troilo e Crssida, a pea esquecida de William Shakespeare que se representa pela primeira vez em Portugal, no Teatro Municipal de Almada, at amanh, e que depois seguir para Lagoa e Braga. Era um sonho com mais de 30 anos do encenador Mrio Barradas, mas vrias circunstncias foram impedindo a concretizao do espectculo. Barradas acabou por prop-lo a Joaquim Benite, encenador e director do Teatro Municipal de Almada. Para rentabilizar os meios, juntaram-se trs companhias: Companhia de Teatro de Almada, Companhia de Teatro de Braga e ACTA - A Companhia de Teatro do Algarve. Quando a produo estava em ordem, Mrio Barradas morreu inesperadamente. Resolvemos manter o projecto em homenagem ao prprio Barradas, diz Benite, que assumiu a encenao.

    O encenador j estuda Shakespeare h vrios anos, mas

    esta pea ainda no tinha sido alvo

    de uma anlise elaborada. Foi o que fez agora. Para Benite, Troilo e Crssida uma pea estranha, no sentido em que apanha a guerra de Tria mas depois no tem nada a ver com a narrao mtica. A guerra uma maneira de Shakespeare falar dos problemas da sua poca. As lutas entre os imprios ingls e espanhol e entre o protestantismo e o catolicismo. Simbolicamente, podemos dizer que Tria corresponde a Espanha e a Grcia a Inglaterra. uma pea modernista, com uma mentalidade renascentista. Os gregos so menos heris, mas mais inteligentes, mais comerciantes. J no mantm os valores de Tria: a fidelidade aos princpios, herana, moral.

    A guerra de Tria no tem fim vista, porque os gregos querem vingar a honra de Menelau, a quem o troiano Pris raptou a mulher, Helena. Troilo, irmo de Heitor e Pris, ama Crssida, filha do troiano Calcas, que se passou para o lado grego. O seu tio, Pndaro, f-la encontrar-se com Troilo. Mas Calcas persuade Agammnon a trocar a filha por um prisioneiro troiano.

    Shakespeare escreveu um texto que interessante, porque se pode transpor a pea para a Inglaterra renascentista mas tambm para os nossos dias. Muitas das coisas que se passam nesta pea poder-se-iam ter passado hoje. Mas para Benite, a questo fundamental da obra Crssida. uma mulher esmagada pelo poder poltico. entregue aos gregos contra a sua vontade, mas, ao contrrio das outras personagens de Shakespeare, adapta-se e faz isso com inteligncia.

    E mais uma vez vem Trsito: Luxria, luxria, sempre guerras e luxria: nada mais est na moda. Que um diabo em chamas os leve a todos.

    Crssida uma mulher esmagada pelo poder, diz o encenador

    O Prncipe de HomburgoDe Heinrich Von Kleist. Encenao de Lusa Costa Gomes, Antnio Pires. Com Graciano Dias, Lusa Cruz, Marcello Urghege, entre outros. Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. At 16/05. 4 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h. Tel.: 223401905. 5 a 15.

    O Rei Est a MorrerDe Eugene Ionesco. Pela Comuna. Encenao de Joo Mota. Com Carlos Paulo, Ana Lcia Palminha, entre outros. Lisboa. Teatro da Comuna. P. Espanha. At 27/06. 4 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h. Tel.: 217221770. 5.

    Jardim SuspensoDe Abel Neves. Encenao de Alfredo Brissos. Com Carla Chambel, Simone de Oliveira, entre outros. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estdio. P. D. Pedro IV. At 30/05. 4 a Sb. s 21h45. Dom. s 16h15. Tel.: 213250835. 12.

    Agora a SrioDe Tom Stoppard. Encenao de Pedro Mexia. Com Afonso Lagarto, Ana Brando,

    Joo Reis, So Jos Correia, entre outros.

    Lisboa. Teatro Aberto - Sala Azul. P. Espanha. At 31/12. 4 a Sb. s 21h30. Dom.

    s 16h. Tel.: 213880089. 7,5 a 15.

    A Rainha da Beleza de LeenaneDe Martin McDonagh. Pelo Teatro Meridional. Encenao de Nuria Menca. Com Elisa Lisboa, Natlia Luza, entre outros. Lisboa. Teatro Meridional. R. do Aucar, 64 - Poo do Bispo. At 30/05. 4 a Sb. s 21h45. Dom. s 17h. Tel.: 218689245.

    MiserereA partir de Gil Vicente. Pelo Teatro da Cornucpia. Encenao de Luis Miguel Cintra. Com Joo Grosso, Jos Airosa, Rita Blanco, entre outros. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Garrett. P. D. Pedro IV. At 23/05. 4 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h. Tel.: 213250835.

    DanaContinuamBjart Ballet LausanneDe Maurice Bjart. Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Anto, 96. At 16/05. 5 e 6 s 21h30. Sb. s 16h30 e 21h30. Dom. s 16h. Tel.: 213240580. 25 a 47.

    Ver texto na pg. 34 e segs.

    Local GeographicDe Rui Horta. Lisboa. Centro Cultural de Belm - Sala de Ensaio. Praa do Imprio. At 16/05. 3 a 6 s 21h. Sb. e Dom. s 19h.Tel.: 213612400. 12.

    Superman + Nossa Senhora das FloresDe e com Francisco Camacho. Almada. Teatro Municipal de Almada - Sala Principal. Av. Professor Egas Moniz. Dia 20/05. 5 s 21h30. Tel.: 212739360. 8 a 12.

    MaiorcaDe Paulo Ribeiro. Com Marta Cerqueira, Romulus Neagu, Pedro Burmester, entre outros. Coimbra. Teatro Acadmico de Gil Vicente. P. Repblica. Dia 17/05. 2 s 21h30. Tel.: 239855636. 6 a 8.

    Conversa

    No ltimo dia da carreira de Miserere no D. Maria II (domingo, dia

    16), Lus Miguel Cintra convida o encenador e director

    artstico do

    Teatro Nacional S. Joo, Nuno Carinhas (que, em Novembro, montou o Breve Sumrio da Histria de Deus, tambm de Gil Vicente), o investigador Jos Cames e toda a equipa

    do espectculo para uma conversa pblica no Salo Nobre, s 17h30. A ideia discutir as peas religiosas de Gil Vicente e o sentido da sua revisitao, hoje.

    aaaaaaaaaaaaaaaaaaaMaria II (domin

    16), Lus Cintra co encene direct

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    O Prncipe de Homburgo, de Kleist, agora no Porto

  • 14 Sexta-feira 19 Maro 2010 psilon

    E se Ivanov formos ns?

    O homem no um mecanismo fcil de desmontar, diz Tnan Quito. Ivanov a Truta a tentar desmont-lo, com Tchkhov, a partir de hoje no Teatro Maria Matos.

    Clara Campanilho Barradas

    Tea

    tro

    Em 1887, Anton Tchkhov (1860-1904) exercia medicina na capital da Rssia quando recebeu uma encomenda do Teatro de Moscovo para escrever uma comdia em quatro actos. Demorou dez dias a termin-la, mas a interpre-tao em jeito de vaudeville horrori-zou-o. Os actores no sabiam o texto e diziam disparates. Revoltado, rees-creveu a pea. Um ano depois, Iva-nov, agora um drama em quatro actos, fez um enorme sucesso no Te-atro de So Petersburgo e tornou-se um microcosmos do estilo e dos te-

    mas das obras que Tchkhov viria ainda a escrever.

    a segunda verso de Ivanov que a Associao Cultural Truta leva ce-na a partir de hoje e at 27 de Maro, no Teatro Maria Matos, em Lisboa. Estava na pilha dos textos que gos-taria de fazer, diz Tnan Quito, o encenador. Propus Truta e eles aceitaram. Ficmos entusiasmados, porque em 2008 tnhamos feito A Resistvel Ascenso de Arturo Ui [de Bertold Brecht, com encenao de Joaquim Horta], sobre a relao de

    um indivduo com a sociedade e a vi-da poltica. Ivanov sobre um indi-vduo mas face a uma sociedade mais pequena, a famlia. O desafio e a dificuldade, acrescenta Quito de representar Tchkhov vem da, de perceber o que que isto quer dizer, que relaes so estas. O que est por trs, o que os silncios dizem, o que no est escrito. As palavras j valem por si, agora descobrir a outra pea que est por baixo.

    Nikolai Ivanov (interpretado por Pedro Lacerda), uma espcie de quin-

    Ivanov est a, no meio de ns: haver sempre pessoas assim, sublinha esta produo da Truta

    Ivanov [diz]: Quantomais cinzento e montono for o pano de fundo, melhor. Significa leva a tua vidinha com calma, sem grandes alaridos. No h nada mais actual do que isto Tnan Quito

    tessncia da melancolia das classes altas russas, um funcionrio da ad-ministrao dos assuntos dos campo-neses; endividado e sem dinheiro para pagar aos trabalhadores da sua propriedade, vive atormentado por conflitos internos, pelas dvidas e presses externas, pela falta de gosto pela vida e pela falta de gosto pela mulher, Anna Petrovna (Rita Duro), uma judia que se converteu igreja ortodoxa russa para se casar com ele e que, sem saber, sofre de tuberculo-se. O mdico aconselha Ivanov a lev-

    FO

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  • psilon Sexta-feira 19 Maro 2010 15

    Obviamente fizemos uma escavao no sculo XIX para tentar perceber como foi tudo isto. Mas estes corpos so corpos de agora.

    Embora a traduo usada pela Truta date de 1965, o texto tambm foi adaptado ao portugus actual. Tornou tudo mais claro, a lingua-gem no est to pesada. Cortmos algumas coisas do texto original pa-ra a compreenso ser mais fcil. Na improvisao, os actores foram es-colhendo aquilo que achavam que fazia mais sentido, conta Tnan Quito.

    Msica klezmer e um co de loia

    H um relgio redondo no meio do papel de parede que ocupa o fundo do palco. Ao fundo, direita, um pia-no vertical e um co de loia. Mesas e cadeiras de madeira esto espalha-das pelo palco, branco. Os actores esperam sentados a sua vez de entrar em cena. Quito confessa que dar a ver os lados do palco foi uma op-o, mas que no est a funcionar: No se percebe bem se espao de aco ou no. A ideia de o espao es-tar sempre mostra : esta pea es-t a passar-se neste teatro. No que-remos fazer uma caixinha preta para contar esta historiazinha. Queremos contar esta histria neste espao que o Teatro Maria Matos. Interessou-nos fazer uma rea de jogo: Esto a representar para mim, pensa o p-blico.

    Alm das dez personagens da pea, a Truta fez entrar mais quatro. So os msicos, que tocam ao vivo. Como h uma festa e um casamento, achmos que fazia sentido pr msica. Pens-mos em contratar uma banda russa ou ucraniana que tocasse em casamentos. Encontrmos uma banda de moldavos mas no estava disponvel. Ento o nosso produtor fez uma pesquisa e en-controu os Melech Mechaya, explica Quito.

    Os Melech Mechaya so um grupo de msica klezmer (uma tradio musical com razes na cultura judai-ca do Leste europeu) que nasceu em 2006. No sendo exactamente aqui-lo que eu tinha imaginado, foi uma sorte t-los aqui. Fizemos uma sur-presa aos actores: os Melech entra-ram num ensaio corrido sem os ac-tores saberem e correu lindamente. Eles foram muito simpticos, procu-raram repertrio russo e ucraniano. Dei-lhes umas ideias gerais sobre o que queramos e eles foram propon-do os temas, conta o encenador. O clarinete, o violino, o contrabaixo e a percusso dos Melech Mechaya compem o fundo musical para a festa dos Lebedev e para o casamen-to de Ivanov e Sacha.

    Ivanov tem uma coisa diferente das outras peas de Tchkhov, con-clui Tnan Quito. H uma solido maior, porque no vem ningum de fora influenciar aquela normalidade. um grupo de dez personagens com os seus problemas. muito fechado, nota-se a solido e a tristeza daquelas vidas. uma pea sobre deciso: de-cidir continuar a viver, decidir acabar, decidir partir, decidir mudar. O texto d muitas pistas. As pessoas no so mecanismos fceis de desmontar, h contradies. Nesta pea as pessoas esto a tentar viver a sua vidinha.

    Ver agenda de espectculos pg. 55

    la para a Crimeia, a fim de se curar. Mas Ivanov no tem dinheiro para isso. Nessa noite, deixa a mulher so-zinha em casa e vai a casa dos Lebe-dev com o seu tio, o conde Matvei Chabelski (Antnio Fonseca), um ve-lho cmico. Na festa dos Lebedev, esto tambm presentes Marfa Ba-bakina (Carla Galvo), uma jovem viva e proprietria rural, e Dimitri Kossykh (Tnan Quito), um funcion-rio fiscal. Ivanov parece interessar-se por Sacha (Paula Diogo), filha dos Le-bedev. E Tchkhov comea.

    Cinzento bomAs experincias humanas, o amor e as relaes familiares que Tchkhov sempre retratou nas suas peas co-meam a ser dissecadas na festa dos Lebedev.

    Gosto muito da literatura russa, por causa dos caracteres, das perso-nalidades, diz o encenador. redu-tor ver esta pea s do ponto de vista do protagonista, da figura central, porque h uma quantidade de gente que alimenta Ivanov, e todos se vo alimentando uns dos outros. Todos eles com os seus problemas e o seu carcter.

    Em Ivanov, o estado de esprito e o carcter das personagens alteram-se ao longo da pea. A explorao dos limites de cada situao o objectivo desta encenao da Truta. Quera-mos lembrar que ns no somos iguais em todas as situaes, nem sempre fazemos coerncia. Compor-tamo-nos de maneiras diferentes em vrias situaes, justifica Quito. Tra-balhmos muito os contrastes. Extre-mmos as situaes para perceber-mos o que que est no meio. Puse-mos as personagens em confronto umas com as outras.

    O tema da dramaturgia de Tchkhov muitas vezes o modo de vida do po-vo russo, que o autor to bem conhe-ceu, por ter sido um proprietrio ru-ral. Para Tnan Quito, esta pea jus-tifica-se nos dias de hoje. Ivanov preocupa-se com os seus problemas, est desencantado com a vida. Temos montes de sonhos quando somos no-vos. Mas avanamos, h um momen-to em que parece que nada faz senti-do, e quebramos. Uns no quebram e continuam. Outros quebram mes-mo, como Ivanov. O problema do Ivanov a falta de dinheiro e as dvi-das est a, acrescenta Quito. Ha-ver sempre pessoas assim. Pegando numa deixa de Ivanov: Quanto mais cinzento e montono for o pano de fundo, melhor. Significa leva a tua vidinha com calma, sem grandes ala-ridos. No h nada mais actual do que isso. Far sempre sentido fazer Tchkhov. Muito sentido.

    Sendo a primeira pea escrita por Tchkhov, Ivanov aponta para v-rias direces, retomadas nas peas seguintes, como A Gaivota, O Ce-

    O desafio e a dificuldade de representar Tchkhov vm de perceber o que est por trs, o que os silncios dizem, o que no est escrito. As palavras j valem por si, agora descobrir a outra pea que est por baixo.Tnan Quito

    rejal ou As Trs Irms. Parece um esboo. Porque no fazer tambm da prpria encenao um esboo? Des-pir a encenao, a interpretao estar mais rarefeita. Contrastar algumas coisas exageradas com outras mais despidas, deixando que as palavras tenham fora. Esta a nossa interpre-tao, h 500 outras, explica o en-cenador.

    De resto, corrige Tnan Quito, isto que est agora vista no Maria Matos nem bem uma encenao: A ence-nao se calhar s surgiu nos ltimos cinco dias, para coordenar a equipa tcnica e os actores. mais uma di-reco, pegar num grupo de pessoas e dirigi-las para um stio. Tnhamos ideias, mas foi tudo feito colectiva-mente. A produo trabalhou sempre connosco. Os actores improvisaram todos os dias. amos falando e tentan-do perceber as propostas deles. No fundo um dilogo.

    partida, a companhia estabeleu que no iria fazer poca. Decidimos logo no retratar o sculo XIX. Pen-smos este texto com as nossas cabe-as de hoje, luz dos dias de hoje.

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  • 4 Sexta-feira 4 Junho 2010 psilon

    of May (uma edio limitada dos singles foi despachada para lojas de discos independentes), ver algum do trabalho grfico do novo lbum (incluindo uma fotografia antiga dos subrbios de Houston), e ainda ler a letra da cano que d o nome ao disco (e brincar com ela...).

    Paraty ao som de Lou ReedO msico Lou Reed, os escritores Salman Rushdie, Antonio Tabucchi e Isabel Allende, o cartoonista Robert Crumb, os historiadores Robert Darnton e Peter Burke e o crtico literrio Terry Eagleton so as principais atraces da 8 edio da Flip - Festa Literria Internacional de Paraty, que vai decorrer de 4 a 8 de Agosto no Brasil. Este ano, aquela que a maior festa literria brasileira no ter nenhum convidado portugus, depois de por l j terem passado Antnio Lobo Antunes, Miguel Sousa Tavares, Gonalo M. Tavares e Jos Lus Peixoto.Lou Reed no vai cantar - estar na 8 Flip a propsito da edio no Brasil de Atravessar o Fogo, obra que rene 310 canes do norte-americano. O livro chega s livrarias em Julho e Lou Reed conversar no festival com o escritor e jornalista Arthur Dapieve sobre os limites entre arte e contestao, letra e poesia, alta cultura e rocknroll.O escritor homenageado este ano na Flip o socilogo Gilberto Freyre (1900-1987) e na conferncia de abertura, dedicada ao autor de Casa Grande & Senzala, participar o socilogo e ex-

    Presidente da Repblica Fernando Henrique Cardoso.De volta Flip est tambm Salman Rushdie, que esteve em Paraty em 2005. O escritor indiano lanar o seu novo romance Luka e o Fogo da Vida, que no Brasil ser editado pela Companhia das Letras. A multiculturalidade , de resto, o fio condutor desta edio, que colocar o israelita Abraham B. Yehoshua e a iraniana Azar Nafisi a

    debater o processo de paz entre rabes e

    israelitas. Wendy Guerra, que

    vive em Cuba, e a brasileira Carola Saavedra, falaro das diferenas de se escrever

    em democracia

    ou sob ditadura.

    No ano passado, Richard Dawkins esteve

    em Paraty a falar de atesmo, cincia e f. Este ano, em resposta s teorias de Dawkins, a Flip convidou um dos mais influentes crticos literrios contemporneos, o britnico Terry Eagleton, que ir contra-argumentar o atesmo apregoado pelo cientista.Os bilhetes para o evento comeam a ser vendidos a partir das 10h (no Brasil) do dia 5 de Julho no site www.ticketsforfun.com.br. A partir do dia 4 de Agosto, estaro disponveis apenas na bilheteira da Flip em Paraty. Isabel Coutinho

    Vamos ler as cartas de Richard Burton a Elizabeth Taylor

    No houve (e por favor no vamos sequer sujar a boca com aquela coisa chamada Brangelina) na histria do star system (e, v, na histria do cinema, embora o encontro de Roberto Rossellini com Ingrid Bergman, apesar de europeu e portanto perifrico, tambm seja mtico) nenhum romance como o de Elizabeth Taylor e Richard Burton. Foi uma acontecimento torrencial, como torrenciais eram um e outro, que comeou em Roma, 1962, quando Taylor, casada, estava a morrer nas filmagens de

    Clepatra (um filme que, de resto, quase matou o sistema de produo de Hollywood) e Burton, casado, correu para a salvar ( j tinha ficado morto de desejo dez anos antes, quando a viu pela primeira vez junto piscina, numa festa em casa de Stewart Granger e Jean Simmons). O adultrio, imediatamente condenado s mais altas instncias (pelo Vaticano), transformou-se logo ali num pico, possivelmente um pico maior do que o que Joseph L. Mankiewicz estava a tentar filmar. O calor, a derrapagem financeira e depois Burton e Taylor, inseparveis: Mankiewicz tinha de gritar vocs os dois importam-se que eu diga Corta?. Nos anos que se seguiram, houve altos e baixos, separaes e reconciliaes, lcool e drogas. Casaram-se duas vezes (de 15 de Maro de 1964 a 26 de Junho de 1974, e de 10 de Outubro de 1975 a 29 de Julho de 1976), depois divorciaram-se definitivamente. Agora, 26 anos aps a morte de Burton, vamos saber como esse romance era por dentro: Taylor entregou a Sam Kashner e Nancy Schoenberger praticamente todas as cartas que Burton lhe escreveu (apenas uma, que o actor escreveu poucos dias antes da sua morte, em 1984, e que s chegou s mos de Taylor depois do funeral, ficar indita). Sero impressas pela primeira vez em Furious Love: Elizabeth Taylor, Richard Burton, and the Marriage of the Century, uma edio da Harper Collins disponvel nos EUA a partir de 15 de Junho. A Vanity Fair pr-publicou excertos de algumas dessas cartas em que Burton usa maravilhosamente a lngua para se declarar, insistentemente, a Taylor, lamentar os desentendimentos entre ambos (Funcionamos em comprimentos de onda completamente diferentes. Tu ests to longe como Vnus - o planeta, quero dizer - e eu sou surdo msica das esferas) - e tambm para lhe dizer que se a perdesse, no havia se no o suicdio: No h vida sem ti.

    Almodvar, est exactamente como quando foi embora: Quando apareceu, foi como se tivssemos acabado Ata-me na noite anterior. Mas a histria comeou dez anos antes de Ata-me, com Labirinto de Paixes, de 1982. Quatro anos depois, Banderas entrava em Matador, e a seguir no polmico A Lei do Desejo Banderas de novo homossexual, desta vez psictico - e em Mulheres Beira de Um Ataque de Nervos.

    Em Agosto, os Arcade Fire chegam aos subrbios

    Continuamos a aguardar ansiosamente o novo lbum dos Arcade Fire, e a contagem decrescente tem sido frtil em novidades. Os canadianos revelaram finalmente a data de lanamento do novo disco (2 de Agosto), embora sublinhem que ainda esto a terminar o lbum (comearam a grav-lo no ms passado). Na semana passada, os irmos Will e Win Butler explicaram rdio americana NPR Music o significado do nome do disco, The Suburbs (correm rumores de que ser um lbum duplo). Nascemos numa cidade muito pequena da Califrnia, na fronteira com o Nevada, explicou Win, citado pelo New Musical Express. Mudmo-nos para Houston quando ramos novos. Sendo ns crianas to pequenas, foi como ir para Marte. [No lbum], tentmos falar sobre esse sentimento. Mais um regresso infncia, portanto. Sobre a msica do disco, Will disse que h dois plos, um mais rocknroll, o outro mais electrnico, e que o lbum se situa entre esses dois extremos. Enquanto esperamos por The Suburbs, o site da banda d-nos muito que fazer: podemos encomendar o lbum, descarregar as canes The suburbs e Month

    Flash

    Os inditos de Verglio Ferreira na QuetzalA Quetzal vai publicar um romance indito de Verglio Ferreira, Promessa, no dia 11 de Junho. Teve como primeiro ttulo Sequncia foi escrito em 1947 e no chegou a ser publicado. o nico romance indito completo que existe no esplio de Verglio Ferreira (1916-1996), e a deciso de o trazer a pblico no foi fcil de tomar para a equipa de investigadores e professores dirigida por Hlder Godinho (com as professoras Fernanda Irene Fonseca e Ana Isabel Turbio), que est a estudar, catalogar e anotar o esplio do escritor portugus.Na sua Conta-Corrente, Verglio Ferreira escreveu que, na sua opinio, um autor no d garantias quase nenhumas (mormente quando grande autor) sobre a valia do que realiza e que se um artista no quer que se lhe conhea a obra, destrua-a ele. H cerca de 30anos, falou da existncia deste romance indito a Hlder Godinho (que estava na altura a preparar uma tese de doutoramento sobre a sua obra) e emprestou-lhe o original dactiloscrito.Tambm uma novela indita intitulada A Curva de Uma Vida, a primeira histria que Verglio Ferreira escreveu, acaba de ser publicada pela Quetzal e j est nas livrarias. o primeiro livro de Verglio Ferreira, datado de 1938. S no ano seguinte sairia O Caminho Fica Longe, que at agora dado como o seu primeiro romance. evidente que se trata de um texto muito mais curto, uma novela, mas nela aparecem j os grandes temas que marcariam a obra de Verglio Ferreira. Nomeadamente, a ausncia do pai, a figura da me, a culpa, a busca da identidade, disse agncia

    Lusa Francisco Jos Viegas, editor da Quetzal, que est a reeditar a obra completa

    do Prmio Cames 1992. Isabel

    Coutinho

    Casa Grande & Senzala ,paaaaaaaaaaaaaartrtrtrtrtrtrtrttrtrtrtrtrtrtrtrtrtrrtrtrtrrrtrtrtticciciciciccicicicicciciciciccicccccipipipipipipipipipiipipiipipipippppppppar o socilogo e ex-

    muito que fazer: podemosencomendar o lbum, desccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccaaararararaararaararaaaaaaaaaaaaaararrrrrraraaaaaaaaaaarrrrrrraaaaraarararaaaaaaararrrarrrararrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrararrrarrrrrrrrrrrraarrrarrrrrrrrraarrrrarrrrrraaarrrrraaa rererrrerererererrrrreerrrererrrrrerrrerrereereererrrrrrrerererreeeeerrrrrrrrrrerrereerereeeeeeererrrrrrrrerereeeererrrrrrrrreeeeeereeeeerrrrrrrrrereeeeeeeeeeeeerrrrerrerreeeeeeeeeeeererrrrrrrrreeeeererrrerrrrerreeeerrreeererreerereeeegagagagagagaaaaagaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaagaagagaaaaaaaaaaagagaaaaaaaaaaaagagaaaaaaagagaaaagagagagaaaagagagggggagaaaaagggggagagagagagaaaggggggaaaaggggggggggagagaaaaagggggggggagagaaaagggggggggggagggggggggggggagggaaaaaaggggggggggaggggaagggggggggggggaaaagggggggggggggggaaaaaagggggggggaaaaaagggggggggggggggggggggggggg rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrras canes The suburbs eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee MMoMoMoMoMoMoMoMMoMMMMMMoMoMoMMMoMMoMM nnnnnntntntntntttttttttttnnnntttttttttnnttttttnnnnnnnnntntnttttttttttttnnntntttttttttnttttttttttnttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttntttttttttnttttttttnntttttttntttttttttttttttttntttnttttthhhhh hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhh

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    ora osellini com e europeu

    mbm seja como o

    hard mentoais eram

    u emor,

    para lhe dizer quese a perdesse, no havia se no o suicdio: No hvida sem ti.

    marcariam a obra de VFerreira. Nomeadameausncia do pai, a figume, a culpa, a busca identidade, disse ag

    Lusa Francisco Jos Veditor da Quetzal, qa reeditar a obra co

    do Prmio Cam1992

    C

    As cartas so toda uma nova porta de entrada no romance pblico mais avassalador do sculo XX

    Reed lana uma colectneadas suas letras no Brasil

    Mais memrias das dores de crescimento dos Arcade Fire no terceiro disco

    Promessa, o nico romance indito completo de Verglio Ferreira, sai no dia 11 de Junho

  • 40 Sexta-feira 23 Abril 2010 psilon

    O aroma do incenso j se espalhou por todo o teatro. Os ltimos prepa-rativos esto em curso. Por isso, es-peramos, sentados em cadeiras esto-fadas a veludo gren. Olhamos a cha-ma das velas e os naperons que cobrem o tampo das mesas de madei-ra. Esperamos mais um pouco. Espe-ramos A Rainha da Beleza de Leena-ne, que se estreou ontem, no Teatro Meridional, em Lisboa, e que por l vai ficar at 30 de Maio.

    A sala est escura, ouve-se o baru-lho da chuva. Mas no pode ser l fo-ra, quando entrmos estava um bo-nito sol. a chuva intensa que sempre cai sobre Leenane. Uma aldeia em Connemara, na Irlanda, quase vazia, porque, no incio dos anos 90, muitos dos seus habitantes emigraram em busca de trabalho.

    Maureen Folan (Natlia Luza) fi-cou. Solteira, aos 40 anos, toma con-ta da me, Mag Folan (Elisa Lisboa), uma septuagenria egosta e manipu-ladora. As irms j saram de casa e pouco se interessam por quem l fi-cou. A monotonia da vida das duas quebrada quando Ray Dooley ( Jos Mata), um vizinho, anuncia a chegada de Inglaterra, para onde emigrou, do irmo mais velho, Pato Dooley (Alme-no Gonalves). Comea assim a nas-cer uma histria entre Maureen e Pato, que poderia ser de amor, mas que o jogo perturbador das emoes vai revelar no ser possvel. Com isso, so tambm desvendados alguns se-gredos, que mais valia terem ficado encobertos.

    A Rainha da Beleza de Leenane, do irlands Martin McDonagh, pode ser uma comdia negra ou uma tra-gdia cheia de humor. uma anlise das relaes por vezes ou sempre disfuncionais no interior das fam-lias. A encenao de Nuria Menca, actriz espanhola, que o Meridional quis desafiar. Somos amigos h mui-tssimos anos e a vontade de traba-lharmos juntos sempre existiu. Foi um convite maravilhoso, diz a actriz.

    O texto, diferente daqueles que o Meridional costuma trabalhar, repre-sentou um duplo desafio para o gru-po: por um lado, aborda as debilida-des humanas, por outro, havia uma actriz que nunca tinha encenado a comandar os trabalhos. Estou muito feliz com a viagem que foi encenar esta pea, porque o Meridional abriu-me verdadeiramente as portas. s vezes, abrem-te as portas mas a fin-gir e do-te uma grande chapada na cara. Desta vez, foi verdadeiro, con-fiaram em mim, sublinha.

    O processo de trabalho adoptado por Nuria envolveu todas as reas do teatro. Eu levei o guio, mas foi um trabalho de partilhas, de partilhas verdadeiras. Foi uma mistura de to-

    dos os ofcios: a interpretao, as lu-zes, o som. Tudo misturado, revela a encenadora.

    Mas o verdadeiro motor do traba-lho foram os actores. Contei esta histria com eles, com os seus medos. Eles deram sugestes com o seu tra-balho, a orgnica, a maneira de ver. Deram toda a sua alma. Eram os ac-tores que eu queria para contar a his-tria que eu queria. Nuria explica: A Elisa Lisboa foi uma descoberta maravilhosa para mim; a Natlia, bem, eu queria que ela fizesse outras personagens, uma que lhe desse ou-tras coisas, e esta maravilhosa para isso; h anos que no via o Almeno, mas soube logo que ele era o Pato Do-oley. Para os rapazes, fizemos um casting e o Jos Mata pareceu-me muito bem, a mim e a toda a equipa. Estou muito contente, so quatro ac-tores que trabalharam muito. Isso o que eu acho que o teatro traba-lho. Tentei usar a minha intuio, fazer-me entender. No s pelo meu idioma porque o meu portunhol bastante bom! mas entender a pe-a, o caminho que eu queria seguir. Acho que os ensaios so a melhor par-te dos processos do teatro, mas estou muito curiosa para ver a reaco das pessoas.

    A vida uma tragicomdiaO trabalho e os excelentes actores so uma pea fundamental na engrena-gem desta nova produo do Meridio-nal. Mas o texto d uma ajuda. Depois de uma investigao inicial, o texto de McDonagh caiu sobre Nuria como uma bno. Eu leio muita coisa. E quando descobri esta pea pensei que era ptima. Descobri o texto em es-panhol. Mas s eu que pude l-lo, claro! Depois conseguimos em ingls e a traduo, do Paulo Eduardo Car-valho, muito boa. No perdeu o rit-mo. Tambm descobri que j tinha sido encenada em vora [produo CENDREV no Teatro Garcia de Resen-de, em 2003]. A encenadora apaixo-nou-se pelo texto desde o primeiro momento: um texto que no tem moralismos, acho que isso indispen-svel para contar as coisas que nos acontecem hoje em dia. Os dilogos so muito fortes, tm um lado muito cmico e outro muito cruel e dram-tico. Essa mistura, essa coisa de ser uma tragicomdia, com todas as le-tras, interessou-me muito. Porque a vida isso: momentos muito bons e momentos muito maus.

    Depois da pea, precisamos de uns minutos para nos recompormos. As relaes disfuncionais que acabmos de ver so os contrastes da nossa vi-da, que nos levam do lado escuro ao lado claro. Gostava que o pblico levasse essa sensao consigo, que no ficasse a pensar quem mau e quem bom. uma pea que fala do difcil que sobreviver a algumas re-laes humanas, mas sem vcios, sem julgar as personagens, explica Nu-ria.

    Martin McDonagh disse que se, ao fim do dia, as pessoas escrevessem o que fizeram, muita gente pensaria que estava maluca. Foi esse equilbrio precrio que a encenadora quis ver retratado na pea. As coisas tm mui-tas cores. o que nos faz viver. Por-que no vemos tudo a preto e branco. Nesse sentido, este texto totalmen-te beckettiano, h uma procura de felicidade constante mas que nunca alcanada.

    A reflexo vai connosco quando samos. O aroma do incenso envolve-nos outra vez. L fora, os irmos Do-oley fumam um cigarro. E, sim, ns sabamos, no est a chover.

    Ver agenda de espectculos na pg. 42

    Em Leenane, os dias no so

    l muito

    felizesA Rainha da Beleza de Leenane o Teatro Meridional a brincar com a comdia negra das relaes entre me e fi lha. A cpia da vida, sem julgamentos morais, desde

    ontem em Lisboa. Clara Campanilho Barradas

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    Essa mistura, essa coisa de ser uma tragicomdia, com todas as letras, interessou-me muito. Porque a vida isso: momentos muito bons e momentos muito mausNuria Menca

    A Rainha da Belezade Leenane mostra o difcil que sobreviver a algumas relaes humanas

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    EuromilhesChave sorteada: 7, 19, 30, 38, 50 + 4 e 71. Prmio: 15.000.000 euros

    Dia da BiodiversidadeAinda h muito por fazerPg. 8

    Prncipe RealJardim reabre hoje com vrias novidades Local

    Moo de censuraPSD salva Scrates mas deixa ameaa no ar para 2011 Pg. 10

    EspanhaMais de mil anos de priso para etarras Pg. 17

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    I S S N : 0 8 7 2 - 1 5 4 8

    A aprovao pelo senado de um importante pacote legislativo para recuperar os mercados financeiros foi uma importante vitria poltica do Presidente norte-americano e um primeiro passo para moralizar o sistema financeiro que est na origem da crise econmica global e continua a beneficiar de uma impunidade total. Espera-se que a Europa apanhe a boleia. (Pgs. 2 e 3)

    Sobe e desce

    Barack Obama

    MiguelMacedo

    BP

    A petrolfera britnica foi obrigada a reconhecer ontem que s est a conseguir retirar menos de metade do crude derramado no golfo do Mxico do que declarara inicialmente. Um ms depois da exploso numa plataforma petrolfera, a mar negra est a chegar aos pntanos do Luisiana e do Mississpi, sem que se saiba como ser possvel travar o seu efeito devastador. (Pg. 17)

    Pedro Passos Coelho ficou com poucas escolhas numa bancada que herdou de outra direco, mas Miguel Macedo voltou a revelar-se um lder parlamentar frgil no debate de ontem. E sabe-se que este o palco onde Scrates melhor desempenha o papel de animal feroz. Miguel Macedo dificilmente far esquecer um tal... Paulo Rangel. (Pgs. 4 e 5)

    O ex-vice-presidente da Ferrostaal, uma das empresas que integram o consrcio alemo que vendeu dois submarinos a Portugal, foi detido pelo MP de Munique por suspeitas de corrupo neste e noutros negcios. Numa recente entrevista ao PBLICO, o gestor tentou responsabilizar a Comisso das Contrapartidas. Em vo. (Pg. 6)

    HorstWeretecki

    H um segundo realizador iraniano em greve de fome

    Clara Campanilho Barradas

    Tal como Panahi, Mohammad Nourizad opositor do regime e cumpre pena de trs anos e meio. Est em greve de fome aps ser agredido por seguranas

    a J so dois os realizadores irania-nos em greve de fome, como protes-to contra as polticas repressivas do Iro. Primeiro foi Jafar Panahi, que est na priso de Evin, em Teero, e no domingo iniciou uma greve de fome. Tera-feira, Mohammad Nou-rizad, detido na mesma priso de Panahi, decidiu entrar tambm em greve de fome aps ter sido agredido pelos seguranas da priso, informa o site iraniano Kaleme.com.

    O realizador foi levado para o ptio da priso e foi severamente agredido por cinco membros da segurana, denunciou o site, afi r-mando que Nourizad fi cou com a vi-so afectada. Iniciou uma greve de fome e informou a famlia que no sobreviver se a situao continuar, assegura o site.

    O realizador foi detido por ter pu-blicado no seu blogue trs cartas, consideradas desrespeitosas, que instavam o ayatollah Khamenei a pedir perdo aos iranianos pela re-presso ao movimento de oposio, nas eleies de Junho de 2009. Nou-rizad foi sentenciado a trs anos e meio de priso e 50 chicotadas.

    J o caso de Panahi, vencedor do Leo de Ouro de Veneza em 2000 com o fi lme O Crculo, tem marcado o Festival de Cannes, onde deveria ser jurado. O Governo francs pediu ofi cialmente ao Governo iraniano a sua libertao foi preso por querer realizar um fi lme sobre as eleies presidenciais do ano passado, ele que foi apoiante da oposio pa-ra que participasse no festival. Isso no aconteceu e o festival optou por manter vaga a sua cadeira.

    Na apresentao de Copie Confor-me, o realizador Abbas Kiarostami classifi cou a deteno do compatrio-ta como intolervel: Quando um realizador um artista preso, a arte como um todo que est a ser atacada. Realizadores como Steven

    Spielberg, Martin Scorsese, Robert de Niro ou Francis Ford Coppola j assinaram uma petio exigindo a sua libertao.

    O Ministrio da Cultura e Orien-tao Islmica anunciou na semana passada a proibio da exibio de fi lmes de cineastas iranianos no es-trangeiro sem uma licena especial e anunciou castigos para quem infrinja a nova lei.

    Sem os documentos, os fi lmes no tero autorizao para deixar o pas, sob pena de sano de um ano e proibio de fi lmar, disse fonte do ministrio. A medida vi-sa impedir a difuso de fi lmes que possam manchar a imagem do Iro no exterior. Cineastas e crticos j contestaram.

    Panahi no pde ir a Cannes

    AFP PHOTO/DDP/JOHANNES EISELE

    Vasco Pulido Valente no escreve a sua crnica nestes dias, voltando a este espao na prxima semana

    Domingo na PblicaCrnicas de garfo e faca A vida dos crticos de gastronomia

  • psilon Sexta-feira 21 Maio 2010 15

    Trs casais no restaurante mais caro da cidade celebram atirando palavras uns aos outros que s Harold Pinter poderia ter escrito. Depois, dois ho-mens discutem o que devem fazer com um prisioneiro, com palavras que s Harold Pinter poderia ter es-crito. Aquilo que ele consegue com a banalidade extraordinrio. Com duas frases banais, ele cria um mun-do, de personagens, de musicalidade. Nas frases de Comemorao, no h nada. E, no entanto, a quantidade de coisas, frustraes, violncia, suben-tendidos que ali esto.

    So palavras que s Jorge Silva Me-lo, encenador regular, e fidelssimo, das peas de Pinter em Portugal, po-deria ter dito. O pretexto, agora, o dptico formado por Comemorao e A Nova Ordem Mundial, duas pe-as do dramaturgo pelo preo de uma que os Artistas Unidos tm em cena, a partir de hoje e at dia 27, no Peque-no Auditrio do Centro Cultural de Belm (CCB), em Lisboa.

    Comemorao, a ltima pea es-crita por Pinter, de 1999; A Nova Ordem Mundial de 1991. Mas porqu duas peas? A Comemorao fala desta nova democracia que apareceu, muito grosseira, exibicionista, consu-

    mista, nos anos da Thatcher [Marga-ret Thatcher, primeira-ministra do Reino Unido entre 1979 e 1990]. For-mou-se uma atmosfera insuportvel de claustrofobia. [Na pea], sente-se que h uma violncia por trs da apa-rente festa. H uma coisa latente. E, em A Nova Ordem Mundial, no fun-do so as mesmas personagens, as mesmas confuses de lngua, com um outro tipo de violncia. como se uma se passasse no rs-do-cho, e a outra na cave. Mas o mesmo mun-do, explica o encenador.

    Os textos foram escritos na ltima dcada de trabalho de Harold Pinter. Para Silva Melo, esse trabalho foi do-minado por uma questo. Eu creio que a pergunta com que Pinter fina-lizou os seus anos : o nosso poder assente em qu? Em que novo imp-rio colonial que ns assentamos?. Para enfatizar a pergunta, os Artistas Unidos decidiram complementar o espectculo: J estvamos a ensaiar a Comemorao e achmos que fal-tava qualquer coisa. Precisvamos de ir tal cave.

    Um riso amareloOs Artistas Unidos j tinham trabalha-do peas de Harold Pin- ter no espa-

    o A Capital e no CCB. Chegmos ao Pinter em 2000, porque todos os au-tores novos que achvamos interes-santes, a meio da conversa, diziam-nos: Ah, mas eu quero o Pinter. O Pinter gerou muito teatro. Para escre-verem uma pea, os novos autores liam-no sempre. Fizemos algumas peas que ainda no tinham sido fei-tas em Portugal ou tinham sido muito pouco feitas. Depois o Pinter recebeu o Nobel da Literatura, em 2005, e no nos apeteceu pr isso a render. No seria autntico, reflecte Silva Melo. Agora .

    As peas de Pinter exigem uma tal orquestrao que os Artistas Unidos decidiram fazer cinco antestreias (Aveiro, Guarda e Ponte de Sor) para que o espectculo fosse coeso mas fluido. No fcil. preciso um elen-co muito bom, mas no h papis de vedetas. Precisa de um elenco muito, muito coeso porque o jogo entre estas pessoas muito musical. Qualquer nota dissonante fica muito falsa e nota-se, explica o encenador.

    Alm de conhecer as peas, Silva Melo tambm conheceu Pinter. No dia em que amos estrear A Coleco no CCB, com o grande encenador Ar-tur Ramos, o doutor Santana Lopes

    mandou fechar A Capital. Foi a 29 de Agosto de 2002. O Pinter foi a segun-da pessoa a escrever uma carta de solidariedade, com uma grande sim-patia. No prprio dia recebi um fax a dizer: Faa favor de dizer a Cma-

    ra que inacreditvel fecharem um teatro como esse. Depois conheci-o pessoalmente. Era um homem encan-tador, divertidssimo, muito atento e muito solidrio.

    Jorge Silva Melo aceita que Harold Pinter possa ser um Shakespeare do sculo XX. uma coisa desse gnero, sim. Da segunda metade do sculo XX, do ps-guerra. Eu acho que ele tem um universo to rico como Shakespeare ou como Brecht. Brecht na primeira parte do sculo XX, Pin-ter na segunda, com certeza.

    No fundo, nestas peas, Pinter no diz: como que eles so assim? Ele quer dizer: como que ns che-gmos a esta sociedade to grosseira, to vulgar, to sem valores, to bes-tial, to estpida, to descartvel? O riso que existe sempre muito ama-relo. Estamos petrificados pelo riso, conclui Silva Melo. O que est aqui representado a viso de um mun-do do qual preciso suspeitarmos. Esta nova ordem mundial baseada no terror. nessa ditadura que est a assentar a nossa aparente democra-cia.

    no rs-do-cho e na caveHarold Pinter,

    Os Artistas Unidos regressam a um stio onde foram felizes com o dptico Comemorao e A Nova Ordem Mundial, que hoje chega a Lisboa. Clara Campanilho Barradas

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    Pinter no diz: como que eles so assim? Ele quer dizer: como que ns chegmos a esta sociedade to grosseira (...), to bestial, to estpida, to descartvel? O riso que existe sempre muito amareloJorge Silva Melo

    Para enfatizar a pergunta colocada por Comemo-rao, os Artistas Unidos quiseram juntar-lhe A Nova Ordem Mundial

    Ver agenda de espectculos pgs. 54 e segs.

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    www.publico.pt

    IroConsenso a favor de sanes moderadasPg. 16

    Foz do PortoEx-supermercado de Siza vai receber unidade de sade Local

    LiteraturaJ. G. Farrell o vencedor do Booker... de 1970Pg. 19

    CimeiraLula apoia investimento brasileiro em Portugal Pg. 2 a 4

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    I S S N : 0 8 7 2 - 1 5 5 6

    Joana Vasconcelos todo um blockbuster de 168 mil visitantes

    Clara Campanilho Barradas

    Depois do banho de multido em Lisboa, Joana Vasconcelos terainda este ano uma obra em Joanesburgo, durante o Mundial de futebol

    a A meio j se sabia que era um su-cesso de pblico, mas no se podiam adivinhar nmeros. Sem Rede, a mos-tra antolgica da artista plstica Joana Vasconcelos acabou anteontem, de-pois de dois meses e meio em expo-sio no Museu Berardo, em Lisboa. At s cinco da tarde tinha tido perto de 166 mil visitantes. Sete horas de-pois, meia-noite, em horrio alarga-do de Dia Internacional dos Museus, fazia um balano fi nal de quase 168 mil visitantes (mais concretamente 167.852 visitantes).

    Todo um blockbuster, com mais entradas do que mostras de grande pblico como A Evoluo de Darwin, que no ano passado se tornou na exposio temporria mais visita-da de sempre em Portugal (161 mil visitantes na Gulbenkian). Mais en-tradas tambm do que o inesperado sucesso que foi a retrospectiva em 2006-2007, ainda na Gulbenkian, de Amadeo de Souza-Cardoso, que superou as 100 mil visitas.

    Um dado a considerar: desde que abriu, h trs anos, o Museu Berardo tem assumido a poltica de entrada gratuita como forma de captar e po-

    tenciar pblicos. Isso bem como as diferentes formas de contabilizar pblico em diferentes instituies desequilibra as comparaes com exposies como a de Paula Rego em Serralves em 2004-2005. Com mais de 157 mil entradas, permane-ce como a mais visitada de sempre do conhecido museu do Porto, um pouco acima da dedicada ao norte-americano Robert Rauschenberg, em 2007-2008 (mais de 137 mil en-tradas).

    No que toca ao prprio Museu Be-rardo, Sem Rede ultrapassou, por exemplo, em mais de 60 mil visitan-tes a exposio mais vista do museu at agora, a colectiva Amlia, Corao Independente, que, no ano passado, fechou com um balano superior a

    105 mil visitas. Sem Rede ultrapassou tambm em cerca de 60 mil entradas a mostra dedicada pintora mexica-na Frida Khalo, em 2006, quando o mdulo 3 do Centro Cultural de Be-lm no era ainda Museu Berardo.

    Mas no ser este o ltimo banho de multido de 2010 para Joana Vas-concelos: o Museu Berardo anunciou entretanto que uma das mais conhe-cidas obras da artista, Corao Inde-pendente (2005), vai ser exposta na frica do Sul ainda este ano, no es-pao pblico pedonal Melrose Arch, em Joanesburgo, de 10 de Junho a 12 de Julho, coincidindo com o Mundial de futebol, onde Portugal uma das seleces participantes. Ficar ex-posta numa vitrina especialmente concebida para a ocasio.

    Corao Independente estar na frica do Sul em Julho

    Perante a mar de indefinies em que se encontra o processo de reforo da regulao financeira, Angela Merkel no esteve com meias medidas: avanou sozinha para a proibio do chamado naked short-selling movimentos financeiros desestabilizadores dos mercados. Mesmo sabendo que iriam acusar o toque, a chanceler no hesitou em fazer o que achava correcto. (Pg.22)

    Sobe e desce

    Angela Merkel

    Rand Paul

    Rui Pereira

    As associaes sindicais e profissionais da PSP e da GNR contestam as opes do Ministrio da Administrao Interna (MAI) , tutelado por Rui Pereira, em relao aos respectivos quadros de pessoal. Queixam-se de que as apostas do MAI esto nas chefias s a GNR tem 11 generais , esquecendo as bases das respectivas corporaes. (Pg.10)

    Na Amrica, a palavra de ordem a revolta dos eleitores contra os candidatos do sistema. Foi esta a tnica das eleies primeiras em quatro estados. No Kentucky, Rand Paul, o candidato do movimento radical Tea Party, conseguiu derrotar Trey Grayson, a escolha oficial do Partido Republicano. Um triunfo do sentimento antipoltico. (Pg. 17)

    O presidente da comisso de inqurito ao negcio PT/TVI decidiu proibir, por despacho, o uso dos contedos das escutas na comisso. Com esta deciso, Mota Amaral ter extravasado os seus poderes enquanto presidente. Sugeriu ainda que as escutas deixem de poder ser usadas em futuras comisses, o que limitaria o alcance destas. (Pg. 7)

    Mota Amaral

    PAULO PIMENTA

    Pedro Lomba interrompe a sua crnica durante Maio, voltando a este espao no incio de Junho

  • 44 Sexta-feira 19 Maro 2010 psilon

    grande. Quando realmente atingiu a maioridade, no entanto, bateu a vrias portas sem nenhum sucesso e o sonho virou pesadelo. Entramos na fase que interessa: Marina comprou uma nova coleco de discos (Blondie, Patti Smith, Tom Waits) e uma laptop para exorcizar em canes toda uma galeria de fantasmas e frustraes. Tambm ajudou o seu sentido de perfeccionismo, que em adolescente a levou a perseguir at ao sofrimento a perfeio fsica e agora a gravar 482 takes da mesma cano.

    daqui que vem The Family Jewels, treze canes inveteradamente pop, artificiosas e plsticas, mas ao mesmo tempo inquietas e viscerais. Marina desanca nos esteretipos de beleza americana e nos clichs de docilidade feminina, ao mesmo tempo que assume que tem uma mente porca, que atormentada por ideias doentias, que est condenada a mil danaes. Claro que nada disto muito coerente, nem original. Mas a visceralidade, o estado de possesso e a urgncia intempestiva que emprega para os cantar so tremendamente convincentes.

    A voz trmula, opertica, quase sempre teatral. As canes assentam em teclados acetinados, elsticos ou barrocos, mas nunca andam longe de refres trauteveis. Acaba por ser impressionante a quantidade de canes incendirias que Marina produz a partir deste guio de desassossego eletropop. A lista de projcteis apontados aos tops inclui Are you satisfied, Numb, Monglis Road e Hollywood, o mais recente single que conta com uma remistura acstica-sinfnica de Chily Gongales. Vejam o teledisco: ela de vestido curto e microfone em punho em pose de falsa bimba afectada, ele ao piano a fazer caretas como os grandes chefes de orquestra de outros tempos, tudo com a letra da cano a passar por cima numa lngua de Leste. The Family Jewels ser por certo um dos lbuns de estreia do ano. Mas depois deste teledisco fica a sensao de que no passa de um aquecimento, ou que Marina ainda est s a ganhar embalagem para realmente pintar a manta.

    Anos instrutriosUm disco excepcional, dois grandes discos de rock e um lbum desorientado. Os primeiros anos dos Mo Morta. Pedro Rios

    Mo Morta1988-1992

    Mo Morta

    mmmmn

    Coraes Felpudos

    mmnnn

    O.D., Rainha do Rock & Crawl

    mmmmn

    Mutantes S.21

    mmmmn

    Cobra

    So uma parte importantssima da histria do rock portugus, mas os quatro primeiros discos dos Mo

    Morta encontravam-se h anos esgotados. No ano em que fazem 25 anos, e antes de lanar novo disco, sade-se a iniciativa da banda portuguesa de os reeditar num caixa.

    A arrumao deveu-se, sobretudo, a razes de ordem prtica (so discos cujos direitos so detidos pela banda), mas, reunidos desta forma, surge claramente a ideia de que o perodo 1988-1992 corresponde primeira fase do grupo, que atravessou vrias mudanas de formao. Mutantes S. 21 (1992) representa o corolrio deste perodo, o disco em que as muitas ideias at ali desenvolvidas encontravam a sua melhor exec