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FICHAMENTO 2 MARX, Karl; Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Editora Moraes, 1984. Feuerbach. Oposição das concepções materialista e idealista. (Capítulo I de A Ideologia Alemã). I 1. A ideologia em geral, nomeadamente a alemã “A crítica alemã não abandonou, até aos seus esforços mais recentes, o terreno da filosofia. Longe de examinar as suas premissas filosóficas gerais, as suas questões saíram todas do terreno de um sistema filosófico determinado, o de Hegel. Não apenas nas suas respostas, mas já nas próprias questões estava uma mistificação” p. 11. “Como para os Jovens-Hegelianos as representações, ideias, conceitos, em geral os produtos da consciência, por eles autonomizada, valem como os grilhões autênticos dos homens, do mesmo modo que para os Velhos-Hegelianos significam os verdadeiros elos da sociedade humana, percebe-se que os Jovens-Hegelianos também só tenham de lutar contra estas ilusões da consciência” p. 13. “Não ocorreu a nenhum destes filósofos procurar a conexão da filosofia alemã com a realidade alemã, a conexão da sua crítica com o seu próprio ambiente material” p. 14. 2. Premissas da Concepção Materialista da História “As premissas com que começamos não são arbitrárias, não são dogmas, são premissas reais e delas só na imaginação se pode abstrair. São os indivíduos reais, a sua ação e as suas condições materiais de vida, tanto as que encontraram como as que produziram pela sua própria ação. Estas premissas são, portanto, constatáveis de um modo puramente empírico”. “A primeira premissa de toda história humana é, naturalmente, a existência de indivíduos humanos vivos” p. 14. “Podemos distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião, por tudo que se quiser. Mas eles começam a distinguir-se dos animais assim que começam a produzir os seus meios de vida, passo este que é condicionado pela sua organização física” p. 15. “Como exprimem a sua vida, assim os indivíduos são. Aquilo que eles são coincide, portanto, com a sua produção, com o que produzem e também com o como produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais da sua produção” p. 15. “Esta produção só surge com o aumento da população. Ela própria pressupõe, por seu turno, um intercâmbio (Verkehr) (relações de produção) dos indivíduos entre si. A forma deste intercâmbio é, por sua vez, condicionada pela produção” p. 15-16.

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FICHAMENTO 2

MARX, Karl; Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Editora Moraes, 1984.

Feuerbach. Oposição das concepções materialista e idealista. (Capítulo I de A Ideologia Alemã).

I1. A ideologia em geral, nomeadamente a alemã

“A crítica alemã não abandonou, até aos seus esforços mais recentes, o terreno da filosofia. Longe de examinar as suas premissas filosóficas gerais, as suas questões saíram todas do terreno de um sistema filosófico determinado, o de Hegel. Não apenas nas suas respostas, mas já nas próprias questões estava uma mistificação” p. 11.

“Como para os Jovens-Hegelianos as representações, ideias, conceitos, em geral os produtos da consciência, por eles autonomizada, valem como os grilhões autênticos dos homens, do mesmo modo que para os Velhos-Hegelianos significam os verdadeiros elos da sociedade humana, percebe-se que os Jovens-Hegelianos também só tenham de lutar contra estas ilusões da consciência” p. 13.

“Não ocorreu a nenhum destes filósofos procurar a conexão da filosofia alemã com a realidade alemã, a conexão da sua crítica com o seu próprio ambiente material” p. 14.

2. Premissas da Concepção Materialista da História “As premissas com que começamos não são arbitrárias, não são dogmas, são premissas reais e delas só na

imaginação se pode abstrair. São os indivíduos reais, a sua ação e as suas condições materiais de vida, tanto as que encontraram como as que produziram pela sua própria ação. Estas premissas são, portanto, constatáveis de um modo puramente empírico”. “A primeira premissa de toda história humana é, naturalmente, a existência de indivíduos humanos vivos” p. 14.

“Podemos distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião, por tudo que se quiser. Mas eles começam a distinguir-se dos animais assim que começam a produzir os seus meios de vida, passo este que é condicionado pela sua organização física” p. 15.

“Como exprimem a sua vida, assim os indivíduos são. Aquilo que eles são coincide, portanto, com a sua produção, com o que produzem e também com o como produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais da sua produção” p. 15.

“Esta produção só surge com o aumento da população. Ela própria pressupõe, por seu turno, um intercâmbio (Verkehr) (relações de produção) dos indivíduos entre si. A forma deste intercâmbio é, por sua vez, condicionada pela produção” p. 15-16.

3. Produção e Intercâmbio. Divisão do Trabalho e formas de propriedade: tribal, antiga e feudal.

IMP! O desenvolvimento de uma nação está relacionado com o grau de divisão do trabalho desta. => “As relações de diferentes nações entre si dependem do grau em que cada uma delas desenvolveu as suas forças produtivas, a divisão do trabalho e o intercambio interno. (...) Até onde chega o desenvolvimento das forças de produção (Produktionskräfte) de uma nação é indicado, com a maior clareza, pelo grau atingido pelo desenvolvimento da divisão do trabalho” p. 16.

IMP “A divisão do trabalho no seio de uma nação começa por provocar a separação do trabalho industrial e comercial do trabalho agrícola, e com ela, a separação de cidade e campo e a oposição dos interesses de ambos. O seu desenvolvimento posterior leva a separação do trabalho comercial e industrial. Ao mesmo tempo, com a divisão do trabalho, desenvolvem-se por seu turno, no seio destes diferentes ramos, diferentes grupos entre os indivíduos que cooperam em determinados trabalhos. A posição de cada um destes grupos face aos outros é condicionada pelo modo como é realizado o trabalho agrícola, industrial e comercial (patriarcalismo, escravatura, ordens, classes). As mesmas condições se verificam, com um intercambio mais desenvolvido, nas relações de diferentes nações entre si” p. 16-17.

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Formas de propriedade:

1) Propriedade tribal “A primeira forma de propriedade é a propriedade tribal (Stammeigentum). Esta corresponde à fase não desenvolvida

da produção em que um povo se alimenta de caça e pesca, da criação de gado ou, quando muito, da agricultura. (...). A divisão do trabalho está nesta fase ainda muito pouco desenvolvida e limita-se a um prolongamento da divisão natural do trabalho existente na família” p. 17.

2) Propriedade Comunal e estatal antiga “(...) resulta nomeadamente da união de várias tribos que formam uma cidade por meio de acordo ou conquista. A

par da propriedade comunal desenvolve-se já a propriedade privada móvel e, mais tarde, também a imóvel, mas como uma forma anormal e subordinada à propriedade comunal” p. 17-18.

“Com o desenvolvimento da propriedade privada surgem aqui, pela primeira vez, as mesmas relações que voltamos a encontrar na propriedade privada moderna, só que nesta em maior escala” p. 18.

3) Propriedade Feudal (de estados ou ordens sociais => ständisch) “Se a Antiguidade partiu da cidade e da sua pequena área, a Idade Média partiu do campo. A população ao tempo

existente, pouco densa e dispersa por uma grande área, e que não cresceu grandemente com os conquistadores, condicionou esse ponto de partida diferente” p. 18.

A dispersão da população se dá com o declínio do império romano. Dessa forma cai também a organização urbana, dando lugar a propriedade feudal, sob domínio do exército germânico.

Diferença da propriedade comunal: camponeses servos ao invés de escravos. => “Esta (a propriedade feudal) assenta, como a propriedade tribal e comunal, novamente sobre uma comunidade face à qual se encontram, não como face à antiga os escravos, mas os pequenos camponeses servos como classe produtora direta. Ao mesmo tempo, com a completa formação do feudalismo, surge também o antagonismo contra as cidades” p. 19.

“A estrutura feudal da propriedade fundiária correspondia, nas cidades, a propriedade corporativa, a organização feudal os ofícios” p. 19.

“Pouca foi a divisão do trabalho que teve lugar no apogeu do feudalismo. Todos os países tinham em si o antagonismo de cidade e campo; a estrutura de estados (ou ordens sociais) era certamente muito marcada, mas além da diferenciação de príncipes, nobreza, clero e camponeses, no campo, e de mestres, oficiais e aprendizes, e em breve também a plebe de jornaleiros, nas cidades, não teve lugar nenhuma divisão importante” p. 20.

Obs.: A quarta forma de propriedade, a burguesa, é tratada na Parte IV do capítulo, Seções 2-4.

4. A Essência da Concepção Materialista da História. Ser social e consciência social. “O fato é, portanto, este: o de determinados indivíduos, que trabalham produtivamente de determinado modo,

entrarem em determinadas relações sociais e políticas” p. 21. “A consciência nunca pode ser outra coisa senão o ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo real de vida”

p. 22. “Não é a consciência que determina a vida é a vida que determina a consciência. No primeiro modo de consideração,

parte-se da consciência como indivíduo vivo; no segundo, que corresponde à vida real, parte-se dos próprios indivíduos vivos reais e considera-se a consciência apenas como a sua consciência” p. 23.

“Lá onde a especulação cessa, na vida real, começa, portanto, a ciência real, positiva, a representação da atividade prática, do processo de desenvolvimento prático dos homens. Cessam as frases sobre a consciência, o saber real tem que as substituir” p. 24.

II

1. Condições de Libertação Real do Homem. “(...) não se pode abolir a escravatura sem a máquina a vapor e a mole-jenny, nem a servidão sem uma agricultura

aperfeiçoada, de que de modo nenhum se pode libertar os homens enquanto estes não estiverem em condições de adquirir comida e bebida, habitação e vestuário na qualidade e na quantidade perfeitas. A libertação é um ato

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histórico, não um ato de pensamento,, e é efetuada por relações históricas, pelo nível da indústria, do comércio, da agricultura, do intercambio (...)” p. 25.

2. Crítica do Materialismo Contemplativo e Inconsequente de Feuerbach (...) “na realidade, e para o materialista prático, isto é, para o comunista, trata-se de revolucionar o mundo existente,

de atacar e transformar na prática as coisas que encontra no mundo” p. 26. “Ele (Feuerbach) não vê que o mundo sensível que o rodeia não é uma coisa dada diretamente da eternidade, sempre

igual a si mesma, mas antes produto da indústria e do estado em que se encontra a sociedade, e precisamente no sentido de que ele é produto histórico, o resultado da atividade de toda uma série de gerações, cada uma das quais aos ombros da anterior e desenvolvendo a sua indústria e o seu intercambio e modificando a sua ordem social de acordo com necessidades já diferentes” p. 27.

“Feuerbach tem, no entanto, sobre os materialistas ((puros)), a grande vantagem de compreender que também o homem é ((objeto sensível)); mas à parte o fato de entender o homem apenas como ((objeto sensível)), e não como ((atividade sensível)), como aqui também se mantém na teoria, e não concebe os homens na sua dada conexão social, nas suas condições de vida reais que fizeram deles aquilo que são, nunca chega aos homens ativos, aos homens realmente existentes” p. 29.

3. Relações Históricas Primordiais, ou os Aspectos Básicos da Atividade Social: Produção dos Meios de Subsistência, Produção de Novas Necessidades, Reprodução das Pessoas (a Família), Intercambio social, Consciência.

a) Produção dos meios de subsistência. Primeira premissa histórica: “os homens tem de estar em condições de viver para poderem “fazer historia””. => “O

primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios para a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e a verdade é que este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda a História (...)” p. 31.b) Produção de novas necessidades.

“O segundo ponto é este: a própria primeira necessidade satisfeita, a ação da satisfação e o instrumento já adquirido da satisfação, conduz a novas necessidades – e esta produção de novas necessidades é o primeiro ato histórico” p. 32.

c) Reprodução das Pessoas (família). “A terceira relação, que logo desde o início entra no desenvolvimento histórico, é esta: os homens que, dia a dia,

renovam sua própria vida começam a fazer outros homens, a reproduzir-se - a relação entre homem e mulher, pais e filhos a família. Esta família, que a princípio é a única relação social, torna-se mais tarde, quando o aumento das necessidades cria novas relações sociais e o aumento do número dos homens cria novas necessidades, uma relação subordinada (exceto na Alemanha), e tem então de ser tratada e desenredada segundo os dados empíricos existentes, e não segundo o ((conceito de família)), como se costuma fazer na Alemanha. De resto, estas três facetas da atividade social na devem ser entendidas como três fases diferentes, mas apenas como três facetas (...)” p. 32.

d) Intercambio Social. “Daqui resulta que um determinado modo de produção, ou fase industrial, está sempre ligado a um determinado

modo de cooperação, ou fase social, e este modo da cooperação é ele próprio uma ((força produtiva)) (...)” p. 33.

“Só agora, depois de já termos considerado quatro momentos, quatro facetas das relações históricas primordiais, verificamos que o homem também tem ((consciência)). Mas também que não de antemão, como consciência ((pura))” p. 33.

“A linguagem é tão velha como a consciência – a linguagem é a consciência real prática que existe também para outros homens e que, portanto, só assim existe também para mim, e a linguagem só nasce, como a consciência de necessidade, da carência física do intercambio com outros homens” p. 33-34. => “A consciência é, pois, logo desde o começo, um produto social, e continuará a sê-lo enquanto existirem homens” p. 34.

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(...) “a consciência da necessidade de entrar em ligação com os indivíduos à sua volta é o começo da consciência do homem de que vive de fato numa sociedade” p. 34.

“Deste modo se desenvolve a divisão do trabalho, que originalmente nada era senão a divisão do trabalho no ato sexual, e depois a divisão espontânea ou ((natural)) do trabalho em virtude da disposição natural (p.ex., a força física), de necessidade, acasos etc. A divisão do trabalho só se torna realmente divisão a partir do momento em que surge uma divisão do trabalho material e espiritual” p. 35.

“(...) estes três momentos, a força de produção, o estado da sociedade e a consciência, podem e têm de cair em contradição entre si, porque com a divisão do trabalho está dada a possibilidade (...); e a possibilidade de não caírem em contradição reside apenas na superação divisão do trabalho” p. 36.

4. A Divisão Social do Trabalho e as suas Consequências: a Propriedade Privada, o Estado, a ((Alienação)) da Atividade Social.

O embrião da divisão do trabalho está na família: “Com a divisão do trabalho, na qual estão dadas todas estas contradições, e a qual por sua vez assenta na divisão natural do trabalho na família e na separação da sociedade em famílias individuais e opostas umas às outras, está ao mesmo tempo dada também a repartição, e precisamente a repartição desigual tanto quantitativa quanto qualitativa, d trabalho e dos outros produtos, e, portanto, a propriedade, a qual já tem o seu embrião, a sua primeira forma, na família, onde a mulher e os filhos são os escravos do homem” p. 36-37.

“Além disso, com a divisão do trabalho está dada, ao mesmo tempo, a contradição entre o interesse de cada um dos indivíduos ou de cada uma das famílias e o interesse comunitário de todos os indivíduos que mantem intercambio uns com os outros”. => “É precisamente por esta contradição do interesse particular e do interesse comunitário que o interesse comunitário assume uma forma autônoma como Estado, separado dos interesses reais dos indivíduos e do todo, e ao mesmo tempo como comunidade ilusória, mas sempre sobre a base real dos laços existentes em todos os conglomerados de famílias e tribais (...)” p. 37.

IMP. “Daqui resulta que todas as lutas no seio do Estado, a luta entre democracia, a aristocracia e a monarquia, a luta pelo direito de voto etc., etc., não são mais do que as formas ilusórias em que são travadas as lutas reais das diferentes classes entres si” p. 37-38.

Por conta de uma divisão não voluntária do trabalho, o Homem se torna submisso a este trabalho. Já na sociedade comunista, “a sociedade regula a produção geral e, precisamente desse modo, torna possível que eu faça hoje uma coisa e amanha outra, que cace de manhã, pesque de tarde, crie gado à tardinha, critique depois da ceia, tal como me aprouver, sem ter de me tornar caçador, pescador, pastor ou crítico” p. 39.

5. Desenvolvimento das Forcas Produtivas como uma Premissa Material do Comunismo. “Esta alienação (...) só pode ser superada, evidentemente, dadas duas premissas práticas”: 1) “Para que ela se torne

um poder insuportável, isto é, um poder contra o qual se faça uma revolução, é necessário que tenha criado uma grande massa de humanidade destituída de propriedade e ao mesmo tempo em contradição com um mundo existente de riqueza e cultura, o que pressupõe um grande aumento de forca produtiva, um grau elevado do seu desenvolvimento” – 2) “e, por outro lado, este desenvolvimento das forças produtivas (com a qual já está dada, simultaneamente, a existência empírica concreta dos homens a nível histórico-mundial, em vez de a nível local) é também uma premissa prática absolutamente necessária porque sem ele só a penúria se generaliza (...)” p. 41.

“O comunismo não é para nós um estado de coisas que deva ser estabelecido, um ideal pelo qual a realidade (terá) de se regular. Chamamos comunismo ao movimento real que supera o atual estado de coisas. As condições deste movimento resultam da premissa atualmente existente” p. 42.

6. Conclusões da Concepção Materialista da História: Continuidade do Processo histórico, Transformação da História em História Mundial. A Necessidade de uma Revolução Comunista.

“Quanto mais se expandem, no curso deste desenvolvimento, os diversos círculos que atuam uns sobre os outros, quanto mais o isolamento original de cada nacionalidade é aniquilado pelo modo de produção e o intercambio já

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formados e pela divisão do trabalho entre as diferentes nações assim naturalmente produzida por eles, tanto mais a História se torna História Mundial (...)” p. 44.

“Daqui decorre que esta transformação da História em História Mundial não é, de modo nenhum, um mero ato abstrato da Consciência em Si, do Espírito do mundo ou de qualquer outro aspecto metafísico, mas um ato cuja prova é fornecida por casa indivíduo no seu dia-a-dia, ao comer, ao beber, ao vestir-se” p. 44

“Na História até aos nossos duas é, sem dúvida, igualmente um fato empírico que cada um dos indivíduos à medida que a atividade se alarga à escala histórico-mundial, fica cada vez mais escravizado sob um poder que lhe é estranho (...)um poder que se tornou cada vez mais desmedido e que em última instancia se legitima como o mercado mundial. Mas, do mesmo modo, está empiricamente provado que pelo derrubamento do estado de coisas vigente na sociedade por meio da revolução comunista (...) e da supressão da propriedade privada que àquela é idêntica, este poder tao misterioso para os teóricos alemães será dissolvido, e então será realizada a libertação de cada um dos indivíduos na medida em que a História se transforma completamente em História Mundial” p. 45.

7. Resumo da Concepção Materialista de História.

“Ao contrário da visão idealista da História, não tem de procurar em todos os períodos uma categoria, pois permanece constantemente com os pés assentes no chão real da História; não explica a práxis a partir da ideia, explica as formações de ideias a partir da práxis material (...)” p. 48.

8. Falta de Fundamento da Concepção Anterior da História, a Concepção Idealista, particularmente da filosofia alemã pós-hegeliana.

“Toda a concepção da História até hoje ou deixou, pura e simplesmente, por considerar esta base real da História, ou viu nela apenas algo secundário e sem qualquer conexão com o curso histórico” p. 50.

9. Crítica Adicional de Feuerbach da sua Concepção Idealista da História.

***

III

1. A Classe Dominante e Consciência Dominante. Formação da Concepção de Hegel do Domínio do Espírito na História. “As ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes, ou seja, a classe que é o poder

material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, o seu poder espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios para a produção material dispõe assim, ao mesmo tempo, dos meios para a produção espiritual (...)” p. 56.

“(...) durante o tempo em que dominou a aristocracia dominaram os conceitos honra, lealdade etc., durante o domínio da burguesia dominaram os conceitos liberdade, igualdade etc.” p. 58.

“É que cada nova classe que se coloca no ugar de outra que dominou antes dela, é obrigada, apenas para realizar o seu propósito, a apresentar o seu interesse como o interesse comunitário de todos os membros da sociedade (...)” p. 58.

IV

1. Instrumentos de Produção e Formas de Propriedade. Existem os instrumentos de produção naturais e os que foram criados pela civilização. “No primeiro caso, no caso de

um instrumento de produção natural, os indivíduos são subordinados à natureza; no segundo caso, a um produto do trabalho” p. 62.

“O primeiro caso pressupõe que os indivíduos se encontram ligados por algum vínculo, seja a família, a tribo, a própria terra etc.; o segundo caso, que são independentes uns dos outros e apenas unidos pela troca” p. 62-63.

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Dessa divisão veem também a separação entre trabalho manual e intelectual, das relações paternalistas para a relação mediada pelo dinheiro no trabalho etc.

“(...) na grande indústria, pela primeira vez, é produto desta contradição entre instrumento de produção e a propriedade privada, e para produzir tal contradição tem de estar já muito desenvolvida. Por isso, só com a grande indústria é também possível a abolição da propriedade privada” p. 63.

2. A Divisão do Trabalho Material e Intelectual. Separação da Cidade e do Campo. O Sistema das Corporações.

“A maior divisão do trabalho material e intelectual é a separação da cidade e do campo” p. 64. => “O antagonismo da cidade e do campo só pode existir no quadro da propriedade privada” p. 64.

“O trabalho é aqui de novo o principal poder sobre os indivíduos, e enquanto este existir tem de existir também a propriedade privada” p. 64.

Com a ida de alguns vassalos para a cidade, começa-se a criar as corporações: associação de trabalhadores, que dominam algum ofício, em favor de seus interesses. => “Estas cidades eram verdadeiras associações, criadas pela necessidade imediata, pelo cuidado com a proteção da propriedade, e para multiplicar os meios de produção e os meios de defesa de cada um dos membros” p. 66.

“A divisão do trabalho entre as diferentes corporações era ainda muito pequena, e nas próprias corporações não era realizada entre os diferentes operários. Cada operário tinha de ser versado num ciclo inteiro de trabalhos, tinha de saber fazer tudo o que se podia fazer com as suas ferramentas (...). (...). Mas também por isso cada artesão se entregava completamente ao seu trabalho, mantinha com ele uma grata relação de servo e estava muito mais subordinado a ele do que o operário moderno, ao qual o seu trabalho é indiferente” p. 67.

3. Maior Divisão do Trabalho. Separação do Comércio e da Indústria. Divisão do Trabalho entre as várias Cidades. Manufatura.

O alargamento seguinte da divisão do trabalho foi a separação de produção e intercambio, a formação de uma classe especial de comerciantes”. (...). “Estava assim, dada a possibilidade de uma ligação comercial que ultrapassava os limites locais”. p. 68.

“Com o intercambio constituído numa classe especial, com o alargamento do comércio pelos comerciantes para além dos arredores imediatos da cidade, surge imediatamente uma ação recíproca entre a produção e o intercambio. As cidades entram em ligação umas com as outras (...) e a divisão entre a produção e o intercambio em breve dá origem a uma nova divisão da produção entre cada uma das cidades (...)” p. 68.

“A divisão do trabalho entre as diferentes cidades teve por consequência imediata o nascimento das manufaturas, dos ramos de produção que tinham ultrapassado o sistema corporativo. O primeiro florescimento das manufaturas (...) teve como premissa histórica o intercambio com nações estrangeiras” p. 69.

“A tecelagem foi a primeira manufatura e permaneceu a principal. (...) A par dos camponeses que teciam para uso próprio, os quais continuaram e ainda continuam a existir, surge nas cidades uma nova classe de tecelões cujos tecidos se destinavam a todo o mercado interno e, as mais das vezes, também a mercados estrangeiros” p. 70.

Uma interessante passagem sobre o surto de vagabundos no século XIII e principalmente nos séculos XV e XVI, que só diminui com o aparecimento das manufaturas (consultar página 71).

“Com a manufatura, as diferentes nações entram numa relação de concorrência, numa luta comercial que se travou em guerras, proteções alfandegárias e proibições (...). De ora em diante, o comércio tem importância política” p. 71.

“Com a manufatura, passa ao mesmo tempo a haver uma relação diferente do operário com quem lhe dá trabalho. Nas corporações continuava a existir a relação patriarcal entre os oficiais e o mestre; na manufatura, ocupa o lugar daquele a relação de dinheiro entre o operário e o capitalista (...)” p. 71.

=> É interessante lembrar, como já foi dito aqui, que a cooperação é um primeiro estágio de saída da vassalagem. O mestre, que dominava certo ofício, ensinava ao aprendiz, que tinha que aprender o ciclo inteiro do ofício. A manufatura já se utiliza de uma certa distribuição de papais, ou seja, representa uma maior divisão do trabalho.

“O comércio e a manufatura criaram a grande burguesia, nas corporações concentrava-se a pequena burguesia (...). Daí o declínio das corporações assim que entraram em contato com a manufatura” p. 72.

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As relações de intercambio entre as nações assumiram duas formas diferentes nessa época tratada. A princípio a pequena quantidade de ouro e prata condicionou a proibição da exportação desses metais; também a indústria impunha barreiras à concorrência interna e externa, já que muita gente dependia desse trabalho. “O segundo período teve início por meados do séc. XVII, e durou quase até o final do séc. XVIII. O comércio e a navegação tinham-se expandido mais depressa do que a manufatura, que desempenhava um papal secundário; as colônias começavam a tornar-se consumidores importantes, as diferentes nações repartiam entre si, em longas lutas, o mercado mundial que se abria. Este período começa com as Leis da Navegação e os monopólios coloniais” p. 74.

=> A relativa menor importância política da manufatura reside no fato de que não se podia abrir concessão (como numa livre concorrência) tendo em vista o grande número de pessoas que viviam desse trabalho.

“(...) os proprietários de manufaturas também exigiam e conseguiam proteção, é certo, mas em importância política ficaram sempre atrás dos comerciantes. As cidades comerciais, especialmente as cidades do litoral, tornaram-se em certa medida civilizadas e da grande burguesia, ao passo que nas cidades fabris subsistiu a mais marcada atmosfera da pequena burguesia” p. 75.

4. A Divisão do Trabalho mais Extensa. A Grande Indústria. “Desenvolvendo-se irresistivelmente no séc. XVII, a concentração do comércio e da manufatura num país, a

Inglaterra, foi criando para este país um relativo mercado mundial e, com ele, uma procura dos produtos manufaturados deste país que já não podia ser satisfeita pelas forcas produtivas até aí existentes na indústria. Esta procura, que crescera mais do que as forças de produção, foi a força motora que deu origem ao terceiro período* da propriedade privada desde a Idade Média com a criação da grande indústria – a aplicação de forças elementares para fins industriais, a maquinaria e a mais extensa divisão do trabalho. As restantes condições desta nova fase – a liberdade de concorrência no interior da nação, o desenvolvimento da mecânica teórica (...) existiam já na Inglaterra” p. 76-77.

* Se eu entendi bem, a ordem é: 1) Cooperações; 2) Manufaturas; 3) Grande Indústria. => Mais comentários sobre as características e consequências do surgimento da Grande Indústria na pág. 77 e 78. (A grande indústria) “retirou à divisão do trabalho a última aparência da naturalidade” p. 77-78.

5. A Contradição entre as Forças Produtivas e a Forma de Intercambio como a Base de uma Revolução Social. “Todas as soluções na História tem, pois segundo a nossa concepção, a sua origem na contradição entre as forças

produtivas e a forma de intercambio” p. 80.

6. A Concorrência dos Indivíduos e a Formação das Classes. Desenvolvimento da Contradição entre os Indivíduos e as Condições de Sua Vida. A Comunidade Ilusória dos Indivíduos na Sociedade Burguesa e a Unidade Real dos indivíduos

no Comunismo. A Subjugação das Condições de Vida da Sociedade ao Poder dos Indivíduos Unidos.

“A concorrência isola os indivíduos uns contra os outros, não apenas os burgueses mas ainda mais os proletários, e isto a despeito de os aproximar. Daí que demora muito tempo até que estes indivíduos se possam unir, para não referir o fato de que os meios necessários para esta união – a fim de não ser meramente local -, as grandes cidades industriais e as comunicações baratas e rápidas, tem primeiro de ser estabelecida pela grande indústria” p. 80-81.

=> cerne do conceito de “estilo de vida”: “As mesmas condições, o mesmo contrário, os mesmos interesses, tinham também de dar origem, por toda parte e dum modo geral, a costumes iguais” p. 82.

“Os indivíduos isolados só formam uma classe na medida em que tem de travar uma luta comum contra uma outra classe; de resto, contrapõem-se de novo hostilmente uns aos outros, em concorrência. Por outro lado, a classe autonomiza-se, por seu turno, face aos indivíduos, pelos que estes encontram já predestinadas as suas condições de vida, é-lhes indicada pela classe a sua posição de vida -, estão subsumidos na classe. É este o mesmo fenômeno que a subordinação de cada um dos indivíduos à divisão do trabalho, e só pode ser eliminado por meio da abolição da propriedade privada e do próprio trabalho” p. 83.

“Esta subordinação dos indivíduos a determinadas classes não pode ser abolida antes que se tenha formado uma classe que, contra a classe dominante, já não tenha de afirmar nenhum interesse particular de classe” p. 84. => Um tanto romântico demais, não?

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X “O comunismo distingue-se de todos os movimentos anteriores por transformar radicalmente a base de todas as

relações de produção e de intercambio anteriores e por tratar conscientemente, pela primeira vez, todas as premissas naturais como criaturas dos homens anteriores, por despi-las da sua naturalidade e submete-las ao poder dos indivíduos unidos. A sua instauração é, por isso, essencialmente econômica (...)” p. 88.

7. A Contradição Entre Os Indivíduos E As Suas Condições De Vida Como Uma Contradição Entre As Forças Produtivas E A Forma De Intercambio. O Desenvolvimento Das Forças Produtivas E A Mudança Das Formas De Intercambio.

Nada fichado.

8. O Papel da Violência (Conquista) na História. Em relação a tomar (conquistar) um país: “O tomar é ainda condicionado pelo objeto tomado. A fortuna em papel de

um banqueiro não pode ser de modo nenhum tomada sem que aquele que a toma se submeta às condições de produção e de intercambio do país tomado” p. 93.

9. O Desenvolvimento Da Contradição Entre As Forças Produtivas E A Forma De Intercambio Nas Condições Da Grande Indústria E Da Livre Concorrência. Antagonismo Entre Trabalho E Capital.

“Com o dinheiro, todas as formas de intercambio e o próprio intercambio são postos como acidentais para os indivíduos. No dinheiro é que reside, portanto, o fato de todo o intercambio até aos nossos dias ser apenas o intercambio dos indivíduos em determinadas condições, e não dos indivíduos como indivíduos” p. 95.

“Aqui se revelam, portanto, dois fatos. Primeiro, as forças produtivas aparecem como completamente independentes e divorciadas dos indivíduos, como um mundo próprio a par dos indivíduos, o que tem sua razão no fato de os indivíduos, cujas forças elas são, existirem divididos e em antagonismo uns contra os outros, ao passo que estas forças, por outro lado, só são forças reais no intercambio e na conexão destes indivíduos” p. 96.

10. A Necessidade, as Condições a as Consequências da Abolição da Propriedade Privada. “Chegou-se agora, portanto, a um ponto tal que os indivíduos têm de apropriar-se da totalidade existente das forças

produtivas, não só para alcançarem a sua auto-ocupação, mas principalmente para assegurar a sua existência”. P. 97.

11. Relação do Estado e do Direito com a Propriedade. “Como o Estado é a forma em que os indivíduos de uma classe dominante fazem valer os seus interesses comuns e se

condensa toda a sociedade civil de uma época, segue-se que todas as instituições comuns que são mediadas pelo Estado, adquirem uma forma política” p. 101.

FIM