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RESUMO. O Capital -Karl Marx Base e Superestrutura A seguir, transcrevemos dois trechos da obra de Karl Marx onde ele discorre sobre Base e Superestrutura. O primeiro trecho encontra-se no Prefácio de ―Para a Crítica da Economia Política‖, escrito em 1859. Nesse prefácio Marx explica como começou seu interesse pela Economia e que após profundas investigações ele chegou a um ―resultado geral‖: ―Na produção social da sua vida os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem determinadas formas da consciência social. O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência. Numa certa etapa do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é apenas uma expressão jurídica delas, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham até aí movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em grilhões das mesmas. Ocorre então uma época de revolução social. Com a transformação do fundamento econômico revoluciona-se, mais devagar ou mais depressa, toda a imensa superestrutura.‖ Mais adiante no prefácio, Marx refere-se aos modos de produção asiático, antigo, feudal e o burguês, como épocas progressivas da formação econômica e social e observa que nenhuma formação social desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela contém, e jamais aparecem relações de produção novas e superiores antes de amadurecerem no seio da própria sociedade antiga as condições materiais para a sua existência. O segundo trecho é encontrado na obra O Capital, Livro Terceiro (O processo global de produção capitalista), volume VI: ―A forma econômica específica na qual trabalho não-pago se extorque dos produtores imediatos exige a relação de domínio e sujeição tal como nasce diretamente da própria produção e, em retorno, age sobre ela de maneira determinante. Aí se fundamenta toda a estrutura da comunidade econômica oriunda das próprias relações de produção - e, por conseguinte, a estrutura política que lhe é própria. É sempre nessa relação direta entre os proprietários dos meios de produção e os produtores imediatos (a forma dessa relação sempre corresponde naturalmente a dado nível de desenvolvimento dos métodos de trabalho e da produtividade social do trabalho) que encontramos o recôndito segredo, a base oculta da construção social toda, por isso, da forma política das relações de soberania e dependência, em suma, da forma especifica do Estado numa época dada. MARX, Karl. O capital: critica da economia política, livro terceiro: o processo global de produção capitalista, volume VI. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. (pág. 1047) Nesse trecho, observamos que o Estado e as formas jurídicas, por exemplo, são determinadas pela estrutura econômica. Quanto a essa questão, ainda no Livro Terceiro da obra O Capital, Marx explica: [...] O mesmo acontece com um senhor de escravos que comprou um negro; a propriedade sobre o negro não lhe parece obtida por meio da instituição da escravatura como tal, e sim pelo ato comercial de

Marx Resumo

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  • RESUMO.

    O Capital -Karl Marx

    Base e Superestrutura A seguir, transcrevemos dois trechos da obra de Karl Marx onde ele discorre sobre Base e

    Superestrutura.

    O primeiro trecho encontra-se no Prefcio de Para a Crtica da Economia Poltica, escrito em 1859.

    Nesse prefcio Marx explica como comeou seu interesse pela Economia e que aps profundas

    investigaes ele chegou a um resultado geral: Na produo social da sua vida os homens entram em determinadas relaes, necessrias,

    independentes da sua vontade, relaes de produo que correspondem a uma determinada etapa de

    desenvolvimento das suas foras produtivas materiais. A totalidade destas relaes de produo forma a

    estrutura econmica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurdica e poltica,

    e qual correspondem determinadas formas da conscincia social. O modo de produo da vida material

    que condiciona o processo da vida social, poltica e espiritual. No a conscincia dos homens que

    determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua conscincia. Numa certa

    etapa do seu desenvolvimento, as foras produtivas materiais da sociedade entram em contradio com as

    relaes de produo existentes ou, o que apenas uma expresso jurdica delas, com as relaes de

    propriedade no seio das quais se tinham at a movido. De formas de desenvolvimento das foras

    produtivas, estas relaes transformam-se em grilhes das mesmas. Ocorre ento uma poca de revoluo

    social. Com a transformao do fundamento econmico revoluciona-se, mais devagar ou mais depressa,

    toda a imensa superestrutura. Mais adiante no prefcio, Marx refere-se aos modos de produo asitico, antigo, feudal e o

    burgus, como pocas progressivas da formao econmica e social e observa que nenhuma formao

    social desaparece antes que se desenvolvam todas as foras produtivas que ela contm, e jamais

    aparecem relaes de produo novas e superiores antes de amadurecerem no seio da prpria

    sociedade antiga as condies materiais para a sua existncia.

    O segundo trecho encontrado na obra O Capital, Livro Terceiro (O processo global de produo

    capitalista), volume VI:

    A forma econmica especfica na qual trabalho no-pago se extorque dos produtores imediatos exige a relao de domnio e sujeio tal como nasce diretamente da prpria produo e, em retorno, age sobre

    ela de

    maneira determinante. A se fundamenta toda a estrutura da comunidade econmica oriunda das prprias

    relaes de produo - e, por conseguinte, a estrutura poltica que lhe prpria. sempre nessa relao

    direta entre os proprietrios dos meios de produo e os produtores imediatos (a forma dessa relao

    sempre corresponde naturalmente a dado nvel de desenvolvimento dos mtodos de trabalho e da

    produtividade social do trabalho) que encontramos o recndito segredo, a base oculta da construo social

    toda, por isso, da forma poltica das relaes de soberania e dependncia, em suma, da forma especifica

    do Estado numa poca dada.

    MARX, Karl. O capital: critica da economia poltica, livro terceiro: o processo global de produo

    capitalista, volume

    VI. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2008. (pg. 1047)

    Nesse trecho, observamos que o Estado e as formas jurdicas, por exemplo, so determinadas pela

    estrutura econmica. Quanto a essa questo, ainda no Livro Terceiro da obra O Capital, Marx explica:

    [...] O mesmo acontece com um senhor de escravos que comprou um negro; a propriedade sobre

    o negro no lhe parece obtida por meio da instituio da escravatura como tal, e sim pelo ato comercial de

  • compra e venda. Mas no a venda que cria esse direito, apenas o transfere. necessrio que o direito

    exista antes de poder

    tornar-se objeto de venda: uma venda no pode produzi-lo, nem um venda uma srie dessas vendas,

    continuamente repetidas. Geraram esse direito as relaes de produo. Quando chegam a um ponto em

    que a mudana inevitvel, a fonte material desse direito, econmica e historicamente legitimada,

    oriunda do processo de formao da vida social, desaparece junto com todas as transaes que ele

    justifica.

    MARX, Karl. O capital: critica da economia poltica, livro terceiro: o processo global de produo

    capitalista, volume

    VI. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2008. (pg. 1028)

    [...] Vimos que o processo capitalista de produo forma historicamente determinada do

    processo social de produo. Este abrange a produo das condies materiais da vida humana e ao

    mesmo tempo o processo que se desenvolve dentro de relaes de produo especficas, histrico-

    econmicas, produzindo e reproduzindo essas relaes de produo e, por conseguinte, os agentes desse

    processo, no contexto deles: as condies materiais de existncia e as relaes recprocas, isto , a forma

    econmica particular de sociedade que lhes corresponde. que o conjunto das relaes que os agentes da

    produo, produzindo dentro delas, mantm entre si com a natureza constitui justamente a sociedade,

    considerada em sua estrutura econmica. Como todos os

    anteriores, o processo capitalista de produo se efetua em certas condies materiais que ao mesmo

    tempo servem de suporte a determinadas relaes sociais contradas pelos indivduos no processo de

    reproduo da vida.

    MARX, Karl. O capital: critica da economia poltica, livro terceiro: o processo global de produo

    capitalista, volume

    VI. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2008. (pg. 1082)

    Produo, consumo, distribuio e troca

    Produo e consumo A produo tambm imediatamente consumo. Duplo consumo, subjetivo e objetivo: o

    indivduo que, ao produzir, est desenvolvendo as suas capacidades, est tambm dispendendo-as, isto ,

    consome-as no ato da produo, tal como na procriao natural se consomem foras vitais. Em segundo

    lugar: consumo dos meios de produo utilizados, os quais se desgastam e se dissolvem em parte (como

    na combusto, por exemplo) nos seus elementos naturais; do mesmo modo, as matrias-primas utilizadas

    perdem a sua forma e a sua constituio naturais: so consumidas. Portanto, em todos os seus momentos,

    o prprio ato da produo tambm um ato de consumo. Alis, os economistas admitem-no. Chamam

    consumo produtivo produo que corresponde diretamente ao consumo e ao consumo que coincide

    imediatamente com a produo.

    O consumo tambm imediatamente produo do mesmo modo que, na natureza, o consumo

    dos elementos e substncias qumicas a produo das plantas. E claro que na nutrio, por exemplo -

    que uma forma particular do consumo - o homem produz o seu prprio corpo. Isto vlido para toda a

    espcie de consumo que, por qualquer forma, produza o homem. Produo consumidora. Porm - objetam

    os economistas -esta produo equivalente ao consumo uma segunda produo, surgida da destruio do

    produto da primeira.

    A produo engenda o consumo:

    a) Fornecendo-lhe o modo de consumo

    b) determinando o modo de consumo;

    c) provocando no consumidor a necessidade de produtos que ela criou originariamente como

    objetos. Por conseguinte, produz o objeto de consumo, o modo de consumo e o impulso para consumir.

    Pelo seu lado, o consumo [cria] a disposio do produtor, solicitando-o como necessidade

    animada duma finalidade (a produo).

    Produo e Distribuio A estrutura da distribuio completamente determinada pela estrutura da produo. A prpria

    distribuio um produto da produo, tanto no que se refere ao seu objeto (pois s se podem distribuir

    os resultados da produo) como no que se refere sua forma (posto que o modo determinado de

    participao na produo determina as formas particulares da distribuio, isto : a forma sob a qual se

    participa na distribuio).

    Para o indivduo isolado, a distribuio aparece naturaImente como uma lei social que determina

    a sua posio no seio da produo, isto : no quadro em que produz e que, portanto, precede a produo.

  • Ao nascer, o indivduo no tem capital nem propriedade agrria; logo que nasce condenado, pela

    distribuio social, ao trabalho assalariado. Na realidade, o prprio fato de a tal ser condenado, resulta do

    fato de o capital e a propriedade agrria serem agentes autnomos da produo.

    Mesmo escala das sociedades na sua globalidade, a distribuio parece preceder e determinar,

    at certo ponto, a produo - surge, de certo modo, como um fato pr-econmico. Um povo conquistador

    reparte a terra entre os conquistadores; deste modo impe uma certa repartio e uma forma dada de

    propriedade agrria: determina, desse modo, a produo. Ou ento reduz os conquistados escravatura, e

    baseia a sua produo no trabalho escravo. Ou ento, um povo revolucionrio pode parcelarizar a grande

    propriedade territorial e, mediante esta nova distribuio, dar um carter novo produo. Ou ento, a

    legislao pode perpetuar a propriedade agrria nas mos de certas famlias; ou faz do trabalho um

    privilgio hereditrio para fixar num regime de castas. Em todos estes exemplos, extrados da histria, a

    estrutura da distribuio no parece ser determinada pela produo; pelo contrrio, a produo que

    parece ser estruturada e determinada pela distribuio.

    Troca e Circulao A circulao propriamente dita ou no mais do que um momento determinado da troca, ou a

    troca considerada na sua totalidade. Na medida em que a troca no mais do que um momento mediador

    entre, por um lado, a produo e a distribuio que aquela determina e, por outro lado, o consumo - e

    dado que o prprio consumo aparece tambm como um momento da produo - evidente que a troca se

    inclui na produo, e tambm um seu momento.

    Em primeiro lugar, evidente que a permuta de atividades e capacidades que ocorre no interior da

    produo faz diretamente parte desta ltima - at um dos seus elementos essenciais. Em segundo lugar,

    o mesmo se aplica troca de produtos, pois esta um meio que permite fornecer o produto acabado,

    destinado ao consumo imediato. No que at agora vimos, a troca um ato includo na produo. Em

    terceiro lugar, a chamada exchange entre dealers , dada a sua organizao, completamente determinada

    pela produo; representa uma atividade produtiva.

    Somente na sua ltima fase - no momento em que o produto trocado para ser consumido

    imediatamente - que a troca se apresenta independente e exterior produo e, por assim dizer,

    indiferente a esta. Porm observamos que: 1) no existe troca sem diviso do trabalho, quer esta seja

    natural, quer seja um resultado histrico; 2) a troca privada pressupe a produo privada; 3) a

    intensidade da troca, assim como a sua extenso e a sua estrutura, so determinadas pelo desenvolvimento

    e pela estrutura da produo. Por exemplo, a troca entre a cidade e o campo, a troca no campo, na cidade,

    etc. Portanto, a produo compreende e determina diretamente a troca em todas as suas formas.

    A concluso a que chegamos no de que a produo, a distribuio, a troca e o consumo so

    idnticos; conclumos, sim, que cada um deles um elemento de um todo, e representa diversidade no

    seio da unidade.

    Concreto Pensado O concreto concreto porque a sntese de mltiplas determinaes e, por isso, a unidade do

    diverso. Aparece no pensamento como processo de sntese, como resultado, e no como ponto de partida,

    embora seja o verdadeiro ponto de partida, e, portanto, tambm, o ponto de partida da intuio e da

    representao. No primeiro caso, a representao plena volatilizada numa determinao abstrata; no

    segundo caso, as determinaes abstratas conduzem reproduo do concreto pela via do pensamento.

    Eis por que Hegel caiu na iluso de conceber o real como resultado do pensamento que, partindo de si

    mesmo se concentra em si mesmo, se aprofunda em si mesmo e se movimenta por si mesmo; ao passo

    que o mtodo que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto , para o pensamento, apenas a maneira

    de se apropriar do concreto, de o reproduzir na forma de concreto pensado; porm, no este de modo

    nenhum o processo de gnese do concreto em si.

    Para a consistncia filosfica - que considera que o pensamento que concebe o homem real, e

    que, portanto, o mundo s real quando concebido - para esta conscincia, o movimento das categorias

    que lhe aparece com um verdadeiro ato de produo (o qual recebe do exterior um pequeno impulso,

    coisa que esta conscincia s muito a contra gosto admite) que produz o mundo. Isto exato (embora aqui

    nos vamos encontrar com uma nova tautologia), na medida em que a totalidade concreta, enquanto

    totalidade do pensamento, enquanto concreto do pensamento in fact um produto do pensamento, do ato

    de conceber; no de modo nenhum, porm, produto do conceito que pensa e se gera a si prprio e que

    atua fora e acima da intuio e da representao; pelo contrrio, um produto do trabalho de elaborao,

    que transforma a intuio e a representao em conceitos. O todo, tal como aparece na mente como um

    todo pensamento, produto da mente que pensa e se apropria do mundo do nico modo que lhe possvel

    O CAPITAL

    [MARX, Karl. O Capital: crtica da economia politica: livro I / traduo de Reginaldo

  • SantaAnna 26 ed Rio de Janeiro: Civilizacao Brasileira, 2008.

    I. A Mercadoria 1. Os dois fatores da mercadoria: valor-de-uso e valor (substncia e quantidade do valor)

    Mercadoria: forma elementar A riqueza das sociedades onde rege a produo capitalista configura-se em imensa acumulao

    de mercadorias e a mercadoria, isoladamente considera, a forma elementar dessa riqueza. A mercadoria , antes de mais nada, um objeto externo, uma coisa que, por suas propriedades, satisfaz

    necessidades humanas. (pg. 57)

    Valor-de-uso A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. Essa utilidade, porm, no paira no ar.

    Determinada pelas propriedades materialmente inerentes mercadoria, s existe atravs delas. A

    prpria mercadoria, como ferro, trigo, diamante etc., , por isso, um valor-de-uso, um bem. Esse carter

    da mercadoria no depende da quantidade de trabalho empregado para obter suas qualidades teis. Ao se

    considerarem valores-de-uso, sempre se pressupe quantidades definidas, como uma dzia de relgios,

    um metro de linho, uma tonelada de ferro. O valor de uso realiza-se somente no uso ou no consumo. Os

    valores de uso constituem o contedo material da riqueza, qualquer que seja a forma social desta. Na

    forma de sociedade a ser por ns examinada, eles constituem, ao mesmo tempo, os portadores materiais

    do valor-de-troca. (pg. 58)

    Valor-de-troca O valor-de-troca revela-se, de incio, na relao quantitativa entre valores de uso de espcies

    diferentes, na proporo em que se trocam, relao que muda constantemente no tempo e no espao. Por

    isso o valor de troca parece algo casual, e puramente relativo, e, portanto, uma contradio em termos, um

    valor de troca imanente mercadoria. Vejamos a coisa mais de perto.

    Os valores de troca vigentes da mesma mercadoria expressam, todos, um significado igual;

    segundo: o valor de troca s pode ser a maneira de expressar-se, a forma de manifestao de uma

    substncia que dele se pode distinguir. (pg. 58)

    Trabalho humano concreto e trabalho humano abstrato Se prescindirmos do valor de uso da mercadoria, s lhe resta ainda uma propriedade, a de ser

    produto do trabalho. Mas ento, o produto do trabalho j ter passado por uma transmutao. Pondo de

    lado seu valor-de-uso, abstramos, tambm, das formas e elementos materiais que fazem dele um valor de

    uso. Ele no mais mesa, casa, fio ou qualquer outra coisa til. Sumiram todas as qualidades materiais.

    Tambm no mais produto do trabalho do marceneiro, do pedreiro, do fiandeiro ou de qualquer outra

    forma de trabalho produtivo. Ao desaparecer o carter til dos produtos do trabalho, tambm desaparece o

    carter til dos trabalhos neles corporificados; desvanecem-se, portanto, as diferentes formas de trabalho

    concreto, elas no mais se distinguem umas das outras, mas reduzem-se, todas, a uma nica espcie de

    trabalho, o trabalho humano abstrato. (pg. 60)

    Valor e valor-de-troca Na prpria relao de permuta das mercadorias, seu valor de troca revela-se, de todo,

    independente de seu valor de uso. Pondo-se de lado o valor de uso dos produtos do trabalho, obtm-se seu

    valor como acaba de ser definido. O que se evidencia comum na relao de permuta ou no valor-de- troca

    , portanto o valor das mercadorias. Mais adiante, voltaremos a tratar do valor de troca como o modo

    necessrio de expressar-se o valor ou a forma de este manifestar-se. (pg. 60)

    A forma simples de valor do valor de uma mercadoria se contm em sua relao de valor ou de

    troca com outra mercadoria diferente. O valor da mercadoria A expressa-se qualitativamente por meio da

    permutabilidade direta da mercadoria B com a mercadoria A. expresso quantitativamente atravs da

    permutabilidade de determinada quantidade da mercadoria B com quantidade da mercadoria A. Em outras

    palavras, o valor de uma mercadoria assume expresso fora dela, ao manifestar-se como valor de troca.

    De acordo com habito consagrado, se disse, no comeo deste captulo, que a mercadoria valor de uso e

    valor de troca. Mas isto, a rigor, no verdadeiro. A mercadoria valor de uso ou objeto til e valor. Ela revela seu duplo carter, o que ela realmente, quando, como valor, dispe de uma forma de

    manifestao diferente da forma natural dela, a forma de valor de troca; ela nunca possui essa forma,

    isoladamente considerada, mas apenas na relao de valor ou de troca com uma segunda mercadoria

    diferente. (pg. 82)

    Medindo a grandeza de um valor Um valor de uso ou um bem s possui, portanto, valor, porque nele est corporificado,

    materializado, trabalho humano abstrato. Como medir a grandeza de seu valor? Por meio da quantidade

  • da substncia criadora de valor nele contida, o trabalho. A quantidade de trabalho por sua vez, mede-se pelo tempo de sua durao, e o tempo de trabalho, por fraes do tempo, como hora, dia etc. (pg. 60)

    Tempo de trabalho socialmente necessrio Se o valor de uma mercadoria determinado pela quantidade de trabalho gasta durante sua

    produo, poderia parecer que, quanto mais preguioso ou inbil um ser humano, tanto maior o valor de

    sua mercadoria, pois ele precisa de mais tempo para acab-la. Todavia, o trabalho que constitui a

    substncia dos valores o trabalho humano homogneo, dispndio de idntica fora de trabalho. [...] cada

    uma dessas foras individuais de trabalho se equipara s demais, na medida em que possua o carter de

    uma fora mdia de trabalho social e atue como essa fora mdia, precisando, portanto apenas do tempo

    de trabalho em media necessrio ou socialmente necessrio para a produo de uma mercadoria. Tempo

    de trabalho socialmente necessrio o tempo de trabalho requerido para produzir-se um valor de uso

    qualquer, nas condies de produo socialmente normais existentes e com o grau social mdio de

    destreza e intensidade do trabalho. (pg. 61)

    Grandeza de valor e fora produtiva A grandeza de valor de uma mercadoria permaneceria, portanto, constante, caso permanecesse

    tambm constante o tempo de trabalho necessrio para sua produo. Este muda, porm, com cada

    mudana na fora produtiva do trabalho. A fora produtiva do trabalho determinada por meio de

    circunstncias diversas, entre outras pelo grau mdio de habilidade dos trabalhadores, o nvel de

    desenvolvimento da cincia e sua aplicabilidade tecnolgica, a combinao social do processo de

    produo, o volume e a eficcia dos meios de produo e as condies naturais. (pg. 62)

    Outras observaes Uma coisa pode ser valor de uso sem ser valor. o que sucede quando sua utilidade para o ser humano no decorre do trabalho. Exemplos: o ar, a terra

    virgem, seus pastos naturais, a madeira que cresce espontaneamente na selva etc.

    Uma coisa pode ser valor de uso e produto do trabalho humano sem ser mercadoria Quem com seu produto, satisfaz a prpria necessidade, gera valor de uso, mas no mercadoria. Para criar

    mercadoria, mister no s produzir valor de uso, mas produzi-lo para outros, dar origem a valor de uso

    social.

    Nenhuma coisa pode ser valor se no objeto til; se no til, tampouco o ser o trabalho nela contido, o qual no conta como trabalho e, por isso, no cria nenhum valor. (pg. 62 e 63)

    2. O duplo carter do trabalho materializado na mercadoria

    Trabalho til O casaco valor de uso que satisfaz uma necessidade particular. Para produzi-lo, precisa-se de

    certo tipo de atividade produtiva, determinada por seu fim, modo de operar, objeto sobre que opera, seus

    meios e seu resultado. Chamamos simplesmente de trabalho til aquele cuja utilidade se patenteia no

    valor de uso do seu produto ou cujo produto um valor de uso. [...] Est, portanto, claro: o valor de uso

    de cada mercadoria representa determinada atividade produtiva subordinada a um fim, isto , um trabalho

    til particular. (pg. 63)

    Trabalho abstrato Pondo-se de lado o desgnio da atividade produtiva e, em conseqncia, o carter til do

    trabalho, resta-lhe apenas ser um dispndio de fora humana de trabalho. O trabalho do alfaiate e o do

    tecelo, embora atividades produtivas qualitativamente diferentes, so ambos trabalho humano produtivo

    do crebro, msculos, nervos, mos etc., e desse modo, so ambos trabalho humano.

    [...] o trabalho do alfaiate e o do tecelo so os elementos que criam valores de uso, casaco e

    linho, exatamente por fora de suas qualidades diferente. S so substncia do valor do casaco e do valor

    do linho quando se pem de lado suas qualidades particulares, restando a ambos apenas uma

    nica e mesma qualidade, a de serem trabalho humano. (pg. 67)

    [...] todo trabalho , de um lado, dispndio de fora humana no sentido fisiolgico, e, nessa qualidade de

    trabalho humano igual ou abstrato, cria o valor das mercadorias. Todo trabalho, por outro lado,

    dispndio de fora humana de trabalho, sob forma especial, para um determinado fim, e nessa qualidade

    de trabalho til e concreto, produz valores de uso. (pg. 68)

    3. A forma do valor ou o valor de troca

    Valor de troca como manifestao do valor As mercadorias, recordemos, s encarnam valor na medida em que so expresses de uma

    mesma substncia social, o trabalho humano; seu valor , portanto, uma realidade apenas social, s

    podendo manifestar-se, evidentemente, na relao social em que uma mercadoria se troca por outra.

    Partimos do valor-de-troca ou da relao de troca das mercadorias, para chegar ao valor a escondido.

    (pg. 69)

    Desenvolvimento da expresso de valor: forma simples do valor

  • Importa realizar o que jamais tentou fazer a economia burguesa, isto , elucidar a gnese da

    forma dinheiro. Para isso, mister acompanhar o desenvolvimento da expresso do valor contida na

    relao de valor existente entre as mercadorias, partindo da manifestao mais simples e mais apagada at

    chegar esplendente forma dinheiro. Assim, desaparecer o vu misterioso que envolve o dinheiro. (pg.

    70)

    A) a forma simples, singular ou fortuita do valor A mais simples relao de valor , evidentemente, a que se estabelece entre uma mercadoria e

    qualquer outra mercadoria de espcie diferente. A relao de valor entre duas mercadorias , portanto, a

    expresso mais simples de uma mercadoria. (pg. 70)

    20 metros de linho = 1 casaco

    Os dois plos da expresso do valor: a forma relativa do valor e a forma equivalente Duas mercadorias diferentes, A e B em nosso exemplo, linho e casaco representam, evidentemente, dois papis distintos. O linho expressa seu valor no casaco, que serve de material para expresso de valor.

    O papel da primeira mercadoria ativo; o desempenhado pela segunda, passivo. O valor da primeira

    mercadoria apresenta-se como valor relativo; ela se encontra sob a forma relativa do valor. A segunda

    mercadoria tem a funo de equivalente ou se acha sob a forma de equivalente. (pg. 70).

    Na mesma expresso do valor, a mesma mercadoria no pode aparecer, ao mesmo tempo, sob

    as duas formas. Elas se repelem polarmente. (pg. 71)

    Valor cristalizado na forma objeto Quando o casaco, como figura de valor, equiparado ao linho, iguala-se o trabalho inserido

    naquele com o contido neste. Por esse meio indireto, diz-se que o trabalho do tecelo, ao tecer valor, no

    possui nenhuma caracterstica que o diferencie do trabalho do alfaiate, sendo portanto, trabalho humano

    abstrato.[...] a fora humana de trabalho em ao ou o trabalho humano cria valor, mas no valor. Vem a

    ser valor, torna-se valor, quando se cristaliza na forma de um objeto. [...] na relao de valor com o linho,

    considera-se o casaco, por ser uma valor, qualitativamente igual ao linho, coisa da mesma natureza. O

    casaco, nessa relao, passa por coisa atravs da qual se manifesta o valor, ou que representa o valor por

    meio de sua forma fsica palpvel. O casaco, o corpo dessa mercadoria, um simples valor de uso. (Pg.

    72 e 73)

    Na relao de valor, em que o casaco constitui o equivalente do linho, a figura do casaco

    considerada a materializao do valor. O valor da mercadoria linho expresso pelo corpo da mercadoria

    casaco, o valor de uma mercadoria pelo valor de uso de outra. (pg. 74)

    Influncia da variao da produtividade sobre a expresso do valor I Varia o valor do linho, ficando constante o do casaco: o valor relativo da mercadoria A, isto

    , seu valor expresso na mercadoria B, aumenta ou diminui na razo direta do valor da mercadoria A,

    desde que permanea constante o valor da mercadoria B.

    II Constante o valor do linho; varivel, o do casaco: permanecendo constante o valor da mercadoria A, aumenta ou diminui seu valor relativo, seu valor expresso na mercadoria B, na razo

    inversa da variao do valor de B.

    III As quantidades de trabalho necessrias para a produo do linho e do casaco variam simultaneamente no mesmo sentido e na mesma proporo: permanecero constantes seus valores

    relativos.

    IV Os tempos de trabalho necessrios para produzir, respectivamente, linho e casaco, e, portanto, seus valores, variam simultaneamente na mesma direo, mas em grau diferente, ou em sentidos

    opostos: basta utilizar as hipteses compreendidas nos itens I, II e III. (pg. 76)

    Equivalente como expresso quantitativa de uma coisa Quando um tipo de mercadoria, casaco, serve de equivalente a outro tipo, linho, ostentando

    assim a propriedade de ser diretamente permutvel pelo linho, no se estabelece, em conseqncia, a

    proporo em que sero trocadas. Esta depende, dada a magnitude do valor do linho, da grandeza do valor

    o casaco. Desempenhe o casaco a funo de equivalente, e o linho, a de valor relativo, ou, ao contrrio, o

    linho, a de equivalente, e o casaco, a de valor relativo o valor do casaco continua, como dantes, determinado pelo tempo de trabalho necessrio sua produo, independente, portanto da forma do valor.

    Mas, quando a mercadoria casaco ocupa, na expresso de valor, a posio de equivalente, seu valor no

    adquiri nenhuma expresso quantitativa. Ao contrrio, passa a ser a expresso no de um valor, mas de

    uma coisa. (pg. 78)

    O carter enigmtico da forma equivalente

  • A forma relativa do valor de uma mercadoria (o linho) expressa seu valor por meio de algo

    totalmente diverso do seu corpo e de suas propriedades (o casaco); essa expresso est assim indicando

    que oculta uma relao social. O oposto sucede com a forma de equivalente. Ela consiste justamente em

    que o objeto material, a mercadoria, como o casaco, no seu estado concreto, expressa valor, possuindo de

    modo natural, portanto, forma de valor. Ora, as propriedades de uma coisa no se originam de suas

    relaes com outras, mas antes se patenteiam nessas relaes; por isso, parece que o casaco tem, por

    natureza a forma de equivalente, do mesmo modo que possui as propriedades de ter peso ou de conservar

    calor. Da o carter enigmtico da forma de equivalente, o qual s desperta a ateno do economista

    poltico, deformado pela viso burguesa, depois que essa forma surge, acabada, como dinheiro. (pg.80)

    Forma mercadoria

    Em todos os estgios sociais, o produto do trabalho valor de uso; mas s um perodo

    determinado do desenvolvimento histrico, em que se representa o trabalho despendido na produo de

    uma coisa til como propriedade objetiva, inerente a essa coisa, isto , como seu valor, que transforma o produto do trabalho em mercadoria.

    B) Forma total ou extensiva do valor A forma simples de valor converte-se, por si mesma, numa forma mais completa. Na verdade, ela

    expressa o valor de uma mercadoria A apenas numa mercadoria de outra espcie. Pouco importa qual

    seja a espcie dessa segunda mercadoria, se casaco, ferro ou trigo etc. medida que estabelece

    relaes de valor com esta ou aquela espcie de mercadoria, A adquire diversas expresses simples de

    valor. O nmero das possveis expresses de valor dessa nica mercadoria s limitado pelo nmero

    das mercadorias que lhe so diferentes, sua expresso singular de valor converte-se numa serie de

    expresses simples de valor, sempre amplivel. (pg. 84)

    z da mercadoria A= u da mercadoria B ou = v da mercadoria C, ou = w da mercadoria D,

    ou = x da mercadoria E ou = etc.

    (20 metros de linho = 1 casaco ou = 10 quilos de ch ou = 40 quilos de caf ou = 1 quarta de

    trigo, ou = 2 onas de ouro ou = tonelada de ferro ou = etc.)

    Forma extensiva do valor relativo

    O valor de uma mercadoria, do linho, por exemplo, est agora expresso em inmeros outros

    elementos do mundo das mercadorias. O corpo de qualquer outra mercadoria torna-se o espelho onde se

    reflete o valor do linho. Desse modo, esse valor, pela primeira vez, se revela efetivamente massa de

    trabalho humano homogneo. O trabalho que o cria se revela expressamente igual a qualquer outro.

    Atravs da fora extensiva em que manifesta seu valor, est o linho, agora, em relao social no s com

    uma mercadoria isolada de espcie diferente, mas tambm com todo o mundo das mercadorias.

    A forma de equivalente particular

    Cada mercadoria, casaco, ch, trigo, ferro etc., considerada equivalente na expresso do valor

    do linho e, portanto, encarnao de valor. A forma natural de cada uma dessas mercadorias uma forma

    de equivalente particular, junto a muitas outras. Do mesmo modo, as variadas, determinadas, concretas e

    teis espcies de trabalho, contidas nos corpos das diferentes mercadorias, consideram-se, agora,

    formas particulares de efetivao ou de manifestao do trabalho humano em geral.

    20 metros de linho=

    1 casaco

    10 libras de ch

    40 libras de caf

    1 de trigo 2 onas de ouro 1/2 tonelada de ferro

    x mercadoria A

    etc. mercadoria

    C) Forma geral do valor As mercadorias expressam, agora, seus valores de maneira simples, isto , numa nica

    mercadoria e de igual modo, isto na mesma mercadoria. uma forma de valor simples, comum a todas

    as mercadorias, portanto, geral.

    [...] a forma que aparece depois, C, expressa os valores do mundo as mercadorias numa nica e

    mesma mercadoria, adrede separada, por exemplo, o linho, e representa os valores de todas as

    mercadorias atravs de sua igualdade como linho. Ento o valor de cada mercadoria, igualado ao linho, se

    distingue no s do valor de uso dela mas de qualquer valor de uso e justamente por isso se exprime de

    maneira comum a todas as mercadoria. Da ser esta forma que primeiro relaciona as mercadorias, como

    valores, umas com as outras, fazendo-as revelarem-se, reciprocamente, valores de troca.

  • [...] o valor de uma mercadoria s adquire expresso geral porque todas as outras mercadorias

    exprimem seu valor atravs do mesmo equivalente, e toda nova espcie de mercadoria tem de fazer o

    mesmo.

    [...] igualadas, agora, ao linho, todas as mercadorias revelam-se no s qualitativamente iguais,

    como valores, mas tambm quantitativamente comparveis, como magnitudes de valor. (pg. 88)

    D) Forma dinheiro do valor A forma de equivalente geral , em suma, forma de valor. Pode, portanto ocorrer a qualquer

    mercadoria. Por outro lado, uma mercadoria s assume forma de equivalente geral por estar e enquanto

    estiver destacada como equivalente por todas as outras mercadorias. E s a partir do momento em que

    esse destaque se limita, terminantemente, a uma determinada mercadoria, adquire a forma unitria do

    valor relativo do mundo das mercadorias consistncia objetiva e validade social universal.

    Ento, mercadoria determinada, com cuja forma natural se identifica socialmente a forma equivalente,

    torna-se mercadoria-dinheiro, funciona como dinheiro. [...] Determinada mercadoria, o ouro, conquista

    essa posio privilegiada entre as mercadorias que figuram na forma B, como equivalentes singulares, e,

    na forma C, expressam, em comum, no linho seu valor relativo. Substituindo, na forma C, o linho pela

    mercadoria ouro, temos:

    20 metros de linho =

    1 casaco

    10 libras de ch

    40 libras de caf

    1q u art er de trigo

    1/2 tonelada de ferro

    x mercadoria A

    Forma preo A expresso simples e relativa do valor de uma mercadoria, por exemplo, o linho, atravs de uma

    mercadoria que j esteja exercendo a funo de mercadoria-dinheiro, por exemplo, por exemplo, o ouro,

    a forma preo. Da a forma preo do linho:

    20 metros de linho = 2 onas de ouro

    Ou, se, em linguagem monetria, 2 libras esterlinas for o nome de 2 onas de ouro,

    20 metros de linho = 2 libras esterlinas (pg. 92)

    O fetichismo da mercadoria: seu segredo

    Coisificao

    primeira vista, a mercadoria parece ser coisa trivial, imediatamente compreensvel. Analisando-

    a, v-se que ela algo muito estranho, cheio de sutilezas metafsicas e argcias teolgicas. (pg. 92)

    O carter misterioso que o produto do trabalho apresenta ao assumir a forma de mercadoria, donde

    provm? Dessa prpria forma, claro. A igualdade dos trabalhos humanos fica disfarada sob a forma da

    igualdade dos produtos do trabalho como valores; a medida, por meio da durao, do dispndio da fora

    humana de trabalho, toma a forma de quantidade de valor dos produtos do trabalho; finalmente, as

    relaes entre os produtores, nas quais se afirma o carter social dos seus trabalhos, assumem a forma de

    relao social entre os produtos do trabalho.

    A mercadoria misteriosa simplesmente por encobrir as caractersticas sociais do prprio

    trabalho dos homens, apresentando-as como caractersticas materiais e propriedades sociais inerentes aos

    produtos do trabalho. Atravs dessa dissimulao, os produtos do trabalho se tornam mercadorias, coisas

    sociais, com propriedades perceptveis e imperceptveis aos sentidos. [...] uma relao social definida,

    estabelecida entre os homens, assume a forma fantasmagrica relao entre coisas. Chamo a isso de

    fetichismo, que est sempre grudado aos produtos do trabalho, quando so gerados como mercadorias.

    inseparvel da produo de mercadorias.

    [...] os homens no estabelecem relaes entre os produtos do seu trabalho como valores por

    consider-los simples aparncia material de trabalho humano de igual natureza. Ao contrrio. Ao igualar,

    na permuta, como valores, seus diferentes produtos, igualam seus trabalhos diferentes, de acordo com sua

    qualidade comum de trabalho humano. Fazem isto sem o saber. (pg. 96)

    O reflexo religioso do mundo real s pode desaparecer quando as condies prticas das

    atividades cotidianas do homem representem, normalmente, relaes racionais claras entre os homens e

    entre estes e a natureza. A estrutura do processo vital da sociedade, isto , do processo da produo

    material, s pode desprender-se do seu vu nebuloso e mstico no dia em que for obra de homens

    livremente associados, submetida a seu controle consciente e planejado. (pg. 101)

  • Fetichismo: Personificacao

    As mercadorias no podem por si mesmas ir ao mercado e se trocar. Devemos, portanto, voltar a

    vista para seus guardies, os possuidores de mercadorias. As mercadorias so coisas e, conseqentemente,

    no opem resistncia ao homem. Se elas no se submetem a ele de boa vontade, ele pode usar de

    violncia, em outras palavras, tom-las. Para que essas coisas se refiram umas s outras como

    mercadorias, necessrio que os seus guardies se relacionem entre si como pessoas, cuja vontade reside

    nessas coisas, de tal modo que um, somente de acordo com a vontade do outro, portanto cada um apenas

    mediante um ato de vontade comum a ambos, se aproprie da mercadoria alheia enquanto aliena a prpria.

    Eles devem, portanto, reconhecer-se reciprocamente como proprietrios privados

    II - O processo de troca No com ss ps que as mercadorias vo ao mercado, nem se trocam por deciso prpria. [...]

    as pessoas, aqui, s existem, reciprocamente, na funo de representantes de mercadorias e, portanto, de

    donos de mercadorias. No curso de nossa investigao, veremos, em geral, que os papeis econmicos

    desempenhados pelas pessoas constituem apenas personificao das relaes econmicas que elas

    representam, ao se confrontarem.

    Para o proprietrio, a mercadoria que possui no tem nenhum valor de uso direto. Do contrrio,

    no a levaria ao mercado. Ela tem valor de uso para outros. Para ele, s tem diretamente um valor de uso,

    o de ser depositaria de valor e, assim, meio de troca. Por isso, quer alien-la por mercadoria cujo

    valor de uso lhe satisfaa. Todas tm, portanto, de mudar de mo. Mas essa mudana de mos constitui

    sua troca, e sua troca as relaciona umas com as outras como valores e realiza-as como valores. As

    mercadorias tm de realizar-se como valores, antes de poderem realizar-se como valores de uso.

    (Pg. 110)

    Dinheiro e magnitude de valor Sabe-se que ouro dinheiro, sendo, portanto, permutvel com todas as outras mercadorias, mas

    nem por isso se sabe quanto valem, por exemplo, 10 quilos de ouro. Como qualquer mercadoria, o

    dinheiro s pode exprimir sua magnitude de valor de modo relativo em outras mercadorias. Seu prprio

    valor determinado pelo tempo de trabalho exigido para suja produo e expressa-se na quantidade (que

    cristalize o mesmo tempo de trabalho) de qualquer mercadoria. A verificao da magnitude de seu valor

    relativo ocorre em sua fonte de produo, por meio de troca direta. Quando entra em circulao, como

    dinheiro, seu valor j est fixado.

    III O dinheiro ou a circulao das mercadorias

    1. Medida dos valores A primeira funo do ouro consiste em fornecer s mercadorias o material para exprimirem o

    valor ou em representar os valores das mercadorias como grandezas que tm a mesma denominao,

    qualitativamente iguais e quantitativamente comparveis. Assim, exerce a funo de medida universal dos

    valores e s por meio desta funo o ouro, a mercadoria equivalente especifica, se torna dinheiro. [...] O

    dinheiro, como medida de valor, a forma necessria de manifestar-se a medida imanente do valor das

    mercadorias, o tempo de trabalho.

    Preo A expresso do valor de uma mercadoria em ouro sua forma dinheiro ou seu preo. Uma equao

    apenas por exemplo, 1 tonelada de ferro=2 onas de ouro basta, agora, para representar o valor do ferro de maneira socialmente valida. Como forma de valor, o preo ou a forma dinheiro das mercadorias

    se distingue da sua forma corprea, real e tangvel. O preo a forma puramente ideal ou mental. [...] o

    responsvel pela mercadoria tem, por isso, de lhe emprestar a lngua ou de pr-lhe etiqueta, anunciando

    seu preo ao mundo exterior. (pg. 122)

    O preo a designao monetria do trabalho corporificado na mercadoria. (pg. 128)

    Dinheiro como estalo de preos As mercadorias, com preos determinados, apresentam-se sob a forma: a da mercadoria A = x de ouro, b

    da mercadoria B = z de ouro, c da mercadoria C = y de ouro etc., em que a, b e c representam quantidades

    determinadas das mercadorias A, B e; x, y, z, determinadas quantidades de ouro. Os valores das

    mercadorias transformaram-se, assim, em diferentes quantidades imaginrias de ouro, portanto em

    magnitudes de ouro, em grandezas homogneas, apesar da imensa variedade de formas corpreas.

    Comparam-se como se fosse essas diferentes quantidades de ouro e medem-se entre si, desenvolvendo- se

    a necessidade tcnica de relacion-las com uma quantidade fixa de ouro, a qual sirva de unidade de

    medida. Essa unidade se subdivide, depois, em partes alquotas, e se torna padro. Medida de valores e

    estalo dos preos so duas funes inteiramente diversas desempenhadas pelo dinheiro. medida dos

  • valores por ser a encarnao social do trabalho humano, estalo de preos, por ser um peso fixo de metal.

    (pg. 125)

    2. Meio de circulao

    a) A metamorfose das mercadorias O processo de troca realiza a circulao social das coisas, ao transferir as mercadorias daquelas para quem

    so no valores de uso para aqueles perante quem so valores de uso. Ao chegar ao destino em que serve

    de valor de uso, a mercadoria saiu da esfera da troca para entrar na esfera do consumo. S a primeira nos

    interessa aqui. Temos, portanto, de observar todo o processo do ponto de vista da forma, apenas, isto ,

    examinar a mudana de forma ou metamorfose das mercadorias, atravs da qual se processo a circulao

    social das coisas. (pg. 131)

    As mercadorias, tal como so, entram no processo de troca. Este produz uma bifurcao da mercadoria

    em mercadoria e dinheiro, estabelecendo entre estes uma oposio externa em que se patenteia a

    oposio, imanente mercadoria, entre valor de uso e valor. Na oposio externa, as mercadorias se

    confrontam, como valores de uso, com o dinheiro, como valor de troca. (pg. 131 e 132)

    Acompanhemos agora um possuidor qualquer de mercadorias, por exemplo, nosso velho conhecido

    tecelo de linho, cena do processo de intercmbio, ao mercado. Sua mercadoria, 20 varas de linho, tem

    preo determinado. Seu preo 2 libras esterlinas. Ele a troca por 2 libras esterlinas e, homem de velha

    cepa, troca as 2 libras esterlinas, por sua vez, por uma Bblia familiar do mesmo preo. O linho, para ele

    apenas mercadoria, portador de valor, alienado por ouro, sua figura de valor; e dessa figura volta a ser

    alienado por outra mercadoria, a Bblia, que, porm, como objeto de uso, deve ir para a casa do tecelo e

    l satisfazer s necessidades de edificao. O processo de troca da mercadoria opera- se, portanto, por

    meio de duas metamorfoses opostas e reciprocamente complementares a mercadoria converte-se em dinheiro e o dinheiro reconverte-se em mercadoria. As fases dessa transformao constituem atos do dono

    da mercadoria: venda, troca da mercadoria por dinheiro; compra, troca do dinheiro por mercadoria e

    unidade de ambas as transaes: vender para comprar.

    Contemplando agora o resultado final do negcio, o tecelo de linho possui uma Bblia, em vez de linho,

    em vez de sua mercadoria original outra do mesmo valor, mas de utilidade diferente. Do mesmo modo,

    ele se apropria de seus outros meios de subsistncia e de produo. (pg. 132)

    Para ele, todo o processo possibilitou-lhe apenas trocar o trabalho do seu trabalho por produto do

    trabalho alheio, enfim, permutar produtos.

    No processo de troca sucedem as seguintes mudanas de forma:

    Mercadoria Dinheiro Mercadoria (M-D-M)

    De acordo com o contedo material, o resultado de todo o processo troca de mercadoria (M) por

    mercadoria (M), circulao do trabalho social materializado, e, atingido esse resultado, chega o processo

    a seu fim.

    M D Primeira metamorfose da mercadoria ou venda. O salto do valor da mercadoria, do corpo da mercadoria

    para o corpo do ouro, , como o designei em outro lugar, o salto mortal da mercadoria. Caso ele falhe, no

    a mercadoria que depenada, mas sim o possuidor dela. (pg. 133)

    O vendedor substitui sua mercadoria por ouro; o comprador, seu ouro por mercadoria. O que se percebe

    o fenmeno de mercadoria e ouro, 20 metros de linho e 2 libras esterlinas, mudarem de mo e de lugar,

    isto , sua troca. Mas por que coisa se troca a mercadoria? Por sua prpria figura geral de valor. E o ouro?

    Por uma figura particular de seu valor de uso.

    Por que o ouro defronta-se com o linho como dinheiro? Porque o seu preo, 2 libras esterlinas ou sua

    denominao monetria, j o refere ao ouro como dinheiro. Ocorre o abandono da forma mercadoria, ao

    ser alienada a mercadoria, isto , no momento em que seu valor de uso atrai, de fato, o ouro que existia

    antes, de maneira puramente ideal, em seu preo. A realizao do preo, ou da forma ideal do valor da

    mercadoria, , por isso, a realizao simultnea e oposta do valor de uso ideal do dinheiro; a

    transformao da mercadoria em dinheiro , ao mesmo tempo, transformao de dinheiro em mercadoria.

    um processo nico encerrando duas operaes: venda, para o possuidor da mercadoria; compra, para o

    dono do dinheiro. Em outras palavras, venda compra,M D ao mesmo tempoD M. (pg. 135)

    A primeira metamorfose de uma mercadoria, a converso da forma mercadoria em dinheiro, sempre a

    segunda metamorfose oposta de outra mercadoria, a reconverso da forma dinheiro em mercadoria. (pg.

    137)

    D M Metamorfose segunda ou final da mercadoria: compra. Por ser a figura alienada de todas as outras

    mercadorias ou o produto da sua alienao geral, o dinheiro a mercadoria absolutamente alienvel. Ele

    l todos os preos ao revs e se reflete, assim, em todos os corpos das mercadorias como o material

  • ofertado sua prpria converso em mercadoria. Ao mesmo tempo, os preos, os olhos amorosos com

    que as mercadorias piscam ao dinheiro, mostram o limite de sua capacidade de transformao, isto , sua

    prpria quantidade. Como a mercadoria desaparece ao converter-se em dinheiro, no se reconhece no

    dinheiro como chegou s mos de seu possuidor ou o que transformou-se nele. Qualquer que seja sua

    origem, no cheira. Se por um lado representa mercadoria vendida, por outro representa mercadorias comprveis.

    D M, a compra, ao mesmo tempo venda, M D; a ltima metamorfose de uma mercadoria , por isso, simultaneamente, a primeira metamorfose de outra mercadoria. (pg. 137)

    As duas fases ou movimentos opostos da metamorfose das mercadorias formam um circuito:

    forma mercadoria, abandono da forma mercadoria, volta forma mercadoria. [...] as duas metamorfoses

    que formam o circuito de uma mercadoria constituem, ao mesmo tempo, as metamorfoses parciais

    opostas de duas outras mercadorias. (pg. 138)

    O conjunto de todos os circuitos constitui a circulao das mercadorias. (pg. 139)

    b) O curso do dinheiro A metamorfose por meio da qual se realiza o intercmbio dos produtos do trabalho,M D

    M exige que o mesmo valor, na forma de mercadoria constitua o ponto de partida do processo e volte ao mesmo ponto tambm na forma de mercadoria. Por isso, o movimento das mercadorias constitui um

    circuito. Por outro lado, a forma desse movimento impede o dinheiro de percorrer um circuito. O

    resultado o distanciamento constante do dinheiro de seu ponto de partida e no o retorno a esse mesmo

    ponto. Enquanto o vendedor mantiver consigo a figura transformada de sua mercadoria, o dinheiro, a

    mercadoria encontra-se na fase da primeira metamorfose ou apenas percorreu a primeira metade de sua

    circulao. Se o processo, vender para comprar, estiver completado, ento tambm o dinheiro estar outra

    vez afastado das mos de seu proprietrio original.

    Dinheiro como meio de circulao O curso do dinheiro a repetio constante e montona do mesmo processo. A mercadoria do

    lado do vendedor, o dinheiro nas mos do comprador, coma funo de meio de compra. Cumpre essa

    funo ao realizar o preo da mercadoria. Realizando-o, a mercadoria se transfere das mos do vendedor

    para as do comprador, ao mesmo tempo que o dinheiro sai das mos do comprador para as do vendedor,

    para repetir o mesmo processo com outra mercadoria. [...] o resultado da circulao das mercadorias, a

    reposio de uma mercadoria por outra, toma a aparncia de ter sido conseqncia no da mudana de

    forma das mercadorias, mas da funo, desempenhada pelo dinheiro, de meio de circulao, que pe a

    circular as mercadorias, inertes por natureza, transferindo-as das mos em que no so valores de uso para

    as mos em que so valores de uso. (pg. 142)

    Quanto dinheiro a esfera da circulao continuamente absorve. Toda mercadoria, ao entrar em circulao, mudando, pela primeira vez, de forma, entra para dela

    sair e ser substituda por outra. O dinheiro, ao contrrio, sendo meio de circulao, permanece na esfera

    da circulao, onde desempenha, continuamente, seu papel. Surge, assim, o problema de saber quanto

    dinheiro absorve, constantemente, essa esfera.

    Ocorrem todo dia num pas, ao mesmo tempo e em lugares diferentes, muitas metamorfoses

    parciais.

    De mercadorias, ou, em outras palavras, numerosas vendas e numerosas compras. Em seus

    preos as mercadorias j esto equiparadas a determinadas quantidades imaginrias de dinheiro. Ora, a

    forma direta de circulao que estamos observando confronta corporeamente dinheiro e mercadoria,

    aquele no plo da compra e est no plo da venda. Por conseguinte, o montante de meios de circulao

    exigido pela circulao do mundo das mercadorias j est determinado pela soma dos preos das

    mercadorias. De fato, o dinheiro representa apenas de modo real a soma de ouro j expressa idealmente

    na soma dos preos das mercadorias. As duas somas so, portanto, necessariamente iguais. (pg. 144)

    A quantidade total de dinheiro que funciona como meio de circulao, em cada perodo,

    determinada pela soma dos preos das mercadorias em circulao e pela velocidade com que se sucedem

    as fases opostas das metamorfoses. (pg. 148)

    c) A moeda. Os smbolos de valor A forma de moeda assumida pelo dinheiro decorre de sua funo de meio de circulao. O peso

    de ouro, idealizado no preo ou nome em dinheiro das mercadorias, tem de confront-las na circulao,

    objetivando em peas de ouro do mesmo nome, em moedas. A cunhagem, do mesmo modo que o estalo

    de preos, torna-se atribuio do Estado.

    Dinheiro simblico O prprio curso do dinheiro, ao separar o peso real do peso nominal da moeda, a existncia

    metlica desta de sua existncia funcional, traz latente a possibilidade de o dinheiro metlico ser

    substitudo, em sua funo de moeda, por senhas feitas de outro material, por meros smbolos. O papel de

  • dinheiro simblico desempenhado pelas peas de prata e cobre, substituindo moedas de ouro, encontra

    sua explicao histrica nos obstculos tcnicos cunhagem de fraes nfimas de ouro e de prata. [...]

    substituem o ouro nas faixas de circulao das mercadorias onde as moedas mudam de mos mais

    rapidamente, isto , nas faixas onde compras e vendas em pequena escala se renovam sem cessar. (pg.

    153)

    A existncia autnoma do valor de troca da mercadoria um elemento efmero que a faz ser

    imediatamente substituda por outra. Por isso, basta a existncia apenas simblica do dinheiro num

    processo em que passa ininterruptamente de mo em mo. Sua existncia funcional absorve por assim

    dizer a material. [...] necessrio unicamente que o smbolo do dinheiro tenha a validade social prpria

    do dinheiro, e esta adquire-a o papel que o simboliza, atravs do curso forado. (pg. 156)

    Papel-moeda O papel-moeda um smbolo que representa ouro ou dinheiro. O papel-moeda representa

    simbolicamente as mesmas quantidades de ouro em que se expressam idealmente os valores das

    mercadorias, e esta a nica relao existente entre ele e esses valores. O papel s smbolo de valor por

    representar quantidade de ouro, a qual quantidade de valor como todas as quantidades das outras

    mercadorias. O Estado lana em circulao pedaos de papel que levam impressas as respectivas

    denominaes monetrias, como 1 libra esterlina, 5 libras esterlinas, etc. Ao circularem realmente em

    lugar da quantia de ouro de mesma denominao, governam seu movimento apenas as leis do curso do

    dinheiro. (pg. 154)

    3. O dinheiro dinheiro a mercadoria que serve para medir o valor, e diretamente ou atravs de representante,

    serve de meio de circulao. Por conseguinte, ouro (ou prata) dinheiro. Desempenha o papel de

    dinheiro diretamente, quando tem de estar presente com sua materialidade metlica, como mercadoria

    dinheiro, portanto, e no idealmente, como sucede em sua funo de medida de valor, nem atravs de

    representao por smbolos, como ocorre em sua funo de meio de circulao. Desempenha o papel de

    dinheiro diretamente ou por meio de representante, quando configura com exclusividade o valor ou a

    nica existncia adequada do valor de troca das mercadorias em oposio existncia delas como valores

    de uso. (pg. 156)

    a) Entesouramento A rotao contnua das duas metamorfoses opostas das mercadorias ou o incessante revezamento

    da venda e da compra transparecem no curso ininterrupto do dinheiro, no seu movimento continuo na

    circulao. Interrompida a serie de metamorfoses, no se complementando as vendas com as compras,

    imobiliza-se o dinheiro ou transforma-se, como diz Boisguillebert, de mvel em imvel, de moeda

    corrente em dinheiro de modo geral.

    J nos primrdios do desenvolvimento da circulao das mercadorias desenvolvem-se a

    necessidade e a paixo de reter o produto da primeira metamorfose, a forma modificada da mercadoria, a

    crislida urea. Vendem-se mercadorias no para comprar mercadorias, mas para substituir a forma

    mercadoria pela forma dinheiro.

    De simples intermediao do metabolismo, essa mudana de forma torna-se fim em si mesma.

    Impede-se a imagem transformada da mercadoria de funcionar como forma absolutamente alienvel, de

    carter fugaz. O dinheiro petrifica-se, ento, em tesouro e o vendedor de mercadorias torna-se

    entesourador. (pg. 157)

    Para reter o ouro com dinheiro ou fator de entesouramento, mister impedi-lo de circular ou de

    servir de meio de compra, quando se transforma em artigo de consumo. [...] Mas s pode tirar bem

    dinheiro da circulao o que lhe d em mercadoria, quanto mais produz, mais pode vender. Diligncia,

    poupana e avareza so suas virtudes cardeais; vender muito, comprar pouco, a suma de sua economia

    poltica. (pg. 160)

    b) Meio de pagamento

    Dinheiro como meio de pagamento Na forma direta de circulao de mercadorias, que vimos at agora, a mesma grandeza de valor

    est sempre presente duplamente, mercadoria num plo e dinheiro no plo oposto. Os possuidores de

    mercadorias, portanto entravam em contato apenas como representantes de equivalentes reciprocamente

    presentes. Com o desenvolvimento da circulao de mercadorias, porm, desenvolvem- se condies em

    que a alienao da mercadoria separa-se temporalmente da realizao de seu preo. Basta indicar aqui a

    mais simples dessas condies. Uma classe de mercadorias requer mais, outra menos, tempo para ser

    produzida.

    A produo de diversas mercadorias depende das diversas estaes do ano. Uma mercadoria

    nasce no lugar de seu mercado, outra tem de viajar para um mercado distante. Assim, um possuidor de

  • mercadorias pode apresentar-se como vendedor antes que outro como comprador. Com constante

    repetio das mesmas transaes entre as mesmas pessoas, as condies de venda das mercadorias se

    regulam pelas suas condies de produo. Por outro lado, vende-se o uso de certas classes de

    mercadorias, por exemplo, uma casa, por determinado espao de tempo. Somente aps o decurso do prazo

    fixado recebe o comprador realmente o valor de uso da mercadoria. Ele a compra, portanto, antes de

    pag-la. Um possuidor de mercadorias vende mercadorias que j existem, o outro compra como simples

    representante do dinheiro ou como representante de dinheiro futuro. O vendedor torna-se credor, o

    comprador, devedor. Como a metamorfose da mercadoria ou o desenvolvimento de sua forma valor se

    altera aqui, o dinheiro assume outra funo. Converte-se em meio de pagamento. (pg. 162)

    Se observarmos agora a soma total do dinheiro em circulao durante dado perodo, verificamos

    que, dada a velocidade de circulao do meio circulante e dos meios de pagamento, ela igual soma dos

    preos das mercadorias a serem realizados mais a soma dos pagamentos vencidos menos os pagamentos

    que se compensam e, finalmente, menos o nmero de giros que a mesma moeda descreve, funcionando

    alternadamente como meio de circulao e como meio de pagamento. Assim, por exemplo, o campons

    vende seu gro por 2 libras esterlinas, que servem, desse modo, de meio circulante. No dia do

    vencimento, ele paga com elas o linho que lhe forneceu o tecelo. As mesmas 2 libras esterlinas

    funcionam agora como meio de pagamento. O tecelo, por sua vez, compra com elas uma Bblia e paga

    vista elas funcionam de novo como meio circulante etc. Mesmo sendo dados os preos, a velocidade de circulao de dinheiro e a economia dos pagamentos, j no coincidem a massa de dinheiro

    que gira e a massa de mercadorias que circula durante um perodo, durante um dia, por exemplo. Est em

    curso dinheiro que representa mercadorias retiradas h muito tempo de circulao. Circulam mercadorias

    cujo equivalente em dinheiro s aparece no futuro. Por outro lado, os pagamentos contrados cada dia e os

    pagamentos que vencem nesse mesmo dia so grandezas absolutamente incomensurveis.

    Dinheiro de crdito O dinheiro de crdito decorre diretamente da funo do dinheiro como meio de pagamento,

    circulando certificados das dividas relativas s mercadorias vendidas, com o fim de transferir a outros o

    direito de exigir o pagamento delas. (pg. 156)

    c) O dinheiro universal Ao sair da esfera interna de circulao, o dinheiro desprende-se das formas locais do padro de

    preos, moeda, moeda divisionria e signo de valor, e reassume a forma originria de barras dos metais

    preciosos. No comrcio mundial as mercadorias desdobram seu valor universalmente. Sua figura

    autnoma de valor se defronta, portanto, aqui tambm com elas sob a forma de dinheiro mundial. s no

    mercado mundial que o dinheiro funciona plenamente como mercadoria, cuja forma natural , ao mesmo

    tempo, forma diretamente social de realizao do trabalho humano em abstrato. Seu modo de existir

    ajusta-se ao seu conceito. Na esfera interna de circulao pode servir como medida de valor e, portanto

    como dinheiro, somente uma mercadoria. No mercado mundial, h dupla medida do valor, o ouro e a

    prata.

    Conforme sucede com sua circulao interna, todo pais precisa de um fundo de reserva para a

    circulao do mercado mundial. As funes das reservas entesouradas tm sua origem nas funes do

    dinheiro: nas internas, de meio de circulao e de meio de pagamento, e nas externas, de dinheiro

    universal. (pg. 171)

    Os pases onde a produo burguesa est bastante desenvolvida limitam as grandes reservas

    entesouradas e concentradas nos bancos ao mnimo exigido para o desempenho das funes especficas

    delas.