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Gabriela Muniz Jéssica Figueiredo Phillipe Xavier conversas e imagens sobre o cotidiano feminino Marias

Marias

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Trabalho apresentado para a disciplina Laboratório de Pequenos Meios, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

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Gabriela Muniz Jéssica FigueiredoPhillipe Xavier

conversas e imagens sobre o cotidiano femininoMarias

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Mariasconversas e imagens sobre o cotidiano feminino

Gabriela MunizJéssica FIgueiredo

Phillipe Xavier

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Novembro de 2013

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ÍndiceIntrodução 4

Maria Auxiliadora 6 Karla Brasilino 8 Perônia Gomes 10

Giovanna Maropo 12Maria Goreth Chagas 14

Ana Flávia Campos 16 Maria do Socorro 18

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Introdução

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Maria: nome de origem hebraica, derivado de Myriam, que significa “vidente” e “senho-ra soberana”. Aqui, aparece como alegoria, caracterizando todas as mulheres que lutam e sobrevivem a cada dia nas dores e delícias da vida. Experiências e sonhos. Em conversas des-pretenciosas, elas compartilham conosco suas rotinas, pensamentos e desejos. Questões ba-nais ou relevantes, simples ou complexas. Ele-mentos muitas vezes ocultos por uma facha-da que transmite ideias opostas. Uma lição a cada palavra. Não foi fácil entrar no universo delas. Algu-mas ficaram pelo caminho e optaram por não se expor. Posar para a lente de uma câmera e abrir-se para desconhecidos talvez seja demais para a maioria. O que permaneceu, porém, foram as me-lhores impressões. Pode ser que nunca mais encontremos essas Marias, mas as trocas que tivemos com elas para sempre ficarão em nos-sas memórias.

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Maria Auxiliadora

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Encontramos Maria Auxiliadora em meio a lençóis, panos e ves-timentas brancas. Ela trabalha em um centro de artesanato de João Pessoa e seu chapéu nos chamou a atenção. - Você acha que sorrir é impor-tante?- Acho que a alegria é fundamental entre os homens porque a tristeza incomoda. Eu sei que ninguém é tris-te por ser triste. A tristeza vem por circunstâncias. Mas eu penso que nós temos que driblar essas cir-cunstâncias, caminhar para frente, olhando para o amanhã. Você não pode esperar que aconteça, você tem que fazer acontecer.

Assim começou a nossa conver-sa com Maria, que, mesmo já tendo vivido muito, nunca perdeu o prazer das descobertas.- Eu sempre gostei de viajar. Eu fui pra Europa e tive o privilégio de ter conhecido a Alemanha, a Suíça e a Áustria. Tive grandes experiências ao conhecer aquele modo de vida, mas não gostaria de morar lá não.- Por que não? - Eu via as pessoas muito sós, muito pra si. E o meu país ainda é o melhor país de se morar. Ape-sar das desigualdades sociais,

apesar da corrupção, apesar de ser um país que não oferece qualidade de vida ao outro, ape-sar disso tudo. Aqui, as pessoas são humanas, são generosas.

Ela continuou:- Na Europa, eu vi oportunidades para os jovens. Lugares que tive-ram problemas de guerras, pro-blemas internos terríveis, Esses países se reergueram e deram oportunidades aos jovens. Eu co-nheci de perto a preocupação com o desenvolvimento susten-tável, eu via crianças selecionan-do o lixo sem ninguém mandar. - Essa é uma mentalidade comple-tamente diferente da nossa, né?- Sim, existe um trabalho educa-cional nas escolas e para que as famílias saibam disso. Mas, mes-mo assim, eu não quis morar lá. Eu recebi propostas muito boas, mas tive que fazer aquilo que o meu coração pede. O meu país é o meu país.- Você voltou fortalecida?- Sim, com a consciência de que a gente pode mudar. Mas só pode mudar se a história política desse país também mudar. Vai ser difícil? Vai, mas acontecerá. Eu tenho muitas esperanças de que esse país um dia mude.

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Karla Brasilino

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Karla se encontrava perdida em seus pensamentos quan-do entramos na loja que ela cuidava para uma amiga.- Você está feliz hoje?- Eu sou feliz todo dia. Quando eu tenho um problema, coloco ele de lado. Nunca fui de me abater.

Ela, que é de Brasília, mora em João Pessoa há trinta anos.- Nunca pensou em voltar?- Não, nunca. Toda a minha fa-mília veio para cá. Eu estudei aqui, me formei aqui. Inclusi-ve, fiz duas faculdades: sou bióloga e estou terminando Direito. - Porque você escolheu o cur-so de Direito?- Porque eu queria trabalhar com os bichos, com os ani-mais. Então, decidi fazer Direi-to para me especializar em Di-reito Ambiental. Eu tenho uma minigranja e lá eu cuido dos

animais, trabalho para prote-gê-los.

Ela continuou:- E lá nessa granja eu crio dois saguis. Eu os adotei porque eles andavam muito pelos fios dos postes. Quanto mais derrubam as florestas, menos eles vão ter para onde ir. Eles estavam acostumados a andar pelos fios das casas e eu achava isso mui-to perigoso, porque qualquer coisa pode acontecer com eles, Então, decidi adotá-los e cuidar deles.- Depois de formada, qual vai ser a primeira coisa que você vai fazer?- Eu vou continuar trabalhando com os bichos. Vou fazer um concurso para essa área, por-que a área em que eu atuo hoje não tem nada a ver com o que eu gosto. E eu quero fazer isso: quero cuidar dos animais, que-ro ser guarda florestal.

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Perônia Gomes

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Perônia é uma pernambuca-na com traços tão marcan-tes, que costuma chamar atenção por onde passa. Quando a vimos pela primei-ra vez, percebemos que sua pele mulata e seus cabelos cacheados se destacavam. Ela disse que sua beleza já serviu de inspiração para uma turma inteira de fotó-grafos. - Eles falaram que eu era bem cultural, com personalidade e com coragem para tudo. Depois, pediram para eu fi-car no meio do verde, uma coisa bem selvagem. Quando acabou, eu falei para meu es-poso “que momento gostoso, eu nunca passei por um mo-mento desses”.

Hoje Perônia trabalha com o artesanato, mas nem sem-pre foi assim. A iniciativa veio a partir da popularidade que

as diademas que fazia para sua filha ganhou entre outras mulheres. Ela fala com orgu-lho que já conseguiu comprar um carro com o dinheiro de seu trabalho e que sua filha é a maior inspiração para se-guir em frente. - Minha filha é abençoada, porque provocou tudo isso.- Quantos anos ela tem?- Sete anos. - Como ela se chama?- O nome dela é Isla Ela foi muito desejada. Como eu tive dificuldades para engravidar, um médico me deu de pre-sente a fertilização. Hoje eu faço tudo pela minha filha. Eu digo “mamãe te ama muito” e vou a luta por ela.

Peronia se autodenomina via-jante, pois vive entre Recife, João Pessoa e outras cida-des em feiras e eventos de artesanato.

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Conheci Giovanna anos atrás, quando terminava o Ensino Médio. Fizemos teatro juntas. Depois que passamos no ves-tibular, perdemos o contato, mas nos reencontramos re-centemente na universidade.- Como está seu dia hoje?- Está bem tranquilo e calmo. Eu estava na aula, mas não queria prestar atenção, então fiquei escrevendo músicas, partitu-ras, letras no caderno.- Quais são suas expectativas para o futuro?- Eu quero fazer música. Cansei de letras. - Por quê?- Eu entrei no curso pela litera-tura, que eu gosto muito, mas depois fui percebendo que não era exatamente o que eu que-ria. Agora falta só um semes-tre para terminar o curso e eu não tenho mais vontade de as-sistir aula.- Então decidiu fazer música?

Giovanna Maropo- É, mas vou prestar vestibular ano que vem. Então só vou po-der entrar no curso em 2015. Mas eu já faço cursos de mú-sica aqui e canto no coral da universidade.

Ela continuou:- E aí teve aula hoje de manhã, mas eu não assisti. Fiquei ten-tando estudar, mas terminei não estudando, então está tudo assim, muito em paz, mui-to musical. Silêncio e música.

Decidi perguntar sobre como estava a vida dela, depois que terminou o teatro. - Muita coisa mudou. Os laços de amizade vão se perdendo, cada um vai tomando o seu rumo. Mas a cada estação que passa a gente desfaz laços e entrelaça outros. E eu acho que isso é bom, sempre fica alguma coisa marcada na vida da gente.

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As unhas me chamaram atenção.- Eu estava com depressão. Co-mecei a roer muito as unhas, tanto que ficavam machuca-das. A minha psicóloga disse para eu dar um jeito. Mas foi minha sobrinha que deu a ideia. Ela chegou e disse: “tia, porque você não coloca unha em gel? Vai ficar do mesmo tamanho que eram as suas antes”. Ago-ra eu não consigo mais roer, já tentei, mas não consigo.- Está se sentindo mais feliz agora?- Sim, com certeza. - Como é seu nome?- Goreth. E o seu?- Jéssica.- Ah, não vou esquecer nunca. É o nome da minha melhor amiga.

Rimos e conversamos sobre o trabalho dela. Goreth trabalha há cinco anos na universidade, numa banquinha de recarga de celular. - Eu sempre trabalhei em co-légios. Comecei como auxiliar, passei para professora, depois

secretária, mas depois deixei. Mas eu sempre gostei desse contato com alunos. - E você está se sentindo me-lhor aqui?- Sim. Estou muito mais feliz por-que eu gosto de alunos, gosto de pessoas, estudantes. Depois da minha separação, eu tive sín-drome do pânico. Meu marido me deixou e eu fiquei com essa síndrome. Passei um ano em casa, trancada. Mas agora já estou me coordenando.

Ela continuou:- Eu queria voltar a trabalhar com alunos, mas não queria mais aquele ambiente de co-légio. Então Deus me colocou nesse colégio grande e cheio de alunos! Eu gosto do que eu faço. Eu não gostava, mas aprendi a gostar e hoje amo.

Goreth gosta de fazer a conta-bilidade do seu patrão. Gosta de fazer recarga de celular. E gosta de conviver com os alu-nos da universidade.

Maria Goreth Chagas

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A vida de Ana Flávia é uma cor-reria. Ela estuda administração de manhã, trabalha na secreta-ria de turismo à tarde, e ainda faz relações internacionais à noite. Encontrei-a na biblioteca. - É corrida, mas é tudo uma questão de costume. No pri-meiro mês, você fica muito cansada, onde você encosta, você dorme. Mas depois de um tempo você fica mais ativa, mais animada com a vida.- Você tem tempo para sair com seus amigos?- Ah, sempre, no fim de sema-na. Agora eu não estou saindo muito porque meu namorado mora fora, aí ele fica compli-cando. Mas às vezes quando sai um grupo de amigas... Aí ele aceita. Então, dá certo.- O que você faz no teu trabalho?

- Eu sou secretária executiva da cultura. Eu acompanho o con-selho de turismo que reúne to-dos os órgãos de turismo para falar sobre os problemas que estão acontecendo na cidade. Existem reuniões periódicas todo ano, e nessas reuniões a gente discute como resolver esses problemas.- Parece ser um trabalho que exige muita responsabilidade.- É, exige. Exige mesmo. Mas eu gosto, gosto muito.- Como está seu dia hoje?- Ah, está bem. Eu só estou um pouquinho cansada porque vim caminhando até aqui. Mas eu gosto de passar ao lado da mata e sentir o cheiro da flo-resta, é bom. Eu gosto de fi-car perto da natureza, gosto muito.

Ana Flávia Campos

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Maria do Socorro é uma mu-lher de personalidade forte, que já trabalhou em diversos lugares como manicure, mas-sagista e artesã. Ela pensa diferente da maioria das pes-soas e diz que só conquistou sua liberdade após se casar e virar dona de casa, longe das amarras do trabalho mecâni-co que vivia nas pequenas e médias empresas.- Para você o que significa li-berdade?- A liberdade é estar com as família e os amigos. Me sinto privilegiada por não ter a ne-cessidade de trabalhar fora de casa, continuo fazendo tra-balhos manuais, só que, des-sa vez, é em um ambiente que eu gosto e me identifico.

Maria agora é viúva, mas está longe de se vestir de preto e ficar de luto.

- Embora meu marido tenha morrido, fui uma felizarda por ter o direito de seguir ficando em casa. Mesmo que seja na simplicidade, fazendo uma pe-quena renda com alguns arte-sanatos.- Na sua opinião o que é quali-dade de vida?- Sem dúvidas é ser simples, embora muitos pensem dife-rente, acreditando que é o di-nheiro que faz a qualidade de vida. Eu digo isso por que eu me considero uma pessoa feliz, mesmo sabendo que eu pos-so ter um pouco mais hoje e amanhã um pouco menos. Eu me sinto uma mulher indepen-dente, embora muitos possam achar estranho.

Ela finaliza:- Sei de onde vim, sei para onde eu vou e adquiri na minha vida o poder de estar onde eu quiser.

Maria do Socorro

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Universidade Federal da ParaíbaCentro de Ciências Humanas, Letras e ArtesDepartamento de Comunicação e TurismoCurso de Graduação em ComunicaçãoHabilitação em Jornalismo

Professora: Cândida NobreDisciplina: Laboratório de Pequenos Meios

Alunos: Gabriela MunizJéssica FigueiredoPhillipe Xavier

Ilustração: Valdinei Calvento

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