Os Templarios e a Sinarquia

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  • OS TEMPLRIOS E A SINARQUIA

    COMUNIDADE PORTUGUESA DE EUBIOSE

  • Revista Graal - Nmero especial

    Autorizada a reproduo parcial desde que citada a origem

  • Olmpio Neves Gonalves

    OS TEMPLRIOS

    E A SINARQUIA

    Adaptado da palestra proferida

    na Comunidade Portuguesa de Eubiose

    em Sintra, no dia 7 de Maio de 2005

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    NDICE

    1 - INTRITO ------------------------------------------------------------------------------------ 7

    2 - A ORDEM DO TEMPLO ------------------------------------------------------------------ 7

    3 - CONTACTOS COM O MDIO ORIENTE ------------------------------------------ 9

    4 - AS HERESIAS EUROPEIAS ------------------------------------------------------------- 11

    5 - A SINARQUIA ------------------------------------------------------------------------------ 13

    6 - O N GRDIO E A DISSOLUO DA ORDEM ------------------------------- 17

    NOTAS ---------------------------------------------------------------------------------------- 25

    BIBLIOGRAFIA ----------------------------------------------------------------------------- 26

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    1 - INTRITO

    Aqueles que contriburam para o aniquilao da Ordem do Templo, que

    confiscaram os seus bens, destruram a sua honra, atearam as fogueiras para

    assassinarem os seus lderes, da forma mais cruel e tenebrosa, mal poderiam supor

    que a memria dos pobres Cavaleiros de Cristo persistiria nos sculos vindouros

    como uma legenda viva, alcanando uma magnitude e fama to grandes de que,

    provavelmente, jamais os prprios Templrios se teriam atrevido a suspeitar, na

    poca do seu apogeu.

    A histria urdida em torno dos Cavaleiros de Cristo converteu-se, no decurso dos

    tempos, num modelo paradigmtico de investigao acadmica e de incurses mais

    ou menos heterodoxas de algumas confrarias, ditas, discretas. O que lendrio e o

    que veraz nas centenas de obras publicadas at hoje acerca dos Templrios?

    Porque o leque de proposies vasto e mltiplas as suas motivaes, seriam os

    Templrios os detentores das doutrinas gnsticas do paganismo e os transmissores

    dos ritos mgicos ancestrais? Tero sido os percursores do Romantismo e a gnese

    de tantas Ordens cavaleirescas, e at de Obedincias manicas? Tero constitudo

    o ltego do obscurantismo do sc. XIX e mesmo os inspiradores da Revoluo

    Francesa? Poderemos, acaso, revernos em indcios que, aqui e ali, afloram para

    validar o trabalho presente?

    Afinal, o que herdmos essencialmente dos Templrios? Para ns, um Ideal

    poltico-filosfico sustentado por uma massenia intemporal, europeia e transeuropeia, de que a prpria Ordem do Templo foi expresso dinmica e

    objectiva, uma massenia que sempre existiu ocultamente, antes e depois da Milcia Templria, a Tradio Primordial, desvelada sob mltiplos disfarces e faces,

    mas sempre una por detrs das suas mutaes, face mentalidade dos homens e

    ao circunstancialismo das conjunturas histricas. Sim, uma massenia que sempre intentou ocultamente converter a sociedade humana, mediante a instaurao de

    um modelo ideal governativo da polis, um modelo fundado no paradigma das Leis

    da Natureza e nos Princpios que presidem analogicamente ao imutvel esquema

    planetrio.

    2 - A ORDEM DO TEMPLO

    consabido que os Templrios surgiram aps a Primeira Cruzada em Jerusalm e

    tiveram como humilde origem um punhado de soldados piedosos que se constituiu

    como Ordem dos Cavaleiros do Templo de Salomo, no decurso do segundo

    decnio do sc. XII.

    A primitiva Ordem dos Cavaleiros do Templo tinha como lder esse misterioso

    Hugues de Payen, um nobre de Champagne, e regia-se pela Regra de Santo

    Agostinho, recebendo ajuda e guia dos Cnegos da Igreja do Santo Sepulcro, em

    Jerusalm. Durante este primeiro perodo, apesar dos votos de pobreza, de

    castidade e de obedincia, eram, no entanto, laicos. Atentemos nesta laicidade

    primitiva, porque explicar muitas das caractersticas ulteriores da Ordem do

    Templo.

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    Que se ter passado de importante na vida desse punhado de Cavaleiros no seu

    contacto com o Mdio Oriente, inclusive, com os regrantes do Santo Sepulcro?

    Que haver induzido Hugues de Payen, em 1127, a viajar pela Sria e pela

    Europa, no intuito de receber apoios e colher fundos?

    A defesa dos penitentes que peregrinavam pelos lugares santos, como o Santo

    Sepulcro, no parece justificar de forma convincente o desenvolvimento posterior

    dos Cavaleiros de Cristo como poderosa e complexa estrutura corporativa, a que

    se agregaram nobres de nomeada, tais como Godofredo Bisol, Saint Agnan,

    Gondemar, Pagam de Montidier, Rossal e Andr de Montbernard.

    deveras significativo que o prprio Patriarca de Jerusalm os incite criao da

    Ordem e deles receba, em 1118, o primeiro juramento, assim como o asilo que

    lhes foi concedido pelo Rei de Jerusalm, Balduno II, em 1131, no seu palcio,

    situado, alis, no antigo local do Templo de Salomo, contguo Mesquita de

    El Aksa.

    Diz-se que deste facto que decorre o designativo que lhes foi atribudo, de

    Templarii, os Templrios. Todavia, esta explicao pode pecar por demasiado simplista, pois pode referir-se tanto ao Templo de Salomo como ao Templo

    Mstico, o da Nova Jerusalm. Curiosamente, quando os Templrios se sediaram

    em Frana, atriburam Casa do Templo, chefatura no s de Frana, mas de toda

    a Ordem, em 1140, o ttulo de Cidade Nova do Templo.

    S a partir de 1126 os Pobres Cavaleiros de Cristo saem da obscuridade e fazem

    conhecer a sua actividade no Ocidente, atravs da iniciativa encabeada por

    Hugues de Payen. E a aco diplomtica to bem sucedida que, em 1128,

    celebra-se o Conclio de Troyes, com a assistncia de vrios bispos e abades

    franceses e borgonheses, a presena do grande aliado de Hugues, So Bernardo de

    Claraval, e mesmo de um legado pontifcio, devido ao empenhamento pessoal do

    Abade de Cister.

    Surpreendentemente, os Pobres Cavaleiros do Templo no s vem reconhecida,

    neste Conclio, a sua existncia pelo omnipotente papado, mas, poucos anos aps,

    a adeso veemente e quase universal da Europa Catlica. O influente Abade de

    Cister ter redigido pessoalmente a Nova Regra Templria, sob a influncia da

    austera Ordem Cisterciense e, a partir da, sero aceites pela Igreja como um

    organismo corporativo de soldados religiosos, governados pelo Direito cannico.

    Situao deveras paradoxal e, at, anacrnica, para a mentalidade reinante esta

    miscigenao, no fora a nossa suspeita de que Bernardo sonhava com a

    instaurao de uma nova ordem teocrtica, tendo como cpula o Papado, e que

    este conceito de uma Ordem, a um tempo religiosa e militar, encaixava com

    perfeio no seu projecto peculiar e revolucionrio.

    Justifica-se, pois, o entusiasmo com que So Bernardo apoia e aplaude o surto da

    Ordem do Templo a partir de 1129, quando no De Laude Novae Militi os designa por Militia Dei, Milcia de Deus, e escreve: uma nova cavalaria apareceu sobre a terra da Encarnao. E nova, afirmo eu, e no ainda provada no

    mundo, onde se trava o combate, tanto contra os adversrios de sangue e de

    carne, como contra o Esprito do Mal.

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    A Ordem do Templo nasce, assim, sob um duplo signo: religioso (de religare, ligar

    ao Cu) e guerreiro. Estranho! Mas no devemos ignorar que So Bernardo era

    amigo de Meal OMorgain, muito divulgado, hoje, como So Malaquias, o famoso autor da profecia dos Papas e, por via dessa amizade, depositrio provvel de

    alguns mistrios da Tradio drudica

    No foi So Bernardo quem afirmou que se aprende mais na floresta que nos livros?...

    3 - CONTACTOS COM O MDIO ORIENTE

    Segundo Michelet, na sua obra la Tradition de la Chevalerie, o nome da Ordem do Templo no era sagrado unicamente para os cristos. Se exprimia, para

    estes, o Santo Sepulcro, aos olhos dos judeus e muulmanos representava o

    Templo de Salomo. A viso do Templo, mais alta e mais geral que a prpria

    Igreja, planava acima de toda a religiosidade. Se estas palavras reforam a ideia expressa atrs, do Templo Ideal ou Mstico, traz-nos colao a problemtica do

    relacionamento dos Templrios com o pensamento religioso do Mdio Oriente,

    sobretudo, com o pendor esotrico das corporaes secretas a constitudas.

    As Cruzadas iniciais no Oriente, que culminaram em 1229 com Inocncio IV,

    resultaram da expresso poltica do imperialismo papal. Mas a possesso visionria

    de Jerusalm visaria um projecto bem mais audacioso da Igreja, premeditado,

    ainda que no explcito: a ligao abrangente da Europa com a sia prxima,

    atravs de um verdadeiro Soberano Pontfice Hegemnico. Etimologicamente, o

    prprio termo o significa: pontfice, o que faz, o que estabelece a ponte Neste contexto, o projecto dos Templrios prosseguia os anseios secretos do papado, a

    unificao das Tradies oriental e ocidental, detentoras, cada uma, de parte da

    Tradio Universal.

    Pierre Ponsoye, na sua obra LIslam et le Graal, defende a existncia destas relaes, hoje evidentes para a maioria dos investigadores templaristas: sabe-se

    hoje (diz) que o Cristianismo e o Islo, na Idade Mdia, no se defrontavam

    apenas e que, afrontando-se, no se combateram somente. Indcios seguros e

    concordantes atestam que houve, entre as elites responsveis, no s trocas de

    superfcie ou de reencontro, mas uma conjuno espiritual verdadeira, onde a

    intelectualidade islmica jogou, durante sculos, o papel inspirador e guia.

    Por surpreendente que possa parecer a priori esta conjuno, que no devemos

    confundir com um sincretismo vulgar, no se diferencia, para dizer a verdade, nem

    distinta da que unia j o esoterismo islmico e o esoterismo judaico, fundados na

    Torah e na Kabbalah. E no seno a manifestao normal, ainda que

    necessariamente oculta, da unidade que subjaz, metafsica e escatologicamente, a

    todas as revelaes autnticas, e de forma mais notria no Judasmo, no

    Cristianismo e no Islo, herdeiros comuns da grande Tradio abramica.

    A Ordem do Templo (criada entre a Primeira e a Segunda Cruzadas) organiza-se

    meio sculo aps a dos Assasins ou Assassis. Seriam os Assassis os Templrios do

    Islo? Seus castelos inexpugnveis, suas prticas esotricas, o secretismo das duas

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    corporaes constituem elementos comuns e intrigantes analogias com a Ordem

    do Templo.

    Tal como os Templrios, os filhos de Hassan al-Sabah, o primeiro Gro-Mestre da

    Ordem muulmana dos Cavaleiros Ismaelitas, foram os Guardies da Terra Santa.

    No regimento das duas Ordens tudo idntico:

    - Os Templrios usam tnica branca com cruz vermelha; os Assassis tnica alva

    com turbante vermelho;

    - Cada Ordem detm uma dupla hierarquia: uma pblica, e outra, esotrica, a

    que s os Gro-Mestres tm acesso;

    - No plano esotrico dos Templrios, ao Gro-Mestre, aos Gro-Priores e aos

    Priores, correspondem respectivamente, o Sheik al-Djabal, os Dailkebir e os Das;

    - A nvel exotrico, os Cavaleiros, Escudeiros e Irmos Templrios equivaliam aos

    Kefik, aos Fedavi e aos Lassik;

    - Os Assassis do sc. XI tm como seu Gro-Mestre o Sheik al-Djabal, o famoso

    Velho da Montanha ou Senhor Montis, expresso que nos recorda o que Ariosto utiliza na Cristandade: a de Senhor Papa.

    Dados os considerandos, concluiremos que, quer na Ordem do Templo, quer na

    dos Ismaelitas, existia uma hierarquia oculta de mestres que detinham os tesouros

    mistricos comuns massenia das corporaes tradicionais. Sabemos hoje que, entre os Assasis, sete Mestres eram conhecidos e outros sete se conservavam

    encobertos.

    Seria um erro, a nosso ver, interpretar estas e outras analogias de duas Ordens

    coetneas como simples seguidismo ou sincretismo vulgar. Ambas entranhavam

    suas razes num mesmo hmus original, a Tradio da Sabedoria, nica e perene,

    que se apresenta ao mundo sob diferentes faces e opera como uma energia branca

    e pura que se decompe em raios multicolores, atravs do prisma da manifestao.

    Analisemos, de passagem, os vocbulos Kabbalah e Falsapah. Em letras admicas, o nmero 22 escreve-se Ka-ba (donde Kaaba, naturalmente). Anexando a letra La (que significa Poder) obtm-se o Poder dos 22, ou seja: a Kabbalah, termo que, na sua etimologia exacta, significa Tradio. Ser casualidade que os Gro-Mestres do Templo totalizassem vinte e dois?

    Falsapah, termo rabe, equivale ao nosso Filosofia, mas refere-se tambm cadeia tradicional que se transmite entre os povos semitas. a Tradio. Purgstall

    afirma, corajosamente, que o carcter essencial, comum aos Assassis e aos

    Templrios, que ambos instituram uma Ordem que pretendia levar a cabo a

    interpretao poltica das suas doutrinas. E, quanto a ns, est dentro da razo.

    Simplesmente, devemos explicitar o que entendemos por poltica templria.

    Enquanto que para So Bernardo o projecto templrio visaria a constituio de

    uma grelha de Estados em que o Papa se consagraria como Monarca Supremo,

    tanto ao jeito de uma Ordem Teocrtica Universal, para os Templrios, poltica corresponderia, como para todos os colgios depositrios da Sabedoria Antiga,

    nobre arte da governao da polis. Os Templrios conheciam, seguramente, na sua

    essncia, as virtualidades do sistema sinrquico. Os Gro-Mestres da Ordem teriam

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    em mente a realizao de um plano, de h muito preestabelecido pela Hierarquia

    Oculta, que culminaria na organizao federada e na internacionalizao de todas

    as cidades santas europeias e mdio-orientais. Uma finalidade grandiosa que

    subentendia a criao de um espao poltico em que judeus, cristos e

    muulmanos, enfim, o mundo ento conhecido, se congregasse em esprito de

    concrdia, de paz, de progresso e tolerncia, sob a gide harmnica duma

    estrutura sinrquica.

    4 - DAS HERESIAS EUROPEIAS

    Se a componente do Mdio Oriente comporta factores fundamentais em qualquer

    exegese relativa ao horizonte temporal e ideolgico dos Templrios, no podemos

    ignorar algumas das correntes herticas que floresceram e emergiram na Europa

    medieval, na medida em que contriburam para a mundividncia peculiar,

    ideolgica e poltica, dos crculos internos da corporao da Ordem. Um

    diagnstico destes movimentos, que, a nosso ver, promanaram da Fonte

    Primordial, revelar-nos- que os Templrios, executores visveis de um projecto

    que os ultrapassava, constituam uma ponte, bem mais iconoclstica e hertica,

    que se entrosava em linha directa nessa Igreja Invisvel prevalecente na heterodoxia

    da Tradio Joanita.

    Ligados por uma transmisso ininterrupta ocidental, remontam, sem dvida, a

    Manes, o profeta fundador do Maniquesmo. A partir de Manes, no sc. III d.C.,

    os elos da cadeia culminam no projecto dos Templrios, numa trajectria que se

    torna patente na conotao ntima entre Bogomilos, Ctaros, e mesmo, os

    Joaquimitas. Manes, era um Hall Hewari, que significa um vestido de branco, e se apresentava como um sucessor de Zoroastro, de Buda, de Jesus. Manes proclamava-se, mesmo, como um apstolo de Jesus Cristo. No obstante os acrrimos ataques de Santo Agostinho e das paixes explosivas da dogmtica

    eclesial, Santo Efrem e outros prceres da patrstica consideraram-no, com

    benevolncia, apenas como um cristo heterodoxo.

    Eugne Aroux defende a ocorrncia de uma vasta conspirao maniqueia,

    inspirada por Manes, na Idade Mdia, de que os principais agentes se recrutaram

    da classe cavaleiresca e em que as Cortes de Amor velavam as reunies desta

    actividade secreta. Tornou-se, suficientemente visvel que os Cavaleiros do Santo

    Graal, a Massenie du Saint Graal, tero sido os transmissores da doutrina maniquesta, poderosa e absconsa corrente gnstico-maniqueo, paralela ao

    magistrio catlico oficial, que inclua, sobretudo, Ctaros e Templrios.

    Nesta vasta conspirao e aliana implcita dos grupos maniqueus, os Templrios

    faziam causa comum com os Albigenses, para alm de outros herticos, como os

    Homens Pobres de Sio, os Bogomilos blgaros, os Begardos, etc., os quais

    manteriam activas e secretas conexes numa causa que consideravam comum e a

    que os Templrios dariam nascimento e corpo.

    O Catarismo ter suas mais directas origens no Bogomilismo, a que nos referimos,

    movimento de carcter maniqueista que assumiu, a partir do sc. X, na Bulgria, o

    confronto revolucionrio contra os Boiardos, os grandes latifundirios feudais

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    mancomunados com os poderosos dignitrios da Igreja. Ora, o Catarismo

    pautou-se por uma hostilidade firme, quer aos bares do Feudalismo,

    considerados, salvo raras excepes, cmplices do Mal, quer hierarquia da Igreja.

    Os aspectos doutrinrios do Catarismo afastam-se liminarmente dos do

    Catolicismo. Mais que uma mera heresia ou desacordo com certos segmentos

    conceptuais teolgicos, resultam de uma concepo do Cristianismo e do mundo

    que se filia na vivncia primitiva evanglica do Amor, revelada nos Evangelhos

    Apcrifos, sobretudo no Evangelho do Amor, atribudo a Joo Evangelista, que fazia gala da humildade, da pobreza e da pureza (recordemos que os Ctaros se

    auto-proclamavam como os Puros), atributos que contrastavam com a luxuriosa ostentao dos ministros que exerciam o magistrio na Santa Madre Igreja e que

    confundiam a riqueza material com a espiritual.

    Ainda que no se possa provar historicamente quaisquer ligaes entre os

    Cavaleiros do Templo e o Catarismo, sabe-se que, no auge da Cruzada contra os

    Ctaros, os Templrios ajudaram os nobres Cavaleiros da Occitnia que protegiam

    a Igreja do Amor e os Puros na defesa activa face s Cruzadas. No obstante a sua apregoada funo de defesa da cristandade no mundo conhecido, evitaram

    intervir no trgico episdio protagonizado pelo povo do pas de Oc e sua Igreja.

    Mas, mais significativo o facto de, no s fornecerem guarida a muitos fugitivos,

    como o que nos deixaria perplexos permitiram o seu sepultamento em terra consagrada.

    A extino dos Ctaros mo do poder crescente da Inquisio constituiu um

    trgico augrio para os Templrios. Uns e outros foram vtimas de dois

    monstruosos genocdios cometidos em nome de Deus. E muitos dos seus

    dignitrios culminaram num final comum, a morte nas chamas da fogueira. O

    patrono dos Ctaros foi Joo Evangelista. O dos Templrios, diz-se, Joo Baptista.

    Mas certos anais confirmam que se tratou dum orago para o mundo profano, que

    velava, na verdade, Joo Evangelista.

    Das vrias heresias que tero concorrido para a formao doutrinal dos

    Templrios, susceptveis de nos indiciarem algo relativo sua concepo duma

    Sinarquia Universal, conta-se a celebrada doutrina joaquinita, de Joaquim de Flora,

    um eremita da Calbria que, em pleno sc. XII, propagou a proclamada tese

    teolgica das Trs Idades, a qual, a despeito do seu contexto heterodoxo, nem por

    isso deixou de exercer forte influncia nas hostes da Igreja. Convencido de lhe ter

    sido revelada a chave de interpretao das Escrituras Sagradas, Flora aplica-se na

    prognose dos textos bblicos e na predicao do sentido proftico do futuro da

    humanidade.

    Flora divide historicamente o devir da humanidade em Trs Idades. Uma Primeira

    Idade, a Idade do Pai ou da Lei, caracterizada pelo temor e servido, presidiu a

    uma Segunda Idade, a da actualidade, a do Filho ou do Evangelho, elencada na F

    e submisso filial. A Terceira Idade, segundo Flora, confirmar o Amor, a Alegria

    e a Liberdade no corao de todos os homens. Ser a Idade do Esprito, a qual,

    relativamente s predecessoras, vir como o esplendor do dia comparado luz das

    estrelas e da aurora ou como o pino do Vero comparado ao Inverno e

  • 13

    Primavera. A Idade do Esprito haver de ser, afirma, o Sabbath ou tempo de descanso da humanidade.

    A doutrina joaquimita, condenada como hertica pela ortodoxia, conheceu

    enorme difuso, no s entre as fileiras eclesiais, mas heterodoxas e dos

    pensadores leigos, contribuindo para um amplo espectro de vaticnios escatolgicos

    nos sculos subsequentes e para uma viso paracletica do Quinto Imprio,

    presente, p. ex., entre ns, na eloquncia do admirvel pregador Antnio Vieira

    e, at, nos postulados quinto-imperialistas do genial poeta Fernando Pessoa.

    5 - A SINARQUIA

    No plano das convergncias analgicas, no difcil descortinar que a Primeira

    Idade corresponde ao ciclo de Carneiro e que a Segunda e Terceira Idades se

    identificam, respectivamente, com as rondas zodiacais de Peixes e de Aqurio.

    Quando Flora se refere Segunda Idade, a da F e da submisso filial,

    designando-a como a do Filho, subentende-se, a de Jesus Cristo.

    A exegese, pretensamente diacrnica, de Flora, inscreve-se, alis, na abundante

    literatura disseminada na Idade Mdia e geraes ulteriores, alusivas a uma Idade

    de Ouro vaticinada por muitos profetas e sibilas, com incio no presente milnio,

    um Reino Espiritual de Paz e de Harmonia, que vem a reflectir-se, na tradio lusa,

    no ideal do Quinto Imprio.

    Os ecos do que poder instituir este proclamado Reino do Esprito tm resistido

    mutabilidade dos tempos e civilizaes, esto presentes nos relatos pr-histricos,

    na Grcia clssica e na contemporaneidade das vozes de alguns raros homens,

    autores emritos de um punhado de obras includas no ttulo genrico de

    Utopias. Ainda que distanciados espacial e cronologicamente, seus escritos fornecem-nos muitas linhas mestras e atributos estruturais, capazes de configurar

    uma instituio sinrquica. E o facto de que um mesmo rasto essencial percorre e

    domina todas estas utopias visionrias constituir a prova mais concludente de que,

    para alm de eventuais coincidncias, seus livros se socorreram duma mesma

    Tradio comum, a perene Tradio Sinrquica.

    Plato na Repblica, Dante na De Monarquia, Campanella na Cidade do Sol, Tomas Moro na sua Utopia, Bacon na Nova Atlntida, Milton no Paraso Perdido ou Bulwer Lytton no seu perturbante livro A Raa Futura, todos eles, s para citar alguns, nos legaram numa continuidade proteica como

    que um vislumbre dessa cosmocracia ideal, alimentada pelo sopro do Esprito e

    sedimentada na estrutura orgnica da Vida.

    O termo Sinarquia deriva directamente do grego Synarchia, que significa magistratura colectiva, Poder repartido. Etimologicamente, compe-se do radical Syn, um elemento de composio que traduz a ideia de conjunto, juntamente, isto , junto com, e arkh, que designa o princpio das coisas, sua essncia. Da denotao do termo Sinarquia com o conceito Com Princpios, aplicado Sinarquia como Sistema Poltico, resulta a noo de Governao com Princpios. Neste sentido, a Sinarquia ope-se, antnima da Anarquia, uma Governao carente de Princpios. Os Princpios sinrquicos

  • 14

    fundam-se no corpo cientfico das estruturas biolgicas da evoluo. Estas

    estruturas coincidem com os Princpios da Sinarquia. Deste modo, a ordem social

    orgnica da Sinarquia nega a desordem sistemtica dos regimes arbitrrios e

    fragmentrios, anrquicos por definio, em boa verdade, todos os regimes

    polticos vigentes face da terra.

    Disse Protgoras, o retrico ateniense do sc. V a. C.: O Homem a medida de todas as coisas. Se definimos o indivduo como clula padro das coisas e a sociedade como o conjunto dos cidados, o Homem colectivo, este deve reflectir

    a constituio orgnica e ntica de cada unidade social. A Lei que rege a clula

    individual deve regular a colectividade dos seres humanos. Logicamente, este ser

    colectivo vivo deve ser governado por um sistema que corresponda natureza

    intrnseca dos cidados, que se manifesta de forma trinitria.

    O conceito da tripartio aplica-se do mais simples ser vivo complexidade do ser

    humano como um postulado geral. Trata-se de uma constatao biolgica e

    fisiolgica. Ao nvel da predicao teologal, esta acepo tridica assenta na

    mundividncia teocntrica medieval, que imperou at ao racionalismo positivista,

    da existncia de um Deus que, sendo uno, se manifesta como Trs Pessoas

    distintas: Pai, Me e Filho ou Pai, Filho e Esprito Santo e se reflecte

    antropocentricamente como Esprito, Alma e Corpo.

    No plano da metafsica hermtica, tem sua equivalncia na axiomtica da Tabula Smaragdina, conhecida como Tbua de Esmeralda e atribuda a Trimegisto. provvel que os Templrios houvessem dela notcia pela verso rabe de Djbin,

    ou Geber, que viveu entre 770 e 800 D. C. A se trata da correspondncia

    recproca do macro e micro-cosmos, a qual podemos resumir na mxima O que est em baixo semelhante ao que est em cima e o que est no alto, semelhante

    ao que est em baixo, para produzir o milagre duma s coisa. Mas poderamos encontrar outras analogias, p. ex., no campo filosfico, na proposio duma

    harmonia pr-estabelecida leibniziana, que postula que a Ordem s pode ser

    explicada pela congruncia implcita do mundo no seu conjunto.

    Esta congruncia, una e tripla, superior, reflecte-se diramos, hipostaticamente, na

    triplicidade do Homem como Esprito, Alma e Corpo, qual correspondem trs

    funes orgnicas:

    - Funo Espiritual (Inteligncia-Mente);

    - Funo Vital (Respirao-Emotividade);

    - Funo Vegetativa (Reflexo-Motora).

    A primeira funo que ordena o Homem prende-se com as capacidades da mente

    e seus atributos de raciocnio, discriminao e conhecimento. A terceira funo

    abrange a vida animal, instintiva, do domnio do emprico. Cada funo estabelece

    sua prpria relao com a vida duma forma que lhe especfica: a Cabea, pelo

    entendimento; a do Corao, mediante a actividade respiratria; a Sensibilidade, a

    actividade vegetativa, no metabolismo da nutrio e do movimento, mas todas

    numa coexistncia harmnica em que, todavia, nenhuma domina

    hegemonicamente as demais.

  • 15

    Em simetria com a Lei biolgica e orgnica da Vida, a Sinarquia assenta

    similarmente a sua governao em Trs Unidades nucleares: A Ordem do Ensino,

    a Ordem da Justia e a Ordem Econmica. A Ordem do Ensino integra o

    Conselho de Sbios (entenda-se, no s homens de Conhecimento, mas os

    detentores da Sageza). Esta Ordem visa os fins ltimos dos homens, a Cincia, o

    Conhecimento, a Cultura. E porque corresponde Mente, Razo, configura o

    Conselho que detm a Autoridade. A Ordem Econmica ocupa-se da produo e

    consumo dos bens necessrios sobrevivncia, assim como ao seu regimento.

    Equivale nutrio do corpo, actividade social. gerida pelo Conselho da

    Economia. Finalmente, a Ordem da Justia, atravs do seu Conselho de juristas,

    devidamente credenciados, assegura as relaes taxiolgicas, isto , as normas

    legislativas e polticas que regem os cidados.

    Se Ordem do Ensino compete o exerccio da Autoridade e Ordem da

    Economia, o Poder substantivo, os dois extremos dialcticos da Sinarquia, na

    Ordem da Justia encontramos o termo mediador e seu planejamento mestre, o

    Organon ou Constituio do Estado.

    Traamos um breve e sumrio transcurso pela Sinarquia a que a Tradio se

    refere, quela que, pela sua dimenso histrica, podemos ter acesso, a Sinarquia

    Ramnica, a que prevaleceria, a nosso ver, no horizonte doutrinrio e estratgico

    dos Templrios. Ora, se o paradigma do Organon social se confunde com o

    indivduo, este evolui numa constante mutao dinmica e ontolgica. O Homem

    primevo distancia-se, de forma abismal, do cidado moderno e seus padres

    sociais. Um Organon sinrquico deve, inequivocamente, dimanar da esfera

    conjuntural de cada civilizao, das referncias de cada grande grupo social, mas

    sempre contida nos limites estruturantes, fundamentais, dos seus Princpios

    poltico-filosficos.

    Nos ltimos decnios, assiste-se ao surto de alguns grupos conspirativos de sinal

    sinrquico, interessados em instalar a confuso. A apropriao usurpadora dos

    conceitos sinrquicos, nada inocente, tem conduzido corrupo do significado

    semntico do termo Sinarquia. A fim de obviar possveis confuses, e falta de melhor designao, em nossa Escola adjectivmo-la com o apelativo eubitica, seja, Sinarquia Eubitica. Em termos eubiticos, interpretamos a Sinarquia como Una em sua essncia, Trina em sua expresso, Sptupla na sua aco, e

    acentuamos o carcter teleolgico ou finalstico das Trs Ordens:

    - Na Ordem Material, o arqutipo da BELEZA;

    - Na Ordem Emocional, o arqutipo da BONDADE;

    - Na Ordem Mental, o arqutipo da VERDADE.

    Urge colocar, aqui, a seguinte questo: Saberiam os Templrios da existncia de

    qualquer regime sinrquico antecedente, norteador do seu ambicioso projecto

    social?

    A tentativa de implementao de uma Res Publica planetria foi sendo reiterada ao

    longo dos tempos, por alguns raros iluminados, infelizmente votada ao insucesso,

    devido ao antagonismo das poderosas foras cesaristas.

  • 16

    Os Templrios colheram muita informao no Mdio Oriente, no seu contacto com

    corporaes iniciticas, as do Assassis, dos Sufis e outras, que detinham segmentos

    da Tradio transmitidos por via oral e escrita. Na Occitnia conviviam, como

    vimos, em regime de total tolerncia, prprio do Al-Andulus muulmanos, judeus, arianos, cristos e ctaros(1). Por outro lado, o grande inspirador e impulsionador da Obra Templria, S. Bernardo de Claraval (o que lhe deu o claro aval) mantinha uma slida amizade fraternal com S. Malaquias, o druida, ou melhor, o irlands Meal OMorgain, homem profundamente mergulhado nos mistrios e vidncias clticas, que acabou feito bispo por Roma e legado do Pontfice.

    Os Templrios conheceriam a Tradio Ramnica, o portentoso Ciclo de Ram ou

    Imprio Universal de Carneiro. As tradies zoroastrianas e o Ramayana primitivo contm a memria indelvel do poder e do gnio deste condutor de povos, que se

    volve heri lendrio. Ram, homem de grande saber, instrudo nos escaninhos mais

    secretos da sabedoria drudica, desgostoso com a decadncia instituda pelo colgio

    das druidezas na sociedade cltica, incitadas por polticos ambiciosos e druidas

    pusilnimes, aps um tempo de reflexo sobre as calamidades pblicas, confronta-se

    com um dilema: ou arrisca uma guerra civil ou prefere o exlio. Escolhe o exlio.

    Rene os cls que lhe so fiis e parte do Ocidente da Europa conquista do

    mundo. Ergue o Pendo de Carneiro (Ram significa carneiro) a que se juntam outros cls aguerridos sob os totens do Coelho, da guia e outros.

    medida que avana pela Europa, pela sia Menor e pela sia em geral, organiza

    as grandes circunscries e pases conquistados com as matrizes administrativas

    sinrquicas. Em primeiro lugar, descentraliza todos os Reinos. Organiza a vida

    comunal das provncias em unidades, as vilas (vic) e os cantes (jantu). Resolve,

    ento, implementar os trs poderes sociais, os trs Conselhos, como representao

    no Imprio, da Economia, da Justia e da Cincia.

    - O Conselho Econmico era constitudo pela Assembleia dos Ancios, desde

    as comunas at s grandes circunscries.

    - O Conselho da Justia formava uma verdadeira Corte de Apelo, que

    controlava todos os delegados. Este Conselho conferia aos soberanos seus

    poderes como Reis de Justia. Reis depois consagrados pelos sbios, sendo

    assim confirmados pela Autoridade.

    - O Conselho de Ensinamento era constitudo pelos que detinham o

    Conhecimento: na altura, o sacerdcio oficial, mas tambm, os mais altos

    iniciados laicos.

    Ram determinou magistralmente as formas de organizao social, deste modo:

    Forma republicana - Aplicada s provncias, comunas e cantes;

    Monarquia Real - Com os poderes da Justia;

    Monarquia Imperial - Com o Governo geral do Imprio;

    Forma Teocrtica - Controlo supremo do conjunto pelo Soberano

    Pontfice.

    (1)

    Los Guardianes del Secreto, Lorenzo Bueno

  • 17

    Uma anlise suficientemente exaustiva da estrutura deste Imprio conduz-nos aos

    dois postulados fulcrais da filosofia sinrquica: a rigorosa separao dos rgos da

    Autoridade e do Poder, e a neutralidade, diramos, a independncia das Trs

    Ordens Sociais do poder poltico.

    A Sinarquia cltica, ou ariana, de Ram, manteve-se durante 35 sculos. Desde sete

    mil anos at aos quatro mil anos a.C., germinaram outras sinarquias, sua imagem

    e semelhana, estveis e duradouras. Assim floresceram a chinesa, de Fo-Hi e a de

    Israel. Segundo Sainte-Yves dAlveydre, no se revelaram, nestes Imprios, nem sectarismos, nem dspotas, nem revolues, nem arbitrariedades abusivas de

    intolerncia.

    A prodigiosa epopeia de Ram foi de tal modo pletrica em sua grandeza, que

    ainda hoje muitas das suas metrpoles permanecem historicamente clebres como

    locais de culto: Nnive, Baalbek, Meca, Tebas, Mnfis, Delfos, Nmes, Chartres,

    Huesca e seu rastro idiomtico mantm-se vivo em muitos nominativos e topnimos de numerosos pases e latitudes, como o Iro, de I-Ram, Ramss (da

    dinastia faranica), Py-Ramide (poder paternal de Ram), os Abramidas da Caldeia,

    Abram de Ur e Hiram de Tiro, Rammamah (trovo egpcio), e at, o Ramadam

    que, para os rabes, significa, exactamente festa de Ram(2).

    Mas nada nasce do nada, Ex nihilo nihil. Ram, ele mesmo, denominou o seu imprio de Para-desa, Terra Divinizada. Instrudo nas cmaras mais ocultas do druidismo cltico, Ram no ignorava, por certo, a secreta tradio da Sinarquia de

    Agartha, a divina Paradesha manifesta nas afloraes mitolgicas e folclricas,

    escritas e orais de todos os povos, de Ocidente a Oriente, desde a Asghardi dos

    tibetanos, Ermedi dos mongis, Hemdri (a montanha de ouro dos inds),

    Aryana-Vaejo dos iranianos, Cana dos Hebreus. Mas, ainda, se quisermos, ao

    El-Dorado (a cidade dos tectos de prata cujo rei usa vestes de ouro) dos

    autctones brasileiros, ou o Pas de Tertres (a ptria de Luz) e mesmo a deliciosa

    Belovedye do ciclo arturiano.

    6 - O N GORDIO E A DISSOLUO DA ORDEM

    Assegurada a plena liberdade de aco e o beneplcito papal, atravs da Bula

    Omne Datum Optimum, promulgada por Inocncio II, a, licenciando-os de toda a jurisdio episcopal e da sujeio aos Reis de cada pas, reservada sua

    obedincia exclusiva ao Papado, a Autoridade Universal aceite na poca, os

    Templrios lanam-se na formidvel empresa ecumnica do desenvolvimento

    embrionrio das Trs Ordens matriciais da Sinarquia.

    Sabiam que teriam de confrontar-se com uma realidade poltica e sociolgica

    generalizada de cariz feudal, por vezes muito poderosa, e que, aos olhos de muitos

    interesses instalados, deveriam travar uma luta rdua e paciente por um ideal a

    todos os ttulos revolucionrio e fracturante.

    Apesar da profusa publicao de centenas de obras dedicadas aos Cavaleiros do

    Templo, a noo que existe acerca da milcia bastante vaga e redutora, quer

    (2)

    La Synarchie, J. Weiss

  • 18

    quanto ao seu poderio militar, quer quanto sua expanso econmica e domnio

    ecltico dos conhecimentos que possuam.

    Atravs de contactos com turcos, bizantinos, rabes, armnios, egpcios, ismaelitas

    e mongis, acederam s fontes filosficas e cientficas orientais e ocidentais,

    inclusive as clssicas greco-latinas. Confrontaram a sua gnose com a os judeus

    cabalistas e herticos esoteristas. Sondaram os segredos dos cristos coptas, que se

    diziam herdeiros do Pai ou Preste Joo. Enfim, um acervo colossal de conhecimentos heterclitos fabulosos e enciclopdicos para o seu tempo.

    Na Ordem Econmica, promovem a circulao fiduciria e praticam a

    transferncia de numerrios, substituindo, quando necessrio, a moeda metlica

    em circulao, por papel moeda. Criam um sistema bancrio com depsitos

    ordem e cheques rebatidos em todos os locais em que dispunham de agncias e

    interpostos. Dada a sua probidade e solvncia, o selo da Ordem aposto em simples

    pergaminho constitua um garante acima de todas as suspeitas. Introduzem a

    prtica da conta-corrente. Concedem emprstimos, sem juros, por contrrios Lei

    da Igreja. Tornam-se conselheiros dos grandes senhores feudais, administrando-lhes

    os seus bens e mesmo os tesouros dos Reis europeus, de que exemplo o Rei de

    Frana.

    Em breve, a Milcia do Templo dispunha duma riqueza incalculvel. Recebem

    legados da Igreja e avultadas doaes de monarcas. Adquirem castelos e

    latifndios. Dispondo duma vasta frota martima, com base no porto de La

    Rochelle, estabelecem uma extensa rede de transaces comerciais, em que se

    inclui seus prprios mercados, e donde lhe advm largos benefcios, tudo isto

    numa poca em que a economia se restringia a uma prtica incipiente e primria,

    agrcola e ruralista, acompanhada por uma produo de tipo artesanal.

    A sua frota martima cruza os mares conhecidos, em derrotas de cabotagem pela

    costa atlntica e do mediterrneo, procedendo ao transporte de tropas, de

    peregrinos e mercadorias. Sabe-se, hoje, que os Templrios custodiavam, em

    grande secretismo, um refgio oculto nas Ilhas Canrias, livre de curiosidades esprias, fora das rotas convencionais de navegao, donde tero partido para

    curiosas incurses pelo Atlntico.

    O contacto dos Templrios com outras gentes e a aportagem em portos exticos,

    a aprendizagem dos sistemas de orientao utilizados pelos guias das caravanas dos

    desertos africanos e asiticos, os dos pilotos que navegavam no ndico, a

    investigao tenaz dos conhecimentos cientficos e geogrficos do mundo

    mediterrnico e do Ocidente instiga-os aquisio sistemtica da aritmtica, da

    lgebra, da medicina, da qumica, da astronomia, da cartografia, etc., etc., que

    conflui para futuras Ordens do Ensino e de Economia.

    Mas as transaces comerciais e diplomticas implicariam a criao de todo um

    dispositivo normativo de regras e regimentos na jurisprudncia templria, um

    Direito comercial ajustado s trocas correntes, e institucional, substitutivo do

    incipiente Direito consuetudinrio e das ordenaes feudalistas. Assim se foi

    instituindo o cimento duma Ordem da Justia. Contudo, como o segredo a alma do negcio, passe o termo, e a fiabilidade dos investimentos teria de ser salvaguardada, assim como o leque de informaes cientficas, econmicas,

  • 19

    estratgicas, incluindo as de natureza doutrinria, as quais poderiam, at, passar

    por herticas, os Templrios usavam, segundo Probst-Biraban e Maitrot de la

    Motte(3)

    , uma linguagem diplomtica (a linguagem dos pssaros?) cabalstica para a

    transmisso das ordens emanadas da sede social da Milcia, onde reunia o Grande

    Conselho, assegurando, assim, o secretismo de instrues que no deviam ser

    confiadas em letra corrente.

    Abordmos, h pouco, a natureza dos Princpios tutelares da instituio sinrquica,

    desenvolvendo, em linhas muito lineares, o aspecto tridico decorrente da

    estrutura orgnica da Vida e aludimos a um dos outros Postulados fundamentais

    sinrquicos: o factor Autoridade-Poder.

    Como escrevemos num outro estudo, no publicado, no cerne da estrutura

    sinrquica situa-se o binmio Autoridade-Poder. Toda a organizao sinrquica

    ter de rejeitar o conceito cesarista de governo em que Autoridade e Poder se

    confundem e os atributos e funes do seu exerccio se aglutinam no mesmo rgo

    governativo ou na mesma pessoa.

    A Tradio confirma historicamente que um tal rgo estar votado, mais tarde ou

    mais cedo, ao mais irredutvel fracasso.

    Sob o ponto de vista da filosofia sinrquica, a Autoridade e o Poder ho-de formar

    um binmio dialctico com dois plos e reas distintas. Aos rgos que detm o

    Conhecimento, o Saber, se lhes outorga a Autoridade; aos que executam, o

    Poder. A Autoridade exerce-se e pertence ao que ensina, correlata da Sabedoria,

    -lhe inerente. Ningum assume deliberadamente a Autoridade pela fora ou por

    arbtrio. Tal acto contraria a prpria essncia da Sinarquia. Com efeito, sendo a

    Autoridade consubstancial Sabedoria, Sageza, tacitamente concedida,

    livremente aceite e reconhecida pelos membros constitutivos do organismo social.

    O Poder corresponde aos rgos executivos. A Ordem funda-se no Poder. A

    norma, as leis que regem o sistema dinmico implicam o mandato imperativo por

    parte do tecido social. O Poder redige, promulga, aplica as deliberaes emanadas

    da Autoridade, mas seu exerccio deriva da fora que lhe cometida pela

    comunidade de cidados, livremente expressa por sufrgio. Numa palavra, a

    Ordem da Autoridade define as linhas de filosofia poltica; a Ordem do Poder

    transforma-os em leis; o corpo social, a comunidade, em factos.

    Sempre que a confuso se estabelece na diarquia Autoridade-Poder, a anarquia dos

    sistemas arbitrrios vota ao fracasso o equilbrio e a harmonia da Sinarquia de

    Princpios. Assim aconteceu com o estado sinrquico chins de Fo-Hi, o autor dos

    cinco livros hieroglficos, conhecidos como Kings, que fundou seu Reino em 2950 a.C. Assim foi derrubada a Sinarquia de Israel e a de Ram, com o cisma de

    Irshou, o qual assumiu o Poder e a Autoridade pela fora. E assim ser votado ao

    insucesso o Projecto Templrio, pela aco desptica de dois agentes cesaristas.

    O grande problema, o n da questo no regime sinrquico, reside na funo do

    Soberano Pontfice, o suserano, ou, em linguagem actualizada, a do Supremo

    Magistrado, capaz de assegurar, pelos seus atributos, reconhecidos por direito e

    (3)

    in Le Mercure de France

  • 20

    universalmente, a Autoridade. Eis um dos escolhos que os Templrios no

    puderam transpor nem adiar, face insidiosa conspirao das foras cesaristas.

    Tudo indica que o Gro-Mestre Templrio, Jacques de Molay, em particular,

    homem pragmtico e lcido, acalentasse a esperana de organizar os Estados

    polticos europeus e internacionalizar todas as cidades santas continentais e asiticas

    sob a gide de um suserano aceite universalmente por uma sociedade de cariz

    crist, em que o Pontfice incarnaria o Princpio divino, como Vigrio de Cristo na

    Terra.

    Prudentemente, a Autoridade entre os Templrios era exercida por um Supremo

    Gro-Mestre Oculto, rodeado por um escol inicitico, desconhecido at dos

    nobres Cavaleiros da Milcia, e de que os Gro-Mestres conhecidos historicamente

    no passaram de meros rostos visveis. Para estes, a ideia do Templo, porque mais

    alta e geral que a prpria Igreja, planaria muito acima da religio Porque se a Igreja de Cristo, o Templo do Esprito Santo escreve Michelet. O sonho secreto dos Templrios contemplaria a Unidade divina, no dentro do contexto da

    ortodoxia vigente, mas no mbito de uma viso eminentemente paracltica.

    Haveria que aguardar.

    Entretanto, a massenia mstica e operativa, respaldada no baluarte de um zeloso juramento de silncio, ia procedendo difuso, de forma cifrada e alegrica,

    atravs dos bardos celtas, dos trovadores, jograis e segreis, em especial os da

    Provena, agentes itinerantes da Gaya Scientia pelas Cortes mais notveis da Europa e pelos cultos cenculos da nobreza feudal, ia veiculando, repetimos,

    paralelamente s suas cantigas de amigo e de amor, expresso de um dito ideal de Amor Cortez, o contedo de uma carta que mencionava um personagem fabuloso, Preste Joo, um soberano cristo, cujo Reino teria servido de refgio ao

    Graal, o Santo Vitico, que constitua uma das pedras simblicas de fundamento

    das doutrinas herticas da gnose secreta da prpria massenia.

    Henri Martin adianta que a Cavalaria do Graal correspondia a um movimento asctico conhecido como os templistas, na medida em que comungavam do mesmo paradigma, o Templo Ideal comum. Esta carta, datada de 1177, de incio,

    sigilosa, teve divulgao nos finais do sc. XII.

    Que se saiba, jamais os Templrios teceram quaisquer comentrios ou fizeram

    alguma recenso notcia deste Monarca que se intitulava Rei todo-poderoso sobre todos os reis do mundo. Apcrifa, ou no, a verdade que a massenia procurava influenciar psicologicamente o imaginrio medieval, tornando-o

    receptivo ao surgimento de um Sumo-Pontfice providencial. Obviamente, para

    ns, esta notcia no se espalhava ao arrepio da estratgia templarista. A

    existncia, mesmo virtual, de um proclamado Soberano Pontfice, precedido de

    tais atributos, poderia colmatar a degradao crescente dos Vigrios de Roma e do

    cesarismo gauls, mormente se investido de Autoridade divina, um Rei acima de

    todos os Reis e detentor do Graal.

    Permiti que abra um parntesis, para destacar algumas coincidncias significativas:

    o nmero de vassalos directos do Preste Joo concorda com o nmero de artigos

    da Regra da Mlicia, 72, salvaguardando, embora, que estes artigos jamais foram

  • 21

    conhecidos de forma cabal. O Monarca tinha como assessores quatro dignitrios,

    os mesmos que os adictos do Gro-Mestre da Ordem.

    Podemos resumir como o imaginrio colectivo da segunda metade do sc. XII via

    na Europa, o perfil idealizado do fabuloso Rei, o qual, no fundo, traduzia suas

    ntimas aspiraes:

    A face cheia de nobreza, de porte majestoso, montado sobre um Cavalo Branco, a cabea ornada com uma coroa cintilante, recamada

    de pedrarias preciosas, revestido de seda prpura, ostentando na mo

    um Ceptro de Esmeralda

    Um Rei oriundo de um pas misterioso, Rei e Sacerdote, mais poderoso

    que Salomo, reinando num Reino imenso, recheado de riquezas

    fabulosas

    Duas ordens de razes convergiram para a queda da Milcia de Cristo, ambas de

    carcter cesarista: o cesarismo de Filipe, o Belo, e o cesarismo papal. O Papa havia

    lanado a Bula Ausculta Fili contra o Rei de Frana, exigindo a presena dos seus bispos em Roma e reclamando a sua defesa, por delegao, em caso de

    ausncia pessoal. O Pontfice Bonifcio VIII sentia-se inquieto com a crescente

    autonomia cannica da Frana. Pretendia exercer um controlo exaustivo sobre os

    bispos gauleses, reformar o pas, corrigir o Rei e garantir um governo submisso a

    Roma. Nos ltimos tempos de seu pontificado ocorreu uma luta encarniada

    tendo como protagonistas Bonifcio VIII e Filipe o Belo. A animosidade, intensa,

    advinha de um grande nmero de antigas disputas entre a Igreja e alguns Estados

    medievais. No percamos de vista que os Papas dispunham, ento, dum enorme

    poder material, corroborado por uma autoridade eclesial apoiados em poderosos

    instrumentos de interveno, entre os quais o da excomunho, terrvel, quase

    mortal.

    Mas, Bonifcio dispunha, em todos os reinos cristos, de uma guarda imperial

    temvel e rica, a dos nobres Cavaleiros da Ordem do Templo, reforada pela

    Ordem Teutnica, no contando com a aco apostlica dos seus bispos,

    arcebispos e de uma legio incontvel de clrigos.

    Perante a exigncia autocrtica de Bonifcio, que indiciava uma humilhao sem

    limites aos olhos dos seus prprios sbditos, Filipe decide convocar os Estados

    Gerais e expor-lhes as pretenses abusivas do Papa. Os Estados Gerais apoiam o

    seu Rei, sem reservas. Estavam criadas as condies de subverso contra o Papado

    e, infelizmente, as de desconfiana generalizada relativa Ordem do Templo, vista

    como conivente com as intenes de Bonifcio.

    Filipe, um frio calculista, congemina a queda de Bonifcio VIII e a destruio do

    poderio Templrio. A animosidade rancorosa advinha de um conjunto de

    circunstncias:

    - A sua solicitao de ingresso na Milcia do Templo, a ttulo honorrio, e j

    concedida a outros soberanos, foi-lhe recusada. Os Cavaleiros tero

    desconfiado de que, nas intenes inconfessadas de Filipe, haveria a

    esperana de ocupar, um dia, a Gro-Maestrado, reduzindo-o Coroa.

  • 22

    - O seu ressentimento pelo facto de os Templrios terem relutado no resgate

    do seu av, So Lus, durante as Cruzadas.

    - Crivado de dvidas e grande devedor da banca templria, sentia-se incapaz

    de ombrear o tesouro real com as arcas do Templo. Este, era custodiado na

    Casa-Me do Templo, em Paris, o que exacerbava o seu ressentimento.

    Quanto a Bonifcio, as razes deviam-se s manifestaes de exibicionismo

    absolutista deste Papa, para alm da humilhao infligida a Filipe convocando os

    bispos franceses para Roma:

    - O Papa arvorara, pela primeira vez, o TRI-REGNO ao cingir a Tiara, a

    Mitra das Trs Coroas, smbolos dos Trs Poderes.

    - Convoca-o discricionariamente pela Bula Ausculta Fili.

    - No dia da sua coroao, colocou s rdeas da sua montada os prprios Reis

    da Hungria e da Siclia.

    - O mesmo Bonifcio, aquando do seu jubileu, em 1300, apresentou-se

    revestido das insgnias imperiais, precedido de dois gldios desembainhados.

    Temos de convir, com algum assentimento, que Filipe IV, um cesarista, tenha

    perdido todo o respeito por um Papa que, para ele, no passava de um usurpador

    imperial.

    Filipe inicia suas maquinaes astutas contra o Papa e contra os Templrios. Em 7

    de Setembro de 1303, envia o seu ministro Nogaret em misso secreta a Itlia.

    Homem fantico e impiedoso, Nogaret recruta um pequeno exrcito privado e cai

    de surpresa sobre o Papa, quando este, tranquilo, se sentia seguro no reduto dos

    seus prprios domnios. verdade que Bonifcio VIII havia j perdido muito do

    seu mpeto, nada tinha de edificante, fsica e moralmente. Peter Partner(4)

    comenta

    que uma referncia da poca dizia que o Papa nada mais era do que olhos e lngua num corpo totalmente putrefacto. Mas os Templrios estariam bem conscientes do grande embuste personificado por uma Igreja sem escrpulos,

    indigna da entronizao da Autoridade na Terra.

    Livre de Bonifcio, Filipe IV trama o cenrio ideal para ultimar suas ambies.

    Assegura a aprovao romana e promove a eleio do arcebispo francs Bertrand

    de Got, coroando-o como Papa Clemente V, em Lyon, a 17 de 1305. Este

    prcere de Filipe, para alcanar a Tiara, assinou um acordo prvio com o

    monarca, sob seis condies juradas. A ltima destas clusulas manteve-se em

    sigilo, mas existem aluses que indiciam que se obrigava destruio do Templo.

    Bertrand submete-se s exigncias de Filipe e converte-se num instrumento poltico

    da monarquia francesa. A Autoridade cede ao Poder. Como acto de gratido o

    Papa nomeia 12 cardeais franceses, ldimos tteres de Filipe o Belo.

    A destruio do Templo no se afigurava uma empresa nada fcil. Seu poder

    militar assentava em dezenas de milhares de lanas no activo, no contando com

    os Infantes e Cavaleiros nobres, prontos a suprir com suas prprias armas e

    homens a Milcia. Dividida em nove mil Comendadorias (outro nmero

    (4)

    in El Asesinato de los Magos

  • 23

    significativo) distribudas por nove Provncias, uma das quais Portugal, dispunham

    duma riqueza imensa. Em todas as Cortes, a sua primazia representativa

    sobrelevava a das cabeas coroadas. Ningum, excluindo o Papa, podia intervir ou

    control-los. Estavam isentos dos direitos de transmisso, de derrama, de dzimo,

    de portagens. A Comendadoria de Paris, sede da Milcia, repleta de magnficos

    edifcios, funcionava como uma espcie de super capital, uma Cidade-Me, mais

    prpria de um Imprio europeu. Este Imprio virtual estendia-se das costas da

    Mancha e do Atlntico aos Pirinus e a todo o Ocidente, da Irlanda Grcia.

    Banqueiros, soldados, navegadores, polticos, construtores, administradores, sbios

    e diplomatas, detentores dos mistrios gnsticos, herticos e da tradio

    imorredoura sinrquica abraaram um sonho que os guiou por mais de 200 anos.

    Internamente, e at onde os limites conjunturais o permitiam, procuraram

    conformar sua complexa estrutura segundo os ditames da Tradio. A Ordem

    dispunha de quatro nveis: em primeiro lugar, os Cavaleiros (fratres milites),

    obrigatoriamente de ascendncia nobre; em segundo os Capeles (fratres

    capellani); depois, os Escudeiros (fratres servientes armigeri); por fim, os

    servientes famuli et officii, ou seja, os domsticos e os artesos. No topo da hierarquia, oficiava o Mestre do Templo de Jerusalm, como Gro-Mestre.

    Embora o poder do Gro-Mestre fosse soberano, no o exercia de forma absoluta.

    Quase sempre, suas decises tinham fora de lei, mas certas prescries podiam

    cerce-las. A investidura de um novo Irmo obrigava-o consulta do Captulo,

    que congregava os grandes Comendadores das Provncias e a cujo voto maioritrio

    teria de se inclinar. A eleio do Gro-Mestre dependia exclusivamente dos

    Cavaleiros, por determinao da Bula Omne datum optimum, de 1163, ainda que por procedimentos complexos. O Poder do Gro-Mestre era compartilhado

    por quatro dignitrios assessores, entre os quais, um Senescal e um Marechal.

    A Autoridade, porm, sempre foi praticada a coberto do mais inviolvel sigilo por

    um Gro-Mestre Oculto. Conspcuos investigadores e historiadores isentos

    admitem-no frequentemente. No seio institucional da Ordem, o Postulado

    doutrinrio e dicotmico Autoridade-Poder foi restaurado. Desde a criao at ao

    seu termo, 22 (outro nmero significativo) Gro-Mestres administraram a Ordem

    dos Pobres Cavaleiros do Templo de Salomo. Treze deram a vida pelo ideal do

    Templo. Quantos teriam sido os Soberanos Gro-Mestres Ocultos? Provavelmente

    jamais o saberemos.

    Conquanto triunfantes, os Templrios constituram sempre uma corporao

    estranha e fracturante para a mundividncia dos feudos e Reinos da Idade Mdia

    europeia, suscitando estados de constrangimento e de receio que vieram a

    culminar na sua ruptura impiedosa pela aco de um Rei cesarista. Tal como todas

    as Sinarquias se corromperam face subverso sistemtica cesarista, o ideal secreto

    dos Cavaleiros do Templo foi derrubado pelo golpe conjugado, mortfero, dum

    duplo intento cesarista, o do Papado e o da Realeza. Bonifcio excede-se no

    exerccio de um Poder discricionrio, quando, como Vigrio de Cristo, devia

    restringir-se ao mnus da sua Autoridade. Filipe, o Belo, rebela-se contra o

    Pontificado e submete Inocncio aos seus interesses temporais e polticos. Isto ,

  • 24

    apodera-se, por interposta pessoa, do atributo da Autoridade. Filipe e Bertrand de

    Got foram cmplices de um dos maiores crimes registados na Histria.

    No houve uma Espada de Democles capaz de desatar o n grdio da imbricada trama Autoridade-Poder. Passaram alguns sculos para que um rastro de esperana

    renascesse com algum que, no recesso do silncio sepulcral duma Cmara de

    Giz, no Egipto, proferisse seu juramento solene: Restaurar a Sinarquia num

    Estado plurinacional na Europa e colocar no seu Trono um Regente legitimamente

    aceite como smbolo de Autoridade Universal. Napoleo cingiu a coroa dos

    Csares, usurpou a Autoridade, sonegando o que tinha prometido. Napoleo

    fracassou. Mas esta toda uma outra histria

    Olmpio Gonalves

    da Comunidade Portuguesa de Eubiose

  • 25

    NOTAS

    CATARISMO

    - Doutrina hertica dualista;

    - Luta entre o Bem e o Mal;

    - A Criao opera-se a partir de uma matria pr-existente, ou da prpria

    substncia dos criadores e no ex nihilo (a partir do nada);

    - A Criao sempre creatio ex essentia Dei ou diaboli (criao desde a essncia de

    Deus ou do Diabo);

    - Assim, h sempre uma natureza maligna e outra boa, a primeira transitria,

    corruptvel; a segunda, eterna e incorruptvel.

    BOGOMILOS

    - Os Amados de Deus, Bulgria, sc. XII;

    - A sua cabea era Baslio, perseguido por Alexis Commenos que o perseguiu para

    que lhe revelasse os segredos da sua heresia;

    - Os Bogomilos limitavam a Sagrada Escritura aos Livros do Novo Testamento,

    aos Profetas e aos Salmos;

    - O nico sacramento que reconheciam era o Baptismo pelo Esprito, no pela

    gua;

    - Eram tambm dualistas: Cristo Satanael.

    MANIQUEISMO

    - Doutrina dualista;

    - Dum lado, o Bem e o Reino da Luz; do outro, o Mal e o reino das Trevas;

    - A Luz e as Trevas coexistiam, mas nunca se misturaram, at que, devido a uma

    catstrofe, as Trevas invadiram a Luz. Deste conflito, nasceu o Homem: seu

    Esprito pertence ao Reino da Luz, mas, o seu corpo (a matria) pertence ao

    Reino das Trevas.

    VALDENSES (Pobres de Lyon)

    - Pedro de Vaux, rico comerciante de Lyon, querendo atingir a perfeio crist,

    distribuiu, em 1173 seus bens aos pobres, pretendendo realizar um ideal:

    peregrinar e pregar a penitncia, levando uma vida de pobreza apostlica.

    - Mas este estilo de vida era um desafio hierarquia e s abadias;

    - A pregao estava, alis, proibida aos leigos, pelo Terceiro Conclio de Latro,

    em 1179.

  • 26

    - Os Valdenses admitiam apenas os sacramentos do Baptismo, da Ceia e da

    penitncia.

    - So excomungados em 1184 pelo Papa Lcio III.

    CISMA DE IRSHOU

    - Em decadncia, o Imprio de Rama, adoptou o sistema hereditrio de sucesso

    do Supremo Pontfice. Aproveitando-se disto, o filho mais novo de Ongra, o Imperador, no aceitando a subida ao Trono do primognito, atravs de um

    acto revolucionrio do Poder provocou um cisma, arrogando-se a Autoridade.

    BIBLIOGRAFIA

    - Ensinamentos Eubiticos

    - Os Ctaros, Ren Nelli

    - La Synarchie, Jacques Weiss

    - LOrdre des Templiers, John Charpentier

    - El Asesinato de los Magos, Peter Partner

    - A Sinarquia, Jean Saunier

    - rgo Monumento da Civilizao Eubitica, Carlos Lucas de Souza

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    no homem, de acordo com a tnica de Aquarius e a sua biorrtmica;

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