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MINISTÉRIO DA FAZENDA TERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES PRIMEIRA CÂMARA ccs Processo nº : 10510.003772/2002-77 Recurso nº : 131.143 Acórdão nº : 301-33.053 Sessão de : 13 de julho de 2006 Recorrente : OSVALDO TOJAL DANTAS - ESPÓLIO Recorrida : DRJ/RECIFE/PE NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO. SUJEITO PASSIVO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA. ESPÓLIO. O espólio é responsável pelos tributos devidos pelo de cujus até a abertura da sucessão, devendo figurar como sujeito passivo da obrigação tributária. Preliminar de nulidade rejeitada. PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. APRECIAÇÃO DAS PROVAS. Não há cerceamento do direito de defesa quando a autoridade julgadora aprecia as provas trazidas aos autos, sendo-lhe lícito exercer o seu livre convencimento quando da apreciação dos elementos probatórios. Preliminar de nulidade rejeitada. ITR. ÁREA UTILIZADA COM PASTAGEM. APURAÇÃO. Por determinação legal, a área efetivamente utilizada com pastagem, nativa ou plantada, deve ser apurada levando-se em conta índices de lotação por zona pecuária. RECURSO VOLUNTÁRIO PROVIDO EM PARTE Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os Membros da Primeira Câmara do Terceiro Conselho de Contribuintes, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares de nulidade, por ilegitimidade passiva, e cerceamento do direito de defesa. No mérito, por unanimidade de votos, dar provimento parcial ao recurso, na forma do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. OTACÍLIO DANTAS CARTAXO Presidente

MINISTÉRIO DA FAZENDA TERCEIRO CONSELHO DE … · no imóvel rural. Esse erro não pode motivar o auto de infração. ... Comprova-se a existência de animais no imóvel rural, inclusive

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MINISTÉRIO DA FAZENDATERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESPRIMEIRA CÂMARA

ccs

Processo nº : 10510.003772/2002-77Recurso nº : 131.143Acórdão nº : 301-33.053Sessão de : 13 de julho de 2006Recorrente : OSVALDO TOJAL DANTAS - ESPÓLIORecorrida : DRJ/RECIFE/PE

NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO. SUJEITOPASSIVO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA. ESPÓLIO. O espólioé responsável pelos tributos devidos pelo de cujus até a abertura dasucessão, devendo figurar como sujeito passivo da obrigaçãotributária.Preliminar de nulidade rejeitada.PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. CERCEAMENTO DODIREITO DE DEFESA. APRECIAÇÃO DAS PROVAS. Não hácerceamento do direito de defesa quando a autoridade julgadoraaprecia as provas trazidas aos autos, sendo-lhe lícito exercer o seulivre convencimento quando da apreciação dos elementosprobatórios.Preliminar de nulidade rejeitada.ITR. ÁREA UTILIZADA COM PASTAGEM. APURAÇÃO.Por determinação legal, a área efetivamente utilizada com pastagem,nativa ou plantada, deve ser apurada levando-se em conta índices delotação por zona pecuária.RECURSO VOLUNTÁRIO PROVIDO EM PARTE

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.

ACORDAM os Membros da Primeira Câmara do Terceiro Conselhode Contribuintes, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares de nulidade, porilegitimidade passiva, e cerceamento do direito de defesa. No mérito, por unanimidadede votos, dar provimento parcial ao recurso, na forma do relatório e voto que passama integrar o presente julgado.

OTACÍLIO DANTAS CARTAXOPresidente

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IRENE SOUZA DA TRINDADE TORRESRelatora

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Formalizado em:

Participaram, ainda, do presente julgamento, os Conselheiros: José Luiz Novo Rossari,Luiz Roberto Domingo, Valmar Fonsêca de Menezes, Atalina Rodrigues Alves, SusyGomes Hoffmann e Carlos Henrique Klaser Filho.

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RELATÓRIO

Por bem descrever os fatos, adoto o relatório da decisão recorrida, oqual passo a transcrever:

“Contra o contribuinte acima identificado foi lavrado o Auto deInfração integrante do processo, no qual é cobrado o Imposto sobrea Propriedade Territorial Rural - ITR, data do fato gerador01/01/1998, relativo ao imóvel denominado “Lagoa Grande”, comárea total de 1.082,9 ha, cadastrado na SRF sob o nº 164205-7, novalor de R$ 9.213,04, acrescido de multa de lançamento de ofício ede juros de mora, perfazendo um crédito tributário total de R$22.904,53.

No procedimento de análise e verificação das informaçõesdeclaradas na DITR/1998 e dos documentos coletados, conformeDescrição dos Fatos e Enquadramento Legal e Demonstrativo deApuração do ITR, a fiscalização apurou a infração relatada.

Ciência do lançamento em 23/12/2002, conforme AR de fl. 21.

Não concordando com a exigência, o espólio do contribuinte,através da viúva Maria Antonieta Barroso Barreto Dantas,apresentou, em 22/01/2003, a impugnação de fls. 22/32, procuraçãoà fl. 37, alegando em síntese:

I – Dos Fundamentos de Fato.

Intimado, AR de fl.12, informou o falecimento do contribuinte esolicitou maiores esclarecimentos sobre a intimação.

Transcreve dados do Auto de Infração. Até 1997 o contribuinteapresentou DIAC/DIAT do imóvel através de formulários. Ocontribuinte faleceu antes de intimado para prestaresclarecimentos, portanto, com ênfase pela tese mais provável,houve erro de preenchimento.

Apresenta Laudo Técnico sobre Exploração de Imóvel rural, com odevido ART, com data de 21/01/2003, especificamente quanto àexistência de animais de grande porte.

II - Dos Fundamentos de Direito

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O intimado foi o Contribuinte, o Auto de Infração foi lavradocontra o Espólio. O contribuinte não se extingue imediatamenteapós a morte. A pessoa física prolonga-se por meio do espólio. Eranecessário intimar previamente o espólio, antes do procedimentofiscal.

Cita o art. 14 da Lei nº 9.393/96. Cita o art. 47 da IN/SRF nº256/2002. Pede a nulidade do auto de infração, uma vez que oespólio não foi regularmente intimado do procedimento.

III-- Do Mérito

Ao intimar o Contribuinte o Fisco já havia percebido que tinhahavido erro de preenchimento, ao intimar o Contribuinte. De fato,houve erro de preenchimento na ficha 6. Sendo a Ficha 6preenchida, o quantitativo médio de animais mantidos no imóvel,qualquer que seja, passa a ser irrelevante, o que contraria a lógicamatemática.

O erro deu-se por não haver familiaridade com o mencionadoprograma.O contribuinte não vinha informando, em anosanteriores, o número de animais no imóvel rural. O erro deve terocorrido por não haver costume de declarar os animais existentesno imóvel rural. Esse erro não pode motivar o auto de infração.Apenas, houve erro de fato.

O profissional que elaborou o Laudo Técnico visitou o imóvel ruralem 13/01/2003. Relata dados do imóvel constantes do LaudoTécnico. A área utilizada informada pelo profissional, que elaborouo Laudo Técnico, e a área declarada pelo Contribuinte sãocoincidentes. Comprova-se a existência de animais no imóvel rural,inclusive por Declaração da EMDAGRO/SE.

IV - Conclusão

Não houve intimação regular do Espólio de Osvaldo Tojal Dantas.A intimação foi dirigida ao contribuinte Osvaldo Tojal Dantas, quedeixou de fornecer as justificativas ali solicitadas devido ao fato dehaver falecido.

A DITR apresentada pelo contribuinte Osvaldo Tojal Dantas foielaborada com erro de preenchimento, induzido pelo programadistribuído pela SRF. O erro não se referiu apenas ao número deanimais no imóvel rural, também em relação às pastagens queapresentam características de artificiais e nativas, porémdeclaradas como nativas, exclusivamente.

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Comprova-se o alegado através de informações colhidas por ÓrgãoPúblico de controle sanitário. Houve visitação da área e nela foramencontrados vestígios de sua utilização.

O procedimento técnico foi registrado no CREA/SE, através deART.

Demonstrada a insubsistência da ação fiscal requer o seucancelamento. Pede seja realizada diligência no imóvel em questão,pela SRF ou outro órgão, inclusive o INCRA, no sentido decomprovar os fundamentos de fato de direito aduzidos acima.

Anexa os documentos de fls. 39 a 68. “

A DRJ-Recife/PE indeferiu o pedido do contribuinte (fls. 70/80), nostermos da ementa abaixo transcrita:

“Assunto: Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR

Exercício: 1998

Ementa: ÁREA DE PASTAGENS. ÍNDICE DE RENDIMENTO.

Para fins de cálculo do grau de utilização do imóvel rural,considera-se área servida de pastagem a menor entre a declaradapelo contribuinte e a obtida pelo quociente entre a quantidade decabeças do rebanho ajustada e o índice de lotação mínima.

RETIFICAÇÃO DE DECLARAÇÃO

Não se retifica a declaração, por iniciativa do próprio declarante,que vise a reduzir ou excluir tributo, quando não fica comprovado,por documentos hábeis, o erro em que se funde.

SUJEITO PASSIVO DO ITR.

São contribuintes do Imposto sobre a Propriedade Territorial Ruralo proprietário, o titular do domínio útil ou o possuidor a qualquertítulo de imóvel rural, assim definido em lei, sendo facultadoaoFisco exigir o tributo, sem benefício de ordem, de qualquer umdeles, nos termos do art. 31 do Código Tributário Nacional.

Assunto: Processo Administrativo Fiscal

Exercício: 1998

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Ementa: AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE.

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Não restando comprovada a ocorrência de preterição do direito dedefesa nem de qualquer outra hipótese expressamente prevista nalegislação, não há que se falar em nulidade do lançamento.

PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO.

Antes da lavratura do auto de infração, não há que se falar emviolação ao Princípio do Contraditório, já que a oportunidade decontradizer o fisco é prevista em lei para a fase do contenciosoadministrativo, que se inicia com a impugnação do lançamento.

CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA.

Se o autuado revela conhecer as acusações que lhe foramimputadas, rebatendo-as de forma meticulosa, com impugnação queabrange questões preliminares como também razões de mérito,descabe a proposição de cerceamento do direito de defesa.

Lançamento Procedente.”

Irresignado, o contribuinte apresentou recurso voluntário a esteColegiado (fls. 85/96), alegando, em suma:

(a) preliminarmente, a nulidade do lançamento, por entender terhavido erro de identificação do sujeito passivo da obrigação tributária;

(b) ainda em preliminar, aduz cerceamento do seu direito de defesa,por entender ter apresentado elementos de prova em sua impugnação e não terem sidoestes considerados pela decisão a quo, além de ter sido indeferido o pedido dediligência formulado;

(c) no mérito, alega, novamente, que a autoridade julgadoradesconsiderou as provas trazidas nos autos e que houve erro no preenchimento daDIAT pelo contribuinte, em razão de não ter conhecimento do programadisponibilizado pela SRF.

Pede, ao final, a reforma da decisão a quo.

É o relatório.

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VOTO

Conselheira Irene Souza da Trindade Torres, Relatora

O recurso é tempestivo e preenche as demais condições deadmissibilidade, razões pelas quais dele conheço.

Ao teor do relatado, versam os autos sobre Auto de Infração lavradocontra o contribuinte acima identificado, em razão da falta de recolhimento do Impostosobre a Propriedade Territorial Rural-ITR, relativo ao exercício de 1998, apuradotendo em vista haverem sido desconsiderados 800,0ha anteriormente declarados comoárea de pastagem.

DA PRIMEIRA PRELIMINAR DE NULIDADE

Preliminarmente, aduz o recorrente a nulidade do lançamento, porentender ter havido erro na identificação do sujeito passivo da obrigação tributária emquestão.

Aduz que a intimação para prestar esclarecimentos quanto aos fatosse deu à pessoa de OSVALDO TOJAL DANTAS e que, em contrapartida, o Auto deInfração foi lavrado contra o espólio deste. Entende que o espólio até poderia figurarna condição de contribuinte, mas tão-somente quanto a fatos ocorridos posteriormenteao evento morte; quanto a fatos anteriores a este, o espólio somente poderia figurarcomo responsável tributário, nunca como contribuinte, sendo que apenas o falecido,em tais circunstâncias, poderia ser este contribuinte.

Entende o recorrente que o lançamento não poderia ter sido feitocontra o espólio, vez que o fato gerador ocorreu anteriormente à morte docontribuinte.

Ora, há de se esclarecer que o lançamento, no que diz respeito àobrigação tributária que nele se constitui definitivamente, tem caráter apenasdeclaratório, vez que a obrigação tributária nasce no exato momento da ocorrência dofato gerador, como assim dispõe o VCTN:

“Art. 113. (...)

§1º A obrigação tributária principal surge com o fato gerador, tempor objeto o pagamento de tributo ou de penalidade pecunária eextingue-se juntamente com o crédito dela decorrente.”

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No momento em que o fato gerador ocorreu, o contribuinte eraOSVALDO TOJAL DANTAS e a partir daquele momento, a obrigação tributária jápassou a existir, vindo o posterior lançamento apenas declará-la formalmente,materializando-a. Quando do lançamento, o contribuinte já era falecido, o que, poraplicação do inciso III do art. 131 do CTN, teve no seu espólio o responsável poraquela obrigação tributária, até a data em que for efetuada da partilha, quando, aí, aresponsabilidade passa a ser dos sucessores:

“Art. 131. São pessoalmente responsáveis:

(...)

III – o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data daabertura da sucessão.”

Ora, o sujeito passivo da obrigação tributária é aquele obrigado aopagamento do tributo. Quando em vida, o obrigado ao pagamento era OSVALDOTOJAL DANTAS. Após a sua morte, essa obrigação de pagamento do tributo jáconstituía o seu patrimônio, e passou a integrar o espólio do falecido, que tornou-se lobrigado ao pagamento em questão. Isto porque que o espólio nada mais é que aficção jurídica criada para denominar o patrimônio de uma pessoa depois de sua morte,composto pelo conjunto de direitos, deveres e obrigações constituídos quando emvida.

Não há qualquer irregularidade no fato de, por meio de auto deinfração, ter sido o lançamento efetuado em face do espólio. Incabível, sim, seria seeste lançamento fosse constituído contra pessoa já falecida, posto carecer esta derequisito essencial para ser titular de direitos e obrigações!!!

O fato de o espólio ser responsável tributário, e não contribuinte,não lhe tira a configuração de sujeito passivo da obrigação tributária em questão.Neste ponto, cabe leitura atenta para as palavras de LUCIANO AMARO:

“As noções até aqui expostas para caracterização do contribuintecorrespondem ao que a doutrina costuma chamar de sujeiçãopassiva direta. O contribuinte seria o sujeito passivo direto,enquanto que o responsável seria o sujeito passivo indireto.

(...)

A presença do responsável com devedor na obrigação tributáriatraduz uma modificação subjetiva no pólo passivo da obrigação, naposição que, naturalmente, seria ocupada pela figura docontribuinte. Contribuinte é alguém que, naturalmente, seria opersonagem a contracenar com o Fisco, se a lei não optasse por

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colocar outro figurante em seu lugar (ou a seu lado), desde omomento da ocorrência do fato ou em razão de certos eventosfuturos (sucessão do contribuinte, por exemplo)”

Repisa, ainda Luciano Amaro, ao comentar o art. 131 do CTN:

“É difícil imaginar o que seja responsabilidade pessoal do espólio(que não possui os atributos jurídicos de pessoa). Ademais, tambémnão é fácil identificar as situações em que os sucessores, de modogeral, pudessem ter responsabilidade não pessoais.

O Código deve ter querido dizer que as pessoas e o espólioreferidos no dispositivo assumem a condição e responsáveis, comoúnicos ocupantes do pólo passivo da obrigação. Não respondemsupletiva ou subsidiariamente (nem solidariamente), já que odevedor sucedido ou terá desaparecido (nos caos dos itens II e III)ou é desprezado (no caso do item I).”

Utilizando-se das palavras do Mestre, escolheu a lei por colocar oespólio para ocupar o lugar da figura do contribuinte a partir da morte deste último. Apartir do evento “morte do contribuinte”, passa o espólio a contracenar com o Fisco,na posição de sujeito passivo sim, até o momento em que seja realizada a partilha.

Assim, não houve por parte da Fiscalização, qualquer erro naidentificação do sujeito passivo da obrigação tributária, não merecendo, por tal, serdesconstituído o lançamento, razão pela qual REJEITO A PRIMEIRAPRELIMINAR DE NULIDADE suscitada.

DA SEGUNDA PRELIMINAR DE NULIDADE

Quanto à segunda preliminar de nulidade aduzida pelo recorrente,que pretende ver anulada a decisão de primeira instância proferida, entendo novamentenão assistir razão ao requerente.

Não houve cerceamento do direito de defesa por terem sidodesconsiderados os elementos probatórios trazidos aos autos, como quer fazer crer oquerelante. Pela leitura da decisão proferida, verifica-se, claramente, que os elementosprobatórios apresentados quando da impugnação foram sopesados, sim, pelaautoridade julgadora, que entendeu não restarem devidamente comprovadas asalegações perpetradas pelo então impugnante, fazendo uso de sua livre convicção,conforme prevêem o arts. 29 e 18 do Decreto nº 70.235, que regulamenta o processoadministrativo fiscal:

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“Art. 29 . Na apreciação da prova, a autoridade julgadora formarálivremente sua convicção, podendo determinar as diligência queentender necessárias.”

“Art. 18. A autoridade julgadora de primeira instânciadeterminará, de oficio ou a requerimento do impugnante, arealização de diligência ou perícias, quando entende-lasnecessárias, indeferindo as que considerar prescindíveis ouimpraticáveis, observando o disposto no art. 28, in fine

(...)”

A autoridade julgadora apreciou todas provas trazidas aos autos,bem como o pedido de diligência formulado, fundamentando o seu entendimentoquando da apreciação: posicionou-se quanto à declaração da EMAGRO, à Ficha deCadastro do Criador e do quadro de vacinação apresentado, ao Laudo Técnico e àAvaliação Patrimonial, quanto ao alegado erro no preenchimento da DITR e quanto àprescindibilidade da diligência requerida.

Por tais motivos, não há qualquer vislumbre de cerceamento dodireito de defesa alegado pelo reclamante, razão pela qual REJEITO A SEGUNDAPRELIMINAR DE NULIDADE suscitada.

DO MÉRITO

Afirma a recorrente que houve erro no preenchimento da DIATquanto à área de pastagem declarada, por desconhecimento do contribuinte do sistemainformatizado da Declaração.

Referido erro não passa de mera alegação sem qualquer fundamento.Para arrimar-se na ocorrência de erro de fato, deveria esta alegação vir fundada emalgo concreto e não em mera ilação! Seria despautério aceitar como verdade umfundamento que nem mesmo o próprio recorrente demonstra ter a certeza de queocorrera, pois afirma estar apenas formulando uma tese que, no seu entender, lheparece ser a mais lógica (fl. 24):

“Por outro, uma vez que o contribuinte OSVALDO TOJALDANTAS faleceu antes de ter sido intimado para esclarecer o querealmente ocorreu no momento da elaboração da DIAC/DIAT de1998, ano-base 1997, não há outra justificativa, senão a de invocaros meios racionais e lógicos para dirimir a questão, tendo em vistatodas as possibilidades admissíveis, e com ênfase pela tese maisprovável, ou seja, de que houve erro de preenchimento.”

Quanto ao Laudo apresentado, entendo não trazer força probatóriasuficiente para lastrear os argumentos aduzidos quanto à área de pastagem existente no

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ano de 1997. Não traz sequer os elementos em que se fundamentou para inferir aexistência dos 800ha de pastagem, apresentando até mesmo certa contradição em

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relação ao período de existência da pastagem, vez que à fl,. 55 afirma que a pastagemplantada tem cerca de 10 anos e, à fl. 46, o mesmo responsável técnico, quando daelaboração do Laudo de Avaliação, afirma que a mesma área tem cerca de 12 anos.

Entendo, entretanto, que a Declaração da EMDAGRO, bem como oCadastro do Criador, apresentados às fls. 58 e 59, fazem prova da existência de gadono ano de 1997, devendo, de acordo com a lei, ser calculada a área de pastagem comobase no índice de lotação por zona pecuária, conforme determina a Lei n.º 9.393, de 19de dezembro de 1996, que trata especificamente do ITR, e assim dispõe quanto àapuração desse imposto:

“Art. 10. A apuração e o pagamento do ITR serão efetuados pelocontribuinte, independentemente de prévio procedimento daadministração tributária, nos prazos e condições estabelecidos pelaSecretaria da Receita Federal, sujeitando-se à homologaçãoposterior.

§ 1º- Para os efeitos de apuração do ITR, considerar-se-á:

( . . .);

V – área efetivamente utilizada, a porção do imóvel que no anoanterior tenha:

( . . .);

b) servido de pastagem, nativa ou plantada, observados índices delotação por zona pecuária; (grifo não-original)

( . . .);

Art. 11. O valor do imposto será apurado aplicando-se sobre oValor da Terra Nua Tributável – VTN a alíquota correspondente,prevista no Anexo desta Lei, considerados a área total do imóvel e oGrau de Utilização – GU.

( . . .).”

Conforme se verifica da alínea “b” do inciso V do parágrafo 1º doart. 10, transcrito acima, para efeito de cálculo do ITR, a área efetivamente utilizadacom pastagem, nativa ou plantada, deve ser apurada levando-se em conta índices delotação por zona pecuária. Já o parágrafo 3º desse mesmo art. 10, assim dispõe:

“§ 3º. Os índices a que se referem as alíneas “b” e “c” do inciso Vdo § 1º serão fixados, ouvido o Conselho Nacional de PolíticaAgrícola, que dispensará aplicação os imóveis com área inferior a:

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a) 1.000 ha, se localizados em municípios compreendidos naAmazônia Ocidental ou no Pantanal mato-grossense esul-mato-grossense;

b) 500 ha, se localizados em municípios compreendidos noPolígono das Secas ou na Amazônia Oriental;

c) 200 ha, se localizados em qualquer outro município.”

A Instrução Normativa/SRF n.º 67, de 1997, assim dispôs quanto àárea de pastagem aceita e os índices de lotação por zona pecuária:

“As áreas do imóvel servidas de pastagem e as exploradas comextrativismo estão sujeitas, respectivamente, a índices de lotaçãopor zona de pecuária e de rendimento por produto extrativo.(grifonão-original)

§ 1º. Aplicam-se, até ulterior ato em contrário, os índicesconstantes das Tabelas n.º 3 (Índices de Rendimentos Mínimos paraProdutos Vegetais e Florestais) e n.º 5 ( Índices de RendimentosMínimos para Pecuária), aprovados pela Instrução Especial INCRAn.º 19, de 28 de maio de 1980 e Portaria n.º 145, de 28 de maio de1980, do Ministro de Estado da Agricultura (Anexos III e IV,respectivamente.

Art. 16. A área utilizada será obtida pela soma das áreasmencionadas nos incisos I a VII do art. 12, observado o seguinte:

I – a área plantada com produtos vegetais (. . ).

II – a área servida de pastagem aceita será a menor entre adeclarada pelo contribuinte e a obtida pelo quociente entre onúmero de cabeças do rebanho ajustado e o índice de lotaçãomínima, observado o seguinte:

a) o número de cabeças do rebanho será a soma da média anual dototal de animais de grande porte, de qualquer idade ou sexo, mais aquarta parte do número total de animais de médio porte existenteno imóvel;

b) considera-se animal de médio porte: ovino e caprino;

c) considera-se animal de grande porte: bovino, bubalino, eqüino,asinino e muar;) o número médio de cabeças de animais é osomatório do número de cabeças existentes a cada mês dividido por12(doze), independentemente do número de meses em que existiram

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animais no imóvel.”

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(grifos não constantes do original)

No presente caso, o imóvel rural do interessado está sujeito a estesdispositivos legais transcritos acima, não havendo, portanto, o que se objetar quanto àaplicação do comando normativo em questão.

Por todo o exposto, voto no sentido de REJEITAR ASPRELIMINARES DE NULIDADE argüidas, e, no mérito, DAR PROVIMENTOPARCIAL AO RECURSO, para que seja calculada a área de pastagemobservando-se o índice de lotação por zona pecuária, conforme determinam ospreceitos normativos acima expostos.

Sala das Sessões, em 13 de julho de 2006

IRENE SOUZA DA TRINDADE TORRES - Relatora