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Minicurso X Copene 2018
O Papel dos bantos na formação do Brasil e na construção da nossa língua.
Resistência banta na Baixada Fluminense: Calundu/Candomblé.
Jeusamir Alves da Silva (Tata Ananguê).1
Faculdade de Educação da Baixada Fluminense-FEBF/UERJ. E-mail: [email protected]
Duração:
Carga horária – 2 h/por dia/total de 6h, duração de 3 dias (3 encontros).
Objeto do Minicurso
O negro banto e a sua influência cultural nas artes manuais, na gastronomia, na musicalidade, na
linguística, religiosidade, na tecnologia agrícola, sua importância como foco de resistência até a
atualidade. Penetrar-se-á na magia que envolve suas crenças, trazendo um entendimento fácil da visão
de céu e terra, da criação do mundo, da cultura ancestral, dos ritos às suas divindades, dos rituais
diversos, da união com os povos indígenas brasileiros fortalecendo o candomblé de caboclos.
Justificativa
A necessidade da implantação desse minicurso deve-se principalmente ao fato das poucas
informações que contemplam a temática banta. Embora, tenha sido o povo banto, o primeiro aqui
chegado, nos meados do século XVI, dando formação a partir dos calundus ao atual candomblé.
1Mestrando em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas pela Faculdade de Educação da Baixada
Fluminense FEBF/UERJ. Especialista pela Universidade Cândido Mendes - UCAM em: História e Cultura Afro brasileira
(com Aperfeiçoamento e Extensão), Ensino de História, Ciências da Religião, Ensino de Artes Técnicas e Procedimentos,
Ensino da Língua Espanhola, e Gestão Escolar Administração e Supervisão e Orientação. Graduado em História pela
Universidade Norte do Paraná - UNOPAR. Graduado em Artes pelo Instituto Universitário CLARETIANO. Extensão
Universitária em“O Povo Bantu, Mitos e deuses africanos de Angola: as influências culturais e religiosas Brasil/Angola”
pela UERJ.
Presidente e Sacerdote primaz da Confederação Nacional dos Candomblés de Angola e dos Costumes e Tradições Bantu
no Brasil-CNCACTBB e Casa Raiz do Benguê Ngola Djanga ria Matamba-CRBNDM.
Email: [email protected] Blog: www.tataanangue.blogspot.com
Objetivo
O minicurso pretende trazer à baila o papel preponderante do negro banto na formação do Brasil e na
construção da nossa língua, desde a sua introdução durante os séculos XVI ao XIX, perpassando pelo
pós-escravidão e chegando até aos dias atuais. Buscando, dessa forma, iniciar o preenchimento da
grande lacuna na História do Brasil, que perdura a quase 500 anos.
Conteúdos
Imigração escravagista
O papel preponderante dos bantos no Brasil
Visão mitológica do povo banto
Forças do terreiro – (locais sagrados)
Divindades e ancestralidades
Cargos na hierarquia banta
Avaliação.
Programação
Número da
Aula/Tempo da
aula(min)
Objetivos Conteúdo a ser
explorado
Forma de Avaliação
Aula 1
2 horas
Informar a ordem
cronológica entre as
três vertentes africanas
introduzidas no Brasil
Imigração
Escravagista/O papel
preponderante dos
bantos no Brasil
Acareação do que foi
facilitado/Tira dúvidas
Aula 2
2 horas
Transmitir o conceito
de céu e terra para os
bantos
Visão mitológica do
povo banto/Forças do
terreiro (locais
sagrados)
Acareação do foi
facilitado/Tira dúvidas
Aula 3
2 horas
Acusar as diferenças
entre as nações
africanas que praticam
o candomblé.
erradicando a ideia de
ser “tudo a mesma
coisa”.
Divindades e
ancestralidades/Cargos
na hierarquia banta.
Avaliação final
mediante perguntas e
respostas entre 2
grupos sobre o que foi
ministrado nas aulas.
mediados pelo
Facilitador
Recursos materiais e humanos:
Data show
Público alvo. São destinados, especialmente, para os(as)estudantes da educação básica, da
graduação e da pós-graduação, professores(as) do ensino fundamental, médio e superior, bem como
os(as) demais interessados(as) no tema, de acordo com as normas do X COPENE para a inscrição
em Minicursos do evento.
Avaliação
Os alunos divididos no mínimo em dois grupos deverão discutir entre si, os pontos mais
interessantes da temática apresentada, elaborando cada grupo, um parágrafo de cinco linhas para ser
lido por cada representante, para os colegas e o facilitador do curso.
O ganho final, será de todos, já que essa metodologia utilizada provocará um debate final,
onde todos sentir-se-ão sujeitos de fato e de direito, na discussão do objeto, que antes a maioria
desconhecia a existência, ou seja, o papel dos bantos na construção do Brasil e na formação da nossa
língua.
Plano de Aula nº 1
Jeusamir Alves da Silva (Tata Ananguê).
Carga horária: 200 minutos (aula geminada)
Público alvo: De acordo com as normas do X COPENE.
Objetivos da aula.
Despertar o interesse pela temática, através de um levantamento do conhecimento prévio dos alunos
sobre o assunto, para em seguida introduzir o conteúdo histórico.
Conteúdos a ser explorados nas atividades da aula
Antes, porém, um breve comentário sobre a Lei 10.639/2003/PR, criada no primeiro mandato
do Excelentíssimo Presidente da República, Sr. Luis Inácio da Silva é a que obriga o ensino da
História do Negro, na África e no Brasil. As decisões do Conselho Nacional de Educação cumprem
a Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003 (DOU nº 8, 10/1/2002, Seção 1, p. 1), que altera a Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996(LDB), para tornar obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-
Brasileira na Educação Básica.
Texto para leitura e interpretação: Imigração Escravagista/ Papel preponderante dos Bantos no
Brasil.
1 - Imigração escravagista.
Vinda dos Reinos da Mãe África e introduzida no Brasil pelo processo colonial escravista, a
população negra compunha-se de três vertentes: A primeira a ser trazida foi no século XVI, foi a dos
bantos, ou Bantu. Palavra formada segundo a tradução dos padres jesuítas, por:” Ba”, pronome de
quantidade que significa muitos, muitas e “Ntu” que corresponde a corpo, homem, indivíduo, pessoas
ou tribo. Vieram para trabalhar nas lavouras de Cana de Açúcar, Café e Algodão.
Segundo Bezerra2.
Considerando que o recôncavo se estabeleceu na dinâmica atlântica através do abastecimento
de farinha para a cidade carioca e os mercados de Angola, não é difícil constatar que a
composição de seus escravos africanos era majoritariamente procedente dos portos da África
Centro-Ocidental. Na pesquisa sobre os inventários, é possível identificar por volta de 50%
dos escravos distribuídos no conjunto de sete freguesias do recôncavo como procedentes
daquela região. (BEZERRA, 2011, p. 36).
A segunda vertente chegada por volta de 1730, duzentos anos depois, já no século XVII, foi a
dos Jêjes na época da descoberta do ouro e pedras preciosas em Minas Gerais.
A terceira foi a dos Nagôs ou Yorubás, por volta de 1830, quase trezentos anos depois, já
próxima ao final do século XVIII, também, para trabalhar na mineração, já que eram considerados
bons mineradores, lá na Terra Mãe. (PRANDI, 1991).
2 – Papel preponderante dos Bantos no Brasil.
Os Bantos, no Brasil, sempre tiveram uma atuação importante na formação da nação brasileira,
todavia, só há pouco tempo, alguns estudos nesse sentido vêm sendo elaborados, referentes,
principalmente, às contribuições lingüísticas ao português brasileiro, com destaque para as advindas
do Quimbundo ou Kimbundu. Quanto a estudos relacionados a área da cultura popular, como das
congadas, dos reisados, da capoeira rasteira de Angola, do Maracatu de Cabinda Velha, do Jongo, do
Caxambu, e do próprio samba é notório que além das pesquisas já finalizadas, há vários estudiosos
interessados em desenvolvê-las. (ÂNGELO, 2013).
O comportamento de alguns estudiosos, a começar por Nina Rodrigues (1862-1982), que
sendo precursor do estudo das religiões afro descendentes na Bahia manteve-se alheio à realidade
2 2 Nielson Rosa Bezerra é pós doutor em História da diáspora Africana pela University of the West Indies Barbados.
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense. Mestre em História pela Universidade Severino Sombra.
Licenciado em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em Duque de Caxias.
circundante. Embora cercado pelos diversos bairros com nomes de origem banta, como: Beiru;
Cabula; Curuzu, ainda que alimentando-se com jiló; maxixe; quiabo, (artigos da cozinha banta), ou
ouvindo palavras como: bagunça; cachaça; quitanda, vocábulos de origem banta, ignorou este mundo
banto ao seu redor. (LOPES, 2012).
Argumenta Castro3, (2006, p.201) “Chegou-se a um estereótipo de que os iorubas eram superiores.
Zumbi dos Palmares era banto, mas, no filme de Cacá Diegues, os palmarinos falavam ioruba, quando
ainda não havia nenhum deles no Brasil”.
Metodologia da aula
Apresentação do texto pelo professor, ou por alunos voluntários, ou ainda escolhidos ou
escolhidos pelo professor, com as devidas considerações a cada intervenção do mesmo. Seguem-se
alguns minutos para esclarecimentos. Logo após a turma é dividida em grupos, onde cada
representante explicará para turma e o professor, o que o grupo conseguiu entender, ou não, em
relação ao texto apresentado.
Recursos materiais e humanos necessários
Data show
Público alvo (De 15 a 40 pessoas) de acordo com as normas do X COPENE para a inscrição em
Minicursos do evento.
Plano de Aula nº 2
Apresentação da aula
Nome do autor da proposta: Jeusamir Alves da Silva (Tata Ananguê).
Carga horária: 200 minutos (aula geminada)
Público alvo: De acordo com as normas do X COPENE.
Objetivos da aula.
3 Yeda Pessoa de Castro é etnolingüista. Doutora em Línguas Africanas pela Universidade Nacional do Zaire.
Consultora Técnica em Línguas Africanas do Museu da Língua Portuguesa na Estação da Luz em São Paulo.
Membro da Academia de Letras da Bahia. Pertence ao GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL. Membro
Permanente do Comitê Científico Brasileiro do Projeto "Rota do Escravo" da UNESCO. Professora aposentada pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA) (UNEB.
Despertar o interesse pela temática, através de um levantamento do conhecimento prévio dos alunos
sobre o assunto, para em seguida introduzir o conteúdo histórico.
Conteúdos a ser explorados nas atividades da aula.
1 - Visão mitológica do povo banto.
Recapitulação da aula anterior e texto abaixo para leitura e interpretação:
Na área das religiões de matriz Banto no Brasil, existe uma enorme carência de estudos. Na
mitologia Banta as divindades chamadas de MPANGO BAKURU, são aquelas que participaram da
cosmo gênese, isto é, da construção de todo o universo, todavia, mesmo possuindo cultos e rituais
específicos, não são iniciadas ou confirmadas nos seres humanos, não possuíram de modo algum vida
terrena, são constituídas por energias totalmente puras da natureza com alta gama de vibrações,
participantes diretas nos processos de criação, manteneção e outras que se comportam com real
ativismo nas transformações e degradações que finalizam o ciclo vital dos seres e que possuem
importantes intervenções nos reinos mineral, vegetal, animal e em especial no hominal. (ÂNGELO,
2013).
Divindades criadoras aquelas que participam da criação do nosso universo e que são responsáveis
por tudo que existe e habita nele. Divindades mantenedoras aquelas que têm como função principal,
distribuir e zelar pela continuidade de toda criação atribuída no planeta procurando mantê-la em
perfeito equilíbrio e harmonia, para que possa encontrar o continuísmo de sua existência mantendo a
presença do poder divino em constante presença. Divindades transformadoras aquelas que têm
ligação objetiva e direta com os seres humanos, atuando nos ciclos do nascer, crescer, viver, expandir,
proliferar, aprender, envelhecer com sabedoria e experiência, permitindo a busca pela lapidação dos
defeitos e aprimoramento da evolução da obra considerada da criação. Divindades degradadoras
aquelas que estão associadas ao ciclo do FIM, a morte que pode ser entendida como um dos
propósitos da transformação, mas, suas principais funções estão em receber os corpos ou outros
materiais orgânicos na terra, onde atuarão na deterioração das matérias, se alimentando dos líquidos
da putrefação, consumindo a carne dos corpos até só restarem o esqueleto e os cabelos que não são
absorvidos pela decomposição, de modo que após certo tempo possam ser devolvidos para a
superfície.
Divindades secundárias - recapitulação da aula anterior e texto abaixo para leitura e interpretação:
Conhecidas na língua Kimbundu como Akisi ( plural de Mukisi), cultuados em várias regiões
onde se acham a presença de povos Bantos: Divindades relacionadas as encruzilhadas - Mavambo,
Mavilutango, entre outras. Divindades relacionadas à guerra, as conquistas, a proteção das
aldeias - Alunda, Biolá, Buré, Dagolonâ, entre outras. Divindades associadas à caça e a
subsistência das comunidades - Burungunso, Gongobila, KaMbila, Kabila, Mutalambo, entre
outras. Divindades associadas aos alimentos, em especial as sementes (cereais) que carrega nas
jinbimba (cabaças) para aplacar a fome do mundo, mas também, relacionadas às ervas sagradas
e curativas - Ambuké, Amokun, Apokan, Diabanganga, katende, entre outras. Divindade da Terra,
dos tubérculos, da transformação, do início e o fim dos ciclos - Kaviungo, Kijenje, Kimbongo,
Kincongo, Kissanje, Kitungo, Insumbo, Iungo, entre outras. Divindades associadas aos ciclos das
águas das chuvas e ao Arco Íris - Angoro, Angoroméa, Angoro Semavula, Anvulá, Gongoa, entre
outras. Divindades relacionadas ao fogo - Luango, Nzage, Kibuko, Kiambo, entre outras.
Divindades relacionadas com o clima, ventos, estações do ano, cheias e vazantes dos rios, lagos
e mar, plantio e colheitas Abananganga, Kitembu, Maawila, Makurá, entre outras. Divindades
relacionadas aos ventos das tempestades - Isa Sitamba, Jonjure, Kaango Munhenho, Matamba,
Mavanju, Sinavanju, Sinavulu, entre outras. Divindades associadas as águas doces e plácidas,
responsáveis pela flora e fauna dos rios – Kamba Lasinda, Kaeté, Keamaze, , Kissimbe, Kitolomi,
Takumbira, Vinsin, entre outras. Observação: Karamose é a divindade dos rios que representam
turbulência em razão dos seus leitos pedregosos. Possui ligações comas aves de rapina e serpentes.
Divindades associadas às águas do mar - Kaiá, Kalunga, Kassinga, Kianda, entre outras.
Divindade associada às águas, a terra, e a lama, a fertilidade da agricultura - Ajassi,
Gangazumba, Jejessu, Kambambe, Mam’etuZumbá, Zumbarandá, entre outras. Divindades do sol,
da luz, da inteligência, - Ajalupongo. (ADOLFO. pp. 110-113).
2 – Forças do Terreiro (locais sagrados)
Segundo a tradição banta, a construção preserva a porta da casa das divindades de frente para
o leste, onde o sol nasce (vida), para as divindades. E as portas para o lado oeste, para as
ancestralidades onde o sol esconde-se.
,Inzo ia Npambunjila (casa de Pambunjila). (Em outras nações = Exu).
Desse modo, a esquerda de quem entra, e de frente para o leste ergue-se a inzo (casa, terreiro,
templo) um compartimento sagrado destinado a divindade (Mukisi)Pambunjila. Esse compartimento,
como todos os locais sagrados que seguem-se, seja das divindades ou da ancestralidade, tem enterrado
em cada canto e, no centro, um ndimbu contendo em cada um deles os mesmos componentes usados
quando da sacralização do terreno, antes da construção. Obviamente, além dos componentes comuns
a todos eles, contém aqueles específicos da divindade ou ancestralidade habitante da sua respectiva
inzo. No interior da referida casa, como também nas outras moradias seguintes estão construídos
degraus (dinamenu ou pepelê em outras nações de candomblé)) que destinam-se aos assentamentos
(representações) das respectivas divindades.
Aproveita-se para esclarecer que o uso do dinamenu acabou em muitas raízes bantas sendo
substituído pelo Ndimbu (porrão), onde os assentamentos tanto de Pambunjila como de todas outras
divindades são colocados sobre esses jarros de barro. Acredita-se que por razões de mais facilidade
tornou-se costume nas casas de candomblé banto, o uso geral do ndimbu .
Inzo iá Nnumbi (Casa de Egun)
A direita de quem entra fica situada a casa de Nnumbi (egun nas outras nações de Candomblé),
É plantado no chão, em um tronco seco descascado e vestido com roupas especiais sendo o seu culto
diferenciado do culto dos Akisi (plural de mukisi), no que tange aos seus rituais de sacrifícios,
comidas, bebidas, ervas, rezas ou outros procedimentos.
kubata ia Nkosi (em outras nações = Ogun)
Logo após a casa de Pambunjila ou Aluvaiá vem a kubata ia Nkosi (cabana de Nkosi), sempre
enfeitada com mbandu ia nkunku (franjas de dendezeiro), o mesmo que Mariwo em outras nações de
língua ioruba/nagô. Essas franjas também, são colocadas nas portas das outras casas como fator
segurança contra o kilulu Nvunga (espíritos perturbadores), o mesmo que Kamburuku.
Inzo ia Ngunzu casa de Ngunzu, ia Mutakalambo = (Oxossi)
A casa destinada ao mukisiNgunzu virá logo após a casa de Nkosi, as paredes dessa inzo são
incrustradas com cacos de vasilhames de barro, que, simbolicamente representa a divisão da fartura.
Nessa mesma casa é colocado o assentamento do mukisi Katalambo Gunza, considerado um dos
akisis chefes que comandam os caçadores (akongo).
Inzo ia Nsumbu (casa de Nsumbu)
A casa de Nsumbu, mukisi ligado a terra, tem fundamentos todo especial tendo no centro do
chão da casa um tronco seco que recebe periodicamente rituais compostos por todos os elementos
que o solo e subsolo produzem: cascas de árvores, moluscos, sementes raízes, folhas, pós, metais,
temperos, sacrifício de animais e etc. Seu Nbenge (assentamento) está colocado no ndimbu sobre
odinameno na frente do tronco de amendoeira, que também pode ser de (cajá, acocô ou eucalipto).
pintado com tintas vegetais nas cores preta, vermelha e branca e, enfeitado com panos coloridos.
Kubata ia Katende = (Ossanhe)
Segue-se ao lado da casa anterior, sob um dendezeiro (árvore do fruto dendê)
Inzo ia Nzaji = (Xangô)
Na sequência vem a casa de Nzaji, enfeitada com pedras de cachoeira, sobre um dinamenu
que servirá de base para o seu muisi (pilão de madeira) com duas bocas que representam
respectivamente o céu (nduílo) e a terra (iungo) demonstrando a ligação entre os dois mundos,
espiritual e material proporcionado por essa divindade que geralmente tem o seu lugar reservado na
cumeeira das casas tradicionais de candomblé bantu. Por sua vez, a mão do pilão (munjolo), na
verdade é um bastão, como se fosse um eixo imaginário que liga o que está em cima com o que está
embaixo e vice-versa., uma das funções dessa deidade, que liga-se aos fenômenos naturais, como
raios, fogo e a chuva que irriga e alimenta as plantações para a fartura das colheitas.
Kubata ia Abananganga/Kitembu/Ntembu (Cabana do Deus dos ventos)
Ainda pela esquerda de quem entra, seguindo a ordem iniciada com a inzo de Pambunjila,
vem a Kubata ia Abananganga/Kitembu/Ntembu. Possui uma a frente o máximo possível aberta para
permitir a circulação do vento, seu principal elemento. O prefixo Ki da palavra Kitembu, significa a
ideia de ação ou movimento e a palavra Ntembu, ou Tembu, quer dizer vento. Esta divindade goza de
alto prestígio dentro do culto banto, haja vista, ser responsável pelas direções dos ventos, das chuvas,
dos fluxos das marés que influenciam no plantio, na colheita, bem como, na transição do dia e da
noite e nas fases lunares, razão pela qual muitos símbolos identificam esses elementos que fazem
parte de suas ferramentas simbólicas, tanto as que constam em seus assentamentos como as portadas
pela divindade nos atos de suas possessões.
Nas suas ferramentas simbólicas encontramos a presença de uma grelha de ferro, em razão de
que todos os animais sacrificados a essa divindade deverão ser grelhados, aos pés do Nbenge ia
Nntembu (assentamento de \tempo), para tal mantem-se um fogareiro de ferro que serve para assar as
carnes dos animais, temperadas com azeite de dendê e kupiri (pimenta da costa). São oferecidas
penduradas na casa da divindade, na vara onde encontra-se hasteada a bandeira branca e nas árvores
próximas. Também, para o Tata Mane Zakae Panzu que é uma ancestralidade divinizada representada
por um tronco de eucalipto morto, tratado, sobreposto por uma peneira enfeitada de fitas ou faixas de
panos coloridos, cabaças, caxixi (chocalho) e etc. Está intrinsicamente ligado ao culto de Ntembupor
isso é fincado na frente da casa dessa deidade funcionando como o guardião da mesma, e da respectiva
divindade.
A bandeira branca hasteada, devidamente consagrada com uma pequena porção de menga
(sangue) dos animais sacrificados é mantida amarrada à uma vara de gameleira e possui, na sua parte
superior três pontas formando duas forquilhas, onde estão amarradas três pequenas cabaças pintadas
de azul e vermelho e um saco branco de tecido forte, com tipos de cereais diferentes, favas
pertencentes à essa divindade, nzimbu (búzios), moedas antigas e atuais. Serve para indicar a direção
dos vfentos que influenciam no fluxo das marés, nos plantios e nas colheitas, assim como, para indicar
uma aldeia de povo banto.
A casa do santo do sacerdote dirigente (Inzo Nlemboci) está situada em local especial, fora do
alcance das vistas de todos. Precisa ser dessa forma, pois simbolicamente, ali está a cabeça do
governante da aldeia e seus segredos e a sua divindade chefe.
Inzo ia Matamba (Inhasã ou Oyá)
Segue-se o quarto das santas Inzo ua Akisi Muhatu. Nesse compartimento sagrado estão os
assentamentos das nifas: Kissimbi, Ndandalinda, Kaitumba, Karamose. Esse espaço é conhecido
como o quarto das águas, devida a fonte e o poço (kasimba) existentes dentro dele, onde obviamente,
também mora Zumba e Angoro. No candomblé banto, o poço, cuja água é destinada aos banhos rituais
(Maiunga) e para a confecção do amassi (ervas frescas) e jawa (ervas curtidas) é consagrado para a
divindade Zumbaranda
Barkisu - O barkisu é o local destinado aos assentamentos dos filhos de santo
Gonzemo - Local destinado aos assentamentos dos Kisikarangombe e das Jikotas (ogans e ekeji, em
outras nações).
Jamberesu - Salão propriamente dito, onde é realizada a Kizomba (festa pública). No centro do salão
está plantada a principal força da casa, popularmente conhecida como firma, lá estão assentadas as
divindades referentes ao culto da terra: Nizimbi, Nganzimbi e Ndianzimbi, comandadas por
(divindade da terra, da morte e da transformação). È o espaço conhecido como o nlamburu, chão da
casa. Acima do nlamburu, está a cumeeira da casa denominada de angomi duílo (céu). Nesse local
encontra-se o assentamento de Tariá Nzaji (Xangô em outras nações).
Ndemburu (ronkó nas nações Jeje/nago)
É o compartimento sagrado onde as pessoas recolhidas passam pelos rituais de masangua
(batismo nas águas), nkudiá mutue (comida sagrada à cabeça), kimba mukisi (feitura e pangu ia undu
(confirmação de kissikarangombe e Makota. Este compartimento sagrado é consagrado para
Kaitumba e Nzambi Karitanga que é a divindade da criação dos seres humanos e dos animais. O
ndemburu representa o útero materno, onde são geradas as criaturas, melhor dizendo, a geração das
divindades da cultura banto.
A guisa de esclarecimento o período de recolhimento no ndemburusimboliza a representação
de uma fase gestacional espiritual e não material, é criar condições para que ocorra o acoplamento
total da nguzu/mukondo (força/poder = axé nas nações de origem jeje e nagô) da divindade para a
qual estão sendo realizados os procedimentos litúrgicos. Permite produzir a junção das forças
telúricas (da terra) ancestrais com as forças divinas imateriais das energias teúrgicas (energia celestial
condutora do poder de realização e da vitalidade). (ANGELO, 2013).
Mukanda - local sagrado utilizado só na hora das obrigações de grande porte.
Essa palavra é um termo sagrado dado a um compartimento contíguo e menor construído
dentro do ndemburo, onde na realidade são feitas as obrigações propiciatórias das pessoas recolhidas
no ndemburu. Esse compartimento é consagrado a divindade Nzambi ndala karitanga onde fica o seu
assentamento devidamente preparado. A porta da mukanda está ladeada por um casal de tata mane
(ancestrais divinizados), troncos secos chamados de: Kokungo (a fêmea), pintado na cor vermelha e
kisokolo (o macho) pintado na cor azul, ou seja, as energias femininas da gestação com as energias
masculinas da fecundação, sem as quais seria impossível o surgimento de uma nova criatura, uma
nova vida. Como guardiões da mukanda recebem oferendas durante os períodos de obrigações, tipo:
frutas, sacrifícios de animais, comidas para ativar e reciclar as suas energias de tempos em
tempos.(ANGELO, 2013).
Inzo Akua Ukulu (casa de culto aos antepassados).
Destinada ao culto dos ancestrais genealógicos que são encantados em troncos secos rituais e
vestidos com roupagem apropriada, sendo fixada na parte superior do tronco uma oropema (peneira
de palha) enfeitada com fitas ou tiras de pano coloridas, cabaças, e chocalhos de vime (kaxixi). Nesse
local que situa-se na parte externa, nos fundos do quintal, são oferecidas comidas apropriadas aos
antepassados, como reverência demonstrando o não esquecimento deles e de seus bons feitos, de
modo que possam continuar protegendo seus descendentes, zelando pela saúde e bem estar dos
mesmos. O ritual para as oferentes difere-se totalmente ao praticado para os akisi. (ANGELO, 2013).
Casa, aldeia ou jurema dos Caboclos
Em seguida, o espaço da terceira ancestralidade que é a casa dos caboclos. Esta fica situada
na entrada do terreiro pelo lado direito de quem entra pelo portão principal, logo após ao quarto de
Jawa (local de banho de ervas curtidas). Ali estão colocados os encantamentos dos caboclos seja de
pena, quando ligados a pajelanças indígenas, ou de couro que simbolizando os boiadeiros do nordeste,
ou ainda terrem vindos de Angola como anunciam em suas cantorias quando incorporam nas pessoas,
assunto que também foi explicado anteriormente. (ANGELO, 2013).
Segundo a tradicional oralidade banta sem as divisões em um determinado espaço,
devidamente sacralizado, não é possível iniciar alguém nessa religião. Não ter “casa” é o mesmo que
não ter o seu próprio chão (iungo) e nem o seu próprio teto, cumeeira, céu (duílo). Diz um sábio
provérbio muito usado pelos mais velhos, “quem dá o que não tem, precisa também”.
Hierarquia do terreiro banto, segundo a tradição oral.
Tatetu ia Mukisi – sacerdote (Kimbundu)
Mam’etu ia Mukisi – sacerdotisa (Kimbundu)
Nganga ia Nkisi – sacerdote (kikongo)
Nengua ia Nkisi – sacerdotisa (kikongo)
Tatetu Ndenge – pai pequeno (kimbundu)
Mam’etu Ndenge – mãe pequena (kimbundu)
Eakota Tororó – mãe pequena (kikongo)
Nengua Ndumba – mãe pequena (kikongo)
Nganga Ndumba – pai pequeno (kinkongo)
Tata Kimbanda – Pai/sacerdote preparador de encantamentos, pós e beberagens para a prática da
cura no culto Banto
Kambondu ou Kambono – todos os homens confirmados no culto Banto
Kissikarangombe – Kambonde de modo geral (faz tudo) no culto Banto
Xikarangoma – Kambonde de atabaque de forma geral
Muxiriki – Kambonde tocador do atabaque maior (kumbi)
Muxiki – Kambonde tocador do atabaque médio (kukumbi)
Mubixika = Kambonde tocador do atabaque menor (kakumbi)
Njimbidi – Kambonde responsável por selecionar os cânticos e executá-los nas 13onsanguí (festas)
e rituais
Kivonda – Kambonde sacrificador de animais
Poko – o mesmo que Kivonda
Mabaia Kambone responsável pela harmonia e ordem do terreiro
Sakala Kambonde tipo secretário que transmite as ordens do sacerdote ou sacerdotisa aos demais.
Lumbindu – Kambonde responsável por abrir e fechar todas as dependências da casa
Kisaba ou Ki-nsaba – Kambone conhecedor e colhedor das ervas sagradas
Utala – Kambonde dos rituais do Ndemburu
Makota/Jikota (plural) – Segunda pessoa no culto Banto
Makota Mbakisi- responsável em vestir, conduzir e dançar com as divindades
Makota Infula – responsável pelas comidas sagradas das divindades
Makota Mulambi ou Mukamba – cozinheira das comidas profanas
Makota matona – responsável pelas pinturas das muzenza. Devem ser de Nlemba, Kaia, Kissimbi
ou Ndandalunda.
Kota – Filhos(as) com mais de sete anos de iniciados.
Muzenza – Noviço (a)
Ndumbi – adepto ainda não iniciado.
Metodologia da aula
Recapitulação da aula anterior. Apresentação do texto pelo professor, ou por alunos voluntários, ou
ainda escolhidos ou escolhidos pelo professor, com as devidas considerações a cada intervenção do
mesmo. Perguntas e respostas.
Recursos materiais e humanos necessários
Data show
Público alvo (De 15 a 40 pessoas) de acordo com as normas do X COPENE para a inscrição em
Minicursos do evento.
Avaliação
No final da aula a turma é dividida em grupos, onde cada representante explicará para turma e
professor o que o grupo conseguiu entender em relação ao texto apresentado.
Plano de Aula nº 3
Apresentação da aula
Nome do autor da proposta: Jeusamir Alves da Silva (Tata Ananguê).
Carga horária: 200 minutos
Público alvo: De acordo com as normas do X COPENE.
Objetivos da aula.
Revisão dos conteúdos e tira dúvidas.
Metodologia da aula
Aplicar-se-á a mesma metodologia utilizada nas aulas nº 1 e nº 2.
Recursos materiais e humanos necessários
Data show
Público alvo (De 15 a 40 pessoas) de acordo com as normas do X COPENE para a inscrição em
Minicursos do evento.
Avaliação final
Os alunos divididos em grupos deverão discutir as relações explícitas e implícitas nos fatos
apresentados, elaborando cada grupo dois parágrafos de no máximo 5 linhas, cada um, respondendo
qual foi a vertente negra africana, que junto com o índio e o europeu teve papel preponderante, na
construção do Brasil.
Bibliografia
ADOLFO, Sérgio, Paulo. Nikissi Tata dia Nguzu, estudos sobre o candomblé Congo
Angola,Londrina: Eduel (Editora da Universidade Estadual de Londrina), 2010.
ANGELO, A. Curso “O Povo Bantu, Mitos e deuses africanos de Angola: as influências culturais
e religiosas Brasil/Angola” Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Sub-reitoria de Extensão e
Cultura (SR-3), departamento de Extensão, PROEPER, CCS, 2013.
BEZERRA, Nielson Rosa. A Cor da Baixada: Escravidão, liberdade e pós abolição no LOPES, Ney.
Novo Dicionário Bantu do Brasil, 2ª. Ed, Pallas, RJ 2012.
LUCK, Heloísa. Liderança em gestão escolar. Petrópolis. Vozes.2008.
PRANDI, Reginaldo. Os Candomblés de São Paulo.São Paulo, EDUSP, 1991
REDINHA, José. Etnossociologia do nordeste de Angola ,Agência Geral do Ultramar,
1958./RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil. 4ª. Ed. São Paulo: Cia Editora Nacional -
1976./VANSINA, J. A tradição oral e sua metodologia. In: KI-ZERBO, J. História Geral da África.
Volume 1 – Metodologia e pré-história da África. Brasília: UNESCO, 2011, pp. 139-1
ANEXO A - Carta resposta da Presidência da República.
ANEXO B – Ofício resposta do Ministério da Educação.