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Metais na medicina Prof. Fernando R. Xavier UDESC 2018

Metais na medicina - joinville.udesc.br · Este composto estimula a síntese local de prostaglandinas que, por sua vez, aumentam a produção de secreção alcalina gastroduodenal

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Metais na medicina Prof. Fernando R. Xavier

UDESC 2018

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Histórico

3000 a. C. Egípcios usavam cobre

para esterilizar água.

2500 a. C. Império Chinês usavam

ouro em uma série de remédios.

400 a. C. Hipócrates utiliza prata

como bactericida.

1600s Paracelso foi pioneiro no uso de

minerais na medicina: Sais Sb, As, Mg

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1700 até 1800s – Tratamento de sífilis com vapores de mercúrio.

1900s - Metais começam a ter impacto real no tratamento de doenças:

• K[Au(CN)2] usado para tratamento da tuberculose;

• Salvarsan para o tratamento de sífilis;

(Paul Erlich, organoarsênio)

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Principais áreas de aplicabilidade

• Quelatoterapia • Medicamentos contra artrite;

• Tratamento e combate ao câncer (agentes antitumorais);

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• Tratamento e combate ao câncer (radioquímica);

Principais áreas de aplicabilidade

• Diagnósticos por imagem;

• Inibidores enzimáticos;

12 Thompson, K.H, Orvig, C.; Science, 2003, 300, 936

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Terapia de Quelação – Quelatoterapia

Esta técnica pode ser usada para combater

intoxicações por íons metálicos, ou para controlar

a presença do mesmo no meio biológico.

Um dos primeiros relatos conhecidos foi a utilização de íons citrato na desintoxicação

aguda de chumbo em 1941. Desde então, outros agentes quelantes foram e são

utilizados em tratamento clínico.

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DMSA

TETA

EDTA

Abaixo mais alguns exemplos típicos de ligantes utilizados em quelatoterapia:

Andersen, O. Chem. Rev. 1999, 99, 2683

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Deferroxamina (Desferal)

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Enterobactina

É uma molécula siderófora de alta afinidade por ferro (Kf ~ 1052). É primariamente

encontrada em bactérias tais como Escherichia Coli e Salmonella Tiphimurium.

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Pyoverdina

São sideróforos fluorescentes também produzidos por bactérias. Sua expressão indica

normalmente a presença de patogêneses. Este composto também é utilizado como

“cavalo de tróia” pois pode carregar antimicrobianos.

Estas moléculas tem sido utilizadas

também em biorremediação como

agente quelante de metais pesados.

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Terapia de quelação com EDTA em artérias bloqueadas

1) Quelação com EDTA - remover

Ca encontrado junto às placas de

gordura - processo de quelação -

quebra nestas placas.

2) Quelação - estimular a liberação

de um hormônio que causa a

remoção de cálcio das artérias,

diminuindo os níveis de colesterol.

3) Redução dos efeitos danosos de íons oxigênio (stress oxidativo) nas paredes dos

vasos sanguíneos. A redução do stress oxidativo poderia reduzir a inflamação de

artérias e aumentar o funcionamento das mesmas.

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Medicina nuclear

Envolve a aplicação de radioisótopos no diagnóstico e/ou

tratamento de doenças. A medicina nuclear difere da

radiologia pois ocorre de dentro para fora do organismo

tratado.

Outro ponto de divergência entre medicina nuclear e radiologia é que a primeira não

está focada no estudo anatômico por imagem mas sim por função fisiológica.

As técnicas mais comuns são:

• Tomografia computadorizada por emissão de fótons único (SPECT);

• Tomografia por emissão de pósitrons (PET);

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Diagnóstico por imagem

Em linhas gerais radiofármacos são administrados ao paciente via oral ou

intravenosa e então detectores externos (câmeras gama) capturam as imagens

formadas pela radiação emitida por estes compostos.

A técnica chamada cintilografia consiste na

utilização de radionuclídeos emissores para

criar imagens bidimensionais (2D).

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As técnicas de PET e SPECT que utilizam câmeras gama de muitas projeções podem

gerar imagens reconstruídas tridimensionais (3D).

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Radionuclídeos mais comuns em medicina nuclear

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Radionuclídeos mais comuns em medicina nuclear

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Radionuclídeos mais comuns em medicina nuclear

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Os radiofármacos de perfusão são transportados no sangue.

Atingindo então o órgão alvo. Não têm locais específicos de

ligação e são distribuídos de acordo com tamanho e carga do

composto. Ex.: Tetrofosmin (ao lado)

Já os radiofármacos específicos são direcionados por moléculas biologicamente

ativas, como, por exemplo, anticorpos e peptídeos, que se ligam a receptores celulares

ou são transportados para o interior de determinadas células.

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A capacidade da biomolécula reconhecer os receptores vai determinar a fixação do

radiofármaco no tecido pretendido e não deverá ser alterada com a incorporação do

radionuclídeo.

A maior parte dos radiofármacos em uso clínico é de perfusão. Atualmente são os

radiofármacos específicos que detêm a atenção da investigação na área da

química radiofarmacêutica. Dos radiofármacos utilizados para diagnóstico cerca de

90% são de 99mTc.

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Produção do 99mTc.

O 99mTc é adequado a utilização pois possui um t1/2 de 6 h e emissão γ com energia

adequada ao detector (140 keV). Sua produção é de relativo baixo custo.

O t1/2 do 99mTc é suficientemente longo para a preparação dos radiofármacos,

administração e aquisição das imagens e suficientemente curto para minimizar a dose

de radiação para o paciente.

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Diagrama de decaimento do 99mTc.

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Agentes de contraste

É uma substância utilizada para aumentar o contraste de estruturas ou fluidos

corporais em técnicas de diagnóstico por imagem. Seus empregos mais comuns são

para estudo de vasos sanguíneos e do trato intestinal.

Os agentes mais comuns são os atenuadores de raios x (Iodo e bário);

Realçadores de sinal em ressonância magnética (RMI) e espalhadores e/ou

deslocadores de ultrassom.

Ba em raios x Ga em RMI

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São substâncias que contém elementos com números atômicos altos, com grande

quantidade de elétrons nas suas camadas eletrônicas, que proporcionam maiores

atenuações aos raios X. Os principais contrastes radiológicos utilizados contém 70Ba

e 53I.

Agentes de contraste positivos

Sulfato de Bário

Usados em exames do aparelho digestivo na forma de BaSO4, o

qual não é absorvido pela mucosa gastrointestinal. Os contrastes

baritados não podem ser injetados na corrente sanguínea

(insolúveis).

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Agentes de contraste iodados

São compostos que podem ser injetados na corrente sanguínea. Hidrossolúveis e

incolores, são eliminados na sua grande maioria pelos rins.

Quando injetados na corrente sanguínea são misturados a fração soro do sangue e

permitem a realização de angiografias. O fato de serem eliminados pelos rins permite

a realização de urografias excretoras (rins, ureteres e bexiga).

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Agentes de contraste para RMI

No caso da técnica de imagem por MRI, não há utilização de isótopos radioativos mas

sim de metais paramagnéticos, com um elevado tempo de relaxação, que sirvam de

agentes de relaxação para os prótons da água.

Atualmente - 40 a 50% agentes de contraste utilizados em MRI baseiam-se em

complexos com lantanídeos, geralmente Gd.

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O íons Gd(3+) possuem 07 elétrons desemparelhados e um tempo de relaxação

eletrônico bastante longo, tornando-se um excelente candidato a agente de

relaxação. No entanto, a elevada toxicidade da espécie [Gd(H2O)8]2+ requer que

seja complexado por um quelante forte de modo a poder ser aplicado in vivo.

Pré-requisitos importantes:

• O metal deve formar complexos de elevada

estabilidade termodinâmica;

• O ligante deve permitir que uma posição

de coordenação fique livre para ser

ocupada por uma molécula de água, de modo

a obter um sinal de MRI.

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Nos complexos de Gd(3+) relaxação das moléculas de água na esfera interna de

coordenação resulta das interações espaciais associadas a flutuações aleatórias do

campo elétrico.

Existem uma série de complexos de Gd(III) - agentes de contraste MRI - ligantes

poli(amino-carboxilicos) octadentados, largamente utilizados na detecção de

anomalias na barreira hemato-encefálica

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Agentes terapêuticos

Apesar da indústria farmacêutica ser dominada por fármacos orgânicos, certos

compostos inorgânicos já provaram sua utilidade. Exemplo: Li e Bi.

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Seu mecanismo de ação inclui proteção sobre as células da mucosa gástrica pois pode

formar glicoproteínas (muco). É um complexo estável e com propriedades antiácidas.

Salicilato de bismuto

Este composto estimula a síntese local de prostaglandinas que, por sua vez, aumentam

a produção de secreção alcalina gastroduodenal. Tem atividade bactericida sobre a H.

pylori causadora de úlceras gástricas.

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Cisplatina

De longe, o fármaco inorgânico mais importante produzido até o presente momento.

Foi descoberta por acaso em 1845 (Rosenberg) e teve sua licença para uso médico

aprovada em 1978/79.

É utilizada no tratamento de diversos tipos de

câncer como testicular, ovários, mama,

pulmão, cérebro, dentre outros. É

administrado de maneira intravenosa.

Seu custo médio mundial de produção é de cerca U$ 8,00 por frascos de 50 mg. O

lucro anual da produção mundial é de cerca de 2 bilhões de dólares.

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Síntese da cisplatina (1970)

A cisplatina é particularmente eficaz no tratamento de câncer testicular sendo sua

eficácia (taxa de cura) entre 10 e 85%. Dentre os principais efeitos colaterais estão a

nefrotoxicidade e neurotoxicidade e enjoo/vômitos.

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Antes de entrar na célula, a cisplatina pode-se ligar aos fosfolípidos e à fosfatidilserina

na membrana celular.

No interior celular, a

cisplatina tem diferentes

alvos de ação: DNA, RNA,

mitocôndria e enzimas.

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Efeitos no DNA mitocondrial: A ainda não completamente esclarecido, mas pensa-se

que os danos no DNA mitocondrial, resultantes do tratamento com Cisplatina, levam à

morte da célula.

Efeitos no RNA: Não relevante. Razões: 1.) As moléculas de RNA atacadas podem ser

facilmente substituídas; 2.) Verificou-se que a administração de uma dose letal de

cisplatina, in vitro, a células tumorais, apenas danificou uma pequena fração de

moléculas de RNA.

Cisplatina – Mecanismo de ação

Efeitos no DNA: O DNA é o principal alvo da

cisplatina, sendo esta ligação responsável pela

morte celular.

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Estes complexos de platina

covalentemente ligados às bases do

DNA criam adutos que previnem a

síntese do DNA, RNA e proteínas .

Apesar da ligação a todas as

bases, é preferida a

interação entre a posição N-

7 de moléculas de guanina

adjacentes ou entre uma

guanina e uma adenina .

Estas interações levam a

uma distorção da molécula

de DNA.

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Este processo é mais lento com ligantes aniônicos quelantes, como o ligantes

O-doadores. A abertura do anel quelato permite a formação de espécie monoaquo,

entretanto a reação reversa também pode ocorrer.

Ligates quelato são mais estáveis que o complexo dicloro –

dando mais tempo para o fármaco alcançar a molécula alvo.

Novas gerações de fármacos de platina

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A espécie monoaquo pode reagir com ligantes N-doadores, como o DNA. O aduto é

suficientemente estável para permitir o deslocamento de um segundo carboxilato e

formação de ligação cruzada no DNA.

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• Exploração da bioatividade no centro metálico: Cisplatina.

• Exploração da bioatividade relacionada à uma reação causada por um centro

metálico. Exemplo: O tamoxifeno

Indo além...

Este composto é um modulador seletivo do receptor de Estrogênio (SERM). O

receptor estrogênio tem papel fundamental na proliferação de tumores hormônio-

dependentes, como o câncer de mama.

O

N

O

N

Cl

O

N

HO

O

N

I

Toremifeno Droloxifeno Iodoxifeno

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NH2

NH2

Pt

O

O

O

O

OH

O(CH2)2N(CH3)2

NH2

NH2

Pt

O

O

O

O

Oxaliplatina

O

N

OH

Vetor hormonal

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Indo mais um pouco além... Metalocenos...

Organometálicos:

- Ligações covalentes metal-carbono.

Atividade antitumoral:

- mecanismo diferente da cisplatina

Ferroceno:

- 18 elétrons: muito estável

- Química similar a compostos aromáticos

- Lipofílico

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Na forma catiônica tem um elétron desemparelhado em um dos orbitais antiligantes -

espécie de radical livre estável.

Dentro das células – equilíbrio Fe(II)/Fe(III)

- este equilíbrio é determinado pelo

potencial eletroquímico do par Fe2+/Fe3+,

que pode ser influenciado pelos

substituintes do metaloceno.

A transferência eletrônica entre os dois - rápida e reversível e precisa da

contribuição de outros pares redox biológicos, visto que ocorre entre Fe2+/Fe3+ e

outros dadores/aceitadores eletrônicos biológicos. No decurso destas reações são

formados radicais livres que resultam na atividade antiproliferativa.

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Reação de Fenton – efeito genotóxico:

FeFe

Fe2+

+ O2

Fe3+

+ O2

. -.

Fe

Fe2+

+ O2

. - 2H+

Fe

Fe3+

. + H2O2

Fe

Fe2+

+ H2O2

+

Fe

Fe3+

. + OH-

+ OH.

+

+

+

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Juntando as ideias... O ferrocifeno

4-Hidroxitamoxifeno

Fe

O

OH

N

3 (Z+E)

OH

ON

(E+Z )

• Afinidade coordenação < hidroxitamoxifeno 3 (fator espacial ferrocínio)

• 3 > lipofílico

• Atividade antiproliferativa em células tumorais de mama : 3 = OH-TAM para ER(+)

• Ferrocifeno mostra atividade antiproliferativa para tumores estrogênio dependentes

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Conclusões

• Explorar as características únicas dos elementos metálicos

• Metais não são sempre tóxicos

• Formas alternativas de solução de problemas na química medicinal