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ENCICLOPEDIA DA BÍBLIA CULTURA CRISTÃ mm*»'»» rÜWívslJ Ufisj VOLUME A-C 1 Organizador Geral MERRILL C. TENNEY 0 Z

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ENCICLOPEDIADA BÍBLIAC U L T U R A C R I S T Ã

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rÜWívslJ Ufisj

V O L U M E SÊ

A-C 1

Organizador Geral

MERRILL C. TENNEY

0 Z

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Organizadores Consultores — Antigo TestamentoGLEASON L. ARCHER

R. LAIRD HARRIS

Organizadores Consultores — Teologia HAROLD B. KUHN

ADDISON H. LEITH

Organizador Arqueológico E. M. BALIKLOCK

Organizador do Manuscrito EDWARD VIENING

Organizador de Fotos e Layout T. ALTON BRYANT

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BB. Símbolo utilizado para designar o MS bíblico Vaticano, o qual, dentre os MSS conhecidos da Bíblia, é considerado um dos melhores; encontra- se na biblioteca do Vaticano, em Roma. Data da primeira parte do 4- séc. d.C. Faltam 39 folhas no início do livro e 10 folhas dos Salmos. No NT, há uma falha no meio de Hebreus 9, omite 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom e Apocalipse. O MS todo foi reproduzido em fac-símile fotográfico.

S. B ara bas

Esta escultura em pedra mostra a divindade fenícia Ba'al-Hadade, com os braços erguidos. Localizada no grande saguão diante do Templo de Júpiter. Visão frontal. © Lev

B AAL O n , dono, amo, senhor ou marido). A palavra raramente aparece no AT como nome próprio (lCr 5.5; 8.30; 9.36). Geralmente designa a divindade cananita, assim como o local, quando é qualificada pelo nome do lugar (por exemplo, Baal-Peor, Nm 25.3; Baal-Gade, Js 11.17; Baal- Hermom, Jz 3.3 etc.), ou alguma outra caracterís­tica específica (por exemplo, Baal-Berite, “Baal da aliança”, Jz 8.33; Baal-Zebube, possivelmente uma corrupção intencional de Baal-Zebul “Baal- príncipe”, 2Rs 1.2), ou o grande e cósmico deus- natureza. A etimologia da palavra sugere que Baal era considerado o dono de uma localidade parti­cular, assim limitando o uso da palavra a pessoas que não eram mais nômades, mas estabelecidas na terra. Acreditava-se que esses baalins locais controlavam a fertilidade da agricultura, do gado e da humanidade. Portanto, era extremamente im­portante assegurar seu favor, principalmente numa região como a Palestina, com poucos mananciais

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648 BAAL

Estátua de Baal (visão frontal e posterior), o deus do clima, brandindo raios. Feita de bronze, com elmo de pedras polidas; de Ras Shamra (Ugarite), cerca de 1.400 a.C. © A.S.O.R.

naturais de água e com um índice pluviométrico incerto. Isso levava à adoção de formas extremas de culto, inclusive a prática de rituais de prostitui­ção (Jz 2.17; Jr 7.9; Am 2.7) e sacrifício de crianças (Jr 19.5). Apluralidade dos deuses locais levou os profetas israelitas a agrupá-los sob a forma plural (cp^yn), como em 1 Reis 18.18.

O uso mais importante do título no AT refere- se ao grande e ativo deus do panteão cananita, que controlava a chuva e a fertilidade. Parece claro que havia uma similaridade com Hadade, o deus amorita cuja natureza e cujas funções eram praticamente idênticas. E provável que os colonos amoritas tenham levado seus deuses consigo num grande movimento migratório para o ocidente, no início do segundo milênio a.C., e o nome de Hada­de tenha mudado para Baal quando se fixaram em Canaã. Com o tempo, Baal tomou-se a principal divindade da região. Alguns estudiosos acreditam que parte desse processo pode ser comprovada pelos textos ugaríticos. Sem dúvida, El era o ca­beça original das divindades cananitas, mas Baal é descrito não como filho dele, e sim de Dagon, outra divindade amorita, provavelmente o deus da vegetação ou dos grãos. Templos de Baal e de Dagon foram descobertos em Ras Shamra (local da antiga Ugarite), mas não foi encontrado nenhum dedicado ao próprio El. Nos textos ugaríticos, El é uma figura bem obscura, um “pai dos anos” que habita na “Fonte dos Dois Abismos” e transmite

suas instruções por meio de mensageiros, suge­rindo sua idade e seu distanciamento. Além disso. Ashirat (a “Aserá” da Bíblia), consorte de El, pa­rece estar em processo de transferência para Baal. o que dá mais evidência de que este substituiu El. Talvez seja significativo que o AT mencione Baal e Aserá juntos (como em Jz 3.7).

A importância de Baal no texto ugarítico é inquestionável. Seu nome aparece mais de 150 vezes nos textos publicados até agora; a forma Aliyan Baal (Baal, o Forte) é encontrada 70 vezes e a forma composta Baal-Hadade é mencionada aproximadamente em 20 ocasiões. Ele é vincula­do ao monte Sapon, a “montanha dos deuses do norte”, geralmente identificada com a modema Jebel el-Aqra, ao norte de Ras Shamra, de uma forma que lembra o monte Olimpo, a morada dos deuses do panteão grego (cp. a referência a Yahweh no SI 48.1,2). Outra descrição freqüente de Baal é “aquele que cavalga as nuvens”, o que faz eco à referência a Yahweh no Salmo 68.4 (cp. SI 104.3). Nas esculturas, Baal é mostrado com um elmo adornado com chifres de touro, símbolo de força e de fertilidade. Em uma das mãos ele segura uma clava, possivelmente um símbolo do trovão, e na outra uma lança adornada com folhas, que pode simbolizar o relâmpago ou a vegetação. Nas esculturas aramaicas, Baal é visto sobre um touro, o que pode ter relação com a imagem do bezerro feita por Arão e por Jeroboão I (Ex 32.4; lRs 12.28), e esta, com toda probabilidade, servia como pedestal para o Yahweh invisível. Anate, muitas vezes mencionada eufemisticamente como “a virgem Anate”, era consorte e irmã de Baal e partilhava de suas várias aventuras.

Nos numerosos textos descobertos em Ras Shamra, distinguem-se dois conjuntos principais de mitos concernentes a Baal. O primeiro refere- se a um conflito crucial com o Príncipe Juiz do Rio (provavelmente, trata-se de apenas um deus, o Senhor das Águas), o qual tinha tiranizado os deuses. Baal, com a ajuda do deus-artífice Kothar wa-Khasis (“o Hábil e Perspicaz”), derrotou o oponente, o qual, a partir desse momento, foi confinado aos seus próprios domínios. Alguns eru­ditos relacionam O Príncipe do Mar com Lotã, “a serpente retorcida”, o Leviatã do AT. Este conflito com o dragão ou monstro do caos é um elemento recorrente na mitologia do Crescente Fértil, que influenciou a linguagem e a forma de pensamento do AT. Entretanto, tais elementos foram totalmente desprovidos do seu teor mitológico e relacionados à soberania absoluta de Yahweh sobre todas as forças deste mundo. Esse mito cananita sobre a

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BAAL 649

vitória de Baal proporciona uma ilustração con­veniente e vivida dessa soberania. A origem do Dia do Senhor pode ser a ocasião em que a vitória de Yahweh sobre as forças do caos era celebrada, possivelmente no Festival de Ano-Novo no Tem­plo em Jerusalém, num ritual que se desenvolveu segundo um protótipo cananita.

O segundo conjunto de mitos não tem eco no AT. Situa-se na esfera do culto da fertilidade, com a temática do deus que morre e ressuscita. Aliyan Baal, no auge da estiagem do verão (isto é, quando a vegetação morre e a terra fica ressecada), foi morto por Mot (a Morte). Anate procurou seu ca­dáver com a ajuda da deusa do sol, Shapsh. Ela en­controu o corpo de Aliyan e, depois de numerosos sacrifícios de animais (búfalos, bois, gado miúdo, veados, bodes monteses, setenta de cada), Baal foi restaurado à vida e reinou sobre Mot, assegurando assim a vida e a fertilidade para o ano seguinte. Esse mito era encenado num cenário de mágicas e simpatias no Festival de Ano-Novo cananita; sua conexão vital com a fertilidade desejada, sem dúvida, era o aspecto mais importante do culto anual. Havia uma resposta apropriada dos parti­cipantes, culminando com ritos grosseiramente sensuais acompanhando o casamento sagrado, no qual a prostituição ritual de ambos os sexos era um elemento proeminente.

Existem evidências de que Baal e outras di­vindades cananitas eram adoradas no Egito, sem chegarem a ser uma ameaça séria para a religião egípcia nativa. Em Israel, a situação foi diferente: por meio de um processo de sincretismo, a ado­ração a Yahweh foi profundamente influenciada e ameaçada pelos elementos estranhos dos cultos aos baalins. Isso ocorreu em virtude de dois fatores principais: (1) Os israelitas não expulsaram os cananeus , mas envolveram-se em casamentos mistos com eles, suscitando assim o problema da relação entre Yahweh e Baal. (2) Yahweh deu a Is­rael uma vitória considerável sobre os cananeus, e sua supremacia sobre outras divindades tomou-se inquestionável. Os israelitas comuns associavam Yahweh ao deserto, onde passaram a maior parte da vida. Em Canaã, dependiam da fertilidade da terra, a qual, no pensamento popular, era contro­lada pelos baalins. Muitos israelitas, portanto, achavam que seria sábio prestar reverência aos baalins. Essa tendência provavelmente foi inten­sificada pelo apelo sensual dos rituais cananitas. Com o tempo, a adoração a Yahweh foi mesclada com elementos cananitas — embora Yahweh con­tinuasse a ser adorado, os atributos e mesmo os nomes de Baal foram sendo atribuídos a ele. Essa

tendência sincretista é ilustrada nos comentários editoriais e nos exemplos do Livro de Juizes (por exemplo, 2.1-5,11-13,17,19; 3.5-7; 6.25,26 etc.). Também se reflete em nomes como Jerubaal (Jz7.1), Beeliada (lCr 14.7); Esbaal e Meribe-Baal (lCr 8.33,34). Tais nomes de outras divindades provavelmente eram usados de forma inocente, e Yahweh era considerado o “dono” ou “marido” de Israel. A ostraca de Samaria, que data de 780a.C., mostra que tal tendência era particularmente proeminente no reino do norte; de cada dois nomes nas listas compostas com o nome de Yahweh, um era formado com Baal. O reino do norte era mais suscetível à influência dos cultos cananitas nativos do que o reino de Judá, mais isolado e predominan­temente rural. Assim, Israel sustentou a tentativa deliberada da princesa fenícia Jezabel de obliterar a adoração a Yahweh (cp. lRs 18.4) e tomar Baal (provavelmente Baal-melqart) a divindade oficial. Somente sete mil israelitas permaneceram fiéis a Yahweh (19.18), mas a crise foi evitada pela ação decisiva do profeta Elias (cap. 18).

Os profetas do 8® séc. a.C. reconheceram os perigos inerentes da situação e chamaram o povo de volta à crença somente em Yahweh e a um culto purificado de todo acréscimo cananita. Oséias pro­pôs que o nome de Baal não fosse mais empregado em relação a Yahweh (Os 2.16,17); ele e Jeremias, de todos os profetas, foram os que mais aponta­ram os perigos do culto a Yahweh influenciado pelos elementos cananitas, para um povo que não conseguia enxergar a própria apostasia (Jr 2.23). Uma vez que reconheceram a apostasia, o nome de Baal foi considerado abominável, e correções editoriais foram feitas em muitos exemplos de nomes em que era empregado. Muitas vezes a palavra nsn, “vergonha”, era usada em substitui­ção, como em Jerubesete (2Sm 11.21), Is-Bosete (2.8), Mefibosete (9.6) e mesmo onde a própria divindade cananita estava envolvida (Jr 3.24; 11.13; Os 9.10). Somente depois de duas grandes reformas, visando à eliminação da adoração a Baal (2Rs 18.4-6; 23.4-15) e o castigo implicado no desastre nacional ocorrido em 587 a.C., a maior parte dos israelitas finalmente esqueceu os últimos vestígios da adoração ao deus cananita e voltou contrita para Yahweh, o Deus da Aliança.

BIBLIOGRAFIA. W. R. Smith, The Religion o f the Se- mites (1927); A. S. Kapelrud, Baal in the Ras Shamra Texts (1952); C. F. Pfeiffer, Ras Shamra and the Bible (1962); J. Gray, The Canaanites (1964); A. S. Kapelmd, The Ras Shamra Discoveries and the Old Testament (1965).

A. E. CüNDALL

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650 BAALÁ / BAALBEQUE

B A A LÁ (rr?vz); BAAL (7sn, dono); BAALATE (rÒV2, senhora). As seguintes variações do nome Baalá são encontradas nas Escrituras: 1. Quiria- te-Jearim. Talvez deva ser identificada com Tell- el-Azhar, a cerca de 14 km a oeste de Jerusalém. O local é mencionado pela primeira vez em ligação com a fronteira do território de Judá (Js 15.9,10,11,29; lCr 13.6).

2. Cidade no sul de Judá, talvez a mesma Balá (Js 19.3) e Bealote (15.24). Ficava no Sefelá, que anteriormente era parte do território de Simeão. Possivelmente pode ser identificada com Khirbet el-Meshash, uma das cidades mais ao sul de Judá (15.29).

3. A montanha de Baalá é uma elevação que se estende de Ecrom até Jabneel, localizada na fronteira norte de Judá (15.11). Possivelmente seja a conhecida colina de Mughar.

4. Baalá é uma cidade da tribo de Dã, na fron­teira (Js 19.44; ARA, Baalate), às vezes associada com Bel ‘ain.

5. Talvez identificável com a n- 4, uma cidade a oeste de Gezer, construída por Salomão. Era uma cidade-celeiro (lRs 9.18; 2Cr 8.6).

6. A cidade de Baal é mencionada concernente à fronteira de Simeão e pode ser identificada com Baalate-Beer (lCr 4.33).

J. B. S co tt

BAALATE. Veja B a a l á , 4 e 5.

BAALATE-BEER ( n a iT7Vn, senhora do poço). Cidade de Simeão, possivelmente o santuário de uma deusa. E a “Ramá do Neguebe” (Js 19.8; lCr4.33). Identificada por alguns também como a na 6 de BAALÁ. Embora sua localização exata seja desconhecida, supõe-se que ficava no extremo sul do Neguebe, perto de um poço.

J. B. S cott

BAALBEQUE (Baal de Beqa’ a, Senhor do Vale). Antiga cidade no vale de Beqa’a, que separava as montanhas do Líbano das do Anti-Líbano. Seu nome grego era Heliópolis, “cidade do sol”.

A cidade ficava sobre uma acrópole de onde se podia ver todo o vale fértil abaixo. O santuário floresceu no tempos primitivos, depois declinou na época do Helenismo e no início do Império Romano, e se destacou novamente no final desse império.

As ruínas da cidade cobrem uma grande área e são mundialmente famosas. Testes de sondagens nas vizinhanças dos templos romanos têm revelado as fundações de diversos edifícios mais antigos. O Templo de Júpiter, construído originalmente

Tomada de entalhes em Baalbeque, Líbano. © Har

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BAAL-BERITE / BAAL-GADE 651

Altar de rocha para deuses em Baalbeque. © J.F.W.

para Hadade, o deus das tempestades, era uma grande construção de 88m de comprimento por aproximadamente 20m de largura. Era cercado por um peristilo de 19 colunas coríntias de cada lado, 10 na frente e 10 atrás. As colunas tinham c. 19 m de altura por 2,30 m de diâmetro. O templo foi construído sobre um grande terraço artificial de c. 7 a 13 m de altura. Parte do muro ao seu redor era feito de grandes blocos, de aproximadamente 19 x 4 x 3 m.

O Templo de Baco, a c. 36 m ao sul, é um exemplo menor (embora mais bem conservado) do estilo coríntio de arquitetura. Perto dos templos há uma propilea, um pórtico frontal e um grande pórtico e cada um deles contém vários edifícios auxiliares. No meio da cidade modema, a c. 400 m de distância da acrópole, há um templo pequeno, circular, dedicado a Vênus ou à Fortuna.

Os grandes edificadores da Baalbeque romana foram os imperadores Antonino Pio e Caracela, este talvez porque a mãe era síria.

BIBLIOGRAFIA. T. Wiegard, Baalbek , 3 vol. (1921-25).

A. R u ppr e c h t

BAAL-BERITE (rv n 'jsn, Senhor da Aliança). Divindade adorada por Israel depois da morte de Gideão (Jz 8.33). Abimeleque, filho de Gideão,

pegou setenta peças de prata da casa desse deus para contratar seguidores em sua época de rebelião(9.4). É possível que o termo deva ser identificado com El-Berite (9.46). O significado mais provável é “o deus que preside as alianças”. Então, deveria ser um deus dos cananitas que viviam na região de Siquém. Sem dúvida, esse ídolo foi cultuado pelos siquemitas durante a vida de Gideão e prin­cipalmente depois da sua morte.

BAALE (^sn, senhores de). Um erro de tradução em 2 Samuel 6.2 (traduzido como Baalim). Essa palavra deveria ser combinada com a seguinte, “Judá”. Veja B a a l e - J u d á ; Q u ir ia te - J e a r im .

B A A LE -JU D Á (rnirr *W3, senhores de Judá). Local de onde Davi saiu para levar a Arca da Aliança para Jerusalém (2Sm 6.2). Provavelmente é a Baalá mencionada em Josué 15.9 e 1 Crônicas 13.5,6. Deve ser identificada com Quiriate-Jearim, localizada na estrada de Jerusalém para Jope.

J. B. S cott

BAAL-G AD E (73 '?$n, Baal da Fortuna). Local na extremidade norte do território conquistado por Josué (Js 11.17; 12.7; 13. 5). Sua localização exata é desconhecida; ficava em algum ponto entre o

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652 BAAL-HAMOM / BAAL-MEOM

monte Líbano e o monte Hermom, provavelmente perto da cidade modema de Hãsbeiya. Ficaria perto da estrada de Damasco, a noroeste do sopé do monte Hermom. Tell Haush, cidade a cerca de8 km ao norte de Hãsbeiya. tem sido identificada como possível local.

J. B. S co tt

B A A L -H A M O M (pan 'JSO, possuidor de abun­dância). Mencionada no Cântico dos Cânticos como o local das vinhas de Salomão (8.11). O contexto indicaria que o fruto dessa vinha era excepcionalmente bom. Sua localização não é conhecida. Alguns acham que o nome sugere uma relação com Baal-Amom, como Bel-Merodaque, um Baal local. E bem possível que não se tratava de uma vinha real e que seja apenas uma expres­são poética.

J. B. S co tt

B A A L-H A N Ã fljn 7573, Baal é gracioso). 1. Nome de dois homens no AT. 1. Rei de Moabe, que reinou depois de Saul (Gn 36.38). Identificado como filho de Acbor; seu sucessor foi Hadar (Hadade) (Gn36.39). Compare 1 Crônicas 1.49,50.

2. Servo de Davi, encarregado das oliveiras e dos sicômoros do rei, nas planícies (na Sefelá) (lCr 27.28). Era gederita.

J. B. S cott

B A A L -H A Z O R n ’sn 75/3, possuidor de um tribunal). Local dos tosquiadores de Absalão, quando Amnom foi morto (2Sm 13.23). Foi aqui que Absalão planejou uma festa para os irmãos, convidando também o pai, o rei Davi, mas este não aceitou. Neste local distante, caracterizado pelas colinas rochosas, Absalão determinou vingar-se de Amnom por este ter violentado sua irmã Tamar. Provavelmente era uma casa nas montanhas, a cerca de 1.200 m acima do nível do mar. O local mais freqüentemente sugerido é Jebel el-Asür, a c.8 km ao norte de Betei, em Efraim. Não deve ser confundido com a Hazor que ficava ao norte do mar da Galiléia. Jebel el-Asür fica bem no nordeste de et-Tayibeh, a leste da estrada para Siquém.

J. B. S co tt

B A A L -H E R M O M (fTmn 7573, O Senhor de Hermom). Um local do lado oposto à entrada de Hamate, onde habitavam os heveus, deixados na

terra por Deus para testar Israel (Jz 3.3). Esse nome também era utilizado para identificar a fron­teira de Manassés com Basã e o monte Hermom (lC r 5.23). Embora a localização exata não seja conhecida, ficava na Transjordânia, nas escarpas do monte Hermom. Algumas vezes o nome é rela­cionado ao deus Baal. Sem dúvida era um centro de adoração de Baal.

J. B. S cott

BAALI (’7573, meu senhor). Nome usado por algu­mas pessoas, nos dias de Oséias, para representar Deus (Os 2.16). Este nome não era aprovado por Deus, porque implicava uma visão corrompida do Senhor. Empregava um termo pagão para “deus” e assim carregava em si conceitos pagãos da divindade. Deus preferia e exigia ser chamado de “Ishii” (meu marido), termo que enfatizava o relacionamento de aliança que estabelecera com seu povo.

J. B. S co tt

B A A LIM (D^sa, o grande Senhor). Plural enfático (com artigo) do nome Baal. Significa “o grande Senhor” e encontra-se várias vezes no AT (Jz 2.11; 3.7; ISm 7.4; lRs 18.18; Jr 2.23; Os 11.2 etc.).

J. B. S co tt

B A A LIS (D ^ s a ) . Rei dos filhos de Amom (Jr40.14). Enviou Ismael para matar Gedalias, gover­nador de Israel nomeado pelo rei Nabucodonosor, da Babilônia. O crime ocorreu logo depois da tomada de Jerusalém. Gedalias não acreditou no relato de que Baalis enviara Ismael para matá-lo. Defendeu o caráter de Ismael, para seu próprio dano. Posteriormente (41.10), Ismael retornou para os filhos de Amom.

J. B. S cott

B A A L-M E O M ( pyn 7ya). Cidade construída por Rúben, do outro lado do Jordão (Nm 32.38). Seus descendentes habitaram ali (lC r 5.8). Descrita como uma das gloriosas cidades da fronteira de Moabe, junto com Bete-Jesimote e Quiriataim (Ez 25.9). Baal-Meom recebe vários nomes nas Escrituras: Bete-Baal-Meom (Js 13.17), Bete- Meom (Jr 48.23) e Beom (Nm 32.3). Na inscrição da Pedra Moabita, Mesa, rei de Moabe, afirma ter construído Baal-Meom, fazendo nela um re­servatório. Durante a história, a posse da cidade

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BAAL-PEOR / BAAL-ZEFOM 653

deve ter-se alternado diversas vezes entre Israel e Moabe. Deve ser identificada com Main, a cerca de 2,5 a 5 km ao sul de Medeba. Ficava a c. 13 km a leste do Mar Morto e c. de 9,5 km do extremo norte do mar.

J. B. S co tt

BAAL-PEOR (nas ÍV2, Baal de Peor). Quando o povo de Israel estava acampado em Sitim, foi instigado por Balaão a adorar essa divindade em Moabe (Nm 25.3ss.). Todos dentre o povo de Israel que se envolveram nessa adoração foram destruí­dos por Deus (Dt 4.3). A natureza hedionda desse pecado não foi esquecida logo, pois os salmistas e os profetas relembraram-no posteriormente a Israel (SI 106.28; Os 9.10). Na segunda passagem, o ídolo é chamado de “vergonhoso” e a ação do povo, “abominável”. Provavelmente a adoração envolveu também práticas libidinosas com as mulheres moabitas. Era uma divindade local do monte Peor, mas provavelmente relacionada ao Baal fenício.

J. B. S co tt

B A A L-P E R A ZIM (o 7in, possuidor de bre­chas ou Baal de Perazim). Nome dado ao local onde Davi feriu os filisteus logo depois de ter sido coroado rei de Israel (2Sm 5.20; lCr 14.11). Davi lhe deu esse nome porque ali o Senhor rompeu as fileiras dos (2ns) seus inimigos ante ele. Embora a localização exata seja desconhecida, dois locais são sugeridos, ambos perto de Jerusalém. Um é o da modema Sheikh Bedr, a noroeste de Jeru­salém, e o outro é no vale de Refaim, a sudoeste de Jerusalém.

J. B. S co tt

B A A L -S A L IS A '?U2). Cidade natal dohomem (anônimo) que presenteou Eliseu com 20 pães de cevada e espigas verdes, com os quais cem pessoas foram alimentadas (2Rs 4.42). O milagre foi tamanho na época que sobrou comida, depois que todos se alimentaram. Provavelmente o local é a modema Kefr Thilth, a c. 32 km a leste de Qalqlliyeh, na Palestina Central. Há evidências de que era uma região extremamente fértil.

J. B. S co tt

B A ALS A M U S (B aa/.aauoç). De acordo com os Apócrifos, um dos sete homens que ficaram à

direita de Esdras quando este leu o Livro da Lei para o povo (lEsd 9.43). Na passagem paralela em Neemias, é chamado de Maaséias (Ne 8.4).

J. B. S cott

BA AL-TA M A R (lan 7SQ, posse das palmas ou Baal de Tamar). Local onde os israelitas esperaram os benjamitas que estavam perseguindo, quando foram guerrear contra a tribo de Benjamim, para puni-la pelo pecado (Jz 20.33). Sua localização é desconhecida, embora se saiba que ficava próximo a Gibeá, c. 6.5 km ao norte de Jerusalém.

J. B. S co tt

BAAL-ZEBUBE (mm ^sn, Senhor das moscas; também Beelzebu). Divindade dos filisteus, à qual Acazias, filho de Acabe, consultou depois de cair do parapeito de um quarto alto (2Rs 1.2). Evidentemente era o deus de Ecrom, com uma reputação considerável, a ponto de o rei de Israel mandar mensageiros para consultá-lo. Deus en­viou Elias para repreender Acazias, por seu ato de incredulidade (1.3,6), declarando que, como punição, ele certamente morreria (1.16). O nome é estranho e não se sabe por que o deus era chamado assim. Especula-se que ele protegia seus adorado­res das moscas, ou que era um deus que enviava mensagens rápidas como o vôo de uma mosca. Outra possibilidade é que a aparente onipresença das moscas sugeria um deus sempre presente e que tudo via. E provável que Baal-Zebube tivesse alguma relação com o grande Baal da Síria.

O nome Belzebu, usado no NT, é derivado do seu nome (q.v.).

J. B. S co tt

BAAL-ZEFO M OlDü ^sn, Baal do Norte). Local nas imediações do Mar Vermelho, perto do qual o povo de Israel acampou antes da travessia (Êx 14.2). O povo parecia encurralado num lugar des­crito como “diante de Baal-Zefom”, entre Migdol e o mar, “defronte de Pi-Hairote”. O local era tão cercado que o Faraó acreditou que o povo estava desorientado na terra, preso pelo próprio deserto (14.3). Alguns supõem que estavam numa penín­sula (cp. Êx 14.9 e Nm 33.7). Foi desse local que o povo viu a aproximação do exército egípcio. Alguns ergueram a voz contra Moisés, acusando-o de ter levado o povo para uma armadilha. Moisés ficou firme diante do povo e desafiou-o a confiar em Deus naquele momento. Dali os israelitas

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654 BAANÁ / BAASA

atravessaram o mar em seco; os egípcios conti­nuaram a perseguição, entrando no mar, apenas para serem tragados pelas águas.

O nome significa “Baal do Norte”. Há um deus com este mesmo nome, bem conhecido por meio da literatura ugarítica. Essa divindade é claramente associada com o porto egípcio de Tafanes. Mais tarde, Jeremias foi levado à força para esse porto, pelos judeus que fugiram de Jerusalém recusando- se a se entregar a Nabucodonosor.

A localização exata de Baal-Zefom não é co­nhecida. Provavelmente ficava em Tafanes, no mar Mediterrâneo, c. 35 km a sudeste de Ramessés ou a sudeste desse local. Tafanes é a atual Tell Defneh, no extremo norte do istmo.

BIBLIOGRAFIA. H. Rowley, The Old Testament and Modem Studv (1951), 46; W. Albright, From the Stone Age to Christianity• (1957), 14, 242; D. Thomas, Documents from Old Testament Times ( 1958). 132,213; J. Simons, The Geographical and Topographical Texts o f the Old Testament (1959), 239, 242,249; W. Eichrodt, Theology o f the Old Testament (1961), 200-203, 224ss.;C. Pfeiffer, Patriarchal Age (1961), 64; J. Thompson, The Bible and Archaeology (1962), 64; C. Pfeiffer, Egypt and the Exodus (1964), 52, 53.

J. B. S co tt

B A A N Á (NW2, filho da opressão). 1. Filho de Ailude. Um dos doze oficiais do rei Salomão, comissionados para providenciar alimentos para a casa real. Seu distrito incluía “Taanaque, Megido e toda a Bete-Seã, que está junto a Zaretã, abaixo de Jezreel, desde Bete-Seã até Abel-Meolá, até além de Jocmeão” (lRs 4.12).

2. Filho de Husai. Outro oficial de Salomão, cujo distrito era em Aser e Bealote (lRs 4.16).

3. Pai de Zadoque, o qual participou da recons­trução dos muros de Jerusalém, sob a supervisão de Neemias (Ne 3.4). Possivelmente o mesmo Baaná do n- 6.

4. ( w i , filho da opressão), um dos dois filhos de Rimom; ambos eram capitães do exército de Is-Bosete, rei de Israel enquanto Davi foi rei de Judá, em Hebrom. Ao saberem da morte de Ab­ner, comandante do exército de Is-Bosete, Baaná e seu irmão, planejaram unificar o reino sob a liderança de Davi. Foram até a casa de Is-Bosete, chegando quando o rei fazia a sesta do meio dia; enganaram os porteiros e mataram o rei em sua cama. Enviaram sua cabeça decepada a Davi, em Hebrom, esperando elogios e provavelmente até uma promoção. Davi, porém, acusou-os furiosa­

mente de terem assassinado um homem inocente durante o sono. Ordenou que ambos fossem mortos, que suas mãos e pés fossem cortados e que seus corpos fossem expostos publicamente no açude de Hebrom (2Sm 4.2-12).

5. Homem de Netofate, pai de Helebe ou He- lede, um dos renomados “trinta valentes” de Davi (2Sm 23.29; lCr 11.30).

6. Líder judeu que retornou do Exílio para Judá junto com Zorobabel (Ed 2.2; Ne 7.7; lEsd 5.8). Provavelmente o Baaná que fez o pacto com Neemias e outros líderes (Ne 10.27) e que pode ser identificado com o Baaná nQ 3.

N. B . B aker

BAAR A (xun). Esposa de Saaraim, da tribo de Benjamim ( lCr 8.8).

B A A S A (Ktraa, LXX B aacra, possivelmente derivada de uma raiz que significa ser mau ou ofensivo). Terceiro rei do reino do norte, de 909­886 a.C., fundador da segunda dinastia.

O profeta Oséias (8.4) acusou Israel (o reino do norte) de coroar reis sem a direção de Yahweh ou sem consultá-lo. A história do reino de Jeroboão demonstrou ser uma longa sucessão de mudan­ças dinásticas, nove ao todo, na qual Baasa foi o primeiro conspirador. A dinastia de Jeroboão não passou de seu filho, Nadabe, que foi derrotado por Baasa, filho de Aías, da casa de Issacar (lRs15.27).

Logo depois de derrotar Nadabe, Baasa tomou duas medidas para assegurar seu reino, e nenhuma delas foi bem-sucedida: matou todos os membros remanescentes da casa de Jeroboão (15.29), entre­tanto, 26 anos depois (sendo os dois últimos anos já no reinado do filho de Baasa), Zinri conspirou contra seu senhor e reinou em seu lugar, pondo fim à dinastia de Baasa. A segunda medida desafortu­nada foi tentar construir uma fortificação contra Asa, rei de Judá, em Ramá. Asa despojou o templo de seu ouro e prata para fazer uma aliança com Ben-Hadade, da Síria, contra Baasa (15.18,19), a quem Baasa forçou a recuar de Ramá para Tirza. Asa utilizou o material que Baasa abandonou para construir Geba de Benjamim e Mispa. Houve guerra entre Asa e Baasa durante todo o reinado de ambos.

Embora Baasa tenha sido usado por Yahweh para levar juízo à casa de Jeroboão (15.29,30), ele próprio incorreu na ira do Senhor seguindo o padrão estabelecido pelos seus predecessores

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BAASÉIA / BABEL, CIDADE E TORRE DE 655

(16.7). As denúncias proféticas (de Aías, Jeú e Elias) dos pecados de Jeroboão (14.11), de Baasa(16.3,4) e de Acabe (21.9) colocaram os três na mesma categoria e manifestaram o destino violen­to que os aguardava. Os que morressem na cidade seriam devorados pelos cães e os que morressem no campo, pelos pássaros.

BIBLIOGRAFIA. J. B. P ayne,An Outline ofHebrew History (1954), 121-129; J. Bright, A Histoiy of Israel (1959)214-218.

J. J. E dw ards

BAASÉIA (n^sn, o Senhor é corajoso, ou rPOTü, em alguns MSS; LXX p a a m a , j ia a a a í , a obra do Senhor). Ancestral de Asafe (lCr 6.40).

E . R ussell

BABEL, C IDAD E E TORRE DE (722). O termo “Torre de Babel” não é encontrado na Bíblia, mas é utilizado popularmente em relação à estrutura construída na planície de Sinear, para onde a po­pulação migrou e se estabeleceu depois do Dilúvio, quando os homens começaram a se multiplicar (Gn 11.1 -9). A história da construção da cidade e de sua torre elevada (Gn 11.1-11) chamada Babel (acadiano Bãbilul, “Portão de Deus”) é explicada pela etimologia popular baseada em uma raiz he­braica similar (bãlal), que significa “misturar ou confundir”. Babel, portanto, tomou-se sinônimo da confusão causada pelas barreiras de idioma que Deus impôs, por causa do orgulho humano demonstrado na construção.

O relato reflete claramente um pano de fun­do babilônico. A palavra hebraica nypn indica especificamente uma “planície”, e a Babilônia situava-se numa enorme planície. A construção era feita de tijolo manufaturado e asfalto; não era de pedra lavrada e argamassa, como se fazia em todos os outros lugares, inclusive na Palestina. A perspectiva hebraica aqui (Gn 11.3) reflete uma nota de sarcasmo: “Os tijolos serviram-lhes de pedra, e o betume, de argamassa”. O Épico da Criação babilônico, discutindo sobre a construção da Babilônia celeste (Tablete 6, linhas 58-61), diz que “por todo um ano eles moldaram tijolos. Quando chegou o segundo ano, elevaram bem alto a cabeça de Esagila” (traduzido em ANET2, pp. 68, 69). O tijolo (tanto seco ao sol como queimado no fomo), com o asfalto, compunham o material de construção usado na Mesopotâmia. Semelhan­temente, a combinação de uma torre-templo com

uma cidade é típica na paisagem da Mesopotâmia. Na maioria, principalmente nas cidades santas da Mesopotâmia, os templos eram os edifícios mais vistoso, e a torre que se elevava da área do templo era sua suprema glória e esplendor. Essa torre, chamada em acadiano de ziqqurratu, era construída em terraços, ou andares, cada um menor que o anterior abaixo dele.

O santuário de Marduque na Babilônia era chamado de É-sag-ila (“A casa cuja cabeça está levantada”), e a torre elevada era chamada de E-temen-an-ki (“Casa da fundação do céu e da terra”). A principal fonte de informação sobre esse edifício é uma descrição em acadiano, que foi preservada em cópia feita no 3S séc. a.C., de um tablete muito mais antigo (não inteiramente claro), bem como de uma descrição feita por Heródoto (c. 460 a.C.). O ziqqurratu visto por Heródoto fora construído por Nabopolassar (625-605 a.C.) e Nabucodonosor II (605-562 a.C.), os quais haviam construído sobre um ziqqurratu anterior, que tinha se tomado ruínas. A construção original de um ziqqurratu nesse sítio arqueológico não pode ser datada. Sabe-se que o rei Sar-kali-sarri de Acade

Ruínas da assim chamada "Torre de Babel" em Birs-Ninrode, na Babilônia. Note os tijolos

fundidos. © M.P5.

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656 BABILÔNIA, AT

construiu um templo na Babilônia por volta de 2225 a.C. No decorrer dos séculos, o templo e a torre foram destruídos e reconstruídos várias vezes. Senaqueribe os destruiu por volta de 689a.C., mas foram reconstruídos por Esar-Hadom (680-669 a.C.). Atorre foi severamente danificada na guerra de 652-648 a.C., mas foi novamente res­taurada. Os estudiosos divergem um tanto quanto à interpretação da data técnica apresentada num registro cuneiforme do 3e séc. a.C., que descreve este edifício. Da alta torre, restam apenas alguns fragmentos, uma pequena porção do andar mais baixo, o qual foi enterrado sob entulho até ser escavado por Die deutsche Orient Gesellschaft (1889-1917). Considerando tudo, a estrutura tinha pelo menos sete andares, com a habitação de Marduque erigida no sétimo andar. Sua altura tem sido estimada em cerca de 90 m.

As cidades deNipur, Larsa e Sippar chamavam seu ziqqurratu pelo nome de E-dur-an-ki (“A casa do elo entre céu e terra”). O que ficava na Babilô­nia tinha em seu alicerce uma inscrição feita por Nabopolassar: “Marduque me permitiu colocar seu fundamento no coração da terra e erguer seu pináculo até o céu”. Um dos ziqqurratu mais bem conservados encontra-se em Ur, com uma base de c. 60 x 42 m e um terraço a 15 m de altura. As tradições árabe e ajudaica identificam a “Torre de Babel” com o grande Templo de Nebo na cidade de Borsippa, atualmente chamada de Birs-Ninrod. As ruínas deste ziqqurratu, originalmente de sete andares, ainda se elevam a 45 m de altura acima da planície. A ruína de ziqqurratu mais elevada é a de Dur-kurigalzu (modema Aqar Quf, cerca de 32 km a oeste de Bagdá), a qual ainda se eleva a 57 m de altura.

BIBLIOGRAFIA. T. Dombart, “Der Babylonische Turm”, JBL 34 (1919), 40-64; The Assyrian Dictionary, vol. 2 1 ,129ss.; E. Unger, “Der Turm zu Babel” ZAW 45 (1927), 162-171; L. H. Vincent, “De la Tour de Babel au Temple” RB 53 (1946), 403-440; P. Amiet, “Ziqqurratu et culte en hauteur des origines a 1’époque d’Akkad”, R A 47 (1953), 23-33.

L. L. W a l k er

BABILÔNIA, AT (bnx acadiano bab-ilT, bab- ilãni, “o portão de deus(es)”; grego BapiAcbv). Capital da terra da Babilônia, no sul do Iraque, de onde a terra derivou seu nome.

A. Nome. A etimologia do nome Babel é dada como “confunsão” (bãbal) (Gn 11.9), e por todo

o AT a Babilônia é considerada o símbolo da con­fusão causada pela impiedade. O significado mais recorrente do nome era “portão de deus” (Babili). Não há evidência de que originalmente o nome não fosse semita. Raramente a partir de 2100 a.C., e com freqüência no período neo-babilônico a cida­de era chamada de tin.tir.ki, “vida das madeiras”, possivelmente quando então cercada por bosques. Outro nome comum para a cidade era e.ki, “área do canal”, em virtude do papel-chave desempenhado pelo sistema local de irrigação. Se$a% (Jr 25.26; 51.41 ARC, NVI, BJ) pode se referir a uma rara escrita ideográfica do nome Babilônia (ses.ki), embora em geral se assuma tratar-se de um crip- tograma (‘atbash; isto é, substituindo-se S=b etc.) como tradução do nome Babilônia.

B. Localização . A cidade da Babilônia encontra-se na terra de Sinar (Gn 10.10) e sua localização genérica na região da Babilônia nunca foi questionada. O local exato atualmente é mar­cado pelas ruínas de Bâbil, Qasr, Amran ibn Ail, Merkes e Homera, bem como a aldeia modema de lumjummah, a cerca de 9,5 km a nordeste da cidade de Hillah e cerca de 80 km ao sul da modema Bag­dá. O rio Eufrates corre através das ruínas, que se estendem por vários quilômetros quadrados.

C. Identificação. Antigos viajantes pro­curavam identificar Babilônia com edificações remanescentes de torres de zigurates em Aqarquf, a oeste de Bagdá, ou em Borsippa, c. 11 km a sudoeste de Bâbil, por causa da tradição da “Torre de Babel” (Gn 11.1-11). Benjamin de Tudela des­creveu corretamente as ruínas sem identificação, que podem ser atribuídas primeiramente a Pietro delia Valle, em 1616 d.C. Alguns dos antigos exploradores procuraram incorporar as minas de Borsippa dentro de uma Babilônia maior, mas tal idéia foi desmentida por inscrições. Algumas delas foram levadas para a Europa pelo abade de Beau- champ, em 1784 (d.C.) e por C. J. Rich, residente da Companhia das índias Ocidentais em Bagdá, levando assim à confirmação da identidade das ruínas com a antiga capital da Babilônia.

D. Escavações. Rich fez sondagens nas duas colinas maiores, Bâbil e Qasr, as quais mapeou em 1817. Embora um trabalho ocasional tenha sido feito em 1850 por A. H. Layard (entre outros) e pelos franceses Fresnel e Oppert, na maior parte do tempo o sítio esteve nas mãos dos nativos, que cavavam em busca de tabletes com inscrições, encontrados com abundância. Uma expedição

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BABILÔNIA, AT 657

maior feita por Die Deutsche Orient Geseüschaf liderada por Robert Koldewey, de 1899 a 1917, estabeleceu um firme fundamento para a arque­ologia neo-babilônica, embora apenas parte da cidadela tenha sido descoberta. Remanescentes de ocupação mais antiga, do período Babilônico Antigo, foram encontrados somente numa área limitada, na região das águas fluviais do planalto. Outros alemães, liderados por H. Lenzen, traba­lharam no local desde 1956, em conjunto com o Departamento de Antiguidades do Iraque, reali­zando obras de limpeza e de restauração na área da cidadela (o Caminho da Procissão, Templo de Ninmakh e a Sala do trono no Palácio Real), bem como a construção de um museu e uma pousada no local.

1. A cidadela (Qasr). Babilônia tinha duas cidadelas; uma delas ficava ao norte, construída do lado de fora do muro por Nabucodonosor II. Tanto essa como a cidadela ao sul eram acessadas pelo Portão Istar, uma torre dupla de 12m de altura, decorada com fileiras de relevos vitrificados em alvenaria, representando alternadamente o dragão- musnussu de Marduque e o touro de Hadade. Mui­tas mudanças no nível do edifício na antiguidade significam que os notáveis remanescentes visíveis hoje eram em grande parte as maciças fundações dessa construção.

Do lado de fora do portão há um pequeno tem­plo dedicado a Ninmakh (reconstruído). Foi cons­truído pelo arquiteto Labashi para Assurbanipal (669-627 a.C.), medindo c. 49 x 32 m. Centenas de estatuetas femininas em argila, encontradas ali, testificam sua utilização e popularidade. O Portão Istar levava ao sagrado Caminho da Pro­cissão e para as duas cidadelas, as quais, juntas, formavam uma defesa única para o complexo do palácio ao sul. A cidadela na época neobabilônica aparentemente também foi usada como “museu” para exibir objetos e inscrições de períodos ante­riores, de dentro e de fora da Babilônia. Ali foram encontradas um monolito do deus hitita Teshu, de Zincirli (7- séc. a.C.), e inscrições dos reis assírios Adad-nirari III e Assurbanipal, de Nínive. O “Leão da Babilônia”, uma grande escultura de basalto um grande leão representando esmagando um inimigo humano caído, também pode ser de origem hitita, embora um desenho similar possa ser visto nos mármores do 1- séc., de Nimrode.

A cidadela do sul incluía um palácio real de c. 320 x 180 m, disposto em tomo de cinco pátios. Um deles (c. 60 x 50 m) dava acesso à sala do trono (c. 50 x 43m), com suas paredes cobertas

com tijolos vitrificados formando frisos de guir- landas, palmeiras e rosetas nas cores azul, branco e amarelo. Pode ter sido nesse palácio, com seu harém e ala doméstica, que Belsazar realizou seu banquete para mais de mil convidados (Dn 5.1,5). As paredes extensas e altas, construídas por Nabu­codonosor, teriam sido um lugar impressionante para a escrita vista por todos. Esta área foi reaberta pelo govemo iraquiano em 1968.

O canto noroeste da cidadela, perto do Portão Istar, era ocupado por um edifício num nível mais baixo, composto de uma série de abóbadas, as quais, a julgar pelos documentos encontrados aí„ eram usadas como ala de administração ou armazém para o palácio. Tem-se sugerido que esta construção formava a estrutura de base dos “Jardins Suspensos” descritos por Heródoto. Era um palácio construído sobre séries de terraços elevados, nos quais foram plantadas árvores e jardins irrigados por um sistema especial de bombeamento. Dizem que foram construídos por Nabucodonosor no seu casamento com Amitis, filha de Astiages, o medo, para consolidar a aliança e lembrá-la das colinas de sua terra natal.

2. Os m uros. Babilônia era circundada por um sistema duplo de defesas, cada um composto de dois muros. O muro interno, Imgur-Bêl, tinha c. 6,40 m de largura e era reforçado por torres a intervalos de c. 18m. O muro exterior (Nimit- Enlil), de c. 3m de largura, também tinha torres de guarda salientes. A cerca de 2m de distância desse círculo de muros, do lado de fora, havia um cais de tijolos usado para conter as águas do rio Eufrates, que formava uma defesa complementar. Os muros foram construídos inicialmente pelos reis amorreus da primeira dinastia, mas foram fortificados pelos últimos reis assírios a dominar a Babilônia, Esar-Hadom e Assurbanipal, e pelos sucessivos governantes da linhagem dos caldeus. Dentre estes, foi Nabucodonosor quem acres­centou um muro externo a leste do Eufrates para circundar seu Palácio de Verão (“Bâbil”) ao norte, estendendo-se por c. 27 km para o norte, a fim de proteger a planície entre a cidade e seus arredores, formando assim uma área cercada, dentro da qual a população local podia se refugiar e acampar em tempos de guerra. Escritores posteriores descre­vem os muros externos da cidade como tendo 67 km de extensão, e o muro interno extendendo-se respectivamente por 4, 7 e 11 km (Ctesias); o muro do meio tinha c. 90 m de altura, com suas torres elevando-se a quase 130 m de altura. Diz-se que o muro atrás do fosso tinha 50 cúbitos reais.

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Reconstrução do fabuloso Portão Ishtar na Babilônia. Museu Staatliche, de Berlim.

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Plano da cidade da Babilônia Antiga

Heródoto declarou que os muros da cidade tinham um perímetro de c. 90 km.

Inscrições mostram que oito portões davam acesso ao interior da cidade, e quatro deles foram escavados: o Portão Istar ao norte; Marduque (Urash) e Zababa a leste; e Urash ao sul. Havia também os portões de Sin (N), Enlil e Shamash (S) e Adad (O), os quais até hoje não foram des­cobertos. Assim, havia três portões principais, aos quais se deve acrescentar quatro menores, ao norte e ao sul. Pelo lado oeste havia apenas um portão de acesso para a Cidade Nova, pela margem direita do Eufrates, construído por Nabucodonosor II.

3. A s ru a s . A cidade foi planejada de for­ma simétrica, com as vias principais ligando os portões, correndo paralelas ou perpendiculares umas às outras. Cada rua tinha um nome expres­sivo; a mais importante delas era o “Caminho da Procissão” (Ai-ibür- Sabü, “o inimigo não preva­lecerá”), que começava no Portão Istar e corria a leste da cidadela sul por mais de 900 m antes de virar para oeste, na direção da área sagrada de Esagila, Templo de Marduque, para a ponte das sete colunas, que atravessava o rio e em direção à Cidade Nova. Essa rua tinha cerca de 12 a 15m de largura e era pavimentada com pedras, algumas com a inscrição: “Eu sou Nabucodonosor, rei da Babilônia... Pavimentei a estrada da Babilônia com pedras da montanha para a procissão do poderoso senhor Marduque. Que Marduque, meu senhor, me conceda vida eterna!” Tais inscrições são típicas na Babilônia, na época de Nabucodo­nosor, comprovando o orgulho que demonstrou em Daniel 4.30.

4. A á re a d o T em p lo . A área sagrada da Babilônia agora se encontra em Sahn, ao sul de Qasr, perto de Amran ibn Ali, cujo mausoléu data de 680 d.C. O traço dominante era a templo-torre (zigurate) Etemenanki (“Casa da fundação do céu e da terra”) que se elevava de um pátio medindo c. 420 x 373 x 416 x 376 m, com acesso através de doze portões. Provavelmente a entrada prin­cipal permanecia trancada, sendo aberta apenas na procissão anual dos deuses Marduque e Nabu. Uma inscrição (Tablete de Esagila) e a descrição de Heródoto (History I. 187) mostram que o zigurate tinha uma base quadrada (cerca de 270 m) e se elevava em oito andares, terminando no pequeno templo de tijolo com esmalte azul no seu topo. O acesso era por uma escada até a primeira plataforma (como em Ur) e depois por meio de rampas ou degraus diagonais, para cada andar superior e menor, dando a Heródoto a impressão de tratar-se de “escadas circulares”. A altura total do zigurate era de c. 90 m. Entretanto, escavações realizadas em 1913 produziram poucas evidências que apoiassem esta figura da “Torre de Babel”, pois nos séculos anteriores o local fora saqueado por nativos em busca de materiais de construção. Atualmente o local é uma depressão, daí seu nome “Sahn”.

A torre eclipsava o Templo de Marduque, a divindade principal da cidade, chamado Esagila (“Casa da Cabeça Erguida”). Uma vez que Shulgi de Ur restaurou o santuário em 2.100 a.C., muitos reis que reverenciavam a Babilônia mantiveram- no bem conservado. Assim, permaneceu em uso até quase o 1- séc. da era cristã, a despeito dos su­cessivos saques da Babilônia. Dentro do santuário, com suas paredes de ouro e colunas de alabastro sustentando o teto de vigas de cedro, Marduque era mostrado sentado em seu trono com sua cama sagrada ao lado. A área do templo media c. 430 x 246 m e também abrigava capelas para Nabu e sua esposa, Tashmetum em Ezida (“Casa do Conhecimento”) e outras divindades menores. Os textos arrolam mais de 50 santuários dentro da cidade, 15 deles construídos por Nabucodonosor. Babilônia certamente era notável por suas muitas estátuas (Jr 50.3 8) e um texto isolado fala em “ 180 santuários ao ar livre para Istar” e mais de 1.800 nichos, pedestais ou locais sagrados dedicados a outras divindades.

5. O u tra s á re a s . A leste da área do templo descobriu-se que o monte de Merkes continha casas particulares de todos os períodos desde a primeira dinastia até os partos. Aqui também havia

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Dragão do Portão Ishtar, Babilônia. Museu Staatliche, de Berlim.

Vista geral das ruínas da Babilônia. © M.P.S.

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BABILÔNIA, AT 661

um templo para Istar de Aeade (Emeshdari). A nordeste, em Homera, havia entulhos que foram removidos por Alexandre na limpeza da cidade, para a reconstrução que ele planejou e também para a construção de um teatro grego.

E. História. 1. F u n d a çã o . Gênesis 10.10 atribui a fundação da Babilônia a Ninrode e o coloca como contemporâneo dos antigos Ereque (Warka) e Acade (Agade). A tradição babilônica em geral considerava que os locais religiosos eram construídos pela divindade à qual eram dedicadas, como Marduque, embora este não tenha alcançado proeminência até o século 18 a.C. A referência literária mais antiga foi feita por Sharkalisharri, por volta de 2.250 a.C., quando removeu terra da cidade para fundar Acade, a qual seu pai, Sargão, tinha começado, para preservar a santidade e a continuidade do local (cp. 2Rs 5.17).

2. S e g u n d o m i lê n io . Os reis de Ur III nomearam governadores para a cidade antes da invasão amorita que levou à fundação da primeira dinastia (semita) da Babilônia, sob Sumu-Abum (1894 a.C). Ele restaurou os muros e o sexto rei da linhagem (Hamurabi, 1792-1750 a.C.) ampliou a cidade, tomando-a uma capital próspera e um centro comercial. Foi em Esagila que Hamurabi estabeleceu uma cópia de suas leis como um relato, a Marduque, de sua administração como rei. Com a captura da cidade pelos heteus (1595 a.C.) e sua subseqüente ocupação pelos cassitas, a Babilônia perdeu muito do seu poder e esplendor. As vezes sob o jugo dos governadores que lideravam em nome dos dominadores assírios, em outras épocas abrigou uma série de dignitários locais que busca­vam manter afastadas as tribos vizinhas.

3. P r im e ir o m i lê n io . A Assíria passou a intervir nos assuntos políticos da Babilônia quando Salmanezer III foi chamado para intervir numa disputa pelo trono entre os filhos de Nabu- apla-iddina. Ele acabou com a discussão, ofereceu sacrifícios no templo de Marduque e tratou os ha­bitantes com respeito. A mãe de seu filho e suces­sor, Adad-nirari III (870-783 a.C.), foi Samuramat, provavelmente a clássica Semiramis que, segundo Heródoto, fez muito em prol do embelezamento da cidade. Tiglate-Pileser da Assíria deixou o rei nativo Nabu-nasir no trono até a morte deste em 734 a.C. As tribos do sul, lideradas por Ukin-zèr de Amukkani, logo após conquistaram a Babilônia; para reconquistá-la, Tiglate-Pileser primeiro nego­ciou para vencer seu rival Marduque-apla-idina

(Merodaque-Baladã) de Yakin, obtendo, então, êxito temporário; com a morte de Salmaneser V em 722-1 a.C., Merodaque-Baladã proclamou a independência da Babilônia tomando “a mão de Bel” e o título de “rei da Babilônia” (Is 39.1). Com apoio elamita, ele foi capaz de repelir o avanço assírio em Dêr e manteve o controle da cidade por dez anos. Sargão II liderou um ataque assírio bem- sucedido no sul em 710 a.C., sendo bem recebido na Babilônia, onde celebrou o festival de Ano- Novo, mas adotou somente o título de “ vice-rei de Marduque”. Marduque-apla-iddina teve permissão para continuar como xeique de sua tribo. No ano 703 a.C., ele fez outra tentativa de assumir o poder, sendo provavelmente foi nesta época que escreveu ao rei Ezequias de Judá, enviando uma embaixada para urgir sua adesão à coalizão anti-Assíria (2Rs 20.12-17). A oposição do profeta Isaías a tal pacto logo foi justificada. Merodaque-Baladã expulsou o rei assírio fantoche e preparou-se para enfrentar o contra-ataque de Senaqueribe. Os homens da Ba­bilônia, precariamente apoiados pelos elamitas e pelas tribos locais, foram derrotados perto de Kish. ABabilônia foi saqueada e passou a ser controlada por um governante indicado pelos assírios. Os soldados assírios mal haviam se retirado quando começaram novamente as intrigas. Em 700 a.C., Senaqueribe montou uma grande ofensiva para afastar Bêl-ibni e substituí-lo por seu filho mais novo, Ashur-nadin-shuma. Uma nova expedição em 695 a.C. fez com que os elamitas reagissem, capturando Ashur-nadin-shuma e pondo em seu lugar seu próprio governante, Mushezib-Mardu- que. Essa reação levou a prolongadas hostilidades, que culminaram na sangrenta batalha em Hallule, no rio Tigre. Depois disso, Senaqueribe sitiou a Babilônia por nove meses e saqueou a cidade. A estátua de Marduque foi removida com um pouco do solo sagrado. Essa atitude drástica estabeleceu a paz pelo restante do reinado de Senaqueribe, mas jamais foi perdoada pelo povo da Babilônia.

Esar-Hadom (681-669 a.C), que sucedeu o pai no trono depois que este foi assassinado, teve uma experiência em primeira mão com a cidade da Ba­bilônia, onde foi governante durante alguns anos. O decreto de seu pai, ordenando a “devastação da cidade por 70 anos”, foi revogado. Reconstmiu a cidade, introduziu uma administração eficiente e permitiu o retomo de muitos refugiados. Seu filho, Shamash-shum-ukin, tomou-se “príncipe coroado daBabilônia”, enquanto Assurbanipal foi escolhido como “príncipe coroado da Assíria”. Este arranjo funcionou bem por 12 anos, depois da morte de Esar-Hadom. As dissensões entre o novo gover-

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662 BABILÔNIA, AT

Via Sacra, a "avenida Pensilvânia" da antiga Babilônia

Parte mais antiga da atual cidade, dentro dos muros. © M.PS.

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BABILÔNIA, AT 663

nante e seu irmão aumentaram com a instabilidade das tribos do sul. Assurbanipal marchou contra Babilônia em 651 e sitiou-a durante três anos, até que, em desespero, Shamash-shum-ukin ateou fogo em seu palácio e morreu nas chamas. Os assírios então nomearam Kandalanu como governante.

4. Os caldeus. De acordo com a Crônica Babilônica contemporânea, a Babilônia recon­quistou sua independência durante os últimos anos do reinado de Assurbanipal. Kandalanu morreu em 627 a.C. e um governador das terras do mar, Nabopolassar, agrupou as tribos. Ele rompeu o cerco de Ereque em 626 e livrou a Babilônia dos assírios pela última vez. Seis semanas depois o povo o convidou para ser rei. Medidas defensivas foram tomadas e os deuses dos santuários exter­nos foram trazidos para dentro dos muros por segurança. Contudo, os assírios estavam agora divididos por disputas internas e rebeliões entre os vassalos, não estando em posição de atacar a cidade em grande número. O filho de Nabopolas­sar, Nabucodonosor, usou a cidade como base, de onde marchou em muitas campanhas na Síria e Palestina. A Crônica Babilônica registra a derrota dos egípcios por Nabucodonosor em Carquemis, em 605 a.C., e seu retomo apressado de Ribla para a Babilônia, ao ouvir sobre a morte do pai. Nos dias 6/7 de setembro de 605 a.C., Nabucodono­sor reivindicou o trono, mas logo saiu em novas campanhas. No ano 604, o rei Jeoaquim de Judá tomou-se seu vassalo (2Rs 24.1), apenas para se rebelar três anos mais tarde, depois de os egípcios terem-se batido com os babilônicos em batalha campal. Em 598, Nabucodonosor “convocou seus exércitos e no mês de Quisleu do sétimo ano do seu reinado marchou para a Palestina para sitiar a cidade de Judá. No segundo dia de Adar ele cap­turou a cidade e capturou o rei. Então nomeou um rei à sua escolha e, tomando muito tributo, voltou para Babilônia” (Crônica Babilônica). Essa data precisa da queda de Jerusalém nos dias 15/16 de março de 597 a.C., a captura de Jeoaquim e sua substituição por um governador nomeado pela Babilônia, Matanias-Zedequias, está de acordo com os relatos do AT sobre os mesmos eventos (2Rs 24.10-17; 2Cr 36.5-10; Jr 37.1). Artesãos hábeis de Judá foram deportados para auxiliar no imenso programa de construção em andamento na Babilônia; os despojos de guerra eram dedicados em Esagila e em outros templos para serem exibi­dos em cerimônias de Estado (como 2Cr 36.7; Dn 5.3). Tabletes encontrados nas salas abobadadas no portão de Istar incluíam quatro listas de provi­

sões enviadas, dentre outros povos ocidentais, de Asquelom, Tiro, Sidom e Egito, e por “Yau’kin de Judá”. Cinco filhos de Jeoaquim também são mencionados, bem como cinco carpinteiros de Judá, presumivelmente capturados no cerco de Jerusalém. Esses textos são datados de vários anos entre 595-569 a.C.

A Crônica Babilônica menciona uma insur­reição na Babilônia no décimo ano do reinado de Nabucodonosor (595-4 a.C.) e um documento legal do ano seguinte registra uma decisão de apropriação das terras de um homem condenado à morte por alta traição. Esse relato tem sido compa­rado com a profecia de Hananias de que no mesmo ano o jugo do rei da Babilônia seria quebrado (Jr 28.2), talvez indicando que a conspiração era amplamente conhecida e aprovada.

Nabucodonosor fez ampliações consideráveis nas defesas da Babilônia, em especial no lado leste, pois percebeu que a principal ameaça viria dos medos. Sua morte foi seguida por um constante enfraquecimento no govemo, pois seu sucessor Amêl-Marduque (Evil-Merodaque de 2Rs 25.27; Jr 52.31) reinou por apenas dois anos e foi subs­tituído em 560 a.C. depois de um golpe militar, liderado pelo comandante-em-chefe, Neriglissar (Nergal-shar-usur, o Nergal-Sarezer de Jr 39.3), genro de Nabucodonosor. Depois de freqüentes ausências quando saía em campanhas militares (inclusive na Cilícia), Neriglissar foi por sua vez afastado do trono, substituído por seu fraco filho, Labashi-Marduque, o qual reinou por apenas alguns meses, antes que outro golpe de Estado elevasse Nabu-na’id (Nabonido) ao trono.

Logo depois de sua coroação, Nabonido liderou o exército para a Palestina e para o norte da Arábia, deixando seu filho, Bêl-shar-usur (Belsazar) como co-regente na Babilônia. A decisão de Nabonido de permanecer em Teima‘, na Arábia, resultou da queda da sua popularidade em sua terra natal, bem como do seu desejo de estabelecer ali uma colônia com exilados da Palestina. Na Babilônia tinha ha­vido inflação trazida pelas contínuas despesas mi­litares e pelo extenso programa de obras públicas iniciado por Nabucodonosor. Entre 560 e 530 a.C. chegou a 50%, resultando na fome generalizada. A ausência de Nabonido tem sido relacionada aos sete anos de loucura de Nabucodonosor (que pode ter sido um nome real adotado pelo próprio Nabonido em Dn 4.28-33) e descrita na “Oração de Nabonido”, de Qumrã. Depois de estar fora por dez anos, Nabonido retomou à Babilônia em 544, mas logo depois foi capturado pelas tropas persas e exilado para Carmania.

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664 BABILÔNIA, AT

Mapa do mundo mostrando os oceanos ao redor e marcando a Babilônia perto do rio Eufrates, como centro. Também são mostradas as áreas montanhosas distantes, além dos mares, bem como a Assíria e os pântanos na foz do Eufrates. Desenhado para ilustrar as campanhas militares de Sargão de Acade (2300 a.C.), é um exemplo do antigo conhecimento de geografia (cp. Gn 10). Este rei adentrou a Ásia Menor e suas proezas já eram bem conhecidas em toda a Ásia ocidental por volta do 152 séc. a.C. © B.M.

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BABILÔNIA, NT 665

5. A q u e d a d e B a b ilô n ia . A Crônica Babilônica registra que, no último ano do reinado de Nabonido, os deuses das cidades ao redor da Babilônia (exceto Borsippa, Kutha e Sippar) foram levados para dentro dela, uma ação tomada somen­te ao sinal de guerra iminente. Houve um confronto estrepitoso entre persas e babilônios em Opis, enquanto na cidade Nabonido parece ter sufocado um levante popular com muito derramamento de sangue. Sippar caiu ante o exército persa, liderado por Ugbaru, governador distrital de Gutium, e no dia seguinte Ugbaru entrou na Babilônia sem nem uma só batalha. Essa facilidade de entrar pode ter sido devida à ação de quinta coluna (dissidentes babilônicos), ou, como afirma Heródoto, a um desvio feito no rio Eufrates, o que inutilizou as defesas e permitiu que os invasores marchassem pelo leito seco do rio e entrassem na cidade durante a noite. Belsazar foi morto (Dn 5.30) e soldados gutianos guardaram a área do templo de Esaglia, onde os cultos continuaram sem interrupção. Dezesseis dias mais tarde, em 29 de outubro de 539, o próprio Ciro entrou na cidade, em meio a grande aclamação popular. Rapidamente foi feito um acordo de paz e Gubaru (Ugbaru) foi nomeado subgovemador. A queda da Babilônia e a vinda de Ciro são mencionadas muitas vezes no AT (Is 13.14; 21.1-10; 44.28; 47.1-5; Jr 50; 51). Ciro decretou a liberdade religiosa e a restauração dos santuários nacionais. Já que Judá não tinha está­tuas para serem restauradas, foi concedida uma compensação aos judeus (Ed 1).

6. Os A q u im e n id e s . Ciro reivindicou o título de “rei da Babilônia” e fez seu filho, Cam- bises, “tomar as mãos de Bel” na celebração do Ano-Novo de 538 a.C. Isto permitiu-lhe agir como seu vice-rei da Babilônia, a qual permaneceu em paz até sua morte em 522.

Noreinado de Dario II (521-486) foi autorizado outro retomo de exilados a Jerusalém (Ed 5.16;8.1). Seu reinado não permaneceu sem ser contesta­do e diversos grupos de babilônicos controlaram a cidade por períodos variados, geralmente adotando o nome real de Nabucodonosor, para apoiar suas reivindicações. Assim, Nidintu-Bêl (Nabucodono­sor III) controlou o poder de outubro a dezembro de 522. Nabucodonosor IV (Araka) foi morto em 27 de novembro de 521. Dario introduziu um rígido controle real com reformas administrativas locais destinadas a refrear a corrupção e estabelecer um sistema de mensageiro entre a Babilônia e as outras capitais. Ele construiu para si próprio um palácio (apadand), uma casa para seu príncipe herdeiro e

um arsenal. No quarto ano de Xerxes (485-465), os babilônicos fizeram outra tentativa de conquistar a independência. Bêl-shimanni e Shamash-Eriba reivindicaram o trono em 482 e essa revolta foi sufocada com muita crueldade e grande dano para a cidade de Babilônia, de onde a estátua de Marduque foi removida. Em sua visita c. 460 a.C., Heródoto afirmou ter visto a cidade virtualmente intacta, o que contraria os relatos de Ctesias e de Strabo.

7. D ec lín io . Xerxes e seus sucessores (Ar- taxerxes I e Dario III, 464-332) tiveram pouco a investir na Babilônia, em meio às longas e dispen­diosas guerras contra a Grécia; há poucos vestígios de realizações arquitetônicas desse período. A obra de irrigação foi negligenciada e o desvio da rota comercial da principal estrada persa, de Sardes para Susã, ajudou a diminuir a influência da cida­de. No dia l s de outubro de 331 a.C., Alexandre (III) foi bem recebido pelos babilônicos quando entrou na cidade, após sua vitória sobre os medos em Gaugamela (perto de Erbil). Foi aclamado rei e ao retomar do leste, nove anos mais tarde, pla­nejou grandes renovações, incluindo a criação de um porto para a cidade. Embora o sítio de Esagila tenha sido desobstruída, as obras foram interrom­pidas após a morte de Alexandre na Babilônia, em 13 de junho de 323. As disputas subseqüentes entre seus generais causou danos à cidade. Seleuco, que reivindicou o título de rei em 305 a.C., foi assim reconhecido a partir de 311, quando todos os documentos começaram a ser datados como sua “era”. A fundação de uma nova capital em Selêu- cia, no rio Tigre, aumentou o declínio da antiga metrópole. Documentos em tabletes de barro de uma escola sacerdotal na cidade continuaram pelo menos até o ano 100 d.C. Por esta razão, alguns vêem 1 Pedro 5.13 como uma referência à própria Babilônia (veja B a b i lô n ia , NT).

BIBLIOGRAFIA. R. Koldewey, The Excavations at Babylon (1914); E. Unger, Babylon, Die heilige Stadt(1931); O. E. Raven, Herodotus’ Description o f Babylon(1932); D. J. Wiseman, Chronicles o f Caldean Kings (626-556 B.C.) in the British Museum (1956); A. Parrot, Babylon and the Old Testament (1958); H. W. F. Saggs, The Greatness that was Babylon (1962); “Babylon”, Archaeolology and Old Testament Study (1967), 39-56.

D. J. W isem a n

BABILÔNIA, NT (BaBuÀcüi;). Nome do centro mundial, tanto literal como alegórico, que agiu contra o povo de Deus.

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666 BABILÔNIA, NT

1. Literal. Na genealogia de Jesus Cristo, há referência à deportação de Judá para a Babilônia, no rio Eufrates, no 1- séc. a.C. (Mt 1.11,12,17). Estevão, citando Amós 5.27 em sua defesa apai­xonada diante do sumo sacerdote (At 7.43), muda o TM e a LXX, de “além de Damasco” para “além da Babilônia”, visto que esta última foi o destino dos judeus de Jerusalém no grande Exílio.

2.1 Pedro. Essa epístola termina com sauda­ções para “Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita” (Mt 1.11,12,17). Embora possa ser uma referência à esposa de Pedro, um MS e algumas autoridades lêem “a igreja que está em Babilônia” (como na KJV e Bíblia na Linguagem de Hoje). Compreensivelmente, isso tem levado a várias identificações dessa Babilônia.

a. Roma. Até a Reforma, essa referência era tida como feita a Roma, sempre se supondo que “Babilônia” era o local onde a carta fora escrita. Dois cursivos antigos acrescentam en Romê à guisa de explicação. Existe uma antiga tradição que diz que Pedro visitou Roma e que Marcos foi chamado aí por Paulo (2Tm 4.11). W. M. Ramsay argumenta que a epístola está repleta de pensamento romano (Church in the Roman Empire, 286) e com outras evidências internas suportando essa teoria, ela é atualmente adotada pela maioria dos estudiosos.

b. Babilônia da M esopotâm ia. O fato de que a Babilônia ainda era uma cidade ativa no l2 séc. d.C. é comprovado por textos babilônicos datados (os mais recentes do ano 100 d.C.) e pela presença de judeus devotos desse local em Jerusalém no Dia do Pentecostes (At 2.1,9). A dispersão dos judeus da Babilônia, conforme relatado por Josefo (Antiq XVIII, ix, 6-9), durou pouco e foi apenas uma dentre as muitas perse­guições que sofreram. Tal fato não pode ser usado como evidência do abandono da cidade, a qual foi visitada por Trajano em 115 d.C. e que foi primeiramente relatada como deserta por Sétimo Severo 84 anos mais tarde. A Igreja Oriental tem reivindicado Pedro para si própria com base nessa passagem e, embora não haja prova de que Pedro tenha visitado a Babilônia (se 1 Pe 5.13 exigisse tal interpretação), a distância não é grande e re­manesce uma possibilidade. Esse entendimento era defendido por Erasmo e Calvino, na objeção que faziam à primazia de Roma. Se “Babilônia” foi o lugar onde a primeira epístola de Pedro foi escrita, seria uma coincidência extraordinária

que Marcos e Silvano, companheiros de Paulo, também tivessem estado na Mesopotâmia.

c. Babilônia egípcia . De acordo com Strabo (Geography XVII, 1:30), por volta do ano 18 d.C. havia um posto romano de fronteira chamado Babilônia, nome devido aos seus fun­dadores, refugiados fugindo do exército de Nabu­codonosor, ou exilados posteriores. E improvável que houvesse ali uma igreja e não há evidência direta de que Pedro tenha estado no Egito, embora Marcos fosse ligado à Igreja de Alexandria, e um dos seus hereges, Basilides, reivindicasse a tradição apostólica de Pedro, por intermédio do seu intérprete Glaukias (Clemente de Alexandria, Stromateis, VII: 17).

d. "Babilônia" com o um criptogra-ma. Tem-se sugerido (Selwyn) que, por razões de segurança, Babilônia era usada para encobrir uma igreja desconhecida, na qual Pedro estava trabalhando. O conteúdo da carta dificilmente garante tal entendimento, que está intimamente associado a outra suposição, de que Babilônia significava meramente o “lugar de exílio”, lem­brando a dispersão mencionada em 1.1 (assim, Boismard entende que o livro foi escrito em Antioquia). Dado que Pedro está transmitindo saudações particulares, esse entendimento é pouco provável.

3. A cidade sim bólica. “Babilônia” é descrita como uma grande cidade que cairia dramaticamente, como ocorrera com a Babilônia da Mesopotâmia (Ap 18.2,10,21). Era a “mãe das meretrizes”, a própria antítese da nova Jerusalém e, como tal, a fonte de todas as abominações da terra (17.5). Sua localização é dada como próxima a muitas águas (17.1), sobre sete colinas (17.9). A cidade era um centro de govemo internacional (14.8; 17.1,15,18) e, como tal, um importante cen­tro de comércio e de poder marítimo (18.3,11,19). Por muito tempo perseguiu os santos (17.6; 19.2). Sua queda seria repentina (18.9) e numa época em que estaria moralmente enfraquecida pela riqueza e luxúria (18.11-17). Tudo isso está de acordo com a descrição do AT sobre a Babilônia e uns poucos interpretam a cidade apocalíptica como uma ex­tensão da metrópole da Mesopotâmia (bem como pressupõem que a Jerusalém celestial seja descrita em termos de uma Jerusalém da Palestina expan­dida), cujas ruínas foram similarmente descritas emApocalipse 18.2s.(cp.Is 13.1 s.). Alguns vêem nessa cidade uma decadente Jerusalém antiga.

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BABUÍNO / BACIA (EM GERAL) 667

Entretanto, o nome Babilônia é claramente declarado como um mistêrion, o qual deve ser interpretado alegoricamente (Ap 17.5,7). Tertu­liano (Adv. Marc. iii, 13), Jerônimo, Agostinho e a maioria dos comentaristas vêem Roma como o cumprimento de todas as características da Ba­bilônia do Apocalipse. Roma foi designada como Babilônia nos Oráculos Sibilinos (v. 143), talvez sob a influência do Apocalipse judaico (2Esd; 2Bar). Em virtude de sua oposição ao Reino de Deus, seria natural que judeus e cristãos igual­mente vissem no novo poder mundial de Roma a “Babilônia” semelhante à que oprimiu os judeus. Visto que Deus destruirá a cidade da Mesopotâmia e libertara seu povo, então a queda do Império Romano também podia ser considerada.

BIBLIOGRAFIA. G. T. Manley, “Babylon on the Nile”, EQ XVI (1944), 138-146; M. E. Boismard, “Une liturgie baptismale dans le Prima Petri II”, RB, LXIV (1957), 181; A. F. Walls, The First Epistle General o f Peter (1959), 64-66.

D. J. W isem a n

B ABUÍNO . 1 Reis 10.22. Veja B ugio .

BACA, VALE DEOcn). Presumivelmente o “vale do Choro”, de acordo com a LXX, Jerônimo, a Siríaca, e a versão do Salmo 84.6 (ARC, NVI) feita por Lutero. Renan (Fie de Jesus, cap. IV) interpreta como sendo o último estágio da peregrinação do norte da Palestina para Jerusalém: Ain el-Haramija, um vale estreito e sombrio onde uma água salobra escorre das rochas; daí o nome de “vale da água que escorre ou das lágrimas”. Delitzsch destaca que este gotejar é chamado de (Jó 28.11) e não (03. Baca é, mais propriamente, o singular de ETíCQ (2Sm 5.23,24; lCr 14.14,15, que são árvores denominadas “árvores de bálsamo” porque gotejam uma resina. O resultado dessa identificação seria tomar a palavra designativa dessas árvores como uma variação de alguma forma ou raiz que signi­fica “chorar”. Nenhuma ajuda se extrai da suposta alusão a 2 Samuel 5.24 em Isaías 33.3.

M. Dahood evitaria o problema da identificação desses nomes próprios lendo hibbikã em vez do habbakã do TM, “que ele faça... fluir” (um hiphil perfeito, 3a pessoa do masculino, com o final arcai­co -a ’ derivando da raiz nbk/npk, “derramar”).

BIBLIOGRAFIA. J. Simons, The Geogi'aphical and Topographical Texís o f OT (1959), 332; F. Delitzsch,

The Psalms, II, 4S ed., 477; M. Dahood, Psalms, II (1968), 281.

W. C. K a is e r J r .

BACBUC. Forma de Bacbuque, naBJ, em Esdras 2.51, Neemias 7.53. Veja B a q u e b u q u e ; A c u b e .

BACBUQUIAS (nv^pa). Nome que ocorre três vezes (Ne 11.17; 12.9,25). Não se sabe ao certo se as passagens se referem a uma, duas ou três pessoas. Em cada caso, porém, Bacbuquias foi um levita que viveu em Jerusalém depois do Exílio (ARC, NVI, “Baquebuquias”; BJ, “Bacbuc).

BACENOR (BaKTivcüp). Oficial judeu do exército de Judas Macabeu que lutou na guerra contra Górgias, governador da Iduméia (2 Macabeus 12.35).

BA C IA (E M GERAL). Vasilha ou jarro cônca­vo, para uso diário ou cerimonial, que pode ter uma grande variedade de formas e tamanhos. E a forma de cerâmica mais comum encontrada nas escavações do Oriente Próximo e da época da manufatura do início do período Neolítico. Sem dúvida, cabaças e bacias de madeira precederam as de cerâmica e continuaram a ser usadas, mas não foram preservadas para a arqueologia. Mui­tos tipos de pedras, como pedra-sabão, calcário, alabastro e basalto foram talhadas, moldadas e polidas em forma de bacias. Metais como ferro, bronze, prata e ouro também eram muito utilizados para fazer bacias. As de ouro eram feitas para uso cerimonial e para integrar tesouros.

De modo geral, existem dez palavras equi­valentes a “bacia” no AT, inclusive “copo”, que freqüentemente tinha a forma do que hoje cha­maríamos bacia:

1. px, grande vasilha ou bacia, usada em ban­quetes, também denominada de Kpaxi^p. Foi usada para colher a parte do sangue que Moisés aspergiu sobre o povo durante a leitura da Aliança (Êx 24.6). Era uma vasilha pesada que poderia ser pendurada em uma estaca, embora pudesse cair e quebrar-se (Is 22.24,25). As primeiras bacias (Idade do Ferro I) tinham duas asas, e eram polidas a mão, enquanto as do período posterior (Idade do Ferro II) tinham quatro asas, com polimento em anéis.

2. tpd, vasilha de cerâmica para transportar carvões em brasa a fim de se obter fogo (Zc 12.6,

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668 BACIA, BACIA DE BRONZE

“braseiro”)- Pode se referir também a uma “pia” (lRs 7.38); ou ainda a uma panela (ISm 2.14).

3. 01D, neste caso é um termo genérico aplicá­vel tanto a “copo” (de forma esférica), quanto a “vasilha” para vinho, larga e chata (cp. 2Sm 12.3; lRs 7.26; Ez 23.32).

4. m m , pode ser utensílio de madeira ou de cerâmica. Vasilha larga e rasa, de tamanho médio, sem asas. Freqüentemente designa uma amassa- deria ou utensílio para guardar pão (cp. Êx 8.3; 12.34; Dt 28.5,17).

5. pira, grande bacia para banquetes (Am 6.6), praticamente sinônimo de 'aggãn (’agartal = sinônimo pós-exílico de mizrãq. Cp. Ed 1.9; Ne 7.70-72).

6. nsnp, pequena vasilha para servir porções individuais relativamente grandes de vinho, con­tribuindo assim para a embriaguez (Is 51.17,22; ARA, “cálice”).

7. ^0, pequena vasilha de cerâmica ou metal para uso: a. cerimonial, para o sangue (Éx 12.22);b. para bebidas (Zc 4.2. etc.).

8. nrta, recipiente de tamanho médio, similar mas menor que a ’aggãn e a sêfel, sem asas. Cp. 2 Reis 21.13 (ARA, “prato”).

9. *730, grande recipiente de cerâmica para ban­quetes, um artigo caro (cp. Jz 5.25; ARA, “taça de príncipes”). Também usado no relato do velo de lã, de Gideão (Jz 6.38; ARA, “taça”).

10. irrftx, bacia da Idade do Ferro II, pequena ou média. Elias pediu uma dessas com sal, para jogar no manancial (2Rs 2.20; cp. Ez 43.24).

Aparecem também diversos outros termos, geralmente referindo-se a um desses dez tipos de vasilhas. As modificações da forma básica da bacia podem ser vistas nos copos, lâmpadas e panelas de cozinhar.

BIBLIOGRAFIA. J. Kelso, “The Ceramic Voca- bulary of the Old Testament,” BASOR, Supplemen- tary Studies Nos. 5-6 (1948), 1-48; H. Frankfort, The Art and Architecture o f the Ancient Orient (1963), Píates 141-143; A. Honeyman, “The Pottery Vessels of the Old Testament” , PEQ (Abril de 1939), 76­90; I. Pritchard, The Ancient Near East in Pictures (1954), 41, 46.

M. H . H e ic k sen

BAC IA , B A C IA DE BRONZE (ira , "D, pro­vavelmente da raiz kw r significando ser ou fazer redondo; também traduzido por “panela” (ISm 2.14; Zc 14.21) e “tribuna”, ARA; “base”, ARC; “plataforma”, NVI, “estrado”, BJ (provavelmente por causa de seu formato redondo semelhante a uma bacia, 2Cr6.13)

1. A bacia para o tabemáculo com sua base era feita de bronze (Êx 30.18, passim); continha água,

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BACIA, VASO 669

de maneira que Aarão e seus filhos pudessem lavar as mãos e os pés quando adentrassem a Tenda da Congregação ou se acercassem do altar para ministrar (Êx 30.18,19); foi feita por Bezalel da tribo de Judá e Aoliabe da tribo de Dã (Êx 31.1-9) com outros homens do povo (Êx 35.10-16); e foi feita com os espelhos das mulheres que se reuniam (a palavra Hebraica sãbã sugere um grande grupo organizado) para ministrar à porta da Tenda da Congregação. Dessas mulheres Aben-ezra disse “é costume de todas as mulheres contemplar a face todas as manhãs no espelho, para que possam pentear e arrumar o cabelo, mas veja! estas eram mulheres de Israel que serviam ao Senhor, aban­donaram seus deleites terrenos e abriram mão de seus espelhos como oferta voluntária, porque eles não tinham mais uso para elas; mas elas vinham todos os dias à porta da Tenda da Congregação para orar e ouvir as palavras dos Mandamentos “(Patrick Fairbaim, The Typology o f Scripture, II [ 1900], p. 25 8). Após a unção com o óleo prescrito (Êx 30.22-29; Lv 8.11) e aceitação por Moisés (Êx39.39) foi o último artigo colocado no lugar antes que se erguesse o átrio (Êx 40.7-17). A Bíblia não explica o seu formato, tamanho, ornamentação ou transporte.

2. No Templo de Salomão, um grande “Mar de Fundição” tomou o lugar da bacia no Tabemáculo para as abluções dos sacerdotes (2Cr 4.6). Esse “mar” tinha cinco côvados de altura, dez côvados de diâmetro de uma borda a outra, e trinta côvados de circunferência (lRs 7.23). Alguns consideram os dois últimos números uma impossibilidade matemática (e.g. Louis Casseis, “Understanding the Bible”, Presbiterian Life,Dec. 1. 1966, p. 13). A circunferência, porém, podia não incluir a cur­vatura para fora do seu formato de lírio na borda (lRs 7.26), enquanto o diâmetro pode se referir à borda em sua parte mais larga. Havia colocíntidas (cabacinhas) por baixo de sua aba, dez em cada côvado; arcundando a bacia em duas fileiras, fun­didas com a própria bacia (lRs 7.24). De acordo com KD, “a semelhança de bois” no TM (ARC, NVI, BJ) no relato sinóptico de 2 Crônicas 4.3 está corrompido. Ele estava apoiado sobre quatro grupos de três bois de bronze, cada grupo voltado para um dos quatro pontos cardeais (lRs 7.25). Esse arranjo representava o serviço sacerdotal das doze tribos, do mesmo modo que os leões no trono de Salomão representava o serviço real. Uma bacia de basalto, posta sobre dois touros, do começo do primeiro milênio a.C. foi achada em Carquemis (NBD, p. 718, fig. 132). A espessura do bronze era da largura da mão e tinha a capacidade de dois mil

batos ( lRs 7.26). De acordo com KD a leitura “três mil batos” (2Cr 4.5) está corrompida.

Além do grande mar de fundição localizado no sudeste do Templo de Hirão, de Tiro (lRs 7.13,14, 40-44), também fez dez pias de bronze, dispostas em linha entre os lados norte e sul do Templo (lRs 7.39). Essas pias, com quatro côvados de diâmetro e contendo quarenta batos (lRs 7.38), eram usadas para lavar os animais a serem oferecidos como oferta queimada (2Cr 4.6), e estavam assentadas sobre suportes móveis de bronze (lRs 7.27-37). Uma estrutura similar de Chipre, c. 1150 a.C. esclarece o estudo esmerado desses suportes, encontrado em A Dictionary o f the Bible editado por William Smith (cp. NBD, p. 1244 fig. 205).

Devido à apostasia, o rei Acaz cortou fora os painéis dos suportes, removeu deles a bacia, e a pôs sobre um pavimento de pedra (2Rs 16.17). Os caldeus quebraram o que remaneceu do mar e dos suportes e levaram o bronze para a Babilônia (2Rs 25.13).A Escritura não menciona bacia(s) no segundo Templo, nem Josefo em seu relato da restauração feita por Herodes.

B. K. W altke

BACIA, VASO ftn , cálice, bacia, tigela, plIQ, ba­cia para despejar ou aspergir líquido, "IIDD, bacia de ouro ou de prata utilizada no Templo, ptí, bacia usada em rituais, vucTrÍp, bacia, vaso).

A palavra hebraica sa f é um termo genérico para vários tipos e tamanhos de recipientes de metal ou de cerâmica, utilizados para guardar ou carregar líquidos nas casas (2Sm 17.28) ou no Templo (Jr 52.18,19). Para os rituais mais importantes do Templo, quando o sangue dos sa­crifícios era aspergido sobre o altar, ou derramado aos seus pé, era usada uma grande bacia chamada mizrãq. A idéia da raiz deste nome é encontrada na palavra hebraica zãraq, que significa “esparramar ostensivamente” ou “espalhar abundantemente” (BDB, 284). Era um vasilhame para derramar ou espalhar uma quantidade considerável de líquido em um único movimento; pode-se imaginar uma grande bacia rasa, da qual o sangue do sacrifício se derramava em cascata no topo do altar e escorria pelos lados (Êx 29.16,20; Lv 1.5s..; 7.2; Nm 4.14; lRs 7.40; Jr 52.18,19; Zc 9.15). O mesmo tipo de vasilhame era usado nos rituais de purificação (Ez 36.25), para consumo de vinho (Am 6.6) e para as ofertas de flor de farinha amassadas com azeite, oferecidas pelos príncipes (Nm 7.13s.). Nos tem­pos de prosperidade, sob o reinado de Salomão,

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670 BACIA DE LAVAR / BAGATÃ

essas baciais eram feitas de ouro (lRs 7.49,50; 2Cr 4.8). As bacias feitas de ouro ou de prata eram chamadas também de kephor nos dias de Davi (1 Cr28.17) e depois do Exílio (Ed 1.10; 8.27).

Quando Moisés instituiu a aliança e derramou o sangue dos sacrifícios diante do povo (Ex 24.6), usou uma grande bacia chamada de 'aggãn, única ocasião em que esta palavra é usada.

No NT, a única referência a uma bacia ocorre na ocasião em que Jesus lavou os pés dos discípulos. Tem sido sugerido que a palavra nipter se refere-se tanto ao cântaro usado para derramar água, quanto à bacia para pegar água (Jo 13.5).

T. M. Gregor"!

Vasos (bacias) de alabastro de Megido. © O.l.U.C.

B A C IA DE LAVAR (ym to ) . Uma expressão usada apenas no Salmo 60.8; 108.9 (NVI, “bacia ou pia em que me lavo”; BJ, “bacia...”), onde Deus diz, “Moabe, porém, é a minha bacia de lavar”, significando o Moabe que deve ser mantido em desprezo, como um uma bacia de lavar, no qual são lavados mãos e pés sujos.

BACO. Veja D io n ís io .

BACRITES. Variação do nome B e q u e r i t a s . Veja B e q u e r .

B A G A G E M . O equipamento, ou bagagem de uma força militar ou caravana. Um dos signifi­cados de d, aparece em numerosas passagens históricas no AT, como 1 Samuel 17.22. O termo é ampliado para designar o equipamento especial de estações de reabastecimento e os enfeites da noiva (Is 61.10 etc.), cognato de expressões acadianas e ugaritícas. O substantivo grego á ttocticeuií não é encontrado no NT, mas é encontrado com freqü­ência na Apócrifa e Pseudepígrafa. A forma verbal aparece em Atos 21.15, composto com ÉJti. Todos esses têm sido interpretados como significando o carregar e descarregar de animais de carga, mas isso é improvável.

W . W hite J r

Uma bacia de aiabastro e um jarro

BAG ATÃ (T afia0á) Um eunuco que lutou contra o rei Assuero. A conspiração foi descoberta por Mordecai ( Ad. de Est. 12.1,2). Este nome aparece na B J, na ARA, ARC e NVI aparece como “ B i g t ã ” (Et 2.21; 6.2).

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BAÍA / BALAÃO 671

BAGOAS (Baycòaç). Eunuco encarregado dos negócios de Holofernes. Foi sua tarefa convidar Judite para um banquete com Holofernes e ofere­cer-lhe as cortesias feitas a um convidado espe­cial. Também foi Bagoas que descobriu o corpo decapitado do seu senhor (Judite 12.11,13,15; 53.3; 14.14).

J. J. E dw ards

BAÍA (yi®'?, kóXtioç). Palavra usada no sen­tido de enseada em Josué 15.2,5; 18.19; Atos 27.39. Enseada na ilha de Malta onde o navio que transportava Paulo a Roma encalhou (At27.39); identificada como a tradicional Baía de São Paulo, c. 13 km a noroeste da cidade de Valetta.

BAINHA (de uma peça de roupa) (nc?, Êx 28.33, 34; 39.24-26 orla, significando bainha, cauda ou saia ondulante. KptjctieSov, Mt 9.20; 14.36, significando remate ou franja [de roupa]). Essa era a peça da roupa externa que caía solta. Poderia estar sobre a roupa exterior superior, ou sobre a inferior. Em Números 15.38s e Deuteronômio 22.12 os hebreus eram instruídos a usar borlas nos quatro cantos da bainha da roupa exterior, como um lembrete constante dos mandamentos. As vestes de -Arão, em Êxodo 28 tinham de ter guizos dourados e romãs, na bainha.

Jesus criticou os fariseus por sua falsa manifes­tação de piedade pelo prolongamento das borlas nas suas bainhas (Mt 23.5). Não obstante, a bainha ou franja da roupa de Jesus desempenhou um papel importante com a mulher hemorrágica, que acreditou que seria curada se pudesse pelo menos tocar na bainha dele. Jesus respondeu à fé dela e concedeu seu pedido (Lc 8.43-48).

G . G ia c u m a k is J r .

BAINHA. Veja A r m a d u r a , A rm a s .

BAIOS (n a , malhado, marcado, da raiz Tia, gra­nizo; LXX 7io iK Í^ .o i, multicolorido, manchado). Termo usado para descrever alguns cavalos em uma visão de Zacarias (6.3). Em Gênesis 31.10,12, na ARA, o termo é tr. Como “malhados’".

J. B . S c o t t

BAIRRO NOVO, (O). Veja S e g u n d o Q u a r t o .

BAITERUS (Bam povç). Líder de uma família que retomou do Exílio com Zorobabel (1 Esdras5.17). Seu nome é omitido nas passagens paralelas de Esdras 2.3ss. e Neemias 7.8ss.

S. B a ra ba s

BAJITE Qvn). Nome de uma cidade em Moabe (Is15.2 ARC). O texto é incerto. AARAtraduz como templo. Algumas versões mudam o termo para na, traduzindo-o como “filha” (BJ).

BALÁ (rfra, LXX BccÀcc; significado incerto). Ci­dade localizada no território de Simeão (Js 19.3). Pela similaridade com outros nomes nas listas, deve ser a mesma cidade de Judá mencionada em Josué 15.29 como Baalá, ou em 1 Crônicas 4.29 como Bila.

G . G . S waim

BALAÃO (□ yVa, LXX, Balccáp, possivelmente devorador). Adivinho da Mesopotâmia, protegido por Balaque para amaldiçoar o povo de Israel.

1. Consternação pela invasão. A pre­ocupação com os problemas levantados no relato sobre Balaão tendem a obscurecer o quadro que o AT deseja retratar. Com demasiada freqüência as questões sobre se havia mais de um Balaão, se há um ou dois relatos, o estranho comportamento do animal de Balaão e a relação deste com Yahweh dominam o interesse dos estudiosos. Enquanto isso, a verdadeira natureza da atividade divina na história de Israel fica prejudicada. O interesse primário do AT é a percepção do leitor sobre Deus e sua atividade.

O relato de Balaão e sua ação nefasta é parte do registro bíblico, porque Balaque temia o avan­ço do povo de Israel. As realizações dos israelitas, sob o controle de Yahweh, tinham provocado medo no coração de todos que estavam no seu caminho. Os países pelos quais a nação recém- chegada passava enfrentavam não apenas o desa­fio de um novo vizinho, mas também o progresso do propósito divino no mundo e na história. Tinha sido assim desde o dia em que Deus dissera a Josué: “Ninguém te poderá resistir todos os dias da tua vida” (Js l . 5). O terror tinha assolado todas as nações que ouviam os relatos sobre os avanços dos hebreus. Primeiro Jericó, depois Moabe e Mi- diã tremeram diante de Yahweh. É a maneira de a Bíblia dizer que os homens, quando escolhem se

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672 BALAÃO

Relevo da Mesopotâmia (casa de Balaao) mostrando gênio protetor segurando balde e cone. © M.M.

opor à vontade divina, agem movidos pelo medo e pelo desespero.

2. Conflito entre a magia e a provi­dência. A segunda parte do quadro que o AT procura retratar é a superioridade inquestionável da fé israelita sobre a das nações vizinhas e a segurança invencível que ela proporciona. De­monstra-se isso no relato de uma série de conflitos nos quais Yahweh se levanta contra deuses pagãos ou contra as práticas realizadas em nome destes. Yahweh sempre emerge vitorioso. Esta atividade é parte do padrão redentor no qual o Senhor livra seu povo entrando em conflito com as forças hostis. O padrão emerge pela primeira vez nos atos ousados realizados no Egito, pouco antes do Êxodo. Continua quando a tentativa de Balaque, de destruir Israel com uma maldição, transforma- se numa disputa sobre quem controlará o destino dos hebreus. O rígido controle de Yahweh sobre as atividades do pagão Balaão é basicamente um conflito de poder — um conflito entre a providên­cia e a magia.

A tentativa desafortunada de descarrilhar o trem da história e de parar seu progresso proporciona outra grande demonstração de que o propósito divino não pode ser frustrado. Balaque enviou mensageiros à Mesopotâmia, à procura de Balaão; este não era um navi’ (profeta), mas um hakkisim (adivinho), cuja atividade era condenada (Dt 18). Parece mais provável que Balaão pertencesse a uma família na qual as artes mágicas eram passa­

das de pai para filho. O espaço aqui não permite uma discussão sobre a antiga prática de tentar controlar o destino de outrem pelo uso da magia, amplamente utilizada entre os vizinhos de Israel. A importância deste caso é o fato de que a prática foi dirigida contra uma nação cujo futuro já tinha sido determinado por uma aliança que prometia boa ventura controlada providencialmente.

Não se sabe como Balaão chegou a conhecer Yahweh ou a aliança de Yahweh com Israel, ou como Balaão tinha chegado a se relacionar com Israel. Entretanto, não surpreende o fato de que, se suas habilidades mágicas fossem dirigidas contra Israel, seus efeitos ficariam sob controle divino. Balaão foi forçado a buscar a permissão de Deus para aceitar o convite de Balaque (Nm 22.14ss.). O fato de essa permissão ter sido precedida de uma recusa, não pode ser tomado como evidência de fraqueza ou indecisão de Deus. Deve ser con­siderada como parte das atividades que criaram o controle sob o qual Balaão teria de agir. Essa ativi­dade incluía ainda as experiências que levaram ao comportamento estranho da mula de Balaão.

A aparição do anjo do Senhor e o movimento inesperado do animal para evitá-lo, somado à reação violenta de Balaão, eram parte das precauções con­tra qualquer tentativa ( do adivinho) de sair fora da linha e violar a estrita proteção de Yahweh sobre o futuro de Israel. Argumentar que um asno não pos­sui as cordas vocais necessárias para a fala é fugir da questão. Deus pode e tem falado aos homens sem necessidade de um instrumento humano, como

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BALADÃ 673

falou com Saulo de Tarso, e com Moisés no monte Sinai. O ponto é que Balaão apreendeu a mensa­gem sem levantar a questão da possibilide.de de tal fenômeno. A ocorrência foi registrada não para demonstrar que Deus pode fazer um animal falar, mas sim que ele pode utilizar qualquer circunstância para transmitir sua mensagem. Balaão agora podia ir em frente, atendendo ao chamado de Balaque, mas com precauções que não tinha como ignorar.

Há ainda outra parte a ser destacada no quadro bíblico. A bênção divina é irrevogável e não sujeita a contra-ataques hostis. Tal bênção é acompanhada de uma proteção providencial, totalmente imper­meável a magia qualquer coisa do tipo. Balaão não somente foi impedido de efetuar a maldição, como também só pôde reforçar o que já tinha sido feito.

Isso ficou totalmente evidente em cada um dos três lugares onde Balaque tentou impetrar uma maldição — em Bamote-Baal, Pisga e Peor. Uma análise dos oráculos proferidos por Balaão em cada local revela uma notável confirmação da herança espiritual de Israel e o total fracasso de qualquer tentativa de destruí-lo. Em Baamote- Baal, Balaão deixou claro que Israel era único em sua notável segurança. Sendo considerada uma nação justa, seu fim estava assegurado. Balaão não pôde amaldiçoar — pôde apenas invejar! "Que eu morra a morte dos justos, e o meu fim seja como o dele” (Nm 23.10b).

Em Pisga. o adivinho repetiu sua inabilidade de fazer oposição bem-sucedida à vontade de Yahweh; ele fez uma declaração cerimonial de que, em virtude da natureza do controle divino, nenhum encantamento ou adivinhação pode ter sucesso contra a bênção de Yahweh. Não é de estranhar que Balaque tenha ficado furioso. Balaão tinha acaba­do de declarar uma das verdades mais abrangentes jamais proferidas em qualquer teologia.

“Contra lacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel; agora se poderá dizer de Jacó e de Israel: ‘Que coisas tem feito Deus!”’ (Nm 23.23).

Em Peor, o oráculo de Balaão foi cheio de superlativos! Sob o cuidado de Yahweh, Israel constituiu a mais bela figura de toda a história da religião. Embora o oráculo objetivasse magnificar Yahweh e seu amor por Israel, escancarava a porta para a oportunidade universal. “Benditos os que te abençoarem, e malditos os que te amaldiçoarem” (Nm 24.9b).

3. O ensino de Balaão. Numa explosão de raiva, Balaque mandou Balaão paracasa sem nenhuma recompensa; a ganância do adivinho,

contudo, não podia ser negada. As advertências e experiências tinham sido suficientes para con­vencer Balaão de que amaldiçoar Israel estava fora de questão. Entretanto, poderia haver outros meios de se alcançar o objetivo. Seu conselho poderia ser mais proveitoso para Balaque do que suas habilidades mágicas. Depois que o rei se acalmou, Balaão apresentou um plano de ação para o frustrado monarca. Seu ensino envolveu a ação mais desprezível já concebida num coração ímpio. Corrompa um povo que você não pode amaldiçoar e Deus terá de castigá-lo. Resumindo, isso significava pegar um povo que estava sob a bênção divina e deliberadamente levá-lo a pecar para privá-lo da bênção divina. Note a interpreta­ção que o NT dá a este ato.

"abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de Balaão... que amou o prêmio da injustiça” (2Pe 2.15).

"tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição” (Ap 2.14).

Seguindo o conselho de Balaão, Balaque fez amizade com o povo de Israel e levou-o à tentação, à corrupção e finalmente à queda. Este fato é co­nhecido na Bíblia como a questão de Baal-Peor.

4. A morte de Balaão. O clamor de Ba­laão, “que ...o meu fim seja como o dele”, não se cumpriu. Sua morte foi parte do juízo sobre Moabe e Midiã. Por causa da recusa dessas nações de receber Israel em suas fronteiras com amizade e de hospitalidade, Deus proibiu sua entrada no meio de Israel por dez gerações e no final ordenou a Moisés que vingasse as indignidades que Israel tinha so­frido nas mãos deles. As mulheres não escaparam do juízo, porque foram usadas no plano de Balaão, seduzindo os homens de Israel à imoralidade. Ao mesmo tempo, Balaão como idealizador do plano, também foi morto (Nm 31.8).

BIBLIOGRAFIA. J. B. Payne, An Outline cfHebrew History (1954), 68, 69; E. J. Young, Mv Servanl the Prophets (1955), 20-29; J. Bright, A History o f Israel (1959), 126.

BALAC. Forma usada para B a l a q u e na BJ em Números 22.2 et al.

BALADÃ (nx^n). Pai de Merodaque-Baladã, rei da Babilônia (2Rs 20.12; Is 39.1).

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674 BALAMON / BALANÇA, BALANÇAS

B A LA M O N (BaXapcòv; var. B a la m o ) . O marido de Judite foi sepultado num campo situado entre Dotain e Balamon (Judite 8.3).

BA LAN Ç A , BALANÇAS (tn rm , cp. ~;p, vara, caniço, S‘73, linha, nível, NT, LXX, Çuyòvjugo, barra transversal, alavanca de balança, Dn 5:27; Ap 6:5). Balança dupla usada para determinar pesos e medidas.

O termo é utilizado no NT somente em Apo­calipse 6.5, onde o cavaleiro do cavalo preto tem “uma balança (Çvyóv, jugo, figura de barra transversal de balança de pratos) na mão”. A figura do cavalo preto, seu cavaleiro e a balança representa uma profecia de fome, quando os gêneros alimentícios tornar-se-âo cruelmente dispendiosos e o dinheiro inflacionado comprará muito pouco; como exemplo, o salário de um dia de trabalho (denarion) comprará somente uma pequena medida de trigo para o pão. Será um tempo de controlar e vigiar atentamente todas as balanças e instrumentos de medida. As pessoas pesarão com cuidado até mesmo a cevada mais barata (três medidas por um denarion).

A palavra, geralmente no Heb. plural (D^mn), ocorre com maior freqüência no AT. Na festa de Belsazar, Daniel interpretou parte da escrita na parede como: “Pesado foste na balança, e achado em falta” (Dn 5.27). As balanças usadas pelos hebreus não eram os artefatos delicados da nossa era científica; consistiam apenas de uma vara horizontal, suspensa por uma corrente ou corda, presa exatamente no meio, como ponto de apoio, ou em alguns casos, equilibrada sobre uma barra que servia como ponto de apoio, no centro. De cada extremidade da barra pendia um prato, um para sustentar o peso exato conhecido e o outro para o objeto a ser pesado. A pesagem cuidadosa significativa que o ponto de apoio estava bem no centro da barra, e esta estava exatamente na horizontal (uma questão de julgamento!). Por essa

razão, as palavras “linha” ou “nível” passaram a ser usadas para balança. Embora a maioria das balanças modernas seja de mola ou mecânica, o mesmo tipo continua sendo usado hoje. particu­larmente para se chegar ao peso exato de metais preciosos, produtos químicos e outros materiais. Nos tempos antigos, o pesos satisfatórios podiam ser obtidos usando uma balança comum (de dois pratos), como a descrita anteriormente, para coisas como grãos ou metais brutos. O comum do povo às vezes utilizava uma pedra ou pedaços extra de ferro ou bronze para adulterar o peso (cp. Pv 11.1). Ainda hoje se pode ver a rapidez e a agilidade de pessoas no uso de tais pesos e medidas nos mer­cados abertos do Oriente Médio.

A maior parte das referências do AT indica que, em virtude da natureza humana ser como é, o sistema de pesos e medidas muitas vezes era distorcido e os vendedores tiravam vantagem de compradores incautos. Arqueólogos descobriram pesos com inscrições tanto acima como abaixo do padrão médio. A inferência é que com freqüência os homens tinham um conjunto de pesos usados para compra e outro para venda. Mesmo quando os itens eram pesados à vista do comprador ou do comerciante, a balança podia ser atenciosamente manipulada. Os antigos muitas vezes falaram de balança fraudulentas ou erradas.

Como povo especial de Deus, esperava-se que Israel tivesse “balanças justas” e “pesos justos” (Lv 19.36). O homem sábio escreveu: “Balança enganosa é abominação para o Senhor, mas o peso justo é o seu prazer” (Pv 11.1), e “Peso e balança justos pertencem ao Senhor” (16.11). Profetas sociais, como Amós e Oséias, denunciaram o uso de balanças falsas e “balanças enganadoras” com veemência (Am 8.5,6; Os 12.7).

Egípcio optando uma balança. Detalhe de alto-relevo. © B.M.

Ourives pesando ouro numa balança; figura numa pintura de parede egípcia.

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BALAQUE / BÁLSAMO 675

Por outro lado, no AT as balanças bem regu­ladas tomaram-se símbolo de integridade, hones­tidade e justiça. Profetas como Isaías. Jeremias e Ezequiel usaram a ilustração dos pesos e balanças para chamar Israel ao arrependimento e à vida justa. Jó pede: "pese-me Deus em balanças fiéis, e conhecerá a minha integridade" (31.6). Isaías fala da justiça de Deus em termos grandiosos, quando diz que ele “pesou os montes em romana e os outeiros em balança de precisão” (Is 40.12).

Portanto, as balanças eram comuns no cenário bíblico, assim como são nos mercados e lojas de hoje. Os pesos e as balanças tornaram-se mais refinados e padronizados com o progresso da história; assim, a pesagem dos metais preciosos desenvolveu-se num sistema de moedas, primeiro em termos de pesos e posteriormente de valores. \s balanças não foram mais necessárias na maioria das transações comerciais, com o novo sistema de dinheiro. A palavra “balança" vem do Lat. bilanx (bi — dois, duas; lanx — pratos). Veja também P esos e M e d id a s .

BIBLIOGRAFIA. G. Barton, Archaeology and the Bible (1944), 199-207; Bauer-Amdt-Gingrich. Greek- English Lexicon (1952), 340; F. Wright. Manners and Customs o f Bible Lands (1953), 225-227: M. Johnston, Roman Life (1957), 35-41; S. W. Baron,.4 Social and Re- ligious Histoiy ofthe Jews (1960), 150-154; W. Williams, Archeology bi Biblical Research (1965), 174, 175.

L. M . P e tersen

BALAQUE (i?7n, devastador). Rei moabita, filho de Zipor. Balaque era o rei de Moabe quando Israel emergiu do deserto para entrar em Canaã. Tendo visto o que os hebreus tinham feito com os amor- reus, tentou impedir seu avanço contratando Balaão para amaldiçoá-los (Nm 22.1-6). Construiu altares em três locais diferentes para esse fim. mas cada tentativa falhou. Ele permanece registrado na his­tória judaica como exemplo da insensatez de tentar frustrar a vontade de Deus (Js 24.9; Jz 11.25).

J. J. E dw ards

B A LA U S TR A D A . 1. Parapeito construído ao redor dos telhados planos (terraços) das casas para evitar que as pessoas caíssem. A lei de Moi­sés exigia que todas as casas fossem equipadas com parapeitos (Dt 22.8), visto que o telhado era uma parte importante em toda casa, com muitas utilidades — trabalho doméstico, reuniões sociais, dormitório e área de lazer para as crianças.

2. Parede baixa no topo do muro das cidades, que servia para proteger os soldados que defen­diam a cidade (Jr 5.10, ARA, “gavinhas”; Sf1.16). Essa palavra é utilizada de forma figurada em Cantares 8.9.

BALAÚSTRES. A tradução da ARA de rr?DS em 2 Crônicas 9.11, onde é dito que Salomão fez “escadaria” (BJ, NVI) ou “corredores” (ARC) de madeira de sândalo para a casa do Senhor. Não se sabe, precisamente, qual é o significado da palavra hebraica.

B A LD A D . Forma usada para de B i ld a d e na BJ em Jó 2.11 et al.

BALD AQ U IN O (32, n?, 37 VX, tábuas grossas). “Prancha” aparece no texto da KJV três vezes. Em cada caso é tradução de uma palavra hebraica diferente. Em Ezequiel 41.25, é a tradução de f37, que ocorre centenas de vezes, mas é normalmente traduzida como “árvores" ou “madeira”. Na ARA é "baldaquino de madeira”, não aparecendo como “prancha” em nenhum momento. Ela deveria ser aplicada aqui como “madeira”, também. O hebraico iró significa “viga” ou “tábua”, e é traduzido como “prancha” na KJV e “tábuas” na ARA em 1 Reis6.15. Embora a palavra seja encontrada mais de quarenta vezes, apenas aqui ela é traduzida dessa forma. A passagem descreve o Templo de Salomão, o pavimento interno, que era feito de “pranchas de abeto” (KJV) ou “tábuas de cipreste” (RSV e ARA). Gesenius acredita que 31? é um termo técnico de arquitetura, que se refere a um limiar que forma a entrada a uma colunata ou templo. E encontrado em Ezequiel 41.26, onde a KJV o traduz como “pran­chas grossas”, a RSV como “vestíbulo” e a ARA como “baldaquino”. Não se sabe se seu significado apropriado é “telhado saliente ou “plataforma”.

B. C. S tark

BALDE ( 'T i) . Recipiente feito de couro, usado para tirar água de um poço ou de uma cisterna (Is 40.15; Nm 24.7, fig.). Possui duas travessas na parte superior, que o mantém aberto. São utilizadas até hoje, na Palestina.

B Á LS A M O ( ’ -ix ; ve ja Gn 37.25; 43.11; Jr 8.22; 46.11; 51.8 e Ez 27.17). Seria o “Bálsamo de

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676 BÁLSAMO DE JERICÓ / BALUARTE, ANTEMURO

Gileade” — tantas vezes mencionado nas can­ções — o Commiphora opobalsamunf! Ele não é realmente nativo da Palestina, mas é conhecido e cresce na Arábia. Josefo, o historiador judeu, diz que esse bálsamo foi produzido, nos dias de Salomão, de sementes trazidas pela rainha de Sabá. Certamente essas árvores certamente cresciam na época da invasão turca — embora aparentemente tenham sido destruídas pelos vândalos na época das Cruzadas. Se a semente Commiphora foi realmente introduzida pela rainha de Sabá. então Gênesis deve se referir a uma outra planta.

A árvore é sempre verde— cresce esparsamente. com poucas folhas trifoliadas; as flores brancas crescem em cachos de três. Quando se faz uma inci­são no seu tronco ou nos ramos, escorre a seiva. As pequenas gotas pegajosas endurecem e então podem ser removidas com facilidade da casca da árvore. Essa goma pode ser extraída também da raiz.

Em 2 Reis 20.13, a palavra hebraica bõSem é traduzida como “especiarias”, bem como em 1 Reis 10.10. Alguns acreditam que essa palavra, que pode derivar-se de bãsêm, seja a mesma palavra árabe basham; se assim for, então as “especiarias” men­cionadas poderiam ser o Bálsamo de Gileade.

O bdélio mencionado em Gênesis 2.12, e que originalmente é interpretado como uma pedra preciosa, provavelmente é a goma de resina ex­traída da árvore Commiphora africana, da Arábia, chamada também de “bdélio indiano” ou “bdélio africano” (veja também Nm 11.7).

Alguns dizem que o bálsamo Melissa officinalis é uma erva de aroma extremamente agradável, encontrada hoje em dia em muitos jardins. Tem cerca de 75 cm de altura e pequenas flores brancas. Essa planta, porém, não é o bálsamo mencionado na Bíblia.

Por causa da frase de Jeremias: “Acaso não há bálsamo em Gileade? ou não há lá médico?” (8.22), questiona-se se ele considerava que o bálsamo tivesse propriedades medicinais. Por esta razão, alguns pensam que essa planta é a árvore de terebintina (Silphium terebinthinaceum).

Silphium é o nome dado a uma planta que produz uma resina de aroma suave. Ela cresce no Canadá e nos Estados Unidos, onde recebe o nome de labaça das pradarias, uma árvore que não é na­tiva da Palestina. Essa planta, porém, atualmente cresce perto de Gileade e os árabes afirmam que sua resina é de valor inestimável. Josefo mencio­nou o bálsamo obtido dessa árvore.

’"I37 poderia ser o Balanites aegyptiaca, o bál­samo de Jericó (veja verbete adiante).

W. E. S h e w el l -C ooper

BÁLSAM O DE JERICÓ (m , goma medicinal). Como foi dito no verbete B á l s a m o , existem es­pecialistas em botânica que acreditam que se refere ao Balanites aegyptiaca, o bálsamo de Jericó, encontrado ao redor do mar Morto e na planície de Jericó. A árvore, geralmente com 3 m de altura, cresce nos desertos, tendo cachos curiosos de flores esverdeadas. Os ramos são finos e cheios de espi­nhos, e as folhas, duras e lanosas. Diz-se que o óleo extraído da sua fruta tem propriedades terapêuticas. Seu fruto produz também um vinho bem forte. Sua resina é aromática e viscosa. Tem sido usada para curar ferimentos e problemas estomacais.

Deve-se considerar a aroeira (Pistacia lentis- cits). Ela chega a 3 m de altura, com panículas flores seguidas de pequenos frutos. Pequenas incisões feitas nos ramos ou no tronco liberam a re­sina conhecida comercialmente como “mástique” Os glóbulos, com formato de pequenas lágrimas, são branco-amarelados, translúcidos, aromáticos e adstringentes.

W. E. S h e w el l - C ooper

B ÁLSAM O DE G ILEADE. ( i r à n s ) . Uma resi­na aromática de suposto valor medicinal (Jr 8.22; 46.11; 51.8). Ainda que não haja certeza se era produzida em Gileade mesmo, era comercializada tanto no sul, no Egito (Gn 37.25; 43.11); como no norte, em Tiro (Ez 27.17) e os textos sugerem que seu comércio era controlado pelo povo da Palestina. Sobre discussão da botânica, veja H D B

I, pp. 235. Veja B á l sa m o .G. G. S waim

BALTAZAR (BaÀxaaáp). 1. Forma grega do nome Beltessazar (Dn 1.7; 2.26; 4.8ss.; 5.lss.; 7.1; 8.1; Baruque 1.11).

2. De acordo com tradições mais recentes, nome de um dos reis magos.

BALUARTE, AN TEM U R O . (No hebraico Vn, forma reduzida de que quer dizer “o que cir­cunda”, “o que rodeia”.) E usado particularmente com o sentido de protetor ou guardião (SI 48.13). Mais freqüentemente refere-se a qualquer tipo de barreira física protegendo uma cidade, como o mar, no caso de Tebas (Na 3.8, et al.). E também usado no sentido de. referindo-se ao fosso com água, re­ferindo-se tanto ao fosso como aos muros da cidade (2Sm 20.15), sendo essa última, uma referência a Abel-Bete-Maaca e, em 1 Reis 21.23, a Jezreel. A

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BALUARTE, CIDADE FORTE / BAMÁ 677

parte norte da antiga Jerusalém, sobre o vale de Hinom, era protegida por uma muralha como essa >Lm 2.8, et al.). A maioria dessas muralhas, como a de Jericó, eram construídas de terra batida e, em períodos posteriores, recobertas de blocos de pedra. Existe certa confusão entre as diversas versões, que fornecem uma série de termos diferentes para o conceito semita. Veja C idadela e T orre

W. W hite Jr.

BALUARTE, C IDAD E FORTE. Cinco palavras hebraicas são traduzidas por buhvark (“baluarte’’) nas VSS inlgesas. Cada uma delas aparece apenas uma vez na KJV e pouco mais na RSV, ASV e JPS. Taa, é traduzido por “baluarte” em Eclesiastes 9.14 na ARA, e aparece também no 7.26 (ARA, “laços”) e no Salmo 116.3, num paralelismo entre (1) morte e (2) tribulação. Isso acontece também em diversas outras passagens, e parece indicar um local muito difícil — um “desfiladeiro” ou uma “proteção na­tural”. Em Deuteronômio 20.20 aparece um termo hebraico semelhante a esse: nxa. Seu significado é principalmente “fortaleza”, “torre de cerco”, como em 2 Crônicas 8.5. Os termos hebraicos Tn e ?n são termos militares que denotam uma muralha de proteção ou possivelmente um “fosso” (SI 48.13). O conceito básico da palavra é o de contenção, ou daquilo que circunda, um equivalente semântico do grego 7tpoTEÍ%ta|ia e do latim antemurale. O termo hebraico rus refere-se, em geral, aos can­

tos das construções arquitetônicas, mas aparece em 2 Crônicas 26.15 com o sentido específico de canto de defesa para guerra. A ARA traduz o termo grego èSpatopa, em 1 Timóteo 3.15, por “baluarte”. Esse termo é encontrado apenas aqui no NT ou na LXX, e é desconhecido das fontes helenísticas contemporâneas. A KJV lê ground (“chão”); Philllips lê foundation (“fundação”), que muito provavelmente é a tradução exata do termo grego. A origem básica do termo é obscura e possivelmente é de origem asiática.

W . W h ite J r .

B A M A (rins, lugar alto). A etimologia exata desta palavra hebraica é desconhecida, mas a forma cognata aparece em textos acadianos e ugaríticos significando “as costas” de um animal ou pessoa (C. H. Gordon, Ugaritic Manual, § 19,332). Deute­ronômio 33.29, que se refere às costas do inimigo, é um exemplo deste significado nas língua cognatas. Em outros lugares, a referência em geral é a locais israelitas ou cananitas de adoração, originalmente localizados sobre elevações ou colinas. Os verbos associados a esses lugares altos parecem extrair daí seu significado, pois os homens “subiram” ao bamah, vindo da cidade onde Samuel habitava (ISm 9.13,14,19) e depois “desceram” de lá (9.25). O outeiro em si podia ser um altar ou ter um altar construído em seu topo. Freqüentemente o bamah localizava-se na cidade (lRs 13.32; 2Rs

i " 0 1 .1 ' i j J ' v Altar cananita {bamah) em Megido, reconstruído em Stratum XVI. © O.I.U.C.

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678 BAMOTE, BAMOTE-BAAL / BANCO, MESA DOS CAMBISTAS

17.29) e mesmo no portão de Jerusalém (23.8). Muitos exemplos desses bamoth são conhecidos por evidências arqueológicas. Em Megido foi encontrada uma grande plataforma oval, c. 7 x9 m e com 5 m de altura. Uma escadaria leva ao topo da plataforma; obviamente eram oferecidos sacrifícios sobre este bamah construído no meio do terceiro milênio a.C. Modelos semelhantes foram encontradas em Hazar (séc. 11 a.C.), Nahariyah, perto de Haifa (séc. 18 ou 17 a.C.), e em Malhah, a sudeste de Jerusalém (75-6L’ séc. a.C.). A referên­cia em Ezequiel 20.29 parece fazer um jogo com as palavras ba (“vir, ir”) e mah ("o que?”), para perguntar em tom de sarcasmo: “Que (mah) alto é este, aonde vós ides (bã’)T’. Veja A lto .

BIBLIOGRAFIA. C. C. McCown, “Hebrew High Places and Cult Remains”, JBL LXIX (1950), 205-219; W. F. Albright, “The High Place in Ancient Israel”, Supplement to VTIV(\951), 242-258.

W. C. K a iser Jr.

BAM O TE, BA M O TE -B A A L (?in n m , lugares altos de Baal). Local na Transjordânia onde os israelitas pararam (Nm 21.19,20) ao norte do rio Amom. Provavelmente Bamote é a forma abrevia­da de Bamote-Baal (22.41). Essa cidade moabita provavelmente recebeu este nome em virtude das instalações religiosas especiais nesse local, aonde o rei Balaque levou o profeta Balaão para daí amaldiçoar Israel. A Pedra de Mesa registra o fato de que o rei Mesa edificou Dibom, Bete-Ba- mote (aparentemente nossa Bamote-Baal), Bezer, Medeba, Bete-Diblatem e Bete-Baal-Meom. Essa inscrição, feita no final do reinado de Mesa (cerca de 830 a.C.), afirma que ele “construiu Bete-Ba- mote, porque fora destruída” (11, 25-34). A tribo de Rúben recebeu esta cidade (Js 13.17) como parte de sua herança na terra.

Sua localização exata não é conhecida, mas muitos a situam a oeste da borda do platô da Transjordânia, ao sul do monte Nebo, perto da modema Khirbet el-Quweiqiyeh.

BIBLIOGRAFIA. L. H. Grollenberg, Atlas o f the Bible (1957), 144; Y. Aharoni. The Land o f the Bible (1967), 98,308.

W. C. K a is e r Jr.

BAN (A, Báv; B, Baiváv). Nome em 1 Esdras da KJV e da ASV, traduzido como Tobiah na RSV. Seus descendentes estavam entre os que retomaram

do Exílio, mas não puderam provar que "eram de Israel". As passagens paralelas em Esdras 2.60 e Neemias 7.62 trazem seu nome como Tobias.

BAN AIA S . Forma usada para B e n a ia na B J em Esdras 10.25.43.

BANAS (Bávvoç). Ancestral de alguns levitas que retornaram do Exílio com Zorobabel (1 Esdras 5.26). Seu nome não é encontrado na passagem paralela (Ed 2.40).

BANCO, M ES A DOS CAM BISTAS (-rpáTreÇoc, bancada, mesa, Mt 21.12; Lc 19.23). Mesa ou bancada sobre os quais os antigos cambistas (ban­queiros) exibiam seus artigos. Também é o local onde as transações financeiras eram conduzidas.

Bancos e negócios bancários foram estabeleci­dos pela primeira vez, em Israel, depois do Exílio. Em Antiguidade mais remota as pessoas em geral enterravam seus bens de valor (Js 7.21; Mt 13.44; Lc 19.20). Palácios e templos eram depósito de riquezas. Durante o Exílio, os judeus aprenderam sobre comércio e transações bancárias com os babi­lônicos; alguns alcançaram os níveis mais elevados no intercâmbio de mercadorias e no comércio na Babilônia. Perto de um canal do rio Eufrates, os estudiosos encontraram os arquivos de uma rica

Cambista

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BANDEIRA 679

casa bancária conhecida como Murasu e Filhos (450 a.C.), que continham muitos nomes judaicos. Nos tempos do AT os empréstimos não eram feitos com fins lucrativos, mas para ajudar um homem em dificuldades ou na pobreza (Dt 15.7-11). A palavra "banco”, como é conhecida hoje, não fazia parte do vocabulário. Os empréstimos não podiam ser a juros, exceto quando eram feitos para estrangeiros; os pobres recebiam consideração especial (Ex 22.25; Lv 25.35-37). Os profetas condenavam as altas taxas de juros (Dt 23.19,20).

Durante o Império Romano, nos tempos do NT, o banco tomou-se proeminente entre o povo da Palestina. As bancadas ou casas dos cambistas ficavam entre as bancas dos padeiros, açougueiros e vendedores de peixe.

Jesus fez freqüentes referências ao assunto: "Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinhei­ro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu” (Mt 25.27; cp. 21.12; Mc 11.15; Jo 2.15). Em Lucas 19.23, as palavras “colocar a prata sobre a mesa” significam “pôr no banco... para render juros”. A lei romana era mais severa do que a hebraica, permitindo que o credor pusesse seu devedor em grilhões ou na prisão (Mt 18.25).

A maior parte dos banqueiros, contudo, para o negócio bancário por meio do câmbio, uma neces­sidade em toda cidade onde circulavam moedas de outros países. Em Israel, muito dinheiro estrangeiro era trocado pelo siclo para o pagamento da taxa do templo. A grande confusão no sistema monetário do mundo antigo proporcionava lucro fácil, que depois era investido em empréstimos ajuros altíssimos. Os banqueiros (muitas vezes chamados de “usurários”) geralmente eram ricos que emprestavam dinheiro para pagamentos de hipotecas, compras e emergên­cias. As taxas de juros eram elevadas, geralmente entre 12% e 20%. Em tempos de inflação alta, os juros em Roma e Atenas chegavam até a 40%.

Nos ricos centros comerciais do mundo roma­no, podia-se encontrar estabelecimentos bancários complexos, onde se faziam depósitos e acordos para câmbio estrangeiro. O pagamento era au­torizado por nota manuscrita. Letras podiam ser sacadas em uma cidade e pagas em outra, evitando assim os roubos e assaltos durante a viagem. Os banqueiros ajudavam seus clientes a escolher os investimentos e por meio de conexões no exterior supriam os viajantes com o que hoje se chamaria de carta de crédito. O povo judeu tomou-se hábil nos empreendimentos comerciais. Empréstimos internacionais eram feitos por banqueiros ricos em Israel e nas cidades circunvizinhas. Na ver­dade, todos os aspectos essenciais dos negócios

modernos podem ser encontrados nos negócios realizados há 2000 anos. Veja I n t e r c â m b io de M e r c a d o r ia s , C o m érc io e N e g ó c io s .

BIBLIOGRAFIA. A. Bailey. Daily Life In Bible Times (1943), 218; F. H. Wright, Manners and Customs of Bible Lands (1953), 224; A. C. Bouquet, Everyduy Life in Bible Times (1954), 133; S. Baron, A Social andReli- gious History o f the Jews (1960), vols. I-IV, veja 1.255, 261. IV. 197ss., 338ss.; H. Daniel-Rops, Daily Life in Palestine at the Time o f Christ( 1962), 153, 249-251.

L. M . P etersen

BANDEIRA (^7, 03, mN, bandeira, insígnia, estandarte, flâmula, pendão; LXX, arpeíov, si­nal). Bandeira, estandarte ou insígnia, geralmente num poste alto sobre um promontório ou em um mastro; usadas por um exército, nação, religião ou comunidade para designar algo ou chamar atenção para uma causa, um ponto de reunião de tropas, um perigo etc.

Embora as bandeiras e estandartes tenham se originado no Egito e em países como Babilônia, Assíria e Pérsia, no Oriente, também tiveram lugar na Palestina durante os tempos do AT. Os filhos de Israel carregavam tais estandartes durante a marcha através do deserto para a Terra Prometida. A partir daí, estandartes ou bandeiras (dependendo de como se concebe cada um) devem ter sido bem comuns no cenário bíblico, dado o freqüente em­prego de tais designações nas Escrituras.

Sem dúvida, o desenvolvimento de estandartes e insígnias ocorreu no contexto militar. Nos países ao redor de Israel, inclusive Roma, os estandartes eram carregados pelas várias divisões do exército, ou ata­dos aos mastros dos navios de guerra. Os primeiros estandartes não eram bandeiras ou pendões feitos de tecido, mas figuras, emblemas ou imagens de animais e pássaros, ou de deuses feitos de madeira ou metal, pintados vividamente e atados na extre­midade de uma estaca ou mastro comprido.

A águia era uma figura comum nas bandeiras em vários países. Algumas insígnias e estandartes estavam relacionados à religião do país, podendo ser encontrados nos templos ou outros locais de adoração. Não se conhece a natureza exata dos estandartes de Israel (Nm 2), mas a presença deles no acampamento, se comparados a outras insígnias, leva os especialistas a acreditarem que a peregrinação no deserto na verdade foi uma expedição militar. Posteriormente os estandartes e bandeiras foram usados também com outros propósitos, tais como comunicação.

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680 BANDEIRA

O propósito dos estandartes sempre causa dis­cussão entre os estudiosos da Bíblia. Eram apenas marcas simbólicas de identificação, como por exemplo de um regimento do exército? Ou tinham significado e propósito mais profundos? Este autor crê que tais bandeiras ou estandartes certamente serviam como marcas de identificação, mas também representavam os ideais e aspirações do povo que os carregavam, e eram usados como um meio de despertar emoções e devoção por uma causa, pessoa ou nação. Imagens e inscrições carregadas à frente do grupo, ou montadas de forma estacionária sobre uma colina, faziam com que o povo "se reunisse em tomo da flâmula”, num esforço unificado. Todos os movimentos podem ser caracterizados por três necessidades comuns: símbolo, lema e canção. Isso fica claro também pelo uso dos termos na Bíblia.

No AT, três palavras hebraicas diferentes são usadas para designar estandarte ou bandeira. Mui­tas vezes elas parecem ser sinônimas, mas o uso mais amplo permite que se façam certas distinções entre elas. Degel é usada para o estandarte ou in­sígnia de cada uma das quatro divisões maiores das tribos de Israel acampadas no deserto. “Os filhos de Israel se acamparão, cada um no seu arraial, e cada um junto ao seu estandarte, segundo as suas turmas... Os filhos de Israel se acamparão, junto ao seu estandarte [degel], segundo as insígnias [oth] da casa de seus pais; ao redor, de frente para a tenda da congregação, se acamparão” (Nm 1.52;2.2). O estandarte de Judá ficava do lado leste do acampamento; o de Rúben ficava ao sul; o de Efraim, a oeste e o de Dã, ao norte. “Assim fizeram os filhos de Israel; conforme a tudo o que o Senhor ordenara a Moisés, se acamparam segundo os seus estandartes e assim marcharam, cada qual segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais” (Nm2.34). Aparentemente degel designava um grupo ou uma divisão maior de pessoas, organizadas em tomo de um objetivo central; sem dúvida, os “exércitos de Israel” marcharam nesta formação para a Terra Prometida. No Salmo 20.5, degel toma-se uma flâmula de batalha: “Celebraremos com júbilo a tua vitória, e em nome do nosso Deus hastearemos pendões!” Em Cantares (2.4), po­rém, é usado como uma linda ilustração do amor: “Leva-me à sala do banquete, e o seu estandarte sobre mim é o amor”.

A palavra “nes”, traduzida como “insígnia” ou “estandarte”, refere-se mais especificamente a um ponto de encontro do povo. Marca um centro de atração no qual as pessoas depositam suas esperan­ças. Geralmente, tal sinal era levantado em algumas ocasiões especiais, sempre sobre um local alto e

bem visível. Moisés, depois da derrota de Amale- que, chamou o altar erigido em gratidão a Deus de Yahweh Nissi, “o Senhor é minha Bandeira” (Ex 17.15). O próprio Messias toma-se tal estandarte e ponto de reunião das nações (Is 49.22). Foi le­vantado para reunir os soldados de um exército, ao som das trombetas (Is 13.2; 18.3). Em Isaías 30.17, um estandarte foi levantado sobre uma colina para comunicar uma mensagem urgente. O estandarte dizia ao povo para fugir do país, para as cidades em busca de segurança (Jr 4.6). Quando o exército abandonava um estandarte numa colina, era sinal de derrota (Is 31.9). Sob esse tipo de estandarte podemos incluir a serpente abrasadora de bronze elevada sobre uma haste, a qual devia ser o ponto de reunião para salvação do povo (Nm 21.8,9).

A terceira palavra, oth, é usada com menor freqüência do que degel e nes e geralmente se refere a “bandeiras” menores, tais como insígnias ou pendões. Em Números 2.2, como já vimos, essa palavra é usada para identificar as famílias menores dentro das divisões, esta descrita como degel. No Salmo 74.4 é usada para falar das forças inimigas que “alteiam seus próprios símbolos”.

Numa recente obra de pesquisa, de Vaux afirma que esses termos devem ser entendidos somente em um sentido militar. Degel não significa sinal ou pendão, mas uma divisão do próprio exército, sendo este o sentido de Números 1,52ss. No texto de Qumrã, degel refere-se a cerca de mil homens ou menos. Segundo de Vaux, nes não é uma ban­deira de fato, mas uma estaca ou mastro levantado sobre uma colina para dar o sinal de reunião das tropas contra um inimigo. Diz que em geral eram símbolos religiosos e que a Arca da Aliança dos judeus desempenhava este papel. Embora ele acre­dite que falar sobre sinais, bandeiras e flâmulas na Bíblia realmente não é o ponto principal, admite que a razão principal para tais pendões em Israel é que todos os exércitos orientais as utilizavam. Entretanto, de Vaux afirma que tais insígnias em geral eram religiosas. Há ainda uma sentença in­teressante na Ostraca de Laquis (4.10), onde se lê: “Estamos observando os sinais de Laquis”.

O NT não fala de bandeiras e insígnias no senti­do específico do AT. Lucas designa a figura de proa no navio alexandrino de “Castor e Pólux” (ARC; a ARA diz “Dióscuros”), usando o termoparasemos que significa “extraordinário”, “distinto”, “marca­do”, em vez do termo esperado semeion, “sinal” (At 28.11). Um elo entre os dois Testamentos pode ser a tradução da LXX de oth em Números2.2 com o termo semeion, o que evoca numerosas ocorrências de semeion no NT, no sentido geral de

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BANHO, BANHAR-SE 681

“sinal” ou "marca": "Mestre, queremos ver de tua parte algum sinal” (Mt 12.38); “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem” (24.30); “E isto vos servirá de sinal...” (Lc 2.12): “ nenhum sinal lhe será dado. senão o de Jonas” (11.29). É significativo que a LXX pareça dar suporte à opi­nião de de Vaux, porque em Números 2.2 degel é traduzido pela palavra tagma, a qual na literatura grega em geral é um termo militar, que significa destacamento ou divisão de soldados.

BIBLIOGRAFIA. B. Meissner, Babylonien und Assyrien (1920), 82, 92, 93; J. Kromayer e G. Veith, Heerwesen und Kriegsfiihrirg der Griechen und Rõmer (1928), 128,129; J. Pedersen, Israel, Its Life and Ciãture

(1959), III-IV, 1-13; R. de Vaux, Ancient Israel (1961), 227-229; J. W. Wevers, IDB (1962), 347, 348.

L. M. P etersen

BANH O , BANHAR-SE. Mencionado na Bíblia em dois contextos: a limpeza pessoal e a ablução cerimonial. Essas palavras são usadas para traduzir diversas palavras hebraicas. A mais freqüente é fm , “apresentar”, “transbordar”. O corpo humano era lavado com freqüência por esse método, que parece indicar esfregar e enxagüar com água, provavelmente de um jarro ou cântaro (Lv 15.13 etc.). Como a maioria dos povos antigos, os judeus não transportavam água para banho, com exceção

Detalhe de um grande saguão dos Banhos Escolástica, Éfeso. © Lev

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682 BANI

Banho em castelo asmoneu. © Pai Exp. Fund.

dos membros das classes mais elevadas (2Sm11.2); entretanto, com o passar do tempo, tanques para banho foram construídos em muitas cidades. Embora houvesse também um propósito de higie­ne, o objetivo principal do banho era cerimonial. Em geral, as civilizações antigas tinham pouca ou nenhuma compreensão da teoria das doenças transmitidas por micróbios; contudo, muitos rituais religiosos envolviam alguma forma de lavagem ou de aspersão. O uso ritual da lavagem com água por todo o AT representava a purificação das implica­ções morais de uma ação. Um costume elaborado cresceu em tomo da prática, de modo que lavar outra pessoa era sinal de humildade (ISm 25.41); aparecer lavado era sinal de alegria e bem-estar (Gn 43.31), enquanto a aparência desgrenhada era sinal de luto público (2Sm 12.20 et al.). O banho com água também era usado com freqüência como sinal de separação, de maneira que o bebê era la­vado no nascimento (Ez 16.4), o corpo era lavado logo após a morte (At 9.37) e o animal era lavado antes da tosquia (Ct 4.2). O uso do batismo, um tipo específico de lavagem ou banho como sinal de aliança, tinha grande importância no AT. Esse aspecto foi transferido para a prática no NT. Uma grande variedade de termos gregos é empregada para traduzir a noção hebraica na LXX. e alguns deles foram incorporados ao uso e ao vocabulário do NT. O banho com tal não é mencionado no NT, mas a lavagem, tanto higiênica como cerimonial, desempenha um papel importante no ensino do Senhor Jesus. Ele proibiu a aparência desgranhada, geralmente adotada durante os jejuns religiosos (Mt 6.17), e incentivou, em seu lugar, a contrição em secreto. A lavagem das mãos antes das refei­ções era amplamente praticada entre os judeus, como observância da lei do AT (15.2), governada por adições complexas ao Código Levítico, como visto nos DSS. As escavações em Qumrã e Masada

revelaram ruínas do que podem ter sido tanques de banho cerimonial. Contrariamente ao costume judaico, os gregos, como relatado por numerosos autores clássicos, normalmente esfregavam ou ar­ranhavam de leve o corpo, molhado pela transpira­ção ou coberto com óleo. Anudez ritual envolvida nesta prática, denotada na palavra y\)|avaaí5iov, “escola”, literalmente “lugar de despir”, e o anta­gonismo judaico a este costume, levaram a sério conflitos no período elênico. Ao que parece, a reação aos costumes helênicos e pagãos levava os fariseus a serem ainda mais zelosos e atentos em relação ao banho do que o próprio AT. De especial interesse é a lavagem do corpo como símbolo da purificação do pecado. Tal idéia parecia estar envolvida na declaração de Jesus a Nicodemos (Jo 3.5), da mesma forma que o conceito mais intimamente associado entre água e nascimento envolvia purificação. Essa mesma figura é evocada por Pedro na narrativa de Jesus lavando os pés dos discípulos na Páscoa (13.9,10). Essa mesma noção tem sido repetida nas cerimônias de lavagem de pés mantidas por certos grupos de igrejas, que tem dado continuidade à prática desde a antiguidade.

BIBLIOGRAFIA. A. Edersheim, Life and Times o f Jesus the Messiah (1883); L. E. Toombs, IDB, vol. 1, A-D, 365, 366 (1962).

W. W hite Jr .

BANI (’]n, construir). 1. Gadita; um dos “trinta” de Davi, a elite militar da época (2Sm 23.36). Apas- sagem paralela em 1 Crônicas 11.38 traz “Mibar, filho de Hagri”, o que S. R. Driver julga ser uma corrupção dos textos de Samuel (Sam., p. 371).

2. Ancestral do levita Merari, por meio da família de Etã, cujo filho serviu no Tabemáculo durante o reinado de Davi (lC r 6.46).

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BANIAS / BANQUETE 683

3. Descendente do clã de Perez, filho de Judá por L’tai, habitante de Jerusalém do período pós-exílico d Cr 9.4). A LXX e o Kethibh combinam este nome com a palavra seguinte e lêem como "Benjamim”.

4. Ancestral de alguns judeus que retomaram para Jerusalém com Zorobabel (Ed 2.10; lEsd 5.12); chamado de Binui em Neemias 7.15.

5. Ancestral de Selomite que acompanhou Es­dras como representante da Babilônia; foi restaura­do em Esdras 8.10 com base em 1 Esdras 8.36.

6. Judeu cujos descendentes tomaram esposas estrangeiras (Ed 10.29; 1 Esdras 9.30, Maani); a lista continua em Esdras 10.38 mencionando outro Bani e Binui (?) (lEsd 9:34).

7. Levita cujo filho ajudou na restauração dos muros de Jerusalém (Ne 3.17).

8. Levita que, junto com outros, auxiliou Esdras na exposição da Lei de Deus (Ne 8.7; 9.4s.); tam­bém chamado de Anniuth em 1 Esdras 9.48.

9. Um dos representantes da tribo de Levi que as­sinaram um pacto, em resposta ao grande avivamen- to depois da leitura da Lei de Deus (Ne 10.13).

10. Um dos ‘‘chefes do povo” que assinaram o mesmo pacto, como o n2 9 (Ne 10.14).

11. Pai de um superintendente dos levitas em Jerusalém, dos filhos de Asafe, "cantores, ao ser­viço da casa de Deus” (Ne 11.22).

Este nome é facilmente confundido com Binui ou Buná, e sua popularidade no período pós-exí­lico o toma ainda mais difícil. Outra dificuldade encontrada é fazer uma distinção entre os indiví­duos que tinham este nome, de suas famílias ou clãs. Alguns dos relacionados acima podem se referir ao mesmo Bani.

BIBLIOGRAFIA. M. Noth, IPN. 172.W. C. K a i s e r Jr

12. (Baciví). Forma grega do nome hebraico ’:n em 1 Esdras 9.34 (Ed 10.34), fundador de uma família cujos membros se divorciaram das esposas estrangeiras.

BANIAS. Cidade na encosta sul do monte Hermom.Atualmente os árabes soletram seu nome como

“Banias”, mas a forma mais antiga era “Paneas”, derivada de “Paneion”. O nome vem de Pã, deus pagão que era adorado ali. Nichos para estátuas de Pã ainda podem ser vistos. O nome alternativo mais bem conhecido é Cesaréia de Filipe. O tri­butário mais oriental do rio Jordão tem sua fonte perto de Banias.

R. L. A ld en

B A N IM E N T O (Dnna; aramaico, iiina-'; LXX. TtcuSeía, significando: exclusão, erradicação, causa de ser expulso, flagelação). A punição básica é a expulsão à força. Nos casos ostensivos de exílio voluntário, como o de Jacó para Harã, pressionado pela ira de um irmão (Gn 27.43); a ida de Davi para Gate, diante da ameaça de perigo (ISm 27.1-4); ou, quando o homicida casual fugia para uma das cidades de refúgio (Nm 35), sempre há um elemento de constrição.

O banimento, por outro lado, é uma ação de­cisiva daquele que está no poder, forçando uma mudança de residência ou excluindo um indivíduo de certos direitos e privilégios. Quando Adão e Eva pecaram, foram desapossados e banidos do Jardim do Éden (Gn 3.22-24). Durante o reinado do anti-semita Cláudio, todos os judeus foram expulsos de Roma (At 18.2). Em ambos os casos foi tomada uma medida oficial.

O banimento não era prescrito na lei mosaica. Não era similar ao confisco dos bens ou à pena capital. A lei, porém, em certas ocasiões ordenava que um indivíduo fosse “eliminado do seu povo”. Essa era a pena, por exemplo, para quem não se circuncidasse (Gn 17.14), por comer sangue (Lv 17.10) e pelo pecado deliberado (Nm 15.31). O significado da frase não é totalmente claro, mas com toda probabilidade significava excomunhão e exclusão da comunhão dos fiéis. Nos primórdios, a deportação não era praticada, pois significaria enviar alguém para fora do contexto da verda­deira religião, para um ambiente pagão. Essa forma de banimento não foi adotada pelos judeus até depois do retomo do cativeiro. Era praticada pelos romanos; pode ser que os judeus do período pós-exílico tenham tomado emprestado o costume dos seus vizinhos.

BIBLIOGRAFIA. F. E. Flirsch, “Punishments'\ ISBE, IV (1955), 2504-2506; M. F. Unger, “Banish”, UDB (1957), 121; M. Greenberg, “Banishment”, IDB,I (1962), 346; A. R. S. Kennedy, “Crimes and Punish- ment", HDB (1963), 190.

J. H. B ratt

BANQUETE. Diversas palavras hebraicas e uma palavra grega são assim traduzidas nas várias VSS; entretanto, as situações de banquete são mais fre­qüentes do que a utilização dos termos específicos. A descrição hebraica em Provérbios 9.2-5 tem um paralelo muito próximo na descrição ugarítica da lenda do rei Keret (III K:4-6), que fala sobre a festa da rainha Hurriya. Em ambas as passagens

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684 BAQUEBACAR/ BAQUEBUQUE

0 rei Assurbanipal "banqueteando" com sua rainha. © B.M.

ocorrem três eventos: (1) o preparo da comida e o chamado dos convidados; (2) o ato de convidar; (3) a apresentação da came e do vinho, em seqüência (M. Lichtenstein, ‘'The Banquet Motifs in Keret and in Proverbs 9”, Journal o f the Ancient Near Eastern Society o f Columbia University [1968], 19-31). Outra descrição semelhante aparece em Amós 6.4-6, mencionada em Isaías 22.13; 25.6. Em todas as passagens, a ação de comer carne e beber vinho é proeminente. O consumo de vinho, tanto ritual como nas refeições, era parte integrante do banquete oriental O termo hebraico mais comum nntra é uma forma maqtal do verbo nniff, conforme usado em Ester. Em Jó 41.6 e 2 Reis 6.23, o termo rra provavelmente deve estar relacionada ao acadiano kirêtu, “festa”, embora Cantares 2.4 use o termo hebraico comum 1” , o grego oivoç (Jo 2.2ss.), o latim vinum, Vulgata (ARA, “vinho”). Como no AT, também no NT o “vinho” de uva fermentada era indispensável nas festas. No NT, porém, Cristo odema a seus discípulos convidar as pessoas para suas festas por amor, e não por questões sociais. Os quadros

proféticos do Reino de Deus no NT freqüentemen­te são apresentados como momentos festivos (Mt 26.29; At 10.41 et al.). O único termo específico usado no NT é o Gr. tiotoç ( lPe 4 .3), que se refere a bebedices, borracheiras e coisas do gênero, e não tem relação com a alegria virtuosa do AT e dos Evangelhos.

BAQUEBACAR (ipzpn). Levita, um dos filhos de Asafe, em Jerusalém (lCr 9 .15). Possivelmente o Bacbuquias de Neemias 11.17.

BAQ UEBU Q U E. (A kotj(3, pnpu, frasco, com formas variantes nos manuscritos gregos; A kod<|); B a q u e b u q u e ) . Ancestral de uma família de servi­dores do Templo (ARC, “netineus”). Seus filhos retomaram do cativeiro na Babilônia com Zoroba­bel como “servos do Templo”. Chamado de Acub em 1 Esdras 5.31 e de Baquebuque (p!3p3) em Esdras 2.51 e Neemias 7.53. Veja Acube.

E. S. K a l la n d

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BAQUEBUQUIAS / BAR KOCHBA, SIMÃO 685

BAQ UEBUQ UIAS. Forma de Bacbuquias, na ARC e NVI, em Neemias 11.17; 12.9,25.

BÁQUIDES (BcxKxíSriç). Governador da Meso­potâmia nos dias de Antíoco Epifanes e general do exército sírio sob Demétrio Soter.

Báquides foi amigo devotado e servo leal de dois governantes. O primeiro foi Antíoco Epifanes íAntiq., XII, x, 2), nos dias de quem serviu como governador da Mesopotâmia. O segundo foi De­métrio (IMac 7.8), sob quem serviu como general do exército. Pouco antes de morrer, Antíoco de­signou um dos seus companheiros, Filipe, como guardião do seu reino (IMac 6.14); entretanto, foi Lísias, seu general, quem anunciou a morte de An­tíoco e declarou o filho deste o novo rei. Demétrio, contudo, tinha fugido de Roma, estabelecendo-se como rei na cidade deTrípoli (IMac 7.4). Mandou matar Antíoco (o filho de Epífaneo) e Lísias, e nomeou Báquides seu general.

Como general, Báquides foi requisitado para li­derar numerosas campanhas contra Judas e Jônatas Macabeu. O desejo de Alcimo de tomar-se sumo sacerdote ocasionou a primeira campanha. O aspi­rante a sacerdote procurou Demétrio representando os apóstatas da Judéia. Conquistou o apoio de De­métrio por meio de acusações contra Judas e seus seguidores. O rei enviou Báquides à Judéia para estabelecer Alcimo ( IMac 7.5ss.) e matar Judas. Báquides foi bem sucedido no estabelecer Alcimo, mas não conseguiu matar Judas (IMac 7.19,20). No processo, o general eliminou muitos homens por meio de quem tentou cumprir sua tarefa.

A segunda campanha de Báquides resultou na morte de Nicanor, a quem Demétrio enviara para destruir Israel (7.26-46) depois de um segundo apelo de Alcimo. Báquides atacou Judas com uma grande tropa. Depois de uma primeira derrota, de seu flanco, o flanco esquerdo contra-atacou e matou Judas, dispersando seu exército.

Depois da morte de Judas, Báquides recrutou a ajuda dos apóstatas para matar os seguidores de Ju­das. Os judeus fiéis, porém, elegeram Jônatas como líder. Depois de estabelecer guarnições militares por todo o pais, Báquides voltou paia seu reino.

Dois anos mais tarde, alarmados pelo crescente poder de Jônatas, os desertores apelaram nova­mente para Demétrio, o qual respondeu enviando novamente Báquides contra Jônatas e Simão. O cerco não obteve sucesso; depois de extravasar seu desagrado por seu fracasso sobre os desertores judeus que tinham pedido sua ajuda, Báquides retirou-se definitivamente da Judéia, estabele­

cendo as bases para um armistício. Portanto, suas conquistas nesse território foram uma mistura de vitórias e de fracassos, que finalmente captularam à independência dos Macabeus.

BIBLIOGRAFIA. 1 Macabeus 7-9; Josefo, Ant. XII- XIII; C. Pfeiffer, History ofNew Testament Times With an Introduction to the Apocrypha, 9-19.

J. J. E dw ards

BAR. O Heb. m é interpretado como um aramais- mo do termo ugarítico-fenício e hebraico "p. Seu uso no Salmo 2.12 demonstra a antiguidade do seu emprego no Heb. Um patronímico comum é formado acrescentando-se o prefixo bar- ao nome paterno, formando assim uma estrutura de construto simples, istoé, bar mais Abbas = “Filho de Abbas”. Há uma ocorrência importante em Daniel 7.13: o termo aramaico wiv. na, “Filho do homem’', utiliza­do com freqüência nas narrativas dos Evangelhos como um título pessoal de Cristo [G. Vos, The Self-Disc/osure o f Jesus (1948)]. Esse termo refe­ria-se regularmente a parentesco íntimo, na ordem semita do relacionamento familiar concêntrico, e por conseqüência freqüentemente significava “do grupo de”, “parente de”, bem como “filho de”.

W . W h ite J r .

BAR KOCHBA, S IM Ã O . Foi o líder dos judeus na segunda guerra contra Roma, precipitada pela iniciativa de Adriano (132 d.C.) de fundar uma cidade não judaica, Aelia Capitolina, no local onde era Jerusalém.

Bar Kochba proclamou um estado judeu inde­pendente. Ele fez cunhagem de moedas usando moedas romanas em circulação, porém já desfi­guradas. Os romanos convocaram Julius Severus, vindo do govemo da Bretanha, para esmagar a nova rebelião; levou três anos até que a resistência fosse esmagada. O quartel general dos rebeldes ficava nos wadis e escarpas onde o deserto da Judéia se encontra com o Mar Morto. Aí, depois de uma bus­ca fotográfica feita de helicóptero, Yadin localizou um acampamento de comando romano sobre um platô, bem como um complexo de cavernas inaces­síveis, onde os rebeldes se esconderam e no final morreram de fome ou cometeram suicídio.

Numa parte das cavernas havia cestos alinhados cheios de ossos. Havia objetos de metal feitos de utensílios cúlticos saqueados dos romanos. Em março de 1961 foi encontrado um cesto contendo um pacote de documentos em papiro, sandálias fe-

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686 BARAQUE

Azeitonas dentro de um vaso de madeira, do tempo da rebelião de Bar Kochba.

Sapato infantil encontrado em uma das cavernas de esconderijo de Bar Kochba.

Esta carta, endereçada a Joshua Ben Galgola, um dos comandantes de Bar Kochba, a!ertava-o da aproximação das tropas romanas. © Depto. De

Antiguidades, Jerusalém.

mininas (de um tipo conhecido hoje entre os judeus como “sandálias Elath”) e ferramentas agrícolas e utensílios domésticos. Havia um arquivo com registros de 12 anos de história, terminando signi­ficativamente em 132 d.C., o que retrata um quadro da vida de uma família um século depois de Cristo. Junto com os documentos havia contas, um espelho e um pente — todo um conjunto de toucador, bem como vasilhames de perfume e de talco.

Entre as cartas empilhadas num canto afastado da cavema, havia algumas aparentemente do pró­prio Bar Kochba. As cartas, porém, são de talhos de letras variadas, de forma que não se tem a es­crita de próprio punho do líder da guerrilha. Uma das cartas ordena a prisão de Tahun Ben Ishmael e o confisco do seu trigo. Outra ordena a punição de alguns que tinham reformado suas casas, desa­fiando alguma política política de queima da terra. Veja S im ão M a c a b e u .

E. M. B la ik lo ck

BARAQUE (p"D, relâmpago). Filho de Abinoão, de Quedes de Naftali. Baraque tomou-se parte significativa da história de Israel no período dos Juizes, quando foi convocado pela profetisa Débora para liderar uma tropa de voluntários de Zebulom e de Naftali contra as forças de Jabim, rei dos cananeus, que estava em Hazor (Jz 4.1-24).

Israel tinha sido escravizado como uma dentre a série de punições que Yahweh inflingiu ao seu povo por causa da idolatria. Quando a escravidão se tornava excessivamente opressiva, em resposta à penitência nacional, o Senhor levantava um liber­tador, o qual, depois de livrar o povo da escravidão tomava-se juiz o restante de sua vida.

A escravidão sob os cananeus fora especial­mente penosa porque Jabim os oprimira com novecentas carruagens de ferro. Os hebreus esta­vam levemente armados e não podiam lutar com as carruagens. O Cântico de Débora indica que o povo estava desencorajado (5.16-23), tugindo da convocação para a defesa.

Foi nessas circunstâncias que Débora convo­cou Baraque para liderar. Ele recusou o plano, a menos que ela concordasse em acompanhá-lo na empreitada. Ela concordou, mas declarou que a glória da vitória seria dada a uma mulher. Assim foi — Jael, uma mulher quenita, quando Sísera, general de Jabim, estava em fuga e buscou refúgio em sua tenda.

A derrota das tropas de Sísera veio quando Deus transformou o rio Quisomnuma torrente e chuvas pesadas tomaram as terras ao redor num lamaçal, facilitando aos israelitas destruir as temí­veis bigas inimigas.

A vitória de Baraque é celebrada no cântico de Débora e de Baraque (Jz 5). Pfeiffer reconhe­ce o grande valor do cântico, declarando-o uma obra-prima e provavelmente um dos mais antigos documentos que existem. O cântico é uma das melhores fontes de informação concernentes a essa época.

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BARAQUEL/ BARBA 687

Hazor, local da batalha de Baraque com Jabim. © Lev

BIBLIOGRAFIA. E. W. K. Mould, Essentials o f Bible History, 166-169.

J. J. E dw ards

B A R A Q U E L (7NDin, Deus abençoa). Buzita, da família de Rão; pai de Eliú, o último dos três amigos a argumentar com Jó (Jó 32.2,6).

BARAQUIAS (Bapaxíaç). Pai de Zacarias, que foi assassinado entre o santuário e o altar (Mt 23.35).

que estátuas e pinturas de certas mulheres da realeza egípcia mostravam-nas usando barbas postiças em ocasiões cívicas. No AT, os israelitas eram proibidos de aparar as pontas da barba e os comentários rabínicos sobre essa prescrição (Lv19.27) destacam que no conceito judaico a barba era a glória do homem. Os sacerdotes também eram proibidos de aparar as pontas da barba (21.5), e a unção da barba era um ato religioso solene. O corte da barba era um ato de notável e severa contrição, e simbolizava uma alteração radical no statiis quo (Is 7.20, et al.), onde o corte da barba do

BARBA (ipr). Ter barba era sinal de maturidade entre todos os povos semitas do antigo Oriente Próximo. Na maioria das línguas, a palavra para “ancião” ou ‘‘adulto” é um cognato das formas verbal e nominal que significam “barba”; por exemplo, a frase comum no Heb., 1?>rw npr,“os anciãos dos filhos de Israel” (Ex 4.29 et al.).Os monumentos antigos mostram muitos tipos de figuras barbadas, e certos estilos são caracte­rísticos de povos e culturas específicos. A barba era tão importante nas insígnias dos altos oficiais, Tipos de barba dos tempos bíblicos

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688 BÁRBARO / BARBEIRO

profeta retrata ojuízo de Deus). Aprova do caráter sacrossanto da barba masculina é a proibição das mulheres cortarem o cabelo e de cortar o cabelo e a barba dos prisioneiros de guerra. No caso de Sansão (Jz 16.19), o corte do seu cabelo acarretou um estigma adicional — considerá-lo menos do que um homem. Outro termo menos freqüente usado no AT é o Heb. DDW, “bigode”, que aparece em Levítico 13.45 e em outras poucas passagens. As civilizações grega e romana não tinham pre­ferência pela barba, sendo mais comum o rosto escanhoado — o que reforçava a tradição judaica concernente à barba longa.

W . W h ite J r .

BÁRBARO (Báppapoç, estrangeiro, forasteiro; aquele que fala uma língua desconhecida, incom­preensível; pessoa não grega). Quando o salmista descreveu o Êxodo como a saída da casa de Jacó do “meio de um povo de língua estranha” (SI 114.1), temos o tipo de circunstância que define o uso da palavra “bárbaro’. Na mesma passagem, a LXX traduz “povo de língua estranha” como “bárbaros”. Esta frase é uma definição suficiente de “bárbaro”; infelizmente, porém, sentimentos de superioridade, de desprezo ou de manifesta animosidade vieram a ser associados ao uso da palavra “bárbaro”. Sem dúvida, hebreus e egípcios usavam essa palavra quando se referiam uns aos outros.

Em sua origem grega, a princípio essa palavra se referia às tentativas balbuciantes que alguém fazia para reproduzir os sons de uma língua estran­geira. Não havia nenhuma conotação emocional. Com a derrota dos persas e a difusão da cultura grega por todo o Oriente Próximo, desenvolveu-se a tendência de conceber os povos conquistados, que eram destituídos da superioridade da cultura grega, como rudes, incivilizados e até imorais. Para as nações que assimilavam rapidamente o estilo de vida grego, as conotações depreciativas da palavra “bárbaros” eram neutralizadas, falando-se de tais povos como “helênicos e bárbaros”. Os romanos, por exemplo, eram citados assim pelos gregos. Os escritores judeus tendiam a retribuir a atitude grega de superioridade com relação ao demais, como é visto claramente na oração rabínica de gratidão por não se ter nascido gentio nem bárbaro.

No NT, os escritores não tinham a preocupação de empregar expressões pessoais de superioridade sobre outras nacionalidades; quando surgia oca­sião para se referir aos vários povos da terra, a palavra bárbaros era usada da forma antiga, não pejorativa. A palavra é usada seis vezes. Em duas

delas (At 28.2,4) é traduzida como “habitantes da ilha” NVI, ou “nativos” (BJ). Não há nenhuma implicação depreciativa; o povo de Malta simples­mente não era grego. Entretanto, ao mencionar a bondade incomum que o povo maltês demonstrou aos náufragos, Lucas podia estar mostrando que a falta de civilidade associada aos bárbaros era um preconceito sem fundamento. Dois usos adicionais do termo grego (3áp(3apoç (ICo 14.11) também ilustram a forma clássica de se referir a alguém que fala uma língua incompreensível. A ARA e a RSV traduzem corretamente o texto usando uma expressão modema, “estrangeiro para aquele que fala” e “estrangeiro para mim”, o que aperfeiçoa o “bárbaro” da ARC e KJV. Paulo refletia o mé­todo grego de se referir a toda a humanidade, isto é, gregos e não gregos, quando escreveu: “sou devedor tanto a gregos como a bárbaros...” (Rm1.14). Isso não significa nenhum juízo contra esses grupos diversos, exceto que o mesmo Evangelho é o objetivo e a necessidade de todos. Normal­mente, a classificação “gregos, judeus e bárbaros” incluía toda a raça humana. Temendo que alguns pudessem pensar que o Evangelho não era para as tribos incivilizadas que viviam fora dos limites do Império Romano, Paulo referiu-se ao grande grupo de pessoas indicado pela palavra “bárbaros” em direta antítese a esses grupos incivilizados, que ele representou pelo nome de uma dessas tribos, os “citas” (Cl 3.11). Depois, fervorosamente, de­clarou que o Evangelho transformador de Cristo abrange até os membros mais remotos e estranhos da raça humana. A paráfrase de Philips chama os citas de “selvagens”, o que, quando contrastado com “bárbaros”, mostra claramente o uso não pejorativo dessa palavra no NT.

BIBLIOGRAFIA. “Barbarians”, MSt, vol. 1, (1878), 662; F. D. Gealy, “Barbarian”, IDB, vol. 1 (1962), 354, 355; H. Windisch, “Barbarians”, TDNT, vol. 1 (1964), 546-553.

T. M. G regory

BARBEIRO (:râ). Aquele que corta ou apara cabelos e barbas. A palavra é usada somente uma vez na Bíblia, em Ezequiel 5.1. Nesta passagem, Ezequiel recebe ordem do Senhor para usar uma espada afiada como navalha e cortar seu cabelo e barba. As palavras “navalha” e “barbear” ocorrem com muita freqüência na Bíblia. As navalhas eram feitas de pederneira, cobre, bronze e ferro. Pinturas em túmulos no Egito mostram barbeiros trabalhando.

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BARCA/BARNABÉ 689

BARCA. Termo empregado em 2 Samuel 19.18 pela ARC. Veja B a r q u in h o ; N a v io s .

BARCOS (oip-D). Ancestral de alguns servos do Templo que retomaram do Exílio com Zorobabel (Ed 2.53; Ne 7.55; BJ, “Bercos”).

BARIAS (n- 13, fugitivo). Filho de Semaías; descendente de Davi, da linhagem de Salomão (lCr 3.22).

BARJESUS (Bapur|aoíjç, aram. sniL” a f i l h o de Jesus [Josué]). Oponente do cristianismo em Pafos, na ilha de Chipre, o qual ficou tempora­riamente cego quando por Paulo o denunciou (At 13.6-11).

Lucas dá uma identificação tripla antes de dar o nome do homem: “judeu, mágico e falso profeta” (v. 6). Ele se opôs à pregação do Evangelho por medo de perder sua posição de influência junto ao governador. A denúncia poderosa feita por Paulo, expondo seu caráter e obras (w. 10,11), derrotou tal oposição. Seu pronunciamento de juízo divino sobre Barjesus cumpriu-se imediatamente.

As palavras de Lucas: “Mas opunha-se-lhes Elimas, o mágico (porque assim se interpreta o seu nome)...” (v. 8) são obscuras. Alguns as relacionam à explicação do termo “mágico” (|iáyoç), enquan­to outros aplicam o comentário entre parênteses a “Barjesus”. Possivelmente o sentido mais sim­ples é que Barjesus era seu patronímico judaico, enquanto Elimas era seu nome grego pessoal. Não há ainda nenhuma explicação plenamente satisfatória. Veja E l im a s .

Barbeiro egípcio em ação. De um relevo egípcio. (Adaptado do Museu Metropolitano de Arte, N.Y.)

BIBLIOGRAFIA. R. J. Knowüng, EGT, II (1917), 885-887; K. Lake e H. J. Cadbury, BC, IV (1933), 143­145; A. D. Nock, BC, V (1933), 164-188; L. Yaure, “Ely- mas-Nehelamit-Pethor”, JBL, LXXIX (1960), 297-314.

D. E. H iebert

BARJONAS. (Bapuovccç, filho de Jonas). Equi­valente aramaico de um nome de família iden­tificando Simão Pedro com seu pai, Jonas (Mt16.17). Em João 1.42; 21.15-17, Pedro é chamado de “filho de João”.

BARNABÉ (Bapváfiaç, forma grega do aramaico nxim ia,, filho da profecia, interpretado por Lucas (At 4.36) como 'utòç jiapaKXriaecDç “filho de exortação” (ARC, BJ “consolação”; NVI, “en- corajador”), com intenção de denotar não uma etimologia, mas um traço de caráter. Membro notável da Igreja Primitiva de Jerusalém e um ativo missionário entre os gentios.

1. Antecedentes judaicos. Seu nome original era “José”, mas este foi completamente suplantado pelo apropriado nome dado pelos apóstolos (4.36). Aparentemente esse nome enfatizava sua habilidade de consolar e animar, e não sua proeminência na exortação ou ensino. Bamabé era levita, natural de Chipre, embora João Marcos, de Jerusalém, fosse seu primo (Cl 4.10). Sua conversão não é registrada; mas, como um dos primeiros membros da igreja de Jerusalém, mos­trou sua natureza generosa vendendo um campo (em Chipre?) em favor dos pobres (At 4.37).

Bamabé demonstrou ser “filho da exortação” por corajosamente favorecer o suspeito Saulo (At 9.26,27). Convencido da autenticidade da conversão de Saulo, Bamabé o apoiou e assegurou sua aceitação pela igreja de Jerusalém. O fato de que tenha conhecido Saulo em Tarso, como mero estudante, é apenas conjectura.

2. Cooperador de Paulo. Quando chegou a Jerusalém a notícia da formação de uma igreja pre­dominantemente gentia em Antioquia, Bamabé foi selecionado como o mais bem qualificado para as­sistir os irmãos helenistas no novo empreendimento (At 11.19-22). Sua resposta cordial ao novo trabalho evocou um raro elogio nas Escrituras (11.24). Ele viu aí a esfera de trabalho adequada para o esque­cido Paulo (11.23-25). A parceria ministerial de ambos resultou em grande crescimento e na origem do nome “cristão” em Antioquia (11.26).

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690 BARNABÉ

GALACIACAPADOCiAPérgamo

Tiatlra \ Antioquia FR ÍG IA \da Psídia Muitos crêem; cresce a

perseguição (At 14.1ss).Paulo e Bamabé são siderados deuses; Paulo ipedrejado (At 14.8ss).

FiladélfiaEsmimaIcônio

LICAONIALaodicéiaListraMiieto

TarsoDerbePATMOS Atá|ja >■ -Antioquia

/'iSelêuciaPaulo, Bamabé e Marcos embarcam para Chipre

(At 13.4)._______Mar Mediterrâneo

Salamina

RODES

SÍRIA

O procônsul Sérgio Paulo >e converte. Elimas, o mágico, é castigado com a cegueira. Viagem de ida

Viagem de volta

“E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns,

icomendaram ao Senhor em quem haviam crido” (At 14,23).

Traçado da rota da primeira viagem missionária de Barnabé e Pauio

A igreja de Antioquia enviou “Bamabé e Sau­lo” a Jerusalém com uma oferta de socorro (At 11.29,30). Alguns eruditos identificam esta “visita da fome” com aquela mencionada em Gálatas 2.1­10; o mais comum, porém, é colocá-la durante o concilio em Jerusalém (At 15).

Alista de “profetas e mestres” em Antioquia (At 13.1) implica que Bamabé era líder reconhecido. Em obediência à direção do Espírito, “Bamabé e Saulo” foram comissionados pela igreja para a obra missionária (13.2-4). Enviado pela igreja, Barna­bé foi apropriadamente chamado de “apóstolo” (14.14). Os dois começaram o trabalho em Chipre, e Bamabé era o líder reconhecido (13.7). A emergên­cia de Paulo como líder é indicada pela expressão de Lucas em Atos 13.13, “Paulo e seus companheiros” (oi Jtepi TtaCXov). O escritor claramente destaca o recuo de Bamabé para o segundo plano, usando a or­dem “Paulo e Bamabé” (13.43,46,50) no restante da viagem, com uma notável exceção: quando o para­lítico foi curado em Listra, os habitantes da cidade, empolgados, consideraram os dois como divindades em visita. “A Bamabé chamavam Júpiter, e a Paulo, Mercúrio, porque era este o principal portador da palavra” (14.12). Bamabé foi considerado o deus principal, enquanto Paulo, como seu subordinado, falava e trabalhava para ele.

A igreja de Antioquia reconheceu a liderança de Paulo, de acordo com a ordem usada por Lucas

(“Paulo e Bamabé”) ao mencioná-los (15.2,35). Em Jerusalém, contudo, Barnabé claramente era tido em mais alta estima. “Bamabé e Paulo” (15.12) contaram sobre o trabalho entre os gentios. A carta enviada pelo concilio também revelava essa posição (15.25s.).

Em Antioquia, Bamabé apoiou Paulo em sua forte oposição à tentativa dos judaizantes de impor a circuncisão aos gentios convertidos; no concilio em Jerusalém, ele se levantou como defensor da liberdade dos gentios. Os líderes de Jerusalém san­cionaram a posição dos dois e concordaram com uma divisão no campo de trabalho (G1 2.9).

3. Separação de Paulo. Depois da sua defesa pública em Jerusalém, Paulo e Bamabé con­tinuaram seu ministério em Antioquia (At 15.35). Aparentemente foi nesse período que ocorreu o incidente relatado em Gálatas 2.11-14, embora alguns estudiosos o situem em Atos 15.1.0 fato de “o próprio Bamabé ter-se deixado levar” indica a enorme pressão criada pela atitude de Pedro. O co­mentário de Paulo, sobre a vacilação momentânea de Bamabé, indica também a profunda admiração que tinha pelo companheiro.

Barnabé prontamente acatou a proposta de Paulo de empreenderem outra viagem, mas a sua insistência em novamente levar João Mar­cos resultou em “desavença” entre eles, em que

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BARNABÉ, ATOS DE / BARNABÉ, EPÍSTOLA DE 691

nenhum dos dois homens brilhou. Em virtude da sua natureza afável e conciliadora, Bamabé sentiu que devia dar outra oportunidade a João Marcos, enquanto a aversão de Paulo pela inconstância levou-o a rejeitar aquele que demonstrara não ser confiável. Se Bamabé errou por ser indulgente, Paulo errou por sua severidade. Com sua partida para Chipre na companhia de Marcos, Bamabé saiu definitivamente de cena (15.36-41).

A ruptura encerrou a parceria missionária, mas não a amizade de ambos. Paulo reconheceu os tra­balhos subseqüentes de Bamabé, o qual continuou seguindo o mesmo princípio de auto-sustento que Paulo adotou (ICo 9.6).

4. Tradições. A tradição transformou Bar­nabé em um dos “setenta’' e diz que ele morreu como mártir em Chipre. Tertuliano atribuiu a ele a autoria do Livro de Hebreus, enquanto Clemente de Alexandria considerava-o autor da assim cha­mada Epístola de Bamabé. Essas atribuições de autoria demonstram a alta estima em que o nome de Bamabé foi mantido.

5. Caráter. Bamabé deve ser mencionado como um dos grandes homens da igreja primitiva. Estava em pé de igualdade com Paulo, mas foi eclipsado pelo companheiro mais talentoso. Tinha uma personalidade cheia de graça, caracterizada por sua generosa disposição e perspicácia para discernir o potencial espiritual de outros. Não era mesquinho nem desconfiado e tinha um co­ração aberto que o capacitava a animar aqueles que fracassavam, e socorrer os marginalizados e necessitados. Tais qualidades eram fruto de sua pronta simpatia pelos que erravam e seu zelo em pensar o melhor dos outros.

BIBLIOGRAFIA. H. S. Seekings, The Meu o f the Pauline Circle (1914), 33-39; J. Hastings, org., The Gre- ater Men and Womenof the Bible, VI( 1916), 184-209; H. C.Lees, St. Pauis Friends 11-29; A. T. Robertson,Types ofPreachers in theN T (1922), 30-51; W. L. Kiiox, St. Paul and the Church o f Jerusalem (1925), 158-160, 163, 164; R. C. H. Lenski, The Interpretation oftheActs o f the Apostles (1934), passim; F. V. Filson, Pioneers o f the Primitive Church (1940), 83-113; A. C. McGiffert, History o f Christianity in the Apostolic Age (1951s), 598­600 sobre Bamabé como autor de 1 Pedro; F. F. Bruce, Commentaty on the Book o f Acts, NIC (1954), passim; H. F. Stevenson, “Bamabas: the ‘Son of Consolation”’, Eternity, IX, n“ 1 (1958), 29, 30, 38, 39; W. S. LaSor, Great Personalities o f the N T (1961), 118-127.

D. E. H iebert

BARNABÉ, ATOS DE. A mais antiga tradição pós-canônica, nas pseudo-clementinas, liga Bama­bé a Alexandria (Homílias) ou a Roma (Reconhe­cimentos). Posteriormente houve dois conjuntos de tradições, um ligando-o a Milão, e outro, a Chipre. E esta segunda que aparece nos Atos de Barnabé, provavelmente composto em Chipre, não antes do 52 séc. O livro alega ter sido escrito por João Marcos (convertido por Paulo, Bamabé e Silas, e batizado em Icônio) e é claramente inspirado no li­vro canônico de Atos. Conta as viagens de Bamabé com Paulo, a divergência deles por causa de João Marcos e as viagens posteriores de Bamabé e seu martírio em Chipre, depois do que Marcos foi para Alexandria. Mais sóbrio e menos extravagante do que outros apócrifos, esse livro é essencialmente uma expansão fictícia do livro canônico.

BIBLIOGRAFIA. Texto em Lipsius-Bonnet, Aeta apostolorum apocryphaW, 2 ,292ss.; traduzido na Ante- Nicene Christian Library XVI (1870), 293ss.; Lipsius, Die apokryphen apostelgeschichten II, 2, 270ss.

R. McL. W ilson

BARNABÉ, EPÍSTOLA DE (Bapvàfkx). Escrito da igreja primitiva. Esse documento é endereçado aos “filhos” cristãos em geral. O nome “Bamabé” aparece somente no título e no encerramento.

1. Autoria. E altamente improvável que esta exortação tenha alguma relação com o Bamabé mencionado no livro de Atos como companheiro missionário do apóstolo Paulo. A data de sua origem provavelmente é muito posterior. Mais importante do que isto, porém, é o fato de que o tipo de ensino dessa epístola é totalmente diferente da mensagem de Paulo. A salvação é o propósito de uma procura pela qual as obras levam à justiça. Conhecimentos especiais são úteis. O Pentateuco está repleto de figuras que representam o ensino espiritual. Não se destinava a ser interpretado literalmente, mas sim a transmitir significados espirituais. A lei não devia ser entendida como cumprida por Cristo, mas como um compromisso espiritual para os cristãos. “Minha alma espera que nenhuma das coisas necessárias para a salvação tenha sido omitidas” (XVII, 1).

Se não foi Bamabé, então quem foi? Não há resposta.

2. Local de origem. Há elementos nesta epístola que lembram a Ásia Menor. O período milenar depois do advento do Filho é um deles

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692 BARNABÉ, EPÍSTOLA DE

(cp. Papias e Irineu). Outro, é a idéia de reconstruir espiritualmente, o que foi destruído fisicamente (XVI). Ahistória dos Dois Caminhos, o caminho da luz e o caminho das trevas, são comuns a Bamabé e à Didaché. Uma passagem similar é encontrada no Manual de Disciplina, III, 18-IV, 26, de Qumrã. Provavelmente a história era de ampla divulgação e não ajuda muito a determinar um local de origem.

As únicas evidências do uso da Epístola de Bar­nabé nos 2e e 3S sécs., estão ligadas a Alexandria. Clemente de Alexandria citou-a como canônica e, ao que parece, Orígenes era da mesma opinião. Seus métodos de interpretação do AT estão distin­tamente de acordo com as tradições alexandrinas e com o conceito sobre o AT corrente entre muitos lá. Portanto, é provável que tenha tido origem em Alexandria.

3. Data. O uso dessa Epístola por Clemente de Alexandria, no final do 2e séc. d.C., oferece uma data à qual sua elaboração deve ser anterior. Há, porém, uma passagem mais diretamente relacio­nada à questão: “Além disto, ele diz novamente: ‘Eis que aqueles que destruíram este templo terão de construí-lo’. Isto está acontecendo. Por causa da guerra, ele foi destruído pelo inimigo; agora, até os servos do inimigo o reconstruirão” (XVI, 3,4). Parece altamente provável que esta passagem se refira à destruição do Templo de Jerusalém durante a revolta contra os romanos, eliminada por Tito no ano 70 d.C. A reconstrução mencionada como estando em progresso deve ter-se referido aos rumores de uma reconstrução nos dias de Adriano, ou à construção posterior de um templo pagão no mesmo local, também nos dias de Adriano. Portanto, a data provável da escrita seria por volta do ano 130 d.C.

4. Conteúdo. Uma grande porção do texto da Epístola de Bamabé é composta de citações, em grande parte, da LXX de Isaías, mas também de outros livros canônicos e não canônicos. Segundo Esdras é citado como “outro profeta” (XII). “A Es­critura diz” introduz uma citação de 1 Enoque (XVI, 5). Há outros exemplos de fenômenos similares.

Em IV, 14, podemos ler “muitos chamados, mas poucos escolhidos”, as palavras de Mateus 22.14. “Ele veio não para chamar os justos, mas os peca­dores” (V, 9), de Mateus 9.13 (Mc 2.17; Lc 5.32). A respeito de outras alusões a textos do NT, cp. IV, 12 com Rm 2.11 e lPe 1.17; V, 6 com 2Tm 1.10; VII,9 com Ap 1.7; XII, 11 com Mc 12.37 [Mt 22.45; Lc 20.44]; XV, 4 com 2Pe 3.8, concernente a mil anos serem como um dia para o Senhor).

Depois de uma saudação geral aos cristãos, Bamabé fala sobre três dogmas. O texto não está em boas condições, mas parecem ser a esperança da vida, a justiça, e o amor à alegria e ao júbilo. Sacrifícios não são necessários, mas sim a justiça. A ajuda aos famintos e a prática da justiça são os elementos necessários agora, pois o fim está próxi­mo. A aliança de Jesus deve ser selada no coração dos homens, os quais não devem ser indolentes, porque são chamados. A aspersão do sangue de Cristo é para a santificação dos homens. Jesus escolheu apóstolos ímpios para demonstrar o que podia fazer com homens maus. Seu sofrimento foi predito pelos profetas. Agora, uma nova criação está em andamento. Quando os homens forem aperfeiçoados, governarão a terra. Jesus sofreu e a humanidade deve se apegar a ele por meio do sofri­mento e da dor. A circuncisão deve ser no coração e no ouvir, e não no corpo. Um anjo mau levou os ancestrais a se desviarem, circuncidando o corpo. Os regulamentos alimentares da lei deviam ensinar verdades éticas concernentes à comunhão de uns com os outros e às relações sexuais. O batismo e a cruz eram descritos em forma de alegoria no AT. Assim como Jacó suplantou Esaú, os cristãos suplantaram os judeus. Os cristãos herdaram a aliança que os judeus rejeitaram. Depois de seis mil anos, os ímpios serão destruídos e virá o verdadeiro descanso do povo de Deus. O templo genuíno de Deus é o seu povo.

Os últimos quatro capítulos da Epístola de Bamabé recontam a história dos dois caminhos, o caminho da luz e o caminho das trevas. O primeiro é amor, simplicidade, humildade, pureza, mansi­dão, generosidade e paz. O segundo é idolatria, hipocrisia, adultério, homicídio, orgulho etc. “Que vocês alcancem a salvação, filhos do amor e da paz” (XXI, 9).

5. Teologia e ética. A Epístola de Bamabé ensina a obtenção da salvação pelo sofrimento do Senhor e pela obediência do homem aos manda­mentos interpretados espiritualmente. O batismo e a esperança da cruz trazem vida etema (XI, 11). O Filho de Deus veio na came (V, 11). Depois do sabbath milenar haverá outro mundo, o oitavo dia (XV, 8).

6. Texto. O Aleph doNT inclui o texto grego de Bamabé, logo depois do livro de Apocalipse e antes do Pastor de Hermas. O texto está também no MS descoberto por Bryennios em 1873, que foi o MS que a Didaché à atenção do mundo mo­derno. Há diversos MSS defeituosos que contêm

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BARNABÉ, EVANGELHO DE / BARRABÁS 693

parte da Epístola de Bamabé e parte da carta de Policarpo aos Filipenses. Uma versão latina, provavelmente do 32 ou até do 2“ séc., omite a história dos Dois Caminhos.

BILBIOGRAFIA. H. Windisch, Der Barnabasbrief (Hcmdbuch zum nenen Testament, Ergãnzungs-Band, Die apostolischen Vater, III) (1920); J. Muilenberg, TheLite- rary Relations o f the Epistle ofBarnabas and the Teaching o f the Twelve Apostles (1929); J. A. Kleist, The Didaché. The Epistle ofBarnabas, etc. (Ancient Christian Writers,6, 1948); P. Prigent. Les testimonia dans ie christianisme primitif Tépitre de Barnabé I-XVI etses sources (1961); R. A . Kraft, Barnabas and the Didaché (org. R. M. Grant, The Apostolic Fathers III) (1965). Veja também P a is A p o s ­

t ó l i c o s , principalmente sobre textos e traduções.P. W o o l l e y

BARNABÉ, EVANGELHO DE. Um Evangelho de Bamabé é mencionado no Decreto Gelasiano e no catálogo dos sessenta livros (veja NTAp. I, 47, 52), em ambos os casos ao lado do Evangelho de Matias (com quem Bamabé é identificado nos Reconhecimentos de Clemente). Parece não haver nenhum outro traço dessa obra e é duvidoso que tenha realmente existido. O Evangelho de Bamabé que existe (org. Ragg, 1907) é uma falsificação ita­liana feita no século 14 por um apóstata que passou do cristianismo para o islamismo; é preservado apenas em MSS italianos e espanhóis.

R. McL. W i l s o n

BARODIS (Bapojòf.iç). Ancestral de uma família de servos de Salomão, que retomaram a Jerusalém com Zorobabel (lEsd 5.34). O nome é omitido nas listas de Esdras 2.57 e Neemias 7.59.

BARQ UINH O (TtXotápiov, barquinho; Mc 3.9, KJV small ship [pequeno barco], NVI e BJ “pe­queno barco”; KJV littleship [barquinho], Mc 4.36 [ARA,NVI, BJ, “barco”], Jo 21.8 [ARC,NVI, BJ, “barco”]; itloíov , barco ou navio; OKá(|)r|, barco (a remo); mny, 2Sm 19.18, “barca” (ARA, KJV ferry boat). Uma embarcação para navegar nas águas, pequena o bastante para puxar para a praia ou para o navio.

Os barcos empregados no Mar da Galiléia eram usados principalmente para pesca (Mt 4.21), mas também para viagem e comércio entre as cidades do lago (João 6.17-24). Grandes o bastante para comportar dez ou doze pessoas, eram propelidos

por vela (Lc 8.23, KJV, sailed, “velejaram”) ou remo (Jo 6.19, KJV, hadrowed, “tinham remado”), e ficavam em perigo de afundar por causa dos temporais que subitamente tumultuavam as águas (Mc 4.37). Zkcc<])T1 (At 27.16,30,32) é o bote salva- vidas do navio, rebocado atrás dele em situações de tempo bom. Veja N avios.

J. R ea

BARRA. Ocorre somente no AT como tradução de quatro termos hebraicos. A mais comum, nas descrições da construção do Tabemáculo, é n’"n, “tábua”, usada para selar um portão ou entrada, ou simplesmente como suporte para sustentação (Ex 26.26ss.). Três outros termos são tradicionalmente traduzidos por bar (“barra”) nas VSS em inglês, re­cebendo traduções variadas em português. O Heb. 73 é comum no AT, no sentido de “porção”, “parte”, mas em Jó 17.16 é traduzido como “portas” (ARC, “ferrolho”). Num contexto similar, Isaías 38.10 é traduzido corretamente como “portas do além”. Em Jó 40.18 temos a única ocorrência do termo obscuro roa , numa frase poéticaparalela: “Os seus ossos são como tubos de bronze, o seu arcabouço, como barras de mãtíyF. A tradução tradicional é “ferro”. Um paralelismo similar é encontrado no Salmo 107.16 e em Isaías 45.2, onde a palavra bronze também aparece como palavra “A”, com ferro como palavra “B”; desse modo, seu signi­ficado provavelmente é “ferro” mesmo. O Heb.

ocorre em Números 4.10,12, onde é traduzido como “varais” (NVI, “suporte”), e em 13.23, onde é traduzido como “vara” (ARA, “verga”). Entretanto, a mesma raiz é traduzida como “resvalem” e “va­cilem” nos Salmos 66.9 e 121.3. Uma forma mais comum do termo é encontrada em Isaías 58.6,9 e em numerosas outras passagens, traduzida como “jugo”. E importante notar que todos esses termos em hebraico não possuem etimologias conhecidas ou cognatas em outras línguas semitas, de maneira que seu significado permanece obscuro.

W. W hite Jr

BARRABÁS (Bapocppâç, aram. ~q, filho dopai, ou filho de Aba). Nome do criminoso que a multidão escolheu libertar (em vez de Jesus), em resposta à oferta de Pôncio Pilatos.

A libertação de Barrabás, em vez de Jesus, por exigência do povo é relatada nos quatro Evange­lhos (Mt 27.15-26; Mc 15.6-15; Lc 23.16-25; Jo 18.39,40) e é mencionada por Pedro no sermão proferido no pórtico do Templo (At 3.14). Barrabás

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694 BARRIL, BARRIL DE VINHO / BARRO

é identificado como “um preso muito conhecido” (Mt 27.16), "salteador" (Jo 18.40) e “preso com amotinadores, os quais em um tumulto haviam cometido homicídio” (Mc 15.7). O motivo da in­surreição em Jerusalém, durante a qual ele cometera o crime, é incerto. Pode ter sido um caso claro de banditismo, mas o mais provável é que tenha sido uma tentativa, de motivação política, de quebrar o odiado jugo romano. Como líder do grupo, Barrabás tinha ganho reputação de uma espécie de herói.

Além da menção nos Evangelhos, nada mais se sabe sobre o costume do governador de soltar um prisioneiro na Páscoa. Mas a libertação de presos por razões variadas era conhecida (Josefo, Ant., XX, ix, 3; Livy, V, 13; Deismann, Lightfi-om Ancient East, p. 267). Pilatos ofereceu à multidão a opção entre Jesus e Barrabás, na expectativa de que Jesus fosse liberto. Os principais sacerdotes puderam facilmente influenciar o voto do povo, porque ver Jesus como um prisioneiro desamparado e passivo ofendia as expectativas messiânicas deles com relação a Jesus. O voto deles foi motivado não por uma estima por Barrabás, mas pela antipatia contra Jesus, estimulada pelas esperanças frustradas.

O nome Barrabás pode ser simplesmente um nome próprio convencional. E encontrado como sobrenome de vários rabinos. Jerônimo (On Mat­thew) afirma que, no apócrigo Evangelho Segundo os Hebreus, o nome era como “filho do seu senhor” (filius magistri eorum), o que aponta tanto para a forma Bar-rabban (“filho de um rabino”) ou Bar-Abba (“filho do pai”, no sentido de mestre). E improvável que Barrabás tenha sido escolhido por ser filho de um rabino.

Orígenes (Commentary on Matthew) nota uma tradução “Jesus Barrabás” em Mateus 27.16,17 e diz que é uma forma antiga. Aparece no 9- séc. no Códice 0 e em algumas fontes sírias. Isso tor­naria os dois nomes um patronímico (cp. Simão Barjonas). Se seu nome pessoal fosse “Jesus”, o que em si não seria improvável, a oferta de Pilatos seria ainda mais pungente: “Jesus Barrabás ou Jesus de Nazaré?”. Essa leitura tem sido aceita por alguns estudiosos, mas sua autenticidade permanece duvidosa.

Nada se sabe sobre a história subseqüente de Barrabás.

BIBLIOGRAFIA. E. P. Gould, “St. Mark”, ICC (1896), 285-287; W. B. Wright. The Heart o f the Master (1911), 186-195; A. E. J. Rawlinson, “St. Mark”, WC (1927), 227­229; H. A. Rigg, “Barabbas”, JBL, 64 (1945), 4 17-456; C.E. B. Cranfield, “St. Mark” (1959), 449,450.

D. E. H iebert

BARRIL, BARRIL DE V IN H O . Veja V in h o e

B e b id a F o r t e .

BARRO, nome dado a um grupo de minerais e a rochas compostas essencialmente de minerais de argila com grãos menores do que 0.004 m. Todos os minerais de argila são silicato de alumínio hi­dratado, com uma estrutura cristalina no formato de folha de papel. Existem três grupos principais:(i) grupo caulínico com folhas (7 Â de espessura), eletricamente neutras e formadas por duas cama­das diferentes — a argila principal nas cerâmicas, porcelana e olaria; (2) grupo montimorilonita com três camadas de folhas que não são eletricamente neutras e que têm quantidades variadas de mo­léculas de água e íons permutáveis ocupando os interstícios entre as camadas — a principal argila usada em farmacologia e produção de cosméticos; e (3) grupo ilita que são os minerais de argila similares aos de mica — o principal componente de muitos tijolos de argila. As referências aos dife­rentes usos do barro, como a do vaso do oleiro (Is 29.16), a unção dos olhos do homem cego (Jo 9.6), e a fabricação de tijolos (Gn 11.3), possivelmente se relacionam, respectivamente, pelo menos em algum grau, a esses três grupos.

Se misturada com água, a argila se toma plás­tica depois de descansar por um pouco de tempo. Existem três estágios na hidratação do pó de argila mineral: (1) a água se prende completamente à superfície dos minerais de argila conduzindo à aderência; (2) a água adicional entre as partículas atua como um lubrificante capacitando-as a se moverem um pouco relativamente uma às outras, concedendo elasticidade à nova substância, que pode então ser modelada (Is 64.8) e refeita (Jr18.4); (3) a adição demais água resulta na perda de plasticidade e produção de uma suspensão de barro com pouca ou nenhuma força — “lama” (SI 40.2). A plasticidade ideal resulta da adição de 9-60%, 83-250% e 17-40% de água (por peso) para cauli- nita, montimorilonita e ilita, respectivamente.

Minerais de barro aquecidos a 150" C trans­piram e absorvem água. A água presa na rede de cristal é expelida entre 400” e 900“ C com a alte­ração ou destruição parcial da estrutura de cristal. Acima de 900° C há extensa destruição da rede do cristal com o desenvolvimento de substâncias amorfas, então fases cristalinas novas. Cerâmica resultante do aquecimento do barro provê um relevante registro de civilizações passadas e tem exercido um papel importante na sobrevivência de MSS primitivos. A natureza quebradiça desses

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BARSABÁS / BARTIMEU 695

produtos de barro explicaria referências como Daniel 2.34.

Minerais de barro são formados pela alteração de rochas, especialmente de origem ígnea. a maior parte resultante dos processos de desgaste de superfícies por agentes atmosféricos. O material desgastado permanece onde é formado, originando resíduos de barro, ou é transportado, principal­mente pela água. e depositado como camas de barro, ou lama, que quando compactadas são chamadas de rocha xistóide ou xisto. Visto que o barro representa um material extremamente fino, de crosta partida e visto que forma uma proporção grande do solo. que provê o ambiente mecânico e químico para o crescimento de quase toda planta, tão essencial à existência humana, idéias de que a forma humana tenha sido “formada do barro’" (Jó33.6) e de que é pó que retorna ao pó (Gn 3.19) não causam surpresa. Pesquisa científica recente sugere que moléculas orgânicas primitivas, que possivelmente foram precursoras de moléculas orgânicas conhecidas em criaturas vivas, for­maram-se inicialmente nas camadas de barro da superfície devido às propriedades particulares de sua superfície. Veja também O l e ir o .

BIBLIOGRAFIA. H. Wirsch, Applied Mineralogy (1968), 102-106, 119-126.

D. R. B ow es

BARSABÁS (Bapaafspâç, filho de Saba, ou filho do Sabbath etc.). Patronímico de dois antigos judeus cristãos, provavelmente irmãos.

1. José, de cognome Justo, um dos dois homens indicados para substituir Judas no grupo apostólico (At 1.23). As qualificações exigidas mostram que esteve muito próximo de Jesus.

2. Judas, enviado a Antioquia com Silas, levou a decisão do concilio de Jerusalém (15.22). Era um membro estimado da igreja de Jerusalém, sendo também profeta (15.32).

BARTACUS (BápTO KO ç). Pai de Apame, con­cubina de um rei que não pode ser identificado. Chamado de “ilustre”, provavelmente por causa da sua posição. Os nomes do pai e da filha sugerem que eram persas (lEsd 4.29).

BARTIM EU (Baptinaíoç). Mendigo cego, filho de Timeu, ao qual Jesus, a caminho de sua última Páscoa, curou ao deixar a cidade de Jericó (Mc 10.46-52). E provável que Bartimeu seja um pa­tronímico, significando “filho de Timeu” (10.46). A ordem dos eventos em Marcos é um tanto di­ferente do relato de Lucas (Lc 18.35-43), em que o nome do cego não é mencionado. No relato de Mateus (Mt 20.29-34) aparecem dois cegos anô-

Imitação moderna de um antigo tablete de barro

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696 BARTOLOMEU / BARTOLOMEU, EVANGELHO (QUESTÕES) DE

nimos. Foram feitas várias tentativas de explicar as aparentes “discrepâncias” entre os relatos, mas nenhuma delas recebeu aceitação universal.

Uma explicação amplamente aceita é a de que um cego fez o pedido quando Jesus se aproximou de Jericó, mas Jesus não lhe deu atenção, talvez para testar sua fé. Quando Jesus saía de Jericó, o cego estava na companhia de outro e ambos foram curados.

Outra interpretação é que a cura ocorreu entre a antiga cidade de Jericó (local da cidade cananita) e a nova Jericó (cidade herodiana recém-construída). Jesus de fato curou dois cegos, mas por alguma razão Marcos e Lucas optaram por mencionar somente um, talvez porque o último se tomou conhecido como discípulo de Cristo.

S. B arabas

BARTOLOMEU (Bap0o/.ou.aíoç; aramaico, 'Hftn "O, filho de Talmaf). Um dos discípulos de Jesus Cristo, mencionado nas quatro listas dos Doze (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.14; At 1.13).

O nome de Bartolomeu ocorre somente nessas listas dos Doze discípulos, sempre no segundo grupo de quatro. Nos sinóticos, seu nome sempre aparece ao lado do de Filipe, o qual encabeça o segundo grupo em todas as listas. Em Atos, o nome de Tomé aparece entre Filipe e Bartolomeu.

Bartolomeu pode não ter sido o nome completo do apóstolo. Como a primeira sílaba indica, prova­velmente o nome era um patronímico, Bar-Talmai, designando-o simplesmente como “filho de Talmai”. Nesse ponto de vista, pode-se assumir que possuía

um nome próprio adicional. Entretanto, é possível que seu nome, embora originalmente tenha sido um patronímico, tomou-se nome próprio independente, como Bamabé. Se teve ou não outro nome, as Es­crituras nâo falam mais nada sobre ele.

Uma comparação entre as listas dos Doze, nos evangelhos sinóticos, e a história do quarto evangelho, tem levado ao entendimento ampla­mente aceito de que Bartolomeu deve ser iden­tificado com o Natanael mencionado no quarto Evangelho. Diversas observações apóiam essa identificação. Os sinóticos não mencionam Na­tanael, enquanto o quarto Evangelho nunca fala sobre Bartolomeu. A justaposição dos nomes de Filipe e Bartolomeu nas listas dos Doze, sugere o relacionamento próximo que havia entre ambos, descrito em João 1.43-51. Todos os companheiros de Natanael (1.35-51) eram apóstolos conhecidos. Em João 21.1,2, Natanael aparece como membro de um grupo de apóstolos. A promessa de Jesus a Natanael, de que ele seria testemunha do papel central do Filho do homem na revelação de Deus aos homens, sugere uma função apostólica (Jo 1.50,51). Não há nada contra essa identificação, a qual não cria nenhuma dificuldade.

Mesmo assim, tal identificação não foi provada. Assumir a identificação sem questionar, como tem sido feita, vai além das evidências. Rejeitar catego­ricamente tal identificação também é injustificado. Outras identificações propostas para Bartolomeu— Mateus, Matias, o discípulo anônimo de Emaús (Lc 24.13-32) e até mesmo Paulo — são todas hi­póteses infundadas. Se Bartolomeu não é Natanael, permanece apenas como um simples nome entre os Doze. Veja N atanael.

Há muitas tradições em torno do nome de Bartolomeu. Campos missionários muito dife­rentes têm sido atribuídos a ele — índia, Frigia e Armênia. Vários apóstolos foram citados como seus colaboradores e diferentes formas de martírio também lhe foram atribuídas.

BIBLIOGRAFIA. M. R. James, The Apocryphal N T (1924), 166-186; 467,468; D. Browne, “Who Was Nathanael?”, ExpT, XXXVIII (1927), 286; R. B. Y. Scott, “Who Was Nathanael?”, ExpT XXXVIII (1927), 93,94; W. P. Barker, Twelve Who Were Chosen (1957), 57-63; W. Barclay, The Master 's Men (1959), 102-113.

D. E. H iebert

___________________________ \_______________ BARTOLOMEU, EVANGELHO (QUESTÕES)Mapa com a localização de Caná da Galiléia. DE. Um Evangelho de Bartolomeu é mencionado

Possível cidade natal de Bartolomeu. por Jerônimo (MPLXXVI, 17A) entre outras obras

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BARTOLOMEU, O APÓSTOLO; LIVRO DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO POR 697

apócrifas; o Decreto Gelasiano fala de "evange­lhos”, o que pode ser apenas um erro, mas tam­bém pode indicar o conhecimento de mais de um documento. Outras referências são raras e tardias. Alguns estudiosos relacionam a obra ao Evangelho hebraico de Mateus, que se diz ter sido levado por Bartolomeu para a índia (Eusébio, HEV., x. 3), mais isso parece improvável: em vista do seu interesse pelo “Evangelho hebraico", Jerônimo não poderia ter escrito o que escreveu, se ambos fossem idênticos.

A literatura remanescente, sob a autoria de Bartolomeu, inclui uma obra copta chamada “Li­vro da Ressurreição de Cristo por Bartolomeu, o Apóstolo” (q.v.), diversos fragmentos cóptas de atribuição duvidosa, e um documento intitulado “Questões de Bartolomeu". Esse último remanesce em cinco revisões, duas gregas, duas latinas e uma eslava, de tamanhos e qualidade variados. Inicia com a pergunta feita pelos apóstolos antes da Paixão, à qual Jesus responde: “Não posso revelar nada a vocês antes de me despojar deste corpo de came”. Depois da ressurreição, os apóstolos não ousaram perguntar novamente, mas Bartolomeu toma coragem e pergunta a Jesus para onde ele foi depois da cruz. Esta pergunta leva a um relato do Descensus ad Inferos, o qual tem alguns pontos em comum com os "Atos de Pilatos” (q.v.). No segundo capítulo, os apóstolos interrogam Maria sobre o nascimento de Jesus, insistindo a despeito da advertência dela quanto às conseqüências. A medida que ela profetiza e conta a história da anunciação (ampliada com detalhes apócrifos), sai fogo de sua boca e o mundo está a ponto de ser queimado quando Jesus intervém. No capítulo 3, os apóstolos pedem para ver o abismo; no capítulo4, Pedro insiste com Maria para pedir a Jesus que lhes mostre tudo o que há no céu. Isso, porém, é esquecido em seguida, à medida que cada um tenta persuadir o outro a ir adiante e Maria enfatiza que Pedro é a rocha sobre a qual o Senhor construiu a Igreja; Pedro enfatiza que Maria compensou a transgressão de Eva. A seguir, Bartolomeu pede para ver o adversário dos homens e depois de alguma objeção, Jesus atende o pedido. Beliar é trazido para cima, suspenso por 660 anjos e acorrentado. Depois de descrevê-lo, Bartolomeu recebe poder para pisar sua nuca e questioná-lo sobre suas obras. Beliar declara que no princípio seu nome era Satanael, mudado depois para Satanás, e descreve a criação dos anjos. Uma pergunta de Bartolomeu leva a um relato da punição dos ímpios e, antes de ir embora, Satanás relata a história de sua queda. Há relação com outros textos e também algumas etimologias

altamente fantasiosas. No último capítulo, Barto­lomeu pergunta a Jesus qual é o pecado mais grave e no que consiste o pecado contra o Espírito Santo. Os capítulos são de uma extensão incomum, sendo o quarto especialmente longo. A atribuição a Bartolo­meu obviamente está ligada ao fato de ele figurar de modo mais proeminente entre os apóstolos. O livro não é idêntico ao "Livro da Ressurreição”, embora haja certas afinidades. Sua data provavelmente não é anterior ao 52 ou 6a séc., mas pode ter-se baseado em material mais antigo. Schneemelcher (NTAp. I, 508) conjectura que as duas correntes de tradição podem remontar ao 3- ou 4" séc., com a possibili­dade de que o ponto de partida seja um Evangelho de Bartolomeu mais curto.

BIBLIOGRAFIA. Tr. em ANT 166ss., NTAp. I, 486ss.

R. McL. Wn son

BARTO LO M EU, O APÓSTOLO; LIVRO D A RESSURREIÇÃO DE CRISTO POR. Texto cópta publicado por E. A. Wallis Budge, de um MS do Museu Britânico. Há fragmentos adicionais em Berlim e em Paris, os quais apresentam duas revi­sões diferentes. Comparando-os, Schneemelcher conclui que os dois últimos são mais originais, e o MS de Londres mostra desenvolvimentos adicionais. “Muitas vezes, na verdade, o texto de Londres parece ser uma paráfrase de um original mais antigo” (NTAp. I, 507).

O MS de Londres apresenta um relato razoavel­mente mais coerente, embora haja muitas lacunas. Os episódios são postos numa seqüência vaga, nem sempre consistente (por exemplo, a história da incredulidade de Tomé é narrada depois de o próprio Tomé ter ressuscitado seu filho Siofanes, em nome de Jesus). As cinco primeiras páginas estão faltando, mas um fragmento relatando a morte de um Ananias provavelmente pode ser encaixado aqui, pois há uma referência a esse incidente no início do texto remanescente, que continua com o sepultamento de Jesus por José de Arimatéia, a vinda da Morte e seus filhos ao túmulo e a reivindicação do cadáver pela Morte, a destruição causada por Jesus no inferno e a maldição de Judas. A história da ressurreição, com as mulheres no túmulo, introduz Filógenes, o jardineiro, que tinha dado seu próprio túmulo para o sepultamento, e que também confunde Maria Madalena com a mãe de Jesus. Depois vem a ascensão de Jesus ao céu, seguida dos oito hinos que acompanham a recepção de Adão e do

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698 BARUQUE / BARUQUE, APOCALIPSE DE

justo na glória. Depois de mais uma revelação no Monte das Oliveiras, os apóstolos sobem ao céu, onde cada um é abençoado. Depois, segue-se o episódio de Siofanes e Tomé.

O título da obra é inferido por meio da de­claração feita quase no final, “Este é o livro da ressurreição de Jesus o Cristo, nosso Senhor, em alegria e júbilo”. Digna de nota também é a pres­crição feita por Bartolomeu a Tadeu (fl. 9a): “Não permita que este livro caia nas mãos de qualquer homem que seja incrédulo ou herege”. A obra pode datar do 52 ou 62 séc. ( Veja também B artolomeu, E vangelho de .)

BIBLIOGRAFIA. Texto e tradução em Budge, Coptic Apocrypha in the Dialect o f Upper Egypt, 1913; ANT 181 ss. (resumo), NTAp, I, 503ss..

R. McL. W ilson

BARUQUE (-p-n, LXX, Bocpot>x, abençoado).1. Filho de Nerias e irmão de Seraías, o qual era camareiro-mor do rei Zedequias (Jr 51.59); amanuense e amigo devoto de Jeremias (Jr 32.12; 36.10). Aparece pela primeira vez como escriba, anotando as palavras ditadas por Jeremias no ano 605/4 a.C., quando Jeoaquim era rei de Judá e Nabucodonosor, ascendendo-se rapidamente na neo-Babilônia, derrotou os egípcios em Carquemis e estendeu seu controle para incluir o decadente reino de Judá. Jeremias ditou sua mensagem a Baruque porque não tinha permissão para entrar no Templo e queria que a mensagem fosse trans­mitida ao povo no dia do jejum. Baruque levou a mensagem aos aposentos de Gemarias, “no átrio superior, à entrada da Porta Nova da Casa do Senhor” (Jr 36.10) e a anunciou daí. Quando Micaías relatou aos príncipes o que Baruque tinha lido ao povo, eles também quiseram ouvir. Por isso ordenaram a Jeremias e a Baruque que se escon­dessem enquanto levavam o rolo com a mensagem ao rei. Depois de ouvir o que estava escrito, o rei, incrédulo, pegou o rolo e o queimou, ordenando aos seus homens que prendessem o profeta e o escriba. Ambos evitaram a captura permanecen­do escondidos (Jr 36.1-26), onde Jeremias ditou novamente a mensagem a Baruque.

Baruque deve ter servido à custa de sacrifício pessoal, pois naquele mesmo ano Jeremias lhe dirigiu uma mensagem da parte de Yahweh, na qual o escriba foi instruído a não buscar grandes coisas para si próprio, porque a ação punitiva de Deus iria demolir tudo aquilo que Deus mesmo havia edificado (45.1-5).

A atividade do escriba aparece novamente no ano 587, durante o cerco de Jerusalém, quando Jeremias estava preso na casa da guarda. Por proposta do primo, o profeta exerceu seu direito de resgatador e comprou uma propriedade em Anatote. Jeremias entregou a escritura, que tinha sido assinada diante de testemunhas na casa da guarda, a Baruque, para que este a escondesse até a restauração do cativeiro (32.12-16).

Logo depois da queda de Jerusalém, em 586a.C., Nabucodonosor permitiu que Jeremias es­colhesse seu destino e o de Baruque. O profeta escolheu permanecer em Jerusalém, mas quando advertiu o povo contra a ida para o Egito, Azarias e Joanã acusaram-no de estar sendo influenciado por Baruque e levaram os dois à força para o Egito (43.1-7).

2. Filho de Zabai, que ajudou Neemias na re­construção dos muros de Jerusalém (Ne 3.20).

3. Um dos que colocou seu selo no pacto com Neemias (10.6).

4. Filho de Col-Hozé, descendente de Perez, da tribo de Judá (11.5).

5. Sobre as citações de Baruque nos livros apócrifos, veja A pócrifos; P seudepígrafa.

BIBLIOGRAFIA. Josefo, Antiq. X. vi, 2; X, ix, 1; J. B. Payne, An Outline o f Hebrew Histoiy (1954), 189-192.

J. J. E dwards

BARUQUE, APOCALIPSE DE. Título de uma obra pseudepígrafa de origem judaica conhecida somente por meio de um MS siríaco do 7- séc. Um fragmento de uma versão grega também é conheci­do, embora sua data seja somente especulativa.

A. Conteúdo. A obra compõe-se de 87 capí­tulos em sua forma siríaca atual, embora o original grego provavelmente fosse mais longo. O texto contém diversas passagens anacrônicas e contra­ditórias, mas a crítica literária e de fonte, às quais tem sido submetido, não elucidaram sua origem. Os sistemas de fontes propostos pelos estudiosos não contestam a unidade da obra. Seu conteúdo é apocalíptico e reiterativo. Como obras similares de outras fontes, é impossível construir um esboço cronológico segundo as expectativas proféticas. A língua original pode ter sido o hebraico, mas ainda não foi identificado nenhum fragmento de tal versão. A versão siríaca quase certamente foi traduzida do grego, pois há uma quantidade de versões que não podem ser explicadas de outra forma. O próprio livro afirma que foi escrito por

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BARUQUE, APOCALIPSE DE 699

Baruque, servo e amanuense do profeta Jeremias (Jr 32.12 etc.). Em virtude de seu papel no período anterior à destruição final de Judá pela Babilônia, surgiu uma rica tradição em torno do seu nome e obras. Diversas obras apócrifas e pseudepígrafas circularam sob seu nome; por exemplo, “Livro de Baruque” (q.v.), “Restamte das Palavras de Baruque”, “Livro Gnóstico de Baruque” e um obscuro “Apocalipse Grego de Baruque”. O texto é um misto de prosa e passagens poéticas, as quais podem ser separadas para análise.

1. Prosa. 0 livro divide-se em sete seções, cada uma delas marcada por um jejum geralmente de sete dias de duração. O autor fala do começo ao fim na primeira pessoa do singular e faz uma mensagem declarativa dos eventos que estão para acontecer. Ocasionalmente a narração é entremeada com exortações em forma de sermão. As passagens, que usam expressões semelhantes às usadas nos textos do NT, são mais freqüentes nas seções em prosa. Entretanto, são as passagens poéticas que são mais citadas nos antigos escritos rabínicos. A linguagem simbólica é extraída das noções comuns do apocalipse judaico, com a única exceção de que algumas das profecias, tal como a conquista e destruição de Jerusalém, ocorrem durante a argumentação do autor. As seções de prosa marcam uma longa declaração da história de Israel, desde Adão até o tempo dos gentios, e então oferece esperança e consolo, na promessa de uma consumação e reconstrução do reino do Messias. Porém, a verdadeira figura do Messias não é claramente definida e a ênfase parece estar mais na bênção corporativa de Israel.

2. Poesia. A poesia paralela, que segue a maior parte das seções em prosa, é claramente de origem hebraica e pode ser mais antiga do que o texto em si. Em muitos casos é usada para apoiar o texto, geralmente declarando a mesma idéia. Os segmentos poéticos freqüentemente são redundan­tes. A determinação das fontes múltiplas da poesia é uma questão difícil, pois enquanto algumas são claramente bíblicas, a maior parte deriva-se de hinos sectários da época. Os capítulos 21 a 34 são de especial interesse, em que uma visão dividida em 12 partes prevê várias catástrofes, evitados por uma “abertura de um livro” e culminando no advento do Messias, o Messias, contudo, surge apenas para ir embora novamente — uma noção possivelmente representada em 4 Esdras 7.29,30. O advento final do Messias é a ocasião da ressur­reição dos mortos. Os justos unem-se à congrega­

ção de Israel e os ímpios murcham e sofrem em tormento. A cena da morte de Baruque contém um hino transcrito na íntegra, “A Oração de Baruque". o qual possui afinidades em excelência de estilo com alguns dos Profetas Menores. O pensamento é completamente judaico e contém alguns pontos em desacordo com a Igreja Primitiva, quanto à sua concepção do Judaísmo.

B. Origem e data. Visto que existem pelo menos vinte declarações similares a frases do NT, assume-se que essa obra seja pós-cristã. De fato Parece tratar-se de uma apologia do judaísmo posterior; e sua ênfase na ressurreição e na cul­minação da história pode ter suprido uma grande deficiência na teologia judaica da época. Deve ser datado de algum tempo durante ou imediatamente após a era apostólica (50-150 d.C.). O fato de que foi preservado pela Igreja grega e posteriormente pela Igreja síria demonstra sua origem asiática. O escritor indica um conhecimento superficial da geografia da Palestina e alguma confiança no lendário material sobre Baaique. A menção dos romanos, sob o pseudônimo de “babilônios”, e a narrativa de como destruíram Jerusalém, sem dúvida, situam o livro mais aproximadamente como posterior a 70 d.C. Essa data mais recente deve explicar sua ausência em qualquer coleção do l2 séc. já encontrada.

C. Relação com o NT e com Rolos do Mar Morto. Embora o texto faça alusões ao NT, elas aplicam-se em todos os casos às idéias judaicas; por exemplo, Atos 15.10; 41.3. A ordo salutis de Apocalipse é autosoterística e urge a observância dos detalhes da lei mosaica. Cada indivíduo será justificado por Deus, por seus atos e piedade em relação à lei. Desta maneira, o texto difere totalmente do ensino do NT sobre o assun­to. Há uma negação implícita da predestinação, mas uma resignação a um tipo de fatalismo. Essa estranha mistura foi possibilitada pelo estoicismo romano posterior. O tom ético aproxima-se mais da literatura de sabedoria do AT do que dos profetas maiores. Não há quase nada sobre o Templo ou os sacrifícios que são parte central nos DSS. Não há crítica quanto aos sacerdotes, levitas ou adminis­tração do Templo. Aparentemente, isso pode ser porque o Templo já fora destruído. O judaísmo do Apocalipse é uma estrutura simbólica e legal, na qual a forma permanece, mas a substância se desvaneceu. A última seção da obra é um apêndice, “A Epístola de Baruque às Nove Tribos e Meia”. É similar aos ofícios fúnebres citadas nos DSS.

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700 BARUQUE, LIVRO DE

Dizem que foi enviada por uma águia às congre­gações dispersas. Isso provavelmente se refere aos judeus da Diáspora. Veja P s E b D E P ÍG R A F A .

BIBLIOGRAFIA. A. M. Ceriani, Monumento sa­cra et profana. Opera collegii doctorum Bibliothecae Ambrosianae, vol. V., fase. I/II (1868-71); R. Kabisch, “Die Quellender Apokalípse Baruchs”, Jahrbücher fiir protest. Theologie xviii (1892), 66-107; R. H. Charles, The Apocalypse o f Baruch (1896); C. Clemen, “Die Zusammensetzung des Buches Henoch, der Apokalypse des Baruch und des vierten Buches Esra”, Theologische Studien Ixxi (1898), 211-246; V. Ryssel, “Die syrische Baruchapokalipse” em E. Kautzsch, Die Apokryphen undPseudepigraphen des Alten Testaments 11 (1900), 406-446; I. Parisot, F. Nau & M. Kmosko, Patrologia Syriaca (1907); R. H. Charles e W. O. E. Oesterly, The Apocalypse o f Baruch (1929); J. W. Bailey, “The Temporary Messianic Reign in the Literature of Early Judaism”, JBL LIII (1934), 170-187; L. Gry, “La date de la fin des temps, selon les révelations ou les calculs du pseudo-Philon et de Baruch”, Revue Biblique, n.s. xlviii (1939), 337-356; F. Zimmermann, “Textual Observations on the Apocalypse of Baruch”, JTS XI. (1939), 151-156; “Translation and Mistranslation in the Apocalypse of Baruch”, in Studies and Essays in honor o f A. N. Neuman (1962), 580-597; W. Baars, “Neue Textzeugen der syrischen Baruchapokalipse”, VT XIII (1963), 476-478; W. Hamisch, Verhangnis und Verheissung der Geschichte, Untersuchungen zum Zeit-Geschichtsverstãndnis im 4, Buch Esra und der syr. Baruchapokalipse (1969).

W. W h i t e Jr.

BARUQUE, LIVRO DE (Bapcir/J Livro não encontrado na Bíblia hebraica, mas somente na LXX (com Lamentações, como um suplemento de Jeremias), e que assim encontra um lugar também entre na Apócrifa. Esse livro relativamente curto supostamente foi escrito por Baruque, filho de Nerias, bem conhecido por suas atividades como secretário do profeta Jeremias (cp. Jr 36.4,18,32). Traz como apêndice a assim chamada Carta de Jeremias (a qual com freqüência é contada como o capítulo 6 do livro).

1. Conteúdo. Baruque pode ser dividido nas seguintes seções: introdução (1.1-14); confissão (1.15—2.10); oração (2.11—3.8); discurso poético sobre sabedoria (3.9— 4.4); cânticos de lamento e de encorajamento (4.5— 5.9). A introdução fala so­bre os exilados, reunidos na Babilônia, que enviam a Jerusalém o dinheiro que conseguiram coletar,

para garantir várias ofertas e tornar possíveis as orações pelo bem-estar de Nabucodonosor (e con­seqüentemente deles próprios). Entretanto, com o dinheiro e os pedidos, deviam enviar também um livro de confissões — para ser lido periodicamente no Templo. Depois, seguem-se a confissão em si e a oração de penitência. A confissão (uma declara­ção não dirigida diretamente ao Senhor, cujo nome ocorre somente na terceira pessoa) começa com uma alusão clara a Daniel 9.7s. e centraliza-se no fracasso e na desobediência dos homens de Israel e de Judá, sobre quem veio com justiça o juízo do Senhor. Essa desobediência não é considerada novidade, mas como algo que se repete desde “o dia em que o Senhor tirou nossos pais da terra do Egito, até hoje” (Baruque 1.19). A oração em si é uma confissão de pecado e súplica por misericór­dia e livramento. São incluídas várias citações do livro de Jeremias (2.21 = Jr 27.12; 2.23 = Jr7.34; 2.25 = Jr 36.30), bem como numerosas alusões a outros escritos do AT, principalmente Deuteronô- mio e Daniel. De acodo com a oração, os profe­tas tinham razão em suas advertências, embora tivessem visto que durante o exílio Israel voltaria para o Senhor (“na terra do exílio cairão em si”, 2.30). A súplica final por misericórdia sugere que o autor considera sua oração — que expressa a atitude do povo — o cumprimento da esperança deles. A poesia de sabedoria que segue, afirma que somente o Deus de Israel possui sabedoria, mas a revelou para Israel na forma da Lei. Assim, a sabedoria é equiparada à Lei e a conclusão na­tural é a seguinte: “Bem-aventurados somos nós, ó Israel, pois aquilo que agrada a Deus a nós foi revelado” (4.4). Essa passagem sobre a sabedoria parece reminiscência de outras poesias de sabe­doria, como Provérbios 1—9 (cp. Jó 28). A seção final do livro combina lamentações e esperança, expressas numa passagem proferida por Jerusalém personificada (4.5-29), contendo muitas alusões a Isaías, seguidas de uma resposta de encorajamento pronunciada pelo poeta (4.30— 5.9).

2. Unidade, data e propósito. Não hánenhuma relação intrínseca entre a primeira parte do livro e as seções poéticas de 3.9—5.9. Além do mais, há várias diferenças de terminologia muito claras entre as seções principais do livro. Dentre as seções poéticas, a passagem de sabedoria parece ser uma unidade independente, sem relação com o material que segue. Portanto, é bastante provável que Baruque seja composto de três peças literárias separadas, reunidas por um editor que presumivel­mente também redigiu ou organizou o material

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BARZILAI 701

introdutório do livro. Assim, a reivindicação do próprio livro (v. Is) de que foi escrito por Baru­que na Babilônia, cinco anos depois da queda de Jerusalém (=581 a.C.), não pode ser tomada como verdadeira (algumas discrepâncias históricas con­firmam essa conclusão). Pelo contrário, as partes componentes do livro provavelmente derivam de épocas muito posteriores — geralmente as datas sugeridas estendem-se do 2S séc. a.C. até o F1 séc. da era cristã, embora os dados disponíveis para essas conclusões sejam escassos.

A terceira seção do livro inclui material comum aos Salmos de Salomão (um escrito pseudepígrafo do l 2 séc. a.C.), mas não se pode determinar em que repousa essa dependência, ou se de fato ambos os escritos dependem de uma fonte comum.

Cada seção possui um propósito óbvio, o qual, a despeito das reivindicações da introdução, encon­tram origem e pano de fundo no período pós-exílio. A mensagem supostamente oferecida aos exilados tem sua aplicabilidade no período de composição e de compilação dos escritos: por exemplo, Israel ne­cessita de confissão e arrependimento; a verdadeira sabedoria encontra-se na lei (cp. o livro contempo­râneo de Eclesiástico); encorajamento e esperança são possíveis nos tempos mais difíceis porque o Senhor é misericordioso e bom para aqueles que o buscam. Possivelmente, o livro originou-se de uma comunidade da Dispersão, durante o mesmo período; neste caso, a restauração de Jerusalém seria depois da Dispersão. Entretanto, a sugestão de que o livro reflete a situação posterior a 70 d.C. e que Babilônia, Nabucodonosor e Belssazar são, respectivamente, Roma, Vespasiano e Tito é con­siderada improvável pela maioria dos estudiosos. A língua original da maior parte do livro, ou até de sua totalidade, parece ter sido hebraico. Há conjecturas de que a tradução grega também foi responsável pela segunda metade de Jeremias, de acordo com a LXX.

3. Canonicidade e texto. Baruque é um dos livros da Apócrifa que finalmente foram acei­tos como canônicos pela Igreja Católica Romana, no Concilio de Trento. O livro nunca teve lugar na Bíblia hebraica e assim foi rejeitado como não canônico pela Igreja Cristã primitiva. Na LXX, Baruque geralmente é colocado logo depois de Jeremias, precedendo Lamentações, enquanto na Vulgata (Bíblia Católica Romana) vem depois de Lamentações. O texto grego é bem atestado, embo­ra não exista nos Sinaíticos, e pode ser facilmente obtido nas edições-padrão da LXX. As traduções em inglês estão disponíveis nas edições-padrão da

Apócrifa, em que o livro, com a assim chamada Carta de Jeremias, segue o Eclesiástico. Veja também A p ó c r if o s .

BIBLIOGRAFIA. O. C. Whitehouse, era R. H. Charles, APOT, I (1913), 569-595; W. O. E. Oesterley, The Books o f the Apocrypha (1915), 495-506; H. Sí. J. Thackeray, The Septuagint and Jewish Worship (1923), 80-111; E. J. Goodspeed, The Story o f the Apocrypha (1939), 100-104; R. H. Pfeiffer, Histoiy o f New Tes­tament Times with an Introduction to the Apocrypha (1949). 409-425; B. M. Metzger, An Introduction to the Apociypha( 1957). 89-94; L. H. Brockington,A Criticai Introduction to the Apociypha (1961), 85-89; O. Eiss- feldt, The Old Testament: An Introduction (1965), 592­594; R. K. Harrison, Introduction to the Old Testament (1969), 1238-1241.

D. A. H agner

B A R Z ILA I (^TID, LXX, BepÇe^À.1., ferro, ou férreo).

1. Gileadita idoso e rico de Rogelim; com Sobi, de Amom, e Maquir, de Lo-Debar, levou provisões a Davi e seu exército em Maanaim, quando este fugia de Absalão (2Sm 17.27). Quando Davi re­tomava a Jerusalém, depois de derrotar as forças de Absalão, Barzilai o escoltou além do Jordão, mas em virtude de sua idade avançada, recusou o convite do rei para ir morar na capital. Em vez de ir. mandou seu filho Quimã (19.31-39).

Em suas instruções a Salomão, quando este se preparava para sucedê-lo no trono do reino unificado, Davi o exortou para mostrar bondade aos filhos de Barzilai, por causa da sua lealdade ao rei em Maanaim (lRs 2.7).

2. Ancestral de uma família de sacerdotes, que retomou a Jerusalém, depois do exílio, com Josué e Zorobabel, no ano 538 a.C. Essa família sacerdotal foi considerada maculada e proibida de tomar parte nos alimentos consagrados, porque eles não foram capazes de traçar a genealogia e provar que perten­ciam a Israel. Barzilai tinha tomado seu nome da família de sua esposa, quando se casou com uma descendente (cinco séculos depois) de Barzilai, o gileadita. Sua condição impura permaneceria até que houvesse um sacerdote que pudesse consultar o Urim e o Tumim (Ed2.61-63; cp. Ne 7.63,64); 1 Esdras 5.38 cita seu nome como Jaddus.

3. O meolatita cujo filho se casou com Merabe, filha de Saul, e cujos cinco netos foram entregues aos gibeonitas para vingar a culpa de sangue de Saul (2Sm 21.8,9).

J. J. E dwards

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702 BASÃ

B A S A ftra , sempre aparecendo com o artigo defi­nido, como |üQri, “o Basã”; fértil, frutífero,planície sem pedras). Região fértil no lado oriental do alto Jordão, perto do mar da Galiléia. Embora seja impossível determinar seus limites exatos, Basã parece ter sido limitado pelo monte Hermom ao norte, Salcá a leste, Gileade ao sul, Gesur e Maaca a oeste. O rio Jarmuque atravessava a parte sul. Basã incluía as regiões de Argobe (Dt 3.4) e de Golã (4.43; também uma cidade), além das cidades de Edrei (3.1), Asterote-Camaim (1.4; Js 9.10) e Salcá (Dt 3.10). No período grego, essas cidades incluíam também Hipos, Diom, Gamala e Selèucia.

No tempo de Moisés, a região era habitada por um povo alto e robusto, conhecido como refains (cp. Gn 14.5). O último rei desse povo foi Ogue, que dormia numa cama de 4 m de comprimento (Dt 3.11); foi derrotado pelos exércitos de Moisés em Edrei (Nm 21.33-35; Dt 3.1-9) e todas as sessenta cidades de Basã foram capturadas e destruídas (3.4-6). Basã era parte da terra distribuída à meia tribo de Manassés (3.13). Golã foi separada como uma das três cidades de refúgio no lado oriental do Jordão (4.41-43). Entre as 13 cidades dadas aos gersonitas, uma família de levitas, havia duas cidades de Manassés, em Basã (Js 21.6). Algumas famílias da tribo de Gade também se estabeleceram em Basã (lCr 5.11,12). Aterra foi invadida por Tiglate-Pileser III (745-727 a.C.), rei

da Assíria, que levou muitos dos seus habitantes cativos, estabelecendo-os em outras cidades do seu império (5.26).

Basã era um platô amplo e fértil, com 500 a 700 m de altitude. Era uma região propícia para a criação de gado (SI 22.12; Ez 39.18) e era notória por suas ovelhas e bodes (Dt 32.14), bem como grandes bosques de carvalhos (Is 2.13; Ez 27.6; Zc 11.2). Amós comparou as mulheres lisonjeiras e amantes do prazer, de Samaria, às vacas de Basã (Am 4.1). Jeremias predisse que Israel seria restaurado depois do cativeiro na Babilônia e se alimentaria novamente em Basã (Jr 50.19).

A arqueologia ainda não descobriu nenhuma evidência dos refains, embora haja confirmação arqueológica de que a região foi continuamente ocupada desde a Antiga Idade do Bronze (3200­2300 a.C.). Os textos de Bruxelas (que datam da segunda parte do século 19 a.C.) mencionam Astarote em Basã. Durante o período da monar­quia dividida, a região foi ocupada por Damasco. Num período posterior, passou a ser identificada com Haurã.

O antigo nome sobreviveu como Batanea nos tempos grego e romano e na cidade árabe de el- Bathaniyeh. A região atual de Jolã, bem como Gaulanitis, termo grego para a região, pode ser traçada até a cidade de Golã, embora o sítio exato não tenha sido encontrada. E mais provável que os

Hazor

Mar da Galiléia^

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BASÃ-HAVOTE-JAIR / BASEMATE 703

famosos carvalhos de Basã se situassem na região de Jolã, que ainda tem lugares bem arborizados.

BIBLIOGRAFIA. A. Heber-Percy, A Visit to Bashan (1895); G. Emest Wright, Biblical Archaeology (1957), 29, 48, 72, 73, 146, 184; M. Noth, The Old Testament World( 1966), 63, 73; Y. Aharoni, The Land o f the Bible (1967), 133.

F. B. H uey J r .

BASÃ-HAVOTE-JAIR (lira mn i^ n , LXX, |3a- a á v AvcoB Iaíp, que significa Basã, as cidades de Jair. Grupo de cidades no norte da Transjordânia).

Ftavia um grupo de cidades em Basã, nas cercanias de Argobe, as quais foram tomadas por Jair, filho de Manassés (Nm 32.41; Dt 3.14). Em Juizes 10.4, há um relato sobre os 30 filhos de Jair, um juiz que fundou 30 cidades; daí o nome “cidadesde Jair”. Josué 13.30 registra 60 “cida­des de Jair”, enquanto 1 Crônicas 2.22 fala de 23 cidades. Aparentemente o número variava de acordo com as vicissitudes da guerra. Somente em Deuteronômio 3.14 aparece seu nome completo, Basã-Havote-Jair (ARC). A palavra Iauri, nos registros assírios de Adadnirari, (1305-1274 a.C.) pode se referir à mesma região.

R. L. A lden

B A S C A M A . 1. (BaaKaiJ.a). Local mencionado em 1 Macabeus 13.23, próximo do lugar onde Jônatas Macabeus foi morto e enterrado por Trifão. É citado como Basca por Josefo, em sua obra Antiquities (xiii, 6.6). Possivelmente pode ser identificada com a modema el-Jummeizeh, a nordeste do Mar da Galiléia.

F. W. B ush

2. (BáaKocpa). Lugar em Gileade, a nordeste do Mar da Galiléia, onde o comandante selêucida Trifão assassinou Jônatas em 143-142 a.C.

Trifão tentara vencer Jônatas, governador da Judéia, mas este o surpreendeu em Betsã com um exército tão poderoso que Trifão decidiu vencê-lo por um subterfúgio, em lugar da guerra. Por essa ra­zão, prometeu dar a Jônatas a cidade de Ptolemaida, na costa do mar Mediterrâneo, caso este mandasse suas tropas para casa. Inocentemente, Jônatas acei­tou a proposta e caiu numa cilada em Ptolemaida, armada por Trifão com a colaboração dos habitantes da cidade. Jônatas foi capturado e marchou para o sul, para a Judéia e depois novamente para o norte, através do vale do Jordão, até ser cruelmente as­

sassinado em Bascama (veja 1 Macabeus 12.39-54; 13.1-30; Josefo, Am. 13.18-212).

É pouco provável que o local possa ser identi­ficado com Tell bazüq. e sim com Tell es-samak (Strabo's “Sycaminos", Geog. 13.6.1), a oeste de Haifa ou el-Gummeize “sicômoro") no extremo nordeste do Mar da Galiléia. Esta últinia identifi­cação é favorecida em termos da topomrmia. vLsto que Bascama parece significar ‘"casa" iS_- og. Be para Beth [casa em hebr.]) e “sicômoro" (derivado de Shiqmah), e em termos geográficos, por estar na linha de marcha de Trifão.

BIBLIOGRAFIA. J. Simons, The geographica! and topographic.al texts o f the OT (1959), 418; Y. Aharoni e M. Avi-Yonah, The Macmillan Bible atlas NY: Mac- millan Co. (1968), 128.

W. C. K aiser J r .

BASE. Veja S u p o r te , B a s e .

BASEMAT. Forma de B asemate na B J, em Gê­nesis 26.34.

BASEM ATE (T\m:, fragrante). 1. Basemate, uma das esposas de Esaú, filha de Elom, o heteu (Gn 26.34). Por ser cananita o casamento de Esaú com ela (bem como com outras cananitas) ignorou a vontade de Yahweh de que os descendentes de Abraão se mantivessem separados dos cananeus, principalmente no matrimônio. Portanto, o ca­samento de Esaú com Basemate trouxe grande amargura a Isaque e Rebeca. Esaú também se casou com Ada, “filha de Elom, o heteu”; possi­velmente irmã de Basemate (Gn 36.2).

2. Basemate, outra esposa de Esaú, filha de Ismael e irmã de Nebaiote (36.3). Basemate é conhecida também como Maalate (Gn 28.6-9). Esaú procurou uma esposa dentre os descendentes de Abraão, quando viu que o casamento de Jacó com parentes de Abraão trouxe alegria para Isaque e bênção sobre Jacó.

Basemate foi mãe de Reuel, cujos filhos, Naate, Zerá, Samá e Mizá, também são chamados filhos de Basemate. Esses homens foram figuras proe­minentes em Edom.

3. Basemate, filha de Salomão e esposa de Aimaás, oficial de Salomão, cuja tarefa era pro­videnciar alimentos para a casa real, durante um mês a cada ano (lRs 4.15).

J. J. E dwards

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704 BASILIDES, EVANGELHO DE / BATE-SUA

BASILIDES, EVANGELHO DE. Qasilides, um gnóstico que ensinava em Alexandria por volta do ano 130 d.C., é mencionado como autor de 24 livros “sobre o Evangelho” (Eusébio HE IV, vii, 7). Não está claro se era um comentário sobre os evangelhos canônicos ou um outro evangelho; os fragmentos existentes referem-se a Mateus e Lu­cas. Um Evangelho de Basilides é mencionado por Orígenes (em Luc. Hom. I), por Jerônimo e outros depois dele, mas nada sobreviveu e tudo o que resta são conjecturas sobre seu conteúdo (supondo- se que era uma obra original e independente). As teorias apresentadas implicam (a) que se tratava de um documento relacionado a Lucas, ou uma edição do Evangelho de Lucas (cp. Evangelho de Marcião); e (b) que era um tipo de harmonia dos evangelhos, na qual passagens dos Evangelhos canônicos foram arranjadas para se adequar às necessidades do seu sistema. Basilides afirmava ter recebido ensinos secretos de Matias, mas qualquer relação do seu evangelho com o “Evangelho” ou “Tradições de Matias” (q.v.) remanesce altamente especulativa (veja NTAp I, 346ss.).

R. M c l . W ilson

BASILISCO. Em algumas concordâncias e mg. há uma tradução alternativa de 'TODi (Pv 23.32; N V I, BJ, “víbora”; KJV, ASV, RSV, adder, “áspide”); yQX (I s 14.29; NVI, BJ, “víbora”; KJV, cockatrice, “basilisco”; RSV, adder, “áspide”). “Áspide” é a tradução correta; a palavra “basilisco” deveria ser descartada, pois tem dois outros sentidos: (1) uma criatura fabulosa; (2) um grupo de pequenos lagartos americanos da família iguanas. Veja As- p ide ; S e r p e n te ; V íb o r a .

G. S. C a nsdale

BASLUT. Forma de Forma de B a z l i t e na BJ, em Neemias 7.54.

B A S M Ú R IC A , V ER SÃO . Veja V e r s õ e s Do Novo T e s ta m e n to , A n t ig a s .

BASTÃO DE M Ã O . Veja A r m a d u r a , A rm a s .

BASTARDO. Filho ilegítimo, nascido fora do casamento: palavra empregada para traduzir uma palavra hebraica e uma grega. O hebraico iran, “corrupto”, "coisa estragada”, aplicada aos

filhos ilegítimos na proibição da entrada deles nas congregações do povo de Israel (Dt 23.2) e numa maldição contra os sírios, em que é feita a promessa de que uma nação “bastarda” herdaria aterra deles (Zc 9.6; RSV, mongrel, “mestiços”). No NT, o termo grego é vó0oç, “nascido fora do casamento”, conhecido desde os tempos de Ho­mero, mas empregado somente em Hebreus 12.8 para descrever aqueles que rejeitam a autoridade e a disciplina de Deus.

W . W hite J r .

BATALHA. Veja G u e r r a , A r t e d a G u e r r a .

BA TAN E A (B axavía etc.). Nome grego para Basã, usado nos tempos do NT (veja, por exemplo, Josefo: Life 11; Ant. xv, x, 1; xvii, ii, 1). A LXX, por outro lado, usa Baaáv.

B A T E -R A B IM , PO RTA DE (□■ni na - o t ) . Portão da cidade de Hesbom mencionado em Cantares 7.4. Literalmente significa “filha de uma multidão”. Perto dela havia piscinas, empregadas para ilustrar os olhos da noiva, no cântico.

BATE-SEBA (S73OTQ, pro v. filha de um juramento, ou sétima filha; também chamada de B ate-S ua, filha da abundância (1 Cr 3.5). Esposa de Urias, o heteu, soldado do exército de Davi. Atraído por sua beleza, Davi a seduziu e ordenou que Urias fosse posto na frente de batalha para ser morto (2 S m 11). Depois, Davi tomou-a como esposa. O filho do adultério morreu, mas quatro outros filhos nasceram deste casamento, e o último deles foi Salomão (lCr 3.5). Perto do fim da vida de Davi, quando Adonias reivindicou a sucessão ao trono, Bate-Seba e o pro­feta Natã persuadiram Davi a proclamar Salomão rei (lRs 1.5-40). Posteriormente, Adonias persuadiu Bate-Seba a pedir a Salomão que lhe desse Abisa- gue como esposa. O pedido foi recusado e Adonias foi morto (lRs 2 .13-25). Bate-Seba é mencionada na genealogia de Jesus (Mt 1.6).

S. B ara ba s

BATE-SUA (y w m , filha de Sua, oufilha da abun­dância). 1. Esposa de Judá. Era cananita e foi mãe de Er, Onã e Selá (lCr 2.3). Em 1 Crônicas 2.3 seu nome é traduzido como “filha de Sua”.

2. Forma alternativa de B ate-S e b a .

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BATE-ZACARIAS, BATEZACARIAS / BATISMO (CONCEITO BATISTA) 705

B A TE -ZA C A R IA S , B A T E ZA C A R IA S . Veja Bet-Zacarias.

BATEM NO PEITO (-[Dn. bater em um pandeiro). Uma palavra encontrada apenas em Naum 2.7, com o sentido de bater. A palavra “taber” (tradu­zida como “bater no peito”) significa um tambor pequeno, e o verbo “taber” quer dizer bater como em um tambor.

BATH KOL (Vip nn, jilha da voz = som , tom, chamado). O termo denota uma voz divina au­dível, separada de qualquer manifestação divina visível. Pode ser distinguida de outros fenômenos como Deus falando a Moisés, em que houve uma manifestação divina no tremor de terra e de Deus falando com os profetas, geralmente à parte de uma voz audível, pelo Espírito Santo descendo sobre eles. Era notável por seu tom surpreendente­mente forte, e às vezes semelhante a um sussurro. Proclamava a vontade de Deus ou seu juízo sobre indivíduos, grupos, governantes, cidades ou sobre nações inteiras.

O equivalente grego no NT é <|>a)vf|, e não í)%có (cp. Lightfoot sobre Mt 3.17; também cp. Mc 1.11; Lc 3.22; Jo 12.28). A fórmula usual nas VSS aramaicas Midrash e Talmude é “uma voz desceu do céu”, “foi ouvida”, ou “procedente do céu”. Essa idéia é transmitida na frase grega 'HX9ev ovv <t>CDvf| èK toí> oúpavoú (Jo 12.28; cp. Ap 10.4,8; 18.4 etc.).

Exemplos de bath kol:1. A mensagem de Deus a Nabucodonosor

(Dn 4.31), “desceu uma voz do céu”. Leopold (Exposition o f Daniel, p. 200), porém, nega que seja bath kol.

2. De acordo com Josefo (Ant. XIII, x, 3), João Hircano (134-104 a.C.) ouviu a voz (gr. (f>covtj) de Deus no templo quando oferecia um sacrifício. No Talmude (sotah em babilônico, 33 a, Sotah em Jerusalém, ix, 24b), esta voz é chamada de bath kol.

3. No batismo de Jesus, foi ouvida uma voz do céu (Mt 3.17; Mc 1.1; Lc 3.22).

4. Quando Jesus foi transfigurado, ouviu-se uma voz do céu (Mt 17.5; Mc 9.7; Lc 9.35).

5. Pouco antes da Paixão de Jesus, ouviu-se uma voz do céu, a qual dizia “Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei” (Jo 12.28).

6. Quando Paulo foi derrubado na estrada de Damasco, ouviu uma voz do céu (At 9.4; 22.7,9;26.14).

7. A visão de Pedro em Jope, dos animais puros e impuros, foi acompanhada por uma voz que disse: “Levanta-te, Pedro; mata e come” (At 10.13,15).

8. No período Tanaítico (100 a.C.—200 d.C.), bath kol foi considerada um eco da voz de Deus, talvez em virtude do movimento em direção a um extremo anti-antropomorfismo no judaísmo pós- exílico. Alguns rabinos do período ansiavam pela voz divina para resolver perplexidades. O rabino Josué (100 d.C.) opunha-se a esta tendência, enfa­tizando a finalidade da revelação escrita (cp. Is 9.8; Texto XII Pat [Levi] 18.6; Baruque 13.1).

9. O Talmude contém muitas referências a bath kol (cp. Blau).

BIBLIOGRAFIA. L. Blau, “Bat Kol”, Jew Enc. II (1909), 588-592; J. R. Van Pelt “Bath Kol”, ISBE, I (1929), 416s.

K. H e l m b o l d

BATISM O (CONCEITO BATISTA). O batismo cristão é a lavagem inicial ôom água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a qual o Senhor ressurreto ordenou que seus apóstolos adminis­trassem em todos os seguidores como marca do discipulado (Mt 28.19,20). No NT, as bênçãos associadas ao batismo são: perdão dos pecados (At 2.38; 22.16); união com Cristo (G1 3.26s.); recebi­mento do Espírito Santo (At 2.38); e membresia no Corpo de Cristo — a Igreja (ICo 12.13).

Os batistas geralmente ensinam que o rito ex­terno confirma e sela, no receptor, o conhecimento dessas bênçãos, já que são apreendidas pela fé, e não, adquiridas e transmitidas mediante esforço pessoal. Isso significa que os batistas enfatizam a eficácia cognitiva e em vez da eficácia sacramental do rito (por esta razão a maioria dos batistas evita até mesmo a palavra “sacramento”, quando se fala sobre batismo).

O batismo é uma proclamação da parte de Deus, significando, pelo sinal externo, para aqueles que crêem, seus pecados foram lavados pelo sangue de Cristo, que foram unidos com ele por seu Espírito na novidade da sua vida na ressurreição e tomaram-se participantes de todos os benefícios que Cristo assegurou para seu povo. Da parte do homem, o batismo é uma confissão pública do seu pecado e um sinal de sua entrega a Cristo, para andar em novidade de vida, de acordo com o Evangelho.

Mantendo tal ênfase na natureza simbólica e cognitiva da ordenança, os batistas diferem da maioria dos protestantes, em que eles crêem que

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706 BATISMO (CONCEITO BATISTA)

o modo apropriado (muitos insistem que é o único modo) do batismo é a imersão, e especialmente que ninguém deve receber o rito, exceto os crentes.

Quanto à questão do modo apropriado do ba­tismo, já passou o tempo em que a imersão podia ser ridicularizada por sua excentricidade e escar­necida por sua indecência. Os lexicógrafoas são unânimes em concordar que o significado primário de Ba7ttíÇcú é “mergulhar" ou “imergir”; há um consenso similar na opinião dos estudiosos de que tanto o batismo de João como dos apóstolos era por imersão (cp. Jo 3.23: At 8.36-38). Na Didaque 7 (100-160 d.C.), o mais antigo manual de batismo que existe, a imersão tripla é suposta e a aspersão permitida no caso de escassez de água (a palavra usada para aspersão é skxéco e não BajtitÇcu). Os batistas não somente crêem que a imersão era a forma original do batismo, mas também que o ato de afundar na água e levantar novamente da água simboliza mais adequadamente a união com Cristo em sua morte e ressurreição. Como Paulo diz: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismc: para qile, como Cristo foi ressus­citado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” (Rm 6.4: cp. Cl 2.11,12).

Entretanto, a marca do conceito batista do batismo não é a imersão — como se supõe po­pularmente — mas sim a restrição da ordenança apenas aos crentes. Ao insistir no batismo do crente (ou no "batismo da conversão”, como às vezes é chamado), os batistas diferem dos outros cristãos. A grande maioria dos cristãos confes­sos, desde as épocas remotas até o presente, tem batizado infantes assim como adultos. De fato, é verdade inquestionável que a maioria dos cristãos, se levarmos em conta todos os séculos da história cristã, foi batizada na infância, tendo sido levada à pia batismal pelos pais ou responsáveis, em vez de ter ido por consentimento e vontade própria. Em virtude da ênfase no batismo apenas daqueles que crêem, nos círculos batistas, e da importância desta questão para o entendimento do batismo (comprovada pela discussão contínua e acalorada do batismo infantil em círculos teológicos contem­porâneos), o caso contra o batismo infantil será revisado brevemente e usado para trazer mais luz sobre a interpretação batista da ordenança.

E indiscutível que no NT a fé é o limiar pelo qual se entra na vida cristã, uma fé confessada no ato do batismo. A clara estrutura da história apostólica é kerygma — quer dizer, proclamação da mensagem da sal-, ação, sua aceitação pela fé, o batismo e o recebimento do Espírito Santo. Para

justificar o batismo infantil, é preciso deixar de lado esta seqüência ordenada. Desde os primórdios da Reforma, os pedobatistas se debateram com este problema. Embora não haja dúvida de que o radicalismo e a intransigência de muitos dos ana- batistas impeliram os reformadores a uma defesa eclesiástica do status quo, suas polêmicas contra os anabatistas na maior parte eram escritos teológicos inferiores e não convincentes. O ponto crucial do problema é: como se pode escapar da doutrina medieval do ex opere operato, que efetivamente une a graça da purificação e a renovação pela água, exceto afirmando nullum sacramentam sine fide (onde não há fé, não há sacramento)? Se a fé é indispensável para o sacramento — de forma que onde não há fé não há verdadeiro batismo — como então as crianças, que não podem confessar sua fé pessoal, recebem adequadamente o batismo?

A solução mais antiga é fides viçaria, a fé por representante, confessada por aqueles que levam a criança ao batismo como padrinhos ou respon­sáveis. Na época da Reforma, Lutero rejeitou esse conceito de Roma e em seu lugar ensinou que a criança tem fé. Calvino sustentava que uma semen­te de fé era plantada na criança — filho de pais crentes — em virtude da promessa da aliança.

Uma vez que o NT não fala nada sobre fé vicá- ria, nem menciona o batismo de crianças pequenas, todos os lados envolvidos admitem que no tempo apropriado a criança deve confessar publicamente sua própria fé. Assim, o batismo infantil não está completo até ser consumado por algum tipo de confirmação. Aqui os pedobatistas evangélicos ficam diante de um dilema. Se enfatizam a con­firmação, são ameaçados por um terceiro sacra­mento; sem tal confirmação, porém, o princípio evangélico da fé, necessário aos sacramentos, é colocado em risco. Alguns buscaram sanar o problema descobrindo evidências corroborativas para o batismo infantil no NT, bem como na prática do AT da circuncisão de meninos no oitavo dia de vida, como sinal da promessa da aliança.

Quanto às evidências no NT, admite-se que não existe nenhum exemplo claro de batismo infantil. Entretanto, existem várias ocorrências de batismo de famílias (At 10.47,48; 16.15, 29-34; ICo 1.16; 16.15), para os quais os pedobatistas apelam com regularidade. Aos batistas, porém, parece que estes exemplos refletem um quadro, não de pais convertidos e de toda a família sendo batizada, mas de famílias inteiras se convertendo e sendo batizadas.

Ainda mais proeminente do que o batismo de famílias inteiras, na literatura pedobatista, é o

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BATISMO (CONCEITO REFORMADO) 707

apelo para a bênção de Jesus sobre as crianças (Mc 10.14-16 e paralelos). Para este escritor parece difícil de sustentar, como os batistas fazem com freqüência, que essas passagens se referem so­mente àqueles que são como crianças em espírito, principalmente visto que Lucas usa a palavra lite­ral para crianças. Entretanto, se aceitarmos como verdadeiro que Jesus abençoou bebês e crianças pequenas, isso dificilmente parece implicar que de­vam ser batizadas. Os batistas não fazem objeção a que as crianças sejam trazidas ao Senhor e que seja invocada sua bênção sobre eles cultos para dedicação de crianças são freqüentes nas igrejas batistas). Uma coisa é trazer crianças a Cristo para que ele as abençoe: outra coisa é traze-las à pia batismal. "Veiam", disse Spurgeon. pregando sobre este texto, "leiam a palavra como está escrita e não encontrarão nenhuma água aqui. somente Jesus. Será que a água e Cristo são a mesma coisa? Não: aqui há uma grande diferença, tão grande quanto entre Roma e Jerusalém... entre a falsa doutrina e o Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo" (children Brought to ChristNotto theFont [“crianças trazidas a Cristo, não à pia batismal], sermão pregado em 24 de julho de 1864).

Em virtude do caráter pouco decisivo dos argumentos para o batismo infantil nos dados do NT, aqueles que são favoráveis à prática enfatizam mais o argumento de que a era do NT é o cumpri­mento da aliança feita com Abraão, como assina­lada e selada pela circuncisão. Portanto, pode-se dizer que o batismo toma o lugar da circuncisão, como o apóstolo Paulo escreveu em Colossenses 2.11,12: "Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos". Uma vez que se estabeleça que o batismo substitui a circuncisão, pode-se inferir— argumentam os pedobatistas — que os filhos de pais crentes devem receber o sinal agora, como na circuncisão no AT. Calvino chama isto de “toda a matéria” (Institutes, IV, XVI, 24).

Deve-se admitir que os batistas, em grande parte, têm falhado em apreciar a plena implicação desse argumento. E verdade que o NT cumpre o AT, podendo-se até dizer que a circuncisão repre­sentava no AT o que o batismo representa no NT. Entretanto, a fraqueza do argumento pedobatista é que enfatiza a continuidade na história da re­denção, sem permitir o devido espaço para sua descontinuidade. A diferença significativa entre a

era do tipo e da antecipação por um lado, e a era do cumprimento do outro, não é suficientemente apreciada. Os pedobatistas argumentam segundo o conceito do AT de uma semente literal sendo circuncidada, concluindo que atualmente os filhos dos cristãos são uma semente literal que deve ser batizada. O NT, porém, ensina que o indivíduo toma-se semente de Abraão pela fé , não por nas­cimento ou hereditariedade. E por esta razão que os batistas não vêem a força do argumento de 1 Coríntios 7.14, de que as crianças devem ser ba­tizadas porque Paulo refere-se a elas como santas (àytoç). No contexto, o apóstolo está discutindo o problema do casamento misto e, se “santo” sig­nifica que tais crianças são candidatas ao batismo, então o cônjuge incrédulo que é “santificado” (aytáÇcD) também deve receber o batismo. Quanto ao suposto paralelo entre circuncisão e batismo, se o NT é o cumprimento do AT, então assim como a circuncisão pertencia a todos os filhos naturais de Abraão, na era do tipo e da antecipação, assim o batismo pertence a toda a sua semente espiritual na era do cumprimento. Quem é a semente espiritual de Abraão? Não são todos aqueles que andam nos passos da sua fé? (cp. Rm 4.11,12). Mas isso é o mesmo que dizer que todos os que crêem devem ser batizados — que é a posição batista.

BIBLIOGRAFIA. R. E. O. White, The BiblicalDoc- trine o f Initiation (] 960); W. Carr, Baptism, Conscience and Chte fo r the Church (1964); G. R. Beasley-Murray, Baptism Today and Tomorrow (1966).

P. J ew et t

BATISMO (CONCEITO REFORMADO). Obatismo é a ordenança instituída por Cristo pouco antes de sua ascensão ao céu (Mt 28.19), minis­trado pela lavagem com água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, simbolizando e selando os benefícios da nova aliança.

1. Importância. Embora a lavagem da re­generação e a asperção do sangue de Cristo (cp. Jo 3.5; At 2.38; 22.16; ICo 6.11; Cl 2.11,12; Tt 3.5; lPe 3.21) sejam representadas, as referências mais explícitas indicam que o significado central é a união com Cristo (cp. Rm 6.3-6; ICo 12.13; G1 3.27,28; Cl 2.11,12). A palavra da instituição aponta na mesma direção, pois o batismo no nome das três Pessoas da Divindade significa batismo de união e de discipulado com as três Pessoas. De acordo com Números 6.24-27, as palavras do Senhor significam que no batismo há o selo da

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708 BATISMO (CONCEITO REFORMADO)

posse divina e da relação distinta de cada membro da Trindade vindo sustentar os homens na união e na comunhão da aliança (cp. Jo 14.16,17,23; 17.21-23). Embora a ênfase recaia na união com Cristo, o Pai e o Espírito Santo também são necessariamente abarcados na ligação simbólica dessa ordenança.

2. Modo. Existem vários modos de se ad­ministrar o batismo — por aspersão, efusão ou imersão. A insistência batista sobre a imersão como o único modo válido e por isso da essência do simbolismo é contestada por não-batistas. Os dois argumentos apresentados por batistas são: (a) que certas passagens (cp. Rm 6.3-6; Cl 2.11,12) indicam que o sepultamento de Cristo na terra e sua emersão dela na ressurreição mostram o padrão a ser seguido e (b) que os termos gregos para batismo significam imersão.

A falácia do primeiro argumento reside numa seleção arbitrária de certos aspectos do ensino de Paulo sobre nossa união com Cristo. E verdade que os crentes são unidos com Cristo em seu sepulta­mento e ressurreição, sendo também verdade que a imersão na água e a emersão dela parecem repre­sentar e simbolizar essa fase da união com Cristo. Mas a união com Cristo representada pelo batismo, inclui mais do que a união com ele em seu sepul­tamento e na ressurreição. Significa união com ele em sua crucificação e morte. O sepultamento não deve ser igualado a ambos. Em Romanos 6, Paulo fala do batismo na “morte” de Jesus (v. 3), da “união” com ele na semelhança da sua morte (v. 5) e da “crucificação” com ele (v. 6; cp. G12.19). E evidente que imersão e emersão não se assemelham a isso. Entretanto, são tão ligados à união com Cristo quanto o sepultamento e a ressurreição. No argumento anabatista, portanto, ao sepultamento e à ressurreição é conferida como relevância exclu­siva na justificativa do simbolismo.

Outras passagens, semelhantemente, provam a arbitrariedade da preocupação com a analogia do sepultamento e ressurreição. Paulo também escre­veu: "todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes” (G13.27). Seria tão legítimo argumentar quanto à forma de batismo com base nesta passagem quanto em Romanos 6.4. A figura aqui. contudo, é a de vestir uma roupa, com o que a imersão na água não tem nenhuma semelhança. Em 1 Coríntios 12.13, a figura é a de formar um só corpo, a qual é estranha à analogia da imersão. O fato é que o batismo significa união com Cristo em toda a abrangência do seu ministério, e outros aspectos são tão integrais quanto o sepultamento

e a ressurreição. É prejudicial para a totalidade da união representada, limitar seu simbolismo a qualquer fase da obra redentora de Cristo.

Não é possível, no espaço disponível, demons­trar todas as evidências sobre o significado dos termos que significam batismo. Basta dizer que há numerosos exemplos nos quais a ação referida não implica imersão, e que provam que batismo não significa imersão (cp. Lv 14.6,51;Mt 15.2;Mc7.2- 5; Lc 11.38; ICo 10.2; Hb 9.10-23). O termo grego BanTÍÇü) indica um certo efeito sem prescrever a forma exata pela qual esse efeito é assegurado. Conseqüentemente a ordenança pode ser adequada­mente administrada por aspersão ou efusão.

3. Temas. Não há questão de princípio entre batistas e não batistas quanto às condições neces­sárias para o batismo de adultos. E verdade que em alguns casos tem havido uma diferença de pontos de vista, ou pelo menos de ênfase sobre as prerrogativas da Igreja na admissão de can­didatos ao batismo. Essa diferença pode existir entre batistas e entre não batistas. Assim, a linha demarcatória não deve ser desenhada nestes ter­mos. As injunções de Pedro no dia do Pentecostes e a prática seguida na ocasião tomam claro que o arrependimento, a fé no Evangelho e a aceitação da Palavra são as condições sob as quais o batismo deve ser ministrado (At 2.38,41,42,44). Outros textos corroboram isso como prática apostólica (At 8.34,35,36,38; 10.34-47; 16.14,15,31-33). Aúnica questão relevante é: que critérios a igreja aplica nesse julgamento? Aposição reformada clássica é que não é prerrogativa da Igreja, ou daqueles que ministram o batismo em seu nome, determinar se os que buscam o batismo se arrependeram e creram de verdade e com sinceridade. E dever da igreja apresentar as condições e insistir que somente aqueles que as preenchem são aceitáveis aos olhos de Deus. E a igreja deve auxiliar os candidatos no auto-exame. Mas a igreja aceita para o batismo aqueles que fazem uma confissão de fé inteligível e sem contradições. Qualquer outra posição erra pela presunção ou pela indulgência.

A questão crucial refere-se ao batismo infan­til, à qual os batistas fazem vigorosa oposição. O argumento para a defesa do batismo infantil baseia-se na unidade e continuidade essenciais da aliança da graça ministrada a Abraão, cuja revelação foi ampliada nas alianças mosaica e davídica e que alcançou sua plenitude na Nova Aliança. A Nova Aliança é aministração da graça que cumpre a promessa feita a Abraão: “[Em tua descendência] serão benditas todas as nações da

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BATISMO (CONCEITO SACRAMENTÁRIO) 709

terra” (Gn 22.18). É esta bênção de Abraão que vêm sobre os gentios por intermédio de Cristo (G13.14). Abraão é o pai de todos aqueles que crêem, os quais são seus descendentes e herdeiros, de acordo com a promessa (Rm 4.16-18; G1 3.7-9). As promessas cumpridas em Cristo foram feitas a Abraão com confirmação pactuai. Portanto, é apropriado e necessário dizer que a Nova Aliança é o cumprimento e a revelação da aliança abraâmica (cp. G1 3.15-17). A mesma unidade e continuidade são anunciadas quando o povo da aliança de Deus é comparado a uma oliveira com diversos ramos, todos crescendo a partir da mesma raiz e linhagem, formando um único organismo (Rm 11.16-24).

A aliança feita com Abraão incluía os filhos ainda crianças, sendo selada e simbolizada pela circuncisão, aministrada sob ordem divina (Gn 17.9-14). O fato de que a circuncisão é o sinal da aliança em seu significado espiritual mais profun­do é demonstrado pelo fato de que ela é chamada de aliança (Gn 17.10; cp. At 7.8), sendo assim identificada como sinal (cp. Gn 17.11), dando à aliança seu significado mais elevado(cp. Gn 17.7; Êx 10.5,6; Dt 7.6; 14.2; 30.6; Jr 4.4; Rm 4.11; Cl 2.11,12). Visto que os filhos dos fiéis eram incluí­dos na relação pactuai e não há nenhuma indicação de que este aspecto da ministração pactuai tenha sido abolido na Nova Aliança, a conclusão pro­cedente da unidade e da continuidade da aliança da graça é que o mesmo privilégio pertence aos filhos dos crentes sob a Nova Aliança. Além dis­so, há evidência que mostra a continuidade deste princípio (Mt 19.13,14; At 2.38,39; 16.15,33,34; ICo 1.16; 7.14; Ef 6.1,4; Cl 3.20,21). Essas consi­derações são a base para a propriedade e a validade do batismo infantil.

Portanto, a base sobre a qual o batismo é aministrado a crianças é a instituição divina. A promessa da aliança é para os crentes e seus filhos. Os abusos freqüentemente cometidos em batismos infantis não devem ser usados como objeção con­tra a ordenança em si. E preciso que a Igreja seja cuidadosa e vigilante para evitar tais abusos. So­mente os pais fiéis na sua confissão de fé e no de­sempenho das suas obrigações pactuais estão aptos para apresentar seus descendentes para receber o batismo. Aqueles que não demonstram evidências da união com Cristo, simbolizada no batismo, não podem reivindicar a graça e a promessa oferecidas nesta instituição (cp. SI 103.17,18).

4. Eficácia. Como um rito instituído por Cristo, o batismo não deve ser identificado com a graça que significa e sela. Isso fica evidente pelos

termos da instituição (Mt 28.19) e pela natureza do batismo como selo. A existência da graça selada é pressuposta na doação do selo. O princípio da regeneração batismal reverte a ordem inerente na definição provida pelas Escrituras. A eficácia resi­de inteiramente na garantia da fidelidade de Deus. Deus não só traz homens e mulheres à união com Cristo como a personificação da aliança da graça no clímax da sua realização; Deus não só faz pre­ciosas e grandes promessas, as quais têm o sim e o amém em Cristo; Deus também sela essa união e confirma essas promessas por uma ordenança que retrata aos nossos sentidos a certeza da sua graça. A depreciação do batismo insulta a sabedoria e a graça de Deus, e em especial a sua fidelidade. Ele nos confirma a união com ele acrescentando o selo do batismo até o fim, para que possamos ficar mais firmes na fé do seu pacto de graça.

BIBLIOGRAFIA. J. Calvino, Institutes, IV, xiv-xvi: R. Wilson, Infant Baptism a Scripturcd Service etc. (1848); O. Cullmann, Baptism in the New Testament (1950)-, R Ch. Mareei, The Bibiicai Doctrine o f Infcmt Baptism (1953); J. Leremias, Infant Baptism in the First Four Centuries (1960); J. Murray, Christian Baptism (1962).

J. M urray

BATISMO (CONCEITO SACRAMENTÁRIO).tò Bá7tTLCJ(J.a, imersão ou mergulho, como sacra­mento cristão de incorporação na Igreja.

1. Base bíblica. O conceito sacramentário do batismo baseia-se numa interpretação das Escri­turas que concebe a salvação como um drama que se desenrola na progressão do tempo. A palavra “sacramento” procede do latim sacramentum, que significa “sinal” ou “penhor”. Era usada comu- mente nas transações comerciais, como um penhor ou garantia de que o pagamento total seria feito. Atualmente seria o pagamento inicial ou hipoteca. A palavra tinha outro uso secular como penhor de lealdade do indivíduo para com um grupo, como o voto de lealdade do soldado para com o pelotão no qual servia. Um sacramento era uma promessa de se manter um certo tipo de conduta num rela­cionamento vocacional. Esta promessa era selada com um penhor, que podia ser um anel, tal como na garantia de um negócio, e sempre havia um elemento físico acompanhando o voto.

Os escritores bíblicos proclamaram o advento de Jesus Cristo como o cumprimento de uma anti­ga promessa feita a Abraão, de que Deus proveria de sua descendência um Redentor, o qual seria

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710 BATISMO (CONCEITO SACRAMENTÁRIO)

uma bênção para todas as nações. Cristo foi tido como a conclusão de uma antiga aliança, da qual os penhores ou sacramentos tinham sido entregues por meio dos profetas e sacerdotes, nas ordenanças tradicionais da adoração no Templo de Jerusalém. Ele anunciou o “final dos tempos”, e não o encer­ramento da história; anunciou a última era, quando todas as coisas serão trazidas à sujeição do seu senhorio, para a glória do Pai. Entretanto, visto que ele veio em humilhação e só pode ser visto como Senhor pela fé, os cristãos continuam esperando pela consumação final, quando a promessa de Deus quanto à redenção será cumprida plenamente, para que todos vejam não pela fé, mas a olho nu.

Nesse sentido, o advento de Jesus foi sacramen­tário em si mesmo, já que Jesus funciona como o penhor físico de uma promessa escatológica. Quando ele partiu na carne, deixou penhores — tal como água, pão e vinho — como continuação da garantia de sua promessa até que volte em glória. Jesus, que foi o cumprimento na história de uma antiga aliança (que teve seus sacramentos prévios no culto de Israel), agora se toma o sacramento de uma nova aliança que desenvolveu, em seu novo culto um novo conjunto de sacramentos. Assim como o uso secular da palavra combina­va o elemento físico com o voto interior, assim também o uso eclesiástico evocou a combinação de um elemento físico com a promessa espiritual do sacramento. Posteriormente, na tradição, o sacramento foi definido como uma manifestação extema de uma graça interior. A água do batismo é o primeiro desses elementos físicos que significam e também garantem, como um pagamento inicial, a garantia da presença fiel de Deus com a humani­dade até o Último Dia, quando Cristo voltará em glória para ressuscitar os mortos e conceder a vida etema a todo aquele que crê.

O batismo, como rito de imersão, não foi inicia­do pelos cristãos; foi adotado por eles de formas judaicas e pagãs, e recebeu um novo significado ligado à promessa de Cristo. As abluções diárias eram comuns nos círculos pagãos e até os judeus praticavam uma forma de batismo regular para os prosélitos. Quando João começou a batizar no rio Jordão, acrescentou uma nova dimensão à expe­riência judaica. Ele chamou todos os judeus para um batismo de arrependimento, como preparação para o Outro que viria com um batismo de fogo e do Espírito. O batismo de João era um sacramento, garantindo a vinda de um novo reino e um novo Rei; quando Jesus veio e foi reconhecido por João como Aquele que devia vir, João a princípio recusou-se a batizar Jesus. Seu sacramento estava

agora cumprido e portanto tinha perdido sua utili­dade como penhor.

Mesmo assim Jesus insistiu que devia ser bati­zado, para que a justiça de Deus fosse cumprida. Ele sofreu isso como um sinal inicial de sua humi­lhação sob a maldição do pecado e da morte. Jesus foi enviado pelo Pai para ser um com a humani­dade, como pecador que não cometera pecado. Sofreu a maldição do pecado embora tenha sido obediente a Deus e, diversamente de todo pecador, jamais desafiara a Deus. Tendo vindo na forma de pecador, morreu como de todo pecador. No batismo, ele iniciou sua caminhada para a morte. Depois, em várias ocasiões, referiu-se à própria morte como um batismo que teria de suportar. “Podeis vós beber o cálice que eu bebo, ou receber o batismo com que eu sou batizado?” (Mc 10.38). “Tenho, porém, um batismo com o qual hei de ser batizado; e quanto me angustio até que o mesmo se realize” (Lc 12.50). Claramente, o primeiro significado do batismo é a morte de Cristo.

Em segundo lugar, é interessante notar que Jesus mesmo não batizou, mas que seus discípulos começaram a batizar imediatamente após a descida do Espírito Santo no Pentecostes, ou seja, não até depois da Ressurreição. O segundo significado do batismo é a ressurreição de Cristo com a no­vidade do Espírito, o qual veio o primeiro sobre os discípulos no Cenáculo. Assim como a morte de Cristo é representada pelo elemento físico da água, na qual o velho homem submerge, assism a ressurreição de Cristo é representada pelo gesto físico da imposição de mãos, para levantar o novo homem no Espírito. Dessa maneira a promessa de João se cumpriu no Pentecostes, quando o Cristo ressurreto desceu por meio do Espírito, no vento e nas línguas de fogo.

A nova promessa de Deus, de trazer todas as coisas sob o senhorio de Cristo, está selada e garantida na morte e na ressurreição de Jesus de Nazaré. Ali estava um homem físico a quem todos tinham visto e a quem os judeus, junto com os romanos, tinham crucificado. Ele tinha ressuscitado, de forma misteriosa e maravilhosa, do túmulo onde seu corpo fora colocado. Depois de muitas aparições aos judeus especialmente escolhidos, o Cristo ressurreto veio habitar com seus eleitos por meio da presença do seu Espírito. O Espírito não somente os guiou na verdade, como também lhes deu poder para fazer as coisas que Jesus fizera quando estava na carne. Eles curaram enfermos e ressuscitaram mortos. Embora esses sinais miraculosos tenham diminuído depois da primeira geração, a comunidade dos cristãos

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BATISMO DO ESPÍRITO SANTO 711

ainda reconhece e celebra a presença de Cristo no seu Espírito. De fato, essa presença é o que a Igreja sempre proclamou como uma realidade sacramentária, selada e garantida tanto pelos elementos físicos da água como da imposição de mãos no batismo.

De acordo com os registros bíblicos, parece que os cristãos primitivos batizavam com a fórmula “em nome de Jesus Cristo” (At 2.38). A fórmula trinitariana proferida por Jesus em sua comissão final (Mt 28.19), em geral é considerada como tendo sido inserida numa data posterior, em virtude da utilização litúrgica da comunidade cristã. Isso de forma alguma nega a base trinitariana para o batismo sacramentário, visto que a fórmula “em nome de Jesus Cristo” não faz sentido sem uma compreensão trinitariana de Deus. Como já observado, o relato bíblico declara que o batismo envolve a morte e a ressurreição de Cristo com a descida do Espírito.

O Espírito chama os eleitos para uma comu­nidade que vive na presença do Cristo ressurreto. Sob o chamado do Espírito através da água e da imposição de mãos, os escolhidos de Deus são incorporados no Corpo de Cristo e compartilham de sua morte e ressurreição. Essa corporação é chamada a “Igreja”, porque esta é a palavra que significa literalmente, por sua origem grega, aque­les que pertencem ao Senhor (.kyriakoi), aqueles que são perfeitamente membros do seu Corpo. O terceiro significado do batismo é a incorporação na comunidade escatológica, a Igreja ou o Corpo de Cristo, a nova família de Deus que vive na presença sacramentária do seu Senhor, o qual prometeu voltar em glória no Ultimo Dia.

2. Construção doutrinária. Durante toda a história da Igreja houve muita discussão quanto à construção doutrinária do significado do batismo. Alguns definiram batismo como um símbolo que indica a presença da fé no crente (o batismo do que crê). Outros argumentam que o significado sacramentário do batismo é a realidade interior da graça divina, manifestada externamente nos sinais da água e da imposição de mãos. De acordo com o primeiro conceito, o sinal da água significa a de­cisão humana de ser purificado e anuncia a crença de que o Espírito está presente e ativo com poder para realizar essa santificação. De acordo com o segundo conceito, o sinal da água significa o ato divino da graça pelo qual Deus, por meio da morte e da ressurreição de Cristo, regenera os pecadores incorporando-os na comunidade redimida como novas criaturas.

O batismo do crente deve necessariamente exi­gir uma decisão responsável; portanto, geralmente é postergado até que o indivíduo chegue à idade da razão. O batismo sacramentário, desde que é con­siderado uma ação graciosa de Deus, é oferecido às crianças logo após o nascimento. Crê-se que o Espírito, como Senhor e Doador da vida, regenera a criança e a toma um membro vivo do Corpo de Cristo, a família de Deus. E sacramentário porque é visto pela fé e não empiricamente, crendo-se que inicia um processo de crescimento na graça que leva a nova criatura ao seu destino eterno.

Com base no ensino bíblico, o entendimento sacramentário do batismo declara que ocorrem três coisas com aquele que foi eleito em Cristo e foi chamado pelo Espírito: (1) ele morre com Cristo para o velho homem; (2) ressuscita com Cristo para tomar-se nova criatura; e (3) é incorporado na sua nova vida a uma comunidade viva, a qual aguarda a vinda do seu Senhor em glória, com base no penhor sacramentário que recebeu no batismo. Evidentemente existem outros penhores sacra­mentais, tais como o pão e o vinho da Eucaristia, que corroboram e dão substância à incorporação inicial do batismo.

BIBLIOGRAFIA. K. Barth, The Teaching o f the Church RegardingBatism (1948); O. Cullmann, Batism in the New Testament (1950); N. Clark, An Approach to the Theologs’ o f the Sacraments (1956); D. M. Baillie, The Theology o f the Sacraments (1957); J. Jeremias, Infant Baptism in the First Four Centuries (1960).

R. R R oth

BATISM O DO ESPÍRITO SANTO

1. Introdução. Atualmente, essa frase é algumas vezes utilizada no sentido de uma “se­gunda bênção”, um enchimento pelo Espírito Santo subseqüente à conversão e bem distinto dela, geralmente considerado uma experiência espiritual mais profunda, acompanhada de fenômenos espi­rituais como a glossolalia. Sem discutir o acerto ou o erro de tal conceito, parece mais apropriada a utilização da frase bíblica “cheio do Espírito San­to” para descrever tal experiência ou estado (At 2.4 etc.). O uso na Bíblia da frase “batismo do Espírito Santo” é mais geral e de certa forma diferente, como será visto pelo exame dos textos.

2. Origens da frase. Provavelmente devem ser procuradas primeiro nas palavras de João Batista aos seus discípulos, registrados em Lucas

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712 BATISMO PELOS MORTOS

3.16 e nas passagens paralelas. João contrasta for­temente o seu próprio rito preparatório do batismo com água, um simples sinal de arrependimento, e o batismo do Espírito, a ser dado por aquele que viria depois dele e que seria mais poderoso. De fato, o batismo com água era bem conhecido no primeiro século da era cristã. Os judeus tinham o costume de batizar os prosélitos. A Comunidade de Qumrã mostra quão difundidos e variados eram os rituais de purificação; posteriormente, seitas heréticas como os mandeanos, centralizadas ao redor do vale do Jordão, parecem ter continuado com muitas dessas práticas nos dias do Cristianismo. Mesmo à margem da Igreja, o simples “batismo de água” persistiu até os dias de Paulo, como pode ser visto no relato dos discípulos de Efeso que não tinham recebido o Espírito (At 19.1-7). Paulo considerouo caso deles tão incomum que os submeteu a novo batismo (uma prática não mencionada em nenhum outro lugar no NT), desta vez em nome de Jesus. Aparentemente, não considerou que fossem cristãos antes disso; as manifestações dos dons de línguas e de profecia que se seguiram parecem ter sido consideradas o início da sua fé cristã, e não um estágio posterior mais elevado.

Alguns críticos rejeitam todo o pronunciamen­to de João, como sendo uma “projeção retroati­va” ao fenômeno do Pentecostes, o qual incluiu “fogo” e o “Espírito” (At 2.3,4); isso, porém, é impossível, pois suas palavras são relatadas nos quatro evangelhos.

Uma vez que o batismo de Cristo é o padrão de todo o batismo cristão, não é surpresa que Lucas 3.21,22 mostre o “batismo do Espírito” se cum­prindo (sem dúvida num sentido muito especial) no caso do próprio Jesus, após o seu batismo na água pelas mãos de João. Este fato, vindo depois do testemunho de João, foi uma confirmação poderosa das suas palavras e deve ter causado profunda impressão em seus discípulos.

Se a primeira “origem” deve ser vista na pre­gação de João Batista e a segunda, na experiência de Jesus no seu batismo ou depois dele, então a terceira é o ensino específico do próprio Senhor Jesus. João 3.5 registra as palavras de Jesus aNi- codemos: “Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”. Tem havido muita discussão em tomo desse versículo,, para o que vejam-se comentários padrão; entretanto, a referência pa­rece ser ao batismo cristão em seus dois aspectos de sinal exterior e experiência implícita. O texto grego não parece indicar duas ocasiões separadas de “novo nascimento”; o único contraste é entre

“o que é nascido da came” e “o que é nascido do Espírito” (Jo 3.6).

3. Usos posteriores. São surpreendente­mente poucos. Fica claro, segundo Atos 1.5, que a promessa do “batismo do Espírito” devia se cumprir para os primeiros discípulos no Pente­costes. No relato daquele dia, porém, bem como nas ocasiões subseqüentes no NT, a frase usada é “cheios do Espírito Santo” (At 2.4, no Pentecostes; 9.17, na conversão de Paulo). Aparentemente, tratava-se de algo que podia ocorrer repetidamente com o mesmo grupo (cp. At 2.5; 4.8,31). Um exemplo claro da metáfora original encontra-se em1 Coríntios 12.13: “em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo”. Aqui Paulo, pelo fraseado, deve estar apelando para a experiência espiritual universal de todo cristão verdadeiro, e não a algo incomum pertencente a uma minoria. De outra forma, se fosse privado de sua aplicação geral, seu argumento seria inválido.

4. Conclusões. “Batismo com água”, portan­to, parece ser o batismo de João Batista, ou qualquer outro ritual de purificação. “Batismo com água e com o Espírito” parece ser propriamente o batismo cristão em seus dois níveis, não, naturalmente, em um sentido mecânico ou ritual. O “batismo com o Espírito” era considerado pela Igreja primitiva como o dom de Cristo, cumprido nos primeiros dis­cípulos no Dia de Pentecostes, e subseqüentemente a experiência inicial de todo cristão ílCo 12.13), no momento em que crê em Cristo (At 19.2; Rm8.9). “Cheio do Espírito”, por contraste, parece ser algo que pode ocorrer repetidamente.

BIBLIOGRAFIA. O. Cullman, Baptism in the NT (1950); G. W. H. Lampe, The Seal oftheSpirit (1951); G. S. Hendry, The Holy Spirit in Ckristian Theology (1957); J. D. G. Dunn, Baptism in the Holy Spirit (1970).

R. A. C ole

BATISMO PELOS MORTOS (gr oi ficmxiíó- H e v o t m è p tcú v vekpcov). “Doutra maneira, que farão os que se batizam por causa dos mortos? Se absolutamente os mortos não ressuscitam, por que se batizam por causa deles?” (ICo 15.29). Esta é uma famosa crux interpretum. As opiniões sobre o significado desse texto têm-se dividido deste os tempos primitivos, e deve haver poucos versículos nas Escrituras sobre os quais o coneito dos comentaristas modernos seja tão desconcer­tantemente diverso.

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BATO / BAURIM, BARUMITA, BAARUMITA 713

A. Conceitos d iverg entes. Podemos apresentar apenas uma seleção dos pontos de vista mais importantes:

1. Batismo vicário em favor daqueles que morrem sem ser batizados.

2. Batismo em favor dos mortos — para as­segurar a reunião com familiares cristãos depois da morte.

3. Batismo por causa dos mortos — em virtude do testemunho em vida dos cristãos que foram martirizados por causa da fé, fé que levou à con­versão e ao subseqüente batismo de outros.

4. Batismo em lugar dos mortos — para completar seu número e assim, talvez, apressar o Segundo Advento, completando um dos seus pré-requisitos.

5. Batismo sobre os mortos — sobre a sepultu­ra, para demonstrar solidariedade, se eram cristãos verdadeiros; se não eram, para envolvê-los na salvação por meio do rito.

6. Ablução cerimonial por causa da contami­nação pelo contato com um cadáver.

7. Oração pelos mortos, descrita figuradamente como batismo por eles, assim como “sacrifício” às vezes é usado como símbolo de oração no NT.

8. Morte pelos mortos: a morte de cristãos con­siderada redentora e capaz de assegurar a salvação para os mortos, e descrita como batismo porque este simboliza a morte.

9. Batismo para lavar os pecados mortais.10. Batismo para confessar a ressurreição

dos mortos, porque este simboliza morte e res­surreição.

11. Batismo para assegurar benefícios depois da morte, por causa do pensamento de que a morte apressou o ato do batismo.

B. Fatores im portantes para a in­terpretação da passagem . Os principais parecem ser os seguintes:

1. O contexto geral. O versículo deve ser rele­vante para um argumento em favor da ressurreição dos mortos.

2. A ligação de pensamento entre os w . 29 e 30. Trata-se de dois argumentos separados em favor da ressurreição ou duas partes do mesmo argumento.

3. A cocrência da interpretação com o pen­samento e a prática apostólica ou com alguma perversão destes.

4. Fatores gramaticais, dos quais o principal é o sentido de tmèp xcõv veKpcov (“por causa dos mortos”; “pelos mortos”, ARC). Por exemplo, o n4- 9 anterior exige um sentido dúbio tanto da preposição como do substantivo.

C. Conclusão. A questão pode ser tudo. me­nos fácil de se decidir. Muitas das interpretações anteriores são forçadas demais, especialmer.re na interpretação dos termos gregos. O n - 10 é popu­lar porque não apresenta problemas teologicos. embora seja gramaticalmente suspeito. O n- 2 teir. sido defendido com veemência, principalmente por Jeremias e Raeder; o n® 1, porém, continua parecendo o mais natural. A seita herética pós- apostólica dos marcionitas certamente praticava o batismo vicário, embora possivelmente em virtude de uma interpretação errônea desta passagem. Não parece provável que Paulo estivesse expressando aprovação a tal prática. Por um argumento ad hominem, ele busca mostrar a inconsistência da­queles que seguiam a prática, embora duvidassem da ressurreição ou a negassem. “E totalmente ilegí­timo supor que, pelo fato de Paulo não pronunciar condenação sobre um costume ao qual se refere, deve estar dando aprovação. Certamente esta é uma má interpretação da própria natureza de um argumentum ad hominem” (H. A. A. Kennedy, St.Paid and the Mystery Religions [1913], 253).

BIBLIOGRAFIA. F. Godet, First Corinthians, (1893), ad. loc.; T. C. Edwards, First Corinthians (1897), ad. loc.; J. A. Beet, First andSecond Corinthians (1902), ad. loc.; A. Robertson e A. Plummer, First Corinthians (1911), ad. loc.; H. Preisker, Die Vicariatstaufe in I Corinther 15:29(1924); B.M. Foschini, Those WhoAre Baptizedfor the Dead (I Co 15.29), (1951); F. W. Gro- sheide, First Corinthians (1953); M. Raeder, Vicariats­taufe in I Corinther 15.29", ZNW (1955); J. Jeremias, “Flesh and Blood cannot inherit the Kingdom of God”, NTS II (1955-1956), 151-159; W. F. Flemington, The NT Doctrine o f Batism (1957); G. R. Beasley-Murray, Baptism in the NT (1962); R. Schnackenburg, Baptism in the Thought ofSt. Paul (1964).

G. W. G rogan

BATO. Veja P e s o s e M e d id a s .

BATSUA. Forma de B a t e - s e b a na BJ, em 1 Crônicas 3.5

BAURIM. Forma de baarumita, ou barumita, usada pelaBJ em lCrônicas 11.33 e2 Samuel 23.31

BAURIM, BARUMITA, BAARUMITA (num; ’sm 3 em 2Sm 23.31; 'a n m , “baarumita” em

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714 BAVAI / BEATITUDES, AS

lCr 11.33). Povoado localizado no território de Benjamim, identificado com a modema Ras et- Tmim, a sudeste de ‘tsãwiyeh e a leste do monte das Oliveiras, no lado norte da estrada romana de Jericó para Jerusalém.

Foi aqui que Paltiel foi separado de sua esposa Mical, filha de Saul, quando esta foi devolvida a Davi com sua esposa por Abner (2Sm 3.16). Davi tomou esta estrada, passando por trás desse povo­ado quando fugia de Absalão (16.5). O povoado também era a residência de Simei, que correu ao longo da severa lançando pedras em Davi e amaldiçoando o rei (16.5; 19.16; lRs 2.8). Nesta cidade também havia homens leais a Davi, pois uma mulher anônima escondeu os espiões men­sageiros de Davi, Jônatas e Aimaás, num poço em Baurim (2Sm 17.18ss.). Além disso, Azmavete, um dos soldados de Davi, da elite dos “trinta” heróis militares, era natural desta cidade (23.31; lCr 11.33). Todas as referências à cidade estão relacionadas à história de Davi.

BIBLIOGRAFIA. A. Alt, PJB, 22 (1926), 30 and 25 (1929), 58; J. Simons, Geographical and Topographical Texts of OT(1959), 330.

W. C . K a is e r J r .

B AVAI ( :n) Levita, filho de Henadade. Foi um dos que ajudaram na reconstrução dos muros de Jerusalém, depois do exílio (Ne 3.18); chamado de Biimi no v. 24. Há evidência textual de que Bavai pode ser uma corrupção de B inui.

BAZAR (]’yn,fora). Nos países orientais, era um mercado ou uma rua destinada às lojas. Ben-Ha- dade, de Damasco, permitiu que Acabe mantivesse bazares em Damasco, como seu pai mantinha em Samaria (lRs 20.34). Veja B e n - H a d a d e .

BAZLUTE (rrtxn). Fundador de uma família de servidores do Templo, que estavam entre os que retomaram com Zorobabel a Jerusalém (Ed 2.52; lEsd 5.31); chamado Bazlite em Neemias 7.54. Não se pode determinar se o correto é Bazlute ou Bazlite.

BAZLUTE (n^sn). Fundador de uma família de servos do Templo, os quais estavam entre os ju­deus que retomaram a Jerusalém com Zorobabel (Ed 2.52; BJ, “Baslut”). Chamado de Bazlite em

Neemias 7.54. Não se pode determinar qual das duas formas é a correta.

BDELIO. Nome dado à resina aromática (cp. Nm11.7), de sabor acre, derivada da Commiphora. Trata-se de uma exsudação mucilaginosa, seme­lhante à mirra e às vezesencontrada como uma adulteração desta; era muito procurada pelos antigos (cp. Gn 2.12) para uso em perfume. Como uma verdadeira goma, relaciona-se ao açúcar e a carboidratos, sendo solúvel em água e insolúvel em líquidos orgânicos e, ao ser fervida, decompõe- se sem fusão.

D. R. B ow es

BEÃ, FILHO S DE. Tribo, desconhecida por outra forma, que Judas Macabeu baniu, porque emboscaram judeus (1 Macabeus 5.4,5).

BEALÍAS (rr^SD; LXX BaaXia; Yahweh é Se­nhor). Um dos guerreiros ambidestros, da tribo de Benjamim, que se uniram a Davi em Ziclague, em oposição ao rei Saul (lC r 12.5).

G. G. S wain

BEALOTE (m'7S?3; LXX A, BaA,co9, B, Ba^poa- vav; senhora,possuidores). Cidade localizada no extremo sul de Judá (Js 15.24). Parece ser a mesma cidade chamada de Baal (lC r 4.33), Baalate-Ber ou Ramá do Neguebe (Js 19.8), ou Ramote do Neguebe (ISm 30.27). Outro local, relacionado à tribo de Aser, é mencionado em 1 Reis 4.16.

G. G. S wain

BEATITUDES, AS. No início do seu ministério público, conforme o registro de Mateus, o Senhor Jesus proferiu o manifesto conhecido como Ser­mão do Monte. Nele, anunciou os princípios que governariam a vida dos cidadãos da nova ordem espiritual que ele viera inaugurar. Com certeza, o Reino de Deus é uma expressão de vasto âmbito, mas o resumo de Paulo (Rm 14.17) revelou sua natureza mais recôndida: “o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”. Portanto, qualquer que seja sua dimensão escatológica e cósmica, este reino representa a qualidade de vida que o indivíduo experimenta quando, crendo no Evangelho, sub­mete-se às regras do amor redentor. A passagem

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BEATITUDES, AS 715

0 tradicional Monte das Beatitudes (Hattin) © White

A Igreja Franciscana das Bem-aventuranças. © Consulado Geral de Israel

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716 BEATITUDES, AS

de abertura do manifesto (Mt 5.3-12; Lc 6.20-24) é uma série de declarações epigramáticas, as quais são ao mesmo tempo delineações e demandas, as assim chamadas beatitudes. Posicionada no prin­cípio da biografia singular elaborada por Mateus, esta passagem imediatamente deixa claro que um padrão de personalidade distinto, com um estilo de vida igualmente distinto, devem caracterizar os discípulos do Messias, que é também Mestre, visto que os indicativos aqui são implícitos e imperativos. Vários elementos dessas declarações epigramáticas requerem um breve comentário.

Primeiro, embora as Beatitudes sejam em um estilo surpreendente, vigoroso e poético, sem dúvi­da encontram paralelos no AT e no Talmude. Isso, porém, não diminui a originalidade de Jesus, de um ponto de vista puramente humano. Selecionar essas considerações dentre uma profusão literária— a maior parte dela, no caso do Talmude, sem significado espiritual — e mencioná-las em um ideal integrado, são evidências de uma criatividade não menor do que a de um gênio.

Segundo, a muito discutida estrutura desta passagem merece pelo menos uma rápida olhada. Alguns estudiosos argumentam que, na analogia do Decálogo. existem dez beatitudes; outros con­tam nove; outros ainda tentam reduzi-las a sete. Tomadas naturalmente, porém, elas aparecem em número de oito, com a última repetida para ênfase e mudando o pronome da terceira para a segunda pessoa. Tentativas habilidosas têm sido feitas para mostrar um desenvolvimento progressivo de pensamento, mas têm aparência artificial. Ao que parece, pouco pode ser asseverando legitimamen­te, exceto que essas beatitudes mostram o caráter de Cristo de várias perspectivas, enfatizando a retidão amorosa que a graça produz. Centralizan­do-se nesse tema — a retidão amorosa produzida pela graça — esses princípios de comportamento revelam as atitudes que idealmente estampam o discípulo como um não-conformista importuno. Enfatizam a necessidade da graça, ao enfatizar a falta de retidão do discípulo, sua insuficiência e fracasso, sua necessidade de buscar intensamente a retidão divina e de ativamente implementar essa retidão mesmo que venha a sofrer nas mãos de um mundo sem retidão. Para encontrar qualquer outra estrutura freqüentemente articulada nessa passa­gem, pode ser necessário recorrer a exegese.

Em terceiro lugar, é impressionante a extraor­dinária habilidade do Salvador no uso de intensos paradoxos. Levando as beatitudes adseriatum, ele fala sobre ricos pobres (v. 3), pranteadores felizes (v. 4), conquistadores não violentos (v. 5), santos

gulosos (v. 6), benfeitores que se enriquecem (v. 7), visionários realistas (v. 8), pacifistas militantes (v. 9) e perdedores que ganham (vv. 10-12). Assim, Cristo leva os indolentes e curiosos a reagir, seja pela reflexão séria ou ofendido retraimento. Cer­tamente o paradoxo é inerente à natureza do Reino de Deus, o qual, como Paul Bretcher destacou em seu livro, The World Upside Down or Right Side Up?, inverte toda a escala de ambições e virtudes seculares, exatamente como Nietzsche percebeu quando protestou contra a inversão de valores do Cristianismo. Num mundo pecaminoso, a verda­deira retidão é desprezada como sinal de fraqueza, covardia e burrice. No Reino de Deus, os padrões mundanos são virados de pernas para o ar e as normas divinas de retidão são gloriosamente vistas em toda a sua exatidão. Assim, como Bretcher as resume, as beatitudes ensinam dignidade, alegria, segurança, ambição, justiça, sabedoria, paz e con­formidade, tudo de “cabeça para baixo”, a partir da perspectiva do mundo sem retidão; e de “cabeça para cima”, a partir da perspectiva divina.

O Senhor oferece uma solução radical para o velho problema do summiim bonum, questão que intriga os filósofos desde os tempos de Platão. Qual é o bem supremo da vida e como obtê-lo? Como alguém se toma um beatuspossidens de qualquer que seja o valor mais elevado? Jesus afirma que o summum bonum é um relacionamento correto com Deus e com o próximo. Esse relacionamento correto, ele declara, traz uma experiência de bea- titude, uma felicidade perene independentemente das circunstâncias, uma profunda alegria da alma, a qual é uma amostra do céu, que a fé contempla. O Senhor assegura à humanidade que, quando o indivíduo se relaciona corretamente com Deus, compartilha algo do caráter e da felicidade divinos mencionados na frase de Paulo “a glória do Deus bendito” (lTm 1.11). Com autoridade divina, Jesus Cristo apresenta o que não pode ser encontrado em qualquer lugar: o segredo do summum bonum, aquela pedra filosofal que transforma a escória da simples existência no ouro da beatitude, agora e eternamente. Seus discípulos obedientes recebem a promessa, em grau superlativo, daquela felicidade esboçada no Salmo 1.

Voltando-nos, então, para esses notáveis para­doxos, note no v. 3 a beatitude vinculada de forma inseparável à pobreza de espírito. A penúria em si claramente não é causa de congratulação, embora Jesus com freqüência se identificasse com os po­bres de sua época, opondo-se aos ricos. Nem está a bênção relacionada àquele indistinto abatimento que provém de falta de energia e de entusiasmo, ao

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BEATITUDES, AS 717

tédio, à depressão morosa e culpada, e à perda de vitalidade. A pobreza à qual o Salvador se refere é uma consciência da derrocada espiritual, um senso esmagador de destituição de qualquer pretensão de retidão. É a confissão de que, à parte da perfeita generosidade de Deus, o indivíduo é indigno, sem nada a seu favor. É aquela pobreza mencionada por Isaías: “o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito, e que treme da minha palavra” (66.2b). É exatamente o oposto daquela superioridade ilusória afirmada pela igreja de Loa- dicéia: “dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3.17). Motivado, portanto, a suplicar a Deus o exercício soberano da sua inexaurível misericórdia (Tt 3.5), o pedinte que admite sua penúria espiritual entra aqui e agora naquela comunhão todo-enriquecedora com o Pai, que é a alegria mais profunda do Reino.

Semelhantemente, a segunda beatitude, no v.4, tem um significado especificamente espiritual, e não generalizado e inclusivo. O choro que Jesus menciona não é a dor da privação, nem a tristeza das memórias nostálgicas e das oportunidades perdidas. Não é o remorso doloroso do trans­gressor da lei diante da merecida punição por sua transgressão. Não é, nas palavras do apóstolo Paulo, “a tristeza do mundo”. Pelo contrário, é “a tristeza segundo Deus [que] produz arrependimen­to para a salvação [e] que a ninguém traz pesar” (2Co 7.10). E o choro do pecador que confessa a culpa, consciente de sua desobediência e maldade e da hediondez de sua rebelião contra Deus, e a total malignidade de seus motivos (Lc 18.13). E esse choro que, de forma não intencional, porém inevitável, traz o perdão e a paz de coração, o conforto da reconciliação quando Deus recebe o filho pródigo de volta à alegria da casa paterna (Lc 4.18; 15.1-24).

A terceira beatitude (v. 5) está sujeita a más interpretações porque, sendo um paradoxo sur­preendente, funde um elogio à não-agressão com a garantia de que o indivíduo não assertivo ganha aquilo que a pessoa agressiva afinal perde. A princípio, pode parecer que o Senhor está advo­gando a fraqueza da covardia. Na verdade, porém, ele insiste que seu próprio exemplo de coragem seja seguido (Mt 11.29). Brandura não é sinal de fraqueza covarde. Considere a força exigida pela última beatitude: não-conformistas apaixonados, odiados ao ponto do martírio, devem possuir convicção inabalável, coragem audaz e notável autocontrole. Considere também a poderosa figura de Moisés, paradigma da mansidão (Nm 12.3).

Esse traço, portanto, na verdade é aque'i gentileza disciplinada central ao conceito do cavalheiro, cuja varonilidade integra virilidade e cortesia, energia bem canalizada e humildade segura de si mesma. Renunciando à força, dominação, ira, violência e vingança (Ef 5.21), o discípulo em mansidão não impõe suas reivindicações, nem luta por seus próprios interesses. Ligado a Deus em submissão e dependência, segurança e contentamento (Mt 6.25-34), no final ele obtém o máximo da vida. Antecipando o céu, aproveita plenamente a terra (lTm 6.17; cp. SI 37.11).

A quarta beatitude (v. 6) focaliza o anseio insa­ciável e o descontentamento apaixonado do cristão que almeja ver a justiça de Deus governando tanto a sua vida pessoal como o mundo todo. Sua ambi­ção consumidora é expressa na oração: “Venha o teu reino” (Mt 6.10). O desejo consumidor de ver a vida humana sendo marcada pela conformidade à vontade divina, um amor santo que reflita infinita piedade e pureza — essa é a fome deleitável e a sede deliciosa que o discípulo experimenta. Ao mesmo tempo, experimenta também a indescrití­vel satisfação procedente da realidade da justiça de Deus, que ele já possui pela fé. Além disso, ele se sente satisfeito com a promessa bíblica de que algum dia a terra será cheia da justiça de Deus, como as águas cobrem o mar. Insatisfeito, embora satisfeito, o discípulo continua ansiando o reino total e triunfante da justiça, pessoalmente e globalmente.

A quinta beatitude (v. 7) assegura ao cristão que o misericordioso alcançará misericórdia. Esse princípio da reciprocidade: “Dai, e dar- se-vos-á” (Lc 6.38) — só que quando Deus é o Doador, a retribuição é imensamente multiplicada!— emerge novamente no pedido: “perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (Mt 6.12). Nosso Senhor, portanto, lembra seus seguidores que, assim comoo perdão de Deus os capacita a exercitar o perdão, a misericórdia de Deus capacita pecadores — que muitas vezes são vingativos de coração duro — a exercitar a misericórdia. Confiam num amor que abnegadamente satisfaz as demandas da justiça e então vai infinitamente além dos limites da justiça humana. Ao experimentarem misericórdia, tor­nam-se agentes da misericórdia. Esquecendo seus próprios direitos, não insistem inflexivelmente no olho por olho, dente por dente. Não olham para os inferiores com um ar de condescendente supe­rioridade moral. A cruz. proíbe qualquer orgulho por justiça pessoal. Livres do legalismo farisaico (Mt 23.23), com generosidade e compaixão,

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718 BEBAI

sem expectativa de retomo, os discípulos do NT obedecem à norma do AT, “o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus” (Mq 6.8). Ao exercitarem a misericórdia, eles continuam sendo receptáculos maravilhados e gratos da misericórdia.

A visão de Deus prometida na sexta beatitude (v. 8) está condicionada à pureza de coração. Uma vez que o Senhor faz alusão explícita a uma condi­ção interna, a mera limpeza física ou litúrgica não qualifica o indivíduo para essa comunhão face a face com o Pai, a qual será o mais puro êxtase de eternidade (ICo 13.12; Ap 22.4). Evidentemente pensando no Salmo 24.4, Jesus está ensinando a necessidade de uma devoção integral e infle­xível, um propósito singelo e único ou, na frase memorável de Kierkegaard, “Pureza de coração é ter apenas uma vontade” — ou seja, a vontade de Deus (cp., por exemplo, Gn 20.5,6; SI 73.1;1 Tm 1.5). Embora esta motivação incontaminada, este propósito inabalável (que sempre pressupõe o perdão e a graça capacitadora) seja o sitie qua non da visão beatífica no futuro, é também fonte de discernimento na vida presente. Desprezado pelo mundo realista como um sonhador que “corre atrás do vento”, o cristão na verdade tem uma visão penetrante da realidade, a qual o não-cristão rea­lista, com toda sua ciência e filosofia, não alcança. Ele vislumbra as obras e propósitos do amor na natureza e na história. Contempla a Deus onde a incredulidade não detecta nada além de processos impessoais e interações humanas (Hb 11.27).

A sétima beatitude (v. 9), ainda mais aguda que a quinta, mostra que discipulado não é apenas uma questão de piedade passiva, um cultivo ascético da própria alma num tipo de isolamento monástico do mundo mau. A sétima beatitude desvenda as repercussões sociais do discipulado, quando os cidadãos do reino batalham com energia pela paz. Abençoados com a paz de Deus, funcionam como agentes catalisadores do perdão e da reconciliação (Tg 3.17). Num mundo que gira em tomo do di­nheiro, política e guerras, os discípulos exercem o papel de promotores da paz em todas as esferas da vida, sem excluir o cenário internacional (Hb12.14). Desempenhando este papel, deparam-se com más interpretações e frustrações (Rm 12.18), mas, rejeitados por um mundo violento, são honrados pelo Deus da paz como seus filhos (Lc 10.6; Hb 13.20).

A última beatitude (w. 10-12) aparentemente é repetida visando à ênfase. Ao repetí-la, o Senhor reformula a frase, mudando o pronome da terceira

para a segunda pessoa, indicando assim que os discípulos devem aplicar todas as beatitudes a si próprios. Conhecendo a reação do mundo ao ideal por ele projetado, Jesus trata de desfazer qualquer ilusão que seus seguidores possam ter com relação ao sucesso que os aguarda. Por natureza, o ser hu­mano anseia por aceitação, aprovação, segurança e status. As atitudes e ações que o Salvador vinha inculcando podem parecer assegurar, se não um elogio cordial, pelo menos uma tolerância indife­rente. Quando aplicados, esses ideais contradizem e desafiam os ideais apreciados pelo mundo, de modo que os discípulos não devem esperar elogios e aplausos. Pelo contrário, precisam ser fortale­cidos para enfrentar ódio, todo tipo de calúnia, oposição incansável e às vezes compartilhar o destino dos profetas martirizados por defender a justiça (ICo 4.13); mesmo assim, novamente surge o paradoxo. Aflição não merecida deve ser fonte de júbilo, de alegria exuberante. Aflição não merecida significará que os discípulos sofredores pertencem à linhagem espiritual de todas as épocas (Hb 11.32,40). Eles podem esperar receber, na eternidade, uma recompensa compatível com seu sacrifício (2Co 4.8,18).

“A intimidade do Senhor”, então, exatamente como Davi afirma, é para aqueles crentes que aceitam seu govemo e se submetem às suas leis (SI 25.14; cp. toda a passagem). O segredo da be­atitude não é um mistério esotérico. E proclamado abertamente por Jesus no princípio deste manifesto real. Há uma qualidade de experiência, um tipo de vida que pode ser alcançado quando o indivíduo toma seu jugo e humildemente se toma discípulo do Mestre (Mt 11.29). Veja B e m -A v e n t u r a n ç a .

BIBLIOGRAFIA. R. C.Trench,Exposition o f the Ser­mon on the Mount (1886); R. C. H. Lenski, Interpretation o f St. Matthew sGospel (1943); F. A. Frndlay, TheRealism o f Jesus (s.d.); W. R. Nicoll (org.), The Expositor V Greek Testament, vol. 1 (s.d.), D. M. Lloyd-Jones, Studies in the Sermon o f the Mount, vol. 1 (s.d.); A. W. Pink, An expo- sition o f the Sermon on the Mount (1950); H. Windisch, The Meaning o f the Sermon on the Mount (1951), S. M. Gilmour, tr.; E. T. Thompson, The Sermon on the Mount and its Meaning fo r Today (1953); P. G. Bretscher, The World Upside Down or Right Side Up? (1964).

V. C. G r o u nds

BEBAI (’:n; Be(3al, paternal). 1. Família israe­lita cujos membros retomaram a Jerusalém com Esdras (Ed 2.11; 8.11; 10.28; Ne 7.16; 10.15; 1 Esdras 5.13; 8.37; 9.29).

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BEBEDOR DE VINHO (BEBERRÃO) / BEEMOTE 719

2. Cidade não identificada cujos habitantes perseguiram as forças assírias em fuga depois da morte de Holofernes (Jud 15.4).

BEBEDOR DE V IN H O (BEBERRÃO ). Veja E m b r ia g u e z ; V in h o e B e b id a F o r t e .

BEBEDOUROS (am). Palavra encontrada so­mente em Gênesis 30.38,41, (V. 41, ARA, “canais de água”), onde os rebanhos de Jacó vieram beber, e em Êxodo 2.16.

B EBID A FORTE. Veja V in h o f B e b id a F o r t e .

BEBIDA, BEBER. (nnc; npB’; níveo). Tradução de diversos termos hebraicos e gregos nas Escrituras da seguinte maneira: (1) no sentido comum da ingestão de fluidos tais como água, vinho, suco de uva, leite, vinagre, etc., mas mesmo isto deve ser feito para a glória de Deus (ICo 10.31); (2) expressão espiritual simbólica da fé de alguém em Deus (Is 32.6; Jo 6.54,55; 7.37; ICo 10.4); (3) no sentido simbólico, de Cristo aceitar a vontade de Deus (Jo 18.11) e da participação dos discípulos nos sofrimentos de Cristo (Mt 20.22,23); (4) meio pelo qual os cristãos participam do sacramento da Mesa do Senhor (Mt 26.27; ICo 10.21; 11.25);(5) “dar de beber” como indicação do amor e compaixão cristã (Mt 25.35-46); (6) símbolo do receber o julgamento e ira de Deus (Jó 21.20; SI 75.8; Ap 14.10); (7) símbolo da participação dos pecadores em todos os tipos de males e práticas malignas ÍJó 15.16; Pv 4.17; 26.6); (8) “beber o sangue”, como símbolo da matança sangrenta dos inimigos de alguém (Ez 39.18); (9) usado também para descrever o processo pelo qual a chuva rega a terra (Hb 6.7).

J. B. S c o t i

BEC BECIAS. Forma de Bacbuquias, na BJ, em Neemias 11.17; 12.9,25.

BECA. Veja P e s o s e M e d id a s .

BECORATE (m i3 3 ; LXX Bcc%ip; primogênito). Homem da tribo de Benjamim, ancestral do rei Saul (ISm 9.1).

BECTILET (BaiKDEiAaíG). Planície rã > idsafií- cada situada em algum ponto entre Nínive e o norte da Cilícia (Jud 2.21) . Holofernes é citad,' ^otno tendo chegado ali depois de uma marcha de três dias desde Nínive. O local é descrito como send “próximo da montanha ao norte da Alta Cilícia". Dali, Holofernes atacou e saqueou povos que viviam na região. Entre os lugares citados como possíveis localizações, está Bactiali dos Tabletes Peutinger, a c. 33 km de Antioquia.

S. B ara bas

B ED Ã (]73; LXX BocSav; significado incerto). Filho de Ulão, descendente de Manassés (lC r 7.17). O nome ocorre também no texto hebraico de 1 Samuel 12.11 mg., numa lista de juizes; este juiz, porém, não é conhecido de nenhuma outra fonte, e geralmente se segue a leitura da LXX e Peshita, que traz Baraque (q.v.). Outros o interpre­tam como uma forma abreviada de Abdom (q.v.), filho de Hilel, que julgou Israel por oito anos em Piratom (Jz 12.13).

G. G. S waim

BEDAD E (773, sozinho). Rei edomita, pai de Hadade (Gn 36.35; lCr 1.46). É citado como tendo reinado antes de se estabelecer a monarquia em Israel.

BEDIAS (n ’73). Filho de Bani que desistiu da sua esposa estrangeira, no tempo de Esdras (Ed 10.35).

B E E L IA D A (srr'‘7y3, sabe). Filho de Davi, nascido em Jerusalém (lC r 14.7). O nome foi mudado para Eliada (“Deus sabe”) quando o nome Baal se tomou detestável em virtude de sua associação com a idolatria (2Sm 5.16; lCr 3.8).

BEEMOTE (mam, hipopótamo). Palavra hebraica mais comum, traduzida por beast (“besta, animal”) nas VSS em inglês; na ARA, varia entre “animais selváticos”, “animais”, “gado”. Essa forma plural ocorre nove vezes no AT e em todas, exceto uma, é traduzida em inglês por “beast” ou “beasts”. A exceção é em Jó 40.15, onde o contexto sugere claramente que se trata de um animal específico; por isso, a ARA traduz “hipopótamo”; a ARC prefere a transliteração, “beemote”. Alguns espe­

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720 BEER / BEEROTE, BEEROTITA

cialistas em hebraico consideram que o plural é empregado aqui para causar um efeito superlativo e muitos comentaristas concordam com a ARA. O zoólogo e especialista em hebraico Bodenhei- mer discorda, considerando a palavra como uma expressão geral também neste texto, e trata desta discussão em seu comentário de Jó de Tur, Sinai. A passagem é claramente figurativa e os únicos pontos que parecem claros é que se trata de um animal aquático, poderoso (v. 23) e que come grama (v. 15). Também, existem antigos registros de caçadas a hipopótamos com arpões e ganchos farpados (Diodorus Siculus 37.35). Certamente este animal era conhecido nos tempos bíblicos, especialmente no Egito, onde seu número foi drasticamente reduzido pelos romanos por causa dos danos que causava às lavouras, embora tenha desaparecido totalmente somente no século 12 d.C. O hipopótamo vivia nos rios da região mediterrâ­nea oriental, na era paleolítica, mas desapareceu em grande medida quando o clima se tomou mais seco e mais frio: há evidências de que viveu no rio Orontes (Síria) por volta de 1.500 a.C. Embora seu nome signifique "cavalo do rio”, o hipopótamo é parente mais próximo do porco, dos animais de casco fendido. Portanto, tecnicamente, seu casco é fendido, mas não é de fato ruminante; entretanto, possui um estômago complexo, dividido em três compartimentos, próprio para as grandes quanti­dades de plantas pouco digeríveis que costuma comer. Veja B e st a .

BIBLIOGRAFIA. J. A. Wood, Bible Animais (1869), 318-330: F. S. Bodenheimer. Animais and Man in Bible lands (1960).

G. S. C a n sd a le

BEER(hk2 : LXX <J>peap: e (kxuíp; p o ço , cisterna , geralmente feitos pelo homem).

1. Local de parada dos israelitas durante a peregrinação, provavelmente ao norte do rio Arnom, em Moabe (Nm 2 1 .1 6 ) . Ali, Yahweh providenciou água para o povo e este entoou um cântico de júbilo. Este local se situava numa região desértica, aparentemente não distante de Matana. O Beer-Elim mencionado em Isaías 15.8 pode ser o mesmo lugar. O sítio não foi identificado.

2. Local para onde Jotão fugiu depois de pro­ferir uma parábola denunciando a violência de seu irmão Abimeleque na tomada do poder (Jz 9 .21). Provavelmente próximo ao monte Gerizim. O sítio não foi identificado.

H. G. A n dersen

BEERA. 1. (íONn; LXX Bapi; o poço). Guerreiro chefe da tribo de Aser (lC r 7.37). 2. (mí<n; LXX Bsripa; um poço). Chefe da tribo de Rúben, le­vado ao exílio por Tiglate-Pileser, rei da Assíria (lC r 5.6).

BEER-ELIM (lT7’í\ k o ; LXX xov eDpéatoç xou AiXi(i; poço dos terebintos). Cidade de Moabe (Is 15.8); talvez seja a mesma Beer de Números 21.16-18.

BEERI (nsn). 1. Heteu, pai de Judite, uma das esposas de Esaú (Gn 26.34).

2. Pai do profeta Oséias (Os 1.1).

BEER-LAAI-ROI (’ín ’iT7 1X2, “ O p o ço D aquele que vive e me vê”, ou o poço chamado “Aquele que me vê, vive”).

Poço localizado “entre Cades e Berede” (Gn16.14), “no caminho de Sur” (Gn 16.7); foi o local onde o anjo do Senhor apareceu à escrava egípcia Hagar, quando esta fugia. Posteriormente esse local no Neguebe foi visitado por Isaque (Gn 24.62; 25.11). De acordo com George Adam Smith (HGHL,p. 192, n. 10), Rowlands localizouo poço a cerca de 20 km a noroeste de Ain Kadis, em Ain el-Muweileh, que ele diz ser pronunciado pelos árabes como M oilahhi, podendo, portanto, ser M a-lehayi rai, isto é, “água daquele que vive e vê” (PEFQ [1884], p. 177).

W. C. K a is e r J r .

BEEROTE, BEEROTITA (nmfa, poços; vniia). Uma das quatro cidades envolvidas no tratado gibe- onita (Js 9.17), que essa confederação de heteus ob­teve de Josué por meio de engodo. Posteriormente, essa cidade foi incorporada como uma das cidades da tribo de Benjamim (18.25; 2Sm 4.2). Depois do Exílio, foi repovoada (Ed 2.25; Ne 7.29).

Em 2 Samuel 4, há o relato sobre os dois filhos de Rimom, o beerotita, chamados Baaná e Reca- be. Os dois irmãos, capitães de Is-bosete, filho de Saul, foram responsáveis pelo assassinato de Is-Bosete, enquanto dormia. Em algum momento nesse período, os beerotitas fugiram para Gitaim, aparentemente em virtude da ameaça dos filisteus (2Sm 4.3).

Um dos “trinta” de Davi, a elite militar de Israel, era de Beerote. Seu nome era Naari e era escudeiro de Joabe (2Sm 23.37; lCr 11.39).

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BEEROTE BENE-JAACÃ / BEIJO 721

A localização exata do sítio é incerta. Alguns a identificam com a modema el-BTreh, a c. 13 km ao norte de Jerusalém, mas este nome não aparece em nenhum documento literário anterior à Idade Média. Eusébio, em sua obra Onomasticon, situa-a em Gibeom, mas Gibeom aí pode ter duas inter­pretações: Gibeom=el-gIb ou Gibeom=el-bIreh (ou outro local próximo). Mesmo a descoberta de vários vasos de mão em el-gíb, nos quais estava gravado onome de Gibeom (BA19 [1956], 70) não foi convincente o bastante, pois os jarros traziam inscritos os locais onde foram manufaturados e onde seriam utilizados. Outras sugestões incluem Tell en-Nasbeh, Nebi Samwil e el-gib.

BIBLIOGRAFIA. C. C. McCown, Excavations at Tell en-Nasbeh (1947), 23-59; J. Simons, Geogi-aphical and Topographical Texts o f OT (1959), 175, 176.

W. C. K aiser J r .

BEEROTE BENE-JAACÃ (ipy’ nnsn; LXX |3r|pco0 u ícdv IaK|ip.; poços dos filhos de Jaacà). Um dos locais de parada dos filhos de Israel, du­rante a peregrinação pelo deserto, perto da frontei­

ra de Edom. Foi a última parada antes de Mosera (Dt 10.6). O nome é abreviado para Bene-Jaacã e é mencionado como sendo depois de Moserote em Números 33.31. O sítio geralmente é identificado com a modema Birein.

BEESTERÁ (nm^sn, em Astarte). Uma das ci­dades que aparecem na lista das cidades levíticas de Josué 21.27, localizada a leste do Jordão, em Manassés. Apassagem paralela de 1 Crônicas 6.71 traz “Astarote”. A pronúncia em Josué 21.27 é uma contração ou erro do copista, de Bete-Aserá (“casa de Astarote”).

BEGUAI. Forma usada para B ig u a i pela BJ em Esdras 2.14; 8.14; Neemias 7.19, et al.

BEIJO (piff:; LXX e NT Kon;a<|>iX.éco;<|>iÀ.éü); cf>íA,r||j.cx). Como substantivo, “beijo” significa “um toque” ou “um carinho com os lá­bios” (nos lábios, bochecha, barba, mãos ou pés de outra pessoa) em sinal de afeição, saudação ou reverência; como verbo, significa “tocar ou pressionar com os lábios”.

1. Nãshaq (verbo) “beijo”, “toque” (assírio na- sâku; a palavra siríaca para “beijo” originariamen- te talvez significasse “cheiro”, mas, o equivalente árabe significa “unir”, “por em ordem”). Ezequiel usou nãshaq figuradamente para descrever as asas dos querubins “gentilmente tocando”, “beijando” uma a outra (3.13; SI 85.10). Esse verbo Heb. ocorre (provavelmente com duas variações de significado, a saber, osculari e se amare) trinta e sete vezes no AT.

2. N^shíãh (s.f.) “beijo”, apenas duas ve­zes no AT (Pv 27.6; Ct 1.2) e ambas no plural construto.

3. Kataphíléõ (verbo) “beijar”; “beijar muito”; “beijar repetidamente”; “beijar ternamente”. Essa palavra aparece em Plutarco e Josefo; vinte vezes na LXX e seis vezes no NT. Os escritores inspira­dos empregam-na para descrever (1) a pecadora beijando os pés de Jesus (Lc 7.38; cp. Is 49.23);(2) o pai agradecido beijando seu filho pródigo (Lc 15.20) e (3) Judas beijando Cristo (Mt 26.49; Mc 14.45; cp. 2Sm 20.9).

4. Philéõ (verbo) “amar”, “ter afeição por”, “gostar”; ou “beijar” como uma indicação especial de amor. (LXX para três palavras Heb.). Esse verbo ocorre em Homero, Esquilo, Heródoto, Xenofonte, Píndaro, Sófocles, Eurípedes, Platão, Aristóteles,

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722 BEL

Plutarco, Joséfo e Oracula Sibilina; ela aparece trinta vezes na LXX e vinte e cinco no NT.

5. Phílêma (substantivo neutro) "um beijo”. Essa palavra tem sido usada desde Esquilo. Ela aparece em Filo e Josefo; duas vezes na LXX (Pv 27.6; Ct 1.2) e sete vezes no NT.

O “beijo” é comum no oriente desde os tempos dos patriarcas, como um gesto de afeição prática ou homenagem. Era dado na bochecha et cetera, mas raramente nos lábios. O beijo romântico de amantes (Ct 1.2; 8.1) e o beijo de sedução das prostitutas (Pv 7.13) são raros nas Escrituras. Ha­bitualmente um membro da família beijava outro, por exemplo: (1) um filho a seu pai (Gn 27.26,27; 50.1), ou o pai e a mãe (lRs 19.20), ou o sogro (Êx 18.7); (2) um pai a seu filho (2Sm 14.33), seus filhos (Gn 31.28,55), ou netos (Gn 48.10); (3) um homem a seu irmão (Gn 33.4; 45.15); (Êx 4.27), seu primo (Gn 29.11), seu sobrinho (Gn 29.13), ou amigo (1 Sm 20.41); (4) uma mulher à sua nora (Rute 1.9). Entre os árabes ainda hoje as esposas e filhos beijam os maridos e pais na barba; e eles o retribuem na testa.

Beijar para mostrar saudação afetuosa era prá­tica entre indivíduos do mesmo sexo (Gn 29.13; 33.4; 45.15; Êx 4.27; 18.7); em grau limitado entre os do sexo oposto (Gn 29.11). Era também um sinal de despedida tanto em vida (Gn 31.28,55; Rt 1.14; lRs 19.20; At 20.37) como na proximidade da morte (Gn 50.1). Algumas vezes um beijo foi o prelúdio de uma benção solene (Gn 27.26,27; 31.55; 2Sm 19.39).

Havia também o beijo cerimonial, por exemplo, Samuel beijou Saul quando o ungiu (ISm 10.1). Beijar era usado para mostrar respeito por ídolos (lRs 19.18: Jó 31.26,27; Os 13.2); e até o chão foi beijado para indicar total submissão ao rei (ISm 24.8).

Ninguém ouse supor nuances amorosas nos relatos de Davi beijando Jònatas (ISm 20.41) ou Barzilai (2Sm 19.39). Absalão beijou pessoas hipocritamente (15.5; cp. Pv 27.6); Joabe beijou Amasa traiçoeiramente (2Sm 20.9); mas Noemi beijou Orfa e Rute com sinceridade (Rt 1.9). Um pensamento poético, que sobreviveu do período rabínico, é que Moisés morreu com o beijo de Deus sobre seus lábios (Midrash Deut. Rabbah, 11).

Raquel chorou quando beijou Tobias (Tb 7:7); mais tarde ele e sua esposa beijaram sua filha em despedida (10.12). Em Eclesiásticos 29.5, beijar a mão podia ser o gesto de um mendigo de se agachar demonstrando submissão.

Os cristãos primitivos adotaram o ósculo santo (ou beijo de amor) como saudação amigável (Rm

16.16; e ICo 16.20; 2Co 13.12; lTs 5.26; lPe 5.14; cp. Lc 7.45). Era um elo sagrado que unia o corpo de Cristo e era indubitavelmente trocado por membros tanto do mesmo sexo (cp. Apostolic Cons- titutions ii,57.12) como do outro (veja St. Ambrose, Hexaem VI, ix, 68; Tertullian, Ad Uxor ii, 4).

É difícil estabelecer a ligação entre o (1) beijo de amor, e o litúrgico (2) beijo de paz. Este últi­mo tinha um lugar estabelecido no culto público depois da metade do segundo século: ( 1) neófitos eram beijados após o batismo; (2) penitentes, quando eram reconciliados (cp. Lc 15.20); (3) candidatos à ordenação; (4) e até os mortos. Era praticado mais extensamente durante a celebração da Eucaristia. Beijar os mortos foi proibido pelo Concilio de Auxerre (578 a.C.) talvez levando em conta o abuso predominante de colocar a hóstia na boca do defunto, ou enterrá-la com ele.

O beijo de paz foi observado no Ocidente até o final da Idade Média. Aparentemente ele foi abolido mais cedo no Oriente. Tanto no Oriente como no Ocidente esse costume foi substituído por beijar o altar, etc. Aprática de beijar relíquias no Ocidente talvez date da época do Bispo Walter de York (1250 d. C.)

BIBILOGRAFIA. B.B. Warfield, “The Terminology of Love in the NT”, XVI, PTR(1918). Iss.; 153ss.; W. Shakespeare. Henry The Fifth (1942), V. ii. 270-306; J. Smith e R. Lee. Handfuls On Purpose, XII (1947), 242; J. Calvin, Commentaiy on a Harmony o f the Evangehsts, III (1949), 241; W. G. Scroggie, ThePsalms, IV (1951), 198; F. H. Wight, Manners and Customs o f BiblieLands (c.1953), 74; M. Luther, Selected Psalms I, Vol. XII em Works (zA955). 83,89.

R. E. P erry

BEL 073, cognato do termo semita ocidental Baal, que significa senhor ou possuidor). O termo su- mério equivalente a Bel era En, um título de Enlil, o deus do vento e da tempestade, uma das tríades originais das deidades sumérias. Com o cresci­mento da supremacia da Babilônia, sua divindade principal, Marduque (Merodaque do AT), assumiu os atributos de Enlil e foi-lhe dado Bel como um título honorífico, o qual gradualmente se sobrepôs a Marduque no uso ordinário. No AT, além de ser usado na formação de nomes próprios, Merodaque é encontrado apenas em Jeremias 50.2, mas Bel é usado em Isaías 46.1; Jeremias 50.2; 51.44; nos apócrifos Bel e Epístola de Jeremias 6.41, e como componente do nome de Belsazar.

H. L. E lliso n

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BEL E O DRAGÃO 723

BEL E O DRAGÃO (SpáKCüv, dragão, serpente). A terceira das adições do livro de Daniel, que apa­rece no texto grego, embora não sejam encontradas no hebraico. As outras duas são o Cântico das Três Crianças e Suzana. Todos foram reconhecidos como canônicos pelo Concilio de Trento, conside­rados parte integral do texto de Daniel. Orígenes defendia essas adições como Escrituras, susten­tando que os judeus as tinham deliberadamente removido de seus próprios textos.

Nome. Nos códices gregos, Bel está no final do livro canônico de Daniel e não possui um titulo distinto. Entretanto, nos Códices Ae B de Teódoto, tem o título “Visão 12”, e faz parte da visão final (123) de Daniel. Na Vulgata Latina, aparece como capítulo 14, mas não tem nenhum cabeçalho. Na LXX segue Suzana e recebe o título “Da profecia de Habacuque, filho de Jesus, da tribo de Levi”. Não há dúvida de que se refere ao profeta Haba­cuque da Bíblia. Na Peshita, a história de Bel é precedida por “Bel, o ídolo”, e o Dragão por “En­tão segue o Dragão”. Todas as versões protestantes usam o título “Bel e o Dragão", mas separam este material dos livros canônicos.

Textos. (1) Grego. O texto grego foi preser­vado em duas edições básicas: (a) O texto da LXX sobreviveu em apenas um MS original, o Códice Chisianus (ou Cristiano; nome derivado da família Chigi, que o possuía), o manuscrito cursivo do 9- séc. (b) O texto de Teódoto é encontrado em diversos MSS, e os mais importantes são B, A, Q, T (vv. 2-4) e A (vv. 21-41).

(2) Sírio. Há um MS do 8S séc. da versão feita por Paulo de Telia em 617, a partir da Hexapla de Oríge­nes (col. 6). No geral, concorda com a LXX.

Versões. (1) Grego, (a) A LXX. Somente o Códice Chisianus, mencionado anteriormente, preserva este texto, (b) Teódoto. Provavelmente, trata-se de uma revisão da LXX. E uma tradução muito melhor do que a LXX, mas há ocasiões em que as palavras hebraicas são transliteradas em vez de traduzidas. Isso parece indicar a consulta de um original hebraico durante o processo de revisão. A Igreja cristã descartou a LXX Alexan­drina em favor da Teódoto e, em virtude de sua anterior falta de popularidade, essa desapareceu quase por completo. A razão por trás da rejeição da LXX não é definida, embora se acredite que os cristãos fizeram objeção a erros de tradução e ao que consideraram um entendimento errôneo do texto hebraico da LXX, em passagens como Daniel

9.24-27. Teódoto preparou seu texto no período de 100-130 d.C., e “Bel e o Dragão” fazia parte desse texto. Aprimeira edição da VS Alexandrina, publicada antes do ano 100 a.C., ao que parece também continha essas histórias.

(2) Síria. Existem duas VSS Síriacas: (a) a Siro-Hexapla, tomada de Orígenes, e (b i a VS Peshita, que às vezes segue Teódoto contra a LXX. às vezes concorda com a LXX contra Teódoto e. outras vezes, diverge de ambos os textos.

(3) Latim, (a) A VS Latina Antiga, que segue Teódoto de perto, (b) A Vulgata, que depende imensamente da obra de Jerônimo (a qual se baseava em Teódoto, mas em certas ocasiões é independente de qualquer outro texto ou VS) e segue Teódoto de perto.

(4) Aramaico. Uma VS aramaica das Crônicas de Yerahmeel, publicada por M. Gaster, que ele alegava ser o texto original.

Linguagem original. Era consenso geral, até o início do século 20, que “Bel e o Dragão” fora escrito originalmente em grego. Especialistas ar­gumentavam que nenhum original semita com real autoridade fora descoberto; Orígenes, Eusébio e Jerônimo afirmavam que nenhuma forma hebraica desse material era conhecida na época. A despeito desses argumentos, estudiosos expressam cada vez mais a opinião de que o original foi composto em^hebraico ou aramaico. Alguns argumentam que Teódoto utilizou um original semita quando revisou a LXX. O grande número de semitismos na obra também reforçaria esse entendimento, e o tipo de semitismos — o uso de kai e kai egeneto com força de waw- consecutivo — apontaria para um original hebraico. Esse entendimento é proposto e sustentado por Davies de forma muito convincente.

J. T. Marshall chama atenção para a possí­vel confusão de xsyt (vento tempestuoso) e xst (resina), que só poderia ocorrer no aramaico, e cita vários ilustrações similares. Ele cita diversas outras ilustrações similares. Davies destaca que a mistura de Daniel incluía também gordura e pêlo, bem como resina. Sugere que Marshall foi desencaminhado por seu desejo de relacionar a história do dragão ao mito babilônico da criação de Marduque (Bel) e Tiamate.

M. Gaster fez o que considerou uma impor­tante descoberta da história do dragão em uma obra aramaica chamada Crônicas de Yerahmeel. Essa obra data do IO*2 séc. Gaster acreditava que era parte do “Bel e o Dragão” original. Davies, contudo, rejeita esse entendimento com base em

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724 BELA

falta de sustentação; argumenta, em oposição, que se houvesse um original aramaico, então os pri­meiros escritores judeus e cristãos deveriam tê-lo mencionado. Atualmente, os argumentos pendem em favor do hebraico como a língua original do documento.

Autor, local e data. Não se sabe nada defi­nido sobre o autor, local e data de composição de “Bel e o Dragão”. Se o original era em hebraico ou aramaico, então provavelmente o local de ori­gem seria a Palestina. Se a LXX é original, então o autor poderia ter vivido em algum local a leste do Mediterrâneo e a data da composição seria a da tradução grega original do texto hebraico. Em qualquer caso. é quase certo que a obra foi com­posta por volta do 2- séc. a.C.

Propósito. Basta uma leitura casual de “Bel e o Dragão" para se perceber claramente que o autor está ridicularizando os ídolos e a adoração de qualquer divindade pagã. LTm segundo propósito pode ser destacar a genialidade do trabalho de detetive de Daniel no trabalho de investigação e de química, O principal valor desses relatos parece ser dh errir e entreter o leitor.

Conteúdo. 3 e l — ALXX assegura que esse material pertence a profecia de Habacuque, e que Daniel toma-se sacerdote e companheiro do rej da Babilônia. O texto de Teódoto começa com a morte de Astíages e o reinado de Ciro, o persa. Daniel é mencionado como morando com o rei.

Havia um ídolo na Babilônia chamado Bel. Diariamente, uma grande quantidade de alimentos era ofertada a esse ídolo, a saber: farinha, ovelhas (LXX. quatro: Teodoto, quarenta) e líquidos (LXX. óleo; Teódoto, v inho). O rei adorava Bel e perguntou a Daniel por que não o adorava tam­bém. Daniel replicou que adorava somente o Deus Criador. O rei argumentou que Bel consumia os alimentos a ele consagrados. Daniel, porém, ob­jetou que um ídolo feito de barro e de bronze não podia comer nada. Encolerizado, o rei convocou os sacerdotes e inquiriu, sob pena de morte, quem comia os alimentos consagrados. Eles afirmaram que Bel comia. Daniel ofereceu-se para provar que Bel não comia os alimentos. Todos foram ao templo. Os alimentos foram colocados diante da estátua de Bel (Teódoto informa que os setenta sacerdotes tinham uma entrada secreta por baixo da mesa). Quando todos saíram, Daniel mandou que seus servos espalhassem cinza no chão do templo. A porta do templo foi lacrada.

Na manhã seguinte, as portas foram inspecio­nadas e depois abertas. Os alimentos tinham desa­parecido. O rei exultou, mas Daniel mostrou-lhe as marcas de pés impressas na cinza. Os sacerdotes confessaram e foram entregues a Daniel. A estátua de Bel foi destruída; segundo Teódoto, o templo também foi destruído.

O D ra g ã o — um grande dragão era adorado na Babilônia. O rei perguntou a Daniel sobre o dragão, se também o considerava a de bronze, uma vez que também comia e bebia. Daniel pediu permissão para matar o dragão sem utilizar espada ou bastão. Autorizado, misturou resina, gordura e pêlos, cozinhou tudo junto e vários bolos. Ofereceu os bolos ao dragão, que explodiu em pedaços. O povo ameaçou o rei, o qual ordenou que Daniel fosse lançado numa cova de sete leões. Usualmente duas carcaças (a LXX especifica que eram corpos de pes­soas condenadas à morte) e duas ovelhas (Teódoto) eram dadas aos leões todos os dias [N.T. De acordo com o texto, durante esses seis dias, os leões não foram alimentados, para que devorassem Daniel], No sexto dia, o profeta Habacuque foi trazido da Palestina à Babilônia por um anjo, levando comida para Daniel. Este comeu a refeição e Habacuque foi levado de volta. O rei ordenou que Daniel fosse libertado; seus opositores foram atirados à cova, sendo imediatamente devorados pelos leões.

BIBLIOGRAFIA. J. T. Marshall, “Bel and the Dra- gon”, HDB, I (1899), 267, 268; T. Witton Davies, “Bel and the Dragon”, em R. H. Charles (org.), Apocrypha and Pseudepigrapha o f the Old Testament, 1(1913),652- 664; e “Bel and the Dragon”, ISBE, I (1929), 427-431; R. H. Pfeiffer, History: nf New Testament Times (1949), 436-444. 455, 456; B. M. Metzger, An Introduction to the'Apocrypha (1957), 115-122.

R. E. H ayden

BELA (ybn, LXX BaXatc; BáXa, BaXeK, Gn46.21 etc.). Nome de diversos homens nas gene­alogias mais antigas do Antigo Testamento.

Gênesis 36.32s. registra: “Em Edom reinou Bela, filho de Beor, e o nome da sua cidade era Dinabá... Morreu Bela, e, em seu lugar, reinou Jobabe, filho de Zerá, de Bozra”. Os mesmos fatos são mencionados em 1 Crônicas 1.43s. A LXX translitera o nome como Balak. A Targum do Pseudo-Jônatas chama-o de Balaão, o qual tem pronúncia muito semelhante em hebraico. O Balaão que foi contratado para amaldiçoar Israel também era filho de Beor (Nm 22.5).

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BELAÍTAS / BELÉM, BELEMITA 725

Há também um Bela no alto da lista dos filhos de Benjamim (Gn 46.21; 1 Cr 7.6 e 8.1), claramente mencionado como primogênito. Números 26.38­40 e 1 Crônicas 8.3-5 registram a lista dos filhos de Bela. A LXX traduz esse nome como Baka em Gênesis e BaÀe nas outras passagens.

Um terceiro homem tem esse mesmo nome (lCr 5.8-10). “Bela, filho de Azaz, filho de Sema, filho de Joel, que habitou em Aroer, até Nebo e Baal-Meom; também habitou da banda do oriente, até a entrada do deserto, o qual se estende até ao rio Eufrates, porque o seu gado se tinha multipli­cado na terra de Gileade. Nos dias de Saul fizeram guerra aos hagarenos, que caíram pelo poder de sua mão, e habitaram nas tendas deles, em toda a terra fronteira de Gileade da banda do oriente”.

O nome Bela (Bá^EK na LXX) aparece em Gênesis 14.2, tanto como outro nome para a cidade de Zoar ou como o nome do rei de Zoar.

R. L. A ld en

BELAÍTAS. Veja B e l a .

B ELÉM , B E LE M ITA (□n'?n n; ^rftnrva, LXX Bai0Xeé|i ou Br|9A,£S|i, Bai9Xee|j.ÍTr|ç ou Br|- 0Xee|lÍTriç; casa [lugar) de pão ou alimento; Belém; patronimico de um habitante de Belém). Já foi sugerido que lehem refere-se à divindade assíria Lakhmu. fazendo assim com que o nome signifique “casa de Lakhmu”. Há, porém, pouca evidência de que este deus tenha sido adorado na Palestina. O nome moderno é Bayt Lahm, o equivalente árabe do nome hebraico. Duas cida­des com esse nome existiram desde os tempos mais antigos.

1. Cidade em Judá, famosa como “cidade de Davi”e como cidade natal de Jesus Cristo. Situa- se a c. 9 km a sudoeste de Jerusalém, perto da principal estrada norte-sul, que liga Hebrom ao sul. Fica a mais de 700 m acima do nível do mar. Isto lhe garante uma posição estratégica, e de fato foi ocupada por uma guarnição militar de filisteus na época de Davi (2Sm 23.14; lCr 11.16); foi fortificada por Roboão (2Cr 11.6). A área ao redor de Belém é extremamente fértil.

Pouco se sabe sobre a origem da cidade, embo­ra 1 Crônicas 2.51 diga que Salma, filho de Calebe, foi “o pai dos belemitas”. A cidade é mencionada pela primeira vez em uma das cartas Amarna, do século 14 a.C., onde ’Abdu-heba, príncipe de Jerusalém, reclama que Bit-Lahmi foi tomada por Apiru (EA n2 290; veja ANET, 489). A princípio

era conhecida no AT como Efrata (Gn 35.19), mas em geral é chamada de Belém Efrata ou Belém de Judá, para distingui-la da segunda cidade de Belém (veja item 2 a seguir).

O túmulo de Raquel era lembrado (e continua sendo) como próximo de Belém (Gn 35.19). Be­lém era a cidade natal do jovem levita que serviu como sacerdote de Mica, na região montanhosa de Efraim, e depois também de Dã (Jz 17; 18). Tam­bém era a cidade da concubina do levita efraimita, cuja morte nas mãos do seu amo deflagrou uma guerra entre Benjamim e Israel (Jz 19).

Entretanto, mesmo no AT, Belém é conhecida principalmente por sua relação com o Messias. Rute, a moabita temente a Deus, instalou-se com seu segundo marido, Boaz, na cidade de Belém e era lembrada como ancestral de Davi (Rt 1.1,2,19,22; 2.4; 4.11). O próprio Davi era conhecido como “filho daquele efrateu de Belém de Judá, cujo nome era Jessé” (ISm 17.12). Foi ali que ele cuidou das ovelhas do seu pai (17.15) e também onde foi ungido rei pelas mãos do profeta Samuel (16.13). Belém também foi a cidade natal de Elanã, um dos valentes de Davi (2Sm 23.24; lCr 11.26); Asael, filho de Zeruia, irmã de Davi, foi sepultado ali (2Sm 2.32).

Depois da época de Davi, a cidade parece ter declinado em importância, no que diz respeito aos eventos históricos relatados no AT. Os belemitas, porém, são mencionados como tendo participado do Exílio e muitos foram os que regressaram para se reinstalar na cidade (Ed 2.21; Ne 7.26; cp. 1 Esdras 5.17). A fama futura de Belém é declarada em Miquéias 5.2, como a cidade natal do: “que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”.

Na época do NT, havia expectativa de que o Messias se levantaria em Belém (Mt 2.5,6; Jo 7.42); o nascimento de Jesus é registrado como tendo ocorrido ali (Mt 2.1; Lc 2.4-7). Portanto, a história dos pastores, os reis magos e a matança dos meninos são eventos ocorridos nesta cidade.

No ano 325 d.C., Helena construiu uma igreja sobre uma série de cavernas em Belém, prova­velmente com base na tradição, registrada desde Justino Mártir (Dialogue, 78), de que a cena da natividade fora numa caverna (veja Jerônimo, Letter to Paulinus, 58.3). Justiniano I (527-565d.C.) construiu uma igreja nova e maior no mesmo local, sobre a capela destruída de Helena. Essa assim chamada “Igreja da Natividade” ainda está de pé, embora com algumas modificações medievais. Não se sabe ao certo se ela realmente marca o local do nascimento de Jesus. Por volta

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726 BELÉM, BELEMITA

Vista aérea da antiga cidade de Belém. © M.RS.

Vista do sul de Belém, para praça da Manjedoura e a igreja da Natividade. © Lev

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BELÉM, ESTRELA DE / BELEZA 727

do ano 132 d.C., Adriano devastou Belém e não foram encontrados remanescentes dos primeiros três séculos da era cristã.

2. Cidade no território de Zebulom (Js 19.15), provavelmente cidade natal e local de sepultamen­to de Ibsã, um antigo juiz de Israel (Jz 12.8,10; cp. porém, Ant. de Josefo, V, vii, 13 ). Esta cidade fica a c. 11 km a noroeste de Nazaré; algumas ruínas encontradas aí indicam sua importância nos tempos antigos.

BIBLIOGRAFIA. R. W. Hamilton, “Excavations in the Atrium of the Church of the Nativity, Bethlehem”, QDAP, III (1933), 1-8; E. T. Richmond, “Basilicaofthe Nativity: Discovery of the Remains of the Earlier Chur­ch”, QDAP, V (1936), 75-81; H. Vincent, “Le Sanctuaire de la Nativité d’après les fouilles recentes”, RB (1936), 545-574; F. M. Abel, Géographie de la Palestine, II (1938), 276, 277; J. W. Crowfoot, Early Churches in Palestine (1941), 23-30, 77-85; Y. Aharoni, The Land o f the Bible (1962, 1967), passim; C. Kopp, The Holy Places o f the Gospels (1963), 1-47.

H. G. A ndersen

BELÉM , ESTRELA DE. Veja E strela dos M a g o s .

BELEZA. (No AT, as palavras mais freqüentes são n n , honra ou beleza, e 'D1Justiça ou beleza. Outras palavras são derivadas de Tnxsn, e DS?1 No grego, cbpaíoç, que significa oportuno ou adequa­do; kcxA.óç, bom; á a x e io ç , bonito, agradável; em peiteía, boa aparência; e 7tpoG(])tXf|ç, encan­tador; todas dão também a idéia de beleza).

1. Natural. ABíblia não possui uma doutrina estética como tal. A apreciação da beleza está por toda parte nas Escrituras, embora a beleza em si não seja relevante para os escritores. Uma área onde a apreciação da beleza na Bíblia é mais ób­via é na natureza. Gênesis pronuncia um veredito sobre o universo criado, declarando que Deus viu que era bom. Os Salmos, em especial, revelam uma apreciação da beleza das obras das mãos do Senhor na natureza (Sl 8; 19.1-6; 29; 65.9-13; 104; 147.8-18). Foi Deus quem fez os mananciais que brotam nos vales, a grama que cresce e alimenta os animais, a lua que marca as estações; é ele quem cobre o céu com nuvens, quem determina o número das estrelas etc. A mente hebraica apre­ciava a beleza da terra e de toda a natureza. Em contraste, podemos observar que a mente pagã,

mesmo influenciada pelo pensamento judaico, tinha algumas reservas sobre a beleza da nature­za. A Coleção Hermética (escritos originar os do Egito, do princípio da era cristã) foi notavelmente influenciadas pelo judaísmo, mas não foi capaz de apreciar de forma plena a beleza da criação natural. Na cosmologia de Poimandres (parte da Coleção Hermética), há uma clara repercussão de Gênesis1, o qual declara repetidamente que quando Deus olhou para o que tinha feito, viu que era bom. A Bíblia comenta sobre a criação material, visível, como sendo boa, mas Poimandres faz uma cor­reção deliberada. Para os hermetistas, não era o mundo natural que era belo, mas o universo arqué­tipo, do qual o mundo visível era apenas uma débil cópia. Alguns deles iam mais além, declarando que o mundo era totalmente mau, enquanto Deus era totalmente bom.

2. Judeus. A terra natal dos judeus era es­pecialmente bela. Jeremias escreveu que Deus dissera: “Mas eu a mim me perguntava: como te porei entre os filhos, e te darei a terra desejável, a mais formosa herança das nações?” (Jr 3.19). Se­melhantemente, Jerusalém, a cidade de Deus, era considerada de beleza especial: “E esta a cidade que denominavam a perfeição da formosura, a alegria de toda a terra?” (Lm 2.15). A nação foi descrita como o “lindo rebanho” (Jr 13.20). O Templo era a casa do Senhor que foi ornada (KJV, “to beatify”) (Ed 7.27).

3. Estrangeiros. O Faraó do Egito foi com­parado aos belos ramos do cedro do Líbano, lindo em sua grandeza (Ez 31.3,7,9). O rei de Tiro podia ser descrito como “o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura” (28.12). Isaías descreveu a condenação de Samaria em termos de uma flor de beleza gloriosa que se desvanece (28.1,4); Jeremias fala do Egito como uma “novilha mui formosa” (46.20).

4. Pessoas. Seres humanos são mencionados na Bíblia como sendo belos; Isaías e Ezequiel revelam ouso de cosméticos (Is 3.18-24; Ez 10.9­14), utilizados no embelezamento pessoal. Certas mulheres são descritas como sendo bonitas: Sara, Rebeca, Raquel, Abigail, Abisague, Bate-Seba e Ester. A noiva de Cantares é mencionada como a formosa amada do escritor (Ct 4.1). Da mesma forma, certos homens são mencionados como extremamente belos: Absalão, Daniel, Davi, José, Jônatas; na sua infância, Moisés também poderia ser descrito como uma criança bonita.

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728 BELEZA DA SANTIDADE / BELIAL

5. Deus. Em vários trechos da Bíblia, Deus é apresentado não somente como o Criador da beleza, vestindo os lírios do campo com formosura superior à de Salomão, mas ele mesmo é o Deus da glória. A shekinah, ou a glória de Deus, era uma descrição freqüente da presença de Deus com seu povo (Êx 16.7,10; 24.16,17; 40.34; Lv9.6,23;Nm 14.10,21,22; 16.19; 20.6; Dt 5.24; Js 7.19 etc.). Isaías descreveu Deus como se tomando um lindo diadema para seu povo (28.5) e o Messias como um rei formoso (33.1"'). Ao mesmo tempo, o pro­feta falou do servo do Senhor: “não tinha aparência nem formosura: olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse” (53.2). O livro de Apo­calipse evita as representações antropomórficas de Deus, mas há um esplendor inegável na descrição de tudo o que se refere a ele. Aquele que se senta no trono do universo “é semelhante no aspecto a pedra de jaspe e de sardônio e ao redor do trono há um arco-íris semelhante no aspecto à esmeralda” (4.3). O estado final que Deus preparou para seu povo é igualmente glorioso. João escreveu: “Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo” (21.2).

BIBLIOGRAFIA. P. T. Forsyth, Chrisl on Parnassus (s.d.); G. A. Smith. "The Hebrew genius”, The Legacy o f Israel org. Bevaa e Sir.ger (1927); J. A. Montgomery, “Aesthetic in H eblew religion”, JBL, LVI (1937); C. H. Dodd. The Bible and lhe Greeks (1954).

H. L. D r u m w r ig h t Jr.

BELEZA DA SANTIDADE (ttfip mm). Frase usada quatro vezes no AT (lC r 16.29; 2Cr 20.21; ARA, “louvassem a Deus”; ARC, “louvassem a majestade santa"': NVI, “o louvarem pelo esplen­dor de sua santidade”; BJ, “louvando a Iahweh”; SI 29.2; 96.9). Sempre era usada em conexão com a adoração pública a Yahweh e parecia sig­nificar que em tal adoração era necessário que os sacerdotes se vestissem apropriadamente. Para uma ocasião deste tipo somente uma roupa que honraria Jeová seria satisfatória; qualquer outra coisa o desonraria. Alguns sugeriram que é Jeová que está em santo vestuário, ou vestido com a beleza da santidade, não os adoradores.

S. B ara ba s

BELIAL (^irbn; BeWap). Em geral, entende-se que essa palavra seja derivada de duas palavras he­braicas comuns, que significam “sem” e “lucrar”,

resultando daí “indignidade” ou “impiedade”. A partir do conceito geral de “falta de valor”, o pensamento moveu-se para a esfera da força mo­ral, resultando daí o sentido de “impiedade”. No emprego da palavra no AT, não há indicação de que seja um nome próprio. O Talmude a considera como uma palavra composta que significa “sem um jugo”, mas para muitos esse conceito tem pouca ou nenhuma aceitação. Entretanto, outros a interpretam como aquele que lançou fora o jugo do céu. ou seja, tomou-se ilegal.

Quase sempre o uso de Belial no AT está ligado a palavras como “filho”, “filha”, “homem” ou “filhos”. Está ligada a “filha” (ISm 1.16); “coi­sa” (Dt 17.4); “homem” (ISm 25.25; 2Sm 16.7); “testemunha” (Pv 19.28); “pessoa” (Pv 6.12); “homens” (ISm 30.22) e “filhos” (Dt 13.14). O sentido é de indivíduos extremamente ímpios (Jz 19.22; ISm 10.27). O termo ilustra pecadores do pior tipo.

Há quatro exemplos nos quais o termo apa­rece como sinônimo de destruição: “torrentes de impiedade” (SI 18.4); “peste maligna” (41.8, lit. “coisa de Belial”); “conselheiro vil” (Na 1.11); “homem vil” (1.15).

Em escritos judaicos posteriores, Belial é em­pregado como nome próprio de Satanás ou mesmo do Pseudo-Messias, como nos livros apocalípticos judaicos dos Jubileos, Ascensão de Isaías e Orá­culos Subilinos. O Livro dos Jubileos (i. 20) alude a uma oração de Moisés: “Cria em teu povo um espírito justo e não permita que o espírito de Be- liar governe sobre ele, para acusá-lo diante de ti”. Alguns comentaristas encontram em Naum 1.15 um emprego específico de Belial como um poder maligno, humano ou demoníaco. A LXX traduziu como “iníquo, iniqüidade”, mas em Deuteronômio 13.14; Juizes 19.22; 1 Samuel 1.16; 2.12; 10.27; 25.17; 2 Samuel 16.7 e Naum 1.15, a Vulgata utiliza uma transliteração. Em 1 Reis 21.13, a Vulgata traduz a palavra como diabolus.

Para aqueles que vêem muitas reminiscências mitológicas no AT, essa palavra sugere um vestígio de mitologia relacionado ao abismo das águas subterrâneas. Além da própria afirmação, não há nenhuma prova disso.

O conceito apocalíptico de Belial como uma pessoa, é reforçado por uma pergunta feita por Paulo em 2 Coríntios 6.15, sobre o nome Beliar (ARA, “Maligno”; ARC, NVI, “Belial”), onde ocorre a substituição comum de uma consoante branda por outra. O apóstolo está argumentando sobre a incompatibilidade da fé cristã com o paganismo experimentado pelos coríntios novos

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BELMAIN / BELZEBU, BEELZEBU (BAALZEBUBE) 729

convertidos. A nova verdade não permite mistura de conceitos ou estilos de vida díspares. No v. 14, os dois contrastes são entre dois abstratos, mas no v. 15, o argumento e o questionamento movem- se para a esfera do concreto: Cristo contra Beliar (ARA, “Maligno”) e o crente contrastado com o incrédulo. Aqui, somos impelidos à conclusão de que Beliar refere-se a Satanás. Têm-se sugerido que “o homem da iniqüidade” (2Ts 2.3) é de fato “o homem sem lei”, o equivalente de Belial. O máximo que se pode sizer sobre essa posição é que o termo grego anomia significa sem lei, mas isso não garante a conclusão de que a pessoa seja Satanás e não o Anticristo em pessoa, embora os dois conceitos sejam inegavelmente similares.

BIBLIOGRAFIA. G. Kittel, (org.), Theology Dia. o f the NT (1964), I, 607; A. Plummer, A criticai and Excgetical Commentary on the Second Epistle ofSt. Paul to the Corinthians (ICC), 207, 208; KB, 130.

C. L. F e in b e rü

BELMAIN (Be^naív [Judite 4.4]). Provavel­mente a mesma Belbaim (BeÀp.aí|i [Judite 7.3]), uma cidade localizada nas vizinhanças de Dotã, perto da qual Holofernes acampou com seus exér­citos. Há conjecturas de que pode ser identificada com Ib le a m (q.v.), a c. 8 km a nordeste de Dotã.

BELSAZAR ('ixníp'?2, Ba^Tcxoáp, provavelmente derivado do nome babilônico Bêl-sar-usür, “o deus Bel protegeu o rei”). Filho de Nabonido e seu co- regente (556-539 a.C.), governante caldeu quando a Babilônia foi capturada por Dario, o medo, em 539 a.C. (Dn 5.30; 7.1).

Nabucodonosor é mencionado como pai de Belsazar (5.11,18); isso não contradiz os textos babilônicos que se referem a Belsazar como filho de Nabonido, uma vez que este último era descendente da linhagem de Nabucodonosor e pode bem ter sido parente dele por meio de sua esposa. Nabonido nomeou Belsazar co-regente e comandante do exército babilônico por volta de 550 a.C., enquanto ele próprio estava ausente, em Teima’, na Arábia central (BM 91125). Se os anos de reinado de Belsazar, sem nenhuma outra comprovação, fossem calculados a partir deste evento, então seu terceito ano de reinado (8.1) cairia em 547 a.C. Belsazar governou na Babilô­nia por pelo menos dez anos, até o retomo do seu pai, em 542 a.C. O rei anônimo que, segundo a Crônica Babilônica, morreu quando a cidade caiu

diante de Ugbaru, governador áe Gumnn e Liier do exército persa, pode muito berr ser Belsazar (5.30). Quando Daniel interpretou eorretaraaniie a escrita na parede do palácio, durante a festa real, Belsazar o proclamou terceiro go\ emarne do reino. Essa posição pode ser explicada pela própria posição de Belsazar, como segundo abaixe de seu pai (que retomara da Arábia); embora isso implicasse que Daniel na época teve precedência sobre o príncipe coroado.

BIBLIOGRAFIA. R. P. Dougherty, Nabonidus and Belshazzar (1929); C. J. Gadd, “The Harran Inscriptions of Nabonidus”, Anatolian Studies, VIII (1958), 35-92.

D. J. W isem a n

BELTESSAZAR (1ÍXWÜ73, LXX BaA/iaaáp; possivelmente escolhido para representar o nome babilônico Balatusu-usur, que significa Proteja sua vida). Nome babilônico atribuído a Daniel; é mencionado dez vezes no livro de Daniel (não aparece em nenhum outro lugar no AT).

Em 1.7, Daniel recebe este nome. Com exce­ção de 10.1, em todas as outras ocasiões o nome ocorre na seção do livro escrita em aramaico (2.4b— 7.28), como segue; 2.26; 4.8,9,18,19 (três vezes; ou em hebraico 4.5,6,15,16); 5.12.

BIBLIOGRAFIA. E. J. Young, The Prophecy o f Daniel (1949).

W. H. M are

BELTETHMUS (BeéXi:e0|ioç). Oficial do rei Artaxerxes na Palestina (1 Esdras 2.16,25). Não se trata de um nome próprio, parecendo ser uma transliteração grega do título aramaico do cargo de Reum, o nome que o precede em 2.16. Esse erro também ocorre no v. 25. Traduzido como “co­mandante” (ARC, “chanceler”) em Esdras 4.8,9. Em 1 Esdras 2.17 é traduzido como “escriba” (ou “escritor de história”).

BELZEBU, BEELZEBU (BAALZEBUBE), Beek ÇsPotA. senhor do esterco ou sujeira (derivado da palavra rabínica *7131, esterco, e *7in, senhor). A grafia “beelzebub” (KJV, ASV) veio da tradução Vulgata, que deriva a palavra do hebraico 3131

Baalzebube, “Senhor das moscas” (q.v.). A ARA, ARC, NVI traduzem como Belzebu (BJ, “Beelzebu”; RSV, “Beelzebul”), seguindo o Gr. dos melhores MSS.

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730 BEM-AVENTURANÇA

O termo foi utilizado pela primeira vez no NT por Jesus, mas evidentemente era um nome atribuído a ele pelos líderes judeus (Mt 10.25). O termo grego oi KoSecntóTriv. “senhor da casa”, em hebraico seria rpnn ?sn. Provavelmente a intenção de Jesus aqui era fazer um jogo de palavras. Então ele contrasta sua verdadeira identidade com este epíteto degradante proferido contra ele por seus inimigos. Ele é o “Senhor da casa”, mas eles o chamaram de “senhor dos montes de esterco”.

Em outro contexto, Jesus é acusado de expulsar demônios pelo poder de Belzebu (12.24). Aqui Belzebu é mais bem definido como príncipe dos demônios. Eqüivalia a acusar Jesus de ser um demônio (5ai[iovtcv) em submissão ao príncipe dos demônios, Belzebu. Não se pode, porém, determinar se Belzebu era considerado o próprio Satanás ou algum príncipe menor.

Mateus identifica os acusadores como fariseus (12.24). Marcos chama-os de escribas (Mc 3.22). Em Marcos, a acusação vai além e declara que Jesus era possuído por Belzebu. Lucas generaliza e identifica os acusadores como “alguns dentre” a multidão (Lc 11.15).

No mesmo contexto, Jesus responde aos acu­sadores mostrando a incoerência do que estavam dizendo (Mt 12.25-27; Lc 11.18,19). Fora acusado de estar expulsando aquele a quem afirmavam estar sujeito. Na mente deles, havia o quadro confuso de Satanás dando poder a Jesus para expulsar os súditos de Satanás. Jesus, porém, não parou aí. Pelo fato de terem testemunhado o fato inquestionável de Jesus expulsar demônios, concluíram que estava possuído por algum poder satânico. Jesus pergun­tou: “Se é assim, então a mesma acusação não pode ser extensiva àqueles dentre vocês que expelem demônios?” Sem dúvida, tal questão levou seus acusadores a uma considerável reflexão.

Depois, Jesus mostrou-lhes a gravidade da acusação que tinham proferido contra ele. Atribuir ao diabo o que Deus faz é blasfêmia e evidencia a mente de um réprobo, conforme Jesus concluiu (Mt 12.28-32).

Dois problemas, relacionados ao uso do nome Belzebu pelos acusadores de Jesus, permanecem sem resposta.

1. Deve o nome ser derivado do termo hebraico, Baalzebube? Se assim for, estariam os acusadores apenas afirmando que Jesus estava sob o controle do antigo deus pagão, conhecido em Israel como “Senhor das moscas?” Ou o nome deve ser deri­vado do teimo rabínico “Zebul”, ^T, que significa “esterco” ou “adubo”? Neste caso, podemos supor que os acusadores estavam degradando Jesus com

esta acusação vil, e não realmente identificando- o com algum demônio pessoal? Ou será, como alguns pensam, que o nome se derivava do termo rabínico “Zebul” (?mr) que significa “templo”? Se assim for, talvez a intenção fosse um jogo de palavras. Ele chamou a si próprio de “Senhor do Zebul” (templo), mas eles o chamaram de “Senhor do monte de esterco”.

A última alternativa provavelmente é a mais aceitável.

2. O segundo problema pode ser enunciado mais rapidamente, mas é igualmente complexo. O termo se referia ao príncipe dos demônios e tomou-se sinônimo de Satanás, como aparece em Mateus 12.26,27, ou se aplicava somente a um príncipe inferior na hierarquia de Satanás e do mundo demoníaco?

Provavelmente a resposta deste problema baseia-se na resposta do primeiro. Se o termo foi usado apenas como um jogo de palavras, então a identidade do personagem é irrelevante. Se foi um termo usado em referência a um demônio especí­fico ou a um príncipe demoníaco, sua identidade tem considerável importância para nós.

BIBLIOGRAFIA. T. Meek,Hebrew Origins (1936), 135ss., 138ss.; J. Finegan, Light From the Ancient Past (1946), 148; W. Albright, From Stone Age to Christianity (1957), 231-233, 285-287; 298ss., 307-310; Wright and Fuller, The Book o f The Acts o f God (1957), 274; C. Pfeiffer, Patriarchal Age (1961), 44ss.; C. PfeifFer, Ras Shamra and The Bible (1962), 30; F. Bruce, Israel and The Nations (1963), 44ss.

J. B. S co tt

BEM-AVENTURANÇA ( Veja B ê n ç ã o , A b e n ­ç o a r ) . Alegria suprema causada pela bênção divina; o anúncio da bênção.

1. A bem -aventurança m ateria l e espiritual. A bênção de Deus opera a consu­mação de sua própria obra, desde os primórdios em toda a sua obra da criação, retratada na sua bênção sobre o sábado (Gn 2.3; Êx 21.11; cp. o refrão “E viu Deus que isso era bom”, em Gn 1). A maldição divina, conseqüência da Queda, atinge não apenas o homem, mas também a ordem criada (Gn 3.16-19). A bênção divina, que restaurou a relação pessoal, é o coração da promessa da aliança: “Estabelecerei... aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência” (Gn 17.7), mas essa bênção não está dissociada do favor de Deus expresso por meio da criação. A obediência

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BEN- (PREFIXO) / BENAIA 731

a Deus resulta em prosperidade material geral, inclusive supremacia de Israel sobre os povos vi­zinhos, prosperidade econômica e crescimento das famílias; por outro lado, a desobediência resulta justamente no oposto (Dt 27.3). Não se deve en­tender que a bênção material não tenha aplicações espirituais: a função de Israel .como testemunha ao mundo do poder e do amor do Senhor, depende da evidência do favor do Senhor sobre Israel; a promessa de uma numerosa descendência depende do sucesso agrícola e militar; a própria adoração ao Senhor deve ser centralizada em Jerusalém, do que o exílio (derrota militar) é a antítese. A eleição pessoal por Deus e a sua bênção sobre seu povo envolvem, inevitavelmente, sua bênção sobre cada pormenor de suas vidas.

O que é verdadeiro para Israel como povo é ver­dadeiro para cada crente em particular, de forma que bem-aventurança e bênção repousam sobre a obediência. O Livro de Provérbios, em especial, indica como a felicidade consiste em buscar a sabedoria (3.13), dar ouvidos ao Senhor (8.34), confiar nele (16.20) e guardar a sua lei (29.18).

2. A bem-aventurança de Cristo. Jesus Cristo é o Filho do Deus Bendito (Mc 14.61); i.e., a ele é devido o mesmo louvor devido ao Pai; tanto a salvação consumada por Cristo quanto a sua volta refletem a glória desse Pai bendito (lTm 1.11; 6.15). Seu nascimento é uma bênção (Lc 1.42,48); sua morte é lembrada pelo cálice da bênção na Ceia do Senhor (ICo 10.16), como reflexo do fato de que ele mesmo abençoou o alimento (Mc 14.22; cp. 6.41). Ele abençoou os seus discípulos enquan­to ascendia aos céus, deixando a promessa do seu retomo (Lc 24.50). Seu sacerdócio perpétuo em favor de seu povo é “superior” precisamente por seu caráter abençoador (Hb 7.1,6). A sua segunda vinda abençoa seu povo que está vigilante, que guarda suas palavras, que lavou suas vestiduras, e assim pode entrar e descansar, convidado para a ceia das bodas do Cordeiro (veja as doxologias de Ap 14.13; 16.15; 19.9; 22.7,14).

3. A bem-aventurança da graça. Abên- ção de Cristo recai sobre seu povo (cp. B ê n ç ã o , 4), especialmente ao reconhecer Cristo como Senhor e sofrer por sua causa (Lc 6.22; Jo 20.29; lPe 3.14;4.14). Os cristãos são abençoados em Abraão por serem homens de fé como ele foi, ao receberem a promessa do Espírito Santo (G13.8,14). Abênção do crente está centralizada em sua justificação em Cristo (Rm 4.7); bem-aventurado é aquele cuja consciência está limpa em seu serviço ao Senhor

(Rm 14.22). Os cristãos, por sua sez. abençoam aqueles que os ultrajam e perseguem (Rm 12.14: ICo 4.12; cp. Mt 5.10-12). O ministério dos cristãos é um ministério de abençoar: por exem­plo, quando Paulo trouxe dinheiro aos cristãos necessitados, trouxe também a bênção do própri-' Cristo (Rm 15.29).

BIBLIOGRAFIA. Veja B ê n ç ã o , A b e n ç o a r .

D . C. D avis

BEN- (PREFIXO) (]2, filho de; plural, m ..filhos de; LXX, tiióç; aram. 12). Essa palavra é usada para indicar uma grande variedade de estados e relacionamentos. (1) Filiação. Sem dúvida é o emprego mais freqüente. (2) O relacionamento dos filhos com os pais (Gn 3.16). (3) O relaciona­mento dos descendentes, mesmo que distantes (por exemplo, “filhos de Israel”). (4) O estado juvenil, como tal (Pv 7.7). (5) Indicação da condição de membro numa profissão ou corporação, como por exemplo “filho de profeta” (Am 7.14, ARC).(6) Indicativo de cria de animais (Jó 39.4). (7) Referência a plantas jovens ou ramos (Gn 49.22 “ramo”, ARA, ARC). (8) Referência a objetos inanimados, como por exemplo “filhas das brasas”, ou seja, “faíscas” (Jó 5.7). (9) Indicativo de algum aspecto ou característica notável de uma pessoa, animal ou objeto, como em “filhos da maldade”, que significa “homens perversos” (2Sm 3.34). (10) Indicativo de idade, como em “filho de 500 anos”, que significa “500 anos de idade” (Gn 5.32).

H. G. A n d ersen

BEN-ABINADABE (mrat<~]2, filho deAbinada- be). Um dos oficiais de Salomão, encarregado da provisão de alimentos durante um mês por ano, para o rei e o palácio. Seu distrito era a região de Dor (lRs 4.11). Algumas versões (KJV, BJ) traduzem “filho de Abinadabe”, mas sem espe­cificar qual Abinadabe. Houve pelo menos três Abinadabes no período de Salomão. Um deles era o segundo filho de Jessé (lCr 2.13), irmão mais velho de Davi; o segundo era um dos filhos de Saul (8.33) e o terceiro era o Abinadabe com quem a Arca da Aliança foi deixada (2Sm 6.3). O mais próximo de Salomão, em termos de parentesco, seria o filho de Jessé.

BENAIA (rm , Yah edifica, LXX Bavooou). Nome popular, principalmente entre os levitas.

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732 BEN-AMI / BÊNÇÃO

1. Benaia, filho de Joiada, de Cabzeel, o qual por meio de várias façanhas heróicas distinguiu-se como um dos valentes de Davi (2Sm 23.20,21), quando este fugia de Saul. Quando Davi se tomou rei, prestou elevado reconhecimento aos homens que tinham procedido com valentia sob suas ordens durante o exílio. Benaia foi posto como líder de trin­ta homens (23.23), os quais, na hierarquia, seguiam os três primeiros de especial valor ( lCr 27.6). Tam­bém lhe foi dado um alto posto no exército, cujo comandante era Joabe. Recebeu o comando de um contingente especial conhecido como “quereteus e peleteus” (2Sm 20.23 ARC). os quais parecem ter vindo de uma região no sul da Palestina, fronteiriça com Judá (ISm 30.14). Nada é dito sobre serem mercenários, mas foram uma unidade especial desde os primeiros dias de Davi. Além disso, Davi fez de Benai seu terceiro comandante, com 24 mil soldados sob suas ordens e o fez responsável pelo terceiro mês do ano (lCr 27.5,6).

Benaia permaneceu fiel a Davi até o final, e não participou no plano deusurpação de Adonias (lRs 1.8). Portanto, foi escolhido, junto com outros, para fazer os arranjos para a proclamação de Salomão como rei (lRs 1.32-40). Sob o novo remado, Be­naia foi nomeado comandante de todo o exército (lRs 2.35; 4.4) no lugar de Joabe, e executor Ado­nias (2.25), de Joabe (2.29) e Simei (2.46).

2. Benaia de Piratom, dos filhos de Efraim, foi um dos trinta valentes de Davi (2Sm 23.30) e posteriormente foi nomeado comandante de 24 mil homens e responsável pelo l l 2 mês de cada ano nos negócios nacionais (lCr 27.14).

3. Benaia, governante listado na genealogia da casa de Simeão (lCr 4.36).

4. Benaia. levita nomeado pelos líderes levitas para a segunda ordem de cantores, sob a liderança de Etâ (lC r 15.18), e para tocar harpa com ou­tros, “sobre Alamote” (lCr 15.20, ARC). Essas nomeações foram feitas durante a mais completa reorganização do serviço levítico já empreendida na história do sacerdócio. Por meio dela, Davi alcançou um magnífico culto com cânticos asso­ciados a uma linda liturgia.

5. Benaia, um dos sacerdotes indicados para tocar trombeta diante da Arca da Aliança (lCr 15.24; 16.5).

6. Benaia, pai de Joiada, sucessor de Aitofel (lC r 27.34).

7. Benaia, avô de Jaaziel, da casa de Asafe (2Cr 20.14).

8. Benaia, superintendente sob a liderança de Ccnanias e Simei, encarregado de preparar câma­ras no templo (2Cr 31.13).

9,10,11 e 12. Quatro homens diferentes com o mesmo nome que se casaram com “esposas estran­geiras” nos dias de Esdras (Ed 10.25,30,35,43).

13. Benaia, pai de Pelatias, a quem Ezequiel, numa visão, viu entre os príncipes que destruíam o ânimo povo com conselhos malignos (Ez 11.1-4).

BIBLIOGRAFIA. Josefo, A n lN ll, xi, 8; xii, 4; J. Bright, A History o f Israel (1959), 189, 190.

J. J. E dw ards

BEN-AMI (’a y p ,filho do meu povo). Progenitor dos amonitas. Depois da morte da esposa de Ló, quando este fugiu de Sodoma com sua família, suas filhas ficaram em pânico ao pensarem nas conseqüências dos últimos acontecimentos sobre o futuro do pai e sua descendência. Num ato de desespero, em duas noites consecutivas, as duas embebedaram o pai e por meio de uniões inces­tuosas com ele, cada uma teve um filho. O filho da mais velha foi chamado de Moabe. O filho da caçula foi chamado de Ben-Ami. Este foi o pai dos amonitas (Gn 19.38). As duas nações (Moabe e Amom), mantiveram-se próximas a Edom em suas disputas constantes com Israel.

Têm-se sugerido que o relato aparece no re­gistro bíblico para mostrar o ódio e o desprezo que Israel tinha pelas duas nações. Tal enten­dimento, porém, não é comprovado, porque a animosidade entre os poderes rivais não surgiu em virtude da origem imoral de Moabe e Amom, mas sim das disputas de terra provenientes das concessões divinas e das relações internacio­nais daí decorrentes. Até mesmo as bênçãos e punições de Yahweh tinham esta base (Dt 2.19; 23.3; 2Cr 20.10).

J. J. E dw ards

BENÇÃO. (Palavra derivada do latim, cujo sig­nificado é expresso pelos termos hebraicos rD"D, bênção', HPN, felicidade, bem-aventurança', Gr. evkoyéw, louvor, bênção; paKápioç, bem-aventu­rado,feliz). A bênção, uma oração encontrada nas Escrituras em que o favor divino é invocado por um indivíduo sobre si mesmo ou sobre os outros, ou onde há reconhecimento de que tais favores estão presentes.

Textos como o Salmo 103 trazem uma expres­são pessoal de gratidão pela bênção de Deus no coração e na vida. Nos relacionamentos familia­res, Noé pronuncia a bênção divina sobre Sem (Gn 9.26), Isaque invoca a bênção sobre Jacó

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BÊNÇÃO, CÁLICE DA / BENFEITOR 733

(27.27-29) e Jacó sobre José e seus dois filhos (48.15,16).

Na nação de Israel, Moisés pronuncia a bênção de Deus sobre o povo, se este obedecer ao Senhor (Dt 28.1-14). Abênção clássica do AT é a Bênção Arônica (Nm 6.24-26). A prática de usar a bênção na adoração pública no AT é vista também em Levítico 9.22; Deuteronômio 10.8 e 2 Crônicas30.27, de onde se pode observar que tais bênçãos deviam ser impetradas pelos sacerdotes levitas em um culto de louvor e oração. A postura física podia incluir a mão estendida em direção ao povo (Lv 9.22).

No NT, bênçãos completas são encontradas em Romanos 15.13; 2 Coríntios 13.14; Hebreus13.20,21 e Judas 24, com ênfase nas pessoas da Trindade. Há também bênçãos curtas de encerra­mento em diversas epístolas de Paulo, em 1 Pedro 5.14 e 3 João 15.

BIBLIOGRAFIA. A. W. Blackwood, Leading in Public Prayer (1958), 77-85.

W. H. Mare

BÊNÇÃO, CÁLICE DA (to TtoTiíprov T?jç etiXo- yíaç). Essa expressão só é encontrada em 1 Co­ríntios 10.16, e é mais bem compreendida à luz do antigo costume judeu de concluir as refeições com uma oração de ação de graças sobre um cálice de vinho, “o cálice da bênção”. Esse ritual reconhecia Deus como o Provedor de todas as boas dádivas e consagrava a refeição àquele que a havia comido. Digno de nota é o fato de que o terceiro cálice da festa da Páscoa judaica é também chamado de “cálice da bênção” (SBK, IV, 41-76).

Paulo tomou essa expressão emprestada do Judaísmo e aplicou-a ao cálice da Ceia do Se­nhor. Ressalte-se, portanto, que ele não queria dizer com essa expressão que o cálice transmite a bênção, e sim que sobre tal cálice o cristão agradece a Deus pela morte de Cristo, e por seu intermédio toma parte em toda a ceia eucarística (a Páscoa do cristão?) como alimento espiritual para a sua alma.

G. F. H aw th o rn e

BEN-DEQUER (npT p). Arrolado em 1 Reis 4.9, com outros 11 indivíduos, como oficial en­carregado de providenciar alimentos, por escala, de para a casa de Salomão. Era responsável pelo segundo distrito administrativo, aproximadamente na região do sul de Dã.

BENE (p , filho de). Músico levita (lCr 15.18). A LXX omite o nome e ambas, a LXX e o TM, o omitem no v. 20.

BENE-BERAQUE ( l ia mu,filhos de Barak. re­lâmpago). Mencionada em Josué 19.45 como uma cidade localizada no território de Dã. Identificada com a modema el-Kheiriyeh, um dos subúrbios a noroeste de Tel-Aviv. Foi uma das cidades pales­tinas conquistadas por Senaqueribe.

BENEDICTUS (latim benedicare, que significa abençoado; Gr. eüXoyriTÓç).

1. NT: Designação técnica que primariamente se refere à profecia de Zacarias sobre o Redentor de Israel em Lucas 1.68-79, na qual a primeira li­nha na Vulgata Latina é Benedictus dominus Deus Israel, “Bendito seja o Senhor Deus de Israel”. Tradicionalmente, Mateus 21.9 tem recebido o título em latim de Benedictus Qui Venit, “Bendito o que vem em nome do Senhor”. Os antecedentes no AT podem ser vistos no Salmo 105; Miquéias 4.4 e Malaquias 3.10.

2. Em termos litúrgicos, esse termo se tomou parte da missa católica romana como um hino cantado imediatamente após a consagração da Eucaristia. Aparece também na liturgia da Igreja Anglicana, numa forma modificada.

D. L a k e

BENE-JAACÃ (p jr ■’:n, filhos de Jaacâ). Tribo dos horeus, que vivia na região próxima ao monte Hor, na época do Êxodo ou pouco antes (Jaacã em 1 Cr 1:42 = Acã em Gn 36.27). Cp. B e e r o t e - B e n e - J a a c ã . Foram finalmente desalojados pelos edomitas (Dt 2.12).

BENFEITOR (eúepYÉTai. aqueles que traba­lham bem). Título às vezes adotado por reis (como Ptolomeu III, 247-242 a.C., e Ptolomeu VII, 147-117 a.C.) e algumas vezes conferido por eles como recompensa a homens que se destaca­ram por serviços extraordinários. Quando surgiu uma disputa entre os apóstolos sobre qual deles seria considerado o maior, Jesus os repreendeu, dizendo que aqueles que tinham autoridade en­tre os gentios eram chamados “benfeitores”; os apóstolos, porém, deviam ser servos humildes (Lc 22.25).

S. B ara ba s

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734 BEN-GEBER ou BEN-GEDER / BEN-HADADE

BEN-GEBER ou BEN-GEDER Cü; ]2, filho de Geber). Um dos doze oficiais administrativos de Salomão, responsável pelo sexto distrito na parte norte da Transjordânia, tendo como capital Rarno- te-Gileade (lRs 4.13); primeiramente eraManassése, depois, o que restou das conquistas aramaicas de Davi. Montgomery Albright et al., sustentam que Geber, filho de Uri em 1 Reis 4.19, é uma variante de Ben-Geber no v. 13, visto que ambos são prefei­tos de Gileade; entretanto, de acordo com a LXX e o Códice Lagardiano, o v. 19 fala sobre o território de Gade e não de Gileade. Uma vez que cinco dos doze oficiais mencionados são conhecidos apenas por seus patronímicos, como “filho de...”, Albright sugeriu que o redator tinha diante de si um antigo documento cujas extremidades estavam danifica­das, o que explicaria a ausência dos cinco nomes próprios. R. deVaux. porém, aponta para as listas de administradores de Ugarit, onde a designação patronímica é empregada somente com relação a certas famílias. Além disso, Uri não pode ser o nome no v. 13, pois ainda exigiria uma transposição da ordem das palavras no v. 19.

BIBLIOGR_VFIA. W. F. Albright, “The administrati- ve Divisions of Israel and Judah”, JPOS V (1925), 17-54; R. deVaux AIs (1961), 133-135.

W. C. K a is e r J r .

BEN-HADADE ( ~ - -p ; LXX, vtoçASép, filho de Hadad). Nome de três reis da Síria. De acordo com 2 Reis 5.18, Hadade parece ser o deus Rimom, da Assíria.

A. Ben-Hadade I. Filho deTabrimom, filho de Heziom, rei da Síria, que morava em Damasco (1 Rs 15.18). Os reis sírios tinham criado uma tradi­ção de hostilidade contra Israel, mas Ben-Hadade estabeleceu uma aliança (talvez pouco mais do que um pacto de amizade) com Baasa, rei de Israel (909-886 a.C.), o qual tinha decidido construir uma fortificação contra Judá, em Ramá. Asa, rei de Judá (910-869 a.C.), numa manobra contra Baasa, enviou toda a prata e ouro do tesouro do templo para Ben-Hadade, para estabelecer com ele uma aliança e exigir que anulasse sua aliança com o rei de Israel (15.18,19). Ben-Hadade, aparentemente necessitando de riqueza e da ampliação de seus domínios, rapidamente aproveitou a oportunidade e aceitou a proposta de Asa. O rei sírio enviou seus comandantes contra Israel e tomou de Baasa as cidades de Ijom, Dã, Abel-Bete-Maaca e todo o Quinerete e toda Naftali (15.20). Baasa foi obriga­

do a interromper a construção de Ramá e mudar-se para Tirza; Asa saqueou grandes quantidades de material de construção de Ramá. Asa conseguiu expulsar Baasa, mas a preço da repreensão do profeta Hanani(2Cr 16.1). Ben-Hadade fez graves incursões no território do reino do norte (Israel).

B. Ben-Hadade II. 1. Identificação.Parece que a melhor opção é considerar este Ben-Hadade como filho de Ben-Hadade I e como o Hadade-Ezer o a Hadade-‘idri dos monumentos. Entretanto, Bruce o considera Ben-Hadade I. Deve-se observar que a maior parte de sua ativi­dade, conforme registrado nos livros históricos da Bíblia, o coloca como contemporâneo de Acabe, rei de Israel (874-853 a.C.), e Josafá, rei de Judá (869-848 a.C.), enquanto as atividades de Ben- Hadade I devem ser situadas por volta de 900 a.C. Asa pediu a ajuda deste último contra Baasa (919-886 a.C.), quando este estava construindo Ramá, provavelmente no início do seu remado. Este Ben-Hadade atacou Acabe nos dias de Josafá, o que pode colocar um espaço de 40 anos entre os dois conflitos. Embora a Bíblia não informe as relações de parentesco do Ben-Hadade que atacou Acabe, com base nas evidências do pano de fundo histórico, parece melhor considerá-lo filho de Ben-Hadade I.

Os anais de Salmaneser (6L ano) chamam este Ben-Hadade de Hadade ‘idri (ou Hadadezer) de Damasco e o consideram parte das forças combi­nadas de Acabe, Hamate e outros que ele derrotou em Carcar, quando ele atravessou o Eufrates em botes feitos de couro de cabra. Ben-Hadade su­portou o impacto das perdas.

2. O cerco de Samaria. Com o auxílio de 32 reis vassalos, e com cavalos e carros, Ben- Hadade sitiou Samaria (lRs 20.1). Durante o ataque, enviou mensageiros a Acabe, exigindo que entregasse seu ouro, prata, mulheres e filhos. Quando Acabe concordou em atender à exigência, Ben-Hadade enviou outra mensagem exigindo o direito de vasculhar o palácio real e tomar tudo o que ele quisesse. Os anciãos aconselharam Acabe a recusar. Enfurecido com a recusa, Ben-Hadade atacou a cidade (20.2-12), ao que Yahweh enviou um profeta ao rei, instruindo-o a colocar a batalha nas mãos dos governadores distritais. Acabe obe­deceu e foi bem sucedido em desbaratar o exército sírio, impondo-lhe pesadas perdas.

No ano seguinte, Ben-Hadade tentou vingar a derrota anterior. Desta vez, defrontou-se com Israel nas planícies, afirmando que os deuses de

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BEN-HADADE 735

Israel eram deuses das colinas. Yahweh, ofendido com tal afirmação, deu a vitória aos israelitas (lRs 20.23-30). Ben-Hadade fugiu para sua cidade, de onde enviou mensageiros a Acabe, implorando por sua vida. Os mensageiros conseguiram estabelecer uma aliança com o rei de Israel, mediante a pro­messa de que Ben-Hadade devolveria as cidades tomadas de Israel por seu pai e que Acabe teria autorização de manter bazares em Damasco, como Ben-Hadade tinha em Samaria. Tal aliança, porém, não teve aprovação divina. Para mostrar esse desa­grado a Acabe, o profeta de Yahweh elaborou um gesto simbólico, no qual colocou uma bandagem sobre suas feridas e postou-se à beira da estrada até Acabe passar. Simulou uma história fictícia sobre um soldado irresponsável que deixara um prisio­neiro inimigo escapar. Quando Acabe concordou que fora um ato reprovável, o profeta se revelou e declarou que a verdadeira culpa recaía sobre o rei, que dera liberdade a um homem destinado por Deus para a destruição (20.35-42).

3. A batalha de Ramote-Gileade. Coma aliança feita entre Acabe e Ben-Hadade, as hos­tilidades cessaram por três anos. A trégua, porém, foi quebrada por Acabe, o qual, com a ajuda do rei Josafá, tentou retomar Ramote-Gileade dos sírios (lRs 22.1-4). O cauteloso Josafá insistiu para que consultassem os profetas e Micaías advertiu que o rei Acabe morreria no conflito. Apesar de usar um disfarce para esconder sua identidade. Acabe foi morto na batalha (22.29-36). Para derrotar Acabe, Ben-Hadade usou 32 comandantes, em vez dos 32 reis confederados que usara anteriormente.

4. Ben-Hadade e Eliseu. O conflito com os sírios continuou mesmo depois da morte de Acabe, mas o profeta Eliseu parecia ser o verdadeiro espi­nho na carne de Ben-Hadade. Eliseu previa todos os movimentos do rei sírio, produzindo neste tamanha frustração, que este se determinou a capturar o profeta (2Rs 6.11-14). Quando o exército de Ben- Hadade veio pegar o profeta, o Senhor feriu todos os soldados com cegueira e levou-os a Samaria, onde Eliseu lhes ofereceu uma festa, libertando-os em seguida. Sua ação produziu uma interrupção temporária das incursões de Ben-Hadade contra Israel (6.18-23). Quando Ben-Hadade cercou novamente a cidade de Samaria, a fome foi tão ter­rível que mulheres estavam devorando os próprios filhos. Irado, o rei de Israel decidiu matar Eliseu, a quem culpava pela situação (6.32,33). O Senhor, porém, deu vitória a Israel sobre Ben-Hadade e proporcionou alivio contra a fome.

5. A m orte de Ben-Hadade. Para ter informações sobre o conflito entre Síria e Assíria, temos de apelar para os anais de Salmaneser, pois a Bíblia não o registra. Os assírios infligiram uma série de derrotas sobre Ben-Hadade, empurrando suas tropas para o rio Orontes, na ocasião da morte

O deus Melqart, em uma esteia dedicatória erigida por Bar-Hadade (Ben-Hadade), linhagem de Arã c.

860 a.C. © Museu Nacional, Aleppo.

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736 BEN-HAIL / BENIGNIDADE

de Ben-Hadade. Salmaneser registrou que Hazael usurpou o trono da Síria e se voltou contra ele, mas foi derrotado. A Bíblia acrescenta que Ben- Hadade enviou seu comandante-chefe ao encontro de Eliseu, para perguntar se ele se recuperaria dos ferimentos. Informado por Eliseu de que ele seria o sucessor de Ben-Hadade, Hazael pegou uma co­berta molhada e com ela sufocou o rei, assumindo o trono em seu lugar (S.-7-!5).

C. Ben-Hadade III. Filho de Hazael, o usur­pador. Embora não tivesse parentesco com Ben- Hadade II, apropriou-se do nome da dinastia.

1. C o n flito c o n t ín u o c o m Isra e l. Emvirtude de Jeoacaz (819-798 a.C.) continuar nos caminhos maus de Jeroboão I, Deus permitiu que Israel caísse nas mãos de Ben-Hadade (2Rs 13.2,3), o qual reduziu os exércitos de Israel a cinqüenta cavaleiros, dez carruagens e dez mil soldados a pé. Embora às vezes fosse mais brando, o domínio de Ben-Hadade sobre Israel continuou até os dias de Joás, filho de Jeoacaz, o qual der­rotou a Síria três vezes e reconquistou as cidades perdidas de Israel (13.24,25).

2. D e rro ta n a s m ã o s d o s a ss ír io s . 2Reis 13.5 afirma que nos dias de Jeoacaz, Yahweh deu a Israel um salvador, que o livrou das mãos de Ben-Hadade. Parece ser uma referência às derrotas infligidas à Síria por Adade-Nirari III, que atacou duramente Damasco. Os profetas também conside­raram as derrotas sofridas por Ben-Hadade como juízo divino (veja Am 1.4 e Jr 49.27).

BIBLIOGRAFIA. F. F. Bruce, Israel and the Nations, 46-51; Hitti, History ofSyria, 162-168; ANET, 276-281.

J. J. E dw ards

BEN-HAIL (7’r rp , filho da força). Um dos prín­cipes enviados por Josafá para ensinar o povo nas cidades de Judá (2Cr 17.7).

BEN-HANÃ (p rrp , filho da graça). Filho de Simeão, da tribo de Judá (lCr 4.20).

BEN-HESEDE (ion*p, filho de Hesede). Um dos doze oficiais administrativos de Salomão. Era responsável pelo terceiro distrito administrativo de Salomão, geralmente a região oeste de Manassés (lRs 4.10).

BEN-HINOM, VALE DE. Veja V a l e de H inom .

BEN-HUR (m rrp, filho de Hur). Um dos doze oficiais administrativos de Salomão. Era respon­sável pelo primeiro distrito administrativo, Efraim (lRs 4.8).

BENIGNIDADE. (-ion, bondade, benevolência, LXX, normalmente êXeoç, graça, compaixão, piedade; também (j)iXav0pco7iía, amor pela huma­nidade, (amor) bondade de Deus). Um sentimento que nasce em um relacionamento pessoal; afeição carinhosa e benevolente; especialmente o cuidado amoroso do Criador por suas criaturas racionais (Originalmente, loving-kindness [“benignidade”] eram duas palavras; a combinação foi cunhada por Coverdale).

A palavra “lovingkindness” (benignidade; bon­dade; beneficência; graça; misericórdia,naARAe na ARC) aparece 30 vezes na KJV, mas somente uma vez na RSV (Tt 3.4). Na KJV é invariavel­mente a tradução de hesed; ao passo que nesses 30 exemplos (com exceção de Jr 9.24; 31.3) a RSV traduz como “amor constante”. Nessas mesmas passagens, (exceto Jr 16.5; 31.3; 32.18), a LXX traduz hesed como éleos.

Às vezes, a RSV traduz hesed como “lealdade” ou “bondade”, mas quase sempre como “amor constante”; ao passo que a KJV e a ASV nor­malmente traduzem hesed como “benignidade” ou “misericórdia”. Na ASV hesed aparece inva­riavelmente como “benignidade” ao se referir a Deus; mas geralmente “bondade” ao se referir ao homem (por exemplo, Gn21.23, Jz 1.24; Rt 3.10; 2Cr 24.22; Jó 6.14).

hesed no AT significa uma atitude, tanto de Deus como do homem, que nasce do relaciona­mento mútuo, hesed é a atitude que cada um espera do outro; por exemplo, dono/servo; anfitrião/con­vidado, amigo/parente. Primariamente, liesed não é uma disposição, mas uma ação proveitosa; cor­responde a um relacionamento de confiança, hesed no soberano o faz proteger seu domínio; hesed dá aos homens segurança em seus tratos mútuos.

hesed também denota “bondade” ou “ajuda” recebida de um superior. O significado flutua entre “obrigação” (aliança), “fidelidade” e “amor” ou “graça”. Freqüentemente, hesed está associado com perdão e é quase igual a “misericórdia” ou “clemência” (Ex 20.6; 34.6,7; Mq 7.18). No entanto, a principal conotação de hesed é “amor leal”, um amor que está associado com a aliança

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BENINU / BENJAMIN 737

(Dt 7.12; ISm 20.8). Os homens podiam sempre confiar no hesed divino.

Quando hesed se refere a Deus, indica, em geral, o amor divino fluindo para os pecadores em bondade imerecida. No lado divino, hesed designa particularmente graça. Em um sentido religioso, o fyesed de Deus sempre significa sua ajuda miseri­cordiosa e fiel. (Este significado restrito é expresso por éloes). Deus prometeu o hesed; pode-se espe­rá-lo, mas nunca ousar reivindicá-lo.

O salmista vê Jeová como Aquele cujo amor constante tem sido “desde a eternidade” (SI 25.6). Ele ora, “Como é preciosa, ó Deus, a tua benig­nidade! por isso os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas” (36.7). O hesed divino é exaltado no Salmo 136. No Salmo 40, a fidelidade de Deus parece implicar a doação de Jesus Cristo, a prova mais convincente da misericórdia, da benig­nidade e da bondade divinas, que poderia ser dada a um mundo perdido (w. 10,11). No Salmo 51, ele ora, com um coração profundamente arrependido, pela remissão de pecados e espera que Deus lhe conceda de acordo com seu amor constante (v. 1; ARA, “misericórdias”). Ele continuamente louva Jeová por sua benignidade que é boa (69.16; ARA, “compassiva é a tua graça”) e “melhor do que a vida” (63.3; ARA, “graça”). A benignidade de Deus é aquele amor constante que não deixa Israel se afastar.

A benignidade de Deus vem por meio de Cristo (Ef 2 .7, ARA, “bondade”; Tt 3.4-6). É descrita como (1) boa(Sl 69.16, ARA, “compassiva... gra­ça”); (2) maravilhosa (SI 17.7, ARA, “maravilhas da tua bondade”; SI 31.21, ARA, engrandeceu a sua misericórdia”); (3) grande (Ne 9.17, ARA, “grande em bondade”); (4) excelente (SI 36.7, ARA, “preciosa”); (5) misericordiosa (SI 117.2, ARA, “grande... misericórdia”); (6) muito nume­rosa (Is 63.7, ARA, “multidão das suas benigni- dades”) (7) eterna (Is 54.8, ARA, “misericórdia eterna”); (8) melhor do que a vida (SI 63.3, ARA, “graça...”). Uma consideração cuidadosa sobre o comportamento de Deus dá a percepção disso (SI 107.43).

A benignidade (ou amor constante, bondade, misericórdia, graça) de Jeová nunca é completa­mente retirada de seu povo (SI 89.33; Is 54.10). O povo é desposado (Os 2.19), (2) atraído (Jr 31.3),(3) preservado (SI 40.11), (4) vivificado (119.88),(5) ouvido conforme a bondade (119.149), (6) sempre atento a ela (26.3; 48.9) e (7) coroado por ela (103.4).

Os crentes (1) louvam a Deus por sua benig­nidade et al. (SI 92.2; 138.2), (2) procuram-na

(51.1) e recebem graça por meio deia (Is 54.X)(3) proclamam-na a outros (SI 40.10), 4) são confortados por ela (119.76) e (5) oram para q^e ela seja mostrada (17.7); 143.8), por sua continu­ação (36.10) e extensão (Gn 24.12; 2Sm 2.6). Eles devem (1) esperar por ela na aflição (SI 42.”,8) e(2) rogar pela manifestação da bondade de outrora (25.6; 89.49).

hesed é uma qualidade essencial e distinta de Deus, mas também deve caracterizar o povo de Deus (Os 4.1; 12.6; Mq 6.9). Da parte de Deus, talvez hesed denote afeição paternal; da parte do homem, afeição filial e fraternal.

No Judaísmo posterior hesed é empregado para designar bondade e piedade humana. Os rabinos empregavam o hesed com o significado de ato de amor; exortações à misericórdia ocorrem com freqüência. Em especial, hesed significa a mise­ricórdia de Deus.

Lovingkindness está ausente do NT da KJV, mas seus equivalentes são mercy (“misericórdia”), goodness (“bondade” ), kindness (“bondade”, “benevolência”, “amabilidade”), brotherly love (“amor fraternal”) e talvez grace (“graça”).

BIBLIOGRAFIA. G. Vos, Biblical Theology( 1948), 276; W. G. Scroggie, The Psalms, IV (1951), 201; M. Luther, Selected Psalms III, Vol. XIV o f Works (c. 1958), 24,28, 50s., 55,105,166,201,241,254s„ 272, 320; J. J.S. Perowne, The Book o f Psalms, II (1966), 204.

R. E. P erry

BENINU (i^ i, nosso filho). Um dos levitas que selaram o pacto com Esdras (Ne 10.13).

BENJAMIM (T’»,:n, ou i m s , L X X B sv iap rv , filho da mão direita).

1. O filho mais novo de Jacó. Depois do encon­tro de Jacó com Esaú, quando retomava à terra do seu pai, Raquel deu à luz um filho, mas ela morreu no parto. Antes de morrer, colocou no menino o nome de Benoni (“filho da minha tristeza”), mas Jacó depois o chamou de Benjamim (Gn 35.18). Ele era irmão de José e meio-irmão dos outros dez filhos de Jacó (com a irmã de Raquel e com as servas de ambas). Por serem filhos da mulher pela qual Jacó trabalhara durante 14 anos, José e Benjamim eram seus filhos preferidos.

Durante os sete anos de fome no Egito e na Palestina, Jacó enviou dez dos seus filhos ao Egito, para comprarem grãos. José, a quem os irmãos

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738 BENJAMIN, PORTA DE / BENJAMIN, TRIBO DE

tinham vendido como escravo, era governador no Egito, responsável por todo o armazenamento de comida no Egito, e reconheceu seus irmãos quando apareceram. Vendeu-lhes grãos, mas exigiu a presença do irmão mais novo antes que pudessem fazer outra compra. Jacó ficou profundamente aflito com essa mudança nos acontecimentos, mas não tendo outra escolha, permitiu que Benjamim viajasse com os outros. Depois de um pouco de suspense, José revelou-se aos irmãos e voltou a se unir a Benjamim. Mandou buscar Jacó e a descida de Israel ao Egito teve lugar (Gn 45.4— 46.7).

Na época da descida ao Egito, a Bíblia relata que Benjamim tinha dez filhos (46.21). A julgar pela bênção de Jacó sobre os filhos, Benjamim teria uma vida frutífera (49.27).

2. Uma das tribos de Israel. De acordo com o censo realizado por Moisés na época da entrada de Israel em Canaã. Benjamim contava com 35.400 homens em idade militar (Nm 1.37). No segundo censo, o número se elevara para 45.600 (26.41). Com Abidã como seu príncipe, a tribo foi indicada para marchar junto com Efraim e Manassés, assu­mindo posição a oeste do Tabemáculo (2.18-24). Quando os espias foram enviados a Canaã, a tribo de Benjamim foi representada por Palti (13.9).

No sorteio dos territórios, a tribo recebeu a terra entre Judá e José (Js 18.11), a qual incluía lugares notáveis como Jerusalém, Gibeâo, Betei, o vale de Aijalom e Bete-Horom.

Em sua história, atribo de Benjamim tomou-se famosa e infame. Produziu Eúde, o juiz canhoto, e Saul, o primeiro rei de Israel (ISm 9.1); tomou parte na defesa de Israel sob a liderança de Débora e Baraque. Entretanto, foi também a tribo à qual pertenciam os homens perversos que atacaram a concubina do levita, incidente que culminou numa guerra civil que quase levou a tribo à extinção (Jz 20.3-48).

3. Bisneto de Benjamim, filho de Jacó (lCr7.10).

4. Um dos que se casaram com mulheres es­trangeiras no tempo de Esdras (Ed 10.32).

BIBLIOGRAFIA. H. P. Smith, Old Testament His- toiy, 106, 107.

J. J. E dw ards

BENJAMIM, PORTA DE porta dofilho da mão direita). Portão da cidade de Jerusa­lém anterior ao Exílio (Jr 37.13; 38.7).

Uma vez que est_ portão dava acesso à casa de Jeremias em Anatote (37.12), mas ficava do lado

oposto à Porta da Esquina do lado oeste (Zc 14.10), parece identificar-se com a pós exílica Porta da Guarda (Ne 3.31; Mifcade, ARC), no extremo norte do muro leste da cidade. Outros sugerem que era a Porta das Ovelhas (v. 32), no extremo leste do muro norte (cp. Ez 9.2). Corresponde à Porta Superior de Benjamim no Templo ( J r 20.2), construída pelo rei Jotão (2Rs 15.35; cp. Ez 9.2). Veja J e r u s a l é m , III, A.

J. B. P ayne

BENJAMIM, TRIBO DE (l’0’:n, lima, ouM’01 ’:n; LXX, Bevtaeív; Bevta(iív; uíot Beviapív; Benja­mim ou filhos de Benjamim). Atribo descendente de Benjamim, o filho mais novo de Jacó. Alguns acre­ditam que a origem da tribo deve ser encontrada no Binu (ou Marti) yamina dos textos Mari do século 18 a.C., mas no todo, parece ser improvável.

Na época do primeiro censo realizado por Moisés, foram contados 3 5.400 homens da tribo de Benjamim em idade militar (Nm 1.37) e no segun­do censo, 45.600 (26.41). Aposição de Benjamim no acampamento era a oeste do Tabemáculo, com Efraim e Manassés; nessa época, o líder da tribo era Abidã, filho de Gideoni (2.22). O representante da tribo, no grupo de espias enviados a Canaã, foi Palti, filho de Rafu (13.9). Na época da divisão da Terra Prometida, a liderança da tribo de Benjamim recaiu sobre Elidade, filho de Quislom (34.21).

1. G e o g ra f ia . E impossível determinar com precisão os limites exatos do território de Ben­jamim. As passagens mais relevantes são Josué 15.5-11; 16.1-3,5; 18.11-13. No geral, o território de Benjamim ficava entre o território de Judá ao sul e o território dos filhos de José ao norte. Y. Aharoni descreve a fronteira sul como indo até as praias do mar Morto a noroeste, passando ao sul por Jericó, atravessando abaixo de Jerusalém e deixando-a no território de Benjamim, passando por Quiriate-Jearim, descendo a Bete-Semes e se­guindo o vale Soreque até o mar Mediterrâneo. Ao norte, a fronteira passava do Jordão até uma fonte a leste de Jericó e continuava em direção noroeste para a região de Bete-Horom Superior e Inferior. Embora a descrição do teritório de Benjamim pare ali, a descrição da região destinada à casa de José fomece mais um ponto de referência a oeste, ou seja, Gezer (veja The Land o f the Bible [1962, 1967], 235, 236 e o mapa na p. 229). A fronteira leste era o rio Jordão. Entretanto, deve-se notar que outras autoridades interpretam os dados de forma que a fronteira oeste corre mais ou menos

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BENJAMIN, TRIBO DE 739

A Tribo de Benjamim

ao norte de Quiriate-Jearim, sendo essa fronteira compartilhada com atribo de Dã. Parece não haver uma solução satisfatória do problema da fronteira oeste de Benjamim.

Josué 18.21-27 apresenta uma lista de muitas cidades e povoados localizados dentro do território de Benjamim; incluídos entre eles estão Jebus (Jerusalém) e Jericó.

A despeito da questão da fronteira ocidental, o território de Benjamim era estrategicamente localizado para a guerra; a principal estrada no sentido norte-sul passava por ele. A tribo parece ter aceitado o desafio dessa posição, tomando-se famosa pela habilidade de seus arqueiros e espe­cialistas em funda. Uma característica especial dos guerreiros benjamitas é que eram ambidestros, sendo capazes de manusear a funda tanto com a mão direita como com a esquerda (Jz 20.16; lCr 8.40; 12.2). Assim, Eúde, benjamita e segundo libertador de Israel do período dos juizes, foi lembrado como sendo canhoto (Jz 3.15).

2. História. No período dos juizes, os benja­mitas participaram de várias batalhas, como aquela sob a liderança de Débora e Baraque contra Sísera (Jz 5.14) e a luta calamitosa contra as outras tribos de Israel, registrada em Juizes 20.20ss.

O primeiro rei de Israel, Saul, era benjamita e sua nomeação aumentou o prestígio da tribo. De­pois da morte de Saul, a tribo de Benjamim perma­neceu fiel à sua casa. O exército de Is-Bosete, filho de Saul, comandado por Abner, era constituído principalmente de benjamitas e conseguiu fazer uma oposição considerável à nomeação de Davi como rei (2Sm 2.15ss.). Benjamim recebe uma menção especial, como uma entidade separada de

Israel, quando Abner foi negociar a posição de rei com Davi (3.17ss.). Os benjamitas continuaram a fazer oposição a Davi mesmo depois que este asse­gurara o trono. Simei. filho de Gera, que pertencia à casa da Saul, ao ver Davi e seus homens fugindo de Absalão, passou a amaldiçoá-lo. jogando pedras e terra em sua cabeça (2Sm 16.5ss.). O rei Davi então entendeu que. se seu próprio filho procura­va matá-lo, não era surpresa que os benjamitas agissem da mesma forma (2Sm 16.11). Quando Davi retomou a Jerusalém como o favorito óbvio de Judá, Seba, da tribo de Benjamim, iniciou uma revolta (2Sm20.1ss.). Todas as tribos, exceto Judá, seguiram-no, Joabe, comandante de Davi, perse­gui-o, no interesse de Davi. Seba foi traído por uma mulher de Abel-Bete-Maaca e morto.

Na época da divisão do reino, poder-se-ia espe­rar que Benjamim se unisse à revolta contra o rei Roboão, separando-se com as outras tribos e dei­xando a tribo de Judá isolada. Algumas passagens suportam esse entendimento (1 Rs 12.20), enquanto outras declaram explicitamente que Benjamim permaneceu com Judá 112.21,23; 2Cr 11.10,12,23; 14.8; 15.2,9 etc.). A profecia de Aías, que dividiu sua roupa nova em doze partes e deu dez pedaços a Jeroboão, explicando que ele reinaria sobre dez tribos, permite a possibilidade de que Benjamim permaneceu com Judá. A simpatia dos benjamitas pode bem ter se dividido, mas parece impossível que Roboão permitisse que atribo aderisse às tribos do norte. Afinal, Jerusalém, a cidade real, ficava dentro do território de Benjamim. Se esta tribo se separasse, Jerusalém não poderia continuar como capital. Evidentemente Roboão foi bem sucedido em se unir a Benjamim, ou pelo menos parte da tribo, juntamente com Judá, de modo que a capital

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740 BEN O/BEREDE

pôde ser preservada. Deste ponto em diante, o des­tino de Benjamim estaria vinculado ao de Judá.

Havia duas “Portas de Benjamim” na cidade de Jerusalém, uma no Templo (Jr 20.2) e a outra— que talvez possa ser identificada como a “Porta das Ovelhas — no muro norte da cidade (37.13; Zc 14.10).

Nas genealogias da restauração no AT, nos livros apócrifos e no NT, Benjamim geralmente é usado para indicar a descendência pessoal, e não o território tribal (por exemplo, Ne 11.4,7,31; 2Mac3.4). Paulo lembra aos judeus de Antioquia da Pisí- dia, a origem benjamita do primeiro rei dos judeus (At 13.21). Ele também sustenta suas próprias credenciais judaicas referindo-se à sua linhagem benjamita (Rm 11.1; Fp 3.5). No Apocalipse, a tribo de Benjamim tem seu lugar junto com as onze outras tribos, de cada uma das quais doze mil servos de Deus de\ em ser selados (Ap 7.8).

BIBLIOGRAFIA. W. F. Albright, From the Stone Age to Christianity (1957), passim; M. Noth, Histoiy o f Israel (1958) ^3s„ 146. 233; GTT(1959), 164ss.; J. Bright, History o fIsrael (1960), 142,189,213-216; F. F. Brace, Israel and lhe Nations (1963), passim.

H. G. A ndersen

BENO ('32). Encontrado somente em 1 Crônicas24.26,27. De acordo com o contexto, parece que Beno é filho de Jaazias, e este é descendente de Merari. BDB sugere que esta palavra não é um nome próprio e deve ser traduzida simplesmente como “seu filho”. ABíblia de Jerusalém segue essa sugestão. Entretanto, a ARA, a ARC, NVI, RSV e NASB tratam a palavra como nome próprio. O contexto requer um nome próprio.

G . G ia cu m a k is J r .

BENO NI ( w p ,JSho da minha tristeza). Nome dado por Raquel ao seu segundo filho, no momento do parto; depois da morte dela, Jacó mudou o nome do menino para Benjamim (Gn 35.18).

BENUI. Forma de B inui na BJ em Esdras 8.33 passim.

BEN-ZOETE (nnrp ; LXX iAoi ZcoaG; filho de Zoete). Filho ou neto de Isi, mencionado na lista do censo de Judá (lC r 4.20). Não é conhecido de nenhuma outra maneira.

B EO M . Veja B a a l -M e o m .

BEOR (nsn, isn). 1. Pai de Bela, um rei edomita que governou antes de Israel tomar-se monarquia (Gn 36.32; lCr 1.43).

2. Pai do vidente Balaão, o qual foi convocado por Balaque para amaldiçoar Israel (Nm 22.5; 24.3,15; 31.8; Dt 23.4; Js 13.22; 24.9; Mq 6.5; 2Pe 2.15).

BEQUER(-D2 Jovem camelo). 1. Filho de Benja­mim (Gn 46.21; lCr 7.6).

2. Filho de Efraim e fundador de uma família chamada bequeritas (Nm 26.35). Em 1 Crônicas 7.20, o nome aparece como Berede.

BERA (y-i 2; LXX BáXXa, rei de Sodoma em Gênesis 14.2; cp. vv. 8,10,11,17,22). Ele e seus aliados foram derrotados depois de se rebelarem contra Quedorlaomer da Mesopotâmia.

BERACA (rü i2, lit. bênção). 1. Um dos guerreiros irmãos de Saul, que se uniram a Davi em Ziclague (lC r 12.1-3).

2. Vale no deserto da Judéia a oeste de Tecoa, identificado com o wadi Bereikut, onde Josafá der­rotou a coalizão da Transjordânia (2Cr 20.26).

BERAÍAS (n ’ fTl2, Yahweh criou). Filho de Simei, da tribo de Benjamim (lCr 8.21).

BERCOS. Forma de B a r c o s na B J , em Esdras 2.53 e Neemias 7.55.

BEREDE (712, significado incerto).1. Local no Neguebe, no caminho de Sur, men­

cionado junto com Cades (Gn 16.14), onde Hagar parou com seu filho Ismael, quando lhes apareceu um anjo do Senhor, no poço de Beer-Laai-Roi. George Adam Smith (HGHL, p. 192, n. 10) nota que o Targum Ps. Jonathan toma Halusa como Berede, a qual é Khirbet Khalaçah, c. 20 km ao sul de Berseba. Esta parece ser a melhor estimativa para datar a localização desse sítio, na estrada para o Egito utilizada por Abraão (Gn 13.1) e pela cara­vana de Jacó, quando desceram todos para o Egito (46.1,5s.), bem como na fuga da escrava egípcia.

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BERÉIA/ BERENICE 741

2. Filho de Efraim (1 Cr 7.20), chamado Bequer em Números 26.35.

W. C. K a is e r J r .

BERÉIA (Bépoia). Pequena cidade no sudoeste da Macedônia, datando provavelmente do 52 séc. a.C. Situada nos contrafortes ao sul da planície mace- dônica, Beréia tomou-se um dos mais populosos centros da Macedônia nos tempos do NT, embora sem nenhuma importância política ou histórica. A grande estrada Inacianal, responsável pelo tráfego leste-oeste entre Itália e Ásia, passava a poucos quilômetros ao norte dessa cidade.

Em Beréia, Paulo e seus companheiros encon­traram refúgio depois dos eventos tempestuosos em Tessalônica (At 17.10-15; 20.4). Deixaram a cidade hostil à noite. A estrada principal levava a Edessa. Paulo seguiu para o sul e chegou a Beréia nas escarpas orientais da cordilheira do Olimpo (algumas ruínas antigas marcam o local onde havia uma cidade agradável). Foi uma longa jornada no­turna até este local seguro. A comunidade judaica de Beréia tinha a mente aberta, preparada para ouvir e estudar, não corrompida com as influências dos judeus de Tessalônica. Certamente as hostilidades da cidade anterior somente atingiram Paulo depois que já tinha feito bons progressos em Beréia (At 17.11-13), ganhando adeptos principalmente entre as mulheres gregas da alta sociedade. Cícero, em seu discurso inflamado contra Piso, descreve como aquele governador romano era tão impopular que achou sábio se esgueirar em Tessalônica à noite e então fugir da tempestade de reclamações que sua

presença ocasionava, para essa mesma cidade de Beréia. Ela ficava, segundo Cícero, “fora da rota muito usada” (oppidum devitm) (In Pis. 36). Assim como escondeu o magistrado romano, embora por pouco tempo, a cidade abrigou também Paulo e Si­las mais de um século mais tarde. Ali encontraram a bênção da compreensão, da sinceridade e do desejo de ouvir, até que os inimigos conseguiram nova­mente uma pista deles, assim como localizaram também o magistrado. E curioso encontrar o santo e o pecador em circunstâncias tão semelhantes.

E. M. B l a ik lo ck

BERENICE. Princesa herodiana, nascida em 28 d.C., filha de Agripa I; faz uma breve aparição no NT, na história do inquérito de Paulo diante de Festo, na cidade de Cesaréia (At 25.13-27). Ela estava visitando a guarnição romana na cidade, com seu hábil irmão Agripa II. Berenice casou-se. ainda criança (com 13 anos) com Marcus, filho de Tibério Júlio Alexandre, o “Arabarco”', e depois da morte dele, ela casou-se com seu tio Herodes; foi para ele que Agripa I, confirmado agora por Cláudio no controle dos domínios de Herodes I, implorou o pequeno reino de Cálcis (Jos.. Ant. XIX, v. 1). Berenice teve dois filhos desse casa­mento: Bemiceano e Hircano (Jos., B.J. XI).

Depois da morte do seu marido, em 48 d.C., Berenice voltou para a casa patema e passou a vi­ver com o irmão Agripa, com quem aparentemente compartilhava uma amizade calorosa e comunhão mental. Inevitavelmente, surgiram rumores de uma relação incestuosa, sem nenhuma evidência real. Para se opor ao escândalo, Berenice casou-se com outro monarca insignificante. Polemon II de Olba, na Cilícia (c. 65 d.C.), mas a união não durou mui­to. Juvenal (Sat. VI, 155-160) é um bom exemplo das fontes duvidosas de tais histórias:

A mais famosa jóia que Berenice usa,O preço do incesto e vale ainda mais.

(t r . d a t r . para o in g l ê s , d e G iff o r d )

A aparição mais notável de Berenice nas pági­nas da história é no relato do seu esforço heróico e abnegado, compartilhado com seu irmão, para evitar a erupção da grande rebelião de 66 d.C. Ela confrontou o procurador louco Gessius Florus, colocando em risco a própria vida. Tácito (Hist. 2.81) menciona como ela, com sagacidade cultivou o favor e a boa vontade de Vespasiano durante a guerra. Na época, segundo o historiador, ela estava “no auge de sua juventude e beleza”, a despeito

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742 BEREQUIAS / BERILO

dos 41 anos de idade. Tito tomou-se amante de Berenice durante os mesmos anos de guerra, quando ela e o irmão buscaram asilo em Cesaréia; aparentemente ele a levou para Roma, mandando-a embora (sem dúvida por razões políticas) em 70 d.C (Suet. Tit. 7. 2). O historiador relata laconi- camente que foi um “invitus, im itam , contra a vontade de ambos”. Isso ocorreu dois anos antes da morte de Tito, quando este buscava reconstruir a imagem de Vespasiano. Com este fato, a princesa Berenice desapareceu da história.

E. M. B la ik lo ck

BEREQ UIAS (ri’313, irpmn, a quem Yahweh abençoou).

1. Descendente de Salomão cujo nome aparece na lista dos judeus que viviam em Judá no período pós-exílio (lCr 3.20). Era também descendente de Jeconias, o rei que foi levado cativo para a Babilônia por Nabucodonosor (597 a.C.).

2. Pai de Asafe, o qual, por ordem de Davi, foi nomeado pelos levitas para ser um dos três encar­regados da música nos cultos. Hemã era a figura central, com Asafe à sua direita e Etã à sua es­querda. A indicação dos cantores começou quando a Arca da Aliança foi trazida para Jerusalém e continuou depois que o Templo foi construído por Salomão (lC r 6.31-39: 15.16,17).

3. Filho de Asa, um dos levitas que retomaram a Judá depois do Exílio na Babilônia e habitaram em Netofar ou em uma das suas vilas. Os levitas, incluindo Berequias, foram dentre os primeiros a retomar com Jesua e Zorobabel e a ocupar as antigas aldeias e participar da reconstrução do templo e da cidade (lC r 9.14-16).

4. Porteiro encarregado de guardar a Arca da Aliança, na época em que o rei Davi reorganizou o serviço levítico. Muitos foram nomeados canto­res e músicos, mas alguns, como este Berequias, foram nomeados porteiros (lC r 15.23), uma função mantida por Salomão depois da construção do Templo.

5. Filho de Mesilemote, foi um dos líderes de Efraim que se opuseram a trazer cativos de Judá para Samaria, nos dias do rei Acaz. Os chefes se opuseram argumentando que tal atitude traria culpa sobre Israel e intensificaria a ira de Yahweh sobre eles, porque os cativos eram seus parentes e era contra a lei de Yahweh tomá-los escravos (2Cr 28.8-13).

6. Pai de Mesulão, o qual foi um dos sacerdotes que reparam o muro de Jerusalém sob a liderança de Neemias. Sua área de trabalho foi a Porta do

Peixe (Ne 3.3,4) e acima da Porta dos Cavalos, do lado oposto de onde morava (3.30). Berequias foi também avô da mulher que se casou com Joanã, filho de Tobias; essa relação resultou num controle negativo de Tobias sobre a comunidade dos judeus (6.18).

7. Filho de Ido e pai do profeta Zacarias (Zc 1.1). Zacarias, mais do que qualquer outro pro­feta, apoiou o trabalho de Josué e de Zorobobel na reconstruçãqo do Templo depois do cativeiro na Babilônia.

J. J. E dw ards

BERI (’"Q, sabedoria). Filho de Zofa, da tribo de Aser (lCr 7.36). Seu nome não é mencionado nas genealogias paralelas (Gn 46.17,18; Nm 26.44-47); aparentemente não tem ligação com os beritas de Números 26.44, ou com os beritas de 2 Samuel 20.14.

BERIAS, BERITAS ( n r i D , T t ) .1. Filho de Aser e pai de Héber e de Malquiel

(Gn 46.17); o ancestral da família dos beritas (Nm 26.44).

2. Filho de Efraim, chamado Berias por seu pai porque as coisas iam mal em sua casa (lCr 7.23). Quatro outros filhos de Efraim foram mortos pelos homens de Gate, quando roubavam gado.

3. Filho de Elpaal, benjamita de Aijalom, o qual ajudou a afugentar os habitantes de Gate (lC r 8.13,16).

4. Levita, filho de Simei, o gersonita; ele e seu irmão, Jeús, tiveram poucos filhos, “pelo que estes dois foram contados por uma só família” (lC r 23.10,11).

S. B arabas

BERILO. Mineral que geralmente tem cor verde- clara, mas que também pode ser verde escuro, azul-amarelado, castanho-avermelhado ou branco. Certas variedades há muito são utilizadas como pedras preciosas (Ap 21.20), sendo esmeralda (q.v.) de tom verde-esmeralda até o verde escuro, verde-mar, azul-esverdeado claro, amarelo doura­do e rosa. A esmeralda oriental usada na joalheria é a safira (q.v.). Gemas de qualidade inferior também são chamadas de berilo, as quais, devido à sua opacidade, são inadequadas para jóias. Trata-se de um silicato natural de alumínio. Os cristais são comuns, muitas vezes de tamanho grande com mais de 5 mm de comprimento e 1 mm de

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BERITAS / BERITH 743

diâmetro; geralmente possuem forma de prisma he- xagonal, com base plana, algumas vezes em forma de pirâmide hexagonal, muitas vezes com estrias verticais. Na Antiguidade o termo crisólito (q.v.), uma pedra transparente, amarela ou verde, era apli­cado a várias gemas, inclusive o berilo, enquanto o crisópraso (q.v.), outro nome antigo para pedras preciosas verde-douradas, agora é reconhecido em geral como uma variedade de berilo.

O berilo é encontrado com maior facilidade em rochas de granito, tanto em cavidades cober­tas de granitos, como em veios de pegmatita. As variedades de gemas são encontradas principal­mente na Colômbia, onde o berilo é extraído do calcário betuminoso; o berilo comum, porém, é amplamente encontrado na índia, Austrália, EUA e outros países.

BIBLIOGRAFIA. H. H. Read, Rutleys Elements o f Mineralogy, 26a ed. (1970), 292, 293.

D. R. B ow es

BERITAS (□’"□). Atradução de (NVI, “bicri- tas”; BJ, “bocritas”) em 2Sm 20.14 na Almeida. Veja Bicri .

BERITH (m n , aliança). Uma das palavras-chave na teologia do Antigo Testamento, ocorrendo 285 vezes no texto massorético. Veja A l ia n ç a .

BERITO. Modema cidade de Beirute no Líbano; nos tempos antigos foi um dos grandes portos da costa fenícia, rivalizando com Biblos ao norte e com Tiro e Sidom ao sul. Berito não é mencionada no AT (as cidades de Berotai. de 2Sm 8.8, e Berota, de Ez 47.16, não são Beritos). embora seja citada em registros egípcios tão antigos quanto a lista de Tutmés III, do século 15 a.C. Também foi encon­trada nas Cartas Amama de cerca de 1.400 a.C., quando Berito, porto importante para o Egito, no comércio e transporte de cedro, e guarnição marí­tima contra os hititas. estava firmemente nas mãos de uma vassalo egípcio chamado Ammunira. Esse local principal proporcionou asilo para um certo Rib-Addu de Biblos, um líder pró-Egito que fora expulso da cidade do norte. Berito funcionou como porto comercial durante os séculos de domínio assírio, babilônico, persa e no período selêucida. Não teve destaque na história, comparáv el aos portos fenícios reais de Tiro e de Sidom. exceto pelo fato de que a cidade foi capturada e destruída por Trifao em sua luta pelo trono selêucida. em 140 a.C. Marcos Agripa, oficial de Augusto, ocupouo porto no ano 15 a.C., transformando a cidade numa colônia militar; daí em diante. Berito teve pouquíssima projeção histórica.

Herodes I adornou Berito e aí presidiu o dra­mático tribunal diante do qual acusou e sentenciou seus dois filhos (Josefo, Ant. XVI. xi. 2 ). Agripa I e Agripa II construíram teatros na cidade e. de acor­do com Josefo (B.J. VII iii, 1), foi em Berito que

Mar Grande

BERITO

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744 BERODAQUE-BALADÃ / BERSEBA

Tito celebrou a queda de Jerusalém e o aniversário de Vespasiano. Era um local apropriado, pois as tropas orientais, que levaram Vespasiano ao trono em 69 d.C., estavam reunidas ali (Tácito, Hist. 2, 81). Berito ficou famosa na época imperial como um centro de erudição, principalmente no estudo do Direito. Sua história antiga foi praticamente encerrada pelo desastroso terremoto de 521 d.C.

E. M . B la ik lo ck

B E R O D A Q U E -B A LA D Ã . Veja M e r o d a q u e -B a l a d ã .

BEROT. Forma de B e e r o t e na B J , em Esdras 9.17.

BEROTA, BEROTAI (Ez 47.16 nriTQ; LXX Br|- pco0a; ApOrp; Qoôripoc; 2Sm 8.8, ’rrn, LXX, è k tcúv èkXektcòv jto àeco v ). Cidade de Hadadezer si­tuada entre Damasco e Hamate, da qual Davi levou grande quantidade de bronze. Já se pensou que fosse a cidade de Beirute. A identificação mais provável, porém, é Bereitan, ao norte de Damasco.

H. G. A n d e r sen

BERSEBA (í jw -jQ : LXX Bripaapée; o poço de sete/juramento). Cidade no distrito do Neguebe, em Judá. O sítio daBerseba bíblica tem sido iden­tificado com Tell es-Saba‘, localizado na junção do Wâdi Sabá e do WâdT Khelil. Vestígios calco- líticos na vizinhança imediata de Berseba foram descobertos em vários locais, nos dois lados do WâdT es-Sabá.

Embora Abraão estivesse estabelecido na estra­da que ligava Sur (a famosa linha de defesa egípcia ao leste) a Cades (-Baméia), foi considerado peregrino em Gerar (Gn 20.1). Aregião pela qual Hagar vagou é chamada de “deserto de Berseba” (21.14). Abraão teve direito de acesso à água na região de Berseba, em virtude de um acordo com Abimeleque, governante de Gerar (21.22-32). Logo depois do pacto com Abimeleque, Abraão plantou tamargueiras em Berseba; a natureza religiosa deste ato é enfatizada pela declaração adi­cional de que ali ele invocou o nome do Senhor, o Deus Eterno (21.33). Evidentemente ele continuou residindo naquela região por algum tempo (cp. 22.19). Uma situação similar ocorreu com Isaque. Ele morou durante algum tempo em Gerar (26.1­16), mas a inveja dos habitantes locais forçou-o a

se mudar, primeiro para o “vale de Gerar” (26.17) e finalmente para Berseba (26.23). Ele também fez um pacto com Abimeleque (26.23-33). Isaque deve ter permanecido na região de Berseba por longo tempo; as disputas entre seus filhos, Esaú e Jacó, aparentemente ocorreram ali (28.10); Jacó, porém, retomou a Canaã somente para encontrar- se com o pai em Hebrom (35.27).

Berseba coube por sorteio à tribo de Simeão (Js 19.2; lCr4.28); entretanto, visto que esta tribo tinha se tomado tão intimamente ligada à tribo de Judá (Jz 1.3), as cidades de Simeão, inclusive Ber­seba, também aparecem entre as cidades do “distri­to do Neguebe” de Judá (Js 15.28; cp. vv. 21,32). No período pré-monárquico, Samuel estabelecera seus filhos ali para desempenharem o papel de juizes (ISm 8.2). Desde os primórdios da história israelita, Berseba era considerada o extremo sul do território de Israel; cp. a frase familiar “de Dã a Berseba” (Jz 20.1; ISm 3.20). Isso também se aplicava ao reino de Saul (2Sm 3.10).

Aposição de Berseba como capital do distrito do extremo sul, do reino de Davi (2Sm 24.2,15;1 Cr 21.2), fica evidente pelo fato de que os oficiais de Joabe encarregados do censo “foram para o Neguebe de Judá, a Berseba” (2Sm 24.7). Aparen­temente, o mesmo ocorria no reinado de Salomão (lRs 4.25). Quando o profeta Elias fugiu para o sul, sua primeira parada foi em “Berseba, que pertence a Judá” (19.3). Zibia, uma das esposas de Acazias (rei de Judá), era de Berseba (2Rs 12.1). Sob o reinado de Josafá, Berseba aparentemente continuou sendo o centro administrativo do sul de Judá (2Cr 19.4). O profeta Amós parece indicar que havia ali um santuário (Am 5.5; 8.14). Berseba ainda destacou-se como o extremo sul do território de Judá durante os reinados de Ezequias (2Cr 30.5) e Josias (2Rs 23.8). Havia uma população judaica em Berseba no período pós-exílico (Ne 11.27, e a ocupação judaica estendeu-se de “Berseba até o vale deHinom” (11.30).

BIBLIOGRAFIA. A. Musil, Arabia Petraea, I-III (1907-08), 2, 165ss.; W. F. Albright, “Egypt and the Early History of the Negeb”, JPOS IV (1924), 131-161; A. Alt, “Beitráge zur Historischen Geographie und Topographie des Negeb”, JPOS XV (1935), 294-326;D. H. Kallner-Amiran, “Geomorphology o f the Central Negev Highlands”, IEJ, I (1951), 107-120; J. Perrot, “The Excavations at Tell Abu Matar, near Beersheba”, IEJ, V (1955), 17-40, 73-84, 167-189; R. B. K. Amiran, “The ‘Cream Ware’ of Gezer and the Beersheba Late Chalcolithic”, IEJ, V, (1955), 240-245; T. Josien, “La faune chalcolithique des gisements Palestiniens de Bir

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BERZELAI / BESODIAS 745

Berseba no Neguebe. Residência bíblica de Abraão. © Consulado Geral de Israel

Es-Safadi et Bir Abou Matar”, IEJ, V (1955), 246-256; M. Negbi, “The Botanical Finds at Tell Abu Matar, near Beersheba”, IEJ, V (1955), 257-261; M. Dothan, “Radioactive Examination of Archaeological Material from Israel”, IEJ, VI (1956), 112-114; Y. Aharoni, “The Negeb of Judah”, IEJ, VIII (1958), 26-38; A. F. Rainey, “The Merchants at Ugarit and the Patriarchal Narrati- ves”, Christian News fi-om Israel XIV, no. 4 (julho de 1963), 17-26; Israel Department of Antiquities, “Notes and News”, IEJ, II (1952), 253; III (1953), 262, 263;IV (1954), 125, 126; V (1955), 125, 126, 174, 175; VI (1956), 126, 127; VIII (1958), 131-133; IX (1959), 29, 141, 142, 267; X (1960), 120, 121; XIII (1963), 145, 146,260,261.

A. F. R a in e y

B ER ZE LA I. Forma de B arzilai na B J, em 2 Samuel 17.27.

BESAI (’0n, oprimido). Em Esdras 2.49, este homem foi arrolado como pai de uma família de servos do Templo no período pós-exílico. O grupo tinha retomado da Babilônia sob a liderança de Zorobabel e ocupava uma posição inferior na hierarquia do Templo.

BESAI. Forma de B ezai na BJ, em Esdras 2.17.

BESELEEL. Forma usada pela BJ, em Esdras10.30 para B ezalel.

BESODIAS (n ’nD3, no conselho secreto de Yah). Arrolado como pai de um certo Mesulão, o qual ajudou na reconstrução da Porta Velha no muro de Jerusalém, sob a direção de Neemias (Ne 3.6).

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746 BESOR, RIBEIRO DE / BESTA

BESOR, RIBEIRO DE (niiQTi ?ra). Um ribeiro atravessado por Davi quando este saiu de Zicla- gue em perseguição aos amalequitas, um grupo nômade do Neguebe e do Sinai que tinha atacado e subjugado a cidade — ISm 30.9,10,21. Nesse ribeiro, Davi deixou duzentos homens para trás, os quais estavam exaustos demais para continuar a perseguição. Provavelmente, trata-se do Wadi Ghasseh, o maior dos vários wadis a sudoeste de Ziclague (Tell el-Khitweilfeli).

BESOURO besouro; grilo [ARA, ARC],Lv 11.22). O contexto é uma lista de insetos comestíveis: só isso já toma a tradução “grilo” preferível, embora incerta. Assim, não se pode ser encontrada nenhuma referência para a iden­tificação do Coleoptera, que inclui quase metade das espécies de insetos conhecidos, caracterizados pelas asas dianteiras grossas e rígida. A Palestina possui uma ampla variedade, inclusive o escarave­lho coprófago, sagrado no antigo Egito, e muitas espécies capazes de se tomar praga nas lavouras. Nenhuma espécie conhecida era comida ali, em­bora muitas sejam apreciadas, principalmente em forma de larva, em regiões da África e Austrália. Veja Grilo.

G. S. C an sd a le

BESTA. Embora na RSV amplamente usada a palavra em inglês, beast, seja esta palavra é quase obsoleta quando usada num sentido geral. Em português a palavra "besta” ainda é encontrada em algumas combinações, como “besta-fera” (Lv 5.2; ISm 1".44). Fora isso. seu uso praticamente se restringe às metáforas e figuras literárias. Um homem cruel ou rude é chamado de besta e seu co m p o rtam en L O considerado bestial. Besta é uma palavra antiga, derivada do antigo francês, e estava em uso quando a tradução básica da Bíblia foi fei­ta, dando origem à KJV'. A palavra “animal”, mais modema, estava começando a aparecer nos escri­tos, mas não era bem conhecida antes do final do século 16. A falta de uniformidade nas traduções da KJV e RSV a suscitam problemas similares aos discutidos no verbete A n im a l . No A T, a RSV em geral segue a KJV. Duas palavras freqüentes são traduzidas na maior parte das vezes como besta, nana (besta) e rm (ser vivente). Entretanto, nana é traduzido com mais freqüência como “gado”, rrn é traduzido como “besta” 96 vezes, e em outras passagens usado 35 vezes com outras traduções. O termo TU2 (“besta”, “bruto”) geralmente é tradu­

zido como “besta”, mas ocasionalmente também como “gado”, a KJV e a RSV não são uniformes (beast, brute).

No uso no AT é muito difícil fazer distinção clara entre nam e rm; por exemplo, no mesmo capítulo e quase em contextos idênticos, ambas são usadas para animais limpos. Levítico 11.2 (KJV, the beast o f which ye shall eat; ARA, “os animais que comereis”) traz rrn; o v. 39 traz nam (KJV, any beast o f which ye may eat; ARA, “algum dos animais que, de que vos é lícito comer”). No v. 47 rm é usada tanto para animais limpos como para os imundos. Em muitos contextos rrn tem um significado mais abrangente do que narD, mas cp. Levítico 11.2 (RSV, There are the living things (chaiyãh) which you may eat among ali the beasts (behêmãh) that are on the earth; ARA, “São estes os animais que comereis de todos os quadrúpedes que sobre a terra”).

No NT, a RSV harmoniza-se mais com o termo grego Çcoov (que a KJV traduz como beast [“besta] em todo lugar),termo esse que é traduzido como “animal” em Hebreus 13.11 etc. e como “seres viventes” em Apocalipse 4ss. Tanto a KJV como a RSV mantêm a tradução “besta” para Kirjvoç (ani­mal de carga) e Grpíov (animal selvagem); assim, a RSV faz uma clara distinção entre os quatro seres viventes de um lado, e a “besta” de Apocalipse11.7 e todas as passagens literais, de outro.

O aspecto biológico da palavra creature (“criatura”) deve ser discutido brevemente, pois a RSV a utiliza em contextos literais com muito mais abrangência do que as versões anteriores. No AT da KJV, raramente é encontrada. O termo

(traduzido com mais freqüência como soul, “alma”) é traduzido como living creature (“ser vivente”) nove vezes e uma vez como creature “criatura”) (Gn e Lv). Em todos os casos o uso é literal. O termo rm (significado básico “vivo”, mas com outras traduções em muitas passagens, geralmente com sentido literal) é traduzido quinze vezes como living creature (“ser vivente”) em Ezequiel, num sentido totalmente figurado. A RSV traduz como está acima, mas também pelo menos dez outras palavras hebraicas, as quais a KJV traduz como moving creature “(ser viven­te”; ARA, “seres viventes”, Gn 1.20); beast of the field (“animais do campo”; ARA, Gn 2.19); etc. De fato. as seis primeiras ocorrências de creature (“criatura”) em Gênesis (RSV, living creature, wild creature; ARA, “seres viventes”, “viventes”, “animais selváticos”) representam seis palavras hebraicas diferentes. Exceto por algumas passagens obviamente proféticas no AT e no NT,

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BETÂNIA 747

a palavra creature ("criatura") é usada na KJV e RSV num sentido puramente literal. Infelizmente, em inglês corrente a palavra creature tem vários sentidos diferentes; em sentido estrito, significa algo criado, seja animado ou inanimado: muitas vezes é considerada sinônimo de animal; às ve­zes é usada para membros do mundo animal em oposição ao homem (nos EUA. principalmente para gado). Para todos os efeitos, essa palavra, como usada na RSV. tem suas desvantagens. Em muitos contextos literais, as palavras mais exatas, “animal" e “gado", seriam preferíveis.

G. S. C a n sd a l e

BETÂNIA (Br|0avía; significado incerto, embora provavelmente seja casa das tâmaras ou figos).

1. Vila a cerca de 3 km a sudeste de Jerusalém (Jo 11.18), na estrada para Jericó, no monte das Oliveiras e perto de Betfagé (de cujas vizinhan­ças Jesus enviou os discípulos para apanhareir o jumentinho — Mc 11.1; Lc 19.29). Maria. Mara: e Lázaro viviam em Betânia e foi aí que ocorreu a ressurreição de Lázaro (Jo 11.17ss.). Parece que em geral era onde Jesus se hospedava quando estava na Judéia (Mt 21.17; Mc 11.11). Betânia também era a cidade de Simão, o leproso, em cuja casa o Senhor foi ungido com o perfume do vaso de alabastro por uma mulher (Mc 14.3-9; Lc 7.36-50; Jo 12.1-8). De acordo com Lucas, a ascensão do nosso Senhor ocorreu perto de Betânia (Lc 24.50,51).

Betânia ainda existe como cidade, com uma população atual de mil habitantes. E conhecida

Ruínas consideradas como da casa de Maria e Marta, de uma foto tirada em Betânia, no ano de 1910. © M.RS.

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748 BETÂNIA

como el-‘A.ziriyeh, “lugar de Lázaro”. Ali se en­contra o local tradicional do túmulo de Lázaro; figueiras, oliveiras e amendoeiras continuam a crescer ali.

2. Local a leste do Jordão, onde João batizava e onde ocorreu o seu confronto com a delegação de sacerdotes e levitas vindos de Jerusalém (Jo 1.28). A KJV traduz como Bethabara, com base em certas evidências manuscritas (muito posteriores). Orígenes considerava o nome como Br|0apapá, embora admitisse que a maior parte dos MSS de

sua época não apoiassem tal tradução (Comm. on John, VI, 24). Tendo visitado a Palestina, ele não conheceu nenhum local perto do Jordão chama­do BriBavta; de qualquer forma, encontrou uma interpretação alegórica de Bethabara, a qual se encaixava de forma peculiar em sua metodologia hermenêutica. Orígenes sugeriu que Betabara significava “casa de preparação” e ligou esta idéia ao ministério de preparação de João. Entretanto, a presente evidência manuscrita favorece Br|0avíoc, apoiada por exemplo pelos papiros Bodmer do ano

Moderna igreja de Lázaro, Maria e Marta em Betânia, construída sobre o sítio da casa original deles.© Lev

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BETE / BETE-ÁVEN 749

200 d.C. O sítio mais provável da “Betânia, além do Jordão” é Qasr el-Yehud, a ieste do Jordão, do lado oposto de Jericó, onde há agora um mosteiro de São João. Veja B e t h a b a r a .

BIBLIOGRAFIA. F. M. Abel, Géographie de la Palestine. II (1938), 264, 265.

H. G. A n d e r sen

BETE (d). Segunda letra do alfabeto hebraico. Utilizada para introduzir a segunda parte do Salmo 119, onde cada versículo dessa parte começa com essa letra. Também passou a ser usada como sinal do numeral dois (2).

BETE-ANATE (nm n’3; LXX, A Bca0ava0, B Bai00ap,8; casa de Anate). Cidade fortificada atribuída aNaftali (Js 19.38). Em vez de cumprir a ordem divina de massacrar os primeiros habi­tantes, a tribo de Naftali os escravizou (Jz 1.33). A cidade figura em diversas inscrições egípcias (Y. Aharoni, The Land o f the Bible, índice); pos­sivelmente é Safed el-Ba(tikh.

G. G. S w aim

BETE-ANOTE (rrui) rm, “casa [santuário] de Anate"). Povoado mencionado na lista de cidades pertencentes a Judá (Js 15.59). Provavelmente um antigo altar e santuário cananita, possivelmente mencionado em alguns documentos egípcios em listas das cidades da região ocidental da Palestina. Situava-se no distrito de Bete-Zur, a modema Khirbet Beit Ainun, perto de Halhul.

W . W h ite J r .

BETE-ARÃ (□inrpn, casa da altura). Cidade que coube a Gade, quando o território de Canaã foi dividido entre as tribos de Israel (Js 13.27). Sem dúvida, trata-se da Bete-Harã de Números 32.36. Tomada dos amorreus, era um ponto elevado a leste do rio Jordão, no vale de mesmo nome; foi fortificada pela tribo de Gade para proteger suas famílias e gado, enquanto auxiliavam as outras tri­bos na conquista da margem ocidental do Jordão. Acredita-se que seja o sítio de Beth-Aramphtha, nome usado pelos sírios e mencionado por Josefo {Ant.). O sítio agora é identificado como a modema Tell Iktanu, c. 13 km da foz do Jordão, ao sul do Wadi Heshban.

N. B . B a k e r

BETE-ARABÁ (n3 T .rm vn , casa de Arabá). Pequena cidade localizada no deserto a sudeste de Jericó, na margem norte do Wadi el-Qelt, poucos quilômetros a oeste do vale do Jordão. Provavelmente é o sítio da vila árabe modema de Ain Gharbeh. Era a fronteira entre Judá ao sul e Benjamim ao norte (Js 15.6,61). Há alguma diferença no texto, fato de essa cidade pertencer a Judá (15.6; 18.18) ou a Benjamim (18.22). Há uma possibilidade clara de que tenha mudado de mãos durante em alguma época, em virtude de algum incidente não registrado no texto. Uma dificuldade porém é encontrada em Josué 18.18, onde o texto diz nmyn Vi», que significa “contra Arabá”, o que em geral é entendido como erro e que deve ser lido como as outras passagens. Não há, porém, indicação da razão de tal erro no TM. permanecendo a dúvida se realmente se traia de uma emenda.

W . W h ite J r

BETE-ARAM. Outra forma de B e te -A r ã .

BETE-ARBEL (7 í o 'X m ; LXX, o ík o v Iepupaól, que significa casa deArbel). Cidade de localização incerta. “Portanto, entre o teu povo se levantará tumulto de guerra, e todas as tuas fortalezas serão destruídas, como Salmã destruiu a Bete-Arbel no dia da gueixa...” (Os 10.14). Não há nenhuma outra menção a esta cidade ou ao rei Salmã na Bíblia. Salmaneser III (858-824 a.C.), de 2 Reis 17.3 e 18.9, é o candidato mais provável a ser Salmã. visto que foi o primeiro rei assírio com esse nome a ter contato com Israel. Bete-Arbel, então, pode ser a modema Irbid, situada numa encruzilhada no norte da Transjordânia.

R. L. A ld en

BETE-ASBÉIA. Veja A suéi.a .

BETE-ASMOTE (gr. BarcaG|j.cov, forma heleni- zada de A z m a v e te [q.v.]). Bete-Asmote ocorre em1 Esdras 5.18, como a origem de um grupo que retomou da Babilônia com Zorobabel.

BETE-ÁVEN (heb. yix iT3, vila do mal). Corrup­ção proposital do nome familiar da cidade de Bete- E1 (Os 10.5). A localização que lhe é atribuída em1 Samuel 13.5; 14.23 é considerada como a oeste

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750 BETE-BAAL-MEOM / BETE-DIBLATAIM

de Micmás, o que pode indicar a existência de duas cidades com nomes iguais. Têm-se sugerido que pode ter sido um antigo nome de Ai, mas não há evidências disso.

BETE-BAAL-MEOM 7313 n’3). Cidade que primeiro pertenceu à tribo de Rúben e depois foi capturada pelos moabitas (.Js 13.17). É mencionada por Mesa de Moabe em sua esteia, com Bete- Diblataim (q.v.). As variações do nome incluem: Bete-Meom (Jr 48.23); Baal-Meom (Nm 32.38; lCr 5.8; Ez 25.9) e Beom (Nm 32.3). O sítio é identificado como a atual Mã’in, c. 9 km a sudoeste de Medeba.

BETE-BARA (nm m , cidade dos vaus). Mencio­nada somente em Juizes 7.24, onde aparece numa frase peculiar: "...impedi-lhes a passagem pelas águas do Jordão até Bete-Bara”. Muitos estudiosos apóiam a emenda do TM de nrrax» hth , “os vaus do Jordão”. A luz do fato de que não há um local conhecido por este nome, tal sugestão é razoável. Se existiu tal vila, deve ter sido a oeste do Jordão, na direção de Esdrelom.

BETE-BASI (gr. Bcxi0|3a<ji). Vila localizada abaixo de Jerusalém, mencionada em 1 Maca­beus 9.62-64, a qual foi fortificada por Jônatas e Simão e que resistiu ao cerco feito por Báquides, governador helenista do Eufrates ocidental, sob o remado de Demétrio I. Sua invasão mal-suce- dida (158-15^ a.C.) terminou com a paz para os judeus e o triunfo de Jônatas. Tenta-se identificar esta cidade com a modema Khirbet Beit Bassa, localizada no deserto da Judéia.

BETE-BIRI ('«m rrn), nome de um local na região da tribo de Simeão. mencionado somente em 1 Crônicas 4.31. Provavelmente um nome pós-exí- lico da cidade de Bete-Lebaote (Js 19.6).

BETE-CAR (m -m ). Nome de um local mencio­nado somente em 1 Samuel 7.11, no contexto da vitória de Israel sobre os filisteus; deveria ficar entre Mispa e o mar Mediterrâneo. Localizava-se no território da tribo de Benjamim e seu nome significa “casa de pastagem”; entretanto, sua identificação com a cidade árabe de Khirbet-heir não tem nenhuma base, cidade esta de indubitável

origem árabe. Existe confusão nas VSS. A LXX lê Gr. BaiGxop, substituindo pela mais conhecida, substituindo a mais bem conhecida Bete-Horom (Js 10.10 et al.). As versões siríacas e outras semí- ticas retêm a forma da leitura do TM.

BETE-DAGOM ( in rm , rrn, BriOSaycòv, santuário do (deus) Dagon ou casa do milho).

1. Local no Sefelá, ou terras baixas de Judá, mencionado em Josué 15.41. A localização exata do sítio é desconhecido, embora pareça que ori­ginalmente estava relacionado a um templo com o nome dessa ubíqua divindade nordeste. RamsésIII menciona Bete-Dagom (vogais desconhecidas no Egito) em suas listas de territórios conquistados (veja ns 72 na lista de J. Simons emHandbookfor Study ofEg)’ptian Topographical Lists Relating to Western Asia [1937]). O rei assírio Senaqueribe, em 701 a.C, também menciona este local, chaman­do-o Bit-Dagannu.

2. Cidade de fronteira no território da tribo de Aser, a leste do monte Carmelo (Js 19.17). Sua localização exata é desconhecida.

3. 1 Macabeus 10.83,84 refere-se a um templo do deus Dagon em Azoto (Asdode).

4. Josefo (Ant. XII, viii, I) também cita uma fortaleza chamada Dagon perto de Jericó.

Todas essas referências sugerem que muitas cidades e vilas tinham santuários dedicados a essa divindade, cujo nome aparece pela primeira vez por toda a Mesopotâmia a partir de 2.500 a.C., citado especialmente em Canaã, Ugarit e Fenícia e nas cinco cidades dos filisteus.

W. C. K a is e r J r .

BETE-DIBLATAIM (□ T ta im ). Foma dual deri­vada da palavra para “bolos de figos amassados” de forma que deve ser entendida como “cidade dos bolos de figo” (Jr 48.22). A cidade é mencio­nada na esteia de Mesa (I, 30), rei de Moabe (830 a.C.), numa lista de cidades recém-conquistadas, “e governei sobre as cem vilas que tinha anexado à terra, e construí [...] Medeba, Bete-Diblataim e Bete-Baal-Meom...”. Entretanto, a outra forma do nome, Almom-Diblataim naTfrm T rá , posto de estrada de bolos de figo), como um local ao norte de Dibom, aparece em Números 33.46; outro local de nome similar é mencionado em Oséias 1.3, uma passagem difícil, acerca do local de nascimento de Gômer. Essa cidade é identificada como a modema Deleilât-esh-Sherqiyeh, com algumas reservas.

W . W hite J r .

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BETE-ÉDEN / BETE-EGLAIM 751

BETE-ÉDEN (p irn n, casa do deleite). Princi­pado de um certo grupo aramaico na bacia do Eufrates. Era a Bít-Adini das fontes assírias e aparentemente um dos pequenos estados neo-ara- maicos que se levantaram e cresceram na esteira do colapso dos grandes poderes mundiais nos 82 e 9- séculos a.C. Seus habitantes deveriam ser levados embora para Kir (2Rs 19.12; Is 37.12), como foi profetizado em Amós 1.5. É possível que seja o "Éden” mencionado em Ezequiel 27.23, mas as localizações parecem não coincidir.

BIBLIOGRAFIA. “Bit-Adini”, Reallexikon aer Assyriologie (1938) II Bd., 33,34; A. Malamat, The Aramaeans in Aram Naharaim and the Rise o f Their States (1952), 39-47.

W. W h ite Jr.

BETE-EGLAIM ( D’"‘7iy rm, casa dos dois bezer­ros; Be9aY^aí|i).

Esse nome antigo, não mencionado no AT (veja, porém, Onomasticon de Eusébio, 48, 19, 20), agora é identificado com o outeiro escavado por Sir Flinders Petrie. Seu nome moderno é Tell el-’Ajjul, “outeiro do bezerro pequeno”. Esse ou­teiro localiza-se a c. 6 km a sudoeste de Gaza, do lado norte da cabeceira do Wadi Ghuzzeh, perto do costa marítima. Cobre cerca de 28 a 30 acres, o que representa uma área grande para os tempos antigos; e.g. o dobro do tamanho de Megido e o triplo, ou mais, do tamanho de Jerusalém, de acordo com C. C. McCown. O sítio não é mais tão impressionante, pois formaram-se dunas de areia do lado do mar, e sulcos profundos e irregulares foram formados pela erosão dos séculos. O que pode ter sido uma enseada natural, agora se encheu de lodo e a abundância de mosquitos portadores de malária tomou o local uma área proibida, exceto no invemo. Alguns comentaristas especularam sobre a possível relação entre este local no extremo sul da Filistia, chamado “casa (ou outeiros) dos dois bezerros”, e os “dois bezerros de ouro” feitos por Jeroboão I (lRs 12.28).

Petrie identificou Tell el-’Ajjul com o sítio da antiga Gaza original. Ele acreditava que esse local fora abandonado por causa da mesma malária que liquidou uma centena de seus operários no primei­ro ano das escavações. Então a cidade se mudou para o sítio da modema Gaza, no início do Novo Período do Bronze.

Petrie começou a cavar no outono dei 930, mas teve de parar por causa da malária, até vir o tempo do frio. No invemo eles drenaram os pântanos, de

forma que puderam trabalhar aí por quatro inver­nos, de 1930 a 1934. Petrie chamou o nível mais antigo de “Idade do Cobre”, mas posteriormente foi corrigido por W. F. Albright com base numa revisão da cronologia da cerâmica para os séculos 22 e 21 a.C.

Alguns dos melhores exemplos de fortificações feitas pelos hicsos vieram do período “Palácio I” de Petrie. No lado sul, a colina era protegida por um penhasco de arenito que se erguia ac . 15 m acima do wadi. Os outros três iados tinham o típico fosso ou grandes valas estendendo-se ao redor da colina por cerca de 1.200m. Ao se aproximar da cidade, o indivíduo encontraria um declive de 6 m no fosso e então uma rampa de 45 m para cima. em ângulo de 35° (formando a enaltecida teire pisée das fortificações dos hicsos): tinha uma única entrada em evidência no lado nordeste, onde foi encontrada uma série de túneis e obras de cerco feitas por algum exército inimigo.

Petrie foi imensamente bem-sucedido ao des­cobrir grande quantidade de materiais removíveis, como jóias, armas de bronze, cerâmica, escara­velhos e outros objetos de ouro. prata, maríim e basalto. Também encontrou os melhores edifícios que o sítio podia oferecer; alguns, preserv ados á altura de c. 25 m com entradas intactas. Isto se deveu à experiência e do senso comum dc arque­ólogo; por exemplo, para encontrar os locais otíde escavaria as melhores casas, dizem que molhada o dedo e para testar a direção do vento, identÊ ícando a localização das casas fora da direçf o do vento, e os estábulos e cheiros relacionados, na direção do vento. Quando a segurança dos objetos de ouro escavados se tomou um problema, ele ruidosamen­te expediu caixotes supostamente contendc ouro. mas que na verdade estavam cheios de areia!

O “Palácio II” representava a era posierlor aos hicsos e o “Palácio III” aparentemente foi apenas uma fortaleza egípcia na rota das caravanas. O “Palácio IV” caiu nos séculos 13 e 14. novamente de acordo com a revisão de Albright. e o "Palácio V” é representado por uma série de túmulos nos9 e 10 séculos a.C.

Petrie acreditou ter encontrado evidências de hipofagia (ou seja, consumo de came de cavalo) na base de um altar de sacrifício, sob o “Palácio IV”. Os quartos traseiros e dianteiros haviam sido removidos e, segundo o arqueólogo, eram usados na festa antes de o resto ser colocado dentro de um buraco de 1,5 m de profundidade. Se tal inter­pretação estiver correta, estaria de acordo com a cultura eqüestre dos hicsos, da era do “Palácio I”. Além disso, haveria outros enterros de jumentos

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752 EBETE-EMEQUE / BETE-HOGLA

e alguns cavalos, sendo que jumento e homens são encontrados enterrados na mesma tumba. O problema é intrincado e interesssante.

BIBLIOGRAFIA. F. Petrie, Ancient Gaza I-IV, The Egyptian Research Account and the British School of Archaeology in Egypt, LIII-LVI (1931-34); W. F. Albright, “The Chronology of a South Palestinian city, Tell-el-Ajjul”, AJSL, LV(1938), 337-359; C. C.McCo- wn, Ladder ofProgress in Palestine (1943), 126-130; K. Kenyon, “Tombs of the Intermediate Early Bronze — Middle Bronze Age at Tell Ajjul”, A nnual o f the De­partment o f Antiquities. Jordan, III (1956), 41-55; G. E. Wright, “The Archaeology of Palestine”, In the Bible and the Near East (org. G. E. Wright) (1961, 87, 88, 91, 92, 106,107; Y. Aharoni, The land o f the Bible: A Historical Geography (196'71, 73, 90, 91, 135, 136.

W. C. K a is e r J r .

BETE-EMEQUE (“ is rrr rn ). Nome de um local nos limites e nas cidades de Aser, mencionado somente em Josué 19.27; possivelmente se tratado sítio de Tell-el-Mímãs, a cerca de 8 km de Aco. Vários significados têm sido sugeridos, e o mais provável é “casa do terreno baixo”.

BETE-EQUEDE (7 ~ rrn). Local mencionado somente em 2 Reis 10.12,14. A KJV tenta uma tradução e lê casa da tosquia (ARA, ARC, NVI, “Bete-Equede dos pastores”; BJ, “Bet-Eced dos pastores”). A LXX translitera o termo como nome próprio. BcaGoticaS, sendo seguida pela RSV. Várias tradições rabínicas são conhecidas em uma tentativa de iradução do termo; “casa do compromisso”, “campo de tosquia” e até “casa de reunião”. Uma Lradução modema, baseada no árabe, é “areia congestionada”. Entretanto, sem dúvida, tratava-se do nome de um lugar relaciona­do a algum aspecto da criação de ovelhas, devendo ser lido simplesmente como Bete-Equede.

W . W h ite J r .

BETE -EZEL (?: ivn). Nome de um localidentificado apenas por seu uso paralelo com um também obscuro Zaanà. mencionado apenas uma vez nas Escrituras em Miquéias 1.11. A impreca- ção profética é contra os inimigos de Judá e contra as cidades na região do extremo sul da Palestina. Pode-se fazer uma identificação precária com a modema cidade árabe de Deir el-‘asal, a cerca de3 km a leste de Tell Beit Mirsim.

BETE-GADER ( t u irn). Nome de um local que aparece somente na lista das cidades de Judá e Simeão (lC r 2.51), geralmente identificado com Geder ou com uma raiz similar, como Gedera, Gederote ou Gederotaim, mencionadas como cidades cananitas no território de Judá. Tradicio­nalmente o nome é entendido como significando “casa do muro”.

BETE-G AM UL 0?im rrn, LXX Jr 31.23, ò ik o ç FauroX, casa da recompensa). Cidade de Moabe agora identificada com Khirbet el-Jemeil, a cerca de 8 km a leste de Aroer. No oráculo de Jeremias contra Moabe, está listada entre as cidades da planície de Moabe contra as quais o juízo de Deus viria, por causa da maneira como os moabitas trataram Israel (Jr 48.23).

BETE-GILGAL ( t o n rrn, omitido na LXX, casa de Gilgal). A ARC traduz “casa de Gilgal”. Cidade que provavelmente pode ser identificada com Gil­gal, c. 6 km a sudeste de Jericó. E uma das vilas ao redor de Jerusalém, de onde saíram os cantores para celebrar a dedicação dos muros reconstruídos sob a liderança de Neemias (Ne 12.29).

BETE-HAGÃ (pn rrn, LXX, BaiGayyay, casa do jardim , ARC, casa do jardim). Cidade localizada ao sul do vale de Jezreel, para onde o rei Acazias fugiu quando perseguido por Jeú (2Rs 9.27). Esses detalhes apontam para sua identificação com En- Ganim, a modema Jenin.

BETE-HAQUERÉM (m :a rrn, LXX 2 Esdras 13.14, Br|0axccpn; Jr 6.1, Bar0axap(ia; casa da vinha). Principal cidade de um distrito de Judá, cujo governante, Malquias, reparou o Portão do Monturo, sob a supervisão de Neemias (Ne 3.14). Sua identificação com ’ Ain Karem, situada a cerca de 9 km a oeste de Jerusalém é rejeitada por Y. Aharoni (“RametRahel”, ARC 18 [1965], 15-25), que sugere Ramet Rahel, uma alta colina entre Belém e Jerusalém, já que esse local corresponde bem a Jeremias 6.1, que indica um local adequado para sinalização, próximo de Jerusalém.

D. H. M a dvig

BETE-HOGLA (rrán rrn; LXX Js 15.6; 18.19, BoaôayXa; Js 18.21 ABr|0aY^-oc; B BcaGeY^rco;

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BETE-HOROM 753

casa de uma perdiz). Uma das 14 cidades desti­nadas àtribo da Benjamim (Js 18.21), atualmente identificada com ’ Ain Hajlah, a sudeste de Jericó. Localizava-se em Arabá, no limite sul do território de Benjamim (Js 18.19), que também é a fronteira norte de Judá (Js 15.6). A fronteira começava no extremo norte do mar Morto, indo para oeste, para Bete-Hogla e depois para o norte, em direção a Bete-Arabá.

D. H. M a d v ig

BETE-HOROM (fyin ~'2, LXX BaiOcoprov, que significa casa das cavernas). Nome de duas cida­des localizadas a cerca de 16 e 19 km a noroeste de Jerusalém.

Há pouca dúvida quanto à localização dessas cidades antigas, visto que hoje existem as vilas de Beit-’Ur el-Faqa (Bete-Horom Alta) e, a oeste desta, Beit’Ur et-Tahta (Bete-Horom Baixa). A mais alta e menor fica a cerca de 550 m acima do nível do mar, enquanto a outra fica a cerca de 300 m. As escavações produziram evidências de que a ocupação remonta pelo menos ao Novo Período do Bronze. Atualmente ainda é possível encontrar vestígios de uma estrada romana que ligava as duas cidades, ambas localizadas numa importante rota aberta entre Gibeão e o vale de Aijalom a leste, e a planície costeira a oeste. As duas cidades

estavam na fronteira entre Benjamim e Efraim (Js 16.3-5 e 18.13s.); posteriormente, quando o reino foi dividido, tomaram-se parte do reino do norte (Js 21.22). Em virtude de sua localização num desfiladeiro e por serem cidades fronteiriças, experimentaram muito derramamento de sangue. Bete-Horom estava entre as cidades levíticas (Js 21.22; lCr 6.68). O único patronímico possível é Sambalate, o horonita (Ne 2.10).

Seerá, filha de Berias, da tribo de Efraim edifi- cou as duas Bete-Horom, Alta e Baixa (lCr ”24). Esse fato deve ter ocorrido depois do Exílio. traian- do-se, portanto, de uma reconstrução. 1 Reis 9.17 registra que Salomão reconstruiu a Bete-Horom Baixa depois que as duas, e Geder, foram atacadas pelos egípcios; “Edificou também a Bete-Horom. a de cima e a de baixo, cidades fortificadas com muros, portas e ferrolhos” (2Cr 8.5).

Além da deduzida captura das cidades pelos egípcios (lRs 9.17), foi nas proximidades onde ocorreu a famosa batalha de Bete-Horom (Js 10.6­15). 2 Crônicas 25.12s. registra o ataque contra a cidade, realizado por mercenários efraimitas descontentes.

Bete-Horom é mencionada diversas vezes na Pseudepígrafa e na Apócrifa. Um rei de Bete- Horom, com outros, assolou os rebanhos de Jacó, de acordo com Jubilees 34.4. Judite 4.4 dá uma descrição de como a cidade foi alertada contra um

Vale de Bete-Horom. Vista oeste da vizinhança de Emaús.

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754 BETE-HOROM, BATALHA DE / BETEL

iminente ataque pelo general assírio Holofernes. Judas Macabeu conquistou pelo menos duas vitórias perto dessas cidades (1 Macs 3.15-26 e 7.39-43). Posteriormente, Báquides fortificou Bete-Horom, depois de uma batalha com Jônatas, no deserto de Tecoa.

R. L . A lden

BETE-HOROM, BATALHA DE. Travada entre Josué e cinco reis de Canaã, ao redor de Gibeom, Bete-Horom e o vale de Aijalom.

Josué 10 descreve com alguns detalhes a bata­lha de Bete-Horom. freqüentemente caracterizada como "o dia em que o sol parou”. A batalha foi estratégica, dentro do programa de conquista, sob a liderança de Josué. Jericó tinha caído, Ai fora conquistada e _gera a parte sudoeste de Canaã era a próxima região na rota da conquista. Os gi- beonitas. percebendo que seu território estava em perigo devido aos invasores até esse momento al­tamente bem-sucedidos, buscaram e conseguiram firmar um picro com Josué. O aspecto com que se aproximaram está descrito no capítulo 9.1-15. A última parte desse capítulo relata como Josué descobriu o engodo dos gibeonitas, subjugou-os à ccndiçâo de servos, mas não os destruiu, por causa do pacto.

Do ponto de vista das outras cidades cananitas dh região— Jerusalém, Hebrom, Jarmute, Laquis e Eglom— os gibeonitas eram traidores; assim, seus reis planejaram atacar Gibeom, que hoje chama-se el-Jib. Os gibeonitas imediatamente apelaram para o pacto com Israel (Js 10.6). Pediram proteção a Josue. "Josué lhes sobreveio de repente, porque toda a noite veio subindo desde Gilgal. O Senhor os conturbou diante de Israel, e os feriu com gran­de matança em Gibeom, e os foi perseguindo pelo caminho que sobe a Bete-Horom, e os derrotou até Azeca e a Maquedá. Sucedeu que, fugindo eles de diante de Israel, à descida de Bete-Horom, fez o Senhor cair do céu sobre eles grandes pedras, até Azeca, e morreram. Mais foram os que morreram pela chuva de pedra do que os mortos à espada pelos filhos de Israel” (Js 10.9-11).

Quando traçamos a estratégia de Josué num mapa, podemos ver que os seguidores de Adoni- Zedeque, rei de Jerusalém, fugiram para a direção oposta de sua cidade — para noroeste, descendo das colinas em direção ao vale de Aijalom. Apa­rentemente Josué tinha cortado a comunicação, interceptando a estrada entre Jerusalém e Gibeom. Tendo descido para a passagem de Bete-Horom, moveram-se em ângulo novamente em direção sul,

para as cidades citadas no texto. Com a fuga do inimigo, Josué deu sua famosa ordem:

“Sol, detém-te em Gibeomo, e tu, lua, novale de Aijalom ” ( 10.12).

Há diversas interpretações desse fenômeno celeste. O mais comum é que a luz do dia foi prolongada, para que Josué pudesse capturar seus inimigos. Outra é que nuvens cobriram o sol escaldante, de forma que no relativo frescor, puderam perseguir o inimigo. O texto claramente implica que o dia foi extraordinariamente longo (v. 13s.). De qualquer forma, a chuva miraculosa de granizo causou os danos maiores ao inimigo, enquanto não há menção de que o prolongamento do dia tenha tinho algum efeito direto no curso da batalha. Mais tarde os cinco reis, com seus exér­citos, foram destruídos pelos israelitas; assim, o sul de Canaã foi aberto para a posse e colonização pelas tribos de Israel.

BIBLIOGRAFIA. E. W. Maunder, “Beth-horom, the Battle o f ’, em ISBE, I (1929), 446-449; I. Velikovsky. Worlds in CoUision (1950); R. B. Y. Scott, “Meterologi- cal Phenomena and Terminology in the OT”, ZAW, 64 (1952), 19, 20; J. S. Holladay, “The Day(s) the Moon Stood Still”, JLB, 87 ( 1968). 166-178.

R. L. A lden

BETE-JESIMOTE (m»E”n rrn, LXX, Js 13.20 Bai9aai|iCD0; Nm 33.49 Àiai|iCD0; casa de de­sertos). Uma das cidades de Hesbom nas planícies de Moabe, dada à tribo de Rúben. Ultimo local de acampamento dos israelitas antes da travessia do rio Jordão, definido como “junto ao Jordão, desde Bete-Jesimote até Abel-Sitim, nas campinas de Moabe” (Nm 33.49). A antiga cidade é iden­tificada com tell el-Azeimeh, perto do extremo nordeste do mar Morto, mais perto da beira do vale do que Khirbet Sueimeh, a qual preserva o mesmo nome.

BIBLIOGRAFIA. N. Glueck, “Some Ancient Towns in the Plains ofM oab” BASOR, XCI (1943), 23-25.

D. A. M a dvig

BETEL 0?x V O ; BaiGríA., e oI k o ç 0eoí>, lit. casa de Deus).

1. Localização. Cidade na grande estrada que dividia a Palestina de norte a sul, a c. 19 km

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BETEL 7E5

ao norte de Jerusalém, designada como a moder­na vila de Beitin. O nome hebraico, Betei, foi preservado no árabe “Beitin”, por uma mudança normal de consoantes. A presença de excelentes mananciais de água. perto do topo das colinas, tomou o local desejável desde o princípio. Betei também ocupava um ponto chave na rota leste- oeste. que ia da Transjordânia a oeste, passando por Jericó até o Mediterrâneo, ou passando pelo vale de Aijalom, ou via Gofna, até a planície de Sarom e o mar. Essas circunstâncias explicam parcialmente o fato de Betei ser mencionada nas Escrituras com mais freqüência do que qualquer outra cidade, exceto Jerusalém.

O topo nu da montanha em Betei serviu como centro de culto por milênios. O nome do local deriva-se do nome da divindade cananita El. O deus Baal. que em geral substituiu El no panteão cananita, foi incapaz de desalojar o nome de El Betei. Assim, o lugar continuou sendo conhecido como Betei, servindo como centro de adoração para nômades. Mesmo Abraão (Gn 12.8) e Jacó (28.19) usaram o nome Betei. De acordo com Gênesis 28.19, no tempo dos patriarcas o local era chamado também de Luz, nome que pode derivar-se do significado elogioso de “lugar de refugio” Quando Jacó chegou ali, em sua jornada para Padã-Harã, o livro de Gênesis diz: “Tendo chegado a certo lugar [santo]...” (28.11). Original­mente Betei pode ter sido o santuário no extremo leste da cidade, enquanto a própria cidade poderia ser chamada de Luz. Gênesis 28.19 fala de Betei como um maqom, um “lugar de santuário”, e Luz como ir, “cidade”. Na descrição das fronteiras de Efraim e Benjamim, em Josué 16.2, Betei e Luz são mencionados como locais adjacentes.

2. História antes de Jeroboão I. A evi­dência arqueológica mais antiga da ocupação do lugar alto em Betei é um jarro de água calcolítico de 3.500 a.C. A falta de estruturas datando desse período sugere que na época Betei era um santuário ao ar livre. No Novo Período Calcolítico (3.200 a.C.), Betei foi ocupada, pela evidência de cerâ­mica encontrada ao redor do lugar alto e ao sul da área do santuário. Então, Ai tomou o lugar de Betei como a principal cidade da região. Uma segunda ocupação de Betei ocorreu por volta de 2.400 a 2.200 a.C. Posteriormente a cidade foi abandonada e só ocupada novamente no séc. 19 a.C. Este fato marcou o início da ocupação quase contínua do local. Um templo foi erigido imediatamente acima do lugar alto e uma cidade foi construída ao sul. Pode ser que o forte sistema de muros de defesa só tenha sido construído no séc. 18 ou 17 a.C.

E no início deste Médio Período do Bronze que os relatos dos patriarcas, conforme apresen­tados em Gênesis, melhor se encaixam na história arqueológica de Betei. A qualidade da evidência arquitetônica indica que Abraão e Jacó encon­traram ali uma cidade bem desenvolvida quando visitaram o lugar. Embora Jacó tenha pensado na cidade como Luz, um lugar onde podia encontrar refúgio de seu irmão gêmeo, Esaú, em sua fuga para o oriente, o livro de Gênesis relata que ele fez um j ogo com o nome genérico de Deus, El. tomou uma pedra, derramou azeite sobre ela e chamou o lugar de “casa de Deus”, Betei, pois o Senhor falara com ele na noite anterior por meio de um sonho (Gn 28.1-22). Os cananeus dar um determi­nado significado ao nome Betei, mas Jacó lhe deu outro sentido. Para ele, o local não era somente a casa de Deus, mas a “porta dos céus” (28.17). Ao retomar de Padã-Harã, Jacó visitou novamente Betei e renovou sua aliança com o Senhor.

A ausência de matérias do Novo Período do Bronze I, em Betei, sugere que o lugar foi des­truído por volta de 1.550 a.C., no ataque egípcio contra os hicsos, quando estes foram expulsos do Egito e da Palestina.

No Novo Período do Bronze II (séculos 14e 13 a.C.), a cidade foi reconstruída e ampliada. A quali­dade das casas era superior das feitas nos períodos primitivos. Um sistema de encanamentos, o único que a cidade teve, foi construído nessa época. A única indústria encontrada pelos arqueólogos foi uma prensa de azeite. As abundantes evidências de incêndio, que indicam o fim desse período na história do local, sugerem que a cidade era próspera quando os israelitas invadiram a região. Enquanto, por seu lado, Jericó e Ai apresentem

Efraim

JericóGibeom

'• Jerusalém ■ Betânia

Belém

Hebrom

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756 BETEL

Excavações da antiga Betei, do tempo de Josué. © M.PS.

problemas relacionados à conquista de Josué, por outro lado, brechas em muros, cinzas, entulho de tijolos à profundidade de 1,75 m e casas destruídas testemunham a destruição de Betei no século 13 a.C., entre 1.240 e 1.235 a.C.

Capturada por Josué (Js 8.7), a cidade foi dada à tribo de Benjamim. Depois da guerra civil contra Benjamim, a cidade tomou-se parte do território

de Efraim. Ficava na fronteira das duas tribos. A importância de Betei é revelada na passagem de Juizes (21.19), que fala do caminho de “Betei a Siquém” e situa Siló um lugar ao norte de Betei. A Arca da Aliança, que era o centro da vida de Israel, foi guardada em Betei por um período de tempo depois da conquista da terra. O oráculo divino era consultado em Betei (Jz 20.18), e Débora, a

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BETEL 757

Com a vila de Betei ao fundo, mulheres apanham ervilhaça em um campo fronteiriço. © M.PS.

profetisa, vivia perto de Betei (Jz 4.5). Samuel fez de Betei um dos seus pontos de parada de sua corte, quando se movia como o juiz itinerante de Israel (ISm 7.16).

Embora Betei não seja mencionada pelo nome no AT durante os reinados de Davi e Salomão, evidências arqueológicas mostram que a cidade era próspera nesse período. As artes arquitetônicas se desenvolveram, a arte cerâmica tomou novas técnicas e formas, e a utilização do ferro pelos israelitas criou novas oportunidades agrícolas.

3. H istória dep o is de Jerob oão I.Jeroboão I estabeleceu Betei como principal san­tuário de Israel, rivalizando com Jerusalém, em Judá (lRs 12.26-33). Durante o tempo do reino dividido, a sorte da cidade mudava de acordo com o andamento dos conflitos entre os reinos do norte e do sul. Os relatos de 1 Reis 12.29— 16.34;

2Rs 2.2—23.19 e 2 Crônicas 13.19 mostram essa flutuação na proeminência. Jeroboão II transfor­mou Betei num santuário real do reino do norte, resgatando a antiga importância do santuário. Os arqueólogos não encontraram o templo de Jeroboão, o qual provavelmente está sob a vila modema de Beitin. Encontraram o selo com o qual os sacos de incenso eram marcados; o incenso era utilizado nos rituais do templo. O selo data do período logo depois da visita da rainha de Sabá à Palestina. Nos dias de Elias e de Eliseu, uma escola de profetas floresceu em Betei (2Rs 2.2,3). Entretanto, nem todos os membros das gerações mais jovens tinham respeito pelos profetas, pois os jovens zombaram de Eliseu (2Rs 2.23,24).

Após a queda de Samaria nas mãos dos assí­rios, Betei também sofreu destruição. Mais tarde o santuário foi reativado, para oferecer um centro religioso para as populações importadas e estabe­

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758 BETEL (DIVINDADE)

lecidas na região pelos assírios estabelecidos na re­gião pelos assírios (2Rs 17.27-33). Quando Josias se deslocou para o norte depois da queda da Assíria, não destruiu Betei, mas somente o templo; os ba­bilônios também não destruíram a cidade em 587 a.C., quando destruíram Jerusalém. Evidentemente Betei era considerada parte da região administrati­va de Samaria, não estando, portanto, em revolta contra Judá. A presença de colonos babilônios na região de Samaria é notada em 2 Reis 17.24,30. Betei foi destru:da por um grande incêndio em 553 ou 521 a.C. Essa destruição pode ter sido obra de Nabonido. da Babilônia, ou dos persas, no período imediatemer.te anterior a Dario.

4. História depois do Exílio. No tempo de Esdras e de Neemias, Betei era uma vila com alguns muros rúsricos feitos de material aprovei­tado dos muros da cidade antiga. O censo feito por Esdras e Neemias mostrou que Betei tinha uma pequena população (Ed 2.28). Betei é listada como a cidaae no extremo norte de Benjamim (Ne12.31 ss. São há menção da participação dos seus habitantes na obra de reconstrução de Jerusalém.

Não há referências literárias a Betei no início do período heiènico. As evidências arqueológicas, porérr.. claramente sustentam o fato de que boas casas, cerâmica de qualidade e um próspero co­mércio caracterizaram o período imediatamente anterior ao dos Macabeus. Em 1 Macabeus 9.50 e em Ãnríquities de Josefo (XIII, i, 3), há referências de que Betei foi uma das cidades fortificadas por Báquides. A cidade floresceu sob os Macabeus, com casas até fora dos muros da cidade. No início do período romano, Pompeu e Vespasiano derru­baram o portão nordeste e derrubaram ao nível do chão parte do muro norte da cidade. Nenhuma outra evidência de destruição foi encontrada, mas construções romanas tiveram lugar e uma casa foi construída no local do muro norte destruído.

Não há referências específicas a Betei no NT, mas Jesus deve ter passado pela cidade em suas viagens, uma vez que a cidade ficava na estrada principal de Siquém a Jerusalém. A população da cidade cresceu no Ia séc. d.C. Vespasiano captu­rou Betei pouco antes de deixar a Palestina para tomar-se imperador de Roma. Josefo (Wars, IV, ix, 9) menciona que Vespasiano estabeleceu uma guarnição romana em Betei. A população da cidade aumentou tanto nesse período que pela primeira vez foram cavadas cisternas. Os quatro mananciais foram suficientes para a população até a ocupa­ção romana. As autoridades acharam necessário construir grandes cisternas comunitárias próximas

do manancial maior, de maneira que podiam ser cheias com água no invemo.

Eusébio refere-se a Betei como um grande povoado no 4sséc. d.C. Ela continuoü a ser um lugar sagrado. Uma importante igreja bizantina foi erigida no cume leste da cidade, talvez marcando o local do sonho de Jacó. Outra igreja foi cons­truída por volta do 6sséc. Esta buscava marcar o local do altar feito por Abraão. Perto do grande manancial dentro da cidade foi erigida uma tercei­ra igreja bizantina, possivelmente relacionada às ordens monásticas. Por volta do ano 500 d.C., foi erigido um novo muro ao redor da cidade, como defesa contra as constantes revoltas samaritanas. A cidade alcançou sua maior extensão e pros­peridade no período bizantino. Foi encontrado ali pouco material islâmico. Não se conhece a razão do seu desaparecimento repentino. O local permaneceu desabitado até cerca de um século atrás. Veja A r q u e o l o g ia .

BIBLIOGRAFIA. W. F. Albright, “First Month of Excavation at Bethel”, BASOR, 55 (setembro de 1934). 24, 25; W. F. Albright, “The Kyle Memorial Excavation at Bethel", BASOR, 56 (dezembro de 1934), 1-15; J. L. Kelso, Excavation at New Testament Jericho, AASOR. vol. 29, 30 (1955); W. F. Albright e J. L. Kelso, The Excavation o f Bethel, AASOR, vol. 39 (1968).

H. M. J am ieson

BETEL (DIVINDADE) rnn, casa de El). Divin­dade semita ocidental identificada na onomástica dos papiros aramaicos de Elefantina, Egito e nos textos cuneiformes neo-babilônicos, por cerca de 15 nomes diferentes. Os exemplos bíblicos in­cluem Zacarias 7.2; Jeremias 48.13 eAmós 5.5. Na passagem de Zacarias 7.2, Betei não pode se referir ao templo, pois a expressão utilizada no versículo seguinte é Beth Yahweh (ARA, “casa do Senhor”: empregada mais de 250 vezes no AT), e em outros lugares é Beth Elohim ou Beth ha'e/ohim (cerca de 50 vezes); Betei não ocorre outras vezes com este sentido. Bethel-shar-ezer (ARA, “de Betei foram enviados Sarezer e”) em Zacarias 7.2 é um nome pessoal, apoiado por nomes neobabilônicos simila­res, como Bit-ili-shêzib e Bit-ili-shar-usur, usados desde os dias de Nabucodonosor em diante.

Os papiros encontrados no sítio de Elefantina, do 6- séc., removeram todas as dúvidas concer­nentes a esse uso de um nome divino, pois desse sítio Albert Vincent oportunamente coletou nomes (pp. 564, 593, 622, 654), tais como Bethel-nãtan, Bethel-nüri, Anath-bethel e Eshem-bethel.

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BETE-LE-AFRA/ BETE-NIMRA 759

Essa divindade também é conhecida pela teogonia fenícia, por Philo Byblius, onde Urano (“Céu”) e Géia (“Terra”) têm quatro filhos: Ilo (Cronos), Betilo, Dagom e Atlas. Este casal agora é atestado no panteão ugarítico como Smm e ars, possivelmente com os quatro filhos, chamados de 'il, 'il spn, dgn e ’ilib. A identificação exata dos filhos deve aguardar até que textos mais completos estejam disponíveis; portanto, por enquanto não se pode situar Betei no segundo milênio num panteão fenício ou ugarítico. No meio-tempo, o nome ugarítico A 'bf iL pode ser notado como contendo este elemento teóforo, levando-nos a esperar a presença desse deus no segundo milênio a.C.

A exegese de Jeremias 48.13 eAmós 5.5 não é tão fácil quanto Zacarias 7.2, pois em cada caso é difícil dizer se se trata do deus Betei ou se, por metonímia, a cidade de Betei é citada em vez do bezerro de ouro em Betei. A segunda opção quase certamente é verdadeira em Amós 5.5, embora o paralelismo do Camos de Moabe, com o Betei de Israel em Jeremias 48.13, apontasse para a primeira opção, exceto pelo fato de que não há nenhuma menção da presença desse deus nas tribos do norte. Há, porém, muito a ser dito sobre Betei como o local do bezerro de ouro que levou à queda de Efraim.

BIBLIOGRAFIA. A. Vincent, La religion des Ju- déo-Araméens d ’Eléphantine, (1937), 562-592; J. P. Hyatt, “A Neo-Babylonian Parallel to Bethel-sar-eçer, Zc 7.2”, JBL, LVI (1937), 387-394; “The Deity Bethel and the OT”, JAOS LIX (1939), 81-98; W. F. Albright, Archaeology: and the Religion o f Israel, 4a ed. (1956), 168-175.

W. C. Kaiser Jr.

BETE-LE-AFRA (mssn rrn, LXX traduz como casa de poeira). Cidade não identificada, mencio­nada em Miquéias 1.10. J. Simons sugere Wadi el Ghafr, entre ed-Daweimeh e Tell ed-Duweir. Visto que a expressão é claramente um jogo de palavras, pode tratar-se de uma alusão a outra cidade, como Ofra ou Betei.

BIBLIOGRAFIA. J. Simons, The Geographical and Topographical Texts o f the OT (1959), 472.

D. H. M ad v ig

BETE-LEBAOTE (mxn1? irn, LXX B BocOapcoB; A Bat0Àa|3a0; casa das leoas). Cidade que coube à

tribo de Simeão, dentro das fronteiras de Judá (Js 19.6). Provavelmente a mesma Lebaote (15.32), a qual se acredita serBete-Biri ( lC r4.31). O último nome provavelmente foi preservado em Jebel el- Biri no Neguebe.

BETE-MARCABOTE (Js 19.5, m n m ^ lCr4.31 mnmn jT ü ; LXX Js 19.5 B BatOnaxspejS: A Bai0ap|iapxa(3co0; lCr 4.31 Bat0|iapxa(3cD0: casa das carruagens). Cidade dada a Simeão. dentro dos limites de ludá, no extremo sul (Js 19.5; lCr4.31). Sua identificação comMadmana. a modema Khirbet Umm ed-Deimineh c. de 24 km a sudoeste de Hebrom, é sugerida pela lista correspondente em Josué 15.31. Talvez seunome original fosse Madmana, tendo sido mudado quando se tomou a cidade das carruagens.

D. H. M ad v ig

BETE-M EON. Veja B a a l - M e o n .

BETE-M ILO ( s r á rm, LXX B oíkoç Br|0ua- aXcov; A oI koç MaaXcuv); BJ, Bet-Melo a M ilo. Fortaleza próxima a Siquém, ou talvez em Siquém (Jz 9.6,20). Talvez deva ser identificada como a Torre de Siquém (Jz 9.46-49).

BÉTEN (lon, cavidade, abdômen). Uma das cida­des da fronteira de Aser (Js 19.25). De localização incerta, é chamada de Bethseten no Onomasticon de Eusébio e situada a oito milhas romanas (c. 11 km) a leste de Ptolemaida (Aco).

B E TE -N IM R A (ma] irn, LXX Js 13.27 Bat- OavafSpa; a LXX traz uma variedade de grafia em Nm 32.3,36; casa de um leopardo). Uma das cidades de Hesbom, que coube a Rúbem e Gade. Foi construída (ou reconstruída) e fortificada pelos gaditas, tomando-se adequada para cria­ção de ovelhas (Js 13.27; Nm 32.36). A cidade antiga é identificada como Tell Bleibil, c. 16 km a nordeste de Jericó, no lado norte do Wadi Shaib. Posteriormente a cidade mudou para c. 2 km para sudoeste, onde o nome preservado como Tell Nimrin.

BIBLIOGRAFIA. N. Glueck, “Some Ancient towns in the Plains of Moab”, BASOR, XCI (1943), 12.

D. A. M a d v ig

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760 BETE-PAZES / BETESDA

BETE-PAZES. (fXD rrn, LXX A Bca0<t>aciT|ç) Cidade próxima ao monte Tabor, incluída no território de Issacar (Js 19:21). Sua localização exata é desconhecida.

BETE-PEALETE. (073 rrn. LXX Js 15.27, B Bca0(f>a?taô; A Bcu0(j)a?t8S; casa do escape). Cidade que coube a Judá, localizada no extremo sul, na direção da fronteira de Edom (Js 15.27). Foi reconstruída e habitada pelo povo de Judá depois do retomo do exílio na Babilônia (Ne 11.26; seu nome é omitido na passagem correspondente da LXX). Helez, o paltita (2Sm 23.26), um dos “trinta” famosos de Davi, provavelmente era dessa cidade. As tentativas de se determinar sua localização não tiveram sucesso.

BETE-PEOR (n"'s rrn [ou mais provavelmente, beytpegór. com o aim sendo substituído por gimeí] LXX Js 13.20 BcaSóoYcop; Dt 34.6 o ík o ç ® oycop; casa de Peor). Cidade de Moabe, destinada à tribo de Rúbem (Js 13.20). Antes de entrar em Canaã. os israelitas acamparam-se no vale oposto a Bete-Peor, quando Moisés contemplou a Terra Prometida do cume do monte Pisga (Dt 3.29). Ali Moisés entregou certas leis ao povo (Dt 4.46) e foi sepultado por Deus naquele vale (34.6). Provavel­mente Bete-Peor era o local onde Baal-Peor era adorado como padroeiro (Nm 25.3,5,18). A cidade é identificada com Khirbet esh-Sheikh-Jayil, ao norte do monte Nebo e a oeste de Hesbom.

Quanto ao significado de Peor (T!?d), já foi explicado como sendo “Abertura” ou “Abismo”, derivando-se da raiz que aparece no árabe como fagara “escancarado, lacuna”. O cognato siríaco (p ‘râ) significa “um abismo”.

D. H. M a d v ig

BETER ( i , i i significado desconhecido, possivel­mente uma contração de -inrrn, casa da montanha; LXX Bca0f|ç, Talmude u m emNeubauer, Geog.d.Tal., 103; Ba80r|pa em Eusébio, H.E. IV, 6).

A expressão “os montes de Beter” é encontrada apenas em uma passagem do AT: Cantares 2.17 (ARC; ARA. “montes escabrosos”). Há dúvidas se ela se refere à cidade de Beter; muitos a con­sideram nome de planta ou algo como “montes aromáticos” (Ct 8.14). A LXXA traz Bai0r|p em Josué 15.59a e, em 1 Crônicas 6.59 (H.44) Bcci00r|p, a cidade agora identificada com Kirbet el-Yehudiyeh, a sudoeste de Bittir, que preserva

o antigo nome da cidade. Bittir está a c. 11 km a sudoeste de Jerusalém. Alguns detectam o nome de “Beter” na leitura de Pavcrpovç, em Escras 5.17. Embora os dois nomes a seguir (Belém e Netofa) se encaixem na descrição da região, J. Simons acredita que Banripouç é um erro de escriba, de ra|3r|pouç, “Gibbãr”.

Beter é mais famoso como o local onde Bar Kochba liderou a última resistência dos judeus contra Adriano, em 135 d.C., quando foram massacrados.

BIBLIOGRAFIA. J. Simons, Geographical & Topo- graphical Texts ofOT, 151,204,379,536; W. D. Carroll, “Bittir and Its Archaeclogical Remains”, AASOR V (1924-25), 77-104.

W. C. K a is e r Jr.

BETE-RAFA (xsi rrn, LXX Ba0pe<t>a, casa de um gigante [?]). Clã descendente de Estom, na genealogia de Judá (lCr 4.12). A palavra Rafa, com o artigo (NDin, é traduzida no plural como “gigantes” (lCr 20.6,8).

BETE-REOBE (mm rrn, lugar da rua). Cidade ou distrito arameu próximo a Laís (Dã), no extremo norte da Palestina (Jz 18.28). Provavelmente pode ser identificada com a Reobe de Números 13.21, no limite norte da área inspecionada em Canaã pelos doze espias. Associou-se a Zobá quando os amonitas contrataram os sírios desses distritos para lutarem contra Davi (2Sm 10.6).

Há conjecturas de que pode ser identificada com a modema Banias, a cerca de 8 km a nordeste de Dã, e com Hunin, a oeste de Banias, mas não há confirmação arqueológica. Outros têm localizado o sítio abaixo de Zobá, a cerca de 40 km a nordeste de Dã. Sua localização exata permanece incerta.

J. B. S co tt

BETESDA (Br|0Ça0a — Aram.? nitt rpn, casa da oliva). Tanque localizado em Jerusalém, perto da Porta das Ovelhas, com cinco pórticos e cha­mados, em hebraico, de “Betesda” ou “Betzeta” (nota da NVI).

Esse lugar é mencionado apenas uma vez na Bíblia, no Evangelho de João (5.2). A localização do tanque era próxima à “[porta] das ovelhas”, onde a palavra “porta” foi acrescentada. A KJV traz sheep (marbet), “mercado das ovelhas”. A RSV, Sheep Gate, “Portão das Ovelhas”, e outras,

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BETESDA 761

Vista parcial do Tanque de Betesda (Betzata). © Three Lions

como Teodoro de Mopsuestia, Ammonius Nonnus e H. A. W. Meyer trazem “tanque das ovelhas”. A Porta das Ovelhas era o local onde geralmente se vendiam as ovelhas para os sacrifícios no templo (Ne 3.32; 12.39). Localizava-se no lado nordeste da cidade, perto do Templo. Todas as variações

mencionadas situam o tanque perto do Templo, por causa da associação de ovelhas, sacrifícios e Templo.

Em 1888, K. Schick escavou um sítio não muito longe da Igreja de Santa Ana e descobriu tanques, um com duplos 16 m de comprimento e o

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762 BETE-SEÃ

outro com c. 20 m. O primeiro tinha abóboda com cinco arcos, com cinco pórticos correspondentes. Os cruzados consideravam esse o local mencio­nado em João 5.2, pois construíram uma capela em cima do tanque, com uma cripta imitando os cinco pórticos e uma abertura no piso por onde se descia à água.

A leitura correta do nome parece ser mesmo “Betzeta”, que provavelmente significa “casa da oliva”. Muitos traduzem o nome como “casa da bondade ou da misericórdia”, ou mesmo “casa dos pilares” (Delitzsch), mas tanto o nome original como o seu significado permanecem incertos.

Nenhum dos escritores judeus, incluindo Jose­fo, refere-se a esse tanque. Eusébio entendia que o poder de cura do tanque estava na cor avermelhada da água, que ele supunha fluir do sangue dos sacrifícios no Templo que escorriam para aí, mas o próprio contexto (Jo 5.4) toma tais explicações desnecessárias. Orígenes e Cirilo de Jerusalém também testificam a presença de um ribeiro cujas correntes intermitentes tinham cor avermelhada e agora se conhece um ribeiro de águas agitadas.

BIBLIOGRAFIA. K. Schick, “Pool of Bethesda”, PEQ (188) 115.134; (1890) 19;W.R.Nicoll,&pos;:tor s Greek Testament(1967), ^36; E. W. Hengstenberg, Gos- pel ofJohn (18651, 256-259; E. W. G. Masterman, “The Pool of Bethesda”, PEQ (1921), 91-100.

W. C. K a is e r J r .

BETE-SEA ('N™ r ’2, lugar de quietude); Betsã (iw n a). Cidade e importante fortaleza localizada no vale de Jalude, perto da junção do vale de Jezreel com o vale do Jordão.

Somente alguns ribeiros perenes unem-se ao rio Jordão em sua margem ocidental, e o mais importante deles é o Jalude. Por isso, este vale foi densamente povoado nos períodos dos cananitas e israelitas, embora a cidade principal fosse Reobe, não mencionada na Bíblia, a cerca de 8 km ao sul de Bete-Seã. O vale de Jezreel é uma fenda menor entre as montanhas, que leva à ampla planície de Esdraelom e à costa do Mediterrâneo. A grande pirâmide de Tell el-Husn, sítio da antiga Bete-Seã, localiza-se numa elevação na estreita passagem de Jezreel, numa posição estratégica de grande importância militar. Assim, a cidade controlava as rotas do sul ao longo do Jordão, do norte para a Síria pelo mar da Galiléia e oeste para a costa do Mediterrâneo. Situava-se a cerca de 100 m abaixo do nível do mar, mas Tell el-Husn controla uma vis­ta panorâmica de uma vasta região, de cima de um

promontório entre o vale Jalude ao norte e um vale convergente a sudeste, bem acima do Jordão.

O nome é mencionado com freqüência na Bíblia. A cidade foi dada em herança a Manassés (Js 17.11; Jz 1.27), embora ficasse no território de Issacar (Gn 49.14,15). Bete-Seã parece nunca ter se integrado à vida de Israel. Os cananeus não foram expulsos dela na época dos juizes; os filisteus penduraram os cadáveres de Saul e seus filhos nos muros de Bete-Seã, depois de derrotá- los em Gilboa (ISm 31.10,12). Graças ao poderio de Davi, Salomão pôde incorporar Bete-Seã ao distrito que coube a Baaná (lRs 4.12). A cidade também figura nas conquistas de Sisaque (lRs 14.25); entretanto, desempenha pouco, ounenhum outro papel na história de Israel. Durante o período helênico, a cidade era conhecida como Citópolis (“Cidade dos Citas”), possivelmente devido a uma força da cavalaria cita no exército de Ptolomeu II. Depois, sob o reinado dos selêucidas, no 2o séc. a.C., adquiriu o nome de Nisa. O nome primitivo foi conservado pelos povos nativos e o nome árabe Beisãn é mantido numa vila vizinha ao tell. No pe­ríodo hasmoneano e nos períodos subseqüentes, a cidade alcançou considerável prosperidade como a única cidade da Decápolis do lado ocidental do rio Jordão (IMac 12.40; Josefo, Ant., XIV, v. 3). Além de sua localização geográfica e das referências bíblicas, o nome aparece em diferentes variações lingüísticas, em documentos egípcios e acadianos do século 15 a.C. em diante.

O tell tem sido escavado por diversas expedi­ções arqueológicas da Universidade da Pensilvâ- nia: C. S. Fisher (1921-23), Alan Rowe (1925-28) e G. M. Fitzgerald (1930-33). Num determinado ponto, uma escavação em busca de solo virgem chegou 21 m de profundidade, através de 18 níveis principais de ocupação, até a ocupação calcolítica de meados do 4- milênio a.C. Tratava-se de uma importante cidade cananita na Antiga e na Média Idade do Bronze, mas no período de cerca de 3300 a.C. até 1500 a.C. as evidências sugerem que a cidade não era murada. Na Nova Idade do Bronze, Bete-Seã tomou-se uma importante fortaleza do império egípcio. A influência egípcia começou por volta do século 15 a.C. no nível X do sítio arqueológico. O nível IX, datando do século 14, mostra as primeiras evidências de uma cidade murada e portões de pedra. No nívelVIII, duas esteias reais de Seti I referem-se a um ataque desferido por reis vizinhos menores e um ataque feito por ‘Apiru ou os povos nômades. O nível VII (século 13 a.C.) continha um templo de Ramsés II, o qual continuou através do nível VI,

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BETE-SEÃ 763

no século 12 a.C. No nível do solo, esses templos se assemelham aos santuários de Tell el-Amama. A deusa da fertilidade — Anate ou Antite — é referida nele, bem como uma outra divindade ba- bilônica. No nível V (por volta do século 11 a.C.) foram encontrados dois templos, o mais ao sul dedicado ao deus Resefe e o outro, à deusa Antite— talvez mencionada em 1 Samuel 31.10. Uma

grande quantidade de objetos cananitas de culto foram descobertos neste nível. Não há evidências conclusivas de quando Bete-Seã caiu nas mãos dos israelitas, possivelmente no nível IV. Então, no Período do Ferro, o sitio foi ocupado somente entre 815 e 700 a.C.. seguindo-se um grande período de deserção antes de nova ocupação no período helênico (nível III). Somente algumas

Bete-Seã, ruínas grandes e antigas na parte oriental do vale de Jezreel Vista geral das ruínas do topo do Tell ou morro. © Lev

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764 BETE-SEMES

estatuetas, anteriormente consideradas prova da ocupação cita, sugerem a possibilidade de que sob o dominio persa ali houvesse um santuário no topo de uma colina, mas são apenas conjecturas. No nível III, foi escavado um templo periféri­co, provavelmente romano, com uma cisterna anexa, adornada com uma escultura que poderia representar a cabeça de Dionísio. Os níveis II eI representam os períodos bizantino e árabe. No nível II, há remanescentes de uma igreja cristã circular, um mosteiro do 6C séc. d.C. e os muros da cidade restaurados. A cidade finalmente caiu nas mãos dos árabes em 636 d.C.

BIBLIOGRAFIA. Publicações da seção palestina do Museu da Universidade da Pensilvânia (1930-40);I. A. Rowe, The Topography and History o f Beth-shan(1930); G. M. Fitzgerald, Beth-shan Excavations 1921­23, Arab andByzantineLeveis(1931),G.M.Fitzgerald, Beth-shan, Sixth Century Monastery (1939); A. Rowe, Beth-Shan, Four Canaanite Temples (1940); veja tam­bém, D. Winton Fhomas (org.), Archaeology and Old Testament Study (1967), artigo de G. M. Fitzgerald, “Beth-Shan”, 185-196.

J. M. H ousto n

BETE-SEMES (watff n a ; a LXX tem numerosas variantes, como, por exemplo, BoaGaán.uç, Bs- Gaaiieç, etc.; significado: casa, isto é, templo do [deus] sol). Nome de um local, aparentemente aplicado a cidades onde um santuário era con­sagrado ao deus-sol, nos tempos anteriores ao estabelecimento dos israelitas.

1. Na alta Galiléia. Cidade cananita na herança tribal de Naftali (Js 19.38), que manteve sua independência durante o período dos juizes (Jz 1.33), provavelmente até o reinado de Davi (cp. 2Sm 24.6,7). Pode ter sido a cidade cujo nome aparece como bwtsmí nos textos egípcios de execração (Posener, nc E-60) do século 19 a.C. Qualquer que seja o caso, a cidade de Naftali não pode ser considerada a mesma de Issacar (cp. infra, rP2). A associação bíblica de Bete-Anate (q.v.) com aBete-Semes deNaftali (Jz 1.33) aponta para uma localização na alta Galiléia. Assim, Aharoni pro­pôs sua identificação com Khirbet Tell er-RuweisI, um sítio proeminente que domina as terras altas da Galiléia. Uma sugestão alternativa, relacionando Bete-Semes com Haris, com base na similaridade entre este nome e o termo hebraico mn (cp.Js 9.7; Jz 1.35) é de valor duvidoso (outra alternativa seria localizá-la em Tibnin).

BIBLIOGRAFIA. W. F. Albright, “Some Archaeolo- gical and Topographical Results o f a Trip through Pales­tine”, BASOR, n2 11 (1923), 12; id., “The Topography of the Tribe of Issacar”, ZAW, XLIV (1926), 233; A. Saarisalo, The Boimdary between Issachar andNaphtali (1927), 120; F. M. Abel, Géographie de la Palestine, vol. II (193 8), 282; Y. Aharoni, The Settlement o f the lsraelite Tribes in Upper Galilee (1957), 74, 125-129 (Heb.).

2. Na Baixa Galiléia. Outra cidade com o mesmo nome aparece perto da fronteira do ter­ritório da tribo de Issacar (Js 19.22). Das várias sugestões para sua identificação, a mais provável é Khirbet Sheikh esh-Shemsâwi (Khirbet Sham-sin), que situaria Bete-Semes no lado norte do distrito de Issacar, perto da fronteira com Naftali. A suges­tão mais aceita situa Bete-Semes em el-’Abeidiyeh (el-’Ubeidiyeh), mas este último sítio é candidato muito mais provável à Yano’am, conhecida das fontes não bíblicas.

BIBLIOGRAFIA. J. Garstang, Joshua-Judges(1931), 367; F. M. Abel, Géographie de la Palestine, vol. II (1938), 282; Y. Aharoni, The Settlement o f the lsraelite Tribes in Upper Galilee (1957), 74-75 et pas­sim (Heb.); Y. Aharoni, The Land o f the Bible (1966), 133, 150,200.

3. Em Judá. A Bete-Semes mais proemi­nente no relato bíblico era uma cidade situada na fronteira norte da herança da tribo de Judá (Js 15.10). Também era conhecida como Ir-Semes (Js 19.41; TM WWD T5J; LXX TióXiç ZajiEÇ / £a|i.|ica)ç; cidade do [deus-] sol) e montanhas de Heres (Jz 1.35; TM m m n ; LXX 'Kpõpei, xoí> M-upcnvcovoç, A; tcò õpei 'ccò òcrcpaKcòSei, B). Note as referências citadas sob o n2 1, supra, nas quais heres = shemesh.

a. Id e n ti f ic a ç ã o . Eusébio relatou que em seus dias havia uma cidade a “16 km de Eleuteró- polis, a leste, entre esta e Nicopolis” (Onomasticon, org. Klostermann, 54:12,13; texto restaurado de acordo com E. Z. Melamed). Por essa referÇencia ele evidentemente queria dizer que se podia chegar a Bete-Semes tomando-se a estrada oriental para Nicoplois (Amwâs), em vez da rota principal que passava mais a oeste, via Tell es Sâfí.

O primeiro a localizar as antigas ruínas de Bete- Semes foi E. Robinson, que notou que o nome bíblico fora preservado na forma de Ain Shems, “a fonte do Sol”, ligado às ruínas de uma vila onde o WâdT Sarâr (Soreque, q.v.) une-se ao WâdT em- Najil, que vem do sul, e ao WâdT el-Ghurâb, que

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BETE-SEMES 765

Bete-Semes. Vista do leste, para o vale de Soreque.© Lev

vem do norte. Exatamente a oeste de ‘Ain Shems está o grande morro do Tell er-Rumeileh, que representa o sítio da cidade bíblica.

b. E sc a v a ç õ e s . As primeiras escavações arqueológicas no Tell er-Rumeileh foram con­duzidas por D. Mackenzie, sob os auspícios do Palestine Exploration Fund (Fundo de Explora­ção da Palestina), nos anos de 1911 e 1912. O sítio foi novamente investigado pela Haverford

College Expedition, sob a direção de E. Grant, entre 1928 a 1931 e 1933. Os abrangentes rela­tórios dessas últimas escavações foram feitos por G. E. Wright. A divisão resultante dos achados, de acordo com os estratos, distingue seis níveis de ocupação:

Estrato VI— restos de potes de barro do MB I e MB IIA, encontrados no leito de rocha.

Estrato V— MB IIB e C, cidade dos “hicsos” (séculos 18-16 a.C.).

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766 BETE-SEMES

Jóias e cerâmica tirados do Tell ou Monte de Bete-Semes.© Depto. de Antigüidades de Jerusalém.

Vista norte do Tell ou Monte de Bete-Semes.© Lev

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BETE-SEMES 767

Estrato I V — LB. duas fases (séculos 15-14 e 14-13 a.C.).

Estrato III— Cidade da Idade do Bronze, com fone influência dos filisteus (sécs. 12-11 a.C.’).

Estrato Ila — Centro administrativo israelita (10L séc. a.C.).

Estrato Hb e c — Cidade não fortificada du­rante a monarquia judaica, níveis não distinguidos meticulosamente pelos escavadores.

Estrato I — O mosteiro bizantino no canto sudeste do Tell: talvez chamado de Sampsõ (John Moschus. Pr atum Spirituale, cap. 170).

Descobertas da Nova Idade do Bronze foram de especial importância para a história da escrita de Canaã. Um pequeno tablete de barro foi encontra­do trazendo uma inscrição enigmática em escrita cuneiforme. como aquela empregada na língua de Ugarite(q.v.); os sinais eram lidos da direita para a esquerda, como ocorre em alguns poucos textos ugaríticos (onde a leitura da esquerda para a direita é aregra). Certas peculiaridades dos sinais também correspondem aos textos ugaríticos da direita para a esquerda. Há outra inscrição importante em um fragmento de cerâmica representando uma escrita “proto-cananita”. Pequenas descobertas típicas da Idade do Ferro incluem numerosos jarros de alças com selos reais, e um em particular traz a inscrição “Pertence a Eliaquim, administrador de Jeoaquim”; dois exemplos desses selos foram encontrados no Tell Beit Mirsim e um em Ramat Rahel.

c. História bíblica. Bete-Semes serviu como marco na fronteira norte de Judá (Js 15.10), mas sob o nome de Ir-Semes, seu território apa­rentemente foi destinado a Dã (Js 19.41). Entre­tanto, os danitas foram empurrados de volta para as montanhas pelos amoritas e não conseguiram ocupar a região do monte Heres (Jz 1.35), que provavelmente é uma alusão a Bete-Semes (cp. supra). A cidade propriamente dita foi dada aos descendentes de Arão (Js 21.16; lCr 6.59).

Quando os filisteus devolveram a Arca da Aliança (q.v.) a Israel, esta foi levada a Bete- Semes pelo vale de Soreque (ISm 6 passim). Ali, seu recebimento foi acompanhado de júbilo e sacrifícios, mas depois alguns cidadãos da cidade foram feridos porque olharam dentro da Arca (ISm 6.19-21). Como conseqüência, a Arca foi transferida para Quiriate-Jearim (q.v.).

O segundo distrito administrativo de Salomão incluía Bete-Semes (lRs 4.9). Uma vez que Judá não foi incluído, exceto no final da lista (lRs 4.19, somente na LXX), Bete-Semes claramente era contada como parte de “Israel” durante a monar­

quia unida. Um confronto entre Amazias (q.v.), rei de Judá, e Joás (q.v.), rei de Israel, ocorreu em Bete-Semes, resultando na derrota e captura do primeiro (2Rs 14.8-14; 2Cr 25.17-24). Nessa época, parece que Bete-Semes pertencia a Judá. Sem dúvida já pertencia a Judá desde a divisão da monarquia, porque cidades situadas ao sul e ao norte dela, como Zorá (q.v.) e Azeca (q.v.), tinham sido fortificadas pelo rei Roboão de Judá (2Cr 11.9,10). Durante o reinado de Acaz (q.v.), rei de Judá, os filisteus fizeram incursões contra as cidades da Judéia na Sefelá, e muitas cidades foram capturadas, inclusive Bete-Semes (28.18). Acaz pode ter esperado que Tiglate-Pileser III (q.v.) devolvesse essas cidades a Judá durante a campanha assíria na Filistia (734 a.C.); se assim pensava, ficou totalmente desapontado (28.20). Bete-Semes não aparece novamente no relato bíblico; pode-se supor que tenha voltado às mãos dos judeus pelo menos durante o reinado de Josias (q.v.), e talvez de Ezequias (q.v.).

BIBLIOGRAFIA. E. Robinson, Biblical Researches (1841), III, 17-19; C. Clermont-Ganneau.^rcAaeo/og;- cal Researches in Palestine, vol. II (1899), 209, 210, 218; S. A. Cook, “The Proposed Excavation of Beth- shemesh. Notes on the Site and its Environs”. PEF.QSt (1910), 220-231; D. MacKenzie, “Excavations at Ain Shems, 1911”, APEF, I (1911), 41-94; “Excavations at Ain Shems (Beth-shemesh)”, APEF, II (1912-1913); E. Grant, “Beth-Shemesh, 1928”,AASORIX(1928), 1-15; W. F. Albright, “Progress in Palestinian Archaeology during the Year 1928”, BASOR, t f 33 (1929), 5, 6; G. A. Barton, “Notes on the Ain Shems Tablet”, BASOR, ns 52 (1933), 5, 6; E. Grant, Ain Shems Excavations, I-III (1931-1934); S. Yeivin, “The Palestino-Sinaitic Inscriptions”, PEQ (1937), 187-192; E. Grant e G. E. Wright, Ain Shems Excavations, IV-V (1938-1939); F. M. Cross e G. E. Wright, “The Boundary and Province Lists of the Kingdom of Judah”, JBL LXXV (1956), 202-226; Y. Aharoni e R. Amiran, “A New Scheme for the Sub-division of the Iron Age in Palestine”, IEJ VIII (1958), 182; W. F. Albright, “The Beth-shemesh Tablet in Alphabetic Cuneiform”, BASOR, na 173 (1964), 51-53;H. Tadmor, “PhilistiaunderAssyrianRule”, BA, XXIX (1966), 88; Y. Aharoni, The Land o f the Bible (1967), 151, 162,251,286, 287,298, 299.

4. Na terra do Egito. Jeremias (43.13) fala sobre a quebra dos pilares de Bete-Semes (ou casa do deus sol) no Egito. A LXX identifica-a com Heliópolis (On, q.v.). Talvez Isaías 19.18 sejauma referência ao mesmo local.

A. F. R a in ey

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768 BETE-SEMITA / BETE-ZUR

BETE-SEMITA (’Em> mu). Pessoa natural de Bete- Semes (1 Sm 6.14,18). Traduzido também como “os homens de Bete-Semes” (ISm 6.15,19).

cidade. Ela está na borda de um cume elevado, de onde se pode ver as planícies férteis abaixo.

J. B. S c o t t

BETE-SITA (rraOT rm, casa da acácia). Lugar para onde o exército derrotado dos midianitas fugiu diante de Gideão (Jz 7.22). Provavelmente o sítio pode ser identificado com Shattah, cerca de4 km a leste da modema ‘En-Harod, na direção de Zaretã (Tell es-Sa’idiyeh?l, perto do rio Jordão,c. 28 km a oeste de Jerás. Zaretã ficava perto de Adã (Js 3.16), no Jordão, indicando que os homens atravessaram o rio.

J. B. S c o t t

BETE-TAPUA (msn fl*Sj casa das maçãs). Ci­dade da região montanhosa de Judá (Js 15.53). É relacionada a Hebrom e a sete outras cidades das montanhas (cp. lCr 2.43). O sítio geralmente é identificado com a vila modema de Taffuh. c. 6 km a noroeste de Hebrom. Esse distrito já foi descrito como fértil e rico. o que pode explicar o nome da

BETE-ZUR (nü ri’2; BcaBaoúp, casa da rocha). Cidade nas montanhas da Judéia, fundada pelo povo de Maom, descendente de Hebrom, da posteridade de Calebe (lC r 2.45). Atualmente é identificada por todos os estudiosos com Khirbet et-Tubeiqah, localizada a cerca de 7 km ao norte de Hebrom e a c. 2 km a noroeste de Halhitl. A trans­ferência da cidade para burg es-sür, que preserva o nome antigo, ocorreu no período bizantino.

As três referências bíblicas a este local são: Josué 15.58 (arrolada com Halul e Gedor); 2 Crô­nicas 11.7 (uma das 15 cidades que Roboão fortifi­cou para defender a parte sul do reino) e Neemias 3.16 (um certo “Neemias, filho de Azbuque”, era “maioral da metade do distrito de Bete-Zur”).

O maior número de referências pertence ao período dos Macabeus, quando Bet-Sur (forma grega de Bete-Zur, usada na BJ) funcionava como uma fortaleza estratégica. Seguidamente, ela figura

Remanescentes di casteki das cruzadas em Bete-Zur

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BETFAGÉ / BETH-LOMON 769

como uma cidade estratégica de fronteira dispu­tada entre a Judéia e a Iduméia. No ano de 165a.C., em Betsur, Judas Macabeu, acompanhado de dez mil homens, enfrentou o general selêucida Lísias com seu exército de sessenta mil homens (1 Macabeus 4.28,29; Josefo, Ant. XII, vii, 5). A batalha resultante foi uma enorme vitória para Judas, que matou cinco mil soldados do exército de Lísias. Lísias foi obrigado a retomar a Antioquia, para ampliar seu exército com “mercenários es­trangeiros, pretendendo voltar à Judéia com forças ainda maiores” (4.35); nesse meio-tempo, Judas fortificou Bete-Zur, “para que o povo tivesse uma defesa contra a Iduméia” (4.61; 6.7,26).

Antíoco Epifanes morreu e seu filho, e Lísias prontamente colocou Antíoco V (chamado de Eupator), em seu lugar (6.17; Josefo, Ant. XII, ix). Este selêucida e Lísias venceram Judas e seu exército em 162 a.C.; Betsur caiu em suas mãos, depois de um mortífero ataque no qual trinta ele­fantes foram usados como se fossem tanques de guerra, seguidos por cem mil soldados de infan­taria e vinte mil cavaleiros (6.31-47); a cidade foi sitiada exatamente no ano sabático, quando havia poucos alimentos estocados em Bete-Zur (6.48ss.). Depois de assegurar a nova conquista, Antíoco V estacionou ali uma das suas guarnições (Josefo, Ant. XII, ix, 4-7).

Por volta de 160 a.C., Báquides, general do rei selêucida Demétrio I, retomou e fortificou Betsur e Gazara (9.52), e assim o local se tomou um retiro para “alguns dos que tinham abandonado a Lei e os mandamentos” durante o govemo de Jônatas (10.12-14). Simão Macabeu finalmente recuperou a cidade por volta de 143 a.C. e novamente refor­çou suas fortificações (11.65,66; 14.7,33). Não é de admirar que Josefo tenha descrito Bete-Zur como “o lugar mais fortificado de toda a Judéia” {Ant. XIII, v, 6).

O sítio arqueológico de Khirbet et-tubeiqah foi escavado por uma expedição americana em 1931, sob a direção de O. R. Sellers e W. F. Albright. As obras foram retomadas em 1957, sob a direção deO. R. Sellers.

As evidências de ocupação na Antiga Idade do Bronze são muito esporádicas, visto que o sítio mantinha apenas alguns punhados de fragmentos de cerâmica desse período. Somente na Média Idade do Bronze II (séculos 19-16 a.C.), há evi­dências depovoação. Surpreendentemente, o local teve uma grande população durante o período dos hicsos (na última parte do MB II), o que é compro­vado pelos típicos muros maciços de fortificação. Dentre as evidências jarros de alças com desenhos

hicsos. No século 15, a cidade foi destruída e per­maneceu desocupada durante toda a Nova Idade do Bronze. A ocupação israelita do século 13 ou 12 foi interrompida por um nível queimado em meados do século 11 (guerras com filisteus?). Há outra lacuna na ocupação, nos 102 e 9^001108, o que levanta a questão da fortificação de Roboão, no final do 10“ séc. e uma grande ocupação nos 82 e 7= séculos a.C. A cidade foi destruída na inva­são de Nabucodonosor; uma pequena coleção de evidências pertence ao período persa, dos dias de Neemias. Os ptolomeus estão representados prin­cipalmente por algumas moedas, os selêucídas por 173 moedas (124 das quais pertenceram aAntíocoIV Epifanes), os Macabeus por 18 moedas e João Hircano por 16 moedas.

Em alguma época, por volta do ano 100 a.C., a cidade foi abandonada.

BIBLIOGRAFIA. 0 . R. Sellers e W. F. AiHjÉÈl “The First Campaign of Excavation àt B eth-jurv BASOR, 43 (1931), 2-13; O. R. Sellers. “The ^ d'1 Campaign at Beth-zur”, BA, 21 (1958), R. W.Funk, BASOR, 150 (1958), 8-20: O. R. Sellers, he Citadel o f Beth-zur (1933); sobre as moedas, veja pp. 73, 74, figura 72.

W. C. K.> s h Jr .

BETFAGÉ (7T-D m , Be9(]xxyti, Br|05xx7T|: em ara­maico, lugar dosfigos verdes). Uma ila no morie das Oliveiras, mencionada na narrativa da procura do jumentinho, nos preparativos da entrada triunfal. Mencionada com B etânia em Mateus 21.1: Marcos11.1 e Lucas 19.29; ficava próxima ou na própria estrada que ligava Jericó e Jerusalém. O nome é mencionado em várias passagens do Talmude, às vezes como uma vila individual e outras vezes como parte de Jerusalém (veja também a Mishna Menahoth, XI, 2). O sítio ainda não foi identificado positivamente, mas a atual Kefr et Tar é a sugestão mais provável.

H. G. A n d e r sen

BETH-LOMON (Bai9Àcüu.cov. B Paye0A,co|j.cov). Grafia encontrada somente na LXX, para o que aparece no TM como ou Belém. Pessoasdessa cidade foram listadas entre os homens da Judéia que retomaram do cativeiro na Babilônia com Zorobabel (lE sd 5.17). A leitura TM é seguida por todas as versões em inglês {Beth- lehem) e pelas principais versões em português (cp. Ed 2.21).

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770 BETHABARA / BETSAIDA

Monte das Oliveiras visto do jardim em Betfagé. © Lev

BETHABARA Br|0a|3apa, que significa “casa da travessia"). Cidade na margem oriental do rio Jordão.

A única menção a essa cidade está relacionada às atividades de João Batista no rio Jordão (Jo 1.28). A palavra Bethabara é apoiada somente pelos MSS inferiores e aparece na KJV. O peso da evidência manuscrita apóia o nome “Betânia” (Alefe, A e B, mais muitos minúsculos anteriores e os Pais da Igreja).

Não pode ser a mesma Betânia onde moravam Maria, Marta e Lázaro, j á que esta não ficava “além do Jordão", como João 1.28 afirma. Uma correção de escriba em Atai# a traduz como “Bete-Arabá”, um local na planicie do Jordão perto de Jericó, na margem ocidental (Js 15.6,61; 18.18). Esse nome pode ser traduzido como “casa de Arabá”, isto é, “deserto’, enquanto Bethabara significa “casa da travessia” ou 'Vau". Não há soluções para a locali­zação de qualquer Bethabara, mas Bete-Arabá pode ser a moderna ’ Ain-el-Gharabeh, no Wadi Qelt.

R. L. A ld en

BETOMESTAIM (BatxoueaOaíu, — |iao0cá|j). Local não identificado, mas que faceava a a planí­cie de “Esdraelon e na direção da vizinha à planície

de Dotam” (Judite 4.6)., Em virtude de sua posição estratégica em termos militares para Esdrelom, Betomestaim (4.6) foi requisitada por Joaquim, sumo sacerdote em Jerusalém, para bloquear o avanço assírio sob Holofernes (general sob o comando de Nabucodonosor) nas passagens entre as colinas. Depois que Judite matou Holofernes, Uzias, um magistrado de Betúlia (lar de Judite), enviou mensageiros a Betomestaim (15.4) pedindo ajuda para destruir os assírios.

C. P. W e ber

BETONIM (m m , que talvez signifique pista­ches). É muito provavelmente a moderna Khirbet Batneh, a cerca de 25 km a nordeste de Jericó, do outro lado do Jordão. Parte da herança de Gade, depois da conquista de Canaã (Js 13.26).

C. P. W eb er

BETSAIDA (BriecrcâScc, casa da caça ou da pes­ca, da raiz hebraica ms, ou 7is). Cidade localizada no litoral norte do mar da Qaliléia.

1. Registro bíblico. João 1.44 afirma cla­ramente que o discípulo chamado Filipe era de

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BETSAIDA 771

Betsaida, a cidade ( j i ó X iç ) de André e de Pedro. Aparentemente, Jesus estava nessa cidade no momento inicial do seu ministério, o que está implícito no v. 43. Posteriormente (12.21), João afirmou que Filipe era de “Betsaida da Galiléia”. E digno de nota que Pedro tinha também uma casa em Cafarnaum, cidade que provavelmente não ficava muito distante. Jesus estava em Cafarnaum para curar o servo do centurião e entrou na casa de Pedro para restabelecer a saúde de sua sogra (Mt 8.13,14).

Betsaida foi o cenário da multiplicação dos pães (Lc 9.10-17). Mateus (14.13) e Marcos (6.30ss.) descreveram o local da multiplicação dos pães como um “lugar deserto”, sem mencionar o nome. A confusão surge a partir da primeira leitura sobre o evento e a informação seguinte: “Logo a seguir, compeliu Jesus os seus discípulos a embarcar e passar adiante para o outro lado, a Betsaida...” (Mc 6.45). Além disso, João afirma (6.1) que “atravessou Jesus o mar da Galiléia, que é o de Tiberíades” (presumivelmente do lado oriental),e, a seguir, relata o milagre da multiplicação dos pães. Em outro texto, João fala sobre “Betsaida da Galiléia”(12.21). Atradição situa o local da multi­plicação dos pães em ’ Ain et-Tabghah, a cerca de 2 km a oeste de Cafarnaum, mas há sérios problemas com essa identificação, a despeito da presença da Capela da Multiplicação dos Pães e dos Peixes. Com base nos textos bíblicos, o consenso é que Betsaida se situava em algum local próximo ao

extremo norte do mar da Galiléia, mas não se sabe ao certo de qual lado da foz do rio Jordão.

Depois de sua viagem a Tiro e Sidom, Jesus retomou para a região da Galiléia, onde curou um surdo-mudo, alimentou quatro mil pessoas, argu­mentou com os fariseus e então foi para Betsaida (Mc 8.22). Ali, curou um cego que foi levado até ele e de lá seguiu com os discípulos para o norte, para Cesaréia de Filipe. Jesus chamou Betsaida de “aldeia” (kcòuti) em Marcos 8.26. Alguns MSS (D, 262*, OL e o Gótico) trazem "Betânia”.

Aparentemente o ministério de Jesus foi menos bem-sucedido em Betsaida. a despeito da multi­plicação dos pães, porque esta cidade e Corazim foram amaldiçoadas (Mt 11.21s.: Lc 10.13).

A única outra referência a Betsaida na Bíblia, a qual é claramente uma aberração textual e não uma referência à cidade, é João 5.2. Em Jerusa­lém, Jesus curou um homem inválido no Poço de Betesda. Na Vulgata Latina e em outros MSS (B. Freerianus, Harcleano Sir. e Etíope). esse come é traduzido como “Betsaida". Por isso. algunas versões da Bíblia traduzem desta forma. A v ersão RSV em inglês traz “Beth-zatha” (nota de rodapé da NVI “Betzata” ou “Betsaida”), que e a forma grega do MS Aleph, et al. O nome "Betesda” tem o apoio de A, C, 1 etc., e de muitas outras versões e pais da Igreja.

2 .0 problema da localização de Betsai­da. A falta de clareza no NT quanto à localização

MarMediterrâneo

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772 BETSUR / BETÚLIA

de Betsaida, se a leste ou a oeste do rio Jordão, deve-se ao grande número de referências à cidade (ou cidades), feitas por Josefo. Betsaida, encaixan­do-se na descrição de uma cidade pesqueira, podia ser o nome de diversas cidades naquele produtivo lago. Josefo registrou que Herodes Filipe “elevou a aldeia Betsaida, situada no lago de Genezaré, à dignidade de cidade... e a chamou pelo nome de Julias, o mesmo nome da filha de César” (Ant. XVIII, ii, 1). Outras referências do mesmo autor indicam que a cidade ficava a leste do rio Jordão e a norte do lago. Na sua obra Wars II, ix, 1, ele a situa na Baixa Gaulanitis, a divisão política norte e leste do mar da Galiléia. Em Wars IV, vii, 2, Josefo declara que Julias estava a leste do Jordão, no início das montanhas que se estendiam ao sul da Arábia. E m li/e (72), ele relata que Julias situava- se a cerca de 200 m do Jordão.

Duas cidades podem ser consideradas como a localização mais provável de Betsaida. El-’Araj está na margem do lago e perto da foz do Jordão. Tem um ancoradouro e assim preenche a maior parte das especificações. Entretanto, é pequena demais e não se encaixa nas descrições, feitas por Josefo, de Julias como uma cidade. O historiador também registra que Herodes Filipe escolheu este como o local do seu sepultamento (Ant. XVIII, iv, 6). Ao norte de El-’Araj, a cerca de 3 km de distância e ligada pelo que teria sido uma ótima estrada, há outra localidade com o simples nome de et-Tell ( ”0 outeiro"). Esta fica próxima do Jordão e tem evidências de ter sido uma cidade maior e mais completa, com muros, aqueduto e belos edi­fícios. Talvez a atividade pesqueira tenha ocupado primeiro a posição próxima à praia, enquanto a cidade construída por Herodes Filipe ficava num local mais privilegiado, ao norte. Essa identifi­cação resolveria muitas das questões levantadas pelos relatos dos Evangelhos, bem como pelos dos antigos historiadores seculares.

Aexpressão "Betsaida da Galiléia” (Jo 12.21) é clara, quando se emende a Galiléia no sentido mais genérico, como a extensão a leste do Jordão e ao norte do mar da Galiléia (o que não era, no sentido político e técnico). Outros problemas concernem à idéia de atravessar o mar ou ir para o outro lado. Embora haja quem insista que esses termos significam ir numa linha relativamente reta pelo meio, o problema é eliminado se isso significa que eles se dirigiram de um ponto da praia, a outro não muito distante.

Continua sendo um problema encontrar o local onde foram alimentadas 5.000 pessoas, pois a descrição do evento encaixa-se melhor na área

mais fértil a oeste, embora não haja nenhum mo­tivo para se descartar totalmente a possibilidade de que o milagre tenha ocorrido em algum lugar nas imediações do local onde hoje se acredita que estava localizada Betsaida.

BIBLIOGRAFIA. W. Ewing, “Bethsaida”, em ISBE, I (1929); G. Dalman, Sacred Sites and Ways (1935), 161­168; G.A. Smith,Historical Geography o f theHoly Land (1935), 457; C. Kopp, “Christian Sites Around the Sea of Galilcc’\ DomimcanSíudies. Ití ( 1950), 10-40; E. G. Kra- eling, Rand McNally Bible Atlas (1956), 376s., 386ss.

R. L. A l d en

BETSUR. Formas de B e t e -Z u r na B J , em 1 Ma- cabeus 4.29 e 2 Macabeus 11.5.

BETUEL, BETUL (PESSOA E CIDADE), (?xmbeffiel em ICr 4.30; ‘Pinn em Js 19.4; [ARA, “Quesil”] em Js 15.30; e provavelmente ISm 30.27 'jsnn).

1. Ultimo filho citado de Naor, irmão de Abraão; pai de Rebeca e de Labão (Gn 22.22,23; 24.15,24,47,50; 25.20; 28.2,5). Gênesis 25.20 e 28.5 chamam Betuel de “o arameu, de Padã-Arã”. Recentemente, E. Speiser apontou para “o docu­mento de irmandade” Nuzu (tuppi ahãtütí), para explicar o papel proeminente que Labão, irmão de Rebeca, desempenhou no pedido de casamento feito pelo servo de Abraão, mais do que o próprio pai, Betuel, que estava vivo na época (Qn 24.50, contrariando a afirmação de Josefo em Ant. I, xvi,2, que diz que ele já havia falecido).

2. Cidade de Simeão mencionada em 1 Crô­nicas 4.30 como Betuel — forma que Albright prefere, depois de comparar as várias formas corrompidas: Betul (Js 19.4), Betei (ISm 30.27— nome que nunca ocorre nas listas das cidades de Judá) e Quesil (Js 15.30). Grollenberg sugere Khirbet el-Qaryatein, uma ruína ao sul de Hebrom, como possível localização.

BIBLIOGRAFIA. W. F. Albright, “Egypt and the Early History of the Negeb”, JPOS IV (1924), 149-161;E. A. Speiser, “The Wife-Sister Motif in the Patriarchal Narratives”, em A. Altmann, (org.) Biblical and Other Studies (1963), 15-28.

W. C. K a is e r Jr.

BETÚLIA (BaiBouXoDa). Cidade mencionada somente no livro de Judite. Em Judite 4.6 ela é

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BETUME 773

descrita como uma cidade cuja localização im­pediu que os inimigos liderados por Holofernes penetrassem na planície diretamente na região montanhosa. A cidade fica do lado oposto da planície de Esdraelom, perto de uma segunda planície na qual se localizava a cidade de Dotã. Em Judite 7.3, o local é descrito com mais precisão, se forem aceitas duas mudanças textuais, a saber “em profundidade desde (à nó, em vez de ejií como no paralelismo) Dotain até Belbain, e em extensão desde Betúlia...” (como a LXX traz). Portanto, J. Simons conclui que nossa cidade de Betúlia “situava-se entre os lados mais altos de um triângulo, cujo topo é o local duas vezes mencionado de Kirbet beFameh, enquanto a base era a linha Tell do dõtãn a el-jãmün” (p. 499). Isso leva à identificação de Betúlia com Sheih Shibil, no topo de gebel el-'ãsi. Este local de fato bloqueia a “aproximação à Judéia”, pela qual era possível chegar a Jerusalém (Judite 4.6,7). Também fica no topo de uma colina (Judite 7.8; 10.10), perto de uma fonte que servia como suprimento de água da cidade (Judite 6.11; 7.7,12,17). Em Sheih Shibil há vários ribeiros, mas provavelmente o que é mencionado é o que fica no pé da colina, a sudeste. Do topo de Sheih Shibil (cerca de 475 m acima do nível do mar) era possível ter uma boa visão das colinas de Samaria e das planícies de Esdrae­lom. O marido de Judite foi sepultado nesse local (Judite 8.3), descrito como sendo “entre Dotain e Balamon” (outra forma de Bileã, de lCr 6.70, que novamente se encaixa com Sheih Shibil).

Não sabemos se Betúlia é o nome real de um lugar ou um nome simbólico. O argumento em favor da primeira alternativa é o fato de que Betul ou Betuel é o nome de um lugar no território de Simeão, o que está de acordo com a origem de Judite (9.2; 6.15 ), mas há conjecturas que apóiam a segunda alternativa, pois “casa de Deus” seria um nome apropriado para uma cidade fictícia, que confirmasse a fé em Deus, a despeito dos perigos crescentes.

BIBLIOGRAFIA. J. Simons, The Geographica! and Topographical Texts ofthe O T (1959), 498-500.

W. C. K a is e r J r .

BETUME. 1. Três referências na Bíblia são traduzidas por “piche”, ou “betume”. De acor­do com Strong, são: Gênesis 6.14 (IDD, cobrir, calafetar [especificamente com betume]; e "is’3, um revestimento, especificamente betume [usado para vedação]) Êxodo 2.3 e Isaías 34.9 (rar, piche,

asfalto [pela tendência que ele tem de amolecer ao sol]). Keil e Delitzsch mencionam Gênesis6.14 “...calafetarás por dentro e por fora” (ARC, “betumarás por dentro e por fora com betume”; NVI, “revista-a de piche por dentro e por fora”; LXX, áapaXxoç; Vul., bitumen).

Betume é um termo genérico aplicado a substâncias petrolíferas obtidas por ocorrências naturais ou por pirólise, que vão desde o óleo cru, até o assim chamado carvão mineral e asfaltita. E de cor escura até o preto, e é constituído quase inteiramente de hidrogênio e carbono, contendo muito pouco oxigênio, nitrogênio e enxofre. Óleos de base asfáltica em águas de infiltrações produzem betumes naturais, como o asfalto, a rocha asfáltica, os pirobetumes e compostos correlatos. Formam-se provavelmente a partir da evaporação de constituintes mais voláteis e leves. O piche ou asfalto é uma mistura semi-sóíida de diversos hidrocarbonetos. E amorfo, de gravidade específica baixa, e alguns possuem uma coloração preta ou castanho-escuro e brilho escuro. O Lago de Asfalto, na ilha de Trinidad. que cobre uma área de 114 acres, e a região do Mar Morto, são regiões asfálticas bastante conhecidas. E da região do Mar Morto que o Lacits Asphaltites era há muito conhecido pelos antigos. Um lago semeLuante ocorre na Venezuela. O asfalto também ocorre como argamassa natural em arerito, formando o arenito betuminoso ou asfáltico.

Heródoto e outros descreveram a utilização do piche como argamassa para tijolos na Babilônia, e isso ainda pode ser observado nas -umas da muralha da Média, próxima à Babilônia.

No Oriente Médio existem depósitos abundan­tes de petróleo de diversos períodos geoíógicos, a saber: no Irã e no Iraque ( ferciária): no Kuwait e Bahrein (Cretáceo), na Arabia Saudita (Jurássico), e no Egito (do Carbonífero ao Eoceno), sobretudo ao longo do Golfo de Suez. Neste último broia óleo e há asfalto pesado.

BIBLIOGRAFIA. C. F. Keii e F. Delitzsch, Bibliccd Commentaryon the Old Testamentí 1949), V. 2, 142; A. M. Bateman, Economic MineralDeposits, 21 ed. (1950), 732; M. F. Unger. Unger ’s Bible Dictionary (1957); R. Said, The Geology ofEgypf (1962), 274-281; McGraw- Hill, Encyclopedia o f Science and Technology (1966), v. 2, 251; Van Nostrand’s Scientific Encyclopedia, 4a. ed. (1968).

W. A ült

2. Outra palavra, "ian, ocorre em Gênesis 11.3; 14.10 e Êxodo 2.3, é cognado a termos egípcios

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774 BET-ZACARIAS / BEZEQUE

e cópticos, e significa “piche, “betume”. Foi um item de comércio no Oriente Próximo desde 2 5 0 0a.C. Naturalmente, ocorrências desse asfalto betu­minoso natural da região da Síria-Palestina foram utilizados para calefação e preparo de mástique. A tradução grega na LXX é àa<|)(xX,xoç. Supõe-se que essa substância tenha ocorrido na destruição de Sodoma e Gomorra. Autores gregos freqüen­temente descrevem o Mar Morto como “Xt|j.vfi à atfw^TiTiç”, especialmente Diodorus Siculus 19, 9 8 ; e Estrabo 7 . 5 . 8. Veja P ic h e .

Hoje em dia, o asfalto é usado nas estradas, nos materiais de revestimento, para revestimentos à prova d’água, como composto da borracha, em briquetes, para a vedação de encanamentos, em composto de modelagem e pintura.

W. White Jr.

BET-ZACARIAS (Bai9Ça%apía, casa de Zaca­rias). Cidade localizada a cerca de 16 km a sudo­este de Jerusalém, a moderna Khirbet Beit Sakaria. Local onde Judas Macabeu foi derrotado por Antíoco V (Eupator, filho de Antíoco Epifanes), pouco depois deste ter se tomado rei (1 Macabeus6.32s.). Antíoco liderava um exército numeroso e bem equipado, inclusive com diversos elefantes. Depois de alguns embates iniciais, os judeus fugi­ram da multidão armada. Josefo também descreve esse evento (Ant. XII, ix, 4).

C. P. Weber

BET-ZET (BTiSÇaie, casa da oliva). Local onde Báquides. um dos generais de Demétrio, massa­crou muitos judeus na Guerra dos Macabeus (1 Macabeus 7.19). Quando os inimigos dos Maca­beus acusaram Judas e seus amigos de praticarem o mal contra Demétrio, este escolheu Báquides para se vingar de Israel. Báquides enganou Judas, levando-o a confiar nele para então matar sessenta dos judeus que tinham vindo com ele para Jeru­salém. A seguir, foi a Bet-Zet, onde matou muito mais, jogando-os numa cova. O sítio é identificado com a moderna Beit-Zeita, a c. 7 km a sudoeste de Belém, perto de Bete-zur.

J. B. Scott

BEULA (nVi 573, casada, grau Qal, particípio passivo, feminino, de VM, casar, governar sobre, LXX OÍKOunévri, habitada). Palavra que ocor­re somente em Isaías 62.4 (na ARC; RSV traz married; ARA, “desposada”), indicando o prazer

que o Senhor terá com seu povo, em seu futuro estado de bem-aventurança. A palavra hebraica é traduzida em outros textos como “desposada” ou algum derivado (Dt 22.22; Is 54.1 et al.). O rela­cionamento do casamento é usado para retratar o relacionamento de Deus com seu povo (Is 54.5; Ez 16; 23; Os 1-3 et al.).

C. P. Weber

BEZAI (’X3). Este homem foi mencionado como cabeça de uma família de 323 indivíduos que retor­naram para a Palestina depois do Exílio (Ed 2.17; Ne 7.23; lEsd5.16). OBezai que colocou seu selo no pacto de Esdras foi um descendente posterior (Ne 10.18). A ARC, aNVI e aB J trazem Besai.

BEZALEL (BJ, Bezeleel, na sombra [pro­teção] de Deus). 1. Membro da tribo de Judá, descendente de Perez, por meio de Hezrom e Uri (lCr 2.5,18-20; cp. 2Cr 1.5); artesão-chefe e fundidor do Tabemáculo. Foi nomeado para esta função por Yahweh (Èx 31.2; 35.30) e recebeu do Espírito Santo um dom especial de conhe­cimentos tecnológicos para executar o trabalho (Ex 31.3-5; 36.1). Seu dom incluía habilidades técnicas detalhadas em metalurgia, fundição, entalhes, ourivesaria e marcenaria (35.32,33). A natureza da sua capacitação sugere uma carência de artesãos em Israel. Seu dom incluía também a habilidade de ensinar essas habilidades a outros, incluindo Aoliabe.

Seu trabalho incluiu o próprio Tabemáculo, o átrio, as colunas, as cortinas, as cobertas, os pertences do altar de bronze, a mesa dos pães da proposição, o altar de incenso, a Arca da Aliança e a tampa do Propiciatório, e as vestes dos sacer­dotes. As habilidades que recebeu dotaram-no de ampla técnica e de capacidade inventiva.

2. Um dos oito filhos de Paate-Moabe (Ed10.30), que havia se casado com uma mulher estrangeira.

H. G. Stigers

BEZEQUE (pT3, significado desconhecido). Muitos buscam localizar esta cidade no territó­rio dado à tribo de Judá e Simeão, por causa da inferência em Juizes 1.4; talvez seja a moderna Bezqa, próxima a Jerusalém. O problema com essa identificação é que não há menção de tal cidade no sul da Palestina em nenhuma outra fonte. A batalha mencionada no texto de Juizes

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BEZER / BEZERRO DE OURO 775

1.4-7 deve ser situada nas montanhas de Gilboa: na modema Khirbet Ibziq. KD questionou essa localização; mais recentemente, Aharoni, negando que houvesse qualquer razão para se suspeitar da veracidade histórica das breves notícias relacio­nadas em Juizes 1, aponta para a probabilidade de os homens de Judá terem lutado na região de Manassés, devido ao fenômeno difundido das tri­bos atravessando a região montanhosa de Efraim. Em 1 Samuel 11.8, Saul inicia sua marcha de uma noite dessa cidade para Jabes-Gileade, a qual foi tomada pelos amonitas.

BIBLIOGRAFIA. K. A. Kitchen, Ancient Orient and The OT (1966), 66, ns 36. Y. Aharoni, The Land o f the Bible (1967). 197 ens 62 no 197: G. E. Wright, “Literary and Historical Problems of Josh. lOandJudg. 1”, JNESV (1946), 108 (visão contrária).

W. C. K aiser Jr.

BEZER (_m , LXX Bóoop, baluarte [?], fortaleza [?]). 1. Cidade dos levitas, situada na região de Rúben (Js 21.36; lCr 6.78), dada aos filhos de Merari. Esta foi uma das três cidades de refúgio indicadas por Moisés no lado oriental do rio Jordão (Dt 4.43; Js 20.8). De acordo com a Pedra de Mesa, essa cidade se localiza no território de Moabe, possivelmente Bozra de Moabe, cp. oposta a Bozra de Edom (veja LXX Bosar\ Jr 48.24), e foi uma das cidades que o rei Mesa fortificou por volta de 830 a.C. Talvez seja a modema Umm el !Amad, a nordeste de Medeba e a leste do monte Nebo. Wellhausen acreditava que as cidades de refúgio fizeram parte das reformas do 7S séc. a.C., mas isto é impossível, uma vez que Bezer foi tomada de Israel antes desta época, conforme o testemunho da Pedra de Mesa.

2. Nome de um filho de Zofa, da casa de Aser (1 Cr 7.37), que significa “ouro” ou “metal precio­so”, como prin; cp. T. Noeldeke, EBi col. 3297 e M. Note IPN (1928), 223.

W. C. Kaiser J r .

BEZERRA VERMELHA. Veja S a c r if íc io s e

O fer ta s .

BEZERRO. Veja Gado.

BEZERRO DE OURO (rooa to : “bezerro fun­dido”) Feito por Arão, em Êxodo 32, e citado

em Deuteronômio 9.16; Neemias 9.18; Salmos 106.19; Atos 7.41; 'bxil 'W (“dois bezerros de ouro”), construídos por Jeroboão I ( lRs 12.28-33; 2Rs 10.29; 17.16; 2Cr 11.15; 13.8; Os 8.5,6; 13.2). Esses são os dois maiores incidentes na história de Israel, nos quais a religião oficial envolve-se com a utilização de bezerros de ouro no culto. Os dois incidentes não são desvinculados um do outro.

1. Êxodo 32. Arão, irmão de Moisés, recém designado sumo sacerdote, cedeu à pressão do povo, que pensou que Moisés o tivesse abando­nado (Èx 24.18; 32.1), e fez um bezerro, usando os brincos de ouro do povo. O quadro mostra um contraste absoluto entre Moisés no monte, recebendo os Mandamentos e os pormenores do tabemáculo, para que Israel pudesse adorar a Deus corretamente, e o fiasco em curso no sopé da montanha.

Uma leitura cuidadosa da narrativa deixa claro que Arão estava confuso, pois o v. 5 parece im­plicar que ele ainda pretendia sustentar o culto ao Senhor, ao chamar o povo para uma celebração ao Senhor e construir um altar ao Senhor em frente ao bezerro. Em outras palavras, na mente de Arão, o bezerro era apenas o lugar onde Yahweh habitava. Mas o povo não entendeu assim, pois gritava: “São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito” (vv. 4,8). Moisés deixou clara a enormidade desse pecado, ao mostrar ao povo que

Bezerro de bronze do deus egípcio Apis, modelo pelo qual os israelitas podem ter feito o bezerro de

ouro no deserto. © B.M.

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776 BÍBLIA

esse bezerro era, de fato, um deus “de ouro” (vv.30,31). Diante daquela visão lamentável, Moisés, em sua ira, destruiu as tábuas da lei, pois a essa altura o povo não estava preparado para recebê-las (cp. cap. 34). Ele queimou o bezerro até as cinzas e obrigou o povo a beber a água suja por esse pó (cp.Nm 5.17-27).

Apesar da ingenuidade de Arão, ele teve muita responsabilidade nisso. Sua desculpa era fraca ao ponto de ser ridículo, quando ele disse que atirou o ouro ao fogo e o bezerro apareceu (v. 24). Mas sua responsabilidade fica clara pelo o v. 25, que diz que Arão tinha deixa o povo à solta (ARC, “o havia despido”). Se, como disse Arão, o povo era “propenso para o mal” (v. 22), então, como líder, ele deveria ter usado todo controle moral para o bem do próprio povo. A explicação é uma grande lição sobre a responsabilidade da liderança.

2.1 Reis 12.26-33. Depois de romper com a tribo de Judá e com Jerusalém, Jeroboão I construiu dois santuários do Senhor: um em Betei, outro em Dã. Seu propósito era precaver-se da necessidade de ir a Jerusalém para o culto (12.27). Jeroboão provavelmente tomou como precedente para seus bezerros de ouro, os dois querubins no templo de Salomão. Uma vez que o invisível Yahweh estava representado como entronizado entre esses que­rubins, da mesma maneira Jeroboão considerou Yahweh como uma divindade invisível, em pé ou entronizada em um bezerro de ouro. W. F. Albri­ght parece estar certo em From the Stone Age to Christianity (AnchorBook [1957], pág. 299), onde observa que é um erro grosseiro, sem paralelo na tradição bíblica, considerar esses bezerros de ouro como representantes diretos de Yahweh. Embora fosse prática egípcia comum representar divinda­des sob a forma de animais, esse não era o caso entre os povos sírio-palestinos, cuja iconografia freqüentemente representava a divindade entro­nizada ou montada nas costas de animais. Poderia Jeroboão ter conquistado a confiança das tribos do norte, se tivesse apelado para uma idolatria osten­siva e declarada? Como Arão, no passado, ele pode ter racionalizado a ponto de se convencer de que estava promovendo a causa de Yahweh.

Se isso foi verdade, Jeroboão, da mesma forma que Arão, estve envolvido no pior dos casos de du­plicidade. Por um lado, ele estabeleceu um calen­dário religioso similar ao de Jerusalém, designando sacerdotes e fazendo os sacrifícios necessários. Tudo isso, diz o autor do Primeiro Livro dos Reis, “...escolhido a seu bel-prazer” (v. 33). Ele não teria tido tanto transtorno se tivesse instituído uma nova

religião completa. Por outro lado, a iconografia que ele instituiu estava tão associada à adoração de Baal e ao culto de fertilidade dos cananitas, que era um pulo mover-se nessa direção, como de fato ocorreu. (Os 13.1.2). Ele pode ter tentado estabelecer uma síntese do Iaveísmo e de certos elementos do politeísmo popular. De acordo como lRs 12.28, ele disse ao povo: “Basta de subirdes a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito!”

Pode-se perguntar por que a representação dos querubins (esfinges aladas), no tabemáculo e no templo de Salomão, também não levava à idolatria. A resposta pode ser que essas figuras não tinham a mesma associação insidiosa com a idolatria, há mui­to estabelecida e imediatamente presente no culto cananeu. Os hebreus as viam como representações de criaturas celestiais, cuja propósito era acentuar a majestade de Yahweh. Como os reis, na época, eram freqüentemente entronizados entre tais criaturas, assim a soberania de Yahweh era, dessa forma, afir­mada. Não apenas nas artes plásticas, mas também na poesia, os hebreus não hesitavam em representar seu Deus único como aquele que “cavalgava um querubim” (2Sm 22.11) ou que estava “entronizado acima dos querubins” (2Rs 19.15).

Por diversas vezes a Igreja enfrentou o pro­blema da idolatria versus a iconoclastia. O juda­ísmo pós-bíblico procurou resolver o problema mediante severa restrição da expressão artística. A controvérsia iconoclasta, levantada no ramo bizantino da Igreja, e os puritanos, despiram suas igrejas de todo ornamento. Parece que a própria Bíblia não é indulgente com nenhum desses ex­tremos, mas considera idolatria como aquela que vem do coração pecador do homem, quando ele por vontade própria escolhe glorificar a criatura mais do que o criador (Rm 1.21-23). O salmista expressa isso suscintamente no salmo 106.19-21: “Em Horebe fizeram um bezerro, e adoraram o ídolo fundido. E assim trocaram a glória de Deus pelo simulacro de um novilho que come erva. Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que, no Egito, fizera coisas portentosas”.

BIBLIOGRAFIA. C. H. Gordon, Old Testament Times (1953), 180; W. F. Atbright, From the Stone Age to Christianity (1957), 299.

E. B. Smick

BÍBLIA. Nome geral dado às Escrituras Sagradas da Igreja cristã. Uma discussão sobre este assunto deve necessariamente abranger uma grande va­

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BÍBLIA 777

riedade de aspectos, mas num verbete como este só será possível fazer uma análise geral do seu conteúdo, história, unidade e outras questões afins. Se houver necessidade de maiores detalhes, o leitor pode recorrer a verbetes que tratam de forma mais específica cada seção.

I. Termos descritivos

II. Divisões da Bíblia

III. Idiomas da Bíblia

IV. O texto da BíbliaA. O texto do ATB. O texto do NT

V. As VSS da Bíblia

VI. O cânon da BíbliaA. O cânon do ATB. O cânon do NT

VII. O uso da BíbliaA. O uso litúrgicoB. O uso privativoC. O uso teológicoD. O uso na literatura

VIII. A inspiração e a autoridade da Bíblia

IX. A unidade da Bíblia

X. A singularidade da Bíblia

I. Termos descritivos. A palavra “Bíblia” deriva-se diretamente do termo grego ptfSMov (“livro pequeno”), o qual, por sua vez, se deriva da palavra que designa a casca do papiro (piif$.oç), que era amplamente usada como material de es­crita. A forma plural fhpM a (“livros”) a princípio foi empregada para a coleção de escritos sagrados, mas visto que a forma plural neutra é igual ao feminino singular, foi traduzida erroneamente como uma forma singular, de onde “livros” acabou sendo “livro” [Bíblia — feminino singular]. Em virtude da crescente convicção em relação à uni­dade do conjunto, o equívoco referente à direção gramatical do nome não foi inadequado. Na época de Jerônimo, a coleção completa era conhecida como biblioteca divina (Bibliotheca), o que chama atenção para a diversidade dentro do todo. A Bíblia é simultaneamente “o livro” e “os livros”, sendo um único volume e uma biblioteca.

O termo “Escrituras”, usado no Novo Testa­mento e nos escritos dos Pais da Igreja, representa a palavra grega ypa<|>ái (“escritos”). Também é usada no singular, mas neste caso em geral deno­ta uma passagem em particular. Fica claro, pela maneira como o Novo Testamento emprega essas formas, que uma autoridade especial era atribuída ao AT. Pode-se ver isso pelo significado da expres­são “está escrito”, usada com tanta freqüência na introdução de importantes testimonia do Antigo Testamento. Visto que o plural é usado para a co­leção toda, “Escrituras” corresponde ao uso inicial de “livros”, embora posteriormente o singular fosse usado também num sentido coletivo.

Outro termo importante na descrição dos es­critos sagrados é “Testamento”, derivado do latim Testamentum, mas que corresponde ao grego 5ta- 0f]KT]. A despeito do fato de que o termo grego em geral significa “testamento” no sentido de “última vontade”, ele é empregado na LXX para traduzir o termo hebraico m u , “aliança”. Quando usada como título para o Antigo ou o Novo Testamentos, a palavra é interpretada neste último sentido. O AT contém os livros da Antiga Aliança, enquanto o NT contém os livros da Nova Aliança. Uma vez que foi o Senhor que usou o termo “Nova Aliança” na Última Ceia, daí foi apenas um pas­so pensar em todo o processo de salvação sob a figura de uma aliança ( cp. Epístola aos Hebreus), que naturalmente sugere que, por comparação, a primeira aliança era antiga. É nesse sentido que os adjetivos descritivos “antigo” e “novo” devem ser compreendidos.

II. Divisões da Bíblia. Dentro do Antigo Testamento, há grupos bem definidos de livros, mas nenhuma ordem ou agrupamentos desses livros no texto em inglês (e em português) segue o padrão do texto hebraico. Neste, o agrupamento é triplo: a Lei, os Profetas e os Escritos (conhecidos na VS grega como Hagiografa). A Lei inclui os cinco primeiros livros da Bíblia. “Os Profetas” consistem da maior parte dos livros históricos (Josué, Juizes, Samuel, Reis) e dos livros proféti­cos (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas menores, de Oséias a Malaquias). Os Escritos incluem todo o restante (Salmos, Provérbios, Jó, Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas). Uma vez que os livros duplos, bem como Esdras-Neemias eram respectivamente contados como livros únicos, a contagem rabínica normalmente era de 24 livros. Essa contagem não foi seguida por Josefo (ApionI. 8), que conta somente 22 livros, evidentemente

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juntando Rute com Juizes e Jeremias com Lamen­tações. Jerônimo (Prefácio do AT) segue a mesma contagem. Josefo também diverge do procedimen­to rabínico geral, classificando 13 livros proféticos em vez de 8. Isso é feito mediante a transferência de todos os livros do terceiro grupo, exceto Sal­mos, Provérbios, Cantares e Eclesiastes.

O Novo Testamento testemunha em favor de uma divisão tripla das Escrituras do Antigo Testa­mento; por exemplo, em Lucas 24.44, “importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”, e esta última afirmação claramente se refere ao Hagiografa, do qual o livro dos Salmos era o primeiro. Às vezes são mencionados apenas a Lei e os Profetas (Mt 5.17; At 13.15). Em outras ocasiões, a Lei parece englobar todos os livros, desde que citações de livros fora do Pentateuco são feitas sob esse termo (Jo 10.34, uma citação do SI 82.6). Com mais freqüência, porém, o NT não utiliza os termos das divisões, mas sim o termo mais abrangente, “a Escritura”.

Pelo que já foi mencionado, pode-se observar que nenhum dos livros conhecidos como a Apó­crifa foi considerado pelos rabinos ou por Josefo como pertencendo à Escritura judaica. Esses livros são principalmente aqueles que foram acrescenta­dos ao Cânon hebraico na LXX. Uma vez que esta VS grega tomou-se a Bíblia da Igreja primitiva, é notável que nenhum apócrifo tenha sido citado no NT, como Escritura. Alguns supõem que Judas cita o livro de Enoque dessa maneira, mas é altamente questionável se ele realmente tenciona mencioná-lo como Escritura. E digno de nota que Melito de Sardis (cerca de UO d.C.) considerou necessário consultar os judeus nos países onde o OT se ori­ginou para resolver a questão do seu conteúdo. Ao mesmo tempo, ele usou a LXX, mas claramente não considerou que era autoritativa para os livros adicionais. Os livros apócrifos foram incluídos na Vulgata de Jerônimo e desta forma tomaram-se parte das Escrituras da Igreja Católica Romana. Isto tomou-se conclusivo no Concilio de Trento, em 1546. Os reformadores rejeitaram os apócri­fos, retirando-os do Cânon, mas permitiram-nos para simples leitura. O interesse deste artigo se concentrará na Bíblia sem os apócrifos.

No NT, a divisão dos livros segue a classifica­ção de acordo com a forma literária: Evangelhos, Atos, Epístolas e Apocalipse. Há uma seqüência natural nessa ordem, embora não se relacione com cronologia. Os Evangelhos foram colocados em primeiro lugar porque se concentram em Jesus Cristo, cuja obra e cujo ensino formam o traço central da mensagem cristã. Desde os primór-

dios, o livro de Atos dos Apóstolos foi ligado aos Evangelhos, em parte porque era visto como continuação do relato histórico do Evangelho e em parte porque sempre foi associado ao terceiro Evangelho, como obra do mesmo autor — Lucas. As Epístolas seguem naturalmente os Atos, porque preservam dados relacionados à pregação apos­tólica. O último livro, o Apocalipse de João, que apresenta uma visão do estado futuro da Igreja, forma uma conclusão adequada para a coleção do Novo Testamento. É significativo que muitos livros não autênticos começaram a circular desde os primórdios, principalmente entre as seitas he­réticas, os quais, com poucas exceções, copiavam o mesmo padrão quádruplo da coleção do NT. Era essencial que os cristãos fossem capazes de distinguir os livros genuínos das imitações — e eles fizeram isso com pouca hesitação (veja O C â n o n do NT).

A divisão ocorrida durante a história do cânon do NT baseava-se na existência, ou por outro lado, nas dúvidas quanto a qualquer um dos livros. Os livros inquestionáveis eram chamados de homo- logoumena (confessados ou aceitos), e aqueles em tomo dos quais havia dúvidas eram chamados de antilegomena (discutíveis). Estes últimos eram Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 1 e 3 João, Judas e Apo­calipse. Tal divisão pertence à história do Cânon e não afeta o arranjo dos livros do NT.

III. Idiomas da Bíblia. Há três idiomas en­volvidos no texto original da Bíblia. O hebraico é a língua da maior parte do AT, mas algumas porções foram preservadas em aramaico. São elas: Esdras 4.8— 6.18; 7.12-26; Daniel 2.4— 7.28 e Jeremias 10.11. O aramaico, intimamente relacionado ao hebraico, foi adotado pelos judeus durante o Exílio e daí em diante tomou-se a língua geral na Palestina, para o comércio e relações sociais. Na época de Jesus, o aramaico havia se tornado a língua nativa da Palestina, enquanto o hebraico era empregado apenas como a língua sagrada das Escrituras. Por volta do 2- séc. a.C., foi introduzido o hebraico quadrático, usado até os nossos dias. O método de escrever as consoantes hebraicas permaneceu inalterado por mais de dois mil anos. Depois disso, houve muitas mudanças. As vogais, que eram omitidas em todos os escritos mais anti­gos, foram introduzidas por volta do ano 500 d.C. pelos massoretas (editores), e a partir dessa época tomaram-se padrão na ortografia hebraica. Muitas informações valiosas foram trazidas à luz pela biblioteca de Qumrã, sobre o estado da linguagem hebraica, cerca de setecentos anos antes de os

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AMA'c°AP

Mar Mediterrâneo

Distribuição das línguas nos tempos bíblicos (2.000-500 a.C.'.

massoretas terem fixado o texto; entretanto, há um notável grau de harmonia entre essas evidências mais antigas e as posteriores.

A forma grega na qual o NT foi escrito é conhe­cida como grego koiné (ou comum), amplamente usado na época como a língua cotidiana do povo. Ele difere, em certas características, do grego clássico, em que menos precisão foi aplicada à estrutura gramatical. Muitas sutilezas da lingua­gem clássica se perderam. Mesmo dentro do grego koiné, menos preciso, havia diferenças acentuadas de estilo, as quais são visíveis no Novo Testamen­to. O Evangelho de Lucas, por exemplo, é escrito em um estilo literário melhor do que o koiné de Marcos; no texto de Lucas há porções escritas num outro estilo de grego (o prólogo é mais clássico do que o resto, enquanto Lucas 1.5—2.52 é escrito num estilo semita, semelhante ao da LXX). Tantos dados lexicográficos sobre o grego koiné vieram às mãos vindos de pilhas de cacos de cerâmica do Egito, que os exegetas do NT têm fontes valiosas para o entendimento dos textos.

IV. O texto da Bíblia. Quando lidamos com um livro, ou mais precisamente, com uma coleção de livros, partes dos quais são antiqüíssimas, é natural que se pergunte sobre a confiabilidade da sua preservação. Tal questão é mais fácil de ser respondida em relação ao NT do que com relação ao AT, uma vez que a quantidade de dados dis­poníveis neste é muito menor. A quantidade de material disponível para a verificação dos textos do NT apresenta seus próprios problemas pela necessidade de algum método de classificação e de acesso às evidências.

A. O t e x t o d o A T. Há quatro correntes principais de informação sobre esse texto. 1. As evidências mais antigas vieram de Qumrã. Entre os MSS descobertos ali, há muitos que preservam partes dos textos do AT. Embora em relação a alguns livros as evidências preservadas sejam extremamente fragmentadas, há porções rema­nescentes de todos os livros, exceto Ester. Ainda há muito trabalho a ser feito no exame dos textos, pois até agora apenas alguns textos bíblicos foram publicados. As informações disponíveis mostram que a principal parte dos textos de Qumrã concorda com o TM ou o texto tradicional (veja a abaixo). Essa evidência, que apenas recentemente tomou- se disponível, de fato aumentou o conhecimento do texto do AT em mais de mil anos. Além dos MSS do texto hebraico, ha muitos comentários dos livros do AT, que eclarecem melhor o seu conteúdo. Outro fator nas evidências de Qumrã é a existência de alguns antigos fragmentos de textos gregos do AT, muito valiosos para se traçar a história primitiva da LXX (veja abaixo).

2. A próxima linha de evidências é a LXX. Trata-se de uma tradução completa do AT para o grego, inclusive livros da Apócrifa. Sua origem é obscura, mas aparentemente a necessidade de tal material surgiu no Egito. Havia uma grande colônia de judeus em Alexandria, e poucos deles conheciam a língua hebraica. Uma VS grega tam­bém teria sido útil durante a Diáspora. A tradição diz que o rei egípcio Ptolomeu Filadelfo (285­246 a.C.) incentivou o trabalho de tradução, mas não se sabe o quanto tal informação é confiável. Provavelmente é seguro concluir que a tradução foi completada por volta do ano 200 a.C. Sua

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Porção do Rolo de Isaías. © A.S.O.R

utilidade como evidência para o texto hebraico é problemática, pois com freqüência se desvia do texto tradicional, em muitos casos acrescentando elementos. Em alguns casos tomou-se a liberdade de parafrasear ou até modificar o texto por meio de frases explicativas; esse processo mostra que se deve tomar cuidado com o uso da LXX como guia de interpretação do texto hebraico. Ao mesmo tempo, há alguns exemplos onde o texto hebraico, como se apresenta, é incompreensível, o que pode ser prova de que a LXX fez uma leitura correta. Outra precaução com relação à LXX é que às % ezes os tradutores interpretaram mal a falta de pontuação do texto hebraico e conseqüentemente introduziram corrupções.

3. A terceira linha de evidências vem do Tar- gum e do Talmude. O primeiro é uma paráfrase aramaica, a qual se tomou necessária porque o povo judeu era incapaz de entender as leituras do texto hebraico. Essas paráfrases originalmente eram orais e não se sabe exatamente quando foram escritas pela primeira vez. Com toda pro­babilidade já havia acontecido parcialmente na época do nascimento de Jesus, embora a maior parte das evidências remanescentes seja do 42 séc. d.C. Há Targuns preservados sobre todos os livros do AT, exceto Daniel, Esdras e Neemias. Alguns targunitas ficam mais próximos do texto hebraico do que outros. As obras de Onquelos são

as mais valiosas. Esses Targuns colocam mais luz sobre a interpretação do texto, do que sobre o texto propriamente dito, mas às vezes proporcionam informações sobre este último.

O Talmude contém a lei oral (Mishnah), a qual veio a ter a mesma posição da lei escrita, mas que por um longo período não foi reduzida à forma escrita. Contém também os comentários dos rabinos sobre a Mishnah (conhecidos como Gemara). Visto que os talmudistas explicavam e comentavam as Escrituras, com freqüência se refe­riam às questões textuais, especialmente as partes afetadas pela ausência de sinais vogais. O Talmude pertence ao período entre os 4° e 52 séculos d.C. O texto empregado era o texto recebido.

4. As únicas outras evidências existentes sobre os textos hebraico são os MSS que preservam o TM. Este texto, que se tomou o texto tradicional, foi preparado pelos editores (massoretas) por volta do ano 500 d.C. O texto do Antigo Testamento foi editado à luz dos dados do Talmude. Um sistema de pontos foi utilizado para indicar as vogais, com base na interpretação mais provável do texto, segundo as tradições rabínicas. Subseqüentemente esse texto foi cuidadosamente preservado, de modo que há uma notável uniformidade entre os MSS remanescentes do hebraico pontuado, o mais antigo dos quais é uma cópia do Pentateuco produzida no 102 séc. d.C. A razão da falta de

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evidências mais antigas é que o Talmude instruía o copista de qualquer MS usado na adoração pú­blica a destruir a cópia antiga, assim que a nova fosse concluída.

A partir dessas variadas linhas de evidências, pode-se concluir que há razoável certeza quanto à confiabilidade dos textos no tempo do Senhor Jesus, embora seja impossível ser conclusivo com relação a diversas passagens.

B. O t e x t o d o NT. O problema com o texto do NT reside na mais abundância do que na falta de material. Existem milhares de MSS gregos, além de uma grande quantidade de textos das VSS. A maioria dos MSS é posterior ao 82 século d.C. Logo ficou evidente para os editores do texto, quando a ciência da crítica textual foi desenvolvida durante o século 18, que os MSS mais recentes tinham pouco valor para assegurar a originalidade do texto, uma vez que no decurso das transcrições os erros de escriba tenderam a ser perpetuados. Entretanto, só recentemente se reconheceu que um processo específico de edição eclesiástica ocorreu no final do 42séc., o que sig­nifica que a maioria dos MSS posteriores estava de acordo com o texto editado. Portanto, o foco das atenções entre os editores do texto passou a ser os MSS mais antigos.

A evidência de MS consiste de três tipos principais: MSS em papiro, MSS em pergaminho usando letras maiúsculas ou unciais, e os manus- cristos em pergaminho utilizando letra cursiva (letra corrente minúscula). Os MSS cursivos têm valor apenas quando preservam uma forma mais antiga de texto, como ocasionalmente ocorre. Existem papiros de um tipo fragmentário, do 2- séc., como por exemplo o fragmento Rylands do Evangelho de João. Existem outros mais extensos que podem ser datados dos 2- ou 3S séculos, como o papiro Bodmer e o Chester Beatty. Este último traz partes dos Evangelhos, Atos, Epístolas de Paulo e Apocalipse. Os mais importantes MSS unciais são o Códice Vaticano (B) e o Códice Sinaitico (Aleph), ambos produzidos em Alexan­dria na primeira metade do 42 séc. d.C. Aleph é o mais antigo texto completo do NT, mas o B, que é defeituoso depois de Hebreus 9.14, em geral é reconhecido como superior em qualidade de texto. A maioria dos editores modernos concorda que esses códices preservaram um texto mais próximo do original do que qualquer outro, em termos de isenção de corrupção. Em grande medida, isto se deve aos trabalhos de B. F. Westcott e F. J. A. Hort, e à influência de sua edição de 1881 do NT

Fragmento do Evangelho de João, datado da primeirametade do 2- séc. d.C. © Biblioteca John Ryland

grego. Muito trabalho tem sido feito desde então no texto. Como resultado, algumas opiniões de Westcott e Hort foram modificadas em leituras individuais, mas seu elevado conceito desses MSS continua sendo fortemente apoiado. Outros unciais importantes são o Códice Alexandrino (A) e Códice Bezae (D). Este último é de especial importância porque preserva um texto mais longo do que outros unciais mais antigos e tem caracte­rísticas bem diferentes.

Além desses MSS, existem várias VSS, algu­mas delas de valor como evidência do texto básico, porque estes remontam a um período anterior ao dos textos unciais existentes, embora a evidência de MS pertença a um período bem posterior. As antigas VSS Latina e Siríaca são de muito valor, representando um texto original, de c. 200 d.C. Ambas as VSS tiveram edições posteriores, a Vulgata Latina e a Peshita Siríaca, embora estes sejam de menor valor. A próxima em importância é a VS Copta (nos dialetos saídico e boárico), o qual possui um texto muito semelhante ao texto doB. Houve outras VSS, tais como a Antiga Armênia e a Antiga Georgiana, que preservam algumas leituras significativas, mas que sobreviveram principalmente na forma de edições posteriores. O NT foi traduzido para o gótico por um missio­nário ariano. Houve também uma VS etíope e uma árabe, as quais não têm muito valor para a edição textual do texto do NT.

A maioria dos Pais da Igreja fazia freqüentes alusões ao texto do NT ou citações do mesmo, às vezes acrescentando comentários sobre leituras variantes. Esta é uma frutífera fonte de informa­ção, porque capacitam o editor a apurar que tipo de texto que era usado em certas áreas época e também a determinar a data do texto. As vezes a evidência das fontes patrísticas são mais antigas do

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que qualquer outra evidência (como, por exemplo, no caso de escritores como Irineu e Tertuliano). Entretanto, as citações patrísticas têm suas limi­tações, visto que é essencial ter certeza de que um texto não corrompido, do autor patrístico, antes que muito uso seja feito da evidência. Além disso, alguns autores eram notoriamente imprecisos em seus métodos de forma como citar as Escrituras e as informações que proporcionam sobre o texto usado são menos valiosas.

Dessa massa de evidências emergiram diversas famílias de textos, com base nas quais os editores puderam construir um texto provisório do NT. A família Alexandrina é considerada a mais confiá­vel, mas o texto Ocidental (representado pelo D e pela Latina Antiga) é consideravelmente antigo e pode bem ter preservado algumas leituras genuí­nas. onde difere do Alexandrino. Outra família é conhecida como texto Cesariano, porque a prin­cípio acreditava-se que se baseara em Cesaréia. Uma quarta família é a Siríaca e a quinta é o tipo de texto Bizantino, que se tomou o tradicional texto editado e posteriormente ficou conhecido como Textus Receptus (TR). É consenso geral de opinião textual que o texto do NT, como hoje pode ser editado, de acordo com os princípios reconhecidos de edição de texto, permanece razo­avelmente próximo dos escritos originais, embora haja muitas leituras isoladas sobre as quais não se pode ter píena certeza. E possível que alguns desses problemas ainda sejam resolvidos, à medida que mais MSS forem descobertos. Enquanto isso, porém, a abordagem do NT deve ser governada pela certeza de que a proporção de incertezas concernentes ao texto do NT é pequena e não afeta as questões doutrinárias.

V. As VSS da Bíblia. Já foram mencionadas várias VSS antigas. Todas elas foram introduzidas para suprir necessidades práticas. Além da LXX, havia outras VSS gregas do AT (as de Aquila, Teódoto e Simaco), que levaram Orígenes a pro­duzir uma obra notável no 3E séc. d.C., conhecida como Hexapla. na qual ele comparou, por meio de colunas paralelas, todas as VSS gregas com o texto hebraico e sugeriu sua própria revisão. Quando Jerônimo traduziu o AT, ele retomou ao texto hebraico, porque a VS Latina Antiga do AT baseava-se diretamente na LXX. Outras antigas VSS do AT eram paralelas às do NT (as principais VSS eram a Siríaca e a copta) e mostram que o uso crescente do AT estava intimamente relacionado às necessidades crescentes da Igrej a. A Bíblia toda existia em pelo menos sete VSS por volta do 6- séc.

d.C., em latim, siríaco. cópta, armênio, georgiano. gótico e etíope.

Durante a Idade Média, o movimento para traduzir a Bíblia na língua do povo obteve pouco apoio. A Vulgata tomara-se puramente eclesiásti­ca, e a própria Bíblia em grande medida ignorada. A filosofia medieval substituíra a teologia bíblica. Conseqüentemente, somente no período da Refor­ma as necessidades práticas do povo exerceram influência dominante no campo da tradução da Bíblia. As mais antigas tentativas de traduzir as Escrituras para o inglês podem ser acompanhadas no verbete sobre a B íblia (VSS em Inglês). Várias VSS apareceram antes da publicação da KJV em 1611. A maior parte das tentativas anteriores foi baseada na Vulgata, mas os estudiosos que produziram a KJV fizeram uma tentativa séria de baseá-la nos textos grego e hebraico. Movimentos similares ocorreram em outros países da Europa, principalmente na Alemanha e França.

Somente muito tempo depois os movimentos se dedicaram a traduzir a Bíblia para a língua verná­cula de outros povos do mundo, inclusive para os dialetos tribais. As sociedades bíblicas modernas, fundadas com este propósito, desenvolveram-se lado a lado com os movimentos missionários. A British andForeign Bible Society ("Sociedade Bí­blica Britânica e Estrangeira”) começou em 1804, a American Bible Society (“Sociedade Bíblica Americana”) em 1816 e muitas outras sociedades similares se espalharam por toda a Europa. Por exemplo, a Basel Bible Society (“Sociedade Bí­blica da Bailéia”), fundada em 1806, empreendeu a produção da Bíblia em alemão. No mesmo ano, foi fundada a Berlin Bible Society (“Sociedade Bíblica de Berlim”). O interesse despertado por esse movimento foi tão grande que em 1805 foi fundada uma Sociedade Bíblica Católica Romana (Regensburg), mas suas atividades não tiveram a aprovação do Vaticano e foram suprimidas em 1817. Suíça, Holanda e os países escandinavos adotaram movimentos similares, os quais co­meçaram nos primeiros anos do século 19. Esse notável despertamento do interesse não somente pela tradução, mas também pela distribuição das Escrituras, continuou sem arrefecimento. Atual­mente, o número de VSS de toda a Bíblia, ou de porções dela, supera os 1.200 e é um testemunho inegável da relevância da Bíblia para suprir as necessidades dos vários povos do mundo. Mais recentemente, movimentos especiais como o Wycliffe Bible Translators ("Instituto Wycliffe de Tradutores da Bíblia”) foram formados para tentar preencher as lacunas no trabalho de tradução. O

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alvo de colocar a Bíblia nas mãos do povo, que começou antes mesmo da Reforma, ainda não foi completado para todas as regiões do mundo. Novas VSS da Bíblia, ou porções dela, aparecem constantemente e esse fato é um testemunho de sua contínua relevância.

VI. O cânon da Bíblia. ABíbliaé composta de 66 livros, 39 no AT e 27 no NT. A questão sur­ge naturalmente: por que estes livros, nem mais nem menos? A resposta nos leva ao campo da canonicidade. Como aconteceu com o texto, assim também com relação ao cânon; só é possível amais breve revisão do assunto e aqueles que desejarem maiores detalhes devem consultar os verbetes sobre o C á n o n d o AT e d o NT. Novamente, há muito mais informação específica referente ao NT do que ao AT.

A. O cânon do AT. O ponto de partida mais conveniente para este assunto é uma declaração do tratado talmúdico Baba Bathra (c. 200 d.C.), que contém uma lista de livros praticamente igual à do cânon atual. Durante o 2C séc. d.C., houve certa discussão entre os judeus relacionada a Provérbios, Rute, Ester, Eclesiastes e Cantares. O problema não se referia tanto à canonicidade quanto a dificuldades

internas. Não havia discussão relacionada à antiga tradição ou à autoria. Durante aquele período há evidências de que a Igreja Cristã estava preparada para aceitar somente os livros que formavam parte do cânon Hebraico: por esta razão, as evidências das fontes judaicas eram importantes.

Numa assembléia de anciãos judeus (c. 90d.C.), realizada em Jamnia sob a presidência do rabino Eleazar. houve debates sobre a cano­nicidade de Eclesiastes e Cantares, mas ambos foram aceitos. Uma vez que Jamnia se tomou o centro do judaísmo palestino depois da queda de Jerusalém, suas decisões aí teriam amplos efeitos entre os judeus.

Durante o l 2 séc. d.C., a principal evidência procede de Josefo e do NT. Como já mencionado, Josefo refere-se a 22 livros, mas com quase toda certeza são os mesmos do cânon atual. Há a pos­sibilidade de que ele tenha rejeitado Eclesiastes e Cantares, mas por ser fariseu, essa hipótese é bem improvável. Com toda probabilidade, Josefo reflete a abordagem popular do cânon do AT, em sua época. Ele menciona que o limite dos livros aceitos foi estabelecido na época de Artaxerxes, depois do que nenhum outro livro autorizado foi produzido. Nem todos os livros do AT são citados no NT. Faltam alguns da Hagiografa e dos profetas

O Scriptorium na Comunidade de Qumrã. © Lev

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(por exemplo, Juizes, Obadias, Naum e Sofonias). Com base nesse fato, não se pode concluir que o AT estava definitivamente fixado naquela época, mas a evidência aponta nessa direção. Por todo o NT assume-se que o AT possui o caráter de Es­critura inspirada. O Senhor Jesus e seus apóstolos compartilhavam a crença do povo judeu, em geral reconhecendo a autoridade do AT. É significativo que embora existam certas alusões extraídas dos apócrifos, não há exemplo de um deles sendo ci­tado como Escritura (Judas 14 não é exceção). O Cânon do AT da igrej a primitiva certamente parece se aproximar mais do cânon hebraico que do grego, a despeito do uso do texto da LXX.

A principal evidência anterior do nascimento de Jesus vem da biblioteca de Qumrã e do Prólogo de Siraque. Não existe uma lista canônica espe­cífica que tenha sido preservada de Qumrã, mas atualmente existem fragmentos remanescentes dos textos de todos os livros do AT, exceto Ester. Com base nos numerosos MSS preservados de alguns dos livros, é possível determinar quais eram mais populares, a saber: Deuteronômio, Isaías e Salmos. Os comentários sobre os livros do AT mostram um pouco da elevada consideração que os pactuantes de Qumrã tinham pelas Escrituras, mesmo que a exegese tenda pesadamente em favor da situação dos próprios pactuantes. A partir desses comen­tários fica evidente que há acentudada diferença entre as Escrituras canônicas e os numerosos outros livros da biblioteca de Qumram. Existem muitos livros apócrifos e pseudepígrafos, mas nenhum comentário similar sobre eles.

O Prólogo de Siraque (c. 130 a.C.) fala da Lei, dos profetas e de outros livros, mas não há evidên­cia clara com relação ao terceiro grupo. A maioria dos livros desse grupo parece ter sido conhecida, mas há dúvidas quanto a Eclesiastes e Cantares. Antes dessa data as evidências quanto ao Cânon do AT são esparsas, exceto no caso do Pentateuco. A tradição sustenta que Esdras foi o principal responsável pela reunião do material num cânon reconhecido. Embora esse fato seja questionado por muitos estudiosos, que dão a alguns livros uma data subseqüente a essa. é bastante provável que a maior parte do material seja do período pré-exílico. Na ausência de evidência suficiente da origem do cânon do AT, é impossível ter certeza. Assim como os antigos foram movidos pelo Espírito Santo para escrever os livros, da mesma forma os homens foram liderados pelo Espírito para preservar e ter em grande estima esses livros. O cânon não era organizado, mas sobreviveu. O mesmo fenômeno é visto na história do cânon do NT.

B. O cânon do NT. O desenvolvimento do cânon do NT pode ser traçado em vários estágios. Os estágios mais antigos são os mais difíceis de ser reconstruídos, em virtude da escassez de evidências. Somente a partir do ano 180 d.C. as evidências tomaram-se mais abundantes, mas cer­tamente o período anterior tem provado ser mais significativo. A elevada consideração dispensada ao AT proporcionou um padrão, pois visto que o AT era lido nos cultos cristãos, logo os ensinos de Jesus e os eventos de sua morte e ressurreição chamariam a atenção. É impossível dizer quando os primeiros livros do NT foram colocados em igualdade com os textos do AT. Mais tarde as epístolas apostólicas seriam lidas publicamente, para prover resposta para muitos problemas que surgiam com freqüência. Essa importância atribu­ída ao testemunho apostólico é significativa em toda a história da canonicidade do NT e pode ser considerada sua verdadeira chave.

A base do cânon do NT era o testemunho dos evangelhos e dos apóstolos. Eles eram as autori­dade com relação aos ensinamentos de Cristo e dos representantes dele autorizados imediatos. A definição das qualificações requeridas de um candidato à função apostólica (At 1.21,22) é de grande importância no estudo da história do cânon do NT. A exigência para o substituto de Judas foi a de ter sido um associado aos discípulos duranteo ministério do Senhor Jesus, desde o tempo do seu batismo por João Batista até a Ascensão, e que tivesse testemunhado a Ressurreição. Em outras palavras, os apóstolos tinham de estar em posição de autenticar a tradição das palavras e obras de Jesus. Isso explica por que tanta ênfase foi dada— não só nos primórdios, mas posteriormente— à origem apostólica dos vários livros.

Foi o herege Marcião quem primeiro deu expressão à idéia de um cânon autorizado, enten­dido no sentido de uma lista pública. A Bíblia de Marcião consistia de somente 11 livros — o Evan­gelho de Lucas e dez epístolas de Paulo (exceto as Pastorais). O AT era excluído in toto. Mesmo os livros do NT que foram mantidos sofreram severas modificações, com muitas partes excluídas.

Esse tipo de abordagem do cânon não teve apoio geral. Na época de Irineu e de Tertuliano, as igrejas cristãs, em geral, além de manterem firme­mente o AT como Escritura, colocavam a maioria dos livros do NT em pé de igualdade com ele. Há suficiente evidência positiva para mostrar que a maioria dos livros do NT era reconhecida como autoritativa. Isso certamente era verdade em rela­ção aos quatro evangelhos, as Epístolas de Paulo,

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1 Pedro, 1 João e Atos. O livro de Apocalipse era muito lido na Ásia. Os outros livros não parecem ter sido citados pelos autores patrísticos, exceto Hebreus, o qual era conhecido por Clemente de Roma e Tertuliano, que o citou uma vez. Judas também era conhecido por Tertuliano e conside­rado apostólico por ele. Para os livros restantes, é voltar à evidência do 39séc. Essa sugestão suscita o problema de esses livros deverem permanecer como parte do cânon. Duas observações importan­tes devem ser feitas com relação ao NT nos l 9 e 2a séculos d.C. A despeito do fato de que em algumas regiões certos livros fora do NT eram reverencia­dos (principalmente no Egito), a evidência mostra que basicamente a Igreja primitiva era altamente seletiva nessa abordagem da literatura cristã. Ela não permitiu que o surgimento de evangelhos, atos e outras literaturas pseudo-apostólicas modificasse essa abordagem básica. Os livros aceitos eram aqueles que preservaram as doutrinas apostólicas. Quando Tertuliano argumenta sobre os evangelhos considerados autênticos, ele dá seu apoio a Mateus e João, porque os escritores eram apóstolos, e a Marcos e Lucas, porque eram discípulos dos após­tolos Pedro e Paulo, respectivamente. A segunda característica importante desse período é a falta de qualquer pronunciamento oficial das igrejas ortodoxas com relação ao cânon do NT, a despeito da lista de Marcião. Isto é o bastante para mostrar que o conteúdo do NT era o resultado, não de uma seleção eclesiástica, mas do uso estabelecido. As igrejas não precisavam de exortação oficial para considerar esses livros do NT em pé de igualdade com o AT. Fizeram isso instintivamente, como parte do seu entendimento da continuidade do cristianismo, de acordo com as predições do AT.

O período entre os 32 e 42 séculos d.C., durante o qual as questões em tomo dos “livros contro­versos” foram resolvidas, é caracterizado por uma distinção entre a atitude do Oriente e a do Ocidente. As igrejas orientais, embora conscientes das dúvidas levantadas por alguns sobre os livros em questão, reconheceram-nos mais rapidamente como Escrituras. Na época de Atanásio (meados do 4a séc. d.C.), não havia mais qualquer dúvida, exceto com relação ao livro de Apocalipse, o qual não foi incluído na lista vinculada aos decretos do Concilio de Laodicéia, em 363 d.C. O Ocidente demorou mais para incluir os livros sobre os quais questões haviam sido levantadas, mas na época de Agostinho e do Concilio de Cartago, em 397 d.C., todos eles foram aceitos.

Será que a decisão dos dois concílios encerrou o canon para sempre? Lutero e Calvino sentiram-

se com liberdade para levantar questões sobre alguns dos livros da Bíblia, embora neniiiMii õos dois questionasse a canonicidade deles A ação de Lutero, de dar preferência a alguns livros d_ NT em detrimento de outros, com base no lestemwfae deles sobre a doutrina da justificação pela fe, praticamente introduziu a idéia de graus de cano­nicidade, mas sua abordagem era influenciada por sua experiência pessoal e não por análise critica. A despeito das questões dos reformadores, o Canon permaneceu inalterado. Em virtude dos constantes apelos deles no sentido de a Bíblia ser a única regra de fé e da prática, a importância fundamental da Bíblia para a Igreja cristã foi reafirmada.

Nos últimos 150 anos tem havido outros fatores que suscitam novas questões. A crítica bíblica tem submetido a Bíblia a exame científico e às vezes a exames que são tudo, menos científicos, e cujo resultado tem sido apresentado como indicativo da idéia de que um cânon autoritativo não pode mais ser sustentada (veja C r ít ic a B íb l ic a ). A crítica do AT tem levado a uma reconstrução radical do desenvolvimento do AT, a qual afeta a abordagem do cânon, mesmo que de fato não leve a uma re­visão. O mesmo ocorre com o NT. A questão que surge, conseqüentemente, é se há necessidade de um cânon uniforme. Por exemplo, aqueles que não aceitam a autenticidade de alguns livros da Bíblia poderiam excluí-los legitimamente do seu cânon, mesmo que a opinião pessoal deles não seja aceita por todos? A maioria dos estudiosos reluta em afirmar isso. A abordagem geral, adotada por críticos hostis, de partes das Escrituras, tem sido a de manter a canonicidade, mas reduzir sua relevância. Assim, se o Pentateuco não é aceito como procedente da época de Moisés, ainda pode ser tratado como uma fonte útil de dados. Semelhantemente, qualquer uma das epístolas de Paulo, que não seja considerada como tendo sido escrita por ele, ainda é mantida como canônica. O que é afetado não é sua canonicidade, mas sim sua autoridade. Esses dois conceitos estão tão inti­mamente associados que deve se perguntar se tais livros devem ser declarados não canônicos, para que a canonicidade possa manter um significado relevante. Um passo tão drástico não pode ser dado enquanto houver qualquer dúvida concernente à correção das conclusões crítica. A Bíblia não pode ser considerada com base em opiniões. O testemu­nho da consciência cristã através dos séculos não pode ser dispensado tão prontamente. O cânon das Escrituras, como Calvino percebeu, é apoiado pelo testemunho do Espírito para o cristão individual e para a comunidade cristã como um todo.

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VII. O uso da Bíblia. Como Escritura Sagra­da da igreja cristã, a Bíblia tem sido usada de várias formas; algumas indicações disso serão úteis para ilustrar sua notável abrangência e versatilidade. Alguns dos seus principais empregos podem ser classificados como segue:

A. O uso litú rg ic o . É impossível ter certeza sobre os procedimentos adotados nas igrejas pri­mitivas a com relação à leitura da Bíblia como um elemento regular dos cultos. Entretanto, é razoável supor que os cristãos tenham sido influenciados pela prática judaica. Sabe-se que um lecionário (conjunto de passagens bíblicas para serem lidas na igreja) de três anos do AT era usado entre os judeus no período cristão, mas não se pode deter­minar quando seu uso começou. Alguns estudiosos acham que esses lecionários já existiam no tempo do Senhor. Há teorias que supõem que alguns dos evangelhos foram elaborados com base no padrão dos lecionários (cp. a teoria de Carrington sobre Marcos e a teoria de Guilding sobre João). Entre­tanto, isto são suposições que, embora possíveis, não podem ser consideradas consistentes. Pode-se presumir que a leitura regular do AT e do NT nos cultos públicos logo tenha-se desenvolvido. Há diversas referências nos escritores patrísticos que mostram que a leitura pública de qualquer livro do N I era uma evidência de que se tratava de um livro aceito, isto é. um livro canônico. No Fragmento Muratoriano, alguns livros, como o Pastor de Her- mas. eram permitidos para leitura em particular, mas não nas reuniões públicas.

Durante a Idade Média o uso da Escritura para esse propósito foi abandonado, e foi restaurado apenas na Reforma. Essa volta das Escrituras ao uso litúrgico coincidiu com o fato de as Escrituras tomarem-se o tribunal de apelação para as igrejas protestantes. A reação da Igreja Católica Romana foi de proibir o uso da Escritura até mesmo particu­larmente, entre os leigos (veja a próxima seção).

B. O u s o p r iv a t iv o . Em virtude do custo elevado da produção de MSS, nos primórdios do cristianismo a maioria das cópias da Bíblia per­tencia às igrejas ou a poucos indivíduos abastados. O povo comum não tinha condição de possuir seu próprio exemplar e dependiam da leitura pública para conhecer as Escrituras. Além disso, a leitura pública era inestimável para os cristãos iletrados. Foi somente por volta do 8- séc. que um tipo de códice menor e mais barato da Bíblia passou a ser usado. Foi um grande avanço, pois permitiu que um número consideravelmente maior de pessoas

tivesse sua própria cópia. A prática da leitura das Escrituras para estudo tinha sido recomendada muito antes por Agostinho e Jerônimo, mas du­rante a Idade Média a Igreja Católica Romana não fez nenhum esforço para encorajá-la. No início desse período não havia nenhuma proibição direta da leitura da Bíblia, mas com a negligência do estudo do latim e a falta de VSS no vernáculo, a Igreja fechou os olhos para o desaparecimento da prática por omissão.

Quando surgiram grupos como os albigenses e valdenses (durante os séculos 12 e 13), que ape­lavam para a Bíblia, a Igreja se opôs fortemente ao uso privativo das Escrituras. Essa atitude atin­giu seu clímax em 1546, no Concilio de Trento, quando foi estipulado que nenhuma VS feita por hereges poderia ser lida sem o consentimento do bispo. Embora esta continue sendo a atitude oficial da Igreja Romana, houve uma mudança significati­va a partir do Concilio Vaticano II. Sem dúvida, tal mudança foi motivada pela abordagem ecumênica. A postura rígida adotada em Trento visava comba­ter o livre uso das Escrituras pelos reformadores, principalmente por Martinho Lutero. Certamente um dos pontos principais do Protestantismo é a sua doutrina de que Deus é seu próprio intérprete da Palavra. Os movimentos mais fortes têm sido aqueles que reconhecem a importância do uso devocional da Bíblia.

C. O u s o te o ló g ic o . Na Igreja modema, como na antiga, a Bíblia está no centro da discus­são teológica. O renovado interesse pela teologia bíblica, em meados do século 20, é relevante porque mostra um reconhecimento crescente de que nenhuma estrutura teológica adequada pode existir sem um fundamento bíblico. Na base de toda verdadeira teologia bíblica há um entendi­mento exegético investigativo. Isso explica o fato de que número surpreendente de comentários da Bíblia não diminui. A atenção é atraída para o uso teológico da Bíblia apenas para enfatizar sua importância central em todo o debate teológico. A maior parte dos desvios doutrinários se deve à negligência das verdades bíblicas ou à má interpre­tação de princípios bíblicos fundamentais.

D. O u s o n a l i te r a tu r a . A despeito do fato de que a Bíblia nunca se destinou a ser lida como literatura, ela possui certas qualidades literárias e sem dúvida tem exercido grande influência sobre outras obras, principalmente no mundo de língua inglesa. A KJV na Inglaterra foi um meio poderoso de padronização do uso do inglês, não

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somente na esfera do vocabulário, mas também na do estilo. Uma comparação entre essa VS e suas predecessoras é o bastante para mostrar como as características literárias eram variadas antes da padronização ter lugar. Processos similares ocorreram em outras culturas, mas provavelmente não com o mesmo notável alcance, uma vez que a KJV foi produzida no período mais florescente do estilo de prosa inglês.

Do ponto de vista literário, a Bíblia contém amostras de drama, poesia, prosa histórica e simples narrativa. No NT, as amostras de escrita epistolar não têm paralelo em nenhum outro lugar, por sua intimidade e amplo apelo. Não têm similar nas cartas particulares contemporâneas, nem com a literatura epistolar destinada a uma ampla audiên­cia. Como os evangelhos, essas formas literárias foram criadas para suprir necessidades específicas. Embora a Bíblia continue merecendo um estudo literário, não é por esta razão que é o livro mais vendido em todo o mundo.

VIII. A inspiração e a autoridade da Bíblia. A doutrina da inspiração é abordada em outro verbete (veja Inspiração), mas nenhum artigo geral sobre a Bíblia seria completo sem voltar atenção para isso. Exceto por aqueles que adotam uma abordagem radical da Bíblia, a maio­ria concorda que é um livro inspirado. Contudo, há diferenças de opinião quanto ao significado de “inspirado’; portanto, é fundamental uma breve clarificação de termos.

Inspiração pode consistir em nada mais do que um súbito lampejo de discernimento, ou pode se referir àquele estado mental que eleva o escritor ou o artista acima da sua rotina, dando-lhe condições de realizar algo que normalmente estaria fora de sua capacidade. A inspiração bíblica é diferente. Os homens falaram movidos pelo Espírito Santo (2Pe 1.21). O impulso veio de Deus, não do ho­mem, mas é preciso cautela. Não significa adotar uma visão mecânica da inspiração, pois isso faria com que os homens deixassem de ser homens. O modo da inspiração é menos importante do que o fato. O conceito de Justino, sobre o Espírito tocando as cordas de uma lira, não faz justiça aos escritores nem ao próprio Espírito. O motivo que levou a tal conceito — para salvaguardar a revelação divina da corrupção — é altamente louvável, mas o Espírito tem meios de assegurar a pureza da revelação, sem uma completa suspen­são das faculdades humanas. Aquele que criou as habilidades humanas certamente pode trabalhar por meio delas.

Se a idéia da inspiração mecânica deve ser rejeitada, em que sentido então o Espírito inspirou as Escrituras? Não é suficiente limitar a inspiração à mensagem de salvação, pois neste caso qualquer livro que apresentasse Cristo seria igualmente inspirado, e a Bíblia perderia sua autoridade única, que os cristãos instintivamente sempre lhe atribuíram. A inspiração deve ter alguma referên­cia ao próprio livro, como o meio pelo qual Deus fala com o homem. Conseqüentemente, tem sido convicção de muitos de que a inspiração deve se estender às palavras, no sentido de que as pala­vras usadas foram o melhor veículo pelo qual as verdades da revelação puderam ser expressas. A ênfase recai sobre o resultado, mais do que sobre o processo. Assim como todos os diferentes fatores, nas várias partes do AT e do NT, convergem para formar uma unidade sob a influência do Espírito de Deus, de uma forma que os autores individuais jamais sonharam, esse Espírito também coordenou perfeitamente os vários processos que vieram compor a escrita para o resultado inspirado. Não existe nenhum outro livro que possua o poder de desafiar e tranqüilizar, de iluminar e confortar, de instruir e advertir, como a Bíblia. Isto é suficiente testemunho da sua inspiração.

Sua autoridade está intimamente relacionada à sua inspiração. Por que um livro contendo um material tão diversificado exerce uma autoridade tão grande sobre a mente dos homens? Este não é o lugar adequado para discutirmos a natureza da autoridade da Bíblia ( veja A u t o r id a d e ) , mas o assunto não pode ser ignorado. É um fato claro que a Bíblia possui o poder de exercer autoridade, seja qual for a explicação. O testemunho do Espírito atrai a atenção para o propósito principal das Es­crituras, ou seja, mostrar a influência progressiva da revelação de Deus ao homem, a qual atingiu seu clímax na encarnação e na expiação de Cristo. O aspecto religioso dessa autoridade é bem expresso nas palavras da Confissão de Fé de Westminster: “Pelo Testemunho da Igreja podemos ser movi­dos e incitados a um alto e reverente apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar- se o homem, as suas muitas outras excelências in­comparáveis e completa perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina auto­ridade provém da operação interior do Espírito

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Santo que, pela Palavra e com a Palavra, testifica em nosso coração”. Por causa deste testemunho interior do Espírito quanto à mensagem da Bíblia, a própria Bíblia assume autoridade para o crente. E esse aspecto que a diferencia de todos os outros livros, embora estes possam ser inspiradores, mas também têm suscitado problemas.

Um dos maiores problemas relacionados à au­toridade da Bíblia é se ela deve ou não ser subme­tida à crítica histórica como qualquer outro livro. Uma escola de pensamento adota o entendimento de que, visto que a Bíblia é um livro inspirado, é irrelevante submetê-la ao escrutínio humano. As questões sobre autoria são inválidas, uma vez que o autor é o Espírito Santo. Data e contexto também são irrelevantes, pois o Espírito pode aplicar a palavra sem auxílio histórico. Entretanto, a não ser que a situação humana e a personalidade dos autores não tenham afetado a elaboração dos vá­rios livros, deve ser útil inquirir sobre eles. Outra escola de pensamento, que também reconhece a obra do Espírito Santo na elaboração dos livros, sustenta não obstante que, visto ser o Cristianis­mo uma religião histórica, suas Escrituras devem ser submetidas à crítica histórica (veja Crítica B íblica). Há um sentido no qual a Bíblia é única, e a critica bíbiica deve reconhecer isto em sua abordagem. Deve-se levar em conta que os escri­tores humanos eram homens do Espírito, de uma forma diferenciada dos seus contemporâneos. Ao mesmo tempo, o argumento dos melhores críticos tem sido que a Bíblia pode suportar a crítica e não precisa temer nenhum exame minucioso. Outra escola de pensamento considera que a crítica não deve levar em conta a inspiração. É esta aborda­gem que tem resultado numa enxurrada de teorias relacionadas à origem de muitos dos livros do AT e do NT, o que por sua vez tem levado à rejeição de sua autenticidade. Fazem parte desta escola os liberais mais idosos e os desmistificadores mais recentes, para os quais a questão da inspiração e da autoridade não é essencial, se é que de fato tenha qualquer relevância. Isso exalta o crítico a um nível mais elevado do que a Bíblia, conferin­do-lhe uma autoridade que nega a própria Bíblia. O que o crítico faz quando suas opiniões sobre a Bíblia entram em conflito com as reivindicações da Bíblia? Se a autoridade das Escrituras não tem nenhuma influência sobre ele, ele rejeitará tais reivindicações e manterá sua opinião. Se mantiver a autoridade bíblica, ele terá de questionar a vali­dade de suas próprias deduções. As vezes ocorre um dilema e nestes casos as pressuposições do crítico influenciarão sua opinião.

Não há teoria fácil sobre a inspiração que não esteja repleta de dificuldades; entretanto, nenhuma teoria que tente construir um muro artificial em tomo da Bíblia para protegê-la do exame mais minucioso, embora reverente, é adequada. E relevante que não são poucas as teorias especu­lativas que, anteriormente difundidas com toda a confiança, caíram por terra devido a evidência posterior que veio à luz. A teoria de uma datação tardia, no 2- séc. d.C., para o E\angelho de João, ou da falibilidade histórica do livro de Atos podem ser citadas como graves exemplos que devem causar muitas reservas antes de qualquer teoria, ainda que bem elaborada, seja considerada fato. A despeito da grande quantidade de crítica destrutiva, a Bíblia ainda preserva sua influência poderosa e única sobre a mente humana. A Bíblia vindica a si própria.

IX. A unidade da Bíblia. Em outros verbe­tes pode-se encontrar discussões sobre a unidadedo AT e do NT (veja Antigo Testamento e Novo Testamento). Entretanto, é importante uma breve consideração sobre a unidade dos dois Testamen­tos combinados. Neste artigo já foi feita mais de uma menção do elo essencial entre o AT e o NT, e do fato de que os dois formam um — e não dois— livros. Vale a pena destacar alguns aspectos dessa unidade. Primeiro, uma vez que o Espírito inspirou as duas partes, pode-se esperar que uma complemente a outra. O que é prefigurado no AT é realizado no NT. Segundo, visto que a fé cristã tem sua base no ministério e na missão de Cristo no NT, alguns conceitos da revelação progressiva, que sempre se move em direção a um entendimento mais profundo até que alcança a plenitude em Cris­to, são essenciais para uma verdadeira apreciação do papel do AT. Terceiro, alguma unidade é vista no arranjo dos livros. Assim como há uma divisão tripla no AT (Lei, Profetas e Escritos), há também uma estrutura tripla no NT (Evangelhos-Atos, Epístolas, Apocalipse). Não seria frutífero buscar uma correspondência mais conclusiva entre essas estruturas. A unidade é muito mais profunda do que isso. Quarto, a unidade básica baseia-se na uni­dade da mensagem. E o mesmo Deus que se revela no AT e no NT; um Deus que condena o pecado, mas está sempre pronto a mostrar misericórdia ao penitente; um Deus que escolheu o sacrifício como meio pelo qual se pode alcançar a salvação; um Deus que enviou seu Filho, predito pelos profetas no AT, e manifestado em came no NT.

As muitas ocasiões em que os escritores do NT citam o AT mostram a pressuposição apostólica de

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que havia uma unidade entre os atos de Deus em Cristo e a revelação do AT.

X. A singularidade da Bíblia. Visto que para os cristãos a Bíblia é um livro sagrado, surge a questão sobre qual é a relação dela com os li­vros sagrados de outras religiões. Em que sentido a Bíblia é superior? Essa questão é importante porque, a menos que essa superioridade possa ser estabelecida, a Bíblia não pode afirmar ser única a revelação da verdade religiosa. As principais literaturas religiosas do mundo, fora a Bíblia, consistem nos Vedas do Bramanismo, a Tripitaca do Budismo, o Zend-Avesta do Zoroastrismo, os textos sagrados do Confucionismo e o Alcorão do Islamismo.

Os hinos védicos, compostos de quatro livros, reúnem comentários ritualísticos conhecidos como Brâmanas, com os Upanichades (tratados filosófi­cos especulativos). Além desses hinos sagrados, há as leis de Menu, que entesouram certos códigos para a regulamentação da conduta, e muitos deles são de elevada qualidade moral. Muitos desses escritos são dirigidos às divindades da natureza. Embora grande parte do material nesses escritos seja antiga, provavelmente sua forma atual não é anterior ao 2- séc. d.C. Nestes escritos, o objetivo da alma é alcançar a absorção no auto-existente.

Tripitaca, ou os três cestos do Budismo, não foram escritos muito antes do tempo de Cristo, embora os ensinos de Buda sejam considerável antigos. Os três volumes que compõem essa literatura sagrada são o Vinaia Pitaca, Abidarma Pitaca e Sutra Pitaca, que contêm regras para a vida comunitária, doutrinas filosóficas e os ensinos orais de Buda, respectivamente. O tema principal desses livros é a busca da alma do escapar da existência.

Acredita-se que alguns dos escritos que for­mam o Zend-Avesta são anteriores a 800-700a.C., mas não existe certeza sobre a época em que Zoroastro viveu. Originalmente havia um texto sagrado e 21 livros de comentários sobre ele, dos quais remanescem apenas fragmentos. Eles formam três seções: Iasna (liturgias), Vis- perade (litanias sacrificiais) e Vendidade (leis e narrativas legendárias). O ponto de vista religioso desses fragmentos é mesclado, embora os textos preservem ótimas passagens.

Os textos do Confucionismo não reivindicam autoridade sobrenatural. Há cinco textos. Partes são compostas pelos ensinamentos do próprio Confucio e partes são material mais recente. Trata- se de uma mistura de crônicas, fórmulas mágicas, leis morais e cânticos. As vezes preservam alguns

conceitos nobres. O Confucionismo não possui uma divindade, portanto não se trata estritamente de uma religião. Os textos devem ser considera­dos preceitos morais sem autoridade que lhes dê sustentação. Um famoso livro sagrado produzido por Lao-Tzé, um filósofo nascido pouco antes de Confucio e que na idade avançada o conheceu pessoalmente, é conhecido como Tao-ti-King e contém alguns refinadas injunções morais. Foi esse texto sagrado que levou ao Taoísmo; este porém se desenvolveu só 500 anos mais tarde e manteve pouca semelhança com os ensinamentos de Lao.

O Alcorão consiste nas revelações que se afirma terem sido recebidas por Maomé e escritas por seus seguidores. Em sua forma original não possuía ne­nhuma organização e tratava de uma grande varie­dade de assuntos, apenas alguns deles relacionados com religião. A relevância principal do Alcorão para o Islamismo é o preceito é tido como origi­nalmente escrito pelo dedo de Deus e transmitido a Maomé em uma série de revelações. Portanto, o próprio livro reivindica autoridade divina.

Há diversas características que distinguem todos esses livros sagrados da Bíblia, e mostram a superioridade desta. A distinção mais nítida é a falta de pano de fundo histórico. Nenhum desses livros compreende valor como revelação histórica revelação histórica, como a Bíblia faz. O lugar que a história ocupa na Escritura cristã, nesses livros é preenchido por rituais, comentários explicativos ou superstições. Por essa razão, a revelação bíblica tem se adaptado às necessidades de sucessivas ge­rações, o que não ocorre com as outras literaturas. Aquilo que se baseia na história tem relevância imediata, em virtude de seu apelo essencialmente humano. Além disso, os outros livros exaltam o passado acima do presente. Retomam aos pensa­mentos refinados de mentes nobres, mas não dão poder para traduzir esses pensamentos do passado para o presente. Em contraste, a Bíblia apela para a confrontação no presente, ao desafio de uma vida mais santa com Deus hoje. O passado é importante somente quando leva a uma experiência genuína no presente. Comparada com outros livros, a Bíblia é um livro de esperança. Trata do problema do peca­do, mas aponta um meio de vencê-lo. Não apóia o desespero sombrio dos Vedas e do Tripitaca, ou o fatalismo do Alcorão. Resumindo, é o conteúdo da Bíblia que a toma superior aos outros livros. Seu conceito de Deus, das necessidades humanas, de salvação e destino, e acima de tudo a apresentação de Cristo, ilustram esta superioridade. A Bíblia tem uma mensagem para as várias necessidades do ho­mem. Além disso, apresenta um quadro completo

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da situação religiosa do ser humano, que os outros livros não possuem. Estes, embora apresentem alguns vislumbres ocasionais de luz, no geral estão no escuro do ponto de vista religioso. A Bíblia, por outro lado, apresenta uma visão progressiva da verdade, alcançando seu clímax com a afirmação de Jesus: “Eu sou o Caminho, e a Verdade e a Vida”. Tal declaração entesoura a singularidade do Cristianismo e das suas Escrituras Sagradas. A superioridade da Bíblia, sobre todos os outros livros que reivindicam ser revelação divina, reside na superioridade de Cristo, não somente como mestre de moral, mas como Salvador.

BIBLIOGRAFIA. C. A. Briggs, General Introduc- tion to the Stuch: o f lhe Holy Scripture (1899); A. S. Peake, The Bible. Its Origin. Its Significance. and Its Abiding Worth (1913); B. W. Anderson, Rediscovering the Bible (1951); D. Johnson, The Christian andHis Bi- è/e(1953);H .H. Rowley, The Unityof the Bible (1953);F. Kenyon, Oiir Bible and the Ancient Manuscripts (ed. rev. 1958); K. J. Foreman e outros, Introduction to the Bible (1959); F. F. Bruce, The Books and the Pareh- ments (1963); S. L. Greenslade (org.), The Cambridge Histo>y o f the Bible. The West from the Reformation to the Present Day (1963).

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B ÍB LIA DE GENEBRA. Veja Bíblia, Versões em Inglês.

B ÍB L IA DE M ATEUS. Veja B íblia, V ersões em Inglês.

B ÍB LIA DO TARBENEIRO. Veja B íblia, Ver­sões em Inglês.

B ÍB LIA DOS BISPOS (VERSÃO INGLESA).Veja B íblia. Versões em Inglês.

B ÍB LIA , VERSÕES EM INGLÊS. Traduções das Escrituras Sagradas publicadas em inglês.

I. A necessidade de versões e mais versõesA. Poucos podem ler hebraico e gregoB. A língua inglesa sofre constantes

mudançasC. Novos MSS têm sido descobertosD. O avanço da erudição

E. A necessidade não é tão grande quan­to se supõe

F. A importância da Bíblia requer a me­lhor versão possível em inglês

II. Princípios de tradução da BíbliaA. Começando com um texto original

corretoB. Fidelidade ao significado do textoC. Habilidade no uso do inglês

III. Versões anglo-saxãs e em inglês médioA. As Escrituras em anglo-saxãoB. As Escrituras em inglês médio ante­

rior a WycliffeC. As versões de Wycliffe

IV. Versões modernas anteriores a 1611A. The Tyndale Version, 1534B. The Coverdale Version. 1535C. Mattews Bible, 1537D. Taverner s Bible, 1539E. The Great Bible, 1540F. The Geneva Version, 1560G. The Bishops Bible, 1568H. The Rheims-Douay Bible, 1582-1610

V. The King James Version (KJV), 1611A. OrigemB. Método de produçãoC. Pontos fortes e pontos fracosD. Contínua popularidade e influência

VI. Versões importantes desde a KJVA. Young’s Literal Translation, 1863B. TheEnglish Revised Version, 1881-1885C. The American Standard Version, 1901D. Weymouth s Modem Speech NT, 1903E. The Twentieth Century NT, 1904F. The Jewish Version de 1917G. Moffatts New Translation, 1924, 1935H. The Smith-Goodspeed Version, 1931I. The Charles B. Williams NT, 1937 J. Ronald Knox s Catholic Version,

1944-1950K. The Revised Standard Version, 1946-1952 L. The Confraternity Version, 1948 M. TheNew World Translation, 1950-1960 N. The NT in Modem English (Phillips),

1958O. The Berkeley Version, 1959 P. New American Standard NT, 1960 Q. Wuests Expanded Translation o f the

NT, 1961

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Os Rolos do mar Morto foram encontrados em cavernas como esta, em Qumrã. © Lev

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News for Modem Man ”), 1966 X. The Jerusalem Bible, 1966 Y. The Living Bible, 1972 Z. The New International Version, New

Testament, 1973

VII. Como escolher uma versão para ler e estudar

I. A necessidade de mais versões. A. Oleitor comum não pode ler as Escrituras nas línguas originais (hebraico e grego). Somente o cristão leitor da Bíblia pode ser um cristão efetivo até o limite do seu potencial; somente uma Igreja que lê a Bíblia pode ser realmente eficaz no serviço a Deus e ao testemunho para o mundo. Essas con­siderações requerem a tradução das Escrituras em todas as línguas do mundo, incluindo o inglês, bem como a revisão progressiva e o aprimoramento das traduções feitas.

B . A língua inglesa sofre constantes mudanças. Desde que foram feitas as primeiras traduções da Bíblia para o inglês, a língua já mudou tanto que as VSS de 600 anos atrás mal e mal podem ser compreendidas pelo leitor comum de hoje. A língua continua mudando, com novas palavras e expressões entrando em uso e antigas tomando-se obsoletas e, com o tempo, ininteligíveis. Para que a Bíblia seja compreendida e crida pelas pessoas de hoje, deve estar em uma linguagem de significado claro para elas. Enquanto o inglês continuar sendo uma língua viva, haverá necessidade de novas traduções mais aperfeiçoadas em inglês.

C. Novos MSS têm sido descobertos, propor­cionando textos mais confiáveis como base para as traduções. Desde que a KJV foi produzida, houve três grandes descobertas de MSS antes desconhecidos, os quais aumentaram muito os re­cursos disponíveis para a reconstrução de um texto das Escrituras nas línguas originais, totalmente correto e confiável, tomando possível também a elaboração de VSS mais acuradas e fiéis. Estas descobertas são:

(1) O Códice Sinaitico (Álefe), descoberto em 1844 no mosteiro de Santa Catarina, na península do Sinai, por Tischendorf. Esse MSS grego do NT, escrito no 4“ séc. d.C., e que contém a maior parte do NT, provou ser de imenso valor para se estabelecer o texto genuíno do NT. E reconhecido como um dos três ou quatro MSS grego mais im­portantes do NT. (2) O papiro do NT, uma série de fragmentos descobertos no Egito a partir de 1895; embora menos importante do que o Alefe, provou ser de grande valor para o estudo erudito do NT. (3) Os Rolos do Mar Morto, descobertos em cavernas perto do Mar Morto, a partir de 1947, forneceram um MS quase completo do texto hebraico de Isaías, outro rolo de Isaías um pouco menos completo e porções de quase todos os livros do AT. Esses MSS são centenas de anos mais antigos do que os MSS remanes­centes conhecidos até então. Em grande parte, confirmaram fortemente a autenticidade do texto hebraico anteriormente conhecido. Em alguns pontos, capacitaram os estudiosos a determinar uma forma mais precisa do texto.

D. A erudição bíblica tem avançado progres­sivamente, tomando possível maior precisão. O conhecimento atual é construído sobre os funda­mentos estabelecidos no passado, e com o passar do tempo um crescente tesouro de conhecimentos tem sido armazenado. Os estudiosos dos nossos dias têm à sua disposição recursos relativamente desconhecidos há dois ou três séculos atrás. Este caso se aplica especialmente a duas situações: (1) A crítica textual, como disciplina exata e rigorosa, desenvolveu-se muito nos últimos cem anos. Essa disciplina dedica-se a estabelecer o texto genuíno de um livro ou documento, até onde é possível, por meio de procedimentos técnicos de grande precisão, determinando qual das leituras variantes existentes é a original autêntica, sendo portanto a correta. Esse estudo alcançou tal nível de precisão que, para todos os propósitos práticos, os estudio­sos têm hoje o texto original correto das Escrituras. O pequeno resíduo porções de leituras sobre as quais ainda há incerteza não afetam as doutrinas básicas da fé cristã. Quando a KJV e as traduções anteriores foram elaboradas, a crítica textual pra­ticamente não existia, ou na melhor das hipóteses, estava ainda engatinhando. (2) A filologia, ou o estudo das línguas, teve grandes avanços nos úl­timos trezentos anos. Não somente houve grande progresso no estudo do grego e do hebraico como língua, mas também o estudo de línguas cognatas tem auxiliado a compreensão das Escrituras. Isso

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é especialmente verdadeiro com relação ao estudo do árabe clássico, o qual é cognato ao hebraico bíblico e freqüentemente tem oferecido a chave do significado de uma palavra em hebraico que ocorra apenas uma vez no AT. Outras línguas que têm au­xiliado no entendimento da Bíblia são o acadiano (Babilônia/Assíria) e especialmente o ugarítico (a língua extinta dos tabletes de Ras Shamra). Uma riqueza de conhecimentos está disponível nessas fontes e em outras similares, todas desconhecidas há trezentos anos.

E. A necessidade de novas VSS não é tão gran­de como freqüentemente se supõe, muitas vezes com exagero. As diferenças entre a KJV e as VSS modernas mais precisas são comparativamente sutis. Todos os ensinamentos principais da Bíblia estão bem claros na KJV ou em praticamente todas as outras VSS. Algumas VSS modernas foram cercadas de grande publicidade, sugerindo que transformariam a Bíblia em um novo livro para o leitor comum, tomando pessoas que não cos­tumavam lê-la em leitoras ávidas e interessadas. Este tipo de raciocínio baseia-se numa suposição equivocada, seja, que é o inglês um tanto arcaico e as palavras ou expressões ocasionalmente obso­letas da KJV que afastam a maioria das pessoas da Bíblia na atualidade, e que quando estes obstáculos forem removidos, as pessoas lerão e estudarão ansiosamente as Escrituras. O fato, porém, é que o que impede o homem moderno de ler a Bíblia é o pecado humano e a inimizade contra Deus (Rm 1.28; ICo 2.14). O homem pecador precisa de regeneração espiritual e de iluminação, e não apenas de um acesso mais fácil ao conhecimento. Não se trata apenas de o homem modemo ser ignorante quanto aos ensinos da Bíblia; pelo con­trário, mesmo quando ele conhece esses ensinos, ele se opõe a eles porque pronunciam julgamento sobre o seu pecado, e são contrários à cosmovisão modema centrada no homem.

F. A importância da Bíblia requer a melhor VS contemporânea possível para os tempos presentes. Como a Bíblia é a mensagem de Deus para o ho­mem, deve estar disponível na melhor VS possível, que reproduza com a maior fidelidadeno inglês o pensamento do original, de forma que seja mais facilmente compreendido pelo leitor. O esforço de prover a melhor VS possível em inglês não induzirá por si mesmo a fé cristã, mas removerá os obstáculos semânticos à fé, aclarando assim o caminho para a obra do Espírito Santo de gerar arrependimento, fé e compromisso.

II. Princípios de tradução da Bíblia.A. O ponto de partida é um texto original correto. Existem muitos MSS das Escrituras em hebraico e em grego, e freqüentemente há leves variações entre eles. No caso do NT grego, há milhares de MSS do todo ou de panes dele, e dentre eles não existem dois exatamente iguais. Obviamente al­guns erros foram cometidos no processo de cópia dos MSS antes da invenção da imprensa. Eliminar esses erros é tarefa da crítica textual, que busca restaurar, dentro do possível, o texto genuíno dos documentos originais perdidos (chamados autógrafos). Nenhuma tradução pode ser melhor que o texto do qual é feita. Não importa quão grandes sejam o conhecimento e as habilidades dos tradutores, não importa quão cuidadosamente eles trabalhem, não podem elaborar um produto melhor do que o texto hebraico ou grego que estão traduzindo. É possível fazer uma tradução pobre de um texto bom, e também é possível fazer uma boa tradução de um texto pobre. Neste segundo caso, a “boa” tradução reproduzirá fielmente os erros que possam existir no texto original cor­rompido. No caso da KJV do NT, trata-se de uma boa tradução de um texto pobre, muito inferior ao textos disponíveis aos estudiosos hoje em dia. As descobertas de manuscritos desde o trabalho de tradução da KJV e a crítica textual nas mãos de especialistas competentes proporcionaram textos do NT grego muito superiores aos melhores dis­poníveis em 1611.

B. E importante que haja fidelidade ao signifi­cado do texto original. As VSS da Bíblia variam quanto ao grau de fidelidade ao texto original. A falta de fidelidade, ou um grau reduzido dela, pode ser decorrente de: (1) Falta de conhecimento filológico e/ou teológico. Esta razão, porém, é rara em nossos dias, exceto em algumas traduções feitas por apenas “um homem”. (2) Zelo excessi­vo pela modernização da linguagem bíblica, que pode levar a um baixo nível de fidelidade para com o original. Tal zelo pode levar os tradutores a tomarem certas liberdades não autorizadas pelas declarações dos originais. (3) Tendências teoló­gicas às vezes afetam negativamente o trabalho do tradutor. Objetividade total é impossível em qualquer trabalho de emdição, e é inevitável que a fé pessoal, convicções teológicas, pressuposições básicas e cosmovisão influenciem o trabalho do tradutor. Assim, não é de surpreender que VSS fei­tas por teólogos liberais em alguns pontos reflitam seus pontos de vista teológicos. Se uma determi­nada palavra pode ser traduzida legitimamente

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de duas maneiras diferentes, e uma delas está em harmonia com a linguagem e o ensino de outras partes das Escrituras, enquanto a outra introduz uma contradição ou um conflito na VS inglesa, o tradutor comprometido com a plena inspiração e inerrância da Bíblia e com sua coerência interna como um todo orgânico escolherá a tradução que é compatível com estes princípios; o tradutor que não aceita esses princípios poderá escolher a tradução mais compatível com a cosmovisão moderna, mesmo que envolva uma contradição com outras afirmações bíblicas.

C. E preciso haver destreza no uso do inglês. Depende muito da habilidade do tradutor, sua fa­cilidade no uso da língua inglesa de tal forma que combine precisão e fidelidade, com lucidez e força, no emprego do idioma e de estilo modernos. Há o perigo de ele ir a um extremo ou outro. (1) Deve ser evitada uma tradução excessivamente literal. Uma tradução muito próxima do literal, em vez de ser uma expressão de fidelidade, pode dar uma idéia errada. A tradução de Mateus 20:2, And when he had agreed with the laborers for a penny a day, he sent them into his vineyard (ARA, “E, tendo ajustado com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os para a vinha), certamente é literal, mas pode induzir o leitor moderno a supor erro­neamente que aqueles trabalhadores não recebiam quase nada pelo dia de trabalho. A tradução deve se esforçar para usar uma linguagem que transmita corretamente a idéia do texto original. É claro que a tradução demasiadamente literal, mesmo quando é fiel ao pensamento do texto original, pode ser um inglês grosseiro e sem naturalidade. (21 Também se deve evitar a liberdade excessiva, que logicamente é um perigo paráfrases e “traduções expandidas”. Estas podem ou não ser úteis, dependendo do conhecimento e da habilidade dos tradutores, bem como dos limites e da autodisciplina a que se submetem. A liberdade excessiva nas traduções freqüentemente tende a substituir as idéias gerais ou abrangentes por outras particulares ou especí­ficas da Bíblia, como por exemplo, a tradução de “presbítero” ou “diácono” como oficial da igreja. Entretanto, o maior perigo envolvido no excesso de liberdade é que idéias modernas, estranhas às Escrituras, podem ser introduzidas na tradução. A liberdade excessiva na tradução pode dar uma abertura para todo tipo de tendência teológica e assim militar contra a fidelidade. (3) Deve-se buscar um meio-termo sábio. A tradução ideal não deve ser nem literal nem livre demais. A linha divisória entre a literalidade e a liberdade, depende

do propósito da tradução. Nenhuma regra universal é aplicável num assunto desta natureza. Para fazer uma tradução que não seja literal nem livre demais, o tradutor deve ter não somente conhecimento e habilidade, mas também sabedoria. As traduções verdadeiramente grandiosas e boas são produto não somente da erudição, mas também da verdadeira sabedoria, e resistem à prova do tempo, enquanto as de menor valor caem no esquecimento.

III. Versões anglo-saxãs e em inglês médio. A. As Escrituras anglo-saxão. Oanglo-saxão, um membro do grupo alemão ociden­tal da família lingüística indo-européia, era parente verdadeiro do inglês, embora seja tão diferentre do inglês moderno que só pode ser compreendido por meio de estudos especiais. Essa língua, com seus diversos dialetos, era a língua do povo da Inglaterra quando o Cristianismo os alcançou, no 6“ séc. d.C. A OldBritixh Church (“Antiga Igreja Britânica”), que data dos tempos de Roma, era formada por descendentes dos celtas e utilizava a Bíblia em latim. Essa Igreja foi quase totalmente eliminada ou empurrada para as montanhas de Gales pelas invasões das tribos germânicas do continente. Quando o Cristianismo chegou aos ingleses, grupos distintos dos primitivos bretões, os anglos, saxões e jutos eram pagãos, com uma religião similar à dos germânicos e escandinavos. Quando a Inglaterra se tornou cristã, houve ne­cessidade de uma Bíblia na língua comum desses povos, embora a Bíblia em latim continuasse predominando por toda a Idade Média. Por volta de 675 d.C.. Caedmon compôs e cantou paráfrases de passagens bíblicas em anglo-saxão. Sua obra, porém, não chegou a ser uma tradução da Bíblia, mas canções baseadas em narrativas bíblicas. Du­rante algum tempo serviu como um tipo de Bíblia substituta para o povo inglês.

Algumas VSS dos Salmos e dos Evangelhos apareceram nos tempos do inglês arcaico ou anglo- saxão. Um bispo chamado Aldhelm tem o crédito de ter traduzido os Salmos, por volta de 700 d.C. Bede, um monge erudito, traduziu partes do NT para o anglo-saxão ou inglês arcaico. O rei Alfred (871-901 d.C.) providenciou a tradução dos Dez Mandamentos, e porções do Êxodo e Atos para a língua comum. Diz-se que ele fez uma nova tradução de Salmos.

Traduções interlineares para o inglês arcaico aparecem em alguns MSS em latim, datando dos 9° e 10° séculos. Do mesmo período vieram tam­bém os Wessex Gospels (“Evangelhos Wessex”), em inglês arcaico. No final do 10° séc., um abade

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chamado Aelfric traduziu partes do AT, de Gênesis a Juizes. Os Evangelhos Wessex e as traduções de Aelfric não são totalmente inteligíveis para o leitor moderno, de forma que é impossível ler este material sem um conhecimento especial das linguagens arcaicas usadas. Deve-se compreender que essas traduções, em anglo-saxão ou inglês arcaico, de porções das Escrituras nunca foram a única ou a principal Bíblia da Igreja. A Escritura básica era em latim, usada quase exclusivamente pelo clero, enquanto as porções na língua verná­cula eram dirigidas para o povo comum, que não conhecia latim.

B. A s E scr itu ra s e m in g lê s m é d io a n ­te r io r a W y c li f fe . A conquista da Inglaterra pelos normandos (1066 d.C.) marcou o fim da tradução das Escrituras para o inglês por cerca de três séculos, durante os quais a língua franco- normanda suplantou grandemente o inglês entre as pessoas educadas, e o latim evidentemente continuou sendo usado pelo clero. No século 14, começaram novamente a surgir novas traduções da Bíblia em inglês, na forma da língua conhecida hoje como inglês médio. Esse material incluía duas traduções dos Salmos e uma das diversas epístolas do NT. Algum tempo depois surgiram também o livro de Atos e parte de Mateus. O leitor moderno, que seja familiarizado com a Bíblia, pode ler essas VSS com um elevado nível de compreensão do significado. Muitas vezes, estranhará somente a forma como algumas palavras são escritas.

C. A s v e r s õ e s d e W y c liffe . John Wycliffe nasceu por volta de 1330 d.C. e morreu em 1384 d.C.. Era um teólogo erudito de Oxford. Cria for­temente na Bíblia como a Palavra de Deus dirigida a todos os homens; por isso, sentiu a necessidade de providenciar as Escrituras de uma forma que as pessoas comuns pudessem usá-la. Interessado nas reformas religiosas e políticas na Inglaterra, Wycliffe tinha inimigos poderosos, os quais fi­nalmente conseguiram levá-lo a julgamento por heresia. No julgamento eclesiástico que se seguiu, as doutrinas de Wycliffe foram condenadas como heréticas e ele foi obrigado a se retirar da vida pública. Passou o o restante do ano e cerca de metade sua vida afastado.

Até onde se sabe, o próprio Wycliffe não foi tradutor da Bíblia. Entretanto, ele promoveu a tra­dução da Bíblia e duas versões completas da Bíblia foram produzidas como parte de seu movimento. Essas obras foram feitas à mão, uma vez que a imprensa ainda não fora inventada. A primeira

VS Wycliffe apareceu pouco depois de 1380 e a segunda alguns anos mais tarde, depois da morte de Wycliffe. Ambas foram traduzidas da VS em latim conhecida como Vulgata.

A primeira VS Wycliffe é uma tradução literal do latim. A identidade do(s) tradutor(es) é des­conhecida, mas há certas evidências de que um monge chamado Nicholas de Hereford fez pelo menos parte do trabalho. A segunda VS Wycliffe foi feita pelo secretário de Wycliffe, chamado John Purvey, depois da morte daquele. Purvey começou a partir da primeira VS Wycliffe e revisou total­mente, produzindo uma Bíblia em um inglês muito mais natural e idiomático do que a primeira VS. Purvey descobriu que muitos MSS existentes da Vulgata eram corrompidos e fez um estudo crítico considerável de MSS da Vulgata colecionados a fim de obter um texto em latim o mais puro pos­sível, para usar como ponto de partida na revisão da primeira VS Wycliffe. A VS de Purvey, embora por necessidade circulasse somente em forma de manuscrito, teve ampla influência não apenas imediatamente após o período de Wycliffe e entre os membros do seu movimento, mas também entre a população geral da Inglaterra, até a época em que a imprensa foi inventada e traduções mais novas começaram a ser publicadas.

IV. Versões m odernas anteriores a 1611. A. T he T yn d a le V ers io n ("AVersão Tyndale"), 1534. William Tyndale nasceu por volta de 1494. Estudou na Universidade de Oxford e de Cambridge. Dois fatores prepararam o cami­nho para a publicação desta monumental VS em inglês do NT: (1) A invenção da arte gráfica, por volta de 1450 d.C.; (2) a publicação da edição de Erasmo, do NT, no original grego, em 1516 d.C., com revisões subseqüentes. Embora a imprensa já existisse há 75 anos antes da publicação da VS Tyndale, houve obstáculos à publicação de uma Bíblia em inglês, impressa, o que impediu a produção da VS Wycliffe de Purvey na forma impressa. Portanto, a Tyndale foi a primeira edição impressa das Escrituras em inglês.

Tyndale era um estudante de grego e de he­braico. Traduziu o NT diretamente do grego para o inglês, ao contrário das VSS anteriores que se basearam na Vulgata Latina. Ainda jovem, Tyndale concebeu a idéia de fazer uma tradução nova e melhor das Escrituras em inglês, uma idéia que cada vez mais se tomou o objetivo de sua vida e sua paixão. Por volta de 1523, buscou a ajuda e o encorajamento do bispo de Londres, mas não obteve e no ano seguinte decidiu que seria prati­

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camente impossível fazer o que tinha em mente em qualquer parte da Inglaterra. Ele deixou a Inglaterra em 1524, foi para a Alemanha e nunca mais retomou. Para fugir de interferências, teve de mudar diversas vezes de local em local. A certa altura, visitou o reformador Martinho Lutero em Wittenberg. Em 1525 ou 1526, chegaram à In­glaterra as primeiras cópias do NT em inglês de Tyndale. Ele publicou repetidas edições do seu NT e também trabalhou na tradução do AT, baseada no original hebraico, na Vulgata Latinas e nas tradu­ções modernas anteriores. Foram impressas mais de 15 mil cópias das primeiras seis edições do NT de Tyndale. Muitas delas foram compradas pelo bispo de Londres para serem queimadas. Tyndale usou o dinheiro das vendas para publicar novas edições e maiores tiragens.

Em 1523 Tyndale foi traído por seus inimigos, quando vivia na Bélgica. Foi preso, julgado por heresia, condenado, morto por estrangulamento, e seu corpo foi queimado (6 de outubro de 1536). Suas últimas palavras foram: “Senhor, abra os olhos do rei da Inglaterra”. Antes de sua morte, uma edição de toda a Bíblia, baseada em grande parte no trabalho de Tyndale, mas sem seu nome, já estava circulando e sendo lida abertamente na Inglaterra, com a permissão do rei, de modo que sua oração na hora da morte já estava sendo respondida, embora naquele momento ele não soubesse disso.

A VS T>Tidaie é importante não somente porque foi um esforço pioneiro na tradução das Escrituras diretamente das línguas originais para o inglês, mas também por causa da grande influência que exerceu sobre as VSS posteriores. Havia uma nova naturalidade no estilo de Tyndale, uma redação simples e direta que marca sua obra como uma grande realização literaria, sem mencionar sua grande importância religiosa, que marcou época. Grande parte do belo estilo do inglês adotado na KJV deriva-se do trabalho de William Tyndale, de maneira que podemos dizer corretamente que sua obra sobrevive nas Bíblias dos nossos dias.

B. The C overdale Version ("A Ver­são Coverdale"), 1535. Nascido por volta de 1488, Miles Coverdale era alguns anos mais velho do que Tyndale. Depois de ser educado em Cambridge e tornar-se sacerdote, desenvolveu uma paixão consumidora por novos conhecimentos, especialmente no campo dos estudos da Bíblia. Em 1528, foi para a Alemanha. Em 1535, sua tradução da Bíblia foi impressa, provavelmente na Alemanha. Embora não tenha sido oficialmente

endossada pelo govemo inglês, também não foi banida. Em 1538-1539, Coverdale trabalhou em Paris, supervisionando a impressão de outra VS da Bíblia em inglês, a Great Bible (publicada em 1540). Ele morreu em 1569.

Diferentemente de Tyndale, Coverdale não tentou traduzir diretamente do hebraico e do grego para o inglês. Baseou-se grandemente na Vulgata Latina, na tradução de Lutero para o alemão e na versão em inglês de Tyndale. A versão de Cover­dale foi a primeira Bíblia completa em inglês a ser impressa. O bispo Westcott afirmou que o NT de Coverdale é uma revisão da primeira edição de Tyndale, revisada por meio da segunda edição de Tyndale e também por comparação com a versão em alemão de Lutero. Embora não tenha a importância pioneira da obra de Tyndale, a Bíblia Coverdale ocupa um lugar de destaque na história da Bíblia em inglês.

C. M atthew 's Bible ("A Bíblia de Ma­teus"), 1537. A Bíblia conhecida como Bíblia de Marthew é tida como trabalho de um homem chamado John Rogers, que veio a possuir algumas traduções de Tyndale não publicadas de livros do AT. Rogers, nascido por volta de 1500, serviu por alguns anos como pastor na Alemanha. Depois de retomar à Inglaterra, foi queimado vivo em 1555. Acredita-se que o nome Thomas Matthew, que aparece na página de rosto da Bíblia, seja um pseudônimo destinado a encobrir a identidade do verdadeiro tradutor e evitar que as pessoas asso­ciassem o livro com Tyndale ou com discípulos deste. Parte do AT era praticamente idêntica à VS de Tyndale, mas parte era uma outra tradução. Es­tima-se que cerca de 2/3 da Bíblia de Matthew seja obra de Tyndale. A VS Matthew tomou-se a base para a Bishops ’ Bible, a Great Bible e a KJV.

D. Taverner's B ib le ("A B íb lia de Taverner"), 1 539 . Richard Taverner nasceu por volta de 1505. Estudou nas Universidades de Oxford e Cambridge. Em uma ocasião foi preso por ler o NT de Tyndale. Estudou Direito e tomou-se advogado, mantendo o interesse pela Bíblia em inglês. Taverner tinha um bom conheci­mento de grego. Por algum tempo ficou preso na Torre de Londres em virtude de sua atividade de tradução e revisão da Bíblia. Durante o reinado da rainha Elizabete I, porém, foi nomeado para um cargo público.

A Taverner s Bible foi publicada pela primeira vez em Londres, em 1539. Esta VS é uma revisão secundária da Matthew s Bible. Sua influência não

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foi muito grande, embora tivesse um efeito perma­nente na introdução de algumas palavras em bom inglês, no lugar de termos derivados do latim.

E. The Great Bible ("A Grande Bíblia"), 1540. Ambas as VSS, Coverdale e Matthew, esta- vam circulando e sendo lidas livremente na Ingla­terra, contudo havia demanda por uma VS melhor, especialmente sem as notas marginais explicativas da VS de Matthew, consideradas questionáveis por alguns do clero, como protestantes demais. Thomas Cromwell, vice-gerente do rei Henrique VIII nas questões pertinentes à Igreja da Inglater­ra, encorajou a produção da Great Bible, que foi impressa em Paris. A impressão foi interrompida pela Inquisição Católica Romana, mas posterior­mente foi retomada e completada na Inglaterra. O termo Great (“Grande”) deriva-se do tamanho do volume, sendo esta a maior de todas as Bíblias já impressas em inglês. Foi publicada em 1540, com prefácio de Cranmer, Arcebispo de Canterbury; e a página de rosto trazia as palavras: “Esta Bíblia destina-se a ser lida nas igrejas”. Realmente, era uma VS “autorizada’'. Em virtude das mudanças políticas na Inglaterra, esta Bíblia teve seus altos e baixos. Em determinada época, a ordem foi de colocá-la nas igrejas; em outra, a ordem foi de removê-la e depois novamente foi colocada. A última impressão foi feita em 1569.

F. The G eneva Version ("A Versão Genebra"), 1560 . O domino exercido pela Igreja Católica Romana durante o reinado de Marv (1553-58) e a perseguição que se seguiu tomaram praticamente impossível a realização de novas traduções da Bíblia. Diversos eruditos pro­testantes ingleses fugiram para a Suíça em busca de segurança e se reuniram em Genebra, quartel- general do protestantismo do tipo reformado e residência do reformador João Calvino. William WMttingham tinha um NT revisado publicado em Genebra, em 1557. Logo depois, diversos eruditos começaram a trabalhar em uma revisão da Bíblia toda, uma obra que durou cerca de dois anos. O resultado desse esforço foi a Geneva VS, publicada em 1560.

Na Geneva VS, o AT foi baseado principal­mente na Great Bible e o NT na VS de Tyndale. Continha notas abundantes, a maioria com ex­plicações técnicas sobre pontos difíceis do texto, tais como referências históricas e geográficas. Parte das notas era doutrinária, e algumas eram exortativas. Algumas poucas sofreram objeção de alguns protestantes, consideradas demasiadamente

calvinistas. Logo a Geneva VS tomou-se popular e amplamente lida; sua influência era grande, talvez mais nos lares do que nas igrejas e entre os cléricos.

G. The Bishops's Bible ("A Bíblia do Bispo"), 1568. No ano de 1566, Matthew Pa­rker, arcebispo de Canterbury, iniciou o esforço de produzir uma revisão da Bíblia pelos bispos da Igreja da Inglaterra. Eles usaram a Great Bible como base. O produto é de qualidade incomparável e no geral o NT é muito melhor do que o AT. A Bishops ’ Bible foi usada via de regra nas igrejas até 1611. Sua impressão cessou em 1602.

H. The Rheims-Douay Bible ("A Bíblia Rheims-Douay"), 1 5 8 2 -1 6 1 0 . Depois da coroação de Elizabete I, muitos católicos roma­nos deixaram a Inglaterra, a maioria indo para a França ou Bélgica. Os refugiados católicos ingleses que foram para a Universidade de Douay, no norte da França, sentiram a necessidade de uma VS da Bíblia em inglês, que fosse aprovada pelas autoridades da Igreja Católica Romana. O resultado foi a produção da Rheims-Douay Bible, cujo NT foi publicado em Rheims (1582) e o AT em Douay (1610). Esta VS foi feita a partir da Vulgata Latina, com auxílio ocasional dos originais em hebraico e em grego. O estilo e expressão inglês era pobre, comparado com as VSS protestantes contemporâneas, especialmente o belo inglês da KJV, que surgiu logo depois de a VS Rheims/Douay ser completada. Em 1749­1750, a Rheims-Douay foi publicada em forma revisada por Dr. Richard Challoner. Houve tam­bém outras revisões posteriores, com base no trabalho de Challoner.

V. The King Jam es Version (KJV, "A Versão do Rei Tiago"), 1611. A. Origem.James (“Tiago”) I tomou-se rei da Inglaterra em 1603. Em 1604, convocou a Hampton Court Conference (“Conferência da Corte de Hampton”), num esforço para preparar o caminho da reconci­liação entre os partidos religiosos que existiam no seu reino. Essa conferência falhou em promover qualquer reconciliação real entre os bispos e o partido dos puritanos. Entretanto, teve resultado positivo de preparar o caminho para a produção da King James Version da Bíblia. Foi aprovada uma resolução demandando uma tradução da Bíblia toda, dos originais em hebraico e grego para o inglês, sem quaisquer notas marginais ou comen­tários, para ser a única Bíblia para uso nos cultos

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Direita: Retrato do rei James I ("Tiago) da Inglaterra. © NPG.Esquerda: Folha de rosto da primeira edição da King James Bible (Versão Autorizada), 1611. © John Rylands L/brarv" (Biblioteca de John Rylands), Manchester, Inglaterra.

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públicos da Igreja da Inglaterra. Embora nem todos os bispos fossem favoráveis ao novo projeto, o rei James o endossou, afirmando que nenhuma das VSS em inglês era bem traduzida e que em sua opinião a VS de Genebra era a pior de todas! James solicitou que uma nova VS fosse preparada pelos melhores eruditos das Universidades de Oxford e Cambridge e depois fosse revisada pelos bispos da Igreja da Inglaterra, para finalmente ser aprovada pelo Concilio Privy e pelo rei, como a única Bíblia a ser usada na Igreja da Inglaterra.

B. M é to d o d e p r o d u ç ã o . Quarenta e sete eruditos foram recrutados para o trabalho, os quais eram os homens mais cultos de sua época na Inglaterra. O trabalho de tradução durou cerca de dois anos. A Bishop ’ Bible foi usada como base, mas outras também foram consultadas para ajuda adicional, inclusive a Tyndale ’s, a Coverdale s e a de Geneva VS.

C. P o n to s fo r t e s e p o n to s fra c o s . Ostradutores da KJV tinham à disposição textos em hebraico e em grego melhores do que os tradutores anteriores, embora os melhores de que dispunham ainda fossem muito inferiores aos textos disponí­veis hoje. O produto final certamente foi a melhor Bíblia em inglês que até então existiu. O estilo do inglês é universalmente reconhecido como excelente. O mais notável, porém, é a extrema fidelidade dos tradutores à verdade das Escrituras. Embora trabalhassem com textos pobresdo NT, produziram uma tradução fiel e acurada. O fato de que até hoje a KJV continua ocupando o posto de principal Bíblia em inglês é um monumento à diligência e à fidelidade dos tradutores.

D. C o n tín u a p o p u la r id a d e e in f l u ê n ­c ia . Mesmo depois de 350 anos, numerosas revisões e novas traduções, a KJV continua sendo a Bíblia em inglês mais popular e de maior circu­lação. Tem sido preciosa para milhões de pessoas que amam sua apresentação simples, bela e solene da Palavra de Deus. Parece improvável que a KJV seja suplantada por outra VS em futuro próximo. Ela já provou ser proeminentemente a Bíblia do mundo de língua inglesa.

VI. Versões im portantes desde a KJV.A. Y o u n g 's L ite ra l T ra n s la tio n ("Tradu­ção Literal de Young"), 186 3 . Esta VS foi produzida por Robert Young, compilador da bem conhecida Young s Analytical Concordance (“Concordância Analítica de Young”). Young

afirmava que a única tradução realmente fiel é a literal. A primeira edição foi publicada em Edim- burgo, em 1863.

B. The E n g lish R e v is e d V e rs io n (ERV, "A Versão Revisada Ing lesa"), 1 8 8 1 ­1885. O impulso para produzir esta VS veio de dentro da Igreja da Inglaterra, mas eruditos de várias denominações participaram do trabalho, inclusive uma comissão de americanos. A base para a revisão foi a KJV, a qual podia ser mo­dificada apenas mediante a aprovação de 2/3 do comitê principal.

O NT foi publicado em 1881, incluindo um apêndice com as literaturas preferidas pelo comitê americano, mas não adotados pelo comitê britâni­co. O AT foi editado em 1885, e a Bíblia inteira em um único volume foi publicada em 1898.

Esta VS é uma revisão cautelosa e conserva­dora da KJV. Manteve grande parte, mas não todo o seu estilo literário do inglês da KJV. Teve uma circulação considerável, mas jamais se equiparou com a KJV em popularidade ou vendas.

C. T he A m e r ic a n S ta n d a r d V e rs io n (ASV, "A Versão Padrão Am ericana"), 1901 . O American Revision Committee (“Co­mitê Americano de Revisão), que colaborou na produção da Eng. RV (English Revised Version, “Versão Revisada Inglesa”) tinha prometido evitar a publicação de uma versão americana da RV por 14 anos. Em 1901, foi lançada a American RV, ou ASV, incorporando aquelas leituras preferidas pelo comitê americano. Dentre as diferenças mais importantes entre as duas está o uso de “Jeová” em vez de “Senhor” no AT, como tradução de mrr, o uso de “Holy Spirií” em lugar de “Holy Ghost” e o uso de “amor” em vez de “caridade”, em 1 Coríntios 13.

Embora lhe falte um pouco da beleza literária da KJV, a AS V é excelente em termos de exatidão e baseia-se em textos gregos superiores do NT. Tem sido amplamente usada como Bíblia de estudo, mas jamais alcançou a popularidade da KJV.

D. W e y m o u th 's M o d e r n S p e e c h N T ("NT de Weymouth, na Linguagem de Hoje"), 1903. Traduzida por R. F. Weymouth, um leigo britânico batista, esta VS passou por duas revisões (1924, 1933) feitas por outros, desde a morte do tradutor. Ainda tem valor hoje. Trata-se do produto de uma erudição substancial, caracterizada por uma atitude reverente para com o texto das Escrituras.

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E. The Twentieth Century NT ("O NT do Século Vinte")# 1904. Esta versão foi feita por cerca de vinte eruditos de várias denomina­ções. A ordem dos livros é diferente da maioria das outras Bíblias, e o Evangelho de Marcos vem em primeiro lugar. A tradução é muito livre.

F. The Jew ish Version ("A Versão Ju­daica") de 1917. Esta obra contém somente os livros canônicos do AT, e no geral é muito similar à KJV. O prefácio afirma que "... as interpretações cristológicas nas traduções não judaicas estão fora de lugar na Bíblia judaica...” (p. viii), e os tradutores fizeram grandes esforços para evitar as “interpretações cristológicas”, como fica evi­dente em especial na tradução de Gênesis 3.15 e Isaías 9.5.

G. M offatt's N ew Translation ("Nova Tradução de Moffat"), 1924,1935. James Moffatt foi um teólogo liberal de projeção, que afirmava abertamente não crer na inspiração verbal da Bíblia. Este ponto de vista afetou seu trabalho, especialmente em certas passagens cruciais. Mes­mo assim, trata-se de uma obra de sólida erudição e estilo brilhante, que tem sido popular por anos.

H. The S m ith -G o o d sp e ed Version ("A Versão Smith-Goodspeed"), 1931.Edgar Goodspeed publicou seu NT em 1923. O AT foi traduzido por H. M. Powis Smith e outros. (1927); a Bíblia completa foi publicada em 1931. O subtítulo éAn American Translation (“UmaTra- duçãoAmericana”). Em alguns pontos a liberdade dos tradutores beira a paráfrase.

I. The Charles B. Williams NT ("O NT de Charles B. W illiam s"), 1937. Com osubtítulo A Translation in the Language o f the People (“Uma Tradução na Linguagem do Povo”), esta VS feita por um erudito americano batista deve ser cuidadosamente distinguida da feita pelo erudito britânico Charles K. Williams. A tradução de Charles B. Williams é considerada por muitos uma das melhores VSS modernas do NT.

J. R onald K nox's Catholic Version ("Versão Católica de Ronald Knox"), 1944-50. Esta VS, feita por um erudito britânico católico romano, é uma produção de mérito real. Embora se baseie na Vulgata Latina, a obra mostra total familiaridade com os originais em hebraico e grego. A tradução é vigorosa e de boa leitura, e bem fiel ao original. Muitas interpretações católi­

cas romanas são encontradas nas notas de rodapé. A Knox’s VS é popular principalmente entre os católicos romanos ingleses.

K. The R e v ise d S ta n d a rd Version ("Versão Padrão Revisada"), 1946-52.Esta pretendia ser uma revisão da KJV, da ERV e da ASV de 1881-85 e 1901. Ainda conserva parte do estilo literário da KJV. Suas traduções são muito solene e isentas de termos vulgares, das gírias ou usos meramente contemporâneos. O liberalismo teológico de muitos dos tradutores certamente afetou o trabalho deles, em especial pontos cruciais como Isaías 7.14. Exceções devem ser feitas, também, em relação ao uso um tanto livre de emendas baseadas em conjecturas (o que às vezes, mas não sempre, é indicado em notas de rodapé). A RSV tomou-se bem popular e é amplamente usada, embora não se compare com a KJV em termos de circalação e de popularidade. Recentemente foi publicada uma edição católica romana da RSV.

L. The Confraternity Version ("A Ver­são da Confraternidade"), 1948. Trata-se de uma VS católica romana, essencialmente uma revisão inglesa modema da VS Rheims-Douay- Challoner; o AT não está completo nesta nova VS. Muitas impressões têm vários livros do AT na nova VS e o restante do AT na VS mais antiga. Trata-se de uma produção erudita, mas sofre a desvantagem de ser uma tradução da Vulgata Latina e não dos originais em grego e hebraico. Contém o Apoca­lipse e numerosas notas de rodapé, muitas delas de tendência tipicamente católica romana.

M. The New World Translation ("ATra- dução Novo Mundo"), 1950-60. Publicada pela Watchtower Bible and Tract Society (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados”), uma agência da International Bible Stiidents Association (Asso­ciação Internacional de Estudiosos da Bíblia), esta é a Bíblia da seita conhecida como Testemunhas de Jeová. E uma obra totalmente desfigurada, por sua óbvia tendência em favor das doutrinas peculiares da seita que a produziu. Fora esse fato, sua quali­dade é ímpar, sendo às vezes inflexivelmente literal e outras, excessivamente coloquial.

N. The NT in M odern English ("O NT em Inglês Moderno"), de J. B. Phillips, 1958. Trata-se mais de uma paráfrase do que de uma tradução. Muitos o consideram muito aceitável; sem dúvida apresenta o NT de uma

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802 BÍBLIA, VERSÕES EM INGLÊS

forma que o leitor moderno pode compreender facilmente. Essa obra manifesta uma tendência de ampliar conceitos bíblicos específicos tomando-os mais gerais, o que nem sempre é bíblico — por exemplo, o uso de “acordo” em vez de “aliança”, “absolvido” em vez de “justificado”. Esta VS será valiosa principalmente auxílio adicional, usada em combinação com outras versões — “padrão” menos livres.

O. The Berkeley Version ("A Versão Berkeley"), 1959. ONT desta VS foi publicado em 1945 e a Bíblia toda em 1959; publicada em 1971, depois de mais uma revisão, sob o título The Modem Language Bible (Bíblia em Linguagem Modema). A orientação teológica é evangélica e as Escrituras são tratadas em todo o texto como a infalível Palavra de Deus. O inglês é mais mo­derno do que o da RSV, sem ser excessivamente coloquial. Talvez seja a VS mais fiel e satisfatória da Bíblia toda em inglês realmente moderno. Entre suas numerosas notas de rodapé, há muitas de real valor no auxílio ao leitor, a compreender o significado do texto.

P. The N ew American Standard Bible ("A Nova Bíblia Am ericana Padrão").O NT foi publicado em 1960 e a Bíblia toda em1971. Esta é a American Standard Version (ASV, “Versão Americana Padrão”) de 1901, com o in­glês um tanto modernizado. Certas traduções da VS de 1901, que sofreram objeções (por exemplo, 2Tm 3.16), foram corrigidas. Esta versão tem copiosas referências organizadas em colunas nas margens das páginas. Tem sido criticada por ser um tanto pedante ou arbitrária na tradução dos tempos gregos. No todo, porém, trata-se de uma excelente produção e, sem dúvida, terá grande aceitação e influência.

Q. W uest's Expanded Translation o f the NT ("Tradução Expandida da Wuest, do NT"), 1961. EsteNT é similar ao da Ampli-

fied VS (“Versão Ampliada”) Versão Ampliada. Sendo essencialmente uma paráfrase, deve ser usado como tal, juntamente com outras VSS mais literais, e não como texto base.

R. The N ew English Bible (NEB, "A Nova Bíblia Inglesa"); o NT foi publicado em 1961; aBíbliatoda, em 1970. Diferentemente da RV e da RSV, não se trata de uma revisão de VSS anteriores, mcs de uma tradução totalmente nova do hebraico e do grego. Seu mérito prin­

cipal é a tradução do texto das Escrituras em inglês moderno, mas sem perder o tom solene. Tem sido criticada por utilizar uma linguagem desnecessariamente sofisticada em alguns trechos— por exemplo, bedizened em lugar de decked (ARA. “adornada”) em Apocalipse 17.4; 18.16. Uma crítica mais séria levantada contra esta VS é que ela carece de precisão e atenção teológicas, e que em textos cruciais demonstra uma tendência claramente liberal. Por exemplo, em Gênesis 1.1, a NEB lê In the beginning o f creations, when God made heaven andearth... (“No começo da criação, quando Deus fez céu e terra”; ARA, “No princípio criou Deus os céus e a terra”); 3 .15 ,/ will put en mity between vou and the woman, between yoitr brood and hers. They shall strike at your head, and uou shall strike at their heil (“Porei inimiza­de entre ti e a mulher, entre tua descendência e a dela. Eles golpearão a tua cabeça e tu golpearás os calcanhares dela”; ARA; “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” ) — aqui, os pronomes heb. no singular foi arbitrariamente mudado para a forma plural, eliminando assim a referência profética a Jesus Cristo; Salmo 2.12, Kiss the king (“Beijai o rei”; ARA, “Beijai o Filho” ); Isaías 7.14, a young woman is with child (“uma jovem está grávida”; ARA, “a virgem conceberá”); 53.10, Yet the Lord took thoughtfor his tortured servant and healed hiin who had made himself a sacrifice for sin (“To­davia, o Senhor contemplou seu servo torturado e curou aquele que fizera de si mesmo um sacrifício pelo pecado”; ARA, “Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado...”).

Em passagens onde o grego oapí, é usado sig­nificando a natureza humana pecaminosa caída, a NEB traduz por termos que parecem fazer confusão entre o homem pecador e o homem como criatura: lower nature (“natureza inferior”; Rm 8.3,4,5,7,12; G1 5.13,16,19,24; 6.8; Cl; 2.11; ARA, “carne pe­caminosa”, “carne”); inspiritual nature (“natureza não espiritual, material”; Rm 7.18.25; ARA, “car­ne”); bodily appetites (“apetites físicos”; Rm 13.14; ARA, “carne, no tocante às suas concupiscências”); sensuality (“sensualidade”; Ef2.3); ARA, “inclina­ções da carne”); instictis (“instintos”;Ef2.3; ARA, “vontade da carne”). Em todas essas passagens a NEB introduz uma idéia encontrada no pensamento filosófico, mas que é estranho à Bíblia: o homem tem uma natureza “superior” e uma “inferior”, e o mal é identificado com a “inferior”. Na Bíblia, toda a natureza humana é considerada corrompida

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BÍBLIA, VERSÕES EM INGLÊS 803

pelo pecado. Aqueles que são capazes de fazer uma avaliação crítica desta versão devem usá-la com a devida cautela; o leitor que não conhece grego pode ser seriamente enganado por ela.

S. The NT in Plain English ("O NT em Inglês Claro") (C. K. Williams), 1963. Esta versão foi uma tentativa de traduzir o NT para o inglês com um vocabulário bem limitado, com apenas cerca de metade das palavras empregadas no NT grego. O que uma VS desse tipo ganha em aparente simplicidade, perde na real comunicação da verdade. Esta versão pode ser de alguma utili­dade para os leitores para quem a língua inglesa é língua estrangeira.

T. The NT in the Language o f Today ("O NT na Linguagem de Hoje) (WilliamF. Beck), 1964. Esta modema versão em inglês, feita por um erudito luterano, é uma obra exce­lente. Fiel às Escrituras, com linguagem e estilo modernos, isenta de vulgaridades, trata-se de uma obra de hábil erudição e de fé reverente. Pode vir a ser de importância duradoura.

U. The A m p lified B ib le ("A Bíb lia Amplificada"), 1965. O NT desta versão foi lançado em 1958; oAT foi lançado posteriormente, em duas partes; a Bíblia toda foi publicada em 1965. Por meio do uso de parênteses e colchetes, ela tenta apresentar o significado mais completo de expressões importantes. Evidentemente, tais “ampliações” suscitam interpretações questioná­veis. Muitas vezes as “ampliações” são meramente supérfluas; nada na verdade é acrescentado, adi­cionando-se a palavra “mudado” entre parênteses, depois do termo “transformado” (Rm 12.2). Uma VS desse tipo deve ser usada como ajuda, com uma VS mais convencional, e não como tendo autoridade intrínseca.

V. The Letters o f Paul: An Expanded Paraphrase ("As cartas de Paulo: Uma Paráfras Expandida), 1965. Esta VS apre­senta a RV (inglesa, 1881-1885) nas páginas do lado esquerdo e a “paráfrase expandida” do pro­fessor Bruce do lado oposto, nas páginas do lado direito. Uma obra de erudição substancial, que deve ajudar muitos leitores a compreenderem mais plenamente o pensamento das epístolas de Paulo.

W. Today's English Version ("G ood News for M odern Man NT only ; Am e­rican Bible Society), ("Versão em Inglês

de Hoje ["Boas-Novas para o Homem Moderno"; som ente o NT; Sociedade Bíblica Americana]). Publicada com preço baixo para circulação em massa, esta VS alcançou considerável popularidade. Na tentativa de apre­sentar o NT de uma forma bem simples, a riqueza do pensamento bíblico foi algumas vezes perdida, como, por exemplo, o uso de putgight (“corrigir, acertar”), em vez de justify (“justificar”). Esta VS pode ajudar muitas pessoas a se tomarem leito­ras da Bíblia, porém elas não devem depender exclusivamente dessa VS, nem parar nela, mas continuar com outras versões da Bíblia.

X. The Jerusalem Bible ("A Bíblia de Jerusalém"), 1966. Esta é uma VS católica romana, publicada pela primeira vez na Inglaterra. Começou como uma versão francesa produzida por emditos católicos em Jerusalém, derivando deste fato o seu nome. Inclui um comentário nas mesmas páginas do texto. Vários pontos de vista da crítica bíblica negativa foram incluídos em suas netas.

Y. The Living Bible ("A Bíblia Viva"),1972. Esta paráfrase bem livre tomou-se muito popular e difundida. Como em todas as “traduções expandidas” e paráfrases, interpretações questio­náveis às vezes são introduzidas.

Z. The N ew International Version, N ew Testament ("A Nova Versão Inter­nacional, Novo Testamento"), 1973. ANIV é o resultado de um esforço interdenomi- nacional de cem eruditos, subsidiados pela New York Bible Society International (“Sociedade Bíblica Internacional de Nova York”). Cada livro foi desenvolvido por uma equipe separada de pe­ritos e depois submetido a três comitês editoriais sucessivos. Visto que seus editores representaram muitas denominações, a tradução é isenta de pre­conceitos restritos e sectaristas. Trata-se de uma obra erudita, equilibrada e dedicada, que buscou a tradução mais exata, simples e esclarecedora dos textos originais para o inglês. Apublicação da Bíblia completa ocorreu em 1978-1980.

VII. Como escolher uma versão para ler e estudar. As VSS produzidas por tradutores comprometidos com o cristianismo histórico são mais confiáveis e devem ser mais primordialmen­te. Isso se aplica principalmente ao cristão leigo, que não conhece grego e hebraico e que não tem base para avaliar questões técnicas. Aqueles que

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804 BIBLIOTECAS

precisam de VSS modernas da Bíblia, freqüente­mente são os menos capazes de avaliá-las de forma crítica. Em vista disso, as VSS que se sabe terem sido produzidas por homens comprometidos com um preconceito teológico em particular, devem ser usadas com a devida cautela. As VSS expandidas e as paráfrases não devem substituir as VSS conven­cionais, mas sim devem ser usadas com elas.

BIBLIOGRAFIA. H. Barker, English Bibie Versions (1907); ISBE (1929), 1,469; P. Marion Simms, The Bible in America (1936); J. H. Skilton, “The Basic Text for the Latest Revision of the Roman Catholic New Testament in English”, WTJ, vi (nov. 1943), 1-18; “A Revision of a Revision”, WTJ, viii (nov. 1945), 61-82; “A Roman Catholic Testament” WTJ, ix (maio de 1947), 198-219: O. T. Allis, Revised Version or Revised Bible? (1953); TCERK (1955), I, 144-147; C. R. Thompson, The Bible in English, 1525-1611 (1958); G. S. Paine, The Learned Men (1959); M. F. Hills (org.), The English Bible in Ame­rica: A Bibliography o f Editions o f the Bible and the New Testament Published in America 1777-1957 (1961); C. Gulston, Our English Bible: No Greater Heritage ( 1961);F. F. Bruce, The English Bible: A Histoiy o f Translation (1961); The Evangelical Foundation, Inc., Why So Many Bibles? (1961); J. H. Skilton, The Translations o f the New Testament into English, 1881-1950: Studies in Language and Style (Univ. de Pa., dissertação de Ph.D., 1961); disponível em xerox# 61-3556University Micro- films, Ann Arbor, Mich.; D. Coggan, The English Bible(1963); D. M. Beegle, Gods Word into English (1964); American Bible Society, A Ready-Reference Hisloiy o f the English Bible ( 1965); H. Dennett, A Guide to Mo­dem Versions o f the New Testament (1966); S. Fowler, “‘GoodNews’ is not Good News” em Evangelical Action (Austrália), vol. 82, n2 3 (1E set 1967), 1-5.

J. G. Vos

BIBLIOTECAS. Uma biblioteca é uma coleção grande ou pequena de livros reunidos proposita­damente por um indivíduo, e na posse dele ou de uma instituição (ao contrário de um acúmulo de livros em uma livraria, que não é uma biblioteca). Freqüentemente uma biblioteca de propriedade particular no final se transforma em parte de uma instituição, de natureza pública ou não, J ta l como a Pierpont Morgan Library ofNew York. Embora livros sejam freqüentemente mencionados na Bí­blia, e algumas vezes em detalhes, desde “o livro da genealogia de Adão” (Gn 5.1) até os “livros, especialmente os pergaminhos” que Paulo solici­tou a Timóteo trazer-lhe a Roma (2Tm 4.13), em nenhum lugar há uma referência a uma biblioteca

de livros existentes em Israel. Salomão, contudo, na verdade se queixou de que “não há limite para fazer livros” (Ec 12.12). o que implicaria que ele estivesse a bem familiarizado com um corpo de literatura existente.

Existem na Bíblia numerosas alusões individu­ais a escrever livros e aos lugares onde eles foram depositados. Os livros de Moisés são mencionados mais freqüentemente do que quaisquer outros. Já em tempo tão antigo como o da vitória de Israel sobre Amaleque, foi ordenado a Moisés: “Escreve isto para memória num livro” (Ex 17. 14). Apesar de que nada foi dito quanto ao lugar em que ele deveria ser depositado, é interessante notar que na próxima linha se lê: “e Moisés levantou um altar”. Isso precede a construção do Tabemáculo. Logo em seguida à entrega do Decálogo “Moisés escreveu todas as palavras do Senhor”, e, aparentemente no dia seguinte, ele “tomou o livro da aliança, e o leu ao povo” (Êx 24.4,7). O NT acrescenta o comentá­rio de que Moisés “aspergiu não só o próprio livro, como também todo o povo (Hb 9.19). Novamente, está aqui registrado que Moisés construiu um altar. No grande código de Deuteronômio há uma famosa passagem que o futuro rei de Israel deveria escrever “para si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos levitas sacerdotes” (Dt 17.18). Os sacerdotes e levitas eram definitivamente reconhe­cidos como guardadores desses volumes sagrados. Existe uma afirmação semelhante quase no final do Decálogo: “Tendo Moisés acabado de escrever integralmente as palavras desta lei num livro, deu ordem aos levitas... dizendo: Tomai este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca da aliança do Senhor vosso Deus” (Dt 31.24-26 ).

Existem vários títulos para esses escritos de Moisés na história posterior de Israel: “Livro da Aliança”, “Livro da Lei”, etc. Josué se referiu a esses escritos de Moisés (Js 8.31-34; 23.6), assim como Esdras, séculos depois (Ed 6.18). Grande parte do Pentateuco veio a ser chamado “Livro da Aliança”, e foi o volume perdido por um período indeterminado de tempo e descoberto por Hilquias no Templo (2Rs 18.18ss.; 22.8ss.; 23.2,21; 2Cr34.14,15). Para copiar ou tomar emprestados esses volumes era necessário obter permissão porque Josafá mandou certos levitas ensinarem em Judá, “tendo consigo o livro da lei do Senhor” (2Cr 17.9).

Em um período anterior, quando os israelitas entusiasticamente receberam Saul como seu rei ungido, “Declarou Samuel ao povo o direito do reino, escreveu-o num livro, e o pôs perante o Se­nhor” (ISm 10.25). Tanto Jeremias quanto Isaías

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BIBLIOTECAS 805

foram freqüentemente admoestados a escrever em livros certas advertências enviadas por Deus (Is 30.9; Jr 25.15; 30.2; 36; 51.60).

Dessas alusões uma coisa parece clara: esses escritos ordenados por Deus foram de certo modo identificados com a Arca, e depois com o Taber- náculo, e geralmente estiveram sob os cuidados dos sacerdotes e levitas. Isso naturalmente parece implicar que havia uma biblioteca no Templo em Jerusalém, mas sobre ela as Escrituras nada falam. O famoso erudito grego, Selim, supõe que havia arquivos do Templo em Ofra, Dã, Silo, Siquém e Gi- beão, mas quanto a isso as Escrituras silenciam.

Por muitas gerações não houve registro do livro de Moisés ou quaisquer outros livros bíbli­cos. Depois da destruição de Jerusalém, Daniel, na distante Babilônia, entendeu, “pelos livros, que o número de anos de que falara o Senhor ao profeta Jeremias” deveriam durar setenta anos (Dn 9.2). Talvez Daniel tivesse memorizado essas passagens, mas é mais provável que ele tivesse uma cópia de Jeremias, ou que esta lhe fosse acessível.

Em meados do 5a séc. a.C., quando alguns dos Judeus retomaram do cativeiro, o povo pediu a Esdras que lesse para eles de “o livro da lei de Moisés” (Ne 8.1ss. e 13.1ss.). Isso implica não apenas que Esdras possuía uma cópia da lei de Moisés, mas que o povo sabia que ele a tinha. Nada é dito sobre sacerdotes e levitas.

A despeito de todas essas referências ao es­crever livros e às vezes à atribuição deles aos cuidados dos levitas, não há referência específica a uma biblioteca, nem mesmo uma alusão de que tenha havido extensas coleções de livros em Israel. Não somente havia cópias da literatura que agora está incluída no AT, mas as Escrituras se referem também a outros livros não incluídos no cânon, tais como o “livro das Guerras do Senhor” (Nm21.14), o “livro dos Justos” (Js 10.12,13); “as crônicas do profeta Natá” a as “crônicas de Gade, o vidente” (lC r 29.29) e os “livros dos videntes” (2Cr 33.19, ARC). Além de todos esses, devem ter existido coleções de tratados, genealogias, transações de negócios, etc. Os primeiros onze capítulos de 1 Crônicas exigem uma extensa coleção de registros genealógicos.

Existe, contudo, uma notável referência no AT a uma biblioteca na Pérsia. Quando os inimigos de Israel se queixaram a Dario sobre os judeus, eles pediram que uma busca fosse feita na casa do tesouro do rei na Babilônia, a respeito do de­creto de Ciro permitindo a construção do segundo Templo (Ed 5.17). “Então o rei Dario deu ordem, e

Uma biblioteca de rolos da era bíblica. Observe a etiqueta de papiro na extremidade indicando o

título. © J.H.K.

uma busca se fez nos arquivos reais na Babilônia, onde se guardavam os documentos” (Ed 6.1; veja também 4.15). Jerônimo traduz “arquivos” por biblioteca, numa clara referência a uma biblioteca oficial. O Livro de Ester afirma que a história de Mordecai “foi escrita no livro das crônicas perante o rei” (Et 2.23), e a afirmação é repetida em 1 Esdras 6.21,23. Quando o rei não pôde dormir, “mandou trazer o livro dos feitos memoráveis, e nele se leu diante do rei” (Et 6.1). Existe uma referência final ao que é provavelmente o regis­tro mais extenso ao “livro da história dos reis da Média e da Pérsia” (Et 10.2).

O NT não faz alusão a coleções efetivas de livros, mas a partir da experiência do nosso Senhor na sinagoga em Nazaré (Lc 4.17) está claro que as sinagogas de então, como hoje, tinham cópias dos escritos do AT.

O fato de que nenhuma biblioteca ou arqui­vos de Israel têm assim sido encontrados é mais espantoso em consideração ao fato de que vastas coleções de registros, narrativas, e outros textos foram reunidos pelos vizinhos de Israel. Pouco foi encontrado do que se possa chamar de israelita. Em 1930 dezoito ostracas, escrita hebraica de aproximadamente 588 a.C., relatando o cerco de Laquis, foram descobertas. Elas relatavam o cerco da cidade, mas eram na realidade correspondência de emergência, não uma biblioteca. Ao norte de Laquis, na extremidade sul do Vale de Jesreel, doze tabletes cuneiformes foram descobertos em Taanaque, que podem datar de cerca de 1450a.C., antes da chegada de Israel. Albright disse em 1944 que ele esperava que houvesse “uma rica safra de documentos escritos em Megido e Laquis”, mas tal esperança não se realizou. Mais ao norte, em Rãs Samra, a 64 km a sudoeste de Antioquia, foi encontrada uma grande coleção de textos e cartas, a maioria religiosos, da metade do segundo milênio a.C. No sudoeste da Síria, nessa

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806 BIBLIOTECAS

geração, 2.000 tabletes do século 18 a.C. vieram à luz, e 370 tabletes de barro do século 14 a.C. foram descobertos em Tell el-Amama no Egito.

Provavelmente a maior coleção de tabletes já encontrados seja dos que compunham a biblio­teca de Sargão (722- 705 a.C.) e que estão agora no Museu Britânico, em número de 25.000. Na Biblioteca Real de Assurbanipal (662-626 a.C.), 20.000 tabletes representando ’í 0.000 textos dife­rentes, também repousam lá._Foi chamada por Sir Frederic Kenion “a primeira grande coleção parti­cular de livros conhecida na história” (The Bible andArchaeology [ 1940], p. 4). Mais recentemente os arqueólogos desenterraram uma grande quan­tidade de tabletes, estimada em 20.000, gravados durante a primeira metade do segundo milênioa.C. em Nuzi. A 80 km a sudoeste da Babilônia, na área do templo em Nippur, algo como 50.000 tabletes datando dos 52 e 42 séculos a.C. foram encontrados. Dr Oppenheim afirmou que “uma biblioteca no nosso conceito, uma sistemática co­leção de textos, copiados com a finalidade de estar em uma coleção, existiu apenas na Mesopotámia”.E. C. Richardson, em sua obra Bib/icalLibraries, escrita em 1915, escreveu: “O fato é que existem

milhares ou até dezenas de milhares de coleções, contendo milhões de livros escritos ou documentos em locais bíblicos, em tempos bíblicos”.

As grandes bibliotecas dos mundos grego e romano foram reunidas depois do encerramento do período do AT. A maior parte da LXX prova­velmente foi produzida na grande biblioteca de Alexandria, na metade do 32 séc. a.C. As biblio­tecas da Igreja Primitiva, tal como a usada por Origines em Cesaréia, no 3S séc. d.C., não pertence ao período bíblico, e estão consequentemente fora do âmbito desse artigo.

No ano de 1947 ocorreu o que tem sido desig­nado como "a maior descoberta de manuscritos de todos os tempos”. Na maior parte, os milhares de tabletes encontrados em diferentes bibliotecas do Oriente Próximo não se relacionam diretamente com Israel ou aos registros de Israel no AT. Das cavernas nas montanhas no extremo nordeste do Mar Morto foi recuperada uma grande quantidade de rolos, completos ou fragmentados, que tratam da literatura do período intertestamentário, e con­tendo amostras de cada livro do AT exceto Ester. Esse corpo dos MSS foi reunido ou produzido pelos religiosos da comunidade de Qumrã entre

Uma grande quantidade de rolos, completos ou fragmentados, tratando do período inter-testamentário, foi recuperada das cavernas em torno de Khirbet Qumrã.A possível localização da biblioteca daquela comunidade de estudiosos está indicada neste mapa da área.

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BIBLOS / BICHO ou VERME 807

200 a.C. e 50 d.C. Alguns desses MSS, tais como Daniel e Isaías, foram escritos já em 165 a.C. Alguns deles nunca antes haviam sido vistos, pelo menos não inteiramente: Manual de Disciplina, Documento de Damasco, Guerra dos Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas, etc. A biblio­teca continha uma obra muito interessante em aramaico, Uma Descrição da Jerusalém Celeste. O maior tesouro foi o Rolo de Isaías, que é quase idêntico ao texto hebraico de Isaías, que tem sido usado tanto por judeus como cristão por séculos. A relação de todo esse material com a história de Israel, com a origem da Igreja Primitiva, com crítica textual do AT, etc., ocupará os estudiosos pelos anos vindouros.

BIBLIOGRAFIA. Em 1914 a famosa autoridade em bibliografia, Dr. E. C. Richardson, bibliotecário da Universidade de Princeton, escreveu uma obra sobre Biblical Libraries, que levou o sub-título, “A Sketch of Library History 3.400 a.C. a 150 d. C.”. Em uma forma abreviada, esta obra tornou-se a base de seu artigo sobre esse assunto na ISBE, vol. III, pp. 1882-1886. Quase sessenta anos se passaram, de modo que essa obra necessita de cuidadosa revisão. Um grande mon­tante de material valioso pode ser encontrado no artigo sobre “Arqueologia”, de D. J. Wiserman em New Bible Commentary, 66-71. Veja também o artigo de O. Betz, “Dead Sea Scrolls”, em Interpreter 's Bible Dictionary, Volume I, pp. 790-802. Existe também material valioso no Ancient Mesopotamia (1964) de A. L. Oppenheim, e em The Bible and Archaeology de Sir F. Kenion. Existe muita informação detalhada em Archaeology’ and the Bible (1961), de G. F. Owen, e em um artigo de M. Jastrow, “Did the Babylonian Temples Have Libraries?” JAOS (1906), 27. 147-182.

A literatura sobre os DSS é enorme. Sugere-se a se­guinte: M. F. Cross Jr., The Ancient Library o fQimiran; J. Van der Ploeg, The Excavations at Qmnratr, M. Mansoor, The Dead Sea Scrolls (1964).

W. M . Smith

BIBLOS. Nome grego da cidade de Gebal.

BICHO ou VERME. Cinco palavras hebraicas e uma grega são traduzidas como bicho ou verme na KJV (worm) e em muitas outras VSS em inglês, e este tratamento geralmente é considerado correto; elas são traduzidas de maneira variada nas VSS em português. Tentaremos identificar as palavras em alguns contextos, mas isto não é fácil, pois as palavras na maioria dos idiomas são vagas, apli­

cadas até mesmo num sentido semitécnico a uma grande gama de animais. Em inglês, por exemplo, é aplicada a membros de quatro famílias inteiras (incluindo platelminto, nematelminto, etc.) como também a larva de besouro, lagartas, e até mesmo a uma espécie de (lagarto, lagartixa, camaleão)— a cobra-de-vidro. Além disso, a palavra tem um uso figurativo não específico, como quando uma pessoa é chamada de verme. Esse uso é encontrado em várias passagens, por exemplo, Isaías 41.14: “Não temas, ó vermezinho de Jacó”.

1. (Mq 7.17, KJV worm; ASV, RSV, cra- wling things [“coisas que rastejam”] ARA, ARC, “répteis”; NVI, “animais que se arrastam pelo chão”; BJ, “animais que rastejam sobre aterra”; Dt 32.24, KJV serpents; ARA, ARC, BJ, “serpentes”; NVI, “víboras”). A expressão da KJV, move out o f their holes like worms o f the earth (movem-se para fora de suas tocas, como vermes da terra”) sugere a alguns comentaristas o hábito da minhoca de ficar à noite no chão, quando o orvalho cai; isto é improvável à luz da tradução da RSV, que anexa crawling things (ARA, ARC, “répteis”; NVI, BJ, “animais que se arrastam/rastejam”) à frase pre­cedente e começa uma nova sentença: They sall come trembling out o f their strongholds (“Eles virão tremendo para fora de suas fortalezas”; ARA, “como répteis da terra, tremendo, sairão dos seus esconderijos”). É melhor considerar am similar ao inglês creepy crawly (“que rasteja e se arrasta”),i.e. não específico.

2. □□ (worm, todas as VSS em inglês; Is 51.8, ARA, ARC, “bicho”; NVI, “verme”; Bj, “larva”). ARA, Isaías 51.8: “Porque a traça os roerá como a um vestido, e o bicho os comerá como à lã”. O contexto pode sugerir, a princípio, que esta seja a larva da traça de roupas, e muitos comentaristas aceitam isto. Contra isso, é habitual no AT e NT, no inglês corrente (e no português), falar da traça como o próprio destruidor, enquanto na realidade se trata da larva. Além disso, esta última vive num casulo pequeno de feltro, apenas com a cabeça ex­posta, e não é um vermiforme. E então possível que □D possa ser identificado com a barata ou algum outro inseto que destrói fibras. (Ver Traça).

3. y'7in (worm, todas as VSS em inglês. Uma vez, em Is 1.18, crimson [“carmesim”] , todas as VSS em inglês; ARA, ARC, BJ, “carmesim”; NVI, “púrpura”. Uma vez, em Lm 4.5, KJV, scarlet [escarlata]; RSV,purple [“púrpura”]; ARA, ARC, “escarlata”; NVI, BJ, “púrpura”). Encontrado ape­nas em Êxodo 16.20 (ARA, ARC, NVI, “biche/’; BJ, “verme”) em referência ao maná que, guardado para o dia seguinte, em desobediência às ordens

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808 BICRI/ BIGORNA

de Deus, “deu bichos e cheirava mal”. Mas cp. v. 24, referindo-se ao maná recolhido para o Sábado, que “nem deu bichos (nsi; BJ, “verme”)”. Uma explicação possível é que o primeiro termo refere- se a uma praga especifica, talvez de um tipo de mosca cujas larvas se transformariam rapidamente em uma massa fervendo nas altas temperaturas do deserto; o segundo é um termo mais geral, incluindo tanto o primeiro como também outros invasores potenciais.

4. nm (worm, todas as VSS em inglês, exceto maggot. Na RSV, em Jó 25.6 [KJV, worm, worm; RSV, maggot, worm; ARA, “gusano”, “verme”; ARC, “verm e” , “bicho” ; NVI, BJ, “larva”, "verme”] e Is 14.11 [KJV, worms, worms\ RSV, maggots, worms; ARA, “gusano”, “verme”; ARC, “bichinhos”, “bicho”; NVI, “larva”, “verme”; BJ, “verme”, “bicho”]). O único uso literal dessa palavra é discutido acima. E também usado seis vezes em contextos figurativos tão variados que este deve ser considerado um termo geral como a palavra verme.

5. nirtm, ns^in (worm, todas as VSS em inglês. Usado figuradamente uma vez em Jn 4.7 [ARA, BJ, “verme”; ARC, “bicho”; NVI, “lagarta”] e sei vezes figuradamente). O contexto sugere que este pode ser um termo geral para um grupo diferente de vermes, pois em dois casos esta palavra e nm são usadas juntas como pares contrastantes: “por baixo de ti uma cama de gusanos, e os vermes são a tua coberta” (Is 14.11; Jó 25.6). Porém, esta palavra tem outro uso muito mais freqüente. Ela ocorre vinte e sete vezes, às vezes qualificada por shani (vermelho) e em todos lugares é traduzida como “escarlate”, pois o contexto claramente indica uma cor. No hebraico são poucos os ad­jetivos para cor; sugere-se que a necessidade de um vocabulário sofisticado de tais palavras não surgiu, e tais cores eram referidos de acordo com as substâncias naturais das quais eram obtidas. Nessas passagens, então, m/Vin se toma sinônimo de “escarlate”, e em duas das suas três ocorrên­cias isso também ocorre com srrm. O inseto do qual essa tintura era obtida pertence aos coccidae (insetos homópteros e pseudo-cochonilhas), uma família com diversos outros produtores de tintura e também algumas das principais pestes das árvores frutíferas. A tintura escarlate vinha da Coccus illicis cujo planta hospedeira é a azinhei- ra, outrora muito abundante no norte da Palestina, mas agora muito reduzida. Esses insetos perfuram a casca fina dos ramos a fim de chupar a seiva, da qual eles preparam uma escama de cera para proteger seus corpos macios. A tintura está nessa

escama. O ingrediente ativo é ácido de quermes, e a tintura é uma das antraquinonas diidrodicen- toantraceno. É um vermelho amarelado em água e se toma um típico violeta em solução ácida. Tinturas sintéticas substituiram-na em grande escala. O inseto é muito pequeno, quase do tama­nho de piolho de planta, do qual é aparentado, e isso sugere que o sentido da raiz de n ^ in possa ser uma pequena larva.

6. QKCüXr]i; (worm, todas as VSS em inglês; Mc 9.48, At 12.23, ARA, NVI, BJ, “verme”; ARC, “bicho”). (Escólex é o termo usado para a solitária embrionária.) A primeira passagem é figurativa, mas não há necessidade de considerar a última como algo que não seja literal (veja A. Rendle Short, The Bible and Modem Medicine [1953], 66ss.) Um relato paralelo deste incidente é dado por Josefo. “... e (Herodes) foi comido por vermes e morreu”. Há várias maneiras pelas quais vermes intestinais poderiam causar morte súbita mesmo hoje e uma sugestão adicional é que ele tinha um cisto de hidátide; esta é a fase alternada estalajadeira da parasita de cachorro.

Observação. Uma passagem famosa, canta­da no Messias de Handel, não é uma tradução correta. Na KJV a palavra worm está em Itálico e Jó 19.26 deveria ler: “depois de consumida a minha pele”.

BIBLIOGRAFIA. EBr, Vol. 13 (1951), 351, 352.G. S. Cansdale

BICRI (hebr. nm ). Uma forma gentílica do he­braico 132. Pai do benjamita Seba que se rebelou contra Davi (2Sm 20.1-22). O pai de um clã, os beritas (2Sm 20.14). O criador do clã do qual Seba descendia era Bequer (Gn 46.21; lCr 7.6-9). O termo, provavelmente, significa “primogênito”.

W. W hite Jr.

BIDCAR ( ip n , filho do que é perfurante [?]). Um oficial militar de Israel que apoiou Jeú em sua revolta e tomou-se capitão (2Rs 9.25). Era o con­dutor do carro de Jeú quando este matou Jorão.

BIGAMIA. Veja Casamento.

BIGORNA (dííd). Palavra encontra somente em Isaías 41.7, onde há uma referência ao costume dos artífices de se encorajarem mutuamente com

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BIGTÃ/ BIMAL 809

o trabalho. A bigoma de metal era presa a uma armação de madeira ou ao solo para ficar estável. Era usada por vários artífices: ferreiros, ourives, latoeiros e sapateiros.

S . B a r a b a s

BIGTÁ (Nmü). Um dos sete eunucos camareiros do Rei Assuero. Ele lhes ordenou que trouxessem a rainha Vasti ao banquete do rei (Et 1.10). Pode ser o mesmo Bigtã de Ester 2.21 e 6.2.

BIG TÃ (ima, Ni-nn). Um dos dois eunucos de Assuero que tramaram contra a vida do rei . A conspiração deles foi descoberta e revelada por Mordecai (Et 2.21). Pode ser o mesmo Bigtá que aparece em Ester 1.10.

B IG VAI (’1J3). 1. Chefe de uma família que re­gressou da Babilônia com Zorobabel (Ed 2.2; Ne 7.7). Mais de duas mil pessoas o acompanhavam (Ed 2.14; Ne 7.19). Alguns membros dessa família vieram da Pérsia com Esdras (Ed 8.14; KJV, lEsd 5.14; 8.40).

2. Homem que selou a aliança com Neemias (Ne 10.16).

B IL A tn rfa ). 1 . Escrava dada por Labão a Raquel (Gn 29.29) e por esta a Jacó como concubina (Gn30.3,4). Isso foi feito porque Raquel era estéril e sentia ciúme de Lia, que era fértil (Gn 29.31-35;30.1-8). Bila deu à luz a Dã e Naftali para Jacó (Gn 30.4,7; 35.25; 46.25). Contratos de casamento nuzi do segundo milênio a.C. mostra que esse era o costume, que uma mulher estéril desse a seu esposo uma escrava por concubina. O fato de que Raquel desse os nomes às duas crianças mostra que ela as reivindicava como suas, de acordo com o costume da época. Mais tarde, Bila tomou-se culpada de incesto com Rúben (Gn 35.22).

2. Cidade do território de Simeão (lC r 4.29); provavelmente a mesma Balá (Js 19.3) e Baalá (15.29).

BILA (in^n) 1. O primeiro filho de Eser, chefe do clã horeu; tomou-se o progenitor de um subclã em Edom (Gn 36.27; lCr 1.42).

2. Um benjamita, filho de Jediael; o pai de sete filhos que se tomaram chefes das suas famílias em suas tribos (lC r 7.10).

BILDADE (Tta). Um dos três amigos de Jó que vieram confortá-lo na sua miséria, mas que, na ver­dade, aumentaram seus sofrimentos. Ele é chamado de “suíta”, provavelmente por ser descendente de um filho de Abraão e Quetura chamado Suá (Gn25.2), ou por ter sido membro de uma tribo aramaica que viveu no sudeste da Palestina (Gn 25.2,6).

Três capítulos completos (Jó 8,18 e 25) trazem os discursos de Bildade, nos quais ele se apresenta tormentoso, mas relativamente temo, ao enfatizar a justiça divina. Em seu primeiro discurso, ele sustenta que se os filhos de Jó foram mortos, isso aconteceu por causa dos pecados deles. Se Jó se arrependesse, Deus restituir-lhe-ia a prosperidade. Os tempos pas­sados mostram que Deus destrói o perverso e sustenta o justo. No segundo discurso, Bildade declara que os pecadores recebem apenas miséria nesta vida e de­sonra após a morte. No terceiro discurso, ele sustenta a majestade e a perfeição de Deus em supremacia à imperfeição de todas as coisas criadas.

S. Barabas

BILEÃ (nsto). Uma das cidades levíticas no ter­ritório de Manassés (lCr 6.70; ARC, “Bileão”). E provavelmente a mesma Ibleão (Js 17.11; Jz 1.27; 2Rs 9.27), identificada como a modema tell Bel’ameh, entre Samaria e Jezreel.

B ILG A (ru^a, esplendor). 1. Chefe da décima quinta sorte, ou classe, de sacerdotes do tempo de Davi (1 Cr 24.14).

2. Sacerdote chefe que voltou a Jerusalém com Zorobabel (Ne 12.5,18).

BILG AI ('J^a, alegria). Um dos sacerdotes que firmaram a aliança sob Esdras (Ne 10.8); prova­velmente, o mesmo Bilga 2.

BILSA talvez signifique inquiridor, ou seu senhor deles). Um dos onze ou doze líderes dos judeus que voltaram do cativeiro sob a liderança de Jesua e Zorobabel devido ao decreto de Ciro, rei da Pérsia (Ed 2.2; Ne 7.7). Em 1 Esdras 5.8 é chamado Belsarus, bêl sã ’ rus (BeeXaápoç, talvez do acadiano Belshar, Bel é rei; KJV, bê êT se rus).

C. P. Weber

B IM A L ('jnnn, significando talvez filho da circun­cisão). Um dos três filhos de Jafiete, descendente

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810 BINEÁ/ BISPO (ANCIÃO)

de Aser por meio de Berias e Héber. Chefe de famí­lia, líder e guerreiro da tribo de Aser (lCr 7.33).

BINEÁ (xm ). Filho de Mosa e neto de Zinri. Benjamita da linhagem de Saul, por intermédio de Jônatas e Meribe-Baal, arrolado em 1 Crônicas 8.37 e 9.43.

BINUI (TlD, de fflH, edificar). 1. Levita da era pós-exílica; pai de Noadias (Ed 8.33). A ele foi designada a tarefa de supervisionar a pesagem dos vasos de ouro e prata que Esdras trouxera da Babilônia.

2. Filho de Henadade e um dos reparadores do muro (Ne 3.24), chamado Bavai em Ne 3.18. Foi também um dos que selaram a aliança em Ne 10.9.

3. Ancestrais de alguns dos que retomaram com Zorobabel (Ne 7.15) e chamado Bani em Ed 2.10.

4. Ancestral de alguns dos que desposaram mu­lheres estrangeiras (Ed 10.38). Pode ser o mesmo Bani (Ed 10.34).

5. Levita que retomou com Zorobabel (Ne 12.8).

6. Um dos filhos de Paate-Moabe que se casou com uma mulher estrangeira (Ed 10.30). Alguns identificam-no com o do ponto 4 acima.

BIBLIOGRAFIA. M. Noth, Die israelitischen Per- sonennamen (1928), 38, 172.

W. C. Kaiser Jr.

BIRSA (yEna, com o significado provável de filho da maldade). Rei de Gomorra (Gn 14.2; Gênesis Apócrifo, XXI, 24) que, junto com seus aliados, rebelou-se contra Quedorlaomer, o rei de Elão e seus aliados. O rei de Gomorra e seus aliados foram derrotados. Mais tarde, Abraão derrotou Quedorlaomer resgatando os habitantes de Go­morra e também a seu sobrinho, Ló).

BIRZAVITE (rr na , qere; m nn kethibh; talvez com o significado de poço de azeitonas ou azeite de oliva). Filho de Malquiel e neto de Aser (lCr 7.31; BJ, “Barzait”). A modema Bir-Zeit, que fica c. 21km ao norte de Jerusalém, pode ter sido chamada pelo nome dele ou ter sido povoada pelos seus descendentes; outra possibilidade é que Bir- zavite não teria sido uma pessoa, mas uma cidade

fundada por Malquiel. De acordo com alguns, Birzavite deve ser identificada como Berzeto, a aldeia onde Judas Macabeu levantou seu último acampamento (Jos. Ant. XII. xi. 1).

BISLÃO (o'?ü’35 pacifico [?]). Um dos três ho­mens que escreveram uma carta de reclamação a Artaxerxes, rei da Pérsia, contra os judeus (Ed 4.7; lEsd 2.16; KJV, Belemus). A LXX traduz bishlam como “em paz”. Também foi sugerido que bishlam seria uma corruptela da forma original □7H7TT,n, cujo significado é “contra Jerusalém”. A carta, de fato, era contra os judeus de Jerusalém e queixava-se de que os judeus estavam recons­truindo a cidade.

BISPO (ANCIÃO) (è7tí<3K07i0ç, superintendente; Jtpea(3mepoç, alguém de mais idade, presbítero). No NT as duas palavras são intercambiáveis para o mesmo oficial das igrejas cristã.

I . O r i g e m d o s t e r m o s

A. Bispo. 1. Textos gregos clássicos.E7iícjK07t0ç é usado mais comumente para desig­nar um superintendente e, com menos freqüência, para designar um título de oficial. No grego ático, era usado para designar os comissários enviados para govemar as novas colônias ou cidades subju­gadas. No grego posterior, era usado para oficiais e inspetores responsáveis por diversos assuntos municipais e comerciais.

2. LXX. A palavra é freqüente na LXX. É aplicada a superintendentes ou mestres-de-obra de construções (2Cr 34.12,17; Is 60.17) e capitães de pequenos grupos (Ne 11.9,14,22); em 1 Macabeus1.51, aos inspetores que Antíoco Epifanes nomeou para obrigarem o sacrifício idólatra; e em Números 4.16a Eleazar, o filho de Arão, que era responsável pela vigilância do Tabemáculo. O substantivo fe­minino £jn<TK07ní também ocorre com freqüência, significando ora o trabalho, ora o ofício, de um èTiíCTKOJtoç (4.16 e SI 109.8, tal como citado sobre Judas, conforme At 1.20; ARA, Nm 4.16 “cargo”, SI 109.8 e At 1.20 “encargo”).

3. Os Rolos do M ar M orto. No Manual de Disciplina e no Documento de Damasco, é citado com muita freqüência um oficial da comu­nidade chamado de um ipan, o exato equivalente hebraico do grego e7ti<3K07t0ç, um inspetor ou

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BISPO (ANCIÃO) 811

superintendente. Ele era responsável por examinar e preparar candidatos ao ingresso na comunidade, ensinar as obras de Deus às massas, cuidar delas como um pai cuida de seus filhos ou um pastor de seu rebanho, supervisionar as transações comerciais e assuntos litigiosos (ÍQS 6.12-20; CDC 9.18-22; 13.7-19; 14.11-13). Até que ponto os sectários de Qumrã possam ter influenciado o desenvolvimento da Igreja Cristã, continua a ser uma questão de conjectura.

B. Ancião. A autoridade na direção de as­suntos locais é em muitas sociedades outorgada a um corpo de anciãos; tais eram os yepoixjía em Esparta e são os secretários de govemo hoje em dia. A designação jtpeapwEpoç era usada para se referir a oficiais de várias organizações cúlticas gregas, e também para os magistrados de aldeias no Egito. O uso da palavra para se referir a um ministro da Igreja Cristã, sem dúvida nenhuma tem origem judaica.

A autoridade dos anciãos foi reconhecida desde cedo na história de Israel. Moisés foi comissionado de transmitir a mensagem de Deus aos anciãos de Israel (Êx 3.16), e eles representaram o povo em importantes períodos do Êxodo (12.21; 17.5; 24.1). Foi dentre os anciãos que designou-se um conselho de setenta oficiais indicados para assistir Moisés na decisão de disputas (Nm 11.16; cp. Êx 18.12-26). Os anciãos tiveram contínua responsa­bilidade na vida de Israel, tanto na administração local quanto na nacional, desde o tempo de Josué até o de Esdras.

No NT, em particular nos evangelhos, encon­tram-se freqüentes referências aos anciãos judeus. Cada uma das comunidades judaicas contava com um conselho de anciãos, que arcava com res­ponsabilidades em questões civis e eclesiásticas. Eram eleitos pela comunidade e eram nomeados vitaliciamente em rito solene. O mais importante desses conselhos era o Sinédrio de Jerusalém, que atuava como a suprema corte dos judeus. Os anci­ãos não eram responsáveis pelo culto da sinagoga, mas havia assentos de honra destinados a eles e com freqüência os chefes da sinagoga eram eleitos dentre eles. A principal função dos anciãos era estudar e ensinar a lei, além de aplicá-la contra os transgressores. Eles acumularam um vasto volume de precedentes em interpretação da lei, conhecido como “a tradição dos anciãos” (Mc 7.3-5).

Na comunidade pactuai de Qumrã, os anciãos desfrutavam de um posto inferior apenas ao dos sacerdotes do seu Conselho Geral (ÍQS 6.9). Um conselho de “santos notáveis”, composto de três

sacerdotes e doze leigos tinha a incumbência de manter o padrão de verdade e justiça. Eles eram separados para essa função depois de uma prepa­ração que demandava dois anos (ÍQS 8:l-9:2).

II. Uso n o NT

O termo èní<jK07t0ç é aplicado uma vez a Cristo (lPe 2.25); em outros lugares refere-se a líderes humanos da Igreja.

A. Desenvolvim ento do m inistério na Igreja Primitiva. Os primeiros líderes re­conhecidos pela Igreja Cristã foram os apóstolos, responsáveis não apenas pela pregação (At 2.14), pelo ensino (2.42) e pela disciplina (5.1-1), mas também pela distribuição de comida e dinheiro (4.34-37). Com o crescimento da Igreja de Je­rusalém, surgiu a necessidade de oficiais que se encarregassem desses assuntos práticos e, dessa maneira, sete foram escolhidos e indicados para “servir às mesas” (6.1-6). Esses muito provavel­mente foram os primeiros diáconos, mencionados subseqüentemente em Filipenses 1.1 e em 1 Timóteo 3.8-13. Existiu, mais tarde, na igreja em Jerusalém, um grupo reconhecido de presbíteros (At 11.30). Esses homens, juntamente com os após­tolos, constituíam o Concilio de Jerusalém, perante o qual eram levadas demandas para julgamento (At 15.2,4,6,22,23; 16.4). Paulo e Bamabé, depois de completarem suajomada missionária, retomaram, e elegendo presbíteros em cada igreja (At 14:23). Posteriormente, Paulo escreve sobre um amplo conjunto de ministérios fundamentados nos dons do Espírito Santo: apóstolos, profetas, evange­listas, pastores, mestres, operadores de milagres, pessoas que tinham o dom da cura, do socorro, do govemo, de falar em variedades de língua e interpreta-las (1 Co 12.28-30; Ef 4.11). Parece que o apóstolo se refere nessas listas mais à função do que à posição oficial. Os profetas eram de parti­cular importância na continuação do trabalho dos apóstolos na proclamação da mensagem de Deus, e na exortação e estímulo dos cristãos. Seu ministério poderia ser itinerante (At 11:27) ou local ( ICo 14). Nas igrejas locais parece provável que profetas, pastores e mestres fossem todos nomeados para o ofício singular de presbítero. Os que tinham o dom de socorro e de govemo podiam, da mesma forma, ser encontrados entre os diáconos.

B. A identidade dos bispos e pres­b íteros no NT. A evidência do NT para se identificar o ofício do bispo com o do presbítero

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812 BISPO (ANCIÃO)

é substancial: 1. Paulo chama os presbíteros da igreja em Efeso para se encontrarem com ele (At20.17). Quando se dirige a eles, diz que o Espírito Santo os “constituiu bispos” (At 20.28). 2. Em Filipenses 1.1, Paulo se dirige a “todos os santos... inclusive bispos e diáconos”. Se, de fato, existiram três graus distintos de ofício, parece inacreditável que a segunda ordem, a dos presbíteros ou anciãos, fosse ignorada. 3. Paulo descreve as qualificações para o episcopado (lTm 3.1-7) e, em seguida passa a descrever as do diaconato (vv. 8.13) sem mencionar as dos presbíteros, ainda que existissem presbíteros em Éfeso (lTm 5.15). 4. Paulo escreve a Tito: “te deixei em Creta, para que... em cada cidade, constituíssespresbíteros, conforme te pres­crevi: alguém que seja irrepreensível... Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus” (Tt 1.5-7). Essa passagem parece conclusiva.

O t e r m o S 7 iía K 0 7 t0 Ç n u n c a é a p l i c a d o a u m

p r e g a d o r i t i n e r a n t e , m a s a p e n a s a u m l í d e r lo c a l

d a v i d a c o n g r e g a c i o n a l . O f a t o d e o t e r m o s e r

u s a d o a p e n a s n a s i g r e j a s d e l í n g u a g r e g a p o d e

i n d i c a r u m a o r ig e m g r e g a d o m e s m o , s e n d o m a i s

f a m i l i a r c o m o in d i c a t i v o d e o f i c i a l a to d o q u e o

t e r m o t i p i c a m e n t e j u d e u 7 tp e a (3 t)T E p o ç .

C. As qualificações e responsabilida­des de um bispo-presbítero. As qualifica­ções de um bispo estão enumeradas em 1 Timóteo3.1-7 e em Tito 1.5-9. Deve ter um caráter justo e irrepreensível, dentro e fora da Igreja. Deve ser ponderado, honrado e temperante; não um bêbado, nem violento, briguento, irascível, arrogante ou cobiçoso; mas, deve ser gentil ao lidar com os homens e santo na vida diante de Deus. Sua vida familiar é importante: deve ser casado apenas uma vez, ter uma casa bem ordenada e filhos disciplinados. Deve ser hospitaleiro e capaz de ensinar; deve ser maduro em seu conhecimento da fé, ser firme na propagação da doutrina e capaz de transmiti-la a outros, além de refutar aqueles que se opõem à verdade.

Essas qualidades indicam também as áreas de responsabilidade dos bispos. Eles exercem principalmente um duplo ministério — como administradores e instrutores. Essas duas funções podem ser comparadas ao trabalho de pastores e mestres. Estão indicadas em 1 Timóteo 5.17: “Devem ser considerados merecedores de dobra­dos honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino”. Com base nesse versículo, argumen­ta-se que embora todos os presbíteros presidam,

nem todos pregam ou ensinam. Todavia, essa argumentação é duvidosa. Paulo está na verdade dizendo que aqueles que trabalham duramente e que se afadigam nessa esfera de sua responsabi­lidade são especialmente merecedores de honra. Mesmo sendo permitido que alguns presbíteros não exercessem a missão de ensinar, não há base nesse versículo para se supor que as obras de administração e ensino fossem realizadas por diferentes membros do conselho de presbíteros. Os presbíteros também tinham responsabilidades pastorais, tais como fazer orações pelos doentes e ungi-los com óleo (Tg 5.14).

D. A nomeação dos bispos presbíte­ros. O NT não esclarece qual era o processo de escolha dos oficiais. No caso de Matias foi por lançar sortes entre os dois candidatos (At 1.26). No caso dos sete, foi evidentemente por voto popular (6.3-5). A escolha de presbíteros (14:23) parece ter sido feita por Paulo e Bamabé, embora a opinião local possa ter sido consultada (16.2). Assim também deve ter se passado em Efeso e em Creta, onde a nomeação final parece recair exclusivamente nas mãos de Timóteo e de Tito (lTm 5.22; Tt 1.5).

Sempre que um texto bíblico relata cerimônia de ordenação ou nomeação, registra-se a imposi­ção de mãos, mas não se pode dar uma resposta simples a esta pergunta: “Mãos de quem?”. No caso dos sete, eram as mãos dos apóstolos. No caso de Paulo, as mãos impostas sobre ele numa cerimônia que pode ter envolvido nomeação como também cura e confirmação, foram as do humilde discípulo Ananias (At 9.15-17). Quando Bamabé e Paulo foram enviados para sua tarefa missionária especial, as mãos impostas sobre eles foram as dos seus companheiros profetas e mestres em Antio- quia (13.3). No caso de Timóteo, Paulo se refere ao dom de Deus sobre Timóteo, pela imposição das mãos do próprio Paulo (2Tm 1.6) e também à imposição das mãos dos presbitérios (lTm 4.14). A imposição das mãos de Paulo pode ter sido uma confirmação, mas o contexto induz ordenação. Se for assim, muito provavelmente que os dois repre­sentam um único evento, e Paulo teria imposto as mãos sobre Timóteo na companhia dos presbíteros. O Bispo Gore (The Church and the Ministry, 236) argumenta que a função da imposição de mãos, como uma concessão do Espírito Santo para a vida cristã ou para o ofício ministerial, seria peculiar da era apostólica, exclusivamente exercida pelos apóstolos; mas essa conclusão dificilmente pode ser garantida. O NT registra abundantes prece­

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BISPO (ANCIÃO) 813

dentes do direito de ordenação sendo exercido (1) pelos apóstolos, ou seus delegados representantes, como Timóteo e Tito; (2) pelo colégio presbiteral, ou (3) pelos que foram especialmente chamados por Deus para isso, como Ananias ou os profetas e mestres em Antioquia.

III. O D e s e n v o l v i m e n t o d o e p i s c o p a d o

m o n á r q u i c o

A. A era apostólica. No Concilio de Jeru­salém (At 15), Tiago atua como presidente. Ele precede a Pedro e a João na menção de Paulo (G12.9), recebe a visita de missionários (At 21.18) e, no Concilio, assoma com certo grau de autoridade (v. 19). Eusébio refere-se a Tiago como o primeiro bispo da sede de Jerusalém. Alguns afirmam que as epístolas pastorais mostram Timóteo e Tito na posição de bispos monárquicos em Efeso e Creta. Os anjos das sete igrejas (Ap 1-3) são considerados como os bispos das igrejas, mas é mais provável que eles simbolizem a contraparte celestial das igrejas.

B. A era pós-apostólica. Clemente de Roma, que escreveu por volta do ano 96 d.C., não faz uma clara distinção entre bispo e presbítero, mas Inácio, que escreveu no início do século 2-, exorta a necessidade de obediência ao bispo, o principal oficial de cada congregação local, apoia­do pelos presbíteros e diáconos, para manter a unidade da igreja. A causa desse desenvolvimento não pode ser determinada com exatidão. Clemente de Alexandria menciona um a tradição que diz que o Apóstolo João autorizou e desenvolveu o sistema episcopal na Ásia menor. Rothe e Gore consideram o episcopado como algo que surgiu a partir do ofício apostólico graças à autoridade apostólica. Parece mais provável que tenha surgido do ofício presbiteral, pela necessidade de um presbítero que assumisse a responsabilidade da igreja local, presidindo a Eucaristia, decidindo quais os pro­fetas e mestres que deveriam falar, ou mantendo relações com outras igrejas. Jerônimo afirma que foi para evitar os cismas que se desenvolveu a prática universal de eleger um presbítero para estar acima dos demais, com a responsabilidade de cuidar da igreja.

C. Desenvolvim ento posterior. Nos2r e 3- séculos, o conceito da função do bispo foi modificado. Enquanto para Inácio, o bispo era o centro de unidade da igreja local; para Irineu, ele era aquele que, em virtude de sua descendência

apostólica, poderia garantir a continuidade da verdadeira fé apostólica. Na época de Cipriano, todavia, havia se desenvolvido um conceito sa­cerdotal do episcopado, e para ele o bispo era o vice-gerente de Cristo, o representante de Deus na congregação e o canal indispensável da graça divina. Esse conceito dominou o pensamento subseqüente da Igreja Romana.

IV. S i s t e m a s m o d e r n o s d e g o v e r n o

E C L E S IÁ S T IC O

A. Episcopal. A igreja é comandada por bispos, que se encarregam, não apenas de uma única congregação local, mas de uma diocese com muitas igrejas. Apenas o bispo tem direito de orde­nar, e ele pode ordenar para qualquer um dos três ministérios: bispos, sacerdotes (presbíteros) e diá­conos. Os católicos romanos e anglicanos insistem que os bispos são sucessores dos apóstolos. Outros reivindicam um episcopado histórico cuja tradição remonta a muitos séculos. Outros não reivindicam uma sucessão histórica, mas chamam de bispos os ministros eleitos, que as lideram, bispos.

B. Presbiteriana. O termo “bispo” não é utilizado, mas é feita uma distinção entre os pres­bíteros docentes e os que presidem (lTm 5.17). O presbítero ou ancião docente sua supervisão, pela pregação da Palavra e pela ministração dos sacra­mentos. Ele é ordenado, pela imposição de mãos de outros presbíteros docentes, para o serviço de toda a igreja. O presbítero que preside é escolhido pela sua congregação local, e é ordenado para o ofício pelo seu presbitério local. Existe paridade entre os presbíteros docentes, e alguns entendem que tal paridade se estende também aos presbíteros que presidem.

C. Congregacional. Os únicos oficiais re­conhecidos são os pastores e diáconos. Em geral, a autoridade recai nas mãos da congregação local. A ordenação de pastores não comunica nenhum dom especial da graça, mas é um reconhecimento do chamado e capacitação de Deus à supervisão espiritual de uma congregação local.

BIBLIOGRAFIA. J. B. Lightfoot, Philippians (1868), 93-97, 179-267; E. Hatch, The Organization o f Earlv Christian Churches (1881); C. Gore, The Church and the Ministry (1910); A. vonHamack, The Constitu- tion and Law o f the Church in the First Two Centuries (1910); H. B. Swete, org., Essays on the Early Histoiy o f the Church and the Ministry (1918), 57-214; H. W.

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814 BITIA / BITÍNIA

Beyer, ÈJtíoKOTtoç, in Kittel, TWNT II (1935, trad. Bromiley, 1964); K. E. Kirk, org., TheApostolicMinistiy (1946), 113-303; T. W. Manson. The Church s Ministry (1948); K. M. Carey, org., The Historie Episcopate (1954); T. F. Torrance, Royal Priesthood (1955); J. K. S. Reid, The Biblical Doctrine o f the Ministiy (1955); L. Morris, Ministers ofG od (1964).

D. G. Stewart

B IT IA (rpm, filha de Jeová). Filha de Faraó, que casou com Merede, descendente de Judá (lC r4.17). Não está claro se, nesse caso, o termo faraó se refere a um rei egípcio ou se é um nome próprio hebraico.

BITINIA. A Bitínia fica no noroeste da Ásia me­nor. É um território montanhoso, bem irrigado, dotado de vales planos e férteis, boa madeira de lei, pedras para construção, frutas e grãos e exce­lentes condições portuárias. A Bitínia limitava-se ao norte pelo mar Negro, a oeste pelo estreito de Bósforo e pelo Proponto (mar de Mármara). Ao sul, com a Frigia e com a Galátia, e ao leste com a Paflagônia.

Os bitínios originaram-se dos trácios, uma linhagem vigorosa que adentrou a história no 6a século a.C. Devido à sua coesão e isolamento, os

bitínios mantiveram uma certa medida de indepen­dência mesmo sob o regime dos persas e de seus sucessores selêucidas. Em 297 a.C., foi fundada uma dinastia que se manteve por dois séculos, até que o último governante da linhagem real dos trácios legou seu reino a Roma em 74 a.C.

O progresso foi evidente durante tal dinastia. Cidades importantes, comércio e um considerável grau de helenização marcaram o país. Pompeu, uniu a Bitínia e o Ponto, quando buscou organizar o território deixado em legado, em 64 a.C., como parte da colonização que promoveu no Oriente. Nos primórdios do Império, a Bitínia era uma província senatorial, mas logo se tomou esfera de influência pessoal do próprio Imperador. As dificuldades financeiras das cidades, talvez mui­to proeminentes na organização de Pompeu, e o significado estratégico da região devido aos seus importantes portos e estradas, contribuíram para o interesse do Império. Sob Marco Aurélio, a área tomou-se formalmente uma província imperial.

Um dos emissários do Império para governar a Bitínia foi Plínio, o Moço. que atuou como governador, dos anos 110 a 112 d.C. O govemo de Plínio tomou-se famoso devido a um volume de sua correspondência com Trajano que foi preservado (Vol. 10 das Cartas de Plínio). Nesse volume encontramos informações sobre a Bitínia, seus problemas e sua administração, ao lado de

Mar Negro

Filipos

Tessalônica

Trôade

Pérgamo" Tiatira

Filadélfia IcônioEsmirna

ListraLaodicéia

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BITROM / BLASTO 815

uma nota sobre a minoria cristã e o envolvimento com os problemas na aplicação de leis anticristãs (Cartas de Plínio 10.96,97). Não se sabe como o Cristianismo se estabeleceu na Bitínia. Paulo foi impedido de visitar a área (At 16.7), mas Pedro (lPe 1.1) sabia da existência de uma igreja ali que, na época de Plínio, era de um grupo poderoso.

BIBLIOGRAFIA. CAH, XI, cap. XIV (1936); H. A. M., Jones, Cities o f the Eastern Roman Provinces, cap. VI (1937); E. M. Blaiklock, The Christian in Pagan So- ciety (1951); M. Rostovtzeff, The Social and Economic History o f the Roman Empire, 2 vols. 2". org. (1957).

E. M. B l a i k l o c k

BITROM (XT\Tü.,fenda, ravina ou manhã). A ARC considera “Bitrom” (KJV, ASV, “Bithron”) como nome de um vale (adotado, talvez, em razão de seu aspecto geográfico) que levava ao oriente do Jordão. Por esse vale marchou Abner, comandan­te do exército de Isbosete, juntamente com seus homens, após cruzarem o Jordão em direção a Ma- anaim depois das primeiras derrotas que sofreram por Joabe, comandante das tropas de Davi (2Sm2.29). A ARA, NVI e BJ traduzem essa palavra por “manhã” (RSV, “forenoon”) em oposição a “noite”. Veja “The meaning of Tnra” de W. R. Amold, AJSL, n2 28 (1911-12), 274-283.

BIZIOTIÁ (rrnvn). De acordo com o TM, cidade no Neguebe, distrito de Judá (Js 15.28). A LXX traz “e suas filhas” (i.e., “e suas aldeias”), uma tradução possível (e provavelmente correta) com a troca de uma consoante no TM. ABJ traz “e seus arredores”.

BIZTA(xnn, talvez eunuco). Um dos sete eunucos camareiros que Assuero, rei da Pérsia, enviou à rainha Vasti (Et 1.10).

BLASFÊM IA. Cinco palavras hebraicas são traduzidas por blasphemy (“blasfêmia”) nas VSS em inglês (e, com algumas exceções, nas VSS em português). A mais comum delas é *171, usada ape­nas no piel,pael, com o significado de “injuriar”, “proferir insultos”; o segundo termo mais comum é i’N3, “desprezar”, “mostrar desrespeito”. Outros três termos menos usados podem ser encontrados:1. rpn, literalmente, “insulto”, “repreensão”; 2. nap, “desprezar”, ou, com freqüência, “amaldiço­

ar”, de acordo com o contexto; 3. TD, que é o termo hebraico geralmente traduzido como “abençoar”, usado em poucas passagens como um eufemismo para “maldição”. Nessas passagens, a simples utilização do termo “amaldiçoar” constituiria blasfêmia (lRs 21.10,13; Jó 1.5,11). Blasfêmia é uma das mais sérias iniqüidades espirituais no AT, porque zomba do conceito predominante em toda a história e lei do AT, e também o nega, que é o conceito da soberania do Criador. Mais do que qualquer outro ato do homem, a blasfêmia extirpa a distinção fundamental entre Criador e criatura, sobre a qual todas as ordens lei cósmica estão ba­seadas. Esse crime era considerado tão horrendo que várias passagens do AT, contendo os nomes de divindades pagãs e mencionando discursos e atos contra Jeová, foram revisadas para atenuar a mal­dade das palavras, de maneira que essas menções não fossem interpretadas como desrespeitosas. O nome de Deus no AT era a revelação pessoal do caráter do próprio Deus e, assim, difamar ou desonrar o nome sagrado, o tetragrama (J/Y H W H = Yahweh), era o mesmo que rejeitar a graça e o poder de Deus. No NT, foi utilizado o termo grego (3Xaa()>rpécú, que significava, na literatura clássica, “manchar a reputação de alguém”, e por extensão passou a significar blasfêmia contra a Divindade. Nos cultos pagãos, isso não era apenas um ato de impiedade, mas também de traição contra o Estado, como no caso de Sócrates. Na LXX, esse termo é extendido aos utilizados no AT, sendo-lhe atribuída significação puramente religiosa. No NT, a blasfêmia pode ser dirigida não apenas contra o Todo-poderoso (Ap 16.11), mas também contra o Messias, o Cristo (Tg 2.7), o Espírito de Deus (Mc3.29), o nome de Deus (Rm 2.24), os mensageiros de Deus (2Pe 2.10), e contra os atos redentivos re­alizados por Deus em favor de seu povo e bens que lhes concede (Rm 14.16). Infelizmente, nenhuma dessas VSS são consistentes no tratamento que dão a esses termos. O substantivo grego |3>.aa(t>ri|iía, é aplicado relativamente a qualquer injúria e di­famação, seja aquela proferida contra os homens (Ap 2.9), e contra o diabo (Jd 9), como também contra Deus. Todo juízo difamatório é proibido na Escritura pela razão básica de que o julgamento pertence somente a Deus (Mt 5.33-37).

W. W hite Jr .

BLASTO (BlácjToç, nome próprio derivado do substantivo B ^occjtóç, botão ou broto). Camareiro de Herodes Agripa I, mencionado apenas em Atos 12.20. Quando, dominado pela ira, o rei cortou o

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816 BOÃ / BOAZ

abastecimento de comida de Tiro e Sidom, uma delegação de cidadãos tírios e sidônios se dirigiu a Cesaréia pedindo paz. Eles “persuadiram” Blasto, sem dúvida com um generoso suborno, a induzir Herodes a lhes conceder audiência. Como oficial encarregado da câmara particular de Herodes, uma posição que envolvia elevada honra e intimidade, ele estava em posição de influenciar favoravel­mente Herodes.

BOA (ira, significado incerto; têm-se sugerido cobrir, fechar ou manusear). Um marco de pedra que delimita a fronteira nordeste entre Judá e Benjamim, próximo de Jericó (Js 15.6; 18.17).

A presença dessa pedra de Boã, que é chamado “o filho de Rúben”, pode significar que em deter­minada época os descendentes da tribo de Rúben habitaram temporariamente o canto nordeste do território de Judá, antes dos assentamentos defi­nitivos de fronteira feitos por Josué.

A. J o h n s o n

BOANERGES (Boavripyéç, Boavspyéç, Ba- vripeYÉç). Sobrenome interpretado como tendo o significado de “filhos do trovão” e dado por

Jesus a Tiago e João, filhos de Zebedeu, na época em que foram escolhidos como apóstolos (Mc3.17). O significado da raiz da palavra é incerto. Marcos a traduz sem mostrar por que o termo era apropriado. Para Jerônimo, tratava-se de uma referência à ardente eloqüência deles; para outros, às suas ardentes disposições. Pode ser que eles tivessem sido, em uma determinada época, zelotes ou revolucionários. Talvez o epíteto fosse reflexo da mitologia antiga sobre os Dióscoros (gêmeos celestiais), filhos de Zeus ou do trovão.

S. B a r a b a s

BOAZ(ua, LXX, Bóos, vivacidade, agilidade). 1. Rico fazendeiro de Belém, parente de Elimeleque e de Noemi e bisavô de Davi. Boaz é bem conhecido na Bíblia por causa do tratamento que deu a Rute, a moabita, viúva do filho de Elimeleque, Malom. Noemi foi para Moabe com seu marido e dois filhos, na época de uma fome severa (durante o período dos juizes). Em Moabe, seus dois filhos se casaram com mulheres moabitas, mas subseqüen­temente, os dois irmãos morreram, bem como seu pai. Noemi encorajou suas noras a voltarem para seu povo, mas Rute se recusou. Quando Noemi voltou a Belém, Rute a acompanhou. As duas

O campo de Boaz, próximo a Belém. © M.RS.

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BOCA / BODMER, PAPIROS DE JOÃO DE 817

chegaram na época da colheita, pelo que Rute tirou proveito de um costume israelita e saiu para colher espigas. Sua boa sorte foi começar nos campos de Boaz, onde ela foi instruída a permanecer durante toda a colheita.

Noemi instruiu à sua nora no costume da lei do levirato, que fazia provisão de um goel, ou parente resgatador, para proteger o nome e a herança de um homem morto. O rito se iniciava quando a mulher se deitava aos pés do goel. O apelo foi feito a Boaz que provou ser o segundo na linha de su­cessão. Na manhã seguinte, ele providenciou para que o assunto fosse tratado no portão da cidade, local onde esse tipo de questão era solucionado. O homem mais velho não quis “prejudicar a sua própria herança”, desposando uma moabita. Boaz logo em seguida comprou toda a propriedade que pertencia a Elimeleque e a seus filhos e tomou Rute como mulher.

Boaz pode ser considerado um modelo de pie­dade e benevolência. Rute, um modelo de virtude e devoção. Apesar da proibição que impedia que um moabita pertencesse a Israel por dez gerações, Rute aceitou a religião e os costumes de Israel ao acompanhar Noemi. Boaz, que na verdade era parente de Elimeleque, e portanto tinha a respon­sabilidade de desposarNoemi, considerou que essa responsabilidade se estendia a Malom e tomou sua viúva como esposa. A conseqüência feliz da história é que Rute e Boaz foram os bisavôs de Davi, que encontrou pronto refúgio em Moabe, quando fugia de Saul.

2. Nome de uma das duas colunas de bronze, de Salomão, localizadas em frente do templo. A coluna localizada no lado norte era chamada de Boaz e a outra, no sul, de Jaquim. As duas eram magnificamente adornadas com capitéis de obra de lírios (lRs 7.21; 2Cr 3.17).

BIBLIOGRAFIA. Rute 2.1-23; 3.2-7; 4.1-21, H. P. Smith, Olá Testament History, 398.

J. J. E dwards

BOCA (“D; in; yni; cruó|ia), a cavidade situada no início do sistema digestivo, localizada entre as mandíbulas e quem leva à faringe (garganta). Contém os dentes, gengivas e língua. Nela são lançadas as secreções das glândulas salivares, isto é, das glândulas parótidas, submaxilares e das sublinguais. Essas secreções contêm enzimas para a digestão do alimento. A boca contém os órgãos do paladar. Também serve para mastigação e im­pregnação do alimento com saliva, para respiração,

articulação da fala, expectoração e sucção. Na verdade, uma das mais surpreendentes afirmações feitas ao escritor, como estudante de medicina, foi que a boca é, sem exceção, a parte mais suja do corpo humano. Isso é verdade por diversas razões: (1) é o fato reconhecido que não se pode esterilizar a boca com qualquer produto de higiene bucal, sem destruir os tecidos da mucosa; (2) após a escovação dos dentes, sempre permanece alguma bactéria e detrito neles; (3) os nutrientes que entram na boca humana são bons meios de cultura para bactérias em desenvolvimento, e que são produtoras de doenças nos homens; (4) a saliva na boca tende a impedir o desenvolvimento de quaisquer bactérias, exceto aquelas que produzem doenças no homem. Uma ilustração disso é o fato observado de que uma mordida humana, por inocular bactérias es­pecialmente virulentas para o homem, constitui em geral o tipo de ferimento mais infectado com que um cirurgião precisa tratar. Isto constitui uma base física para racionalizar a afirmação de Cristo aos seus discípulos: “Mas o que sai da boca, vem do coração, e é isso que contamina o homem” (Mt 15.18). Isso é mais explanado em Mateus 15.19,20; Marcos 7.15,18-23; Romanos 3.14, com respeito à sua aplicação ao reino espiritual.

Além do mais, a palavra “boca” é usada de forma figurada como uma entrada tal como a “boca da cova” (Js 10.27), “boca da sepultura” (SI 141.7), “boca do saco” (Gn 42.27) e “boca do poço” (Gn29.10). E usada metaforicamente em referência à soberania absoluta de Deus no decreto de suas palavras de julgamento, como nas frases “com a vara de sua boca” (Is 11.4) e “sai da sua boca uma espada afiada” (Ap 19.15).

BIBLIOGRAFIA. B. J. Anson, “Mouth” Ebr (1963), XV, 908; P. E. Adolph, Missionary Health Manual(1964), 126, 127.

R E. A dolph

BOCRU (ran , de significado incerto, talvez pre­coce, jovem; a LXX usa o substantivo TípcoxÓTOKOÇ a m o í, “seu primogênito”). Um dos seis filhos de Azei, benjamita e descendente de Saul pela linha de Jônatas e Meribe-Baal (lC r 8.38; 9.44).

BODE EXPIATÓRIO. Veja A / a zf .l .

BODMER, PAPIROS DE JOÃO DE. Um con­junto de primitivos de papiros cristãos da coleção

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818 BODMER, PAPIROS DE JOÃO DE

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Folhas do Papiro Bodmer. © Fundação Martin Bodmer

de M. Martin Bodmer de Genebra, que começaram a ser publicados em 1954. Outros textos encon­trados no mesmo achado estão na Universidade do Mississippi, e um outro na Biblioteca Chester Beatty de Dublin. Dois textos são clássicos; os demais são cristãos, escritos tanto em grego como em copta. Eles incluem documentos bíblicos e também apócrifos, tal como a Natividade de Maria, a correspondência apócrifa de Paulo aos coríntios e a décima primeira Ode de Salomão, além de uma segunda cópia de Melito sobre a Páscoa (veja P a p i r o s d l C h e s t e r B e a t t y ) . Entre os documentos bíblicos em grego, encontram-se dois manuscritos contendo o evangelho de João (Papiro Bodmer II e XV).

O Papiro II foi publicado originalmente em 1956 contendo apenas os quatorze primeiros capí­tulos do evangelho. Dois anos mais tarde, apareceu também a parte remanescente, em alguns casos preservada em condições muito fragmentárias. O documento completo tomou-se disponível mais tarde em reproduções fotográficas. O documento contém 75 folhas no total, datado, de acordo com análise paleográfica, de c. 200 d.C. Apresenta uma série de características no modo de ser atado, o que o relaciona a códices de papiros primitivos.

As divisões do texto em capítulos ou seções são indicadas pela projeção da primeira letra na margem da folha, enquanto a última parte da linha anterior permanece em branco. Essa característica é semelhante nos outros papiros da coleção Bo­dmer. Em ambos os casos, tal sistema de divisão

é semelhante nos evangelhos aos sistemas mais desenvolvidos encontrados em D e no Códice Freer preservados em Washington. O texto do evangelho no Papiro Bodmer II fez com que os especialistas nesse terreno se deparassem com uma série de problemas, até aqui sem paralelo; tais problemas não têm ainda uma explicação comple­ta, mas podem proporcionar novos avanços para a complicada história do texto dos evangelhos. Nos manuscritos gregos do Evangelho de João, há dois principais tipos de textos antigos a serem diferenciados: um é similar ao B, e o outro, similar ao texto do D e do Aleph. Recentemente, M-E. Boismard afirmou ter identificado um terceiro tipo discemível pelo testemunho ao Diatessarão, e das antigas VSS influenciadas por ele, e também em João Crisóstomo. Esse terceiro tipo é notável devido às suas leituras curtas. Nas descobertas anteriores de papiros, parecia razoável identificar o novo texto com um dos dois tipos atestados de MSS. O Papiro de Bodmer II, todavia, não se revela aparentado de qualquer um deles, mas em diversas seções se relaciona, ora com um, ora com outro. Isso também atesta as leituras previamente conhecidas apenas na versão de Taciano e na tradicional. Além disso, também atesta uma série de esforços de aprimorar o estilo de acordo com a concepção corrente daquilo que é próprio nas obras literárias gregas.

O Papiro Bodmer XV foi publicado em 1961. Ele constitui um só documento com o Papiro Bo­dmer XIV. Juntos, tais papiros contêm os capítulo

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BOI / BOI SELVAGEM 819

3-24 do Evangelho de Lucas e 1-15 do Evangelho de João, distribuídos em 51 folhas, algumas bem preservadas, algumas fragmentadas. Esse docu­mento tem características de encadernação e de divisão textual semelhantes às do seu compnahei- ro, datado no início do 3S século, ou uma ou duas décadas antes. Nos dois evangelhos, o texto desse papiro apresenta um contraste evidente com o de seu companheiro. Apesar de apresentar um texto peculiar, apresenta uma forma dos evangelhos de fato próxima à encontrada no B. Tanto na orto­grafia quanto nas leituras, os dois se aproximam bastante. Isso, contudo, não permite a conclusão que o B seja uma cópia do Papiro Bodmer XV, mas é possível afirmar com certeza que o papiro mostra um texto que foi cuidadosamente transmitido no Egito, e talvez outros lugares, a partir de uma época muito anterior àquela da qual sua existência poderia previamente ser traçada, B então atesta um texto que não resulta de uma revisão efetuada no 3- século, como freqüentemente tem sido sugerido. Esses dois papiros, aproximadamente da mesma idade, são da maior relevância para a história do texto do NT. De um lado, porque a existência anterior do assim chamado texto Alexandrino é demonstrada pelo texto de publicação mais recen­te. De outro, a evidência do texto de publicação anterior mostra que o 2S século já conhecia tipos de textos que não tinham sido transmitidos de forma idêntica, e que havia leituras em grego, naquela época, posteriormente preservados em versões, ou em citações apenas. Embora essas duas posições tenham sido apresentas anteriormente, são agora supridas de prova documentária. Em outras pala­vras, o conhecimento de documentos ainda deixa os problemas de avaliação de textos de leitura e da preferência por um ou outro.

Entre as leituras nas quais os dois documentos concordam entre si, as seguintes são de especial interesse: João 1.28, Betânia (em vez de Betaba- ra); em 4.9, omitiu-se “porque os judeus não se dão com os samaritanos”; em 5.2, Betesda (e não Betzata); omitida a passagem de 7.53 a 8.11; em 12.40, está “mutilou” em vez de “endureceu” (com Aleph, Códice Freer e outros).

BIBLIOGRAFIA. Papyrus Bodmer II. Evangile de Jean, caps. 1-14 (1956); M. E. Boismard, “Le Papyrus Bodmer II”. RB LXTV (1957), 363-398; Papyrus Bodmer II. Supplement. Evangile de Jean, caps. 14-21 (1958); J. N. Birdsall, The Bodmer Papyrus o f the Gospel ofJohn. (1960); Papyrus Bodmer XIV-X V. Evangiles de Luc et Jean, 2 vols. (1961); Papyrus Bodmer 11. Supplément. Évangile de Jean, caps. 14-21. Nouvelle édition aug-

mentée et corrigée avec réproduction photographique complete du manuscrit. (caps. 1-21) (1962); C. M. Martini, II problema delia recensionalita de codice B alia luce dei papiro Bodmer XIV, (1966); C. L. Porter, “Papyrus Bodmer XV and the Text of Codex Vatica- nus”, JBL, LXXXI (1966), págs. 363-376; G. D. Fee, Papyrus Bodmer II: Its textual relationships and scribal characteristics (1968).

J. N. B irdsall

BOI. Veja G a d o .

BOI SELVAGEM (OiO, ARA, NVI, “boi selva­gem”; ARC, “unicórnio”; BJ, “búfalo”, exceto SI 92.10 “touro” e Is 34.7 “bois selvagens”; KJV, unicorn; ASV, wild-ox). Há concordância geral de que o verdadeiro boi selvagem, corretamente conhecido como auroque (Bos primigenius) é o □Kl da Escritura e é desafortunado que as VSS em inglês mais antigas e a ARC dê a ele o nome mítico de unicorn ou “unicórnio”. Esse animal esplêndido, agora extinto, era a espécie selvagem da qual o gado domesticado foi derivado. Era maior que a maioria das espécies modernas, e o touro era marrom-escuro, com chifres longos apontando para frente e para cima. Nos tempos pré-históricos o auroque vagueava por uma gran­de parte da Europa, Ásia Ocidental e Central e partes do Norte da África, incluindo o Egito onde já estava se tomando raro durante o reinado de Tutmés III (c. 1500 a.C.), que viajaria muito para poder caçar um. A última evidência documental egípcia data de c. de 1190 a.C. (Ramsés III), mas ainda é comum em Gezireh. Os reis assírios tam­bém caçavam-no pesadamente, mas sobreviveu nas partes menos habitadas da Mesopotâmia até alguns séculos atrás, possivelmente depois que o último espécime europeu registrado morreu em 1627 d.C. Ele desapareceu da Palestina muito antes da era cristã, e não há prova real da sua existência ali na era bíblica. Os contextos das nove ocorrências provêem algumas informações.— Números 23.22, “... cujas forças são como as do boi selvagem”. O auroque era o maior e mais poderoso animal selvagem ungulado então conhecido. Deuteronômio 33.17 fala dos chifres e o associa com um touro doméstico. Isaías 34.6,7 novamente o classifica como touros e outros animais limpos. Jó 39.9,10 claramente contrasta o boi selvagem com o gado doméstico usado para puxar o arado. Essas passagens são figuradas, mas elas implicam íntima familiaridade com o assunto

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820 BÓIA /BOLA

e deixam pouca dúvida de que o boi selvagem está sendo descrito, e também que foi nesta época um membro familiar da fauna das terras vizinhas, se não da própria Palestina.

BIBLIOGRAFIA. F. S. Bodenheimer, Animal and Man in the Bible Lands (1960); F. E. Zeuner, A History- of DomesticatedAnimais (1963), cap. 8.

G. S. C a n sd a l e

BÓIA. Veja N a v io s .

BOIEIRO (PASTOR) ( - ip in ,A m 7 .1 4 ; - r p : ,A m ó s

1.1 significando pastor ou criador de ovelhas; nsn, Gn 13.7,8 significando geralmente pastor; Pócjkovtcç, Mt 8.33; Mc 5.14; 7toi|j.f|V, Mt 25.32). Embora a palavra “boiadeiro” seja mais ampla no significado que “pastor”, as duas são alternadas freqüentemente na tradução da Bíblia. Ambas as palavras enfatizam a importante base agrícola da economia palestina e a função necessária do guardador de animais domésticos. A responsabi­lidade do pastor em cuidar do seus rebanhos era: 1) guia-los até áreas férteis; 2) assegurar que os rebanhos tivessem água; 3) protegê-los de animais selvagens e ladrões.

O AT usa três palavras (veja acima) que podem ser traduzidas como “boiadeiro” ou “pas­tor”. Ipl3 é usada apenas uma vez, indicando a ocupação de Amós antes de ter sido chamado para pregar. Tp] é usada somente duas vezes

Um boiadeiro e seu rebanho numa colina da ludéia. © Z.PH.

— uma para identificar a ocupação de Amós e outra (2Rs 3.4) para descrever a quantidade de tributo que Mesa, rei de Moabe, tinha de pagar ao rei de Israel. Em material ugarítico, um lp] era um alto oficial, entre os níveis sacerdotal e militar da sociedade, responsável pelas manadas imperiais. A terceira palavra hebraica nsn é a mais comum no AT, mas é geralmente traduzida como “pastor”.

Existem duas palavras gregas usadas para pastor no NT. BóaK O V xeç é traduzida na ARA, em Mateus 8.33 e Marcos 5.14, como “porqueiros”, como “boiadeiro”, enquanto a mais comum geralmente como “pastor”.

G . G ia c u m a k is J r .

BOLA. Esta palavra aparece apenas duas vezes na Bíblia.

1. W71, que pode ser uma “roda” ou “rolo”, encontra-se em Isaías 17.13 (ARC), “como a bola diante do tufao”. (ARA “pó”; BJ “hastes secas”; NVI “galhos arrancados” ).

A planta citada é a que se chama atualmente a Planta de Ressurreição, ou na Palestina, do gênero do amaranto, Anastatica hierochuntica. E membro da família cruciferae, chamada com freqüência de Rosa de Jericó, por causa da abundância dela ao redor da cidade. Essa planta perde anualmente suas folhas após a floração; os galhos se tornam encurvados e duros formando uma bola oca. Essa bola quebra no nível do chão com o vento, e então sai rolando leve como pena, distribuindo as sementes maduras na superfície do solo ao passar. Quando este junco prevalece, pode se ver grandes quantidades de “coisas que rolam” passando com o vento e fazendo bastante barulho.

Os peritos da universidade hebraica consideram “galgaF’ como a Gundelia tournefortii, membro da família do cardo, que certamente tem similaridade com a Anastatica.

W. E. S h e w el l -C ooper

2. HH em Isaías 22.18, onde o profeta, dirigin­do-se a Sebna, mordomo do rei Ezequias, prediz sua queda e exílio para a Assíria: “[O Senhor] enrolar-te-á num invólucro e te fará rolar como uma bola para terra espaçosa...” As palavras “te fará rolar” não são encontradas no texto hebraico original, mas são exigidas para dar sentido à pas­sagem. Em Isaías 29.3, a palavra 117 é traduzida como “derredor”.

S. B ara ba s

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BOLOS / BOLSA, TIPOS DE 821

BOLOS ( r n ?i). Provavelmente bolos com orifí­cios perfurados neles,como em alguns biscoitos (lRs 14.3). Veja Pão.

BOLSA (EM GERAL) Palavras usadas para traduzir vários termos hebraicos e gregos (KJV, bag, “saco”, “sacola”). A palavra hebraica mais comum é 0’3, “bolsa”, “bolsa de pesos” (Dt 25.13; Is 46.6); a palavra acadiana cognata, klsu, signi­fica “bolsa de dinheiro” e por associação é usada como eufemismo para o próprio “ouro”. Igual uso semântico aparece no AT (Is 46.6). A frase acadiana “aban kisi” significa um peso desonesto ou incorreto (Lambert, Babylonian Wisdom Lit. (1960), 132:108). Essa frase aparece também em Provérbios 16.11 e há frases similares em Miquéias 6.11 e Provérbios 1.14. Um termo menos comum é m s , traduzido na ARA como “saco” em Jó 14.17; “saquitel” em Provérbios 7.20 e em Ageu 1.6; entretanto, em 1 Samuel 25.29 e outras passagens similares é traduzido como “feixe”. Em Gênesis 42.35, a tradução, na ARA, como “trouxinha” é repetida duas vezes e obviamente é incorreta. E.A. Speiser o traduz corretamente como “bolsa de dinheiro” (Genesis, 1964). E impossível estabe­lecer uma diferença entre esta palavra e a palavra hebraica precedente. Em 1 Samuel 17.40,49, o termo hebraico é traduzido como “alforge” na ARA; embora seja comum no texto do AT, ocorrendo mais de 250 vezes, somente aqui é traduzido desta maneira. Nesta passagem, ele é explicado pela frase que aparece somenteaqui, no AT. E traduzida como “surrão” (em inglês, a tradução varia: KJV, scrip, “sacola”; RSV, wallet, “carteira”, “mochila”) “surrão”. O termo tn n é traduzido como “sacos” em 2 Reis 5.23; entretanto, em Isaías 3.22 é interpretado como “bolsa” (ARC, “alfinetes”). É mais provável que fosse um peça de vestuário, mas também é possível que haja uma relação com cnn, “buril” (Ex 32.4; Is 8.1). Foi interpretado na tradição rabínica como “manto”. No NT, há dois termos semelhantes. AKJV lê bag, “saco”, “sacola” (ARA, “bolsa”), para o termo gre­go paXXávTiov , somente em Lucas 12.33, onde é diferenciado do grego Jtf|pa, na KJV, knapsack, “mochila” (ARA, “alforje”, como em Mt 10.10). Nas outras passagens onde essa palavra ocorre, to­das em Lucas, é traduzida comopurse, “bolsa”, na KJV. Na passagem paralela de Mateus 10.9, é utili­zada a palavra Çgovti, “cinto”, “cinto de dinheiro”. O outro termo grego traduzido como “bolsa” {bag, na KJV) é Y^waaÓK0|i.0V, encontrado somente em João 12.6 e 13.29. É utilizado em referência

ao traidor Judas Iscariotes, como característica de sua posição de tesoureiro apostólico. Pensa-se que seja derivado de pequenos estojos onde se guardavam bocais e palhetas de instrumentos de sopro de madeira. Por extensão, eram usados tam­bém para guardar dinheiro e mesmo como ataúde. Esse termo é usado na LXX em passagens como 2 Crônicas 24.8 et al.; provavelmente aparece no Evangelho de João como tradução de algum termo hebraico ou aramaico.

W. White Jr.

BOLSA, TIPOS DE. Há três palavras gregas e três hebraicas usadas no AT e NT, que podem ser traduzidas como “bolsa”.

0’D, sacola, bolsa. Esta palavra se refere a uma sacola feita de algodão, couro ou na forma de cesta de junco flexível. Era usada, pelos comerciantes para carregar objetos pesados (Dt 25.13; Mq 6.11) ou dinheiro (Pv 1.14; Is 46.6).

0’in, sacola, bolsa. Essa era uma sacola feita de pele de animal ou outro material. O presente de Naamã, de dois talentos de prata, que ele trouxe para Eliseu, o profeta, foi colocado em duas saco­las como essas (2Rs 5.23; ARA, “sacos”). O uso da mesma palavra em Isaías 3.22, para descrever as bolsas das mulheres judias ricas sugere algum tipo de bolsa de tecido ornamentado ou mochila.

Tnx, pacote, embrulho, bolsa, sacola. Era algo amarrado como embrulho, ou pelo pescoço do paco­te, como uma algibeira. Era uma bolsa semelhante à trouxinha encontrada nos sacos de cereal dos irmãos de José (Gn 42.35). E provável que todos os tipos de bolsas fossem como uma sacola, presas pelo pescoço com tiras de couro ou cordões fortes feitos de outro material, e penduradas no ombro.

Pa^À.ávTiov, saco para dinheiro, bolsa. Essa palavra ocorre apenas em Lucas (10.4; 12.33;22.35,36) e é usada para descrever a bolsa usada pelos discípulos para levar dinheiro ou provisões, em suas viagens.

rXaxj<JÓK0(i0Ç, estojo para o bocal de uma flauta', estojo, recipiente, pequeno cofre. Essa palavra aparece apenas em João (12.6; 13.29) e é usada para descrever o recipiente (ARA, “bol­sa”) usado por Judas para guardar o dinheiro dos doze discípulos.

Zcòvri, cinto, correia, alforje. O cinto também servia como bolsa (Mt 10.10; Mc 6.8). O dinhei­ro era colocado nas dobras ou em uma algibeira presa ao cinto, muito parecida com os cintos para dinheiro dos dias atuais.

G. H. W a term an

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822 BOM, BEM, BENS

BOM, BEM, BENS. (ma; 2a1; á yaOóç; à ya- 9óv; KaÀóç, Ka?ióv). As palavras bom, bem e bens aparecem nas Escrituras centenas de vezes com uma ampla variedade de significados inter- relacionados cujas nuances freqüentemente se transmudam entre si.

A palavra “bom” é usada para expressar as seguintes idéias:

1. Gentil, gracioso: “Aqueles homens, porém, nos têm sido muito bons” (ISm 25.15). “Pois tu, Senhor, és bom e compassivo” (SI 86.5). “O Senhor é bom, é fortaleza no dia da angústia” (Na 1.7).

2. Proveitoso, vantajoso: “Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens” (Mt 5.13).

3. Adequado, apropriado: “O conselho que deu Aitofel, desta vez não é bom” (2Sm 17.7). “Não é boa a vossa jactância” (ICo 5.6).

4. Medida boa, considerável: “... boa medida recalcada, sacudida, transbordante...” (Lc 6.38).

5. Altamente considerado: “Melhor é a boa fama do que ungüento precioso”(Ec 7.1).

6. Agradável, amável: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer” (Gn 3.6). “... a palavra a seu tempo, quão boa é” (Pv 15.23).

7. Reto, justo: “vos ensinarei o caminho bom e direito” (ISm 12.23). “Ele te declarou, ó homem, 0 que é bom” (Mq 6.8). “... ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons”(Mt 5.45).

“Bem”, “bens” têm os seguintes usos:1. Possessões materiais, bens: “... e todos os

bens que haviam adquirido” (Gn 12.5). “E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os po­bres..,” (lCo 13.3).

2. Virtude moral: “não há quem faça 0 bem” (SI 14.1,3). “... quando souber desprezar o mal e escolher o bem (Is 7.15). “E por que não dize­mos, como alguns caluniosamente afirmam que o fazemos: Pratiquemos males para que venham bens?” (Rm 3.8).

As palavras traduzidas por goods, “bens”, na KJV são geralmente traduzidas de forma diferente na RSV, da qual seguem os seguintes exemplos KJV: The Lordshall make theeplenteoas in goods (“O Senhor far-te-á abundante em bens”); RSV: The Lord will makeyon abound in prosperity (“O Senhor far-te-á abundar em prosperidade”); ARA: “O Senhor te dará abundância de bens” (Dt 28.11). KJV: And he carried away ali his cattle, and ali goods which he had gotten (“E ele levou todo 0 seu gado e todos os seus bens, que tinha obtido”); RSV: and he drove away ali his cattle, ali his live stock which he had gained (“E ele levou embora

todo o seu gado, toda a sua criação que havia ad­quirido”); ARA: “levou todo 0 seu gado e todos os seus bens que chegou a possuir” (Gn 31.18). KJV: And they took strong cities, and a fa t land, and possessed houses fali o f ali goods (“E eles toma­ram cidades fortes e uma terra farta, e possuíram casas cheias de todos os bens”); RSV: And they captured fortified cities and a rich land, and took possession of houses full ofall good things (“E eles capturaram cidades fortificadas e uma terra rica, e tomaram posse de casas cheias de todas as coisas boas”); ARA: “Tomaram cidades fortificadas e terra fértil, e possuíram casas cheias de toda sorte de coisas boas” (Ne 9.25). KJV: He shall makehim ruler over ali his goods (“Ele fá-lo-á administra­dor sobre todos os seus bens”); RSV: He will set him over ali hispossessions (“Ele estabelecê-lo-á sobre todas as suas posses”); ARA: “Em verdade vos digo que lhe confiará todos os seus bens” (Mt 24.47). KJV: Father, give me the portion o f goods that falleth to me (“Pai, dê-me a porção de bens que me cabe”); RSV: Father, give me the share o f property that falls to me (“Pai, dê-me a porção de propriedade que me cabe”); ARA: “Pai, dá-me a parte que me cabe dos bens” (Lc 15.12). KJV: I am rich, and increased my goods (“Eu sou rico e aumentei meus bens”); RSV: I am rich, I have prospered (“Sou rico e prosperei”); ARA: “Estou rico e abastado” (Ap 3.17).

Na Bíblia, 0 bem supremo jamais é matéria de especulação, como era na antiga filosofia grega. Na Bíblia, o “bem” é considerado como felicida­de, prazer, conhecimento, etc. O próprio Deus é “O Bem”, e não existe bem à parte dele. Ele é a fonte de toda a bondade. Nenhum homem pode conhecer o Bem, a menos que conheça a Deus em um relacionamento correto e pratique a expressa vontade de Deus. “Ninguém é bom senão um só, que é Deus” (Mc 10.18).

Visto que Deus é bom, tudo 0 que ele faz é necessariamente bom (Gn 1). A desordem, a ruptura, 0 mal e o pecado que agora prevalecem neste mundo são o resultado da rebelião dos seres morais, criados originalmente bons.

A auto-revelação de Deus na história foi uma revelação progressiva acerca da sua bondade. Ele fez o homem segundo sua imagem e semelhança para comunhão com si próprio. Mesmo quando o homem desprezou na queda, 0 interesse amoroso de Deus no homem continuou; Deus demonstrou sua bondade ao tomar providências imediatas para desfazer os desastrosos efeitos da queda. A eleição de Israel como povo de Deus, o Êxodo, a outorga dos mandamentos, os muito livramentos

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BONDADE, BENIGNIDADE 823

que Deus promoveu em favor de Israel, a promessa e preparação para a vinda do Messias — todas foram evidências da bondade de Deus; da mesma forma foi a encarnação, a morte expiatória de seu Filho, a Ressurreição, o Pentecoste.

As Escrituras deixam claro que a história não acontece por acaso, mas que Deus está executando um plano na história — a consumação de todas as coisas em seu Filho Jesus Cristo. Nesse plano, os filhos de Deus têm parte importante (Ef 1). Algum dia sua bondade será reconhecida por toda sua criação; e ele será tudo em todos.

Devido à queda, o homem é corrompido por natureza, e não é capaz de fazer nada realmente bom (Rm 7), mas devido à provisão de Deus em Cristo e no Espírito Santo, ele pode viver uma vida de obediência ao seu Criador e em comunhão com ele.

S . B a ra ba s

BONDADE, BENIGNIDADE (lon; LXX à vTiXrjjncop; SiKouoavvri; èÀ,eri|i.0G'úvT|; é- Xsoç; NT èTueÍKEia; (|)iXav0pa>7tía; %pr|cn:óç; XPT|Ci;ói;r|ç. Bondade é (1) o estado ou a qualidade de ser bondoso; disposição ou natureza bondosa; humanidade; ternura; (2) ato bondoso; prova de amizade ou boa vontade. (3) arcaico: sentimento bom; afeição, amor. O termo em inglês kindness ocorre 44 vezes na KJV; 33 vezes (incluindo Tito3.4) na RSV. [N.R. O texto a seguir é a tradução do verbete Kindiness, que é a tradução, para o inglês, dos termos gregos acima citados. Estes termos gregos são traduzidos de forma variada nas VSS em português.]

I. AT

A. Hebraico: Ton, “bondade”, “benignidade”.B. Grego:1. ÀvtiAtíttccúp, “ajudador”, “protetor” (SI

109.12). Termo usado na LXX para sete palavras hebraicas.

2. AiicaiOGTJvri, “justiça”, “retidão” (Gn 19.19; 20.13). Termo usado na LXX para doze palavras hebraicas; aparece em Teógnis, Heródoto, Pla­tão, Aristóteles, Filo e Josefo. E freqüente nas inscrições mas rara nos papiros e está ausente em Homero e Hesíodo. A utopia de Platão é baseada no seu conceito de dikaiosynê. Visto que esta é a virtude especificamente cristã, toma-se quase sinônima de Cristianismo (Mt 5.10; lPe 3.14).

3. 'Eà.etim.ct-óvt], (Pv 21.21; 31.26), “obras boas”; mais tarde — “esmolas”, “ofertas de ca­

ridade.” Termo usado na LXX para três palavras hebraicas. Ocorre freqüentemente em Tobias, não está nem em Filo nem em Josefo. Na LXX eleèmosynê geralmente traduz np7^. O uso no NT está confinado exclusivamente ao sentido de “ati­vidade benevolente” e invariavelmente aos pobres,i.e. “atos de caridade”. Justino Mártir em Dialogus ciini Tryphone Judaeo (36.4) aplica eleèmosynê para a misericórdia de Deus (citando SI 23.5). No Grego posterior o termo significa “simpatia”.

4. ’E^eoç, “misericórdia”, “compaixão”, “pie­dade”. Termo usado na LXX para sete palavras hebraicas.

II. NT

A. 'EmeÍKeia (At 24.4), “brandura”, “indul­gência”, “clemência”, “benevolência”. Termo muito indefinido, que nem sempre significa “razoabilidade agradável”. Aparece em Platão, Aristóteles, Tucidides e Filo. Josefo o usa para o profeta, o legislador, o rei. Ocorre duas vezes no NT (At 24.4; 2Co 10.1; ARA, “clemência”, “benignidade”).

B. <)HÀ,av0pü)7ría, “amor pela humanidade”, “bondade (amável)”; “hospitalidade”. Esta palavra é encontrada em Platão, Filo, Josefo; duas vezes no NT (At 28.2; Tt 3.4). AARA e a ARC a traduzem como “benignidade” em Tito 3.4; a NVI e a BJ como “a bondade e o amor”. KJV, the kindness and love, “a bondade e o amor”. RSV, loving kindness, “bondade”.

C. Xpricrtóç, “útil”, “adequado”, “digno”, “bom”; “bom (moralmente)”, “honrado”; “virtu­oso”, “excelente”; “gracioso” (como substantivo, bondade). Usado por Filo e Josefo; sete vezes no NT.

D. XpriaxÓTTiç, “bondade”, “retidão”; “bonda­de”, “benignidade”, “generosidade”. Aparece em Aristóteles e Filo; nove vezes no NT. ARS V traduz como kindness, “benignidade”, oito vezes.

Kindness, “bondade”, no AT da KJV (exceto 2Sm 2.6) é invariavelmente a tradução de hesed. Usualmente refere-se ao homem, mas às vezes a Deus (Gn 20.13; 40.14; ISm 15.6; 20.14,15; 2Sm 9.3; Ne 9.17; SI 141.5; Is 54.8,10), (ARA, “favor”, “bondoso”, “misericórdia”, “bondade”, “mercê”).

Kindness, “bondade”, no NT da KJV é a tra­dução dephilanthrõpia uma vez (At 28.2; ARA, “humanindade”) e chrêstotês quatro vezes (2Co6.6; Ef 2.7; Cl 3.12; Tt 3.4; ARA, “bondade”).

“Benignidade” é (1) um atributo de Deus (Tt3.4), (2) uma característica de verdadeira caridade (ICo 13.4), e (3) um traço dos homens bons (SI

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824 BONS PORTOS/ BORDADURA

112.5). Os crentes são exortados a possuírem (Cl 3.12; 2Pe 1.7). Ê pecaminoso recusar benignidade a seu vizinho (Pv 14.21). Aquele que é benigno para com o pobre recebe uma bênção (14.21). A mulher ideal fala palavras bondosas (31.26).

A benignidade de Deus é grande (J1 2.13; Jn4.2) e eterna (Is 54.8,10; ARA, “misericórdia”). Deus é bondoso para com o ignorante e o obstinado (Hb 5.2; ARA, “condoer-se”), para com o ingrato e o maligno (Lc 6.35; ARA, “benigno”).

O povo de Deus deve ser benigno para com os (1) conservos (Dt 22.1; Zc 7.9,10; Rm 15.5; Ef 4.32; lPe 3.8; 4.8), (2) vizinhos (Rm 15.2), (3) estrangeiros (Lv 19.34), (4) viúvas (lTm 5.9,10), (5) órfãos (Zc 7.10), (6) os necessitados (Mt.5.7; lJo 3.17,18), (7) os fracos (At 20.35; Rm 15.1), (8) os entristecidos (12.15), (9) os cansados (G16.2), (10) os caídos (6.1), (11) todos os homens (6.10), até mesmo os inimigos (Lc 6.34,35). No julgamento, Cristo dará o galardão àqueles que têm sido bondosos para com seu povo (Mt 25.34-36). Exemplos bíblicos de bondade: (1) Faraó a Jacó (Gn 45.16-20; 47.5,6); (2) afilha de Faraó a Moisés (Êx 2.6-10); (3) Raabe aos espiAs (Js 2.1-3; 6.17­25); (4) Davi a Mefibosete (2Sm 9.1 -13); (5) Joabe a Absalão (14.1-24); (6) Acabe aBen-Hadade (lRs 20.32-34); (7) Eliseu a mulher sunamita (2Rs 8.1); (8) Evil-Merodaque a Joaquim (2Rs 25.27-30); (9) Jeosabeate a Joás (2Cr 22.11); (10) os judeus aos irmãos menos fortunados (Ne 5.8-19); (11) Morde- cai a Ester (Et 2.7); (12) Nabucodonosor a Jeremias (Jr 39.11,12); (13) José a Maria (Mt 1.19); (14) um Centurião a seu servo (Lc 7.2-6); (15) os judeus a Maria e Marta (Jo 11.19,33); (16) João a Maria (19.27); (17) Félix a Paulo (At 24.23); (18) Júlio a Paulo (27.3,43); (19) Onesíforo a Paulo (2Tm1.16-18); e (20) Paulo a Onésimo (Fm 17-19).

BIBLIOGRAFIA. C. H. Dodd, The Bible and the Greeks (1935), 59-62; L. H. Marshall, Challenge o f New Testament Ethics (1947), 305-308; J. Smith e R. Lee, Handfuls on Purpose, IV (1947), 273; M. Luther, “The Large Catechism”, The Book o f Concord (c. 1959), 369.32; M. Luther, Sermons on the Gospel o f St. John, Vol. XXIV de Works (1961), 50,247,251,253,267s., 270;D. M. Lloyd Jones, Stvdies In the Sermon on the Moimt, 1(1964),299-309; R. Earle, “The Acts of the ApOstles”, Beacon Bible Commentary, VII (1965), 583.

R. E. P erry

BONS PORTOS. ( kccàoí. ã,i |j.éveç, bons portos). Uma baía próxima a Laséia na costa sul de Creta, cerca de 8 km a leste do Cabo de Matala.

Paulo, sob custódia de um centurião, navegou a oeste de Cnido em um navio graneleiro de Alexandria. O tempo forçou-os a navegarem ao sul de Creta. Eles passaram o Cabo de Salmona, a ponta leste da ilha e se refugiaram em Bons Portos. Como Bons Portos era apenas uma baía aberta, o centurião, o capitão e o dono do navio decidiram tentar alcançar Fênix, um porto mais a oeste. Eles falharam e foram à deriva em mar aberto por quatorze dias, até o naufrágio em Malta (Atos 27.8).

A. R u pprech t

BOQUIM ( □’D3, aqueles que choram). Nome dado ao lugar perto de Gilgal onde Israel chorou depois de ser repreendido pelo anjo do Senhor (Jz2.1,5). A LXX insere Betei, e Boquim pode estar relacionado a Alom-Bacute, “o carvalho que cho­ra”, árvore localizada perto de Betei (Gn 35.8).

BORASÃ (l^y 113, grego pcopaoav, que quer dizer poço de fumaça). Ocorre apenas uma vez nessa forma (ISm 30.30), onde se refere a uma cidade no sudoeste de Judá. É mencionada entre as cidades pelas quais Davi e seus homens passaram antes de se tomar rei. Provavelmente é outro nome para Asã, uma cidade na Sefelá, originalmente destinada à tribo de Simeão (Js 19.7; lCr 4.32).

G. G ia c ijm a k is J r .

BORDADO, BORDAR. Veja Bordadura.

BORDADURA. Decoração em pano por meio de trabalho ornamental com agulhas. O trabalho bordado, principalmente usando padrões geomé­tricos e motivos estilizados, é bem atestado em esculturas e cenas em pinturas do mundo antigo. Diversas palavras hebraicas referem-se aos bor­dados e habilidades relacionadas, npi nwsra (“obra de bordador”, Êx 26.36) e rropn (“obras bordadas”, Ez 27.16) são geralmente tomados como se re­ferindo a mercadorias bordadas. As razões para essa conclusão são as seguintes: a bordadura é bem atestada no contexto das culturas do AT, e pode-se esperar que apareça na arte hebraica também. As expressões denotando as matérias primas usadas pelo bordador (i.e. “estofoazul e púrpura e carmesim, e de linho fino retorcido”, Êx26.36) pode se referir a linha e fio apropriados à bordadura, visto que eles se referem a produtos de

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BORRALHO, (LAREIRA) 825

fiação (35.25). Deve-se observar, no entanto, que alguns desses termos ocorrem em contextos onde a interpretação denota o tecido, tanto quanto o fio de tecer; ex. “azul”, rtan (39.22). Êxodo 35.35 distingue entre o “bordador” e o tecelão. Também, rrapn como termo para o variado brilho das penas das águias (Ez 17.2) lembra o brilho multicolorido do detalhado bordado decorativo (cp. também as “pedras de várias cores”, nap"i, lCr 29.2). O efeito cumulativo dessas considerações confirma a interpretação dos dois termos em discussão como denotando bordadura.

A outros termos, no entanto, falta altetação decisiva. Por exemplo, os significados precisos de (Êx 28.39, ARA, “Tecerás quadriculada”; KJV, shalt embroider, “bordarás”; RSV, weave in checker work, “tecer em padrão xadrez” e fnwn (Êx 28.4, ARA, “túnica bordada”; KJV, broidered coat, “túnica bordada”; RSV, a coat o f checker work, “uma túnica em padão xadrez”) permanece obscuro (veja F ilig ra n a para discussão de outras palavras derivadas de swn nuWB f^li'). Em Êxodo 26.31, “obra de artista” (na ARA; KJV, cunning work, “obra habilidosa”; RSV, shilled work, “obra de perito”) refere-se aos reposteiros decorados com querubins do Tabemáculo e a algumas das roupas sacerdotais (28.6). Tem-se sugerido que essa “obra de artista” refere-se a desenhos mais originais (HBD) em contraste com o padrão este­reotipado, geométrico de “bordado” típicos. Por outro lado, alguns dos rabinos — talvez sem ne­nhuma outra evidência real— pensaram que “obra de artista” referia-se a tecelagem decorativa na qual o desenho aparecia dos dois lados (Jew Enc). Tem-se sugerido também que as “romãs” (fian, Êx 39.24) na bainha da roupa do sumo sacerdote eram trabalho de aplicação (NBD). É igualmente possível que fossem reposteiros ornamentais de um tipo trançado ou pregueado, como sinos dourados, pendurados pela borda. Os significados desses termos permanecem obscuros por falta de atestação decisiva ou mesmo razoável.

No AT, o bordado simboliza luxo e comércio lu­crativo (SI 45.14; Ez 27.16). Desde os dias dos Cân­ticos de Débora e Baraque, mercadorias bordadas eram avaliadas como despojo de guerra (Jz 5.30). A maioria das referências a mercadorias bordadas no AT é, ao Tabemáculo, com roupas sacerdotais. A cortina para a porta do átrio e a cortina para a porta do Tabemáculo eram ambas bordadas (Êx 27.16; 26.36), enquanto outros reposteiros eram de “obra de artista” (26.1,31). O cinto do sumo sacerdote era bordado (28.39), e outras roupas eram quadriculadas ou “obra esmerada” (28.15)

BIBLIOGRAFIA. G. M. Mackie, “Embroidery,' HDB (1901); E.G. Hirsch, “Embroidery”, JewEnc (1901); H. F. Lutz, Textiles and Costumes among the Peoples o f the Ancient Near East (1923); M. S. and J. L. Miller, Encyclopedia o f Bible Life (1944), 353-355;G. I. Emmerson, “Embroidery ”, NDB (1962).

A. B owling

BORDÃO. Veja Armadura, Armas.

BORLA. A tradução da ARA de nvi? (Nm 15.37­39) e de (Dt 22.12); em ambas as passagens a ARC traz franja (RSV, tassel, “borla”; KJV, f in g e , “franja”. Os israelitas receberam ordem de fazer borlas ou franjas nos quatro cantos de seus mantos, para que se lembrassem constantemente de que eram o povo escolhido de Deus e deviam obedecer aos mandamentos de Deus.

BORRA (de vinho) (D’1D^). Resíduos que se assentavam no fundo dos cântaros e odres de vinho (Is 25.6). O vinho ganhava força e sabor ao permanecer sobre estes resíduos, e tal vinho era considerado superior ao produto recentemente fer­mentado. A palavra é usada no AT apenas no senti­do figurado. Em Isaías 25.6, o profeta diz que nos dias do Messias, Senhor irá preparar um banquete com “vinho velho bem classificado”. Sofonias 1.12 registra que eles estão “apegados à borra do vinho” e dizem o “ Se n h o r não faz bem e nem faz mal”. Jeremias 48.11 diz que Moabe tem “repousado nas fezes do seu vinho” ou seja, eles têm se assentado, satisfeitos com as circunstâncias.

S. B a ra ba s

BORRALHO, (LAREIRA). No período bíblico a lareira era uma depressão no assoalho de uma casa ou tenda, no centro ou em um canto, e nela o alimento era cozido ou o pão assado nas cinzas ou sobre pedras quentes (Gn 18.6). Não havia chaminé; a fúmaça escapava através da porta ou janela. Onde disponível, a madeira era usada como combustível, mas vegetação seca (Mt 6.30) e es­terco seco de boi e de camelo também era usado (Ez 4.15). Nas casas melhores, na época do frio, as salas eram aquecidas por meio de um braseiro (Jr 36.22s.), ou bacia de fogo (Zc 12.6, BJ). A “lareira” do altar o topo do altar do holocausto (Ez43.15,16). Veja C a s a .

S . B ara ba s

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826 BOSOR/ BOTA

BOSOR (Booóp) 1. Cidade em Gileade que perseguiu os judeus nela residentes e foi subse­qüentemente capturada por Judas Macabeu ( IMac5.26,36). Ela é identificada como a modema Busr el-Hariri.

2. Forma de Beor em 2 Pedro 2.15, na KJV e BJ.

BOSORA (Boaopá). A modema Busra eski Sham, em Gileade, c. 43 km a leste de Ramote-Gileade. O mesmo que Bozra e, mais tarde, Bostra; não deve ser confundida com Bosor, que fica a c. 37 km ao noroeste de Bosora, ou com a mais conhecida Bozra, em Edom. Judas Macabeu derrotou Bosora durante a campanha em Gileade, entre 165 e 162a.C., ocasião em que matou todos os homens e queimou a cidade (IMac 5.26,28; Jos. Ant. XII,VIII, 3). Bosora é a Busruna das Cartas de Amama e posteriormente, com o nome de Bostra, foi a capital da Arábia romana.

BOSQUE, FLORESTA ou MADEIRA (tnn, ramo ou floresta', "li?1, floresta). Naturalmente, a palavra “madeira” pode se referir a uma árvore, como em Daniel 5.4. “louvores aos deuses... de madeira”. A palavra aramaica aqui é i/N, igual ao ‘éjf hebraico.

Porém, quando a intenção é citar uma floresta, a palavra tjoresh é usada, como em 1 Samuel 23.15,16,18 e 19, na história de Davi permane­cendo em um outeiro, no deserto de Zife. O termo hebraico aqui curiosamente também poderia ser traduzido como “ramo”.

A palavra normal para floresta contudo éyaar, e esta é usada dezoito vezes no AT, como por exemplo em 2 Samuel 18.8. "o bosque naquele dia consumiu mais gente do que a espada”. Deve-se lembrar que até Absalão foi pego pelos ramos das árvores neste bosque. O Salmo 96.12 fala sobre as árvores do bosque se alegrando, enquanto Cantares 2.3 refere-se a uma macieira que cresce num bos­que: “tal é o meu amado entre os jovens”.

O plural de yaar é y e‘ãrím e essa palavra é usada em Ezequiel 34.25 — “seguras habitarão no deserto, e dormirão nos bosques” — e tudo porque Deus havia banido “as bestas-feras da terra”.

Bosques e florestas são tremendamente impor­tantes à economia de um país. Eles trazem chuva, provêem humus, protegem do vento. Quando são derrubados, o solo logo sofre erosão e um deserto se forma. Salomão pode ter causado tremendo dano à terra por suas demandas desarrazoadas das

florestas de Líbano. Deuteronômio 20.19 (ARC) dá uma advertência precisa em relação a isto: “não destruirás o seu arvoredo... (pois o arvoredo do campo é o mantimento do homem)”.

Abraão plantou um bosque em Berseba (Gn 12.6). Este foi um bosque de adoração a Deus e não o matagal de adoração a Baal que Deus posteriormente condenou. Na realidade, depois disso, esses bosques foram proibidos: “Não plan- tarás nenhum bosque de árvores junto ao altar do Senhor” (Dt 16.21 ARC).

A primeira parábola na Bíblia é sobre um bosque. E encontrada em Juizes 9, e conta sobre as árvores que quiseram ungir um rei.

As florestas do Líbano são as mais importantes mencionadas na Bíblia, e devem ter coberto cen­tenas de acres. Os homens de Salomão, i.e. inspe­tores, lenhadores e trabalhadores, em número de 153.600, e todos esses trabalharam despachando árvores durante de vinte e cinco anos. Além disso, o rei de Tiro forneceu cerca de 20.000 lenhadores para derrubar as árvores. Que pilhagem de uma floresta enorme, e que dano deve ter causado para a zona rural circunvizinha. Mas a pilhagem não terminou aí, porque no dias de Esdras lê-se em Esdras 3.7 que: “Deram, pois, o dinheiro aos pe­dreiros e aos carpinteiros, como também comida, bebida e azeite aos sidônios e tírios, para trazerem do Líbano madeira de cedro”.

Não havia somente cedros, pois o pinheiro foi usado para as portas e os forros dos tetos da Casa Grande, e para os pisos (2Cr 3 e lRs 6). Árvores de almugue, ou sândalos, foram derrubados, pois Salomão expressamente pediu essas árvores (lRs10.11,12). Ele usou os almugues para os terraços e para instrumentos musicais (2Cr 5.13; 23.13). (Veja Sâ n d a l o ).

Havia provavelmente florestas de carvalhos, e especialmente Quercus Aegilops. Este é o carva­lho de Basã (Is 33.9; Ez 39.18). Os carvalhos na Palestina são sempre encontrados nas encostas das montanhas, especialmente o Quercus coccifera.

Os assim chamados bosques de adoração dos ídolos sagrados eram plantados com carvalhos. Estes “altos” ficavam no cume de uma colina ou montanha. Um círculo de árvores cercava o “topo” da colina. Ainda pode se ver florestas de carvalhos na Palestina atualmente.

W. E. S he w el l -C ooper

BOTA (tino, sapato, sandália; <)7tó5ti|j.a, sapato, sandália; oav5á?aov, sandália). Diferentemente de sandálias e sapatos, que são o calçado cos­

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BOTIJA / BOZRA 827

tumeiro do oriente, a bota é mencionada apenas duas vezes nas Escrituras. A palavra seõn (Is 9.5) refere-se provavelmente à bota militar dos assírios, que subia até à barriga da perna. Gesênio traduz a frase “toda bota do guerreiro que pisa ruidosamen­te”, i.e., o soldado em marcha. Gesênio (pág. 684) sugere o empréstimo da palavra assíria senu, que não obstante ele traduz por sapato ou sandália.

A alusão de Paulo: “Calçai os pés com a pre­paração do evangelho da paz” (Ef 6.15), é uma referência às botas com tachas dos soldados roma­nos, a caliga, da qual Caio César tirou seu apelido, de Calígula. Era uma bota de couro amarrada até à canela (Lewis e Short, Latin Dictionary, pág. 269). Os centuriões usavam um artigo melhor, o Bardaicus calceus, termo derivado dos bardai, uma tribo da Ilíria (Juvenal, 16.13; 3.24; 16.24,25). Outra palavra comum para botas era calceus, designação que podia incluir sapatos. A tradução de Efésios 6.15 na Vulgata é “et calceatipedes in praeparatione evangelii pacis".

E. M. B l a i k l o c k

BOTIJA. Uma pequena jarra para água, óleo, etc.I.(p'np3, lRs 14.3, ARA “botija”,NVI “garrafa”; alternadamente Jeremias 19.1,10, “botija”). Uma garrafa de água com o gargalo estreito. Tal jarra, cheia de mel, seria apenas um presente insignifi­cante de um rei (lRs 14.3).

2. (JVrrá, 2Rs 2.20, ARA “prato”, ARC “sal­va”). Uma tigela rasa aberta para guardar o sal, porque o sal poderia endurecer em uma jarra.

3. (nnsx, ISm 26.11,12,16 ARA “bilha”, NVI “jarra”; lRs 17.12,14,16 KJV, RSV “vaso”, BJ “cântaro”; lRs 19.6, ARA “botija”). A moringa do viajante de duas alças, ou cantil, não apro­priado para conter azeite de oliva, mas talvez necessário no caso da viúva pobre (lRs 17.12). Veja C e r â m ic a .

J. R ea

BOUGAEAN, BUGAEAN ('Bo-uyatoç) Epíteto dado a Hamã, em Adições a Ester 12.6 (ASV, bugean', KJV, agagite). Não está bem claro se a palavra foi usada no sentido homérico de “briguento” ou “arrogante” (Ilíada XIII. 824; Odisséia XVIII. 79), ou se é uma corruptela do termo ayocYaíoç, “agagita”.

BOZCATE (np^n, elevação, terreno pedregoso). Cidade de Judá, no distrito da Sefelá, perto de

Laquis (Js 15.39); cidade natal da mãe de Josias, Jedida (2Rs 22.1; BJ, “Besecat”).

BOZEZ (fsn). Dois penhascos (ARA: penhas ín­gremes) ladeavam o desfiladeiro de Micmás (1 Sm14.4). Bozez era o do norte; o do sul era chamado de Sené. Aparentemente foi esse o penhasco, ou perto dele, que Jônatas e seu escudeiro escalaram para atacar a guarnição dos filisteus. O local exato não foi identificado, embora sem dúvida tenha sido perto da curva fechada do passo (atualmente Wadi es-Suweinit). Veja S. R. Driver, Notes on the Hebrew Text o f the Books o/Samuel2 (1913), 106; e esp. L. Grollenberg, Atlas o f the Bible (1963), 68, 189, 190.

F. W. B ush

BOZRA (rran). 1. Antiga cidade de Edom, extre­mamente fortificada e inexpugnável. Provavel­mente pode ser identificada como a atual Buseireh, situada na cabeceira do Wadi Hamayideh, num penhasco isolado, rodeado de três lados por vales íngrimes, aproximadamente 48 km ao norte de Petra. Era a praça mais fortificada do norte de Edom e controlava o acesso para a Estrada do Rei e, conseqüentemente, ao Arabá e ao porto de Elate, no Mar Vermelho. Provavelmente, naquela

• Peira

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828 BRAÇO / BRASA, BRASAS

época, funcionava como capital de Edom, embora não se tem certeza disso, sendo Temã, ao sul, de igual importância (veja Y. Aharoni, The Land o f the Bible 37). Bozra é mencionada em Gênesis 36.33 e lCrônicas 1.44 como a cidade de Jobabe, um dos primeiros reis de Edom. Juntamente com Temã, é muito utilizada pelos profetas para descrever Edom em oráculos de julgamento, pois ambas eram tidas como cidades inexpugnáveis (Is 34.6; 63.1; Jr 49.13,22; Am 1.12). EmMiquéias 2.12 é mais bem traduzida como “aprisco”.

2. Cidade de Moabe (Jr 48.24), provavelmente identificada como Bezer (q.v.). Veja B o z r a o u

B o z ra h no Bible Maps Index.F. W. B u sh

BRAÇO snii; ppccxícov). A palavra “braço” é usada aproximadamente setenta vezes no AT e três vezes no NT. A palavra é empregada em sentido literal somente em exemplos raros (Jz 15.14;16.12). Quase invariavelmente é usada em sentido metafórico, normalmente como símbolo de força e poder. Em tempos antigos era colocada ênfase nas realizações de braços humanos. Na Bíblia a pala­vra “braços” nunca é usada no sentido moderno de arma usada na guerra. Visto que Deus é onipo­tente, o “braço de Deus” freqüentemente é citado como símbolo do seu poder, como na pergunta do Senhor dirigida a Jó: “Ou tens braço como Deus, ou podes trovejar com a voz como ele o faz?” (Jó40.9). “Desnudar o... braço” implica revelação de força, como em Isaías 52.10: “O Senhor desnudou o seu santo braço à vista de todas as nações; e to­dos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus”. Considerando que um guerreiro estica seus braços quando ele de fato se empenha, o “braço estendido” significa uma exibição de grande poder, e a frase freqüentemente é aplicada a Deus no AT,i.e. quando Deus ordenou a Moisés declarar para Israel: “vos resgatarei com braço estendido e com grandes manifestações de julgamento” (Êx 6.6). Com seu braço estendido Deus criou a terra com os homens e animais que estão nela (Jr 27.5). Apenas raras vezes é o braço de Deus estendido a indivíduos (2Cr 6.32). Alguams vezes o braço “santo” de Deus é estendido, apontando a retidão dos seus atos poderosos: “Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele tem feito maravilhas; a sua destra e o seu braço santo lhe alcançaram a vitória” (SI 98.1). Deus às vezes é comparado a um guerreiro que golpeia com seu braço: “com o teu poderoso braço dispersaste os teus inimigos” (SI 89.10). O “braço de carne” simboliza ajuda

meramente humana, que é fraca comparada com o poder de Deus: “Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço (Jr17.5). Quebrar os braços do ímpio é deixá-los os impotentes (Jó 38.15; Jr 48.25; Ez 30.21). O braço “seco” simboliza impotência completa (Zc 11.17). O braço de Deus empenhado em benefício do seu povo simboliza proteção: “Como pastor, apascen­tará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no seio” (Is 40.11); “O Deus eterno é a tua habitação, e por baixo de ti estende os braços eternos” (Dt 33.27).

S. B ara bas

BRANCO (tradução de diversas palavras gregas e hebraicas, principalmente p 1? e Xe u k ó ç ). N o AT, “branco” serve para indicar a aparência “natural” de objetos de cores leves: bisso, linho (Et 1.6) e alguns outros panos e materiais; cabelos brancos (Os 7.9 BJ); cabras (Gn 30.35); dentes, lã, leite, lepra (Lv 13.3); maná, etc.

Pode-se obter o branco puro pelo alvejar por meio de longa exposição ao sol, ou usando vapores de enxofre queimado no pano drapejado sobre um cavalete acima da chama. Os homens eram tradi­cionalmente os mestres deste trabalho. O processo de lavagem é aludido no Salmo 51.7 em relação à purificação do homem pecador.

O branco simboliza inocência (Is 1.18) e pu­reza, é a cor das vestes dos santos e simboliza a deidade de Cristo (Mt 17.2).

No NT, a caiação em sepulcros ao longo do caminho os distinguia de forma que o transeun­te pudesse evitar a contaminação (Mt 23.27); acreditava-se que qualquer um que tocasse um sepulcro tomar-se-ia contaminado (Nm 19.16). Veja também C o r , C o r e s .

H. G. S tigers

BRASA, BRASAS. O termo se refere, primaria­mente, ao carvão vegetal, já que a Palestina não tem depósitos de carvão mineral. Duas palavras hebraicas, em especial, servem para designar carvão vegetal.

1. n’7ni, LXX áv0paç, que ocorre pelo menos dezesseis vezes e indica o carvão incandescente usado para cozinhar (Is 44.19; Jo 21.9) e aquecer (Is 47.14; Jo 18.18). O termo ocorre com muitas conotações metafóricas. Pode designar o membro de uma linhagem familiar (2Sm 14.7); a revelação de Deus (22.9, 13; SI 18.8, 12; Ez 1.13, 10.2); o hálito do leviatã (Jó 41.21); e o

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BRASEIRO / BROCHE, FIVELA 829

julgamento de Deus (SI 120.4; 140.10; Pv 25.22; cp. Rm 12.20).

2. Dns, LXX ócvOpocí; aparece pelo menos três vezes no AT. Duas das vezes designa carvão em brasa em uma fornalha (Is 44.12; 54.16) e uma vez carvão não queimado (Pv 26.21). Seu significado no Salmo 11.6 é problemático.

As palavras relacionadas abaixo são traduzidas como brasa ou brasas, embora recebam também outros significados.

3. rian, LXX 7tôpoç, é traduzida como brasa em Cantares de Salomão 8.6, mas o termo não se refere ao carvão vegetal. E uma pedra quente.

4. nssi, LXX, ávipai; é encontrada em 1 Reis 19.6 e Isaías 6.6, mas parece designar pedras quentes e não brasa viva.

5. nntt>, LXX, aa(3òXoç seria melhor traduzida como negrume ao invés de carvão (Lm 4.8). ( Veja C a r v ã o ).

G. H. L iv ing ston

BRASEIRO, (nx) Recipiente portátil, feito de metal, usado para transportar carvão em brasa para aquecer um cômodo em dias frios (Jr 36.22,23. A “residência de inverno” do rei Jeoaquim era aquecida com um braseiro.

BRECHA. Seis palavras em hebraico são tra­duzidas por breach (“brecha”, “ruptura”) nas várias VSS em inglês. Nas VSS em português a tradução varia entre brecha, abertura, lacuna, fenda, estragos, ruínas; baías, enseadas, portos; desafiado, afastamento, rejeição, abandono; rom­per saída, arrombar, conquistar, repartir, rasgar, provocar cisão. 1. O termo hebraico comum para “romper" ou para “brecha” é f13, usado em muitas passagens com o sentido de “irromper” (Gn 38.29; KJV, breach; ARA, “saída”; ARC, "rotura”; NVI e BJ, “brecha”. Jz 21.15 [et al.], KJV, breach; ARA e BJ, “brecha”; ARC, “abertura”; NVI, “lacuna”. 2.13®, “quebrar em pedaços” (Gn 19.9; KJV, break the door [“arrombar a porta”]; ARA, ARC, NVI, BJ, “arrombar a porta”). As VSS em inglês são confusas em relação a este termo. A KJV só ocasionalmente traduz por breach (“bre­cha”), e mais comumente por break (“quebrar”, “romper”), enquanto a RSV traduz por breach somente no Salmo 60.2 (ARA e NVI, “brechas”; ARC e BJ, “fendas”) ; TM 60.4. 3. ypn, “divisão, ruptura”; embora bastante comum, é traduzido como breach apenas em Ezequiel 26.10 (ARA, ARC, BJ, “brecha”; NVI [muros] “derrubados”)

e em Isaías 7.6 (KJV, mabe breach [“fazer uma brecha”]; ARA, “conquistemos para nós”; ARC, “repartamo-lo entre nós”; NVI, “vamos rasgá-lo e dividi-lo”; BJ, “provoquemos a cisão e a divisão”); a RSV lê conquer, “conquistar”, JPS “breach”. O substantivo, formado da mesma raiz, y’pa, que ocorre apenas três vezes no AT, é traduzido como breaches apenas em Isaías 22.9 (ARA, ARC, NVI, BJ, “brechas”). 4. pin, “racha”, “fenda”, “fissura”. O termo basicamente significa “cortar”, “fender”, “rachar”; contudo, um desenvolvimento secundário significa “consertar”, “reparar” (2Cr 34.10; KJV, to repair [“reparar”]; ARA, “repa­rarem”; ARC, “consertarem”; NVI, “reparos”; BJ, “restauração”). O substantivo p"n, “brecha”, aparece freqüentemente na descrição do estado dilapidado do Templo, no tempo de Joás e de Josias (2Rs 12.5-12; 22.5), sob a forma verbal de reparar os estragos e as fendas (ARA e ARC) e fazer a reforma e os reparos (NVI) e fazer as restaura­ções (BJ), (KJV, to make the breaches, “reparar as brechas”). 5. s isa , hapcrx legomenon (Jz 5.17; KJV, breaches; RSV, landings [“desembarque”]; JPS, bays [“baías”]; ARA, “baías”; ARC, “ruínas”; NVI, “enseadas”; BJ, “portos”), não tem etimo­logia conhecida. Muitas etimologias são baseadas em analogias do árabe ou em tradições rabínicas.6. rwon, forma da 2a pes. da raiz X1D, “voltar-se”, “recusar”. A forma do substantivo é encontrada em Números 14.34 (KJV, breach o f promise, quebra de compromisso”; RSV e JPS, displeasure, “desa­grado”; ARA, “desagrado”; ARC, “afastamento”; NVI, “rejeição”; BJ, “abandonardes”); a única outra ocorrência é em Jó 33.10 (KJV [findeth] occasions [against me], [“procura”] “pretextos” [“contra mim”]; ARA e BJ, “pretextos” [“contra mim”]; ARC, “ocasiões” [“contra mim”]; NVI, “motivos” [“para inimizade”]. Breach, no inglês Tudor, era usado em sentido muito mais amplo que o corrente.

W. W hite Jr .

BROCHE, FIVELA (LXX 7iópjir|, broche ou fivela). A palavra aparece na VS mais conhecida de 1 Macabeus 10.89; 11.58 e 14.44, mas não há como distinguir o artigo dos “broches” de Êxodo 35.22 (VSS em inglês), ou das fíbulas encontra­das em sítios arqueológicos do 7- século a.C., especialmente em Gezer. A Fibula Praenestina, um objeto semelhante a um alfinete de segurança do 7a século a.C. encontrada em Praeneste, no Lácio, é semelhante quanto a forma e função. É o grego porpoê, destinada a prender um chlamus

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830 BRONZE

ou pallium ao ombro. O broche, se é que pode ser identificado com uma fivela, era uma marca e emblema de posição social.

E. M. B l a in l o c k

BRONZE (hebr. JTOru; grego %aXxóç,). Liga for­mada principal ou totalmente de cobre e estanho, em partes variáveis. É mais duro e menos male­ável do que o cobre. E também mais adequado à fundição do que o cobre devido à sua grande fusibilidade. Quanto maior a proporção de esta­nho, menor o ponto de fusão: com 90 ou até 98 por cento de cobre, o ponto de fusão será entre1.080 e 1.005° C; de 80 a 70 por cento de cobre, o ponto de fusão é de 800 a 750° C. Contudo, se a proporção entre cobre e estanho for de 60/40, o ponto de fusão será de 630° C. A distribuição dos átomos no bronze é a mesma do cobre, com os átomos permanecendo nos pontos centrais de uma rede cúbica. Essa estrutura é formada de unidades cúbicas repetidas, sendo que cada uma delas possui átomos nos cantos de um cubo e nos centros das seis faces de cada cubo. As proporções relativas dos átomos de cobre e de estanho determinam as propriedades físicas de cada tipo de bronze.

Como o bronze é relativamente fácil de ser fabricado, possui uma bela coloração castanha e é resistente à corrosão, é possível que essa liga venha sendo usada desde a pré-história para a confecção de ornamentos, estátutas, cunhagem de moedas, artigos utilitários. O uso do cobre, a partir de 6000-5000 a.C. e depois o do bronze, a partir de c. de 3700 a.C., está entre as primeiras realiza­ções metalúrgicas do homem. O termo “Idade do Bronze” (q.v.) denota um estágio cultural em que ferramentas e armas eram fabricadas de bronze (e de cobre), mais do que de pedra, osso e madeira previamente, e subseqüentemente de ferro.

A descoberta da relação entre o mineral de rochae a liga de metal, que poderia ser produzida pela ação do fogo e do carvão vegetal, deu-se por volta de 4500 a.C., sendo que processo de explo­ração de cobre no norte do Iraque, na Pérsia e no Turquestão já existia em 4000 a.C. A descoberta suseqüente de que a adição de estanho endurecia o metal provavelmente resultou de uso acidental de pedras de fogueiras de acampamento, que con­tinham minério de cobre e estanho, uma vez que ligas naturais de cobre e estanho são muito raras. O bronze era produzido pela antiga civilização suméria no vale dos rios Tigre e Eufrates, e.g. em Ur, cerca de 3500 a.C. Arados de tração animal e carruagens com partes de bronze já eram usadas

no Iraque antes de 3000 a.C. A partir de então, o uso do bronze se espalhou para a Pérsia. Por volta de 2000 a.C. ele foi usado pela primeira vez no Egito.

O metal derretido era obtido a partir da fusão do minério, com carvão vegetal. O carvão era infla­mado por meio de sopro humano ou foles, através de um bocal feito de barro não-inflamável. O metal fundido era colhido em um cadinho feito do mesmo material. Extraído, o metal era colocado em lingo­tes, ou em forma de bolo, ou despejado diretamente em moldes. As primeiras fundições eram feitas na areia, mas mais tarde barro e pedra foram usados para fabricar instrumentos como facas e machados, cuja matéria-prima fundida era despejada em re­cortes rasos na pedra ou no barro.

O cobre vem sendo extraído na península do Si­nai desde antes da descoberta do bronze e c. 3000 a.C. Chipre foi um grande produtor. Contudo, os depósitos de estanho descobertos no terceiro milê­nio a.C. eram pequenos e não eram muitos. Apenas tardiamente, nesse milênio, depósitos maiores foram localizados. Os depósitos de estanho de Comwall, na Inglaterra, eram muito usados no segundo milênio a.C. e possivelmente ainda mais cedo, com os fenícios comercializando o estanho de Comwall e da Espanha. Eles provavelmente desempenharam importante papel na dispersão dos primórdios da cultura do bronze, fornecendo muito do bronze da metade do segundo milênioa.C. e, mais tarde, uma combinação do estanho da Europa ocidental e do cobre do Mediterrâneo oriental e do Oriente Médio.

O termo “bronze” não aparece na KJV, sendo usado brass, “latão” (q.v.). Contudo, esse termo é traduzido de modo variado na NEB; em alguns lugares, aparece como copper (“cobre”) (Jó 28.2; Mt 10.9), em toda a descrição do tabemáculo (Ex26.11). Em outras passagens (2Sm 8.8; Is 60.17), como bronze or copper (“bronze ou cobre”). Em muitos lugares, como bronze (Nm 21.9; Ap 9.20) e em poucos casos como brass (“latão”) (Ap1.15; 2.18).

O uso do bronze, em grande parte da época do AT, difundiu-se com uma grande exibição de obje­tos de bronze no templo de Salomão (1 Rs 7.1-51), dos quais um dos maiores era uma bacia de bronze fundido apoiada nas costas de doze bois, situada no pátio do Templo. Acredita-se que esse grande objeto pesava trinta toneladas e foi confeccionado por artífices fenícios. O bronze era usado para a confecção de armaduras (ISm 17.5), grilhões (Jz 16.21), vários tipos de recipientes côncavos (2Rs 25.14; Ez 27.13), na construção de edifícios, par­

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BRONZE, LATÃO / BUNA 831

ticularmente nas portas (cp. Sl 107.16) e também como ornamentos, sendo que a habilidade do artí­fice era altamente considerada (1 Rs 7.14). Alguns ídolos eram feitos de bronze (Dn 5.4). A beleza do material polido era reconhecida (Dn 10.6) e sua dureza e resistência foram usadas como figuras de linguagem (Lv 26.19; Dt 28.23).

A partir do final do segundo milênio a.C., o ferro gradativamente substituiu o bronze, pelo menos em seu uso mais utilitário, fazendo com que a Idade do Bronze chegasse ao fim e desse lugar à Idade do Ferro. Veja Latão.

BIBLIOGRAFIA. J. R. Partington, A Textbook o f Inorganic Chemistry, O1 ed. (1950), 718, 722; T. P. Hoar, “Bronze," Chambers' Encyclopaedia, II (1950), 603; S. Piggott, "Bronze Age,” Chambers ' Encyclopaedia, 11 (1950), 603-605.

D. R. Bowes

BRONZE, LATÃO, (rron; com cognatos; %aX- kóç, com cognatos). cobre, ou cobre combinado com latão ou bronze. A KJV traduz consistente- mente como brass ou brasen (“latão”, “bronze”) e uma vez como copper (“cobre”) em Esdras 8.27. A ARA traduz como “cobre” ou “bronze”. No AT, em Esdras 8.27, a ARA traz “fino bronze” enquanto a ARC traduze o termo por “metal lustroso”. Latão, uma liga de cobre e zinco, apareceu bem depois do que o bronze e há poucas evidências de seu uso nos tempos bíblicos. O cobre, encontrado no sul da Palestina, apareceu no quinto milênio a.C. Muitas, senão todas as referências bíblicas devem mesmo ser lidas como bronze ou cobre, sobretudo como o primeiro, quando o processo de fundição estiver envolvido. A RSV emprega bronze em toda parte, excerto em usos metafóricos, onde brass é mantido para expressar dureza ou idéia similar (e.g., Lv 26.19, Is 48.14). Cobre e bronze eram muito usa­dos na confecção de utensílios domésticos, armas e também objetos de culto, incluindo o revestimento do altar, o mar de bronze e a bacia.

G. Goldsworthy

BRONZE, MAR DE. MAR DE FUNDIÇÃO(nwmn pxia □’”). Era uma bacia arredondada de bronze, que ficava no átrio do templo de Salomão, entre o altar e o pórtico. Media aproximadamente 4,5 m de diâmetro (na borda), 2.5 m de altura e 14m de circunferência (na borda), com capacidade de c. 115 litros. Ficava nas costas de doze bois de bronze, com cada grupo de três bois voltado para

cada um dos pontos cardeais. Foi fragmentado e levado pelos babilônicos quando Jerusalém foi capturada, em 587 a.C. (“mar de fundição”: lRs 7.23; 2Cr 4.2; “mar de bronze” 2Rs 25.13; lCr 18.8; Jr 52.17).

C. G ia cu m a k is J r .

BROQUEL. Veja Armadura, Armas.

BRUXA, FEITIÇARIA. Veja A d iv in h a ç ã o .

BUBASTIS. Forma grega de P i-B e s e t e .

BUCHO (mp). A palavra morv (“bucho”) é um termo do inglês arcaico, que significa o estômago dos ruminantes e é empregado pela KJV e ASV em Deuteronômio 18.3 (RSV, stomach, “estômago"; ARA, “bucho”) e pela ASV em Jeremias 51.34 (KJV e RSV, belly, “abdômen”; ARA, “barriga”). Era parte da porção do sacerdote, em bois e ove­lhas trazidos para sacrifício pelos israelitas.

BUGIO (Dip, lRs 10.22 [macaco, NVI e BJ]). Esta palavra aparece somente na lista de mercado­rias trazidas a Salomão, tanto do leste da África, como da índia; a tradução ape, em todas as VSS em inglês, é aceita como qualificada, via de regra. Bugios (mais corretamente “macacos”) vindos da África, provavelmente seriam babuínos ou maca- cos-do-Sudão; da índia uma das diversas espécies comuns no Oriente. Nenhum tipo de macaco pare­ce ser originário da Palestina, dentro dos períodos geológicos mais recentes. O tipo mais próximo hoje é o babuíno sagrado da costa da Arábia, o hamádrias; antigamente era encontrado também no Egito, onde era considerado sagrado.

G. S. C an sd a l e

BUL (Vn). Denominação do oitavo mês do ano (outubro-novembro), de acordo com o sistema de nomes do calendário cananeu anterior ao exílio (Veja Calendário), preservado em 1 Reis 6.38 ao datar o término do templo de Salomão

F. W. B ush

BUNA (m u LXX: B avaà, que significa “inteli­gência”). Ocorre apenas em lCrônicas 2.25 e se

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832 BUNI / BUZI

trata do nome de um dos filhos de Jerameel. Ele era o chefe de uma família que pertencia ao clã de Jerameel, da tribo de Judá.

BUNI (’3'D). 1. Levita presente à leitura da Lei que Esdras fez em público (Ne 9.4).

2. Outro levita, pai de Hasabias (11.15); talvez seja o mesmo que aparece em Neemias 9.4; mas, em 1 Crônicas 9.14, consta “Hasabias, dos filhos de Merari”; talvez seja o mesmo que “Merari” em “filho de Buni.”

3. Líder do povo que selou a aliança (Ne10.15).

BUQUI (’pl). 1. Filho de Jogli; chefe da tribo de Dã; um dos homens encarregados da divisão da terra de Canaã entre os israelitas (Nm 34.22).

2. Filho de Abisua e pai de Uzi. Sacerdote da linhagem de Eleazar e ancestral de Esdras (lCr6.5,51; Ed 7.4 B J, “Boci”; lEsd 8.2 KJV, ASV B occas).

BUQUIAS (inyn). Levita, filho de Hemã, líder de um dos turnos no serviço do Templo, na época de Davi (lCr 25.4,13).

BÚSSOLA. O instrumento de navegação co­nhecido como a bússola do marinheiro, com sua agulha apontando para o norte magnético, não era conhecida nos tempos bíblicos, e não há registro de seu uso na Europa até o séc. 12 d.C. Os antigos marinheiros dependiam da luz do sol e das estrelas para orientação. Quando surgia uma tempestade, as nuvens escureciam o céu e tomavam a nave­

gação extremamente perigosa, principalmente quando a terra estava fora da vista. Veja N avios e B a r c o s .

J. R ea

BUXO (niran, cedro, buxo comum), citado duas vezes nas Escrituras: “Plantarei no deserto... o buxo” (Is 41.19; ARC, “álamo”) e “...o cipreste, o olmeiro e o buxo conjuntamente...” (Is 60.13; ARC, “a faia, o pinheiro e o buxo”).

É possível que a referência a Asur e dos asuri- tas, em Ezequiel 27.6, na KJV (Ashur, Ashurites), venha da proposição bs, “com”, mais t"shsh‘r; i.e., algo feito em forma de caixa de madeira incrustada com marfim. Esse conceito envolve uma divisão diferente das palavras no texto hebraico. O buxo certamente produz madeira dura e nos dias antigos colheres e pentes eram feitos dela.

O buxo comum é Buxits sempervirens longi- folia, que cresce na Terra Santa atingindo até dez metros de altura. As folhas são pequenas e escuras, e as flores, pequenas e imperceptíveis, são verde pálido com anteras amarelas. Ele cresce bem nas colinas da Galiléia e certamente era conhecido na época de Isaias.

W. E. S he w el l - C o o p e r .

BUZ, BUZITA. (TIH; ’n n ) . 1. Segundo filho de Milca e Naor (Gn 22.21).

2. Homem da tribo de Gade (lC r 5.14).3. Lugar (Jr 25.23).4. Pai de Eliú, chamado de “Baraquel, o buzita”

(Jó 32.2,6).

BUZI (’m). Pai de Ezequiel (Ez 1.3).

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