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1 s as. MARÇO * TEMA: Literatura e leitura Literatura encarcerada Por Júlia Tavares Canja de Galinha para a Alma. Os Pensadores -- Wittgenstein. Apelo do Amor. A Salvação de Deus. Cúmplices do Amor. Destinos Entrelaçados. Mensagem. De Tudo um Pouco. O Pequeno Príncipe. Separados na prateleira, os títulos formavam a pilha dos ‘‘devolvidos’’ daquela tarde de mais uma segunda-feira na biblioteca da Penitenciária Feminina do Butantã (PFB). A chave do espaço, que abriga 4.977 livros, está sob a responsabilidade de Paula , sentada religiosamente, de segunda a sexta-feira, atrás da mesa com vasos de flores e três livros-ata onde ficam registradas as idas e vinda dos livros que passeiam por celas trancad Paula, que tem 50 anos, olhos maquiados e cabelo preso, passaria facilmente por uma dedicada funcionária pública, que, ao final do expediente, pegaria um (ou mais) ônibus, chegaria em casa, encontraria a família, dormiria em sua cama. Mas a calça verde denuncia que ela faz parte do grupo de 679 presas da penitenciária, vestidas com cores de calça de acordo com a pena: verde, para presas em regime fechado, amarelo, para as em regime aberto. Definitivamente, ela não voltará para casa nesta noite. Desde novembro de 2001, quando chegou na PFB, Paula ficou conhecida pela paixão pelos livros. Formada em letras, ela recebia insistentes convites para cuidar da biblioteca, cargo que só veio a aceitar em fevereiro de 2004, após a ultima rebelião ocorrida na penitenciária e a posse da nova diretoria. ‘‘Eu disse que tinha de ser do meu jeito, e ganhei carta branca para fazer o que quero. Tirei todos os códigos antigos e comecei nova numeração, do 0001 ao 4.977. Em duas semanas a biblioteca começou a funcionar’’, comemora ela, que, mesmo recebendo salário da Fundação de Amparo ao Preso (Funap) para quatro horas de trabalho, optou por ficar o dia todo, inclusive na hora do almoço. * Como parte das oficinas, os selecionados Rumos Jornalismo Cultural desenvolveram, periodicamente, reportagens ligadas por um eixo temático comum a todos os participantes. Nome fictício.

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s

as.

MARÇO *

TEMA: Literatura e leitura

Literatura encarcerada

Por Júlia Tavares

Canja de Galinha para a Alma. Os Pensadores --- Wittgenstein. Apelo do Amor. A Salvação de Deus.

Cúmplices do Amor. Destinos Entrelaçados. Mensagem. De Tudo um Pouco. O Pequeno Príncipe.

Separados na prateleira, os títulos formavam a pilha dos ‘‘devolvidos’’ daquela tarde de mais uma

segunda-feira na biblioteca da Penitenciária Feminina do Butantã (PFB). A chave do espaço, que

abriga 4.977 livros, está sob a responsabilidade de Paula†, sentada religiosamente, de segunda a

sexta-feira, atrás da mesa com vasos de flores e três livros-ata onde ficam registradas as idas e vinda

dos livros que passeiam por celas trancad

Paula, que tem 50 anos, olhos maquiados e cabelo preso, passaria facilmente por uma dedicada

funcionária pública, que, ao final do expediente, pegaria um (ou mais) ônibus, chegaria em casa,

encontraria a família, dormiria em sua cama. Mas a calça verde denuncia que ela faz parte do grupo de

679 presas da penitenciária, vestidas com cores de calça de acordo com a pena: verde, para presas em

regime fechado, amarelo, para as em regime aberto. Definitivamente, ela não voltará para casa nesta

noite.

Desde novembro de 2001, quando chegou na PFB, Paula ficou conhecida pela paixão pelos livros.

Formada em letras, ela recebia insistentes convites para cuidar da biblioteca, cargo que só veio a

aceitar em fevereiro de 2004, após a ultima rebelião ocorrida na penitenciária e a posse da nova

diretoria. ‘‘Eu disse que tinha de ser do meu jeito, e ganhei carta branca para fazer o que quero. Tirei

todos os códigos antigos e comecei nova numeração, do 0001 ao 4.977. Em duas semanas a biblioteca

começou a funcionar’’, comemora ela, que, mesmo recebendo salário da Fundação de Amparo ao

Preso (Funap) para quatro horas de trabalho, optou por ficar o dia todo, inclusive na hora do almoço.

* Como parte das oficinas, os selecionados Rumos Jornalismo Cultural desenvolveram, periodicamente, reportagens ligadas por um eixo temático comum a todos os participantes. † Nome fictício.

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Novos capítulos

Agente de segurança da penitenciária, Alessandra Santos conta que a dedicação de Paula logo rendeu

frutos. ‘‘A biblioteca não tinha um espaço físico só para ela, nem controle de acesso, era uma coisa

largada. Hoje estamos felizes, temos leitoras aqui’’, afirma, apesar do balanço de que nem 10% das

reeducandas chegam a freqüentar o lugar. ‘‘Não é chutar alto dizer que 300 não são alfabetizadas.

Poucas querem saber das aulas de alfabetização, é difícil convencê-las’’, reconhece.

A reinauguração da biblioteca aconteceu depois da doação de 4 mil livros da Secretaria de Estado da

Cultura, através do programa São Paulo: Um Estado de Leitores. Essa última grande leva veio a somar-

se com outros tantos livros, doados por gente com perfil variado como o professor de geografia da

USP Aziz Ab´Saber e o cantor Fábio Jr. Ainda que a diversidade seja grande, alguns títulos raramente

são procurados, enquanto outros são disputados e precisam de ‘‘reserva’’. Paula sabe dizer na ponta

da língua quais são eles: os espíritas, de auto-ajuda e romances policiais ou no estilo açucarado de

Sabrina e Júlia.

Chico Xavier, Allan Kardec e Zíbia Gasparetto estão entre os autores mais populares. ‘‘Gostamos dos

livros espíritas porque eles fazem pensar que nós tínhamos de passar por isso. Eles ensinam a gente a

ter paciência, confiar na gente mesmo e mostram que somos capazes de suportar e superar esse

lugar’’, explica a reeducanda Kelly Regina Lisboa, de 23 anos.

Após cinco meses completos de prisão, Kelly criou nova relação com a leitura. ‘‘Antes o livro já

representava bastante coisa para mim, mas aqui abre ainda mais a mente. A gente começa a ser parte

dele, imaginando como seria se fôssemos os personagens’’, conta ela, que também passa o tempo

fazendo bonecas de lã, almofadas, caixas de papel de presente e trabalha na reabilitação, junto com a

diretoria. ‘‘Aqui [no prédio da administração, onde fica o setor de educação] nós somos privilegiadas.

Ao passar do saguão já é outro mundo. Daqui para lá, somos sofredoras como qualquer outra’’, diz ela,

que se destaca da média das reeducandas por ter o ensino médio completo.

Mas nem só quem tem intimidade com as letras freqüenta a biblioteca. É o que diz um levantamento

encomendado a Paula pela diretora da penitenciária, Gizelda Mourato, que revela que a

freqüentadora mais assídua do espaço é uma argentina que mal sabe ler na língua materna. ‘‘Para ela

abro uma exceção e a deixo levar quatro, cinco livros por semana. Mas a gente sabe que ela não lê’’,

conta Paula. Kelly acrescenta que muita gente --- inclusive as não alfabetizadas --- gosta de folhear

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revistas para saber das novidades no mundo ‘‘lá fora’’. ‘‘Eu não sabia o que era o tal do DVD’’, conta

Paula. Segundo elas, todos os pedidos de assinatura para empresas jornalísticas e editoras foram

negados. Ainda assim, as poucas e desgastadas Veja e Revista da Folha são bastante lidas --- ou

folheadas.

A biblioteca dos sonhos

‘‘Os livros que não podem faltar, mesmo, são os de referência. Os outros, o ideal é que o usuário

defina. Na minha biblioteca popular ideal, o sujeito chega e diz que livro quer ler, e esse livro deve

estar lá’’, acredita Felipe Lindoso, antropólogo e autor do livro O Brasil Pode Ser um País de Leitores? ---

Política para a Cultura. A respeito das políticas públicas para a área, Lindoso é categórico em afirmar

que o mais importante é permitir o acesso.

Acesso... livre? Não é o que acontece na PFB. Responsável pela arrecadação dos livros doados e pela

entrega de kits às bibliotecas públicas pelo programa da Secretaria de Cultura, José Waldir Amaral

explica que há uma ‘‘triagem’’ de acordo com o público-alvo. ‘‘Para as reeducandas podemos passar de

tudo, com exceção daqueles best-sellers do crime ou outros que contribuam para motivá-las à fuga ou

incitem à organização criminosa.’’ Como exemplo dos ‘‘maus exemplos’’, ele cita O bandido da Luz

Vermelha e Assalto ao Trem Pagador.

‘‘A biblioteca dos meus sonhos é de livros espíritas’’, conta Vanda Regina dos Santos, 26 anos, que

adquiriu o hábito de ler apenas depois de presa e garantia, com convicção, que em uma semana as 551

páginas de Paulo e Estevão, de Chico Xavier, estariam lidas. Já para Fabiana Nascimento, 23 anos, ‘‘livro

bom é aquele que já é comentado antes, normalmente os que já estão alugados’’, como os de Paulo

Coelho, seu preferido. A oito meses de completar a pena de quatro anos, Fabiana devolvia um de Bia

Luft, ‘‘escritora gaúcha que tem contos surrealistas’’, e diz ter gostado ‘‘porque ela escreve ironizando

as questões sociais e dá um tom final com ironia’’. Na saída, levava Pessoa. ‘‘Vou tirar um texto para

ensaiar com um pessoal’’, conta.

‘‘Para as presidiárias, só é atraente o que as consola em sua carência humana ou o que se relaciona

com as experiências pelas quais passaram e estão passando. Dos livros citados, ora precisam de um

namorado e lêem Sabrina; ora precisam de orientação espiritual, um sentido ou justificativa para a

vida e leêm Gaspareto; ora precisam se vingar de quem as prejudicou e querem um final vencedor,

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pisando nos opressores, e lêem Sidney Sheldon’’, analisa Terezinha Tergé, professora de texto e leitura

na Escola de Comunicações e Artes da USP.

Outros cantos da cidade

Programas de atração de usuários e medidas para construir um espaço de socialização são apontados

por Felipe Lindoso como formas de ‘‘dessacralizar’’ a biblioteca, ou seja, torná-la mais próxima da

população que, em geral, tem pouco ou nenhum acesso à leitura. As reeducandas entrevistadas

afirmam não haver campanhas desse tipo por parte da direção da PFB.

Há 11 anos voluntário em penitenciárias femininas, o jornalista Antonio Carlos Prado acredita que o

número de leitoras seja relativamente maior nos outros três presídios da cidade de São Paulo (PF da

Capital e PF do Tatuapé). ‘‘A verdade é que a mulher presa adora livros e revistas e lê muito’’, garante

Prado, também autor de Cela Forte Mulher, que ganhou menção honrosa na categoria livro-

reportagem do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos em 2003.

Prado tornou-se grande incentivador da leitura nas penitenciárias quando percebeu que a atividade

ajuda a resolver o transtorno da personalidade anti-social, doença dos que eram

preconceituosamente vistos como ‘‘psicopatas’’. ‘‘É possível um trabalho psicopedagógico no qual a

leitura é ponto essencial’’, diz, mostrando que os horizontes alcançados pelos livros podem --- e devem

--- ir muito além dos impostos pelas grades de ferro.

ABRIL

TEMA: Sincretismo

Os traços indígenas do Abanheém*

* Em tupi, a língua que as pessoas falam

Por Júlia Tavares

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Antes do dia em que a nau Capitânia, comandada por Pedro Álvares Cabral, atracasse em Porto

Seguro, a Funai estima que cerca de 1.300 línguas indígenas diferentes eram faladas no Brasil. Depois

de centenas de anos de aculturação, restaram 180, mas a herança da língua indígena permanece nos

mais de 10 mil nomes que foram incorporados pelo léxico do português falado no Brasil. É o que

afirma Maria Vicentina do Amaral Dick, professora da Universidade de São Paulo e estudiosa de

etnolingüística.

Segundo ela, a língua é um campo privilegiado para mostrar sincretismos entre culturas. ‘‘O primeiro

passo para haver sincretismo, ou seja, absorção e aceitação mútua de componentes culturais distintos,

é a convivência no mesmo espaço físico. Depois, ele vai depender da divulgação e da freqüência com

que é praticado, entre outros aspectos’’, explica.

Se no período da colonização as línguas e dialetos indígenas conviveram pacificamente com o

português, mais tarde foram consideradas inferiores e incultas. Em artigo publicado no jornal O Estado

de S. Paulo, a antropóloga Betty Mindlin afirma que as línguas originais ‘‘foram proibidas em meados

do século XVIII pela metrópole, possivelmente por divergências entre jesuítas e a administração

colonial, sendo instituído o uso obrigatório do português’’.

Maria Vicentina acrescenta que os nomes indígenas só foram incorporados pelos brancos quando não

existia nome correspondente em português. ‘‘Isso aconteceu com a palavra igarapé: não havia outra

conhecida para substituir ‘caminho por onde passa a canoa indígena’, por isso ela foi acatada’’, diz.

Outros exemplos são tatu, mandioca, paca, arara. ‘‘A arara daqui era uma espécie próxima, porém

diferente do papagaio, conhecido na Europa. O mesmo com o jacaré, que é um nome indígena: ele é

diferente do crocodilo, palavra conhecida pelos brancos.’’

Nomes paulistas

Não é por acaso que tantos nomes de lugares e cidades do estado de São Paulo têm origem indígena,

como Pacaembu, Anhangabaú, Itajubá, Itu, Pindamonhangaba, Paranapiacaba e Itamambuca. ‘‘São

Paulo é o maior foco de indigenismos no Brasil, onde a absorção foi mais antiga e autêntica’’,

prossegue a professora, destacando que isso se deveu às características interioranas da região, à

presença de grandes missões jesuíticas e, mais tarde, à expansão da conquista do território pelos

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bandeirantes. Vale lembrar que o colégio fundador da vila de São Paulo foi construído pelo padre José

Anchieta em plena aldeia do índio Tibiriçá.

O censo de 2000 mostrou que o estado de São Paulo tem uma população indígena de 63.789 pessoas,

porém a Funai reconhece 2.716 delas, divididas entre os povos guarani, guarani m’bya, guarani

nhandeva, kaingang, krenak, pankararu e terena. Na capital, há três aldeias guaranis, onde as crianças

freqüentam uma escola que ensina o tupi-guarani. No entanto, outros povos vivem isolados, como os

fulni-ô (com origem em Pernambuco), que fizeram parte da massa de imigrantes vinda do Nordeste na

década de 1950 em busca de trabalho e sobrevivência. Mal instalados e muitas vezes obrigados a

fixar-se em favelas e bairros periféricos, continuar praticando a cultura e, principalmente, a língua

materna, foram grandes desafios.

Marlene Ferreira dos Santos é fulni-ô, tem 53 anos e mora na Vila Brasilina, zona sul da cidade. Casada

com um ‘‘branco’’, ela sobrevive vendendo artesanato nas ruas e fala fluentemente o idioma yathé

com os parentes. Mas reconhece que a presença da língua no estado seria muito maior caso os índios

de sua aldeia não fossem obrigados a viver afastados.

Descendente dos pankararu (também com aldeia demarcada em Pernambuco), Maria das Dores

Conceição Pereira do Prado, por sua vez, nunca falou o tupi, considerado extinto no Brasil. Ela tem 30

anos e mora na favela Real Parque com o pai, de quase 60 anos. Foi ele quem contou a Dôra (como é

conhecida na PUC, onde freqüenta o curso de pedagogia) casos de ancestrais que tiveram a própria

língua cortada na época da colonização branca. ‘‘A história da podagem da língua vem do medo’’,

resume ela, que trabalha na Associação SOS Comunidade Indígena Pankararu.

JUNHO

TEMA: Identidade

Chanchadas abrem alas para o Brasil ‘‘chacoalhado’’

Por Júlia Tavares

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Luz! Câmera! Ação! Nas telas de cinema, as platéias lotadas acompanhavam a seguinte seqüência: logo

no início, mocinho e mocinha se metem em apuros. Na segunda parte, ganham a proteção de uma

dupla cômica. No clímax, o vilão fica em vantagem. Por fim, perde a vantagem e é vencido, compondo

a deixa para o final feliz água-com-açúcar.

A receita que o crítico Sérgio Augusto passa dos filmes de comédia musical carnavalesca produzidos

nas décadas de 1940 e 1950 no Brasil é ainda mais infalível quando os vilões são José Lewgoy e Wilson

Grey, os mocinhos, Eliana e Anselmo Duarte, e a dupla infalível de comediantes, Oscarito e Grande

Otelo. Sobre as chanchadas, como o gênero ficou conhecido por aqui, o autor do clássico livro Este

Mundo É um Pandeiro, de 1989, acrescenta: ‘‘Em nenhum outro momento da sua trajetória, o cinema

brasileiro se relacionou tão intensa e carinhosamente com o grande público’’.

Já por parte da elite e da crítica da época, a relação com esses filmes estava longe de ser tão amigável.

O próprio nome chanchada é uma pista disso: segundo Sérgio Augusto, o termo veio de países ibero-

americanos, onde era sinônimo de ‘‘porco’’ e ‘‘sujo’’. Em seguida, passou a significar ‘‘porcaria, peça

teatral sem valor, destinada a produzir gargalhadas’’. Apesar de continuar ignorada e estigmatizada

até muito recentemente, as chanchadas que foram capazes de sustentar a produtora carioca Atlântida

(1941-1962) --- até hoje a maior indústria cinematográfica que o país já teve --- reproduziam nas telas o

Brasil que o Brasil queria ver.

Malandragem made in Brazil

‘‘As chanchadas mostravam um Brasil malandro, alegre, que não gosta de protocolos, que ridiculariza

a alta cultura e, portanto, de certa forma também ridiculariza a alta burguesia. É um Brasil popular-

populista’’, observa Carlos Augusto Calil, professor de história do audiovisual na Escola de

Comunicações e Artes da USP, ex-diretor da Embrafilme e da Cinemateca Brasileira e atual secretário

de Cultura da cidade de São Paulo.

Para ilustrar sua opinião, Calil destaca uma cena do memorável Carnaval Atlântida (1952), de José

Carlos Burle, em que Renato Restier, atuando como o diretor Cecílio B. de Milho, aborda a dupla de

faxineiros interpretada por Grande Otelo e Colé para mostrar sua versão sonhada do épico Helena de

Tróia. Nela, Helena aparece cercada por seus escravos ao som de harpas, ‘‘uma coisa brega, imitando o

[diretor de Hollywood] Cecil B. DeMille’’. Colé responde com firmeza: ‘‘Não vejo nada disso, isso não dá

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bilheteria, tem de ser uma coisa mais movimentada, mais chacoalhada’’, e aponta para a cena, que

imediatamente se transforma num carnaval ao som da marchinha Dona Cegonha.

Em vez de imitar as superproduções americanas, parodiar os filmes de Hollywood foi a melhor saída

que a Atlântida pôde encontrar para compensar a falta de recursos, contando com o talento do diretor

Carlos Manga. ‘‘Aquilo era importado, enquanto a nossa cultura é do esculacho, é branca e preta, são

todos dançando no carnaval, que é o lugar da mistura’’, conclui Calil, que, no entanto, pondera: ‘‘A

chanchada não é um projeto revolucionário, mas, sim, conservador. Tem o mesmo estratagema do

carnaval, permite certas inversões e liberdades, mas apenas no contexto de uma hora e meia de

fantasia. Depois tudo volta ao mesmo bom lugar’’.

Ainda que sem idealizações ou teses muito profundas, Sérgio Augusto lembra que ‘‘as chanchadas

transpiravam brasilidade por quase todos os fotogramas, mostrando problemas do cotidiano da

claque: falta de água, carestia, deficiência do transporte urbano, demagogia eleitoreira, corrupção e

indolência burocrática’’. Da mesma forma, Calil lembra que os preconceitos também aparecem,

revelando o brasileiro com todas as suas ambigüidades.

Valor do popular

O movimento cineclubista brasileiro pós-1968, engajado na resistência à ditadura militar e na defesa

do cinema nacional, engrossou o coro da revalorização das chanchadas brasileiras junto à crítica. ‘‘Às

vezes a intelectualidade leva tempo para dar valor à sensibilidade e à cultura popular’’, afirma Zezé

Pina, jornalista e uma das cineclubistas fundadoras do paulistano Cineclube Oscarito, em 1985. ‘‘Nós

sempre reconhecemos as chanchadas como um movimento e uma parte do cinema nacional, assim

como foram a Boca do Lixo e o cinema novo’’. Daí a homenagem a Oscarito, artista que se lançou no

circo e depois no teatro de revista.

No contexto do Brasil cosmopolita, erguido das cinzas do Estado Novo e fruto da sintonia maior com a

sociedade de consumo de Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek, Sérgio Augusto cita a chanchada

como seu segundo pródigo cultural, ao lado da Rádio Nacional estatizada por Getúlio.

Após picos de sucesso de público com Nem Sansão, Nem Dalila (1954) e O Homem do Sputinik (1959),

considerados, respectivamente, críticas ao populismo e à Guerra Fria, a Atlântida não resistiu à

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concorrência com a novidade da televisão, que conquistou o público cativo e fiel de nossas

chanchadas: as classes populares. Foi o fim de uma era.

JULHO/AGOSTO/SETEMBRO

Cobertura do Festival Cultura da Nova Música Popular Brasileira

Mistura e variedade marcam primeira eliminatória do Festival Cultura

Saudosismo + tradição + rock + linguagem MTV: no ar, a versão 2005 dos grandes festivais

Por Elisa Andrade Buzzo e Júlia Tavares

A canção ‘‘Misturada’’, do paulista Flávio Marchesin, não poderia ter sido melhor para abrir o Festival

Cultura na noite da primeira eliminatória, dia 3 de agosto. A mescla de ritmos, estilos, temas e

influências dos compositores e intérpretes foi a marca do show no teatro do Sesc Pinheiros, que

apresentou 12 músicas e selecionou seis delas para as semifinais: ‘‘Choro Alegre’’ (João Cristal),

‘‘Maracatu’’, ‘‘Samba e Baião’’ (Ito Moreno), ‘‘Guri de Acampamento’’ (Luiz Carlos Borges), ‘‘Que Bom

Seria!’’ (Márcio Proença), ‘‘Um Sonhador’’ (Toninho Horta e letra de João Samuel) e ‘‘Barco Negreiro’’

(Val Milhomem e letra de João Batista).

A escolha do júri --- composto por Carlos Calado, Hugo Suckman, Pedro Alexandre Sanches, Ricardo

Alexandre e pelos músicos Eduardo Gudin, Joyce, Théo de Barros, Rudá Duprat e Hermelino Neder ---

pareceu agradar ao público, ainda que não tenha se manifestado muito entusiasticamente. A exceção

foi ‘‘Maracatu, Samba e Baião’’, que aumentou o volume das palmas e teve até torcida com direito a

uma faixa na platéia.

Algumas surpresas ficaram por conta de duas músicas que não foram classificadas: ‘‘Bossanet’’ (Sérgio

Augusto), com o refrão ‘‘Misturo pandeiro e disquete / Tudo virtual / Que isto é bossanet / Isto é muito

natural’’, apresentada com mixagem eletrônica ao vivo de DJ e coral de sete integrantes, e a heavy

metal ‘‘Samba Russo’’ (Paulo Carvalho), com uma interpretação de peso da banda Coelho de Alice.

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Nova música?

O resultado da escolha do júri revela que o tradicional da cultura regionalista brasileira tem seu lugar

garantido. Quem prova é o veterano gaúcho Luiz Carlos Borges, selecionado com ‘‘Guri de

Acampamento’’. Borges foi acompanhado no vocal por Daniel Torres, da fronteira do Rio Grande do

Sul com o Uruguai: os dois não dispensaram as bombachas, nem os chapéus.

O espaço do romantismo e do intimismo na canção também segue para as semifinais com ‘‘Que Bom

Seria!’’, de Márcio Proença, interpretada pela cativante Lúcia Helena.

Leila Pinheiro coroou o tom saudosista do festival, assumido nas peças publicitárias, no site da

internet e nos programas da TV Cultura, cantando ‘‘A Banda’’, ‘‘Saveiros’’, ‘‘Arrastão’’ e ‘‘Verde’’. Todas

elas ficaram consagradas nos festivais das décadas de 1960 e 1970 e marcaram definitivamente a

história da canção brasileira.

Do outro lado da tela...

Nos bastidores, era possível conferir a megaestrutura para a gravação ao vivo do show. A transmissão

foi feita do caminhão na Rua Paes Leme, em frente à entrada do Sesc Pinheiros, de onde saíam quilos

de fios devidamente protegidos até o palco do teatro.

Perto das 22 horas, a equipe de produção já não disfarçava a adrenalina da grande estréia. Técnicos de

câmera e som, produtores, diretores e o próprio Solano Ribeiro, diretor-geral, faziam os últimos

acertos, brincavam no microfone, testavam os pontos eletrônicos.

O primeiro contato com o público aconteceu poucos minutos antes da entrada do programa no ar: a

apresentadora Cuca Lazarotto pediu que a platéia se aproximasse das cadeiras vazias mais à frente do

palco. Uma onda humana, julgando-se com sorte, correu para as poltronas mais privilegiadas. Cuca

voltou a ‘‘conversar’’, pedindo um teste de som com as palmas e lembrou: ‘‘Quando vocês gostarem de

alguma música, fiquem à vontade para aplaudir mais, façam barulho!’’.

Dali para a frente, a atenção com o público virou tarefa de Rodrigo Rodrigues, que gravou

espontâneas enquetes com a platéia, contrastando com as observações não tão profissionais dos

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‘‘comentadores’’ Wandi Doratiotto e Magda Pucci. Já a recepção de Sabrina Parlatore aos artistas, logo

na coxia do palco, trouxe graça e leveza ao Festival Cultura, além de identificação com a geração MTV.

Impressões expressas --- As preferidas do público

‘‘’Maracatu, Samba e Baião’’’ teve energia, foi a mais animada’’ para José Serafim Martinho, tecnólogo

de 41 anos que lembra com saudades da era dos festivais promovidos pela TV brasileira nas décadas

de 1960 e 1970. ‘‘Eu era uma criança, mas os antigos festivais me marcaram muito. Lamento a longa

ausência de festivais.’’

Os olhares --- e ouvidos --- atentos do músico Paulo Sérgio Chaves, 36 anos, destacaram no show da

quarta-feira a romântica canção ‘‘Que Bom Seria!’’, marcada pelo tom intimista e suave da

interpretação de Lúcia Helena. Mas, ‘‘pela idéia de misturar bossa nova com a vanguarda da

tecnologia’’, Carvalho destacou ‘‘Bossanet’’.

A escolha da vendedora Rita de Cássia, 30 anos, mostra que os critérios técnicos das músicas nem

sempre são aqueles que mais contam. ‘‘Eu escolheria ‘Sonhador’ pelo momento que estou passando

na minha vida, me identifico com ela, que fala de fé e de sonhos.’’

Ao fim do show, Thiago Biagini, 14 anos, que burlou a segurança do palco para ganhar uma foto ao

lado de Sabrina Parlatore, estava decepcionado com a desclassificação de ‘‘Samba Russo’’. Não à toa: o

garoto de cabelos compridos faz parte de uma banda de metal. Estava acompanhado do pai, Nilton,

também músico e fã de rock pesado: ‘‘’Samba Russo’ merecia estar entre as seis finalistas’’.

‘‘O som do Toninho Horta é maravilhoso’’, comentou Paulo Sérgio Natali, 55 anos, exportador, mais

uma vez sobre a canção ‘‘O Sonhador’’. ‘‘’Bossanet’ é uma idéia bacana’’, completou.

Brasil conhece últimos selecionados da primeira peneirada do Festival Cultura

Teatro lotado e platéia participativa esquentam o clima da competição na última eliminatória, no dia 24

de agosto

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Por Júlia Tavares

Um casal de namorados, fazendo questão de mostrar indignação, reclamava das escolhas do júri com

o coordenador de produção da TV Cultura, Zeca Duarte. ‘‘É um absurdo que coisas como ‘Guri de

Acampamento’ (Luiz Carlos Borges) tenham entrado!’’, reclamava a jovem, que, para sua surpresa,

encontrou opinião parecida por parte do coordenador. ‘‘Eu também queria que ‘Busca’ tivesse entrado

hoje, mas cabeça de júri é como bundinha de neném: a gente nunca sabe o que vem!’’, brincou Zeca,

prometendo aos dois que a idéia de lançar um CD com todos os 48 finalistas que participaram da

primeira etapa do festival, encerrada naquela madrugada do dia 24 de agosto, não estava descartada.

A conversa despretensiosa acontecia meia hora depois do encerramento da primeira etapa do Festival

Cultura --- A Nova Música do Brasil, que recebeu 5.198 inscrições de composições de todo o país. Na

quarta e última eliminatória foram finalmente conhecidas as 12 canções restantes. Coincidentemente

(ou não), a opinião geral era a de que esta havia sido a noite mais jovem e surpreendente até agora. E,

da primeira grande peneira, restaram os seguintes grãos selecionados na opinião do júri, composto

por Carlos Calado, Hugo Suckman, Pedro Alexandre Sanches, Ricardo Alexandre e pelos músicos

Eduardo Gudin, Joyce, Théo de Barros, Rudá Duprat e Hermelino Neder: ‘‘Mãe Canô’’ (Leandro Medina

e Renato Epstein), ‘‘A Moça na Janela’’ (Zé Renato e Lula Queiroga), ‘‘Seresteiro a Perigo’’ (Edu Franco),

‘‘Lama’’ (Douglas Germano), ‘‘Amanhã de Depois de Amanhã’’ (Celso Viáfora) e ‘‘Startreck de Tacape’’

(Chico Saraiva).

A descontração da noite ficou por conta de canções como ‘‘Cantoria’’ (Zé Gaudêncio Torquato),

interpretada pela sanfona de Miltinho Edilberto, o tecno de ‘‘Romance Pós-moderno’’ e seu divertido

refrão (‘‘Aninha foi ao sex shop / comprar um boneco kleiniano inflável’’), o humor sarcástico de

‘‘Seresteiro a Perigo’’ (Edu Franco), lembrando a criatividade dos falecidos Mamonas Assassinas.

Sobrou espaço ainda para o bem recebido samba ‘‘Lama’’ (Douglas Germano) --- uma das melhores

interpretações, a de Adriana Moreira, competindo com Fabiana Cozza em ‘‘Mãe Canô’’ (Leandro

Medina e Renato Epstein) --- e a poesia concreta de ‘‘Contrapeso’’ (Beto Firmino).

Acertando os ponteiros

Da primeira eliminatória, no dia 3 de agosto, para esta quarta, as mudanças na condução do festival

revelam que a TV Cultura não tem medo de mudar. O casal de comentaristas Magda Pucci e Wandi

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Doratiotto estava mais sintonizado, num ágil pingue-pongue com a apresentadora Cuca Lazarotto e

Sabrina Parlatore, nos bastidores.

A maior presença de público, que pagou de R$ 5,00 a R$ 10,00 por ingresso, colaborou para dar

vivacidade à noite. Para evitar a fuga em massa a cada intervalo, a produção avisou que o tempo

máximo permitido fora dos lugares era de um minuto. Com a ameaça de não poder entrar novamente,

muitos deixaram o cigarro de lado, evitando os ‘‘buracos’’ presentes nas edições anteriores.

Nas entradas e saídas dos concorrentes, nada parece fugir do script. Um batalhão de 15 homens,

vestidos de preto e munidos de capacete com iluminação, desmontou a estrutura de instrumentos

usados em ‘‘Cantoria’’ e deixou tudo pronto para ‘‘Indústria e Comércio Ltda.’’ em dois minutos e dez

segundos.

‘‘Não temos a estrutura da Globo, fazemos o festival na raça. Mas, se precisar levar um elefante para o

palco, a gente leva’’, conta Zeca Duarte, que também trabalhou na produção do Festival da Música

Brasileira da TV Globo em 2002. Segundo ele, a TV Cultura contratou 360 pessoas, todas envolvidas

nas eliminatórias, incluindo transporte, alimentação e gravações, entre muitas outras tarefas.

‘‘Nosso trabalho se concentra na segunda, na terça e na quarta-feira, num horário que varia de 12 a 16

horas por dia’’, diz Zeca, que, apesar de exausto, abraçava e parabenizava todos os colegas que

passavam por ele na saída do teatro do Sesc Pinheiros. Ele conta que os músicos participantes chegam

a São Paulo no domingo e que os equipamentos são trazidos para o Sesc na segunda-feira, dia em que

ocorre o primeiro ensaio das músicas num estúdio da Vila Madalena. ‘‘Terça-feira é o dia do ensaio

com instrumentos e marcação de palco, e na quarta fazemos só a passagem’’, relata Zeca, mostrando-

se disposto em voltar a conversar com a repórter. ‘‘Só não me procure amanhã, porque é o dia em que

não existo.’’ O recado foi perfeitamente compreendido.

‘‘Contabilidade’’ vence Festival Cultura sob vaia ininterrupta

Por Júlia Tavares, Patrícia Guimarães e Tonica Moura Leite

‘‘Tá registrada, vale! Vai pra cartório amanhã’’, declarou o ministro da Cultura, Gilberto Gil, ao tentar

defender, inutilmente, a escolha do júri, e se deparar com a raivosa vaia que mobilizou quase toda a

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platéia do teatro do Sesc Pinheiros, em São Paulo, assim que ‘‘Contabilidade’’, de Danilo Moraes e

Ricardo Teperman, foi anunciada como vencedora do Festival Cultura na noite de 14 de setembro.

Ainda parodiando Augusto de Campos, Gil lembrou o ‘‘Viva a vaia’’, e não conseguiu continuar. Pediu

silêncio, mas os gritos ecoaram por mais de cinco minutos, acompanhados de papéis jogados ao palco.

A equipe de apresentadores e de produtores do festival não escondeu sua desorientação, mas ainda

assim a noite foi encerrada com a reapresentação dos garotos paulistanos.

‘‘Minha voz deu uma engasgada legal ali, foi difícil cantar depois. Mas vambora, deixa fluir, agora é

curtir’’, declarou Danilo Moraes na coxia. Dante Ozzetti, considerado o favorito pelo público com

‘‘Achou’’ --- cantarolada e sempre a mais aplaudida nas noites em que se apresentou no Sesc ---,

reconheceu a vitória de ‘‘Contabilidade’’. ‘‘O prêmio deles é merecido, eles são muito bons e acho que

o júri acabou prestigiando os jovens mesmo, porque afinal é a nova música’’, disse, conformado com o

segundo lugar. O terceiro posto ficou com ‘‘Girando na Renda’’, interpretada por Pedro Luís e a Parede

e Roberta Sá. O primeiro prêmio foi de R$ 50 mil em dinheiro, um especial a ser veiculado na TV

Cultura, e a produção de um DVD e um CD que serão lançados no mercado. O segundo levou R$ 20 mil

e o terceiro, R$ 10 mil.

O Festival Cultura --- A Nova Música do Brasil teve sua primeira semifinal no dia 31 de agosto e a

segunda no dia 7 de setembro, classificando as 12 finalistas que se apresentaram na noite de ontem: o

contagiante samba ‘‘Lama’’, de Douglas Germano; ‘‘Startreck de Tacape’’, de Chico Saraiva, com um

ritmo pouco convencional e difícil de acompanhar, porém premiando Marcelo como melhor

intérprete; ‘‘Haicai Baião’’, um baião misturado às flautas doces, que, apesar de bem aceito pelo

público, recebeu menos palmas do que na semana anterior; ‘‘Amanhã de Depois de Amanhã’’, de Celso

Viáfora, que cantou as expectativas do dia de amanhã; ‘‘Cassorotiba’’, valsa de Marília Medalha e

Dulcinéia Pilla, que conquistou o júri, mesmo não tendo sido bem aceita pela platéia; a pulsante

canção ‘‘Maracatu, Samba e Baião’’, de Ito Moreno; ‘‘Um Sonhador’’, de Toninho Horta e João Samuel,

que desde o princípio não empolgou muito quem esteve presente no teatro; ‘‘Moça na Janela’’, de Zé

Renato e Lula Queiroga, cuja letra, que pode ser considerada triste, é complementada por um arranjo

que torna a música mais envolvente; ‘‘Seresteiro a Perigo’’, de Edu Franco, que tirou risos e aplausos da

platéia com sua interpretação caricatural; ‘‘Achou’’, de Dante Ozzetti e Luiz Tatit, que conquistou até as

torcidas concorrentes; ‘‘Contabilidade’’, de Danilo Moraes e Ricardo Teperman, que apesar de ter sido

aceita durante as etapas não foi mencionada como favorita ao prêmio; e ‘‘Girando na Renda’’, de Pedro

Luís, Flávio Guimarães e Sérgio Paes, interpretada pela animada Roberta Sá.

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Além das premiações para os primeiros colocados, o júri concedeu empate para o prêmio de melhor

intérprete para Ana Luíza, que defendeu a canção ‘‘Cassorotiba’’. ‘‘Haicai Baião’’, de Renato Motha e

Valter Braga, ganhou com a melhor letra, e ‘‘Contabilidade’’ levou o prêmio de melhor arranjo, de

autoria de Swami Jr.

Uma noite, dois festivais

Faixas, pompons, apitos e matracas ensurdecedoras. Antes do anúncio da vencedora, o clima do

festival era outro. A noite de encerramento foi a edição mais disputada por parte do público, que,

mesmo com os ingressos esgotados, insistiu comparecendo na porta do teatro do Sesc Pinheiros. As

torcidas organizadas, que apareceram timidamente nas primeiras eliminatórias, marcaram a festa da

final. Convidados da noite, Max de Castro e Wilson Simoninha apresentaram um show dançante

relembrando clássicos da era dos festivais, como ‘‘Fato Consumado’’ (Djavan) e ‘‘Zazueira’’ (Jorge Ben

Jor).

O auge da emoção foi a presença de Jair Rodrigues no palco, que interpretou a canção ‘‘Disparada’’

(Geraldo Vandré e Théo de Barros) de maneira fervorosa e saiu do protocolo ao aceitar os pedidos de

bis cantando ‘‘Arrastão’’ (Edu Lobo).

Além da perfeição técnica dos shows, o trabalho da produção da TV Cultura também incitou o clima de

satisfação por parte do público. No segundo intervalo, o próprio ministro Gilberto Gil, lançado como

cantor em festivais da década de 1960, garantiu satisfação em presenciar a versão 2005 preparada

pela TV pública. ‘‘Este é um festival culto, não porque ele está sendo feito pela Cultura, mas porque ele

traz uma acumulação de muito tempo e toda uma trajetória de mudança de elementos variados que

foram sendo incorporados à música brasileira.’’

Alguns blocos depois, o susto com o anúncio de ‘‘Contabilidade’’ como escolhida do júri provocou

indignação, raiva, e... as já inesquecíveis vaias, com gritos de ‘‘marmelada!’’, ‘‘mensalão!’’ e protestos

pelo fato de Danilo Moraes ser filho de Wandi Doratiotto, comentarista da TV Cultura. A turma de

jurados teve nova configuração na final, conforme previsto no regulamento. Continuaram Hugo

Suckman, Pedro Alexandre Sanches, Hermelino Neder, Eduardo Gudin e Lívio Tragtenberg e entraram

Mauro Dias, Dante Pignatari, Jean Garfunkel, Carlos Rennó e Wilson Sukorski. ‘‘Os jurados em geral são

incorruptíveis, é muito difícil burlar isso... Marmelada não existe. Em época de Severino Cavalcanti,

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marmelada é um negócio que ninguém come mais’’, brincava o compositor Lula Queiroga, minutos

antes do início de a transmissão começar.

Inconformados, cerca de 50 fãs de ‘‘Achou!’’ esperaram na porta de saída do teatro para aclamar

Ceumar, intérprete da canção. Em volta dela, o grupo cantou na íntegra a letra com o refrão ‘‘Quem

estiver atrás de um grande amor / Achou!’’, consagrando Dante Ozzetti e Luiz Tatit como os

verdadeiros ‘‘campeões’’ da noite.

OUTUBRO

TEMA: Novos meios

Vaidade escancarada

Por Júlia Tavares

MONDAY, OCTOBER 31, 2005

"Querido Diário"

No livro "blog: comunicação e escrita íntima na Internet", a autora conclui que o "gênero" do blog -

jornalístico, ficcional ou íntimo - é escolhido levando em conta qual deles permite maior aproximação

com o leitor. Quase como uma revista ou qualquer veículo de comunicação, também é preciso saber

agradar e conquistar novos adeptos.

Mas se falar mal dos blogs-diários pessoais está na moda, o criador do Blogger, Evan Willians, afirmou

em entrevista ao site News.Com (http://news.com.com/2008-1025-5094753.html?tag=nefd_acpro)

que as páginas íntimas ainda são o coração do blog e, ao que parece, uma mania que veio para ficar.

Querendo agradar, aviso aos navegantes: amanhã tem assunto novo.

Posted by Júlia Tavares at 10:23 am Coments (1)

SUNDAY, OCTOBER 30, 2005

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[O segredo]

Antes que me acusem de ser monotemática, prometo que o papo sobre blogs está quase no fim. AH...

Mas vale a pena lembrar sobre mais um tema do mesmo livro: o segredo. Denise diz que o diário na

Internet mantém diversos níveis de segredo, "mas estabelece novas formas de compartilhá-lo".

Palavras em código, senhas e comentários que só podem ser entendidas por um determinado grupo,

pela melhor amiga. O blog não só não acaba com a privacidade, como cria uma "rede de segredos"

entre pequenos grupos que se tornam confidentes através do texto escrito.

Mas código mesmo é aquela linguagem maluca dos adolescentes... O blog "Categorias - Blogs

comentados e categorizados" (http://www.categorias.blogger.com.br/), apesar de desatualizado,

mantém uma lista de blogs eleitos em "concursos" promovidos por ele próprio. O vencedor na

categoria "Querido diário e Pensamentos e Reflexões" foi o ultrapink

http://www.mels.blogger.com.br/, de Lau, 17 anos: "Oiiiiieee!!!aqui eh a masok!!!..não me perguntem

pq eu to acordada essas horas.. nem oq eu to fazendo...nem eu saberia respondeee!!!haha"

Confesso que foi fácil desconfiar do tal concurso.

(Cabe aqui um parágrafo-PS para lembrar que nem sempre os segredos são bem mantidos nessas

redes: Inajara, de http://www.inajara.blogger.com.br/, usava o blog para desabafar seus problemas de

relacionamento com os funcionários da editora Scipione, onde trabalhava, e foi demitida por

difamação, ou seja, "justa causa".)

Interessante a percepção de Denise de que a forma de disseminação dos segredos na Internet não é

nenhuma novidade: "a rede se transforma numa pequena província onde grupos de pessoas afins

guardam confidências entre si". O detalhe, aqui, é que pessoas afins não precisam ter se conhecido

pessoalmente.

Posted by Júlia Tavares at 7:07 pm Coments (4)

SATURDAY, OCTOBER 29, 2005

Falando em interlocutor...

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Reconhecendo que tenho aqui meus "interlocutores", não custa ser um pouco democrática e trazer à

tona o que são os blogs, afinal de contas. O blog é um formato de página de Internet no qual as

informações aparecem cronologicamente, como em um diário, e há a possibilidade de registrar

comentários dos visitantes leitores. Surgiu em 1997, mas ganhou popularidade nos EUA em 1999, com

a criação do ?Pitas?, primeiro site do tipo "faça seu próprio blog" (como hoje são Weblogger, Blogger

ou Blig, por exemplo). O maior atrativo e diferencial deste meio é que os usuários não precisam

conhecer a linguagem HTML, muito específica e desde sempre usada na construção de sites.

Bom, feita a definição, sigo adiante e volto a lembrar mais uma descoberta do livro da Denise sobre os

diários íntimos na internet: "Uma escrita que tem por finalidade a reserva começa a funcionar como

uma mensagem entre um emissor e um receptor, reproduzindo o esquema clássico da comunicação".

Parece um paradoxo chamar o blog de "diário íntimo", mas a sua matéria prima continua sendo a vida

privada das pessoas.

Na análise de Denise, a tendência de exposição da vida privada na mídia é fruto de fatores como a

formação da individualidade, o afastamento do indivíduo da vida social e sua posterior necessidade

de se reintegrar nessa vida, nem que seja de maneira virtual.

No blog http://psicopataenrustido.blogspot.com/, Alexandre Heredia banca um paciente psiquiátrico

e começa todos os seus posts endereçados ao "Doutor":

"Trabalhei cantarolando hits dos anos 80, e quando acabou o expediente vim para casa. Não

conseguia entender aquela alegria toda! Como eu, justo eu!, poderia estar tão feliz? (...) Foi quando eu

peguei a caixa com os remédios tarja preta que você me prescreve toda vez. Tinha uma novidade lá.

Uma caixinha linda, com letras azuis bonitas sobre um fundo amarelo claro. Era o remédio novo que

você tinha me receitado."

Em http://endie.blogspot.com/, Endora faz um desabafo inusitado e escancara a relação fria com o

leitor durante uma provável crise de criatividade:

"Ei, posso fazer um desabafo?

Posso me utilizar de você, caro leitor ou leitora que provavelmente nunca me viu na vida?

(...)

Então, me responda, sinceramente:

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Por que é que você ainda lê este blog?

Porque eu, tenho achado isso aqui uma droga".

Dos 14 comentários deixados, todos estimulavam a garota a não desistir. Um deles, assinado por

Amadeus, explica que enxerga "alguma virtude" no blog e continuará sendo um leitor assíduo porque

"sempre, sempre, vc nos apresenta um lado furioso-engraçado de coisas prosaicas".

Partindo de entrevistas com donos de 30 blogs brasileiros, incluindo os chamados "jornalísticos",

Denise concluiu dizendo que se no passado o diário íntimo permitia a afirmação da privacidade, o

diário escrito diante da opacidade da tela oferece um contato agradável com o público que procura

identificação e, ao mesmo tempo, se protege da exposição total pelo anonimato. Ei, você, também

quer se manifestar?

Posted by Júlia Tavares at 10:17 pm Coments (7)

FRIDAY, OCTOBER 28, 2005

Fragmentos de conversa com Rosana Soares*

* A Rosana é professora de linguagem no curso de jornalismo da USP. Serão os blogueiros viciados ou

obrigados a escrever todos os dias, como acontece com a grande maioria?

Segue a transcrição de trecho da nossa conversa.

- Por que as pessoas se dizem viciadas na Internet?

Rosana - O ser humano tem uma contradição que é interessante: ao mesmo tempo que ele gosta do

que é novo, é guiado pela rotina. A internet mexe com esse paradoxo entre o desejo de aventura e de

rotina: lá você pode se abrir para coisas novas, mas elas estão reguladas dentro de um mesmo sistema,

e você pode sempre voltar para as mesmas coisas. Nesse sentido é que a Internet é acolhedora, porque

de fato não estou encontrando ninguém ao vivo, e mesmo quando estou falando com as pessoas

estabeleço uma relação com a tela. Essa questão do imaginário pode nos confortar, porque esse outro

que você imagina é um outro como você gostaria que fosse também.

- Na sua opinião, a Internet está criando uma "bolha social", como defendeu Gilson Schwartz [diretor

da Cidade do Conhecimento da USP] em artigo sobre o Orkut

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(http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u880shtml), ou consegue promover a expansão?

Rosana - A internet é uma bolha, mas uma bolha em expansão, porque há também o desejo da

visibilidade. Talvez ela repita a relação social e a idéia de que nossa inserção só se dá por um olhar

externo. Se houvesse a vontade de ficar só no seu próprio grupo, não precisaria do Orkut.

Vejo muita coisa dos blogs parecidas com o Orkut: porque deixar um comentário ou um scrap ao invés

de mandar um e-mail? Para Rosana, são tentativas de se mostrar e expandir nossas redes... Está ai

outra diferença básica entre os diários no papel os blogs: este pressupõe a existência do interlocutor.

Posted by Júlia Tavares at 11:30 pm Coments (2)

THURSDAY, OCTOBER 27, 2005

Umbuguista, eu?!

"Aqui você poderá me ver usando ?eu? quantas vezes por parágrafo bem entender, (...) me referindo a

mim mesma na terceira pessoa, morrendo de dor, afofofando o Joo, rindo da minha própria desgraça e

achando tudo ótimo. Três vivas para o umbiguismo."

A descrição do http://brazileirapreta.blogspot.com/, da jovem escritora paulistana Clarah Averbuk,

escancara o que o blog tem de mais curioso: um diário feito para ser lido e comentado. Muito antes de

ser colunista da revista Tpm e ter lançado seus três livros (Máquina de Pinball, Vida de Gato e Das

Coisas Esquecidas Atrás da Estante), Clarah escrevia para o extinto blog Cardoso Online, onde suas

escrivinhaturas se tornaram conhecidas. Mas não pense que o blog lançou Clarah como escritora.

"Blogueiro não é escritor. Escritor não é blogueiro. Não existe escritor de blog. Existe blog enquanto

meio de publicação para um escritor. Escritor é escritor. Escritor não é blogueiro", decretou ela em um

de seus posts.

Posted by Júlia Tavares at 2 am Coments (4)

WEDNESDAY, OCTOBER 26, 2005

Blog :: Vaidade escancarada

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Finalmente. Lembrei que uma amiga tinha um livro sobre blogs, liguei, busquei, e agora tenho em

mãos uma abordagem interessante para começar a falar sobre o assunto. "Blog: comunicação e escrita

íntima na internet", é da jornalista Denise Schittine, que desvendou como os blogs são utilizados pelos

brasileiros e quais as características que o diferenciam do bom e velho diário de papel. Na introdução,

ela conta que a motivação para a tese de mestrado na Federal do Rio, que deu origem ao livro, foi

pesquisar o tema da vaidade. "A princípio, o diário na Internet vem assumir o pecado da vaidade no

escrito íntimo", diz Denise, que entrevistou 30 autores de blogs para essa pesquisa. Pausa para o café.

Posted by Júlia Tavares at 11:30 pm Coments (2)