57
Como o barro nas mãos do oleiro. Jr 18,1-6 MATERIAL DE APOIO

MATERIAL DE APOIO - WordPress.com...de grande precariedade material e de crise espiritual e moral, para lhe comunicar em nome de Deus palavras de conversão, esperança e consolação

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

0

Como o barro nas mãos do oleiro. Jr 18,1-6

MATERIAL DE APOIO

1

2

ÍNDICE

MENSAGEM DO SANTO PADRE, O PAPA PARA O 55º DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO

PELAS VOCAÇÕES ....................................................................................................... 4

1- PASTORAL VOCACIONAL ........................................................................................ 7

1.1 – ACREDITAR NO VALOR E NA NECESSIDADE DO SERVIÇO DE ANIMAÇÃO

VOCACIONAL .............................................................................................................. 7

1.2 – PROMOVER A VOCAÇÃO UNIVERSAL À SANTIDADE ................................... 7

1.3 – O POVO COM MENTALIDADE VOCACIONAL .................................................. 8

1.4 – ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO DE ANIMAÇÃO VOCACIONAL ........................ 8

1.5 – A PASTORAL VOCACIONAL É SEIVA E ATIVIDADE ....................................... 9

1.6 – UNIR QUALIDADE E QUANTIDADE ................................................................ 10

1.7 – RESERVAR AS MELHORES FORÇAS PARA A ANIMAÇÃO VOCACIONAL . 10

1.8 – PASTORAL DE CONJUNTO E COORDENADORES ....................................... 11

1.9 – A ESPIRITUALIDADE DA ANIMAÇÃO VOCACIONAL PARA OS DIAS ATUAIS

................................................................................................................................... 11

1.10 – IMPORTÂNCIA DA ESPIRITUALIDADE PARA A ANIMAÇÃO VOCACIONAL

................................................................................................................................... 11

1.11 – GOSTO PELA VIDA ESPIRITUAL .................................................................. 11

1.12 – ELEMENTOS DE UMA ESPIRITUALIDADE PARA A ANIMAÇÃO

VOCACIONAL ............................................................................................................ 13

1.13 – PREPARAR-SE PARA AJUDAR QUEM SE PREPARA ................................. 13

1.14 – O DESAFIO DA CULTURA URBANA PARA A PASTORAL VOCACIONAL... 14

1.15 – UM MUNDO SEM FRONTEIRAS ................................................................... 14

1.16 - NECESSIDADE DE UM GUIA ......................................................................... 14

1.17 – A PASTORAL VOCACIONAL COMO SERVIÇO À VIDA ............................... 15

1.18 – VOCAÇÃO E TRABALHO ............................................................................... 16

1.19 – VOCAÇÃO A SOLIDADERIEDADE ................................................................ 16

1.20 – VOCAÇÃO À CORRESPONSABILIDADE ...................................................... 16

1.21 – VOCAÇÃO À AÇÃO ........................................................................................ 17

2 – VOCAÇÕES ............................................................................................................ 18

2.1 – CADA UM SEGUNDO SUA VOCAÇÃO NA IGREJA ........................................ 18

2.2 – O SERVIR SEGUNDO A PERSPECTIVA DE CRISTO .................................... 18

2.3 – O SACRAMENTO DA ORDEM ......................................................................... 19

2.4 – VIDA CONSAGRADA E SUAS FORMAS ......................................................... 19

2.5 – A VOCAÇÃO E A MISSÃO DOS DIÁCONOS................................................... 20

2.6 – A VOCAÇÃO LAICAL ........................................................................................ 21

2.7 – A VOCAÇÃO MATRIMONIAL E FAMILIAR ...................................................... 21

3

2.8 – A VOCAÇÃO MISSIONÁRIA............................................................................. 22

3 – DOCUMENTOS ....................................................................................................... 23

3.1 – CONTEMPLAI: "Mostra-me, ó amor de minha alma." (Ct 1,7) - Aos consagrados

e às consagradas sobre os sinais da beleza. Documento 41 .................................... 23

3.2 – Documento da cnbb 105 Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade Sal

da terra e luz do mundo (mt 5,13-14) ......................................................................... 26

3.3 – Documento da CNBB 107 Iniciação à vida Cristã: Itinerário para formar

discípulos missionários .............................................................................................. 27

3.4 – Exortação Apostólica Pós-Sinodal. VITA CONSECRATA: Do Santo Padre João

Paulo II Sobre a Vida Consagrada e Sua Missão na Igreja e no Mundo. Documento

147 ............................................................................................................................. 28

3.5 – Conselho Pontifício para a Família: Preparação para o acramento do

Matrimônio - Documento 150 ..................................................................................... 32

3.6 – Sínodo dos Bispos. XIV Assembleia Geral Ordinária. A Vocação e a Missão da

Família na Igreja e no Mundo Contemporâneo. ......................................................... 35

3.7 – Papa Francisco. Exortação Apostólica Gaudete Et Exsultate: Sobre o chamado

à Santidade no Mundo Atual. Documento 206 ........................................................... 39

3.8 – PASTORAL VOCACIONAL NO SÍNODO DIOCESANO E PDEP ..................... 47

3.9 – CIC (Catecismo da Igreja católica) .................................................................... 49

3.10 – Resumo do seminário para animadoras vocacional ........................................ 54

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 55

4

MENSAGEM DO SANTO PADRE, O PAPA PARA O 55º DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES

22 DE ABRIL DE 2018

“Queridos irmãos e irmãs!

No próximo mês de outubro, vai realizar-se a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que será dedicada aos jovens, particularmente à relação entre jovens, fé e vocação. Nessa ocasião, teremos oportunidade de aprofundar como, no centro da nossa vida, está a chamada à alegria que Deus nos dirige, constituindo isso mesmo «o projeto de Deus para os homens e mulheres de todos os tempos» (Sínodo dos Bispos – XV Assembleia Geral Ordinária, Os jovens, a fé e o discernimento vocacional, Introdução).

Trata-se duma boa notícia, cujo anúncio volta a ressoar com vigor no 55.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações: não estamos submersos no acaso, nem à mercê duma série de eventos caóticos; pelo contrário, a nossa vida e a nossa presença no mundo são fruto duma vocação divina.

Também nestes nossos agitados tempos, o mistério da Encarnação lembra-nos que Deus não cessa jamais de vir ao nosso encontro: é Deus conosco, acompanha-nos ao longo das estradas por vezes poeirentas da nossa vida e, sabendo da nossa pungente nostalgia de amor e felicidade, chama-nos à alegria. Na diversidade e especificidade de cada vocação, pessoal e eclesial, trata-se de escutar, discernir e viver esta Palavra que nos chama do Alto e, ao mesmo tempo que nos permite pôr a render os nossos talentos, faz de nós também instrumentos de salvação no mundo e orienta-nos para a plenitude da felicidade.

Estes três aspectos – escuta, discernimento e vida – servem de moldura também ao início da missão de Jesus: passados os quarenta dias de oração e luta no deserto, visita a sua sinagoga de Nazaré e, aqui, põe-Se à escuta da Palavra, discerne o conteúdo da missão que o Pai Lhe confia e anuncia que veio realizá-la «hoje» (cf. Lc 4, 16-21).

ESCUTAR

A chamada do Senhor – fique claro desde já – não possui a evidência própria de uma das muitas coisas que podemos ouvir, ver ou tocar na nossa experiência diária. Deus vem de forma silenciosa e discreta, sem Se impor à nossa liberdade. Assim pode acontecer que a sua voz fique sufocada pelas muitas inquietações e solicitações que ocupam a nossa mente e o nosso coração.

Por isso, é preciso preparar-se para uma escuta profunda da sua Palavra e da vida, prestar atenção aos próprios detalhes do nosso dia-a-dia, aprender a ler os acontecimentos com os olhos da fé e manter-se aberto às surpresas do Espírito.

Não poderemos descobrir a chamada especial e pessoal que Deus pensou para nós, se ficarmos fechados em nós mesmos, nos nossos hábitos e na apatia de quem desperdiça a sua vida no círculo restrito do próprio eu, perdendo a oportunidade de sonhar em grande e tornar-se protagonista daquela história única e original que Deus quer escrever conosco.

Também Jesus foi chamado e enviado; por isso, precisou de Se recolher no silêncio, escutou e leu a Palavra na Sinagoga e, com a luz e a força do Espírito Santo, desvendou em plenitude o seu significado relativamente à sua própria pessoa e à história do povo de Israel.

5

Hoje este comportamento vai-se tornando cada vez mais difícil, imersos como estamos numa sociedade rumorosa, na abundância frenética de estímulos e informações que enchem a nossa jornada. À barafunda exterior, que às vezes domina as nossas cidades e bairros, corresponde frequentemente uma dispersão e confusão interior, que não nos permite parar, provar o gosto da contemplação, refletir com serenidade sobre os acontecimentos da nossa vida e realizar um profícuo discernimento, confiados no desígnio amoroso de Deus a nosso respeito.

Mas, como sabemos, o Reino de Deus vem sem fazer rumor nem chamar a atenção (cf. Lc 17, 21), e só é possível individuar os seus germes quando sabemos, como o profeta Elias, entrar nas profundezas do nosso espírito, deixando que este se abra ao sopro imperceptível da brisa divina (cf. 1 Re 19, 11-13).

DISCERNIR

Na sinagoga de Nazaré, ao ler a passagem do profeta Isaías, Jesus discerne o conteúdo da missão para a qual foi enviado e apresenta-o aos que esperavam o Messias: «O Espírito do Senhor está sobre Mim; porque Me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-Me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar o ano favorável da parte do Senhor» (Lc 4, 18-19).

De igual modo, cada um de nós só pode descobrir a sua própria vocação através do discernimento espiritual, um «processo pelo qual a pessoa, em diálogo com o Senhor e na escuta da voz do Espírito, chega a fazer as opções fundamentais, a começar pela do seu estado da vida» (Sínodo dos Bispos – XV Assembleia Geral Ordinária, Os jovens, a fé e o discernimento vocacional, II.2).

Em particular, descobrimos que a vocação cristã tem sempre uma dimensão profética. Como nos atesta a Escritura, os profetas são enviados ao povo, em situações de grande precariedade material e de crise espiritual e moral, para lhe comunicar em nome de Deus palavras de conversão, esperança e consolação. Como um vento que levanta o pó, o profeta perturba a falsa tranquilidade da consciência que esqueceu a Palavra do Senhor, discerne os acontecimentos à luz da promessa de Deus e ajuda o povo a vislumbrar, nas trevas da história, os sinais duma aurora.

Também hoje temos grande necessidade do discernimento e da profecia, de superar as tentações da ideologia e do fatalismo e de descobrir, no relacionamento com o Senhor, os lugares, instrumentos e situações através dos quais Ele nos chama. Todo o cristão deveria poder desenvolver a capacidade de «ler por dentro» a vida e individuar onde e para que o está a chamar o Senhor a fim de ser continuador da sua missão.

VIVER

Por último, Jesus anuncia a novidade da hora presente, que entusiasmará a muitos e endurecerá a outros: cumpriu-se o tempo, sendo Ele o Messias anunciado por Isaías, ungido para libertar os cativos, devolver a vista aos cegos e proclamar o amor misericordioso de Deus a toda a criatura. Precisamente «cumpriu-se hoje – afirma Jesus – esta passagem da Escritura que acabais de ouvir» (Lc 4, 20).

A alegria do Evangelho, que nos abre ao encontro com Deus e os irmãos, não pode esperar pelas nossas lentidões e preguiças; não nos toca, se ficarmos debruçados à janela, com a desculpa de continuar à espera dum tempo favorável; nem se cumpre para nós, se hoje mesmo não abraçarmos o risco duma escolha. A vocação é hoje! A missão cristã é para o momento presente! E cada um de nós é chamado – à vida laical

6

no matrimônio, à vida sacerdotal no ministério ordenado, ou à vida de especial consagração – para se tornar testemunha do Senhor, aqui e agora.

Realmente este «hoje» proclamado por Jesus assegura-nos que Deus continua a «descer» para salvar esta nossa humanidade e fazer-nos participantes da sua missão. O Senhor continua ainda a chamar para viver com Ele e segui-Lo numa particular relação de proximidade ao seu serviço direto. E, se fizer intuir que nos chama a consagrar-nos totalmente ao seu Reino, não devemos ter medo. É belo – e uma graça grande – estar inteiramente e para sempre consagrados a Deus e ao serviço dos irmãos!

O Senhor continua hoje a chamar para O seguir. Não temos de esperar que sejamos perfeitos para dar como resposta o nosso generoso «eis-me aqui», nem assustar-nos com as nossas limitações e pecados, mas acolher a voz do Senhor com coração aberto. Escutá-la, discernir a nossa missão pessoal na Igreja e no mundo e, finalmente, vivê-la no «hoje» que Deus nos concede.

Maria Santíssima, a jovem menina de periferia que escutou, acolheu e viveu a Palavra de Deus feita carne, nos guarde e sempre acompanhe no nosso caminho.

Vaticano, 3 de dezembro – I domingo do Advento – de 2017.

Franciscus

7

1- PASTORAL VOCACIONAL

1.1 – ACREDITAR NO VALOR E NA NECESSIDADE DO SERVIÇO DE ANIMAÇÃO VOCACIONAL

O primeiro passo para se conquistar a excelência no serviço de animação vocacional é acreditar no seu próprio valor e compreender que ele extremamente importante para a Igreja e sociedade. É fato que, se as pessoas não acreditam e confiam na importância da Pastoral Vocacional nas Paróquias e Dioceses, nada será feito pela mesma. Acreditar no serviço de animação vocacional exige como consequência colocar a “mão na massa” e fazer algo pelo Serviço de Animação Vocacional, doando-se inteiramente através da própria vida nos trabalhos pastorais.

É comum ouvirmos do clero lamentações quanto a falta de Vocações em todos os âmbitos (Matrimônio, Sacerdotal, Religiosa e Laical), porém, muitos padres e bispos apenas ficam na função de “reclamantes”, inertes e aguardando que apenas a ação Divina resolva essa escassez de Vocações. O Papa Francisco sempre nos pede uma Igreja em saída, por isso cabe a nós, animadores e animadoras vocacionais (desde os leigos ao alto clero), sairmos da zona de conforto “em busca” de Vocações onde ainda não foi semeado, onde a Pastoral Vocacional ainda não ousou ir. Lembre-se da ordem de Cristo: “Avancem para águas mais profundas”!

1.2 – PROMOVER A VOCAÇÃO UNIVERSAL À SANTIDADE

Antes de promover as Vocações específicas (Matrimônio, Sacerdócio, Religiosa e Laical), o Serviço de Animação Vocacional deve promover entre os Vocacionados o chamado à santidade. Pois, antes de seguir qualquer caminho específico, cada batizado e batizada é chamado a ser Santo e Santa!

A Pastoral Vocacional tem como missão primeira esclarecer e conscientizar que à Santidade não é exclusividade de seletos grupos de homens e mulheres, mas é algo para cada um de nós!

Oliveira (2003, p. 66) afirma que “a vocação específica é somente o modo concreto que a pessoa encontra para viver o chamado universal à santidade”. Por isso, é importante que o Serviço de Animação Vocacional busque promover e conscientizar os jovens que o caminho para a vocação específica é buscar em primeiro lugar viver a santidade. Visto que não é possível viver vocações específicas, em especial para a vida consagrada e presbiteral, se o indivíduo é incapaz de viver as exigências da vocação batismal. Assim sendo, o caminho para uma autêntica animação vocacional não pode deixar de passara pela promoção da santidade.

É preciso esclarecer ainda que, os animadores e animadoras vocacionais devem buscar viver o chamado à santidade com suas vidas, visto que, a melhor maneira de se evangelizar é com o próprio testemunho. Pense bem, como promover a santidade para os jovens, se você como animador (a) vocacional não busca vive-la? Oliveira (2003) deixa claro que só corresponde fielmente à própria vocação poderá auxiliar outros a responder o chamado de Deus.

8

1.3 – O POVO COM MENTALIDADE VOCACIONAL

Ao promover-se a Santidade como vocação de todo batizado e batizada, começa-se a criar uma mentalidade vocacional nas Paróquias e Dioceses. Ao conscientizar-se que todas as pessoas são chamadas por Deus, cria-se uma cultura vocacional, pois todos sentem-se parte do processo. Oliveira (2003, p. 69) afirma que “somente um povo consciente de ser chamado por Deus pode tornar-se ao mesmo tempo um povo que convoca.”

Esta questão é extremamente importante para a animação vocacional, pois a escassez de vocações está diretamente ligada a falta de consciência que todos somos chamados, e, consequentemente, responsáveis pela vocação uns dos outros.

A mentalidade vocacional é sustentada através da oração, motivação e apoio a aqueles que se sentem chamados para uma vida comprometida com o Evangelho de Cristo. Fica evidente neste contexto a importância de uma comunidade orante pelas vocações, e não estamos falando de orações esporádicas, ou apenas no primeiro domingo de cada mês (voltado para as Vocações, como ocorrem em muitas Paróquias de nossa Diocese). É preciso uma constante entrega e dedicação as vocações através da oração com Fé e Esperança, pois, vocação – acima de tudo – é um ato de liberdade daquele ou daquela que é chamado (a), e para que esta “entrega” seja realizada, o discernimento para estes jovens deve ser algo sempre lembrado em nossas orações.

É fato que em Paróquias e Comunidades que não possuem um Serviço de Animação Vocacional estruturado dificilmente “brotarão” vocações, pois não há motivação para este fim, não há quem “impulsione” os membros a orarem pelas vocações. Porém, é fato também que as vocações lá existem, só não há quem cuide, regue-as e as ajude a crescer como uma flor.

1.4 – ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO DE ANIMAÇÃO VOCACIONAL

Segundo Oliveira (2003, p. 71), “querer montar uma equipe vocacional paroquial ou diocesana sem verificar se existe uma mentalidade vocacional, motivada pela catequese e promoção da santidade, é perder tempo”. Não é que devemos esperar chegar a este cenário para pensarmos em estruturar o Serviço de Animação Vocacional, mas que sem estes critérios os trabalhos pastorais ficam comprometidos.

É preciso que o processo vocacional esteja inserido em todas as Pastorais e/ou Movimentos, nos momentos de espiritualidade e atividades desenvolvidas na Igreja. Ou seja, a dimensão vocacional não deve aparecer apenas nos discursos da “Pastoral de Conjunto”, mas deve ser uma ideia dominante, a “estrela” que ilumina toda a ação eclesial. A Pastoral Vocacional deve ser considerada essencial pelas paróquias e dioceses, pois é através de seus trabalhos, que a Igreja “recebe” novos agentes transformadores (independente da vocação que seguem).

Ao organizar-se o Serviço de Animação Vocacional é preciso ter o foco sempre no serviço às vocações. A partir deste objetivo, a paróquia e a diocese não só será “servida” por vocações específicas (sacerdotes, religiosas e casais), mas também de leigos comprometidos com a obra Evangelizadora da Igreja como um todo. Destaca-se que a Pastoral Vocacional deve ser um “lugar em que as pessoas possam se encontrar”, não apenas para “indicar o espaço que cada um pode ocupar”, mas para promover a comunhão, trabalhando sempre em união de forças e no respeito do carisma de cada indivíduo para a edificação da Obra Redentora de Cristo.

9

1.5 – A PASTORAL VOCACIONAL É SEIVA E ATIVIDADE

“A Pastoral Vocacional não é somente um setor da evangelização. É um ar, um sangue ou seiva que invade todos os setores da vida apostólica”, afirma Goulart (1986, p. 224). Quando falamos de Pastoral Vocacional, logo referenciamos aos sacerdotes e religiosos, porém, já há um movimento em que a vocação matrimonial e laical começa a ser lembrada, como de fato, deve ser.

No entanto, ainda é comum paróquias e cristãos que promovam as vocações para o sacerdócio e vida religiosa. Este fenômeno se dá pela preocupação do Povo de Deus com a continuidade da Igreja, percebe-se que o povo se sente responsável pela formação nos seminários e conventos.

Diante deste cenário, surge a difícil missão do animador vocacional. Pois, além de ser a seiva, o sangue e o ar da Igreja, a Pastoral Vocacional é uma atividade com suas particularidades, o que exige a presença de alguém que lidere de maneira que os trabalhos “sigam em frente”. Assim sendo, espera-se dos promotores vocacionais:

1) Tornar conhecidas as missões dos leigos, famílias, sacerdotes e religiosas, promovendo orações individuais e em comunidade em favor de todas as vocações. Com destaque para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações;

2) Conscientizar a comunidade sobre a importância de todos promoverem as vocações;

3) Unir esforços para motivar e acompanhar outros jovens que busquem o discernimento vocacional;

4) Manter contato com os vocacionados, pois só assim é possível conhecer a realidade de cada um. Este acompanhamento é importantíssimo, pois os jovens sentem-se especiais e acolhidos pela Pastoral Vocacional;

5) Incentivar e motivar as famílias dos vocacionados, de maneira que elas sejam as primeiras incentivadoras e motivadoras dos jovens;

6) Promover encontros e retiros vocacionais em ambientes que favoreçam o processo de conhecimento e descoberta das vocações sacerdotais e religiosas, como em seminários e conventos;

7) Movimentar e estruturar o Centro e/ou Equipe Vocacional, de maneira que todos os membros sejam capazes de acolher e prestar apoio aos jovens vocacionados.

Consequentemente, o Centro e/ou Equipe Vocacional precisa: 1) Dispor de promotores (agentes) vocacionais com total entrega e

comprometimento com a importante missão de encaminhar e acompanhar as vocações; 2) Utilizar as Redes e Mídias Sociais para promover a Cultura Vocacional; 3) Animar os “tempos vocacionais”: mês vocacional, encontros paroquiais e

eventos vocacionais; 4) Manter contato com os lugares que são propícios para a promover-se as

vocações, como Seminários, Institutos, Casas de Retiro, Paróquias, Grupos de Jovens e Adolescentes, Escolas entre outros;

5) Contar com a participação de jovens que concluíram o processo de discernimento vocacional, de maneira que possam contribuir para a melhoria do processo, além de testemunharem para os demais a importância da descoberta vocacional;

6) Rever os cronogramas, propostas e estrutura do processo de discernimento vocacional. Lembre-se que estamos em um “novo tempo”, e a maneira de se falar de vocação não pode ser a mesma adotada há 15 anos atrás.

10

1.6 – UNIR QUALIDADE E QUANTIDADE

O que é mais importante: quantidade de vocações despertadas ou a qualidade? Esta é uma pergunta que tem como resposta os dois pontos, visto que a Igreja não pode negar que a quantidade é importante, porém, a qualidade deve estar sempre presente. Um critério não exclui ou suprime o outro.

O número não pode ser para a Pastoral Vocacional uma obsessão, porém, ele só será significativo se adotarmos uma metodologia e pedagogias adequadas para nortear o processo de discernimento vocacional. É importante ressaltar ainda que, o número de jovens que discernem para o sacerdócio ou as jovens que escolhem a vida religiosa não podem ser determinantes para definir se houve sucesso ou não no processo de discernimento. Devemos sempre nos lembrar que, se um jovem conclui o processo e engaja-se com seriedade e responsabilidade nos trabalhos pastorais da Igreja, o processo obteve sucesso e resultados positivos.

Reforçamos assim que, os números analisados “sozinhos” não podem ser o determinante de sucesso e/ou falha, mas todo o conjunto, ou seja, levando em consideração a qualidade das vocações despertadas.

Quando o Serviço de Animação Vocacional busca apenas a quantidade, é fato que uma ou outra vocação pode ser deixada “de lado”. Este fato ocorre também quando busca-se exclusivamente a qualidade. Lembre-se que a Pastoral Vocacional deve estar aberta a “ouvir” todos os jovens, seus anseios, seus sonhos e projetos, caso contrário o trabalho empregado não obterá resultados positivos, e estes jovens podem acabar se afastando da nossa Igreja.

É fato que não podemos abrir mão de alguns critérios. O acompanhamento e o discernimento vocacionais devem ser realizados com toda seriedade e, em muitos casos, com paciência. A CNBB afirma em seu Guia pedagógico da Pastoral Vocacional (página 42) que “o fato de que alguém tenha dúvidas ou busque esclarecimentos já se justifica a necessidade do ‘discernimento vocacional’”. Ultimamente ocorre de muitas dioceses realizar o processo de acompanhamento e discernimento vocacional de maneira superficial, o que acaba por “minar” as vocações, ou gerando “vocações pobres”, em que os jovens não têm plena certeza do caminho escolhido.

Enfim, é preciso um zelo na condução dos jovens que buscam o apoio da Pastoral Vocacional para encontrar seu “lugar no mundo”. Lembre-se que nosso objetivo não é apenas “abastecer a Igreja” com novas vocações, mas a sociedade através de profissionais éticos e comprometidos com o Evangelho.

1.7 – RESERVAR AS MELHORES FORÇAS PARA A ANIMAÇÃO VOCACIONAL

O trabalho vocacional é extremamente importante para a vida e continuidade da Igreja. Não podemos nos esquecer nunca que os jovens são o futuro da Igreja. Assim sendo, na Animação Vocacional deverão estar pessoas santas e capacitadas. Experientes animadores como Russolillo, acreditam que as pessoas mais exemplares e competentes de uma comunidade que vem compor o Serviço de Animação Vocacional.

Portanto, ao se organizar o Serviço de Animação Vocacional nas paróquias e dioceses, é preciso buscar convidar e atrair pessoas que sejam destaques positivos na comunidade, capacitadas e com perfil inovador, além de disponibilidade e compromisso para com esta importante missão na Igreja. Assim sendo, conforme afirma Oliveira (2003, p. 75), é preciso a coragem de párocos e bispos para “liberar” pessoas para dedicarem-se à Pastoral Vocacional. Do contrário, corre-se o risco de ter uma Animação

11

Vocacional “bonita no papel”, mas ineficiente na prática, pois as pessoas não são comprometidas e/ou não estão disponíveis para realmente trabalharem pelas vocações. 1.8 – PASTORAL DE CONJUNTO E COORDENADORES

O Concílio Vaticano II incentivou a “pastoral de conjunto”, a fim de que os trabalhos pastorais da Igreja sejam organizados, planejados e bem distribuídos, conforme afirma Goulart (1986, p. 136). Ou seja, a Igreja espera e nos motiva a unir forças para a ação Evangelizadora, de maneira que cada pastoral e/ou movimento, empreende o que de melhor faz para um bem comum. Podemos resumir a Pastoral de Conjunto na sinergia na busca de conquistar almas para Deus.

Assim sendo, espera-se que o coordenador anime a ação pastoral e motive os agentes a trabalharem unidos, de maneira harmoniosa e com objetivos em comum. Pois, “quem caminha junto, produz frutos bem melhores e mais duradouros”, conforme afirma Goulart (1986, p. 136).

1.9 – A ESPIRITUALIDADE DA ANIMAÇÃO VOCACIONAL PARA OS DIAS ATUAIS

Nos dias atuais espera-se que tenhamos uma Espiritualidade que nos mova para fora do comodismo e medos e mudanças. Uma Fé fundada em Cristo Ressuscitado, para que cada indivíduo batizado esteja constantemente motivado a enfrentar e superar os desafios dos dias atuais. Em resumo, precisamos de uma Espiritualidade que nos faça profetas e profetisas do “novo tempo” evangelizando muito além das palavras, mas sim com o testemunho através de nossas próprias vidas.

1.10 – IMPORTÂNCIA DA ESPIRITUALIDADE PARA A ANIMAÇÃO VOCACIONAL

Oliveira (2003, p. 138) afirma que sabendo-se que a Espiritualidade como Vida totalmente conduzida pelo Santo Espírito, é possível afirmar com convicção plena que ela é indispensável para a animação vocacional.

Auxiliar os cristãos e cristãs a responder o chamado de Deus é a essência da Pastoral Vocacional, porém, sem ser dinamizado e aprofundado no Espírito Santo este processo torna-se inútil e sem um resultado positivo.

A Espiritualidade ajuda acima de tudo na estruturação e sustentação do Vocacionado em todo o processo de discernimento vocacional. Por isso, é importantíssimo que busque se promover momentos profundos de Espiritualidade, inclusive de silêncio para que o jovem possa interagir com a Santíssima Trindade.

1.11 – GOSTO PELA VIDA ESPIRITUAL

Há em minha história alguns acontecimentos importantes que marcaram o início e o progresso na vida espiritual.

Mesmo uma criança bem preparada pode viver com grande intensidade o encontro com Jesus na confissão e na comunhão. Trata-se de criar as condições ideais, tanto para o adulto, quanto para a criança. É necessário um clima de recolhimento, e é importante ter consciência do que se faz. Colocar-se conscientemente na presença d’Aquele que se dá a nós.

O papel dos pais e dos formadores é determinante quando se é jovem. Mais tarde, tudo depende de nós, da nossa capacidade de interiorização.

Lembro-me de como minha mãe me preparou para a primeira confissão. Ensinou-me a passar do sentimento de culpa (fato psicológico) ao sentido do pecado (visão de fé e de concepção cristã da vida). Acompanhou-me à igreja; começou por se

12

confessar, ela em primeiro lugar, e apresentou-me o confessor. Depois, me ajudou a fazer a ação de graças. E continuou me dando essa assistência até quando me julgou capaz de sozinho, fazê-la bem.

Jamais poderei me esquecer da sua atenção em criar um clima próprio para a minha Primeira Comunhão. Eu tinha 11 anos. Mesmo naquele tempo, a Primeira Comunhão era um acontecimento: era impossível evitar a dissipação no meio da multidão. Mamãe me acompanhou com cuidado.

Durante a quaresma, ela me tinha levado três vezes à confissão. Disse-me, muitas veze, palavras que marcaram positivamente a minha relação com Deus: “Meu João, Deus reserva para você um grande presente. Procure se preparar bem, se confessar. Arrependa-se de tudo, não esconda nada ao confessor e prometa a Deus que você será melhor no futuro”. Sua assistência industriosa me ajudou realmente. Em casa, me fazia rezar, ler um bom livro, me dava conselhos úteis.

Na manhã da festa não me deixou falar com ninguém. Acompanhou-me ao altar. Fez comigo a preparação e o agradecimento. Naquele dia, ela criou em casa um clima especial, com momentos de recolhimento, leitura, oração. Depois, disse-me palavras que ficariam gravadas para sempre no meu coração: “Querido, este é um grande dia para você. Estou certa de que Deus realmente tomou posse do seu coração. Prometa-lhe agora fazer todo o possível para se conservar bom por toda a vida...”.

Aquela intensa experiência espiritual teve para mim, criancinha ainda, um efeito positivo e gerador de amadurecimento. Tomei consciência de muitas coisas. Cresci no modo de julgar os valores. Houve uma melhoria visível em meu comportamento e em meus relacionamentos.

O fato determinante da minha história interior aconteceu às vésperas dos meus 15 anos. Foi quando tive a felicidade de encontrar um mestre de vida, que me abriu os olhos do espírito: o padre João Calosso.

A elegeu devo se passe de uma fé genérica, superficial, à vida espiritual. Aquele bom padre cuidou de mim com generosidade, deu-me u’a mão para resolver os problemas de estudo. Senti que me queria bem e que podia confiar nele.

Foi uma aventura intensa e nova; entendi o que quer dizer ter um grande amigo, um pai cheio de amor forte e espiritual. Eu me coloquei assim em suas mãos. Fiz com que ele me conhecesse por inteiro: cada palavra, cada pensamento, cada ação. Dessa forma, ele pôde me guiar com fundamento.

Introduziu-me numa dimensão antes insuspeitada. Fez-me encontrar o Senhor dentro de mim, bem no fundo da minha alma. A partir daquele tempo comecei a gostar da vida espiritual, pois antes agia materialmente, como uma máquina que faz qualquer coisa sem saber a razão dela.

Experimentei o que significa ter a orientação estável de um amigo fiel de alma, coisa que, antes, eu não tinha. Padre Calosso não só corrigiu alguns dos meus erros de perspectiva, mas me encorajou a fazer bem e regularmente a confissão, me instruindo sobre o modo de me aproximar da Eucaristia com alegria e com fruto.

Ensinou-me a dedicar, todos os dias, um pouco de tempo à meditação, com ajuda de uma leitura espiritual. Eu ia vê-lo frequentemente e passava muitas horas com ele. A meditação, a leitura da Palavra de Deus e dos mestres espirituais, a conversa com o padre Calosso, me abriram os olhos, me tornaram consciente. Introduziram-me na compreensão profunda das coisas, me ensinaram a olhar para o alto, a individuar as raízes do mal no meu espírito para arrancá-las e experimentar uma gratificante liberdade interior. Foi uma experiência sublime e decisiva.

13

1.12 – ELEMENTOS DE UMA ESPIRITUALIDADE PARA A ANIMAÇÃO VOCACIONAL

Escuta da Palavra de Deus: é o alimento que abastece muitas vezes o jovem Vocacionado em seu dia a dia. É através da Palavra que o jovem “escuta” o chamado de Deus. É preciso criar um ambiente em que a Palavra de Deus seja refletida e receba o devido valor;

Participação na Liturgia: a participação ativa dos jovens na Liturgia acrescenta é muito no processo de discernimento vocacional. É importante o jovem participar das Celebrações Eucarísticas e acompanhar com zelo toda a Liturgia, pois Deus “fala” através de cada parte da Santa Missa de maneira diferente para cada jovem;

O espírito de oração: é preciso nutrir entre os Vocacionados uma cultura de intensa Oração pessoal e em comunidade. Uma comunidade orante suscita Vocações. Oliveira (2003, p. 143) afirma que “a Oração mantém a pessoa aberta aos apelos e pronta a realizar a vontade de Deus”;

O compromisso: a participação ativa na Comunidade local e o engajamento nos trabalhos pastorais na Igreja não podem ser “coisas” secundárias na espiritualidade vocacional. E isso vale tanto para os animadores vocacionais quanto para os vocacionados. Somente aquele que participa ativamente e é responsável é que pode se afirmar que está, de fato, realizando um processo de discernimento vocacional. Visto que, aquele (a) que começa a viver intensamente este processo, começa a compreender sua responsabilidade na Obra Evangelizadora, e assume seu “papel” na comunidade.

1.13 – PREPARAR-SE PARA AJUDAR QUEM SE PREPARA

É comum no Serviço de Animação Vocacional uma preocupação apenas com os vocacionados ao sacerdócio e vida religiosa, porém, não podemos nos esquecer dos leigos e dos jovens que sentem o chamado para o matrimônio. Goulart (1986) afirma que não podemos pensar e preparar encontros vocacionais voltados apenas para vocações de especial consagração, é preciso organizar e motivar os jovens que demonstram desejo de seguir outras vocações, pois assim poderão assumir conscientemente e com alegria sua função na Igreja.

É fato também que os leigos se preocupam com a formação dos sacerdotes e religiosos, visto que, nas paróquias é comum a motivação para que jovens assumam esta importante missão em nossa Igreja. Assim sendo, é necessário que o Serviço de Animação Vocacional se preocupe com que os espaços ocupados pelos que são chamados a vocações de especial consagração sejam propícios a oração e contemplação, e, se possível, que encontros e retiros sejam realizados nestes espaços, de maneira que os vocacionados possam ter contato com parte da rotina vivida por sacerdotes, religiosos e religiosas.

E quem não gostaria de consagrar todas as suas horas exclusivamente ao anúncio direto da palavra de Jesus? Claro que todos nós, conforme afirma Goulart (1986), porém, é impossível que cada um de nós consiga dedicar-se a esta missão. É por esta razão que os ministros ordenados e religiosos assumem a missão em nome de cada cristão.

Há ainda a relação entre leigos e religiosos que merece destaque, enquanto o primeiro grupo exige da Igreja que os sacerdotes e consagrados sejam bem orientados e possuam uma formação de qualidade, estes por sua vez, devem responder com dedicação aos leigos, promovendo a vocação laical, de maneira que todos os campos sejam atingidos pela ação missionária e evangelizador da Igreja.

14

1.14 – O DESAFIO DA CULTURA URBANA PARA A PASTORAL VOCACIONAL

Segundo Oliveira (2002), a causa da baixa no índice de “vocações urbanas” despertar dá-se pela dificuldade da Pastoral Vocacional de falar e entender a linguagem de uma juventude que se “transforma” com uma velocidade impressionante. É preciso que mudemos nosso pensamento de uma Pastoral Rural, pensada para pessoas de cultura simples e que tem a Fé como principal “combustível”, para uma Pastoral Urbana, “antenada” a linguagem e pensamentos dos jovens conectados, agitados e – muitas vezes – complexos.

Mas o que é Cultura? Oliveira destaca que, conforme o Concílio Vaticano II, cultura é o “jeito de viver” de determinado grupo, desde a maneira de pensar e agir à maneira que se comportam na sociedade como um todo.

É importante destacar que cabe aos agentes da Pastoral Vocacional atentar-se as maneiras que os “jovens urbanos” se manifestam, demonstram e apresentam suas ideias, seus anseios, é preciso ceder um “espaço” para que eles possam ser agentes ativos no processo e não apenas expectadores. Esta é, uma das principais características do pastoreio urbano com jovens: a participação efetiva dos indivíduos no processo para “um todo”.

1.15 – UM MUNDO SEM FRONTEIRAS

É preciso que os agentes da “nova” Pastoral Vocacional estejam cientes que os vocacionados da região urbana possuem uma vida agitada, não no sentido de uma “vida bagunçada”, mas sim por possuírem preocupações como faculdade, trabalho, futuro profissional, etc. Os jovens do círculo urbano não possuem a mesma calma que o “jovem do campo”, há uma disparidade entre o ritmo de vida de um e do outro. Essa diferença dá-se inclusive através do uso das Redes Sociais, que permite ao “jovem urbano” conhecer, aprender e viver experiências sem sair do lugar.

Oliveira (2002) afirma que devido a estas características, estes jovens buscam processos mais práticos, fugindo de regras sólidas (comuns no âmbito rural). Ou seja, o “jovem urbano” espera da Pastoral Vocacional Encontros e Retiros flexíveis, que inovem, que “fujam da rotina” e que promovam sua criatividade em todos os momentos. O jovem espera ser surpreendido, pois acredita que a cultura de um mundo sem fronteiras e altamente inovador é “comum” para todos – inclusive os Agentes da Pastoral Vocacional.

1.16 - NECESSIDADE DE UM GUIA

É preciso um guia para caminhar na vida espiritual. Estou convencido disso. Mesmo quando se tem a sorte de crescer num contexto educativo ideal, se vocês quiserem passar a um nível espiritual superior, é preciso uma relação interpessoal especial.

Eu provei isso pessoalmente: sem direção espiritual, certamente não teria realizado nada de bom. E constatei-o também com os melhores jovens que o Senhor me fez encontrar.

A primeira vez que falei com Domingos Sávio, por exemplo, intuí aquele menino um ânimo todo ele segundo o Espírito do Senhor, e fiquei muito admirado ao considerar o trabalho operado pela graça divina em idade tão tenra. Ele teve pais admiráveis, professores ótimos. Havia crescido num ambiente sadio. Além disso, revelava uma maturidade de julgamento e de reflexão superior à sua idade.

15

Inseriu-se com entusiasmo e operosidade na comunidade do Oratório. Assim, os estímulos positivos oferecidos pelo ambiente encontraram nele um terreno fértil.

A escuta e a meditação da Palavra de Deus afinaram a sua interioridade. Até o dia em que algumas palavras ouvidas numa prédica o tocaram no seu mais profundo e fizeram alastrar um incêndio de amor de Deus. Foi uma experiência anterior envolvente, intensíssima, autenticamente espiritual. Então, ele se sentiu impulsionado a se dar por inteiro e para sempre a Deus.

Contudo, apesar dessa iluminação interior, estou certo que, sem um guia espiritual, teria caminhado pouco.

Domingos foi ajudado pela direção espiritual a alcançar um equilíbrio entre a interioridade e vida ativa, entre oração e serviço, entre amor de Deus e amor aos irmãos, entre contemplação e ação apostólica. E se tornou um modelo estimulante para muitos jovens, uma referência importante para a espiritualidade dos jovens apóstolos e dos animadores.

Talvez vocês me dirão que não é fácil encontrar um diretor espiritual capaz. É verdade. Mas eu creio que não são, em primeiro lugar, as qualidades do guia que garantem os resultados. É a nossa atitude interior de humildade, de entrega, de docilidade e de obediência que permite ao Espírito Santos atuar com eficácia. Ao lado do desejo e da vontade firme de caminhar espiritualmente.

Foi assim para Domingos Sávio, que se entregou inteiramente a mim desde o nosso primeiro encontro. Foi assim para Francisco Besucco, um simples pastor das montanhas de Cúneo que, entrando na comunidade de Oratório, veio me dizer: “Assim como eu quero pôr a alma em suas mãos, assim também desejo-lhe manifestar toda a minha consciência, para que me conheça melhor e tenha a possibilidade de me dar com mais segurança os conselhos que possam melhor servir para salvar minha alma.”

Essa entrega confiante e obediente, essa revelação pessoal humilde e sincera, segundo os grandes mestres de espiritualidade, é o pressuposto indispensável para o progresso espiritual.

De fato, quando existem tais atitudes, o Espírito Santos, que é o verdadeiro artífice do nosso caminho interior, se serve também de pessoas simples e modestas para nos oferecer as diretrizes certas.

Eu mesmo fiz experiência disso. Durante os estudos nas escolas públicas de Chieri, fui realmente ajudado pelo confessor a evitar certas experiências mortificantes e a crescer espiritualmente. O estímulo maior, porém, eu recebi de um colega mais jovem do que eu, Luís Comollo. Seu estilo de vida, sua fé convicta, seus raciocínios, foram mais eficazes que qualquer pregação. Com ele aprendi a viver como cristão. Graças às suas sugestões superei todas as minhas dúvidas vocacionais.

Em meu posterior trabalho de educador, eu me servi muitas vezes da colaboração dos jovens ara o cuidado e acompanhamento pessoal de alguns de seus companheiros mais dissipados. Escolhia jovens luminosos, animados pelo desejo de totalidade cristã, abertos com todos, generosos, atentos, a evitar compromissos e mediocridade. Foram guias espirituais válidos, obtendo resultados que me teriam sido impossíveis.

1.17 – A PASTORAL VOCACIONAL COMO SERVIÇO À VIDA

Sabendo que nosso primeiro chamado é à Vida, espera-se que os animadores e animadoras vocacionais demonstrem e conscientizem aos jovens do “novo tempo”, que todo o vocacionado deve proteger e valorizar a integridade da vida humana. Deixando claro que outros jovens não são apenas “concorrentes” no mercado de trabalho, mas sim pessoas que podem contribuir umas com as outras no processo de

16

desenvolvimento humano e espiritual, de maneira que a prioridade não seja apenas conquistar recompensas financeiras, mas sim o servir ao próximo.

Ou seja, espera-se da Pastoral Vocacional que forme jovens conscientes da responsabilidade social, que cada garoto e garota podem, muitas vezes, exercer funções não muito atraentes para a sociedade capitalista, porém, muito mais significativas, gratificantes e enriquecedoras para aqueles que assumem o “servir” no dia a dia.

1.18 – VOCAÇÃO E TRABALHO

Espera-se da Pastoral Vocacional que apresente aos jovens que todos são chamados a ser colaboradores da criação de Deus, através do trabalho. De maneira que todo trabalho deveria ser visto em função da realização da vocação humana de ser “cocriador” com o Criador (cf. gn 1,26-31). Sob esta perspectiva, Oliveira (2002, p. 54) afirma:

“[...] o trabalho não pode ser visto exclusivamente como meio de ganhar dinheiro. Precisa ser encarado como instrumento de comunhão e participação. Por meio dele o ser humano deve ser capaz de criar, ou seja, de dar sua contribuição concreta para que neste mundo se estabeleça um clima de justiça, paz, igualdade e fraternidade.”

Assim sendo, cabe a Pastoral Vocacional, percorrer dois caminhos com os jovens: o primeiro deixando claro que a sociedade produzir cada vez mais com menos, de maneira que o aspecto humano é irrelevante, visto que apenas os lucros são a prioridade; o segundo caminho é o de ajudar cada vocacionado e vocacionada a compreender que a escolha da profissão não deve basear-se apenas no aspecto financeiro (qual trabalho paga melhor), mas sim na busca de qual profissão proporciona que o jovem colabore ,de forma mais efetiva, na ajuda aos semelhantes para que todos tenham as mesmas oportunidades.

1.19 – VOCAÇÃO A SOLIDADERIEDADE

Diante de uma sociedade cada vez mais competitiva, em que o mais forte ou o mais inteligente sempre é considerado o “vencedor”, cabe a Pastoral Vocacional Urbana assumir a função de educar os jovens para a vocação à solidariedade. Ou seja, demonstrar que Deus espera que cada um de nós sejamos solidários, que nos preocupemos uns com os outros, deixando claro que todo ser humano tem que se relacionar (e se preocupar) com as demais pessoas.

Muito além do “ser solidário”, espera que a Pastoral Vocacional Urbana evidencie que o jovem vocacionado deve buscar inspirar-se em Cristo que a todo momento olhava para os marginalizados, esquecidos e promovia a partilha dos bens para que todos tivessem (ao menos) o mínimo para sobreviver.

1.20 – VOCAÇÃO À CORRESPONSABILIDADE

Oliveira (2002, p, 57) afirma que “toda a ação da PV pode ser vista sob a ótica da corresponsabilidade.” É fato que nos dias atuais é comum ver pessoas (muitas delas cristãs) que simplesmente “lavam as mãos” diante das injustiças, exclusões e preconceitos da sociedade moderna. Ajudar um jovem em seu processo de discernimento vocacional é nada mais do que conscientizar que ele também é responsável pelo que acontece ao seu redor.

17

Em seus trabalhos pastorais, cabe a Pastoral Vocacional promover um processo contínuo de conversão, para evitar que nós cristãos permaneçamos apenas em reuniões, assembleias e retiros (inertes as dificuldades dos nossos irmãos que sofrem nas mãos de pessoas que “olham apenas para seus umbigos”), e saíamos de nossos lugares de encontro as dificuldades de nosso mundo.

Oliveira (2002) afirma ainda que só vivendo o espírito da corresponsabilidade será possível promover a criatividade para superar-se estas dificuldades dos tempos modernos.

1.21 – VOCAÇÃO À AÇÃO

O convite a corresponsabilidade nos faz compreender que a identidade de todo cristão é a ação. Como descrito nas Sagradas Escrituras, toda vocação resume-se em uma missão em prol da libertação das pessoas. Ou seja, não é possível ficar parado ou admitir incapacidade humana diante das injustiças. A Pastoral Vocacional tem a obrigação de promover e estimular a criatividade dos jovens vocacionados, de maneira que ao responderem o chamado que o Pai Lhes faz, possam desenvolver e potencializar suas habilidades para colocá-las a serviço dos irmãos e irmãs, de maneira especial dos excluídos da sociedade.

Ou seja, espera-se da Pastoral Vocacional no cenário urbano, que ajude os jovens a comprometerem-se a assumir a missão de serem atuantes e agentes da mudança no “agora”. Visto que não estão sendo preparados para o “depois”, ou seja, após a morte, mas sim, para fazerem a diferença neste mundo!

18

2 – VOCAÇÕES

2.1 – CADA UM SEGUNDO SUA VOCAÇÃO NA IGREJA

Muchery (1998) afirma que todos somos chamados à santidade, e que se somos escolhidos para testemunhar com nossas vidas para que o projeto de Deus se realize. Por isso a Igreja possui riqueza de ministérios: leigos, religiosos e religiosas, monges e monjas, bispos, sacerdotes, diáconos ou missionários. A riqueza de chamados está diretamente ligada à riqueza da Igreja, que conta com os dons de cada cristão para sua ação evangelizadora.

Muchery (1998) afirma que essa experiência plena de vida precisa ser compartilhada não só com nossos irmãos em Cristo, aqueles que convivemos na Igreja, mas com todos os homens, em especial aqueles que ainda não conheceram a Jesus. Lembre-se que Cristo confiou a nós a missão de evangelizar e levar Sua Palavra a toda criatura.

Mas como fazer isso na prática? Muchery (1998, p. 39) salienta que “primeiramente, vivendo intensamente o que nos é dado viver, empenhando-nos sempre mais profundamente na maneira de viver o Evangelho que escolhemos”. Assim, é preciso manter-se firmes no que decidimos viver, pois essa fidelidade emana do espírito missionário, apostólico e evangelizador.

Ou seja, Cristo envia a cada animador vocacional para a missão de conquistar e acompanhar trabalhadores para Sua Messe. Mas espera que sejamos pessoas que vivamos a Sua Palavra no dia a dia, pois, como destacado em pontos anteriores, o melhor exemplo de se evangelizar e conquistar os jovens é através do exemplo.

Goulart (1986, p. 48) afirma que “toda vocação vem sempre do Criador”. E é através da oração, que é o diálogo com Deus, que a pessoa discerne qual o caminho que combina com suas características e inclinações.

Sabemos que cada pessoa nasce com a sua própria vocação, por isso mesmo utiliza-se os termos como inclinação ou tendência vocacional.

Vocação é o chamado que Deus faz a cada um, é algo gravado em nossos corações desde a concepção. Lembre-se que o Profeta Isaias nos exorta sobre o fato de Deus conhecer a cada um de nós desde o início de nossas vidas: “Antes mesmo que você nascesse, eu o chamei pelo nome”.

É natural no processo de crescimento e amadurecimento que o indivíduo em determinado momento começa a questionar-se: como irei usar minhas habilidades e meus dons? Qual é o meu lugar no mundo? Estes questionamentos demonstram uma maturidade e vontade de fazer a diferença no mundo, e é neste campo que a Pastoral Vocacional deve atuar, auxiliando e motivando as pessoas neste processo de autodescoberta.

2.2 – O SERVIR SEGUNDO A PERSPECTIVA DE CRISTO

Nada tem sentido na Igreja senão o serviço. Ou seja, nossa Igreja tem como essência a servidão, existe para servir a nós, Povo de Deus, os próprios ministros ordenados existem exclusivamente para servir e orientar aos leigos, e todos os trabalhos pastorais devem ter como seu cerne o serviço aos irmãos e irmãs da

19

comunidade local. Pois se o próprio Cristo deixou claro que veio a este mundo para servir, quem somos nós para não fazer o mesmo?

2.3 – O SACRAMENTO DA ORDEM

Goulart (1986, p. 86) afirma que quer dizer “graduação de cargos”, conferindo “poderes” e graças para o serviço permanente ao povo de Deus. Serviço este que é prestado em nome de Deus pelos bispos, sacerdotes e diáconos.

O sinal que representa este serviço e dom é a “imposição das mãos” realizadas pelo bispo, que invoca a presença e intercessão do Espírito Santo sob o candidato ao ministério ordenado.

Os bispos e sacerdotes são homens que recebem o “poder” de convocar o povo de Deus, em nome de Cristo, anunciando sua palavra, conforme afirma Muchery (1998, p. 21). São pessoas que tem como missão serem “novos Cristos” no mundo, levando Sua Palavra e Ensinamentos a todos os cantos. Como possuem o Ministério confiado pela Igreja, podem ser enviados para onde a missão exige sua presença, há uma “entrega” e confiança total na ação de Deus sobre a vida daqueles que são chamados ao Ministério Ordenado.

Sabemos que o sacerdócio remete a mediação entre Deus e Seu povo. Goulart (1986, p.89) afirma que, “somente Jesus, por sua própria natureza divina e humana, é sacerdote no sentido total da palavra. Somente Ele ‘faz ponte’ entre o céu e a terra”.

É fato também que todos nós cristãos participamos da missão do próprio Cristo de evangelizar e conduzir as almas para Deus, tudo isso através do Batismo e mais intensamente com o Sacramento do Crisma. O cristão que assume sua missão de ser Sal da terra e Luz do mundo, assume o chamado ao “sacerdócio cristão”, instituído em nosso Batismo.

Cada indivíduo possui seu chamado específico e busca discerni-lo conforme vai compreendendo seu lugar na Igreja e no mundo. E há aqueles homens que são chamados por Deus para exercerem o “sacerdócio ministerial” que é o serviço em tempo integral e por toda a vida em favor do Povo de Deus.

Assim como Cristo fez ao escolher seus discípulos, os sacerdotes são chamados por Deus do meio de Seu Povo. São instruídos e recebem a graça do Santo Espírito para que sejam santificados e possam ser multiplicadores da Palavra e Ensinamentos do próprio Jesus. Cabe a estes homens escolhidos por Deus para esta importante missão, buscar espelharem-se no próprio Cristo, sendo para a comunidade sinal de Fé, Esperança e Paz.

2.4 – VIDA CONSAGRADA E SUAS FORMAS

Independente da nossa situação de vida, qualquer que seja o nosso ministério ou a maneira que servimos na Igreja, todos nós somos chamados a seguir a Jesus Cristo. Qualquer que seja a maneira escolhida, Muchery (1998, p. 42) afirma que será sempre uma resposta livre a um chamado gratuito. Ou seja, puramente por amor adotamos determinado “estilo” de vida evangélica.

Assim sendo, não podemos deixar de destacar o ministério da Vida Consagrada, que se subdivide em congregações, institutos religiosos e ordens. A Igreja costuma referir-se a eles de maneira geral como “Congregações Religiosas”.

Enfim, podemos resumir a missão das Congregações em “abrir caminho” para a salvação dos homens e ocupar os espaços vazios e esquecidos pela sociedade, levando a Palavra e os Ensinamentos de Deus através de Jesus Cristo.

20

Numerosos caminhos: Muchery (1998) apresenta diversos “estilos” de vida

consagrada, desde os monges as carmelitas, cada um vivendo conforme sua espiritualidade e características próprias. Essa diversidade de caminhos possíveis reforça apenas a riqueza da nossa Igreja.

Dentre as funções que as Congregações desempenham em nossa Igreja podemos lembrar do cuidado com os idosos e enfermos, da contemplação e adoração contínua ao Santíssimo Sacramento, das voltadas ao Ensino e Medicina, entre tantas outras.

Consagração: quando nos referimos a “vida consagrada” ou de consagração, estamos falando de duas realidades próximas, mas com algumas características diferentes. Segundo Muchery (1998, p. 44), “quando se fala de ‘consagração batistmal’, ou do cristão ‘consagrado’ pelo batismo, queremos dizer que é incorporado a Jesus Cristo pelo Espírito Santo”. Quando se fala da “vida consagrada” propriamente dita, estamos nos referindo a pessoas que são “santificadas” pela Igreja, através da ação do Espírito Santo, que “molda” essas pessoas para uma vida de intensa oração e abdicação dos interesses próprios para que o serviço a Deus seja prioridade.

Carisma: muito se usa este termo para destacar a característica de determinada congregação, ou do fundador de um instituto ou organização religiosa. Porém, segundo Muchery (1998), a palavra “carisma” deriva de um termo grego que significa “graça”. Ou seja, carisma pode ser entendido como um dom recebido para o serviço da Igreja. Muita vezes nas Sagradas Escrituras, carisma remete a “talentos”, dentre os quais destacam-se: animação, senso prático, dons da palavra e do discernimento. Porém, em sumo, carisma é tudo aquilo que o Pai dá aos homens e mulheres para contribuir para o bem da comunidade.

Cada Congregação possui seu carisma próprio, derivado da espiritualidade e ações de seu (sua) fundador (a), daí o termo “Carisma Fundacional”, que são os dons recebidos de Deus através do fundador de determinada Congregação Religiosa.

Votos Religiosos: são necessários diversos passos até a vida de consagração especial, é um caminho de discernimento e resposta percorrido pelos jovens que sentem este chamado especial.

Aspirantes, postulantes e noviços são aqueles que iniciam na oração, ação e convivência, de maneira a preparar-se para exercer o trabalho apostólico de suas respectivas congregações.

Em seguida, fazem os “votos religiosos” de obediência, pobreza e castidade. Reforçando assim os compromissos batismais que foram confirmados no Crisma. É nesta etapa que é assumido o carisma da congregação religiosa como missão de vida.

Goulart (1986, p. 197) afirma que “durante o período de profissão temporária, chamam-se juniores e junioras, até assumirem a missão ‘para sempre’ com a profissão dos votos perpétuos”.

Os votos são também meios de fortificar o amor pelo carisma da comunidade entre todos os membros da Congregação. E este amor deve ser refletido com a própria vida de cada consagrado e consagrada, de maneira que possa evangelizar a todo tempo, como nos pede São Francisco de Assis.

2.5 – A VOCAÇÃO E A MISSÃO DOS DIÁCONOS

Oliveira (2001, p. 225) afirma que “o diaconato, como vocação específica, está presente na Igreja desde os seus primórdios.” Em Atos dos Apóstolos é descrito o chamamento de sete homens “de boa forma e repletos do Espírito Santo” (Ap 6,1-6).

21

São Paulo também faz referência a presença de diáconos nas comunidades por onde passou.

O diácono é chamado a ser sinal de Cristo Profeta, Sacerdote e Pastor na comunidade. Sua função é a de servir aos sacerdotes e bispos durante as celebrações, mas sem esquecer-se do Povo de Deus que anseia pelos sacramentos do matrimônio e do batismo para seus filhos e filhas.

Cabe ao diácono, com seu serviço, motivar toda a comunidade a ser servidora em todos os ambientes e situações. Visto que, o diácono é um homem que ainda enquanto leigo já era destaque na comunidade por sua solicitude e compromisso com a obra evangelizadora e missionária da Igreja.

Enfim os diáconos são ordenados para que sejam sinais permanentes de serviço, não apenas quando auxiliam os bispos e sacerdotes, mas sim por toda sua vida.

2.6 – A VOCAÇÃO LAICAL

Oliveira (2001, p. 55) afirma que a “primeira definição, ainda bastante negativa, o Concílio Vaticano II definia os leigos e as leigas como sendo ‘todos os cristãos, exceto os membros de ordem sacra e do estado religioso aprovado na Igreja” (LG, 31). Analisando esta afirmação, os leigos eram colocados em oposição ao clero. O que definia leigo era o fato dele não ser ordenado.

Porém, essa visão do leigo mudou, e começou a ser tratado como Povo de Deus, uma mudança significativa, demostrando que a Igreja começava a valorizar os leigos e leigas que assumem verdadeiramente a missão de ser Sal da terra e Luz do Mundo.

Os dicionários referem-se ao leigo como aquele que tem pouco, ou nenhum, conhecimento sobre determinado assunto, é aquele indivíduo desprovido de sabedoria. Porém, para a Igreja, esta definição não faz sentido algum, visto que os leigos são batizados, catequizados e recebem e participam dos sacramentos. Além do fato de todo leigo conhecer o mínimo dos ensinamentos de Cristo, saber que Ele é Nosso Salvador, etc.

O Documento 105 da CNBB destaca que os leigos são tão importantes, que os sacerdotes, diáconos e até os bispos, existem exclusivamente para servir o Povo de Deus, ou seja, os leigos. O próprio Papa tem como função principal servir aos leigos e leigas, sendo sinal de Deus para todo o mundo. No ano de 2018 a Igreja do Brasil decidiu refletir sobre os Leigos, devido a importância desse grupo de vocacionados para a continuidade da própria Igreja, além de claramente ser o maior grupo. Basta fazer um exercício simples: em uma paróquia pode ocorrer de (em casos raros) três sacerdotes estarem à disposição do Povo de Deus, enquanto os leigos são dezenas, centenas e até milhares dependendo da região. Ou seja, os leigos são a maioria nas paróquias e dioceses, assim sendo, o número maior de indivíduos com a responsabilidade de assumirem, verdadeiramente, a missão de serem evangelizadores através dos diversos movimentos e/ou pastorais existentes em nossa Igreja.

Diante desse novo cenário, cabe a Pastoral Vocacional, a missão de conscientizar e motivar os vocacionados que discernem para a vocação laical para que assumam verdadeiramente a Missão de serem multiplicadores dos Ensinamentos de Jesus, visto que muitas vezes o leigo chega onde a Igreja, representada pelo sacerdote, não consegue chegar.

2.7 – A VOCAÇÃO MATRIMONIAL E FAMILIAR

Dentre os caminhos que se pode seguir na vocação laical, destaca-se o chamado para a vocação matrimonial e familiar. Oliveira (2001) afirma que diante do cenário atual

22

da sociedade, fica evidente que o equilíbrio das famílias influencia diretamente no equilíbrio da sociedade como um todo. A Igreja reconhece nas famílias o seu futuro.

A união para o amor fecundo, é dessa maneira que Goulart (1986) define este Sacramento e Vocação. É através da fecundidade do verdadeiro amor e através da educação dos filhos e filhas, que marido e mulher podem viver e receber uma enorme graça de Deus.

O sinal que representa essa graça é o “sim” do marido e da mulher. É neta simples palavra que os noivos afirmam o amor que sentem um pelo o outro e assumem o compromisso de buscar dedicar-se um ao outro por toda a vida.

São os próprios noivos que ocupam a “função” de Ministros do Matrimônio. Cabe ao sacerdote e/ou diácono a “função” de testemunha autorizada, que, segundo Goulart (1986, p.87), reconhece e abençoa o casamento.

Muchery (1998, p. 29) afirma que “o matrimônio é uma manifestação privilegiada da fidelidade de Deus e da aliança que ele propõe”. Uma vocação sonhada e deseja pelo próprio Criador, podemos, assim, resumir a vocação matrimonial, é através desta vocação e sacramento, que homem e mulher podem tornar-se agentes participantes na Criação de Deus, pois é do casamento que surgem novas vidas, é das famílias que nascem novas vocações.

Partindo desse pressuposto, o Serviço de Animação Vocacional não pode deixar de olhar para este grupo de pessoas. É necessário um zelo e dedicação especial em relação aos casais de namorados e noivos, pois o futuro da Igreja depende – e muito – de famílias estruturadas e enraizadas na Fé Cristã.

2.8 – A VOCAÇÃO MISSIONÁRIA

Muchery (1998) afirma que qualquer que seja seu estado de vida ou o ministério que é chamado a exercer, todo cristão concorre para missão de levar a Boa Nova a todos os homens e mulheres. Sua eficiência estará na medida da sua contribuição para a santificação da Igreja.

Para isso não é necessário nada além do Batismo e Crisma, ou seja, não é preciso ir além do dom recebido através do Santo Espírito de Deus. Assim sendo, fica evidente que todo cristão está apto para a missão de evangelizar aqueles que ainda não conheceram o verdadeiro Amor que é o próprio Cristo.

Podemos afirmar que todo batizado é missionário, ou seja, é chamado a entrar no dinamismo da missão de Cristo: “Assim como meu Pai me enviou, também vos envio”. Ou seja, todos os cristãos são convidados e chamados a saírem de seus lugares para avançar para águas mais profundas, ser a Igreja em saída, conforme pede o Santo Padre, o Papa Francisco.

Muchery (1998, p.92) salienta que o “missionário é chamado a seguir Cristo dando destaque à sua vida e a à sua ação sobre a dimensão universal da mensagem evangélica”. Para se cumprir este chamado, conforme destacado em diversos pontos, é preciso evangelizar com o testemunho da própria vida. O missionário deve ser um homem ou mulher, que evangeliza a todo tempo, independente se está usando palavras ou não.

23

3 – DOCUMENTOS

3.1 – CONTEMPLAI: "Mostra-me, ó amor de minha alma." (Ct 1,7) - Aos consagrados e às consagradas sobre os sinais da beleza. Documento 41

“O amor autêntico é sempre contemplativo.” (Papa Francisco) p.16: 4. A vida consagrada, caracterizada pela busca constante de Deus e pela

contínua re-visitação da sua identidade, respira as instâncias e o clima cultural deste mundo que, tendo perdido a consciência de Deus e da sua presença eficaz na história, corre o risco de não reconhecer a si mesmo.

Vive um tempo não apenas de des-encanto, des-acordo, e in-diferença, mas também de não senso. Para muitos é tempo de perda, de deixar-se enganar pela renúncia à buscado significado das coisas, verdadeiros naufrágios do espírito.

Neste tempos a igreja – e a vida consagrada nela – é chamada a testemunhar que “Deus existe; realmente existe; vive; é pessoal; é providente, dotado de infinita bondade, não só bom em si mesmo, mas imensamente bom para nós; é o nosso criador, a nossa verdade, a nossa felicidade, de tal modo que o homem, quando procura fixar em Deus a sua mente e o seu coração, entregando-se à contemplação, realiza o ato que deve ser considerado o mais sublime e mais perfeito; ato que mesmo hoje pode e deve estar no alto da imensa pirâmide da atividade humana” (apud BEATO PAULO VI. Alocução por ocasião da Última Sessão pública do Concílio Ecumênico Vaticano II.).

É esta a tarefa confiada à vida consagrada: testemunhar – neste nosso tempo – que Deus é a felicidade. Fixar nele o olhar e o coração nos permite viver em plenitude.

O termo contemplar na linguagem quotidiana vem sendo usado para indicar o olhar ao longe, observar com atenção algo que desperte deslumbramento ou admiração: o espetáculo da natureza, o céu estrelado, um quadro, um monumento, uma paisagem. Este olhar, colhendo a beleza e saboreando-a, pode ir além daquilo que se está contemplando, impulsionar a busca do Autor da beleza (cf. Sb 13,1-9; Rm 1,20). É um olhar que contém em si alguma coisa que vai além dos olhos: o olhar de dois idosos que depois de uma vida vivida juntos permanecem no amor. É um olhar que comunica intensamente, exprime uma relação, narra o que um é para o outro.

p. 27: BUSCAR – “Acaso vistes, vós, o amado de minha alma?” (Ct 3,3) Na Escuta 8. Amar significa dizer-se prontos para viver o aprendizado quotidiano da busca.

A dinâmica da busca atesta que ninguém se basta a si mesmo, exige encaminhar-se para um êxodo no profundo de si mesmo, atraído por aquela “terra sagrada que é o outro” (Apud FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangeli Gaudium (EG) (24 de novembro de 2013), n. 19), para fundir-se na comunhão. O outro, porém, é mistério, está sempre além dos nossos desejos e das nossas expectativas, não é previsível, não requer posse, mas cuidado, proteção, é espaço de florescimento para a sua liberdade. Se isto vale para a criatura humana, quanto mais para Deus, mistério de suma liberdade, de relação dinâmica, de plenitude cuja grandeza nos supera, e cuja fragilidade manifestada por meio da cruz nos desarma.

24

O amor do Cântico é luta e fadiga, exatamente como a morte (Mãwet, Ct 8,6), não é idealizado, mas cantado na consciência das suas crises e das suas perdas. A busca comporta cansaço, pede para levantar-se e para colocar-se a caminho, requer assumir a obscuridade da “noite”. A noite é ausência, separação ou distanciamento daquele que o coração ama; é o quarto da esposa, de lugar de repouso e de sonhos, se muda em prisão e lugar de pesadelos e tormentos (cf. Ct 3,1). A esposa, protagonista principal do drama, busca o amado, mas ele está ausente. É necessário busca-lo, sair “pelas ruas e pelas praças” (Ct 3,2). Desafiando os perigos da noite, devorada pelo desejo de reabraçá-lo, a esposa põe a eterna pergunta: “Acaso vistes, vós, o amado de minha alma?” (Ct 3,3). É a pergunta lançada no coração da noite que suscita a alegria da recordação dele, renova a ferida de uma distância insustentável. A esposa está sem dormir.

A noite volta protagonista no capítulo 5 do Cântico: a jovem está no seu quarto, o seu amado bate e pede para entrar, mas ela demora e ele vai embora (Ct 5,2-6). Dinâmica de incompreensão entre os dois ou sonho que se muda em terrível pesadelo? O texto prossegue com uma nova busca que tem o sabor de grande prova, não apenas emotiva e afetiva, mas também física, porque a esposa que enfrenta a noite sozinha vem atingida pelos guardas, ferida e privada de seu manto (Ct 5,7). O amor desafia a noite e os seus perigos é maior do que todo medo: “No amor não há medo. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o medo” (1 Jo, 4,18).

p. 29 – O aprendizado quotidiano da busca 9. “Faciem taum, Domine, requeiram: o teu rosto, Senhor, eu busco (Sl. 27,8).

Peregrino em busca do sentido da vida, envolvido no grande mistério que o circunda, o homem busca de fato, mesmo se muitas vezes inconsistentemente, o Rosto do Senhor. ‘Faz-me conhecer, Senhor, os teus caminhos, ensina-me as tuas veredas’ (Sl 25,4): ninguém poderá jamais retirar do coração da pessoa humana a busca daquele do qual a Bíblia diz: ‘Ele é tudo’ (Eclo 43,27) e dos caminhos para alcança-lo.” (Apud CONGREGAÇÃO PARA OS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA E AS SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA. Instrução. O serviço da autoridade e a obediência. Faciem taum, Domine, requeiram (11 de maio de 2008) n. 1.

A busca de Deus une todos os homens de boa vontade; mesmo quantos se professam não crentes confessam este anseio profundo do coração.

O Papa Francisco em diversas ocasiões indicou a dimensão contemplativa da vida como o entrar no mistério. “A contemplação é inteligência, coração, joelho.” (Apud FRANCISCO. Inteligência, coração, contemplação. Meditação matinal na capela Domus Sanctae Marthae (terça-feira, 22 de outubro de 2013). L’osservatore Romano, ed. quotidiana, anno CLIII, n. 243, Roma (23 ottobre 2013).

p. 30 - O mistério requer de nós que não tenhamos medo da realidade, de não nos fecharmos de nós mesmos. "Entrar no mistério significa ir além da comodidade das próprias seguranças, além da preguiça e da indiferença que nos paralisam." (Id. Homilia para a vigília Pascal na Noite Santa, Basílica Vaticana (sábado, 4 de abril de 2015). Entrar no mistério comporta uma busca contínua, a necessidade de ir além, de não fechar os olhos, de buscar respostas. É indispensável estar conscientes do incômodo que consome o Ser Humano para uma busca e melhora contínua, que pode chegar a uma perene insatisfação. Entretanto, é na fragilidade dessas situações que é preciso despertar o vigor das raízes, para fazer memória no mundo da vitalidade do Evangelho.

A vida cristã exige, por vezes, através da busca e do esforço, uma elevação moral e espiritual do Homem. Para Santo Agostinho, diante do desafio da materialidade mundana, diagnosticou que os homens se adaptam àquilo que podem e estão satisfeitos, porque aquilo que não podem não o querem e o rejeitam para ser bem-sucedido. Neste nevoeiro da consciência e dos afetos, há necessidade do encontro libertador com o Deus vivo. Peregrinos em profundidade - O Homem está

25

constantemente em direção de algo, movido por metas, cuja inquietude lhe é a impulsionadora, como uma mola. É, contudo, somente Deus que desperta a inquietude, que como a força motriz de um caminhão, impulsiona o Homem na peregrinação da busca. Na raiz da vida do Cristão existe o movimento fundamental da fé: encaminhar-se em direção a Jesus Cristo para centrar a vida nele. Um êxodo que leva a conhecer a meta. Uma mudança radical que de nômades faz peregrinos. O caminho a ser percorrido implica risco, insegurança às vezes, abertura à novidade, aos encontros inesperados. O peregrino não delega a busca da meta, sabe aonde quer chegar, tem um objetivo que atrai o coração e impulsiona tenazmente o passo. A meta do Cristão é DEUS. HABITAR - "O meu amado é todo meu e eu sou dele." (Ct 2,16).

A beleza que fere - p. 49 - A beleza afeta a pessoa humana, fere-a e, exatamente de tal modo, põe-se nas asas, a eleva para o alto com um desejo tão potente a ponto de aspirar mais de quanto ao homem seja conveniente aspirar. É na beleza que fere que se reconhece seja a presença de Cristo. O Papa Francisco nos recorda: "Qualquer um que queira pregar, deve antes estar disposto a deixar-se comover pela Palavra e a fazê-la tornar-se carne na sua existência concreta [...]; deve aceitar ser ferido antes por aquela Palavra que ferirá os outros". A luz do Espírito vem para tocar-nos de infindos modos e a sua visita abre em nós uma ferida, situando-nos em estado de passagem. facilita-nos a fazer nossas as exigências e os modos do Amado. Ela faz desmoronar as nossa seguranças. Desconstruir a nossa visão inicial para deixar a graça entrar, não fácil. Nós, consagrados, às vezes encontramos no ativismo missionário o bálsamo que alivia a ferida criada em nós pela graça. Podemos ver os passos a realizar, mas os tememos: "Tirei minha túnica; vou vesti-la de novo? Lavei meus pés; vou tornar a sujá-los? (Ct 5,3). É necessário viver a ferida, habitar na conversão. Se estranhamos a conversão, tornaremo-nos estranhos ao amor também. Para nós consagrados, ressoa o convite à humildade que reconhece que sozinhos não poderemos viver na conversão. Ela não é o fruto de bons propósitos, é sim o primeiro passo do amor: "É a voz do meu amado!" (Ct 2,8). Pode acontecer que imersos no fluxo da ação paremos de invocar e de escutar a voz de Deus. Com um processo lento, às vezes despercebidos, o coração resseca, não consegue ler de modo sapiencial, se estabiliza e encolhe, perdendo o olhar que contempla. Não é a dureza do coração do ateu, é a dureza frequente do coração dos apóstolos, como observa Marcos, que é repreendida por Jesus: "Vosso coração continua endurecido? Tendo olhos, não enxergais, e tendo ouvidos, não ouvis? (Mc 8,17-18). A escuta que vê. p. 59 - A pessoa consagrada encontra na escuta da Palavra de Deus o lugar em que se põe sob o olhar do Senhor e dele aprende a olhar para si mesma, os outros e o mundo. A Carta aos Hebreus (4,13) mostra eficazmente este cruzamento de olhares: Diante da palavra de Deus (logos toû theoû) "não há criatura que possa ocultar-se diante dela. Tudo está nu e descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas" (ho logos). A Palavra nos vê, nos observa, refere-se a nós, nos interpela e nos envolve, os seus olhos são como chama de fogo (cf. Ap 19,12).

No estilo da beleza. p. 71 - A vida consagrada, na variedade das situações culturais e dos modelos de vida, requer hoje atenção e confiança na ação formativa pessoal, comunitária, e especialmente na dinâmica do Instituto, para introduzir, acompanhar, sustentar a atitude e a capacidade contemplativa. Surge a necessidade de colocar as questões ao nosso viver e de olhar ao ethos formativo como "capacidade de propor um método rico de sabedoria espiritual e pedagógica, que leve progressivamente a assumir os sentimentos de Cristo Senhor quem aspira a consagrar-se. Talvez tenhamos necessidade de descobrir de uma forma contínua o sopro do mistério que nos habita e nos transcende.

Na proximidade da misericórdia

26

p. 86 - Um fecundo caminho para percorrer no exercício contemplativo é aquele que chama à proximidade. É o caminho do encontro, em que os rostos se buscam e se reconhecem. Se a qualidade da convivência coletiva recomeça do dar valor ao rosto do outro e à relação de proximidade, o cristianismo se revela como a religião do rosto, isto é, da vizinhança e da proximidade. A Igreja tem necessidade de desferir um olhar solidário para contemplar, comover-se e para diante do outro, sobretudo numa civilização paradoxalmente ferida pelo anonimato e obcecada com os detalhes da vida alheia. Deus cura da miopia e não deixa que os nossos olhos se fixem somente na superficialidade. A pessoa contemplativa se exercita para olhar com os olhos de Deus sobre a humanidade e sobre a realidade criada, até a ver o invisível (cf. Hb 11,27), isto é, a presença de Deus, sempre inefável e visível através apenas através da fé. Os cristãos "são, antes de tudo, místicos com os olhos abertos. A sua mística não é uma mística natural sem rosto. É, ao invés, uma mística que busca o rosto, que leva ao encontro com quem sofre, ao encontro com o rosto dos infelizes e das vítimas". (Apud METZ , J. B. Mística dagli occhi aperti. Per una spiritualità concreta e responsabili. Brescia: Quereniana, 2011. p. 65). Somente o amor é capaz de olhar para aquilo que está escondido: somos convidados a tal sabedoria do coração, que não separa jamais o amor de Deus do amor para com os outros, particularmente para os pobres, os últimos, "carne de Cristo", rosto do Senhor crucificado. o rosto do Pai, no Filho, é o rosto da misericórdia. Toda consagrada e todo consagrado é chamado a contemplar e testemunhar o Rosto de Deus como aquele que entende e compreende as nossas fraquezas (cf. Sl 103), para derramar o bálsamo da proximidade sobre as ferias humanas, contrastando o cinismo da indiferença. "Abramos os nossos olhos para cer as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e levemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo". A contemplação da misericórdia divina transforma a nossa sensibilidade humana e a inclina ao abraço de um coração que vê.

p. 106 - "O vosso desafio é tornar-vos 'especialistas' na misericórdia divina precisamente através da vida em comunidade. Sei, por experiência, que a vida comunitária nem sempre é fácil, mas é um terreno providencial para a formação do coração. Não é realista esperar que não haja conflitos: surgirão incompreensões e será preciso enfrentá-las. Mas, apesar destas dificuldades, é na vida comunitária que somos chamados a crescer na misericórdia, na paciência e na caridade perfeita" (Apud FRANCISCO. Discurso por ocasião do encontro com as comunidades religiosas na Coreia, Seul (16 de agosto de 2014).). Diante dessa visão a nossa vida fraterna deve ser examinada: é lugar de misericórdia e de reconciliação, ou espaço e relação ineficaz em que se respira desconfiança, juízo até a condenação.

3.2 – DOCUMENTO DA CNBB 105 CRISTÃOS LEIGOS E LEIGAS NA IGREJA E NA SOCIEDADE SAL DA TERRA E LUZ DO MUNDO (MT 5,13-14)

Identidade e dignidade da vocação laical 108. a Constituição Dogmática Lumen Getium, no capítulo sobre os leigos, assim

se expressa: A santa Igreja, por instituição divina, é organizada e governada com uma variedade admirável. Assim como num mesmo corpo temos muitos membros, e nem todos têm a mesma função, assim, sendo muitos, formamos um só corpo em Cristo, sendo membros uns dos outros” (Rm 12,4-5). Um só é, pois, o povo de Deus: um só Senhor, uma só fé, um só Batismo (Ef 4,5); comum é a dignidade dos membros, pela

27

regeneração em Cristo; comum a graça de filhos, comum a vocação à perfeição; uma só salvação, uma só esperança e uma caridade indivisa. Nenhuma desigualdade, portanto, em Cristo e na Igreja, por motivo de raça ou de nação, de condições social ou de sexo, porque não há judeu nem grego, escravo nem homem livre, homem nem mulher: com efeito, em Cristo Jesus, todos vós sois um (Gl 3,28 gr:; Cl 3,11). Portanto ainda que, na Igreja, nem todos sigam pelo mesmo caminho, todos são, contudo, chamados à santidade, e a todos coube a mesma fé pela justiça de Deus (2Pd 1,1). Ainda que, por vontade de Cristo, alguns são constituídos doutores, dispensadores dos ministérios e pastores em favor dos demais, reina, porem igualdade entre todos quanto à dignidade e quanto à atuação, comum a todos os fiéis, em favor da edificação do corpo de Cristo. A distinção que o Senhor estabeleceu entre os ministros sagrados e o restante do Povo de Deus, contribuiu para a união, já que os pastores e os demais fieis estão ligados uns aos outros por uma vinculação comum: os pastores da Igreja, imitando o exemplo do Senhor, prestem serviço uns aos outros e aos fiéis: e estes deem alegremente a sua colaboração aos pastores e doutores. Deste modo, todos testemunham, na variedade, a admirável unidade do Corpo místico de Cristo: a própria diversidade de graças, ministérios e atividades, consagra e unidade os filhos de Deus, porque um só e o mesmo é o Espirito que opera todas as coisas (1 Cor 12,11). Os leigos, portanto, do mesmo modo que, por divina condescendência, têm por irmão a Cristo, o qual, apesar de ser Senhor de todos, não veio para ser servido, mas para servir (Mt 20,28), de igual modo têm por irmãos aqueles que, uma vez estabelecidos no sagrado ministério, apascentam a família de Deus ensinando, santificando e governando com a autoridade de Cristo, de modo que o mandamento da caridade seja por todos observados”.

109 A partir da concepção eclesiológica da comunhão, o Concilio Vaticano II definiu o cristão leigo da maneira positiva e afirmou a sua plena incorporação à Igreja e ao seu mistério. “Estes fiéis foram incorporados a Cristo pelo Batismo, constituídos Povo de Deus e, a seu modo, feitos participes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, pelo que exercem sua parte na missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo”. Por isso, os cristãos leigos e leigas são Igreja e não apenas pertencem à Igreja. Já Pio XII afirmava: “Os fiéis leigos estão na linha mais avançada da vida da Igreja: por eles, a Igreja é o principio vital da sociedade. Por isso, eles, sobretudo, devem ter uma consciência cada vez mais clara, não somente de que pertencem à Igreja, mas de que são Igreja, isto é, comunidade dos fiéis na terra sob a direção o chefe comum, o Papa, e dos bispos em comunhão com ele. Eles são Igreja”. Não é evangélico pensar que os clérigos – ministros ordenados – sejam mais importantes e mais dignos, sejam “mais” Igreja do que os leigos. Esta mentalidade, errônea em seu princípio, esquece que a dignidade não advém dos serviços e ministérios que cada um exerce, mas da própria iniciativa divina, sempre gratuita, da incorporação a Cristo pelo Batismo.

3.3 – DOCUMENTO DA CNBB 107 INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ: ITINERÁRIO PARA FORMAR DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS

1.6 Sexto passo: o testemunho “Nós mesmos ouvimos e sabemos (...) é verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo 4,42)

34 Muitos samaritanos “creram em Jesus por causa da palavra da mulher que testemunhava” (Jo 4,39). A fé em Jesus nasce de um encontro com Ele. Mas tudo começou com um testemunho. Eles, sedentos, partem e , depois de estar com ele, não querem que se vá: “pediam que permanecesse com eles” (Jo 4,40). Tudo muito semelhante ao que ocorrera com os primeiros discípulos: “foram, viram onde morava e

28

permaneceram com ele naquele dia” (Jo 1,39). Foi um novo passo, uma resposta de fé, uma nova progressão no caminho do discipulado.

35 Jesus permaneceu com eles dois dias. “Permanecer” indica continuidade, indispensável na alimentação da fé. Foram dias ricos de belas experiencias. Mas o processo não parou aí. O texto diz: “muitos (...) acreditam (...) por causa da palavra mulher” (Jo 4,39). É a valorização do testemunho e do anuncio. A seguir, porém, a mesma experiencia revela motivos mais profundos: “muitos outros ainda creram por causa da palavra dele” (Jo 4,41). É o encontro pessoal. Viveram uma experiencia pessoal, é a base da fé que vai gerar um processo de contínuo crescimento.

36 O primeiro anúncio abriu caminhos para uma adesão que gerou vida nova aos discípulos. O que se iniciara por uma experiencia pessoal e individual, desdobrou-se em vivência de comunidade de fé. São eles, os samaritanos, a dizer à mulher: “(...) este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo 4,42). Ela lhes havia apresentado Jesus. A comunidade ajudou-a a reconhecer o Salvador do mundo. Aconteceu uma bela experiência de fé partilhada.

37 Esse encontro de Jesus com a Samaritana é exemplo perfeito da maneira como Ele se faz conhecer àqueles que procuram. Ele se faz conhecer progressivamente, como acontece na Iniciação à Vida Cristã. Lentamente, a mulher vai descobrir quem é Jesus. No início do diálogo, Ele era simplesmente um “judeu” (Jo 4,9), depois ela descobre que e “um profeta” (Jo 4,19), quando lhe diz que precisamos adorar Deus em espírito e verdade, o próprio Jesus revela que é o “Messias” (Jo 4,26). No final do encontro os samaritanos o reconhecem como “Salvador” (Jo 4,42), ponto de chegada da revelação.

38 “Como Jesus no poço de Sicar, também a Igreja sente que deve sentar-se ao lado dos homens e mulheres deste tempo, para tornar presente o Senhor na sua vida, para que possam encontra-lo, porque só o seu espírito é água que dá a vida verdadeira”. Nesse sentido, é que entendemos eu um processo consistente de Iniciação à Vida Cristã é indispensável ao tipo de missão que os novos interlocutores de hoje estão pedindo à nossa Igreja.

3.4 – EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL. VITA CONSECRATA: DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II SOBRE A VIDA CONSAGRADA E SUA MISSÃO NA IGREJA E NO MUNDO. DOCUMENTO 147

Consagrados, como Cristo, para o Reino de Deus 22. Sob o impulso do Espírito Santo, a vida consagrada « imita mais de perto, e

perpetuamente representa na Igreja » (38) a forma de vida que Jesus, supremo consagrado e missionário do Pai para o seu Reino, abraçou e propôs aos discípulos que O seguiam (cf. Mt 4,18-22; Mc 1,16-20; Lc 5,10-11; Jo 15,16). À luz da consagração de Jesus, é possível descobrir na iniciativa do Pai, fonte de toda a santidade, a nascente originária da vida consagrada. Na verdade, Jesus é aquele que « Deus ungiu com o Espírito Santo e com poder » (Act 10,38), « aquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo » (Jo 10,36). Recebendo a consagração do Pai, o Filho consagra-Se por sua vez ao Pai pela humanidade (cf. Jo 17,19): a sua vida de virgindade, obediência e pobreza exprime a adesão filial e plena ao desígnio do Pai (cf. Jo 10,30; 14,11). A sua oblação perfeita confere um sentido de consagração a todos os acontecimentos da sua existência terrena.

Jesus é o obediente por excelência, descido do céu não para fazer a sua vontade, mas a d'Aquele que O enviou (cf. Jo 6,38; Heb 10,5.7). Entrega o seu modo de ser e de agir nas mãos do Pai (cf. Lc 2,49). Por obediência filial, assume a forma de servo: « Despojou-Se a Si mesmo tomando a condição de servo (...), feito obediente

29

até à morte e morte de cruz » (Fil 2,7-8). É também nesta atitude de docilidade ao Pai que Cristo, embora aprovando e defendendo a dignidade e a santidade da vida matrimonial, assume a forma de vida virginal, e revela assim o valor sublime e a misteriosa fecundidade espiritual da virgindade. A sua plena adesão ao desígnio do Pai manifesta-se ainda no desapego dos bens terrenos: « Sendo rico, fez-Se pobre por vós, a fim de vos enriquecer pela sua pobreza » (2 Cor 8,9). A profundidade da sua pobreza revela-se na perfeita oblação de tudo o que é seu ao Pai.

Verdadeiramente a vida consagrada constitui memória viva da forma de existir e atuar de Jesus, como Verbo encarnado face ao Pai e aos irmãos. Aquela é tradição vivente da vida e da mensagem do Salvador.

Dimensão escatológica da vida consagrada 26. Dado que hoje as preocupações apostólicas se fazem sentir sempre com

maior urgência e o empenhamento nas coisas deste mundo corre o risco de ser cada vez mais absorvente, torna-se particularmente oportuno chamar a atenção para a natureza escatológica da vida consagrada.

« Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração » (Mt 6,21): esse tesouro único, que é o Reino, suscita desejo, expectativa, compromisso e testemunho. Na Igreja primitiva, a expectativa da vinda do Senhor era vivida de modo particularmente intenso. A Igreja não cessou de alimentar esta atitude de esperança, ao longo dos séculos: continuou a convidar os fiéis a levantarem os seus olhos para a salvação pronta a revelar-se, « porque a figura deste mundo passa » (1 Cor 7,31; cf. 1 Ped 1,3-6).

É neste horizonte que melhor se compreende a função de sinal escatológico, própria da vida consagrada. De facto, é constante a doutrina que a apresenta como antecipação do Reino futuro. O Concílio Vaticano II reitera este ensinamento, quando afirma que a consagração « preanuncia a ressurreição futura e a glória do Reino celeste » (45). Fá-lo, antes de mais, pela opção virginal, concebida sempre pela tradição como uma antecipação do mundo definitivo, que já desde agora atua e transforma o homem na sua globalidade.

As pessoas que dedicaram a sua vida a Cristo, não podem deixar de viver no desejo de O encontrar, para estarem finalmente e para sempre com Ele. Daí a esperança ardente, daí o desejo de « entrarem na Fornalha de amor que nelas arde, e que outra coisa não é que o Espírito Santo » (46): esperança e desejo amparados pelos dons que o Senhor livremente concede a quantos aspiram às coisas do alto (cf. Col 3,1).

Com o olhar fixo nas coisas do Senhor, a pessoa consagrada lembra que « não temos aqui cidade permanente » (Heb 13,14), porque « somos cidadãos do Céu » (Fil 3,20). A única coisa necessária é buscar « o Reino de Deus e a sua justiça » (Mt 6,33), implorando sem cessar a vinda do Senhor.

Uma esperança ativa: compromisso e vigilância 27. « Vem, Senhor Jesus! » (Ap 22,20). Esta esperança está bem longe de ser

passiva: apesar de apontar para o Reino futuro, ela exprime-se em trabalho e missão, para que o Reino se torne presente já desde agora, através da instauração do espírito das bem-aventuranças, capaz de suscitar anseios eficazes de justiça, paz, solidariedade e perdão, mesmo na sociedade humana.

Isto está amplamente demonstrado na história da vida consagrada, que sempre produziu frutos abundantes mesmo em favor da sociedade. Pelos seus carismas, as pessoas consagradas tornam-se um sinal do Espírito em ordem a um futuro novo, iluminado pela fé e pela esperança cristã. A tensão escatológica transforma-se em

30

missão, para que o Reino se afirme de modo crescente, aqui e agora. À súplica « Vem, Senhor Jesus! », une-se a outra invocação: « Venha a nós o teu Reino! » (cf. Mt 6,10).

Aquele que espera, vigilante, o cumprimento das promessas de Cristo, é capaz de infundir também esperança nos seus irmãos e irmãs, frequentemente desanimados e pessimistas relativamente ao futuro. A sua esperança está fundada na promessa de Deus, contida na Palavra revelada: a história dos homens caminha para o novo céu e a nova terra (cf. Ap 21,1), onde o Senhor « enxugará as lágrimas dos seus olhos; não haverá mais morte, nem pranto, nem gritos, nem dor, porque as primeiras coisas passaram » (Ap 21,4).

A vida consagrada está ao serviço desta irradiação definitiva da glória divina, quando toda a criatura vir a salvação de Deus (cf. Lc 3,6; Is 40,5). O Oriente cristão sublinha esta dimensão, ao considerar os monges como anjos de Deus sobre a terra, que anunciam a renovação do mundo em Cristo. No Ocidente, o monaquismo é celebração feita de memória e vigília: memória das maravilhas realizadas por Deus, vigília do cumprimento definitivo da esperança. A mensagem do monaquismo e da vida contemplativa repete, sem cessar, que o primado de Deus é plenitude de sentido e de alegria para a vida humana, pois o homem está feito para Deus e vive inquieto até encontrar n'Ele a paz.

O valor especial da vida consagrada 32. Neste conjunto harmonioso de dons, está confiado a cada um dos estados

de vida fundamentais o encargo de exprimir, ao próprio nível, ora uma ora outra das dimensões do único mistério de Cristo. Se, para fazer ressoar o anúncio evangélico no âmbito das realidades temporais, tem uma missão particular a vida laical, no âmbito da comunhão eclesial um ministério insubstituível é desempenhado por aqueles que estão constituídos na Ordem sagrada, de modo especial pelos Bispos. Estes têm a tarefa de guiar o Povo de Deus, mediante o ensinamento da Palavra, a administração dos Sacramentos e o exercício do poder sagrado ao serviço da comunhão eclesial, que é comunhão orgânica e hierarquicamente ordenada (61).

Na manifestação da santidade da Igreja, há que reconhecer uma objetiva primazia à vida consagrada, que reflete o próprio modo de viver de Cristo. Por isso mesmo, nela se encontra uma manifestação particularmente rica dos valores evangélicos e uma atuação mais completa do objetivo da Igreja que é a santificação da humanidade. A vida consagrada anuncia e de certo modo antecipa o tempo futuro, quando, alcançada a plenitude daquele Reino dos céus que agora está presente apenas em gérmen e no mistério (62), os filhos da ressurreição não tomarão esposa nem marido, mas serão como anjos de Deus (cf. Mt 22,30).

De facto, a primazia da castidade perfeita pelo Reino (63), justamente considerada a « porta » de toda a vida consagrada (64), é objeto do ensinamento constante da Igreja. De resto, esta tributa grande estima também à vocação para o matrimónio, que torna os esposos « testemunhas e cooperadores da fecundidade da Igreja, nossa mãe, em sinal e participação daquele amor, com que Cristo amou a sua Esposa e por ela Se entregou » (65).

Neste horizonte comum a toda a vida consagrada, articulam-se caminhos distintos entre si, mas complementares. Os religiosos e religiosas dedicados integralmente à contemplação são, de modo especial, imagem de Cristo em oração sobre o monte (66). As pessoas consagradas de vida activa manifestam Jesus « anunciando às multidões o Reino de Deus, curando os doentes e feridos, trazendo os pecadores à conversão, abençoando as criancinhas e fazendo bem a todos » (67). Um particular serviço ao advento do Reino de Deus, prestam-no as pessoas consagradas nos Institutos Seculares, que unem, numa síntese específica, o valor da consagração com o da secularidade. Vivendo a sua consagração no século e a partir do século (68),

31

elas « esforçam-se, à maneira de fermento, por impregnar todas as coisas do espírito do Evangelho para robustecimento e incremento do Corpo de Cristo » (69). Com vista a tal fim, participam na função evangelizadora da Igreja, mediante o testemunho pessoal de vida cristã, o empenho de que as realidades temporais sejam ordenadas segundo Deus, a colaboração no serviço da comunidade eclesial, segundo o estilo de vida secular que lhes é próprio (70).

Testemunhar o Evangelho das bem-aventuranças 33. Missão peculiar da vida consagrada é manter viva nos batizados a

consciência dos valores fundamentais do Evangelho, graças ao seu « magnífico e privilegiado testemunho de que não se pode transfigurar o mundo e oferecê-lo a Deus sem o espírito das bem-aventuranças » (71). Deste modo, a vida consagrada suscita continuamente, na consciência do Povo de Deus, a exigência de responder com a santidade de vida ao amor de Deus derramado nos corações pelo Espírito Santo (cf. Rm 5,5), refletindo na conduta a consagração sacramental realizada por acção de Deus no Baptismo, na Confirmação, ou na Ordem. Na verdade, é preciso que da santidade comunicada nos sacramentos se passe à santidade da vida quotidiana. A vida consagrada existe na Igreja precisamente para se pôr ao serviço da consagração da vida de todo o fiel, leigo ou clérigo.

Por outro lado, não se deve esquecer que também os consagrados recebem, do testemunho próprio das outras vocações, uma ajuda para viver integralmente a adesão ao mistério de Cristo e da Igreja, nas suas múltiplas dimensões. Graças a este enriquecimento recíproco, torna-se mais eloquente e eficaz a missão da vida consagrada: mantendo fixo o seu olhar na paz futura, indica como meta aos irmãos e irmãs a Bem-aventurança definitiva junto de Deus.

Imagem viva da Igreja-Esposa 34. Particular relevo tem o significado esponsal da vida consagrada, que reflete

a exigência de a Igreja viver em doação plena e exclusiva para seu Esposo, do qual recebe todo o bem. Nesta dimensão esponsal característica de toda a vida consagrada, é sobretudo a mulher que se reconhece de modo singular em sua própria identidade, de certa forma descobrindo aí a índole especial do seu relacionamento com o Senhor.

A tal propósito, é sugestivo o texto neo-testamentário que apresenta Maria reunida com os Apóstolos, no Cenáculo, aguardando em oração a vinda do Espírito Santo (cf. Act 1,13-14). Pode-se ver aqui uma expressiva imagem da Igreja-Esposa, atenta aos sinais do Esposo e pronta a acolher o seu dom. Na figura de Pedro e demais apóstolos, ressalta sobretudo a dimensão da fecundidade operada pelo ministério eclesial, que se faz instrumento do Espírito para a geração de novos filhos através da proclamação da Palavra, da celebração dos Sacramentos e pela solicitude pastoral. Já em Maria, é particularmente viva a dimensão do acolhimento esponsal com que a Igreja faz frutificar em si mesma a vida divina, através da totalidade do seu amor virginal.

A vida consagrada sempre foi identificada prevalentemente com esta parte de Maria, a Virgem Esposa. Deste amor virginal, provém uma particular fecundidade que contribui para o nascimento e crescimento da vida divina nos corações (72). A pessoa consagrada, seguindo o exemplo de Maria, nova Eva, exprime a sua fecundidade espiritual, tornando-se acolhedora da Palavra, para colaborar na construção da nova humanidade com a sua dedicação incondicional e o seu testemunho vivo. Desta forma, a Igreja manifesta plenamente a sua maternidade, quer mediante a comunicação da acção divina confiada a Pedro, quer através do acolhimento responsável do dom divino, típico de Maria.

32

O povo cristão, por seu lado, encontra no ministério ordenado os meios de salvação, e na vida consagrada o estímulo para uma resposta cabal de amor em cada uma das várias formas de diaconia (73).

3.5 – CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA: PREPARAÇÃO PARA O ACRAMENTO DO MATRIMÔNIO - DOCUMENTO 150

A Importância da Preparação para o Matrimónio Cristão 9. Ponto de partida para um itinerário de preparação para o matrimónio é o

conhecimento de que o contrato conjugal foi assumido e elevado pelo Senhor Jesus Cristo, na força do Espírito Santo, a sacramento da Nova Aliança. Associa os cônjuges ao amor oblativo de Cristo Esposo pela Igreja, Sua Esposa (cf. Ef 5, 25-32) tornando-os imagem e participantes deste amor, faz deles um louvor ao Senhor e santifica a união conjugal e a vida dos fiéis cristãos que o celebram, dando origem à família cristã, igreja doméstica e « primeira célula vital da sociedade », (Apostolicam Actuositatem, 11) e « santuário da vida » (EV 92 e também nn. 6, 88, 94). O sacramento é, portanto, celebrado e vivido no coração da Nova Aliança, isto é, no mistério pascal. É Cristo, Esposo no meio dos seus (cf. Gratissimam Sane, 18; Mt 9, 15), que é fonte de todas as energias. Os casais e as famílias cristãs, por isso, não estão isolados nem abandonados.

Para os cristãos o matrimónio, que tem a sua origem em Deus criador, implica além disso uma verdadeira vocação e um particular estado e vida de graça. Tal vocação, para ser amadurecida, requer uma preparação adequada e especial, e é um caminho específico de fé e de amor, tanto mais que esta vocação é dada ao casal para o bem da Igreja e da sociedade. E isto com todo o significado e força de um empenho público, assumido diante de Deus e da sociedade, que vai além dos limites individuais.

10. O matrimónio, como comunidade de vida e de amor, quer como instituição divina natural, quer como sacramento, não obstante as dificuldades presentes, conserva sempre em si uma fonte de energias formidáveis (cf. FC 43), que, com o testemunho dos esposos, se pode tornar uma Boa Notícia, e contribuir fortemente para a nova evangelização e assegurar o futuro da sociedade. Tais energias precisam todavia de ser descobertas, apreciadas e valorizadas, pelos próprios esposos e pela comunidade eclesial na fase que precede a celebração do matrimónio e que constitui a preparação para ele.

Há numerosíssimas dioceses no mundo, empenhadas em descobrir formas de fazer uma cada vez mais conveniente preparação para o matrimónio. São muitas as experiências positivas que foram transmitidas ao Conselho Pontifício para a Família e que, sem dúvida, se vão consolidando cada vez mais e trarão um auxílio válido, se conhecidas e valorizadas pelas Conferências Episcopais e por cada Bispo na pastoral das Igrejas locais.

O que aqui se chama Preparação compreende um amplo e exigente processo de educação para a vida conjugal, a qual deve ser considerada no conjunto dos seus valores. Por isso, a preparação para o matrimónio, se se considerar o momento psicológico e cultural atual, representa uma necessidade urgente. De facto, é educar para o respeito e a proteção da vida, que no Santuário das famílias se deve tornar uma verdadeira e própria cultura da vida humana em todas as suas manifestações e estados para aqueles que fazem parte do povo da vida e para a vida (cf. EV 6, 78, 105). A própria realidade do matrimónio é tão rica que requer primeiramente um processo de sensibilização a fim de que os noivos sintam a necessidade de se preparar. A pastoral familiar oriente, por isso, os seus melhores esforços para que tal preparação seja de qualidade, recorrendo também a subsídios de pedagogia e psicologia de sã orientação.

33

As etapas ou momentos da preparação 21. As etapas ou momentos a que nos referiremos não são rigidamente definidos.

De facto, não se podem fixar nem em relação à idade dos destinatários, nem em relação à duração. Todavia, é útil conhecê-los como itinerários e instrumentos de trabalho, sobretudo por causa dos conteúdos a transmitir. São articulados em: preparação remota, próxima e imediata.

A. Preparação remota 22. A preparação remota abraça a infância, a pré-adolescência e a adolescência,

e desenrola-se sobretudo na família, e também na escola e nos grupos de formação, como auxílios válidos. É um período em que é transmitida e como que instilada a estima por todo o autêntico valor humano, seja nos relacionamentos interpessoais, seja nos sociais, com tudo o que isto significa para a formação do carácter, o domínio e a estima de si, o reto uso das próprias inclinações, o respeito também para com as pessoas do outro sexo. Requer-se, além disso, especialmente para os cristãos, uma sólida formação espiritual e catequética (cf. FC 66).

23. Na Carta às Famílias Gratissimam Sane, João Paulo II recorda duas verdades fundamentais na tarefa da educação: « a primeira é que o homem é chamado a viver na verdade e no amor; a segunda é que cada homem se realiza através do dom sincero de si » (n.16). A educação das crianças começa, por isso, antes do nascimento, no ambiente em que a vida nova do nascituro é esperada e acolhida, especialmente com o diálogo de amor entre a mãe e a sua criatura (cf. ibid. 16), e continua na infância, dado que a educação é « sobretudo uma "oferta" de humanidade por parte de ambos os pais: estes comunicam juntos a sua humanidade madura ao recém-nascido » (ibid.). « Na geração de uma nova vida, eles tomam consciência de que o filho "se é fruta da recíproca doação de amor dos pais, é, por sua vez, um dom para ambos: um dom que promana do dom" » (EV 92).

A educação cristã no seu sentido integral, que implica a transmissão e a consolidação dos valores humanos e cristãos como afirma o Concílio Vaticano II « não visa apenas à maturidade da pessoa humana acima descrita, mas objetiva em primeiro lugar que os batizados sejam gradativamente introduzidos no conhecimento do mistério da salvação e se tornem de dia para dia mais conscientes do dom recebido da fé... sejam treinados a orientar a própria vida segundo o homem novo na justiça e na santidade da verdade » (Gravissimum Educationis, 2).

24. Não pode faltar, neste período, também uma leal e corajosa educação para a castidade, para o amor como dom de si. A castidade não é mortificação do amor, mas condição de autêntico amor. De facto, se a vocação ao amor conjugal é vocação ao dom de si no matrimónio, é necessário chegar a possuir-se verdadeiramente a si mesmo para se poder doar.

A este respeito, é importante a educação sexual recebida dos pais nos primeiros anos da infância e da adolescência, como foi indicado pelo documento deste Conselho Pontifício para a Família, já recordado acima, no n. 10.

25. Nesta etapa ou momento da preparação remota são atingidos objetivos específicos. Sem ter a pretensão de se fazer uma lista exaustiva deles, de modo indicativo recorda-se que tal preparação deverá, antes de mais, conseguir a meta pela qual cada fiel, chamado ao matrimónio, compreenda a fundo que o amor humano, à luz do amor de Deus, assume um papel central na ética cristã. De facto, a vida humana, como vocação-missão, é chamamento ao amor que tem a sua nascente e o seu fim em Deus, « sem excluir a possibilidade do dom total de si a Deus na vocação à vida sacerdotal ou religiosa » (FC 66). Neste sentido é preciso recordar que a preparação remota, mesmo quando se detém sobre conteúdos doutrinais de carácter antropológico, se coloca na perspectiva do matrimónio no qual o amor humano se torna participação,

34

além de sinal, do amor que acontece entre Cristo e a Igreja. Assim, o amor conjugal torna presente entre os homens o próprio amor divino tornado visível na redenção. A passagem ou conversão de um nível de fé mais exterior e vago, próprio de muitos jovens, a uma descoberta do « mistério cristão » é uma passagem essencial e decisiva: uma fé que implica a comunhão de Graça e de amor com o Cristo Ressuscitado.

26. A preparação remota terá atingido os seus principais objetivos no momento em que tenha consentido assimilar os fundamentos para adquirir, cada vez mais, os parâmetros de um reto juízo acerca da hierarquia de valores necessária para escolher o que de melhor oferece a sociedade, segundo o conselho de S. Paulo: « Examinai todas as coisas, conservai o que é bom » (1 Tess. 5,19). Nem se pode esquecer que, mediante a graça de Deus, o amor é curado, fortalecido e intensificado mesmo através dos necessários valores ligados à doação, ao sacrifício, à renúncia e abnegação. Já nesta fase de formação, a ajuda pastoral deverá ser orientada a procurar que o comportamento moral seja regido pela fé. Um tal estilo de vida cristã encontra o seu estímulo, apoio e consistência no exemplo dos pais que se torna para os nubentes um verdadeiro testemunho.

27. Esta preparação não deve perder de vista um facto muito importante que consiste em ajudar os jovens a adquirir, em confronto com o ambiente, uma capacidade crítica e a terem também a coragem cristã de quem sabe estar no mundo sem ser do mundo. Nesse sentido leiamos a Carta a Diogneto, documento venerável desde a primeiríssima época cristã e de reconhecida autenticidade: « Os cristãos não se diferenciam do resto dos homens nem pelo território, nem pela língua, nem pelos costumes de vida... (contudo) propõem-se uma forma de vida maravilhosa e, todos admitem, incrível... Como todos os outros, casam-se e têm filhos, mas não expõem as suas crianças. Têm em comum a mesa, mas não o tálamo. Vivem na carne, mas não segundo a carne » (V, 1, 4, 6, 7). A formação deverá conseguir uma mentalidade e uma personalidade capazes de não se deixar arrastar pelas concepções contrárias à unidade e à estabilidade do matrimónio, para assim poder reagir contra as estruturas do assim chamado pecado social que « se repercute, com maior ou menor veemência, com maior ou menor dano, sobre toda a estrutura social e sobre a inteira família humana » (Exortação Apostólica Reconciliatio et Paenitentia, 16). É diante destes influxos de pecado e de tantas pressões sociais que deve ser revigorada uma consciência crítica.

28. O estilo cristão de vida, testemunhado pelos lares cristãos, é já uma evangelização, é o próprio fundamento da preparação remota. De facto, outra meta é constituída pela apresentação da missão educativa dos próprios pais. É na família, igreja doméstica, que os pais cristãos são as primeiras testemunhas e os formadores dos filhos seja no crescimento da « fé-esperança-caridade », seja na configuração da vocação própria de cada um deles. « Os pais são os primeiros e principais educadores dos seus filhos e têm também neste campo uma competência fundamental: são educadores porque pais » (Gratissimam Sane, 16). Para isto os pais têm necessidade de oportunos e adequados auxílios.

29. Entre eles, deve-se incluir, antes de mais, a paróquia como lugar de formação eclesial cristã; é nela que se aprende um estilo de convivência comunitária (cf. Sacrosantum Concilium, 42). Não devemos esquecer, além disso, a escola, as outras instituições educativas, os movimentos, os grupos, as associações católicas e, obviamente, as das próprias famílias cristãs.

Possuem particular relevo, nos processos educativos dos jovens, os meios de comunicação de massa, que deveriam ajudar positivamente a missão da família na sociedade e não, pelo contrário, causar-lhe dificuldades.

30. Este processo educativo deve ser também assumido pelos catequistas, pelos animadores da pastoral juvenil e vocacional e sobretudo pelos pastores que aproveitarão o momento das homilias durante as celebrações litúrgicas, e de outras

35

formas de evangelização, de encontros pessoais, de itinerários de compromisso cristão, para sublinhar e evidenciar os pontos que contribuem para uma preparação orientada a um possível matrimónio (cf. OCM 14).

31. É necessário, por isso, « inventar » modalidades de formação permanente para os adolescentes no período que precede o noivado e que se segue às etapas da iniciação cristã; e é sumamente útil a troca das experiências que mais respondem a este propósito. As famílias, unidas nas paróquias, nas instituições, em diversas formas de associações, ajudem a criar um clima social em que o amor responsável seja são e, nos casos em que ele é inquinado, por exemplo, pela pornografia, possam reagir apoiadas no direito da família. Tudo isto faz parte de uma « ecologia humana » (cf. Centesimus Annus, 38).

3.6 – SÍNODO DOS BISPOS. XIV ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA. A VOCAÇÃO E A MISSÃO DA FAMÍLIA NA IGREJA E NO MUNDO CONTEMPORÂNEO.

2. Ventre de alegrias e de provações, de afetos profundos e de relacionamentos por vezes feridos, a família é verdadeiramente «escola de humanidade»(cf. Gaudium et Spes, 52), cuja necessidade é fortemente sentida. Não obstante os numerosos sinais de crise da instituição familiar nos vários contextos da «aldeia global», o desejo de família permanece vivo, de forma especial entre os jovens, motivando a Igreja, perita em humanidade e fiel à sua missão, a anunciar incessantemente e com profunda convicção o «Evangelho da família», que lhe foi confiado mediante a revelação do amor de Deus em Jesus Cristo e ininterruptamente ensinado pelos Padres, pelos Mestres da espiritualidade e pelo Magistério da Igreja. A família adquire para a Igreja uma importância totalmente particular e, no momento em que todos os fiéis são convidados a sair de si mesmos, é necessário que a família volte a descobrirse como protagonista imprescindível da evangelização. O pensamento dirigese ao testemunho missionário de numerosas famílias.

A relevância da vida afetiva 9. Perante o quadro social delineado encontrase em muitas partes do mundo,

nos solteiros, uma maior necessidade de cuidar da própria pessoa, de se conhecer interiormente, de viver mais em sintonia com as próprias emoções e com os próprios sentimentos, de procurar relacionamentos afetivos de qualidade; esta justa aspiração pode abrir ao desejo de se comprometer na construção de relacionamentos de doação e reciprocidade criativos, responsabilizadores e solidários, como os familiares. São relevantes o perigo individualista e o risco de viver em chave egoísta. Para a Igreja, o desafio consiste em ajudar os casais no amadurecimento da dimensão emocional e no desenvolvimento afetivo, através da promoção do diálogo, da virtude e da confiança no amor misericordioso de Deus. O pleno compromisso exigido no matrimónio cristão pode constituir um forte antídoto contra a tentação de um individualismo egoísta.

10. No mundo contemporâneo não faltam tendências culturais que parecem impor uma afetividade ilimitada, da qual se deseja explorar todas as vertentes, até as mais complexas. Com efeito, a questão da fragilidade afetiva é de grande atualidade: uma afetividade narcisista, instável e mutável nem sempre ajuda os protagonistas a alcançar uma maior maturidade. Preocupa uma certa difusão da pornografia e da comercialização do corpo, favorecida inclusive por um uso deturpado da internet, enquanto deve ser denunciada a situação daquelas pessoas que são obrigadas a praticar a prostituição. Neste contexto, os casais sentemse às vezes incertos, hesitantes e têm dificuldade de encontrar modos para crescer. São muitos aqueles que tendem a

36

permanecer nas fases primárias da vida emocional e sexual. A crise do casal desestabiliza a família e, através das separações e dos divórcios, pode chegar a provocar sérias consequências sobre os adultos, os filhos e a sociedade, debilitando o indivíduo e os vínculos sociais. Também a diminuição demográfica, devida a uma mentalidade antinatalista e promovida pelas políticas mundiais de saúde reprodutiva, não apenas determina uma situação em que não é mais assegurado o revezamento das gerações, mas também corre o risco de levar, ao longo do tempo, a um empobrecimento económico e a uma perda de esperança no futuro. Inclusive o desenvolvimento das biotecnologias teve um forte impacto sobre a natalidade.

O desafio para a pastoral 11. Neste contexto, a Igreja sente a necessidade de dizer uma palavra de

verdade e de esperança. É preciso partir da convicção de que o homem provém de Deus e, por conseguinte, de que uma reflexão capaz de voltar a propor as grandes interrogações sobre o significado do ser homem pode encontrar um terreno fértil nas expectativas mais profundas da humanidade. Os grandes valores do matrimónio e da família cristã correspondem à investigação que atravessa a existência humana, inclusive numa época caracterizada pelo individualismo e pelo hedonismo. É necessário acolher as pessoas com a sua existência concreta, saber fomentar a sua busca, encorajar o seu desejo de Deus e a sua vontade de se sentir plenamente parte da Igreja, até mesmo em quantos experimentaram a falência ou vivem as situações mais diferentes. A mensagem cristã contém sempre em si mesma a realidade e a dinâmica da misericórdia e da verdade, que convergem em Cristo. II Parte O olhar sobre Cristo: o Evangelho da família O olhar sobre Jesus e a pedagogia divina na história da salvação

12. A fim de «verificar o nosso passo no terreno dos desafios contemporâneos, a condição decisiva é manter o olhar fixo em Jesus Cristo, deternos na contemplação e adoração do seu rosto [...]. Na verdade, todas as vezes que voltamos à fonte da experiência cristã, abremse estradas novas e possibilidades inimagináveis» (Papa Francisco, Discurso, 4 de outubro de 2014). Jesus olhava com amor e ternura para as mulheres e para os homens com os quais se encontrava, acompanhando os seus passos com verdade, paciência e misericórdia, anunciando as exigências do Reino de Deus.

13. Uma vez que a ordem da criação é determinada pela orientação para Cristo, é necessário distinguir sem separar os vários graus mediante os quais Deus comunica à humanidade a graça da aliança. Em virtude da pedagogia divina, em conformidade com a qual a ordem da criação evolui na da redenção através de etapas sucessivas, é preciso compreender a novidade do sacramento nupcial cristão, em continuidade com o matrimónio natural das origens. É assim que se entende o modo de agir salvífico de Deus, tanto na criação como na vida cristã. Na criação: dado que tudo foi feito através de Cristo e para Cristo (cf. Cl 1, 16), os cristãos «fazem vir à luz, com alegria e respeito, as sementes do Verbo adormecidas; mas atendem, ao mesmo tempo, à transformação profunda que se realiza entre os povos» (Ad Gentes, 11). Na vida cristã: enquanto, mediante o batismo, o crente está inserido na Igreja através da igreja doméstica que é a sua família, ele empreende aquele «processo dinâmico, que avança gradualmente com a progressiva integração dos dons de Deus» (Familiaris Consortio, 9), mediante a conversão contínua ao amor que salva do pecado e confere plenitude de vida.

14. O próprio Jesus, referindose ao desígnio primordial sobre o casal humano, confirma a união indissolúvel entre o homem e a mulher, não obstante diga: «Por causa da dureza do vosso coração, Moisés tinha tolerado o repúdio das mulheres; mas no princípio não era assim» (Mt 19, 8). A indissolubilidade do matrimónio («Portanto, não separe o homem o que Deus uniu» Mt 19, 6), não deve ser entendida antes de tudo como um «jugo» imposto aos homens, mas sim como um «dom» oferecido às pessoas

37

unidas em matrimónio. Deste modo, Jesus demonstra que a condescendência divina acompanha sempre o caminho humano, purifica e transforma com a sua graça o coração endurecido, orientandoo para o seu princípio, através do caminho da cruz. Dos Evangelhos sobressai claramente o exemplo de Jesus, que é paradigmático para a Igreja. Com efeito, Jesus assumiu uma família, deu início aos prodígios na festa nupcial em Caná e anunciou a mensagem relativa ao significado do matrimónio como plenitude da revelação que resgata o desígnio originário de Deus (cf. Mt 19, 3). Contudo, ao mesmo tempo, pôs em prática a doutrina ensinada, manifestando deste modo o verdadeiro significado da misericórdia. Isto aparece claramente nos encontros com a samaritana (cf. Jo 4, 130) e com a adúltera (cf. Jo 8, 111) nos quais Jesus, mediante uma atitude de amor pela pessoa pecadora, leva ao arrependimento e à conversão («vai e não voltes a pecar!»), condição para o perdão. A família no desígnio salvífico de Deus

15. As palavras de vida terna que Jesus transmitiu aos seus discípulos compreendiam o ensinamento sobre o matrimónio e a família. Este ensinamento de Jesus permitenos distinguir em três etapas fundamentais o desígnio de Deus sobre o matrimónio e a família. No princípio existia a família das origens, quando Deus criador instituiu o matrimónio primordial entre Adão e Eva, como fundamento sólido da família. Deus não apenas criou o ser humano, varão e mulher os criou (cf. Gn 1, 27), mas também os abençoou a fim de que fossem fecundos e para que se multiplicassem (cf. Gn 1, 28). Por isso, «o homem deixará o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e já serão uma só carne» (Gn 2, 24). Esta união foi danificada pelo pecado, tornandose a forma histórica de matrimónio no Povo de Deus, ao qual Moisés concedeu a possibilidade de conferir um certificado de divórcio (cf. Dt 24, 1 ss.). Esta forma era predominante na época de Jesus. Com o seu advento e com a reconciliação do mundo decaído, graças à redenção por Ele realizada, concluiuse a era inaugurada por Moisés.

16. Jesus, que reconciliou tudo em si mesmo, restituiu o matrimónio e a família à sua forma original (cf. Mc 10, 112). A família e o matrimónio foram redimidos por Cristo (cf. Ef 5, 2132), restaurados à imagem da Santíssima Trindade, mistério do qual brota todo o amor autêntico. A aliança esponsal, inaugurada na criação e revelada na história da salvação, recebe a plena revelação do seu significado em Cristo e na sua Igreja. De Cristo, através da Igreja, o matrimónio e a família recebem a graça necessária para dar testemunho do amor de Deus e para levar uma vida de comunhão. O Evangelho da família atravessa a história do mundo, desde a criação do homem à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 2627) até ao cumprimento do mistério da Aliança em Cristo no fim dos séculos, com as núpcias do Cordeiro (cf. Ap 19, 9; João Paulo II, Catequeses sobre o amor humano). A família nos documentos da Igreja

17. «Com o decorrer dos séculos, a Igreja não deixou faltar o seu constante e crescente ensinamento sobre o matrimónio e a família. Uma das expressões mais altas deste Magistério foi proposta pelo Concílio Ecuménico Vaticano II, na Constituição pastoral Gaudium et Spes, que dedica um capítulo inteiro à promoção da dignidade do matrimónio e da família (cf. Gaudium et Spes, 4752). Ele definiu o matrimónio como comunidade de vida e de amor (cf. Gaudium et Spes, 48), colocando o amor no centro da família e mostrando, ao mesmo tempo, a verdade deste amor face às diversas formas de reducionismo presentes na cultura contemporânea. O “verdadeiro amor entre marido e esposa” (Gaudium et Spes, 49) implica a doação recíproca de si, inclui e integra a dimensão sexual e a afetividade, correspondendo ao desígnio divino (cf. Gaudium et Spes, 4849). Além disso, a Gaudium et Spes, no número 48, frisa a radicação dos esposos em Cristo: Cristo Senhor “vem ao encontro dos cônjuges cristãos no sacramento do matrimónio”, e com eles permanece. Na encarnação, Ele assume o amor humano, purificao, levao à plenitude e doa aos esposos, com o seu Espírito, a capacidade de o viver, permeando toda a sua vida de fé, esperança e caridade. Deste modo, os esposos são como que consagrados e, mediante uma graça

38

própria, edificam o Corpo de Cristo e constituem como que uma igreja doméstica (cf. Lumen Gentium, 11), de modo que a Igreja, para compreender plenamente o seu mistério, olha para a família cristã, que o manifesta de modo genuíno» (Instrumentum Laboris, 4).

18. «Em continuidade com o Concílio Vaticano II, o Magistério pontifício aprofundou a doutrina sobre o matrimónio e sobre a família. Em particular Paulo VI, com a Encíclica Humanae Vitae, evidenciou o vínculo íntimo entre amor conjugal e geração da vida. São João Paulo II dedicou à família uma atenção especial através das suas catequeses sobre o amor humano, da Carta às famílias (Gratissimam Sane) e sobretudo com a Exortação Apostólica Familiaris Consortio. Nestes documentos, o Pontífice definiu a família “caminho da Igreja”; ofereceu uma visão de conjunto sobre a vocação do homem e da mulher para o amor; propôs as linhas fundamentais para a pastoral da família e para a presença da família na sociedade. Em particular, ao tratar a caridade conjugal (cf. Familiaris Consortio, 13), descreveu o modo como os cônjuges, no seu amor recíproco, recebem o dom do Espírito de Cristo e vivem a sua chamada à santidade» (Instrumentum Laboris, 5).

19. «Bento XVI, na Encíclica Deus Caritas Est, retomou o tema da verdade do amor entre homem e mulher, que só se ilumina plenamente à luz do amor de Cristo crucificado (cf. Deus Caritas Est, 2). Ele reafirma: “O matrimónio baseado num amor exclusivo e definitivo tornase o ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e, viceversa, o modo de Deus amar tornase a medida do amor humano” (Deus Caritas Est, 11). Além disso, na Encíclica Caritas in Veritate, ele evidencia a importância do amor como princípio de vida na sociedade (cf. Caritas in Veritate, 44), lugar no qual se aprende a experiência do bem comum» (Instrumentum Laboris, 6).

20. «O Papa Francisco, na Encíclica Lumen Fidei, ao tratar o vínculo entre a família e a fé, escreve: “O encontro com Cristo, o deixarse conquistar e guiar pelo seu amor alarga o horizonte da existência, dálhe uma esperança firme que não desilude. A fé não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida: faz descobrir uma grande chamada – a vocação ao amor – e assegura que este amor é fiável, que vale a pena entregarse a ele, porque o seu fundamento se encontra na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade” (Lumen Fidei, 53)» (Instrumentum Laboris, 7).

Orientar os nubentes no caminho de preparação para o matrimónio 39. A complexa realidade social e os desafios que a família de hoje está chamada

a enfrentar exigem um maior compromisso da parte de toda a comunidade cristã, em ordem à preparação dos nubentes para o matrimónio. É necessário recordar a importância das virtudes. Entre elas, a castidade resulta uma condição preciosa para o crescimento genuíno do amor interpessoal. Em relação a esta necessidade, os Padres sinodais concordaram em salientar a exigência de uma maior participação da comunidade inteira, privilegiando o testemunho das próprias famílias, além de uma radicação da preparação para o matrimónio no caminho de iniciação cristã, frisando o nexo do matrimónio com o batismo e com os demais sacramentos. Evidenciouse de igual modo a necessidade de programas específicos para a preparação próxima do matrimónio, a fim de que constituam uma verdadeira experiência de participação na vida eclesial, aprofundando os diversos aspetos da vida familiar.

Atenção pastoral às pessoas com orientação homossexual 55. Algumas famílias vivem a experiência de ter no seu interior pessoas com

orientação homossexual. A este propósito, houve interrogações sobre qual atenção pastoral é oportuna diante desta situação, com relação àquilo que a Igreja ensina: «Não existe fundamento algum para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas,

39

entre as uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimónio e a família». Não obstante, os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza. «Deve evitarse, para com eles, qualquer atitude de injusta discriminação» (Congregação para a Doutrina da Fé, Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, 4).

56. É totalmente inaceitável que os Pastores da Igreja sofram pressões nesta matéria e que os organismos internacionais condicionem as ajudas financeiras aos países pobres à introdução de leis que instituam o «matrimónio» entre pessoas do mesmo sexo.

O desafio da educação e o papel da família na evangelização 60. Um dos desafios fundamentais diante do qual se encontram as famílias de

hoje é sem dúvida o educativo, que se tornou ainda mais exigente e complexo por causa da realidade cultural contemporânea e da grande influência dos meios de comunicação. É preciso ter na devida consideração as exigências e as expectativas de famílias capazes de ser, na vida quotidiana, lugares de crescimento, de transmissão concreta e essencial das virtudes que forjam a existência. Isto indica que os pais podem escolher livremente o tipo de educação que desejam oferecer aos filhos, em conformidade com as convicções que lhes são próprias.

61. A Igreja desempenha um precioso papel de apoio às famílias, começando pela iniciação cristã, através de comunidades acolhedoras. Pedeselhe, hoje mais do que ontem, tanto nas situações complexas como nas normais, que ajude os pais no seu compromisso educacional, acompanhando as crianças, os adolescentes e os jovens no seu crescimento, ao longo de caminhos personalizados que sejam capazes de os introduzir no pleno sentido da vida e de suscitar escolhas e responsabilidades, vividas à luz do Evangelho. Na sua ternura, misericórdia e sensibilidade maternal, Maria pode saciar a fome de humanidade e de vida, e por este motivo é invocada pelas famílias e pelo povo cristão. A pastoral e a devoção mariana constituem um ponto de partida oportuno para anunciar o Evangelho da família.

3.7 – PAPA FRANCISCO. EXORTAÇÃO APOSTÓLICA GAUDETE ET EXSULTATE: SOBRE O CHAMADO À SANTIDADE NO MUNDO ATUAL. DOCUMENTO 206

O Senhor chama 10. Tudo isto é importante. Mas, o que quero recordar com esta Exortação é

sobretudo a chamada à santidade que o Senhor faz a cada um de nós, a chamada que dirige também a ti: «sede santos, porque Eu sou santo» (Lv 11, 45; cf. 1 Ped 1, 16). O Concílio Vaticano II salientou vigorosamente: «munidos de tantos e tão grandes meios de salvação, todos os fiéis, seja qual for a sua condição ou estado, são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai, cada um por seu caminho».[10]

11. «Cada um por seu caminho», diz o Concílio. Por isso, uma pessoa não deve desanimar, quando contempla modelos de santidade que lhe parecem inatingíveis. Há testemunhos que são úteis para nos estimular e motivar, mas não para procurarmos copiá-los, porque isso poderia até afastar-nos do caminho, único e específico, que o Senhor predispôs para nós. Importante é que cada crente discirna o seu próprio caminho e traga à luz o melhor de si mesmo, quanto Deus colocou nele de muito pessoal (cf. 1 Cor 12, 7), e não se esgote procurando imitar algo que não foi pensado para ele. Todos estamos chamados a ser testemunhas, mas há muitas formas existenciais de testemunho.[11] De facto, quando o grande místico São João da Cruz escrevera o seu Cântico Espiritual, preferia evitar regras fixas para todos, explicando

40

que os seus versos estavam escritos para que cada um os aproveitasse «a seu modo».[12] Pois a vida divina comunica-se «a uns duma maneira e a outros doutra».[13]

12. A propósito de tais formas distintas, quero assinalar que também o «génio feminino» se manifesta em estilos femininos de santidade, indispensáveis para refletir a santidade de Deus neste mundo. E precisamente em períodos nos quais as mulheres estiveram mais excluídas, o Espírito Santo suscitou santas, cujo fascínio provocou novos dinamismos espirituais e reformas importantes na Igreja. Podemos citar Santa Hildegarda de Bingen, Santa Brígida, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa de Lisieux; mas interessa-me sobretudo lembrar tantas mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e transformaram, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu testemunho.

13. Isto deveria entusiasmar e animar cada um a dar o melhor de si mesmo para crescer rumo àquele projeto, único e irrepetível, que Deus quis, desde toda a eternidade, para ele: «antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te 5 consagrei» (Jer 1, 5).

A ti também 14. Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso.

Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais.[14]

15. Deixa que a graça do teu Batismo frutifique num caminho de santidade. Deixa que tudo esteja aberto a Deus e, para isso, opta por Ele, escolhe Deus sem cessar. Não desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para tornar possível a santidade e, no fundo, esta é o fruto do Espírito Santo na tua vida (cf. Gal 5, 22-23). Quando sentires a tentação de te enredares na tua fragilidade, levanta os olhos para o Crucificado e diz-Lhe: «Senhor, sou um miserável! Mas Vós podeis realizar o milagre de me tornar um pouco melhor». Na Igreja, santa e formada por pecadores, encontrarás tudo o que precisas para crescer rumo à santidade. «Como uma noiva que se adorna com as suas joias» (Is 61, 10), o Senhor cumulou-a de dons com a Palavra, os Sacramentos, os santuários, a vida das comunidades, o testemunho dos santos e uma beleza multiforme que deriva do amor do Senhor.

16. Esta santidade, a que o Senhor te chama, irá crescendo com pequenos gestos. Por exemplo, uma senhora vai ao mercado fazer as compras, encontra uma vizinha, começam a falar e… surgem as críticas. Mas esta mulher diz para consigo: «Não! Não falarei mal de ninguém». Isto é um passo rumo à santidade. Depois, em casa, o seu filho reclama a atenção dela para falar das suas fantasias e ela, embora cansada, senta-se ao seu lado e escuta com paciência e carinho. Trata-se doutra oferta que santifica. Ou então atravessa um momento de angústia, mas lembra-se do amor da Virgem Maria, pega no terço e reza com fé. Este é outro caminho de santidade. Noutra ocasião, segue pela estrada fora, encontra um pobre e detém-se a conversar carinhosamente com ele. É mais um passo.

17. Sucede, às vezes, que a vida apresenta desafios maiores e, através deles, o Senhor convida-nos a novas conversões que permitam à sua graça manifestar-se

41

melhor na nossa existência, «para nos fazer participantes da sua santidade» (Heb 12, 10). Outras vezes trata-se apenas de encontrar uma forma mais perfeita de viver o que já fazemos: «há inspirações que nos fazem apenas tender para uma perfeição extraordinária das práticas ordinárias da vida cristã».[15] Quando estava na prisão, o Cardeal Francisco Xavier Nguyen van Thuan renunciou a desgastar-se com a ânsia da sua libertação. A sua decisão foi «viver o momento presente, cumulando-o de amor»; eis o modo como a concretizava: «aproveito as ocasiões que vão surgindo cada dia para realizar ações ordinárias de maneira extraordinária».[16]

18. Deste modo, sob o impulso da graça divina, com muitos gestos vamos construindo aquela figura de santidade que Deus quis para nós: não como seres autossuficientes, mas «como bons administradores das várias graças de Deus» (1 Ped 4, 10). Os Bispos da Nova Zelândia ensinaram-nos, justamente, que é possível amar com o amor incondicional do Senhor, porque o Ressuscitado partilha a sua vida poderosa com as nossas vidas frágeis: «o seu amor não tem limites e, uma vez doado, nunca volta atrás. Foi incondicional e permaneceu fiel. Amar assim não é fácil, porque muitas vezes somos tão frágeis; mas, precisamente para podermos amar como Ele nos amou, Cristo partilha conosco a sua própria vida ressuscitada. Desta forma, a nossa vida demonstra o seu poder em ação, inclusive no meio da fragilidade humana».[17]

A tua missão em Cristo 19. Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a

conceber como um caminho de santidade, porque «esta é, na verdade, a vontade de Deus: a [nossa] santificação» (1 Ts 4, 3). Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho.

20. Esta missão tem o seu sentido pleno em Cristo e só se compreende a partir d’Ele. No fundo, a santidade é viver em união com Ele os mistérios da sua vida; consiste em associar-se duma maneira única e pessoal à morte e ressurreição do Senhor, em morrer e ressuscitar continuamente com Ele. Mas pode também envolver a reprodução na própria existência de diferentes aspetos da vida terrena de Jesus: a vida oculta, a vida comunitária, a proximidade aos últimos, a pobreza e outras manifestações da sua doação por amor. A contemplação destes mistérios, como propunha Santo Inácio de Loyola, leva-nos a encarná-los nas nossas opções e atitudes.[18] Porque «tudo, na vida de Jesus, é sinal do seu mistério»,[19] «toda a vida de Cristo é revelação do Pai»,[20] «toda a vida de Cristo é mistério de redenção»,[21] «toda a vida de Cristo é mistério de recapitulação»,[22] e «tudo o que Cristo viveu, Ele próprio faz com que o possamos viver n’Ele e Ele vivê-lo em nós».[23]

21. O desígnio do Pai é Cristo, e nós n’Ele. Em última análise, é Cristo que ama em nós, porque a santidade «mais não é do que a caridade plenamente vivida».[24] Por conseguinte, «a medida da santidade é dada pela estatura que Cristo alcança em nós, desde quando, com a força do Espírito Santo, modelamos toda a nossa vida sobre a Sua».[25] Assim, cada santo é uma mensagem que o Espírito Santo extrai da riqueza de Jesus Cristo e dá ao seu povo.

22. Para identificar qual seja essa palavra que o Senhor quer dizer através dum santo, não convém deter-se nos detalhes, porque nisso também pode haver erros e quedas. Nem tudo o que um santo diz é plenamente fiel ao Evangelho, nem tudo o que faz é autêntico ou perfeito. O que devemos contemplar é o conjunto da sua vida, o seu caminho inteiro de santificação, aquela figura que reflete algo de Jesus Cristo e que sobressai quando se consegue compor o sentido da totalidade da sua pessoa.[26]

23. Isto é um vigoroso apelo para todos nós. Também tu precisas de conceber a totalidade da tua vida como uma missão. Tenta fazê-lo, escutando a Deus na oração e identificando os sinais que Ele te dá. Pede sempre, ao Espírito Santo, o que espera

42

Jesus de ti em cada momento da tua vida e em cada opção que tenhas de tomar, para discernir o lugar que isso ocupa na tua missão. E permite-Lhe plasmar em ti aquele mistério pessoal que possa refletir Jesus Cristo no mundo de hoje.

24. Oxalá consigas identificar a palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo com a tua vida. Deixa-te transformar, deixa-te renovar pelo Espírito para que isso seja possível, e assim a tua preciosa missão não fracassará. O Senhor levá-la-á a cumprimento mesmo no meio dos teus erros e momentos negativos, desde que não abandones o caminho do amor e permaneças sempre aberto à sua ação sobrenatural que purifica e ilumina.

Capítulo III À LUZ DO MESTRE 63. Sobre a essência da santidade, podem haver muitas teorias, abundantes

explicações e distinções. Uma reflexão do género poderia ser útil, mas não há nada de mais esclarecedor do 16 que voltar às palavras de Jesus e recolher o seu modo de transmitir a verdade. Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo; fê-lo quando nos deixou as bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23). Estas são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre «como fazer para chegar a ser um bom cristão», a resposta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bemaventuranças.[66] Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida.

64. A palavra «feliz» ou «bem-aventurado» torna-se sinónimo de «santo», porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade.

Contracorrente 65. Estas palavras de Jesus, não obstante possam até parecer poéticas, estão

decididamente contracorrente ao que é habitual, àquilo que se faz na sociedade; e, embora esta mensagem de Jesus nos fascine, na realidade o mundo conduz-nos para outro estilo de vida. As bem-aventuranças não são, absolutamente, um compromisso leve ou superficial; pelo contrário, só as podemos viver se o Espírito Santo nos permear com toda a sua força e nos libertar da fraqueza do egoísmo, da preguiça, do orgulho.

66. Voltemos a escutar Jesus, com todo o amor e respeito que o Mestre merece. Permitamos-Lhe que nos fustigue com as suas palavras, que nos desafie, que nos chame a uma mudança real de vida. Caso contrário, a santidade não passará de palavras. Recordemos agora as diferentes bem-aventuranças, na versão do Evangelho de Mateus (cf. 5, 3-12).[67] «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu»

67. O Evangelho convida-nos a reconhecer a verdade do nosso coração, para ver onde colocamos a segurança da nossa vida. Normalmente, o rico sente-se seguro com as suas riquezas e, quando estas estão em risco, pensa que se desmorona todo o sentido da sua vida na terra. O próprio Jesus no-lo disse na parábola do rico insensato, falando daquele homem seguro de si, que – como um insensato – não pensava que poderia morrer naquele mesmo dia (cf. Lc 12, 16-21).

68. As riquezas não te dão segurança alguma. Mais ainda: quando o coração se sente rico, fica tão satisfeito de si mesmo que não tem espaço para a Palavra de Deus, para amar os irmãos, nem para gozar das coisas mais importantes da vida. Deste modo priva-se dos bens maiores. Por isso, Jesus chama felizes os pobres em espírito, que têm o coração pobre, onde pode entrar o Senhor com a sua incessante novidade.

69. Esta pobreza de espírito está intimamente ligada à «santa indiferença» proposta por Santo Inácio de Loyola, na qual alcançamos uma estupenda liberdade

43

interior: «É necessário tornar-nos indiferentes face a todas as coisas criadas (em tudo aquilo que seja permitido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não lhe esteja proibido), de tal modo que, por nós mesmos, não queiramos mais a saúde do que a doença, mais a riqueza do que a pobreza, mais a honra do que a desonra, mais uma vida longa do que curta, e assim em tudo o resto».[68]

70. Lucas não fala duma pobreza «em espírito», mas simplesmente de ser «pobre» (cf. Lc 6, 20), convidando-nos assim a uma vida também austera e essencial. Desta forma, chama-nos a compartilhar a vida dos mais necessitados, a vida que levaram os Apóstolos e, em última análise, a configurar-nos a Jesus, que, «sendo rico, Se fez pobre» (2 Cor 8, 9). Ser pobre no coração: isto é santidade.

«Felizes os mansos, porque possuirão a terra» 71. É uma frase forte, neste mundo que, desde o início, é um lugar de inimizade,

onde se litiga por todo o lado, onde há ódio em toda a parte, onde constantemente classificamos os outros pelas suas ideias, os seus costumes e até a sua forma de falar ou vestir. Em suma, é o reino do orgulho e da vaidade, onde cada um se julga no direito de elevar-se acima dos outros. Embora pareça impossível, Jesus propõe outro estilo: a mansidão. É o que praticava com os seus discípulos, e contemplamos na sua entrada em Jerusalém: «aí vem o teu Rei, ao teu encontro, manso e montado num jumentinho» (Mt 21, 5; cf. Zc 9, 9).

72. Disse Ele: «Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito» (Mt 11, 29). Se vivemos tensos, arrogantes diante dos outros, acabamos cansados e exaustos. Mas, quando olhamos os seus limites e defeitos com ternura e mansidão, sem nos sentirmos superiores, podemos dar-lhes uma mão e evitamos de gastar energias em lamentações inúteis. Para Santa Teresa de Lisieux, «a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, em não se escandalizar com as suas fraquezas».[69]

73. Paulo designa a mansidão como fruto do Espírito Santo (cf. Gal 5, 23). E, se alguma vez nos preocuparem as más ações do irmão, propõe que o abordemos para corrigi-lo, mas «com espírito de mansidão, [lembrando-nos:] e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gal 6, 1)». Mesmo quando alguém defende a sua fé e as suas convicções, deve fazê-lo com mansidão (cf. 1 Ped 3, 16), e os próprios adversários devem ser tratados com mansidão (cf. 2 Tm 2, 25). Na Igreja, erramos muitas vezes por não ter acolhido este apelo da Palavra divina.

74. A mansidão é outra expressão da pobreza interior, de quem deposita a sua confiança apenas em Deus. De facto, na Bíblia, usa-se muitas vezes a mesma palavra anawin para se referir aos pobres e aos mansos. Alguém poderia objetar: «Mas, se eu for assim manso, pensarão que sou insensato, estúpido ou frágil». Talvez seja assim, mas deixemos que os outros pensem isso. É melhor sermos sempre mansos, porque assim se realizarão as nossas maiores aspirações: os mansos «possuirão a terra», isto é, verão as promessas de Deus cumpridas na sua vida. Porque os mansos, independentemente do que possam sugerir as circunstâncias, esperam no Senhor, e aqueles que esperam no Senhor possuirão a terra e gozarão de imensa paz (cf. Sal 37/36, 9.11). Ao mesmo tempo, o Senhor confia neles: «é nos humildes de coração contrito que os meus olhos se fixam, pois escutam a minha palavra com respeito» (Is 66, 2). Reagir com humilde mansidão: isto é santidade.

«Felizes os que choram, porque serão consolados» 75. O mundo propõe-nos o contrário: o entretenimento, o prazer, a distração, o

divertimento. E diz-nos que isto é que torna boa a vida. O mundano ignora, olha para o lado, quando há problemas de doença ou aflição na família ou ao seu redor. O mundo não quer chorar: prefere ignorar as situações dolorosas, cobri-las, escondê-las.

44

Gastam-se muitas energias para escapar das situações onde está presente o sofrimento, julgando que é possível dissimular a realidade, onde nunca, nunca, pode faltar a cruz.

76. A pessoa que, vendo as coisas como realmente estão, se deixa trespassar pela aflição e chora no seu coração, é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser autenticamente feliz. [70] Esta pessoa é consolada, mas com a consolação de Jesus e não com a do mundo. Assim pode ter a coragem de compartilhar o sofrimento alheio, e deixa de fugir das situações dolorosas. Desta forma, descobre que a vida tem sentido socorrendo o outro na sua aflição, compreendendo a angústia alheia, aliviando os outros. Esta pessoa sente que o outro é carne da sua carne, não teme aproximar-se até tocar a sua ferida, compadece-se até sentir que as distâncias são superadas. Assim, é possível acolher aquela exortação de São Paulo: «Chorai com os que choram» (Rm 12, 15). Saber chorar com os outros: isto é santidade.

«Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados» 77. «Fome e sede» são experiências muito intensas, porque correspondem a

necessidades primárias e têm a ver com o instinto de sobrevivência. Há pessoas que, com esta mesma intensidade, aspiram pela justiça e buscam-na com um desejo assim forte. Jesus diz que elas serão saciadas, porque a justiça, mais cedo ou mais tarde, chega e nós podemos colaborar para o tornar possível, embora nem sempre vejamos os resultados deste compromisso.

78. Mas a justiça, que Jesus propõe, não é como a que o mundo procura, uma justiça muitas vezes manchada por interesses mesquinhos, manipulada para um lado ou para outro. A realidade 19 mostra-nos como é fácil entrar nas súcias da corrupção, fazer parte dessa política diária do «dou para que me deem», onde tudo é negócio. E quantas pessoas sofrem por causa das injustiças, quantos ficam assistindo, impotentes, como outros se revezam para repartir o bolo da vida. Alguns desistem de lutar pela verdadeira justiça, e optam por subir para o carro do vencedor. Isto não tem nada a ver com a fome e sede de justiça que Jesus louva.

79. Esta justiça começa por se tornar realidade na vida de cada um, sendo justo nas próprias decisões, e depois manifesta-se na busca da justiça para os pobres e vulneráveis. É verdade que a palavra «justiça» pode ser sinónimo de fidelidade à vontade de Deus com toda a nossa vida, mas, se lhe dermos um sentido muito geral, esquecemo-nos que se manifesta especialmente na justiça com os inermes: «procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos, defendei as viúvas» (Is 1, 17). Buscar a justiça com fome e sede: isto é santidade.

«Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» 80. A misericórdia tem dois aspetos: é dar, ajudar, servir os outros, mas também

perdoar, compreender. Mateus resume-o numa regra de ouro: «o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (7, 12). O Catecismo lembra-nos que esta lei se deve aplicar «a todos os casos»,[71] especialmente quando alguém «se vê confrontado com situações que tornam o juízo moral menos seguro e a decisão difícil».[72]

81. Dar e perdoar é tentar reproduzir na nossa vida um pequeno reflexo da perfeição de Deus, que dá e perdoa superabundantemente. Por esta razão, no Evangelho de Lucas, já não encontramos «sede perfeitos» (Mt 5, 48), mas «sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado» (6, 36-38). E depois Lucas acrescenta algo que não deveríamos transcurar: «a

45

medida que usardes com os outros será usada convosco» (6, 38). A medida que usarmos para compreender e perdoar será aplicada a nós para nos perdoar. A medida que aplicarmos para dar, será aplicada a nós no céu para nos recompensar. Não nos convém esquecê-lo.

82. Jesus não diz «felizes os que planeiam vingança», mas chama felizes aqueles que perdoam e o fazem «setenta vezes sete» (Mt 18, 22). É necessário pensar que todos nós somos uma multidão de perdoados. Todos nós fomos olhados com compaixão divina. Se nos aproximarmos sinceramente do Senhor e ouvirmos com atenção, possivelmente uma vez ou outra escutaremos esta repreensão: «não devias também ter piedade do teu companheiro como Eu tive de ti?» (Mt 18, 33). Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade. 20 «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus»

83. Esta bem-aventurança diz respeito a quem tem um coração simples, puro, sem imundície, pois um coração que sabe amar não deixa entrar na sua vida algo que atente contra esse amor, algo que o enfraqueça ou coloque em risco. Na Bíblia, o coração significa as nossas verdadeiras intenções, o que realmente buscamos e desejamos, para além do que aparentamos: «O homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração» (1 Sam 16, 7). Ele procura falar-nos ao coração (cf. Os 2, 16) e nele deseja gravar a sua Lei (cf. Jer 31, 33). Em última análise, quer dar-nos um coração novo (cf. Ez 36, 26).

84. «Vela com todo o cuidado sobre o teu coração» (Prv 4, 23). Nada de manchado pela falsidade tem valor real para o Senhor. Ele «foge da duplicidade, afasta-Se dos pensamentos insensatos» (Sab 1, 5). O Pai, que «vê no oculto» (Mt 6, 6), reconhece o que não é limpo, ou seja, o que não é sincero, mas só casca e aparência; e de igual modo também o Filho sabe o que há em cada ser humano (cf. Jo 2, 25).

85. É verdade que não há amor sem obras de amor, mas esta bem-aventurança lembra-nos que o Senhor espera uma dedicação ao irmão que brote do coração, pois «ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me vale» (1 Cor 13, 3). Também vemos, no Evangelho de Mateus, que é «o que provém do coração (…) que torna o homem impuro» (15, 18), porque de lá procedem os homicídios, os roubos, os falsos testemunhos (cf. 15, 19). Nas intenções do coração, têm origem os desejos e as decisões mais profundas que efetivamente nos movem.

86. Quando o coração ama a Deus e ao próximo (cf. Mt 22, 36-40), quando isto é a sua verdadeira intenção e não palavras vazias, então esse coração é puro e pode ver a Deus. São Paulo lembra, em pleno hino da caridade, que «vemos como num espelho, de maneira confusa» (1 Cor 13, 12), mas, à medida que reinar verdadeiramente o amor, tornar-nos-emos capazes de ver «face a face» (1 Cor 13, 12). Jesus promete que as pessoas de coração puro «verão a Deus». Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor: isto é santidade.

«Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» 87. Esta bem-aventurança faz-nos pensar nas numerosas situações de guerra

que perduram. Da nossa parte, é muito comum sermos causa de conflitos ou, pelo menos, de incompreensões. Por exemplo, quando ouço qualquer coisa sobre alguém e vou ter com outro e lhe digo; e até faço uma segunda versão um pouco mais ampla e espalho-a. E, se o dano que consigo fazer é maior, até parece que me causa maior satisfação. O mundo das murmurações, feito por pessoas que se dedicam a criticar e destruir, não constrói a paz. Pelo contrário, tais pessoas são inimigas da paz 21 e, de modo nenhum, bem-aventuradas. [73]

88. Os pacíficos são fonte de paz, constroem paz e amizade social. Àqueles que cuidam de semear a paz por todo o lado, Jesus faz-lhes uma promessa maravilhosa:

46

«serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). Aos discípulos, pedia-lhes que, ao chegar a uma casa, dissessem: «a paz esteja nesta casa!» (Lc 10, 5). A Palavra de Deus exorta cada crente a procurar, juntamente «com todos», a paz (cf. 2 Tim 2, 22), pois «é com a paz que uma colheita de justiça é semeada pelos obreiros da paz» (Tg 3, 18). E na nossa comunidade, se alguma vez tivermos dúvidas acerca do que se deve fazer, «procuremos aquilo que leva à paz» (Rm 14, 19), porque a unidade é superior ao conflito. [74]

89. Não é fácil construir esta paz evangélica que não exclui ninguém; antes, integra mesmo aqueles que são um pouco estranhos, as pessoas difíceis e complicadas, os que reclamam atenção, aqueles que são diferentes, aqueles que são muito fustigados pela vida, aqueles que cultivam outros interesses. É difícil, requerendo uma grande abertura da mente e do coração, uma vez que não se trata de «um consenso de escritório ou uma paz efémera para uma minoria feliz»[75] nem de «um projeto de poucos para poucos».[76] Também não pretende ignorar ou dissimular os conflitos, mas «aceitar suportar o conflito, resolvê-lo e transformá-lo no elo de ligação de um novo processo».[77] Trata-se de ser artesãos da paz, porque construir a paz é uma arte que requer serenidade, criatividade, sensibilidade e destreza. Semear a paz ao nosso redor: isto é santidade.

«Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o

Reino do Céu» 90. O próprio Jesus sublinha que este caminho vai contracorrente, a ponto de

nos transformar em pessoas que questionam a sociedade com a sua vida, pessoas que incomodam. Jesus lembra as inúmeras pessoas que foram, e são, perseguidas simplesmente por ter lutado pela justiça, ter vivido os seus compromissos com Deus e com os outros. Se não queremos afundar numa obscura mediocridade, não pretendamos uma vida cómoda, porque, «quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la» (Mt 16, 25).

91. Para viver o Evangelho, não podemos esperar que tudo à nossa volta seja favorável, porque muitas vezes as ambições de poder e os interesses mundanos jogam contra nós. São João Paulo II declarava «alienada a sociedade que, nas suas formas de organização social, de produção e de consumo, torna mais difícil a realização [do] dom [de si mesmo] e a constituição [da] solidariedade inter-humana».[78] Numa tal sociedade alienada, enredada numa trama política, mediática, económica, cultural e mesmo religiosa, que estorva o autêntico desenvolvimento humano e social, torna-se difícil viver as bem-aventuranças, podendo até a sua vivência ser mal vista, suspeita, ridicularizada.

92. A cruz, especialmente as fadigas e os sofrimentos que suportamos para viver o mandamento do amor e o caminho da justiça, é fonte de amadurecimento e santificação. Lembremo-nos disto: quando o Novo Testamento fala dos sofrimentos que é preciso suportar pelo Evangelho, refere-se precisamente às perseguições (cf. At 5, 41; Flp 1, 29; Col 1, 24; 2 Tm 1, 12; 1 Ped 2, 20; 4, 14-16; Ap 2, 10).

93. Fala-se, porém, das perseguições inevitáveis, não daquelas que nós próprios podemos provocar com um modo errado de tratar os outros. Um santo não é uma pessoa excêntrica, distante, que se torna insuportável pela sua vaidade, negativismo e ressentimento. Não eram assim os Apóstolos de Cristo. O livro dos Atos refere, com insistência, que eles gozavam da simpatia «de todo o povo» (2, 47; cf. 4, 21.33; 5, 13), enquanto algumas autoridades os assediavam e perseguiam (cf. 4, 1- 3; 5, 17-18).

94. As perseguições não são uma realidade do passado, porque hoje também as sofremos quer de forma cruenta, como tantos mártires contemporâneos, quer duma maneira mais subtil, através de calúnias e falsidades. Jesus diz que haverá felicidade, quando, «mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa»

47

(Mt 5, 11). Outras vezes, trata-se de zombarias que tentam desfigurar a nossa fé e fazer-nos passar por pessoas ridículas. Abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade.

3.8 – PASTORAL VOCACIONAL NO SÍNODO DIOCESANO E PDEP

Conforme o Documento Conclusivo do Sínodo Diocesano (2008-2010), Pastoral Vocacional é:

“[...] responsabilidade de todo o povo de Deus, começa na família e continua na comunidade cristã, deve dirigir-se às crianças e especialmente aos jovens, para ajuda-los a descobrir o sentido da vida e o projeto que Deus tem para cada um, acompanhando-os em seu processo de discernimento”. (CELAM. Documento de Aparecida. Texto Conclusivo da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, n,314 apud Documento Conclusivo I Sínodo Diocesano, 2010, p. 16)

É afirmado ainda que “a Pastoral Vocacional deve ser prioridade em todas as nossas ações pastorais. De fundamental importância para que isso aconteça é atenção especial dos padres no acompanhamento dos vocacionados e vocacionadas de suas comunidades” (Documento Conclusivo I Sínodo Diocesano, 2010, p. 16).

Foi constatada ainda a importância e necessidade do Bispo Diocesano ser o primeiro promotor vocacional, de maneira que, através de seu testemunho, a Pastoral Vocacional possa motivar e orientar os jovens chamados de maneira especial ao sacerdócio.

Ressaltou-se ainda a importância da vocação laical em nossa Diocese, sendo indicado que as ações pastorais e evangelizadoras devem atentar-se a este grupo de pessoas, de maneira que elas sejam atraídas para atuarem de maneira efetiva em nossa Igreja. Visto que, conforme afirmado no Documento Conclusivo, os leigos são “a grande força de nossa Diocese”.

Destaca-se também a importância em promover que todo cristão é chamado a santidade, como vocação primeira, independente do “caminho” percorrido por cada pessoa. Esta é uma missão não apenas da Pastoral Vocacional, mas de todos os movimentos e pastorais de nossa Diocese.

A partir do Documento Conclusivo do 1º Sínodo Diocesano, elaborou-se o Plano Diocesano de Evangelização e Pastoral (PDEP), para ser aplicado no período entre os anos de 2017 e 2021.

Foi constatado pela nossa Diocese, durante a análise SWOT (Identificação de pontos fortes e fracos e das oportunidades e ameaças) que hoje, precisa-se melhorar o empenho na promoção vocacional, há ainda a falta de apoio de padres para a animação vocacional nas paróquias e na Diocese com um todo e foi percebida ainda, a falta de perseverança de seminaristas, religiosos (as) e de padres. Diante deste cenário, a Igreja particular de São José dos Campos assumiu o compromisso de sanar estas dificuldades, unindo forças.

Destaca-se a Visão do Plano Diocesano: “Ser uma Diocese, comunidade de comunidades, animada e fortalecida pela

Palavra de Deus, sustentada pela Eucaristia, em processo de formação continuada, na corresponsabilidade da ação missionário-pastoral, suscitando vocações, comprometida com a pessoa humana e com os valores da vida e da família.”

Foram definidas cinco “prioridades” para as ações evangelizadoras e missionárias em nossa Diocese para o período entre 2017 e 2021, sendo elas:

- Família: Projeto de Deus; - Juventude; - Processo Catequético Formador de Discípulos Missionários

48

- Dimensão Social da Fé - Ação Missionária Para cada um destes cinco tópicos, foram criados e propostos Projetos

Estratégicos, para serem desenvolvidos durante o período. Diante deste contexto, o Serviço de Animação Vocacional foi inserido no contexto JUVENTUDE e seus respectivos Projetos.

De maneira a organizar e desenvolver os Projetos determinados para a Juventude, criou-se o Conselho Diocesano do Setor Juventude, com (ao menos) um representante de cada Pastoral e/ou Movimento com participação de jovens. Ressalta-se que a Pastoral Vocacional possui representatividade neste Conselho que foi estruturado em 2018 para iniciar as atividades no próximo ano.

Diante dos Projetos Estabelecidos, o Serviço de Animação Vocacional está diretamente relacionado ao Projeto 6, que será apresentado em sua totalidade a seguir.

PROJETO ESTRATÉGICO 6

Opção Pastoral

Juventude

Projeto Estratégico

Coroinhas e Cerimoniários

Responsáveis - PASTORAL VOCACIONAL; - Seminaristas; - Coordenação Diocesana dos Coroinhas e Cerimoniários.

Objetivos A) Incentivar e formar crianças, adolescentes e jovens; B) Trabalhar a dimensão vocacional, juvenil e eclesial.

Metas

A) Definir idade de entrada e de saída do Grupo de Coroinhas e Cerimoniários; B) Criar uma nomenclatura comum para a Diocese; C) Utilizar, na formação, subsídios da Igreja do Brasil; D) Promover formação litúrgica consistente e uniformizada; E) Criar as Diretrizes Diocesanas para Coroinhas e Cerimoniários.

Indicadores

A) Número de Coroinhas e Cerimoniários na Diocese; B) Número de encontros de formação; C) Número de vocacionados ao presbiterado e à vida religiosa provenientes deste grupo, anualmente.

Ações e Destinatários

A) Encontro anual, por faixas etárias, nas Regiões Pastorais; B) Reuniões de formação para coordenadores dos grupos de Coroinhas e Cerimoniários; C) Organização da Coordenação e da Assessoria Diocesana; D) Integração das famílias dos coroinhas e cerimoniários nas formações.

Avaliação Nas reuniões da Pastoral Vocacional e da Coordenação Diocesana dos Coroinhas e Cerimoniários.

Recursos Da Diocese, dos Seminários e das Paróquias.

Calendário Conforme agenda diocesana.

49

Ressalta-se que, apesar da Pastoral Vocacional ter participação direta em um

único projeto, todos os demais contam com a participação da mesma. É por este motivo que há a representatividade no Conselho Diocesano do Setor Juventude, para integrar as ações do Serviço de Animação Vocacional a todos os Projetos Estratégicos. Podemos resumir esta “união” objetivada pelo Conselho com a “Pastoral de Conjunto” tão sonhada e desejada por nossa Igreja.

O PDEP ainda determina, além dos Projetos Estratégicos, atividades denominadas “permanentes”, das quais competem a Pastoral Vocacional:

- Encontros de despertar e de discernimento vocacional realizados nas paróquias, Regiões Pastorais e no âmbito diocesano;

- Encontros de Coroinhas e Cerimoniários; - Missa Vocacional mensal nos Seminários.

3.9 – CIC (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA)

1710 "Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem lhe descobre sua altíssima vocação."

Vocação última do homem 1260 1260 “Sendo que Cristo morreu por todos e que a vocação última do homem é

realmente uma só, a saber, divina, devemos sustentar que o Espírito Santo oferece a todos, sob forma que só Deus conhece, a possibilidade de se associarem ao Mistério Pascal.”

1699 A vida no Espírito realiza a vocação do homem (capítulo I) Constitui-se de caridade divina e de solidariedade humana (capítulo II). É concedida de graça como uma Salvação (capítulo III)

Caráter comunitário da vocação humana 1878-1885 1878 Todos os homens são chamados ao mesmo fim, o próprio Deus. Existe

certa semelhança entre a unidade das pessoas divinas e a fraternidade que os homens devem estabelecer entre si, na verdade e no amor. O amor ao próximo é inseparável do amor a Deus.

1879 A pessoa humana tem necessidade de vida social. Esta não constitui para ela algo acrescentado, mas é uma exigência de sua natureza. Mediante o intercâmbio com os outros, a reciprocidade dos serviços e o diálogo com seus irmãos, o homem desenvolve as próprias virtualidades; responde, assim, à sua vocação.

1880 Uma sociedade é um conjunto de pessoas ligadas de maneira orgânica por um princípio de unidade que ultrapassa cada uma delas. Assembléia ao mesmo tempo visível e espiritual, uma sociedade perdura no tempo; ela recolhe o passado e prepara o futuro. Por ela, cada homem é constituído "herdeiro", recebe "talentos" que enriquecem sua identidade e com os quais deve produzir frutos. Com justa razão, deve cada qual dedicar-se às comunidades de que faz parte e respeitar as autoridades encarregadas do bem comum.

1881 Cada comunidade se define por seu fim e obedece, por conseguinte, a regras específicas, mas "a pessoa humana é e deve ser o princípio, sujeito e fim de todas as instituições sociais".

1882 Certas sociedades, como a família e a cidade, correspondem mais imediatamente à natureza do homem. São-lhe necessárias. A fim de favorecer a participação do maior número na vida social, é preciso encorajar a criação de associações e instituições de livre escolha, "com fins econômicos, culturais, sociais,

50

esportivos, recreativos, profissionais, políticos, tanto no âmbito interno das comunidades políticas como no plano mundial". Esta “socialização" exprime, igualmente, a tendência natural que impele os seres humanos a se associarem para atingir objetivos que ultrapassam as capacidades individuais. Desenvolve as qualidades da pessoa, particularmente seu espírito de iniciativa e responsabilidade. Ajuda a garantir seus direitos.

1884 Deus não quis reter só para si o exercício de todos os poderes. Confia a cada criatura as funções que esta é capaz de exercer, segundo as capacidades da própria natureza. Este modo de governo deve ser imitado na vida social. O comportamento de Deus no governo do mundo, que demonstra tão grande consideração pela liberdade humana, deveria inspirar a sabedoria dos que governam as comunidades humanas. Estes de-vem comportar-se como ministros da providência divina.

Conselhos evangélicos da vocação pessoal 1974 1974 Os conselhos evangélicos manifestam a plenitude viva da caridade que

jamais se mostra satisfeita, por não poder dar mais. Atestam seu dinamismo e solicitam nossa prontidão espiritual. A perfeição da Nova Lei consiste essencialmente preceitos do amor a Deus e ao próximo. Os conselhos indicam caminhos mais diretos, meios mais fáceis, e devem ser praticados conforme a vocação de cada um: (Deus) não quer que cada pessoa observe todos os conselhos mas apenas aqueles que são convenientes, conforme a diversidade das pessoas, dos tempos, das ocasiões e das forças, com o exige a caridade; pois ela, como a rainha de todas as virtudes, de todos os mandamentos, de todos os conselhos, em suma, de todas as leis e de todas as ações cristãs, a todos e todas dá seu grau, sua ordem, o tempo e o valor.

Respeito e ajuda à vocação dos filhos 1656, 2226-2232 2226 A educação para a fé por parte dos pais deve começar desde a mais tenra

infância. Ocorre já quando os membros da família se ajudam a crescer na fé pelo testemunho de uma vida cristã de acordo com o Evangelho. A catequese familiar precede, acompanha e enriquece as outras formas de ensinamento da fé. Os pais têm a missão de ensinar os filhos a orar e a descobrir sua vocação de filhos de Deus. A paróquia é a comunidade eucarística e o centro da vida litúrgica das famílias cristãs; ela é um lugar privilegiado da catequese dos filhos e dos pais.

2227 Os filhos, por sua vez, contribuem para o crescimento de seus pais em santidade[a44] . Todos e cada um se darão generosamente e sem se cansar o perdão mútuo exigido pelas ofensas, pelas rixas, pelas injustiças e pelos abandonos. Sugere-o a mútua afeição. Exige-o a caridade de Cristo.

2228 Durante a infância, O respeito e a afeição dos pais se traduzem inicialmente pelo cuidado e pela atenção que dedicam em educar seus filhos, em prover suas necessidades físicas e espirituais. Na fase de crescimento, o mesmo respeito e a mesma dedicação levam os pais a educá-los no reto uso da razão e da liberdade.

2229 Como primeiros responsáveis pela educação dos filhos, os pais têm o direito de escolher para eles uma escola que corresponda as suas próprias convicções. Este direito é fundamental. Os pais têm, enquanto possível, o dever de escolher as escolas que melhor possam ajudá-los em sua tarefa de educadores cristãos. Os poderes públicos têm o dever de garantir esse direito dos pais e de assegurar as condições reais de seu exercício.

2230 Quando se tornam adultos, os filhos têm o dever e o direito de escolher sua profissão e seu estado de vida. Assumirão essas novas responsabilidades na relação

51

confiante com os pais, cujas opiniões e conselhos pedirão e receberão de boa vontade. Os pais cuidarão de não constranger seus filhos nem na escolha de uma profissão nem na de um consorte. Este dever de discrição não os impede, muito ao contrário, de ajudá-los com conselhos prudentes, particularmente quando estes têm em vista constituir uma família.

2231 Alguns não se casam, para cuidar dos pais ou dos irmãos e irmãs, para se dedicar mais exclusivamente a uma profissão ou por outros motivos louváveis. Podem contribuir muito para o bem da família humana.

2232 Embora os vínculos familiares sejam importantes, não são absolutos. Da mesma forma que a criança cresce para sua maturidade e autonomia humanas e espirituais, assim também sua vocação singular, que vem de Deus, se consolida com mais clareza e força. Os pais respeitarão este chamamento e favorecerão a resposta dos filhos em segui-lo. É preciso convencer-se de que a primeira vocação do cristão é a de seguir Jesus. "Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim. E aquele que ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim" (Mt 10,37).

2233 Tornar-se discípulo de Jesus é aceitar o convite de pertencer à família de Deus, de viver conforme a sua maneira de viver: "Aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe" (Mt 12,50). Os pais aceitarão e respeitarão com alegria e ação de graças o chamamento do Senhor a um de seus filhos de segui-lo na virgindade pelo Reino, na vida consagrada ou no ministério sacerdotal.

Sociedade obriga a permitir que cada um realize sua vocação 2461 1907 Supõe, em primeiro lugar, o respeito pela pessoa como tal. Em nome do

bem comum, os poderes públicos são obrigados a respeitar os direitos fundamentais e inalienáveis da pessoa humana. A Sociedade é obrigada a Permitir que cada um de seus membros realize sua vocação. Em particular, o bem comum consiste nas condições para exercer as liberdades naturais indispensáveis ao desabrochar da vocação humana: "Tais são o direito de agir segundo a norma reta de sua consciência, o direito á proteção da vida particular e à justa liberdade, também em matéria religiosa"

2461 O verdadeiro desenvolvimento abrange o homem inteiro. O que importa é fazer crescer a capacidade de cada pessoa de responder à sua vocação, portanto, ao chamamento de Deus.

Vocação a paternidade 2369 "Salvaguardando estes dois aspectos essenciais, unitivo e procriador, o ato

conjugal conserva integralmente o sentido de amor mútuo e verdadeiro e sua ordenação para a altíssima vocação do homem para a paternidade."

Vocação de Maria 490 490 Para ser a Mãe do Salvador, Maria "'foi enriquecida por Deus com dons

dignos para tamanha função". No momento da Anunciação, o anjo Gabriel a saúda como “cheia de graça". Efetivamente, para poder dar o assentimento livre de sua fé ao anúncio de sua vocação era preciso que ela estivesse totalmente sob a moção da graça de Deus. (Parágrafos relacionados: 2676,2853,2001)

Vocação dos leigos 898-900,2442 II. OS FIÉIS LEIGOS 897 "Sob o nome de leigos entendem-se aqui todos os

cristãos, exceto os membros das Sagradas Ordens ou do estado religioso reconhecido na Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados a Cristo pelo Batismo, constituídos em Povo de Deus e a seu modo feitos participantes da função sacerdotal, profética e régia de Cristo, exercem, em seu âmbito, a missão de todo o Povo cristão na Igreja e no mundo." (Parágrafo relacionado 893) A VOCAÇÃO DOS LEIGOS 898 "É especifico dos leigos,

52

por sua própria vocação, procurar o Reino de Deus exercendo funções temporais e ordenando-as segundo Deus... A eles, portanto, cabe de maneira especial iluminar e ordenar de tal modo todas as coisas temporais, as quais estão intimamente unidos, que elas continuamente se façam e cresçam segundo Cristo e contribuam para o louvor do Criador e Redentor." (Parágrafo relacionado 2105) 899 A iniciativa dos cristãos leigos é particularmente necessária quando se trata de descobrir, de inventar meios para impregnar as realidades sociais, políticas e econômicas com as exigências da doutrina e da vida cristãs. Esta iniciativa é um elemento normal da vida da Igreja. (Parágrafo relacionado 2442) Os fiéis leigos estio na linha mais avançada da vida da Igreja: graças a eles a Igreja é o princípio vital da sociedade humana. Por isso, especialmente eles devem ter uma consciência sempre mais clara não somente de pertencerem à Igreja, mas de serem Igreja, isto é, a comunidade dos fiéis na terra sob a direção do Chefe comum, o Papa, e dos Bispos em comunhão com ele. Eles são a Igreja. 900 Uma vez que, como todos os fiéis, os leigos são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, eles têm a obrigação e gozam do direito, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente por meio deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que sem ela o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito. (Parágrafo relacionado 863) A PARTICIPAÇÃO DOS LEIGOS NO MÚNUS SACERDOTAL DE CRISTO 901 "Os leigos, em virtude de sua consagração a Cristo e da unção do Espírito Santo, recebem a vocação admirável e os meios que permitem ao Espírito produzir neles frutos sempre mais abundantes. Assim, todas as suas obras, preces e iniciativas apostólicas, vida conjugal e familiar, trabalho cotidiano, descanso do corpo e da alma, se praticados no Espírito, e mesmo as provações da vida, pacientemente suportadas, se tornam 'hóstias espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo' (l Pd 2,5),

2442 Não cabe aos pastores da Igreja intervir diretamente na construção política e na organização da vida social. Essa tarefa faz parte da vocação dos fiéis leigos, que agem por própria iniciativa com seus concidadãos. A ação social pode implicar uma pluralidade de caminhos concretos. Terá sempre em vista o bem comum e se conformará com a mensagem evangélica e com a doutrina da Igreja. Cabe aos fiéis leigos "animar as realidades temporais com um zelo cristão e comportar-se como artesãos da paz e da justiça".

Vocação para o amor 1604,2331 1604 Deus, que criou o homem por amor, também o chamou para o amor,

vocação fundamental e inata de todo ser humano. Pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é Amor. Tendo-os Deus criado homem e mulher, seu amor mútuo se torna uma imagem do amor absoluto e indefectível de Deus pelo homem. Esse amor é bom, muito bom, aos olhos do Criador, que “é amor” (1Jo 4,8.16). E esse amor abençoado por Deus é destinado a ser fecundo e a realizar-se na obra comum de preservação da criação: “Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28).

2331 "Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem... Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação e, assim a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão.” "Deus criou o homem à sua imagem... homem e mulher ele os criou" (Gn 1,27); "Crescei e multiplicai-vos" (Gn 1,28); "No dia em que Deus criou o homem, Ele o fez à semelhança de Deus. Homem e mulher Ele os criou, abençoou-os e lhes deu o nome 'homem', no dia em que foram criados" (Gn 5,1-2).

53

Vocação para o casamento 1603,1604,2331 1603 “A íntima comunhão de vida e de amor conjugal que o Criador fundou e

dotou com suas leis [...] O próprio [...] Deus é o autor do matrimônio. “A vocação para o Matrimônio está inscrita na própria natureza do homem e da mulher, conforme saíram da mão do Criador. O casamento não é uma instituição simplesmente humana, apesar das inúmeras variações que sofreu no curso dos séculos, nas diferentes culturas, estruturas sociais e atitudes espirituais. Essas diversidades não devem fazer esquecer os traços comuns e permanentes. Ainda que a dignidade desta instituição não transpareça em toda parte com a mesma clareza, existe, contudo, em todas as culturas, um certo sentido da grandeza da união matrimonial. “A salvação da pessoa e da sociedade humana está estreitamente ligada ao bem-estar da comunidade conjugal e familiar.”

1604 Deus, que criou o homem por amor, também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata de todo ser humano. Pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é Amor. Tendo-os Deus criado homem e mulher, seu amor mútuo se torna uma imagem do amor absoluto e indefectível de Deus pelo homem. Esse amor é bom, muito bom, aos olhos do Criador, que “é amor” (1Jo 4,8.16). E esse amor abençoado por Deus é destinado a ser fecundo e a realizar-se na obra comum de preservação da criação: “Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28).

1605 Que o homem e a mulher tenham sido criados um para o outro, a sagrada Escritura o afirma: “Não é bom que O homem esteja só” (Gn 2,18). A mulher, “carne de sua carne”, é, igual a ele, bem próxima dele, lhe foi dada por Deus como um “auxilio”, representando, assim, “Deus, em quem está o nosso socorro”. “Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (Gn 2,24). Que isto significa uma unidade indefectível de suas duas vidas, o próprio Senhor no-lo mostra lembrando qual foi, 'na origem”, o desígnio do Criador (Cf Mt 19,4): “De modo que já não são dois, mas uma só carne” (Mt 19,6).

2331 "Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem... Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação e, assim a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão.” "Deus criou o homem à sua imagem... homem e mulher ele os criou" (Gn 1,27); "Crescei e multiplicai-vos" (Gn 1,28); "No dia em que Deus criou o homem, Ele o fez à semelhança de Deus. Homem e mulher Ele os criou, abençoou-os e lhes deu o nome 'homem', no dia em que foram criados" (Gn 5,1-2).

Vocação para procurar a Deus 30 30 "Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor!" (Sl 105,3). Se o homem

pode esquecer ou rejeitar a Deus, este, de sua parte, não cessa de chamar todo homem a procurá-lo, para que viva e encontre a felicidade. Mas esta busca exige do homem todo o esforço de sua inteligência, a retidão de sua vontade, "um coração reto", e também o testemunho dos outros, que o ensinam a procurar a Deus. Vós sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor: grande é o vosso poder, e a vossa sabedoria não tem medida. E o homem, pequena parcela de vossa criação, pretende louvar-vos, precisamente o homem que, revestido de sua condição mortal, traz em si o testemunho de seu pecado e de que resistis aos soberbos. A despeito de tudo, o homem, pequena parcela de vossa criação, quer louvar-vos. Vós mesmo o incitais a isto, fazendo com que ele encontre suas delícias no vosso louvor, porque nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós.

Vocação sacerdotal do povo de Deus 784,1583

54

784 Ao entrar no Povo de Deus pela fé e pelo Batismo, recebe-se participação na vocação única deste povo, em sua vocação sacerdotal: "Cristo Senhor, Pontífice tomado dentre os homens, fez do novo povo 'um reino e sacerdotes para Deus Pai'. Pois os batizados, pela regeneração e unção do Espírito Santo, são consagrados para ser uma morada espiritual e sacerdócio santo. (Parágrafos relacionados 1268,1546)

1581 Este sacramento toma a pessoa semelhante a Cristo por meio de uma graça especial do Espírito Santo, para servir de instrumento de Cristo em favor de sua Igreja. Pela ordenação, a pessoa se habilita a agir como representante de Cristo, Cabeça da Igreja, em sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei.

1582 Como no caso do Batismo e da Confirmação, esta participação na função de Cristo é concedida uma vez por todas. O sacramento da Ordem também confere um caráter espiritual indelével e não pode ser reiterado nem conferido temporariamente.

3.10 – RESUMO DO SEMINÁRIO PARA ANIMADORAS VOCACIONAL

O contexto atual das vocações Começamos a ver e discutir Abrindo nossa mente e coração O primeiro passo foi dos preconceitos nos despir Sair de uma pastoral vocacional De manutenção da instituição Para uma cultura vocacional Que acolhe o jovem sem distinção. Há um medo de ficar desconectado Em um mundo conectado Nosso desafio é ser nesse meio Sinal e rosto do sagrado. O acompanhamento “conteúdista” Não responde mais a realidade; Espera-se de nós a vivência da vocação Na sua essência, não na superficialidade A vida comunitária como sempre Um desafio e ao mesmo tempo alegria. Não desanimamos! Seguimos em frente Buscando a harmonia. Acompanhante vocacional neurótica Acompanha vocação neurótica; O mundo pede de nós leveza e ousadia Além de um olhar sob nova ótica. Vivemos em constantes mudanças No âmbito social, familiar e eclesial. Mas não podemos abrir mão de um Profundo acompanhamento vocacional. Não tem propaganda vocacional Mais eficaz do que o testemunho, Seguindo Jesus que é o fundamento, Deixando as marcas do carisma no mundo. O jovem não quer saber que obras temos E sim quer saber como nós vivemos. A abertura às expressões juvenis É o que vai ajudar para que os cativemos. A idade cronológica Nem sempre é sinal de maturidade. O processo de fé é diferente, Assim como o carisma e identidade. O projeto de Deus é sempre A realização pessoal e a felicidade. São aspectos a serem cuidados, Com atenção e sensibilidade. Devemos empoderar os jovens que estão conosco Sabendo que evangelizar e acima de tudo humanizar É amar e cuidar Para que as relações possam se firmar. A animação vocacional Precisa ser feita na ética e na esperança Com critérios do evangelho Na profecia e confiança. Cada pessoa responde ao Senhor a partir Da sua própria e singular história. Nosso diferencial é o carisma Que não perde sua memória. Despertar, discernir, Cultivar e acompanhar Verbos no presente para Com os jovens amortizar. Vocacionalizar as pastorais Uma igreja em saída Em todas as dimensões do ser Gerando nova vida. O acompanhamento se dá de forma Processual, gradual e integral Elementos correlacionados No desenvolvimento pessoal Com a zumba e hip hop Foi dançar e relaxar Conhecendo outros jovens Que se permitem sonhar. Animador/a perfeito Nunca vamos ter ou ser, Mas a cultura do encontro Em nós deve permanecer. Que encontrem em nós A força que nunca seca, O vigor que vai além E o amor que é a mola mestra. A cor e beleza de cada um É para alegrar e misturar. Não estamos sozinhos/as Juntos queremos caminhar.

Ir. Alessandra Santana -CIIC

55

REFERÊNCIAS

ALFONSO, Card. López Trujillo. CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA:

Preparação para o Sacramento do Matrimônio. Documento 150. 5ª Edição. São

Paulo: Editora Paulus, 2007.

CELAM. DOCUMENTO DE APARECIDA: Texto conclusivo da V Conferencia Geral

do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. 17ª reimpressão, 2016. São Paulo:

Editora Paulus, 2007.

CNBB. CONTEMPLAI: "Mostra-me, ó amor de minha alma." (Ct 1,7) - Aos consagrados e às consagradas sobre os sinais da beleza. Documento 41. Tradução: D. Hugo C. da S. Cavalcante, OSB. Editora: Paulus, 2016.

CNBB. INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ: itinerário para formar discípulos missionários. Documento 107. 2ª Edição. Brasília: Edições CNBB, 2018.

CNBB. CRISTÃOS LEIGOS E LEIGAS NA IGREJA E NA SOCIEDADE: Sal da Terra

e Luz do Mundo (Mt 5,13-14). Documento 105. 1ª Edição. Brasília: Edições CNBB,

2018.

DIOCESE DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. PDEP – Plano Diocesano de Evangelização

e Pastoral. São José dos Campos: Gráfica Risção, 2017.

DIOCESE DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. Documento Conclusivo I Sínodo

Diocesano. São José dos Campos: Centro Diocesano de Pastoral, 2010.

FRANCISCO, Papa. MENSAGEM PARA O 55º DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS

VOCAÇÕES. Disponível em < http://www.cnbb.org.br/papa-francisco-divulga-

mensagem-para-o-dia-mundial-de-oracao-pelas-vocacoes/> Acesso em: 16 de

novembro de 2018.

FRANCISCO, Papa. EXORTAÇÃO APOSTÓLICA GAUDETE ET EXSULTATE: Sobre

o chamado à Santidade no Mundo Atual. Documento 206. 1ª Edição, 3ª Reimpressão.

São Paulo: Editora Paulus, 2018.

56

GIRAUDO, Aldo. ESCREVO A VOCÊS, JOVENS: espiritualidade juvenil salesiana.

São Paulo: Editora Salesiana, 2004.

GOULART, José Dias. VOCAÇÃO: convite para servir. 2ª Reimpressão, 2012. São

Paulo: Paulus, 1986.

IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA.

19ª Edição. Brasilíia: Edições Loyola, 2017. – Texto típico Latino, Libreria Editrice

Vaticana, Città del Vaticano, 1997.

MUCHERY, Gérard. VOCAÇÕES: um guia para escolher os caminhos do

seguimento de Cristo. [Tradução de Yvone Maria de Campos Teixeira da Silva]. 2ª

Edição. São Paulo: Paulinas, 1998. / Título Original: VOCATIONS: um guide pour choisir.

Éditions du Centurion, 1989.

OLIVEIRA, José Lisboa Moreira de. NOSSA RESPOSTA AO AMOR: Teologia das

Vocações Específicas. São Paulo, 2001.

OLIVEIRA, José Lisboa Moreira de. PASTORAL VOCACIONAL E CULTURA URBANA.

2ª Edição. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

OLIVEIRA, José Lisboa Moreira de. EVANGELHO DA VOCAÇÃO: dimensão

vocacional da evangelização. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

PAULO II, Papa João. EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL VITA

CONSECRATA: Sobre a Vida Consagrada e Sua Missão na Igreja e no Mundo.

Documento 147. 6ª Edição, 3ª reimpressão. São Paulo: Editora Paulus, 2015.

SÍNODO DOS BISPOS. XIV ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA: A Vocação e a

Missão da Família na Igreja e no Mundo Contemporâneo. São Paulo: Editora Paulus,

2015.