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Mestrado Integrado em Medicina
6º Ano
Ano Letivo 2013-2014
Susana Raquel Conceição de Jesus
Aluna nº 2008219
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 2
Índice
Páginas
Secção I - Introdução e Objetivos....................................................................................................3
Secção II - Descrição das Atividades Desenvolvidas.......................................................................3
Medicina Interna...................................................................................................................4
Cirurgia.................................................................................................................................4
Pediatria...............................................................................................................................5
Ginecologia e Obstetrícia.....................................................................................................6
Saúde Mental.......................................................................................................................7
Medicina Geral e Familiar.....................................................................................................7
Estágio Clínico Opcional - Cirurgia Geral.............................................................................8
Preparação para a Prática Clínica - Integração de Conhecimentos....................................8
Secção III – Atividades Extra – Plano Curricular ..............................................................................9
Secção IV - Análise Crítica.................................................................................................. ..............9
Secção V – Anexos
Anexo A: Certificado de Participação no Símpósio “Hipertensão Arterial e Insuficiência
Cardíaca - estado de arte em 2014”..................................................................................11
Anexo B: Monografia - “Doença Diverticular do Cólon”........................................................12
Anexo C: Trabalho de síntese -“Taquiarritmias”...................................................................38
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 3
Secção I - Introdução e Objetivos Gerais
O presente relatório diz respeito ao estágio profissionalizante do 6º ano do Mestrado
Integrado em Medicina (MIM) da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de
Lisboa (FCM-NOVA), visando descrever sucintamente as atividades desenvolvidas, e apresentar
uma reflexão crítica sobre as mesmas.
Encontra-se dividido em cinco secções. Na Secção I - Introdução e Objetivos Gerais,
descrevem-se as linhas orientadoras do Estágio Profissionalizante, e expõem-se os objetivos
primordiais propostos; Na Secção II - Descrição de Atividades Desenvolvidas, descrevem-se de
forma sucinta, por ordem cronológica da sua realização, os estágios parcelares realizados; na
Secção III, contextualizam-se as Atividades Extra – Plano Curricular; Na secção IV, apresenta-se
a Análise Crítica; e por último, a Secção V – Anexos.
O Mestrado Integrado em Medicina (MIM) tem como principal objetivo a integração do aluno
na vivência prática do exercício médico, estabelecendo uma “ponte” entre o papel de observador,
para o papel de executante, sempre de forma tutelada. Para tal, é necessária uma formação
sólida, baseada na aquisição/consolidação de conhecimentos, treino de competências práticas e
sociais, proporcionando ao aluno instrumentos para o exercício da atividade médica.
Sendo este o último ano antes de partir para a vida clínica procurei, ao longo de todas as
semanas, alcançar diversos objetivos, indispensáveis ao exercício médico de excelência,
nomeadamente: 1) Aperfeiçoar competências fulcrais a uma boa colheita de dados anamnésicos
e à realização de exame objectivo; 2) Aplicar conhecimentos técnico-científicos adquiridos ao
longo do MIM, bem como, aprofundá-los; 3) Integrar o trabalho de equipa, participando na
formulação/discussão de hipóteses diagnósticas, e na elaboração do plano terapêutico; 4)
Aperfeiçoar a requisição ponderada de exames complementares de diagnóstico (ECDs), bem
como, a sua interpretação; 3) Adquirir competências/capacidades de comunicação, técnicas de
condução de entrevista clínica, tendo em conta a influência exercida pelo contexto
biopsicossocial, familiar e cultural na doença; 6) Ser capaz de realizar triagem de situações
urgentes e emergentes; 8) Reconhecer “lacunas”, tentando minimizá-las através de actualização
científica constante.
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 4
Secção II - Descrição das Atividades Desenvolvidas
Medicina Interna (16/09/2013 a 08/11/2013) O estágio parcelar de Medicina Interna decorreu sob a regência do Prof. Doutor Fernando
Nolasco. Foi constituído por uma componente teórica, preleccionada em seminários semanais na
FCM-NOVA, que abordaram temas de grande relevância/utilidade na prática clínica; e ainda uma
componente prática que decorreu, no serviço de Medicina 1.2. do Hospital de São José (HSJ),
sob a tutela da Dra. Margarida Bentes de Jesus. Diariamente era responsável pela observação de
seis doentes. Participei ativamente na discussão diagnóstica, interpretação e requisição de ECDs,
e elaboração do plano terapêutico, de cada um deles, fazendo ainda a articulação com outras
especialidades, técnicos de saúde e ação social, prestando inclusive informações aos familiares,
após discussão com a minha tutora. Realizei ainda inúmeras notas de entrada e notas de alta.
Semanalmente participei na visita médica, onde apresentei ao restante serviço os casos por mim
seguidos. Na última semana de estágio, pude ainda acompanhar as atividades da minha tutora na
Unidade de Cuidados Intermédios (UCI). No decorrer do estágio, semanalmente, integrei a equipa
do serviço de urgência no HSJ. Diariamente participei nas sessões interdisciplinares matinais,
assisti às apresentações de artigos em formato de Journal Club, e às Sessões Clínicas – Caso
Clínico, tendo, neste contexto, apresentado uma revisão teórica do tema “Síndrome
Confusional Agudo”.
Em retrospetiva, considero que os seminários teóricos, em conjunto com as sessões clínicas
diárias, permitiram-me desenvolver competências teóricas. Em relação à vertente prática, o
estágio superou todas as minhas expectativas. Tanto no serviço de urgência, como na
enfermaria, a oportunidade de integrar a equipa, com autonomia/responsabilidade, permitiu-me
aprender e evoluir, todos os dias, em termos científicos e humanos. Por último, ter integrado a
equipa da UCI, foi uma experiência única, pois permitiu-me complementar
conhecimentos/aptidões, num contexto que me era totalmente desconhecido.
Cirurgia Geral (11/11/2013 a 16/01/2014)
O estágio parcelar de Cirurgia Geral decorreu sob a regência do Prof. Doutor Rui Maio. Foi
constituído por uma componente teórica - aulas teóricas e teórico-práticas lecionadas no Hospital
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Beatriz Ângelo (HBA), que incidiram sobre competências de comunição e liderança, bem como,
técnicas práticas relevantes; e por uma componente prática, que decorreu no Hospital CUF
Descobertas (HCD), sob a tutela do Dr. Ramos Dias. No total, assisti a 38 cirurgias, tendo
participado como 1ª/2ª ajudante em 29 destas. Acompanhei todos os pós-operatórios, e também
outros doentes internados, através da observação/realização pensos, drenagens, remoção de
pontos de sutura/agrafes, prescrição terapêutica, e elaboração da alta médica. Realizei como 1ª
ajudante 11 pequenas-cirúrgias. Aperfeiçoei a técnica de desinfeção, de sutura, e de preparação
do campo/mesa cirúrgica. Participei ativamente nas consultas externas, bem como,
assisti/auxiliei o meu tutor na realização de rectosigmoidoscopias. Acompanhei, semanalmente, o
meu tutor em todos os pedidos de observação do Atendimento Permanente. Durante o estágio,
assisti a diversas reuniões interdisciplinares, nomeadamente, de Gastrenterologia, de Oncologia,
de Obesidade, e a Sessões Clínicas. Realizei ainda duas histórias clínicas de doentes internados
com o diagnóstico de Tromboembolismo Pulmonar e Neoplasia do pâncreas.
No último dia do estágio, teve lugar um Minicongresso no HBA, com a participação de todos
os alunos que realizaram a UC, onde apresentei “Caso Clínico - Quando o “óbvio” esconde o
“improvável”!”, o relato de um caso de Adenocarcinoma da Vesícula.
Após reflexão, este estágio foi uma experiência enriquecedora. Permitiu-me desenvolver
capacidades, tanto teóricas como práticas, de várias patologias e procedimentos cirúrgicos, com
o apoio incondicional do meu tutor, que investiu na minha evolução, através do aperfeiçoamento
de técnicas anteriormente adquiridas, bem como, da transmissão de novos conhecimentos.
Pediatria (27/01/2014 a 21/02/2014)
O estágio parcelar de Pediatria decorreu sob a regência do Prof. Doutor Luís Varandas, no
Hospital Dona Estefânia (HDE). No decorrer do estágio acompanhei a minha tutora - Mestre
Catarina Gouveia. Na enfermaria fui integrada na Unidade de Infecciologia do HDE, onde pude
observar diariamente 2 a 3 doentes, participando na marcha diagnóstica e elaboração do plano
terapêutico. Elaborei diversas notas de entrada e notas de alta. Realizei ainda, uma história
clínica de uma criança internada com diagnóstico de gastroenterite a Salmonella typhimurum.
Durante o estágio participei ativamente em consultas de Infeciologia Pediátrica, bem como, assisti
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a consultas do viajante, onde pude familiarizar-me com medidas obrigatórias e/ou recomendadas
a viajantes, para diferentes destinos. Semanalmente, assisti às Sessões Clínicas de Formação de
Internos e Alunos (SOFIA). Integrei ainda a equipa de serviço de urgência no HDE, de forma
tutelada, onde desenvolvi competências e aprofundei conhecimentos relativos à patologia
pediátrica aguda. Neste estágio está incluída uma valência de Imunoalergologia, composto por
uma componente teórica lecionada no HDE; e por uma componente prática, na qual assisti a
consultas de Imunoalergologia, à realização de testes cutâneos e de provas de função
respiratória. Do meu ponto de vista, é um dos pontos fortes do estágio de Pediatria no HDE,
possibilitando descobrir uma especialidade com a qual não contactamos ao longo de todo o MIM.
Na última semana decorreu ainda um seminário, onde apresentei “Caso Clínico – Bacteriémia
por Campylobacter jejuni”.
Este estágio foi de uma enorme importância, pois permitiu-me, através todas as suas
valências, colmatar algumas lacunas teóricas e práticas, completando a minha formação clínica.
Ginecologia e Obstetrícia (24/02/2014 a 21/03/2014)
O estágio parcelar de Ginecologia e Obstetrícia decorreu sob a regência da Prof. Doutora
Fátima Serrano, na Maternidade Alfredo da Costa (MAC). As primeiras duas semanas foram
dedicadas à Ginecologia, onde assisti a consultas de Ginecologia Geral, consulta de
Planeamento Familiar e consulta de Senologia, tendo aperfeiçoado a técnica do exame
ginecológico, do rastreio citológico e da palpação mamária. Assisti ainda à realização de vários
ECDs, bem como a 8 cirurgias ginecológicas/mamárias, participando como 1ª/2ª ajudante em 5
destas. As duas últimas semanas foram dedicadas à Obstetrícia, tendo as atividades clínicas
decorrido na Enfermaria do Serviço de Medicina Materno-Fetal (SMMF), Enfermaria do Puerpério,
consultas de Alto Risco e Bloco Operatório, tendo assistido a 10 cirurgias obstétricas, nas quais
participei em 4 como 2ª ajudante/instrumentista. Integrei, semanalmente, de forma tutelada, a
equipa do serviço de urgência na MAC. No final do estágio, teve lugar um seminário na MAC, no
qual apresentei um artigo de revisão “Gynecologic malignancy in pregnancy”. Foi um estágio
que me permitiu explorar as diversas valências que constituem a especialidade, adquirindo
conhecimentos base e competências individuais de forma a dar resposta às necessidades da
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Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 7
mulher nas várias etapas da sua vida, no que respeita à prevenção da doença, bem como ao
diagnóstico e tratamento das situações mais frequentes.
Saúde Mental (24/03/2014 a 24/04/2014)
O estágio parcelar de Saúde Mental decorreu sob a regência do Prof. Doutor Miguel Xavier.
Este, foi dividido em duas vertentes. A primeira, mais teórica, decorreu nos dois primeiros dias na
FCM-NOVA, onde nos foram transmitidas, através de casos clínicos, linhas orientadoras na
abordagem de algumas das patologias mais prevalentes na urgência psiquiátrica.
A segunda componente, de natureza prática, decorreu no Hospital Júlio de Matos (HJM), e
foi subdividida em dois períodos distintos. Durante o primeiro período, conheci/integrei diversas
unidades: UTRA (Unidade de Tratamento e Reabilitação Alcoológica); Unidade de Reabilitação;
Hospital de Dia; UCCPO (Unidade Comunitária de Cuidados Psiquiátricos de Odivelas). O
segundo período decorreu no internamento – Serviço de Perturbações Afetivas e Perturbação
Obsessivo-Compulsiva, sob a tutela do Dr. Marco Gonçalves, onde tive a oportunidade de realizar
uma história clínica de um doente, com diagnóstico de Perturbação Bipolar Tipo II, internado na
sequência de uma tentativa de suicídio. Semanalmente, assiti à Consulta Externa, bem como,
integrei a equipa do serviço de urgência. Por último, assisti ainda aos seminários semanais
leccionados pelos internos da especialidade.
O estágio revelou-se uma experiência única, pois contactei com várias patologias
psiquiátricas, morbilidade associada e medidas terapêuticas, de importância transversal a todas
as especialidades.
Medicina Geral e Familiar (28/04/2014 a 23/05/2014)
O estágio parcelar de Medicina Geral e Familiar (MGF) decorreu sob a regência da Prof.
Doutora Maria Isabel Santos, no Centro de Saúde do Montijo, sob a tutela da Dra. Maria Rosário
Santos. Participei em consultas de Saúde Adultos, Diabetes, Hipertensão Arterial, Saúde Infantil,
Saúde Materna, Planeamento Familiar, e consulta do Dia, realizando de forma autónoma a
colheita de anamnese e exame objetivo.
A variedade de patologias observadas possibilitou-me rever e aplicar conhecimentos
teóricos, bem como medidas preventivas, alertando-me ainda para a complexidade da
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 8
abordagem de doentes com pluripatologia, e a problemática da polimedicação. Desenvolvi
competências na abordagem holística do doente e na comunicação médico-doente, tal como,
deparei-me com a importância dos aspetos socio-culturais na manifestação dos problemas de
saúde. Percebi ainda o papel preponderante da Medicina Geral e Familiar nas populações com
menor acessibilidade aos cuidados de saúde diferenciados.
Este estágio revelou-se rico, em conteúdos científicos e humanos, possibilitando-me a
aquisição de autonomia e a revisão/consolidação de conhecimentos teóricos em várias áreas.
Considero contudo que deveria ter uma maior duração e que, ao longo do percurso académico,
seria importante um contacto mais precoce com os Cuidados de Saúde Primários.
Estágio Clínico Opcional – Cirurgia Geral (26/05/2014 a 06/06/2014)
O Estágio Clínico Opcional decorreu sob a regência do Prof. Doutor Fernando Nolasco, no
Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil (IPOLFG), sob a tutela do Dr. Nuno
Abecassis. Optei por integrar a Unidade de OTS (Outros Tumores Sólidos), pela oportunidade
única de contactar com a singularidade de casos que esta abrange. Diariamente, desempenhava
funções na enfermaria e, bloco operatório ou consulta externa. Semanalmente, assisti às
Reuniões Interdisciplinares de Melanomas e de Sarcomas, que em conjunto com a consulta
externa, amplificaram o meu conhecimento científico através da discussão de casos clínicos.
Semanalmente, assisti às sessões clínicas do serviço de Cirurgia Geral, e participei na visita
médica, apresentando os casos da Unidade a todo o serviço. Este Estágio Clínico, tratando-se de
uma valência opcional, permite ao futuro médico, o contacto com áreas de interesse pessoal.
Preparação para a Prática Clínica – Integração de conhecimentos
A Unidade Curricular decorreu ao longo do 1º semestre, quinzenalmente, sob a regência e
coordenação do Prof. Doutor Palma dos Reis. As sessões multidisciplinares, lecionadas na FCM-
NOVA, por vários médicos especialistas, estimularam o raciocínio clínico dos alunos, bem como,
a integração de conhecimentos adquiridos em anos anteriores, tendo como objetivo major
promover uma correta marcha diagnóstica. A existência duma unidade curricular com objetivos
tão cruciais para o exercício da futura profissão, enquadrada no final do percurso académico do
estudante de Medicina, na minha opinião, enriquece o currículo do MIM da FCM-NOVA.
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 9
Secção III – Atividades Extra-Plano Curricular
Durante o presente ano, além das atividades formativas incluídas no plano curricular, ao
nível individual investi no aprofundamento e diversificação de conhecimentos. Deste modo, assisti
ao Simpósio “Hipertensão Arterial e Insuficiência Cardíaca – Estado de Arte em 2014” promovido
pela faculdade de Medicina na Universidade de Lisboa. Além disso, realizei uma monografia
sobre “Doença Diverticular do Cólon” motivada por um caso clínico com que me deparei durante o
estágio de Cirurgia Geral. Por último, também no contexto de um caso clínico, realizei um
trabalho de síntese sobre “Taquiarritmias” que apresentei no Centro de Saúde do Montijo.
Secção IV – Análise Crítica
O Estágio Profissionalizante, pretende facultar aos jovens médicos um núcleo de
conhecimentos e competências que lhes permita aprender, autonomamente, ao longo da carreira
médica. Seis anos após ter escolhido a FCM-NOVA e após reflexão, concluo que esta instituição,
conferiu-me excelentes oportunidades, transmitindo-me competências teóricas e técnicas
necessárias ao exercício de Medicina de excelência. Reconheço que a formação adquirida
depende não só das características da formação oferecida, mas também do interesse/motivação
do aluno. Tive e aproveitei oportunidades únicas na formação prática proporcionada, desde o
início da componente clínica do MIM. Contudo, a realização de um estágio profissionalizante é
uma oportunidade valiosa, permitindo ao aluno, cada vez mais autónomo, ainda sob tutela,
interiorizar a realidade da profissão. Para que tal aconteça, saliento a importância vital do racio
tutor/aluno de 1:1, para estimular a evolução individual do jovem médico. Outro ponto forte do
Estágio Profissionalizante no MIM da FCM-NOVA é a existência de uma unidade curricular
opcional, que permite ao aluno conhecer, integrar e experimentar, novas áreas.
Como pontos negativos do MIM, saliento a discrepância de carga horária entre Estágios
Parcelares e entre hospitais, condicionando critérios uniformes na avaliação dos alunos.
Analisando este ano na sua globalidade, considero ter cumprido a maioria dos objetivos. Em
particular, destaco ter desenvolvido e aperfeiçoado diversas competências, nomeadamente na
colheita de anamnese e exame objetivo. Melhorei o raciocínio clínico e, evoluí no que concerne
ao plano terapêutico, uma das áreas onde sentia mais receio. Desenvolvi ainda competências na
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 10
organização e registo nos processos clínicos dos doentes. Contudo, deparei-me com lacunas nos
meus conhecimentos médicos, que tentei esclarecer junto dos tutores ou de fontes bibliográficas.
Apercebi-me ainda de inseguranças que eu própria desconhecia, tais como, em relação à
abordagem ao doente pediátrico, talvez pelo contacto efémero com esta especialidade ao longo
de todo o MIM, situação que tentei colmatar tanto em pediatria como em MGF. A articulação com
outras especialidades e equipas, e a proximidade com os doentes e seus familiares foram
essenciais no treino de competências ao nível de trabalho de equipa, comunicação e
estabelecimento de relação médico-doente. A inibição inicial deu progressivamente lugar à
aquisição de competências no estabelecimento de relações empáticas, algo que não se aprende
nos livros. Além de todas estas competências tão necessárias, aprendi a tratar pessoas, não
doenças; a respeitar a morte, e a valorizar a vida.
Em suma, foi um ano extremamente gratificante e de grande relevância para a minha
formação pessoal e profissional, terminando mais apta e confiante no exercício da prática clínica.
Apesar do MIM não ser perfeito, e de assumir que existem algumas inseguranças e lacunas
na minha formação, penso que possuo todas as ferramentas para alterar este desfecho. Acredito
que os objetivos se concretizam com trabalho árduo, força de vontade e espírito de sacrifício, e
não sendo uma pessoa perfeita, sei reconhecer as minhas limitações e combatê-las, bem como
pedir ajuda quando necessário. Após duas tentativas falhadas na entrada para o MIM, hoje não
tenho qualquer dúvida que a perseverância compensa, e que os sonhos, apenas o são, enquanto
não os atingimos, sentindo-me uma priviligiada por exercer a mais linda profissão do mundo.
Ao fim destes anos, sou uma pessoa diferente, resultado de um suporte sólido e estruturado.
Por tudo isto, agradeço aos meus familiares, que me apoiaram incondicionalmente, mesmo
quando, durante estes anos, foram tantas vezes privados do meu tempo e atenção. Agradeço
ainda, aos meus colegas e amigos, em especial à minha madrinha de curso, pelos momentos
bons e menos bons que comigo partilharam. Deixo ainda uma palavra de apreço e agradecimento
a todos os Professores, Assistentes e Tutores da FCM-NOVA, pela dedicação e constante
preocupação por um ensino de excelência, praticado nesta nobre e respeitável instituição.
“ A dúvida é o princípio da sabedoria.” (Aristóteles)
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
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Secção V – Anexos
ANEXO A: Certificado de Participação no Símpósio “Hipertensão Arterial e Insuficiência
Cardíaca - estado de arte em 2014”, realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de
Lisboa, no dia 11/Abril/2014.
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
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ANEXO B: Monografia – “Doença Diverticular do Cólon”
Faculdade de Ciências Médicas
Universidade Nova de Lisboa
Doença Diverticular
do Cólon
Janeiro/2014
Susana Raquel Conceição de Jesus
Nº 2008219
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 13
Índice
Páginas
Introdução .................................................................................2
Definição ....................................................................................2
Diverticulose............................................................................3
Epidemiologia................................................................3
Fatores de Risco............................................................4
Etiologia e Fisiopatologia.............................................5 Manifestações Clínicas.................................................7
Diagnóstico....................................................................8
Tratamento.....................................................................8
Complicações...............................................................9
I - Diverticulite.......................................................9
Etiologia e Fisiopatologia...........................9
Manifestações Clínicas ...........................10
Exame Objetivo.........................................10
Diagnóstico Diferencial............................10 Diagnóstico ...............................................11
Tratamento................................................13
Terapêutica Cirúrgica.....................15
Complicações...........................................19
Obstrução Intestinal.........................19
Fístulas................................................20
Peritonite...........................................20
II - Hemorragia Diverticular................................21 Fatores de Risco........................................21
Etiologia e Fisiopatologia.........................21
Manifestações Clínicas............................22
Diagnóstico e Tratamento.......................22
Conclusões...............................................................................23
Bibliografia................................................................................25
1
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 14
Introdução
Foi em 1700 que surgiu a descrição do primeiro divertículo, registado
como uma “curiosidade patológica” pelo cirurgião Francês Alexis Littre. Em
1900 acreditava-se que a Doença Diverticular era rara, até que em 1971 e
1975, Painter e Burkitt a descreveram como um “problema do século XX” e
uma “doença da civ ilização Ocidental”.
Sendo que a Doença Diverticular do colón é a patologia estrutural
mais frequente do colón, a sua relevância justifica uma rev isão da
literatura atual.
Neste contexto, é útil rever alguns conceitos.
Definição
Em primeiro lugar é de extrema importância rever conceitos
essenciais, tal como, o conceito de divertículo.
Um divertículo é uma protrusão sacular da mucosa através da
parede muscular de um órgão oco (mais comum no colón), que surge em
áreas de fragilidade da parede intestinal onde penetram os vasos
sanguíneos.
Têm quase sempre entre 0,5 a 1,0 cm de diâmetro e o seu número
pode variar de um a várias centenas.
Estes podem ser classificados como:
Verdadeiros: quando o divertículo é constituído por todas as
camadas da parede intestinal.
Falsos ou Pseudodivertículos: quando na sua constituição faltam
porções da parede entérica normal.
Na realidade os divertículos com importância clínica são pseudo-
divertículos, pois contêm apenas as camadas da mucosa e da submucosa
recobertas pela serosa.
Figura 11: Ilustração de Divertículo verdadeiro e Pseudodivertículo
A Doença diverticular refere-se à presença de um ou mais
divertículos, com a doença a manifestar um espectro clínico, que vai
desde um quadro assintomático a um sintomático com potenciais
complicações letais.
2
1 Imagem retirada de: http://medicinageriatrica.com.br
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 15
Na maioria dos casos, a Doença Diverticular é assintomática, sendo
muitas vezes diagnosticada em exames complementares de diagnóstico
de rotina.
Pode-se classificar a Doença Diverticular em:
Simples (≈75 % dos casos): Doença sem complicações associadas
Complicada (≈ 25 % dos casos): Doença com complicações
associadas.
As complicações mais comuns e significativas são a diverticulite, a
hemorragia diverticular, e outras, tais como abcessos, fístulas, obstruções e
peritonite.
Cerca de 70% dos casos de Doença Diverticular do cólon são
assintomáticos.
Acredita-se que do grupo de doentes sintomáticos (30%): 10-25%
evoluírão para diverticulite (95% casos ocorrerá no colón sigmóideu),
sendo que destes, ¼ evoluirá com complicações potencialmente
ameaçadoras à v ida como: perfuração, fístula, obstrução ou estenose.
Diverticulose
A Diverticulose é a patologia que se caracteriza pela presença de
múltiplos pseudodíverticulos, não complicados, no cólon.
Na população ocidental, os divertículos localizam-se
predominantemente no cólon esquerdo (85% dos casos). Em cerca de 90%
destes doentes há envolv imento do colón sigmóideu, sendo que
raramente há doença abaixo da reflexão peritoneal.
A doença diverticular do cólon direito (15% dos casos) manifesta-se
maioritariamente nas populações asiáticas, normalmente com um
comportamento menos agressivo.
À medida que um indiv íduo vai envelhecendo, o número de
divertículos tem tendência a aumentar, mas a extensão da doença
permanece constante.
Figura 22: Ilustração de Diverticulose
Epidemiologia
A Diverticulose é uma patologia decorrente dos hábitos alimentares
da sociedade moderna, mais propriamente, escontra-se associada a uma
dieta pobre em fibras, sendo que a sua incidência tem crescido nas
últimas décadas.
3
2 Imagem retirada de: http://drfernandovalerio.com.br
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 16
A Diverticulose é mais frequente nos países desenvolv idos,
ligeiramente mais comum nos Estados Unidos da América do que na
Europa e, mais rara nos continentes Africano e Asiático, atingindo
sobretudo os grupos etários mais avançados da população.
Estima-se que 30% da população com mais de 60 anos, e 60% dos
indiv íduos com mais de 80 anos, sejam afetados.
Na Europa, atualmente o impacto da Doença Diverticular é enorme,
estimando-se que existam cerca de 102 milhões de pessoas com
divertículos do cólon e que estes sejam diretamente responsáveis por
cerca de 785 000 internamentos e 23 605 mortes por ano. A prevalência
parece ser homogénea por toda a Europa, isto é, não apresenta um
gradiente geográfico. Todos os estudos concordam que o aumento da
prevalência desta condição na Europa se encontra associada ao
aumento do envelhecimento da população, em conjunto com um maior
sedentarismo.
Nos EUA, em 1998 ocorreram 120.500 internamentos devido a doença
diverticular, enquanto em 2005 ocorreram 151.900 internamentos
(aumento de 26% em 7 anos). No mesmo período o número de
intervenções cirúrgicas aumentou 29% (de 16.100 para 22.500).
A grande maioria dos indiv íduos permanecem assintomáticos e,
apenas 30% desenvolvem sintomas, o que torna difícil definir a verdadeira
prevalência desta doença.
É uma patologia que aumenta com o envelhecimento, sendo mais
frequente em pessoas mais velhas (prevalência aumenta gradualmente
até aos 65% em pessoas com ≥ 65 anos).
Uma pequena percentagem (2-5% dos casos) de Doença Diverticular
do cólon ocorre em indiv íduos com <40 anos de idade. Neste grupo mais
jovem, a doença é mais frequente em homens, com a obesidade como
grande fator de risco (presente em 84-96 % dos casos), localizando-se preferencialmente no cólon sigmoideu e/ou no descendente. Acredita-se
que a doença neste subgrupo seja mais agressiva, uma vez que a história
natural realmente mostra uma tendência à recorrência dos sintomas e
uma incidência aumentada de evolução desfavorável, com necessidade
de cirurgia. Portanto, a cirurgia é frequentemente o tratamento de
escolha para doentes jovens sintomáticos (aproximadamente 50%,
comparados com 30% de sintomáticos entre todos os doentes).
Inicialmente pensou-se que a Doença Diverticular era mais
prevalente nas mulheres, mas estudos recentes demonstraram que não
existe qualquer diferença entre os sexos.
Com o envelhecimento global da população, espera-se que a
doença diverticular e suas complicações representem uma percentagem
cada vez maior da requisição do cirurgião, tanto em contexto de consulta
como em urgência.
Fatores de Risco
O baixo consumo de fibras na dieta, foi inicialmente descrita como
um possível factor etiológico no desenvolv imento da Doença Diverticular
por Painter e Burkitt no final da década de 60. Apesar de a hipótese ser
inicialmente recebida com alguma resistência, a sua confirmação foi
demonstrada posteriormente em publicações.
4
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
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Neste momento sabe-se que:
• O risco relativo de desenvolver Doença Diverticular num
indiv íduo com grande consumo de fibras alimentares é 0.58.
• A Doença Diverticular é menos comum em vegetarianos.
A teoria atual acredita que o consumo de fibra alimentar actua
como agente protetor contra a formação de divertículos e,
consequentemente, de diverticulose:
Fibras insolúveis causam a formação de fezes mais volumosas,
que levam a uma efectiv idade reduzida nos movimentos de
segmentação do cólon.
O resultado disso é que a pressão intraluminal permanece
próxima à normal durante a peristalse do cólon.
Assim, a ingestão de grandes quantidades de fibras alimentares
diminui o risco da Doença Diverticular, principalmente as fibras insolúveis
derivadas de celulose (frutas e vegetais).
Atualmente, estudos demonstram que o exercício físico vigoroso
também parece ter um papel na redução do risco da Doença
Diverticular.
Não há evidência de relação entre o desenvolv imento de
divertículos e tabagismo, consumo de álcool ou cafeína.
Observa-se, no entanto, um risco aumentado de desenvolvimento de
doença diverticular associado à dieta rica em carne vermelha e gordura.
Estabelecida a Diverticulose, o risco de desenvolv imento de
complicações, é mais elevado em doentes que:
Apresentam hábitos tabágicos
Consomem Anti-inflamatórios Não Esteróides com muita
regularidade, incluindo o paracetamol.
São obesos Têm dieta pobre em fibras.
De registar que não existe qualquer relação entre a desenvolv imento
de complicações da Diverticulose e a ingestão de bebidas alcoólicas ou
com cafeína.
Etiologia e Fisiopatologia
A fisiopatologia da Diverticulose é um processo multifatorial que
parece envolver os hábitos alimentares, alterações na pressão e na
motilidade do cólon e, alterações estruturais da parede do cólon
associadas ao envelhecimento.
No cólon, anatomicamente, as fibras
musculares circulares formam uma camada
completa, enquanto que, as fibras
musculares longitudinais, mais periféricas,
estão concentradas em três fitas ou taeniae
coli (uma taeniae mesentérica e duas
taeniae antimesentéricas), deixando a
parede cólica compreendida entre estas,
privada de camada longitudinal. Figura 33: Anatomia do Cólon
5
3 Imagem retirada de: http://ecured.cu
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Do ponto de v ista estrutural, os divertículos formam-se em zonas de
menor resistência da parede cólica. Essas zonas estão em regra,
compreendidas entre a taeniae mesentérica e uma das taeniae
antimesentéricas (mais raramente, podem ocorrer na área entre as
taeniae antimesentéricas) e correspondem aos locais em que as arteríolas
- vaza recta (ramos da artéria marginal) penetram a parede muscular
para se dirigirem para a submucosa e a mucosa.
É por este locais que, sob certas circuntâncias, ocorrem protusões da
mucosa através da parede do colón, originando o divertículo.
A parede dos diverticulos cólicos é, por consequência, constituída
por mucosa e muscularis mucusae revestidos de serosa. Os divertículos são,
de início, cobertos por músculo mas, à medida que se expandem, a
camada muscular atrofia e, v irtualmente desaparece, exceto na zona do
colo diverticular, formando pseudodivertículos.
Por vezes, a arteríola div ide-se: um dos ramos penetra a parede
cólica ao lado do divertículo e o outro ramo, com trajecto exterior à
parede muscular, é empurrado pela cúpula diverticular. Esta íntima
associação entre o divertículo e a arteríola é responsável pela
fisiopatologia da hemorragia diverticular maciça, uma complicação da
diverticulose.
Figura 44:
Á esquerda: Processo de formação do
divertículo, demonstrando relação arteríolar.
Á Direita : corte transversal cólico,
evidenciando os pontos de origem
diverticular.
Este processo de formação de divertículos é facilitado por:
Alterações na pressão e na motilidade do cólon: Na Diverticulose, a pressão intracólica é anormalmente elevada, o
que empurra a mucosa (divertículos de pulsão), através dos pontos fracos
da parede cólica criados pelos vasos sanguíneos.
De acordo com a Lei de Laplace, a relação entre a diferença de
pressão (∆P), a tensão da parede (∆T), e o raio (R) de um cilindro é ∆P =
∆T/R. Assim, a pressão transmural no cólon é maior no segmento cólico
mais estreito – o cólon sigmoideu; o que poderá justificar que este esteja
envolv ido em 95 % dos casos de Diverticulose.
A pressão cólica normal é apenas ligeiramente superior á pressão
atmosférica normal. No entanto, podem-se formar pressões muito
elevadas (como 90 mmHg) num segmento estreito do colón, na sequência
de contrações segmentares. Os anéis de contração podem,
inclusivamente, provocar obstrução transitória.
Um lúmen estreito (como o do cólon sigmoideu) permite contrações
segmentares isoladoras de sectores do cólon que ficam sujeitos a altas
pressões intracólicas. Presume-se que repetidas contrações promovam a
formação de divertículos.
6
4 Imagem retirada de: http://derival.com.br
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Alterações estruturais da parede do cólon associadas ao
envelhecimento: O cólon sigmoideu e outros segmentos intestinais na doença
diverticular tornam-se não complacentes com a idade, por diversos
mecanismos:
"Mychosis" - conjunto de alterações que inclui espessamento da
camada de músculos circulares, encurtamento das taeniae e
estreitamento do lúmen intestinal, como resultado de alterações
ao nível de:
Elastina - aumento na deposição de elastina entre as
células musculares e as taeniae. A elastina também é
depositada numa forma contraída que leva ao
encurtamento da taeniae e ao enovelamento da
musculatura circular.
Colagénio - doenças do tecido conjuntivo, como a
Síndrome de Ehlers-Danlos, a Síndrome de Marfan e a
Doença Poliquística Renal autossómica dominante,
resultam em mudanças estruturais na parede intestinal,
levando a uma redução na sua resistência à pressão
intraluminal e, portanto, permitindo a protrusão de
divertículos.
Por este motivo é compreensível que a Diverticulose seja cada vez
mais prevalente com o aumento da idade, justificando também o
envolv imento do cólon sigmoideu muito frequente, como se verifica:
Envolv imento de outro segmento + Cólon Sigmóide: 95%
Apenas Cólon Sigmoideu: 65%
Todo o Cólon: 7%
Próximo ao Cólon Sigmoideu (mas cólon sigmoideu normal): 4%
Assim, pode-se concluir que a saúde intestinal é influenciada
negativamente por uma dieta pobre em fibras, que contribui para uma
elevada pressão intraluminal do cólon, que pode originar fenómeno de
segmentação, com consequente stress na parede intestinal, que só por si,
com o aumento da idade, já revela alterações estruturais que predispõem
a formação de divertículos.
Manifestações Clínicas
Como já foi referido, a grande maioria dos casos (70%) de
Diverticulose são assintomáticos, sendo o diagnóstico realizado por um
achado em exame complementar de diagnóstico.
Nos casos sintomáticos (30%), o quadro clínico é constituído por um
ou vários dos seguintes sintomas:
Dor abdominal ocasional: localizada na fossa ilíaca esquerda ou
no hipogastro, aliv iando com a expulsão de gases.
Durante as crises álgicas, a palpação abdominal pode ser
dolorosa na área do cólon sigmoideu, podendo mesmo ser
possível a palpação da corda cólica.
Flatulência
Obstipação e/ou Diarreia Estes sintomas estão relacionados com alterações da motilidade
cólica, espasmo segmentar, espessamento muscular e estreitamento do
lúmen cólico, não apresentando uma relação direta com a presença dos
divertículos.
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Diagnóstico O diagnóstico de diverticulose realiza-se pela clínica e pelo acesso a
exames complementares de diagnóstico, sendo eles:
Radiografia abdominal simples: Podem estar presentes sinais radiológicos de obstrução intestinal no
quadrante inferior esquerdo do abdómen. Em caso de dúvida deve-se
recorrer a outros meios imagiológicos tais como TAC abdominal ou
Ecografia abdominal.
Radiografia abdominal com
clister opaco: Permite observar a existência de
contorno espiculado do colón – “imagem
em dentes de serra” ou mesmo a
presença de saculações, localizadas
preferencialmente no cólon sigmoideu.
Os divertículos podem apresentar
defeitos de replecção devido à presença
de fezes no seu interior.
Em muitos casos existe
encurtamento, estenose e deformação
do setor onde se encontram os
divertículos. Figura 55: Diverticulose visualizada em
Radiografia abdominal com clister opaco
Colonoscopia: Permite a observação dos orifícios
diverticulares, a existência de conteúdo
fecal no seu interior, o aspecto da mucosa, e
ainda, apurar a existência de estenose.
Permite ainda excluir outras lesões
concomitantes, nomeadamente, lesão
neoplásica.
Figura 66: Orifício diverticular
visualizado por Colonoscopia
TAC e Ecografia abdominal: Em caso de dúvida diagnóstica, raramente são necessários. São
exames não invasivos e ambas demonstram espessamento da parede
cólica.
Tratamento
A Diverticulose deve ser controlada preferencialmente por alterações
dietéticas, tais como:
Reforço hídrico
Dieta enriquecida em fibras – 30 gr/dia.
Evitar alimentos que promovam a obstipação.
Produtos suplementares ricos em fibras podem ser uteis.
8
5 Imagem retirada de: http://progastrojoinville.com.br/enciclopedia/diverticulose 6 Imagem retirada de: http://jmarcosrs.wordpress.com/2011/03/15/2688/
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Os doentes devem ainda, ser incentivados a:
Cessação tabágica, uma vez que o tabaco
constitui um factor de risco à ocorrência de complicações.
Exercício físico regular
Complicações
As complicações mais comuns e significativas da Diverticulose
são: a diverticulite e a hemorragia diverticular.
I - Diverticulite
A Diverticulite é o processo inflamatório que ocorre na sequência de
perfuração dos divertículos, e representa a principal complicação da
diverticulose.
A alta e crescente prevalência da doença diverticular do cólon, que
atinge cerca de 60% na população acima da sétima década de v ida,
assim como os riscos inerentes aos episódios agudos de Diverticulite
Aguda, justificam a necessidade de uma rev isão da literatura atual.
Etiologia e Fisiopatologia
A Diverticulite representa um espetro de alterações inflamatórias que
variam desde inflamação local subclínica à peritonite generalizada com
perfuração liv re.
O mecanismo de desenvolv imento da diverticulite está centrado na
perfuração do divertículo, seja ela
micro ou macroscópica. O antigo
conceito de obstrução do óstio do divertículo provavelmente só ocorre
raramente.
A pressão intraluminal
aumentada e/ou conteúdo fecal
espessado (fecalitos) podem causar
erosão na parede diverticular, que
progride para inflamação, necrose
focal e perfuração (micro ou
macroscópica).
Figura 77: Fisiopatologia da Diverticulite
Pode-se classificar a Diverticulite em:
Diverticulite Não Complicada: 75% dos casos
Diverticulite Complicada: 25% dos casos (obstrução intestinal, abcessos, fístulas ou peritonite)
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7 Imagem retirada de: http://www.iad-goiania.com.br/node/68
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Manifestações Clínicas
A manifestação clínica de uma diverticulite depende do tamanho
da perfuração, e de quão v igoroso for o tamponamento pelo organismo.
Perfurações, se bem controladas, podem resultar na formação de
abcessos, enquanto que se o tamponamento for incompleto pode
desencadear uma peritonite.
A maioria dos doentes apresenta-se com quadro de Abdómen
Agudo:
Dor no quadrante inferior esquerdo, por vezes já há vários dias.
Se o doente tiver cólon sigmoideu redundante pode ocorrer dor
no hipogastro ou mesmo no quadrante inferior direito.
Distensão Abdominal marcada
Alterações do trânsito intestinal, nomeadamente diarreia.
Sintomas inespecíficos: náuseas e vómitos
Se a perfuração for de grandes dimensões e o fleimão
formado não for eficaz na contenção do conteúdo fecal para o
abdómen liv re, o doente pode apresentar-se com uma peritonite
já estabelecida, podendo estar presente “ventre em tábua”.
Sintomas urinários podem sugerir a presença de fleimão pélv ico.
Exame Objetivo
O exame objetivo pode ser normal, no entanto é usual dor à
palpação abdominal (pode piorar à descompressão abdominal,
indicando algum grau de envolv imento peritoneal) e/ou presença de
massa abdominal palpável (em 20% dos casos).
Febre é um achado comum, podendo ocorrer até 45% dos casos.
Diagnóstico Diferencial
São várias as patologias que se apresentam como abdómen agudo
ou manifestam sinais/sintomas semelhantes aos encontrados na
Diverticulite aguda, o que justifica o seu diagnóstico diferencial.
São elas:
Apendicite Aguda: apresenta-se como abdómen agudo,
constituindo a hipótese diagnóstica errónea mais frequente.
Doença inflamatória intestinal, nomeadamente Doença de Crohn,
pelas alterações do trânsito intestinal que lhe são caracteristicas.
Neoplasia do colón: normalmente é acompanhado de perda
ponderal, massa palpável, alteração do trânsito intestinal e
hematoquézias.
Colite isquémica: muito importante em doentes com história prévia
de doença aterosclerótica coronária, carotídea ou femoral.
Síndrome do intestino irritável
Doença inflamatória pélv ica
Pielonefrite Aguda
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Diagnóstico
A avaliação inicial do doente com suspeita de Diverticulite Aguda
deve ser no sentido de esclarecer a etiologia do quadro de abdómen
agudo, através de anamnese dirigida, exame objetivo geral, abdominal e
toque retal.
Ainda que cerca de 90% dos episódios de Diverticulite Aguda
ocorram no cólon esquerdo, mais precisamente no cólon sigmoideu, não
se deve deixar de ter em mente que a diverticulite pode ocorrer em
qualquer localização do cólon.
O diagnóstico da diverticulite aguda normalmaente pode ser
realizado com base apenas na anamnese e no exame objetivo.
No entanto, o diagnóstico clínico isolado pode estar incorreto em até
1/3 dos casos, pelo que se justifica a confirmação diagnóstica, se suspeita
de diverticulite aguda. Além do mais, a comprovação diagnóstica e
documentação de uma crise de diverticulite são úteis a longo prazo no
acompanhamento e na formulação da proposta terapêutica, sobretudo
se estes v ierem a ser conduzidos por outro especialista.
Embora frequentemente realizado na prática clínica diária, e
vantajoso economicamente, não há evidência suficiente para
recomendar a realização do diagnóstico de diverticulite aguda com base
exclusivamente na anamnese e no exame objetivo.
Inicialmente, após realização de anamnese e exame objetivo, se
existirem algumas dúvidas em relação ao diagnóstico de diverticulite
aguda, com v ista a auxiliar o diagnóstico diferencial, a avaliação por
radiografia simples do abdómen em duas posições, Hemograma e Exame
urinário (Urina II) devem ser solicitados. Se o diagnóstico estiver correcto é
comum:
Hemograma: Presença de Leucocitose.
Radiografia simples do abdómen em duas posições: 50 % casos revela achados anormais, ainda que inespecíficos:
Pneumoperitoneu pode ser v isto em 11% dos doentes.
Outros achados comuns:
Dilatação dos cólon e intestino delgado ou íleos
paralítico
Obstrução intestinal
Densidades em tecidos moles sugestivas de
abcesso
Exame sumário da urina normalmente não tem achados.
Para confirmação diagnóstica, a TAC abdomino-pélvica com
contraste oral e endovenoso é o melhor exame diagnóstico (grau de
recomendação A).
A Diverticulite Aguda é uma doença predominantemente
extraluminal. A tomografia computadorizada oferece o benefício de
avaliar tanto o intestino quanto o mesentério com uma sensibilidade de 69-
98% e uma especificidade de 75-100%.
Os achados imagiológicos mais observados na diverticulite aguda
são:
Espessamento da parede intestinal
Gordura mesentérica raiada
Abcesso associado
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Além disso, é através deste exame que é possível classificar
Diverticulite Aguda em Não Complicada ou Complicada (presença de
abcesso, fístula, obstrução, peritonite), bem como, através da
Classificação de Hinchey, permitir uma adequada escolha terapêutica.
Figura 88: Classificação de Hinchey
I :Abcesso pericólico ou fleimão
I I : Abcesso intra-abdominal ou retroperitoneal
I I I : Peritonite purulenta
IV: Peritonite fecal
Outras investigações poderão ser úteis no caso de TAC não estar
disponível:
Ecografia Abdominal: Vantagens:
Disponível, seguro, não invasivo, e pouco dispendioso
Desvantagens:
Dependência do operador
Pouco fidedigno na presença de marcada distensão
abdominal
Achados prováveis no caso de Diverticulite Aguda:
Espessamento da parede cólica
Abcessos
• Enema contrastado:
No quadro agudo, é reservado especialmente para quando o
diagnóstico não está claro, e a TAC não se encontra disponível. Tem uma
sensibilidade de 62-94% com uma taxa de falsos negativos de 2-15%.
O diatrizoato de meglumina é um contraste hiperosmolar que pode
assistir na suboclusão intestinal, se estiver presente.
Apesar do risco de agravamento do quadro clínico devido à
injecção de ar ou contraste hidrossolúvel num divertículo perfurado, há
evidência de que o enema opaco quando realizado com contraste
hidrossolúvel nos doentes com diverticulite aguda seja seguro.
Quando há suspeita de Diverticulite Aguda Nao Complicada, a
confirmação diagnóstica pode ser realizada com similar eficácia através
de Enema opaco ou de TAC abdominal.
• Endoscopia - Proctossigmoidoscopia / Sigmoidoscopia flexível:
O uso de procedimento endoscópico, com a inerente insuflação de
ar, é contra-indicado no quadro agudo pelo aumento no risco de
perfuração intestinal.
Não se obteve evidência para justificar o emprego da ressonância
magnética (RM) para o diagnóstico da diverticulite aguda.
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8 Imagem retirada de: http://pt.lecturas.org/medicina/41492-clasificaci%C3%B3n-de-hinchey.html
I II III IV
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Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 25
Tratamento O tratamento da Divert iculite Aguda depende da
ausência/presença de complicações e do estado clínico do doente.
Divert iculite Aguda Não Complicada
O tratamento da Diverticulite Aguda Não Complicada, numa
primeira abordagem, assenta em terapêutica médica e depende da
sintomatologia do doente:
Doentes com queixas álgicas leves, sem sinais sistémicos
como febre, com transito intestinal mantido, via oral mantida, e discreta elevação dos parâmetros inflamatórios:
Tratamento realiza-se normalmente em regime de ambulatório:
Dieta líquida pobre em resíduos a curto prazo.
Analgesia.
Manter trânsito intestinal, se necessário com uso de laxantes.
Protetor gástrico, por exemplo, Omeprazol.
Antibioterapia oral de largo espetro em monoterapia 7-14 dias
(Amoxicilina/Ácido Clavulânico, Sulfametoxazol-trimetoprim, ou Quinolona
associado a Metronidazol) que tenha ação sobre Gram negativos e
anaeróbios, especialmente E.coli e Bacteroides fragilis.
Melhoria sintomática é esperada 2-3 após início do tratamento, altura
em que o doente deve ser reavaliado.
Se a melhoria sintomática se verificar, a dieta poderá ser alterada
com introdução gradual de alimentos ricos em fibras (dieta que deverá
manter a longo prazo).
Se não se verificar melhoria clínica, investigar a possibilidade de
abcesso intra-abdominal.
Doentes com queixas álgicas severas, com sinais sistémicos
como febre, sem trânsito intestinal, via oral mantida, marcada elevação de parâmetros inflamatórios:
Tratamento realiza-se normalmente em internamento.
Repouso intestinal – dieta 0
Hidratação endovenosa
Analgesia com Meperidina (não administrar morfina pois esta
provoca aumento da pressão intracólica no cólon sigmoideu)
Manter trânsito intestinal, se necessário com uso de laxantes.
Protetor gástrico, por exemplo, Omeprazol.
Antibioterapia endovenosa de largo espectro em monoterapia 7
a 10 dias (Amoxicilina/Ácido Clavulânico, Sulfametoxazol-
trimetoprim, ou Quinolona em associação com Metronidazol) que
tenha ação sobre Gram negativos e anaeróbios, especialmente
E.coli e Bacteroides fragilis. A antibioterapia pode ser escalada
para v ia oral se o doente se encontrar apirético durante 48 horas
e se verificar diminuição da leucocitose.
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RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
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Se houver melhoria clínica em 48 horas, manter medidas
terapêuticas, e iniciar dieta pobre em resíduos.
Se não houver melhoria, suspeitar de fleimão ou abcesso e
investigar nesse sentido.
O sucesso da terapêutica médica nestes casos é de 85%. Destes, 26 a
30% terão recorrência da diverticulite, geralmente dentro de 1 ano (90%
das recorrências ocorrem nos primeiros 5 anos).
A suplementação oral de fibras dietéticas reduz o risco de
recorrência.
Há evidência de que a administração oral de Rifaximina (Xifaxan ©)
na dose 800 mg/dia, durante uma semana de cada mês, tem melhores
resultados na prevenção de novo episódio de Diverticulite Aguda, que a
suplementação dietética com fibras isoladamente.
O seguimento de longo prazo indica uma incidência de
reinternamento por recorrência da Diverticulite Aguda de 2% ao ano, em
doentes submetidos a terapêutica médica com sucesso.
Assim, a resseção cirúrgica eletiva não é necessária para muitos
doentes.
O risco de complicações aumenta para 60% após o segundo
episódio de Diverticulite Aguda Não Complicada, e a mortalidade
duplica.
Doentes imunossuprimidos (transplantados, insuficientes renais,
doentes HIV+, ...) e doentes com patologia do tecido conjuntivo são mais
suscetíveis a infeção, atraso no processo de cicatrização e maior
incidência de complicações da diverticulite aguda. Por esse motivo, estes doentes têm indicação para tratamento cirúrgico eletivo após um
episódio de diverticulite aguda.
Divert iculite Aguda Complicada
O tratamento da Diverticulite Aguda Complicada depende da
Classificação de Hinchey:
Hinchey I e II: O tratamento de doentes com Diverticulite Aguda Hinchey I e I I
depende do tamanho e localização do abcesso e das condições clínicas
do doente.
Abcessos pequenos (< 2cm) e/ou mesocólicos: Tratamento realiza-se usualmente em ambulatório, se possível:
Dieta líquida pobre em resíduos a curto prazo
Analgesia.
Manter trânsito intestinal, se necessário com uso de
laxantes.
Protetor gástrico, por exemplo, Omeprazol.
Antibioterapia oral de largo espectro em monoterapia
7 a 14 dias (Amoxicilina/Ácido Clavulânico,
Sulfametoxazol-trimetoprim, ou Quinolona em
associação com Metronidazol) que tenha ação sobre
Gram negativos e anaeróbios, especialmente E.coli e
Bacteroides fragilis.
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Melhoria sintomática é esperada 2-3 dias após início
do tratamento, altura em que o doente deve ser
reavaliado. Se a melhoria sintomática se verificar, a dieta
poderá ser alterada com introdução gradual de alimentos
ricos em fibras (dieta que deverá manter a longo prazo).
Pode estar indicado tratamento cirúrgico eletivo.
Se degradação do quadro clínico/não se verificar
melhoria:
Pode ser necessário tratamento cirúrgico de
urgência.
Abcessos maiores (≥ 2 cm): Tratamento realiza-se usualmente em internamento.
Repouso intestinal
Hidratação endovenosa
Analgesia com Meperidina (não administrar morfina
pois esta provoca aumento da pressão intracólica no
cólon sigmoideu)
Manter trânsito intestinal, se necessário com uso de
laxantes.
Protetor gástrico, por exemplo, Omeprazol.
Antibioterapia endovenosa de largo espectro em
monoterapia 7 a 10 dias (Amoxicilina/Ácido Clavulânico,
Sulfametoxazol-trimetoprim, ou Quinolona em associação
a Metronidazol) que tenha ação sobre Gram negativos e
anaeróbios, especialmente E.coli e Bacteroides fragilis. A
antibioterapia pode ser escalada para v ia oral se o
doente se encontrar apirético durante 48 horas e se
verificar diminuição da leucocitose. Drenagem Percutânea guiada por TAC: por
colocação de catéter permite a drenagem temporária
da coleção, com tratamento cirúrgico eletivo único se
necessário. Se impossibilidade de realização de
Drenagem Percutânea guiada por TAC:
Tratamento cirúrgico
A drenagem percutânea permite que cirurgias de
urgência/emergência sejam evitadas, reduzindo o número de cirurgias em
múltiplas etapas e de ostomias.
Hinchey III e IV: A Terapêutica Cirúrgica de urgência está indicada, pela presença de
peritonite.
Terapêutica Cirúrgica
A terapêutica cirúrgica da Diverticulite Aguda é um tema extenso
que merece um pouco mais de desenvolv imento.
Independentemente do que será referido, a terapêutica cirúrgica é
uma decisão indiv idualizada, sendo necessário considerar as
características clínicas do doente, a forma de manifestação da doença e
a gravidade do quadro instalado, além da presença/ausência de outras
complicações da doença diverticular.
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Independentemente da realização da sigmoidectomia de forma
eletiva ou de urgência, v ia aberta ou laparoscópica, esta deve ser
realizada, sempre que possível no 1º tempo cirúrgico.
A área do cólon descendente/transverso a ser anastomosada não
deve estar inflamada, espessada ou hipertrófica. A anastomose deve
realizar-se desde a localização do fleimão, até à transição colorectal.
A decisão de realizar ou não a anastomose depende da experiência
de cada cirurgião, que muitas vezes se guia pelo grau de inflamação e
contaminação local, condição clínica e comorbidades do doente.
O tratamento cirúrgico pode realizar-se em contexto de urgência ou
de forma electiva.
A Cirurgia em contexto de Urgência está indicada quando se verifica
uma das seguintes complicações:
Peritonite generalizada
Obstrução
Abcesso não controlado por drenagem percutânea
Fístulas
Deterioração clínica ou ausência de melhoria com tratamento
conservador
As prioridades na cirurgia de urgência são, por ordem de
importância:
1. Controlar a sépsis
2. Ressecar o tecido lesionado
3. Restabelecer o trânsito intestinal.
Dados recentes apontam para igual eficácia da sigmoidectomia
com encerramento primário, tendo como vantagens:
Menor tempo de internamento
Associado a menor morbilidade quando comparado com colostomia
Por estas razões a anastomose primária é preferencial quando
possível, sendo apenas contra-indicado se:
Doente instável
Peritonite fecal
Doente severamente desnutrido ou imunocomprometido
A Cirurgia Eletiva realiza-se após normalização dos parâmetros
inflamatórios (normalmente 6-8 semanas depois) e depois da realização
de colonoscopia pós-diverticulite, para pesquisa de estenose cólica.
O doente realiza prev iamente uma preparação intestinal adequada,
permitindo a sigmoidectomia.
Pode ser realizada por laparotomia ou laparoscopia.
A sua indicação depende de cada caso. Atualmente aceitam-se
como indicação, as seguintes situações:
≥ 2 episódios de Diverticulite Aguda Não Complicada Após 1º episódio de Diverticulite Aguda Complicada Após Drenagem Percutânea de Diverticulite Aguda Complicada:
v isando evitar sépsis recorrente que ocorre em até 41% dos doentes. Incapacidade de excluir doença neoplásica
A cirurgia após Diverticulite Aguda Não Complicada é um tema
controverso. A indicação para sigmoidectomia após um episódio de
Diverticulite Não Complicada tratada com terapêutica médica, deve ter
em consideração a idade do doente, comorbidades, e a persistência de
sintomas.
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RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
Susana Raquel Conceição de Jesus | Nº 2008219 29
Em 2000 as sociedades Europeia de Cirurgia Endoscópica,
Americana de Cirurgiões Colorretais e Americana de Gastroenterologia
divulgaram as suas guidelines, todas recomendando o tratamento
cirúrgico após duas crises de diverticulite aguda não complicada.
No entanto, a baixa taxa de recorrência encontrada em estudos
mais recentes argumenta contra a indicação de sigmoidectomia eletiva
de rotina após o sucesso do terapêutica médica de doentes com
Diverticulite Aguda Não Complicada.
Além disso, o episódio agudo grave é na maioria das vezes a primeira
manifestação da doença, e 89,5% dos óbitos em doentes com crise
aguda, ocorrem em doentes sem história prév ia de diverticulite.
A indicação cirúrgica em doentes jovens é outro tema controverso,
existindo muitos dados contraditórios na literatura. Alguns autores relatam
uma maior agressiv idade quando a doença ocorre em doentes mais
jovens, havendo recorrência e complicações com maior frequência.
Em contrapartida, outros estudos não obtiveram os mesmos achados.
Apesar de não haver consenso, o risco cumulativo de novas crises é
sempre maior nos doentes mais jovens, uma vez que a esperança média
de v ida é mais longa. Logo, é aconselhável informar o doente dos riscos e
benefícios, e discutir com este qual o tratamento a instituir.
A intervenção cirúrgica eletiva pode ser realizada por laparotomia ou
por laparoscopia.
A via laparoscopica têm ganho relevância na medida em que,
sendo um método seguro tem como vantagens:
Menos queixas álgicas na recuperação
Diminuição da duração do íleos pós-cirúrgico
Internamentos mais curtos
São fatores de exclusão da utilização da abordagem laparoscópica:
Doentes com IMC > 35kg/m Doentes com antecedentes de cirurgia abdominal prév ia
(exceto colecistectomia, apendicectomia e histerectomia)
São várias as Técnicas Cirúrgicas possíveis de ser utilizadas em casos
de Diverticulite Aguda, sendo que a escolha assenta no contexto da
necessidade do tratamento cirúrgico:
Cirurgia de Hartmann (sigmoidectomia com encerramento do recto e
colostomia terminal): É o procedimento mais realizado na urgência.
Técnica consiste em:
Sigmoidectomia
Encerramento do recto
Colostomia terminal
Figura 99: Cirurgia de Hartmann
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9 Imagem retirada de: http://derival.com.br/doencas/doencas-do-colon/cancer-colorretal/
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
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Numa segunda cirurgia (normalmente 3 meses depois da cirurgia de
Hartmann), poderá restaurar-se o trânsito intestinal com encerramento da
colostomia, não sendo possível em 1/3 dos casos, devido às
comorbilidades apresentadas pelo doente, ficando este com uma
colostomia definitiva.
Colostomia transversa e drenagem:
Associada a maior morbimortalidade (mortalidade de 26% vs 7%
quando se realiza a sigmoidectomia na 1ª abordagem).
Apenas indicada em casos de “l ife saving”:
Doente com sépsis grave
Doente não suporta tempo cirúrgico necessário à
realização da Cirurgia de Hartmann
Esta Técnica é constituída por 3 tempos cirúrgicos distintos:
1ª cirurgia: Colostomia transversa inicial
Drenagem
2ª cirurgia: Resseção do segmento afectado
3ª cirurgia: Encerramento da colostomia
Sigmoidectomia com anastomose primária, com ou sem ostomia de
protecção:
A opção de realização de uma ostomia de proteção depende dos
achados cirúrgicos, estado global do doente e experiência do cirurgião.
A ileostomia em ança tem sido preferida por se associar a menor
morbimortalidade.
O facto do cólon não estar preparado durante a cirurgia de
urgência é outro entrave à realização da anastomose primária. Nestes
casos, quando o cirurgião está habituado ao método, a lavagem cirúrgica
é uma opção.
Limpeza e drenagem da cavidade abdominal via laparoscópica com
reabordagem eletiva:
Alternativa cirúrgica recentemente relatada. Consiste na inspeção
da cavidade, lavagem e colocação de dreno por v ia laparoscópica
(LAP), associada a antibioterapia, retirando o doente da fase crítica
aguda e permitindo realizar uma sigmoidectomia laparoscópica eletiva
posteriormente.
Os resultados relatados em diversos estudos são bastante favoráveis.
Tem como principais vantagens:
Menor agressão ao doente já debilitado
Possibilidade de evitar uma colostomia
Menor custo global do tratamento
Menor incidência e gravidade de complicações da ferida
cirúrgica.
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RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
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A título de exemplo, um estudo submeteu 100 doentes com
diverticulite aguda e perfuração (comprovada por radiografia ou TAC) à
laparoscopia. Todos foram estadiados por esse método, seguindo a
Classificação de Hinchey. Em 8 doentes com peritonite fecal houve
conversão para laparotomia, sendo realizada o Cirurgia de Hartmann, e
em todos os demais (25 com diverticulite grau I I e 67 com grau I I I )
procedeu-se à lavagem da cavidade e drenagem pela v ia
laparoscópica. Houve 4% de morbidade e 3% de mortalidade. Não houve
infeção de ferida cirúrgica. Dois doentes apresentaram abcesso pélv ico,
um com boa resposta ao tratamento conservador (antibioterapia e
drenagem guiada por TAC) e outro com necessidade de reabordagem
(realizada cirurgia de Hartmann). Dois doentes apresentaram diverticulite
aguda não complicada, tratada com antibioterapia, e nenhum
necessitou de reintervenção cirúrgica por complicação de doença
diverticular em seguimento médio de 36 meses.
Os autores concluem que a lavagem laparoscópica é uma
alternativa aceitável no tratamento da diverticulite grau II e I I I de Hinchey
e questionam a obrigatoriedade da resseção eletiva subsequente, como
classicamente preconizado.
Contudo, a lavagem laparoscópica não é adequada para todas as
situações. Doentes com peritonite fecal apresentam maus resultados com
o método, a maioria necessitando de reintervenção precoce com
sigmoidectomia.
A resseção também deve ser considerada nos doentes que
apresentam evolução arrastada após a lavagem.
O risco de recidiva de Diverticulite Aguda após tratamento cirúrgico
está estimado entre 3-13%, sendo que pode haver necessidade de
reintervenção cirúrgica em cerca de 3% dos doentes.
Complicações
Obstrução Intestinal
A obstrução cólica completa causada pela doença diverticular é
relativamente rara, sendo responsável por apenas cerca de 10% das
obstruções do órgão.
A suboclusão é mais comum, resultado de uma combinação de
edema, espasmo do cólon e processo inflamatório crónico.
A diverticulite aguda pode levar à oclusão parcial do cólon pelo
edema (cólico ou pericólico) ou por compressão (abcesso).
A fibrose recorrente progressiva e/ou estenose do cólon podem
desencadear uma obstrução, pelo que se aconselha a realização de
colonoscopia total após episódio de Diverticulite Aguda.
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Fístulas
Fístulas ocorrem em 2% dos doentes com Diverticulite Aguda
Complicada.
A formação da fístula decorre de um processo inflamatório local, que
evolui para um abcesso que é descomprimido espontaneamente por uma
perfuração da ança intestinal v izinha, outra v íscera ou através da pele.
O trajeto fístuloso geralmente é único, mas pode ser múltiplo em 8%
dos doentes.
As fístulas são mais frequentes:
Em homens do que em mulheres (2:1)
Em doentes com cirurgia abdominal prév ia
Em doentes imunocomprometidos
Os tipos de fístulas mais comummente associadas à Doença
Diverticular são:
• Colovesical: 65%
• Colovaginal: 25%
O diagnóstico pode exigir a realização de múltiplos exames
complementares de diagnóstico, sendo que as fístulas são geralmente
observadas por TAC abdominal, radiografia abdominal com clíster opaco
(permite uma óptima v isualização), Vaginoscopia, Cistoscopia e
Fistulografia.
Peritonite
A peritonite é felizmente incomum. Ocorre mais frequentemente nos
doentes imunocomprometidos.
Está associada a alta taxa de mortalidade: até 35%.
Nestes casos está indicada intervenção cirúrgica de urgência.
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II - Hemorragia Diverticular
Além da Doença hemorroidária e outras patologias perianais não
neoplásicas, o cancro colorretal é a causa mais comum de hemorragia
gastrointestinal baixa.
A Doença Diverticular complicada permanece a causa mais comum
de rectorragia maciça, responsável por 30 a 50% dos casos, enquanto que
a angiodisplasia é responsável por 20 a 30% dos casos.
Estima-se que 15% de todos os doentes com diverticulose
apresentarão hemorragia em algum momento de suas v idas.
Fatores de Risco
O uso de Anti-Inflamatórios Não Esteróides aumenta o risco de
hemorragia por doença diverticular, sendo que mais de 50% dos doentes
que se apresentam com divertículo sangrante usam regularmente este
grupo de fármacos.
Etiologia e Fisiopatologia
Com a protrusão da mucosa que leva à formação do divertículo, as
arteríolas (vaza recta) responsáveis pela fragilidade da parede intestinal
dispõem-se de modo ondulado na sua cúpula.
Dessa forma, estes vasos estão separados do lúmen intestinal apenas
por uma fina camada de mucosa, expondo a artéria ao trauma pelo
conteúdo intestinal e levando consequentemente à propensão a
hemorragias. A análise histológica desses vasos revela uma arquitetura que
suporta essa teoria.
A ruptura dos vaza recta, vasos expostos na cúpula do divertículo,
ocorre em direção ao lúmen do mesmo, na cúpula e na margem
antimesentérica.
Fatores de lesão do lúmen cólico produzem dano assimétrico dos
vasos subjacentes, resultando em fragilidade segmentar da artéria e
predisposição à rutura em direção ao lúmen.
A rutura é associada a espessamento excêntrico da íntima dos vasos
e adelgaçamento da média, próximo ao ponto de hemorragia.
Também se observa uma notável ausência de inflamação
(diverticulite) nesse processo.
Apesar da relação anatómica entre os vasos penetrantes e os
divertículos ser similar nos lados direito e esquerdo do cólon, o foco de
hemorragia ocorre no lado direito em 49 a 90% dos doentes.
Dos doentes com um episódio inicial de hemorragia, 30%
apresentarão um segundo episódio e, destes, 50% um terceiro.
Manifestações Clínicas
Hemorragia diverticular maciça que se manifesta sob a forma de
rectorragia, geralmente abrupta, indolor e de grande volume, sendo que
33% dos casos, exigem transfusão sanguínea de emergência.
A hemorragia cessa espontaneamente em 70 a 80% dos casos.
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Diagnóstico e Tratamento
A fonte da hemorragia não é identificada em até 30-40% dos casos.
Métodos para localizar o foco do hemorragia incluem:
Angiografia seletiva: É necessária hemorragia mínima de 1,0 a 1,3 mL/minuto.
Vantagem: permite intervenção terapêutica na forma de:
Vasopressina, somatostatina
Embolização
Marcação da área hemorrágica com azul de metileno
para investigação futura.
Pode provocar perfuração intestinal
Cintilografia: A hemorragia pode ser detetada até 0,1 mL/minuto
Vários tipos de isótopos podem ser utilizados, incluindo: Colóide de enxofre marcado com tecnécio 99m:
Clareado em minutos
Concentra-se na luz
Vantagem: demora pouco tempo para completar o
estudo
Hemácias marcadas:
Semi-v ida mais lenta
Pode ser repetido em 24 a 36 horas
A precião dos testes varia de 24-91%
Colonoscopia: A colonoscopia está mais indicada para hemorragia autolimitada.
Tem como maior vantagem a possibilidade de localização do foco
hemorrágico.
Em doentes com hemorragia moderada que cessou, o exame
endoscópico pode ser realizado com segurança em 12 a 24 horas.
Em doentes com hemorragias menos severos, a colonoscopia é uma
opção razoável como procedimento ambulatorial.
É um importante método para excluir a neoplasia como fonte de
hemorragia. Colonoscopia de emergência:
Após lavagem intestinal agressiva:
Tem sido proposta por diversos autores a intervenção terapêutica
com injeção de epinefrina, esclerosante, ou termocoagulação de
divertículos identificados como fonte de hemorragia. Pode levar a
redução precoce da hemorragia.
A presença de outros divertículos e sua inerente propensão à
hemorragia tornam pouco provável que a intervenção endoscópica
aguda afete a taxa geral de novos episódios hemorrágicos a longo prazo.
Cirurgia de Urgência: A cirurgia de urgência para a hemorragia no contexto de doença
diverticular complicada controla a hemorragia em 90% dos doentes.
As indicações para a intervenção cirúrgica de urgência são:
• Instabilidade hemodinâmica sem resposta às técnicas
convencionais de ressuscitação.
• Transfusão de concentrado eritrocitário > 2000 mL
(aproximadamente 6 unidades)
• Hemorragia recorrente maciça 22
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
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Conclusões A Doença Diverticular do colón é a patologia estrutural mais
frequente do colón.
A Doença Diverticular define-se com a presença de um ou mais
divertículos, sendo que os divertículos com importância clínica são
pseudo-divertículos. Pode-se classificar em Doença Diverticular Simples
(75% dos casos) ou Doença Diverticular Complicada (25% dos casos).
Maioria dos casos (70%) de Doença Diverticular do cólon são
assintomáticos. Dos 30% com Doença sintomática: 10-25% evoluírão para
diverticulite, sendo que destes, ¼ evoluirá com complicações
potencialmente ameaçadoras à v ida como: perfuração, fístula, obstrução
ou estenose.
A Diverticulose é a patologia que se caracteriza pela presença de
múltiplos pseudodíverticulos, não complicados, no cólon.
Na população ocidental, a diverticulose localiza-se
predominantemente no cólon esquerdo (85% dos casos), com
envolv imento frequente do cólon sigmoideu. A doença diverticular do
cólon direito (15% dos casos) manifesta-se maioritariamente nas
populações asiáticas.
A Diverticulose é uma patologia decorrente dos hábitos alimentares
da sociedade moderna, mais propriamente, escontra-se associada a uma
dieta pobre em fibras, sendo que a sua incidência tem crescido nas
últimas décadas, atingindo sobretudo os grupos etários mais avançados
da população (prevalência aumenta gradualmente até aos 65% em
pessoas com ≥ 65 anos).
Como fatores de risco ao desenvolv imento da doença podem-se
referir o baixo consumo de fibras na dieta, dieta rica em carne vermelha e
gordura e o sedentarismo. Os fatores de risco de desenvolv imento de
complicações são o Tabagismo, consumo de Anti-Inflamatórios Não
Esteróide, Obesidade e Baixo teor de fibras na dieta.
A fisiopatologia da Diverticulose é um processo multifatorial que
envolve hábitos alimentares, alterações na pressão e na motilidade do
cólon e, alterações estruturais da parede do cólon associadas ao
envelhecimento.
Quando a diverticulose é sintomática (30% casos) o quadro clínico é
caracterizado por dor abdominal ocasional, flatulência e alterações do
trânsito intestinal.
O diagnóstico da diverticulose é normalmente decorrente um achado num exame complementar de diagnóstico. Quando suspeita
clínica de Diverticulose, o diagnóstico deverá ser confirmado por Exames
complementares, nomeadamente a Colonoscopia.
O tratamento da Diverticulose assenta em alterações dietéticas:
reforço hídrico, dieta enriquecida em fibras – 30 gr/dia, e ev icção de
alimentos que promovam a obstipação; exercício físico regular e cessação
tabágica.
As complicações mais comuns e significativas da Diverticulose são: a
diverticulite e a hemorragia diverticular.
A Diverticulite é o processo inflamatório que ocorre na sequência de
perfuração micro ou macroscópica dos divertículos. Pode ser classificada
em Diverticulite Não Complicada (75% casos) ou Diverticulite Complicada
(25% casos).
As manifestações clínicas constituem quadro de Abdómen Agudo:
Dor no quadrante inferior esquerdo, distensão abdominal, diarreia,
náuseas e vómitos. À observação pode-se detetar massa abdominal
palpável e febre. 23
RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
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O diagnóstico de Diverticulite é maioritariamente clínico, mas deve
ser confirmado por TAC abdomino-pélv ica com contraste oral e
endovenoso, exame que permite estadiar a doença na Classificação de
Hinchey, que determina abordagens terapêuticas diferentes.
O tratamento da Diverticulite pode realizar-se com recurso a
terapêutica médica (hidratação, repouso intestinal, protetor gástrico,
analgesia e antibioterapia), drenagem percutânea guiada por TAC, ou
através de terapêutica cirúrgica.
A terapêutica cirúrgica da Diverticulite Aguda pode realizar-se em
contexto de urgência (em caso de peritonite estabelecida) ou de modo
eletivo, sendo que as indicações cirúrgicas nem sempre estão bem
definidas.
São várias as técnicas cirúrgicas disponíveis, e a escolha depende de
cada caso. Em situação de urgência a Técnica mais utilizada é a Cirurgia
de Hartmann. Em contexto eletivo deve-se realizar a anastomose primária
sempre que possível.
Relativamente ao prognóstico da Diverticulite Aguda interessa referir
que a incidência de reinternamento por recorrência da Diverticulite
Aguda em doentes submetidos a terapêutica médica com sucesso é de
2% ao ano. O risco de Diverticulite Complicada aumenta para 60% após o
segundo episódio de Diverticulite Aguda Não Complicada, e a
mortalidade duplica. O risco de recidiva de Diverticulite Aguda após
tratamento cirúrgico está estimado entre 3-13%, sendo que pode haver
necessidade de reintervenção cirúrgica em cerca de 3% dos doentes.
Outra complicação da Diverticulose de grande relevância é a
Hemorragia Diverticular, sendo responsável por 30-50% de todos os casos
de rectorragias. Esta complicação está associada ao uso de Anti-
Inflamatórios Não Esteróides. Manifesta-se por rectorragia abrupta, indolor
e de grande volume, que em 33 % dos casos necessita de transfusão sanguínea. Na maioria dos casos, esta cessa espontaneamente. O
tratamento, quando necessário, depende do volume da rectorragia,
sendo que pode ser necessária intervenção cirúrgica de urgência.
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RELATÓRIO FINAL – Mestrado Integrado em Medicina Julho de 2014
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25
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ANEXO C: Trabalho de Síntese – “Taquiarritmias”
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