Michael Lamy-Os Templarios

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  • MICHEL LAMY

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    ESSES GRANDES SENHORES DE MANTOS BRANCOS

    Os seus costumes, os seus ritos, os seus segredos

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  • 4 edio Notcias Editorial NOTA DO EDITOR PORTUGUS No se sabe ao certo se, entre os primeiros nove templrios que foram a Jerusalm, um deles seria do Condado Portucalense: Gondomar (ou Gondemar?). Mas supe-se que a presena da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo (mais tarde denominada por Ordem do Templo) em Portugal data de 1126, e sabe-se que os Templrios estavam solidamente implantados no pas em 1157, quando foi nomeado Gro-Mestre Gualdim Pais, figura emblemtica que comandou a reconquista de Santarm e Lisboa, ao lado de Martim Moniz. Em 1128, D. Teresa concedeu-lhes o castelo de Soure, e como recompensa dos seus feitos guerreiros, D. Afonso Henriques outorgar-lhes- a cidade de Tomar, bem como as terras compreendidas entre Tomar e Santarm. Foi assim que o castelo de Almourol, contemplando todo o Tejo, entrou na posse da Ordem. tambm certo que a deciso papal de extinguir a Ordem no seria bem acolhida e, em 1311, D. Dinis ordenou o levantamento de um processo, que decorreu em Salamanca, para averiguar a culpabilidade dos templrios da Pennsula Ibrica. Os templrios portugueses seriam ilibados. Logo depois, D. Dinis enviou ao papa Joo XXII dois emissrios para negociarem o renascimento da Ordem do Templo. Surgiu a Ordem de Cristo, de que foi investido Gro-Mestre Gil Martins (em 15 de Maro de 1319), e cujos cavaleiros usavam um hbito idntico ao dos templrios: apenas uma cruz branca inscrita dentro da cruz vermelha (para assinalar a pureza da instituio ressurgida) os distinguia. Os dignatrios do Templo conservaram os seus lugares na nova Ordem, que alojou tambm muitos templrios refugiados, de Frana e outras naes europeias. em Tomar que encontramos uma maior concentrao de basties da Ordem, contributos inestimveis para o nosso patrimnio arquitetnico. E o caso do castelo de Tomar (tambm chamado dos Templrios), que estaria unido por passagens subterrneas Igreja de So Joo Baptista (santo venerado pela Ordem, que nos seus templos e capelas conta com inmeras representaes de baphomets - cabeas degoladas) e Igreja de Santa Maria do Olival, onde Gualdim Pais foi sepultado. O seu tmulo, ao que se sabe, est vazio - mais um enigma para a constelao dos mistrios do Templo. A arte gtica, segundo Michel Lamy, ter sido introduzida pelos Templrios, que se associaram a mesteirais cagots, possuidores de segredos de construo e dos trabalhos em pedra (possveis antecessores dos pedreiros-livres ou franco-maons). O estilo manuelino ser, em Portugal, o herdeiro direto do gtico e o seu grande expoente o Convento de Cristo, cripta da Ordem de Cristo, aps se ter

  • instalado por alguns anos em Castro Marim e ter regressado original sede do Templo. Na charola do Convento de Cristo encontramos a disposio octogonal, fiel cosmologia da poca e representando o hemisfrio celeste. Os Templrios, e os seus herdeiros Cavaleiros de Cristo, teriam desenvolvido os conhecimentos de astrologia e astronomia (as duas cincias, como se sabe, eram indissociveis) que lhes serviram para iniciar a aventura dos Descobrimentos. A esfera armilar, na famosa Janela do Captulo, l est para nos lembrar o papel dos Cavaleiros nas Descobertas, assim como o ngulo de 34 que encontramos nos vrtices das fachadas das capelas gticas, que ser o ngulo que a constelao de Co Maior faz com a Taa (Graal) e com Leo, conforme representado no baixo-relevo da Igreja de So Joo Baptista. Esta estar ainda ligada por subterrneos a um outro monumento de Tomar, o Convento de Santa Iria, onde se observa um boi esculpido na pedra (Constelao do Boieiro), herana visigtica de que a Ordem do Templo se ter apropriado. No plano arquitetnico, h tambm que realar o olho de boi sobre a Janela do Captulo, de que se diz indicar a direo do ovo alqumico, que serviria para a transmutao do metal em ouro e que, juntamente com a carga trazida das viagens martimas Terra Nova, seria a explicao do tesouro templrio, misteriosamente desaparecido e talvez depositado em... Tomar. Podemos no dar crdito a todas estas suposies (ao ponto de nos parecer, lendo as obras dos que investigaram os segredos dos Templrios, que a Ordem seria uma espcie de smula das mais variadas e dspares esotricas de todo o Mundo, sendo quase impossvel encontrar um fio de coerncia). Mas parece inegvel que os Templrios e a Ordem de Cristo desempenharam um papel fundamental nos Descobrimentos Portugueses. Diz-se de D. Dinis, o grande defensor da continuao da Ordem, que estaria iniciado nos segredos templrios... E no foi ele o plantador de naus a haver, segundo a Mensagem de Fernando Pessoa, ltimo Cavaleiro de Rosa-Cruz, essa Ordem da cruz mstica que muitos julgam herdeira dos Templrios? O grande impulsionador das Descobertas foi D. Joo, mestre de Aviz, e sabemos que a Ordem de Avis estava intimamente ligada a Calatrava e, portanto, ao Templo. Assim, tambm, as primeiras caravelas ostentavam o pavilho da Cruz de Cristo, e o Infante D. Henrique, se no era Mestre, era pelo menos governador da Ordem de Cristo. Finalmente, e sem esgotar os grandes nomes da histria nacional que estariam ligados a uma pretensa misso templria, o ltimo rei de Avis foi D. Sebastio, o Desejado, dominado pelo sonho megalmano do Imprio onde nunca o Sol se pe (era, indiscutivelmente, objetivo dos Templrios ligar ao Ocidente o Oriente). E foi D. Sebastio que ordenou ao D. Pedro lvares que escrevesse a histria da Ordem de Cristo, Compilao das Escrituras da Ordem de Cristo, ordenada por Alvar d El Rei D. Sebastio, de 16 de Dezembro de 1560. Nesta obra, em vrios volumes, conta-se que a Igreja de Santa Maria do Olival era a nica paroquial Igreja de toda a terra de Thomar e Ceras e que o vigairo dela era representado pelo Mestre e Convento sem instituio nem autoridade doutrem, que a Ordem de Cristo se pode chamar a Ordem do Verdadeiro Templo, e que parece que o dito Infante D. Henrique soube do tempo da sua morte e como se

  • preparou para ela, entre outras vrias histrias que valer a pena esmiuar-se se se quiser traar o percurso dos Templrios em Portugal, que parece ser indissocivel da consolidao e afirmao da nossa nacionalidade. Vemos, pois, que Portugal esteve decisivamente envolvido na implantao e preservao da Ordem do Templo, o que Michel Lamy deixa entrever na sua obra. Esta nota e a documentao iconogrfica selecionada para ilustrar a obra, pretendem fornecer algumas pistas para quem deseje prosseguir um estudo sobre a ao dos Templrios em Portugal. ADVERTNCIA A histria da Ordem do Templo um terreno escorregadio que provoca desconfianas aos universitrios atuais. Demasiado enigmtico, demasiado ligado ao esoterismo para no desagradar aos apoiantes da escola quantitativista, suscita muito poucas vocaes em comparao com o que aconteceu outrora. No entanto, deu origem, ao longo dos tempos, a inmeras obras de qualidade. Investigadores de todos os horizontes tentaram compreend-la, contribuindo com a luz que era prpria da sua formao ou do seu empenhamento poltico. Por que razo acrescentar mais um livro aos milhares j publicados em todo o mundo e que estudam pormenorizadamente a vida dos cavaleiros do Templo nas suas Comendas, as operaes militares que realizaram, a sucesso dos seus Gro-Mestres, a sua alimentao, as suas armas, etc.? Se se tratasse apenas disso, bastaria efetivamente remetermo-nos para as muito boas obras de John Charpentier, Albert Ollivier, Georges Bordonove, Marion Melville, Raymond Oursel, Alain Demurger e muitos outros. Mas essas obras, por mais srias que sejam, no resolvem todos os enigmas que a Ordem do Templo levanta. Muitos investigadores se dedicaram s zonas de sombra desta histria, com maior ou menor felicidade, maior ou menor loucura, preciso diz-lo. Nem todas as suas hipteses so fiveis, mas muitos deles trouxeram o seu quinho de luz a um tema que tinha muitos espaos de trevas. So necessrios nomes como os de Louis Charpentier, Daniel Rju, Grard de Sde, Gilette Ziegler, Guinguand, Weysen, para desbravar as veredas da Histria Secreta, por mais perigosas e assustadoras para o caminhante que sejam. Porque, finalmente, digam o que disserem determinados historiadores encartados, a criao da Ordem do Templo continua envolta em mistrios; e o mesmo acontece com a realidade profunda da sua misso. Inmeros locais ocupados pelos Templrios apresentam particularidades estranhas. Atriburam-se aos monges-soldados crenas herticas, cultos curiosos e s suas construes significados e at poderes fantsticos. A seu respeito, fala-se de gigantescos tesouros escondidos, de segredos ciosamente preservados e de muitas outras coisas. As diversas hipteses formuladas contm, sem dvida, muito mais partes de sonho do que fatos provados, mas, mesmo por detrs das mais loucas, h muitas vezes parcelas de verdade que h que pr a claro, por muito que desagrade aos

  • racionalistas inveterados. No que a isto respeita, convm determo-nos, por breves instantes, num caso curioso: o de Umberto Eco. Depois do seu xito mundial, O Nome da Rosa, este universitrio italiano vendeu vrios milhares de exemplares de uma outra obra: O Pndulo de Foucault. Nela, amalgama a seu bel-prazer tudo o que se relaciona com o esoterismo e os Templrios, acumulando citaes desinseridas do seu contexto, truncando-as de forma a adulterar as teses apresentadas; em resumo, utilizando processos bem conhecidos da desinformao. O objetivo de Umberto Eco parece ter sido ironizar, troar de todos quantos procuram a verdade fora dos caminhos muito trilhados, o que, no entanto, , em certa medida, tambm o seu caso. Encarniou-se especialmente contra aqueles que se interessam pelos mistrios dos Templrios: uns loucos! Por trs vezes, a frase que pe na boca de uma das suas personagens: Desde o tempo em que eles [os Templrios] haviam sido enviados para a fogueira, uma multido de caadores de mistrios procurara encontr-los em todo o lado, e sem nunca apresentar a menor prova - Quando algum repe em jogo os Templrios, quase sempre um louco - Mais tarde ou mais cedo, o louco pe os Templrios em jogo - Tambm h loucos sem Templrios, mas os loucos dos Templrios so os mais insidiosos - Os Templrios continuam a ser indecifrveis devido sua confuso mental. por isso que tantas pessoas os veneram. Pois bem, assim seja. Convido todos quantos se interessam pelos Templrios a partilharem um pouco de loucura comigo, na investigao dos mistrios da Ordem do Templo. Deixemos Umberto Eco entregue ao seu psicanalista, para que este lhe explique o que o levou a ler centenas de obras a que no atribui qualquer crdito e que procura ridicularizar. Corramos antes o risco de, em conjunto, nos aventurarmos por caminhos no balizados, mesmo que possamos perder-nos neles. Tentemos esclarecer, de passagem, os mistrios das origens da Ordem e a influncia de So Bernardo. Interessemo-nos pela colossal potncia econmica e poltica que a Ordem do Templo representou e pelos meios que empregou, pelas fontes da sua riqueza. Investiguemos se foi hertica e que cultos estranhos foram eventualmente praticados no seu seio. E, para tal, dediquemo-nos a examinar os vestgios que os Templrios nos deixaram, nomeadamente gravados na pedra. Interroguemo-nos sobre a origem do impulso que deram arquitetura da sua poca e sobre as fontes dos seus conhecimentos nesta matria. Procuremos na sua priso e no seu processo as chaves mais misteriosas. Estudemos o que pode sobreviver desta Ordem e, por fim, visitemos alguns locais onde podemos respirar o odor estranho da sua presena e procurar os sinais tangveis daquilo a que se convencionou chamar a Histria Secreta dos Templrios. Mas, antes, refresquemos por um instante os nossos conhecimentos, passando em revista os dois sculos da histria da Ordem, de modo a adquirirmos assim os pontos de referncia necessrios para a anlise da sua evoluo no tempo.

  • PRIMEIRA PARTE O NASCIMENTO DA ORDEM DO TEMPLO I BREVE HISTRIA DA ORDEM DO TEMPLO Esta obra no tem a ambio de retomar toda a histria da Ordem do Templo sob o ngulo dos acontecimentos fatuais, mas sim de esclarecer as suas zonas mais obscuras. No entanto, para compreender o que se passou, h que ter presente no esprito que esta Ordem viveu dois sculos e evoluiu necessariamente. data da sua morte, no podia ser idntica ao que era nascena. Mudou porque o seu ideal se viu confrontado com duras realidades. Teve de se adaptar, uma e outra vez, tomar em mo as questes temporais, perdendo sem dvida, ao longo dos anos e das necessidades, uma parte da sua pureza original, tal como um adulto que por vezes tem dificuldade em encontrar em si a criana maravilhada, o minsculo ser de olhos puros que, no entanto, foi. A Ordem do Templo foi influenciada pelo seu tempo, mas este modificou-a, orientou-a, contribuindo para a Histria com as suas prprias correes. Para nos orientarmos nesta evoluo, pareceu-nos til apresentar, de forma muito breve, neste primeiro captulo, uma histria breve dos Templrios e, sobretudo, da sua poca. Nos caminhos de peregrinao Recuemos no tempo at ao final do sculo X. Na nossa poca, temos dificuldade em imaginar o que foram os terrores do ano 1000. A interpretao das escrituras convencera toda a cristandade de que o Apocalipse se produziria nesse ano fatdico. Revelao, no sentido etimolgico do termo, mas tambm destruio, dor: regresso de Cristo terra e julgamento dos homens, separao entre eles para mandar alguns para o paraso, para junto dos santos, e os outros para os infernos, a fim de a serem submetidos a tormentos eternos. Os cristos viveram com angstia esse ano 1000 e a sua aproximao. E nada se passou, pelo menos nada pior do que nos anos precedentes. A Igreja enganara-se na sua interpretao das Escrituras? Deus teria esquecido os seus filhos na terra? No, claro que no. Era algo diferente. A catstrofe fora evitada. Deus

  • fora tocado pelas preces dos homens. Perdoara. Sim, mas por quanto tempo? E se apenas se tratasse de um adiamento? Era preciso rezar, cada vez mais, rezar sempre. No sculo anterior, os cristos tinham-se feito estrada para irem em peregrinao a locais onde estavam enterrados santos. Estes ltimos haviam, sem dvida, intercedido em favor dos homens e Deus deveria ter-se deixado convencer. Um dos mais eficazes deveria ter sido Santiago que, de Compostela, atraa milhares de homens e mulheres que deixavam a sua famlia, o seu trabalho, abandonando tudo para irem rezar quele local da Galiza onde a terra acaba. Tinha-se passado perto da catstrofe final, as fomes de 990 e 997 eram prova disso. Tinha-se evitado o pior, o mtodo j era conhecido: era preciso cada vez mais que os homens se fizessem estrada, que os monges rezassem, que todos fizessem penitncia. No seria conveniente ir mais longe, realizar a suprema peregrinao, a nica que merecia verdadeiramente a viagem de uma vida: ir aos lugares onde o filho de Deus sofrera para resgatar os pecados dos homens, Jerusalm? Michelet escreveu: Os prprios ps conheciam o caminho, e John Charpentier faz notar: Feliz aquele que regressava! Mais feliz aquele que morria perto do tmulo de Cristo e que podia dizer-lhe, segundo a audaciosa expresso de um contemporneo [Pierre d'Auvergne]: Senhor, morrestes por mim e eu morri por vs. Multides cada vez mais numerosas puseram-se a caminho de Jerusalm. A cidade pertencia aos califas de Bagdade e do Cairo que permitiam o livre acesso aos peregrinos. Mas tudo mudou quando os Turcos se apoderaram de Jerusalm, em 1090. De incio, contentaram-se com vexar os cristos e, por vezes, espoli-los, infligindo-lhes humilhao atrs de humilhao, obrigando-os a executarem gestos contrrios sua religio. De escalada em escalada, a situao agravou-se: houve execues, torturas. Falou-se de peregrinos mutilados, abandonados nus no deserto. De Constantinopla, o imperador Alexis Comnne lanara o sinal de alarme. Libertar Jerusalm O Ocidente emocionou-se. No podia tolerar-se que os peregrinos fossem mortos. No podiam deixar-se os lugares santos nas mos de infiis. O ano 1000 passara, mas... Pedro, o Eremita, que assistira, em Jerusalm, a verdadeiros atos de barbrie, regressara muito decidido a erguer a Europa e pr os cristos no caminho da cruzada. Viram-no percorrer distncias considerveis, montado na sua mula, a que a multido arrancava as crinas aos punhados, para com elas fazerem relquias. Quando Pedro, o Eremita, passara por algum lugar, os espritos encontravam-se inflamados; homens, mulheres, crianas, mostravam a impacincia de tudo deixarem para se dirigirem a um nico destino: Jerusalm. E, uma vez l, se veria o que se fazia... Do lado dos senhores notava-se um pouco mais de prudncia na atitude.

  • Mais razo, sem dvida, mas tambm mais a perder: as terras que j no seriam protegidas, os bens que poderiam atrair cobias, etc. A 27 de Novembro de 1095, o papa Urbano II pregou num conclio provincial reunido em Clermont. Proclamou: Cada um deve renunciar a si mesmo e carregar a cruz. O sumo pontfice via a tambm uma ocasio de meter na ordem esses leigos que se espojavam na luxria e brincavam aos arruaceiros. Ir libertar Jerusalm seria o caminho da salvao. Aos milhares, os peregrinos haviam cosido sobre as suas vestes cruzes de tecido vermelho, que viriam a valer-lhes o nome de cruzados. Inicialmente, foram os pobres, os mendigos, os famintos, que quiseram libertar Jerusalm, metendo-se ao caminho em bandos andrajosos que gritavam Deus assim o quer! E aqueles que no partiam faziam ddivas para que os outros tivessem com que sobreviver, durante a viagem. Alguns tomavam a deciso obedecendo a um impulso, a um sinal: uma mulher seguira um ganso que deveria lev-la Cidade Santa.* Foram tambm referidos pssaros, borboletas e rs que se pensava mostrarem o caminho. [* H que ver a uma similitude com o jogo da glria ou do ganso e o jogo da semana, que conduziam ambos ao Paraso ou Jerusalm celeste (cf Michel Lamy, Histoire secrte du Pays Basque, Albin Michel).] Pedro, o Eremita, e o seu lugar-tenente, Gauthier-Sans-Avoir, arrastavam atrs de si uma turbamulta heterclita que comeou a sua cruzada matando os judeus do vale do Reno e pilhando os bens dos camponeses hngaros. Chegaram a Constantinopla no sbado de Aleluia de 1096. Foi o incio do fim. Na sia Menor, depois de Civitot, uma parte desses cruzados mal armados que no sabiam combater foi massacrada. Os sobreviventes pereceram quase todos de fome ou de peste, em frente a Antioquia. Estes ltimos viram chegar ento - melhor seria dizermos, por fim - o exrcito dos cruzados, o dos homens de armas que tinham acabado por seguir o exemplo dos mendigos. Fortemente armados, determinados, esses guerreiros apoderaram-se de Antioquia. O objetivo final estava prximo: Jerusalm, terra prometida. Os cantos elevaram-se mal avistaram as muralhas da cidade. Deixou de haver mendigos e nobres, restando apenas cristos em xtase, maravilhados com a sua faanha. A 14 de Julho de 1099, a tropa ps-se em movimento e atacou a cidade. Jerusalm foi conquistada, num fogoso mpeto, logo na manh do dia 15. No entanto, os cruzados no eram santos. De passagem, tinham pilhado e violado, a ponto de os cristos orientais se terem visto forados a refugiar-se junto dos Turcos: inconcebvel. Em Jerusalm, tambm se no comportaram com uma caridade digna de nota. Inmeros muulmanos tinham-se refugiado na mesquita Al-Aqsa; os cristos desalojaram-nos e fizeram uma hecatombe. Um cronista anotava: L dentro, o sangue chegava-nos aos tornozelos, e Guilherme de Tiro precisava: A cidade apresentava um espetculo tal de carnificina de inimigos, uma tal efuso de sangue, que os prprios vencedores se sentiram chocados pelo horror e a repugnncia. Durante uma semana, sucederam-se os massacres e combates de rua, at o

  • odor do sangue provocar nuseas. O reino latino de Jerusalm No entanto, os cruzados tinham fincado p na Terra Santa e tencionavam ficar por l. Foi fundado o reino latino de Jerusalm. Godofredo de Bouillon foi nomeado rei, mas recusou-se a cingir a coroa naquele lugar onde Cristo apenas usara uma coroa de espinhos. Godofredo, o rei cavaleiro do cisne, morreria pouco depois, em 1100. Para alm do reino de Jerusalm, que se estendia do Lbano ao Sinai, formaram-se progressivamente trs outros Estados: o condado de Edessa, a norte, meio franco meio armnio, fundado por Balduno de Bolonha, irmo de Godofredo de Bouillon; o principado de Antioquia, que ocupava, grosso modo, a Sria do Norte, e, finalmente, o condado de Antioquia. Godofredo foi substitudo por Balduno I. A conquista fora realizada mas agora tratava-se de conservar e administrar os territrios obtidos. Era conveniente conservar as cidades e as praas fortes e velar pela segurana das estradas. O inimigo fora vencido, mas no eliminado. Fundaram-se ordens, a que foram atribudas misses diversas. Houve, entre outras, a Ordem Hospitaleira de Jerusalm, em 1110, a Ordem dos Irmos Hospitalrios Teutnicos, em 1112, e a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo (futuros Templrios), em 1118, quando Balduno II era rei de Jerusalm. O nome de Ordem do Templo s aparece em 1128, por ocasio do Conclio de Troyes, que codificou a sua organizao. Em 1130, So Bernardo escrevia o seu De laude novae militiae ad Milites Templi, para assegurar a divulgao da Ordem. Dentro em pouco, as doaes tinham-se tornado importantes, o recrutamento progredia e, quando o primeiro Gro-Mestre, Hugues de Payns, morreu, em 1136, sucedendo-lhe Robert de Craon, a Ordem do Templo j era coesa. Trs anos mais tarde, Inocncio III reviu alguns aspectos da regra e concedeu ao Templo privilgios exorbitantes. Em 1144, Edessa foi retomada pelos muulmanos, o que levou organizao da segunda cruzada, pregada por So Bernardo em 1147, enquanto a Ordem do Templo continuava a adaptar-se e desenvolver-se. A operao viria a saldar-se num malogro, mas, no terreno, os cruzados resistiam, ainda assim, bastante bem aos assaltos muulmanos. Todavia, Saladino conseguia, pouco a pouco, unificar o mundo do Isl. Em 1174, apoderava-se de Damasco e, em 1183, de Alepo. Em seguida, aps o desastre de Hattin, onde morreram inmeros cristos, Saladino conseguiu retomar Jerusalm, em 1187, reduzindo assim o reino latino regio de Tiro. Uma terceira cruzada foi organizada em 1190, quando Robert de Sabl era Gro-Mestre da Ordem do Templo. Viria a permitir reconquistar Chipre e Acra, em 1191. Reunia Filipe Augusto, Frederico Barba Ruiva e Ricardo Corao de Leo. Este ltimo bateu Saladino em Jafa e, depois, tendo sido vencido, tentou regressar a Inglaterra disfarado de templrio. Reconhecido, foi feito prisioneiro,

  • uma histria que bem conhecida de todos quantos, na infncia, vibraram com as aventuras de Robin dos Bosques. Infelizmente, ao contrrio do que reza a lenda, Ricardo Corao de Leo no foi o rei nobre que descrito com bonomia e esteve longe de se comportar sempre de forma cavaleiresca. Morreu em 1196, trs anos depois de Saladino e de Robert de Sabl. Em 1199, foi decidida a quarta cruzada que teve muitas dificuldades para se pr a caminho. Quando os cruzados avistaram Constantinopla, em 1912, esqueceram o seu objetivo, conquistaram a cidade, pilharam aquele reino cristo e organizaram os Estados Latinos da Grcia. No dealbar desse sculo XIII, Wolfram von Eschenbach escrevia o seu Parzifal, onde os Templrios apareciam como os guardies do Graal. Depois de se ter desviado do seu objetivo, a Palestina, para pilhar o reino bizantino, a cavalaria ocidental - nomeadamente a francesa - deve ter dito a si prpria que no era necessrio ir to longe para enriquecer. Em 1208, foi pregada nova cruzada, mas esta consistia em ir sangrar o Sul de Frana, onde os Ctaros opunham a sua heresia a um clero local pouco convincente, porque demasiado corrompido. Os bares do Norte preferiram ir matar os Albigenses a esbarrarem nas cimitarras dos muulmanos. Mesmo assim, foi organizada uma quinta cruzada, entre 1217 e 1221. Terminou com a tomada de Damieta, no Egito, e sem mais xitos. Foi esta a poca escolhida pelos Mongis para lanarem uma operao de invaso, criando uma nova frente, muito difcil de manter. Sem muita dificuldade, apoderaram-se do Ir. Todavia, Frederico II de Hohenstaufen, imperador germnico excomungado pelo papa, devolvera Jerusalm aos cristos. O que as armas no haviam conseguido, obtivera Frederico II mediante negociaes diplomticas. Infelizmente, em 1244, a Cidade Santa viria a cair nas mos dos Turcos. O fim de um reino e de uma ordem Durante todo este tempo, os Templrios estiveram praticamente em todas as frentes, alimentando, graas gesto genial de um patrimnio ocidental colossal, o esforo de guerra no Oriente. Mas o povo, os nobres, comeavam indubitavelmente a cansar-se. As vitrias e as derrotas sucediam-se, tornavam-se banais. J no existia o entusiasmo inicial. Em contrapartida, o Oriente influenciara o Ocidente. O contacto com outra civilizao deixara marcas. Tinham aparecido produtos novos nos mercados da Europa; haviam-se desenvolvido tcnicas e cincias graas a frutuosas relaes estabelecidas entre sbios e letrados das duas civilizaes. O Ocidente abria-se ao fascnio do Levante. Um homem pensava ainda ter o dever de levar o ferro, em nome de Cristo, ao seio dos infiis: So Lus. Em 1248, iniciou a catastrfica stima cruzada. Em nome de um ideal, desdenhava das realidades, recusando-se a ouvir aqueles que, como os Templrios, conheciam bem os problemas locais. Acumulou erros e sofreu uma grave derrota em Mansur, enquanto os Mamelucos turcos

  • consolidavam o seu poder no Egito. Em 1254, So Lus regressou a Frana. Quatro anos mais tarde, os Mongis apoderaram-se de Bagdade, pondo fim ao califado abssida. Em 1260, foram repelidos para a Sria pelos Turcos e, no ano seguinte, os Gregos retomavam Constantinopla. Em 1270, So Lus, que nunca percebera nada e nem sempre retirara as lies da sua primeira campanha, participava na oitava cruzada. Encontrou a morte em frente a Tnis, nesse mesmo ano. Em 1282, foi concluda uma trgua de dez anos com o Egito, enquanto os Cavaleiros Teutnicos haviam decidido levar as suas espadas mais para norte e criar um reino na Prssia. Em 1285, Filipe III, cognominado o Audaz, que sucedera a So Lus no trono de Frana, extinguia-se, deixando o lugar a Filipe IV, o Belo. Seis anos mais tarde, com a derrota de So Joo de Acre, no decurso da qual foi morto o Gro-Mestre da Ordem do Templo, Guillaume de Beaujeu, a Terra Santa foi perdida e evacuada. Os Templrios retiraram para Chipre. Em 1298, Jacques de Molay tornou-se Gro-Mestre da Ordem: o ltimo Gro-Mestre. Um ano mais tarde, organizou uma expedio ao Egito, mas o reino latino de Jerusalm acabara de vez. Filipe, o Belo, teve violentos confrontos com o papa Bonifcio VIII, que o excomungou, em 1303. O sumo pontfice morreu nesse mesmo ano. Em 1305, o seu sucessor, tambm ele em litgio com Filipe, o Belo, morreu envenenado e o rei de Frana tornou papa um homem com quem fizera acordos: Bertrand de Got, que reinou sob o nome de Clemente V. Nesse mesmo ano, foram lanadas acusaes de extrema gravidade contra a Ordem do Templo, que assumiram a forma de denncias feitas perante o rei de Frana. Acusaes duvidosas mas que surgiam num bom momento: a Ordem inquietava, agora que o seu poder j no tinha onde se exercer no Oriente. Em 1306, Filipe, o Belo, sempre sem dinheiro, baniu os judeus do reino de Frana, no sem antes os ter espoliado dos seus bens e de ter mandado torturar alguns deles. Em 1307, mandou prender todos os templrios do reino e escolheu para tal fim a data de 13 de Outubro. A 17 de Novembro, o papa acedeu a pedir a sua priso em toda a Europa. Foram realizadas acusaes estereotipadas e a instruo do processo fez-se com a ajuda da tortura. Mesmo assim, o papa tentou organizar a regularidade dos procedimentos mas no ousou atacar diretamente o rei de Frana. Pouco a pouco, os Templrios tentaram formalizar a sua defesa mas, a partir de 1310, alguns deles foram condenados e conduzidos fogueira. Em 1312, quando do segundo conclio de Viena, a Ordem do Templo foi extinta sem ser condenada. Os bens dos Templrios foram, teoricamente, devolvidos aos Hospitalrios de So Joo de Jerusalm. A 19 de Maro de 1314, o Gro-Mestre, Jacques de Molay, e vrios outros dignatrios foram queimados vivos. Um ms mais tarde, a 20 de Abril, morreu, por sua vez, o papa Clemente V. No dia 29 de Novembro ocorreu a morte de Filipe, o Belo. A Ordem do Templo extinguira-se mas a sua histria no terminara. Deixou

  • vestgios que, tal como as catedrais que ajudara a construir, transpuseram o tempo. Vivera dois sculos, perodo durante o qual a evoluo da civilizao ocidental fora muito importante, muito mais do que deixa entender a concepo esttica que geralmente se tem em relao Idade Mdia. Dois sculos de evoluo econmica, de desenvolvimento do comrcio e do artesanato, de progresso nas artes. Dois sculos que marcaram para sempre o mundo. A Ordem do Templo esteve intimamente ligada a essa evoluo e esse no o menor dos mistrios que agora teremos de abordar. II O MISTRIO DAS ORIGENS Jerusalm, cenrio do nascimento da Ordem Antes das cruzadas, o Mediterrneo era um lago muulmano onde os Barbarescos quase faziam reinar a sua lei. De incio, tinham tolerado os peregrinos antes de os destrurem, tanto em terra como no mar. A cruzada deveria pr tudo em boa ordem, mas manter Jerusalm e mais algumas cidades ou praas fortes no era cobrir todo o territrio e a insegurana mantinha-se. Quanto capital, parecia pacificada. Godofredo de Bouillon mandara limpar rapidamente a cidade - e nomeadamente os lugares santos - dos cadveres que o furor dos cruzados acumulara. No Santo Sepulcro, instalara um captulo de vinte cnegos regulares, reunidos sob a denominao de Ordem do Santo Sepulcro. Envergavam um manto branco ornado com uma cruz vermelha. Mandara tambm reparar as muralhas guarnecidas com torres que protegiam a Cidade Santa e fora dispensado um cuidado muito especial s igrejas: Santa Maria Latina, Santa Madalena, So Joo Baptista e, claro, Santo Sepulcro, com a sua rotunda ou anastasis, que albergava o tmulo de Cristo. Tambm fora ampliado um hospital que devia ser entregue aos Hospitalrios de So Joo de Jerusalm e reparara-se a mesquita de Omar, isto , a cpula do rochedo que exibia a pedra sobre a qual Jacob vira, em sonhos, a escada que conduzia ao cu. Quanto mesquita de Al-Aqsa, viria a tornar-se, em 1104, residncia do rei de Jerusalm, Balduno I, antes de ser devolvida aos Templrios, a partir de 1110. Quem era Hugues de Payns? Tudo mistrio nos primrdios da Ordem. Primeiro enigma, que no o mais importante: a personalidade do seu fundador. Geralmente, d-se-lhe o nome de Hugues de Payns. Segundo os registos e as crnicas dessa poca, encontramo-lo tambm sob os nomes de Paganensis, Paenz, Paenciis, Paon, etc. Guilherme de Tiro designa-o como Hues de Paiens delez Troies, dando assim a sua origem geogrfica. Com efeito, pensa-se geralmente que tenha nascido em Payns, a um

  • quilmetro de Troyes, por volta de 1080, no seio de uma famlia nobre aparentada com os condes de Champagne. Era senhor de Montigny e teria mesmo sido oficial da Casa de Champagne, uma vez que a sua assinatura figura em dois registos importantes do condado de Troyes. Pela famlia de sua me, era primo de So Bernardo, que lhe chamava amigavelmente carissimus meus Hugo. O irmo de Hugues de Payns teria sido abade de Sainte-Colombe de Sens. Casado, Hugues teria tido um filho que alguns autores transformam no abade de Sainte-Colombe, em lugar de seu irmo. Esse filho, que encontramos nos textos sob o nome de Thibaut de Pahans, teve um dia alguns dissabores por haver empenhado uma cruz e uma coroa de ouro ornada de pedrarias que pertenciam sua abadia. verdade que foi por uma boa causa, dado que se tratava de conseguir cobrir as despesas da sua participao na segunda cruzada. Mas, mesmo assim... Em resumo, sabemos muito pouco sobre o cavaleiro de Champagne chamado Hugues de Payns. De Champagne... nem disso h a certeza. Foram avanadas outras hipteses quanto s origens da sua famlia. Entre outros, encontraram-se-lhe antepassados italianos ligados a Mondovi e a Npoles. Para alguns, o seu nome verdadeiro teria sido Hugo de Pinos e seria necessrio procurar a sua origem em Espanha, em Baga, na provncia de Barcelona, o que seria atestado por um manuscrito do sculo XVIII, conservado na Biblioteca Nacional de Madrid. Sobretudo, afirma-se tambm que seria de Ardche, sado de uma famlia que inicialmente vivera na Alta Provena e que, depois, se teria fixado em Forez. Segundo Grard de Sde, os seus antepassados teriam sido companheiros de Tancredo, o Normando. Hugues teria nascido a 9 de Fevereiro de 1070, no castelo de Mahun, na comuna de Saint-Symphorien-de-Mahun, em Ardche. Alis, em 1897, foi encontrado o registo de nascimento, mas pode tratar-se de uma homonmia. As suas armas teriam sido de ouro com trs cabeas de mouros, lembrando o apodo de seu pai. Este, natural de Langogne, em Lozre, era conhecido, efetivamente, como o Mouro da Gardille. Laurent Dailoliez precisa que: A biblioteca municipal de Carpentras conserva um manuscrito que regista uma doao, de 29 de Janeiro de 1130, de Laugier, bispo de Avinho. Nessa ocasio, Hugues de Payns referido como originrio de Viviers, em Ardche. Tudo isso pareceria dar alguma credibilidade s origens de Hugues de Payns em Ardche. Ficaria, portanto, por averiguar que circunstncias o teriam levado a tornar-se oficial do conde de Champagne. Por isso, e porque existe um Payns perto de Troyes e tambm em razo do parentesco com So Bernardo, optaremos antes por uma origem champanhesa do primeiro Gro-Mestre da Ordem do Templo. A criao da Ordem do Templo e o policiamento das estradas Tambm a fundao da Ordem comporta muitas zonas obscuras. Analisemos, em primeiro lugar, a verso oficial tal como nos foi transmitida pelos cronistas da poca. Guilherme de Tiro, nascido na Palestina em 1130, bispo de Tiro em 1175, no pde assistir ao incio da Ordem e, portanto, falava dele em funo

  • do que lhe fora contado. Jacques de Vitry era mais preciso, embora tenha escrito um sculo mais tarde. Devia estar de posse de alguns pormenores oficiais sobre os primrdios da Ordem, porque estava muito ligado aos Templrios. Poderemos, pois, pensar que o que se segue lhe foi contado diretamente por dignitrios do Templo: Alguns cavaleiros, amados por Deus e ordenados para o seu servio, renunciaram ao mundo e consagraram-se a Cristo. Mediante votos solenes pronunciados perante o patriarca de Jerusalm, dedicaram-se a defender os peregrinos dos arruaceiros e ladres, a proteger os caminhos e a servir de cavaleiros ao soberano rei. Observaram a pobreza, a castidade e a obedincia, segundo a Regra dos Cnegos Regulares. Os seus chefes eram dois homens venerveis, Hugues de Payns e Geoffroy de Saint-Omer. Inicialmente, s houve nove que tomaram uma deciso to santa e, durante nove anos, serviram com vestes seculares e cobriram-se com aquilo que os fiis lhes deram como esmola. O rei, os seus cavaleiros e o senhor patriarca encheram-se de compaixo por esses nobres homens que tudo haviam abandonado por Cristo e deram-lhes algumas propriedades e benefcios para proverem s suas necessidades e pelas almas dos doadores. E porque no tinham igreja ou casa que lhes pertencesse, o rei instalou-os no seu palcio, perto do Templo do Senhor. O abade e os cnegos regulares do Templo deram-lhes, para as necessidades do seu servio, um terreno que no ficava distante do palcio e, por essa razo, foram mais tarde chamados Templrios. No ano da graa de 1128, depois de terem ficado nove anos no palcio, vivendo todos juntos em santa pobreza, de acordo com a sua profisso, receberam uma Regra por interveno do papa Honrio e de Estvo, patriarca de Jerusalm, e foi-lhes atribudo um hbito branco. Isso foi feito no conclio realizado em Troyes, sob a presidncia do senhor bispo de Albano, legado apostlico, e na presena dos arcebispos de Reims e de Sens, dos abades de Cister e de muitos outros prelados. Mais tarde, no tempo do papa Eugnio (1145-1153), puseram a cruz vermelha nos seus hbitos , usando o branco como emblema de inocncia e o vermelho pelo martrio. [...] O seu nmero aumentou to rapidamente que em breve havia mais de trezentos cavaleiros nas suas assembleias, todos envergando mantos brancos, sem contar os inmeros servidores. Adquiriram tambm bens imensos deste e do outro lado do mar. Possuam [...] cidades e palcios, de cujos rendimentos entregavam, todos os anos, uma determinada soma para a defesa da Terra Santa, nas mos do seu soberano mestre, cuja residncia principal em Jerusalm. Jacques de Vitry dava tambm algumas indicaes sobre a disciplina que reinava no interior da Ordem. Poderamos recorrer tambm a Guilherme de Nangis ou pedir alguma ajuda verso latina da sua Regra, que afirma no prembulo: pelas oraes de mestre Hugues de Payns, sob cuja direo a referida cavalaria teve incio pela graa do Esprito Santo. Que deveremos concluir? Que alguns cavaleiros renunciaram ao mundo sob o comando de Hugues de Payns para se colocarem ao servio dos peregrinos e que assim nasceu a Ordem do Templo.

  • Podemos dizer tambm que os Templrios foram apenas nove, durante nove anos, e esse nmero j foi muito glosado. Mas, quem eram esses nove paladinos. Para alm de Hugues de Payns, encontramos Geoffroy de Saint-Omer, um flamengo; Andr de Montbard, nascido em 1095 e tio de So Bernardo pela sua meia-irm, Aleth. Havia tambm Archambaud de Saint-Aignan e Payen de Montdidier (por vezes designado pelo nome de Nivard de Montdidier), ambos flamengos. E, depois, Geoffroy Bissol, sem dvida originrio do Languedoque e Gondomar, que talvez fosse portugus. Por fim, um tal Roral, ou Rossal, ou Roland, ou ainda Rossel, de quem nada mais sabemos, e um hipottico Hugues Rigaud, que teria sido originrio do Languedoque. Uma vez mais, as informaes fiveis so muito tnues. Por que razo se juntaram estes homens? Jacques de Vitry j no-lo disse: para defenderem os peregrinos dos arruaceiros, protegerem os caminhos e servirem de cavalaria ao seu soberano-rei. Na verdade, os exrcitos de cruzados que haviam permanecido no local no tinham meios para dominarem todo o territrio, tanto mais que muitos homens haviam regressado ao Ocidente. As cidades estavam bem controladas mas a maior parte do pas continuava sob domnio muulmano. Algumas pequenas cidades nem sequer tinham guarnio crist. Os Francos contentavam-se com vagos patos de no agresso e obrigavam-nas a pagar um tributo. Alguns senhores rabes aproveitavam-se desta situao para efetuarem golpes de mo e assaltarem as caravanas de peregrinos. Os camponeses muulmanos, para resistirem ao invasor, no hesitavam em organizar o bloqueio econmico das cidades a fim de as reduzirem fome ou capturavam cristos isolados e vendiam-nos como escravos. Nas prprias cidades ocorriam atentados. Em resumo, a segurana era uma palavra v. Havia uma estrada que era especialmente considerada exposta e pouco segura. Ligava Jafa a Jerusalm, e os egpcios de Ascalon faziam amide incurses contra ela. Os peregrinos s podiam circular por ela agrupados em pequenas hostes, o melhor armados que fosse possvel. Hugues de Payns teria decidido remediar essa situao constituindo uma equipe para que guardassem os caminhos, l por onde os peregrinos passavam, dos ladres e salteadores que grandes males a soam fazer, como dizia Guilherme de Tiro. Hugues de Champagne e o nascimento da Ordem A Ordem do Templo foi fundada a 25 de Dezembro de 1118. Hugues de Payns e Geoffroy de Saint-Omer tinham prestado juramento de obedincia entre as mos do patriarca de Jerusalm no preciso dia em que Balduno era coroado rei. Mas nove cavaleiros no seriam bem poucos para guardar as estradas da Terra Santa? certo que poderemos supor que cada um deles deveria ter consigo alguns homens, sargentos de armas ou escudeiros. Isto era muito corrente, mesmo que tal no fosse referido. Mesmo assim, os primrdios foram bastante modestos e no devem ter

  • permitido que os primeiros Templrios desempenhassem a misso que, aparentemente, se haviam atribudo. Diz-se que guardavam o desfiladeiro de Anthlit, entre Cesareia e Caifa, no preciso local onde, mais tarde, edificaram o famoso Castelo-Peregrino. Tal tarefa no deveria ser muito fcil, estando sediados em Jerusalm. Quase desprovidos de meios, no podiam fazer muito. A lgica exigia que procurassem recrutar pessoas para desempenharem melhor a sua misso. Era indispensvel. E, no entanto, nada fizeram. Evitaram, inclusive, com muito cuidado, durante os primeiros anos, qualquer aumento da sua pequena hoste. Guilherme de Tiro e Mathieu de Paris so formais: recusaram toda e qualquer companhia, excepto, em 1125 ou 1126, a do conde Hugues de Champagne, filho de Thibaut de Blois, um senhor cujo condado era mais vasto do que o domnio real. Porqu esta recusa? Como possvel que aqueles nove cavaleiros no tenham participado em qualquer operao militar, embora o rei no tenha parado de combater, de Antioquia a Tiberades, passando por Alepo? Tudo isto no convence e o papel de polcias das estradas parece, nestas condies, uma simples capa que disfara uma outra misso que deveria permanecer secreta. talvez graas chegada de Hugues de Champagne que vamos perceber um pouco melhor o que se passou. Em 1104, depois de ter reunido alguns grandes senhores, dos quais um se encontrava em relao muito estreita com o futuro templrio Andr de Montbard, Hugues de Champagne partira para a Terra Santa. Tendo regressado rapidamente (em 1108), deveria voltar l em 1114 para regressar Europa em 1115, a tempo de doar a So Bernardo uma terra onde este construiu a Abadia de Clairvaux. Em todo o caso, a partir de 1108, Hugues de Champagne tinha entabulado contatos importantes com o abade de Cister: Estvo Harding. Ora, a partir dessa poca, embora os cistercienses no fossem considerados habitualmente homens de estudos - ao contrrio dos beneditinos -, eis que comearam a estudar minuciosamente textos sagrados hebraicos. Estvo Harding pediu mesmo ajuda a sbios rabinos da Alta Borgonha. Que razo poderia ter originado um entusiasmo to repentino por textos hebraicos? Que revelao se pensava que esses textos poderiam trazer para que Estvo Harding tenha posto, assim, os seus monges a trabalhar com o auxlio de sbios judeus? Neste quadro, a estada de Hugues de Champagne na Palestina pode parecer como uma viagem de verificao. Podemos imaginar que documentos descobertos em Jerusalm ou nos seus arredores tenham sido trazidos para Frana. Foram traduzidos e interpretados, e Hugues de Champagne teria ido ento procurar informaes complementares ou ento verificar, no local, a correo das interpretaes e a validao dos textos. Sabemos, por outras fontes, o papel importante que So Bernardo, protegido de Hugues de Champagne, devia desempenhar na poltica do ocidente e no progresso da Ordem do Templo. Escreveu a Hugues de Champagne, a propsito da sua vontade de ficar na Palestina:

  • Se, pela graa de Deus, te fizeste conde, cavaleiro, e de rico, pobre, felicitamo-nos pelo teu progresso, dado que justo, e glorificamos a Deus em ti, sabendo que isto uma mutao mo direita do Senhor. Quanto ao resto, confesso que no suportamos com pacincia sermos privados da tua alegre presena por no sei qual justia de Deus a menos que, de tempos a tempos, mereamos ver-te, se tal for possvel, o que desejamos mais do que todas as coisas. Esta carta do santo cisterciense mostra-nos at que ponto os protagonistas desta histria esto ligados entre si e so capazes, portanto, de guardar o segredo em que trabalham. Alis, o prprio So Bernardo interessou-se muito de perto por antigos textos sagrados judeus. Em todo o caso, parece que Hugues de Champagne considerou as revelaes suficientemente importantes para legitimarem uma fixao na Palestina. Era casado e, para entrar na Ordem do Templo que acabara de se criar, era necessrio que a sua mulher aceitasse entrar para um convento. A cara esposa no entendia assim as coisas. Hugues de Champagne hesitou durante algum tempo mas, como a sua mulher lhe era notoriamente infiel, repudiou-a. Aproveitou esse fato para deserdar o filho, em relao ao qual tinha fortes desconfianas de no ser seu, e abdicou de todos os seus direitos em favor de seu sobrinho, Thibaut. Entrou para a Ordem do Templo e nunca mais deixou a Terra Santa, onde faleceu em 1130. Quem seria capaz de nos fazer crer que repudiou a mulher e abandonou tudo para guardar estradas com pessoas que no queriam a ajuda de ningum, e isso sob as ordens de um dos seus prprios oficiais?* [* provvel que Hugues de Payns tenha vindo para a Palestina ao mesmo tempo que Hugues de Champagne, isto , em 1104. Com efeito, a primeira cruzada realizou-se em 1099 e, nessa poca, Hugues de Payns ainda devia encontrar-se na Champagne, dado que a encontramos a sua assinatura num documento de 21 de Outubro de 1100.] Era preciso ser muito ingnuo, mesmo que tomemos em considerao que a f capaz de dar origem a muitos abandonos. No se trataria antes de ajudar os Templrios na verdadeira tarefa que lhes fora confiada e que Hugues de Champagne tinha boas razes para conhecer? Tudo iria acelerar-se. A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo s fora criada oficialmente em 1118, isto , vinte e trs anos depois da primeira cruzada, mas foi apenas em 1128, a 17 de Janeiro, que recebeu o nome de Ordem do Templo e a sua aprovao definitiva e cannica, mediante a confirmao da regra. At mesmo essas datas so contestadas por vezes e fala-se, respectivamente, de 1119 e de 13 de Janeiro de 1128. Podemos pensar que os documentos que tudo indica terem sido trazidos da Palestina por Hugues de Champagne (que sem dvida os descobrira juntamente com Hugues de Payns) no deixariam de estar relacionados com o local que, em seguida, foi afetado ao alojamento dos Templrios. O Templo de Salomo

  • O rei de Jerusalm, Balduno, atribuiu-lhes como alojamento uns edifcios situados no local do Templo de Salomo. Chamaram ao local caserna de So Joo. Fora necessrio mandar sair de l os cnegos do Santo Sepulcro que Godofredo de Bouillon l instalara primitivamente. Por que razo no se procurara antes outra habitao para os Templrios? Que necessidade imperiosa havia de lhes oferecer para toca aquele local em particular? De qualquer modo, a razo no tem nada que ver com o policiamento das estradas. As caves eram formadas por aquilo a que se chamavam as estrebarias de Salomo. O cruzado alemo Joo de Wurtzburg dizia que eram to grandes e to maravilhosas que podiam alojar-se l mais de mil camelos e quinze centenas de cavalos. No entanto, foram afetadas na sua totalidade aos nove cavaleiros do Templo que, antes de mais, se recusavam a fazer recrutamento. Desentulharam-nas e utilizaram-nas a partir de 1124, quatro anos antes de receberem a sua regra e estimularem o seu desenvolvimento. Mas utilizaram-nas apenas como estrebarias ou realizaram nelas buscas discretas? E que procuraram? Um dos manuscritos do mar Morto, encontrado em Qumran e decifrado em Manchester em 1955-1956, referia quantidades de ouro e de vasos sagrados que constituam vinte e quatro conjuntos enterrados sob o Templo de Salomo. Mas, nessa poca, esses manuscritos dormiam no fundo de uma gruta e, mesmo que possamos imaginar a existncia de uma tradio oral a esse respeito, poderemos pensar que as pesquisas foram orientadas antes para textos sagrados ou objetos rituais e no para vulgares tesouros materiais. Que podero ter encontrado no local e, antes de mais, que sabemos sobre esse Templo de Salomo de que tanto se fala? Para alm das lendas, muito pouco: nenhum vestgio identificvel por arquelogos; essencialmente, tradies veiculadas ao longo do tempo e algumas passagens na Bblia (no Livro dos Reis e nas Crnicas). Sem dvida que foi construdo cerca de 960 a. C. - pelo menos na sua forma primitiva. Salomo, que desejaria construir um templo glria de Deus, fizera acordos com o rei fencio Hiram que se comprometera a fornecer-lhe madeira (de cedro e de cipreste). Enviar-lhe-ia tambm operrios especializados: canteiros e carpinteiros recrutados em Guebal, onde os prprios egpcios costumavam contratar a sua mo-de-obra qualificada. As obras duraram sete anos, abrangendo tambm um palcio suficientemente grande para albergar as setecentas princesas e trezentas concubinas do rei Salomo. O Templo era retangular. Entrava-se no vestbulo transpondo uma porta dupla de bronze e, ento, encontravam-se duas colunas: Jachin e Boaz, tambm de bronze. Seguia-se uma porta dupla, em madeira de cipreste, que permitia o acesso ao hkal, ou local santo, uma sala com lambris de madeira de cedro e cheia de objetos preciosos e sagrados: o altar dos perfumes, em ouro macio, a tbua dos pes de orao, em madeira de cedro forrada a ouro, dez candelabros e lmpadas de prata, copos para libaes finamente cinzelados, bacias sagradas e braseiros que

  • serviam para a celebrao de sacrifcios. Em seguida, entrava-se no debir, uma sala cbica onde se encontrava a Arca da Aliana. O conjunto era feito de pedras talhadas, madeira e metais. Em frente ao Templo, o mar de bronze, grande reservatrio que podia conter cinquenta mil litros de gua, suportado por doze esttuas de touros, dominava a esplanada. Os elementos de decorao eram cobertos de folhas de ouro. Todo o empedrado tinha placas de ouro. A prata e o cobre tambm se encontravam em profuso. Os metais preciosos estavam verdadeiramente em todo o lado, incluindo o telhado, onde agulhas de ouro impediam que os pssaros pousassem. O Templo existiu sob esta forma at 586 a. C. Nessa data, Nabucodonosor cercou Jerusalm e apoderou-se dela. A cidade foi incendiada e o Templo de Salomo destrudo. Cerca de 572 a. C., Ezequiel teve a viso do Templo reconstrudo das suas runas. No entanto, teve que esperar at 538 a. C. para se ver Zorobadel iniciar a sua reconstruo. O novo santurio, muito mais modesto do que o precedente, foi arrasado pelo Selucida Antoco Epifnio. Herodes decidiu reconstru-lo. Durante dez anos, mil operrios trabalharam no estaleiro. O resultado foi grandioso, mas durou pouco, dado que o edifcio foi destrudo no tempo de Nero, menos de sete anos depois de ter sido terminado. Em 70 d. C., uma vez mais, Jerusalm foi tomada e o Templo pilhado, por Tito. Os objetos sagrados, como o candelabro dos sete braos e muitas outras riquezas, foram levados para Roma e apresentados ao povo, quando do triunfo de Tito. Quando os Templrios se instalaram no local onde se erguera, apenas restava do Templo um pedao do muro das lamentaes e um magnfico empedrado quase intacto. Em sua substituio, erguiam-se duas mesquitas: Al-Aqsa e Omar. Na primeira, a grande sala de orao foi dividida em quartos para servir de alojamento aos Templrios. Juntaram-lhe novas construes: refeitrios, adegas, silos. Os Templrios e a Arca da Aliana Parece que os Templrios fizeram descobertas interessantes no local. Mas, de que se tratava? Se a maior parte dos objetos sagrados desaparecera por ocasio das diversas destruies, e nomeadamente quando do saque de Jerusalm por Tito, havia um que se volatilizando pura e simplesmente, no parecia ter sido retirado de l. Ora, fora para alojar esse objeto que Salomo construra o Templo: a Arca da Aliana, que continha as Tbuas da Lei. Uma tradio rabnica referida pelo Rabi Mannaseh ben Israel (1604-1657) explica que Salomo teria mandado fazer um esconderijo sob o prprio Templo, para se colocar l a Arca, em caso de perigo. Essa Arca tinha a forma de uma caixa de madeira de acaju com dois cvados e meio (1,10 m) por um cvado e meio (66 cm), tendo tanto de altura como de largura. Tanto no interior como no exterior, as paredes estavam cobertas com folhas de ouro. O cofre abria-se para cima, por meio de uma tampa de ouro macio por cima da qual se viam dois querubins de ouro martelado, frente a frente, com as asas dobradas e viradas uma para a outra. Havia argolas fixadas, que permitiam a insero de barras

  • - tambm elas cobertas de ouro - para transportar a Arca que, assim, teria um aspecto igual ao de certos mveis litrgicos egpcios. Por fim, uma placa de ouro estava colocada sobre a tampa, entre os querubins. Este kapporet era considerado pelos Hebreus como o trono de Iav. Assim o afirma o xodo, onde Iav diz a Moiss: a que me encontrarei contigo, de cima do propiciatrio, do espao compreendido entre os dois querubins colocados sobre a Arca do Testemunho, que te comunicarei as ordens destinadas aos filhos de Israel. Que quer dizer isso? Para os amantes de OVNIS, a Arca poderia ser uma espcie de receptor de rdio intergalctico que permitia receber mensagens vindas do espao ou de outro lugar. Para os outros, resta classificar isto na misteriosa rubrica dos objetos ditos de culto cujo destino no conhecido. Os querubins alados parecem sugerir homens voadores, anjos intermedirios entre os homens e os deuses. Pelo nosso lado, vamos abster-nos de dar qualquer opinio quanto a esta questo, mas no poderamos afastar a priori nenhuma hiptese enquanto no for fornecida uma explicao totalmente convincente, e sem dvida que no ser fcil explicar por que razo a Arca fora construda como um condensador eltrico. Em todo o caso, a Arca encontrava-se bem protegida. Paul Posson* lembra que era proibido tocar-lhe sem uma autorizao expressa para tal (e, muito possivelmente, equipado com protees especiais), sob pena de se ser fulminado de imediato. Um dia, quando a transportavam, e porque ia mal segura, a Arca deu a impresso de ir cair ao cho. Um homem precipitou-se para a segurar. Foi uma infelicidade, porque morreu imediatamente fulminado. Pode considerar-se que a Arca se protegia a si prpria, querendo dizer com isso que seria difcil admitir que a clera divina tenha fulminado algum apenas porque pretendera impedir que a Arca casse. *[Paul Posson, Le Testament de No] A Arca foi, pois, colocada no Templo de Salomo, no ano 960 a. C. No Livro dos Reis, Salomo dirige-se a Deus, atravs dela: O Eterno declarou que habitaria na escurido. Acabei de edificar uma casa que ser a Tua residncia, oh Deus, uma casa onde Tu habitars eternamente. Robert Laffont escreve: Curioso, tratando-se de um ser da Luz. De notar que Salomo parece fazer uma distino entre o deus a que se dirige e o Eterno. Tal como j dissemos, no parece que a Arca tenha sido roubada quando das diferentes pilhagens ou pelo menos, quando tal aconteceu, foi recuperada, de acordo com os textos. O seu desaparecimento por roubo teria deixado inmeros vestgios, tanto nos escritos como nas tradies orais. Apenas uma lenda sugere que ela teria sido roubada pelo prprio filho de Salomo. Esse filho, que teria tido da rainha do Sab, t-la-ia roubado para a levar para o reino de sua me. Mas esta lenda pouco credvel e no encontramos nada que a possa apoiar, na Bblia. Louis Charpentier lembra: Quando Nabucodonosor tomou Jerusalm, no h qualquer referncia

  • Arca, no saque. Manda incendiar o Templo, em 587 a. C. E a Arca arde com ele. Diz Wegener: Ora, certo que a Arca foi enterrada. E Salomo no disse que ela ficaria na escurido? O que no podia ser o caso do Santo dos Santos. Charpentier v a prova disso num texto que refere: Quando a Arca da Aliana foi enterrada, levou-se para a ghenizah o recipiente que continha o man, porque estivera em contacto com as Tbuas da Lei. Para Charpentier, isso no tem a menor dvida: a Arca ficou no local, escondida sob o Templo, e os Templrios descobriram-na. Esta afirmao dever ser aceite com muita circunspeco, mas no deixa de ter interesse. Se admitirmos, por um instante, a sua validade como hiptese de investigao, torna-se lgico pensar que, entre 1104 e 1108, Hugues de Champagne e Hugues de Payns, uma espcie de aventureiros da Arca perdida, tenham conseguido descobrir documentos que permitiam localiz-la. O trabalho dos monges de Cister e dos sbios judeus que os ajudaram, teria consistido ento na traduo e interpretao dos textos, eventualmente, fragmentrios trazidos por Hugues de Champagne. Depois, munidos de informaes adequadas, e depois de terem obtido como alojamento o local do Templo de Salomo, os primeiros cavaleiros do Templo teriam podido realizar escavaes que conduziriam descoberta da Arca. Quanto a isto, Charpentier cita em primeiro lugar, como memria, uma tradio oral que faria dos Templrios os detentores das Tbuas da Lei. Lembra o regresso ao Ocidente dos primeiros templrios, em 1128. Assim, abandonavam a sua misso. claro que se tratava de obter a fundao de uma ordem militar dotada de uma regra especial, mas seria necessrio, para tal, abandonar tudo no Oriente, durante um longo perodo? No bastaria enviar um embaixador, tanto mais que os cavaleiros no tiveram a menor dificuldade em obter o que desejavam graas fora dos apoios de que beneficiavam? Ora, o preliminar da regra que ento lhes foi dada por So Bernardo comeava assim: Bem agiu Damedieu conosco e com o Nosso Salvador Jesus Cristo, o qual enviou os seus amigos da Santa Cidade de Jerusalm Marca de Frana e da Borgonha [...]. Charpentier comenta e sublinha: A obra realizada com a ajuda de Nous. E os cavaleiros foram mesmo mandados Marca de Frana e da Borgonha, isto , Champagne, sob a proteo do conde de Champagne, onde podem ser tomadas todas as precaues contra qualquer ingerncia dos poderes pblicos ou eclesisticos: naquele lugar onde, nessa poca, se pode garantir melhor um segredo, uma vigilncia, um esconderijo. E Charpentier pensa que os Cavaleiros do Templo, ao regressarem ao Ocidente, traziam, se assim o podemos dizer, nas suas bagagens, a Arca da Aliana. E precisa: No portal norte de Chartres, o portal chamado dos Iniciados, existem duas colunatas esculpidas em relevo e ostentando, uma, a imagem do transporte da Arca por uma junta de bois, com a legenda: Archa cederis; a outra, a Arca que um

  • homem cobre com um vu, ou agarra com um vu, perto de um monte de cadveres entre os quais se distingue um cavaleiro de cota de malha; a legenda : Hic amititur Archa cederis (amititur possivelmente em vez de amittitur). Ter de ver-se a um indcio suficiente para apoiar a tese de Charpentier? Podemos, temos inclusive o dever de sermos extremamente cpticos. No entanto, mesmo a Arca da Aliana que parece estar representada, em cima de um carro de quatro rodas, em Chartres. Com efeito, uma escultura idntica, representando o transporte da Arca, encontra-se nas runas da sinagoga de Cafarnaum. Essa representao mostra que, em Chartres, se atribua um interesse muito especial ao transporte da Arca e poderia significar que os escultores no ignoravam que ela fora deslocada. Isso no quer dizer, de modo algum, que tenha sido trazida para o Ocidente pelos Templrios, nem sequer que estes tenham uma relao especial com essa deslocao. Precisamente, poderemos observar que a decorao da catedral de Chartres evoca mais de uma vez os cavaleiros do Templo. O outro segredo de Salomo O segredo descoberto no local do Templo pelos Templrios pode no ter qualquer relao com a Arca da Aliana, embora continue ligado a Salomo. De qualquer modo, foroso reconhecer que h muitos pontos comuns entre os Templrios e este rei. Em primeiro lugar, temos de lembrar que, logo no incio, Hugues de Payns e os seus amigos tinham tomado o nome de Pobres Cavaleiros de Cristo e isso at terem ocupado o local do Templo de Salomo - pelo menos o que geralmente se diz. Ora, a partir do momento em que obtiveram a sua regra (logo, aps as suas possveis descobertas), l-se no prlogo da verso francesa: Aqui comea a regra da pobre cavalaria do Templo. Muito em breve encontramos nas doaes que lhes foram feitas os ttulos de cavaleiros do Templo de Salomo. A expresso no veio, pois, por hbito e foi decidida muito rapidamente. Notemos, por outro lado, que o minnesnger alemo, Wolfram von Eschenbach, que se afirmava Templrio, escrevia no seu Parzival que o Graal fora transmitido por Flgtanis, da linhagem de Salomo, e que os Templrios eram os seus guardies. Voltaremos a este ponto. Pensemos tambm na construo do Templo que Salomo confiara a mestre Hiram. O arquiteto, segundo a lenda, foi morto por companheiros invejosos aos quais recusara a divulgao de determinados segredos. A seguir ao desaparecimento de Hiram, Salomo enviara nove mestres sua procura, nove mestres como os nove primeiros Templrios procura do arquiteto dos segredos. E depois, Salomo, tal como os Templrios, apostou muito no comrcio, sobretudo dos cavalos. Quis ter uma frota comercial para facilitar o seu negcio e os Templrios, por sua vez, possuram uma frota poderosa. Que pensava disso So Bernardo que fez a propaganda dos Templrios e escreveu sobre o Cntico dos Cnticos, atribudo ao rei Salomo? A prpria personalidade de Salomo interessante de estudar, neste quadro. smbolo de justia: o seu julgamento clebre; smbolo de sabedoria, tambm. Rei dos poetas, autor do Cntico dos Cnticos que alguns pensam ser um

  • documento cifrado, uma espcie de testamento de adepto. No podemos falar de Salomo sem lembrarmos a rainha do Sab. Esta chegou a Jerusalm acompanhada por uma magnfica caravana de camelos carregados de presentes fabulosos. Balkis, a magnfica, vinha pr prova Salomo, cuja reputao chegara at ela e tinha a inteno de lhe apresentar enigmas muito difceis de resolver. O Coro contm, a propsito da visita de Balkis, reflexes bastante interessantes. Assim: Salomo herdou de David e disse: Homens! Ensinaram-nos a linguagem dos pssaros, e, de todas as coisas, fomos contemplados copiosamente. Na verdade, esse por certo um favor evidente! A aluso linguagem dos pssaros deixa entender que Salomo tinha conhecimento dos segredos ocultos da natureza. Esse tipo de denominao era bem conhecido dos trovadores e leva-nos de volta escrita do Cntico dos Cnticos de Salomo, estudado de perto por So Bernardo. Mas, regressemos ao Coro: As tropas de Salomo, formadas por Djinns, Mortais e Pssaros foram reunidas sua frente, divididas por grupos. Assim, Salomo tinha ao seu servio homens mas tambm gnios - isto , conhecia os elementares * - e pssaros, isto , seres voadores. *[O Esprito dos elementos, segundo o ocultismo. (N. do E.)] Ento, Arca da Aliana, segredos de arquitetura, linguagem dos pssaros? Ou outra coisa encontrada na Palestina? Mas o qu? Segredos ligados a Jesus? sua vida? A Maria Madalena? Ao Graal, talvez... Sat prisioneiro Consideremos mais uma possibilidade, por mais louca que seja. Segundo o Apocalipse de So Joo, depois de ter sido vencido e expulso do cu com os anjos que foram afastados da graa divina, Sat acorrentado no abismo. Ora, a tradio afirma que esse abismo tem sadas e que estas se encontram obturadas. Uma delas encontrava-se, precisamente, selada pelo Templo de Jerusalm. O quartel dos Templrios ficaria, pois, situado num local de comunicao entre diferentes reinos, caracterstica comum da Arca da Aliana. Ponto de contacto tanto com o Cu como com os Infernos, um dos locais sagrados sempre ambivalentes, dedicados tanto ao bem como ao mal. Um local de comunicao ideal de que os Templrios se teriam tornado guardies. Uma lenda referida pelo Senhor de Vog conta que, na poca de Omar, um homem, ao debruar-se, avistou uma porta no fundo do poo donde tirava gua. Desceu ao poo e transps a porta. Apareceu-lhe um jardim magnfico. Arrancou uma folha de uma rvore e trouxe-a como prova da sua descoberta. Mal saiu, apressou-se a ir prevenir Omar. Correram para l, mas a porta desaparecera e ningum voltou a encontr-la. Ao homem restou apenas a folha que nunca murchou. Isto passava-se no local do Templo de Salomo. Uma tradio mais para transformar o local numa passagem entre diversos nveis e reinos.

  • Relata-se tambm que o Templo de Salomo fora precedido, no local, por um templo pago dedicado a Poseidon. Ora, ignora-se demasiadas vezes que Poseidon s muito tardiamente se tornou deus do mar. Antes, tinha a posio de Deus supremo e foi apenas com a chegada Grcia dos Indo-Europeus que Zeus assumiu a liderana das divindades. Poseidon fora, no tempo dos povos pelasgos, o Deus criador, demiurgo que tinha um lugar privilegiado nas guas-mes salgadas. Era o grande agitador das terras, senhor das foras telricas e, em alguns aspectos, aproximava-se de Sat. Eugne Delacroix, iniciado da Sociedade Anglica, sabia-o bem quando decorou o teto da capela dos Santos Anjos, na igreja de Saint-Sulpice, de Paris. Pintou nela So Miguel a deitar ao cho o demnio. Ora, esse demnio das origens, representou-o sob a forma de Poseidon, perfeitamente reconhecvel devido aos seus atributos. Muito bem! Os Templrios encarregados de guardarem os locais por onde Sat poderia evadir-se da priso que lhe fora atribuda na noite dos tempos, algo que parecer, sem dvida, grotesco a muitos leitores modernos mas que seria conveniente reinserir nas crenas da poca. E, depois, nunca se sabe... Tanto mais que Salomo tambm mandou construir santurios para divindades estrangeiras. Mandou dedicar, nomeadamente, templos Astart, a abominao dos Sidonenses e Milkom, o horror dos Amonitas. O deus ciumento de Israel deve ter ficado furioso. Nesse campo, Salomo no se limitaria a ceder s presses das inmeras concubinas estrangeiras? Se agiu desse modo, que no teria feito em recordao da rainha do Sab, cujo reino podemos localizar, sem a menor dvida, no lmen? Na sua maioria, os deuses do pas de Baffis cheiravam muito a enxofre. Os Templrios e os segredos de Salomo Em resumo, podemos considerar como uma quase certeza o fato de Hugues de Payns e Hugues de Champagne terem descoberto documentos importantes, na Palestina, entre 1104 e 1108. Esses achados estiveram, sem dvida, na base da constituio dos nove primeiros Templrios e devemos lig-los deciso de lhes atribuir, como residncia, o local do Templo de Salomo. A, levaram a cabo escavaes. Nessa fase, estava fora de questo aumentarem os seus efetivos, por causa do segredo. As suas pesquisas devem t-los levado a encontrar algo realmente importante, pelo menos a seus olhos. A partir desse momento, a poltica da Ordem mudou. Que tinham encontrado? A Arca da Aliana? Um modo de comunicarem com poderes exteriores: deuses, elementares, gnios, extraterrestres ou outros? Um segredo relativo utilizao sagrada e, por assim dizer, mgica da arquitetura? A chave de um mistrio ligado vida de Cristo ou sua mensagem? O Graal? A forma de reconhecer os locais onde a comunicao, tanto com o Cu como com os Infernos, facilitada, com o risco de libertar Sat ou Lcifer? Poderamos pensar que nos encontramos numa novela de H. P. Lovecraft, certo, mas estas perguntas, embora no sejam racionais, surgem imperativamente

  • no contexto da poca. Iremos procurar, ao longo dos prximos captulos e dos indcios que nos iro ser fornecidos pela histria da Ordem, separar o trigo do joio e restringir os nossos pressupostos, explicar por que razo, a partir de ento, a poltica dos Templrios mudou brusca e radicalmente. III SO BERNARDO E OS MONGES-GUERREIROS Obter uma regra Em 1127, quando Hugues de Payns regressou ao Ocidente em misso especial, encontrava-se acompanhado por mais cinco Templrios. Ora, ainda eram apenas nove, ou talvez dez. Logo, tinham ficado apenas trs ou quatro no Oriente para assegurarem a falada proteo dos peregrinos. Mesmo que tivessem junto deles alguns sargentos de armas, a hoste deveria ser bem magra no caso de um recontro com o inimigo. Decididamente, essa misso era muito mal desempenhada. Isso prova insofismavelmente que apenas se tratava de um disfarce. Alis, houve que esperar at 1129 para se ver os Templrios enfrentar pela primeira vez os infiis em combate. Isso no impediu os modestos guardies do desfiladeiro de Athlit de se verem chamados ilustres pelas suas faanhas guerreiras inspiradas diretamente por Deus, e isso ainda antes de se terem batido verdadeiramente. A propaganda no , por certo, uma inveno moderna, mas, este exemplo especialmente interessante. Mostra que a publicidade que lhes foi feita no se baseava numa realidade e se integrava, deliberadamente, naquilo que podemos considerar uma segunda fase da Ordem: o seu desenvolvimento e a sua transformao numa ordem militar. Do pequeno nmero discretamente ocupado com a descoberta de segredos importantes, passava-se procura do poder, o que indica que as pesquisas tinham, sem dvida, dado os seus frutos e estavam terminadas. Convinha, desde logo, pr em execuo a poltica que elas tivessem sugerido e podemos perguntar-nos se, a partir desse momento, no existiu uma vontade de criar uma espcie de poder sinrquico que se sobreporia aos reinos. Hugues de Payns parou em Roma, antes de seguir para a Champagne. Ali, encontrou-se com o papa Honrio II (1124-1130) que se interessava muito por aquela Ordem nascente. Em Janeiro de 1128, Hugues de Payns encontrava-se em Troyes para participar no conclio onde foi proposto adotar uma regra especial para a Ordem do Templo. O texto, nas suas linhas gerais, fora elaborado em Jerusalm. Tratava-se tambm de dar a conhecer a Ordem, de comear a recrutar, recolher ddivas, estimular a fundao do poder futuro do Templo. Hugues de Payns tinha no bolso a carta de recomendao do rei de Jerusalm, Balduno II; que sem dvida financiara a viagem. Dirigia-se a So Bernardo e pedia-lhe que desse o maior apoio aos projetos de Hugues de Payns e dos seus companheiros. Pelo seu lado, o patriarca de Jerusalm pedia ao papa a concesso de uma regra especial a esses

  • monges. A carta de Balduno II a So Bernardo referia: Os irmos Templrios, que Deus inspirou para a defesa desta provncia e protegeu de uma forma notvel, desejam obter a confirmao apostlica bem como uma regra de conduta. Devido a isso, enviamos Andr e Gondemarc, ilustres devido s suas proezas guerreiras e pela nobreza do seu sangue, para que solicitem ao Soberano Pontfice a aprovao da sua ordem e se esforcem por obter dele subsdios e ajudas contra os inimigos da f, coligados para nos suplantarem e derrubarem o nosso reino. Sabendo bem quanto peso poder ter a vossa intercesso, tanto junto de Deus como do seu vigrio e dos outros prncipes ortodoxos da Europa, confiamos vossa prudncia esta dupla misso cujo xito nos ser muito agradvel. Fundamentai as constituies dos Templrios de tal forma que eles se no afastem dos rudos e dos tumultos da guerra e continuem a ser os auxiliares teis dos prncipes cristos... Fazei de maneira que possamos, se Deus o permitir, ver em breve uma concluso feliz desta questo. Dirigi por ns oraes a Deus. Que Ele vos tenha na Sua Santa Guarda. So Bernardo So Bernardo deveria, efetivamente, desempenhar um papel importante no progresso da Ordem. Convm determo-nos um pouco nesta personagem sobre a qual Marie-Madeleine David escreve: Bernardo o homem mais representativo do renascimento do sculo XII. Nascido no final do sculo XI, em 1090, e falecido em 1153, insere-se em plena poca de fecundidade intelectual e de transformaes econmicas e sociais. Nascido no castelo de Fontaine, a noroeste de Dijon, era o terceiro filho da Dwna Aleth. Antes do seu nascimento, a sua me tivera sonhos curiosos. Via o seu futuro filho sob a forma de um cozinho que ladrava furiosamente. Inquieta, abrira-se com um religioso que a acalmara afirmando-lhe que, mais tarde, o seu filho apenas ladraria para defender a Igreja. O pai de Bernardo, Tescelin, era senhor do castelo de Fontaine e os seus compatriotas tinham-no apodado de o baio, porque era loiro-arruivado. Tinha a fama de ser um homem de honra, corajoso e fiel ao seu suserano, o duque da Borgonha. Aleth, que era filha do duque de Montbard, velara por que o seu filho recebesse uma boa educao. Confiara-o, pois, aos cnegos de Saint-Vorles, em Chtillon-sur-Seine. Eles haviam-lhe ensinado o trivium (gramtica, retrica, dialctica) e o quadrivium (aritmtica, msica, geometria, astronomia) e tinham-no obrigado a ler Ccero, Virglio, Ovdio, Horcio. Tambm o tinham ajudado a vencer uma timidez quase doentia. Foi na igreja de Saint-Vorles que caiu em xtase perante Maria, vendo aquela imagem da Me de Deus, feita de uma madeira que a idade escureceu mais do que o sol. Fora essa virgem negra de madeira que, miraculosamente, teria apertado o seu seio, de modo que teriam cado trs gotas de leite nos lbios de Bernardo.

  • Os seus contemporneos descreviam o jovem Bernardo como belo, esbelto, com uma cabeleira revolta, um olhar que se impunha. Mas essa beleza no era para as mulheres, porque pretendia preservar a sua castidade. Um dia, pensando que olhara uma mulher com demasiada complacncia, fora mergulhar num lago gelado para apagar o desejo que sentia crescer dentro de si. Do mesmo modo, tratara com desprezo uma outra mulher que viera meter-se, nua, na sua cama. Pelo menos, o que conta a sua lenda dourada. De qualquer modo, escolheu o claustro que comparava escola de Deus. Robert Thomas lembra-nos como So Bernardo via os monges: Tal como os anjos, vivem puros e castos; tal como os profetas, elevam os seus pensamentos acima das coisas da terra; tal como os apstolos, deixam tudo e vo ouvir a palavra do Mestre, record-la nos seus coraes, esforar-se por a guardar, por a pr em prtica. Cada mosteiro ser uma escola onde Jesus ensina. So Bernardo escolheu Cister onde entrou, no tempo do abade Estvo Harding, com cerca de trinta companheiros que mais ou menos arrastara consigo. Definia-se como algum que procurava Deus e pensava que, neste caso, quem procura, encontra. Era exigente com os outros mas, antes de mais, consigo mesmo. Recusava-se a respeitar apenas o voto de obedincia que lhe no parecia um compromisso suficiente. Era necessrio ir alm disso. No podia compreender que um monge se ficasse pelo mnimo obrigatrio. Escrevia: A obedincia perfeita ignora o que apenas uma lei, no est encerrada em limites; a vontade vida estende-se at aos limites da caridade, entrega-se por si mesma a tudo o que lhe proposto e, com o fervor de uma alma ardente e generosa, vai sempre em frente, sem ter em conta limites ou medidas. Para ele a medida de amar a Deus amar sem medida. Bernardo no se contentava com meditar, adorar. Estudava tambm. Lia as escrituras, comentava-as, dissecava-as, at, procurando ir at fonte em vez de se limitar aos comentadores precedentes. O que estava em jogo em tudo isto: conhecer-se a si mesmo e conhecer Deus. Mas conhecer-se consiste tambm em descobrir quo insignificante se . No entanto, a sua atitude na vida desmentiu, amide, essa aparente humildade. So Bernardo, o admirado e o temido Bernardo em breve se tornou notado e foi a ele que se confiou a fundao da abadia de Clairvaux, em 1115, num local que tinha o belo nome de Vale de Absinto. Afirmou-se l e continuou a pregar a humildade, e nem por isso deixou de ser cada vez mais seguro de si, a tal ponto que necessrio ser um hagigrafo para negar o orgulho de So Bernardo. Afirmava: Os assuntos de Deus so meus e nada do que lhe diz respeito estranho para mim. O que mais extraordinrio que, em seu redor, todos achavam isso normal de tal modo a sua personalidade era, ao mesmo tempo, forte e sedutora. Estava dotado de uma energia e de uma vontade sem falhas, daquelas que fazem vergar as

  • pessoas em seu redor. Para alm da autoridade e da violncia verbal, sabia manejar tambm a delicadeza e a persuaso. Bernardo foi um ser dplice, dividido entre a meditao e a ao. To depressa arrastava os irmos, repreendia os grandes, influenciava a poltica de todo o Ocidente, como se retirava para uma choupana e se entregava a mortificaes at esgotar o seu corpo e o tornar doente, semelhante a um arco que, depois de ter sido distendido, retesado de novo, recupera toda a sua fora: como uma torrente retida por uma barragem que, liberta, retoma a impetuosidade do seu curso, regressa s suas prticas, como se tivesse pretendido castigar-se por esse repouso, e reparar as perdas da ascese interrompida. Robert Thomas escreve: Uma sade arruinada, um corpo extenuado, uma alma que, at ao fim, ser senhora daquele corpo e lhe far a vida dura, assim Bernardo. Dedicou-se Ordem de Cluny para a qual defendeu uma reforma monstica. Acusava os monges clunicenses de terem costumes dissolutos. Compreenderemos facilmente, com base nisso, que So Bernardo no defendesse para os Templrios uma regra especialmente suave e que se esforasse por os tornar aguerridos atravs da prpria dureza da vida que deveriam levar. Bernardo foi tambm quem lutou contra Abelardo, at o ter derrubado, aniquilado social e psicologicamente. Abelardo era um mestre com uma inteligncia notvel que ensinava uma juventude estudantil que o adulava. Dialctico brilhante, gostava das lides oratrias mais por elas mesmas do que pelo seu contedo. Tinha uma tendncia ntida para o racionalismo e no admitia que, para um problema religioso, a nica resposta avanada fosse: um mistrio. Crer e no discutir era inconcebvel para ele. Bernardo considerava perigoso o seu ensino, tanto mais pernicioso quanto as suas teses eram, amide, sedutoras. Ops-se-lhe violentamente e redigiu um tratado dos erros de Abelardo que dirigiu ao papa Inocncio III. No parou enquanto o no conseguiu condenar. A esse respeito, Dom Jean Leclerq escreveu: Esse excesso de injrias, de acusaes baseadas em denncias sumrias, traa, em So Bernardo, uma paixo mal dominada. Este episdio no , certamente, o mais glorioso da vida de So Bernardo. O culto da Dama Celeste Bernardo teve tambm um amor louco por Maria, embora tenha escrito muito menos sobre esse tema do que acerca de outros. As poucas pginas que deixou sobre a Virgem ressumam literalmente fervor e amor. Inventou uma orao a Maria, na qual ela aparece como a Rainha da Salve Regina, que intercede em prol dos homens, junto de Cristo, a Virgem coroada que aceitou a provao desejada por Deus, triunfou sobre ela, capaz de mostrar o caminho aos homens. A devoo de Bernardo Virgem parece profunda, o que no to habitual na sua poca. Da, poderemos imaginar que no tenha sido alheio venerao que os Templrios sempre tiveram por Nossa Senhora. Todavia, tenhamos cautela porque talvez se tenha tendncia para atribuir

  • uma importncia desmesurada a So Bernardo, a partir do momento em que se trata dos Templrios. Baseando-nos nos depoimentos prestados por estes ltimos no seu processo - dois sculos mais tarde - poderamos pensar que fora o prprio Bernardo quem redigira a sua regra. Na verdade, mesmo que seja quase certo que meteu a sua mo na tarefa, deve ter trabalhado a partir de um texto prvio redigido pelo patriarca de Jerusalm, Estvo de La Fert. O que certo que tornou mais fcil a sua aprovao e, nesse sentido pelo menos, os Templrios deveram-lhe a sua regra. Assim, Bernardo enviou uma carta a Thibaut de Champagne, dizendo-lhe: Dignai mostrar-vos cheio de solicitude e de submisso pelo legado, em reconhecimento por ter escolhido a vossa cidade de Troyes para a realizao de um grande conclio, e dignai-vos dar o vosso apoio e a vossa assistncia s medidas e resolues que este julgar convenientes no interesse do bem. O pedido no est isento de uma certa firmeza. No entanto, por detrs de um So Bernardo aparentemente na primeira linha, esconde-se talvez uma outra personagem cuja importncia, nos bastidores do Templo, nos parece considervel. Estvo Harding e a tradio hebraica Podemos interrogar-nos quanto ao fato de saber quem foi, quanto ao fundo, a personagem mais importante para a constituio da Ordem do Templo: So Bernardo ou Estvo Harding, abade de Cister, que congeminara tudo, desde o incio, com Hugues de Champagne? Ingls de origem, Estvo Harding fora, inicialmente, monge no mosteiro de Sherbone. Depois, prosseguira estudos na Esccia e, em seguida, em Paris e em Roma. Marion Melville lembra o que dele dizia Guillaume de Malmes: Sabia casar o conhecimento das letras com a devoo; era corts nas suas palavras, risonho no rosto: o seu esprito rejubilava sempre no Senhor. Depois de uma passagem por Molesmes, fundara Cister. Alguns anos mais tarde, tornara-se o seu terceiro abade. Estvo Harding acumulara quase todos os conhecimentos intelectuais que podiam adquirir-se nessa poca. Reformou a liturgia e fez da sua abadia um centro cultural nico. Empreendeu um trabalho gigantesco: a redao da Bblia de Cister, com um esprito de correo crtica notvel. Para o ajudarem, recorrera a sbios judeus. De acordo com as suas observaes, mandou efetuar duzentas e noventa correes e cinco versculos completos de Samuel foram completamente reescritos. Findo isso, Estvo Harding proibiu que se tocasse numa s palavra daquela Bblia. Daniel Rju refere que uma personagem curiosa vivia ento em Troyes: o rabino Salomon Rachi (1040-1105). Foi considerado o maior exegeta dos textos hebraicos e o principal comentador e intrprete do Talmude. Analisava sempre os textos a trs nveis: literal, moral e alegrico. difcil saber se Estvo Harding conheceu pessoalmente Rachi, dado que este morreu em Praga, em 1105. Em todo o caso, bastante provvel que os seus genros tenham vindo trabalhar para Cister, ao lado dos monges, para facilitar a traduo de documentos sagrados especialmente difceis de interpretar. Por este

  • meio indireto, os Templrios beneficiaram de um apoio extremamente importante para a pesquisa que pareciam estar a levar a cabo no Ocidente. So Bernardo partilhou, sem dvida, o interesse de Estvo Harding pelos textos hebraicos, embora as provas sejam escassas. Em todo o caso, ergueu-se muitas vezes contra as perseguies que os judeus tiveram de sofrer um pouco por toda a Europa. Fustigou os autores dos pogroms e manifestou bastante mais indulgncia religiosa pelos judeus do que pelos ctaros. O conclio de Troyes: para uma regra feita medida Claro que Estvo Harding participou no conclio de Troyes, mas teria sido por qualquer coisa relacionada com a redao da regra? Isso mais difcil de dizer. Alguns quiseram ver nesse texto uma espcie de cpia das regras de vida observadas pelos essnios, no tempo de Cristo. Mas que se sabia, no sculo XII, sobre esses essnios que nos foram sobretudo revelados graas descoberta dos manuscritos do mar Morto, em Qumran? Seriam veiculadas tradies a eles respeitantes nos meios judaizantes? Teriam os prprios Templrios descoberto, por acaso, documentos essnios? Por certo temos de relegar isto para o campo das simples conjecturas. Em todo o caso, o conclio de Troyes reuniu-se no dia da festa do Senhor Santo Hilrio, no ano da Encarnao de Jesus Cristo de 1128, ao nono ano do incio da supramencionada cavalaria. A assembleia consular foi presidida pelo legado do papa: Mathieu d'Albano. Assistiram a ela os bispos de Sens, Reims, Chartres, Soissons, Paris, Troyes, Orlans, Auxerre, Meaux, Chlons-sur-Marne, Laon, Beauvais. Encontravam-se tambm presentes vrios abades, entre os quais Estvo Harding, claro, e leigos como Thibaud de Champagne e o conde de Nevers. Entre todas estas personagens, algumas eram amigas de So Bernardo. Logo no prlogo da regra, apercebemo-nos de que a publicidade da Ordem estava pronta para favorecer o seu progresso e que o conjunto se inseria num plano deliberado, a longo prazo. Pode ler-se: Falamos, em primeiro lugar, a todos quantos desprezam ir atrs das suas prprias vontades e desejam, com pura coragem, servir como cavalaria ao soberano-rei, e com um desvelo aplicado desejam vestir e vestem perpetuamente a muito nobre armadura da obedincia. E, portanto, admoestamo-vos - a vs que haveis seguido, at agora, secular cavalaria na qual Jesus Cristo no tomou parte, mas que seguistes apenas por favor humano - a seguir aqueles que Deus escolheu da massa da perdio e ordenou, pela sua agradvel piedade, para a defesa da Santa Igreja, e a que vos apresseis a juntar-vos a eles perpetuamente [...]. Hugues de Payns exps, perante a douta assembleia, as necessidades da Ordem, tal como as concebia. Depois, o texto foi estudado e discutido, artigo aps artigo. A regra latina que da resultou compreendia setenta e dois artigos. Tudo, ou quase tudo, estava previsto nela: os deveres religiosos dos irmos, os regulamentos que fixavam os atos quotidianos (refeies, distribuio de esmolas, vestes, armamento, etc.), as obrigaes dos irmos uns em relao aos outros, as relaes

  • hierrquicas... A preocupao com o pormenor foi levada muito longe, dado que se decidia nela como seriam feitos os sapatos, como se cortariam os bigodes, o nmero de oraes a recitar nesta ou naquela ocasio, etc. Tratava-se de adaptar uma regra monstica aos imperativos com que os guerreiros deparavam. Aos Templrios, por exemplo, no podiam ser impostos jejuns to severos como nas outras ordens, seno como teriam foras para se bater? Pela mesma razo, um monge fatigado era dispensado de satisfazer todas as suas obrigaes de orao: precisavam de descansar para reconstiturem as suas foras de guerreiros. Mesmo assim, a obedincia ao Mestre devia ser absoluta, militar. A regra foi rapidamente complementada por vrias bulas pontificais, bem como pelos Retrais que desenvolveram, nomeadamente, tudo o que se relacionava com a disciplina e as sanes eventuais e que enumeraram o conjunto dos deveres aos quais cada um estava submetido. A regra foi traduzida para francs, em 1140, e recebeu, nessa altura, algumas modificaes. Nomeadamente, o novo texto recomendava que se atrassem os excomungados para a Ordem, para sua redeno. Com efeito, o artigo diz: L onde souberdes que se renem cavaleiros EXCOMUNGADOS, l que vos ordenemos que vades, e se houver entre eles quem queira ir juntar-se cavalaria de Alm-Mar, no devereis esperar o lucro temporal tanto quanto a salvao eterna da sua alma, quando o texto da regra latina afirmava: L onde souberdes que se renem cavaleiros NO EXCOMUNGADOS..., isto , precisamente o inverso... Erro de copista? o que pensa a maior parte dos comentadores, mas impossvel porque outras passagens da regra latina que proibiam o convvio com homens excomungados foram modificadas. Tratava-se, pois, de uma alterao voluntria - e importante - a que teremos ocasio de voltar. Alis, outras alteraes tinham sido introduzidas sem sequer esperar pela redao da regra em francs. Quando Hugues de Payns regressou ao Ocidente, o patriarca de Jerusalm revira doze artigos e acrescentara vinte e quatro, entre os quais o fato de reservar o manto branco da Ordem apenas aos cavaleiros. Na realidade, a verso latina e a verso francesa parecem corresponder a duas lgicas diferentes, em vrios pontos. O conclio de Troyes dissera que deixava ao papa e ao patriarca de Jerusalm o cuidado de aperfeioarem a regra de acordo com as necessidades da Ordem no Oriente. Foi, alis, essencialmente a partir de 1163, aps a publicao da bula Omne Datum Optimum, que todos esses regulamentos foram fixados definitivamente. Esse texto reforava ainda mais os poderes da Ordem e do seu Gro-Mestre. Autorizava os Templrios a conservarem para si mesmos o saque tomado dos Sarracenos, colocava a Ordem sob a tutela exclusiva do papa, permitindo-lhe assim escapar a qualquer outra forma de poder da Igreja, incluindo o do patriarca de Jerusalm. Quando sabemos, por exemplo, que a nomeao dos bispos dependia em grande medida do rei e do poder poltico em geral, compreendemos a importncia de uma tal medida, dado que protegia os Templrios de qualquer ingerncia a esse nvel e dava-lhes, at certo ponto, um

  • estatuto internacional. A bula confirmava, ademais, que os bens da Ordem estavam isentos de dzimo; em contrapartida, com a anuncia do bispo local, os Templrios tinham o direito de lanar o dzimo em proveito prprio. Por outro lado, o texto proibia que os Templrios fossem submetidos a juramento e estipulava que apenas os irmos da Ordem podiam participar na eleio do Gro-Mestre. A bula fixava e condensava os estatutos da Ordem e proibia a quem quer que fosse, eclesistico ou no, de alterar alguma coisa neles. Permitia, por fim, que o Templo tivesse os seus prprios capeles, junto dos quais os irmos podiam confessar-se sem terem de recorrer a uma pessoa exterior Ordem, e construssem capelas e oratrios privados. Ademais, eram os nicos que podiam utilizar as igrejas e capelas das parquias excomungadas. Assim, a Ordem do Templo encontrava-se perfeitamente autnoma, sem que ningum, a no ser o papa - mas teria ele esse poder? -, pudesse imiscuir-se nos seus assuntos. Esta independncia era uma realidade, tanto no campo econmico como no da organizao militar ou no campo espiritual e ritual. Tudo se passou como se se tivesse deixado aos Templrios o cuidado de preservarem segredos, evitando-lhes terem necessidade do que quer que fosse exterior Ordem, mesmo que fosse para se confessarem. No deveremos ver a, se no a prova, pelo menos um indcio importante que confirma a existncia de um segredo da Ordem, sem dvida relacionado com descobertas feitas em Jerusalm? O monge e o guerreiro ou a teologia da guerra O Templo no tinha nada que ver com uma ordem religiosa normal. Os seus privilgios eram exorbitantes, quer se tratasse do poder de deciso, de organizao, ou da criao de um potentado financeiro e econmico, em sentido amplo. Os cavaleiros cultivavam a pobreza pessoal, mas a Ordem via serem-lhe conferidas todas as possibilidades para se tornar extremamente rica e, de certa forma, rica a expensas do resto da Igreja, dado que estava isenta de dzimo. Isto era justificado pela necessidade, para a Ordem, de manter um verdadeir